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Cada prato conta uma história Um novo livro revela a origem de pratos famosos na culinária internacional: do Frango Marengo ao Filé à Wellington, passando pelo drink Piña Colada FILLIPE MAURO 08/10/2013 20h18 - Atualizado em 08/10/2013 21h34 Um prato não traz consigo apenas aromas, texturas e sabores. Tal como um documento, guarda por trás de simples receitas ingredientes como a eclosão de guerras, a trajetória de artistas ou mesmo o processo de formação de um povo. Foi com essa consciência, de que a história também pode ser contada a partir daquilo que os homens comem e cozinham, que o documentarista britânico James Winter decidiu buscar as origens e o contexto em que foram dados os nomes de pratos consagrados da culinária mundial. O resultado está em Quem colocou o filé no Wellington? (Melhoramentos, 192 páginas, R$ 59,00), livro no qual Winter lista 50 dessas receitas, entre elas o complexo Filé à Wellington, que inspira o título da obra. “A ideia surgiu após uma conversa informal com minha editora, a quem contei a divertida origem da Vitela Orloff, que foi presenteada por um cozinheiro francês a um embaixador russo na década de 1850”, afirma Winter. “Depois desse episódio, fiquei curioso para descobrir as outras histórias que provavelmente viviam escondidas atrás de outras receitas”. Curiosidade que acabou satisfeita quando Winter descobriu as histórias que envolvem pratos como o Frango Marengo. Na primavera de 1800, o então cônsul da França, Napoleão Bonaparte, trouxe da suíça um chef chamado Dunand e deu-lhe a missão de alimentar bem os soldados que mobilizaria contra os austríacos na campanha de Marengo, no norte da Itália. Quando os austríacos foram vencidos, não havia o que oferecer a Napoleão, que desejava comemorar com um banquete. Oficiais trouxeram para Dunand um frango magro, alguns tomates, ovos e lagostins pescados em um rio que margeava a região. Com esses ingredientes, cozinhou o frango e ofereceu-o a Napoleão com croutons feitos do pão velho dado aos soldados. Napoleão não apenas adorou, como determinou que o prato fosse servido a todos os oficiais dali em diante. Alegria para os famintos soldados e alívio para Dunand. Registros contendo a história de pratos são escassos e, muitas vezes, vagos. Isso dificultou a pesquisa de Winter, que também estava preocupado em trazer ao seu leitor receitas de preparo possível para os dias de hoje. Para além da importância histórica de cada prato, o principal critério de Winter ao escolher as receitas foi sua capacidade de chamar a atenção do leitor e levá-lo para a cozinha. A seu ver, não há como compreender o contexto histórico em que foi criado um prato se não tentarmos reconstituí-lo. Foi esse o sentido de incluir em sua lista o Frango Kiev, peça empanada de peito recheada com manteiga e ervas. O prato de fácil execução data do leste europeu de meados do século XVIII, período de avanços na Química e na Física no qual o então Império Russo absorvia inúmeros chefs da ameaçada corte francesa. O criador do Frango Kiev, Nicolas Appert, era um cervejeiro francês na corte russa encantado, por exemplo, com os inúmeros efeitos culinários da reação de fermentação. Quando prepara seu frango pela primeira vez, tenta encontrar algum método químico de selar a manteiga dentro da peça para evitar que ela vazasse durante a fritura. Sua resposta estava no ovo e na eficiência das então desconhecidas proteínas para revestir carnes durante frituras. Com o Frango Kiev, o leitor não apenas revive sabores de séculos passados, como também brinca com uma química primitiva, em que chefs testavam os efeitos térmicos de se isolar ingredientes. Winter diz ter consultado inúmeras biografias de chefs clássicos – os tataravôs da badalada gastronomia contemporânea. Isso o fez refletir sobre o atual debate entre aqueles que julgam a gastronomia uma arte e aqueles que a consideram mero método de preparo de comida. O Nobel de literatura Mario Vargas Llosa é crítico do “apelo” atual que há em torno de chefs. Na última vez que esteve no Brasil, afirmou que "a cultura já não é mais a mesma, se tornou um circo, um espetáculo que, ao abarcar tudo, não é mais nada". Posição contestada por seu conterrâneo, o prestigiado chef peruano Gastón Acurio, para quem os restaurantes deixaram de ser apenas um lugar para “encher a barriga”. Seja cultura ou não, a ideia de gastronomia que Winter encontrou sempre concilioum ao longo da história, uma preocupação estética com o prato e uma atenção ao seu poder de saciar a fome e provocar prazer. Segundo Winter, o que a história da gastronomia prova é que “toda receita expressa uma personalidade em seu tempo, mas sempre de acordo com alguma intenção”. “O prestigiado chef Heston Blumenthal é um artista, mas minha tia não é. E para mim não há cozinheira melhor que minha tia”, afirma.

Cada Prato Conta Uma História

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Cada prato conta uma histriaUm novo livro revela a origem de pratos famosos na culinria internacional: do Frango Marengo ao Fil Wellington, passandopelo drink Pia ColadaFILLIPE MAURO08/10/2013 20h18 - Atualizado em 08/10/2013 21h34 Um prato no traz consigo apenas aromas, texturas e saores! "al como um documento, guarda por tr#s de simples receitas ingredientes como a ecloso de guerras, a tra$et%ria de artistas ou mesmo o processo de &orma'o de um po(o!)oi com essa consci*ncia, de +ue a hist%ria tam,m pode ser contada a partir da+uilo +ue os homens comem e cozinham, +ue o documentarista rit-nico .ames /inter decidiu uscar as origens e o contexto em +ue &oram dados os nomes de pratos consagrados da culin#ria mundial!0 resultado est# em Quem colocou o fl no Wellington? 12elhoramentos, 132 p#ginas, 45 63,007, li(ro no +ual /inter lista 60 dessas receitas, entre elas o complexo )il, 8 /ellington, +ue inspira o t9tulo da ora! :A ideia surgiu ap%s uma con(ersa in&ormal com minha editora, a +uem contei a di(ertida origem da ;itela 0rlorma /inter! :?epois desse epis%dio, >+uei curioso para descorir as outras hist%rias +ue pro(a(elmente (i(iam escondidas atr#s de outras receitas=!@uriosidade +ue acaou satis&eita +uando /inter descoriu as hist%rias +ue en(ol(em pratos como o )rango 2arengo! 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Fara al,m da import-ncia hist%rica de cada prato, o principal crit,rio de /inter ao escolher as receitas &oi sua capacidade de chamar a aten'o do leitor e le(#-lo para a cozinha! A seu (er, no h# como compreender o contexto hist%rico em +ue &oi criadoum prato se no tentarmos reconstitu9-lo!)oi esse o sentido de incluir em sua lista o )rango Gie(, pe'a empanada de peito recheada com manteiga e er(as! 0 prato de cil execu'o data do leste europeu de meados do s,culo H;DDD, per9odo de a(an'os na Eu9mica e na )9sica no +ual o ento Dmp,rio 4usso asor(ia inImeros che&s da amea'ada corte &rancesa!0 criador do )rango Gie(, Aicolas Appert, era um cer(e$eiro &ranc*s na corte russa encantado, por exemplo, com os inImeros e&eitos culin#rios da rea'o de &ermenta'o! Euando prepara seu &rango pela primeira (ez, tenta encontrar algum m,todo +u9mico de selar a manteiga dentro da pe'a para e(itar +ue ela (azasse durante a &ritura! 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Aa agagem trouxeram uma receita chamada @otelettes de ;olaille, +ue, para agradar a imperatriz, passou a ser chamada de )rango Gie( K ento uma das mais importantes cidades da 4Issia! Ingredientes:4 Feitos de &rango com a coxinha da asaJal e pimenta-do-reino mo9da na hora2 colheres 1sopa7 de &arinha de trigo2 o(os atidosR colheres 1sopa7 de &arinha de rosca &eita em casaSleo (egetal, para &ritar200g de manteiga em temperatura amiente1 colher 1ch#7 de estrago &resco picado na hora1 colher 1ch#7 de salsa &resca picada na hora1 colher 1ch#7 de ceolinha picada na hora3 colheres 1sopa7 de suco de limo Modo de preparo:2isture a manteiga com as er(as e &a'a rolos de cinco cent9metros de comprimento! Ara cada peito de &rango ao meio,sem separar as metades! "empere a pe'a e, em seguida, insira o rolo de manteiga temperada no interior! @erti>+ue-se de +ue a pe'a est# em presa! T recomend#(el o uso de palitos para +ue se$a melhor >xada! Qmpane no o(o e nas &arinhas de trigo e rosca! Fara &ritar, pr,-a+ue'a o %leo a 180U@! 0 ponto ideal , a+uele em +ue a &arinha esti(er em dourada! 0 prato pode ser >nalizado no &orno m,dio, por no mais +ue 20 minutos! Jaladas de atata e maionese caseira so %timos acompanhantes! Frango MarengoAp%s (encer a Catalha de 2arengo, em 1800, Aapoleo Conaparte, ento cBnsul da )ran'a, +uis celerar com um grande an+uete! 0 che& do ex,rcito, de sorenome ?unand, entrou em desespero, pois tudo esta(a destru9do e no ha(ia aonde uscar ingredientes! Jeus soldados mataram um &rango es+uel,tico, pescaram alguns camarVes em um riacho e pro(idenciaram o(os e tomates! ?unand assou o &rango com todos esses ingredientes e acrescentou croutons &eitos com po (elho do +uartel! Aapoleo no s% adorou como pediu +ue o prato passasse a ser ser(ido aos seus o>ciais! Ingrediente:60g de manteiga1 colher 1sopa7 de %leo de girassol1 &rango m,dio cortado em 8 peda'os2 ceolas pe+uenas60g de &arinha de trigo300ml de (inho ranco seco160ml de caldo de galinha400g de tomate em conser(a picado400g de cogumelo2 colheres de extrato de tomate60ml de conha+ue2 dentes de alho amassadosUm punhado de salsa picadaJal e pimenta-do-reino mo9da na hora4 &atias grossas de po3 colheres 1sopa7 de azeite1 ramo de alecrim300g de camaroModo de preparo:Qm uma panela, &rite os peda'os de &rango em manteiga, at, >carem dourados! Qm seguida, reser(e-os sore papel toalha! Ao mesmo caldo, re&ogue a ceola por cerca de 8 minutos, at, >carem douradas! 4eser(e-as sore o papel toalha tam,m! 4etire parte da gordura da panela e acrescente a &arinha de trigo! @ozinhe at, +ue >+ue dourada! Aesse ponto, acrescente o (inho ranco seco e o caldo de galinha! @ozinhe em &ogo aixo por 10 minutos! Acrescente o tomate, o extrato de tomate, os cogumelos, o conha+ue, o alho, a salsa, o sal e a pimenta-do-reino! 4etorne 8 panela o &rango e a ceola! Euando come'ar a &er(er, tampe e le(e ao &orno por mais uma hora! Qn+uanto isso, corte o po em cuinhos e &rite-os no azeite para preparar os croWtons! Euando o &rango esti(er no ponto, acrescente os camarVes e retorne a panela para o &orno por mais 10 minutos! Euando chegar 8 mesa, salpi+ue mais um pouco de salsinha &resca e $unte os croWtons! EstrogonofeP# duas (ersVes para a receita! Uma delas diz +ue um dos memros mais distintos da aristocracia russa do >nal do s,culo HDH, o diplomata Fa(el Jtroganono1 colher 1ch#7 de extrato de tomate60ml de (inagre de (inho ranco200ml de creme de leite &resco1 colher 1sopa7 de salsa em picada Modo de preparo:"empere a carne no sal e na pimenta e, em seguida, role-a nas p#pricas picante e doce! )rite rapidamente as tirinhas no%leo (egetal, para +ue >+uem malpassadas! 4etire da panela e colo+ue em uma peneira, para +ue possa reser(ar o caldo! Acrescente manteiga, ceola e cogumelos 8 &rigideira! 4e&ogue-os por alguns minutos e, em seguida, acrescente o extrato de tomate! @ozinhe por mais dois minutos e acrescente o (inagre! Dmportante deixar cozinhar em, para deixar a maior parte da #gua e(aporar! ?espe$e o creme de leite e o (inho e deixe &er(er! Adicione ento as tirinhas de carne e o caldo reser(ado! A+ue'a sem &er(er! Fil Wellington T uma homenagem 8 (it%ria do general rit-nico Arthur /ellesleY 1o ?u+ue de /ellington7 sore as tropas de Aapoleo,na Catalha de /aterloo! 0 prato , uma re&er*ncia 8 paixo de /ellington por carne! P# oatos de +ue suas tropas, em tempos de guerra, consumiam 300 ois por dia!Ingredientes:Para as panquecas:3 o(os caipirasR colheres 1sopa7 de &arinha de trigo160ml de leiteUma por'o generosa de manteigaPara o Fil:600g de >l,-mignonFimenta-do-reino mo9da na hora400g de massa &olhada pronta4 &atias de presunto cru100g de pat* cremoso de cogumelo1 o(o caipira mais uma gemaModo de preparo:Para as panquecas: ata os o(os com a &arinha e (# acrescentando o leite aos poucos! Muri>+ue a &rigideira com manteiga e cura sua super&9cie com uma camada >na da massa! Euando a parte de aixo esti(er dourada, (ire e &rite o outro lado! 4epita o processo at, a massa acaar, lemrando-se de luri>car com const-ncia a &rigideira!Para o fl: "empere o >l,-mignon com a pimenta-do-reino e colo+ue sore uma &rigideira pr,-a+uecida em &ogo alto! Oire a pe'a para +ue todos os lados dourem! 4eser(e e deixe descansar em local a+uecido assim +ue toda a pe'a esti(er dourada por igual!Ara a massa &olha at, +ue >+ue com cerca de 6 mm de espessura! @olo+ue as pan+uecas sore essa massa! Jore as pan+uecas acrescente o presunto! Qm apenas um lado do >l,, espalhe o pat* de cogumelos! @olo+ue o >l, sore a massa (irando o lado com os cogumelos para aixo, em contato com o presunto! Fincele o restante da massa com gema e, ento, emrulhe o >l,! @olo+ue o lado em +ue a massa &oi &echada para aixo na &orma e pincele sua super&9ciecom o(o atido! ?eixe descansar na geladeira por 30 minutos! 4etire da geladeira, pincele mais uma (ez e ento asse por 26 minutos! Pia olada0 drinZ &oi resultado de um desa>o &eito por um resort de Forto 4ico a um $o(em arman! Aa d,cada de 1360, o hotel @arie PiltonXs Ceachcomer come'ou a receer um nImero cada (ez maior de celeridades americanas e europeias! For conta disso, seus administradores sentiram a necessidade de inserir no seu card#pio algo +ue seus hosp,des s% poderiam encontrar l#! 4am%n :2onchito= 2arrero aceitou o desa>o! Fes+uisou os ingredientes locais por tr*s meses! Q,ento, em 16 de agosto de 1364, apresentou a Fi[a @olada +ue conhecemos 1e eemos7 at, ho$e!Ingredientes:\6 ml de rum ranco60 ml de coco60 ml de suco de aacaxiModo de preparo:2isture todos os ingredientes com gelo mo9do em um misturador! A medida ideal , a+uela em +ue o drinZ est# homog*neo! ?espe$e no copo passando por um >ltro! Je +uiser impressionar, decore com um peda'o de aacaxi preso ao canudo!