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Cadeias produtivas no desenvolvimento regional: o caso de Toledo no Oeste do estado do Paraná
Ricardo Rippel1 Jandir Ferrera de Lima2
Rosana Gaspar Borges3
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apontar como a existência de uma indústria-chave, de uma organização imperfeita do mercado e de economias externas a uma determinada área, exercem efeito sobre a estrutura da produção regional, geram o desenvolvimento e o crescimento econômico de um determinado local. No presente caso a área sobre análise é o município de Toledo situado no oeste do Paraná, onde o momento histórico para a consolidação da sua estrutura produtiva se deu através do surgimento e consolidação de encadeamentos produtivos regionais que fizeram-se presentes a partir dos efeitos econômicos oriundos do parque agroindustrial da SADIA de Toledo, que no decorrer da década de 1970 e 1980 afirmou-se como indústria-chave da região. O crescimento da indústria-chave ocorre de forma destacada e em conseqüência Toledo passa a assumir posição de destaque no cenário econômico e especialmente do agronegócio do Paraná. Assim, surgem indústrias comunitárias com atividades de transformação que envolvem capital local. O que acarretou em Toledo a formação do maior pólo industrial do Oeste do Paraná. A partir deste momento surgiram em Toledo diversas indústrias e empresas ligadas a cadeia produtiva em questão. Palavras-chaves: Toledo, Indústrias Comunitárias, Encadeamentos Produtivos, Desenvolvimento Regional.
Abstract: This work has as objective appears as the existence of an industry-key, of an imperfect organization of the market and of external savings to a certain area, they exercise effect on the structure of the regional production, they generate the development and the economical growth of a certain place. In the present in case the area on analysis is the municipal district of located Toledo in the west of Paraná, where the historical moment for the consolidation of his/her productive structure felt through the appearance and consolidation of regional productive linkages that you/they were made presents starting from the economical effects originating from of the park agroindustrial of the HEALTHY of Toledo, that it was affirmed in elapsing of the decade of 1970 and 1980 as industry-key of the area. The growth of the industry-key happens in an outstanding way and in consequence Toledo starts to assume prominence position in the economical scenery and especially of the agronegócio of Paraná. Like this, community industries appear with transformation activities that involve local capital. What carted in Toledo the formation of the largest industrial pole of the West of Paraná. Starting from this moment they appeared in Toledo several industries and tied companies the productive chain in subject. Key-words: Toledo, Community Industries, Productive Linkages, Regional Development.
Área I – Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente Paranaense 1 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Endereço eletrônico: [email protected]. 2 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Endereço eletrônico: [email protected]. 3 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).
2
1 – Introdução
O objetivo deste trabalho é analisar o processo de encadeamentos
produtivos na região de Toledo (PR), a partir dos efeitos do parque agroindustrial da
SADIA-FRIGOBRÁS e das indústrias comunitárias, surgidas na década de 1980.
Para tanto, caracterizam-se indústrias comunitárias como as atividades de
transformação que envolvem capital local.
Para isto, na seção 2.2 são apresentados os elementos teóricos que
possibilitam a explicação da forma e a natureza dos encadeamentos produtivos,
tomando como marco teórico os estudos de Albert Hirschman. Na seção 2.2.1 é
apresentada a formação do complexo industrial da SADIA-FRIGOBRÁS na cidade
de Toledo (PR) e seu impacto na economia regional. A partir desta análise, na seção
2.3 é apresentado um histórico do surgimento das indústrias comunitárias, seguido
do seu impacto na economia local.
2 – A Natureza dos Encadeamentos Produtivos
Dentro do processo de estruturação do sistema econômico, são identificadas
inúmeras relações entre as atividades que o compõem. Conforme Silva (1991),
estas relações são de encadeamento, coordenação e controle, gerando mercados,
difusão de novas técnicas de produção e transformações sociais nas regiões em que
estão presentes. Com isso, dentro do escopo do sistema capitalista, o processo de
desenvolvimento está diretamente relacionado às atividades produtivas e da forma
como estas atividades relacionam-se com outras e o próprio meio, em suma, com os
encadeamentos produtivos (efeitos em cadeia) que estas atividades geram
propiciam os elementos necessários à acumulação de capital e ao processo de
crescimento econômico sustentado.
Analisando esta questão Rippel (1995) argumenta que o processo de
encadeamento ocorre pela natureza de algumas atividades de produção ou serviços,
em gerar um efeito dinâmico sobre a economia de certas regiões, fato que é para a
implantação e consolidação de novas atividades e também a um processo de
acumulação de capital cada vez mais amplo, através de novos investimentos e da
3
busca de mercados consumidores potenciais ou consolidados. A forma como se dá
este processo de encadeamento e sua capacidade de gerar o desenvolvimento
econômico é analisada por Hirschman (1961, 1985), que expõe suas idéias com a
intenção de formular uma teoria capaz de servir de referência básica à escolha das
estratégias político-econômicas que levem à superação do problema do
subdesenvolvimento existente em vários países e regiões do mundo.
O marco inicial de suas proposições expressa-se na crítica às teorias de
desenvolvimento convencionais, que colocavam a inexistência ou a escassez de
alguns pré-requisitos estruturais indispensáveis, como sendo os únicos fatores
responsáveis pela impossibilidade de se levar adiante um processo de
desenvolvimento nacional.
Entre esses pré-requisitos estruturais podem ser citados os seguintes
fatores: a) recursos naturais; b) fontes geradoras de energia; c) existência de
recursos humanos devidamente treinados e preparados; d) capacidade
administrativa e gerenciadora; e) capacidade de geração de novas tecnologias,
principalmente via investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
Hirschman parte então à busca da identificação de um mecanismo capaz de
induzir ao crescimento. Com tal propósito, percebe que o desenvolvimento se dá por
meio de uma sucessão preestabelecida de etapas, e superá-las constitui-se no
elemento essencial à sua obtenção.
Assim distanciam-se da argumentação clássica de natureza tautológica, de
que "um país é pobre porque é pobre", e argumenta que este processo é conduzido
a interessar-se pelos aspectos dinâmicos e estratégicos do processo de
desenvolvimento e de acordo com Evans (1988, p. 14), a procurar identificar os
"mecanismos indutores, capazes de mobilizar a maior quantidade possível destes
recursos".
Para tanto, elabora uma teoria fundamentada na idéia de que o
desenvolvimento é fruto de uma ou de várias situações de desequilíbrio.
Sustentando que na análise das regiões e ao voltar-se para os encadeamentos
diretos e indiretos da estrutura produtiva da economia, Hirschman (1961) opta por
trabalhar sua análise, embasando-se nas matrizes de insumo-produto de Leontief,
4
pois segundo o autor, é por meio delas que podem ser demonstrados de forma
eficiente os vínculos entre diversos setores numa economia.
Assim, com a intenção de apontar tais vínculos, utiliza-se de uma matriz de
coeficientes diretos e indiretos de interdependência, que para ele é capaz de captar
todos os desdobramentos associados à demanda final da economia, de modo a
indicar as interações que podem acontecer entre dois diferentes setores.
Ao analisar esse aspecto da economia, depara-se ainda com o problema
das prioridades dos investimentos, que surgem quando não existem recursos
suficientes para o desencadeamento simultâneo de todos os projetos necessários ao
desenvolvimento. Isto porque nem sempre projetos são alternativos entre si em
todos os seus horizontes, mesmo que se possa escolher um e esquecer outros em
determinados momentos; trata-se, na verdade, de escolher uma ordem de prioridade
para a sua execução.
Propõe, a partir daí, que a escolha se realize com o intuito de estimular os
desequilíbrios e aproveitar da melhor forma possível os efeitos complementares, de
modo a acelerar o ritmo de desenvolvimento da economia e do próprio país onde
tais situações existam. Indica então que, dado um certo conjunto de projetos, deve-
se optar por uma seqüência (cadeia) que seja mais eficiente e que tenda a
maximizar o investimento induzido, dando prioridade àqueles investimentos que
possuam maior capacidade indutora de economias externas pecuniárias
(Hirschman, 1961, p. 131-151).
Em função desses acontecimentos e buscando encontrar uma maneira
capaz de fornecer indicações da intensidade dos efeitos de complementaridade,
Hirschman (1985) identifica os conceitos de encadeamentos para frente e para trás,
afirmando que estes se evidenciam principalmente através do crescimento
interdependente e respectivo de certas indústrias fornecedoras e compradoras de
insumos de uma determinada indústria (central), bem como dela própria.
O autor entende que a importância desses efeitos deveria ser analisada por
dois enfoques essenciais:
a) sobre os produtos potencialmente induzidos em outros setores pelo
investimento inicial;
5
b) sobre as probabilidades de que esses novos investimentos, corporificados
em ampliações da capacidade das empresas ou na criação de outras, realmente
aconteçam.
Ao buscar caminhos que possam apontar os encadeamentos, propõe que os
encadeamentos para frente de um determinado setor sejam medidos pela proporção
de seu produto total destinado às outras indústrias, e não à demanda final. E para o
efeito de encadeamento para trás, através da medida da porcentagem de seu
produto, que representa compras de outros produtos do mesmo setor e/ou de outros
setores (Hirschman, 1961, p. 150-161).
Assim sendo, pondera: “[...] essas duas avaliações da extensão em que uma indústria qualquer se entrelaça com outras no âmbito da economia nacional podem ser tomadas como representativas dos efeitos em cadeia retrospectivos e prospectivos da ligação de uma indústria com outras na economia nacional somente na base de uma experiência mental. Teríamos que imaginar, em relação a cada indústria das redondezas, que o desenvolvimento do país houvesse começado por ela, de modo que se tenha a ilusão de terem as suas compras e vendas a outras indústrias nacionais se desenvolvido em conseqüência de sua criação (Hirschman, 1961, p. 162)”. O resultado desse "experimento mental" equivale a supor que haveria um
sentido de causação no crescimento de uns setores em relação ao de outros e,
conforme esta lógica, os setores mais dinâmicos teriam maior capacidade de
produzir economias externas pecuniárias para outros setores. Isto significa dizer
que, em cadeias de ligações de cunho intersetorial ou ditas interindustriais, o
caminho a ser percorrido vai sendo atingido através de seqüências, partindo da
demanda preexistente, para trás e para frente, no processo de produção.
Aponta, então, que o caminho mais eficiente de crescimento deve ser aquele
que possa combinar os efeitos de encadeamento para trás e para frente (Hirschman,
1961, cap. 7).
Dessa forma, entende que encadeamento para trás é fruto de um
crescimento autônomo de um determinado setor, motivado basicamente por causa
de um novo investimento ou pelo aproveitamento da capacidade produtiva
previamente existente. Esse encadeamento induz o crescimento de outros setores a
ele relacionados, devido principalmente às pressões de demanda. Quanto aos
encadeamentos para frente, o motivo de sua ocorrência é a existência de um
6
aumento da produção de um determinado fator que provoca a elevação da produção
de outros setores em virtude do excesso de oferta do produto do setor inicial.
(Rippel; 1995)
Para ele, os encadeamentos poderiam também ser medidos a partir das
matrizes de relações interindustriais, nas quais os setores possuidores de maior
intensidade nos seus vínculos com os demais deveriam ser priorizados nos
processos de desenvolvimento de um país ou de uma região, principalmente em
função de sua capacidade de impulsionar mais eficientemente a taxa de crescimento
dessas economias. É devido a esses fatores que o autor considera tais setores
"estratégicos".
Nessa perspectiva, passa a direcionar sua análise para o estudo das
relações intersetoriais, principalmente para os elementos por ele intitulados de
backward and forward linkages - encadeamentos para trás e para frente -, que mais
tarde ele próprio transmutaria em concatenações pré e pós-existentes (Hirschman,
1985, p. 31-79).
Desta forma, o detalhamento e a especificação da estrutura produtiva, bem
como o estudo do inter-relacionamento dos setores no interior dessa estrutura,
podem possibilitar a identificação de seqüências de iniciativas e incentivos (elos ou
encadeamentos) que otimizem a geração desses desequilíbrios, as idéias e
posicionamentos definidos e adotados pelo autor tomam forma em um modelo de
formação de capital.
Ao conduzir sua análise para essa direção e ao retomar alguns de seus
pontos principais levantados a respeito do assunto, Hirschman demonstra sua
preocupação central: “Eu acredito que [..] os efeitos de complementaridade são extremamente importantes para obstar rendimentos decrescentes do capital durante um período determinado. É provável que uma economia nunca esteja satisfeita o bastante em criar suas indivisibilidades, isto é, seus complexos de atividades econômicas complementares (Hirschman, 1961, p. 75)”.
No desenvolvimento de seu trabalho, aponta ainda a importância dos efeitos
de encadeamentos que se verificam também em direção às indústrias não satélites,
atribuindo-lhes um papel de relativo destaque, apesar desses efeitos serem
considerados reduzidos, quando comparados aos demais. Ao considerá-los mais
7
amenos, identifica um problema: o de se definir até que ponto as magnitudes destes
serão significativas. E a partir disto busca estabelecer o ponto de corte para análise
da economia e dos complexos; a decisão, neste caso, será obrigatoriamente
considerada arbitrária. "Apesar da importância das relações do tipo não satélite,
parece ser necessário utilizar-se de algum ponto de corte arbitrário de pequenas
probabilidades" (Hirschman, 1961, p. 159).
Em função dessas argumentações, apresenta um modelo de formação de
capital, baseado em backward linkages (encadeamentos para trás). Adverte, porém,
que a tentativa de se estabelecer relações entre os setores, a partir do quadro de
relações intersetoriais, apresenta-se mais compreensível e correta quando se utiliza
como ponto de partida a consideração dos efeitos diretos e indiretos de
encadeamento4, que muitas vezes não se limitam aos efeitos em cadeia para trás,
mas transpõem este enfoque e dão origem a efeitos em cadeia para frente, capazes
de estimular o crescimento econômico.
Seguindo essa mesma linha de análise, mas revendo alguns dos pontos
teóricos contidos em seu trabalho de 1958, Hirschman (1985) introduz novos
enfoques para os efeitos em cadeia, sugerindo algumas alterações e ainda, mais
algumas generalizações do conceito, vejamos.
“Gostaria de propor nesta altura algumas extensões e generalizações do conceito de "efeitos em cadeia", seguindo diferentes linhas. Primeiramente vou considerar certos processos, os quais, por suas similaridades com a variedade retroativa-prospectiva, também podem ser considerados como efeitos em cadeia, e, na verdade, já têm sido assim identificados. Em seguida, sugerirei um conceito de efeitos em cadeia mais inclusivo para ser usado na consideração de algumas seqüências de desenvolvimento selecionadas (Hirschman, 1985, p. 38)”.
Observa ainda o autor que a relação entre a abordagem "efeitos em cadeia"
no sentido mais generalizado com a tese do "produto primário de exportação" e
desenvolvimento do subdesenvolvimento é muito próxima.
De modo que, nesse novo texto, apresenta os efeitos em cadeia e algumas
variedades desse enfoque de análise.
4 Hirschman toma como base de análise a matriz inversa de insumo-produto, porque, segundo ele, é desse modo que se torna possível a captação do total dos efeitos provocados por uma mudança final.
8
“Defini efeitos em cadeia de uma dada linha de produto como forças geradoras de investimento que são postas em ação, através das relações de insumo-produção, quando as facilidades produtivas que suprem os insumos necessários à mencionada linha de produto ou que utilizam sua produção são inadequadas ou inexistentes. Os efeitos em cadeia retrospectivos levam novos investimentos ao setor de fornecimento dos insumos (input-supplying), e os efeitos de cadeia prospectivos levarão investimentos no setor de utilização da produção (output-using) (Hirschman, 1985, p. 38-39)”.
Assim, conforme o autor, verifica-se que o conceito de efeito em cadeia foi
vulgarizado por ter como referência, principalmente, a indústria e a industrialização,
pois nesse campo era possível conceber efeitos em cadeia de variedade e
profundidade consideráveis, tanto no sentido retroativo, quanto prospectivo.
Apesar disso, o conceito tem tido também aplicações proveitosas, quando se
analisa a produção primária. Seu uso evidencia uma conexão bastante interessante
com a tese do produto primário de exportação, que tem buscado demonstrar como a
experiência do crescimento econômico de um país "novo" é moldada de forma
concreta pelos produtos primários específicos, os quais exportam constante e
sucessivamente para o mercado internacional.
"O conceito original de efeito em cadeia apanha, naturalmente, um só
aspecto desse processo total; aquele aspecto que está mais diretamente ligado à
procura e elaboração desse mesmo produto primário de exportação" (Hirschman,
1985, p. 39). Percebe-se diante desta argumentação que tal tentativa de conexão
consiste num experimento que objetiva principalmente descobrir em seus
pormenores como uma coisa leva à outra, tal como, Hirschman (1961), argumenta
que um desequilíbrio original num determinado setor da economia leva ao
crescimento econômico e ao surgimento de novos elos da Cadeia de Produção tal
qual deu-se historicamente no município de Toledo. (Rippel 1995).
Contudo, alguns aspectos adicionais dessa constatação podem estar
contidos por esse conceito se ele estiver apropriadamente ampliado, por meio da
inclusão do fator renda, no quadro geral em análise, isto porque:
“Por um lado, os novos rendimentos decorrentes do processo da produção dos produtos primários e sua exportação poderão ser despendidos inicialmente em importações; porém, essas importações, tendo atingido um volume suficiente, poderiam eventualmente ser substituídas por indústrias domésticas. O Mecanismo em alguma medida indireto, através do qual certas indústrias substitutivas de importações são criadas, por esse modo, como reflexo das implicações do produto
9
primário de exportação, tem sido chamado apropriadamente de efeito em cadeia do consumo (consumption linkage); em contraste, os efeitos, em cadeia retroativos e prospectivos mais diretos podem ser subsumidos sob o nome de efeitos em cadeia de produção (Hirschman, 1985, p. 39-40)”.
Hirschman ao revisar sua própria obra e seus argumentos, principalmente
quando repensa as estratégias de desenvolvimento, considera que uma das
características fundamentais dos modernos processos de desenvolvimento, está
diretamente relacionada aos efeitos em cadeia do consumo, é resultante do fato de
que tais efeitos podem ser diretamente negativos e não apenas fracos ou não
existentes.
“Em nossa época, é amplamente reconhecido que durante a primeira fase da expansão das exportações nos países periféricos, não foi a criação de novas indústrias para satisfazer a crescente demanda do consumo o único efeito importante; também ocorreu a destruição das atividades artesanais já estabelecidas, quando a mão-de-obra foi deslocada dessa área para o setor de produção do produto primário de exportação e também pela razão de que as novas importações de bens de consumo competiam vantajosamente com elas (Hirschman, 1985, p. 40)”.
É justamente nesse ponto que esta abordagem apresentada por ele, em
termos dos efeitos em cadeia e a tese do produto primário de exportação; atinge um
ponto de contato com a tese do desenvolvimento do subdesenvolvimento.
Assim, à identificação dos efeitos em cadeia de consumo soma-se a dos
efeitos em cadeia fiscais que possibilita uma apreensão mais completa da realidade
atual, pois permite aos administradores públicos e privados determinar de forma
mais completa a capacidade de geração de estímulos de uma determinada atividade
produtiva que levem ao crescimento e ao desenvolvimento. Desse modo, os
administradores, via de regra passam a priorizar tais atividades, pois sabem que
quanto maiores os efeitos em cadeia maiores as possibilidades de estímulos ao
surgimento de atividades complementares concatenadas, que podem repercutir em
maior arrecadação fiscal, aumento da geração de empregos, instrumentos que
possibilitam alavancar o desenvolvimento de um país ou de uma região, fato que
efetivamente deu-se em Toledo.
Frente a isto, a importância e o alcance dos efeitos em cadeia do complexo
agroindustrial, se dá pela sua capacidade de gerar os encadeamentos que propiciam
10
o surgimento do processo de desenvolvimento econômico. Esta capacidade é
demonstrada pelas cadeias produtivas que se formam e tem uma relação direta corri
a indústria motriz deste encadeamento.
Esta relação pode ser diminuída, a partir da diversificação da base produtiva
das indústrias induzidas ou da carteira de clientes, gerando assim uma base de
exportação na região, cuja gênese dinâmica se deu em função da indústria motriz.
Antes disto, a base de exportação é totalmente calcada nos produtos agropecuários,
a menos, é claro, que seja uma sociedade de subsistência.
Como o processo de colonização e exploração do Brasil, bem como das
suas áreas periféricas se dá pelo fomento da empresa agrícola, baseada na
exploração extensiva da terra voltada a interesses estrangeiros, o processo de
produção para subsistência é uma característica de núcleos isolados, cuja base
produtiva tende a mudar no decorrer do século XX, com a expansão do modo de
produção capitalista em todo o país.
Em todo caso, o que se verificou ao longo do tempo, o impacto e o
incremento deste núcleo de produção sobre a estrutura produtiva, ocorre a partir da
convergência de alguns pontos salientados por Furtado (1987):
a) a modificação na função de produção em decorrência da inserção de
novas atividades na economia local;
b) as transformações na distribuição da renda e seus impactos sobre a
demanda local e regional;
c) as transformações na infra-estrutura, induzidas pelo setor dinâmico, cujos
efeitos geram os encadeamentos produtivos;
d) a tendência ao aumento da capacidade do setor que gera o
encadeamento produtivo em demandar insumos na região;
e) a parcela do produto gerado pelo setor dinâmico que é retido na região
sob a forma de investimentos, compras e salários.
Vê –se então que a convergência destes elementos configura-se como uma
estrutura de fatores fortes o suficiente para a criação do pólo de crescimento.
11
2.1 – A formação do complexo agroindustrial da Sadia em Toledo
Em fins da década de 60, o processo de transformação econômico-social do
Oeste do Paraná, no que se refere à agricultura, provocou grandes alterações no
padrão de produção da região, que se inseriu de forma mais expressiva no contexto
da divisão inter-regional do trabalho em nível nacional e internacional.
Esta transformação é resultado da modernização ocorrida na agroindústria
nacional, com a implementação do binômio agrícola soja-trigo, implicou em
profundas transformações na base técnica agrícola e estimulou a instalação de
grandes empresas oligopolistas no setor, tanto a montante quanto ajusante (Müller,
1989). Nesse movimento viu-se que o processo permitiu o desenvolvimento
econômico de diversas regiões, através da formação de novos encadeamentos
produtivos capazes de gerar mais riqueza e aumentar o número de empregos.
Assim quando na década de 1960 o Grupo Sadia constituiu na cidade de
São Paulo a Companhia Brasileira de Frigoríficos S. A. (FRIGOBRÁS), pôde-se
verificar a consolidação de um projeto de construção de uma moderna indústria de
carnes em um grande centro consumidor do País, possibilitando à empresa a
obtenção de vantagens de diferenciação - via redução de custos de transporte e de
perdas no translado da carne - capazes de elevar seus lucros e diminuir parte de
seus custos operacionais com transporte.
Com sua instalação e posterior expansão, a FRIGOBRÁS-SP, num curto
espaço de tempo, sentiu a necessidade de ampliar suas fontes de matéria-prima e
de contar com uma estrutura de fornecedores que garantissem o abastecimento
dessa unidade industrial. Toledo, tradicional produtora de suínos em escala
comercial, foi a cidade escolhida.
O predomínio da produção de suínos regional remontava à época de
colonização do local e à tradição das famílias colonizadoras, que em seus locais de
origem dominavam a prática por herança cultural. Ali desenvolvia-se uma produção
bastante organizada de suínos, que gerava uma matéria-prima de boa qualidade,
contando então com uma unidade de abate instalada e em funcionamento. Esse
fato, combinado com o aumento da produtividade da atividade, via melhoria das
12
novas tecnologias de produção e obtenção de vantagens de custo e escala de
produção, foi fundamental para a escolha da cidade.
Anteriormente, ao longo dos anos 50, a maior parte da produção local de
suínos destinava-se a um frigorífico localizado em Ponta Grossa, que representava
na época o mercado mais próximo, tendo como intermediário local uma empresa
toledana, que, além da compra e venda de alimentos e mercadorias em geral,
comercializava produtos agropecuários. Como o suíno era transportado vivo para
Ponta Grossa, ou até para São Paulo, conforme a venda, havia grandes perdas no
translado e na venda. Segundo Niederauer (1992), essas perdas eram resultantes
das péssimas condições das estradas da época, que ocasionavam ou a morte de
muitos animais ou o péssimo estado de apresentação dos suínos que conseguiam
chegar vivos ao seu destino.
Por causa disso, as oscilações de oferta e de procura do produto no
mercado refletiam-se no aumento ou redução dos preços. Além disso, a falta de uma
indústria de processamento local determinava muitas vezes um grande desequilíbrio
entre o comércio da cidade e de outros centros, pois os produtos adquiridos pela
comunidade local eram proporcionalmente muito mais caros que os seus produtos,
pois traziam embutidos diferenciais de custo derivados de tecnologia de produção e
mesmo derivados da distância do mercado local do centro de produção.
Assim dado o aumento; cada vez maior; da produção de suínos e dos
excedentes para comercialização, durante o transcorrer do ano de 1956 alguns
empresários e produtores rurais toledanos reuniram seus recursos para construir um
frigorífico na cidade capaz de transformar a matéria-prima local. Inicialmente, os
custos impossibilitaram a concretização do projeto. Em função disso, um grupo
empresarial de Maringá se associou aos empresários locais e decidiu instalar em
Toledo um frigorífico de abate de suínos, o Frigorífico Pioneiro S. A.5
Como o frigorífico passou a enfrentar muitas dificuldades, em julho de 1964
o Grupo Sadia optou por controlar boa parte de suas ações. No fim de 1971, o
5 Segundo Furlan, Rippel (1995), o Frigorífico Pioneiro, que começou a Operar em 1959, conseguia processar apenas cerca de 20% dos suínos produzidos no município. A exportação dos animais vivos continuava sendo realizada, apesar das perdas e dos prejuízos no transporte.
13
Grupo, dentro de seus planos de expansão nacional, propõe aos acionistas do
frigorífico a tomada do seu controle acionário6 (Fontana, 1980, p. 235-240).
A partir daí, o parque agroindustrial fabril da FRIGOBRÁS de Toledo iniciou
um processo de crescimento e expansão contínua, diversificando suas atividades
com vistas à obtenção de ganhos de produtividade e de escala que possibilitassem
a conquista de novas fatias de mercado e ampliação de suas margens de lucro.
Além de atuar no abate de suínos, passou também no abate de bovinos. No
ano de 1978, parte para sua consolidação com o estímulo e a implementação na
região da criação de frangos para abate, principalmente via sistema integrado,
estabelecendo encadeamentos produtivos mais definidos na economia local, que
possibilitaram um aumento de lucratividade da empresa. Com vistas a apoiar ainda
mais essa nova atividade, a unidade industrial de Toledo ingressou no ramo da soja
e do milho, beneficiando-os para a produção de óleo, farelo e rações.
Optou-se também pela diversificação e ampliação de sua produção local,
construindo uma moderna fábrica de embutidos primários, industrializando em
Toledo parte da carne suína ali abatida, através da produção de presunto cozido,
defumado, fiambres e apresuntados (FUNDAÇÃO, 1990, p, 25-28), o que fez
ampliar a gama de encadeamentos, nos quais a empresa encontra-se inserida, tanto
para frente quanto para trás, por meio da consolidação de seu parque fabril e
conseqüente crescimento da demanda da matéria-prima local.
Esse processo deu-se de uma forma tão intensa que, em 1988, a filial de
Toledo foi transformada em uma das matrizes do Grupo, dados os benefícios que
ela passou a usufruir corri sua transferência de São Paulo para o Paraná e dada a
sua inserção na economia estadual.
Ressalte-se que o processo de crescimento e expansão do parque fabril da
FRIGOBRÁS de Toledo foi tão intenso que os encadeamentos produtivos do
complexo passaram a consolidar-se cada vez mais, e os efeitos em cadeia de
consumo começaram a surgir e a se expandir de forma acelerada. A empresa teve
um papel de tal importância na economia local de Toledo, que suas operações
respondem por mais de 48% da arrecadação fiscal do Município. (Rippel 1995)
6 Esse fato efetivou-se em 15 de dezembro de 1971, quando o frigorífico de a atender pelo nome de Frigobrás - Companhia Brasileira de Frigoríficos S. A. - Filial de Toledo – PR.
14
Essa expansão foi em boa parte responsável pelo surgimento do fenômeno
das empresas comunitárias de Toledo, que se organizaram, inicialmente, a partir da
utilização de um subproduto da FRIGOBRÁS e ampliaram seu leque de atividades
com vistas, principalmente, ao atendimento da demanda dessa empresa. Desse
modo, passaram a assumir essencialmente uma posição de empresas resultantes
de um efeito em cadeia de consumo, aumentando, com o passar do tempo, sua rede
de atuação para inserir-se em outros mercados. Atualmente o parque fabril da
SADIA em Toledo emprega diretamente mais de 7.800 pessoas e indiretamente
mais de 15.000. (Rippel 2005).
3 – O Surgimento das Empresas Comunitárias de Toledo (PR)
A idéia das empresas comunitárias, segundo Gonzatto (1984), surgiu a partir
de um projeto fomentado pela Associação Comercial e Industrial de Toledo, cujo
objetivo era o de estancar o processo de decadência econômica, pelo qual passava
o município, via captação de capitais locais em torno de empreendimentos capazes
de gerar empregos e de aumentar a arrecadação. Nessa busca por investimentos,
surgem, entre outras, aquelas empresas que se vincularam à FRIGOBRÁS, através
do uso de seus subprodutos.
De acordo com Rippel (1995), esse movimento fez com que Toledo
passasse a assumir a posição de maior pólo industrial do oeste paranaense,
principalmente a partir de 1980, com a instalação da Indústria e Comércio de Peles
S. A. (INCOPESA) e das demais empresas comunitárias que giraram inicialmente
em torno da FRIGOBRÁS.
Nessa direção, como realça Hirschman (1961), as oportunidades de
expansão econômica regional, a partir dos efeitos de encadeamentos oriundos de
investimentos em determinadas indústrias que exigem complementaridades para
frente e para trás. Evidentemente, os efeitos podem não ser imediatos no local de
implantação dessa indústria, quando o mercado está integrado em nível nacional e
não encontra dificuldades de suprimentos de artigos que servem como insumos ao
processo de produção. Entretanto, investimentos em determinados segmentos
produtivos que são complementares ou que representam oportunidades, a partir do
15
processamento de subprodutos da empresa "mãe" devem estar inseridos na
dinâmica dos mercados.
Assim, o surgimento das empresas comunitárias, a partir da aglutinação da
poupança local e sua aplicação em novos empreendimentos que tenham efeito
multiplicador de emprego e renda, extrapola a idéia do empresário inovador
"schumpteriano". Destra forma as decisões de investimento dependem das
expectativas de retorno do capital aplicado. Contudo, esse retorno do capital, além
de levar em consideração a questão da demanda efetiva keynesiana, encontra-se
extremamente vinculado às condições de funcionamento das diversas estruturas de
mercado. Dessa forma, não é suficiente apenas a reunião de capitais para que os
investimentos sejam factíveis. É necessário, além disso, considerar que numa
economia oligopolizada como a brasileira, o retomo do capital pode não ocorrer, ou
melhor, a iniciativa empreendedora pode frustrar-se se não se tiver em conta esses
elementos.
Desse modo, em função das características dessas novas empresas,
predominantemente pequenas e médias, é sintomático que a sua proliferação seja
acompanhada por um alto índice de nascimento e mortalidade, face aos problemas
de competitividade encontrados e à sua inserção em estruturas de mercado
amplamente oligopolizadas. Mesmo assim, o resultado foi um aumento do número
de empresas vinculadas ao parque industrial da FRIGOBRÁS-SADIA, entre as quais
algumas se constituem como empresas de médio porte7 (Rippel, 1995).
Cabe ressaltar, porém, que nesse movimento não surgiram apenas
empresas vinculadas ao parque da FRIGOBRÁS-SADIA, mas também outras
relacionadas a diversas áreas da economia local (PARANÁ, 1989). Entretanto,
destacam-se mais aquelas que surgiram vinculadas a esse parque industrial, todas
elas no período posterior a 1980, fazendo uso de matéria-prima local (Quadro 1).
7 Em menos de dez anos o parque industrial do município foi multiplicado por duas vezes e meia, com o surgimento de aproximadamente 150 novas pequenas indústrias locais, comunitárias ou não.
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Quadro 1 - Características gerais das empresas comunitárias selecionadas, em Toledo - 1995
Nº de sócios Matéria-prima Empresa Ano de
instalação No ano da instalação Atual
Ramo de atividade Tipo Origem
Incopesa 1980 21 5 Curtume Couro de gado
Local / regional/ Estadual e Nacional
Incasa 1982 58 3 Fábrica de calçados Couro Local
Bompel 1980 2 2 Fábrica
calçados e segurança
Couro Local
Incofacas 1983 3 2 Cutelaria e fábrica de
ferramentasAço Nacional e
importada
Ondina 1982 2 2 Fábrica de embalagens
Poliuretano e PVC a granel
Nacional
Fonte: Rippel (1995) Observa-se que a maioria das empresas utiliza os insumos oriundos da
empresa "mãe", a FRIGOBRÁS, com a qual todas possuem ou já possuíram
grandes ligações de consumo e demanda. Para a Bompel, a Incofacas e a Ondina, a
FRIGOBRÁS representa uma grande cliente regional.
Apesar de diferentes origens e de situações atuais diversas, essas
empresas foram, em sua maior parte, resultado de iniciativas locais privadas,
apoiadas por grandes incentivos da prefeitura. De início, elas depararam-se com
dificuldades econômicas e administrativas do gerenciamento coletivo, como a falta
de habilidade gerencial e de capacidade produtiva e de competitividade, elementos
fundamentais para a sobrevivência das firmas. No caso de Toledo, isso fez com que
muitas delas fechassem.
Mesmo assim, as pequenas indústrias locais, fundamentalmente privadas,
que souberam aproveitar as potencialidades da FRIGOBRÁS-SADIA, nasciam com
tamanha velocidade que Toledo foi alçada a uma posição de destaque em nível
nacional (PARANÁ, 1989). Esse processo de recuperação econômica local inicia-se
a partir da entrada em operação da Indústria e Comércio de Peles S.A.
(INCOPESA), em 1981.
O funcionamento da INCOPESA se toma um marco, pois, "enquanto a
INCOPESA utilizava o couro produzido pela FRIGOBRÁS, a maior parte das
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empresas comunitárias aproveitaram, pelo menos no seu inicio, o couro produzido
pela INCOPESA" (Rippel, 1995, p. 65). Este fato converge com as idéias de Furtado
(1987), que chama a atenção para a vinculação do dinamismo da economia à
capacidade de demanda de alguns setores por insumos internos da região,
modificando a estrutura de produção em decorrência de novas atividades em
funcionamento nesta economia, fato que geraria os encadeamentos teorizados por
Hirschman (1 961, 1985) propiciando desta forma o desenvolvimento econômico.
3.1 – O Impacto das Empresas Comunitárias na Economia Toledana, a partir de 1980
O impacto das indústrias comunitárias na economia de Toledo foi sensível,
tanto que em termos de evolução do desenvolvimento, o município passou de uma
posição de 324º em 1982 para 20º na década de 1990, se consolidando entre os dez
municípios que mais arrecadam ICMS no Paraná. Além disso, o valor da produção,
entre 1970 e 1985, cresceu mais de 2000%. O nível de consumo de energia elétrica
do setor secundário acompanhou o aumento da produção e cresceu 106% entre
1980 e 1992, sendo que o número de estabelecimentos consumidores passou de
158 para 356 neste período. Destes, em torno de 40% são empresas comunitárias.
Esse mesmo aumento ocorreu também no setor terciário, cujo número de
estabelecimentos dobrou no mesmo período, passando de 1.249 para 2.423
(IPARDES, 1993). Já no tocante à participação dos setores econômicos no valor
adicionado, a indústria aumentou sua participação em 10%, entre 1980-1989,
enquanto o setor terciário aumentou em 14%. Como historicamente o setor
secundário gera os maiores efeitos em cadeia por agregar valor e gerar empregos é
natural que o setor terciário acompanhe a evolução do crescimento da indústria,
tanto que as empresas comunitárias geram em torno de 20% do emprego no seu
setor.
Esse desempenho das empresas comunitárias e dos seus respectivos
setores, bem como o ritmo de crescimento econômico que se seguiu até meados da
década de 90, chama mais a atenção por dois aspectos importantes: primeiro, estão
situadas em setores que tradicionalmente são altamente oligopolizados; segundo, os
efeitos em cadeia geraram um surto desenvolvimentista, gerando a formação de um
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pólo têxtil-fabril. O que acarretou em Toledo a formação do maior pólo industrial do
Oeste do Paraná.
4 – Considerações Finais
Atualmente e conforme apontam dados da Secretaria da Fazenda do
Município, Toledo conta com 499 estabelecimentos industriais e mais 3.000
estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços. Com estes dados se
observa que o setor secundário aumentou seu número de estabelecimentos no
decorrer da década de 1990. Ou seja, pode-se afirmar que o município conseguiu
recuperar-se, nos dias atuais, da dinâmica de crescimento que marcou a década de
1980. Evidentemente, que os anos 90 são um marco na economia brasileira, dada
as transformações por que passou que vão desde a estabilização da economia ao
acordo comercial que consolidou o Mercosul.
No entanto, a década perdida foram os anos 80. Frente a estes fatos, fica a
interrogação: Por que os encadeamentos produtivos, que geraram um surto de
crescimento no município, se arrefeceram nesta década? Uma resposta com bases
mais profundas implicaria em um novo trabalho, mas cabe ressaltar alguns aspectos
das perspectivas de um novo surto de crescimento em Toledo, que explicariam o
crescimento lento nos últimos anos, que seriam:
a) Desequilíbrios setoriais: Na realidade, no momento que se criam
indústrias comunitárias, atreladas a uma indústria “mãe”, impõe-se um processo de
substituição de importações dos insumos demandados por esta indústria. Com isso,
para se manter o ritmo de crescimento deve-se manter o processo de substituição
de importações em outros setores. Cabe então identificar os setores que hoje seriam
a prioridade ao novo arranjo econômico de Toledo, como o que foi feito na década
de 1980. Além, é claro, de investimentos em ganhos de produtividade e na
superação de estrangulamentos setoriais.
Por outro lado, deve-se salientar que o setor agrícola vem sofrendo duros
golpes, desde a segunda metade da década de 1980, acentuados com o programa
de estabilização econômica surgido em 1994, cujos efeitos se estendem até os dias
atuais, além da concorrência de produtos agropecuários importados dos países do
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Mercosul. Para ilustrar este fato, entre 1980- 1989, a participação da agricultura no
valor adicionado do município caiu de 57% para 33%. Como a região de
abrangência de Toledo é constituída por pequenos agricultores, que mais sentem os
ajustes macroeconômicos que o país vem passando na última década, se faz
necessário uma estrutura de proteção à pequena propriedade, visando manter o
nível de renda e consumo desta população rural.
b) O nível de absorção de mão-de-obra: No momento que a indústria "mãe"
cresce e absorve tecnologia de ponta, visando ter ganhos de escala e melhoria na
sua competitividade, há uma grande possibilidade em se diminuir o ritmo de
emprego da mão-de-obra. Aliado a isto, o nível alto de urbanização acarreta o que
Gusso (1996, p. 08) caracteriza como "uma dimensão absoluta de mercado
incompatível com o ritmo de crescimento da capacidade produtiva que se instalou no
período".
Para superar o processo de desaceleração no ritmo de crescimento e gerar
novos encadeamentos produtivos de forma dinâmica, sugere-se o incremento da
base de exportação do município de Toledo, de forma a absorver a mão-de-obra
excedente, recompor a capacidade instalada das empresas locais, a partir de uma
demanda de outras regiões. Para se efetivar o processo necessita-se de uma
adequação da infra-estrutura regional, melhorando as vias de acesso aos anéis
rodoviários, diversificando a estrutura de escoamento da produção. Além de
investimento em tecnologia e absorção do progresso técnico, visando ganhos de
produtividade e de qualidade.
Por outro lado, seria conveniente localizar novos produtos passíveis de
substituição junto às empresas do município, carreando poupança a novas
oportunidades de investimentos. Com isso, há o aceleramento da atividade
econômica, via a inter-relação industrial internamente na região.
Estas seriam alternativas à geração de novos encadeamentos produtivos,
cuja experiência, na década de 80, propiciou a retomada do crescimento rápido do
município em meio á década perdida, o que consolidou Toledo na virada da década
como uma das maiores economias do Estado do Paraná.
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