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Caixinha Azul: Um Tesouro Alex de Imaruí

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1.ª Edição

Pato Branco - PRImprepel Gráfi ca e Editora Ltda.

2011

Alex de Imaruí

Caixinha Azul: Um Tesouro

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FICHA CATALOGRÁFICA:Catalogação na publicação: Carmem Maria Macagnan CRB-9/498

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, a gravação ou transmissão total ou parcial, através de qualquer meio, sem a autorização expressa do autor.

I31 Imaruí, Alex de Caixinha Azul:um tesouro/Alex de Imaruí. IMPREPEL, 2011. 150p.

l. Literatura brasileira - Romance CDD 20. ed. B869.3

ISBN 978–85-98764-40-5

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AO LEITOR

Agradeço a você amigo leitor por incluir essa obra em sua leitura. Desejo muito que ela vá além de uma história com apenas palavras sem edifi cação individual e social. Ao produzir esse romance, sempre procurei focar em levar prazer pela leitura e curiosidade.

O mais interessante em uma leitura é escolher e aproveitar uma boa obra, tirando lições para a vida real, sem cometer o erro de abstrair junto o rejeito que eventualmente possa existir, mas considerar o lado construtivo que possa acrescentar algo de bom.

A leitura consciente é muito importante para o desenvolvimento de um cidadão, englobando sua formação e crescimento.

Não podemos esquecer que um dos elos que unem o homem ao topo da cadeia, é a capacidade de aprender. Então aprenda! Um ótimo caminho para isso: uma prazerosa leitura consciente.

Ao começar sua leitura, não desista de procurar onde está e o que há dentro da tal de caixinha azul.

O que pode ser de tão importante dentro de uma simples caixinha azul?

Pode nos trazer algum acréscimo?

Realmente existe?

Descubra você amigo leitor porque eu já sei!

Então vamos iniciar a leitura ... Alex de Imaruí

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Agradeço primeiramente a Deus que tem sido minha força, meu escudo protetor.

Minha gratidão se estende aos meus pais, irmãos, familiares e amigos que sempre acreditaram em mim.

Quero também deixar registrado com imenso carinho minha gratidão a Professora Dra Jussara Bittencourt de Sá, pelo seu apoio e incentivo para realização desta obra.

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“A beleza presente nas palavras é capaz de transformar a mais profunda solidão em uma festa emocional”

(Alex de Imaruí)

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MINHA INFÂNCIA

“Imaruí, um pequeno grande lugar”Alex de Imaruí

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Imaruí é uma cidade com poucos habitantes, nela existe bastante verde e pássaros cantando, um lugar muito estável de viver. Está localizada na região sul do Brasil, no estado de Santa Catarina. Eu, Wesley, nela nasci e produto dela me tornei.

Em minha infância, por volta de nove anos, adorava pescar com uma tarrafi nha de seis braças feita pelo meu avô especialmente para mim. Quando conseguia pegar algum peixe fi cava alegre, era como se eu tivesse ganhado um presente. Correndo levava o pescado para minha mãe e ela preparava para almoçarmos.

Difi cilmente passava algum dia sem eu pescar. Já bem cedo, a primeira coisa que fazia era tomar um cafezinho, pegava minha tarrafi nha e saia correndo para margem da lagoa que fi cava bem pertinho, e ali começava tarrafear. Brincar na lagoa, ver aqueles peixes pulando em minha tarrafi nha era um divertimento. O tempo foi passando, fui crescendo e as responsabilidades começaram tomar meu tempo até não conseguir mais pescar.

Nesta mesma cidade completei meus estudos até o Ensino Médio. Estudei na escola de educação Básica “Prefeito Pedro Bittencourt”, localizada bem no núcleo atômico de minha cidade, sempre tive certa facilidade em química e por esse motivo resolvi fazer meu curso em química, fi z licenciatura porque sempre considerei essa profi ssão de professor muito importante para a sociedade, os profi ssionais da educação são um dos grandes responsáveis pela formação de cidadãos e contribuem para construção de um lugar mais justo e humanitário.

A faculdade tive de cursar em Tubarão, cidade vizinha que fi ca aproximadamente uns setenta quilômetros de Imaruí. Com a “Associação Universitária de Imarui (AUI)”, associação de estudantes universitários que também estudavam em Tubarão, ia para faculdade junto com outros colegas.

Hoje formado em Licenciatura tenho dúvidas se realmente quero ser docente ou trabalhar em uma empresa. Mas não me arrependo de ter feito esse curso, aprendi muito sobre química e como ser um docente.

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UM HOMEM DE BRANCO

“As conquistas fl orescem dos verdadeiros sonhos!” Alex de Imaruí

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Sábado à tarde, descansando em minha cama após um almoço bem gostoso que minha mãe tinha feito, cochilei um pouco e tive um breve sonho, uma pequena visão, não sei, apenas posso dizer que vi uma caixinha azul enterrada bem ao lado de uma laranjeira. Nela continha um grande tesouro que mudaria a vida de qualquer pessoa que encontrasse.

Após esse sonho ou visão acordei e fi quei eletrizado. Mesmo que não quisesse dar importância para aquele sonho não

conseguia. Cada dia que passava era mais atraído por ele como se fosse automático, não dependia de mim. Meus avós sempre diziam sobre pessoas que sonharam com moedas de ouro e depois de muito procurarem as encontravam, verdadeiramente elas existiam e estavam em lugares parecidos com do sonho.

Ficava pensando no que teria dentro daquela caixa azul? O que era tão valioso? Talvez fosse ouro, diamante, quais pedras preciosas poderiam ter lá dentro? Qual combinação atômica estaria lá?

Mas ao mesmo tempo tentava ignorar porque era apenas um sonho, uma imaginação, um disperso.

No sábado seguinte, novamente após almoçar me deitei. O mesmo sonho me perseguiu, uma caixinha azul enterrada bem próximo de uma árvore, uma laranjeira, do lado esquerdo dela, só que agora vi também o lugar em volta, havia laranjeiras ao redor.

Nesse mesmo sonho apareceu um homem vestido de um branco radioativo e era bem educado, perguntou o que eu estava fazendo ali, respondi que estava cavando para desenterrar uma caixa azul naquele local, este distinto senhor ainda perguntou se era tão importante assim pegar aquela caixa, prontamente respondi que sim, pois dentro dela tinha um grande tesouro, com grande sorriso ele disse que eu não deveria desistir de cavar até encontrar a caixinha azul. Meu objetivo só seria alcançado se traçasse uma união com cargas opostas ao sonho.

Fiquei curioso, pois segundo ele não deveria desistir. Talvez

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ele soubesse o que havia dentro, porém não perguntei nada apenas continuei cavando. Ele saiu bem devagar olhando para traz, sorrindo e reforçando que não deveria desistir, mas encontrar a caixa.

Após ele ter dito pela terceira vez, “não desista”, acordei do sonho, levantei da cama em que estava descansando e sai para dar uma caminhada. Nesse meu passeio pelas ruas onde passava, meditava sobre o sonho ter acontecido pela segunda vez, achei muita coincidência e logo por ser sábado também. Não conseguia parar de imaginar aquela caixa azul, teria realmente algo de valioso dentro dela? Onde ela estaria? Como conseguiria encontrá-la? Mais me indignava é não saber onde ela estava escondida caso realmente existisse. Estaria em minha cidade, em meu estado, não sei, só sei que sonhei.

Resolvi parar um pouco em um banquinho na praça, olhar a lagoa, os barcos de pesca, os pássaros próximos, e o movimento de pessoas caminhando por ali.

Estava distraído quando de repente se aproximou um amigo chamado Roberto, bateu no meu ombro e me saudou com uma boa tarde. Fiquei surpreso, pois não esperava encontrá-lo, convidei para se sentar. Ele aceitou. Percebendo que eu estava muito pensativo perguntou:

- No que está pensando?- Não estou pensando, apenas admirando essa bela natureza.No primeiro momento não quis falar a verdade, poderia dizer que

eu estava louco, era apenas coisa da minha imaginação. Começamos conversar sobre várias coisas, como por exemplo, onde seria a festa naquele sábado, como estava o trabalho, sobre os estudos dele, as notas das provas e também sobre química, porque ele cursava faculdade de química, porém era área industrial.

O tempo foi passando e o sol estava se pondo, começava aparecer aquele vermelhão do pôr-do-sol. Uma paisagem linda!

Então veio em minha mente um pensamento, comentei com

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Roberto que nossa vida é como aquele pôr-do-sol.- Como, me explique?- O sol está indo embora, mas amanhã vai voltar. Assim como

durante a noite é escuro, o dia vai chegar e trazer luz, nossa vida também, às vezes coisas boas nos acontecem e em seguida vão embora, tudo escurece, mas outras coisas boas voltarão acontecer com a chegada da luz que seria um novo dia, uma nova história, um novo acontecimento, um novo fato, uma nova reação.

Ele não falou nada, apenas baixou sua cabeça. - Não entendeu?- Entendi e fez muito sentido, porque estava precisando ouvir! - Roberto agora preciso que me explique, por favor! Estava

precisando ouvir? O quê? Por quê?- Minha namorada terminou nosso relacionamento de um ano e

meio, mas pensando no que você disse, assim como ela entrou em minha vida vai sair dando oportunidade para uma nova vida, uma nova história, um novo amor, um novo composto.

Eu sem saber do problema que Roberto estava enfrentado acabei ajudei-o, senti-me contente, pois tinha ajudado um amigo.

Em seguida ele disse que tinha compromisso, era aniversário de sua mãe e precisava se arrumar. Eram dezoito horas de sábado.

- Esta noite as vinte uma horas têm uma festinha para os familiares. Gostaria que fosse em minha casa compartilhar conosco.

- Não! Como posso comparecer na festa de aniversário de sua mãe se é apenas para parentes? Aliás, também não fui convidado.

- Você é meu convidado, ela já tinha pedido para convidá-lo, estava indo em sua casa para fazer esse convite.

- Mas não comprei nada, nem sabia! - Não precisa! Vamos comer alguma coisa, você dá os parabéns a

ela e depois vamos dar uma volta, olhar as gatinhas tomando sorvete. O que acha?

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- Ela não vai fi car chateada por não ganhar nada de mim?- Não! Fique tranquilo!- Então aceito!Chegando a um equilíbrio dinâmico cada um foi para sua casa se

arrumar. Próximo das vinte uma horas sai de minha casa.Quando cheguei na casa dele, isso às vinte uma horas em ponto,

sua mãe Dona Vilma me cumprimentou, chamou Roberto e pediu para fi car a vontade. Agradeci é claro!

Logo que ele me viu já convidou para fi car perto da mesa, iam cantar os parabéns. Ali estavam apenas os parentes mais próximos da aniversariante e do esposo dela, Sr. Kleber que era pai de meu amigo. E é óbvio, eu de bicão!

Aliás, tudo era tão excitante aos olhos!

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CONTEI O SONHO

“É necessário tentar para adquirir experiências”Alex de Imaruí

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No início da festa me senti um pouco diferente, pois apenas eu não era da família. Aos poucos fui apresentado aos parentes de Roberto, em pouco tempo comecei sentir-me melhor, percebi que eram pessoas educadas e legais.

- Vamos dar uma volta? (perguntei).- Já deve ter um bom movimento próximo da sorveteria.- Então vamos?- Primeiramente irei avisar minha mãe que iremos dar uma volta.- Irei também me despedir dela!Desejei muitas felicidades e paz, ela agradeceu. Perguntou se

gostei da festa, logo disse que sim, pediu para Roberto não chegar muito tarde em casa. Ele como sempre foi muito educado disse que não precisava se preocupar. Saímos de sua casa e já estávamos na praça, era do outro lado da rua, a sorveteria fi cava também bem próximo de onde estávamos.

O lugar estava quase saturado. Havia várias pessoas caminhando, conversando e tomando sorvete, dentre tantas pessoas passeavam muitas jovens bonitas, alguns amigos e amigas.

Ele disse que iria comprar um sorvete e perguntou se eu também gostaria.

- Aceito!- Vou querer de morango com banana.- Eu de chocolate com nata.Chegamos à sorveteria, quem atendia era uma amiga. Ficamos

surpresos. Perguntei se já fazia tempo que trabalhava ali, ela disse que era seu segundo dia de trabalho e só trabalhava nos fi ns de semana quando era convidada.

Compramos o sorvete e continuamos nossa caminhada pelo centro da cidade.

Paramos em um banquinho na praça, por coincidência era o mesmo que ele tinha me encontrado algumas horas atrás.

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Pelo fato de sermos bons amigos achei que poderia contar o sonho sem ele rir de mim, pois parecia loucura de minha cabeça.

Acabei contando, disse que tive um sonho e nesse sonho havia uma laranjeira com uma caixinha azul enterrada ao lado, tinha um grande tesouro dentro mas eu não sabia o que era. Já tinha sonhado por duas vezes.

Na primeira vez, era apenas a caixinha azul enterrada próxima à laranjeira, na segunda vez que sonhei, apareceu um homem de branco e disse que não deveria desistir de cavar até encontrar a caixinha.

Roberto não entendeu o que signifi cava, mas também não riu de mim. Perguntou se eu sabia onde fi cava aquele lugar, se já tinha ido até lá, respondi que não sabia e por isso ainda não tinha procurado, mas era um lugar de bastantes laranjeiras e a caixinha também fi cava bem próxima de uma delas.

Ele fi cou pensativo e de repente falou que achava onde poderia ser. Tenho um tio que mora em uma cidade vizinha, é dono de um sítio, nesse sítio tem muitas laranjeiras. Quando é época dá muitas laranjas, até vende em alguns mercadinhos ali da redondeza.

Roberto perguntou:- O que você acha de irmos qualquer dia desses ao laranjal de

meu tio?- Claro! Não tem nenhum problema?- Meu tio é bem legal, até irá nos levar para mostrar seu pomar e

talvez seja o lugar do sonho! Já pensou se realmente é? Já que as laranjeiras eram do tio dele eu não tinha nada para

perder caso não reconhecesse o lugar, então aceitei ir, até porque fi quei curioso e excitado com essa probabilidade de encontrar a tal caixinha.

Depois de nosso passeio acompanhei-o até em frente de sua casa, me despedi e fui para minha também.

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O SÍTIO DO TIO DE ROBERTO

“Não existe chegada para quem não foi!” Alex de Imaruí

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No dia seguinte acordei bem cedo e liguei a Roberto convidando para irmos ao sítio, prontamente aceitou e pediu que esperasse primeiramente ligar para seu tio perguntando se podíamos visitá-lo. Depois de uns dez minutos retornou a ligação dizendo que estava tudo certo, e sua tia iria preparar um almoço especial com mariscos. Quase que esqueci por alguns instantes do precípuo da visita quando ele falou em mariscos, pois é meu fruto do mar preferido.

Combinamos de estar na rodoviária às dez horas para pegarmos o ônibus.

Fiz tudo que tinha para fazer até as oito horas e quarenta e cinco minutos, depois tomei aquele banho gostoso, me arrumei, tomei uma cafeína rápida e às nove horas e trinta e cinco minutos dirigi-me à rodoviária.

No caminho fi quei imaginando como seria o sítio, será que as laranjeiras eram grandes, pequenas, médias. Tinha me esquecido de perguntar de quais eram as espécies. As laranjeiras do sonho eram cravas. Eu sabia porque no segundo sonho consegui perceber.

Ao chegar na rodoviária ele ainda não estava, olhei no relógio da agência e ainda marcavam nove horas e cinquenta e cinco minutos. Sentei para esperá-lo porque não queria ir até a casa dele, sabia que precisaria retornar.

Faltando um minuto para as dez horas ele chegou, em seguida o ônibus que iria fazer a linha também estacionou.

Compramos as passagens e entregamos ao cobrador, entramos...Sentamos nos dois primeiros bancos, fomos os primeiros a entrar e

preferimos fi car bem na frente porque ali podíamos ver todo movimento na estrada.

Às dez horas e dez minutos começamos viajar, ele disse já ter avisado aos tios sobre estar levando um amigo para conhecer o sítio, seus tios disseram que não havia problemas e ainda estavam dispostos a mostrar seu sítio para nós.

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Fiquei contente pela primeira impressão que causaram, pareciam ser legais.

Depois de algum tempo de viagem avistei um pequeno laranjal em um terreno acidentado, mas não era nem um pouquinho parecido com do sonho.

Perguntei a Roberto:- É esse o sítio de seus tios?- Não! Precisamos viajar mais algum tempo. - Ainda está longe?- Não se preocupe, agora falta pouco tempo!Ele percebeu que eu estava ansioso para conhecer o laranjal,

mas mesmo assim me perguntou e respondi que sim. Deu uma risada dizendo que era perceptível porque fi cava mexendo com as mãos em minha carteira sem parar. Pude perceber nele também curiosidade em saber se era o lugar do sonho, aquele sítio de seu tio.

Depois de mais alguns minutos de viagem comentou:- Parece que a viagem está fi cando cada vez mais longe.- Como assim? - Em outras viagens, estou com impressão de não levar tanto

tempo para chegar à rodoviária de Imbituba. Com essa resposta percebi que também estava tão ansioso quanto eu. Logo respondi:

- É ansiedade que está fazendo a viagem fi car tão distante.- Verdade! Até porque Imaruí não é tão longe de Imbituba!- De ônibus são apenas uns trinta minutos. Depois de mais um tempo de viagem enfi m avistamos a rodoviária,

mas primeiramente foi preciso parar em um semáforo que estava com o sinal fechado, parecia estar com problemas porque não abria, mas logo pensei, na verdade não é aquele sinal que não abre e sim ansiedade de chegarmos logo.

O sinal abril e entramos na rodoviária, saímos do ônibus num processo de calefação. Ao chegar não conseguimos ver o tio de Roberto

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então ele falou que iria ligar de um telefone público que havia ali perto, eu iria esperá-lo em uma das cadeiras dessas de espera que tem geralmente nas rodoviárias.

Quando voltou disse que seu tio já estava vindo. Convidou-me para comer ou tomar algo, aceitei, fomos em uma lanchonete ali mesmo dentro da rodoviária.

Perguntei se não iríamos nos perder de seu tio e ele respondeu que ao chegar, não nos encontrando nas cadeiras de espera iria até a lanchonete.

Chegamos à lanchonete, Roberto pediu um suco de laranja, eu preferi um suco de abacaxi. Tinha ali muitas coisas gostosas para comer, tanto salgada quanto doce, mas não quisemos comer nada porque já estava chegando perto do almoço e iríamos fi car sem fome, sem contar que estavam nos esperando deliciosos mariscos.

Já fazia tempo que não comia os tão deliciosos mariscos porque em minha casa eles não eram assim tão bem vindos pelos meus pais e irmãos. Meu pai Francisco de 50 anos gostava muito de carne bovina, minha mãe Valda de 44 anos de ensopado de frango, minha irmã Lígia de 20 anos de carne suína, meus dois irmão Fábio e Vagner, o primeiro com 17 anos e o segundo com 10 anos, gostavam de tainha, eu, Wesley, tenho 26 anos e adoro marisco. Sendo que carne de boi, de porco, de galinha e a tainha eram mais fáceis de encontrar para comprar, já mariscos é um pouco difícil de conseguir.

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RODOVIÁRIA

“A cada nova experiência uma nova história”Alex de Imaruí

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Estávamos na lanchonete tomando suco quando chegou tio de Roberto, ele se aproximou, cumprimentou seu sobrinho e lhe deu um abraço, depois me cumprimentou e apertou minha mão, foi muito educado e logo fez algumas perguntas.

- Você é quem gostaria de conhecer meu laranjal?- Sim! Gostaria muito!- Essa tarde nós podemos! Mas primeiro iremos almoçar, descansar

um pouco, e após daremos uma volta por ele. Pode ser?- Sim! É claro, fi co agradecido pela sua boa vontade!- Seu nome é?- Wesley. Roberto me falou do senhor, mas esqueceu de dizer seu

nome.- Meu nome é João.- Prazer em conhecê-lo, Sr. João!- O prazer é todo meu!Em seguida fomos até o carro do tio de Roberto, era um jipe. Nunca

tinha andado num jipe, seria minha primeira vez, fi quei exotérmico para saber como seria andar naquele veículo.

Ao entrarmos no carro, Sr. João pediu para termos um pouquinho de paciência, ele iria voltar até a lanchonete para comprar um refrigerante.

Agora estava eu com vontade de comer mariscos e ainda curioso para andar no jipe. Mas teria que esperar alguns minutos até ele voltar da lanchonete. Não demorou muito e já estava com o refrigerante para acompanhar nosso almoço.

A viagem foi muito legal e divertida. O jipe realmente era muito gostoso de andar, não pelo conforto, pois isso ele não tinha mas porque anda por qualquer estrada, é um carro com força, valente, enfi m, a viagem foi emocionante tanto para mim quanto também para meu amigo Roberto, embora ele já tivesse andado antes.

Depois de alguns minutos fi nalmente chegamos à casa do Sr. João.

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- Wesley, gostou da viagem de jipe? (perguntou Sr. João).- Sim! Foi muito divertido, Sr. João.- Então depois do almoço iremos de jipe ao pomar. Pode ser?- É claro, será muito prazeroso.Para seu sobrinho ele não perguntou a respeito da viagem de jipe,

porque já tinha andado várias outras vezes. No meu caso foi primeira vez.

Ao entrarmos na casa logo veio a esposa do Sr. João, Dona Julieta, cumprimentando seu sobrinho e também a mim com muita educação. Perguntou como foi nossa viagem, dissemos que tinha sido ótima.

Em poucos minutos após nossa chegada tudo já estava pronto, então Dona Julieta nos chamou para almoçar. Na mesa o primeiro prato que vi foi de mariscos, até parecia que estavam me chamando pelo nome. Senti uma forte ligação de caráter iônico.

Fizemos uma pequena oração antes de começarmos. A comida estava muito deliciosa e resolvi dizer isso a ela.

- Dona Julieta, seu almoço está de parabéns!- Obrigada! Acho que você é quem está com fome.- Toda comida está ótima e os mariscos então, divino!- Mais uma vez muito obrigada, Wesley. Fico feliz que tenha

gostado, talvez isso signifi que que irá voltar mais vezes.- Também agradeço pelo convite.Essa foi a única conversa que se ouviu desde o início até fi nal da

refeição. Então houve silêncio...No fi nal da refeição vendo que eu não tinha bebido nada me

perguntaram se queria refrigerante ou água. Respondi que não tinha costume e a digestão seria melhor.

Terminado nosso saboroso almoço Roberto me convidou para irmos até umas árvores ali ao lado da casa, tinha três redes para descansarmos um pouco e deixar o ácido clorídrico digerir. Podíamos

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escolher qualquer uma delas porque seus tios iriam deitar no quarto deles para descansar.

Um ventinho gostoso soprando, fresquinho, não estava muito quente nem muito frio, céu bem azul sem sinal de chuvas. Perto de onde estávamos havia uma linda cachoeira com aquele barulhinho de águas correndo facilitando para dormir.

Depois de algum tempo, Dona Julieta nos acordou pediu para nos preparar porque seu marido, Sr. João também tinha acordado e estava se arrumando para irmos até seu pomar de laranjas.

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A VIAGEM AO LARANJAL

“Quanto mais direcionado for o caminho, mais profundas serão as recordações”

Alex de Imaruí

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Depois de tudo pronto entramos no jipe e iniciamos nosso percurso curvilíneo até o pomar. Era um caminho estreito com pequenas rochas e buracos, também tínhamos que nos proteger de alguns galhos fi nos das árvores que alcançavam a estrada com suas folhas, nada que fosse perigoso, todavia ter cuidados era uma boa opção.

A trajetória começou sem muitas subidas, mas à medida que continuávamos o jipe teve que usar um pouco mais de sua força, em alguns trechos havia buracos, pedras e longas subidas bem inclinadas.

Estávamos chegando próximo a um pomar de laranjas, logo pensei –“esse será o laranjal do Sr. João?”.

Perguntei ao Roberto que estava sentado no banco do carona na parte da frente:

- Estamos perto?- Não! Ainda falta um tempinho. Não está gostando da viagem?- Estou sim! Acho até que gostaria de outro dia voltar, caso teus

tios concordarem.O tio de Roberto logo me respondeu:- Sempre que quiser será bem vindo!- Obrigado! (Respondi a ele).Meu amigo então percebeu que eu estava gostando da viagem,

mas também estava ansioso para conhecer o laranjal, talvez fosse igual ao sonho e a caixinha azul possa fi nalmente ser encontrada.

- Wesley, ainda lembra como era a árvore do sonho, na qual, a caixinha azul estava escondida próxima? (perguntou-me Roberto).

- Sim! Perfeitamente.Sem entender nada Sr. João perguntou: - Que árvore? Que sonho?Percebemos que ainda não tínhamos comentado nada com seus

tios. Ficamos um tempo em repouso porque não sabíamos como reagiria. Podia nos chamar de crianças e dizer que sonho é besteira. Mas agora ele já sabia uma pequena parte da história, resolvi então contar tudo.

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- Tive um sonho.- Pode me contar, estou curioso para saber de seu sonho.Meio que gaguejando, um pouco tremulo e atropelando as primeiras

palavras comecei contar:- Em um sábado à tarde tive um sonho, mas não dei muita

importância era apenas um sonho. Sonhei com uma caixinha enterrada próximo de uma laranjeira, dentro dela havia um grande tesouro e qualquer um que encontrasse poderia descobrir e tomar posse do que era tão valioso. Eu ainda não sei o que está dentro da caixinha, apenas estou curioso para saber caso ela realmente exista. Já tive dois sonhos sobre esse mistério.

- Você realmente parece acreditar no sonho! (afi rmou Sr. João).- Não sei o que está acontecendo comigo, parece que algo me

impulsiona a desvendar esse segredo. Não consigo explicar!- Seu sonho pode ter vários signifi cados você não acha?- Talvez! Pode me dar um exemplo?- Não tens andado ansioso por alguma preocupação do seu dia-a-

dia, algo que tenha começado antes do sonho? - Não! Não tenho me preocupado com nada fora da rotina. - Porque se você estiver passando por algum momento de stress,

isso pode ter desencadeado tal sonho.- Eu estava sentado em um banquinho na praça quando seu

sobrinho Roberto apareceu e me convidou para irmos à festa de aniversário de sua mãe, então fomos. Após a festa resolvi contar-lhe esse sonho. Depois que contei, ele disse que seus tios possuíam um laranjal e perguntou se eu queria visitá-los. Já estava inquieto com o sonho, então resolvi averiguar já que tive oportunidade de visitar seu pomar. Se esse sonho é algo verdadeiro talvez possa encontrar tal caixinha em seu terreno, caso contrário, pode ser coisa de minha cabeça ou estar em outro terreno.

- Particularmente acho que não irá encontrar essa caixinha

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enterrada, penso que seja apenas um sonho. (respondeu Sr. João)- Mas aconteceu por duas vezes. O sonho foi semelhante sobre

esse mistério e alguém no segundo sonho ainda disse que não deveria desistir de procurá-la.

- Talvez você tenha razão. De repente seja seu destino fi car rico, bem, mas isso é para quem acredita em destino.

Eu e Sr. João tivemos uma longa conversa. Ele foi compreensivo. Roberto apenas ouvia quieto porque não sabia se acreditava no meu sonho ou seria apenas um sonho acontecido por duas vezes sem sentido real.

Continuamos nossa viagem de jipe.Finalmente chegamos. Bem na entrada tivemos de passar por um

grande portão com varetas de madeira na posição vertical e pregadas a elas, algumas na posição diagonal dando fi rmeza ao portão. Ele era formado de duas partes e preso por uma corrente bem no meio.

Preso ao enorme portão tinha um tabuleiro escrito: “POMAR DE LARANJEIRAS DO Sr. JOÃO”.

Roberto saiu do jipe, pegou uma chave dada pelo Sr. João e foi abrir aquele portão que estava preso pela forte corrente.

Resolvi também sair do carro e ajudá-lo. Enquanto ele abria uma parte do portão eu abria outra parte.

O jipe entrou, fechamos o portão, subimos novamente no carro e seguimos nossa caminhada, mas agora já estávamos dentro do terreno do tio de Roberto.

Depois de mais alguns minutos chegamos ao pomar. O terreno era muito grande.

No centro do pomar passava uma cachoeira. Às vezes alguns primos, primas e amigos de Roberto que moravam ali por perto iam tomar banho naquela beleza natural ali existente.

Muito lindo!Os parentes que moravam mais distantes apenas desfrutavam

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daquelas águas nos fi nais de ano, pois nessa época a família se reunia para comemorar o natal.

Depois de já termos saído do jipe começamos a passear pelo laranjal. Era época de laranjas e elas estavam lindas.

Disse para Roberto que não era nem um pouquinho parecido com sonho.

- Calma Wesley, acabamos de iniciar nossa caminhada, o terreno é grande, talvez algum lugar adiante seja parecido com seu sonho, ou ainda, igual.

- É! Você pode ter razão.- Aproveite para conhecer esse lugar e pegar algumas laranjas

para provar.Sr. João começou falar sobre seu sítio, em especial do pomar.- Todos esses pés de laranjas eu e minha esposa plantamos.

Cuidamos como se fosse um fi lho nosso.- Realmente é muito lindo Sr. João!À medida que foi passando tempo fui me distraindo com tantas

laranjeiras repletas de laranjas cravas. Já que me permitiram, ia andando e saboreando-as por onde passávamos.

Depois de uma longa caminhada conclui que nenhum lugar por onde passamos era pelo menos parecido com sonho. Comecei pensar que tudo poderia ter sido apenas uma mera coincidência e nada real, dois sonhos relacionados, o homem de branco pedindo para não desistir, a caixinha com algo precioso dentro.

Ilusão, utopia... Já estava cansado de caminhar. Pelo menos não foi tempo perdido,

porque as laranjas estavam muito gostosas e o passeio também foi muito bom, conheci um lugar diferente, pessoas diferentes, Sr. João e Dona Julieta, na qual, fi z uma amizade muito prazerosa.

No fi nal de nossa jornada pelo pomar voltamos à casa dos tios de Roberto. Já estava começando escurecer.

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Dona Julieta havia preparado um gostoso café e estava apenas nos esperando com pães caseiros e roscas. Tudo feito por ela mesma.

Ao terminar o café os tios de Roberto foram assistir televisão e perguntaram se queríamos também. Achamos melhor ir para as redes de descanso que estavam ao lado da casa. Agradecemos esse convite deles e fomos para as redes.

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O INÍCIO DO MUNDO

“O diálogo é muito importante para o crescimento social e intelectual”

Alex de Imaruí

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Foi um momento muito interessante esse, conversamos sobre vários assuntos importantes, trocamos idéias, argumentamos, concordamos, discordamos, enfi m, praticamos comunicação interpessoal por meio da fala, de temas que aumentam nosso conhecimento e nos ajudam a pensar sobre o mundo que nos rodeia.

Primeiramente abordamos um assunto de caráter religioso e polêmico. Ele perguntou da criação do mundo, como tudo surgiu, o princípio, o início, segundo meu ponto de vista.

- Acredito que a Bíblia Sagrada nos dá uma boa revelação sobre esse assunto.

- Sim, eu também acredito.- Então por que essa pergunta?- Mas você acha que tudo surgiu como exatamente está escrito?

DEUS fez tudo em poucos dias?- Você quer dizer em sete dias?- Isso, Wesley!- Penso que todas as pessoas têm direito de acreditar nas

construções mentais que cada ser humano forma ao longo de suas experiências no decorrer da vida. Mas antes de responder a pergunta também quero saber no que você acredita?

- Acho que a Bíblia diz como tudo aconteceu.- Pois bem! Irei tentar te explicar no que acredito usando as

Sagradas Escrituras e outras teorias, principalmente da Evolução.- Como assim da evolução?- Acho que nem sempre assumimos a forma física que temos

hoje, talvez um tempo atrás fossemos bem diferentes, de forma que se víssemos hoje uma imagem do homem primitivo não reconheceríamos como um ser humano. Mas ao longo da jornada de adaptações para sobrevivência fomos evoluindo e chegamos ao que somos hoje.

- E a teoria do Big-Bang, o que você acha Wesley?- Penso que talvez possa ter existido sim! E de um simples átomo

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em união com outros átomos o surgimento das primeiras moléculas, aglomerados iônicos, em seguida a formação das substâncias orgânicas e inorgânicas, surgimento das primeiras células, os primeiros unicelulares e posteriores pluricelulares. Tudo pode ter sido conseqüência de uma grande explosão.

- Está escrito que DEUS soprou nas narinas do homem e lhe deu vida. O que você me diz Wesley?

- Acredito profundamente em DEUS e nas Sagradas Escrituras, mas penso que a forma na qual está na bíblia pode ser metafórica, talvez seja apenas uma comparação, algo fácil de entendermos, porque se quiséssemos saber realmente como tudo aconteceu não teríamos condições humanas para entender os mistérios do SOBERANO.

- É interessante a forma com que apresentou sua crença, mas prefi ro continuar imaginando tudo conforme diz as Sagradas Escrituras.

- Não quero que acredite em mim Roberto e sim no que acredita, porque se você começasse pensar agora como penso só porque disse essas coisas, você não teria pensamento próprio, seria fácil de ser alienado, dominado, não teria sua própria história.

- Obrigado por essas palavras, elas são profundas como o oceano e infi nitas como o céu. Verdadeiramente temos de usufruir da capacidade de raciocinar, interpretar, agir, refl etir e agir novamente.

Essa conversa levou um bom tempo de diálogo. Dialogamos muito sobre esse assunto sem impor um ao outro autoridade e forçando terminar a conversa com uma só verdade.

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EDUCAÇÃO, PALAVRA AMPLA

“A educação é o elo entre crescimento individual e cidadania”

Alex de Imaruí

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Também falamos sobre educação, esse tema partiu de mim, até porque sou formado em Licenciatura em Química e já tive oportunidade de lecionar para alunos de Ensino Médio. É um assunto muito presente em nossa sociedade, através dela conseguimos viver de forma civilizada, repassando direitos e deveres de viver nossa cultura, respeitando as mais diversas culturas existentes no mundo.

- O que você entende por educação? (perguntei a Roberto).- Acho que educação é estudar bastante na escola, tirar notas

boas e passar de ano.- Vejo que educação é mais profundo e amplo do que apenas as

notas das disciplinas escolares. Vai além de notas escolar. Ela envolve cultura, sociedade e a própria economia de um País.

- Wesley, poderia me explicar melhor?- Claro! Quando me refi ro à cultura, falo das crenças, os costumes,

tudo que está relacionado com o modo de viver, os valores das pessoas inclusas em uma família, em uma cidade, em um estado, em um país.

- Agora fi cou mais simples entender! Mas continue, por favor, a conversa está interessante.

- Quando cito a sociedade estou me referindo a um todo. Todas as pessoas de uma sociedade obedecem a normas comuns e a elas respeitam, porque abrangem a questão ética, limites da liberdade de cada indivíduo.

- Wesley, qual a relação da educação com economia?- É simples, um município, um estado ou um país que não tem

educação é fácil de ser manipulado, tornar-se alienado, fácil de ser explorado, manipulável. Com isso ele pode ter o suor de seu trabalho desvalorizado servindo apenas para dar riquezas a outro.

- Interessante. Ah! Começamos conversando sobre esses temas e até nos esquecemos de seu sonho.

- Verdade! Acho que estou falando demais!- Não, não! Estou gostando da conversa é muito construtiva.

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Sobre educação, entramos em assuntos mais específi cos, trocamos idéias sobre atuação familiar na construção da personalidade de cada indivíduo e por conseqüência, na própria formação da sociedade. Roberto continuou fazendo algumas perguntas, dentre elas, qual visão que tenho sobre família relacionada a educação.

- Acredito que família é a maior escola que um aluno pode ter, porque nela se dá maior parte da criação, do desenvolvimento, da construção dos valores, da personalidade, da cultura e da contribuição que o indivíduo deve ter como cidadão, respeitando assim seus limites.

- Sempre que ouço falar em educação logo penso na escola, quando alguém é preso por alguma coisa que fez de errado também me pergunto - quem foram os professores desse indivíduo? – mas você tem razão em relação à contribuição do convívio familiar no dever da formação. Eu achava que tudo era responsabilidade da escola.

- A escola em um todo também tem parte na construção de uma pessoa, mas ela sozinha não consegue formar alguém por completo, é preciso que principalmente o “elo” família possa também fazer sua parte.

- Verdade! Estou convencido que escola e família precisam ser uma força única, com mesmo objetivo formando uma corrente.

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A CAMINHADA PELA MANHÃ

“Se esperarmos só pelo outro em breve não teremos um Planeta Terra, mas sim, um Planeta Morto”

Alex de Imaruí

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Após essa conversa fomos dar uma pequena caminhada mesmo já estando escuro, era noite, mas havia luzes por onde estávamos passando. Começamos olhar as árvores, as plantas, uma horta variada próximo da casa, sendo essa, usada para consumo de seus tios e concordamos que eles moravam em um paraíso.

Roberto me disse que, Sr. João e Dona Julieta costumavam caminhar quase todos os dias bem cedinho pelas trilhas que havia em seu sítio. Sempre que caminhavam se sentiam melhores durante todo dia, mais dispostos e até mesmo alegres, comentou Roberto.

Perguntei se ele queria acordar cedo no dia seguinte para também darmos uma caminhada pelas trilhas que seus tios costumavam passar.

- Sim! É claro!- Então está combinado!Depois que voltamos da caminhadinha, eu, Roberto e seus tios

jantamos e conversamos um pouco antes de dormir.No dia seguinte, bem cedo acordei, despertei Roberto e perguntei

se queria mesmo ir caminhar, ele pediu um tempo para se arrumar, nesse intervalo também fui me arrumar.

Preparamos e tomamos um café com broas de nata muito gostosas feitas por Dona Julieta.

Logo ao sairmos para caminhar já sentimos aquela brisa suave, ar puro, pássaros cantando e se banhando na cachoeira que passava ali perto da casa.

Fomos além da caminhada costumeira de seus tios, comemos algumas frutas pelo caminho e depois de certa distância paramos para descansar um pouco.

Nessa caminhada surgiu outro tema muito importante e de grande interesse para uma boa conversa.

A natureza...Perguntei se ele gostava de admirar o meio ambiente.- Sim! Acho tudo tão perfeito, tão lindo.

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- É verdade! Pena que nem todas as pessoas dão valor para ela.- Como assim?- Alguns desmatam para tirar proveitos fi nanceiros não reconhe-

cendo os limites da natureza.- Wesley, isso é lamentável! Até parece que essas pessoas acham

que nosso Planeta Terra é alto sustentável, não se preocupam em preservar, aliás, não se preocupam com seus próprios fi lhos e netos, porque a falta de cuidados e preservação ao meio ambiente futuramente causará grandes catástrofes ambientais. Isso se já não estamos sentindo!

- Isso que você falou é uma verdade absoluta.- O homem procurando seu bem estar, seu conforto, sua

comodidade, tem produzido efl uentes e vários processos de poluição sem um tratamento prévio, lançando ao meio ambiente e agredindo-o.

- Podemos hoje em dia citar a produção de dióxido de carbono por meios não naturais, sendo esse, um dos grandes responsáveis pelo efeito estufa.

- Roberto, mas graças a DEUS que também existem pessoas que se preocupam com isso, e quando percebem que algo está errado logo tomam medidas de combate impedindo a contínua agressão ao meio ambiente.

- Sim, isso é verdade! Mas infelizmente algumas vezes são sufocados, porque se forem ouvidos iriam prejudicar pessoas com muito poder econômico.

Voltamos à casa dos tios de Roberto. Ao chegarmos eles nos perguntaram onde tínhamos ido, porque assim que acordaram foram nos chamar para tomarmos café e já não estávamos dormindo, respondemos que tínhamos ido dar uma volta. Eu aproveitei para conhecer um pouco mais do sítio. Sr. João e Dona Julieta disseram que também tinham ido dar uma caminhada, aquela de quase todos os dias, Roberto falou a eles que tínhamos ido além.

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Chegando próximo do almoço, Dona Julieta pediu a Roberto que ajudasse no preparo de algumas saladas, ele prontamente aceitou. Sr. João e eu fi camos agora sozinhos na sala com a televisão ligada com som baixinho. Disse-me que aquelas terras eram férteis, tudo que já tinha plantado, nascia e crescia, exceto as que eram específi cas de outro tipo de clima.

- Isso é muito bom Sr. João, até já comentamos, eu e seu sobrinho, que você e sua esposa moram em um paraíso!

- Você gostou mesmo? - Muito!- Quando pretende voltar para comer mais algumas frutas dessas

que temos aqui em nosso terreno?- Irei combinar com Roberto.- Não se esqueçam de nos avisarem antes para prepararmos um

almoço diferente.- Os mariscos estavam maravilhosos.- Você gosta de mariscos?- Muito!- Percebi, mas não quis dizer nada, pois você caprichou no prato. - Você notou?- Não se preocupe! Iremos preparar novamente quando voltar.

Compramos bem baratinhos, porque aqui por perto tem pessoas que pegam nas pedras aqui próximas na praia e muitas vezes até trocamos por frutas, já que temos muitas!

A esposa do Sr. João se aproximou e nos convidou para almoçar, chegando à mesa, lá estavam os gostosos mariscos, logo Sr. João começou a rir e disse:

- Wesley, aproveita e vai fundo no marisco!- Por quê? (Dona Julieta perguntou a seu esposo)- Descobri que ele gosta de marisco.- Que bom, então não tenha vergonha e coma bastante!

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IMARUÍ: O RETORNO

“Podemos esquecer de muitos lugares vividos, mas difi cilmente o(s) da infância”

Alex de Imaruí

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Ao terminar o almoço, Dona Julieta lavou as louças e depois todos fomos descansar um pouco.

Naquele lugar tranqüilo, logo que me deitei na rede de descanso já dormi. Foi uma soneca de pouco tempo, mas gostosa, sufi ciente para acabar com aquela preguiçinha pós-almoço.

Assim que acordamos, eu e Roberto nos despedimos de Dona Julieta e fomos de jipe para rodoviária. Ao chegar compramos as passagens. Esperamos uns dez minutos e estacionou o ônibus. Assim que estacionou, eu e Roberto nos despedimos do Sr. João que tinha nos levado até ali. Ocupamos as primeiras poltronas.

Pela janela do ônibus, Sr. João pediu para retornarmos em breve, mas que primeiramente avisasse-os.

Em poucos instantes o ônibus foi ligado. Saímos da rodoviária rumo a Imaruí.

Na viagem de volta conversamos sobre esse passeio e Roberto me perguntou se alguma das laranjeiras era parecida com a do sonho, respondi que infelizmente nenhuma. Também comentei com ele sobre nem termos conversamos muito no sítio de seus tios sobre o sonho, ele concordou e me disse que os assuntos que foram discutidos estavam tão interessantes que acabaram por tirar a atenção da procura pela laranjeira misteriosa.

Ainda perguntou-me novamente sobre o lugar visitado.- Muito lindo! - O que mais gosto de fazer lá no sítio é comer as várias frutas e

tomar banho na cachoeira, mas isso, quando meus primos vêm passar as férias. (comentou Roberto).

- Vê se convida!- Pode deixar, quando eles vierem você já está convidado. Mas se

quiser ir novamente outro dia desses no sítio, antes mesmo que eles venham, é só me avisar.

- Então beleza.

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Assim que terminamos essa conversa chegamos à rodoviária, nos despedimos e fomos para nossas casas.

Fiquei um pouco polarizado depois que cheguei da viagem, estava indo sozinho para minha casa quando passou por mim outro amigo chamado Leonardo. Era um jovem de vinte e sete anos, trabalhava em Florianópolis, capital de nosso estado, Santa Catarina, mas sempre nas férias ou em alguns feriados emendados com os fi ns de semana vinha ajudar seu pai cuidar dos gados no campo. Eu já sabia que seu pai era dono de um campo com algumas cabeças de gado. Mas não sabia se havia algum tipo de árvore frutífera neste campo, em especial, laranjeiras.

Primeiramente cumprimentei com uma boa tarde. Já era fi nalzinho de tarde e o vermelham do sol já estava se pondo. Perguntei sobre o campo de seu pai, respondeu prontamente que a criação de gados estava bem e seu pai estava lá dando uma olhada neles.

- Que bom que tudo vai bem! (respondi a Leonardo).- Meu pai comprou mais cinco cabeças de gado, são muito lindos!- Vocês também têm no campo algumas laranjeiras?- Não são muitas, mas tem sim, Wesley. Deseja qualquer dia

desses visitar o campo?- Adoraria caso não haja problemas!- Sem problemas! Quando você pode? - Hoje é uma segunda-feira, o que acha de domingo?- Por mim tudo bem! Se quiser antes é só avisar. Em nosso terreno

não tem cachoeira, mas o terreno vizinho tem e podemos dar uma volta por lá!

- Mas, e o dono?- É amigo de meu pai, irei pedir antes, não se preocupe!- Então beleza. Se resolver ir antes eu aviso, caso contrário, sexta

ou sábado falo com você. Pode ser?- Pode sim! Wesley, agora eu preciso ir. A gente se fala.

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- Até...Aproximando o dia de ir ao campo do pai de Leonardo, liguei para

ele e perguntei se a visita ainda poderia ser feita, ele disse que tudo estava certo. Não era longe, de moto ou carro dava em torno de uns oito minutos.

Na madrugada de domingo ao dormir tive um sonho. Sonhei que estava procurando algo que não sabia o que era, mas estava procurando com muita convicção e que iria encontrar.

Pela manhã ao acordar me arrumei e liguei para Leonardo, perguntei que horas ele pretendia me levar ao sítio. Disse-me que dependia de mim. Sem perda de tempo marquei então de irmos pela manhã, ele só pediu para esperar que dentro de uma hora chegaria em minha casa para irmos com a moto dele.

No primeiro momento não me lembrei do sonho que tive durante a noite, mas depois que liguei para Leonardo comecei a recordar.

Lembrei-me que nesse novo sonho estava procurando alguma coisa que não sabia o que era, mas sabia que iria encontrar. De certa forma fazia relação com os outros sonhos anteriores.

Fiquei pensando se deveria contar os sonhos para Leonardo – será que ele vai acreditar em mim como Roberto acreditou ou irá duvidar como Sr. João? – resolvi deixar as coisas acontecerem.

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O CAMPO DO PAI DE LEONARDO

“A cada dia temos uma nova chance, basta enxergarmos!”Alex de Imaruí

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Alguns minutos antes da hora marcada Leonardo chegou com sua moto, era vermelha, de 125 cilindrada e bem conservada. A primeira coisa que falou já me fez rir, porque sua moto não era potente, mas segundo ele, sua moto é daquelas que pegam vôo sem acelerar muito, por isso, deveria me segurar fi rme.

Ao chegarmos ao campo tivemos de passar por um caminho mais estreito que do sítio dos tios de Roberto, como estávamos de moto não tinha problemas, também não havia pedras nem muitas subidas.

Leonardo parou sua moto assim que chegamos na casa ali no sítio. Sr. Pedro estava sentado próximo a uma mesa na rua. Cumprimentou-me perguntando se estava tudo bem comigo e também com minha família. Ele já me conhecia e também a meus pais e irmão.

- Estamos bem, obrigado! E o senhor? - Estou levando a vida, trabalhando, comendo e dormindo. Um dia

dói aqui outro dia dói ali e noutro dói lá!Já era de se esperar essa resposta, achei engraçado e comecei

a rir. Sem dúvidas Leonardo herdou seu jeito do velho pai, sua mãe eu cheguei a conhecer, mas já fazia dez anos que tinha falecido. Ela era mais séria, porém uma ótima pessoa assim como Sr. Pedro e Leonardo.

Parecia que o pai de Leonardo já fazia muito tempo que não conversava com alguém, apenas pensei, porque só dava tempo para eu responder e já tinha outra pergunta na ponta da língua para me fazer.

Brincando, Leonardo falou que seu pai falava mais que dez mulheres juntas, com essa afi rmação só nos restou rir e, por sinal, bastante.

Sr. Pedro perguntou sobre a compra de camarão de meu pai. Porque minha família sobrevivia de pescados, meu “velho” comprava camarão em Imaruí e vendia em Florianópolis.

- Está indo, mas tem pouco camarão para comprar, com isso, o preço sobe muito e fi ca difícil de trabalhar.

- Já faz tempo que não pesco. Quando eu pescava, isso há

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muito tempo atrás, tinha muito camarão, muitos peixes, muitos siris, hoje realmente está difícil desses pescados na lagoa de Imaruí. Mas acredito Wesley, que um dos problemas foi a exploração acelerada. Os pescadores só querem pescar e vivem apenas da pesca. Com isso acabam capturando os camarões miúdos, como eles irão crescer e reproduzir? Fica difícil a lagoa renovar seu ciclo. Outro problema é contaminação por várias fontes.

- No seu tempo não tinha muitos pescadores?- Também tinha, mas quando era tempo de procriação,

principalmente dos camarões nós íamos para roça, não deixávamos de trabalhar e assim a lagoa tinha seu descanso, mas hoje, todos colocam suas redes até pegar tudo. Poucos fazem outros serviços para ajudarem na renda familiar.

- Isso realmente é verdade! Que pena que o comodismo das pessoas, cada vez mais vai destruindo nossa lagoa.

Leonardo também entrou na conversa e apenas completou dando exemplos do que já tinha comentado seu pai. Disse que, se as pessoas também procurassem alguma coisa diferente para fazer além de apenas pescar, aumentaria a renda da família e sempre teriam pescados na lagoa, poderiam trabalhar também de marceneiro, pedreiro, pintor, na roça e tantos outros serviços que poderia ser por conta própria, na época de pescar, então jogariam suas redes ao mar. Achei um ótimo comentário.

Além de brincalhões, tanto pai quanto fi lho, são pessoas com uma boa bagagem de conhecimento.

Após essa conversa, Leonardo perguntou se eu queria ver os gados, aceitei, até porque não queria que eles desconfi assem do verdadeiro objetivo de minha visita. Fomos até onde estavam, era preciso uns quinze minutos caminhando porque se fossemos de moto poderia assustá-los. Na ida, passamos por umas cercas de arames com mourões presos na terra, esses serviam para prender os arames.

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O campo quase não tinha morros, era mais ou menos plano e muito lindo. Algumas árvores frutíferas plantadas no meio serviam de comida para os gados, isso quando eles alcançavam. Para rirmos, ele disse que essas árvores eram plantadas para servirem de sobremesa aos gados, pois também tinham direito. Disse a ele que outro amigo tão engraçado não encontraria tão fácil.

Quando avistamos os gados perguntei por que eles só estavam na parte de cima do campo. Respondeu que aquele campo era dividido em duas partes, quando o pasto que os gados estão escasseiam eles passam os gados para outro lado do campo que certamente estará com pastos bem grandes. Com isso, novamente crescem.

Vi alguns pés de laranjas cravas rodeado por uma cerca de arames para proteger dos gados. Disse a Leonardo que eram laranjas muito bonitas e logo me perguntou se queria pegar alguma.

- Sim! Posso?- Claro! Vamos lá! Ao andar por aquelas laranjeiras minha preocupação maior era

olhar o lugar, analisar, perceber alguma semelhança com meu sonho.Dei uma boa olhada, mas não encontrei nada que pudesse me

lembrar do sonho. Vendo que eu não pegava nenhuma laranja, mas só às rodeava,

Leonardo perguntou se não tinha gostado de nenhuma.- Não é isso! Todas são muito bonitas!Nesse momento fi quei pensando se deveria contar a ele, mas será

que irá entender, ou rir e levar na brincadeira? Preferi não contar. No fundo eu queria dizer, mas não queria ser ridicularizado.

Peguei uma laranja e comi...Ele comentou que sempre vinha até ali para chupar algumas

laranjas depois do almoço. Quando estava ali na casa de seu pai, é claro!

Chegando próximo ao horário do almoço pedi para ele me levar

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em casa.- Mas não vamos à cachoeira hoje à tarde? - Ah! É mesmo.- Fique aqui, almoce conosco, meu pai já está fazendo almoço

para nós três.- Então posso fi car? Não tem problemas?- Não tem problema nenhum!Já tinha esquecido que também me convidou para irmos até a

cachoeira de seu vizinho, pois na verdade fui para ver o campo, principalmente às laranjeiras.

Depois do almoço como de costume, pegou algumas laranjas. Sentamos em uma sombra de árvore e chupamos as laranjas colhidas. Conversamos um pouco ali sentados sobre a cachoeira que iríamos naquela tarde.

- Só nós que vamos lá ou também pode ter alguém já? (Perguntei a Leonardo).

- O Dono do terreno tem alguns sobrinhos que costumam ir todos os domingos tomarem banho na cachoeira. Provavelmente eles estarão por lá.

- Vamos chegar assim sem ninguém nos conhecer?- Eu já pedi ao dono do terreno, ele permitiu. Quase todos os

domingos estou lá tomando banho com eles, você vai ver, tem cada gatinha!

Depois descansamos um pouco em duas redes de descanso, elas eram amarradas nas laranjeiras com uma gostosa sombra e um ventinho suave.

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A CACHOEIRA DO VIZINHO

“A curiosidade é de fundamental importância para excitar a criatividade”

Alex de maruí

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Tiramos um cochilo de uma meia hora, em seguida, nos dirigimos para a cachoeira. Caminhamos por um caminho onde passava carros de boi, esse caminho era o mais fácil de caminharmos.

Quando estávamos quase chegando, começamos ouvir algumas pessoas falando. Parecia ter muitas pessoas. Então perguntei:

- Parece que tem bastante gente?- Talvez tenha.- O dono do terreno tem bastantes sobrinhos?- Não! Às vezes eles trazem amigos.Ao chegarmos, percebemos que realmente havia muitas pessoas

ali e muitas moças bonitas. Era uma cachoeira muito linda com as águas bem cristalinas e fresquinha, ótima para um gostoso banho. Também ouvíamos pássaros cantando ao redor da cachoeira nas árvores. Algumas pessoas subiam em uma pedra alta e dela pulavam no centro da cachoeira.

Leonardo me perguntou se queria pular nas águas, respondi que tínhamos caminhado e estava um pouco suado, seria melhor aguardar e deixar esfriar nosso corpo.

Perguntou-me o que tinha achado do ambiente.- Muito legal!- E das moças?- Também já notei que há muitas moças bonitas.- Não falei!Já que não caímos na água sentamos um pouco em uma sombra.

Ao redor da cachoeira, muitas sombras de árvores.Perguntou-me se já tinha terminado a faculdade, falei que já.

Perguntei se ele não iria fazer algum curso, pois já tinha terminado o ensino médio e ainda não tinha feito nenhum curso. Respondeu que pensava fazer técnico em mecânica.

- Que legal, pretende começar quando? - Acho que irei fazer no próximo semestre quando abrirem as

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inscrições.- Qual é a faculdade que você terminou?- Química.- Deve ser difícil!- Acho que é apenas estudar assim como qualquer outra.Leonardo por ser muito curioso começou fazer perguntas sobre

teorias e curiosidades químicas.Nas perguntas que fez, percebi que gostava de química. Quando

ainda estudante, disse-me que a disciplina de química chamava bastante sua atenção, sempre se saiu bem nas provas e gostava de estudá-la.

Perguntei por que não fazia um curso de química? Sua resposta foi simples, tem um primo em Joinville que poderia ajudá-lo em uma empresa onde trabalha. Mas precisava ter pelo menos técnico em mecânica.

Ainda disse que quando estudava, seu professor de química explicou um conteúdo que achou muito interessante, não que os demais não fossem também, mas já fazia tempo e não se lembrava muito, seria sobre átomos, dividia-se em prótons e elétrons. Pediu para eu explicar um pouco sobre esse assunto.

Perguntei se lembrava sobre a formação de um átomo.- Apenas me lembro que era composto de prótons e elétrons. (me

respondeu Leonardo).- Tente se recordar que um átomo também tem além dos prótons

e elétrons, os nêutrons.- Ah! É verdade!- Lembra também que a massa do átomo está quase que totalmente

localizado no núcleo?- Sim! Estou recordando aos poucos. Parece que é pela somatória

dos prótons com os nêutrons. Não é?- Isso mesmo!- Wesley, na vida prática onde eles estão? Sei que meu professor

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explicou, mas não consigo lembrar!- Leonardo, os átomos estão em tudo. O mundo, o universo, tudo

é formado por eles. Tudo que tem massa e ocupa um lugar no espaço é matéria, ou seja, formado por átomos.

- O que é molécula mesmo?- Podemos dizer de forma mais simples que é a união de átomos

formando ligações covalentes, e essas ligações proporcionam o surgimento dos vários compostos químicos e até mesmo a formação de nosso corpo.

- Que interessante, na verdade eu já tinha estudado algo sobre isso, mas já faz tempo e não me lembrava direito. Realmente quando se estuda química no nosso dia-a-dia ela se torna interessante.

- Você quer dizer, contextualizada.Ainda expliquei que a pedra onde estávamos sentados era formada

por átomos, as águas onde estavam tomando banho era formada por átomos e tudo que estávamos vendo e não vendo também era formada por átomos e moléculas, como por exemplo, os pássaros e o ar, este último, não conseguimos ver, mas sentimos.

Depois desta conversa sobre conhecimento básico de química nosso corpo já estava descansado, resolvemos tomar um banho nas águas daquela cachoeira. Estava fresquinha e ótima para um mergulho. Não fi camos por muito tempo na água porque já estava na hora de voltarmos para casa dele.

Ao chegar novamente na casa de Leonardo preparamos uma refeição cheia de coisas gostosas, enquanto ele preparava o café eu fazia banana frita com farinha queimada, açúcar e canela. Quando tudo já estava preparado, com tudo na mesa chegou o Sr. Pedro.

- Oi! Que cheiro de coisa boa! (afi rmou Sr. Pedro).- Preparamos uma refeição especial, Leonardo passou café e eu

fi z banana frita. Venha comer conosco! - Eu agradeço! Mas já tomei café faz pouco tempo. Apenas vim ver

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se vocês já tinham chego. Pois saíram e nem percebi.Leonardo disse a seu pai que tínhamos ido à cachoeira.- Que legal! Você levou Wesley para conhecê-la? - Sim pai! Estava muito bom. Não é Wesley? - Sim! Estava, adorei.Sr. Pedro disse que estava saindo novamente, mas que não me

preocupasse, podia fi car a vontade. Respondi que após o café precisava também ir para casa. Ele pediu para retornar outro dia se quisesse. Agradeci e me despedi dele, já que estava saindo. Terminei de tomar café com Leonardo, ele me levou com sua moto até minha casa. Pediu para telefonar quando quisesse novamente ir à cachoeira.

- Sim! Eu ligarei, afi nal foi muito divertido.- Então até a próxima!- Até...!Assim que ele saiu fui para meu quarto. Comecei pensar sobre os

sonhos. As laranjeiras eram diferentes, embora também sejam cravas. Fiquei triste porque a esperança que estava viva de poder ser aquele lugar também morreu, assim como no sítio dos tios de Roberto.

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A VISITA DO PRIMO RODOLFO

“Confraternização familiar, uma festa indispensável”Alex de Imaruí

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A visita ao campo de Leonardo tinha sido no domingo. Na terça-feira daquela semana, um tio meu de longe ligou e disse que estava querendo nos visitar com sua esposa e seu fi lho Rodolfo de 26 anos. Quem atendeu ao telefone foi minha mãe, ela disse a ele que poderiam vir à hora que quisessem. Ele é irmão de meu pai, se chamava Fabrício e sua esposa Bruna.

Iriam chegar na quinta feira em nossa casa. Fiquei contente porque já fazia quase dois anos que não os via.

Na quarta-feira liguei para eles, quem atendeu foi minha tia Bruna. Primeiramente cumprimentei-a, depois perguntei por Rodolfo, ela pediu para esperar um pouco que ia chamá-lo. Assim que atendeu perguntou como eu estava, disse-lhe que ia bem, falei que já fazia uns dois anos que não nos víamos nem conversávamos por telefone, concordou e também afi rmou que poderia ter sido pelos compromissos que nos prendiam no dia-a-dia.

Perguntou-me se havia mudado muitas coisas em minha cidade, comentei que pouco, ainda permanecia sendo uma cidade ótima para descansar. Perguntou se eu tinha alguma canoa para darmos uma volta na lagoa respondi que eu não tinha, mas poderia conseguir. Depois de mais alguns minutos de conversa nos despedimos e combinamos de dar uma volta de canoa quando chegasse a Imaruí, minha cidade.

No dia marcado chegaram pela manhã, às nove horas e cinquenta minutos, cumprimentei meus tios e meu primo. Conversamos um pouco em família e logo Rodolfo perguntou pela canoa.

- Já consegui uma canoa para darmos uma volta, mas hoje acho difícil!

- Por quê? - Está ventando muito, é nordeste. Poderá nos levar para fora e se

isso acontecer só conseguiremos retornar quando o vento aquietar. Mas fi que tranqüilo, porque amanhã levantaremos bem cedo, estará mais fraco. Pode ser?

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- Tudo bem! Vai ser melhor. Mas o que vamos fazer nessa tarde? - O que acha de irmos a um campeonato de futsal, começou hoje

pela manhã no ginásio de esportes. Fica aqui perto.- Legal!Depois do almoço descansamos um pouco. Minha mãe com minha

tia, após descansar, foram assistir televisão e também conversar. Meu pai e meu tio saíram de carro. Eu e meu primo fomos ao “Ginásio de Esportes Municipal Pref. Lúcio Carlos Faust”, para dar uma olhada nos jogos.

Ficamos assistindo os jogos por umas três horas. Às dezoito horas convidei-o para voltarmos em minha casa, tomar banho e um café, porque minha mãe disse que a noite todos iríamos à casa de um tio que mora próximo, no Ribeirão de Imaruí.

As vinte uma horas fomos à casa de nosso tio chamado Antônio e sua esposa chamada Maria. Seus fi lhos estavam todos morando fora. Eles têm cinco fi lhos.

Ao chegarmos na casa deles conversamos até uma hora da madrugada. Depois de uma boa conversa fomos para casa dormir, mas antes, meus pais com meus tios marcaram de voltar ali para almoçar. Tio Fabrício com a tia Bruna e Rodolfo dormiram em minha casa.

Acordamos cedo e avisamos nossos pais que talvez não fôssemos ao almoço na casa de nossos tios, eles nos perguntaram por quê?

- Vamos dar uma volta de canoa, o dia está ótimo, sem vento, calmo, e não sabemos que horas voltaremos.

-Tomem cuidado! (disse tia Bruna).Eu e Rodolfo nos arrumamos, tomamos um café e saímos para

pegar a canoa. Ao chegar na praia havia alguns pescadores vindos da pesca, tinham pegado alguns peixes bonitos. Um dos pescadores era o Sr.Tono, meu vizinho, esse me perguntou onde ia? Respondi que ia dar uma volta de canoa com meu primo. Disse-nos que o dia estava ótimo para uma volta de canoa, mas também pediu para termos cuidado.

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Fomos ao mar com a canoa de outro pescador, chamado Sr. Beto.Chegamos até a canoa. Sr. Beto tinha chegado da pesca e deixado

ela já preparada, estava amarrada e com dois bambus para remarmos. Eu tinha pedido a ele no dia anterior e falado que um primo iria vir, este estava com vontade de dar uma volta pelo mar. Também já fazia tempo que eu não andava de canoa, aproveitei essa oportunidade.

Desamarramos a canoa e saímos remando. Suas primeiras remadas foram todas desajeitadas, eu não sabia se ele estava querendo me ajudar ou querendo voltar para terra. Mas à medida que o tempo foi passando foi pegando jeito.

Comecei lembrar de alguns anos atrás, acho que uns treze, quando saia para pescar com meu avô. Foram momentos que marcaram muito, aquelas tarrafadas perfeitas por ele, na qual, traziam camarões, peixes, alguns siris, enfi m, foram momentos que não voltarão mais e que deixaram saudades. Minha avó preparava os pescados para o almoço ou janta assim que chegávamos da pesca. Esses avós eram da parte de minha mãe, não eram avós de Rodolfo, acho até que ele não os conhecia.

Apenas comentei com meu primo que há um tempo atrás pescava naquelas águas com meu avô. Pegávamos peixes, camarões e siris, assim que chegávamos em casa minha avó preparava-os. Mas eles já tinham falecidos. Hoje, apenas lembranças!

Ele também disse que seus avôs da parte de sua mãe, têm gados, e quase todos os sábados vai até a casa deles para ajudar seu avô cuidar da criação, e acrescentou que adora trabalhar com gados. A primeira vez que presenciou o nascimento de um bezerro, achou a coisa mais louca do mundo, mas hoje, ele já acha tudo normal.

Nosso avô por parte de nossos pais não chegamos a conhecer, faleceu antes mesmo de nascermos, nossa avó conhecemos, mas também já fazia algum tempo que falecera.

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O DIÁLOGO COM RODOLFO

“Aglomerar experiências é juntar lições”Alex de Imaruí

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No passeio de canoa ele disse que minha cidade é divina, muitos verdes, campos lindos e aquela lagoa maravilhosa para remar e pescar. Não que ele já não conhecesse. Mas estava sendo sua primeira vez que olhava para ela estando um pouco afastado da terra. Perguntei se ainda estudava.

- Não! Eu me formei no fi nal desse ano. - Que legal! Eu também. - Fez faculdade de...?- Licenciatura em Química. E você?- Estamos em áreas afi ns. Também fi z licenciatura, em física.- Que família para gostar de ciências exatas, também temos um

primo que fez bacharel em matemática.- É verdade! O Ivan, não foi?- Isso, ele mesmo.Com Rodolfo percebi que podia ter uma conversa mais científi ca e

dentro de nossa área. Ele demonstrou gostar muito de Física e parecia ansioso para começar lecionar. Seria sua primeira vez. Já tinha feito a inscrição estadual, só estava esperando chegar o dia da escolha de vagas.

Comentei que nos primeiros dias não saberá como a turma vai reagir por ser inexperiente, mas à medida que vão passando os dias eles vão esquecendo que é primeira vez do professor em sala de aula, porém é necessário demonstrar confi ança e conhecimento.

- Você já lecionou? (perguntou-me Rodolfo).- Sim! Um ano e meio. Isso quando ainda era universitário.- Você fi cou muito nervoso?- Claro! Mas não deixei eles perceberem.Ele me contou que decidiu fazer faculdade de licenciatura porque

teve um sonho e nesse sonho ele era professor. Daquele dia em diante brotou no coração desejo de lecionar.

Perguntei como foi esse sonho.

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- Eu estava sentado em um banco próximo ao colégio estadual em minha cidade, der repente o diretor do colégio sentou ao meu lado e perguntou se eu queria lecionar aulas de física. Primeiramente fi quei assustado. Disse que nunca tinha sido professor, ele me respondeu que todo professor teve sua primeira vez e pode estar sendo minha chance. Meio querendo dizer não, disse sim. Levou-me dentro de uma sala de aula como professor de física. Expliquei alguns assuntos básicos. Assim que bateu o sinal, acordei.

- Que sonho interessante. Mas você ainda não lecionou até hoje por quê?

- Porque queria terminar primeiro a faculdade e os estágios. Agora pretendo entrar em uma sala de aula como professor habilitado.

- Vai dar tudo certo, você vai ver!- E você Wesley, por que quis fazer licenciatura?- Porque sempre gostei de química e de estudar. Gosto de explicar

e também sou calmo. Mas estou indeciso sobre ser docente ou trabalhar no laboratório de uma empresa.

Fomos até uma ilha próxima que tem por nome “Ilha das Cabras”. Dizem que havia muitas cabras nela, por isso seu nome. Amarramos a canoa em um tronco de árvore e caminhamos por ela. É uma ilha pequena, mas ótima para pescar, têm muitas pedras e isso torna boa para pesca de caniço.

Vimos algumas canoas paradas no mar com pessoas sentadas. Meu primo perguntou o que eles estavam fazendo, porque aparentemente estavam sem fazer nada. Falei que estavam pescando corvina. Eles lançam a linha, é uma arte de pesca assim chamada pelos pescadores da região, formada geralmente por uma linha comprida, na ponta é colocado chumbo tendo a intenção de fazer o anzol que está próximo ao chumbo fi car submerso com camarão, este serve de isca para capturar principalmente bagre e corvina.

Estávamos sentados em uma pedra quando se aproximou um

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pescador, era um senhor de aproximadamente uns sessenta anos de idade, também amarrou sua canoa em um tronco próximo a nossa canoa. Aproximou-se e nos cumprimentou perguntando de onde éramos.

- Eu moro nessa cidade mesmo, e o senhor? - Já morei aqui por perto, agora só venho para férias, descansar

um pouco e relembrar onde passei parte da minha vida. Hoje sou aposentado e não perdi esse prazer de pescar.

O Senhor já pescou muito nessa lagoa?- Sim! Já peguei muitos peixes e camarões nesta lagoa, me criei

aqui.Rodolfo, por curiosidade também fez perguntas. Perguntou se

tinha pegado algum peixe.- Sim! Três corvinas e cinco bagres, todos grandes.- Têm muitos peixes na lagoa? (perguntou Rodolfo).- Já teve mais. Quando eu era jovem, mais ou menos na idade de

vocês, saia de casa para pescar e voltava com dois balaios grandes repletos de peixes pescados por anzol, linha e tarrafa. Hoje, isso é mais difícil. Existem muitos pescadores em comparação a uns trinta anos atrás. Esse tempo que gastei para capturar os peixes que peguei agora, já deveria ter pegado o triplo se tudo continuasse como antigamente.

Rodolfo ainda perguntou como era a vida dos pescadores.- Nós não dependíamos totalmente da pesca. Quando dava pesca,

pescávamos, ao falhar, tínhamos outras atividades, como por exemplo, a roça. Então não capturávamos o ano todo, os peixes, camarões e siris, deixávamos crescer, as malhas das redes eram grandes para realmente só pegar os graúdos. Mas hoje, infelizmente alguns pescadores parecem que pescam com toalhas de tão pequena a malha da rede. Outro fato muito importante é a contaminação da lagoa.

Ele apenas confi rmou o que outros pescadores já tinham me contado. Em seguida, aquele senhor que passou apenas para andar um pouco pela ilha e sentar se despediu, disse que precisava ir.

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Já tinha passado do horário do almoço, perguntei a meu primo se também queria ir comer alguma coisa. Voltaríamos em outra oportunidade. Ele aceitou, pegamos a canoa e nos dirigimos até o trapicho onde deveríamos guardar ela.

Guardamos aquela canoa e assim que chegamos em casa ele me perguntou se eu queria ir até a casa de nossos tios onde estavam nossos pais. De bicicleta seriam uns quinze minutos. Não tinha motivos para não ir, peguei minha bicicleta e fomos.

Assim que chegamos nossos pais nos perguntaram se já tínhamos comido algo, falamos que ainda não. Nossa tia disse que era preciso apenas esquentar, ainda tinha comida pronta. Deveríamos esperar um pouco até que ela aquecesse o alimento para nós. Aquele cheirinho se espalhando pelo ar e fazia nossa barriga roncar. Não víamos a hora de estar na mesa com nosso prato cheio.

Almoçamos! Depois que terminou nosso almoço sentamos em um banquinho de baixo de um pé de laranja doce na chácara de nossos tios, pegamos uma laranja cada, não resistimos à vontade de saborear pelo menos uma. Era realmente muito gostosa. Bem doce.

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CONTEI O SONHO A RODOLFO

“Um bom conselho nunca indica o caminho e sim os caminhos” Alex de Imaruí

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Comecei pensar se deveria contar a meu primo sobre o sonho, pelo menos, parecia que iria entender. Mas para testá-lo fi z uma pergunta querendo saber sua crença em sonhos e se poderiam ter signifi cado.

- Sim! Acredito! Por quê?- Apenas curiosidade. Você já teve algum sonho que te mostrou

algo e foi verdade, aconteceu?- Já!- Pode me dizer?- Claro! Tinha perdido meu celular, isso há uns três anos atrás e

procurei muito por ele, mas não achei. Desisti de procurar. Em uma noite sonhei que estava junto com minhas meias. Assim que acordei lembrei-me do sonho e fui dar uma olhada. Estava em um cantinho bem no fundo da gaveta escondido pelas meias. Eu nunca coloquei lá, foi o único lugar que não procurei. Fiquei impressionado, como pode, procurei um montão e não encontrei, de repente em um sonho ele aparece.

- É verdade! Muita sorte talvez.- Você Wesley, já teve algum sonho parecido?Com o sonho que ele teve fi quei mais confi ante que não me

ridicularizasse. Contei a ele...- Sim! Sonhei que estava em um pomar de laranjas e próximo a

um dos pés havia uma caixa enterrada, nessa caixa existia um grande tesouro que eu deveria encontrar. O que você acha do sonho?

- Já procurou?- Já! - Achou algum lugar parecido com do sonho?- Pior que não. Talvez seja coisa da minha cabeça. Mas em um

dos sonhos teve um senhor de branco que dizia para não desistir de procurar. Esse sonho entrou em minha vida e sempre quando desisto de procurá-lo, algo acontece me deixa confuso. Novamente começo a acreditar.

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- Posso dar minha opinião?- Claro! Deve!- Talvez você não deva desistir mesmo, nesse mundo acontece

cada coisa maluca, pode ser verdade o sonho, precisa apenas um pouco de paciência. Qual foi seu último sonho?

- Eu ia na casa de um amigo para dar uma olhada nas laranjeiras que tem no campo de seu pai. Na madrugada daquele dia sonhei que procurava algo, não sabia o que era, mas sabia que iria achar.

- Acho que não deve desistir de procurar, mas também não deve se preocupar a ponto de perder teu sossego. Na hora certa tudo vai acontecer. Às vezes nos preocupamos à toa e quando menos esperamos tudo acontece.

- Você tem razão primo. Falou pouco, mas falou tudo!Ao terminar essa conversa nos dirigimos a duas cadeiras dessas

de praia que estavam na área da casa. Tinha ali uma sombra gostosa e um ventinho delicado.

Acabamos dormindo...Fomos acordados pelo nosso tio Antônio nos perguntando se

acompanharíamos na caminhada deles. Estavam preparados para percorrer uma trilha até chegar ao seu terreno em um morro ali perto. Olhei para Rodolfo como quem faz uma pergunta apenas com olhar, ele como quem responde também apenas com olhar, dissemos que estávamos afi ns.

Acompanhamos a caminhada.O caminho era estreito com algumas pedras, na qual, deveríamos

ter cuidado para não cair nem nos machucar.Nossos tios foram na frente, até porque não conhecíamos o lugar,

conversavam sobre suas histórias, as travessuras quando crianças, surras recebidas dos seus pais. Acompanhando também ia minha tia Maria, tia Bruna e minha mãe.

Meu pai dizia que certa vez quando ainda tinha dezesseis anos

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estava sentado chupando cana-de-açúcar, vinha um homem forte com um vaso cheio de água do rio sobre seus ombros. Meu pai se escondeu e quando estava ao alcance de um tiro de funda, ele arremessou uma pelotada quebrando o vaso e se escondeu. Sem entender aquele homem fi cou assustado e todo encharcado. Ainda disse que no dia seguinte esse senhor passou por ele e olhou muito sério como quem diz – “acho que o vaso não quebrou sozinho”.

As mulheres que estavam ali ouvindo fi caram com pena do homem e disseram que meu pai fora muito frio e sem coração ao fazer isso. Mas agora já tinha feito restava apenas rir.

Tio Antônio quando era jovem percorria aqueles lugares todos ali, caçava sempre depois de vir da roça com meu avô, até citou nomes de uns pássaros que costumava caçar para colocar em gaiola, trocar por outros e comer ensopado. Eu e meu primo fi camos de certa forma assustados porque nunca tínhamos comido pássaros.

Não podia faltar a história do tio Fabrício que quando criança sua diversão era correr atrás das galinhas da avó e dos vizinhos. Disse ainda que fi cou bom na pontaria em atirar pedras treinando nas galinhas.

Fiquei chocado com as travessuras deles, pensei que quando eram crianças fossem daquelas bem educadas, tipo sim senhor ou não senhor. Não que eu fosse um santo mas eles pareciam...

Vendo que todos tinham contado alguma travessura, eu disse bem baixinho para Rodolfo que, quando era criança fazia apostas com outros colegas para saber quem conseguia quebrar mais vidros de uma escolinha primária que não estava funcionando. As pedras eram jogadas na corrida, porque se alguém visse iria correr atrás de nós e certamente nos pegariam, afi nal, éramos apenas crianças e corríamos pouco – “é claro! Hoje vejo que merecia uma boa surra”. Contei mais alguns fatos, todavia, não deixei meus tios ouvirem.

Algumas pessoas que me conheciam contam algumas coisas, como por exemplo, eu ir correndo na frente de um velório tocando

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pedras nos cachorros, nos pássaros e minha avó brigando dizendo que não deveria fazer aquilo. Se ela estivesse viva perguntaria se realmente foi verdade. Não me lembro de ter feito isso. Talvez eu fosse muito pequeno para não lembrar essa travessura!

Mas teve algumas das coisas que me lembro, por exemplo, quando estava ainda no primário, eu e outro colega, o Artur, fazíamos “xixi” bem na porta do banheiro dos professores. Confesso que não sei por que fazia isso, talvez pela companhia dele.

Hoje analiso bem quem são as pessoas que me rodeiam para não correr o risco de ser participante de vandalismos, os quais se tornaram frequentes entre alguns jovens. Com esses erros cometidos por mim muito tive que pagar. A diretora da escola sempre me deixava de castigo e com essas repressões aprendi a fazer o que é certo e não fazer algo só porque alguém quer fazer e me convidou.

Outro acontecimento foi quando estudava nas séries iniciais do ensino fundamental. Todos os dias eu e meus colegas íamos para casa. No caminho passávamos por um campo de futebol e às vezes quebrávamos as placas que cercavam esse campo. Eu, por não ser santo também participava da diversão anti-social.

Certo dia, quando estávamos quebrando as placas um carro parou bem pertinho de nós e o homem disse: -“entrem todos no carro”– vendo todos meus colegas correndo, não fi quei esperando ele dizer que iria me pegar. Desci um morro pavimentado mais rápido que um jato. Quando estava longe do lugar e pensando que tinha despistado ao quebrar a esquina, quem estava lá me esperando? Era aquele mesmo homem que havia pedido com educação para nós entrarmos no carro. Eu estava sem saídas, então entrei no carro, ali já estavam todos os outros chorando.

Imediatamente pensei – “o que ele vai fazer com a gente, será que iremos ganhar uma sova, nos levar para uma prisão de segurança máxima? Meu DEUS!”.

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Só me restava perguntar para mim mesmo: -“por que eu fi z isso?”-.Ele arrancou seu carro e ia se dirigindo para a delegacia. Os

outros chorando e eu rindo, mas acho que de nervoso por não conseguir chorar, por isso ria.

Chegando em frente a delegacia ele parou seu carro e entrou, pediu para um policial fi car cuidando de nós porque se fi cássemos sós ao voltar não ia encontrar nem vestígios. Conversou com um senhor lá dentro, víamos porque eles estavam próximos a uma janela.

Voltou e entrou no carro bravo. Foi entregando cada um em casa. Acho que o delegado disse que não fazia mal quebrar as placas,

talvez por isso estivesse bravo. No caminho ia pensando: -“além de fazermos arte ainda vai nos levar em casa, amanhã eu volto lá para quebrar mais umas placas, quem sabe assim todos os dias ganho carona”.

Só me lembro que esse senhor que nos apanhou sussurrou dentro do carro – “São de menores”.

Ele entregava meus colegas e perguntava para mãe deles se o esposo estava em casa. Elas diziam que não, ele apenas deixava os meninos e continuava nosso “frete”. Chegando em minha casa, buzinou, minha mãe veio atendê-lo.

- Seu esposo está em casa?- Sim!- Posso falar com ele?- Um momento só. Ela não tinha me visto dentro do carro. Ihhh! O coração começou

gelar, me perguntei – “será que ele perguntava pelos pais para contar o que fi zemos?”.

Chegando meu pai, ele foi bem curto e grosso: - Seu fi lho tem passado pelo campo e quebrado as placas, peguei

no ato com seus colegas. Fui até a delegacia, mas o delegado disse que eles são de menores, portanto, na próxima os pais terão que ir até

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a delegacia. Você esta sendo o primeiro pai que estou tendo contato, mais tarde voltarei na casa das outras crianças.

- Desculpe pelo que meu fi lho fez, irei conversar bem de pertinho com ele.

Desci do carro e fui para o sofá porque meu pai queria falar comigo. Ficou conversando um tempinho com aquele senhor, depois veio em minha direção e disse:

- Enquanto estou pagando meus impostos para preservar o patrimônio público você está por aí com seus colegas destruindo. Acha isso certo? Você merece uma surra, mas te darei um voto de confi ança, na próxima você não escapa. Está me ouvindo?

- Sim pai!- Então vá para seu quarto e não saia de lá, só amanhã na hora

de ir para escola, ao voltar dela, novamente vá para seu quarto, serão três dias assim. Pode sair para ir ao banheiro, mas primeiramente nos chame. A comida sua mãe levará para você. Isso é apenas um aviso. Entendeu?

- Sim!Outra arte que me lembro, eu estava fazendo bolinhos de lodo

(resultado da decomposição de matéria orgânica, por exemplo, folhas de árvores), esse lodo eu pegava dentro da lagoa que fi cava próxima a casa de meus falecidos avós materno. Na época ainda eram vivos. Eu sendo uma inocente criança brincava de vender-los na calçada da rua. Aproximou-se certa senhora com suas vestis bem branquinhas e perguntou:

- Quantos custam os bolinhos?Ela sabia que eram de lodo, mas apenas queria me irritar. - Um real.- Não! Cinquenta centavos!Eu não queria abaixar o preço e ela não queria pagar meu valor.

Ela sabia que eu estava apenas brincando, pois não tinha como comer,

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era de materiais orgânicos apodrecidos.Eu já sem paciência, e ela não parava de insistir comigo. Para

piorar a situação ela pegou alguns daqueles bolinhos e jogou no chão, esperei se virar e joguei um bolinho na roupa dela, um dos que não haviam caído. A vesti branca fi cou preta. O pior é que aquela senhora estava indo para missa. Nunca vi uma velha correr tanto, chegou até me pegar, deitou-me no chão e lambuzou meu rosto todo com aquele lodo. Depois voltou para casa, pois não tinha como ir para igreja daquela forma. Foi bufando.

Rodolfo não quis contar nada pra mim do tempo que era criança, disse que não se lembrava de nada. Duvido que não tenha aprontado as suas!

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TIO ANTÔNIO E TIA MARIA

“Uma plantação produtiva depende do meio ambiente, e nós do meio em que vivemos para chegarmos ao mesmo resultado!”

Alex de Imaruí

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Depois de uma pequena jornada morro acima, fi nalmente chegamos ao terreno do tio Antônio e da tia Maria. Nesse terreno, eles plantam, no outro de onde saímos, eles moram.

Assim que passamos a porteira de madeira com arames vimos um terreno bem grande cheio de mandiocas plantadas. Essas mandiocas eram arrancadas na hora da colheita e a raiz levada para um engenho, na qual, eram transformadas em farinha de mandioca, ótima para um pirão de feijão ou uma farofa de ovo.

Ainda no mesmo terreno, na parte de baixo, vi algumas laranjeiras, olhei para meu primo como quem pergunta – “vamos lá?” – ele entendeu.

Então fomos...Chegando, eram laranjas cravas. Perguntou-me se reconhecia o

lugar.- Deixe-me dar uma olhada. Acho que a laranjeira onde estava tal

caixinha é essa.- Sério!- É! É essa mesma!- E agora?- Não podemos dizer nada para ninguém, vamos fazer tudo em

silêncio. Beleza?- Como quiser. O que vamos fazer agora que achou a laranjeira?- Pelo menos é bem parecida. O lugar também é semelhante.- Já tinha vindo aqui?- Não! Minha primeira vez.- Então não tem como dizer que foi coincidência. Estou curioso para

ver se existe essa caixinha. Quando vamos cavar?- Vamos deixar quieto, acompanhar nossos pais e amanhã diremos

que vamos vir chupar laranjas, então cavaremos!- Beleza!Voltamos para junto de nossos pais e tios.Tio Antônio comentou que aquele terreno era de seu sogro, minha

tia tinha recebido de herança. Soube aproveitar ao invés de deixá-lo sem

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produzir ou vender barato para alguém, faz farinha de mandioca que utiliza em sua casa e ainda vende para alguns conhecidos que compram dele.

Já anoitecendo, resolveram voltar. Chegando novamente em casa, tia Maria preparou uma janta muito gostosa, camarão ensopado com pirão de feijão. O camarão, meu tio tinha pescado, o feijão comprado e a farinha produzida. Acho que esses meus tios não têm muitas despesas.

Terminando a janta assistiram uma novela, falavam mais que os próprios personagens comentando como achavam que deveriam acontecer os fatos no decorrer dos acontecimentos.

Na hora de voltarmos para casa, os pais de Rodolfo se despediram dos meus tios que estávamos visitando dizendo que teriam que voltar para sua cidade, precisava retornar ao trabalho.

Ele era torneiro mecânico de uma empresa e minha tia dona de casa. Em seguida foram passar aquela última noite em minha casa. Viajariam bem cedinho.

Eu e meu primo fomos depois de nossos pais, tínhamos ido de bicicleta e eles de carro. No caminho perguntei para Rodolfo se já sabia que iriam fi car pouco tempo assim.

- Não! Pensei que fi caríamos pelo menos uma semana. Ouvi meu pai dizer para minha mãe que estava de férias, se a empresa precisasse dele ligariam com antecedência. Pensei que pelo menos uma semana fi caria aqui.

- Então deve ter ligado hoje. Vocês viajarão amanhã e ele começa trabalhar dia seguinte. Acho eu.

- Ah! Eu vi que depois da janta meu pai saiu para rua, talvez fosse atender ao telefone.

- Então pode ser.Sabendo que eles estariam pela manhã viajando, falei que foi muito

prazeroso ter conversado sobre vários assuntos. Incentivei não desistir de lutar pelos seus sonhos, e seria um ótimo professor.

- Obrigado! Você também não deve desistir de seus objetivos!

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- Pode ter certeza!Quase chegando em casa e percebendo que não poderia ir comigo

cavar, pedi para entrar em contato comigo.- Depois que vocês forem amanhã, já irei pegar minha bicicleta e

dizer para tio Antônio que irei ao terreno dele chupar laranja.- Então te ligo no fi nal de tarde. Pode ser?- Claro!- Mas se não encontrar nada?- Daí existe duas hipóteses. Esse lugar é apenas parecido, mas

ainda não é aquele ou não existe esse lugar procurado. O sonho é apenas um sonho.

Assim que chegamos meu tio Fabrício se aproximou de mim e perguntou sobre as gatinhas, se tínhamos beijado muito?

- Não! Apenas conversamos sobre outros assuntos e visitamos a ilha das cabras, fomos ao campeonato de futsal e nada mais, não apresentei nenhuma amiga para ele. Não deu tempo, pensei que iriam fi car umas duas semanas.

- Querem que acreditemos? Não deram umas paqueradas por ai? (perguntou tia Bruna).

- Sério! Mas da próxima vez que vocês vierem vou apresentar algumas amigas para ele.

Tio Fabrício falou que voltariam depois de uns seis meses. Não iriam demorar tanto para nos visitar. Voltariam porque precisava resolver um assunto pendente de documentação pessoal em Imaruí.

No dia seguinte às seis horas da manhã uns barulhinhos me acordaram, sai do meu quarto e eles já estavam se arrumando para viajar, disseram que quanto mais cedo fossem melhor seria a viagem. Minha mãe estava na cozinha preparando um café, meu pai sentado em uma cadeira próximo da mesa. Depois do café se despediram de nós. Meu primo disse que retornaria para contar as experiências de sala de aula.

Foram viajar.

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A ESCAVAÇÃO

“Se não fi zer buracos, não há como saber!”Alex de Imaruí

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Sem perda de tempo disse a meus pais que iria à casa do tio Antonio. Minha mãe perguntou o que faria lá?

- Irei ao terreno onde ele planta mandioca.- Fazer...?- Estou com vontade de chupar laranja.- Nossa vizinha Clarisse disse que se quiséssemos chupar laranjas

podíamos nos sentir a vontade, ela mora sozinha e acaba caindo grande parte e apodrecendo.

- Mas quero aproveitar para conversar um pouco com meus tios.- Então tá! Você é quem sabe.Peguei minha possante bicicleta e fui à casa de meus tios,

chegando, perguntei para minha tia se o tio estava em casa. Ela disse que encontraria ele em um bar ali perto tomando uma branquinha. A branquinha seria cachacinha que gostava de tomar sempre que sobrava tempo. Ainda perguntou-me aonde ia?

- Vim pedir para vocês, se posso ir até o terreno chupar umas laranjas?

- Claro! A hora que quiser. Posso pedir um favor?- Sim!- Leva uma enxada com você? Seu tio vai na parte da tarde fazer

uns buracos, mas já está com suas mãos cheias, eu é quem iria levar, mas se puderes...?

- Claro!- Porque não deixa para ir depois do almoço. Ele passa pelas

laranjeiras e segue até noutro lado do terreno. Assim podem ir juntos.- É! Acho que vou dar um oi para ele no bar.- Na hora do almoço venha com ele.- Então está bem.Chegando no bar havia dois senhores e dois jovens tocando e

cantando músicas sertanejas. Eu cumprimentei meu tio e disse que iria com ele no morro a tarde. Pediu para me sentar e abriu uma cerveja.

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Já sabia que eu gosto de uma loira bem gelada, quero dizer a cerveja, e também disse que aqueles “caras” tocavam e cantavam muito bem.

Realmente pude presenciar esse fato. Eram artistas que trabalhavam na roça e na pesca. Eles bebiam a branca e faziam uma cara feia, como quem quer dizer – “tomo porque sou macho!”.

Chegando meio dia, hora do rango, meu tio me convidou para irmos almoçar e pagou minha cerveja. Disse a ele que pagaria, mas insistiu em pagar. Pelo menos assim sobrou dinheiro para comprar outra mais tarde.

Chegamos em casa e sobre a mesa estava uma tainha assada, bem temperada com alho, cominho, limão e cebola, do jeito que gosto. Um feijão também bem temperado e algumas saladas.

Almoçamos...Minha tia pediu que descansássemos um pouco ao terminar de

comer, assim não correríamos perigo de passar mal. Ela disse ter conhecido várias pessoas que após almoçar caminharam para roça e foram encontradas mortas no caminho.

Meu tio foi para seu quarto descansar, fi quei no sofá. Depois de uns quarenta minutos ele me acordou para subirmos o morro.

- Como você tem passado Wesley?- Bem! Obrigado!- Decidiu vim pegar umas laranjas?- É! Deu vontade. Estou trazendo uma bolsa para levar algumas.- Foi sua mãe quem pediu?- Não! Eu decidi vir.Até chegarmos ao terreno conversamos sobre vários assuntos, uns

referentes às mulheres, a perspectiva de emprego e futuro. Perguntou-me se iria lecionar ou trabalhar em alguma empresa na área de química. Nessa última pergunta fi quei meio enrolado para responder, pois ainda estava indeciso. Já tinha trabalhado como professor e sempre achei muito importante esse papel do professor na sociedade, mas também

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já trabalhei em uma empresa como laboratorista. Ambos gostei muito.Chegando ao lugar onde estavam as laranjeiras, ele disse que iria

adiante. Perguntei se podia fi car um pouco com a enxada.- O quê você vai fazer com ela?- Quero fazer um pequeno buraco.- Tudo bem. Se precisar, venho buscá-la.Ainda bem que ele não insistiu em saber para quê fazer buraco.

Qual seria minha resposta?Continuou seu caminho... Subi em uma laranjeira para disfarçar. Peguei umas dez laranjas,

coloquei na sacola e desci rápido. Logo peguei a enxada e comecei a fazer um buraco. Olhei em minha direita e vi uma pá encostada em uma laranjeira. Apareceu na hora certa, assim daria de aprofundar aquele buraco. Provavelmente meu tio passou por aqui para pegar algumas laranjas e acabou esquecendo.

Cavei aproximadamente meio metro. E nada! Pensei que talvez tivesse cavado no lugar errado. Comecei cavar em outra laranjeira. E, nada! Mesmo tamanho de buraco.

Assim fi z em vários pés de laranjas, os quais eram parecidos com sonho. Vendo que não encontraria a caixinha azul meu corpo fi cou mole, quase chorei, estava desanimado.

Na hora de fazer os buracos foi sem stress, mas na hora de fechá-los, que tédio. Para piorar, precisava tapar os buracos rapidamente, meu tio poderia vir pegar a enxada. Se encontrasse esse lugar cheio de buracos vai me perguntar qual motivo, se pretendia chegar ao outro lado do Planeta, achar algum duende ou um tesouro escondido...

Com todos os buracos já preenchidos sentei. Lembrei que no último sonho cavava bem perto da laranjeira e do lado esquerdo. Havia um lugar bem próximo de uma laranjeira no lado esquerdo que realmente ainda não tinha cavado. Então restava uma chance, uma esperança. Isso me encheu de ânimo.

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Peguei a enxada e comecei novamente a cavar, em seguida continuei com pá. Estando em torno de meio metro senti que peguei algo, fez um barulho, parecia madeira – “será a caixinha de madeira azul?” – continuei cavando ao redor – “será que o sonho era verdadeiro?” – com mais algumas pazadas percebi que não passava de um pedaço de madeira quebrada. Continuei cavando, fi z um pouco mais profundo que os outros buracos, cansei, parei e fechei. Depois de um exaustivo trabalho de abrir e fechar buracos percebi que foi tudo inútil. Saí do local temendo que o tio Antônio visse tudo cheio de buracos tapados, fui para próximo da trilha onde ele teria que passar para ir embora, pois assim, eu estaria evitando que fosse até as laranjeiras e visse tamanho estrago que fi z.

Depois de uns quinze minutos ele veio e perguntou se já tinha pego muitas laranjas.

- Umas dez.- Já provou alguma?- Sim! São deliciosas.- Pegue quantas quiser.- Obrigado!Levei sorte, ele chegou pouco tempo depois que já não estava

mais nas laranjeiras. O que diria para ele se tivesse chego enquanto ainda estava fazendo ou fechando buracos?

Perguntou-me se iria continuar pegando laranjas.- Não! Por quê?- Estou indo para casa. Você vem?- Sim! Já estou cheio de laranjas e também levo algumas para

casa.Descemos o morro. Perguntei se conseguiu fazer tudo que tinha

ido fazer.- Consegui. Apenas fui fazer uns buraquinhos para plantar algumas

coisas.

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- Que bom!Apenas pensei – “que coincidência, também fui fazer alguns

buraquinhos do tipo meio metro e até um pouco mais” – cheguei ao ponto de querer falar, mas que loucura ia fazer, ele diria que eu estava fi cando doido, porque buracos de meio metro e para quê? Daí teria que contar meu sonho. Para ele não iria faltar mais nada, estaria com plena convicção que eu precisava de um psiquiatra, e urgente!

Chegamos na casa dele, perguntou se eu queria tomar um café, aceitei, adoro café, ou melhor, sou viciado.

Minha tia tinha preparado do jeito que eu gosto, parece até que adivinhou. Café forte e com pouco açúcar.

Estava ótimo.Agradeci e disse que precisava ir embora. Pediram que voltasse

outro dia.Novamente agradeci.Peguei minha bicicleta e voltei para casa.

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FLORIANÓPOLIS

“A cada novo momento uma nova oportunidade!”Alex de Imaruí

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No dia seguinte fui acordado por meu pai às seis horas da manhã para carregar sua caminhoneta. Ela tinha um baú frigorífi co para levar camarão a Florianópolis. Esse pescado ele comprava de algumas pessoas que pescavam na lagoa de Imaruí e também no Rio Grande do Sul.

Assim que terminamos de carregar sua caminhoneta, almoçamos e fomos para Floripa (Florianópolis). Disse-me no caminho que passaria pela praia de Cacupé, Canasvieira e Ingleses. Eu já conhecia essas praias, são muito lindas e têm muitas gatinhas.

O caminho de Imaruí até Nova Brasília é pavimentado com asfalto, uma ótima estrada. Já de Nova Brasília até Florianópolis a situação não é das melhores. Com as obras de duplicação há muitos desvios, alguns trechos ainda precários, muitos buracos, mas quando tudo terminar vai fi car uma delícia viajar.

Chegando em Floripa aquele movimento doido, pegamos um trânsito bem vagaroso. Ao passar do centro deu uma melhorada, depois passamos pela Beira Mar Norte e seguimos em direção as praias norte da ilha, na qual, era nosso destino.

Primeiro paramos em um cliente em Cacupé, Sr. Gerson é o dono do restaurante, sempre brincalhão e divertido. Logo ao chegarmos, ele com alguns de seus garçons estavam contando “histórias de pescadores”. Disse que seu pai, Pepão, era pescador e conhecido ali na região. Contava que certa madrugada em alto mar estava pescando, quando de repente apareceu um peixe de aproximadamente uns três metros, pulou por cima do seu barco e cuspiu uma perna de homem que caiu dentro da embarcação. A perna ainda se mexia como se tivesse viva, ela deu uns quatro pulos e caiu novamente no mar.

Eu ouvindo aquele acontecimento logo percebi que meu sonho estava longe de ser loucura perto daquilo.

Um dos garçons também contou em seguida que seu avô pescando em uma lagoa em plena madrugada percebeu uma luz bem longe, essa

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se aproximava devagar vindo do céu. Ficou parado olhando, pensou que poderia ser um avião ou helicóptero. Essa luz chegou bem perto de onde ele estava, fi cou alguns segundos parada em sua frente quando de repente subiu ao céu rápido como um relâmpago.

Algumas pessoas acreditam em discos voadores, eu não sei o que digo, acho que irei me comparar a São Tomé, só vendo para crer. Mas aquele Garçom e seu avô acreditavam.

O Sr. Gerson perguntou se tínhamos alguma coisa esquisita para contar antes de descarregar a mercadoria, meu pai disse que não se lembrava de nada no momento.

Eu até teria, mas...Fomos até nossa caminhoneta e descarregamos o produto que Sr.

Gerson tinha pedido. Continuamos as entregas.Paramos agora em Canasvieira, entramos no restaurante do Sr.

Júnior, perguntamos pelo dono do restaurante para uma menina que atendia no caixa, ela pediu para esperarmos, pois iria chamá-lo. Saiu em direção ao depósito e logo voltou acompanhada do Sr. Júnior. Não falei nada, mas aquela atendente de caixa sem sombras de dúvidas era uma fl or de linda.

Disfarçadamente observo sua mão esquerda e percebo uma enorme “algema”.

Desanimei... Ele nos autorizou que descarregássemos a mercadoria, fomos para

caminhoneta e começamos nosso trabalho. Pediu para irmos até seu escritório que fi cava ali mesmo no restaurante assim que terminássemos para acertar.

Terminamos, organizamos a caminhoneta e fomos ao escritório. O dinheiro já estava contado, apenas quis que conferíssemos.

Ele nos disse que precisava ir ao banco conversar com seu gerente, tinha hora marcada, da próxima vez conversaríamos com bastante tempo.

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Ainda faltava um cliente em Praia dos Ingleses.Continuamos nossa jornada de trabalho...Meu pai quando chega em algum lugar e encontra alguém que

goste de conversar esquece do mundo fi cando horas rindo e falando bobagens.

Agora só faltava irmos à Praia dos Ingleses, para isso seria necessário voltar um pouco de onde estávamos, pegar a esquerda na primeira rua e seguir até nosso destino fi nal. Eu já estava um pouco cansado querendo chegar em casa. Mas sempre que parávamos em qualquer praia em Floripa todo cansaço ia embora, elas são esplendidas, no verão são muito movimentadas e de uma beleza natural particular.

Finalmente chegamos ao último restaurante, era de uma mulher, muito boa gente, alegre e divertida, chama-se Dona Roberta.

Assim que chegamos, ela estava dentro do restaurante atendendo um cliente. Era um desses clientes chatos que perturbam por qualquer coisa, acho que para se aparecer, serem vistos, sei lá. Esperamos ela resolver o problema.

Sentamos em uma mesa, pegamos um refrigerante e fi camos olhando o mar.

Nesse restaurante os clientes fi cam próximos do oceano, tudo aberto, muito gostoso.

De repente ela chega e pergunta:- Como vocês estão?- Bem obrigado! (respondeu meu pai).Meu pai perguntou que houve com tal sujeito.- Um dia desses ele esteve aqui e jantou, pagou em cheque mas

estava sem fundo. Apenas fui com bastante educação até ele e chamei em particular, falei da situação. Ele perguntou se eu o achava velhaco. Disse que ele não tinha entendido, apenas estava dizendo para quando passar no caixa, após comer, deveria acertar aquele cheque também. Acho que estava um pouco travado (bêbado). Não quis comer nada e

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não pagou aquele cheque sem fundo. Outra hora acerto com ele.- Foi um cheque de quantos? (perguntou meu pai).- Quinhentos reais. Só que ele não comeu sozinho. Tinha umas

dez pessoas. Pediram camarão, lagosta, e outros pratos caros. E não querem pagar nada por isso? Se eu ganhasse a mercadoria então faria bem baratinho.

- Você o conhece? (eu perguntei)- Sim! Ainda é meu vizinho, ganha uma nota. É rico, um empresário

bem sucedido. Tem uma mansão e um carro lindo, importado. Com ele eu me acerto, nem esquento, ele tem mesmo, por bem ou por mal vai pagar.

- Se ele é bem de vida porque deu um cheque sem fundo? (perguntei)

- Não é dele o cheque, deve ser de algum cliente. Mas tem sua assinatura nas costas do cheque. Eu não quis ir até sua casa cobrar, achei que fi caria chato, esperei vir aqui e ainda me trata com ignorância.

- Eu também recebo cada bomba, cada cheque sem fundo de algumas pessoas a quem vendo camarão, isso que pesquiso com outros fornecedores a respeito da honestidade. Têm alguns que trabalham certinho por vários anos, de repente abrem falência ou desaparecem, enfi m, acaba não pagando nenhum fornecedor. (meu pai comentou).

Depois dessa conversa fomos descarregar a mercadoria. Assim que terminamos o trabalho, Dona Roberta e seu esposo Sr. Júlio nos convidaram para chegar até seu escritório. Meu pai os acompanhou. Preferi sentar por ali mesmo em uma das mesas do restaurante de frente ao oceano e dar uma olhada no movimento na praia.

Comecei olhar aquelas lindas ondas, a imensidão de águas azuis que parece não ter fi m, tudo isso me traz uma tranquilidade, inspira-me ao poema, meditação, viajo nas alturas do raciocínio. Também lembrei os acontecimentos que no primeiro restaurante haviam contado. O peixe de três metros com uma perna de humano na boca, a luz que apareceu

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ao pescador e depois sumiu. Desejei conversar com aquelas pessoas e contar meu sonho e por certo não seria ridicularizado.

Depois de um tempo no escritório, eles saem, sentam-se à mesa em que eu estava e começam falar sobre diversos assuntos.

Meu pai comenta sobre o que eu estava pensando, naqueles acontecimentos que tinham contado no primeiro restaurante. Dona Roberta e Sr. Júlio disseram que há muitos anos atrás quando moravam em outra cidade um vizinho contou-lhes um sonho. Sonhou que tinha encontrado uma panela de ouro perto de uma enorme pedra no próprio terreno.

Ao acordar por curiosidade foi cavar, mas tinha três pedras grandes e não se recordava em qual era, procurou nas três. Depois de um metro de profundidade na terceira pedra encontrou a panela.

Isso me estimulou muito, talvez ainda tenha um sonho e nele verei o lugar que essa caixinha deve estar. –“Acho que não devo desistir mesmo, uma hora irei encontrá-la!”-. Fiquei remoendo de vontade para contar aquele sonho. Esperei meu pai dar uma volta pelo restaurante com Sr. Júlio. Assim que fi quei sozinho com Dona Roberta na mesa de seu restaurante, contei-lhe.

- Dona Roberta, também tive um sonho estranho.- Conte Wesley.Ela já me conhecia. Eu tinha feito entregas ali várias outras vezes.- Estava cavando próximo a uma laranjeira. Procurava uma caixinha

azul, dentro havia alguma coisa de muito valor. Tive mais de uma vez o sonho. Em um deles apareceu um homem de branco e pediu para não desistir. O que você acha?

- Acho que pode ser verdade. Como era esse lugar?- Só me lembro de um pomar com laranjas.- Tenho um terreno aqui perto, a hora que quiser posso te

acompanhar até lá. De repente exista alguma laranjeira parecida.- Poderei cavar?

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- Claro!- Obrigado! Irei sim.Pedi que não contasse ao meu pai, eu fi caria muito envergonhado. Seria nosso segredo. Ela concordou.Assim que chegou meu pai com Sr. Júlio, nos despedimos, já era

tarde.Retornamos a Imaruí...

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O ESTOJO DE MAQUIAGEM

“Tudo tem um valor, apenas depende de quem vê!”Alex de Imaruí

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No dia seguinte depois do almoço fi quei com medo de pedir o carro emprestado a meu pai, ele poderia negar dizendo que não emprestaria, ou pior, perguntar aonde eu iria. Sempre fui um pouco medroso em pedir o carro dele. Na terceira tentativa de pedir, consegui forças e apenas disse a ele – “empresta o carro pai?” – ele só disse que a chave estava na gaveta em que sempre guarda.

De certa forma fi quei um pouco assustado, são raras as vezes que ele deixa.

Peguei o Astra 2.0, preto, do ano, fui ao posto de gasolina e abasteci. Segui para Florianópolis. No caminho fi quei pensando onde eu passaria primeiro, em Cacupé no restaurante do Sr. Gerson ou nos Ingleses no restaurante da Dona Roberta.

Decidi passar primeiro no restaurante em Ingleses, afi nal ela já estava por dentro da história. Se sobrasse tempo passaria em Cacupé.

Fui direto ao restaurante, entrei e perguntei a um dos funcionários por ela, disse que iria chamá-la. Sentei em uma mesinha e esperei. Ela chegou, sentou e perguntou se eu estava bem?

- Sim! E com você?- Também! Obrigada!- Vim para dar uma olhada no seu terreno.- Você realmente está empolgado, hein!- Tive a sorte de conseguir o carro. Aproveitei.- Então espere apenas uns quinze minutos que iremos lá. Pode

ser?- Sem problemas.Eram quinze horas e vinte cinco minutos.Percebendo toda atenção que me dava, comecei fi car ansioso.

Cada minuto que passava eu olhava no relógio, parecia que o dia se fi ndaria, mas não passaria quinze minutos.

Olhei no relógio e já marcavam quinze horas e trinta minutos. Faltavam ainda dez minutos.

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Passaram-se os quinze minutos, ela chegou quando completou dezesseis minutos. Pelo menos era quase pontual, pior se tivesse chego depois de meia hora.

Fomos com no carro de meu pai. Eu, ela e uma das funcionárias do restaurante. Chegamos ao lugar. Não era um terreno muito grande, tinha uma casa antiga bem conservada. Ela disse que havia sido de seus pais e que não morava ninguém ali. Tinha como lembrança de sua família. Sempre pagava algumas pessoas para zelar pela casa.

Ela é a caçula e única viva da família. Seus pais, seu irmão e sua irmã já haviam falecido. A irmã faleceu ainda nova de ataque cardíaco, tinha quarenta e cinco anos, estava em casa sozinha quando seu esposo chegou já era morta no sofá; o irmão, acidente de carro com cinquenta e dois anos. Seus pais morreram já idosos, ela com 89 anos e ele com 96 anos.

Dona Roberta tem seus trinta e cinco anos aproximadamente, até perguntei, mas não quis responder. É daquele tipo de pessoa que tem pavor da idade, confesso que não sei por quê?

Fomos até o fi nal do terreno, algumas laranjeiras no lado direito e sete bananeiras com três jabuticabeiras no lado esquerdo.

Olhei para ela como quem quer perguntar – “e agora posso cavar?” – parece que captou no ato meu pensando.

- Você quer enxada ou pá?- Você tem os dois?- Tenho. Já volto!Ela tirou um molho de chaves do bolso, chegou a uma das portas

da casa, abriu e entrou, saindo com duas pás e duas enxadas. Na hora me perguntei – “para que duas? Será que uma das pás e uma das enxadas está com defeito ou no caso de quebrar?” – se aproxima e pergunta:

- Começamos cavar em qual das laranjeiras?- Você vai me ajudar?

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- Por que não?- Sei lá! Deixa que faço isso sozinho. Você apenas acompanha

sentada, se eu achar aqui terá também parte no que estiver dentro, afi nal esse é seu terreno.

- Mas duas pessoas cavando será mais rápido que uma não acha?- Sim! É claro!- Se não existir servirá para fazer um pouco de exercício. Estou

precisando.- Certo! Cavo na laranjeira que está no meio de todas e você

naquela que está atrás dela. Pode ser?- Elas são parecidas com as de seu sonho?- São as que mais se assemelham.Começamos o serviço. Confesso que ela parecia ter mais vigor

que eu. Fiquei até um pouco envergonhado. Perguntou quanto de profundidade deveria cavar, respondi que no

sonho ainda não tinha encontrado e portanto não sabia. Resolvemos cavar aproximadamente meio metro sempre no lado esquerdo das laranjeiras.

Já estava escurecendo quando ela deu um grito. Isso na terceira laranjeira em que estava cavando, porque nas que eu indiquei primeiramente não tinha nada.

- Meu DEUS!- Você achou?- Bati em alguma coisa.Eu e a moça corremos para onde ela estava. Realmente

havia alguma coisa. Depois de conseguirmos desenterrar e limpar confi rmamos: era uma caixinha com traços azuis e verdes fechada com um cadeado pequeno. Dona Roberta rapidamente buscou um alicate e ainda meio tremula pediu para eu cortá-lo. Olhei para ela, estava um pouco assustada e muito curiosa. Confesso que achei mais empolgada do que eu. Olhou com força para mim como quem quer dizer – “está

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esperando o quê?” – fui forçando e abrindo. As dobradiças estavam enferrujadas. Quando abri nos sentimos frustrados, uma caixinha de maquiagem (estojo de maquiagem).

Ela deixou a caixinha em cima de uma pedra e decepcionados começamos fechar os buracos. Comentei que já tinha procurado em outros lugares sem êxito. Respondeu-me que só existem duas verdades, uma seria verdadeira existência da caixa sonhada e outra apenas sonhos coincididos.

Com todos os buracos preenchidos ela foi até aquela caixinha de maquiagem achada e fi ca olhando fi rme como se analisasse. Só na terceira vez que perguntei se havia acontecido alguma coisa ela responde que estava recordando de quando ainda era criança, tinha uma prima que gostava de usar suas maquiagens. Por ciúmes de seu estojo acabou escondendo.

Depois de um tempo tentou achá-lo, mas percebeu que escondeu tão bem que acabou perdendo. Seria uma lembrança de sua infância, guardaria com todo carinho.

Percebi que não foi em vão todo trabalho, afi nal encontrou aquela caixinha que foi sua há algum tempo atrás.

Convidou-me para irmos até sua casa, nela havia dois banheiros e a doméstica já deveria ter terminado a limpeza, seu esposo já estaria em casa também. Chegando lá sua doméstica terminava de passar umas roupas e nos vendo sujos sua fi sionomia foi de espanto, no entanto, não perguntou nada.

Seu esposo assistia televisão no quarto, assim que a viu suja perguntou-lhe o que tinha acontecido e ela prontamente contou toda história, desde meu sonho até o estojo encontrado, ele apenas riu e disse que pelo menos valeu a pena pela recordação.

Depois que tomamos banho fui convidado para jantar. Eu estava com fome e não fi z boquinha, aceitei no ato. Era uma deliciosa tainha assada, Sr. Júlio acabara de assar para comer com pirão d’água. Que

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delícia, com bastante limão! Quem participou da janta foi Sr. Júlio, Dona Roberta, a doméstica, a moça que trabalhava no restaurante e eu.

Sr. Júlio comentou que não achamos a caixinha azul do sonho talvez porque não existisse, ou não tivesse chego na hora certa. Ele acredita que tem um tempo para todas as coisas, se ainda não chegou essa hora realmente não seria encontrada, porém, não deveria perder as esperanças porque se fosse verdade apareceria. Continuou reforçando que eu não perderia nada em acreditar e um dia saberia qual verdadeiro signifi cado desse sonho que tanto mexia comigo. Se realmente existisse provavelmente já estaria próximo de encontrá-la, porque os sonhos aconteceram seguidos de pouco tempo.

Ao terminarmos de jantar, agradeci e voltei para minha casa. Por estar cansado resolvi não passar no restaurante do Sr. Gerson. Em casa fi quei pensando em algo que Sr. Júlio disse. – “Tudo vem na hora que tem que vir” -, se ainda não é hora de achar tal caixinha azul não iria encontrá-la mesmo.

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UMA JOVEM CHAMADA DANIELA

A superação é uma característica dos fortes!Alex de Imaruí

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Passado uma semana depois que estive em Florianópolis fui até o centro de Imaruí apenas para dar uma volta.

Parei em um barzinho e pedi uma bem gelada. Estava só olhando aquele movimentinho dos sábados após as vinte

duas horas. Ao lado de minha mesa sentaram-se algumas jovens. Eram quatro irmãs com sua mãe e duas amigas. Uma delas de calça preta começou me olhar, abriu um sorriso lindo como uma fl or saboreando todo prazer de receber a luz solar. Fiquei um pouco nervoso, tanto sem jeito, até o copo de cerveja começou fazer ondas como oceano.

Já conhecia todas elas de vista, mas nunca tive oportunidade de me aproximar e tentar uma boa conversa com essa boneca de calça preta. Era fi lha daquela senhora.

Depois que terminaram de lanchar se levantam e começam a sair da lanchonete. Ouvi a mãe das quatro meninas dizerem que já era hora de ir. As outras duas jovens também acompanharam. Esta jovem que me deixou encabulado saia por último, passando por mim pedi sua atenção e perguntei como se chamava. Sorrindo respondeu:

- Daniela, e o seu?- Wesley, prazer em conhecê-la!- O prazer é todo meu.- Existe alguma possibilidade de qualquer dia desses sairmos para

conversar?- Claro!Nisso deu seu número de celular e saiu. Fiquei fantasiando muitas

coisas sobre nosso encontro, como iria tratá-la na primeira vez, o tipo de conversa que teríamos, enfi m, quase não consegui dormir naquela noite.

Sempre quis ter um contato maior com essa jovem além de apenas olhares, mas minha timidez não deixava.

No dia seguinte liguei para aquele número que havia me dado.- Oi! Tudo bem?

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- Tudo! E com você?- Também! Obrigado! Vamos dar uma volta?- Sim! Que horas?- As vinte uma horas?- Para mim está ótimo!- Até! Beijos!- Beijos! Fiquei todo empolgado. Parecia uma criança esperando ganhar

um presente tão desejado, fui ao centro na hora marcada. Novamente liguei e disse que estava no mesmo barzinho onde tinha me dado seu número de celular.

Depois de uns dez minutos aparece com suas irmãs e para piorar, todas elas.

O planejamento das perguntas e poesias que faria a ela fi caram todas comprometidas, como iria dizer coisas lindas e românticas com todas nos olhando e ouvindo?

Elas se aproximaram, sentaram e me cumprimentaram. Pedimos alguma coisa para comer.

Um pouco envergonhado com a presença das irmãs de Daniela, aproveitei para sussurrar na hora em que começaram conversar alto. Perguntei como tinha passado o dia?

- Bem! E você?- Também! Sempre quis ter uma oportunidade de poder sentar na

mesma mesa com você e olhar bem nos seus olhos.- Sério?- Sim! E dizer que são muito lindos.- Obrigada!As irmãs dela já tinham atrapalhado só com suas presenças, pois

pensei que estaríamos sós. Para me encabular mais ainda se sentam dois amigos delas na nossa mesa.

Um deles começa conversar com Daniela. Puxou uns assuntos

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idiotas, contava umas piadas bestas. A atenção que deveria ser para mim fi cou compartilhada com aquele jumento barbado de aproximadamente vinte quatro anos e só falava asneiras. O tempo passa, elas riem como se fossem ter um ataque de riso, me franjo todo para tentar demonstrar alguma graça.

As vinte três horas e trinta minutos Daniela olha para mim e diz que precisa ir embora, pedi sua atenção, pois ainda nem tínhamos conversado. Sua resposta continuou fi rme, precisava ir porque sua mãe fi caria preocupada caso demorasse.

- Tudo bem! A gente se vê por aí! (disse a ela).- Ta! Liga para mim!- Beleza!Despedi-me das meninas. Saíram e já em seguida aqueles

barbados com mentalidade de criança saíram também. Até acho que foram atrás delas, porém não perdi meu tempo para averiguar. Até poderia perguntar a Daniela se aceitaria que eu acompanhasse até sua casa, mas fi quei tão irritado que nem quis ir. Tantos planos, tantas decorebas de poesias para receber aquele balde de água fria.

Fiquei mais uns vinte minutos e também saí. Assim que cheguei em casa ela me dá um toque no celular e desliga. Não retornei a ligação porque quando estávamos na lanchonete nem me deu atenção, fi cou rindo com seus amigos e irmãs.

No dia seguinte ajudei meu pai ensacar camarão em sacos de dois quilos. Isso durante o dia. Anoitecendo liguei para um amigo chamado Célio e perguntei se podia ir a um barzinho para conversarmos.

Ele aceitou. Marcamos em um barzinho que fi ca próximo daquele que eu

estava com Daniela um dia antes.Cheguei no bar e ele já estava em uma mesinha na rua. - E aí? - Aqui tudo beleza Wesley! E aí?

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- Também vai tudo bem!- Parece feliz! Já mandou a depressão embora?Ele tivera depressão há uns quatro anos. Sua mãe tinha comentado comigo que ele já tinha tentado se matar

por três vezes, sorte foi que ela chegou a tempo em todas e chorando suplicava para não fazer tamanho mal para ele e também a ela. Quando fi z essa pergunta tive uma resposta que fi quei muito impressionado.

Decidiu parar de tomar os remédios e já fazia seis meses que não precisava deles para viver. Ainda perguntei o que estimulou parar de se tratar com remédios?

- Uns três meses atrás estava em casa sem fazer nada, era meu dia de folga no trabalho, com isso resolvi dar uma volta. Passei em frete de uma biblioteca e entrei. Comecei olhar alguns livros, de repente pego um e começo ler. Estava sem capa original, alguém havia extraviado. Nele dizia que nossa mente tem poder para conseguirmos tudo que queremos e precisamos, basta apenas acreditar e desejar com intensidade.

- Que livro interessante. Em qual biblioteca você encontrou esse livro?

- Aqui em nossa cidade mesmo. Na biblioteca pública. Diga para atendente que foi o livro que entreguei, ela saberá qual, porque conversamos um tempão sobre ele. Ela também já leu.

- Irei procurar esse livro parece interessante mesmo.Célio resolveu deixar de usar remédios acreditando que não

precisava mais deles. Parece que deu certo, pois estava com um ótimo sorriso. Todo empolgado disse –“tudo que desejarmos com força e sonharmos com vigor, se procurarmos na hora certa se apresentará”-.

Ouvindo esse pensamento empolgante também falei que certo dia estava sentado em um dos trapichos em frente minha casa e surgiu um pensamento que me ajudou muito, -“a conquista da superação é preservar as forças e fortalecer as fraquezas”. Ele achou um pensamento

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criativo e também gostoso de meditar.Chegou mais um amigo nosso, o Christofer. Sem saber sobre que

estávamos conversando perguntou-nos se ia tudo bem? Nossa resposta foi positiva.

Quanto ao Christofer, conheci-o há uns cinco anos atrás na festa de aniversário da amiga de minha irmã. Simplesmente ele chegou até mim e perguntou se Lígia é minha irmã, respondi que sim, não perguntou mais nada sobre ela e desde então começamos ser bons amigos.

- E com você Christofer? (perguntei a ele)- Melhor impossível!Perguntou qual era nossa conversa, Célio falou que trocávamos

idéias sobre o poder oculto existente dentro de cada um de nós e muitos nem sabem, por isso, fi cam sempre reclamando da vida como se ela fosse culpada por todo mal.

Christofer logo começou opinar sobre o assunto, contou que sua tia reclama de tudo e difi cilmente consegue vê-la sorrindo, seu ex-esposo foi embora por esse motivo, sendo difícil ver felicidade nela. Também comentou sobre um casal de vizinhos, moram no lado direito de sua casa, sendo esses um verdadeiro exemplo de como se deve viver. Estão sempre alegres com a vida abençoando tudo que os rodeia. Ainda disse que certa vez estava na janela de seu quarto e ouviu esse vizinho falar para sua esposa e seus dois fi lhos –“não deu certo, mas vamos acreditar, pois da próxima vez vai dar!”. Daquele dia em diante Christofer disse que também procura levar sua vida acreditando na resolução dos problemas, e quando não acontece não custa nada tentar novamente.

- Hoje penso assim. (disse Célio)- Não faz muito tempo que fi quei adepto, mas também me oriento

dessa forma agora. (respondi a eles)Depois de muita conversa e cerveja o álcool nos deixou vendo tudo

duplo. Há quem diga “álcool vai entrando e a verdade vai chegando...”

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Christofer, super alegrão devido aquela bebida forte pergunta se queremos ir dançar um pouco em uma boate ali perto.

Resolvemos ir. Às vezes dávamos dois passos para frente e um para trás, mas

fomos nos achando os três gostosões. O que esse álcool faz, hein!Chegando lá Célio começou passar mal, foi até o banheiro e

ajudamos se apoiar na parede de forma que não tivesse contato com vaso sanitário.

Ali vomitou...Depois dessa barbaridade ele melhorou e voltou dançar. A partir

de então decidimos não beber mais bebidas alcoólicas, apenas água mineral, isso nessa noite, é claro!

Célio dizia nunca mais beber e jurava por sua palavra de bêbado! Acreditava só quem não o conhecia.

Próximo das cinco horas da madrugada fomos embora, levamos primeiro Christofer, em seguida levei Célio. Chegando em casa cai na cama como uma pedra e apaguei.

Ao acordar olhei no celular para ver a hora, eram treze horas e tinha duas chamadas perdidas de Daniela. Pensei: -“Será que ela não se toca, me deixou envenenado na lanchonete igual uma árvore plantada e quase muda. O que será que ela quer?”. No fundo eu queria ligar.

Assim que vi aquela chamada meu coração deu uma aceleradinha gostosa e fi cou geladinho. O nome Daniela parecia doce aos meus olhos. Fiquei sem saber se deveria retornar tal ligação ou não?

Acabei retornando. Ela atendeu.- Boa tarde Wesley!- Boa tarde Daniela! Tudo Certinho?- Vai se levando.- Vi duas ligações sua resolvi retornar. Você queria falar comigo?- Apenas dei um toque.- Gostou do lanche?

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- Sim! E Você?- Só me faltou sua atenção.- É que eles são meus amigos de infância.- Pensei que minha presença seria especial para você!- E foi!- Preciso desligar, minha mãe está me chamando. Será que posso

ter sua atenção apenas para mim qualquer dia desses?- Pode ser hoje depois da aula!- Que horas?- As vinte duas horas e trinta e cinco minutos. Pode me levar em

casa?- Claro! Então combinado! Beijos!- Beijos!Confesso que não fi quei tão feliz como da primeira vez, poderia

fazer a mesma coisa. Sair com suas amigas e dizer que conversaríamos outro dia, mas mesmo assim na hora marcada eu estava lá.

Quando a vi estava com suas irmãs e amigas, já pensei, -“ganhei outro bolo”.

Assim que me viu fi z sinal que queria falar com ela. Chegando perto perguntei se podia entrar no meu carro, aliás, do meu pai.

Quando ela entrou percebi que não tinha ganhado outro fora. Ao parar quase em frente de sua casa queria sair sem me dar um beijo, então pedi apenas um selinho. Pelo menos isso ganhei.

Voltei para casa todo feliz...No sábado novamente liguei e convidei para sair, deu uma desculpa

que sua mãe não queria deixar, precisava preparar algumas coisas e não sobraria tempo.

Apenas acreditei! No outro dia, domingo à tarde, fui dar uma volta na pracinha no

centro da cidade. Sentei em um banquinho e comecei olhar a lagoa. Em minha frente em outro banquinho um casal de namorados, consegui

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perceber que estavam felizes. Conhecia-o de vista, mas não consegui ver direito quem era ela. Depois de uns vinte minutos ele se levanta e pega na mão dela para saírem, quando ela se vira fi quei pasmo com uma enorme variação de entalpia, era ela, Daniela. Logo entendi porque não queria sair comigo noite passada, provavelmente estava se preparando para sair com ele.

Acho que ela não me viu, pelo menos não olhou. Queria que tivesse me visto apenas para eu perceber como reagiria pelo papel que fez. Tudo que restava agora é esquecê-la e apenas pensar que foi bom em quanto durou minha utopia.

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A POESIA

“A poesia é uma das formas mais belas de declarar um grande amor!”

Alex de Imaruí

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Quinta-feira à tarde, sol se pondo no horizonte revelando assim uma linda paisagem, resolvi caminhar na mesma pracinha onde encontrei Daniela com outro rapaz. Desejava sentir uma brisa suave e refl etir um pouco. Passo por uma pizzaria e vejo uma mesinha com quatro cadeiras desocupadas. Sinto uma vontade de sentar e fi car olhando as três ilhas localizadas na lagoa que está em minha frente. Não resisto esse desejo de admirar tamanha beleza e acabo desistindo da caminhada.

Peço uma folha de papel sem pauta e uma caneta emprestada ao dono da pizzaria. Começo a escrever.

Faço uma poesia.De cabeça baixa compondo, der repente se aproxima um ex-

professor meu de sociologia e fi losofi a chamado Kleiton. Fui seu aluno quando ainda cursava o ensino médio. Primeiramente pergunta se pode sentar em uma das três cadeiras desocupadas.

- Claro que pode!- Está escrevendo o quê?- Terminei agora mesmo de fazer um poema.- Sério?- Sim! Você também gosta?- Com certeza. Adoro! Pode ler para mim?

Meu paraíso chamado Imaruí.

Não há estrelas no céuNem mesmo a lua,

Não tem ouro espalhado pelo chãoNem pendurado nas árvores,

Mas um pôr-do-sol luminosoMarca sua presença,

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Com seus raios iluminaEste lindo lugar,

É um lugar pequenoCom uma bela lagoa,

Com ilhasPássaros e peixes,

Tem camarãoTainha e corvina,

Também tem bagre e siriAlém de outros,

Imensa é sua glóriaE grande seu esplendor,

Virtuosa cidadezinhaQue é tão preciosa,

Nesta quinta-feira à tardeNão resisti seu encanto,

Nem toda sua magia e por isso fi z essa poesiaMinha tranquila cidadezinha de Imaruí!

- Nossa Wesley. Estou impressionado!- Obrigado professor!- Não sabia de seu interesse por poemas. Pensou em levar adiante?- Sim! Faz uns dois meses que desentoquei meus poemas da

gaveta, levei-os a uma professora Doutora que trabalha na mesma universidade em que estudei.

- O que ela disse?- Leu alguns e disse que estavam ótimos.

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- Pretende registrar e fazer um livro?- É meu objetivo.- Tem quantas folhas seu livro?- Aproximadamente umas cento e sessenta folhas.- Desejo que dê tudo certo!- Obrigado pelo otimismo. Acredito que vai dar!Depois dessa conversa se levantou e disse que continuaria sua

caminhada. Mas antes de sair se colocou a disposição para ajudar no que estivesse ao seu alcance.

No dia seguinte telefonou pela manhã e perguntou se podia falar comigo à noite. Não iria fazer nada mesmo então combinamos de nos encontrar na mesma pizzaria que tínhamos conversado dia anterior.

Passei parte da manhã carregando a caminhoneta frigorífi ca do meu pai com camarão e carne de siri. Almocei meio-dia e fui viajar depois de descansar um pouco.

Levei a mercadoria para alguns clientes de meu pai nas praias de Florianópolis, em Cacupé, Santo Antônio, Canasvieiras e Ingleses, neste dia foram apenas para esses lugares, parte norte da Ilha.

Ao chegar de viajem tomei um banho bem gostoso daqueles que até nos esquecemos da conta de luz para pagar, em seguida o professor Kleiton me liga. Perguntou se já estava na pizzaria, falei que recém tinha chego de viajem e estava me arrumando, mas dentro de uma hora estaria no lugar combinado.

Já na pizzaria esperei ainda uns dez minutos. Ele assim que chega me cumprimenta chamando de poeta. Confesso que fi quei todo faceiro.

- Wesley, preciso de você!- Se estiver ao meu alcance.- Preciso de um poema que fale sobre meio ambiente. É para

repassá-lo a meus alunos do ensino médio e pedir que elaborem um trabalho em cima do poema. Você tem algum sobre esse tema?

- Tenho! Para quando você precisa?

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- Amanhã pode levá-lo a escola às dezoito horas?- Claro! Vai entregar amanhã mesmo?- Não! Entregarei na próxima semana.Perguntou-me se queria beber uma cerveja, não tive como rejeitar

a proposta. Pedimos ao garçom uma bem gelada. Kleiton me pergunta:- Porque não dá aula ou vai trabalhar em uma empresa na sua

área? - No momento estou esperando uma empresa de Criciúma me

chamar. Enquanto isto estou ajudando meu pai no ramo de pescados. - Como você sabe que vai ser chamado?- Fiz uma entrevista e disseram que iriam me chamar para

preencher uma vaga que surgiria no laboratório, mas preciso esperar uns dois meses. Quem conseguiu essa vaga para mim foi um amigo que é conhecido do gerente da tal empresa.

Ficamos um bom tempo conversando...Começou cair um vento forte acompanhado de uma chuvinha fi na.

Pagamos as quatro etanólicas (cervejas) e nos despedimos. Fui para casa preparar o poema que entregaria a ele no dia seguinte.

Chegando em casa liguei meu computador e procurei algum poema sobre Meio Ambiente. Encontrei três, li todos e escolhi um que tem por título “Meio Ambiente: Uma presa indefesa”.

Todos os poemas eram lindos, mas achei que esse seria ótimo para ser trabalhado em sala de aula. Ele retrata invejável beleza da natureza e também imensa crueldade do ser humano em destruí-la querendo apenas aumentar seu capital, reforçar seu individualismo e acelerar a entropia global.

No dia seguinte já com poema escolhido e impresso fui até a escola para entregá-lo ao professor. Cheguei às dezoito horas e dez minutos. Ele já estava na sala dos professores me esperando. Pedi licença e penetrei no recinto. Falei que de minha autoria tinha três poemas sobre o tema, todavia, gostei mais do título “Meio Ambiente: Uma presa

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indefesa”, este demonstra aos alunos impensada ação do homem em agredir a natureza.

Professor Kleiton perguntou-me quanto cobraria pelo trabalho, respondi que não cobraria nada, afi nal estava sendo usado para um bem-social. Ainda comentei que conscientização independente da forma expressa, se poemas, vídeos, teatros, livros, enfi m, é muito importante para uma sociedade formar uma mente crítica e construtiva, lutando pelos direitos humanos e também o direito que a natureza tem de existir, sem ela, provavelmente não conseguiríamos sobreviver.

Entreguei o poema para que lesse:

Meio Ambiente: Uma Presa Indefesa

Dia admirávelDe céu limpo e azul,

Lagoa mansaCom águas claras,

Bem cedo ouço barulhosDe canoas correndo as redes,

São pescadores que vão ao marEstão trazendo seu pão de cada dia,

Árvores verdesCantando com a voz dos ventos,

Cheia de vida, revelando a esperançaDe cada vez mais, um mundo melhor,

Os pássaros cheios de vidaAgradecem a Deus por mais um amanhecer,

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Por mais uma oportunidadeDe exaltar Jeová,

Infelizmente tenho que acreditarToda essa beleza tem um predador,

Que não descansa em caçar sua presaDevorando sem piedade e compaixão,

Esse leão de dentes afi ados e fortesE sempre faminto,

Tem fi lhos humanosE uma ambição descontrolada!

Assim que leu disse-me ser um poema muito gostoso de trabalhar. Envolve interpretação, realidade do lugar onde os alunos moram, emoção e sensibilidade.

Agradeceu-me pelo poema.- Professor, quando precisar de mais algum é só me ligar, estando

ao meu alcance ajudarei sempre que solicitado.- Obrigado, Wesley!Deixei a escola e fui para casa.

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VISITA AOS ALUNOS

“Somos professores quando há quem aprenda”Alex de Imaruí

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Na semana em que aquele poema seria entregue aos alunos fi quei curioso quanto a reação deles. Liguei para Kleiton por três vezes durante toda semana, mas seu celular nem chamava, talvez tenha perdido pensei.

Na sexta-feira seguinte fui dar uma volta na praia de Imbituba, cidade próxima, olhar o azul forte do oceano, sentir aquele intenso vento e a deliciosa areia fi na. Alguns surfi stas, pescadores, gente tomando sol, alguns de bicicleta, outros tomando banho, correndo na beira das águas oceânicas e também um poeta escrevendo, eu.

Ouço alguém me chamar: - “Wesley”.Levanto a cabeça e vejo o Professor Kleiton.- O que está fazendo por aqui? (perguntou Kleiton).- Olhando essas águas divinas e você?- Vim dar uma caminhada.- Tentei ligar para você essa semana para saber qual foi a reação

dos alunos quanto ao poema.- Não atendi porque meu irmão precisou viajar e acabou antes

quebrando seu celular, emprestei o meu. Pior que esqueci de pegar meu chip para colocar em outro aparelho velhinho que tenho. Sobre os alunos, eles gostaram, foi bem trabalhado seu poema.

- Que legal!- Tenho algo para pedir a você Wesley.- Não tenho dinheiro.- Não é dinheiro. Engraçadinho. Eles querem conhecer o autor do

poema. Pode fazer uma visita a eles?- Tem gatinhas?- Tem! Mas você não vai dar nenhuma piscadinha.- Por quê?- Elas são minhas!- Nenhuma para mim?- Calma, me deixa terminar de falar. Elas são minhas alunas.

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- Ah! Estou brincando, não irei piscar para nenhuma.- Eu sei que não vai. Eles fi caram encantados.- Fico feliz pelo reconhecimento deles.- Você vai mesmo?- Quando?- Nesta segunda-feira nas duas primeiras aulas no período da noite,

começa às 19hs.- Tenho uma viajem marcada para fazer neste dia, mas assim que

for possível te ligo. Até terminar esse ano letivo garanto que irei.- Só quero ver! - Pode fi car tranquilo, apareço lá qualquer dia desses.- Ficamos gratos caro poeta!Despedimo-nos. Ele disse que visitaria sua irmã que mora ali perto.

Também sai, fui à casa de um primo que mora em Nova Brasília, um bairro de Imbituba. Meu primo se chama Danilo. Sua casa fi ca atrás da casa de sua mãe. Fica sozinho, pois prefere toda privacidade. Seus pais são separados, o pai mora em Imaruí, é irmão de minha mãe.

Ao chegar bati na porta de sua casa, assim que me viu deu um sorriso como quem diz “quanto tempo?”. Embora não morássemos longe, quase não nos víamos.

Há muito tempo atrás quando ainda criança, brincávamos na beira da lagoa de Imaruí de nadar, não que já soubéssemos, mas apenas fazíamos de conta. Junto com outros amiguinhos, todos nós por volta dos seis anos de idade gostávamos de ré-de-esconde-esconde, ré-de-congelar, bolinha de vidro, pular nas pedras próximas a lagoa, pescar de anzol com caniço, correr pelos morros, jogar bola na estrada, navegar com jangada de bananeira, enfi m, foram tempos inesquecíveis.

Hoje apenas lembranças de tempos tão bons e que passara. Alguns daqueles moleques que também eram da nossa turminha nem reconheço mais, pois já faz muito tempo que se mudaram.

Meu primo estava jogando no computador e me convidou para

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jogar, falei que não sou muito chegado em jogo, mas estava com vontade de alugar um fi lme de ação ou comédia, junto com um refrigerante bem gelado e uma pipoquinha.

Aceitou no ato. Fomos a vídeolocadora mais próxima e alugamos um fi lme de ação,

passamos em um supermercado, compramos pipoca e refrigerante. Na casa dele colocamos aquela pipoca para estourar e fomos

preparar o fi lme. Com tudo preparado, pipoca pronta, refri no copo e aquele fi lme iniciando, chega um amigo dele interrompendo nosso início de fi lme.

Meu primo foi atender. O rapaz só queria emprestado um jogo. Depois foi embora.Colocamos novamente no inicio. De repente sua mãe chama, tivemos

que parar mais uma vez. Só veio avisar que sairia e provavelmente iria demorar.

Continuamos o fi lme.Ainda no início do fi lme alguém chama –“Danilo, Danilo”- ele saiu

para ver quem era, parecia seu irmão mais novo, e realmente era, queria saber onde sua mãe estava. Apenas disse que ela tinha saído e não sabia para onde.

Ele começou a rir, não entendi, perguntei do que estava rindo. Falou que na maioria dos dias ninguém chega ali, mas logo naquele dia que resolvo aparecer não para de chegar gente.

Saímos da sala e fomos assistir ao fi lme no quarto. Começamos mais uma vez. Ali se alguém chamasse não ouviríamos

nem eles saberiam que tinha alguém em casa. Fechamos toda casa. Ninguém mais perturbou, talvez porque não ouvimos. Só sei que

não fomos mais interrompidos.Depois do fi lme resolvemos ir a uma balada ali perto apenas para

dar uma olhada, isso já eram vinte três horas.

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ETERNA CHEILA

“A cada decisão do presente se auto-direcionará um determinado futuro!”

Alex de Imaruí

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Por volta de meia-noite, vendo que havia um movimento bom, perguntou se eu queria entrar na boate. Se eu fosse para casa me restaria apenas dormir, então aceitei.

Sentamos em duas cadeiras vagas, compramos duas latas de cerveja e fi camos olhando as girls. Aproximam-se duas moças e perguntaram se poderiam sentar conosco em outras duas cadeiras desocupadas que havia ali na mesa em que estávamos. Logo pensei –“Deus o livre das minhas mãos se ele disser a essas duas princesas que não podem sentar-se”. Mas ele aceitou, sorte dele.

Uma delas parecia que já conhecia meu primo, era loira e muito linda, de início deu grande atenção a ele. A propósito eu nem queria mesmo, mas porque ela não deu, é claro. A outra uma morena não apenas linda, mas divina, aproximadamente minha altura, um metro e sessenta e dois centímetros, olhos castanhos claros, lábios grossos, pernas também grossas, magra, “mas tinha bunda”. Essa deu atenção para mim, pelo menos me desejou uma boa noite. Graças a Deus!

Danilo diz que vai dar uma volta com a loira, achei ótima essa idéia. Ela nem tinha ligado para mim mesmo.

Estando sozinho com aquela doçura de morena pergunto seu nome.

- Cheila.- Lindo nome!- Obrigada! E o seu?- Wesley.- O seu também é lindo!- Obrigado! Sempre frequenta esse lugar?- Não! Está sendo terceira vez. E você?- A primeira. Meu primo me convidou para vir. Sou de Imaruí.- Legal! Sou da Vila Nova, é um bairro aqui de Imbituba.- Seu namorado não vai fi car bravo, vendo ou ouvindo falar que

você está sozinha conversando comigo?

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- O que te faz pensar que tenho namorado?- Sua enorme beleza!- Obrigado pelo elogio. E sua namorada?- Não tenho.- Seu primo me falou que tens!- Acha mesmo que deixaria minha namorada em casa, caso tivesse,

para ela descobrir que ando pelas noitadas e acabar perdendo-a para outro? Quando ele falou essa bobagem para você?

- Estou brincando, nem o conheço. Também não sabia que minha prima conhecia ele.

- Espertinha, hein! Plantando verde para colher maduro de mim.- Talvez!- É, percebi. Foi bom ter conhecido você!- Também acho que foi!Depois de uma boa conversa e algumas trocas de olhares chega

meu primo com a outra moça. Essa pela primeira vez me cumprimenta com um -“oi”- e fala para a querida Cheila que precisavam ir porque seu pai já estava esperando. Um segurança conhecido delas que trabalhava aquela noite na boate deu recado.

Na despedida roubei um prolongado beijo doce daquela morena de cabelos escuros.

Não poderia fi car sem perguntar quando poderíamos nos ver novamente. Nesse momento ela fez uma carinha triste e diz que estaria viajando para São Paulo no dia seguinte.

- Mas quando volta?- Não sei! Eu, meus pais e meus dois irmãos estamos nos mudando

para lá.- Fico triste por saber que não irei mais vê-la, talvez por um bom

tempo ou pior, para sempre. Mas foi bom ter fi cado com você princesa.- Igualmente!- Good-bye!

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- Bye-bye!Fomos com elas só até a porta do salão para não dar bandeira ao

pai da loira que estava esperando no carro. Assim que foram embora convidei Danilo também para irmos e ele aceitou.

Chegando na casa dele pedi uma jaqueta emprestada, pois teria que viajar uns vinte dois kilometros até minha casa. Ele insistiu para que pousasse ali em uma cama de solteiro que fi cava na sala. Estava frio para viajar de moto.

Realmente eu iria passar frio se fosse de moto mesmo com uma jaqueta. Ele não tinha roupas de chuva para moto. Caia uma chuvinha fi na.

Aceitei...Acordei perto das onze horas com um barulho de alguém batendo

na porta. Era domingo.Ele ainda dormia.Minha tia estava na porta e queria saber onde iríamos almoçar,

respondi que convidaria Danilo para irmos ao restaurante ali perto, ela insistiu perguntando se quiséssemos almoçar ali na casa dela faria almoço também para nós.

Agradeci e insisti em almoçar fora.Assim que saiu comecei recordar do sonho que tive naquela noite.

Já nem lembrava mais da caixinha azul. Acabei sonhando com ela novamente.

Desta vez tinha achado. Estava com minhas mãos forçando para abri-la e quando deu um estralinho para abrir, acordei. Ou seja, fui acordado pela tia.

Sentei no sofá e liguei a TV, coloquei um fi lme de desenho, mas minha cabeça agora fi cava repassando o sonho. Se minha tia não tivesse atrapalhado eu conseguiria desvendar aquele mistério.

O que poderia ter dentro de tanto valor que me servisse para

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alguma coisa? Seria apenas um sonho? Talvez aquela caixinha azul fosse apenas uma chave, a primeira porta aberta e deveria abrir mais alguma até chegar ao verdadeiro signifi ca. Dentro dela poderia ter um mapa e esse sim mostrar onde encontraria algo de imenso valor.

Talvez meus falecidos avós tivessem razão quando afi rmavam a respeito das pessoas que fi caram ricas no passado por sonharem com objetos valiosos e depois acabaram encontrando, talvez acontecesse também comigo.

Fiquei “maluco de raiva” por ter sido acordado antes de desvendar o enigma.

Tentei dormir novamente, talvez sonhasse mais uma vez e conseguisse continuar aquele mesmo sonho, até cochilei, mas nada de sonhar.

Meio-dia, Danilo acorda. Eu já estava novamente no sofá assistindo TV. Ele pergunta se

fazia muito tempo que estava acordado.- Não! - Sabe se minha mãe teve aqui?- Sim!- O que ela disse?- Que foi convidada para almoçar na casa de uma amiga.- Vamos almoçar no restaurante ou preparar alguma coisa?- Você é quem sabe.- Então vamos ao restaurante! Conheço um aqui perto barato e

tem um rango bom.- Vamos lá!Após nos arrumarmos fomos.Tanto eu quanto ele estávamos de moto, ambas 125 cilindrada.

A minha era de cor verde, recém havia ganhado de meu pai, a dele era cinza. Assim que chegamos fomos direto ao buffet, eu pelo menos estava vesgo de tanta fome e comeria uma boiada inteira, acho que ele

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também pois repetiu por três vezes, eu apenas duas.Ao terminar de almoçar fomos para casa dele. Escovamos os

dentes e deitamos no sofá.Quando eu estava pegando no sono o celular dele toca. Ele atende,

marca um encontro e desliga.- Wesley, é a moça de ontem, a loira.- Legal! Vocês vão sair?- Sim, em uma hora ela estará me esperando na praia da Vila

Nova.- E a Morena?- Já foi viajar.- Então aproveita.- Vais para onde?- Acho que vou dar uma volta na praia, mas fi que tranquilo que não

vou segurar vela.Ele entrou no quarto se arrumou e saímos, parecia que tinha

tomado banho de perfume.Assim que chegamos na praia a loira estava sentada em um

banquinho. Despedi-me dele e fui mais adiante, andei em torno de uns cinco minutos.

Comecei lembrar da morena de cabelos escuros e olhos castanhos claros. Senti vontade de escrever um poema para ela. Peguei a caneta e uma folha de papel que estavam em meu bolso e escrevi:

Feitiço ou amor?

Em um acaso nos conhecemosNuma noite sem igual,Com um sorriso de luar

Iluminou meus sentimentos,

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Morena de pernas grossasMagra e com lábios carnudos,Princesa de cabelos escuros

E olhos castanhos claros,

Prendeu meu coraçãoTonicamente em suas mãos,

Suspendeu minha menteMais alto que as nuvens,

Se pudesse me ouvir agoraPerguntaria que tipo de magia foi usada,Pois estou em plena tarde de Domingo

Olhando para o oceano, mas vendo seu divino rosto,

Insisto em pensarQue em seus lábios havia doçura,

Suas mãos delicadasUm poder de conquistar,

Se fui enfeitiçadoA distância entre nós o destruirá,

Todavia, se brotou amorNão descansarei até novamente te encontrar, Cheila!

Ainda pensando na morena Danilo se aproxima, toma minha atenção e diz que vai sair com a loira.

Despedimos-nos...Fiquei mais meia hora ali na praia e voltei para Imaruí. Chegando

em casa passei o poema que fi z na praia para meu computador.

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SENTIMENTO DE AMOR

“Há gestos que falam!”Alex de Imaruí

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Passando-se três meses após ter conhecido Cheila, meu celular toca.

- Alô! Quem está falando? - É a Francine.- Desculpa-me, mas acho que não me lembro de você.- Sou prima da Cheila. A morena que conheceu em uma balada há

uns três meses atrás em Nova Brasília.- Ah! Estou lembrado sim. Mas como conseguiu meu número?- Com Danilo. Liguei para avisar que Cheila estará vindo na

próxima semana. Vem buscar uns pertences que esqueceu de levar. Ela perguntou por você.

- Pode me avisar quando ela chegar?- Assim que ligar avisando o dia que vêm, entro em contato com

você. Pode ser?- Claro! Muito obrigado.- Bye!- Bye!Pelo menos desta vez a loira falou comigo. Esqueci de perguntar

se estava ainda com meu primo. Não que tivesse algum interesse nela, pois fi quei apaixonado pela morena. Mas para saber, seria legal eu fi car com a morena, assim que ela viesse de viagem e meu primo com essa loira.

Dá ao entender que eu tinha uma caída pela loira, né! Mas é só impressão, tá!

Liguei para Danilo e disse que a Cheila estaria chegando na próxima semana.

- Eu já sei, Francine ligou pouco tempo atrás e pediu para avisar você que sua prima estaria chegando em poucos dias, mas estou sem créditos, pedi para ela ligar.

- Como vocês dois estão?- Namorando!

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- Sério?- Na verdade eu já tinha fi cado com ela outras vezes. Mas nada

muito sério.- E agora resolveram então levar para frente mesmo!- Sei que ela gosta de mim. Confesso também estar gostando dela.

Acho que devemos tentar.- Vamos combinar algo?- Tipo o quê?- Quando Cheila chegar podemos dar uma volta na praia e depois

combinamos com elas algum outro programa.- Beleza! Francine disse que Cheila é tímida e só conversou com

você porque tinha bebido um pouco.- Se for preciso embebedo novamente para falar comigo.- Então até!- Até mano!Fiquei semana toda inquieto. Só pensando como seria nosso

reencontro fora de uma boate. Porque na boate tudo é diferente. O álcool na cabeça, a música, o barulho, sei lá, é diferente de sairmos pela praia caminhando e conversando. Pior ainda se realmente for muito tímida. Será que vai fi car com respostas do tipo sim, não, não sei, talvez, quem sabe. Ninguém merece sair com uma garota assim, né!

Comecei realmente fi car preocupado pelo que meu primo comentou sobre a timidez dela.

Só existe um jeito de saber, esperar e ver.Nesta mesma semana em que ela viria para Imbituba, falei com

professor Kleiton, marcamos minha visita com a turma como havíamos combinado anteriormente, seria quarta-feira nas duas últimas aulas, tempo necessário para responder às perguntas dos alunos.

Ao chegar na sala de aula alguns eu já conhecia outros ainda não. Todos demonstraram muita empolgação e fi zeram perguntas do tipo, -“como você consegue se inspirar?”-, -“tem namorada?”-, enfi m, dentre

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outras perguntas que fi zeram. Gostei da turma, fi zeram me sentir bem.Na quinta-feira Francine ligou avisando que Cheila chegaria de

viagem na sexta-feira à noite e precisava retornar para São Paulo segunda-feira pela manhã.

Fiquei feliz e ao mesmo tempo preocupado. Feliz por ela estar vindo, e assim, poderia vê-la novamente sem efeito do álcool. Não que eu seja um beberão, mas porque fi co leve rápido com poucos goles de cerveja, por isso que bebo geralmente fermentado porque se beber destilado, estou frito, não aguento muito sem me encostar em algum lugar para dar uma cochiladinha.

Se ela fi zer também perguntas e puxar assunto, ai vai vingar, vai ser legal.

Ligo para Danilo e pergunto se já sabe que a moreninha está vindo na sexta. Ele diz que sua loira já tinha ligado e contou.

Perguntei se tinha alguma idéia, logo mencionou a praia sendo ponto de partida. Como já tínhamos combinado por telefone.

Chegando sexta-feira umas vinte duas horas meu celular toca, não conheço o número, mas, é óbvio, atendo.

- Quem está falando?- É o Wesley, quem é?- Cheila.Nessa hora emudeci. Senti-me uma solução neutra. Não saia som

algum de minha garganta. Fiquei pasmo.- Alô! Wesley tudo bem?- Oi! sim! sim! Claro! E com você?- Tudo bem! Obrigada! - Combinei com meu primo de irmos à praia amanhã. Vamos?- Legal, amanhã às quatorze horas. Pode ser?- Está ótimo! Combinado então.- Bjs!

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- Bjs!A princípio não parecia tão tímida como Danilo comentou.Dia seguinte almocei em casa e descansei meia hora, depois segui

rumo a Nova Brasília.Chegando na casa de meu primo disse que tinha combinado de

nos encontrarmos às quatorze horas. Ele já sabia e disse que só estava me esperando. Desligou a TV e fomos.

Chegamos às trezes horas e quarenta e cinco minutos, faltavam ainda quinze minutos para hora marcada. Elas ainda não tinham chegado no lugar que Danilo e Francine combinaram.

Apareceram ás quatorze horas e quinze minutos, eu já estava com os nervos a fl or da pele de ansiedade.

Ficamos uma meia hora juntos conversando.Perguntei para morena se aceitaria dar uma caminhada, aceitou,

perguntamos se os outros dois queriam, preferiram fi car ali nos aguardando.

Era hora de saber se ela era eloquente ou tímida ao extremo.Perguntei se já conhecia São Paulo antes.- Nasci lá. Fiquei até os dez anos e agora estava apenas retornando.- Ficou quanto tempo em Imbituba?- Cinco anos. Assim que saímos de São Paulo moramos em

Florianópolis, depois é que viemos para Vila Nova.- Você tem muitos parentes em São Paulo?- Sim! A família de minha mãe é de lá. Já do meu pai é de Imbituba.

E você, mora quanto tempo em Imaruí?- Vinte seis anos.- Qual sua idade?- Vinte e seis anos. Posso saber a sua?- Dezoito anos.- Então sou mais velho, tens que me obedecer.- É mesmo?

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- Claro! É uma questão de respeito obedecer aos mais velhos.- O que gostaria de me pedir para que eu obedecesse?- Quero que pare de caminhar agora.- Parei!- Feche os olhos!- Estão fechados.Eu não poderia esperar mais nenhuma indireta dela, pois foi cem

por cento direta. Sem perca de tempo dei aquele beijo gostoso, uma fusão com direito a língua e tudo. Ops! Acho que me empolguei e falei demais, isso não deveria contar, mas já contei...

Após aquele primeiro beijo ela olhou bem para mim e confessou meio envergonhada que o motivo desta viaje era apenas para vir me ver e usou a busca dos objetos como desculpa para convencer seu pai e sua mãe.

Fiquei sem palavras. Tinha namorado outra moça antes e achava que realmente gostava

de mim, me amado, falou que o dia que terminássemos iria infernizar minha vida para nós voltarmos. Não deu três meses depois que terminamos estava com outro. Tínhamos namorado aproximadamente por dois anos.

Já essa jovem chamada Cheila nem me conhecia direito e tinha feito isso por mim. Talvez eu seja muito inocente ainda, ou ela tenha sentido verdadeiramente alguma coisa equiparada ao que senti por ela.

Planejamos para domingo, que seria o dia seguinte de sairmos para fazer um lanche no centro de Imbituba, numa lanchonete muito bacana que tem ali. Perguntou se podíamos ir a sós. Será que eu iria dizer não? Sem dúvidas aceitei, avisei que só tinha uma motinho 125 cilindradas, me respondeu que adora moto de 125 cilindradas verde. Sem sombras de dúvidas sei que falou para eu rir e conseguiu.

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A MESMA MESINHA

“Existem momentos que jamais serão esquecidos!”Alex de Imaruí

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Voltamos e sentamos novamente na mesa que estavam os dois, meu primo e a prima dela. Danilo e Francine perguntam se queríamos dar uma volta na mesma balada onde eu havia conhecido Cheila.

Isso mais tarde... Eu aceitei e ela também.Perguntei se elas queriam que fôssemos em casa nos arrumar e

viéssemos buscá-las. A loira disse que seu pai poderia levá-las e depois ir buscar. Até porque ele não deixaria elas irem sozinhas com dois jovens que ainda não conhecia.

Moravam perto de onde estávamos. Nos despedimos e fomos nos arrumar. Marcamos de nos encontrar em uma lanchonete em frente a balada.

Quando chegamos na lanchonete elas estavam tomando uma gelada, mas bem gelada, daquelas que até queima a garganta. Coisa boa! Logo pensei - “essa morena combinou comigo”. Não que eu beba muito ou direto, mas quando bebo até entorto de tanto beber, quero dizer uma cerveja inteira, mas só uma, porque não aguento muito além disto.

Depois de uns quarenta minutos ali entramos na boate. Sentamos na mesma mesinha que tínhamos nos conhecido. Eu nem percebi, já ela só sentou, olhou para mim e disse –“esse lugar é divino”. Eu meio tolo ainda pergunto por quê? É claro que ela iria dizer, -“porque foi aqui que nos conhecemos”.

E foi o que disse. Às vezes dou cada bola fora!Em torno de umas quatro horas da manhã o velho veio buscá-las.

Com um adeus e um saboroso beijo nos despedimos.Ficamos mais uma meia hora conversando, eu e meu primo. Disse

que ela não era assim tão tímida, aliás, nem um pouco. Ele começou rir e falou que era mentira de sua timidez, ele não sabia nada sobre ela e falou apenas para me deixar encabulado.

É! Acho que realmente tinha conseguido...

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Fomos para casa dele e pousei por ali mesmo. Na tarde de domingo ligamos para elas e convidamos para dar uma volta de moto. Toparam no ato.

Na hora marcada fomos. Saímos pela praia andando de moto. Pergunto se Cheila sabe dirigir, ela diz que sabe, mas não tem muita prática.

- Quer tentar?- Posso dirigir sua moto?- Por mim, tudo bem!Até que levou jeito, nem caímos. Talvez porque era só reta e nem

tinha postes. Mas se saiu bem na pilotagem.Foi uma tarde inesquecível. Paramos em um lugar com visão

privilegiada. Fico encostado na moto e ela em mim, abraçados assistimos o pôr-do-sol.

- Wesley, que lindo pôr-do-sol! Não acha?- Lindo como você!- Obrigada. Assim fi co sem jeito.- Desculpa, mas a verdade não pode ser encoberta.- Será que iremos nos ver novamente?- Vou economizar um dinheirinho assim que começar novamente

trabalhar e então irei até São Paulo ver você.- Mas já estou com saudades!- Se já estivesse trabalhando não deixaria você voltar para São

Paulo.- Eu fi caria!Depois de um prazeroso dia de muito carinho, amando e sendo

amado, agora era hora de nos despedir. Já era tarde, ela precisava ir se preparar e dormir cedo porque também iria viajar cedo.

Liguei todas as semanas nas sextas-feiras depois das vinte duas horas. Ela chegava todos os dias nesse horário porque fazia cursinho pré-vestibular.

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A empresa que eu estava esperando me chamar para trabalhar, enfi m ligou, no mesmo dia que comecei trabalhar liguei a ela e contei essa novidade. Deu-me os parabéns e disse que estava quase chegando de ônibus em Imbituba.

- Vai fi car esse fi m de semana aí?- Até mais do que apenas esse fi m de semana.A empresa que estava trabalhando era em Criciúma, mas não

perderia tempo em vir até Imbituba no fi m de semana para vê-la.- Como assim? Até mais do que apenas esse fi m de semana? Vai

fi car semana toda!- Lembra quando eu disse que estava fazendo cursinho para

prestar vestibular?- Sim!- Fiz vestibular em São Paulo e também na Universidade Federal

de Santa Catarina. Não fi z força para passar em São Paulo, por que meu pai iria querer que fi casse por lá. Mas dediquei-me muito para passar na UFSC, e passei. Portanto, posso todos os fi ns de semana estar em Imbituba, agora depende de você para nos ver.

- Minha fl or, fez tudo isso por mim?- Não! Pelo meu avô!- Ah! Legal.- É claro que foi por você seu bobinho. Não tenho nenhum avô

vivo.A partir de então todos os fi ns de semana ia visitá-la. Se ela não

pudesse estar em Imbituba, eu ia até Florianópolis. Nem se fosse apenas para olhá-la e dizer o quanto sou feliz por tê-la em minha vida.

Eu sempre falava isso depois de um beijo daqueles de... Ops! Acho melhor não dizer que tipo de beijo, né! Tem gente que acha nojento. Eu não!

Ela se formou na faculdade após ter cursado cinco anos. Foi morar comigo em criciúma e trabalhar ali por perto.

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Depois de dois anos que já estávamos juntos em uma linda noite enluarada, na qual, dormíamos abraçados parecendo dois “carrapatos”, sonhei novamente com aquele sonho que já fazia algum tempo que não me perseguia mais. Acordei na madrugada ...

Foi um tipo de continuação do último sonho em que minha tia cortou-o batendo na porta e me acordando.

Dentro da caixinha tinha uma folha com um desenho: um coração feito com pedras preciosas.

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“O sol é uma estrela luminosa que vive dentro de quem tem um coração feito de pedras preciosas!”

Alex de Imaruí

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