Campanhas Para o Voto da Mulher - June Purvis

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  • 8/13/2019 Campanhas Para o Voto da Mulher - June Purvis

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    Texto introdutrio do livro VOTES FOR WOMEN

    CAMPANHAS PARA OVOTO DA MULHER

    June Parvis e Sandra Holton

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    Traduo pelo colectivo Book Bloc Feminista.

    O Book Bloc do RDA69 um grupo de leitura informal que rene algumas vezes por ms e sedebrua sobre vrios textos pertinentes para a anlise dos tempos que correm.

    Este ano, na primeira quinta-feira de cada ms, ser dedicado a leituras anarca-feministase/ou anarca-queer.

    http://bookbloc-feminista.tumblr.com/

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    As campanhas para o voto parlamentar das mulheres na Gr-Bretanha e na Irlanda, bem comorelatos biogrficos de algumas daquelas envolvidas em tais actividades, tm sido objecto deextensa investigao.Como observa Jane Lewis, o incio das aces de agitao em prol do sufrgio das mulheres

    geralmente considerado a partir da campanha de John Stuart Mill para eleio ao parlamentodatado de 1865, embora a questo fosse j discutida anteriormente.O sufrgio feminino era parte integrante da plataforma eleitoral de Mill e, fora do comum paraa altura, trs pioneiras de classe mdia do movimento das mulheres, Barbara Bodichon, EmilyDavies e Bessie Parkes, fizeram campanha em seu nome. No ano seguinte, no contexto dosdebates prvios Second Reform Bill 1, cuja votao era iminente no parlamento, Bodichonperguntou a Mill se ele iria apresentar uma petio em favor do sufrgio feminino. Mill acedeu,avisando, no entanto, que menos de cem assinaturas de apoio seria considerado,provavelmente, mais negativo que positivo.Bodichon convocou ento Emily Davies, Jessie Boucherett, Rosamond Hill e Elizabeth Garrettformando assim o primeiro Womens Suffrage Committee , o qual trabalhou duramente duranteduas semanas para recolher 1.500 assinaturas ilustres e respeitveis. Apesar do insucesso da petio, outras comisses para o sufrgio foram ento estabelecidascom algumas activistas tais como Lydia Becker e Millicent Garrett Fawcett, as quais setornariam figuras centrais no movimento victoriano sufragista. Becker e Fawcett eram o quepodemos chamar sufragistas constitucionais que defendiam meios legalistas de campanha

    como o lobby parlamentar. Existiram, no entanto, comisses divididas dentro do movimento,especialmente sobre se o pedido para o voto parlamentar deveria incluir as mulheres casadasque, sob a doutrina do direito comum da altura, eram submetidas personalidade jurdica domarido e, portanto, no eram passveis de serem proprietrias de direito prprio, bem como asmulheres solteiras.Exigir o voto para as mulheres casadas era mais problemtico do que procur-lo para aquelassolteiras ou vivas j que o direito ao mesmo era baseado na posse ou ocupao dapropriedade; da mesma forma, nem todos os homens eram juridicamente emancipados sobestes termos. A discusso precipitou-se em 1874 quando Becker, de forma relutante, apoiouuma proposta de reforma do sufrgio que especificamente exclua as mulheres casadas, j queela acreditava que tal lhe daria um maior apoio. Desta forma acabou por alienar muitas dassufragistas mais radicais, como Elizabeth Wolstenholme Elmy, Richard Pankhurst e Ursula eJacob Bright, que, juntamente com Emmeline Pankhurst, posteriormente, se tornaram activasna Womens Franchise League , criada em 1889, e que inclua no sufrgio as mulheres casadas.No centro destas tenses estavam claramente diferentes concepes sobre a cidadania dasmulheres e das estratgias para o alcanar.

    1 Second Reform Bill: reforma eleitoral britnica promulgada em 1867 que permitiu o alargar da base eleitoral apartes da classe operria.

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    Quando Lydia Becker morreu em 1890, Millicent Garrett Fawcett tomou o seu lugar enquantofigura chave no movimento sufragista victoriano, particularmente a partir de 1897, quando asua esperana de trazer mais unio e cooperao entre os vrios grupos se tornou realidadeatravs da formao da National Union of Womens Suffrage Societies (NUWSS). No incio a

    NUWSS foi dirigida por um comit executivo composto por representantes dos vrios gruposque a formaram. No entanto este tinha pouca energia e recursos, funcionando como umelemento de ligao entre os grupos e os membros do parlamento. Embora Fawcett fosse alder reconhecida da NUWSS, apenas em 1907, quando esta adopta novos estatutos quepreviam a eleio de dirigentes, que foi eleita presidente, cargo que ocupou at 1919. Oobjetivo da NUWSS era obter o voto parlamentar para as mulheres "nos mesmos termos emque , ou pode ser concedido aos homens", um objetivo que tambm foi adoptado pelaWomens Social and Political Union (WSPU), fundada em 1903 por Emmeline Pankhurst e a suafilha mais velha, Christabel, juntamente com algumas mulheres sufragistas de tendnciassocialistas.Dessa forma, ambos os grupos acabaram por confirmar esta viso limitada da emancipaofeminina, considerando o voto parlamentar como sendo o princpio do fim das barreiras degnero em vez de pressionarem pelo sufrgio universal. Embora os termos 'constitucional' e'militante' sejam aplicados respectivamente s tticas da NUWSS e WSPU, uma tal distinotem sido questionada nos ltimos anos. Holton, por exemplo, argumenta que se a 'militncia'envolvia uma vontade de levar a questo para a esfera pblica da rua ou se indicava filiaesoperrias e socialistas, tambm muitas constitucionalistas foram 'militantes'; alm disso, se'militncia' pressuponha uma disposio a recorrer a formas extremas de violncia, entopoucas foram realmente 'militantes' e somente a partir de 1912. A autora tambm enfatiza quenem a faco militante nem a constitucional do movimento eram to imutveis quanto essascategorias sugerem j que ambas experimentaram inmeras tenses internas e, por vezes,divises.No entanto, tanto Holton como outros/as autores/as reconhecem existirem diferenas querpolticas quer tticas entre a NUWSS e a WSPU e que no podem ser ignoradas. A deciso deEmmeline Pankhurst de fundar a WSPU esteve associada a uma srie de factores, incluindo asua insatisfao com a forma como o sufrgio feminino tinha sido marginalizado dentro daspolticas do Partido Trabalhista Independente (ILP), da qual ela era membro, bem como a suapreocupao com a ineficcia das tcticas adotadas pela NUWSS. Nos primeiros anos a WSPUencetou uma campanha pacfica, mas as limitaes de tal abordagem cedo foram reconhecidastanto por Emmeline como Christabel Pankhurst. A 12 de maio de 1905, quando um projecto delei sobre o sufrgio feminino, Womens Enfranchisement Bill , foi deixado de fora da discussona Cmara dos Comuns, Emmeline Pankhurst estava entre a multido de cerca de 300 mulheresque ouviram a decepcionante notcia enquanto aguardavam no trio. Instantaneamente levouas mulheres presentes a segui-la n um protesto anti-governamental, de uma forma que

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    avaliaes da natureza das conquistas das campanhas pelo voto parlamentar seguem nessesentido, como esta coleo se prope demonstrar. A grande complexidade de ideias e valoresque geraram e foram geradas pela reivindicao das mulheres emancipao, por exemplo apartir do sculo XIX at 1928, agora objeto de anlise extensa.

    Da mesma forma, existe um maior reconhecimento de como as estratgias retricas e as novasformas de luta que foram introduzidas nas campanhas do sculo XX imprimiram mudanasrelevantes. O captulo de Christine Bolt, As ideias do sufragism o britnico, explora algumasdestas questes. Como a prpria observa No h uma explicao simplista satisfatria docurso complexo do argumento sufragista: do motivo pelo qual mulheres de origenssemelhantes frequentemente encetaram diferentes anlises intelectuais; do motivo pelo qualalgumas activistas negligenciarem o lado ideolgico enquanto outras o acarinharam, e domotivo para algumas terem desenvolvido o seu pensamento sobre o voto ao longo do tempoenquanto outras no. Outros captulos deste volume, tais como o de June Purvis sobreEmmeline Pankhurst, a mais famosa e infame das lderes sufragistas, analisa a forma comoessas ideias e valores interagiram com a sua vida particular. Da mesma forma, o captulo deJanet Howarth explana como o trauma da viuvez precoce transformou os pontos de vista eaces de outra das grandes figuras da liderana do movimento, Millicent Garrett Fawcett.Marie Mulvey-Roberts, debruando-se sobre a sufragista militante Lady Constance Lytton,analisa a sua participao na perspectiva da sua vida pessoal anterior s campanhas pelosufrgio, e o significado da greve de fome dentro desse contexto especfico.Vrios dos captulos deste volume tambm enfatizam a importncia do contexto poltico localbem como de debates mais amplos dentro do radicalismo 2 para a dinmica da campanhasufragista. Assim, o caso de Lily Maxwell, examinado por Jane Rendall, assume um novosignificado. O seu nome apareceu numa lista eleitoral de Manchester em 1867 e reflectia umgrau de apoio aos direitos das mulheres consolidado entre as foras radicais daquela cidade.Com o apoio de sufragistas locais, lanou um voto em nome do poltico radical-liberal JacobBright, o qual viria a revelar-se um amigo consistente da causa sufragista no parlamento. Esteavano aparente levou o movimento sufragista a mudar o seu foco do parlamento para ostribunais no perodo posterior, e nenhum projecto lei foi ao parlamento at ter sido decididopelos tribunais que as mulheres no tinham o direito de votar. O foco que era dado apenas histria metropolitana 3 do movimento para o sufrgio tambm desafiado por June Hannamatravs da anlise das campanhas noutras regies. Como a autora enfatiza, " difcil entender ocrescimento da campanha pelo sufrgio para um movimento de massas no perodo Eduardianosem reconhecer o quanto tal se deveu vivacidade, entusiasmo e trabalho rduo levado a cabopelas delegaes provinciais". Estas poderiam iniciar novos projectos, bem como realizar as

    2 Movimento politico originalmente britnico; variante do Liberalismo que prega o reformismo de choque e arevoluo social; fora poltica importante da esquerda Europeia no sculo XIX.3 Zona metropolitana da Grande Londres (Greater London)

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    directivas impostas. A autora lembra ainda que um estudo sobre a participao das mulheresno movimento pelo sufrgio a nvel local fundamental para a compreenso do processo peloqual as mulheres se tornaram politizadas, particularmente atravs de redes de afinidade quepoderiam ajudar a sustentar a actividade poltica em ambientes por vezes hostis. A adeso

    NUWSS, diz, muitas vezes feita por mulheres com bons nveis de educao, ricas, de classemdia que, em muitos casos, eram vistas como intimamente ligadas ao Partido Liberal. Aocontrrio da suposio assumida pela maioria dos textos mainstream , parece que as mulheresda classe trabalhadora eram mais propensas a envolverem-se em campanhas pelo sufrgio anvel regional como membros da WSPU, ao invs da NUWSS.Juntamente com as questes ideolgicas e do activismo das campanhas para o voto, existetambm uma maior disponibilidade para reconhecer a importncia cultural do movimentosufragista. No era a simples questo do voto como tantas vezes tem sido representado. Aoidentificar e articular as reivindicaes das mulheres de emancipao, as sufragistascontestaram a prpria ordem de gnero estabelecida, sobretudo numa insistncia sobre anatureza da cidadania. Assim, a questo do voto foi, por necessidade, alm das questes depoltica formal para contestar, por exemplo, a sujeio sexual das mulheres, os baixos salrios,ou ainda a regulao estatal da prostituio.O legado sufragista para o perodo entre guerras tambm reavaliado aqui no trabalho deJohanna Alberti e Hilary Frances. Ao invs de v-lo como um perodo de declnio oufragmentao, estes estudos procuram estabelec-lo como um perodo de diversificao e deaprofundamento para o movimento das mulheres. Identificar tambm uma continuidade clara,em vez de ruptura, entre o movimento sufragista e o movimento feminista entre guerras.Embora a diversidade social e poltica sempre tenha caracterizado o movimento sufragista e osseus herdeiros, a capacidade de gerar inter-solidariedades tambm deve ser reconhecido.Particularmente, os historiadores da actualidade tendem a afirmar a capacidade de construiruma agenda poltica centrada na mulher como uma das conquistas mais importantes dascampanhas para o voto.