1. Coleo Antnio de Morais Silva E S T U D O S D E L N G UA P O
RT U G U E S A Academia Brasileira de Letras
2. Di ci onrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa
3. Ac ademi a B rasi lei ra de Letras Rocha Pombo
4. Coleo Antnio de Morais Silva E S T U D O S D E L N G UA P O
RT U G U E S A Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa R i o d e
J a n e i r o 2 0 1 1 2.a Edio
5. C O L E O A N T N I O D E M O R A I S S I LVA A C A D E M I
A B R A S I L E I R A D E L E T R A S Diretoria de 2011 Presidente:
MarcosViniciosVilaa Secretria-Geral: Ana Maria Machado
Primeiro-Secretrio: Domcio Proena Filho Segundo-Secretrio: Murilo
Melo Filho Tesoureiro: Geraldo Holanda Cavalcanti C O M I S S O D E
L E X I C O G R A F I A D A A B L Eduardo Portella Evanildo Bechara
Alfredo Bosi Preparao Ana Laura Mello Berner Reviso Vania Maria da
Cunha Martins Santos DeniseTeixeiraViana PauloTeixeira Pinto Filho
Joo Luiz Lisboa Pacheco Sandra Pssaro Produo editorial Monique
Mendes Editorao eletrnica Estdio Castellani Projeto grfico Victor
Burton Catalogao na fonte: Biblioteca da Academia Brasileira de
Letras P784 Pombo, Rocha, 1857-1933. Dicionrio de sinnimos da lngua
portuguesa / Rocha Pombo ; [apresentao, Evanildo Bechara]. 2. ed.
Rio de Janeiro : Academia Brasileira de Letras, 2011. 526 p. ; 23
cm. (Coleo Antnio de Morais Silva ; v. 10) ISBN 978-85-7440-184-3
1. Lngua portuguesa. I. Bechara, Evanildo, 1928-. II.Ttulo. III.
Srie. CDD 469
6. Apresentao Evanildo Bechara Atrajetria cultural de Rocha
Pombo o fiel espelho de um permanente bravo luta- dor que, vencendo
as precariedades do torro natal, galga honroso lugar no quadro dos
intelectuais brasileiros. De nome completo Jos Francisco da Rocha
Pombo, nasceu o autor deste Dicionrio de Sinnimos em Morretes, na
provncia do Paran, em 4 de dezembro de 1857, com evidentes dotes
literrios, que cedo se manifestaram; mas foi para a carreira
poltica que encaminhou seus primeiros passos, alcanando, aos vintes
anos, lugar de des- taque na Assembleia Provincial. Entretanto, se
viu impotente para inverter suas posies diante das poderosas tramas
parlamentares de uma poltica quase sempre afastada do in- teresse
pblico. Salvou-o a alegria de ver publicado nesse mesmo ano seu
primeiro estudo sobre instruo pblica, na revista fluminense A
escola, com transcrio na Revista del Plata, de Buenos Aires.
Encontrara na atividade cultural o campo em que se iria destacar,
mas um campo que pouco lhe dava para garantir com dignidade seu
sustento e da sua famlia. Os obstculos no o tiraram da trilha
iniciada; em Curitiba, viu em 1888 publicado seu romance A honra do
baro; em 1882, Dad, a boa filha e, em 1888, Petrucelo. Tambm no lhe
faltava o estro para o poemeto Guara, sado em 1886. Desiludido com
os parcos recursos que seu torro natal lhe oferecia, deixou
Curitiba em 1897, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde
poderia ter mais recompensada sua maturidade intelectual. Realmente
na Capital, apesar de no diminudas suas horas de trabalho intenso,
encontrou ambiente mais propcio s produes que vieram inmeras. Os
livros didticos na rea da Histria repre- sentam sua maior
atividade, como Nossa Ptria, para crianas, que chegou a alcanar
mais de sessenta edies. Sua Histria do Brasil, em dez volumes,
acabada em 1917, consumiu-lhe doze anos de trabalho. As muitas
horas de trabalho no lhe permitiam, para a confeco de seus estudos,
a pes- quisa atenta, a consulta aos arquivos para a composio das
obras histricas. Mas o zelo e a honestidade profissional o faziam
abastecer-se nas fontes mais autorizadas, e delas extrair o
material que aproveitava. Um trabalhador operoso na mesma rea de
historiografia, Ro-
7. VIII Rocha Pombo dolfo Garcia, que, em 1935, sucedeu a Rocha
Pombo na Cadeira 39 da ABL, assim a ele se referiu, no discurso de
posse: Rocha Pombo fez o que foi possvel fazer (...). Entretanto,
no h como desconhecer o extraordinrio mrito da obra de Rocha Pombo,
sua utilidade provada, os servios prestados aos estudantes, que o
estimam sobre todas as congneres. Seus pendores literrios desde
cedo aflorados nas tentativas de fico acima lembrados, iriam
estimul-lo a compor uma obra sobre lngua portuguesa. Autor de
compndios did- ticos, cedo deve ter chegado concluso de que
bibliografia escolar, bem como ao escritor novel, faltava um bom,
desenvolvido e atualizado dicionrio de sinnimos, uma vez que, poca,
o mercado s contava com produes portuguesas mais antigas, todas
datadas do sculo XIX. Armou-se dessas fontes, algumas vezes
transcrevendo-as literalmente, e das mais importantes francesas e
espanholas no assunto, e partiu para elaborao deste seu,
preocupando-se com mais extenso dos verbetes, e mostrando, quase
sempre com muita propriedade, as diferentes franjas semnticas das
palavras que integram a srie sinonmica, evidenciando que no so, por
isso, intercambiveis. Sado em 1914 pela prestimosa Francisco Alves,
vem agora esta 2.a edio editada pela sua Academia, para a qual fora
eleito em maro de 1933, embora nela no tivesse tomado posse por
motivo de seu repentino falecimento, em junho do mesmo ano. Passado
quase um sculo do aparecimento deste Dicionrio de Sinnimos, de
Rocha Pombo, pode ainda embrear-se com os melhores sados em nossos
dias.
8. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa
9. ADVERTNCIA Autorizo os Srs. Francisco Alves &
Cia.,cedendocondioquemeimpuseram, a adotar na impresso deste
trabalho a grafia que lhes convier. Rio, 1914 ROCHA POMBO
10. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 3 1 A, para
(exprimindo relao locativa). Com toda razo diz Aulete que a
preposio a de todas a mais vaga; e a tal ponto que, segundo observa
Lafaye, est ela hoje, como a prep. de, quase inteiramente despojada
do seu valor de origem. So raras as rela- es lgicas que se no
possam marcar pela preposio a: andamos a cavalo; fugi- ram a toda
pressa; comemos a enjoar; vem a galope; lanou terra; morre mngua;
pescamos linha; matamos a tiro; bateram-se espada; etc. Res-
tringiremos, portanto, as nossas notas s duas acepes em que parece
melhor fixado o valor da preposio a comparativamente com os seus
sinnimos. Entende Lacerda que ainda os mais corretos escritores
usam indistintamente das preposies a e para quando querem exprimir
relao de locati- vo. No nos parece que seja assim, pelo me- nos
entre aqueles que se mostram mais fiis ao esprito da lngua. Ningum
dir que tm o mesmo valor estas expresses: Vou a Lisboa, e vou para
Lisboa; virei ao Rio em junho, e virei para o Rio em ju- nho. As
duas preposies empregam-se, pois, com os verbos ir, vir,
dirigir-se, encaminhar-se, levar, trazer, e alguns outros que
designam movimento. Ir para algures, d a entender inteno de gran-
de (ou pelo menos de alguma) demora, ou longa estada, e s vezes
para sempre, o que, no entanto, no exclui, como acrescenta Roquete,
propriamente a ideia de regresso, nem sempre. Foi para Viena como
secret- rio de embaixada. Ir a, ou vir a alguma parte indica a
ideia de pouca demora, ou o propsito de ir ou vir e voltar logo.
Este exemplo de Roquete expe nitidamente a diferena entre as duas
preposies: El- Rei d. Joo VI, quando residia em Queluz, ia muitas
vezes a Mafra; vinha com fre- quncia a Lisboa; no vero ia para o
Alfeite; no tempo das caadas ia para Salvaterra ou VilaViosa: e
quando os franceses vieram a Portugal, foi para o Brazil. E ainda
este de Vieira: Porque o pai fez uma viagem para as conquistas, e
nunca mais houve novas dele, tomaste por devoo vir os sbados Penha
de Frana. 2 A, a fim, para, por. Estas preposies ex- primem relao
de fim para que. A e para, alm disso, marcam ainda relao de dativo;
e h entre elas uma diferena anloga que se lhes nota nos casos em
que marcam rela- o de locativo. Essa diferena fica bem cla- ra
nestas frases: dei um livro a meu filho; trouxe uma flor para a
menina. Como preposies de fim para que, assinalam: para, ao,
imediata, segundo Bruns., ou o objeto imediato da ao, no entender
de Roq.; a fim marca intuito menos imediato e mais preciso; por
explica mais diretamente a inteno, o fim (ou o desejo) com que se
executa a ao, e emprega-se quando se supe somente possibilidade ou
probabi- lidade de lograr o que se intenta. Exem- plos: Ele se
esfora por instruir-nos, para que sejamos cidados dignos, a fim de
que nos tornemos capazes de servir a ptria. Confundem-se muito
frequentemente, nesta acepo, as preposies a e para. O prprio
Roquete escreve: serve (ou ser- vem) a formar, em vez de para
formar. Dizem muitos indiferentemente: apto a dirigir, ou apto para
dirigir; pronto a ouvi-lo, ou pronto para ouvi-lo. A dis- tino
entre as duas formas revela-se muito clara nestas frases:
convidou-me a jantar, e convidou-me para jantar. No primeiro caso,
estava eu vista da mesa servida, ou o anfitrio ia para a mesa, e
convidou-me a jantar; no segundo caso, encontrou-me ele pela manh,
e convidou-me para jantar com ele domingo... H entre convidar para
e
11. 4 Rocha Pombo convidar a a mesma diferena que expli- ca
Lafaye entre prier diner e prier de diner. H ainda em portugus
outra preposio que deve, em certos casos, ser considerada como
sinnimo da preposio para: de, com alguns verbos como servir, valer:
no serve de nada; no serve para nada. Esta ltima locuo (que mais
ge- ral diz Laf.) exprime que o objeto de que se trata no tem
serventia alguma; a primei- ra nega que ele sirva no momento, para
um fim que se tinha em vista presentemente. O meu rebenque diz o
major no serve para nada; e neste caso, meu amigo, o seu al- vitre
de nada me serve, pois que no resolve o embarao em que me vejo. 3
ABA, falda, base, orla, sop; vertente, en- costa, flanco, ilharga,
lado, ladeira, declive, aclive, rampa. Todas estas palavras de-
signam refegos, lados, parte pendente de alguma coisa, e sugerem
ideia de altitude, inclinao, etc. Aba a parte mais baixa e
prolongada de um cone, de um monte, de um chapu; falda (ou fralda)
tambm (na acepo em que a tomamos aqui) a parte inferior do monte:
difere de aba porque acrescenta, ideia de extremidade e incli- nao,
o sentido de forma irregular, ou de superfcie dobrada... como as
fraldas de uma camisa. Sop e orla designam a parte do monte que
assenta no plano horizontal ocupado por ele: sop a poro do dito
plano onde a montanha comea; orla mais o recorte da aba, ou da
parte onde a mon- tanha comea a destacar-se do plano sobre que
assenta. Base toda a poro do plano horizontal que o monte abrange.
Encos- ta toda a parte inclinada de um monte; e vertente adita
significao de encosta a ideia de origem de rio, de vertidura de
guas pluviais. Flanco e ilharga desig- nam tambm os lados do monte,
mas suge- rindo uma ideia de amplitude; e o primeiro termo ainda se
distingue do segundo por ser mais expressivo e mais belo, e por
sugerir alguma coisa de fecundidade. Declive (ou declvio) a
inclinao da encosta, do alto do monte para baixo; e aclive tambm
essa inclinao, mas considerada de baixo para cima. Rampa e ladeira
exprimem igual- mente plano inclinado, com esta diferena: a ladeira
(lado suave de colina ou monte) menos spera, mais fcil de subir;
enquanto que a rampa nem sempre acessvel, pois pode ser to ngreme
que se torne de difcil ou mesmo impossvel ascenso. Dizemos: a
ladeira da Glria; a rampa do Po de Acar. Lado, ou lados designam
apenas as partes opostas da montanha (ou de qual- quer corpo) sem
ideia alguma acessria. 4 ABAS, adjacncias, contiguidades, cerca-
nias, contornos, circunvizinhanas, ime- diaes, proximidades,
confins; bairros, distritos, comarcas, subrbios, arrabaldes,
arredores, redondeza. Todas estas pala- vras designam situaes em
torno de um ponto, ou de uma povoao; e distinguem- -se
principalmente pela ideia, que marcam, de maior ou menor
afastamento desse pon- to. Bairros so seces de uma cidade, ou de um
municpio. Distritos so seces maiores que compreendem vrios bairros;
assim como comarcas so divises mais extensas que distritos.
Imediaes so partes da cidade, ou de um lugar, que lhe ficam
imediatamente em volta; vizinhan- as e circunvizinhanas so os
lugares que se seguem s imediaes, diferenando-se a segunda da
primeira pela noo acess- ria de contorno (e ambas dando ideia de
convivncia); cercanias so as paragens em torno de um lugar, e mais
afastadas que as circunvizinhanas; proximidades so pon- tos das
cercanias. Arrabaldes designa a
12. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 5 poro de uma
vila ou cidade que lhe fica fora dos muros, ou para alm do circuito
urbano; arredores so arrabaldes mais dis- tantes, e quase sempre no
povoados, ou tendo poucas habitaes. Contornos de- signa a
totalidade dos arredores (de uma cidade ou de um lugar). Redondeza
ou redondezas, tudo que fica dentro dos limi- tes do crculo visual
de que se supe centro cidade, ou um ponto dado; e confins so os
limites em relao aos de outro. Por subrbios entende-se toda parte
habitada que fica sob a jurisdio da cidade. Abas so os pontos
extremos de uma povoao, contidos, porm, dentro do seu permetro;
contiguidades e adjacncias, as pores habitadas que se seguem s
abas, sendo o segundo termo mais vago. Diremos com propriedade: o
bairro de Botafogo; morar em Pedrouos morar nas abas de Lisboa
(Bruns.); mudou-se mais para as imediaes do centro urbano; tem casa
nas vizinhan- as da praa ou do bairro; no gosta de ponto algum das
circunvizinhanas do Caste- lo; nas cercanias de Olinda lutou-se
toda a tarde; quando anoiteceu estvamos j nas proximidades da
fazenda; aqueles jardins e pomares j eram adjacncias e quase
contiguida- des de Jerusalm; a Tijuca um dos mais belos arrabaldes
do Rio; o Mier, o mais aprazvel dos nossos subrbios; nos arredores
de S. Cruz h algumas fazendas; em todo o contorno da vila no se
encontrou um mo- rador pobre; a epidemia alastrou-se pela redondeza
do nosso acampamento, e chegou at os confins do pas inimigo; nas
vastas comarcas daquela provncia h distritos riqussi- mos em
minerais. 5 ABAFAR, sufocar, conter, reprimir, sofrear, refrear;
vencer, domar, suplantar, superar, submeter, subjugar, jugular,
sujeitar, de- belar, dominar, sobrepujar, sobrelevar. Abafar
impedir que respire, tome foras, que cresa, que vingue; sufocar
impedir de viver privando da respirao, matar por asfixia; conter
moderar, impedir que se manifeste, que opere, que se mova; repri-
mir conter com mais energia e deciso, at com fora e violncia;
debelar reprimir custa de guerra, ou vencer em luta; subju- gar
submeter a jugo, a imprio; jugular reprimir, vencer com escarmento,
como estrangulando (do latim jugulare degolar, cortar a cabea);
sofrear conter com prudncia e cuidado, no deixar que apa- rea ou
que se desenvolva; refrear conter com esforo e trabalho; dominar
subme- ter com imprio, como senhor; vencer sair vitorioso de um
combate, de um embarao, de um transe; submeter reduzir depen-
dncia, pr sob a autoridade, ou o poder de; suplantar
(etimologicamente meter debaixo dos ps) vencer com orgulho,
humilhando o vencido; domar submeter, subjugar pela fora bruta, e
mesmo tratan- do-se de homens, d ideia da inferioridade moral do
que domado; superar vencer e ficar superior a algum ou alguma
coisa; so- brepujar superar depois de esforo e luta; sobrelevar
pr-se acima de, sem grande esforo, nem luta material; sujeitar
redu- zir obedincia. Abafa-se uma conspirao antes que venha para a
rua: abafa-se o pranto para que ningum o veja; O homem que v o que
eu vi e abafa no peito o grito da indig- nao... (Herc.). Sufoca-se
uma rebelio no seu comeo. Contm-se um mpeto de clera; no se pode
conter as lgrimas diante de um infortnio; preciso que se contenha o
instinto das multides. Reprimem-se movi- mentos subversivos da
ordem pblica; acu- diram-lhes alguns dos nossos, que reprimiram os
inimigos... (Fil. Elys.); reprime-se a custo uma exploso de raiva
ou de furor. Debe- laram afinal as nossas foras aquele que foi o
mais grave levante dos ltimos tempos;
13. 6 Rocha Pombo os Jesutas tiveram aqui a grande misso de
andar debelando paixes e barbarias... Subjugamos as tribos menos
dispostas ao trato dos estrangeiros. Com aquele golpe certeiro
conseguiu jugular a sedio. O homem que no refreia os seus apetites
incapaz de refrear os seus dios. Aque- le homem dominou os outros
to completa- mente que ningum mais pde protestar; ... com a sua
habilidade e energia dominou a revolta... A autoridade venceu
naquele conflito desigual; cumpre que cada um de ns vena por sua
parte os embaraos que sobrevierem. Em poucos dias o general
submeteu toda a provncia. O senhor no conseguir suplantar-nos com
todo o seu po- der...; ... nem o gnio capaz de suplantar a altivez
de uma conscincia. Domam-se as feras, os brbaros, os sicrios. Ele,
que andava a superar as misrias daquele meio, sobrepujou afinal
todas as traies, e hoje incontestavelmente a figura que sobreleva
to- das as outras ali. O pai sujeita os filhos, o tutor os
tutelados. 6 ABAFAR, abrigar, resguardar, agasalhar, co- brir,
tapar. Neste grupo, abafar significa tolher a respirao, confinando
ambiente respirvel de modo a provocar suor ou calor artificial; ou
impedir que pela evaporao esfrie um corpo, ou que se agite, expanda
ou desordene alguma coisa. Abrigar quer dizer amparar contra o mau
tempo, fugin- do ou fazendo dele fugir para um abrigo. Resguardar
tambm amparar contra o tempo ou contra alguma coisa, e no s fu-
gindo, mas defendendo-se, com cuidado. Agasalhar ainda defender-se
contra o tempo, mas evitando-lhe a ao, por meio de roupas ou
cobertas. Cobrir ocultar ou resguardar pondo alguma coisa em cima,
diante, ou em redor. Abafa-se o doente para facilitar-lhe a
transpirao; abafa-se a comida para que no esfrie; abafam-se as cha-
mas para que se no propaguem. Abri- garam-se em nossa casa contra a
tormenta; vista do vendaval iminente fomos abrigar- -nos na enseada
dos Reis. Resguarde-se do mal, meu amigo, pois que eu saiba no tem
cura quando sobrevm na sua idade; Os farrapos que vestia no o
resguardavam do frio (Herc). Agasalhe-se bem, meu fi- lho, para
atravessar a praa; Ningum se deve expor s friagens de junho se no
bem agasalhado. preciso cobrir bem o me- nino, e evitar que se
descubra; Conviria que cobrisse a cabea com a manta. Tapar diz
Bruns. um termo genrico, de significao vaga quando se emprega fora
do sentido reto de cobrir. Dizemos tapar o menino no bero; tapar o
doente; tapar a cara com as mos. 7 ABAFAR, atabafar, encobrir,
ocultar, es- conder, receptar, acoitar, sonegar, reter, subtrair,
acobertar. Abafar aqui signifi- ca no deixar seguir os trmites
usuais; como em: abafou o processo, a formao da culpa; abafemos o
triste incidente para que ningum mais o explore. Atabafar, segundo
Bruns., abafar com precipitao e energia; como neste exemplo: Chegou
a abrir-se a sesso; mas os espertos atabafaram tudo antes que ns
chegssemos. En- cobrir evitar que se veja ou se conhea algum
intento, ou que se torne pblica a culpa de algum. Como diz Bruns.,
enco- bre-se a falta alheia tornando-nos at certo ponto cmplice do
delinquente. Encobrem algumas mais, por fraqueza que se explica, as
culpas dos filhos. Ocultar no dar testemunho do que se viu, ou no
fazer co- nhecida uma coisa que nos interessa a ns ou a algum; ou
ainda furtar alguma coisa vista de outrem. Oculta-se uma verdade
para no comprometer inutilmente a honra
14. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 7 de algum;
...mas eu no sou homem que oculte a baixeza da minha esfera
(Garrett). Esconder ocultar com mais cuidado e interesse. Diremos:
ele se ocultou em casa (deixou de sair, de aparecer, mas em caso
algum se esconder para que no suponham que se quer subtrair ao da
justia; O desgraado escondeu to mal o furto... que parecia nem ter
inteno de ocult-lo. Re- ceptar receber, guardar, esconder o furto
ou roubo que outrem fez. Acoitar dar coito, asilo, homizio: ,
portanto, ocultar contra a lei. S se acoita a um criminoso ou
indivduo que tal se julga. Sonegar termo forense e indica
propriamente es- conder e negar sob juramento. Sonegam-se bens a
inventrio, mercadorias sobre que se tinha de pagar imposto, etc.
usado qua- se exclusivamente nesta acepo. Reter conservar
indevidamente em seu poder o que lhe no pertence. (Aul.). Subtrair
significa tirar com astcia ou fraude, fur- tar alguma coisa ou
algum ardilosamente s vistas, ao ou poder de algum. O advogado
subtraiu uma folha dos autos; os facnoras subtraram-se s diligncias
da pol- cia; aquele moo fugiu para subtrair-se ao servio militar;
Para libert-los do infor- tnio e subtra-los vingana... (MontAlv.).
Acobertar proteger um culpado, ou a si prprio, disfarando-se para
no ser visto ou descoberto. quase encobrir, sendo este verbo apenas
de sentido mais vago e geral. Encobre-se, mas no se acoberta um
defeito fsi- co: acoberta-se por piedade um foragido, mas sem a
inteno de encobrir-lhe o crime. A nu- vem encobre o sol; no
acoberta o sol. 8 ABAFEIRA, charco, pntano, lamaal, brejo,
atascadeiro, atoleiro, paul, banha- do, tremedal, pantanal, lodaal,
lodeiro, enxurdeiro, lagoeiro, lameiro, lameiro, lameiral,
lenteiro, chafurda, chafurdei- ro. Todos estes vocbulos sugerem
ideia de gua suja e estagnada, terreno flcido e lodoso. Abafeira,
segundo Bruns., o estado do lugar no arejado, onde a gua se
acumula, permanece, e se estagna e abafa... O poro onde mora uma
horrvel abafei- ra. Charco terreno alagadio, coberto de vegetao.
Pntano lugar coberto de camada de lama pouco profunda. Lamaal
pntano mais extenso. Brejo, segundo Bruns., terreno balofo, sem ve-
getao espontnea. No Brasil terreno mido, pantanoso, inculto, de
chavascal. O caboclo mete a cabea no brejo e desa- parece.
Atascadeiro ou (atasqueiro) diz o mesmo que atoleiro, com a
diferena de que atascadeiro mais profundo, e quase que s se emprega
em sentido figurado. Aquela casa, ou aquela cidade o atascadei- ro
dos moos... Paul alagoa formada por enchente, terra encharcada
devido a aluvies. Banhado quase charco, dis- tinguindo-se deste em
ser terreno baixo que apenas os enxurros banham acidentalmen- te, e
que vestido de vegetao rasteira. termo brasileiro. Tremedal lamaal
vasto e profundo. Pantanal aumentativo de pntano. Lodaal alagoa de
lodo, de vasa, de gua lodacenta. Lodeiro (ou lo- deira) lugar onde
h muito lodo, mas no tanto e to extenso como no lodaal. Enxurdeiro
(ou enxurdeira) lodaal revol- vido, como os chiqueiros, onde se
chafur- dam animais. Lagoeiro termo popular, e designa poro de guas
de chuva (ou de despejo) que fica temporariamente de- positada em
stios baixos, ou em depresses de terreno. Lameiro (ou lameira) ter-
ra baixa e pantanosa, terra onde h lama, embora menos que no
lamaal. Lameiro (ou lamaro) palavra de uso vulgar: au- mentativo de
lameiro. Lameiral est nas mesmas condies: e indica srie de lamei-
ros, lameiro extenso, ou grande lameiro
15. 8 Rocha Pombo (C. Fig.). Lenteiro (como diz a forma de que
se derivou lento, ou lentar) terreno mido, molhado, pegajoso.
Chafurda, e chafurdeiro, ou chafurdeira (esta forma extenso
daquela) so lamaais onde cha- furdam porcos, e figuradamente casas
imundas. 9 ABAIXAR, baixar, abater, arriar, descer. Abaixar e
baixar parecem ser a mesma palavra e com perfeita identidade de
signi- ficao. Basta, no entanto, que se examinem algumas formas
para se ver que no assim. A propsito escreve Bruns.: No se taxe de
nimiedade o estabelecer sinonmia entre estes dois vocbulos, que
primeira vista s parecem diferir na preposio que prefi- xa o
primeiro, preposio que mais parece um a eufnico do que partcula
significa- tiva. Raciocinemos (no entanto) um mo- mento. Que
diremos a quem, levando um objeto frgil cabea, vai passar por uma
porta mais baixa que a parte superior do objeto? Como diremos que,
ao encontrar a F. na rua, apenas a saudamos com um ace- no de
cabea? No gritaremos, no primeiro caso: Abaixa a cabea!? E no
diremos no segundo: Baixei a cabea...? Se no h sinonmia entre os
dois verbos, isto , se indiferente empregar um ou outro, por que
diremos abaixar, de mais longa enuncia- o que baixar, precisamente
quando a ad- vertncia exige brevidade? No : Baixa os olhos! que
dizemos a quem queremos humilhar? No : Abaixa a mo! que diz aquele
que se v ameaado por algum? E no obstante tambm se diz: Abaixa os
olhos, e vers a teus ps o que andas pro- curando.Tratemos de
substituir baixar por abaixar e vice-versa, nesses exemplos: no
tangvel a impropriedade das frases? Di- zemos ainda: baixou o
cmbio; ele baixou at o crime; baixa da prpria dignidade: e no
abaixou, ou abaixa. Dizemos: abai- xaram comovidos o pavilho
sagrado: e no baixaram. Abaixar , portanto, o verda- deiro sinnimo
de arriar, descer, abater; e significa, como arriar principalmente,
fazer que uma coisa desa do lugar em que est at um certo outro
lugar. Arriar que , neste sentido, equivalente quase perfeito de
abaixar, com esta diferena: pode exprimir tambm (arriar) a ideia de
alvio; e alm disso d mais completa a ideia de abaixar. Abaixa-se a
bandeira a meio pau (desce-se do alto para o meio da haste); mas no
se arria a bandeira seno quando se a retira da haste. Arria-se a
carga se pesada; abaixa-se a corti- na por causa do sol. Descer
correlativo de subir. No se desce sem haver subido. tambm baixar:
no desce, ou no baixa a dar satisfaes a ningum. Excluindo a ideia
acessria de alvio, ainda conexo de arriar. Quem chega desce a
carga; s quem cansa a arria. Abater acrescenta ao de abaixar a
ideia de fora ou violncia, de hu- milhao. Os inimigos abateram as
armas; Ele abateu a espada diante do general. 10 ABAIXAR, abater,
rebaixar, aviltar, degradar, humilhar, envergonhar, deprimir,
desonrar, depreciar, envilecer, desdoirar, deslustrar, macular,
manchar, desacreditar, desabonar, infamar, difamar. Todos estes
verbos expri- mem intuito, ou ao dirigida a diminuir os crditos de
algum. Abaixar significa des- cerdoconceitoemqueseeratido. Osvcios
nos abaixam, a virtude nos levanta (Leito de Andrade). Abater
abaixar humilhando. indigno de um homem abater a inocncia. Abate-se
o orgulho de algum. Rebaixar abater infamando. Como que ele se re-
baixa at aquele papel ignominioso? O chefe o tem rebaixado ao ponto
de convert-lo em besta miservel. Aviltar fazer vil, abjeto,
desprezvel; rebaixar afrontando. Tenta-
16. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 9 ram aviltar-nos
perante a nao. Envilecer tambm fazer vil, mas no d ideia de fora,
de intuito afrontoso. Diramos: as ms aes envi- lecem (quer dizer:
fazem que se perca a estima, o direito de parecer digno); naquele
alcouce os mais nobres se aviltam. Degradar fa- zer baixar de grau,
descer de posto, de hierar- quia; , pois, no sentido com que entra
neste grupo, o sinnimo mais prximo de rebaixar: significa fazer
decair do conceito, desmere- cer na estima, tornar abjeto por
abaixamen- to. No se compreende como aquele moo chegou a praticar
atos que degradam... Hu- milhar oprimir, castigar envergonhando.
General, no humilhe os vencidos. Glria alguma do mundo poder
induzi-lo a humi- lhar os pequenos. Envergonhar molestar algum
confundindo-lhe o pudor. Com aqueles destemperos s envergonham a
famlia. Este crime envergonha a toda a gerao. De- primir e
depreciar, como diz Laf., marcam uma ao que ataca, enfraquece, ou
rebaixa, no a classe ou a dignidade (como acontece com o verbo
degradar) mas o valor, o mrito, ou o apreo; e apresentam de comum a
ideia de obrigar a descer da posio ou do conceito em que algum
estava. Uma pessoa depreciada ou deprimida no est mais na estima em
que esteve. Deprimir acrescenta inclui in- teno de destruir no
conceito com grande desejo de prejudicar. E cita como exemplo: Este
escritor afeta elevar S. Crisstomo para deprimir S. Agostinho.
(Boss.). Depreciar significa diminuir o preo, o valor. Estas leves
travessuras no depreciam um moo. Desonrar tirar a honra, ofender o
pundo- nor; como infamar privar da fama; como desacreditar destruir
o crdito, e desabo- nar diminuir o crdito e o bom nome. Exemplos: A
conduta daquele homem desonra a toda a famlia; O intento daquele
mons- tro ainda infamar a memria do tio; Ele se desacredita pelos
prprios atos. preciso dis- tinguir infamar de difamar. Significam
ambos privar da fama; difamar, no entanto, privar da fama, ou
tentar destruir a fama dizendo da vtima e espalhando coisas que
podem ser at aleivosas; e infamar ofender a honra, a fama de algum
com estigma infamante. Po- de-se definir precisamente: infamar
marcar de infmia; difamar tirar a fama. Exemplo: Tentam, no seu dio
sacrlego de brutos, difa- mar-nos; e, no entanto, s eles vivem
praticando atos que infamam. Entre desabonar e desa- creditar
convm, do mesmo modo, assinalar diferena, por mais subtil que esta
seja. Basta- nos o que diz Bruns.: Tem muito maior al- cance a ao
de desacreditar que a de desabonar: quem desabona diminui o apreo,
o crdito de algum, mas no o destri; quem desacredita arruna o
crdito, a boa reputao da vtima. Uma fraqueza desabona; mas s as ms
aes desacreditam (Bruns.). Deslustrar e desdoi- rar, no sentido
figurado, apresentam diferena equivalente que, na acepo natural,
marcam os respetivos radicais. Propriamente falando, s se deslustra
quem ilustre, quem goza de alta posio; como s se desdoira quem
brilha no mundo, ou tem glria. Meu pai no sen- te vergonha de
deslustrar seu sangue. (Cast.) Quem aquele pobre-diabo de rodaps
para desdoirar Cames? De deslustrar e desdoirar aproxima-se
desluzir; mas este significa mais perder ou tirar o brilho, empanar
o luzimen- to. Desluzia as geraes dos inimigos com a injustia da
sua malquerena. (Camil). Ma- cular e manchar so formas do mesmo
termo latino (macular, macula) e significam marear um nome,
deslustr-lo infligindo-lhe alguma pecha infamante. Macular talvez
mais fino e mais nobre: manchar , no entanto, muito mais expressivo
e mais forte. A mnima sus- peita macula aquela inocncia. Esta
torpeza mancha toda uma vida. 11 ABALANAR-SE, afoitar-se,
atrever-se, atirar-se, arrojar-se, arriscar-se, aventurar-
17. 10 Rocha Pombo -se, ousar, animar-se. Abalanar-se quer
dizer no hesitar, depois de haver medi- tado; afoitar-se no hesitar
sem refle- tir muito no perigo, tomar uma resoluo sbita; atrever-se
afoitar-se com aud- cia; atirar-se lanar-se sem mpeto, mas
decisivamente; arrojar-se precipitar-se, atirar-se com mpeto;
arriscar-se ex- por-se a um risco, a um perigo eventual,
sujeitar-se a que lhe acontea bem ou mal; aventurar-se expor-se a
boa ou m sorte, empreender um lance de re- sultado incerto, s
confiando na ventura; ousar , como diz Bruns., o mais genrico de
todos estes sinnimos; e tanto pode ter sentido favorvel como
desfavorvel: sig- nifica atrever-se confiante e seguro, sem os
receios ou escrpulos usuais; animar-se quer dizer ter alma, fora,
coragem, para alguma coisa, boa ou m. Apliquemos todos esses
verbos. O sr. se abalanou a publicar o artigo? O homem afoitou-se a
atravessar o escuro, a ir cidade convulsio- nada; e ainda se
arriscou a andar pelos lugares mais pblicos. Como que um solda- do
se atreve a chegar to perto da trincheira inimiga? O pescador
atirou-se ao mar, e salvou a criana. O bombeiro arrojou-se ao furor
do incndio, e trouxe nos braos o menino desfalecido. Ele se
aventura a ir a Minas: se for feliz, voltar por S. Paulo. Pois h
quem ouse ir a comcios neste pas arriscando a prpria vida?. Ousa o
bandido falar em lei, e discutir justia? Afinal animou-se a pobre
viva a ir a palcio, mas perdeu o tempo. 12 ABALAR, partir, fugir,
azular, esgueirar- -se, desaparecer, sumir-se, ausentar-se,
retirar-se, sair, seguir. Abalar (sent. fig.) significa sair
precipitadamente e s ocultas, embora sem a inteno de esconder-se, e
s com o fim de no continuar presente num lugar. Abala o garoto
quando v o policial. Tambm do grupo abala o estudante assim que
ouve falar em bomba. O exrcito abalou dali ao ter certeza de que o
inimigo estava a chegar. Partir quer dizer comear marcha ou viagem,
pr-se a caminho. sim quase perfeito de sair, diferindo deste porque
no d, como sair, mais a ideia de deixar um certo lugar que de ir
para ou- tro. Diremos: Ele saiu da cidade h uma hora: e no outro
dia partiu para S. Paulo, dali seguindo para ponto ignorado. No
poder- amos trocar a nenhum dos verbos. Seguir aproxima-se,
portanto, de partir e de sair; mas distingue-se claramente de um e
outro porque acrescenta ideia de pr-se em movimento a de continuao
de marcha iniciada. Ningum segue seu caminho sem haver comeado a
andar. Partimos daqui no dia tal, saindo de casa s 3 da tarde;
pernoi- tamos em Campo Grande, e no outro dia seguimos para Mendes.
Azular brasilei- rismo bem moderno, e significa abalar,
desaparecer... como se se sumisse no espao. F. azulou dali quando
nos viu de longe. Esgueirar-se azular com a ideia de es- conder-se,
retirar-se sorrateiramente. O gatuno pressentiu-nos e esgueirou-se.
Fugir aproxima-se de esgueirar-se com esta diferena: esgueirar-se
desaparecer com astcia, de modo a no ser visto; e fugir deixar um
ponto s pressas, desviar-se precipitadamente de algum ou de alguma
coisa para evitar incmodo, perigo, risco, tentao, etc. O exrcito
fugiu perseguido pela cavalaria inimiga (Aul.). Espavorido, o
companheiro foge (Garrett). Desapare- cer deixar de ser visto, sem
ideia alguma acessria quanto ao intuito de quem desa- parece. F.
desapareceu da rua do Ouvidor; Depois da meia-noite desapareceram
as crian- as; Por que desapareceu o senhor de nossa casa? Sumir-se
mais que desaparecer porque d ideia de deixar de ser visto sem
18. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 11 que se saiba o
paradeiro ou o destino de quem se sumiu. Diremos que um amigo (que
continuamos alis a encontrar na rua) de- sapareceu de nossa casa,
isto , deixou de ser visto nela, de frequent-la; e no, que se sumiu
de nossa casa. Do mesmo modo no confundiremos os dois termos para
empreg-los indistintamente nesta frase: O pobre vivo sumiu-se do
mundo (isto , desapareceu para sempre). Em suma: quem de- saparece
nem sempre tem teno de sumir-se: agora o que no possvel que algum
se suma sem haver desaparecido. Ausentar-se deixar de estar
presente em alguma parte; e aproxima-se em certos casos de
desapare- cer, de sair, e de retirar-se principalmente. Mas
ausentar-se no d (como retirar-se, s vezes) ideia de plano, ou de
intento, de fim ou de necessidade com que algum se retira: apenas
marca a noo de no estar mais presente onde se estava; assim como
retirar-se marca, no propriamente, a ideia de no estar mais
presente, mas a de ha- ver deixado um lugar. O juiz ausentou-se
durante as frias. O homem retirou-se da festa mais cedo do que se
esperava. No meio do tumulto, o presidente suspende a sesso e
retira-se. No diramos neste caso ausenta-se pois que o nosso
pensamento no aludir ao fato de no ter mais o ho- mem ficado
presente, mas ao fato de haver deixado a cadeira. 13 ABALAR,
demover, dissuadir. Abalar, aqui, significa mover um pouco, tirar
do estado de firmeza, fazer que uma pes- soa fique em dvida a
respeito de alguma coisa. Dizemos: O homem, com toda a sua
eloquncia, no consegue abalar-me neste modo de ver; Fazem esforos
por abalar na alma do povo as crenas de que ele vive. , portanto,
este verbo empregado aqui, na acepo figurada, com valor
perfeitamen- te anlogo ao que tem no sentido fsico. Quem se deixa
abalar nas suas convices nem por isso as renuncia, apenas no fica
muito firme nelas. Demover diz muito mais, pois enuncia a ideia de
mudar do que se era, ou do que se intentava. Dize- mos: Ele me
demoveu (e no abalou) do intento de vingana. Dissuadir tirar do
esprito, demover operando no espri- to, na conscincia. Demovemos
uma criana de ficar no meio do barulho; Tais coisas lhe disse o
velho que o dissuadiu de casar (tirou-lhe isto do esprito); As suas
pala- vras poderiam abalar-me alguma coisa; mas no creio que
cheguem a demover-me do meu propsito, pois jamais me dissuadiro de
que a Justia est comigo. 14 ABALIZADO, assinalado, distinto,
notvel, ilustre, nobre, digno, famoso, afamado, fa- migerado,
clebre, insigne, preclaro, cons- pcuo, eminente, egrgio, exmio,
consu- mado, nclito, grande. Abalizado di- zemos de um profissional
ou de um artista que se fez completo na sua profisso ou na sua
arte. F. um escritor abalizado; F. mestre abalizado no seu ofcio.
Assinala- do o que se destacou por alguma prova brilhante no seu
ofcio, o que se distinguiu por alguma grande ao. No arrefeceu nunca
em Vieira aquele assinalado herosmo da sua imensa f; As armas e os
vares assinalados (Cam.). Distinto aquele que, por algum mrito ou
aptido, se destaca do comum e se pe em relevo. No se trata de um
tipo qualquer, mas de um moo distinto. Notvel diz mais que
distinto: designa o que se ps, no apenas em simples destaque, mas
em tal evidncia que se fez digno de ser notado, e tido como
exemplo. F. era um jornalista distinto; mas que fosse um escritor
notvel ningum sabia. Ilustre um des- ses vocbulos que parecem
gastos pelo uso.
19. 12 Rocha Pombo No seu sentido prprio, de assinalado que
mais se aproxima: ilustre quer dizer conhecido e brilhante por si
mesmo, des- tacado por aes, ou feitos, ou qualidades que do lustre.
Entre os polticos ilustres de Itlia, nenhum excede a Cavour pela
fun- o histrica... Digno um epteto mais modesto do que todos os
precedentes: digno se diz daquele que se porta discretamen- te no
seu cargo, ofcio, misso, funo, ou mesmo nas vicissitudes da vida; e
que por isso mesmo merecedor de alguma coisa mais que o comum. F.
um digno funcio- nrio; Aquela criatura, pela sua grandeza moral,
digna de respeito. Nobre, porque conserve uns laivos da antiga
acepo, diz menos que ilustre; e hoje termo de que s se usa na
oratria parlamentar, ou ento em frases enfticas. O nobre ancio
falou sole- ne; Nada tenho a dizer ao nobre senador. Aplicado a
qualidades, ou a coisas, significa digno e excelente. Que nobre
alma a da- quela dama to obscura e to desventurada. A nobre altivez
daquela criana salvou-nos a todos. Famoso e clebre, como nota
Lafaye, tocam-se de perto; mas, afastando- -nos um pouco do autor,
observaremos que: famoso vocbulo menos nobre, e deve aplicar-se a
um fato ou a uma vida que fez grande rudo no mundo, podendo at ser
a de um bandido; clebre enuncia no fama ruidosa, mas grandeza que
tem alguma coisa de solenidade e de esplendor na hist- ria, e no
seu lugar, ou na sua condio pr- pria. H capites ao mesmo tempo
clebres e famosos como Alexandre; mas a rarssimos grandes poetas ou
grandes artistas chamar- amos com propriedade famosos. Afamado diz
muito menos que famoso; e segundo observa Bruns., com razo, s se
pode apli- car a pessoas vivas, ou a coisas subsistentes. Afamado
quem ou o que tem fama, ou est tendo fama no seu tempo, e no meio
em que vive, ou onde aparece. ainda preciso notar que tanto se
aplica a pessoas como a coisas, mas melhor a coisas. F. um m- dico
afamado (isto que tem bom nome ou boa fama de profissional na
cidade onde clinica); Os afamados charutos da Bahia... As afamadas
laranjas da Arglia... No se- ria muito prprio, apesar do que diz
Bruns., chamar famoso a um mdico que se fizesse conhecido e ilustre
fora do seu meio: dira- mos antes notvel, eminente, ou melhor c-
lebre, ou mesmo grande... conforme o caso. Charcot clebre,
grande... mas decerto que no diramos dele o famoso Charcot. Fa-
migerado quase sempre se toma em sentido pejorativo: designa
indivduo cuja fama, boa ou m (em regra m) se espalha num dado
crculo e com aparato. Diremos: famigerado bandido; famigerado
desordei- ro; famigerado conspirador... de aldeia... (porque,
tratando-se de um conspirador de alta raa, j lhe no caberia bem o
epte- to). S por menoscabo diramos: famigera- do cultor das musas.
Preclaro e insigne aproximam-se de ilustre. Mas preclaro diz mais e
mais nobre: exprime excelente, belo, brilhante. Nem todos os
ilustres so preclaros; mas os preclaros so ao mesmo tem- po
ilustres. Diramos: O preclaroTcito; O preclaro varo que ilustrou o
seu tempo; A preclara majestade de d. Henrique, o grande Infante,
mais do que rei no seu imprio do mundo... Mas rarissimamente
poderamos dizer sem flagrante absurdo, por exemplo: preclaro
representante da nao, ou precla- ro ministro, s porque se trata de
homens ilustres. Insigne quem, ou o que se as- sinala por algum
grande mrito, ou alguma grande qualidade ou aptido. Difere de as-
sinalado em que este chama ateno mais para os feitos do indivduo
que se assina- lou; e insigne exprime qualidade inerente pessoa ou
coisa insigne. Diramos: Job foi um varo insigne pela virtude da
resigna- o (e no um varo assinalado); Este
20. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 13 homem, sem ser
insigne, tornou-se naquele momento figura assinalada pelo herosmo
com que fez frente ao inimigo. Um favor, ou um servio assinalado no
como enten- dem Bourg. Berg., um favor ou servio que se manifesta,
ou de que se tem sinais evi- dentes, mas um favor que no momento
as- sumiu propores que no teria em ocasio normal: um favor insigne,
sim um favor grande, excepcional, notvel de si mesmo. Eminente e
conspcuo diz mais do que ilustre: eminente o que excede estatura
moral, ou s propores de grandeza dos seus pares; e, tratando de
coisas a que se eleva acima de outra coisa e se pe muito alto;
conspcuo o que se faz to ilustre e eminente que d nas vistas de
todo mun- do. Qualquer dos dois termos s pode ser, tratando-se de
pessoas, aplicado a pessoas ilustres. No poderamos dizer, mesmo
referindo-nos aos mais abalizados no seu ofcio: F. um conspcuo
marceneiro; ou F. um arteso eminente. Mas diramos: escritor,
magistrado, artista eminente; F. figura conspcua da nossa poltica,
ou das nossas letras. Exmio exprime a quali- dade de
superexcelncia, e se diz daquele que na sua arte, ou na sua
profisso (prin- cipalmente na sua arte) excede, sobreleva aos mais
hbeis. H exmios poetas, como h jogadores exmios. Consumado aproxi-
ma-se de abalizado; e tanto um como outro exprimem mais do que
exmio quando se quer marcar precisamente elevao pela ca- pacidade e
pelo mrito. Consumado signi- fica subido perfeio, a uma profunda e
acabada percia na sua cincia ou na sua arte, e por isso posto no
pinculo entre os da mesma classe. Tanto podemos dizer um artista,
como um filsofo consu- mado. Egrgio honrado e ilustre, digno de
respeito pela compostura e gravidade na sua conduta, ou no
desempenho de algum alto cargo. Dizemos: O egrgio tribunal; egrgio
pastor de almas; F. verdadeira- mente o egrgio e venervel patriarca
daquela famlia. nclito, segundo Roq. o que chega ao ltimo grau da
glria; o que muito falado, que tem nome ruidoso e bri- lhante. H
nclitos generais, como h nclitos poetas. Grande um genrico que se
no confunde entre os do grupo. S grande o homem excepcionalmente
notvel que foi consagrado pelo culto das geraes; ou o fato, ou
acontecimento extraordinrio, ou o feito de propores fora do comum
que se incorporaram definitivamente na hist- ria humana. Dizemos: o
grande Infante; o grande Vieira. Entre todos os vocbulos deste
grupo, muito raros outros caberiam nos dois exemplos. 15 ABALO,
tremor de terra, terremoto, tre- pidao, comoo, convulso, estremeci-
mento, agitao. Todos estes vocbulos significam fenmenos ssmicos.
Abalo movimento amplo, de grande massa, e por isso mesmo pouco
intenso e pouco sen- svel. Tremor de terra , como diz Bruns., uma
srie de abalos, ou melhor, de estre- mecimentos, pois que estes no
so mais que abalos menos amplos conquanto mais intensos e mais
sensveis. Trepidao leve abalo, menos extenso e menos sensvel que o
tremor de terra. Terremoto for- te tremor de terra tendo
consequncias na crosta terrestre. Comoo estrondo ou abalo no
interior da terra, apenas sensvel na superfcie. Agitao ser mais uma
comoo continuada por algum tempo. Convulso aplicar-se-ia para
designar um terremoto violento de grandes propores, e de
consequncias gravssimas para a regio convulsionada. Parece que se v
melhor nestes exemplos: Temia-se um terremoto; e nem chegou a ser
um verdadeiro tremor de terra, mas um simples abalo; no dia
seguinte
21. 14 Rocha Pombo houve algumas trepidaes do solo junto do
monte; no outro dia, ligeiros estremecimentos: e depois tudo voltou
serenidade normal; O que se deu ali no foi um simples terre- moto,
mas uma formidvel convulso que alte- rou toda a topografia da ilha;
A primeira vez sentiu-se uma rpida comoo ao sop da montanha; logo
noite repetiram-se uns es- tremecimentos; e como nos convencssemos
de que semelhante agitao subterrnea pre- nncio de catstrofes...
fugimos... 16 ABALROAR, investir, atracar, aferrar, abordar,
acometer, agredir, assaltar, arre- meter, atacar. Abalroar. Diz
Bruns. que o abalroamento de dois navios devido ao acaso. No h
dvida; mas decerto no em tal acepo que abalroamento sin- nimo de
investida. Abalroar, neste grupo, como define Aul. atracar com bal-
roas, e com intuito hostil. Os inimigos abalroaram uma nau de
El-Rei. (Dic. da Acad.) Investir arremeter hostilmente contra algum
ou alguma coisa. O inimi- go investe, mas no consegue abalroar a
nossa embarcao. Atracar, como aferrar, mais genrico do que
abalroar; mas os trs verbos sugerem o mesmo ato, consistindo a
diferena apenas nos meios de que se va- lem os tripulantes de um
navio para apri- sionar um navio inimigo: abalroar, como se disse,
atracar com balroas (instrumen- to prprio para abordagem em
combate); aferrar atracar com ferros (quaisquer que sejam); e
atracar prender de qualquer modo. Abordar aproximar-se uma de outra
embarcao, bordo com bordo, para melhor combater. Com muita gente
arma- da a investiram e abordaram (a caravela) por duas partes.
(Dic. da Acad.). Acometer quase assaltar: investir subitamente e
com deciso. Acometeu-nos o inimigo sem que o esperssemos to cedo.
Assaltar investir traio, de emboscada, e decisi- vamente.
Assaltaram os brutos a fortaleza noite. Tambm se diz: Assaltou-nos
em caminho a tormenta. Agredir propria- mente provocar, tomar
ofensiva contra algum. Ele no tinha motivos para agre- dir-nos to
insolitamente. Arremeter atacar com fria, impetuosamente, com
precipitao. A vaca danada arremete con- tra todos. Atacar , de
todos os do gru- po, o verbo de significao mais genrica: ir
hostilmente contra algum ou alguma coisa. No se ataca impunemente a
honra alheia. O inimigo nos atacou de frente. Vamos atacar o forte.
O bandido nos ata- car em caminho se facilitarmos. 17 ABANDONAR,
desprezar, desproteger, desamparar, desdenhar, dessocorrer, des-
valer, desarrimar, desapoiar, desajudar, desfavorecer. Quanto a
abandonar, escreve Bruns.: O antigo portugus tinha o ver- bo bandir
(banir, desterrar)1 que nos revela a existncia de um substantivo
mais antigo bandon de que nos vem bando (prego, decreto). Bandon
era ordem de bandir. Abandonar , pois, etimologica- mente, no
querer saber da pessoa ou da coisa que se abandona; deix-la
entregue aos seus prprios recursos, os quais se repu- tam
deficientes ou nulos. Abandonar tem com efeito alguma coisa de
exilar, pr de lado e esquecido. Os brbaros abandona- ram os mseros
nufragos ali na ilha deser- ta. Diz Roq. que: o desamparo se refere
ao bem necessrio de que se priva o desam- parado; o abandono se
refere ao mal iminente a que se deixa exposto o abandonado. O rico
que no socorre a sua famlia pobre a desam- para; se o faz, porm,
quando esta se acha em iminente risco de perecer, ou de sacrificar
1 O italiano conserva o verbo bandire.
22. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 15 sua honra, a
abandona. Desdenhar ter em pouca conta; tratar com desdm, acinte ou
altivez. Desdenhando o poder dos homens, a santa continuou muda.
Aquele ricao desdenha a nossa pobreza porque ns lhe desdenhamos a
arrogncia... Quanto aos outros do grupo, a distino ser fcil des- de
que se tenha em vista o respetivo radi- cal, pois em todos figura o
prefixo negativo ou privativo des. Desprezar no dar a algum ou
alguma coisa o apreo ou im- portncia que se lhe dava. Desproteger
recusar a proteo que antes se dava a algum, como desamparar negar
ampa- ro; como dessocorrer deixar de oferecer o socorro que se nos
pede. Como estes, entendemos: desvaler (no acudir); de- sarrimar
(privar de arrimo); desapoiar (deixar de apoiar); desajudar (negar
ajuda, auxlio, e antes fazer o contrrio); desfavorecer (negar
favor). Todos estes sinnimos tm a significao geral de in- diferena,
pouco apreo, desprezo ou pouco interesse revelado por algum:
diferenada, pelos prprios respetivos radicais, e to dis- tintamente
que em muitos casos no seria possvel, sem sacrificar alguma coisa
da cla- reza e propriedade da expresso, substituir um pelo outro,
ou pelos outros indistinta- mente. simples de ver que eu me no
sinto desamparado s porque um sujeito me despro- tege. Aquele
homem, mesmo desprezado pelos amigos, no foi dessocorrido de
algumas almas piedosas. Os homens o desvaleram sempre naquelas
angstias; mas os filhos fizeram mais: desarrimaram-no na velhice
dolorosa: e afinal, abandonado de todo o mundo, morreu em
amarguras.... Nesta causa pode um parente desapoiar-nos sem que nos
prejudique; mas aqueles que estavam conosco e se afas- taram no
fazem menos que desajudar-nos. S nos desfavorece aquele de cujos
favores dependamos. Nem sempre se despreza, ou se desprotege, se
desampara ou se desdenha, etc., aquele a quem se abandona. Pode-se
desapoiar sem desproteger; desvaler sem desdenhar. Desarri- mar no
propriamente dessocorrer, pois que s se dessocorre aquele que est
em perigo ou em situao difcil; e s se desarrima a quem precisa de
ns; como s se desampara aquele a quem devamos valer, e s se
abandona a quem, na perdio ou na desgraa, tinha di- reito a ser por
ns socorrido. 18 ABANDONO, desafetao, naturalidade, negligncia,
simpleza, descuido, ingenui- dade, singeleza, lhaneza, desalinho,
in- dolncia, desdia, incria, inrcia, inao, desleixo, desmazelo,
languidez, desaperce- bimento, abstrao, distrao, acdia, pre- guia,
cio, segncia, moleza. Abandono um galicismo (neste grupo) que pode
per- feitamente ser incorporado na lngua, ape- sar de certos
caprichos fteis de um mal- -entendido purismo. estranha a aplicao
do termo feita por Bruns. depois de o haver definido como sinnimo
de naturalidade. A amizade diz ele exige a naturalidade; mas o
amor, a paixo veemente s real quando h abandono. Aqui h seguramente
lapso: o abandono dessa frase no o que o autor definiu como sendo o
abandon francs. O abandono dessa frase sinnimo de renun- ciamento,
abdicao, abnegao, etc. Mas aqui, neste grupo, abandono, conquanto
no seja o aplicado, e o definido por Bruns., : negligncia amvel no
falar, no trajo, nas maneiras... Aquela candura da jovem prin- cesa
ressalta de todo o abandono em que se deixa ver l no parque.
Naturalidade maneira de se mostrar, de dizer, de se ves- tir sem
artifcios que deem na vista. Fa- lamos rapariga, e ela respondeu
com uma graa e naturalidade de criana. Desafeta- o j se no
aplicaria com a mesma pro- priedade a uma criana; pois, desafetao j
sugere ideia de esforo ou de propsito no
23. 16 Rocha Pombo sentido de parecer desafetado ou natural.
Desafetao pode simular-se; naturalidade, no. Este tipo vem aqui
fingir desafetaes de Tartufo... Negligncia2 diz tambm ma- neira
descuidosa, postura desafetada, trajo sem capricho, pouca ateno com
que al- gum cumpre sua tarefa ou desempenha um dever. Incria
igualmente (conforme est indicando a prpria etimologia) descuido,
mas descuido culposo de quem deixa de parecer como deve, ou de
cumprir um dever do seu ofcio. Negligncia sempre me- nos do que
incria, conquanto diga Roq. o contrrio. Por negligncia foi
censurada a menina que no deu conta das lies, ou dos temas a tempo:
por incria teve casti- go. Pilhou-me a visita, ou surpreendeu- -me
nesta negligncia em que se est em casa. Ningum h de ter o direito
de acusar-me de incria na minha profisso. Desali- nho maneira ainda
mais descuidosa que a negligncia: quase incorreo de costu- mes, ou
de frase, ou de trajar. Passam a ser censurveis aqueles modos:
aquilo j desalinho, e quase inconvenincia que se no perdoa em gente
de educao. Singeleza a qualidade do que no tem refolhos e malcias,
acidentes de nimo, e antes um humor sempre igual. A singeleza
daque- le viver mais edificante do que todas as opulncias dos
grandes. Simpleza sugere ideia de inconscincia, de quase ignorncia
e parvoce: a singeleza ou a ingenuidade do inculto e rude. Ele
ficou em pasmo ante a simpleza daquele brbaro ali impass- vel a
tudo que se passa. Ingenuidade a singeleza de quem no oculta o que
sen- te, nem disfara o que faz, como as crian- as. Calino o tipo do
ingnuo: diz, com toda gravidade, as coisas mais sabidas do mundo.
Lhaneza a qualidade do que lhano (do latim planus = liso, parelho,
sem desigualdades de relevo). Nada alterava ja- mais a lhaneza
daquele carter. Descuido (como se v da formao do vocbulo) falta de
cuidado no trato, no falar, no ves- tir, ou no desempenho de uma
tarefa: mais censurvel sem dvida que desalinho. O descuido de quem
se apresenta maltrajado em um salo de cerimnia imperdovel. O
descuido na elocuo, no gesto, na postu- ra... muito mais grave que
simples desa- linho. Indolncia e preguia. Diz Lafaye que a
indolncia um defeito, a preguia um vcio. Neste grupo no bem assim.
Se mesmo vcio a preguia, est passando a ser quase um vcio
elegante... ela um relaxamento de nimo, uma falta de ao para certas
ocupaes. Pode ser oriunda de mal fsico; e ordinariamente revela
falha moral. Indolncia diz etimologicamente falta de sensibilidade;
apatia, indiferen- a por tudo que a outros merece cuidados ou
ateno. A preguia pode no ser um vcio, mas deve tirar a vontade de
agir e de viver: a indolncia chega a ser s vezes uma virtude para o
ctico, o pessimista ou o mi- santropo. Moleza preguia sensual.
Inrcia imobilidade, falta de energia, estado de torpor. Inao um
estado de inrcia passageiro, que cessa logo que de- saparece a
causa acidental que constrange o inativo. Languidez um quase desfa-
lecimento semelhante depresso mrbida, e tendo tambm alguma coisa de
moleza. Desdia quase incria, distinguindo-se desta em significar
mais uma inrcia moral que afasta do trabalho, ou que torna avesso
ao cumprimento do dever; enquanto que incria o prprio fato de no
fazer o que devia. Acdia (ou acdia, mais conforme etimologia) uma
inrcia mais de esprito ainda do que desdia (talvez originariamen-
te uma e outra do mesmo radical grego). Diz Roq. que parece ter
sido vulgar outrora, 2 Usa-se muito hoje do francs neglig em vez de
negligncia.
24. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 17 e usar-se em
vez de preguia, como se v do Leal Conselheiro e do Catecismo, de
Fr. Bartolo- meu dos Mrtires, que a define assim: O stimo e ltimo
vcio capital se chama acdia, que uma tibieza e fastio espiritual
que a alma tem para o exerccio das obras virtu- osas, especialmente
para as coisas do culto divino e comunicao com Deus. De- leixo (ou
Desleixo) e desmazelo significam relaxamento no cumprir o dever,
falta de correo; parecendo que desmazelo mais grave e mais culposo
porque exprime, no apenas falta de correo, mas uma desdia quase
ostentosa, um defeito mais punvel que desleixo, que mais ausncia de
senti- mento muito ntido do dever Desaper- cebimento, abstrao,
distrao sugerem ideia de estado bem semelhante a umas apa- rncias
de abandono. Desapercebimento um como estado de inconscincia
aparen- te, em que algum fica sem dar ateno a nada, ou sem notar em
torno de si coisas que lhe no deviam passar despercebidas. Abstrao
o desapercebimento de uma pessoa completamente alheada do meio em
que se acha, por um motivo interior, uma como tenso mental que a
separa dir-se-ia das outras pessoas. Distrao tambm
desapercebimento, mas de quem parece no pensar em coisa alguma, e
ter os seus sentidos materiais como que suspensos ou apagados,
olhando sem ver, tocando sem sentir, tendo ouvidos e no ouvindo,
etc. Segncia mais do que indolncia, do que desdia, do que desleixo,
do que preguia, porque junta a tudo isso alguma coisa de misria
moral mais lastimvel: segncia deve ser o torpor estpido, a averso
ao movi- mento, a inrcia e moleza do brbaro. cio antnomo de
trabalho, ou porque se descanse dele, ou porque se seja forado a
ficar inativo; mais, no entanto, porque se te- nha trabalhado que
se fica em cio: este, pois, mais lazer do que inao. Os meus
instantes de cio so poucos, porque a minha vida muito atribulada de
servio. 19 ABARATAR, baratear, embaratecer, mal- baratar,
depreciar, menoscabar; menospre- zar, desapreciar, desestimar,
desencarecer. Abaratar (ou baratar) significa diminuir o custo,
tornar barato, fazer baixar o preo de alguma coisa; e figuradamente
, pois, ter em menor conta do que a antiga em que se tinha alguma
coisa, ou as qualida- des, a importncia, o valimento de algum. Ele
no h de consentir assim que lhe aba- ratem a honra de juiz.
Baratear ofe- recer por menor preo, dar por menos do justo valor,
no tendo na conta devida. No pensem que ele vai agora baratear as
aptides. Tem ainda, como intr., a signifi- cao de baixar de preo.
Dizemos, pelo menos no Brasil: O caf j barateou. Usa- mos tambm de
embaratecer, que se no sabe por que que falha nos lxicos. Mas este
difere de baratear porque significa, no s baixar de preo, mas fazer
baixar de preo. A mesma diferena no sentido figu- rado. Os tais
conluiaram-se no intento de embaratecer os bons ofcios do
competidor. Malbaratar desperdiar coisa estim- vel; vender com
prejuzo, abrir mo de uma coisa facilmente, mostrando por ela pouca
estima ou nenhum interesse. Mse- ras criaturas o que elas so, a
malbaratar na vida os melhores dons que lhes tocaram. Menosprezar,
menoscabar, desestimar distinguem-se ligeiramente. Menospre- zar no
propriamente desprezar, mas prezar menos do que seria justo, ter em
menor apreo do que o devido. Havemos ento de menosprez-lo s porque,
naquela causa, no esteve conosco? Menoscabar no somente
menosprezar, mas tambm abater o valor, diminuir o crdito, a con-
siderao. No por menoscab-lo que
25. 18 Rocha Pombo dele digo estas coisas. Desestimar no ter em
estima, deixar de estimar, no ter por algum ou alguma coisa a mesma
estima que se tinha. este verbo um sinnimo quase perfeito de
desapreciar, havendo ape- nas entre os dois a mesma diferena que h
entre os respetivos radicais estima e apre- o. S desestima o
dinheiro quem lhe no sabe o valor. No se desestima a um amigo s
porque caiu em pobreza. Em qualquer dos casos desaprecia diria sem
dvida al- guma coisa menos, e tanto menos quanto estima um
sentimento mais profundo que apreo. Desencarecer deixar de enca-
recer, de ser to caro ou encarecido como era, ou de ter na mesma
conta exagerada em que se tinha (e tanto no sentido prprio como no
figurado). Ningum decerto vai desencarecer-lhe os grandes servios
prestados ptria naquele momento. 20 ABANTESMA, fantasma, espetro,
larva, viso, duende, trasgo, manes, lmures, avejo, apario, sombra.
Abantesma forma popular de fantasma. Este vocbu- lo (fantasma)
significa imagem fantstica ou incorprea, que, por alucinao, julga
algum ver, tendo figura humana mais ou menos acentuada, e causando
terror; e tal- vez porque sugira melhor esta ltima noo que se
distingue de todos os do grupo. Encontrou no caminho um fantasma
que o obrigou a voltar. Aquela casa... ou aquela conscincia vive
atormentada de fantasmas (isto , de coisas falsas ou imaginrias e
medonhas). Tambm se aproxima de sm- bolo, representao;
personificao; como em: O fantasma da dor, ou do remor- so.
Abantesma propriamente fantasma sem forma definida, e que, alm de
terror, inspira repugnncia. Imundos abantesmas vagavam naquela
regio mais do pecado que da morte. Duende designa alguma coisa
semelhante ao que se chama vulgarmente alma do outro mundo. Lmures
e manes eram, entre os romanos, espritos que an- davam vagando pela
Terra, e como em pe- nitncia, ou perseguindo os vivos. Manes
designava particularmente as almas dos avs ou dos parentes
falecidos; mas todos, manes e lmures, saam do inferno noite para, s
vezes, socorrer, mas quase sempre para atormentar os vivos. Trasgo
qualquer coisa como figura ostentosa, he- roica dir-se-ia e terrvel
do diabo. Es- petro e larva designam tambm fantasmas; e h entre
eles uma certa distino anloga que se nota entre fantasma e
abantesma. Espetro ser o fantasma, ou melhor a alma de algum
conhecido, que se deixa ver sem perfeito relevo, mas ainda
conservando alguma coisa da forma humana. Larva ser espetro menos
ntido, e de crer que junte ideia de viso a de penitncia,
significando assim alma penada, alma dolorosa. Quando encontrou no
vestbulo a larva de Aquiles... emudeceu. Avejo (fig.) o que se
poderia chamar tambm alma pe- nada mas que toma aspetos estranhos,
formas de aves ou de animais fantsticos. Viso, apario, sombra so
vocbulos de significao mais genrica e vaga, dando sempre a ideia
comum de coisa sobrenatu- ral, ou no corprea, atribuda imaginao dos
alucinados, ou falsa viso de certos doentes. O mais vago de todos o
primei- ro dos trs: viso toda imagem que se julga ver, quer em
viglia, quer durante o sono. Apario distingue-se de viso em
acrescentar ideia de imagem sobrenatural a ideia de miraculoso, de
inesperado e sbi- to, mesmo instantneo... Sombra pode-se dizer que,
com a significao que tem neste grupo, vocbulo de alta nobreza
histrica, significando forma vaga subsistente de al- gum que foi
vivo; coisa impalpvel, sub- til, imaterial... como a sombra
(fenmeno
26. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 19 fsico). Entre
os antigos, e ainda hoje, mes- mo entre muita gente de cultura,
sombra era o mesmo que alma. 21 ABARCAR, aambarcar, monopolizar,
atravessar. Todos estes verbos exprimem de comum a ideia de abuso
contra a liber- dade de comprar e vender, de modo a fa- zer subir
pela carestia o preo das coisas. Abarcar significa apoderar-se da
merca- doria como quem a prendesse nos braos, Abarcava todo o peixe
que vinha Ribeira. (Aul.) Aambarcar exprime a mesma ao de prender
ou arrecadar mercadorias: mas de modo mais amplo, enfeixando-as, ou
reunindo-as por meio de sambarca. Mo- nopolizar enuncia a forma
legal de exer- cer exclusivamente o comrcio ou qualquer encargo ou
funo; o direito exclusivo ou privilgio de vender ou comprar. H o
monoplio no fundado em lei; e sem dvida com esta significao que
entra aqui o verbo monopolizar: tomar algum, al- guma companhia, ou
mesmo alguma nao a propriedade de um certo gnero de neg- cios, ou
da explorao de certas indstrias. Atravessar comprar as mercadorias
em caminho, antes que cheguem praa ou ao mercado pblico. 22
ABARCAR, abranger, compreender. Abarcar e abranger significam
encerrar ou conter em si muitas coisas: em abarcar h ideia de
esforo; em abranger, no: Cesar abarcou todas as dignidades da
repblica; O poder de Roma abrangia multido de povos (Bruns.). No
Brasil muito comum dizer-se indiferentemente: Abarcar ou abran- ger
o mundo com as pernas. Compreender sinnimo que se pode ter como
quase per- feito de abranger; muito raros ho de ser os casos em que
um se no possa substituir pelo outro. Deve notar-se, no entanto,
que mais talvez o uso comum do que a preciso ou a propriedade fixa
em alguns o empre- go de um de preferncia a outro. Teramos de
dizer, por exemplo: Nesta relao no se compreendem (e no se
abrangem) os casos a que se refere o ministro. Abranger, por sua
parte, exprime alguma coisa de alcanar, e mesmo de abarcar.
Diremos: O incndio abrangeu todo o quarteiro; e nunca pro-
priamente: O incndio compreendeu, etc. 23 ABARROADO, obstinado,
opinitico, ca- beudo, teimoso, tenaz, pertinaz, insisten- te,
contumaz, caprichoso, encaprichado, afincado, constante, relutante,
porfiado, persistente, perseverante, aferrado, fir- me, emperrado,
birrento, embirrante. Abarroado quer dizer teimoso, insistente,
obstinado com insolncia e por motivos torpes. Sedutor, libertino,
devasso abar- roado. Obstinado e opinitico poderiam tomar-se em
certos casos como sinnimos perfeitos. H, no entanto, entre os dois
bem marcada diferena; tanto assim que em cer- tas formas no
poderiam ser trocados; nes- tas por exemplo: O homem est obstinado
em no aceitar o cargo; Ele opinitico, e sei que por coisa alguma se
dissuadir da- quele intento. Isto quer dizer que com efeito o
opinitico e o obstinado, como diz Lafaye, no cedem vontade, aos
desejos de outrem, a embaraos, a ataques, etc.; mas distinguindo-se
o primeiro do segundo em significar uma tendncia ou qualidade
prpria, essencial, fundada em opinio, em modo de ser, em razes em
suma, que pare- cem estar na mesma natureza, ou na ndole do
opinitico; enquanto que obstinado o que resiste, o que se escusa de
agir, ou que no cede, mas por efeito de uma determina- o ativa e
refletida. Cabeudo o que se deixa guiar s pela sua cabea, e faz o
que
27. 20 Rocha Pombo entende sem ouvir conselhos, advertncias ou
mesmo ordens de ningum. Teimoso o que persiste em pensar ou agir
como se o fizesse quase por acinte. Tenaz exprime firme e vigoroso
em pensar, em querer, em agir. Pertinaz j inclui alguma coisa de
teimosia; mas o pertinaz um teimoso, no por acinte, mas por opinio
ou capricho. Aproxima-se deste o vocbulo insistente: o qual, alm de
significar pertincia em querer, obrar ou pedir, d ideia de que, se
no se teima propriamente, pelo menos se repetem esforos e
tentativas. Contumaz quer dizer obstinado, revel; que no aten- de,
ou no obedece ordem legtima, ou citao feita por um juiz; e por
extenso aquele que segue sua opinio, e reincide no seu modo de ver
ou de conduzir-se sem se importar com o que seguido por todos.
Diremos, portanto: Contumaz no erro; Testemunha contumaz, etc.
Caprichoso aquele que se mostra seguro e inabalvel, mais pelo
prazer de contrariar do que por sincera convico; e difere de
encapricha- do por isto: porque encaprichado significa que se tomou
por acinte ou por vingana uma atitude caprichosa. Dizemos: Ele est
encaprichado no propsito de molestar- -nos; e no: caprichoso: A
caprichosa menina no atende a coisa alguma; e no: A enca- prichada
menina, etc.; mesmo porque enca- prichado reclama sempre um
completivo; o que nem sempre acontece com caprichoso. Afincado,
aferrado, firme significam to- dos fixo no lugar, na atitude, nas
ideias, na vontade, etc. Afincado equivale a fixo e seguro como uma
haste que se fixasse ao solo; aferrado diz fixo como alguma coisa
que se prendesse a ferro a uma outra coisa; firme significa
obstinado, resoluto, seguro conscienciosamente; que se no abala,
nem cede, nem fraqueja. Constan- te, porfiado, relutante,
persistente, perse- verante acrescentam qualidade do que firme a
ideia de esforo no propsito de conservar-se firme numa resoluo, num
intento ou numa tarefa. Constante ser sempre igual ao que se foi ou
se prometeu ser, ou ao que de ns se espera. Porfiado ser constante
mostrando um certo brio e valor. Relutante mais que porfiado, pois
enuncia a ideia de que o porfiado capaz de ir ao extremo, de travar
luta na re- sistncia... Persistente o que sabe, quer, ou tem fora
para continuar firme no seu posto, seu intento, no seu desejo.
Perseve- rante o que se conserva firme e constan- te num
sentimento, numa resoluo(Aul.). Este homem extraordinrio constante
na virtude; porfiado no trabalho; relutante contra as sedues do
vcio; persistente na ideia de vencer; e perseverante como quem sabe
o que vale a fortuna. Emperrado, birrento, embirrante, poderiam
aproximar-se de ca- prichoso e cabeudo. Emperrado significa o que
se firma na sua opinio, ou no seu in- tento, e fica imvel, sem
explicar-se... como o animal que empaca (podendo dar-se-lhe
empacado como sinnimo quase perfeito). Birrento emperrado ou
teimoso por bir- ra, capricho, antipatia ou averso. Embir- rante o
que insiste nalguma coisa por birra, com obstinao e enfado. 24
ABASTADO, rico, ricao, opulento, endi- nheirado, apatacado,
remediado; argent- rio, banqueiro, capitalista, milionrio. Abastado
quem est fartamente provido de bens para viver em abastana. Rico
aquele que possui muitas riquezas, ou bens que excedem s prprias
necessida- des. Ricao aumentativo de rico, e diz sujeito muito rico
e com ares de ufano das suas riquezas. Opulento sujeito muito rico
que vive vida brilhante e sump- tuosa, ostentando a sua riqueza.
Endi- nheirado, apatacado, remediado marcam
28. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 21 uma certa
mediania, ou uma condio de fortuna que fica entre a do rico e a do
po- bre. O endinheirado aquele que ajuntou algum dinheiro e saiu da
pobreza. Apataca- do diz menos ainda, pois reduz a simples patacas
as posses do sujeito. Remediado o que tem com que viver sem apuros.
Argentrio, banqueiro, capitalista, milio- nrio exprimem a ideia de
possuidor de grandes riquezas em dinheiro; e acrescen- tam noo
geral de rico a ideia de apego ou amor ao dinheiro, ou de mais ou
menos paixo com que se cuida do dinheiro, ou ainda uma ideia do
valor preciso ou das propores da fortuna possuda. Argent- rio o
mais genrico e diz homem dado a grandes negcios, preocupado s de
lucros, vivendo s pelo dinheiro. Banqueiro o que faz negcios de
banco (Aul.), isto , que vive de negociar, ou especular sobre
emprstimos e outras transaes de praa. Capitalista o que vive dos
rendimentos de seus capitais. Milionrio o ricao que possui milhes.
J se usam tambm como gradaes da ideia expressa por este ltimo
vocbulo: bilionrio, arquimilion- rio, miliardrio. 25 ABASTARDAR,
degenerar, desfigurar, deformar, desfear, afear, deturpar, des-
naturar, corromper, deteriorar, estragar, perverter, viciar,
adulterar, desvirtuar, de- pravar. Estes verbos exprimem de comum a
ideia de mudar a forma, a natureza, ou o modo de ser de uma coisa
ou pessoa. Abastardar significa fazer ilegtimo, impu- ro. Degenerar
perder mais ou menos o tipo, as qualidades da sua gerao (Aul.).
Desfigurar , segundo a prpria etimo- logia, tirar a figura, alterar
a forma pr- pria, o aspeto, as feies de algum ou de alguma coisa
(Aul). Deformar mudar a forma primitiva, deixar imperfeito, defei-
tuoso. Desfear uma dessas anomalias morfolgicas da lngua que o uso
impe, e significa alterar alguma coisa fazendo-a feia. sinnimo
perfeito, ou melhor, qua- se perfeito de afear, convindo, portanto,
que se note: em afear no h to viva a ideia de mudar tornando
defeituoso, ideia que se sente em desfear. Desfea-se (ou desfeia-
-se) isto torna-se feio o que era bonito, correto, prprio, legtimo.
Afea-se (ou afeia-se) uma coisa tornando-a menos correta, bonita,
etc. Diremos, pois: O an- dar afea-lhe um pouco a elegncia (e no
desfea-lhe); A idade a desfeou horrivelmente (e no afeou). No
Brasil usa-se tambm o verbo enfear (ou enfeiar) com o sentido de
exagerar, fazer feio com o propsito de impressionar, demover, etc.:
Ele enfeia o caso para que ns no vamos. Detur- par desfigurar
deprimindo, profanando, ofendendo o pudor. Desnaturar alterar a
natureza, o modo de ser normal. Cor- romper pr fora do estado de
pureza prpria. Deteriorar alterar danifican- do, fazendo pior ou
imprestvel. Estra- gar enuncia a ideia geral de destruir, ou de
transformar piorando. Perverter mudar para mal (Aul.)
transtornando; estragar o que era puro. Viciar , aqui, menos que
perverter, se bem que enuncie igualmente a ideia de estragar, ou de
fa- zer que uma coisa no seja ou no se faa to bem como devia
fazer-se. Adulterar fazer mudar alguma coisa falseando-a, pondo-a
fora do seu estado prprio, depri- mindo-a com perfdia. Desvirtuar
sig- nifica, em geral, tirar a virtude, o mrito, o brilho, o valor
prprio de alguma coisa. Depravar perder as qualidades que ti- nha;
estragar desvirtuando, perverter com escndalo. Dizemos:
Abastarda-se uma ge- rao; degenera uma famlia, um indivduo ou uma
raa; desfigura-se um texto tirando-lhe as belezas prprias da lngua;
deforma-se uma fi-
29. 22 Rocha Pombo gura fazendo-a monstruosa; deturpa-se a me-
mria de algum; desnatura-se o homem no vcio ou no crime;
corrompe-se o po exposto umidade, ou corrompe-se o menino nas ms
companhias; deteriora-se o carter fraco em luta com a misria; o
tempo devastador es- traga formosura, e, no entanto, para que se
pervertam almas basta s vezes um instante; as melhores ndoles
viciam-se fora do lar; adul- teram as nossas palavras quando as
transmi- tem infielmente de propsito; desvirtuam as nossas intenes
quando as interpretam de m-f; deprava-se um indivduo, uma nao pelos
erros, pelos desregramentos, pelos crimes. 26 ABASTAR, abastecer;
fornir, fornecer; mu- nir, municiar, municionar; ministrar, sub-
ministrar; prover, aprovisionar. Abastar significa propriamente
prover do bastante, do indispensvel; e abastecer abastar
gradualmente, prover pouco a pouco e com regularidade. O grande
comboio abastou ento a praa, e dali em diante foi ela sen- do
abastecida pelos lavradores dos arredores. S os colonos vizinhos
abastecem (e no abastam) o nosso mercado. As colheitas excepcionais
daquele ano abastaram (e no abasteceram) toda a provncia. Entre
for- nir e fornecer nota-se a mesma relao que entre abastar e
abastecer. Fornir prover do necessrio, e por uma determinao pr-
pria, ou em obedincia a uma ordem, ou em cumprimento de um dever ou
de um con- trato; e fornecer uma forma extensiva de fornir. A
caravana, ao passar, que nos for- niu de po: agora o que preciso
ver quem no-lo fornea regularmente. Diremos tam- bm: O menino est
bem fornido (e no fornecido) de carnes e com boas cores. Ns sempre
nos fornecemos (e no fornimos) de tudo aqui mesmo no bairro. Munir
sig- nifica propriamente prover de armas e ou- tras coisas que
tornem forte, ou que habili- tem a defender-se. Munem-se as praas
de guerra esperando o inimigo. Muniram-se de documentos contra a
calnia. Munam- -se todos de roupas de l para o inverno. E at de
pacincia vou munir-me para sofrer aquele biltre. Municiar e
municionar so formaes vernculas de municio, o primeiro, e de munio,
o segundo. Mu- niciar prover de munies para um certo tempo, para
uma diligncia. Municionar abastar de munies de toda ordem, e nem
sempre com fim especial e imediato, nem para prazo certo. Vai bem
municiada a escolta, ou ficam bem municiadas as duas praas
guardando aquele posto. Quan- do chegamos quela zona assolada pela
seca foi necessrio municionar muitos dos nossos postos, pois
estavam quase todos completa- mente desprovidos de tudo. Ministrar
e subministrar so muitas vezes empregados indiferentemente.
Ministrar, no entanto, significa fornecer, dar, conferir, oferecer,
apresentar, com certa cerimnia, como fun- o prpria ou dever de
ofcio. A secre- taria ministrar todas as informaes neces- srias ao
juiz. Ele nos ministrou todas as coisas de que precisvamos.
Subministrar diz Bruns. fazer com que alguma coi- sa chegue ao
poder de algum que necessita dela para se sustentar: Os americanos
sub- ministravam armas aos insurretos cubanos. Notemos ainda que
subministrar sugere ideia de ao clandestina, ou pelo menos de
intuito que se procura dissimular ou enco- brir. Prover o mais
compreensivo dos do grupo, e de predicao mais imprecisa e vaga;
significa fornecer, munir, como por necessidade de acautelar o
futuro ou preve- nir algum mal. Aprovisionar abastar de provises,
quaisquer que sejam estas. Aprovisiona-se de gua, de po ou de carne
uma praa onde havia necessidade de algum desses artigos.
Poder-se-ia ainda dizer sem
30. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 23 deslize da
pura vernaculidade: Aprovisionar de plvora a praa. No se daria o
mesmo, porm, se se dissesse: Municionar de gua ou de po a praa;
pois municionar tem predicao mais restrita. Proviso (rad. de
aprovisionar) tudo quanto convm, como no exemplo, aos que guarnecem
a praa; e mu- nio (rad. de municionar) tudo que se aplica
diretamente defesa da praa. 27 ABATER, cair, desmoronar, aluir,
desabar, despenhar-se, precipitar-se, ruir, tombar. Abater baixar
ou cair a prumo diz Bruns., rpida e inesperadamente: Aba- teu o
telhado; Abateu a terra em torno. Cair , dos do grupo, o verbo de
sentido mais geral: enuncia a ideia de deixar uma coisa, e mais ou
menos rapidamente, o lugar em que estava para vir a lugar mais
baixo. Cai a casa; cai o balo que j estava no ar; caiu chuva; caiu
um raio sobre a torre; caiu o chapu de cima da mesa. Desmoronar ir
desfazendo-se (Bruns.) e caindo pouco a pouco; mas deve aplicar-se
s a coisas de grande volume, como grossos muros, vas- tas
construes, montanhas, etc. Desmo- ronam-se castelos; e at, no
sentido figura- do, desmoronam-se esperanas ou iluses... Aluir
abalar-se, desprender-se e sair do lugar em que estava. A parede
aluiu com as chuvas. Desabar significa propriamente abater em torno
com fracasso, cair a aba ou a beira. Desabou a fachada de um edif-
cio; desabou a barranca, etc. Despenhar- -se vir abaixo
desprendendo-se de gran- de altura (segundo a etimologia cair do
alto de rochedo). Despenha-se a avalanche inundando toda a vrzea.
Precipitar-se lanar-se com violncia de cima para baixo, cair com
mpeto em lugar profundo. Da- quela medonha altura precipitou-se o
monstro no abismo e desapareceu. Ruir cair, abater com estrondo.
Ruiu todo o edif- cio abalando a redondeza. Ouvia-se c de baixo o
ruir dos cedros l no Lbano. Tombar cair com fracasso, lanar-se para
um lado estendendo-se; e sugere a ideia de que volumosa a coisa que
tomba, ou a de que extraordinria e sensacional a queda. No se diria
com propriedade: Tombou-lhe dentre os dedos o charuto; ou Deixei
tombar o lpis. Mas diremos: Tom- bam rochedos; Tombam rvores;
Ouviu- -se a descarga e o msero tombou... 28 ABATER, deitar abaixo,
derribar, demolir, destruir, arrasar, desfazer, desmanchar,
derruir, arruinar, estragar, desmantelar, derrocar, aniquilar.
Compara assim, Bruns., o verbo abater e a forma perifrs- tica pr ou
deitar abaixo: Diferenam-se em que abate-se uma coisa para que
deixe de existir, e deita-se abaixo, tanto para esse fim, como para
tornar a levantar, renovando ou transformando: manda-se abater a
rvore que intercepta a vista, e deita-se abaixo aque- la que se
quer substituir; abate-se a fortaleza que no convm deixar de p;
deita-se abaixo a muralha que se quer reconstruir. En- tendemos que
derribar, pelo menos tanto como abater, se aproxima de deitar
abaixo. Derribar fazer cair, tirar de cima para baixo.Tanto se
derriba a rvore, como a mu- ralha, como o castelo. Demolir desfa-
zer pouco a pouco uma vasta construo; e aproxima-se de destruir,
que tambm signi- fica propriamente desfazer o que foi cons- trudo.
Mas esta ideia melhor expressa ainda pelo primeiro, demolir.
Podemos dizer sem grave ofensa ndole da lngua: A artilheria inimiga
destruiu a colina (isto desarranjou-lhe a estrutura); nem tanto,
porm: A artilheria demoliu..., etc.; pois s suscetvel de demolir-se
o que foi construdo. Destruir , portanto, como dissemos, fazer que
uma coisa deixe de ser
31. 24 Rocha Pombo o que era desarranjando-lhe a estrutura.
Arrasar destruir completamente uma coisa (um edifcio, uma cidade,
uma flo- resta, um monte) at que fique rasa com o cho. Tito arrasou
Jerusalm. Desfazer , como bem define Aul., mudar o estado de uma
coisa de modo que no seja mais o que era. , portanto, verbo de
sentido muito geral. Tanto se desfaz um muro, como se desfaz um n,
como se desfaz um exrcito, uma fortuna, um enredo, etc. Desman-
char tambm desfazer, mas sem ideia necessria de destruir. No h
dvida que se desmancha uma intriga, como se desmancha um muro, uma
cerca (isto se desfaz, ou mesmo se destri); mas podemos tambm
desmanchar um aparelho, e at uma casa, conservando-lhes as peas
para arm-las de novo. Derruir (ou deruir) pr abaixo abalando,
destruir com fracasso. Derru- ram em poucas horas as muralhas do
forte. Arruinar estragar e reduzir a runas. Arruinaram depressa
todo um quarteiro da cidade. Estragar desfazer, ou mesmo destruir
assolando. O bombardeio estragou enormemente a cidade. Desmantelar
, em geral, desguarnecer um objeto daqui- lo que o protege ou que
lhe essencial; e em sentido mais restrito estragar, demolir as
fortificaes de uma praa, ou os muros ou paredes de um edifcio.
Desmantela-se uma fortaleza arruinando-lhe as muralhas;
desmantela-se um exrcito desfazendo-lhe a parte mais forte,
dividindo-o, privando-o de unidade de comando e de ao; desman-
tela-se uma corporao que se desagrega e fica sem ter quem a dirija
e represente. Derrocar (ou derocar) derribar com es- trondo,
demolir grandes moles (rochedos, montanhas, construes). Derrocam-se
mu- ralhas, como figuradamente se derrocam grandezas, instituies,
etc. Aniquilar destruir reduzindo a nada. Com tais erros
aniquila-se a obra de muitas geraes. Carregando impetuosos,
aniquilaram num momento o inimigo. 29 ABATER, descontar, minuir,
deminuir, deduzir, subtrair. Abater, neste grupo, significa deduzir
de uma certa importn- cia uma outra que se combinou no fosse paga:
Abateu 20 0/0 nas compras que fiz; preciso abater do ordenado do ms
o que corresponde aos dias da licena. Descon- tar propriamente
deduzir de uma conta, ou deixar de meter em conta; e por exten- so:
abater de uma quantia uma outra que j foi paga ou que no deve ser
paga. Que da soma maior do dote se descontaria todo o oiro, prata e
joias que a infanta consigo le- vasse (Fr. L. de Souza).
Descontam-se letras e outros papis de crdito. Os ttulos, ou as
cdulas do tesouro a recolher j sofrem desconto (e no abatimento).
Minuir fa- zer menor; e deminuir (ou diminuir) fazer menor uma
quantidade tirando dela uma outra quantidade. Minuir , portan- to,
quase o mesmo que minguar ou fazer minguar. Vai o tempo inexorvel
minuindo aquela robustez. Do total a que chegou suponho que preciso
deminuir alguma coi- sa. Deduzir d ideia genrica de abater, de
tirar uma coisa da outra, quer se trate de quantias, quer de
quantidades em geral. Deduzam da nossa dvida a importncia dos
servios que temos prestado. J deduziu da nota as parcelas que
estavam marcadas? Subtrair , aqui, o mesmo que deminuir,
consistindo apenas a diferena entre os dois em poder subtrair
aplicar-se somente a nmeros. 30 ABATIMENTO, depresso, languidez,
desfalecimento, desmaio, esmorecimento, esvaecimento, esvaimento,
acabrunha- mento, acobardamento, definhamento,
32. Dicionrio de Sinnimos da Lngua Portuguesa 25 debilitao,
enfraquecimento, prostrao, desalento, alquebramento, desnimo, de-
sesperao (desesperana e desespero), de- lquio. Segundo Bruns.
Abatimento e prostrao dizem-se do corpo e do esp- rito; desalento,
desnimo e desesperao dizem-se s do esprito. Abatimento o estado em
que fica uma pessoa por efeito de grande dor ou choque (se moral)
ou de doena grave ou prolongado sofrimento fsico. Depresso o
abaixamento de foras produzindo abatimento do corpo e do esprito.
Languidez o estado de fraqueza, tdio e abandono em que fica um
doente. Desfalecimento a perda de foras e de coragem. Desmaio ser
um desfalecimento sbito, perda de lucidez em consequncia de
desfalecimento. Esmorecimento quase desmaio; mas mais lento e
extenso. Pode-se esmorecer su- bitamente; mas decerto que se no
dir: desmaiou subitamente, pois a ideia de subitaneidade j est
contida em desmaiar. Esvaecimento ser um desmaio muito subtil, um
quase esmorecimento muito r- pido, instantneo. No foi propriamente
desmaio o que ela teve, mas um simples es- vaecimento. Esvaimento
(do mesmo rad. vanescere) o desfalecimento produzido por exausto (e
tanto no sentido moral como no fsico). Daqueles sessenta anos de
es- vaimento, levanta-se Portugal como por um prodgio...
Acabrunhamento o esta- do de fadiga, opresso, tristeza, desnimo,
produzido por dores fsicas ou morais, por trabalhos, doenas ou
misria. S a mor- te por termo a todo aquele acabrunhamento.
Acobardamento a depresso de nimo, produzida por medo, por falta de
coragem para arrostar um embarao, ou vencer um mal ou um
sofrimento. Definhamen- to, debilitao e enfraquecimento expri- mem
tambm diminuio de foras (tanto tratando-se do corpo como do
esprito). O organismo que se extenua por trabalho, ou por doena ou
desgosto, definha; o que se imobiliza ou no tem regra na vida,
debilita- -se; o que no se nutre convenientemente enfraquece.
Anlogas aplicaes no sentido moral: a saudade, o amor, o remorso,
etc., podem produzir definhamento em almas extre- mamente sensveis;
no h esperana, co- ragem, fortaleza moral, que no esteja sujei- ta
a profundas debilitaes em certas crises...; uma consequncia
necessria da crpula o enfraquecimento do esprito. Prostrao diz mais
que os trs precedentes: o ex- tremo abatimento, em que se fica sem
ao, entregue inteiramente dor, ao cansao ou fraqueza. Desalento a
falta de foras (fsicas ou morais, principalmente morais) produzida
por trabalhos, desiluses, etc. Alquebramento diminuio, quebra de
foras ou de nimo: Os meus alquebra- mentos no vo at o extremo de
desalentar-me para a vida; A doena alquebrou-a; mas no chegou a
feri-la de desalento para as coisas de arte. Desnimo e desesperao,
sim s se dizem (como no entender de Bruns.) do esprito: desanimar e
desesperar mar- cam fenmenos da vida subjetiva. Desanima aquele que
deixa de sentir a indispensvel coragem para vencer um embarao,
superar algum contratempo, ou sofrer alguma coi- sa. Quanto a
desnimo e desalento diz Bruns. que podem confundir-se: ambos
significam falta de nimo, de coragem, de energia; o desalento,
porm, refere-se me- lhor perda da esperana, e o desnimo perda da
coragem. O desnimo pode ser originado pela pusilanimidade: o
desalento funda-se na experincia. o desnimo que nos arreda de
encetarmos a empresa: o de- salento que nos induz a no continuar o
que no nos deu os resultados que espervamos obter. Desesperao o
auge do desalen- to diz ainda Bruns. Desespera aquele que perde de
todo a coragem e a esperana.
33. 26 Rocha Pombo preciso distinguir as trs formas deses-
perao, desesperana e desespero. Deses- perana apenas a falta, a
privao de toda esperana. Desespero significa mais a raiva, o
desvario de quem se desengana de alguma coisa. Desesperao a aflio,
a angstia em que fica quem perdeu a esperana. A desesperana de quem
viveu sem pensar no destino pode chegar desesperao de morte
horrvel, atormentada de todos os desespe- ros do precito. Delquio
aproxima-se de desmaio e de esvaimento: o estado em que fica uma
pessoa que desfalece como se se dissolvesse. No h fortes que no
tenham seus delquios na vida. 31 ABDICAR, renunciar, demitir-se,
exone- rar-se, desobrigar-se, rejeitar, recusar, re- signar,
desistir, largar, abandonar, ceder. Abdicar renunciar, em favor ou
pro- veito de algum, alguma dignidade ou alto cargo, tirar de si
por vontade ou a contra- gosto, despojar-se de alguma honra ou al-
gum proveito antes de tempo. Abdica o rei o seu trono em favor de
outrem. Renun- ciar depor voluntariamente, ou no querer coisa a que
se tem direito, ou em cuja posse se estava legitimamente.
Renunciam- -se (e no abdicam-se) riquezas. Renunciai instintos
ignbeis (MontAlverne). De- mitir-se deixar de permanecer no car-
go, no posto. Como no lhe atenderam aos reclamos, demitiu-se ele
prprio daquelas funes. Exonerar-se tambm demi- tir-se, mas sugere a
ideia de que se alivia de peso, ou encargo ou tarefa pesada, o que
se exonera. Quem se demite pe-se fora do lugar em que