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CANA-DE-AÇÚCAR ENSILADA COM ÓXIDO DE
CÁLCIO OU UREIA EM DIETAS PARA OVINOS
ALBERTI FERREIRA MAGALHÃES
UESB
CANA-DE-AÇÚCAR ENSILADA COM ÓXIDO DE
CÁLCIO OU UREIA EM DIETAS PARA OVINOS
ALBERTI FERREIRA MAGALHÃES
2011
ALBERTÍ FERREIRA MAGALHAES
CANA-DE-AÇÚCAR ENSILADA COM ÓXIDO DE CÁLCIO OU UREIA EM DIETAS
PARA OVINOS
Tese apresentada à Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia, como parte das exigências do Programa de Pós-
Graduação de Doutorado em Zootecnia, Área de
Concentração em Produção de Ruminantes, para obtenção
do título de “Doutor”.
Orientador:
Prof. DSc. Aureliano José Vieira Pires
Co-orientadores:
Prof. DSc. Gleidson Giordano Pinto de Carvalho
Prof. DSc. Fabiano Ferreira Silva
ITAPETINGA
BAHIA – BRASIL
2011
636.0862
M164c
Magalhães, Alberti Ferreira.
Cana-de-açúcar ensilada com oxido de cálcio ou uréia em dietas para
ovinos./ Alberti Ferreira Magalhães. – Itapetinga-BA: UESB, 2011.
133p.
Tese do Programa de Pós-Graduação de Doutorado em Zootecnia da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB - Campus de
Itapetinga. Sob a orientação do Prof. D.Sc. Aureliano José Vieira Pires e co-
orientadores Prof. D.Sc. Gleidson Giordano Pinto de Carvalho e Prof. D.Sc.
Fabiano Ferreira da Silva.
1. Ovinos - Cana-de-açúcar - Ensilagem – Digestibilidade. 2. Ovinos –
Dieta – Ensilagem de cana-de-açúcar. 3. Cana-de-açúcar - Ensilagem –
Oxido de cálcio - Uréia. I. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia -
Programa de Pós-Graduação de Doutorado em Zootecnia, Campus de
Itapetinga. II. Pires, Aureliano José Vieira. III. Carvalho, Gleidson
Giordano Pinto de. IV. Fabiano Ferreira da Silva. V. Título.
CDD(21): 636.0862
Catalogação na Fonte:
Adalice Gustavo da Silva – CRB 535-5ª Região
Bibliotecária – UESB – Campus de Itapetinga-BA
Índice Sistemático para desdobramentos por Assunto:
1. Ovinos - Cana-de-açúcar - Ensilagem – Digestibilidade 2. Ovinos – Dieta – Ensilagem de cana-de-açúcar
3. Cana-de-açúcar - Ensilagem – Oxido de cálcio - Uréia
A DEUS, força de todo o Universo, Criador, Pai eterno. Está sempre ao meu lado,
nunca desampara, sempre protegendo-me e ajudando em todos os momentos.
Aos meus pais, Milton Souza Magalhães e Marival Ferreira Sacramento
Magalhães (in memoriam), grande exemplo de luta para criar todos os filhos.
Às minhas queridas filhas, Larissa e Fernanda, pelo grande incentivo, respeito e
admiração recíproca, sou grato a Deus por tê-las como filhas.
À minha querida e amada esposa, Dilze, por todo incentivo, companheirismo,
amizade e convivência, pois são muitos anos de luta, alegrias e tristezas,
aprendemos a estar sempre prontos para vencer cada vez mais e nunca desistir.
Você sempre esteve ao meu lado nas dificuldades e sempre acreditou que tudo
pode ser possível.
Aos meus queridos irmãos, pela grande amizade, respeito, e por confiar e torcer
sempre por mim.
DEDICO
AGRADECIMENTOS
A DEUS, por ter permitido que chegasse até aqui, concedendo-me vida, saúde e muita
paz;
À Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) que, por meio do Programa de
Pós-Graduação em Zootecnia, concedeu-me oportunidade para realização deste curso, além
da disponibilidade das instalações (Laboratório de Forragicultura e Pastagens, Nutrição
Animal, ENOC - Ensaios Nutricionais de Ovino e Caprino e ao laboratório de Fisiologia
Animal);
À Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) que oportunizou fazer
às disciplinas do doutorado, através da Escola Média de Agropecuária Regional da CEPLAC
(EMARC-Itapetinga), e à Direção da escola, em especial à Profª Iraildes Moreira Santos e ao
Prof. Guilherme Rosa e Silva;
Ao professor Aureliano José Vieira Pires, pela orientação incondicional, pela amizade,
pelos constantes ensinamentos, pelo apoio financeiro para implantação e condução de todas as
fases do experimento e análises;
Ao professor Gleidosn Giordano Pinto de Carvalho, pela co-orientação, pela amizade,
pelas sugestões e ajuda na execução das análises estatísticas, condução do experimento,
mostrando-se sempre acessível a todo o momento que solicitei;
Ao professor Fabiano Ferreira da Silva, pela co-orientação, amizade, simplicidade,
sugestões e correção da tese;
À professora Mara Lúcia Albuquerque Pereira, pelo apoio disponibilizado pelas suas
bolsistas de Mestrado e Iniciação Cientifica, Alana e Jeruzia, para realização das análises
químicas no Laboratório de Fisiologia Animal;
Aos colegas Geraldo Trindade e Ronaldo Silva, compadres, e Raimundo Nonato, por
serem sempre grandes companheiros de luta, no período em que estivemos na EMARC, e pela
amizade em todas as horas;
Aos colegas Damião, “Sampa” e Hamilton “Negão”, que ajudaram bastante para
instalação do projeto, muito obrigado;
A todos os colegas da EMARC-IT que foram parte integrante desta minha caminhada,
nestes anos;
Aos colegas do Doutorado, Antônio Marcio, Aires, Fabio Teixeira, Jacqueline, José
Nobre, Luciana, Lucas, Liziane, Mauricélia, Paulo Valter, Rogério Murta, pelos momentos
agradáveis, debates e discussões, agradeço a vocês por serem meus colegas e amigos;
Aos colegas zootecnistas da graduação e Pós-Graduação, bons amigos em todos os
momentos;
A todos os professores do doutorado, que foram exemplos de dedicação,
responsabilidade, admiração, respeito e compromisso na formação da primeira turma de
doutores formados na Bahia em Zootecnia;
À professora Cristiane Leal, por ter disponibilizado as instalações do ENOC para
condução deste estudo, durante todo o experimento;
À professora Carmen Lúcia Rech, por ter disponibilizado o Laboratório de Nutrição
Animal para realização de algumas análises laboratoriais;
Ao professor Jair de Araújo Marques, pela amizade, por ter participado da banca de
qualificação e pelo grande exemplo de perseverança e profissionalismo;
À professora Cristina Mattos Veloso, grande exemplo de dedicação e competência,
sempre serena e tranquila nos seus ensinamentos. Saudades...
Aos colegas e amigos, Daiane Chagas (mestranda), Carlos Nascimento (Zecão), Aline
Oliveira, Bolsistas de Iniciação Cientifica de Pastagens, Pablo Viana (Buda), Daiane Alencar,
Ana, Murilo Gordo (Maiquinique), Alaide (bactéria), Hugo (tamborete) e Milena (Helena de
Tróia), por terem participado e apoiado, sem restrições, a todo o momento, em todas as etapas
de realização, desde a implantação, condução, coleta de dados e análises químicas;
Ao Dr. José Marques Pereira, por possibilitar a confecção das amostras no Laboratório
do CEPEC e pela compreensão para conclusão da Tese;
Ao Waldemar Barreto e demais colegas do Laboratório de Análises de Tecidos Vegetais
do CEPEC, pelos resultados das amostras de minerais, muito importantes para a conclusão do
trabalho;
Ao colega Uilson Lopes Wanderley, pela revião do Inglês;
À colega Maria das Graças Brito dos Santos, pela grande ajuda e paciência na
formatação deste trabalho;
Ao Sr. José (Zé), funcionário do Laboratório de Forragicultura e Pastagens, pela
amizade e por ter dado todo apoio, sem restrições de hora e dia, nas análises laboratoriais;
Aos colegas, Jairo e Tafarel da EMARC-IT, sempre prestativos e disponíveis para
execução de tarefas previstas no projeto;
Aos Produtores, Fabian Ferreira e Graça, sua mãe, da cidade de Maiquinique, que
sempre estiveram disponíveis em oferecer sua propriedade para o bem da ciência. Muito
obrigado!
Aos colegas zootecnistas da graduação, do mestrado e do doutorado, que estiveram
presentes a todo o momento, com boas conversas, boas histórias, muita descontração e ajuda
durante a condução deste experimento. Meus agradecimentos!;
Ao funcionário do Setor de Ovinocultura e Suinocultura, Jesulino (Barriga), pelo
grande apoio, no início, com os animais do experimento;
Ao grande amigo Mario Camarão, que nunca se furtou em apoiar e disponibilizar
recursos materiais e humanos para execução de todas as fases do projeto;
Aos funcionários de campo, que não mediram esforços para ajudar na execução das
tarefas, tão importantes no início deste projeto;
Aos funcionários da bovinocultura (Juraci e Pelé), que tanto se disponibilizaram, bem
como por disponibilizar as instalações do setor para execução de algumas atividades do
projeto;
Aos vigilantes das instalações dos caprinos e suínos, pelos momentos de conversas
descontraídas, nos fins de semana e feriados;
A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para execução deste
trabalho. Muito Obrigado!
RESUMO
MAGALHÃES, A.F. Cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia em dietas
para ovinos. Itapetinga-BA: UESB, 2011. 133p. (Tese – Doutorado em Zootecnia, Área de
Concentração em Produção de Ruminantes).*
O presente experimento foi conduzido na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
setores dos Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos (ENOC), Laboratório de
Forragicultura e Pastagens, de Nutrição Animal e de Fisiologia Animal, para avaliar a cana-
de-açúcar ensilada com doses de óxido de cálcio 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% ou ureia (1,5%) com
base na matéria natural, em dietas para ovinos. Foram utilizados tonéis de 200 litros para
ensilagem da cana-de-açúcar que foram abertos 30 dias após a ensilagem. O trabalho foi
dividido em cinco capítulos como se segue: No capítulo um, avaliou-se o valor nutritivo da
cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio (CaO) ou ureia. O experimento foi conduzido
em delineamento inteiramente ao acaso, com cinco tratamentos e oito repetições. Os
tratamentos foram: 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de óxido de cálcio e 1,5% de ureia na ensilagem da
cana-de-açúcar, com base na matéria natural. Foram coletadas amostras antes do fechamento
dos silos e 30 dias após a ensilagem. Foi avaliado o grau brix, antes do fechamento dos silos,
e a composição químico-bromatológica da cana-de-açúcar. A matéria seca aumentou
linearmente com o aumento das doses de CaO, enquanto a fibra em detergente neutro e a fibra
em detergente neutro corrigida para cinza e proteína diminuíram com o aumento das doses de
CaO. Os nutrientes digestíveis totais e a digestibilidade in situ da matéria seca aumentaram
com o uso do CaO na ensilagem. Os carboidratos totais apresentaram diferença da silagem
com ureia em relação à silagem com CaO, bem como as frações de rápida degradação e média
degradação no rúmen (A + B1) e a fração indigestível C (FDNi). As perdas da cana-de-açúcar
diminuíram com o aumento das doses de CaO. O uso do óxido de cálcio melhora o valor
nutritivo da cana-de-açúcar ensilada por meio, principalmente, da redução da parede celular,
além de diminuir as perdas, porém, a ureia não melhora o valor nutritivo nem diminui perdas,
melhora apenas o teor de proteína bruta. No capítulo dois, foi avaliado o desempenho de
ovinos alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia. Foram
utilizados 20 cordeiros da raça Santa Inês, com peso médio de 24,0 kg, distribuídos em um
delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos, sendo quatro níveis com
óxido de cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) e um com ureia (1,5%), com base na matéria natural da
cana. Os animais foram alojados em baias individuais com 1,5 m2 e a dieta ofertada teve a
proporção de 70:30 volumoso:concentrado. O período experimental foi de 77 dias, sendo 14
dias de adaptação das dietas e três períodos experimentais de 21 dias. Não foram observadas
diferenças nos consumos médios matéria seca, extrato etéreo, fibra em detergente neutro, fibra
em detergente neutro corrigido para cinza e proteína, carboidratos totais, hemicelulose, e
nutrientes digestíveis totais. Foi verificada diferença para os consumos (kg/dia) de proteína
bruta, fibra em detergente ácido e carboidratos não fibrosos, que diferenciou da silagem com
ureia. Não foi observado efeito para a digestibilidade da matéria seca, extrato etéreo, fibra em
detergente neutro, fibra em detergente ácido, nutrientes digestíveis totais, mas houve efeito
quadrático para a digestibilidade dos carboidratos totais e linear crescente para carboidratos
não fibrosos. Verificou-se elevação do consumo de cálcio à medida que aumentou as doses de
óxido de cálcio na cana-de-açúcar. A razão cálcio:fósforo na silagem com óxido de cálcio foi
diferente das silagens com ureia e sem aditivo. O ganho de peso diário apresentou efeito
quadrático. Silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio ou ureia não melhora o
consumo nem ganho de peso de ovinos. No capítulo três, avaliou-se o balanço de nitrogênio,
excreção de ureia e síntese de proteína microbiana em ovinos alimentados com cana-de-
açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia, sendo que o delineamento e as condições
experimentais foram semelhantes ao relatado no capítulo dois. O N-ingerido e N-digerido na
urina apresentaram diferença entre as silagens de CaO e ureia, e apresentaram efeito linear
decrescente da silagem de cana-de-açúcar com CaO. Foi observado efeito linear decrescente
para o N-urina (g/dia). Houve diferença para as concentrações de N-ureico na urina e no
plasma em relação às silagens de CaO e de ureia, que apresentou efeito quadrático crescente e
decrescente, respectivamente, para as doses de CaO. As excreções (g/dia e mg/kg PV) de
ureia na urina e N-ureico na urina foram semelhantes em relação às silagens com CaO e ureia.
As excreções urinárias (mmol/dia) apresentaram efeito quadrático para alantoína e ácido
úrico. Os derivados de purina (% das purinas totais) apresentou diferença para o alantoína e
ácido úrico na silagem com CaO em relação à silagem com ureia. Houve diferença para a
produção microbiana entre as silagens com CaO e com ureia. A eficiência microbiana (g
PB/kg NDT) apresentou diferença entre as silagens com CaO e com ureia e efeito quadrático
para doses de CaO. As dietas com óxido de cálcio apresentam baixa ingestão de proteína bruta
e dos compostos nitrogenados microbianos, e ainda reduz a eficiência microbiana. A ureia
apresenta melhor eficiência de produção dos compostos nitrogenados, retendo mais
nitrogênio, e também melhora a produção microbiana. As excreções de ureia na urina, as
purinas e a produção microbiana não são influenciados pelo uso de óxido de cálcio. No
capítulo quatro, avaliou-se o comportamento ingestivo de ovinos alimentados com cana-de-
açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia, cujo delineamento experimental, animais e
manejo alimentar usados foram os mesmos descritos no capítulo dois. Não foi observada
diferença para consumo em kg de MS (matéria seca) e de FDN (fibra em detergente
neutro)/dia. Verificou-se que a alimentação em minutos/dia e minutos/kg de MS e FDN de
alimentação e ruminação foram semelhantes. Houve diferença, com regressão linear para a
mastigação em horas/dia e para ócio em minutos/dia entre as doses de óxido de cálcio. A
eficiência de alimentação ruminação (g de MS e FDN/hora) não apresentou efeito. Não houve
diferença para alimentação, ruminação e ócio nº de períodos/dia e para alimentação e
ruminação do tempo gasto por período (minutos). Entretanto, houve efeito linear crescente
para o ócio. O consumo médio/período de alimentação em kg de MS e FDN não apresentaram
diferença. Silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio ou ureia, fornecidos a ovinos, não
afeta os tempos de alimentação e ruminação dos animais. Dietas para ovinos confinados
contendo cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia diminuem a ruminação e
mastigação e aumenta o ócio dos animais. No capítulo cinco, avaliou-se o intervalo de
registro do comportamento ingestivo de ovinos, cujo delineamento experimental, animais e
manejo alimentar usados foram os mesmos descritos no capítulo dois. Os animais foram
observados por um período de 24 horas/dia no final do terceiro período experimental. Foram
testados os intervalos de 10, 15 e 20 minutos, comparado com o registro de observação de
cinco minutos. O uso de óxido de cálcio ou ureia, no tratamento da cana-de-açúcar ensilada,
não modificou os tempos diários de alimentação, ruminação e ócio, bem como a eficiência de
refeição e ruminação. Houve efeito no número de períodos e no tempo gasto/período de
alimentação, ruminação e ócio, nos demais intervalos em relação ao de 5 minutos. Intervalos
entre observações de 10, 15 e 20 minutos comprometem a avaliação dos resultados do
comportamento ingestivo de ovinos por afetar o número de períodos e tempo despendidos nas
atividades de alimentação, ruminação e ócio. Recomenda-se o intervalo de cinco minutos
entre observações para estudo do comportamento ingestivo em ovinos.
Palavras-chave: brix, consumo, comportamento ingestivo, eficiência microbiana, ruminação.
* Orientador: Aureliano José Vieira Pires, D.Sc., UESB e Co-orientadores: Gleidson Giordano
Pinto de Carvalho, D.Sc., UFBA, Fabiano Ferreira da Silva, D.Sc., UESB.
ABSTRACT
Magalhaes, A.F. Sugar cane ensiled with urea or calcium oxide in diets. Itapetinga-BA:
UESB, 2011. 133p. (Thesis - Ph.D. in Animal Science, Area of Concentration in Ruminants
Production).*
This experiment was conducted at the State University of Southwest Bahia, sectors of
Nutritional Tests of Sheep and Goats (ENOC), Laboratory of Forage and Pasture, Animal
Nutrition and Animal Physiology, to evaluate the sugar cane ensiled with doses calcium oxide
0.0, 0.8, 1.6 and 2.4% or urea (1.5%) based on natural materials in diets for sheep. We used
barrels of 200 liters for the ensiling sugar cane that were open 30 days after ensiling. The
work was divided into five chapters as follows: In chapter one we evaluated the nutritional
value of sugar cane ensiled with calcium oxide (CaO) or urea. The experiment was conducted
in completely randomized design with five treatments and eight repetitions. The treatments
were: 0.0, 0.8, 1.6 and 2.4% calcium oxide and 1.5% urea at ensiling of sugar cane, based on
natural matter. Samples were collected before the closing of the silos and 30 days after
ensiling. The degree brix, before closure of the silos. We assessed the chemical composition
of cane sugar. The dry matter increased linearly with increasing doses of CaO, while the
neutral detergent fiber and neutral detergent fiber corrected for ash and protein decreased with
increasing doses of CaO. The total digestible nutrients and in situ digestibility of dry matter
increased with the use of CaO in silage. The total carbohydrates were differences of silage
with urea in relation to silage with CaO, as well as the rapid degradation of fractions and
average degradation in the rumen (A + B1) and indigestible fraction C (iNDF). The losses of
cane sugar decreased with increasing doses of CaO. The use of calcium oxide improves the
nutritive value of sugar cane ensiled by means of the decrease of the cell wall, and reduce
losses, however, urea does not enhance or diminish the nutritional value loss, enhances only
the content crude protein. In Chapter Two The performance of sheep fed sugar cane ensiled
with urea or calcium oxide. The study of 20 Santa Inês lambs, with an average weight of 24.0
kg, allotted to a completely randomized design with five treatments, four levels with calcium
oxide (0.0, 0.8, 1.6 and 2.4%) and urea (1.5%), the fresh natural cane. The animals were
housed in individual stalls with 1.5 m2 and The diet was offered the 70:30 ratio
roughage:concentrate. The experiment lasted 77 days, 14 days of adaptation to diets and three
experimental periods of 21 days. There were no differences in mean intakes dry matter, ether
extract, neutral detergent fiber, neutral detergent fiber corrected for ash and protein,
carbohydrate, hemicellulose, and total digestible nutrients. We noticed a difference to the
intake (kg/day) of crude protein, acid detergent fiber and non-fibrous carbohydrates, which
differed from silage with urea. No effect was observed for digestibility of dry matter, ether
extract, neutral detergent fiber, acid detergent fiber, total digestible nutrients, but there was a
quadratic effect for the digestibility of total carbohydrates and linear increase for non-fiber
carbohydrates. There was increased consumption of calcium in proportion to increased doses
of calcium oxide in cane sugar. The calcium: phosphorus ratio in the silage with calcium
oxide was different from silage with urea without additives. The average daily gain had a
quadratic effect. Silage from sugar cane with doses of calcium oxide or urea does not enhance
the consumption or weight gain of sheep. In chapter three was evaluated nitrogen balance,
excretion of urea and microbial protein synthesis in sheep fed sugar cane ensiled with urea or
calcium oxide, and the design and the experimental conditions were similar to that reported in
chapter two. The N-N-digested and ingested and urine showed differences among silages CaO
and urea, in a linear effect of decreasing silage cane sugar with CaO. Decreasing linear effect
was observed for the N-urine (g/day). There were differences for the concentrations of N-urea
in urine and plasma in relation to silage CaO and urea, which showed quadratic increase and
decrease, respectively, for doses of CaO. The excretions (g/day and mg/kg BW) of urea in
urine and N-urea in the urine were similar in the silage with urea and CaO. The urinary
(mmol/day) responded quadratically to allantoin and uric acid. The purine derivatives (% of
total purine) differ for allantoin and uric acid in silage with CaO for silage with urea. There
were differences in microbial production of silage with urea and CaO. The microbial
efficiency (g CP/kg TDN) showed difference between silage with urea and CaO and a
quadratic effect for doses of CaO. Diets containing calcium oxide have a lower intake of
crude protein and microbial nitrogen compounds, and also reduces the microbial efficiency.
Urea has a better production efficiency of the nitrogen retaining more nitrogen and also
improves the microbial production. The excretion of urea in the urine, purines and microbial
production are not influenced by use of calcium oxide. In chapter four evaluated the feeding
behavior of sheep fed sugar cane ensiled with urea or calcium oxide, where the experimental
design, animals and feeding management used were the same as described in chapter two. No
differences were observed for consumption in kg DM (dry matter) and NDF (neutral detergent
fiber) per day. It was found that food in minutes/day and minute/kg DM and NDF were
similar eating and ruminating. There were differences, with linear regression for mastication
in hours/day and for leisure in minutes/day between doses of calcium oxide. The feeding
efficiency rumination (g DM and NDF/hour) had no effect. There was no difference in eating,
ruminating and idling No time/day and food and time spent ruminating per period (minutes).
However, there was an increasing linear effect for leisure. Average consumption/feeding
period in kg DM and NDF did not differ. Silage from sugar cane with calcium oxide or urea
supplied the sheep, do not affect the times of eating and ruminating animals. Confined sheep
diets containing sugar cane ensiled with urea or calcium oxide decrease rumination and
chewing and increases the idle of the animals. In chapter five we evaluated the logging
interval of ingestive behavior of sheep, where the experimental design, animals and feeding
management used were the same as described in chapter two. The animals were observed for
a period of 24 hours/day late in the third trial. Were tested at intervals of 10, 15 and 20
minutes, compared with the record of observation of five minutes. The use of calcium oxide
or urea in the treatment of sugar cane silage did not change the times daily eating, ruminating
and resting, and the efficiency of meals and rumination. There was an effect on the number of
periods and time spent/feeding, ruminating and resting in the other intervals in relation to five
minutes. Intervals between observations 10, 15 and 20 minutes to undertake evaluation of the
results of feeding behavior in sheep by affecting the number of periods and time spent in
activities of feeding, ruminating and resting. We recommend the five-minute interval between
observations in study of feeding behavior in sheep.
Key words: brix, intake, ingestive behavior, microbial efficiency, rumination
* Supervisor: Aureliano José Vieira Pires, D.Sc., UESB and Co-advisors: Gleidson Giordano
Pinto de Carvalho, D.Sc., UFBA, Fabiano Ferreira da Silva, D.Sc., UESB.
SUMÁRIO
Página
RESUMO
ABSTRACT
CAPÍTULO 1
Composição química, fracionamento de carboidratos e digestibilidade
da cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia........................ 21
Resumo............................................................................................................ 21
Abstract............................................................................................................ 22
1. Introdução.................................................................................................... 23
2. Material e Métodos...................................................................................... 25
3. Resultados e Discussão................................................................................ 28
4. Conclusões................................................................................................... 39
5. Referências ................................................................................................. 40
CAPÍTULO 2
Desempenho de ovinos alimentados com cana-de-açúcar ensilada com
óxido de cálcio ou ureia................................................................................. 43
Resumo............................................................................................................ 43
Abstract............................................................................................................ 44
1. Introdução.................................................................................................... 45
2. Material e Métodos...................................................................................... 46
3. Resultados e Discussão................................................................................ 51
4. Conclusões................................................................................................... 65
5. Referências ................................................................................................. 66
CAPÍTULO 3
Balanço de nitrogênio e síntese de proteína microbiana em ovinos
alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia. 70
Resumo............................................................................................................ 70
Abstract............................................................................................................ 71
1. Introdução.................................................................................................... 72
2. Material e Métodos...................................................................................... 74
3. Resultados e Discussão................................................................................ 80
4. Conclusões................................................................................................... 90
5. Referências ................................................................................................. 91
CAPÍTULO 4
Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com cana-de-açúcar
ensilada com óxido de cálcio ou ureia.......................................................... 95
Resumo............................................................................................................ 95
Abstract............................................................................................................ 96
1. Introdução.................................................................................................... 97
2. Material e Métodos...................................................................................... 99
3. Resultados e Discussão................................................................................ 104
4. Conclusões................................................................................................... 111
5. Referências ................................................................................................. 112
CAPÍTULO 5
Avaliação de intervalos entre observações para estudo do
comportamento ingestivo em ovinos............................................................ 116
Resumo............................................................................................................ 116
Abstract............................................................................................................ 117
1. Introdução.................................................................................................... 118
2. Material e Métodos...................................................................................... 120
3. Resultados e Discussão................................................................................ 125
4. Conclusões................................................................................................... 131
5. Referências.................................................................................................. 132
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1 Página
Figura 1 - Estimativa dos valores de nutrientes digestíveis totais (NDT) e
digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS) da cana-de-
açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.................................... 34
CAPÍTULO 2
Figura 1 - Consumo de cálcio (g/dia) da silagem de cana-de-açúcar com
doses de óxido de cálcio, em dietas para ovinos............................. 56
Figura 2 - Razão do cálcio e fósforo na silagem de cana-de-açúcar com
doses de óxido de cálcio (CaO), em dietas para ovinos ................. 57
Figura 3 - Digestibilidade das frações dos carboidratos totais (CT) da
silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio (CaO),
em dietas para ovinos...................................................................... 62
Figura 4 - Digestibilidade das frações dos carboidratos não fibrosos (CNF)
da silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio
(CaO), em dietas para ovinos.......................................................... 63
LISTA DE TABELAS
CAPITULO 1 Página
Tabela 1 - Composição química-bromatológica da cana-de-açúcar ensilada
com óxido de cálcio ou ureia.......................................................... 26
Tabela 2 - Valores médios, coeficiente de variação (CV%), equação de
regressão e coeficiente de determinação (r2) obtidos das silagens
de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia................. 29
Tabela 3 - Teores médios de carboidratos totais (CT), carboidratos não
fibrosos (A+B1), componentes da parede celular disponível para
degradação ruminal (B2), fração indigestível da parede celular
(FDNi) da cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou
ureia................................................................................................. 35
Tabela 4 - Média das perdas (em kg) na matéria seca e matéria natural da
cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia................... 38
CAPÍTULO 2
Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das
dietas (% da matéria seca)............................................................... 47
Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais.................... 48
Tabela 3 - Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com
óxido de cálcio (CaO) ou ureia....................................................... 49
Tabela 4 - Médias de quadrados mínimos, coeficiente de variação (CV%) e
de determinação (r2) dos consumos (em kg/dia, % do peso vivo e
g/kg0,75
) em ovinos alimentados com dietas contendo silagem de
cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia...................... 52
Tabela 5 - Médias de consumo e excreção de cálcio (Ca), fósforo (P) e da
razão cálcio:fósforo (Ca/P) de ovinos alimentados com silagem
de da cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia............. 55
Tabela 6 - Médias de quadrados mínimos e coeficiente de variação (CV%)
da digestibilidade da matéria seca (DMS), da proteína bruta
(DPB), do extrato etéreo (EE), da fibra em detergente neutro
(FDN), da fibra em detergente ácido (FDA), dos carboidratos
totais (DCT), dos carboidratos não fibrosos e nutrientes
digestíveis totais (NDT) em ovinos alimentados com dietas
contendo silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO)
e ou ureia......................................................................................... 61
Tabela 7 - Ganho do peso diário (GPD), conversão alimentar (CA) e
coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com dietas
contendo silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO)
ou ureia............................................................................................ 64
CAPÍTULO 3
Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das
dietas (% da matéria seca)............................................................... 75
Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais................... 76
Tabela 3 - Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com
óxido de cálcio (CaO) ou ureia....................................................... 77
Tabela 4 - Ingestão de nitrogênio (N-Ingerido), excreção de nitrogênio nas
fezes (N-fezes), nitrogênio digerido (N-Digerido), excreção de
nitrogênio na urina (N-urina), nitrogênio retido (N-retido) e
coeficiente de variação (CV%) em ovinos alimentados com
silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.... 81
Tabela 5 - Concentrações de nitrogênio ureico (N-ureico) na urina e no
plasma, e excreções diárias de ureia e nitrogênio ureico na urina,
coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com
silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.... 85
Tabela 6 - Excreções urinárias, purinas totais e purinas absorvidas,
derivados de purinas, produção e eficiência microbiana e
coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com
silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.... 89
CAPÍTULO 4
Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das
dietas (% da matéria seca)............................................................... 100
Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais................... 101
Tabela 3 - Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com
óxido de cálcio (CaO) ou ureia....................................................... 102
Tabela 4 - Consumos de matéria seca (CMS) e consumo de fibra em
detergente neutro (CFDN) das atividades de alimentação,
ruminação e ócio, e coeficiente de variação (CV%) de ovinos
alimentados com silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio
(CaO) ou ureia................................................................................. 106
Tabela 5 - Eficiências de alimentação e ruminação, e coeficiente de
variação (CV%) em ovinos alimentados com dietas contendo
silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou
ureia................................................................................................. 108
Tabela 6 - Número e tempo médio despendido por período nas atividades de
alimentação, ruminação e ócio, e consumo de MS e FDN por
período de alimentação e coeficiente de variação (CV%) de
ovinos alimentados com dietas contendo silagem de cana-de-
açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.................................... 110
CAPÍTULO 5
Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das
dietas (% na matéria seca)........................................................ 121
Tabela 2 - Valores médios de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra
em detergente neutro (FDN), proteína indigestível em detergente
neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN),
fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína
(FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), extrato....................... 122
Tabela 3 - Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com
óxido de cálcio (CaO) ou ureia....................................................... 123
Tabela 4 - Atividades de alimentação, ruminação, mastigação e ócio em
função dos diferentes intervalos entre observações (5, 10, 15 e 20
minutos) e coeficiente de variação (CV) em ovinos alimentados
com dieta contendo cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO)
ou ureia............................................................................................ 126
Tabela 5 - Eficiências em alimentação e ruminação em função dos
diferentes intervalos entre observações e coeficiente de variação
(CV%) em ovinos alimentados com dieta contendo cana-de-
açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.................................... 128
Tabela 6 - Número e tempo despendido por período nas atividades de
alimentação, ruminação e ócio, e consumo de MS e FDN por
período de alimentação em função dos diferentes intervalos entre
observações e coeficiente de variação (CV%), em ovinos
alimentados com dieta contendo cana-de-açúcar com óxido de
cálcio (CaO) ou ureia...................................................................... 129
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Sigla Designação
ARC Agricultural Research Council
AFRC Agricultural and Food Research Council
AGV Acido graxos voláteis
CA Conversão alimentar
Ca Cálcio
CaO Óxido de cálcio
CEL Celulose
CEPEC Centro de Pesquisa do Cacau
CEPLAC Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
CFDN Consumo de fibra em detergente neutro
CHO Carboidratos solúveis
CIDN Cinza indigestível em detergente neutro
CMS Consumo de matéria seca
CNCPS Cornell Net Carbohydrate and Protein System
CNE Carboidratos não estrutrurais
CNF Carboidratos não fibrosos
CNFD Carboidratos não fibroso digestível
CO2 Gás carbônico
CONAB Compainha Nacional de Abastecimento
CT Carboidratos totais
CV Coeficiente de variação
DIC Delineamento Inteiramente Casualizado
DISMS Digestibilidade in situ da matéria seca
DIVMS Digestibilidade in vitro da matéria seca
DP Derivados de purinas
EALFDN Eficiência de alimentação da fibra em detergente neutro
EALMS Eficiência de alimentação da matéria seca
ECCT Excreção de cretinina coleta total
EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético
EE Extrato etéreo
EED Extrato etéreo digestível
EMARC Escola Média de Agropecuária Regional da Ceplac
ENOC Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos
ERU Eficiência de ruminação
ERUFDN Eficiência de ruminação da fibra em detergente neutro
ERUMS Eficiência de ruminação da matéria seca
FDA Fibra em detergente ácido
FDN Fibra em detergente neutro
FDNcp Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína
FDNcpD Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína digestível
FDNi Fibra em detergente neutro indigestível
GPD Ganho de peso diário
H2SO4 Ácido sulfúrico
HEM Hemicelulose
LIG Lignina
MN Matéria natural
MS Matéria seca
MSi Matéria seca indigestível
NaOH Hidróxido de sódio
NDT Nutriente digestíveis totais
NM Nitrogênio microbiano
NMMNd Número de mastigação mericicas no dia
NNP Nitrogênio não proteico
NRC National Research Council
P Fósforo
PB Proteína bruta
PBD Proteína bruta digestível
PCV Peso corporal vivo
PIDN Proteína indigestível em detergente neutro
POL Percentagem de massa de sacarose aparente contida em uma solução
açucarada
PV Peso vivo
SAEG Sistemas de Análise Estatistica e Genética
TAL Tempo de alimentação
TMT Tempo de mastigação total
TNT Tecido não tecido
TRU Tempo de ruminação
UESB Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
VU Volume urinário
21
CAPÍTULO 1
Composição química, fracionamento de carboidratos e digestibilidade da cana-de-
açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia
RESUMO
Objetivou-se com este estudo avaliar o valor nutritivo da cana-de-açúcar ensilada
com óxido de cálcio (CaO) ou ureia. O experimento foi conduzido em delineamento
inteiramente ao acaso, com cinco tratamentos e oito repetições. Os tratamentos foram: 0,0;
0,8; 1,6 e 2,4% de óxido de cálcio e 1,5% de ureia na ensilagem da cana-de-açúcar, com base
na matéria natural. Foram coletadas amostras antes do fechamento dos silos e 30 dias após a
ensilagem. Foi avaliado o grau brix, antes do fechamento dos silos e a composição químico-
bromatológica da cana-de-açúcar. A matéria seca aumentou linearmente com o aumento das
doses de CaO, enquanto a fibra em detergente neutro e a fibra em detergente neutro corrigida
para cinza e proteína diminuíram com o aumento das doses de CaO. Os nutrientes digestíveis
totais e a digestibilidade in situ da matéria seca aumentaram com o uso do CaO na ensilagem.
Os carboidratos totais apresentaram diferença da silagem com ureia em relação à silagem com
CaO, bem como as frações de rápida degradação e média degradação no rúmen (A + B1) e a
fração indigestível C (FDNi). As perdas da cana-de-açúcar diminuíram com o aumento das
doses de CaO. O uso do óxido de cálcio melhora o valor nutritivo da cana-de-açúcar ensilada
por meio, principalmente, da redução da parede celular, além de diminuir as perdas, porém, a
ureia não melhora o valor nutritivo nem diminui perdas, melhora apenas o teor de proteína
bruta.
Palavras-chave: grau brix, fibra em detergente neutro, carboidratos totais, perdas da silagem
22
CHAPTER 1
Chemical composition, fractionation of carbohydrates and digestibility of sugar cane
ensiled with urea or calcium oxide
ABSTRACT
The objective of this study to evaluate the nutritive value of sugar cane ensiled with calcium
oxide (CaO) or urea. The experiment was conducted in completely randomized design with five
treatments and eight repetitions. The treatments were: 0.0, 0.8, 1.6 and 2.4% calcium oxide and 1.5%
urea at ensiling of sugar cane, based on natural matter. Samples were collected before the closing of
the silos and 30 days after ensiling. The degree brix, before closure of the silos. We assessed the
chemical composition of cane sugar. The dry matter increased linearly with increasing doses of CaO,
while the neutral detergent fiber and neutral detergent fiber corrected for ash and protein decreased
with increasing doses of CaO. The total digestible nutrients and in situ digestibility of dry matter
increased with the use of CaO in silage. The total carbohydrates were differences of silage with urea
in relation to silage with CaO, as well as the rapid degradation of fractions and average degradation in
the rumen (A + B1) and indigestible fraction C (iNDF). The losses of cane sugar decreased with
increasing doses of CaO. The use of calcium oxide improves the nutritive value of sugar cane ensiled
by means of the decrease of the cell wall, and reduce losses, however, urea does not enhance or
diminish the nutritional value loss, enhances only the content crude protein.
Keywords: brix, neutral detergent fiber, total carbohydrates, loss of silage
23
1. INTRODUÇÃO
A utilização da cana-de-açúcar na forma de silagem tem sido uma alternativa, pois
contorna os problemas de corte diários (QUEIROZ et al., 2008), homogenização do material
ensilado, economicidade, mão-de-obra adicional e a liberação da área para rebrotação
homogênea das plantas, proporcionando melhor cobertura do solo, maior índice de área foliar
para o período das chuvas e menores gastos com controle de invasoras (FREITAS et al.,
2006).
Contudo, o inconveniente da cana-de-açúcar na obtenção de silagem é seu alto
conteúdo de açúcares solúveis, que resulta em rápida proliferação de leveduras com produção
de etanol e gás carbônico (VALVASORI et al.,1995). Em condições aeróbicas, as leveduras
são capazes de sobreviver com diversos ácidos orgânicos por tempo maior que a maioria dos
microrganismos. Em condições anaeróbicas, no entanto, as leveduras precisam obter sua
energia da fermentação de açúcares (MCDONALD et al., 1991). A intensa atividade das
leveduras provoca redução de até 44% no teor de carboidratos solúveis (ALLI et al., 1983),
com perdas de até 29% da MS da silagem (ANDRADE et al., 2001) e de 48,9% de MS
(MCDONALD et al., 1991).
Além dessas limitações, a cana-de-açúcar apresenta limitações nutricionais quanto à
sua composição química e sua utilização por animais de elevado potencial genético, dentre as
quais se destacam o baixo teor de proteína bruta, fibra de lenta degradação ruminal e elevado
teor de fibra indigestível, o que limita o consumo (PEREIRA et al., 2001; EZEQUIEL et al.,
2005) e que, dependendo da idade fisiológica da cana-de-açúcar, no momento do corte, o teor
da fibra em detergente neutro pode variar de 40 a 65%, porém, próximo da idade ideal de
corte (10 a 12 meses), essa variação é menor, diferindo da maioria das plantas forrageiras
(RESENDE et al., 2005).
Dessa forma, o uso de aditivos químicos é uma opção favorável, pois este tem o
intuito de melhorar o valor nutritivo em diferentes tipos de volumosos, além da cana-de-
açúcar. De acordo com Souza et al. (2001), os aditivos são adicionados aos volumosos com a
indicação de conservar e promover a redução dos constituintes da parede celular, permitindo
elevação dos teores de nitrogênio de todo material tratado.
Trabalhos como o de Balieiro Neto et al. (2007), que estudaram o uso de óxido de
cálcio (CaO) como aditivo na ensilagem da cana-de-açúcar, verificaram que diminuíram os
teores da fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, bem com a diminuição da
24
lignina, aumentando a digestibilidade in vitro da matéria seca. Além destes, Lopes et al.
(2007) trabalharam com aditivos químicos e verificaram benefícios como maior consumo e
digestibilidade da proteína bruta.
Resultados de pesquisa acerca do uso da CaO em volumosos são contraditórios, pois
Moraes et al. (2008b) comentaram que a cana-de-açúcar tratada e ensilada com 1% de CaO
(maior percentual utilizado) não demonstrou efeito sobre a digestibilidade dos nutrientes, não
sendo eficiente para melhorar a digestibilidade da cana, ao passo que Ezequiel et al. (2005)
verificaram que o tratamento alcalino influencia positivamente a digestibilidade das frações
fibrosas, proporcionando melhor aproveitamento da fibra da dieta, mais energia para estímulo
do crescimento microbiano e elevando o aporte de proteína para os intestinos.
Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a composição química, o
fracionamento de carboidratos e a digestibilidade da cana-de-açúcar ensilada com óxido de
cálcio ou ureia.
25
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de ovinocultura, setor de Ensaios Nutricionais
de Ovinos e Caprinos, e no Laboratório de Forragicultura e Pastagens da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, no Campus de Itapetinga, BA.
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com cinco tratamentos,
sendo eles as doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO na matéria natural da cana-de-açúcar e um
tratamento com a utilização de 1,5% de ureia também na matéria natural da cana-de-açúcar,
todos aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições por tratamento.
A cana-de-açúcar utilizada foi a variedade RB 72.454, que foi desintegrada em
picadeira de forragem convencional, com tamanho de partícula entre 1 a 2 cm, sendo
homogeneizada em um piso de cimento. Foram separados quantidades de 140 kg de cana-de-
açúcar picada, de modo a obter a densidade de 700 kg/m3, distribuída em uma superfície
cimentada, onde foi feita a aplicação do óxido de cálcio (CaO, cálcio virgem, pó tipo III,
micropulverizada), ou ureia. Após a aplicação do aditivo, a cana-de-açúcar foi
homogeneizada e todo o material foi ensilado em tonéis de 200 litros. Posteriormente, após o
enchimento, os tonéis foram fechados com lona dupla face, de 200 micras. A composição
química da cana-de-açúcar tratada com ureia e com a doses de CaO, antes da ensilagem,
podem ser verificada na Tabela 1, as quais foram realizadas segundo procedimento de Silva &
Queiroz (2002).
Após a compactação e, antes do fechamento dos silos, foram retiradas amostras do
centro de cada silo, a uma profundidade de aproximadamente 40 cm, para posterior análise.
As amostras tinham peso de aproximadamente 500 gramas.
No momento da retirada das amostras, foi avaliado o grau brix (°Brix antes) da cana-
de-açúcar com auxilio do refratômetro, pela leitura direta. Trinta dias após a ensilagem, foram
abertos todos os tonéis e, novamente, foram retiradas amostras para determinação do grau brix
(°Brix depois) da silagem, também medido com refratômetro. Todas as amostras foram
acondicionadas em sacos plásticos, previamente identificados e acondicionadas em freezer
para posteriores análises.
26
Tabela 1 - Composição química-bromatológica da cana-de-açúcar ensilada com óxido de
cálcio ou ureia
Item Silagem de cana-de-açúcar com CaO
(% matéria natural) Silagem de cana-de-
açúcar com
ureia1
0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca (%) 25,2 27,8 27,0 27,6 25,2
Proteína bruta2 0,3 0,6 0,6 0,5 13,8
Fibra em detergente neutro2 53,0 44,1 46,1 43,5 50,0
FDNcp2
48,9 40,7 43,9 38,6 46,5
Fibra em detergente ácido2
47,3 40,1 40,9 35,9 41,0
PIDN3
0,5 0,4 0,5 0,4 0,6
CIDN2
3,6 3,0 1,8 4,4 2,9
Extrato etéreo2
1,6 0,8 0,5 0,7 1,1
Celulose2 37,0 33,7 33,2 27,9 33,0
Hemicelulose2
5,7 4,0 5,2 7,6 9,0
Lignina2 8,1 6,2 6,5 5,0 6,5
Cinza2 5,1 7,1 9,3 14,5 3,2
Carboidratos totais2
93,0 91,5 89,5 84,3 81,9
Carboidratos não fibrosos2
44,1 50,9 45,7 45,6 35,4
oBrix antes 15,0 15,1 16,0
* 16,5
* 15,3
NDT Estimado2
42,8 54,6 57,3 62,3 47,0
1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural); 2/ Valores em percentagem da matéria seca.
3/ Valores estimados em percentagem da proteína bruta. Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína, (FDNcp), proteína indigestível em detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro
(CIDN).
Na realização da pré-secagem, as amostras coletadas foram descongeladas,
acondicionadas em bandejas de alumínio, pesadas e levadas à estufa de 60°C, por 72 horas.
Em seguida, foram retiradas da estufa, mantidas à temperatura ambiente por duas horas,
pesadas e moídas em moinho com peneiras contendo crivos de 1 mm e acondicionadas em
vasilhame de plásticos com tampa, identificados para posteriores análises.
Nas amostras coletadas, foram realizadas as seguintes análises: matéria seca (MS),
nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro corrigido
para cinza e proteína (FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), proteína insolúvel em
detergente neutro (PIDN), cinza insolúvel em detergente neutro (CIDN), celulose,
hemicelulose, lignina, cinza, extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais (NDT),
27
conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), e a digestibilidade “in situ” da
matéria seca, por 48 horas (DISMS) (Ørskov et al., 1980), sendo que a fibra em detergente
neutro corrigido para cinza e proteína (FDNcp) foi segundo Mertens (2002).
As frações dos carboidratos totais foram calculadas através do sistema de “Cornell
Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS)”, segundo Sniffen et al. (1992), em que:
CHO = 100 – (% PB + % EE + % Cinza)
Devido à presença de ureia, os carboidratos não fibrosos (CNF) foram obtidos por:
CNF = 100 – [(% PB - % PB ureia) + % FDNcp + % EE + % cinza]
Os nutrientes digestíveis totais (NDT) foram calculados a partir das estimativas
energéticas estimadas por Cappelle et al. (2001) para silagens com aditivos.
As perdas nos silos foram avaliadas pelas silagens que foram descartadas com
características impróprias para o consumo dos animais. Diariamente, em cada silo
experimental e, conforme o tratamento, as amostras foram acondicionadas em sacos plásticos,
identificadas, pesada, anotada diariamente e depois de homogeneizada, foi retirada uma
amostra de aproximadamente 150 gramas, guardadas em freezer em sacos plásticos
previamente identificados, para posterior análise.
Os resultados foram submetidos à análise de variância e regressão, e a comparação
das médias entre as doses de óxido de cálcio e o nível de ureia foi realizada pelo teste Dunnett
ao nível de 5% de significância, utilizando-se o programa SAEG, versão 9,0 (RIBEIRO
JÚNIOR, 2002).
28
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre as silagens avaliadas, a silagem sem adição de CaO ou ureia apresentou teor
de MS de 20,1%, similar (P>0,05) à silagem com ureia (20,7%). Com exceção da silagem
0,0% de CaO, as demais com 0,8, 1,6 e 2,4% de CaO apresentaram teor de MS superior
(P<0,05) à silagem com ureia, obtendo acréscimos, respectivamente, de 1,6, 2,4 e 2,5
unidades percentuais (Tabela 2). A adição das doses crescentes de óxido de cálcio propiciou
aumento direto da MS da cana-de-açúcar tratada. Foi observado que o teor de MS da cana-de-
açúcar apresentou efeito (P<0,05) linear crescente em função das doses de óxido de cálcio
(Tabela 2).
O resultado encontrado na silagem com ureia e 0,0% de CaO foi similar ao
encontrado por Amaral Neto et al. (2000), de 21,69% de MS. Esses autores encontraram o
teor de MS da cana-de-açúcar com as doses de óxido de cálcio de 3,28%, maior que a
utilizada neste trabalho para a mesma variedade de cana-de-açúcar, entretanto, diferem dos
resultados encontrados por Molina et al. (2002), de 28,3% de MS, e de Coan et al. (2002),
27,2% de MS.
Os resultados observados no presente estudo estão de acordo com os obtidos por
Balieiro Neto et al. (2005), que verificaram elevação do teor de MS da cana-de-açúcar com
uso do óxido de cálcio, e também com os obtidos por Cavali (2006), que verificou que o teor
de MS aumentou com os níveis de CaO. Contudo, os valores expressos neste trabalho ficaram
abaixo dos apresentados por Bernardes et al. (2002).
Quanto aos valores de PB, foi verificado que houve diferença (P<0,05) entre a
silagem com ureia em relação à silagem com doses de CaO (Tabela 2). As silagens com as
doses (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) de óxido de cálcio apresentaram valores de 1,15; 1,23; 1,15 e
1,10% de PB, respectivamente, em que o aumento das doses de óxido de cálcio não foi
significativo. Verifica-se que não houve acréscimos nos teores de proteína com o aumento nas
doses de óxido de cálcio, possivelmente a ação do aditivo não foi eficiente para disponibilizar
parte da proteína bruta ligada às frações da parede celular.
Balieiro Neto et al. (2007) trabalharam com óxido de cálcio como aditivo na
ensilagem de cana-de-açúcar e verificaram que os teores de PB apresentaram diferença apenas
entre as silagens sem aditivo e com 2% de CaO, na qual o teor de PB da silagem tratada com
2% de aditivo foi inferior ao da silagem controle. Neste estudo, foi verificado que a silagem
com ureia apresentou teor de proteína maior que os da silagem com óxido de cálcio.
29
Tabela 2 - Valores médios, coeficiente de variação (CV%), equação de regressão e coeficiente de determinação (r2) obtido das silagens de cana-
de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% da matéria natural)
Silagem de cana-de-
açúcar com
ureia1
CV
(%)2 Equação de regressão
0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca3 20,1 22,3
* 23,1
* 23,2
* 20,7 4,8 Ŷ = 20,1382 + 3,19114**CaO (r
2 = 0,58)
Proteína bruta1
1,15*
1,23*
1,15*
1,10*
14,9 9,9 Ŷ = 1,16
FDN1
74,0*
58,6*
55,1*
48,5*
68,6 3,5 Ŷ = 71,0538 – 9,99853**CaO (r2 = 0,87)
FDNcp1
71,1*
55,7*
52,4*
45,6*
65,6 3,9 Ŷ = 68,1468 – 9,96497**CaO (r2 = 0,87)
FDA1
63,3*
50,3*
45,3*
40,1*
59,4 6,0 Ŷ = 60,9307 – 9,31653**CaO (r2 = 0,89)
PIDN1
0,59*
0,51*
0,50*
0,42*
0,81 10,6 Ŷ = 0,582769 – 0,0626656**CaO (r2 = 0,47)
CIDN1
2,4 2,4 2,3 2,5 2,2 30,8 Ŷ = 2,4
Extrato etéreo1
1,6 1,8 1,8 1,8 1,8 9,0 Ŷ = 1,8
oBrix antes 15,0 15,1 16,0
* 16,5
* 15,3 2,9 Ŷ = 14,8575 + 0,673438**CaO (r
2 = 0,63)
oBrix depois 7,1
* 9,1 12,6
* 13,9
* 9,2 9,8 Ŷ = 7,10875 + 2,95625**CaO (r
2 = 0,85)
Celulose1
49,0 40,7 33,1*
31,1*
45,1 14,0 Ŷ = 47,6857 – 7,68539**CaO (r2 = 0,69)
Hemicelulose1
10,7 8,2 9,8 8,4 9,2 27,6 Ŷ = 9,3
Lignina1
10,3 8,4 6,8* 5,7* 9,5 12,4 Ŷ = 10,1087 – 1,91771**CaO (r2 = 0,74)
Cinza1,14
3,6 8,1*
10,0*
14,0*
3,3 7,7 Ŷ = 3,99647 + 4,13044**CaO (r2 = 0,96)
NDT15
42,8*
54,6*
57,3*
62,3*
47,0 3,0 Ŷ = 45,0978 + 7,63988**CaO (r2 = 0,88)
DISMS1,16
51,1*
51,1*
61,1*
65,5*
59,6 9,6 Ŷ = 49,2591 + 6,63036**CaO (r2 = 0,60)
* Médias seguidas por asterisco diferem da silagem de cana-de-açúcar com ureia ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de
ureia (% matéria natural). 2/Coeficiente de variação. Fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína (FDNcp), fibra em
detergente ácido (FDA), proteína indigestível em detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN), nutrientes digestíveis totais (NDT),
digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS).
30
O tratamento da silagem de cana-de-açúcar com ureia não apresentou o resultado
esperado devido à não amonização completa desta silagem, em função da falta de uréase, que
é a enzima responsável pela hidrólise da ureia em amônia. Uma vez utilizada essa fonte neste
tratamento, a silagem de cana-de-açúcar poderia melhorar o processo de decomposição da
ureia em amônia, beneficiando este tratamento e, como consequência, o valor nutritivo da
silagem de cana-de-açúcar. Outro fato observado é quanto ao período de fermentação da
silagem que durou apenas 30 dias, sendo considerado pouco tempo para um processo
completo de amonização que é de, no mínimo, 60 dias.
Amaral Neto et al. (2000) encontraram teor de 3,20% de PB para a variedade de
cana-de-açúcar RB 72-454, valor maior que o encontrado neste trabalho para a mesma
variedade de cana-de-açúcar utilizada, em relação ao uso do óxido de cálcio, que diferem dos
resultados encontrados por Molina et al. (2002), que foi de 2,3 % de PB, e de Coan et al.
(2002), 2,0% de PB. Quanto à cana tratada com ureia, foi encontrado neste estudo 14,9% da
PB, sendo similar com o encontrado por Moraes et al. (2006b), que foi de 13,7% da PB, e
ficando acima do valor encontrado por Rocha Júnior et al. (2003), que obteve 11,3% com
adição de 1% de ureia.
Quanto aos teores dos componentes da fibra da silagem de cana-de-açúcar com CaO
(Tabela 2), houve diferença (P<0,05) para o teor de FDN em relação à silagem de cana-de-
açúcar com ureia. Entretanto, quando foi tratada com as doses de óxido de cálcio, verificou-se
que à medida que aumentaram as doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%, houve diminuição dos valores
da FDN da cana-de-açúcar. Verifica-se que o uso do aditivo promoveu efetivamente
diminuição da fibra da cana-de-açúcar. Essa diminuição pode ser explicada pela “diluição”
dos constituintes da parede celular da cana-de-açúcar pela ação de álcalis que, aparentemente,
quebrou as ligações tipos éster da cana-de-açúcar, o qual é susceptível à ação hidrolítica. Os
valores da FDN encontrado neste estudo foram próximos aos de Freitas et al. (2006) que, em
silagem de cana-de-açúcar, variou de 50,5 a 64,7% na MS, porém, menor que os encontrados
por Magalhães et al. (2004), sendo de 47,0% em silagem de cana, e por Moraes et al. (2008a),
com 49,2% na MS.
Quanto à fibra isenta de cinza e proteína (FDNcp), observou-se diferença da silagem
com ureia em relação à silagem com óxido de cálcio (Tabela 2). Verificou-se efeito linear
decrescente (P<0,05) para o teor da FDNcp em função das doses de CaO na silagem da cana-
de-açúcar.
31
O teor de fibra em detergente ácido (FDA) da silagem de cana-de-açúcar com ureia
diferiu (P<0,05) em relação ao óxido de cálcio. No entanto, as silagens com as doses de óxido
de cálcio não diferiram entre si. Os níveis de inclusão de óxido de cálcio na cana-de-açúcar
apresentou efeito linear decrescente (P<0,05), verificando-se valor mínimo de 40,1%
referente à dose de 2,4% de CaO. Houve uma redução de 36,7 pontos percentuais, quando foi
usado o óxido de cálcio na cana-de-açúcar, considerando a dose de 0,0% até a dose máxima
utilizada (2,4%) de CaO. Este fato também foi observado por outros autores (BALIEIRO
NETO et al., 2007), que obtiveram valores menores variando de 44,0; 38,7; 33,6 e 25,1% para
os níveis 0,0; 0,5; 1,0 e 2,0% de óxido de cálcio.
Os teores de proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) (Tabela 2) e a silagem
de cana-de-açúcar com ureia diferiram das silagens com óxido de cálcio. Foi constatado que a
silagem com a ureia apresentou valores superiores (P<0,05) da PIDN. A proteína insolúvel
em detergente neutro constitui a proteína insolúvel indegradável da parede celular das
forrageiras, que apresentou valores baixos, possivelmente, por existir pequenas frações de
proteína na parede celular da cana-de-açúcar ou por não ser eficiente o aditivo, visto que a
dose de CaO de 0,0% foi que apresentou maior valor de extração (0,59%). Entretanto, os
valores da cinza insolúvel em detergente neutro (CIDN) não apresentaram diferença (P>0,05)
da silagem de cana-de-açúcar com CaO em relação à silagem com ureia.
A análise de regressão apresentou efeito significativo (P<0,05) para PIDN e não
houve efeito (P>0,05) para o CIDN da silagem da cana-de-açúcar com doses crescentes de
CaO (Tabela 2). Sniffen et at. (1992) comentaram que os teores de PIDN correspondem à
proteína insolúvel em detergente neutro, que apresenta taxa de degradação lenta no rúmen,
mas que é uma potencial fonte de aminoácidos no intestino delgado.
Os valores de extrato etéreo (EE) revelaram que não houve diferença (P>0,05) entre
a silagem de cana-de-açúcar tratada com ureia em relação com óxido de cálcio, nem mesmo
entre os níveis de óxido de cálcio.
O grau brix analisado antes da ensilagem da cana-de-açúcar apresentou diferença
(P<0,05) entre a silagem com ureia em relação à silagem com CaO para as doses 1,6 e 2,4%
(Tabela 2). Verificou-se que, 30 dias após a ensilagem, os valores do grau brix diminuíram,
tanto da silagem com ureia quanto na silagem com doses de CaO (Tabela 2). Pode-se verificar
que os aditivos químicos (ureia e óxido de cálcio) tendem a preservar perdas dos açúcares na
ensilagem. Observa-se que a manutenção do brix na massa ensilada é importante, pois os
32
açúcares solúveis presentes servirão de fonte de energia para o crescimento dos
microrganismos do rúmen.
A diminuição dos teores do grau brix, durante o processo de ensilagem é
possivelmente devido à queima dos açúcares solúveis presentes na cana-de-açúcar, que foram
“consumidos” pelas bactérias para diminuição do pH e estabilização da silagem. Uma
adequada acidificação é essencial para o êxito de preservação da massa ensilada,
principalmente, quando se trata de forrageira que apresenta alta concentração de umidade,
como é o caso da cana-de-açúcar, pois a acidez previne o desenvolvimento de
microrganismos deterioradores e, consequentemente, maiores perdas da silagem
(MCDONALD et al., 1991).
O teor de celulose apresentou diferença (P<0,05) da silagem de ureia em relação à
silagem com CaO nas doses 1,6 e 2,4%. Verifica-se que a celulose apresentou regressão linear
decrescente, quando do uso das doses de óxido de cálcio. O fato da diminuição dos teores de
celulose é que o uso do aditivo químico, a cal hidratada, exerceu seu poder de hidrólise sobre
a parede celular da cana-de-açúcar, com expansão da celulose. Efetivamente, um efeito que
era verificado ao adicionar a cal à cana-de-açúcar, com mudança na coloração.
O teor de hemicelulose da silagem da cana-de-áçucar com ureia foi semelhante
(P>0,05) à silagem com CaO. Do mesmo modo, não houve efeito (P>0,05) do aumento das
doses de CaO sobre a cana-de-açúcar. Pode-se verificar que a cal utilizada como aditivo
químico não solubilizou parcialmente a hemicelulose, já que aditivos químicos usados em
volumosos exercem essa função. Pires et al. (2006) comentaram que é comum, em gramíneas
tratadas com produtos alcalinos, solubilização parcial da hemicelulose.
O teor de lignina da silagem de cana-de-açúcar com ureia diferiu (P>0,05) da
silagem com CaO nas doses 1,6 e 2,4%. A lignina apresentou redução de 44,7% pontos
percentuais comparando à dose 0,0% em relação à dose 2,4% de CaO. O teor de lignina
apresentou regressão linear decrescente quanto às doses de óxido de cálcio.
De acordo com Van Soest (1994), a solubilização parcial dos constituintes da parede
celular, pelo efeito da ação de produtos alcalinos sobre volumosos, irá facilitar o ataque dos
microrganismos do rúmen à parede celular. Van Soest (1981) relatou também que o teor de
lignina impede a digestão dos carboidratos da parede celular. Outros autores como Pires et al.
(2006), Pires et al. (1999), Sarmento et al. (1999) também observaram a ação dos aditivos em
volumosos.
33
O teor de cinza da silagem com ureia apresentou diferença (P<0,05) em relação à
silagem com CaO. Observou-se que na análise de regressão da cinza ocorreu efeito linear
crescente quanto às doses de óxido de cálcio, em que as doses 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO foram
as que apresentaram valores que variaram de 125 a 288% em relação à dose 0,0% de CaO.
O teor de nutrientes digestíveis totais da silagem de cana-de-açúcar com ureia foi
diferente em relação à silagem com óxido de cálcio. Enquanto que, para as doses de óxido de
cálcio (Tabela 2), observou-se efeito linear crescente (P<0,05) do NDT em função dos níveis
de CaO (Figura 1). Esse acréscimo no NDT deve-se à diminuição da FDN,
proporcionalmente, aos níveis de óxido de cálcio usado na cana-de-açúcar e também à
diminuição da lignina e celulose, permitindo maior disponibilidade dos nutrientes. Observa-se
que o aumento das doses do óxido de cálcio sobre a parede celular da cana-de-açúcar,
certamente, evidencia efeito positivo do aditivo em forrageira com alto teor de fibra.
Verifica-se que os valores do NDT, observados para as silagens de cana-de-açúcar,
retratam eficazmente as estimativas preditas no referido trabalho e estimado por Cappelle et
al. (2001). Rocha Júnior et al. (2003) determinaram a estimativa do valor energético de
alimentos para ruminantes pelo sistema de equações que foi proposto pelo NRC (2001), sendo
observado que o valor predito para o NDT da cana-de-açúcar tratada com 1% de ureia foi de
60,57%, ficando acima do valor encontrado neste trabalho, que foi de 47,0%.
A digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS), observada para a silagem da cana-
de-açúcar tratada com ureia, diferiu (P<0,05) das silagens com doses de CaO. As silagens
com doses de óxido de cálcio apresentaram, na análise de regressão, efeito crescente (P<0,05)
à medida que se aumentos as doses (Tabela 2). Possivelmente, o aumento da DISMS das
silagens de cana-de-açúcar com o aumento das doses de CaO, seja decorrente da ação do
aditivo alcalino, que promoveu a solubilização parcial de hemicelulose e a expansão da
celulose. Outro fato ocorrido é que, durante o processo de fermentação, a ação do óxido de
cálcio promoveu diminuição dos teores da FDN, o que proporcionou o aumento da DISMS da
cana-de-açúcar.
Com aumento linear da DISMS pela inclusão dos níveis de CaO (Figura 1), verifica-
se um aumento de 6,0% para cada unidade do óxido de cálcio, adicionado à cana-de-açúcar a
partir da dose 0,8 até a dose 2,4. Os valores encontrados da DISMS para os tratamentos 0,0;
0,8; 1,6 e 2,4% de CaO foram, respectivamente, 51,2; 51,1; 61,1 e 65,5%. As doses 0,0 e
0,8% apresentaram valores iguais quanto a DISMS, evidenciando que a dose 0,8% não foi
representativa para melhorar a DISMS em relação à dose 0,0% de CaO. Siqueira et al.
34
Figura 1 - Estimativa dos valores de nutrientes digestíveis totais (NDT) e digestibilidade in situ da matéria
seca (DISMS) da cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
(2007a) trabalharam com associação de aditivos químicos e bacterianos em silagem de cana-
de-açúcar, apresentaram aumento de 4,2 unidades percentuais nas silagens tratadas com
benzoato e redução de até 4,0 unidades percentuais nas silagens tratadas com benzoato.
Os teores de carboidratos totais (CT), observados na silagem produzidas com ureia, foram
diferentes em relação à silagem produzida com CaO (Tabela 3). As silagens produzidas com
cana-de-açúcar com doses de CaO apresentaram teor de CT superior ao da silagem com ureia,
que apresentou efeito linear decrescente (P<0,05). Parte dos carboidratos totais (carboidratos
solúveis) são utilizados no processo de fermentação para a rápida redução do pH e para a
produção do ácido lático; a presença deste na silagem indica existência de açúcar residual.
Observa-se que à medida em que houve aumento das doses de CaO, houve diminuição dos
carboidratos totais por volta de 4,0 unidades percentuais. Siqueira et al. (2005) considera que
teores de CT totais residuais, elevados na silagem, implica em maior propensão ao
desenvolvimento de leveduras e mofos na silagem, pelo fato destes substratos apresentarem
maior facilidade oxidativa. O que não foi observado nos silos deste estudo.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 0,8 1,6 2,4
(%)
Doses de óxido de cálcio
DISMS
NDTDISMS = Ŷ = 49,2591 + 6,63036
**CaO R
2 = 0,60
NDT = Ŷ = 45,0978 + 7,63988
**CaO R
2 = 0,87
35
Tabela 3 - Teores médios de carboidratos totais (CT), carboidratos não fibrosos (A+B1), componentes da parede celular disponível para
degradação ruminal (B2), fração indigestível da parede celular (FDNi), da cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou
ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO
(% na matéria natural) Silagem de cana-
de-açúcar com
ureia1
CV
(%)2
Equação de regressão
0 0,8 1,6 2,4
CT (% na MS) 93,6* 88,8* 87,0* 83,1* 80,0 0,87 Ŷ = 93,1176 – 4,15022**CaO (r2 = 0,95)
Frações de carboidratos (% CT)
A+B1 22,5* 33,1* 34,7* 37,5* 14,4 8,1 Ŷ = 24,9708 + 5,81475**CaO (r
2 = 0,84)
B2 29,3 25,3 27,6 25,5 27,0 10,1 Ŷ = 26,9
FDNi 41,8* 30,4* 24,8* 20,2* 38,6 5,2 Ŷ = 39,8460 – 8,80314**CaO (r2 = 0,92)
* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria
natural). 2/ CV = Coeficiente de variação.
36
As frações de carboidratos não fibrosos (A + B1), açúcares solúveis de rápida
degradação, amido e pectina apresentaram efeito linear crescente (P<0,05), em que a silagem
com ureia diferiu da silagem com CaO. Quando foi utilizada doses de óxido de cálcio,
verificou-se um aumento nos teores destes constituintes na silagem de cana-de-açúcar (Tabela
3) e, paralelamente, verificou-se uma diminuição linear nos teores de CT.
Maiores diponibilidades das frações A + B1 foram observadas nas silagens com CaO
em relação às silagens com ureia (Tabela 3), caracterizando que o óxido de cálcio possibilitou
uma melhor disponibilidade dessas frações com o aumento das doses, o que torna o volumoso
com maior disponibilidade de energia para ruminantes. Valadares Filho (2000) afirmou que
alimentos com elevada fração A + B1 são considerados boas fontes de energia para o
crescimento de microrganismos que utilizam carboidratos não fibrosos. Entretanto, o autor
relata ainda que se faça necessário a inclusão de fontes proteicas da rápida degradação e
média degradação no rúmen, quando a fração A + B1 compõem a principal fração dos
carboidratos da dieta, com a finalidade de estabelecer uma sincronização entre a liberação de
energia e proteína.
A fração B2 (% CHO), carboidratos fibrosos potencialmente digestível, foram
semelhantes entre os tipos de aditivos (P>0,05), assim como não houve efeito nas doses
crescentes de CaO (Tabela 3).
Observou-se diferença na fração C (FDNi) dos carboidratos (Tabela 4) entre a
silagem com ureia e as silagens com CaO. No estudo de regressão, constatou-se efeito
(P<0,01) das doses de CaO sobre os teores de FDNi. Verificou-se que, com o aumento das
doses de CaO, houve diminuição da fração C que, mesmo na cana-de-açúcar com uma
estrutura do tecido celular mais lignificado, a ação do óxido promoveu uma diminuição desta
fração.
De acordo com Sniffen et al (1992), a fração FDNi compreende a porção da parede
celular vegetal que não é digerida ao longo do trato gastrointestinal. A diminuição da fração
do FDNi de 41,8 para 20,2% para as doses de 0,0 a 2,4% de CaO está relacionado também
aos teores de lignina apresentada (Tabela 2) que reduziram de 10,3 para 5,7%, com o aumento
das doses de CaO. De acordo com Sniffen et al. (1992), a fração C (FDNi) dos carboidratos
totais pode ser considerada indisponível tanto em nível de rúmen como de intestinos, e afeta o
consumo Mertens (1987) dos animais pelo fator enchimento, reduzindo, consideravelmente, o
desempenho animal.
37
Foi verificado que as perdas da ensilagem em percentagem da MS diferiram (P<0,05)
entre as silagens com ureia e com óxido de cálcio. A adição de óxido de cálcio promoveu
diminuição linear decrescente (P<0,05) na MS do material ensilado. A diminuição estimada
foi de 8,0 pontos percentuais em relação à dose 0,0% de CaO (Tabela 4). Quanto às perdas da
silagem da cana-de-açúcar, em % da matéria natural, houve diferença (P<0,05) entre a
silagem com ureia e com óxido de cálcio. Observa-se que neste trabalho o tratamento com
ureia foi o que apresentou maiores perdas no processo de fermentação da cana-de-açúcar.
38
Tabela 4 - Média das perdas (em kg) na matéria seca e matéria natural da cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO
(% matéria natural) Silagem de cana-
de-açúcar com ureia
1
CV
(%)2
Equação de regressão
0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca 10,4* 10,1* 7,0* 6,2* 10,7 3,3 Ŷ = 41,5474 – 8,38655**CaO (r2 = 0,95)
Matéria natural 41,2* 36,4* 25,9* 22,4* 42,6 3,3 Ŷ = 10,4569 – 1,87822**CaO (r2 = 0,96)
* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria
natural). 2/ CV = Coeficiente de variação.
39
4. CONCLUSÕES
O uso do óxido de cálcio melhora o valor nutritivo da cana-de-açúcar ensilada por
meio, principalmente, da redução da parede celular, além de diminuir as perdas, porém, a
ureia não melhora o valor nutritivo nem diminui perdas, melhora apenas o teor de proteína
bruta.
.
40
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43
CAPÍTULO 2
Desempenho de ovinos alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou
ureia
RESUMO
Foi avaliado o consumo, a digestibilidade de nutrientes e o desempenho de ovinos
alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia. Foram utilizados 20
cordeiros da raça Santa Inês, castrados, com peso médio de 24,0 kg, distribuídos em um
delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos, sendo quatro níveis com
óxido de cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) e um com ureia (1,5%), com base na matéria natural da
cana. Os animais foram alojados em baias individuais com 1,5 m2 e a dieta ofertada teve a
proporção de 70:30 volumoso:concentrado. O período experimental foi de 77 dias, sendo 14
dias de adaptação das dietas e três períodos experimentais de 21 dias. Não foram observadas
diferenças nos consumos médios matéria seca, extrato etéreo, fibra em detergente neutro, fibra
em detergente neutro corrigido para cinza e proteína, carboidratos totais, hemicelulose e
nutrientes digestíveis totais. Foi verificada diferença para os consumos (kg/dia) de proteína
bruta, fibra em detergente ácido e carboidratos não fibrosos, que diferenciou da silagem com
ureia. Não foi observado efeito para a digestibilidade da matéria seca, extrato etéreo, fibra em
detergente neutro, fibra em detergente ácido, nutrientes digestíveis totais, mas houve efeito
quadrático para a digestibilidade dos carboidratos totais e linear crescente para carboidratos
não fibrosos. Verificou-se elevação do consumo de cálcio à medida que aumentou as doses de
óxido de cálcio na cana-de-açúcar. A razão cálcio:fósforo na silagem com óxido de cálcio foi
diferentes das silagens com ureia e sem aditivo. O ganho de peso diário apresentou efeito
quadrático. Silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio ou ureia não melhora o
consumo nem ganho de peso de ovinos.
Palavras-chave: aditivo químico, cal, razão cálcio/fósforo, silagem, volumoso
44
CHAPTER 2
Performance of sheep fed sugar cane ensiled with urea or calcium oxide
ABSTRACT
The intake, digestibility of nutrients and performance of sheep fed sugar cane ensiled with
urea or calcium oxide. The study of 20 Santa Inês lambs, steers, average weight of 24.0 kg, allotted
to a completely randomized design with five treatments, four levels with calcium oxide (0.0, 0.8, 1.6
and 2.4%) and urea (1.5%), the fresh natural cane. The animals were housed in individual stalls with
1.5 m2 and the diet was offered the 70:30 ratio roughage:concentrate. The experiment lasted 77
days, 14 days of adaptation to diets and three experimental periods of 21 days. There were no
differences in mean intakes dry matter, ether extract, neutral detergent fiber, neutral detergent fiber
corrected for ash and protein, carbohydrate, hemicellulose, and total digestible nutrients. We noticed a
difference to the intake (kg/day) of crude protein, acid detergent fiber and non-fibrous carbohydrates,
which differed from silage with urea. No effect was observed for digestibility of dry matter, ether
extract, neutral detergent fiber, acid detergent fiber, total digestible nutrients, but there was a
quadratic effect for the digestibility of total carbohydrates and linear increase for non-fiber
carbohydrates. There was increased consumption of calcium in proportion to increased doses of
calcium oxide in cane sugar. The calcium: phosphorus ratio in the silage with calcium oxide was
different from silage with urea without additives. The average daily gain had a quadratic effect. Silage
from sugar cane with doses of calcium oxide or urea does not enhance the consumption or weight
gain of sheep.
Keywords: chemical additives, lime ratio calcium/phosphorus, silage, forage
45
1. INTRODUÇÃO
O valor do alimento depende, primeiramente, do nível de nutrientes presentes, da
quantidade ingerida voluntariamente pelo animal e da digestibilidade e/ou da degradabilidade
destes nutrientes consumidos. A avaliação eficiente de um alimento, para avaliar a predição da
resposta animal, baseia-se em conhecer as quantidades diárias de proteína e energia
digestíveis que o animal pode obter desse alimento. Desta forma, conhecer o valor potencial
do alimento, por meio da degradação ruminal, permite o emprego racional deste (CABRAL et
al., 2005).
O consumo voluntário é a quantidade de alimento ingerido por um determinado
animal em um determinado período de tempo, tendo livre acesso ao alimento, sendo que uma
dieta deve ser proporcionada ao animal, verificando sempre qual o nível de produção que se
deseja, a disponibilidade e valor nutritivo dos alimentos. Ocorre que o consumo de matéria
seca é função da duração do período e da frequência com qual o animal se alimenta e de
fatores dietéticos que afetam a fome e saciedade (ALLEN, 2000), e por estabelecer a
quantidade de nutrientes necessários para atendimento dos requisitos de mantença (CAMPOS
et al., 2010).
Conhecer a composição química dos alimentos e a sua digestibilidade é essencial
para se formular dietas balanceadas que possibilitem maximizar a eficiência dos animais
(CAMPOS et al., 2010). A cana-de-açúcar usada como recurso forrageiro para ruminantes é
uma alternativa para minimizar a nutrição inadequada em períodos do estresse de forragens,
visto que, um ruminante alimentado à vontade só consegue ingerir quantidade limitada deste
volumoso, uma vez que o consumo está diretamente relacionado ao conteúdo da fibra em
detergente neutro e que, quanto maior esta fibra, menor a digestibilidade desta fração, menor
o consumo deste tipo de volumoso e, como consequência, baixa taxa de digestão ruminal,
limitando o consumo pela fibra não degradada no rúmen (FREITAS et al., 2008).
Tem-se observado que diversos aditivos químicos empregados por Carvalho et al.,
(2006); Pires et al., (2004b) e Pontes (2007) têm demonstrado que o tratamento de materiais
fibrosos melhora a digestibilidade. Entretanto, Andrade et al. (2001), Oliveira et al. (2007a) e
Berger et al. (1994) comentaram que o uso de aditivos alcalinos como o hidróxido de sódio e
o óxido de cálcio podem provocar maior efeito de hidrólise na parede celular dos volumosos,
melhorando a digestibilidade da fibra e do consumo.
O presente trabalho foi desenvolvido objetivando avaliar o desempenho de ovinos
alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia.
46
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de ovinocultura “Ensaios Nutricionais de
Ovinos e Caprinos” e no “Laboratório de Forragicultura e Pastagens” da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia no Campus de Itapetinga, BA.
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com cinco tratamentos,
sendo eles as doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO na matéria natural da cana-de-açúcar e um
tratamento com a utilização de 1,5% de ureia, também com base na matéria natural da cana-
de-açúcar, todos aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições por tratamento.
Os animais da raça Santa Inês foram mantidos em baias individuais de 1,5 m2 com
piso cimentado. As baias foram providas de comedouros e bebedouros, dispostos
frontalmente em cada baia, com dieta contendo 70% da silagem de cana-de-açúcar com doses
de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de óxido de cálcio (CaO) na matéria natural da cana-de-açúcar e
silagem de cana-de-açúcar com ureia (1,5% na matéria natural) e 30% de concentrado (Tabela
1), estando a composição das dietas na Tabela 2. Para confecção das silagens, a cana-de-
açúcar foi picada, em uma picadeira de forragem convencional, padronizando as partículas
com tamanho de 1 a 2 cm, misturada em piso de alvenaria para uma completa
homogeneização. Depois foi pesada, separada em quantidades de 140 kg, posteriormente,
foram tratadas de acordo com as doses de óxido de cálcio e a dose de ureia, e acondicionada
em tonéis de 200 litros, utilizando uma densidade de 700 kg de matéria natural/m3,
posteriormente, foram lacradas com lona dupla face (preta e branca) de 200 micras. A cana-
de-açúcar, variedade RB 72.454, foi ensilada por um período de 30 dias, quando foram
abertos os silos para retirada das amostras.
Após a compactação e antes do fechamento dos silos, foram retiradas amostras do
centro de cada silo, a uma profundidade de aproximadamente 40 cm. As amostras tinham
peso de aproximadamente 500 gramas. Ao final dos 30 dias, cada tonel do silo foi aberto e
retirada uma amostra.
A silagem de cana-de-açúcar, nos tratamentos com CaO, no momento do
fornecimento aos animais, foi corrigida para 1% de ureia (mistura de ureia + sulfato de
amônio) na relação 9:1, em seguida, toda mistura foi homogeneizada. As dietas foram
calculadas com base no NRC (2006) para permitir que houvesse nutrientes (NDT e PB)
suficientes para um ganho de peso de 150 g/dia. Estas foram balanceadas para conterem
aproximadamente 13% de proteína bruta e 53% de nutrientes digestíveis totais.
47
Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das dietas (% da
matéria seca)
Ingrediente Concentrado Dieta
Silagem de cana
com CaO
Silagem de cana
com ureia
Silagem de cana
com CaO
Silagem de cana
com ureia
Silagem de cana-de-açúcar1
- - 70,00 70,0
Milho 56,67 65,66 17,00 19,71
Farelo de soja 26,67 27,70 8,00 8,29
Ureia 10,00 ----- 3,00 -----
Sal comum 3,33 3,32 1,00 1,00
Sal mineral2
3,33 3,32 1,00 1,00
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 1/ cana-de-açúcar com diversas doses de óxido de cálcio ou ureia. 2/ Quantidade por kg do produto: Ca = 155 g, P = 65 g, S = 12 g, Mg = 6 g, Na = 115 g, Co = 175 mg, Cu = 100 mg, I = 175 mg, MN = 1400 mg, Ni = 42 mg, Se = 27 mg, Zn = 6000 mg, Fe = 1000 mg.
O experimento teve duração de 77 dias, constituídos de três períodos experimentais
de 21 dias e 14 dias, que foram destinados ao período de adaptação dos animais. No terceiro
período experimental, foi realizado coletas de fezes retal durante 5 (cinco) dias.
As dietas experimentais foram fornecidas à vontade, duas vezes por dia, sendo
realizado o fornecimento às 7h00 e às 15h00, de forma que as mesmas foram ajustadas para
manter sobras de aproximadamente 10% do fornecido (Tabela 2). As coletas das amostras
ocorreram durante todo o período experimental (três períodos de 21 dias), quando era
coletado volumoso, concentrado e a sobra de cada animal, feita diariamente, os quais eram
acondicionadas em sacos plásticos previamente identificados, referente a cada animal, e
armazenada em freezer para posteriores análises. Todos os animais foram pesados no início e
no fim de cada período experimental. A composição química da silagem de cana-de-açúcar
com oxido de cálcio ou ureia está disposta na Tabela 3, a qual foi calculada para ser
isoproteica.
Nas amostras coletadas, foram realizadas as seguintes análises: matéria seca (MS),
nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA),
proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN), cinza insolúvel em detergente neutro
(CIDN), extrato etéreo (EE), celulose, hemicelulose, lignina, cinza, nutrientes digestíveis
totais (NDT), conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), e a digestibilidade “in
48
situ” da matéria seca por 48 horas (DISMS) (ORSKOV et al., 1980). A fibra em detergente
neutro foi corrigida para cinza e proteína (FDNcp), segundo Mertens (2002).
O teor em carboidratos totais (CT) foram estimados por diferença, adotando-se a
seguinte equação de Sniffen et al. (1992), na qual:
CHO = 100 – (%PB + %EE + %cinza).
Devido à presença de ureia, os carboidratos não fibrosos (CNF) foram obtidos por:
CNF = 100 – [(% PB - % PB ureia + % ureia) + % FDNcp + % EE + % cinza]
Os nutrientes digestíveis totais (NDT) foram calculados a partir das estimativas
energéticas estimadas por NRC (2006) para silagens com aditivos.
Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO
(% matéria natural)
Silagem de
cana-de-açúcar com
ureia1 0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca (%) 41,1 42,6 43,2 43,2 41,5
Proteína bruta2
14,6 14,7 14,6 14,5 14,8 FDN
2 55,7 49,9 42,5 37,9 51,2
NDT2,3
50,6 58,9 60,8 64,3 53,6 1cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2 base da matéria seca; 3 estimado segundo NRC (2006).
FDN: fibra em detergente neutro; NDT: nutrientes digestíveis totais.
Na realização da pré-secagem, as amostras coletadas foram descongeladas,
acondicionadas em vasilhame de alumínio, pesadas e levadas à estufa de 60°C, por 72 horas.
Em seguida, foram retiradas da estufa, mantidas à temperatura ambiente por duas horas,
pesadas e moídas em moinho com peneiras contendo crivos de 1 mm e acondicionadas em
vasilhame de plásticos com tampa, identificados para posteriores análises.
49
Tabela 3 – Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio
(CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (%
matéria natural)
Silagem de
cana-de-
açúcar com ureia
0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca (%) 20,1 22,3 23,1 23,2 20,7
Proteína bruta1 1,15 1,23 1,15 1,10 14,9
Fibra em detergente neutro1 74,0 58,6 55,1 48,5 68,6
FDNcp1
71,1 55,7 52,4 45,6 65,6
Fibra em detergente ácido1
63,3 50,3 45,3 40,1 59,4
PIDN1
059 0,51 0,50 0,42 0,81
CIDN1
2,4 2,4 2,3 2,5 2,2
Extrato etéreo1
1,6 1,8 1,8 1,8 1,8
Celulose1 49,0 40,7 33,1 31,1 45,1
Hemicelulose1
10,7 8,2 9,8 8,4 9,2
Lignina1 10,3 8,4 6,8 5,7 9,5
Cinza1 3,6 8,1 10,0 14,0 3,3
DISMS1
51,2 51,1 61,1 65,5 59,6
Nutrientes digestíveis totais2
42,8 54,6 57,3 62,3 47,0 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/
Valores em percentagem da matéria seca. 2/ Estimado segundo o NRC (2006). Proteína indigestível em
detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN), fibra em detergente neutro corrigido
para cinza e proteína (FDNcp), digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS).
Para avaliação dos coeficientes de digestibilidade da matéria seca e dos demais
nutrientes, foi empregada a técnica do indicador interno, tendo a FDN indigestível como fator
de referência. Foram coletadas amostras de fezes diretamente no reto, pela manhã e à tarde,
durante cinco dias consecutivos, no terceiro período experimental. As amostras de fezes foram
acondicionadas em sacos plásticos, previamente identificados, e armazenados em freezer para
posterior processamento e análises. O preparo da amostra composta foi realizado após pré-
secagem e moagem do material.
Para a estimação dos teores da FDNi para obtenção das excreções fecais, amostras
dos alimentos fornecidos, cana-de-açúcar e concentrado, sobras e fezes foram incubadas por
240 horas (CASALI et al., 2008) em duplicata (20 mg MS/cm2), em sacos de tecido não-
tecido (TNT – 100 mg/m2), no rúmen de um novilho mestiço, recebendo dieta mista. Após
este período, os sacos foram retirados, lavados em água corrente, e o material remanescente
da incubação foi levado à estufa de ventilação forçada a 60°C por 72 horas. Foram retirados
50
da estufa e acondicionados em dessecador e pesados, sendo o resíduo obtido considerado
como MSi. Posteriormente, os sacos de TNT foram acondicionados em potes plásticos, onde
foi adicionados 50 mL de solução detergente neutro por saco, vedados e submetidos à fervura
em detergente neutro por uma hora, em autoclave, posteriormente, foram lavados com água
quente e depois com acetona, foram secos e pesados, sendo o novo resíduo considerado como
FDNi.
Os resultados foram submetidos à análise de variância, procedendo-se
posteriormente ao teste Dunnett para avaliar o efeito das doses de óxido de cálcio em relação
à ureia, e análise de regressão para o estudo do efeito das doses de CaO, a 5% de
probabilidade. Foi utilizado o programa SAEG - Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas
da UFV (RIBEIRO JR., 2001) para realização das análises estatísticas.
51
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve diferença (P>0,05) entre os consumos de MS, FDNcp, e NDT FDA da
silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio, em kg/dia, em relação à silagem de cana-de-
açúcar com ureia (Tabela 4). Entretanto, houve efeito (P<0,05) da PB, FDA e carboidratos
não fibrosos, da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com
ureia.
Os consumos de carboidratos não fibrosos e NDT apresentaram efeito (P<0,05) de
dose de CaO com regressão quadrática crescente para a silagem de cana-de-açúcar com óxido
de cálcio, com ponto de máxima de 0,325 kg/dia (dose de 1,42%) e de 0,525 kg/dia (dose de
1,39%), respectivamente (Tabela 4).
Observou-se que a adição do óxido de cálcio não promoveram aumento nos
consumos das silagens com CaO, o que permitiria elevar o consumo de MS e, como
consequência, aumento do consumo da PB, FDNcp, FDA. A ação do aditivo químico em um
volumoso com alto teor de fibra é justamente diminuir os constituintes da parede celular para
poder permitir aumento do consumo voluntário em animais confinados.
Nussio et al. (2006), ao verificarem o valor alimentício da cana-de-açúcar,
constataram que a FDN e os carboidratos solúveis são as duas frações que afetam o consumo
e a digestibilidade, porque a cana-de-açúcar, ao contrário da maioria das plantas forrageiras,
apresenta melhora da digestibilidade da MS com o avanço da maturidade fisiológica em
função dos aumentos dos teores de carboidratos solúveis, sendo também evidenciado por
Resende et al. (2005). Nussio, et al. (2003) observaram também que o consumo de MS de
silagem é determinado pelo tipo de forragem, composição química e digestibilidade no
momento da colheita.
O consumo de MS (% do PV) apresentou diferença (P<0,05) da silagem de cana-de-
açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia. O consumo de MS (% PV)
apresentou efeito quadrático (P<0,05) crescente (Tabela 4), com ponto de máxima de 2,83%
do PV, com um dose de 1,72% de CaO. Contudo, o consumo de FDN e FDNcp (% do PV)
não apresentaram diferença da silagem com CaO em relação à silagem com ureia.
52
Tabela 4 - Médias de quadrados mínimos, coeficiente de variação (CV%) e de determinação (r2) dos consumos (em kg/dia, % do peso vivo e
g/kg0,75
), em ovinos alimentados com dietas contendo silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO
(% matéria natural) Silagem de
cana-de-açúcar
com ureia1
CV
(%)2
Equação de regressão
e coeficiente de determinação 0,0 0,8 1,6 2,4
Consumo (kg/dia)
Matéria seca 0,590 0,769 0,735 0,673 0,650 18,6 Ŷ = 0,692 Proteína bruta 0,051* 0,054* 0,049* 0,049* 0,070 13,7 Ŷ = 0,051
FDNcp 0,308 0,343 0,286 0,303 0,321 17,7 Ŷ = 0,310
FDA 0,247 0,273 0,225 0,202* 0,275 12,9 Ŷ = 0,237
CNF 0,161 0,299 0,318* 0,248 0,202 27,3
Ŷ = 0,162158 + 0,230425*CaO – 0,0814038*CaO2 (R
2 =
1,00)
NDT 0,335 0,504 0,509 0,433 0,413 17,0
Ŷ = 0,339197 + 0,267064**CaO – 0,0958005**CaO2 (R
2
= 0,96) Consumo (% do peso vivo)
Matéria seca 2,36 2,59 2,93* 2,72* 2,37 7,7
Ŷ = 2,32794 + 0,583666*CaO – 0,169753*CaO2 (R
2 =
0,87)
FDN 1,27 1,10 1,24 1,13 1,22 8,9
Ŷ = 1,27066 – 0,632697*CaO – 0,667412*CaO2 (R
2 =
0,33)
FDNcp 1,23 1,15 1,14 1,22 1,17 6,6
Ŷ = 1,23246 – 0,159405**CaO + 0,0644314**CaO2 (R
2 =
0,98) FDA 1,01 0,92 0,90 0,84 1,01 13,1 Ŷ = 0,92
Consumo (g/kg0,75
)
Matéria seca 52,62 60,42 65,01* 60,40 54,30 7,5
Ŷ = 52,3107 + 15,1719**CaO – 4,86454*CaO2 (R
2 =
0,98) FDNcp 27,4 26,9 25,3 27,2 26,8 6,8 Ŷ = 26,7 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria
natural). 2/Coeficiente de variação. (ns) = não significativo; (*) e (**), significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente. Fibra em detergente neutro (FDN), fibra
em detergente neutro corrigido para cinza e proteína (FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos totais (CT), carboidratos não-fibrosos (CNF), nutrientes
digestíveis totais (NDT).
53
O consumo de FDN e FDNcp apresentaram efeito (P<0,05) quadrático decrescente,
com ponto de mínima de 0,83% do PV com dose de 0,47% de CaO e ponto de mínima de
1,13% PV e 1,24% de CaO, para consumo de FDN e FDNcp, respectivamente (Tabela 4).
Estes resultados são diferentes dos encontrados por Carvalho (2008), com consumo
de 3,9% do PV da MS da cana-de-açúcar, tratada com CaO para ovinos Santa Inês, e por
Moraes et al. (2008b), que obtiveram efeito linear no consumo (2,6% do PV) de MS da cana-
de-açúcar, quando tratada com e sem CaO e nível de concentrado.
Verifica-se que a elevação de consumo de MS da cana-de-açúcar, tratada com
diversos aditivos alcalinos, foi observada em diversos estudos (PONTES, 2007; MORAES et
al., 2008a, 2008b; CARVALHO, 2008; SFORCINI et al., 2010), principalmente, quando se
trata de volumosos ensilados, como é o caso da cana-de-açúcar, que difere de outros
volumosos, pois apresenta alto teor de fibra, necessita de tratamento químico com o objetivo
de romper a estrutura desta fibra, para elevar a taxa de passagem e elevar o consumo.
O consumo de FDA (% do PV) não apresentou diferença da silagem de CaO em
relação à silagem com ureia, como também às doses do CaO no tratamento da cana-de-açúcar,
que não apresentaram efeito (P>0,05). Na composição química-bromatológica (Tabela 2), a
lignina caiu de 10,3 para 5,7% e como este componente se correlaciona com a FDA, verifica-
se que, mesmo com a queda da lignina, o consumo da FDA não diferenciou entre as doses de
CaO.
O consumo de MS (g/kg0,75
) apresentou diferença (P<0,05) da silagem de cana-de-
açúcar com CaO, em relação à silagem com ureia, na dose 1,6% de CaO, em que o efeito
(P<0,05) foi quadrático crescente com ponto de máxima de 64,14 g/kg0,75
, correspondente à
1,56% de CaO. Verifica-se que não ultrapassou os 65 g/kg0,75
, em que o limite máximo de
consumo pelos animais também não chegou à dose 1,6% de CaO e que, mesmo diminuindo
os constituintes da parede celular, os animais não conseguiram consumir mais MS que a
quantidade do ponto de máxima, interferindo diretamente no consumo animal.
Van Soest (1994) relatou que o consumo é afetado pelos fatores inerentes ao animal e
à forragem, com ênfase na aceitabilidade e na seleção, e que existem três hipóteses associadas
ao baixo consumo de silagens, pela presença de substâncias tóxica, como aminas, resultante
da fermentação, alto conteúdo de ácidos nas silagens, que diminui a aceitabilidade e a
diminuição da concentração de carboidratos solúveis (energia) para microrganismo do rúmen.
De fato, o consumo neste estudo não esteve como esperado e estimado pelo NRC (2006) para
ovinos, o que diminuiu também o consumo dos nutrientes. Pode também ter ocorrido menor
54
consumo de silagem da cana-de-açúcar, devido ao processo de fermentação, que em
comparação à silagem fresca, há menor consumo.
Neste estudo, houve diferença (P<0,05) para os consumos de cálcio (g/dia) entre as
silagens com doses de CaO em relação à silagem com ureia. Contudo, não se observou
diferença para o consumo do fósforo entre a silagem de CaO em relação à silagem com ureia
(Tabela 5). As doses 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO apresentaram consumo maiores com o aumento
das doses do óxido de cálcio.
Observa-se que o consumo de cálcio (g/dia) apresentou efeito (P<0,05) quadrático
crescente, assim como a razão do consumo de cálcio:fósforo, que também teve efeito
(P<0,05) quadrático crescente. O consumo de cálcio teve ponto de máxima de 18,6 g/dia com
a dose de 2,4% de CaO (Tabela 5 e Figura 1), em que se observa dispersão dos valores do
consumo nas doses 1,6 e 2,4% de CaO, em relação às doses 0,0 e 0,8% de CaO. O consumo
em g/dia de cálcio, conforme a equação, está de acordo com a dose estabelecida para estudo
(2,4% de CaO), mas, mesmo havendo um consumo máximo de 18,6 g/dia, este não
correspondeu em melhor desempenho animal, o que, possivelmente, essa dose não limitou o
consumo dos animais, mas interferiu no ganha diário.
A razão cálcio:fósforo apresentou ponto de máxima 75,8, com uma doze de 3,05% de
CaO (Tabela 5 e Figura 2). Verifica-se que o valor encontrado da razão coaduna com o do
consumo, em que a curva da parábola teve tendência de continuar subindo além da dose
máxima estabelecida neste estudo (2,4% de CaO).
Considerando consumo de cálcio em g/dia, numa dieta para ovinos, os valores
encontrados são considerados altos, quando comparados às dietas sem adição do óxido de
cálcio, pois, o aumento das doses favoreceu, consideravelmente, a quantidade elevada desse
mineral na dieta total dos ovinos, diferente da recomendação de exigências pelo NRC (1985),
que considera um requerimento absoluto de cálcio (Ca) e fósforo (P) para ovinos em
crescimento de 183 mg de Ca e 103 mg de P/kg de peso vivo, enquanto a Agricultural
Research Council (ARC) (1980) estimou 11 g de Ca e 6 g de P/kg de peso vivo. Ambas as
instituições admitem que os requerimentos líquidos de macro elementos minerais são
constantes e independem do peso do animal. Já para Agricultural and Food Research Council
(AFRC) (1991), o depósito de Ca e P decrescem com a maturidade do animal, independente
das quantidades da dieta.
55
Tabela 5 - Médias de consumo e excreção de cálcio (Ca), fósforo (P) e da razão cálcio:fósforo (Ca/P) de ovinos alimentados com silagem de da
cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO
(% matéria natural) Silagem de
cana-de-açúcar
com ureia1
CV (%)
2 Equação de regressão
0,0 0,8 1,6 2,4
Consumo (g/dia)
Cálcio2
1,2 10,2* 17,1* 18,4* 2,3 31,9 Ŷ = 1,04087 + 14,6392**CaO – 3,05484*CaO
2
(R2 = 0,83)
Fósforo3 0,18 0,31 0,26 0,27 0,24 26,0 Ŷ = 0,26
Razão do consumo de Ca:P
Cálcio:Fósforo4
8,6 33,0* 65,4* 70,9* 10,4 21,9 Ŷ = 6,84156 + 45,1983**CaO – 7,40328*CaO (R
2 =
0,89) * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria
natural). 2/Coeficiente de variação. (ns) = não significativo (P>0,05); (*) e (**), significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.
56
O ARC (1980) estabeleceu as exigências dietéticas de cálcio e fósforo para ovinos
com peso médio de 25 kg e ganho de 100 e 200 g/dia, que são de 1,547 e 0,684 g/animal/dia e
3,094 e 1,368 g/animal/dia, respectivamente. De acordo com essas recomendações, os
consumos desses minerais pelos ovinos, neste estudo, estão bastante acima da recomendação,
o que, possivelmente, interferiu no consumo de matéria seca e, consequentemente, no
consumo de nutrientes.
Neste estudo, estimou-se por meio da equação do NRC (2006) ganho de 150 g/dia
para cordeiros de 24,00 kg de peso vivo. Apesar de o estimado ser bastante diferente do
observado e não terem ocorrido os ganhos estabelecidos, pode-se inferir que, tanto a silagem
de cana-de-açúcar com ou sem CaO como a ureia não corresponderam com a expectativa de
ganho esperada.
Figura 1 – Consumo de cálcio (g/dia) da silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio, em
dietas para ovinos
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
0 0,8 1,6 2,4
Consu
mo c
álc
io (
g)
Dose de CaO
Ŷ = 1,04087 + 14,6392*CaO - 3,05484**CaO2 (R = 0,83)
57
Olalquiaga Pérez et al. (2001) trabalharam com composição corporal e exigências
nutricionais de cálcio e fósforo de cordeiros Santa Inês em crescimento e verificaram que a
exigência líquida desses minerais para mantença de animais de 25 kg de peso vivo e ganho de
200 g é de 2,10 e 0,99 g/dia, para o cálcio e fósforo, respectivamente, o que é bastante inferior
aos encontrados neste estudo, e a exigência dietética é de 3,09 e 1,37 g/dia, para o cálcio e
fósforo, respectivamente. Geraseev et al (2000) trabalharam com composição corporal e
exigências nutricionais em cálcio e fósforo para ganho e mantença de cordeiros Santa Inês dos
15 kg aos 25 kg de peso vivo e verificaram que os requisitos líquidos de cálcio e fósforo para
mantença, estimados para animais entre 15 e 25 kg de peso vivo, é de 305 mg de cálcio/dia e
325 mg de fósforo/dia.
Figura 2 – Razão do cálcio e fósforo na silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio (CaO),
em dietas para ovinos
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
0 0,8 1,6 2,4
Razã
o C
a:P
Dose de CaO
Ŷ = 6,84156 + 45,1983*CaO - 7,40328**CaO2 (R
2 = 0,89)
58
Louvandini & Vitti (2007); Bravo et al. (2003a); Dias et al. (2007) comentaram que o
aumento do teor de P da dieta em ovinos eleva sua absorção e sua excreção pelas fezes, sendo
esta a rota preferencial de eliminação. Louvandini & Vitti (2007) argumentaram que o P
consumido e o P da urina estão associados à estabilização da perda endógena fecal, que está
associada ao excesso do mineral ingerido e quanto ao tipo de alimento ingerido, pois, quanto
maior o teor de fibra efetiva ingerida, maior salivação e excreção de P pelas fezes (BRAVO et
al., 2003b).
A literatura tem demonstrado que existe um inter relacionamento entre o Ca e P
(CHALLA et al., 1989) caracterizado por mudanças no metabolismo do Ca que podem ser
causadas por variações nos níveis deste mineral, como também o inverso é verdadeira. Vitti et
al. (2006) comentaram que altos valores de Ca fecal podem indicar menor biodisponibilidade
do Ca na fonte fornecida, ocasionando maiores perdas de Ca, passando diretamente pelo trato
digestivo, sem que haja absorção.
De acordo com os níveis adequados de fósforo dietético (NRC, 1980), os ruminantes
podem tolerar uma relação de Ca:P tão grande que pode chegar até 7:1 e/ou 2 por cento de
cálcio na dieta. Entretanto, a ingestão em longo prazo de fósforo, em níveis que representem 2
a 3 vezes os requisitos para a manutenção, pode causar aumento da reabsorção óssea em
animais adultos, e uma diminuição na relação Ca:P (<2:1), podendo contribuir para um
aumento da incidência de cálculos urinários em ovinos inteiros e castrados. Mesmo com a
inclusão de 1% de sal mineral na dieta, que permitiu uma relação entre esses dois minerais de
2,4:1, a adição de óxido de cálcio, como aditivo químico, elevou consideravelmente seus
níveis, com o intuito de preservar a cana-de-açúcar ensilada, causando desequilíbrio na
relação dos minerais, o que possivelmente interferiu no desempenho dos animais e piorou
com o aumento da doses.
De acordo com Salviano & Vitti (1998), a proporção de Ca:P de 1,5:1,0 é
considerada a melhor, sendo que a adição de maior quantidade de Ca na dieta 3,0:1,0 não traz
nenhum benefício, em termos de absorção e eficiência de absorção de P.
O fósforo é um elemento versátil, do ponto de vista metabólico, desempenhando
diversas funções bioquímicas e fisiológicas, sendo envolvido em quase todas as vias
metabólicas e, principalmente, no metabolismo energético. De acordo com Runho et al.
(2001), os fosfolipídios são os principais meios de transporte de ácido graxos do organismo,
pois afetam a permeabilidade celular, influenciando o apetite e a eficiência alimentar.
59
Barcelos (1998) comenta da importância do fósforo sobre a atividade dos
microrganismos do rúmen, havendo diminuição dos ácidos graxos, quando ocorre sua
deficiência, e também a exigência das bactérias celulolíticas por fósforo é tão grande quanto
às do animal hospedeiro.
Segundo Nicodemo et al. (2000), a redução no consumo de alimentos é um dos
principais sintomas de deficiência de fósforo, sendo relacionada à redução da digestão da
fibra pela limitação da atividade e síntese de proteína microbiana.
Uma fator para redução da absorção do fósforo ingerido de dietas com baixo teor de
fósforo pode ser a alta razão cálcio:fósforo, que acima de 5:1 resulta em precipitação do
fosfato no trato gastrointestinal, provocando consequência para a atividade microbiana
ruminal, afetando a digestibilidade da MS (CHALLA & BRAITHWAITE, 1988). Este fato
pode ter ocorrido neste estudo, pelos baixos consumos de fósforo apresentado e por uma razão
entre este dois minerais que variou de 8,6:1 até 70,9:1. Entretanto, doses mais altas de fósforo
não afetaram a digestibilidade da MS, PB e FDN em dietas com doses diárias de 8, 12, 15 e
18 g/dia de fósforo, tendo como volumoso a cana-de-açúcar, como foi verificado por Souza et
al (2007).
Não houve diferença (P>0,05) para a digestibilidade de MS, FDN, FDA e NDT das
silagens com CaO em relação à silagem com ureia (Tabela 6). O extrato etéreo não apresentou
diferença da silagem com CaO em relação à silagem com ureia, mas apresentou efeito
(P<0,05) linear crescente para as doses de CaO (Tabela 6). A PB apresentou diferença
(P<0,05) da silagem de cana-de-açúcar com CaO em relação à silagem com ureia.
A adição do óxido de cálcio não foi eficiente para melhorar a digestibilidade da MS,
PB, FDN, FDA e NDT da cana-de-açúcar ensilada. Mesmo tendo verificado que houve
melhora nos constituintes da parede celular, a digestibilidade não melhorou, o que
possivelmente, se deve ao tempo da taxa de passagem ter sido mais lenta, havendo maior
retenção da digestão, e acarretando em menor consumo.
Cavali (2006), ao estudar a cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio, verificou
que as doses (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%) de óxido de cálcio na cana in natura aumentaram os
valores em 66,9; 70,2; 71,4; 73,4 e 81,0% da DIVMS. Entretanto, com a silagem da cana-de-
açúcar, observou-se valores 48,4; 65,6; 74,9; 78,2 e 81,5% para os mesmos tratamentos
anteriores com CaO, no qual o autor ressalta que a adição de 1,5% resulta em maior
digestibilidade in vitro da MS, em que a digestibilidade de MS, neste estudo, ficou abaixo dos
valores encontrados pelo autor.
60
Campos et al. (2010) verificaram maiores consumos de nutrientes em dietas à base
de cana-de-açúcar in natura com FDN igual a 48,87%, abaixo dos valores encontrados neste
estudo. Entretanto, Dias et al. (2000) observaram efeito quadrático, de acordo com o nível de
concentrado na digestibilidade da FDN. O aumento da digestibilidade da MS também
aumenta o NDT, sendo verificado por Cappelle et al. (2001), reduzindo com a elevação do
FDN e FDA.
A digestibilidade dos carboidratos totais e carboidratos não fibrosos apresentou
diferença (P<0,05) entre a silagem com CaO em relação às silagens com ureia. Os
carboidratos totais apresentaram efeito (P<0,05) quadrático crescente com ponto de máxima
de 76,7% para uma dose de 1,77% de CaO (Tabela 6 e figura 3). Os carboidratos não fibrosos
apresentaram efeito linear (Tabela 6 e figura 4). Possivelmente, a ação do aditivo sobre a
parede celular da cana-de-açúcar proporcionou, para a dose de 1,77% de CaO, maior
digestibilidade pela solubilização parcial da hemicelulose, expansão da celulose e redução da
lignina, o que permitiu maior ataque dos microrganismos ruminais. A ação da cal sobre a fibra
da cana-de-açúcar propiciou aumento dos carboidratos totais e não fibrosos.
Pontes (2006) verificou que a utilização de óxido de cálcio não influenciou a
digestibilidade dos carboidratos totais, enquanto que Balieiro Neto et al. (2007) observaram
que, nas silagens de cana-de-açúcar, tratada com óxido de cálcio, as que apresentaram os
maiores valores de digestibilidade foram as que tiveram maiores teores de CNF.
Foi verificada, neste estudo, esta tendência, em que as silagens de cana-de-açúcar
com óxido de cálcio apresentaram melhor percentual da digestibilidade dos carboidratos totais
e reduziram com a adição de dose acima de 1,77% de CaO. Para a digestibilidade dos
carboidratos não fibrosos, a ação da cal na cana-de-açúcar com doses maiores, possivelmente,
teria efeito.
61
Tabela 6 - Médias de quadrados mínimos e coeficiente de variação (CV%) da digestibilidade da matéria seca (DMS), da proteína bruta (DPB),
do extrato etéreo (EE), da fibra em detergente neutro (FDN), da fibra em detergente ácido (FDA), dos carboidratos totais (DCT) dos
carboidratos não fibrosos e nutrientes digestíveis totais (NDT) em ovinos alimentados com dietas contendo silagem de cana-de-
açúcar com óxido de cálcio (CaO) e ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)
Silagem de
cana-de-açúcar com ureia
1
CV
(%)2
Equação de regressão
0,0 0,8 1,6 2,4
Digestibilidade (%)
DMS 61,5 68,4 69,1 67,2 63,9 6,5 Ŷ = 66,6
DPB 50,7* 49,2* 44,6* 46,2* 65,3 16,1 Ŷ = 44,7 DEE 60,1 66,0 70,9 71,1 68,3 10,2 Ŷ = 61,3436 + 4,73240**CaO (r
2 = 0,89)
DFDN 49,8 54,7 55,6 56,5 51,9 11,0 Ŷ = 54,2
DFDA 52,8 54,1 52,1 56,6 51,6 9,6 Ŷ = 53,9
DCT 64,2 74,5* 75,2* 75,6* 64,8 4,5 Ŷ = 64,6201 + 13,6194**CaO – 3,84347**CaO
2
(R2 = 0,95)
DCNF 87,3 93,9* 95,3* 95,4* 87,1 4,3 Ŷ = 89,1812 + 3,13080**CaO (R2 = 0,72)
NDT 49,8 54,7 55,6 56,6 52,0 11,0 Ŷ = 54,2 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria
natural). 2/Coeficiente de variação. (ns) = não significativo; (*) e (**), significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.
62
Figura 3 - Digestibilidade das frações dos carboidratos totais (CT) da silagem de cana-de-açúcar com
doses de óxido de cálcio (CaO), em dietas para ovinos
O trabalho de Oliveira et al. (2007b) corroboram com o deste estudo, no qual
verificaram que na digestibilidade da cana-de-açúcar hidrolisada, in natura e ensilada, houve
um aumento linear para a digestibilidade dos carboidratos totais, possivelmente, pelo fato de
ter havido maior consumo dos carboidratos não fibrosos, que também se mostrou com alta
digestibilidade. Entretanto, Moraes et al. (2008b), diferentemente do presente estudo, não
encontraram efeito na digestibilidade ruminal dos CT, e Cunha et al. (2008) verificaram em
dietas para ovinos Santa Inês, que a digestibilidade dos CNF apresentou efeito linear
decrescente e na CT não houve diferença com adição do nível do caroço de algodão integral.
Houve diferença (P>0,05) para o ganho de peso diário dos ovinos alimentados com as
silagens com CaO em relação à silagem com ureia. Verificou-se que o ganho médio diário
apresentou efeito quadrático crescente com ponto de máxima de 73,26 g/dia para uma dose de
1,15% de CaO. A conversão alimentar não apresentou diferença (P>0,05) da silagem da cana-
de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia (Tabela 7).
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
0 0,8 1,6 2,4
Dig
esti
bil
idad
e dos
carb
oid
rato
s to
tais
(%
)
Dose de CaO
Ŷ = 64,6201 + 13,6194**CaO – 3,84347**CaO2 R
2 = 0,95
63
Figura 4 - Digestibilidade das frações dos carboidratos não fibrosos (CNF) da silagem de cana-de-açúcar
com doses de óxido de cálcio (CaO) em dietas para ovinos
Este resultado está bem abaixo do estimado pelo NRC (2006), que preconiza, de acordo a
dieta (volumoso + concentrado) relação 70:30, um ganho de 150 g/dia e, possivelmente, em
função não somente da dieta à base de cana-de-açúcar, por ser um volumoso que apresenta
características nutricionais abaixo das necessidades de certas categorias animais, como
também, possivelmente, do desequilíbrio da alta concentração de Ca, e da razão
desproporcional de Ca:P.
A redução dos constituintes da parede celular como FDN, FDA, lignina e melhoria
da digestibilidade dos carboidratos, evidencia para um melhor valor nutritivo da silagem da
cana-de-açúcar, mas o aumento das doses de óxido de cálcio foi limitante quanto ao
desempenho, não permitindo maiores ganhos de peso diário dos ovinos. Essa resposta está
associada à menor ingestão dos nutrientes pelos animais, o que resulta em maior tempo de
permanência da silagem no trato digestivo, prejudicando o consumo, ou até mesmo porque as
doses de CaO não influenciaram a digestibilidade da MS, bem como da fibra em detergente
neutro da silagem com CaO ou ureia.
82,00
84,00
86,00
88,00
90,00
92,00
94,00
96,00
98,00
100,00
0 0,8 1,6 2,4
Dig
esti
bil
idad
e dos
carb
oid
rato
s não f
ibro
sos
(%)
Dose de CaO
Ŷ = 89,1812 + 3,13080**CaO r2 = 0,72
64
Tabela 7 - Ganho do peso diário (GPD), conversão alimentar (CA) e coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com dietas
contendo silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (%
matéria natural) Silagem de
cana-de-açúcar
com ureia1
CV (%)
2
Equação de regressão
0,0 0,8 1,6 2,4
Desempenho
Ganho de peso diário (g)2
45,0 84,7* 56,0 49,2 43,9 32,1 Ŷ = 49,4907 + 41,5261*CaO – 8,1362**CaO
2 (R
2
= 0,57)
Conversão alimentar (kg/kg)3
9,4 9,5 10,4 12,8 12,4 20,3 Ŷ = 10,5 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria
natural). 2/Coeficiente de variação. (ns) = não significativo; (*) e (**), significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.
65
4. CONCLUSÕES
Recomenda-se o uso de 0,8% de óxido de cálcio na ensilagem da cana-de-açúcar, em
dietas para ovinos confinados, por promover melhor ganho de peso.
A utilização de ureia na ensilagem da cana-de-açúcar, em dietas para ovinos, não
altera o desempenho dos animais.
O aumento no consumo de cálcio reduz o consumo dos componentes da fibra,
prejudicando o desempenho dos ovinos.
A baixa ingestão de fósforo reduz o consumo dos alimentos, bem como a alta razão
entre o cálcio e fósforo afeta a digestibilidade da matéria seca, da proteína bruta e da fração
fibrosa.
66
5. REFERÊNCIAS
AFRC-AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL (Farnham Royal,
Inglaterra). A reappraisal of the calcium and phosphorus requirements of sheep and cattle.
Nutrition Abstracts and Reviews, Series B, Wallingford, v.61, n.9, p.573-612, 1991.
ALLEN, M.S. Effects of diet on short-term regulation of feed intake by lactating dairy cows.
Journal of Dairy Science, v.83, n.7, p.1598-1624, 2000.
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70
CAPÍTULO 3
Balanço de nitrogênio e síntese de proteína microbiana em ovinos alimentados com
cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia
RESUMO
Avaliou-se o balanço de nitrogênio, excreção de ureia e síntese de proteína
microbiana em ovinos alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou
ureia. Foram utilizados 20 cordeiros da raça Santa Inês, castrados, com peso médio de 24 kg,
distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado, em baias individuais, com cinco
tratamentos, quatro níveis com óxido de cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) e um com ureia (1,5%),
ambos na matéria natural. A dieta teve a proporção de 70:30 volumoso:concentrado. O
período experimental foi de 77 dias, 14 dias de adaptação da dieta e três períodos de 21 dias.
O N-ingerido e N-digerido na urina apresentaram diferença entre as silagens de CaO e ureia, e
apresentaram efeito linear decrescente da silagem de cana-de-açúcar com CaO. Foi observado
efeito linear decrescente para o N-urina (g/dia). Houve diferença para as concentrações de N-
ureico na urina e no plasma em relação às silagens de CaO e de ureia, que apresentou efeito
quadrático crescente e decrescente, respectivamente, para as doses de CaO. As excreções
(g/dia e mg/kg PV) de ureia na urina e N-ureico na urina foram semelhantes em relação às
silagens com CaO e ureia. As excreções urinárias (mmol/dia) apresentaram efeito quadrático
para alantoína e ácido úrico. Os derivados de purina (% das purinas totais) apresentou
diferença para o alantoína e ácido úrico na silagem com CaO em relação à silagem com ureia.
Houve diferença para a produção microbiana entre as silagens com CaO e com ureia. A
eficiência microbiana (g PB/kg NDT) apresentou diferença entre as silagens com CaO e com
ureia e efeito quadrático para doses de CaO. As dietas com óxido de cálcio apresentam baixa
ingestão de proteína bruta e dos compostos nitrogenados microbianos, e ainda reduz a
eficiência microbiana. A ureia apresenta melhor eficiência de produção dos compostos
nitrogenados retendo mais nitrogênio e também melhora a produção microbiana. As excreções
de ureia na urina, as purinas e a produção microbiana não são influenciados pelo uso de óxido
de cálcio.
Palavras-chave: alantoína, eficiência microbiana, derivados de purinas, nitrogênio ureico,
xantina-hipoxantina
71
CHAPTER 3
Nitrogen balance and microbial protein synthesis in sheep fed sugar cane ensiled with
urea or calcium oxide
ABSTRACT
We evaluated the nitrogen balance, excretion of urea and microbial protein
synthesis in sheep fed sugar cane ensiled with urea or calcium oxide. The study of 20 Santa
Inês lambs, steers, weighing 24 kg, distributed in a completely randomized design in
individual stalls, with five treatments, four levels with calcium oxide (0.0, 0.8, 1.6 and 2.4%)
and urea (1.5%), both in natural matter. The diet was offered the 70:30 ratio
roughage:concentrate. The experiment lasted 77 days, 14 days of dietary adaptation and three
periods of 21 days. The N-N-digested and ingested and urine showed differences among
silages CaO and urea, in a linear effect of decreasing silage cane sugar with CaO. Linear
decreasing effect was observed for the N-urine (g/day). There were differences for the
concentrations of N-urea in urine and plasma in relation to silage CaO and urea, which had a
quadratic effect increase and decreasing, respectively, for doses of CaO. The excretions (g/day
and mg/kg BW) of urea in urine and N-urea in the urine were similar in the silage with urea
and CaO. The urinary (mmol/day) responded quadratically to allantoin and uric acid. The
purine derivatives (% of total purine) differ for allantoin and uric acid in silage with CaO for
silage with urea. There were differences in microbial production of silage with urea and CaO.
Microbial efficiency (g CP/kg TDN) showed difference between silage with urea and CaO
and whit quadratic effect for doses of CaO. Diets containing calcium oxide have a lower
intake of crude protein and microbial nitrogen compounds, and also reduces the microbial
efficiency. Urea has a better production efficiency of the nitrogen retaining more nitrogen and
also improves the microbial production. The excretion of urea in the urine, purines and
microbial production is not affected by the use of calcium oxide.
Keywords: allantoin, microbial efficiency, purine derivatives, nitrogen urea, xanthine
hypoxanthine
72
1. INTRODUÇÃO
A forragem constitui a forma mais barato de alimentação de animais ruminantes,
sendo que a estacionalidade passa a ser um fator bastante comprometedor da produção de
bovinos, principalmente no período de escassez, que prejudica o desempenho. Uma
alternativa é conservar forragens, na forma de silagem (RIBEIRO et al., 2005), pois
proporciona alimento de qualidade e/ou usar volumoso proveniente de resíduos ou sub
produtos, sendo que alguns deste necessitam de tratamentos químicos para melhorar o valor
nutritivo (CARDOSO et al., 2004; PIRES et al., 2006; SIQUEIRA et al., 2007; CARVALHO,
2008).
A cana-de-açúcar atualmente é um volumoso usado na suplementação animal, na
forma in natura ou de silagem, e tem se mostrado como alternativa interessante no aspecto
econômico quanto operacional (RIBEIRO et al., 2005) e que, mesmo precisando ser
suplementada com proteínas, apresenta melhora na digestibilidade da matéria seca com o
avanço da maturidade fisiológica pelo aumento dos carboidratos solúveis (RESENDE et al.,
2005).
A ingestão de matéria seca, considerada de extrema relevância no sistema de
produção de ruminantes, garante nutrientes importantes para realizar as funções metabólicas e
atender às exigências de mantença (CARVALHO, 2008). No caso da cana-de-açúcar, nem
sempre é possível devido à baixa digestibilidade da fibra, com efeito negativo de redução da
taxa de passagem e aproveitamento dos alimentos no rúmen (SCHMIDT, 2006).
Observa-se então que os ruminantes apresentam uma maior eficiência no
aproveitamento da energia dos alimentos fibrosos que os demais herbívoros. Estes
maximizam a utilização dos carboidratos celulósicos por causa do seu trato digestivo. A
câmara de fermentação (retículo-rúmen) precede o principal sítio digestivo. Desta maneira, os
produtos da fermentação terão mais eficiência de uso (VAN SOEST, 1994).
A fermentação dos alimentos no rúmen ocorre por uma combinação de
fermentação microbiana e a degradação física durante a regurgitação de alimentos por
ruminação. O ataque microbiano é realizado por uma população mista de bactérias,
protozoários ciliados e um pequeno número de fungos anaeróbios, sendo que o resultado são
os produtos da fermentação microbiana, disponíveis para absorção pelo ruminante
(NAGARAJA, 2007). O crescimento microbiano no rúmen está associado à capacidade
73
digestiva do animal e influencia a produção de ácidos graxos voláteis (AVG) e o fluxo de
proteína microbiana para o intestino delgado (HOOVER & STOKES, 1991).
Após a fermentação dos alimentos, certos compostos nitrogenados são eliminados
pelos mamíferos, como a ureia, que constitui o principal deles, além dos derivados de purinas
(RUSSELL et al., 1992). A concentração plasmática de ureia está relacionada à ingestão de
compostos nitrogenados (VALADARES et al., 1997a). Por isso, a sua determinação é de
grande importância para evitar perdas de proteína, visto que este nutriente onera grandemente
os custos, quando se formula dietas (MENDONÇA et al., 2004), sendo que quantificar a
síntese de proteína microbiana no rúmen é importante na nutrição dos ruminantes.
Observa-se que os derivados de purinas, a hipoxantina, xantina, ácido úrico e
alantoína são produtos do catabolismo das purinas excretadas na urina de ruminantes, sendo a
alantoína o maior componente. Estes derivados de purinas originam-se de duas fontes: as
purinas, absorvidas no intestino delgado, e as endógenas, que são liberadas do metabolismo
dos ácidos nucleicos, sendo que sua excreção está diretamente relacionada com a absorção de
purinas. Conhecendo-se a relação N purina/N total na massa microbiana, a absorção de N
microbiano pode ser calculada a partir da quantidade de purina absorvida, que é estimada a
partir da excreção urinária de derivados de purina (CHEN & GOMES, 1992).
Objetivou-se neste estudo avaliar o balanço de nitrogênio e a síntese, excreção de
ureia, síntese de proteína microbiana de ovinos recebendo silagens de cana-de-açúcar com
doses de oxido de cálcio ou ureia.
74
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de ovinocultura “Ensaios Nutricionais de
Ovinos e Caprinos”, no “Laboratório de Forragicultura e Pastagens” e de “Fisiologia Animal”
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, no Campus de Itapetinga, BA.
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com cinco tratamentos,
com doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO na matéria natural da cana-de-açúcar, e um
tratamento com a utilização de 1,5% de ureia também na matéria natural da cana-de-açúcar,
todos aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições para cada um.
Foram utilizados 20 cordeiros da raça Santa Inês, castrados, com peso corporal
médio de 24,0 kg, com três meses de idade, os quais foram mantidos em baias individuais de
1,5 m2 com piso de cimento varrido, as baias foram providas de comedouros e bebedouros,
dispostos frontalmente em cada baia, e alimentados com dieta contendo 70% da silagem de
cana-de-açúcar com doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de óxido de cálcio (CaO) na matéria natural
e silagem de cana-de-açúcar com ureia (1,5% na matéria natural) e 30% de concentrado
(Tabela 1). A cana-de-açúcar foi picada, em uma picadeira de forragem convencional,
padronizando o tamanho das partículas médio de 1 a 2 cm, misturada em piso de alvenaria
para uma completa homogeneização. Em seguida, foi pesada, separada em quantidades de 140
kg, e depois essas amostras foram tratadas, de acordo com as doses de óxido de cálcio e a
dose de ureia, e acondicionadas em tonéis de 200 Litros, mantendo densidade de 700 kg de
matéria natural/m3, posteriormente, foram lacradas com lona dupla face (preta e branca) de
200 micras. A cana-de-açúcar de variedade RB 72-454, tratada, foi ensilada por um período
de 30 dias, quando foram abertos os tonéis para retirar as amostras.
A cana-de-açúcar, nos tratamentos com CaO, no momento do fornecimento aos
animais, foi corrigida inicialmente com 0,5% de ureia, apenas nos tratamentos com óxido de
cálcio, (mistura de ureia + sulfato de amônio) na relação 9:1, e após o período de adaptação,
foi corrigida para 1% na base da matéria natural, na qual a ureia era adicionada após a
pesagem do volumoso e do concentrado e, em seguida, toda a mistura era homogeneizada. As
dietas foram calculadas com base no NRC (2006), para permitir que houvesse nutrientes
suficientes para um ganho de peso de 150 g/dia. Estas foram balanceadas para conterem
aproximadamente 13% de proteína bruta e 53% de nutrientes digestíveis totais. Quanto à
bromatológica da dieta da cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia, corrigida
com 1% de ureia, para balanceamento da proteína (Tabela 2).
75
Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das dietas (% da
matéria seca)
Ingrediente Concentrado Dieta
Silagem de cana
com CaO
Silagem de cana
com ureia
Silagem de cana
com CaO
Silagem de cana
com ureia
Silagem de cana-de-açúcar1
- - 70,00 70,0
Milho 56,67 65,66 17,00 19,71
Farelo de soja 26,67 27,70 8,00 8,29
Ureia 10,00 ----- 3,00 -----
Sal comum 3,33 3,32 1,00 1,00
Sal mineral2
3,33 3,32 1,00 1,00
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 1/ cana-de-açúcar com diversas doses de óxido de cálcio ou ureia. 2/ Quantidade por kg do produto: Ca = 155 g, P = 65 g, S = 12 g, Mg = 6 g, Na = 115 g, Co = 175 mg, Cu = 100
mg, I = 175 mg, MN = 1400 mg, Ni = 42 mg, Se = 27 mg, Zn = 6000 mg, Fe = 1000 mg.
O experimento durou 77 dias, constituídos de três períodos experimentais, composto
de 21 dias cada um e 14 dias, que foram destinados ao período de adaptação dos animais. No
terceiro período experimental, foram realizadas coletas de fezes durante 5 (cinco) dias.
Nas amostras coletadas, foram realizadas as seguintes análises: matéria seca (MS),
nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro corrigido
para cinza e proteína (FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), proteína insolúvel em
detergente neutro (PIDN), cinza insolúvel em detergente neutro (CIDN), extrato etéreo (EE),
celulose, hemicelulose, lignina, cinza, nutrientes digestíveis totais (NDT), conforme técnicas
descritas por Silva & Queiroz (2002), e a digestibilidade “in situ” da matéria seca por 48
horas (DISMS) (ORSKOV et al., 1980), sendo que a fibra em detergente neutro corrigido para
cinza e proteína (FDNcp) foi segundo Mertens (2002).
76
Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO
(% matéria natural)
Silagem de
cana-de-
açúcar com ureia
1 0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca (%) 41,1 42,6 43,2 43,2 41,5
Proteína bruta2
14,6 14,7 14,6 14,5 14,8
FDN2
55,7 49,9 42,5 37,9 51,2 NDT
2,3 50,6 58,9 60,8 64,3 53,6
1cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2 base da matéria seca; 3 estimado segundo NRC (2006).
FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; NDT: nutrientes digestíveis totais.
As dietas experimentais foram fornecidas à vontade, duas vezes por dia, sendo
realizado o fornecimento às 7h00 e às 15h00, de forma que as mesmas foram ajustadas para
manter sobras de aproximadamente 10% do fornecido. As coletas das amostras ocorreram
durante todo o período experimental (três períodos de 21 dias), quando eram coletados
volumoso, concentrado e a sobra de cada animal, feita diariamente, as quais eram
acondicionadas em sacos plásticos, previamente identificados, referente a cada animal, e
armazenada em freezer para posteriores análises. Todos os animais foram pesados no início
do período experimental e no fim de cada período experimental. A composição química da
cana-de-açúcar com óxido de cálcio ou ureia está disposta na Tabela 3.
Na realização da pré-secagem, as amostras coletadas foram descongeladas,
acondicionadas em vasilhame de alumínio, pesadas e levadas à estufa de 60°C por 72 horas.
Em seguida, foram retiradas da estufa, mantidas à temperatura ambiente por duas horas,
pesadas e moídas em moinho com peneiras contendo crivos de 1 mm e acondicionadas em
vasilhames de plástico com tampa, identificados para posteriores análises.
77
Tabela 3 – Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio
(CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)
Silagem de cana-de-
açúcar com
ureia 0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca (%) 20,1 22,3 23,1 23,2 20,7
Proteína bruta1 1,15 1,23 1,15 1,10 14,9
Fibra em detergente neutro1 74,0 58,6 55,1 48,5 68,6
FDNcp1
71,1 55,7 52,4 45,6 65,6
Fibra em detergente ácido1
63,3 50,3 45,3 40,1 59,4
PIDN1
059 0,51 0,50 0,42 0,81
CIDN1
2,4 2,4 2,3 2,5 2,2
Extrato etéreo1
1,6 1,8 1,8 1,8 1,8
Celulose1 49,0 40,7 33,1 31,1 45,1
Hemicelulose1
10,7 8,2 9,8 8,4 9,2
Lignina1 10,3 8,4 6,8 5,7 9,5
Cinza1 3,6 8,1 10,0 14,0 3,3
DISMS1
51,2 51,1 61,1 65,5 59,6
Nutrientes digestíveis totais2
42,8 54,6 57,3 62,3 47,0 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/
Valores em percentagem da matéria seca. 2/ Estimado segundo o NRC (2006). Proteína indigestível em
detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN), fibra em detergente neutro corrigido
para cinza e proteína (FDNcp), digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS).
No décimo terceiro dia do terceiro período experimental, foi realizada a coleta de
urina, spot, em micção espontânea dos animais, aproximadamente quatro horas após o
fornecimento da dieta matinal. As amostras foram filtradas em gaze, onde uma alíquota de 10
mL da amostra foi separada e diluída em 40 mL de H2SO4 a 0,036N e elaboradas com pH
abaixo de 3 para evitar a destruição bacteriana dos derivados de purina urinários e a
precipitação de ácido úrico. Posteriormente, foram armazenadas a -20ºC e submetidas a
análises para quantificação das concentrações de alantoína, xantina-hipoxantina e ácido úrico,
como descrito por Chen & Gomes (1992).
Para estimar a síntese microbiana ruminal, as análises de derivados de purinas
(alantoína, ácido úrico, xantina-hipoxantina) foram realizadas nas amostras de urina,
conforme metodologias descritas por Chen & Gomes (1992).
78
A excreção diária de creatinina foi estimada usando 17,53 mg/kg de PV
(CARVALHO, 2008) como referência para ovinos no referido experimento, com a seguinte
fórmula: ECCT (mg/L) x VU (L) / (PV);
Em que:
ECCT = excreção de creatinina (mg/L) na amostra de urina (coleta total);
VU = volume urinário médio obtido nos dias de coleta de urina;
PV = peso vivo do animal (kg).
O volume urinário utilizado para estimar a excreção de purinas totais (PT) das
amostras de urina spot foi obtido, para cada animal, nos diferentes tratamentos, dividindo-se a
excreção de creatinina obtida no procedimento anterior, da coleta total (mg/kg de PV), pela
concentração média de creatinina (mg/dL) na amostra de urina spot, multiplicando-se o
resultado pelo respectivo peso vivo do animal.
A coleta de sangue foi realizada na veia jugular, no 14º dia, com aproximadamente
quatro horas após o fornecimento da alimentação da manhã, utilizando-se tubos de
(VacutainerTM
) de 5 mL com EDTA como anticoagulante. Logo em seguida, as amostras
foram transferidas para o laboratório, centrifugadas a 3.500 rpm por 10 minutos e o plasma
acondicionado em ependorfs e mantido congelado a -20ºC para posteriores análises.
Foram realizadas a estimação das concentrações de creatinina, ácido úrico e ureia na
urina e plasma utilizando kits comerciais. A conservação dos valores de ureia em nitrogênio
ureico foi realizada pela multiplicação dos valores obtidos pelo fator 0,4667. Os teores
urinários de alantoína, ácido úrico, xantina- hipoxantina foram estimados por intermédio de
métodos calorimétricos, conforme especificação de Chen & Gomes (1992), sendo o teor de
nitrogênio total estimado pelo método de Kjeldhal (SILVA e QUEIROZ, 2002).
O balanço de nitrogênio, N-retido (g/dia) foi calculado como:
N-retido = N ingerido (g) – N nas fezes (g) – N na urina (g).
A excreção total de derivados de purinas foi calculada pela soma das quantidades de
alantoína, ácido úrico, xantina-hipoxantina, presentes na urina, e alantoína expressa em
mmol/dia. As purinas absorvidas (X, mmol/dia) foram estimadas a partir da excreção de
derivados de purina (Y, mmol/ dia), pela equação proposta por Chen & Gomes (1992) para
ovinos:
Y = 0,84X + (0,150 PV0,75
e-0,25X
)
79
em que: 0,84 = eficiência de absorção de purinas exógenas; 0,150 PV0,75
= excreção
endógena de derivados de purina; e e-0,25X
= taxa de substituição da síntese “do novo” por
purinas endógenas.
A síntese ruminal de proteína microbiana (g NM/dia) foi calculada em função das
purinas absorvidas (X, mmol/dia), utilizando-se a equação descrita por Chen & Gomes
(1992):
NM = 70X
83 x 0,116 x 1000
na qual 70 = conteúdo de nitrogênio nas purinas (mg N/mmol); 0,83 = digestibilidade
intestinal das purinas microbianas; e 0,116 = relação N purina dividido por N total nas
bactérias.
Os resultados foram submetidos à análise de variância, procedendo-se
posteriormente teste Dunnett para avaliar o efeito das doses de óxido de cálcio em relação à
ureia (testemunha), e análise de regressão para o estudo do efeito das doses de CaO, a 5% de
probabilidade. Foi utilizado o programa SAEG - Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas
da UFV (RIBEIRO JR., 2001), para realização das análises estatísticas.
80
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve diferença (P<0,05) para nitrogênio ingerido, nitrogênio digerido e nitrogênio
na urina (g/dia) da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com
ureia (Tabela 4). O nitrogênio ingerido, digerido e na urina apresentaram efeito (P<0,05)
linear decrescente para as doses de óxido de cálcio. O nitrogênio das fezes, o digerido (% do
nitrogênio ingerido), o nitrogênio retido (g/dia) e o nitrogênio retido (% do ingerido e do
digerido) não apresentaram diferença da silagem com óxido de cálcio em relação à silagem
com ureia, como também não houve efeito (P>0,05) em relação às doses de óxido de cálcio.
Esperava-se maior ingestão de nitrogênio, fato que não foi observado neste estudo,
ficando abaixo da média estimada (NRC, 2006), o que acarretou em menor ganho de peso dos
animais. Observa-se que com o aumento das doses do óxido de cálcio, houve diminuição do
nitrogênio ingerido, como mostra a equação linear decrescente. Possivelmente, o aumento das
doses de CaO tenha inibido o consumo de quantidades maiores da silagem de cana-de-açúcar
pelos animais.
Além de ter consumido pouco nitrogênio, houve também uma diminuição na
digestão deste nitrogênio, que apresentou equação linear decrescente com o aumento das
doses de óxido de cálcio, o que limitou ainda mais o ganho de peso dos animais, refletindo em
quantidades decrescentes de nitrogênio na urina, com o aumento das doses (Tabela 4).
Quando há inclusões progressivas de ingredientes proteicos em dietas, há aumento da ingestão
de nitrogênio como evidenciado por Valadares et al. (1997c). Tibo et al. (2000) verificaram
que poderá haver maiores perdas nas concentrações de amônia no rúmen e aumento de
excreção urinária de ureia, quando houver maior inclusão de níveis proteicos na dieta.
Carvalho (2008) trabalhou com cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio em dietas
para ovinos, caprinos, novilhas e vacas em lactação, verificou que a perda urinária chegou a
50%, que foi maior que a perda fecal. Lavezzo et al. (1996) trabalharam com efeitos
nutricionais da substituição do farelo de soja, em dietas de ovinos, relataram que as perdas
urinárias chegaram a 52,3% e que as perdas fecais foram de 24,4%, para o nitrogênio
consumido em dietas de ovinos. Estes resultados corroboram com os deste estudo, que
apresentou perda urinaria de 55% e a fecal de 35%. Contrariamente, Branco et al. (2003)
verificaram menor percentual de perdas fecais (22,5%) em relação ao N-consumido (g/dia).
81
Tabela 4 - Ingestão de nitrogênio (N-Ingerido), excreção de nitrogênio nas fezes (N-fezes), nitrogênio digerido (N-Digerido), excreção de nitrogênio
na urina (N-urina), nitrogênio retido (N-retido) e coeficiente de variação (CV%) em ovinos alimentados com silagem de cana-de-açúcar
com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO
(% matéria natural) Silagem de cana-
de-açúcar com
ureia1
CV (%)2
Equação
0,0 0,8 1,6 2,4
N-Ingerido (g/dia) 12,5 10,7* 11,4* 10,3* 13,7 7,2 Ŷ = 12,0803 – 0,734755**CaO (r2 = 0,62)
N-fezes (g/dia) 4,0 4,4 4,2 4,1 3,9 25,7 Ŷ = 4,2
N-Digerido (g/dia) 8,5 6,3* 7,2* 6,2* 9,8 15,0 Ŷ = 7,95845 – 0,772334**CaO (r2 = 0,56)
N-digerido (% do N-Ingerido)
67,8 59,2 63,3 59,8 71,7 13,4 Ŷ = 62,5
N-urina (g/dia) 7,4 6,3 7,5 4,1* 8,6 23,9 Ŷ = 7,60475 – 1,08678**CaO (r2 = 0,50)
N-retido (g/dia) 1,13 0,03 -0,33 2,1 1,15 219,1 Ŷ = 0,73 N-retido
(% do Ingerido) 8,9 0,50 -1,67 20,4 8,63 203,8 Ŷ = 7,1
N-retido (% do
Digerido) 11,8 -2,4 -6,1 34,3 11,8 256,9 Ŷ = 9,4
* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2 /Coeficiente de variação.
82
Aumentos do teor de proteína bruta da dieta, do consumo de nitrogênio e do tipo de
fonte de nitrogênio utilizado podem refletir na relação entre o nitrogênio excretado pelas vias
urinárias e fecal, é o que foi verificado por Zeoula et al (2003). Enquanto que Sampaio (2007)
verificou que a diminuição na proporção de compostos nitrogenados fecais ocorre à medida
que a ingestão de nitrogênio aumenta.
A perda urinária foi maior na silagem com ureia e na silagem com doses de CaO,
exceto a dose 0,0% de CaO, que foi diferente entre as demais doses, com menor perda.
Observa-se que as dietas foram isoproteicas e as fontes proteicas utilizadas foram a ureia e o
farelo de soja, então é possível que tenha havido perdas na forma de amônia via parede
ruminal e pela rápida hidrólise ruminal da ureia com absorção. O NRC (1996) recomenda que
o nível de amônia no rúmen dependa da disponibilidade ruminal de energia. A concentração
de amônia ruminal, de acordo com Ribeiro et al. (2001), irá depender de um bom
sincronismo da digestão entre carboidrato e proteína e do balanceamento da proteína na ração.
Ou podem ocasionar maiores perdas de amônia, quando estes não são suplementados com
fontes de carboidratos de rápida degradação ruminal (NOCEK & RUSSELL, 1988). Van
Soest (1994) comentou que o limite máximo de capacidade de adaptação às dietas de baixo
nitrogênio é definido por perdas de nitrogênio nas fezes e urina.
Mouro et al. (2007) trabalharam com fonte de carboidratos e percentagem de
volumoso na dietas para ovinos e verificaram que dietas de 40 e 70% de volumoso, quando
foram usadas com ureia nas rações com maior nível de volumoso, proporcionou melhor
utilização das fontes proteicas. Esses mesmos autores observaram o efeito das dietas sobre a
retenção de N, em que observaram valor médio de 5,72 g/dia, diferindo bastante dos
resultados deste estudo que apresentou resultados negativos. Bach et al. (2005) argumentam que
a degradação proteica no rúmen é o resultado de atividade microbiana e depende do tipo de proteína,
da taxa de diluição no rúmen, do pH ruminal, do substrato a ser fermentado, e das espécies
predominantes da flora ruminal.
Os resultados negativos, possivelmente, são devido à baixa ingestão de proteína bruta
pelos animais, o que poder ter interferido no crescimento dos microrganismos ruminal,
refletindo no ganho diário de peso.
Houve diferença (P<0,05) para o nitrogênio ureico na urina e no plasma da silagem
de cana-de-açúcar tratada com CaO em relação à silagem com ureia (Tabela 5). O N ureico na
urina apresentou efeito (P<0,05) linear crescente para as doses de CaO, enquanto que o N
ureico no plasma apresentou efeito (P<0,05) quadrático decrescente na silagem com óxido de
83
cálcio. O N ureico no plasma apresentou ponto de mínima de 12,3 mg/dL com dose de 0,96%
de óxido de cálcio. Não houve diferença das excreções (g/dia e mg/kg de PV) de ureia na
urina e do N ureico na urina na silagem com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia,
nem nas doses de óxido de cálcio.
Observa-se que a correção da PB na cana-de-açúcar com 1% de ureia nos
tratamentos com doses de CaO tenha contribuído para valores similares de excreção de ureia
na urina, que diferiu da silagem com ureia, em razão da ureia apresentar elevada degradação
ruminal. A concentração de N ureico no plasma (mg/dL) apresentou um aumento (12,7; 13,7 e
21,2 mg/dL) para a doses 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO, respectivamente. Mesmo tendo verificado
comportamento quadrático e as dietas sendo isoproteicas, parece que a ureia (nitrogênio não
proteico) tenha diminuído a eficiência da utilização de amônia no rúmen. Valadares et al.
(1997a) e Valadares et al. (1999) verificaram que a concentração plasmática de ureia está
relacionada à ingestão de N e, quanto maior são os valores de N no plasma, mais forte são as
evidências de perdas nitrogenada. Possivelmente, esse comportamento de aumento da
concentração do N ureico no plasma com uso do CaO na cana-de-açúcar tenha proporcionado
elevação de valores acima de 20 mg/dL, podendo indicar perdas de N, pois valores entre 20 e
30 mg/dL de N ureico no plasma já são indicativos de perdas de N, mas, esse valor
encontrado pode não ter prejudicado a fermentação ruminal, contudo, é necessário ter
precauções quanto ao uso de CaO, pois, doses acima de 2,4% pode aumentar a concentração
de N ureico e de plasma e aumentar ainda mais as perdas de N.
Contrariamente aos resultados deste estudo, Carvalho et al. (2010) verificaram que a
excreção de N na urina em g/dia não apresentou nenhum efeito, tanto para concentrações de N
na urina e no plasma, quanto para as excreções de ureia na urina e N na urina, quando
trabalharam com alimentação de caprinos com cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio. O
mesmo resultado foi encontrado por Mouro et al. (2007), que trabalharam com fontes de
carboidratos e porcentagem de volumoso em dietas para ovinos e verificaram que a ingestão
de nitrogênio não foi influenciada pela proporção de volumoso:concentrado ou pela fonte de
carboidrato.
Verifica-se que as excreções não foram influenciadas pela silagem de cana-de-açúcar
com doses de óxido de cálcio, nem pela silagem com ureia. Possivelmente, isso pode ter
acontecido pelos valores das dietas terem sido formulados para apresentarem por volta de
14% de PB (Tabela 2) nas silagens com óxido de cálcio ou ureia. Observa-se ainda que as
concentrações de N-ureico plasmático em ruminantes, de acordo com Ruas et al. (2000), estão
84
diretamente relacionadas ao consumo de proteína, sendo correlacionado com o estado
nutricional proteico dos animais.
Van Soest (1994) comentou que as perdas fecais de nitrogênio em ruminantes, em
média, são de aproximadamente 0,6% do consumo de matéria seca da dieta, sem computar
perdas na urina, de pelos e demais perdas, sendo que, neste estudo, as perdas fecais ficaram
um pouco acima (entre 0,6 a 0,7%) do citado pelo autor. O autor ainda comenta que esse valor
é equivalente a cerca de 3 a 4% da proteína, que é o mínimo absoluto para a adaptação da
dieta do animal, sendo que o limite real é um pouco superior a esse valor, na faixa de 6 a 8%
de proteína bruta nas dietas, nas quais, abaixo deste nível de consumo, ocorre declínio da
eficiência da digestão ruminal, por falta de nitrogênio para as funções microbianas.
Harmeyer & Martens (1980) afirmaram que a quantidade de ureia excretada na urina
é diretamente proporcional à sua concentração no plasma. De acordo com NRC (1984), a
concentração de N-amoniacal no líquido ruminal é de singular importância, para que atenda o
mínimo requerido para o máximo crescimento microbiano e máxima digestão ruminal, assim
como, valores de pH ruminal devem estar na faixa aceitável, 5,5 a 7,0, para o máximo de
crescimento microbiano ideal (6,7 a 7,1), para a digestão ruminal de fibra (CECAVA et al.,
1990).
As excreções (g/dia) de N-ureico na urina na silagem de cana-de-açúcar com CaO
foram de 5,1; 5,8; 5,5 e 6,0%, de acordo com as doses (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%). Dessa forma,
verifica-se que as perdas das excreções foram de 2,6% em relação às concentrações de ureia
na urina. Esses resultados foram verificados por Carvalho et al. (2010), que encontraram
perdas de menor que 1% em caprinos e em ovinos, valores abaixo deste estudo.
85
Tabela 5 - Concentrações de nitrogênio ureico (N-ureico) na urina e no plasma e excreções diárias de ureia e nitrogênio ureico na urina,
coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)
Silagem de cana-de-açúcar
com ureia1
CV
(%)2
Equação de regressão
0,0 0,8 1,6 2,4
Concentrações (mg/dL)
N-ureico na urina 194,8 223,8 189,9 388,7* 162,9 33,0 Ŷ = 167,175 + 68,4490*CaO (r2 = 0,56)
N-ureico no plasma 16,1 12,7* 13,7* 21,2* 16,2 8,6
Ŷ = 16,2090 – 8,16805**CaO + 4,24548**CaO2 (R
2
= 0,99)
Excreções (g/dia)
Ureia na urina 11,0 12,3 11,8 12,9 11,7 10,4 Ŷ = 12,0 N-ureico na urina 5,1 5,8 5,5 6,0 5,5 10,4 Ŷ = 5,6
Excreções (mg/kg PV)
Ureia na urina 480,3 455,6 456,2 585,8 449,9 29,3 Ŷ = 494,5 N-ureico na urina 224,2 212,6 254,9 273,4 210,0 29,3 Ŷ = 241,3
* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (%
matéria natural). 2 /Coeficiente de variação.
86
As excreções urinárias em mmol/dia apresentaram diferenças (P<0,05) da silagem de
cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia, para ácido úrico,
xantina-hipoxantina e purinas totais (mmol/dia) (Tabela 6). O ácido úrico apresentou
diferença da silagem com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia, apenas na dose
2,4% de CaO. Foi observado que as purinas microbianas absorvidas (mmol/dia), os derivados
de purinas: alantoína e ácido úrico (% das purinas absorvidas), a produção microbiana: N
microbiano e PB microbiana (g/dia) e a eficiência microbiana em g de PB/kg de NDT
apresentaram diferença (P<0,05) da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em
relação à silagem com ureia (Tabela 6). Não houve efeito (P>0,05) das excreções urinárias
(mmol/dia) para xantina-hipoxantina e purinas totais quanto à silagem de cana-de-açúcar com
doses de CaO.
As excreções urinárias em mmol/dia de alantoína e ácido úrico apresentaram efeito
(P<0,05) em relação às doses com óxido de cálcio. A alantoína apresentou efeito (P<0,05)
quadrático decrescente com ponto de mínima de 3,2 mmol/dia para a dose de 1,46% de CaO.
O ácido úrico apresentou efeito (P<0,05) quadrático crescente com ponto de máxima de 1,14
mmol/dia para a dose de 0,98% de CaO.
A excreção de alantoína e ácido úrico apresentaram perdas por rotas não renal,
provavelmente, por ter havido maiores concentrações plasmáticas de derivados de purina no
sangue que, de acordo com Chen & Gomes (1992), a alternativa de rota para sua perda é na
urina. Esses derivados de purinas são usados como índice para medir a produção de biomassa
microbiana que, por sua vez, é fonte de proteína para os microrganismos ruminal.
Carvalho et al. (2010) trabalharam com silagem de cana-de-açúcar com CaO para
caprinos e verificaram que não altera a excreção de derivados de purinas e nem melhora a
síntese de compostos nitrogenados nem a eficiência microbiana. Valadares et al. (1999)
encontraram valores de 24,6 a 52,4 mmol/dia para coleta spot. De um modo geral, as
excreções diárias de ovino variam de 0 a 168 mmol/dia PV0,75
(CHENG et al., 1990),
entretanto, em relação a bovinos, a variação vai de 0 a 530 mmol/kg PV0,75
), que pode ser
parcialmente atribuída às diferenças das atividades da xantina oxidase nos tecidos, sendo os
ovinos similar a dos caprinos (0 a 202 mmol/dia PV0,75
), em que a maior proporção é de
alantoína (63,7%), hipoxantina (24,9%), ácido úrico (9,1%) e xantina (2,3%) (BELENGUER
et al., 2002).
Redução linear de purinas, absorvidas com aumento da inclusão de níveis de farelo
de algaroba, foi encontrado por Argolo et al. (2010) ao trabalharem com cabras lactantes com
87
dietas à base de farelo de algaroba, os quais observaram que a excreções situou-se de acordo
com o nível de farelo de algaroba (0; 33,3; 66,7 e 100% na base da matéria natural) 67,3;
65,7; 65,2 e 65,6% para alantoína, acido úrico de 6,5; 6,7; 6,4 e 6,1, e para xantina-
hipoxantina 26,.0; 27,5; 28,3 e 28,2%, respectivamente. Diferente dos resultados encontrados
neste estudo, que não apresentou nenhum efeito.
Os derivados de purina (% das purinas totais) de alantoína e ácido úrico
apresentaram efeito (P<0,05) quadrático decrescente e crescente, respectivamente, na silagem
com óxido de cálcio. A alantoína apresentou ponto de mínimo de 61,8% das purinas com a
dose de 1,09% de óxido de cálcio. O ácido úrico teve o ponto estimado de 18,7% das purinas
totais com a dose 1,28% de óxido de cálcio. Chen et al. (1990) verificaram que a excreção
endógenas do total dos derivados de purina por ruminantes obteve média de 164 mmol/kg
PV0,75
e que os bovinos excretam três vezes mais derivados de purinas que os ovinos, não
existindo diferença entre as idades fisiológicas dos bovinos. Os valores encontrados neste
estudo para ovinos estiveram dentro da variação estimada por Chen & Gomes (1992), de 60 a
80% para alantoína, 10 a 30% para ácido úrico e de 5 a 10% para xantina-hipoxantina, sendo
que este último, neste estudo, ficou acima do estimado pelos autores.
Foi encontrado por Chen et al. (1990) que a xantina oxidase desvia hipoxantina do
ciclo de formação dos derivados de purinas para formar xantina e ácido úrico, que podem ser
posteriormente oxidados na presença de uricase para formar alantoína. Portanto, o ácido úrico
e alantoína não são recuperáveis, sendo que a xantina oxidase é, provavelmente, a enzima
chave que define a perda de derivados de purinas na urina. Comentários similares foram feitos
por Moscardini et al. (1998), os quais verificaram que a síntese microbiana ruminal é bastante
correlacionada à excreção urinária de derivados de purina, quando ocorre o fluxo de
nitrogênio microbiano para o duodeno, que pode ser estimado a partir da excreção urinária de
derivados de purina (alantoína e ácido úrico). As excreções urinárias dos derivados de purina,
composta por alantoína (o mais abundante) e ácido úrico, podem chegar de 89 a 96% da urina
excretada (OJEDA et al., 2005)
A produção microbiana (g/dia) apresentou diferença (P<0,05) entre a silagem de
óxido de cálcio em relação à silagem com ureia para o N microbiano e para a PB microbiana.
Entretanto, não apresentaram efeito para as doses de CaO. A silagem com ureia apresentou
maior produção de proteína microbiana em relação à silagem com CaO, possivelmente, pelo
fato das doses de CaO interferirem na produção microbiana, pelo fato da cal ter elevado o pH
ruminal, apesar de não ter sido medido, o que causa diminuição da atividade ruminal. A
88
eficiência microbiana (g PB/kg de NDT) apresentou diferença da silagem com óxido de cálcio
em relação à silagem com ureia e apresentou efeito (P<0,05) quadrático decrescente na
silagem com óxido de cálcio, em que teve um ponto de mínima de 25,8 g PB/kg de NDT, com
a dose 1,47% de óxido de cálcio, caracterizando que há perda na eficiência microbiana, com
aumento de doses do óxido de cálcio. Apesar do NRC (2001) estimar crescimento satisfatório
dos ovinos, em que a eficiência microbiana deve apresentar valor acima de 130 g PB/kg NDT,
os resultados aqui encontrados não condiz, pois houve perda de peso dos animais, refletindo
em baixa eficiência. Carvalho (2008) não observou diferença entre as doses de óxido de
cálcio, mas encontrou resultados bem próximos tanto para o N-microbiano (4,0 g/dia), quanto
para a PB-microbiana (24,7 g/dia) em ovinos, quando comparado aos encontrados neste
estudo, e Carvalho et al. (2010) não encontrou diferença para a PB/kg de NDT (g/dia) em
caprinos para as doses de CaO. Já Argôlo et al. (2010) verificaram que o N-microbiano
decresceu de forma linear pela inclusão do farelo de algaroba na dieta de cabras e que a PB-
microbiana (g/dia) (g PB/kg NDT) foram de 102,3; 96,2; 81,5 e 73,5 e 91,3; 81,2; 69,7 e 67,1,
respectivamente, para os níveis de 0; 33,3; 66,7 e 100% do farelo de algaroba, e que a síntese
de proteína microbiana ocorre por meio da conversão das diversas formas de compostos
nitrogenados (CABRAL et al., 2004)
Contudo, é necessário salientar que a produção de proteína microbiana está
diretamente relacionada com a produção de microrganismos ruminal, sendo importante
manter as características do rúmen, quanto à temperatura, pH, através de dietas adequadas,
quantidades e qualidade dos ingredientes da dieta para formular ração, bem como o teor de
fibra efetiva, que possibilite a saúde e produção animal.
89
Tabela 6 - Excreções urinárias, purinas totais e purinas absorvidas, derivados de purinas, produção e eficiência microbiana e coeficiente de
variação (CV%), de ovinos alimentados com silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)
Silagem de cana-de-
açúcar com
ureia1
CV
(%)2
Equação de regressão e coeficiente de
determinação 0,0 0,8 1,6 2,4
Excreções urinárias (mmol/dia)
Alantoína 4,5 3,0 3,7 3,5 5,4 29,3
Ŷ = 4,29885 – 1,4954*CaO + 0,513027*CaO2
(R2 = 0,56).
Ácido úrico 0,89 0,95 0,96 0,80* 0,98 7,1
Ŷ = 0,887173 + 0,169652**CaO +
0,0865098**CaO2 (R
2 = 0,94).
Xantina e hipoxantina 1,21* 1,05* 1,18* 0,84* 1,47 12,5 Ŷ = 1,21558 – 0 122348*CaO (r2 = 0,56)
Purinas totais 6,6* 4,9* 5,6* 5,1* 7,87 8,6 Ŷ = 5,6
Purinas microbianas (mmol/dia)
Absorvidas 5,8* 4,7* 5,1* 4,8* 6,85 7,9 Ŷ = 5,1
Derivados de purinas (% das purinas totais) Alantoína
67,9 59,4* 65,7 68,4 68,7 4,5 Ŷ = 66,9883 – 9,49617*CaO + 4,35637**CaO
2
(R2 = 0,67).
Ácido úrico 13,7 19,2* 17,2* 15,5* 12,5 10,2
Ŷ = 14,0858 + 7,15265**CaO – 2,80311**CaO2
(R2 = 0,81)
Xantina e hipoxantina 18,4 21,4 17,2 16,1 18,7 10,1 Ŷ = 18,3 Produção microbiana (g/dia)
N-microbiano 4,2* 3,4* 3,7* 3,5* 4,99 7,9 Ŷ = 3,7
PB-microbiana 26,4* 21,3* 23,2* 21,6* 31,1 7,9 Ŷ = 23,1
Eficiência microbiana
g PB/kg de NDT 42,4 25,7* 29,3* 30,9* 43,9 10,5
Ŷ = 41,2983 – 21,1111**CaO + 7,18199**CaO2
(R2 = 0,84).
* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (%
matéria natural). 2/Coeficiente de variação.
90
4. CONCLUSÃO
Dietas com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio e fornecida a ovinos
apresentam baixa ingestão de proteína bruta e dos compostos nitrogenados microbianos, e
também reduz a eficiência microbiana.
A ureia apresenta melhor eficiência de produção dos compostos nitrogenados,
retendo mais nitrogênio, e também melhora a produção microbiana.
As excreções de ureia na urina, as purinas e a produção microbiana não são
influenciadas pelo uso de óxido de cálcio na silagem de cana-de-açúcar tratada em dieta para
ovinos.
91
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95
CAPÍTULO 4
Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com cana-de-açúcar ensilada com
óxido de cálcio ou ureia
RESUMO
Avaliou-se o comportamento ingestivo de ovinos alimentados com cana-de-açúcar
ensilada com óxido de cálcio ou ureia. Foram utilizados 20 cordeiros Santa Inês, castrados,
com peso médio de 24,00 kg, distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado,
alojados em baias individuais com 1,5 m2, com cinco tratamentos, quatro níveis com óxido de
cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) e um com ureia (1,5%), ambos na matéria natural. A dieta teve a
proporção de 70:30 volumoso:concentrado. O período experimental durou 77 dias, sendo 14
dias de adaptação da dieta e três períodos de 21 dias. Não foi observada diferença para
consumo em kg de MS e FDN/dia. Verificou-se que a alimentação em minutos/dia e
minutos/kg de MS e FDN de alimentação e ruminação foram semelhantes. Houve efeito, com
regressão linear para a mastigação em horas/dia e para ócio em minutos/dia, entre as doses de
óxido de cálcio. A eficiência de alimentação ruminação (g de MS e FDN/hora) não apresentou
efeito significativo. Não houve diferença para alimentação, ruminação e ócio, número de
períodos/dia, e para alimentação e ruminação, do tempo gasto por período (minutos).
Entretanto, houve efeito linear crescente para o ócio. O consumo médio/período de
alimentação em kg de MS e FDN não apresentou diferença. Silagem de cana-de-açúcar com
óxido de cálcio ou ureia, fornecidos a ovinos, não afetam os períodos de alimentação e
ruminação dos animais. Dietas para ovinos confinados, contendo cana-de-açúcar ensilada com
óxido de cálcio ou ureia, diminuem a ruminação e mastigação e aumenta o ócio dos animais.
Palavras-chave: eficiência de alimentação, ingestão, óxido de cálcio, ruminação
96
CHAPTER 4
Ingestive behavior of sheep fed sugar cane ensiled with urea or calcium oxide
ABSTRACT
We evaluated the feeding behavior of sheep fed sugar cane ensiled with urea or calcium
oxide. The study of 20 Santa Inês lambs, castrated, weighing on average 24.00 kg, distributed in a
completely randomized design, housed in individual stalls with 1.5 m2, with five treatments, four
levels with calcium oxide (0.0; 0.8, 1.6 and 2.4%) and urea (1.5%), both in natural matter. The diet
had a ratio of 70:30 roughage:concentrate. The experimental period lasted 77 days, 14 days of
dietary adaptation and three periods of 21 days. No differences were observed for consumption in kg
of DM and NDF/day. It was found that food in minutes/day and minute/kg DM and NDF were similar
eating and ruminating. There were differences, with linear regression for mastication in hours/day and
for leisure in minutes/day between doses of calcium oxide. The feeding efficiency rumination (g DM
and NDF/hour) had no effect. There was no difference in eating, ruminating and idling No time/day
and food and time spent ruminating per period (minutes). However, there was an increasing linear
effect for leisure. Average consumption/feeding period in kg DM and NDF did not differ. Silage from
sugar cane with calcium oxide or urea supplied the sheep, do not affect the times of eating and
ruminating animals. Confined sheep diets containing sugar cane ensiled with urea or calcium oxide
decrease rumination and chewing and increases the idle of the animals.
Keywords: feeding efficiency, ingestion, calcium oxide, rumination
97
1. INTRODUÇÃO
Foi verificado, por diversos autores (BRANCIO et al., 2003; COSTA et al., 2003;
MENDONÇA et al., 2004; TREVISAN et al., 2005), que o conhecimento das atividades
realizadas com o comportamento ingestivo (alimentação, ruminação e ócio) e dos hábitos
alimentares contribui para a melhoria do bem-estar e do desempenho dos animais que são
mantidos em confinamento, como também dos que estão em pastejo.
O comportamento ingestivo pode propiciar perspectiva para o modelo convencional
de abordagem zootécnica, o que abrirá novos horizontes e trará inovações a situações, ou não
consideradas ou mal compreendidas, quanto às práticas de manejo (SILVA et al., 2004), e que
poderá ser utilizado como ferramenta para avaliação de dietas, possibilitando ajustar o manejo
alimentar dos animais para obtenção de melhor desempenho (MENDONÇA et al., 2004).
Tem-se verificado que animais confinados tendem a consumir elevada quantidade de
concentrados para suprir a demanda energética e proteica para manutenção e produção
(CARVALHO et al., 2008), visto que a qualidade da dieta consumida depende da
possibilidade e capacidade do animal em selecionar uma dieta de alto valor nutritivo
(PRANCHE & PEYRAUD, 1997). Quando parte da dieta é constituída por concentrado, há
maior aporte de nutrientes, devido ao suplemento, e, assim, o comportamento ingestivo dos
animais pode sofrer modificações (BARTON et al., 1992).
Dessa forma, o estudo do comportamento ingestivo pode ser utilizado como
ferramenta para explicar parte das variações na ingestão de alimento (PEREIRA et al., 2007),
visto que, associado ao concentrado, a cana-de-açúcar é utilizada para suplementação
nutricional na época seca, sendo uma alternativa para minimizar a perda de peso ou favorecer
ganho (FERNANDES et al., 2003). Entretanto, pelo seu baixo teor de proteína bruta, fibra de
lenta degradação ruminal e elevado teor de fibra não-degradável, ocorre limitação na ingestão
(PEREIRA et al., 2001). Deve-se levar em conta que volumosos que apresentam conteúdo da
parede celular acima de 60%, com fibra em detergente ácido (FDA) acima de 40% e que
contenham baixos conteúdos de proteína bruta (PB) (menor que 6%) ou digestibilidade da
matéria seca (MS) (entre 40 e 50%), pode resultar em baixos níveis de consumo voluntário
(REIS & RODRIGUES, 1993), pelo feto de enchimento ruminal e saturação da capacidade de
ruminação do animal (PIRES et al., 2006).
Vários aditivos têm sido utilizados na ensilagem de cana-de-açúcar com bons
resultados (FREITAS et al., 2006). O uso da ureia como aditivo pode melhorar a qualidade da
98
silagem de cana-de-açúcar, as perdas de matéria seca e melhorar a composição química
(LIMA et al., 2002), enquanto que o óxido de cálcio pode reduzir os constituintes da parede
celular, preservar os nutrientes solúveis e diminuir perdas do valor nutritivo da cana-de-açúcar
(BALIEIRO NETO et al., 2007). Dessa forma, o tratamento químico de alimentos volumosos
tem mostrado que o valor nutritivo de diferentes volumosos pode ser melhorado com a
utilização de aditivos químicos (SANTOS et al., 2004; REIS et al., 2001).
Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o comportamento ingestivo de
ovinos recebendo cana-de-açúcar ensilada com dose de óxido de cálcio ou ureia, como parte
da dieta.
99
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de ovinocultura “Ensaios Nutricionais de
Ovinos e Caprinos” e no “Laboratório de Forragicultura e Pastagens” da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, no Campus de Itapetinga, BA.
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com cinco tratamentos,
com as doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO na matéria natural da cana-de-açúcar e um
tratamento com a utilização de 1,5% de ureia, também, na matéria natural da cana-de-açúcar,
todos aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições por tratamento.
As baias foram providas de comedouros e bebedouros, dispostos frontalmente em
cada baia. Os animais foram mantidos em baias individuais de 1,5 m2 com piso cimentado e
alimentados com dieta contendo 70% da silagem de cana-de-açúcar, com doses de 0,0; 0,8;
1,6 e 2,4% de óxido de cálcio (CaO) na matéria natural da cana-de-açúcar e silagem de cana-
de-açúcar com ureia (1,5% na matéria natural), e 30% de concentrado (Tabela 1), cuja
composição das dietas estão na Tabela 2. Para confecção das silagens, a cana-de-açúcar foi
picada, em uma picadeira de forragem convencional, padronizando as partículas com tamanho
de 1 a 2 cm, misturada em piso de alvenaria para uma completa homogeneização. Depois foi
pesada, separada em quantidades de 140 kg, posteriormente, essas amostras foram tratadas de
acordo com as doses de óxido de cálcio e a dose de ureia, e acondicionadas em tonéis de 200
litros, mantendo densidade de 700 kg de matéria natural/m3, posteriormente, foram lacradas
com lona dupla face (preta e branca) de 200 micras. A cana-de-açúcar, variedade RB 72-454,
foi ensilada por um período de 30 dias, quando foram abertos os silos para retirada das
amostras.
Após a compactação e antes do fechamento dos silos, foram retiradas as amostras do
centro de cada silo, a uma profundidade de aproximadamente 40 cm. As amostras tinham
peso de aproximadamente 500 g. Ao final dos 30 dias, cada tonel do silo foi aberto e retirado
uma amostra.
A silagem de cana-de-açúcar, nos tratamentos com CaO, no momento do
fornecimento aos animais, foi corrigida para 1% de ureia (mistura de ureia + sulfato de
amônio) na relação 9:1, em seguida, toda mistura foi homogeneizada. As dietas foram
calculadas com base no NRC (2006), para permitir que houvesse nutrientes (NDT e PB)
suficientes para um ganho de peso de 150 g/dia. Estas foram balanceadas para conterem
aproximadamente 13% de proteína bruta e 53% de nutrientes digestíveis totais.
100
Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das dietas (% da
matéria seca)
Ingrediente Concentrado Dieta
Silagem de cana
com CaO
Silagem de cana
com ureia
Silagem de cana
com CaO
Silagem de cana
com ureia
Silagem de cana-de-açúcar1
- - 70,00 70,0
Milho 56,67 65,66 17,00 19,71
Farelo de soja 26,67 27,70 8,00 8,29
Ureia 10,00 ----- 3,00 -----
Sal comum 3,33 3,32 1,00 1,00
Sal mineral2
3,33 3,32 1,00 1,00
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 1/ cana-de-açúcar com diversas doses de óxido de cálcio ou ureia. 2/ Quantidade por kg do produto: Ca = 155 g, P = 65 g, S = 12 g, Mg = 6 g, Na = 115 g, Co = 175 mg, Cu = 100
mg, I = 175 mg, MN = 1400 mg, Ni = 42 mg, Se = 27 mg, Zn = 6000 mg, Fe = 1000 mg.
O experimento durou 77 dias, constituídos de três períodos experimentais, composto
de 21 dias cada um, e 14 dias que foram destinados ao período de adaptação dos animais. No
terceiro período experimental, foram realizadas coletas de fezes retal, durante 5 (cinco) dias.
As dietas experimentais foram fornecidas à vontade, duas vezes por dia, sendo
realizado o fornecimento às 7h00 e às 15h00, de forma que as mesmas foram ajustadas para
manter sobras de aproximadamente 10% do fornecido (Tabela 2). As coletas das amostras
ocorreram durante todo o período experimental (três períodos de 21 dias), quando eram
coletados volumoso, concentrado e a sobra de cada animal, diariamente, os quais eram
acondicionados em sacos plásticos, previamente identificados, referente a cada animal, e
armazenados em freezer para posteriores análises. Todos os animais foram pesados no início
do período experimental e no fim de cada período experimental. A composição química da
cana-de-açúcar com ureia e óxido de cálcio está disposta na Tabela 3, a qual foi calculada
para ser isoproteica.
Nas amostras coletadas, foram realizadas as seguintes análises: matéria seca (MS),
nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA),
proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN), cinza insolúvel em detergente neutro
(CIDN), extrato etéreo (EE), celulose, hemicelulose, lignina, cinza, nutrientes digestíveis
totais (NDT), conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), e a digestibilidade “in
101
situ” da matéria seca por 48 horas (DISMS) (ORSKOV et al., 1980). A fibra em detergente
neutro foi corrigida para cinza e proteína (FDNcp), segundo Mertens (2002).
Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)
Silagem de cana-de-
açúcar com
ureia1 0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca (%) 41,1 42,6 43,2 43,2 41,5 Proteína bruta
2 14,6 14,7 14,6 14,5 14,8
FDN2
55,7 49,9 42,5 37,9 51,2
NDT2,3
50,6 58,9 60,8 64,3 53,6 1cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2 base da matéria seca; 3 estimado segundo NRC (2006).
FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; NDT: nutrientes digestíveis totais.
Na realização da pré-secagem, as amostras coletadas foram descongeladas,
acondicionadas em vasilhame de alumínio, pesadas e levadas à estufa de 60°C, por 72 horas.
Em seguida, foram retiradas da estufa, mantidas à temperatura ambiente por duas horas,
pesadas e moídas em moinho com peneiras, contendo crivos de 1 mm, e acondicionadas em
vasilhame de plástico com tampa, identificados para posteriores análises.
Para avaliar o comportamento ingestivo, os animais foram submetidos a períodos de
observação visual, durante um dia do período experimental, determinando o comportamento
alimentar durante 24 horas/dia. De acordo com Fischer et al. (1998), o tempo despendido de
alimentação, ruminação e ócio foram submetidos a períodos de observação visual para avaliar
o comportamento ingestivo durante um dia, no último período experimental. As observações
foram feitas no 17o dia do período experimental. Os animais foram observados durante 24
horas, em intervalos de 5 minutos, para a avaliação dos tempos de alimentação, ruminação e
ócio. Foi adaptado, durante três dias, com luz artificial à noite, antes da observação, e durante
a observação noturna, o ambiente foi mantido com iluminação artificial.
102
Tabela 3 – Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio
(CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)
Silagem de cana-de-
açúcar com
ureia 0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca (%) 20,1 22,3 23,1 23,2 20,7
Proteína bruta1 1,15 1,23 1,15 1,10 14,9
Fibra em detergente neutro1 74,0 58,6 55,1 48,5 68,6
FDNcp1
71,1 55,7 52,4 45,6 65,6
Fibra em detergente ácido1
63,3 50,3 45,3 40,1 59,4
PIDN1
059 0,51 0,50 0,42 0,81
CIDN1
2,4 2,4 2,3 2,5 2,2
Extrato etéreo1
1,6 1,8 1,8 1,8 1,8
Celulose1 49,0 40,7 33,1 31,1 45,1
Hemicelulose1
10,7 8,2 9,8 8,4 9,2
Lignina1 10,3 8,4 6,8 5,7 9,5
Cinza1 3,6 8,1 10,0 14,0 3,3
DISMS1
51,2 51,1 61,1 65,5 59,6
Nutrientes digestíveis totais2
42,8 54,6 57,3 62,3 47,0 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/
Valores em percentagem da matéria seca. 2/ Estimado segundo o NRC (2006). Proteína indigestível em
detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN), fibra em detergente neutro corrigido
para cinza e proteína (FDNcp), digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS).
No dia seguinte, foi realizada a contagem do número de mastigações merícicas e do
tempo despendido na ruminação de cada bolo ruminal com a utilização de cronômetro digital.
Durante a avaliação, foi feita observações de três bolos ruminais em três períodos diferentes
do dia (10-12h; 14-16h e 19-21h), calculando-se a média do número de mastigações merícicas
e o tempo gasto por bolo ruminal.
Para estimação das variáveis comportamentais, alimentação e ruminação (min/kg MS
e FDN), eficiência alimentar (g MS e FDN/hora), eficiência em ruminação (g de MS e
FDN/bolo e g MS e FDN/hora) e consumo médio de MS e FDN por período de alimentação,
considerou-se o consumo voluntário de MS e FDN do 17º e 18º dias do período experimental,
sendo as sobras computadas entre o 17º e 18º dias.
O número de bolos ruminados diariamente foi obtido dividindo-se o tempo total de
ruminação (minuto), dividido pelo tempo médio gasto na ruminação de um bolo. A
103
concentração de MS e FDN em cada bolo (g) ruminado foi obtida a partir da divisão da
quantidade de MS e FDN, consumida (g/dia) pelo número de bolos ruminados diariamente.
A eficiência de alimentação e ruminação foi obtida utilizando-se o seguinte método:
EALMS = CMS/TAL;
EALFDN = CFDN/TAL;
em que: EALMS (g de MS consumida/h); EALFDN (g FDN consumida/h) =
eficiência de alimentação; CMS (g) = consumo diário de matéria seca; CFDN (g) = consumo
diário da FDN; TAL = tempo gasto diariamente em alimentação.
ERUMS = CMS/TRU;
ERUFDN = CFDN/TRU;
em que: ERUMS (g MS ruminal/h); ERUFDN (g da FDN ruminal/h) = eficiência de
ruminação e TRU (h/dia) = tempo de ruminação.
TMT = TAL + TRU
em que: TMT (minuto/dia) = tempo de mastigação total.
Estes procedimentos foram obtidos pela metodologia descrita por Bürger et al.
(2000).
O número de períodos de alimentação, ruminação e ócio foram contabilizados pelo
número de sequências de atividade observadas na planilha de anotações. A duração média
diária desses períodos de atividades foi calculada dividindo-se a duração total de cada
atividade (alimentação, ruminação ócio em min/dia) pelo seu respectivo número de períodos
discretos.
Os resultados foram submetidos à análise de variância, procedendo-se
posteriormente teste Dunnett para avaliar o efeito das doses de óxido de cálcio em relação à
ureia (testemunha), e análise de regressão para o estudo do efeito das doses de CaO, a 5% de
probabilidade. Foi utilizado o programa SAEG - Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas
da UFV (RIBEIRO JR., 2001), para realização das análises estatísticas.
104
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve diferença (P>0,05) no consumo de MS e FDN (em kg) dos animais
alimentados com a silagem de cana-de-açúcar com CaO em relação à silagem com ureia, no
período de 24 horas (Tabela 4), em que o valor médio de consumo foi de 0,625 e 0,300 kg de
MS e FDN, respectivamente. Não houve diferença (P>0,05) para o tempo despendido com
alimentação e ruminação em minutos/dia, minutos/kg de MS e minutos/kg de FDN, da
silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia, como
também não houve efeito (P>0,05) das doses com óxido de cálcio na silagem de cana-de-
açúcar. Não houve diferença da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à
silagem com ureia para a mastigação em número de bolo, segundo/bolo, nº/dia e minutos/kg
de MS e FDN. Também não houve efeito (P>0,05) quanto às doses de óxido de cálcio na
silagem sobre as variáveis citadas anteriormente (Tabela 4).
Houve diferença (P<0,05) da mastigação em horas/dia na silagem de cana-de-açúcar
com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia. Houve efeito (P<0,05) linear
decrescente na mastigação (horas/dia) da silagem quanto às doses de óxido de cálcio. Os
tempos despendidos em alimentação, ruminação (minutos/dia), bem como os tempos de
alimentação e ruminação (minutos/kg de MS e da FDN), verificados neste estudo (Tabela 4),
foram maiores que os encontrados por Macedo Jr et al. (2004), que avaliaram níveis da FDN
na ração (8,67; 17,34; 26,01 e 34,69%) sobre o comportamento ingestivo em ovelhas Santa
Inês. Verificam-se evidências que o efeito do óxido de cálcio sobre a cana-de-açúcar foi em
função do aumento das doses do aditivo químico que, por sua vez, fez com que os animais
necessitassem de menos horas por dia para mastigar a silagem de cana-de-açúcar à medida
que as doses do CaO foram aumentando. Isso só foi possível pela ação da cal sobre os
constituintes da parede celular, que permitiram não só diminuir o FDN (Tabela 2) da dieta
experimental, como também o FDA e a lignina (Tabela 3) que reduziram seus valores.
Houve diferença (P<0,05) do ócio em minutos/dia na silagem de cana-de-açúcar em
relação à silagem com ureia, como também, foi verificado efeito (P<0,05) linear crescente
para o tempo despendido com ócio, de acordo com a inclusão do óxido de cálcio na cana-de-
açúcar. Os animais alimentados com a silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio
apresentaram atividade de ócio média de 641,25 minutos/dia. O menor tempo despendido
com ócio mostra que os ovinos tiveram mais tempo para promover a mastigação. À medida
que as doses de CaO aumentaram, mais tempo foi despendido com o ócio, comprovando a
105
hipótese de que o menor teor de FDN na cana-de-açúcar ensilada com maiores doses de CaO
provocou diminuição na mastigação. Fato que foi constatado por Mertens (1997) em que a
elevação de quantidade de fibra nas dietas estimula a atividade mastigatória, ratificando os
resultados encontrados neste estudo, assim como os obtidos por Carvalho et al. (2006a), que
trabalharam com níveis da FDN (20, 27, 34, 41 e 48%), provenientes de forragem em dietas
de cabras na avaliação do comportamento ingestivo, em que constataram o aumento nos
tempos de ingestão, ruminação e diminuição do tempo de ócio com a elevação dos níveis da
FDN na ração.
Já quanto ao tempo despendido com ócio, os resultados apresentados neste estudo
(média de 641,3 min/dia) foram menores que os de Carvalho et al. (2006a), que utilizaram
cinco dietas com cinco níveis de fibra em detergente neutro (20, 27, 34, 41 e 48%), utilizando
como volumoso o tifton-85 na dieta de cabras Alpinas em lactação e encontraram média de
720 min/dia, porém, superiores aos encontrados por Macedo et al. (2007), que avaliaram o
comportamento ingestivo de ovinos em dietas contendo bagaço de laranja em substituição à
silagem de sorgo, e relataram ponto de mínima de 335,02 min/dia. Não houve efeito (P>0,05)
para as atividades de alimentação e ruminação em min/dia. Embora o teor de FDN na silagem
de cana-de-açúcar com CaO tenha decrescido (Tabela 2), não foi suficiente para provocar
alterações nas atividades de alimentação e ruminação em min/dia. A silagem com ureia
também não provocou alterações nas atividades supracitadas, estando de acordo com os
achados de Cardoso et al., (2006) e Carvalho et al., (2006a).
Verificou-se, no presente estudo, que foram gastas 7,43 horas média de ruminação,
com 70% de volumoso e 30% de concentrado, valores similares foram encontrados por
Carvalho et al. (2004) com média de 7,60 horas/dia, que trabalharam com dieta à base de
silagem de milho; por Alves et al. (2010), que trabalharam com ovinos e dieta de farelo de
algaroba com níveis de ureia, o tempo de ruminação foi de 7,81 horas/dia; Macedo et al.
(2007), que trabalharam com ovinos recebendo dietas com diferentes níveis de bagaço de
laranja em substituição à silagem de sorgo e obtiveram 8,16 horas/dia de ruminação; e por
Mendes et al. (2010), que obtiveram valores menores (médio de 4,91 horas/dia), quando
trabalharam com cordeiros com dieta de bagaço de cana-de-açúcar in natura. Ainda é
possível verificar que os resultados dos tempos desprendidos com mastigação merícicas,
apresentadas neste estudo, corroboram com os de Carvalho et al (2006b) quanto ao nº/dia,
nº/bolo e horas/dia (com efeito linear).
106
Tabela 4 - Consumos de matéria seca (CMS) e consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), das atividades de alimentação, ruminação e
ócio e coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)
Silagem de cana-de-açúcar
com ureia1
CV (%)2 Equação de regressão e coeficiente de
determinação 0 0,8 1,6 2,4
Consumo em 24 horas (kg)
Matéria seca 0,577 0,727 0,622 0,553 0,643 20,3 Ŷ = 0,620
FDN 0,291 0,294 0,319 0,277 0,319 14,6 Ŷ = 0,295
Alimentação
Min/dia 391,25 347,50 308,75 273,75 378,75 24,8 Ŷ = 330,4 Min/kg MS 708,08 474,07 565,90 502,82 607,12 36,2 Ŷ = 562,7
Min/kg FDN 1430,39 1169,39 975,17 986,85 1231,02 32,6 Ŷ = 1140,5
Ruminação
Min/dia 553,75 465,00 380,00 383,75 511,25 20,6 Ŷ = 445,7
Min/kg MS 1003,19 640,78 696,27 709,75 803,58 32,2 Ŷ = 762,5
Min/kg FDN 2022,78 1585,77 1206,76 1388,11 1626,85 26,7 Ŷ = 1550,9
Mastigação
Nº/bolo 66,00 68,25 66,00 68,75 63,50 22,6 Ŷ = 67,3
Seg/bolo 45,14 49,19 48,42 51,64 45,64 16,5 Ŷ = 48,6
Nº/dia 49051 39251 31671 30249 42133 27,1 Ŷ = 48088,8 Horas/dia 15,75 13,54 11,48 10,96* 14,83 15,2 Ŷ = 15,3979 – 2,05469CaO** (r
2 = 0,94).
Min/kg MS 1711,27 1114,85 1262,18 1212,57 1410,70 30,4 Ŷ = 1325,3
Min/kg FDN 3453,17 2755,17 2181,93 2374,96 2857,87 24,7 Ŷ = 2691,3
Ócio
Min/dia 495,00* 627,50* 751,25* 785,50* 550,0 19,0 Ŷ = 516,125 + 123,281CaO** (r2 = 0,94).
* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia
(% matéria natural). 2/Coeficiente de variação. (ns), (*) e (**) = não significativo; significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.
107
Estes autores avaliaram o comportamento ingestivo de ovinos com dietas compostas de
silagem de capim-elefante, amonizado ou não, e subprodutos agroindustriais. Essa quantidade
maior de horas por dias em relação a outros ruminantes foi relatada por Van Soest (1994), em
que os pequenos ruminantes são especializados na seleção de alimentos e que a capacidade de
digerir a fibra de certos ruminantes como bovinos, ovinos e caprinos é oposta às respectivas
habilidades de seleção alimentar, sendo que os ruminantes mais seletivos tendem a utilizarem
mal os carboidratos fibrosos e a utilizarem melhor o concentrado. Possivelmente, o óxido de
cálcio não foi eficiente para diferenciar os tempos de ruminação em segundo/bolo, visto que a
FDN da silagem de cana-de-açúcar na dieta diminuiu em função das doses de CaO (Tabela 2),
considerando que o tempo que os ruminantes gastam para mastigar o bolo alimentar é
proporcional à quantidade de parede celular na dieta em que a taxa de ruminação está
diretamente relacionada com o tamanho do animal (VAN SOEST, 1994).
Foi verificado por Colenbrander et al. (1991) que o tempo de mastigação tem sido
uma das medidas mais estudadas para avaliar a efetividade da fibra, decorrente de seus
efeitos, sobre a produção de saliva, o processo de trituração dos alimentos, o consumo de MS,
o ambiente ou a função ruminal (pH e perfil dos AGVs) e a percentagem da gordura do leite.
Mertens (2001) constatou que a efetividade da fibra na manutenção da percentagem de
gordura do leite é diferente da efetividade de fibra em estimular a atividade de mastigação, em
que os ruminantes requerem um teor mínimo de 10% de FDN na dieta para manter a
fisiologia ruminal e a saúde do animal. Valor menor que este provocará mudanças abruptas na
dieta e, por certo, pode resultar em baixo pH e fermentação ruminal alterada. O autor relata
que dietas com conteúdo de FDN efetiva acima de 22% da MS e com pelo menos 16% de
FDN, fisicamente efetivo, parecem ser adequadas para manter a saúde animal.
Não houve diferença (P>0,05) quanto à eficiência de alimentação e ruminação
(Tabela 5) na silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia,
como também não foi verificado efeito (P>0,05) na silagem de cana-de-açúcar para as doses
de óxido de cálcio. Possivelmente, pela ausência de efeito observado nas atividades de
alimentação e ruminação, vez que estas são utilizadas para estimar as eficiências. Outra
hipótese para a ausência de efeito significativo, verificado para as eficiências, pode ter sido
em função de tamanho de partículas da cana-de-açúcar e do concentrado, que foram os
mesmos em todas as dietas, em que não exerceram influência nos tempos das atividades de
ruminação e mastigação, em diminuir as partículas dos alimentos (CARVALHO, 2008).
Miranda et al. (1999) comprovaram tal fato ao trabalharem com cana-de-açúcar como único
108
volumoso em novilhas e não encontraram diferenças na eficiência de alimentação de MS e da
FDN, possivelmente, por existir um único volumoso e concentrado para todos os animais,
com tamanho de partículas semelhantes. Outros resultados de trabalho com subprodutos e
volumosos diferentes da cana-de-açúcar foram relatados por Carvalho et al. (2006b), que não
observaram diferença significativa na eficiência de alimentação em g de MS e FDN/hora com
capim-elefante amonizado e não amonizado, com farelo de cacau 40% e torta de dendê 40%.
Observou-se valores médios de eficiência de alimentação (EAL), em g de MS/hora e
g de FDN/hora, de 120,55 e 57,11, respectivamente (Tabela 5). A média da eficiência de
ruminação ERU foi de 589,0 bolos (nº/dia), 1,19 g MS/bolo, 0,56 g de FDN/bolo, 87,95 g de
MS/hora e 41,81 g de FDN/hora.
Tabela 5 Eficiências de alimentação e ruminação e coeficiente de variação (CV%) em ovinos
alimentados com dietas contendo silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio
(CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (%
matéria natural)
Silagem de
cana-de-açúcar com
ureia1
CV (%)
2
Equação de
regressão e coeficiente de
determinação 0 0,8 1,6 2,4
Eficiência de alimentação
g MS/hora 88,47 151,36 128,88 129,53 104,52 43,3 Ŷ = 124,6 g FDN/hora 44,54 60,80 63,97 64,40 51,84 33,5 Ŷ = 58,4
Eficiência de ruminação
Bolos
(nº/dia) 745,44 570,73 478,21 461,47 689,17 25,3 Ŷ = 564,0
g MS/bolo 0,80 1,36 1,55 1,28 0,96 48,2 Ŷ = 1,25
g FDN/bolo 0,40 0,55 0,75 0,62 0,48 35,3 Ŷ = 0,58
g MS/hora 63,22 100,41 111,45 87,89 76,75 42,1 Ŷ = 90,8 g FDN/hora 31,74 40,56 55,13 43,61 38,02 30,5 Ŷ = 42,8 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/
Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2/Coeficiente de variação. (ns), (*) e (**) = não
significativo; significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.
Não houve diferença (P>0,05) nas observações do número de períodos/dia de
alimentação, ruminação e ócio, e para o tempo gasto por período (em minutos) de alimentação
e ruminação na silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com
ureia, como também não houve efeito (P>0,05) nas silagens com doses de óxido de cálcio.
Entretanto, para o tempo gasto por período com ócio, houve efeito (P<0,05) linear crescente
na silagem de cana-de-açúcar para as doses de óxido de cálcio. Contudo, na silagem de cana
com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia, não houve diferença (P>0,05) para o
tempo gasto por período (minutos) (Tabela 6). O consumo médio por período de alimentação
109
em kg de MS e FDN foi semelhante (P>0,05) em relação à silagem de cana-de-açúcar com e
óxido de cálcio em relação à silagem com ureia. O consumo médio de MS e FDN não foram
afetados (P>0,05) pelas doses de óxido de cálcio na cana-de-açúcar e os valores médios das
silagens de cana-de-açúcar encontrados foram 0,029 e 0,014 kg de MS e FDN,
respectivamente.
Foi verificado que o tempo gasto por período de alimentação e do número de
períodos de alimentação não foram diferentes e não influenciaram no consumo médio por
períodos de MS e FDN na silagem de cana-de-açúcar com adição de óxido de cálcio, em que
foram iguais. Os resultados aqui apresentados são concordantes com as constatações feitas por
Carvalho (2008), ao trabalhar com cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio em dietas de
ovinos, caprinos, novilhas e vacas em lactação, observando-se que não houve diferença no
consumo médio por período de alimentação da MS e FDN.
A ruminação tem por objetivo diminuir o tamanho das partículas dos alimentos para
facilitar a degradação, entretanto, o teor de fibra e a forma física dos mesmos afetam o tempo
de ruminação (VAN SOEST, 1994). As dietas (Tabela 2) apresentaram diminuição do FDN
na medida em que aumentou as doses de CaO, com o mesmo tamanho das partículas, tanto da
cana-de-açúcar (1 a 2 cm) como para o concentrado e sua relação volumoso:concentrado, em
que foi usado apenas um único tipo de volumoso e de concentrado para todos os animais.
Verifica-se, então, que a inclusão de ureia na silagem da cana-de-açúcar e na dieta deveria
disponibilizar maior quantidade de nitrogênio para os microrganismos do rúmen, o que
aumentaria a eficiência microbiana, melhorando a digestibilidade da MS e FDN, e
aumentando o consumo médio por período de alimentação e diminuindo o tempo de
ruminação, que, neste caso, não apresentou diferença entre as silagens pela semelhança entre
as dietas, as quais foram isoproteicas. No consumo médio por período, apesar de não ter sido
observada diferença entre as silagens e entre os tratamentos com CaO, constata-se que muitas
variações podem ter acontecido, não provocando diferença entre os tratamentos, exatamente
em função das variações nos teores de fibra e energia entre as silagens.
110
Tabela 6 - Número e tempo médio despendido por período nas atividades de alimentação e ruminação e ócio e consumo de MS e FDN por
período de alimentação e coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com dietas contendo silagem de cana-de-açúcar
com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO
(% matéria natural) Silagem de cana-
de-açúcar com
ureia1
CV (%)2 Equação de regressão e coeficiente de
determinação 0 0,8 1,6 2,4
Número de períodos (nº/dia)
Alimentação 21,25 25,00 23,50 21,75 19,75 25,6 Ŷ = 22,9
Ruminação 26,50 25,00 23,75 24,25 21,25 20,7 Ŷ = 24,9 Ócio 38,00 43,75 42,75 41,00 33,75 17,0 Ŷ = 41,4
Tempo gasto por período (min)
Alimentação 19,75 13,60 13,90 12,61 19,74 28,4 Ŷ = 15,0
Ruminação 22,55 18,40 15,73 16,42 24,03 25,5 Ŷ = 18,3 Ócio
2 13,48 14,40 17,50 19,24 16,68 16,2 Ŷ = 13,0943 + 2,54869**CaO (r
2 = 0,94).
Consumo médio por período de alimentação (kg)
MS 0,029 0,031 0,026 0,0,26 0,034 28,4 Ŷ = 0,028
FDN 0,015 0,013 0,014 0,013 0,017 29,5 Ŷ = 0,014
* Médias seguidas de uma mesma letra, em uma mesma linha, não diferem pelo teste Dunnett a 5% de probabilidade. (ns), (*) e (**) = não
significativo; 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural).
2/Coeficiente de variação. (ns), (*) e (**) = não significativo;
significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.
111
4. CONCLUSÕES
Silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) ou ureia,
quando fornecidos a ovinos, não afetam os tempos de alimentação e ruminação dos animais.
Dietas para ovinos confinados, contendo cana-de-açúcar ensilada com óxido de
cálcio em doses de até 2,4% ou ureia na dose de 5%, diminuem a ruminação e mastigação, e
aumenta o ócio dos animais.
112
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115
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116
CAPÍTULO 5
Avaliação de intervalos entre observações para estudo do comportamento ingestivo em
ovinos
RESUMO
O objetivo neste estudo foi avaliar o intervalo de registro do comportamento
ingestivo de ovinos Santa Inês. Foram utilizados 20 cordeiros da raça Santa Inês, castrados,
com peso médio de 24,0 kg, distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado,
alojados em baias individuais com 1,5 m2, com cinco tratamentos, quatro níveis com óxido de
cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) e um com ureia (1,5%) na ensilagem de cana-de-açúcar, ambos
na matéria natural. A dieta ofertada teve a proporção de 70:30 volumoso:concentrado. O
período experimental foi de 77 dias, sendo 14 dias de adaptação da dieta e três períodos de 21
dias. Os animais foram observados por um período de 24 horas/dia no final do terceiro
período experimental. Foram testados os intervalos de 10, 15 e 20 minutos, comparado com o
registro de observação de cinco minutos. O uso de óxido de cálcio ou ureia no tratamento da
cana-de-açúcar ensilada não modificou os tempos diários de alimentação, ruminação e ócio,
bem como a eficiência de refeição e ruminação. Houve efeito no número de períodos e no
tempo gasto/período de alimentação, ruminação e ócio nos demais intervalos em relação ao de
5 minutos. Intervalos entre observações de 10, 15 e 20 minutos comprometem a avaliação dos
resultados do comportamento ingestivo de ovinos por afetar o número de períodos e tempo
despendidos nas atividades de alimentação, ruminação e ócio. Recomenda-se o intervalo de
cinco minutos entre observações para estudo do comportamento ingestivo em ovinos.
Palavras-chave: alimentação, cal, escala, ócio, ruminação, silagem
117
CHAPTER 5
Evaluation of intervals between observations to study the feeding behavior in sheep
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate the logging interval of feeding behavior of Santa Inês
sheep. We used 20 lambs, Santa Ines, castrated, with an average weight of 24.0 kg, allotted in a
randomized, housed in individual stalls with 1.5 m2, with five treatments, four levels with calcium
oxide (0.0, 0.8, 1.6 and 2.4%) and urea (1.5%) in the ensiling of sugar cane, both in natural matter.
The diet was offered the 70:30 ratio roughage:concentrate. The experiment lasted 77 days, 14
days of dietary adaptation and three periods of 21 days. The animals were observed for a period of 24
hours/day late in the third trial. Were tested at intervals of 10, 15 and 20 minutes, compared with the
record of observation of five minutes. The use of calcium oxide or urea in the treatment of sugar cane
silage did not change the times daily eating, ruminating and resting, and the efficiency of meals and
rumination. There was an effect on the number of periods and time spent/feeding, ruminating and
resting in the other intervals in relation to 5 minutes. Intervals between observations 10, 15 and 20
minutes to undertake evaluation of the results of feeding behavior in sheep by affecting the number of
periods and time spent in activities of feeding, ruminating and resting. We recommend the five-minute
interval between observations in study of feeding behavior in sheep.
Keywords: alimentation, lime, scale, rest, rumination, silage
118
1. INTRODUÇÃO
Com os recentes avanços na área de etologia, a escolha de um adequado intervalo de
tempo para o registro do comportamento ingestivo, que permita a observação de maior
número de animais e que não se contraponha à avaliação precisa dos aspectos
comportamentais, tem sido amplamente discutida e estudada (CARVALHO et al., 2007b).
Os aspectos comportamentais são de grande relevância para o bom entendimento do
consumo diário de alimentos, fazendo-se necessário estudar seus componentes
individualmente, que podem ser descritos pelo número de refeições consumidas por dia, pela
duração média das refeições e pela velocidade de alimentação de cada refeição. Cada um
desses processos é o resultado da interação do metabolismo do animal e das propriedades
físicas e químicas da dieta, estimulando receptores da saciedade. No intuito de elevar o
consumo diário, é necessário aumentar uma ou mais dessas variáveis descritas anteriormente.
No entanto, a velocidade de alimentação de cada refeição está mais relacionada com o
consumo de matéria seca do que com o número de refeições diárias (MIRANDA et al., 1999).
A utilização de um intervalo entre observações, adequado para estudo do
comportamento ingestivo em ovinos, é importante para a obtenção de resultados exatos e cada
vez mais precisos. Por isso, é importante compreender corretamente os componentes que
abordam o comportamento animal, pois a precisão depende da metodologia de avaliação
aplicada, em que a escolha da escala de intervalo de tempo a ser utilizada para discretização
das séries temporais deve ser capaz de detectar o tempo médio despendido nas atividades de
alimentação, ruminação e ócio (OLIVEIRA et al. 2011).
Estudar o comportamento ingestivo é de extrema importância, pois os dados gerados
permitem ser utilizados nas avaliações das dietas, o que possibilita ajustar o manejo alimentar
para melhorar o desempenho produtivo (SILVA et al. 2006a; SILVA et al. 2006b;
CARDOSO et al. 2006; MENDONÇA et al, 2004). É ainda possível estudar o comportamento
de animais confinados, visto que os mesmos gastam tempos diferentes no consumo de
alimentos ricos em energia, em torno de uma hora, e alimentos com alto teor de fibra que
pode exceder seis horas (VAN SOEST, 1994). Certamente, a natureza da dieta influencia nas
atividades de ingestão e ruminação, sendo assim, é necessário estudar intervalos de tempo
como forma de diminuir erros e, com o estudo do comportamento, estabelecer dietas
adequadas.
Quando se escolhe um intervalo entre as observações, este não pode comprometer os
resultados, com vistas a prejudicar a elucidação do comportamento animal. Para que se possa
119
confiar nos dados gerados, é necessário estabelecer uma metodologia a ser seguida, em que a
escolha do intervalo de tempo entre as observações é extremamente importante (SILVA et al.
2004; SILVA et al. 2003).
O objetivo neste estudo foi avaliar diferentes intervalos entre observações na
estimativa do comportamento ingestivo de ovinos.
120
2. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de ovinocultura “Ensaios Nutricionais de
Ovinos e Caprinos” e no “Laboratório de Forragicultura e Pastagens” da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, no Campus de Itapetinga, BA.
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC), com cinco tratamentos,
sendo eles as doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO na matéria natural da cana-de-açúcar e um
tratamento com a utilização de 1,5% de ureia, também na matéria natural da cana-de-açúcar,
todos aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições por tratamento.
As baias foram providas de comedouros e bebedouros, dispostos frontalmente em
cada baia. Os animais foram mantidos em baias individuais de 1,5 m2 com piso cimentado e
alimentados com dieta contendo 70% da silagem de cana-de-açúcar com doses de 0,0; 0,8; 1,6
e 2,4% de óxido de cálcio (CaO) na matéria natural da cana-de-açúcar e silagem de cana-de-
açúcar com ureia (1,5% na matéria natural) e 30% de concentrado (Tabela 1), cuja
composição encontra-se na Tabela 2. Para confecção das silagens, a cana-de-açúcar foi
picada, em uma picadeira de forragem convencional, padronizando as partículas com tamanho
de 1 a 2 cm, misturada em piso de alvenaria para uma completa homogeneização. Depois, foi
pesada, separada em quantidades de 140 kg, posteriormente, estas amostras foram tratadas, de
acordo com as doses de óxido de cálcio e ureia, e acondicionadas em tonéis de 200 litros,
mantendo densidade de 700 kg de matéria natural/m3. Em seguida, foram lacradas com lona
dupla face (preta e branca) de 200 micras. A cana-de-açúcar, variedade RB 72.454, foi
ensilada por um período de 30 dias, quando foram abertos os silos para retirada das amostras.
A silagem de cana-de-açúcar, nos tratamentos com CaO, no momento do
fornecimento aos animais, foi corrigida para 1% de ureia (mistura de ureia + sulfato de
amônio) na relação 9:1, em seguida, toda mistura foi homogeneizada. As dietas foram
calculadas com base no NRC (2006) para permitir que houvesse nutrientes (NDT e PB)
suficientes para um ganho de peso de 150 g/dia. Estas foram balanceadas para conterem
aproximadamente 13% de proteína bruta e 53% de nutrientes digestíveis totais.
Nas amostras coletadas, foram realizadas as seguintes análises: matéria seca (MS),
nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA),
proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN), cinza insolúvel em detergente neutro
(CIDN), extrato etéreo (EE), celulose, hemicelulose, lignina, cinza, nutrientes digestíveis
totais (NDT), conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), e a digestibilidade “in
121
situ” da matéria seca por 48 horas (DISMS) (ORSKOV et al., 1980). A fibra em detergente
neutro foi corrigida para cinza e proteína (FDNcp), segundo Mertens (2002).
Na realização da pré-secagem, as amostras coletadas foram descongeladas,
acondicionadas em vasilhame de alumínio, pesadas e levadas à estufa de 60°C, por 72 horas.
Em seguida, foram retiradas da estufa, mantidas à temperatura ambiente por duas horas,
pesadas e moídas em moinho com peneiras contendo crivos de 1 mm e acondicionadas em
vasilhames de plástico com tampa, identificados para posteriores análises.
As frações dos carboidratos totais foram calculadas através do sistema de “Cornell
Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS)”, segundo Sniffen et al. (1992), em que:
CHO = 100 – (% PB + % EE + % Cinza)
Devido à presença de ureia, os carboidratos não fibrosos (CNF) foram obtidos por:
CNF = 100 – [(% PB - % PB ureia) + % FDNcp + % EE + % cinza]
Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das dietas (% da
matéria seca)
Ingrediente Concentrado Dieta
Silagem de cana com CaO
Silagem de cana com ureia
Silagem de cana com CaO
Silagem de cana com ureia
Silagem de cana-de-açúcar1
- - 70,00 70,0
Milho 56,67 65,66 17,00 19,71
Farelo de soja 26,67 27,70 8,00 8,29
Ureia 10,00 ----- 3,00 -----
Sal comum 3,33 3,32 1,00 1,00
Sal mineral2
3,33 3,32 1,00 1,00
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 1/ cana-de-açúcar com diversas doses de óxido de cálcio ou ureia. 2/ Quantidade por kg do produto: Ca = 155 g, P = 65 g, S = 12 g, Mg = 6 g, Na = 115 g, Co = 175 mg, Cu = 100
mg, I = 175 mg, MN = 1400 mg, Ni = 42 mg, Se = 27 mg, Zn = 6000 mg, Fe = 1000 mg.
O experimento durou 77 dias, constituídos de três períodos experimentais, composto
de 21 dias cada um, e 14 dias que foram destinados ao período de adaptação dos animais. As
dietas experimentais foram fornecidas à vontade, duas vezes por dia, sendo realizado o
fornecimento às 7h00 e às 15h00, de forma que as mesmas foram ajustadas para manter
sobras de aproximadamente 10% do fornecido. Todos os animais foram pesados no início do
período experimental e no fim de cada período experimental. A composição química da cana-
122
de-açúcar com ureia e oxido de cálcio está disposta na Tabela 3, a qual foi calculada para ser
isoproteica.
Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais
Item
Silagem de cana-de-açúcar com dose de CaO
(% matéria natural)
Silagem de
cana-de-
açúcar com ureia
1 0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca (%) 41,1 42,6 43,2 43,2 41,5
Proteína bruta2
14,6 14,7 14,6 14,5 14,8 FDN
2 55,7 49,9 42,5 37,9 51,2
NDT2,3
50,6 58,9 60,8 64,3 53,6 1cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2 base da matéria seca; 3 estimado segundo NRC (2006).
FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; NDT: nutrientes digestíveis totais.
Para avaliar o comportamento ingestivo, os animais foram submetidos a períodos de
observação visual, durante um dia do período experimental, determinando o comportamento
alimentar durante 24 horas/dia, de acordo com Fischer et al. (1998). O tempo despendido de
alimentação, ruminação e ócio foram submetidos a períodos de observação visual para avaliar
o comportamento ingestivo, durante um dia, no último período experimental, e as observações
foram feitas no 17o dia do período experimental. Os animais foram observados durante 24
horas, em quatro diferentes intervalos entre observações (5, 10, 15 e 20 minutos) para a
avaliação dos tempos de alimentação, ruminação e ócio. Foi adaptado durante três dias com
luz artificial à noite, antes da observação, e durante a observação noturna, o ambiente foi
mantido com iluminação artificial.
123
Tabela 3 – Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio
(CaO) ou ureia
Item
Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)
Silagem de cana-de-
açúcar com
ureia 0,0 0,8 1,6 2,4
Matéria seca (%) 20,1 22,3 23,1 23,2 20,7
Proteína bruta1 1,15 1,23 1,15 1,10 14,9
Fibra em detergente neutro1 74,0 58,6 55,1 48,5 68,6
FDNcp1
71,1 55,7 52,4 45,6 65,6
Fibra em detergente ácido1
63,3 50,3 45,3 40,1 59,4
PIDN1
059 0,51 0,50 0,42 0,81
CIDN1
2,4 2,4 2,3 2,5 2,2
Extrato etéreo1
1,6 1,8 1,8 1,8 1,8
Celulose1 49,0 40,7 33,1 31,1 45,1
Hemicelulose1
10,7 8,2 9,8 8,4 9,2
Lignina1 10,3 8,4 6,8 5,7 9,5
Cinza1 3,6 8,1 10,0 14,0 3,3
DISMS1
51,2 51,1 61,1 65,5 59,6
Nutrientes digestíveis totais2
42,8 54,6 57,3 62,3 47,0 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/
Valores em percentagem da matéria seca. 2/ Estimado segundo o NRC (2006). Proteína indigestível em
detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN), fibra em detergente neutro corrigido
para cinza e proteína (FDNcp), digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS).
No dia seguinte, foram realizadas três observações em cada animal, em três períodos
diferentes: manhã, tarde e noite (10-12h; 14-16h e 19-21h). Nestes períodos, foi observado o
número de mastigações por bolo ruminal e contabilizado o tempo gasto para ruminação de
cada bolo. Este procedimento foi realizado com a utilização de cronômetros digitais, os quais
foram manuseados por quatro observadores, que se posicionaram em frente às baias, de forma
a não incomodar os animais.
Para estimação das variáveis comportamentais, alimentação e ruminação (min/kg MS
e FDN), eficiência alimentar (g MS e FDN/hora), eficiência em ruminação (g de MS e
FDN/bolo e g MS e FDN/hora) e consumo médio de MS e FDN por período de alimentação,
considerou-se o consumo voluntário de MS e FDN do 17º e 18º dias do período experimental,
sendo as sobras computadas entre o 17º e 18º dias.
124
Através do número de bolos ruminados diariamente foi obtido o tempo total de
ruminação (minuto), dividido pelo tempo médio gasto na ruminação de um bolo. A
concentração de MS e FDN em cada bolo (g) ruminado foi obtida a partir da divisão da
quantidade de MS e FDN consumida (g/dia) em 24 horas pelo número de bolos ruminados
diariamente.
A eficiência de alimentação e ruminação foi obtida utilizando o seguinte método:
EALMS = CMS/TAL;
EALFDN = CFDN/TAL;
em que: EALMS (g de MS consumida/h); EALFDN (g FDN consumida/h) =
eficiência de alimentação; CMS (g) = consumo diário de matéria seca; CFDN (g) = consumo
diário da FDN; TAL = tempo gasto diariamente em alimentação.
ERUMS = CMS/TRU;
ERUFDN = CFDN/TRU;
em que: ERUMS (g MS ruminal/h); ERUFDN (g da FDN ruminal/h) = eficiência de
ruminação e TRU (h/dia) = tempo de ruminação.
TMT = TAL + TRU
em que: TMT (minuto/dia) = tempo de mastigação total.
Estes procedimentos foram obtidos segundo metodologia descrita por Bürger et al.
(2000).
As variáveis foram analisadas de forma independente dos efeitos da doses do óxido
adicionados à cana-de-açúcar. Foram considerados como tratamentos os intervalos entre
observações (5, 10, 15 e 20 minutos), no qual o de 5 minutos foi tomado como referência
(controle). Os resultados foram submetidos à análise de variância, procedendo-se
posteriormente teste Dunnett para avaliar o efeito das doses de óxido de cálcio em relação à
ureia (testemunha), e análise de regressão para o estudo do efeito das doses de CaO, a 5% de
probabilidade. Foi utilizado o programa SAS (Statistical Analisys System).
125
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve efeito (P>0,05) dos intervalos entre observações avaliados (5, 10, 15 e 20
minutos) sobre as atividades de alimentação, ruminação, mastigação e ócio (em min/dia)
(Tabela 4). Há possibilidade de utilização de intervalos maiores que cinco minutos para serem
utilizados na observação de ovinos, no estudo do comportamento ingestivo.
De acordo com Carvalho et al., (2008) para avaliar as atividades de alimentação,
ruminação e ócio, quando se utiliza intervalos entre observações fixos, verifica-se que cada
avaliação seja representativa da atividade exercida pelo animal desde o momento anterior, e
que há necessidade de delimitação de um intervalo de tempo seguro para diminuir os riscos de
erro.
Carvalho et al. (2007b) verificaram que na avaliação do comportamento ingestivo de
ovinos alimentados com capim-elefante, amonizado e subprodutos agroindustriais, não foi
observado efeito dos intervalos de observações (5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos) nos tempos de
alimentação, ruminação e ócio, nos quais ficou evidenciado que a avaliação do
comportamento alimentar em ovinos pode ser feito a intervalos de até 30 minutos. Os
resultados obtidos neste estudo são concordantes com os relatados por Carvalho et al. (2007a),
que, ao trabalharem com comportamento ingestivo de cabras lactantes, alimentadas com
farelo de cacau e torta de dendê, avaliaram o efeito dos intervalos entre observações (5, 10, 15
e 20 minutos) e verificaram que não há diferença entre os intervalos testados, recomendando o
intervalo de 20 minutos para avaliar as atividades de alimentação ruminação e ócio.
Entretanto, podem existir mudanças no comportamento do animal devido a fatores ambientais
e também à busca pelo alimento, como verificado por Forbes (1988), observando que os
ruminantes podem modificar um ou mais componentes do seu comportamento ingestivo com
a finalidade de minimizar os efeitos de condições alimentares desfavoráveis, conseguindo,
assim, suprir os seus requisitos nutricionais para mantença e produção. Ou até na busca pelo
alimento, que demanda mais tempo por parte dos animais, como verificado por Starling et al.
(1999), os quais verificaram que, em ambiente de pastejo tropical, os ovinos passam maior
parte do tempo na atividade de alimentação, seguido da ruminação e descanso.
Salla et al. (1999) estudaram os tempos de 5, 7, 10 e 15 minutos e verificaram que
não diferiram entre o registro contínuo dos tempos das atividades em vacas Jersey lactantes,
indicando que foram semelhantes em todas as escalas avaliadas, nas quais todos os animais
poderiam ser avaliados em escalas de até 15 minutos.
126
Tabela 4 - Atividades de alimentação, ruminação, mastigação e ócio em função dos diferentes
intervalos entre observações (5, 10, 15 e 20 minutos) e coeficiente de variação (CV)
em ovinos alimentados com dieta contendo cana-de-açúcar com óxido de cálcio
(CaO) ou ureia
Item Intervalo entre observações (minutos)
5 10 15 20 CV (%)
Alimentação
Min/dia 340,0 343,0 356,3 355,0 26,7
Min/kg MS 571,6 575,9 597,7 595,8 35,7
Min/kg FDN 1158,6 1167,7 1215,7 1204,3 33,2
Ruminação
Min/dia 458,8 451,0 454,5 446 25,4
Min/kg MS 770,7 760,2 761,6 753,0 34,7
Min/kg FDN 1566,1 1546,6 1549,4 1531,4 32,5
Mastigação
No/dia 38471,4 37833,0 38045,0 37334,5 31,2
Min/dia 798,0 792,0 810,0 804,0 20,3
Min/kg MS 1342,3 1336,1 1359,4 1348,8 31,7
Min/kg FDN 2724,6 2714,4 2765,1 2735,6 28,3
Ócio
Min/dia 641,3 646,0 629,3 639 24,4
* Médias na linha, seguidas por asterisco, diferem da testemunha (5 minutos) ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste de Dunnett.
Os resultados deste estudo corroboram com os de Carvalho (2008), que trabalhou
com cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio em dietas para ovinos, caprinos, novilhos e
vacas em lactação, e verificou que não houve diferenças entre as características estudas para
as atividades de alimentação, ruminação e ócio para ovinos, caprinos, novilhas e vacas em
lactação. O autor comenta que as evidências possibilitam a utilização de intervalos maiores
que cinco minutos para serem utilizados na observação de ovinos e caprinos em estudo de
comportamento ingestivo. Para mensurar essas atividades, quando se utiliza intervalos de
127
observações fixos, presumi-se que cada avaliação seja representativa de cada atividade
exercida pelo animal, desde a atividade anterior, o que é necessário a delimitação de um
intervalo de tempo seguro, minimizando com isso os riscos e erros.
Quanto menor for o intervalo de observação, menor será o risco do animal mudar de
atividade, como consequência, o mais exato será o resultado dos tempos das atividades de
alimentação e ruminação. Este fato foi evidenciado por Fischer et al. (2000), que relataram
que a adoção da escala de cinco minutos é considerada a mais indicada em relação às escalas
de 7 e 10 minutos, por detectar número maior de atividades, além de ser de valor semelhante à
duração mínima das atividades. Além disso, a escala de 5 minutos apresenta outra vantagem,
que é permitir o acompanhamento visual do comportamento de ruminantes em condições
experimentais, em que os aparelhos eletrônicos de registro de dados não estejam disponíveis,
como é o caso do deste estudo. Oliveira et al. (2011) estudaram os intervalos entre
observações de 5, 10, 15, 20 e 30 minutos e verificaram que o comportamento ingestivo de
vacas lactantes em pastejo não diferiram para as atividades de alimentação, ruminação e ócio.
Morais et al. (2006) verificaram que, quando se emprega maior intervalo de
observação no estudo do comportamento, 10 ou 15 minutos, os resultados não são diferentes
do tempo comumente utilizado (cinco minutos), isso devido ao observador poder utilizar um
intervalo de 10 ou 15 minutos entre uma observação e outra, quando for mais conveniente ou
necessário. Silva et al. (2005) constataram não haver diferença significativa de observações
entre intervalos (5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos) nas atividades de alimentação, ruminação e
ócio em novilhas confinadas, onde o animal pode ser observado a cada 30 minutos sem que
possa comprometer os resultados. Silva et al. (2004) verificaram que avaliação do
comportamento ingestivo de novilhas de origem leiteira em pastejo pode ser recomendada
escala de até 30 minutos para avaliação das atividades diárias de alimentação, ruminação e
ócio. Carvalho (2008) afirmou que a adoção de intervalos inadequados no sistema de
avaliação do comportamento ingestivo pode comprometer o experimento, o que leva a
resultados irreais.
Verifica-se que não houve diferença (P>0,05) na eficiência em alimentação e
ruminação em relação aos intervalos de observação utilizados (Tabela 5). Isto se deve,
provavelmente, ao fato de não ter sido observado diferenças nas atividades de alimentação e
ruminação.
128
Tabela 5 - Eficiências em alimentação e ruminação em função dos diferentes intervalos entre
observações e coeficiente de variação (CV%), em ovinos alimentados com dieta
contendo cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item
Intervalo entre observações (minutos)
CV (%)
5 10 15 20
Eficiência em alimentação
g MS/hora 120,5 124,1 114,2 120,9 50,4
g FDN/hora 57,1 58,5 54,2 56,9 39,3
Eficiência em ruminação
Bolos (no/dia) 589,0 580,0 582,5 572,4 31,0
g MS/bolo 1,189 1,246 1,195 1,253 51,4
g FDN/bolo 0,561 0,587 0,565 0,591 41,3
g MS/hora 87,9 91,9 88,7 92,6 45,2
g FDN/hora 41,8 43,6 42,3 44,1 36,4
* Médias na linha, seguidas por asterisco, diferem da testemunha (5 minutos) ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste de Dunnett.
Houve efeito significativo (P<0,05) para os intervalos entre as observações do
número de períodos e o tempo médio gasto por período de alimentação, ruminação e ócio em
função dos intervalos de 10, 15 e 20 minutos, quando comparado ao intervalo de cinco
minutos. Verifica-se que os intervalos de 10, 15 e 20 minutos, entre as observações de
alimentação, ruminação e ócio, quanto ao número de períodos, foram maiores que o intervalo
de cinco minutos (Tabela 6). Quanto ao tempo gasto por período, estes foram maiores nos
intervalos de 10, 15 e 20 minutos em relação ao tempo de cinco minutos.
129
Tabela 6 - Número e tempo despendido por período nas atividades de alimentação, ruminação
e ócio e consumo de MS e FDN, por período de alimentação em função dos
diferentes intervalos entre observações e coeficiente de variação (CV%), em ovinos
alimentados com dieta contendo cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia
Item Intervalo entre observações (minutos)
5 10 15 20 CV (%)
Número de períodos (n
o/dia)
Alimentação 22,3 14,1* 11,8* 9,9* 23,8
Ruminação 24,2 17,5* 14,2* 11,1* 20,6
Ócio 39,9 25,3* 19,4* 15,6* 18,2
Tempo gasto por período (min)
Alimentação 15,9 24,6* 30,5* 36,6* 26,9
Ruminação 19,4 26,3* 33.1* 40,6* 29,8
Ócio 16,3 25,7* 33,0* 41,7* 26,7
Consumo médio por período de alimentação (kg)
MS 0,0292 0,0457* 0,0544* 0,0670* 29,5
FDN 0,0142 0,0221* 0,0263* 0,0322* 26,4
* Médias na linha, seguidas por asterisco, diferem da testemunha (5 minutos) ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste de Dunnett.
Fischer et al. (2000) verificaram que, quando se escolhe um intervalo para discretizar
as séries temporais, o tempo com alimentação, ruminação e ócio deve ponderar entre o poder
de detectar mudanças no decorrer das atividades e a sua precisão, sem que haja redundância.
Sendo assim, verifica-se que o intervalo de cinco minutos foi mais adequado em relação às
demais escalas, exatamente porque permitiu detectar com maior precisão a frequência diária
das atividades no número de períodos. Quanto ao número de períodos discretos referente às
atividades de alimentação, ruminação e ócio, o intervalo de observação de cinco minutos é o
mais exato dentre as escalas de 10, 15 e 20 minutos, pois, este permite detectar melhor a
frequência diária, o que consideravelmente diminui as perdas de observação.
Os resultados obtidos neste estudo para o número e tempo médio por período de
atividades estão de acordo com os obtidos por Carvalho (2008), que trabalhou com intervalos
de observações de alimentação, ruminação e ócio em ovinos e caprinos. O autor concluiu que
130
a utilização de intervalos superiores ao de cinco minutos provoca subestimativa do número de
períodos e superestimava o tempo médio despendido por período de atividades. O autor
relatou também que foi verificada perda de observação de intervalos de 10, 15 e 20 minutos,
principal fator que comprometeu os resultados, e que gerou números de período sem precisão.
Fischer et al. (2000) também afirmaram que a escala de cinco minutos é a ideal para
discretizar o numero de períodos e o tempo médio gasto por período, enquanto que Carvalho
et al. (2007b) encontraram diferença nas médias quanto ao intervalo entre observações do
número de períodos de alimentação e descanso na escala de cinco minutos, sendo semelhante
ao de 10 minutos, mas diferindo dos resultados obtidos nas demais escalas. Contudo, os
resultados obtidos no presente estudo divergem desses resultados.
Foi evidenciado por Fischer et al. (2000); Silva et al. (2004); Carvalho et al. (2007a);
Carvalho et al. (2007b); Carvalho (2008) que, para discretizar as atividades, deve-se usar a
escala de cinco minutos, que proporciona menores perdas de observações. No presente
estudo, fica claro que o intervalo de cinco minutos foi também o mais adequado, o que
permite menores perdas de observação e maior precisão e exatidão nos resultados.
Os resultados apresentados no consumo médio por período de alimentação para MS e
FDN, neste experimento, apresentaram diferença (P<0,05) entre os inetrvalos de observações
de 10, 15 e 20 minutos em relação ao intervalo de cinco minutos (Tabela 6). Verifica-se que
os valores dos consumos médios (MS e FDN), por período de alimentação neste estudo, nos
intervalos de 10, 15 e 20 minutos foram maiores do que o de cinco minutos, reafirmando que
o intervalo de cinco minutos é o mais adequado para avaliação de atividades de alimentação,
ruminação e ócio. Silva et al. (2006a), ao avaliarem o comportamento de bezerros confinados
na fase de pré-aleitamento, verificaram que não houve diferença entre as escalas de cinco e 10
minutos nas atividades de alimentação, ruminação e ócio, como também foi verificado por
Silva et al. (2006b) em bezerros no pós-aleitamento. Contrariamente aos autores supracitados,
muitos resultados verificados na literatura (SILVA et al., 2004; CARVALHO et al., 2007;
MORAIS et al., 2006 e OLIVEIRA et al., 2011) tem sugerido o intervalo de cinco minutos
como sendo o indicado para avaliação das atividades de alimentação, ruminação e ócio em
ruminantes, visto que estas atividades são parâmetros relevantes e necessitam de ferramentas
adequadas para maximizar a eficiência destes estudos.
131
4. CONCLUSÕES
As atividades diárias de alimentação, ruminação e ócio, bem como as eficiências de
alimentação e ruminação em ovinos podem ser obtidos utilizando intervalos entre observações
de até 20 minutos.
Para a avaliação do número de períodos e tempo médio por período de alimentação,
ruminação e ócio, em estudos de comportamento ingestivo de ovinos, recomenda-se o
intervalo de cinco minutos entre observações.
132
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