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CANA-DE-AÇÚCAR ENSILADA COM ÓXIDO DE CÁLCIO OU UREIA EM DIETAS PARA OVINOS ALBERTI FERREIRA MAGALHÃES

CANA-DE-AÇÚCAR ENSILADA COM ÓXIDO DE CÁLCIO OU … · como por disponibilizar as instalações do setor para execução de algumas atividades do ... setores dos Ensaios Nutricionais

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CANA-DE-AÇÚCAR ENSILADA COM ÓXIDO DE

CÁLCIO OU UREIA EM DIETAS PARA OVINOS

ALBERTI FERREIRA MAGALHÃES

UESB

CANA-DE-AÇÚCAR ENSILADA COM ÓXIDO DE

CÁLCIO OU UREIA EM DIETAS PARA OVINOS

ALBERTI FERREIRA MAGALHÃES

2011

ALBERTÍ FERREIRA MAGALHAES

CANA-DE-AÇÚCAR ENSILADA COM ÓXIDO DE CÁLCIO OU UREIA EM DIETAS

PARA OVINOS

Tese apresentada à Universidade Estadual do Sudoeste da

Bahia, como parte das exigências do Programa de Pós-

Graduação de Doutorado em Zootecnia, Área de

Concentração em Produção de Ruminantes, para obtenção

do título de “Doutor”.

Orientador:

Prof. DSc. Aureliano José Vieira Pires

Co-orientadores:

Prof. DSc. Gleidson Giordano Pinto de Carvalho

Prof. DSc. Fabiano Ferreira Silva

ITAPETINGA

BAHIA – BRASIL

2011

636.0862

M164c

Magalhães, Alberti Ferreira.

Cana-de-açúcar ensilada com oxido de cálcio ou uréia em dietas para

ovinos./ Alberti Ferreira Magalhães. – Itapetinga-BA: UESB, 2011.

133p.

Tese do Programa de Pós-Graduação de Doutorado em Zootecnia da

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB - Campus de

Itapetinga. Sob a orientação do Prof. D.Sc. Aureliano José Vieira Pires e co-

orientadores Prof. D.Sc. Gleidson Giordano Pinto de Carvalho e Prof. D.Sc.

Fabiano Ferreira da Silva.

1. Ovinos - Cana-de-açúcar - Ensilagem – Digestibilidade. 2. Ovinos –

Dieta – Ensilagem de cana-de-açúcar. 3. Cana-de-açúcar - Ensilagem –

Oxido de cálcio - Uréia. I. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia -

Programa de Pós-Graduação de Doutorado em Zootecnia, Campus de

Itapetinga. II. Pires, Aureliano José Vieira. III. Carvalho, Gleidson

Giordano Pinto de. IV. Fabiano Ferreira da Silva. V. Título.

CDD(21): 636.0862

Catalogação na Fonte:

Adalice Gustavo da Silva – CRB 535-5ª Região

Bibliotecária – UESB – Campus de Itapetinga-BA

Índice Sistemático para desdobramentos por Assunto:

1. Ovinos - Cana-de-açúcar - Ensilagem – Digestibilidade 2. Ovinos – Dieta – Ensilagem de cana-de-açúcar

3. Cana-de-açúcar - Ensilagem – Oxido de cálcio - Uréia

A DEUS, força de todo o Universo, Criador, Pai eterno. Está sempre ao meu lado,

nunca desampara, sempre protegendo-me e ajudando em todos os momentos.

Aos meus pais, Milton Souza Magalhães e Marival Ferreira Sacramento

Magalhães (in memoriam), grande exemplo de luta para criar todos os filhos.

Às minhas queridas filhas, Larissa e Fernanda, pelo grande incentivo, respeito e

admiração recíproca, sou grato a Deus por tê-las como filhas.

À minha querida e amada esposa, Dilze, por todo incentivo, companheirismo,

amizade e convivência, pois são muitos anos de luta, alegrias e tristezas,

aprendemos a estar sempre prontos para vencer cada vez mais e nunca desistir.

Você sempre esteve ao meu lado nas dificuldades e sempre acreditou que tudo

pode ser possível.

Aos meus queridos irmãos, pela grande amizade, respeito, e por confiar e torcer

sempre por mim.

DEDICO

AGRADECIMENTOS

A DEUS, por ter permitido que chegasse até aqui, concedendo-me vida, saúde e muita

paz;

À Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) que, por meio do Programa de

Pós-Graduação em Zootecnia, concedeu-me oportunidade para realização deste curso, além

da disponibilidade das instalações (Laboratório de Forragicultura e Pastagens, Nutrição

Animal, ENOC - Ensaios Nutricionais de Ovino e Caprino e ao laboratório de Fisiologia

Animal);

À Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) que oportunizou fazer

às disciplinas do doutorado, através da Escola Média de Agropecuária Regional da CEPLAC

(EMARC-Itapetinga), e à Direção da escola, em especial à Profª Iraildes Moreira Santos e ao

Prof. Guilherme Rosa e Silva;

Ao professor Aureliano José Vieira Pires, pela orientação incondicional, pela amizade,

pelos constantes ensinamentos, pelo apoio financeiro para implantação e condução de todas as

fases do experimento e análises;

Ao professor Gleidosn Giordano Pinto de Carvalho, pela co-orientação, pela amizade,

pelas sugestões e ajuda na execução das análises estatísticas, condução do experimento,

mostrando-se sempre acessível a todo o momento que solicitei;

Ao professor Fabiano Ferreira da Silva, pela co-orientação, amizade, simplicidade,

sugestões e correção da tese;

À professora Mara Lúcia Albuquerque Pereira, pelo apoio disponibilizado pelas suas

bolsistas de Mestrado e Iniciação Cientifica, Alana e Jeruzia, para realização das análises

químicas no Laboratório de Fisiologia Animal;

Aos colegas Geraldo Trindade e Ronaldo Silva, compadres, e Raimundo Nonato, por

serem sempre grandes companheiros de luta, no período em que estivemos na EMARC, e pela

amizade em todas as horas;

Aos colegas Damião, “Sampa” e Hamilton “Negão”, que ajudaram bastante para

instalação do projeto, muito obrigado;

A todos os colegas da EMARC-IT que foram parte integrante desta minha caminhada,

nestes anos;

Aos colegas do Doutorado, Antônio Marcio, Aires, Fabio Teixeira, Jacqueline, José

Nobre, Luciana, Lucas, Liziane, Mauricélia, Paulo Valter, Rogério Murta, pelos momentos

agradáveis, debates e discussões, agradeço a vocês por serem meus colegas e amigos;

Aos colegas zootecnistas da graduação e Pós-Graduação, bons amigos em todos os

momentos;

A todos os professores do doutorado, que foram exemplos de dedicação,

responsabilidade, admiração, respeito e compromisso na formação da primeira turma de

doutores formados na Bahia em Zootecnia;

À professora Cristiane Leal, por ter disponibilizado as instalações do ENOC para

condução deste estudo, durante todo o experimento;

À professora Carmen Lúcia Rech, por ter disponibilizado o Laboratório de Nutrição

Animal para realização de algumas análises laboratoriais;

Ao professor Jair de Araújo Marques, pela amizade, por ter participado da banca de

qualificação e pelo grande exemplo de perseverança e profissionalismo;

À professora Cristina Mattos Veloso, grande exemplo de dedicação e competência,

sempre serena e tranquila nos seus ensinamentos. Saudades...

Aos colegas e amigos, Daiane Chagas (mestranda), Carlos Nascimento (Zecão), Aline

Oliveira, Bolsistas de Iniciação Cientifica de Pastagens, Pablo Viana (Buda), Daiane Alencar,

Ana, Murilo Gordo (Maiquinique), Alaide (bactéria), Hugo (tamborete) e Milena (Helena de

Tróia), por terem participado e apoiado, sem restrições, a todo o momento, em todas as etapas

de realização, desde a implantação, condução, coleta de dados e análises químicas;

Ao Dr. José Marques Pereira, por possibilitar a confecção das amostras no Laboratório

do CEPEC e pela compreensão para conclusão da Tese;

Ao Waldemar Barreto e demais colegas do Laboratório de Análises de Tecidos Vegetais

do CEPEC, pelos resultados das amostras de minerais, muito importantes para a conclusão do

trabalho;

Ao colega Uilson Lopes Wanderley, pela revião do Inglês;

À colega Maria das Graças Brito dos Santos, pela grande ajuda e paciência na

formatação deste trabalho;

Ao Sr. José (Zé), funcionário do Laboratório de Forragicultura e Pastagens, pela

amizade e por ter dado todo apoio, sem restrições de hora e dia, nas análises laboratoriais;

Aos colegas, Jairo e Tafarel da EMARC-IT, sempre prestativos e disponíveis para

execução de tarefas previstas no projeto;

Aos Produtores, Fabian Ferreira e Graça, sua mãe, da cidade de Maiquinique, que

sempre estiveram disponíveis em oferecer sua propriedade para o bem da ciência. Muito

obrigado!

Aos colegas zootecnistas da graduação, do mestrado e do doutorado, que estiveram

presentes a todo o momento, com boas conversas, boas histórias, muita descontração e ajuda

durante a condução deste experimento. Meus agradecimentos!;

Ao funcionário do Setor de Ovinocultura e Suinocultura, Jesulino (Barriga), pelo

grande apoio, no início, com os animais do experimento;

Ao grande amigo Mario Camarão, que nunca se furtou em apoiar e disponibilizar

recursos materiais e humanos para execução de todas as fases do projeto;

Aos funcionários de campo, que não mediram esforços para ajudar na execução das

tarefas, tão importantes no início deste projeto;

Aos funcionários da bovinocultura (Juraci e Pelé), que tanto se disponibilizaram, bem

como por disponibilizar as instalações do setor para execução de algumas atividades do

projeto;

Aos vigilantes das instalações dos caprinos e suínos, pelos momentos de conversas

descontraídas, nos fins de semana e feriados;

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para execução deste

trabalho. Muito Obrigado!

RESUMO

MAGALHÃES, A.F. Cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia em dietas

para ovinos. Itapetinga-BA: UESB, 2011. 133p. (Tese – Doutorado em Zootecnia, Área de

Concentração em Produção de Ruminantes).*

O presente experimento foi conduzido na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,

setores dos Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos (ENOC), Laboratório de

Forragicultura e Pastagens, de Nutrição Animal e de Fisiologia Animal, para avaliar a cana-

de-açúcar ensilada com doses de óxido de cálcio 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% ou ureia (1,5%) com

base na matéria natural, em dietas para ovinos. Foram utilizados tonéis de 200 litros para

ensilagem da cana-de-açúcar que foram abertos 30 dias após a ensilagem. O trabalho foi

dividido em cinco capítulos como se segue: No capítulo um, avaliou-se o valor nutritivo da

cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio (CaO) ou ureia. O experimento foi conduzido

em delineamento inteiramente ao acaso, com cinco tratamentos e oito repetições. Os

tratamentos foram: 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de óxido de cálcio e 1,5% de ureia na ensilagem da

cana-de-açúcar, com base na matéria natural. Foram coletadas amostras antes do fechamento

dos silos e 30 dias após a ensilagem. Foi avaliado o grau brix, antes do fechamento dos silos,

e a composição químico-bromatológica da cana-de-açúcar. A matéria seca aumentou

linearmente com o aumento das doses de CaO, enquanto a fibra em detergente neutro e a fibra

em detergente neutro corrigida para cinza e proteína diminuíram com o aumento das doses de

CaO. Os nutrientes digestíveis totais e a digestibilidade in situ da matéria seca aumentaram

com o uso do CaO na ensilagem. Os carboidratos totais apresentaram diferença da silagem

com ureia em relação à silagem com CaO, bem como as frações de rápida degradação e média

degradação no rúmen (A + B1) e a fração indigestível C (FDNi). As perdas da cana-de-açúcar

diminuíram com o aumento das doses de CaO. O uso do óxido de cálcio melhora o valor

nutritivo da cana-de-açúcar ensilada por meio, principalmente, da redução da parede celular,

além de diminuir as perdas, porém, a ureia não melhora o valor nutritivo nem diminui perdas,

melhora apenas o teor de proteína bruta. No capítulo dois, foi avaliado o desempenho de

ovinos alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia. Foram

utilizados 20 cordeiros da raça Santa Inês, com peso médio de 24,0 kg, distribuídos em um

delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos, sendo quatro níveis com

óxido de cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) e um com ureia (1,5%), com base na matéria natural da

cana. Os animais foram alojados em baias individuais com 1,5 m2 e a dieta ofertada teve a

proporção de 70:30 volumoso:concentrado. O período experimental foi de 77 dias, sendo 14

dias de adaptação das dietas e três períodos experimentais de 21 dias. Não foram observadas

diferenças nos consumos médios matéria seca, extrato etéreo, fibra em detergente neutro, fibra

em detergente neutro corrigido para cinza e proteína, carboidratos totais, hemicelulose, e

nutrientes digestíveis totais. Foi verificada diferença para os consumos (kg/dia) de proteína

bruta, fibra em detergente ácido e carboidratos não fibrosos, que diferenciou da silagem com

ureia. Não foi observado efeito para a digestibilidade da matéria seca, extrato etéreo, fibra em

detergente neutro, fibra em detergente ácido, nutrientes digestíveis totais, mas houve efeito

quadrático para a digestibilidade dos carboidratos totais e linear crescente para carboidratos

não fibrosos. Verificou-se elevação do consumo de cálcio à medida que aumentou as doses de

óxido de cálcio na cana-de-açúcar. A razão cálcio:fósforo na silagem com óxido de cálcio foi

diferente das silagens com ureia e sem aditivo. O ganho de peso diário apresentou efeito

quadrático. Silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio ou ureia não melhora o

consumo nem ganho de peso de ovinos. No capítulo três, avaliou-se o balanço de nitrogênio,

excreção de ureia e síntese de proteína microbiana em ovinos alimentados com cana-de-

açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia, sendo que o delineamento e as condições

experimentais foram semelhantes ao relatado no capítulo dois. O N-ingerido e N-digerido na

urina apresentaram diferença entre as silagens de CaO e ureia, e apresentaram efeito linear

decrescente da silagem de cana-de-açúcar com CaO. Foi observado efeito linear decrescente

para o N-urina (g/dia). Houve diferença para as concentrações de N-ureico na urina e no

plasma em relação às silagens de CaO e de ureia, que apresentou efeito quadrático crescente e

decrescente, respectivamente, para as doses de CaO. As excreções (g/dia e mg/kg PV) de

ureia na urina e N-ureico na urina foram semelhantes em relação às silagens com CaO e ureia.

As excreções urinárias (mmol/dia) apresentaram efeito quadrático para alantoína e ácido

úrico. Os derivados de purina (% das purinas totais) apresentou diferença para o alantoína e

ácido úrico na silagem com CaO em relação à silagem com ureia. Houve diferença para a

produção microbiana entre as silagens com CaO e com ureia. A eficiência microbiana (g

PB/kg NDT) apresentou diferença entre as silagens com CaO e com ureia e efeito quadrático

para doses de CaO. As dietas com óxido de cálcio apresentam baixa ingestão de proteína bruta

e dos compostos nitrogenados microbianos, e ainda reduz a eficiência microbiana. A ureia

apresenta melhor eficiência de produção dos compostos nitrogenados, retendo mais

nitrogênio, e também melhora a produção microbiana. As excreções de ureia na urina, as

purinas e a produção microbiana não são influenciados pelo uso de óxido de cálcio. No

capítulo quatro, avaliou-se o comportamento ingestivo de ovinos alimentados com cana-de-

açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia, cujo delineamento experimental, animais e

manejo alimentar usados foram os mesmos descritos no capítulo dois. Não foi observada

diferença para consumo em kg de MS (matéria seca) e de FDN (fibra em detergente

neutro)/dia. Verificou-se que a alimentação em minutos/dia e minutos/kg de MS e FDN de

alimentação e ruminação foram semelhantes. Houve diferença, com regressão linear para a

mastigação em horas/dia e para ócio em minutos/dia entre as doses de óxido de cálcio. A

eficiência de alimentação ruminação (g de MS e FDN/hora) não apresentou efeito. Não houve

diferença para alimentação, ruminação e ócio nº de períodos/dia e para alimentação e

ruminação do tempo gasto por período (minutos). Entretanto, houve efeito linear crescente

para o ócio. O consumo médio/período de alimentação em kg de MS e FDN não apresentaram

diferença. Silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio ou ureia, fornecidos a ovinos, não

afeta os tempos de alimentação e ruminação dos animais. Dietas para ovinos confinados

contendo cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia diminuem a ruminação e

mastigação e aumenta o ócio dos animais. No capítulo cinco, avaliou-se o intervalo de

registro do comportamento ingestivo de ovinos, cujo delineamento experimental, animais e

manejo alimentar usados foram os mesmos descritos no capítulo dois. Os animais foram

observados por um período de 24 horas/dia no final do terceiro período experimental. Foram

testados os intervalos de 10, 15 e 20 minutos, comparado com o registro de observação de

cinco minutos. O uso de óxido de cálcio ou ureia, no tratamento da cana-de-açúcar ensilada,

não modificou os tempos diários de alimentação, ruminação e ócio, bem como a eficiência de

refeição e ruminação. Houve efeito no número de períodos e no tempo gasto/período de

alimentação, ruminação e ócio, nos demais intervalos em relação ao de 5 minutos. Intervalos

entre observações de 10, 15 e 20 minutos comprometem a avaliação dos resultados do

comportamento ingestivo de ovinos por afetar o número de períodos e tempo despendidos nas

atividades de alimentação, ruminação e ócio. Recomenda-se o intervalo de cinco minutos

entre observações para estudo do comportamento ingestivo em ovinos.

Palavras-chave: brix, consumo, comportamento ingestivo, eficiência microbiana, ruminação.

* Orientador: Aureliano José Vieira Pires, D.Sc., UESB e Co-orientadores: Gleidson Giordano

Pinto de Carvalho, D.Sc., UFBA, Fabiano Ferreira da Silva, D.Sc., UESB.

ABSTRACT

Magalhaes, A.F. Sugar cane ensiled with urea or calcium oxide in diets. Itapetinga-BA:

UESB, 2011. 133p. (Thesis - Ph.D. in Animal Science, Area of Concentration in Ruminants

Production).*

This experiment was conducted at the State University of Southwest Bahia, sectors of

Nutritional Tests of Sheep and Goats (ENOC), Laboratory of Forage and Pasture, Animal

Nutrition and Animal Physiology, to evaluate the sugar cane ensiled with doses calcium oxide

0.0, 0.8, 1.6 and 2.4% or urea (1.5%) based on natural materials in diets for sheep. We used

barrels of 200 liters for the ensiling sugar cane that were open 30 days after ensiling. The

work was divided into five chapters as follows: In chapter one we evaluated the nutritional

value of sugar cane ensiled with calcium oxide (CaO) or urea. The experiment was conducted

in completely randomized design with five treatments and eight repetitions. The treatments

were: 0.0, 0.8, 1.6 and 2.4% calcium oxide and 1.5% urea at ensiling of sugar cane, based on

natural matter. Samples were collected before the closing of the silos and 30 days after

ensiling. The degree brix, before closure of the silos. We assessed the chemical composition

of cane sugar. The dry matter increased linearly with increasing doses of CaO, while the

neutral detergent fiber and neutral detergent fiber corrected for ash and protein decreased with

increasing doses of CaO. The total digestible nutrients and in situ digestibility of dry matter

increased with the use of CaO in silage. The total carbohydrates were differences of silage

with urea in relation to silage with CaO, as well as the rapid degradation of fractions and

average degradation in the rumen (A + B1) and indigestible fraction C (iNDF). The losses of

cane sugar decreased with increasing doses of CaO. The use of calcium oxide improves the

nutritive value of sugar cane ensiled by means of the decrease of the cell wall, and reduce

losses, however, urea does not enhance or diminish the nutritional value loss, enhances only

the content crude protein. In Chapter Two The performance of sheep fed sugar cane ensiled

with urea or calcium oxide. The study of 20 Santa Inês lambs, with an average weight of 24.0

kg, allotted to a completely randomized design with five treatments, four levels with calcium

oxide (0.0, 0.8, 1.6 and 2.4%) and urea (1.5%), the fresh natural cane. The animals were

housed in individual stalls with 1.5 m2 and The diet was offered the 70:30 ratio

roughage:concentrate. The experiment lasted 77 days, 14 days of adaptation to diets and three

experimental periods of 21 days. There were no differences in mean intakes dry matter, ether

extract, neutral detergent fiber, neutral detergent fiber corrected for ash and protein,

carbohydrate, hemicellulose, and total digestible nutrients. We noticed a difference to the

intake (kg/day) of crude protein, acid detergent fiber and non-fibrous carbohydrates, which

differed from silage with urea. No effect was observed for digestibility of dry matter, ether

extract, neutral detergent fiber, acid detergent fiber, total digestible nutrients, but there was a

quadratic effect for the digestibility of total carbohydrates and linear increase for non-fiber

carbohydrates. There was increased consumption of calcium in proportion to increased doses

of calcium oxide in cane sugar. The calcium: phosphorus ratio in the silage with calcium

oxide was different from silage with urea without additives. The average daily gain had a

quadratic effect. Silage from sugar cane with doses of calcium oxide or urea does not enhance

the consumption or weight gain of sheep. In chapter three was evaluated nitrogen balance,

excretion of urea and microbial protein synthesis in sheep fed sugar cane ensiled with urea or

calcium oxide, and the design and the experimental conditions were similar to that reported in

chapter two. The N-N-digested and ingested and urine showed differences among silages CaO

and urea, in a linear effect of decreasing silage cane sugar with CaO. Decreasing linear effect

was observed for the N-urine (g/day). There were differences for the concentrations of N-urea

in urine and plasma in relation to silage CaO and urea, which showed quadratic increase and

decrease, respectively, for doses of CaO. The excretions (g/day and mg/kg BW) of urea in

urine and N-urea in the urine were similar in the silage with urea and CaO. The urinary

(mmol/day) responded quadratically to allantoin and uric acid. The purine derivatives (% of

total purine) differ for allantoin and uric acid in silage with CaO for silage with urea. There

were differences in microbial production of silage with urea and CaO. The microbial

efficiency (g CP/kg TDN) showed difference between silage with urea and CaO and a

quadratic effect for doses of CaO. Diets containing calcium oxide have a lower intake of

crude protein and microbial nitrogen compounds, and also reduces the microbial efficiency.

Urea has a better production efficiency of the nitrogen retaining more nitrogen and also

improves the microbial production. The excretion of urea in the urine, purines and microbial

production are not influenced by use of calcium oxide. In chapter four evaluated the feeding

behavior of sheep fed sugar cane ensiled with urea or calcium oxide, where the experimental

design, animals and feeding management used were the same as described in chapter two. No

differences were observed for consumption in kg DM (dry matter) and NDF (neutral detergent

fiber) per day. It was found that food in minutes/day and minute/kg DM and NDF were

similar eating and ruminating. There were differences, with linear regression for mastication

in hours/day and for leisure in minutes/day between doses of calcium oxide. The feeding

efficiency rumination (g DM and NDF/hour) had no effect. There was no difference in eating,

ruminating and idling No time/day and food and time spent ruminating per period (minutes).

However, there was an increasing linear effect for leisure. Average consumption/feeding

period in kg DM and NDF did not differ. Silage from sugar cane with calcium oxide or urea

supplied the sheep, do not affect the times of eating and ruminating animals. Confined sheep

diets containing sugar cane ensiled with urea or calcium oxide decrease rumination and

chewing and increases the idle of the animals. In chapter five we evaluated the logging

interval of ingestive behavior of sheep, where the experimental design, animals and feeding

management used were the same as described in chapter two. The animals were observed for

a period of 24 hours/day late in the third trial. Were tested at intervals of 10, 15 and 20

minutes, compared with the record of observation of five minutes. The use of calcium oxide

or urea in the treatment of sugar cane silage did not change the times daily eating, ruminating

and resting, and the efficiency of meals and rumination. There was an effect on the number of

periods and time spent/feeding, ruminating and resting in the other intervals in relation to five

minutes. Intervals between observations 10, 15 and 20 minutes to undertake evaluation of the

results of feeding behavior in sheep by affecting the number of periods and time spent in

activities of feeding, ruminating and resting. We recommend the five-minute interval between

observations in study of feeding behavior in sheep.

Key words: brix, intake, ingestive behavior, microbial efficiency, rumination

* Supervisor: Aureliano José Vieira Pires, D.Sc., UESB and Co-advisors: Gleidson Giordano

Pinto de Carvalho, D.Sc., UFBA, Fabiano Ferreira da Silva, D.Sc., UESB.

SUMÁRIO

Página

RESUMO

ABSTRACT

CAPÍTULO 1

Composição química, fracionamento de carboidratos e digestibilidade

da cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia........................ 21

Resumo............................................................................................................ 21

Abstract............................................................................................................ 22

1. Introdução.................................................................................................... 23

2. Material e Métodos...................................................................................... 25

3. Resultados e Discussão................................................................................ 28

4. Conclusões................................................................................................... 39

5. Referências ................................................................................................. 40

CAPÍTULO 2

Desempenho de ovinos alimentados com cana-de-açúcar ensilada com

óxido de cálcio ou ureia................................................................................. 43

Resumo............................................................................................................ 43

Abstract............................................................................................................ 44

1. Introdução.................................................................................................... 45

2. Material e Métodos...................................................................................... 46

3. Resultados e Discussão................................................................................ 51

4. Conclusões................................................................................................... 65

5. Referências ................................................................................................. 66

CAPÍTULO 3

Balanço de nitrogênio e síntese de proteína microbiana em ovinos

alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia. 70

Resumo............................................................................................................ 70

Abstract............................................................................................................ 71

1. Introdução.................................................................................................... 72

2. Material e Métodos...................................................................................... 74

3. Resultados e Discussão................................................................................ 80

4. Conclusões................................................................................................... 90

5. Referências ................................................................................................. 91

CAPÍTULO 4

Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com cana-de-açúcar

ensilada com óxido de cálcio ou ureia.......................................................... 95

Resumo............................................................................................................ 95

Abstract............................................................................................................ 96

1. Introdução.................................................................................................... 97

2. Material e Métodos...................................................................................... 99

3. Resultados e Discussão................................................................................ 104

4. Conclusões................................................................................................... 111

5. Referências ................................................................................................. 112

CAPÍTULO 5

Avaliação de intervalos entre observações para estudo do

comportamento ingestivo em ovinos............................................................ 116

Resumo............................................................................................................ 116

Abstract............................................................................................................ 117

1. Introdução.................................................................................................... 118

2. Material e Métodos...................................................................................... 120

3. Resultados e Discussão................................................................................ 125

4. Conclusões................................................................................................... 131

5. Referências.................................................................................................. 132

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1 Página

Figura 1 - Estimativa dos valores de nutrientes digestíveis totais (NDT) e

digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS) da cana-de-

açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.................................... 34

CAPÍTULO 2

Figura 1 - Consumo de cálcio (g/dia) da silagem de cana-de-açúcar com

doses de óxido de cálcio, em dietas para ovinos............................. 56

Figura 2 - Razão do cálcio e fósforo na silagem de cana-de-açúcar com

doses de óxido de cálcio (CaO), em dietas para ovinos ................. 57

Figura 3 - Digestibilidade das frações dos carboidratos totais (CT) da

silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio (CaO),

em dietas para ovinos...................................................................... 62

Figura 4 - Digestibilidade das frações dos carboidratos não fibrosos (CNF)

da silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio

(CaO), em dietas para ovinos.......................................................... 63

LISTA DE TABELAS

CAPITULO 1 Página

Tabela 1 - Composição química-bromatológica da cana-de-açúcar ensilada

com óxido de cálcio ou ureia.......................................................... 26

Tabela 2 - Valores médios, coeficiente de variação (CV%), equação de

regressão e coeficiente de determinação (r2) obtidos das silagens

de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia................. 29

Tabela 3 - Teores médios de carboidratos totais (CT), carboidratos não

fibrosos (A+B1), componentes da parede celular disponível para

degradação ruminal (B2), fração indigestível da parede celular

(FDNi) da cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou

ureia................................................................................................. 35

Tabela 4 - Média das perdas (em kg) na matéria seca e matéria natural da

cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia................... 38

CAPÍTULO 2

Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das

dietas (% da matéria seca)............................................................... 47

Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais.................... 48

Tabela 3 - Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com

óxido de cálcio (CaO) ou ureia....................................................... 49

Tabela 4 - Médias de quadrados mínimos, coeficiente de variação (CV%) e

de determinação (r2) dos consumos (em kg/dia, % do peso vivo e

g/kg0,75

) em ovinos alimentados com dietas contendo silagem de

cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia...................... 52

Tabela 5 - Médias de consumo e excreção de cálcio (Ca), fósforo (P) e da

razão cálcio:fósforo (Ca/P) de ovinos alimentados com silagem

de da cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia............. 55

Tabela 6 - Médias de quadrados mínimos e coeficiente de variação (CV%)

da digestibilidade da matéria seca (DMS), da proteína bruta

(DPB), do extrato etéreo (EE), da fibra em detergente neutro

(FDN), da fibra em detergente ácido (FDA), dos carboidratos

totais (DCT), dos carboidratos não fibrosos e nutrientes

digestíveis totais (NDT) em ovinos alimentados com dietas

contendo silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO)

e ou ureia......................................................................................... 61

Tabela 7 - Ganho do peso diário (GPD), conversão alimentar (CA) e

coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com dietas

contendo silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO)

ou ureia............................................................................................ 64

CAPÍTULO 3

Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das

dietas (% da matéria seca)............................................................... 75

Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais................... 76

Tabela 3 - Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com

óxido de cálcio (CaO) ou ureia....................................................... 77

Tabela 4 - Ingestão de nitrogênio (N-Ingerido), excreção de nitrogênio nas

fezes (N-fezes), nitrogênio digerido (N-Digerido), excreção de

nitrogênio na urina (N-urina), nitrogênio retido (N-retido) e

coeficiente de variação (CV%) em ovinos alimentados com

silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.... 81

Tabela 5 - Concentrações de nitrogênio ureico (N-ureico) na urina e no

plasma, e excreções diárias de ureia e nitrogênio ureico na urina,

coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com

silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.... 85

Tabela 6 - Excreções urinárias, purinas totais e purinas absorvidas,

derivados de purinas, produção e eficiência microbiana e

coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com

silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.... 89

CAPÍTULO 4

Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das

dietas (% da matéria seca)............................................................... 100

Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais................... 101

Tabela 3 - Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com

óxido de cálcio (CaO) ou ureia....................................................... 102

Tabela 4 - Consumos de matéria seca (CMS) e consumo de fibra em

detergente neutro (CFDN) das atividades de alimentação,

ruminação e ócio, e coeficiente de variação (CV%) de ovinos

alimentados com silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio

(CaO) ou ureia................................................................................. 106

Tabela 5 - Eficiências de alimentação e ruminação, e coeficiente de

variação (CV%) em ovinos alimentados com dietas contendo

silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou

ureia................................................................................................. 108

Tabela 6 - Número e tempo médio despendido por período nas atividades de

alimentação, ruminação e ócio, e consumo de MS e FDN por

período de alimentação e coeficiente de variação (CV%) de

ovinos alimentados com dietas contendo silagem de cana-de-

açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.................................... 110

CAPÍTULO 5

Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das

dietas (% na matéria seca)........................................................ 121

Tabela 2 - Valores médios de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra

em detergente neutro (FDN), proteína indigestível em detergente

neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN),

fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína

(FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), extrato....................... 122

Tabela 3 - Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com

óxido de cálcio (CaO) ou ureia....................................................... 123

Tabela 4 - Atividades de alimentação, ruminação, mastigação e ócio em

função dos diferentes intervalos entre observações (5, 10, 15 e 20

minutos) e coeficiente de variação (CV) em ovinos alimentados

com dieta contendo cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO)

ou ureia............................................................................................ 126

Tabela 5 - Eficiências em alimentação e ruminação em função dos

diferentes intervalos entre observações e coeficiente de variação

(CV%) em ovinos alimentados com dieta contendo cana-de-

açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia.................................... 128

Tabela 6 - Número e tempo despendido por período nas atividades de

alimentação, ruminação e ócio, e consumo de MS e FDN por

período de alimentação em função dos diferentes intervalos entre

observações e coeficiente de variação (CV%), em ovinos

alimentados com dieta contendo cana-de-açúcar com óxido de

cálcio (CaO) ou ureia...................................................................... 129

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Sigla Designação

ARC Agricultural Research Council

AFRC Agricultural and Food Research Council

AGV Acido graxos voláteis

CA Conversão alimentar

Ca Cálcio

CaO Óxido de cálcio

CEL Celulose

CEPEC Centro de Pesquisa do Cacau

CEPLAC Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira

CFDN Consumo de fibra em detergente neutro

CHO Carboidratos solúveis

CIDN Cinza indigestível em detergente neutro

CMS Consumo de matéria seca

CNCPS Cornell Net Carbohydrate and Protein System

CNE Carboidratos não estrutrurais

CNF Carboidratos não fibrosos

CNFD Carboidratos não fibroso digestível

CO2 Gás carbônico

CONAB Compainha Nacional de Abastecimento

CT Carboidratos totais

CV Coeficiente de variação

DIC Delineamento Inteiramente Casualizado

DISMS Digestibilidade in situ da matéria seca

DIVMS Digestibilidade in vitro da matéria seca

DP Derivados de purinas

EALFDN Eficiência de alimentação da fibra em detergente neutro

EALMS Eficiência de alimentação da matéria seca

ECCT Excreção de cretinina coleta total

EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético

EE Extrato etéreo

EED Extrato etéreo digestível

EMARC Escola Média de Agropecuária Regional da Ceplac

ENOC Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos

ERU Eficiência de ruminação

ERUFDN Eficiência de ruminação da fibra em detergente neutro

ERUMS Eficiência de ruminação da matéria seca

FDA Fibra em detergente ácido

FDN Fibra em detergente neutro

FDNcp Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína

FDNcpD Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína digestível

FDNi Fibra em detergente neutro indigestível

GPD Ganho de peso diário

H2SO4 Ácido sulfúrico

HEM Hemicelulose

LIG Lignina

MN Matéria natural

MS Matéria seca

MSi Matéria seca indigestível

NaOH Hidróxido de sódio

NDT Nutriente digestíveis totais

NM Nitrogênio microbiano

NMMNd Número de mastigação mericicas no dia

NNP Nitrogênio não proteico

NRC National Research Council

P Fósforo

PB Proteína bruta

PBD Proteína bruta digestível

PCV Peso corporal vivo

PIDN Proteína indigestível em detergente neutro

POL Percentagem de massa de sacarose aparente contida em uma solução

açucarada

PV Peso vivo

SAEG Sistemas de Análise Estatistica e Genética

TAL Tempo de alimentação

TMT Tempo de mastigação total

TNT Tecido não tecido

TRU Tempo de ruminação

UESB Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

VU Volume urinário

21

CAPÍTULO 1

Composição química, fracionamento de carboidratos e digestibilidade da cana-de-

açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia

RESUMO

Objetivou-se com este estudo avaliar o valor nutritivo da cana-de-açúcar ensilada

com óxido de cálcio (CaO) ou ureia. O experimento foi conduzido em delineamento

inteiramente ao acaso, com cinco tratamentos e oito repetições. Os tratamentos foram: 0,0;

0,8; 1,6 e 2,4% de óxido de cálcio e 1,5% de ureia na ensilagem da cana-de-açúcar, com base

na matéria natural. Foram coletadas amostras antes do fechamento dos silos e 30 dias após a

ensilagem. Foi avaliado o grau brix, antes do fechamento dos silos e a composição químico-

bromatológica da cana-de-açúcar. A matéria seca aumentou linearmente com o aumento das

doses de CaO, enquanto a fibra em detergente neutro e a fibra em detergente neutro corrigida

para cinza e proteína diminuíram com o aumento das doses de CaO. Os nutrientes digestíveis

totais e a digestibilidade in situ da matéria seca aumentaram com o uso do CaO na ensilagem.

Os carboidratos totais apresentaram diferença da silagem com ureia em relação à silagem com

CaO, bem como as frações de rápida degradação e média degradação no rúmen (A + B1) e a

fração indigestível C (FDNi). As perdas da cana-de-açúcar diminuíram com o aumento das

doses de CaO. O uso do óxido de cálcio melhora o valor nutritivo da cana-de-açúcar ensilada

por meio, principalmente, da redução da parede celular, além de diminuir as perdas, porém, a

ureia não melhora o valor nutritivo nem diminui perdas, melhora apenas o teor de proteína

bruta.

Palavras-chave: grau brix, fibra em detergente neutro, carboidratos totais, perdas da silagem

22

CHAPTER 1

Chemical composition, fractionation of carbohydrates and digestibility of sugar cane

ensiled with urea or calcium oxide

ABSTRACT

The objective of this study to evaluate the nutritive value of sugar cane ensiled with calcium

oxide (CaO) or urea. The experiment was conducted in completely randomized design with five

treatments and eight repetitions. The treatments were: 0.0, 0.8, 1.6 and 2.4% calcium oxide and 1.5%

urea at ensiling of sugar cane, based on natural matter. Samples were collected before the closing of

the silos and 30 days after ensiling. The degree brix, before closure of the silos. We assessed the

chemical composition of cane sugar. The dry matter increased linearly with increasing doses of CaO,

while the neutral detergent fiber and neutral detergent fiber corrected for ash and protein decreased

with increasing doses of CaO. The total digestible nutrients and in situ digestibility of dry matter

increased with the use of CaO in silage. The total carbohydrates were differences of silage with urea

in relation to silage with CaO, as well as the rapid degradation of fractions and average degradation in

the rumen (A + B1) and indigestible fraction C (iNDF). The losses of cane sugar decreased with

increasing doses of CaO. The use of calcium oxide improves the nutritive value of sugar cane ensiled

by means of the decrease of the cell wall, and reduce losses, however, urea does not enhance or

diminish the nutritional value loss, enhances only the content crude protein.

Keywords: brix, neutral detergent fiber, total carbohydrates, loss of silage

23

1. INTRODUÇÃO

A utilização da cana-de-açúcar na forma de silagem tem sido uma alternativa, pois

contorna os problemas de corte diários (QUEIROZ et al., 2008), homogenização do material

ensilado, economicidade, mão-de-obra adicional e a liberação da área para rebrotação

homogênea das plantas, proporcionando melhor cobertura do solo, maior índice de área foliar

para o período das chuvas e menores gastos com controle de invasoras (FREITAS et al.,

2006).

Contudo, o inconveniente da cana-de-açúcar na obtenção de silagem é seu alto

conteúdo de açúcares solúveis, que resulta em rápida proliferação de leveduras com produção

de etanol e gás carbônico (VALVASORI et al.,1995). Em condições aeróbicas, as leveduras

são capazes de sobreviver com diversos ácidos orgânicos por tempo maior que a maioria dos

microrganismos. Em condições anaeróbicas, no entanto, as leveduras precisam obter sua

energia da fermentação de açúcares (MCDONALD et al., 1991). A intensa atividade das

leveduras provoca redução de até 44% no teor de carboidratos solúveis (ALLI et al., 1983),

com perdas de até 29% da MS da silagem (ANDRADE et al., 2001) e de 48,9% de MS

(MCDONALD et al., 1991).

Além dessas limitações, a cana-de-açúcar apresenta limitações nutricionais quanto à

sua composição química e sua utilização por animais de elevado potencial genético, dentre as

quais se destacam o baixo teor de proteína bruta, fibra de lenta degradação ruminal e elevado

teor de fibra indigestível, o que limita o consumo (PEREIRA et al., 2001; EZEQUIEL et al.,

2005) e que, dependendo da idade fisiológica da cana-de-açúcar, no momento do corte, o teor

da fibra em detergente neutro pode variar de 40 a 65%, porém, próximo da idade ideal de

corte (10 a 12 meses), essa variação é menor, diferindo da maioria das plantas forrageiras

(RESENDE et al., 2005).

Dessa forma, o uso de aditivos químicos é uma opção favorável, pois este tem o

intuito de melhorar o valor nutritivo em diferentes tipos de volumosos, além da cana-de-

açúcar. De acordo com Souza et al. (2001), os aditivos são adicionados aos volumosos com a

indicação de conservar e promover a redução dos constituintes da parede celular, permitindo

elevação dos teores de nitrogênio de todo material tratado.

Trabalhos como o de Balieiro Neto et al. (2007), que estudaram o uso de óxido de

cálcio (CaO) como aditivo na ensilagem da cana-de-açúcar, verificaram que diminuíram os

teores da fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, bem com a diminuição da

24

lignina, aumentando a digestibilidade in vitro da matéria seca. Além destes, Lopes et al.

(2007) trabalharam com aditivos químicos e verificaram benefícios como maior consumo e

digestibilidade da proteína bruta.

Resultados de pesquisa acerca do uso da CaO em volumosos são contraditórios, pois

Moraes et al. (2008b) comentaram que a cana-de-açúcar tratada e ensilada com 1% de CaO

(maior percentual utilizado) não demonstrou efeito sobre a digestibilidade dos nutrientes, não

sendo eficiente para melhorar a digestibilidade da cana, ao passo que Ezequiel et al. (2005)

verificaram que o tratamento alcalino influencia positivamente a digestibilidade das frações

fibrosas, proporcionando melhor aproveitamento da fibra da dieta, mais energia para estímulo

do crescimento microbiano e elevando o aporte de proteína para os intestinos.

Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a composição química, o

fracionamento de carboidratos e a digestibilidade da cana-de-açúcar ensilada com óxido de

cálcio ou ureia.

25

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no setor de ovinocultura, setor de Ensaios Nutricionais

de Ovinos e Caprinos, e no Laboratório de Forragicultura e Pastagens da Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia, no Campus de Itapetinga, BA.

Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com cinco tratamentos,

sendo eles as doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO na matéria natural da cana-de-açúcar e um

tratamento com a utilização de 1,5% de ureia também na matéria natural da cana-de-açúcar,

todos aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições por tratamento.

A cana-de-açúcar utilizada foi a variedade RB 72.454, que foi desintegrada em

picadeira de forragem convencional, com tamanho de partícula entre 1 a 2 cm, sendo

homogeneizada em um piso de cimento. Foram separados quantidades de 140 kg de cana-de-

açúcar picada, de modo a obter a densidade de 700 kg/m3, distribuída em uma superfície

cimentada, onde foi feita a aplicação do óxido de cálcio (CaO, cálcio virgem, pó tipo III,

micropulverizada), ou ureia. Após a aplicação do aditivo, a cana-de-açúcar foi

homogeneizada e todo o material foi ensilado em tonéis de 200 litros. Posteriormente, após o

enchimento, os tonéis foram fechados com lona dupla face, de 200 micras. A composição

química da cana-de-açúcar tratada com ureia e com a doses de CaO, antes da ensilagem,

podem ser verificada na Tabela 1, as quais foram realizadas segundo procedimento de Silva &

Queiroz (2002).

Após a compactação e, antes do fechamento dos silos, foram retiradas amostras do

centro de cada silo, a uma profundidade de aproximadamente 40 cm, para posterior análise.

As amostras tinham peso de aproximadamente 500 gramas.

No momento da retirada das amostras, foi avaliado o grau brix (°Brix antes) da cana-

de-açúcar com auxilio do refratômetro, pela leitura direta. Trinta dias após a ensilagem, foram

abertos todos os tonéis e, novamente, foram retiradas amostras para determinação do grau brix

(°Brix depois) da silagem, também medido com refratômetro. Todas as amostras foram

acondicionadas em sacos plásticos, previamente identificados e acondicionadas em freezer

para posteriores análises.

26

Tabela 1 - Composição química-bromatológica da cana-de-açúcar ensilada com óxido de

cálcio ou ureia

Item Silagem de cana-de-açúcar com CaO

(% matéria natural) Silagem de cana-de-

açúcar com

ureia1

0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca (%) 25,2 27,8 27,0 27,6 25,2

Proteína bruta2 0,3 0,6 0,6 0,5 13,8

Fibra em detergente neutro2 53,0 44,1 46,1 43,5 50,0

FDNcp2

48,9 40,7 43,9 38,6 46,5

Fibra em detergente ácido2

47,3 40,1 40,9 35,9 41,0

PIDN3

0,5 0,4 0,5 0,4 0,6

CIDN2

3,6 3,0 1,8 4,4 2,9

Extrato etéreo2

1,6 0,8 0,5 0,7 1,1

Celulose2 37,0 33,7 33,2 27,9 33,0

Hemicelulose2

5,7 4,0 5,2 7,6 9,0

Lignina2 8,1 6,2 6,5 5,0 6,5

Cinza2 5,1 7,1 9,3 14,5 3,2

Carboidratos totais2

93,0 91,5 89,5 84,3 81,9

Carboidratos não fibrosos2

44,1 50,9 45,7 45,6 35,4

oBrix antes 15,0 15,1 16,0

* 16,5

* 15,3

NDT Estimado2

42,8 54,6 57,3 62,3 47,0

1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural); 2/ Valores em percentagem da matéria seca.

3/ Valores estimados em percentagem da proteína bruta. Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína, (FDNcp), proteína indigestível em detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro

(CIDN).

Na realização da pré-secagem, as amostras coletadas foram descongeladas,

acondicionadas em bandejas de alumínio, pesadas e levadas à estufa de 60°C, por 72 horas.

Em seguida, foram retiradas da estufa, mantidas à temperatura ambiente por duas horas,

pesadas e moídas em moinho com peneiras contendo crivos de 1 mm e acondicionadas em

vasilhame de plásticos com tampa, identificados para posteriores análises.

Nas amostras coletadas, foram realizadas as seguintes análises: matéria seca (MS),

nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro corrigido

para cinza e proteína (FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), proteína insolúvel em

detergente neutro (PIDN), cinza insolúvel em detergente neutro (CIDN), celulose,

hemicelulose, lignina, cinza, extrato etéreo (EE), nutrientes digestíveis totais (NDT),

27

conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), e a digestibilidade “in situ” da

matéria seca, por 48 horas (DISMS) (Ørskov et al., 1980), sendo que a fibra em detergente

neutro corrigido para cinza e proteína (FDNcp) foi segundo Mertens (2002).

As frações dos carboidratos totais foram calculadas através do sistema de “Cornell

Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS)”, segundo Sniffen et al. (1992), em que:

CHO = 100 – (% PB + % EE + % Cinza)

Devido à presença de ureia, os carboidratos não fibrosos (CNF) foram obtidos por:

CNF = 100 – [(% PB - % PB ureia) + % FDNcp + % EE + % cinza]

Os nutrientes digestíveis totais (NDT) foram calculados a partir das estimativas

energéticas estimadas por Cappelle et al. (2001) para silagens com aditivos.

As perdas nos silos foram avaliadas pelas silagens que foram descartadas com

características impróprias para o consumo dos animais. Diariamente, em cada silo

experimental e, conforme o tratamento, as amostras foram acondicionadas em sacos plásticos,

identificadas, pesada, anotada diariamente e depois de homogeneizada, foi retirada uma

amostra de aproximadamente 150 gramas, guardadas em freezer em sacos plásticos

previamente identificados, para posterior análise.

Os resultados foram submetidos à análise de variância e regressão, e a comparação

das médias entre as doses de óxido de cálcio e o nível de ureia foi realizada pelo teste Dunnett

ao nível de 5% de significância, utilizando-se o programa SAEG, versão 9,0 (RIBEIRO

JÚNIOR, 2002).

28

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre as silagens avaliadas, a silagem sem adição de CaO ou ureia apresentou teor

de MS de 20,1%, similar (P>0,05) à silagem com ureia (20,7%). Com exceção da silagem

0,0% de CaO, as demais com 0,8, 1,6 e 2,4% de CaO apresentaram teor de MS superior

(P<0,05) à silagem com ureia, obtendo acréscimos, respectivamente, de 1,6, 2,4 e 2,5

unidades percentuais (Tabela 2). A adição das doses crescentes de óxido de cálcio propiciou

aumento direto da MS da cana-de-açúcar tratada. Foi observado que o teor de MS da cana-de-

açúcar apresentou efeito (P<0,05) linear crescente em função das doses de óxido de cálcio

(Tabela 2).

O resultado encontrado na silagem com ureia e 0,0% de CaO foi similar ao

encontrado por Amaral Neto et al. (2000), de 21,69% de MS. Esses autores encontraram o

teor de MS da cana-de-açúcar com as doses de óxido de cálcio de 3,28%, maior que a

utilizada neste trabalho para a mesma variedade de cana-de-açúcar, entretanto, diferem dos

resultados encontrados por Molina et al. (2002), de 28,3% de MS, e de Coan et al. (2002),

27,2% de MS.

Os resultados observados no presente estudo estão de acordo com os obtidos por

Balieiro Neto et al. (2005), que verificaram elevação do teor de MS da cana-de-açúcar com

uso do óxido de cálcio, e também com os obtidos por Cavali (2006), que verificou que o teor

de MS aumentou com os níveis de CaO. Contudo, os valores expressos neste trabalho ficaram

abaixo dos apresentados por Bernardes et al. (2002).

Quanto aos valores de PB, foi verificado que houve diferença (P<0,05) entre a

silagem com ureia em relação à silagem com doses de CaO (Tabela 2). As silagens com as

doses (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) de óxido de cálcio apresentaram valores de 1,15; 1,23; 1,15 e

1,10% de PB, respectivamente, em que o aumento das doses de óxido de cálcio não foi

significativo. Verifica-se que não houve acréscimos nos teores de proteína com o aumento nas

doses de óxido de cálcio, possivelmente a ação do aditivo não foi eficiente para disponibilizar

parte da proteína bruta ligada às frações da parede celular.

Balieiro Neto et al. (2007) trabalharam com óxido de cálcio como aditivo na

ensilagem de cana-de-açúcar e verificaram que os teores de PB apresentaram diferença apenas

entre as silagens sem aditivo e com 2% de CaO, na qual o teor de PB da silagem tratada com

2% de aditivo foi inferior ao da silagem controle. Neste estudo, foi verificado que a silagem

com ureia apresentou teor de proteína maior que os da silagem com óxido de cálcio.

29

Tabela 2 - Valores médios, coeficiente de variação (CV%), equação de regressão e coeficiente de determinação (r2) obtido das silagens de cana-

de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% da matéria natural)

Silagem de cana-de-

açúcar com

ureia1

CV

(%)2 Equação de regressão

0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca3 20,1 22,3

* 23,1

* 23,2

* 20,7 4,8 Ŷ = 20,1382 + 3,19114**CaO (r

2 = 0,58)

Proteína bruta1

1,15*

1,23*

1,15*

1,10*

14,9 9,9 Ŷ = 1,16

FDN1

74,0*

58,6*

55,1*

48,5*

68,6 3,5 Ŷ = 71,0538 – 9,99853**CaO (r2 = 0,87)

FDNcp1

71,1*

55,7*

52,4*

45,6*

65,6 3,9 Ŷ = 68,1468 – 9,96497**CaO (r2 = 0,87)

FDA1

63,3*

50,3*

45,3*

40,1*

59,4 6,0 Ŷ = 60,9307 – 9,31653**CaO (r2 = 0,89)

PIDN1

0,59*

0,51*

0,50*

0,42*

0,81 10,6 Ŷ = 0,582769 – 0,0626656**CaO (r2 = 0,47)

CIDN1

2,4 2,4 2,3 2,5 2,2 30,8 Ŷ = 2,4

Extrato etéreo1

1,6 1,8 1,8 1,8 1,8 9,0 Ŷ = 1,8

oBrix antes 15,0 15,1 16,0

* 16,5

* 15,3 2,9 Ŷ = 14,8575 + 0,673438**CaO (r

2 = 0,63)

oBrix depois 7,1

* 9,1 12,6

* 13,9

* 9,2 9,8 Ŷ = 7,10875 + 2,95625**CaO (r

2 = 0,85)

Celulose1

49,0 40,7 33,1*

31,1*

45,1 14,0 Ŷ = 47,6857 – 7,68539**CaO (r2 = 0,69)

Hemicelulose1

10,7 8,2 9,8 8,4 9,2 27,6 Ŷ = 9,3

Lignina1

10,3 8,4 6,8* 5,7* 9,5 12,4 Ŷ = 10,1087 – 1,91771**CaO (r2 = 0,74)

Cinza1,14

3,6 8,1*

10,0*

14,0*

3,3 7,7 Ŷ = 3,99647 + 4,13044**CaO (r2 = 0,96)

NDT15

42,8*

54,6*

57,3*

62,3*

47,0 3,0 Ŷ = 45,0978 + 7,63988**CaO (r2 = 0,88)

DISMS1,16

51,1*

51,1*

61,1*

65,5*

59,6 9,6 Ŷ = 49,2591 + 6,63036**CaO (r2 = 0,60)

* Médias seguidas por asterisco diferem da silagem de cana-de-açúcar com ureia ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de

ureia (% matéria natural). 2/Coeficiente de variação. Fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína (FDNcp), fibra em

detergente ácido (FDA), proteína indigestível em detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN), nutrientes digestíveis totais (NDT),

digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS).

30

O tratamento da silagem de cana-de-açúcar com ureia não apresentou o resultado

esperado devido à não amonização completa desta silagem, em função da falta de uréase, que

é a enzima responsável pela hidrólise da ureia em amônia. Uma vez utilizada essa fonte neste

tratamento, a silagem de cana-de-açúcar poderia melhorar o processo de decomposição da

ureia em amônia, beneficiando este tratamento e, como consequência, o valor nutritivo da

silagem de cana-de-açúcar. Outro fato observado é quanto ao período de fermentação da

silagem que durou apenas 30 dias, sendo considerado pouco tempo para um processo

completo de amonização que é de, no mínimo, 60 dias.

Amaral Neto et al. (2000) encontraram teor de 3,20% de PB para a variedade de

cana-de-açúcar RB 72-454, valor maior que o encontrado neste trabalho para a mesma

variedade de cana-de-açúcar utilizada, em relação ao uso do óxido de cálcio, que diferem dos

resultados encontrados por Molina et al. (2002), que foi de 2,3 % de PB, e de Coan et al.

(2002), 2,0% de PB. Quanto à cana tratada com ureia, foi encontrado neste estudo 14,9% da

PB, sendo similar com o encontrado por Moraes et al. (2006b), que foi de 13,7% da PB, e

ficando acima do valor encontrado por Rocha Júnior et al. (2003), que obteve 11,3% com

adição de 1% de ureia.

Quanto aos teores dos componentes da fibra da silagem de cana-de-açúcar com CaO

(Tabela 2), houve diferença (P<0,05) para o teor de FDN em relação à silagem de cana-de-

açúcar com ureia. Entretanto, quando foi tratada com as doses de óxido de cálcio, verificou-se

que à medida que aumentaram as doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%, houve diminuição dos valores

da FDN da cana-de-açúcar. Verifica-se que o uso do aditivo promoveu efetivamente

diminuição da fibra da cana-de-açúcar. Essa diminuição pode ser explicada pela “diluição”

dos constituintes da parede celular da cana-de-açúcar pela ação de álcalis que, aparentemente,

quebrou as ligações tipos éster da cana-de-açúcar, o qual é susceptível à ação hidrolítica. Os

valores da FDN encontrado neste estudo foram próximos aos de Freitas et al. (2006) que, em

silagem de cana-de-açúcar, variou de 50,5 a 64,7% na MS, porém, menor que os encontrados

por Magalhães et al. (2004), sendo de 47,0% em silagem de cana, e por Moraes et al. (2008a),

com 49,2% na MS.

Quanto à fibra isenta de cinza e proteína (FDNcp), observou-se diferença da silagem

com ureia em relação à silagem com óxido de cálcio (Tabela 2). Verificou-se efeito linear

decrescente (P<0,05) para o teor da FDNcp em função das doses de CaO na silagem da cana-

de-açúcar.

31

O teor de fibra em detergente ácido (FDA) da silagem de cana-de-açúcar com ureia

diferiu (P<0,05) em relação ao óxido de cálcio. No entanto, as silagens com as doses de óxido

de cálcio não diferiram entre si. Os níveis de inclusão de óxido de cálcio na cana-de-açúcar

apresentou efeito linear decrescente (P<0,05), verificando-se valor mínimo de 40,1%

referente à dose de 2,4% de CaO. Houve uma redução de 36,7 pontos percentuais, quando foi

usado o óxido de cálcio na cana-de-açúcar, considerando a dose de 0,0% até a dose máxima

utilizada (2,4%) de CaO. Este fato também foi observado por outros autores (BALIEIRO

NETO et al., 2007), que obtiveram valores menores variando de 44,0; 38,7; 33,6 e 25,1% para

os níveis 0,0; 0,5; 1,0 e 2,0% de óxido de cálcio.

Os teores de proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) (Tabela 2) e a silagem

de cana-de-açúcar com ureia diferiram das silagens com óxido de cálcio. Foi constatado que a

silagem com a ureia apresentou valores superiores (P<0,05) da PIDN. A proteína insolúvel

em detergente neutro constitui a proteína insolúvel indegradável da parede celular das

forrageiras, que apresentou valores baixos, possivelmente, por existir pequenas frações de

proteína na parede celular da cana-de-açúcar ou por não ser eficiente o aditivo, visto que a

dose de CaO de 0,0% foi que apresentou maior valor de extração (0,59%). Entretanto, os

valores da cinza insolúvel em detergente neutro (CIDN) não apresentaram diferença (P>0,05)

da silagem de cana-de-açúcar com CaO em relação à silagem com ureia.

A análise de regressão apresentou efeito significativo (P<0,05) para PIDN e não

houve efeito (P>0,05) para o CIDN da silagem da cana-de-açúcar com doses crescentes de

CaO (Tabela 2). Sniffen et at. (1992) comentaram que os teores de PIDN correspondem à

proteína insolúvel em detergente neutro, que apresenta taxa de degradação lenta no rúmen,

mas que é uma potencial fonte de aminoácidos no intestino delgado.

Os valores de extrato etéreo (EE) revelaram que não houve diferença (P>0,05) entre

a silagem de cana-de-açúcar tratada com ureia em relação com óxido de cálcio, nem mesmo

entre os níveis de óxido de cálcio.

O grau brix analisado antes da ensilagem da cana-de-açúcar apresentou diferença

(P<0,05) entre a silagem com ureia em relação à silagem com CaO para as doses 1,6 e 2,4%

(Tabela 2). Verificou-se que, 30 dias após a ensilagem, os valores do grau brix diminuíram,

tanto da silagem com ureia quanto na silagem com doses de CaO (Tabela 2). Pode-se verificar

que os aditivos químicos (ureia e óxido de cálcio) tendem a preservar perdas dos açúcares na

ensilagem. Observa-se que a manutenção do brix na massa ensilada é importante, pois os

32

açúcares solúveis presentes servirão de fonte de energia para o crescimento dos

microrganismos do rúmen.

A diminuição dos teores do grau brix, durante o processo de ensilagem é

possivelmente devido à queima dos açúcares solúveis presentes na cana-de-açúcar, que foram

“consumidos” pelas bactérias para diminuição do pH e estabilização da silagem. Uma

adequada acidificação é essencial para o êxito de preservação da massa ensilada,

principalmente, quando se trata de forrageira que apresenta alta concentração de umidade,

como é o caso da cana-de-açúcar, pois a acidez previne o desenvolvimento de

microrganismos deterioradores e, consequentemente, maiores perdas da silagem

(MCDONALD et al., 1991).

O teor de celulose apresentou diferença (P<0,05) da silagem de ureia em relação à

silagem com CaO nas doses 1,6 e 2,4%. Verifica-se que a celulose apresentou regressão linear

decrescente, quando do uso das doses de óxido de cálcio. O fato da diminuição dos teores de

celulose é que o uso do aditivo químico, a cal hidratada, exerceu seu poder de hidrólise sobre

a parede celular da cana-de-açúcar, com expansão da celulose. Efetivamente, um efeito que

era verificado ao adicionar a cal à cana-de-açúcar, com mudança na coloração.

O teor de hemicelulose da silagem da cana-de-áçucar com ureia foi semelhante

(P>0,05) à silagem com CaO. Do mesmo modo, não houve efeito (P>0,05) do aumento das

doses de CaO sobre a cana-de-açúcar. Pode-se verificar que a cal utilizada como aditivo

químico não solubilizou parcialmente a hemicelulose, já que aditivos químicos usados em

volumosos exercem essa função. Pires et al. (2006) comentaram que é comum, em gramíneas

tratadas com produtos alcalinos, solubilização parcial da hemicelulose.

O teor de lignina da silagem de cana-de-açúcar com ureia diferiu (P>0,05) da

silagem com CaO nas doses 1,6 e 2,4%. A lignina apresentou redução de 44,7% pontos

percentuais comparando à dose 0,0% em relação à dose 2,4% de CaO. O teor de lignina

apresentou regressão linear decrescente quanto às doses de óxido de cálcio.

De acordo com Van Soest (1994), a solubilização parcial dos constituintes da parede

celular, pelo efeito da ação de produtos alcalinos sobre volumosos, irá facilitar o ataque dos

microrganismos do rúmen à parede celular. Van Soest (1981) relatou também que o teor de

lignina impede a digestão dos carboidratos da parede celular. Outros autores como Pires et al.

(2006), Pires et al. (1999), Sarmento et al. (1999) também observaram a ação dos aditivos em

volumosos.

33

O teor de cinza da silagem com ureia apresentou diferença (P<0,05) em relação à

silagem com CaO. Observou-se que na análise de regressão da cinza ocorreu efeito linear

crescente quanto às doses de óxido de cálcio, em que as doses 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO foram

as que apresentaram valores que variaram de 125 a 288% em relação à dose 0,0% de CaO.

O teor de nutrientes digestíveis totais da silagem de cana-de-açúcar com ureia foi

diferente em relação à silagem com óxido de cálcio. Enquanto que, para as doses de óxido de

cálcio (Tabela 2), observou-se efeito linear crescente (P<0,05) do NDT em função dos níveis

de CaO (Figura 1). Esse acréscimo no NDT deve-se à diminuição da FDN,

proporcionalmente, aos níveis de óxido de cálcio usado na cana-de-açúcar e também à

diminuição da lignina e celulose, permitindo maior disponibilidade dos nutrientes. Observa-se

que o aumento das doses do óxido de cálcio sobre a parede celular da cana-de-açúcar,

certamente, evidencia efeito positivo do aditivo em forrageira com alto teor de fibra.

Verifica-se que os valores do NDT, observados para as silagens de cana-de-açúcar,

retratam eficazmente as estimativas preditas no referido trabalho e estimado por Cappelle et

al. (2001). Rocha Júnior et al. (2003) determinaram a estimativa do valor energético de

alimentos para ruminantes pelo sistema de equações que foi proposto pelo NRC (2001), sendo

observado que o valor predito para o NDT da cana-de-açúcar tratada com 1% de ureia foi de

60,57%, ficando acima do valor encontrado neste trabalho, que foi de 47,0%.

A digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS), observada para a silagem da cana-

de-açúcar tratada com ureia, diferiu (P<0,05) das silagens com doses de CaO. As silagens

com doses de óxido de cálcio apresentaram, na análise de regressão, efeito crescente (P<0,05)

à medida que se aumentos as doses (Tabela 2). Possivelmente, o aumento da DISMS das

silagens de cana-de-açúcar com o aumento das doses de CaO, seja decorrente da ação do

aditivo alcalino, que promoveu a solubilização parcial de hemicelulose e a expansão da

celulose. Outro fato ocorrido é que, durante o processo de fermentação, a ação do óxido de

cálcio promoveu diminuição dos teores da FDN, o que proporcionou o aumento da DISMS da

cana-de-açúcar.

Com aumento linear da DISMS pela inclusão dos níveis de CaO (Figura 1), verifica-

se um aumento de 6,0% para cada unidade do óxido de cálcio, adicionado à cana-de-açúcar a

partir da dose 0,8 até a dose 2,4. Os valores encontrados da DISMS para os tratamentos 0,0;

0,8; 1,6 e 2,4% de CaO foram, respectivamente, 51,2; 51,1; 61,1 e 65,5%. As doses 0,0 e

0,8% apresentaram valores iguais quanto a DISMS, evidenciando que a dose 0,8% não foi

representativa para melhorar a DISMS em relação à dose 0,0% de CaO. Siqueira et al.

34

Figura 1 - Estimativa dos valores de nutrientes digestíveis totais (NDT) e digestibilidade in situ da matéria

seca (DISMS) da cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

(2007a) trabalharam com associação de aditivos químicos e bacterianos em silagem de cana-

de-açúcar, apresentaram aumento de 4,2 unidades percentuais nas silagens tratadas com

benzoato e redução de até 4,0 unidades percentuais nas silagens tratadas com benzoato.

Os teores de carboidratos totais (CT), observados na silagem produzidas com ureia, foram

diferentes em relação à silagem produzida com CaO (Tabela 3). As silagens produzidas com

cana-de-açúcar com doses de CaO apresentaram teor de CT superior ao da silagem com ureia,

que apresentou efeito linear decrescente (P<0,05). Parte dos carboidratos totais (carboidratos

solúveis) são utilizados no processo de fermentação para a rápida redução do pH e para a

produção do ácido lático; a presença deste na silagem indica existência de açúcar residual.

Observa-se que à medida em que houve aumento das doses de CaO, houve diminuição dos

carboidratos totais por volta de 4,0 unidades percentuais. Siqueira et al. (2005) considera que

teores de CT totais residuais, elevados na silagem, implica em maior propensão ao

desenvolvimento de leveduras e mofos na silagem, pelo fato destes substratos apresentarem

maior facilidade oxidativa. O que não foi observado nos silos deste estudo.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 0,8 1,6 2,4

(%)

Doses de óxido de cálcio

DISMS

NDTDISMS = Ŷ = 49,2591 + 6,63036

**CaO R

2 = 0,60

NDT = Ŷ = 45,0978 + 7,63988

**CaO R

2 = 0,87

35

Tabela 3 - Teores médios de carboidratos totais (CT), carboidratos não fibrosos (A+B1), componentes da parede celular disponível para

degradação ruminal (B2), fração indigestível da parede celular (FDNi), da cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou

ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO

(% na matéria natural) Silagem de cana-

de-açúcar com

ureia1

CV

(%)2

Equação de regressão

0 0,8 1,6 2,4

CT (% na MS) 93,6* 88,8* 87,0* 83,1* 80,0 0,87 Ŷ = 93,1176 – 4,15022**CaO (r2 = 0,95)

Frações de carboidratos (% CT)

A+B1 22,5* 33,1* 34,7* 37,5* 14,4 8,1 Ŷ = 24,9708 + 5,81475**CaO (r

2 = 0,84)

B2 29,3 25,3 27,6 25,5 27,0 10,1 Ŷ = 26,9

FDNi 41,8* 30,4* 24,8* 20,2* 38,6 5,2 Ŷ = 39,8460 – 8,80314**CaO (r2 = 0,92)

* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria

natural). 2/ CV = Coeficiente de variação.

36

As frações de carboidratos não fibrosos (A + B1), açúcares solúveis de rápida

degradação, amido e pectina apresentaram efeito linear crescente (P<0,05), em que a silagem

com ureia diferiu da silagem com CaO. Quando foi utilizada doses de óxido de cálcio,

verificou-se um aumento nos teores destes constituintes na silagem de cana-de-açúcar (Tabela

3) e, paralelamente, verificou-se uma diminuição linear nos teores de CT.

Maiores diponibilidades das frações A + B1 foram observadas nas silagens com CaO

em relação às silagens com ureia (Tabela 3), caracterizando que o óxido de cálcio possibilitou

uma melhor disponibilidade dessas frações com o aumento das doses, o que torna o volumoso

com maior disponibilidade de energia para ruminantes. Valadares Filho (2000) afirmou que

alimentos com elevada fração A + B1 são considerados boas fontes de energia para o

crescimento de microrganismos que utilizam carboidratos não fibrosos. Entretanto, o autor

relata ainda que se faça necessário a inclusão de fontes proteicas da rápida degradação e

média degradação no rúmen, quando a fração A + B1 compõem a principal fração dos

carboidratos da dieta, com a finalidade de estabelecer uma sincronização entre a liberação de

energia e proteína.

A fração B2 (% CHO), carboidratos fibrosos potencialmente digestível, foram

semelhantes entre os tipos de aditivos (P>0,05), assim como não houve efeito nas doses

crescentes de CaO (Tabela 3).

Observou-se diferença na fração C (FDNi) dos carboidratos (Tabela 4) entre a

silagem com ureia e as silagens com CaO. No estudo de regressão, constatou-se efeito

(P<0,01) das doses de CaO sobre os teores de FDNi. Verificou-se que, com o aumento das

doses de CaO, houve diminuição da fração C que, mesmo na cana-de-açúcar com uma

estrutura do tecido celular mais lignificado, a ação do óxido promoveu uma diminuição desta

fração.

De acordo com Sniffen et al (1992), a fração FDNi compreende a porção da parede

celular vegetal que não é digerida ao longo do trato gastrointestinal. A diminuição da fração

do FDNi de 41,8 para 20,2% para as doses de 0,0 a 2,4% de CaO está relacionado também

aos teores de lignina apresentada (Tabela 2) que reduziram de 10,3 para 5,7%, com o aumento

das doses de CaO. De acordo com Sniffen et al. (1992), a fração C (FDNi) dos carboidratos

totais pode ser considerada indisponível tanto em nível de rúmen como de intestinos, e afeta o

consumo Mertens (1987) dos animais pelo fator enchimento, reduzindo, consideravelmente, o

desempenho animal.

37

Foi verificado que as perdas da ensilagem em percentagem da MS diferiram (P<0,05)

entre as silagens com ureia e com óxido de cálcio. A adição de óxido de cálcio promoveu

diminuição linear decrescente (P<0,05) na MS do material ensilado. A diminuição estimada

foi de 8,0 pontos percentuais em relação à dose 0,0% de CaO (Tabela 4). Quanto às perdas da

silagem da cana-de-açúcar, em % da matéria natural, houve diferença (P<0,05) entre a

silagem com ureia e com óxido de cálcio. Observa-se que neste trabalho o tratamento com

ureia foi o que apresentou maiores perdas no processo de fermentação da cana-de-açúcar.

38

Tabela 4 - Média das perdas (em kg) na matéria seca e matéria natural da cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO

(% matéria natural) Silagem de cana-

de-açúcar com ureia

1

CV

(%)2

Equação de regressão

0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca 10,4* 10,1* 7,0* 6,2* 10,7 3,3 Ŷ = 41,5474 – 8,38655**CaO (r2 = 0,95)

Matéria natural 41,2* 36,4* 25,9* 22,4* 42,6 3,3 Ŷ = 10,4569 – 1,87822**CaO (r2 = 0,96)

* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria

natural). 2/ CV = Coeficiente de variação.

39

4. CONCLUSÕES

O uso do óxido de cálcio melhora o valor nutritivo da cana-de-açúcar ensilada por

meio, principalmente, da redução da parede celular, além de diminuir as perdas, porém, a

ureia não melhora o valor nutritivo nem diminui perdas, melhora apenas o teor de proteína

bruta.

.

40

5. REFERÊNCIAS

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43

CAPÍTULO 2

Desempenho de ovinos alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou

ureia

RESUMO

Foi avaliado o consumo, a digestibilidade de nutrientes e o desempenho de ovinos

alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia. Foram utilizados 20

cordeiros da raça Santa Inês, castrados, com peso médio de 24,0 kg, distribuídos em um

delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos, sendo quatro níveis com

óxido de cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) e um com ureia (1,5%), com base na matéria natural da

cana. Os animais foram alojados em baias individuais com 1,5 m2 e a dieta ofertada teve a

proporção de 70:30 volumoso:concentrado. O período experimental foi de 77 dias, sendo 14

dias de adaptação das dietas e três períodos experimentais de 21 dias. Não foram observadas

diferenças nos consumos médios matéria seca, extrato etéreo, fibra em detergente neutro, fibra

em detergente neutro corrigido para cinza e proteína, carboidratos totais, hemicelulose e

nutrientes digestíveis totais. Foi verificada diferença para os consumos (kg/dia) de proteína

bruta, fibra em detergente ácido e carboidratos não fibrosos, que diferenciou da silagem com

ureia. Não foi observado efeito para a digestibilidade da matéria seca, extrato etéreo, fibra em

detergente neutro, fibra em detergente ácido, nutrientes digestíveis totais, mas houve efeito

quadrático para a digestibilidade dos carboidratos totais e linear crescente para carboidratos

não fibrosos. Verificou-se elevação do consumo de cálcio à medida que aumentou as doses de

óxido de cálcio na cana-de-açúcar. A razão cálcio:fósforo na silagem com óxido de cálcio foi

diferentes das silagens com ureia e sem aditivo. O ganho de peso diário apresentou efeito

quadrático. Silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio ou ureia não melhora o

consumo nem ganho de peso de ovinos.

Palavras-chave: aditivo químico, cal, razão cálcio/fósforo, silagem, volumoso

44

CHAPTER 2

Performance of sheep fed sugar cane ensiled with urea or calcium oxide

ABSTRACT

The intake, digestibility of nutrients and performance of sheep fed sugar cane ensiled with

urea or calcium oxide. The study of 20 Santa Inês lambs, steers, average weight of 24.0 kg, allotted

to a completely randomized design with five treatments, four levels with calcium oxide (0.0, 0.8, 1.6

and 2.4%) and urea (1.5%), the fresh natural cane. The animals were housed in individual stalls with

1.5 m2 and the diet was offered the 70:30 ratio roughage:concentrate. The experiment lasted 77

days, 14 days of adaptation to diets and three experimental periods of 21 days. There were no

differences in mean intakes dry matter, ether extract, neutral detergent fiber, neutral detergent fiber

corrected for ash and protein, carbohydrate, hemicellulose, and total digestible nutrients. We noticed a

difference to the intake (kg/day) of crude protein, acid detergent fiber and non-fibrous carbohydrates,

which differed from silage with urea. No effect was observed for digestibility of dry matter, ether

extract, neutral detergent fiber, acid detergent fiber, total digestible nutrients, but there was a

quadratic effect for the digestibility of total carbohydrates and linear increase for non-fiber

carbohydrates. There was increased consumption of calcium in proportion to increased doses of

calcium oxide in cane sugar. The calcium: phosphorus ratio in the silage with calcium oxide was

different from silage with urea without additives. The average daily gain had a quadratic effect. Silage

from sugar cane with doses of calcium oxide or urea does not enhance the consumption or weight

gain of sheep.

Keywords: chemical additives, lime ratio calcium/phosphorus, silage, forage

45

1. INTRODUÇÃO

O valor do alimento depende, primeiramente, do nível de nutrientes presentes, da

quantidade ingerida voluntariamente pelo animal e da digestibilidade e/ou da degradabilidade

destes nutrientes consumidos. A avaliação eficiente de um alimento, para avaliar a predição da

resposta animal, baseia-se em conhecer as quantidades diárias de proteína e energia

digestíveis que o animal pode obter desse alimento. Desta forma, conhecer o valor potencial

do alimento, por meio da degradação ruminal, permite o emprego racional deste (CABRAL et

al., 2005).

O consumo voluntário é a quantidade de alimento ingerido por um determinado

animal em um determinado período de tempo, tendo livre acesso ao alimento, sendo que uma

dieta deve ser proporcionada ao animal, verificando sempre qual o nível de produção que se

deseja, a disponibilidade e valor nutritivo dos alimentos. Ocorre que o consumo de matéria

seca é função da duração do período e da frequência com qual o animal se alimenta e de

fatores dietéticos que afetam a fome e saciedade (ALLEN, 2000), e por estabelecer a

quantidade de nutrientes necessários para atendimento dos requisitos de mantença (CAMPOS

et al., 2010).

Conhecer a composição química dos alimentos e a sua digestibilidade é essencial

para se formular dietas balanceadas que possibilitem maximizar a eficiência dos animais

(CAMPOS et al., 2010). A cana-de-açúcar usada como recurso forrageiro para ruminantes é

uma alternativa para minimizar a nutrição inadequada em períodos do estresse de forragens,

visto que, um ruminante alimentado à vontade só consegue ingerir quantidade limitada deste

volumoso, uma vez que o consumo está diretamente relacionado ao conteúdo da fibra em

detergente neutro e que, quanto maior esta fibra, menor a digestibilidade desta fração, menor

o consumo deste tipo de volumoso e, como consequência, baixa taxa de digestão ruminal,

limitando o consumo pela fibra não degradada no rúmen (FREITAS et al., 2008).

Tem-se observado que diversos aditivos químicos empregados por Carvalho et al.,

(2006); Pires et al., (2004b) e Pontes (2007) têm demonstrado que o tratamento de materiais

fibrosos melhora a digestibilidade. Entretanto, Andrade et al. (2001), Oliveira et al. (2007a) e

Berger et al. (1994) comentaram que o uso de aditivos alcalinos como o hidróxido de sódio e

o óxido de cálcio podem provocar maior efeito de hidrólise na parede celular dos volumosos,

melhorando a digestibilidade da fibra e do consumo.

O presente trabalho foi desenvolvido objetivando avaliar o desempenho de ovinos

alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia.

46

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no setor de ovinocultura “Ensaios Nutricionais de

Ovinos e Caprinos” e no “Laboratório de Forragicultura e Pastagens” da Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia no Campus de Itapetinga, BA.

Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com cinco tratamentos,

sendo eles as doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO na matéria natural da cana-de-açúcar e um

tratamento com a utilização de 1,5% de ureia, também com base na matéria natural da cana-

de-açúcar, todos aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições por tratamento.

Os animais da raça Santa Inês foram mantidos em baias individuais de 1,5 m2 com

piso cimentado. As baias foram providas de comedouros e bebedouros, dispostos

frontalmente em cada baia, com dieta contendo 70% da silagem de cana-de-açúcar com doses

de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de óxido de cálcio (CaO) na matéria natural da cana-de-açúcar e

silagem de cana-de-açúcar com ureia (1,5% na matéria natural) e 30% de concentrado (Tabela

1), estando a composição das dietas na Tabela 2. Para confecção das silagens, a cana-de-

açúcar foi picada, em uma picadeira de forragem convencional, padronizando as partículas

com tamanho de 1 a 2 cm, misturada em piso de alvenaria para uma completa

homogeneização. Depois foi pesada, separada em quantidades de 140 kg, posteriormente,

foram tratadas de acordo com as doses de óxido de cálcio e a dose de ureia, e acondicionada

em tonéis de 200 litros, utilizando uma densidade de 700 kg de matéria natural/m3,

posteriormente, foram lacradas com lona dupla face (preta e branca) de 200 micras. A cana-

de-açúcar, variedade RB 72.454, foi ensilada por um período de 30 dias, quando foram

abertos os silos para retirada das amostras.

Após a compactação e antes do fechamento dos silos, foram retiradas amostras do

centro de cada silo, a uma profundidade de aproximadamente 40 cm. As amostras tinham

peso de aproximadamente 500 gramas. Ao final dos 30 dias, cada tonel do silo foi aberto e

retirada uma amostra.

A silagem de cana-de-açúcar, nos tratamentos com CaO, no momento do

fornecimento aos animais, foi corrigida para 1% de ureia (mistura de ureia + sulfato de

amônio) na relação 9:1, em seguida, toda mistura foi homogeneizada. As dietas foram

calculadas com base no NRC (2006) para permitir que houvesse nutrientes (NDT e PB)

suficientes para um ganho de peso de 150 g/dia. Estas foram balanceadas para conterem

aproximadamente 13% de proteína bruta e 53% de nutrientes digestíveis totais.

47

Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das dietas (% da

matéria seca)

Ingrediente Concentrado Dieta

Silagem de cana

com CaO

Silagem de cana

com ureia

Silagem de cana

com CaO

Silagem de cana

com ureia

Silagem de cana-de-açúcar1

- - 70,00 70,0

Milho 56,67 65,66 17,00 19,71

Farelo de soja 26,67 27,70 8,00 8,29

Ureia 10,00 ----- 3,00 -----

Sal comum 3,33 3,32 1,00 1,00

Sal mineral2

3,33 3,32 1,00 1,00

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 1/ cana-de-açúcar com diversas doses de óxido de cálcio ou ureia. 2/ Quantidade por kg do produto: Ca = 155 g, P = 65 g, S = 12 g, Mg = 6 g, Na = 115 g, Co = 175 mg, Cu = 100 mg, I = 175 mg, MN = 1400 mg, Ni = 42 mg, Se = 27 mg, Zn = 6000 mg, Fe = 1000 mg.

O experimento teve duração de 77 dias, constituídos de três períodos experimentais

de 21 dias e 14 dias, que foram destinados ao período de adaptação dos animais. No terceiro

período experimental, foi realizado coletas de fezes retal durante 5 (cinco) dias.

As dietas experimentais foram fornecidas à vontade, duas vezes por dia, sendo

realizado o fornecimento às 7h00 e às 15h00, de forma que as mesmas foram ajustadas para

manter sobras de aproximadamente 10% do fornecido (Tabela 2). As coletas das amostras

ocorreram durante todo o período experimental (três períodos de 21 dias), quando era

coletado volumoso, concentrado e a sobra de cada animal, feita diariamente, os quais eram

acondicionadas em sacos plásticos previamente identificados, referente a cada animal, e

armazenada em freezer para posteriores análises. Todos os animais foram pesados no início e

no fim de cada período experimental. A composição química da silagem de cana-de-açúcar

com oxido de cálcio ou ureia está disposta na Tabela 3, a qual foi calculada para ser

isoproteica.

Nas amostras coletadas, foram realizadas as seguintes análises: matéria seca (MS),

nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA),

proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN), cinza insolúvel em detergente neutro

(CIDN), extrato etéreo (EE), celulose, hemicelulose, lignina, cinza, nutrientes digestíveis

totais (NDT), conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), e a digestibilidade “in

48

situ” da matéria seca por 48 horas (DISMS) (ORSKOV et al., 1980). A fibra em detergente

neutro foi corrigida para cinza e proteína (FDNcp), segundo Mertens (2002).

O teor em carboidratos totais (CT) foram estimados por diferença, adotando-se a

seguinte equação de Sniffen et al. (1992), na qual:

CHO = 100 – (%PB + %EE + %cinza).

Devido à presença de ureia, os carboidratos não fibrosos (CNF) foram obtidos por:

CNF = 100 – [(% PB - % PB ureia + % ureia) + % FDNcp + % EE + % cinza]

Os nutrientes digestíveis totais (NDT) foram calculados a partir das estimativas

energéticas estimadas por NRC (2006) para silagens com aditivos.

Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO

(% matéria natural)

Silagem de

cana-de-açúcar com

ureia1 0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca (%) 41,1 42,6 43,2 43,2 41,5

Proteína bruta2

14,6 14,7 14,6 14,5 14,8 FDN

2 55,7 49,9 42,5 37,9 51,2

NDT2,3

50,6 58,9 60,8 64,3 53,6 1cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2 base da matéria seca; 3 estimado segundo NRC (2006).

FDN: fibra em detergente neutro; NDT: nutrientes digestíveis totais.

Na realização da pré-secagem, as amostras coletadas foram descongeladas,

acondicionadas em vasilhame de alumínio, pesadas e levadas à estufa de 60°C, por 72 horas.

Em seguida, foram retiradas da estufa, mantidas à temperatura ambiente por duas horas,

pesadas e moídas em moinho com peneiras contendo crivos de 1 mm e acondicionadas em

vasilhame de plásticos com tampa, identificados para posteriores análises.

49

Tabela 3 – Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio

(CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (%

matéria natural)

Silagem de

cana-de-

açúcar com ureia

0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca (%) 20,1 22,3 23,1 23,2 20,7

Proteína bruta1 1,15 1,23 1,15 1,10 14,9

Fibra em detergente neutro1 74,0 58,6 55,1 48,5 68,6

FDNcp1

71,1 55,7 52,4 45,6 65,6

Fibra em detergente ácido1

63,3 50,3 45,3 40,1 59,4

PIDN1

059 0,51 0,50 0,42 0,81

CIDN1

2,4 2,4 2,3 2,5 2,2

Extrato etéreo1

1,6 1,8 1,8 1,8 1,8

Celulose1 49,0 40,7 33,1 31,1 45,1

Hemicelulose1

10,7 8,2 9,8 8,4 9,2

Lignina1 10,3 8,4 6,8 5,7 9,5

Cinza1 3,6 8,1 10,0 14,0 3,3

DISMS1

51,2 51,1 61,1 65,5 59,6

Nutrientes digestíveis totais2

42,8 54,6 57,3 62,3 47,0 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/

Valores em percentagem da matéria seca. 2/ Estimado segundo o NRC (2006). Proteína indigestível em

detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN), fibra em detergente neutro corrigido

para cinza e proteína (FDNcp), digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS).

Para avaliação dos coeficientes de digestibilidade da matéria seca e dos demais

nutrientes, foi empregada a técnica do indicador interno, tendo a FDN indigestível como fator

de referência. Foram coletadas amostras de fezes diretamente no reto, pela manhã e à tarde,

durante cinco dias consecutivos, no terceiro período experimental. As amostras de fezes foram

acondicionadas em sacos plásticos, previamente identificados, e armazenados em freezer para

posterior processamento e análises. O preparo da amostra composta foi realizado após pré-

secagem e moagem do material.

Para a estimação dos teores da FDNi para obtenção das excreções fecais, amostras

dos alimentos fornecidos, cana-de-açúcar e concentrado, sobras e fezes foram incubadas por

240 horas (CASALI et al., 2008) em duplicata (20 mg MS/cm2), em sacos de tecido não-

tecido (TNT – 100 mg/m2), no rúmen de um novilho mestiço, recebendo dieta mista. Após

este período, os sacos foram retirados, lavados em água corrente, e o material remanescente

da incubação foi levado à estufa de ventilação forçada a 60°C por 72 horas. Foram retirados

50

da estufa e acondicionados em dessecador e pesados, sendo o resíduo obtido considerado

como MSi. Posteriormente, os sacos de TNT foram acondicionados em potes plásticos, onde

foi adicionados 50 mL de solução detergente neutro por saco, vedados e submetidos à fervura

em detergente neutro por uma hora, em autoclave, posteriormente, foram lavados com água

quente e depois com acetona, foram secos e pesados, sendo o novo resíduo considerado como

FDNi.

Os resultados foram submetidos à análise de variância, procedendo-se

posteriormente ao teste Dunnett para avaliar o efeito das doses de óxido de cálcio em relação

à ureia, e análise de regressão para o estudo do efeito das doses de CaO, a 5% de

probabilidade. Foi utilizado o programa SAEG - Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas

da UFV (RIBEIRO JR., 2001) para realização das análises estatísticas.

51

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não houve diferença (P>0,05) entre os consumos de MS, FDNcp, e NDT FDA da

silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio, em kg/dia, em relação à silagem de cana-de-

açúcar com ureia (Tabela 4). Entretanto, houve efeito (P<0,05) da PB, FDA e carboidratos

não fibrosos, da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com

ureia.

Os consumos de carboidratos não fibrosos e NDT apresentaram efeito (P<0,05) de

dose de CaO com regressão quadrática crescente para a silagem de cana-de-açúcar com óxido

de cálcio, com ponto de máxima de 0,325 kg/dia (dose de 1,42%) e de 0,525 kg/dia (dose de

1,39%), respectivamente (Tabela 4).

Observou-se que a adição do óxido de cálcio não promoveram aumento nos

consumos das silagens com CaO, o que permitiria elevar o consumo de MS e, como

consequência, aumento do consumo da PB, FDNcp, FDA. A ação do aditivo químico em um

volumoso com alto teor de fibra é justamente diminuir os constituintes da parede celular para

poder permitir aumento do consumo voluntário em animais confinados.

Nussio et al. (2006), ao verificarem o valor alimentício da cana-de-açúcar,

constataram que a FDN e os carboidratos solúveis são as duas frações que afetam o consumo

e a digestibilidade, porque a cana-de-açúcar, ao contrário da maioria das plantas forrageiras,

apresenta melhora da digestibilidade da MS com o avanço da maturidade fisiológica em

função dos aumentos dos teores de carboidratos solúveis, sendo também evidenciado por

Resende et al. (2005). Nussio, et al. (2003) observaram também que o consumo de MS de

silagem é determinado pelo tipo de forragem, composição química e digestibilidade no

momento da colheita.

O consumo de MS (% do PV) apresentou diferença (P<0,05) da silagem de cana-de-

açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia. O consumo de MS (% PV)

apresentou efeito quadrático (P<0,05) crescente (Tabela 4), com ponto de máxima de 2,83%

do PV, com um dose de 1,72% de CaO. Contudo, o consumo de FDN e FDNcp (% do PV)

não apresentaram diferença da silagem com CaO em relação à silagem com ureia.

52

Tabela 4 - Médias de quadrados mínimos, coeficiente de variação (CV%) e de determinação (r2) dos consumos (em kg/dia, % do peso vivo e

g/kg0,75

), em ovinos alimentados com dietas contendo silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO

(% matéria natural) Silagem de

cana-de-açúcar

com ureia1

CV

(%)2

Equação de regressão

e coeficiente de determinação 0,0 0,8 1,6 2,4

Consumo (kg/dia)

Matéria seca 0,590 0,769 0,735 0,673 0,650 18,6 Ŷ = 0,692 Proteína bruta 0,051* 0,054* 0,049* 0,049* 0,070 13,7 Ŷ = 0,051

FDNcp 0,308 0,343 0,286 0,303 0,321 17,7 Ŷ = 0,310

FDA 0,247 0,273 0,225 0,202* 0,275 12,9 Ŷ = 0,237

CNF 0,161 0,299 0,318* 0,248 0,202 27,3

Ŷ = 0,162158 + 0,230425*CaO – 0,0814038*CaO2 (R

2 =

1,00)

NDT 0,335 0,504 0,509 0,433 0,413 17,0

Ŷ = 0,339197 + 0,267064**CaO – 0,0958005**CaO2 (R

2

= 0,96) Consumo (% do peso vivo)

Matéria seca 2,36 2,59 2,93* 2,72* 2,37 7,7

Ŷ = 2,32794 + 0,583666*CaO – 0,169753*CaO2 (R

2 =

0,87)

FDN 1,27 1,10 1,24 1,13 1,22 8,9

Ŷ = 1,27066 – 0,632697*CaO – 0,667412*CaO2 (R

2 =

0,33)

FDNcp 1,23 1,15 1,14 1,22 1,17 6,6

Ŷ = 1,23246 – 0,159405**CaO + 0,0644314**CaO2 (R

2 =

0,98) FDA 1,01 0,92 0,90 0,84 1,01 13,1 Ŷ = 0,92

Consumo (g/kg0,75

)

Matéria seca 52,62 60,42 65,01* 60,40 54,30 7,5

Ŷ = 52,3107 + 15,1719**CaO – 4,86454*CaO2 (R

2 =

0,98) FDNcp 27,4 26,9 25,3 27,2 26,8 6,8 Ŷ = 26,7 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria

natural). 2/Coeficiente de variação. (ns) = não significativo; (*) e (**), significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente. Fibra em detergente neutro (FDN), fibra

em detergente neutro corrigido para cinza e proteína (FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos totais (CT), carboidratos não-fibrosos (CNF), nutrientes

digestíveis totais (NDT).

53

O consumo de FDN e FDNcp apresentaram efeito (P<0,05) quadrático decrescente,

com ponto de mínima de 0,83% do PV com dose de 0,47% de CaO e ponto de mínima de

1,13% PV e 1,24% de CaO, para consumo de FDN e FDNcp, respectivamente (Tabela 4).

Estes resultados são diferentes dos encontrados por Carvalho (2008), com consumo

de 3,9% do PV da MS da cana-de-açúcar, tratada com CaO para ovinos Santa Inês, e por

Moraes et al. (2008b), que obtiveram efeito linear no consumo (2,6% do PV) de MS da cana-

de-açúcar, quando tratada com e sem CaO e nível de concentrado.

Verifica-se que a elevação de consumo de MS da cana-de-açúcar, tratada com

diversos aditivos alcalinos, foi observada em diversos estudos (PONTES, 2007; MORAES et

al., 2008a, 2008b; CARVALHO, 2008; SFORCINI et al., 2010), principalmente, quando se

trata de volumosos ensilados, como é o caso da cana-de-açúcar, que difere de outros

volumosos, pois apresenta alto teor de fibra, necessita de tratamento químico com o objetivo

de romper a estrutura desta fibra, para elevar a taxa de passagem e elevar o consumo.

O consumo de FDA (% do PV) não apresentou diferença da silagem de CaO em

relação à silagem com ureia, como também às doses do CaO no tratamento da cana-de-açúcar,

que não apresentaram efeito (P>0,05). Na composição química-bromatológica (Tabela 2), a

lignina caiu de 10,3 para 5,7% e como este componente se correlaciona com a FDA, verifica-

se que, mesmo com a queda da lignina, o consumo da FDA não diferenciou entre as doses de

CaO.

O consumo de MS (g/kg0,75

) apresentou diferença (P<0,05) da silagem de cana-de-

açúcar com CaO, em relação à silagem com ureia, na dose 1,6% de CaO, em que o efeito

(P<0,05) foi quadrático crescente com ponto de máxima de 64,14 g/kg0,75

, correspondente à

1,56% de CaO. Verifica-se que não ultrapassou os 65 g/kg0,75

, em que o limite máximo de

consumo pelos animais também não chegou à dose 1,6% de CaO e que, mesmo diminuindo

os constituintes da parede celular, os animais não conseguiram consumir mais MS que a

quantidade do ponto de máxima, interferindo diretamente no consumo animal.

Van Soest (1994) relatou que o consumo é afetado pelos fatores inerentes ao animal e

à forragem, com ênfase na aceitabilidade e na seleção, e que existem três hipóteses associadas

ao baixo consumo de silagens, pela presença de substâncias tóxica, como aminas, resultante

da fermentação, alto conteúdo de ácidos nas silagens, que diminui a aceitabilidade e a

diminuição da concentração de carboidratos solúveis (energia) para microrganismo do rúmen.

De fato, o consumo neste estudo não esteve como esperado e estimado pelo NRC (2006) para

ovinos, o que diminuiu também o consumo dos nutrientes. Pode também ter ocorrido menor

54

consumo de silagem da cana-de-açúcar, devido ao processo de fermentação, que em

comparação à silagem fresca, há menor consumo.

Neste estudo, houve diferença (P<0,05) para os consumos de cálcio (g/dia) entre as

silagens com doses de CaO em relação à silagem com ureia. Contudo, não se observou

diferença para o consumo do fósforo entre a silagem de CaO em relação à silagem com ureia

(Tabela 5). As doses 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO apresentaram consumo maiores com o aumento

das doses do óxido de cálcio.

Observa-se que o consumo de cálcio (g/dia) apresentou efeito (P<0,05) quadrático

crescente, assim como a razão do consumo de cálcio:fósforo, que também teve efeito

(P<0,05) quadrático crescente. O consumo de cálcio teve ponto de máxima de 18,6 g/dia com

a dose de 2,4% de CaO (Tabela 5 e Figura 1), em que se observa dispersão dos valores do

consumo nas doses 1,6 e 2,4% de CaO, em relação às doses 0,0 e 0,8% de CaO. O consumo

em g/dia de cálcio, conforme a equação, está de acordo com a dose estabelecida para estudo

(2,4% de CaO), mas, mesmo havendo um consumo máximo de 18,6 g/dia, este não

correspondeu em melhor desempenho animal, o que, possivelmente, essa dose não limitou o

consumo dos animais, mas interferiu no ganha diário.

A razão cálcio:fósforo apresentou ponto de máxima 75,8, com uma doze de 3,05% de

CaO (Tabela 5 e Figura 2). Verifica-se que o valor encontrado da razão coaduna com o do

consumo, em que a curva da parábola teve tendência de continuar subindo além da dose

máxima estabelecida neste estudo (2,4% de CaO).

Considerando consumo de cálcio em g/dia, numa dieta para ovinos, os valores

encontrados são considerados altos, quando comparados às dietas sem adição do óxido de

cálcio, pois, o aumento das doses favoreceu, consideravelmente, a quantidade elevada desse

mineral na dieta total dos ovinos, diferente da recomendação de exigências pelo NRC (1985),

que considera um requerimento absoluto de cálcio (Ca) e fósforo (P) para ovinos em

crescimento de 183 mg de Ca e 103 mg de P/kg de peso vivo, enquanto a Agricultural

Research Council (ARC) (1980) estimou 11 g de Ca e 6 g de P/kg de peso vivo. Ambas as

instituições admitem que os requerimentos líquidos de macro elementos minerais são

constantes e independem do peso do animal. Já para Agricultural and Food Research Council

(AFRC) (1991), o depósito de Ca e P decrescem com a maturidade do animal, independente

das quantidades da dieta.

55

Tabela 5 - Médias de consumo e excreção de cálcio (Ca), fósforo (P) e da razão cálcio:fósforo (Ca/P) de ovinos alimentados com silagem de da

cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO

(% matéria natural) Silagem de

cana-de-açúcar

com ureia1

CV (%)

2 Equação de regressão

0,0 0,8 1,6 2,4

Consumo (g/dia)

Cálcio2

1,2 10,2* 17,1* 18,4* 2,3 31,9 Ŷ = 1,04087 + 14,6392**CaO – 3,05484*CaO

2

(R2 = 0,83)

Fósforo3 0,18 0,31 0,26 0,27 0,24 26,0 Ŷ = 0,26

Razão do consumo de Ca:P

Cálcio:Fósforo4

8,6 33,0* 65,4* 70,9* 10,4 21,9 Ŷ = 6,84156 + 45,1983**CaO – 7,40328*CaO (R

2 =

0,89) * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria

natural). 2/Coeficiente de variação. (ns) = não significativo (P>0,05); (*) e (**), significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.

56

O ARC (1980) estabeleceu as exigências dietéticas de cálcio e fósforo para ovinos

com peso médio de 25 kg e ganho de 100 e 200 g/dia, que são de 1,547 e 0,684 g/animal/dia e

3,094 e 1,368 g/animal/dia, respectivamente. De acordo com essas recomendações, os

consumos desses minerais pelos ovinos, neste estudo, estão bastante acima da recomendação,

o que, possivelmente, interferiu no consumo de matéria seca e, consequentemente, no

consumo de nutrientes.

Neste estudo, estimou-se por meio da equação do NRC (2006) ganho de 150 g/dia

para cordeiros de 24,00 kg de peso vivo. Apesar de o estimado ser bastante diferente do

observado e não terem ocorrido os ganhos estabelecidos, pode-se inferir que, tanto a silagem

de cana-de-açúcar com ou sem CaO como a ureia não corresponderam com a expectativa de

ganho esperada.

Figura 1 – Consumo de cálcio (g/dia) da silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio, em

dietas para ovinos

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

0 0,8 1,6 2,4

Consu

mo c

álc

io (

g)

Dose de CaO

Ŷ = 1,04087 + 14,6392*CaO - 3,05484**CaO2 (R = 0,83)

57

Olalquiaga Pérez et al. (2001) trabalharam com composição corporal e exigências

nutricionais de cálcio e fósforo de cordeiros Santa Inês em crescimento e verificaram que a

exigência líquida desses minerais para mantença de animais de 25 kg de peso vivo e ganho de

200 g é de 2,10 e 0,99 g/dia, para o cálcio e fósforo, respectivamente, o que é bastante inferior

aos encontrados neste estudo, e a exigência dietética é de 3,09 e 1,37 g/dia, para o cálcio e

fósforo, respectivamente. Geraseev et al (2000) trabalharam com composição corporal e

exigências nutricionais em cálcio e fósforo para ganho e mantença de cordeiros Santa Inês dos

15 kg aos 25 kg de peso vivo e verificaram que os requisitos líquidos de cálcio e fósforo para

mantença, estimados para animais entre 15 e 25 kg de peso vivo, é de 305 mg de cálcio/dia e

325 mg de fósforo/dia.

Figura 2 – Razão do cálcio e fósforo na silagem de cana-de-açúcar com doses de óxido de cálcio (CaO),

em dietas para ovinos

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

0 0,8 1,6 2,4

Razã

o C

a:P

Dose de CaO

Ŷ = 6,84156 + 45,1983*CaO - 7,40328**CaO2 (R

2 = 0,89)

58

Louvandini & Vitti (2007); Bravo et al. (2003a); Dias et al. (2007) comentaram que o

aumento do teor de P da dieta em ovinos eleva sua absorção e sua excreção pelas fezes, sendo

esta a rota preferencial de eliminação. Louvandini & Vitti (2007) argumentaram que o P

consumido e o P da urina estão associados à estabilização da perda endógena fecal, que está

associada ao excesso do mineral ingerido e quanto ao tipo de alimento ingerido, pois, quanto

maior o teor de fibra efetiva ingerida, maior salivação e excreção de P pelas fezes (BRAVO et

al., 2003b).

A literatura tem demonstrado que existe um inter relacionamento entre o Ca e P

(CHALLA et al., 1989) caracterizado por mudanças no metabolismo do Ca que podem ser

causadas por variações nos níveis deste mineral, como também o inverso é verdadeira. Vitti et

al. (2006) comentaram que altos valores de Ca fecal podem indicar menor biodisponibilidade

do Ca na fonte fornecida, ocasionando maiores perdas de Ca, passando diretamente pelo trato

digestivo, sem que haja absorção.

De acordo com os níveis adequados de fósforo dietético (NRC, 1980), os ruminantes

podem tolerar uma relação de Ca:P tão grande que pode chegar até 7:1 e/ou 2 por cento de

cálcio na dieta. Entretanto, a ingestão em longo prazo de fósforo, em níveis que representem 2

a 3 vezes os requisitos para a manutenção, pode causar aumento da reabsorção óssea em

animais adultos, e uma diminuição na relação Ca:P (<2:1), podendo contribuir para um

aumento da incidência de cálculos urinários em ovinos inteiros e castrados. Mesmo com a

inclusão de 1% de sal mineral na dieta, que permitiu uma relação entre esses dois minerais de

2,4:1, a adição de óxido de cálcio, como aditivo químico, elevou consideravelmente seus

níveis, com o intuito de preservar a cana-de-açúcar ensilada, causando desequilíbrio na

relação dos minerais, o que possivelmente interferiu no desempenho dos animais e piorou

com o aumento da doses.

De acordo com Salviano & Vitti (1998), a proporção de Ca:P de 1,5:1,0 é

considerada a melhor, sendo que a adição de maior quantidade de Ca na dieta 3,0:1,0 não traz

nenhum benefício, em termos de absorção e eficiência de absorção de P.

O fósforo é um elemento versátil, do ponto de vista metabólico, desempenhando

diversas funções bioquímicas e fisiológicas, sendo envolvido em quase todas as vias

metabólicas e, principalmente, no metabolismo energético. De acordo com Runho et al.

(2001), os fosfolipídios são os principais meios de transporte de ácido graxos do organismo,

pois afetam a permeabilidade celular, influenciando o apetite e a eficiência alimentar.

59

Barcelos (1998) comenta da importância do fósforo sobre a atividade dos

microrganismos do rúmen, havendo diminuição dos ácidos graxos, quando ocorre sua

deficiência, e também a exigência das bactérias celulolíticas por fósforo é tão grande quanto

às do animal hospedeiro.

Segundo Nicodemo et al. (2000), a redução no consumo de alimentos é um dos

principais sintomas de deficiência de fósforo, sendo relacionada à redução da digestão da

fibra pela limitação da atividade e síntese de proteína microbiana.

Uma fator para redução da absorção do fósforo ingerido de dietas com baixo teor de

fósforo pode ser a alta razão cálcio:fósforo, que acima de 5:1 resulta em precipitação do

fosfato no trato gastrointestinal, provocando consequência para a atividade microbiana

ruminal, afetando a digestibilidade da MS (CHALLA & BRAITHWAITE, 1988). Este fato

pode ter ocorrido neste estudo, pelos baixos consumos de fósforo apresentado e por uma razão

entre este dois minerais que variou de 8,6:1 até 70,9:1. Entretanto, doses mais altas de fósforo

não afetaram a digestibilidade da MS, PB e FDN em dietas com doses diárias de 8, 12, 15 e

18 g/dia de fósforo, tendo como volumoso a cana-de-açúcar, como foi verificado por Souza et

al (2007).

Não houve diferença (P>0,05) para a digestibilidade de MS, FDN, FDA e NDT das

silagens com CaO em relação à silagem com ureia (Tabela 6). O extrato etéreo não apresentou

diferença da silagem com CaO em relação à silagem com ureia, mas apresentou efeito

(P<0,05) linear crescente para as doses de CaO (Tabela 6). A PB apresentou diferença

(P<0,05) da silagem de cana-de-açúcar com CaO em relação à silagem com ureia.

A adição do óxido de cálcio não foi eficiente para melhorar a digestibilidade da MS,

PB, FDN, FDA e NDT da cana-de-açúcar ensilada. Mesmo tendo verificado que houve

melhora nos constituintes da parede celular, a digestibilidade não melhorou, o que

possivelmente, se deve ao tempo da taxa de passagem ter sido mais lenta, havendo maior

retenção da digestão, e acarretando em menor consumo.

Cavali (2006), ao estudar a cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio, verificou

que as doses (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%) de óxido de cálcio na cana in natura aumentaram os

valores em 66,9; 70,2; 71,4; 73,4 e 81,0% da DIVMS. Entretanto, com a silagem da cana-de-

açúcar, observou-se valores 48,4; 65,6; 74,9; 78,2 e 81,5% para os mesmos tratamentos

anteriores com CaO, no qual o autor ressalta que a adição de 1,5% resulta em maior

digestibilidade in vitro da MS, em que a digestibilidade de MS, neste estudo, ficou abaixo dos

valores encontrados pelo autor.

60

Campos et al. (2010) verificaram maiores consumos de nutrientes em dietas à base

de cana-de-açúcar in natura com FDN igual a 48,87%, abaixo dos valores encontrados neste

estudo. Entretanto, Dias et al. (2000) observaram efeito quadrático, de acordo com o nível de

concentrado na digestibilidade da FDN. O aumento da digestibilidade da MS também

aumenta o NDT, sendo verificado por Cappelle et al. (2001), reduzindo com a elevação do

FDN e FDA.

A digestibilidade dos carboidratos totais e carboidratos não fibrosos apresentou

diferença (P<0,05) entre a silagem com CaO em relação às silagens com ureia. Os

carboidratos totais apresentaram efeito (P<0,05) quadrático crescente com ponto de máxima

de 76,7% para uma dose de 1,77% de CaO (Tabela 6 e figura 3). Os carboidratos não fibrosos

apresentaram efeito linear (Tabela 6 e figura 4). Possivelmente, a ação do aditivo sobre a

parede celular da cana-de-açúcar proporcionou, para a dose de 1,77% de CaO, maior

digestibilidade pela solubilização parcial da hemicelulose, expansão da celulose e redução da

lignina, o que permitiu maior ataque dos microrganismos ruminais. A ação da cal sobre a fibra

da cana-de-açúcar propiciou aumento dos carboidratos totais e não fibrosos.

Pontes (2006) verificou que a utilização de óxido de cálcio não influenciou a

digestibilidade dos carboidratos totais, enquanto que Balieiro Neto et al. (2007) observaram

que, nas silagens de cana-de-açúcar, tratada com óxido de cálcio, as que apresentaram os

maiores valores de digestibilidade foram as que tiveram maiores teores de CNF.

Foi verificada, neste estudo, esta tendência, em que as silagens de cana-de-açúcar

com óxido de cálcio apresentaram melhor percentual da digestibilidade dos carboidratos totais

e reduziram com a adição de dose acima de 1,77% de CaO. Para a digestibilidade dos

carboidratos não fibrosos, a ação da cal na cana-de-açúcar com doses maiores, possivelmente,

teria efeito.

61

Tabela 6 - Médias de quadrados mínimos e coeficiente de variação (CV%) da digestibilidade da matéria seca (DMS), da proteína bruta (DPB),

do extrato etéreo (EE), da fibra em detergente neutro (FDN), da fibra em detergente ácido (FDA), dos carboidratos totais (DCT) dos

carboidratos não fibrosos e nutrientes digestíveis totais (NDT) em ovinos alimentados com dietas contendo silagem de cana-de-

açúcar com óxido de cálcio (CaO) e ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)

Silagem de

cana-de-açúcar com ureia

1

CV

(%)2

Equação de regressão

0,0 0,8 1,6 2,4

Digestibilidade (%)

DMS 61,5 68,4 69,1 67,2 63,9 6,5 Ŷ = 66,6

DPB 50,7* 49,2* 44,6* 46,2* 65,3 16,1 Ŷ = 44,7 DEE 60,1 66,0 70,9 71,1 68,3 10,2 Ŷ = 61,3436 + 4,73240**CaO (r

2 = 0,89)

DFDN 49,8 54,7 55,6 56,5 51,9 11,0 Ŷ = 54,2

DFDA 52,8 54,1 52,1 56,6 51,6 9,6 Ŷ = 53,9

DCT 64,2 74,5* 75,2* 75,6* 64,8 4,5 Ŷ = 64,6201 + 13,6194**CaO – 3,84347**CaO

2

(R2 = 0,95)

DCNF 87,3 93,9* 95,3* 95,4* 87,1 4,3 Ŷ = 89,1812 + 3,13080**CaO (R2 = 0,72)

NDT 49,8 54,7 55,6 56,6 52,0 11,0 Ŷ = 54,2 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria

natural). 2/Coeficiente de variação. (ns) = não significativo; (*) e (**), significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.

62

Figura 3 - Digestibilidade das frações dos carboidratos totais (CT) da silagem de cana-de-açúcar com

doses de óxido de cálcio (CaO), em dietas para ovinos

O trabalho de Oliveira et al. (2007b) corroboram com o deste estudo, no qual

verificaram que na digestibilidade da cana-de-açúcar hidrolisada, in natura e ensilada, houve

um aumento linear para a digestibilidade dos carboidratos totais, possivelmente, pelo fato de

ter havido maior consumo dos carboidratos não fibrosos, que também se mostrou com alta

digestibilidade. Entretanto, Moraes et al. (2008b), diferentemente do presente estudo, não

encontraram efeito na digestibilidade ruminal dos CT, e Cunha et al. (2008) verificaram em

dietas para ovinos Santa Inês, que a digestibilidade dos CNF apresentou efeito linear

decrescente e na CT não houve diferença com adição do nível do caroço de algodão integral.

Houve diferença (P>0,05) para o ganho de peso diário dos ovinos alimentados com as

silagens com CaO em relação à silagem com ureia. Verificou-se que o ganho médio diário

apresentou efeito quadrático crescente com ponto de máxima de 73,26 g/dia para uma dose de

1,15% de CaO. A conversão alimentar não apresentou diferença (P>0,05) da silagem da cana-

de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia (Tabela 7).

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

0 0,8 1,6 2,4

Dig

esti

bil

idad

e dos

carb

oid

rato

s to

tais

(%

)

Dose de CaO

Ŷ = 64,6201 + 13,6194**CaO – 3,84347**CaO2 R

2 = 0,95

63

Figura 4 - Digestibilidade das frações dos carboidratos não fibrosos (CNF) da silagem de cana-de-açúcar

com doses de óxido de cálcio (CaO) em dietas para ovinos

Este resultado está bem abaixo do estimado pelo NRC (2006), que preconiza, de acordo a

dieta (volumoso + concentrado) relação 70:30, um ganho de 150 g/dia e, possivelmente, em

função não somente da dieta à base de cana-de-açúcar, por ser um volumoso que apresenta

características nutricionais abaixo das necessidades de certas categorias animais, como

também, possivelmente, do desequilíbrio da alta concentração de Ca, e da razão

desproporcional de Ca:P.

A redução dos constituintes da parede celular como FDN, FDA, lignina e melhoria

da digestibilidade dos carboidratos, evidencia para um melhor valor nutritivo da silagem da

cana-de-açúcar, mas o aumento das doses de óxido de cálcio foi limitante quanto ao

desempenho, não permitindo maiores ganhos de peso diário dos ovinos. Essa resposta está

associada à menor ingestão dos nutrientes pelos animais, o que resulta em maior tempo de

permanência da silagem no trato digestivo, prejudicando o consumo, ou até mesmo porque as

doses de CaO não influenciaram a digestibilidade da MS, bem como da fibra em detergente

neutro da silagem com CaO ou ureia.

82,00

84,00

86,00

88,00

90,00

92,00

94,00

96,00

98,00

100,00

0 0,8 1,6 2,4

Dig

esti

bil

idad

e dos

carb

oid

rato

s não f

ibro

sos

(%)

Dose de CaO

Ŷ = 89,1812 + 3,13080**CaO r2 = 0,72

64

Tabela 7 - Ganho do peso diário (GPD), conversão alimentar (CA) e coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com dietas

contendo silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (%

matéria natural) Silagem de

cana-de-açúcar

com ureia1

CV (%)

2

Equação de regressão

0,0 0,8 1,6 2,4

Desempenho

Ganho de peso diário (g)2

45,0 84,7* 56,0 49,2 43,9 32,1 Ŷ = 49,4907 + 41,5261*CaO – 8,1362**CaO

2 (R

2

= 0,57)

Conversão alimentar (kg/kg)3

9,4 9,5 10,4 12,8 12,4 20,3 Ŷ = 10,5 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria

natural). 2/Coeficiente de variação. (ns) = não significativo; (*) e (**), significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.

65

4. CONCLUSÕES

Recomenda-se o uso de 0,8% de óxido de cálcio na ensilagem da cana-de-açúcar, em

dietas para ovinos confinados, por promover melhor ganho de peso.

A utilização de ureia na ensilagem da cana-de-açúcar, em dietas para ovinos, não

altera o desempenho dos animais.

O aumento no consumo de cálcio reduz o consumo dos componentes da fibra,

prejudicando o desempenho dos ovinos.

A baixa ingestão de fósforo reduz o consumo dos alimentos, bem como a alta razão

entre o cálcio e fósforo afeta a digestibilidade da matéria seca, da proteína bruta e da fração

fibrosa.

66

5. REFERÊNCIAS

AFRC-AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL (Farnham Royal,

Inglaterra). A reappraisal of the calcium and phosphorus requirements of sheep and cattle.

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70

CAPÍTULO 3

Balanço de nitrogênio e síntese de proteína microbiana em ovinos alimentados com

cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia

RESUMO

Avaliou-se o balanço de nitrogênio, excreção de ureia e síntese de proteína

microbiana em ovinos alimentados com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou

ureia. Foram utilizados 20 cordeiros da raça Santa Inês, castrados, com peso médio de 24 kg,

distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado, em baias individuais, com cinco

tratamentos, quatro níveis com óxido de cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) e um com ureia (1,5%),

ambos na matéria natural. A dieta teve a proporção de 70:30 volumoso:concentrado. O

período experimental foi de 77 dias, 14 dias de adaptação da dieta e três períodos de 21 dias.

O N-ingerido e N-digerido na urina apresentaram diferença entre as silagens de CaO e ureia, e

apresentaram efeito linear decrescente da silagem de cana-de-açúcar com CaO. Foi observado

efeito linear decrescente para o N-urina (g/dia). Houve diferença para as concentrações de N-

ureico na urina e no plasma em relação às silagens de CaO e de ureia, que apresentou efeito

quadrático crescente e decrescente, respectivamente, para as doses de CaO. As excreções

(g/dia e mg/kg PV) de ureia na urina e N-ureico na urina foram semelhantes em relação às

silagens com CaO e ureia. As excreções urinárias (mmol/dia) apresentaram efeito quadrático

para alantoína e ácido úrico. Os derivados de purina (% das purinas totais) apresentou

diferença para o alantoína e ácido úrico na silagem com CaO em relação à silagem com ureia.

Houve diferença para a produção microbiana entre as silagens com CaO e com ureia. A

eficiência microbiana (g PB/kg NDT) apresentou diferença entre as silagens com CaO e com

ureia e efeito quadrático para doses de CaO. As dietas com óxido de cálcio apresentam baixa

ingestão de proteína bruta e dos compostos nitrogenados microbianos, e ainda reduz a

eficiência microbiana. A ureia apresenta melhor eficiência de produção dos compostos

nitrogenados retendo mais nitrogênio e também melhora a produção microbiana. As excreções

de ureia na urina, as purinas e a produção microbiana não são influenciados pelo uso de óxido

de cálcio.

Palavras-chave: alantoína, eficiência microbiana, derivados de purinas, nitrogênio ureico,

xantina-hipoxantina

71

CHAPTER 3

Nitrogen balance and microbial protein synthesis in sheep fed sugar cane ensiled with

urea or calcium oxide

ABSTRACT

We evaluated the nitrogen balance, excretion of urea and microbial protein

synthesis in sheep fed sugar cane ensiled with urea or calcium oxide. The study of 20 Santa

Inês lambs, steers, weighing 24 kg, distributed in a completely randomized design in

individual stalls, with five treatments, four levels with calcium oxide (0.0, 0.8, 1.6 and 2.4%)

and urea (1.5%), both in natural matter. The diet was offered the 70:30 ratio

roughage:concentrate. The experiment lasted 77 days, 14 days of dietary adaptation and three

periods of 21 days. The N-N-digested and ingested and urine showed differences among

silages CaO and urea, in a linear effect of decreasing silage cane sugar with CaO. Linear

decreasing effect was observed for the N-urine (g/day). There were differences for the

concentrations of N-urea in urine and plasma in relation to silage CaO and urea, which had a

quadratic effect increase and decreasing, respectively, for doses of CaO. The excretions (g/day

and mg/kg BW) of urea in urine and N-urea in the urine were similar in the silage with urea

and CaO. The urinary (mmol/day) responded quadratically to allantoin and uric acid. The

purine derivatives (% of total purine) differ for allantoin and uric acid in silage with CaO for

silage with urea. There were differences in microbial production of silage with urea and CaO.

Microbial efficiency (g CP/kg TDN) showed difference between silage with urea and CaO

and whit quadratic effect for doses of CaO. Diets containing calcium oxide have a lower

intake of crude protein and microbial nitrogen compounds, and also reduces the microbial

efficiency. Urea has a better production efficiency of the nitrogen retaining more nitrogen and

also improves the microbial production. The excretion of urea in the urine, purines and

microbial production is not affected by the use of calcium oxide.

Keywords: allantoin, microbial efficiency, purine derivatives, nitrogen urea, xanthine

hypoxanthine

72

1. INTRODUÇÃO

A forragem constitui a forma mais barato de alimentação de animais ruminantes,

sendo que a estacionalidade passa a ser um fator bastante comprometedor da produção de

bovinos, principalmente no período de escassez, que prejudica o desempenho. Uma

alternativa é conservar forragens, na forma de silagem (RIBEIRO et al., 2005), pois

proporciona alimento de qualidade e/ou usar volumoso proveniente de resíduos ou sub

produtos, sendo que alguns deste necessitam de tratamentos químicos para melhorar o valor

nutritivo (CARDOSO et al., 2004; PIRES et al., 2006; SIQUEIRA et al., 2007; CARVALHO,

2008).

A cana-de-açúcar atualmente é um volumoso usado na suplementação animal, na

forma in natura ou de silagem, e tem se mostrado como alternativa interessante no aspecto

econômico quanto operacional (RIBEIRO et al., 2005) e que, mesmo precisando ser

suplementada com proteínas, apresenta melhora na digestibilidade da matéria seca com o

avanço da maturidade fisiológica pelo aumento dos carboidratos solúveis (RESENDE et al.,

2005).

A ingestão de matéria seca, considerada de extrema relevância no sistema de

produção de ruminantes, garante nutrientes importantes para realizar as funções metabólicas e

atender às exigências de mantença (CARVALHO, 2008). No caso da cana-de-açúcar, nem

sempre é possível devido à baixa digestibilidade da fibra, com efeito negativo de redução da

taxa de passagem e aproveitamento dos alimentos no rúmen (SCHMIDT, 2006).

Observa-se então que os ruminantes apresentam uma maior eficiência no

aproveitamento da energia dos alimentos fibrosos que os demais herbívoros. Estes

maximizam a utilização dos carboidratos celulósicos por causa do seu trato digestivo. A

câmara de fermentação (retículo-rúmen) precede o principal sítio digestivo. Desta maneira, os

produtos da fermentação terão mais eficiência de uso (VAN SOEST, 1994).

A fermentação dos alimentos no rúmen ocorre por uma combinação de

fermentação microbiana e a degradação física durante a regurgitação de alimentos por

ruminação. O ataque microbiano é realizado por uma população mista de bactérias,

protozoários ciliados e um pequeno número de fungos anaeróbios, sendo que o resultado são

os produtos da fermentação microbiana, disponíveis para absorção pelo ruminante

(NAGARAJA, 2007). O crescimento microbiano no rúmen está associado à capacidade

73

digestiva do animal e influencia a produção de ácidos graxos voláteis (AVG) e o fluxo de

proteína microbiana para o intestino delgado (HOOVER & STOKES, 1991).

Após a fermentação dos alimentos, certos compostos nitrogenados são eliminados

pelos mamíferos, como a ureia, que constitui o principal deles, além dos derivados de purinas

(RUSSELL et al., 1992). A concentração plasmática de ureia está relacionada à ingestão de

compostos nitrogenados (VALADARES et al., 1997a). Por isso, a sua determinação é de

grande importância para evitar perdas de proteína, visto que este nutriente onera grandemente

os custos, quando se formula dietas (MENDONÇA et al., 2004), sendo que quantificar a

síntese de proteína microbiana no rúmen é importante na nutrição dos ruminantes.

Observa-se que os derivados de purinas, a hipoxantina, xantina, ácido úrico e

alantoína são produtos do catabolismo das purinas excretadas na urina de ruminantes, sendo a

alantoína o maior componente. Estes derivados de purinas originam-se de duas fontes: as

purinas, absorvidas no intestino delgado, e as endógenas, que são liberadas do metabolismo

dos ácidos nucleicos, sendo que sua excreção está diretamente relacionada com a absorção de

purinas. Conhecendo-se a relação N purina/N total na massa microbiana, a absorção de N

microbiano pode ser calculada a partir da quantidade de purina absorvida, que é estimada a

partir da excreção urinária de derivados de purina (CHEN & GOMES, 1992).

Objetivou-se neste estudo avaliar o balanço de nitrogênio e a síntese, excreção de

ureia, síntese de proteína microbiana de ovinos recebendo silagens de cana-de-açúcar com

doses de oxido de cálcio ou ureia.

74

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no setor de ovinocultura “Ensaios Nutricionais de

Ovinos e Caprinos”, no “Laboratório de Forragicultura e Pastagens” e de “Fisiologia Animal”

da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, no Campus de Itapetinga, BA.

Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com cinco tratamentos,

com doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO na matéria natural da cana-de-açúcar, e um

tratamento com a utilização de 1,5% de ureia também na matéria natural da cana-de-açúcar,

todos aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições para cada um.

Foram utilizados 20 cordeiros da raça Santa Inês, castrados, com peso corporal

médio de 24,0 kg, com três meses de idade, os quais foram mantidos em baias individuais de

1,5 m2 com piso de cimento varrido, as baias foram providas de comedouros e bebedouros,

dispostos frontalmente em cada baia, e alimentados com dieta contendo 70% da silagem de

cana-de-açúcar com doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de óxido de cálcio (CaO) na matéria natural

e silagem de cana-de-açúcar com ureia (1,5% na matéria natural) e 30% de concentrado

(Tabela 1). A cana-de-açúcar foi picada, em uma picadeira de forragem convencional,

padronizando o tamanho das partículas médio de 1 a 2 cm, misturada em piso de alvenaria

para uma completa homogeneização. Em seguida, foi pesada, separada em quantidades de 140

kg, e depois essas amostras foram tratadas, de acordo com as doses de óxido de cálcio e a

dose de ureia, e acondicionadas em tonéis de 200 Litros, mantendo densidade de 700 kg de

matéria natural/m3, posteriormente, foram lacradas com lona dupla face (preta e branca) de

200 micras. A cana-de-açúcar de variedade RB 72-454, tratada, foi ensilada por um período

de 30 dias, quando foram abertos os tonéis para retirar as amostras.

A cana-de-açúcar, nos tratamentos com CaO, no momento do fornecimento aos

animais, foi corrigida inicialmente com 0,5% de ureia, apenas nos tratamentos com óxido de

cálcio, (mistura de ureia + sulfato de amônio) na relação 9:1, e após o período de adaptação,

foi corrigida para 1% na base da matéria natural, na qual a ureia era adicionada após a

pesagem do volumoso e do concentrado e, em seguida, toda a mistura era homogeneizada. As

dietas foram calculadas com base no NRC (2006), para permitir que houvesse nutrientes

suficientes para um ganho de peso de 150 g/dia. Estas foram balanceadas para conterem

aproximadamente 13% de proteína bruta e 53% de nutrientes digestíveis totais. Quanto à

bromatológica da dieta da cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou ureia, corrigida

com 1% de ureia, para balanceamento da proteína (Tabela 2).

75

Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das dietas (% da

matéria seca)

Ingrediente Concentrado Dieta

Silagem de cana

com CaO

Silagem de cana

com ureia

Silagem de cana

com CaO

Silagem de cana

com ureia

Silagem de cana-de-açúcar1

- - 70,00 70,0

Milho 56,67 65,66 17,00 19,71

Farelo de soja 26,67 27,70 8,00 8,29

Ureia 10,00 ----- 3,00 -----

Sal comum 3,33 3,32 1,00 1,00

Sal mineral2

3,33 3,32 1,00 1,00

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 1/ cana-de-açúcar com diversas doses de óxido de cálcio ou ureia. 2/ Quantidade por kg do produto: Ca = 155 g, P = 65 g, S = 12 g, Mg = 6 g, Na = 115 g, Co = 175 mg, Cu = 100

mg, I = 175 mg, MN = 1400 mg, Ni = 42 mg, Se = 27 mg, Zn = 6000 mg, Fe = 1000 mg.

O experimento durou 77 dias, constituídos de três períodos experimentais, composto

de 21 dias cada um e 14 dias, que foram destinados ao período de adaptação dos animais. No

terceiro período experimental, foram realizadas coletas de fezes durante 5 (cinco) dias.

Nas amostras coletadas, foram realizadas as seguintes análises: matéria seca (MS),

nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro corrigido

para cinza e proteína (FDNcp), fibra em detergente ácido (FDA), proteína insolúvel em

detergente neutro (PIDN), cinza insolúvel em detergente neutro (CIDN), extrato etéreo (EE),

celulose, hemicelulose, lignina, cinza, nutrientes digestíveis totais (NDT), conforme técnicas

descritas por Silva & Queiroz (2002), e a digestibilidade “in situ” da matéria seca por 48

horas (DISMS) (ORSKOV et al., 1980), sendo que a fibra em detergente neutro corrigido para

cinza e proteína (FDNcp) foi segundo Mertens (2002).

76

Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO

(% matéria natural)

Silagem de

cana-de-

açúcar com ureia

1 0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca (%) 41,1 42,6 43,2 43,2 41,5

Proteína bruta2

14,6 14,7 14,6 14,5 14,8

FDN2

55,7 49,9 42,5 37,9 51,2 NDT

2,3 50,6 58,9 60,8 64,3 53,6

1cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2 base da matéria seca; 3 estimado segundo NRC (2006).

FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; NDT: nutrientes digestíveis totais.

As dietas experimentais foram fornecidas à vontade, duas vezes por dia, sendo

realizado o fornecimento às 7h00 e às 15h00, de forma que as mesmas foram ajustadas para

manter sobras de aproximadamente 10% do fornecido. As coletas das amostras ocorreram

durante todo o período experimental (três períodos de 21 dias), quando eram coletados

volumoso, concentrado e a sobra de cada animal, feita diariamente, as quais eram

acondicionadas em sacos plásticos, previamente identificados, referente a cada animal, e

armazenada em freezer para posteriores análises. Todos os animais foram pesados no início

do período experimental e no fim de cada período experimental. A composição química da

cana-de-açúcar com óxido de cálcio ou ureia está disposta na Tabela 3.

Na realização da pré-secagem, as amostras coletadas foram descongeladas,

acondicionadas em vasilhame de alumínio, pesadas e levadas à estufa de 60°C por 72 horas.

Em seguida, foram retiradas da estufa, mantidas à temperatura ambiente por duas horas,

pesadas e moídas em moinho com peneiras contendo crivos de 1 mm e acondicionadas em

vasilhames de plástico com tampa, identificados para posteriores análises.

77

Tabela 3 – Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio

(CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)

Silagem de cana-de-

açúcar com

ureia 0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca (%) 20,1 22,3 23,1 23,2 20,7

Proteína bruta1 1,15 1,23 1,15 1,10 14,9

Fibra em detergente neutro1 74,0 58,6 55,1 48,5 68,6

FDNcp1

71,1 55,7 52,4 45,6 65,6

Fibra em detergente ácido1

63,3 50,3 45,3 40,1 59,4

PIDN1

059 0,51 0,50 0,42 0,81

CIDN1

2,4 2,4 2,3 2,5 2,2

Extrato etéreo1

1,6 1,8 1,8 1,8 1,8

Celulose1 49,0 40,7 33,1 31,1 45,1

Hemicelulose1

10,7 8,2 9,8 8,4 9,2

Lignina1 10,3 8,4 6,8 5,7 9,5

Cinza1 3,6 8,1 10,0 14,0 3,3

DISMS1

51,2 51,1 61,1 65,5 59,6

Nutrientes digestíveis totais2

42,8 54,6 57,3 62,3 47,0 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/

Valores em percentagem da matéria seca. 2/ Estimado segundo o NRC (2006). Proteína indigestível em

detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN), fibra em detergente neutro corrigido

para cinza e proteína (FDNcp), digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS).

No décimo terceiro dia do terceiro período experimental, foi realizada a coleta de

urina, spot, em micção espontânea dos animais, aproximadamente quatro horas após o

fornecimento da dieta matinal. As amostras foram filtradas em gaze, onde uma alíquota de 10

mL da amostra foi separada e diluída em 40 mL de H2SO4 a 0,036N e elaboradas com pH

abaixo de 3 para evitar a destruição bacteriana dos derivados de purina urinários e a

precipitação de ácido úrico. Posteriormente, foram armazenadas a -20ºC e submetidas a

análises para quantificação das concentrações de alantoína, xantina-hipoxantina e ácido úrico,

como descrito por Chen & Gomes (1992).

Para estimar a síntese microbiana ruminal, as análises de derivados de purinas

(alantoína, ácido úrico, xantina-hipoxantina) foram realizadas nas amostras de urina,

conforme metodologias descritas por Chen & Gomes (1992).

78

A excreção diária de creatinina foi estimada usando 17,53 mg/kg de PV

(CARVALHO, 2008) como referência para ovinos no referido experimento, com a seguinte

fórmula: ECCT (mg/L) x VU (L) / (PV);

Em que:

ECCT = excreção de creatinina (mg/L) na amostra de urina (coleta total);

VU = volume urinário médio obtido nos dias de coleta de urina;

PV = peso vivo do animal (kg).

O volume urinário utilizado para estimar a excreção de purinas totais (PT) das

amostras de urina spot foi obtido, para cada animal, nos diferentes tratamentos, dividindo-se a

excreção de creatinina obtida no procedimento anterior, da coleta total (mg/kg de PV), pela

concentração média de creatinina (mg/dL) na amostra de urina spot, multiplicando-se o

resultado pelo respectivo peso vivo do animal.

A coleta de sangue foi realizada na veia jugular, no 14º dia, com aproximadamente

quatro horas após o fornecimento da alimentação da manhã, utilizando-se tubos de

(VacutainerTM

) de 5 mL com EDTA como anticoagulante. Logo em seguida, as amostras

foram transferidas para o laboratório, centrifugadas a 3.500 rpm por 10 minutos e o plasma

acondicionado em ependorfs e mantido congelado a -20ºC para posteriores análises.

Foram realizadas a estimação das concentrações de creatinina, ácido úrico e ureia na

urina e plasma utilizando kits comerciais. A conservação dos valores de ureia em nitrogênio

ureico foi realizada pela multiplicação dos valores obtidos pelo fator 0,4667. Os teores

urinários de alantoína, ácido úrico, xantina- hipoxantina foram estimados por intermédio de

métodos calorimétricos, conforme especificação de Chen & Gomes (1992), sendo o teor de

nitrogênio total estimado pelo método de Kjeldhal (SILVA e QUEIROZ, 2002).

O balanço de nitrogênio, N-retido (g/dia) foi calculado como:

N-retido = N ingerido (g) – N nas fezes (g) – N na urina (g).

A excreção total de derivados de purinas foi calculada pela soma das quantidades de

alantoína, ácido úrico, xantina-hipoxantina, presentes na urina, e alantoína expressa em

mmol/dia. As purinas absorvidas (X, mmol/dia) foram estimadas a partir da excreção de

derivados de purina (Y, mmol/ dia), pela equação proposta por Chen & Gomes (1992) para

ovinos:

Y = 0,84X + (0,150 PV0,75

e-0,25X

)

79

em que: 0,84 = eficiência de absorção de purinas exógenas; 0,150 PV0,75

= excreção

endógena de derivados de purina; e e-0,25X

= taxa de substituição da síntese “do novo” por

purinas endógenas.

A síntese ruminal de proteína microbiana (g NM/dia) foi calculada em função das

purinas absorvidas (X, mmol/dia), utilizando-se a equação descrita por Chen & Gomes

(1992):

NM = 70X

83 x 0,116 x 1000

na qual 70 = conteúdo de nitrogênio nas purinas (mg N/mmol); 0,83 = digestibilidade

intestinal das purinas microbianas; e 0,116 = relação N purina dividido por N total nas

bactérias.

Os resultados foram submetidos à análise de variância, procedendo-se

posteriormente teste Dunnett para avaliar o efeito das doses de óxido de cálcio em relação à

ureia (testemunha), e análise de regressão para o estudo do efeito das doses de CaO, a 5% de

probabilidade. Foi utilizado o programa SAEG - Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas

da UFV (RIBEIRO JR., 2001), para realização das análises estatísticas.

80

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve diferença (P<0,05) para nitrogênio ingerido, nitrogênio digerido e nitrogênio

na urina (g/dia) da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com

ureia (Tabela 4). O nitrogênio ingerido, digerido e na urina apresentaram efeito (P<0,05)

linear decrescente para as doses de óxido de cálcio. O nitrogênio das fezes, o digerido (% do

nitrogênio ingerido), o nitrogênio retido (g/dia) e o nitrogênio retido (% do ingerido e do

digerido) não apresentaram diferença da silagem com óxido de cálcio em relação à silagem

com ureia, como também não houve efeito (P>0,05) em relação às doses de óxido de cálcio.

Esperava-se maior ingestão de nitrogênio, fato que não foi observado neste estudo,

ficando abaixo da média estimada (NRC, 2006), o que acarretou em menor ganho de peso dos

animais. Observa-se que com o aumento das doses do óxido de cálcio, houve diminuição do

nitrogênio ingerido, como mostra a equação linear decrescente. Possivelmente, o aumento das

doses de CaO tenha inibido o consumo de quantidades maiores da silagem de cana-de-açúcar

pelos animais.

Além de ter consumido pouco nitrogênio, houve também uma diminuição na

digestão deste nitrogênio, que apresentou equação linear decrescente com o aumento das

doses de óxido de cálcio, o que limitou ainda mais o ganho de peso dos animais, refletindo em

quantidades decrescentes de nitrogênio na urina, com o aumento das doses (Tabela 4).

Quando há inclusões progressivas de ingredientes proteicos em dietas, há aumento da ingestão

de nitrogênio como evidenciado por Valadares et al. (1997c). Tibo et al. (2000) verificaram

que poderá haver maiores perdas nas concentrações de amônia no rúmen e aumento de

excreção urinária de ureia, quando houver maior inclusão de níveis proteicos na dieta.

Carvalho (2008) trabalhou com cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio em dietas

para ovinos, caprinos, novilhas e vacas em lactação, verificou que a perda urinária chegou a

50%, que foi maior que a perda fecal. Lavezzo et al. (1996) trabalharam com efeitos

nutricionais da substituição do farelo de soja, em dietas de ovinos, relataram que as perdas

urinárias chegaram a 52,3% e que as perdas fecais foram de 24,4%, para o nitrogênio

consumido em dietas de ovinos. Estes resultados corroboram com os deste estudo, que

apresentou perda urinaria de 55% e a fecal de 35%. Contrariamente, Branco et al. (2003)

verificaram menor percentual de perdas fecais (22,5%) em relação ao N-consumido (g/dia).

81

Tabela 4 - Ingestão de nitrogênio (N-Ingerido), excreção de nitrogênio nas fezes (N-fezes), nitrogênio digerido (N-Digerido), excreção de nitrogênio

na urina (N-urina), nitrogênio retido (N-retido) e coeficiente de variação (CV%) em ovinos alimentados com silagem de cana-de-açúcar

com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO

(% matéria natural) Silagem de cana-

de-açúcar com

ureia1

CV (%)2

Equação

0,0 0,8 1,6 2,4

N-Ingerido (g/dia) 12,5 10,7* 11,4* 10,3* 13,7 7,2 Ŷ = 12,0803 – 0,734755**CaO (r2 = 0,62)

N-fezes (g/dia) 4,0 4,4 4,2 4,1 3,9 25,7 Ŷ = 4,2

N-Digerido (g/dia) 8,5 6,3* 7,2* 6,2* 9,8 15,0 Ŷ = 7,95845 – 0,772334**CaO (r2 = 0,56)

N-digerido (% do N-Ingerido)

67,8 59,2 63,3 59,8 71,7 13,4 Ŷ = 62,5

N-urina (g/dia) 7,4 6,3 7,5 4,1* 8,6 23,9 Ŷ = 7,60475 – 1,08678**CaO (r2 = 0,50)

N-retido (g/dia) 1,13 0,03 -0,33 2,1 1,15 219,1 Ŷ = 0,73 N-retido

(% do Ingerido) 8,9 0,50 -1,67 20,4 8,63 203,8 Ŷ = 7,1

N-retido (% do

Digerido) 11,8 -2,4 -6,1 34,3 11,8 256,9 Ŷ = 9,4

* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2 /Coeficiente de variação.

82

Aumentos do teor de proteína bruta da dieta, do consumo de nitrogênio e do tipo de

fonte de nitrogênio utilizado podem refletir na relação entre o nitrogênio excretado pelas vias

urinárias e fecal, é o que foi verificado por Zeoula et al (2003). Enquanto que Sampaio (2007)

verificou que a diminuição na proporção de compostos nitrogenados fecais ocorre à medida

que a ingestão de nitrogênio aumenta.

A perda urinária foi maior na silagem com ureia e na silagem com doses de CaO,

exceto a dose 0,0% de CaO, que foi diferente entre as demais doses, com menor perda.

Observa-se que as dietas foram isoproteicas e as fontes proteicas utilizadas foram a ureia e o

farelo de soja, então é possível que tenha havido perdas na forma de amônia via parede

ruminal e pela rápida hidrólise ruminal da ureia com absorção. O NRC (1996) recomenda que

o nível de amônia no rúmen dependa da disponibilidade ruminal de energia. A concentração

de amônia ruminal, de acordo com Ribeiro et al. (2001), irá depender de um bom

sincronismo da digestão entre carboidrato e proteína e do balanceamento da proteína na ração.

Ou podem ocasionar maiores perdas de amônia, quando estes não são suplementados com

fontes de carboidratos de rápida degradação ruminal (NOCEK & RUSSELL, 1988). Van

Soest (1994) comentou que o limite máximo de capacidade de adaptação às dietas de baixo

nitrogênio é definido por perdas de nitrogênio nas fezes e urina.

Mouro et al. (2007) trabalharam com fonte de carboidratos e percentagem de

volumoso na dietas para ovinos e verificaram que dietas de 40 e 70% de volumoso, quando

foram usadas com ureia nas rações com maior nível de volumoso, proporcionou melhor

utilização das fontes proteicas. Esses mesmos autores observaram o efeito das dietas sobre a

retenção de N, em que observaram valor médio de 5,72 g/dia, diferindo bastante dos

resultados deste estudo que apresentou resultados negativos. Bach et al. (2005) argumentam que

a degradação proteica no rúmen é o resultado de atividade microbiana e depende do tipo de proteína,

da taxa de diluição no rúmen, do pH ruminal, do substrato a ser fermentado, e das espécies

predominantes da flora ruminal.

Os resultados negativos, possivelmente, são devido à baixa ingestão de proteína bruta

pelos animais, o que poder ter interferido no crescimento dos microrganismos ruminal,

refletindo no ganho diário de peso.

Houve diferença (P<0,05) para o nitrogênio ureico na urina e no plasma da silagem

de cana-de-açúcar tratada com CaO em relação à silagem com ureia (Tabela 5). O N ureico na

urina apresentou efeito (P<0,05) linear crescente para as doses de CaO, enquanto que o N

ureico no plasma apresentou efeito (P<0,05) quadrático decrescente na silagem com óxido de

83

cálcio. O N ureico no plasma apresentou ponto de mínima de 12,3 mg/dL com dose de 0,96%

de óxido de cálcio. Não houve diferença das excreções (g/dia e mg/kg de PV) de ureia na

urina e do N ureico na urina na silagem com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia,

nem nas doses de óxido de cálcio.

Observa-se que a correção da PB na cana-de-açúcar com 1% de ureia nos

tratamentos com doses de CaO tenha contribuído para valores similares de excreção de ureia

na urina, que diferiu da silagem com ureia, em razão da ureia apresentar elevada degradação

ruminal. A concentração de N ureico no plasma (mg/dL) apresentou um aumento (12,7; 13,7 e

21,2 mg/dL) para a doses 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO, respectivamente. Mesmo tendo verificado

comportamento quadrático e as dietas sendo isoproteicas, parece que a ureia (nitrogênio não

proteico) tenha diminuído a eficiência da utilização de amônia no rúmen. Valadares et al.

(1997a) e Valadares et al. (1999) verificaram que a concentração plasmática de ureia está

relacionada à ingestão de N e, quanto maior são os valores de N no plasma, mais forte são as

evidências de perdas nitrogenada. Possivelmente, esse comportamento de aumento da

concentração do N ureico no plasma com uso do CaO na cana-de-açúcar tenha proporcionado

elevação de valores acima de 20 mg/dL, podendo indicar perdas de N, pois valores entre 20 e

30 mg/dL de N ureico no plasma já são indicativos de perdas de N, mas, esse valor

encontrado pode não ter prejudicado a fermentação ruminal, contudo, é necessário ter

precauções quanto ao uso de CaO, pois, doses acima de 2,4% pode aumentar a concentração

de N ureico e de plasma e aumentar ainda mais as perdas de N.

Contrariamente aos resultados deste estudo, Carvalho et al. (2010) verificaram que a

excreção de N na urina em g/dia não apresentou nenhum efeito, tanto para concentrações de N

na urina e no plasma, quanto para as excreções de ureia na urina e N na urina, quando

trabalharam com alimentação de caprinos com cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio. O

mesmo resultado foi encontrado por Mouro et al. (2007), que trabalharam com fontes de

carboidratos e porcentagem de volumoso em dietas para ovinos e verificaram que a ingestão

de nitrogênio não foi influenciada pela proporção de volumoso:concentrado ou pela fonte de

carboidrato.

Verifica-se que as excreções não foram influenciadas pela silagem de cana-de-açúcar

com doses de óxido de cálcio, nem pela silagem com ureia. Possivelmente, isso pode ter

acontecido pelos valores das dietas terem sido formulados para apresentarem por volta de

14% de PB (Tabela 2) nas silagens com óxido de cálcio ou ureia. Observa-se ainda que as

concentrações de N-ureico plasmático em ruminantes, de acordo com Ruas et al. (2000), estão

84

diretamente relacionadas ao consumo de proteína, sendo correlacionado com o estado

nutricional proteico dos animais.

Van Soest (1994) comentou que as perdas fecais de nitrogênio em ruminantes, em

média, são de aproximadamente 0,6% do consumo de matéria seca da dieta, sem computar

perdas na urina, de pelos e demais perdas, sendo que, neste estudo, as perdas fecais ficaram

um pouco acima (entre 0,6 a 0,7%) do citado pelo autor. O autor ainda comenta que esse valor

é equivalente a cerca de 3 a 4% da proteína, que é o mínimo absoluto para a adaptação da

dieta do animal, sendo que o limite real é um pouco superior a esse valor, na faixa de 6 a 8%

de proteína bruta nas dietas, nas quais, abaixo deste nível de consumo, ocorre declínio da

eficiência da digestão ruminal, por falta de nitrogênio para as funções microbianas.

Harmeyer & Martens (1980) afirmaram que a quantidade de ureia excretada na urina

é diretamente proporcional à sua concentração no plasma. De acordo com NRC (1984), a

concentração de N-amoniacal no líquido ruminal é de singular importância, para que atenda o

mínimo requerido para o máximo crescimento microbiano e máxima digestão ruminal, assim

como, valores de pH ruminal devem estar na faixa aceitável, 5,5 a 7,0, para o máximo de

crescimento microbiano ideal (6,7 a 7,1), para a digestão ruminal de fibra (CECAVA et al.,

1990).

As excreções (g/dia) de N-ureico na urina na silagem de cana-de-açúcar com CaO

foram de 5,1; 5,8; 5,5 e 6,0%, de acordo com as doses (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%). Dessa forma,

verifica-se que as perdas das excreções foram de 2,6% em relação às concentrações de ureia

na urina. Esses resultados foram verificados por Carvalho et al. (2010), que encontraram

perdas de menor que 1% em caprinos e em ovinos, valores abaixo deste estudo.

85

Tabela 5 - Concentrações de nitrogênio ureico (N-ureico) na urina e no plasma e excreções diárias de ureia e nitrogênio ureico na urina,

coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)

Silagem de cana-de-açúcar

com ureia1

CV

(%)2

Equação de regressão

0,0 0,8 1,6 2,4

Concentrações (mg/dL)

N-ureico na urina 194,8 223,8 189,9 388,7* 162,9 33,0 Ŷ = 167,175 + 68,4490*CaO (r2 = 0,56)

N-ureico no plasma 16,1 12,7* 13,7* 21,2* 16,2 8,6

Ŷ = 16,2090 – 8,16805**CaO + 4,24548**CaO2 (R

2

= 0,99)

Excreções (g/dia)

Ureia na urina 11,0 12,3 11,8 12,9 11,7 10,4 Ŷ = 12,0 N-ureico na urina 5,1 5,8 5,5 6,0 5,5 10,4 Ŷ = 5,6

Excreções (mg/kg PV)

Ureia na urina 480,3 455,6 456,2 585,8 449,9 29,3 Ŷ = 494,5 N-ureico na urina 224,2 212,6 254,9 273,4 210,0 29,3 Ŷ = 241,3

* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (%

matéria natural). 2 /Coeficiente de variação.

86

As excreções urinárias em mmol/dia apresentaram diferenças (P<0,05) da silagem de

cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia, para ácido úrico,

xantina-hipoxantina e purinas totais (mmol/dia) (Tabela 6). O ácido úrico apresentou

diferença da silagem com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia, apenas na dose

2,4% de CaO. Foi observado que as purinas microbianas absorvidas (mmol/dia), os derivados

de purinas: alantoína e ácido úrico (% das purinas absorvidas), a produção microbiana: N

microbiano e PB microbiana (g/dia) e a eficiência microbiana em g de PB/kg de NDT

apresentaram diferença (P<0,05) da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em

relação à silagem com ureia (Tabela 6). Não houve efeito (P>0,05) das excreções urinárias

(mmol/dia) para xantina-hipoxantina e purinas totais quanto à silagem de cana-de-açúcar com

doses de CaO.

As excreções urinárias em mmol/dia de alantoína e ácido úrico apresentaram efeito

(P<0,05) em relação às doses com óxido de cálcio. A alantoína apresentou efeito (P<0,05)

quadrático decrescente com ponto de mínima de 3,2 mmol/dia para a dose de 1,46% de CaO.

O ácido úrico apresentou efeito (P<0,05) quadrático crescente com ponto de máxima de 1,14

mmol/dia para a dose de 0,98% de CaO.

A excreção de alantoína e ácido úrico apresentaram perdas por rotas não renal,

provavelmente, por ter havido maiores concentrações plasmáticas de derivados de purina no

sangue que, de acordo com Chen & Gomes (1992), a alternativa de rota para sua perda é na

urina. Esses derivados de purinas são usados como índice para medir a produção de biomassa

microbiana que, por sua vez, é fonte de proteína para os microrganismos ruminal.

Carvalho et al. (2010) trabalharam com silagem de cana-de-açúcar com CaO para

caprinos e verificaram que não altera a excreção de derivados de purinas e nem melhora a

síntese de compostos nitrogenados nem a eficiência microbiana. Valadares et al. (1999)

encontraram valores de 24,6 a 52,4 mmol/dia para coleta spot. De um modo geral, as

excreções diárias de ovino variam de 0 a 168 mmol/dia PV0,75

(CHENG et al., 1990),

entretanto, em relação a bovinos, a variação vai de 0 a 530 mmol/kg PV0,75

), que pode ser

parcialmente atribuída às diferenças das atividades da xantina oxidase nos tecidos, sendo os

ovinos similar a dos caprinos (0 a 202 mmol/dia PV0,75

), em que a maior proporção é de

alantoína (63,7%), hipoxantina (24,9%), ácido úrico (9,1%) e xantina (2,3%) (BELENGUER

et al., 2002).

Redução linear de purinas, absorvidas com aumento da inclusão de níveis de farelo

de algaroba, foi encontrado por Argolo et al. (2010) ao trabalharem com cabras lactantes com

87

dietas à base de farelo de algaroba, os quais observaram que a excreções situou-se de acordo

com o nível de farelo de algaroba (0; 33,3; 66,7 e 100% na base da matéria natural) 67,3;

65,7; 65,2 e 65,6% para alantoína, acido úrico de 6,5; 6,7; 6,4 e 6,1, e para xantina-

hipoxantina 26,.0; 27,5; 28,3 e 28,2%, respectivamente. Diferente dos resultados encontrados

neste estudo, que não apresentou nenhum efeito.

Os derivados de purina (% das purinas totais) de alantoína e ácido úrico

apresentaram efeito (P<0,05) quadrático decrescente e crescente, respectivamente, na silagem

com óxido de cálcio. A alantoína apresentou ponto de mínimo de 61,8% das purinas com a

dose de 1,09% de óxido de cálcio. O ácido úrico teve o ponto estimado de 18,7% das purinas

totais com a dose 1,28% de óxido de cálcio. Chen et al. (1990) verificaram que a excreção

endógenas do total dos derivados de purina por ruminantes obteve média de 164 mmol/kg

PV0,75

e que os bovinos excretam três vezes mais derivados de purinas que os ovinos, não

existindo diferença entre as idades fisiológicas dos bovinos. Os valores encontrados neste

estudo para ovinos estiveram dentro da variação estimada por Chen & Gomes (1992), de 60 a

80% para alantoína, 10 a 30% para ácido úrico e de 5 a 10% para xantina-hipoxantina, sendo

que este último, neste estudo, ficou acima do estimado pelos autores.

Foi encontrado por Chen et al. (1990) que a xantina oxidase desvia hipoxantina do

ciclo de formação dos derivados de purinas para formar xantina e ácido úrico, que podem ser

posteriormente oxidados na presença de uricase para formar alantoína. Portanto, o ácido úrico

e alantoína não são recuperáveis, sendo que a xantina oxidase é, provavelmente, a enzima

chave que define a perda de derivados de purinas na urina. Comentários similares foram feitos

por Moscardini et al. (1998), os quais verificaram que a síntese microbiana ruminal é bastante

correlacionada à excreção urinária de derivados de purina, quando ocorre o fluxo de

nitrogênio microbiano para o duodeno, que pode ser estimado a partir da excreção urinária de

derivados de purina (alantoína e ácido úrico). As excreções urinárias dos derivados de purina,

composta por alantoína (o mais abundante) e ácido úrico, podem chegar de 89 a 96% da urina

excretada (OJEDA et al., 2005)

A produção microbiana (g/dia) apresentou diferença (P<0,05) entre a silagem de

óxido de cálcio em relação à silagem com ureia para o N microbiano e para a PB microbiana.

Entretanto, não apresentaram efeito para as doses de CaO. A silagem com ureia apresentou

maior produção de proteína microbiana em relação à silagem com CaO, possivelmente, pelo

fato das doses de CaO interferirem na produção microbiana, pelo fato da cal ter elevado o pH

ruminal, apesar de não ter sido medido, o que causa diminuição da atividade ruminal. A

88

eficiência microbiana (g PB/kg de NDT) apresentou diferença da silagem com óxido de cálcio

em relação à silagem com ureia e apresentou efeito (P<0,05) quadrático decrescente na

silagem com óxido de cálcio, em que teve um ponto de mínima de 25,8 g PB/kg de NDT, com

a dose 1,47% de óxido de cálcio, caracterizando que há perda na eficiência microbiana, com

aumento de doses do óxido de cálcio. Apesar do NRC (2001) estimar crescimento satisfatório

dos ovinos, em que a eficiência microbiana deve apresentar valor acima de 130 g PB/kg NDT,

os resultados aqui encontrados não condiz, pois houve perda de peso dos animais, refletindo

em baixa eficiência. Carvalho (2008) não observou diferença entre as doses de óxido de

cálcio, mas encontrou resultados bem próximos tanto para o N-microbiano (4,0 g/dia), quanto

para a PB-microbiana (24,7 g/dia) em ovinos, quando comparado aos encontrados neste

estudo, e Carvalho et al. (2010) não encontrou diferença para a PB/kg de NDT (g/dia) em

caprinos para as doses de CaO. Já Argôlo et al. (2010) verificaram que o N-microbiano

decresceu de forma linear pela inclusão do farelo de algaroba na dieta de cabras e que a PB-

microbiana (g/dia) (g PB/kg NDT) foram de 102,3; 96,2; 81,5 e 73,5 e 91,3; 81,2; 69,7 e 67,1,

respectivamente, para os níveis de 0; 33,3; 66,7 e 100% do farelo de algaroba, e que a síntese

de proteína microbiana ocorre por meio da conversão das diversas formas de compostos

nitrogenados (CABRAL et al., 2004)

Contudo, é necessário salientar que a produção de proteína microbiana está

diretamente relacionada com a produção de microrganismos ruminal, sendo importante

manter as características do rúmen, quanto à temperatura, pH, através de dietas adequadas,

quantidades e qualidade dos ingredientes da dieta para formular ração, bem como o teor de

fibra efetiva, que possibilite a saúde e produção animal.

89

Tabela 6 - Excreções urinárias, purinas totais e purinas absorvidas, derivados de purinas, produção e eficiência microbiana e coeficiente de

variação (CV%), de ovinos alimentados com silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)

Silagem de cana-de-

açúcar com

ureia1

CV

(%)2

Equação de regressão e coeficiente de

determinação 0,0 0,8 1,6 2,4

Excreções urinárias (mmol/dia)

Alantoína 4,5 3,0 3,7 3,5 5,4 29,3

Ŷ = 4,29885 – 1,4954*CaO + 0,513027*CaO2

(R2 = 0,56).

Ácido úrico 0,89 0,95 0,96 0,80* 0,98 7,1

Ŷ = 0,887173 + 0,169652**CaO +

0,0865098**CaO2 (R

2 = 0,94).

Xantina e hipoxantina 1,21* 1,05* 1,18* 0,84* 1,47 12,5 Ŷ = 1,21558 – 0 122348*CaO (r2 = 0,56)

Purinas totais 6,6* 4,9* 5,6* 5,1* 7,87 8,6 Ŷ = 5,6

Purinas microbianas (mmol/dia)

Absorvidas 5,8* 4,7* 5,1* 4,8* 6,85 7,9 Ŷ = 5,1

Derivados de purinas (% das purinas totais) Alantoína

67,9 59,4* 65,7 68,4 68,7 4,5 Ŷ = 66,9883 – 9,49617*CaO + 4,35637**CaO

2

(R2 = 0,67).

Ácido úrico 13,7 19,2* 17,2* 15,5* 12,5 10,2

Ŷ = 14,0858 + 7,15265**CaO – 2,80311**CaO2

(R2 = 0,81)

Xantina e hipoxantina 18,4 21,4 17,2 16,1 18,7 10,1 Ŷ = 18,3 Produção microbiana (g/dia)

N-microbiano 4,2* 3,4* 3,7* 3,5* 4,99 7,9 Ŷ = 3,7

PB-microbiana 26,4* 21,3* 23,2* 21,6* 31,1 7,9 Ŷ = 23,1

Eficiência microbiana

g PB/kg de NDT 42,4 25,7* 29,3* 30,9* 43,9 10,5

Ŷ = 41,2983 – 21,1111**CaO + 7,18199**CaO2

(R2 = 0,84).

* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (%

matéria natural). 2/Coeficiente de variação.

90

4. CONCLUSÃO

Dietas com cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio e fornecida a ovinos

apresentam baixa ingestão de proteína bruta e dos compostos nitrogenados microbianos, e

também reduz a eficiência microbiana.

A ureia apresenta melhor eficiência de produção dos compostos nitrogenados,

retendo mais nitrogênio, e também melhora a produção microbiana.

As excreções de ureia na urina, as purinas e a produção microbiana não são

influenciadas pelo uso de óxido de cálcio na silagem de cana-de-açúcar tratada em dieta para

ovinos.

91

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95

CAPÍTULO 4

Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com cana-de-açúcar ensilada com

óxido de cálcio ou ureia

RESUMO

Avaliou-se o comportamento ingestivo de ovinos alimentados com cana-de-açúcar

ensilada com óxido de cálcio ou ureia. Foram utilizados 20 cordeiros Santa Inês, castrados,

com peso médio de 24,00 kg, distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado,

alojados em baias individuais com 1,5 m2, com cinco tratamentos, quatro níveis com óxido de

cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) e um com ureia (1,5%), ambos na matéria natural. A dieta teve a

proporção de 70:30 volumoso:concentrado. O período experimental durou 77 dias, sendo 14

dias de adaptação da dieta e três períodos de 21 dias. Não foi observada diferença para

consumo em kg de MS e FDN/dia. Verificou-se que a alimentação em minutos/dia e

minutos/kg de MS e FDN de alimentação e ruminação foram semelhantes. Houve efeito, com

regressão linear para a mastigação em horas/dia e para ócio em minutos/dia, entre as doses de

óxido de cálcio. A eficiência de alimentação ruminação (g de MS e FDN/hora) não apresentou

efeito significativo. Não houve diferença para alimentação, ruminação e ócio, número de

períodos/dia, e para alimentação e ruminação, do tempo gasto por período (minutos).

Entretanto, houve efeito linear crescente para o ócio. O consumo médio/período de

alimentação em kg de MS e FDN não apresentou diferença. Silagem de cana-de-açúcar com

óxido de cálcio ou ureia, fornecidos a ovinos, não afetam os períodos de alimentação e

ruminação dos animais. Dietas para ovinos confinados, contendo cana-de-açúcar ensilada com

óxido de cálcio ou ureia, diminuem a ruminação e mastigação e aumenta o ócio dos animais.

Palavras-chave: eficiência de alimentação, ingestão, óxido de cálcio, ruminação

96

CHAPTER 4

Ingestive behavior of sheep fed sugar cane ensiled with urea or calcium oxide

ABSTRACT

We evaluated the feeding behavior of sheep fed sugar cane ensiled with urea or calcium

oxide. The study of 20 Santa Inês lambs, castrated, weighing on average 24.00 kg, distributed in a

completely randomized design, housed in individual stalls with 1.5 m2, with five treatments, four

levels with calcium oxide (0.0; 0.8, 1.6 and 2.4%) and urea (1.5%), both in natural matter. The diet

had a ratio of 70:30 roughage:concentrate. The experimental period lasted 77 days, 14 days of

dietary adaptation and three periods of 21 days. No differences were observed for consumption in kg

of DM and NDF/day. It was found that food in minutes/day and minute/kg DM and NDF were similar

eating and ruminating. There were differences, with linear regression for mastication in hours/day and

for leisure in minutes/day between doses of calcium oxide. The feeding efficiency rumination (g DM

and NDF/hour) had no effect. There was no difference in eating, ruminating and idling No time/day

and food and time spent ruminating per period (minutes). However, there was an increasing linear

effect for leisure. Average consumption/feeding period in kg DM and NDF did not differ. Silage from

sugar cane with calcium oxide or urea supplied the sheep, do not affect the times of eating and

ruminating animals. Confined sheep diets containing sugar cane ensiled with urea or calcium oxide

decrease rumination and chewing and increases the idle of the animals.

Keywords: feeding efficiency, ingestion, calcium oxide, rumination

97

1. INTRODUÇÃO

Foi verificado, por diversos autores (BRANCIO et al., 2003; COSTA et al., 2003;

MENDONÇA et al., 2004; TREVISAN et al., 2005), que o conhecimento das atividades

realizadas com o comportamento ingestivo (alimentação, ruminação e ócio) e dos hábitos

alimentares contribui para a melhoria do bem-estar e do desempenho dos animais que são

mantidos em confinamento, como também dos que estão em pastejo.

O comportamento ingestivo pode propiciar perspectiva para o modelo convencional

de abordagem zootécnica, o que abrirá novos horizontes e trará inovações a situações, ou não

consideradas ou mal compreendidas, quanto às práticas de manejo (SILVA et al., 2004), e que

poderá ser utilizado como ferramenta para avaliação de dietas, possibilitando ajustar o manejo

alimentar dos animais para obtenção de melhor desempenho (MENDONÇA et al., 2004).

Tem-se verificado que animais confinados tendem a consumir elevada quantidade de

concentrados para suprir a demanda energética e proteica para manutenção e produção

(CARVALHO et al., 2008), visto que a qualidade da dieta consumida depende da

possibilidade e capacidade do animal em selecionar uma dieta de alto valor nutritivo

(PRANCHE & PEYRAUD, 1997). Quando parte da dieta é constituída por concentrado, há

maior aporte de nutrientes, devido ao suplemento, e, assim, o comportamento ingestivo dos

animais pode sofrer modificações (BARTON et al., 1992).

Dessa forma, o estudo do comportamento ingestivo pode ser utilizado como

ferramenta para explicar parte das variações na ingestão de alimento (PEREIRA et al., 2007),

visto que, associado ao concentrado, a cana-de-açúcar é utilizada para suplementação

nutricional na época seca, sendo uma alternativa para minimizar a perda de peso ou favorecer

ganho (FERNANDES et al., 2003). Entretanto, pelo seu baixo teor de proteína bruta, fibra de

lenta degradação ruminal e elevado teor de fibra não-degradável, ocorre limitação na ingestão

(PEREIRA et al., 2001). Deve-se levar em conta que volumosos que apresentam conteúdo da

parede celular acima de 60%, com fibra em detergente ácido (FDA) acima de 40% e que

contenham baixos conteúdos de proteína bruta (PB) (menor que 6%) ou digestibilidade da

matéria seca (MS) (entre 40 e 50%), pode resultar em baixos níveis de consumo voluntário

(REIS & RODRIGUES, 1993), pelo feto de enchimento ruminal e saturação da capacidade de

ruminação do animal (PIRES et al., 2006).

Vários aditivos têm sido utilizados na ensilagem de cana-de-açúcar com bons

resultados (FREITAS et al., 2006). O uso da ureia como aditivo pode melhorar a qualidade da

98

silagem de cana-de-açúcar, as perdas de matéria seca e melhorar a composição química

(LIMA et al., 2002), enquanto que o óxido de cálcio pode reduzir os constituintes da parede

celular, preservar os nutrientes solúveis e diminuir perdas do valor nutritivo da cana-de-açúcar

(BALIEIRO NETO et al., 2007). Dessa forma, o tratamento químico de alimentos volumosos

tem mostrado que o valor nutritivo de diferentes volumosos pode ser melhorado com a

utilização de aditivos químicos (SANTOS et al., 2004; REIS et al., 2001).

Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o comportamento ingestivo de

ovinos recebendo cana-de-açúcar ensilada com dose de óxido de cálcio ou ureia, como parte

da dieta.

99

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no setor de ovinocultura “Ensaios Nutricionais de

Ovinos e Caprinos” e no “Laboratório de Forragicultura e Pastagens” da Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia, no Campus de Itapetinga, BA.

Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com cinco tratamentos,

com as doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO na matéria natural da cana-de-açúcar e um

tratamento com a utilização de 1,5% de ureia, também, na matéria natural da cana-de-açúcar,

todos aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições por tratamento.

As baias foram providas de comedouros e bebedouros, dispostos frontalmente em

cada baia. Os animais foram mantidos em baias individuais de 1,5 m2 com piso cimentado e

alimentados com dieta contendo 70% da silagem de cana-de-açúcar, com doses de 0,0; 0,8;

1,6 e 2,4% de óxido de cálcio (CaO) na matéria natural da cana-de-açúcar e silagem de cana-

de-açúcar com ureia (1,5% na matéria natural), e 30% de concentrado (Tabela 1), cuja

composição das dietas estão na Tabela 2. Para confecção das silagens, a cana-de-açúcar foi

picada, em uma picadeira de forragem convencional, padronizando as partículas com tamanho

de 1 a 2 cm, misturada em piso de alvenaria para uma completa homogeneização. Depois foi

pesada, separada em quantidades de 140 kg, posteriormente, essas amostras foram tratadas de

acordo com as doses de óxido de cálcio e a dose de ureia, e acondicionadas em tonéis de 200

litros, mantendo densidade de 700 kg de matéria natural/m3, posteriormente, foram lacradas

com lona dupla face (preta e branca) de 200 micras. A cana-de-açúcar, variedade RB 72-454,

foi ensilada por um período de 30 dias, quando foram abertos os silos para retirada das

amostras.

Após a compactação e antes do fechamento dos silos, foram retiradas as amostras do

centro de cada silo, a uma profundidade de aproximadamente 40 cm. As amostras tinham

peso de aproximadamente 500 g. Ao final dos 30 dias, cada tonel do silo foi aberto e retirado

uma amostra.

A silagem de cana-de-açúcar, nos tratamentos com CaO, no momento do

fornecimento aos animais, foi corrigida para 1% de ureia (mistura de ureia + sulfato de

amônio) na relação 9:1, em seguida, toda mistura foi homogeneizada. As dietas foram

calculadas com base no NRC (2006), para permitir que houvesse nutrientes (NDT e PB)

suficientes para um ganho de peso de 150 g/dia. Estas foram balanceadas para conterem

aproximadamente 13% de proteína bruta e 53% de nutrientes digestíveis totais.

100

Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das dietas (% da

matéria seca)

Ingrediente Concentrado Dieta

Silagem de cana

com CaO

Silagem de cana

com ureia

Silagem de cana

com CaO

Silagem de cana

com ureia

Silagem de cana-de-açúcar1

- - 70,00 70,0

Milho 56,67 65,66 17,00 19,71

Farelo de soja 26,67 27,70 8,00 8,29

Ureia 10,00 ----- 3,00 -----

Sal comum 3,33 3,32 1,00 1,00

Sal mineral2

3,33 3,32 1,00 1,00

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 1/ cana-de-açúcar com diversas doses de óxido de cálcio ou ureia. 2/ Quantidade por kg do produto: Ca = 155 g, P = 65 g, S = 12 g, Mg = 6 g, Na = 115 g, Co = 175 mg, Cu = 100

mg, I = 175 mg, MN = 1400 mg, Ni = 42 mg, Se = 27 mg, Zn = 6000 mg, Fe = 1000 mg.

O experimento durou 77 dias, constituídos de três períodos experimentais, composto

de 21 dias cada um, e 14 dias que foram destinados ao período de adaptação dos animais. No

terceiro período experimental, foram realizadas coletas de fezes retal, durante 5 (cinco) dias.

As dietas experimentais foram fornecidas à vontade, duas vezes por dia, sendo

realizado o fornecimento às 7h00 e às 15h00, de forma que as mesmas foram ajustadas para

manter sobras de aproximadamente 10% do fornecido (Tabela 2). As coletas das amostras

ocorreram durante todo o período experimental (três períodos de 21 dias), quando eram

coletados volumoso, concentrado e a sobra de cada animal, diariamente, os quais eram

acondicionados em sacos plásticos, previamente identificados, referente a cada animal, e

armazenados em freezer para posteriores análises. Todos os animais foram pesados no início

do período experimental e no fim de cada período experimental. A composição química da

cana-de-açúcar com ureia e óxido de cálcio está disposta na Tabela 3, a qual foi calculada

para ser isoproteica.

Nas amostras coletadas, foram realizadas as seguintes análises: matéria seca (MS),

nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA),

proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN), cinza insolúvel em detergente neutro

(CIDN), extrato etéreo (EE), celulose, hemicelulose, lignina, cinza, nutrientes digestíveis

totais (NDT), conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), e a digestibilidade “in

101

situ” da matéria seca por 48 horas (DISMS) (ORSKOV et al., 1980). A fibra em detergente

neutro foi corrigida para cinza e proteína (FDNcp), segundo Mertens (2002).

Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)

Silagem de cana-de-

açúcar com

ureia1 0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca (%) 41,1 42,6 43,2 43,2 41,5 Proteína bruta

2 14,6 14,7 14,6 14,5 14,8

FDN2

55,7 49,9 42,5 37,9 51,2

NDT2,3

50,6 58,9 60,8 64,3 53,6 1cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2 base da matéria seca; 3 estimado segundo NRC (2006).

FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; NDT: nutrientes digestíveis totais.

Na realização da pré-secagem, as amostras coletadas foram descongeladas,

acondicionadas em vasilhame de alumínio, pesadas e levadas à estufa de 60°C, por 72 horas.

Em seguida, foram retiradas da estufa, mantidas à temperatura ambiente por duas horas,

pesadas e moídas em moinho com peneiras, contendo crivos de 1 mm, e acondicionadas em

vasilhame de plástico com tampa, identificados para posteriores análises.

Para avaliar o comportamento ingestivo, os animais foram submetidos a períodos de

observação visual, durante um dia do período experimental, determinando o comportamento

alimentar durante 24 horas/dia. De acordo com Fischer et al. (1998), o tempo despendido de

alimentação, ruminação e ócio foram submetidos a períodos de observação visual para avaliar

o comportamento ingestivo durante um dia, no último período experimental. As observações

foram feitas no 17o dia do período experimental. Os animais foram observados durante 24

horas, em intervalos de 5 minutos, para a avaliação dos tempos de alimentação, ruminação e

ócio. Foi adaptado, durante três dias, com luz artificial à noite, antes da observação, e durante

a observação noturna, o ambiente foi mantido com iluminação artificial.

102

Tabela 3 – Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio

(CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)

Silagem de cana-de-

açúcar com

ureia 0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca (%) 20,1 22,3 23,1 23,2 20,7

Proteína bruta1 1,15 1,23 1,15 1,10 14,9

Fibra em detergente neutro1 74,0 58,6 55,1 48,5 68,6

FDNcp1

71,1 55,7 52,4 45,6 65,6

Fibra em detergente ácido1

63,3 50,3 45,3 40,1 59,4

PIDN1

059 0,51 0,50 0,42 0,81

CIDN1

2,4 2,4 2,3 2,5 2,2

Extrato etéreo1

1,6 1,8 1,8 1,8 1,8

Celulose1 49,0 40,7 33,1 31,1 45,1

Hemicelulose1

10,7 8,2 9,8 8,4 9,2

Lignina1 10,3 8,4 6,8 5,7 9,5

Cinza1 3,6 8,1 10,0 14,0 3,3

DISMS1

51,2 51,1 61,1 65,5 59,6

Nutrientes digestíveis totais2

42,8 54,6 57,3 62,3 47,0 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/

Valores em percentagem da matéria seca. 2/ Estimado segundo o NRC (2006). Proteína indigestível em

detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN), fibra em detergente neutro corrigido

para cinza e proteína (FDNcp), digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS).

No dia seguinte, foi realizada a contagem do número de mastigações merícicas e do

tempo despendido na ruminação de cada bolo ruminal com a utilização de cronômetro digital.

Durante a avaliação, foi feita observações de três bolos ruminais em três períodos diferentes

do dia (10-12h; 14-16h e 19-21h), calculando-se a média do número de mastigações merícicas

e o tempo gasto por bolo ruminal.

Para estimação das variáveis comportamentais, alimentação e ruminação (min/kg MS

e FDN), eficiência alimentar (g MS e FDN/hora), eficiência em ruminação (g de MS e

FDN/bolo e g MS e FDN/hora) e consumo médio de MS e FDN por período de alimentação,

considerou-se o consumo voluntário de MS e FDN do 17º e 18º dias do período experimental,

sendo as sobras computadas entre o 17º e 18º dias.

O número de bolos ruminados diariamente foi obtido dividindo-se o tempo total de

ruminação (minuto), dividido pelo tempo médio gasto na ruminação de um bolo. A

103

concentração de MS e FDN em cada bolo (g) ruminado foi obtida a partir da divisão da

quantidade de MS e FDN, consumida (g/dia) pelo número de bolos ruminados diariamente.

A eficiência de alimentação e ruminação foi obtida utilizando-se o seguinte método:

EALMS = CMS/TAL;

EALFDN = CFDN/TAL;

em que: EALMS (g de MS consumida/h); EALFDN (g FDN consumida/h) =

eficiência de alimentação; CMS (g) = consumo diário de matéria seca; CFDN (g) = consumo

diário da FDN; TAL = tempo gasto diariamente em alimentação.

ERUMS = CMS/TRU;

ERUFDN = CFDN/TRU;

em que: ERUMS (g MS ruminal/h); ERUFDN (g da FDN ruminal/h) = eficiência de

ruminação e TRU (h/dia) = tempo de ruminação.

TMT = TAL + TRU

em que: TMT (minuto/dia) = tempo de mastigação total.

Estes procedimentos foram obtidos pela metodologia descrita por Bürger et al.

(2000).

O número de períodos de alimentação, ruminação e ócio foram contabilizados pelo

número de sequências de atividade observadas na planilha de anotações. A duração média

diária desses períodos de atividades foi calculada dividindo-se a duração total de cada

atividade (alimentação, ruminação ócio em min/dia) pelo seu respectivo número de períodos

discretos.

Os resultados foram submetidos à análise de variância, procedendo-se

posteriormente teste Dunnett para avaliar o efeito das doses de óxido de cálcio em relação à

ureia (testemunha), e análise de regressão para o estudo do efeito das doses de CaO, a 5% de

probabilidade. Foi utilizado o programa SAEG - Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas

da UFV (RIBEIRO JR., 2001), para realização das análises estatísticas.

104

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não houve diferença (P>0,05) no consumo de MS e FDN (em kg) dos animais

alimentados com a silagem de cana-de-açúcar com CaO em relação à silagem com ureia, no

período de 24 horas (Tabela 4), em que o valor médio de consumo foi de 0,625 e 0,300 kg de

MS e FDN, respectivamente. Não houve diferença (P>0,05) para o tempo despendido com

alimentação e ruminação em minutos/dia, minutos/kg de MS e minutos/kg de FDN, da

silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia, como

também não houve efeito (P>0,05) das doses com óxido de cálcio na silagem de cana-de-

açúcar. Não houve diferença da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à

silagem com ureia para a mastigação em número de bolo, segundo/bolo, nº/dia e minutos/kg

de MS e FDN. Também não houve efeito (P>0,05) quanto às doses de óxido de cálcio na

silagem sobre as variáveis citadas anteriormente (Tabela 4).

Houve diferença (P<0,05) da mastigação em horas/dia na silagem de cana-de-açúcar

com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia. Houve efeito (P<0,05) linear

decrescente na mastigação (horas/dia) da silagem quanto às doses de óxido de cálcio. Os

tempos despendidos em alimentação, ruminação (minutos/dia), bem como os tempos de

alimentação e ruminação (minutos/kg de MS e da FDN), verificados neste estudo (Tabela 4),

foram maiores que os encontrados por Macedo Jr et al. (2004), que avaliaram níveis da FDN

na ração (8,67; 17,34; 26,01 e 34,69%) sobre o comportamento ingestivo em ovelhas Santa

Inês. Verificam-se evidências que o efeito do óxido de cálcio sobre a cana-de-açúcar foi em

função do aumento das doses do aditivo químico que, por sua vez, fez com que os animais

necessitassem de menos horas por dia para mastigar a silagem de cana-de-açúcar à medida

que as doses do CaO foram aumentando. Isso só foi possível pela ação da cal sobre os

constituintes da parede celular, que permitiram não só diminuir o FDN (Tabela 2) da dieta

experimental, como também o FDA e a lignina (Tabela 3) que reduziram seus valores.

Houve diferença (P<0,05) do ócio em minutos/dia na silagem de cana-de-açúcar em

relação à silagem com ureia, como também, foi verificado efeito (P<0,05) linear crescente

para o tempo despendido com ócio, de acordo com a inclusão do óxido de cálcio na cana-de-

açúcar. Os animais alimentados com a silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio

apresentaram atividade de ócio média de 641,25 minutos/dia. O menor tempo despendido

com ócio mostra que os ovinos tiveram mais tempo para promover a mastigação. À medida

que as doses de CaO aumentaram, mais tempo foi despendido com o ócio, comprovando a

105

hipótese de que o menor teor de FDN na cana-de-açúcar ensilada com maiores doses de CaO

provocou diminuição na mastigação. Fato que foi constatado por Mertens (1997) em que a

elevação de quantidade de fibra nas dietas estimula a atividade mastigatória, ratificando os

resultados encontrados neste estudo, assim como os obtidos por Carvalho et al. (2006a), que

trabalharam com níveis da FDN (20, 27, 34, 41 e 48%), provenientes de forragem em dietas

de cabras na avaliação do comportamento ingestivo, em que constataram o aumento nos

tempos de ingestão, ruminação e diminuição do tempo de ócio com a elevação dos níveis da

FDN na ração.

Já quanto ao tempo despendido com ócio, os resultados apresentados neste estudo

(média de 641,3 min/dia) foram menores que os de Carvalho et al. (2006a), que utilizaram

cinco dietas com cinco níveis de fibra em detergente neutro (20, 27, 34, 41 e 48%), utilizando

como volumoso o tifton-85 na dieta de cabras Alpinas em lactação e encontraram média de

720 min/dia, porém, superiores aos encontrados por Macedo et al. (2007), que avaliaram o

comportamento ingestivo de ovinos em dietas contendo bagaço de laranja em substituição à

silagem de sorgo, e relataram ponto de mínima de 335,02 min/dia. Não houve efeito (P>0,05)

para as atividades de alimentação e ruminação em min/dia. Embora o teor de FDN na silagem

de cana-de-açúcar com CaO tenha decrescido (Tabela 2), não foi suficiente para provocar

alterações nas atividades de alimentação e ruminação em min/dia. A silagem com ureia

também não provocou alterações nas atividades supracitadas, estando de acordo com os

achados de Cardoso et al., (2006) e Carvalho et al., (2006a).

Verificou-se, no presente estudo, que foram gastas 7,43 horas média de ruminação,

com 70% de volumoso e 30% de concentrado, valores similares foram encontrados por

Carvalho et al. (2004) com média de 7,60 horas/dia, que trabalharam com dieta à base de

silagem de milho; por Alves et al. (2010), que trabalharam com ovinos e dieta de farelo de

algaroba com níveis de ureia, o tempo de ruminação foi de 7,81 horas/dia; Macedo et al.

(2007), que trabalharam com ovinos recebendo dietas com diferentes níveis de bagaço de

laranja em substituição à silagem de sorgo e obtiveram 8,16 horas/dia de ruminação; e por

Mendes et al. (2010), que obtiveram valores menores (médio de 4,91 horas/dia), quando

trabalharam com cordeiros com dieta de bagaço de cana-de-açúcar in natura. Ainda é

possível verificar que os resultados dos tempos desprendidos com mastigação merícicas,

apresentadas neste estudo, corroboram com os de Carvalho et al (2006b) quanto ao nº/dia,

nº/bolo e horas/dia (com efeito linear).

106

Tabela 4 - Consumos de matéria seca (CMS) e consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), das atividades de alimentação, ruminação e

ócio e coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)

Silagem de cana-de-açúcar

com ureia1

CV (%)2 Equação de regressão e coeficiente de

determinação 0 0,8 1,6 2,4

Consumo em 24 horas (kg)

Matéria seca 0,577 0,727 0,622 0,553 0,643 20,3 Ŷ = 0,620

FDN 0,291 0,294 0,319 0,277 0,319 14,6 Ŷ = 0,295

Alimentação

Min/dia 391,25 347,50 308,75 273,75 378,75 24,8 Ŷ = 330,4 Min/kg MS 708,08 474,07 565,90 502,82 607,12 36,2 Ŷ = 562,7

Min/kg FDN 1430,39 1169,39 975,17 986,85 1231,02 32,6 Ŷ = 1140,5

Ruminação

Min/dia 553,75 465,00 380,00 383,75 511,25 20,6 Ŷ = 445,7

Min/kg MS 1003,19 640,78 696,27 709,75 803,58 32,2 Ŷ = 762,5

Min/kg FDN 2022,78 1585,77 1206,76 1388,11 1626,85 26,7 Ŷ = 1550,9

Mastigação

Nº/bolo 66,00 68,25 66,00 68,75 63,50 22,6 Ŷ = 67,3

Seg/bolo 45,14 49,19 48,42 51,64 45,64 16,5 Ŷ = 48,6

Nº/dia 49051 39251 31671 30249 42133 27,1 Ŷ = 48088,8 Horas/dia 15,75 13,54 11,48 10,96* 14,83 15,2 Ŷ = 15,3979 – 2,05469CaO** (r

2 = 0,94).

Min/kg MS 1711,27 1114,85 1262,18 1212,57 1410,70 30,4 Ŷ = 1325,3

Min/kg FDN 3453,17 2755,17 2181,93 2374,96 2857,87 24,7 Ŷ = 2691,3

Ócio

Min/dia 495,00* 627,50* 751,25* 785,50* 550,0 19,0 Ŷ = 516,125 + 123,281CaO** (r2 = 0,94).

* Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia

(% matéria natural). 2/Coeficiente de variação. (ns), (*) e (**) = não significativo; significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.

107

Estes autores avaliaram o comportamento ingestivo de ovinos com dietas compostas de

silagem de capim-elefante, amonizado ou não, e subprodutos agroindustriais. Essa quantidade

maior de horas por dias em relação a outros ruminantes foi relatada por Van Soest (1994), em

que os pequenos ruminantes são especializados na seleção de alimentos e que a capacidade de

digerir a fibra de certos ruminantes como bovinos, ovinos e caprinos é oposta às respectivas

habilidades de seleção alimentar, sendo que os ruminantes mais seletivos tendem a utilizarem

mal os carboidratos fibrosos e a utilizarem melhor o concentrado. Possivelmente, o óxido de

cálcio não foi eficiente para diferenciar os tempos de ruminação em segundo/bolo, visto que a

FDN da silagem de cana-de-açúcar na dieta diminuiu em função das doses de CaO (Tabela 2),

considerando que o tempo que os ruminantes gastam para mastigar o bolo alimentar é

proporcional à quantidade de parede celular na dieta em que a taxa de ruminação está

diretamente relacionada com o tamanho do animal (VAN SOEST, 1994).

Foi verificado por Colenbrander et al. (1991) que o tempo de mastigação tem sido

uma das medidas mais estudadas para avaliar a efetividade da fibra, decorrente de seus

efeitos, sobre a produção de saliva, o processo de trituração dos alimentos, o consumo de MS,

o ambiente ou a função ruminal (pH e perfil dos AGVs) e a percentagem da gordura do leite.

Mertens (2001) constatou que a efetividade da fibra na manutenção da percentagem de

gordura do leite é diferente da efetividade de fibra em estimular a atividade de mastigação, em

que os ruminantes requerem um teor mínimo de 10% de FDN na dieta para manter a

fisiologia ruminal e a saúde do animal. Valor menor que este provocará mudanças abruptas na

dieta e, por certo, pode resultar em baixo pH e fermentação ruminal alterada. O autor relata

que dietas com conteúdo de FDN efetiva acima de 22% da MS e com pelo menos 16% de

FDN, fisicamente efetivo, parecem ser adequadas para manter a saúde animal.

Não houve diferença (P>0,05) quanto à eficiência de alimentação e ruminação

(Tabela 5) na silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia,

como também não foi verificado efeito (P>0,05) na silagem de cana-de-açúcar para as doses

de óxido de cálcio. Possivelmente, pela ausência de efeito observado nas atividades de

alimentação e ruminação, vez que estas são utilizadas para estimar as eficiências. Outra

hipótese para a ausência de efeito significativo, verificado para as eficiências, pode ter sido

em função de tamanho de partículas da cana-de-açúcar e do concentrado, que foram os

mesmos em todas as dietas, em que não exerceram influência nos tempos das atividades de

ruminação e mastigação, em diminuir as partículas dos alimentos (CARVALHO, 2008).

Miranda et al. (1999) comprovaram tal fato ao trabalharem com cana-de-açúcar como único

108

volumoso em novilhas e não encontraram diferenças na eficiência de alimentação de MS e da

FDN, possivelmente, por existir um único volumoso e concentrado para todos os animais,

com tamanho de partículas semelhantes. Outros resultados de trabalho com subprodutos e

volumosos diferentes da cana-de-açúcar foram relatados por Carvalho et al. (2006b), que não

observaram diferença significativa na eficiência de alimentação em g de MS e FDN/hora com

capim-elefante amonizado e não amonizado, com farelo de cacau 40% e torta de dendê 40%.

Observou-se valores médios de eficiência de alimentação (EAL), em g de MS/hora e

g de FDN/hora, de 120,55 e 57,11, respectivamente (Tabela 5). A média da eficiência de

ruminação ERU foi de 589,0 bolos (nº/dia), 1,19 g MS/bolo, 0,56 g de FDN/bolo, 87,95 g de

MS/hora e 41,81 g de FDN/hora.

Tabela 5 Eficiências de alimentação e ruminação e coeficiente de variação (CV%) em ovinos

alimentados com dietas contendo silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio

(CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (%

matéria natural)

Silagem de

cana-de-açúcar com

ureia1

CV (%)

2

Equação de

regressão e coeficiente de

determinação 0 0,8 1,6 2,4

Eficiência de alimentação

g MS/hora 88,47 151,36 128,88 129,53 104,52 43,3 Ŷ = 124,6 g FDN/hora 44,54 60,80 63,97 64,40 51,84 33,5 Ŷ = 58,4

Eficiência de ruminação

Bolos

(nº/dia) 745,44 570,73 478,21 461,47 689,17 25,3 Ŷ = 564,0

g MS/bolo 0,80 1,36 1,55 1,28 0,96 48,2 Ŷ = 1,25

g FDN/bolo 0,40 0,55 0,75 0,62 0,48 35,3 Ŷ = 0,58

g MS/hora 63,22 100,41 111,45 87,89 76,75 42,1 Ŷ = 90,8 g FDN/hora 31,74 40,56 55,13 43,61 38,02 30,5 Ŷ = 42,8 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/

Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2/Coeficiente de variação. (ns), (*) e (**) = não

significativo; significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.

Não houve diferença (P>0,05) nas observações do número de períodos/dia de

alimentação, ruminação e ócio, e para o tempo gasto por período (em minutos) de alimentação

e ruminação na silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com

ureia, como também não houve efeito (P>0,05) nas silagens com doses de óxido de cálcio.

Entretanto, para o tempo gasto por período com ócio, houve efeito (P<0,05) linear crescente

na silagem de cana-de-açúcar para as doses de óxido de cálcio. Contudo, na silagem de cana

com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia, não houve diferença (P>0,05) para o

tempo gasto por período (minutos) (Tabela 6). O consumo médio por período de alimentação

109

em kg de MS e FDN foi semelhante (P>0,05) em relação à silagem de cana-de-açúcar com e

óxido de cálcio em relação à silagem com ureia. O consumo médio de MS e FDN não foram

afetados (P>0,05) pelas doses de óxido de cálcio na cana-de-açúcar e os valores médios das

silagens de cana-de-açúcar encontrados foram 0,029 e 0,014 kg de MS e FDN,

respectivamente.

Foi verificado que o tempo gasto por período de alimentação e do número de

períodos de alimentação não foram diferentes e não influenciaram no consumo médio por

períodos de MS e FDN na silagem de cana-de-açúcar com adição de óxido de cálcio, em que

foram iguais. Os resultados aqui apresentados são concordantes com as constatações feitas por

Carvalho (2008), ao trabalhar com cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio em dietas de

ovinos, caprinos, novilhas e vacas em lactação, observando-se que não houve diferença no

consumo médio por período de alimentação da MS e FDN.

A ruminação tem por objetivo diminuir o tamanho das partículas dos alimentos para

facilitar a degradação, entretanto, o teor de fibra e a forma física dos mesmos afetam o tempo

de ruminação (VAN SOEST, 1994). As dietas (Tabela 2) apresentaram diminuição do FDN

na medida em que aumentou as doses de CaO, com o mesmo tamanho das partículas, tanto da

cana-de-açúcar (1 a 2 cm) como para o concentrado e sua relação volumoso:concentrado, em

que foi usado apenas um único tipo de volumoso e de concentrado para todos os animais.

Verifica-se, então, que a inclusão de ureia na silagem da cana-de-açúcar e na dieta deveria

disponibilizar maior quantidade de nitrogênio para os microrganismos do rúmen, o que

aumentaria a eficiência microbiana, melhorando a digestibilidade da MS e FDN, e

aumentando o consumo médio por período de alimentação e diminuindo o tempo de

ruminação, que, neste caso, não apresentou diferença entre as silagens pela semelhança entre

as dietas, as quais foram isoproteicas. No consumo médio por período, apesar de não ter sido

observada diferença entre as silagens e entre os tratamentos com CaO, constata-se que muitas

variações podem ter acontecido, não provocando diferença entre os tratamentos, exatamente

em função das variações nos teores de fibra e energia entre as silagens.

110

Tabela 6 - Número e tempo médio despendido por período nas atividades de alimentação e ruminação e ócio e consumo de MS e FDN por

período de alimentação e coeficiente de variação (CV%) de ovinos alimentados com dietas contendo silagem de cana-de-açúcar

com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO

(% matéria natural) Silagem de cana-

de-açúcar com

ureia1

CV (%)2 Equação de regressão e coeficiente de

determinação 0 0,8 1,6 2,4

Número de períodos (nº/dia)

Alimentação 21,25 25,00 23,50 21,75 19,75 25,6 Ŷ = 22,9

Ruminação 26,50 25,00 23,75 24,25 21,25 20,7 Ŷ = 24,9 Ócio 38,00 43,75 42,75 41,00 33,75 17,0 Ŷ = 41,4

Tempo gasto por período (min)

Alimentação 19,75 13,60 13,90 12,61 19,74 28,4 Ŷ = 15,0

Ruminação 22,55 18,40 15,73 16,42 24,03 25,5 Ŷ = 18,3 Ócio

2 13,48 14,40 17,50 19,24 16,68 16,2 Ŷ = 13,0943 + 2,54869**CaO (r

2 = 0,94).

Consumo médio por período de alimentação (kg)

MS 0,029 0,031 0,026 0,0,26 0,034 28,4 Ŷ = 0,028

FDN 0,015 0,013 0,014 0,013 0,017 29,5 Ŷ = 0,014

* Médias seguidas de uma mesma letra, em uma mesma linha, não diferem pelo teste Dunnett a 5% de probabilidade. (ns), (*) e (**) = não

significativo; 1/ Cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural).

2/Coeficiente de variação. (ns), (*) e (**) = não significativo;

significativo a 0,05 e 0,01 de probabilidade, respectivamente.

111

4. CONCLUSÕES

Silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) ou ureia,

quando fornecidos a ovinos, não afetam os tempos de alimentação e ruminação dos animais.

Dietas para ovinos confinados, contendo cana-de-açúcar ensilada com óxido de

cálcio em doses de até 2,4% ou ureia na dose de 5%, diminuem a ruminação e mastigação, e

aumenta o ócio dos animais.

112

5. REFERÊNCIAS

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115

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116

CAPÍTULO 5

Avaliação de intervalos entre observações para estudo do comportamento ingestivo em

ovinos

RESUMO

O objetivo neste estudo foi avaliar o intervalo de registro do comportamento

ingestivo de ovinos Santa Inês. Foram utilizados 20 cordeiros da raça Santa Inês, castrados,

com peso médio de 24,0 kg, distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado,

alojados em baias individuais com 1,5 m2, com cinco tratamentos, quatro níveis com óxido de

cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) e um com ureia (1,5%) na ensilagem de cana-de-açúcar, ambos

na matéria natural. A dieta ofertada teve a proporção de 70:30 volumoso:concentrado. O

período experimental foi de 77 dias, sendo 14 dias de adaptação da dieta e três períodos de 21

dias. Os animais foram observados por um período de 24 horas/dia no final do terceiro

período experimental. Foram testados os intervalos de 10, 15 e 20 minutos, comparado com o

registro de observação de cinco minutos. O uso de óxido de cálcio ou ureia no tratamento da

cana-de-açúcar ensilada não modificou os tempos diários de alimentação, ruminação e ócio,

bem como a eficiência de refeição e ruminação. Houve efeito no número de períodos e no

tempo gasto/período de alimentação, ruminação e ócio nos demais intervalos em relação ao de

5 minutos. Intervalos entre observações de 10, 15 e 20 minutos comprometem a avaliação dos

resultados do comportamento ingestivo de ovinos por afetar o número de períodos e tempo

despendidos nas atividades de alimentação, ruminação e ócio. Recomenda-se o intervalo de

cinco minutos entre observações para estudo do comportamento ingestivo em ovinos.

Palavras-chave: alimentação, cal, escala, ócio, ruminação, silagem

117

CHAPTER 5

Evaluation of intervals between observations to study the feeding behavior in sheep

ABSTRACT

The aim of this study was to evaluate the logging interval of feeding behavior of Santa Inês

sheep. We used 20 lambs, Santa Ines, castrated, with an average weight of 24.0 kg, allotted in a

randomized, housed in individual stalls with 1.5 m2, with five treatments, four levels with calcium

oxide (0.0, 0.8, 1.6 and 2.4%) and urea (1.5%) in the ensiling of sugar cane, both in natural matter.

The diet was offered the 70:30 ratio roughage:concentrate. The experiment lasted 77 days, 14

days of dietary adaptation and three periods of 21 days. The animals were observed for a period of 24

hours/day late in the third trial. Were tested at intervals of 10, 15 and 20 minutes, compared with the

record of observation of five minutes. The use of calcium oxide or urea in the treatment of sugar cane

silage did not change the times daily eating, ruminating and resting, and the efficiency of meals and

rumination. There was an effect on the number of periods and time spent/feeding, ruminating and

resting in the other intervals in relation to 5 minutes. Intervals between observations 10, 15 and 20

minutes to undertake evaluation of the results of feeding behavior in sheep by affecting the number of

periods and time spent in activities of feeding, ruminating and resting. We recommend the five-minute

interval between observations in study of feeding behavior in sheep.

Keywords: alimentation, lime, scale, rest, rumination, silage

118

1. INTRODUÇÃO

Com os recentes avanços na área de etologia, a escolha de um adequado intervalo de

tempo para o registro do comportamento ingestivo, que permita a observação de maior

número de animais e que não se contraponha à avaliação precisa dos aspectos

comportamentais, tem sido amplamente discutida e estudada (CARVALHO et al., 2007b).

Os aspectos comportamentais são de grande relevância para o bom entendimento do

consumo diário de alimentos, fazendo-se necessário estudar seus componentes

individualmente, que podem ser descritos pelo número de refeições consumidas por dia, pela

duração média das refeições e pela velocidade de alimentação de cada refeição. Cada um

desses processos é o resultado da interação do metabolismo do animal e das propriedades

físicas e químicas da dieta, estimulando receptores da saciedade. No intuito de elevar o

consumo diário, é necessário aumentar uma ou mais dessas variáveis descritas anteriormente.

No entanto, a velocidade de alimentação de cada refeição está mais relacionada com o

consumo de matéria seca do que com o número de refeições diárias (MIRANDA et al., 1999).

A utilização de um intervalo entre observações, adequado para estudo do

comportamento ingestivo em ovinos, é importante para a obtenção de resultados exatos e cada

vez mais precisos. Por isso, é importante compreender corretamente os componentes que

abordam o comportamento animal, pois a precisão depende da metodologia de avaliação

aplicada, em que a escolha da escala de intervalo de tempo a ser utilizada para discretização

das séries temporais deve ser capaz de detectar o tempo médio despendido nas atividades de

alimentação, ruminação e ócio (OLIVEIRA et al. 2011).

Estudar o comportamento ingestivo é de extrema importância, pois os dados gerados

permitem ser utilizados nas avaliações das dietas, o que possibilita ajustar o manejo alimentar

para melhorar o desempenho produtivo (SILVA et al. 2006a; SILVA et al. 2006b;

CARDOSO et al. 2006; MENDONÇA et al, 2004). É ainda possível estudar o comportamento

de animais confinados, visto que os mesmos gastam tempos diferentes no consumo de

alimentos ricos em energia, em torno de uma hora, e alimentos com alto teor de fibra que

pode exceder seis horas (VAN SOEST, 1994). Certamente, a natureza da dieta influencia nas

atividades de ingestão e ruminação, sendo assim, é necessário estudar intervalos de tempo

como forma de diminuir erros e, com o estudo do comportamento, estabelecer dietas

adequadas.

Quando se escolhe um intervalo entre as observações, este não pode comprometer os

resultados, com vistas a prejudicar a elucidação do comportamento animal. Para que se possa

119

confiar nos dados gerados, é necessário estabelecer uma metodologia a ser seguida, em que a

escolha do intervalo de tempo entre as observações é extremamente importante (SILVA et al.

2004; SILVA et al. 2003).

O objetivo neste estudo foi avaliar diferentes intervalos entre observações na

estimativa do comportamento ingestivo de ovinos.

120

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no setor de ovinocultura “Ensaios Nutricionais de

Ovinos e Caprinos” e no “Laboratório de Forragicultura e Pastagens” da Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia, no Campus de Itapetinga, BA.

Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC), com cinco tratamentos,

sendo eles as doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de CaO na matéria natural da cana-de-açúcar e um

tratamento com a utilização de 1,5% de ureia, também na matéria natural da cana-de-açúcar,

todos aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições por tratamento.

As baias foram providas de comedouros e bebedouros, dispostos frontalmente em

cada baia. Os animais foram mantidos em baias individuais de 1,5 m2 com piso cimentado e

alimentados com dieta contendo 70% da silagem de cana-de-açúcar com doses de 0,0; 0,8; 1,6

e 2,4% de óxido de cálcio (CaO) na matéria natural da cana-de-açúcar e silagem de cana-de-

açúcar com ureia (1,5% na matéria natural) e 30% de concentrado (Tabela 1), cuja

composição encontra-se na Tabela 2. Para confecção das silagens, a cana-de-açúcar foi

picada, em uma picadeira de forragem convencional, padronizando as partículas com tamanho

de 1 a 2 cm, misturada em piso de alvenaria para uma completa homogeneização. Depois, foi

pesada, separada em quantidades de 140 kg, posteriormente, estas amostras foram tratadas, de

acordo com as doses de óxido de cálcio e ureia, e acondicionadas em tonéis de 200 litros,

mantendo densidade de 700 kg de matéria natural/m3. Em seguida, foram lacradas com lona

dupla face (preta e branca) de 200 micras. A cana-de-açúcar, variedade RB 72.454, foi

ensilada por um período de 30 dias, quando foram abertos os silos para retirada das amostras.

A silagem de cana-de-açúcar, nos tratamentos com CaO, no momento do

fornecimento aos animais, foi corrigida para 1% de ureia (mistura de ureia + sulfato de

amônio) na relação 9:1, em seguida, toda mistura foi homogeneizada. As dietas foram

calculadas com base no NRC (2006) para permitir que houvesse nutrientes (NDT e PB)

suficientes para um ganho de peso de 150 g/dia. Estas foram balanceadas para conterem

aproximadamente 13% de proteína bruta e 53% de nutrientes digestíveis totais.

Nas amostras coletadas, foram realizadas as seguintes análises: matéria seca (MS),

nitrogênio total (NT), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA),

proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN), cinza insolúvel em detergente neutro

(CIDN), extrato etéreo (EE), celulose, hemicelulose, lignina, cinza, nutrientes digestíveis

totais (NDT), conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), e a digestibilidade “in

121

situ” da matéria seca por 48 horas (DISMS) (ORSKOV et al., 1980). A fibra em detergente

neutro foi corrigida para cinza e proteína (FDNcp), segundo Mertens (2002).

Na realização da pré-secagem, as amostras coletadas foram descongeladas,

acondicionadas em vasilhame de alumínio, pesadas e levadas à estufa de 60°C, por 72 horas.

Em seguida, foram retiradas da estufa, mantidas à temperatura ambiente por duas horas,

pesadas e moídas em moinho com peneiras contendo crivos de 1 mm e acondicionadas em

vasilhames de plástico com tampa, identificados para posteriores análises.

As frações dos carboidratos totais foram calculadas através do sistema de “Cornell

Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS)”, segundo Sniffen et al. (1992), em que:

CHO = 100 – (% PB + % EE + % Cinza)

Devido à presença de ureia, os carboidratos não fibrosos (CNF) foram obtidos por:

CNF = 100 – [(% PB - % PB ureia) + % FDNcp + % EE + % cinza]

Tabela 1 - Composição percentual dos ingredientes do concentrado e das dietas (% da

matéria seca)

Ingrediente Concentrado Dieta

Silagem de cana com CaO

Silagem de cana com ureia

Silagem de cana com CaO

Silagem de cana com ureia

Silagem de cana-de-açúcar1

- - 70,00 70,0

Milho 56,67 65,66 17,00 19,71

Farelo de soja 26,67 27,70 8,00 8,29

Ureia 10,00 ----- 3,00 -----

Sal comum 3,33 3,32 1,00 1,00

Sal mineral2

3,33 3,32 1,00 1,00

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 1/ cana-de-açúcar com diversas doses de óxido de cálcio ou ureia. 2/ Quantidade por kg do produto: Ca = 155 g, P = 65 g, S = 12 g, Mg = 6 g, Na = 115 g, Co = 175 mg, Cu = 100

mg, I = 175 mg, MN = 1400 mg, Ni = 42 mg, Se = 27 mg, Zn = 6000 mg, Fe = 1000 mg.

O experimento durou 77 dias, constituídos de três períodos experimentais, composto

de 21 dias cada um, e 14 dias que foram destinados ao período de adaptação dos animais. As

dietas experimentais foram fornecidas à vontade, duas vezes por dia, sendo realizado o

fornecimento às 7h00 e às 15h00, de forma que as mesmas foram ajustadas para manter

sobras de aproximadamente 10% do fornecido. Todos os animais foram pesados no início do

período experimental e no fim de cada período experimental. A composição química da cana-

122

de-açúcar com ureia e oxido de cálcio está disposta na Tabela 3, a qual foi calculada para ser

isoproteica.

Tabela 2 - Composição bromatológica das dietas experimentais

Item

Silagem de cana-de-açúcar com dose de CaO

(% matéria natural)

Silagem de

cana-de-

açúcar com ureia

1 0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca (%) 41,1 42,6 43,2 43,2 41,5

Proteína bruta2

14,6 14,7 14,6 14,5 14,8 FDN

2 55,7 49,9 42,5 37,9 51,2

NDT2,3

50,6 58,9 60,8 64,3 53,6 1cana-de-açúcar adicionada de 1,5% de ureia (% matéria natural). 2 base da matéria seca; 3 estimado segundo NRC (2006).

FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; NDT: nutrientes digestíveis totais.

Para avaliar o comportamento ingestivo, os animais foram submetidos a períodos de

observação visual, durante um dia do período experimental, determinando o comportamento

alimentar durante 24 horas/dia, de acordo com Fischer et al. (1998). O tempo despendido de

alimentação, ruminação e ócio foram submetidos a períodos de observação visual para avaliar

o comportamento ingestivo, durante um dia, no último período experimental, e as observações

foram feitas no 17o dia do período experimental. Os animais foram observados durante 24

horas, em quatro diferentes intervalos entre observações (5, 10, 15 e 20 minutos) para a

avaliação dos tempos de alimentação, ruminação e ócio. Foi adaptado durante três dias com

luz artificial à noite, antes da observação, e durante a observação noturna, o ambiente foi

mantido com iluminação artificial.

123

Tabela 3 – Composição bromatológica da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio

(CaO) ou ureia

Item

Silagem de cana-de-açúcar com CaO (% matéria natural)

Silagem de cana-de-

açúcar com

ureia 0,0 0,8 1,6 2,4

Matéria seca (%) 20,1 22,3 23,1 23,2 20,7

Proteína bruta1 1,15 1,23 1,15 1,10 14,9

Fibra em detergente neutro1 74,0 58,6 55,1 48,5 68,6

FDNcp1

71,1 55,7 52,4 45,6 65,6

Fibra em detergente ácido1

63,3 50,3 45,3 40,1 59,4

PIDN1

059 0,51 0,50 0,42 0,81

CIDN1

2,4 2,4 2,3 2,5 2,2

Extrato etéreo1

1,6 1,8 1,8 1,8 1,8

Celulose1 49,0 40,7 33,1 31,1 45,1

Hemicelulose1

10,7 8,2 9,8 8,4 9,2

Lignina1 10,3 8,4 6,8 5,7 9,5

Cinza1 3,6 8,1 10,0 14,0 3,3

DISMS1

51,2 51,1 61,1 65,5 59,6

Nutrientes digestíveis totais2

42,8 54,6 57,3 62,3 47,0 * Médias seguidas por asterisco diferem da testemunha ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Dunnett. 1/

Valores em percentagem da matéria seca. 2/ Estimado segundo o NRC (2006). Proteína indigestível em

detergente neutro (PIDN), cinza indigestível em detergente neutro (CIDN), fibra em detergente neutro corrigido

para cinza e proteína (FDNcp), digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS).

No dia seguinte, foram realizadas três observações em cada animal, em três períodos

diferentes: manhã, tarde e noite (10-12h; 14-16h e 19-21h). Nestes períodos, foi observado o

número de mastigações por bolo ruminal e contabilizado o tempo gasto para ruminação de

cada bolo. Este procedimento foi realizado com a utilização de cronômetros digitais, os quais

foram manuseados por quatro observadores, que se posicionaram em frente às baias, de forma

a não incomodar os animais.

Para estimação das variáveis comportamentais, alimentação e ruminação (min/kg MS

e FDN), eficiência alimentar (g MS e FDN/hora), eficiência em ruminação (g de MS e

FDN/bolo e g MS e FDN/hora) e consumo médio de MS e FDN por período de alimentação,

considerou-se o consumo voluntário de MS e FDN do 17º e 18º dias do período experimental,

sendo as sobras computadas entre o 17º e 18º dias.

124

Através do número de bolos ruminados diariamente foi obtido o tempo total de

ruminação (minuto), dividido pelo tempo médio gasto na ruminação de um bolo. A

concentração de MS e FDN em cada bolo (g) ruminado foi obtida a partir da divisão da

quantidade de MS e FDN consumida (g/dia) em 24 horas pelo número de bolos ruminados

diariamente.

A eficiência de alimentação e ruminação foi obtida utilizando o seguinte método:

EALMS = CMS/TAL;

EALFDN = CFDN/TAL;

em que: EALMS (g de MS consumida/h); EALFDN (g FDN consumida/h) =

eficiência de alimentação; CMS (g) = consumo diário de matéria seca; CFDN (g) = consumo

diário da FDN; TAL = tempo gasto diariamente em alimentação.

ERUMS = CMS/TRU;

ERUFDN = CFDN/TRU;

em que: ERUMS (g MS ruminal/h); ERUFDN (g da FDN ruminal/h) = eficiência de

ruminação e TRU (h/dia) = tempo de ruminação.

TMT = TAL + TRU

em que: TMT (minuto/dia) = tempo de mastigação total.

Estes procedimentos foram obtidos segundo metodologia descrita por Bürger et al.

(2000).

As variáveis foram analisadas de forma independente dos efeitos da doses do óxido

adicionados à cana-de-açúcar. Foram considerados como tratamentos os intervalos entre

observações (5, 10, 15 e 20 minutos), no qual o de 5 minutos foi tomado como referência

(controle). Os resultados foram submetidos à análise de variância, procedendo-se

posteriormente teste Dunnett para avaliar o efeito das doses de óxido de cálcio em relação à

ureia (testemunha), e análise de regressão para o estudo do efeito das doses de CaO, a 5% de

probabilidade. Foi utilizado o programa SAS (Statistical Analisys System).

125

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não houve efeito (P>0,05) dos intervalos entre observações avaliados (5, 10, 15 e 20

minutos) sobre as atividades de alimentação, ruminação, mastigação e ócio (em min/dia)

(Tabela 4). Há possibilidade de utilização de intervalos maiores que cinco minutos para serem

utilizados na observação de ovinos, no estudo do comportamento ingestivo.

De acordo com Carvalho et al., (2008) para avaliar as atividades de alimentação,

ruminação e ócio, quando se utiliza intervalos entre observações fixos, verifica-se que cada

avaliação seja representativa da atividade exercida pelo animal desde o momento anterior, e

que há necessidade de delimitação de um intervalo de tempo seguro para diminuir os riscos de

erro.

Carvalho et al. (2007b) verificaram que na avaliação do comportamento ingestivo de

ovinos alimentados com capim-elefante, amonizado e subprodutos agroindustriais, não foi

observado efeito dos intervalos de observações (5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos) nos tempos de

alimentação, ruminação e ócio, nos quais ficou evidenciado que a avaliação do

comportamento alimentar em ovinos pode ser feito a intervalos de até 30 minutos. Os

resultados obtidos neste estudo são concordantes com os relatados por Carvalho et al. (2007a),

que, ao trabalharem com comportamento ingestivo de cabras lactantes, alimentadas com

farelo de cacau e torta de dendê, avaliaram o efeito dos intervalos entre observações (5, 10, 15

e 20 minutos) e verificaram que não há diferença entre os intervalos testados, recomendando o

intervalo de 20 minutos para avaliar as atividades de alimentação ruminação e ócio.

Entretanto, podem existir mudanças no comportamento do animal devido a fatores ambientais

e também à busca pelo alimento, como verificado por Forbes (1988), observando que os

ruminantes podem modificar um ou mais componentes do seu comportamento ingestivo com

a finalidade de minimizar os efeitos de condições alimentares desfavoráveis, conseguindo,

assim, suprir os seus requisitos nutricionais para mantença e produção. Ou até na busca pelo

alimento, que demanda mais tempo por parte dos animais, como verificado por Starling et al.

(1999), os quais verificaram que, em ambiente de pastejo tropical, os ovinos passam maior

parte do tempo na atividade de alimentação, seguido da ruminação e descanso.

Salla et al. (1999) estudaram os tempos de 5, 7, 10 e 15 minutos e verificaram que

não diferiram entre o registro contínuo dos tempos das atividades em vacas Jersey lactantes,

indicando que foram semelhantes em todas as escalas avaliadas, nas quais todos os animais

poderiam ser avaliados em escalas de até 15 minutos.

126

Tabela 4 - Atividades de alimentação, ruminação, mastigação e ócio em função dos diferentes

intervalos entre observações (5, 10, 15 e 20 minutos) e coeficiente de variação (CV)

em ovinos alimentados com dieta contendo cana-de-açúcar com óxido de cálcio

(CaO) ou ureia

Item Intervalo entre observações (minutos)

5 10 15 20 CV (%)

Alimentação

Min/dia 340,0 343,0 356,3 355,0 26,7

Min/kg MS 571,6 575,9 597,7 595,8 35,7

Min/kg FDN 1158,6 1167,7 1215,7 1204,3 33,2

Ruminação

Min/dia 458,8 451,0 454,5 446 25,4

Min/kg MS 770,7 760,2 761,6 753,0 34,7

Min/kg FDN 1566,1 1546,6 1549,4 1531,4 32,5

Mastigação

No/dia 38471,4 37833,0 38045,0 37334,5 31,2

Min/dia 798,0 792,0 810,0 804,0 20,3

Min/kg MS 1342,3 1336,1 1359,4 1348,8 31,7

Min/kg FDN 2724,6 2714,4 2765,1 2735,6 28,3

Ócio

Min/dia 641,3 646,0 629,3 639 24,4

* Médias na linha, seguidas por asterisco, diferem da testemunha (5 minutos) ao nível de 5% de probabilidade

pelo teste de Dunnett.

Os resultados deste estudo corroboram com os de Carvalho (2008), que trabalhou

com cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio em dietas para ovinos, caprinos, novilhos e

vacas em lactação, e verificou que não houve diferenças entre as características estudas para

as atividades de alimentação, ruminação e ócio para ovinos, caprinos, novilhas e vacas em

lactação. O autor comenta que as evidências possibilitam a utilização de intervalos maiores

que cinco minutos para serem utilizados na observação de ovinos e caprinos em estudo de

comportamento ingestivo. Para mensurar essas atividades, quando se utiliza intervalos de

127

observações fixos, presumi-se que cada avaliação seja representativa de cada atividade

exercida pelo animal, desde a atividade anterior, o que é necessário a delimitação de um

intervalo de tempo seguro, minimizando com isso os riscos e erros.

Quanto menor for o intervalo de observação, menor será o risco do animal mudar de

atividade, como consequência, o mais exato será o resultado dos tempos das atividades de

alimentação e ruminação. Este fato foi evidenciado por Fischer et al. (2000), que relataram

que a adoção da escala de cinco minutos é considerada a mais indicada em relação às escalas

de 7 e 10 minutos, por detectar número maior de atividades, além de ser de valor semelhante à

duração mínima das atividades. Além disso, a escala de 5 minutos apresenta outra vantagem,

que é permitir o acompanhamento visual do comportamento de ruminantes em condições

experimentais, em que os aparelhos eletrônicos de registro de dados não estejam disponíveis,

como é o caso do deste estudo. Oliveira et al. (2011) estudaram os intervalos entre

observações de 5, 10, 15, 20 e 30 minutos e verificaram que o comportamento ingestivo de

vacas lactantes em pastejo não diferiram para as atividades de alimentação, ruminação e ócio.

Morais et al. (2006) verificaram que, quando se emprega maior intervalo de

observação no estudo do comportamento, 10 ou 15 minutos, os resultados não são diferentes

do tempo comumente utilizado (cinco minutos), isso devido ao observador poder utilizar um

intervalo de 10 ou 15 minutos entre uma observação e outra, quando for mais conveniente ou

necessário. Silva et al. (2005) constataram não haver diferença significativa de observações

entre intervalos (5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos) nas atividades de alimentação, ruminação e

ócio em novilhas confinadas, onde o animal pode ser observado a cada 30 minutos sem que

possa comprometer os resultados. Silva et al. (2004) verificaram que avaliação do

comportamento ingestivo de novilhas de origem leiteira em pastejo pode ser recomendada

escala de até 30 minutos para avaliação das atividades diárias de alimentação, ruminação e

ócio. Carvalho (2008) afirmou que a adoção de intervalos inadequados no sistema de

avaliação do comportamento ingestivo pode comprometer o experimento, o que leva a

resultados irreais.

Verifica-se que não houve diferença (P>0,05) na eficiência em alimentação e

ruminação em relação aos intervalos de observação utilizados (Tabela 5). Isto se deve,

provavelmente, ao fato de não ter sido observado diferenças nas atividades de alimentação e

ruminação.

128

Tabela 5 - Eficiências em alimentação e ruminação em função dos diferentes intervalos entre

observações e coeficiente de variação (CV%), em ovinos alimentados com dieta

contendo cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item

Intervalo entre observações (minutos)

CV (%)

5 10 15 20

Eficiência em alimentação

g MS/hora 120,5 124,1 114,2 120,9 50,4

g FDN/hora 57,1 58,5 54,2 56,9 39,3

Eficiência em ruminação

Bolos (no/dia) 589,0 580,0 582,5 572,4 31,0

g MS/bolo 1,189 1,246 1,195 1,253 51,4

g FDN/bolo 0,561 0,587 0,565 0,591 41,3

g MS/hora 87,9 91,9 88,7 92,6 45,2

g FDN/hora 41,8 43,6 42,3 44,1 36,4

* Médias na linha, seguidas por asterisco, diferem da testemunha (5 minutos) ao nível de 5% de probabilidade

pelo teste de Dunnett.

Houve efeito significativo (P<0,05) para os intervalos entre as observações do

número de períodos e o tempo médio gasto por período de alimentação, ruminação e ócio em

função dos intervalos de 10, 15 e 20 minutos, quando comparado ao intervalo de cinco

minutos. Verifica-se que os intervalos de 10, 15 e 20 minutos, entre as observações de

alimentação, ruminação e ócio, quanto ao número de períodos, foram maiores que o intervalo

de cinco minutos (Tabela 6). Quanto ao tempo gasto por período, estes foram maiores nos

intervalos de 10, 15 e 20 minutos em relação ao tempo de cinco minutos.

129

Tabela 6 - Número e tempo despendido por período nas atividades de alimentação, ruminação

e ócio e consumo de MS e FDN, por período de alimentação em função dos

diferentes intervalos entre observações e coeficiente de variação (CV%), em ovinos

alimentados com dieta contendo cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) ou ureia

Item Intervalo entre observações (minutos)

5 10 15 20 CV (%)

Número de períodos (n

o/dia)

Alimentação 22,3 14,1* 11,8* 9,9* 23,8

Ruminação 24,2 17,5* 14,2* 11,1* 20,6

Ócio 39,9 25,3* 19,4* 15,6* 18,2

Tempo gasto por período (min)

Alimentação 15,9 24,6* 30,5* 36,6* 26,9

Ruminação 19,4 26,3* 33.1* 40,6* 29,8

Ócio 16,3 25,7* 33,0* 41,7* 26,7

Consumo médio por período de alimentação (kg)

MS 0,0292 0,0457* 0,0544* 0,0670* 29,5

FDN 0,0142 0,0221* 0,0263* 0,0322* 26,4

* Médias na linha, seguidas por asterisco, diferem da testemunha (5 minutos) ao nível de 5% de probabilidade

pelo teste de Dunnett.

Fischer et al. (2000) verificaram que, quando se escolhe um intervalo para discretizar

as séries temporais, o tempo com alimentação, ruminação e ócio deve ponderar entre o poder

de detectar mudanças no decorrer das atividades e a sua precisão, sem que haja redundância.

Sendo assim, verifica-se que o intervalo de cinco minutos foi mais adequado em relação às

demais escalas, exatamente porque permitiu detectar com maior precisão a frequência diária

das atividades no número de períodos. Quanto ao número de períodos discretos referente às

atividades de alimentação, ruminação e ócio, o intervalo de observação de cinco minutos é o

mais exato dentre as escalas de 10, 15 e 20 minutos, pois, este permite detectar melhor a

frequência diária, o que consideravelmente diminui as perdas de observação.

Os resultados obtidos neste estudo para o número e tempo médio por período de

atividades estão de acordo com os obtidos por Carvalho (2008), que trabalhou com intervalos

de observações de alimentação, ruminação e ócio em ovinos e caprinos. O autor concluiu que

130

a utilização de intervalos superiores ao de cinco minutos provoca subestimativa do número de

períodos e superestimava o tempo médio despendido por período de atividades. O autor

relatou também que foi verificada perda de observação de intervalos de 10, 15 e 20 minutos,

principal fator que comprometeu os resultados, e que gerou números de período sem precisão.

Fischer et al. (2000) também afirmaram que a escala de cinco minutos é a ideal para

discretizar o numero de períodos e o tempo médio gasto por período, enquanto que Carvalho

et al. (2007b) encontraram diferença nas médias quanto ao intervalo entre observações do

número de períodos de alimentação e descanso na escala de cinco minutos, sendo semelhante

ao de 10 minutos, mas diferindo dos resultados obtidos nas demais escalas. Contudo, os

resultados obtidos no presente estudo divergem desses resultados.

Foi evidenciado por Fischer et al. (2000); Silva et al. (2004); Carvalho et al. (2007a);

Carvalho et al. (2007b); Carvalho (2008) que, para discretizar as atividades, deve-se usar a

escala de cinco minutos, que proporciona menores perdas de observações. No presente

estudo, fica claro que o intervalo de cinco minutos foi também o mais adequado, o que

permite menores perdas de observação e maior precisão e exatidão nos resultados.

Os resultados apresentados no consumo médio por período de alimentação para MS e

FDN, neste experimento, apresentaram diferença (P<0,05) entre os inetrvalos de observações

de 10, 15 e 20 minutos em relação ao intervalo de cinco minutos (Tabela 6). Verifica-se que

os valores dos consumos médios (MS e FDN), por período de alimentação neste estudo, nos

intervalos de 10, 15 e 20 minutos foram maiores do que o de cinco minutos, reafirmando que

o intervalo de cinco minutos é o mais adequado para avaliação de atividades de alimentação,

ruminação e ócio. Silva et al. (2006a), ao avaliarem o comportamento de bezerros confinados

na fase de pré-aleitamento, verificaram que não houve diferença entre as escalas de cinco e 10

minutos nas atividades de alimentação, ruminação e ócio, como também foi verificado por

Silva et al. (2006b) em bezerros no pós-aleitamento. Contrariamente aos autores supracitados,

muitos resultados verificados na literatura (SILVA et al., 2004; CARVALHO et al., 2007;

MORAIS et al., 2006 e OLIVEIRA et al., 2011) tem sugerido o intervalo de cinco minutos

como sendo o indicado para avaliação das atividades de alimentação, ruminação e ócio em

ruminantes, visto que estas atividades são parâmetros relevantes e necessitam de ferramentas

adequadas para maximizar a eficiência destes estudos.

131

4. CONCLUSÕES

As atividades diárias de alimentação, ruminação e ócio, bem como as eficiências de

alimentação e ruminação em ovinos podem ser obtidos utilizando intervalos entre observações

de até 20 minutos.

Para a avaliação do número de períodos e tempo médio por período de alimentação,

ruminação e ócio, em estudos de comportamento ingestivo de ovinos, recomenda-se o

intervalo de cinco minutos entre observações.

132

5. REFERÊNCIAS

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