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CANÇÃO DE PROTESTO É preciso mais que respeito às organizações do povo, é preciso reconhecer o valor de quem esteve anos a fio na luta por direitos sociais. E por isso, reconhecemos os recentes eventos como uma vontade de reconquistar a cidade, retomar o espaço urbano, para o encontro, como espaço de olhar no olho, de ver as pessoas na rua, e dessa euforia de estar nas ruas, sentir-se humano, o ser mais social de todos! Realmente alguma coisa fez as pessoas saíssem às ruas, que fez que desplugassem da condição de “protestantes de facebook” e fossem para a prática real das ruas. Do manifesto que abre precedência para ação política, de estar junto, sentir pertencer a um grupo que deseja coisas em comum. E talvez por isso, vandalismo com propósito político faz sentido: por que após anos de silêncio, quebrar um banco que lucra rios do nosso dinheiro é mais que simbólico, são expressões de que as diferenças sociais tem fundo econômico. O direito a raiva quer explodir em veias guturais que talvez não possam ser racionalmente explicadas. E por isso, a informação e divulgação de imagens desse “vandalismo” ou mesmo o discurso de “pacifismo” devem ser entendidos como ideologias externas. Agora no presente, quem atribui valores são aqueles que controlam opiniões, e que dizem as mães para acreditarem na dimensão social do medo: para que não permitam seus filhos nas ruas e passeatas. O medo da violência paralisa. Só que ante o desejo incontido de lutar, o ser coletivo não se recusa e tende a se juntar nas ruas! As Lutas são inúmeras, existem algumas como a que coisas que podem até soar “muito universitárias”, e que talvez tenham uma

Canção de protesto

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Page 1: Canção de protesto

CANÇÃO DE PROTESTO

É preciso mais que respeito às organizações do povo, é preciso reconhecer o valor de

quem esteve anos a fio na luta por direitos sociais. E por isso, reconhecemos os

recentes eventos como uma vontade de reconquistar a cidade, retomar o espaço

urbano, para o encontro, como espaço de olhar no olho, de ver as pessoas na rua, e

dessa euforia de estar nas ruas, sentir-se humano, o ser mais social de todos!

Realmente alguma coisa fez as pessoas saíssem às ruas, que fez que desplugassem

da condição de “protestantes de facebook” e fossem para a prática real das ruas. Do

manifesto que abre precedência para ação política, de estar junto, sentir pertencer a

um grupo que deseja coisas em comum.

E talvez por isso, vandalismo com propósito político faz sentido: por que após anos de

silêncio, quebrar um banco que lucra rios do nosso dinheiro é mais que simbólico, são

expressões de que as diferenças sociais tem fundo econômico. O direito a raiva quer

explodir em veias guturais que talvez não possam ser racionalmente explicadas.

E por isso, a informação e divulgação de imagens desse “vandalismo” ou mesmo o

discurso de “pacifismo” devem ser entendidos como ideologias externas. Agora no

presente, quem atribui valores são aqueles que controlam opiniões, e que dizem as

mães para acreditarem na dimensão social do medo: para que não permitam seus

filhos nas ruas e passeatas. O medo da violência paralisa. Só que ante o desejo

incontido de lutar, o ser coletivo não se recusa e tende a se juntar nas ruas!

As Lutas são inúmeras, existem algumas como a que coisas que podem até soar

“muito universitárias”, e que talvez tenham uma dimensão acadêmica de discurso, só

que como a pauta que defende o transporte público, são essenciais e imediatas a

todos nós.

A questão central reconhecida por nós é social: muitas pessoas estão alheias por

causa da luta pela sobrevivência imediata. Não podem refletir sobre o mais amplo sem

sequer ter certeza de que haverá comida no dia de amanhã.

Assim, é importante organizar a demanda recursos públicos a serem gastos em obras

públicas, definidas pelo povo e seu interesse mais genuíno.

Respeitar as falas de todos aqueles que representam a rua em sua multiplicidade

(passamos muito tempo sem voz) é também objetivo central, pois vivemos muito

tempo obscurecidos por uma ditadura que nos retirou o poder de gritar, e mesmo sem

voz, roucos, ativistas deram seu recado, somos a geração que segue essa luta, esse

ideal, por democracia e liberdade.

Page 2: Canção de protesto

Quem é contra os partidos, para nós não frequenta assembleias populares, pois os

partidos são legítimos em representar os interesses variados de toda a sociedade, e

entendemos que negar sua participação é abrir a porta para o facismo, e

conservadorismo. O que não queremos, estamos ávidos por mudanças.

Pessoas reacionárias sempre existiram, as passeatas trouxeram a tona essas

opiniões, através do encontro, da rua. Mas é importante descobrirem quem são e se

posicionar e combater posições que não coadunam com o sentido de vivencia literal

da rua, da cidade, como encontro múltiplo da liberdade e do acaso revolucionário.

Queremos mais cultura para cuspir nas estruturas, e para isso, oxigenar a política para

a vida cotidiana. E assim. a passeata, os protestos podem politizar e transformar a

realidade, pois se a novela saiu do ar, isso não é pouco, reconhecemos a urgência das

ruas como um chamado a ação, a mudança!

Os partidos são importantes, as formas de organização do povo; é despolitização e

golpe midiático culpabilizar o partido “a” ou “b”. O que se deve dizer é que o sistema

republicano de representação está fracassado, o sistema de democracia

representativa produziu monstros, como a profissão de “políticos” que de tão abstrata

parecem ter saído de filmes de terror.

Defendemos a criação de mecanismos de participação mais direta (que gerem uma

permeabilidade política maior), defendemos uma democracia que busque a

participação e meios de agir sobre as decisões de forma mais direta. Com mais

controle social e rotatividade de pessoas.

Dessa forma, o canto aposta no gerenciamento horizontal de suas próprias atividades

como proposta de ação social. Essa busca pelo aperfeiçoamento da democracia tem

trazido lições importantes de democracia interna e de como as ferramentas de controle

social podem agir em assentamentos humanos. Defendemos cidades mais justas,

onde todos possam ser ouvidos.

Defendemos a reforma agrária e urbana e política como uma questão de direito

político a cidade. Defendemos o direito ao protesto e o acompanhamento politizado

desse debate, para que algum dia, no horizonte do debate se possa vislumbrar a

superação do próprio capitalismo, sistema desigual que é a causa principal das

diferenças sociais.

Canto. EMAU/ UFC