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SETEMBRO E OUTUBRO 2013 | N.º 23 | 2ª SÉRIE ENTREVISTA • Bastonário da OROC diz que a crise também está instalada no mercado da revisão oficial de contas OPINIÃO • A importância da simulação empresarial nas instituições de ensino superior • A (in)eficácia socioeconómica da reforma do IRC CONTABILIDADE • Governo apresenta plano excecional de regularização de dívidas fiscais • Bruxelas “ataca” paraísos fiscais na União Europeia FISCALIDADE • UE com regime comum aplicável aos pagamentos de juros e “royalties” • Governo avança com reorganização dos serviços locais de Finanças CONTABILIDADE & EMPRESAS

Capa Contabilidade Empresas 23 - VidaEconomica · 2013. 10. 16. · Portugal vai ter 2800 milhões de euros/ano para investimento 4 e 5 Nº 1511 / 11 de outubro 2013 / Semanal / Portugal

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SETEMBRO E OUTUBRO 2013 | N.º 23 | 2ª SÉRIE

ENTREVISTA

• Bastonário da OROC diz que a crise também está instalada no mercado da revisão oficial de contas

OPINIÃO

• A importância da simulação empresarial nas instituições de ensino superior

• A (in)eficácia socioeconómica da reforma do IRC

CONTABILIDADE

• Governo apresenta plano excecional de regularização de dívidas fiscais

• Bruxelas “ataca” paraísos fiscais na União Europeia

FISCALIDADE

• UE com regime comum aplicável aos pagamentos de juros e “royalties”

• Governo avança com reorganização dos serviços locais de Finanças

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Portugal vai ter 2800 milhões de euros/ano

para investimento

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3CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

O POÇO SEM FUNDO

O Governo de Portugal teima em bater no fundo. O problema é que parece que o poço não tem fundo. A fiscalidade sem qualquer estratégia de fundo, as medidas avulsas, uma comunicação sem sentido ou a falta de condições para impulsionar a economia são apenas alguns dos fatores que estão a arrastar o país para uma tragédia de consequências inimagináveis. Bem pode o Executivo introduzir novas expressões no léxico político (como choque de expetativas ou desenho de medidas) que em nada vai melhorar o atual contexto de recessão e de crise de valores.

Quem pensou que a crise política causada pela saída de Vítor Gaspar e a decisão “irrevogável” de Paulo Portas poderia dar uma nova orientação à estratégia (se é que existe) do Governo, que se desengane. Não deixa de ser preocupante o facto de não terem sido retiradas quaisquer ilações da célebre missiva do minis-tro das Finanças demissionário. A última conferência de imprensa em que estiveram presentes Maria Luís Albuquerque, Portas e Moedas mais não foi do que patética. Chegou-se àquele ponto “horribilis” em que o que se diz hoje não é verdade amanhã, mas até o pode ser no dia seguinte.

Os resultados estão à vista. O primeiro-ministro aproveitou um programa da televisão pública (ou seja, paga por nós) para anunciar o segundo orçamento retificativo. E depois de se ter andado semanas a anunciar aos quatros ventos a inversão de ciclo, no sentido do crescimento económico, vem aí mais do mesmo. O OE de 2014 é assustador, a austeridade agrava-se, os impostos aumentam, a legalidade chega a ser posta em causa, numa tentativa permanente de afrontar o Tribunal Constitucional – que, afinal, de-cide em função do que está legislado. Por apresentar está – por Portas, naturalmente – o documento que contém a Reforma do Estado. O que aí vem não pode deixar de preocupar o contribuinte cumpridor. Que se desengane Passos Coelho, os políticos e comentadores têm o dever e até a obrigação moral de darem a conhecer o que se passa no país.

Mais uma vez, serão os mesmos (vulgo “o mexilhão”) a pagar a elevada fatura de um Governo que não tem sabido governar. A título de exemplo, a questão das pensões de sobrevivência. Não se trata de garantir meramente mais 100 milhões de receita, o que está em causa é um princípio moral e deitado por terra um dos alicerces da própria democracia, a relação de confiança necessária entre os cidadãos e o Estado. Aliás, no seu “diz que disse”, ao colocar os funcionários do privado contra os do público, ao lançar os mais novos contra os mais idosos, ao não olhar para o Estado social que se pretende e que é legítimo, o Governo está a conseguir algo inaudito, juntar o país em peso contra os partidos que nos (des)governam. A rutura social está para muito breve e a ver vamos se alguém será responsabilizado.

Editorial

GUILHERME [email protected]

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4 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

ENTREVISTACrise também está instalada no mercado da revisão oficial de contas .......... 5

OPINIÃOEquipas de alto rendimento e o papel do líder ......................................... 8A importância da simulação empresarial nas instituições de ensinosuperior: o exemplo do ISCAP-IPP ......................................................... 11A (in)eficácia socioeconómica da reforma do IRC .................................... 14Considerações genéricas sobre a auditoria: conceito, limitações,necessidade e benefícios sociais ................................................................ 15

CONTABILIDADEÉtica tem de estar sempre presente na atividade dos técnicos de contas .... 17Governo aprova plano excecional de regularização de dívidas fiscais ......... 18Bruxelas “ataca” paraísos fiscais na União Europeia .................................. 19Empresas portuguesas estão atentas ao fenómeno da “concorrência fiscal internacional” .......................................................................................... 20Entidades empresariais podem beneficiar de regimes fiscais mais favoráveis .....21Regime de IVA de caixa entrou em vigor ................................................. 23

FISCALIDADEParlamento Europeu quer mais avanços no combate à fraude fiscal .......... 24A reforma do IRC deveria ter um âmbito mais geral ................................ 25Parlamento Europeu exige mais transparência ao nível da fiscalidade ....... 26UE com regime comum aplicável aos pagamentos de juros e “royalties” ... 27União Europeia perde mais de 193 mil milhões de receita em sede de IVA .....28PwC avisa que reforma do IRC tem caráter de urgência ........................... 29IVA de caixa ainda contém receios da sua aplicação ................................. 30OCDE impulsiona troca automática de informação fiscal ........................ 31Governo avança com reorganização dos serviços locais de Finanças .......... 32UTAO duvida de cumprimento do défice no final do ano ....................... 33Governo avança com mais medidas de austeridade no próximo ano ......... 34Economia digital coloca novos desafios ao nível da fiscalidade ................. 35

SETORESSNS está a cobrar taxas moderadoras de forma indevida .......................... 36Investidores concordam com rotatividade das empresas de auditoria ........ 37Regime Fiscal Específico das Sociedades Desportivas sofre alterações ....... 38Taxa elevada de IVA resulta em recuo de 12% no setor da restauração e similares ..39CESE satisfeito com proposta de imposto sobre as transações financeiras ........40Arbitragem ainda não conseguiu afirmar-se como alternativa aos tribunais fiscais......41Aumentam as exigências para as finanças locais ........................................ 42

ASSOCIATIVISMOROC assumem-se como garante de confiança nos processos financeiros ... 43STI prevê encerramento de metade dos serviços de Finanças ................... 44Contabilidade não pode estar ao serviço da administração fiscal............... 45

NOTÍCIAS E INFORMAÇÕESAprovados novos modelos e instruções de declarações fiscais .................... 46CES critica proposta de Grandes Opções do Plano .................................. 46AT esclarece utilização de formulários das empresas “tax free” .................. 47Finanças clarificam âmbito de aplicação do IVA de caixa ......................... 47Municípios não contribuem para o endividamento do Estado ................. 48China assina convenção de combate à fraude e evasão fiscais .................... 48Autoridades aduaneiras apreendem material contrafeito no valor de mil milhões ......49Pires de Lima admite uma “fiscalidade agressiva” ..................................... 49

LIVROSSAF-T (PT) em câmara lenta ................................................................... 50Qualidade do serviço ............................................................................... 50Outsourcing no setor hospitalar ............................................................... 50

Sumário

PROPRIEDADEVida Económica - Editorial S. A.

EDITORGuilherme Osswald

COLABORADORESAbílio MarquesAgostinho Manuel dos Santos CostaAna RibeiroBruno José Machado de AlmeidaCatarina FernandesCristina Costa PintoGonçalo Rodrigues BrásGuilherme OsswaldJosé Alberto Pinheiro PintoJosé Joaquim Marques de AlmeidaManuel LiberalMaria José FernandesMário da Cunha GuimarãesMiguel PimentelPatrícia RamosPaulino SilvaPaulo Moura CastroRui AlmeidaRui Bertuzi da SilvaSílvia MouraTomás Pessanha

O conteúdo dos artigos é da exclusivaresponsabilidade dos autores

PAGINAÇÃOJosé Barbosa

REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO R. Gonçalo Cristóvão, 142º Esq. 4000-263 Porto Telef.: 223 399 400Fax: 222 058 098E-mail: [email protected]

DELEGAÇÃO EM LISBOAAv. Fontes Pereira de Melo, nº 61069-106 Lisboa Telef.: 217 937 747Fax: 217 937 748

IMPRESSÃOUniarte Gráfica - Porto

Registo nº 108640 no ICS

SET/OUT 2013 | Nº 23 - 2ª SÉRIE

Assinatura anual: 64 euros

Setembro/Outubro 2013 – Este suple-mento faz parte integrante da Vida Eco-nómica nº 1513, de 25.08.2013

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5CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

ENTREVISTA

A crise também se fazsentir no setor da revisão oficial de contas. São menos as entidades a recorreraos serviços destes profissionais e verifica-seuma tendência para a redução dos honorários. Por outro lado, num momento de dificuldades há mais comportamentos desviantes, o que obriga a Ordem dos Revisores Oficiais de Contas a estar particularmente atenta à atividade desenvolvida, ainda que o seu bastonário, José Azevedo Rodrigues, rejeite a possibilidade de desenvolver um sistema de controlo agressivo. Em entrevista à “Contabilidade & Empresas” chama a atenção para a necessidade de o regulador se focalizar na defesa da qualidade da auditoria.

Contabilidade & Empresas – Qual a atual situação do mercado dos revisores oficiais de contas?

José Azevedo Rodrigues – Os efeitos da crise fizeram-se sentir em todos os segmentos de mercado, pelo que o dos ROC também foi afetado. No setor público, com alguma redu-ção de entidades – processos de fusão e integração – e significativa redução dos honorários nos serviços presta-dos e, no setor privado, por via da redução dos volumes de negócios das empresas (nas sociedades por quotas

José Azevedo Rodrigues, bastonário da OROC, avisa

Crise também está instalada no mercado da revisão oficial de contas

A concorrência nos preços arrisca uma redução na prestação de serviços de qualidade, defen-de o bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas.

este é um dos fatores de contratação de ROC), quer com a própria dimi-nuição do número de empresas su-jeitas à revisão legal das contas, quer em consequência de processos de reestruturação conducentes a opera-ções de fusões ou mesmo de falên-cias de empresas. Paralelamente, as empresas que mantêm a revisão têm vindo, à semelhança do que fazem com os restantes fornecedores e pres-tadores de serviços, a pressionar no sentido da descida de preços que os ROC são forçados a acompanhar.

Contudo, tem-se assistido a al-guma “compensação” desta perda quantitativa de mercado pela in-clusão de novas realidades no pe-rímetro da consolidação, quer ao nível do setor público, quer do se-tor terciário. Tal inclusão justifica--se pela necessidade sentida em se difundirem melhores práticas de gestão e uma maior responsabilida-de no adequado uso dos dinheiros públicos, área onde a intervenção dos revisores se afigura bastante re-levante.

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6 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

ENTREVISTA

C&E – Quais os principais problemas que se colocam à vossa profissão?

JAR – Estou convicto que são equivalentes aos que afetam as res-tantes profissões. Num ambiente de forte crise financeira, com os negó-cios em estagnação ou mesmo de-créscimo dos mesmos e uma elevada taxa de desemprego, é de esperar de alguns membros comportamentos desviantes que afetam toda a pro-fissão. Temo-nos debatido com uma redução significativa dos honorários praticados e isso preocupa-nos so-bremaneira. Não porque os reviso-res sejam beneficiários de menores rendimentos do seu trabalho, mas porque tal poderá levar à contrata-ção de recursos menos qualificados, pondo em causa a qualidade dos serviços prestados. Esta ausência de qualidade faz ruir um dos pilares fundamentais da profissão que é a confiança. Esta realidade muito nos preocupa, não temos meios nem es-pírito para implementar um sistema de controlo agressivo, pelo que te-mos apelado para os comportamen-tos éticos e deontológicos de todos os membros no exercício profissio-nal. Para além de se poder colocar em causa a qualidade, a contrata-ção de recursos menos qualificados – logo mais baratos – levanta um sério problema de equidade com os membros que continuam a apostar num trabalho sério e rigoroso. Es-tamos perante uma situação que é típica da economia monetária e que a todo o custo procuramos evitar: “a má moeda expulsa a boa”.

Reguladores devem focar-sena qualidade da auditoria

C&E – O que espera a OROC das autoridades reguladoras da

profissão, nestes tempos compli-cados?

JAR – Que se focalize na defesa da qualidade da auditoria, pois penso ser este o seu principal desígnio. Sen-do assim, a Ordem estará sempre dis-ponível para colaborar de forma to-talmente franca, aberta e transparente com o regulador, pois no contexto profissional é a principal interessada que esse desígnio seja uma realidade. Não vemos que a atividade de audito-ria e o profissionalismo dos revisores possam melhorar se nos centrarmos no controlo pelo controlo, na puni-ção pela punição e na minúcia de bu-rocracias não geradoras de valor, ape-nas consumidoras de recursos. Estou convencido que essas serão as orien-tações estratégicas do regulador e, por conseguinte, conjuntamente com a Ordem, conseguiremos manter ele-vados níveis de qualidade e confiança nos serviços que venham a ser presta-dos pelos revisores oficiais de contas.

C&E – Até que ponto as altera-ções e as novas diretivas comuni-tárias estão a ter impacto na vossa atividade profissional?

JAR – Quase nenhum impacto. O quadro de normas de auditoria não será alterado, pelo menos no curto prazo, e esse é o referencial que os revisores devem acolher no exer-cício da sua atividade. No entanto, poderá ter algumas implicações ao nível organizativo, nos processos de controlo interno das sociedades de revisores oficiais de contas e no re-lacionamento com as entidades de

supervisão. No momento atual ainda me parece prematuro falar de impac-tos na profissão, porque as sucessivas alterações que as propostas iniciais de regulamento e de diretiva têm so-frido os tornam irreconhecíveis face às versões originais. E ainda não se sabe qual o rumo que tomarão os do-cumentos definitivos.

C&E – O mercado da revisão de contas tem necessidade de mais profissionais ou o acesso à profis-são está mais limitado?

JAR – A oferta de qualquer ser-viço não perde com maior número de fornecedores, desde que salva-guardada a qualidade dos mesmos. Pelo contrário, poderá contribuir para uma maior competitividade. Por isso, a entrada de novos reviso-res nunca teve, nem tem, “numerus clausus” ou qualquer outra figura se-melhante. Como sempre, está aberta a candidatos que queiram enveredar por esta vida profissional. Na nossa proposta de revisão de estatuto, que aguarda aprovação na Assembleia da República, foi aberta a possibilidade de acesso a licenciados de qualquer área, o que prova que o acesso estará ainda mais aberto. O problema da “necessidade de mais profissionais” é relativo, pois, como em todas as ati-vidades e profissões, o aparecimento de novos concorrentes não é visto com bons olhos, mas, para a defesa do interesse público, que é a nossa principal missão, tal concorrência, se for qualificada e conseguir contri-buir de forma mais positiva e proati-va para esse desiderato, decerto que será bem-vinda.

Carga fiscal socialmente injusta

C&E – A política fiscal seguida pelo Governo conta com o vosso

Igualdade

Para além de se poder colocar em causa a qualidade, a contratação de recursos menos qualificados – levanta um sério problema de equidade

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7CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

Qualidade

Que (o regulador) se focalize na defesa da qualidade da auditoria, pois penso ser este o seu principal desígnio.

ENTREVISTA

apoio ou está a ter efeitos negati-vos na atividade de ROC?

JAR – O aumento substan-cial da carga fiscal, retirando poder de compra às pessoas, num país de baixo rendimento na grande maio-ria da população, nunca poderá ser apoiado e encarado de forma positi-va. Pagar impostos por pagar, apenas para cobrir défices em que a maioria dos “pagadores” em nada contribuiu para a sua existência, afigura-se sem-pre como algo socialmente injusto. Por isso, preocupa-nos a subida des-mesurada dos impostos, sobretudo os que recaem sobre o trabalho. Tal leva a uma espiral recessiva, com im-pactos significativos nas empresas, na economia e, por conseguinte, na nossa atividade. Assim, vemos com bons olhos o projeto de reforma do IRC, que tem sido sujeito a consulta pública e sobre o qual já nos pronun-ciámos junto do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, desde que o mesmo se venha a transformar num diploma com estabilidade, elemen-to fundamental para as decisões dos investidores. Nada pior para atrair

“A Ordem não tenciona impor um sistema de controlo agressivo sobre os profissionais”, de acordo com José Azevedo Rodrigues.

investimento e envolver empreende-dores do que um quadro fiscal não estável, com frequentes alterações e de acrescida complexidade. É neste contexto que vemos com bons olhos a proposta de alteração do Código de IRC, por nos parecer trazer maior es-tabilidade e por estar mais focado na criação de competitividade de Por-tugal, em termos de atratividade ao investimento. Esperamos que o pro-cesso se venha a estender, no futuro, a outros diplomas fiscais.

C&E – As entidades públicas ainda estão longe da revisão de contas? O que está a ser feito nesta matéria?

JAR – Não me atreveria a con-firmar essa “longevidade” da revisão de contas. Na realidade, nos últimos anos, tem aumentado o campo de in-cidência da ação do revisor no domí-nio das contas do setor público, em-bora reconheça que ainda há muito a fazer neste contexto. Mais importante do que “apontar” intervenções dos re-visores, no âmbito da fiscalização das entidades do setor público, importa

definir e estruturar a sua ação no qua-dro geral de supervisão e controlo das entidades públicas, articulando-a com a ação de outras entidades envolvidas nestes processos, designadamente o Tribunal de Contas e a Inspeção-Ge-ral de Finanças. Esperamos que seja definido um quadro de intervenção dos diversos agentes de fiscalização e controlo para se melhorar a eficácia e a eficiência, não só das entidades fis-calizadoras, como das entidades audi-tadas e fiscalizadas. É nossa convicção de que todos sairíamos a ganhar se tal quadro fosse bem delineado e imple-mentado.

C&E – Teve recentemente lu-gar o congresso da OROC. Que balanço faz do evento?

JAR – Muito positivo, não só pela escolha da sua localização, mas sobretudo pela elevada qualidade das intervenções proferidas pelos oradores convidados. A escolha foi criteriosa. Já esperávamos excelen-tes intervenções, mas superaram as nossas expetativas. Também por se ter atingido o grande desígnio deste congresso, a sua abertura ao exterior. Mais do que discussões técnicas em torno do desempenho e das atribui-ções do auditor entre os membros da classe, importou-nos a divulgação externa da relevância da profissão em defesa do interesse público e da cria-ção de confiança junto dos múltiplos “stakeholders”. E esta mensagem foi conseguida, dependendo agora dos membros da Ordem a sua consolida-ção através das nossas práticas e dos nossos comportamentos.

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8 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

OPINIÃO

“Com talento ganhamos partidas; com trabalho em equipa e inteligência ganhamos campeonatos.”

Michael Jordan

Ao analisarmos as melhores organizações a nível mundial, constatamos que todas elas têm excelentes equipas, com alto desempenho.

Uma equipa não é um simples grupo de pessoas com competências diversas. É necessário que essas pessoas se comprometam em torno de um determinado objetivo e se considerem solidariamente responsáveis pelo resul-tado final.

Condições necessárias para um bom rendimento das equipas

Objetivos e prazosÉ importante que todos os elementos da equipa te-

nham um fim comum a atingir com o qual se identifi-quem e se comprometam a trabalhar em conjunto.

A regra de ouro é a de dividir os objetivos a longo prazo em metas intercalares de curto prazo, de modo a que a equipa vá cumprindo etapas sucessivas.

Ambiente de trabalhoO sucesso duma equipa depende, sobretudo, da

seleção criteriosa dos seus elementos, mas também da criação dum ambiente de trabalho agradável e tran-quilo. É importante compreender que o desempenho elevado dos elementos duma equipa só se revelará no ambiente certo. O desenvolvimento de um ambiente de trabalho mais favorável resulta numa equipa mais unida e ágil.

Devemos eliminar os conflitos internos, evitando concorrências internas entre os colaboradores, direcio-nando o potencial das equipas para o esforço comum e participativo, a fim de criar soluções. O chamado «espí-rito de equipa» dependerá, pois, do tipo de relações in-terpessoais que já existem, ou forem entretanto criadas, entre os seus membros.

Contudo estas condições não são suficientes.

O desempenho das equipas será sempre superior ao dos indivíduos que as constituem, se o líder maximizar o potencial de cada elemento, com vista à satisfação do objetivo comum.

O grande dilema das organizações é alcançar e man-ter resultados positivos e consistentes.

Além de planeamento e metas claras, a melhoria de desempenho está diretamente relacionada com o com-prometimento da equipa.

É impossível motivar qualquer indivíduo, equipa ou grupo sem uma meta clara e específica. A motivação, tem a ver com o esforço em relação ao futuro, e sem uma meta clara não existe motivação.

O sucesso empresarial depende, portanto, não só da competência das suas equipas, mas também da motivação dos elementos que as constituem. Ótimos profissionais, que não se sintam motiva-dos, terão uma produtividade muito abaixo das suas capacidades. E, num mercado altamente compe-titivo, temos que aproveitar o máximo rendimen-

Equipas de alto rendimentoe o papel do líderAGOSTINHO COSTA

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9CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

to de todos os recursos, sendo neste aspeto fun-damental a produtividade dos recursos humanos. Os retornos financeiros da organização dependerão das equipas que se superam, que persistem. Uma equi-pa motivada tem a capacidade para entender onde está a errar, aprendendo com os erros, procurando uma melhoria contínua, buscando a excelência. Uma equi-pa motivada está focalizada nos objetivos e é capaz de multiplicar os esforços para alcançá-los.

Neste contexto, “motivar, reconhecer e recompen-sar” merece destaque. Sem motivação não há aumento expressivo de produtividade, nem tão-pouco resultados excecionais.

Uma “organização” motivada, apresenta uma ca-pacidade que a diferencia, que lhe aumenta a proba-bilidade de transformar meras possibilidades em reais conquistas.

A produtividade duma equipa depende da compe-tência da mesma e duma elevada motivação. Para isso, é fundamental uma maior disseminação dos valores--chave da organização e interiorização dos mesmos pe-los seus colaboradores, tais como…:

São esses valores que elevam o moral e a motivação dos elementos duma equipa, tornando-os mais partici-pativos.

Para tal ser conseguido, uma comunicação interna adequada é fundamental. Peter Drucker afirmou que “sessenta por cento de todos os problemas de adminis-tração resultam da ineficácia da comunicação”.

A comunicação deficiente e ineficaz costuma ser o maior e mais forte dos impedimentos. Tal facto impos-sibilita muitas vezes a equipa de atingir os resultados esperados. Quando não acontece uma boa comunica-ção, as potencialidades de cada um são empobrecidas. Devemos usar uma boa comunicação para envolver os elementos da equipa num esforço conjugado que per-mita alcançar os objetivos da organização.

Para além deste aspeto, sempre que uma boa co-municação faça com que os elementos duma equipa sintam a importância do seu contributo para a or-ganização e compreendam também a relevância do seu desempenho, envolvem-se emocionalmente na procura da concretização dos objetivos e interesses comuns.

Como dizia Peter Drucker:“Aprendi que o responsável pela concretização de

um objetivo é sempre uma pessoa obcecada por uma missão.”

Espera-se, pois, que o líder duma organização de-sempenhe esse papel crucial e inspire e mobilize a equi-pa em busca de uma visão.

Mas na realidade o que acontecena maior parte das organizações?

Segundo Robert Kaplan, somente 5% dos colabo-radores entendem a estratégia. 95% dos colaboradores não entendem a estratégia nem compreendem a sua re-lação com o futuro da organização. Como tal, não esta-rão focalizadas no que é essencial, nem motivadas para fazê-lo da melhor forma. Desse modo, nem a execução da estratégia da empresa será eficaz nem o rendimento dessas equipas poderá ser eficiente.

Este problema resulta do facto de ainda ser muito comum, em certas organizações, a visão ficar apenas na cabeça do empresário e na de alguns elementos diretos próximos do mesmo.

Ainda segundo Kaplan, 85% das equipas executi-vas gastam menos de uma hora por mês a discutir a estratégia. Como tal, a mesma não é comunicada para a linha de frente, que é responsável por fazer as coisas acontecerem. Este aspeto representa um grave erro de administração nas organizações.

Diante desses dados, que provam que, muitas vezes, os colaboradores não estão alinhados com os objetivos futuros de desenvolvimento e crescimento das empre-sas, é de extrema importância para a sobrevivência e crescimento duma organização, que os responsáveis da mesma reúnam com a sua equipa e estimulem um de-bate sobre as seguintes questões:

Esse será um passo fundamental para conseguir ob-ter um bom desempenho da sua equipa.

É de crucial importância para as nossas organiza-ções termos equipas de alto rendimento. Para obter o melhor das equipas de trabalho, é preciso liderá-las. Para tal, a existência dum bom sistema de comuni-cação entre o líder e os componentes da equipa será um contributo de inestimável importância. Esquecer a relevância deste facto reduzirá significativamente

OPINIÃO

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OPINIÃO

o rendimento da equipa, podendo mesmo pôr em causa o sucesso da mesma.

As empresas são compostas essencialmente de pessoas. E como são compostas por pessoas, é natural que tenham problemas com as falhas de comunica-ção. Por trás de muitas dificuldades, em grande parte das situações, existe uma causa: falhas de comunica-ção.

Estas falhas de comunicação escondem por vezes, sérios problemas de relacionamento. Peter Russell disse que, atualmente, cerca de 90% dos problemas nas empresas têm a ver com a comunicação (ou com a ausência dela).

Os problemas de comunicação estão na base dos grandes conflitos dentro das empresas, sabotando de-cisões, ações e metas. Contudo, as pessoas, por não terem consciência da dimensão do problema, pensam que as dificuldades de comunicação são problemas me-nores, e que não relevantes. Por isso, investem grandes quantidades de energia, de meios financeiros,... não nas causas dos problemas, mas no combate dos sin-tomas.

As falhas na comunicação escondem, na maioria das vezes, sérios problemas de relacionamento, de de-sajuste de foco no que é essencial para a organização. As falhas de comunicação podem sabotar o trabalho duma organização. Tornar uma organização com po-tencial excelente numa organização com desempenho medíocre.

Quanto melhor for a comunicação, mais a equipa estará afinada com as metas da empresa, e mais compe-titiva será a empresa.

O líder, deve, pelas razões expostas, usar a comu-nicação de forma eficaz. Para tal, deve falar de forma clara, concentrar-se na sua mensagem e levar os outros também a fazê-lo. Comunicar é fazer-se compreender.

Os líderes em qualquer organização têm um papel fundamental nas mudanças a empreender, com vista a possibilitar que a organização possa evoluir rumo ao objetivo desejado. São visionários. Constroem uma visão e são capazes de comunicá-la de forma clara aos seus colaboradores.

A visão estratégica do futuro duma empresa é por as-sim dizer, o sonho que o líder da organização pretende tornar realidade. Tem que ser comunicado à equipa, de forma que esta o interiorize e se sinta motivada para o ajudar a construir.

Uma boa liderançatem seguidores motivados.

O sucesso nas organizações é, pois, o resultado dum trabalho árduo em equipa. Quando existe uma forte motivação na equipa, resultante duma comunicação clara por parte do líder, de objetivos ambiciosos, empol-gantes, mas exequíveis, conjugada com o planeamento das ações e a confiança entre as partes envolvidas, o su-cesso será apenas uma consequência.

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OPINIÃO

A importância da simulação empresarial nas instituições de ensino superior: o exemplo do ISCAP-IPPPAULINO SILVA E RUI BERTUZI DA SILVA*

INTRODUÇÃOVivemos tempos de mudanças ex-

ponenciais. O livro “Future Shock”, de Alvin e Heidi Toffler, publicado no iní-cio dos anos setenta, ainda permanece relevante nos dias de hoje. Estes autores argumentam que a sociedade não tem sido particularmente bem sucedida na forma de preparar os indivíduos a lidar com a mudança. Já na antiga Grécia, Heráclito afirmava que tudo muda ex-ceto a própria mudança.

Num contexto de grandes mudan-ças os profissionais de hoje devem estar devidamente preparados, não apenas numa vertente do saber, mas também numa vertente do saber-fazer. Para responder a este desafio, algumas insti-tuições portuguesas de ensino superior introduziram nos seus cursos de licen-ciatura em Contabilidade uma ou mais unidades curriculares de Simulação Empresarial. No ISCAP-IPP, a Simu-lação Empresarial teve o seu início em fevereiro de 2003. Desde esse momen-to e até à presente data que as unidades curriculares de Simulação Empresarial I e II, são certificadas pela qualidade, no que respeita ao serviço prestado. Este foi um fator diferenciador e ino-vador, visto que foram as primeiras na Europa a obter tal distinção.

QUAIS OS OBJETIVOS?A abordagem do saber-fazer requer

uma perspetiva prática dos negócios. Por isso os principais objetivos, que apresen-tamos de seguida, enquadram-se nesta perspetiva. Primeiro, pretende-se que os alunos desenvolvam competências diver-sas, recorrendo ao conceito de “aprender a aprender” e de um raciocínio multidis-ciplinar. Segundo, pretende-se propor-cionar aos alunos uma visão prática da

atividade profissional, facilitando a sua transição do mundo académico para o mundo empresarial. Com esta aborda-gem os alunos estarão preparados para funções com níveis mais exigentes e mais bem remunerados. Por outro lado, podem também desempenhar funções mais especializadas, dadas as especifici-dades abordadas. Terceiro, o fomento de novas competências, como por exemplo a melhoria do trabalho em equipa, é um fator importante que se privilegia com o ambiente empresarial. Quarto, outra das competências proporcionadas é a capacidade para pesquisar, estruturar e reorganizar informação num ambiente integrado. Quinto, a pressão dos prazos e do volume de trabalho, por vezes pro-porcionada nas unidades curriculares de Simulação Empresarial ajuda os alunos a estarem melhor preparados para alguns momentos da sua vida profissional. Sex-to, nem sempre a tomada de decisões pode ser treinada e praticada através dos métodos tradicionais de ensino. A Simu-lação Empresarial possibilita a prática e o treino da tomada de decisões. Ainda que erradas, as decisões dos alunos são sem-pre importantes no processo de aprendi-zagem e de preparação para o mundo dos negócios. Sétimo, comunicar é hoje uma das capacidades mais importantes de um profissional. Através da realização de re-latórios e trabalhos escritos, assim como de apresentações orais, só para referir alguns exemplos, os alunos enriquecem as suas capacidades comunicacionais. Oitavo, as atitudes pessoais, profissionais e éticas devem ser valorizadas no mundo dos negócios. Em instituições de ensino superior responsáveis pela educação de bons profissionais, estas atitudes devem ser relevadas durante a sua formação. Na prática, mesmo em ambiente empresa-

rial, o ensino deverá privilegiar como se deve fazer e não necessariamente como se faz, pois nem sempre o que se costuma fazer é o mais correto.

QUE MEIOS SÃO NECESSÁRIOS?

No ISCAP-IPP foram utilizados sis-temas de informação integrados, conhe-cidos como ERP (Enterprise Resource Planning) possibilitando uma melhor integração dos alunos em atividades que são desenvolvidas normalmente em empresas de maior dimensão. É ver-dade que muitos dos alunos não terão oportunidade de trabalhar na sua vida prática com um sistema similar, mas permite-lhes estar preparados para o que de mais avançado existe no mercado.

A utilização da tecnologia é sempre uma mais-valia no ensino simulado, desde que essa mesma tecnologia seja utilizada como um facilitador e não como um fim. Os alunos devem enca-rar a tecnologia mais avançada como um meio que lhes permite facilitar o seu trabalho, como, por exemplo, a tomada de decisões, essa sim, um dos objetivos finais.

COMO FUNCIONA?Normalmente os alunos são colo-

cados em grupos de 3 ou 4, forman-do empresas virtuais com atividades e dimensões diferenciadas. Para além das empresas dos alunos, e para que o mer-cado funcione devidamente, estão tam-bém presentes organizações externas, tais como entidades sem fins lucrativos, organizações e departamentos governa-mentais, clientes e fornecedores nacio-nais e estrangeiros diversos. A interação é fundamental entre empresas e outras organizações, de forma a permitir a di-

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OPINIÃO

nâmica necessária ao funcionamento do mercado.

Esta interação resulta num volume de trabalho para os alunos que lhes permite aplicar os conhecimentos de índole mais teórico obtido nas outras unidades curriculares. Desde o arquivo e organização de documentos até às de-cisões estratégicas, passando por toda a logística de criação da empresa, os alu-nos experimentam atividades muito di-versas. Embora fosse possível conseguir desempenhar todas estas atividades num estágio de uma empresa, dificil-mente tal seria exequível num período tão curto de tempo.

Para que os alunos possam desem-penhar estas atividades no momento mais adequado, existe um planeamento previamente preparado. Algumas das atividades desenvolvidas são a conta-bilização de documentos, a faturação, o processamento dos recebimentos, a gestão de tesouraria, a gestão de stocks, a solicitação de um empréstimo bancá-rio, a elaboração e o acompanhamen-to de contratos de leasing, factoring, royalties, entre outras.

Outro aspeto bastante importante neste modelo de funcionamento é o do calendário real. Todas as empresas têm de cumprir com as suas obrigações fiscais dentro dos prazos legalmente es-tabelecidos. Uma das vantagens da uti-lização do calendário real é o de criar rotinas e responsabilidade aos alunos sobre o exercício das funções no futuro.

COMO SÃO REALIZADASAS ATIVIDADES?

No ISCAP-IPP, os alunos têm duas sessões por semana com a duração de três horas. No início de cada sessão os alunos começam por passar o seu car-tão de presença no terminal de contro-lo de ponto junto à porta da sala. O controlo de presença tem duas funções. A primeira função é a de dar realida-de empresarial ao procedimento, a segunda função é a de controlar a as-

siduidade dos alunos eletronicamente, uma vez que a assiduidade é uma das componentes da avaliação individual de cada aluno.

A sessão é iniciada com uma breve explicação do professor sobre as prin-cipais atividades a realizar e com o es-clarecimento de eventuais dúvidas so-bre as mesmas. A regra é que os alunos executem as várias atividades de forma autónoma, no entanto, nas situações de dúvidas pontuais, quer o professor quer o seu assistente ajudam na resolução. As atividades realizadas todas as sessões pe-los alunos nas suas empresas dão origem à avaliação contínua, que considera o trabalho realizado em todas as sessões.

Para a realização das tarefas de cada sessão é disponibilizado aos alunos um conjunto de ferramentas, tais como o guião da empresa, a relação das tarefas e os documentos de apoio à realização das tarefas. O guião da empresa é o documento base de cada sessão. Nesse documento constam as diferentes tare-fas que cada empresa tem de realizar du-rante a sessão. Para saber o que se espera que cada empresa realize na execução de cada guião, é necessário consultar a re-lação das tarefas. Através da consulta da relação das tarefas os alunos ficam a sa-ber as diferentes subtarefas a realizar em cada tarefa. Além destes dois documen-tos é sempre necessário consultar os do-cumentos de apoio. Como documentos de apoio podemos ter legislação, minu-tas de contratos, faturas, requisições, etc. Esses documentos são disponibilizados aos alunos, tanto em formato eletrónico como em formato físico.

No caso do ISCAP-IPP a duração das duas unidades curriculares, Projeto de Simulação Empresarial I e II, é de um semestre cada. No segundo semes-tre são exigidas algumas tarefas mais complexas, que não são tão comuns no dia a dia das empresas. Dessas tarefas destacamos desde logo a transformação da sociedade, as operações de fim do exercício assim como as obrigações fis-

cais e o preenchimento das declarações fiscais Modelo 22 e IES (Informação Empresarial Simplificada). A execução destas tarefas é fundamental também em termos de avaliação, pois são a base para o relatório final apresentado pelos alunos com respetiva defesa oral.

COMO SÃO GERIDASAS EMPRESAS?

As empresas dos alunos, para além deles próprios, sócios-gerentes (no pri-meiro semestre) ou administradores--acionistas (no segundo semestre) in-cluem mais 30 trabalhadores na estrutura de pessoal. Esta organização permite aos alunos executarem todos os procedimen-tos contabilísticos e legais decorrentes da mesma, nomeadamente elaboração de contratos de trabalho, comunicações à Segurança Social e à Administração Fis-cal, constituição de seguros de acidentes de trabalho, processamento e pagamento mensal dos vencimentos.

Todas as empresas dos alunos são classificadas como grossistas ou reta-lhistas. Caso sejam retalhistas, têm como principal objetivo comercial vender as suas mercadorias às restantes empresas do mercado, nomeadamente aos seus colegas que possuem empresas retalhistas. Os grossistas possuem 18 referências de mercadorias às quais adi-cionam um serviço de assistência técni-ca. Os retalhistas possuem 3 referências de mercadorias e também um serviço de assistência técnica associado.

Todos os meses os alunos proces-sam e pagam os vencimentos aos seus trabalhadores, tendo em consideração o princípio do acréscimo subjacente à sua contabilização. Assim, os gastos mensais com os recursos humanos não se limitam apenas ao valor dos venci-mentos mensais, mas também um duo-décimo dos gastos anuais, como, por exemplo, subsídio de férias e subsídio de Natal. Tendo em conta uma políti-ca de qualidade e de responsabilidade social, todas as empresas dos alunos

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OPINIÃO

possuem estruturas internas de apoio aos seus trabalhadores, nomeadamente uma cantina e uma creche.

Para além das atividades normais na gestão de uma empresa, os alunos realizam atividades menos habituais, nomeadamente contratos de locação financeira mobiliária e imobiliária, contratos de factoring, contratos de royalties, atividades de produção, etc.

De forma a ampliar o âmbito de intervenção das empresas dos alunos, existem outras empresas, que, não sendo geridas pelos próprios alunos, desem-penham um papel importante para o equilíbrio de mercado e para o aumento da complexidade proporcionada. Essas empresas são geridas pelos professores e monitores que interagem dessa forma com o mercado. Exemplo disso são as empresas estrangeiras, que podem ser clientes ou fornecedores de mercado-rias, pertencem a 3 mercados diferentes: Estados Unidos, Reino Unido e Alema-nha. Desta forma pretende-se englobar as possíveis realidades diferentes no tra-tamento contabilístico e fiscal com essas mesmas entidades, como por exemplo no âmbito do IVA, do IRS e do IRC.

Também fazem parte do mercado de Simulação Empresarial algumas entidades nacionais, que não são geri-das pelos alunos, nomeadamente, um Banco, uma Seguradora, um Sindicato, Associações e outras entidades gover-namentais, necessariamente presentes num mercado real. Para além de uma relação regular com as empresas dos alunos, estas organizações podem tam-bém interagir em momentos excecio-nais, nomeadamente quando existem falhas de fornecimento de matérias pri-mas ou mercadorias e há a necessidade de encomendas extraordinárias.

COMO SE FAZ A AVALIAÇÃO?As unidades curriculares de Simu-

lação Empresarial normalmente pos-suem regulamentos próprios para a inscrição, frequência e avaliação, dada

a sua especificidade e diferenças exis-tentes em relação aos regulamentos das outras unidades curriculares. Uma das questões fundamentais para além da forma como devem funcionar as uni-dades curriculares, tem a ver com as metodologias utilizadas na avaliação dos alunos. Como estamos em institui-ções de ensino superior e onde é neces-sário atribuir uma nota de 0 a 20, a me-todologia de avaliação dos alunos deve estar bem clarificada no regulamento.

No ISCAP-IPP, a avaliação, de tipo contínua, muito promovida com a implementação do processo de Bo-lonha no ensino superior português, é um dado adquirido desde a introdução destas unidades curriculares nos cursos de licenciatura.

O método de avaliação dos alunos, para além de complexo, é bastante exi-gente para os docentes. No ISCAP-IPP, a avaliação de cada aluno é obtida por uma componente individual equivalente a 35% do total e a uma componente co-letiva, equivalente a 65% do total. Cada uma destas componentes está dividida em várias subcomponentes, valorizadas de acordo com o seu grau de importância e tendo em conta a sua complexidade.

QUAL É O FEEDBACK?Em geral, nas instituições de ensi-

no superior que oferecem as unidades curriculares de Simulação Empresarial, a opinião dos alunos é bastante favo-rável. Nos inquéritos efetuados regu-larmente aos alunos do ISCAP-IPP, verifica-se que a sua perceção em rela-ção às unidades curriculares de Simu-lação Empresarial é muito positiva. A evidência prática desta conclusão é que continua a existir um grande núme-ro de alunos inscritos, mesmo que as unidades curriculares tenham deixado de ser obrigatórias para a conclusão da licenciatura. Apesar de os alunos pode-rem fazer um estágio numa empresa em alternativa à frequência das unidades curriculares de Simulação Empresarial,

a procura mantém-se elevada todos os anos. Acresce a este número de alunos internos um número cada vez mais ele-vado de alunos já diplomados de ou-tras instituições de ensino superior que substituem, desta forma, o estágio para se inscreverem na OTOC.

Tem-se verificado também que algu-mas das competências estimuladas neste ambiente são muito valorizadas pelos es-tudantes, nomeadamente o trabalho em equipa. Aliás, o trabalho de equipa é uma das competências que os alunos mais necessitam de assimilar, pois o mercado de trabalho assim o exige. Normalmente fazem todo o seu percurso académico tra-balhando sozinhos, excetuando-se alguns trabalhos de grupo de uma ou outra uni-dade curricular, o que é insuficiente para adquirir tal competência. A gestão de conflitos e a organização e planeamento do trabalho são alguns exemplos de ati-vidades que os alunos realizam dentro do seu grupo para serem bem sucedidos.

CONCLUSÕESEm vários estudos académicos já rea-

lizados, o feedback, quer dos alunos quer das empresas potenciais empregadoras, é muito positivo no que concerne à pre-paração para o mercado de trabalho. Os alunos reconhecem que melhoram mui-to as suas capacidades de trabalho em grupo, assim como as suas capacidades de comunicação oral e escrita. Outro as-peto valorizado pelos alunos é o contacto com uma grande heterogeneidade de ta-refas, muitas delas complexas.

Concluindo, o número estável de alunos internos que frequentam e prefe-rem a Simulação Empresarial ao estágio numa empresa para concluir a licen-ciatura e o número crescente de alunos externos procurando colmatar a exigên-cia de estágio por parte da OTOC para acesso à profissão de Técnico Oficial de Contas, são evidências claras de uma aposta ganha pelo ISCAP-IPP.

*Investigadores e Docentes do ISCAP-IPP

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Entre as medidas preconizadas pelo anteprojeto de re-forma do IRC (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas), destacam-se a descida da taxa nominal do Im-posto e um conjunto de medidas que possibilitaram aos sujeitos passivos coletivos usufruir de uma taxa efetiva de imposto mais baixa, e mais condizente com os padrões europeus, aumentando inequivocamente a competitivi-dade fiscal do país e aliviando a carga fiscal das empresas, sobretudo dos grandes contribuintes.

Entre as medidas previstas, de destacar o regime de “participation exemption”, o qual possibilitará, grosso modo, importar e exportar mais-valias e dividendos sem tributação, mediante o cumprimento de determinados requisitos.

No entanto, se, por um lado, este último aspeto pode-rá ser o mais importante para cativar investimento estran-geiro, e para a manutenção no país das holdings de grupos empresariais que procuram a internacionalização, por ou-tro lado poderá colocar o país como “target” internacional de esquemas de planeamento fiscal abusivo.

Ademais, parece-nos que este tipo de regime fiscal não é suficiente, de per si, para chamar ao país o denominado investimento produtivo, nem sequer é capaz de reter capi-tais, tornando o país num mero veículo internacional de influxos e exfluxos financeiro, incapaz de alavancar a cria-ção de emprego e, como tal, incapaz de sinergicamente

reavivar os setores da indústria ou dos serviços.O país urge uma reforma fiscal mais profunda, menos

limitada, e sobretudo mais abrangente, capaz de tornar o parco orçamento médio familiar, mais competitivo do ponto de vista socioeconómico, através do consumo, ali-viando a sobrecarga fiscal existente no Imposto Sobre o Valor Acrescentado (IVA) e no Imposto sobre o Rendi-mento das Pessoas Singulares (IRS).

Será naif acreditar que os baluartes de decisão do investidor internacional se cinjam a um regime de IRC competitivo, num país que tem sobre si o ónus dum res-gate financeiro, quando deverão ser, entre outros, fatores fulcrais de decisão:

I) Um regime de IVA mais competitivo e não próximo do máximo da UE (25%);

II) A existência de medidas fiscais que diretamente motivem a criação de emprego;

III) A existência de medidas fiscais que diretamente motivem o investimento produtivo;

IV) A existência de medidas fiscais que diminuam o custo do fator trabalho;

V) A existência de estabilidade política/fiscal, median-te medidas consistentes e duradouras no tempo;

VI) Um sistema judicial célere e justo.

*“Tax Senior Manager” da BCA

A (in)eficácia socioeconómicada reforma do IRCDANIEL LEITE HENRIQUES*

OPINIÃO

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OPINIÃO

Considerações genéricas sobre a auditoria: conceito, limitações, necessidade e benefícios sociais

A American Accounting Association (AAA, 1973), após dois anos de investigação, define auditoria como um proces-so sistemático de obter e analisar objetivamente a evidência acerca das afirmações relacionadas com atos e acontecimen-tos económicos, a fim de as avaliar à luz de critérios estabe-lecidos e de comunicar o resultado às partes interessadas.

O American Institute of Certified Public Accountants (AI-CPA), no seu Statement of Auditing Standards (SAS) (1973), refere que o objetivo do exame às demonstrações financei-ras realizado por um auditor independente é expressar uma opinião sobre a fiabilidade das demonstrações financeiras de uma empresa, os resultados das operações e as alterações da posição financeira em conformidade com os princípios con-tabilísticos geralmente aceites.

Por sua vez, em 1980, o International Auditing Practi-ces Committee1 da International Federation of Accountants (IFAC, 1980:9) preconiza que o objetivo de uma auditoria às demonstrações financeiras é possibilitar ao auditor expres-sar uma opinião independente sobre essas demonstrações fi-nanceiras, acrescentando, ainda, que a opinião do auditor confere credibilidade à informação financeira.

O ICAEW (1980) concebe a auditoria como um exame independente e como a expressão de uma opinião sobre as demonstrações financeiras de uma empresa, emitida por um auditor que atesta a concordância com os princípios conta-bilísticos geralmente aceites.

Os conceitos apresentados têm na sua essência o mesmo significado e conteúdo, e focam o papel do auditor na credi-bilização da informação financeira, sendo este o desiderato básico da auditoria, de acordo com a teoria da confiança. Acresce que estas organizações conceberam a auditoria como uma função complexa, conduzida e desenvolvida por profis-sionais especialistas em matérias contabilísticas, colocando, como condição essencial, o enfoque na contabilidade finan-ceira e na prestação de contas. Realçam, por consequência, o caráter técnico da função, que tem subjacentes três com-ponentes: as limitações de uma auditoria, as condições que ditam a sua necessidade e os seus benefícios sociais.

As limitações de uma auditoria devem ser conhecidas pelo público em geral, e são amplamente justificadas pelos defensores da corrente que pretende justificar o diálogo en-

1 Atualmente denominado IAASB – International Auditing and Assurance Standards Board.

tre os utilizadores da informação financeira e os auditores, através de uma via eminentemente pedagógica, dando-as a conhecer aos utentes da informação financeira. Estas limita-ções estão expressas no seguinte enunciado:

“A auditoria às demonstrações financeiras efetuadas de acordo com os princípios contabilísticos geralmente aceites é afetada por um conjunto de restrições inerentes, na medida em que princípios alternativos são permitidos na contabili-dade, os princípios não estão devidamente hierarquizados, o risco e a incerteza têm um reflexo cada vez maior nas de-monstrações financeiras, o que implica, cada vez mais, um exercício de julgamento subjetivo por parte dos auditores”.

A análise custo-benefício deve estar presente na con-dução de uma auditoria, situação que introduz limitações na seleção de testes substantivos a efetuar, na dimensão da amostra, e na análise de todos os dados em função da mate-rialidade exigida e do risco na condução da auditoria.

Os relatórios de auditoria são, na maioria dos casos, ela-borados com alguns meses de atraso em relação à data das de-monstrações financeiras. Esta diferença temporal afeta a obten-ção de evidências e é demasiado pequena para a resolução das incertezas existentes à data do balanço. Acresce que os efeitos subsequentes à data de encerramento das contas são, muitas vezes, difíceis de quantificar e podem ter efeito materialmente relevante nas demonstrações financeiras objeto de análise.

Algumas evidências são obtidas por via verbal ou escrita, e, neste último caso, por via das declarações de responsabili-dade, situações eivadas de um risco inerente muito grande.

As auditorias são conduzidas por homens, pelo que a inerente fraqueza humana, o cansaço e a falta de cuidado, e o não cumprimento dos códigos de ética e da deontologia profissional, podem afetar a escolha da amostra de evidência.

Quatro condições ditam as necessidades de uma auditoria, segundo o Committee on Basic Audit Concepts (1969), organismo que estabelece a relevância e a fiabilidade como as duas qualida-des básicas no processamento da informação e na sua introdução como input na tomada de decisão. O referido comité estrutura e justifica a auditoria com base na teoria da agência2, referindo os seguintes argumentos que criam a procura da auditoria:

2 Esta teoria é hoje a mais referida na fundamentação económica da audito-ria. Todavia, a clássica teoria da credibilização das demonstrações financeiras e da teoria da confiança e a teoria motivacional que aponta para o efeito dissuasor da auditoria na manipulação da informação financeira e a teoria da dúvida e da verificação são outras teorias explicativas da auditoria.

BRUNO JOSÉ MACHADO DE ALMEIDA*

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16 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

OPINIÃO

a) Conflito de interesses – É o argumento típico da te-oria da agência, que considera a empresa como uma rede de interesses e contratos, apresentando os utili-zadores e os acionistas de uma empresa em conflito potencial com os administradores em relação à sua gestão e comunicação do seu desempenho. Com efeito, por parte dos utilizadores da informação financeira e dos donos da empresa, há receios de que as demonstrações financeiras preparadas pelos gestores possam estar intencionalmente deturpadas com erros materialmente relevantes. Aliada a esta questão, há ainda que realçar os conflitos de interes-ses que podem igualmente ocorrer entre financia-dores e acionistas. Consequentemente, os diferentes grupos interessados na informação financeira, rela-tada por uma empresa, necessitam de ter seguran-ça, que lhes é, supostamente, proporcionada pelos auditores externos, de que a informação veiculada está isenta de erros e que é neutral em relação aos vários utilizadores. Verifica-se, assim, que o nível de segurança é uma questão central para os utilizadores da informação financeira.

b) A auditoria como suporte de decisões económicas – Tra-ta-se, igualmente, de uma condição que conduz à pro-cura de auditoria. Assim, as demonstrações financei-ras são uma importante fonte, quando não única, de informação para o processo de tomada de decisão de investimento, desinvestimento, financiamento e todo um amplo ramo de outras decisões. Como corolário, estes utilizadores procuram no auditor a validação, em termos de segurança informativa, das demonstrações financeiras, incluindo a sua divulgação.

c) Complexidade – A complexidade crescente da infor-mação financeira, na qual se introduzem, cada vez mais, valorimetrias alternativas, estimativas e proje-ções, aumentam o risco de interpretações enviesadas e de erros intencionais.

d) Distância, tempo e custo – Sendo impossível, à gene-ralidade dos utilizadores da informação financeira, verificarem diretamente as demonstrações financei-ras e atestarem a fiabilidade das asserções do órgão de gestão, confiam no relatório do auditor indepen-dente para satisfazer as suas necessidades.

Os benefícios sociais da auditoria estão estritamente relacionados com a redução de o risco das demonstrações financeiras conterem erros materialmente relevantes, esta-rem incorretas ou deliberadamente deturpadas, e consubs-tanciam-se em:

– Acesso ao mercado de capitais. Em todos os mercados de valores mobiliários, o registo das empresas nos orga-nismos de supervisão impõe, como base principal de cotação das ações, que as demonstrações financeiras sejam auditadas;

– Custo mais baixo do capital. As sociedades auditadas conferem, à partida, uma redução do risco da in-formação publicada, pelo que alguns financiadores conferem a este tipo de empresas taxas de juro mais baixas;

– Prevenção de fraudes e ineficiência. A auditoria tem um efeito indutor no comportamento da empresa auditada, porque, preventivamente, introduz nos empregados uma atitude de melhoramento con-tínuo, e de aperfeiçoamento do processamento contabilístico e, simultaneamente, sabendo os ad-ministradores que as suas asserções vão ser objeto de verificação e validação, provavelmente o risco de preparação de demonstrações financeiras fraudulen-tas é mais reduzido.

Neste enquadramento, os organismos de auditoria dese-nham o quadro técnico-legal que regulamenta a profissão de auditor, focam a auditoria no plano meramente financeiro, associando a contabilidade e a auditoria num corpo de téc-nicas complexas, mas preferencialmente neutrais, e não sus-cetíveis de influenciar comportamentos humanos. Impõem, ainda, à sociedade normas de conduta das organizações, e quais os aspetos que devem ser objeto de prestação de contas e, portanto, submetidos à auditoria.

Fomentam, ainda, um conjunto de procedimentos téc-nicos aplicados no intuito da obtenção de evidências rela-cionadas com a fiabilidade. Porém, esquecem-se de que é a sociedade, em constante movimento, que dita as regras e normas de conduta, e que o conceito de auditoria deve progredir no sentido de se adaptar às necessidades da so-ciedade, que, em último caso, determina a sua evolução. Os auditores e os organismos responsáveis pela emissão de normas de auditoria, ao não reconhecerem a natureza di-nâmica desta e ao não darem respostas à crescente pressão social, contribuíram para o desenvolvimento de diferentes opiniões entre aqueles e os utilizadores da informação fi-nanceira sobre o papel e objeto da auditoria: esta, na re-alidade, está sujeita ao crescente escrutínio da sociedade e a sua validade e valor acrescentado são, hoje, objeto de críticas constantes e permanentes.

*Professor Coordenador da Escola de Negócios de Coimbra – ISCAC Business School

Revisor Oficial de [email protected]

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17CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

Jörgen Holmquist, presidente da IESBA, considera

Ética tem de estar sempre presentena atividade dos técnicos de contas

A ética tem de estar sempre pre-sente na atividade desenvolvida pelos técnicos oficiais de contas. “O conhe-cimento técnico não pode estar desli-gado dos padrões éticos”, refere Jörgen Holmquist, presidente da Comissão Internacional de Normalização da Ética na Contabilidade (IESBA), em entrevista à Revista TOC. Objetivi-dade, imparcialidade e independência são os três princípios que têm de estar presentes no desempenho de qualquer profissional da contabilidade.

“É sabido que alguns regulado-res preferiam um código baseado em regras. Não creio que essa seja a me-lhor solução, até porque o código do IFAC é aplicado em todo o mundo, em diferentes jurisdições e tradições. Várias investigações demonstram que num código baseado em princípios as pessoas tendem a pensar qual é o comportamento correto. Estou em crer que os princípios favorecem uma atitude e uma cultura éticas.” Jörgen Holmquist vai mais longe ao defender que no ensino da contabilidade devia ser obrigatório um capítulo unica-mente dedicado às questões da ética e de assuntos relacionados com o inte-resse público.

Na sua perspetiva, não restam dú-vidas que o conhecimento técnico não pode estar desligado dos padrões éti-cos. Se se for muito bom tecnicamente em questões específicas da contabilida-de, a informação pode ser usada com o propósito de promover a fuga e a evasão fiscais. “No fundo, trata-se de descrever a situação da empresa de for-ma deficiente e desfasada da realidade.

A ética deve, por isso, prevalecer, sem margem para dúvidas. E num contexto de crise exige-se mais atitude ética.”

Custo de contextopara as empresas

Questionado sobre o facto de a contabilidade ser considerada um custo de contexto para as empresas, o presidente da IESBA revela uma perspetiva diferente. Na sua opinião, não restam quaisquer dúvidas que as grandes e médias empresas não podem prescindir da contabilidade. Quanto às empresas muito pequenas, com fi-nanciamentos e recursos limitados, já se admite que prescindam de um TOC. Mas também assume que exis-tam ideias diferentes de país para país. “Genericamente, os países de raiz lati-na concordam, enquanto os não lati-nos são mais favoráveis em dar às mi-croempresas liberdade para decidirem sobre ter ou não contabilidade. Penso que estão em causa motivos de raiz cultural. Estou em crer que a Europa seria muito mais pobre se os países rea-

gissem todos da mesma maneira, tanto cultural como do ponto de vista do de-senvolvimento económico.”

Relativamente à atual situação na Europa, admite que os políticos cometeram o erro de ignorar que a adesão ao novo modelo monetário implicava mudanças que não foram introduzidas. Era fundamental man-ter as finanças públicas em ordem e controlar o défice para que não ficasse descontrolado. “Penso que as medidas implementadas em Portugal e noutros países são as certas para combater esses problemas. Todavia, em paralelo, seria importante promover uma política de estímulo económico e ao investimen-to no Norte da Europa, pois isso iria ajudar os países do Sul a enfrentar os problemas mais severos.”

Pode-se concluir das palavras de Jörgen Holmquist que está moderada-mente optimista quanto ao futuro. Re-fere em jeito de síntese: “Preocupa-me a situação política sensível em função da crise económica. Mas estou em crer que vamos todos sair disto, apesar de ainda termos anos difíceis pela frente.”

CONTABILIDADE

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CONTABILIDADE

O Governo decidiu dar uma oportunidade aos incumpridores para regularizarem a sua situação fiscal até ao próximo dia 20 de dezembro. Foi aprovado um regime excecional e temporário de regularização de dívi-das fiscais e à Segurança Social, possi-bilitando a isenção do pagamento dos juros de mora, dos juros compensató-rios e das custas administrativas, bem a redução significativa das coimas.

Refere o Ministério das Finanças em comunicado: “Ao aprovar este re-gime, o Governo teve como objetivo conferir aos contribuintes uma derra-deira oportunidade de regularizarem a sua situação tributária e contributi-va, essencial para permitir o acesso ao novo quadro comunitário.” De facto, as empresas que não tiveram a sua si-tuação regularizada perante o fisco ou a segurança social ficam interditas de acederem aos fundos de investimen-to. Adianta ainda o comunicado que “o regime excecional e temporário de-verá permitir o reequilíbrio financeiro dos devedores, evitando situações de insolvência de empresas e permitindo a manutenção de postos de trabalho.” Naturalmente, esta medida também pretende garantir uma maior receita fiscal até ao final do ano, no âmbito da redução do défice orçamental.”

De salientar ainda que a referida regularização da situação fiscal e con-tributiva possibilita o acesso aos bene-fícios fiscais ainda em vigor, a par da submissão de candidaturas a concur-sos públicos. O Governo estima que, em caso de sucesso desta medida, o Estado poderá encaixar cerca de 700

milhões de euros em receita fiscal e contributiva. Quanto aos contribuin-tes faltosos, terão de ter em conta que o pagamento de juros de mora se tra-duz em 6,1% ao ano, os juros com-pensatórios fixam-se em 4% anuais, a que haverá que acrescentar ainda as custas administrativas. O Governo não deixa de comentar que a iniciati-va “será acompanhada de outras me-didas de reforço do combate à fraude e à evasão fiscais, nomeadamente um agravamento do regime dos crimes fiscais, a vigorar a partir de janeiro”.

Mantém-se o direito de defesa

Importa notar que a regularização das dívidas em apreço não impede o direito de defesa dos contribuintes. Estes podem, de igual modo, recorrer a meios graciosos, judiciais e arbitrais para recuperarem os valores pagos, com o acréscimo de juros indemniza-tórios (também à taxa anual de 4%). Refere a RFF que “o pagamento ao abrigo deste regime permitirá, assim que o contribuinte conteste a legali-dade ou a exigibilidade da dívida em

causa, sem que sobre a mesma acres-çam juros de mora mensais, podendo ainda, caso lhe seja concedida razão, beneficiar da referida taxa anual de 4% de juros indemnizatórios, difi-cilmente concedida pela generalida-de das instituições financeiras – para além da dispensa de pagamento dos juros compensatórios e das custas ad-ministrativas e da redução das coimas aplicáveis”.

Convém ainda referir que não é a primeira vez que se está perante este tipo de “perdão fiscal”. Já três ministros recorreram ao regime de regularização voluntária de dívidas fiscais, nos planos conhecidos por Catroga, Mateus e Leite. Os resulta-dos foram superiores às expetativas. Com Manuela Ferreira Leite o Esta-do conseguiu recuperar mais de 1,1 mil milhões de euros. Também não são de excluir, mais recentemente, os Regimes Excecionais de Regulariza-ção Tributária (RERT). Estes tinham por objetivo a regularização dos ele-mentos patrimoniais detidos fora de Portugal e não declarados à adminis-tração tributária.

Para garantir arrecadação imediata de receita

Governo aprova plano excecionalde regularização de dívidas fiscais

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CONTABILIDADE

A Comissão Europeia está a pe-dir informações à Irlanda, ao Lu-xemburgo e à Holanda sobre os seus acordos fiscais com multinacionais. Poderá estar em preparação uma investigação formal sobre condições fiscais mais atrativas.

Bruxelas já questionou os res-petivos governos nacionais sobre os seus sistemas fiscais e as garantias que são dadas a alguns grandes gru-pos. Trata-se de mais um passo por parte das autoridades comunitárias para combater a evasão fiscal, por via da criação de um regime único que evite sérias distorções em termos de concorrência. Há grupos que estarão a ser favorecidos com regimes fiscais bastante mais apelativos. De notar que não significa que Bruxelas tenha detetado irregularidades. Caso se-jam encontradas causas para receios será aberta uma investigação formal e iniciado um processo que obrigue aqueles países a reporem as receitas perdidas através de acordos com as empresas.

Um caso paradigmático nesta matéria é o da Apple. Uma comissão do senado dos Estados Unidos avi-sou a Irlanda para agir relativamen-te à conduta da Apple, que estaria a fugir ao pagamento de impostos em todo o mundo, através daquele país. Dublin terá permitido à Apple pagar uma taxa de IRC de 2% ou menos, contra os habituais 12,5%. A Irlan-da já rejeitou as alegações de que se estaria perante um acordo privilegia-do. O Luxemburgo, no entanto, é o país mais criticado por levar longe

Irlanda, Luxemburgo e Holanda na mira das autoridades

Bruxelas “ataca” paraísos fiscaisna União Europeia

de mais esse tipo de acordos, funcio-nando como um verdadeiro paraíso fiscal.

Bruxelas deverá centrar as suas questões em que valor exatamente as autoridades nacionais calculam as regras fiscais quando avaliam as receitas fiscais das empresas multi-nacionais. Acontece que os impostos são canalizados através de subsidiá-rias, permitindo reduzir assim o seu peso junto do fisco. Muitas empresas nem sequer existem fisicamente na-queles países, sendo possível operar através da abertura de uma simples caixa postal para efeitos fiscais. É ver-dade que as questões fiscais estão na ordem do dia naqueles países, mas, para já, as autoridades parecem pou-co inclinadas a mudar o atual esta-do de coisas, sob pena de perderem

elevadas quantias de investimento estrangeiro.

Multinacionais utilizam “lacunas” na lei

O que se tem passado com algu-mas grandes empresas dá uma ima-gem clara da forma como estes países funcionam como “paraísos fiscais”, ainda que não o admitam. Um rela-tório do Senado dos Estados Unidos dá conta da forma como tem opera-do a Apple para fugir ao pagamento de impostos. Diz o documento que Dublin permitiu à empresa da maçã pagar apenas 2% de IRC, muito in-ferior à taxa usual de 12,5% na Irlan-da. O Governo irlandês rejeita estas acusações de favorecimento. Mas a Apple terá conseguido evitar pagar

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CONTABILIDADE

REGIMES BENEFICIAM AS GRANDES EMPRESAS

Um trabalho do jornal “Financial Times” dá conta de três exemplos em que as empresas evitam pesadas cargas fiscais:

Irlanda: A estrutura assenta em duas empresas irlandesas incorporadas. A primeira empresa – que geralmente é residente fiscal na Irlanda – paga “royalties” para usar propriedade intelectual, o que gera despesas e reduz o valor da taxa paga na Irlanda. A outra empresa, tipicamente incorporada na Irlanda (mas sem ser fiscalmemte residente), recolhe os “royalties” num paraíso fiscal, como as Bermudas, evitando assim o pagamento de impostos na Irlanda.

Luxemburgo: Uma empresa das Ilhas Caimão pode emprestar dinheiro livre de encargos a uma subsidiária no Luxemburgo, a qual, por sua vez, empresta a uma outra empresa a operar num qualquer outro local. O juro nominal que a empresa do Luxemburgo paga sobre o seu empréstimo é desativado contra o juro que recebe da empresa que está a operar. O que resulta numa taxa de juro efetiva muito baixa, muito inferior à taxa limite de 29%.

Holanda: Uma multinacional norte-americana forma uma parceria limitada (pequena empresa) holandesa e uma corporação (grande empresa), ambas com diferentes tipos de regimes fiscais nos dois países. O resultado é que, se a parceria faz um empréstimo ou emite licenças de propriedade inteletual à corporação, pouco ou nada é pago na Holanda ou nos Estados Unidos.

impostos no valor de 44 mil milhões de dólares às autoridades fiscais nor-te-americanas.

A Starbucks é outro caso para-digmático. Alegadamente, terá es-magado o imposto ao apresentar as contas de propriedade inteletual na sua subsidiária holandesa, que de-pois cobrava pesados “royalties” às restantes subsidiárias, permitindo que a unidade britânica apresentasse lucros muito baixos ou até aparecesse sem quaisquer ganhos. A empresa es-cusou-se a comentar a situação, ale-gando regras de confidencialidade. O Governo holandês argumenta que as autoridades fiscais estão cobertas pela obrigação de confidencialidade, pelo que cabe à Starbucks tornar as suas contas públicas.

A realidade é que as multina-cionais utilizam, com frequência, as lacunas nas leis irlandesa e até norte-americana para incorporarem

subsidiárias na Irlanda ou na Ho-landa, mas com empresas-mãe com residência fiscal nas Bermudas, por

exemplo. Depois “afunilam” os lu-cros através de subsidiárias para re-duzirem a respetiva carga fiscal.

De acordo com o fiscalista Rogério Fernandes Ferreira

Empresas portuguesas estão atentas ao fenómeno da “concorrência fiscal internacional”

As empresas portuguesas estão atentas ao fenómeno conhecido como “concorrência fiscal internacional” e que leva alguns países a adotarem re-gimes fiscais mais favoráveis para a atração de investimento estrangeiro. Prova disso mesmo foi a mudança da sede de um dos maiores grupos em-presariais portugueses para a Holanda. O fiscalista Rogério Fernandes Ferreira considera que as empresas nacionais de maior dimensão não “escapam” a um nível de sofisticação bastante elevado no que toca à gestão fiscal.

Chama a atenção para o facto de estas operações importarem, as mais das vezes, custos de gestão e manu-

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Entidades empresariais podem beneficiar de regimes fiscais mais favoráveis

CONTABILIDADE

tenção relevantes, sendo, por isso, de difícil acesso a empresas de peque-nas e médias dimensões. “Contudo, qualquer operação de planeamen-to fiscal deve ser precedida de uma análise de custo/benefício, assim se determinando da sua viabilidade económica.” Por outro lado, o fis-calista não deixa de lembrar que a problemática do planeamento fiscal agressivo e da consequente erosão das receitas fiscais está na ordem do dia, como o demonstram os mais recentes trabalhos desenvolvidos no seio da OCDE e da União Europeia.

“Importa distinguir aquilo que é o planeamento fiscal legítimo e acei-tável e o planeamento fiscal agressi-vo ou ilegítimo, o qual implica uma perda global de receitas fiscais com um importante impacto orçamental nos países mais desenvolvidos. Natu-ralmente, se a UE adotar regras ou recomendações que devam ser se-guidas, as mesmas terão impacto no sistema fiscal nacional, bem como nas escolhas fiscais das empresas nacionais.” Embora seja necessária

a imposição de regras e parâmetros internacionais para evitar a chamada “race to the bottom”, a verdade é que não se pode condenar a utilização legítima das vantagens fiscais que os vários países concedem e que fun-cionam como importantes atrativos para as empresas estrangeiras.

Conceito de cláusula antiabuso

Rogério Fernandes Ferreira es-clarece ainda o que se passa quanto à aplicação de um conceito alargado de cláusula antiabuso. “No âmbito do planeamento fiscal internacional, as medidas nacionais tomadas indivi-dualmente pelos Estados têm sempre um alcance limitado, uma vez que sem mecanismos adicionais eficazes têm muita dificuldade em verem para além das próprias fronteiras. Não é por acaso que a referida cláusula an-tiabuso tem uma aplicação efetiva muito escassa – não obstante ter pas-sado uma década desde a sua introdu-ção – e raramente abranger situações verdadeiramente internacionais.”

O mais famoso caso de aplicação da referida cláusula, ainda que respei-tasse a uma estrutura de financiamen-to internacional, teve por base uma sociedade sediada na Zona Franca da Madeira, o que possibilitou às autori-dades fiscais portuguesas terem uma maior visibilidade sobre os contornos da operação, podendo assim – ainda que de forma discutível – justificar a aplicação daquela norma. “Para além da aplicação essencialmente domésti-ca, a cláusula antiabuso, tal como se encontra constituída, é de difícil apli-cação pela administração fiscal, pelo que não se apresenta como um meio eficaz de combate a estes fenómenos, os quais deverão, para que se consi-gam resultados efetivos, ser tratados de uma perspetiva de cooperação in-ternacional.”

PlaneamentoImporta distinguir aquilo que é o planeamento fiscal legítimo e aceitável e o planeamento fiscal agressivo ou ilegítimo

A consultora Ernst & Young (EY) refere que países como a Irlanda, a Holanda e o Luxemburgo concedem, em regra, incentivos fiscais às socieda-des aí residentes e/ou aos respetivos acionistas não residentes. Assim sen-do, é possível que as empresas portu-guesas possam beneficiar de regimes fiscais mais favoráveis em qualquer destas jurisdições, sendo que muitas têm sociedades nesses países.

Caso a Comissão Europeia adote regras para restringir esse tipo de pla-neamento fiscal, não restam quais-

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CONTABILIDADE

quer dúvidas que terão impacto em Portugal. Refere a fonte da EY a este propósito: “Desde logo, se Portugal tiver incentivos fiscais similares, os mesmos poderão vir também a ser questionados por Bruxelas. Por ou-tro lado, se se deixarem de aplicar determinados regimes fiscais favorá-veis como os que existem na Irlanda, Holanda e no Luxemburgo, os gru-pos económicos nacionais poderão ter de reequacionar a sua estrutura societária internacional, nomeada-mente redomiciliando subsidiárias ou ativos/operações atualmente lo-calizadas nessas jurisdições para Por-tugal ou outros países. Finalmente, a administração fiscal destes países poderá vir a solicitar o pagamento do imposto que não foi pago, devi-do à existência dos incentivos que,

eventualmente, venham a ser consi-derados como auxílios de Estado não autorizados.”

Considera a EY que o facto de se aplicar um conceito alargado de cláusula antiabuso já impede a redu-ção da tributação por essa via. Adian-ta sobre esta matéria: “Em teoria, a atual cláusula geral antiabuso poderá ser um instrumento a utilizar para prevenir determinados esquemas de planeamento fiscal agressivo. Aliás, essa foi uma das formas de reação

que a administração fiscal mencio-nou expressamente quando publicou, há uns anos, algumas situações que foram, na altura, passíveis de serem consideradas como planeamento fis-cal abusivo.”

No entanto, a consultora chama a atenção que tudo depende da existên-cia de razões económicas válidas e do nível de substância – recursos huma-nos e financeiros, gestão efetiva nesses países – existente nas estruturas dessas jurisdições. “De facto, a localização de sociedades, ativos e/ou operações nesses países pode ser perfeitamente legítima (e é-o em muitos casos) e não ser sequer questionável, até porque poderia colocar em causa o princípio da liberdade de estabelecimento. A jurisprudência comunitária tem evo-luído muito nos últimos anos.”

UMA QUESTÃO DE BOM SENSOO facto de algumas empresas deslocarem as suas sedes para países como aqueles referidos anteriormente tem a ver com uma matéria mais complexa e que respeita ao chamado “planeamento fiscal agressivo”. Trata-se de um assunto que pode ser interpretado de várias formas, dependendo se se trata da administração fiscal de um país ou de uma empresa que considera a carga fiscal excessiva e procura alternativas. A linha entre o que é lícito e o que não é passa a ser muito ténue.Se tivermos em conta o que refere a OCDE sobre esta matéria, talvez se obtenham algumas respostas concretas à legitimidade de uma empresa passar a ser tributada numa jurisdição que não a sua. Considera a organização que uma carga fiscal excessiva, a instabilidade fiscal ou a falta de transparência nos processos são aspetos que levam as empresas – e os contribuintes em geral – a optarem pelos países mais “amigos” ao nível da tributação. É o que está a acontecer em Portugal, com uma taxa de IRC superior à praticada pela maioria dos países europeus. Como se não bastasse, não restam dúvidas que o nosso sistema é intrincado, muito pouco estável e propício a eventuais “abusos”.De uma maneira geral, a legislação nacional sobre questões

fiscais carateriza-se pela sua complexidade e falta de simplicidade. Uma situação que acaba por ser também negativa para o próprio Estado, na medida em que a receita fiscal tende a descer. Aliás, uma análise mais atenta dá conta que os países com os regimes fiscais mais simples e claros são aqueles em que se verificam menores níveis de evasão e fraude fiscais. Tome-se como exemplo a Alemanha, onde são muito poucas as empresas que colocam as suas sedes em

países “terceiros”, tendo em vista reduzir a taxa de IRC. O que significa que não lhes é vantajoso. Coloca-se ainda uma outra questão, de caráter mais ético. Se a autoridade tributária recorre a todos os meios – muitas vezes para além do aceitável – para garantir a tributação, não terá o contribuinte também o direito de recorrer a técnicos especializados para se tornar mais competitivo fiscalmente? Não será perfeitamente legítimo avançar para outras jurisdições se uma empresa está a ser sobrecarregada com impostos? Até que ponto é moralmente aceitável tributar para além dos limites da capacidade contributiva de uma empresa? Talvez com a reforma do IRC as coisas mudem para melhor.

GUILHERME [email protected]

RestriçõesCaso a Comissão Europeia adote regras para restringir esse tipo de planeamento fiscal, não restam quaisquer dúvidas que terão impacto em Portugal.

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CONTABILIDADE

Poucas empresas aderem ao novo sistema

Regime de IVA de caixa entrou em vigorEntrou em vigor a 1 de outubro

o regime de IVA de caixa, podendo optar pelas regras especiais de exi-gibilidade deste regime as empresas que possuam as condições legais, por via de comunicação à Autori-dade Tributária e Aduaneira (AT). O pedido pode ser feito através do portal das Finanças, com limite até 31 de outubro de cada ano. O regi-me produz efeitos no mês de janei-ro seguinte e o contribuinte tem de permanecer, obrigatoriamente, dois exercícios consecutivos no mesmo.

Importa analisar quais as condi-ções necessárias para entrar no regi-me de IVA de caixa, o qual permite a antecipação do reembolso deste impostos. Assim, podem optar pelo regime os contribuintes de IVA re-gistados há, pelos menos, 12 meses, sendo que a situação fiscal terá de estar regularizada. Aplica-se a um volume de negócios anual inferior a 500 mil euros, mas estão excluídas as empresas que desenvolvam, em exclusividade, uma atividade isenta ou que estejam abrangidas pelo re-gime de isenção.

Outras condições devem ser tidas em conta. A dedução do IVA supor-tado nas aquisições de bens e servi-ços destinadas à atividade do sujeito passivo só será possível com o respe-tivo pagamento aos fornecedores. O que significa que devem ter em seu poder a fatura-recibo ou o recibo que compra o pagamento. Por sua vez, as faturas – incluindo as faturas simplificadas – relativas a operações abrangidas por este regime devem ter uma série especial a conter a menção “IVA – regime de caixa”.

Alerta a Associação dos Indus-triais de Construção e Obras Pú-blicas (AICCOPN) para a obri-gatoriedade de emissão de recibo pelos sujeitos passivos enquadra-dos no regime de IVA de caixa, mas também pelos contribuintes que efetuem transmissões de bens e prestações de serviços a sujeitos passivos enquadrados neste regime e quando estes o solicitem, o qual deve ser datado, numerado sequen-cialmente e conter alguns elemen-tos. São eles o preço (líquido de imposto), a taxa ou as taxas de IVA aplicáveis e o montante do imposto liquidado, o número de identifica-ção fiscal do emitente e do adqui-rente, o número de série da fatu-ra a que respeita o pagamento e a referida menção de “IVA – regime de caixa”. Os recibos de pagamento devem ser emitidos e comunicados nos termos previstos para a emissão e a comunicação de faturas, com as devidas adaptações.

Adesão muito inferioràs expetativas

Ainda que o Governo tenha desenvolvido esforços para publici-tar o mais possível o novo regime, a realidade é que terão sido muito poucas as empresas a aderir. É a pró-pria Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas que revela que terão sido pouco mais de duas centenas a op-tarem pelo regime de IVA de caixa, o que significa que ainda há muitas dúvidas por parte dos empresários quanto ao seu funcionamento. A realidade é que mais de 350 mil em-presas possuíam as condições neces-sárias para entrar no novo regime.

Parece evidente que se caiu no habitual no nosso país, isto é, um sistema demasiado complexo e bu-rocrático, sobretudo no que respeita à emissão do recibo. Nem sequer as necessidades urgentes de liquidez por parte das empresas as fizeram optar pela adesão ao novo regime. Perante este cenário, terão de esperar por uma nova oportunidade, tudo indicando que as condições serão as mesmas. De notar que o IVA só terá de ser entregue ao Estado quando as empresas aderentes receberem dos seus clientes, o que permite garan-tir uma almofada de liquidez, tão necessária às pequenas empresas. O que significa que este regime é posi-tivo para aquelas empresas que têm um prazo médio de recebimento, superior ao seu prazo médio de pa-gamento. Quem demora mais tempo a pagar do que a receber não tira be-nefícios em aderir ao regime de IVA de caixa.

RecebimentoQuem demora mais tempo a pagar do que a receber não tira benefícios em aderir ao regime de IVA de caixa.

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FISCALIDADE

O Conselho Europeu conta com o apoio do Parlamento quanto aos meios concretos de combate à fraude e à evasão fiscais. Acontece que se tra-ta de uma matéria que afeta todos os Estados-Membros e que é necessário avançar com medidas efetivas, ade-quadas e que permitam evitar a fuga ao fisco. No entanto, o Parlamento não deixa de apontar alguns caminhos que podem ser tomados, no sentido de criar um contexto fiscal mais equi-tativo e menos penalizador para as empresas e os cidadãos.

O Parlamento Europeu congratu-la-se com as propostas que pretendem que os países comunitários revejam os seus sistemas fiscais, com o objetivo de os tornarem mais eficazes e eficien-tes. Uma política que implica elimi-nar isenções injustificadas, alargar a matéria coletável – reduzindo a carga fiscal sobre o trabalho – melhorar a eficiência da cobrança de impostos e combater a evasão fiscal, bem como intensificar a luta contra a fraude e a evasão fiscais, inclusive relativamente a países terceiros. Ainda que tenham sido dados passos importantes nestas matérias, o Parlamento Europeu con-sidera que se poderá ir mais longe, desde que exista vontade política nes-se sentido e uma maior coordenação entre os vários países.

Salienta a necessidade de uma ge-neralização dos intercâmbios automá-ticos de informação e do alargamento do âmbito de aplicação da Diretiva “Tributação da poupança”, para se ponha efetivamente termo ao sigilo bancário. E reitera a necessidade de manter a tónica no papel fundamental que a matéria coletável comum con-

solidada do imposto sobre as socieda-des pode desempenhar na luta contra a fraude fiscal. Considera ainda que o reforço da regulação dos registos de sociedades e do registo das empresas fiduciárias é condição fundamental para combater a evasão fiscal.

A instituição congratula-se com as propostas apresentadas pela Co-missão no que se refere à apresenta-ção de relatórios por país, no âmbito das diretivas em matéria de contabi-lidade e transparência. O Parlamen-to recorda que os requisitos relativos à apresentação de relatórios por país para as empresas fronteiriças são es-senciais para a deteção de evasão fis-cal das referidas entidades. Por outro lado, solicita uma revisão da Diretiva “Sociedades-mães e afiliadas” e da Di-retiva “Juros e Royalties”, tendo em vista a eliminação da evasão através de instrumentos financeiros híbridos na União Europeia.

Coordenação entreos sistemas fiscais

O Parlamento Europeu insiste que é possível e necessário ir ainda mais longe. Assim, insta a Comissão

a identificar os domínios em que há margem para introduzir melhorias na legislação e na cooperação administra-tiva, a fim de reduzir a fraude fiscal. Considera essencial os Estados-Mem-bros atribuírem recursos adequados aos serviços nacionais responsáveis pela luta contra a fraude fiscal. De igual modo, considera fundamental os governos velarem por uma boa co-ordenação entre os respetivos sistemas fiscais para evitar a não tributação não deliberada e a evasão e a fraude fiscais.

Defende ainda a necessidade de tomar medidas para prevenir as infra-ções às respetivas legislações e regula-mentos, nomeadamente em matéria fiscal. Salienta a particular importân-cia de tais medidas para os Estados--Membros que são afetados ou ame-açados por graves dificuldades no que respeita à sua estabilidade finan-ceira na área do euro. Importa criar estratégias inovadoras e eficazes para combater a fraude ao nível do IVA e apela a que os acordos bilaterais sejam revistos.

Recorda o pedido relativo ao au-mento da transparência e ao reforço dos controlos para prevenir o recur-so aos paraísos fiscais. São jurisdições estrangeiras não cooperantes, carate-rizadas pela ausência de impostos ou por impostos nominais, pela ausência de um intercâmbio de informação efetivo com as autoridades fiscais estrangeiras e pela falta de transpa-rência das disposições legislativas, regulamentares ou administrativas. Estas jurisdições estão identificadas pela Organização de cooperação e de Desenvolvimento Económico e pelo Grupo de Ação Financeira.

Parlamento Europeu quer mais avanços no combate à fraude fiscal

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Confederações querem mais do Governo

A reforma do IRC deveriater um âmbito mais geral

O Governo deveria preparar uma reforma mais abrangente que estimu-lasse o consumo, não se ficando pelo IRC. Por outro lado, as reformas de-vem estender-se para além de uma legislatura, o que implica um acordo político entre os principais partidos. Estas as posições defendidas pela CCP e pela CIP, aquando da apresentação da reforma fiscal em sede de IRC. As confederações insistem no âmbito mais alargado e na urgência da imple-mentação de medidas que possibili-tem o crescimento e a competitivida-de da economia nacional.

A Confederação do Comércio re-velou-se particularmente crítica quan-to à reforma apresentada pelo seu mentor, António Lobo Xavier. “Gos-taríamos que os regimes simplificados de faturação fossem aplicados a em-presas com uma faturação até 500 mil euros, não se restringindo às empresas com faturação até 150 mil euros.” O presidente da CCP, João Vieira Lopes, não deixou de chamar a atenção para a necessidade premente de garantir a estabilidade fiscal. Um aspeto tido tão importante como a redução das taxas. O investidor estrangeiro precisa e quer sempre saber a prazo qual será a sua rentabilidade, caso contrário pre-fere procurar um qualquer outro mer-cado. As reformas devem prevalecer, pelo menos, uma década, na ótica do dirigente da confederação patronal.

João Vieira Lopes aproveitou para deixar alguns conselhos aos respon-sáveis políticos sobre o que ainda é necessário fazer para tornar a nossa fiscalidade mais atraente e competi-

tiva: “Pensamos que a baixa da taxa de IRC é importante; pensamos que o regime simplificado para as peque-nas empresas é um passo importante, em termos de simplificação da carga burocrática e mesmo para efeitos da própria receita fiscal. Pensamos que algumas medidas de simplificação são positivas e gostaríamos de vê-las mais desenvolvidas. Globalmente, damos o nosso parecer positivo a todo este pro-jeto de reforma, mas o país necessita de uma baixa da carga fiscal, em geral, nomeadamente do IRS e do próprio IVA, para permitir um incremento do consumo.”

É preciso chegara um consenso político

A CIP, pela voz do seu presiden-te, António Saraiva, apresentou um outro tipo de argumentos. Na sua ótica, é fundamental existir um con-senso político que possibilite uma reforma efetiva do IRC, tendo subli-nhado a importância de impulsionar

o investimento. “As empresas não se compadecem com reformas que du-ram o tempo de uma legislatura, têm de durar para além do Governo e da legislatura.” Espera agora que o líder do maior partido da oposição esteja sensível a este tema e lembrou que “tem de haver estímulo ao crescimen-to, pois de outra forma dificilmente haverá crescimento económico”. E adiantou ainda sobre a matéria: “Para dar apoio ao investimento temos de fazer algum sacrifício e abdicar, even-tualmente, de alguma receita, mas, se se perde por um lado, ganha-se por outro.”

A Confederação Empresarial de Portugal aproveitou a ocasião para apresentar algumas sugestões, as quais gostaria de ver incluídas no texto final da reforma do IRC, como foram os casos de uma maior flexibilidade na dedução dos encargos ou da constitui-ção de um regime de dupla tributação universal. Quanto à proposta da co-missão para a reforma do IRC, aponta para a descida gradual da taxa até aos 19%, o que poderá materializar-se através da eliminação gradual da der-rama municipal e estadual.

O Governo, por seu lado, assumiu o compromisso de avançar com deci-sões em matéria de reforma do IRC a partir de outubro, depois de um pe-ríodo alargado de consultas públicas. O que leva a crer que ainda está para durar a entrada em vigor de eventu-ais medidas. O Executivo afirma que sentiu um forte apoio às propostas apresentadas por parte da maioria das organizações empresariais.

FISCALIDADE

TributaçãoO país necessita de uma baixa da carga fiscal, em geral, nomeadamente do IRSe do próprio IVA

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26 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

FISCALIDADE

O Parlamento Europeu consi-dera fatores determinantes para o bom funcionamento da União Eu-ropeia evitar a dupla não tributação, a fraude fiscal e os paraísos fiscais, bem como aumentar a transparência fiscal. Estas algumas das principais conclusões que se podem retirar da Resolução do Parlamento Europeu, no âmbito do Relatório Anual sobre Fiscalidade, publicado muito recen-temente no Jornal Oficial da União Europeia (JOUE) e em que são apontados alguns dos caminhos que devem ser tidos em conta por parte da Comissão, entre outras entidades comunitárias.

Considera o Parlamento que a Comissão terá de identificar as áre-as nas quais seja possível introduzir melhorias na legislação e na coopera-ção administrativa entre os Estados--Membro, de modo a reduzir signifi-cativamente os níveis de fraude fiscal. Por outro lado, será necessário dispo-nibilizar mais recursos orçamentais e humanos à entidade fiscalizadora da União para o desenvolvimento das políticas e propostas da UE relativas à dupla não tributação, à evasão e à fraude fiscais. Defende ainda o com-bate à concorrência fiscal prejudicial e à dupla não tributação por parte das grandes empresas, as quais desviam artificialmente os seus lucros para minimizarem a base coletável efeti-va. Importará ainda notificar e tornar públicas as decisões fiscais das autori-dades nacionais para as empresas com atividades transfronteiras. Defende a necessidade de fazer face à fraude fis-cal de forma mais rigorosa, mediante a instauração de processos penais.

A resolução insta os Estados--Membros a conferirem a máxima prioridade à luta contra o recurso aos paraísos fiscais para fins ilícitos e solicita à Comissão que, em coo-peração com o Parlamento Europeu – tendo em conta, numa primeira fase, a definição da OCDE e a lis-ta de paraísos fiscais e de jurisdições em que vigora o sigilo – seja estabe-lecida uma definição e uma lista da UE. Solicita que seja acordada uma definição única europeia, enquanto se aguarda um acordo sobre uma de-finição a nível global. Pretende, por parte do Executivo europeu, uma ação mais célere em matéria de eva-são e fraude fiscais.

Necessidade de estabelecimento de acordos transfronteiriços

No documento em apreço é re-conhecido que o Fórum Mundial da OCDE sobre a transparência e o in-tercâmbio de informações para fins fiscais é a principal instância interna-cional de luta contra a fraude fiscal, pelo que apoia o seu trabalho, regista as suas deficiências enquanto fórum de baixos denominadores comuns, regista as iniciativas razoáveis aos níveis nacional, europeu e mundial, que visam uma solução exequível para um problema que se carateriza pela sua persistência.

No atual cenário, os Estados--Membros são chamados a conclu-írem acordos antifraude e de inter-câmbio de informações em matéria fiscal, devendo os mesmos ser atu-alizados com regularidade. O Par-lamento conclui que a falta de coo-

peração entre os sistemas fiscais dos Estados-Membros pode dar lugar a uma não tributação não deliberada e conduzir à evasão, ao abuso e à frau-de fiscais.

Considera ainda a referida re-solução que o Tribunal de Contas Europeu e o OLAF sejam dotados de recursos adequados em termos orçamentais e humanos, para que estejam em condições de desenvol-ver mecanismos eficazes de contro-lo e supervisão dos procedimentos orçamentais ao nível da União Eu-ropeia. Por fim, exorta a Comissão a identificar e a conferir priorida-de às medidas dos programas de estabilidade e convergência dos Estados-Membros e dos programas nacionais que tenham implicações orçamentais.

O Parlamento apresenta várias justificações para a necessidade de avançar com as medidas atrás enun-ciadas. Desde logo, cidadãos e em-presas enfrentam obstáculos fiscais que criam barreiras ao crescimento e ao emprego no mercado único. Considera que nalguns países os cus-tos administrativos causados pelos sistemas fiscais às médias empresas são desnecessariamente onerosos e elevados. Refere ainda que uma tri-butação eficaz assume importância fundamental para que as autorida-des públicas possam cumprir as suas obrigações e responder às expetati-vas dos cidadãos. Embora os esta-dos com défices elevados tenham a necessidade de aplicar medidas para aumentarem os seus impostos, tais medidas não podem prejudicar o crescimento.

Parlamento Europeu exige mais transparência ao nível da fiscalidade

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27CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

FISCALIDADE

Foi publicada a lei que completa a transposição da diretiva relativa a um regime comum aplicável aos pa-gamentos de juros e “royalties” efe-tuados entre sociedades de Estados--Membros diferentes. Desde 1 de julho, o pagamento de juros e “royal-ties” efetuado por empresas portu-guesas, empresas residentes na União Europeia e na Suíça encontra-se isen-to de retenção na fonte no nosso país, desde que se verifiquem os respetivos requisitos legais. Trata-se da Lei nº 55/2013, de 8 de agosto, a que os operadores de mercado deverão estar particularmente atentos. É também alterado o Código de IRC.

Estão isentos deste imposto os juros e “royalties”, cujo beneficiário efetivo seja uma sociedade de outro Estado-Membro ou um estabeleci-mento estável situado noutro país da UE de uma sociedade de um Estado-Membro, devidos ou pagos por sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, cooperativas e empresas públicas residentes em ter-ritório nacional ou por um estabe-lecimento estável aí situado de uma sociedade de outro Estado-Membro. A isenção depende da verificação de alguns requisitos e condições.

As sociedades beneficiárias dos ju-ros ou “royalties” devem estar sujeitas a um imposto sobre os lucros, assu-mam uma das formas jurídicas neces-sárias, sejam consideradas residentes de um país da União Europeia e que não sejam consideradas – para efeitos fiscais – como residentes fora do espa-ço comunitário. A entidade residente

em território português ou a socie-dade de outro Estado-Membro com estabelecimento estável aí situado seja uma sociedade associada à sociedade que é o beneficiário efetivo ou cujo estabelecimento estável é considerado como beneficiário efetivo dos juros ou “royalties”. Esta situação verifica--se quando uma sociedade detém uma participação direta de, pelo me-nos, 25% do capital da outra socieda-de ou a outra sociedade detém uma participação direta de, pelo menos, 25% no seu capital ou quando uma terceira sociedade detém uma parti-cipação direta de, pelo menos, 25%, tanto no seu capital como no capital de outra sociedade e, em qualquer dos casos, a participação seja detida de modo ininterrupto durante um período mínimo de dois anos.

A isenção aplica-se quando o pagamento seja efetuado por um es-tabelecimento estável, os juros ou “royalties” constituam encargos re-lativos à atividade exercida por seu intermédio e sejam dedutíveis para efeitos da determinação do lucro tri-butável que lhe for imputável. Ainda quando a sociedade à qual são efe-tuados os pagamentos de juros ou “royalties” seja o beneficiário efetivo desses rendimentos, considerando-se verificado esse requisito quando aufi-ra os rendimentos por conta própria e na qualidade de intermediária. Seja como representante, gestor fiduciário ou signatário autorizado de terceiros e no caso de um estabelecimento es-tável ser considerado o beneficiário efetivo, o crédito, o direito ou a utili-

zação de informações de que resultam os rendimentos estejam relacionados com a atividade desenvolvida.

Não aplicação da isenção

A isenção não é aplicável aos ju-ros e “royalties” obtidos em território nacional por uma sociedade de outro Estado-Membro ou por um estabele-cimento estável situado noutro país comunitário de uma sociedade de um Estado-Membro, quando a maioria do capital ou a maioria dos direitos de voto dessa sociedade são detidos – direta ou indiretamente – por um ou vários residentes de países tercei-ros, exceto quando seja feita prova de que a cadeia de participações não tem como objetivo principal beneficiar da redução da taxa de retenção na fonte.

O mesmo se passa em caso de existência de relações especiais entre o pagador ou o devedor e o benefici-ário efetivo dos juros ou “royalties” – ou entre ambos e um terceiro – ao excesso sobre o montante dos juros ou “royalties” que, na ausência de tais relações, teria sido acordado en-tre o pagador e o beneficiário efetivo. Estão ainda isentos de IRC os paga-mentos de juros e “royalties” entre uma sociedade residente na Suíça ou um estabelecimento estável aí locali-zado. De igual modo, a isenção não está prevista sempre que a participa-ção mínima não tenha sido detida, de modo ininterrupto, durante os dois anos anteriores à data em que se verifica a obrigação de retenção na fonte.

No âmbito da transposição de uma diretiva

UE com regime comum aplicávelaos pagamentos de juros e “royalties”

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28 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

PORTUGAL NO MEIODA TABELA QUANTOAOS DESVIOS DE IVA

Portugal está no meio da tabela europeia no que toca à variação do imposto sobre o PIB nacional. No entanto, se se tomar 2011 como referência, relativamente ao ano anterior verificou-se um agravamento para o dobro. O que significa que o peso do IVA não recebido passou de 0,8% para 1,6%, o que se traduziu num valor superior a 2,7 mil milhões de euros.Importa notar que este aumento não teve a ver apenas com uma maior fuga ao pagamento do IVA ou à fraude. Há uma conjugação de fatores, não sendo de excluir o facto de várias empresas fecharem portas, o que leva a uma menor receita em sede de IVA. O consumo também tem registado uma quebra, o que influencia negativamente a receita em sede daquele imposto. Em bastante pior situação do que Portugal estão países como a Grécia e a Letónia (ambos com 4,7%), a Lituânia (4,4%) ou a República Checa (2,7%) e a Itália (2,3%).

União Europeia perde mais de 193 mil milhões de receita em sede de IVA

FISCALIDADE

A União Europeia perdeu cerca de 193 mil milhões de euros, em sede de IVA, em 2011, devido ao desrespeito das regras fiscais ou à sua não perce-ção. Esta a conclusão muito preocu-pante de um estudo da Comissão Eu-ropeia, no âmbito da necessidade de reformar o regime de IVA e no quadro do combate mais alargado à fraude e à evasão fiscais. Bruxelas considera o valor inaceitável, até porque poderia ser aplicado na reestruturação das fi-nanças públicas.

A Comissão não deixa de chamar a atenção para o facto de a receita per-dida não respeitar apenas a situações de fraude. O IVA não percecionado é também consequência de falhas e de outros casos de insolvabilidade, erros estatísticos, atrasos nos pagamentos e evasão legal. Como tal, para resolver o problema da falta de receita de IVA, o combate terá de ser realizado em várias frentes, na perspetiva dos responsáveis comunitários. Certo é que Bruxelas está consciente da importância de fazer face ao problema e que têm sido dados passos importantes nesse sentido. Daí estar em curso uma reforma do siste-ma, devendo ser feita uma monitoriza-ção das novas regras que são aplicadas.

Mas Bruxelas aponta para a neces-sidade de uma posição mais firme con-tra a fraude, bem como uma aplicação mais rigorosa ao nível nacional. A re-forma do IVA – iniciada há dois anos – já possibilitou a criação de ferramentas importantes para garantir uma melhor proteção contra a fraude. Por exemplo, o mecanismo de reação rápida, adota-do em julho passado, que possibilitará aos Estados-Membros reagirem mais rapidamente e com maior eficácia aos

casos de fraude no imposto. Por outro lado, a Comissão assume que, quanto mais simples for o sistema, mais fácil é para os contribuintes adaptarem-se às regras. Bruxelas tem orientado os seus esforços em medidas que pretendem tornar o regime de IVA mais simples para todas as empresas da Europa.

De facto, novas medidas facilitado-ras da faturação eletrónica e dispositi-vos particulares para as pequenas em-presas entraram em vigor no início do ano e um formulário padrão do IVA para a totalidade da União será propos-to muito em breve. A partir de janeiro de 2015, vai entrar em funcionamen-to um gabinete único para os serviços online e as empresas de telecomunica-ções, o que assegurará o respeito pelas regras, simplificando bastante os pro-cedimentos em matéria deste imposto. Será possível apresentarem uma decla-ração comum para as suas atividade no seio da União Europeia.

Bruxelas defende que os Estados--Membros devem reformar os seus sistemas fiscais nacionais de forma a facilitarem o cumprimento das re-gras, dissuadir a fraude e a evasão e melhorar a eficácia na cobrança do imposto. Aliás, a Comissão Europeia

já desenvolveu orientações concretas nesta matéria, com as recomenda-ções por país. O relatório sobre o IVA apresentado recentemente leva ainda a concluir que a complexidade dos sis-temas a múltiplas taxas contribui para o não cumprimento das regras. Peran-te este cenário, a Comissão tem insis-tido para que os países comunitários simplificarem os seus sistemas de IVA. Será também uma forma de evitar o aumento das taxas deste imposto.

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29CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

SimplificaçãoA reforma do IRC deve procurar a simplificação do sistema, bem como a atração do investimento direto estrangeiro

FISCALIDADE

Jaime Esteves aponta caminhos a seguir

PwC avisa que reforma do IRCtem caráter de urgência

É urgente uma reforma do IRC que estimule o investimento e pro-mova o crescimento e o emprego. O atual sistema de tributação dos ren-dimentos das empresas não é compe-titivo, face aos congéneres europeus. Uma divergência que se tem agrava-do, em consequência da emergência financeira e a necessidade de aumen-tar significativamente o peso das re-ceitas fiscais a favor do Estado. A opi-nião é de Jaime Esteves, partner da consultora PricewaterhouseCoopers (PwC), em comentários a propósito da proposta de reforma do IRC.

Considera que a manutenção de um regime penalizador do inves-timento como o atual tem efeitos muito negativos, na medida em que desincentiva a iniciativa empresarial e conduz a menos receitas tributá-rias, pois implica menor atividade, o que conduz a um menor rendimento disponível, que ocasiona menor con-sumo e, de novo, menos atividade e emprego e, como tal, também maior despesa social. “A necessidade de crescimento económico e de criação de emprego, idealmente focada mais nos setores transacionáveis e menos no consumo interno, impõe soluções que permitam não só reter e atrair investimento, mas também inter-nacionalizar as empresas nacionais e consolidar o tecido empresarial.”

Jaime Esteves defende que a re-forma do IRC deve procurar a sim-plificação do sistema, bem como a facilitação da internacionalização e a promoção da competitividade das empresas nacionais, assim como a

atração do investimento direto es-trangeiro para Portugal. “Indo larga-mente de encontro às posições que têm sido sustentadas pelos agentes económicos, as orientações gerais de política fiscal propostas pela Comis-são para a Reforma do IRC promo-vem as bases de um sistema “business friendly” e competitivo no contexto da União Europeia, através de so-luções simples, eliminadoras de in-certeza jurídica e minimizadoras de efeitos de substituição, criando si-multaneamente condições favoráveis à internacionalização das empresas nacionais e à atração de investimento externo para Portugal.”

Reforma do imposto implicaum custo imediato

O responsável da PwC chama a atenção que qualquer reforma do IRC terá um custo imediato, compensado no médio e longo prazos pelo aumen-to da receita decorrente do aumento da atividade económica. “Por ser o imposto que mais diretamente terá esse efeito positivo, a revisão em baixa da tributação dos rendimentos sobre as empresas deverá ter prioridade so-bre a redução do IRS ou do IVA. Ain-da assim, importa notar que a reforma corresponderá a uma mera redução

da receita fiscal no curto prazo, sem promoção de riqueza adicional que permita o crescimento sustentado das receitas tributárias, se não tiver asso-ciada uma fortíssima garantia de larga estabilidade temporal.”

Adianta ainda que o sucesso da reforma em causa – a par da valia intrínseca das opções a adotar – de-penderá fundamentalmente do con-senso que venha a obter, que garanta um prazo de validade de uma década para as soluções a adotar e da cre-dibilidade (interna, mas sobretudo externa) que esse consenso venha a merecer. “O debate público sobre a reforma é fundamental, por um conjunto alargado de razões: con-tribuir para a melhoria pontual das propostas, incluindo identificação de omissões; permitir determinar, no conjunto das medidas propostas, aquelas que garantam uma melhor relação custo/benefício; sugerir prio-ridades entre essas medidas, caso não seja possível a sua adoção integral; perceber as prioridades dos agentes económicos. Não menos importante é possibilitar o referido consenso em torno do desenho final da reforma”, conclui Jaime Esteves.

Insiste na necessidade de substi-tuir um sistema instável e complexo por um sistema estável, previsível, simples e desburocratizado e desbu-rocratizado, que, por estes motivos, seja favorável aos negócios e à criação de riqueza. O que significa que é ur-gente avançar com a reforma e criar um ambiente de negócios mais “ami-go” das empresas.

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30 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

RegimeAs preocupações, nomeadamente de organização contabilística exigida pelo regime de IVA de caixa, não são passíveis de incentivar o seu uso pelas empresas

FISCALIDADE

Na opinião de Domingues de Azevedo, bastonário da OTOC

IVA de caixa ainda contém receiosda sua aplicação

A solução encontrada no que toca ao denominado “Regime de IVA de caixa”, embora sendo um esforço sério no sentido de devolver ao sistema a neutralidade financeira desde há muito reclamada pelas em-presas e pelos empresários, contém ainda uma espécie de receio das con-sequências da sua aplicação, na pers-petiva de Domingues de Azevedo, bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC). “Está--se perante um sistema demasiado burocrático e a funcionar como que em regime experimental.”

Considera o bastonário da OTOC que a deslocação da exigibi-lidade do imposto do momento eco-nómico para o momento financeiro é um passo de grande importância, “não só porque veio demonstrar a possibilidade de funcionamento do sistema, contrariando alguns pen-samentos contrários, bem como o facto de não deixar de constituir o reconhecimento dos decisores da vida política que o anterior sistema deformava a verdade tributária do IVA”. Adianta que poderiam ter sido encontradas outras soluções, desig-nadamente o aumento de atuação do sistema de “reverse charge”, o que contribuiria em muito para desburo-cratizar o funcionamento do impos-to, se comparado com a solução en-contrada, mas tendo a vantagem de separar em definitivo as consequên-cias do funcionamento da fiscalidade com os atuais comerciais que estão na respetiva base.

“As preocupações, nomeadamente

de organização contabilística exigida pelo regime de IVA de caixa, não são passíveis de incentivar o seu uso pelas empresas, nem mesmo a filosofia de remeter sempre a obrigação de cum-primento do pagamento ao vendedor. Quando a Autoridade Tributária tem na sua posse um caudal tão acentuado de informação, poder-se-ia, com base nessa informação, corresponsabilizar o adquirente pela falta de pagamen-to do imposto.” Para Domingues de Azevedo, não faz qualquer sentido manter um sistema de funcionamen-to do IVA que acaba por se traduzir em vantagens para quem não cumpre com os seus deveres ao nível dos ne-gócios. De facto, quem não liquidava as suas aquisições, para além de não cumprir com as condições que esta-vam na base do negócio, ainda era

beneficiado com a dedução de um imposto que não era pago.

É necessário ir mais longe

Para o responsável da Ordem, o que sucedeu reveste-se de grande im-portância, todavia acha que não é sufi-ciente e que é necessário ir mais longe. “É necessária uma conceção de funcio-namento assente na realidade concreta das nossas empresas, devolver o IVA às suas origens e conceber, de forma genérica, o momento da exigibilida-de do momento económico, ou seja, a emissão da fatura para o momento económico. Isto é, quando se recebe efetivamente o valor da transação dos clientes dos sujeitos passivos.”

Domingues de Azevedo diz que há que ter esperança de que as coisas evoluam de acordo com a realidade em que o país vive, mas tem de haver essa coragem política por parte dos decisores. “Para já, quebrou-se um tabu, esperemos é que seja o início de uma nova era no funcionamento daquele imposto.”

O que não pode acontecer é o IVA perder a sua neutralidade e pas-sar a constituir-se como um verda-deiro imposto para as empresas no período que medeia entre a obrigato-riedade de pagamento e o recebimen-to do valor dos seus clientes. A opção tomada parece a mais acertada, mas importa agora que o funcionamento seja o adequado e que as entidades cumpridoras sejam beneficiadas, ao mesmo tempo que os incumpridores são penalizados.

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31CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

FISCALIDADE

A OCDE está apostada em avan-çar com regras mais duras e eficazes no que respeita ao combate à fraude e à evasão fiscais. Várias propostas têm sido apresentadas e há uma recetivida-de por parte da maioria dos países em aceitar novas medidas que permitam evitar a enorme fuga de capitais que se verifica. A organização fala mesmo de um novo modelo global ao nível da troca automática de informação fiscal. Foram apresentados ao grande públi-co alguns desses planos de eficiência e equidade fiscais.

A organização desenvolveu uma proposta em conjunto com o G20 sobre a dupla não taxação de lucros empresariais. O que está em causa é evitar a todo o custo que as multina-cionais encontrem forma de fugir ao imposto sobre os seus rendimentos. As medidas em sede de IRC também terão efeitos sobre algumas das maio-res empresas nacionais. As regras fis-cais internacionais serão desenvolvi-das no sentido de colmatar as lacunas existentes ao nível dos sistemas fiscais nacionais. Por sua vez, as regras sobre acordos fiscais e preços de transferên-cia serão revistas para corrigir as suas deficiências. Pretende-se garantir que os lucros sejam taxados nos países em que são desenvolvidas as atividades económicas que os geram.

Mas a OCDE vai ainda mais lon-ge, sobretudo quer assegurar uma maior transparência de processos. As grandes empresas terão de apresentar as declarações de rendimentos país por país onde tenham lucros. Este facto vai também implicar uma maior

cooperação entre as administrações fiscais. Todas estas medidas serão mo-nitorizadas, de forma a ser possível verificar até que ponto a sua evolução tem sido positiva e quais os resultados obtidos. Finalmente, para assegurar que as ações podem ser implemen-tadas rapidamente, será desenvolvido um instrumento multilateral, de for-ma a evitar que os acordos sejam rati-ficados isoladamente.

A organização considera que hou-ve também progressos significativos para promover a troca automática de informação fiscal. Coube à OCDE criar o modelo legal, desenvolver os padrões técnicos e providenciar a formação para tornar possível uma ampla rede de troca de informação. Os resultados foram notórios. Países de todo o mundo devem integrar o novo modelo, incluindo a informação sobre contas bancárias. Foram assina-dos mais de 1100 acordos nos últimos anos sobre esta matéria. Têm sido da-dos passos importantes para limitar a atuação dos paraísos fiscais e acabar com sigilo bancário.

Principais países já assinaram convenção internacional

Certo é que 60 países já assina-ram a convenção de adesão à troca

automática de informação fiscal. É de realçar o facto de todos os mem-bros do G20 estarem envolvidos nes-te processo, a maior parte das nações da OCDE e da União Europeia. Um dos países mais recentes a assinar a convenção foi a China, o que é um exemplo de que há vontade de avan-çar com regras mais restritas a nível fiscal e no que se refere à fuga de ca-pitais. Os governos nacionais estão cada vez mais conscientes do preço elevado que representa a fraude e a evasão fiscais. Aliás, importa notar que a OCDE está preocupada com o fenómeno do branqueamento de ca-pitais, numa sociedade cada vez mais global e em que há grande facilida-de em transferir elevadas somas de dinheiro. Para tornar tudo isto pos-sível, tem havido uma colaboração efetiva entre as várias organizações internacionais, os Governos, bem como ao nível político. Destaque para a realidade de vários países es-tarem a aderir por vontade própria, exatamente para conseguirem maior credibilidade a nível internacional.

O próprio sistema bancário está em transformação. É um processo que se desenvolve de duas formas, quer através das exigências impostas por Basileia, quer por via de uma maior transparência de processos, em que a OCDE tem desenvolvido um papel determinante, como é o caso da limita-ção do sigilo bancário. Se algumas ju-risdições ainda estão relutantes quanto a uma maior abertura, a verdade é que o contexto global acabará por forçar a sua adesão a uma nova realidade.

Organização admite que têm sido dados passos importantes

OCDE impulsiona troca automática de informação fiscal

InternacionalAs regras fiscais internacionais serão desenvolvidas no sentido de colmatar as lacunas existentes ao nível dos sistemas fiscais nacionais

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32 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

FISCALIDADE

Entrou em vigor a reorganização dos serviços locais de Finanças. Uma matéria suscetível de levantar polé-mica, tendo em conta a oposição ao projeto em curso por parte do Sindi-cato dos Trabalhadores dos Impostos (STI). Diz o Governo que esta reor-ganização decorre da também reor-ganização administrativa do territó-rio, agora com menos freguesias. Os responsáveis sindicais avisam que é mais uma forma de reduzir os custos.

A portaria que reorganiza os serviços refere no seu prólogo que se tornou necessário “ajustar, nos municípios com desagregação dos serviços periféricos locais da Autori-dade Tributária e Aduaneira ou com alteração dos limites geográficos, a nova realidade administrativa a cada um dos serviços periféricos locais de-sagregados”. O Executivo não deixa ainda de referir que para compensar a concentração de serviços será cria-do um posto de atendimento fiscal ao público em todos os concelhos objeto de reestruturação da rede de serviços locais de Finanças. Adianta a este propósito em comunicado: “O posto de atendimento fiscal será uma infraestrutura de apoio ao contri-buinte, criada em coordenação com cada autarquia, nas instalações das câmaras municipais ou em instala-ções do Estado nesses concelhos.”

O Sindicato dos Trabalhado-res dos Impostos coloca dúvidas quanto às intenções dos responsá-veis políticos e ainda não se sabe exatamente o que irá suceder aos trabalhadores dos serviços extintos.

Certo é que a racionalização vai im-plicar a extinção de postos de traba-lho, na ótica do sindicato. Também lamenta que existam dúvidas quan-to à eventual abertura de postos de atendimento, na medida em que a mesma fica dependente da decisão autárquica. Como sucede com o alargamento do horário de trabalho, parece evidente que o sindicato vai recorrer a todos os meios ao seu dis-por para evitar o encerramento do maior número possível de serviços de Finanças. De notar que esta rees-truturação não é propriamente uma realidade recente, já há alguns anos que se verificam fusões ou até encer-ramentos de serviços.

Considera ainda o Governo que a racionalização dos serviços locais dos impostos decorre também da alteração do relacionamento entre os contribuintes e a administração fiscal, “que assenta atualmente – em grande parte – na utilização dos ca-nais eletrónicos, na internet e nos contactos telefónicos.” Lembra o Executivo que todas as declarações de IVA e IRC entregues pelas empre-sas e pelos empresários são feitas pela internet e, no caso dos contribuintes particulares, mais de 85% das decla-rações de IRS são também efetuadas por este meio.

Os argumentos para se seguir esta estratégia vão mais longe. Refere o Ministério das Finanças, em comu-nicado: “As comparações internacio-nais mostram que a Espanha – cerca de quatro vezes maior do que Por-tugal – tem apenas 196 serviços de

Finanças e a Áustria (com dimensão e população semelhantes ao nosso país) tem apenas 40 serviços de Fi-nanças, quando em Portugal existem mais de 340 serviços.”

Ainda há dúvidas quanto ao processo

Governo avança com reorganizaçãodos serviços locais de Finanças

EXECUTIVO GARANTE CONSOLIDAÇÃO ORÇAMENTAL

O Governo revelou satisfação relativamente às contas trimestrais por setor institucional, “que confirmam o esforço de consolidação orçamental no ano corrente”. O défice das administrações públicas fixou-se em 7,1% do PIB, no primeiro semestre, menos 0,7% do que em igual período do ano passado. O segundo trimestre terá sido decisivo para este resultado. O défice trimestral situou-se em 4,1% do PIB, o que compara com os 10,6% dos três primeiros meses.O Ministério das Finanças prevê ainda que a dívida pública – excluindo depósitos da administração central – seja de 119,4% do PIB no final do ano. Uma nova estimativa que resulta da “alteração dos valores respeitantes a operações financeiras que não estão incluídas no défice orçamental, mas que têm impacto na dívida”. E adianta a este propósito: “Prevê-se agora um menor valor para a aquisição de títulos da dívida pública por parte de fundos da Segurança Social e a não transferência de ações da Caixa Geral de Depósitos para a Parpública, como forma de regularização das dívidas do Estado à empresa, decorrentes dos processos de privatização.”

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33CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

FISCALIDADE

UTAO duvida de cumprimentodo défice no final do ano

O Governo está otimista quanto à possibilidade de garantir as metas definidas para o défice orçamental. Uma posição que não é partilha-da pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), que admite que existe margem para acomodar o défice de setembro, cumprindo o limite trimestral, mas não é possível que tal venha a acontecer em termos anuais.

A entidade técnica independente considera que ainda não é possível aferir se o limite anual do défice orça-mental – situado em 8,9 mil milhões de euros – vai ser cumprido. O Go-verno é assim novamente contraria-do no que respeita às suas previsões orçamentais, como, aliás, tem suce-dido por parte de vários analistas. A maioria admite que só muito di-ficilmente serão alcançadas as metas orçamentais, até porque é esperado um abrandamento da receita fiscal. “Relativamente ao cumprimento do limite estabelecido para dezembro, ainda não é possível garantir que a mesma venha a suceder, uma vez que estão por realizar algumas despesas relevantes, nomeadamente ao nível de despesas com pessoal, pensões e juros e o ritmo de crescimento da re-ceita fiscal e contributiva encontra-se em abrandamento”, adianta aquela unidade técnica, referindo-se ao mês de agosto.

O país tem agora uma margem de 2,5 mil milhões de euros para cumprir a meta do défice trimestral definida pela “troika” para o tercei-ro trimestre do ano, atualmente em 7,3 mil milhões de euros. A UTAO chama a atenção para a importância

de se tratar de um objetivo estru-tural, pelo que tem de ser obriga-toriamente cumprido, caso o país pretenda continuar a usufruir do empréstimo internacional. Ou seja, o Executivo tem de estar particular-mente atento a este aspeto, numa altura em que o país ainda atravessa sérias dificuldades de financiamento (basta ter em conta que o regresso aos mercados não teve lugar, como chegou a estar previsto pelo próprio Governo). Há notícias que não sus-citam otimismo por parte daquela unidade técnica.

Contribuições sociaisabaixo do previsto

A UTAO avisa que a receita com contribuições sociais vai ficar abaixo do previsto no Orçamento Retifica-

tivo. Nem mesmo com o pagamen-to dos subsídios de férias a muitos funcionários públicos, prometido para novembro. Ou seja, a entidade afirma que “as contribuições sociais estão a apresentar receitas a um rit-mo abaixo do esperado”. E adianta: “O pagamento do subsídio de férias de muitos funcionários públicos vai melhorar a receita nesta rubrica, mas não deverá ser suficiente para alcan-çar o objetivo definido no Orçamen-to Retificativo.”

No referido Orçamento Retifica-tivo, o Governo reviu em baixa a es-timativa da receita arrecadada com as contribuições da Segurança Social, para pouco mais de 13,1 mil milhões de euros, menos 94 milhões do que o calculado inicialmente. Quanto às contribuições sociais da Caixa Geral de Depósitos e do regime de ADSE, o Orçamento Retificativo estima uma receita na ordem dos 5,4 mil milhões de euros. Ainda assim, pe-rante estes números, o Governo veio reafirmar que estão a ser cumpridas as exigências ao nível da consolida-ção orçamental.

“O défice das administrações pú-blicas, no primeiro semestre, fixou--se em 7,1% do PIB, o que repre-senta uma redução de 0,7 pontos percentuais, face a igual período do ano passado. Contribuiu para este resultado a redução significativa do défice no segundo trimestre. O dé-fice trimestral das administrações públicas situou-se em 4,1% do PIB, o que compara com os 10,6% nos três primeiros meses do ano”, refere o Ministério das Finanças em comu-nicado.

IndependênciaA entidade técnica independente considera que ainda não é possível aferir se o limite anual do défice orçamental – situado em 8,9 mil milhões de euros – vai ser cumprido

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34 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

FISCALIDADE

O Governo está decidido a avançar com um conjunto de me-didas, de modo a permitir uma re-dução do défice para 4% do PIB no ano que vem. Considera a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquer-que, que as medidas de consolida-ção orçamental são particularmente importantes, “pois concretizam a redução estrutural de despesa que está a ser desenhada desde o quinto exame regular”.

A responsável pelas Finanças públicas apresenta argumentos para justificar as medidas que estão a ser preparadas. Adianta a este propó-sito: “No curto prazo, as medidas contribuirão para que o ajustamen-to por via da despesa no horizon-te do Programa seja reforçado. No médio e longo prazos, as poupanças conseguidas serão determinantes para assegurar a sustentabilidade das finanças públicas, permitindo que a dívida pública seja gradual-mente reduzida. As medidas foram cuidadosamente escolhidas para minimizar os impactos negativos na atividade económica e na coesão so-cial, preservando critérios de justiça e equidade”, adiantou a ministra, em conferência de imprensa.

Admite que o processo de ajus-tamento só estará concluído quan-do estiver assegurada a sustentabi-lidade das finanças públicas, for retomada a estabilidade financeira e o país transitar para uma traje-tória de crescimento sustentado e criador de emprego. Na sua ótica, “o equilíbrio entre a consolidação orçamental e a promoção do cres-

cimento económico é delicado, em particular nas atuais circunstâncias de ajustamento”. Não deixa de avi-sar que, enquanto houver um défice orçamental, o stock da dívida pú-blica continuará a aumentar. Daí a necessidade de alcançar o equilíbrio orçamental.

Maria Luís Albuquerque reve-lou que o reforço da estabilidade do sistema financeiro se mantém uma prioridade. “O sistema bancário nacional está já devidamente capi-talizado e com acesso a níveis ade-quados de liquidez. No entanto, a diminuição do seu endividamento deverá continuar. Continuaremos a aprofundar mecanismos alterna-tivos para facilitar o financiamento das empresas mais produtivas e ino-vadoras e para melhorar as condi-ções de reestruturação das empresas viáveis, mas com dificuldades. São os casos da promoção da eficácia dos instrumentos de garantias de crédito ou o desenvolvimento do papel comercial para PME.”

Mas a ministra das Finanças chama a atenção que a melhoria das condições de crédito, por si só, não é suficiente para impulsionar o crescimento económico. “As re-formas estruturais profundas que estamos a concretizar na nossa eco-nomia são decisivas para construir as bases de um crescimento sus-tentado. Os sinais positivos que se têm registado continuadamente na economia indicam que as reformas implementadas cedo, no âmbito do programa de ajustamento, come-çam a dar resultados.”

Novo pacote previsto para o Orçamento do Estado

Governo avança com mais medidasde austeridade no próximo ano

MEDIDAS PREVISTASVÃO CAUSAR CONTROVÉRSIA

Os Portugueses começaram a tomar conhecimento de algumas das medidas fiscais – e de austeridade – previstas para o próximo Orçamento do Estado. A polémica já rebentou, sobretudo no que respeita à intenção do Governo proceder a cortes nas pensões de viuvez ou sobrevivência, os quais deverão resultar em poupanças de 100 milhões de euros, nas contas do Executivo. Muitos analistas duvidam que esta medida tenha a aprovação do Tribunal Constitucional. A medida tem motivado um coro de críticas das mais variadas áreas da sociedade.Ainda que não se possa considerar propriamente uma medida fiscal, o Governo pretende garantir mais 100 milhões através de uma taxa suplementar sobre a energia, esta a recair sobre as empresas do setor. Também está a suscitar controvérsia, com as grandes empresas a afirmarem que a taxa a implementar se vai refletir nos custos finais, isto é, serão os utilizadores a pagarem a fatura. Uma outra medida, esta mais pacífica, tem a ver com o fim dos benefícios fiscais que recaem sobre as viaturas de serviço. Esta medida, segundo cálculos governamentais, vai resultar numa poupança de 200 milhões de euros para os cofres do Estado. Não menos importante é o alargamento da tabela única remuneratória da função pública a todo o setor empresarial do Estado. O valor obtido por esta via deverá ascender a cerca de 220 milhões de euros. No total, o pacote de austeridade deverá cifrar-se em cerca de 1,3 mil milhões de euros, para que seja possível chegar à taxa de 4% do PIB, como definido no documento de execução orçamental. Um objetivo de que a maioria dos analistas dúvida, considerando essa uma meta inatingível.

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35CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

FISCALIDADE

Integrar a economia digital nos sistemas fiscais europeus – ou adap-tar a fiscalidade à economia digital – é um factor fundamental, mas que implica um esforço acrescido, na perspetiva da Comissão Europeia. Haverá que ter em consideração que é necessário assegurar que o cresci-mento da economia digital não pode colocar em causa uma taxação justa e eficiente. Bruxelas avisa que é importante evoluir no sentido de soluções sustentáveis, de modo a que estas não travem o crescimento da economia digital.

A Comissão admite que é essen-cial encorajar a economia digital e criar o mercado único digital. Neste contexto, a tributação assume um papel central. Foram já desenvolvi-das algumas medidas para impulsio-nar o setor. No que toca a serviços de entrega, foram desenvolvidas simplificações, a implementar den-tro de dois anos, tendo como ob-jetivo a expansão das “start-up” na União Europeia. Está em vigor re-gulamentação do IVA, que permite às empresas pouparem cerca de 18 mil milhões de euros, por via da re-dução dos custos administrativos. O processo deste imposto será em bre-ve ainda mais simplificado, garante Bruxelas, quer para as empresas tra-dicionais, quer para as digitais.

Mas há a consciência que a eco-nomia digital deve contribuir de modo justo e eficiente para as recei-tas públicas. O que não é admissí-vel é que algumas grandes empresas beneficiem do mercado único para

evitarem o pagamento de impostos, como tem acontecido e que a Co-missão pretende colocar um ponto final, através de regras mais rígidas. O setor digital não pode ficar de fora e tem de dar um contributo equitativo e justo para as receitas fiscais de qualquer Estado-Membro. A economia digital coloca novos de-safios, na medida em que os mode-los fiscais não estão preparados para esta nova era, pelo que se colocam problemas novos que urge resolver. Perante esta realidade, é mais sim-ples para as empresas digitais evita-rem o pagamento de impostos.

A Comissão Europeia considera que as regras atuais devem ser re-pensadas ou, pelo menos, adapta-das à realidade digital. Desde logo, é importante encontrar soluções de caráter global. Neste contexto, Bru-xelas encara muito positivamente o plano de ação designado BEPS e apresentado pelo G20. A OCDE está a desenvolver um trabalho importante ao nível da economia digital e a Comissão já mostrou a sua disponibilidade para contribuir com soluções. Ou seja, o caminho mais apropriado a seguir é garantir resultados efetivos através do BEPS.

Revisão de conceitos

Considera a comissão que é fundamental rever conceitos como estabelecimento permanente, pre-ços de transferência, entre outros. Ainda antes do final do ano, será apresentada uma proposta para

impulsionar o modelo fiscal euro-peu, através de alterações à diretiva sobre as empresas-mãe. Também serão avançadas novas regras no âmbito da diretiva sobre juros e “royalties”. A Comissão pretende utilizar todas as ferramentas que tem à sua disposição, de modo a evitar a fuga de capitais por parte das multinacionais. As empresas digitais serão integradas neste gru-po, para evitar a evasão e a fraude fiscais. Naturalmente, os governos nacionais também têm de desen-volver planos de ação neste âmbito.

Bruxelas continua a insistir em sistemas fiscais mais simples para as empresas, uma alocação mais justa dos direitos fiscais e uma tributação assente na substância económica, aspetos que também são necessários na economia digital. No entanto, a política fiscal deve ser desenvolvida sempre com base na auscultação das empresas visadas. A Comissão faz um apelo à colaboração entre o po-der político e o mundo empresarial. Depois é preciso avançar rapida-mente com modelos fiscais específi-cos para a economia digital.

Nesse sentido, vai ser criado um grupo de reflexão que se debruçará exclusivamente sobre a fiscalidade a aplicar à economia digital. O que só é possível com o aprofundamen-to do debate sobre esta matéria. No entanto, é preciso que os atores estejam atentos na tomada de deci-sões, de forma a que estas não dis-torçam a competitividade da União Europeia.

Bruxelas quer debate alargado sobre a matéria

Economia digital coloca novos desafios ao nível da fiscalidade

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36 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

SETORES

Prazos estão prescritos

SNS está a cobrar taxas moderadoras de forma indevida

Os utentes de instituições inte-gradas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) estão a ser notificados pelos hospitais e centros de saúde para pagarem dívidas relativas a taxas mo-deradoras liquidadas por referência a serviços de saúde prestados há mais de três anos. Acontece que se trata de dívidas já prescritas, pelo que as mesmas não podem ser cobradas de forma coerciva, como explica a PLMJ. Uma chamada de atenção aos contribuintes, que se poderão ver pe-rante situações análogas.

As taxas moderadoras devem ser pagas por todos os utentes, incluin-do os beneficiários dos subsistemas de saúde, ou aqueles utentes por quem uma qualquer entidade – pú-blica ou privada – seja legal ou con-tratualmente responsável, estando apenas excluídos dessa obrigação de pagamento os utentes que se encon-trem numa situação de isenção de taxas moderadoras. São os casos de grávidas, dos utentes em situação de insuficiência económica e as crianças até aos 12 anos de idade.

“As taxas moderadoras devem ser cobradas no momento da reali-zação das prestações de saúde, salvo em situações de impossibilidade do utente, resultante do seu estado de saúde ou da falta de meios próprios de pagamento, bem como de regras específicas de organização interna da entidade que realize as prestações de saúde, salvo disposição legal ou contratual em contrário.” Nos ca-sos em que as taxas moderadoras não sejam cobradas no momento da realização do ato, o utente é in-

terpelado para efetuar o pagamento no prazo de dez dias subsequentes, a contar da data da notificação, “devendo as entidades responsáveis pela cobrança das taxas moderado-ras adotar procedimentos internos de operacionalização do sistema de cobrança, dando prioridade, sempre que possível, à utilização de meios eletrónicos de cobrança ou notifica-ção, nomeadamente através da ins-talação de sistemas e terminais de pagamento automático com cartão bancário”.

As taxas moderadoras, na medida em que constituem receitas próprias dos serviços e estabelecimentos de saúde integrados no SNS, encon-tram-se abrangidas por um regime de cobrança específico. Este estabelece o regime de cobrança de dívidas pelas instituições e serviços integrados no SNS, em virtude dos cuidados de saúde prestados. Acontece que, em termos legais, os créditos prescrevem no prazo de três anos, contados da

data da cessação da prestação dos ser-viços que lhes deu origem.

Três anos após a prestação do serviço de saúde

Terminado o prazo de três anos contados da data da prestação do ser-viço de saúde a dívida decorrente do não pagamento da taxa moderadora encontra-se prescrita, “o que signifi-ca que a mesma deixa de poder ser cobrada coercivamente ao utente do serviço, designadamente por meio de uma ação judicial ou extrajudicial de recuperação de créditos”, explica o gabinete de advogados.

“Uma vez prescrita a dívida, a obrigação do seu pagamento resu-me-se a um mero dever de ordem moral e social, cujo cumprimento não é judicialmente exigível”. Muito embora nada impeça, em teoria, que as dívidas prescritas possam ser alvo de cobrança pelo Serviço Nacional de Saúde, o facto é que se o utente for notificado para proceder ao paga-mento de taxas moderadoras já pres-critas e optar por não o fazer, poderá, para o efeito, invocar o decurso do prazo de prescrição, “podendo este argumento igualmente servir de fun-damento para a dedução de oposi-ção, caso venha a ser posteriormente intentado um processo de execução para cobrança coerciva da dívida”.

A obrigação legal de pagamento de taxas moderadoras no acesso aos cuidados de saúde, por parte dos utentes, tem assento na Lei de Ba-ses da Saúde e no Decreto-Lei nº 113/2011, de 29 de novembro.

TaxasAs taxas moderadoras devem ser cobradas no momento da realização das prestações de saúde, salvo em situações de impossibilidade

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37CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

SETORES

A imposição da rotatividade obrigatória de firmas de auditoria pretende evitar que a longa dura-ção da relação dos auditores com a empresa auditada comprometa a qualidade dos serviços e/ou a inde-pendência dos auditores. No entan-to, este não é um assunto pacífico, como fazem notar vários especialis-tas num trabalho publicado na Re-vista de Contabilidade & Finanças. Certo é que a auditoria indepen-dente exerce um papel muito im-portante no mercado financeiro, na medida em que transmite confiança e proteção ao mercado, acionistas e investidores.

Apesar de a questão da imposição da mudança obrigatória estar a ser muito discutida pelos auditores, ges-tores e órgão reguladores, não se che-gou a uma conclusão concreta da sua necessidade ou não nas organizações. “Entretanto, alguns estudos naciona is e internacionais, principalmente após a crise de 2008, apresentaram o rodízio de firmas de auditoria como sendo fundamental para garantir um bom nível de governação. Uma pesquisa, através de um questionário aplicado junto de investidores e pro-fissionais da área de investimentos, evidenciou que os seus participantes concordam com esses resultados.”

No entanto, é interessante notar que os investidores, na sua maioria, acreditam que esta rotatividade na auditoria ajuda a evitar fraudes e erros contabilísticos. Por outro lado, tudo leva a crer que garante uma maior independência do auditor, pelo facto de não manter um relacionamento muito longo entre a empresa audita-

da e os auditores. “Um outro ponto de destaque é que a maioria dos in-vestidores acredita que a rotatividade dos auditores independentes reduz a possibilidade de acomodação e o surgimento de vícios profissionais.” Considera ainda a maioria dos inqui-ridos na referida pesquisa que apenas a troca dos responsáveis pela audito-ria não é suficiente para garantir um nível de governação na empresa. Em contrapartida, há concordância que o sistema ocasiona a perda do conhe-cimento acumulado e o aumento de custos.

Investimento mais seguro

A rotatividade tem vantagens que os autores desta trabalho não deixam de mencionar. Há a con-vicção generalizada de que é impor-

tante para garantir uma maior con-fiança nas informações apresentadas pela contabilidade. Também é refe-rido que garante um investimento mais seguro. A acomodação e os vícios profissionais, como mencio-nado anteriormente, são tidos como um dos principais pontos negativos das empresas que não adotam o re-gime de auditoria.

Do lado mais negativo, aparece a forte possibilidade de se verificar um aumento dos custos, por via da adoção do novo regime, sobretudo por dar origem a um novo processo de aprendizagem. Ou seja, a troca da empresa de auditoria significa contratar uma outra e obriga a um novo processo de aprendizagem, gerando um inevitável aumento dos custos. E apesar de várias das normas internacionais de auditoria preverem apenas a troca dos pro-fissionais responsáveis pelos traba-lhos de auditoria, a realidade é que a maioria dos investidores não está de acordo com tal possibilidade, na medida em que “não é o suficiente para garantir uma maior confiança nas informações apresentadas pela contabilidade”.

Os autores, referindo-se em especial ao mercado brasileiro (país em que é obrigatória aquela rotatividade, tendo antecipado as normas internacionais de conta-bilidade), lembram que a audito-ria independente exerce um papel muito importante no mercado fi-nanceiro, sendo utilizada para ava-liar, confirmar ou verificar as ativi-dades, dando uma opinião sobre a adequação das mesmas.

Investidores concordam com rotatividade das empresas de auditoria

RotatividadeOs investidores acreditam que esta rotatividade na auditoria ajuda a evitar fraudes e erros contabilísticos

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38 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

O Governo procedeu à primei-ra alteração ao Regime Fiscal Espe-cífico das Sociedades Desportivas. Trata-se da Lei nº 56/2013, de 14 de agosto, que preconiza adaptar o re-gime fiscal específico das sociedades desportivas ao seu novo regime jurí-dico. A PLMJ define quatro grandes áreas em que assentam as alterações, designadamente gastos e amortiza-ções, isenções, regime de responsabi-lidade e reinvestimento de valores de realização.

Foram introduzidos gastos es-pecíficos que não se encontravam previstos na lei anterior. São agora considerados gastos do exercício a totalidade das quantias atribuídas ao clube fundador que goze de estatuto de utilidade pública e que sejam in-vestidas em instalações ou formação desportivas. De igual modo, 20% dos montantes pagos pela sociedade a título de exploração dos direitos de imagem dos agentes desportivos contratados pela sociedade despor-tiva. São ainda gastos específicos as amortizações dos ativos intangíveis relativas aos direitos de contratação dos jogadores profissionais, desde que os mesmos se encontrem inscri-tos em competições desportivas de caráter profissional, ao serviço da sociedade desportiva ou de outras sociedades desportivas, nos casos em que haja cedência temporária do jogador.

A PLMJ chama a atenção que o valor do direito de contratação fis-calmente amortizável corresponde ao custo de aquisição ou – quando este não exista – aos custos de formação do atleta, desde que certificados por

revisor oficial de contas independen-te. O valor amortizável do direito de contratação inclui as quantias pagas pela sociedade desportiva às entida-des que detêm direitos económico--desportivos de jogadores, como contrapartida da transferência, bem como as quantias pagas aos jogadores pela celebração ou renovação do con-trato e os montantes pagos pela so-ciedade desportiva a agentes ou man-datários, relativos a transferências de jogadores.

São excluídos, para este efeito, os valores pagos – ou por qualquer for-ma atribuídos – a entidades não resi-dentes em Portugal e submetidas a re-gime fiscal claramente mais favorável, nomeadamente quando o respetivo país ou território de residência conste da lista de paraísos fiscais.

Isenções totais ou parciais

O regime fiscal das sociedades desportivas prevê isenções totais ou parciais, como é o caso do IMT. As sociedades desportivas que se reorga-nizem de acordo com o estabelecido no seu novo regime jurídico podem beneficiar da isenção daquele impos-

to no que respeita à transmissão de bens imóveis necessários à sua reor-ganização. A concessão desta isenção terá de ser aprovada pelo órgão au-tárquico competente e depende do reconhecimento do interesse muni-cipal da referida reorganização.

As operações de reorganização das sociedades desportivas beneficiam da isenção do Imposto do selo, de emo-lumentos e de outros encargos que se considerem devidos pela prática de todos os atos inscritos no processo de reorganização. Os benefícios são con-cedidos a pedido do clube e as isen-ções são concedidas por despacho do Ministério das Finanças.

De salientar que a sociedade des-portiva é solidariamente responsável, juntamente com o clube fundador, por quaisquer dívidas fiscais e à Se-gurança Social, relativas ao período anterior à data da operação de reor-ganização. A responsabilidade é limi-tada ao valor dos ativos que tenham sido transferidos pelo clube fundador a favor da sociedade.

Relativamente ao reinvestimen-to dos valores de realização, não há grandes alterações, mantendo-se a remissão para o regime aplicável nos termos do CIRC. Impõe-se que o valor de realização correspondente à totalidade dos elementos dos ativos intangíveis correspondentes aos di-reitos de contratação dos jogadores profissionais seja reinvestido na con-tratação de jogadores ou na aquisi-ção de bens do ativo tangível afetos a fins desportivos. O referido rein-vestimento deve ocorrer até ao final do terceiro exercício seguinte ao da realização.

SETORES

Regime Fiscal Específico das Sociedades Desportivas sofre alterações

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39CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

SETORES

A taxa de IVA de 23% que incide sobre a restauração e similares con-tinua a suscitar muita polémica. O estudo elaborado por indicação do Governo por uma comissão especia-lizada apresenta conclusões pouco es-clarecedoras. Certo é que a fileira da restauração e similares continua o seu trajeto negativo, com muitas empre-sas a fecharem portas e milhares a en-grossarem as fileiras dos desemprega-dos. O Governo, entretanto, mantém uma postura de indecisão sobre a pos-sibilidade de reduzir a taxa de IVA.

No ano passado, o setor da res-tauração e similares apresentou uma quebra nos indicadores de atividade, tendo o índice de volume de negó-cios apresentado um recuo de 12,3%, face ao exercício anterior, acentuan-do a redução que se verificava desde 2009. “A evolução traduz a alteração dos padrões de consumo, o aumento da taxa de poupança e a redução do rendimento disponível das famílias, refletindo o processo de ajustamento macroeconómico em curso, mas tam-bém a reestruturação da taxa de IVA aplicável ao setor.” De notar que, ao longo do ano passado, houve um au-mento na taxa de desemprego, com a eliminação de cerca de 7800 postos de trabalho.

No entanto, o estudo apresen-ta contrapartidas desta política de agravamento da taxa de IVA. “A sua reestruturação no setor da restaura-ção e similares cumpriu o objetivo de consolidação orçamental, tendo gerado um aumento do IVA cobrado de 272 milhões de euros, face a 2012, o que correspondeu a um aumento

de 109%.” Mas é assumido que este aumento também se ficou a dever ao esforço de combate à fraude e à eva-são fiscais, bem como ao aumento da eficiência fiscal. “Este resultado foi parcialmente compensado por uma redução da receita de impostos dire-tos e contribuições provenientes do setor, que apresentou um contributo líquido agregado de cerca de 172 mi-lhões de euros para o esforço de con-solidação orçamental das administra-ções públicas.”

Um outro aspeto deste trabalho merece especial atenção. É que, entre os países da União Europeia, são 14 aqueles que aplicam a taxa normal de IVA ao setor da restauração e simila-res. A taxa de IVA aplicável no nosso país, neste setor, é superior ao verifi-cado em países de cultura mediterrâ-nica, onde se praticam as taxas de IVA reduzidas (por exemplo, em França a taxa é de apenas 7%). No âmbito dos Estados-Membros sob programas de assistência económico-financeira, to-dos, à exceção de Portugal, possuem uma taxa de IVA reduzida. Pelo que Portugal é o único país onde vigora a taxa normal no setor em análise.

Manutenção de taxas reduzidas

O grupo de trabalho interminis-terial admite que vários estudos inter-nacionais têm avaliado o impacto da aplicação de taxas reduzidas de IVA, reconhecendo a existência de razões válidas para a manutenção de taxas reduzidas em alguns setores, em espe-cial naqueles que se caraterizam pela utilização mais intensa do trabalho

pouco qualificado, com base na res-tauração. “Com base nestes estudos e nas experiências de outros Estados--Membros, verifica-se uma tendência crescente para reduzir a pressão fiscal no setor da restauração e similares, no âmbito de programas que visam es-tancar perdas ou recuperar emprego em diferentes países europeus, sobre-tudo nas faixas etárias mais jovens.”

No âmbito dos trabalhos desen-volvidos pelo grupo de trabalho, foram ponderados quatro eventuais cenários a adotar no ano que vem relativos à taxa do IVA aplicável ao setor da restauração e similares. De-signadamente a manutenção da atual situação, a aplicação da taxa inter-média de IVA a todas as prestações de serviços, a aplicação de uma taxa normal de IVA à prestação de serviços relacionados com bebidas e aplicação da taxa intermédia de IVA à prestação de serviços relacionados com alimen-tação e criação de um regime forfetá-rio para empresas com um volume de negócios reduzido.

A primeira e a quarta opções con-tribuem para a manutenção da conso-lidação das contas das administrações públicas, mas não representam me-didas ativas de sustentabilidade eco-nómica e de promoção do emprego no setor. A segunda e terceira opções, embora traduzam um aumento da despesa fiscal, representam medidas ativas de estímulo à economia, com especial enfoque no emprego, poden-do gerar efeitos semelhantes aos ob-servados noutros países europeus que reduzam a taxa do IVA na restauração e similares.

De acordo com um estudo de grupo interministerial

Taxa elevada de IVA resulta em recuo de 12% no setor da restauração e similares

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40 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

SETORES

O Comité Económico e Social Europeu (CESE) acolhe favoravel-mente a proposta de diretiva que aplica uma cooperação reforçada no domínio do imposto sobre as tran-sações financeiras (ITF). Considera que, dada a importância deste diplo-ma, o mesmo deveria entrar em vi-gor já no início do próximo ano. Em contrapartida, admite que as moda-lidades de introdução progressiva do imposto são inadequadas.

A sua aplicação, numa primeira fase, em 11 países da UE pode repre-sentar uma ocasião importante para promover, futuramente, a imple-mentação a nível global. Considera o CESE que um dos pontos fortes do ITF proposto é trata-se de um imposto com uma base tributável ampla e com duas taxas pouco ele-vadas, o que reduz os efeitos de dis-torção negativos. Pode ser o início de um mercado financeiro único, pelo que deverá entrar em vigor no início do próximo ano, preferencialmente. Entende ainda que, de forma a maxi-mizar o impacto do imposto no que respeita ao crescimento económico, é oportuno afetar as receitas geradas ao financiamento de um programa de investimento de âmbitos nacional e europeu, no sentido de assegurar a retoma da economia do emprego, no curto prazo.

O Comité também se congratu-la que – para eliminar ou reduzir o risco de deslocalização das atividades financeiras – a Comissão, na nova proposta, tenha associado ao prin-cípio de residência ou de territorali-dade o princípio da emissão. Consi-dera que aplicação cumulativa destes

princípios poderá implicar que, em certos casos, as entidades financeiras dos Estados-Membros não partici-pantes fiquem igualmente sujeitas ao imposto. Entende que é importante aprofundar a questão e avançar com negociações com os países terceiros para facilitar a sua cobrança.

Defende o CESE conveniente associar os princípios de residência e de emissão ao de “transferência do título de propriedade”, em resultado do qual a evasão fiscal ligada ao ITF passará a ser uma atividade realmen-te arriscada e onerosa, possibilitando uma melhor aplicação do imposto. Manifesta-se ainda a favor da insti-tuição do princípio segundo o qual a emissão de unidades de participação em organismos de investimento co-letivo em valores mobiliários e fun-dos de investimento não é considera como uma transação do mercado primário, com vista a favorecer o fi-nanciamento das empresas.

Controlo e verificação permanentes do sistema

O CESE defende atividades de controlo e verificação permanentes

(monitorização anual) para aferir dos efeitos da implementação do ITF, de modo a permitir que os eventuais ajustamentos à aplicação do impos-to sejam propostos atempadamente. Por sua vez, considera que a Comis-são deve melhorar os modelos anu-almente disponíveis, adaptando-os à avaliação de modalidades alternati-vas em termos de política. E convida os serviços da Comissão a elaborar, sempre que possível, estimativas re-lacionadas com as carterísticas reais das propostas concretas que foram apresentadas.

Lamenta, no entanto, que a não aplicação do ITF no conjunto dos países da União prive o orçamento da UE de um pilar fundamental do sistema de recursos próprios. Tal sis-tema deveria permitir garantir a au-tonomia financeira do espaço comu-nitário, como disposto inicialmente no Tratado de Roma. Também su-blinha que, no âmbito da aplicação do ITF, os órgãos de gestão devem atenuar os riscos de evasão do impos-to e de fraude, bem como reduzir os encargos administrativos de gestão, através de uma coordenação necessá-ria entre os Estados-Membros.

Embora insista na necessidade de monitorizar atentamente os efeitos do imposto nos fundos de pensões e nos futuros pensionistas benefici-ários, o comité não preconiza a ex-clusão destes do âmbito de aplicação do ITF. Na sua qualidade de órgão consultivo da Comissão, o CESE rei-tera a intenção de acompanhar per-manentemente o processo mediante o qual a proposta da Comissão se traduzirá num ato legislativo.

CESE satisfeito com proposta de imposto sobre as transações financeiras

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41CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

SETORES

Apesar das vantagens que lhes estão inerentes

Arbitragem ainda não conseguiu afirmar-se como alternativa aos tribunais fiscais

A arbitragem apresenta vários as-petos positivos, mas não conseguiu ainda afirmar-se como meio alter-nativo aos tribunais fiscais. António Carlos dos Santos diz que há obstá-culos ainda a superar, como é o caso de a própria Autoridade Tributária e Aduaneira limitar o funcionamento dos tribunais arbitrais. Em trabalho publicado na Revista TOC lembra que o processo arbitral tem os mes-mos efeitos da impugnação judicial, designadamente quanto à suspensão do processo de execução fiscal e à suspensão e interrupção dos prazos de caducidade e prescrição.

Ainda que seja algo prematuro fazer um balanço dos resultados ob-tidos através da implementação dos tribunais arbitrais, o docente univer-sitário considera como ponto mais positivo o facto da qualidade das de-cisões ser uma realidade, não se co-nhecendo críticas específicas em sen-tido contrário e serem infundados os receios de uma menor imparcialida-de por parte dos juízes. Um outro ponto positivo a que faz a alusão tem a ver com a rapidez de a tomada de decisões. Com efeito, o tempo mé-dio de uma decisão é pouco superior a quatro meses. Mas lamenta: “O principal problema pendente é que a AT não conseguiu erigir-se como real meio alternativo aos tribunais estaduais, sendo prova disso o facto de um dos principais motivos da sua criação – diminuir as pendências liti-giosas – não ter sido atingido”.

Existem quatro obstáculos princi-pais na base daquele problema. Desde

logo, muitos contribuintes não estão interessados na celeridade dos pro-cessos, preferindo antes optar pelos tribunais normais. Por outro lado, a própria Autoridade Tributária tem di-ficultado a missão dos tribunais arbi-trais, “invocando questões de compe-tência ou procedimentos formais que têm como resultado objetivo impedir ou atrasar as decisões”. Não menos importante é que se verifica uma di-vulgação insuficiente nos meios de comunicação social da atividade deste tipo de tribunais. Além do mais, per-siste uma corrente de opinião cética em relação à arbitragem, a qual é vista “como uma fonte de imbricação en-tre os interesses privados e o interesse público.”

Técnicos oficiais de contas também podem ser juízes

António Carlos dos Santos faz notar que o processo arbitral tem os mesmos efeitos da impugnação judicial. No entanto, alguns princí-pios são específicos destes tribunais, como são os casos dos princípios da autonomia dos árbitros na condução dos processos, da oralidade e imedia-

ção, da celeridade, da simplificação e da informalidade. “As decisões são efetuadas com base num princípio de legalidade, sendo vedado o recur-so à equidade. São assim aplicáveis as normas constantes dos diversos códi-gos fiscais.”

Para se ser árbitro é necessário possuir-se determinados requisitos, uns de índole geral (capacidade téc-nica e sentido de interesse público) e outros de natureza específica (juristas com dez anos de experiência profis-sional na área do direito tributário, por exemplo). Nos casos em que se exijam conhecimentos especializa-dos em Economia ou Gestão, po-derão ser designados como árbitros não presidentes, licenciados naquelas áreas, também com mais de dez anos de experiência. Os técnicos oficiais de contas que possuam os requisitos necessários também se podem ins-crever.

A regra geral quanto à possibili-dade de recurso da decisão arbitral é a da sua irrecorribilidade. Há, no entanto, duas exceções, casos em que o recurso suspende o efeito da deci-são. A primeira é o recurso para o Tribunal Constitucional e a segunda é o recurso para o Supremo Tribunal Administrativo. Há ainda a possibili-dade de reenvio – a título prejudicial – para o Tribunal de Justiça da União Europeia. Os tribunais arbitrais são constituídos “ad hoc” para julgar um determinado litígio. Para a sua cons-tituição são definidos prazos de 30 ou 90 dias, conforme o tipo de atos que estão em causa.

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42 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

SETORES

Publicado o novo regime financeiro

Aumentam as exigênciaspara as finanças locais

Foi aprovado o novo regime fi-nanceiro local, o qual prevê várias alterações. Entre as preocupações do legislador estiveram os princípios da transparência e da estabilidade or-çamental. O Governo vai criar uma plataforma eletrónica, de acesso pú-blico, que permitirá um acesso à in-formação relativa a cada município de uma forma simples.

Importa ter em conta algumas das principais novidades. É o caso do Conselho de Coordenação Financei-ra, que pretende estabelecer a ligação entre as finanças locais e o Estado. O conselho é presidido por um re-presentante do membro do Governo responsável pela área das finanças. Reúne-se até 15 de março e 15 de setembro de cada ano para desenvol-ver a troca de informações entre os representantes da administração cen-tral e as autarquias locais. Quanto às novas regras orçamentais, a proposta de orçamento municipal para o ano seguinte deve ser apresentado até 31 de outubro. A elaboração dos orça-mentos das autarquias locais é anual e está enquadrada num quadro plu-rianual de programação orçamental, o qual é atualizado anualmente para os quatro anos seguintes. O orça-mento terá de conter um relatório de apresentação e a fundamentação da política orçamental proposta.

O novo regime financeiro prevê uma redução do montante da sub-venção geral determinada a partir do Fundo de Equilíbrio Financeiro. A participação dos municípios na-quele fundo passa a ser de 19,5%

(contra os anteriores 25,3%) da mé-dia aritmética simples da receita pro-veniente do IRS, do IRC e do IVA, deduzido do montante afeto ao Ín-dice Sintético de Desenvolvimento Regional. Quanto às freguesias, os montantes do Fundo de Financia-mento das Freguesias passam a ser transferidos trimestralmente, até ao dia 15 do primeiro mês do trimestre.

Também estão previstas algumas alterações quanto às receitas. No que se refere às freguesias, que recebiam a totalidade da receita do IMI sobre os prédios rústicos, passam a ter tam-bém uma participação de 1% das re-ceitas provenientes desse imposto so-bre os prédios urbanos. O Governo deverá criar um mecanismo de mo-nitorização do impacto das variações das receitas das autarquias locais. Importante é que a dívida total de operações orçamentais do municí-pio não pode ultrapassar, no final do ano, 1,5 vezes a média da receita cor-rente líquida cobrada nos três exer-cícios anteriores. Como o limite não for cumprido, deve ser reduzido, no exercício seguinte, pelo menos 10% do montante em excesso, até que o referido limite seja cumprido. Se o limite for cumprido, pode aumentar 20% da margem disponível no início de cada exercício.

Sistema de alerta precoce

Mas o novo regime também cria um sistema de alerta precoce e de recuperação financeira. O que se pretende é evitar os endividamentos excessivos. Se tal situação se verifi-car, devem os membros do Governo responsáveis pelas finanças ser in-formados, bem como os presidentes do órgão executivo e deliberativo do município. Por sua vez, os municí-pios têm dois mecanismos de recu-peração financeira, o saneamento financeiro e a recuperação financeira.

No que respeita ao saneamento financeiro, o município deve contrair empréstimos para a reprogramação da dívida e a consolidação de passivos fi-nanceiros. Os pedidos de empréstimos têm um prazo máximo de 14 anos e devem ser instruídos com um estudo fundamentado da situação financeira e um plano de saneamento financei-ro – elaborados pela câmara municipal – que vigorem no período do emprés-timo. E o mecanismo de recuperação financeira é obrigatório sempre que o município se encontre em rutura fi-nanceira, ou seja, sempre que o limite da dívida seja superior a três vezes a média da receita corrente líquida co-brada nos últimos três exercícios.

Para estes casos, foi criado um fun-do de apoio municipal que tem por objeto prestar assistência financeira aos municípios. As fontes de financia-mento deste fundo – a regulamentar em diploma próprio – incluem, ne-cessariamente, a participação do Esta-do e de todos os minicípios.

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ASSOCIATIVISMO

O reconhecimento do papel dos revisores oficiais de contas como ele-mento indispensável à confiança nos processos financeiros e ao relança-mento da economia foi a principal conclusão do XI Congresso dos ROC. São os novos desafios que orientarão a estratégia dos revisores, tendo em conta a sua contribuição para a supe-ração do difícil contexto económico e financeiro.

Os oradores intervenientes nos trabalhos deixaram claro que os pro-fissionais deste setor de atividade são sobretudo uma fonte de confiança. No entanto, terão de estar particularmen-te atentos ao facto do futuro da pró-pria profissão e dos seus mecanismos de atuação obrigarem a equacionar uma transformação, motivada pelo desenvolvimento de normas interna-cionais, as conexões entre a evolução dos modelos contabilísticos e da au-ditoria e o relacionamento transfron-teiriço entre os revisores. Não menos importante foi a chamada de atenção para a necessidade dos ROC darem o máximo apoio aos gestores de entida-des públicas e do setor privado.

O congresso foi também o local escolhido para reafirmar a vontade de posicionar o revisor como supor-te à atividade das entidades no setor público, numa atuação em que se perspetiva o alargamento da coopera-ção e a possível implantação de novas normas de contabilidade destinadas às entidades do Estado e de assistência às empresas no atual contexto de mu-danças e simplificação de processos, sem prejuízo da transparência. Dos

trabalhos decorreu a apresentação de um documento em que foram apre-sentadas as principais conclusões.

Desde logo, a importância de uma informação de qualidade e fidedigna, o que se traduz no conhecimento da utilidade e do empenho dos revisores oficiais de contas no estabelecimento de uma sociedade mais informada, em benefício de todos os agentes pri-vados e do Estado. Exigência e rigor foram duas palavras muito presentes, o que implica maior responsabilidade no exercício da atividade. Trata-se do acompanhamento das entidades pú-blicas e privadas, aproveitamento do valor acrescentado conferido pelos ROC e a colaboração com todas as entidades, tendo em vista a recupera-ção da credibilidade.

Maior envolvimentocom o setor público

Uma outra preocupação manifes-tada pelos congressistas foi o maior envolvimento com o setor público. Neste âmbito, a Ordem afirma que continua disponível para alargar a sua

cooperação com as entidades públicas, na sequência da implementação das normas de contabilidade destinadas a estas entidades. São acompanhados os trabalhos desenvolvidos pela Comis-são de Normalização Contabilística. De igual modo garante a assistência às empresas, especialmente num tempo de mudanças, simplificação de pro-cessos, em paralelo com as diferentes naturezas organizacionais, aprofunda-mento do trabalho de revisão acom-panhado de honorários adequados.

Por outro lado, foi destacada a necessidade de criar relações de coo-peração bilaterais entre a Ordem, os revisores e as escolas do ensino supe-rior. É essencial a formação de profis-sionais com uma sólida consciência dedicada à transparência da informa-ção financeira e à compreensão dos limites inerentes ao processo de co-municação, a par de uma atualização permanente de conhecimento e in-trodução de processos inovadores na ação dos revisores. A Ordem preten-de ainda manter uma relação estrei-ta com as entidades de supervisão e com o CNSA. Sublinha que no con-texto em que a profissão é exercida, os cambiantes das entidades a quem os ROC prestam os serviços devem merecer os correspondentes acompa-nhamentos diferenciados, sendo de realçar o reconhecimento do cuidado que a Ordem aplica no controlo da atividade. Enfim, concluiu-se que é essencial o reconhecimento dos re-visores oficiais de contas enquanto profissionais polivalentes e portado-res de valor acrescentado.

No âmbito das conclusões do XI Congresso

ROC assumem-se como garante de confiança nos processos financeiros

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44 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

ASSOCIATIVISMO

O Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI) e o Ministério das Finanças continuam em rota de colisão. O mais recente episódio num relacionamento sempre com-plicado tem a ver com o eventual encerramento de 150 serviços de fi-nanças, na ótica dos dirigentes sindi-cais. O Governo não desmente, nem confirma, com o sindicato à espera de uma potencial vaga de despedi-mentos. A realidade é que não há certezas quanto a uma questão que implica muitas mudanças para os próprios trabalhadores das Finanças e contribuintes.

Em causa pode estar perto de metade das delegações dos serviços de Finanças, a nível nacional. O Go-verno apenas adianta que serão aber-tas extensões desses mesmos serviços, sem avançar mais pormenores. O STI lamenta que continue sem qualquer resposta a solicitação urgente à mi-nistra das Finanças de uma reunião. A acontecer o encerramento previsto, então as populações do interior serão as mais afetadas, com destaque para re-giões como a Guarda, Portalegre, Vila Real, Viseu, Beja, Évora e Açores. O STI também avisa que a colocação do número de funcionários é manifesta-mente insuficiente para o desempenho adequado das funções que cabe a um estabelecimento de Finanças.

O sindicato garante que foi envia-da à tutela uma proposta que previa que em todos os concelhos em que fossem encerrados os serviços, fosse aberta uma representação da Autori-dade Tributária e Aduaneira, através

de lojas ou de postos de atendimento. No entanto, tudo está por decidir e os responsáveis sindicais admitem que se esteja perante mais uma situa-ção de esvaziamento de tudo o que é serviço público no interior do país. O encerramento de serviços de Finanças vai contribuir ainda mais para a de-sertificação e o empobrecimento das regiões do interior do país.

O sindicato sabe que a fusão e o encerramento dos serviços e das di-reções de Finanças estão para muito breve. Quanto à possibilidade da refe-rida criação de extensões, parece uma solução que não agrada à tutela. O sindicato está a desenvolver esforços para consciencializar os responsáveis autárquicos do que está em causa, so-bretudo lamenta que, mais uma vez, o processo esteja a decorrer sem qual-quer conhecimento dos principais in-teressados, isto é, das populações.

Sindicato quer esclarecimentos

O sindicato fez saber que está a desenvolver todos os esforços para que o Governo informe quais os ser-viços que vão encerrar, quando e se

vão, efetivamente, ser criadas exten-sões nos concelhos que vão perder os serviços de Finanças. Também pre-tende saber quais as consequências para o trabalhador se, neste processo, pedir transferência para um serviço que, entretanto, por via do PRE-MAC, venha a encerrar. De igual modo, coloca-se a questão de saber o que irá acontecer aos funcionários e às chefias dessas unidades orgânicas, quanto à sua colocação ou integração noutras unidades. O STI pretende ainda saber se terão direito ao paga-mento de quilómetros e ajudas de custo, caso sejam obrigados a terem de se deslocar para concelhos limítro-fes ou respetivas direções para além dos limites previstos na portaria que regula a sua atribuição.

Um outro assunto tem sido mo-tivo de discórdia e de esgrimir de opiniões entre as duas entidades, com o STI a avançar para uma providên-cia cautelar no que toca ao aumento do horário de trabalho. O sindicato também pede a extensão do acordo relativo à jornada contínua para to-dos os trabalhadores da Autoridade Tributária e Aduaneira. Relativa-mente ao aumento da carga laboral, considera o sindicato que, tendo em conta a sua adequação aos vários ser-viços, será o que possibilita a abertura às nove horas e o encerramento às 17, decorrendo o atendimento público até às 16 horas. O aumento das ho-ras de trabalho é encarado como uma forma de reduzir os recursos, com a correspondente perda de qualidade no atendimento ao público.

Regiões do interior serão as mais afetadas

STI prevê encerramento de metadedos serviços de Finanças

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45CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

Em Portugal ainda existe uma cultura que não dá o devido valor à contabilidade ou que nem sequer a aplica e compreende. “A contabilida-de estaria ao serviço da gestão se não estivesse ao serviço do fisco”, referiu Manuel Patuleia, presidente da As-sociação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade (APOTEC), em en-trevista à revista “Pontos de Vista”. Considera que a classe dos técnicos oficiais de contas enfrenta problemas muito sérios, as exigências são cada vez mais e a legislação fiscal continua a um ritmo alucinante.

A situação é tanto mais incom-preensível quanto se está num país em que mais de 80% das empresas são microentidades, a prática da con-tabilidade – face aos atuais norma-tivos contabilísticos – é demasiado exigente e onerosa para os profissio-nais, “sendo desejável uma simplifi-cação e melhor adequação ao merca-do”. Em linha com esta necessidade, foi publicada uma diretiva relativa às demonstrações financeiras anuais. “Esperemos que os resultados corres-pondam aos objetivos”, adiantou o responsável daquela associação pro-fissional.

Manuel Patuleia admite que são cada vez mais as dificuldades que se colocam aos TOC, a todos os níveis. “Os problemas são muito sérios. As exigências sobem de tom e a legisla-ção fiscal continua imparável, com o argumento que é para o bem da na-ção. Acontece que dominar estas ma-térias representa um esforço relevan-te pela multiplicidade das alterações

e pela complexidade da fiscalidade. Por outro lado, os problemas de te-souraria das empresas não abonam a uma boa relação para quem presta os respetivos serviços, seja nesta ou noutra área.”

O presidente da APOTEC dei-xou a garantia que a associação vai continuar a pugnar pela defesa de todas as formas do exercício da pro-fissão, a responsabilidade, a liber-dade e a dignidade no livre arbítrio com que se autodetermina cada ser humano e por que se regem os cida-dãos de sociedade responsável e livre. Estas afirmações respeitaram à ques-tão da formação, a qual tem sido im-posta pela entidade reguladora. Uma “guerra” que já dura há mais de seis anos. “Falta agora o veredito final do Tribunal da Relação para que o di-reito à livre escolha da formação seja uma realidade.”

Importância dos congressos

No âmbito do XI Congresso Na-cional da Ordem dos Revisores Ofi-ciais de Contas, Manuel Patuleia não tem quaisquer dúvidas que os con-

gressos constituem o lugar e o mo-mento ideais para debater as ques-tões profissionais. “Não só os aspetos estatutários, como os desafios face ao mercado e às suas envolventes.” Os grandes desafios passam afinal por à luz da ética e do zelo profissional cumprir e contribuir para uma me-lhor adequação, compreensão e utilização da contabilidade “como instrumento fundamental às boas práticas de gestão, de que o país tan-to precisa”.

O presidente da APOTEC admite que o trabalho dos TOC decorre agora num contexto com-pletamente diferente, o que coloca desafios muito mais exigentes. “As práticas contabilísticas, neste mun-do globalizado, afastaram-se muito das opções prudentes que antes se seguiam na informação sobre o que era o património e os lucros ou os prejuízos alcançados. A contabi-lidade deixou de ser património e passou a ser de expetativas. Há que repensar as normas contabilísticas. A APOTEC poderá ajudar na cons-trução de opinião, a difundir a for-mar os interessados.”

Manuel Patuleia fez ainda ques-tão de salientar que a associação a que preside tem registado um cresci-mento sustentado. Como principais objetivos tem a defesa dos interesses técnicos, profissionais, deontológi-cos e culturais dos profissionais que representa. Congratula-se pelo facto de se tratar de uma entidade inde-pendente e autónoma, enquanto um organismo profissional de classe.

Manuel Patuleia, presidente da APOTEC, considera

Contabilidade não pode estarao serviço da administração fiscal

ASSOCIATIVISMO

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Com a aprovação da estrutura orgânica da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), foi criado um novo logótipo. Por outro lado, foram efe-tuadas alterações legislativas com implicações ao nível das declarações de inscrição no registo/início, altera-ções ou de acessão de atividade que se destinam a dar cumprimento às obri-gações declarativas em sedes de IRS, IRC e IVA.

De salientar que a lei nº 3-B/2010, de 28 de abril, procedeu, em sede de IRS, a uma harmonização do regi-me simplificado, introduzindo um único limite de 150 mil euros para a totalidade do rendimento estimado e revogou, em sede de IRC, o regime simplificado de tributação. Com a pu-

blicação dos novos modelos passa a ser possível o registo do atributo de IPSS, sendo que, relativamente às fundações e associações, passam a existir campos

próprios para serem identificados os respetivos tipos de contribuinte, dei-xando de existir um único campo para ambas as pessoas coletivas.

Considerando que a informação disponível pelas declarações de ati-vidade tem assumido cada vez mais importância, sobretudo no controlo cruzado de informação e no aumento da eficiência de fiscalização, visando o combate à fraude e à evasão fiscais, foram efetuadas alterações às refe-ridas declarações fiscais. Pelo que se torna necessário proceder à adequa-ção dos modelos de declaração e res-petivas instruções de preenchimento. Em documento anexo, o Governo dá a conhecer os novos modelos e as ins-truções exigíveis.

O Conselho Económico e Social (CES) teceu duras críticas à proposta de Grandes Opções do Plano (GOP) apresenta pelo Governo. Considera que o documento não é esclarecedor quanto aos resultados previstos para a economia nacional e, por outro lado, não é definida uma estratégia que possa servir de orientação aos agentes económicos.

O CES começa por apontar o facto negativo de se estar perante um texto excessivamente longo e que não é esclarecedor relativamen-te a alguns aspetos tidos como es-senciais para entender a expetativa real das medidas a implementar. Não se fica com uma ideia clara so-bre os cenários de desenvolvimen-to da economia nacional. O CES

não compreende como é possível avançar com previsões que depois sofrem grandes desvios, tal como sucedeu no ano passado. E ainda há muito a explicar sobre as medidas que estão previstas para o próximo Orçamento do Estado.

De notar que o CES não poupou críticas à Conta Geral do Estado, re-lativa ao ano passado, com um pare-cer em que diz que o ano ficou mar-cado pela permanência de medidas de caráter recessivo. Estas provoca-ram uma forte contração da procura interna e consequentemente do PIB. “Simultaneamente, a quebra das re-ceitas fiscais e das contribuições so-ciais, bem como o crescimento das despesas com prestações sociais – em resultado de um forte aumento do

desemprego e do empobrecimento generalizado das famílias – determi-naram uma evolução orçamental na qual se destaca uma subida da dívida pública e dos encargos que lhe estão associados, face ao ano anterior.”

Mas o CES vai mais longe e la-menta que a informação apresentada sobre as parcerias público-privadas ser ainda insuficiente para revelar com “transparência e objetividade” a situação das mesmas. Por outro lado, o Conselho está apreensivo quanto à inexistência de um verda-deiro programa de investimento da administração pública. Não existe uma estratégia de desenvolvimento de médio e longo prazos, perspetiva dos relatores do parecer do Conselho Económico e Social.

NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES

Aprovados novos modelos e instruções de declarações fiscais

CES critica proposta de Grandes Opções do Plano

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NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES

AT esclarece utilização de formuláriosdas empresas “tax free”

A Autoridade Tributária revo-gou a autorização para utilização do chamado “sistema de dupla venda”, utilizado pelas empresas “tax free”, que deixou de poder ser utilizado nas operações realizadas após o mês de abril. No entanto, a AT afirma que não obstante a determinação de revogação do “sistema de dupla ven-da”, continuaram a ser utilizados e apresentados às autoridades aduanei-ras – para efeitos de confirmação dos pressupostos de isenção – formulários que continham a expressão “fatura”, embora já no âmbito daquele sistema.

Considera o fisco num ofício--circulado (nº 30 151/2013) que a utilização de documentos desta na-tureza se revela incompatível com as exigências de procedimentos de fa-turação em vigor desde janeiro deste ano. Assim, tornou-se essencial siste-matizar as recentes orientações divul-

gadas pela AT, em resultado dos con-tactos mantidos com as empresas “tax free”. Estas alegaram a necessidade de adaptação dos formulários, de forma a incluírem a identificação das faturas correspondentes, emitidas pelos lojis-tas. Também defenderam a necessida-de de escoamento dos formulários em stock com a designação “fatura”.

Perante este cenário, a AT refere que os formulários das empresas “tax free”, utilizados na venda de bens a viajantes, têm uma natureza diferente da fatura e não titulam uma opera-ção tributável, nem cumprem a obri-gação de faturação. Não devem, por isso, apresentar a designação “fatura”, face às atuais regras de faturação. Mas os formulários não estão inibidos de continuarem a ser usados como do-cumentos comprovativos da expor-tação, para efeitos de confirmação da isenção, no caso em que reúnam as

condições para tal e desde que não constituam formulários de “dupla venda” e não contenham a designa-ção “fatura”. Os formulários “tax free” podem continuar a ser certificados, mediante a aposição do carimbo da autoridade aduaneira, para compro-vação da operação de exportação.

Para efeitos de certificação pelas alfândegas e tendo em vista a corre-ta identificação das operações a que respeita, cada formulário deve conter a menção expressa do número identi-ficativo das faturas que lhe correspon-dem. Esta menção constitui parte in-tegrante dos elementos inscritos pelo lojista. Os formulários das empresas “tax free” emitidos com data poste-rior a 30 de setembro de 2013 devem obedecer às condições do ofício-cir-culado agora emitido, sem que não são aceites para certificação, ficando afastada a isenção.

Finanças clarificam âmbito de aplicação do IVA de caixaO Ministério das Finanças divul-

gou vários esclarecimentos relativos ao regime de caixa em sede de IVA. O entendimento administrativo (ofício--circulado nº 30150/2013) pretende clarificar o âmbito de aplicação do novo regime. O Governo tenta dar resposta a uma série de questões sur-gidas com a entrada em vigor do novo sistema, o qual tem se revelado algo complexo, pelo menos nesta primeira fase de aplicação.

O diploma esclarece as regras de dedução do imposto na esfera dos adquirentes que não tenham, eles próprios, optado pelo regime de IVA de caixa. Neste caso, é referido que o

imposto se torna dedutível com base na fatura – emitida nos termos legais – na declaração do período ou do pe-ríodo seguinte àquele em que se tiver verificado a sua receção, ainda que esta não se encontre paga. São tam-bém clarificadas as condições formais para o exercício do direito à dedução pelos sujeitos passivos que optem pelo regime de IVA de caixa. Neste âmbi-to, os contribuintes apenas podem de-duzir o IVA que suportam desde que o mesmo se encontre pago e tenham na sua posse a fatura-recibo ou o re-cibo que comprove o seu pagamento.

É ainda destacada a obrigação de comunicação à Autoridade Tributária

e Aduaneira dos recibos comprovativos do pagamento emitidos pelos sujeitos passivos abrangidos pelo regime e dos recibos comprovativos do pagamento emitidos pelos seus fornecedores, nos termos previstos para a comunicação mensal dos elementos das faturas. Por sua vez, as faturas emitidas pelos contribuintes que apliquem o regime, incluindo as faturas simplificadas, de-vem sempre conter a menção “IVA – regime de caixa”. Finalmente, são esclarecidos os procedimentos a adotar pelos sujeitos passivos que pretendam exercer a opção pelo regime de IVA de caixa, através da funcionalidade especí-fica criada no portal das Finanças.

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48 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES

Municípios não contribuempara o endividamento do Estado

China assina convençãode combate à fraude e evasão fiscais

Existe ainda uma grande depen-dência financeira dos municípios das transferências do Orçamento do Es-tado. No entanto, o Anuário Finan-ceiro dos Municípios Portugueses, referente a 2011 e 2012, dá conta que os aspetos positivos superam os negativos. É o caso da descida global da dívida e do recurso a empréstimos bancários. Assistiu-se também à di-minuição do prazo médio de paga-mento aos fornecedores.

João Carvalho, coordenador do anuário, deixou algumas recomen-dações, aquando da respetiva apre-sentação. Desde logo, há falta de informação e divulgação atempada de contas de várias empresas muni-cipais. Por sua vez, os municípios de maior dimensão têm aumentado a sua eficiência financeira, enquanto

os mais pequenos têm sido penali-zados pela descida do IMT. Em si-tuação bastante complicada estão as empresas municipais, as quais se en-contram perante fusões ou ameaça-das por extinções. Aquele responsá-vel não deixa de estar receoso perante o facto de este ser um ano de eleições autárquicas, o que leva a pensar em despesismo. Defendeu ainda um

maior controlo na execução dos or-çamentos.

O docente universitário Pedro Camões considera que os municí-pios não contribuem para o endivi-damento do Estado, sendo muitas vezes vistos como “bodes expiató-rios”. Já Maria José Fernandes admi-te que muitas empresas municipais vão fechar portas, mas lembra que também muitas foram criadas ao longo dos anos. Na sua ótica, não faz qualquer sentido existirem empresas municipais ineficientes. Por sua vez, a contabilidade de custos vai permitir melhorar a informação. Ficou ainda claro que as autarquias portuguesas têm sistemas de base de acréscimo bastante avançados, ao contrário de outros países que ainda funcionam em base de caixa.

A China assinou a Convenção Multilateral sobre Assistência Admi-nistrativa Mútua em Matéria Fiscal, promovida pela OCDE. Todos os paí-ses do G20 cumpriram o compromis-so que fizeram na Cimeira de Cannes e estão a ser dados importantes na troca automática de informação, no âmbito de um novo modelo global.

As autoridades fiscais estão a movimentar-se da cooperação bila-teral para a multilateral e da troca de informação sob pedido para a troca automática. A Convenção disponi-biliza o instrumento adequado para se implementar de forma gradual a

troca automática de informação ao nível fiscal. Por outro lado, a China está a reforçar os laços com os países da OCDE. A referida convenção tam-bém providencia troca de informação espontânea, fiscalizações fiscais simul-tâneas e assistência na arrecadação de receita. Os governos também passam a ter mecanismos para combaterem a evasão fiscal para paraísos fiscais. De notar que a confidencialidade dos contribuintes não é colocada em cau-sa com as novas regras.

A OCDE, a China e os países do G20 estão agora a trabalhar em con-junto para desenvolverem a platafor-

ma operacional para o modelo único global de troca de informação. A con-venção foi assinada por 56 países. A OCDE tem sido uma das instituições que mais se tem esforçado por com-bater a fraude e a evasão fiscais, ten-do sempre defendido a necessidade de garantir um modelo único a nível internacional, sob pena de serem cria-das desigualdades e uma concorrência fiscal distorcida entre os vários países. Ainda que lentamente, parece estar a surgir uma consciencialização para a necessidade de uma harmonização, sem colocar em causa os princípios da soberania nacional e fiscal.

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49CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES

As autoridades aduaneiras comu-nitárias apreenderam mercadorias de contrafação no valor de mil milhões de euros, nas fronteiras da União Eu-ropeia, no ano passado. Foram con-fiscados cerca de 40 milhões de pro-dutos suspeitos de violarem direitos de propriedade inteletual (DPI). A Comissão pretende intensificar ainda mais o combate a este tipo de fraude, tida como extremamente prejudicial para todos os atores económicos e culturais da União Europeia.

“As autoridades aduaneiras da UE constituem a primeira linha de defe-sa contra os produtos de contrafação que prejudicam as empresas legais. É fundamental reconhecer a intensidade e a importância do trabalho desen-volvido pelas autoridades aduaneiras neste domínio. Continuará o trabalho para aumentar a proteção dos direitos

de propriedade inteletual na Europa, graças à cooperação com os parcei-ros internacionais, a indústria e os Estados-Membros”, referiu Algirdas Semeta, comissário responsável pela Fiscalidade e União Aduaneira, Luta contra a Fraude e Auditoria, aquando da apresentação do relatório sobre as medidas tomadas no âmbito da defesa dos direitos de propriedade inteletual.

Os cigarros representaram um grande número de apreensões (cerca

de um terço), sendo as mercadorias diversas a categoria seguinte mais re-presentada, seguida pelos materiais de embalagem. Os serviços postais e os serviços de correio privados represen-taram cerca de 70% das intervenções aduaneiras, com 23% das apreensões no âmbito do tráfego postal a respei-tarem a medicamentos. Quanto ao local de proveniência das mercado-rias de contrafação, a fonte principal manteve-se a China. Outros países, no entanto, constituíram as fontes principais para categorias específicas de produtos, como Marrocos (géne-ros alimentícios), Hong Kong (CD/DVD e produtos de tabaco) e a Bul-gária para os materiais de embalagem. Cerca de 90% de todas as embalagens apreendidas foram destruídas ou alvo de processos judiciais para constatar a infração.

Autoridades aduaneiras apreendem material contrafeito no valor de mil milhões

A fiscalidade em Portugal está a um nível demasiado agressivo. O que faz com que a consolidação de um ciclo económico virtuoso não seja sustentável. A opinião é do mi-nistro da Economia, Pires de Lima, podendo-se concluir que o Governo está consciente da necessidade de ali-viar a carga fiscal sobre as empresas e os particulares.

Pires de Lima, em afirmações re-centes, revela a importância de uma política fiscal menos agressiva e inibi-dora da atividade económica. Referiu a este propósito: “As empresas estão a fazer o seu trabalho e as famílias já fizeram o necessário ajustamento. O que se espera agora é que o Estado

tenha a capacidade também de fa-zer o que tem a fazer.” Palavras que mostram uma inversão do ministro da política fiscal que tem sido segui-da nos dois últimos anos. “O Estado deve reduzir a sua estrutura de custos dentro do que é aceitável e razoável, para que se possam dar sinais fiscais

mais positivos às empresas e famílias. Consolidar um ciclo virtuoso eco-nómico não é sustentável mantendo uma fiscalidade tão agressiva em Por-tugal.”

Mas Pires de Lima não deixa de chamar a atenção para a importância das parcerias entre as empresas e o Es-tado. “A minha missão é facilitar-lhes a vida para que tenham condições de prosperar, atrair talento e serem sus-tentáveis. É essencial consolidar os dados económicos que começámos a conhecer no segundo trimestre e que espero que se confirmem nos terceiro e quarto trimestres.” Por sua vez, deixou o apelo para que o crescimento passe pela investigação e pela inovação.

Pires de Lima admite uma “fiscalidade agressiva”

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50 CONTABILIDADE & Empresas | SET/OUT 2013 | nº 23 - 2ª série

Este é um guia prático para aprender a comu-nicar documentos de transporte e informações fundamentais para minimizar os riscos antes da respetiva comunicação eletrónica à Autoridade Tributária e Aduaneira (AT).

O livro apresenta os limites dos validores dis-ponibilizados pelo fisco. Também é possível ficar a saber quais as razões que levam a que as empre-sas – sem se aperceberem e sem ser intencional – a transmitirem várias incoerências à autoridade tributá-ria. A obra permite minimizar riscos e garantir a coerência fiscal da informação que reporta à AT. O guia ajuda a agir com a responsabilidade que a era digital exige e prepara os

utilizadores para as mudanças inevitáveis na or-ganização das empresas. A instabilidade da legis-lação e das técnicas que regem a atividade econó-mica faz com que os conhecimentos herdados do passado já não sejam suficientes para fazer face às exigências impostas pela administração fiscal.

Trata-se de mais uma publicação do grupo editorial Vida Económica. O livro tem 112 pági-nas e está disponível ao público por 12,60 euros.

O autor é Pedro de Jesus Rodrigues, mestre em Tecnolo-gias de Informação e Comunicação e licenciado em Ad-ministração de Empresas. Possui mais de uma década de experiência em projetos de software de gestão.

A qualidade é uma variável fundamental na equação do sucesso de uma organização. Este livro desenvolve o estado da arte do conceito. É também apresentado um estudo realizado no âmbito do setor bancário, em termos de quali-dade do serviço, designadamente a metodologia, a discussão dos dados e as respetivas conclusões.

A obra tem reunida a informação necessária para quem quer aprofundar os seus conhecimen-tos no domínio da qualidade, aconselhável a responsáveis do setor bancário e também a estudantes que podem analisar um estudo de mercado paradigmático. Depois

da introdução, o livro faz um enquadramento teórico. Segue-se a metodologia e a análise dos dados. Da obra constam ainda a conclusão e vá-rios anexos.

A publicação é da responsabilidade do gru-po editorial Vida Económica, tem 256 páginas e o preço de venda ao público é de 12,99 euros. O autor, Eduardo Ferreira Martins, é licenciado em Economia, com pós-graduações em assesso-

ria fiscal e laboral. Tem um doutoramento em Ciências Empresariais. Tem estado sempre ligado ao setor da banca e, atualmente, é técnico na Caixa Geral de Depósitos.

Um livro que trata do outsourcing no setor hospitalar e que dá resposta à questão de saber quais as áreas e as circunstâncias em que um contrato com empresas especializadas pode per-mitir a obtenção de melhores resultados relativa-mente à prestação interna de serviços.

A obra inclui a definição de outsourcing e a distinção relativamente a conceitos próximos, as perspetivas teóricas, as especificidades do setor da saúde, o outsourcing no setor hospitalar nacional e o estudo de dois casos – imagiologia e serviços hoteleiros – em hospitais públicos. É um trabalho que fornece lições para o presente e o futuro sobre as alternativas que se co-

locam à gestão de unidades de saúde, de forma a aperfeiçoar e a ampliar o seu desempenho. Está--se perante um instrumento de grande utilidade para investigadores da economia, da gestão, do direito, da administração pública, bem como para os decisores que encontram evidências para as suas escolhas.

Trata-se de uma publicação do grupo edito-rial Vida económica, o livro tem 416 páginas e

está disponível por 19,80 euros. A autora é Susana Maria Sampaio Pacheco Pereira de Oliveira, docente na Faculda-de de Economia da Universidade do Porto. É doutorada em Ciências Empresariais.

SAF-T (PT) em câmara lenta

Qualidade do serviço

Outsourcing no setor hospitalar

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LIVROS

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Portugal vai ter 2800 milhões de euros/ano

para investimento

Págs. 4 e 5

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Nº 1511 / 11 de outubro 2013 / Semanal / Portugal Continental J 2,20

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DIRETOR

João Peixoto de Sousa

EMPRESAS

REN investe 20 milhões

no Grande Porto Pág. 37

ASSOCIATIVISMO

ACIB aproxima

indústria têxtil,

calçado

e moda

ao BrasilPág. 23

MERCADORIAS COM GUIAS ELETRÓNICAS

OBRIGATÓRIAS A PARTIR DE 15 DE OUTUBRO

Vigilância

permanente

presas

ptptptpt

Pág. 37

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SETEMBRO E OUTUBRO 2013 | N.º 23 | 2ª SÉRIE

ENTREVISTA

• Bastonário da OROC diz que a crise também está instalada no mercado da revisão oficial de contas

OPINIÃO

• A importância da simulação empresarial nas instituições de ensino superior

• A (in)eficácia socioeconómica da reforma do IRC

CONTABILIDADE

• Governo apresenta plano excecional de regularização de dívidas fiscais

• Bruxelas “ataca” paraísos fiscais na União Europeia

FISCALIDADE

• UE com regime comum aplicável aos pagamentos de juros e “royalties”

• Governo avança com reorganização dos serviços locais de Finanças

CONTABILIDADE& EMPRESAS