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  • 7/25/2019 CAP_III_FPB

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    CAPTULO III

    MECNICA DE FLUIDOS

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    1 INTRODUO

    Nos captulos anteriores, relativos a organismos slidos, vimos que conhecendo as foras a eles

    aplicadas, se podia prever o movimento desses organismos e tambm descrever estados de

    equilbrio. No caso dos fluidos a filosofia a mesma. Como nos fluidos a forma pode ser

    facilmente alterada, mais conveniente considerar as grandezas fsicas densidade ()epresso (P),em vez de massa e fora. Uma vez conhecidos e P, pode descrever-se o fluido

    i) em repouso, atravs da Hidrosttica, que explica a razo dum corpo flutuar ou no, por

    exemplo;

    ii) no vi scoso em movimento, atravs da equao de Bernoulli que resulta de consideraes

    de energia e trabalho em fluidos que circulam em sistemas de vasos comunicantes e que

    explica como fluem os fluidos;

    iii) viscoso, isto quando fluido est sujeito a foras de corte entre camadas vizinhas dessefluido.

    Os tpicos de Mecnica de Fluidos so muito teis na avaliao e compreenso do fluxo de fluidos

    no corpo humano, animal e vegetal, tais como o fluxo de sangue no corao e no sistema

    circulatrio, o fluxo de ar no sistema respiratrio, o fluxo de lquidos no sistema urinrio e o fluxo

    de lquidos atravs de membranas.

    2 DENSIDADE

    Os conceitos de massa e fora no so os mais convenientes quando aplicados a mecnica de

    fluidos, visto que uma dada massa de fluido pode ter a sua forma alterada durante o movimento.

    Da que se descrevam os fluidos em termos da densidade e da presso. Como estas grandezas no

    so vectoriais, no dependem da geometria da situao, sendo por isso as variveis fundamentais

    mais adequadas.

    Uma dada massa dum fluido ocupa sempre o mesmo volume, independentemente da forma

    geomtrica, se o fluido for incompressvel. Nesse caso, V

    m

    , cujas unidades SI so kg m

    -3

    . Na

    tabela 1 esto listados alguns valores de densidade para vrios fluidos. Como se pode ver a, a

    densidade do sangue inteiro muito semelhante ao da gua do mar (justificando-se considerar que o

    sangue um fluido incompressvel), ~ 10 vezes superior dos gases e ~13 vezes inferior do

    mercrio. Por vezes conveniente considerar a densidade especficadum fluido. Esta dada pela

    grandeza adimensional

    Cagua

    fluid o

    esp

    0

    .

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    FLUIDO/ kg m-3 / C Exerccio: Calcular a reduo de volume de 1m de gua do

    mar (cuja densidade ~ do sangue) a 2km de profundidade,relativamente ao volume superfcie.

    superfcie: Vgua(1 atm) = 1 m3

    h = 2 km Ph= 200 atm P = (200-1) atm

    1 atm = 1.01 x 105Pa

    B = 0,22 x 1010Pa ; = - B V / V

    V =

    10

    5

    10220

    1001112001

    x,

    x,xx = - 9.13 x 10-3

    V/V) ~ 0.9 % ~ desprezvel incompressvel

    H2, He, N2, CO2, O2 < 2 0

    ar

    1.29

    1.20

    0.95

    0

    20

    100

    H2O

    1 000

    958

    0

    100

    gua do mar 1 025 15

    lcool etlico 791 20

    clorofrmio 1 490 20

    plasma (sangue) 1 026.9 25

    sangue (inteiro) 1 059.5 25

    mercrio 13 600 0

    Tabela 1-Valores da densidade para alguns fluidos (esquerda) e clculo justificativo do sangue ser um

    fluido incompressvel (direita)

    3 PRESSES CARACTERSTICAS NO CORPO HUMANO

    3.1 Unidades e Dimenses

    A unidade SI da grandeza presso, como j foi dito, o Pa = Nm-2. Esta unidade independente do

    local, mas em certos casos utiliza-se uma unidade que especfica do planeta Terra, ao nvel do mare a 0C, e que definida custa duma coluna de lquido (geralmente mercrio ou gua): atm

    (atmosfera). Uma coluna de altura he com um fluido de densidade , exerce uma presso Pna

    base de sustentao que proporcional altura da coluna, sendo P dada por

    P = g h (1)

    Ao nvel do mar e a 0C, a presso exercida por uma coluna de ar 1atm. A mesma presso

    exercida por uma coluna de mercrio com 760mm de altura (figura 1) ou por uma coluna de gua

    com 1,033cm de altura. Ento essa unidade pode ser escrita como1 atm = 760 mmHg = 760 Torr = 1,033 cmH2O (2)

    Ao efectuar clculos com valores de presso em unidades de altura de lquido, devem converter-se

    esses valores para os correspondentes no SI, o que se consegue multiplicando o valor obtido por

    gHg ou H2O, isto , multiplicando pelo produto entre a acelerao gravtica e a densidade do lquido

    contido na coluna.

    A presso sangunea geralmente dada por valores expressos em mmHg a que previamente se

    subtraiu o valor da presso atmosfrica. A esse tipo de representao da presso designa-se por

    gauge. Assim, a presso sangunea geralmente dada por

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    Pgauge= Pabsoluta1 atm (3)

    A uma presso sangunea de 120 mmHg (presso de gauge), por exemplo, corresponder ento uma

    presso absoluta de

    Pabs = 120 mmHg + 1 atm = (120 + 760) mmHg = 880 mmHg.

    Figura 1Medio da presso atmosfrica utilizando uma coluna de mercrio.

    Na tabela 2 so indicados alguns valores de presso caractersticas do corpo humano. Note-se que

    P gauge / mmHg

    Sangue arterial Presso mxima (sistlica) 100140

    Presso mnima (diastlica) 6090

    Capilares Sangue arterial 30

    Sangue venoso 40

    Sangue venoso Tpico 37

    Grandes veias < 1

    Ouvido mdio Tpico < 1

    Ruptura do tmpano 120

    Olho Humor 1223 (20)Limite glaucoma ~ 2130

    Fluido crebro-espinal no crebro, posio deitado 512

    Gastrointestinal 1012

    Ossos longos, de p ~7 600 (10 atm)

    Bexiga esvaziamento 1530 (20 40 cmH2O)

    pico 120 (150 cmH2O)

    Intra-torcica, interface pulmo/parede - 10

    Tabela 2 - Presses de gauge tpicas no corpo humano.

    h

    Hg

    P = g h

    h

    h

    P

    P

    P = P - g zz = hh

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    no caso da respirao, durante a inspirao, a presso interior inferior presso exterior, por isso

    a presso de gauge menor que zero.

    Sabendo o valor da presso P0a uma dada altitude y0= 0, pode-se determinar o valor da presso a

    qualquer outra altitude superior (y > y0) utilizando a expresso

    P = P0g y (4)

    em que o decrscimoda presso linear com a altitude.

    3.2 Medio da Presso

    Uma forma de medir directamente a presso utilizando um manmetro. Este consiste,

    esquematicamente num tubo em U (figura 2), com ambas as extremidades abertas, uma para a

    atmosfera e a outra se liga ao recipiente com o gs cuja presso se pretende medir. No interior do

    tubo est contido um lquido que pode se mercrio ou, no caso de presses baixas, gua ou leo.

    Tambm se pode utilizar um manmetro para medir presses em lquidos, mas s se estes no

    forem miscveis com o lquido do manmetro.

    Figura 2Manmetro de tubo aberto, incluindo o clculo da presso do gs contido no recipiente.

    Tal como se pode ver na figura 2, a presso de gauge g h, pois

    P = Pref+ g h (4)

    Os medidores de presso podem ser classificados de acordo com os seus princpios de

    funcionamento, entre os quais podemos citar:

    Aberto atmosfera

    P(gs)

    Hg(mercrio)

    1501401301201101009080706050403020

    100

    mmHg

    P = Pref+ g h

    Pref = Patm = 1 atm

    Pgauge = g h

    h

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    equi lbrio com uma coluna de lquido de densidade conhecida.

    Exemplo: manmetros de tubo em U (figura 2).

    equi lbrio de uma fora produzida sobre uma rea conhecida com a tenso actuante num

    meio elstico.

    Exemplo: manmetro de Bourdon, ilustrado no esquema e foto da figura 3.

    Figura 3 - (a) Manmetro de tubo em U. A presso de gauge do gs 130 mmHg . (b) Manmetro tipoBourdon e respectivo esquema de funcionamento.

    3.2.1 Medio Da Presso Sangunea

    A presso sangunea pode ser medida utilizando duas tcnicas no invasivas diferentes: uma tcnica

    manual designada como auscultaoe uma tcnica automtica designada comooscilao.

    Tcnica manual - auscultao

    Na figura 4 pode observar-se como medir a presso sangunea com um esfigmomanmetro. Uma

    das extremidades do tubo deste ligada a uma bolsa, que pode ser insuflada atravs de umapequena bomba de borracha.

    Figura 4

    (a) Utilizao dum manmetro de tubo em U na medio da presso sangunea duma pessoa. (b) Exemplo dum esfigmomanmetro de mercrio.

    a b

    Tubo flexvelarticulao

    mola

    presso a ser medida

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    Tcnica automtica - Oscilao

    A mquina, designada como esfigmmetro, detecta vibraes (oscilaes) medida que a presso

    da bolsa insuflvel sobre a artria reduzida e o fluxo sanguneo restabelecido. Nas figuras 5a e

    5b, respectivamente, podem ver-se alguns exemplos de esfigmmetros e dum esfigmomanmetro.

    Figura 5 (a) Exemplos de esfigmmetros de oscilao. (b) Exemplo dum esfigmomanmetro de

    oscilao.

    Em qualquer uma das tcnicas o princpio o mesmo. A bolsa insuflvel enrolada em volta do

    brao, a um nvel aproximadamente igual ao do corao, a fim de assegurar que as presses

    medidas sejam mais prximas s da aorta. A presso do ar contido na bolsa aumentada at que o

    fluxo sanguneo atravs das artrias do brao seja bloqueado. A seguir, o ar gradualmente

    eliminado da bolsa ao mesmo tempo que se usa um estetoscpio (ou um sensor de vibraes) para

    detectar o retorno das pulsaes ao brao. O primeiro som/vibrao ocorre quando a presso do ar

    contido na bolsa se igualar presso sistlica, isto , mxima presso sangunea. Nesse instante,

    o sangue que est presso sistlica consegue fluir pela artria. Os sons/vibraes ouvidos atravs

    do estetoscpio so produzidos pela turbulncia do fluxo sanguneo na artria e so chamados sons

    Korotkoff (ou sons K). Assim, a altura da coluna de mercrio lida (ou o valor apresentado no

    monitor digital) corresponde presso sistlica. medida que o ar da bolsa extrado, a

    intensidade do som ouvido atravs do estetoscpio aumenta (maior turbulncia e abrir e fechar da

    artria. A presso correspondente ao ltimo som audvel (vibrao detectvel) a presso

    diastlica, isto , a menor presso sangunea, quando o sangue a baixa presso consegue fluir pela

    artria no oclusa.

    Deste modo, o incio e o fim dos sons Korotkoff indicam respectivamente a presso sistlica, Psist, e

    a presso diastlica, Pdiast. Os valores normais de Psiste Pdiastnum indivduo adulto saudvel so

    Psist ~ 120 mmHg

    Pdiast~ 80 mmHg .

    Em geral, a incerteza associada medio acstica da presso sistlica ~ 2 mm Hg e da

    diastlicas ~ 5 mm Hg. A preciso ainda dependente da obesidade dos pacientes e outros

    factores.

    ba

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    8

    Na figura 6 pode ver-se, em funo do tempo, o perfil da presso sangunea na aorta (linha a azul

    do topo) durante dois batimentos cardacos consecutivos, comparado com a correspondente

    variao de presso no aurculo e ventrculo. Nessa figura tambm se representa o perodo de

    turbulncia e do fechar/abrir intermitente da artria, durante o qual os sons K se fazem ouvir, e que

    ocorre no processo de medio da tenso arterial dum indivduo.

    Figura 6Presso na aorta e nos ventrculo e aurculo esquerdos durante as fases sistlica e diastlica

    dum batimento cardaco. Indica-se a gama de presses em que se ouvem os sons Korotkoff quando se

    varia a presso provocada pela manga insuflvel do aparelho de medida.

    Presso sangunea no corpo humano

    Apresso no sistema circulatrio varia ao longo do corpo dum indivduo na posio erecta. Como a

    densidade do sangue (1,04 g/cm3) quase igual da gua, a diferena de presso hidrosttica

    entre a cabea e os ps numa pessoa de 1,80 m de altura ~180 cm H2O. A figura 7 mostra as

    presses arterial e venosa mdias (Pa= 0,5 x [ Psist+ Pdiast]cm H2O), para uma pessoa de 1,80 m

    de altura, em vrios nveis em relao ao corao. Uma pessoa deitada possui presso hidrosttica

    praticamente constante em todos os pontos e igual do corao. Se um manmetro aberto contendo

    mercrio fosse utilizado para medir as presses arteriais em vrios pontos de um indivduo deitado,

    a altura da coluna de mercrio seria aproximadamente 100 mm, ou seja 136 cm H2O.

    As presses arteriais em todas as partes do corpo de uma pessoa deitada so aproximadamente

    iguais presso arterial do corao. Quando a pessoa est sentada, ou em p, devido elevao dacabea em relao ao corao, a presso arterial mais baixa na cabea e dada por:

    sons Korotkoff

    120 mmHgPresso sistlica

    S STOLE

    Presso(mmHg)

    Volumeventricular

    ml

    aorta

    aurculoventrculo

    Presso diastlica80 mmHg

    DI STOLE S STOLE DI STOLE

    http://www.bertolo.pro.br/Biofisica/Fluidos/efeitos_fisiologicos_da_pressao.htmhttp://www.bertolo.pro.br/Biofisica/Fluidos/efeitos_fisiologicos_da_pressao.htm
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    Pa(cabea) = Pa(corao) - sg h (5)

    Onde s a densidade do sangue e h a diferena de nvel entre o centro da cabea e o centro do

    corao.

    Assim, quando uma pessoa deitada se levanta rapidamente, a queda de presso arterial da cabea

    ser s g h, o que implicar uma diminuio do fluxo sanguneo no crebro. Como o fluxo deve sercontnuo e como o ajuste do fluxo pela expanso das artrias no instantneo, a pessoa pode

    sentir-se tonta. Em casos de variaes de presso muito rpidas, a diminuio da circulao pode

    ser tal que provoque desmaio.

    Figura 7 - (a) Presso sangunea em diferentes locais do corpo (cabea, tora, joelhe e ps) (b) Se apessoa se levantar rapidamente, a diferena de presso entre as duas posies da cabea afecta o fluxo desangue para o crebro e a pessoa pode ficar tonta ou desmaiar. (c) Se o corpo estiver na horizontal, apresso sangunea a mesma nos trs pontos.

    Presso sangunea na girafa

    Um animal que possui propriedades fisiolgicas extraordinrias a girafa. A sua altura varia de

    4,0m a 5,5m. O seu corao est aproximadamente equidistante da cabea e das patas, ou seja, a

    uns 2 m abaixo da cabea. Isso significa que a presso arterial da girafa tem que ser muito maior

    que a do homem, ou de outro animal mais baixo, para que a cabea possa ser atingida pelo fluxo

    sanguneo. J. V. Warren e o seu grupo de investigadores mediram as presses nas artrias de

    algumas girafas de uma reserva, no Qunia. Quando a girafa est deitada, a cabea e o corao

    esto no mesmo nvel, a presso arterial da cartida varia entre 180 a 240 mmHg e o ritmo cardaco

    96/min. Quando o animal levanta a cabea, a presso mantm-se aproximadamente igual da

    posio anterior, mas a frequncia cardaca diminui. Na posio erecta assim como em movimento

    normal , aumenta a frequncia cardaca at cerca de 150/min, enquanto que a presso arterial cai

    PRESSO MDIA(a)

    (b)

    (c)

    Presso sistlica

    Presso diastlica

    Presso mdia

    Pre

    sso

    mmH

    tempo (s)

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    para 90 - 150 mmHg. O galope eleva a frequncia cardaca ao valor de 170/min e produz uma

    variao da presso arterial ~ 80 - 200 mmHg.

    A presso sistlica ao nvel do corao da girafa varia entre 200 e 300 mmHg, enquanto que a

    diastlica varia entre 100 e 170 mmHg. O valor mdio da razo presso sistlica/presso diastlica

    de 260/160. Esse valor, comparado com o valor mdio de uma pessoa - 120/80 - classificaria a

    girafa de hipertensa. Entretanto, essa hipertenso no se deve a problemas vasculares, mas uma

    condio necessria para suprir o crebro do animal com sangue quando ele est erecto

    4 HEMODINMICA

    A hemodinmicapode ser definida como o conjunto de factores que governam o fluxo sanguneo.

    Esses factores so: A resistnciaao fluir do sangue, a compliance (deformabilidade) dos vasos

    sanguneos e a inertncia(variabilidade do fluxo devido a variao da presso do sangue).

    Antes de analisar com cuidado esses factores, recorda-se na seco seguinte (4.1) os princpios que

    caracterizam o equilbrio esttico dum lquido (princpios de Pascal e de Arquimedes) e introduz-

    se na seco 4.2 a noo de tenso superficial.

    4.1 Princpios de Pascal e de Arquimedes

    O pr incpio de Pascaldiz que a presso aplicada num ponto duma poro confinada de um fluido

    em equilbrio, transmitida igualmente a todas as partes desse fluido. Assim, considere-se que num

    sistema do tipo dos indicados na figura 8a, se aplica uma fora no stio indicado pela seta pequena.Na superfcie vermelha a tenso aplicada a mesma, mas como a superfcie maior, a fora

    tambm ter que ser maior (representada pela seta grande). Na figura 8b, exemplifica-se um clculo

    ilustrativo deste facto.

    Figura 8 - Esquemas ilustrativos do princpio de Pascal. (a) Todo o lquido est sob a mesma tenso

    compressiva que lhe aplicada na extremidade aberta mais estreita. Isso implica que na extremidade

    P

    P = F / 0.01

    (a) (b)

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    aberta de maior rea a fora tenha que ser maior. (b) Exemplo do clculo do valor da fora aplicada na

    superfcie maior (100cm2), tendo-se aplicado uma fora F na extremidade de menor rea.

    O princpio de Arquimedesafirma que um corpo, ao ser submergido num fluido, fica sujeito a uma

    fora de impulso oposta fora gravtica e cujo valor igual ao peso do volume da fluido

    deslocado (figura 9a), isto ,fluflu VgF (6)

    onde

    F= fora de impulso, ou simplesmente impulso [N]

    g= acelerao da gravidade [ms-2]

    flu= densidade do fluido [kg m-3]

    Vobj= parte do volume do objecto que se encontra submergido [m3]

    Ento, qualquer corpo que tenha densidade mdia inferior densidade do lquido, flutuar, como

    acontece no caso dum navio (figura 9b). O navio tem uma massa total grande, mas esta distribui-se

    por um volume mesmo muito grande, de modo que a densidade mdia resultante inferior

    densidade da gua e o navio flutua.

    Figura 8 - Esquemas ilustrativos do princpio de Arquimedes. (a) Todo o corpo est submerso num

    fluido de densidade flu, estando, portanto, sob a aco da fora de impulso F. (b) O navio flutua, pois a

    fora de impulso ( = peso do volume de gua deslocada) suficiente para anular a fora gravtica.

    4.2 Tenso SuperficialLei de Laplace

    Porque que alguns insectos conseguem deslizar superfcie da gua em vez de afundarem (figura

    9a)? Porque que a gua borrifada em certas superfcies se distribui em gotas (figura 9b) e noutras

    se espalha como um filme? Porque que a gua sobe por um capilar? Porque que se conseguem

    fazer finas bolas com gua e sabo (figura 9c), mas no com gua simples?

    Volume de lquido deslocado

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    A superfcie duma substncia tem propriedades especiais que explicam os fenmenos referidos no

    pargrafo anterior. Alm disso essa superfcie tambm o local de contacto com outras substncias.

    As propriedades das superfcies so to importantes que at h um ramo da cincia chamadaFsica

    das Superfciesdevotada aos fenmenos de superfcie.

    Num lquido, cada molcula atrai as molculas vizinhas e atrada por elas (figura10). Para as

    molculas que esto no interior do lquido a resultante dessas foras nula e todas essas molculas

    esto em equilbrio. Para as molculas da superfcie, a resultante dessas foras dirigida para o

    interior do lquido, assegurando a coeso deste. Esta coeso tambm gera uma tenso tangencial

    paralela superfcie. Da que a superfcie dum lquido se comporte como uma membrana elstica,

    que envolve e comprime o lquido. A tenso superf icial exprime a fora com que as molculas

    superficiais se atraem mutuamente.

    Figura 9 - Maesovliaa subir o menisco da gua, junto a uma planta. (b)Gota de gua sobre uma

    superfcie.(c)bolas de sabo a pairar no ar.

    Figura 10 - Esquema da fora atractiva entre molculas vizinhas dum lquido. No interior do lquido as

    molculas esto em equilbrio. Mas nas molculas superfcie as foras tm uma resultante dirigidapara o interior (esquema da direita), resultando da uma compresso. Esta coeso tambm gera uma

    tenso tangencial paralela superfcie. Da que a superfcie dum lquido se comporte como uma

    membrana elstica.

    Nos vasos sanguneos e alvolos pulmonares a tenso superficial de grande relevncia e est

    relacionada com a diferena de presses interior e exterior. Considere-se o caso dum vaso

    sanguneo, em que a presso interior excede a exterior. Em equilbrio, qual ser a tenso superficial

    na parede, expressa em funo da diferena entre essas duas presses?

    (a) (b)

    (c)

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    Considere-se um segmento com comprimento L, dum vaso sanguneo de raio R, e em que a presso

    interior excede em P a presso exterior. Em equilbrio esttico, a soma de todas as foras

    aplicadas parede do vaso zero. Considerando o diagrama da figura 11a, ilustrativo desta

    situao, as foras aplicadas parede do vaso so F

    , devido diferena de presso P, e TL

    , sendo

    T

    uma fora por unidade de comprimento e designada por tenso superficial. As componentesnormais parede do vaso, de F

    e TL

    , so dadas respectivamente por

    F = P A= P L R (7)

    22

    senTLTL (8)

    onde A a rea da superfcie a tracejado, na figura 11. O diagrama de foras livres correspondente

    ao equilbrio esttico (figura 12) d

    LTF 22

    2 senTLRLP

    Considerando ngulos pequenos, 2

    sen e tem-se

    T = R P (9)

    Figura 11 - Esquema dum vaso sanguneo sujeito a uma diferena de presso P, ficando, por isso, sob a

    aco das foras F e T L.

    Figura 12 - Diagrama de corpo livre, referente ao esquema dum vaso sanguneo representado na figura

    11.

    Fint > Fext

    Fint- Fext= FP = Pint - Pext

    R

    TF

    T

    L

    Fext

    R

    R para pequeno

    F = P L R

    T L

    F

    R

    T L

    T L T L

    T L sen (/2) ~ T L / 2

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    A eq.9 diz respeito a uma forma cilndrica, caracterstica dum vaso sanguneo. No caso duma forma

    esfrica ou elipsoidal, a tenso superficial dada pelas expresses apresentadas na tabela 3, na qual

    se inclui tambm a forma cilndrica, para a qual foi feita a deduo da eq.9.

    Sublinhe-se que T uma fora por unidade de comprimento, isto , uma fora que est aplicada a

    uma linha e no a uma superfcie, como o caso da fora F.

    Na tabela 4 pode comparar-se o valor da tenso superficial para vrios fluidos. Como se pode ver a

    o sangue e o fluido crebro-espinhal tm um valor de T que da mesma ordem de grandeza do da

    gua e cerca de 10 vezes inferior ao do mercrio.

    Forma da membranaP (T) Exemplo do elemento fisiolgico

    R

    TP Vaso sanguneo

    R

    TP 2

    Alvolo pulmonar

    Aneurisma em balo

    TRR

    Pminmx

    11 Alvolo pulmonar

    Tabela 4 - Relao entre a diferena de presso exterior/interior e a tenso superficial para as forma mais

    relevantes a considerar no corpo humano.

    FLUIDO T C T = ( x10-4N/m)

    H2O 02060

    100

    7.567.286.625.89

    sangue inteiro 20 5.56.1

    plasma (sangue) 20 5.05.6

    surfactante (pulmo) 20 0.1

    crebro- espinhal 20 6.06.3

    saliva 20 1.52.1

    benzeno 20 2.89

    mercrio 20 46.4

    Tabela 4 - Valores tpicos para a tenso superficial, aqui designada por , no caso de alguns fluidos.

    4.3 Factores que governam o fluxo sanguneo

    Entende-se por fluxo Q dum fluido num tubo, a quantidade de fluido, por unidade de tempo, que

    atravessa a rea da seco recta desse tubo. Os factores que governam o fluxo sanguneo so os

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    15

    mesmos factores fsicos que governam o fluxo de qualquer fluido e baseiam-se na lei fundamental

    da fsica designada porLei de Ohm. Esta lei afirma, no caso do fluxo sanguneo, que a diferena (ou

    gradiente) de presso ao longo dum vaso sanguneo (P) igual ao produto do fluxo sanguneo (Q)

    pela resistncia (R) que o vaso oferece passagem do sangue, isto ,

    P = RQ. (10)Este comportamento est representado na figura 13: quando a resistncia aumenta, o fluxo diminui

    para um P constante; por outro lado, para um dado valor de fluxo num vaso sanguneo, se a

    resistncia aumentar, P tambm aumenta. Os sistemas de controle no corpo asseguram em geral

    um P constante, da que o meio principal de regulao do fluxo sanguneo nos rgos seja atravs

    de alteraes nos valores da resistncia. O surgimento de turbulncia, assim como a natureza

    pulsante do fluxo so factores que aumentam a resistncia R.

    Figura 13 - (a) Lei de Ohm para vasos sanguneos e (b) dependncia da resistncia R no tamanho

    desses vasos (comprimento L e dimetro d). (c) Dependncia da variao do fluxo, Q/Q0, na variao do

    raio do vaso, r/r0.

    A resistnciaR devida resistncia do sangue e frico entre a parede do vaso e o sangue que

    se desloca ao longo deste. O gradiente de presso P num vaso sanguneo a diferena entre as

    presses arterial e venosae graas a esta diferena de presso que o sangue flui. Se esta diferena

    for alterada, tambm o fluxo alterado. Por exemplo, na aorta, tem-se um gradiente de presso P

    dado por Psist.Pdiast..

    A unidade de resistncia R Pa m-3s-1 (faa a anlise dimensional apropriada para obter este

    resultado).

    Q

    R

    < RP

    P

    Q/Q0

    r/r0

    (a)

    (b)(c)

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    16

    4.3.1 Resistncia

    A resistncia associada a uma rede de vasos determinada pelos factores que a seguir se

    apresentam.

    i) Tamanho dos vasos individuais(comprimentoLe dimetro d)

    A resistncia ao fluxo, R, directamente proporcional ao comprimento do vaso e inversamenteproporcional quarta potncia do dimetro do vaso,

    4d

    LR (11)

    Deste modo, o factor mais relevante na variao do fluxo o dimetro, como se exemplifica no

    grfico da figura 13c. Por exemplo, ao duplicar d, a resistncia diminui 16 vezes, e o fluxo aumenta

    16 vezes (pela eq.10). Ao longo da ramificao sucessiva dos vasos que constituem o sistema

    circulatrio, esquematizada na figura 14, o dimetro dos vasos varia imenso, como se pode ver na

    tabela 5, onde so indicados os respectivos valores tpicos. Nessa tabela tambm se indica a funo

    de cada tipo de vaso.

    Figura 14 - (a)Esquema da ramificao em diferentes tipos de vasos, no sistema circulatrio humano. (b)Imagem

    aumentada do complexo arterolas-capilares-vnulas, (s arterola-capilar em (c)) em que se evidencia as clulas do

    msculo passivo que envolvem estes vasos e lhes proporcionam a capacidade de se contrair e dilatar.

    A aorta, tem um valor elevado da compliance, o que garante uma efectiva atenuao do efeito

    pulsante. A regulao do fluxo e da presso faz-se principalmente nas arterolas por

    reduo/aumento activo dos respectivos dimetros, da serem designados muitas vezes por vasos

    resistivos. Essa regulao conseguida atravs da enervao autonmica das pequenas artrias e

    msculopassivo

    (a) (b)

    endotlio

    capilar

    msculo liso

    (c)

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    arterolas e graas s hormonas circulantes no sangue que regulam a constrio/relaxamento dos

    msculos passivos que envolvem esses vasos (figuras 14b e 14c). Nos capilares efectua-se a troca

    de gases e nutrientes. Nas vnulas volta a surgir msculo passivo, o que torna estes vasos capazes

    de se contrair e dilatar e, portanto, capazes de satisfazer a sua funo de regular a presso a nvel

    dos capilares. nas veias que se encontra a maior parte do volume de sangue do corpo e que se faz

    a regulao regional de volume de sangue. Por exemplo, a constrio das veias faz decrescer o

    volume venoso e aumenta a presso venosa, o que por sua vez altera o output cardaco. A veia

    cava tem basicamente a funo de recolha e transporte do sangue de volta ao corao.

    Tipo de VASO DIMETRO (mm) FUNO

    Aorta 25 Amortecimento do efeito pulsante (grande compliance).

    Artrias grandes 1,04,0 Distribuio do sangue arterial.

    Artrias pequenas 0,21,0 Distribuio e resistncia.Arterola 0,010,20 Resistncia (regulao da presso e do fluxo).

    Capilares 0,0060,010 Troca de gases e nutrientes.

    Vnulas 0,010,2 Troca, recolha e acumulao de sangue. Regulao da presso capilar.

    Veias 0,25,0 Acumulao de sangue (regulao do volume).

    Veia cava 35 Recolha e transporte de sangue venoso para o corao.

    Tabela 4 - Valores tpicos para os dimetros dos vasos sanguneos no sistema circulatrio humano e

    respectiva funo fisiolgica.

    A distribuio de presses e do volume de sangue, desde a aorta at aos capilares e desde os

    capilares at veia cava, a representada na figura 15. Aproximadamente 50 a 70% de reduo da

    Figura 15 - Distribuio de presses e do volume de sangue nos diferentes tipos de vasos que existem no

    sistema circulatrio humano.

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    presso ao longo do sistema vascular tem lugar na passagem das artrias para as pequenas artrias e

    arterolas. Desde esses vasos at que o sangue chega ao corao, a presso mdia continua a

    decrescer, at que quase zero na veia cava torcia, flutuando de alguns mmHg, em torno de

    zero, com a respirao. Recorde-se que o decrscimo acentuado em P devido grande reduo

    do dimetro dos vasos.

    No que diz respeito distribuio de volume durante a circulao, 70 a 80% do volume de sangue

    localiza-se no sistema venoso. Por isso, as veias so normalmente designadas por vasos capacitivos

    (acumuladores). O volume relativo de sangue entre o lado arterial e o lado venoso pode variar

    consideravelmente, dependendo do volume total de sangue, das presses intravasculares e da

    compliance vascular.

    ii) Organizao da estrutura vascular(associao dos vasos em sriee em paralelo)

    A anatomia vascular do corpo ou dum rgo contm redes de vasos sanguneos tanto em srie como

    em paralelo, tal como se mostra na figura 15. O sangue sai do corao e distribudo atravs de

    artrias grandes pelos vrios rgos numa associao em paralelo. As redes vasculares da maior

    Figura 15 (a) Estrutura de vasos sanguneos em srie e em paralelo, no corpo e (b) no sistema

    microvascular. (c) Associao em paralelo de trs arterolas.

    parte dos rgos cabea, membros superiores, sistema gastrointestinal, etc constituem tambm

    associaes em paralelo. H excepes, como a das redes do fgado e do sistema gastrointestinal

    que esto parcialmente associadas em srie. No sistema microvascular representado na figura 15b, a

    artria pequena est em srie com o conjunto das duas arterolas que dela resultam; cada arterola

    est em srie com o conjunto dos dois capilares e com a vnula seguinte; os capilares esto em

    paralelo entre si, assim como acontece com as arterolas entre si e entre as vnulas entre si.

    Cada segmento de vaso sanguneo tem uma resistncia R xque determinada pelo dimetro e pelocomprimento do vaso.

    cabea

    membros

    superiores

    membrosinferiores

    sistemagastrointestinal

    rins

    fgado

    veia

    cava

    aorta

    (a) (b)

    (c)

    artria pequena

    arterola

    capilares

    vnulas

    veia

    artria pequena

    arterola 1

    arterola 2

    arterola 3

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    A rede de vasos associados em srie tem uma resistncia total R T que igual soma das

    resistncias dos vrios segmentos, isto , da artria (R A), das arterolas (R a), dos capilares (R c),

    das vnulas (R v), e da veia (R V)

    VvcaAT RRRRRR (12)

    Dividindo ambos os membros por R Te multiplicando por 100, tem-se

    VvcaA R%R%R%R%R% 100 (13)

    em que as percentagens so calculadas relativamente ao valor de R T.

    Para ilustrar este princpio e recorrendo ao caso duma srie simples, considere-se os seguintes

    valores para as resistncias segmentares (em %) e que so semelhantes aos valores observados

    numa rede vascular tpica

    %R A = 20%, %R a = 50% , %R c= 20%, R v= 6% e %R V= 4%.

    ( %R T= 20 + 50 +20 +6 + 4 = 100%).

    Duplicando R V, a variao de R T apenas de 4%, enquanto que duplicando R a, a variao de

    R T de 50%. Como se pode ver, nos segmentos de maior resistncia que a variao de dimetro

    tem maior efeito na resistncia vascular total.

    Do ponto de vista de rede total, as pequenas artrias e arterolas so responsveis por 70% da

    resistncia total da rede, na maior parte dos rgos. Este facto explica porque que que uma artria

    grande, responsvel apenas por 1% da resistncia total, ter que reduzir o seu dimetro a pelo

    menos metade para ter algum efeito no fluxo de sangue dum rgo.

    Este assunto pode tornar-se confuso se for considerada a lei de Poiseuille, de que se falar mais

    frente, e que afirma que4

    1

    dQ . Isto quer dizer que uma reduo de 50% no dimetro da artria

    (d d/2) implica um aumento de 16 vezes no fluxo (24= 16), isto , um aumento de 1600%! No

    entanto, atendendo lei de Ohm, isso corresponder, de facto, a um aumento de apenas 16% na

    resistncia total.

    reduo de 60 70% do dimetro duma artria grande designa-se estenose crtica. Agora j sepercebe porque que, em situaes de obstruo patolgica duma artria grande, s a partir da

    existncia de estenose crtica que se fazem intervenes cirrgicas como a angioplastia (introduo

    dum tubo em rede para manter o vaso aberto).

    Considere-se agora uma pequena artria que se ramifica em trs arterolas como representado na

    figura 15c, isto , uma rede de vasos associados em paralelo. Neste caso, a resistncia total da

    associao dada pela expresso

    321

    1111

    RRRR T

    (14)

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    20

    Exemplificando para os valores R A= 100, R 1= 5, R 2= 10 e R 3= 20, todos em Pa m-3s-1, a

    eq. 14 d R T= 2,86Pa m-3s

    -1.

    Este clculo exemplifica dois princpios importantes no que diz respeito aassociaes em paralelo

    de vasos sanguneos:

    A resistncia total da rede em paralelo inferior resistncia do vaso de menor resistnciaque neste caso R 1= 5 Pa m

    -3s

    -1. Esta a razo dos capilares contriburem apenas com

    uma pequena percentagem para a resistncia vascular total do rgo ou rede micro vascular,

    isto apesar de serem os vasos que tm os maiores valores de resistncia segmentar.

    Quando h muitos vasos em paralelo numa dada seco vascular, a variao da resistncia

    dum nmero reduzido destes vasos tem pouco efeito na resistncia total dessa seco.

    iii)caractersticas fsicas do sangue

    Um aumento da viscosidade do sangue e a ocorrncia ou aumento de turbulncia no fluxo

    sanguneo, aumentam a resistncia vascular.

    iv)foras mecnicas extravasculares

    Alteraes do batimento cardaco, assim como a contraco activa de msculos esquelticos

    alteram a resistncia vascular.

    4.3.2 Compliance

    A designao compliance dum vaso quer dizer deformabilidade mxima desse vaso. Ou seja, a

    compliance mede a capacidade de um vaso se deformar (variar o seu volume V) quando a presso

    sangunea varia entre um valor mnimo e um valor mximo (P = PmxPmn) e dada por

    P

    VC

    . (14)

    No grfico da esquerda da figura 16, em que a compliance dada pelo declive da tangente curva

    em cada ponto. Nesse grfico compara-se a compliance duma veia com a duma artria, quando sevaria a presso destas. Verificam-se dois factos :

    (i) O comportamento da compliance tanto numa veia como numa artria no linear,devido

    natureza heterognea da parede dos vasos. Consequentemente, a compliance decresce

    quando se passa de valores baixos para valores elevados de presses e volumes (das linhas

    pretas passa-se para as linhas verdes no grfico da esquerda da figura 16). Ou seja, os vasos

    tornam-se mais rgidos para grandes valores de V e de P.

    (ii)para baixos valores da presso, a compliance da artria cerca de 10 a 20 vezes superior da veia (linhas pretas a tracejado, na figura 16). Isso quer dizer que basta uma pequena

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    variao da presso para a veia conseguir acumular um grande volume de sangue. J para

    valores elevados da presso (ou volume), a compliance semelhante na artria e na veia

    (linhas verdes a tracejado na figura 16). por essa razo que as veias so bons elementos a

    utilizar em bypasses , interveno cirrgica em que se substitui uma seco de artria

    danificada por uma seco duma veia retirada doutro local do corpo.

    Figura 16 (a)Curva da compliance duma artria e duma veia. O valor da compliance dado pelo

    declive da tangente curva . Para valores baixos da presso, a compliance 10 a 20 vezes maior no caso

    da veia do que no caso da artria, mas as compliances arterial e venosa so semelhantes. (b) Curvas da

    compliance para uma veia mostrando que o efeito da aco do msculo passivo (seta) o de reduzir a

    compliance o que faz diminuir o volume de sangue e aumentar a presso venosa. Numa artria o efeito

    qualitativamente o mesmo.

    No h uma nica curva da compliance para um dado vaso. Por exemplo, a contraco vascular do

    msculo liso reduz a compliance (grfico da direita da figura 16, no caso duma veia), enquanto que

    a relaxao do msculo passivo aumenta a compliance. Isto particularmente importante na rede

    vascular venosa para a regulao da presso venosa. A contraco do msculo liso em artrias, ao

    reduzir a compliance destas, faz decrescer o volume de sangue e aumentar a presso arterial. Outro

    exemplo a reduo da compliance com o aumento da idade ou devido a doena, isto , devido

    arteroesclerose. O efeito destes o mesmo do que no caso apresentado no grfico da direita da

    figura 16, verificando-se um aumento dos valores das presses sistlica e diastlica na aorta.

    Aqui s se considerou a situao esttica. A compliance dum vaso depende, no entanto, do ritmo a

    que a variao da presso (ou volume) ocorre, isto , possui uma componente dinmica.

    4.3.3 Inertncia

    A inertncia num fluido, I, uma medida do gradiente de presso necessrio para provocar uma

    variao temporal de fluxo desse fluido, isto ,

    t

    QIP

    . (15)

    Artria

    VeiaV

    P

    V

    P

    Aco muscular

    Veia

    Compliance = decli ve da tangente curva V(P)

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    22

    A unidade da inertncia Pa m-3 s2. Para um tubo circular, a inertncia pode ser calculada pela

    expresso

    A

    LI

    onde, constante e a densidade do fluido (em regime laminar),L o comprimento do tubo eA

    a rea da seco recta deste.

    Pode parecer contra-intuitivo que um aumento deAd uma reduo da inertncia. No entanto, ao

    aumentar a seco recta do tubo de A para A (figura 17), para que uma dada massa de fluido

    consiga atravessar Ano mesmo intervalo de tempo, a velocidade do fluido tem que diminuir, o que

    s conseguido com uma reduo do gradiente de presso no tubo e portanto uma menorI.

    Figura 17 - Esquematizao da sequncia de factores que levam diminuio do valor da inertncia

    quando se passa dum vaso de menor dimetro para outro de maior dimetro.

    4.4 Atributos e Regimes de Fluxo

    4.4.1 Compressvel / Incompressvel

    J foi provado, na tabela 1 deste captulo, que o sangue, assim como a maior parte dos lquidos,

    pode ser considerado incompressvel. Isto significa que o fluido mantm constante o seu volume

    qualquer que seja a tenso (de valor razovel) que lhe for aplicada.

    4.4.2 Regimes Laminar e Turbulento

    O regime laminar verifica-se quando o movimento do fluido lento. Este movimento processa-se

    em lminas bem definidas e de curvatura reduzida (figura 18). Neste regime no h mistura de

    fluidos pertencentes a lminas diferentes e a direco do fluxo paralela ao vector velocidade. Essaestrutura em lminas pode ser destruda se a velocidade de fluxo aumentar o suficiente ou se a

    AA

    rea

    mesma massaa atravessar a seco rectano mesmo intervalo de tempo

    v

    P I

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    23

    direco do vector velocidade variar muito devido existncia de obstculos no percurso do fluido.

    A destruio dessa estrutura em lminas, d lugar ao designado regime turbulento, em que os

    movimentos locais do fluido so caticos. A turbulncia aumenta a energia necessria para

    assegurar um dado fluxo, uma vez que h dissipao de energia por frico, que por sua vez gera

    calor.

    Figura 17 Esquemas (topo) e exemplos (em baixo) de regimes laminar ( esquerda) e turbulento (

    direita).

    Traando um grfico do comportamento do fluxo Q em funo do gradiente de presso P

    (figura19a), verifica-se que a turbulncia aumenta o gradiente de presso necessrio para assegurar

    um dado fluxo. Por outro lado, mantendo P constante, a turbulncia leva a uma reduo do fluxo.

    A passagem do regime laminar para o regime turbulento ocorre quando um valor crticodo nmero

    de Reynolds(Re) excedido. Este nmero de Reynolds uma figura de mrito que permite ter

    uma idia das condies que levam ocorrncia de turbulncia e a equao que permite calcul-lo

    duduRe (16)

    onde a densidade do fluido, d o dimetro do vaso, a viscosidade do fluido, u a velocidade

    do fluido e a viscosidade dinmica do fluido. Para valores deRe < 1500 (1200 a 2000) , tem-se

    um regime laminar. Para Re > 2500 (2500 a 3000), o regime turbulento. Entre estes dois valores

    considera-se que o regime de transio.

    Atendendo eq.16, velocidades elevadas e baixa viscosidade no sangue (como acontece no caso deanemia) aumentam a possibilidade de ocorrer turbulncia. Em situaes ideais (vasos longos,

    Re < 1500 Re > 3000

    Regime laminar Regime turbulento

    v1

    v2> v1

    v1

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    24

    rectos, e com paredes lisas), o valor crtico de Redo sangue elevado e portanto o fluxo laminar.

    No entanto, este valor crtico francamente reduzido em algumas situaes especficas, como em

    ramificaes de artrias, quando estas esto doentes ou em estenose (estreitamento da artria devido

    deposio de placa na parede) e ocorre turbulncia (figura 19b). Nestas situaes pode ocorrer

    turbulncia mesmo para valores baixos da velocidade do sangue.

    A turbulncia gera ondas sonoras que, no caso do fluxo sanguneo so designados como murmrios

    e podem ser ouvidos com um estetoscpio.

    Figura 19(a) Efeito da turbulncia na relao entre fluxo e o gradiente de presso num vaso sanguneo:

    faz decrescer o fluxo, para um dado valor de P e faz aumentar o gradiente de presso para garantir um

    dado fluxo. (b) Ocorrncia de turbulncia em artrias, ocasionada por ramificaes, curvas e estenose

    (estreitamento da artria por deposio de placa).

    O Re dum fluxo tambm aumenta se daumentar, mas este efeito suplantado pelo facto da

    velocidade u diminuir num factor de d2 (como se ver mais adiante) devido ao qual Re

    efectivamente diminui.

    4.4.3 Viscosidade

    Excluindo os superfluidos, todos os fluidos tm alguma viscosidade, resultante da frico interna

    gerada pela existncia de ligaes fracas entre molculas. Estas ligaes travam o movimento de

    lminas adjacentes, isto , so responsveis pelo dragg existente no fluido durante o fluxo. Ovalor da viscosidade ser tanto maior quanto mais fortes forem essas ligaes intermoleculares no

    fluido homogneo, ou quanto mais partculas em suspenso existirem no fluido (que neste caso

    heterogneo). A viscosidade pode em alguns casos ser ignorada, noutros ser tratada como uma

    perturbao e ainda noutros ser extremamente relevante. Na figura 20 so apresentados alguns

    exemplos de fluidos com viscosidades importantes para a dinmica de fluxo.

    (b

    Q

    P

    velocidade crtica

    (valor de Re crti coatin ido

    (a)turbulentolaminar

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    25

    Figura 20 - Alguns exemplos de fluidos com valores da viscosidade que so relevantes considerar na

    anlise do comportamento dinmico do fluido. No caso do vuco e dosangue, o valor da viscosidade tem

    origem importante no facto de conterem partculas em suspenso.

    4.4.4 Regimes Rotacional e No Rotacional

    O regime rotacional existe quando se verifica a ocorrncia de vrtices, como no caso da gua a

    escoar-se pelo ralo dum lavatrio, no rodopiar dum tornado ou nos exemplos apresentados na figura

    21. Em geral, o sangue pode ser considerado como em regime irrotacional.

    Figura 21 - Alguns exemplos de fluidos com vrtices e, portanto, em regime rotacional.

    4.4.5 Regimes Estacionrio e Pulsante

    No sistema circulatrio, o fluxo do sangue pulsante, como se pode ver pela evoluo da

    velocidade de fluxo do sangue, detectada no centro da artria aorta e apresentada figura 22a. Na

    figura 22b pode observar-se o mesmo facto mas apresentado sob a forma de espectro de cores, emque o vermelho corresponde velocidade maior e o azul a menor. No entanto, pode ser considerado

    como estacionrio em certos modelos simples e em certos locais do sistema circulatrio. De facto, a

    elevada compliance da aorta faz com que, logo a, o efeito pulsante seja francamente reduzido.

    4.5 Equao de Continuidade

    A equao de continuidade estabelece a relao entre a velocidade mdia de fluxo dum fluido e a

    rea da seco recta do tubo em que o fluido se movimentasob fluxo Q constante.

    Mel

    Lava a escorrer dum vulco e res ectivo modelo

    Sangue:fluido compartculas em suspenso

    Lquidos coloridos agitadoscircularmente

    Turbilho de ar provocadopela passagem do avio

    Lquidos coloridos agitadoscircularmente em doispontos distintos

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    26

    Figura 22 Evoluo temporalda velocidade de fluxo num ponto do eixo da aorta e que mostra a

    natureza pulsante do fluxo nesse ponto. (b) Espectro de velocidades na aorta, num dado instante e

    correspondncia dos valores da velocidade apresentados em cdigo de cores com os apresentados no

    grfico.

    Considere-se o esquema da figura 23 que representa um tubo com seco A1no incio eA2no fim,

    no qual circula um fluido de densidade , que atravessaA1com velocidade mdia v1e que atravessa

    A2com velocidade mdia v2. Para que o fluxo seja constante, a massa mde fluido, que demora um

    tempo t a entrar no tubo, tem que demorar a sair do tubo o mesmo tempo t. Assim,

    m, entrada = V1= A1x1= A1t u1

    m, sada = V2= A2x2= A2t u2

    m, entrada = sada = m

    Destas expresses obtm-se a condio de continuidade do fluxo

    Q = A1u1=A2u2 (17)

    onde Q a taxa volumtrica de fluxo, isto , o volume de fluxo que passa pela seco recta na

    unidade de tempo.

    Figura 23 - A continuidade do fluxo num tubo de seces rectas inicial (A1) e final (A2) diferentes,

    explica a dinmica na zona de estenose duma artria ( direita, em baixo).

    u1

    u2

    massa que entra= 1V1= A1 x1= A1 t u1

    massa que sai= 2V2= A2 x2= A2 t u2

    A v

    estenose duma artria

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    27

    A eq.16 mostra que, quando h uma reduo do dimetro dum vaso sanguneo (como no caso da

    estenose duma artria, esquematizada na figura 23), a velocidade mdia de fluxo de sangue aumenta

    proporcionalmente de modo a que o fluxo se mantenha constante.

    4.6 Equao de Bernoulli

    A equao de Bernoulli relaciona entre si as grandezas

    velocidade mdia de fluxo,u

    a presso mdia P do fluido (sangue) e

    a altura ya que o fluido (sangue) se encontra.

    Considera-se que o fluido se encontra em regime laminar, incompressvel, irrotacional, tem uma

    viscosidade irrelevante e circula num tubo como o representado na figura 24, em que para uma

    massa mdesse fluido que entra na extremidade inferior do tubo e sai na extremidade superior se

    tem

    inexistncia de fenmenos dissipativos

    uma variao de altura de y1para y2

    uma variao de seco recta do tubo de A1para A2

    uma variao da velocidade mdia de u1para u2.

    Figura 24Fluido a circular num tubo nas condies consideradas na deduo da equao de Bernoulli.

    O princpio de Bernoulli uma declarao do balano de energia do sistema. Da posio 1 para a

    posio 2 verifica-se

    uma variao da energia cintica da massa mde fluido

    2

    1

    2

    2

    2

    1

    2

    1umumEc (18)

    uma variao da energia potencial da massa mde fluido

    12 ygmygmEpo t (19)

    uma variao da presso de P1para P2.

    De facto, se h uma alterao da velocidade mdia do fluxo porque houve uma alterao do

    gradiente de presso P, pois esta grandeza que responsvel pelo deslocamento do sangue no

    = F2

    F1=

    u1

    u2

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    sistema circulatrio. Se na posio 1 se tem uma presso mdia P1, ento a fora exercida na

    superfcie A1, dada por F1 = P1 F1. De igual modo, na posio 2, a fora exercida sobre a

    superfcie A2 F2= P2F2.

    Ento, o trabalho realizado pela massa mde fluido , Wfluido,

    W1= F1x1= P1A1x1= P1V

    W2= - F2x2= - P2A2x2= - P2V

    Wfluido = P1VP2V (20)

    A conservao da energia total do sistema exige que o trabalho realizado pelo fluido seja igual

    variao da energia mecnica deste, isto ,

    VPVPEE po tc 211 (21)o que d a equao de Bernoulli

    22

    2212

    11

    2

    1

    2

    1yguPyguP (22)

    H trs casos especiais que se podem considerar:

    i) Fluidos estticos (u1= u2= 0)

    2211 ygPygP (23)

    ii) Teorema de Torricelli (P1= P2)

    2

    2

    21

    2

    1

    2

    1

    2

    1yguygu (24)

    iii)Regime Venturi do fluxo (y1= y2)

    2

    22

    2

    11

    2

    1

    2

    1uPuP (25)

    4.6.1 Isquemia e paragem cardaca

    No caso da circulao sangunea, e uma vez que em geral as situaes a analizar so muito

    localizadas, o regime a considerar o de Venturi. Neste regime, se a presso aumenta, a velocidade

    diminui mais ainda (a velocidade entra na eq.25 elevada potncia 2), e vice-versa. Este facto extremamente relevante na circulao sangunea e explica algumas situaes patolgicas tais como

    o colapso duma artria em estenose, o que pode causar vrios problemas graves como um

    ataque cardaco;

    o aumento dum aneurisma em balo, o que pode levar ao rasgar da artria e portanto a uma

    hemorragia interna que pode ser fatal ou muito grave.

    Analise-se o primeiro caso. De facto, a deposio de placa na parede duma artria (ateroesclerose),

    ao diminuir o dimetro do vaso faz com que a velocidade mdia de fluxo aumente nessa zona. Este

    aumento de velocidade leva a uma reduo da presso mdia (eq.25), o que por sua vez faz com que

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    29

    a artria venha a colapsar, mesmo antes de estar totalmente obstruda pela placa depositada. Este

    facto leva a que a presso aumente novamente, fazendo a artria abrir de novo. Este ciclo repete-se

    e a artria entra num processo de fecho e abertura sucessivo que vem a causar insuficincia no

    fornecimento de sangue aos tecidos, situao designada como isquemia (figura 26).Uma isquemia

    prolongada ou elevada do msculo cardaco geralmente suficiente para provocar uma paragem da

    aco muscular: o ataque cardaco. A condio de isquemia considerada responsvel por cerca de

    80% dos ataques cardacos. No caso desta ocorrncia ter lugar, e se for justificada a interveno

    cirrgica, esta pode consistir ou numa angioplastia (figura 26), isto , na introduo dum tubo em

    rede (enxerto endovascular) na zona estenosa da artria que a impedir de fechar, ou num bypass,

    isto , na substituio desse segmento de artria por um segmento retirado doutra parte do corpo

    (em geral duma veia de dimetro semelhante).

    u

    u >P < artria COLAPSA !

    Artria abre P aumenta

    isquemia

    angioplastia

    Figura 26 - (a)A deposio de placa na parede duma artria leva a uma situao de colapso intermitente

    desta que ocasiona uma situao de isquemia e pode levar ao enfarte, no caso do msculo cardaco ser o

    atingido (b). Isto pode levar interveno cirrgica designada por angioplastia (c).

    4.6.2 Aneurismas em balo e fusiformes

    Considere-se agora a segunda condio patolgica referida no incio da seco anterior: o

    aneurisma. O aneurisma em balo pode ter origem gentica, ou no enfraquecimento ou alterao daconstituio da parede duma artria devido a doena ou trauma, mas nasce sempre numa

    a

    bc

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    30

    irregularidade de constituio da parede dum vaso. Os locais onde surge com alguma frequncia so

    em bifurcaes de artrias no crebro (figura 27a) e na curva da aorta. Uma vez iniciado o processo,

    o sangue, ao fluir nessa zona, sofre uma reduo da velocidade de fluxo, devido cmara

    calmante constituda pelo balo, como se pode ver na simulao por computador apresentada na

    figura 27b. Esta reduo da velocidade no interior do balo, d lugar a um aumento da presso

    (figura 27c), tal como preconizado pela equao de Bernoulli, que faz com que o balo v

    aumentando de volume, acabando por provocar o rasgar da parede e uma hemorragia interna (figura

    27d), assim que a tenso a que a perede fica sujeita ultrapassa a tenso superficial de fractura dela.

    Quando esta ocorrncia tem lugar no crebro, a condio patolgica designada por AVC (acidente

    vascular cerebral), culminando frequentemente em coma e/ou morte.

    Figura 27(a) Alguns locais onde podem surgir aneurismas. (b)Simulao por computador do espectro

    de velocidades num aneurisma em balo. (c) Simulao por computador do espectro de presses num

    aneurisma em balo, evidenciando o efeito do princpio de Bernoulli. (d) Os dois tipos de aneurismas e a

    condio de ruptura.

    velocidade >

    velocidade

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    Na figura 27 so ainda indicados exemplos de aneurismas fusiformes. Estes tm origem quase

    exclusivamente na deposio de placa na parede da artria e subsequente alterao das propriedades

    mecnicas da parede, e portanto da artria. Os locais onde podem sugir, para alm dos indicados na

    figura 27, so o intestino, o pescoo, o bao, a parte posterior do joelho e em vasos perifricos.

    Quando a condio do aneurisma assim o exige, a interveno cirrgica pode envolver a introduo

    dum enxerto endovascular, como se mostra na figura 28.

    Figura 28(a) Aneurisma fusiforme, abdominal artico, resultante da acumulao de placa na parede da

    artria e esquematizao da introduo dum enxerto endovascular.

    A alterao das propriedades mecnicas da parede dos vasos que leva mais tarde ou mais cedo

    rotura destes. Os vasos sanguneos dividem-se em trs grupos: artrias, veias e capilares. As artrias

    e veias ainda se subdividem em grandes, mdias e pequenas (arterolas / vnulas). No sistema

    vascular a estrutura dos vasos est adaptada aos valores da presso hidrosttica a que esto sujeitos:

    a parede dos vasos mais espessa e mais complexa perto do corao, onde a presso hidrosttica

    maior. medida que os vasos decrescem em dimetro, a parede torna-se cada vez mais fina e mais

    simples. As artrias e veias de calibre grande ou mdio tm trs bainhas, designadas por tnicas

    ntima, mdia e adventcia, tal como mostra a figura 29. A tnica adventcia contm pequenos vasos

    sanguneos (vasa vasorum) que irrigam a metade exterior da parede do vaso; tambm contm fibras

    nervosas que enervam o msculo passivo da tnica mdia; constituda por tecido conjuntivo

    frouxo, contendo uma fina rede de fibras de colagneo e elastina. A tnica mdia tem uma estrutura

    semelhante, contendo fibras de colagneo, mas muito mais rica em fibras elsticas num tecido

    muscular liso. A tnica ntima constituda por clulas endoteliais, fibras de elastina e alguns

    fibroblastos e macrfagos.

    aneurismaabdominal

    Enxertoendovascularem funcionamento

    placa

    catetr

    cateter com oenxerto

    artriailaca

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    A mecnica da parede, para vasos de pequeno raio (arterolas, vnulas e capilares) dominada pelas

    propriedades da fibras elsticas, como se pode ver no grfico da figura 29. medida que o raio do

    vaso aumenta, a relevncia das fibras de colagneo aumenta, at que, para vasos de grande

    dimetro so as propriedades mecnicas das fibras de colagneo que imperam.

    Figura 29 - Estrutura da parede dos vasos sanguneos e elementos que dominam a mecnica da parede

    conforme o raio R do vaso (topo, direita)

    Na figura 30 esto resumidas as diferenas entre os vasos sanguneos, ao logo da rede do sistema

    circulatrio. Na tabela 5 coligem-se os valores da tenso superficial e presso hidrosttica emfuno do calibre dos vrios vasos. Nessa tabela, pode constatar-se que os valores da tenso

    tnicantima

    + + ELASTINACOLAGNIOMSCULO LISOTECIDO CONJUNTIVO

    membranaelstica

    tnicamdia

    tnicaadventcia

    TECIDO CONJUNTIVOFROUXOFINAREDE DE FIBRAS

    COLAGNEAS + ELSTICAS

    C LULAS ENDOTELIAISFIBRAS ELSTICAS DELICADASALGUNS FIBROBLASTOSALGUNS MACRFAGOS

    endotlio

    tnicantima

    tnicamdia

    tnicaadventcia

    endotlio

    vlvula

    Artria muscular Veia grande

    R

    Elastina

    Colagnio

    vaso

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    forma, tenses que para uma parede saudvel no so nada de especial, tornam-se perigosamente

    altas para a parede danificada, podendo levar rotura desta.

    4.6.3 Veias varicosas

    As varizes so veias superficiais dilatadas dos membros inferiores (figura 31). A causa exacta das

    varizes no conhecida, mas provavelmente elas sejam decorrentes de um enfraquecimento das

    paredes das veias superficiais. Essa debilidade pode ser hereditria. Com o passar do tempo, a

    debilidade das paredes faz com que as veias percam a sua elasticidade, se distendam e se tornem

    mais longas e dilatadas. Tambm est de algo modo ligada a uma fraca condio muscular (falta de

    exerccio regular) e a de se ficar demasiadas horas quase imvel, de p. Como o eficaz retorno do

    sangue ao corao atravs da rede venosa conta com os msculos na vizinhana das veias, se estes

    estiverem em fraco estado, passa a haver uma tendncia de acumulao do sangue e a veia dilata.

    Este processo mais comum nas veias superficiais, pois estas tm menor suporte muscular do queas profundas.

    Figura 31 (a) Esquematizao do normal funcionamento duma veia, por aco dos msculos

    adjacentes. (b)A veia varicosa incapaz dum retorno eficaz do sangue devido a estar dilatada e por isso

    as vlvulas j no impedirem o refluxo de sangue.

    Uma vez dilatadas e para que possam caber no mesmo espao que ocupavam quando eram normais,

    as veias alongadas tornam-se tortuosas, com um aspecto serpenteante, nitidamente visvel quando

    (a)(b)

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    35

    se tornam salientes sob a pele. Mais importante que o alongamento a dilatao, a qual promove o

    afastamento das cspides das vlvulas venosas. Consequentemente, as veias enchem-se

    rapidamente com sangue quando o indivduo fica em p e as veias tortuosas e de paredes delgadas

    dilatam-se ainda mais.

    A dilatao tambm afecta algumas das veias comunicantes, as quais normalmente permitem o

    fluxo do sangue somente no sentido das veias superficiais para as veias profundas. Se as vlvulas

    dessas veias comunicantes falharem, o sangue reflui s veias superficiais quando os msculos

    pressionam as veias profundas, fazendo com que as veias superficiais dilatem ainda mais.

    4.6.4 Tromboembolia

    H ainda outra condio patolgica, a tromboembolia, que consiste no entupimento dum vaso por

    um mbolo, que pode ser um cogulo, trombo de gordura ou bolha de gs, e que teve origem noutro

    local do corpo. Esse mbolo viaja pelo sistema circulatrio e acaba por se alojar num vaso demenor dimetro, entupindo-o totalmente. Esta ocorrncia esquematizada na figura 32, para o

    membro inferior e para o pulmo. A embolia pulmonar o bloqueio de uma ou mais artrias dos

    pulmes por diversos materiais, em geral cogulos de sangue, decorrentes de trombose, chamados

    mbolos:

    Embolia gasosa - bolhas de gs que se formam na circulao quando um mergulhador no

    segue o procedimento adequado descompresso segura.

    Embolia gordurosa - fragmentos de tecido adiposo que entraram na circulao aps umgrande trauma, como numa fractura de quadril.

    Embolia amnitica- ocorre aps o parto, por passagem de parte do lquido amnitico para a

    circulao da me.

    A maioria das embolias pulmonares causada por cogulos que se originam nas pernas, por

    trombose venosa profunda. Em alguns casos, a embolia pulmonar grande e pode resultar em

    morte sbita.

    A trombose uma das condies que pode originar uma embolia, um AVC ou um enfarte. Consistena formao dum cogulo, designado por trombo, que bloqueia parte ou a totalidade dum vaso

    sanguneo. Esse tipo de cogulo tem normalmente origem numa condio inflamatria duma veia,

    designada por flebite, ou num trauma. O combate inflamao, tal como acontece no sarar dum

    corte superfcie da pele, leva formao de cogulos que entopem completamente o vaso.

    4.7 Fluido Viscoso e Lei de Poiseuille

    At agora s se considerou o comportamento de fluidos no viscosos (ideais), mas a viscosidade

    est sempre presente e, durante o fluxo, pode ser responsvel por decrscimos importantes na

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    presso. Nesta seco analisar-se- as consequncias de se introduzir o factor viscosidade no

    comportamento mecnico dum fluido, considerando depois o exemplo do sangue.

    Figura 32 - (a) Bloqueio do fluxo sanguneo por um mbolo (cogulo). (b) mbolo gerado numa

    trombose (trombo) que acaba por se alojar numa artria de menor dimetro. (c) Enfarte pulmonar

    ocasionado por um mbolo com origem numa trombose venosa.

    4.7.1 Fluxo dum Fluido Newtoniano

    Considere-se duas placas horizontais paralelas que contm entre elas um fluido de

    viscosidade (figura 33). Para se mover uma lmina de fluido situada distncia y da placa

    superior, com uma velocidade vna direco x, necessrio exercer nesta placa de reaA, uma fora

    F dada pory

    AvF (26)

    Esta a expresso que define formalmente o coeficiente de viscosidade dum fluido, , cuja unidade

    SI oPoise(no sistema CGS oPoiseuille; 1 Poise = 0,1 Poiseuille). Variando a distncia placa,

    a velocidade varia, podendo escrever-se a tenso de corte entre lminas de fluido adjacentes como

    (a)

    Veia cava

    inferior

    (c)

    (b)

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    37

    Figura 33Fluxo dum fluido Newtoniano, com um gradiente linear da velocidade de fluxo para o fluido

    confinado entre duas placas de rea A, em que a placa superior se move com velocidade v relativamente

    placa inferior.

    yd

    vd

    A

    F (27)

    ondeyd

    vd a taxa de corte (em s-1). Esta grandeza a deformao de corte do fluido gerada pela

    tenso de corte . Tal como no caso dum fluido no viscoso, se o fluido se desloca com uma

    velocidade no nula, ento existe um gradiente de presso que por ela responsvel. Mas aqui, a

    velocidade menor devido ao efeito da viscosidade, por isso h efectivamente um decrscimo da

    presso hidrosttica segundo a direco de fluxo (x).

    Um fluido diz-se Newtoniano se

    a nica tenso gerada no regime laminar a tenso de corte, paralela s lminas, no

    existindo qualquer componente perpendicular a estas superfcies;

    o coeficiente de viscosidade constante;

    o coeficiente de viscosidade mantm-se constante durante o tempo de aplicao da tenso de

    corte e, quando esta retirada, a taxa de corte reduz-se a zero;

    a relao entre a tenso de corte e a taxa de corte linear (eq.27)

    Um liquido que apresente qualquer desvio a qualquer destes comportamentos diz-se no-

    Newtoniano.

    Pode-se demonstrar que a taxa de fluxo volumtrico Q dada pela lei de Poiseuille

    21

    4

    8PP

    L

    RQ

    (28)

    onde o parmetro que mais influencia o fluxo num vaso sanguneo o calibre, pois

    14 QPQRQ .

    O gradiente de presso responsvel por Q pode ento ser expresso em funo dos parmetros daeq.28 como

    Poise (SI)= 0.1 Poiseille (CGS)

    F = v (A / y)v = v(y)

    A Fx

    y

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    38/51

    38

    QR

    LPP

    421

    8

    .

    Na tabela 5 listam-se valores de coeficientes de viscosidade de alguns fluidos comuns do corpo

    humano, da gua e dum leo de mquina. O coeficiente de viscosidade diminui com o aumento da

    temperatura, pois a agitao trmica crescente ajuda a romper as ligaes inter-moleculares que no

    fluido so responsveis pelo efeito de travagem de lminas adjacentes. Na tabela 5 este efeito

    exemplificado no caso da gua, podendo ainda verificar-se queplasma e sangue inteiro so ambos

    maiores (mais viscosos) do que gua, mesma temperatura.

    Considerando a equao da continuidade e substituindo na eq.28 a taxa de fluxo Q = u A, a

    / C / x10-2Poise

    gua 37

    100

    0.69

    0.28

    Sangue inteiro 37 4

    Plasma (sangue) 37 1.5

    Cerebroespinhal 20 1.02

    Lgrima 37 0.730.97

    Lquido sinuvial 20 > 0.3

    leo de mquina 37 0.0350.13

    Tabela 5Exemplos de valores de coeficiente de viscosidade para os materiais indicados.

    velocidade mdia de fluxo para um fluido viscoso dada por

    L

    PRu

    8

    2

    (29)

    Pode-se mostrar que quando o fluxo do fluido se processa num tubo cilndrico, como no caso da

    circulao sangunea, a velocidade de fluxo pode ser explicitada em funo da distncia rao centro

    do tubo, tendo-se

    2

    22

    2

    2

    18

    12

    R

    r

    L

    PRrv

    R

    rurv

    (30)

    A velocidade v mxima no centro do tubo e nula junto s paredes. O perfil de velocidades do

    fluido descrito pelas eqs.30, est representado na figura 34. entrada do tubo, s as lminas mais

    prximas das paredes deste que so afectadas pelo efeito de travagem. Quanto mais distante da

    entrada do tubo o fluido se encontra, mais lminas so afectadas, at que, para um dado

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    39

    comprimento de entrada L(que funo tanto de re do n de Reynolds Re), todo o fluido fica

    sob o efeito de travagem. a este comprimento de entrada que o regime laminar estacionrio

    atingido e v(r)passa a ter o perfil parablico caracterstico deste regime.

    Como j se viu anteriormente, para velocidades de fluxo, u, uniformes, a taxa de fluxo dada pela

    equao da continuidade Q = u A. Mas havendo variao da velocidade ao longo da seco recta do

    tubo (A), o fluxo ter que ser obtido integrando a eq.30 em toda a rea (desde 0 at R), isto ,

    drrR

    r

    L

    PRdrrRvdARvQ

    RRR

    0 2

    22

    00

    18

    22

    Depois do clculo do integral, tem-se novamente a lei de Poiseuille (eq.29),

    21

    4

    8PP

    L

    RQ

    Figura 34 Estabelecimento do regime laminar estacionrio, Newtoniano. Este regime fica totalmente

    desenvolvido a partir do comprimento de entradaL, passando v(r)a apresentar um perfil parablico dado

    pelas eqs.30.

    4.7.2 Fluidos no Newtonianos

    Muitos fluidos apresentam desvios s condies que caracterizam o comportamento dum fluido

    Newtoniano, por isso dizem-se no-Newtonianos. Estes podem ser definidos como fluidos com

    comportamento viscoelstico, em que a relao 27 no linear , isto ,

    n

    yd

    vd

    (31)

    Na tabela 6 referem-se alguns tipos de comportamento viscolelstico de fluidos no Newtonianos.

    O lquido sinuvial um exemplo dum fluido liquidificante, isto , a sua viscosidade diminui

    medida que a tenso aumenta ( n > 1 na eq.31), como se pode ver na figura 35a. Outra propriedade

    que evidencia o carcter no Newtoniano do fluido sinuvial este desenvolver uma tenso normal

    crescente com taxa de corte crescente (figura 35b).

    FRONTEIRA DO REGIME LAMINAR ESTACIONRIO

    v (r)

    COMPRIMENTO DE ENTRADA L

    r

    0

    REGIME LAMINAR ESTACIONRIO DESENVOLVIDO ( NEWTONIANO )

    vuniforme

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    40

    O sangue outro exemplo dum fluido no-Newtoniano, como se pode constatar na figura 36, em

    que o perfil da velocidade em funo do raio do vaso se apresenta mais achatado do que o previsto

    pela lei de Poiseuille para locais prximos do eixo do vaso.

    comportamento viscoelstico tenso de cor te vs taxa de corte viscosidade vs taxa de corte

    n < 1

    liquidificante

    tintas, emulses

    n > 1

    espessante

    amido ou goma em gua,

    pastas fluidas de cimento,

    reboco e barro lquido esttico comporta-se

    como slido

    o fluxo induzido s por

    aplicao duma certa fora

    Ketchup

    viscosidade diminui com o

    tempo

    gorduras

    viscosidade aumenta com o

    tempo

    Tabela 6 Comportamentos viscoelsticos tpicos, independentes do tempo de aplicao da tenso de

    corte (3 primeiros casos) e dependentes desse tempo (dois ltimos).

    Figura 35O lquido sinuvial um fluido no Newtoniano com um coeficiente de frico que diminui

    com o aumento da taxa de corte (a) e desenvolve um tenso perpendicular ao fluxo, com dv/dy crescente.

    dv /dydv /dy

    dv /dy

    dv /dy

    dv /dy

    dv /dy

    tempo

    dv /dy

    tempo

    dv /dy

    Taxa de corte Taxa de corte

    Tensonormal(Pa)

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    41

    Figura 36 Perfil da velocidade de fluxo do sangue inteiro (52% de glbulos vermelhos), comparado

    com o previsto pela lei de Poiseuille, num tubo de calibre semelhante ao duma arterola.

    4.8 Fsica do Sistema Vascular

    O sangue um fluido no Newtoniano em parte devido sua constituio to complexa. Na

    constituio do sangue, mais de 50% plasma, ~ 45% so glbulos vermelhos (eritrcitos ou

    RBCs; apresentam valores ligeiramente diferentes para homens, mulheres e atletas), ~ 0,3% so

    glbulos brancos (leuccitos) e ~ 0,15% so plaquetas. Nesta soluo sangunea os RBCs so

    clulas discides bicncavas, achatadas no centro, com 7,5m de dimetro e 2m de altura

    mxima (figura 37), ou seja, so do tamanho do dimetro interno dos capilares. Os RBCs so

    Figura 37 - (a) Composio do sangue inteiro normal e doente, depois de centrifugado. (b) Forma e

    dimenso dum glbulo vermelho (RBC) e aspecto dum agregado de RBCs , em rolo.

    clulas elsticas, sendo capazes de se deformar de modo a fluir mais eficientemente em capilares de

    dimetro reduzido (experincia descrita na figura 38a e ilustrao na figura 38c).

    Velocidade do fluido (mm/s)

    SANGUE INTEIROPOISEUILLE

    rtubo= 51,8 mHct = 52%

    0,36 0,47

    NORMAL ANEMIA POLICETMIA/LEUCEMIA

    *

    Plasma RBCs * Leuccitos+ Plaquetas

    HEMATCRITO(%)

    NORMAL

    AGREGADO DE RBCsEM ROLO

    RBC

    7 m 2 m

    (b)

    (a)

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    42

    Figura 38(a) Sequncia de deformao dum glbulo vermelho e dum glbulo branco ao passarem num

    capilar de 8m de dimetro e 80m de comprimento. (b) Valores resultantes da medio da presso

    associada situao descrita em (a). (c) Ilustrao de RBCs a fluirem numa arterola, notando-se a

    deformao daquelas de modo a ajustarem-se s linhas de fluxo centrais e assim reduzirem a resistncia

    de fluxo.

    Os glbulos brancos (leuccitos ou WBCs) so clulas aproximadamente esfricas com ~ 7m

    de dimetro, menos deformveis que os RBCs, e as plaquetas so muito menores. O plasma, sendo

    90% gua, comporta-se como um fluido Newtoniano de viscosidade = 0,0012 Pa s.

    A % de RBCs no sangue designa-se por hematcrito e representa-se habitualmente por Htc. Os

    valores de Htc variam um pouco, dependendo do gnero (feminino/masculino) e de certas

    condies ambientais, sendo os valores considerados normais

    homens 40 50%

    mulheres .. 3845%

    atletas .. > 50%

    Qualquer actividade ou condio que baixe os nveis de O2no sangue causaro um aumento de

    produo de RBCs, aumentando o hematcrito. Factores que aumentam o hematcrito so, por

    exemplo

    Exerccio fsico aerbico, em que o oxignio rapidamente consumido pelos msculos

    esquelticos.

    (a) (b)

    (c)

    P(x6,9

    kPa)

    tempo (s)

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    43

    Viver a alta altitude. O ar que se respira mais rarefeito, tem menos oxignio e o

    hematcrito aumenta para compensar.

    Devido elevada % volumtrica de RBCs, a relevncia dos RBCs no comportamento mecnico do

    sangue grande. As propriedades mecnicas do sangue so essencialmente determinadas pelos

    RBCs e pela forma como o fluir destes depende da taxa de corte. Pode-se dizer que o perfil

    viscoelstico depende de trs factores associados aos RBCs: agregao, orientaoe deformao.

    4.8.1 Resistncia ao Fluxo Sanguneo

    Uma vez introduzido o factor viscosidade, a resistncia de fluxo associada passagem do sangue

    num vaso de raioRe comprimentoL, obtida substituindo a taxa de fluxo Qdada pela eq.10 (lei de

    Ohm) na eq.28 (lei de Poiseuille), isto ,

    4

    8

    R

    LR

    (31)

    A resistnciaRdepende ento da viscosidade do sangue e do raio do vaso. O factor L irrelevante

    pois mantm-se sempre o mesmo. Da que seja importante saber de que factores depende . Esses

    factores - temperatura, taxa de corte, hematcrito, taxa de fluxo e dimetro do vaso sero tratados

    nas prximas seces.

    Recorrendo eq.31 e s leis de associao de resistncias ento possvel obter (i) a queda de

    presso P ao longo de todo o sistema circulatrio saudvel, pois Q constante e (ii) a variao do

    fluxo local, Qlocal, recorrente da deposio de placa nas paredes dum vaso (P constante).

    Em Fisiologia mdica, utiliza-se uma unidade de resistncia, designada por PRU (unidade de

    resistncia perifrica) e que o valor da resistncia R dum tubo com R0 = L0 = 1cm,

    considerando 37C, sangue inteiro= 4.0 x 10-3Pa s, dado em (mmHg s cm-3)pela eq.31:

    35

    4

    23

    0 1077

    1

    110048

    cmsmmHg,

    cm

    cmmsN,R , (32)

    O fluxo total Qt, que sai da aorta, entra nas artrias grandes, depois entra nas artrias, arterolas e

    finalmente todo o Qtentra nos capilares. Em cada nvel de fluxo, as artrias podem ser modelizadas

    como n vasos paralelos de comprimento e dimetros semelhantes entre si e que transportam o

    mesmo fluxo. medida que se passa para o nvel de fluxo seguinte, de menor calibre de vasos, n

    aumenta de modo que o fluxo em cada vaso dado por

    n

    QQ tvaso (33)

    e o gradiente de presso em cada vaso e, porque esto em paralelo, tambm em cada nvel dado

    por

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    44

    n

    Q

    R

    L,

    R

    LR

    n

    QR

    n

    QP t,

    ttvaso 4

    5

    40 1077

    onde se recorreu s eqs.32 e 33. Substituindo Qt=80 cm3/s, tem-se

    mmHgRn

    L,

    nR

    L,Pvaso 44

    500620

    801077 (34)

    comLeRem cm.

    Pode-se ento calcular P em cada nvel, obtendo-se os resultados da tabela 7. Esses resultados

    esto de acordo com a evoluo grfica de P apresentada na figura 30 e com a designao dos

    capilares como vasos resistivos.

    vaso nvel n R(cm) L (cm) P(mmHg) avaliao qualitativa de P

    aorta 1 1,25 10 0,025 desprezvel

    artrias grandes 200 0,2 75 1,4 pouco significativo

    artrias pequenas earterolas

    5 x 10 30 x 10-

    0,6 91 muito significativo

    capilares 10 3,5 x 10- 0,2 8,2 significativo

    Tabela 7 - Valores calculados a partir da lei de Ohm, dos valores do gradiente de presso, ao longo da

    rede vascular arterial e considerando o modelo de associao em paralelo para cada nvel de fluxo,

    caracterizado pelo calibre dos vasos.

    4.8.2 Viscosidade e Temperatura

    medida que a temperatura diminui, a viscosidade aumenta ~ 2% por cada grau. Este efeito

    bastante relevante em vrias situaes, tais como

    i) A circulao nas extremidades (mos, ps, nariz,) bastante afectada quando a

    temperatura ambiente muito baixa e no se tem proteco adequada. As extremidades podem

    encontrar-se a uma temperatura bem inferior temperatura de ncleo do corpo, (37C), como por

    exemplo, 10C, o que corresponder neste caso a um aumento de 54% no valor de . Uma das

    consequncias desta situao, se prolongada, pode ser a ocorrncia de leses dos tecidos devido a

    uma insuficiente oxigenao.

    ii) Em certas cirurgias, comum o uso de hipotermia geral do corpo, com o intuito de reduzir o

    fluxo sanguneo atravs do aumento de e evitar hemorragias.

    4.8.3 Viscosidade e Taxa de corte

    A viscosidade do sangue depende fortemente do valor da taxa de corte, sendo determinada pelo

    comportamento dos RBCs. Em repouso, os RBCs formam ligaes entre si, constituindo

    aglomerados. Em movimento, podem-se definir trs gamas de valores para a taxa de corte, em cada

    uma das quais o regime viscoelstico caracterizado por um comportamento tpico dos RBCs:

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    45

    i)yd

    vdbaixa

    Para valores baixos da taxa de corte, os RBC,s estabelecem facilmente ligaes entre si, formando

    agregados (rolos e clusters) que so tanto maiores quanto menor foryd

    vd(regio 1 na figura 39) .

    Figura 39Propriedades viscoelsticas do sangue inteiro, em funo da taxa de corte e correlao com os

    factores caracterizadores do comportamento dos RBCs: agregao, deformao e orientao.

    A viscosidade elevada nesta gama, uma vez que os agregados constituem obstculos eficientes

    passagem de outros agregados. medida que a taxa de corte aumenta, os agregados vo sendo

    desfeitos devido s foras de corte que tambm deformam os RBCs. Para pr em evidncia o efeito

    da agregao e deformao dos RBCs, compara-se na figura 40 o comportamento do sangue

    normal, com uma amostra em que os RBCs foram endurecidos artificialmente (aumenta) e ainda

    com outra amostra em que os RBCs esto impossibilitados de estabelecerem ligaes entre si (

    diminui). Nessa figura tambm se inclui fotografias do fluxo de sangue numa arterola em que num

    caso se tm RBCs normais e noutro em que os RBCs foram endurecidos artificialmente.

    i)yd

    vdmdia

    Nesta gama (regio 2 na figura 39), o aumento das foras de corte responsvel pelo desfazer dos

    agregados, forando tambm a deformao dos RBCs.

    ii)yd

    vdelevada

    Para valores elevados da taxa de corte (regio 3 na figura 39) a desagregao total, a deformao

    dos RBCs mxima e acompanhada por um alinhamento e orientao destes em camadas,separadas pelo lubrificante que o plasma.

    VISCOSIDADEELASTICIDADE

    VISCOSID

    ADE

    eELASTICIDADE

    /Poise

    TAXA DE CORTE dv / dy (s-1)

    REGIO 1 Predominam os AGREGADOS DE RBCs (rolos, etc)

    REGI O 2 AUMENTO DE dv/dy DESAGREGAO DOS RBCs AUMENTO DA DEFORMA O DOS RBCs

    REGI O 2 AUMENTO DE dv/dy DESAGREGAO TOTAL DOS RBCs DEFORMAO DOS RBCs ORIENTAO E ALINHAMENTO DOS RBCs EM

    CAMADAS SEPARADAS POR PLASMA ( = lubrificante)REGIO REGIO REGIO

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    Figura 40(a) Coeficiente de viscosidade do sangue inteiro, calculado relativamente ao do plasma, em

    funo da taxa de corte, em trs situaes: sangue normal (linha preta), RBCs endurecidos (linha verde) e

    RBCs impossibilitados de estabelecerem ligaes entre si (linha vermelha). O factor agregao aumenta aviscosidade e o factor deformao diminui-a. (b) Fotografias do fluxo de sangue nas situaes indicadas,

    numa arterola.

    Considerando o sangue como um fluido homogneo com uma viscosidade inerente, a viscosidade

    na microcirculao decresce com o aumento da taxa de corte, isto , o sangue tem um

    comportamento viscoelstico de fluido liquidificante, com tenses de corte a variarem de 0,1 a

    1000 s-1. Ou seja, a nvel microvascular a natureza particular do fluxo de sangue resulta em

    enormes afastamentos do comportamento de fluido Newtoniano.

    4.8.4 Viscosidade e Hematcrito

    Um aumento no valor do hematcrito significa um aumento de clulas em suspenso (obstculos ao

    fluxo de sangue) e resulta, portanto, num aumento da viscosidade e do risco de trombose ou

    embolia. Um nmero muito reduzido de Htc significa um valor reduzido para , mas tambm uma

    distribuio insuficiente de oxignio aos tecidos (como na anemia). Na figura 41 indica-se como

    varia com Htc e a que gamas de valores de Hct se observa a ocorrncia de condies patolgicas

    como a anemia, a leucemia e a policetemia.

    Nota: A policitemia o aumento no nmero de glbulos vermelhos no sangue, o que pode ocorrer, por exemplo,

    quando nos deslocamos para regies de elevadas altitudes onde o ar rarefeito (baixo teor de oxignio). O organismo

    estimula a produo de eritrcitos, num mecanismo de compensao para normalizar o transporte de oxignio para as

    clulas. Nesse caso, tem-se a policitemia fisiolgica.

    Na poli citemia vera (distrbio mieloproliferativo crnico e tambm conhecida por policitemia rubra vera), as clulas

    que produzem glbulos vermelhos, mas tambm plaquetas e alguns glbulos brancos esto a trabalhar demais e

    sobrevivem demais. Assim produzem mais clulas para o sangue do que deviam e impedem as outras clulas-me boas

    de fazerem o seu trabalho. O facto de termos muitos glbulos vermelhos parece bom partida, mas como so demais

    vo provocar sobretudo problemas quando passam nos capilares. Como so demasiados, tornam o sangue muito

    Taxa de corte / s-1

    agregao

    deformao

    deformao + agregao

    deformaosem agregao

    RBCs NORMAIS RBCsENDURECIDOS

    RBCsENDURECIDOS

    RBCs NORMAIS

    (a) (b)

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    47

    viscoso e podem "entupir" alguns vasos ou facilitar que sangrem (figura 42). Se esses vasos afectados forem no

    crebro podem por vezes dar acidentes vasculares cerebrais (tromboses no crebro).

    Figura 41 - Dependncia do coeficiente de viscosidade relativo do sangue no hematcrito com a

    indicao de situaes patolgicas para valores anormais de Htc.

    Figura 42Passagem do sangue das arterolas para os capilares. (a) Devido diminuio da taxa de corte, os glbulos

    vermelhos formam agregados em rolos que se amontoam e desfazem na passagem para os capilares. (b) Com crescente

    poder de agregao entre os RBCs (que seja anormalmente elevado, ou devido ao Htc ser demasiado alto, como no caso

    dapolicetemia vera), os aglomerados so mais difceis de desfazer entrada dos capilares, podendo mesmo entupi-los

    permanentemente.

    4.8.5 Viscosidade e Deformabilidade Celular

    A importncia da elasticidade dos RBCs particularmente evidente quando se observam as

    consequncias da sua reduo ou inexistncia, como acontece na condio patolgica designada

    como anemia falciforme(figura 43).

    Nesta doena, a hemoglobina contm um defeito que faz com que os glbulos vermelhos se tornem

    rgidos, mais aderentes e em forma de foice. Estas clulas em forma de crescente aglomeram-se

    com mais facilidade, aumentando a viscosidade do sangue. Por outro lado, a deformabilidade dosRBCs que torna possvel a alimentao dos tecidos atravs dos vasos de menor dimetro

    (a) (b)

    AGLOMERADOS

    FLUXO

    FLUXO

    ROLOS

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    (capilares). As clulas doentes, por serem rgidas, ficam facilmente entaladas em vasos de menor

    dimetro, nos quais os RBCs normais passariam sem problemas, o que impede o fluxo sanguneo e

    provoca episdios de dor e dano em rgos. Para alm disso, tm um tempo de vida muito inferior

    ao dos glbulos vermelhos normais (10 a 20 dias, em vez de trs a quatro meses), o que provoca a

    condio crnica designada por anemia.

    Figura 43Glbulos vermelhos saudveis normais e doentes, com a forma caracterstica da anemia

    falciforme.

    Considerando sangue saudvel, pode-se verificar que os diferentes tipos de clulas que o constituem

    tm diferentes capacidades de deformao, atravs da observao da eficincia na distribuio do

    plasma, dos glbulos vermelhos e dos glbulos brancos. Como se mostra na figura 44 (distribuio

    Figura 44Msculo que envolve os testculos do rato. A deformabilidade celular determina que capilares

    so fornecidos. Os capilares de menor dimetro exigem maior deformao das clulas. Na fotografia da

    esquerda, v-se que o plasma (com marcador fluorescente) passa facilmente por todos os capilares. Na

    fotografia do centro, os glbulos vermelhos (com marcador fluorescente) esto confinados aos vasos

    centrais da rede, enquanto que na fotografia da direita, os glbulos brancos, muito mais rgidos, s

    conseguem passar das arterolas para as vnulas por vasos sanguneos mais largos, auto-estradas que

    atravessam a poro central da rede de capilares e nas quais o gradiente de presso maior).

    normais

    anormais (anemia falciforme)

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    sangunea no msculo que envolve o testculo dum rato, a nvel das arterolas e vnulas), o plasma

    consegue chegar aos capilares mais finos, os glbulos vermelhos a quase todos, e os glbulos

    brancos ficam-se por vasos mais largos, pois so menos deformveis.

    4.8.6 Viscosidade e Taxa de Fluxo

    Uma reduo da taxa de fluxo significa uma reduo na velocidade e consequentemente tambm da

    taxa de corte, isto , das foras que contrariam a formao de ligaes entre os RBCs.

    Consequentemente, os RBCs estabelecem mais facilmente ligaes entre si, aumentando a

    viscosidade aparente.

    Na ocorrncia de estados de choque, os gradientes de presso diminuem, provocando precisamente

    uma diminuio da velocidade de fluxo e portanto (eq. de continuidade) da taxa de fluxo Q. A

    diminuio de Q no linear, como se pode ver na figura 45, no caso das arterolas dum rato, e

    resultam num aumento da viscosidade aparente, tal como se disse no pargrafo anterior.

    Figura 45 Arterola do msculo que envolve os testculos dum rato, numa situao de choque do

    animal: (a) Taxa de fluxo em funo do gradiente de presso. (b)A reduo do gradiente de presso

    implica uma reduo da velocidade mdia de fluxo, o que por sua vez resulta numa maior viscosidade.

    4.8.7 Dimetro do Vaso e Viscosidade - Efeito Fahareus-Lindqvist

    O parmetro dimetro est intimamente ligado ao hematcrito, como se pode ver nos grficos da

    figura 46.

    i) Para valores de dimetro do vaso superiores a ~ 500m, a viscosidade do sangue

    independente do dimetro. Nestes vasos largos, a taxa de corte elevada e o sangue comporta-se

    como um fluido Newtoniano tendo-se PQ e

    1

    Q .

    ii) Ao aumentar o dimetro do vaso no intervalo ~ 10 400m, aumenta o hematcrito e por

    isso aumenta a viscosidade aparente.

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