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1 CAPITULO 1 Concepção e teorias do lúdico na educação infantil Este trabalho visa demonstrar que o ato de brincar é de grande valia na construção do conhecimento por permitir que a criança penetre em seu mundo interior para encontrar dentro de si próprio capacidades de adquirir e construir com qualidade seu desenvolvimento físico e mental. A brincadeira bem orientada e previamente elaborada pode ainda proporcionar ao aluno uma aprendizagem naturalmente agradável. Segundo Luckesi (2000, p.96) “a palavra lúdico é oriunda do latim “ludus” que quer dizer brincar. A brincadeira traduz plenitude naquilo que se faz com prazer e pode se apresentar em diferentes fases de nossas vidas”. Houve um tempo em que era gritante a separação entre brincar e estudar, os momentos de uma atividade e de outra eram totalmente separados por uma grande diferença na maneira de ver as coisas. Era inconcebível a possibilidade de se aprender enquanto brincava. Esse pensamento foi aos poucos mudando e dando lugar a um novo horizonte, primeiro com a concepção de que poderia haver algumas brincadeiras para alegrar, distrair e outras que eventualmente poderiam ensinar um outro conceito de desenvolvimento, esta ou aquela habilidade. A maior parte dos adultos distantes dos novos avanços sobre as pesquisas da mente humana e como ela opera e quais estágios operam o conhecimento e constrói as convicções ainda pensam da mesma forma. Para elas, a brincadeira está definitivamente longe do aprender e não conseguem de nenhuma maneira ligar esta técnica a nada que possa reverter em proveito educativo. Felizmente, já há um pequeno grupo para quem estes pensamentos foram superados literalmente. Pelo que hoje se conhece, comprovadamente sobre a mente de uma criança. Não há mais dúvidas de que a criança através da brincadeira se apropria de conhecimentos e dá significado real e imediato a cada situação. Mas há também as escolas que ainda tratam as crianças como meros robôs.

CAPITULO 1 Concepção e teorias do lúdico na educação infantil · pouco compreendida, pois acham que a escola é lugar de aprender a ler e escrever. 6 O brincar é tão relevante

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CAPITULO 1

Concepção e teorias do lúdico na educação infantil

Este trabalho visa demonstrar que o ato de brincar é de grande valia

na construção do conhecimento por permitir que a criança penetre em seu mundo

interior para encontrar dentro de si próprio capacidades de adquirir e construir com

qualidade seu desenvolvimento físico e mental. A brincadeira bem orientada e

previamente elaborada pode ainda proporcionar ao aluno uma aprendizagem

naturalmente agradável. Segundo Luckesi (2000, p.96) “a palavra lúdico é oriunda

do latim “ludus” que quer dizer brincar. A brincadeira traduz plenitude naquilo que

se faz com prazer e pode se apresentar em diferentes fases de nossas vidas”.

Houve um tempo em que era gritante a separação entre brincar e

estudar, os momentos de uma atividade e de outra eram totalmente separados por

uma grande diferença na maneira de ver as coisas. Era inconcebível a

possibilidade de se aprender enquanto brincava.

Esse pensamento foi aos poucos mudando e dando lugar a um novo

horizonte, primeiro com a concepção de que poderia haver algumas brincadeiras

para alegrar, distrair e outras que eventualmente poderiam ensinar um outro

conceito de desenvolvimento, esta ou aquela habilidade. A maior parte dos adultos

distantes dos novos avanços sobre as pesquisas da mente humana e como ela

opera e quais estágios operam o conhecimento e constrói as convicções ainda

pensam da mesma forma. Para elas, a brincadeira está definitivamente longe do

aprender e não conseguem de nenhuma maneira ligar esta técnica a nada que

possa reverter em proveito educativo. Felizmente, já há um pequeno grupo para

quem estes pensamentos foram superados literalmente. Pelo que hoje se

conhece, comprovadamente sobre a mente de uma criança. Não há mais dúvidas

de que a criança através da brincadeira se apropria de conhecimentos e dá

significado real e imediato a cada situação. Mas há também as escolas que ainda

tratam as crianças como meros robôs.

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Sabe-se que o brincar oferece aos participantes a possibilidade de

estabelecerem uma rede de relações em que estão implícitos alguns valores e

costumes. Luckesi (1984, p. 11) faz algumas reflexões importantes sobre o lúdico,

que considera o seu aspecto cultural. Brinquedo e brincar, para ele estão

associados e documentam como o adulto se coloca em relação ao mundo da

criança. Os estudos deste autor levam pela história cultural dos brinquedos, desde

épocas remotas atingindo o seu ápice no século XIX, quando foram substituídos

paulatinamente pelos brinquedos industrializados. A brincadeira representa tanto

uma atividade cognitiva quanto social e através das mesmas as crianças

exercitam suas habilidades físicas, crescem cognitivamente e aprendem interagir

com outras crianças, por isso este autor demonstra a importância do jogo na

educação infantil e estimula aos estudantes a realizarem pesquisas na área.

Segundo este autor, os brinquedos surgiram nas oficinas do artesão,

que só podiam fabricar produtos do seu ramo. Com a Reforma os artistas que só

produziam para a Igreja orientaram sua produção para objetos artesanais de

pequeno porte que serviam de alegrias às crianças. Devido ao pequeno tamanho,

exigia a presença da mãe de forma mais íntima, o que certamente aumentava as

relações com os filhos. No final do século XX, os brinquedos tornaram-se maiores

devido à emancipação do processo de industrialização e subtraíram

consideravelmente das famílias, tornando-se estranho às crianças e aos pais.

Começaram a sofisticar-se perdendo o vínculo com a simplicidade e com o

primitivo.

Precisa-se levar em conta, também, que a forma de divulgação dos

brinquedos modernos se alterou, interferindo na escolha do brinquedo pelo adulto.

Agora, são as crianças que escolhem que brinquedos querem ganhar. E, nesse,

contexto, com certeza, os brinquedos mais vendidos são aqueles mostrados pela

televisão. A televisão é um meio de comunicação privilegiado e que pode atingir

diretamente a criança. A própria veiculação por este meio exige que esse

brinquedo tenha determinadas características. Deve ser comunicável ou explicável

e comunicação através de imagens breves. Através do brinquedo, estimulado pela

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televisão, a criança vê sua brincadeira se rechear de novos conteúdos, de novas

representações que ela vai manipular, transformar ou respeitar, apropriar-se do

seu modo. Da mesma forma como para os conteúdos televisivos, os fenômenos

do modismo e da mania regem a vida dos brinquedos.

Para Vigotsky (1984, p.114) “a aprendizagem configura-se no

desenvolvimento das funções superiores através da apropriação e internalização

de signos e instrumentos em um contexto de interação.” A aprendizagem humana

pressupõe uma natureza social específica e um processo mediante o qual as

crianças acendem a vida intelectual daqueles que as rodeiam. É por isso, que

para ele, a brincadeira cria na criança uma forma de desejo. Ensina-se a desejar,

relacionando os seus desejos, a um “eu - fictício” ao seu papel na brincadeira e

suas regras. Dessa maneira as maiores aquisições de uma criança são

conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornarão seu nível básico de

ação real e moralidade.

O brincar do cotidiano das crianças é algo que se destaca como

essencial para seu desenvolvimento e aprendizagem. Assim, deve-se conhecer

bem a criança, seus brinquedos e suas brincadeiras, pois é na brincadeira que a

criança expressa suas idéias e visão do mundo. No decorrer do desenvolvimento,

várias maneiras de brincar aparecem. De acordo com Vigotsky (1991 p.32) “é no

brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva”.

No início da brincadeira infantil a criança é dominada pelo objeto real,

que determina seu comportamento. Segundo Vigotsky, (1991 p.33) a criança

muito pequena não consegue separar o campo do significado do campo

perceptual.

Desta forma, as ações do brinquedo ficam subordinadas ao significado

que a criança atribui. É por volta do segundo ano que a criança começa a

manifestar atividades simbólicas, verbais, imitativas no brincar. O brinquedo não

pode ser definido, apenas, como uma atividade que dá prazer à criança, pois,

através dele, a criança satisfaz certas necessidades que surgem durante seu

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desenvolvimento.

A tendência de uma criança muito pequena é satisfazer seus desejos

imediatamente; entretanto, na idade pré-escolar, surge uma grande quantidade de

tendências e desejos não possíveis de serem realizados de imediato. Para

resolver esta tensão, a criança envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde

seus desejos e necessidades não realizáveis possam ser realizados. Esse mundo

é o que Vigotsky chama de brinquedo. Então fica evidente que a influência do

brinquedo no desenvolvimento de uma criança é enorme. Alguns estudos

realizados por Vigotsky e Luckesi demonstraram que os objetos têm uma grande

força motivadora no que diz respeito às ações de uma criança muito pequena e

também determinam fortemente o comportamento da criança.

Percebe-se que, no brinquedo infantil, práticas interpretações sociais

estão representadas. A análise do brinquedo permite uma incursão crítica aos

problemas econômicos, culturais e sociais vividos no Brasil, permite também

discutir a situação social da criança em relação aos estudos e por fim testemunhar

a riqueza do imaginário, superar barreiras e condicionamentos do mundo adulto.

Ao fazer uma observação é possível perceber que no Brasil é

possível três estruturas diferentes de brinquedo, isso porque é um país com

grande discrepância econômica das classes sociais, daí cada grupo vai adquirindo

seu brinquedo do melhor modo possível, pode ser pela fantasia com objetos

isolados (isso ocorre em comunidades menos favorecidas, na qual à vontade de

brincar supera a condição de ter ou não o brinquedo), pode ocorrer a manufatura

dos brinquedos industrializados (quem não tem como comprar usa a criatividade e

tende a construir), por outro lado, tem a industrialização popular (que nada mais é

do que a criação e recriação dos brinquedos pré-existentes incrementando

novidades).

A mídia e o comércio na sociedade capitalista direcionam o

brinquedo, sedutor tanto aos pais como aos filhos, o que acentua que a relação do

uso do brinquedo nos leva a perceber dois pontos pertinentes, promover a relação

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com o outro e o aspecto ideológico, a esse último os meios de comunicação são

grandes responsáveis por incentivar e visar o lucro. As indústrias apresentam

brinquedos modernos e incrementados e todas as gerações estarão ligadas a um

brinquedo específico, seja a bola, a boneca ou quem sabe aquele cabo de

vassoura que as crianças de alguns anos atrás deram asas a imaginação e se

transformou em uma espada ou em um cavalo.

Para Piaget (1976, p. 39) “cada ato de inteligência é definido pelo

equilíbrio entre duas tendências: assimilação e acomodação. Na assimilação, o

sujeito incorpora objetos ou situações dentro de formas de pensamento, que

constituem as estruturas mentais organizadas. Na acomodação, as estruturas

mentais existentes reorganizam-se para incorporar novos aspectos do ambiente

externo.” Isso quer dizer que no ato da inteligência, o sujeito adapta-se às

exigências do ambiente externo, enquanto ao mesmo tempo mantém sua

estrutura mental intacta. Nesse contexto, a postura do professor possui grande

relevância, pois ele pode conduzir suas atividades priorizando o lúdico ou

negando-lhe o espaço, o que o faz negar, de certa forma, as “possibilidades” de

pleno desenvolvimento do seu aluno. Sendo assim faz-se necessário que a escola

trabalhe com a diversidade cultural de seus alunos, valorizando a pluralidade, o

movimento e a corporeidade, evitando conseqüentemente, a linearidade, a

passividade, a homogeneidade.

Pode-se, então, pensar que, dessa forma, a escola tende a construir, no

seu espaço, a vida, o dinamismo e o prazer que há muito foram esquecidos, por

conta de uma primordial preocupação em transmitir conteúdos, tidos como

verdades universais.

É possível perceber que o campo da ludicidade ainda é pouco

explorado pelas escolas e quando isso ocorre, por vezes, é feito de forma errônea,

havendo pouca receptividade de alguns pais, devido a concepção do lúdico ser

pouco compreendida, pois acham que a escola é lugar de aprender a ler e

escrever.

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O brincar é tão relevante para a criança quanto o trabalho é necessário

para o adulto, por isso com intencionalidade educativa, ou não de um modo geral,

ele traz os dados do cotidiano para um fazer ativo, refazendo-os ao relacioná-los

com o imaginário. Ao brincar e experimentar o mundo dentro do seu contexto

sócio-cultural a criança constrói o seu fazer, repercutindo no futuro, o que seria a

própria essência da vida.

A criança está sempre pronta para brincar. Por que então, o

professor não transformar aulas monótonas em momentos de alegria e de prazer,

apresentando os conteúdos em formas de jogos e brincadeiras?

É muito importante o professor, como mediador do processo ensino-

aprendizagem, estimular o aluno a brincar, jogar, cantar, dramatizar... porque a

brincadeira faz parte da vida dele. Isso o ajudará a tomar decisões, a ser criativos

e desembaraçados, a conquistar o seu espaço junto ao grupo. No ato de brincar, a

criança interpreta diferentes papéis, assumindo responsabilidades e

desenvolvendo atitudes de respeito. O educador poderá deixá-los brincando

sozinhos que com certeza eles saberão se organizar sem que a brincadeira se

torne uma bagunça.

Por parte do educador não é necessária a preocupação com a

organização de turma, sabe-se que as brincadeiras propiciam a superação das

etapas do ser afetivo. As crianças se aproximam dos companheiros com quem

têm afinidades, descobrindo a importância de cultivar amizades, inventando elas

mesmas suas formas de organização que deve ser valorizada pelo adulto.

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CAPITULO 2

A CONCEPÇÃO DO LÚDICO E SUA TRAJETÓRIA HISTÓRICA

Restringir a análise do lúdico somente no Brasil, se dá, pois o tema da

história do lúdico é extremamente vasto. A intenção é mostrar a influência dos

portugueses, dos negros e dos índios nas brincadeiras das crianças brasileiras.

Segundo Kishimoto (1999, p.15):

[...] a tradicionalidade e universalidade nas brincadeiras infantis é milenar, pois os povos distintos e antigos como os da Grécia e Oriente brincaram de amarelinha, de empinar papagaios, jogar pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma. Esses jogos foram transmitidos de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil.

O Brasil é um país originário da miscigenação de povos,

predominantemente português, negro e índio e herdamos muito da cultura

produzida por esta miscigenação e não seria diferente no caso das brincadeiras

infantis, por isso, em nosso repertório infantil de brincadeiras existem formas e

modelos de brinquedos que originalmente foram construídos, trazidos e/ou

perpetuados por crianças portuguesas, negras e índias. Para melhor entender o

porquê do predomínio do elemento de cor branca no povo brasileiro, temos a

seguinte explicação de Kishimoto (1999, p.17) :

[...] a mistura do índio e negro ao branco fez prevalecer como núcleo primitivo para a formação da nacionalidade brasileira o elemento branco. Assim, quando chegaram as levas de imigrantes estrangeiros, já existia um núcleo primitivo de população no qual predominava o elemento branco.

Evidente, que a colonização, por conseguinte, a escravidão subjugou a

cultura dos povos escravizados e o folclore português foi, portanto, sendo passado

de geração em geração através da oralidade, e assim, foram sendo conhecidas as

lendas, contos e superstições e é claro, o objeto de estudo, as brincadeiras

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infantis. Com a ampla miscigenação existente na população brasileira, é difícil

concluir com precisão, qual a influência específica de brancos, negros e índios nos

jogos tradicionais infantis nos dias atuais. Mas segundo Kishimoto (1999, p. 20): “é

possível, em alguns casos, efetuar um estudo, especialmente em contextos onde

o predomínio dessas etnias é muito grande, como nos engenhos de açúcar ou nas

tribos indígenas espalhadas pelo país, no fim do século e começo deste.”

Adivinhas, parlendas e versos foram sendo incorporados ao cotidiano

das crianças brasileiras: Cuca, Mula sem Cabeça, Bicho–papão, trazidas pelos

portugueses começaram a originar brincadeiras infantis tendo estas personagens

como tema central, e também, jogos como a amarelinha, bolinha de gude, pião,

tendo a mesma aceitação como tinha no passado, mas devida à cultura, o

momento histórico, a necessidade da informação a ser passada e o povo ao qual

eram ensinadas, as brincadeiras sofreram algumas adaptações sem que com isso

se perdesse a graça e a beleza das brincadeiras.

Para compreender quais as brincadeiras das crianças originaram-se

dos negros, é preciso que se conheça e entenda sua cultura, sua procedência o

que devido à escravidão sofrida tornou-se difícil, pois que o africano para não

sofrer mais do que já sofria, realizou adaptações em sua cultura, acontecendo, por

exemplo, a necessidade do sincronismo religioso, cujas imagens católicas

incorporaram aspectos de sua religião.

Segundo Kishimoto (1999, p.28), identificar a influência negra nas

brincadeiras infantis brasileira, é tarefa difícil, pois que muitos autores relatam o

fato de que o negro desde que saiu da África para servir de escravo no Brasil,

misturou-se ao cotidiano do período e até mesmo por falta de documentação da

época e também pelo fato da infância não despertar o interesse de estudiosos. Há

ainda o fato de que para reprimir rebeliões, os negros eram separados dos negros

provenientes de um mesmo local, ou seja, misturavam-se aos negros vindos de

várias partes da África, acontecendo de nem mesmo falarem a mesma língua. E,

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portanto, causando dificuldade para estudiosos compreenderem quais os que são

originalmente africanos.

Em relação aos jogos e brinquedos africanos, Câmara Cascudo, (1958,

50), afirma ser difícil detectá-los pelo desconhecimento dos brinquedos dos negros

anteriores ao século XIX. Com centenas e centenas de anos de contato com o

europeu, o menino africano sofreu influência de Paris e Londres. Além do mais, há

brinquedos universais presentes em qualquer cultura e situação social como as

bolas, [...] danças de roda, criação de animais e aves, [...] corridas, lutas de corpo,

saltos de altura, distância, etc., os quais parecem, segundo o autor, estar

presentes desde tempos imemoriais em todos os países.

Sobre qual jogo, brincadeira seria proveniente dos negros, Câmara

Cascudo (1958, p. 50), hipotetiza, dizendo que ao vir para o Brasil, não se tem

certeza de que as crianças negras “tiveram ambiente para repetir as brincadeiras

do continente negro, ou aceitaram e adotaram as locais, vividas por outros

meninos.” Como a cultura naquela época era passada através da oralidade,

provavelmente as crianças negras possam ter tido a oportunidade de difundir entre

as demais crianças que aqui já se encontravam o repertório de suas brincadeiras

ou podem ter encontrado barreiras principalmente na linguagem.

A cultura negra deixou sua marca, transmitida através da oralidade,

através da mãe-preta que sempre contava às crianças, tanto brancas como

negras, histórias de sua terra, como as lendas, contos, mitos, deuses. É relevante

ressaltar que tais elementos, ainda fazem parte, até hoje, do lúdico infantil.

A influência indígena nas brincadeiras infantis, não é também muito

fácil, devido à vasta contribuição através de seu folclore. Como forte contribuição

tem-se o papel da mulher indígena, como por exemplo, os alimentos, o uso de

remédios caseiros, alguns aspectos da higiene, utensílios de cozinha e uma série

de outros costumes presentes até hoje no dia-a-dia do povo brasileiro. Em

algumas tribos as mães fazem o brinquedo para os seus filhos, como por exemplo,

a figura de animais em barro cozido. A tradição indígena de bonecas de barro,

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figuras em que predomina o sexo feminino, não sendo simples brinquedo, mas

elementos de religiosidade. Em Kishimoto (1999, p.60), encontra-se singular

descrição de brincadeiras indígenas sendo até hoje realizadas:

[...] a prática de utilizar aves domésticas como bonecos, bem como o uso do bodoque e do alçapão para pegar passarinhos e depois criá-los são tradições indígenas, que permanecem na infância brasileira. As crianças indígenas brincam de um modo peculiar, o jogo não possui o mesmo sentido que para outras culturas, não há a figura do vencedor, não há desavença entre eles, predominando as brincadeiras junto à natureza. As brincadeiras funcionam como uma preparação da vida adulta, tendo as crianças a oportunidade de terem seu arco e flecha e realizar pequenas caçadas, para os meninos; e as meninas realizam pequenas tarefas domésticas como descascar a mandioca, pegar lenha, levar barro para a mãe oleira etc.

Vários estudiosos, afirmam que as crianças indígenas têm na

brincadeira uma forma de aprender as atividades do dia-a-dia de sua tribo, sem a

pressão existente na cultura da criança das cidades. As crianças indígenas não

eram castigadas, nem reprimidas; sua criação transcorre sem violência e com

base na solidariedade, isto é, quando uma criança ganha algo, logo reparte com

as demais crianças de seu meio.

Dos brinquedos indígenas, há os que até nos dias atuais permanecem

nas brincadeiras infantis das crianças brasileiras, como: o ‘jogo do fio’, conhecido

também por ‘cama de gato’; a ‘matraca’, cujo “movimento de virar e esticar o fio

produz um ronronar que diverte os meninos” , como afirma Kishimoto, (1999,

p.65); a peteca, cuja apreciação é feita por adultos e crianças indígenas (sua

origem é estritamente brasileira, proveniente de tribos tupis do Brasil); os jogos de

pegador, envolvendo figuras de animais e também como todas as crianças, os

índios gostam de brincar com animais e insetos. Kishimoto (1999, p.72) explica:

• O sentido do jogo como conduta típica de criança, não se aplica ao cotidiano de tribos indígenas.

• Atirar com arco e flecha não é uma brincadeira, é um treino para caça. Imitar animais são comportamentos místicos tanto de adultos como de crianças, reflexos de símbolos totêmicos antigos.

• Misturados com os adultos, participando de tudo na tribo, pequenos curumins não se distinguem por comportamentos particulares como o brincar.

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• Adultos e crianças dançam, cantam, imitam animais, cultivam suas atividades e trabalham para sua subsistência. Mesmo os comportamentos descritos como jogos infantis não passam de forma de conduta de toda tribo. As brincadeiras não pertencem ao reduto infantil.

Embora, ainda se tenha nos dias atuais a influência indígena nas

brincadeiras infantis, pode-se dizer que não possui a mesma característica, a

mesma finalidade. O significado é distinto, sendo que, por exemplo, o brincar na

nossa cultura, é pertinente ao mundo infantil, embora não se tenha dúvida de que

brincando estará a criança realizando associações entre o mundo real e o seu

mundo naquele instante.

2.1 Conceito de lúdico na educação

Segundo Kishimoto, (1999, P.69) a definição de lúdico:

A palavra lúdico vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e é relativa também à conduta daquele que joga, que brinca e que se diverte. Por sua vez, a função educativa do jogo oportuniza a aprendizagem do indivíduo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo. A formação lúdica possibilita ao educador conhecer-se como pessoa, saber de suas possibilidades, desbloquear resistências e ter uma visão clara sobre a importância do jogo e do brinquedo para a vida da criança, do jovem e do adulto.

Neste sentido o autor quer nos mostrar que o brincar é relevante não só no

sentido de diversão, mas como um elo importante na aprendizagem espontânea e

o conteúdo a ser aplicado de forma descontraída, visando no cognitivo do

educando as disciplinas na sua totalidade e despertando o interesse do aluno.

2.2 O Lúdico na legislação brasileira

Pesquisando sobre o aparecimento da atividade lúdica dentro da legislação

brasileira, depara-se com diversas leis sobre a infância que versam sobre o

assunto, a saber:

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• Estatuto da Criança e do Adolescente ( ECA ) – no seu artigo 2º diz

que é considerado criança , o indivíduo com doze anos incompletos e

adolescente, de doze a dezoito anos. No artigo 59, refere-se ao esforço que os

Municípios, Estados e União, em conjunto, deverão fazer, visando proporcionar

programações culturais, esportivas e de lazer para a infância e a juventude.

• Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCN)

(Resolução CEB nº 01, de 7 de abril de 1999 ) – estipula em seu artigo 3º, inciso I,

linha c) que as propostas pedagógicas das Instituições de Educação Infantil,

devem respeitar os seguintes fundamentos norteadores: princípios estéticos da

sensibilidade, da criatividade, da ludicidade, e da diversidade de manifestações

artísticas e culturais.

• A declaração dos Direitos das Crianças – Em seu 7º artigo

estabelece que: “[...] A criança deve ter a oportunidade de participar de jogos e

brincadeiras, dirigidos, sempre que possível, para a sua educação. A sociedade e

as autoridades devem se esforçar para promover o exercício deste direito.”

• Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1995) –

estabelece que as brincadeiras devem fazer parte das atividades permanentes,

que devem ocorrer dentro da instituição de educação infantil.

Assim, percebe-se que, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente,

criança é a pessoa que tem até 12 anos, portanto, é criança também, aquela que

freqüenta o ensino fundamental e, apesar das Diretrizes Curriculares Nacional do

Ensino Fundamental não citar que deva ocorrer situações de ensino –

aprendizagem em forma de brincadeiras, estas crianças tem amparo no Estatuto

da Criança e do Adolescente e nos Direitos das Crianças, para poderem ter a

brincadeira incluída em sua vivência dentro da escola.

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2.3 O lúdico e o resgate da cultura

Pais, mães e educadores, dizem que as crianças hoje em dia não sabem

mais brincar. Dizem que na hora do recreio, principalmente, só correm e brigam.

Pergunto: quem pára e brinca hoje com as crianças? Quem as ensina a brincar?

Quem sabe brincar?

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) pregam a utilização dos

temas transversais, como por exemplo, a pluralidade cultural, em que se leva o

aluno a respeitar os diferentes grupos e culturas. Envolvem questões como

discriminação e preconceito. Em um país como o nosso, de extensão territorial

significativa, com tantos povos imigrantes, línguas e diversificação cultural a

convivência de diferentes etnias e culturas, faz com que essa discussão seja

relevante.

Os brinquedos, brincadeiras e jogos, além de favorecer que as crianças

venham a se divertir, deixar de lado a forma agressiva das atividades livres,

favorecem também ao professor um resgate da própria cultura do país, do folclore

de todo um povo. Leva o aluno ao conhecimento da história de seu povo, ao

conhecimento de sua cultura, seus valores, seus costumes. De acordo Craidy e

Kaercher, (ano 2001, p.103):

A criança se expressa pelo ato lúdico e é através desse ato que a infância carrega consigo as brincadeiras. Elas perpetuam e renovam a cultura infantil, desenvolvendo formas de convivência social, modificando-se e recebendo novos conteúdos, a fim de se renovar a cada nova geração. É pelo brincar e repetir a brincadeira que a criança saboreia a vitória da aquisição de um novo saber fazer, incorporando-o a cada novo brincar.

O início da educação por meio do lúdico possibilita no educando uma

formação prazerosa de futuros educadores que certamente aplicarão os

conteúdos da mesma maneira e quem sabe acrescida de maiores valores, haja

vista que os educadores do futuro estão se conscientizando de que o

conhecimento deve ser contínuo, daí o surgimento de novos recursos a serem

utilizados.

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CAPÍTULO 3

A RELEVÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O brincar no cotidiano das crianças é algo que se destaca como

essencial para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Assim, para se conhecer

bem a criança, deve-se conhecer muito bem os seus brinquedos e brincadeiras,

pois são por meio das brincadeiras que a criança expressa suas idéias, visão de

mundo e revela suas habilidades. No decorrer do desenvolvimento infantil, várias

maneiras de brincar se revelam e com elas, a formação da personalidade da

criança.

Segundo Vigotsky (1991, p. 47), durante as brincadeiras, a criança

aprende a agir em uma esfera cognitiva. No início das brincadeiras infantis é o

objeto real que denomina o comportamento da criança.

Quando a criança é muito pequena, não consegue separar o campo do

significado do perceptual. Isso quer dizer que o brinquedo não deve ser definido

apenas como algo para diversão e prazer, já que por meio dele, a criança satisfaz

certas necessidades que surgem ao longo de seu desenvolvimento. É importante

que se deixe de pensar no lúdico como o oposto ao que é sério. Deve-se buscar a

fantasia, o lazer e o brincar como uma maneira complementar nas ações

produtivas do cotidiano.

Através do lúdico, a criança busca soluções para os problemas do

medo, da insegurança e do desprazer, vendo nas mesmas a fonte para sanar

todos os males do momento tanto quanto para dar asas à sua imaginação e

sonhar construindo o seu próprio mundo onde só haja coisas boas e motivos para

ser feliz, neste caso, tudo depende das vivências que elas têm em casa com a

família ou na escola.

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A brincadeira se mostra eficaz em todas as fases e situações infantis,

tanto quando ela sente triste e aproveita uma brincadeira ou outra para mergulhar

no mundo de fantasia, onde ela possa dominar a situação e deixar de sofrer,

quanto quando está feliz e usa seu imaginário para criar situações que lhe dêem

prosseguimento ao seu estado de felicidade.

Sabe-se que o brincar é inerente à vida, se faz presente tanto na vida

do ser humano quanto do animal. Pode-se cogitar que a aprendizagem humana se

dê por meio da brincadeira, pois na infância tudo que o ser humano aprende

acontece por meio dela.

O brincar é uma linguagem com conteúdos ocultos que os adultos

precisam propiciar às crianças. Segundo Kishimoto (2003, p. 18), “o jogo é para a

criança, um fim em si mesma, ele deve ser para nós um meio de educar, daí seu

nome jogo educativo, que toma cada vez mais lugar na pedagogia maternal”.

Conforme este autor é preciso fazer da escola um ambiente de

exploração, de criação, de compromisso, de liberdade, onde o aluno possa

imaginar sem deixar de ser apresentado a elas a possibilidade do uso de jogos

pedagógicos para atingir determinados objetivos previamente elaborados.

Brincando com a fantasia, a criança cria, revive o passado, experimenta o

presente e projeta o futuro complementando dois mundos: o real e o imaginário.

Ao educador cabe estimulá-los a brincar com o corpo, a vivenciar inúmeras

atividades a partir dos movimentos comandados pelos sentidos: como correr,

subir, descer, levantar, etc., que levem a uma significativa situação de

aprendizagem.

Brincadeiras como dramatização de histórias, fazer mímicas, imitar

movimentos, brincar de estátua, representar situações, brincar de seguir ordens

entre outras inúmeras brincadeiras, proporcionam às crianças interagirem umas

com as outras, se expressarem, descobrirem seus corpos e se relacionarem. As

atividades lúdicas são fundamentais para o educando ampliar sua percepção dos

ritmos da natureza, sensibilizando-se para os sons e o silêncio à sua volta, para a

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compreensão de movimentos rápidos e lentos a fim de se conscientizar do tempo

que leva para realizar determinadas atividades. O educador pode propor

atividades do tipo: reproduzir sons ouvidos, pronunciar o próprio nome em vários

tons e ritmos, produzir barulhos com diferentes objetos, recordar músicas e cantá-

las entre outras várias atividades. Segundo Antunes (2003, p. 217), que associam

a inteligência musical como sendo de fácil manifestação pictórica afirmam que:

[...] antes mesmo que a linguagem escrita lhe seja acessível, os recursos pictóricos tornam-se elementos fundamentais na convicção e na expressão de sentimentos, funcionando como um canal muito especial, através do qual as individualidades se revelam – ou são construídas – expressando ainda, muitas vezes, características gerais da personalidade, ou mesmo situações dos mais variados desequilíbrios psíquicos.

Percebe-se que a criança pode perfeitamente começar a demonstrar

suas habilidades mais vivas dentro de si mesma, que revela suas tendências para

determinado campo, como por exemplo, o artista que é facilmente identificado

pelo educador ou pela família, por meio do interesse manifestado quando lhe é

apresentado algum objeto e ele logo o transforma ou dá-lhe outra associação de

forma, cor e até sons. Ao inserir uma música, a criança pode, por exemplo,

começar a desenhar casa, rios, árvores ou animais dependendo do que passa por

sua cabeça naquele momento, quando ao ouvir aquele som se deixa ou é

transportada a um mundo imaginário e para isso não é necessário precisamente

que ela já saiba escrever.

Partindo dessas manifestações espontâneas dos alunos, o professor

pode traçar metas e atingi-las com sucesso, criando jogos e brincadeiras cujo

desenvolvimento os leve a aprenderem conteúdos disciplinares do currículo

escolar sem podar a criatividade e vontades dos educandos.

Esta é apenas uma das múltiplas inteligências que serão manifestadas

pela criança ao longo de seu desenvolvimento como a espacial, naturalista,

corporal sinestésica e outras, algumas dessas inteligências afloram naturalmente,

outras requerem estimulações que podem ser feitas de diferentes maneiras e

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muitas delas se destacam com resultados bastante positivos por meio de jogos e

brincadeiras pedagógicas.

Existe, porém a preocupação de alguns pesquisadores que alertam que

tais estimulações não são aconselháveis quando determinadas e repetitivas, pois

estes procedimentos podem reverter a magia do encantamento da criança a algo

desestimulador e cansativo, a criança precisa ter liberdade para construir o seu

próprio conhecimento e quando os estímulos são excessivos, ela pode perder o

interesse nos jogos e brincadeiras, pois aquilo deveria ser prazeroso e se torna

massacrante, tirando lhe todo o encanto que encontrava e conseqüentemente

prejudicando todo o desenvolvimento que esta obtinha nos momentos de brincar.

Há várias formas de brincadeiras: as brincadeiras solitárias e as

brincadeiras em grupo, em que há uma socialização e exploração do mundo. As

brincadeiras paralelas, onde a criança está presente ao lado de seus coleguinhas,

mas está atenta a sua brincadeira em particular, nestas brincadeiras as crianças

assumem o papel que apronta.

Atualmente, vive-se em uma era de constantes transformações que exigem

de todas as pessoas estarem sempre se modificando e inovando. A criatividade,

hoje, é essencial para exercer qualquer tarefa, pois é ela que permite às pessoas

criarem, inovarem e (re)construírem conhecimentos. Uma das maneiras de

desenvolver essa criatividade é a ludicidade que permite que a criança descubra

em si mesma o poder de criação.

.O jogo e a brincadeira estão presentes em todas as fases da vida dos

seres humanos, tornando especial a sua existência. De alguma forma o lúdico se

faz presente e acrescenta um ingrediente indispensável no relacionamento entre

as pessoas, possibilitando que a criatividade aflore.

A brincadeira é um ato em que a intencional idade e curiosidade resultam

em um processo criativo para modificar, imaginariamente, a realidade e o

presente. Catuna, (2000, p.66), afirma que:

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Quando a criança brinca, ela opera com o significado das suas ações, o que a faz desenvolver sua vontade e ao mesmo tempo tornar-se consciente das suas escolhas e decisões.

Por meio da brincadeira, a criança envolve-se no jogo e sente a

necessidade de partilhar com o outro. Ainda que em postura de adversário, a

parceria é um estabelecimento de relação. Esta relação expõe as potencialidades

dos participantes, afeta as emoções e põe à prova as aptidões testando limites.

Brincando e jogando a criança terá oportunidade de desenvolver capacidades

indispensáveis a sua futura atuação profissional, tais como atenção, afetividade, o

hábito de permanecer concentrado e outras habilidades perceptuais psicomotoras.

A entrada da criança no mundo do faz-de-conta marca uma nova fase de

sua capacidade de lidar com a realidade, com os simbolismos e com as

representações. Com o brinquedo a criança satisfaz certas curiosidades e traduz o

mundo dos adultos para a dimensão de suas possibilidades e necessidades.

Jean Piaget (Suíça, 1896-1980) e Lev Vygotsky (Rússia, 1896-1934), são

pontos de referência quando o assunto é a ludicidade. Foram contemporâneos,

mas não se conheceram. Destacaram o período da formação da criança até os

seis anos. Esta fase é considerada como base do desenvolvimento cognitivo

infantil refletindo na constituição futura do ser humano.

Piaget usava a terminologia jogo e Vygotsky brinquedo para conceituar

a ação de brincar.

As crianças quando ainda não desenvolveram a fala se comunicam através

de gestos e emoções. Ao crescerem, passam a utilizar a linguagem verbal e

racionalizar as ações, deixando de utilizar o imaginário.

Para Vygotsky a criança ao brincar cria uma situação imaginária onde

exista, sempre, regras nas brincadeiras, pelo simples fato de que a partir do

momento em que existe uma situação imaginária esta tem regras de

comportamento que são representadas na brincadeira. Desenvolveu a teoria

histórico e cultural dando ênfase ao processo de trocas. O conhecimento é

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construído a partir de interações com os outros e com o meio social e cultural. A

linguagem é fator decisivo na estrutura do pensamento, e, é ferramenta básica

para a construção de conhecimentos.

Todos conhecemos o grande papel que nos jogos da criança desempenha a imitação, com muita freqüência estes jogos são apenas um eco do que as crianças viram e escutaram dos adultos, não obstante estes elementos da sua experiéncia anterior nunca se reproduzem no jogo de forma absolutamente igual como acontecem na realidade. O jogo da criança não é uma recordação simples do vivido, mas sim a transformação criadora das impressões para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações da própria criança. (Vygotsky, 1999:12).

Com base na teoria de Vygotsky pesquisadores-educadores discutem, hoje.

como é o universo do pensamento e do imaginário que passou a ser muita

importância na área educacional, por exemplo, o lúdico influencia muito o

desenvolvimento da criança, pois é através do jogo que a criança aprende a agir,

tem a curiosidade estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, além de

proporcionar o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração.

Para Piaget, o jogo era visto como próprio da infância e do universo da

criança, independente até mesmo do funcionamento da inteligência. Não elaborou

uma teoria do jogo, mas desenvolveu uma concepção da infância observando o

comportamento lúdico infantil. Priorizou o caráter construtivo, as construções

realizadas pelo ser humano.

Para as teorias cognitivas-evolutivas como as de Piaget, as noções sociais

da criança se desenvolvem a partir de sua maturação biológica, mas também em

uma interação com meio circundante, que gera conflitos a serem solucionados, a

partir dos quais a criança desenvolve suas crenças, atitudes morais em uma

reorganização seqüencial utilizando as experiências prévias para novas situações

e reorganizando-as.

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Em suas teorias, Piaget, deixa claro, que a atividade lúdica é o berço

obrigatório das atividades intelectuais da criança. Estas não são apenas uma

forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas

meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. Piaget afirma:

O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem a todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil. (Piaget 1976, p.160).

Tanto em Vygotsky como em Piaget se fala numa transformação do real por

exigência das necessidades da criança, mas enquanto que para Piaget a

imaginação .da criança não é mais do que atividade deformante da realidade, para

Vygotsky a criança cria (desenvolve o comportamento combinatório) a partir do

que conhece das oportunidades do meio e em função das suas necessidades e

preferências.

Para Piaget no jogo prepondera a assimilação, ou seja, a criança assimila

no jogo o que percebe da realidade às estruturas que já construiu e neste sentido

o jogo não é determinante nas modificações das estruturas. Para Vygotsky o jogo

proporciona alteração das estruturas e em uma prática pedagógica adequada

perpassa não somente por deixar as crianças brincarem, mas, fundamentalmente

por ajudar as crianças a brincar e até mesmo por ensinar as crianças a brincar.

Pode-se constatar, que não há nada mais belo do que a própria criação, o

ato, a arte de criar. Quando se faz o que se gosta e se é feliz com isso. Então,

propor que a criança brinque com a sua própria imaginação é permitir que ela não

somente desenvolva a sua criatividade, mas se desenvolva integralmente. Cabe

aos educadores aproveitar esses momentos de prazer para a criança através de

brincadeiras inovadoras, permitindo que elas também criem outras brincadeiras ou

formas de brincar que Ihes sejam significativas e assim muita criatividade estará

sendo aflorada.

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Neste sentido, o importante é estimular a criança. Assim ela poderá

perceber que a criatividade está a mostra em todos os lugares. Basta olhar e

perceber o design das pontes, das casas, das roupas, dos carros e da natureza.

Enfim, tudo aquilo que sofre ou não interferência do homem foi um dia imaginado,

projetado e construído com muita criatividade. Mas, criatividade necessita de

ousadia. Por isso, que jamais, se deve mensurar as formas de a criança brincar,

pois é explorando o mundo e construindo o seu próprio modo de fazer parte dele.

Segundo, Lopes, o jogo para a criança é o exercício, é a preparação para a vida

adulta (1999, p.35).

As crianças, em suas brincadeiras, procuram estar sempre em contato com

o diferente, ou seja, com a fantasia, pois como aponta Cruz e Santos (1999,

p.112):

Em relação à criança, é preciso que ela dê vazio a sua fantasia, a seus sonhos, pois sem isto estará limitada ao mundo da razão, desempenhando rotinas, resolvendo problemas e executando ordens, tendo sua expressão e criatividade limitadas. A criança sem a fantasia do brincar jamais terá o encanto, o mistério e a ousadia dos sonhadores, que só a emoção proporciona.

Pelas reflexões realizadas acerca da concepção de diferentes autores, fica

claro que é imprescindível que os educadores busquem desenvolver seus

educandos em totalidade, resgatando, através de dinâmicas, brincadeiras ou

cantigas de roda, a abstração, ou seja, o lúdico. É nesse ir e vir entre o imaginar e

o criar que a vida toma forma e o mundo caminha, ora com suavidade e melodia,

ora com agressividade e desarmonia. E é nesse mesmo ir e vir que se almeja

formar cidadãos sensíveis à criação.

Amamos a paz, a justiça, o jogo e a liberdade. Mas percebemos que estes

valores são diariamente negados pela nossa sociedade (ALVES, 1987, p.131). É

por isso que se deve romper paradigmas e estereótipos impostos pela sociedade

e instigar o novo através do ato criativo, o que tornará as pessoas menos egoístas

e mais crentes de que alguns valores devem ser mantidos e de que outros, com

urgência, devem ser reformulados através de um recriar contínuo. Por isso,

almeja-se uma educação baseada na totalidade.

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Se a vida é, conforme muitas pessoas afirmam, um jogo, então, por que

não montar este quebra-cabeça de forma prazerosa, significativa e,

principalmente, lúdica?

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4 – Pesquisa de Campo

Haja vista a fundamental importância que a pesquisa tem em um

trabalho de monografia e com o objetivo de mostrar resultados apresento a análise

qualitativa e quantitativa de dados.

Segundo Bauer e Gaskell (2003, p. 222), a pesquisa qualitativa torna-se

a base do trabalho interpretativo e da referência feita a partir do conjunto do

material empírico. O ponto de partida é a compreensão interpretativa do texto, ou

seja, uma entrevista, uma narrativa.

Conforme Flick (2004, p. 22 e 22), a diferença entre pesquisa qualitativa

e quantitativa é que a quantitativa lida com números e utiliza-se de modelos

estatísticos para explicar os dados. O protótipo mais conhecido é a pesquisa de

levantamento de opinião. Em contraste, a pesquisa qualitativa evita números, lida

com interpretações das realidades sociais.

Critérios para uma avaliação de pesquisa qualitativa, segundo Corbin e

Strauss (apud Flick,1990, p. 16):

1. Como foi feita a seleção da amostragem original? Com que base

(amostragem seletiva)?

2. Quais as principais categorias que surgiram?

3. Cite exemplos de eventos, incidentes, ações que indicaram algumas

dessas categorias principais.

4. A continuação da amostragem teórica se deu com base em que

categoria? Ou seja, como as formulações teóricas conduziram parte da

coleta de dados? Após a execução da amostragem teórica, qual foi a

representatividade dessas categorias?

5. Quais são algumas das hipóteses que dizem respeito às relações entre

as categorias? Com base em que elas foram formuladas e testadas?

6. Houve situações em que as hipóteses não expuseram o que era de fato

visto? Como as discrepâncias foram justificadas? Como afetaram as

hipóteses?

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7. Como e por que a categoria essencial foi selecionada? Essa seleção foi

repentina ou gradual, difícil ou fácil? As decisões analíticas finais foram

tomadas com que base? Como o “poder explanatório” extensivo em

relação ao fenômeno em estudo e à “relevância” figurou nas decisões?

Apesar de toda a análise do estudo, segundo Bauer e Gaskell, utilizei-me

do método dedutivo, por se tratar de melhor caminho par o raciocínio lógico e

descendente para o particular do assunto em questão. “Esse método leva o

indivíduo a chegar a uma previsão concreta e particular” (ANDRADE, 2003).

De forma a esclarecer todas as minhas dúvidas, utilizei as seguintes

estratégias: primeiramente, li obras de vários especialistas, doutores, mestres e

estudiosos, para melhor fundamentar a linha de pensamento.

Segundo, parti para a elaboração de questionário.

4.1 - Instrumento de Pesquisa

Na pesquisa de campo elaborei nove questionários contendo nove

questões, objetivas e fechadas, que pretendiam verificar se os professores

utilizavam o lúdico como ferramenta para melhor aprendizagem e o se eles

achavam positivo a utilização desse médoto ou não. Posteriormente, todos os

questionários coletados iniciou-se o processo de tabulação dos dados abordados.

4.2 - Análise de Dados

Para cada questão do questionário iniciou-se a análise e a interpretação

dos dados, conforme percentual obtido.

A coleta de dados geralmente é um procedimento cansativo, porque

muitas vezes toma muito tempo e esforço do pesquisador, E nesse,

sentido, é de fundamental importância que tenha um planejamento

prévio para que não haja perda de tempo em um trabalho de campo,

facilitando a etapa posterior, par que se evite erros e defeitos nos

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resultados são necessário que tenha controle na aplicação dos

instrumentos de pesquisa (ANDRADE, 2003).

4.2.1 - Análise de dados da pesquisa

Foi questionado:

1 – Qual a sua formação acadêmica?

TABELA 01

PROCURA POR ESPECIALIZAÇÃO

Variáveis Freqüência Porcentagem (%)

Magistério Completo 02 22,23

Superior 04 44,44

Pós-graduação 03 33,33

Especialização 0 0

Outras capacitações 0 0

TOTAL 9 100%

(...)Diferentemente das demais ciências da educação, a pedagogia é ciência da prática. (...) Ela não se constrói como discurso sobre a educação, mas a partir da prática dos educadores tomada como referência para a construção de saberes, no confronto com os saberes teóricos. (...) O objeto/problema da pedagogia é a educação enquanto prática social. Daí seu caráter específico que a diferencia das demais (ciências da educação), que é o de uma ciência prática – parte da prática e a ela se dirige. A problemática educativa e sua superação constituem o ponto central de referência para a investigação. (PIMENTA, 1988)

2 – Quantos anos você tem?

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TABELA 02

FAIXA ETÁRIA

Variáveis Freqüência Porcentagem (%)

Entre 20 e 30 anos 05 55,56

Entre 31 e 40 anos 04 44,44

Mais de 50 anos 0 0

TOTAL 9 100%

3 – Há quanto tempo exerce a profissão de educador?

TABELA 03

TEMPO DE SERVIÇO

Variáveis Freqüência Porcentagem (%)

Menos de 5 anos 06 66,67

Mais de 5 anos 03 33,33

Mais de 10 anos 00 0

TOTAL 9 100%

4 – Você utiliza o lúdico no tratamento pedagógico dos conteúdos?

TABELA 04

LÚDICO SIM OU NÃO?

Variáveis Freqüência Porcentagem (%)

Sim 04 44,44

Não 00 0

Às vezes 05 55,56

TOTAL 9 100%

O jogo é um caso típico das condutas negligenciadas pela escola

tradicional, dado o fato de parecerem destituídas de significado

funcional. (Jean Piaget)

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Desvendar o novo representa um desafio lúdico para o sujeito, seja esse

novo um conhecimento material ou lógico, assim o jogador estará se apropriando

ludicamente do conhecimento veiculado pelo jogo.

É através do conhecimento das regras e do domínio do jogo por parte

dos alunos e da sensibilidade do educador em gerar desafios e descobrir os seus

interesses que o potencial didático de um jogo pode ser concretizado, pois a

ludicidade decorre da interação com um dado conhecimento, sendo, portanto,

subjetiva.

5 – Na escola que você trabalha os professores usam esse recurso didático?

TABELA 05

ATIVIDADES VIVENCIADAS

Variáveis Freqüência Porcentagem (%)

Sim 01 11,11

Não 08 88,89

TOTAL 9 100%

6 – Como educador(a) o que você acha da aplicação desta nova forma de ensino?

TABELA 06

APLICAÇÃO DO LÚDICO

Variáveis Freqüência Porcentagem (%)

Ótimo 08 88,89

Bom 00 0

Interessante 00 0

Divertido e Eficaz 01 11,11

Péssimo 00 0

TOTAL 9 100%

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Seja prudente com a novidade. Nunca a procure por ela mesma, mas pela melhoria que poderá proporcionar ao seu trabalho e à sua vida. Essa melhoria depende tanto de você como da própria novidade. (Celso Antunes)

A ludicidade recebe sua devida importância, pois facilita o aprendizado,

o desenvolvimento pessoal e social, a construção do conhecimento, a

comunicação e a expressão, sendo ela uma necessidade do ser humano que não

deve ser observada simplesmente como uma brincadeira ou diversão qualquer.

Vários educadores têm mostrado que o trabalho lúdico deve ser

valorizado, vendo através da ludicidade o principal motor do desenvolvimento,

promovendo a autoconfiança, permite à criança experimentar o mundo sem medo.

7 – Em sua opinião, o rendimento dos educandos é maior com esta metodologia,

ou com o tradicional?

TABELA 07

AULAS TRADICIONAIS OU ENSINAR BRINCANDO?

Variáveis Freqüência Porcentagem (%)

Com o lúdico 07 77,77

Com o tradicional 00 0

Ambos 02 22,23

TOTAL 9 100%

A relação entre a imaginação e os papéis assumidos é muito importante

para o ato de brincar. Ao mesmo tempo que a criança é livre na sua imaginação,

ela tem que obedecer às regras sociais do papel assumido.

A brincadeira é uma atividade sócio-cultural, pois se baseia nos valores

e hábitos de um determinado grupo social, onde as crianças tem a liberdade de

escolher com o quê e como elas querem brincar. Para brincar as crianças utilizam-

se da imitação de situações conhecidas, de processos imaginativos e da

estruturação de regras.

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A avaliação tradicional neste momento não será questionada e

continuará valendo como processo final realizado para obtenção de resultados,

porém não será a única, e caberá ao professor direcioná-la, já que este precisará

levar em consideração aspectos como série, conhecimento pleno do grupo,

metodologia, espaço físico, tempo, dentre outros.

8 – Os materiais pedagógicos utilizados em sua escola, já vêm prontos ou são

confeccionados pelos alunos utilizando sucatas em sala de aula?

TABELA 08

CONFECÇÃO DOS MATERIAIS

Variáveis Freqüência Porcentagem (%)

São fornecidos pela

escola 00 0

São confeccionados

pelos alunos em sala de

aula utilizando sucata

00 0

Uns são, outros não. 09 100

TOTAL 09 100%

Tendo base as orientações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (1996) deve-se ter claro que os materiais didáticos pedagógicos

necessitam estar de acordo com as finalidades propostas.

Acredita que os professores precisam utilizar metodologias que, de

forma permanente, estimulem a pesquisa, a experimentação e a resolução de

problemas, uma vez que tais condições podem ser decisivas tanto para a

construção/reconstrução de conhecimentos quanto para a mobilização de diversas

competências cognitivas superiores.

Como bem afirma Freire (1996, p. 32), “não há ensino sem pesquisa

nem pesquisa sem ensino”, ou seja, o professor precisa o tempo todo, de forma

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crítica e seletiva, estar buscando novos conhecimentos, precisa ousar, correr

riscos, para que efetivamente haja educação.

9 – E o alunos, que acham de aprenderem brincando?

TABELA 09

APRENDER BRINCANDO

Variáveis Freqüência Porcentagem (%)

Ótimo 08 88,89

Interessante 00 0

Divertido 01 11,11

Indiferente 0 0

TOTAL 9 100%

“Há um mundo a ser descoberto dentro de cada criança e de cada

jovem. Só não consegue descobri-lo quem está encerrado dentro do seu

próprio mundo”. (Augusto Cury)

Os educadores e auxiliares cumprem um papel fundamental nas

instituições quando interagem com as crianças através de ações lúdicas ou se

comunicam através de uma linguagem simbólica, estando disponíveis a brincar.

A brincadeira como atividade social específica é vivida pelas crianças

tendo por base um sistema de comunicação e interpretação do real, que vai sendo

negociado pelo grupo de crianças que estão brincando. Mesmo sendo uma

situação imaginária, a brincadeira não pode dissociar suas regras da realidade.

A brincadeira é atividade sócio-cultural, pois se origina nos valores e

hábitos de um determinado grupo social, onde as crianças têm a liberdade de

escolher com o quê e como elas querem brincar. Para brincar as crianças utilizam-

se da imitação de situações conhecidas, de processos imaginativos e da

estruturação de regras.

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A brincadeira é, assim, um espaço de aprendizagem significativa para a

criança. A finalidade de trabalhar o lúdico é que a criança viva o presente com

todos seus direitos.

Na busca da superação da escola castradora e excludente é

fundamental que o educador considere toda a riqueza da cultura lúdica infantil, e

todo repertório corporal que a criança traz consigo para a escola. É através do

lúdico que a criança vive seu próprio corpo, se relaciona com o outro e o mundo

ao seu redor. A utilização do lúdico na escola caracteriza-se com um recurso

pedagógico riquíssimo na busca da valorização do movimento, das relações,

solidariedade. O lúdico é uma necessidade humana e proporciona a integração

com o ambiente onde vive, sendo considerado como meio de expressão e

aprendizado.

Brincar é um ato criador. Quando olhamos para a criança escutamos

seus raciocínios ou observamos seus comportamentos, podemos notar que toda

sua vida é iluminada pelo lúdico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação em seus primeiros passos, na fase infantil, é a aquisição mais

importante da criança, pois é a base que servirá de sustentabilidade e equilíbrio

para maior aprimoramento no futuro.

É importante que a criança vivencie com prazer a socialização com

os colegas de onde advêm a troca de experiências que gera conhecimentos, que

amplia seus horizontes. Nesta fase a criança aprende e adquire seu significado.

Neste contexto conclui-se que a ludicidade além de tornar os conteúdos

agradáveis, se traduz numa ferramenta indispensável para uma aprendizagem

significativa, proveitosa continuada e prazerosa.

A criança, ao brincar, cria seu próprio mundo, seus desafios, limites e cria

da mesma forma caminhos para vencer as barreiras representadas por seus

próprios personagens, e a cada desafio vencido constitui uma vitória importante

para ela que se sente capaz e sujeito de seu próprio conhecimento.

É importante relatar sobre a contribuição de que o brinquedo é produto da

cultura, possui dimensão e função social, inserido em um sistema que lhe confere

razão de ser. Transmite um sistema de significados, que permitem compreender

determinada sociedade e cultura. No brinquedo, o valor simbólico torna-se

preponderante a função, a criança manipula livremente, sem estar condicionado

às regras ou a princípios de utilização de outra natureza, sendo a função do

brinquedo a brincadeira. Esta escapa a qualquer função precisa e é, esse fato que

a definiu em torno das idéias de gratuidade e até de futilidade. Mas o que

caracteriza mesmo a brincadeira é que ela pode fabricar seus objetos, desviando

de seu uso normal de objetos que cercam a criança. A brincadeira é livre e não

delimitada e é desencadeada pelo brinquedo. Este possui funções sociais,

podendo ser suporte de relações afetivas, de brincadeiras e de aprendizagem e

também o brinquedo é uma fonte de apropriação de imagens e de representação.

No entanto, o brinquedo é utilizado e interpretado no interior da cultura de

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referência da criança e nunca com algo separado. Percebe-se que na brincadeira

a criança se relaciona com conteúdos culturais que ela reproduz e transmite, dos

quais ela se apropria e lhes dá uma significação: é a entrada na cultura, tal como

ela existe num dado momento, mas com todo seu peso histórico.

Quanto ao significado de jogo e brincadeira o que se tem em comum é o

uso que das regras, mas também é muito divertimento, como por exemplo, o jogo

de bola.

No entanto, o estudo sugere a partir dos resultados ora apresentados, e

das leituras que os jogos precisam ser mais bem pensados no contexto de

desenvolvimento das crianças e adolescentes. Este aspecto se explica devido ao

interesse dos sujeitos pelo futebol, pois se trata de um grupo que vive em um

espaço horizontalizado, favorecendo o lazer com poucos recursos. Outro dado

importante se verifica no trabalho para quem os brinquedos possuem um diálogo

simbólico e íntima relação com o povo e com a cultura e este tem uma

especificidade na vida mental e emocional da criança. É um instrumento de

transmutação da realidade, algo que a transpõe a um mundo particular, dominado

pelo simulacro de sua própria cultura infantil. São importantes, também, as

contribuições que compreendem o brinquedo como produto da cultura, sendo que

este possui uma função social, inserido em um sistema que lhe conferem razão de

ser.

Então, conclui-se que é necessário compreender o funcionamento social e

simbólico do brinquedo, bem como os efeitos do brinquedo sobre a criança, esta

pesquisa sugere que é muito importante precisar com mais clareza algumas

relações do lúdico com as crianças.

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