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15capítulo

Bionator de Balters: Individualizando a Oclusão com a Face – uma Visão Tridimensional

Cristiane Barros André | Jefferson Vinicius Bozelli

prótese dentária210

Introdução – BIonatorterapIaO Bionator de Balters (Fig. 1) é um aparelho ortopédico funcional, desenvolvido na década de 1950, usado no

tratamento da maloclusão de Classe II, com retrognatismo mandibular, confeccionado sobre os modelos ocluídos em

mordida construtiva e orientado pelo plano de Camper.

A bionatorterapia busca o equilíbrio das estruturas faciais e da dentição. É um treinamento, uma ginástica

muscular, visando através das próprias forças do organismo propiciar estímulos normais de crescimento e desenvolvi-

mento do sistema estomatognático e uma postura adequada da mandíbula. Sua ação se estende para a normalização

funcional por meio dos padrões de respiração, mastigação, deglutição e fonação, dando equilíbrio entre as muscula-

turas mastigatória, bucinadora, lingual e labial.

Respeitando o tipo facial, a individualidade de cada caso, conhecendo a fisiologia muscular e os mecanismos

de crescimento, planejamos uma correção facial mediante um diagnóstico diferencial, utilizando análises cefalométri-

cas bidimensionais (telerradiografias), e atualmente diversos softwares de reconstrução tridimensional, com o uso de

tomografias de feixe cônico (cone bean) (Fig. 2).

Independentemente da face (tipo facial), a harmonização do plano oclusal durante o tratamento ortopédico-

-ortodôntico deve ser obtida através do paralelismo ou deve apresentar pouca inclinação ao plano de Camper.1,2 A

correção do retrognatismo mandibular é mais efetiva quando o crescimento vertical e sagital da mandíbula é condu-

zido com controle rotacional.2

O Bionator de Balters, por ser um aparelho funcional sem elementos ativos, pode ser usado por pacientes

mesofaciais, braquifaciais e dolicofaciais, pois o controle do plano oclusal é guiado pelo tipo facial de cada paciente,

devido a seu manejo por meio de desgastes seletivos no acrílico e consequente erupção guiada dos dentes, devendo

influenciar favoravelmente o crescimento da mandíbula.3

A relação oclusal entre o arco superior e o inferior foi chamada por Petrovic de servossistema de “comparador

periférico”.4 Em analogia a esse conceito, Faltin utilizou o termo para definir o plano posterior de acrílico do Bionator,

considerando-o como um “novo comparador periférico”.2

Existem muitos estudos sobre a bionatorterapia que comprovam sua efetividade, porém pouco se discutiu so-

bre o manejo clínico do plano posterior de acrílico. Este capítulo utiliza como base a monografia apresentada no Curso

de Especialização em Ortopedia Facial e Ortodontia da Unip, SP.5

Figura 1. Bionator base. Figura 2. Cefalometria em 3D.

André CB, Bozelli JV 211

plano de CamperCamper definiu esse plano de referência em 1780, durante as escavações realizadas no sudoeste da Espa-

nha, observando os crânios recolhidos durante as escavações, quando eles estavam dispostos em linha reta sobre

a superfície de uma mesa e apoiados pela superfície oclusal dos dentes superiores. Identificou um plano paralelo à

superfície da mesa, tomando como pontos de referência o conduto auditivo externo e a asa do nariz (Fig. 3). Desse

modo, o plano apresentou-se paralelo à superfície oclusal dos dentes superiores. Na prática clínica, esse plano, que

liga o trágus e a asa do nariz, continua sendo usado como um plano de referência em prótese e ortopedia facial.

Buscando uma posição morfofuncional equilibrada, estável, com harmonia facial e dentes corretamente posi-

cionados em suas respectivas bases ósseas, utilizam-se como referências craniofaciais:

•planodeCamper,quevaidaespinhanasalanterioraopontosuperiordopório,sendorepresentadodotrá-

gus à asa do nariz no tecido mole (Fig. 4); e

•planooclusalfuncional,quevaidaincisaldosincisivosatéadistopalatinadoprimeiromolarsuperior,queserá

posicionado espacialmente com um plano horizontal da face (Fig. 4).

Os planos de Camper e Frankfurt são cons-

tantes e independem da idade, diferentemente do

plano oclusal, que sofre influência da dentição.6 Os

planos de Frankfurt e Camper são bem correlaciona-

dos entre si, porém se sugere substituir a referência

do plano de Frankfurt (em tecido mole) pelo plano de

Camper, pois a localização deste na superfície lateral

da face é mais fácil.6

Dessa forma, sua transferência aos modelos

oferece uma individualização no diagnóstico e no pla-

nejamento ortopédico facial-ortodôntico, ou seja, uma

visualização tridimensional da oclusão com a face do

indivíduo.

Figura 3. Correlação do plano de Camper com o plano oclusal.

Figura 4. Demonstração tridimensional do plano de Camper com o plano oclusal. Observar assimetria facial no sentido vertical.

Figura 5. Transferidor do plano de Camper (aço inoxidável) e rolete de cera 7 aquecida disposta sobre o plano oclusal superior.

prótese dentária212

tIpos faCIaIsA cefalometria derivou-se da antropometria, que

se utilizava de espécimes de crânio seco para aferir me-

didas faciais e cranianas.7 Com o advento do cefalos-

tato,8,9 as radiografias tornaram-se padronizadas, assim

viáveis para a avaliação do crescimento e desenvolvi-

mento craniofacial e controle de terapias ortopédicas

faciais e ortodônticas. Portanto, a cefalometria é uma

importante ferramenta para quantificar, classificar, com-

parar e comunicar dados obtidos nas telerradiografias,10

imprescindível para a classificação dos tipos faciais.

O índice VERT tem a finalidade de avaliar a

quantidade de crescimento vertical de um indivíduo,11

visto que o primeiro passo para a elaboração do diag-

nóstico é a classificação do tipo facial (Fig. 6). A de-

terminação do tipo facial é importante na previsão de

crescimento facial e na determinação no plano tera-

pêutico. Existem três tipos faciais básicos: mesofacial,

braquifacial e dolicofacial.

mesofacialEste padrão facial é caracterizado como médio, os terços da face estão equilibrados. Também pode ser deno-

minado como face média, face harmônica ou padrão normal (Fig. 7a).12

Braquifacial Este padrão facial é caracterizado pelo crescimento facial horizontal, em que a altura facial inferior e o ângulo

mandibular (goníaco) encontram-se diminuídos, e a base posterior do crânio mais longa. Nesse padrão facial, a muscu-

latura é forte, os músculos masseteres estão encurtados e hipertônicos. O lábio superior pode estar afinado e apoiado

no lábio inferior devido à pouca altura facial inferior. Encontram-se outras denominações para esse tipo facial, como hi-

podivergente, face curta, mordida profunda, ângulo baixo, rotação anti-horária, provertido e padrão horizontal (Fig 7b).12

Figura 6. Índice VERT.Este índice é compreendido por cinco variáveis angulares:•ângulodoeixofacial;•ângulodaprofundidadefacial;•ângulodoplanomandibular;•ângulodaalturafacialinferior;e•ângulodoarcomandibular.

Figura 7a. Mesofacial. Figura 7b. Braquifacial. Figura 7c. Dolicofacial.

André CB, Bozelli JV 213

dolicofacial Este padrão facial é caracterizado pelo crescimento vertical, em que a altura facial inferior encontra-se aumen-

tada, com o terço inferior mais longo, dificultando o selamento labial, com uma distância interlabial acentuada. A mus-

culatura é estirada, e o posicionamento da língua fica muito distante do palato duro. O ângulo mandibular (goníaco) é

mais aberto, e a base posterior do crânio mais curta. Pode ser denominado como hiperdivergente, face longa, mordida

aberta, ângulo alto, rotação horária, retrovertido e padrão vertical (Fig 7c).12

alterações do plano oclusalO plano oclusal é muito importante na ortodontia e na ortopedia facial, pois está relacionado à etiologia, diag-

nóstico e plano de tratamento de uma maloclusão, que irá definir o equilíbrio das relações oclusais, a mastigação

correta, a harmonia facial e a estabilidade do tratamento.

A inclinação do plano oclusal interfere na dinâmica dos movimentos mandibulares em combinação com a incli-

nação das guias da cabeça da mandíbula e incisal, que são os determinantes da funcionalidade da dentição durante

os movimentos bordejantes.

Estudo afirma que a utilização dos planos horizontais na cefalometria são para a determinação da posição

sagital da maxila e da mandíbula.13 Outra pesquisa complementa com a definição das desarmonias verticais e salienta

que a disposição espacial das estruturas da base do crânio interfere na posição da maxila e está relacionada com os

tipos faciais.14 O uso do Bionator leva o plano oclusal a uma harmonia desejada, pela erupção dos molares superiores

em relação aos dentes anteriores da arcada superior, criando uma rotação anti-horária do plano oclusal pelo aumento

da altura facial posterior.

A mudança de postura mandibular que o Bionator proporciona leva a uma alteração de tônus muscular e do

espaço funcional. Sendo realizados desgastes na parte posterior do acrílico, teremos alterações dentoalveolares (cres-

cimento vertical), nivelando o plano oclusal e, assim, harmonizando a curva de Spee.15,16

Estudo de Balters observou que, em pacientes com retrognatismo mandibular (Classe II), a curva de Spee

estava frequentemente aumentada.17 Para que haja o desenvolvimento adequado das estruturas faciais e da oclusão,

é imprescindível a normalização dessa curva excessiva. O Bionator de Balters, com o desgaste adequado do acrílico,

normaliza gradativamente a curva de Spee. Por isso, a importância ímpar do manejo adequado do desgaste com a

compreensão do tipo facial.

Há um protocolo que visa à restrição dos molares inferiores com a intenção de anteroinclinar o plano oclusal,

pela liberação dos molares superiores com os desgastes no acrílico, após a alteração esquelética em pacientes dolico-

faciais.3 Observando aumento significativo da altura alveolar inferior em função do crescimento do ramo da mandíbula,

melhora na inclinação do plano oclusal, como fator de estabilidade da nova posição da mandíbula, sendo uma altera-

ção de plano oclusal de retroinclinado para anteroinclinado benéfica, após resposta esquelética determinada.

Pesquisa avaliou as alterações do plano oclusal em telerradiografias em norma lateral no tratamento de ma-

loclusões de Classe II, 1ª divisão, com Bionator de Balters, em pacientes dolicofaciais, mesofaciais e braquifaciais.15

Concluiu que o controle do plano oclusal na bionatorterapia, devido a seu manejo, conforme o tipo facial de cada

paciente, por meio de desgastes seletivos no acrílico e consequente erupção diferenciada dos dentes, pode influenciar

favoravelmente o crescimento geral da face em cada tipo facial. Nos pacientes dolicofaciais, o plano oclusal apresen-

tou significante giro horário; nos pacientes mesofaciais, o plano oclusal não apresentou alterações significantes, exceto

na variável plano de Camper/plano oclusal; e nos pacientes braquifaciais, o plano oclusal evidenciou significante giro

em sentido anti-horário.

Nos casos de pacientes portadores de Classe II com retrognatismo mandibular, a correção basal e o equilíbrio

da inclinação do plano oclusal são alcançados seguindo algumas recomendações sobre como executar a transferên-

prótese dentária214

cia do plano de Camper, a mordida de construção e quando, como e em quais elementos dentários devemos realizar

o desgaste do comparador periférico (acrílico). Esses tópicos foram elucidados no trabalho de Pinheiro.5

orIentações para a ConfeCção e o desgaste do plano de aCrílICo de aCordo Com o tIpo faCIal

O Bionator de Balters atua como um dispositivo funcional, sem elementos ativos. A correção anteroposterior (no

avanço) não deve exceder 4 mm, se a discrepância estiver aumentada, indicando confecção de novo aparelho. No ga-

nho vertical, não deve exceder 4-5 mm, baseando-se na altura de desoclusão e no contato topo-topo dos incisivos.16,18

Os desgastes do acrílico devem respeitar as seguintes premissas:

a. braquifacial: indicado para desgaste – observar o ganho de altura da dentição, lembrando que o desgaste

inicia-se sempre pelo último dente posterior;

b. mesofacial: observar sequência de erupção e ganho vertical dos dentes quando necessário; e

c. dolicofacial: desgastar até o plano de Camper, se necessário, para a manutenção da altura da dentição e

harmonia do plano oclusal.

Em todos os tipos faciais, são de suma importância a observação do período e a fase de erupção dos dentes

permanentes. O sucesso na terapia com o aparelho Bionator de Balters está no respeito à fisiologia oral do paciente,

no exercício miofuncional e na adaptação ao novo comparador periférico. Os desgastes no acrílico devem harmonizar

o plano oclusal tridimensionalmente, levando a uma oclusão normal nos três planos do espaço. A melhora miofuncio-

nal, a correção do retrognatismo mandibular e o consequente ganho em harmonia facial fazem do Bionator de Balters

um dispositivo ortopédico facial extremamente útil na clínica infantil e de adolescentes, pois a missão de todos os

profissionais que trabalham com crescimento e desenvolvimento da face é proporcionar sorrisos estáveis, duradouros

e, principalmente, encantadores!

Caso ClínICo No caso a seguir, o tratamento da Classe II (mandibular) foi realizado com o aparelho Bionator de Balters,

durante o período de 18 meses. A paciente, 8 anos e 11 meses de idade, do sexo feminino, apresentava uma Cl II

dentária e mandibular, aumento da curva de Spee, sobressalência e sobremordida acentuadas. Na avaliação funcional,

apresentava ausência de competência labial e respiração mista (bucal e nasal).

Figura 8a. Figura 8b. Figura 8c.

André CB, Bozelli JV 215

Figura 10a.

Figura 8d.

Figuras 9a-c. Fotos intrabucais com o aparelho Bionator de Balters em posicionamento.

Figura 8g.

Figuras 8a-k. Fotos iniciais intraorais e extraorais, para o diagnóstico ortopédico facial. Radiografia panorâmica e telerradiografia em norma lateral e posteroanterior iniciais respectivamente. Utilizadas para o diagnóstico terapêutico.

Figura 10b.

Figura 8e.

Figura 8h.

Figura 10c.

Figura 8f.

Figura 8i.

prótese dentária216

Figura 10d.

Figura 10g.

Figuras 10a-k. Fotos intraorais e extraorais finais após o término da terapia ortopédica facial. Radiografias finais. Observar a melhora da harmonia anteroposterior na telerradiografia em norma lateral.

Figuras 11a-b. Traçado e análise cefalométrica de Ricketts finais. Avaliação do ganho de harmonia facial, principalmente com o incremento de mandíbula tanto no sentido vertical como no anteroposterior. Adequação das inclinações dentárias superiores e inferiores, e giro anti-horário do plano oclusal.

Figura 10e.

Figura 10h.

Figura 10f.

Figura 10i.

André CB, Bozelli JV 217

IndIvIdualIzação no dIagnóstICo e planejamento Com a transferênCIa do plano de Camper aos modelos

O plano de Camper é uma ferramenta importante. Usada respeitando-se as características individuais do perfil

humano, tem auxiliado protesistas e ortodontistas nos diagnósticos e planos de tratamento, transferindo com um

rolete de cera na superfície oclusal superior pelo transferidor de plano de Camper, por ser paralelo à linha ouvido-nariz

(Fig. 5).

Com exame visual de bons modelos gnatostáticos, é possível evidenciar todas as lesões sintomáticas de de-

senvolvimento e função através das assimetrias, tanto transversais como anteroposteriores e verticais, ao se verificar

a existência de paralelismo ou falta dele em relação ao plano de Camper.19

Os modelos ortodônticos devem ser confeccionados segundo a orientação do plano de Camper, para observar

os desvios do plano oclusal do paciente.18

Os modelos confeccionados devem ter uma orientação que admita uma comparação posterior, portanto de-

vem ser alinhados segundo a linha ouvido-nariz, que é paralela à base ou superfície de mastigação, e ao mesmo tem-

po fator determinante no desenvolvimento. Estando o desenvolvimento e a configuração da dentição orientados sobre

a base da mastigação, faz-se necessário o equilíbrio na horizontal, o que não quer dizer que seja plano.17

Com tal razão, do recorte de modelo deve fazer-se a base da mastigação, a fim de que, no final, seja possível

observar e controlar as alterações da base de mastigação. Essa forma de orientação e recorte assegura uma pro-

porção comparativa, mas não significa um eixo absoluto, já que o crescimento sobre a base da mastigação permite

modificações que não asseguram uma comparação medidora.

reCortes dos modelos e montagem em vertICuladorO rolete de cera é utilizado para guiar os recortes dos modelos de gesso, padronizando a confecção deles, po-

sicionando os dentes e suas bases ósseas às estruturas craniofaciais, e oferecendo um grande valor para o diagnósti-

co e planejamento da terapêutica protética, ortodôntica/ortopédica facial a ser utilizada, assim como para a confecção

de próteses e aparelhos que corrijam ou orientem o plano oclusal em busca da normalidade morfofuncional e estética,

dentro de um contexto oclusal dinâmico.

Apoiamos o modelo superior sobre a mordida de cera com a transferência do plano de Camper e utilizamos o

paralelômetro para marcar uma linha que determinará o recorte da base do modelo superior correspondente à trans-

ferência da linha ouvido-nariz.

Na sequência, ocluímos os modelos pela relação habitual ou construtiva, viramos o modelo superior para baixo,

para que fique paralelo ao plano de Camper e, assim, deixamos o modelo inferior para cima e marcamos a linha que

Figura 12. Figura 13.

prótese dentária218

determinará o recorte do modelo inferior, também paralelo ao plano de Camper (Fig. 12).

Com os modelos corretamente recortados, preenchemos a parte inferior do verticulador com gesso e colo-

camos o modelo inferior. Nessa fase é de total importância, para não se perder o paralelismo, que os dois lados dos

modelos toquem a base do verticulador.

Para montar o modelo superior no verticulador, coloca-se entre eles o registro de cera em habitual ou constru-

tiva, e assim é fixado o modelo superior com gesso (Fig. 13).

elementos do BIonator e suas funçõesA. Alça palatina: é a sustentação do corpo do Bionator, inserida na base da resina acrílica entre o palato e a

língua, orientando seu posicionamento (Fig. 14).

B. Alça vestibular – labial: estimula o selamento labial (Fig. 15).

C. Alça vestibular – bucinadora: evita a interferência dos tecidos moles das bochechas sobre as arcadas den-

tárias, pois ocupa o espaço entre as arcadas dentárias e o músculo bucinador (Fig. 15).

D. Plano de oclusão: paralelo ao plano de Camper, orienta os dentes após sua erupção (Fig. 15).

E. Apoios verticais: posicionam a oclusão funcional, evitando desvios da mandíbula no plano vertical. Liberam

a expansão passiva dos elementos dentários (Fig. 16).

F. Apoios interproximais: mantêm a relação anteroposterior e devem ser preservados para a estabilidade do

aparelho (Fig. 16).

Figura 14. Figura 15. Figura 16.

ConfeCção do BIonator Com medIdas preestaBeleCIdasModelos devidamente recortados seguindo o plano de Camper e articulados com a mordida de construção

(Fig. 17).

A alça palatina é confeccionada com fio 1,2” na região dos primeiros pré-molares ou primeiros molares decídu-

os ao centro dos primeiros molares superiores (Fig. 18).

A alça vestibular é confeccionada em fio 0,9”, contornada, e determinado seu tamanho seguindo a arcada

inferior (distal de primeiro molar inferior) (Fig. 19).

Determinada essa medida, é feita uma curva, que pode variar de 12 mm a 15 mm de altura (Fig. 20).

Posiciona-se a alça na direção da cúspide mesial de primeiro molar superior à distal de canino superior (Fig. 20).

A alça com altura menor que 12 mm não evita a interferência dos tecidos moles das bochechas sobre as

arcadas dentárias, e uma alça com altura maior que 15 mm permite que os tecidos moles passem pela alça, e assim

também não evitam a interferência dos tecidos moles.

A dobra de retenção do fio e referência do plano de Camper deve ser de dois terços para a parte superior (po-

sicionamos a alça vestibular bucinadora na cervical dos dentes posteriores superiores) e de um terço para a parte infe-

rior, ou seja, para uma alça de 15 mm de altura, são marcados 10 mm para o superior e 5 mm para o inferior (Fig. 21).

BD

CE

F

André CB, Bozelli JV 219

Figura 22.

Figura 19.

Figura 17. Figura 18.

Figura 23.

Figura 20.

Figura 24.

Figura 21.

Com a alça vestibular paralela (igual à da região de canino a molares), dobramos o fio em sua região de reten-

ção e também de limite do plano de Camper (Fig. 22).

De ambos os lados a marcação é feita, deixando visível a variação do plano oclusal do paciente entre os lados

esquerdo e direito (Fig. 23).

O posicionamento do arco é definido na região cervical superior, marcada em lápis, cópia guiada pelo parale-

lômetro (Fig. 24).

Fixa-se a alça com cera sobre a linha definida pelo paralelômetro e faz-se a conferência do paralelismo da alça

em seus três segmentos: superior (Fig. 25a), retenção (Fig. 25b) e inferior (Fig. 25c).

Bionator é acrilizado em três etapas, para termos menor volume de resina. Placa inferior, placa superior e plano

oclusal e seus limites são definidos com brocas de tungstênio de corte cruzado fino (Fig. 26).

A resina na região anteroinferior deve ter alívio suficiente para não tocar na região lingual dos incisivos inferiores,

pois a estabilidade do aparelho está no engrenamento do acrílico com os dentes posteriores (Fig. 27).

O centro da oclusal superior é o limite padrão de desgaste oclusal (Fig. 28a). O desgaste da oclusal (superior e

inferior) é realizado com a broca perpendicular (Fig. 28b), deixando apenas o apoio das cúspides palatinas e um plano

inclinado, que leva a uma expansão passiva (Fig. 28c).

prótese dentária220

A linha usada para limitar os desgastes é definida pelo plano de Camper (região do segmento de retenção) e

guiada pelo paralelômetro.

Realiza-se um desgaste na resina definida pelo plano de Camper por vestibular e é inserido um grafite nesse

espaço para melhor visualização, fixado com resina (Fig. 29).

A introdução da referência visual do plano de Camper no Bionator facilita a visualização dos desgastes seleti-

vos. Essa possibilidade foi apresentada primeiramente no 1º Congresso da Associação Brasileira de Ortodontia (Abor)

por Camarote e colaboradores.20

Figura 25a.

Figura 28a.

Figura 26.

Figura 29a.

Figura 25b.

Figura 28b.

Figura 27.

Figura 29b.

Figura 25c.

Figura 28c.

Figura 29c.

André CB, Bozelli JV 221

Figura 30a. Figura 30b. Figura 30c.

finalizando a alça vestibular após o acabamento e o polimentoA sequência de dobras da alça vestibular labial (Fig. 30) segue pelo arco inferior com uma dobra para o sentido

superior, cerca de 1 mm à frente do segmento de retenção (Fig. 30a). De 6 mm a 8 mm, confeccionamos outra dobra

para o sentido anterior (ajuste da alça vestibular direcionado ao selamento labial ideal) (Fig. 30b).

A alça vestibular não deve pressionar os incisivos (Fig. 30c).

Após as dobras da porção labial da alça vestibular, devemos checar o paralelismo do Bionator, em cada seg-

mento e de ambos os lados, pois podem sair de posição durante o processo de acabamento e polimento.

orIentações para desgaste do plano oClusalO manuseio clínico do plano posterior de acrílico consiste em desgastá-lo para que os dentes permanentes

erupcionem em direção ao plano oclusal, respeitando o paralelismo ao plano de Camper. O desgaste de suas pistas

interoclusais é diferenciado para cada tipo facial.

O aparelho pode ser confeccionado com um desgaste inicial pelo técnico em prótese dentária, mediante pedi-

do do ortodontista, utilizando o protocolo de desgastes por meio de símbolos (Fig. 31).

O alívio por lingual é imprescindível para a extrusão dos dentes.

Figura 31. Fonte: Pinheiro (2008).

Figura 33. Dentes em fase de erupção ativa devem ser liberados respeitando-se a cronologia de erupção dentária.

Figura 32. Dentes decíduos usados como apoio.

Figura 34. Manter sempre um equilíbrio do aparelho com os apoios formando um tripé.

prótese dentária222

ConClusãoO tratamento da Classe II mandibular com o aparelho Bionator é eficiente e duradouro. Reposiciona a corre-

lação maxilomandibular no sentido anteroposterior e vertical. Ajusta alterações do plano oclusal tridimensionalmente,

adequando o paciente em normo-oclusão. A adequação dos desgastes em acrílico, respeitando o tipo facial de cada

indivíduo e observando o plano de Camper, possibilita a resposta positiva no tratamento das maloclusões de Classe

II, com componentes ósseas e miofuncionais. A correta confecção do aparelho, verificando princípios básicos desse

dispositivo, proporciona eficácia, estabilidade e, principalmente, uma excelente e imprescindível relação: entre ortope-

dista e ortotécnico.

A missão dos profissionais é proporcionar funções corretas, uma face harmônica e sorrisos encantadores.

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Figura 35. Utilizar as cúspides linguais como referência, liberando a expansão passiva dos elementos dentários.

Figura 36. Os esporões mantêm a relação anteroposterior, preservando a estabilidade do aparelho.

Figura 37. Liberar os dentes que estiverem mais longe do paralelismo do plano de Camper, de acordo com o tipo facial.

André CB, Bozelli JV 223

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