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C Á L I C E D E S A N G U E = = = = = = = = = = = = = = CAPÍTULO 21 (NOVELA EM 30 CAPÍTULOS) “Persona non grata” ORIGINAL de: Carlos Lira e João Sane Malagutti Escrita Por: Carlos Lira E João Sane Malagutti PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO: 1. LEOFÁ (José de Abreu) 2. SUMÉRIA (Elisa Lucinda) 3. SALVADOR (Antônio Fagundes) 4. ÚRSULA (Bianca Bin) 5. JÚLIO (Chay Suede) 6. EURICO (Alexandre Nero) 7. MANFRED (Matheus Nachtergaele) 8. GUTEMBERG (Humberto Carrão) 9. LEOPOLDINA (Regina Duarte) 10. PETRÔNIO (Sidney Sampaio) 11. QUITÉRIA (Nívea Maria) 12. DIONE (Sophie Charlotte) 13. FILIPA (Totia Meireles) 14. PILAR (Malú Galli) 15. JOSÉ (Irandhir Santos) 16. JOÃO (Gabriel Godoy) 17. JADE (Camila Queiroz) 18. KEILA (Nanda Costa) 19. PÂMELA (Adriana Birolli) 20. VALDIR (Paulo Rocha) 21. FIGURANTE RECEPÇÃO (jovem) 22. MOTORISTA (Júlio Rocha) Direitos autorais pertencentes à CARLOS LIRA e JOÃO SANE MALAGUTTI ®

CAPÍTULO 21 · 2018-02-22 · ... como ser prefeito? (T) Além de corno, vai se tornar o fantoche daquela oxigenada ... Não quer que eu fique? SALVADOR: - Sim. ... Acho que ele

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C Á L I C E D E S A N G U E

= = = = = = = = = = = = = =

CAPÍTULO 21 (NOVELA EM 30 CAPÍTULOS)

“Persona non grata”

ORIGINAL de: Carlos Lira e

João Sane Malagutti

Escrita Por: Carlos Lira E

João Sane Malagutti

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

1. LEOFÁ (José de Abreu)

2. SUMÉRIA (Elisa Lucinda)

3. SALVADOR (Antônio Fagundes)

4. ÚRSULA (Bianca Bin)

5. JÚLIO (Chay Suede)

6. EURICO (Alexandre Nero)

7. MANFRED (Matheus Nachtergaele)

8. GUTEMBERG (Humberto Carrão)

9. LEOPOLDINA (Regina Duarte)

10. PETRÔNIO (Sidney Sampaio)

11. QUITÉRIA (Nívea Maria)

12. DIONE (Sophie Charlotte)

13. FILIPA (Totia Meireles)

14. PILAR (Malú Galli)

15. JOSÉ (Irandhir Santos)

16. JOÃO (Gabriel Godoy)

17. JADE (Camila Queiroz)

18. KEILA (Nanda Costa)

19. PÂMELA (Adriana Birolli)

20. VALDIR (Paulo Rocha)

21. FIGURANTE RECEPÇÃO (jovem)

22. MOTORISTA (Júlio Rocha)

Direitos autorais pertencentes à CARLOS LIRA e JOÃO SANE MALAGUTTI ®

CENA 01. RECEPÇÃO DO HOTEL/ESCRITÓRIO. INTERNA. DIA

Recepção. Retomada. Close: Funcionário(a) acuado(a).

KEILA: (apertando) – E, então, vai chama-lo

ou precisarei tomar uma providência para que

as pessoas venham até mim?

FUNCIONÁRIO(A): (acuado(a)) – Eu não posso...

Se aguardar uns minutinhos... Garanto que a

reunião se encerra logo; prometo!

KEILA: (entredentes) - Nenhum minutinho! Não

sabe do que sou capaz! Pode vir segurança,

polícia, o que for! Só sossego depois que

Leofá cumprir o que me prometeu! Ou você

interrompe essa merda ou... (aumenta o tom)

Começo a falar tão alto que as pessoas vão

ficar assustadas.

Suspense. Pessoas olham de todos os lados.

Fusão com:

ESCRITÓRIO:

Eurico irado com Júlio.

EURICO: (rebate) – Besteira que está falando,

rapaz! (irritado) Controlo a política de

Tetembau como essa palma da mão (mostra).

JÚLIO: (revida) – Não parece! Tetembau está

se afundando.../

LEOFÁ: (cheio) - Chega, Júlio! Cala-te! Creio

termos um acordo sobre silêncio!

Júlio engole irritado.

(Cont’d)(à Eurico) Qual o real motivo de nos

trazer aqui, Eurico? Vamos direto ao assunto

e espero que seja relevante. Quero evitar me

expor às línguas dos miseráveis dessa cidade

depois do que aconteceu.

EURICO: - É sobre o que aconteceu. (senta-se)

O motivo é Briane! (abaixa a voz) Ela me viu

sair com o... Você sabe! E, está usando essa

informação contra mim. Temo que ela dê com a

língua nos dentes.

Leofá preocupado.

(Cont’d) Tenho que traçar um plano para calá-

la, mas, estou sem cabeça. Preciso de ajuda!

LEOFÁ: (hostil) – Burro de merda!

EURICO: (justifica) – Não tive tempo para me

preparar, Leofá! Você ligou do nada e pediu

reforços. Foi tudo muito rápido. Fiz o melhor

que pude!

LEOFÁ: (revolta) – Não, não fez! Tanto é que

foi visto pela ‘fácil’ de sua mulher! Júlio

tem razão! Não consegue controlar a própria

mulher, como ser prefeito? (T) Além de corno,

vai se tornar o fantoche daquela oxigenada

burra.

EURICO: (baqueado) – Do que está falando?

Clima pesado.

LEOFÁ: (sorri) - Oras Eurico, não se faça de

sonso! Vai dizer que não sentes o peso desses

galhos sobre tua cabeça?!

Júlio leva os dedos à cabeça como chifres e provoca Eurico.

(Cont’d) É muita areia pro seu caminhãozinho!

Achou que ia passar toda a sua vida, ileso?

(T) Idiota! Pisoteou na mulher o tempo todo e

agora ela encontrou uma forma de lhe devolver

todo o mal, é óbvio que vai usar.

JÚLIO: (pisa) – Além de burro, é brocha!

Leofá se levanta e caminha até ele.

LEOFÁ: (sádico) - Aproveito esta ocasião para

retirar meu apoio à você como o candidato de

nosso partido. (T) Sua imagem de fracasso só

nos faz afundar no cenário político! Fere a

nossa honra e integridade.

Eurico se levanta e o enfrenta.

EURICO: – Você não pode fazer isso!

LEOFÁ: – Posso e vou! Você não passa de um

mero joguete em nossas mãos!

EURICO: (tentando) - Não pode! Não depois de

tudo que fizemos juntos... (T) Se me deixar

nesse barco para afundar, afundamos junto!

(ameaça) Abro a minha boca para contar tudo o

que sei, Leofá! Cada vírgula, cada detalhe de

nossas ações. Cada centavo de propina que deu

pelos seus interesses particulares.

Leofá o pega pelo colarinho e aponta a arma em seu nariz.

LEOFÁ: (ameaça) – Um respingo do assassinato

sobre mim ou minha família e você será um

homem fora de circulação.

Eurico o enfrenta com o olhar. Batidas à porta.

EURICO: - Não seria inteligente de sua parte

atirar em mim aqui! Todos saberão.

LEOFÁ: (acuado) – Canalha!

EURICO: (sorri) – Achou que não ia aprender

nada contigo?

Batidas. Close: Júlio estupefato. Leofá o solta. Eurico

arruma o colarinho Funcionário(a) abre a porta.

FUNCIONÁRIO(A): - Perdão, Senhores. Tem uma

mulher se apresentando como alguém do. (T)

Quer falar urgente com o Senhor Leofá.

Júlio arregala os olhos e Leofá engole seco.

LEOFÁ: (desconfiado) - Isso é uma emboscada?

Foi para isso que me trouxe aqui?

EURICO: - Óbvio que não!

FUNCIONÁRIO(A): - Ela Iniciou um escândalo e

disse não sair até que o Senhor Leofá a ouça.

Eurico o olha esperando uma decisão.

LEOFÁ: (acuado) – Mande a puta entrar.

Clima de suspense.

Corta para:

CENA 02. GABINETE. INTERNA. DIA

Úrsula abraçada com o pai.

ÚRSULA: - Tem certeza? Não quer que eu fique?

SALVADOR: - Sim. Está tudo bem aqui. Achei

que a população seria mais hostil, mas,

parece que continuam confiando em mim.

ÚRSULA: (repreende) – Pai! As pessoas são vis

e traiçoeiras. (chateada) Perdi as esperanças

no seu Humano.

SALVADOR: (amigo) – Que isso, filha?! É nova

demais pra isso! O que aconteceu?

ÚRSULA: (chateada) - Gutemberg, pai. Acho que

ele tem outra!

SALVADOR: - Se refere à moça? Às vezes é só

amizade. Procure saber melhor a respeito. Ele

é novo aqui e às vezes se afeiçoou a ela, mas

isso não representa que ele não te ame.

ÚRSULA: - Tem razão. Estou sendo infantil.

Os dois apertam o abraço e carinhos.

(Cont’d) (sorri) Você é o melhor pai-amigo e

conselheiro, Seu Salvador. Vou conversar com

ele; mas, primeiro vou tomar café. Estou seca

de fome!

Dá um beijo no pai e sai.

Funde com:

CENA 03. PRAÇA. EXTERNA. DIA

Úrsula atravessa a praça e avista uma pessoa na banquinha a

comprar flores. Câmera mostra a mão sem revelar o dono. Ela

procura uma árvore para se esconder. A pessoa (corpo) passa

por perto e ela se esconde inteiramente atrás da árvore.

Após sua passagem ela sai cuidadosamente.

ÚRSULA: (chocada) – O que está fazendo aqui?

Segue a pessoa discretamente.

Corta para:

CENA 04. ESCRITORIO DE EURICO. INTERNA. DIA

Retomada da Cena 2. Keila entrando:

LEOFÁ: (levanta) – Minha querida! Que prazer

em revê-la.

KEILA: (ríspida) – Mentiras não me convencem!

Ninguém sente prazer em ver uma prostituta em

público e à luz do dia clamando por seu nome.

Leofá, Eurico e Júlio impactados.

Corta para:

CENA 05. FACHADA DO BOTECO. EXTERNA. DIA

Palmas. Desfoque. Úrsula espia do outro lado da rua perto

de um poste. Manfred com sono sai à janela e se assusta.

MANFRED: - Pois não, jovem? Quer entrar?

GUTEMBERG: - Não, não! Só queria falar com a

Pâmela! Ela está ou pode me atender?

MANFRED: - Verei pra você. (compadecido) Só

queria que soubesse que sentimos muito pela

tragédia. Estamos todos consternados!

Gutemberg sorri em simpatia. Manfred entra e grita o nome

de Pâmela. Close: Gutemberg lacrimejando limpa a lágrima.

Pâmela aparece na janela e surpresa ajeita os cabelos.

PÂMELA: - Guto! Não o esperava. Já saio aí.

GUTEMBERG: (sorri) – Eu aguardo!

Pâmela sai pelo portão.

PÂMELA: - Que bons ventos o traz! Gosto tanto

da sua presença. Fico tão feliz por vir!

Ele se aproxima e estende a mão com as flores.

GUTEMBERG: - Sei que está muito recente, mas,

não podia deixar de lhe trazer isso....

Pâmela flutuando de paixão.

(Cont’d) São pra você! Você é uma pessoa

muito especial pra mim. Aceite esse presente

de coração.

POV Úrsula: Pâmela avança pra cima dele com um abraço. Numa

bobeada ela lhe beija. Close: Úrsula lacrimejando.

ÚRSULA: (pra si) - Bem que desconfiei.

Sai correndo. Gutemberg afasta Pâmela.

GUTEMBERG: (sem jeito) - Nossa! Não esperava!

Desculpe-me.

PÂMELA: (sem graça) – O que quer dizer, Guto?

GUTEMBERG: (sem jeito) – Você é uma mulher

fantástica, especial, Pâmela, mas, confundiu

as coisas! As flores são em agradecimento

por estar do meu lado esse tempo todo e me

ajudar a tentar superar essa tristeza. Foi

muito importante o seu apoio, mas, eu tenho

uma namorada e a amo muito.

PÂMELA: (esconde a decepção) – Poxa! Entendi

tudo errado. Lógico! É só amizade.

Silêncio.

GUTEMBERG: - Está chateada comigo?

PÂMELA: (triste) – Isso passa! Eu... sempre

confundo as coisas, Guto! Isso é de mim. Em

matéria de amor, fui reprovada na faculdade.

(sorri) Sou uma pateta!

GUTEMBERG: (carinhoso) – Não é não! Quero

muito a tua amizade. Por favor, não se afaste

de mim por esse mal entendido. Não tive tempo

de conversar sobre isso antes.../

PÂMELA: (podando) – Está tudo bem, Guto! Não

se preocupe comigo. Qualquer coisa que falar

vai me fazer sentir mais culpada pelo erro. É

claro que continuaremos amigos. Isso passa!

GUTEMBERG: - Você é uma pessoa sem igual!

Guto abraça Pâmela. Close: Pâmela chateada.

Corta para:

CENA 06. ESCRITORIO DE EURICO. INTERNA. DIA

Retomada da Cena 4. Leofá alterado, anda de um lado para o

outro.

LEOFÁ: (acuado) – É muito dinheiro! É muito

mais que um homem ganha por meses de trabalho

duro!

KEILA: (ríspida) – Na hora de precisar de mim

para desligar a chave geral da caixa de força

fui necessária, agora, é muito o que peço?

Close: Júlio preocupado.

LEOFÁ: (prepotente) - Faz assim: dou-lhe um

terço do que pede e você sai por aquela porta

e finge nunca ter me visto na vida. (T) Acho

uma proposta razoável.

JÚLIO: - Veja moça! Um terço ainda é muita

grana. Dá para você fazer sua vida! Aceita!

KEILA: - Quero o valor total! Estou sendo até

razoável perto do que tenho aqui comigo! (T)

Algo que esteve presente na cena do crime e

que pode incriminar alguém.

Ela encara Júlio que fica atônito.

EURICO: (apreensivo) – Está blefando!

Keila abre a bolsa e coloca a faca enrolada sobre a mesa.

Abre o pano. Leofá fuzila Júlio com o olhar. Suspense.

(Cont’d) – Dê o que ela pede, Leofá! Para

você essa quantia não é nada!

Keila pega rapidamente a faca com o pano e põe na bolsa.

KEILA: (mente) - O pano que usei para limpar

essa faca está sob o cuidado de uma pessoa.

Ela sabe que estou aqui; e, qualquer coisa

que acontecer comigo ela pode incriminá-los

encaminhando o pano aos peritos. O sangue do

defunto será constatado. O valor que peço,

portanto, é para calar duas bocas. Creio que

não seja caro!

LEOFÁ: - Está blefando, moça!

KEILA: - Não. Não estou!

Pega o revólver e aponta para ela com ódio.

(Cont’d) Atire! Vamos! Logo estarão presos o

grande e poderoso Leofá Pimenta e a corja.(T)

o tecido contem material genético de sobra

para incriminá-los. Só limpei a lâmina, mas o

cabo está repleto de digitais de seu querido

filho. Vai ser um escândalo!

EURICO: (medroso) – Leofá! Deixe de miséria.

Pague essa moça! Termina com isso logo!

JÚLIO: (engole seco) – Faça isso, pai!

LEOFÁ: - Pra você é conveniente, Júlio! Como

foi fazer a merda de deixar essa faca cair

nas mãos dessa moça.

JÚLIO: (perdido) – Me desculpa, pai!

LEOFÁ: - Preencha o cheque, Eurico...

KEILA: (poda) – Cheque não! Dinheiro vivo!

Sou alguma trouxa para ter o cheque sustado?

LEOFÁ: - Não tenho esse dinheiro aqui.

EURICO: (vingando-se) – Tem. Tem sim, Leofá!

Aquelas malas que recolhemos da votação da

est.../

LEOFÁ: (poda) – Cale-se!

EURICO: - Dessa vez, não! Não vou me calar,

Leofá. Esse crime te beneficiou muito e por

isso estamos todos na mesma merda. Por mando

seu!

Eurico pega uma das malas no armário e entrega à moça.

LEOFÁ: - O que está fazendo?

EURICO: - Limpando a nossa barra!

Keila abre a mala e confere com os olhos encantados.

KEILA: - Isso deve dar! (fecha) Prometo ficar

calada se cumprirem a parte de vocês em não

me perseguir, ameaçar ou atentar contra mim.

(T) Lembrem-se... (tira a faca da bolsa e a

abana) Eu tenho isso!

Sai carregando a mala e bate a porta.

LEOFÁ: (à Eurico) – Desgraçado! Não podia ter

entregue o meu dinheiro!

Júlio se senta e respira aliviado.

(Cont’d) Meu dinheiro! Perdi uma fortuna! Por

culpa desse imbecil de meu filho.

JÚLIO: (grita) – Chega! Chega pai! (se

revolta) Eu não sou um imbecil! É melhor ela

levar o dinheiro e se calar.

LEOFÁ: - Melhor para quem?! As suas digitais

estão naquela faca!

Se levanta e bate de frente.

JÚLIO: - As minhas digitais estão! Mas, foi o

Senhor que esteve naquele bordel junto a mim.

Adentrou a casa e negociou com aquela mulher.

Entende? (acalma) Se não desse o dinheiro,

ela entregaria a todos nós!

EURICO: - Ele tem razão!

JÚLIO: - Pela primeira vez, engula o seu Ego,

pai. Não existe crime perfeito. Aliás,

ninguém é perfeito. (T) Nem o senhor...

Júlio sai e bate á porta.

EURICO: (sorri sádico) – O grande e poderoso

Leofá Pimenta derrubado por uma prostituta e

pelo próprio filho. A traição de um filho é

mais dolorosa e árdua de se carregar que um

par de chifre de mulher. Não é?!

LEOFÁ: (sem perder a pose) – Parasita!

EURICO: (joga) - Só existe uma poça de lama

nessa história; estamos todos dentro dela. Se

afogando até o pescoço. Se retirar o apoio

político de meus interesses, Leofá, todos nós

nos afogaremos de água suja.

LEOFÁ: (pose) - Tenho grana pra me levantar!

EURICO: (sorri) – O dinheiro não compra tudo.

(T) Mas, compra a mim! Então, me financie na

campanha que sei que breve teremos e, eu, lhe

ajudo a permanecer livre.

Suspense.

Corta para:

CENA 07. FACHADA DO HOTEL. EXTERNA. ANOITECER

Keila sai pela porta principal carregando a bolsa e a mala.

Para e encosta na parede. Está tremendo.

KEILA: (se acalma) – O Pior já passou! Agora

é só organizar pra sumir no mundo! (emociona)

Nunca mais terão notícias de mim!

Corta para:

CENA 08. CENÁRIO RURAL. EXTERNA. ANOITECER

Passeio pelas fazendas das famílias Bianchini e Pimenta. O

clipe remete do pôr-do-sol à noite plena. Som instrumental.

Fusão com:

CENA 08. QUARTO DE ÚRSULA. INTERNA. NOITE

Úrsula deitada. Salvador do seu lado a coloca para dormir.

ÚRSULA: (chorando) – Minha intuição estava

certa, pai. Eu vi quando ela se jogou nos

braços deles e o beijou por causa das flores

SALVADOR: (chateado) – Me parecia um bom

rapaz! É difícil essas coisas de amor, filha!

ÚRSULA: - Valoriza quem te ama, pai. Por isso

que eu te peço para cuidar bem da mamãe.

SALVADOR: (triste) – Gosto muito de tua mãe.

É amiga e companheira de grandes qualidades,

mas, não tem mais volta. A minha vida tá

presa lá atrás! (T) Preciso resolver algumas

das coisas que ficaram para ter paz!

ÚRSULA: (preocupada) – Cuidado, pai. Essa

gente dos ‘Pimenta’ não presta.

SALVADOR: - Eu sei, filha, eu sei! (T) Agora,

fique bem e durma. Amanhã é outro dia.

Beija a testa. Apaga a luz e sai. Penumbra. Úrsula chora.

ÚRSULA: - Eu ainda te amo, Gutemberg!

Corta para:

CENA 09. CORREDOR DOS QUARTO DOS PIMENTA. INTERNA. NOITE

Petrônio sai do quarto e fecha a porta. De outra porta Léo

sai e vai ao seu encontro.

LÉO: (extenuada) – Enfim, seu irmão dormiu. E

você, deveria aproveitar esta noite em casa e

descansar.

PETRÔNIO: - O sono não vem. (desabafa) Depois

do que passamos é impossível ficar em paz.

(T) Eu não gostava dele; mas, vê-lo em meio a

uma poça de sangue mudou algo em mim.

LÉO: - Um assassinato muda tudo!

PETRÔNIO: (desconfia) – Aquilo foi estranho.

As pessoas que estavam lá naquela noite não

são de visitas rotineiras. A sensação que

fica é de que isso foi armado para prejudicar

alguém. Eu sinto que algum inocente vai pagar

por isso! E o que mais me choca é que o meu

pai... digo, padrasto, morreu por nada. Muita

injustiça!

LÉO: (apreensiva) – Deixe de lado essa teoria

da conspiração para a justiça resolver. Por

favor, não se meta. Não quero perder o filho

também.

O abraça. Clima triste.

PETRÔNIO: (amargurado) – E, pensar que podia

ter feito algo para ajuda-lo e não fiz...

LÉO: (interrompe) – Não. Não tinha como saber

o que aconteceria.

PETRÔNIO: (chora) – Ele não era meu pai. Mas

foi alguém que me criou e eu neguei isso a

ele. Isso faz me sentir culpado. Um monstro!

O meu verdadeiro pai estava lá, diante o

crime do outro que foi meu pai postiço. Que

ironia do destino, não?!

LÉO:– Não se torture! Mas, já que tocou no

assunto, é a hora de se aproximar de seu pai.

Suspense.

Corta para:

CENA 10. BOTECO: QUARTO MENINAS. INTERNA. NOITE.

Tudo escuro. Keila acende o abajur e aproxima de Jade e a

vê dormindo. Abre o guarda-roupa em surdina, pega a mala em

cima e começa a colocar o dinheiro e as roupas. Quando está

fechando a mala Jade se levanta.

JADE: (surpresa) - Keila!...

Keila se assusta e encosta no guarda-roupa.

(Cont’d) Que mala é essa?

Suspense.

Corta para:

CENA 11. CORREDOR DOS QUARTO DOS PIMENTA. INTERNA. NOITE

Retoma da cena anterior. Petrônio encarando Léo.

PETRÔNIO: - Não posso chegar em Salvador do

nada e dizer: “oi, sou seu filho”!

LÉO: (reluta) – Pode. Você foi fruto do maior

amor de nossas vidas. Tenho plena convicção

que Salvador irá te amar assim que souber. Eu

sinto isso! Ao se aproximar dele vai ver que

será melhor ter um pai presente! Ele é

participativo. (T) Estaríamos juntos se não

fosse o assassinato; tudo seria diferente.

PETRÔNIO: – Nunca entendi o assassinato que

tanto falam...

LÉO: (triste) – O seu tio, irmão de Salvador,

se chamava Santiago. Um moço lindo, educado,

cavalheiro, que amava sua tia, Ludmila, a

nossa santinha, mas ele a assassinou do nada.

(peso) De forma brutal. (triste) Ninguém

nunca entendeu o motivo.

PETRÔNIO: (chocado) – Absurdo!

LÉO: – Eu sei. Essa mancha ficou sobre nossas

famílias. Seus avós me botaram para fora

daqui quando eu ainda estava grávida de ti, e

nem eu, nem eles sabiam. Foi aí que conheci o

Epitácio que nos acolheu e deu seu sobrenome.

PETRÔNIO: – Coisa louca! Sempre achei que

fosse folclore de tio Leofá por não gostar do

prefeito. Coisas políticas e tal.

LÉO: - Imagine a minha mente, filho?! Amar, e

ignorar esse amor, a vida inteira! (segreda)

mas esse amor é maior que eu. Mesmo ele sendo

irmão do suspeito assassino de minha irmã.

Que hoje, já tenho as minhas dúvidas se foi

ele mesmo! Por isso, de coração desejo que

se reaproxime de seu pai e tente ser feliz ao

seu lado.

Petrônio chateado. Léo segura o seu rosto entre as mãos.

(cont’d) Independente desse passado, verdade

ou mentira, Salvador é seu pai, meu amor! Se

há um passado sujo de sangue, isso não muda

quem você é! É um Bianchini também. Precisa

seguir as suas raízes com louros ou dores.

PETRÕNIO: (rejeição) – Ele... Esteve no

Boteco. (sorri confuso) Esteve presente no

meio daquele... daquele... crime! Isso é

demais para mim. Muitos assassinos por perto

que permeiam o meu sangue mãe. Eu não sou

assim!

Vai saindo.

LÉO: - Aonde vai?

PETRÔNIO: - Deitar a cabeça no travesseiro.

Preciso organizar as minhas ideias para saber

exatamente o que sinto e saber quem sou. (T)

Nesse momento não consigo sentir nada mais

que repulsa pelas minhas origens. (acabado)

Não sei como pode ser daqui para frente. Só

sei que há algo diferente em mim. Essa coisa

de matar é forte demais até mesmo para mim.

Boa noite!

Entra no quarto e bate a porta. Close: Léo aliviada.

LÉO: (lacrimeja/para si) – Mesmo dessa forma,

tentar reaproxima-los será melhor para ele!

Corta para:

CENA 12. BOTECO: QUARTO MENINAS. INTERNA. NOITE.

Retomada de onde parou. Keila acuada.

JADE: (curiosa) – Pretende viajar?

KEILA: (Gagueja) – Si-sim! Eu... vou... Ver a

minha família. Já não quero mais ficar aqui

por esses dias.

JADE: (desconfiada) – Família? Mas, quando

veio para cá, foi falta de opção. Você não

tinha mais ninguém nesse mundo!

KEILA: (irritada) – O que você sabe de minha

vida, sua sonsa? (T) Eu vou para onde bem

entender. Tenho direito de ir e vir sem dar

satisfações á ninguém, entendeu?

JADE: (acuada) – O nome disso é fuga!

KEILA: - Que seja! Aqui, não fico um segundo

sequer à mais que o sol nascer.

Clima de suspense.

(Cont’d) Não quero nenhuma palavra fora desse

quarto para Dona Quitéria, entendeu? (ameaça)

Ou não respondo por mim.

Suspense.

Corta para:

CENA 13. CENAS RURAIS/CASARÃO BIANCHINI. EXTERNA. AMANHECER

Música tema. Cavalos correm no campo. Panorâmica: pedreira

e riacho vistos do alto. Fachada do casarão Bianchini. A

janela se abre e Salvador aparece respirando fundo. Corta

para ele saindo pelas portas do fundo enrolado na coberta e

caminhando até o balanço onde se senta.

Corta para:

CENA 14. COZINHA DOS PIMENTA. INTERNA. DIA

Abre a cena no fogão de lenha com café sendo servido.

Suméria ajeita a mesa. Petrônio bebe o café. Se levanta

para sair.

SUMÉRIA: - Se sua mãe perguntar, digo que foi

onde?

PETRÔNIO: - Acertar umas coisas do passado.

Sai. Close: Suméria apreensiva torcendo os dedos com as

mãos.

SUMÉRIA: (para si) – Isso não é bom!

Fusão com:

CENA 15. PANORAMAS RURAIS. EXTERNA. DIA

Petrônio anda pelos cenários rurais, riacho e estradas.

Sentido de peregrinação.

Corta para:

CENA 16. PRAÇA CENTRAL/FACHADA BOTECO. EXTERNA.DIA

Nas ruas as pessoas varrem as calçadas do comércio. Dione,

Valdir, capelão, diácono e pessoas como figuração. Carro

conversível estaciona frente ao Boteco. Buzina.

KEILA: (sai á janela) – Já vou! Um minuto.

Keila entra e em seu lugar Jade espia. Close no motorista,

jovem de aspecto urbano e engajado na moda acende um

cigarro. Alguns segundos e aparece com malas. Carrega com

dificuldade.

(Cont’d) Não vai me ajudar, não?

MOTORISTA: - Pois não, senhorita.

Guardam as malas na traseira. Ele pega a mala de dinheiro.

KEILA: (toma dele) – Essa não! Vai comigo!

Coloca no banco de trás. Ela se vira e encara o Boteco.

(Cont’d) (ao motorista) Já ganhou uma grana

fácil? (lacrimeja) Aqui nunca foi fácil; mas,

não posso dizer que não fui feliz. Agora, que

tenho minha pequena fortuna, vou embora e não

vou ser mais explorada.

Quitéria sai pela porta correndo acompanhada de Pâmela,

Jade, Manfred e das outras meninas.

QUITÉRIA: (chateada) – Pretende ir embora sem

se despedir de nós, Keila? Como pode?! Aqui é

a sua casa, nós a queremos tão bem! Não pode

sair fugida. O que houve?

KEILA: (â Jade) – Futriqueira! (à Quitéria) A

despedida é dolorosa, D. Quitéria, prefiro

evitar isso. Estou na minha hora! Vou embora

agora, mas, fique com o coração em paz. Sou-

lhe grata por tudo!

QUITÉRIA: (maternal) – Fique conosco, Keila.

Perdoe-nos se fizemos algo que lhe chateou.

Prometo me redimir de qualquer coisa. Você,

assim como as outras, é como uma filha e lhe

tenho um carinho especial.

MANFRED: (á Pâmela) – Já vi essa cena antes!

KEILA: (desabafa) – Cansei de ser puta, Dona

Quitéria! Ser explorada por homens e sem ter

o merecido respeito. Não quero mais isso! Vou

é pra cidade grande, estudar, virar gente!

PÂMELA: - Eu vim de lá, Keila! A vida também

não é fácil!

KEILA: - Se tiver que fazer tudo de novo, eu

faço, só que dessa vez, por mim. Não leve à

mal D. Quitéria, mas, agora, vou caminhar com

as minhas próprias pernas. Não é ingratidão.

Apenas não quero mais essa vida medíocre que

a senhora nos impôs! Morar num casarão velho,

mofado, malcheiroso e nos deitar com homens

bêbados e pobres. Chega para mim!

Manfred se aproxima.

MANFRED: - Se é assim... Vá! Não é mais uma

de nós e nem de nossa família! (dá um tapa)

Acostume-se, pois a vida vai te dar muitos

desses.

QUITÉRIA: (chateada) - Manfred, não! Porque

fez isso? Não tem sentido1 Deixe-a.

Quitéria a acolhe.

(Cont’d) (maternal) Se quiser ir, vá! Ninguém

pode obrigar ninguém a nada. Peço somente que

se cuide e seja feliz!

KEILA: - Vou lhe ser grata por tudo. Um dia,

quem sabe, eu volto para retribuir tudo o que

fez.

MANFRED: (sussurra à Pâmela) – Volta é nada!

Eu conheço bem esse perfil de gentinha!

Keila sobe no carro conversível no banco de trás e senta no

apoio, o carro sai e ela sai acenando como um político.

KEILA: (emocionada) – Buzina, isso motorista.

Quero a minha partida triunfal. Agora, vou

viver a minha vida de verdade.

Conforme o carro vai saindo as pessoas aparecem às ruas

pelas buzinas. Cachorros e crianças saem atrás. Manfred se

aproxima de Quitéria.

MANFRED: (amigo) - Vamos entrar!

QUITÉRIA: (lacrimeja) – A despedida é triste!

Ainda mais quando é feita assim.

MANFRED: (com a mão no ombro dela) – Não

adianta! Aprenda, Quitéria! Cada geração do

Boteco terá a sua Suméria. (pro nada) Parece

carma!

Eles entram. Retoma ao carro desfilando com Keila acenando.

KEILA: (emocionada/eco) Adeus, fim de mundo!

Buzinas.

Corta para:

CENA 17. QUINTAL DO CASARÃO BIANCHINI. EXTERNA. DIA

Salvador balança de leve olhando o nada. Cena de extremos.

PETRÔNIO: (in off) – Prefeito!

Salvador se vira assustado.

(Cont’d) Não precisa temer! (ergue as mãos)

Vim em missão de paz.

SALVADOR: (apreensivo) – Em que posso ajudar?

PETRÔNIO: (lacrimeja) - Queria compartilhar

algo muito pessoal contigo.

Suspense. Conforme fala se aproxima do balanço. Salvador se

mantém apreensivo.

(Cont’d) Sou enteado do Epitácio, que foi

assassinado no Boteco. Mas,... Não sou filho

legítimo dele. Gutemberg, é, eu, não. Aliás,

é sobre isso que queria conversar contigo.

SALVADOR: (sem entender) – Tudo bem. Falamos

sobre, isso então.

Petrônio se abaixa no meio das pernas de Salvador ficando

mais baixo que ele. A cena deve remeter carinho.

PETRÔNIO: (chorando) – Não sabes o quanto têm

sido doloroso para mim esses dias procurar

por um pai e nunca encontrá-lo. Acho que o

mal da minha vida é a solidão e esse vazio

existencial dentro de mim que nunca deixou-me

enxergar quem sou.

SALVADOR: – Compreendo. Pobre rapaz! Essa é

uma situação, de verdade, muito dolorosa.

PETRÔNIO: - Ontem, foi a pior noite de minha

vida. Não pude pregar os olhos depois do que

a minha mãe me contou. O que sinto dentro de

mim, senhor, é algo inexplicável. Há anos não

sinto o carinho de um pai e uma proximidade.

Na realidade, nunca soube o que é isso. Minha

mãe sempre tentou suprir essa falha na minha

vida. Mas não foi o suficiente! (T) Agora;

depois que ela revelou tudo, em meu coração

acendeu uma chama. Eu não queria, mas, está

vivo aqui dentro de mim um desejo forte de

ter um pai de verdade. Compreende?

SALVADOR: (perdido) - Creio que não.

Música instrumental.

PETRÔNIO: - Dá-me sua mão, por favor.

Salvador lhe estende a mão com desconfiança. Petrônio a

beija e coloca em seu rosto com carinho e Salvador com a

outra acaricia os cabelos.

SALVADOR: (amigo) - O carinho é importante

para cessar a dor.

Petrônio ergue a cabeça e o olha com lágrimas escorrendo.

PETRÕNIO: - É disso que sempre senti falta...

pai!

Salvador emocionado.

(Cont’d) Mas, agora posso ter você por perto!

(T) Se me aceitar como seu filho, claro.

Salvador o abraça e começa a chorar.

SALVADOR: (emocionado) – Não pode ser! Depois

de tantos anos a vida me traz um bem tão

precioso. Fruto de um amor tão lindo!

O beija a testa e o rosto.

(Cont’d) Oh, que surpresa tão grata! É lógico

que te aceito como filho! Que honra ter um

filho formado e tão lindo! Bem vindo ao

coração de seu pai!

Música instrumental. Os dois choram abraçados no balanço.

Corta para:

CENA 18. ESCRITÓRIO DE LEOFÁ. INTERNA. DIA

Leofá de pijama ao telefone de costa para porta não percebe

a entrada de Léo.

LEOFÁ: (fala baixo) – Perfeito! Faça o quanto

antes. Dessa vez, a derrocada de Salvador

será certa! Aja com discrição (...) Certo!

Aguardo novidades!

Desliga.

(Cont’d) Mal posso esperar para ampliar s

horizontes dessas cercas, Salvador Bianchini.

LÉO: - Falava com quem?

LEOFÁ: – Léo, tão cedo! (desconversa) Está aí

há quanto tempo?

LÉO: (mente) – Agora. Ouvi o nome de Salv...

LEOFÁ: (poda) – Sim. Odeio esse tal! Nem ouse

pronunciar seu nome. Sempre tentando roubar

as nossas terras.

LÉO: - Ou seria o contrário?

Leofá a desafia com o olhar

(Cont’d) Eu ainda o amo, Leofá! Vou retomar

esse amor! Quer você queira, ou não!

LEOFÁ: - Como pode? (desdém) Amar o irmão de

um assassino! Talvez assassino de seu ex-

marido. (veneno) Tem mesmo capacidade para se

juntar com a gentinha e quem sabe, não é

cúmplice do que aconteceu com Epitácio! O

caminho fica mais fácil sem ele, não?!

LÉO: (irritada) – Escroto! Como pode me

culpar de algo? Sempre respeitei essa família

e coloquei os interesses de todos até mesmo

acima dos meus. (T) Agora não mais. É a minha

hora de amar. E eu vou viver isso! (ameaça)

Sei que está aprontando algo. Não sei o que

possa ser. Mas, tome cuidado! Dessa vez, eu

estou aqui e te vigiando de perto, Leofá!

LEOFÁ: (sorri) – Pretende o que, Leopoldina?

LÉO: (joga) - Separar as nossas propriedades

para começar.

Leofá desfaz o sorriso.

(Cont’d) E, vou recuperar cada centavo gasto

nessas campanhas malucas pela prefeitura. Não

posso ficar com o ônus de algo tão obsoleto e

sem nexo!

LEOFÁ: (joga) - Não pode fazer isso! Não tem

como fazer isso!

LÉO: - Posso! E farei! Saiba que Petrônio é

advogado e ele tem interesses particulares em

resgatar o que for deles!

Leofá se aproxima dela e ficam cara a cara.

LEOFÁ: (irado) - Isso, só se for por cima do

meu cadáver!

Sai da sala a encarando. Close: Léo preocupada.

Corta para:

CENA 19. SALA DO CASARÃO BIANCHINI. INTERNA. DIA

Abraço triplo. Úrsula, Salvador e Petrônio. Pilar distante.

ÚRSULA: (feliz) – Estou muito emocionada com

tudo isso. O senhor merece coisas boas em sua

vida pai. E, ter um irmão, será sensacional!

PETRÔNIO: (emocionado) – Fico feliz de ser

aceito por essa parte de minha família!

Agora, não me sentirei mais sozinho. (T)

Preciso contar isso pra minha mãe. Vou agora!

SALVADOR: - Eu te levo até a porta, filho!

Eles saem. Úrsula vai até Pilar.

ÚRSULA: - Que bom! A família está crescendo.

PILAR: (na dela) - Parece um bom rapaz. Além,

de irmão, agora será seu cunhado, tio de seu

bebê, se estiver mesmo grávida! Agora só

precisa resolver essa sua questão com o pai

da criança.

Close: Úrsula chateada. Pilar a abraça.

(Cont’d) Desculpa, filha. A presença dele me

traz o afastamento de seu pai, porque junto

dele vem a mãe. Embora tenha acabado tudo,

isso só apressa as coisas e eu não estava

preparada para isso agora.

ÚRSULA: - Não tinha pensado por esse lado.

Tudo vai dar certo!

SALVADOR: (entrando) – Estou tão feliz que

não sei se vou dar conta do serviço de hoje.

A prefeitura vai ser tortura!

ÚRSULA: - Não vá, pai! Curta o dia com ele!

SALVADOR: - Até queria, mas seria injusto com

vocês. Nunca deixei um dia de serviço por

vocês. Também não vou deixar por ele. Ele

entenderá! Cada coisa em seu lugar.

Corta para:

CENA 21. LOJA DE FILIPA/ PRAÇA CENTRAL. EXTERNA. DIA

Dione recolhendo o lixo. Filipa sai com a bolsa de mão.

FILIPA: - Que buzinas foram essas há pouco? O

que acontece nessa cidade? Mais uma ação do

aventureiro Salvador Bianchini?

DIONE: - Acredita que uma prostituta saiu do

Boteco em cortejo num carro conversível?

FILIPA: - Tetembau é mesmo uma piada! A gente

trabalha feito louca para se manter e uma

puta, vadia, sem eira e nem beira, desfila

pela cidade de conversível. Vai entender a

vida, não?! Mas isso vai mudar, ah, vai!

DIONE: - Aonde vai?

FILIPA: - Você pergunta demais! (desconversa)

Porque acha que vou sair?

DIONE: (desconfiada) - Essa bolsa, é aquela

que estava escondida no estoque, não é?

FILIPA: (alterada) – Andou mexendo nas minhas

coisas? Como pode fazer isso?

DIONE: - Você vai tentar tirar dinheiro do

meu pai com isso, não vai?

Filipa engole a resposta.

(Cont’d) Não é certo, mãe! Se for assim, não

quero. Prefiro que venha tudo de forma limpa.

Ou ele me dá por reconhecimento como filha ou

para mim não serve de nada!

FILIPA: (mente) – É de forma limpa. (joga)

Deixe de besteira que ele não lhe reconhecerá

como filha. (envenena) A outra sim, é filha

legítima, você não! Então será do meu jeito!

Agora, tudo o que vir ou souber, você engula.

Se tem amor por nós duas, aprenda se calar e

só falar quando for conveniente! Entendeu?

Ela faz que sim a contra gosto.

(Cont’d) Assim é melhor!

Filipa sai.

Fusão com:

PRAÇA:

Filipa passando. Capelão a para.

CAPELÃO: - Já está sabendo da nova de hoje,

Dona Filipa.

FILIPA: (sem paciência) – Sim, já soube. A

puta que saiu de carro de luxo!

CAPELÃO: - Pode isso, Dona Filipa?

FILIPA: - Não pode!

CAPELÃO: - Então!

FILIPA: (taxativa) – Olha; tenho mais o que

fazer capelão! Agora deixe as putas pra Dona

Quitéria! Até mais!

Sai andando. O capelão vai atrás imitando.

CAPELÃO: (ridiculariza) – Deixe as putas pra

Dona Coisa. Bruaca! Grossa! Por isso que o

Seu Salvador não aguentou essa jararaca! Eu,

heim?! Destemperada!

DIÁCONO: – Está louco, José, falando sozinho!

CAPELÃO: (irritado) – Não me enche, João!

Joga a vassoura no chão e sai. Close: João sem entender.

Corta para:

CENA 22. COZINHA DO CASARÃO PIMENTA. INTERNA. DIA

Léo emocionada e Petrônio. Os dois de mãos dadas.

LÉO: - Fico tão feliz que tenha o procurado!

Tinha medo que pudesse rejeitá-lo de alguma

forma. Meu coração estava dividido entre

vocês. Mas, se fosse para ficar ao lado de

alguém, seria com você, sempre, meu filho!

PETRÔNIO: (encantado) - Ele chorou bastante.

Eu senti uma energia tão boa quando ele me

abraçou. Parecia que era uma parte de mim

preenchendo um vazio, mãe! Não sei como pude

me privar dele por tanto tempo.

Léo sorri e enxuga as lágrimas.

LÉO: - Não se privou e nem eu. Foi a vida;

mas, as respostas começarão a serem dadas com

essa proximidade. (T) Saiba que amo muito o

seu pai, eu sempre o amei e que a nossa

separação foi apenas um desvio do destino.

Suméria ouve por trás da porta.

PETRÔNIO: - O passado não pode ser mudado,

mãe; vamos deixa-lo de lado e seguir de agora

em diante.

LÉO: - Isso , meu filho.

Léo beija as mãos do filho.

(Cont’d) De agora em diante, quero que se

dedique mais ao seu pai, e eu, enfim, posso

dar ao seu irmão todo o carinho que ele

sempre precisou. É pra frente que a gente vai

andar. Sem passado e sem mágoas.

Suméria respira aliviada sem perceber Leofá por trás dela.

Corta para:

CENA 23. COZINHA DO BOTECO. INTERNA. DIA

Pâmela coa café e entrega a Quitéria e Manfred.

PÂMELA: - Tome vocês primeiro, depois eu faço

outro para as meninas assim que acordarem.

QUITÉRIA: (triste) - Não dormem. São muitas

coisas acontecendo por aqui e estão mexendo

com os miolos de todos.

MANFRED: (complacente) - Quitéria! Desfaça

essa tristeza. São infortúnios da vida! Isso

tem que passar. Não podemos ficar a vida toda

presa em único acontecimento. Sobre a Keila,

ela só quis ir embora. Nada mais.

Quitéria se levanta pega o bule e xícaras.

QUITÉRIA: - Pode ser. Vou cuidar das minhas

meninas. As que restaram merecem carinho. Os

dias têm sido difíceis. Agora, preciso ser

mais amiga e mais presente.

Pâmela ameaça falar. Manfred gesticula para que não fale.

Quitéria sai.

MANFRED: (segreda) - Não quis falar na frente

dela. Mas, a partida de Keila me magoou, como

magoou à sua avó, quando Suméria saiu dessa

casa de forma ingrata. Essa ainda foi mais

elegante, mas mesmo assim, estamos revivendo

mais uma vez a rejeição e isso dói.

PÂMELA: (chateada) – Poxa, ela podia ter

esperado baixar a poeira do assassinato para

doer menos em vocês. Mas, ao mesmo tempo, não

podemos culpa-la de não dar conta também de

ter vivido isso.

MANFRED: (desconfiado) – Saiu mesmo muito

rápido, não? (pensativo) Keila, Keila! Não

dá ponto sem nó!

Corta para:

CENA 24. ESCRITÓRIO DE LEOFÁ/HALL DOS QUARTOS. INTERNA. DIA

Abre a cena com Suméria empurrada para dentro por Leofá.

LEOFÁ: (rude) - Não perde mesmo essa mania

horrorosa de espiar atrás da porta, não é

negra?

SUMÉRIA: (acuada) – Prometo não fazer mais

isso. Era assunto importante, por isso que...

LEOFÁ: (poda) - Esqueça! Você vai continuar

fazendo isso enquanto Léo e esse bastardo

estiverem nessa casa. Quero saber cada passo

que dão. Não quero ser pego de surpresa mais!

Está me entendendo?

Suméria faz que sim com a cabeça.

(Cont’d) Agora sai!

Ela obedece.

(Cont’d) Voltamos ao velho jogo de disputa de

poder, Leopoldina. Não bastasse Salvador em

meu caminho, agora você! O tempo parece se

repetir.

Ventania pela janela. Flash de Alvinho, Olímpia e Santinha

em pé ao lado da janela. Leofá se assusta e se joga por

cima da mesa derrubando tudo. Eles somem.

(Cont’d) Não pode ser! Estou ficando louco!

Fusão com:

HALL DOS QUARTOS:

Ventania abre as portas. Suméria se arrepia e faz sinal da

cruz.

SUMÉRIA: (medrosa) – Eles voltaram! Dessa

vez, trouxeram Dona Olímpia!

Suspense.

Corta para:

CENA 25. CASARÃO BIANCHINI: SALA/ESCRITÓRIO. INTERNA. DIA

Batidas impaciente à porta. Pilar se aproximando.

PILAR: – Já vai! Um pouco de paciência!

Abre a porta. Filipa entra disparada.

FILIPA: - Cadê Salvador?! Diga que quero

falar com ele urgente. É assunto sério e

definitivo sobre a herança!

PILAR: (para si) – Oh, Senhor! O passado veio

hoje para assombrar a minha vida! É uma

espécie de carma! Eu sei!

FILIPA: - Eu sei que a minha presença muito

lhe incomoda, mas pode fazer o que for que só

saio daqui depois de falar com Salvador.

PILAR: - Tem razão. Tua presença me incomoda!

Cansei de ser elegante e complacente. Agora

não serei mais assim. Saia de minha casa.

Filipa a desafia com o olhar.

FILIPA: - Sua casa? Tem certeza? Já morei

aqui. Bem antes de você!

PILAR: (grita) Sai! Sai agora!

Filipa se senta no sofá.

FILIPA: (irônica) – Muito me enganei sobre

você. Achei que tivesse sangue de barata.

(aplaude) Quase me enganou! Pelo visto, tem

uma mulher aí dentro. Sinal que fica ferida

com as investidas de Salvador contra as

outras.

PILAR: (cai na pilha) – Não mais! Estamos nos

separando. Não tenho mais porque esconder.

FILIPA: (sorri) – Repete! Isso é música para

meus ouvidos, Pilar! (provoca) Eu sempre lhe

disse que ele ia aprontar! Ele não sabe ser

de uma, é de todas!

PILAR: – Aí que você se engana. Ele não é de

todas como pensa. Não o conhece mesmo, não?!

Filipa se levanta incomodada.

FILIPA: - Não entendi.

PILAR: - Ele sempre foi de Leopoldina. A que

chegou antes de nós. (sorri) Não foi teu, nem

meu. (provoca) Se bem que, meu, foi por mais

tempo do que com você.

FILIPA: - A conversa até está filosófica, mas

preciso ir ao toillet. Onde fica?

PILAR: - No mesmo lugar da época em que foi

uma Sra. Bianchini. Pode ir; mas, seja breve.

Pois, quando sair, devo desinfetar a casa.

Filipa sai. Pilar assopra o ar com irritação e cai no sofá

mantendo a porta aberta.

Fusão com:

ESCRITÓRIO:

Entra sorrateira, procura gaveta aberta na escrivaninha.

Com o pano tira o punhal da bolsa e o coloca na gaveta.

Guarda o pano na bolsa. Fecha a gaveta e pega um porta-

retratos de Salvador e leva ao rosto.

FILIPA: - Achou que ia me chutar de sua vida

e ia ficar por isso mesmo, Salvador? (sádica)

Se enganou!

Suspense.

Corta para o:

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P R Ó X I M O C A P Í T U L O

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