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Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida do Corno do Bico 1ª Fase - CARACTERIZAÇÃO Parte 1: Estudos de Base - Descrição Novembro de 2008

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Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem

Protegida do Corno do Bico

1ª Fase - CARACTERIZAÇÃO

Parte 1: Estudos de Base - Descrição

Novembro de 2008

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

1

Equipa Técnica

Coordenação

• Pedro Beja

Colaboradores

• Susana Rosa

• Sofia Lourenço

• João Honrado

• Joana Marques

• Luís Reino

• Joana Santana

• Luís Gordinho

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

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ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 6 2. ENQUADRAMENTO .......................................................................................... 9

2.1. Localização e descrição geral ...................................................................... 9 2.2. Situação legal de protecção ....................................................................... 10 2.3. Instrumentos de ordenamento e gestão .................................................... 10

2.3.1. Plano Nacional de Política de Ordenamento do Território .................. 11 2.3.2 Planos Regionais de Ordenamento do Território ................................. 11 2.3.3 Planos Municipais de Ordenamento do Território ................................ 12 2.3.4 Planos Especiais de Ordenamento do Território .................................. 13 2.3.5 Planos Sectoriais de Ordenamento do Território ................................. 13

2.4. Cadastro e direitos de uso ......................................................................... 19 3. CARACTERIZAÇÃO FÍSICA ............................................................................ 20

3.1. Clima .......................................................................................................... 20 3.2. Geologia .................................................................................................... 22

3.2.1. Estratigrafia e Tectónica ...................................................................... 22 3.2.2. Geomorfologia ..................................................................................... 24

3.3. Pedologia ................................................................................................... 25 3.4. Hidrologia ................................................................................................... 28

3.4.1. Hidrografia ........................................................................................... 28 3.4.2. Hidrogeologia ...................................................................................... 29 3.4.3. Qualidade das águas .......................................................................... 30

4. CARACTERIZAÇÃO BIOLÓGICA .................................................................... 32 4.1. Flora ........................................................................................................... 32

Caracterização geral e espécies frequentes ................................................. 32 Espécies raras e importantes para a conservação ....................................... 36

4.2 Vegetação ................................................................................................... 40 Habitats listados na Directiva Habitats .......................................................... 45

9160 - Carvalhais pedunculados ou florestas mistas de carvalhos e carpas subatlânticas e médio-europeias da Carpinion betuli ........................................... 51

4.3. Fauna ......................................................................................................... 53 4.3.1. Invertebrados ...................................................................................... 53 4.3.2. Vertebrados ......................................................................................... 53

5. UNIDADES DE PAISAGEM ............................................................................. 71 5.1. Conceito e objectivos ................................................................................. 71 5.2. Caracterização das unidades de paisagem ............................................... 72

6. CARACTERIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL ...................................... 75 6.1. Património arquitectónico .......................................................................... 75 6.2. Património arqueológico ............................................................................ 75 6.3. Património etnográfico ............................................................................... 77

7. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÓMICA ...................................................... 79

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7.1. População .................................................................................................. 79 7.2 Uso do solo ................................................................................................. 81 7.3 Actividades ................................................................................................. 81

8. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 87

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ANEXOS

Anexo I – Legislação mais relevante para o planeamento e gestão da Paisagem

Protegida do Corno do Bico

Anexo II – Elenco florístico da Paisagem Protegida do Corno do Bico

Anexo III – Lista de espécies de flora consideradas importantes para a conservação

presentes na área de estudo

Anexo IV – Listagem de Habitats da Directiva 42/92/CEE inventariados na Paisagem

Protegida do Corno do Bico

Anexo V – Lista de espécies de vertebrados inventariados na Paisagem Protegida do

Corno do Bico

Anexo VI – Lista de espécies de invertebrados terrestres inventariados na Paisagem

Protegida do Corno do Bico

Anexo VII – Unidades de Paisagem

Anexo VIII - Estabelecimentos hoteleiros e de Turismo no Espaço Rural no concelho

abrangido pela Paisagem Protegida do Corno do Bico

CARTOGRAFIA

[1] – Carta de enquadramento a nível nacional (1:1.000.000) √

[2] – Carta de enquadramento a nível regional (1:50.000) √

[3] – Carta de estatutos de protecção e outros estatutos legais (1:10.000) √

[4] – Carta de cadastro e direitos de uso (1:10.000)

[5] – Carta de referência (1:10.000) √

[6] – Carta geológica simplificada (1:10.000) √

[7] – Modelo digital do terreno (1:10.000) √

[8] – Carta geomorfológica simplificada (1:10.000)

[9] – Carta de solos e drenagem (1:10.000) √

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[10] – Carta hidrológica (1:10.000) √

[11] – Carta de bioclimas (1:10.000) √

[12] – Carta de vegetação (1:10.000) √

[13] – Carta de biótopos (1:10.000) √

[14] – Carta de unidades de paisagem (1:10.000) √

[15] – Carta de localização do património arquitectónico (1:10.000) √

[16] – Carta de localização do património arqueológico (1:10.000) √

[17] – Carta do uso actual do solo (1:10.000) √

[18] – Carta agrícola e florestal (1:10.000) √

[19] – Carta com equipamentos, zonas e elementos de atracção recreativa/turística

terrestre e marinha (1:10.000) √

[20] – Carta da utilização cinegética e piscatória (1:10.000) √

[21] – Carta com zonas urbanas, aglomerados, exploração de inertes e actividade

transformadora, pontos de descarga nas BH (1:10.000) √

[22] – Carta com tipologia da estrutura da propriedade, por classes (1:10.000) √

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1. INTRODUÇÃO

O presente relatório inscreve-se no quadro do Contrato de Prestação de Serviços entre o

Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade e a ERENA – Ordenamento e

Gestão de Recursos Naturais, Lda., estabelecido no âmbito da elaboração do Plano de

Ordenamento e respectivo Regulamento da Paisagem Protegida do Corno do Bico.

A elaboração deste Plano de Ordenamento foi determinada pela Resolução do Conselho

de Ministros nº 72/2003, de 16 de Maio, visando os seguintes objectivos:

a) Assegurar, à luz da experiência e dos conhecimentos científicos adquiridos sobre

o património natural desta área, uma correcta estratégia de conservação e gestão

que permita a concretização dos objectivos que presidiram à classificação como

área de paisagem protegida;

b) Cumprir os imperativos de conservação dos habitats naturais da fauna e flora

selvagens protegidas, nos termos do Decreto-Lei nº140/99, de 24 de Abril;

c) Estabelecer propostas de ocupação do solo que promovam a necessária

compatibilização entre a protecção e a valorização dos recursos naturais e

culturais e o desenvolvimento das actividades humanas em presença, tendo em

conta os instrumentos de gestão territorial convergentes na área da Paisagem

Protegida;

d) Determinar, atendendo aos valores em causa, os estatutos de protecção

adequados às diferentes áreas, bem como definir as respectivas prioridades de

intervenção.

Neste contexto, o relatório apresenta os resultados da primeira fase do trabalho,

correspondente à caracterização da área de estudo. Conforme o Caderno de Encargos,

os objectivos desta fase são:

• Analisar a Área Protegida e as suas componentes biofísica, patrimonial, cultural e

sócio-económica.

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• Identificar os valores presentes no território, nos componentes biofísicos,

paisagísticos, patrimoniais, culturais e sócio-económicos.

• Classificar cada valor de acordo com a escala de valoração pré-definida.

A abordagem necessária para a prossecução destes objectivos é também expressa no

Caderno de Encargos, consistindo em três etapas, designadamente:

• Etapa 1 – Descrição: descrição da área sob os aspectos de enquadramento

geográfico e legal, biofísicos, paisagísticos, patrimoniais, culturais e sócio-

económicos;

• Etapa 2 – Valoração: avaliação qualitativa e quantitativa dos valores presentes

nas diversas componentes descritas;

• Etapa 3 – Resumo: resumo técnico da descrição e valoração.

Em conformidade com a metodologia e prazos propostos no Caderno de Encargos, este

trabalho de descrição e valoração baseia-se exclusivamente em informação bibliográfica,

uma vez que não foi prevista qualquer recolha de informação original. Desta forma, não

foram realizados quaisquer trabalhos de campo para amostragem de dados biofísicos,

culturais ou socioeconómicos, tendo apenas sido realizadas visitas de reconhecimento

geral, para estabelecimento de um contacto mais directo com as realidades locais.

Contudo, a revisão bibliográfica exaustiva realizada, permitiu recolher um conjunto muito

vasto de informação relevante, a qual se julga suficiente para proceder a uma

caracterização apropriada para os objectivos de planeamento.

Também como inicialmente previsto no Caderno de Encargos, parte da informação

utilizada neste Relatório foi disponibilizada pelo ICNB, bem como pela Câmara Municipal

de Paredes de Coura, sob a forma de várias publicações, relatórios técnicos internos,

cartografia e dados não publicados de projectos em curso.

Em termos de apresentação do trabalho desenvolvido, seguiu-se a organização proposta

no Caderno de Encargos. Fizeram-se, contudo algumas alterações pontuais, por forma a

adaptar o modelo geral proposto às características próprias da Paisagem Protegida.

Estas modificações relacionaram-se essencialmente com a criação de novos sub-

capítulos para temáticas particularmente importantes para a área, mas também na

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conjugação de algumas secções menos importantes ou para as quais a informação

disponível é reduzida.

Relativamente aos relatórios, optou-se por apresentar três volumes diferentes,

correspondentes às etapas de: (i) Descrição; (ii) Valoração; e (iii) Síntese. Desta forma,

procurou-se dar maior homogeneidade e consistência interna a cada um dos relatórios

parciais, tornando assim a sua leitura mais fácil. O presente relatório apresenta

exclusivamente a componente referente à Descrição.

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2. ENQUADRAMENTO

2.1. Localização e descrição geral

A Paisagem Protegida do Corno do Bico (PPCB) enquadra-se administrativamente nas

NUT II do Norte de Portugal e na NUT III do Minho Lima. Integra as cabeceiras dos três

principais cursos de água do Alto Minho – Coura, Labrujo e Vez, pertencentes às bacias

hidrográficas do rio Minho (Coura) e do rio Lima (Labrujo e Vez).

O seu território delimita-se entre a latitude de 41º12’ N e a longitude de 8º29’ W. Ocupa

uma área de aproximadamente 2.069 ha, abrangendo o concelho de Paredes de Coura e

integrando parcialmente 5 freguesias: Parada, Cristelo, Vascões, Bico e Castanheira

(Cartas [1] e [5]). A Paisagem Protegida é limitada a Este pelo limite entre os concelhos

de Paredes de Coura e Arcos de Valdevez; a Sul pelo limite entre os concelhos de

Paredes de Coura e Ponte de Lima; a Oeste pelas Estradas Nacionais 306, 1080, 303 e

5-19 e a Norte pela estrada entre Cenoi e Lamas (Carta [5]).

Em termos de morfologia, paisagem e usos de ocupação do solo, o perímetro da

Paisagem Protegida abrange essencialmente zonas agrícolas, bosques de folhosas e de

resinosas, e áreas de terrenos incultos.

A paisagem, como é frequente nesta região, apresenta um elevado grau de

fragmentação, que é, contudo, ainda assim menor do que a da zona envolvente.

Tanto as zonas de terrenos incultos como as áreas agrícolas terão sido resultantes da

substituição do coberto original dos bosques de carvalhos que subsistem em algumas

áreas da Paisagem Protegida e que constituem as áreas mais bem preservadas desta

PP.

As práticas agrícolas dominantes na zona são as culturas forrageiras, cereais para grão,

horticultura essencialmente para consumo próprio, batata, vinha e fruta. A pecuária é

também uma actividade muito importante na região, sobretudo a criação de gado bovino,

caprino e garranos em liberdade. A silvicultura é também uma actividade muito relevante,

destacando-se a produção folhosas autóctones, que tem simultaneamente elevado valor

do ponto de vista da conservação. Foram também plantadas na Área Protegida diversas

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espécies de folhosas e resinosas exóticas. A maior ameaça a esta actividade são os

incêndios florestais.

2.2. Situação legal de protecção

O reconhecimento da importância da área abrangida pela Paisagem Protegida do Corno

do Bico remonta à classificação do Perímetro Florestal de Entre Vez e Coura (Decreto de

8/5/1944- DG nº 105) como possuidor de potencial para produção florestal.

Sendo a área reconhecida por possuir potencialidades particulares em termos flora e

habitats autóctones e refúgio para várias espécies da fauna, foi feito um pedido para a

criação de uma Área Protegida por parte do Município de Paredes de Coura, de acordo

com a deliberação da Assembleia Municipal, com o parecer do Instituto de Conservação

da Natureza.

A Paisagem Protegida do Corno do Bico foi criada em 1999, pelo Decreto Regulamentar

nº 21/99 de 20 de Setembro, como Área Protegida de Âmbito Regional. A sua criação

tinha como objectivos a conservação da natureza e a valorização do património natural

do Corno do Bico como pressuposto de um desenvolvimento sustentável e a promoção

do repouso e do recreio ao ar livre em equilíbrio com os valores naturais salvaguardados.

Normas adicionais de protecção incidentes sobre a Paisagem Protegida decorrem da

Directiva Europeia 92/43/CEE (Directiva Habitats), transposta para a ordem jurídica

interna pelo Decreto-Lei nº 140/99, de 24 de Abril, o qual foi recentemente alterado pelo

Decreto-Lei nº 49/2005, de 24 de Fevereiro. Está incluída na Lista Nacional de Sítios de

Importância Comunitária a incluir na Rede Natura 2000 (Corno do Bico, PTCON0040),

pela Resolução do Conselho de Ministros nº 76/00, de 5 de Julho, ao abrigo da Directiva

Habitats, devido à sua importância para a conservação de um conjunto diversificado de

habitats e espécies ameaçados a nível europeu.

2.3. Instrumentos de ordenamento e gestão

Até ao momento não existe qualquer Plano de Ordenamento para a Paisagem Protegida

do Corno do Bico. De igual forma, não existe nenhum Plano de Ordenamento para o Sítio

de Importância Comunitária Corno do Bico.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

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O presente trabalho de planeamento territorial é o primeiro que visa estabelecer regras

de utilização do espaço tendo especificamente em atenção objectivos de conservação da

natureza. No entanto, existem outros instrumentos de planeamento e gestão que incidem

sobre a Paisagem Protegida, devendo, portanto, ser tidos em devida consideração na

elaboração deste Plano de Ordenamento.

2.3.1. Plano Nacional de Política de Ordenamento do Território

Segundo o Plano Nacional de Política de Ordenamento do Território (PNPOT; Lei

58/2007, de 4 de Setembro), a Rede Nacional de Áreas Protegidas, constituída pelas

áreas protegidas de âmbito nacional, regional ou local, integra o Sistema Nacional de

Áreas Classificadas previsto pela Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da

Biodiversidade (Resolução do Conselho de Ministros nº 152/2001, de 11 de Outubro), em

conjunto com a Rede Natura 2000 e outras áreas classificadas ao abrigo de

compromissos internacionais. Por seu lado, o Sistema Nacional de Áreas Classificadas, a

Reserva Ecológica Nacional (REN), o Domínio Público Hídrico (DPH) e a Reserva

Agrícola Nacional (RAN), constituem a Rede Fundamental de Conservação da Natureza

consagrada pelo PNPOT.

A Rede Nacional de Áreas Protegidas prossegue objectivos de protecção de habitats

naturais e a fauna e flora selvagens, bem como de protecção e valorização das

paisagens humanizadas e do património natural e construído. Para a Região do Minho-

Lima, o PNPOT assume como uma das opções para o desenvolvimento do território

“promover a consolidação e estabilização das actividades e usos nas áreas de montanha

e a sua valorização ambiental e turística”, onde destaca o PNPG – Parque Nacional da

Peneda-Gerês, mas cujo contexto abrange também outras áreas, nomeadamente a

Paisagem Protegida de Corno do Bico.

2.3.2 Planos Regionais de Ordenamento do Território

A Paisagem Protegida do Corno do Bico estará abrangida pelo Plano Regional de

Ordenamento do Território do Norte, que se encontra presentemente em elaboração, tal

como determinado pela Resolução de Conselho de Ministros nº29/2006 de 23 de

Fevereiro. Esteve anteriormente integrada na área abrangida pelo Plano Regional de

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

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Ordenamento do Território do Alto Minho, correspondente à NUTS III Minho-Lima (distrito

de Viana do Castelo), elaborado entre 1993 e 1995, que recebeu parecer favorável da

respectiva comissão de acompanhamento. No entanto, tal não chegou a ser aprovado,

dado ter-se sobreposto o processo de elaboração da Lei de Bases da Política de

Ordenamento do Território e de Urbanismo, que fixava uma orientação diferente para os

PROT, conforme expresso na Resolução de Conselho de Ministros nº29/2006 de 23 de

Março.

2.3.3 Planos Municipais de Ordenamento do Territóri o

A Paisagem Protegida está inserida no município de Paredes de Coura, estando portanto

sujeita às disposições contidas no respectivo Plano Municipal de Ordenamento do

Território (Plano Director Municipal; PDM).

O PDM de Paredes de Coura (Resolução do Conselho de Ministros nº 82/95, de 25 de

Agosto) foi elaborado e entrou em vigor antes da criação da Paisagem Protegida.

Encontra-se actualmente em processo de revisão; a deliberação da determinação de

revisão do PDM foi aprovada pela Câmara Municipal em 26 de Abril de 2000 e divulgada

através de Edital em 27 de Abril de 2000.

As zonas incluídas na área da Paisagem Protegida estão essencialmente classificadas

nas seguintes classes de espaço:

• Uso natural – está delimitado sobretudo na zona nordeste da Paisagem Protegida;

em termos de superfície não é das classes mais representadas;

• Espaços florestais – incluem parte bastante considerável da área da Paisagem

Protegida, nomeadamente a sul e a leste;

• Uso florestal – ocupa sobretudo uma faixa na zona sul da Paisagem Protegida;

não está muito representada em termos de superfície;

• Áreas agrícolas – distribuídas em pequenas manchas, relativamente dispersas,

sobretudo na zona oeste, sendo uma classe de espaço pouco representada;

• RAN – Reserva Agrícola Nacional – ocupa uma área bastante considerável da

Paisagem Protegida, sendo uma das classes de espaço mais representadas.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

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2.3.4 Planos Especiais de Ordenamento do Território

Plano de Ordenamento de Áreas Protegidas

O Plano de Ordenamento da Paisagem Protegida está previsto no seu diploma de

criação, DR 21/99, de 20 de Setembro, o qual estipula um prazo de três anos para a sua

elaboração. Nos termos do Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro, este Plano de

Ordenamento deve ser considerado um Plano Especial de Ordenamento do Território

(Artigo 2º - 2c), vinculando, portanto as entidades públicas, e ainda, directa e

imediatamente, os particulares (Artigo 3º - 2). Estes planos têm como objectivo

estabelecer usos preferenciais, condicionados e interditos, determinados por critérios de

conservação da natureza e da biodiversidade, de forma a compatibilizá-la com a fruição

pelas populações (Artigo 13º - 3c). A elaboração do Plano de Ordenamento foi

determinada neste quadro legal, pela Resolução de Conselho de Ministros nº72/2003 de

16 de Maio.

2.3.5 Planos Sectoriais de Ordenamento do Territóri o

Plano Sectorial da Rede Natura 2000

O Plano Sectorial para a Rede Natura 2000 (Resolução do Conselho de Ministros nº

66/2001, de 6 de Junho) incide sobre a área incluída no Sítio de Importância Comunitária

(SIC) Corno do Bico, e engloba a quase totalidade da Paisagem Protegida, tendo aliás

uma superfície maior. Apesar deste Plano ainda não estar aprovado, julgou-se importante

considerá-lo aqui, uma vez que as suas orientações dizem especificamente respeito à

conservação de habitats e espécies. Este Plano apresenta os seguintes objectivos gerais:

a) Estabelecer orientações para a gestão territorial das zonas de protecção especial

(ZPE) criadas pelos Decretos-Leis nos 280/94, de 5 de Novembro, e 384-B/99, de 23

de Setembro, e dos sítios da Lista Nacional de Sítios, aprovada pelas Resoluções do

Conselho de Ministros nos 142/97, de 28 de Agosto, e 76/2000, de 5 de Julho,

integradas no processo da Rede Natura 2000;

b) Estabelecer o regime de salvaguarda dos recursos e valores naturais dos locais

integrados no processo de Rede Natura 2000, fixando os usos e o regime de gestão

compatíveis com a utilização sustentável do território;

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

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c) Representar cartograficamente, em função dos dados disponíveis, a distribuição dos

habitats presentes nos sítios da Lista Nacional de Sítios nas ZPE;

d) Estabelecer directrizes para o zonamento das áreas em função das respectivas

características e prioridades de conservação;

e) Definir as medidas que garantam a valorização e a manutenção num estado de

conservação favorável dos habitats e espécies constantes dos anexos ao Decreto--

Lei nº 140/99, de 24 de Abril, bem como fornecer a tipologia das restrições ao uso do

solo, tendo em conta a distribuição dos habitats a proteger;

f) Fornecer orientações sobre a inserção em plano municipal ou especial de

ordenamento do território das medidas e restrições mencionadas nas alíneas

anteriores;

g) Definir as condições, os critérios e o processo a seguir na realização da avaliação de

impacte ambiental e na análise de incidências ambientais a que se refere o artigo 9º

do Decreto-Lei nº 140/99, de 24 de Abril.

Para o SIC do Corno do Bico, o PSRN2000 identifica como principais factores de ameaça

à conservação de habitats e espécies de interesse comunitário a pressão agrícola e a

pressão humana, destacando como exemplo a realização do festival de Paredes de

Coura recair na área de ocorrência de uma planta ameaçada, o Narcissus cyclamineus.

Para controlar estes e outros factores de ameaça relevantes é formulado um vasto

conjunto de orientações de gestão dirigidas em grande medida para a conservação dos

carvalhais, das florestas aluviais, bem como dos urzais húmidos, habitats que

desempenham também um papel importante como locais de abrigo e reprodução para o

lobo. São também direccionadas para a conservação da população de Narcissus

cyclamineus, através de medidas de preservação da vegetação marginal das linhas de

água. Estas orientações terão que ser tidas em conta no Plano de Ordenamento da

PPCB, listando-se de seguida, e de forma resumida, as principais:

• Adoptar práticas de pastoreio específicas, como o pastoreio de percurso, e a

tomada de medidas de prevenção contra ataques de lobo, como a utilização de

cercas eléctricas e cães de gado e assegurar que os rebanhos são de pequenas

dimensões;

• Salvaguardar o pastoreio, mantendo práticas extensivas;

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

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• Assegurar a manutenção do mosaico de habitats, promovendo a existência de

bosquetes, em alternância com zonas mais abertas de matos e prados;

• Condicionar a intensificação e a expansão do uso agrícola;

• Condicionar o uso de agro-químicos, com a adopção de técnicas alternativas,

nomeadamente em áreas contíguas ao habitat de espécies prioritárias do ponto

de vista da conservação;

• Conservar / promover a existência de sebes, bosquetes e arbustos;

• Adoptar práticas silvícolas específicas, como condicionar o corte de formações

florestais de cuja orla faz parte Festuca elegans, bem como a limpeza destas

orlas;

• Condicionar a florestação;

• Condicionar as queimadas;

• Conservar / recuperar povoamentos florestais autóctones;

• Conservar / recuperar a vegetação dos estratos herbáceo e arbustivo;

• Promover a regeneração natural;

• Reduzir o risco de incêndio;

• Reduzir os impactes das intervenções de reparação e melhoramento de rodovias;

• Condicionar o represamento de linhas de água em zonas sensíveis;

• Condicionar a expansão urbano-turística;

• Melhorar transposição de barragens/açudes;

• Redução de mortalidade acidental em rodovias (vedações, sinalizadores e

passagens para a fauna);

• Condicionar captação de água;

• Condicionar a drenagem;

• Condicionar intervenções nas margens e leito das linhas de água;

• Incrementar a sustentabilidade económica de actividades com interesse para a

conservação;

• Implementar gestão cinegética compatível com a conservação dos valores

naturais;

• Ordenar as acessibilidades e as actividades de recreio e lazer, incluindo o

desporto de natureza;

• Condicionar ou interditar o corte, colheita e captura de espécies.

• Estabelecer programas de repovoamento ou reintrodução para algumas espécies;

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

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Planos de Bacia Hidrográfica

O Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Minho (Decreto Regulamentar nº 17/2001, de 5 de

Dezembro) é um dos Planos Sectoriais com incidência na área da Paisagem Protegida.

No âmbito da conservação da natureza apresenta os seguintes objectivos operacionais,

relevantes para a área da Paisagem Protegida e zonas envolventes:

• Promover a salvaguarda da qualidade ecológica dos sistemas hídricos e dos

ecossistemas, assegurando o bom estado físico e químico e a qualidade

biológica, nomeadamente através da integração da componente biótica nos

critérios de gestão da qualidade da água;

• Promover a definição de caudais ambientais e evitar a excessiva

artificialização do regime hidrológico, visando garantir a manutenção dos

sistemas aquáticos, fluviais, estuarinos e costeiros;

• Promover a preservação e a recuperação de troços de especial interesse

ambiental e paisagístico, das espécies e habitats protegidos pela legislação

nacional e comunitária e, nomeadamente, das áreas classificadas, das

galerias ripícolas e do estuário.

Tem também incidência na Paisagem Protegida o Plano de Bacia Hidrográfica do Rio

Lima (Decreto Regulamentar nº 11/2002 de 8 de Março), que apresenta para a área da

conservação da natureza os mesmos objectivos anteriormente descritos para o Plano de

Bacia Hidrográfica do Rio Minho.

Plano Regional de Ordenamento Florestal

No que diz respeito aos recursos florestais, vigora na Paisagem Protegida o Plano

Regional de Ordenamento Florestal (PROF) do Alto Minho (Decreto Regulamentar

nº16/2007 de 28 de Março). No âmbito deste PROF foi seleccionada como Mata Modelo

a Paisagem Protegida do Corno do Bico, por ser representativa, em termos de

diversidade e gestão, de manchas florestais com elevado interesse do ponto de vista da

diversidade florestal, conservação e protecção. No mesmo diploma (art. 8º, ponto 3.) a

floresta modelo está definida como um espaço para o desenvolvimento de práticas

silvícolas que os proprietários privados podem adoptar tendo como objectivo a

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

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valorização dos seus espaços florestais. Na Paisagem Protegida, localizada na Sub-

região homógenea do Corno do Bico, visa-se a implementação e incrementação das

funções de conservação de habitats, de espécies de fauna e de flora e de

geomonumentos, de recreio, enquadramento e estética da paisagem e de protecção. A

fim de concretizar essa visão foram estabelecidos os seguintes objectivos específicos:

a) Conservação de habitats, de espécies da fauna e flora, e de geomonumentos;

a. Proteger e conservar as espécies de fauna e de flora pelo estabelecimento

de medidas que permitam a conservação e biodiversidade das espécies,

que nessa sub-região assumem grande relevo pela peculiaridade de

espécimes, tanto da fauna como da flora, que possui.

b) Recreio, enquadramento e estética da paisagem;

a. Dinamizar o aproveitamento dos espaços florestais para recreio e lazer,

com o objectivo de desenvolver o turismo em espaço rural e o turismo de

natureza, quando aplicável, atendendo aos valores de conservação e

diversidade florística, faunística, cénicos e paisagens notáveis da sub-

região.

c) Protecção

a. Recuperar o perfil do solo através de arborizações que induzam o

restabelecimento da sua capacidade bioprodutiva;

b. Proteger a integridade ecológica das águas interiores através do

melhoramento das cortinas ripárias existentes, com recurso a espécies

nativas da Área Protegida.

São ainda reconhecidos como objectivos específicos os seguintes programas regionais,

aplicáveis a esta sub-região:

a. Arborização e reabilitação de áreas florestais;

a) Arborização de espaços florestais não arborizados;

b) Restauração de ecossistemas degradados;

c) Condução da regeneração natural de folhosas autóctones e adensamento

da cortina riparia.

b. Beneficiação de áreas florestais arborizadas;

a) Recuperação após fogo;

b) Fogo controlado;

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

18

c) Acessibilidade/compartimentação.

c. Prevenção e vigilância de fogos florestais;

a) Adensamento e relocalização de infra-estruturas;

b) Responsabilização/constituição de brigadas de sapadores florestais;

d. Actividades associadas;

a) Actividades de natureza em espaço florestal;

b) Regularização e beneficiação silvopastoril.

No Mapa Síntese do PROF a Paisagem Protegida do Corno do Bico está classificada

como Zona Sensível.

Reserva Ecológica Nacional

No município de Paredes de Coura existe proposta de delimitação de REN constante do

Plano Director Municipal, localizando-se sobretudo na zona sul e zona leste da PP.

Contudo, no perímetro da área protegida não se aplica o regime da Reserva Ecológica

Nacional.

Reserva Agrícola Nacional

A Reserva Agrícola Nacional reconhecida na área de estudo é delimitada no Plano

Director Municipal de Paredes de Coura. A localização e extensão destas áreas foram já

referidas anteriormente, na secção referente às classes de espaço identificadas na área

pelo PDM.

Regime florestal

Parte da área encontra-se sujeita ao regime florestal, em co-gestão entre a assembleia

de compartes e a Direcção Geral dos Recursos Florestais (DGRF) e geridos pela

assembleia de compartes que podem delegar a sua gestão num concelho Directivo de

Baldios ou na própria Junta de Freguesia. Existem 5 unidades de baldios pertencentes

respectivamente a cada uma das freguesias da Área Protegida:

- os baldios das freguesias de Cristelo, Parada e Vascões, onde a gestão é feita pelos

Compartes em Regime de exclusividade (DL 39/76 de 19 de Janeiro e Lei 68/93 de 4 de

Setembro-lei dos Baldios);

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

19

- os baldios das freguesias de Castanheira, que possuem uma gestão conjunta entre

DGRF e Compartes (DL 39/76 de 19 de Janeiro e Lei 68/93 de 4 de Setembro-lei dos

Baldios);

- o baldio da freguesia de Bico, que se encontra em Regime de Administração transitório

(DL 39/76 de 19 de Janeiro e DL 68/93 de 4 de Setembro e Lei 68/93 de 4 de Setembro-

lei dos Baldios).

2.4. Cadastro e direitos de uso

A maior parte dos terrenos no perímetro da Paisagem Protegida são privados. O

minifúndio agro-florestal é claramente o tipo de propriedade dominante, o que é típico da

região. O Perímetro Florestal Entre Vez e Coura, sob gestão da Direcção-Geral dos

Recursos Florestais, ocupa cerca de 20% da superfície da Paisagem Protegida. Devido à

falta de informação detalhada, optou-se por não se incorporar a carta de cadastro e

direito de uso (Carta [4]).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

20

3. CARACTERIZAÇÃO FÍSICA

3.1. Clima

O clima da região do Minho é resultado da sua posição geográfica na fachada ocidental

do Continente Europeu e proximidade do Atlântico e a forma e disposição dos principais

conjuntos montanhosos do noroeste de Portugal (INAG 2000). Estes factores determinam

que seja a região mais pluviosa de Portugal (INAG 1999). De facto, apesar da Serra D'

Arga se interpor entre o Atlântico e Corno do Bico, o clima da Paisagem Protegida do

Corno do Bico ainda é marcadamente Atlântico. Por um lado, a menor altitude da Serra D'

Arga (801 m) em relação à maior altitude de Corno do Bico (883 m), aliado à sua

orientação em relação ao mar aproximadamente NW/SE, e também à existência dos

vales fluviais e respectivos afluentes dos rios Lima e Coura, permitem uma plena e fácil

penetração das massas de ar marítimas na região (ICNB dados não publicados).

Globalmente, a área insere-se numa vasta região de clima de tipo marítimo, fachada

atlântica. As temperaturas médias mensais variam entre o 8,6º C de Janeiro e o 21,4º C

do mês de Julho, tendo-se atingido temperaturas mínimas nos meses de Inverno

negativas (de – 5ºC) e máximas nos meses de Verão cerca de 40ºC (INMG 1991, ICNB

dados não publicados). Os verões são assim classificados como moderados, podendo os

invernos ser classificados entre frescos e frios a muito frios (INAG 1999).

A pluviosidade atinge os 2700 mm e o número de dias no ano com precipitação superior

a 0,1 mm ultrapassa os 150 dias. De acordo com dados reportados a uma das estações

climatológicas mais próximas (Monção / Valinha), a humidade relativa do ar varia entre os

50% e os 80%, dependendo do avanço do dia. É contudo de notar que não existem

dados específicos para a área da Paisagem Protegida. A precipitação sob a forma de

neve é rara, tal como o número de dias de geada, ocorrendo só nos meses de Inverno,

mas quando acontece a intensidade e persistência são reduzidas (INMG 1991).

Dada a inexistência de uma caracterização climática mais localizada na área da

Paisagem Protegida a caracterização apresentada refere-se à informação disponível

existente, relativa às bacias hidrográficas dos rios Lima e Minho (INAG 1999, 2000).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

21

A evapotranspiração potencial anual média da bacia (Thornthwaite) varia entre 600 e 740

mm; de meados de Maio até final de Setembro a evapotranspiração real em geral é

superior à precipitação, o mesmo sucedendo com a evapotranspiração potencial, com

destaque para Julho, com valores entre 101 e 117 mm (INAG 1999, 2000). Janeiro é o

mês de menor evapotranspiração potencial, variando entre 12 e 26 mm, em média (INAG

1999, 2000).

A evapotranspiração real anual média está compreendida entre cerca de 490 e 610 mm,

condicionada pelas disponibilidades hídricas nos meses de Maio a Setembro (INAG

1999, 2000). O regime mensal médio apresenta valores máximos entre 80 e 95 mm em

Junho, e valores mínimos entre 12 e 27 mm em Janeiro (INAG 1999, 2000).

Insolação

Na Paisagem Protegida a insolação média anual varia entre as 2000 e as 2300 horas

(www.iambiente.pt).

Humidade

A humidade relativa mantém-se elevada durante todo o ano, registando o valor médio

anual de 85% (www.iambiente.pt).

Vento

A velocidade média anual do vento varia entre os 10 km/h no sector intermédio da bacia

hidrográfica do rio Lima e os 8 km/h junto à foz (INAG 2000).

Orvalho e Geada

Na área intermédia da bacia hidrográfica do Rio Minho registou-se a ocorrência de cerca

de 9 dias de orvalho por ano (INAG 2000). Os registos da ocorrência de geada apontam

para 20 a 30 dias por ano (www.iambiente.pt).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

22

Nevoeiro

Ocorre sobretudo desde o Outono até à Primavera, essencialmente durante as noites

límpidas e frias com situação anticiclónica, dissipando-se ao fim da manhã (INAG 2000).

Classificação climática

Esta área geográfica apresenta, segundo a classificação climática de Köppen, um clima

temperado, com um Verão seco e ameno (Peel et al. 2007).

Na área da bacia hidrográfica do rio Lima a classificação climática segundo Thornthwaite

indica que o clima é super húmido, mesotérmico, com pequena falta de água no ano e

com pequena eficiência térmica no Verão. Por sua vez, na zona intermédia da bacia

hidrográfica do rio Minho, a mesma classificação aponta a região como húmida ou muito

húmida e com moderada falta de água no Verão.

Do ponto de vista bioclimático, a Paisagem Protegida situa-se numa área

predominantemente temperada oceânica submediterrânica.

3.2. Geologia

A caracterização geológica foi realizada para a área da Paisagem Protegida de Corno do

Bico, incluindo também, em termos gerais, uma breve caracterização das bacias

hidrográficas dos rios Minho e Lima.

A cartografia geológica (Carta [6]) foi efectuada para a área presentemente incluída na

Paisagem Protegida. A descrição geológica foi efectuada com base na Carta Geológica

simplificada, à escala 1:500 000 e nos Planos de Bacia Hidrográfica do Minho e Lima.

3.2.1. Estratigrafia e Tectónica

3.2.1.1 Formações representadas nas Bacias Hidrográ ficas do Minho e do Lima

A bacia do rio Minho está dividida em duas partes separadas pelo cisalhamento dúctil de

Vigo-Régua, que tem orientação Varisca-NW-SE a N-S e que intercepta quase

perpendicularmente a neo-tectónica Alpina dominante (ENE-WSW a NESW) (INAG

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

23

2000). A Oeste do cisalhamento afloram terrenos para-autóctones, de idade Câmbrica a

Silúrica, intensamente metamorfizados e intruídos por granitos, enquanto que a Este a

área é essencialmente constituída por maciços granitóides autóctones ou para-

autóctones, provavelmente ultra-metamórficos, com excepção da mancha alóctone de

Valença (INAG 2000). As unidades litológicas que ocorrem na bacia são rochas

sedimentares, eruptivas e metamórficas (INAG 2000).

Relativamente à bacia do rio Lima, de forma alongada e direcção ENE-WSW, atravessa

afloramentos graníticos, que intruíram e metamorfizaram xistos e metagrauvaques do

Câmbrico e do Silúrico, na maior parte da sua extensão (INAG 1999). A tectónica

encontra expressão morfológica nos diversos vales de traçado rectilíneo existentes na

bacia, de que é exemplo o próprio rio Lima, ou outros exemplos da margem direita, como

os rios Castro Laboreiro, Labruja e Estorãos (INAG 1999). De realçar ainda a presença

de alguns retalhos de terraços fluviais associados ao rio Lima, que testemunham

movimentos neotectónicos, sobretudo movimentos de levantamento que terão provocado

o encaixe da rede hidrográfica e são constituídos por depósitos de areias caulínicas com

intercalações lenticulares de argilas (INAG 1999).

3.2.1.2 Formações representadas na Paisagem Protegi da do Corno do Bico

Geologicamente a área localiza-se na Zona Centro Ibérica, subzona da Galiza Média-

Trás-os-Montes (segundo a Carta Tectónica da Península Ibérica), onde predominam as

rochas granitóides (ICNB dados não publicados).

Em termos orográficos esta é uma região essencialmente montanhosa, onde se destaca

como elevação de maior cota o Corno do Bico (883 m); entre estas elevações observam-

se depressões alvéolares, mais ou menos planas e extensas, férteis e rendilhadas por

muretes que isolam pequenas áreas de pastagem ou de cultivo (ICNB dados não

publicados).

Os detritos minerais que constituem os solos da região resultam sobretudo da alteração

da rocha-mãe (meteorização do granito), tendo predominância de quartzo e feldspatos

(ICNB dados não publicados). Nos cumes e vertentes montanhosas, onde a rocha aflora,

são bem visíveis algumas das formas de erosão características do granito como os

penedos ou os caos de blocos (ICNB dados não publicados). O cultivo dos terrenos, nas

encostas, é possível e facilitado pelos socalcos que atenuam o seu pendor (ICNB dados

não publicados).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

24

De acordo com a Carta Geológica, escala 1:500.000, podem-se distinguir na área

essencialmente os seguintes Granitóides Biotíticos com Plagioclase Cálcica e seus

Diferenciados, Sin a Tradi-Tectónicos (relativamente a F3) e pertencentes à Série

Intermédia: Granodioritos e quartzodioritos, biotiticos, porfiróides ou com esparsos

megacristais (onde se inclui o granito de Parede de Coura) (ICNB dados não publicados);

os Pórfiros riolíticos, graníticos e aplito-pegmatitos, e ainda os Xistos da Unidade Vila

Nunes e Valença, bem como outros Xistos e grauvaques, quartzitos inferiores, tufos

ácidos e Xistos inferiores.

Os quartzodioritos e granodioritos biotíticos ocupam uma área extensa da PP,

essencialmente na sua zona central. Os granitos e granodioritos estão pouco

representados na área, ocorrendo uma pequena mancha na zona sudoeste, na

proximidade de Corredouras. Os granitos e granodioritos porfiróides, a par do primeiro

conjunto referido, ocupam uma grande extensão da Paisagem Protegida, nos seus

extremos norte e sul. Os pórfiros riolíticos, graníticos e aplito-pegmatitos ocorrem em

pequena extensão, na zona de Castanheira. Os Xistos da Unidade Vila Nunes e Valença

distribuem-se apenas pelo extremo norte da AP, enquanto que os restantes Xistos se

localizam no seu extremo sudoeste.

Da análise petrográfica, verifica-se que os Granodioritos e quartzodioritos, biotiticos,

porfiróides ou com esparsos megacristais evidenciam ao microscópio uma fácies mais de

granito e granodiorito, nalguns casos com termo intermédio de monzonito. No Granito

porfiróide, de grão grosseiro, essencialmente biotítico, domina um granito biotítico de

grão grosseiro com megacristais de microclina em geral albitizada e com micropertites,

observando-se em geral perda de ferro na biotite assim como ligeira cloritização (ICNB

dados não publicados).

A concessão de Lamas é o testemunho de uma mineralização associada a rochas

filonianas e que foi objecto de exploração mineira. Extrai-se, sobretudo, o estanho e o

volfrâmio, tendo terminado a sua exploração nos anos 40; pontualmente, observam-se

pequenas áreas de exploração temporária de saibro (ICNB dados não publicados).

3.2.2. Geomorfologia

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

25

O enquadramento geomorfológico da área de estudo foi realizado com base nos Planos

de Bacia Hidrográfica do Minho e Lima.

3.2.3.1. Enquadramento geomorfológico

A altitude média da bacia do rio Lima é de 447 m e desde a fronteira com Portugal até à

foz em Viana do Castelo tem cerca de 67 km de comprimento (INAG 1999). O seu perfil

longitudinal apresenta três sectores distintos, destacando-se o sector intermédio, que

abarca a Paisagem Protegida, que se caracteriza por ser declivoso, com declive médio

de cerca de 1,5% (INAG 1999). Este corresponde ao percurso de montanha entre a

barragem do Alto Lindoso e um pouco a montante de Ponte da Barca, onde o vale é

muito encaixado com vertentes íngremes (INAG 1999).

Em termos geomorfológicos, o troço nacional do rio Minho pode ser dividido em três

zonas (INAG 2000). Na zona intermédia, entre Monção e Caselas, começam a surgir

deposições de matérias em suspensão e correntes lentas, dando origem ao

aparecimento de ilhas e praias nas margens; na zona inferior, apresenta maiores

deposições e correntes muito lentas, dando origem a deposição de areias com formação

de bancos (INAG 2000).

3.3. Pedologia

A caracterização da pedologia da área da Paisagem Protegida tem como base dados

fornecidos pelo ICNB (não publicados).

Os detritos minerais que constituem os solos desta região, provenientes principalmente

da meteorização do granito, são em geral arenosos, com predominância de quartzo e

feldspatos. Daí resultam solos ácidos, com boa permeabilidade, de fácil lixiviação e

geralmente bem drenados (ICNB dados não publicados). A sua cor é parda ou

acinzentada, excepto nas camadas superficiais, mais escuras, devido à presença e

abundância de matéria orgânica em decomposição (ICNB dados não publicados).

O principal processo de formação destes solos deverá ter sido a podzolização, dadas as

condições climáticas predominantes na região. Com excepção da área de Chãs Verdes -

Lamas (S. Martinho de Vascões), os solos parecem estar, de uma forma geral, bem

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

26

preservados (ICNB dados não publicados). Para este facto terão contribuído o declive

pouco acentuado das encostas e vertentes, a manutenção da cobertura vegetal e a

prática agrícola tradicional da região (ICNB dados não publicados). A maior parte dos

solos da área de estudo derivou de rochas consolidadas (granitos e xistos) (ICNB dados

não publicados).

Os solos existentes classificam-se nas famílias seguidamente discriminadas (Cardoso

1965, Calvão 1972) (Carta [9]).

Tipos de solos principais representados na Paisagem Protegida:

• Antrossolos cumúlicos (ATc) dístricos (d)

• Cambissolos húmicos (CMu) pardacentos (p)

• Regossolos dístricos (RGd) espessos (o)

• Regossolos úmbricos (RGu) delgados (l)

• Regossolos úmbricos (RGu) espessos (o)

• Áreas urbanas, aglomerados, grandes estruturas e infra-estruturas (ASoc(3))

Os antrossolos cumúlicos dístricos e os regosssolos úmbricos espessos são os tipos de

solos predominantes na Paisagem Protegida.

Os principais tipos de solos que ocorrem na área da Paisagem Protegida de Corno do

Bico são, em seguida, sumariamente descritos, com base na informação presente em

www2.fc.up.pt.

Os antrossolos são solos que pela actividade humana sofreram uma modificação

profunda; destes, os cumúlicos apresentam acumulação de sedimentos com textura

franco-arenosa ou mais fina, em espessura superior a 50 cm, resultante da rega contínua

de longa duração ou elevação da superfície do solo por acção do Homem. Entre este tipo

de solos os dístricos (ATcd) caracterizam-se pela saturação das bases (pelo acetato de

amónio) inferior a 50%, pelo menos entre 20 a 50 cm de profundidade. No que respeita

ao material originário estes solos são provenientes, na Paisagem Protegida, sobretudo de

granodioritos e quartzodioritos.

Os cambissolos são solos com um horizonte câmbico e sem outros horizontes de

diagnóstico além de um A ócrico ou úmbrico, ou um A mólico assentando sobre um B

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

27

câmbico, com grau de saturação de bases inferior a 50%. Caracterizam-se ainda por não

possuírem propriedades sálicas nem propriedades gleicas em 50 cm a partir da

superfície. Os cambissolos húmicos (CMu) podem apresentar um horizonte A úmbrico

ou mólico e registam ausência de propriedades vérticas, nem ferrálicas no horizonte B

câmbico, nem gleicas até 100 cm a partir da superfície; não possuem ainda congelação

permanente até 200 cm a partir da superfície. Os cambissolos húmicos pardacentos (p)

caracterizam-se por apresentarem horizonte A úmbrico e horizonte B não crómico.

Quanto ao material originário são provenientes de granitos e rochas afins e de

granodioritos e quartzodioritos.

Os regossolos são solos de materiais não consolidados, com exclusão de materiais com

textura grosseira ou com propriedades flúvicas, não tendo outro horizonte diagnóstico

além de um A úmbrico ou ócrico. Não possuem propriedades sálicas ou gleicas em 50

cm a partir da superfície. Destes solos, os dístricos (RGd) apresentam as mesmas

propriedades dos antrossolos dístricos, acrescentando-se o facto de não possuírem

camadas permanentemente congeladas até 200 cm a partir da superfície. Os regossolos

dístricos espessos (o) desenvolveram-se a partir de sedimentos detríticos não

consolidados, coluviões de encostas e fundos de vales, de depósitos de vertentes em

encostas declivosas ou materiais resultantes da alteração e desagregação de rocha dura

subjacente. Quanto ao material originário, são provenientes de coluviões de granodioritos

e quartzodioritos e regolitos de granitos.

Os regossolos úmbricos (RGu) apresentam horizonte A úmbrico e denotam a ausência

de camadas permanentemente congeladas até 200 cm a partir da superfície. Destes, os

delgados (l) são formados a partir de materiais de alteração e desagregação da rocha

subjacente, a qual se encontra a 30-50 cm da superfície, e que pode ser dura e contínua

ou fendilhada ou em blocos compactos, com fendas ou intervalos preenchidos por

material terroso. São provenientes de granitos e rochas afins. Quanto aos regossolos

úmbricos espessos (RGuo) desenvolveram-se a partir de regolitos espessos

resultantes da arenização profunda de granitos, quartzodioritos ou granodioritos, ou

correspondentes a sedimentos detríticos não consolidados (em terraços fluviais ou

marinhos), coluviões de base de encosta e fundos de vales, ou depósitos de vertente em

encostas declivosas. São originários de regolitos de granitos ou regolitos de granodioritos

ou quartzodioritos.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

28

As áreas urbanas, aglomerados, grandes estruturas e in fra-estruturas (ASoc(3))

ocupam uma superfície bastante reduzida da área de Paisagem Protegida, localizando-se

em três pequenas manchas na metade sul da PP.

3.4. Hidrologia

A caracterização da hidrologia da Paisagem Protegida do Corno do Bico foi realizada

com base nos Planos de Bacia Hidrográfica do Lima e do Minho (INAG 1999, 2000) e no

Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) – INAG (disponível on-

line em http://snirh.inag.pt).

3.4.1. Hidrografia

A área de estudo enquadra-se nas Bacias Hidrográficas dos Rios Minho e Lima.

A área da bacia hidrográfica do Rio Minho é de 17080 km2, dos quais 800 km2,

correspondendo a cerca de 5% apenas, se situam em território nacional. É a segunda

menor bacia hidrográfica em Portugal, depois da do Rio Lima. A rede hidrográfica

caracteriza-se pela existência de duas linhas de água principais, o rio Minho

propriamente dito e o rio Sil, este último o maior afluente do rio Minho. Os principais

afluentes do rio Minho em Portugal são, de montante para jusante, o Trancoso, o Mouro,

o Gadanha e o Coura, integrando este último a Área de Paisagem Protegida.

A bacia hidrográfica do rio Minho é geomorfologicamente marcada pela oposição entre

relevos elevados, culminando em planaltos descontínuos preservados no topo de blocos

individualizados entre vales. Esta morfologia resulta num reticulado rígido, que sugere um

controlo por fracturas geralmente de difícil identificação no terreno, e vales profundos, de

fundo aplanado.

A bacia hidrográfica do rio Lima tem uma área aproximada de 2450 km2, dos quais cerca

de 1140 km2, ou seja, 46,5%, são em território nacional. Esta é limitada a norte pela bacia

hidrográfica do rio Minho, a leste pela do rio Douro e a sul pelas bacias dos rios Cávado e

Âncora.

As disponibilidades brutas de recursos hídricos superficiais da região abrangida pela

bacia hidrográfica do rio Lima são elevadas, nomeadamente devido à barreira natural

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

29

constituída pelas serras minhotas provocar precipitações muito significativas nas

vertentes atlânticas. O vale do Lima é das regiões mais ricas em recursos hídricos de

Portugal.

Desde a fronteira com Espanha, até à foz em Viana do Castelo, o rio apresenta um perfil

longitudinal com três sectores distintos, sendo os sectores intermédio e o de jusante

aqueles que integram e envolvem mais proximamente a área de Paisagem Protegida. O

sector intermédio caracteriza-se por ser declivoso, apresentando um declive médio de

cerca de 1,5%, que corresponde ao percurso de montanha entre a barragem do Alto

Lindoso e um pouco a montante de Ponte da Barca, onde o vale é muito encaixado e

com vertentes íngremes. O sector de jusante, com cerca de 35 km de extensão, localiza-

se entre Ponte da Barca e Viana do Castelo, com declive médio da ordem dos 0,1%,

apresentando-se o vale largo e com vertentes suaves, particularmente a jusante de Ponte

de Lima.

3.4.2. Hidrogeologia

Em termos gerais, a área de estudo está incluída na unidade hidrogeológica do Maciço

Antigo, ou Maciço Hespérico ou Ibérico. Esta é a unidade geológica que ocupa maior

extensão em Portugal, sendo constituída sobretudo por rochas eruptivas e

metassedimentares (Almeida et al. 2000). Dentro desta zona a Paisagem Protegida

localiza-se na Zona Centro-Ibérica, que se caracteriza pela ocorrência de uma espessa

sequência do tipo flysch (Precâmbrico superior a Câmbrico), chamada Complexo Xisto-

Grauváquico, sendo os quartzitos da base do Ordovício discordantes em relação àquela

(http://rop.ineti.pt/rop/images/intro/it2.html). Sobrepondo-se aos quartzitos ocorrem rochas

xistentas, por vezes ardosíferas, as quais têm interesse ornamental

(http://rop.ineti.pt/rop/images/intro/it2.html). O intenso magnetismo originou, sobretudo,

granitóides das séries alcalina e calco-alcalina, estando as rochas básicas muito

subordinadas (http://rop.ineti.pt/rop/images/intro/it2.html).

Os granitos que ocorrem na Zona Centro-Ibérica são, na sua grande maioria, hercínicos,

monzoníticos, de grão grosseiro, porfiróides, tardi a pós-tectónicos, da série tardia e

granitos e granodioritos porfiróides, sin-tectónicos, da série intermédia. Ocorrem alguns

corpos menores de granitóides sin-tectónicos mais antigos: granodioritos precoces,

granitos de duas micas e granitos gnaissóides (Almeida et al. 2000).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

30

As águas subterrâneas correspondentes à bacia hidrográfica do rio Lima ocorrem

inteiramente em aquíferos descontínuos com permeabilidade fissural instalados em

rochas cristalinas e cristalofíticas, existindo ainda pequenos depósitos de vale ou mesmo

de maciços muito alterados em que a permeabilidade dominante é intersticial e, nalguns

casos, mista (INAG 1999).

Nesta região existem milhares de captações por furo vertical destinadas a pequenos

consumos individuais para fins domésticos e agrícolas, e mesmo captações públicas de

média e pequena dimensão (INAG 1999). As solicitações quantitativas sobre os sistemas

hidrogeológicos podem ser consideradas importantes nalgumas áreas (INAG 1999). As

respostas dos sistemas, reconhecidamente com baixa transmissividade e porosidade

eficaz, têm sido interessantes face às solicitações mais comuns, continuando as águas

subterrâneas a desempenhar um papel importante na estrutura dos consumos de água

para fins agrícolas, industriais e de consumo humano (INAG 1999). É geralmente

estimado que mais de 53% dos usos consumptivos na área correspondem a águas

subterrâneas (INAG 1999).

O Plano de bacia hidrográfica do rio Minho destaca algumas zonas com interesse

hidrogeológico significativo, referindo-se às regiões em que as produtividades são em

geral superiores a 1 l/s (INAG 2000). Entre estas, destaca-se o Complexo Xistento de

Caminha-Campos-Paredes de Coura e os Granitos Porfiróides e Xistos de Arcos de

Valdevez-Paredes de Coura, devido à sua localização relativamente à Paisagem

Protegida (INAG 2000). A primeira abarca as bacias hidrográficas de Âncora, Lima e

Minho e consiste num aquífero livre com um meio de escoamento fissurado; a segunda

abarca as bacias do Lima e do Minho, sendo igualmente um aquífero livre e um meio de

escoamento misto (INAG 2000).

3.4.3. Qualidade das águas

Alguma degradação qualitativa é patente em certas zonas onde actividades humanas

como a agricultura, indústria ligeira ou deposição ilegal de resíduos põem em risco

sistemas hidrogeológicos de interesse local (INAG 1999).

A escassez de estações de medição e a sua heterogénea distribuição pela região não

permitem uma caracterização muito rigorosa da qualidade de água, nem na bacia do rio

Minho nem na bacia do Lima (INAG 1999, 2000). Na área da Paisagem Protegida e na

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

31

sua envolvente próxima, nomeadamente, não existem quaisquer estações de medição

que permitam ilustrar os parâmetros de qualidade.

3.4.3.1. Bacia hidrográfica do rio Minho

O eixo de desenvolvimento da bacia do Minho é definido pelo vale do rio principal,

localizando-se aí os principais focos de actividade humana, de que Caminha, Vila Nova

de Cerveira, Valença, Monção e Melgaço são os melhores exemplos (INAG 2000).

Apesar das limitações de dados de base, pode-se considerar que a qualidade da água do

curso principal do rio Minho e dos seus principais afluentes portugueses é aceitável,

observando-se contudo uma degradação da qualidade de água de montante para

jusante, localizando-se os maiores problemas a jusante da entrada do rio Louro (INAG

2000).

No rio Coura, que atravessa a Paisagem Protegida, são especialmente relevantes os

problemas de poluição difusa, derivados do carácter predominantemente florestal e

agrícola desta área (INAG 2000). Este rio apresenta ainda os valores mais elevados de

concentração de fosfatos e fósforo de toda a bacia (INAG 2000). No que respeita aos

sólidos em suspensão, observa-se também uma grande variação de valores neste rio,

dado o seu regime ser altamente influenciado pela existência de mini-hídricas e

aproveitamentos hidroeléctricos (INAG 2000). Este efeito modifica o leito dos rios, com

consequência para o habitat de muitas espécies (INAG 2000). Os concelhos de Vila Nova

de Cerveira e Paredes de Coura constituem pólos de contaminação industrial (INAG

2000). A caracterização bacteriológica revelou valores positivos em furos localizados na

freguesia de Paredes de Coura (INAG 2000).

3.4.3.2. Bacia hidrográfica do rio Lima

A montante de Ponte da Barca, onde se localiza a Área de Paisagem Protegida, as linhas

de água pertencentes à bacia hidrográfica do rio Lima apresentam, em geral, boa

qualidade (INAG 1999). Contudo, observam-se sistematicamente, com carácter pontual,

valores das concentrações em nitratos e em coliformes fecais com algum significado,

quer no próprio rio Lima quer nos seus afluentes Labrujo e Vez (INAG 1999), afluentes

estes que atravessam a Paisagem Protegida.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

32

4. CARACTERIZAÇÃO BIOLÓGICA

4.1. Flora

A lista de espécies vegetais presentes na área de Paisagem Protegida do Corno do Bico

(PPCB) conta com 439 espécies, tendo sido efectuadas algumas correcções a listas

prévias existentes (ICNB, dados não publicados), designadamente em relação à

presença de Cakile maritima subsp. maritima, Pancratium maritimum, Daphne gnidium

var. maritima, Matricaria maritima subsp. maritima e Corema album, que por lapso foram

incluídas, e a adição de Oxalis articulata, uma neófita entretanto observada no local.

No que diz respeito à caracterização da flora vascular, as seguintes fontes de informação

permitiram colmatar algumas lacunas:

• Trabalhos de Honrado et al. (2004) sobre a flora e vegetação do Alto Minho;

• Bases de dados “CIBIO-Flora” e “CIBIO-Vegetação”;

• Herbário PO (Departamento de Botânica, Faculdade de Ciências da Universidade

do Porto).

E no caso da brioflora:

• Trabalhos de Machado (1928 e 1929-1930)

• Trabalhos de Séneca & Sérgio (1992)

• Trabalhos de Sérgio (1977, 1994 e 1998)

Caracterização geral e espécies frequentes

A Paisagem Protegida do Corno do Bico possui uma elevada importância biofísica, pois

integra as cabeceiras dos rios Labruja, Coura e Vez, três dos principais cursos de água

do Alto Minho. O coberto vegetal é constituído por uma extensa e bem preservada

mancha florestal, onde predominam os carvalhais de carvalho-roble (Quercus robur)

(9230), com presença pontual, mas muito rara, de arando (Vaccinium myrtillus), vidoeiro

(Betula celtiberica) e azevinho (Ilex aquifolium). Merecem também destaque os urzais-

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

33

tojais higrófilos de Erica tetralix e Ulex minor e os tojais mesófilos dominados por Ulex

europaeus subsp. latebracteatus e/ou Ulex minor bem como a presença de lameiros de

feno.

Nesta área destaca-se, pela raridade e grau de ameaça local, a presença Narcissus

cyclamineus, nas margens do rio Coura. A área apresenta também interesse do ponto de

vista da conservação da brioflora, designadamente pela presença de Bruchia vogesiaca e

de Bryoerythrophyllum campylocarpum, sendo precisamente este um dos raros locais no

país onde podem ser encontradas.

Descrevem-se de seguida as espécies mais comuns na área de estudo associadas a três

tipos de vegetação: Bosques e vegetação herbácea a eles associada, Matos e matagais,

e Prados.

Bosques e vegetação herbácea associada

Os bosques climatófilos da área de estudo são sempre dominados pelo carvalho-

alvarinho (Quercus robur) que, por se encontrarem bem conservados, apresentam uma

considerável diversidade florística. No estrato arbustivo, estão sempre presentes o

escalheiro (Pyrus cordata), o sanguinho (Frangula alnus), o azevinho (Ilex aquifolium), a

urze-branca (Erica arborea) e as silvas (Rubus spp.), designadamente ao nível das orlas.

Na dependência estrita da sombra dos bosques, surgem herbáceas como as gramíneas

Holcus mollis, Brachypodium sylvaticum e alguns fetos (Pteridium aquilinum, Polystichum

setiferum). Estão também habitualmente presentes diversos musgos e líquenes terrícolas

e epifíticos.

Reconhecem-se dois tipos principais de carvalhais na Área Protegida. Nas áreas de

menor altitude (geralmente abaixo dos 700 metros), a flora habitual dos carvalhais é

enriquecida por algumas espécies de carácter termófilo, como o sobreiro (Quercus

suber), o medronheiro (Arbutus unedo), a gilbardeira (Ruscus aculeatus) e o trovisco

(Daphne gnidium). Nos territórios mais elevados, as plantas termófilas dos bosques de

baixa altitude são substituídas por espécies mais adaptadas aos rigores do clima das

terras altas, sendo o estrato arbóreo dos carvalhais de montanha, caracterizado pela

presença de carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e bidoeiro (Betula celtiberica) como

companheiras mais habituais do carvalho-alvarinho. O arando (Vaccinum myrtillus) ocupa

o lugar da gilbardeira e do trovisco no estrato arbustivo.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

34

As orlas e clareiras dos carvalhais albergam também um conjunto apreciável de plantas

herbáceas específicas destes biótopos que, à semelhança do que acontece noutras

regiões do Alto Minho, são tipicamente dominadas pelas esporas-bravas (Linaria

triornithophora), pelas viúvas (Aquilegia dichroa), pela erva-roberta (Geranium

robertianum), pela milfurada (Hypericum perforatum), entre outras (das quais

Omphalodes nitida, Stellaria holostea e Clinopodium vulgare são exemplos).

Os bosques edafo-higrófilos desta zona do Minho são dominados pelo amieiro (Alnus

glutinosa) ou pelo salgueiro-negro (Salix atrocinerea), podendo também incluir o freixo

(Fraxinus angustifolia). Habitualmente reduzidos a estreitas linhas de árvores ao longo

das margens de rios e ribeiros devido à actividade agrícola, encontram-se muitas vezes

misturados com silvados e outras sebes espinhosas onde abundam arbustos como o

pilriteiro (Crataegus monogyna) ou o sabugueiro (Sambucus nigra) e lianas como a

madressilva das boticas (Lonicera periclymenum) e a norça-preta (Tamus communis).

Do ponto de vista florístico, estes amieirais-salgueirais albergam diversas espécies

importantes do ponto de vista da conservação, de entre as quais se destacam os já

referidos martelinhos (Narcissus cyclamineus).

Matos e matagais

Nas áreas onde os bosques de carvalhos foram totalmente destruídos, a vegetação

esciófila dá lugar a formações heliófilas de giestas, medronheiros, urzes e tojos, de

assinalável carácter pioneiro, que formam mantos de grande extensão.

Os giestais são os matagais mais frequentes em toda a área, com predomínio da giesta-

das-vassouras (Cytisus striatus), geralmente acompanhada pelo tojo-arnal (Ulex

latebracteatus) e pelo feto-dos-montes (Pteridium aquilinum).

Os matos de tojos (Ulex spp.) e urzes (Erica spp.) constituem, juntamente com os

giestais, as formações naturais mais importantes na construção da paisagem vegetal

desta área.

Os mais comuns são os tojais altos (1-2 metros) dominados pelo tojo-arnal (Ulex

europaeus), geralmente acompanhado pelo tojo-molar (Ulex minor), pela urze-irlandesa

(Daboecia cantabrica) e pela torga ou queiró (Erica cinerea).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

35

Em solos um pouco mais húmidos (como o caso de pequenas depressões no fundo de

encostas ou junto a pequenos cursos de água), organiza-se habitualmente um mato

dominado pela lameirinha (Erica ciliaris) e pelo tojo-molar (Ulex minor), sendo também

frequentes outras espécies habituais em ambientes húmidos, como Cirsium filipendulum,

a urze (Calluna vulgaris), a genciana (Gentiana pneumonanthe) e a tormentilha (Potentilla

erecta).

Prados

É possível distinguir três tipos fundamentais de prados, de acordo com o nível de

humidade no solo e o regime de maneio a que são submetidos: i) prados secos sujeitos a

corte, ii) prados secos sujeitos a corte e pastagem, e iii) prados húmidos com abundância

de juncos.

Os primeiros apresentam maior diversidade de espécies, com predomínio de gramíneas

(Arrhenatherum bulbosum, Agrostis x fouilladei, Festuca nigrescens, etc.), acrescido de

uma diversidade considerável de dicotiledóneas oriundas da vegetação megafórbica das

orlas dos bosques.

O pastoreio a que estão sujeitos os prados secos modifica sensivelmente o nível trófico

dos solos, promovendo a proliferação de espécies adaptadas a este regime de

exploração intensivo (Cynosurus cristatus, Holcus lanatus, etc.), o desaparecimento das

dicotiledóneas oligotróficas das orlas dos bosques e consequente empobrecimento da

flora.

Os solos húmidos de fundo de encosta, frequentemente encharcados, favorecem a

proliferação de espécies higrófilas como os juncos (Juncus acutiflorus, Juncus effusus).

Quando explorados de forma extensiva, os prados-juncais das áreas serranas albergam

um número significativo de plantas típicas de turfeiras, como a arnica (Arnica montana

subsp. atlantica) e a erva-algodão (Eriophorum angustifolium), bem como orquídeas

(principalmente Dactylorhiza caramulensis) e outras espécies com interesse para

conservação, como as abrótegas (Paradisea lusitanica).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

36

Espécies raras e importantes para a conservação

Da lista de espécies vegetais total (Anexo II) foram seleccionados 14 taxa para

constituírem a lista de espécies importantes para a conservação (Anexo III). Estas serão,

adiante, objecto de uma valoração que indicará a relevância de cada uma para a

conservação, segundo uma metodologia a seu tempo explicitada. Esta compilação

corresponde a uma selecção segundo vários critérios. Nela estão incluídas a) todos os

taxa constantes no Anexo II da Directiva Habitats ou na lista preliminar de taxa a serem

incluídas no Livro Vermelho; b) todos os taxa endémicos pelo menos da Península

Ibérica, norte de África, Macaronésia e sul de França; c) todos os taxa que, não sendo

endémicos como descrito em b), a sua distribuição (global ou no país), raridade ou

sensibilidade à perturbação justificam que sejam incluídos na lista. Seguidamente

apresenta-se por ordem decrescente de relevância uma parte das espécies presentes na

lista que se julga pertinente, com comentários para cada uma sobre a distribuição geral,

distribuição na PPCB, habitat e raridade.

A distribuição da maioria das espécies de plantas vasculares do Anexo II da Directiva

“Habitats” na área de estudo é, em geral, bem conhecida, nomeadamente no que refere a

Narcissus cyclamineus. A corologia de Festuca summilusitana e Veronica micrantha

encontra-se ainda relativamente mal estudada, no entanto o conhecimento da ecologia

destas espécies permite uma espacialização verosímil da sua distribuição a partir das

ocorrências conhecidas.

No que se refere à brioflora, a informação disponível foi sujeita a confirmação através da

análise de material de herbário e cartografada de um modo preciso. A espacialização da

distribuição das espécies segue o critério de espacialização da distribuição potencial para

a extensão total da quadrícula quilométrica de ocorrência confirmada para cada espécie.

A inventariação e cartografia das áreas de estudo deste grupo de plantas é insuficiente e

estima-se que a ocorrência de espécies da Directiva “Habitats” seja mais vasta que a

actualmente conhecida, tanto para a ocorrência como para o número de espécies.

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37

BRIOFLORA

Bruchia vogesiaca

Endemismo europeu com distribuição dispersa e maior densidade no noroeste da

Península Ibérica. A distribuição e abundância a nível nacional é parcialmente

desconhecida e baseada sobretudo em referências históricas, sendo considerado

vulnerável para Portugal continental (Sérgio et al. 1994). Provavelmente manterá ainda a

sua ocorrência na área do Corno do Bico, onde colonizará pequenas clareiras em

arrelvados turfófilos, sobre solos com uma apreciável percentagem de areia granítica,

submetidos a um regime particular de perturbação, podendo demonstrar alguma nitrofilia.

Bryoerythrophyllum campylocarpum

Embora apresente uma distribuição geográfica alargada, encontra em Portugal as únicas

populações registadas para a Europa ocidental, sendo a região da bacia do rio Coura um

dos dois locais cuja presença foi confirmada. Foi detectada em taludes, mas poderá

ocorrer sobre areias ou solos mais profundos, em paredes rochosas verticais, rochas

ribeirinhas ou na casca de árvores. A sua distribuição e abundância a nível nacional são

parcialmente desconhecidas. Dada a escassez de efectivos e de registos, sendo que

alguns são históricos, supõe-se a sua raridade e uma baixa abundância. É considerada

ameaçada na Península Ibérica e Portugal Continental (Sérgio et al. 1994).

FLORA VASCULAR

Veronica micrantha

Endémica do noroeste da Península Ibérica. Encontra-se em perigo devido à reduzida

área de ocorrência, baixo número de efectivos e significativa fragmentação populacional.

Ocorre em sítios um pouco húmidos e sombrios de bosques naturais e comunidades

herbáceas das suas orlas, sem exposição preferencial, e com declives não muito

acentuados. Na área foi observada apenas na aldeia de Gaviães, associada a vegetação

herbácea alta de solos frescos.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

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Narcissus cyclamineus

Endémica do noroeste da Península Ibérica, é considerada muito rara e em perigo de

extinção devido ao reduzido número de efectivos, bem como ao isolamento e dispersão

dos indivíduos ou pequenos núcleos. Ocorre em margens de cursos de água, prados

húmidos e bosques sombrios. Na área de Paisagem Protegida do Corno do Bico surge

apenas nas margens do rio Coura próximo de Soutelo.

Festuca summilusitana

Endémica do noroeste da Península Ibérica. Ocorre em arrelvados perenes pioneiros

sobre solos degradados, derivados de rochas siliciosas e prados vivazes sub-rupícolas

das serras elevadas da metade norte do país, do Gerês à Estrela. É relativamente

frequente e globalmente pouco ameaçada, mas bastante rara em toda a área da

Paisagem Protegida, tendo sido observada apenas nas fendas dos afloramentos

graníticos da zona de Outeirais.

Menyanthes trifoliata

Planta aquática que se desenvolve em águas pouco profundas ou na orla de lagoas nas

zonas mais elevadas. Apresenta uma distribuição geográfica alargada, mas em Portugal

é bastante rara, com diversas populações nas Serras do Gerês e Estrela e uma

população referida para o Rio Minho, para além da população da Turfeira de Lameiro das

Cebolas, na área da Paisagem Protegida do Corno do Bico.

Arnica montana subsp. atlantica

Endémica da Península Ibérica e Sul de França, é uma das plantas vasculares

dominantes nas turfeiras atlânticas das montanhas do noroeste do país. O seu habitat

encontra-se bastante fragmentado e restringido às áreas montanhosas acima dos 800

metros de altitude, razão pela qual a espécie se encontra bastante ameaçada. Na área

da Paisagem Protegida surge na única verdadeira turfeira da área, em Lameiro das

Cebolas.

Scrophularia herminii

Endémica do noroeste da Península Ibérica e comum em toda a área da Paisagem

Protegida, é uma espécie de ambientes rupículas que pode ocorrer também nas orlas de

bosques naturais, sendo favorecida por um certo grau antropização.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

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Narcissus triandrus

Endémica da Península Ibérica e com grande interesse ornamental, ocorre numa grande

diversidade de ambientes da PPCB, designadamente matos, solos de bosques naturais e

terrenos cultivados ou incultos, entre outros.

Narcissus bulbocodium

Endémica da Península Ibérica e norte de África, habita prados secos e incultos mas

sujeitos a pastoreio, sendo bastante comum na Paisagem Protegida do Corno do Bico. A

colheita excessiva constitui, à semelhança de outras espécies de Narcissus, o seu

principal factor de ameaça.

Oxalis acetosella

Planta globalmente frequente, típica de bosques mesotróficos e galerias ripícolas, com

distribuição limitada às áreas mais setentrionais do Norte de Portugal. A área de

Paisagem Protegida engloba as maiores populações portuguesas desta espécie.

Lysimachia nemorum

Planta globalmente frequente, típica de bosques mesotróficos e galerias ripícolas, com

distribuição limitada às áreas mais setentrionais do Norte de Portugal, sendo bastante

comum na área de Paisagem Protegida do Corno do Bico.

Ruscus aculeatus

Endémica da Europa com uma distribuição geográfica alargada, atingindo a Hungria e a

Turquia. Ocorre nos matos dos carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e

Quercus pyrenaica. Em Portugal é muito abundante, contudo ameaçada devido à colheita

para aplicação como ornamental e medicinal.

Centaurium scilloides

Endémico da região atlântica europeia, distribui-se ao longo de todo o litoral atlântico

português, embora de forma muito dispersa. Ocorre muito pontualmente nos lameiros da

área de Paisagem Protegida.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

40

4.2 Vegetação

Introdução

Segundo a mais recente tipologia biogeográfica da Península Ibérica, da autoria de

Rivas-Martínez et al. (2002), a área estudada enquadra-se no Sector Galaico-Português

(Sub-província Galaico-Asturiana, Província Cantabro-Atlântica, Sub-região Atlântica

Medioeuropeia, Região Eurosiberiana).

Segundo Costa et al. (1998, 2002), o território estudado inclui-se, em particular, no

Subsector Miniense Litoral. A série de vegetação climatófila do território é encabeçada

pelos carvalhais da associação Rusco aculeati-Quercetum roboris.

De acordo com a classificação fitogeográfica elaborada por Franco (1994), que se baseia

na distribuição no país de um conjunto de taxa vasculares, a região em estudo insere-se

no NW, pertencendo as altitudes baixas e médias ao NW ocidental e as mais altas ao NW

montanhoso.

As serras de baixa e média altitude que separam os vales do Minho e do Lima

encontram-se fortemente perturbadas pela acção humana, sendo actualmente

dominadas por povoamentos florestais de eucalipto e pinheiro-bravo, e por manchas mais

ou menos extensas de urzais-tojais. Nas serras mais ocidentais, assinala-se ainda a

presença de formações densas de acácias (Acacia sp. pl.) enquanto que nas áreas mais

interiores, de que é exemplo o Corno do Bico, é possível observar ainda carvalhais mais

ou menos extensos.

Geomorfologicamente, a área de estudo caracteriza-se pela presença de relevos

elevados que culminam em planaltos preservados no topo de blocos individualizados por

vales encaixados, cuja orientação rígida sugere controlo estrutural; e pela existência de

vales profundos e abertos com perfil basal suave e orientação preferencial.

A drenagem fluvial encontra-se orientada segundo linhas preferenciais, com predomínio

das direcções ENE-WSW e N-S. A rede fluvial principal ocupa vales largos com perfis

basais suaves ladeados por terraços fluviais em escada.

A maior parte dos solos da área de estudo derivou de rochas consolidadas (granitos e

xistos), estando representados no território os seguintes tipos de solos.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

41

• Leptossolos: solos incipientes com menos de 30 cm de espessura, geralmente

colonizados por matos (Calluno-Ulicetea), prados terofíticos (Helianthemetea) e

formações pioneiras de nanocaméfitas (Sedo-Scleranthetea, Festucetea

indigestae);

• Fluvissolos e gleissolos: solos profundos submetidos a inundação cíclica,

primitivamente colonizados por bosques ripícolas e paludícolas (Salici-Populetea,

Alnetea glutinosae);

• Regossolos: solos profundos e incipientes derivados de outros materiais que não

sedimentos arenosos ou areias, predominantemente colonizados por matagais

(Cytisetea) e diversos tipos de prados (Molinio-Arrhenatheretea, Nardetea);

• Cambissolos: solos profundos e evoluídos, desenvolvidos sob coberto da

vegetação florestal (Querco-Fagetea) e pré-florestal (Rhamno-Prunetea,

Cytisetea) típica do território; e

• Antrossolos: solos profundamente modificados pelas actividades humanas.

O macrobioclima representado no território é o Temperado. Os andares bioclimáticos

predominantes são os seguintes:

- Mesotemperado (quase sempre Submediterrânico) Húmido Superior, nos

territórios de altitude média; e

- Supratemperado (quase sempre Submediterrânico) Hiper-húmido Inferior, nas

áreas mais elevadas.

O impacto das distintas actividades humanas remeteu a vegetação natural para espaços

marginais. Contudo, as observações resultantes dos diversos estudos efectuadas na

Área Protegida evidenciam uma boa representação da vegetação natural que, na maior

parte dos casos, está também bem conservada.

Os prados e pastagens, frequentes na área estudada, constituem um exemplo de

vegetação semi-natural.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

42

Sistematização da vegetação

Os habitats naturais identificados no Relatório de Caracterização da Paisagem Protegida

do Corno do Bico foram cartografados utilizando como base de dados preferencial a carta

de ocupação do solo relativa ao ano 2000 (COS’2000). Assim, foi utilizada uma

metodologia de espacialização desenvolvida pela equipa do CIBIO no âmbito de estudos

anteriores, que inclui quatro etapas: i) estabelecimento de critérios preliminares de

equivalência entre a tipologia da COS’2000 e o catálogo de habitats naturais; ii) validação

e aferição dos critérios de equivalência através de prospecções no terreno; iii)

reclassificação da COS’2000 e obtenção de cartografia preliminar de habitats naturais; e

iv) validação e aferição da cartografia preliminar através de prospecções no terreno. No

caso de alguns habitats, foram feitas alterações à cartografia original de ocupação do

solo, tendo ainda, excepcionalmente, sido acrescentadas novas parcelas (polígonos).

Em geral, foram cartografados mosaicos ou complexos de habitats (em detrimento de

habitats isolados), por dois motivos: i) muitos habitats ocorrem em mosaicos intrincados

cuja discriminação à escala de trabalho utilizada é difícil ou mesmo impossível (exemplo:

mosaico de matos e vegetação pioneira das suas clareiras); e ii) existem relações

próximas de carácter espacial e/ou temporal entre muitos habitats, que motivam a

implementação de um mesmo conjunto de orientações de gestão (exemplos: mosaicos

de vegetação serial, vegetação arbórea e herbácea de ambientes ripários).

Embora presentes, os Carvalhais mesotróficos de Quercus robur (9160pt1) e os

Aveleirais (9160pt2) apresentam uma fraca representatividade na área, razão pela qual

não foram discriminados na carta de vegetação.

Rios Colinos

3130 Águas estagnadas, oligotróficas a mesotróficas, com vegetação da Littorelletea

uniflorae e ou da Isoëto-Nanojuncetea 3130pt2 [Águas oligotróficas paradas com

vegetação de Hyperico elodis-Sparganion]

3260 Cursos de água dos pisos basal a montano com vegetação da Ranunculion

fluitantis e da Callitricho-Batrachion

91E0 Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior (Alno-Padion, Alnion

incanae, Salicion albae) 91E0pt1 [Amiais ripícolas]

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

43

Turfeiras Colinas

3130 Águas estagnadas, oligotróficas a mesotróficas, com vegetação da Littorelletea

uniflorae e ou da Isoëto-Nanojuncetea 3130pt2 [Águas oligotróficas paradas com

vegetação de Hyperico elodis-Sparganion]

4020 Charnecas húmidas atlânticas temperadas de Erica ciliaris e Erica tetralix 4020pt2

[Urzais-tojais termófilos]

6230 Formações herbáceas de Nardus, ricas em espécies, em substratos siliciosos das

zonas montanas (e das zonas submontanas da Europa continental)

7140 Turfeiras de transição e turfeiras ondulantes 7140pt2 [Turfeiras atlânticas]

7150 Depressões em substratos turfosos da Rhynchosporion

Matos Colinos Granito

4030 Charnecas secas europeias 4030pt2 [Tojais e urzais-tojais galaico-portugueses não

litorais]

8230 Rochas siliciosas com vegetação pioneira da Sedo-Scleranthion ou da Sedo albi-

Veronicion dillenii 8230pt1 [Tomilhais galaico-portugueses]

Matos Colinos de Granito Aflo

4030 Charnecas secas europeias 4030pt2 [Tojais e urzais-tojais galaico-portugueses não

litorais]

8230 Rochas siliciosas com vegetação pioneira da Sedo-Scleranthion ou da Sedo albi-

Veronicion dillenii 8230pt1 [Tomilhais galaico-portugueses]

8220 Vertentes rochosas siliciosas com vegetação casmofítica 8220pt1 [Afloramentos

rochosos siliciosos com comunidades casmofíticas]

Matos Colinos Xisto

4030 Charnecas secas europeias 4030pt3 [Urzais, urzais-tojais e urzais-estevais

mediterrânicos não litorais]

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44

8230 Rochas siliciosas com vegetação pioneira da Sedo-Scleranthion ou da Sedo albi-

Veronicion dillenii 8230pt1 [Tomilhais galaico-portugueses]

Mosaico Colino Granito

4030 Charnecas secas europeias 4030pt2 [Tojais e urzais-tojais galaico-portugueses não

litorais]

9230 Carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica 9230pt1

[Carvalhais de Quercus robur]

Mosaico Agro-Florestal

6410 Pradarias com Molinia em solos calcários, turfosos e argilo-limosos (Molinion

caeruleae) 6410pt2 [Juncais acidófilos de Juncus acutiflorus, J. conglomeratus e/ou J.

effusus]

6430 Comunidades de ervas altas higrófilas das orlas basais e dos pisos montano a

alpino 6430pt1 [Vegetação megafórbica meso-higrófila escionitrófila perene de solos

frescos] e 6430pt2 [Vegetação higrófila megafórbica perene de solos permanentemente

húmidos]

6510 Prados de feno pobres de baixa altitude (Alopecurus pratensis, Sanguisorba

officinalis)

8220 Vertentes rochosas siliciosas com vegetação casmofítica 8220pt3 [Biótopos de

comunidades comofíticas esciófilas ou de comunidades epifíticas]

9230 Carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica 9230pt1

[Carvalhais de Quercus robur]

Bosques de Carvalho

8220 Vertentes rochosas siliciosas com vegetação casmofítica 8220pt3 [Biótopos de

comunidades comofíticas esciófilas ou de comunidades epifíticas]

9230 Carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica 9230pt1

[Carvalhais de Quercus robur]

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

45

Bosques Mistos

9160 Carvalhais pedunculados ou florestas mistas de carvalhos e carpas subatlânticas e

médio-europeias da Carpinion betuli 9160pt1 [Carvalhais mesotróficos de Quercus robur]

Outros

Inclui todas as áreas não sujeitas a valoração, nomeadamente:

• Hortas e Campos;

• Zonas urbana;

• Povoamentos florestais.

Habitats listados na Directiva Habitats

Seguidamente será feita uma descrição breve, quando possível, da frequência e

tipicidade (que geralmente, mas nem sempre, reflecte o estado de conservação) de cada

habitat na Paisagem Protegida do Corno do Bico, e da sua localização e extensão.

3130 - Águas estagnadas, oligotróficas a mesotrófic as, com vegetação da

Littorelletea uniflorae e ou da Isoeto-Nanojuncetea

Subtipo 2 - Águas oligotróficas paradas com vegetaç ão de Hyperico elodis-

Sparganion

Comunidades de vegetação anfíbia com uma grande diversidade de tipos fisionómicos,

dominada por Hypericum elodes, Potamogeton polygonifolius, Juncus heterophyllus e

Eleogiton fluitans ou Baldellia alpestris. De ocorrência pontual a nível nacional, na área

do PPCB ocorrem em pequenos charcos e tanques ou valas de prados muito húmidos.

3260 - Cursos de água dos pisos basal a montano com vegetação da Ranunculion

fluitantis e da Callitricho-Batrachion

Habitats dulciaquícolas, permanentes ou temporários, de águas correntes mais ou menos

rápidas com comunidades de briófitas aquáticas (Platyhypnidium riparioides, Fontinalis

antipyretica) e plantas vasculares como Callitriche stagnalis e Ranunculus omiophyllus.

Trata-se de uma comunidade muito frequente na Península Ibérica, sobretudo no Norte e

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

46

centro do País, embora a sua área de ocupação esteja em regressão por acção

antrópica, sobretudo devido ao aumento da profundidade da água como consequência do

represamento e construção de açudes. Na área do PPCB é frequente o contacto destas

comunidades com as anteriores e as comunidades fontinais e de nascentes de águas

frias e oligotróficas.

4020 - Charnecas húmidas atlânticas temperadas de Erica ciliaris e Erica tetralix

Subtipo 2 - Urzais-tojais termófilos

Urzais-tojais higrófilos, não turfófilos, de Erica ciliaris e Ulex minor, sem Erica tetralix, em

que são mais raras as espécies do género Genista (já que apenas Genista triacanthos

ocorre pontualmente nestes matos).

Estas formações arbustivas meso-higrófilas e higrófilas dominadas por urzes (Erica

ciliaris, E. tetralix, Calluna vulgaris), tojos (geralmente Ulex minor) e espécies higrófilas do

género Genista possuem no seu estrato herbáceo diversas gramíneas (Agrostis

hesperica, Nardus stricta), ciperáceas (Carex pilulifera), juncáceas (Juncus squarrosus) e

dicotiledóneas herbáceas (géneros Cirsium, Polygala, Potentilla), dispondo-se

tipicamente em mosaico com cervunais higrófilos (habitat 6230), dependendo o

predomínio de uma das formações da intensidade do pastoreio e/ou da roça.

Os urzais-tojais meso-higrófilos e higrófilos distinguem-se dos urzais turfófilos (habitat

4010) pela presença de Ulex minor e pela ausência (ou pequena abundância) de

esfagnos (Sphagnum spp.).

Os urzais-tojais higrófilos encontram-se representados, de forma pontual, nas áreas mais

elevadas da Área Protegida do Corno do Bico, geralmente associados a comunidades

turfófilas. A abundância destes matos depende largamente do tipo de exploração,

tornando-se mais raros em áreas com elevada ocupação humana. Estas comunidades

têm sido submetidas a um tipo de exploração e maneio que conduz a uma degradação

acentuada. As actividades agrícolas constituem a principal ameaça à preservação da

vegetação higrófila nas áreas de menor altitude, sendo a drenagem a principal

responsável por essa degradação.

As práticas silvícolas destrutivas muitas vezes associadas à exploração florestal do

território são também uma causa adicional do desaparecimento destes urzais em

extensos territórios.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

47

4030 - Charnecas secas europeias

Subtipo 2 - Tojais e urzais-tojais galaico-portugue ses não litorais

Matos de elevado grau de cobertura cujas espécies mais frequentes pertencem às

famílias das ericáceas (Daboecia cantabrica., Calluna vulgaris e Erica spp.), cistáceas

(Halimium spp.) e leguminosas (Genista triacanthus, Pterospartum tridentatum sl. e Ulex

spp.). Estas formações têm preferência por solos oligotróficos e ácidos, normalmente

delgados, com um horizonte A muito escuro, de espessura variável e derivados de rochas

ácidas. Formam mosaicos com prados anuais, sendo que à escala mundial, a relação

diversidade fitocenótica/área deste habitat é máxima em Portugal.

As charnecas secas europeias encontram-se muito bem representadas na Área

Protegida. A abundância deste habitat no Corno do Bico deve-se à abundância de rochas

ácidas, à precipitação elevada e, sobretudo, à imposição antrópica milenar de regimes

muito curtos de perturbação pelo fogo.

6230 - Formações herbáceas de Nardus, ricas em espé cies, em substratos

siliciosos das zonas montanas (e das zonas submonta nas da Europa continental)

Na área de PPCB ocorre de forma muito residual em contacto catenal com as

comunidade de ambientes turfófilos, dominados pela gramínea Nardus stricta,

acompanhada por um número variável de espécies características da associação

(Danthonia decumbens, Juncus squarrosus Agrostis hesperica e Potentilla erecta) e

espécies companheiras habituais Luzula multiflora subsp. multiflora, Carex binervis

características das comunidades de prados-juncais acidófilos.

6410 - Pradarias com Molinia em solos calcários, tu rfosos e argilo-limosos

(Molinion caeruleae)

Subtipo 2 - Juncais acidófilos de Juncus acutifloru s, J. conglomeratus e/ou J.

Effusus

Prados-juncais e juncais acidófilos dominados por Juncus acutiflorus e Juncus effusus

acompanhados por Luzula multiflora subsp. multiflora e diversas espécies do género

Carex. É frequente a presença de espécies características das turfeiras atlânticas (habitat

7140) como Anagallis tenella, Arnica montana subsp. atlantica e Juncus bulbosus, e de

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

48

plantas pratenses (Holcus lanatus e Anthoxanthum odoratum), no caso de juncais menos

húmidos e mais pastados (habitat 6510).

Na área de PPCB ocupam solos profundos sempre húmidos, encharcados durante a

maior parte do ano, e raramente fertilizados. Pelas suas características, raramente são

segados, sobretudo os mais higrófilos. Quando situados na vizinhança de lameiros meso-

higrófilos são segados para feno e, apesar de serem dominados por espécies de baixa

palatibilidade, são extensivamente pastados.

6430 - Comunidades de ervas altas higrófilas das or las basais e dos pisos montano

a alpino

Subtipo 1 - Vegetação megafórbica meso-higrófila es cionitrófila perene de solos

frescos

Comunidades escionitrófilas de solos frescos, raramente encharcados, com alguma

profundidade, localizados na orla de bosques e sebes ou na proximidade de muros,

paredes ou linhas de água. São comunidades dominadas por megafórbias de médias a

grandes dimensões tais como Pentaglottis sempervirens ou Urtica dioica. Formam

mosaicos frequentes com espécies anuais do género Geranium ou com comunidades

ruderais anuais dominadas por espécies do género Bromus e Hordeum.

Trata-se de uma comunidade bastante frequente um pouco por todo o PPCB à

semelhança do que acontece nas restantes áreas atlânticas do norte de Portugal.

Subtipo 2 - Vegetação higrófila megafórbica perene de solos permanentemente

húmidos

Comunidade dominada por Eupatorium cannabinum, Picris hieracioides e Cirsium

palustre. É particularmente frequente em zonas deprimidas, húmidas e abandonadas, de

pastagens ou campos de cultivo, por norma próximas de linhas de água algo sombrias.

Na área de PPCB constituem comunidades sub-seriais de bosques ripícolas contactando

também com comunidades de prados-juncais acidófilos e meso-higrófilos, e de forma

pontual com comunidades vivazes anfíbias.

Trata-se de uma comunidade presente um pouco por toda área de PPCB devido ao

contacto das zonas agrícolas com as galerias ripícolas, sendo favorecida pelo abandono

dos lameiros.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

49

6510 Prados de feno pobres de baixa altitude ( Alopecurus pratensis , Sanguisorba

officinalis )

Prados com Arrhenatherum elatius subsp. bulbosum dominados por esta espécie ou por

Agrostis capillaris e Agrostis x fouilladei. Estas formações dispõem-se em mosaico com

outras comunidades pratenses (prados de pasto e feno ou juncais) exigindo solos

profundos, bem drenados, de trofia variável, derivados de rochas ácidas. Estes prados de

montanha raramente são fertilizados, beneficiados pela proximidade das árvores,

anualmente segados para feno, não pastoreados ou fechados ao pastoreio logo no início

da Primavera. Os prados de feno encontram-se bem representados na Área Protegida,

sendo característicos da paisagem do Corno do Bico, embora não sejam tão abundantes

quanto os lameiros de pasto e feno. Este tipo de habitat é muito frequente devido à

pastorícia, actividade humana que fomentou o aumento da área deste tipo de prados.

Actualmente esta actividade encontra-se em regressão.

7140 - Turfeiras de transição e turfeiras ondulante s

Subtipo 2 - Turfeiras atlânticas

Comunidades turfosas permanentes, oligotróficas a mesotróficas e fundamentalmente

minerotróficas, típicas das montanhas de forte influência atlântica do Noroeste do país.

Desenvolvem-se em solos higroturfosos na orla de depressões e fundos de encosta com

acumulação ou fluência lenta de água. A única turfeira presente na PPCB ocupa uma

área muito restrita e apresenta uma cobertura de Sphagnum bastante reduzida, sendo

dominada, entre as plantas vasculares, por Juncus bulbosus, Arnica montana subsp.

atlantica e diversas ciperáceas. É uma turfeira ameaçada sobretudo pela drenagem e

sobre-pastoreio.

7150 - Depressões em substratos turfosos da Rhynchosporion

Formações herbáceas turfófilas de baixa cobertura e relativamente pobres em musgos,

dominadas por ciperáceas (Eleocharis multicaulis), juncáceas e espécies insectívoras

como Drosera intermedia e Drosera rotundifolia.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

50

Para além da turfeira de Lameiro das Cebolas, onde constituem comunidades pioneiras

de solos higroturfosos iniciais, podem também surgir em zonas de acumulação ou

escorrência permanente de água e taludes com passagem de águas oligotróficas.

As principais ameaças à conservação deste habitat são idênticas às que condicionam a

preservação dos complexos de vegetação turfófila, nomeadamente drenagem e

eutrofização.

8220 - Vertentes rochosas siliciosas com vegetação casmofítica

Subtipo 1 - Afloramentos rochosos siliciosos com co munidades casmofíticas

Afloramentos rochosos siliciosos fissurados, de natureza ácida, colonizados por

comunidades casmofíticas. Estas comunidades apresentam um escasso grau de

cobertura e uma composição florística muito variável, incluindo a presença de Asplenium

billotii e Asplenium trichomanes subsp. quadrivalens. Na área do PPCB também

colonizam muros pouco ruderalizados.

Subtipo 3 - Biótopos de comunidades comofíticas esc iófilas ou de comunidades

epifíticas

Estas comunidades incluem os biótopos de comunidades epifíticas e exocomófitas de

combinações florísticas muito variáveis com Anogramma leptophylla, Polypodium

cambricum e Polypodium intergectum.

A principal ameaça está relacionada com a destruição directa do habitat ou aumento da

insolação através da modificação do coberto arbóreo e arbustivo.

8230 - Rochas siliciosas com vegetação pioneira da Sedo-Scleranthion ou da Sedo

albi-Veronicion dillenii

Subtipo 1 - Tomilhais galaico-portugueses

Formações de nanocaméfitas dominadas pelo tomilho Thymus caespititius e pela

gramínea Agrostis truncatula subsp. commista, que no caso da PPCB são

acompanhados por Sedum brevifolium e por diversas geófitas bulbosas (Leucojum

autumnale, Narcissus bulbocodium e Scilla monophyllos, entre outras).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

51

São particularmente frequentes na área de PPCB, sobretudo em encostas declivosas,

com preferência para os solos esqueléticos de natureza granítica ou xistosa das clareiras

de tojais e urzais da classe Calluno-Ulicetea (habitat 4030).

91E0 - Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior (Alno-Padion ,

Alnion incanae , Salicion albae )

Subtipo 1 - Amiais ripícolas

Bosques de amieiros de margens de cursos de água permanentes (galerias ripícolas)

dominadas por Alnus glutinosa, Fraxinus angustifolia, Laurus nobilis e Salix atrocinerea, e

enriquecidos por arbustos espinhosos como Crataegus monogyna, e arbustos não

espinhosos como Frangula alnus e Sambucus nigra, bem como algumas lianas (Bryonia

dioica, Rubus spp. e Tamus communis). O estrato herbáceo é caracterizado pela

presença de numerosas espécies esciófilas e nemorais, entre as quais as pteridófitas

Asplenium onopteris, Athyrium filix-femina, Blechnum spicant, Dryopteris spp., Osmunda

regalis e Polystichum setiferum.

Na área da PPCB os amiais são relativamente comuns em toda a bacia hidrográfica do

rio Coura, contudo a presença de solos com interesse agrícola, tem causado a sua

redução, por acção antrópica, a uma estreita cortina com uma única fiada de árvores, que

contacta pontualmente com os prados pobres de Arrhenatherum bulbosum (habitat

6510).

9160 - Carvalhais pedunculados ou florestas mistas de carvalhos e carpas

subatlânticas e médio-europeias da Carpinion betuli

Bosques climácicos de elevada diversidade específica, geralmente dominados pelo

carvalho-alvarinho mas ricos em espécies arbóreas Corylus avellana, Acer

pseudoplatanus, Laurus nobilis, Castanea sativa, entre outras.

O sub-bosque caracteriza-se pela ocorrência habitual de arbustos de Corylus avellana e

Acer pseudoplatanus e de diversas espécies herbáceas nemorais de apetências

mesotróficas (Hypericum androsaemum, Lysimachia nemorum, Oxalis acetosella,

Polystichum setiferum, Veronica montana). Da degradação dos bosques climácicos

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

52

resultam bosques secundários de elevada diversidade específica, geralmente dominados

pela aveleira (Corylus avellana).

Este tipo de bosques é raro na área da PPCB, já que colonizam solos profundos com

elevada apetência para a agricultura. Os aveleirais parecem ser mais frequentes,

servindo inclusivamente para delimitar os próprios campos agrícolas. Este tipo de habitat

é muito raro em Portugal, tendo o seu óptimo no Noroeste de Portugal Continental.

Algumas das espécies herbáceas ligadas a este tipo de bosque (Lysimachia nemorum e

Oxalis acetosella) têm a sua maior representação no território Português nos bosques

mistos e aveleirais de Paredes de Coura.

9230 Carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica

Subtipo 1 - Carvalhais de Quercus robur

Bosques dominados por Quercus robur e acompanhados no estrato arbustivo por

Crataegus monogyna, Pyrus cordata, Frangula alnus, Erica arborea, Ilex aquifolium. O

estrato herbáceo é pobre em espécies sendo importantes as lianas que aparecem em

mais de um estrato (Hedera helix subsp. hibernica, Tamus communis, Lonicera

periclymenum subsp. periclymenum)

Geralmente, dispõem-se em mosaico com etapas subseriais como sejam os giestais, os

tojais, urzais-tojais e prados vivazes, contactando catenalmente com carvalhais

mesotróficos (habitat 9160) ou com bosques ripícolas (habitat 91E0*).

Os carvalhais encontram-se bem representados na Área Protegida, sendo característicos

da paisagem do Corno do Bico. Contudo muitas das formações dominadas por Quercus

robur não podem ser enquadradas neste habitat já que resultam da acção humana,

sendo portanto plantações florestais. Este tipo de habitat teve uma regressão significativa

ao longo da história devido à destruição dos bosques devido às actividades humanas

ligadas às práticas agrícolas. Actualmente, os bosques encontram-se em expansão

devido ao abandono da agricultura.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

53

4.3. Fauna

4.3.1. Invertebrados

Os conhecimentos sobre os invertebrados da área de Paisagem Protegida de Corno do

Bico, à semelhança do que é usual noutras Áreas Protegidas, são muito mais escassos

que os existentes para os vertebrados. A informação disponível diz respeito apenas a

invertebrados terrestres, mais concretamente aos insectos Lepidoptera (Anexo V) e é

proveniente de duas fontes: distribuições provenientes de um atlas nacional (Maravalhas

2003), apresentando por isso um detalhe reduzido para a Paisagem Protegida, e dados

de inventariações cedidos pelo Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de

Portugal.

A fonte bibliográfica atribui para esta área geográfica 69 espécies de lepidópteros

(Maravalhas 2003). Destas, duas estão referidas como em perigo de extinção (Maculinea

alcon e Limenitis camilla) e catorze como moderadamente ameaçadas (Maravalhas

2003).

As espécies inventariadas para o concelho de Paredes de Coura são 23 (Tagis, dados

não publicados). Destas, três não tinham sido atribuídas para o local pelo atlas de

distribuição: Arethusa arethusana, Argynnis aglasa e Lycaena alciphron. A primeira é

considerada moderadamente ameaçada e a segunda em perigo de extinção.

Quanto às espécies presentes no atlas de distribuição que foram atribuídas para a área,

aquelas indicadas como em perigo de extinção não foram detectadas. Entre as

moderadamente ameaçadas foram encontradas Argynnis adippe, Erynnis tages,

Nymphalis antiopa e Thymelicus acteon.

4.3.2. Vertebrados

A fauna de vertebrados da Paisagem Protegida do Corno do Bico possui uma riqueza e

diversidade assinaláveis, o que se reflecte em valores de riqueza específica

razoavelmente elevados para a maior parte dos grupos de animais mais bem estudados,

apesar de se tratar de uma área relativamente pequena. Assim, já foram registadas ou

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

54

são atribuídas para a área 7 espécies de peixes, 13 espécies de anfíbios, 17 de répteis,

104 de aves e 47 de mamíferos (Anexo V).

4.3.2.1. Peixes dulciaquícolas

Os peixes dulciaquícolas são o grupo de vertebrados que apresenta o menor valor de

riqueza específica na Paisagem Protegida, estando representados por 7 espécies (Anexo

V).

Em termos de estatuto de protecção destacam-se duas espécies, a enguia Anguilla

anguilla e a panjorca Chondrostoma arcasii, ambas com estatuto Em Perigo segundo o

Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al. 2005). De realçar o elevado

número de endemismos piscícolas que ocorrem na área: a panjorca, a boga-do-norte

Chondrostoma duriense, o escalo-do-norte Squalius carolitertii e o barbo-comum Barbus

bocagei são endémicas da Península Ibérica e o ruivaco Chondrostoma oligolepis é

endémico de Portugal.

A sub-espécie de truta–marisca migradora Salmo trutta trutta é referida como ocorrendo

em Portugal nas bacias hidrográficas do Lima e do Minho. No entanto, não se

encontraram referências inequívocas de que essa sub-espécie ocorra na PP, ao contrário

da sub-espécie sedentária truta-de-rio Salmo trutta fario (ICNB dados não publicados).

Desta forma, optou-se por considerar apenas esta sub-espécie, nomeadamente no

relatório de Valoração.

É também de salientar que é referida para a área a presença do ruivaco (Chondrostoma

oligolepis) (antigo Rutilus (=Chondrostoma) macrolepidotus), uma espécie listada no

Anexo II da Directiva 92/43/CEE, que todavia é relativamente abundante a nível nacional.

Não é de excluir eventuais erros de identificação, devendo-se admitir que a panjorca

possa inclusive ter sido confundida com o ruivaco em trabalhos mais antigos. A

instabilidade taxonómica deste grupo e a falta de estudos mais dirigidos, não nos permite

concluir com certeza se as duas ou, apenas uma destas espécies, está presente na área

de estudo. No entanto, dada a importância, essencialmente, da panjorca, em termos de

conservação e a sua provável ocorrência, foi considerado que esta espécie deveria ser

tida em conta na elaboração do presente PO.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

55

O rio dos Cavaleiros e a ribeira de Reiriz, assim como outras linhas de água tributárias do

rio Coura, constituem zonas de desova e “nursery” das espécies piscícolas, constituindo,

por isso, sectores importantes que contribuem para a manutenção das populações das

áreas a jusante (ICNB dados não publicados).

Segundo observações recentemente realizadas (Pedro Rodrigues com. pess.), todos os

grupos etários das várias espécies piscícolas parecem encontrar-se representados nesta

Área Protegida (ICNB dados não publicados). A enguia, migrador catádromo, constitui

uma excepção, uma vez que sofreu uma grande redução do efectivo, ocorrendo

actualmente de forma muito esporádica, devido à construção da Barragem de Paus,

localizada a jusante dos cursos de água da Paisagem Protegida (ICNB dados não

publicados).

4.3.2.2. Anfíbios

É referida para a Paisagem Protegida a ocorrência de 13 espécies de anfíbios, com base

numa inventariação dirigida (Espaço Terra 2004) e em fontes bibliográficas, como atlas

de distribuição (ICNB dados não publicados, Godinho et al. 1999, Almeida et al. 2001).

Três destas espécies apresentam estatutos de ameaça em termos de conservação

(Cabral et al. 2005), sendo a rã-de-focinho-pontiagudo Discoglossus galganoi

considerada “Quase Ameaçada” e a salamandra-lusitânica Chioglossa lusitanica e o

tritão-palmado Triturus helveticus considerados “Vulneráveis”. Quatro espécies consistem

em endemismos ibéricos: a salamandra-lusitânica, a rã-de-focinho-pontiagudo, a rã-

ibérica Rana ibérica e o tritão-de-ventre-laranja Triturus boscai.

Assim, e tendo em conta a dimensão relativamente reduzida da Área Protegida, a

herpetofauna assume uma relevância acentuada devido à sua diversidade e presença de

espécies raras no contexto nacional (Anexo V). As condições climáticas, orografia e bom

estado de conservação dos habitats permitem a existência de um número elevado de

charcas e áreas com linhas de água bem conservadas, como por exemplo, a ribeira de

Reiriz e o rio dos Cavaleiros e charcas e turfeiras do carvalhal do Corno de Bico (ICNB

dados não publicados). Salientam-se também as depressões húmidas e lameiros da

colónia agrícola de Vascões (Alvares et al. subm.), que no seu conjunto oferecem

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

56

condições para a ocorrência e reprodução de uma diversificada comunidade de anfíbios

(ICNB dados não publicados).

Anfíbios com elevado valor de conservação

É destacar a presença de duas espécies de anfíbios na Paisagem Protegida, para além

de outras espécies endémicas já anteriormente citadas. Segue-se uma breve descrição

do seu estatuto.

• Salamandra-lusitânica Chioglossa lusitanica - A salamandra-lusitânica é uma

espécie endémica da Península Ibérica que se distribui pelo norte de Espanha e

noroeste de Portugal, tendo por limite sul o rio Tejo. Apresenta elevados requisitos

ecológicos, encontrando-se muito dependente de ambientes saturados em

humidade devido ao facto de não possuir pulmões funcionais (Almeida et al.

2001). Segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al.

2005) a espécie é considerada “Vulnerável”. Está ainda classificada globalmente

como “Quase Ameaçada”, pela IUCN (International Union for the Conservation of

Nature and Natural Resources). Na PP ocorre essencialmente em riachos de

várias dimensões, pequenos canais ou junto a nascentes de água; os habitats

terrestres circundantes correspondem geralmente a bosques naturais e prados

bem conservados (Espaço Terra 2004).

• Tritão-palmado Triturus helveticus - Distribui-se na Europa, desde a Península

Ibérica até à Alemanha, mas em Portugal são conhecidas apenas algumas

populações distribuídas de forma esparsa pelo Noroeste do país (Almeida et al.

2001). O tritão-palmado possui um conjunto de características biológicas, nas

quais se inclui uma capacidade de dispersão limitada e uma elevada mortalidade

juvenil, que o tornam particularmente sensível a alterações de habitat (Cabral et

al. 2005). É considerada “Vulnerável” pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de

Portugal (Cabral et al. 2005). Esta espécie é bastante abundante e razoavelmente

bem distribuída na PP; ocorre em tanques, charcos, lagoas, e partilha os seus

locais de reprodução com as outras espécies de tritões presentes na área, T.

boscai e T. marmoratus.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

57

4.3.2.3. Répteis

As espécies referidas para esta área correspondem às espécies inventariadas por

Espaço Terra (2004) e às distribuições propostas por Almeida et al. (2001), Crespo &

Oliveira (1989), Godinho et al. (1999) e ICNB (dados não publicados).

São assim atribuídas para a PPCB 17 espécies de répteis, que são apresentadas no

Anexo V.

A víbora de Seoane apresenta o estatuto de conservação “Em Perigo” e a cobra-lisa-

europeia Coronella austriaca e a víbora-cornuda Vipera latastei o estatuto “Vulnerável”,

segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al. 2005).

A víbora de Seoane apresenta em termos globais uma distribuição bastante restrita,

ocorrendo apenas no Noroeste de Portugal Continental, Norte de Espanha e em áreas de

reduzidas dimensões no extremo sudoeste de França (Cabral et al. 2005). A cobra-de-

pernas-pentadáctila Chalcides bedriagai, a lagartixa de Bocage Podarcis bocagei e o

lagarto-de-água Lacerta schreiberi são endemismos ibéricos. A cobra-de-pernas-

pentadáctila, ou fura-pastos, encontra-se circunscrita a pequenos isolados populacionais

em Portugal (Almeida et al. 2001). Segundo este autor, a espécie não se distribuiria pela

Paisagem Protegida do Corno do Bico, embora esteja presente numa área próxima no

extremo noroeste do país; este refere contudo que se desconhece a sua presença na

maior parte da área do território nacional, pelo que a sua presença na área em estudo se

afigura bastante possível.

Espécies de Répteis com elevado valor de conservaçã o

Em termos do valor de conservação que apresentam são de realçar três espécies de

répteis que ocorrem na Paisagem Protegida, que são seguidamente descritas.

• Víbora de Seoane Vipera seoanei - É uma espécie endémica do Noroeste da

Península Ibérica, distribuindo-se em Portugal em pequenos núcleos isolados

(Almeida et al. 2001), restringindo-se a menos de 1,3% do território nacional

continental (Godinho et al. 1999, Almeida et al. 2001). Em Portugal é considerada

“Em Perigo”, fundamentalmente por apresentar uma fragmentação elevada e um

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

58

declínio continuado da extensão de ocorrência, área de ocupação, qualidade dos

habitats, do número de localizações e número de indivíduos maduros (Cabral et

al. 2005). Para além da perda e degradação dos seus habitats são também

factores importantes de ameaça a mortalidade por atropelamento nas estradas e

a perseguição directa em virtude da aversão ou crenças populares (Brito 2003,

Brito & Álvares 2004). Ocorre sobretudo em prados, pastagens e lameiros,

geralmente com boa cobertura arbustiva; já foi observada na PP, embora não

tenha sido detectada no âmbito da inventariação dirigida à herpetofauna

efectuada por Espaço Terra (2004).

• Víbora-cornuda Vipera latastei – Distribui-se pela Península Ibérica e Norte de

África; em Portugal ocorre em todo o território, mas em núcleos fragmentados

(Almeida et al. 2001). Está classificada como “Vulnerável” pelo Livro Vermelho

dos Vertebrados de Portugal, devido ao seu decréscimo continuado, tanto a nível

do número de indivíduos como a nível da sua extensão de ocorrência (Cabral et

al. 2005). Tal como para a espécie anterior, as principais ameaças são, para além

da alteração e destruição de habitat, a morte por atropelamento e a perseguição

em virtude de aversão (Brito et al. 2001, Brito & Álvares 2004). Não foi observada

no âmbito da inventariação dirigida efectuada por Espaço Terra (2004).

• Cobra-lisa-europeia Coronella austriaca – Distribui-se pela Europa e Ocidente

Asiático; em Portugal ocorre essencialmente nas regiões montanhosas do Norte e

Centro, aparentemente de forma fragmentada, subsistindo muitas dúvidas acerca

da sua distribuição real (Almeida et al. 2001). Segundo o Livro Vermelho dos

Vertebrados de Portugal apresenta o estatuto “Vulnerável”, devido à sua limitada

extensão de ocorrência (cerca de 3% do território nacional, Godinho et al. 1999,

Almeida et al. 2001) e ao declínio estimado de efectivos e área de ocorrência

(Cabral et al. 2005). Para além dos factores de ameaça comuns às espécies de

répteis anteriormente referidas, a cobra-lisa-europeia parece apresentar ainda

uma dieta bastante especializada (Spellerberg 1977, Luiselli et al. 1996). Ocorre

em zonas relativamente húmidas e não é particularmente rara na PP; é

frequentemente vítima de atropelamento (Espaço Terra 2004).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

59

4.3.2.4. Aves

À semelhança dos restantes grupos de vertebrados já abordados no presente relatório,

pode-se afirmar, de uma forma geral, que os dados acerca da distribuição e abundância

das aves no perímetro da PP são bastante escassos. Como dados de inventariação

dirigidos a esta área em particular podem-se citar os trabalhos de caracterização

elaborados por Espaço Terra (2004) e um estudo acerca do efeito do fogo sobre a

comunidade de aves, que se concentrou essencialmente nalgumas espécies de

passeriformes nidificantes (Moreira et al. 2001).

Desta forma, o elenco específico apresentado baseia-se fortemente também na

informação bibliográfica disponível, proveniente sobretudo de atlas de distribuições

nacionais e outra bibliografia de índole geral (Rufino 1989, Cabral et al. 2005, ICNB

dados não publicados), bem como na consulta de especialistas.

A Paisagem Protegida foi ainda incluída noutros trabalhos de índole geográfica vasta,

como sejam os Noticiários Ornitológicos compilados pela Sociedade Portuguesa para o

Estudo das Aves.

No âmbito dos trabalhos e publicações referidos, bem como da consulta a especialistas,

e considerando ainda a distribuição potencial de algumas espécies (Svensson et al.

1999), foram referenciadas 104 espécies de aves para a Paisagem Protegida (Anexo V),

das quais 5 são acidentais e 3 apenas ocorrem durante as migrações. Como nidificantes

regulares foram registadas 70 espécies.

Aves com elevado valor de conservação

Com base nos Estatutos de Conservação nacionais e legislação internacional, bem como

no estatuto das espécies na Paisagem Protegida seguidamente apresenta-se uma

listagem das aves com valor elevado de conservação, bem como algumas das suas

características biológicas e ecológicas mais relevantes.

• Tartaranhão-caçador Circus pygargus – é uma espécie nidificante na Paisagem

Protegida (ICNB dados não publicados). É uma espécie rara como nidificante em

Portugal, embora os efectivos reprodutores se distribuam por todo o país (Onofre

& Rufino 1995). Embora a maior parte da população nidifique em zonas de

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

60

cerealicultura extensiva, no Norte do país nidifica sobretudo em matos de urze,

tojo ou giesta ou searas de centeio (Onofre & Rufino 1995). Em Portugal é

considerada “Vulnerável” pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal

(Cabral et al. 2005). Aparenta ser uma espécie relativamente rara na PP, tendo

sido detectada no seu extremo norte (Espaço Terra 2004).

• Falcão-abelheiro Pernis apivorus – é um possível nidificante na Paisagem

Protegida. É uma espécie com efectivo reduzido em Portugal, estando este

estimado entre 250 a 1000 indivíduos maturos, pelo que lhe foi atribuído o

estatuto “Vulnerável” pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et

al. 2005). No Norte e Centro do país o habitat típico é constituído por bosques de

carvalhos ou sobreirais e por vezes também manchas de pinhal e eucalipto,

intercalados por várzeas, terrenos agrícolas, lameiros, matos e pastagens de

altitude (Palma et al. 1999). Aparenta ser uma espécie relativamente rara AP,

tendo sido detectada no seu extremo norte (Espaço Terra 2004), não havendo

contudo registos recentes de nidificação. Contudo, dada a presença de habitat

propício e a detectabilidade relativamente reduzida da espécie, a par de uma

probabilidade elevada da sua ocorrência, justifica-se que seja considerada no

âmbito deste PO.

• Açor Accipiter gentilis – É um possível nidificante na Paisagem Protegida. No

centro e norte do país o principal habitat de nidificação é composto por pinhais-

bravos, bosques e bosquetes de folhosas autóctones, como carvalhais, e por

vezes eucaliptais (Cabral et al. 2005). Em Portugal é considerado “Vulnerável”

segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, devido a registar uma

população relativamente reduzida (Cabral et al. 2005). Foi detectada numa

extensão considerável da PP, pela zona norte e centro-leste da Paisagem

Protegida (Espaço Terra 2004).

• Ógea Falco subbuteo – possível nidicante na área de estudo, é uma espécie com

população reduzida em Portugal, embora ocorra em todo o território, excepto nas

regiões mais desarborizadas (Rufino 1989, Palma et al. 1999). No Norte e Centro

ocorre essencialmente em paisagens mistas de bosquetes e zonas agrícolas

(Rufino 1989). Apresenta o estatuto “Vulnerável” segundo o Livro Vermelho dos

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

61

Vertebrados de Portugal (Cabral et al. 2005), devido a apresentar uma população

reduzida. Algumas das potenciais ameaças, frequentes nas regiões Norte e

Centro, são a destruição e alteração de habitat, incluindo a ocorrência de

incêndios (Cabral et al. 2005).

• Noitibó-cinzento Caprimulgus europaeus – Em Portugal ocorre principalmente no

Norte e Centro do país (Cabral et al. 2005). Ocupa principalmente áreas com

arvoredo disperso, ocorrendo em clareiras e áreas marginais de bosques de

quercíneas, caducifólias e coníferas, povoamentos florestais jovens e zonas

abertas com coberto arbustivo (Rufino 1989). Tem o estatuto “Vulnerável”

segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, por se considerar que se

o seu habitat, e consequentemente os seus efectivos, se encontram em declínio

continuado (Cabral et al. 2005).

• Toutinegra-das-figueiras Sylvia borin – é uma espécie restrita como nidificante ao

extremo Noroeste do território continental, apesar de existirem registos nalgumas

áreas mais a sul (ICNB, dados não publicados, Cabral et al. 2005). Na Área de

Paisagem Protegida deverá ter apenas o estatuto de migradora. No entanto, dada

a sua baixa detectabilidade e a presença de habitat propício não será impossível

que nidifique, ou tenha nidificado já, na PP, pelo que se julgou justificável dar-lhe

ainda assim algum destaque nesta secção. Ocorre sobretudo em bosques

ribeirinhos, bosques de folhosas, sobretudo carvalhos, na proximidade de

lameiros (Rufino 1989). É uma espécie que se estima ter uma população bastante

reduzida, pelo que lhe foi atribuído o estatuto “Vulnerável” pelo Livro Vermelho

dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al. 2005).

4.3.2.6. Mamíferos

São atribuídas para a Paisagem Protegida 47 espécies de mamíferos de ocorrência

confirmada ou muito provável (Palmeirim & Rodrigues 1992, Hugo Rebelo com. pess.,

Rainho et al. 1998, Mathias 1999, ICNB dados não publicados) (Anexo V).

A informação acerca do elenco específico é proveniente de uma inventariação dirigida

(na qual não foram contemplados os quirópteros, Espaço Terra 2004), em distribuições

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

62

potenciais publicadas (Palmeirim & Rodrigues 1992, Rainho et al. 1998, Mathias 1999) e

na consulta de especialistas (Hugo Rebelo com. pess.).

Das várias Ordens de mamíferos presentes há a destacar os quirópteros e os carnívoros,

em termos do número de espécies ameaçadas. No caso dos quirópteros destacam-se o

morcego-de-ferradura-grande Rinolophus ferrumequinum, o morcego-de-ferradura-

pequeno Rinolophus hipposideros, o morcego-rato-grande Myotis myotis e o morcego-de-

franja Myotis nattereri. Entre os carnívoros realçam-se o lobo Canis lupus e o gato-bravo

Felis silvestris. Outra espécie com elevado estatuto de ameaça a evidenciar é a toupeira-

d’água Galemys pyrenaicus. Estas espécies são apresentadas em maior detalhe na

secção seguinte, sendo também discutida a importância relativa da área para as

mesmas. Relativamente à distribuição das espécies de mamíferos, os dados existentes

referem-se apenas a uma fracção das espécies atribuídas para a área para as quais

foram efectuados levantamentos dirigidos, embora alguns tenham registado algumas

limitações de amostragem (Espaço Terra 2004). Desconhecem-se globalmente as áreas

de ocorrência dos quirópteros.

Mamíferos com elevado valor de conservação

Listam-se seguidamente as espécies de mamíferos com valor elevado de conservação,

bem como algumas das suas características biológicas e ecológicas mais relevantes,

com base nos Estatutos de Conservação nacionais e legislação internacional, bem como

no estatuto das espécies na Paisagem Protegida.

• Morcego-de-ferradura-grande Rinolophus ferrumequinum – O morcego-de-

ferradura-grande tem uma vasta distribuição na região Paleárctica e é

relativamente frequente no centro e norte de Portugal (Palmeirim & Rodrigues

1992). Há registos da existência de abrigos na zona oeste do Parque Natural da

Peneda-Gerês, mais próxima da Paisagem Protegida, o que propicia a utilização

desta última como possível área de alimentação (Rainho et al. 1998). Foi

igualmente detectado na zona do rio Cabrão, local próximo da PP (Hugo Rebelo,

com. pess.). Embora não existam registos de colónias de reprodução na PP do

Corno do Bico, o facto de não ser uma espécie exclusivamente cavernícola,

podendo criar em edifícios (Rainho et al. 1998), poderá indicar que esta seja um

possível reprodutor na PP. Está classificada como “Vulnerável” em Portugal, dado

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

63

a possuir uma população relativamente reduzida que se pensa estar em declínio

continuado (Cabral et al. 2005).

• Morcego-de-ferradura-pequeno Rinolophus hipposideros – Possui uma

distribuição global bastante alargada e encontra-se em todo o território português

(Palmeirim & Rodrigues 1992). Tal como para a espécie anterior, existe o registo

da existência de um abrigo na zona oeste do Parque Natural da Peneda-Gerês,

mais próxima da Paisagem Protegida, o que propicia a utilização desta última

como possível área de alimentação (Rainho et al. 1998). Não é, também,

exclusivamente cavernícola (Rainho et al. 1998), o que permite considerá-la como

um provável reprodutor na área. Foi igualmente detectado na zona do rio Cabrão,

local próximo da PP (Hugo Rebelo, com. pess.). Está classificada como

“Vulnerável” em Portugal, dado a possuir uma população relativamente reduzida

que se pensa estar em declínio continuado (Cabral et al. 2005).

• Morcego-rato-grande Myotis myotis – Distribui-se quase exclusivamente pela

Europa e em Portugal é relativamente frequente no norte e centro (Palmeirim &

Rodrigues 1992). Existem referências de abrigos na zona oeste do Parque

Nacional da Peneda-Gerês (Rainho et al. 1998). Dado que em Portugal só se

comprovou a sua reprodução em abrigos subterrâneos (Rainho et al. 1998),

considerou-se que não deverá ser uma espécie reprodutora na PP, embora a

possa utilizar, com elevada probabilidade, como área de alimentação. Está

classificada como “Vulnerável” em Portugal, dado que se pensa estar em declínio

continuado (Cabral et al. 2005).

• Morcego-de-franja Myotis nattereri – Apresenta uma vasta distribuição na região

Paleárctica e em Portugal parece existir em todo o território (Palmeirim &

Rodrigues 1992). Embora na Europa tenha sido observada a sua criação em

locais diversos, como pontes, edifícios e árvores ocas, em Portugal esta só foi

confirmada em abrigos subterrâneos. Foi detectado na zona do rio Cabrão, local

próximo da PP (Hugo Rebelo, com. pess.), o que leva a crer que utilize a área da

PP pelo menos como zona de alimentação (Palmeirim & Rodrigues 1992). Está

classificada como “Vulnerável” em Portugal, dado que se pensa estar em declínio

continuado (Cabral et al. 2005).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

64

• Toupeira-d’água Galemys pyrenaicus – A toupeira-d’água distribui-se pelas zonas

montanhosas dos Pirinéus franceses e do Norte de Espanha; em Portugal ocorre

no Norte e Centro (Mathias 1999). Utiliza os cursos de água de características

lóticas essencialmente da zona salmonícola e de transição salmonícola-

ciprinícola, preferindo os troços de margens que propiciem condições adequadas

de abrigo natural (Cabral et al. 2005). Está estritamente dependente do corredor

aquático e ripícola, no qual realiza todas as suas actividades vitais (Cabral et al.

2005). Está classificada como “Vulnerável”, devido a possuir uma população

relativamente reduzida, que se estima ter sofrido declínio continuado nos últimos

anos nas várias bacias hidrográficas onde ocorre, incluindo a do rio Lima (Cabral

et al. 2005). A nível global é também considerada Vulnerável (IUCN 2008).

Embora não tenha sido detectada numa inventariação dirigida realizada, a sua

presença é provável, visto que a ribeira de Cavaleiros e o rio Coura apresentam

condições bastante propícias à sua presença e a espécie apresenta hábitos

discretos (Espaço Terra 2004). Dados não publicados (ICNB) apontam-na como

ocorrendo na PP.

• Lobo Canis lupus – O lobo é uma espécie que possui uma distribuição global

alargada mas que é bastante reduzida em Portugal, evidenciando ainda uma

população bastante escassa, que se estima inferior a 250 indivíduos maduros,

tendo por isso o estatuto “Em Perigo” (Cabral et al. 2005). Apesar de ser pouco

especializado em termos de habitat, devido à perseguição a que está sujeito,

mostra preferência por zonas montanhosas, ocupando locais de abundante

coberto, baixa densidade humana e presença de gado ou ungulados silvestres

(Mathias 1999). A população de lobo que ocorre na Paisagem Protegida é

proveniente do núcleo de Arga/Paredes de Coura, e possui um carácter marginal

relativamente à sua distribuição na região, encontrando-se bastante ameaçada

devido à construção de infra-estruturas rodoviárias que promovem a

fragmentação da população (ICNB dados não publicados). Este núcleo estabelece

ligações com o existente no Parque Nacional da Peneda-Gerês e do qual

depende devido à recepção de animais dispersantes provenientes dessa Área

Protegida, sendo esse processo fundamental para a manutenção das alcateias do

núcleo de Arga/Paredes de Coura (Álvares 1998, Álvares et al. 2000).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

65

A tipificação dos biótopos existentes na Paisagem Protegida foi feita de forma

simplificada (Carta [13]), tendo em atenção as limitações de informação faunística e a

necessidade de estabelecer categorizações compatíveis com as unidades de vegetação

consideradas. Idealmente, um nível de desagregação igual ao da vegetação seria o mais

adequado para o planeamento e gestão da PP. No entanto, esta abordagem é impossível

nesta fase, essencialmente devido ao desconhecimento da ocorrência e abundância das

espécies nos diferentes habitats. Sendo assim, a presente categorização representa o

compromisso possível neste momento entre as necessidades de detalhe e os

constrangimentos decorrentes das limitações da informação existente. Para esta

categorização foram considerados um relatório do ICNB (dados não publicados) e os

trabalhos de Honrado (2007a,b), bem como a informação existente acerca dos requisitos

ecológicos das várias espécies em várias fontes bibliográficas disponíveis (e.g. Rufino

1989, Mathias 1999, Almeida et al. 2001, Cabral et al. 2005).

A) Biótopos aquáticos

A.1. Rios colinos / linhas de água

Os rios colinos/linhas de água são rios de média dimensão com águas oligotróficas e

galeria ripícola, descrita no ponto D.2.. As principais linhas de água que atravessam a

Paisagem Protegida são ramificações do rio Coura.

Este biótopo apresenta elevada importância para várias espécies de vertebrados, que

dele dependem durante a totalidade, ou parte, do seu ciclo de vida.

Entre os peixes dulciaquícolas, ocorrem algumas espécies com elevado estatuto de

conservação, das quais se destaca a panjorca. Ocorrem também a enguia Anguilla

anguilla e a truta-de-rio Salmo trutta fario, estas com interesse comercial.

Este biótopo reveste-se de grande importância para as espécies de anfíbios, importância

esta dependente da espécie em causa e dos seus respectivos requisitos ecológicos.

Ambas as espécies de cobras-de-água que ocorrem na Paisagem Protegida (viperina e

de colar, Natrix maura e N. natrix) encontram-se também dependentes das linhas de

água, bem como o cágado-comum Mauremys leprosa. Algumas espécies de aves, com

hábitos aquáticos, distribuem-se também na proximidade das linhas de água, utilizando-

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

66

as nomeadamente como biótopo de alimentação. É o caso dos anatídeos e do guarda-

rios Alcedo atthis, nomeadamente.

No que diz respeito aos mamíferos, este biótopo é vital para espécies como a toupeira-

d’água e para a lontra.

B) Biótopos herbáceos

B.1. Prados húmidos

Este biótopo ocupa uma área muito reduzida, localizada na zona sul da Área de

Paisagem Protegida. Ocorrem aqui várias espécies de anfíbios e alguns répteis,

destacando-se neste último caso a víbora de Seoane. Entre as espécies de aves que

frequentam este biótopo pode-se citar a galinhola Scolopax rusticola como uma das mais

características. Os prados húmidos são ainda utilizados por grande número de espécies

de mamíferos, referindo-se a título de exemplo o lobo e o corço Capreolus capreolus.

Este biótopo foi cartografado conjuntamente com o B.2. Prados de sequeiro e F.2. Áreas

agrícolas, tendo-se denominado este agrupamento como “Zonas agrícolas e pastagens”

(Carta 13).

B.2. Prados de sequeiro

Os prados secos têm associadas várias espécies de répteis, destacando-se a víbora de

Seoane e algumas espécies de aves, realçando-se destas o tartaranhão-caçador Circus

pygargus. Ocorrem também várias espécies de mamíferos, embora nenhuma se possa

considerar particularmente especializada neste biótopo. Os prados de sequeiro foram

cartografados conjuntamente com os biótopos B.1. Prados húmidos e F.2. Áreas

agrícolas, tendo-se denominado este agrupamento como “Zonas agrícolas e pastagens”

(Carta 13).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

67

C) Biótopos arbustivos

C.1. Matos

Este biótopo engloba vários tipos de matos, que são relativamente homogéneos quanto à

fauna que os utiliza, pelo que foram agregados numa categoria única.

Os matos são frequentados por comunidades de fauna diversas, podendo destacar-se,

entre os répteis, a cobra-lisa-europeia Coronella austriaca e as duas espécies de víboras;

entre as aves realça-se o noitibó-cinzento Caprimulgus europaeus, entre as várias que

aqui ocorrem; são ainda utilizados pela maioria das espécies de mamíferos, podendo

evidenciar-se o lobo, embora este seja relativamente generalista nos habitats que utiliza.

D) Biótopos florestais

D.1. Bosques de caducifólias

Esta categoria inclui sobretudo carvalhais de Quercus robur e Quercus pyrenaica, que se

encontram em geral distribuídos por toda a Paisagem Protegida, excepto no seu extremo

sueste, onde são raros.

Os bosques de caducifólias apresentam uma elevada riqueza específica no que diz

respeito à fauna de vertebrados terrestres. Entre as espécies mais emblemáticas podem-

se destacar as duas espécies de víbora, várias espécies de aves de rapina e de

passeriformes, e também uma numerosa lista de espécies de mamíferos.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

68

D.2. Bosques ripícolas

Nos fundos das encostas e nas margens dos cursos de água desenvolve-se este biótopo,

que engloba florestas aluviais constituídas essencialmente por amiais e bidoais ripícolas

e amiais e salgueirais paludosos.

Possui uma elevada riqueza específica de espécies de anfíbios, ocorrendo por exemplo a

salamandra-lusitânica Chioglossa lusitanica, embora esta se distribua por vários biótopos,

ou a rã-de-focinho-pontiagudo Discoglossus galganoi. Relativamente às espécies de

répteis destacam-se o lagarto-d’água Lacerta schreibeiri e a víbora de Seoane Vipera

seoanei. Entre as aves podem citar-se o guarda-rios e o melro-d’água Cinclus cinclus,

como algumas das espécies mais características. Algumas das espécies de mamíferos

mais dependentes deste biótopo são a toupeira-d’água, a lontra e o rato-d’água Arvicola

sapidus.

Este biótopo foi cartografado conjuntamente com o A.1. Rios colinos / linhas de água,

dado que se encontram muito imbrincados, pelo que não se torna possível uma

representação cartográfica distinta à escala pretendida (Carta 13).

D.3. Pinhais

Esta categoria corresponde a áreas que anteriormente estariam cobertas por carvalhais e

que foram progressivamente sendo alvo de aproveitamento silvícola (ICNB dados não

publicados).

De uma forma geral, trata-se de um biótopo relativamente pouco interessante para a

maior parte das espécies de vertebrados, ocorrendo aqui sobretudo espécies

generalistas em termos de habitat, que ocorrem igualmente noutros biótopos. Podem

ainda assim destacar-se como espécies características deste biótopo o cruza-bico Loxia

curvirostra ou o esquilo Sciurus vulgaris, bem como, embora em menor grau, as várias

espécies de chapins, com realce para o chapim-carvoeiro Parus ater.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

69

D.4. Eucaliptal

Este biótopo teve uma génese semelhante à dos pinhais (D.3.), mas revela ainda um

interesse mais reduzido para as comunidades de vertebrados da Paisagem Protegida, o

que é expresso pela riqueza específica reduzida que apresenta. Quanto às espécies que

lhe estão associadas, pode citar-se a lagartixa-do-mato Psammodromus algirus, algumas

espécies de aves de rapina, o pombo-torcaz Columba palumbus, a rola –turca

Streptopelia decaocto, o chapim-real Parus major ou o tentilhão Fringilla coelebs.

E) Ambientes artificializados

F.1. Zonas urbanas

Esta categoria inclui as áreas muito modificadas pela actividade humana, tais como os

espaços construídos, incluindo casario disperso com hortas e pomares incorporados.

Este biótopo tem geralmente muito pouco interesse de conservação, dado ser ocupado

quase exclusivamente por espécies antropófilas muito comuns. A título de exemplo

podem-se citar como espécies que ocorrem nestas zonas a cobra-rateira Malpolon

monspessulanus, o pombo-das-rochas Columba livia (doméstico) ou as duas espécies de

ratazanas, Rattus rattus e R. norvegicus.

F.2. Zonas agrícolas

Este biótopo apresenta maior expressão na zona central-oeste da Paisagem Protegida e

inclui sobretudo campos agrícolas e hortas, bem como o mosaico agro-florestal. À

semelhança do biótopo anterior, também este não tem muito interesse para a fauna,

sendo também ocupado essencialmente por espécies antropófilas. No entanto, apresenta

ainda assim uma riqueza específica apreciável, provavelmente por constituir um mosaico

diverso e pela proximidade a outros biótopos mais relevantes. Como espécies mais

típicas deste tipo de biótopo podem encontrar-se a petinha-dos-prados Anthus pratensis,

a alvéola-branca Motacilla alba, o chasco-cinzento Oenanthe oenanthe ou o leirão

Eliomys quercinus.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

70

Este biótopo foi cartografado conjuntamente com o B.1. Prados húmidos e B.2. Prados

secos, tendo-se denominado este agrupamento como “Zonas agrícolas e pastagens”

(Carta 13).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

71

5. UNIDADES DE PAISAGEM

5.1. Conceito e objectivos

A paisagem reflecte a interacção entre o homem e o meio. A complexidade das acções

humanas reflecte-se em factores sociais, culturais e económicos, que actuam sobre um

meio biofísico constituído por componentes como a geologia, hidrologia, solos e

biocenoses.

Na segunda metade do século XX, essencialmente nos países mais desenvolvidos, tem-

se assistido a uma rápida transformação das paisagens naturais e delapidação dos

recursos naturais. Esta antropização do território é consequência da evolução técnica e

tecnológica, bem como do crescimento demográfico. Como reacção a este processo,

sobretudo nas últimas décadas do séc. XX, assistiu-se a uma gradual e crescente

consciencialização das populações acerca das ameaças ambientais. A paisagem surge

neste contexto como imagem do território que urge preservar e valorizar, como uma

componente fundamental do património natural, histórico, cultural e científico.

A necessidade de integrar a escala da paisagem na perspectiva de conservação da

natureza foi reconhecida na Estratégia Pan-Europeia para a Diversidade Biológica e de

Paisagem preparada em 1996 pelo PNUA, Conselho da Europa e European Center for

Nature Conservation. A Agenda XXI considera a gestão como base para a integração das

componentes sociais e ambientais.

Em 2000 foi assinada a Convenção Europeia da Paisagem, que veio realçar a ideia já

introduzida pelo relatório dos Princípios Directores para o Desenvolvimento Espacial

Sustentável do Continente Europeu, de que as paisagens constituem um espelho da

diversidade natural e cultural do património, sendo um elemento fundamental da

identidade local e regional e, até a uma outra escala, a europeia. Portugal é um dos 17

países signatários desta Convenção, que estabelece a definição e aplicação de políticas

de paisagem, de modo a salvaguardar a sua protecção, gestão e ordenamento, bem

como assegurar a participação pública das autoridades locais e regionais e de outros

actores com relevância no processo. Estas políticas de paisagem deverão ser parte

integrante das políticas de ordenamento do território, urbanismo, ambientais, culturais,

agrícolas, florestais e económicas, ou de outras com influência sobre a paisagem. A

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

72

orientação desta necessária articulação entre as diversas políticas está expressa na

Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (2001).

A definição de "unidades de paisagem" ou “unidades paisagisticamente homogéneas”

permite, assim, a caracterização do sistema biofísico com vista ao ordenamento, com

base em critérios de homogeneidade relativamente a um conjunto de componentes

significativos (atributos, processos), que no seu conjunto (incluindo as respectivas

interacções) indicam oportunidades ao uso directo ou indirecto do território pelas

comunidades humanas.

Os Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas, enquanto instrumentos legais da

política de ambiente e ordenamento do território, devem considerar as questões da

paisagem com vista à sua protecção e correcta gestão. A paisagens desordenadas

corresponde geralmente a existência de desequilíbrios ambientais, enquanto a sistemas

naturais ou humanizados em equilíbrio correspondem, de um modo geral, paisagens

harmoniosas sob o ponto de vista estético.

5.2. Caracterização das unidades de paisagem

Os terrenos da Paisagem Protegida evidenciam um grau de transformação apreciável,

embora ainda assim menor do que aquele da região onde se inserem. As áreas naturais

mais bem preservadas, e que caracterizam de forma marcante a paisagem da região, são

os carvalhais dominados por carvalho-alvarinho Quercus robur, que cobrem grande parte

das encostas do Corno do Bico. Antes da Revolução Neolítica estes carvalhais terão

ocupado provavelmente a maior parte dos territórios de baixa e média altitude do

Noroeste de Portugal, constituindo extensas formações de bosque (Espaço Terra 2004).

Apenas alguns biótopos particulares, como os solos apaulados, isto é, zonas de solos

encharcados ou muito húmidos, os ambientes litorais ou os cumes das principais

elevações seriam potencialmente ocupados por outros tipos de vegetação (Espaço Terra

2004).

Nas áreas onde os bosques de carvalhos foram totalmente destruídos, a vegetação

dependente da sua sombra foi substituída por formações de giestas, medronheiros, urzes

e tojos, constituindo matos altos (ICNB dados não publicados).

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

73

O recuo do carvalhal, a sua fragmentação e degradação são o reflexo directo do impacto

das actividades humanas sobre a cobertura vegetal original (ICNB dados não

publicados). Estes efeitos estão directa ou indirectamente relacionadas com a exploração

dos recursos do meio: o abate do carvalhal para aproveitamento da madeira, e para a

instalação das explorações agrícolas, a pastorícia extensiva de rebanhos de cabras e

ovelhas e manadas de vacas e cavalos associada ao uso de fogo (ICNB dados não

publicados).

Os lameiros, outra marca característica da paisagem da PP e da área onde esta se

insere, foram outrora fundamentais para a prática da pastorícia semi-extensiva;

constituem um dos elementos mais importantes na construção das paisagens minhotas e

na economia tradicional da região (ICNB dados não publicados).

À semelhança da tendência dominante das últimas décadas, as actividades agrícolas têm

conhecido um abandono progressivo, com o consequente aumento de terrenos incultos.

A delimitação de unidades paisagisticamente homogéneas (Carta [14]) realizou-se

através da compilação de informação referente a diferentes componentes: litologia,

geometria, ipsometria, rede hidrográfica, declives, análise do coberto vegetal e das

utilizações do solo e análise do grau de intervenção humana.

Da análise destes factores resultou a caracterização de onze unidades de paisagem

(Anexo VII), referindo-se os seus principais descritores, em termos de relevo, uso do solo,

humanização e carácter, i.e. a impressão que cada unidade cria no observador, fruto da

súmula das características anteriores referidos de seguida.

• Campos de Parada - o relevo nestas áreas é bastante ondulado, os terrenos são

constituídos por um mosaico agro-florestal. A paisagem é heterogénea e a

humanização média.

• Campos de Sobreiras – o relevo é bastante ondulado e trata-se de uma área

ocupada sobretudo por terrenos incultos e zonas florestadas, com folhosas e

pinhal. A humanização é reduzida.

• Mata do Cristelo – zona de relevo ondulado, que inclui essencialmente zonas

florestadas de pinhal e bosques de carvalhos. A humanização é reduzida.

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74

• Campos de Vascões – zona plana ou ondulada com prados e pastagens

intercalados com pequenas manchas de áreas agro-florestais. A humanização é

média e a paisagem heterogénea.

• Monte de Lamas - zona plana ou ondulada com prados e pastagens intercalados

com áreas de bosques de folhosas. A humanização é média e a paisagem

heterogénea.

• Mata de Coutos – área florestal, relativamente homogénea, ocupada por bosques

de folhosas. Zona com ocupação humana reduzida e relevo ondulado.

• Campos de Eiras - zona de paisagem heterogénea, ocupada maioritariamente

por campos agrícolas, bosques de folhosas e mosaico agro-florestal.

Humanização média a reduzida, com relevo variável, mas globalmente ondulado.

• Campos de Chavião – relevo variável, de muito a pouco ondulado. Zona de

paisagem heterogénea, maioritariamente ocupada por campos agrícolas, com

prados e pastagens, intercalada com bosques de folhosas, mosaico agro-florestal

e algumas áreas de terrenos incultos. Humanização em geral média, elevada na

orla oeste, onde predominam núcleos urbanos.

• Encostas de Vilares - zona muito ondulada, relativamente homogénea, ocupada

sobretudo por terrenos incultos. Ocupação humana reduzida.

• Mata do Corno do Bico – relevo muito ondulado e ocupação humana reduzida.

Ocupado com bosques de folhosas e pequenas manchas de pinhal e terrenos

incultos.

• Encostas de Travanca – relevo ondulado, mas com grau variável; zona

heterogénea, de humanização média a reduzida. Constituída sobretudo por

terrenos incultos, bosques de folhosas e pinhal.

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75

6. CARACTERIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL

A principal fonte de informação para a caracterização do património arquitectónico e

etnográfico foi a informação presente em http://www.cm-paredes-coura.pt.

O património arqueológico foi caracterizado com base na informação cedida pelo

IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, IP, que

forneceu igualmente a localização dos sítios arqueológicos.

6.1. Património arquitectónico

Dentro do perímetro da Área Protegida destacam-se alguns exemplos de património

arquitectónico religioso, nomeadamente diversas igrejas e capelas, que constituem

marcos da religiosidade das populações e simultaneamente interessantes formas de

expressão artística, sobretudo do período barroco (www.cm-paredes-coura.pt).

Do património arquitectónico civil são de realçar algumas casas senhoriais e um grande

conjunto de estruturas de suporte da agricultura (como moinhos ou engenhos

hidráulicos), testemunhando que esta foi, até meados do séc. XX., a mais importante

actividade do município de Paredes de Coura (www.cm-paredes-coura.pt).

6.2. Património arqueológico

A presença humana na área que corresponde actualmente ao concelho de Paredes de

Coura remonta ao Paleolítico (www.cm-paredes-coura.pt). Contudo, o património

arqueológico mais relevante nesta área corresponde ao período Neolítico, subsistindo

ainda em Corno do Bico e Chã de Lamas vestígios de algumas mamoas ou monumentos

funerários datados de há 5000 anos (www.cm-paredes-coura.pt).

Em Cristelo, no Castro de S. Sebastião, achados arqueológicos como machados de

talão, vasilhas para armazenamento e confecção de alimentos, tégula e tijolos revelam

uma importante estação romana (www.cm-paredes-coura.pt).

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76

Na área da Paisagem Protegida do Corno do Bico os sítios arqueológicos conhecidos

consistem em mamoas (estruturas de protecção de dólmens), num forno e em vestígios

diversos, num total de nove sítios (Fonte: IGESPAR). Estes são seguidamente listados e

descritos.

• Chã de Lamas 1 – Mamoa do período Neo-Calcolítico. Esta mamoa, de planta

circular, é constituída superficialmente por terra e alguma pedra de xisto,

apresenta grandes dimensões, tendo uma grande massa tumular.

• Chã de Lamas 2 – Mamoa do período Neo-Calcolítico. De planta circular e, ao

contrário da maioria dos outros monumentos, não apresenta qualquer vestígio de

esteio, apesar da profundidade da cratera, havendo somente duas pedras de

pequeno porte, em granito, e também muito poucas na superfície do tumulus, em

granito, xisto, e quartzo.

• Chã de Lamas 3 – Mamoa do período Neo-Calcolítico. É um monumento de

configuração circular, coberto por húmus e alguma pedra (ao contrário de outros),

que se acumula na periferia. É um tumulus de menores dimensões, pelo que não

se destaca na paisagem como os demais.

• Chã de Lamas 4 - Mamoa do período Neo-Calcolítico. Tem planta subcircular,

quase sem pedra à superfície, excepto no que diz respeito ao anel lítico. O

tumulus é de grandes dimensões, quer em altura, quer em perímetro. Foi alvo de

destruição, pelo que não existe qualquer esteio.

• Chã de Lamas 5 - Mamoa do período Neo-Calcolítico. Apresenta planta circular e

é a que se apresenta menos violada, sendo visível a cabeça de um estio que

deverá ser de grande dimensão, e que está inclinado para o centro.

• Chela/Castro – Vestígios diversos do período Romano, nomeadamente cerâmica,

tegulas e mós.

• Cascalhal - Vestígios diversos do período Romano, nomeadamente cerâmica,

tegulas e mós.

• Telheiras – Local onde foi encontrada à superfície cerâmica do período Romano,

tégula, podendo indiciar a presença de um forno.

• Mó – Habitat do período Romano, contendo também vestígios de período

Indeterminado e Pré-histórico. À superfície foi detectada cerâmica de cobertura,

cerâmica comum, sigillata, cerâmica de armazenamento, mós, vidros, estruturas,

seixos truncados e bifaces.

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77

6.3. Património etnográfico

O património etnográfico associado à Paisagem Protegida é indissociável importância da

agricultura enquanto actividade produtiva principal (www.cm-paredes-coura.pt). O milho

era até meados do séc. XX o suporte de uma economia marcadamente agrícola

(www.cm-paredes-coura.pt). Das estruturas arquitectónicas que testemunham este

carácter realçam-se os espigueiros ou “canastros” para armazenamento e secagem dos

cereais (www.cm-paredes-coura.pt). Destaca-se ainda a importância da produção de

feijão, batata e linho, este último extensamente utilizado para trabalhos artesanais

(www.cm-paredes-coura.pt).

A gastronomia tradicional do município de Paredes de Coura consiste num vasto

património, assente em produtos naturais e ecológicos, provenientes de uma economia

rural (www.cm-paredes-coura.pt). Destacam-se pratos confeccionados com trutas do rio

Coura, enchidos e cabrito; o milho, até tempos recentes a principal produção agrícola da

região, tem associado toda uma gastronomia específica, como o bolo do tacho, a broa, a

bola de carnes ou a sardinha (www.cm-paredes-coura.pt). Da doçaria salientam-se as

filhós, as roscas, os biscoitos de milho, as rabanadas no vinho tinto e os formigos com

mel (www.cm-paredes-coura.pt). Os paladares e sabores da região foram amplamente

retratados na literatura portuguesa, salientando-se a obra de Aquilino Ribeiro, “A Casa

Grande de Romarigães” (www.cm-paredes-coura.pt).

Ao nível do artesanato local é de salientar a produção de artefactos de madeira e metal,

as rendas e bordados, a tecelagem, a olaria e a produção de chinelas e socas, de trajes e

bonecas regionais (www.artesminho.com).

No município de Paredes de Coura decorrem numerosas festas e romarias, sobretudo de

carácter religioso, destacando-se as seguintes, por decorrem no perímetro da Área de

Paisagem Protegida ou na sua envolvente próxima (www.cm-paredes-coura.pt):

• S. Tiago – Sobreiro – Parada/Padornelo – 22 e 23 de Julho;

• N. Srª. do Rosário – Igreja – Bico – 4 a 6 de Agosto;

• S. Bento – Vilares – Bico – 14 e 15 de Agosto;

• Srª. das Dores – Barreiros – Coura – 25 a 27 de Agosto;

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78

• Srª. da Peneda e S. Francisco – Chavião – Castanheira – 25 a 27 de Agosto.

De referir ainda, embora sem carácter etnográfico, o festival de música moderna de

Paredes de Coura, em Agosto, que se realiza desde 1993, que recebe anualmente várias

centenas de visitantes.

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79

7. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÓMICA

7.1. População

A caracterização sócio-económica da população residente nas freguesias integrantes da

área de Paisagem Protegida do Corno do Bico foi elaborada essencialmente com base

em dados do ICNB (não publicados).

A Paisagem Protegida do Corno do Bico está localizada no distrito de Viana do Castelo,

concelho de Paredes de Coura, integrando partes das freguesias de Bico, Castanheira,

Cristelo, Parada e Vascões, com populações residentes que variam entre 237 e 642

habitantes. Cerca de 21% da população do concelho reside nas freguesias pertencentes

à Paisagem Protegida (INE, Recenseamento Geral da População e Habitação – 2001-

Resultados Definitivos) (Tabela I).

O concelho de Paredes de Coura, actualmente com um total de 9571 residentes, tem

sofrido nas últimas décadas um decréscimo acentuado da população residente.

As freguesias cujos territórios integram a área protegida possuem 2029 habitantes

residentes (Tabela I). As freguesias com menor número de habitantes residentes, em

2001, são Vascões e Parada. A freguesia mais habitada é Castanheira, com 642

habitantes residentes.

Tabela I: População residente nas freguesias da PPCB

Freguesias/ Área (ha) População Residente

1981 1991 2001 ∆ (2001-1981) %

Bico 956 671 549 475 -29,2% Castanheira 830 696 655 642 -7,8% Cristelo 260 405 380 352 -13,1% Parada 407 385 361 323 -16,1% Vascões 697 275 239 237 -13,8%

TOTAL 2432 2184 2029 -16,6% INE, Recenseamento Geral da População e Habitação – 2001 (Resultados Definitivos)

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80

A análise à variação demográfica entre 1981 e 2001 demonstra que todas as freguesias

sofreram uma variação negativa da população e que foi Bico aquela que perdeu mais

habitantes residentes, decrescendo 29,2%. Castanheira e Cristelo apresentaram um

decréscimo menos expressivo da população, talvez por se localizarem no Vale do Coura,

onde convergem os principais acessos e onde se faz mais sentir a influência da sede do

concelho. As restantes freguesias localizadas na zona montanhosa do concelho, com

cotas acima dos 400 m, têm intensa ocupação florestal e fracas acessibilidades, o que

pode ser justificativo do decréscimo acentuado da população observado.

Em termos de densidade populacional, as freguesias com território pertencente à

Paisagem Protegida apresentam valores reduzidos, oscilando entre 3 habitantes/Km2 em

Vascões, e 14 habitantes/Km2 em Cristelo (tabela II).

Tabela II: Densidade Populacional

Freguesias/ Área (ha) População Residente

Densidade Populacional

(Hab/Km2) 2001

Bico 956 475 5

Castanheira 830 642 8 Cristelo 260 352 14 Parada 407 323 8

Vascões 697 237 3 TOTAL 2029 38

INE, Recenseamento Geral da População e Habitação – 2001 (Resultados Definitivos)

A idade média dos habitantes das freguesias da Paisagem Protegida é bastante elevada,

nunca inferior a 40 anos, o que revela um envelhecimento significativo da população (INE

2001). A freguesia que evidencia uma idade média da população mais elevada é

Vascões, correspondendo esta a 47 anos.

No que diz respeito às habilitações da população, os habitantes do concelho de Paredes

de Coura possuem o ensino básico completo como habilitação mais comum. Castanheira

é a freguesia que apresenta um número mais elevado de residentes com formação

académica superior. O índice de analfabetismo nas freguesias integrantes na Área de

Paisagem Protegida é bastante expressivo, destacando-se a percentagem elevada de

mulheres analfabetas.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

81

7.2 Uso do solo

As classes mais representadas na Paisagem Protegida relativamente aos usos do solo

são terrenos incultos, ocupados por matos, ou têm cariz agrícola ou florestal.

Os terrenos incultos ocupam cerca de 30% da área da Paisagem Protegida e distribuem-

se ao longo de toda a sua extensão, embora as manchas maiores se localizem

essencialmente nos extremos sul e norte.

A segunda classe mais representada, os bosques de folhosas, também ocupa uma

superfície bastante considerável, cerca de 22% da PP. As maiores manchas situam-se

essencialmente na orla da Paisagem Protegida. As zonas agrícolas ocupam uma área

semelhante, 21% da superfície da PP e localizam-se na sua zona central, geralmente na

envolvência dos núcleos urbanos.

O mosaico agro-florestal consiste num misto intrincado de pequenas áreas florestadas e

campos agrícolas, que espelha bem a heterogeneidade paisagística da região. Ocupa

15% da área e distribui-se em manchas discretas, localizando-se a maior no extremo

noroeste da PP.

Os pinhais ocupam já uma área bastante mais reduzida da Paisagem Protegida, apenas

7%, distribuindo-se em pequenas manchas sobretudo nas orlas da PP. As zonas

artificiais, ocupadas por núcleos urbanos e infra-estruturas, outras resinosas e eucaliptais

ocupam áreas relativamente pequenas, que no seu conjunto correspondem a cerca de

6% da Paisagem Protegida.

7.3 Actividades

A região, marcadamente rural, tem vindo a sofrer um progressivo envelhecimento da

população agrícola e uma consequente falta de mão-de-obra nesta actividade.

Apesar disso, o sector primário ocupa cerca de 47% da população activa, uma

percentagem muito superior aos 11% correspondentes à Região Norte (tabela III, INE

1991). A agricultura continua assim a ser o principal sector empregador, ocupando os

sectores secundário e terciário, respectivamente, cerca de 20,4% e 32,8% da população

activa, estando porém em fraca expansão. O emprego nestes sectores é assegurado

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

82

essencialmente pela construção civil e obras públicas, restauração, indústrias

transformadoras e extractivas, actividades imobiliárias e serviços.

Tabela III. Distribuição da população activa por sectores nas freguesias integrantes da PPCB

FREGUESIAS POPULAÇAO ACTIVA

TOTAL Sector Primário Sect. Secundário Sector Terciário

Nº % Nº % Nº % Bico 251 181 72 23 9 47 19

Castanheira 363 204 56 97 27 62 17 Cristelo 154 83 54 34 22 37 24 Parada 187 116 62 36 19 35 19

Vascões 116 60 52 13 11 43 37 INE, Recenseamento Geral da População e Habitação – 1991

Assim, nas freguesias da Paisagem Protegida a agricultura, a pecuária, o pequeno

comércio e a construção civil são os sectores laborais presentes, sendo que os

trabalhadores não agrícolas pertencem a agregados familiares residentes nas

explorações agrícolas, constituindo o rendimento resultante das actividades exercidas

fora do âmbito da exploração agrícola um complemento importante nos rendimentos do

agregado familiar.

Agricultura

Na Paisagem Protegida, a agricultura desenvolve-se essencialmente em duas zonas: a

que fica contígua aos aglomerados populacionais e a que fica contígua à floresta, nas

partes mais baixas. A ocupação dominante é determinada pela sucessão anual de prados

temporários e culturas forrageiras, seguindo-se os cereais para grão (tabela IV). Nos

espaços próximos dos povoamentos surgem parcelas dedicadas à horticultura para

consumo próprio. Nas zonas mais afastadas encontra-se a batata, a vinha e fruteiras.

Com a altitude verifica-se o aumento dos prados e pastagens permanentes, assim como

das matas e floresta.

Pecuária

Associada à actividade agrícola, a pecuária ocupa lugar de destaque nas freguesias da

Paisagem Protegida, nomeadamente na criação de gado bovino, ovino e garranos

criados em liberdade. Como resposta à crescente redução de efectivos desta última

espécie foi criada a ACERG – Associação de Criadores de Equinos de Raça Garrana -,

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83

associação que pretende desenvolver um conjunto de medidas com vista ao apoio

científico, financeiro e cultural desta actividade.

Tabela IV. Actividades agrárias e ocupação do solo por Freguesia (INE 1999). Sup. =superfície; SAU* = superfície agrícola utilizada

Vascões Cristelo Bico Castanheira Parada

Cereais para grão

Explorações 32 40 75 82 52 Sup. (ha) 17 21 28 32 19 % S A U 6,6 16,9 12,9 7,9 11,7

Pastagens e culturas

forrageiras

Explorações 36 45 76 84 54 Sup. (ha) 99 97 139 153 114 % S A U 38,5 78,2 64,1 38,0 69,9

Horta familiar Explorações 35 40 64 81 51

Sup. (ha) 2 1 2 2 1 % S A U 0,8 0,81 0,92 0,5 0,61

Vinha Explorações 23 31 41 34 52

Sup. (ha) 1 1 1 1 2 % S A U - - - - -

Pastagem permanente

Explorações 31 18 64 34 20 Sup. (ha) 143 26 72 241 46 % S A U 55,6 21,0 33,2 59,8 28,2

Silvicultura

A silvicultura constitui uma actividade relevante na economia das populações que

ocupam a Paisagem Protegida do Corno do Bico, o que se deve, em grande parte, aos

apoios e incentivos financeiros que têm vindo a ser adoptados ao longo dos anos. As

espécies de folhosas são na sua maioria carvalhos que nas suas diferentes produções –

madeira, lenha, pastorícia, produção de cogumelos, agricultura e exploração cinegética –

podem ser ainda objecto de maior rentabilização. Os bosques de folhosas têm uma

segunda função: protecção à água, solo, fauna e flora. A administração destes bosquetes

deverá ser orientada de acordo com as suas funções e valores como a diversidade e a

raridade das espécies.

Devido ao aumento dos incultos que, de uma maneira geral, surgem das áreas ardidas,

estas têm vindo a ser reflorestadas nas últimas décadas, tendo resultado na introdução

de plantas de crescimento rápido.

Existem espécies de folhosas introduzidas na área protegida que foram plantadas pela

Direcção Geral das Florestas como o Carvalho americano Quercus rubra ou a Faia Fagus

sylvatica. Das espécies resinosas introduzidas destacam-se o Falso cipestre

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

84

Chamaecyparis lawsoniana, o Abeto de Douglas Pseudotsuga menziesii ou o Cipreste de

Portugal Cupressus lusitanica (Sérgio Leite, com. pes., DGF).

Os incêndios florestais constituem a maior ameaça que esta actividade enfrenta (Tabela

V).

Tabela V. Ocorrências de incêndios e áreas ardidas (ha) por freguesia integrante na PPCB

Freguesia 2006 2005-1 2000-1996 1995-1992

Ocorrências Area ardida

Ocorrências Área

ardida Ocorrências Área

ardida Ocorrências Área

ardida

BICO 2 1,0 26 22,5 21 73,3 18 57,5

CASTANHEIRA 10 879,4 14 25,93 4 16,56 11 4,14 CRISTELO 4 0,6 12 10,87 12 5,71 18 17,67 PARADA 2 0,1 24 55,76 9 2,04 23 174,92

VASCÕES 3 4,6 17 20,99 30 39,41 15 29,20 TOTAL 21 885,7 93 136,05 76 137,02 85 283,43

GTF, Plano Municipal de Defesa da Floresta contra Incêndios de Paredes de Coura - 2006

A análise da tabela V permite verificar que o período de 2001-2005 foi aquele cujo

número de ocorrências de incêndios foi maior, ainda que no período de 1992-1995 a área

ardida tenha sido muito maior. É desconhecida a causa da grande maioria destes

incêndios (GTF, 2006).

Turismo, recreio e lazer

A Paisagem Protegida do Corno do Bico tem um potencial de atracção de turismo

sobretudo em duas vertentes, a natural e a cultural. Do ponto de vista natural destaca-se

a sua beleza paisagística, sendo também de referir o seu carácter rural expresso na

criação de garranos.

Da vertente cultural é de realçar a realização do Festival de Paredes de Coura, evento de

divulgação musical de periodicidade anual, que constitui um dos atractivos mais

significativos do concelho, que mobiliza as unidades de restauração e alojamento. De

referir ainda que durante o mês de Maio decorre o evento “Maio Cultural”, iniciativa da

autarquia, que promove um conjunto de actividades de divulgação cultural,

designadamente, a Feira Mostra, os concursos gastronómicos, concursos de pesca

desportiva e eventos de divulgação ambiental associados ao Programa de Educação

Ambiental para a Sustentabilidade da PPCB.

Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno do Bico

85

Tal como em todo o Concelho e região em que se insere, o Turismo em Espaço Rural

(TER) nas freguesias da PPCB está em franca expansão, sobretudo ao nível de Turismo

Rural e Turismo de Habitação. Existem duas casas de Turismo Rural na freguesia de

Bico, a Casa das Cerejas e a Casa Sonho da Seara, ambas com capacidade para alojar

12 pessoas. No concelho existem ainda mais quatro unidades deste tipo, uma casa de

Turismo de Habitação e duas Casas de Campo. Localizada na vila de Paredes de Coura

existe uma pensão caracterizada como de primeira categoria, com 44 camas.

A Paisagem Protegida, de acordo com o seu Enquadramento Estratégico do Turismo de

Natureza, desenvolveu dois projectos candidatados ao Plano Operacional do Ambiente

(FEDER) com vista à implementação de equipamentos específicos de apoio ao turismo,

recreio e à educação ambiental. Da sua operacionalização resultou o CEIA – Centro de

Educação e Interpretação Ambiental -, constituído por três edifícios, um dos quais

destinado ao acolhimento de grupos constituídos no máximo por 46 elementos; e os sete

parques de merendas.

O desenvolvimento do produto Turismo de Natureza associado à criação da PPCB teve

como consequência um aumento do número de turistas. Verifica-se um investimento no

desenvolvimento da vertente do Desporto de Natureza, patente na definição de uma

Rede Concelhia de Percursos Pedestres num total de quinze, dos quais seis decorrem

em território da Paisagem Protegida. Associado a este projecto, realizado pela Câmara

Municipal da Paredes de Coura com a colaboração técnica da associação Celtas do

Minho, está ainda a intenção de criação de percursos BTT e equestres.

Caça e Pesca

Na Paisagem Protegida existem dois tipos de regime cinegético: o Regime Cinegético

“Terreno Livre” e o Regime Cinegético Especial, do qual faz parte a Zona de Caça

Associativa de Travanca (Processo n.º 2306 da Direcção Geral das Florestas) que é

gerida pela Associação de Caçadores do Alto Minho. Nesta Zona de Caça são

explorados o Coelho bravo Oryctolagus cuniculus, a Perdiz vermelha Alectoris rufa, o

Pombo bravo Columba oenas, o Javali Sus scrofa e a Raposa Vulpes vulpes (Soares,

2001).

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86

De acordo com a avaliação efectuada na área (Soares, 2001), o coelho bravo é a espécie

cinegética mais relevante e encontra-se associada a matos baixos e orla de floresta e

matos altos, estando bem distribuído em quase metade da área.

O troço da confluência do ribeiro dos Cavaleiros com a ribeira de Reiriz encontra-se

concessionado para a pesca desportiva sob gestão da Câmara Municipal de Paredes de

Coura, estando sujeitos a exploração cerca de 1000 lotes. O período de pesca é de 1 de

Março a 31 de Julho, sendo as espécies exploradas a Boga, a Truta, o Escalo e a

Enguia, esta última desaparecida após a construção da barragem do rio Coura (Pedro

Rodrigues, com. pes.).

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87

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