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CAPíTULO 3 CAPTURANDO CORRETAMENTE I

CAPíTULO 3 CAPTURANDO CORRETAMENTE - Instituto de Artes · amigo na hora de fotografar é o histograma. Na maioria das câmeras digitais (e em todas as profissionais), é possível

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Page 1: CAPíTULO 3 CAPTURANDO CORRETAMENTE - Instituto de Artes · amigo na hora de fotografar é o histograma. Na maioria das câmeras digitais (e em todas as profissionais), é possível

CAPíTULO 3

CAPTURANDOCORRETAMENTE

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HISTOGRAMA: VOANDOPOR INSTRUMENTOS

A exposição correta é a chave para um fluxo de trabalho bem-sucedido, seja emRAW, seja em JPEG. Devido a uma característica muito particular dos sensores di-gitais (veja quadro "Exposição e Gama Linear"), uma ligeira superexposição trazgrandes benefícios à qualidade da imagem. Superexposição exagerada, porém,acaba com o detalhe nas altas luzes de maneira irrecuperável.

Felizmente, há uma ferramenta que somente câmeras digitais possuem - e é umamão na roda na hora de calcular exposição. Junto com o fotômetro, nosso melhoramigo na hora de fotografar é o histograma.

Na maioria das câmeras digitais (e em todas as profissionais), é possível visualizá-10 logo após a captura da imagem, o que possibilita a análise da informação e, sefor preciso, fazer uma nova captura, com ajustes na abertura, velocidade ou ISO.Algumas câmeras ainda nos fornecem o histograma dos canais de cor da imagem,separadamente, o que é muito útil para identificar se há problemas na saturaçãodas imagens.

O que é um histograma, então? O histograma de luminosidade é o mais comumdeles, sendo basicamente um gráfico com dois eixos. O horizontal representa atonalidade dos pixels, partindo do preto à esquerda, até chegar ao branco total, noextremo direito. E o vertical representa a quantidade de pixels que possui aquelatonalidade.

No sentido horizontal, podemos dividir o histograma em quatro zonas, para facili-tar a compreensão:

1) sombras;2) tons escuros;3) tons claros;4) altas luzes.

Nas sombras encontramos tudo o que é escuro, mas ainda assim possui detalhe.Preto liso seria representado por uma área grudada no canto esquerdo do histo-grama, assim:

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Aqui podemos verificar que há uma área preta completamente lisa, sem nenhumdetalhe. Se é essa a intenção da foto, a captura está correta. Se a ideia era mostrardetalhe ou textura nessa área preta, então o histograma está indicando que a ima-gem se encontra subexposta.

Nesta outra imagem acontece exatamente o contrário: o histograma nos diz quehá muito branco liso, brilhante como uma fonte de luz. Se temos uma foto de praiaou coisa parecida, as chances de termos cometido o pecado da superexposiçãosão muito grandes. Mas, como é uma foto com fundo branco para recorte, o his-tograma simplesmente nos diz que fomos bem-sucedidos na missão de "zerar" ofundo da imagem.

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o mesmo tipo de interpretação pode ser utilizado em outras zonas tonais - umaimagem naturalmente escura vai agrupar a informação no lado esquerdo do his-tograrna, assim como uma imagem clara vai ocupar o lado esquerdo. Imagens decontraste suave terão um histograma mais estreito, imagens mais contrastadasum histograma mais largo.

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~OL-+'cOUO Assim como Ansel Adams fazia com seu sistema de zonas, na captura digital é pos-

sível planejar onde se vai posicionar cada zona tonal, usando basicamente os con-troles de abertura e velocidade de uma maneira geral, e controlando o contrastede uma maneira localizada. Esse controle de contraste pode tanto ser feito coma elaboração cuidadosa das relações de iluminação, caso estejamos em estúdio,como pode ser feito na pós-produção, ou seja, no processamento do arquivo.

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~CONTROLANDO MELHOR A EXPOSIÇAOJá utilizou o seletor de modos de fotometria de sua câmera? Mude o sistema de fotometria parao modo pontual e vamos fazer algumas explorações:

o modo pontual de fotometria é um dos mais versáteis e interessantes- ele mede a luz de umpequeno círculo, de cerca de 5% da imagem, bem ali no centro. E calcula a fotometria pararesolvero tom dessa pequena área como cinza médio.

Fotometrandoem uma superfície clara, como uma folha de papel branco, vamos obter estaimagem e histograma:

E fotometrando em uma superfície escura, vamos obter esta imagem e histograma:

Interessante,não? Esseé o tom a partir do qual construímos as imagens - o cinza médio. Qual-quer coisa que eu fotometre nessemodo irá assumir essetom. Experimente clicor superexpondomeio ponto, depois um ponto, depois dois. E aproveite para subexpor também, porque assimpodemos construir uma escala de cinzas.

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Ao fotometrar, é só visualizar onde deseja posicionar as tonalidades - se deseja um cinza es-curo como o lado da sombra desta imagem, fotometre para calcular o cinza médio e subexpo-nha. Se deseja uma imagem high key, é só superexpor. Requer prática, mas coloca o controleda exposição em suas mãos.

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~EXPOSIÇAO E GAMA LINEARSensores digitais, tanto os do tipo CCD como os CMOS, têm uma resposta linear, ou seja, bemdiferente da percepção humana.

Se você pegar um haltere de 2kg, não vai parecer exatamente duas vezes mais pesado do queum haltere de 1kg. Assim como o dobro de uísque não vai te deixar duas vezes mais bêbado.Se o dobro de luz atingir nossas retinas, a cena não vai ficar duas vezes mais brilhante. Maisbrilhante fica, mas não o dobro.

Esse sistema de compressão natural desenvolveu-se para ampliar nossa capacidade de percep-ção em todos os nossos sentidos, ou seja, podemos sair de dentro de uma sala escura para osol do meio dia sem que nossos olhos explodam devido à sobrecarga.

Já um sensor digital funciona de maneira inteiramente linear. Se uma câmera utiliza 12 bitspara codificar sua captura, produzindo 4096 tons de cinza, então o nível 2048 representariaexatamente a metade da quantidade de luz do nível 4096. Isso é a tal da gama linear - nela, aquantidade de luz é exata e diretamente proporcional ao nível codificado.

Essa linearidade é responsável por uma importante diferença entre o processo digital e o defilme. Imagine que sua câmera tenha a capacidade de capturar seis fi stops de latitude. Comoela captura em 12 bits, metade dos 4096 tons é dedicada ao stop mais brilhante. Metade dorestante, ou seja, 1024 tons, é destinada ao stop seguinte (mais escuro). Metade do restante,512 tons, é destinada ao stop seguinte, e assim vai. Ou seja, o stop mais escuro, o das som-bras, é representado por apenas 64 tons!

Matematicamente falando (e visualmente comprovando), escurecer uma captura digital é muitomais seguro do que clareá-Ia, já que temos muito mais informação na parte clara da imagem.Levar esses tons para a parte mais escura (onde nossos olhos são mais sensíveis) produz resul-tados muito melhores do que pegar os poucos tons de sombra capturados pelo sensor e forçá-los a se deslocar para a parte mais clara, o que inevitavelmente causa ruído e posterização.

Assim que damos os primeiros passos na fotografia, com câmera manual e filme preto e bran-co, somos ensinados a expor para as sombras (que o filme captura divinamente) e revelar paraas altas luzes, ganhando detalhe na ampliação.

No sistema digital, temos de inverter essa regra, visto que o sensor rende muito mais nas altasluzes, e que a imagem tem muito a ganhar sendo escurecida na conversão.

Ou seja, aquela famosa história de que câmera digital não captura sombra direito até tem umfundo de verdade, mas não é uma limitação. É apenas uma diferença de processo da qualpouca gente foi informada. Superexponha suas imagens, mas não deixe que as altas luzes se-jam clipodos (para isso se usa o histograma). Mesmo que seja necessário escurecer novamentea imagem no processamento, os ganhos em qualidade das transições, o detalhe nas sombras ea diminuição do ruído compensam largamente o passo extra.

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Repararam que não usei o termo "bom histograma" ou "histograma errado"? Poisé, não existe algo como um histograma errado ou incorreto. Assim como um velo-címetro, o histograma apenas indica o que está sendo capturado e como. E,assimcomo precisamos saber se estamos na estrada, numa avenida ou num beco semsaída para verificar se andar a 90km/h é uma boa ideia, precisamos do contexto daimagem para definir se ela está correta ou não.

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Mesma coisa quando se trata do histograma colorido, só que aí estaremos lidandocom as interações de três histogramas diferentes. E, nesse caso, a principal uti-lidade do histograma colorido é indicar cortes nas cores, visto que às vezes elespodem ocorrer apenas em um ou dois canais. Situação comum em imagens comáreas de saturação elevada.

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Nesta imagem, a elevada saturação do verde indica que é uma séria candidata acorte nas cores - todos os delicados detalhes correm o risco de se tornarem umabolha verde, sem a menor textura. Então, há de se tomar cuidados e controlar asaturação desse canal criteriosamente no ato da conversão do arquivo RAW,a fimde se preservar esses detalhes. Através de uma cuidadosa manipulação do histo-grama (no caso, uma redução localizada da saturação dos amarelos e verdes), aimagem continua com textura e saturação agradáveis aos olhos.

CONTROLANDO O CONTRASTE

Contraste, em fotografia, é a variação tonal entre o ponto mais escuro com detalhee o ponto mais claro que também apresente detalhe. Na linguagem fotográfica,não estamos acostumados a ver reproduzida a latitude integral do olho humano,que é capaz de cobrir mais de dez f/stops do ponto mais escuro ao mais claro. Hojeem dia os sensores são capazes de cobrir uma latitude média de seis f/stops, o queé um intermediário entre o cromo e o negativo. Com alguns recursos fornecidos

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pelo processamento de arquivos RAW,podemos expandir artificialmente essa lati-tude em um ou dois f/stops extras.

Situações de alto contraste são muito comuns, especialmente em externas, ondenão temos muito controle sobre a luz. Imaginem a cena abaixo:

Nesta situação hipotética, seria necessária uma latitude de oito f/stops para resol-ver a imagem sem perder detalhe nem nas cortinas (ponto mais claro com deta-lhes), nem no gatinho preto sentado embaixo da mesa. Como possuímos seis fistops de latitude,como podemos controlar o contraste desta imagem para resol-vê-Ia adequadamente?

A primeira maneira é no ato da captura. Colocar uma tapadeira do lado de forapara reduzir a luminosidade na janela, ou usar uma luz de compensação para cla-rear o gatinho podem comprimir o contraste para seis f/stops ou menos, sem anecessidade de mexer na imagem na pós produção. Do ponto de vista artístico,esta poderia ser considerada a maneira mais purista.

Pode-se também usar um tripé e duas ou mais exposições, aproveitando a melhorinformação de cada uma. Porém, assuntos como um gatinho embaixo da mesaprovavelmente não serão estáticos o suficiente para viabilizar essa técnica.

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Na pós-produção, pode-se também ampliar manualmente a latitude de uma únicaexposição, desde que essa tenha sido em RAW. Seja comprimindo o contraste,seja exportando duas versões diferentes do mesmo arquivo (uma visando as altasluzes e outra as baixas) e montando a versão final no Photoshop, essa expansãoforçada de latitude pode possibilitar a resolução da imagem sem perda de infor-mação importante.

Aqui a imagem superior é resultante das duas inferiores,mostrando detalhe tanto nas sombras como nas luzes

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RECAPITULANDO

Neste capítulo houve novas descobertas:

• o histograma é a melhor ferramenta para avaliar a distribuição de tons emuma imagem. Com ele é possível evitar cortes na reprodução de tons, subexpo-sição e superexposição;• a existência ou não de detalhe nas cores mais saturadas também pode serverificado utilizando o histograma colorido;• o histograma também pode ser utilizado para avaliar o contraste da cena eauxiliar no controle da luz em locação ou estúdio;• por conta da tecnologia de captura, a superexposição é um recurso ampla-mente utilizado na fotografia digital. Superexpondo as imagens o máximo pos-sível no clique (sem cortar informação nas altas luzes), asseguramos uma me-lhor qualidade da informação capturada.

Neste capítulo, proponho outro exercício: experimente assimilar esse processode geração de arquivos RAW.Saia por aí para fotografar sem compromisso, oumonte um pequeno set em seu estúdio. Experimente fotografar observandoseu histograma. Tente perceber onde estão os tons que capturou dentro dohistograma que a câmera exibe. Pergunte-se se estão na zona certa.

Exponha para a direita, superexpondo o máximo possível sem cortar informa-ção nas altas luzes. Observe o histograma colorido e verifique onde estão oscomandos que ativam/desativam os histogramas na sua câmera. Conheça suaprincipal ferramenta de trabalho. Afinal, como já dizia Conan, que era bárbaromas não era bobo, o segredo do aço está na mão que o empunha.