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89 CAPÍTULO VII CONTROLE DE QUALIDADE NA ANÁLISE DE MINERAIS COM ÊNFASE EM NUTRIÇÃO ANIMAL Marcus Antonio Zanetti Prof. Titular da FZEA-USP RESUMO A análise de minerais na área de nutrição animal tem como limitantes os baixos níveis de minerais nos tecidos e as pequenas quantidades de amostra, em virtude disso, a maior preocupação com qualidade é evitar a contaminação, que pode ocorrer em praticamente todas as fases da análise. Uma das dificuldades do estudo de mineral nos animais são as interações que podem ocorrer entre eles, desde o alimento até a utilização pelos tecidos, isto faz com que seja necessária a análise de vários elementos. Um dos pontos chaves na qualidade é a coleta e preparo da amostra, que se não forem adequados comprometem todo o restante do processo. A rotina de trabalho no laboratório também é de extrema importância, há uma série de cuidados indispensáveis para assegurar a qualidade. Atualmente há vários equipamentos e métodos para análise de minerais, sendo que com o avanço da eletrônica e das técnicas computacionais, o custo dos equipamentos tem diminuído sensivelmente ao longo do tempo, facilitando sua aquisição. A escolha do método adequado é indispensável e com tantos equipamentos e técnicas disponíveis a análise ficou muito mais fácil e precisa. Há uma série de recomendações indispensáveis para garantir a qualidade da análise de mineral, mas, a principal delas é a utilização de material de referência certificado e de organismo independe. INTRODUÇÃO Apesar da análise de minerais não variar muito entre os diferentes materiais, geralmente quando trabalhamos com tecido animal, há que se alguns cuidados especiais principalmente com contaminação, sendo um fator de complicação os baixos níveis nos tecidos e a pequena quantidade de amostras. Na nutrição animal há um grupo de elementos considerados essenciais para os animais e outro grupo tóxico, como podemos ver na Tab. 1. Os minerais são ainda classificados como macro elementos (ocorrem em concentrações superiores a 100 mg/kg) ou como micro elementos (abaixo de 100 mg/kg).

CAPÍTULO VII CONTROLE DE QUALIDADE NA ANÁLISE DE … · principalmente o cálcio e fósforo como constituintes dos ossos e dentes e o fósforo e o enxofre como constituintes das

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CAPÍTULO VII

CONTROLE DE QUALIDADE NA ANÁLISE DE MINERAIS COM ÊNFASE EM NUTRIÇÃO ANIMAL

Marcus Antonio Zanetti

Prof. Titular da FZEA-USP

RESUMO A análise de minerais na área de nutrição animal tem como limitantes os baixos níveis de minerais nos tecidos e as pequenas quantidades de amostra, em virtude disso, a maior preocupação com qualidade é evitar a contaminação, que pode ocorrer em praticamente todas as fases da análise. Uma das dificuldades do estudo de mineral nos animais são as interações que podem ocorrer entre eles, desde o alimento até a utilização pelos tecidos, isto faz com que seja necessária a análise de vários elementos. Um dos pontos chaves na qualidade é a coleta e preparo da amostra, que se não forem adequados comprometem todo o restante do processo. A rotina de trabalho no laboratório também é de extrema importância, há uma série de cuidados indispensáveis para assegurar a qualidade. Atualmente há vários equipamentos e métodos para análise de minerais, sendo que com o avanço da eletrônica e das técnicas computacionais, o custo dos equipamentos tem diminuído sensivelmente ao longo do tempo, facilitando sua aquisição. A escolha do método adequado é indispensável e com tantos equipamentos e técnicas disponíveis a análise ficou muito mais fácil e precisa. Há uma série de recomendações indispensáveis para garantir a qualidade da análise de mineral, mas, a principal delas é a utilização de material de referência certificado e de organismo independe.

INTRODUÇÃO Apesar da análise de minerais não variar muito entre os diferentes materiais, geralmente quando trabalhamos com tecido animal, há que se alguns cuidados especiais principalmente com contaminação, sendo um fator de complicação os baixos níveis nos tecidos e a pequena quantidade de amostras. Na nutrição animal há um grupo de elementos considerados essenciais para os animais e outro grupo tóxico, como podemos ver na Tab. 1. Os minerais são ainda classificados como macro elementos (ocorrem em concentrações superiores a 100 mg/kg) ou como micro elementos (abaixo de 100 mg/kg).

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Tab. 1 – Macro e micro elementos minerais essenciais e micros essenciais em situações especiais*

*Ewing & Charlton, 2005. Além destes elementos, há ainda um grupo considerado tóxico, constituído por cádmio (Cd), chumbo (Pb) e mercúrio (Hg). No grupo “essenciais especiais”, apesar de já ter sido comprovada a sua essencialidade, foi em quantidades tão baixas que normalmente não se suplementa. Atualmente não é raro encontrar apenas o níquel sendo suplementado. Por outro lado, os elementos deste grupo são mais estudados como minerais tóxicos aos animais (F, As, V).

Apesar de as funções dos minerais nos animais serem inúmeras, elas podem ser divididas em três funções gerais segundo Od´ell & Sunde (1997): I) Estrutural; II) Catalítica e III) Transdução de sinais. Como estrutural, temos principalmente o cálcio e fósforo como constituintes dos ossos e dentes e o fósforo e o enxofre como constituintes das proteínas. A maioria dos minerais participa dos processos catalíticos e como transdução de sinais o principal mineral é o cálcio, mas o magnésio também participa. O estudo dos minerais nos animais é um tanto quanto complexo, principalmente devido às inúmeras interações que os mesmos possuem e que podem ser sinérgicas ou antagônicas. Na figura 1 podemos ver as principais interações propostas em 1982 por Georgievskii. Desde aquela época até agora, o número de relações aumentou bastante, mas a figura já dá uma boa idéia do problema que enfrentam os

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nutricionistas. Analisar apenas um elemento geralmente fornece pouca ou nenhuma informação, uma vez que na maioria das vezes ele pode estar relacionado negativamente ou positivamente com outro.

Figura 1: Interações sinérgicas e antagônicas entre os elementos minerais (GEORGIEVSKII, 1982).

ANÁLISES DE MINERAIS EM NUTRIÇÃO ANIMAL

COLETA E PREPARO DE AMOSTRA Como as amostras de tecidos animais geralmente possuem baixos níveis de minerais (com exceção dos dentes e ossos), deve haver uma preocupação muito grande com possíveis fontes de contaminação durante a amostragem, preparação, armazenamento, manuseio no laboratório e durante a análise propriamente dita. A primeira preocupação para realizar uma análise confiável é a coleta do material, é importante ressaltar que por mais perfeito que seja o método de análise ele não conseguirá corrigir um erro de amostragem. Em primeiro lugar, a amostra deve ser representativa, isto normalmente é um problema em amostras de alimentos, principalmente em se tratando de alimentos grosseiros (fenos, capins, silagens etc.) e que geralmente estão distribuídos em áreas extensas. Mesmo em se tratando de alimentos concentrados em grande quantidade, a amostragem é difícil. Em todos estes casos se faz necessária a redução das amostras e este processo é um dos que mais contribuem para a introdução de erros nas análises (SILVA E QUEIROZ, 2005).

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Outra preocupação não menos importante na amostragem é o tipo de material que será utilizado na coleta, deve ser dada preferência a material de aço inoxidável. O uso de aço não oxidável , a exposição ao ar e o uso de recipientes contaminados (cuidado com a reutilização de embalagens!) são as principais fontes de contaminação de tecidos animais, enquanto que para amostras de forragem, as principais fontes de contaminação são o solo, poeira atmosférica e os procedimentos de coleta e de moagem. Segundo McDowell (1992), mesmo utilizando moinhos com lâminas de aço inoxidável há possibilidade de contaminação principalmente com Cr, mas ainda pode haver contaminação por Ni, Co, Mn e Fe. Amostras de sangue podem ser contaminadas com o anticoagulante utilizado, ou mesmo com a agulha de coleta, o ideal é utilizar agulha de aço inoxidável. As tampas de borracha utilizadas em tubos tipo “vacutainer” para sangue já foram importantes fontes de contaminação de zinco. O uso de luvas plásticas para lidar com amostras de tecidos é indispensável. Mesmo para amostras de alimentos pode haver contaminação quando não se usa luva de borracha ( infelizmente o talco usado em algumas luvas pode ser uma grande fonte de contaminação!). Para coletar as amostras, é importante utilizar material de polietileno (sacos e frascos). Sacos de panos e de papel podem conter nas cinzas até 2000 mg/kg de Cr, Cu, Mn, Ni, Pb, Zn e até 100 mg/kg de Ag, Be, Co, Ga, Mo, Sn, Sr, V, Y e Zr. Armazenagem de líquidos em vidros pode causar perda de Mn, Mo, Ni, Ti e V. Armazenamento de material em vidro de boro silicato de sódio pode contaminar as amostras com Na e B (MILES et al., 2001). Na maioria das vezes a preocupação é apenas com a contaminação da amostra, o que leva a valores superiores ao esperado, mas pode haver o inverso, ou seja, o recipiente adsorver o elemento mineral, fazendo com que o resultado seja inferior ao esperado, isto também é chamado de contaminação negativa (MERTZ, 1986). Vários trabalhos já demonstraram que determinados plásticos podem adsorver o selênio. Atualmente é comum a utilização de geladeiras e freezers “frost-free” para conservar amostras, neste caso há desidratação e a consequente concentração da amostra, aumentando os níveis dos minerais. Além de todos os cuidados acima descritos para com as amostras, tem um ponto que geralmente não merece atenção e que tem causado grandes perdas em resultados: a identificação inadequada das amostras. Não só erros básicos como identificação do grupo e não das amostras individuais, numeração repetida ou até mesmo ausente, mas também identificação com marcadores não resistentes à água, umidade, congelamento etc. Também não é raro a amostra estar devidamente identificada com códigos que se perdem após a obtenção dos resultados.

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CUIDADOS NO LABORATÓRIO No laboratório é importante que a preparação da amostra seja feita em local diferente da análise e que, principalmente a água seja além de destilada (ou bidestilada), deionizada e armazenada com recipientes adequados (polietileno). No destilador a água não pode entrar em contato com partes de metal (principalmente resistência). Vidro e Pirex podem contaminar soluções ácidas com Al, B, Ca, Fe, Pb, Li, Mg, Mn, Na, Si e Sc (Miles et al., 2001). Uma das fontes mais comuns de contaminação no laboratório são os reagentes, mesmo os reagentes “das melhores marcas” podem apresentar níveis elevados de contaminantes, principalmente no caso do selênio. É importante checar os níveis de garantia antes da utilização e sempre utilizar na análise o “branco”. A poeira e a fumaça são fontes importantes de contaminação e podem ser trazidas também pelo aparelho ar condicionado. Os vapores de ácido comuns nos laboratórios podem liberar uma série de elementos (Cd, Cu, Ni, Pb, Zn etc.) existentes nas partes de metal, como as maçanetas das portas, canaletas, canos, cadeiras etc. É importante manter todo ácido em capela. A limpeza do material utilizado na análise de minerais é de grande importância, principalmente do material que é reutilizado, como os cadinhos, vidraria e pipetas etc., o esquema para limpeza de material proposto por Miles et al., (2001) é o que segue:

a) Cadinhos: depois de limpos devem permanecer uma noite em recipiente plástico contendo 50% de HCl ou 50% de HNO3 (de preferência o mesmo ácido utilizado para solubilizar a amostra) e depois ser lavado três vezes em água deionizada. Terminada a lavagem, colocar o cadinho em bandeja de fibra de vidro revestida com gaze, secar em estufa e guardar em saco plástico;

b) Vidraria e material plástico: Deixar o material por uma noite em uma solução de detergente não fosfatado. Lavar três vezes em agua deionizada e deixar por uma noite em recipiente de nalgene contendo solução de HNO3 10%, depois lavar novamente três vezes com água deionizada. Todo material deve ficar submerso na solução ácida e não flutuando. Secar em estufa em bandeja de fibra de vidro forrada com gaze e guardar em saco plástico ou vedado com parafilme. A secagem em estufa deve ser feita a baixa temperatura e nunca ultrapassar 90º. C para vidraria calibrada. Material contaminado com LaCl3 ou sangue deve ser lavado em água morna antes do contato com detergente para evitar precipitação. Não utilizar material contaminado com produtos químicos ou sabão que secou sem antes tratar com ácido dicromato-sulfúrico ou HNO3 quente.

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c) Pipetas: Deixar as pipetas por uma noite em um cesto dentro de recipiente de nalgene em solução de detergente sem fosfato. Transferir o cesto para um lavador sifonado e lavar por três vezes com água deionizada. Deixar as pipetas por uma noite em tanque de nalgene contendo solução de HNO3 10%%, lavar três vezes em lavador sifonado com água deionizada e secar em estufa com temperatura inferior a 90ºC. ANÁLISES

MATéRIA MINERALNão é raro encontramos em uma análise de alimentos o termo “matéria

mineral” ou “cinzas”. Nesta análise o material é queimado a temperatura de 350 a 600º. C visando a destruição de toda a matéria orgânica (Ewling e Charlton, 2005), que é transformada em CO2 e H2 O. Certa quantidade de CO2 pode permanecer nas cinzas formando carbonatos com metais alcalinos, nos produtos de origem terrestre forma-se K2CO3 e nos produtos de origem marítima, ricos em sódio, forma-se Na2CO3 (SILVA e QUEROZ, 2005). Está análise tem pouco significado na nutrição animal, principalmente quanto se trata de plantas. Neste caso, a sílica geralmente está presente em grandes quantidades. Em alguns alimentos como, por exemplo, farinha de carne ou de peixe, a análise de matéria mineral é importante para saber se houve adulteração das mesmas (osso em excesso). Também é importante ressaltar que esta análise não é precisa uma vez que ocorre perda de mineral volátil como o cloro, iodo e o selênio, além de poder possuir carbonatos como já citado e ainda óxidos e sulfatos. Mas o principal ponto negativo é não informar quais os minerais presentes. Em temperatura de 650º. C pode ocorrer perda de I, K, Cu, Zn, PB e Se (MILES et al., 2001).

DIgESTÃO DA AMOSTRA: Há vários métodos de digestão de amostra, sendo os principais os abaixo relacionados:

1) Digestão seca: Neste método a mostra é queimada a 600º. C da mesma maneira descrita acima para a “Matéria Mineral”. Uma das vantagens deste método é não necessitar de supervisão constante, mas tem como principal desvantagem a perda de alguns elementos, como o iodo e o selênio; o tempo necessário e o número pequeno de amostras trabalhadas, já que geralmente as muflas possuem pouco espaço. Para amostras de tecido animal há a necessidade de realizar uma pré-digestão ácida e nunca levar o material direto para a mufla, sob pena de perder grandes quantidades de amostras;

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2) Digestão úmida: A digestão úmida tem como principal vantagem não haver perdas por volatilização, podendo ainda ser realizada em pouco tempo, em compensação possui várias desvantagens: uso de ácidos fortes que necessitam de cuidados especiais, risco de explosão no caso do uso de ácido perclórico, os ácidos se constituem em fonte de contaminação ao ambiente, possibilidade de contaminar o ambiente, custo elevado. É indicada para amostras de tecidos animais.

3) Micro-ondas: Há vários tipos de digestão com micro-ondas, o mais utilizado atualmente é uma digestão ácida (variável) em uma capsula fechada, com alta pressão. Há a necessidade de um bom controle para evitar risco de explosão. Pode ser feita em pouco tempo e um dos inconvenientes é a pequena quantidade de amostra a ser digerida. Há outro método com micro-ondas, onde ocorre a combustão da amostra, este procedimento tem a grande vantagem de poder utilizar quantidades maiores de amostra (BARIN et al., 2012).

PREPARO DA SOLUÇÃO MINERAL:Caso tenha sido feita a digestão seca, há a necessidade de solubilização

dos minerais presentes nas cinzas, o que é feito normalmente com a adição de ácido clorídrico e com aquecimento, neste processo deve-se tomar cuidado com o ácido utilizado, que pode ser fonte de contaminação, sendo imprescindível a utilização de um “branco”. Pode haver contaminação em um primeiro momento quando do aquecimento, que se for muito intenso pode fazer com que a amostra de um cadinho contamine o cadinho vizinho. Caso haja necessidade de interromper o processo antes da filtragem e transferência para o balão, deve-se esperar esfriar e cobrir os cadinhos com um plástico, deixando sempre na capela e nunca no laboratório.

PRINCIPAIS MéTODOS DE ANÁLISES Atualmente há vários métodos confiáveis para realizar a análise de minerais, a escolha depende de vários fatores, segundo Mertz (1986), os principais são: 1) Se a análise será de apenas um elemento ou de vários; 2) Tipo de matriz da amostra biológica e o potencial de interferência; 3) Número de amostra e o tempo requerido por amostra (automatizada ou manual e equipamento); 4) Tamanho da amostra; 5) Disponibilidade, tamanho, custo, facilidade de operação e assistência técnica do equipamento; 6) Habilidade, treinamento e experiência do pessoal disponível e 7) Se a instrumentação será dividida com outros laboratórios ou usada por diferentes pessoas. Os principais métodos de analises de minerais utilizados são: espectrofotometria de absorção atômica (AAS), ativação por nêutrons (NAA), próton induzido por emissão de raios-X (PIXE), diluição isotópica

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por espectrometria de massa (IDMS), fluorescência por raios-X (XRF), espectroscopia de emissão ótica por plasma induzido (ICP-OES), espectroscopia de massa por plasma induzido (ICP-MS e ICP-TOFMS), espectroscopia por refletância infravermelha (NIRS), cromatografia gasosa com espectrometria de massa, fluorimetria, fotometria de chama, eletrodo de íon seletivo etc. (Ewing & Charlton, 2005). Abaixo são apresentados os princípios dos métodos mais utilizados atualmente.

1) Espectrofotometria de absorção atômica: Esta é a técnica que foi mais utilizada para determinar minerais nos últimos tempos, possui poucos interferentes, tem boa sensibilidade e precisão e baixo custo uma vez que nos últimos anos o preço diminuiu muito. Um inconveniente é que tem que trabalhar na faixa linear de calibração, mas o principal inconveniente é que analisa apenas um elemento por vez. Esta limitação esta fazendo com que esta técnica seja substituída por outras, principalmente por ICP. O elemento a ser analisado na absorção atômica sob ação da chama é dissociado em átomos em situação de repouso. Nesta forma, o elemento absorve radiação de comprimento de onda específico, emitida por uma lâmpada do elemento em análise, sendo que a quantidade de luz absorvida quando passa pela chama é proporcional à quantidade do elemento a ser analisado. Além da chama, pode também ser usado para a atomização o forno de grafite (GF-AAS). O forno de grafite aumenta em muito a sensibilidade da absorção atômica, podendo detectar concentração até 1000 vezes menor, e outra grande vantagem é utilizar amostras muito pequenas (McDowell, 1992).

2) Ativação por Nêutrons: Apesar de ser uma técnica que analisa multi-elemetos, é cara e geralmente utilizada principalmente em centros de pesquisa, por trabalhar com técnica de radio química. Nela, a amostra é bombardeada com nêutrons e os elementos emitem radiação específica que é medida, por isso, é bastante sensível (GILL et al., 2004).

3) Espectrometria de Emissão Atômica (ICP-AES ou ICP-OES – Atomic Emission ou Optical Emission): Esta técnica utiliza o plasma induzido de argônio para atomizar a amostra para ser analisada por espectroscopia de emissão. Inicialmente a amostra na forma de aerossol é vaporizada, dissociada e ionizada, com emissão de luz, sendo que cada região do espectro é associada a uma transição eletrônica e as intensidades luminosas são proporcionais à concentração do elemento. O grande diferencial do plasma são as altas temperaturas, podendo chegar a 7000 K, que ionizam a amostras com grande eficiência. Uma grande vantagem deste método é a possibilidade de analisar

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um grande número de elementos ao mesmo tempo (KARACAN & ÇAGRAN 2009).

4) Espectrometria de massa (ICP-MS ou ICP-TOFMS (time of fligth): Além de determinar a concentração do mineral, pode fornecer informação isotópica (McDOWELL, 1992). Os íons produzidos atravessam um campo magnético que altera as trajetórias dependendo da massa de cada elemento. Tanto a massa quanto a carga é medida, identificando deste modo tanto os elementos quanto os isótopos. A sensibilidade deste método é muito alta, geralmente de PPT (parte por trilhão), apesar de esta ser uma grande vantagem, neste nível de detecção, qualquer contaminação, por menor que seja já interfere (recipientes, reagentes etc.). Este método consegue detectar quantidades menores que o ICP-OES (HANÉ et al., 2011; PHAN-THIEN et al., 2012)

5) Forno de grafite: Utilizado para aumentar a sensibilidade de alguns equipamentos (AAS e ICP). No forno de grafite, ao invés da chama, a energia para atomização é fornecida por uma corrente elétrica elevada que passa através de um tubo de grafite contendo a amostra. O tubo “fecha o circuito elétrico” propiciando alta temperatura (até 3000ºC.). A luz do aparelho passa no centro do tubo. Esta técnica tem como vantagem poder analisar elementos em níveis até 1000 vezes mais baixos que na absorção atômica e outra grande vantagem é a utilização de apenas alguns microlitros de amostra. Como desvantagem, é um método lento, mais caro e pode sofrer mais interferência e contaminação.

6) Gerador de hidretos: Utiliza a propriedade que alguns elementos (dos grupos IV, V e VI da tabela periódica), principalmente selênio e mercúrio, têm de formar hidretos covalentes e voláteis com o hidrogênio. Como fonte de hidrogênio geralmente é utilizado o borohidreto de sódio. Com esta técnica, o elemento é separado e concentrado, facilitando a detecção e aumentando em muito o poder de detecção.

IMPORTÂNCIA DO CONTROLE DE QUALIDADE NA ANÁLISE DE MINERAIS Como verificamos até aqui, há uma série de fatores que podem influenciar na qualidade dos resultados das análises de minerais, desde a amostragem, passando pelo preparo da amostra, indo até o método de análise. Infelizmente, somente estes cuidados não bastam para assegurar resultados confiáveis, é importante haver uma preocupação constante com a qualidade e seu controle. O controle de qualidade deve envolver: a) recepção das amostras, b) análises, c) revisão dos resultados e d) haver evidências escritas dos itens

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anteriores. Estes princípios são contemplados pelas Boas Práticas. Para que o controle de qualidade seja efetivo, há a necessidade do engajamento de todos os envolvidos, a começar pela direção do laboratório, até o responsável pela limpeza. O propósito do programa é monitorar o processo analítico e não o pessoal. Além de constituir em uma ferramenta educacional, deve ser estabelecido processo de validação. Os principais objetivos do controle de qualidade é reduzir os erros analíticos a níveis aceitáveis, reduzir o trabalho para obter dados confiáveis e prover uma base de dados para comparação de resultados. O controle de qualidade é necessário para satisfazer o desejo do analista para um trabalho de qualidade, para agir com responsabilidade com relação aos descartes de resíduos e para gerar relatórios e documentação para uso imediato e futuro, no interesse de todos. A motivação para que o controle de qualidade seja eficiente é fundamental, ela é uma ferramenta de marketing muito forte, além da qualidade dos resultados, as pessoas envolvidas tem sua reputação melhorada, além do que os laboratórios sem CQ não sobreviverão! Para implantação de um sistema de qualidade é imprescindível conhecer a natureza dos erros, o sistema de medida e o que fazer para minimizar os erros. No caso dos minerais, os principais pontos que influenciam negativamente nos resultados já foram listados anteriormente, o conhecimento de cada um deles é imprescindível.

DETERMINAÇÃO DO DESEMPENHO ANALÍTICO Precisão x acurácia: Precisão é o grau de reprodutibilidade de um

procedimento analítico no tempo, para ser calculada devem ser eliminados os fatores externos que possam influir nos resultados, deve ser utilizado material de referência para fazer a checagem e inclusive eliminar os efeitos da matriz. A amostra deve ser analisa pelo menos sete vezes em dias diferentes e calculados a média e o desvio padrão para cada dia. Pode ocorrer variação nos resultados de um mesmo dia ou variação de dia para dia. As principais falhas na precisão são: falta de homogeneidade, calibração de equipamento, contaminação e erro do analista. Acurácia é a concordância do valor encontrado com um valor conhecido e verdadeiro para o que está sendo analisado. Os principais fatores que limitam a acurácia são: contaminação da amostra, padrão errado, falha do instrumento, falha no uso dos dados da curva de calibração, não linearidade na curva de calibração e problema entre o padrão e a matriz da amostra. Nas figuras 2 a 5 são apresentadas as diferentes combinações de acurácia e de precisão.

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Fig. 2 - Pobre acurácia e pobre precisão

Figura. 3 – Boa acurácia pobre precisão

Figura 4- Pobre acurácia boa precisão

Figura 5 – Boa acurácia boa precisão

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Uma maneira prática para checar a precisão é analisar duplicada de 5% das amostras e para acurácia analisar 5% das amostras com fortificação ou taxa de recuperação. É desnecessário ressaltar a importância do uso de material de referência para as checagens. Para minerais é bastante utilizado o material de referência (SRM-Standard Reference Materials) do NIST (National Institute of Standards and Technology) do governo americano (http://ts.nist.gov/srm). As amostras certificadas possuem erro desprezível e alta precisão, uma vez que geralmente utilizam espectroscopia de massa ou ativação por nêutrons e ainda geralmente são determinadas por no mínimo dois métodos de análises aceitos, podendo ainda ter sido analisada por mais de um laboratório. Segundo Miles (comunicação pessoal, 19971) para assegurar qualidade na análise de minerais é importante observar os seguintes pontos:

1) Realizar analise em duplicatas; 2) Periodicamente analisar amostras fortificadas; 3) Ressubmeter amostras às cegas;4) Realizar comparações entre laboratórios;5) Utilizar amostras de referência interna (do próprio laboratório);6) Utilizar material certificado (NIST);7) Manter registros:

a) o que foi feito;b) quem fez; c) quando;d) qual o instrumento utilizado;e) qual foi o padrão utilizado e quais os reagentes utilizados; f) o que deu errado. Finalizando, os pontos chaves no controle de qualidade de minerais é a utilização de métodos aprovados de análise, instrumentação analítica adequada ao método; calibração periódica dos equipamentos e utilização de material de referência certificado e de instituição independente.

1MILES, P.H., Curso de análise de minerais, FZEA-USP, 1999.

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REFERÊNCIAS BIBLIOgRÁFICAS

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