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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO 65 CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO "Lá fora o corpo de São Paulo escorre vida ao guampasso dos arranhacéus." (Mario de Andrade, in ANDRADE, 1928, p.266) A trajetória da construção dos edifícios de escritórios na cidade de São Paulo se confunde com a história da própria cidade. Desde sua fundação (1554), foi na virada do século XIX para o século XX que São Paulo viveu o período de maior crescimento. E é desde então que começam a surgir os primeiros edifícios de escritórios de uma única empresa, muitas delas multinacionais que decidiram investir na cidade, ou empresas fundadas no país por imigrantes. Foi neste cenário que São Paulo se destacou no início do século XX como a cidade brasileira que mais desenvolveu e investiu em infra-estrutura de comunicações e transportes para, entre outros aspectos, se adaptar às mudanças nas relações sociais do trabalho. Durante todo o século XX a cidade se manteve como o grande centro de negócios do país. Passou por décadas de crescimento, sofrendo diversas transformações urbanas que podem ser observadas através da quantidade de novas construções e do grande número de pólos de econômicos que foram surgindo ao longo dos anos. Esta parte do trabalho irá destacar a construção de edifícios de escritórios projetados para serem sedes de uma única empresa na cidade de São Paulo. Através da observação do que aconteceu com a cidade nas diversas épocas e regiões, poderemos entender melhor em que contexto estão inseridos os tipos de escritórios que estamos estudando. Para isso, vamos dividir a cidade de São Paulo em sete regiões a serem estudadas. Essas áreas, consideradas as mais significativas para este trabalho por terem abrigado construções de edifícios de escritórios para uma única empresa, estão listadas e localizadas no mapa a seguir: 1ª Região - Centro 2ª Região - Avenida Paulista 3ª Região - Avenida Faria Lima 4ª Região - Chácara Santo Antônio

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRIT ÓRIOS EM SÃO PAULO

"Lá fora o corpo de São Paulo escorre vida ao guampasso dos

arranhacéus." (Mario de Andrade, in ANDRADE, 1928, p.266)

A trajetória da construção dos edifícios de escritórios na cidade de São Paulo se

confunde com a história da própria cidade. Desde sua fundação (1554), foi na virada do

século XIX para o século XX que São Paulo viveu o período de maior crescimento. E é

desde então que começam a surgir os primeiros edifícios de escritórios de uma única

empresa, muitas delas multinacionais que decidiram investir na cidade, ou empresas

fundadas no país por imigrantes.

Foi neste cenário que São Paulo se destacou no início do século XX como a cidade

brasileira que mais desenvolveu e investiu em infra-estrutura de comunicações e transportes

para, entre outros aspectos, se adaptar às mudanças nas relações sociais do trabalho.

Durante todo o século XX a cidade se manteve como o grande centro de negócios

do país. Passou por décadas de crescimento, sofrendo diversas transformações urbanas

que podem ser observadas através da quantidade de novas construções e do grande

número de pólos de econômicos que foram surgindo ao longo dos anos.

Esta parte do trabalho irá destacar a construção de edifícios de escritórios projetados

para serem sedes de uma única empresa na cidade de São Paulo. Através da observação

do que aconteceu com a cidade nas diversas épocas e regiões, poderemos entender melhor

em que contexto estão inseridos os tipos de escritórios que estamos estudando.

Para isso, vamos dividir a cidade de São Paulo em sete regiões a serem estudadas.

Essas áreas, consideradas as mais significativas para este trabalho por terem abrigado

construções de edifícios de escritórios para uma única empresa, estão listadas e localizadas

no mapa a seguir:

1ª Região − Centro

2ª Região − Avenida Paulista

3ª Região − Avenida Faria Lima

4ª Região − Chácara Santo Antônio

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5ª Região − Avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini

6ª Região − Vila Olímpia

7ª Região − Marginal Pinheiros

Mapa parcial da rede viária estrutural da cidade de São Paulo

Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo / Secretaria Municipal de Planejamento Urbano, 2006, mapa trabalhado pela

autora

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Percebemos no mapa que os pólos de negócio em São Paulo, que começaram no

Centro da cidade, proliferaram-se em direção à região sul e seguiram o traçado da Marginal

Pinheiros. Claro que existem alguns edifícios de escritórios representativos fora dessas

regiões, entretanto esse caminho demonstra claramente as áreas de crescimento da cidade.

A partir de agora observaremos algumas características e exemplares dos edifícios

de escritórios de uma única empresa em São Paulo, com base no desenvolvimento dessas

regiões, a fim de verificar como os conceitos de espaços de escritórios desenvolvidos no

mundo surgiram e se proliferaram na cidade.

2.1 O CENTRO DA CIDADE: INÍCIO DO SÉCULO XX

Foi com a chegada da ferrovia (1865), da iluminação pública a gás (1872), da

instalação da empresa Light (1890) (CUSHMAN, 2004, p.12), entre outros aspectos, mas

também e principalmente “a partir de 1890 quando São Paulo se torna o maior centro

produtor de café do Brasil” (SOMEKH, 1994, p.116-117), que a cidade se consolida como o

principal centro industrial do país, atraindo investimentos estrangeiros e nacionais.

“Em 1901, a The São Paulo Railway Light and Power Co. instala

a primeira hidroelétrica de porte do Brasil, em Santana do Parnaíba,

no estado de São Paulo. (…) A partir daí começa a industrialização

de São Paulo e do Brasil.” (BORGES, 1999, p.62)

O crescimento populacional na região nesta época foi altíssimo, devido

principalmente à vinda de novos imigrantes atraídos pelo avanço econômico: a população

saltou de 240.000 habitantes em 1900 para 587.000 em 1920, e depois para 888.000 em

1930. (CUSHMAN, 2004, p.12)

Os primeiros elevadores em edifícios são instalados entre 1918 e 1922 pela empresa

Pirie, Villares & Cia. (SOMEKH, 1994, p.124), que, junto com a disseminação da energia

elétrica, possibilitou o crescimento de edifícios na cidade.

A região central estava localizada na confluência das principais artérias da cidade,

por onde eram obrigados a passar os principais meios de transporte, e nela edifícios de

escritórios começaram a surgir e a se proliferar rapidamente. Segundo Maria Cecília

Naclério Homem, “a construção de prédios para renda destinados a escritórios, a

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comerciantes e profissionais liberais, tornou-se um ótimo negócio”. (HOMEM, 1984, p.46)

Posteriormente percebe-se que estas construções sempre seguiram os núcleos comerciais

e de negócios da cidade, que, por sua vez, eram direcionados pela expansão dos bairros

residenciais de alto padrão.

“Acreditava-se que o centro era impróprio para a construção de

edifícios altos. O subsolo ali é úmido, constituído sobretudo de argila

pastosa, areião. Naquela época, antes das calculadoras, os

engenheiros demoravam para fazer contas complexas, para a

segurança das fundações.” (CUSHMAN, 2004, p.13)

Inicialmente as empresas se organizavam sem planejamento, sem uma divisão clara

do trabalho e se instalavam em pequenos escritórios de edifícios que possuíam

características espaciais e arquitetônicas muito parecidas com os edifícios residenciais da

época. Não havia necessidade de grandes edifícios administrativos, até que nos anos 1920,

com a entrada definitiva de empresas multinacionais no mercado brasileiro, começou a

crescer rapidamente a quantidade de locais para escritórios e mudaram-se as formas de

organização e gestão empresarial, sob influência da cultura estrangeira. Nadia Somekh

descreve que das “318 empresas estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil entre 1911

e 1930” (SOMEKH, 1994, p.119), 111 eram americanas, a grande maioria vinculada ao

comércio de importação e exportação: entre elas instalava-se em 1917 no país a IBM (IBM,

1997, p.23).

Alguns registros mostram que o primeiro edifício considerado um arranha-céu26 a ser

construído em São Paulo (e também no Brasil) foi o Guinle (BORGES, 1999, p.81),

localizado na rua Direita n° 37/49, próximo à praça da Sé. Obra do arquiteto Hipólito

Gustavo Pujol Jr. e de Augusto Toledo, foi construído em 1912 (BORGES, 1999, p.97) para

abrigar o escritório paulista da família Guinle. Possui oito andares, estrutura de concreto

armado; mas atualmente possui comércio somente no pavimento térreo e os demais

andares (que foram totalmente descaracterizados) estão vazios.

Outros registros identificam o Sampaio Moreira como o primeiro edifício alto de São

Paulo, projetado pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves (1889-1982) e obra do então

comerciante português e construtor José de Sampaio Moreira, ele foi erguido no ano de

26 Arranha-céu: edifício de numerosos andares, só possível a partir da invenção do elevador. Combina a altura extraordinária com espaços vulgares, semelhantes aos edifícios de altura normal. O termo tem origem nos EUA no final da década de 1880, dez ou doze anos depois de os edifícios de escritórios atingirem doze andares ou cerca de 75m. Caracteriza cidades norte-americanas como Nova York e Chicago. Fonte: Dicionário de Termos de Arte e Arquitectura, 2005.

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1924 (BORGES, 1999, p.110). Com 596m² de terreno, 5.360m² de área útil, 50m de altura −

treze pavimentos, porão e ático −, ele foi na época de sua construção o prédio mais alto da

cidade. Localizado na rua Líbero Badaró, 344 a 350, hoje o Sampaio Moreira possui 180

espaços de escritórios e comércio no térreo.

(1) (2)

(1) Edifício Guinle – 1912 (2) Edifício Sampaio Moreira – 1924

Fontes: (1) www.piratininga.org (2) www.vivaocentro.org.br/images/bancodados/centrosp

Bem perto dali está o Edifício Martinelli, prédio que também foi considerado por

alguns escritores como o primeiro arranha-céu da cidade (CUSHMAN, 2004, p.15).

Idealizado pelo imigrante italiano Giuseppe Martinelli27 (BORGES, 1999, p.109), cujo

sobrenome deu origem ao nome do edifício, o projeto previa a construção de 25 andares de

100m de altura no total, com o objetivo de ultrapassar em altura e técnica o edifício Sampaio

Moreira. A construção foi realizada em duas etapas: foram construídos dezoito andares

entre 1925 e 1929 e mais doze andares até 1934 (CUSHMAN, 2004, p.15). Possui 46.123m²

de área construída e 105,65m de altura, e sua ocupação inicial era híbrida: residência do

proprietário e construtor Giuseppe Martinelli nos três últimos andares; outras moradias nos

andares 23º e 24º; e cinema, restaurantes, confeitarias, hotel, escritórios e lojas estavam

distribuídos nos demais andares.

Mesmo que externamente o edifício tenha causado bastante impacto, internamente a

planta possuía muitas saliências e elementos estruturais que dificultavam o fluxo ordenado e

circulação bem demarcada, causando pouco aproveitamento do espaço dos pavimentos de

escritórios.

27 Guiseppe Martinelli: nasceu em 1871, em Luca, na Itália, e chegou ao Brasil em 1892. Começou trabalhando como despachante em Santos e depois se tornou empresário do ramo bancário, tendo também comprado algumas minas de carvão. Ao final da vida dedicou-se à construção de edifícios em São Paulo e principalmente no Rio de Janeiro.

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Localizado em uma extremidade de quarteirão, possui três endereços: rua São

Bento, de 397 a 413, avenida São João, de 11 a 65, e rua Libero Badaró, de 504 a 518.

Hoje o edifício abriga apenas espaços com funções comerciais e institucionais.

(1) (2)

Edificio Martinelli – 1925-1929 (1) Fachada (2) Planta do 7º pavimento

Fontes: (1) PERRONE, 2000, p.8 (2) HOMEM, 1984, p.137

No final da década em 1920, a crise econômica internacional ao mesmo tempo que

dificultou a entrada de novos elementos construtivos no Brasil também ajudou a desenvolver

algumas técnicas construtivas nacionais, das quais o concreto armado foi a que mais se

destacou e se proliferou por todo o território, contribuindo com diversos setores sociais e

tecnológicos.

A indústria da construção necessitava de cimento e aço nacional. “A indústria do

cimento surge no período, em 1926, instalando-se com uma fábrica em São Paulo.”

(SOMEKH, 1994, p.122). A maior parte do aço utilizado no Brasil na virada do século XIX

para o XX era importada. Somente em 1943 a usina siderúrgica de Volta Redonda é

instalada (BORGES, 1999, p.58), mas trabalha apenas com 30% de sua matéria-prima local.

Desenvolveram-se técnicas de produção de ferro em barras e cimento; criaram-se

laboratórios para testes e normas técnicas de controle técnico.

Na década de 1930, surge o primeiro código de obras de São Paulo, chamado

Código Athur Saboya (1929/1934) (SOMEKH, 1994, p.45), que divide a cidade em zonas

comerciais, residenciais etc., além de estipular a altura máxima de seus edifícios. Ao mesmo

tempo, Prestes Maia (1896-1965) desenvolveu o Plano de Avenidas (1930): um grande

projeto viário para a cidade que viria a influenciar bastante o desenvolvimento urbano e a

construção de novos edifícios. (SOMEKH, 1994, p.76-78)

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Começa a verticalização da cidade, que também contribui para a construção de

edifícios de escritórios. De 1930 a 1960 foram realizadas diversas obras em concreto

armado; entre elas, diversos edifícios de escritórios. O crescimento rápido dessas

edificações também foi conseqüência das empresas multinacionais que se que instalaram

no país, trazendo uma nova forma de organização e de filosofia empresarial.

A primeira edificação de grande porte, com funções variadas (lojas, escritórios,

consultórios e residências) e com estrutura independente28 construída em São Paulo, foi o

edifício Esther, conforme descrito no livro Álvaro Vital Brazil: 50 Anos de Arquitetura. Obra

de Álvaro Vital Brazil (1909-1997) em parceria com Adhemar Marinho, datado de 1936

(BRAZIL, 1986, p.54), sua estrutura foi executada com distâncias simétricas entre os pilares;

as áreas de escadas, sanitários e outros serviços estão localizados de forma que em alguns

pavimentos de escritórios fosse possível haver um circulação central bem definida entre as

salas. Essas características permitiram maior flexibilidade na organização e na ocupação do

seu espaço interno e seu exemplo se proliferou em edifícios de escritórios posteriores: “O

Esther, além de ser o primeiro edifício comercial do Brasil com estrutura livre, fixou o

gabarito de dez andares da praça da República em sua época”. (BRAZIL, 1986, p.24)

(1) (2)

Edifício Esther – 1936 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo destinado a escritórios e consultórios

Fonte: (1) ATIQUE, 2004, p.272 (2) ATIQUE, 2004, p.167

Em 1939 foi inaugurado o Edifício Conde Matarazzo, uma das primeiras construções

destinadas a ser sede de uma única empresa: a Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo.

(CUSHMAN, 2004, p.17). Obra do arquiteto italiano Marcelo Piancentini e Vittorio Morpurgo

28 Estrutura independente: conjunto de elementos da estrutura da construção, como pilares e vigas, que são executados de forma independente dos demais elementos da mesma construção, como paredes e divisões internas.

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(PERRONE, 2000, p.9), possui dezesseis andares e quase 28.000m2 de área construída;

em 1947 o edifício passou a pertencer ao Banco do Estado de São Paulo e desde 2004 o

abriga a Prefeitura de São Paulo.

(1) (2)

Edifício Conde Matarazzo – 1939 (1) Fachada (2) Saguão de elevadores

Fontes: (1) www.vivaocentro.org.br/images/bancodados/centrosp (2) PERRONE, 2000, p.9

Segundo Claudio Amaral, o primeiro escritório brasileiro a adotar a organização do

trabalho segundo o taylorismo foi a empresa multinacional São Paulo Tramway Light

Company (AMARAL, 1993, p.52). Posteriormente, o taylorismo imperou no Brasil até a

década de 1940, quando o desenvolvimento industrial brasileiro foi enorme e as empresas

começaram a sentir necessidade da criação de espaços específicos para realizar a

administração da produção industrial; com ela, novos prédios de escritórios em São Paulo

começaram a surgir.

Devido à grande quantidade de edifícios de escritórios que surgiram na cidade na

década de 1940 e à imigração que continuava crescendo em São Paulo, alguns arquitetos

estrangeiros tiveram várias oportunidades de trabalho, trazendo novas técnicas construtivas

e novas experiências. Essas construções rompem com a linha arquitetônica adotada até

então, baseada no modelo europeu, e que era executada principalmente pelos arquitetos

Francisco de Paula Ramos de Azevedo29 (1851-1928) e Cristiano Stockler das Neves30

(1889-1982).

29 Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928): formou-se na Universidade de Gand, na Bélgica, era diretor da Escola Politécnica de São Paulo e autor de projetos como o Quartel da Polícia (1888), na região da Luz, e do Teatro Municipal de São Paulo (1903-1911).

30 Cristiano Stockler das Neves (1889-1982): formou-se nos Estados Unidos e fundou o curso de Arquitetura na Escola de Engenharia do Mackenzie; foi autor de projetos como a estação Sorocabana (ou estação Júlio Prestes), localizada no bairro da Luz.

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Em junho de 1947 foi concluída a obra e inaugurado o edifício Altino Arantes

(CUSHMAN, 2004, p.23), popularmente conhecido como edifício do Banespa, pois foi

construído para sediar o Banco do Estado de São Paulo. Projetado pelo arquiteto Plínio

Botelho do Amaral e obra da Construtora Camargo Mesquita (CUSHMAN, 2004, p.23), o

edifício possui 35 pavimentos e foi um dos primeiros prédios da linha norte-americana na

cidade de São Paulo; mas com uma planta bastante engessada e não muito grande. “O

autor do projeto original, Plínio Botelho do Amaral, inspirou-se em dois prédios famosos de

Nova York, o Empire State Building e o Chrysler Building31.” (CUSHMAN, 2004, p.23)

Sua ocupação original era bastante tradicional e correspondia à imagem que o banco

pretendia passar: escritórios tayloristas com móveis de madeira com designs robustos.

(1) (2)

Edifício Altino Arantes, ou edifício do “Banespa” − 1947 (1) Fachada

(2) Gabinete do presidente do banco na época da inauguração do edifício

Fontes: (1) URBS, 2003, n° 30, p.37 (2) www.piratin inga.org

Em 1946 (XAVIER, 1983, p.14), a Companhia Brasileira de Investimentos Esplanada

inaugurou sua sede no edifício projetado pelo arquiteto polonês Lucjan Korngold (1897),

mais conhecido como edifício CBI Esplanada. Com uma arquitetura inspirada na

verticalidade dos edifícios americanos do período pré-guerra, possui 33 andares, 50.000m²

de área construída e foi “a maior estrutura em concreto armado do mundo na época de sua

construção”. (XAVIER, 1983, p.14), além de um exemplo de edificação racionalizada para o

país.

31 Edifício Chrysler − Arquiteto William Van Alen, 1930. Edifício Empire State − Projeto de Shreve, Lamb & Harmon Arq., 1931. (DUPRÉ, 1996) Ambos edifícios de escritórios construídos em Nova York e no estilo art décoestilo arquitetônico muito utilizado entre 1925 e 1940 (Dicionário Ilustrado de Arquitetura, 2005) e foram, cada um em sua época, os mais altos do mundo.

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O pavimento tipo é formado por dois núcleos de escada e elevadores distintos,

sustentados por pilares circulares que começam aparentes no pavimento térreo de pé-direito

duplo e vão até a cobertura. Há um vazio entre os dois núcleos centrais que demonstra a

preocupação do arquiteto com a iluminação natural e a ventilação. O edifício era bastante

flexível para a época, já que os pavimentos eram idênticos e a estrutura era simétrica.

“O espaço interno do CBI Esplanada foi aplaudido na época. O

uso de pilares periféricos e os núcleos de circulação e banheiros

permitiam uma planta livre que poderia ser dividida – ou não – em

quatro ambientes.” (CUSHMAN, 2004, p.21)

(1) (2)

Edifício CBI Esplanada – 1946 (1) Fachada (2) Planta pavimento tipo

Fontes: (1) www.bolsaimoveis.com.br (2) XAVIER, 1983, p.14

2.2 A EXPANSÃO DO CENTRO: DE 1950 A 1980

Entre as décadas de 1950 e 1960 o centro da cidade se expande para a região entre

as praças Ramos de Azevedo e da República − ainda próximo ao centro da cidade −,, onde

se concentrava o maior número de empresas da cidade, pois os prédios eram mais

modernos e possuíam área útil mais adequada à instalação de espaços de escritórios. Até

1960 foram construídas as avenidas de Prestes Maia e o Elevado Costa e Silva − ou

Minhocão −, que acelerou a chegada de pessoas e empresas à região central.

Nesta época, a cultura brasileira fazia dos escritórios a extensão da casa, e a maioria

dos layouts distribuía os departamentos em salas fechadas (cada departamento ocupava

um sala), mesmo que a planta fosse suficientemente flexível para receber outros tipos de

organização espacial. Todas as divisões entre os espaços eram feitas segundo a hierarquia

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da empresa, ou seja, levando em consideração qual o cargo de quem iria ocupar cada

espaço, como, por exemplo, gerentes e executivos dispunham de salas fechadas individuais

bastante confortáveis e com muita privacidade.

A partir da década de 1960, a região da avenida Paulista torna-se definitivamente o

segundo centro da cidade de São Paulo (CUSHMAN, 2004, p.26), com a instalação de

dezenas de matrizes de bancos, e que ainda hoje hospeda centenas de sedes de empresas

de grande porte.

Apesar de não ter sido construído para uma única empresa, o Conjunto Nacional foi

o pioneiro como edifício de escritórios na avenida Paulista e anteviu a instalação de

shopping centers no bairro. Projeto de 1955 do arquiteto David Libeskind (XAVIER, 1983,

p.37), na verdade seu uso era misto: residências e escritórios ocupavam a torre de 25

pavimentos, as lojas localizavam-se nos pavimentos inferiores e ainda havia a previsão de

instalação de um hotel de luxo. Ainda hoje o edifício é bastante famoso, com 52

apartamentos, dois blocos comerciais, e continua sendo um marco na avenida.

(1) (2)

Edifício Conjunto Nacional − 1955 (1) Fachada (2) Planta de implantação

Fonte: (1) e (2) XAVIER, 1983, p.37

Em 1965 o Parque Avenida foi o primeiro edifício projetado pelo escritório Croce,

Aflalo & Gasperini Arquitetos Ltda. (CA&G) para a avenida Paulista (CROCE, 1999, p.20), o

qual merece destaque, pois tem um partido bem parecido com o edifício da IBM Tutóia (que

veremos mais adiante): os andares inferiores possuem plantas mais largas onde estão

localizados serviços de apoio; o pavimento tipo em formato retangular possui a planta livre

de pilares ao centro; há três núcleos de escadas de um lado da planta e mais três núcleos

de elevadores do outro lado, todos ressaltados na fachada; e, por fim, a modulação da

planta corresponde à mesma das esquadrias da fachada.

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(1) (2)

Edifício Parque Avenida – 1965 (1) Fachada

(2) Desenho superior: planta do pavimento tipo baixo; desenho inferior: planta do pavimento tipo alto

Fonte: (1) e (2) CROCE, 1999, p.20

Outro edifício construído para uma única empresa na avenida Paulista e bastante

significativo foi projetado pelos arquitetos Roberto Cerqueira Cesar e Luis Roberto Carvalho

Franco, em 1969: é a torre da Fiesp-Ciesp-Sesi (XAVIER, 1987, p.118), que; com 43.000m²

de área construída, se destacou pela forma e funcionalidade. A empresa tinha algumas

exigências quanto à imagem do edifício, que precisava ser forte e marcante; ter espaços de

convívio e flexíveis (tanto para a área de escritórios quanto para as áreas comuns). Os

autores do projeto foram pioneiros ao se preocuparem com a forma como a empresa se

organizava, e durante sua elaboração os profissionais pesquisaram o cotidiano da empresa

e de seus funcionários.

A construção tem dois blocos. O primeiro abrange o subsolo da garagem e o térreo,

onde estão localizados o teatro e o centro cultural; esse bloco aproveita o desnível entre a

avenida Paulista e a alameda Santos para a ocupação espacial. O segundo bloco possui

forma piramidal, com 25 pavimentos, e foi ocupado pelos escritórios da empresa. A forma

desse bloco trouxe algumas vantagens para o projeto:

“O edifício não teve que fazer recuos artificiais para respeitar a

legislação, a iluminação natural dos andares inferiores foi facilitada e

a ocupação pôde ser hierarquizada, levando-se em conta a

necessidade de ocupação por andar. O uso dos elevadores foi

beneficiado, já que grande parte dos ocupantes do prédio fica nos

andares inferiores”. (CUSHMAN, 2004, p.31)

A dinâmica interna do edifício foi uma das premissas do projeto: nos pavimentos de

escritórios, cada andar possui uma área distinta, e os departamentos da empresa são

localizados conforme a hierarquia – alta gerência nos andares superiores e subordinados

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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nos andares inferiores; houve a preocupação de agrupar no mesmo andar serviços

correlacionados.

(1) (2) (3)

Edifício Fiesp – 1969 (1) Fachada (2) Planta de implantação (3) Esquema de plantas de alguns pavimentos

Fontes: (1) PROJETO DESIGN, 2001, n° 262, p.35 (2) XAVIER, 1987, p.118 (3) SAMPAIO, 2003, p.70

O final da década de 1960 e começo da de 1970 foram os anos em que a arquitetura

brasileira mais se difundiu, alavancada pelos programas de governo que queriam melhorar a

infra-estrutura de transportes e comunicações. Essa foi a época do ”milagre brasileiro”

(1968-1973), período econômico em que houve um forte declínio do valor imobiliário do

Centro (CUSHMAN, 2004, p.18), e a evasão das empresas e bancos para outras regiões foi

inevitável.

A partir da década de 1970 as mudanças na economia nacional e o embargo de

capitais contribuíram para que muitas empresas, nacionais e multinacionais, decidissem

investir na construção de edifícios de escritórios no país, trazendo novas construções para

as metrópoles brasileiras.

Aumentou e muito a construção de edifícios de escritórios e a economia ao seu

redor: intensificaram-se principalmente o uso de concreto na construção e as mudanças na

indústria moveleira brasileira. As fábricas especializadas na produção de mobiliário para

escritórios se especializaram, começaram a produzir móveis de madeira que seguiam o

conceito dos sistemas integrados. Mesmo assim, muitas empresas ainda importavam

mobiliário norte-americano para suas sedes brasileiras.

A organização interna dos escritórios brasileiros até a década de 1970 privilegia a

hierarquia organizacional: chefes ocupam espaços maiores, fechados e têm mais vantagens

comparados aos espaços utilizados por seus funcionários; quanto mais alto o cargo, maior a

sala de trabalho individual; os funcionários são divididos em departamentos.

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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“O escritório panorâmico no Brasil foi introduzido em 1971, com

sucesso imediato, o que levou as grandes firmas moveleiras do país

a incluírem na produção mobiliário adequado a este conceito de

ocupação espacial. Mas este conceito e a teoria administrativa que o

originou tiveram uma aplicação particular no Brasil.” (AMARAL, 1987,

p.242)

O escritório panorâmico que rapidamente foi difundido no Brasil possuía

características específicas da cultura empresarial brasileira: havia áreas fechadas para

departamentos inteiros, onde gerentes e diretores ficavam em salas fechadas dentro dessas

áreas. A ocupação era influenciada pelas multinacionais, ou as empresas estrangeiras

instalavam seus escritórios com conceitos de ocupação idênticos aos de suas sedes nos

países de origem. O Brasil segue principalmente o modelo norte-americano, e o escritório

panorâmico europeu é pouco difundido.

Ao mesmo tempo que se consolidam os edifícios de escritórios da avenida Paulista,

próximo dali o edifício-sede da IBM Tutóia, projetado pelo escritório CA&G a partir de 1970

(XAVIER, 1987, p.121) e inaugurado em 1977 (data oficial considerada pela empresa), foi

considerado segundo algumas fontes de “impacto visual premeditado” (CUSHMAN, 2004,

p.43) para a época, já que na região da avenida 23 de Maio e do Parque do Ibirapuera havia

poucos edifícios, muito menos comerciais. Seguindo conceitos rígidos de arquitetura e de

ocupação interna, o programa e a ocupação foram planejados de acordo com critérios

organizacionais da empresa e conforme padrões da matriz no exterior. Segundo Gasperini,

a forma do edifício foi conseqüência de algumas influências, além das da empresa.

“Queríamos que o prédio nascesse realmente do chão. (...) o fato

de nascer mais largo e depois afinar para cima era uma coisa que

começou a me intrigar, pensando que realmente seria uma

possibilidade muito interessante. (...) E quando nós fizemos o prédio

da IBM naquela época, por que o prédio foi feito torre e depois

alargando em baixo assim? Porque o espaço reservado para o

computador no embasamento do prédio era muito grande.”

(GASPERINI, 2006)

O edifício formado de vinte pavimentos de escritórios possui ao centro um núcleo de

seis elevadores sociais, e nas extremidades outros dois núcleos opostos onde estão

localizados os elevadores de serviço, escadas, sanitários, shafts, salas de ar-condicionado e

elétrica. Todo o projeto, planta e dimensões das esquadrias, foi realizado levando-se em

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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consideração uma malha espacial de 1,25mx1,25m, de acordo com as dimensões dos

materiais construtivos e de acabamento que se proliferavam na época. Veremos mais

detalhes desse projeto no capítulo do estudo de caso.

(1) (2)

Edifício IBM Tutóia −- 1970 (1) Fachada (2) Desenho do pavimento tipo

Fontes: (1) Foto de Christiane Morais (2) Desenho da autora

Dois outros projetos do escritório CA&G merecem ser apresentados para

observarmos as influências que os arquitetos tiveram ao projetar o IBM Tutóia.

O primeiro é o edifício do Tribunal de Contas do Município de São Paulo; projetado

em 1971 (CROCE, 1999, p.26) ele se destaca pela volumetria e estrutura em concreto

aparente, sem acabamentos: material muito utilizado na época como no IBM Tutóia. Os

quatro núcleos de elevadores que se encontram no centro do pavimento são bastante

marcados na estrutura da fachada, que também segue a modulação de 1,25mx1,25m nas

esquadrias e na planta.

(1) (2)

Edifício do Tribunal de Contas do Município de São Paulo – 1971 (1) Fachada (2) Planta do nível do plenário

Fonte: (1) e (2) CROCE, 1999, p.26

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O segundo é o edifício construído em São Paulo mais semelhante ao edifício da IBM

Tutóia: o edifício Parque Iguatemi de 1971 (CROCE, 1999, p.22). Sua volumetria é dividida

entre torre de pavimento tipo e embasamento com planta mais larga; os acabamentos da

fachada são de concreto aparente e vidros fumê; o pavimento tipo é livre de pilares centrais

e os pilares perimetrais são destacados na fachada; na extremidade longitudinal do

pavimento tipo estão localizados dois núcleos opostos de sanitários, elevadores e escadas;

e foi projetado para ser ocupado por escritórios.

Todas essas características se repetem nos dois projetos. O Parque Iguatemi foi

inaugurado antes, provavelmente em 1972, já o IBM Tutóia, apesar de ter sido inaugurado

em 1977, seu projeto começou ainda em 1970.

O Edifício Parque Iguatemi nos remete a um novo pólo de negócios: a avenida Faria

Lima, que veremos ainda neste capítulo.

(1) (2)

Edifício Parque Iguatemi – 1971 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo

Fontes: (1) CROCE, 1999, p.22 (2) XAVIER, 1987, p.135

Como conseqüência da expansão do Centro e da avenida Paulista, alguns

empreendedores “espalharam” construções em locais da cidade ainda não reconhecidos na

época como pólo de negócios.

O empreendimento mais distante de todos foi o Centro Empresarial São Paulo

(Cenesp), projetado em 1970 pelo arquiteto João Henrique Rocha (CUSHMAN, 2004,

p.109), contratado pelo Grupo Bunge y Born, que tinha como objetivo “construir um único

lugar capaz de abrigar todas as suas companhias e centralizar suas operações no Brasil”

(CUSHMAN, 2004, p.109). O complexo é composto por sete torres: uma de serviços com

dois pavimentos e seis de escritórios com oito pavimentos. As plantas de pavimento tipo são

similares, medindo aproximadamente 53mx53m e chegando a 2.844m² de área útil, tudo

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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construído de acordo com a modulação de 1,25mx1,25m. Cada andar possui: um núcleo

descentralizado de sete elevadores, escada e shafts; quatro pequenos shafts centralizados;

dois núcleos nas extremidades com sanitários femininos e copa; e mais dois núcleos nas

outras duas extremidades com sanitários masculinos e escadas. Entre os pavimentos há o

chamado “pavimento de manutenção”, que possui acesso pelos núcleos de serviços e por

onde uma equipe do condomínio executa a manutenção dos sistemas de infra-estrutura

elétrica, iluminação, telecomunicações e ar-condicionado, independente do acesso ao

pavimento.

Por estar localizado longe dos centros residenciais e comerciais, e ser de difícil

acesso através do transporte público, o Cenesp conta com diversos tipos de serviços

instalados no próprio complexo: Centro de Eventos Panamby (com oito salas de reuniões e

dois auditórios), restaurantes, lanchonetes, bancos, lojas, farmárcias, laboratórios, correios,

agência de viagens, posto de combustível, oficina mecânica, entre outros. Hoje todo o

complexo que possui espaços alugados ou para serem alugados passa por um retrofit e

continua bastante ativo, tanto que próximo a ele já foram construídos outros

empreendimentos, como, por exemplo, o Panamérica Park, de porte parecido.

(1) (2)

Cenesp – 1970 (1) Vista aérea do complexo (2) Planta do pavimento tipo de uma das torres

Fonte: (1) e (2) Arquivo CBRE

Ainda em 1976, em conseqüência da expansão do Centro e da avenida Paulista,

instalou-se do outro lado da Marginal Pinheiros o edifício sede do Unibanco, numa época

em que a região era quase deserta de edifícios de escritórios. Projetado por Salvador

Candia, o edifício de 22 andares foi construído para o Banco Mackell, e somente em 1982

foi ocupado pelo Unibanco. O edifício adiantou tendências da época: os andares são amplos

e flexíveis, proporcionando uma ocupação de ambientes mais funcional, em discordância

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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com o tempo de sua construção, quando compartimentações e salas individuais reinavam

nos escritórios brasileiros.

Só a partir de meados da década de 1980 surgem os primeiros escritórios com

plantas abertas, baseados no conceito importado dos Estados Unidos ou da Europa,

dependendo da empresa.

Entre os edifícios que mais se destacaram na década de 1980 na avenida Paulista

está a sede do Banco Real ABN-AMRO, projeto do escritório de arquitetura Adolpho

Lindemberg e construtora Figueiredo Ferraz (CUSHMAN, 2004, p.33). Apesar das

escavações dos subsolos terem início na década de 1960, ele só foi inaugurado no começo

da década de 1980 (CUSHMAN, 2004, p.33). Cinco subsolos foram escavados para

acondicionarem áreas destinadas aos computadores do banco, que precisavam de maior

segurança física e não necessitavam de iluminação natural. Assim, esse foi um dos

primeiros projetos a ter instalações específicas para computadores com rígido controle de

temperatura, através do sistema de ar-condicionado.

(1) (2)

(1) Edifício Unibanco – 1976 (2) Edifício Banco Real ABN-AMRO– 1980

Fontes: (1) CUSHMAN, 2004, p.113 (2) Arquivo CBRE

A cada nova construção que era erguida na avenida Paulista, a modernidade das

instalações do mais recente empreendimento era superada. Foi o que aconteceu em 1986

com o edifício Citicorp Center, assinado por CA&G, e um marco na avenida e na cidade até

hoje. “Em 1987 foi inaugurado o primeiro prédio inteligente32 da cidade: edifício-sede do

Citibank na avenida Paulista.” (VEJA, 2005, p.27) Pelas inovações em tecnologia e nos

32 Prédio inteligente ou edifício inteligente: edificação projetada com extensivos sistemas automatizados, para detectar, diagnosticar e controlar as respostas a vários requisitos ambientais. Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura, 2006.

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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materiais de acabamento, pela quebra de paradigmas, além de toda repercussão desse

empreendimento na mídia, é evidente que esse é um dos edifícios de escritórios mais

significativos de São Paulo.

Os escritórios de arquitetura da época encontravam muita resistência de seus

clientes para construir edifícios que não fossem tradicionais. Segundo um dos autores do

projeto do Citibank, Gian Carlo Gasperini:

“Tão logo nós conseguimos romper com essa resistência por

parte do cliente, surgiu o Citibank. E aí então o concreto ficou

afastado de uma vez”. (GASPERINI, 2006)

Assim, a construção é inovadora em diversos aspectos. A estrutura é marcada por

uma grelha periférica (muito utilizada nos projetos de CA&G) e pelos materiais de

acabamento, como o granito rosa (inédito na cidade) e os panos de vidros azuis, colocados

para deixar o edifício mais iluminado e reforçar a identidade da marca. As formas de fixação

do granito a seco com grampos metálicos e dos vidros nas esquadrias através do silicon

glazing33, assim como a instalação de uma fachada inteira com vidro colorido, eram inéditas

no país. O andar térreo é marcado pelo acesso tanto à avenida quanto à alameda

Campinas, que se transformou em um espaço de passagem entre as vias públicas, e onde

estão localizados um centro cultural do banco e uma agência bancária. O fluxo de

elevadores era comandado por computador, e para o sistema de ar-condicionado existem

tanques de produção de gelo que atendem à demanda de resfriamento no horário de pico,

tudo controlado a distância por computadores. Em vez de interruptores, a iluminação interna

era controlada por sensores de iluminação localizados em áreas específicas do escritório.

Foi o primeiro edifício a utilizar piso elevado34 em toda a área de escritórios, proporcionando

facilidade de manutenção da infra-estrutura elétrica e de telecomunicações e flexibilidade

para o layout − já que as instalações ficam independentes da localização de paredes. O

núcleo de sanitários, escadas, elevadores e shafts está localizado de um lado da planta,

enquanto todo o restante possui iluminação natural direta.

A flexibilidade de alteração de layout era extremamente necessária, principalmente

devido à instabilidade econômica pela qual o país estava passando. O projeto de interiores é

33 Silicon glazing: fachada construída por esquadrias não aparentes externamente, as quais sustentam os vidros, que cobrem toda a estrutura da fachada e são separados externamente por silicone.

34 Piso elevado: piso falso afastado da laje da edificação através de um sistema estrutural composto por logarinas, com o objetivo de promover isolamento acústico e espaço para a passagem de diversas instalações, como infra-estrutura de fiação elétrica e de comunicações.

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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do escritório do arquiteto Roberto Loeb, que, antes da primeira implantação de estações de

trabalho do sistema integrado com algumas salas fechadas para reuniões e chefes, chegou

a realizar mais de trinta layouts experimentais por andar, pois a cada mudança do quadro de

funcionários o banco exigia que o layout fosse revalidado.

(1) (2)

Edifício Citicorp Center – 1988 (1) Fachada (2) Pavimento tipo

Fonte: Arquivo A&G

Apesar do surgimento de outros pólos empresariais no início da década de 1990, a

avenida Paulista havia se transformado no maior centro empresarial financeiro da América

Latina, principalmente por agrupar diversos edifícios de escritórios, como sedes de diversos

bancos estrangeiros e nacionais, sedes de grandes empresas multinacionais e nacionais,

sedes de consulados e ministérios, emissoras de rádio e TV, além de comércio variado e

outras edificações para fins culturais, de lazer e residências.

2.3 A MUDANÇA DOS BAIRROS RESIDENCIAIS: DE 1970 A 2 000

No final dos anos de 1970, as residências invadiram as zonas Sul e Oeste da cidade,

e nos locais onde antes predominavam casas começaram a ser construídos edifícios, e

assim foram surgindo algumas outras regiões que concentravam edifícios de escritórios,

como a avenida Faria Lima e na seqüência o bairro da Chácara Santo Antônio, a avenida

Engenheiro Luiz Carlos Berrini e o bairro da Vila Olímpia.

A avenida Faria Lima sofreu uma rápida transformação: no início da década de 1970

a paisagem ali era composta por sobrados e casas térreas, já em meados da década o que

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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predominava eram os edifícios de escritórios. Por causa desta mudança brusca, a avenida

precisou ser alargada, mas a infra-estrutura (principalmente as redes telefônica e pluvial)

não acompanhou as mudanças, o que fez com que muitos empreendimentos continuassem

na Paulista (como veremos mais à frente os exemplos do Real ABN-AMRO e do Citibank).

Paralelamente, a partir de 1970, a Chácara Santo Antônio foi mais uma região que

concentrou vários edifícios de escritórios, e que, mesmo ao receber uma grande quantidade

de empresas de grande porte, conseguiu ao mesmo tempo manter vários de seus sobrados

e casas residenciais intactos.

“Estabeleceram-se no bairro várias empresas de grande porte,

como a Monark, Niagara, Timken, JC Marques, Paramount Lansul, a

engenharia Jaakko Pöyry. Um dos prédios mais conhecidos da

Chácara é o Nova São Paulo, que foi sede da Autolatina (...). Rafael

Birmann, dono de construtora com o mesmo sobrenome, foi o

primeiro construtor a apostar mais recentemente na região (...).”

(CUSHMAN, 2004, p.94)

Nessa região estabeleceram-se várias sedes de empresas de grande porte, e muitas

foram implantadas de acordo com o conceito de office park35, ideal para receber um só

ocupante e que foi introduzido por Rafael Birmann na região (CUSHMAN, 2004, p.101), que

tem ótima localização para a construção desse tipo de edifício, pois possui grandes terrenos

com baixos preços, está distante dos grandes centros e próxima de residências de alto

padrão. Dentro desse conceito, destacam-se edifícios que tiveram sua marca fixada através

da arquitetura de suas sedes, entre eles o edifício Arnon Birmann 8, projetado para o

Deutsche Bank pelo arquiteto Davino Pontual e equipe em 1989 (PROJETO, 1992, n° 153,

p.55). Localizado na esquina da rua Alexandre Dumas com a Marginal Pinheiros, esse

edifício possui duas torres de escritórios com planta em forma de octógono e interligadas

por um dos lados; área útil total de aproximadamente 13.300m²; oito pavimentos mais um

pavimento térreo com auditório e restaurante, além da grande área de garagem, comum às

construções tipo office park. O pavimento tipo possui 1.560m², onde na área central que

interliga as duas torres existe um núcleo principal de serviços (com elevadores, escadas,

35 Office park: conceito norte-americano de projeto para edifícios de escritórios, onde são projetados conjuntos de prédios horizontais (na maioria dos casos com poucos andares), com grandes lajes (geralmente acima de 1.000m²) e espaços internos sem a interferência de pilares para oferecer flexibilidade ao layout. Os edifícios são cercados por espaços livres, bastante arborizados, com grande preocupação paisagística e amplas áreas abertas de estacionamento.

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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sanitários, ar-condicionado e shafts), e quase no centro de cada torre há uma escada de

emergência. Em 2006 quase metade dos escritórios estava disponível para aluguel.

(1) (2)

Edifício Arnon Birmann 8 – 1989 (1) Fachada (2) Planta pavimento tipo

Fonte: (1) PROJETO, 1992, n°153, p.54 (2) PROJETO, 1992, n°153, p.55

O Centro Administrativo Pfizer também foi projetado para uma empresa que fixou

sua marca na região através da arquitetura de sua sede. Projeto do arquiteto Paulo de

Gasperi e do engenheiro Armando Bignone em 1998, o edifício possui características

arquitetônicas típicas de um empreendimento tipo office park: construção baixa de cinco

pavimentos de escritórios mais térreo, serviços e restaurante dentro do edifício e ampla área

de garagem. Na época de sua ocupação, os escritórios foram ocupados com mobiliário

integrado do fabricante brasileiro Forma.

“Usar o próprio prédio da empresa como um outdoor, para fixar

entre os consumidores a imagem da empresa, é uma das táticas

mais eficientes da propaganda moderna. É o que se vê no prédio da

Pfizer, na Chácara Santo Antônio. A garantia de um bom ambiente

de trabalho foi uma das prioridades da empresa.” (CUSHMAN, 2004,

p.105)

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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(1)

(1) Edifício Pfizer − 1998 − Fachada

Fonte: (1) CUSHMAN, 2004, p.105

Pouco antes do início da década de 1980 a avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini

também começou a se destacar. O arquiteto Carlos Bratke (1942) se uniu ao irmão Roberto

Bratke e ao primo Francisco Collet e “realizaram a partir de 1975 o mais notável esforço de

reestruturação urbana de que se tem notícia no Brasil” (CUSHMAN, 2004, p.78). Juntos

compraram cerca de trinta terrenos na Berrini, entre 1974 e 1976, e começaram a construir

prédios de escritórios com baixos custos para posterior aluguel. Em nenhuma outra região

da cidade tantos prédios foram erguidos em tão pouco tempo.

O sucesso da empreitada deve-se principalmente ao fato de que os custos dos

imóveis nas avenidas Paulista e Faria Lima eram altíssimos, e, segundo as premissas

utilizadas pelos três empreendedores, os terrenos na área eram baratos, com boa

acessibilidade e grandes possibilidades de expansão. Mas, sem o devido planejamento, pois

não havia infra-estrutura pública na região para receber tantos edifícios, o processo acabou

gerando problemas urbanos que foram agravados a cada nova construção, como destaca a

citação a seguir.

“... crescimento tão rápido, num bairro de história tipicamente

residencial, bateu de frente com a infra-estrutura existente. As ruas

estreitas eram sinônimo de trânsito caótico, todos os equipamentos

urbanos eram impróprios para a nova realidade”. (CUSHMAN, 2004,

p.67)

Os projetos de Bratke previam dar flexibilidade aos escritórios, para o layout, a fim de

facilitar as transformações organizacionais das empresas e as possíveis mudanças na

tecnologia. Assim, seus edifícios possuíam planta livre, com torres de elevadores, escadas

de emergência e áreas de serviços fora do bloco principal, favorecendo a liberação de

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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espaços internos dos pilares e aumentando a flexibilidade descrita acima. De acordo com

relato do próprio arquiteto:

“Percebi que a velha tendência do núcleo central de circulação

vertical e serviços não atendia a todos os casos. (...) as condições de

insolação e iluminação muitas vezes ficavam prejudicadas.”

(PUGLIESE, 2005, p.62)

Essa característica arquitetônica com os núcleos de serviços fora de um bloco único

de escritórios, que facilita a organização do espaço interno, pode ser observada no edifício

Morumbi Plaza, construído na avenida Faria Lima em 1979: a planta do pavimento tipo é

formada por um grande retângulo, com seis losangos periféricos, onde em dois deles estão

localizados elevadores (sociais em um núcleo e de serviços em outro), escadas, shafts e

áreas de serviço e nos demais, sanitários e depósitos.

(1) (2)

Edifício Morumbi Plaza – 1979 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo

Fonte: (1) PUGLIESE, 2005, p.55 (2) PUGLIESE, 2005, p.54

A avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini possui hoje cerca de 62 edifícios de

escritórios projetados pelo arquiteto Carlos Bratke (PUGLIESE, 2005, p.51). Outros muitos

escritórios de arquitetura deixaram sua marca na região. Entre eles, o escritório CA&G, que

em 1984 (CROCE, 1999, p.44) se destacou com o projeto do Centro Administrativo PSS.

Na década de 1980 a Philips decidiu construir sua sede numa região com potencial

de crescimento e onde houvesse bons terrenos e exigiu um projeto que fosse versátil o

suficiente para no futuro a empresa poder alugar o endereço para outro interessado. Assim,

o edifício que ficou pronto em 1984, somente foi inaugurado no início de 1991 (CUSHMAN,

2004, p.81) ao receber os escritórios centrais da Philips no Brasil. Hoje ele é ocupado pela

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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Nestlé: a flexibilidade na arquitetura foi um dos motivos que proporcionaram a mudança de

ocupação. A planta é quase um quadrado, com o núcleo central com sanitários, elevadores,

escadas, shafts e outros serviços; na sua primeira ocupação em 1991, tinha salas fechadas

próximas à fachada para gerentes e reuniões, e entre as salas e o núcleo central de

serviços havia as estações de trabalho abertas.

(1) (2)

Edifício Centro Administrativo PSS / Nestlé − 1991 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo

Fontes: (1) Arquivo A&G (2) CROCE, 1999, p.45

Entre as décadas de 1980 e 1990, a Vila Olímpia se destacou pela construção de

edifícios de escritórios, e os grandes empreendimentos da região foram – e ainda são –

ocupados por diversas empresas, com infra-estrutura predial bastante atual para cada

época de construção, com salas consideradas de alto padrão que ocupam espaços relativos

a um pavimento inteiro ou metade.

Na década de 1990, a avenida Faria Lima também já não suportava mais tantas

novas construções sem aumentar o sistema viário e a infra-estrutura local. A ampliação

total, da região, que seria chamada de Nova Faria Lima, somente aconteceu em 1996, mas

antes dessa reestruturação já se destacava nessa área o edifício-sede da revendedora de

automóveis Dacon (1976), projeto dos arquitetos Ricardo Julião e Marcos Tomanik, que

inovaram pela forma, com base curva e torre cilíndrica, o que permitiu que a construção

fosse realizada em duas etapas. O impacto do projeto na região no final da década de 1970

ajudou muito a divulgação e a fixação do nome da empresa no mercado local, o que faz dele

um exemplo da forte influência que a arquitetura da sede de uma empresa oferece ao

marketing da sua marca. Por outro lado, a área útil do pavimento de escritórios não era

totalmente aproveitada, principalmente por causa da planta em formato circular, o que

também não permitia muitos ajustes de layout.

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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Quando a ampliação da Nova Faria Lima foi finalizada, o primeiro edifício de

escritórios a ser construído foi o HSBC Tower (1995), projeto do Escritório Técnico Júlio

Neves: possui quatro subsolos de garagem, pavimento térreo e quatorze andares de

escritórios com 1.320m² cada um.

(1) (2)

(1) Edifício Dacon – 1976 (2) Edifício HSBC Tower – 1995

Fontes: (1) CUSHMAN, 2004, p.47 (2) Arquivo CBRE

Logo depois, em 1996, foi inaugurado o edifício Birmann 29, sede do JP Morgan,

com projeto do escritório norte-americano SOM. Com dezesseis pavimentos de escritórios, a

planta do pavimento tipo de 1.450m² de área útil possui um único núcleo central de

elevadores, escadas, sanitários, shafts e ar-condicionado. Os elevadores são setorizados

em zona baixa e zona alta, característica típica dos projetos dos escritórios SOM no Brasil.

(1) (2)

Edifício Birmann 29 – 1996 (1) Fachada (2) Planta esquemática

Fontes: (1) CUSHMAN, 2004, p.51 (2) Arquivo CBRE

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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Algumas sedes administrativas foram implantadas nos anos 1990 fora dos

tradicionais centros de negócios que descrevemos até aqui. A migração para regiões menos

valorizadas ocorreu principalmente devido a questões econômicas.

Um forte exemplo é o Centro Empresarial Itaú/Itaúsa, construído em três etapas.

Para unir todas as empresas do grupo Itaú em um só local, em 1985 foram inauguradas três

torres de edifícios no bairro do Jabaquara. Essas torres possuem estrutura de concreto

aparente, caixilhos de alumínio fixos com vidros ray-ban (especiais para proteção dos raios

solares) e anti-ruídos (principalmente por causa da proximidade com o aeroporto de

Congonhas). Como os pilares de sustentação estão localizados no perímetro de cada torre e

o núcleo de elevadores e serviços está localizado no centro dos pavimentos, a implantação

das torres a um ângulo de 45° em relação à avenida oferece ao interior dos escritórios a

vista de um horizonte aberto.

Uma quarta torre foi implantada em 1991, com foi projeto de Jaime Cupertino e

Javier Manubens. A planta em formato quadrado e núcleo de serviços no centro da

construção segue o mesmo conceito das torres anteriores. Por se tratar do edifício da

presidência do grupo, o que diferencia essa torre das demais são principalmente os

materiais de acabamento: toda fachada é de vidro.

A quinta e última torre, chamada Eldoro Villela, foi projetada entre 1989 e 1994, mas

somente em 2001 o projeto foi retomado pelo escritório CA&G, que manteve as mesmas

características arquitetônicas das três primeiras torres, adaptando-o para receber

acabamentos e características contemporâneas: acabamento em granito e infra-estrutura

mais moderna.

(1)

Centro Empresarial Itaúsa – 2003 (1) Vista do conjunto de cinco prédios

Fonte: PROJETO, 2003, n° 283, p.61

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(2) (3)

Centro Empresarial Itaúsa – 2003 (2) Fachada da 5ª Torre de Escritórios Eldoro Villela (3) Planta pavimento tipo

Fonte: (1) PROJETO, 2003, n° 283, p.63 (2) PROJETO, 2003, n° 283, p.67

A mais recente região de negócios para onde os escritórios estão se encaminhando

é a Marginal Pinheiros. Seu desenvolvimento no lado mais próximo às avenidas Faria Lima

e Berrini se explica pela falta de vias de transporte acessíveis para o outro lado do rio e de

infra-estrutura desta outra região, que muitos apostam ser a próxima região de negócios da

cidade.

Do outro lado da marginal houve poucos casos de edifícios de escritórios e “só

recentemente começaram a surgir os empreendimentos de alto nível”. (CUSHMAN, 2004,

p.106). Um exemplo é o edifício Birmann 21, sede da Editora Abril em São Paulo e instalado

na Marginal Pinheiros, do lado oposto à avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini. Esse

projeto é resultado de um trabalho do escritório SOM em conjunto com o escritório de

arquitetura Kogan & Associados, que compatibilizaram as idéias norte-americanas com a

realidade brasileira.

Com 14.000m² (ANDRADE, 2000, p.159), a construção possui: uma torre principal de

26 pavimentos tipo, mais um mezanino, pavimento térreo, totalizando um bloco multiuso

para exposição, videolocadora e lanchonete; um bloco para restaurante e academia de

ginástica; e um subsolo onde estão localizadas áreas de serviços técnicos, subestação,

central de ar-condicionado e caixa d’água. As fachadas receberam tratamento diferenciado

entre si; há duas baterias de elevadores (zona baixa e zona alta); e a torre principal possui

pavimentos tipo diferenciados com piso elevado, totalizando 32.302m² de área útil.

Antes de a Editora Abril instalar-se no novo edifício, ela possuía onze escritórios

espalhados em algumas regiões da cidade, cada um com uma característica ocupacional de

acordo com a arquitetura do local e com a necessidade da divisão da empresa. Quando

ocupou o edifício, a Editora Abril possuía quatorze tipos de estações de trabalho, sendo sete

em salas fechadas e as demais em espaço aberto.

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(1) (2)

Edifício Birmann 21 – 1999 (1) Fachada (2) Planta pavimento tipo

Fontes: (1) Arquivo CBRE (2) AU, 2002, n° 386 , p.53

A estabilidade da economia brasileira favoreceu a construção de edifícios comerciais

para escritórios na última década do milênio:

“a torre de escritórios – os chamados edifícios inteligentes –

destinada a grupos empresariais nacionais e estrangeiros. Iniciou-se,

nessa área, uma queda–de-braço pela conquista desses projetos

entre os grandes escritórios brasileiros (...) e norte-americanos (...).

O mercado local permanece legalmente fechado à atuação de

profissionais do exterior, que acabam formando parcerias com os

colegas brasileiros, responsáveis pela ‘tropicalização’ do projeto”.

(PROJETO DESIGN, 2001, 251, p.89)

De acordo com a revista Projeto Design n° 251, os edifícios da década de 1990

podem ser divididos em dois grupos:

1. edifícios de médio e grande portes, que visavam a elaboração de projetos

condizentes com a arquitetura, métodos construtivos e materiais existentes no país

− defendida por profissionais brasileiros por meio da reafirmação ou negação do

modernismo;

2. edifícios de grande porte, com características arquitetônicas internacionais, ou seja,

importadas de outros países − projetados por grandes escritórios brasileiros ou

norte-americanos.

Assim, a década de 1990 se caracterizou por buscar uma arquitetura comercial

adequada àquela existente no Brasil e propôs uma revisão contemporânea do movimento

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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moderno. Para este trabalho, é relevante citar algumas das principais preocupações dos

projetos dos edifícios dessa década, que são:

1. o controle adequado da insolação no interior através dos revestimentos de fachada

e técnicas construtivas adequadas à realidade brasileira;

2. a discussão entre embasamento e torres, onde os espaços semipúblicos, serviços

de apoio e reuniões estão localizados nos andares inferiores, e nos andares

superiores estão os escritórios propriamente ditos;

3. o núcleo de serviços, elevadores e escadas projetados nas extremidades dos

pavimentos tipos.

Essa também foi a década em que as empresas mais sofreram modificações espaciais,

entre elas o extinto Banco Nacional, que segundo relatórios anuais “do período de 1991 a

1993 indicavam que cerca de 80% do seu espaço físico administrativo em todo o Brasil

(ANDRADE, 2005, p.4.30) sofreu mudanças no layout pelo menos uma vez ao ano. A IBM

também passou por um período de grandes mudanças espaciais entre 1996 e 1999 (o que

veremos no próximo capítulo).

Após a abertura do mercado brasileiro para internacionalização e a internalização,

houve uma grande contribuição para o desenvolvimento e a proliferação dos edifícios de

escritórios, pois facilitaram-se as importações de móveis, carpetes, forros e outros

componentes industrializados para interiores e para construção dos edifícios e de sua infra-

estrutura., Da mesma forma, foi simplificada a entrada de insumos para o aperfeiçoamento

dos produtos fabricados no país.

“Com as novas possibilidades de comércio internacional e com a

estabilização da economia brasileira, a arquitetura de interiores no

ramo específico dos escritórios entra definitivamente numa nova

fase. A cultura empresarial está mudando de forma consistente,

abrindo perspectivas favoráveis para os profissionais e as indústrias

comprometidas com a qualidade funcional e estética de suas

criações.” (CALDEIRA, nº10, p.6)

Algumas empresas brasileiras já fabricavam produtos específicos para os escritórios,

entretanto as mudanças do final do século passado tornaram o mercado mais competitivo e

têm permitido que empresas internacionais

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“estabelecidas no Brasil há muitos anos possam atualmente

oferecer ao público local artigos produzidos por filiais de outros

países ou por outras empresas que passam a representar no Brasil

ou com as quais aqui se associam de forma mais global.”

(CALDEIRA, nº10, p.6)

Muitas empresas brasileiras de mobiliário juntaram-se a organizações internacionais,

como foi o caso da Oca com a Steelcase, ou, mais recentemente, a Voko com a Teknion.

Outras brasileiras são apenas representantes de produtos das estrangeiras. Adicionalmente,

o mercado local tem crescido bastante, e nossas empresas (não apenas de mobiliário, mas

também de outros segmentos que atendem a escritórios em geral) estão conseguindo

aumentar seus negócios para fora do país, principalmente para a América Latina.

Paralelamente, quase todas as empresas de grande porte que atuam no Brasil

possuem escritórios em São Paulo, dessas muitas sedes também estão na cidade –

principalmente quando falamos de empresas de telecomunicações, de informática e de

bancos.

2.4 OS ESCRITÓRIOS CONTEMPORÂNEOS: SÉCULO XXI

Segundo o Dicionário Aurélio, contemporâneo significa “que ou aquele que é do

mesmo tempo, ou do nosso tempo; coevo, coetâneo”. Primeiro vamos ver exemplos de

escritórios construídos entre 2000 e 2006. Observa-se que entre a Marginal Pinheiros e a

avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini a linguagem das edificações acompanha as novas

exigências tecnológicas e de aproveitamento de espaços.

Foi nesta região que foi erguido em 2002 o edifício corporativo mais comentado

deste início de século: a sede do Bank Boston. Projetado pelo escritório SOM e adaptado

pelo Escritório Técnico Júlio Neves, o edifício localizado quase no final da avenida

Engenheiro Luiz Carlos Berrini possui claramente o estilo arquitetônico contemporâneo,

perceptível pelo lado externo nos materiais de acabamento (esquadrias de alumínio, vidros

e granito). Uma evidência disso são as diversas publicações que o consideraram uma

referência para os escritórios contemporâneos.

No final da década de 1990, o Bank Boston resolveu reunir todos seus escritórios em

uma única construção “(...) que representasse melhor a marca do banco, além de servir às

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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necessidades operacionais da empresa”. (CUSHMAN, 2004, p.91). Assim, em 1999 o

escritório SOM se uniu aos profissionais brasileiros para projetar um edifício de alta

tecnologia e arquitetura contemporânea em São Paulo, que, segundo o arquiteto Adrian

Smith (um dos responsáveis pelo projeto no escritório SOM), criasse “uma imagem que

expressasse a natureza tropical da cultura nacional” (FACILITY, 2002, n° 24). Segundo

Smith, esse projeto “é um forte representante do estilo contemporâneo e do alto padrão

internacional de prédios para escritórios”. Durante a fase do anteprojeto, os arquitetos do

SOM visitaram o Brasil para, além de entender o programa, compreender melhor a cultura, a

história e as tradições brasileiras, e assim foram realizadas visitas com o objetivo descrito na

citação a seguir:

“Isso foi importante para dar tom local ao desenho

contemporâneo do edifício. As informações programáticas e culturais

foram sintetizadas, utilizando nossa aproximação com o desenho

esquemático, com o desenvolvimento do projeto e a seleção de

materiais. Isso requereu profundo entendimento das necessidades

do cliente, transformadas em arquitetura”. (SMITH, 2002)

O SOM é um dos maiores representantes do international style americano (estilo de

projetar que tem como base a cultura e os conceitos norte-americanos), como já

observamos em alguns de seus projetos no primeiro capítulo. Por se tratar da sede regional

de um dos maiores bancos americanos, o edifício foi projetado para ser mais um

representante do estilo americano no mundo, e, apesar do depoimento de Adrian Smith de

que o projeto teve que ser “tropicalizado”, esta foi uma das obras de engenharia e

arquitetura mais comentadas dos últimos anos no país, por causa de sua complexidade,

inovação e principalmente impacto visual. O custo total do projeto chegou a 150 milhões de

dólares, entretanto os benefícios para a marca são imensuráveis.

O edifício possui 80.000m² de área construída, distribuídos em três subsolos,

pavimento térreo, 28 andares e um heliponto; sendo que até o 18º pavimento as plantas têm

formato em “L”, e os andares superiores possuem plantas menores em formato retangular.

Há duas baterias de elevadores com zona alta e zona baixa (como observamos em todos os

projetos do SOM nesses trabalhos relatados), com comandos inteligentes e interligados ao

controle de acesso do edifício. A fachada é composta principalmente de alumínio e vidros

importados que reduzem em 45% a emissão de calor para o interior, auxiliando na economia

de energia e na melhoria da qualidade do ambiente de trabalho. Fachada e interiores são

modulados: “a fachada tem estrutura modulada em 4,5metros, equivalentes a duas estações

de trabalho” (PROJETO DESIGN, 2002, n°269, p.48). A “tropicaliza ção” da construção ficou

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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principalmente por conta dos materiais de acabamento externos e internos, algumas obras

de arte de Portinari expostas no lobby e dos jardins de Burle Marx.

O layout foi planejado para atender às necessidades do banco e, por isso, cada

pavimento de escritórios tem sua particularidade. O objetivo do banco era ocupar 90%

desses pavimentos com estações de trabalho, que variam de tamanho e o número oscila

entre 80 e 250 por pavimento. A grande maioria das estações é composta por divisórias

baixas do sistema de mobiliário integrado; há salas fechadas para executivos; as salas de

reuniões estão localizadas em quase todos os pavimentos em frente ao hall de elevadores

(assim os visitantes não precisam passar pelo escritório para chegar a elas); os andares da

presidência e vice-presidência possuem acabamento e layout diferenciados. Foram

implantadas áreas de convívio social nos pavimentos inferiores. No térreo há uma agência

do banco, um auditório para o público interno e externo e um coffee-shop que se estende

aos jardins − uma área de bastante descontração. No primeiro pavimento foi instalada uma

praça de alimentação de acordo com as necessidades dos funcionários do próprio banco

relatadas em uma pesquisa interna: possui um boa variedade de pratos para refeição, área

de restaurante com 130 mesas e um terraço ao ar livre

Atualmente o edifício ainda sedia escritórios de um banco, porém não mais do Bank

Boston, mas do Itaú Personalité, embora ainda continue sendo chamado de edifício do Bank

Boston, pelo menos por enquanto.

(1) (2)

Edifício-sede do Bank Boston – 2002 (1) Fachada (2) Planta do 18º pavimento e 25º pavimento

Fonte: (1) PROJETO DESIGN, 2002, n° 269, p.47 (2) P ROJETO DESIGN, 2002, n° 269, p.54

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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(3) (4)

Edifício-sede do Bank Boston – 2002 (3) Escritórios abertos (4) Sala de reunião

Fonte: (3) e (4) PROJETO DESIGN, 2002, n° 269, p.52

Também é deste início de século XXI o edifício-sede da Vivo. O projeto do arquiteto

Edo Rocha (2001) está localizado no final da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini e

nasceu mais uma vez da necessidade da empresa em unificar seus escritórios na cidade de

São Paulo − devido à união de três empresas de telefonia móvel. O projeto teve três

premissas estabelecidas ainda durante o concurso:

“1) adequação do edifício às necessidades daquela que viria a

ser a locatária; 2) melhor aproveitamento possível de espaço e

recursos (e conseqüente valorização do aluguel); 3) flexibilidade para

mudanças”. (CUSHMAN, 2004, p.93)

O edifício, inaugurado em 2003, é formado por duas torres de escritórios com

pavimento térreo e mais seis andares interligados por um átrio e um núcleo de elevadores.

Cada torre possui 1.250m² de laje, sem pilares internos e um núcleo central com escadas,

sanitários e áreas de serviço. Essa disposição da arquitetura permitiu boa flexibilidade para

a distribuição do layout e permitiu uma ocupação alternada de “escritórios fechados e

panorâmicos em cada andar, a fim de atender às necessidades operacionais da empresa”.

(PROJETO DESIGN, 2003, n°286, p.46) . O edifício possui infra-estrutura bastante atual:

“Transmissão de dados via fibra óptica, ar-condicionado insuflado pelo piso e elevadores

gerenciados por sistema que administra as viagens”. (PROJETO DESIGN, 2003, n°286,

p.46)

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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(1) (2)

Edifício-sede da Vivo – 2003 (1) Fachada (2) Planta do pavimento tipo

Fonte: (1) PROJETO DESIGN, 2003, n° 286, p.43 (2) P ROJETO DESIGN, 2003, n° 286, p.47

Em 2006 muitas construções foram iniciadas ou estão quase finalizadas,

principalmente nas regiões da Vila Olímpia e da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini.

Mesmo assim, há relatos de que o próximo centro empresarial de São Paulo será na região

da Marginal Pinheiros: uma área bem mais extensa que as regiões anteriormente descritas,

entretanto ainda com algumas dificuldades de acesso.

Essa tendência para se construir edifícios na Marginal Pinheiros e a idéia de que

esse local seria um futuro novo centro de negócios vem se observando desde a construção

do Cenesp.

“No princípio, era o Centro. Depois foram a Paulista, a Faria

Lima. O futuro, já desencadeado, é a Marginal Pinheiros. O

desenvolvimento comercial da região teve início em 1977, quando o

poderoso grupo argentino Bunge y Born decidiu reunir num só

espaço suas empresas no Brasil (Tintas Coral e Moinho Santista,

principalmente). (...) Hoje, tem-se a impressão que o pioneiro Cenesp

instalou-se no lado errado da Marginal Pinheiros, pois foi na outra

margem que se consolidou o que o mercado imobiliário define como

centro metropolitano do futuro.” (CUSHMAN, 2004, p.106)

Há também uma corrente segundo a qual a tendência para construção de novos

edifícios de escritórios em São Paulo está na região próxima ao edifício do Bank Boston.

Adrian Smith explica que a localização de edifícios de escritórios e o seu desenho

arquitetônico são influenciados por diversos fatores, entre eles leis urbanas, clima local e

tendências tanto da arquitetura local quanto mundial.

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

100

“Em São Paulo, o zoneamento restringe as dimensões dos

edifícios ao máximo de área por piso. Devido a essas características,

a arquitetura paulistana adquire densidade e caráter singular. A

região onde o edifício está localizado representa nova região em

desenvolvimento para uma larga parcela de edifícios de escritórios,

similares a outros existentes em diversas partes do mundo. Esses

prédios são altos e respondem de forma eficiente às exigências

internacionais para edifícios comerciais, de alto padrão. A localização

à margem do rio Pinheiros permite belas vistas a seus ocupantes.”

(PROJETO DESIGN, 2002, n°269)

Diante dos exemplos vistos neste capítulo, percebe-se que a história do mercado

paulistano de arquitetura de edifícios de escritórios corporativos é bastante dinâmica e

geradora de novas tendências, não somente para São Paulo, mas também para o Brasil.

São esses edifícios que pretendem destacar a imagem das empresas através de seu

patrimônio.

Independentemente das vantagens de possuir um único edifício-sede, há empresas

que preferem descentralizar suas atividades, e, apesar de terem uma sede, optam por

escritórios satélites, já que São Paulo é uma cidade enorme, e, dependendo do negócio, é

preciso ficar próximo do cliente ou de algum pólo de negócios. Outro motivo que faz com

que as empresas se descentralizem ocorre quando o edifício onde ela se encontra não

comporta mais seu crescimento, e não há mais espaço suficiente nessa única construção

para atender às suas necessidades funcionais. É o que veremos ainda neste trabalho,

quando verificarmos que o IBM Tutóia, após diversas reformas, não comporta mais todas as

atividades da empresa e por isso está se instalando em outros edifícios da cidade.

Para acompanhar a nova demanda de negócios, e antes mesmo que uma empresa

pense em expansão, são necessárias várias adaptações e modificações dos ambientes

internos que atendam aos novos requerimentos de espaço. Essas transformações estão

sempre alinhadas com a ampliação do mercado específico, com o crescimento da cidade e

do país e com o constante surgimento de novas tecnologias.

Hoje o mercado imobiliário corporativo está bastante aquecido para os próximos

anos. Segundo Léa Lobo, o ano de 2005 apresentou “um importante crescimento do setor

imobiliário comercial”, o qual inclui os escritórios corporativos; e para 2006 “os momentos

prometem ser de crescimento econômico no Brasil (...) um incentivo à ascensão de todos os

setores, inclusive do mercado imobiliário.” (LOBO, 2005, p.4)

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

101

Os escritórios corporativos contemporâneos exigem baixo custo de instalações, da

mesma forma que precisam estar estabelecidos em edifícios flexíveis, com alta tecnologia e

localizados em boas regiões, com infra-estrutura, acesso fácil e meios de comunicação. O

baixo custo das instalações pode ser alcançado através de diversas ações como, por

exemplo, o aumento da densidade de funcionários através da implantação de novas formas

de ocupação. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias auxiliam os controles de ativos dos

escritórios, na infra-estrutura, nas formas de comunicação etc., o que torna necessário que o

escritório sempre invista em tecnologias mais recentes, com o objetivo de alcançar maior

eficiência do edifício a curto ou médio prazo.

Ao projetar um escritório, é primordial entendermos as necessidades da empresa e

as tendências e exigências do mercado de escritórios corporativos para executar projetos de

qualidade e conseguir suportar a demanda de novos espaços.

As construções e disposições espaciais internas precisam estar aptas para receber

diferentes perfis de usuários que exerçam diversas funções (administrativa, técnica ou

executiva), ou que ainda possuam diferentes características físicas ou de gênero (portador

de necessidade especial, homem ou mulher etc.). A divisão da organização nos escritórios

agora é feita de acordo com a necessidade espacial que cada ser humano necessita para

exercer determinada função, e não mais somente por hierarquia.

Para enfrentar a competitividade e reduzir custos com instalações, há uma grande

tendência nas empresas para criação e manutenção de espaços compartilhados por

diversos profissionais, otimizando, além do custo, a funcionalidade dos escritórios. O espaço

compartilhado caracteriza-se pela implantação de ambientes com estações de trabalho “sem

dono”, ou seja, onde uma estação poderá ter diferentes funcionários a cada momento da

sua utilização. Eles devem ter características impessoais, para poder receber qualquer

pessoa que ao exercer seu trabalho não precise estar fisicamente no escritório. Ao mesmo

tempo, o funcionário é questionado se ele precisa trabalhar dentro das instalações da

empresa ou se ele pode trabalhar em casa, já que com o avanço da tecnologia e

dependendo de sua função ele tem capacidade de exercer suas tarefas em qualquer lugar.

O home office, por exemplo, é um conceito de espaço, como o próprio nome diz, em

que o funcionário pode trabalhar no escritório em sua casa, oferecendo-lhe tanto a

flexibilidade de horário no trabalho como o gerenciamento de sua vida pessoal e

profissional. Por outro lado, a empresa deve prover o funcionário que trabalha em home

office equipamentos e infra-estrutura de comunicação suficientemente bons para a

execução de suas tarefas distante da empresa e continuar responsável pela qualidade do

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

102

ambiente de trabalho, mesmo que este seja na casa do funcionário (o que pode gerar

alguns problemas trabalhistas). Apesar de bastante conhecido e flexível, este conceito ainda

não é amplamente utilizado pelas empresas, principalmente por causa das dificuldades em

se conseguir uma boa infra-estrutura nas casas brasileiras, com custos acessíveis e boa

qualidade. Especialistas na área, como Tomás Berlanga, acreditam que o home office é

permanente e irreversível, mesmo que não atinja um número expressivo de funcionários por

falta de infra-estrutura nas cidades brasileiras (mesmo nos grandes centros urbanos).

“Os centros urbanos não agüentam mais o caos existente, e há

centenas de tarefas que não requerem a presença física no

escritório. A grande questão é a qualidade de vida quanto ao

gerenciamento do tempo, poder estar em casa. Mas,

fundamentalmente, está o marketing dizendo que devemos ficar mais

próximos do cliente: cada vez mais o mercado exige personalização

no atendimento. Essa proximidade traz mudanças sociais e

comportamentais. (...) Em São Paulo são 5 milhões de automóveis,

um para cada duas pessoas. Mais e mais prédios estão sendo

construídos na avenida Luiz Carlos Berrini, mas a infra-estrutura

continua a mesma. Isso é o caos.” (BERLANGA, 2000, p.11)

Sempre que escritórios contemporâneos são citados, fala-se em versatilidade do uso

de espaços imposta pela flexibilização das relações de trabalho, que precisa ser bastante

dinâmica, não tanto quanto à flexibilização dos espaços de escritórios, que, devido às

instalações elétricas e de telecomunicações, ainda precisam ser fixas a um local. Entretanto,

as novas tecnologias já estão auxiliando a flexibilidade dos espaços e diminuindo a rigidez

das estações de trabalho. Percebemos isso através das instalações de rede wireless, que

funciona por meio de sinais de transmissão e não precisa de cabeamento; ou da utilização

de laptops, que podem ser levados a qualquer lugar, além de possuírem um tempo

específico de bateria que permite o seu funcionamento por mais de três horas.

Enquanto dependemos da rigidez do layout, a sua flexibilidade também pode ser

implantada através da estação de trabalho compartilhada, que pode ser utilizada em tempo

alternado por diferentes funcionários. São ideais para ocuparem este tipo de espaço

pessoas que viajam muito e precisam estar em diversos lugares, ou exerçam alguma

determinada função – como consultoria e vendas –, que faz com que elas precisem estar

fora do escritório central da empresa, ou ainda que possuam trabalho temporário ou em

regime de tempo parcial. Elas recebem ferramentas específicas para realizarem suas

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

103

funções em locais de postos de trabalho compartilhados. Novamente, a tecnologia

(softwares, mídias eletrônicas etc.) auxilia e determina novas condições de trabalho.

Este conceito, que vem crescendo e criando raízes, principalmente entre 2000 e

2005, possui várias denominações, dependendo do país ou da empresa. Segundo Claudia

Andrade, existe o conceito de hoteling, que ela assim o define:

“Como o próprio nome sugere, está baseado nos serviços

oferecidos nos hotéis. Criado para atender a necessidade da média e

alta gerência, que viaja freqüentemente ou se encontra fora de sua

base de trabalho, este conceito é utilizado pelas empresas em suas

filiais ou escritórios situados em bairros mais distantes ou periféricos

da cidade. (...) São montados com foco no recebimento de clientes e

visitantes, para que funcionários atendam a esses clientes com todo

o suporte e conforto necessários. Para utilizá-los é preciso reservar a

sala com antecedência.” (ANDRADE, 2000, p.50-51)

Outro conceito de escritório flexível e utilizado por mais de um funcionário, também

segundo Claudia Andrade, é o free address, por ela assim definido:

“Conceituado para atender à gerência e ao restante dos

funcionários que despendem boa parte de seu tempo realizando

serviço fora da empresa, o free address pode ser caracterizado por

uma área repleta de estações de trabalho abertas para o uso

eventual. Ao chega,r o funcionário dirige-se a um computador que

representa a planta do pavimento com as estações disponíveis.

Através de um sistema touch screen, o funcionário informa qual a

estação de trabalho que irá ocupar. Automaticamente o sistema de

voz e dados é ativado para que o funcionário possa realizar suas

atividades o tempo que for necessário”. (ANDRADE, 2000, p.53)

Claudia Andrade ainda descreve um último e mais complexo escritório

compartilhado, o red carpet club:

“Sua configuração agrega componentes dos dois últimos

conceitos – hoteling e free address – conjugados com uma área de

convívio social intenso. (...) Haverá espaços compartilháveis para

trabalhos privados, tais como as salas fechadas do conceito do

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

104

hoteling, espaços abertos do tipo free address e espaços para

reuniões e conferências”. (ANDRADE, 2000, p.54-55)

Nesta pesquisa trabalharemos com o conceito de escritório compartilhado utilizado

no IBM Tutóia: o mobility. Este conceito consiste na implantação de um grupo de estações

de trabalho que podem ser compartilhadas em um dia por até quatro funcionários diferentes

em horário alternados. Para isso, o funcionário que for “elegível” à utilização do espaço

mobility deve exercer uma função de consultoria ou vendas e que requeira que ele

permaneça apenas 25% do seu tempo de trabalho na empresa. A IBM no Brasil implantou o

conceito de mobility em 1998, no IBM Tutóia, somente para funcionários de vendas. Em

2000, ela implantou o segundo centro de mobility no mesmo edifício para funcionários da

área de consultoria, só que nesse caso o funcionário só permanecia na empresa cerca de

15% do seu tempo de trabalho, por isso sua estação de trabalho podia ser compartilhada

por mais seis profissionais. No final de 2005 a empresa possuía 914m² de espaço útil

destinado somente às estações e armários de funcionários mobility (Arquivo IBM). Deste

total, 617m² estão localizados no edifício da sede da empresa em São Paulo, 271m² nos

escritórios do Rio de Janeiro e 26m² nos escritórios de Brasília. Somente em São Paulo há

602 funcionários que utilizam o espaço, ou seja, é 1,03m² ocupado por funcionário neste tipo

de ambiente, resultando em um altíssimo ganho de espaço e de custo. Veremos mais

detalhes desse conceito nos próximos capítulos.

O especialista no assunto Tomás Berlanga acredita que o hoteling, o free address e

outros conceitos de espaços compartilhados são modismos de época, como descrito na

citação a seguir.

“Alguém gera uma nova idéia, até com boa intenção, mas o

resultado não é o esperado. Uma pessoa que está na empresa

temporariamente, que não tem seu espaço de trabalho, sua

escrivaninha, digamos assim, sente que não é parte da empresa.

Como essa situação gera instabilidade, algumas empresas já estão

corrigindo o hoteling”. (BERLANGA, 2000, p.11)

Cabe ao profissional que está projetando o espaço junto com o empresário ou

executivo identificar a necessidade de tempo desses funcionários de trabalharem na

empresa ou fora dela. O sucesso do programa de mobility na IBM é fruto de alguns fatores:

1. facilidade de comunicação entre funcionário e qualquer pessoa da empresa através de

tecnologia (computadores de última geração, softwares adequados e celulares);

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

105

2. grande rotatividade entre profissionais desta área (cada hora estão em um cliente ou em

um projeto diferente);

3. dinâmica das atividades exercidas por estes profissionais;

4. tecnologia adequada (todos sistemas de dados e voz são automatizados);

5. instalações apropriadas (o espaço não se restringe à estação compartilhada, há também

armários e arquivos dedicados a estes profissionais).

Podemos dizer que os escritórios do século XXI abrem suas portas guiados por:

1. flexibilidade dos ambientes de trabalho e seus componentes, para que o escritório possa

atender “aos diversos tipos de atividade, possibilitar os contatos e suportar as mais

inovadoras idéias”. (ANDRADE, 2004)

2. inovações tecnológicas, fruto de anos de experiência;

3. comunicação, integração e agilidade no fluxo de informações;

4. ergonomia, bem-estar, qualidade de vida, necessários para melhor produtividade do

funcionário no ambiente de trabalho.

O escritório corporativo e contemporâneo de São Paulo deve, antes de mais nada,

procurar localizar-se em um edifício inteligente; seu interior pode possuir características que

estão relacionadas à arquitetura de sua construção, assim como a construção está sendo

pensada para justificar a integração da arquitetura corporativa. O planejamento de uma

arquitetura de escritórios integrada deve prever que todos os elementos relativos ao espaço

sejam planejados para tornar o ambiente coerente em sua totalidade.

Há uma grande dicotomia neste conceito: ao mesmo tempo que projetos de

escritórios contemporâneos seguem conceitos, regras e utilizam produtos pré-fabricados;

eles também precisam atender às necessidades do indivíduo, da empresa específica, das

novas tecnologias, através de um mobiliário diferenciado ou de um espaço físico inovador.

Por isso é valorizado o projeto único, criativo, humanizado e diferenciado dos demais, pois

as empresas se renovam dia a dia. Entretanto, nada é feito para ser provisório, e, ao

executar o projeto, é comum observar a volta de conceitos originais, como a padronização

máxima do desenho e das especificações de infra-estrutura e acabamentos.

No Brasil, há uma mistura dos modelos de escritórios europeu − panorâmico − e

norte-americano − panorâmico com mobiliário integrado. Ainda há muitos escritórios

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

106

corporativos com diversas salas fechadas para chefes e executivos e com um grande salão

para funcionários dispostos em cubículos de trabalho determinados por sistemas de

divisórias.

“Os norte-americanos estão muito voltados para a gestão

empresarial e os europeus estão mais ligados na ecologia. Quando

surge a ISO 14 000, e toda a problemática ambiental, diria que os

países europeus (..) estão levando mais a sério a questão ambiental,

não só externa, como também interna. Surgiram novos edifícios na

Europa recentemente, especificamente em Berlim (...), nos quais há

uma humanização geral da própria arquitetura. Está se saindo da

arquitetura fria ou metálica para a arquitetura comercial, porém com

características mais orgânicas. Voltam o tijolo e as texturas, por

exemplo.” (BERLANGA, 2000, p.9)

O escritório corporativo contemporâneo sempre foi guiado pelas mudanças operadas

pela tecnologia de informação incorporada aos componentes do edifício, e são elas que

alteram o conceito de planejamento de espaço e gestão empresarial. O grande desafio é

como criar edifícios que sejam ao mesmo tempo sustentáveis, econômicos, com flexibilidade

espacial e com alta tecnologia. É preciso investir em tecnologia para economizar custos.

As mudanças que estão ocorrendo nos edifícios contemporâneos decorrem da

análise de sua forma e dos novos materiais, que incorporam dispositivos autocontroláveis,

como, por exemplo, vidros autolimpantes, fotocélulas instaladas nos vidros da fachada etc.

A tecnologia está avançando e precisando cada vez menos que os sistemas de mobiliário a

suportem, como é o caso das redes wireless e VOIP, e das baterias de equipamentos que

estão substituindo a rede elétrica, mesmo que temporariamente, pois elas duram cerca de

duas a três horas sem energia elétrica. Assim, as funções atuais das divisórias de postos de

trabalho são basicamente a acústica e a segregação; por isso, esses sistemas podem ter

uma espessura menor e receber novos tipos de revestimento, como, por exemplo, o vidro.

O mobiliário, como principal elemento visual e integrador em um escritório, é a malha

por onde as pessoas andam, trabalham, convivem. Este dinamismo no surgimento de novas

tecnologias, novas formas de trabalho, faz com que bons projetos tornem-se obsoletos,

cada vez mais em menos tempo.

“Não é mais possível projetar um espaço sem conhecimento do

que acontece na empresa e nas novas tecnologias (...). Hoje as

coisas caminham com mais velocidade. A cultura de cada país, seus

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CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS EM SÃO PAULO

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usos e costumes, sua noção espacial, a forma como trabalham os

espaços influenciam tanto sistemas de mobiliário como de

planejamento espacial. O mercado norte-americano possui

particularidades, em contraposição aos europeus, que têm todos os

modelos, tanto em sistemas de mobiliário como em layout espacial.”

(BERLANGA, 2000, p.8-9)

O profissional de planejamento de escritórios deve estar profundamente ligado à

questão empresarial, e no Brasil a dificuldade está não somente na formação do arquiteto

(que dificilmente possui o conhecimento de uma gestão empresarial), mas também no valor

que as empresas dão à concepção de um bom projeto de arquitetura e numa boa gestão de

espaços de escritórios. Como nosso estudo é baseado em grandes corporações que

possuem edifícios inteiros de escritórios da própria empresa, a maioria delas valoriza o

profissional da arquitetura de escritórios (seja ele arquiteto, space planner, facility,

engenheiro etc.) Nosso foco será então oferecer ao profissional arquiteto fontes para a

realização de um trabalho melhor, pois sua formação é altamente técnica.

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

“Good design is good business.” (Um bom design é um bom

negócio) (Thomas Watson Jr., in WATSON, 1975, p.8)

Nosso propósito neste capítulo é demonstrar a importância que a IBM dá a seus

espaços de escritórios e relacionar algumas idéias que ela disseminou através deles..

Para entender os critérios que a empresa utilizou em suas construções, será

observada a importância que a cultura da empresa confere ao design e à arquitetura do

ambiente de trabalho. Na seqüência veremos: a história da IBM no Brasil com foco na

construção de seus edifícios; os padrões de espaço e os conceitos de ocupação que a

empresa adota.

Depois serão apresentados alguns de seus escritórios nos Estados Unidos e no

Brasil, a fim de exemplificar os padrões de organização de espaço. Vamos destacar os

aspectos relacionados à ocupação destes edifícios que do ponto de vista corporativo

representaram inovações para sua época e que, de alguma forma, foram seguidos no Brasil.

3.1 A CULTURA DA EMPRESA

A IBM é uma empresa de destaque no setor de tecnologia de informações e pode ser

considerada uma companhia tradicional, com uma forte relevância histórica, embasada em

aspectos econômicos e sociais. Ela impulsionou grande parte do desenvolvimento

tecnológico industrial do século passado e foi pioneira nos tipos de atividades exercidas com

recursos humanos e valorização de patrimônios históricos, especialmente no Brasil.

A empresa possui uma forte cultura organizacional, que, paralelamente a estratégias

bem-sucedidas, reafirmou seus valores, formas de comportamento e melhores práticas.

Segundo Claudia Andrade, a cultura organizacional é um “código genético” da empresa, o

qual define condições ou regras básicas que buscam a solução ou a convivência de

problemas de adaptabilidade externa e integração interna (ANDRADE, 2005, p.3.6). De

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

109

acordo com ela, a diferença entre empresas bem-sucedidas e empresas malsucedidas está

na cultura.

“A cultura organizacional é valiosa porque fornece ao indivíduo

um panorama pelo qual ele irá se mover em seu trabalho.

Consistência e coerência se transformam em práticas com os

mesmos princípios. Geralmente os modelos de pensamento e

comportamento se espelham naqueles fundadores cujos sonhos,

hábitos, recursos e capacidades de trabalho geraram os modelos de

negócios-base da organização.” (ANDRADE, 2005, p.3.9)

A preocupação da empresa com o bom design é antiga. Thomas J. Watson Jr.

(1914-1993), filho do fundador da empresa, Thomas J. Watson Sr. (1874-1956) e que

também a presidiu entre 1956 e 1971, foi o precursor da cultura good design is good

business (um bom design é um bom negócio). Este padrão de comportamento está presente

na empresa até os dias atuais e foi trazido para o Brasil através de processos de

gerenciamento de espaço, documentos e regras internas, como, por exemplo, o IBM Design

Standard (Padrões de Design da IBM), que inclui modelos de dimensões de mobiliário,

sinalização, acabamentos, entre outros.

É notório que a cultura do bom design dentro da empresa é uma das razões do seu

sucesso ao longo dos anos, já que a companhia acredita que uma corporação que destaca

seu valor oferece oportunidades de desenvolvimento para si própria, para seus funcionários

e para a sociedade em que está inserida. Segundo Watson, “we also know that you have to

pay a premium for good design, but that premium is paid back as many different benefits to

the corporation in its activities”. (WATSON, 1975, p.8) (Nós também sabemos que se paga

um alto valor por um bom design, mas este investimento retorna através de muitos

diferentes benefícios para as atividades da corporação.) Para constatar este retorno, basta

observar o peso que a marca tem na história do desenvolvimento da tecnologia no mundo.

As propagandas e reportagens da IBM no Brasil na década de 1990 demonstravam que a

empresa evoluiu não somente na tecnologia, mas também no design: os

microcomputadores que surgiam na época eram modernos, leves e bonitos. Ainda hoje a

imagem da IBM está relacionada com o bom design e as artes em geral: até na propaganda

vinculada em revistas nacionais em 2005 a empresa mostra que na chamada era on

demand (sob demanda) a tecnologia continua influenciando a arte e seus espaços.

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

110

(1) (2)

(1) Matéria sobre microcomputadores IBM (2) Propaganda da IBM em 2005 – MoMA On Demand

Fontes: (1) DESIGN INTERIORES, 1994, n° 40, p.56-57 (2) VEJA, 2005, n°26

A partir da década de 1950, Watson começa a se preocupar com o design não

somente das máquinas, mas também da arquitetura de seus edifícios, do interior nos

ambientes de trabalho e nos showrooms36. Nesta época, a empresa criou departamentos

que tinham como objetivo modificar ou criar o design de suas peças e de seus escritórios na

medida em que julgassem necessário, para tornar tudo mais atrativo e mais consistente com

o produto e a imagem que a empresa precisava passar. Era importante estabelecer uma

conexão entre o ambiente de trabalho e os objetivos organizacionais. Durante a gestão de

Thomas Watson Jr., a empresa construiu no mundo 150 prédios, entre fábricas, laboratórios

e edifícios de escritórios. Sempre que um novo prédio precisava ser construído o

departamento de design responsável selecionava bons e famosos arquitetos para realizar o

projeto: entre eles estavam nomes bastante conhecidos por nós, como Ludwig Mies van der

Rohe e os arquitetos dos escritórios SOM.

Com princípios rígidos de trabalho e disciplina, a empresa se destacou pela forte

cultura corporativa, disseminada a todos seus funcionários ao redor do mundo. Ao se

preocupar com o ambiente construído, a IBM sempre ofereceu edifícios de escritórios

marcantes, com segurança, ambientes motivacionais e uma arquitetura e design que

sempre foram inovadores, independentemente da época em que foram construídos.

No Brasil, especialmente na época da construção do edifício IBM Tutóia, a empresa

encontrava-se em uma fase de grande crescimento dos negócios no cenário nacional.

Conseqüentemente ela estabeleceu um plano de expansão para o qual foram comprados

vários terrenos, contratados diversos escritórios de arquitetura, construtoras etc., com o

36 Showroom: local de exposição e mostra de produtos.

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

111

objetivo de construir edifícios em diversos locais do país, sempre de acordo com sua

política organizacional.

Esta política previa que todos os edifícios construídos deveriam possuir as mesmas

características arquitetônicas e os mesmos conceitos de ocupação, que visavam sempre à

construção de instalações de última geração. Assim, observa-se a preocupação da empresa

em ter coerência entre a sua imagem no mercado em que atua, “moderna e solucionadora

de problemas, e sua imagem externa, no caso os edifícios, que devem demonstrar

racionalidade e funcionalidade”. (IBM Notícias Brasileiras, 1973, p.6)

“As novas sedes (...) seguem uma mesma norma: obter grandes

áreas abertas, livres de colunas, para assegurar flexibilidade nas

instalações. Da mesma forma, serão usados nos edifícios os

mesmos materiais de acabamento (...). O objetivo desta norma é

conseguir uma arquitetura moderna, funcional e racional, sem luxo

ou ostentação.” (IBM Notícias Brasileiras, 1973, p.6)

Até hoje a existência desse departamento responsável pelo programa de ambientes

de escritórios, inclusive no Brasil, é imprescindível para disseminar um bom local de trabalho

e um bom design em seus escritórios, sem o qual ela correria o risco de cair na mesmice de

seus ambientes de trabalho. Ao planejar ou cuidar dos escritórios da empresa, estes

profissionais consideram normas internas da empresa e normas locais (do país e da cidade

onde os escritórios estão instalados), sempre levando em consideração possíveis variáveis

das necessidades do ser humano no ambiente de trabalho. Segundo Watson, “in all cases,

the design plan is there only because people are there”. (WATSON, 1975, p.11) (Em

qualquer caso, o plano de design só existe porque as pessoas existem.)

Andrade identificou “três elementos-chave do ambiente de trabalho, por meio dos

quais a cultura organizacional se manifesta”. (ANDRADE, 2005, p.3.11). São eles:

1. formalidade versus informalidade: são as características expressas no partido

arquitetônico, nos materiais de acabamento e no estilo empregado e que também

podem ser observados nos dois próximos elementos;

2. padronização do espaço: compreende a definição dos componentes do layout

(estações de trabalho, circulações, salas de reuniões, áreas de convivência, locais

de armazenamento etc.) e as formas como esses componentes estão organizados;

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

112

3. conceito de ocupação: é a definição das características do espaço (dimensões da

estação de trabalho ou sala, tipo de mobiliário etc.) que cada profissional da empresa

irá ocupar de acordo com o seu nível hierárquico ou de acordo com a sua função.

Vamos a seguir analisar esses três elementos nos escritórios da IBM no Brasil. O

primeiro será observado através de um pouco da história da empresa no Brasil com foco na

construção de seus escritórios. O segundo e o terceiro serão um pouco mais detalhados e

eventualmente será realizado um paralelo com alguns escritórios.

3.2 A IBM NO BRASIL

A empresa começou a atuar no Brasil em 1917, com o nome de Computer-

Tabulating-Recording Company (CTR), através de um escritório de representações no Rio

de Janeiro após ter estabelecido um contrato com a Diretoria de Estatística Comercial para

a apuração do Censo brasileiro de 1920 (IBM, 1997, p.23). Em 31 de dezembro de 1924 o

nome International Business Machines Corporation (IBM) foi adotado pela empresa, já

definitivamente estruturada no Brasil.

Ela chegou ao país na época da Primeira Guerra Mundial, quando a economia do

país, que era baseada na fabricação e exportação de café, enfrentava uma crise, já que o

mercado externo estava praticamente paralisado por causa da guerra.

“Em decorrência do conflito e da necessidade de substituir

importações, verificava-se um ambiente relativamente próspero no

âmbito da indústria nacional.(...) O desenvolvimento industrial e o

acelerado processo de urbanização e complexidade das atividades

daí decorrentes foram fatores extremamente favoráveis à instalação

no país de empresas como a CTR.” (IBM, 1997, p.21)

Primeiramente, a empresa se instalou na então capital federal, a cidade do Rio de

Janeiro, em locais não identificados. O início da década de 1930 registrou que “no setor de

processamento de dados intensificaram-se as experiências com invenções eletrônicas”.

(IBM, 1997, p.32) Por causa das grandes mudanças econômicas, políticas, sociais e

principalmente tecnológicas daquela época, em 1931 a empresa inaugurou sua primeira filial

no território nacional, em São Paulo.

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

113

“Além de estabelecer contratos com órgãos públicos estaduais e

municipais, a filial de São Paulo foi responsável pela administração

do início das atividades propriamente industriais da empresa no

Brasil. Ainda em 1931, começaram a ser produzidos na fábrica do

Bom Retiro, em São Paulo, cartões para perfuração, peças para

máquinas elétricas de contabilidade e para relógios de ponto e de

registro de tempo. Apesar da precariedade das instalações, esse

incipiente processo de fabricação registrou constante crescimento,

atendendo satisfatoriamente às demandas do mercado nacional

naquele período.” (IBM, 1997, p.33)

Em 1933 (IBM, 1997, p.33) foram abertas mais cinco filiais ou representações no

país: Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Niterói. Por volta de 1936, começou a

construção de uma fábrica em Benfica no Rio de Janeiro,

“idealizada para substituir as instalações de São Paulo, que

estavam com sua capacidade totalmente saturada. A obra consumiu

cerca de três anos, vindo a nova unidade a ser inaugurada em 1939”.

(IBM, 1997, p.34)

(1) (2)

Fábrica de Benfica, Rio de Janeiro – 1933 (1) Vista aérea (2) Entrada da fábrica

Fonte: (1) IBM, 1997, p.40 (2) IBM, 1997, p.71

Com instalações industriais apenas no Rio de Janeiro, de 1939 até 1960 (IBM, 1997,

p.40) a empresa manteve seus negócios no país através de filiais. Os escritórios eram

espaçosos, com mobiliários robustos de aço, e a distribuição lembrava o taylorismo, com

uma mesa atrás da outra e supervisores ao redor. Através de relatos de funcionários mais

antigos, sabe-se que nessa época a grande maioria dos trabalhadores da empresa eram

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

114

homens, as poucas mulheres ocupavam cargos de suporte, como secretárias, datilógrafas e

telefonistas. Dos homens era exigida uma aparência impecável e coerente com a imagem

séria e de respeito que a empresa queria passar, e para isso todos vestiam terno azul, uma

analogia à cor da empresa.

(1) (2) (3)

(1), (2) e (3) Escritórios da IBM no Brasil até a década de 1960

Fonte: (1) e (2) IBM Notícias, 1975, p.10 (3) IBM Notícias, 1975, p.11

As salas de reunião e treinamento eram muito utilizadas, e o que se pode ver em

todas as fotos da época são apenas homens nesses locais. As áreas para disposição de

máquinas de processamento de dados e grandes computadores eram muito amplas, com

piso frio e luminárias suspensas, e para cada computador havia um supervisor.

(1) (2)

(1) e (2) Escritórios da IBM no Brasil até a década de 1960

Fontes: (1) IBM Notícias Brasileiras, 1972, p.6 (2) IBM, 1997, p.54

Acompanhando a velocidade do desenvolvimento brasileiro desse período, esta foi

uma época de crescimento para empresa. Relógios de pontos, relógios para registro do

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

115

tempo (entre eles o relógio do Parque do Ibirapuera em São Paulo e o relógio da Central do

Brasil no Rio de Janeiro), máquinas de calcular, máquinas de processamento de dados,

computadores, máquinas de escrever etc., todos esses equipamentos que, entre outros

aspectos, auxiliam no desempenho do trabalho em escritórios eram fabricados em Benfica.

Considerando que a demanda por essas máquinas na época era enorme e levando-se em

conta a pouca concorrência neste setor, a empresa foi construindo novas edificações no

terreno da fábrica em Benfica até chegar a sua completa saturação em meados da década

de 1960.

“A diversificação e a complexidade dessas atividades, aliadas à

urgência na modernização da administração pública, impunham uma

demanda cada vez maior por recursos de processamento de dados.”

(IBM, 1997, p.60)

Na década de 1960, os escritórios filiais ao redor do país eram diversos e foi nessa

ocasião que a alta gerência da companhia sentiu necessidade de construir novos prédios e

um complexo industrial.

No Brasil, o departamento da empresa responsável pelos escritórios e novas

construções surgiu em janeiro de 1970 com o nome de Divisões de Construções e Bens

Patrimoniais (IBM Notícias Brasileiras, 1971, p.10) em razão da demanda de criação de

novos espaços que abrigassem os escritórios da empresa em constante crescimento. Os

responsáveis pelos estudos financeiros e pelas orientações técnicas a empresas de

engenharia e arquitetura nesta época, passaram a ter uma atuação enorme, já que nos anos

subseqüentes surgiriam muitas novas construções da empresa no país.

Para a construção de edifícios no Brasil, a IBM também contou com famosos

arquitetos, entre eles destacam-se: Henrique Mindlin, que projetou a fábrica de Sumaré,

Claudio Cavalcanti, que projetou o edifício da IBM em Brasília e Belo Horizonte, e CA&G,

que projetaram a IBM Tutóia, entre outros.

A primeira sede própria no Brasil, e em toda a América Latina, foi inaugurada em 5

de agosto de 1971 na região da Cidade Alta na cidade de Salvador (IBM Notícias

Brasileiras, 1971, p.4), numa época em que o estado da Bahia se encontrava em franca

expansão.

“A decisão da IBM em adquirir essa sede própria se deve ao fato

de ser, em termos de investimento, muito melhor construir suas

próprias dependências, atendendo às suas próprias necessidades.

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

116

Isto permite uma flexibilidade para o crescimento da companhia,

assim como ajuda a estabelecer uma imagem da IBM no nordeste

brasileiro.” (IBM Notícias Brasileiras, 1969, p.5)

O projeto dos escritórios de Alvarez e Pontual Arquitetos (IBM Notícias Brasileiras,

1969, p.5), que uniu todos os escritórios filiais da empresa na cidade em um único endereço,

possuía 2.835m² distribuídos em um subsolo e sete pavimentos de escritórios.

(1) (2)

Edifício IBM Salvador – 1971 (1) Detalhe do topo do edifício em construção (2) Fachada no dia da inauguração

Fonte: (1) IBM Notícias Brasileiras, maio-1971, p.13 (2) IBM Notícias Brasileiras, agosto-1971, p.4

No final da década de 1960, a empresa chamou o arquiteto Henrique Mindlin (IBM:

The Buildings of IBM, 2005) para projetar o novo complexo industrial. Levando-se em

consideração a disponibilidade de terrenos com grandes dimensões e com custos

apropriados, proximidade de fornecedores e consumidores e facilidade de comunicação e

transporte, decidiu-se que a segunda unidade industrial da empresa no país seria localizada

no então distrito de Sumaré, hoje município de Hortolândia, no interior de São Paulo.

“A fábrica da IBM do Brasil, em Sumaré (...) não parece uma

indústria, mas um escritório moderno: não emanam gases, não há

barulho nem oscilações de temperatura ambiente.” (EXAME, 1984,

p.6).

A fábrica de Sumaré começou a ser construída em julho de 1970 (IBM, 1997, p.72), e

em 1971, antes da inauguração oficial, já estava em operação. Seu terreno tinha

1.000.000m² e sua área construída era de 45.000m² na inauguração. Em 1984 a fábrica de

Sumaré possuía 1.220 profissionais (EXAME, 1984, p.6), que ocupavam menos de um terço

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

117

dos 45.000m² de área construída. Até 2005 todas as áreas de fábrica foram transformadas

em escritório ou CPD37 e 3.000 profissionais ocupam mais de 55.000m². Alinhada com as

novas exigências do mercado (flexibilidade, baixo custo das instalações, novos conceitos de

ocupação etc.), a densidade aumentou muito: passou de aproximadamente 37m² para 18m²

por pessoa.

(1) (2)

Fábrica de Sumaré, São Paulo – 1971

(1) Foto da entrada do prédio principal – 1975 (2) Vista aérea do complexo – 2001

Fontes: (1) Arquivo IBM (2) IBM Notícias, 1975, p.12

(3) (4)

Fábrica de Sumaré, São Paulo – 1971 (3) Área de estoque no prédio principal – década de 1970

(4) Foto da mesma área agora com escritórios – 2005

Fontes: (3) IBM Notícias Brasileiras, 1972, p.5 (4) Arquivo IBM

Essa foi a época do “milagre brasileiro” (1968-1973) (IBM, 1997, p.78). Entre 1972 e

1981 (IBM, 1997, p.82), o crescimento do mercado de computadores e o alto grau de

complexidade dos negócios fizeram com que nesta década a empresa aumentasse seus

37 CPD: Centro de Processamento de Dados.

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

118

investimentos ao redor do país, principalmente na expansão e na modernização de suas

instalações.

“Foram inauguradas novas sedes de filiais, em prédios próprios e

projetados exclusivamente para esse fim, em Fortaleza (1976), Porto

Alegre (1976), Recife (1977), São Paulo (1977) e Brasília (1981),

além do Centro Educacional Residencial da Gávea (1976), na Gávea

Pequena, e o edifício-sede (1980), na avenida Pasteur, em Botafogo

– ambos no Rio de Janeiro. Grandes investimentos foram também

dirigidos ao aprimoramento dos processos administrativos e

operacionais da empresa, que se tornavam cada vez mais

complexos.” (IBM, 1997, p.82 e p.87)

(1) (2)

(1) Edifício da IBM em Fortaleza – 1976 (2) Edifício da IBM em Porto Alegre – 1976

Fonte: (1) IBM, 1997, p.83 (2) IBM, 1997, p.84

(3) (4)

(3) Edifício da IBM em Recife – 1977 (4) Edifício da IBM em São Paulo – 1977

Fonte: (3) IBM, 1997, p.84 (4) IBM, 1997, p.85

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

119

(5) (6)

(5) Edifício da IBM em Brasília – 1981 (6) Edifício da IBM no Rio de Janeiro – 1980

Fonte: (5) IBM, 1997, p.85 (6) IBM, 1997, p.86

Também foram construídos alguns centros de treinamento, entre eles em 1972, o

Centro Educacional da Divisão Técnica de São Paulo e o Centro Educacional Residencial

da Gávea no Rio de Janeiro (IBM, 1997, p.100-101), o qual mereceu destaque interno na

época:

“(...) o Centro Educacional para Executivos (...) terá

características de arquitetura bastante avançadas, pois nessa

dependência serão ministrados cursos sobre os mais avançados

conceitos do campo tecnológico; havendo perfeito entrosamento

entre os assuntos tratados e o ambiente.” (IBM Notícias Brasileiras,

1973, p.6)

Esse centro de treinamento do Rio de Janeiro formava um conjunto de edificações

que foi inaugurado em 9 de setembro de 1976, em uma área de 260.000m² na Estrada das

Canoas e foi.projetado pelo escritório de arquitetura Pontual Associados em 1972 (XAVIER,

1991, p.159). Duas principais construções, uma residencial com 3.432m² de área útil, e

outra educacional, com 2.168m², eram interligadas por uma passarela. O bloco residencial

possuía três pavimentos com 62 apartamentos individuais, restaurante, área de estar e

jogos. No bloco educacional havia dois pavimentos com um auditório (com 73 lugares), trinta

salas de aula (equipadas com a mais moderna tecnologia), uma biblioteca e escritórios para

instrutores. Outras construções periféricas abrigavam recepção, sauna e vestiários próximos

à piscina. Todo o interior foi reformado em 1992 pelo escritório Janete Costa (DESIGN

INTERIORES, 1994, n° 42, p.77): o conjunto hoje não pertence mais à empresa, mas ainda

é conhecido por muitos como o mais famoso Centro de Treinamentos da IBM no Brasil.

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

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(1) (2)

Centro Educacional Gávea, Rio de Janeiro –1976 (1) Fachada do bloco residencial

(2) Interior de uma das salas de treinamento

Fontes: (1) PROJETO, 1994, n°171, p.L.3 (2) IBM, 19 82, p.28

Na década de 1980 a IBM Brasil possuía instalações próprias em diversos estados

brasileiros. Até então, em qualquer escritório da empresa no Brasil, em qualquer cidade, era

possível identificar o mesmo tipo de ambiente, demonstrando unidade de integração mesmo

para escritórios tão distantes uns dos outros. Mas como a velocidade com que surgem

novos produtos e tecnologias faz com que os escritórios mais recentes se tornem comuns:

atualmente a empresa não possui todas suas instalações com o mesmo visual e infra-

estrutura nem tão pouco com a mesma tecnologia de rede de dados. Há padrões que são

rigidamente seguidos, mas não havia mais como padronizar acabamentos ou dimensões de

espaços e postos de trabalho durante um período tão longo (mais de uma década).

Ainda nos anos 1980 a IBM no Brasil se viu confrontada com inúmeros desafios e

buscou soluções criativas para superá-los. Às dificuldades decorrentes das duras regras

impostas pela reserva de mercado – a empresa passou por problemas financeiros devido à

forte concorrência com a entrada dos microcomputadores – somavam-se outras, derivadas

da instabilidade que caracterizou a economia brasileira ao longo de praticamente todo o

período.

Como conseqüência, durante a década de 1990 a empresa tomou a decisão de se

desfazer de alguns de seus prédios próprios (no Brasil e no mundo), a fim de poder

acompanhar as novas exigências de mercado. Para isso era preciso sair dos prédios

próprios, com grandes espaços e alto custo de manutenção, para ocupar prédios alugados,

com espaços mais densos e baixos custos das instalações. Ocorreu então uma grande onda

de reformas e mudanças de endereços de seus escritórios. Foi a oportunidade que a

empresa teve de modernizar suas instalações, implantar novos padrões organizacionais e

novos conceitos de espaço, bem mais modernos. Esses conceitos no Brasil foram criados

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CAPÍTULO 3: OS ESCRITÓRIOS DA IBM

121

pelo próprio corpo técnico da empresa no país, com base nos padrões e regras

corporativos.

Dessa forma, em 1995 a IBM possuía nas principais capitais brasileiras dezessete

prédios próprios que haviam sido construídos a partir da década de 1970 e que eram

ocupados por escritórios da própria empresa, com modelos de ocupação semelhantes.

Apenas cinco anos depois, em 2000, restaram apenas três grandes edifícios (Arquivo IBM):

a fábrica de Hortolândia (originalmente Sumaré), que hoje não é mais fábrica e foi

totalmente adaptada para ter apenas escritórios; o edifício IBM Pasteur, no Rio de Janeiro; e

o edifício IBM Tutóia, em São Paulo. A empresa também passou a contar com treze

instalações de escritórios em espaços alugados em diferentes edifícios comerciais, a

maioria localizada nas mesmas cidades onde anteriormente ela possuía imóveis próprios.

No ano de 2005, a empresa continuava com seus três prédios próprios, mas agora

com dezenove instalações de escritórios em espaços alugados em diferentes capitais

brasileiras. Especificamente na cidade de São Paulo ela possui três endereços de escritório:

o primeiro e mais recente é o IBM Água Branca, localizado no bairro da Barra Funda; o

segundo é o IBM CENU, localizado na Marginal Pinheiros, próximo à avenida Engenheiro

Luiz Carlos Berrini; e o terceiro e mais antigo é o IBM Tutóia, sede da empresa no Brasil.

No final de 2005, a empresa possuía quase 137.000m² de escritórios no país, para

mais de 11.000 funcionários. A densidade chegou a 12,45m² pessoa, um número ainda alto.

Hoje a empresa passa por um novo desafio: suportar o crescimento acelerado de

seus negócios com a mesma velocidade com que surgem novas tecnologias, com baixos

custos de instalações, e conseqüente alta densidade em seus escritórios. Uma grande

dificuldade está no fato de que novas construções e mudanças de ambientes demandam

muito mais tempo para serem executadas do que a assinatura de um novo contrato,

diferentemente dos da década de 1970, quando tudo era mais lento.

Para atender a essa nova demanda, um dos critérios a serem revistos são os de

espaço. Novos padrões e conceitos estão sendo requeridos e já começaram a ser

implantados.

Veremos a seguir os padrões de espaço e os conceitos de ocupação utilizados

atualmente, e eventualmente fazer referência aos conceitos antigos ou novos. Na seqüência

veremos alguns escritórios paradigmáticos da empresa no mundo e no Brasil.