Características fonológicas do latim vulgar

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/14/2019 Caractersticas fonolgicas do latim vulgar

    1/6

    Caractersticas fonolgicas do latim vulgar

    1. A acentuao e os vocalismosa. Quanto durao

    A durao no latim era uma caracterstica fonolgica que servia para distinguir

    palavras ou morfemas gramaticais, por exemplo, servia para distinguir ppulum (povo) e

    ppulum (choupo). Quando houve a separao do latim literrio e do latim vulgar a durao

    se associou a diferenas de abertura, por analogia o mesmo ocorreu com as demais vogais.

    b. Quanto s mudanasJunto perda da durao, caiu tambm o acento tonal do latim literrio que foi

    substitudo pelo acento tnico.

    No latim clssico quando a penltima silaba era breve, a palavra seria proparoxtona,se fosse longa, a palavra seria paroxtona.

    Com o surgimento do acento de intensidade pudemos perceber duas tendncias

    fundamentais na evoluo e formao das lnguas romnicas.

    i. O inventrio dos fonemas voclicos tende a reduzir-se quando se compara a posiotnica com a tona. Como exemplo, temos a perda da distino fontica entre os

    vrios timbre de e e o.

    e breve Terrenu

    e longo /E/ Securus

    i breve Plicare

    o breve Operare

    o longo /O/ Coperare

    ubreve Lucrare

    [ILARI, 1992]

    ii. Tendncia de as vogais tonas carem, tanto em posio pr-tnica quanto ps-tnica.speculum > speclum

    iugulus > iuglus

    articulus > articlus [exemplos retirados de Appendix Probi]

    c. Quanto mtricaCom a perda da tonicidade voclica, desaparece obviamente a possibilidade de uma

    poesia baseada na durao das slabas, como foi a poesia do latim literrio. A mtrica

    romnica recorrer, ao invs disso, a uma contagem de slabas que se faz at a ltima silaba

    tnica, e a uma distribuio estratgica dos acentos tnicos no verso. A rima, que pareceu

  • 8/14/2019 Caractersticas fonolgicas do latim vulgar

    2/6

    numa certa poca to intrinsecamente associada noo de poesia, aparece inicialmente nos

    cnticos cristos como um recurso mnemnico [ILARI, 1992]

    2. Os ditongosNo latim clssico havia trs ditongos de origem latina, ae, au e oe, e um de origemgrega eu. Enquanto no latim vulgar esses quatro ditongos aparecem reduzidos a uma nica

    vogal.

    Latim clssico caelu Latim vulgar clu

    quaerit qurit

    poena pena

    auricula oricla

    [ILARI, 1992]

    Alm deste fenmeno, novos ditongos poderiam aparecer pela queda de consoantes

    intervoclicas ou pela vocalizao de consoantes.

    Latim clssico amauit Latim vulgar amawt

    [ILARI, 1992]

    3. Os hiatosHavia vrios hiatos em latim clssico, dos hiatos formados por vogais semelhantes,

    correspondeu-se em latim vulgar, a uma nica vogal.

    Onde no latim clssico havia hiatos formados por e, i + vogal ou o, ou u + vogal, no

    latim vulgar se semiconsoantizou a primeira vogal, surgindo i-semivogal e u-semivogal.

    Latim clssico cave-a Latim vulgar cavja

    line-a linja

    coagulare cwagulare

    foli-a folja (i-semivogal emditongo)

    [ILARI, 1992]

    4. As consoantes do latim vulgar: as mudanasa. Palatalizao das velares

    Gaius, gens, Regina, Cicero,cato e censor. Os sons velares que o latim clssico

    representava por c e g, seja diante de a, o, uou diante de e e i, eram os mesmos. J no latim

    vulgar, a pronuncia dessas velares passou a ser palatal diante de vogais anteriores (e e i).

    k (e, i) > kj (e, i)

    g (e, i) > gj (e, i)

    Latim clssico quinque

    Latim vulgar cinque

    [ILARI, 1992]

  • 8/14/2019 Caractersticas fonolgicas do latim vulgar

    3/6

    b. a perda do apndice labial nas labiovelaresAs consoantes labiovelares (qu, gu) passam a velares ou palatais antes de o, de u e de

    i-semivogal. Mantendo o apndice labiovelar antes de e, i e a.

    Latim clssico Latim vulgarquinque cinque

    quaerit quere

    [ILARI, 1992]

    c. a africao da labial sonoraA consoante b passa a vem posio intervoclica e se mantm estvel em posio

    inicial.

    probare caballu

    [ILARI, 1992]

    d. o desenvolvimento de uma consoante palatal, a partir de i-semivogalO i-semivogalpassa a adquirir uma pronncia palatal, confundindo-se com a pronncia

    de g(e,i).

    Iunu maius

    Iuppiter peius

    [FARIA, 1957]

    e. a transformao do u-semivogalA partir do u-semivogaldesenvolve-se a fricativa labiodental v, que no havia no latim

    clssico.

    Latim clssico Latim vulgar

    uinu vinu

    [ILARI, 1992]

    f. a queda do hA consoante h, que era aspirada, desapareceu do latim, embora ainda esteja presente

    nas reconstrues eruditas feitas pelas lnguas romnicas. Vale notar que apesar da

    reconstruo, ele no aspirado, muito menos pronunciado.

    Latim clssico Latim vulgar

    herba erba

    homine omene

    [ILARI, 1992]

    g. sonorizao das oclusivas surdas intervoclicasEsse processo de sonorizao das oclusivas surdas intervoclicas levou, em certos

    casos, formao de fricativas ou queda completa daquela consoante.

  • 8/14/2019 Caractersticas fonolgicas do latim vulgar

    4/6

    Latim vulgar jocat ripa maturu

    [ILARI, 1992]

    h. queda das consoantes finaisH a queda das consoantes m e n, com exceo dos monosslabos; h a mettese da

    consoante r final; e a queda do t das terminaes da terceira pessoa, este em algumas regies.

    Hominem > omene Quattuor > quattro

    [ILARI, 1992]

    5. As consoantes do latim vulgar: as geminadasEm latim clssico, grafavam-se como geminadas aquelas consoantes que se

    pronunciavam por um perodo mais longo.

    No latim vulgar manteve-se essa distino entre as consoantes geminada e as simples,

    tanto que as mudanas que foram descritas acima no ocorreram com as consoantes

    geminadas.

    atta buccae uorrus

    [FARIA 1959]

    6. As consoantes do latim vulgar: grupos consonantaisa. grupos iniciais de s (c, t oup)

    Palavras iniciadas nessas condies, em geral, desenvolvem um i prottico.

    Latim clssico Latim vulgar

    scribere iscrebere

    [ILARI, 1992]

    b. grupos de consoante + l ou rOs grupos formados de oclusiva mais a vibrante r,ou de oclusiva bilabial mais a consoante l, ou

    de velar mais l, em geral, permaneceram intactos.

    quadraginta agrestis blandus

    abruptum clamo plenus

    [FARIA 1959]

    c. grupos de consoante +jOs grupos tj,kj, dj, gj, lj, nj tambm possuam pronuncias marcadamente palatais.

    minatia iuniu

    diurno folia

    [ILARI, 1992]

    d. grupos de consoante + dental

  • 8/14/2019 Caractersticas fonolgicas do latim vulgar

    5/6

    Os grupospt, ct, cs, gn, mn, rs, ns tendem a se desfazer pela perda da consoante inicial que

    pode assimilar-se a segunda, se vocalizar ou cair.

    fructa strictu

    derectu septe

    [ILARI, 1992]

  • 8/14/2019 Caractersticas fonolgicas do latim vulgar

    6/6

    Referncias

    FARIA, E. Fontica histrica do latim. 2. ed. Rio de Janeiro: Livraria Acadmica, 1957.

    FARIA, E. Gramtica superior da lngua latina.Rio de Janeiro: Livraria Acadmica, 1959.

    FUNARI, P. P. A. Letras e coisas:ensaios sobre a cultura romana. Campinas: UNICAMP, 2002.

    FURLAN, O. A. Lngua e literatura latina e sua derivao portuguesa. Petrpolis: Vozes, 2006.

    ILARI, R. Lingustica Romnica.So Paulo: tica, 1992.