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LEONARDO FARIA MARTINS CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE Penicillium echinulatum Dissertação apresentada ao Programa de Pós–Graduação em Química, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Química, Sub-Área. Química Orgânica. Orientador: Prof. Dr. Luiz Pereira Ramos CURITIBA 2005

CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

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LEONARDO FARIA MARTINS

CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE Penicillium

echinulatum

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós–Graduação em Química, Universidade

Federal do Paraná, como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre em Química,

Sub-Área. Química Orgânica.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Pereira Ramos

CURITIBA

2005

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Aos meus irmãos, Leandro Faria Martins e Bruna Faria Martins.

Aos meus pais, José Soares Martins e Olga Maria Faria Martins.

A minha namorada, Juliana Flávia Ferreira.

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“... hoje o céu está pesado, vem chegando temporal

nuvens negra do passado, delirante flor do mal

cometemos o pecado de não saber perdoar

sempre olhando para o mesmo lado feito estátuas de sal

hoje o tempo escorre dos dedos das nossas mãos

ele não devolve o tempo perdido em vão

é um mensageiro das almas dos que virão ao mundo

depois de nós...”.

Carlos Maltz – Depois de Nós

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ...................................................................................................... vii

LISTA DE FIGURAS......................................................................................................... ix

LISTA DE TABELAS...................................................................................................... xiv

ABSTRACT....................................................................................................................... xv

RESUMO......................................................................................................................... xvii

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1

2 OBJETIVO................................................................................................................... 4

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................... 5

3.1 A PAREDE CELULAR........................................................................................ 5

3.2 HIDRÓLISE ENZIMÁTICA.............................................................................. 21

3.3 CELULASES ...................................................................................................... 22

3.4 CELULASES DE Trichoderma reesei ............................................................... 30

3.5 CELULASES DE Penicillium sp........................................................................ 35

3.6 MODELOS TÍPICOS DE SUBSTRATOS PARA ESTUDO DE CELULASES

.............................................................................................................................36

4 MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 44

4.1 ENZIMAS........................................................................................................... 44

4.2 PRODUÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE P. echinulatum ............... 44

4.3 PRECIPITAÇÃO DAS PROTEÍNAS................................................................ 45

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4.4 DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS PELO

MÉTODO DE BRADFORD (1976).............................................................................. 46

4.5 DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS PELO

MÉTODO DE LOWRY (GHOSE, 1986)...................................................................... 47

4.6 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL CATALÍTICO DAS ENZIMAS .............. 48

4.7 DETERMINAÇÃO DOS AÇÚCARES REDUTORES..................................... 49

4.8 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE CELULÁSICA TOTAL....................... 51

4.9 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ENDOGLUCANÁSICA...................... 52

4.10 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE XILANÁSICA. .................................... 54

4.11 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE β-GLUCOSIDÁSICA .......................... 55

4.12 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE CELOBIÁSICA ................................... 56

4.13 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE CELOBIOIDROLÁSICA. ................... 56

4.14 ANÁLISES CROMATOGRÁFICAS ................................................................ 57

4.15 HIDRÓLISE DE SUBSTRATOS CELULÓSICOS .......................................... 59

4.16 ANALISE DAS POLPAS PARCIALMENTE HIDROLISADAS POR GPC. . 60

4.17 ESTUDO COMPARATIVO .............................................................................. 63

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 64

5.1 ESCOLHA DO SISTEMA TAMPONANTE..................................................... 64

5.2 DETERMINAÇÃO DAS PROTEÍNAS............................................................. 65

5.3 ATIVIDADE CONTRA SUBSTRATOS-MODELO ........................................ 67

5.4 HIDRÓLISE DE SUBSTRATOS CELULÓSICOS .......................................... 77

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5.5 ADIÇÃO DE β-GLUCOSIDASE ...................................................................... 87

5.6 ESTABILIDADE DAS ENZIMAS.................................................................... 95

5.7 ESTUDOS DE ADSORÇÃO ............................................................................. 98

5.8 AVALIAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DAS MASSAS MOLARES................. 100

6 CONCLUSÃO.......................................................................................................... 108

7 TRABALHOS FUTUROS....................................................................................... 110

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 111

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof Luiz Pereira Ramos pela orientação, amizade, conselhos, apoio e

dedicação, principalmente, nos momentos de maior necessidade.

Aos colaboradores deste projeto pertencentes a UCS (Universidade de Caxias do

Sul), Prof. Aldo J. P. Dillon, Marli Camassola e Anderson Vizentin, que foram

responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me

receberam de maneira muito gentil, quando passei duas semanas na UCS conhecendo as

metodologias utilizadas pelo grupo.

À Novozymes Latin América (Araucária, PR), pelo fornecimento da preparação

celulásica denominada Celluclast 1.5 L FG®, utilizada neste trabalho.

Ao CNPq, pelo apoio financeiro ao laboratório.

À CAPES, pela concessão da bolsa de estudos.

A todos os amigos e colegas do Laboratório de Química de Fitobiomassas que

estiveram comigo durante essa etapa de minha vida: Emir B. Saad, Thiago A. Silva,

Anderson K. Domingos, Karla T. Kucek, Daniel Kolling, Ricardo Brugnago, Leonardo

Sabariego e Claudinei S. Cordeiro.

Aos amigos do Laboratório de Tecnologia Enzimática e Biocatálise, pelo grande

companheirismo e amizade que iniciou na época em que trabalhamos juntos, quando fui

aluno de iniciação científica e comecei a me interessar pelos processos biotecnológicos, e

que dura até os dias de hoje com muitas conversas de caráter científico e, também, com

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momentos de muita descontração: Marcelo Muller, Alessandra Baron, Maria Luiza

Fernandes, Joel Meira e Valéria Lima, que hoje se encontra na UEL (Universidade

Estadual de Londrina).

A todos os amigos e colegas do Departamento de Química da UFPR,

principalmente o Pedro Camargo, José Villar, Cristiano Navarini, Fernando Ferraz, Sérgio

Umberto, Alexandre Kimura, Carlos Hauptman e o Prof Aluízio de Abreu Marcondes.

Amigos para toda a hora, desde música até o futebol, passando por um pouco de química,

também.

À coordenação do Programa de Pós-graduação em Química da UFPR e a todas as

outras pessoas que, de maneira direta ou indireta, fizeram parte integrante deste processo.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UMA CÉLULA VEGETAL (FENGEL E

WEGENER, 1989)............................................................................................................... 6

FIGURA 2 LOCALIZAÇÃO, NA PAREDE CELULAR, DA LAMELA MÉDIA (LM), DA

PAREDE PRIMÁRIA (PP) E DA PAREDE SECUNDÁRIA (PS), COM SUAS

LAMELAS CONSTITUINTES, S1, S2 E S3 (FENGEL E WEGENER, 1989)................ 7

FIGURA 3 UNIDADES DE D-GLUCOSE NAS FORMAS LINEAR E DE ANEL

HEMIACETÁLICO, EM CONFORMAÇÃO DE CADEIRA 4C1 (SOLOMONS, 1996).. 8

FIGURA 4 FORMAÇÃO DA LIGAÇÃO GLICOSÍDICA ENTRE DUAS UNIDADES DE β-D-

GLUCOSE, PRODUZINDO A CELOBIOSE (SOLOMONS, 1996)............. 9

FIGURA 5 REPRESENTAÇÃO DA CADEIA LINEAR DA CELULOSE, FORMADA POR

VÁRIAS UNIDADES CONSECUTIVAS DE CELOBIOSE (TÍMÁR-BALÁZSY E

EASTOP, 1998)................................................................................ 9

FIGURA 6 FORMAÇÃO DAS LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO NA ESTRUTURA

SUPRAMOLECULAR DA CELULOSE............................................................................ 11

FIGURA 7 FORMAS ALOMÓRFICAS DA CELULOSE................................................................... 12

FIGURA 8 ASSOCIAÇÃO DOS COMPONENTES DA PAREDE CELULAR. (1) ESQUELETO

DA CADEIA DE CELULOSE, COM A INDICAÇÃO DO COMPRIMENTO DA SUA

UNIDADE ESTRUTURAL BÁSICA, A CELOBIOSE; (2) ARRANJO DAS

CADEIAS DE CELULOSE NA FORMAÇÃO DA FIBRILA ELEMENTAR; (3)

CRISTALITO DE CELULOSE; (4) SECÇÃO TRANSVERSAL DA MICROFIBRILA

DA CELULOSE, MOSTRANDO CRISTALITOS DE CELULOSE EMBEBIDOS NA

MATRIZ DE HEMICELULOSE E PROTOLIGNINA (RAMOS, 2003).......................... 14

FIGURA 9 MONOSSACARÍDEOS CONSTITUINTES DAS HEMICELULOSES. D-GLUCOSE

(1), D-GALACTOSE (2), L-ARABINOSE (3), D-XILOSE (4), D-MANOSE (5), 4-O-

METIL-D-GLUCURÔNICO (6) E L-RAMNOSE (7) (SJÖSTRÖM,

1992).................................................................................................................................... 16

FIGURA 10 ESTRUTURA DA LIGNINA DE Fagus sp (FENGEL E WEGENER, 1989)............... 18

FIGURA 11 ESTRUTURA DOS ÁLCOOIS PRECURSORES DA LIGNINA (SJÖSTRÖM, 1992)... 19

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FIGURA 12 MODO DE AÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE T.

reesei.................................................................................................................................... 23

FIGURA 13 SÍTIO ATIVO EM FORMA DE CHAVE DAS ENDOGLUCANASES, QUE

PERMITE O ACESSO AO LONGO DE UMA CADEIA DE CELULOSE...................... 25

FIGURA 14 MODO DE AÇÃO PROGRESSIVA DA CELOBIOIDROLASE I (CBH I) DE T. reesei

(DIVNE et al, 1994)............................................................................................................ 26

FIGURA 15 MECANISMO DA HIDRÓLISE DA LIGAÇÃO GLICOSÍDICA COM A INVERSÃO

DE CONFIGURAÇÃO DO CARBONO ANOMÉRICO (RÄTTÖ, 1997)........................ 29

FIGURA 16 MECANISMO DA HIDRÓLISE DA LIGAÇÃO GLICOSÍDICA COM A RETENÇÃO

DE CONFIGURAÇÃO DO CARBONO ANOMÉRICO (RÄTTÖ, 1997)........................ 30

FIGURA 17 CELOBIOIDROLASES DE T. reesei. CBH I QUE ATUA NA EXTREMIDADE

REDUTORA DA CADEIA DE CELULOSE E A CBH II QUE ATUA NA

EXTREMIDADE NÃO REDUTORA (HARRIS, 2005).................................................... 32

FIGURA 18 SINERGISMO ENTRE AS ENDOGLUCANASES E AS CELOBIOIDROLASES DE

T. reesei. AS ENDOGLUCANASES ATUAM AO LONGO DA CADEIA, GERANDO

NOVOS SÍTIOS DE ATAQUE PARA AS CELOBIOIDROLASES (CORTESIA DE

MATTI SIIKA-AHO, VTT BIOTECHNOLOGY, FINLÂNDIA).......... 33

FIGURA 19 ESTRUTURA DO CORANTE COOMASSIE BRILLIANT BLUE BG-250.................... 46

FIGURA 20 CROMATOGRATOGRAFIA DE TROCA IÔNICA DOS PADRÕES DE

CARBOIDRATOS. ORDEM CRESCENTE DE ELUIÇÃO: CELOBIOSE, GLUCOSE,

XILOSE E ARABINOSE.................................................................................................... 56

FIGURA 21 REAÇÃO DE AÇÚCARES REDUTORES COM O ÁCIDO 3,5-DINITRO-

SALICÍLICO....................................................................................................................... 58

FIGURA 22 CURVA DE CALIBRAÇÃO UTILIZADA NA DETERMINAÇÃO DAS MASSAS

MOLARES DAS POLPAS CELULÓSICAS PARCIALMENTE HIDROLISADAS....... 61

FIGURA 23 COMPARAÇÃO DAS ATIVIDADES CONTRA PAPEL DE FILTRO DE

COMPLEXOS CELULÁSICOS DE T. reesei E P. echinulatum, DETERMINADAS

EM (█) TAMPÃO CITRATO 50 mmol/L, pH 4,8 (█) E TAMPÃO ACETATO 50

mmol/L, pH 4,8.................................................................................................................... 63

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FIGURA 24 QUANTIDADE DE CELOBIOSE (█), GLUCOSE (█), CELOBIOSE + GLUCOSE

(█) E RAZÃO CELOBIOSE/GLUCOSE (█) NOS HIDROLISADOS PRODUZIDOS

PELO (A) P. echinulatum, (B) T. reesei E (C) P. echinulatum CORRIGIDO PARA A

MESMA RAZÃO MOLAR CELOBIOSE/GLUCOSE APRESENTADA NOS

HIDROLISADOS DE T. reesei........................................................................................... 73

FIGURA 25 PORCENTAGEM DE GLUCOSE ( █ ) E CELOBIOSE ( █ ) NOS HIDROLISADOS

DO PAPEL DE FILTRO..................................................................................................... 74

FIGURA 26 HIDRÓLISE DE POLPA KRAFT BRANQUEADA POR CELULASES DE P.

echinulatum (□) E DE T. reesei (○) A UMA CARGA ENZIMÁTICA DE 15 E 11

UPF/g DE SUBSTRATO, RESPECTIVAMENTE............................................................ 76

FIGURA 27 QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (□), CELOBIOSE (○) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (∆) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO T. reesei COM ATIVIDADE

DE 11 UPF/g DE SUBSTRATO SECO DURANTE A HIDRÓLISE DA POLPA

KRAFT BRANQUEADA................................................................................................... 78

FIGURA 28 QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (■), CELOBIOSE (●) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (▲) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO P. echinulatum COM

ATIVIDADE DE 15 UPF/g DE SUBSTRATO SECO DURANTE A HIDRÓLISE DA

POLPA KRAFT BRANQUEADA...................................................................................... 79

FIGURA 29 HIDRÓLISE DE POLPA KRAFT NÃO BRANQUEADA POR CELULASES DE P.

echinulatum (■) E DE T. reesei (●) A UMA CARGA ENZIMÁTICA DE 15 E 11

UPF/g DE SUBSTRATO, RESPECTIVAMENTE............................................................ 80

FIGURA 30 QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (□), CELOBIOSE (○) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (∆) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO T. reesei COM ATIVIDADE

DE 11 UPF/g DE SUBSTRATO SECO DURANTE A HIDRÓLISE DA POLPA

KRAFT NÃO BRANQUEADA A 4% (m/v)...................................................................... 81

FIGURA 31 QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (■), CELOBIOSE (●) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (▲) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO P. echinulatum COM

ATIVIDADE DE 15 UPF/g DE SUBSTRATO SECO DURANTE A HIDRÓLISE DA

POLPA KRAFT NÃO BRANQUEADA A 4% (m/v)........................................................ 82

FIGURA 32 PORCENTAGEM DE GLUCOSE ( █ ) E CELOBIOSE ( █ ) PRODUZIDAS

DURANTE A HIDRÓLISE DE POLPA KRAFT BRANQUEADA (A) E NÃO 84

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BRANQUEADA (B) PELO T. reesei E HIDRÓLISE DE POLPAS KRAFT

BRANQUEADA (C) E NÃO BRANQUEADA (D) PELO P. echinulatum......................

FIGURA 33 HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT BRANQUEADA (○) E DA SIGMACELL® TIPO 50

(□) PELO P. echinulatum A UM CARGA ENZIMÁTICA DE 5,5 UPF/g E DE 6,3

UΒG/g EM RELAÇÃO AO SUBSTRATO SECO............................................................ 86

FIGURA 34 QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (○), CELOBIOSE (□) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (∆), PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO P. echinulatum, DURANTE A

HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT BRANQUEADA A 2% (m/v)..................................... 87

FIGURA 35 QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (○), CELOBIOSE (□) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (∆) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO P. echinulatum, DURANTE A

HIDRÓLISE DA SIGMACELL® TIPO 50 A 2% (m/v)..................................................... 88

FIGURA 36 HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT BRANQUEADA (●) E DA SIGMACELL® TIPO 50

(■) PELO T. reesei, A UM CARGA ENZIMÁTICA DE 11,5 UPF/g E DE 13,2 UΒG/g

EM RELAÇÃO AO SUBSTRATO SECO.........................................................................

89

FIGURA 37 QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (●), CELOBIOSE (■) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (▲) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO T. reesei, DURANTE A

HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT BRANQUEADA A 2% (m/v).................................... 90

FIGURA 38 QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (●), CELOBIOSE (■) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (▲) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO T. reesei, DURANTE A

HIDRÓLISE DA SIGMACELL® TIPO 50 A 2% (m/v) .................................................... 91

FIGURA 39 HIDRÓLISE DA SIGMACELL® TIPO 50 EM CONCENTRAÇÃO DE 2%(m/v) POR

P. echinulatum (■) E T. reesei + NOVOZYM 188® (●), A UMA CARGA

ENZIMÁTICA DE 10 UPF/g E 11,5 UΒG/g DE SUBSTRATO SECO............................ 92

FIGURA 40 VARIAÇÃO DOS ART PRODUZIDOS NA HIDRÓLISE DO PAPEL DE FILTRO

POR P. echinulatum (■) E T. reesei (●)EM CONDIÇÕES EXPERIMENTAIS DE

HIDRÓLISE........................................................................................................................ 93

FIGURA 41 VARIAÇÃO DA ATIVIDADE β-GLUCOSIDÁSICA CONTRA pNPG DAS

ENZIMAS DE P. echinulatuM (■) E T. reesei (●)............................................................. 94

FIGURA 42 VARIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS DURANTE O

EXPERIMENTO DE HIDRÓLISE. (◊) T. reesei SUPLEMENTADO COM β-

GLUCOSIDASES EXÓGENAS E (■) P. echinulatum...................................................... 95

FIGURA 43 PERCENTAGEM DAS PROTEÍNAS REMANESCENTES NO MEIO REACIONAL

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DURANTE A HIDRÓLISE A 2% (m/v) DA POLPA KRAFT BRANQUEADA. T.

reesei (□), P. echinulatum (▲) E T. reesei + β-GLUCOSIDASE (■)................................

97

FIGURA 44 SACARIFICAÇÃO DA POLPA KRAFT BRANQUEADA A 2% (m/v) POR

CELULASES DE P. echinulatum (10 UPF/g E 11,4 UβG/g) (▲), T. reesei (10 UPF/g E

3,9 UβG/g) (■) E T. reesei + NOVOZYM 188® (10 UPF/g E 11,4 UβG/g) (♦)............... 99

FIGURA 45 INFLUÊNCIA DO COMPLEXO CELULÁSICO DE P. echinulatum SOBRE O GRAU

DE POLIMERIZAÇÃO DA POLPA KRAFT BRANQUEADA, HIDROLISADA A

UMA CONSISTÊNCIA DE 2% (m/v). POLPA ORIGINAL (─), 2H (─), 10H (─), 24H

(─) E 48H (─)...................................................................................................................... 103

FIGURA 46 INFLUÊNCIA DO COMPLEXO CELULÁSICO DE T. reesei SOBRE O GRAU DE

POLIMERIZAÇÃO DA POLPA KRAFT BRANQUEADA, HIDROLISADA A UMA

CONSISTÊNCIA DE 2% (m/v). POLPA ORIGINAL (─), 2H (─), 10H (─), 24H (─) E

48H (─)................................................................................................................................ 104

FIGURA 47 INFLUÊNCIA DO COMPLEXO CELULÁSICO DE T. reesei SUPLEMENTADO

COM Β-GLUCOSIDASES EXÓGENAS SOBRE O GRAU DE POLIMERIZAÇÃO

DA POLPA KRAFT BRANQUEADA, HIDROLISADA A UMA CONSISTÊNCIA

DE 2% (m/v). POLPA ORIGINAL (─), 2H (─), 10H (─), 24H (─) E 48H (─) ............... 105

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS DOS COMPLEXOS CELULÁSICOS................ 66

TABELA 2 ATIVIDADES VOLUMÉTRICAS ABSOLUTAS E POR UNIDADE DE PROTEÍNA. 67

TABELA 3 ATIVIDADES VOLUMÉTRICAS EM RELAÇÃO À ATIVIDADE CONTRA PAPEL

DE FILTRO........................................................................................................................ 70

TABELA 4 RENDIMENTO DE HIDRÓLISE E EFEITO DOS COMPLEXOS CELULÁSICOS

SOBRE O GRAU DE POLIMERIZAÇÃO DA POLPA KRAFT BRANQUEADA........ 101

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ABSTRACT

Penicillium echinulatum has been identified as a potential cellulase producer for

bioconversion processes. However, its cellulase system has never been investigated in

detail. In this work, the volumetric activities of cellulases from P. echinulatum were

determined against substrates such as filter paper (0.27 U/mL), carboxymethylcellulose

(1.53 U/mL), hydroxyethylcellulose (4.68 U/mL), birchwood xylan (3.16 U/mL), oat spelt

xylan (3.29 U/mL), Sigmacell type 50 (0.10 U/mL), cellobiose (0.19 U/mL), and p-

nitrophenyl-glucopiranoside (0.31 U/mL). These values were then expressed in relation to

the amount of protein and compared with the activity profile of Celluclast 1.5L FG

(Novozymes). Our results have shown that both enzyme complexes have similar total

cellulase and xylanase activities. Analysis of substrate hydrolysates demonstrated that P.

echinulatum enzymes have higher β-glucosidase activity than Celluclast 1.5L FG, while

the latter enzyme system has greater cellobiohydrolase activity. Hydrolysis experiments

also demonstrated that the P. echinulatum system is advantageous for the saccharification

of cellulose substrates because it has enough β-glucosidase activity to remove the

cellobiose produced in the reaction medium. However, the cellulase complex from T.

reesei became more efficient than P. echinulatum enzymes when it was supplemented

with exogenous β-glucosidase activity (Novozym 188, Novozymes). Both cellulase

complexes displayed the same influence over the degree of polymerization of cellulose,

revealing that hydrolyses were carried out under the typical endo-exo synergism of fungal

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enzymes, promoting the progressive peeling of cellulose molecules from the surface of

the substrate without accumulating any detectable short cellooligomers in the hydrolysis

mixture.

Keywords: Penicillium echinulatum, Celluclast 1.5L FG, cellulases, activity

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RESUMO

O fungo filamentoso Penicillium echinulatum foi recentemente identificado como um

bom produtor de celulases. No entanto, o seu complexo celulásico jamais foi estudado em

detalhes. Neste trabalho, as atividades das celulases de P. echinulatum foram

determinadas e comparadas ao complexo celulolítico de Trichoderma reesei (Celluclast

1.5L FG, Novozymes), empregando substratos como papel de filtro, carboximetilcelulose,

hidroxietilcelulose, xilana de madeira de vidoeiro, xilana de endoderma de aveia,

Sigmacell tipo 50, celobiose e p-nitrofenil-glucopiranosídeo. Além disso, foram

realizados experimentos de hidrólise com diferentes tipos de substratos para avaliar

comparativamente a eficiência de sacarificação dos complexos celulásicos, a importância

da presença de β-glucosidases, a estabilidade das enzimas nas condições operacionais, o

perfil de adsorção protéica durante a hidrólise e, também, a influência da hidrólise sobre o

grau de polimerização (GP) do substrato. Em linhas gerais, estes complexos apresentaram

atividades celulásica total e xilanásica semelhantes. Porém, a análise dos hidrolisados

enzimáticos demonstrou que o complexo de T. reesei possui maior atividade

celobioidrolásica, enquanto o complexo de P. echinulatum apresenta atividade β-

glucosidásica superior. Experimentos de hidrólise também demonstraram que o complexo

de P. echinulatum é vantajoso para a sacarificação de substratos celulósicos, pois possui

atividade β-glucosidásica suficiente para remover a celobiose produzida no meio

reacional. Porém, o complexo celulásico de T. reesei tornou-se um sistema mais completo

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e eficiente quando foi suplementado com atividade β-glucosidásica exógena (Novozym

188, Novozymes). Finalmente, a determinação do efeito da hidrólise enzimática sobre o

GP da celulose demonstrou que os dois complexos celulásicos exercem suas atividades

hidrolíticas sobre o substrato de forma semelhante, através de um mecanismo progressivo

e sinérgico, removendo camadas de celulose da superfície do substrato sem permitir o

acúmulo de oligômeros de massa molar intermediária.

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1 INTRODUÇÃO

A celulose é o composto orgânico mais abundante da Terra e a maior parte da

celulose utilizada na indústria provém da madeira (40% a 50% de celulose) e das fibras

do algodão (98% de celulose) (Medve, 1997). É o principal elemento estrutural da parede

celular das plantas superiores e ocorre em forte associação com os outros dois principais

componentes da parede celular, a hemicelulose e a lignina. Essa forte associação faz com

que sejam limitadas as aplicações de materiais lignocelulósicos como fonte renovável

para a produção de biomoléculas e produtos químicos. Por isso, é de vital importância a

identificação das razões que justificam a alta resistência destes materiais a processos

biológicos como a hidrólise enzimática e a fermentação (Ramos, 2003).

A celulose é sintetizada por todas as plantas superiores, por certas bactérias e por

alguns protozoários. Estima-se que somente as plantas superiores produzam anualmente

cerca de 4x1010 toneladas deste biopolímero, o que representa cerca de 2,5% das 7x1011

toneladas de carbono produzidas na biosfera. Portanto, a biodegradação da celulose tem

um enorme impacto sobre o equilíbrio natural do ciclo do carbono (Medve, 1997).

Nas últimas décadas, o emprego de recursos renováveis tem aumentado

significativamente em uma grande variedade de processos industriais. Como resultado

destas atividades, a quantidade de resíduos industriais derivados da fitobiomassa tem

aumentado, a ponto de atingir 40% dos detritos sólidos gerados em municípios norte-

americanos. Portanto, encontrar um destino apropriado para estes resíduos tem se tornado

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2

prioritário para economias em desenvolvimento e, dentre uma variedade de alternativas

propostas até o momento, muita atenção tem sido dada ao aproveitamento de hidrolisados

de fitobiomassa (celulose) para a produção de etanol e solventes orgânicos (Medve,

1997). Nesse caso, estudos têm sido conduzidos para verificar a viabilidade da

sacarificação via hidrólise enzimática, utilizando majoritariamente os complexos

celulásicos produzidos por fungos filamentosos como o Trichoderma reesei (Palonen et

al, 2004; Sharma et al, 2002; Pere et al, 2001; Ortega et al, 2000; Ramos, 1993a, 1999).

Atualmente, as celulases vêm sendo aplicadas como biocatalisadores em uma

série de processos industriais, como na clarificação de sucos (indústria de alimentos), na

formulação de ração para animais e na produção de detergentes e amaciantes para roupas.

Porém, estas enzimas encontram aplicações ainda mais interessantes nas indústrias têxtil e

de papel e celulose, em substituição à estonagem e/ou biopolimento de denim (Cavaco-

Paulo, 1997; Andreaus et al, 2000), na modificação das propriedades processuais das

fibras celulósicas comerciais (Mansfield et al, 1996) e na reciclagem de papel ofício, onde

atuam eficientemente na remoção de tintas e "toners" de impressão da superfície de fibras

recicláveis (Jeffries et al, 1994). Nestes casos, não é obviamente desejada a sacarificação

extensiva da celulose, mas sim a ação superficial que gere o efeito desejado. Por esta

razão, a investigação da composição centesimal de preparações celulásicas comerciais

e/ou experimentais é de suma importância.

Outros fungos de ocorrência natural também apresentam complexos enzimáticos

capazes de degradar eficientemente a celulose, quer nativa ou pré-tratada. Dentre eles

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3

podem ser citados o Humicola insolens, H. grisea, T. viride, Aspergillus niger,

Penicillium brasilianum e P. echinulatum. Os fungos do gênero Penicillium, embora

pouco estudados, têm apresentado propriedades interessantes em comparação a outras

fontes destas enzimas, principalmente no que diz respeito à distribuição quantitativa dos

componentes enzimáticos no complexo celulásico. Neste contexto, o P. echinulatum

(Dillon et al, 1999; Camassola et al, 2004) é uma espécie que tem apresentado título

enzimático elevado em termos de atividade celulásica total. No entanto, este complexo

enzimático, jamais foi estudado em detalhes e a sua utilização na hidrólise enzimática de

substratos pré-tratados constitui um dos parâmetros de originalidade deste projeto.

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4

2 OBJETIVO

O objetivo principal deste projeto foi o de caracterizar o complexo celulásico

derivado de Penicillium echinulatum como um modelo alternativo para a condução de

processos de bioconversão de fitobiomassa residual via hidrólise enzimática.

Tal objetivo foi atingido através do desenvolvimento de um planejamento

experimental fundamentado nas seguintes etapas:

1. Determinação da atividade do complexo enzimático de P. echinulatum contra

diferentes substratos específicos;

2. Investigação do modo de ação catalítica do complexo enzimático sobre substratos

celulósicos quimicamente definidos;

3. Determinação do efeito da ação das hidrolases de P. echinulatum sobre as

propriedades e composição química de fibras celulósicas comerciais;

4. Desenvolvimento de um estudo comparativo entre os sistemas celulásicos de P.

echinulatum e de T. reesei, tomando como referência a preparação comercial

Celluclast 1.5L FG (Novozymes, Araucária, Brasil).

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5

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para uma melhor compreensão de como os complexos celulásicos agem, é

necessário conhecer a origem, composição química e organização estrutural dos materiais

que podem ser empregados como substratos para estas enzimas. Esta revisão bibliográfica

pretende mostrar a localização da celulose na parede celular vegetal, juntamente com os

outros dois componentes majoritários desta estrutura, a lignina e a hemicelulose.

Posteriormente, será descrito em detalhe o modo de ação das enzimas que compõem o

sistema celulásico de fungos filamentosos, particularmente os referentes aos fungos

Trichoderma reesei e Penicillium sp.. Finalmente, serão apresentados os diversos tipos de

substratos celulósicos e descritas as características químicas e supramoleculares que

influenciam o modo de ação e o sinergismo observado entre os diferentes tipos de

celulases.

3.1 A PAREDE CELULAR

Os tecidos vegetais são primariamente constituídos por células de parede celular

espessa, cujos formatos e dimensões variam entre as diferentes espécies de madeira

(Figura 1). A integridade estrutural do tecido da planta é atribuída à existência de uma

camada intermediária que une as células como um agente cimentante. Essa camada,

chamada de lamela média, é quase que inteiramente composta de lignina e, junto com

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6

duas paredes primárias adjacentes, forma a lamela média composta (Fengel e Wegener,

1989).

FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UMA CÉLULA VEGETAL (FENGEL E

WEGENER, 1989)

MEMBRANA CELULARCITOPLASMALAMELA MÉDIAPAREDE PRIMÁRIA

MEMBRANA CELULARCITOPLASMALAMELA MÉDIAPAREDE PRIMÁRIA

Em geral, a parede celular das plantas é subdividida em parede primária e

secundária. A distribuição de celulose, hemicelulose e lignina nessas camadas varia

consideravelmente. A parede primária é uma camada delgada, permeável e flexível em

tecidos fisiologicamente ativos (alburno), mas pode tornar-se altamente lignificada em

células do cerne. A parede secundária é formada por uma seqüência de três lamelas, S1,

S2, e S3, onde a camada central é normalmente mais espessa do que as outras. Como

resultado, a maioria das propriedades das fibras, particularmente aquelas que interessam à

indústria de papel e celulose, são derivadas das propriedades e integridade física dessa

camada (Fengel e Wegener, 1989) (Figura 2).

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7

FIGURA 2 - LOCALIZAÇÃO, NA PAREDE CELULAR, DA LAMELA MÉDIA (LM), DA PAREDE

PRIMÁRIA (PP) E DA PAREDE SECUNDÁRIA (PS), COM SUAS LAMELAS

CONSTITUINTES, S1, S2 E S3 (FENGEL E WEGENER, 1989)

3.1.1 Celulose

O principal componente das fibras vegetais é a celulose, que é o constituinte

básico da parede celular. Trata-se de um homopolissacarídeo de ocorrência natural,

composto por unidades de D-glucose (D-glucopiranose) unidas através de ligações

glicosídicas do tipo β-(1→4) (β-D-glucana), que é encontrado tanto em vegetais

primitivos quanto em plantas evoluídas.

A liberdade rotacional da cadeia linear da D-glucose permite que o carbono 1 seja

atacado pela hidroxila do carbono 5, em reação intramolecular que resulta na formação de

um hemiacetal. Após a reação de fechamento do anel, as hidroxilas do carbono anomérico

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8

(quiral) podem se encontrar na posição axial (α) ou equatorial (β), gerando o importante

princípio da anomericidade. Em solução aquosa, ocorre uma rápida e dinâmica

interconvenção entre essas duas formas, denominada de mutarrotação, mediante o qual é

atingido um equilíbrio entre as duas formas anoméricas da D-glucopiranose, sendo a β-D-

glucopiranose correspondente 62%, a α-D-glucopiranose a 38% e a forma aberta, a menos

de 0,5%. A Figura 3 apresenta a estrutura linear da D-glucose e os anômeros α e β da D-

glucopiranose.

FIGURA 3 - UNIDADES DE D-GLUCOSE NAS FORMAS LINEAR E DE ANEL

HEMIACETÁLICO, EM CONFORMAÇÃO DE CADEIRA 4C1 (SOLOMONS, 1996)

O

OHOH

OHOH

OH

O

OHOHOH

OH

OH

OH

OH

OH

OH

O

OH

anômero α anômero β

cadeia aberta

A celulose é biossintetizada a partir da união de unidades de D-glucose. A

hidroxila glicosídica do carbono 1 de uma unidade sofre reação de condensação com a

hidroxila do carbono 4 de outra unidade, formando a ligação glicosídica do tipo β-(1→4)

(Figura 4). Durante a biossíntese, diversas cadeias de celulose são sintetizadas

H2O H2O

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9

simultaneamente e de forma ordenada, buscando um arranjo supramolecular que confira

maior estabilidade ao agregado e, portanto, menor energia potencial. Este arranjo depende

de uma rede de ligações de hidrogênio cuja otimização provoca uma rotação de 180º da

segunda unidade de glucose em relação à primeira, e assim por diante. Portanto, a

celobiose é definida como unidade conformacional mínima da celulose, enquanto a

glucose representa tão somente a unidade fundamental das cadeias do homopolímero

(Tímár-Balázsy e Eastop, 1998; Medve, 1997) (Figura 5).

FIGURA 4 - FORMAÇÃO DA LIGAÇÃO GLICOSÍDICA ENTRE DUAS UNIDADES DE β-D-

GLUCOSE, PRODUZINDO A CELOBIOSE (SOLOMONS, 1996)

O

OHOH

OH

OHO

OHOOH

OH

OH

O

OHOHOH

OH

OH

+O

OHOH

OH

OHHO O

OHOH

OH

OHO

OHOOH

OH

OH

O

OHOHOH

OH

OH

+O

OHOH

OH

OHHO

FIGURA 5 - REPRESENTAÇÃO DA CADEIA LINEAR DA CELULOSE, FORMADA POR

VÁRIAS UNIDADES CONSECUTIVAS DE CELOBIOSE (TÍMÁR-BALÁZSY E

EASTOP, 1998)

O

OOH

OH

OHO

OHOOH

O

OH

O

OH

OH

OHO

OHOOH

OH

OH

O

OHOH

OH

OHO

OHOOH

O

OH

O

OH

OH

OHO

OHOOH

OH

celobiosen

O

OOH

OH

OHO

OHOOH

O

OH

O

OH

OH

OHO

OHOOH

OH

OH

O

OHOH

OH

OHO

OHOOH

O

OH

O

OH

OH

OHO

OHOOH

OH

O

OOH

OH

OHO

OHOOH

O

OH

O

OH

OH

OHO

OHOOH

OH

OH

O

OHOH

OH

OHO

OHOOH

O

OH

O

OH

OH

OHO

OHOOH

OH

celobiosen

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10

A cadeia macromolecular da celulose assume uma disposição linear devido a dois

fatores: a hidroxila no carbono anomérico possui orientação equatorial porque a

conformação em cadeira do anel piranosídico assume a disposição 4C1 e as ligações de

hidrogênio intra e intermoleculares estabilizam a orientação da cadeia (Fengel e Wegener,

1989). O tamanho ou extensão da cadeia de celulose é medido através de seu grau de

polimerização (GP), que representa o número de unidades de glucose que formam cada

cadeia polimérica. O GP da celulose varia de acordo com a fonte, o grau de maturação da

parede celular, o processamento a que as fibras foram submetidas e o seu envelhecimento.

O GP da celulose nativa na madeira é de cerca de 2500 unidades de anidroglucose,

enquanto que o GP do algodão é de aproximadamente 11000 unidades. Para o uso têxtil,

sugere-se que a celulose deva ter um GP maior do que 2000 unidades (Tímár-Balázsy e

Eastop, 1998).

Em sua estrutura supramolecular, a celulose apresenta regiões altamente

ordenadas, estabilizadas por numerosas ligações de hidrogênio intra e intermoleculares

(Figura 6), e áreas menos ordenadas ou amorfas, onde as cadeias apresentam uma

orientação randomizada (Fan et al., 1987). A proporção da parte cristalina em cadeias de

celulose é normalmente expressa em porcentagem (índice de cristalinidade ou CrI) e

depende da origem e processo de obtenção da celulose. A celulose produzida pela alga

Valonia macrophysa é praticamente 100% cristalina. Por outro lado, o substrato

considerado 100% amorfo (CrI = 0%) pode ser preparado pelo tratamento de celulose

microcristalina com ácido fosfórico xaroposo. Outras celuloses têm CrI intermediários,

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11

como, por exemplo, a celulose bacteriana (76%), o algodão (70%), a Avicel (46%) e

polpas alvejadas largamente utilizadas para a confecção do papel (50 a 60%) (Medve,

1997). Vários autores têm sugerido que a celulose amorfa, devido a sua maior área

superficial, é mais suscetível à hidrólise enzimática do que a forma ordenada ou cristalina.

Estudos de modelagem desenvolvidos por Coughlan (1985) demonstraram que sítios de

menor organização molecular, localizados na superfície da estrutura cristalina, são mais

suscetíveis ao ataque enzimático. No entanto, complexos enzimáticos produzidos por

vários microrganismos têm se demonstrado capazes de catalisar a hidrólise de celulose,

tanto cristalina quanto amorfa, em açúcares solúveis de baixa massa molar como a

glucose e a celobiose.

FIGURA 6 - FORMAÇÃO DAS LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO NA ESTRUTURA

SUPRAMOLECULAR DA CELULOSE

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A celulose nativa cristalina é constituída por duas formas alomórficas: a celulose

Iα (triclínica) e a celulose Iβxy (monoclínica) (Figura 7). As ligações de hidrogênio são

diferentes para cada forma, refletindo em diferentes propriedades físico-mecânicas

(Fengel e Wegener, 1989; Åkerholm et al, 2004).

FIGURA 7 - FORMAS ALOMÓRFICAS DA CELULOSE

Celobiose

Monoclínico Iβ

Triclínico Iα

0,62 nm / 0,53 nm

67º / 63º

Vários modelos têm sido propostos para explicar a estrutura interna da celulose

na parede celular. Devido à linearidade do esqueleto celulósico, cadeias adjacentes

formam um conjunto de agregados insolúveis em água de vários comprimentos e larguras,

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denominadas fibrilas elementares (D’Almeida, 1988). As forças latentes, responsáveis

pela estabilidade das regiões cristalinas, são basicamente o resultado de um grande

número de ligações de hidrogênio inter e intramoleculares. De acordo com Fengel e

Wegner (1989), diversas fibrilas elementares, com uma espessura média de 3,5 nm, se

associam uma com as outras formando cristalitos de celulose cujas dimensões dependem

da origem e do tratamento da amostra. Posteriormente, quatro desses agregados

cristalinos se unem através de uma monocamada de hemiceluloses, gerando estruturas de

25 nm que são envolvidas por uma matriz amorfa de hemicelulose e protolignina. O

composto natural que resulta dessa associação é chamado de microfibrila de celulose

(Figura 8).

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FIGURA 8 - ASSOCIAÇÃO DOS COMPONENTES DA PAREDE CELULAR. (1) ESQUELETO DA

CADEIA DE CELULOSE, COM A INDICAÇÃO DO COMPRIMENTO DA SUA

UNIDADE ESTRUTURAL BÁSICA, A CELOBIOSE; (2) ARRANJO DAS CADEIAS

DE CELULOSE NA FORMAÇÃO DA FIBRILA ELEMENTAR; (3) CRISTALITO DE

CELULOSE; (4) SECÇÃO TRANSVERSAL DA MICROFIBRILA DA CELULOSE,

MOSTRANDO CRISTALITOS DE CELULOSE EMBEBIDOS NA MATRIZ DE

HEMICELULOSE E PROTOLIGNINA (RAMOS, 2003)

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3.1.2 Hemiceluloses

As hemiceluloses são genericamente caracterizadas como uma família de

polissacarídeos presentes na parede celular vegetal. O termo hemicelulose foi

primeiramente utilizado para designar polissacarídeos precursores da celulose. Com a

evolução do conhecimento, constatou-se que isso não era verdadeiro e que as rotas

envolvidas na síntese desses dois polissacarídeos são distintas. Outra alternativa foi a de

considerar as hemiceluloses como polissacarídeos isolados da madeira em meio alcalino,

mas essa hipótese acabou apresentando pouca sustentação porque a água quente também

pode solubilizar polissacarídeos que não correspondem quimicamente às hemiceluloses.

Atualmente, as hemiceluloses são genericamente definidas como polissacarídeos não-

amiláceos e não-celulósicos que podem ser extraídos da parede celular dos vegetais

superiores (Sjöström, 1992; Fengel e Wegener, 1989).

As hemiceluloses são formadas por uma ampla variedade de blocos construtivos

incluindo pentoses (por exemplo, xilose, ramnose e arabinose), hexoses (por exemplo,

glucose, manose e galactose) e ácidos urônicos (são exemplos os ácidos 4-Ο-metil-

glucurônico e galacturônico) (Figura 9). São estruturalmente mais parecidas com a

celulose do que com a lignina e são depositadas na parede celular em um estágio anterior

à lignificação. Sua estrutura apresenta ramificações e cadeias laterais que interagem

facilmente com a celulose, dando estabilidade e flexibilidade ao agregado (Ramos, 2003).

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16

As hemiceluloses presentes em folhosas e coníferas diferem significativamente

entre si. As hemiceluloses de folhosas são compostas majoritariamante por heteroxilanas

altamente acetiladas, geralmente classificadas com 4-Ο-metil-glucuronoxilanas.

Hexosanas também estão presentes, mas em quantidades muito pequenas como

glucomananas. Devido a sua característica ácida e as suas propriedades químicas, as

xilanas de folhosas são mais lábeis à hidrólise ácida e podem sofrer auto-hidrólise sob

condições relativamente brandas. Ao contrário, as coníferas têm uma grande proporção de

glucomananas acetiladas e galactoglucomananas, e xilanas correspondem apenas a uma

pequena fração. Como resultado disso, as hemiceluloses de folhosas (praticamente

pentosanas) são mais lábeis à hidrólise ácida do que as hemiceluloses de coníferas

(praticamente hexosanas) (Ramos 2003).

FIGURA 9 - MONOSSACARÍDEOS CONSTITUINTES DAS HEMICELULOSES. D-GLUCOSE (1),

D-GALACTOSE (2), L-ARABINOSE (3), D-XILOSE (4), D-MANOSE (5), 4-O-METIL-

D-GLUCURÔNICO (6) E L-RAMNOSE (7) (SJÖSTRÖM, 1992)

O

OHOHOH

CH3

OHO

O OHOH

OH

OHO

OHOHOH

OH

OH

O

OH

OH

OHOH

OH

O

OHOHOH

OH OOH

OHOHOH

OH

1 23

4 5 6

O

OH

OH

OH

OH

CH3

7

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3.1.3 Lignina

A lignina está presente na madeira em cerca de 20% a 30%, agindo como

material adesivo, como agente de enrijecimento e como barreira contra degradação

enzimática e/ou microbiana da parede celular (Fengel e Wegener, 1989)

A lignina é uma macromolécula amorfa com estrutura tridimensional muito

complexa (Figura 10) e baseada em três precursores monoméricos: os álcoois coniferílico,

sinapílico e p-cumarílico (Figura 11). A proporção desses monômeros varia entre

diferentes espécies de plantas e estas diferenças podem ser utilizadas com propósitos

taxonômicos. Dependendo do grau de metoxilação, o grupo aromático é o p-hidroxibenzil

(derivado do álcool p-cumarílico), guaiacil (derivado do álcool coníferilico) ou siringil

(derivado do álcool sinapílico). A propriedade física mais importante dessa

macromolécula orgânica é a sua rigidez, que não só confere estrutura ao tecido da planta,

mas, também, previne o colapso de elementos condutores de água.

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FIGURA 10 - ESTRUTURA DA LIGNINA DE FAGUS SP (FENGEL E WEGENER, 1989)

HO

HOCH 2

HOCH 2

[

O

C H C H C HO

H 3 C O OC H 3

[

HOCH 2

[

C H C H 2 OH

C H

OH H 3 C O

C H C H

C H 2 OH

H 3 C O OC H 3 O [

C C H O

C H 2 C O

H 2

H

[ [

H H 2

1

2

3

4 5 6

7

8

9 10 11

12

13 14

15

16 17

H 3 C O O

OC H 3

C HOH

C H 2 OH C H

O C H C

O H

C H 2

18

HO

OC H 3 H 3 C O OH

OH OC H 3 H 3 C O

C HOH C H O

H 3 C O

O C HC O

H 3 C O

C HOH

C H 2 OH C H

H 3 C O O

H 3 C O

OC H 3 OC H 3 OH

C H

C H C H C H 2 OH

C H C H 2 OH

C HOH

OC H 3 C H

O C H

OC H 3 H 3 C O O

C H 2 OH

HC C H 2 OH

C HOH

OC H 3 H 3 C O O HC

C H O

OC H 3 O

C H C H 2 OH

C H

H 3 C O OC H 3 O

O H 3 C O

C H O C C

C H

O C H 2

OH OC H 3

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FIGURA 11 - ESTRUTURA DOS ÁLCOOIS PRECURSORES DA LIGNINA (SJÖSTRÖM, 1992)

As ligninas de coníferas são quase que exclusivamente compostas por resíduos

derivados do álcool coniferílico (lignina do tipo G), enquanto as ligninas das folhosas

contêm resíduos derivados dos álcoois coniferílico e sinapílico (lignina tipo GS). Em

contraste, as ligninas derivadas de gramíneas contêm os três precursores básicos citados

acima (lignina tipo HGS). Como conseqüência, as ligninas das folhosas possuem alta

quantidade de grupos metoxílicos, são menos condensadas e são mais suscetíveis à

conversão química do que as ligninas derivadas das coníferas (Ramos, 2003).

3.1.4 Extrativos

Os componentes de menor massa molar, presentes na fitobiomassa, incluem uma

variedade de compostos orgânicos cuja presença relativa é governada por uma série de

fatores, entre os quais os de natureza genética e climática. Esses componentes não

Álcool p-cumarílico

Álcool coniferílico

Álcool sinapílico

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residem na parede celular da planta e dividem-se, basicamente, em duas classes. A

primeira classe engloba materiais conhecidos como extrativos por serem extraíveis em

água e solventes orgânicos neutros ou volatilizados por arraste de vapor. A segunda classe

engloba materiais que não são comumente extraíveis com os agentes mencionados, como,

por exemplo, compostos inorgânicos (cinzas), proteínas e substâncias pécticas (Ramos,

2003).

O teor de extrativos em folhosas corresponde a cerca de 3 a 10%, estando esse

valor em torno de 5 a 8% para as coníferas. Esses constituintes são freqüentemente

responsáveis por determinadas características da planta, como a cor, o cheiro, a

resistência natural ao apodrecimento, o sabor e suas propriedades abrasivas (D'Almeida,

1988). É comum a denominação de resina para uma determinada classe de extrativos.

Porém, este termo aplica-se a um conjunto de substâncias químicas que inibem a

cristalização e, portanto, caracteriza mais a condição física do que a composição química

da fração. Deste modo, os seguintes compostos podem ser encontrados em resinas de

madeiras: terpenos, lignanas, estilbenos, flavonóides e outros aromáticos. Além dessas

substâncias, outros compostos orgânicos podem também estar presentes nos extrativos,

como gorduras, ceras, ácidos graxos, álcoois, esteróides e hidrocarbonetos de elevada

massa molar (Ramos, 2003).

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3.2 HIDRÓLISE ENZIMÁTICA

A sacarificação da celulose representa uma alternativa interessante para a

destinação de fitobiomassas residuais como o bagaço de cana e resíduos de atividades

florestais. No entanto, apesar de muitos estudos, não estão totalmente compreendidos

quais as características do substrato que atribuem maior eficiência à taxa de hidrólise da

celulose. Algumas das características mais influentes incluem a acessibilidade, o grau de

cristalinidade, o grau de polimerização e a distribuição da lignina (Palomen et al, 2004).

Além disso, bioprocessos baseados na hidrólise enzimática requererão substratos

produzidos com a qualidade adequada, a partir de fitobiomassa residual. Diferentes tipos

de pré-tratamento podem ser aplicados para promover a conversão destes materiais em

substratos susceptíveis à hidrólise enzimática e, dentre estes, o pré-tratamento a vapor tem

sido descrito como um dos mais eficientes (Ramos, 1992; Wyman et al, 2005; Mosier et

al, 2005; Negro et al, 2003; Söderström et al, 2003). Paralelamente, estudos têm sido

realizados na busca de enzimas capazes de hidrolisar a celulose de maneira cada vez mais

efetiva, seja pela otimização de processos fermentativos, pela combinação de enzimas

para a obtenção de complexos celulásicos mais eficientes ou pelo melhoramento de

espécies através de métodos de engenharia genética (Jørgensen et al, 2004; Imai et al,

2004; Kang et al, 2004).

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3.3 CELULASES

Atualmente, sabe-se que o complexo celulásico secretado por fungos

filamentosos é formado por três componentes enzimáticos majoritários, as

endoglucanases, as celobiohidrolases (exoglucanases) e as β-glucosidases, que não são

consideradas com celulases legítimas. De acordo com o modelo de sinergismo “endo-

exo”, essas enzimas cooperam da seguinte maneira: as celobiohidrolases (CBH) agem

como exo-enzimas (e. g., no fim das cadeias) e liberam celobiose como produto principal;

as endoglucanases (EG) agem randomicamente ao longo da cadeia produzindo novos

sítios de ataque para as celobiohidrolases; e as β-glucosidases completam o processo

através da hidrólise da celobiose e de outros oligossacarídeos à glucose (Medve, 1997;

Zandoná Filho, 2001) (Figura 12).

Page 41: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

23

FIGURA 12 - MODO DE AÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE T. reesei

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Endoglucanases

Sinergismo Endo-Exo

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Sinergismo Endo-Exo

Celobiases

Exoglucanases

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celobiose

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Endoglucanases

Sinergismo Endo-Exo

Celobiases

Exoglucanases

glucose n

celobiose

Endoglucanases

Sinergismo Endo-Exo

Celobiases

Exoglucanases

glucose n

celobiose

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Muitas celulases são compostas por dois domínios distintos: o domínio de ligação

ao substrato (DLS), ou “celulose binding domain (CBD)”, e o domínio catalítico (DC),

que abriga o sítio ativo (SA). Estes domínios estão ligados um ao outro através de uma

cadeia polipeptídica flexível. O sítio ativo possui como função a hidrólise das ligações

glicosídicas da celulose e cada classe de celulase possui uma forma diferente de sítio

ativo, permitindo a hidrólise de ligações localizadas em regiões distintas do substrato (e.

g., ligações internas e ligações terminais, localizadas nas extremidades das cadeias). A

função do domínio de ligação ao substrato está associada à adsorção, que permite o

Page 42: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

24

aumento da concentração das celulases na superfície da celulose através de interações

não-covalentes, envolvendo ligações de hidrogênio, forças eletrostáticas e interações

hidrofóbicas. Palonen (2004) demonstrou que sítios ativos separados dos DLS são

capazes de hidrolisar substratos até mesmo insolúveis, embora com menor eficiência. No

entanto, em concentrações enzimáticas muito altas, o DLS promove a adsorção não

produtiva da enzima ao substrato

3.3.1 Endoglucanases

As endo-1,4-β-D-glucanases hidrolisam as cadeias de celulose de modo aleatório.

Estas enzimas hidrolisam a celulose amorfa e celuloses modificadas quimicamente

(solúveis), como carboximetilcelulose (CMC) e hidroxietilcelulose (HEC). A celulose

cristalina e o algodão, ambos substratos com elevado grau de cristalinidade, são menos

hidrolisados devido ao maior grau de organização molecular que apresentam.

O sítio ativo das endoglucanases possui a forma de uma chave, possibilitando a

ação da enzima ao longo da cadeia de celulose e reduzindo o seu grau de polimerização

de maneira considerável. As regiões de menor organização estrutural são mais facilmente

atacadas, pois possuem cadeias que não estão envolvidas em interações de hidrogênio

intermoleculares tão fortes quanto as que ocorrem nas regiões cristalinas, levando,

conseqüentemente, a uma maior exposição das ligações glicosídicas mais internas das

cadeias de celulose (Figura 13).

Page 43: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

25

FIGURA 13 - SÍTIO ATIVO EM FORMA DE CHAVE DAS ENDOGLUCANASES, QUE PERMITE O

ACESSO AO LONGO DE UMA CADEIA DE CELULOSE

3.3.2 Exoglucanases

As exo-1,4-β-D-glucanases (celobioidrolases, CBHs) atuam nas extremidades

redutoras e não redutoras da cadeia de celulose, produzindo majoritariamente celobiose,

além de glucose e celotriose (Zandoná, 2001). Estas enzimas não atuam sobre celuloses

solúveis por haver um impedimento estereoquímico causado pelos grupos substituintes,

seja carboximetílico (CMC) ou hidroxietílico (HEC). As exoglucanases atuam sobre

celulose cristalina (Avicel®), produzindo uma redução lenta e gradual do seu grau de

polimerização. Assim, ensaios de atividade sobre CMC são característicos para as

Page 44: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

26

endoglucanases (EGs), enquanto que a atividade contra Avicel® caracteriza as CBHs,

tornando possível a diferenciação entre essas enzimas.

O sítio ativo das celobioidrolases possui a forma de um túnel por onde a cadeia de

celulose penetra e sofre hidrólise de suas ligações glicosídicas terminais, liberando

majoritariamente celobiose. O DLS é constituído por aproximadamente 40 aminoácidos

(aa) e possui a importante função de promover a adsorção da proteína ao substrato,

conferindo estabilidade ao agregado e permitindo a melhor aproximação da cadeia de

celulose ao sítio ativo. A adsorção ocorre através da interação de resíduos de tirosina

(TYR) presentes no DLS com as unidades de glucopiranose presentes na superfície da

celulose (Figura 14).

FIGURA 14 - MODO DE AÇÃO PROGRESSIVA DA CELOBIOIDROLASE I (CBH I) DE T. reesei

(DIVNE et al, 1994)

Page 45: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

27

Devido a suas propriedades e especificidade ao substrato, as celobiohidrolases

podem ser facilmente isoladas e purificadas por cromatografia de afinidade, razão pela

qual seus domínios catalíticos e de ligação ao substrato ("binding domain") já foram

cristalizados e parcialmente caracterizados em relação a sua estrutura tridimensional

(Divne et al., 1994). Por outro lado, as celobioidrolases, apesar de apresentarem

similaridades em seus modos de ação catalítica, podem ser separadas por métodos

eletroforéticos como a isoeletrofocalização (Coughlan, 1985) por possuírem diferenças

significativas em seus teores de carboidratos (glicosilação) e de aminoácidos, pontos

isoelétricos e respectivos raios hidrodinâmicos.

3.3.3 β-glucosidases

As β-glucosidases, também denominadas celobiases, possuem a função de

desdobrar a celobiose gerada pelas celobioidrolases e endoglucanases em glucose.

Estritamente falando, β-glucosidases não são celulases legítimas, uma vez que elas agem

sobre substratos solúveis, mas sua contribuição é muito importante para a eficiência da

hidrólise da celulose pela remoção da celobiose do meio reacional, que é um potente

inibidor competitivo das celobiohidrolases (Medve, 1997).

Page 46: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

28

3.3.4 Mecanismo de hidrólise

O mecanismo de catálise da hidrólise das ligações glicosídicas ocorre de maneira

semelhante para as endoglucanases e para as celobioidrolases, através de uma reação

ácido-base onde os aminoácidos constituintes do sítio ativo atuam como ácidos e bases de

Brönsted. Existem duas vias de catálise passíveis de se ocorrer e dependendo do espaço

disponível dentro do sítio ativo, uma delas será favorecida em detrimento à outra.

Em sítios ativos com 0,65 nm a 0,95 nm, se faz necessária a presença de uma

molécula de água que vai atuar como doadora de um próton para o aminoácido básico,

gerando uma hidroxila que vai atuar como nucleófilo e atacar o carbono anomérico, ao

mesmo tempo em que o par de elétrons da ligação glicosídica retira um próton do

aminoácido ácido. Nessa via catalítica, a ligação glicosídica é hidrolisada em apenas uma

etapa e ocorre a inversão da configuração do carbono anomérico, gerando um anômero

α. (Figura 15).

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FIGURA 15 - MECANISMO DA HIDRÓLISE DA LIGAÇÃO GLICOSÍDICA COM A INVERSÃO DE

CONFIGURAÇÃO DO CARBONO ANOMÉRICO (RÄTTÖ, 1997)

Em sítios ativos com 0,55 nm, a catálise ocorre sem a necessidade da participação

da molécula de água. O aminoácido básico ataca diretamente o carbono anomérico,

enquanto o par de elétrons da ligação glicosídica remove um próton do aminoácido ácido;

nessa etapa, forma-se o intermediário enzima-carboidrato. No restabelecimento do sítio

ativo, o aminoácido ácido desprotonado ataca uma molécula de água do meio, formando

uma hidroxila que vai atacar o carbono anomérico e liberar o carboidrato com a

configuração original, ou seja, o anômero β.

0,65 – 0,95 nm

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FIGURA 16 - MECANISMO DA HIDRÓLISE DA LIGAÇÃO GLICOSÍDICA COM A RETENÇÃO

DE CONFIGURAÇÃO DO CARBONO ANOMÉRICO (RÄTTÖ, 1997)

3.4 CELULASES DE Trichoderma reesei

O complexo celulásico secretado pelo Trichoderma reesei é o mais estudado em

toda a literatura e, como conseqüência, muitos detalhes sobre o seu modo de ação são

conhecidos atualmente.

0,55 nm

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31

Sabe-se que o complexo celulásico de T. reesei possui pelo menos cinco enzimas

com atividade endoglucanásica (EG I, II, III, IV e V). Tal multiplicidade tem sido

justificada por alguns autores como decorrente de modificações pós-translacionais como e

a glicosilação. No entanto, existem fortes evidências de que estas enzimas sejam

biomoléculas não relacionadas e que, como tal, possuam funções distintas durante o

processo de sacarificação da celulose (Claeyssens e Tomme, 1989; Goyal et al., 1991).

A EG I é a endoglucanase produzida em maior quantidade pelo T. reesei,

chegando a cerca de 5% do total de proteínas liberadas no meio de cultura, enquanto a EG

II chega a 0,5% e as endoglucanases restantes (EG III, IV e V) apresentam-se como

componentes minoritários.

Pelo menos dois tipos de celobiohidrolases (CBH I e CBH II) já foram

identificadas no complexo celulásico secretado por T. reesei (Figura 17). Estas

exoglucanases são produzidas em maior quantidade do que as outras enzimas celulásicas

do complexo. A CBH I responde por cerca de 60% do total de proteínas liberadas no meio

de cultura, enquanto que a CBH II chega a 20%.

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FIGURA 17 - CELOBIOIDROLASES DE T. reesei. CBH I QUE ATUA NA EXTREMIDADE

REDUTORA DA CADEIA DE CELULOSE E A CBH II QUE ATUA NA

EXTREMIDADE NÃO REDUTORA (HARRIS, 2005)

DLS C-Terminal

DLS N-Terminal

Peptídeo de ligação com 35 aa

Peptídeo de ligação com 44 aa

Extremidade não redutora Extremidade redutora

CBH I

CBH II

3.4.1 Sinergismo

Dos sistemas celulásicos melhor estudados, as celobiohidrolases, particularmente

a CBH I de T. reesei, têm sido consideradas como as enzimas mais importantes à

sacarificação eficiente da celulose. Evidências experimentais indicam que a remoção do

gene que codifica para a produção de CBH I reduz em 70% a atividade do complexo

sobre a celulose cristalina (Suominen et al., 1993; Karhunen et al., 1993). Além disso, as

celobiohidrolases apresentam grande interação sinergística com outras celulases,

Page 51: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

33

principalmente aquelas de atividade reconhecidamente endoglucanásica (Beldman et al.,

1988). Dos vários tipos de sinergismo descritos na literatura, a cooperação entre CBH I e

CBH II de T. reesei é certamente um dos mais curiosos (Figura 18).

FIGURA 18 - SINERGISMO ENTRE AS ENDOGLUCANASES E AS CELOBIOIDROLASES DE T.

REESEI. AS ENDOGLUCANASES ATUAM AO LONGO DA CADEIA, GERANDO

NOVOS SÍTIOS DE ATAQUE PARA AS CELOBIOIDROLASES (CORTESIA DE

MATTI SIIKA-AHO, VTT BIOTECHNOLOGY-FINLÂNDIA)

CBH IIENDOGLUCANASES

CBH ICBH IIENDOGLUCANASES

CBH I

Wood et al. (1989) interpretaram o sinergismo exo/exo postulando que a CBH I

tem estereo-especificidade diferente da CBH II e que essas enzimas atacam dois grupos

não redutores estereoquimicamente distintos na superfície da celulose cristalina. A

remoção seqüencial de unidades de celobiose do terminal não redutor da cadeia, pela ação

da CBH I, pode expor numa cadeia vizinha um grupo terminal não redutor com

Page 52: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

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configuração correta para ser atacado pela CBH II e vice-versa. No entanto, a concepção

atualmente aceita para este sinergismo é a de que a CBH I atua no terminal não redutor da

molécula, enquanto que a CBH II restringe-se aos terminais redutores (Beldman, 1988;

Nidetzki, 1993).

Estudos envolvendo a utilização de substratos-modelo também indicaram que as

CBHs podem exercer alguma atividade endoglucanásica (Claeyssens e Aerts, 1992;

Ramos et al., 1999) e esses resultados têm comprometido a classificação até hoje vigente

para estas enzimas. Por outro lado, sabe-se que, mediante ação proteolítica, a CBH I pode

ser dividida entre os seus domínios catalítico (DC) e de ligação ao substrato (DLS), sendo

que o domínio catalítico livre não apresenta a propriedade de adsorver ao substrato e, por

conseguinte, não atua como uma CBH legítima (Zandoná, 2001). Portanto, a existência de

quaisquer atividades proteolíticas residuais pode comprometer o modo de ação de

preparações fundamentalmente celobiohidrolásicas (Teeri et al, 1998).

Nidetzky et al. (1993) demonstraram que a ação sinergística de celulases

purificadas de T. reesei diminui com o aumento da concentração do substrato e que essa

diminuição depende fortemente do tipo de celulose testado, sendo máximo para a celulose

microcristalina. Foi também comprovado que a atividade dessas celulases purificadas

aumentava quando substratos “amorfos” eram utilizados e que combinações binárias do

tipo CBH I/EG III e CBH I/CBH II exibiram os mais notáveis graus de sinergismo sobre a

celulose microcristalina.

Page 53: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

35

3.5 CELULASES DE Penicillium sp.

Além do amplamente estudado complexo celulásico de T. reesei, existem outros

fungos filamentosos capazes de produzir sistemas celulásicos eficientes, como Humicola

sp., Aspergillus sp. e Penicillium sp. Estes fungos também têm sido propostos como

alternativas interessantes na busca por novas preparações comerciais e por processos que

apresentem maior eficiência na hidrólise de substratos celulósicos.

Alguns autores têm se dedicado ao estudo desses complexos celulásicos e

semelhanças ao complexo de T. reesei já foram evidenciadas. A composição enzimática

destes complexos enzimáticos é semelhante, ou seja, ambos possuem endoglucanases,

exoglucanases e β-glucosidases, embora difiram na proporção, na quantidade e na

especificidade ao substrato de enzimas que apresentam a mesma função (endo ou exo).

Bhat et al (1989) encontraram 8 endoglucanases em culturas do P. pinophilum e a maior

parte da atividade endoglucanásica foi atribuída a 5 destas enzimas, as quais foram

isoladas e caracterizadas. Jørgensen et al (2003) encontraram 2 celobioidrolases (CBHa e

CBHb), 3 endoglucanases (EGa, EGb1 e EGb2) e 1 xilanase (XYL) em culturas do P.

brasilianum. A CBHb apresentou propriedades semelhantes à CBHI de T. reesei,

enquanto a CBHa apresentou semelhanças com a CBHII deste mesmo microorganismo. A

EGa também apresentou similaridades com a massa molecular e o modo de ação catalítica

da EGIII de T. reesei, pois ambas não adsorvem ao substrato durante a hidrólise.

Page 54: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

36

As principais diferenças apresentadas dizem respeito à atividade β-glucosidásica

e à estabilidade sob as diferentes condições de processo. Jørgensen et al (2005) encontrou

atividade β-glucosidásica suficiente para a remoção da celobiose, produzida pelas

celulases durante a hidrólise de substratos celulósicos, em três espécies de Penicillium: P.

pinophilum, P. brasilianum e P. persicinum. Devido a essa alta atividade, não foi

necessária a adição de β-glucosidases exógenas a estes complexos celulásicos para

garantir altas taxas de conversão. Castellanos et al (1995) demonstrou que um complexo

celulásico de Penicillium sp. foi mais eficiente na hidrólise de celulose microcristalina do

que Cytolase® 300 (Genencor) e atribuiu a maior eficiência às β-glucosidases, presentes

em maior quantidade, e também à maior estabilidade operacional do sistema celulásico de

Penicillium sp.

3.6 MODELOS TÍPICOS DE SUBSTRATOS PARA ESTUDO DE CELULASES

Em muitos estudos, substratos modelo são utilizados para facilitar a diferenciação

entre atividades enzimáticas, como endo- ou exoglucanásicas e celobiásica ou β-

glucosidásica. Em seguida, alguns desses substratos serão descritos.

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37

3.6.1 Avicel®, Sigmacell® (celulose microcristalina ou hidrocelulose)

A Avicel® e a Sigmacell® são tipos de celulose microcristalina que podem ser

preparados a partir de fibras de celulose por hidrólise com HCl 2,5 mol/L, seguida de

neutralização e várias etapas de lavagem e secagem com solvente (água, acetona, etanol).

Através desse processo, a região amorfa da celulose é atacada preferencialmente pelo

tratamento ácido, produzindo partículas cristalinas com GP de 100 a 250 unidades de

anidroglucose. O índice de cristalinidade da Sigmacell ® e da Avicel® é de

aproximadamente 47% (Medve, 1997).

O baixo GP da celulose microcristalina significa que este substrato possui muitas

extremidades de cadeia, o que a define como um substrato apropriado para medir

atividade exoglucanásica. No entanto, a Avicel® tem se tornado um substrato amplamente

utilizado em estudos sinergísticos e de cinética de adsorção de enzimas celulásicas

(Medve, 1997).

3.6.2 Papel de filtro

O papel de filtro é um substrato tradicionalmente utilizado em pesquisas de

celulases. As fibras de celulose que constituem o papel têm uma estrutura complexa e,

para a sua hidrólise substancial, é necessário um sistema celulásico completo

(celobiohidrolases e endoglucanases). O papel de filtro é recomendado pela Comissão de

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38

Biotecnologia da IUPAC para se avaliar a atividade celulásica total de um sistema

celulásico (Medve, 1997; Ghose, 1987).

3.6.3 Algodão

O algodão é a forma mais pura e natural da celulose, ainda que contenha

pequenas quantidades de impurezas (pectinas, proteínas, ceras) que podem ser removidas

por extração alcalina e/ou orgânica a quente, seguida por várias etapas de lavagem e

secagem. Sendo, aproximadamente, 70% a 80% cristalino, o algodão é pouco suscetível à

hidrólise enzimática e a presença tanto de celobiohidrolases quanto de endoglucanases é

necessária para que sua hidrólise seja eficiente. No entanto, espera-se que endoglucanases

não apresentem grande acessibilidade ao substrato porque essas enzimas têm preferência

à regiões amorfas da estrutura supramolecular da celulose (Medve, 1997; Tímár-Balázsy e

Eastop, 1998).

3.6.4 Solka Floc (α-celulose)

A Solka Floc é preparada a partir de madeira moída em moinho de martelo,

através de várias etapas de extração orgânica, ácida ou alcalina. As hemiceluloses e a

lignina são parcialmente removidas durante estas etapas, mas a celulose permanece

aparentemente intacta. Kothari (2002) demonstrou que o GP da celulose de Solka Floc

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39

corresponde a apenas 700 unidades, o que sugere que a celulose sofre uma considerável

perda em sua massa molecular. Este material pode ainda conter uma quantidade

significativa de xilanas, mas uma preparação mais rica em celulose poderia ser alcançada

através do aumento da severidade da extração que, inevitavelmente, também causaria uma

degradação ainda maior da celulose.

Fragmentos maiores de Solka Floc são rapidamente degradados por celulases,

mas à medida que a parte mais acessível é hidrolisada, a taxa de hidrólise é

gradativamente reduzida. A Solka Floc é freqüentemente utilizada como fonte de carbono

para a produção de celulases e, também, para estudos de adsorção e sinergismo (Medve,

1997).

3.6.5 Celulose de Valonia sp.

Valonia sp. é uma alga verde que produz microfibrilas de celulose de alta

cristalinidade (perto de 100%). A forma cristalina dominante (60-70%) é a Iα. As

microfibrilas são grossas e têm secção transversal retangular, com dimensão lateral de 20

nm. A celulose de Valonia tem sido um substrato popular no estudo de adsorção e

sinergismo, tanto pela sua cristalinidade como pela sua grande homogeneidade (Medve,

1997).

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40

3.6.6 Celulose bacteriana

A celulose altamente cristalina produzida pelo Acetobacter xylinum também tem

se tornado um substrato freqüentemente utilizado para o estudo das propriedades

catalíticas de celulases. Os microcristais da celulose bacteriana são mais espessos (3,0 x

6,8 nm) do que os presentes na parede celular e, por essa razão, exigem modos de ação

catalítica fundamentalmente baseados na erosão gradativa da superfície do agregado

(Medve, 1997).

3.6.7 Celulose obtida por tratamento com ácido fosfórico

Este substrato é obtido através do tratamento de celulose microcristalina com

ácido fosfórico xaroposo (85%) a 1°C durante 1 h. Esta celulose, considerada 100%

amorfa, é muito importante para estudos das propriedades catalíticas de celulases. Mesmo

celulases purificadas atacam este substrato rapidamente e o seu GP médio depende do

material de partida (normalmente, Avicel) e do controle do processo de produção (Medve,

1997).

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41

3.6.8 Derivados solúveis da celulose (CMC, HEC)

Ao substituir a celulose com suficiente quantidade de grupos carboximetílicos ou

hidroxietílicos, é possível torná-la solúvel em água. Esses substratos são produzidos

comercialmente com diferentes GP e GS (grau de substituição), e têm sido usados há

muito como substratos-modelo para ensaios de atividade endoglucanásica. Tal atividade

pode ser medida tanto pelo aumento da concentração de açúcares redutores no meio

quanto através da redução da viscosidade da solução. Esses tipos de celuloses

modificadas (ou substituídas) são bons substratos para endoglucanases porque apresentam

grande solubilidade em água e não podem ser hidrolisados extensivamente por

celobioidrolases, devido a sua baixa organização estrutural e/ou caráter amorfo

pronunciado, além do impedimento estérico causado pelos grupos substituintes

(carboximetil ou hidroxietil), que impedem que a cadeia da celulose penetre no sítio ativo

das celobioidrolases. A carboximetilcelulose de viscosidade média (CMC) foi escolhida

pela Comissão de Biotecnologia da IUPAC (Ghose, 1987) como o substrato recomendado

para medir a atividade endoglucanásica e a hidroxietilcelulose (HEC) é utilizada como

substrato alternativo para este mesmo fim (Medve, 1997).

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42

3.6.9 Celodextrinas e seus derivados cromogênicos

Os substratos citados anteriormente são usados para investigar processos globais

de hidrólise enzimática, mas não são aplicáveis a estudos bioquímicos clássicos como a

determinação do número de domínios de ligação, investigação de modos de associação

molecular e de cinética enzimática. Celodextrinas (GP inferior ou igual a 8 – as maiores

são praticamente insolúveis em água) e especialmente seus derivados cromogênicos ou

fluorogênicos, são substratos que podem ser aproveitados para este objetivo. Os

cromóforos mais usados são os para- ou orto-nitrofenóis, enquanto que a 4-

metilumbeliferona é o substrato fluorogênico mais empregado. Glucosídeos como o p-

nitrofenil-β-(1,4)-celobiosídio tem sido largamente utilizados para a determinação de

atividade de celulases. A hidrólise de ligações glicosídicas nesses substratos pode ser

facilmente observada pela diferença das propriedades espectrais entre as agliconas livres e

em sua forma conjugada aos carboidratos (Medve, 1997).

3.6.10 Xilanas

Os sistemas celulásicos podem freqüentemente apresentar atividade

hemicelulásica e esta atividade pode ser detectada utilizando substratos naturais como a

xilana de casca de aveia, que contém cerca de 10% de arabinose e 15% de glucose, sendo

também um substrato mais ramificado e acetilado. Outro substrato que pode ser utilizado

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é a xilana de madeira de vidoeiro, com cerca de 90% de xilose. A xilana de madeira de

vidoeiro é menos ramificada e, por isso, recomendada por Bailey (1992) para a

determinação de atividade xilanásica em preparações enzimáticas.

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44

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 ENZIMAS

Foi utilizada neste estudo uma preparação enzimática derivada de P. echinulatum,

produzida pelo grupo do Prof. Aldo José Pinheiro Dillon na Universidade de Caxias do

Sul (Caxias do Sul, RS) (Dillon et al, 1999; Camassola et al., 2004). As outras

preparações enzimáticas utilizadas neste trabalho foram uma cortesia da Novozymes

Latin América (Araucária - PR) e da Novozymes A/S Dennmark (Bagsvaerd, Dennmark).

Celluclast 1.5L FG (Novozymes Latin América) é uma preparação celulásica produzida

pelo fungo T. reesei, enquanto que Novozym 188 (Novozymes A/S Dennmark)

corresponde a uma β-glucosidase produzida por Aspergillus niger.

4.2 PRODUÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE P. echinulatum

O complexo enzimático utilizado foi produzido no Instituto de Biotecnologia da

Universidade de Caxias do Sul (Camassola, 2004). Os micronutrientes utilizados para o

cultivo do fungo foram: KH2PO4 (0,2 g/L); (NH4)2SO4 (0,13 g/L); CO(NH2)2 (0,03 g/L);

MgSO4.7H2O (0,03 g/L); CaCl2 (0,03 g/L); FeSO4.7H2O (0,5 mg/L); MnSO4.H2O (0,156

mg/L); ZnSO4.7H2O (0,14 mg/L); e CoCl2 (0,14 mg/L). Como fonte de carbono, foi

utilizada a celulose microcristalina a 1% (m/m), enquanto que peptona microbiológica

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(Oxoid L85) a 0,1 % (m/m) foi utilizada como fonte de nitrogênio. O farelo de trigo a 0,5

% (m/m), além de servir como fonte adicional de carbono, foi também utilizado para

aumentar a taxa de crescimento (aumento da biomassa) do inóculo, que foi iniciado a uma

concentração de 105 esporos/mL. Foram preparados 4 L de meio de cultivo e a

fermentação foi realizada a 150 rpm, 37ºC por 8 dias, quando ocorre a lise celular e a

quantidade de β-glucosidases em solução é maior. O caldo fermentativo foi filtrado e ao

sobrenadante foram adicionados 6 L de etanol. A mistura foi deixada em repouso por 24

h, após o repouso, a solução foi filtrada e o precipitado, sem nenhum outro procedimento

de purificação, foi armazenado para análise no Departamento de Química da

Universidade Federal do Paraná.

4.3 PRECIPITAÇÃO DAS PROTEÍNAS

As proteínas foram precipitadas antes de serem submetidas às análises

quantitativas. Alíquotas de 1 mL da solução protéica foram misturados com 1 mL de uma

solução de ácido trifluor acético 10% (m/v) (TCA). Após repouso por aproximadamente

60 minutos no refrigerador, a mistura foi centrifugada por 25 minutos a 2000 rpm. O

sobrenadante foi descartado e o precipitado foi solubilizado em tampão citrato, 50

mmol/L pH 4,8 e a análise das proteínas foi realizada pelos métodos de Bradford e de

Lowry.

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4.4 DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS PELO MÉTODO

DE BRADFORD (1976)

O método de Bradford utiliza o corante “Coomassie Brilliant Blue” BG-250

(Figura 19) para a determinação de proteínas totais. O BG-250 interage com proteínas que

contenham aminoácidos com cadeias laterais aromáticas ou básicas. No pH da reação, a

interação entre a proteína e o corante BG-250 provoca o deslocamento do equilíbrio do

corante para a forma aniônica, que absorve fortemente 595 nm.

FIGURA 19 - ESTRUTURA DO CORANTE COOMASSIE BRILLIANT BLUE BG-250

O reagente de Bradford foi preparado pela diluição de 100 mg do corante

Coomassie Brilliant Blue BG-250 em 50 mL de etanol, em seguida foram adicionados

100 mL de ácido fosfórico 85% (m/v) e a mistura foi diluída até 1 L e armazenada a 4ºC.

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Para a determinação das proteínas, adicionou-se 1 mL do reagente de Bradford a

100 µL da solução protéica. Em seguida, a absorvância da solução foi medida no

comprimento de 595 nm. O equipamento utilizado foi um espectrofotômetro Varian

modelo Carry 100. A concentração das proteínas foi determinada contra uma curva de

calibração baseada em soro albumina bovina como padrão.

4.5 DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS PELO MÉTODO

DE LOWRY (GHOSE, 1986)

O princípio do método baseia-se na reação de uma mistura de ácido

fosfomolibdênico e ácido fosfotungstênico, o reagente de Folin-Ciocalteau, que sofre uma

redução quando reage com proteínas na presença de cobre (II) e produz um composto

com forte absorvância em 750nm. A redução ocorre através das cadeias laterais de alguns

aminoácidos (tirosina, triptofano, cisteína, asparagina e histidina) que contribuem com 4

elétrons, ou através da retirada de 2 elétrons de cada unidade tetrapeptídica que é

facilitada com a formação do quelato com o cobre (II).

Os reagentes utilizados por este método foram preparados da seguinte maneira:

Reagente A – dissolveu-se 20 g de Na2CO3 e 4 g de NaOH em água destilada e, em

seguida, completou-se o volume até 1 L; Reagente B-1 – dissolveu-se 1 g de CuSO4 em

água destilada e, em seguida, completou-se o volume até 100 mL; Reagente B-2 –

dissolveu-se 2 g de tartarato de sódio e potássio (sal de Rochelle) em água destilada e, em

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seguida, o volume foi completado até 100mL; Reagente C – preparado pela mistura de 1

mL do Reagente B-2 a 1 mL do Reagente B-1, seguido da adição de 100 mL do Reagente

A.

Inicialmente, foram adicionados 5 mL do Reagente C a 0,5 mL da solução

protéica. Após 10 minutos, 0,5 mL do reagente de Folin Ciocalteau diluído em água na

proporção de 1:1 foi adicionado à mistura. Depois de 30 minutos, a absorvância da

solução foi medida em 750 nm e as proteínas foram quantificadas contra uma curva de

calibração contendo soro albumina bovina como padrão.

4.6 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL CATALÍTICO DAS ENZIMAS

Todos os ensaios de atividade foram conduzidos em tampão citrato 50 mmol/L,

pH 4,8, com exceção do experimento onde a atividade contra papel de filtro é comparada

também em tampão acetato, pH 4,8, e comparados com o complexo celulásico de T.

reesei. Uma unidade internacional (UI) foi definida como a atividade enzimática

necessária para a liberação de 1 micromol de equivalentes de glucose por minuto de

reação.

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4.7 DETERMINAÇÃO DOS AÇÚCARES REDUTORES

A quantificação dos açúcares redutores totais (ART) foi procedida pelo método

do ácido 3,5-dinitro-salicílico (DNS), conforme recomendação da IUPAC (Ghose, 1986).

De acordo com este método, o DNS sofre redução de um de seus grupos nitro ao

reagir com os carboidratos, formando um composto que apresenta forte absorção em 540

nm (Figura 21).

FIGURA 21 - REAÇÃO DE AÇÚCARES REDUTORES COM O ÁCIDO 3,5-DINITRO-SALICÍLICO

COOH

O2N OH

O2N

COOH

O2N OH

NH2

Açúcar

redutor+ +

Produtos

de

oxidação

540 nm

O reagente DNS foi preparado com a dissolução de 7,49 g de ácido 3,5-dinitro-

salicilico e 14 g de NaOH em 1000 mL água destilada. Após a dissolução, foram

adicionados 216,10 g de tartarato duplo de sódio e potássio (Sal de Rochelle), 5,37 mL de

fenol (fundido a 50ºC) e 5,86 g de metabissulfito de sódio. O reagente foi rotineiramente

armazenado na temperatura ambiente.

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50

Para o procedimento analítico, foram adicionados 3 mL do reagente DNS a

amostras com 1 ou 2 mL em tubos de ensaio. O meio reacional permaneceu em água

fervente por exatamente 5 minutos e, em seguida, foi resfriado em banho de água à

temperatura ambiente. Após a homogeneização do meio mediante inversão dos tubos,

quando necessário, uma alíquota de 1 mL foi retirada e diluída para possibilitar a medição

da absorvância. A absorvância das amostras em 540 nm foi medida e a quantificação foi

realizada através de uma curva de calibração, utilizando o açúcar redutor de interesse

como padrão. A curva de calibração baseada em soluções-padrão, que foram submetidas

ao mesmo procedimento das amostras.

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4.8 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE CELULÁSICA TOTAL

A IUPAC recomenda a utilização do papel de filtro Whatman #1 como substrato

ideal para a determinação da atividade celulásica total. O método foi realizado segundo

Ghose (1986), com algumas pequenas modificações.

Tiras de aproximadamente 1 x 8 cm (70 mg) de papel de filtro Whatman #1,

recortadas e enroladas, foram adicionadas a tubos de ensaio pré-incubados a 50ºC

contendo 1 mL de tampão e 1 mL da solução enzimática em, no mínimo, três diluições

diferentes e suficientes para produzir em torno de 1 mg/mL de açúcares redutores. Após 1

h de incubação, a hidrólise foi interrompida com a adição de 3 mL de DNS e seguiu-se a

quantificação por este método, como descrito no item 4.14. Antes da realização da leitura,

todas as amostras, padrões e soluções de referência (brancos) foram diluídos quatro vezes

com água destilada. A absorvância da solução foi medida em 540 nm e a concentração de

açúcares redutores foi determinada contra uma curva de calibração onde a glucose foi

utilizada como padrão.

A atividade enzimática foi calculada através da seguinte equação:

(1)

ART (mg/mL) . Edil . VT (mL)

Tempo (min) . 1 µmol glucose (0,18 mg) . VE (mL)

UFP/mL =

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4.9 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ENDOGLUCANÁSICA

A IUPAC recomenda a utilização da carboximetilcelulose de viscosidade média

(CMC) como substrato ideal para a determinação da atividade endoglucanásica e sugere a

hidroxietilcelulose (HEC) como um substrato alternativo para este mesmo objetivo.

No procedimento que empregou CMC, foram preparadas três diluições diferentes

da solução enzimática, sendo estas suficientes para produzir em torno de 0,5 mg/mL de

açúcares redutores. Alíquotas de 0,5 mL destas amostras foram incubas a 50ºC e a reação

foi iniciada com a adição de 0,5 mL de uma solução de CMC de viscosidade média,

preparada em uma concentração de 2% em tampão citrato. Antes de ser utilizada, a

solução de CMC foi deaerada em dessecador sob vácuo. Após 30 minutos, a reação foi

interrompida com a adição de 3 mL da solução de DNS, procedendo-se então ao

procedimento descrito no item 4.14. A absorvância das amostras foi medida e comparada

a uma curva de calibração constituída com padrões de glucose em concentrações de 0,25

mg/mL a 2,0 mg/mL. Para a análise do branco e dos padrões, foram incubados 0,5 mL da

solução de CMC por 30 minutos a 50ºC, seguida da adição de 3 mL de DNS e em

seguida, a adição de 0,5 mL de tampão para o branco ou da solução contendo glucose

para a curva e então prosseguiu-se pelo procedimento descrito no item 4.14. Todos as

amostras, padrões e branco foram diluídos cinco vezes para medição da absorvância, afim

de ajustá-la a níveis compatíveis com a Lei de Lambert-Beer.

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A atividade enzimática foi calculada através da seguinte equação:

(2)

No procedimento para a hidrólise de HEC, 1,8 mL de uma solução do substrato a

1% (m/v) em tampão citrato foram inicialmente incubados a 50ºC em banho-maria. Após

a estabilização da temperatura, 0,2 mL da solução enzimática foi adicionada ao meio em

diluição apropriada. Após 10 minutos de incubação, a reação foi interrompida com a

adição de 3 mL de solução de DNS para a determinação dos ART como descrito no item

4.14. A absorvância das amostras foi medida e comparada a uma curva de calibração

baseada em padrões de glucose com concentrações de 0,25 mg/mL a 2,0 mg/mL. Para a

análise do branco e dos padrões, foram incubados 1,8 mL da solução de HEC por 30

minutos em 50ºC, seguida de adição de 3 mL de DNS e, em seguida, foram adicionados

0,2 mL de tampão para o branco ou da solução contendo glucose para a curva e então

prosseguiu-se pelo procedimento descrito no item 4.14.

A atividade enzimática foi calculada com base na velocidade inicial, através da

determinação do número de unidades de xilose produzidas por minuto de reação.

ART (mg/mL) . Edil . VT (mL)

Tempo (min) . 1 µmol glucose (0,18 mg) . VE (mL)

UCMC/mL =

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4.10 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE XILANÁSICA.

A atividade xilanásica foi determina segundo Bailey (1992). Dois substratos

xilanásicos foram utilizados neste experimento: a xilana de madeira de vidoeiro (XMV) e

a xilana da endoderma de aveia (XEA).

Em ambos os casos, foi homogeneizado 1 g de substrato em 80 mL de tampão

citrato a 60ºC e, em seguida, a solução foi aquecida até ferver em uma chapa de

aquecimento com agitação magnética. A solução foi então resfriada em banho de água à

temperatura ambiente e nela permaneceu sob agitação lenta durante uma noite. O volume

foi completado até 100 mL com tampão citrato.

Para a determinação da atividade xilanásica, 1,8 mL de uma solução de xilana a

1% (m/v) em tampão citrato foram inicialmente incubados a 50ºC. Após a estabilização

da temperatura, 0,2 mL da solução enzimática foi adicionado ao meio em diluição

apropriada. Após 5 minutos, a reação foi interrompida com a adição de 3 mL de solução

de DNS, seguindo-se à determinação de ART como descrito no item 4.14. A absorvância

das amostras foi medida e comparada a uma curva de calibração baseada em padrões de

xilose com concentrações de 0,25 mg/mL a 2,0 mg/mL. Para a análise do branco e dos

padrões foram incubados 1,8 mL da solução de xilana por 30 minutos em 50ºC, seguida

de adição de 3 mL de DNS e em seguida, adicionou-se 0,2 mL de tampão para o branco

ou da solução contendo glucose para a curva e então prosseguiu-se pelo procedimento

descrito no item 4.14.

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55

A atividade enzimática foi calculada com base na velocidade inicial, através da

determinação do número de unidades de xilose produzidas por minuto de reação.

4.11 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE β-GLUCOSIDÁSICA

A atividade β-glucosidásica foi determinada através da hidrólise do p-nitrofenil-

β-D-glucosídeo. Adicionou-se 0,25 mL da solução enzimática a tubos de ensaio, em

diluições apropriadas, juntamente com 0,5 mL de uma solução tempão citrato. O meio foi

previamente incubado a 42ºC e, em seguida, adicionou-se 0,25 mL de uma solução 4

mmol/L de p-nitrofenil-β-D-glucosídeo em tampão citrato. Após 10 minutos, adicionou-se

1 mL de uma solução 1 mol/L de carbonato de sódio, interrompendo a reação por deslocar

o pH para o meio básico, onde as enzimas não apresentam mais atividade e por ser o pH

onde o p-nitrofenol exibe coloração amarela. A concentração de glucose produzida foi

determinada indiretamente pela medida da concentração de p-nitrofenol no meio

reacional, por espectroscopia na região do ultravioleta e do visível (UV-vis) a 410 nm. A

curva de calibração foi construída com soluções padrão de p-nitrofenol. A atividade

enzimática foi calculada com base na velocidade inicial, através da determinação do

número de unidades de glucose produzidas por minuto de reação.

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4.12 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE CELOBIÁSICA

A atividade celobiásica foi determinada segundo as recomendações da IUPAC

(Ghose, 1986). Alíquotas de 1 mL da solução enzimática, preparada em três diluições

diferentes com capacidade para produzir em torno de 1 mg/mL de glucose foram pré

incubadas a 50ºC e a reação foi iniciada com a adição de 1 mL de uma solução de

celobiose a 15 mmol/L em tampão citrato. Após 30 minutos, reação foi terminada com a

imersão dos tubos em água fervente por 5 minutos. Depois de resfriadas até a temperatura

ambiente, as amostras foram centrifugadas por 10 minutos a 10000 rpm, diluídas

apropriadamente e os açúcares solúveis produzidos foram analisados por cromatografia de

troca iônica, como descrito no item 4.13.

A atividade enzimática foi calculada através da seguinte equação:

(3)

4.13 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE CELOBIOIDROLÁSICA.

A atividade celobioidrolásica foi estimada através da hidrólise da Sigmacell® tipo

50 (Sigma), cujo procedimento foi realizado segundo Wood e Bhat (1988). Para este

propósito, foram utilizadas diluições com atividades equivalentes contra papel de filtro

[Glc] (mg/mL) . Edil . VT (mL)

Tempo (min) . 2 µmol glucose (0,36 mg) . VE (mL)

UCB/mL =

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57

(0,27 UI/mL) para os dois complexos celulásicos. A 0,5 mL de tampão e 1 mL de

suspensão de Sigmacell a 1% (m/m), foram adicionadas alíquotas de 0,5 mL de solução

enzimática e Após 2 horas de hidrólise a 50ºC, os carboidratos liberados em solução

foram analisados por CLAE.

A atividade enzimática foi calculada através da determinação do número de

ligações glicosídicas clivadas por minuto de reação.

4.14 ANÁLISES CROMATOGRÁFICAS

A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) foi utilizada para análise dos

carboidratos produzidos em experimentos de hidrólise. Os métodos empregados foram de

troca iônica, para a análise de mono e dissacarídeos, e de permeação em gel (CPG), para a

determinação da distribuição de massas molares de substratos parcialmente hidrolisados.

As análises cromatográficas de troca iônica foram realizadas em eluição

isocrática. O sistema cromatográfico empregado foi o da Shimadzu Scientific Instruments

Inc., composto por um sistema de bombeamento de fase móvel modelo LC10AD,

amostrador automático modelo SIL10A, desgaseificador de fase móvel modelo DGU14A,

forno de aquecimento de coluna modelo CTO10A, detector de índice de refração modelo

RID10A e sistema de aquisição de dados CLASS 10. A coluna cromatográfica empregada

foi uma Aminex HPX-87H (Bio-Rad), operada a 65ºC e precedida por uma pré-coluna

Cátion-H (Bio-Rad) para remoção de cátions interferentes. A fase móvel utilizada foi

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58

ácido sulfúrico 0,8 mmol/L, a uma vazão de 0,6 mL/min. Mono e dissacarídeos eluídos da

coluna foram identificados e quantificados por refratometria diferencial, através da

comparação com padrões primários de carboidratos (Figura 20).

FIGURA 20 - CROMATOGRATOGRAFIA DE TROCA IÔNICA DOS PADRÕES DE

CARBOIDRATOS. ORDEM CRESCENTE DE ELUIÇÃO: CELOBIOSE, GLUCOSE,

XILOSE E ARABINOSE

0,0E+00

2,0E+04

4,0E+04

6,0E+04

8,0E+04

1,0E+05

1,2E+05

1,4E+05

1,6E+05

1,8E+05

2,0E+05

4 6 8 10 12 14

Tempo de Retenção (min.)

Respo

sta do

Detector

As análises cromatográficas de permeação em gel também foram realizadas em

eluição isocrática. O sistema cromatográfico utilizado foi o mesmo descrito acima, exceto

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59

pelo detector que, neste caso, foi o de espectrometria no ultravioleta (Shimazu modelo

SPD-10A). Foram utilizadas quatro colunas cromatográficas TSK Gel (7,8 x 300 mm)

dispostas em série, com limites de exclusão de 4x107, 105, 104 e 103 Da, respectivamente.

A temperatura de operação foi de 45ºC e o tetraidrofurano (THF) foi empregado como

fase móvel a uma vazão de 1,0 mL/min. A detecção foi realizada nos comprimentos de

onda de 240 nm e 254 nm. Os resultados foram calculados contra uma curva de calibração

com padrões monodispersos de poliestireno com massa molecular entre 2,5 e 8420 kDa.

4.15 HIDRÓLISE DE SUBSTRATOS CELULÓSICOS

Os substratos utilizados foram: Sigmacell® tipo 50 (Sigma®), polpa kraft

branqueada e polpa kraft não branqueada. As polpa kraft utilizadas neste trabalho foram

uma cortesia da Klabin®.

A hidrólise enzimática de substratos celulósicos foi realizada segundo Ramos e

Fontana (2004) a uma concentração de 2 e 4% (m/v) em relação à massa seca do

substrato. Os experimentos foram conduzidos em uma incubadora com agitação orbital

sob a 150 rpm, por 48 ou 72h, dependendo do experimento. Quando se realizou o

experimento para avaliar a distribuição das massas molares no material parcialmente

hidrolisado, utilizou-se um banho Dubnoff com agitação reciprocante cuja capacidade

permitiu a acomodação de uma quantidade maior de frascos do que a incubadora com

agitação orbital. A temperatura utilizada foi de 45ºC e a liberação de açúcares durante o

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60

processo hidrolítico foi monitorada por CLAE, utilizando uma coluna Aminex HPX-87H

nas condições descritas no item 4.13 (Ramos, 1992). As cargas enzimáticas utilizadas

dependeram do objetivo do tratamento enzimático.

O rendimento de hidrólise foi calculado a partir da determinação da massa total de

carboidratos solúveis produzidos. Esses valores foram convertidos nos polissacarídeos

que originaram esses carboidratos, através da multiplicação por um fator correspondente à

remoção de uma molécula de água para a formação de ligação glicosídica. O valor obtido

é comparado com a quantidade inicial de substrato adicionada e o rendimento percentual

é calculado.

4.16 ANALISE DAS POLPAS PARCIALMENTE HIDROLISADAS POR GPC.

Os resíduos parcialmente hidrolisados, obtidos dos experimentos de hidrólise

enzimática, foram lavados exaustivamente com água e liofilizados. Cerca de 15 mg do

material foram então suspensos em 3 mL de sulfóxido de dimetila e depois carbamilados

através da reação com 300 µL de isocianato de fenila por 48h a 80ºC em um bloco de

aquecimento, com agitação ocasional (Ramos et al., 1993b, 1999b). A reação foi

interrompida pela adição de 10 mL de metanol:água (80:20), que ocasionou a precipitação

do derivado carbamilado. O material foi filtrado, lavado três vezes com metanol e, depois

de seco, solubilizado em tetraidrofurano para analise por cromatografia de permeação em

gel, como descrito no item 4.13.

Page 79: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

61

O cálculo da massa molecular da celulose per-carbamilada foi procedido pelo

método de calibração universal, conforme com a equação proposta por Ramos et al.

(1993b).

(4)

Nesse cálculo foram utilizados os valores das constantes de Mark-Houwink

propostos por Valtasaari e Saarela (1975), que correspondem a αc = 0,92 e Kc= 2,01x10-5

para a celulose per-carbamilada e αp = 0,74 e Kp = 1,18x10-4 para o poliestireno, ambos

em THF. Assim, baseados na curva de calibração dos padrões de poliestireno (Figura 22),

foi possível calcular o número molecular médio (ou média aritmética das massas

moleculares, MMN) e a massa molecular média (ou média ponderada das massas

moleculares, MMM) da celulose per-carbamilada, sendo que o grau de polimerização (GP)

foi determinado pela relação de GP = MM/519, onde o denominador corresponde à massa

molecular de uma unidade de anidroglucose per-carbamilada. Por fim, a razão

MMM/MMN foi utilizada como medida da polidispersidade da polpa, que representa o

desvio padrão da distribuição em torno de seu ponto central.

(1 + αp) ln Mp + ln (Kp/Kc)

1 + αc

ln Mc =

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62

FIGURA 22 - CURVA DE CALIBRAÇÃO UTILIZADA NA DETERMINAÇÃO DAS MASSAS

MOLARES DAS POLPAS CELULÓSICAS PARCIALMENTE HIDROLISADAS

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

6,5

7,0

20 22 24 26 28 30 32 34

Tempo de Eluição (min)

log (M

M)

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63

4.17 ESTUDO COMPARATIVO

Todos os ensaios foram realizados para o complexo celulásicos de P.

echinulatum, juntamente com a Celluclast 1.5L FG®, que serviu como controle dos

experimentos, pois o complexo celulásico de T. reesei já foi amplamente estudado e

muito já se sabe sobre o seu modo de ação catalítica. A realização simultânea de

experimentos com os dois sistemas celulásicos permite assegurar bons critérios de de

validação analítica para os procedimentos utilizados neste projeto, além disso os

resultados foram comparados também com dados já reportados em literatura, aumentando

a base de comparação entre os dois complexos celulásicos.

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64

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 ESCOLHA DO SISTEMA TAMPONANTE

Os tampões citrato e acetato são amplamente citados na literatura para o estudo

de celulases e a escolha do sistema tamponante a ser utilizado neste trabalho foi

determinada através da comparação da atividade celulásica nestes dois sistemas (Figura

23).

FIGURA 23 - COMPARAÇÃO DAS ATIVIDADES CONTRA PAPEL DE FILTRO DE COMPLEXOS

CELULÁSICOS DE T. reesei E P. echinulatum, DETERMINADAS EM (█) TAMPÃO

CITRATO 50 mmol/L, pH 4,8 (█) E TAMPÃO ACETATO 50 mmol/L, pH 4,8

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

T. reesei P. echinulatum

UPF

/mL

Os complexos celulásicos exibiram atividade superior quando o sistema

tamponante utilizado foi o citrato, efeito também observado anteriormente por Camassola

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65

et al (2004). Além de a atividade ter sido superior em tampão citrato, esse sistema

tamponante também apresenta vantagens operacionais, já que não oferece perdas nas

temperaturas utilizadas nos ensaios (50ºC) e é de fácil preparação, uma vez que o ácido

cítrico é um sólido e sua manipulação é mais simples. Portanto, o sistema tamponante

citrato/ácido cítrico 50 mmol/L pH 4,8 foi selecionado para a utilização em todos os

experimentos realizados neste trabalho.

5.2 DETERMINAÇÃO DAS PROTEÍNAS

A determinação da concentração de proteínas nem sempre é uma tarefa simples,

pois vários fatores podem gerar erros na medida final (Zaia et al, 1998; Adney et al,

1995). Três são os principais fatores que influenciam estas medidas:

1) Cada método de dosagem de proteínas está baseado em um princípio

diferente de identificação e quantificação.

2) A presença de componentes não protéicos na solução enzimática ou no

meio reacional pode ser uma fonte de erro, caso estes interferiram com

os resultados do método quantitativo;

3) Outras proteínas não celulásicas presentes na preparação enzimática

podem comprometer a interpretação dos resultados de atividade

especifica.

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66

Para tentar solucionar parte destas questões, dois métodos foram utilizados para a

determinação da concentração das proteínas, neste trabalho: o método de Lowry, que é

recomendado pela IUPAC para celulases (Ghose, 1986), e o método de Bradford

(Bradford, 1976), cuja praticidade e rapidez tem justificado o seu uso em pesquisas com

tecnologia enzimática. As proteínas foram precipitadas segundo o item 4.3 e em seguida

foram solubilizadas em tampão citrato 50 mmol/L, pH 4,8 para a determinação das

proteínas solúveis.

A Tabela 1 apresenta os valores de concentração de proteínas encontrados para os

complexos enzimáticos de P. echinulatum e T. reesei. Como esperado, a concentração de

proteínas no complexo de T. reesei foi muito superior, pois as enzimas de P. echinulatum

foram produzidas em fermentação de bancada e não foram concentradas, enquanto que a

Celluclast 1.5L FG® é um produto comercial concentrado em que são incorporados

aditivos para garantir a estabilidade de uma grande quantidade de proteína em solução.

Em geral, para uma mesma enzima, os valores determinados pelo método de

Lowry foram 2 vezes superiores aos obtidos pelo método de Bradford. Por outro lado, de

acordo com o método de Lowry, a concentração de proteínas da Celluclast 1.5L FG® foi

315 vezes superior ao de P. echinulatum, enquanto que, para o método de Bradford, esse

valor correspondeu a 404. Tais diferenças se devem ao fato de que as enzimas estudadas

apresentam estrutura primária distinta, além de diferentes graus de glicosilação. Portanto,

esses fatores refletem na resposta das proteínas do T. reesei e do P. echinulatum para cada

um dos métodos analíticos empregados neste trabalho.

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67

Os dados da Tabela 1 também indicaram um menor desvio padrão relativo para o

método de Lowry, demonstrando que este procedimento apresenta maior confiabilidade

analitica.

TABELA 1 - CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS DOS COMPLEXOS CELULÁSICOS

Proteínas, mg/mL

Enzima Lowry Bradford

T. reesei 114,344 ± 1,267 60,049 ± 2,457

P. echinulatum 0,363 ± 0,003 0,149 ± 0,016

5.3 ATIVIDADE CONTRA SUBSTRATOS-MODELO

A atividade volumétrica dos dois complexos celulásicos foi medida contra os

seguintes substratos-modelo: papel de filtro (PF), carboximetilcelulose de viscosidade

média (CMC), hidroxietilcelulose (HEC), Sigmacell® tipo 50 (SIG), xilana de madeira de

vidoeiro (XMV), xilana de endoderma de aveia (XAE), p-nitrofenil-glucopiranosídio

(pNPG) e celobiose. Devido à alta concentração de proteínas existente no complexo

celulásico de T. reesei, que é um preparado industrial, a comparação direta das atividades

volumétricas não foi capaz de evidenciar quaisquer diferenças entre os sistemas, pois

todos os valores foram muito superiores para o T. reesei. A alternativa imediata para a

comparação desses dados seria a atribuição desses valores com base na concentração de

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68

proteínas, ou seja, a atividade enzimática volumétrica expressa por unidade de proteína

(UI/mg) (Tabelas 2). No entanto, esta medida não está livre da influência dos fatores

listados no item anterior.

TABELA 2 - ATIVIDADES VOLUMÉTRICAS ABSOLUTAS E POR UNIDADE DE PROTEÍNA

Page 87: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

69

Celobiose

p-Nitrofenil-

glucopiranosídeo

Sigmacell ®

tipo 50

Xilana de endoderm

a de aveia

Xilana de m

adeira de vidoeiro

Hidroxietilcelulose

Carboxim

etilcelulose

Papel de filtro

Substratos

Enzim

a

17,6 ± 0,11

43,3 ± 0,40

40,40 ± 0,39

1367,1 ± 3,51

1232,88 ± 43,92

1390,3 ± 1,42

766,67 ± 6,52

110,2 ± 3,01

UI/m

L

0,15 ± 0,01

0,38 ± 0,01

0,35 ± 0,01

11,95 ± 0,14

10,80 ± 0,32

12,16 ± 0,14

6,70 ± 0,06

0,96 ± 0,03

Low

ry*

0,29 ± 0,01

0,72 ± 0,03

0,67 ± 0,01

22,76 ± 0,91

20,53 ± 0,53

23,15 ± 0,93

12,76 ± 0,11

1,83 ± 0,09

Bradford**

Atividade em

UI/m

g com base em

:

T. reesei

0,19 ± 0,01

0,31 ± 0,01

0,10 ± 0,01

3,29 ± 0,18

3,16 ± 0,07

4,68 ± 0,13

1,53 ± 0,01

0,27 ± 0,02

UI/m

L

0,52 ± 0,03

0,85 ± 0,05

0,27 ± 0,02

9,02 ± 0,50

17,02 ± 0,11

12,88 ± 0,37

4,25 ± 0,03

0,74 ± 0,05

Low

ry*

* Método de L

owry: T

. reesei = 114,34 ± 1,28 mg/m

L; P

. echinulatum = 0,363 ± 0,003 m

g/mL

** Método de B

radford: T. reesei = 60,04 ± 2,45 m

g/mL; P

. echinulatum = 0,149 ± 0,016 m

g/mL

1,28 ± 0,06

2,08 ± 0,15

0,67 ± 0,07

22,05 ± 1,10

21,07 ± 0,18

31,45 ± 2,52

10,20 ± 0,05

1,81 ± 0,07

Bradford**

Atividade em

UI/m

g com base em

:

P. ech

inulatum

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70

Após a realização dos cálculos das atividades por unidade de proteína, foi

observada uma maior proximidade entre os valores obtidos para T. reesei e para P.

echinulatum e algumas comparações puderam então ser realizadas com dados disponíveis

na literatura. Com base na determinação de proteínas pelo método de Lowry, Castellanos

(1995) demonstrou que a atividade específica de uma cepa de Penicillium sp.

correspondeu a 0,35, 0,92 e 0,11 U/mg para a hidrólise do papel de filtro, pNPG e

celobiose, respectivamente, enquanto que, neste trabalho, os valores para o P.

echinulatum foram de 0,74, 0,85 e 0,52 U/mg. Portanto, o complexo de P. echinulatum

possui maior atividade contra papel de filtro e celobiose, enquanto que o Penicillium sp.

possui maior afinidade pelo pNPG. Este autor também encontrou valores de 0,32 U/mg e

0,0021 U/mg para as atividades contra papel de filtro e celobiose em uma cepa de T.

reesei produzida pela Privolzhski Fermentation Plant – PFP (Rússia), e de 0,41 U/mg e

0,037 U/mg para uma cepa de T. reesei produzida pela Genencor (CA, USA),

demonstrando a baixa atividade β-glucosidásica nos complexos enzimáticos de T. reesei

em relação às cepas do gênero Penicillium. Estes valores foram inferiores aos encontrados

neste trabalho para a Celluclast 1.5L FG®, que corresponderam a 0,96 e 0,15 U/mg,

respectivamente.

Durand (1984) demonstrou que as enzimas de Penicillium sp. apresentam

atividade β-glucosidásica 4,7 vezes superior à observada em celulases de T. reesei. Outros

autores também demonstraram resultados similares para diferentes espécies de

Penicillium (Jørgensen et al, 2005; Wyk, 1999). Os resultados obtidos neste trabalho

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71

estão de acordo com os citados acima quando se conclui que a atividade β-glucosidásica é

superior em complexos celulásicos do gênero Penicillium. Porém, diferenças também

foram encontradas na relação numérica entre as atividades, ou seja, a afinidade das

enzimas pelos substratos testados não conserva a mesma proporção.

Quando os complexos celulásicos de P. echinulatum e de T. reesei foram

comparados, utilizando os dados exibidos nas Tabela 2, conclusões muito diferentes

podem ser obtidas dependendo do método de dosagem de proteínas fixado como

referência. Por exemplo, considerando-se a hidroxietilcelulose como substrato, o P.

echinulatum apresentou atividade endoglucanásica 6% maior do que T. reesei quando a

dosagem de proteínas foi feita pelo método de Lowry, mas quando esta mesma

comparação foi realizada com base no método de Bradford, a atividade do P. echinulatum

apresentou-se 34% superior. Portanto, para poder comparar as respectivas atividades

volumétricas, todos os valores foram indexados em relação à atividade contra papel de

filtro, que representa a atividade celulásica total (Tabela 3).

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72

TABELA 3 - ATIVIDADES VOLUMÉTRICAS EM RELAÇÃO A ATIVIDADE CONTRA PAPEL DE

FILTRO

Enzima P. echinulatum T. reesei

Razão

P. echinulatum /

T. reesei

PF/PF 1 1 1

CMC/PF 5,68 6,97 0,81

HEC/PF 17,34 12,64 1,37

SIG/PF 0,37 0,37 1

XMV/PF 11,69 11,20 1,04

XEA/PF 12,17 12,43 0,98

pNPG/PF 1,14 0,39 2,92

Celobiase/PF 0,69 0,16 4,31

Os dados apresentados na Tabela 3 têm como destaque a atividade β-

glucosidásica contra celobiose e pNPG. A atividade celobiásica do P. echinulatum foi

4,31 vezes maior do que a determinada para ao T. reesei, enquanto que a atividade contra

o pNPG apresentou uma diferença menor, de 2,92 vezes. O pNPG é um substrato

específico para β-glucosidases e, por esta razão, era esperado que fosse hidrolisado em

maior quantidade do que a celobiose, pois o p-nitrofenol é um bom grupo abandonador e

a enzima não precisa ser especifica para ligações β-(1→4) para conseguir hidrolisar este

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73

substrato, enquanto que a celobiose é um substrato mais estável e será somente

hidrolisada por enzimas que apresentem esta especificidade. Jørgensen et al (2005)

encontrou uma razão pNPG/PF de 0,4 para o T. reesei contido na Celluclast FG 1.5L®

(Novozymes) e valores de 4,1, 1,9 e 7,6 para três diferentes espécies de Penicillium (P.

pinophilum, P. persicinum e P. brasilianum, respectivamente). O razão pNPG/PF para o

P. echinulatum foi de 1,14. Portanto, o P. echinulatum apresentou uma razão pNPG/PF

mais baixa do que todos os outros complexos celulásicos de Penicillium relatados por

estes autores, mas ainda assim é superior a razão encontrada para a Celluclast 1.5L FG®

de T. reesei.

As atividades contra xilanas de madeira de vidoeiro e de endoderma de aveia

foram equivalentes para os dois complexos celulásicos. No entanto, as enzimas de T.

reesei apresentaram maior atividade contra CMC, enquanto que o complexo de P.

echinulatum apresentou maior atividade contra HEC. Ambos os substratos são indicados

como modelo para se avaliar a atividade endoglucanásica, mas suas diferentes

propriedades estruturais podem interferir na ação das enzimas, gerando comportamentos

distintos. Estas interferências podem ser parcialmente atribuídas ao tipo de substituinte

ligado à cadeia de celulose, hidroxietílico ou carboximetílico. No entanto, a interpretação

destes resultados experimentais não constitui o objetivo deste trabalho, porque exigiria o

isolamento e a purificação de cada uma das principais endoglucanases presentes nos

complexos enzimáticos envolvidos neste estudo.

Page 92: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

74

A atividade contra Sigmacell® tipo 50 (celulose microcristalina) também foi

determinada porque este substrato apresenta alta organização estrutural, baixo grau de

polimerização e grande disponibilidade de grupos terminais redutores e não redutores, o

que já o caracteriza como substrato ideal para avaliação da atividade celobioidrolásica.

Surpreendentemente, a atividade contra esse substrato, considerando-se a quantidade de

ligações glicosídicas hidrolisadas, foi equivalente para os dois complexos celulásicos aqui

estudados. Porém, a análise dos carboidratos solúveis produzidos durante a hidrólise

(Figura 24) mostra que as β-glucosidases do P. echinulatum podem ter sido as grandes

responsáveis por este resultado, pois, ao converterem uma grande quantidade de celobiose

em glucose, causaram um aumento considerável do poder redutor do meio reacional. A

prova disso é que, para o complexo celulásico de P. echinulatum, a concentração de

glucose nos hidrolisados foi superior à concentração deste carboidrato nos hidrolisados de

T. reesei. Na tentativa de refinar o estudo comparativo entre as atividades dos complexos

celulásicos de P. echinulatum e de T. reesei contra Sigmacell® tipo 50, foi utilizado como

referência o modelo do T. reesei, onde a razão molar entre a celobiose/glucose foi de

0,76. Ao simular o produto de hidrólise de P. echinulatum para uma razão molar

celobiose/glucose de 0,76, a atividade volumétrica relativa do complexo celulásico

(SIG/PF) foi reduzida para 0,28, demonstrando que o complexo celulásico de T. reesei

definitivamente possui uma atividade celobioidrolásica maior.

Page 93: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

75

FIGURA 24 - QUANTIDADE DE CELOBIOSE (█), GLUCOSE (█), CELOBIOSE + GLUCOSE (█) E

RAZÃO CELOBIOSE/GLUCOSE (█) NOS HIDROLISADOS PRODUZIDOS PELO (A)

P. echinulatum, (B) T. reesei E (C) P. echinulatum CORRIGIDO PARA A MESMA

RAZÃO MOLAR CELOBIOSE/GLUCOSE APRESENTADA NOS HIDROLISADOS DE

T. reesei

0,000,501,001,502,002,503,003,50

T.r. P.e. P.e. corrigido

Carbo

idrato (mmol)

O maior título de atividade β-glucosidásica em P. echinulatum também foi

caracterizado pela análise cromatográfica dos hidrolisados produzidos pela ação

enzimática sobre o papel de filtro.

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76

FIGURA 25 - PORCENTAGEM DE GLUCOSE ( █ ) E CELOBIOSE ( █ ) NOS HIDROLISADOS DO

PAPEL DE FILTRO

0%

20%

40%

60%

80%

100%

P. echinulatum T. reesei

Carbo

idrato (%

)

A Figura 25 demonstra que o P. echinulatum produziu, após uma hora de

hidrólise, 57% de açúcares redutores na forma de glucose e 43% na forma de celobiose,

enquanto que o T. reesei produziu apenas 27% de glucose e 73% de celobiose sob as

mesmas condições experimentais. Esta observação reitera o fato de que as enzimas de P.

echinulatum possuem maior atividade β-glucosidásica que as de T. reesei (Celluclast 1.5L

FG®).

Page 95: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

77

5.4 HIDRÓLISE DE SUBSTRATOS CELULÓSICOS

Vários experimentos de hidrólise foram realizados para comparar a capacidade

dos complexos celulásicos de P. echinulatum e T. reesei em sacarificar substratos

celulósicos. No primeiro experimento, foi selecionada uma polpa branqueada obtida pelo

processo kraft por ser este um substrato de baixo grau de organização estrutural e,

conseqüentemente, mais susceptível à hidrolise enzimática. O experimento foi realizado

utilizando-se polpas em uma suspensão a 4% (m/v) e com uma carga enzimática de 15

UPF/g de substrato para o P. echinulatum e de 11 UPF/g substrato para o T. reesei (Figura

26).

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78

FIGURA 26 - HIDRÓLISE DE POLPA KRAFT BRANQUEADA POR CELULASES DE P.

echinulatum (□) E DE T. reesei (○) A UMA CARGA ENZIMÁTICA DE 15 E 11 UPF/g

DE SUBSTRATO, RESPECTIVAMENTE

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Tempo (h)

Ren

dimen

to (%

)

O rendimento de hidrólise com celulases de P. echinulatum foi

consideravelmente superior (aproximadamente 12% após 72h de hidrólise), produzindo

maior quantidade de açúcares durante o processo. No entanto essa diferença foi

provavelmente devida à carga enzimática utilizada para cada um dos experimentos, pois o

sistema com P. echinulatum apresentou 4 UPF/g de substrato a mais do que aquele que

empregou celulases de T. reesei. Por outro lado, o P. echinulatum possui uma maior

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79

quantidade de β-glucosidases que, ao converterem celobiose em glucose, diminuem a

repressão catabólica do meio reacional, particularmente sobre as exoglucanases. As

Figuras 27 e 28 apresentam a variação da quantidade de glucose e celobiose durante a

hidrólise de polpa kraft deslignificada. Os hidrolisados de P. echinulatum foram

compostos majoritariamente por glucose e os de T. reesei apresentaram uma quantidade

considerável de celobiose. Portanto, a soma da quantidade dos dois açúcares (em unidades

de massa) teve pouca influência sobre o rendimento final de hidrólise com celulases de P.

echinulatum, mas para o T. reesei, o cômputo da celobiose como produto de reação foi

muito mais significativo.

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80

FIGURA 27 - QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (□), CELOBIOSE (○) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (∆) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO T. reesei COM ATIVIDADE DE

11 UPF/g DE SUBSTRATO SECO DURANTE A HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT

BRANQUEADA

0,00,10,20,30,40,50,60,70,80,91,01,11,2

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Tempo (h)

Carbo

idrato (g)

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81

FIGURA 28 - QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (■), CELOBIOSE (●) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (▲) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO P. echinulatum COM ATIVIDADE

DE 15 UPF/g DE SUBSTRATO SECO DURANTE A HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT

BRANQUEADA

0,00,10,20,30,40,50,60,70,80,91,01,11,2

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Tempo (h)

Carbo

idrato (g

)

Uma polpa não branqueada obtida pelo processo kraft, contendo cerca de 5% de

lignina residual, também foi hidrolisada sob as mesmas condições empregadas no

experimento anterior (Figura 29). Com a utilização deste substrato, foi possível avaliar o

efeito da lignina sobre o comportamento das enzimas durante a hidrólise. O P.

echinulatum apresentou, novamente, o maior rendimento, mas a diferença entre os

rendimentos caiu para aproximadamente 10%, enquanto que na hidrólise da polpa

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82

branqueada, o P. echinulatum apresentou conversão 15% superior ao T. reesei em 48 h de

hidrólise. Este resultado indica uma provável influência da lignina sobre o

comportamento das enzimas presentes no complexo de P. echinulatum, uma vez que

houve uma redução na diferença entre os rendimentos quando o substrato utilizado

continha lignina.

FIGURA 29 - HIDRÓLISE DE POLPA KRAFT NÃO BRANQUEADA POR CELULASES DE P.

echinulatum (■) E DE T. reesei (●) A UMA CARGA ENZIMÁTICA DE 15 E 11 UPF/g

DE SUBSTRATO, RESPECTIVAMENTE

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Tempo (h)

Ren

dimen

to (%)

Page 101: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

83

A variação da quantidade de glucose e celobiose também foi acompanhada

durante a hidrólise da polpa kraft não branqueada (Figuras 30 e 31), para que se pudesse

inferir alguma conclusão sobre o efeito da lignina sobre as β-glucosidases. O

comportamento do P. echinulatum foi semelhante à hidrólise da polpa branqueada, mas o

T. reesei apresentou uma porcentagem de celobiose maior do que na hidrólise anterior,

indicando uma possível inativação das β-glucosidases por influência da lignina.

FIGURA 30 - QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (□), CELOBIOSE (○) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (∆) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO T. reesei COM ATIVIDADE DE

11 UPF/g DE SUBSTRATO SECO DURANTE A HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT NÃO

BRANQUEADA A 4% (m/v)

0,00,10,20,30,40,50,60,70,80,91,01,11,2

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Tempo (h)

Carbo

idrato (g)

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84

FIGURA 31 - QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (■), CELOBIOSE (●) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (▲) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO P. echinulatum COM ATIVIDADE

DE 15 UPF/g DE SUBSTRATO SECO DURANTE A HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT

NÃO BRANQUEADA A 4% (m/v)

0,00,10,20,30,40,50,60,70,80,91,01,11,2

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Tempo (h)

Carbo

idrato (g

)

A Figura 32 compara a porcentagem de glucose e celobiose produzidas durante a

hidrólise de polpas kraft branqueadas e não branqueadas pelos dois complexos

celulásicos. O P. echinulatum apresentou um pequeno decréscimo na produção de glucose

durante a hidrólise da polpa kraft não branqueada, quando comparada com a polpa kraft

branqueada. Já o T. reesei apresentou uma diferença maior entre as duas hidrólises,

principalmente a partir de 11 horas de reação, quando há um aumento na taxa de produção

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85

de glucose durante a hidrólise da polpa kraft branqueada que não é detectado durante a

hidrólise da polpa kraft não branqueada. Por interação hidrofóbica, as enzimas podem

adsorver na lignina, resultando na redução da atividade celulásica. Foi relatado que as β-

glucosidases adsorvem fortemente na lignina e esse fato pode ser observado

principalmente no caso da hidrólise realizada com as enzimas de T. reesei. Breuil et al

(1992) demonstraram que a influência das β-glucosidases no ensaio de atividade contra

papel de filtro é baixa, pois a sua cinética é lenta e o experimento dura apenas 1 h, mas

quando se avalia seu efeito em experimentos mais longos como a sacarificação da

celulose, estas enzimas exercem grande influência no rendimento final, pois sua ação é

efetiva em experimentos de longa duração. Esse fato pode ser observado também na

Figura 32, pois a proporção entre glucose e celobiose aumenta em favor de glucose ao

longo do experimento.

Como houve uma aproximação entre os rendimentos de hidrólise dos dois

complexos celulásicos e apenas o T. reesei apresentou redução na atividade β-

glucosidásica, é provável que outras enzimas (celobioidrolases e endoglucanases) do

complexo celulásicos de P. echinulatum tenham sido parcialmente adsorvidas na lignina

residual.

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86

FIGURA 32 - PORCENTAGEM DE GLUCOSE ( █ ) E CELOBIOSE ( █ ) PRODUZIDAS DURANTE

A HIDRÓLISE DE POLPA KRAFT BRANQUEADA (A) E NÃO BRANQUEADA (B)

PELO T. reesei E HIDRÓLISE DE POLPAS KRAFT BRANQUEADA (C) E NÃO

BRANQUEADA (D) PELO P. echinulatum

0%

25%

50%

75%

100%

6 11 25 48

Tempo (h)

% G

luco

se/C

elob

iose

0%

25%

50%

75%

100%

6 11 25 48

Tempo (h)

0%

25%

50%

75%

100%

6 11 25 48

Tempo (h)

% G

luco

se/C

elob

iose

0%

25%

50%

75%

100%

6 11 25 48

Tempo (h)

A B

C D

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87

5.5 ADIÇÃO DE β-GLUCOSIDASE

Experimentos de hidrólise também foram realizados para comparar a capacidade

dos complexos celulásicos de P. echinulatum e T. reesei em sacarificar substratos

celulósicos sob as mesmas condições de inibição retroativa ou repressão catabólica.

Foram utilizados como substratos uma polpa branqueada obtida pelo processo kraft, por

ser este um substrato de baixo grau de organização estrutural e, conseqüentemente, mais

susceptível à hidrolise enzimática, e a Sigmacell® tipo 50, que corresponde a um substrato

de maior índice de cristalinidade (CrI) (Medve, 1997). Os experimentos foram realizados

em suspensão do substrato a 2% (m/v) e, para igualar a atividade β-glucosidásica nos dois

complexos celulásicos, a Celluclast 1.5L FG® foi suplementada com β-glucosidases

comerciais de A. niger (Novozym 188®, Novozymes).

A Figura 33 apresenta a hidrólise da polpa kraft branqueada e da Sigmacell ® tipo

50 pelo P. echinulatum. A carga enzimática empregada foi de 5,5 UPF/g e de 6,3 UβG/g

em relação ao substrato seco, sem suplementação de β-glucosidases.

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88

FIGURA 33 - HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT BRANQUEADA (○) E DA SIGMACELL® TIPO 50 (□)

PELO P. echinulatum A UM CARGA ENZIMÁTICA DE 5,5 UPF/g E DE 6,3 UΒG/g EM

RELAÇÃO AO SUBSTRATO SECO

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

Ren

dimen

to (%)

O complexo celulásico de P. echinulatum apresentou maior rendimento de

hidrólise quando a polpa kraft branqueada foi utilizada, uma vez que este substrato possui

menor organização estrutural, permitindo maior acessibilidade das enzimas às ligações

glicosídicas.

As Figuras 34 e 35 apresentam a variação na quantidade de glucose e celobiose

produzidas no meio reacional durante a hidrólise. Foi, portanto, demonstrado que a

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89

quantidade de β-glucosidases presentes no complexo celulásico de P. echinulatum é

suficiente para remover toda a celobiose presente no meio reacional, permitindo que as

celulases trabalhassem sem os efeitos inibitórios desse carboidrato.

FIGURA 34 - QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (○), CELOBIOSE (□) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (∆), PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO P. echinulatum, DURANTE A

HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT BRANQUEADA A 2% (m/v)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

Carbo

idrato (g

)

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90

FIGURA 35 - QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (○), CELOBIOSE (□) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (∆) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO P. echinulatum, DURANTE A

HIDRÓLISE DA SIGMACELL® TIPO 50 A 2% (m/v)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

Carbo

idrato (g

)

As enzimas de T. reesei suplementadas com β-glucosidases apresentaram um

comportamento semelhante, quando hidrolisaram estes substratos a uma carga enzimática

de 11,5 UPF/g e 13,2 UβG/g de substrato seco (Figura 36).

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91

FIGURA 36 - HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT BRANQUEADA (●) E DA SIGMACELL® TIPO 50 (■)

PELO T. reesei, A UM CARGA ENZIMÁTICA DE 11,5 UPF/g E DE 13,2 UΒG/g EM

RELAÇÃO AO SUBSTRATO SECO

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

Ren

dimen

to (%)

As curvas de produção de glucose e celobiose, para os experimentos onde foi

utilizado o complexo celulásico de T. reesei suplementado com β-glucosidases, estão

apresentados nas Figuras 37 e 38. Estes dados demonstraram que os níveis de β-

glucosidase adicionados foram suficientes para remover praticamente toda a celobiose do

meio reacional.

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92

FIGURA 37 - QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (●), CELOBIOSE (■) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (▲) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO T. reesei, DURANTE A

HIDRÓLISE DA POLPA KRAFT BRANQUEADA A 2% (m/v)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

Carbo

idrato (g

)

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93

FIGURA 38 - QUANTIDADE LIBERADA DE GLUCOSE (●), CELOBIOSE (■) E GLUCOSE +

CELOBIOSE (▲) PELO COMPLEXO ENZIMÁTICO T. reesei, DURANTE A

HIDRÓLISE DA SIGMACELL® TIPO 50 A 2% (m/v)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

Carbo

idrato (g)

Após a avaliação da eficiência com que cada complexo celulásico hidrolisou os

substratos testados, foram realizados experimentos onde o desempenho das enzimas foi

comparado frente à hidrólise de um mesmo substrato.

A Figura 39 apresenta a hidrólise da Sigmacell® tipo 50 pelo complexo celulásico

de P. echinulatum e pelas celulases de T. reesei suplementadas com Novozym 188®, a

uma carga enzimática de 10 UPF/g e 11,4 UβG/g em relação ao substrato seco.

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94

FIGURA 39 - HIDRÓLISE DA SIGMACELL® TIPO 50 EM CONCENTRAÇÃO DE 2%(m/v) POR P.

echinulatum (■) E T. reesei + NOVOZYM 188® (●), A UMA CARGA ENZIMÁTICA DE

10 UPF/g E 11,5 UΒG/g DE SUBSTRATO SECO

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

Ren

dimen

to (%)

Os dois complexos apresentaram um comportamento semelhante durante o

experimento, mas o rendimento de hidrólise foi mais alto para o complexo celulásico de

T. reesei ao longo de toda a curva. Como as atividades β-glucosidásica e celulásica total

foram equivalentes para os dois complexos celulásicos, este experimento permitiu

verificar, ainda que indiretamente, a influência das celobioidrolases no processo.

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95

5.6 ESTABILIDADE DAS ENZIMAS

A estabilidade dos complexos celulásicos à agitação (150 rpm), na temperatura de

45ºC, foi acompanhada nas mesmas condições de hidrólise, sem a presença de substrato

no meio, para se avaliar o comportamento das enzimas quanto a estabilidade à agitação e

temperatura. Foram retiradas alíquotas em diferentes intervalos de tempo e estas tiveram

seu potencial hidrolítico testado contra papel de filtro e pNPG, além de ter sido dosada a

concentração de proteínas.

FIGURA 40 - VARIAÇÃO DOS ART PRODUZIDOS NA HIDRÓLISE DO PAPEL DE FILTRO POR

P. echinulatum (■) E T. reesei (●) EM CONDIÇÕES EXPERIMENTAIS DE HIDRÓLISE

0,00,10,20,30,40,50,60,70,80,91,01,11,2

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

[ART]

/mL

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96

FIGURA 41 - VARIAÇÃO DA ATIVIDADE β-GLUCOSIDÁSICA CONTRA pNPG DAS ENZIMAS

DE P. echinulatum (■) E T. reesei (●)

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

pNPG

(mmol/m

L)

A produção de ART na hidrólise do papel de filtro e a atividade contra pNPG

acompanhadas durante o período de hidrólise estão apresentados nas Figuras 40 e 41.

Não foi possível calcular a atividade contra papel de filtro com precisão porque a

concentração das enzimas foi inferior à mínima necessária para que o cálculo

recomendado pela IUPAC fosse realizado. Por essa razão, a [ART] (definir) produzida

durante a hidrólise do papel de filtro foi utilizada para a construção do perfil de

estabilidade das enzimas durante o processo de hidrólise. A [ART] apresentou uma

Page 115: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

97

variação semelhante para os dois complexos celulásicos. Houve uma grande queda até

24h que, posteriormente, passou a ser constante. A atividade contra pNPG apresentou o

mesmo perfil para os dois complexos, mas com valores superiores para o P. echinulatum,

com uma queda em 24h e um ascensão em 48h, até recuperação de quase 100% da

atividade inicial. Essa queda em 24h também foi observada na concentração de proteínas

(Figura 42). (reescrever)

FIGURA 42 - VARIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS DURANTE O EXPERIMENTO

DE HIDRÓLISE. (◊) T. reesei SUPLEMENTADO COM β-GLUCOSIDASES

EXÓGENAS E (■) P. echinulatum

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Tempo (h)

Proteína

s (m

g/mL)

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98

5.7 ESTUDOS DE ADSORÇÃO

Foram realizados estudos de adsorção das enzimas ao substrato, comparando três

sistemas enzimáticos: P. echinulatum, T. reesei e T. reesei + β-glucosidase (Novozym

188®). As alíquotas foram retiradas do meio durante a hidrólise de uma polpa kraft

branqueada e as proteínas foram medidas, sem nenhuma etapa de purificação prévia, pelo

método de Bradford (1976), já que este método não sofre qualquer interferência dos

açúcares redutores presentes no meio reacional (Zaia et al, 1998). Estes resultados estão

apresentados na Figura 43.

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99

FIGURA 43 - PERCENTAGEM DAS PROTEÍNAS REMANESCENTES NO MEIO REACIONAL

DURANTE A HIDRÓLISE A 2% (m/v) DA POLPA KRAFT BRANQUEADA. T. reesei

(□), P. echinulatum (▲) E T. reesei + β-GLUCOSIDASE (■)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 6 12 18 24 30 36 42 48

Tempo (h)

Proteina

s (%

)

Os complexos celulásicos de P. echinulatum e de T. reesei apresentaram o mesmo

perfil de adsorção onde, após 12 h de hidrólise, 25% das proteínas contidas no meio

reacional adsorveram ao substrato, enquanto que o meio reacional com celulases de T.

reesei suplementadas com β-glucosidases exógenas apresentou uma adsorção de 50% das

proteínas contidas no meio reacional. Através de cálculos relacionados à quantidade de β-

glucosidases adicionadas no sistema, foi possível observar que a quantidade de proteínas

Page 118: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULÁSICO DE … · responsáveis pela produção do complexo celulásico utilizado neste trabalho e que me receberam de maneira muito gentil, quando

100

adsorvidas correspondeu à somatória das proteínas presentes no complexo celulásico de

T. reesei puro com aquelas adicionadas ao meio na forma de β-glucosidases. Portanto, é

provável que a diferença observada na Figura 43 corresponda unicamente ao suplemento

de β-glucosidases que, de alguma forma, permaneceu adsorvido no substrato.

5.8 AVALIAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DAS MASSAS MOLARES

Um experimento foi realizado com a mesma polpa kraft branqueada empregada

nos experimentos anteriores com a intenção de se avaliar o efeito dos complexos

celulásicos sobre a distribuição das massas molares do material parcialmente hidrolisado

e, devido a necessidade de se utilizar um grande número de frascos, este experimento foi

realizado em um banho Dubnof com agitação reciprocante. A hidrólise do substrato foi

realizada a 2% (m/v) com atividade celulásica total ajustada em 10 UPF/g em relação ao

substrato seco. No entanto, a atividade β-glucosidásica variou em cada procedimento de

hidrólise, sendo de 3,9 UβG/g para Celluclast 1.5L FG® (T. reesei) e de 11,4 UβG/g para

as enzimas de P. echinulatum e de Celluclast 1.5L FG® (T. reesei) suplementada com

Novozym 188® (Figura 44).

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101

FIGURA 44 - SACARIFICAÇÃO DA POLPA KRAFT BRANQUEADA A 2% (m/v) POR

CELULASES DE P. echinulatum (10 UPF/g E 11,4 UβG/g) (▲), T. reesei (10 UPF/g E 3,9

UβG/g) (■) E T. reesei + NOVOZYM 188® (10 UPF/g E 11,4 UβG/g) (♦)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 6 12 18 24 30 36 42 48

Tempo (h)

Ren

dimen

to (%)

As curvas de hidrólise produzidas pelo P. echinulatum e por Celluclast 1.5L FG®

(T. reesei) foram semelhantes, embora o P. echinulatum tenha apresentado uma eficiência

um pouco superior. Porém, quando foram adicionadas β-glucosidases exógenas às

celulases de T. reesei, o rendimento de hidrólise superou os resultados apresentados pelo

P. echinulatum. Isso pode ser atribuído ao fato de que as enzimas de T. reesei atuam sob

condições inibitórias, já que possuem um sistema endo-exo de alta eficiência e não

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102

contam com a presença de β-glucosidases em quantidade suficiente para remover toda a

celobiose gerada. Portanto, como observado anteriormente, a adição de β-glucosidases

aperfeiçoou o sistema celulásico de T. reesei.

Polpas kraft branqueadas parcialmente hidrolisadas, recuperadas nos tempos de 2,

10, 24 e 48 h de reação, foram lavadas exaustivamente com água e, então, carbamiladas

segundo o procedimento descrito por Ramos (1993b, 1999) (vide item 4,16) para a

posterior análise por GPC (vide item 4,13). A Tabela 4 apresenta os rendimentos de

hidrólise e a variação do grau de polimerização observados durante experimentos em que

foram empregadas enzimas de P. echinulatum, T. reesei (Celluclast 1.5L FG®) e T. reesei

suplementada com β-glucosidases de A. niger (Celluclast 1.5L FG® + Novozym 188®).

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103

TABELA 4 - RENDIMENTO DE HIDRÓLISE E EFEITO DOS COMPLEXOS CELULÁSICOS

SOBRE O GRAU DE POLIMERIZAÇÃO DA POLPA KRAFT BRANQUEADA

Tempo (h) Rendimento (%) GPM GPN GPM/GPN

controle - 739 152 4,86

P. echinulatum *

2 14,16 987 142 6,95

10 29,26 1013 134 7,56

24 43,94 928 143 6,49

48 46,81 1000 199 5,03

T. reesei (Celluclast 1.5 L FG®) **

2 7,95 964 140 6,89

10 20,16 945 128 7,38

24 32,15 916 148 6,19

48 42,60 948 189 5,02

T. reesei (Celluclast 1.5 L FG®) + Novozym 188® ***

2 12,48 943 143 6,59

10 32,04 973 145 6,71

24 46,71 1005 203 4,95

48 64,77 925 154 6,01

*** Suspensão a 2 % (m/v) e atividade de 10 UPF/g e 11,4 UβG/g de substrato seco

*** Suspensão a 2 % (m/v) e atividade de 10 UPF/g e 3,9 UβG/g de substrato seco

*** Suspensão a 2 % (m/v) e atividade de 10 UPF/g e 11,4 UβG/g de substrato seco

Os complexos celulásicos estudados (P. echinulatum, T. reesei e T. reesei

suplementada com β-glucosidases exógenas) não só apresentaram o mesmo efeito sobre o

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104

grau de polimerização (GP) da polpa kraft branqueada, como também ocasionaram uma

variação equivalente no perfil cromatográfico que descreve a sua distribuição em massas

moleculares. Por conseguinte, a polidispersidade da polpa também variou de forma

equivalente nos três experimentos de hidrólise (Figuras 45, 46 e 47).

Foi observado que, depois de apenas 2h de hidrólise, houve um rápido consumo do

ombro da distribuição que correspondia à população de macromoléculas de menor massa

molar. Estes componentes, presentes em quantidade apreciável na polpa original, podem

ser atribuídos às hemiceluloses e oligômeros de celulose que foram formados durante as

etapas de polpação e branqueamento da polpa e que, provavelmente, se encontravam

dispersos na superfície das fibras. Tal hipótese justificaria a sua rápida sacarificação pela

ação sinérgica das celulases de P. echinulatum e T. reesei, com a subseqüente liberação

de açúcares redutores no meio reacional. É importante ressaltar que os cromatogramas

apresentados nas Figuras 45, 46 e 47 foram normalizados em relação à área; portanto, o

aumento aparente da contribuição de componentes de maior massa molar à distribuição

foi interpretado como sendo um artifício gerado pela forma como os dados

cromatográficos foram apresentados.

Em suma, a determinação do efeito da hidrólise enzimática sobre o GP da celulose

demonstrou que os dois complexos celulásicos exerceram suas atividades hidrolíticas

sobre o substrato de forma semelhante, através de um mecanismo de “peeling-off” em que

a sacarificação é realizada de forma progressiva e sinérgica, removendo camadas de

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105

celulose da superfície do substrato sem permitir o acúmulo de oligômeros de massa molar

intermediária.

FIGURA 45 - INFLUÊNCIA DO COMPLEXO CELULÁSICO DE P. echinulatum SOBRE O GRAU DE

POLIMERIZAÇÃO DA POLPA KRAFT BRANQUEADA, HIDROLISADA A UMA

CONSISTÊNCIA DE 2% (m/v). POLPA ORIGINAL (─), 2H (─), 10H (─), 24H (─) E

48H (─)

102 103 104 105 106 107 108-5,0x106

0,05,0x106

1,0x107

1,5x107

2,0x107

2,5x107

3,0x107

A (2

40 nm)

Massa Molecular

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106

FIGURA 46 - INFLUÊNCIA DO COMPLEXO CELULÁSICO DE T. reesei SOBRE O GRAU DE

POLIMERIZAÇÃO DA POLPA KRAFT BRANQUEADA, HIDROLISADA A UMA CONSISTÊNCIA

DE 2% (m/v). POLPA ORIGINAL (─), 2H (─), 10H (─), 24H (─) E 48H (─)

102 103 104 105 106 107 108-5,0x106

0,05,0x106

1,0x107

1,5x107

2,0x107

2,5x107

3,0x107

A (2

40 nm)

Massa Molecular

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107

FIGURA 47 - INFLUÊNCIA DO COMPLEXO CELULÁSICO DE T. reesei SUPLEMENTADO COM

Β-GLUCOSIDASES EXÓGENAS SOBRE O GRAU DE POLIMERIZAÇÃO DA POLPA

KRAFT BRANQUEADA, HIDROLISADA A UMA CONSISTÊNCIA DE 2% (m/v).

POLPA ORIGINAL (─), 2H (─), 10H (─), 24H (─) E 48H (─)

102 103 104 105 106 107 108-5,0x106

0,05,0x106

1,0x107

1,5x107

2,0x107

2,5x107

3,0x107

A (2

40nm

)

Massa Molecular

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108

6 CONCLUSÃO

O complexo enzimático de P. echinulatum apresentou uma quantidade de β-

glucosidases superior ao de T. reesei. Este fato demonstra a sua potencialidade em

processos onde a sacarificação total da celulose seja desejada, pois a manutenção da

celobiose em baixos níveis evita o efeito inibitório desta sobre as celulases. Por outro

lado, a atividade xilanásica dos dois complexos foi semelhante para os dois substratos

testados (XEA e XMV).

As diferenças estruturais dos derivados solúveis de celulose, CMC e HEC,

influenciaram na determinação da atividade endoglucanásica dos complexos celulásicos.

As enzimas de T. reesei apresentaram atividade superior contra CMC, enquanto que o

complexo de P. echinulatum apresentou maior atividade contra HEC. As razões desta

discrepância ainda deverão ser elucidadas. A atividade contra Sigmacell® tipo 50 também

foi equivalente para os dois complexos celulásicos, mas a análise dos carboidratos

solúveis produzidos durante a hidrólise indicou que, para uma mesma razão

celobiose/glucose, o complexo celulásico de T. reesei possui atividade celobioidrolásica

superior.

No estudo da hidrólise de substratos celulósicos, verificou-se que ambos os

complexos celulásicos hidrolisaram a polpa kraft em maior extensão por ser este um

substrato de menor organização estrutural, enquanto a celulose microcristalina

(Sigmacell® tipo 50) foi hidrolisada em menor extensão.

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109

O complexo celulásico de P. echinulatum mostrou-se mais eficiente do que o

complexo celulásico de T. reesei, sendo capaz de alcançar maiores rendimentos quando

utilizada a mesma atividade celulásica total inicial para os dois sistemas. No entanto,

quando o complexo de T. reesei foi suplementado com β-glucosidases exógenas, a sua

eficiência foi superior ao P. echinulatum, pois passou a constituir um complexo celulásico

mais completo. Apesar disto, nossos resultados demonstraram que o complexo celulásico

de P. echinulatum representa uma alternativa à sacarificação da celulose por não

necessitar de suplementação para alcançar um bom desempenho.

Finalmente, a investigação do efeito das enzimas de P. echinulatum e de T. reesei

sobre o grau de polimerização de uma polpa kraft branqueada permitiu concluir que os

dois complexos celulásicos apresentam praticamente o mesmo modo de ação catalítico,

agindo no substrato através da remoção progressiva de camadas de celulose dispostas na

superfície, e que a presença de β-glucosidades no meio reacional aumenta a eficiência de

hidrólise, mas não altera o sinergismo endo-exo que caracteriza o modo de ação destas

enzimas.

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110

7 TRABALHOS FUTUROS

Além dos resultados incorporados neste trabalho, novos experimentos serão

realizados para melhor caracterizar o complexo celulásico de P. echinulatum. Estes

experimentos incluem a investigação de seu perfil de hidrólise contra substratos-modelo

ainda não testados, como glucomananas, xiloglucanas, celulose amorfa e celulose

bacteriana, além de uma investigação mais aprofundada sobre a atividade

endoglucanásica contra carboximetilcelulose e hidroxietilcelulose. Novos experimentos

de sacarificação também serão importantes para ampliar o leque de informações obtido

sobre o modo de ação e eficiência catalítica das enzimas. Finalmente, estudos

cromatográficos e eletroforéticos sobre as proteínas constituintes dos complexos

celulásicos de P. echinulatum deverão ser realizados, em parceria com instituto finlandês

VTT Biotechnology (Espoo, Finlândia), para caracterizar os componentes enzimáticos do

complexo (endoglucanases, celobioidrolases e β-glucosidases) e eventualmente isolá-los

para a condução de ensaios de atividade específica.

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111

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