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Caráter Anal (Boca Santa - 5. Cu)

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Caráter Anal é o quinto livro da BOCA SANTA. É o Cu. E é cria de Isadora Krieger e Fernanda Grigolin. Conheça todos os palavrões e livros e tudo da BOCA SANTA: www.boca-santa.com

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Como brincar com o ânus é um exercício essencial à arte de se tornar homem, é melhor não interferir nisso. Se o adulto, ansiosamente, interrompe-o, isso inculca na função animal uma dose suplementar de angústia. Ele se torna mais ameaçador e tem de ser exageradamente negado e evitado como uma parte alheia à pessoa. Essa excessiva negação intimidadora é o que chamamos de “caráter anal”. Uma criação anal, pois, seria uma afirmação, por meio de intensa repressão, do horror ao degradante corpo animal como o fardo humano.

Otávio Alves Velho

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Até que,

O Edileuso pousou na Terra.

!!!!!!!!!!!!!!!

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!!!!!!

É um mysterium, um mistério, tremen-dum et fascinans – tremendo, horrível, porque destrói todas as noções fixas que você tem das coisas, e ao mesmo tempo é absolutamente fascinante, porque diz res-peito à sua própria natureza, ao seu ser. Joseph Campbell

!!!!!!

É um mysterium, um mistério, tremen-dum et fascinans – tremendo, horrível, porque destrói todas as noções fixas que você tem das coisas, e ao mesmo tempo é absolutamente fascinante, porque diz res-peito à sua própria natureza, ao seu ser. Joseph Campbell

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Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm! Os Seus Semelhantes

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DEMILSON CÚMPLICE

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Olha, Semelhantes. Eu não sei se foi mi-lagre, mágica ou bruxaria. Só sei que o cu do Edileuso salvou a minha vida. Olha, Semelhantes. Sinceramente? Eu nunca vi um cu tão poderoso quanto o cu do Edi-leuso. O quê? É pra falar cu baixinho? Mas o que é que tem? Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm! Tá bom. Tá bom. Mas então. Antes do cu do Edileuso eu não conseguia fazer parte do Ultra-Mercadão. Sempre senti um cheiro horroroso dentro dele. Olha, Seme-lhantes. Olha que alívio. Outras pessoas

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bem poucas, mas elas sentem cheiro de criança definhando no Ultra-Teve uma mulher, e que mulher, que es-creveu sobre tais pessoas, o Riolo, depois que sentiu cheiro de criança definhando no Ultra-Merc -boço, dizia esboço pro casamento, esboço pro trabalho, esboço pro amigo, dizia es-

-xatamente o que aconteceu com o Riolo.

teria sucumbido. Oi? Chega desse papo de criança definhando no Ultra-e fala cu mais baixo? Olha, Semelhantes.

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o-talmente do Ultra- e-

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lhantes. Olha que ironia. Eu me afastei e senti cheiro de criança definhando na mi-nha própria casa. Porra! Quando a crian-ça não é assassinada pelo Ultra-Mercadão é assassinada por mim? Olha, Semelhan-tes. Eu não sei se foi loucura, lucidez ou uma mistura das duas. Só sei que a partir de tal pergunta escutei ininterruptamente uma voz familiar e estranha ao mesmo tempo: Onde está o chão? Num passado remoto, quando o buraco não parecia tão fundo. E o meu rosto? Virou névoa. Por que todos me apontam na rua? Inadequa-ção, extrema inadequação. Desde quando as pessoas são deformadas? Desde sem-pre. E essa mancha esquisita na minha pele? Câncer. Câââânnncer? Deus! Deus! Deus! ........... Deus? ................... Deus? Sim, Deus! Eterna reticência.... DDDDEE-EEEEEEEUUUUUUUUUUUUSSS? O que significa sonhar com dente podre? Morte. JÁ? Já. Mas já mesmo? Já mesmo, ou vi-ver vinte e quatro horas por dia conscien-te da sua iminência. Pois bem, se morrer,

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morri. Adeus papai, adeus mamãe, adeus bolhas de sabão. Aaaaaaaaaaahhhh! Que alívio! O grande Sim! Mas eu preciso de uma morte digna e rápida, posso morrer em casa? Casa? Cadê a tua casa? O teu peito? O teu punho? E os teus dedos? Eu nunca vi dedos tão feios. Os meus dedos entortaram. Só pode ser cãibra. Cãibra? Morte. E morte humilhante. Hu-mi-lha-ção. Sempre a hu-mi-lha-ção. Hu-mi-lha-ção do início ao fim. DDDDDDEEEEEE-EEEEEEEEUUUUUUUUSSS? Preciso co-mer bananas! Moça, me dá aí um cacho de bananas, rápido rápido! Ah, aqui não é uma feira, como não é uma feira? Ah, aqui é uma farmácia, como é uma farmá-cia? Se eu estou sentindo alguma dor? Ora, minha filha, a gente sempre está sen-tindo alguma dor. Se é por causa da dor que a minha cabeça está inclinada brus-camente para o lado direito? Quem disse que ela está inclinada? A minha cabeça está reta, retinha, vê, é a tua cabeça que está torta, não a minha. Você acha me-

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lhor eu ir ao hospital? Ô, como é o nome da paciente que foi internada no quarto 34? Sei lá, mas essa daí perdeu o nome, agora ela chama Leucemia do Quarto 34. Cara, que vida de merda, a gente perde até o nome pra doença. Nome? Nome é pouco, a gente perde coisa bem pior, aliás, a Leucemia do Quarto 34 precisa urgente de um penico. Tá vendo, minha filha? Esta caixinha de madeira, tão sim-ples, tão inocente, tão alheia, com uma etiqueta branca colada na borda, em que algum presente ou futuro morto escreveu provavelmente com uma caneta BIC: ÓBI-TOS. Se eu estou morrendo? Ora, minha filha, todo mundo está morrendo. Se é por causa da morte que estou babando abun-dantemente? Quem disse que eu estou babando? Você. Mas quem é você? Você, escondido atrás desta planta, quem é? E você embaixo dos meus pés? E você com essa rocha imensa nas mãos? E você? E você? E você? Ora, é o papai e a mamãe. Ora, é o papai do papai e a mamãe da

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apai do papai do papai

a-bando, babando, babando. Pra que tanta

Pra que tantas noites em claro pensando na quantidade de saliva que sou capaz de produzir? Meu dentista disse uma vez que eu devia trabalhar no correio, tipo cola am

e-

n-te nada do que te falo. O seassustando, vou ter que chamar os segu-ranças. Isso, chama, aproveita e chama os seguranças que vestem roupas brancas,

r-nte a-do-ro

-mo. Cai fora seu malu

nsando que Instinto de sobre-

vivência até uma pulga tem, quero ver

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manter a vontade de viver no imenso ce-mitério que é o Ultra-Mercadão. Caralho! Além de maluco é chato, só sabe falar de morte. E outra coisa, tá espantando os fregueses, aqui a gente vende esperança em cápsulas meu chapa, vai falar de mor-te lá na porta do cemitério. Lá na porta do cemitério? Vocês não escutaram o que eu disse? Claro que não escutaram. Mas eu repito: IMENSO CEMITÉRIO QUE É O ULTRA-MERCADÃO. Tumbas, tumbas e mais tumbas. Uma diversidade de tum-bas. E embaixo todos perfeitamente i-guais. E antes? Antes só esboço. O Riolo sabia das coisas. É que eu também enxer-go os mortos enquanto juram que estão vivos. Olha, Semelhantes. Olha a cara da moça da farmácia, até uma minhoca é mais feliz. Olha a cara do segurança, até um tatu é mais suave. Olha o cu na boca do Edileuso, não existe nada mais verda-deiro. Olha, Semelhantes. Eu não sei se foi milagre, mágica ou bruxaria. Só sei que o cu do Edileuso salvou a minha vida.

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O cu incomum que o Edileuso tem, se é que existe cu comum, se é que existe al-guma coisa comum. Hã? É pra falar mu em vez de cu? Quê? Mumu? Olha, Seme-lhantes. Sinceramente? Mumu é ridículo. Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm! !!!!!!!!!!!!!

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O cu incomum que o Edileuso tem, se é que existe cu comum, se é que existe al-guma coisa comum. Hã? É pra falar mu em vez de cu? Quê? Mumu? Olha, Seme-lhantes. Sinceramente? Mumu é ridículo. Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm! !!!!!!!!!!!!!

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Porra! Depois eu que sou maluco e chato. Mas então. No almoço senti falta de uma mistura e concluí que a mistura é o fun-damento. Que tudo que é separado vira mistura dentro da gente. E da barriga pro cu é um passo. E do cu pra alma é um salto. Basta observar, demoradamente, corajosamente. Quem aí deu uma boa olhada no seu próprio cu? Ops. No seu tu-tu. Ops. No seu mumu. Ninguém aí deu uma boa olhada no seu próprio mumu? Ah, vocês não sabem o que é isso. Cu, lembram? Ah, vocês não têm mumu e muito menos cu. Jura? E como vocês ca-gam? Ah! Existe algo mais mágico do que o processo do bolo alimentar? Merece mesmo terminar em ritual. Num raro mo-mento de solidão. Na santa paz da priva-da. Eu até aproveito para meditar, medito sobre os mistérios da vida e me sinto parindo a substância mais simbólica do mundo, ploft ploft ploft, a merda. Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-

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ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm! !Certo. Certo. Esqueçam. Mas então. O mumu do Edileuso apareceu quando vi a inscrição na minha tumba: “Demilson, o homem que percebeu o esboço, mas não compreendeu o anúncio.” O anúncio? Aaaahhhhh! O anúncio! Depois do grande Não. Adeus papai, adeus mamãe, adeus bolhas de sabão. Olha, Semelhantes. Eu não sei se foi depois do grande Não, de-pois do grande Sim ou se os ponteiros do relógio são alicerces de uma ponte só. Só sei que a partir de tal pergunta eu vi, eu vi o anúncio, eu vi o anúncio nascer pelo mumu do Edileuso, nasceu devagarzinho, uma pontinha, uma pontinha que anun-ciou um caule, aaaahhhhh e quanto amor eu senti, pela pontinha, pelo caule, pelo papai, pela mamãe, aaahhh quanto amor senti pelo talinho, lindo lindo, que anunci-ou uma peninha branca, fininha, aaahhh

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quanto amor senti pela moça da farmácia, pelo segurança, pelo presente ou futu- ro morto, pela caneta BIC, pela caixinha alheia, aaaahhhh quanto amor senti pelo filamento, ainda molhado, grudadinho, que anunciou uma peninha branca, esvo-açante, aaaaaahhhh quanto amor eu sen-ti, senti tanto amor que instantaneamente virei de costas, tirei a minha calça, a mi-nha cueca, empinei a minha bunda para o Edileuso, e senti, senti a peninha branca, fininha, já esvoaçante, tocar lentamente, carinhosamente, a minha nádega esquer-da, e senti, senti uma puta coceira, uma coceira que eu nunca havia sentido antes, e cocei, primeiro lentamente, cocei cari-nhosamente, a minha bunda esquecida, a minha mente exausta, aaaaaahhhhh e que prazer infantil percorreu cada pedacinho meu, eu passaria por tudo de novo, até pelas dores mais violentas, pelas acu- sações e pelo abandono, só pra sentir mais uma vez, a peninha branca, fininha, teimosa, na minha nádega esquerda,

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aaaahhhh e como eu ri, ri da morte, ri do Ultra-Mercadão, ri da minha própria casa, ri do Riolo, ri de mim, ri de Deus, me con-torci de tanto rir, dei uma enorme garga-lhada de Deus, e chorei, me debulhei em lágrimas, chorei como nunca havia chora-do antes, chorei pela criança, curiosa, as-sustada, silenciosa, e senti, senti a minha boca toda lambuzada de pirulitos, os meus olhos indecisos na roda gigante, senti a saliva da mamãe nas nossas brin-cadeiras matinais, um marzão de abismos infinitos, Olha o cuspe! Olha o cuspe! E corriaaaaaaaaaaaaaaaaaa atrás de mim, e eu ria, ria da careca do papai, aeroporto de pernilongos, brincava ele, Vai Demil-son, mata o pernilongo, Bziiibzziiiizeeeee, Olha filho, como ele foge da morte, Sim, foge como as pulgas do Valente, os inse-tos também têm medo da morte papai? Os insetos são como nós, negam deses-peradamente a verdade, mas eles não sa-bem que negam, e nós, no fundo no fun-do, sabemos, Papai, então não seria me-

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lhor a gente provar um caixão todos os dias? Ah filho, aí você transformaria o mundo num verdadeiro paraíso, Ou num verdadeiro hospício, né, papai? E o papai chorava, sempre chorou muito, passou a chorar mais com a idade, Por que você chora tanto papai? Silêncio, eu preciso de silêncio, Mas tá tudo tão quieto, de ma-drugada, no meio do mato, Tá não filho, um dia você escutará o grito, e eu escutei, escutei muito cedo, muito cedo mesmo, Vai, grita à vontade, não tem mais nin-guém aqui, só você e a mamãe, no fundão do mar, e eu gritei: SOCOORRRRROOOO, gritei tão alto que fiquei mudo depois, fi-quei tão mudo que nem com o Valente falei mais, e o Valente morreu, morreu de tristeza, a mamãe fez questão de me falar, mas antes de morrer, o Valente matou um dos seus filhotes, muito pequeninho, o mais pequeninho de todos, mas antes do Valente matá-lo, o papai morreu, tão pe-queninho quanto o filhote mais peque-ninho de todos, morreu de tristeza, a ma-

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mãe fez questão de me falar, e depois que o papai e o filhote e o Valente morreram por minha culpa, a mamãe também mor-reu, muito mais pequeninha do que o pa-pai que morreu tão pequeninho quanto o filhote mais pequeninho de todos, ainda assim eu escutei, eu escutei a última frase da mamãe, Morri de tristeza, e a mamãe morreu, e eu morri, morri e morri e mor-ri, mas cocei, cocei vigorosamente, violen-tamente, cocei com todos os meus dedos, lindos e feios, cocei com todas as minhas unhas, fracas e fortes, enfiei todas elas, absolutamente todas elas, na minha pele, e fui mais fundo, mais e mais fundo, mais fundo que o fundão do mar, arranquei pe-daços fartos da minha carne, conheci a espessura do meu sangue, e para minha surpresa, agradável surpresa, alimentei a criança, e agora vou do seu lado, do seu lado faço inclusive visitas ao Ultra-Mer-cadão, esporádicas e rápidas, obviamente, mas levo sempre uma sobremesa.

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Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm! !!!!!!!!!!!!!!!!!!

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IDIVILNA CÚMPLICE

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É sério, Semelhantes. Eu acreditava. Mes-mo não acreditando mais, eu acreditava. Quantos anos eu tenho? Ah, sou velha, muito velha. E como ainda consigo acre-ditar no amor? Ah, sou criança, muito criança. Se eu sofro de alguma doença degenerativa? Sim, já tive uma visão atro-fiada. Quando particularmente? Quando pensei que nunca veria a minha casa nos olhos de alguém. Isso não é particular-mente? Vocês têm toda razão. Se eu ain-da pago aluguel? Pago com a moeda es-panto. Quanto vale esse tal do espanto? Às vezes uma vida, às vezes uma morte. Se essa casa tem ao menos uma piscina? Três carros na garagem? Seis quartos? Dez tevês gigantes? Ah, o meu lar vale muito mais. Se eu moro numa casinha de

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cachorro? Ah, mas os cachorros moram

vi a nossa mansão. Eu vi a nossa mansão na boca do Edileuso, ou melhor, no cu que o Edileuso tem no lugar da boca.

--

Ah, Semelhantes, o Edileuso solta cada peido, nossa,

-

xistis-ra tudo do lugar. Se

da-de do que medo. Se eu tenho a senha do e-mail do Edileuso? Ah, tenta rosto de sal e alumbramentos. Se a gente trabalha

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dia, assim como da noite. Uma vez o Edi-leuso me disse com peidos ritmados, “Tu és a chama da minha caverna obscura, tu és a trapezista dos meus pentelhos úmi-dos”. Se o equilíbrio não é impossível? Durante muito tempo pareceu mais do que impossível, até o Edileuso me dizer com um peido bem direto, “Eu me co-nheço através do teu amor”. Ah, Seme-lhantes, eu levantei voo. E a primeira vez que vi o cu do Edileuso então? Nossa, eu mijei nas calças. Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm! Ah, naquele dia vi o boteco de um jeito novo, vi o boteco na sua esquina, nem um pouquinho pra lá, nem um pouquinho pra cá, vi o boteco exatamente no seu lugar, vi as pombas também, as pombas e os fios dos postes, harmoniosamente juntos,

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pareciam uma partitura, escrita num céu alaranjado e rosa, ah, que coisa boa é ser ridícula, bláblébliblóblu, blue blue blue, tudo blue, tudo blue na banca, nas notí-cias das revistas, bló bló bló, tudo pró, es-ta noite haverá um eclipse lunar jamais visto antes, bli bli bli, tudo tri, a dona da banca até vendeu fiado pra mim, blé blé blé, tudo dá pé, imagina, tava que tava, uma velha amarguíssima, com um sorri-sinho safado, blá blá blá, tudo se dá, me contou que tinha dançado bolero com o homem da sua xoxota, e cantava alto, be-same, besame mucho, e o vento recebia a música da velha, as árvores recebiam a música do vento, eu recebia a música das árvores, e nós dançávamos, dançávamos e dançávamos, e conforme o dia passava, e conforme anoitecia, nós nos tornávamos mais e mais ridículos, maravilhosamente ridículos, até um papelzinho no chão, de tão vermelho, de tão ridículo, ocupava o seu lugar exato no universo infinito, e as estrelas, ah, as estrelas brilhavam tanto,

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as estrelas eram as mais ridículas, mara-vilhosamente ridículas, e conforme o dia passava, e conforme anoitecia, as pessoas se pareciam mais e mais com as estrelas, mas nenhuma estrela, nenhum papelzi-nho, nenhuma árvore, nenhum vento, na-da, absolutamente nada, me ameaçava, nem eu mesma, principalmente eu mes-ma, e conforme o dia passava, e conforme anoitecia, o eclipse lunar se tornava mais e mais nítido, a verdade, a mais pura ver-dade, é que o meu coração nunca duvi-dou, ou melhor, o ponto brilhante que es-tá no meu coração nunca duvidou, eu já sabia que o encontraria naquela noite, no boteco onde há anos eu jantava, no boteco onde há anos eu pedia o mesmo prato, feijão com arroz e couve, no boteco onde há anos o garçom, o gerente, o cozinheiro, os clientes sentiam pena de mim, do meu olhar distante, dos meus braços cruzados, do meu casaco cheio de bolinhas, imagi-na, nem uma lã de primeira, aguentou tanto uso, sentiam pena também da mi-

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nha pequena, sentiam tanta pena, mas tanta pena, que não percebiam que eu também sentia pena deles, uma mistura de pena e desprezo, ou então disfarçavam muito bem, provavelmente disfarçavam muito bem, a verdade, a mais pura verda-de, é que cada um disfarça como pode, eu nunca fui competente nisso, eu já sabia que o encontraria naquela noite, no bote-co onde há anos eu via uma cadeira vazia na minha frente, do meu lado direito, es-querdo, atrás de mim, sempre atrás de mim, no boteco onde há anos o bêbado mais desgraçado, desgraçadamente ho-nesto, suspeitava que o meu oco era tão imenso quanto o seu, insuportavelmente imenso e indivisível, como ele não parava de repetir, olhando fixamente para mim, enquanto era chutado mais uma vez para fora do boteco, insuportavelmente imenso e indivisível, com toda certeza, se ele fos-se competente no disfarce tentaria vender camisetas com tal frase, insuportavelmen-te imenso e indivisível, imagina, bem no

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meio do peito, a verdade, a mais pura verdade, não venderia porra nenhuma, claro, mas conforme eu mastigava o feijão com arroz e couve, mas conforme o fundo do prato ficava mais e mais aparente, be-same, besame mucho, ah, eu sabia mais e mais, eu sabia mais do cu do Edileuso. Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm! !Ah, Semelhantes, logo neste dia esqueci a minha pequena, imagina, eu sempre a le-vava na bolsa, com o fio dental e a pasta de dente, eu conversava com a Escovitha: Você ainda descobrirá o seu verdadeiro tamanho, minha Vitha. O quê? Se a Esco-vitha me entendia? Ah, a Escovitha sorria pra mim. Se alguma pessoa sorria pra mim? Ah, sorriso de gente via pouquíssi-mos, sorriso mesmo, igual ao da Escovi-tha, só aos domingos, estranhamente e

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familiarmente aos domingos, lá na praça, onde eu passava a tarde, vendo os velhos jogando dominó e as crianças brincando no balanço, e acima de tudo, ou melhor, abaixo de tudo, sentindo como tratavam com naturalidade as suas solidões, eu compreendia o que as crianças gritavam: “Nós sentimos solidão, mas ainda não sabemos exatamente o seu significado, iuupiiiii”, eu compreendia o que os velhos sussurravam: “Nós sentimos solidão e sa-bemos exatamente o seu significado, ”, não todos os velhos, nem todas as crian-ças, claro, mas havia aqueles, aqueles que sentiam ternura por mim, sim ternura, ao contrário do garçom, do gerente, do cozi-nheiro, dos clientes, que sentiam pena de mim, imagina, para não sentirem pena deles mesmos. O quê? Se eu tenho o en-dereço desses solitários, pretensiosos, de-sordeiros, dementes, enfim, o endereço da quadrilha do Edileuso? Ah, tenta o amor nasce da queda. Se o fundo é o nosso es-conderijo? Ah, no fundo ou no raso, esta-

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mos todos no mesmíssimo buraco, no cu do Edileuso. Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm! !!!!!!!!!!!!!!!

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Ah, mesmo enquanto pensava: Merda! Vou ter que chupar balas pra tirar o gosto de alho da boca. Merda! Vou ter que ras-par com as unhas a crosta de comida da língua. Merda! Vou ter que fazer um bo-checho pra tirar as cascas de feijão dos dentes. Merda! Merda! Merda! Como é suscetível a vida! Como é vaga a memó-ria! Como é frágil a eternidade! “Mas a e-ternidade não tem nada a ver com a tua permissão, ou tu te abres para as ninhari-as, ou tu te abres para o infinito, Idivilna”. Ah, Semelhantes, mesmo enquanto pen-sava, eu escutei, eu escutei o verso que o Edileuso peidou, o verso que o Edileuso me deu. Eu escutei e levantei instantane-amente, levantei a cabeça e o vi no espe-lho do banheiro, bem ao meu lado, tão ao meu lado que também estava dentro: a palhaçada do universo, os sóis e os áto-mos, os ácaros e as pérolas, o primeiro suspiro e a última poeira, se revezando, se revezando, se revezando, se matando, se matando, sobretudo e, com um brilho

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o, ah, Edileuso, que cu apertado, como adentrar a tua floresta densa sem nenhuma garan-tia? Tantos desapareceram e morreram na tua escu seus lo-bos internos, devorados, principalmente, por seus filhotinhos, criados com o esforço de quem procura um gesto delicado no

coisa chocante, os rostos ir-

odo lado, as pessoas cagam muito enquanto morrem, e, quando morrem duas vezes ao mesmo tempo, cagam infinitamente mais, sem falar dos que ainda assim continuam respirando, exaustos, um esforço tremen-do para puxar e soltar o ar, todos os dias, todas as noites, iguais, iguais, se arras-tando, se arrastando, ah, Edileuso, que cu perigoso, como descobrir pepitas no meio

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to com as solas grossas, só a velinha de aniversário de uma criança, frágil, deli-cadíssima, que requer cuidados conti-nuamente, como vigiá-la e viver, viver mesmo, no Ultra-Mercadão? Ah não, eu preciso de outro adubo, do adubo puro, eu preciso que a flor nasça em terra ima-culada, não pisada pelos garçons, cozi-nheiros, gerentes, clientes, no fim, somos todos clientes, apenas clientes, teus clien-tes, comprando e vendendo a tua merca-doria suspeita, filhos e filhos, uma legião de filhos, uma religião de filhos, filhos que mal nascem e morrem, ou filhos que so-brevivem, surpreendentemente sobrevi-vem, a maioria sobrevive, não é extraor-dinário? Mas se tornam tão estranhos quanto tu, tu o mais estranho de todos os estranhos, ah não, prefiro abdicar do be-same mucho, da música próxima do colo, prefiro voltar ao jardim da infância, eté-reo, flutuante, o teu sonho primeiro, que não se sabe sonho, muito menos pesadelo, ah, Edileuso, já que a loucura dos que

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aumenta a tua fome, a fome do depreda-a-

imo professor, i-ma escola, talvez, mais do que talvez, seja mais inteligente se especializar no Ultra-

a loucura do sono eterno talvez, mais do que talvez, a plenitude do

seja, o maior ato de co-ragem de todos os tempos, inclusive da

va de rta, apenas o

nada, nada mais que o nada, ou nem o nada, o nada ainda seria alguma coisa,

assim facilmente do sopron-

genuidade de chamar as tuas armas de instrumentos, instrumentos do teu amor,

ei-n-

struir os teus instrumentos, nos ensinaste

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direitinho a usar a morte alheia em benefício próprio, e como se não bastasse, alguns têm o atrevimento de dizer que contribuo contigo, já li nos livros dos teus famosos escolhidos, os famosamente fodi-dos, és um profundo conhecedor desta matéria, não é mesmo? Ah, como posso ser a tua cúmplice neste prisma rarefeito de luz ao contrário? Nesta gangorra gi-gantesca sem um lugar claro no centro? Neste tobogã altíssimo e seco? Se ferindo, se ferindo, se ferindo, te contornando, te contornando, sobretudo e, com um oco in-suportavelmente imenso e indivisível no meio do peito, te contornando, ah, Edi-leuso, que cu sádico o teu, que cu maso-quista o meu, buscando, buscando, apesar de tudo, ainda te buscando, feito um mos-quitinho preso em torno de uma lâmpada acesa, uma boba da corte medíocre, trê-mula, tentando arrancar a qualquer custo, um sorriso mínimo da tua boca podre, uma melodia dos teus olhos de ferro, e não um peido, um rangido de máquina,

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ah, Edileuso, admito que já escutei outros relatos, de alguns poucos e de poucas de mim, raras confirmações de que os teus olhos não são apenas de ferro, mas de cristais, sutis, finíssimos, lindíssimos, mas tão sutis, tão finíssimos, tão lindíssimos, que se dissipam com uma piscada, que se estilhaçam com meio ruído, enquanto o teu aço permanece inexorável, imbatível, ah, Edileuso, que notícia velha me trazes desta vez? Que notícia velha mais velha do que a notícia mais velha que eu te trouxe, A criança se esgoela de fome, ou preferes também uma assinatura da re-vista Fachadas, colocar a mão na cartilha e dizer a mentira, somente a mentira, na-da mais que a mentira? Ah, Edileuso, que notícia decrépita tu me trazes do dignís-simo insaciável? Idivilna, eu te trouxe uma escova de dentes, o meu Escovitho, queres compartilhá-lo comigo? Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-

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áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm!

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O DEPOIMENTO DO

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Quem nunca peidou que atire a primei- ra pedra. !Buáááááááhhhhh! Unhééémm! Unhéééé-ééémm! Buuuuááááááááááhhhh! Buáááá-áááááh! Buááááááh! Unhéééémmmmmm! Buuuuuuuááááhhh! Unhééééééémmmm! !!!!!!!!!!

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NEGROLOGIA

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Réu Edileuso morreu soterrado embaixo de uma montanha de pedras sem equi-valentes. Idivilna Cúmplice e Demilson Cúmplice afirmaram que a lua se trans-formou em sol no momento da sua par- tida. Os Seus Semelhantes afirmaram se tratar somente de um balão de festa junina. Idivilna Cúmplice foi encontrada morta embaixo da ponte da praça. Demilson Cúmplice afirmou que foi uma tentativa bem sucedida de voo. Os Seus Semelhan-tes afirmaram se tratar somente de um suicídio. Demilson Cúmplice foi encontrado morto embaixo do oceano. No seu barco foi en-

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contrado um cartão suspeito: “Meu Parzi-tho querido, desbraves o fundo do mar, desenvolva o brilho do sol, e, principal-mente, mantenha a força. Partirei em bre-ve, mas não te preocupas, vou em paz, nunca estive tão lúcida. Idivilna”. Os Seus Semelhantes afirmaram se tratar somente de um cartão de uma loja de artigos para pesca. Os Seus Semelhantes foram encontrados mortos embaixo de uma enxurrada. O Fim afirmou que a morte não foi provoca-da somente pela quantidade de água, mas antes, e, sobretudo, pela acidez excessiva das suas lágrimas. O Fim morreu esmagado embaixo da mão do Começo. Mysterium tremendum et fascinans afirmou que a vida é inevita-velmente mais forte.

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Isadora Krieger é escritora. Natural de Santa Catarina. Começou como estilista da marca Gê-meas, criou coleções e produziu desfiles. É idealizadora e produtora do Cabaret Revoltaire, espaço aberto a experimen- tações artísticas em diversas linguagens. Publicou poemas na antologia Portapoe-ma, pela Publicações Iara (2011). Fernanda Grigolin (Curitiba, 1980). É artista visual. Possui trabalhos em diversos formatos. Em 2012 foi contemplada com o XII Prêmio Funar-te Marc Ferrez de Fotografia. Por dez anos foi ativista de movimentos sociais. Possui especialização em Direitos Huma-nos (USP) e é mestranda em artes visuais na UNICAMP. Fernanda edita livros pela Publicações Iara.

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CARÁTER ANAL Carniceria Livros A Oficina do Santo texto: Isadora Krieger fotos: Fernanda Grigolin edição: Luis Rafael Montero projeto gráfico: Carniceria Livros João Gabriel Monteiro revisão: Carniceria Livros

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BOCA SANTA idealização: Luis Rafael Montero realização: Carniceria Livros A Oficina do Santo design: Juneco Martineli João Gabriel Monteiro fotos e vídeos: João Gabriel Monteiro Felipe Schürmann A Oficina do Santo programação do site: Guilherme "Nabo" artistas: Juliana Amato, Rafael Castro, Éder Chapolla, Pa-tricia Chmielewski, Mariana Coan, Raphael Gancz, Tiago 'Lobão' Inforzato, Fernanda Grigolin, Isadora Krieger, Lobot, Bruno Maron, Pedro Mattos, Daniel Minchoni, João Gabriel Monteiro, Luis Rafael Montero, Mario Neto, Nelson Provazi, Maria Ribeiro, Haydee Uekubo, Felipe Valério.

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