13
A Nova Escola Penal: Direito, controle social e exclusão no Brasil (1870-1920) Carlos Martins Junior (DHI/ CPAQ/ UFMS) É singular que, fazendo eles a República, não a fizeram de tal forma liberal que pudessem dar lugar de professor a um negro. É singular essa República. (Lima Barreto, 1953: 45) Apresentação A virada do século XIX para o século XX constituiu um momento de transformações estruturais para o Brasil. A substituição da mão-de-obra escravista pela assalariada (gerando a necessidade de normatizar o mercado de trabalho livre e de integrar principalmente o ex- cativo a uma sociedade que começava a se conceber como uma comunidade de trabalhadores), o advento da República (que teoricamente alargava a possibilidade de participação, no jogo político, daqueles que não eram considerados parceiros dos grupos sociais dominantes) e a expansão das atividades econômicas (as quais se refletiam no crescimento físico e populacional dos centros urbanos) aumentaram a preocupação das autoridades públicas e reformadores sociais em relação ao estado de “anarquia social” que parecia ameaçar o país, o que, consequentemente, levou ao refinamento de mecanismos de controle social, pautados na permanente vigilância e policiamento do cotidiano do liberto e do trabalhador pobre em geral. Nesse contexto marcado por um forte sentimento de insegurança, e no bojo do debate mais amplo suscitado pela formulação, em 1876, da idéia do criminoso nato pelo médico- antropólogo italiano Cesare Lombroso 1 , o Direito Penal brasileiro passaria por profunda revisão conduzida, sobretudo, por um grupo de professores e magistrados vinculados à Faculdade de Direito do Recife, entre os quais se destacaram os doutores João Vieira da Araújo, João Marcolino Fragoso e Francisco José Viveiros de Castro, considerados os responsáveis pela introdução e a divulgação da Nova Escola Penal no Brasil 2 . Caracterizada por um discurso médico-científico de forte feição determinista, essa corrente do Direito Penal passou a conferir conotação patológica ao ato “anti-social”, opondo-se 1 Professor de Medicina Legal da Faculdade de Turim, Cesare Lombroso (1836-1909) é considerado o fundador da antropologia criminal italiana. Sua principal obra, O Homem Delinquente, publicada em 1876, expõe as concepções sobre o criminoso nato, predisposto ao crime desde o nascimento em razão de fatores biológicos atávicos, que podiam ser identificados nas características físicas e psicológicas do indivíduo 2 Também conhecida por Escola Positivista, Escola Científica ou, ainda, Escola Italiana do Direito Penal, para a Nova Escola Penal o criminoso seria um doente ou “degenerado”, o crime um sintoma e a pena um tratamento. Para uma visão mais aprofundada do assunto ver, entre outros, MARTINS JUNIOR, 1995; ALVAREZ, 2003; FERLA, 2009.

Carlos Martins Junior

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Carlos Martins Junior

A Nova Escola Penal: Direito, controle social e exclusão no Brasil (1870-1920)

Carlos Martins Junior (DHI/ CPAQ/ UFMS)

É singular que, fazendo eles a República, não a fizeram de tal forma liberal que

pudessem dar lugar de professor a um negro. É singular essa República. (Lima

Barreto, 1953: 45)

Apresentação

A virada do século XIX para o século XX constituiu um momento de transformações

estruturais para o Brasil. A substituição da mão-de-obra escravista pela assalariada (gerando a

necessidade de normatizar o mercado de trabalho livre e de integrar principalmente o ex-

cativo a uma sociedade que começava a se conceber como uma comunidade de

trabalhadores), o advento da República (que teoricamente alargava a possibilidade de

participação, no jogo político, daqueles que não eram considerados parceiros dos grupos

sociais dominantes) e a expansão das atividades econômicas (as quais se refletiam no

crescimento físico e populacional dos centros urbanos) aumentaram a preocupação das

autoridades públicas e reformadores sociais em relação ao estado de “anarquia social” que

parecia ameaçar o país, o que, consequentemente, levou ao refinamento de mecanismos de

controle social, pautados na permanente vigilância e policiamento do cotidiano do liberto e do

trabalhador pobre em geral.

Nesse contexto marcado por um forte sentimento de insegurança, e no bojo do debate mais

amplo suscitado pela formulação, em 1876, da idéia do criminoso nato pelo médico-

antropólogo italiano Cesare Lombroso1, o Direito Penal brasileiro passaria por profunda

revisão conduzida, sobretudo, por um grupo de professores e magistrados vinculados à

Faculdade de Direito do Recife, entre os quais se destacaram os doutores João Vieira da

Araújo, João Marcolino Fragoso e Francisco José Viveiros de Castro, considerados os

responsáveis pela introdução e a divulgação da Nova Escola Penal no Brasil2.

Caracterizada por um discurso médico-científico de forte feição determinista, essa corrente do

Direito Penal passou a conferir conotação patológica ao ato “anti-social”, opondo-se

1 Professor de Medicina Legal da Faculdade de Turim, Cesare Lombroso (1836-1909) é considerado o fundador

da antropologia criminal italiana. Sua principal obra, O Homem Delinquente, publicada em 1876, expõe as

concepções sobre o criminoso nato, predisposto ao crime desde o nascimento em razão de fatores biológicos

atávicos, que podiam ser identificados nas características físicas e psicológicas do indivíduo 2 Também conhecida por Escola Positivista, Escola Científica ou, ainda, Escola Italiana do Direito Penal, para a

Nova Escola Penal o criminoso seria um doente ou “degenerado”, o crime um sintoma e a pena um tratamento.

Para uma visão mais aprofundada do assunto ver, entre outros, MARTINS JUNIOR, 1995; ALVAREZ, 2003;

FERLA, 2009.

Page 2: Carlos Martins Junior

veementemente ao eixo doutrinário da chamada Escola Clássica, consolidado em torno das

idéias de Beccaria, Bentham e Von Feurbach, que associava o crime ao livre arbítrio,

doravante apontado pelos partidários do Direito Positivista como uma abstração metafísica.

Assim, partido do pressuposto de que no espaço de tempo que se estende de 1870 a 1920 o

Direito Penal paulatinamente ocupou um lugar central nas discussões em torno dos principais

problemas nacionais, notadamente a ênfase dada às determinações raciais como fator

essencial na composição do povo e das causas da criminalidade, o objetivo deste artigo é, em

linhas gerais, traçar minimamente a trajetória e a recepção da Nova Escola Penal no Brasil,

bem como discutir, com base nos discursos de homens como Silvio Romero, Francisco José

Viveiros de Castro, João Vieira de Araújo e Marcolino Fragoso, entre outros, tanto as

premissas que levaram esses intelectuais a buscar saídas para a construção de uma possível

homogeneidade nacional a partir de um pensamento jurídico específico, quanto seus

desdobramentos no tocante à elaboração e manutenção de projetos estatais autoritários de

controle social dos populares, os quais contribuíram para manter a maior parte da população

(em particular parcela não-branca desta) distante da vida pública nacional.

“Um bando de idéias novas”: a Faculdade de Direito do Recife

O século XIX representou o momento em que se tentou recriar, no Brasil, todo um aparato

institucional com a finalidade de resolver o dilema mais agudo do período: a construção de

uma sociedade que passava do regime tutelar colonial para o regime da lei como garantia de

igualdade entre os indivíduos. Nesse contexto histórico surgiram, entre várias outras

instituições de ensino superior, nossas duas faculdades de Direito, que a partir de 1828

começaram a funcionar em São Paulo e Pernambuco, às quais foi destinada a tarefa de formar

uma elite intelectual capaz de desenvolver um pensamento original, que desatrelasse nossa

cultura jurídica das amarras estrangeiras. Fundando novos modelos e imprimindo uma nova

imagem ao país, pretendia-se conferir à nação que se gestava uma nova constituição.

Originalmente instalada em Olinda e transferida para o Recife em 1854, a Faculdade de

Direito do Recife voltou-se, desde o início, para uma atividade doutrinária, diferenciando-se

da Faculdade de Direito de São Paulo, que se notabilizou por um perfil político liberal,

produzindo um grande número de bacharéis em Direito dedicados a importantes cargos no

cenário político nacional

O ano de 1879 foi decisivo para a Faculdade de Direito do Recife. A reforma curricular, que

implantou o ensino livre e dividiu o curso de Direito nas seções de Ciências Jurídicas e

Ciências Sociais, refletiu um momento no qual a instituição passava por uma guinada teórica,

Page 3: Carlos Martins Junior

assumindo o objetivo de dar ao Direito nacional um estatuto científico assentado nos mais

recentes modelos teóricos do evolucionismo, que no Recife tiveram larga aceitação após o

impulso difusor de Tobias Barreto.

Não obstante alguns autores considerarem exagerado o nome de “escola” para designar o

movimento de idéias ocorrido no Recife a partir do final da década de 1860, quase todos são

unânimes em reconhecer a importância de Tobias Barreto para o desenvolvimento da ebulição

intelectual que praticamente provocou uma “revolução do Direito brasileiro”, devido à

influência que o pensamento alemão teve em suas teses científicas e jurídicas. Conforme

Lemos Britto, o papel mais importante desempenhado por Tobias Barreto foi o de levar ao

conhecimento dos jovens estudantes de sua época as “doutrinas de Jhering e Hermann Post,

que aplicavam o darwinismo social ao Direito; o realismo científico de Buchner e o monismo

filosófico de Haeckel”, além de difundir o pensamento de autores como Spencer, Darwin,

Buckle, Littré, La Play ,Le Bon e Gobinal, entre outros (BRITO, 1939: 126).

Destacado polemista, detido particularmente nas questões de Direito Criminal e muitas vezes

criticado por ter sido homem de idéias gerais e não de particularidades das ciências jurídicas,

a personalidade de Tobias Barreto cristalizou-se no tempo quase como a de um herói mítico, a

ponto de ser apontado por autores mais contemporâneos, como o professor e magistrado

Hermes de Lima, como o verdadeiro fundador da nossa literatura penal, aquele que

trouxe para o foro e para a cátedra as primeiras e saudáveis reações contra o

conceito do crime como fenômeno moral, embora a prevenção a respeito da

sociologia lhe houvesse limitado a justa visão do crime, que não sendo, a seu ver,

nem um caso de patologia, nem de atavismo, passava à categoria de

monstruosidade ou irregularidade eliminável pela pena. Não se aprofundou, como

devera, na gênese dessas irregularidades; antes a essa tendência reagiu, no

desenvolvimento do seu próprio pensamento, pela convicção de que as raízes do

crime também se prendiam à natureza do delinquente (BRITTO, 1939: 239).

Motivados pelo espírito reformista de Tobias Barreto, o qual sobreviveu após sua morte no

pensamento de Silvio Romero, os bacharéis do Recife da chamada “geração de 1870”

passaram a se auto-definir como a “elite escolhida” para introduzir a modernidade cultural no

Brasil e imprimir ao Direito uma concepção estritamente científica. O alvo desses bacharéis

era limpar o saber jurídico de qualquer subjetivismo, substituindo os antigos padrões

religiosos e metafísicos da chamada Escola Clássica do Direito por modelos ancorados nas

teses cientificistas em voga, interpretadas de acordo com as pretensões de cada analista. Com

esse movimento, emergiu uma noção de ciência que fez com que a criminologia viesse a se

aliar à psiquiatria, à biologia evolutiva, à geologia e à antropologia física e determinista, entre

outras disciplinas.

Page 4: Carlos Martins Junior

Ao propor o rompimento com o “jus-naturalismo religioso” da Escola Clássica do Direito

(entendido como elemento que dava suporte à defesa do caráter imutável da monarquia), em

prol de uma visão laica do mundo (o correspondente do processo civilizatório que seguia seu

curso evolutivo), o discurso cientificista da nova geração de professores e magistrados do

Recife transformou-se numa arma apontada tanto para o “limbo da instituição acadêmica”,

quanto para uma série de instituições políticas e sociais estabelecidas. Nessa operação de

adaptação da ciência jurídica aos novos modelos científicos, residia uma tentativa de aplicar o

positivismo, o determinismo, o naturalismo evolucionista e o darwinismo social às

concepções da realidade nacional, em especial no que dizia respeito à compreensão de nossa

formação como povo e país. Tratava-se de buscar saídas para a construção de uma possível

homogeneidade nacional, o que implicava, segundo o tino teórico dos intelectuais do Recife,

sobretudo a partir dos estudos de Silvio Romero, enxergar no critério étnico a chave para

desvendar o problema brasileiro (SCWARCZ, 1993).

“Uma nação de mestiços é uma nação de criminosos”: Direito e “raça”

Para Silvio Romero a mestiçagem correspondia à luta das espécies no processo de

sobrevivência – visão bastante paradoxal, uma vez que a teoria evolucionista condenava o

hibridismo racial – e que, conseqüentemente, o mestiço significava “a coroação do branco”

no país e, com base nisso, inferiu que homogeneidade nacional e mestiçagem entrelaçavam-se

numa mesma relação. Sublinhe-se, porém, que embora acreditasse no valor da mestiçagem

para a formação do povo brasileiro, Silvio Romero jamais foi um partidário do ideal

iluminista da igualdade entre os homens, tendo sempre insistido no fato de que o

determinismo racial apenas comprovava que, em função de sua “inferioridade”, a raça negra

seria absorvida e suplantada pela branca na luta pela sobrevivência.

Essa tese foi compartilhada por um dos discípulos de Silvio Romero na Faculdade de Direito

do Recife, Francisco José Viveiros de Castro, que em 1894 escreveu:

O Brasil oferece nesse momento de sua evolução histórica, a um observador

competente, um fenômeno curioso a estudar, uma raça que se forma pela fusão de

três outras raças diferentes [...] E aqui na Capital Federal o problema ainda mais

se complica pela concorrência de estrangeiros de toda a Europa. [...] assiste-se a

mais uma comprovação da lei de Darwin, a raça mais forte suplantando a mais

fraca na luta pela existência. Os negros tendem a desaparecer absorvidos na raça

branca e desse cruzamento surge o tipo genuinamente nacional, influenciado pelo

clima, o mulato (CASTRO, 1895: VIII).

A partir daí, apoiado em considerações formuladas, em 1889, durante o II Congresso de

Antropologia Criminal, pela educadora francesa Clemence Royer, esclarecia Viveiros de

Castro que se era possível pensar na inevitabilidade do branqueamento da raça brasileira, não

Page 5: Carlos Martins Junior

era menos correto ter em mente que esse processo não viria acompanhado do que poderia ser

chamado de “branqueamento moral”, posto que a hereditariedade “atua com mais força nos

mestiços”. Para ele, a história, como demonstrara a queda do Império Romano, comprovava

que “os atos mais imorais, mais contrários à natureza humana” e à “natureza de todos os seres

organizados” multiplicavam-se em épocas de “grande civilização”, que eram aqueles em que

ocorriam os maiores cruzamentos de raça (CASTRO, 1895: VIII).

Partindo de uma reflexão que opunha no mestiço a presença de inteligência à ausência de

consciência, advertia Viveiros de Castro que se os “híbridos”, no Brasil, não podiam ser

considerados degenerados a priori, e se, ao contrário, “algumas vezes eram dotados de

energia vital e de inteligência”, era preciso admitir, de outra parte, que essa inteligência

tornava-se tanto mais ativa e poderosa quanto maior o refreio imposto pela consciência. Vai

daí que, naquele final de século, uma grave ameaça pairava sobre o país, pois se vivia uma

época das mais fecundas para o aumento da criminalidade e da corrupção dos costumes, à

medida que “os mestiços, a par de uma inteligência largamente desenvolvida, são baldos de

senso moral e propensos à lubricidade” (CASTRO, 1894: 163-164; CASTRO, 1895: VIII).

O jurista completava seu raciocínio afirmando que da troca inter-racial que se processava no

país, o legado dos não-brancos para a constituição do povo e da nação seria uma espécie de

“’mestiçamento moral”, na expressão utilizada por Silvio Romero para definir a influência

negra sobre a formação da raça brasileira.3 Assim, do ponto de vista de Viveiros de Castro, se

em seus aspectos positivos a mestiçagem manifestava-se pela produção de um tipo nacional

inteligente e fisicamente vigoroso devido, fundamentalmente, às influências de um meio

natural que lhe dava maior resistência e capacidade de adestramento para o trabalho, em seu

aspecto negativo o processo de miscigenação racial expressava-se através da tendência

demonstrada pelo mestiço em agir conduzido por impulsos mórbidos incontroláveis, em

especial os impulsos sexuais, o que lhe conferia como principal traço de caráter a “propensão

para a sensualidade e o amor”. Frente a isso, Viveiros de Castro chegava a questionar se os

brasileiros já estariam na degenerescência ou se apenas apresentavam uma “aberração do

instinto sexual” (CASTRO, 1895: IX).

Seguindo a mesma linha de raciocínio, em artigo publicado no ano de 1919 pela Revista

Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife, o doutor Joaquim Pimenta questionava:

Somos o que somos será porque sejamos uma sub-raça, num país de mestiços, uma

fusão de elementos étnicos inferiores ou porque sejamos uma nacionalidade em vias

3 Silvio Romero referia-se especialmente à influência das amas-de-leite negras sobre as famílias brancas.

ROMERO, 1943: 294.

Page 6: Carlos Martins Junior

de formação, o que explica o estado de delinqüência social do povo brasileiro?

(PIMENTA, 1919: 54)

Portanto, a preocupação dos juristas de Pernambuco para com o fenômeno da criminalidade, a

qual fez com que o Direito Penal viesse a ocupar lugar central nas discussões em torno dos

principais problemas nacionais, destacando-se entre eles a ênfase dada às determinações

raciais como fator essencial na composição do povo, não foi acidental. Ao contrário fez parte

de um debate específico que, tendo como eixo a apreensão do comportamento do homem

delinqüente, apontava para o problema mais abrangente de referir os fatores criminógenos à

“anarquia das raças” reinante no país e a conseqüente necessidade de legislar sobre ela a

partir de um Código Penal científico e genuinamente nacional. Nesse processo, caberia aos

penalistas fixar os limites da liberdade coletiva e individual, bem como a determinação da

realidade das punições e do grau de periculosidade da delinqüência. Noutros termos, tudo

funcionava como se para o campo da criminalística devessem convergir as questões mais

prementes sobre os rumos da nação.

A Nova Escola Penal no Brasil

O fato é que, a partir de Tobias Barreto e, principalmente, com Silvio Romero, o Direito,

combinado à Antropologia e à Psiquiatria, por exemplo, emergia como uma ciência que se

auto-delegava a prerrogativa de determinar os instintos e os problemas nacionais. Tendo por

pressuposto que aquelas seriam algumas das disciplinas que ajudariam o saber jurídico a

espantar o fantasma do subjetivismo, acreditavam os bacharéis do Recife do pós-1870 que

garantir a modernidade significava assumir o apego a certos modelos teóricos e autores que

tinham o fator raça como elemento central de análise, em especial no que concernia aos

fatores criminógenos. Nesse contexto ganharam força, entre os juristas da escola do Recife, as

teses da escola italiana de antropologia criminal, que a partir dos trabalhos de Cesare

Lombroso, Luigi Garofalo e Enrico Ferri passou a estudar a criminalidade privilegiando a

análise dos caracteres biológicos e sociais do homem delinqüente.

Ao final do século XIX, João Vieira de Araújo, João Marcolino Fragoso e Francisco José

Viveiros de Castro, três juristas oriundos da Faculdade de Direito do Recife, aceitaram quase

incondicionalmente as teses da antropologia criminal. A partir dos seus trabalhos, as idéias do

médico-antropólogo italiano Cesare Lombroso receberam forte impulso divulgador no Brasil.

Desses três autores, Francisco José Viveiros de Castro revelou-se o mais preocupado com a

“demonstração e a didática”. Combativo e ousado, no prefácio de A Nova Escola Penal, livro

de “divulgação” publicado em 1894, atribuía à ignorância dos magistrados, professores e

Page 7: Carlos Martins Junior

advogados a incompreensão das teses de Lombroso, Ferri e Lacassagne (CASTRO, 1894:

IX.). Não obstante essa combatividade muitas vezes chegou a deslizar no terreno teórico,

como exemplifica o fato de ter omitido – por uma questão estratégica ou devido à dificuldade

em se aprofundar no assunto, visto ter escrito seus artigos para o jornal O Paiz “um tanto à

ligeira”, no calor da querela com os clássicos – o debate travado, em 1892, entre italianos e

franceses no Congresso de Antropologia Criminal realizado em Bruxelas, do qual saíram

definitivamente abaladas as conclusões de Lombroso (DARMON, 1991).

Por sua vez, nas respostas aos oponentes do direito positivista o professor João Marcolino

Fragoso detinha-se na discussão da reputação dos críticos e no esclarecimento do que

entendia ser o real significado das objeções feitas a Cesare Lombroso por teóricos como

Tarde, Topinard, Codajiani, Carnevale, Manouvier e Joly. Segundo Evaristo de Moraes,

“nesse mister demonstrava o doutor Fragoso invulgar erudição e probidade científica”, e o

“injusto menosprezo” por ele recebido por parte daqueles que pretenderam historiar a

trajetória da Nova Escola Penal no Brasil deveu-se, acima de tudo, ao fato do título dado por

ele à sua tese, Do Genóide Alítrico, ter sido incompreendido à época, “mas que nada mais

significava que a expressão utilizada pelo autor para designar o criminoso típico lombrosiano,

estando o livro voltado para a demonstração da veracidade das constatações do médico

italiano a respeito do criminoso nato”. (MORAES, 1939: 148)

Mas foi no professor João Vieira de Araújo que a antropologia criminal encontrou seu maior

teórico no país. Ao que tudo indica foi ele o primeiro brasileiro a mostrar-se mais bem

informado a respeito das idéias criminológicas de Lombroso, Ferri e Garofalo, sendo

considerado o introdutor da Nova Escola Penal no Brasil. O marco inicial foi a publicação,

1884, do livro Ensaio de Direito Penal ou Repetições Escritas sobre o Código Penal do

Império, no qual João Vieira de Araújo destacava “a necessidade de analisar a legislação

nacional de um ponto de vista filosófico mais ‘moderno’, ponto de vista este que, no campo

do Direito Criminal, seria representado sobretudo pela obra de Lombroso” (ALVAREZ,

1996: 49).

Porém, foi com a publicação, em 1889, de seu Comentário Filosófico Cientifico do Código

Criminal e, posteriormente, em 1891, com a publicação pela revista Giusriprudenza Civile e

Penale Nella Vitta Sociale do texto “La sciense criminale al Brasile”, no qual noticiava o

acolhimento no Brasil da escola que denominava de “positivismo- naturalista”, que o doutor

João Vieira de Araújo passou a ser reconhecido internacionalmente como um dos mais

autênticos adeptos e propagandistas das idéias de Lombroso, tendo seu nome citado por

Page 8: Carlos Martins Junior

Havelock Ellis e Frassatti nas obras The Criminal e La Nuova Scuola di Diritto Penale in

Itália ed all’ Stero, respectivamente.

Ao contrário de Viveiros de Castro, nas respostas que enviava aos mais intransigentes críticos

do direito positivista João Vieira de Araújo esforçou-se sempre em manter o mais alto nível

de rigor teórico na exposição das idéias. Contra os argumentos de que Lombroso exagerava

ao tipificar os criminosos e os loucos com base na exclusiva verificação de uma constituição

anatômica mal formada, João Vieira de Araújo afirmava que a anatomia para a “nova ciência”

era apenas “um fundo de quadro, um apêndice da psicologia criminal” que, por sua vez,

dependia de uma “base anatômica sob o risco de se transformar em pura quimera” (ARAUJO,

1889: 180). Para ele, o mérito de Lombroso foi o de aplicar os estudos desenvolvidos pela

frenologia exclusivamente no “genus homo”, criando no campo da criminologia uma “síntese

de conhecimentos obtidos pelos processos científicos da observação e da experiência no

estudo do homem criminoso, considerado por todos os seus caracteres somáticos e psíquicos”

(ARAUJO, 1889: 181).

De acordo com João Vieira de Araújo, a genialidade e a atualidade de Lombroso

relacionavam-se ao fato dele ter baseado suas teses na idéia que regia a ciência moderna de

seu tempo, de que o homem devia ser estudado “nos próprios elementos indissolúveis que o

compõem com todas as suas qualidades físicas e psíquicas, como agente e agido no ambiente

que o circunda e que é o meio em que se pode conceber vivo” (ARAUJO, 1889: 181). Em

última análise, esse jurista brasileiro considerava que a síntese criada por Lombroso,

permitindo a associação entre a antropologia criminal, a psiquiatria e as ciências penais,

desembocou não só no estudo do crime como uma ação humana, mas também na visão da

pena como reação social e dos sistemas de uma aplicação e execução por meios eficazes, que

correspondiam ao “designo final da suprema função de punir que exerce o estado” (ARAUJO,

1889: 182).

Sempre em comum acordo com Lombroso, afirmava Araújo que a genialidade e a loucura

eram duas qualidades que ora podiam andar associadas, ora dissociadas, sendo, por outro

lado, uma “verdade inegável” que a inteligência e o senso moral poderiam aparecer

desencontrados no mesmo indivíduo. Desta forma, como ato exclusivamente humano, o

crime, o suicídio e a loucura confundiam-se e se substituíam, revelando o estado de

anormalidade psíquica do seu agente. Daí ser indispensável o estudo do homem criminoso de

uma perspectiva estritamente médico-antropológica, sem que isso viesse a constituir uma

ameaça de invasão ou substituição da ciência jurídica pela medicina como postulavam os

Page 9: Carlos Martins Junior

“metafísicos”. Tomando por principio ser o crime um fenômeno complexo de ação puramente

humana e cuja origem podia ser reduzida a fatores de ordem física, social e individual,

justamente as “três ordens de influência predominante no cosmos”, o doutor João Vieira de

Araújo atacava a base de sustentação teórica da Escola Clássica do Direito, afirmando que a

tese do livre arbítrio, ou responsabilidade moral, não passava de um “hábito mental”, uma

“fantasmagoria” sobrevivendo em “espíritos superficiais” que não conseguiam distinguir

entre o homem são e o louco. Do seu ponto de vista, no mundo moderno ninguém em sã

consciência poderia mais admitir que o indivíduo enlouquecesse ou cometesse crimes por

vontade própria. Para ele tal procedimento somente se reforçava a responsabilidade individual

sobre o social, retirando-se do Estado um dever que deveria ser o seu: o de reconhecer o

direito de garantia dos honestos e pacíficos contra malfeitores e desonestos, fossem loucos ou

sãos; exatamente o estado de coisas que a Nova Escola Penal pretendia inverter (ARAUJO,

1889: 183- 184).

Se Viveiros de Castro, Marcolino Fragoso e João Vieira de Araújo são arrolados como os

maiores adeptos e propagadores da Nova Escola Penal no Brasil, vários nomes merecem

destaque pela postura simpática em relação ao direito positivista. Se no Recife Clovis

Bevilaqua mantivera-se mais reservado quanto à antropologia criminal, Adelino Filho e

Martins Junior, dois de seus colegas de professorado, foram imediatamente atraídos para as

teses de Lombroso, influenciados por João Vieira de Araújo.

Também na Bahia, devido ao impulso dado pelo doutor Nina Rodrigues aos estudos de

Medicina Legal, alguns jovens estudantes da época passaram a se interessar pela antropologia

criminal, destacando-se entre eles Manuel Calmon e Afrânio Peixoto que, como médico

legista no Distrito Federal, inspirou a criação do Instituto de Identificação do Rio de Janeiro

(CORRÊA.

Em São Paulo, através da tese Classificação dos Criminosos, o delegado Candido Motta

também mostrava uma atitude simpática em relação às idéias de Lombroso, Ferri e Garofalo.

Finalmente, resta destacar o advogado sergipano Ciro Azevedo, futuro diplomata e

governador de seu estado, como o primeiro a apresentar, na pratica, perante o júri, as teses

abraçadas pela Nova Escola Penal. Isso se deu por ocasião em que Azevedo se propôs a

defender Adelino de Sousa Leite, empregado de uma carvoaria acusado de ter matado seu

patrão a marteladas em 1885, imitando, segundo Evaristo de Moraes, outro crime cometido

em Campinas por Almeida Junior, do qual fez vitima um mercador de escravos de nome

Menezes (MORAES, 1939: 149).

Page 10: Carlos Martins Junior

Considerações Finais

Frente ao exposto, pode-se concluir afirmando que, durante as três últimas décadas do século

XIX, a tese lombrosiana, orientadora da escola positivista de criminologia, de que o homem

só agiria por impulso universal de suas tendências hereditárias – fato que praticamente

eliminava sua responsabilização criminal apriorística – ameaçou promover uma verdadeira

revolução no campo do saber criminológico e jurídico, haja vista que a “descoberta” do

criminoso nato implicou o ponto de partida de uma efervescência de idéias a respeito da

natureza do homem delinqüente e a abertura de um amplo debate em torno da medicalização

do crime.

Embora possuíssem pontos de vista discordantes sobre a definição do real fator da

criminalidade, antropólogos italianos e sociólogos franceses concordavam que, do mesmo

modo que existia uma etiologia e uma profilaxia para as doenças infecciosas como a sífilis e a

tuberculose (o maior flagelo da saúde na época), também haveria uma etiologia e profilaxia

do crime, que era percebido pelos reformadores sociais como o maior flagelo social do final

do século. Por analogia, a tuberculose e a criminalidade permearam o imaginário dos

criminólogos positivistas como males que apresentavam vários pontos em comum. Tanto uma

quanto a outra proliferariam em meios urbanos insalubres, sem ventilação satisfatória, onde

campeavam a promiscuidade e a libertinagem, podendo ser contraídas em múltiplos locais

como os balcões de bares, bordéis, internatos e quartéis devido a diversos fatores, tais como a

falta de estrutura familiar, a educação viciosa, a má literatura e a imprensa, além, é claro, de

más-formações de origem congênita transmitidas hereditariamente.

Assim, médicos e juristas abraçaram a tese de que, de maneira idêntica á proliferação da

tuberculose, o aumento da criminalidade gerava a necessidade de “tomadas de consciência”

fundadas em objetivos sanitários e políticos de primeira ordem. Isso implica afirmar que o

combate ao crime estava intimamente relacionado à implantação de programas concretos de

reformas sociais visando, principalmente, à eliminação dos bolsões de miséria, reconhecidos

como substratos produtores da delinqüência de crianças e jovens e como locais de onde

rescendia a ameaça política permanente de um estado de guerra revolucionária, bem como à

promoção de progressos na instrução, apontada como um dos mais eficazes antídotos contra o

crime.

Exatamente por isso, ao refutarem as acusações dos juristas clássicos de que a antropologia

criminal colocava em risco toda a ciência do Direito, na medida em que tendia a subordiná-la

à Medicina, magistrados e professores brasileiros partidários do Direito cientifico afirmavam

Page 11: Carlos Martins Junior

que as idéias em desenvolvimento na Europa abriram novos horizontes ao Direito Penal,

elevando-o definitivamente, como a economia política, ao nível de uma ciência social.

A correlação entre economia política e direito cientifico não era, neste contexto, gratuita ou

destituída de significado. Na realidade ela revelava toda a apreensão dos juristas para com a

existência e o comportamento de uma multidão inconformada, gerada pelo inchamento das

cidades brasileiras no final do século XIX. Universo urbano este composto por largas fatias

das camadas medias, anteriormente “mal agasalhadas pelos figurinos políticos do Império”,

somadas a uma “arraia miúda turbulenta”, em que figuravam tanto trabalhadores pobres

quanto vagabundos e mendigos (imigrantes e ex-escravos), “homens errantes, sem pátria nem

família; grupos de feição combativa”, como haviam demonstrado por ocasião dos levantes

urbanos como a Revolta do Vintém em 1880 (e, posteriormente, durante a Revolta da

Vacina), e cooptável, como ficou patente no final dos anos oitenta, quando o movimento

abolicionista recrutou seus pares não apenas nos setores mais avançados das camadas médias,

mas também entre a “plebe urbana desordeira, transformada em linha de frente nos meetings

abolicionistas e nos confrontos de rua, jamais titubeando em enfrentar as forças identificadas

com a ordem escravocrata” (CASTRO, 1894: 187).

Numa sociedade sacudida por forte turbulência decorrente de transformações econômicas,

sociais e políticas trazidas pelo avanço da ordem capitalista, da emancipação da mão-de-obra

escravista e da consolidação do regime republicano, mais do que nunca se tornava necessário

conhecer a nação que se transformava, a fim de se evitar, pela “confusão de corpos” e

“anarquia de raças”, a degenerescência física e moral do povo. Exatamente por isso, no Brasil,

a antropologia criminal parecia adequar-se perfeitamente às necessidades de ordenamento da

nação. Através dela, sobretudo os teóricos do Direito Penal oriundos da Faculdade de Direito

do Recife acreditavam ter encontrado o estatuto cientifico que os capacitaria a conhecer o

povo mais de perto e a definir os novos rumos do país.

Partindo da premissa de que o criminoso era o resultado da somatória dos caracteres físicos de

sua raça e de sua correlação com o meio, juristas e criminólogos brasileiros passaram a definir

seu fenótipo como o “espelho da alma”, no qual se refletiam as virtudes e os vícios. Por essa

interpretação, nas características físicas do povo estariam estampadas e poderiam ser

reconhecidas as marcas da criminalidade e dos fracassos de um país. A esse respeito,

traduzindo toda a inquietação que tomou conta dos bacharéis do Recife à época, em artigo

para a Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife, onde relacionava a teorias da

Page 12: Carlos Martins Junior

antropologia criminal e a realidade nacional, escreveu o professor Laurindo Leão que “uma

nação de mestiços é uma nação de criminosos” (LEÃO, 1892: 89).

Enfim, passando por um lento processo de evolução, carente de um tipo único, de uma raça

delimitada, a nação ficava, na concepção dos nossos juristas, sujeita às tentações da

criminalidade e à ameaça de ser lançada no abismo da loucura. A questão fundamental a ser

respondida era a de saber como conciliar esse discurso determinista com o material humano

concreto aqui disponível. Dilema cuja solução parecia estar no desencadeamento, municiado

por um aparelho jurídico informado nas concepções do Direito cientifico, de um processo de

higienização dos hábitos e das práticas cotidianas dos populares, principalmente aqueles que

diziam respeito às formas de organização familiar, lazer, sociabilidade e às relações afetivo-

sexuais, capaz de corrigir os desvios de comportamento provocados pelo ritmo acelerado do

processo civilizatório em curso.

Referências Bibliográficas

ÁLVAREZ, Marcos. Bacharéis, Criminologistas e Juristas: saber jurídico e a nova escola

penal no Brasil (1889-1930). SP: USP, tese de doutoramento em Sociologia, 1996.

________. Bacharéis, Criminologistas e Juristas: saber jurídico e a nova escola penal no

Brasil. SP: Método, 2003.

ARAÚJO, João Vieira de. “Antropologia criminal”. Revista O Direito. RJ: Typografia

Montenegro, vol. 49, 1889.

________. “Sociologia, filosofia, ciência e direito”. Revista O Direito. RJ: Typografia

Alverne, v. 65, 1894.

BARRETO, Lima. Diário Íntimo. SP: Ed. Mérito, 1953.

BRITTO, José Gabriel de Lemos. “Tobias Barreto e os problemas do sexo, da menoridade e

da loucura do Direito Penal de seu tempo”. Revista de Direito Penal. v. 25, abril de 1939a.

________. Tobias Barreto: a Época e o Homem. 2ª edição. SP: Cia Editora Nacional, Coleção

Brasiliana v. 140, 1939b. Disponível em http://www.brasiliana.com.br/obras/tobias-barreto-a-

epoca-e-o-homem. Acessado em 06/03/2015

CASTRO, Francisco José Viveiros de. A Nova Escola Penal. RJ: Livraria Moderna, 1894.

________. Atentados ao Pudor: Sobre as Aberrações do Instinto Sexual. RJ: Freitas Bastos,

1895.

CORREA, Mariza. As Ilusões da Liberdade: A Escola Mina Rodrigues e a Antropologia no

Brasil. Bragança Paulista: EDUSF, 1998.

DARMON, Pierre. Médicos e Assassinos na Belle Époque. RJ: Paz e Terra, 1991.

FERLA, Luis. Feios Sujos e Malvados sob Medida. A utopia médica do biodeterminismo. SP:

Alameda, 2009.

Page 13: Carlos Martins Junior

LEÃO, Laurindo. Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife. Recife, nº 2, 1892.

MARTINS JUNIOR, Carlos. Entre a Paixão e a Civilização. Francisco José Viveiros de

Castro e Nova Escola Penal (sexualidade, criminalidadde e cidadania no Brasil). SP: USP,

dissertação de mestrado em História Social, 1995.

MORAES, Antonio Evaristo de. “Francisco José Viveiros de Castro”. Revista de Direito

Penal, vol. 18, julho-agosto de 1937.

___________ – “Os primeiros adeptos e simpatizantes, no Brasil, da chamada Escola Penal

Positivista”. Revista Forense, v. 79, julho de 1939.

PIMENTA, Joaquim. Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife. Recife: nº 29,

1919.

ROMERO, Silvio. História da Literatura Brasileira. 3ª edição. RJ: Livraria José Olympio

Editora, t I, 1943.

SCWARCZ, Lilia Moritz – O Espetáculo das Raças. Cientistas Sociais e Questão Racial no

Brasil (1870-1930). SP: Cia. Das Letras, 1993.