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Carlos Querido - gazetacaldas.com · Zé Povinho associa-se à justa homenagem que o município de Óbi- dos presta ao jornalista, poeta, ficcionista e critico literário, Armando

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9 | Abril | 2010

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Carlos Querido

8 | Janeiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A justiça dos homensPublicada no jornal O Círculo das Caldas de

8 de Novembro de 1913, a notícia pertence aotempo em que a honra se lavava com sangue,e revela o apoio entusiástico do jornalista auma sentença que hoje seria considerada iní-qua.

O cronista começa por relatar factos: «[…]Respondeu José Felício, viúvo, de 23 anos deidade, natural dos Casais da Gracieira […] queno dia 13 de Setembro último assassinara suamulher, dando-lhe duas pancadas na cabeça,e degolando-a depois com uma navalha.»

A crónica evolui depois para a legitimaçãodo acto, com adjectivação depreciativa para avítima: «[…] Todas as testemunhas dadas pelaacusação declararam que o réu rompera nes-se excesso devido aos inúmeros agravos quetinha da mulher, que, além de o atraiçoar,abandonando por vezes o lar doméstico paraviver em mancebia com uma criatura tão ab-jecta como ela, insultava-o escarnecendo […]foi na ocasião em que a adúltera repetia osinsultos que se habituara a dirigir ao marido,que este, desvairado, verdadeiramente aluci-nado, desagravou a sua honra tão vilmenteultrajada».

Segue-se a descrição exaltada dos dotesoratórios do defensor, que nas suas alegaçõesenaltece o réu e considera patriótica a armado crime:

«[…] Fala a seguir o sr. Manuel de Carvalho[…] disse que a defesa do seu constituintedispensava a sua intervenção na causa, mas oseu dever ordenava-lhe que também algumacoisa dissesse em favor da vítima do desvariode duas criaturas perversas, que torturavam odesgraçado que estava sendo julgado […]. Teve

sempre uma grande repugnância pela navalha,por essa arma cobarde e traiçoeira, mas hoje vê-se obrigado a dignificar esse objecto, que, em-pregado como o Felício empregou, converte-sena arma do herói. Sim, o seu constituinte usou danavalha em defesa da sua honra ultrajada, comoo soldado português tem usado da espada emdefesa dos sagrados interesses da pátria. Felí-cio, ferindo como feriu com a navalha, prestouum grande serviço à sociedade, ensinando asmulheres levianas e más a respeitar a honra dosmaridos […]».

Depois dos discursos, a sentença: «[…] O júrideu como provada a circunstância do réu se acharprivado das suas faculdades mentais na ocasiãoem que assassinou a mulher, sendo por isso oFelício absolvido. A decisão do júri mereceu oaplauso geral».

O mesmo jornal, na edição de 1 de Janeiro de1910, conta a curiosa história de uma suspeita decrime não confirmada.

Uma mulher da Serra do Bouro abandonou asua casa.

Devido às constantes as cenas de violência en-tre o casal, pouco depois do desaparecimentocomeçou a correr o boato de que o marido a as-sassinara com a cumplicidade de uma sobrinha.

Capturados os suspeitos, interrogados e pro-nunciados pelo delegado, o juiz não confirmou apronúncia e ordenou a sua libertação.

Dias depois, soube-se que a pretensa vítima seencontrava bem de saúde, a trabalhar na casa deum médico da Lourinhã.

O Círculo termina a notícia de uma forma quenão deixa dúvidas sobre a avaliação que faz docarácter da mulher: «[…] A velhaca tinha resolvi-do fazer-se passar por morta para assim incomo-

dar o marido […]. Que grande patifa!».Reflectindo valores da época, o tribunal não reconhecia

estatuto à mulher, bastando o epíteto de adúltera para con-verter o carrasco em vítima.

Em Portugal, apesar da implantação da República, nãohavia igualdade de direitos cívicos, sendo o direito de votoreconhecido apenas a «cidadãos portugueses com mais de21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes defamília».

Carolina Beatriz Ângelo, viúva e mãe, invoca a sua quali-dade de chefe de família e vota nas eleições para a Assem-bleia Constituinte de 1911.

Uma semana após a publicação da notícia da absolviçãode José Felício, no dia 15 de Novembro de 1913, o jornal ALuta noticiava um facto inédito: uma mulher entrava numtribunal sem o estatuto de ré ou de vítima.

Tratava-se do primeiro julgamento em Portugal com in-tervenção de uma advogada.

Foi na Boa Hora. Chamava-se Regina Quintanilha.

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Palácio da Justiça naPalácio da Justiça naPalácio da Justiça naPalácio da Justiça naPalácio da Justiça naépoca – Colecção Chabyépoca – Colecção Chabyépoca – Colecção Chabyépoca – Colecção Chabyépoca – Colecção Chaby

Uma candidatura única a um património comum? Zé Povi-nho não cabe em si de espanto e pergunta-se como é quedois municípios que confinam com “a maior e mais bela la-goa da Península Ibérica” não se consigam entender parauma candidatura conjunta ao concurso das “7 MaravilhasNaturais de Portugal”.

De facto, é espantoso como só a Câmara das Caldas avan-çou com este processo, ficando de fora o município vizinho,que partilha metade daquele património. Parece que os doisconcelhos que propuseram ao governo chamar a si a gestãodas dragagens daquele ecossistema, não conseguem agorafalar e entender-se para dar força aquela candidatura.

Zé Povinho já se apercebeu há muito do divórcio entre osprincipais responsáveis dos dois municípios, mas julgava quepara questões tão pacíficas como esta, seria fácil entende-rem-se. É uma questão de bom senso. Ou será que não que-rem partilhar a possibilidade de um prémio conjunto?

Zé Povinho associa-se à justa homenagem que o município de Óbi-dos presta ao jornalista, poeta, ficcionista e critico literário, Armandoda Silva Carvalho, natural do Olho Marinho, onde nasceu há 72 anos.

No último meio século, o homenageado colaborou nas publicaçõesDiário de Lisboa, Jornal de Letras, O Diário, Poemas Livres, Colóquio-Letras, Hífen, As Escadas Não Têm Degraus, Sílex, Nova, Via Latina,Loreto 13, depois de se ter licenciado em Direito na Universidade deLisboa.

Ainda jovem, foi distinguido com o Prémio de Revelação da Associa-ção Portuguesa de Escritores pela sua “Lírica Consumível”.

Ao longo da sua vida literária tem sido distinguido com vários galar-dões, como foi o caso, recentemente, do Grande Prémio de Poesia,também da APE/CTT com a colectânea “O Amante Japonês”.

Segundo a crítica, Armando da Silva Carvalho é um dos poetas por-tugueses mais consagrados, facto a que Zé Povinho não é insensível edaí a sua satisfação por este gesto bonito de que vai ser alvo.

15 | Janeiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A notícia veio no semanário O Caldense,edição de 18 de Junho de 1893 e ilustra odesgoverno da cadeia da Vila, situada àépoca no edifício dos Paços do Concelhona praça Dona Maria Pia1.

Reza a crónica que um recluso que saíada cadeia todos os dias pela calada danoite, para regressar tranquilamente namanhã seguinte, por irresponsável negli-gência ficou “fechado na rua” num dia emque acordou tarde de mais.

São estes os factos:«Já se apresentou nas cadeias da Villa o

preso Pedro dos Santos de quem se noti-ciou a supposta evasão.

O Pedro sahira effectivamente de noitea passeio, como costumava, na intenção,é claro, de voltar para a cadeia.

Dormira porém de mais sobre o caso equando chegou à praça para entrar na cadeia, jáera manhã clara e havia acolá gente.

Demorou-se ainda um pouco a ver se podiadisfarçadamente entrar mas não o poude fazerem todo o dia em consequência do carcereiro terobedecido ao provérbio: casa roubada trancas àporta […]».

A notícia não desmente a crónica publicadasete anos antes por Ramalho Ortigão em As far-pas, onde o ilustre viajante se refere à Cadeia doRossio, nestes termos:

«[…] na cadeia das Caldas há apenas dois pre-sos. Afirmam-me que são sempre os mesmos:dois honestos e assíduos funcionários, devida-mente gratificados para fingir de criminosos e seconservarem às grades do cárcere, com o fim defazer ver aos povos que os ferros de el-rei se nãofizeram para as moscas, e que ainda há juízes ...

A cadeia da Vila

nas Caldas. Quando algum destes cavalheiros pede licença para seausentar alguns dias da masmorra, deixa um amigo incumbido de osubstituir no seu cargo. Se não se tomassem tão sérias e rigorosasmedidas, a cadeia passaria, segundo todas as probabilidades, pelodesgosto de ficar desabitada, tal é a pertinaz velhacaria com que oscelerados aqui se recusam à obsequiosa perpetração de qualquerespécie de crime! […]».

Seria Pedro dos Santos um pacato funcionário, despedido sumari-amente por falta de assiduidade?

Afigura-se que não, porque em notícia publicada pelo mesmo se-manário no dia 22 de Novembro de 1891, refere-se a evasão de seispresos, entre os quais Pedro dos Santos, condenado por homicídio emseis anos de prisão celular, seguido de dez anos de degredo, ou emalternativa vinte e cinco anos de degredo.

Por outro lado, a ousada medida de prevenção criminal, que tantoimpressionou Ramalho Ortigão, não teria qualquer eficácia, porquecertamente os habitantes da Vila conheceriam os figurantes.

O certo é que na cadeia da Vila vai um rebo-liço todas as noites de domingo para segunda,como explica indignado o O Caldense, em su-cessivas crónicas intituladas «Scenas da ca-deia».

Reza assim a de 14 de Dezembro de 1890:«[…] No domingo último, à noite, houve de-

sordem nas cadeias d’esta Villa. […] Estas scenas não são raras aos domin-

gos.As famílias ou os amigos dos presos esco-

lhem esse dia para os visitar, passam-lhes pe-las grades garrafas de vinho, d’ahi a origem dobarulho

[…] O meretíssimo delegado substituto nãopôde como desejava remediar este inconveni-ente.

Em tempos estacionava nas Caldas um des-tacamento que fazia guarda à cadeia. Com essamedida preventiva podia evitar-se que os pre-

sos abusassem da bebida, mais difficilmente setornava o passarem-lhes garrafas e garrafas devinho.

Infelizmente o destacamento foi d’aqui retirado,a polícia limita-se a três agentes, as Caldas estápois num desgraçado estado de verdadeira desor-dem […]».

Mas o reboliço não acaba aqui. Na noite de Natalde 1891 houve festa de arromba na cadeia da Vila,relatada na edição de 3 de Janeiro de 1892 pelosemanário O Caldense, que volta a noticiar desor-dens entre os reclusos, completamente ébrios como vinho que as famílias e amigos lhes passarampelas grades para a celebração da consoada.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected][email protected][email protected][email protected][email protected]

Colecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel Chaby

O presidente da Câmara das Caldas pode não ser culpado, mas tema responsabilidade política da ausência do primeiro-ministro da se-gunda cidade do distrito de Leiria durante a operação “governo pre-sente”.

Afinal, uma parte do governo faz-se à estrada pelo distrito e passapela A8, ao largo das Caldas, sem que no programa se inclua umasimples paragem de cortesia, uma breve visita à lagoa de Óbidos ouuma troca de cumprimentos nos Paços do Concelho?

Talvez José Sócrates conheça o estilo repetitivo do presidente daCâmara local (e talvez se recorde do triste episódio com Guterres emLeiria em que o Dr. Fernando Costa prometeu “um das Caldas” aoprimeiro-ministro por causa da guerra das portagens) e, por isso, te-nha preferido ir ao Bombarral, Peniche, Batalha e Leiria.

Do ponto de vista político é um sério revés para o autarca-sénior quepreside há mais de 24 anos aos destinos das Caldas da Rainha e dequem seria de esperar um prestígio suficiente para “obrigar” a umaparagem do primeiro-ministro.

Como um revés nunca vem só, o Dr. Fernando Costa viu-se agoraconfrontado com uma candidatura surpresa à distrital de Leiria porparte dos seus jovens rivais do Bombarral (Dr. João Carlos BarreirasDuarte), Óbidos (Dr. Telmo Faria) e Alcobaça (Dr. Carlos Bonifácio).

Na cerimónia da inauguração da “Palácio das Artes – Fábricados Talentos” no Porto, que se realizou no início do mês deDezembro, presidida pelo Presidente da República, foram dis-tinguidas duas ex-alunas da ESAD com os primeiros prémios doConcurso Nacional de “Design em Português”, edição de 2009.

Tanto Ana Isabel Morais como Ana Carina Cabete receberamas maiores distinções do concurso, no qual participaram algu-mas dezenas de jovens entre os 18 e os 35 anos de todo o país.

Uma vez mais Zé Povinho constata a presença de alunos daescola de artes caldense nos lugares cimeiros, o que demonstrao prestígio que continua a desfrutar no contexto da criatividadenacional entre as várias Escolas de Design.

Zé Povinho só lamenta, em nome destes alunos, que Portugalnão lhes dê uma oportunidade de emprego compatível nem asua Escola lhes possa oferecer uma formação complementar naárea do Design, ao nível do Mestrado, o que os obriga a procuraroutras paragens como se comprova nas declarações que fize-ram depois da cerimônia.

22 | Janeiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

O protesto foi lavrado no semanário Echos dasCaldas de 20 de Setembro de 1908, com o título«A sinêta do Parque» e um texto que oscila entrea indignação e a ironia.

Indignado, começa o cronista por referir que«[…] Apenas o céu se torna purpúreo […] e a luzda tarde vai expirante, já para as bandas do Par-que D. Carlos I se faz ouvir uma infernal campa-inha […]. Com effeito! Todas as noites, durante 4ou 5 horas, um insensível assalariado sacode cons-tantemente, com uma fúria implacável a infernalsinêta, atormentando os ouvidos, ainda os maisrombos e indifferentes, do banhista que passeia[…]».

Irónico, continua: «[…] Ora, com franqueza«[…] acham que no Parque, onde tudo se dispõepara ser ameno, brando e perfumado, deva exis-tir o supplício da sinêta? […] Só nos falta verentrar o homem da sinêta pelo céu de vidro den-tro, ir até ao grande salão e ahi badalar, badalarconstantemente atrás dos galantes pares, comosendo a marca mais interessante d’um cotillondepois da meia noite […]».

Para o cronista, o maior agravo da sineta resi-de na perturbação que causa aos frequentadoresdo elegante Clube do Parque, e à má imagemque a mesma provoca na Vila que pretende seracolhedora e tranquila para quem a visita.

Para os visitantes mais viajados e ilustres, sendoum local de agradável diversão, mesmo antes daperturbadora sineta o Clube não era propriamenteconsiderado um espaço de elegância elitista, comose conclui da descrição de Júlio César MachadoVaz no Jornal do Comércio de 27 de Agosto de1883:

Animatógrafo

«[…] A ostentação elegante das Caldas da Rainha é o seu clube.Toda a pessoa que para aqui vem a águas, tem o direito de se inscre-ver como sócio. Paga três mil réis e pode levar a família. Às dez horasda noite serve-se chá com fatias de torradas; a família come astorradas e bebe o chá; o sócio nestas condições custa ao clube maisdo que dá. A facilidade de admissão estabelece uma deplorável con-fusão de sociedade, ali. Só uma igualdade pode dar-se naquela ele-gante e graciosa roda, serem todos doentes. Os que não são reumá-ticos sofrem do estômago […]».

Voltando ao protesto do Echos. Para além da indignação e da iro-nia, há informação no texto: «[…] aquele immaterial e invisível somde sinêta, convertido num instrumento anunciador do animatographo[…]».

Surgia na época uma pequena luz que projectava na parede ima-gens silenciosas. Já era magia mas ainda não se chamava cinema. EmPortugal, Edwin Rousby divulga uma versão de projector a que chamaAnimatógrafo Colossal, chegando a Caldas um dos primeiros exem-plares

Do jornal O Círculo das Caldas de 20 de Novembro de 1907, recolhe-se a primeira notícia sobre a nova arte: «[…] Estreou-se no domingoúltimo, no salão da Convalescença, a magnífica machina animatogra-

phica apresentada pelo sr. Guilherme Bolander […].A primeira e única sessão de domingo teve enor-míssima concorrência com a instalação e nitidezdos seus esplêndidos quadros de que especialisa-remos: “Amor e Pátria ou A Noiva do Voluntário”,de maravilhosos efeitos de luz e intensidade dra-mática […] e bailados da Bella Romero […]. Segun-da-feira foi exibida a grandiosa peça “Martyres daInquisição”, assumpto impressionante, muito fielde reprodução mas, a nosso ver, pesado de maispara espectáculos de verdadeiro passatempo […].Para amanhã […] dar-nos-ha o sr. Bolander a extra-ordinária fita, não só de empolgante assumptocomo de fina estructura e viva realidade: um dra-ma de Sevilha “Amor d’um toureiro”, fechando asessão com “Aventuras na Corte de Luiz XIV” […]».

No Echos das Caldas de 2 de Agosto de 1908, háuma notícia com o título «Inauguração dos Pavi-lhões do Parque» e dela se reproduz o seguintetrecho:

«[…] A conhecida empreza Netto, Valle & C.ª,vae apresentar soberbos espectáculos n’um dosPavilhões do Parque D. Carlos1. A inauguração rea-lisa-se […] com magníficas sessões do Animato-grapho Colossal e com esplendorosos bailados,executados pela bella e notável bailarina ConchaMonedero (Currita Madrileña) […]. Os preços sãobaratíssimos: cadeiras a 100 réis, superior a 80 réise geral a 60 réis […]».

É para este espectáculo que é convocado o pú-blico com a famigerada sineta.

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Colecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel Chaby

Os manos Barreiras Duarte, os inspiradores da candidatura daoposição ao Dr. Fernando Costa (apesar de também terem sidoapoiantes de Pedro Passos Coelho à liderança do PSD), e quedurante mais de uma década conseguiam influenciar a estruturadistrital, estão a perder paulatinamente a sua projecção distrital.

Para quem sempre defendeu a hegemonia da capital do distritoe chegou a afirmar em livro, publicado em 2005, que Leiria não“podia ser um gigante económico e um anão político”, não temdeixado de averbar derrotas nos últimos anos.

E desta vez foi a vingança do seu mais predilecto adversáriodentro do partido e da distrital.

Nos próximos anos, a não ser que haja um milagre nas hostes enas consciências sociais-democratas, vão ficar na sombra, tendoperdido os postos na Assembleia da República. Só com uma gran-de conversão poderão ter acesso aos corredores do poder. E comisto levaram na bagagem, um tanto incomodado, o autarca prefe-rido da governação do PSD nos anos 2003/05 – o Dr. Telmo Faria –que paga caro pela sua fidelidade aos manos bombarralenses.

Zé Povinho chora pela sua pena...

Zé Povinho tem mesmo uma infindável admiração pelo presi-dente da Câmara das Caldas da Rainha, que conseguiu desta vezatingir um objectivo estratégico no seu partido: dominar a estru-tura distrital e afastar para longe os seus arqui-adversários, queele próprio acusa de estarem por detrás da candidatura contra ounanimismo.

O Dr. Fernando Costa, desta vez, apesar de ter querido juntartodas as concelhias do distrito à sua roda, foi surpreendido nosúltimos dias por uma candidatura onde acha que se juntavamalguns ressabiados da sua pessoa.

Depois da vitória quase esmagadora, não quis ter a magnani-midade de juntar todos no seu albergue distrital. Venceu e ven-ceu claramente. E fez questão de o afirmar. Afinal um vencedoré um vencedor. Mas aqueles que se levantaram contra si que secuidem.

A partir de agora irá passar pela sua mão a elaboração daslistas dos deputados pelo distrito, para além de caber-lhe arepresentação do distrito nas reuniões nacionais do seu partido.

As hostes de Pedro Passos Coelho, o único candidato assumi-do à liderança do PSD nacional nas directas que se aproximam,regozijaram-se com a vitória em Leiria. Caso ganhe nos próxi-mos meses, o presidente caldense pode enfim ter projecçãonacional no reino social-democrata.

29 | Janeiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A notícia, publicada no jornal O Círculo das Caldasde 20 de Novembro de 1903, abre com um lamento:«Esta Villa, outrora tão ordeira e respeitadora dasauctoridades, vae perdendo os honrosos créditos deque gozava […]».

Segue-se a crítica à falta de qualidades do admi-nistrador do concelho e a irónica descrição das des-graças que têm atingido tão ilustre personagem: «[…]não é respeitado nem temido, e d’ahi os desaires porque tem passado. Há dias foi apedrejado […] e, emlugar de procurar castigar os auctores de tão conde-nável desacato, ficou-se com o vexame, calado e sa-tisfeito como se tivesse sido distinguido por qualqueramabilidade! […]».

Refere-se depois o cronista, ao escândalo provo-cado pelo facto de os jornais da capital terem divul-gado os incidentes que embaraçam a Vila e que con-sistiram «[…] na cobarde agressão de que foram vic-timas os guardas n.º 6, 18 e 23 na noite de 11 docorrente […]».

Reza a crónica que os guardas se encontravam napraça D. Maria Pia, onde foram chamados «[…] poucodepois das 11 horas da noite, por um indivíduo quenão conheceram, a fim de irem apaziguar uma desor-dem que havia na Rua do Capitão Filipe de Sousa,junta da casa d’umas meretrizes […]».

Indignado com o logro e comovido com a inocênciados agentes da autoridade, diz o cronista: «[…]ospobres guardas, acreditando no desconhecido, diri-giram-se apressadamente para o sítio indicado, e,chegados ali, viram próximo do chafariz d’El Rei, 3homens armados de varapaus, simulando uma de-sordem. Ao aproximarem-se mais, para interviremna supposta contenda, saltam os 3 a agredi-los comcacetadas […]».

Segue-se a descrição dos efeitos da agressão, or-denada por rigorosa ordem numérica crescente: «[…]ficando logo prostrado o guarda n.º 6, depois o n.º 18

Números de Políciae por último o n.º 23, que ainda lutou por algumtempo com os cobardes aggressores […]».

Após a agressão, durante a qual não identifica-ram os autores, foram os guardas, muito combali-dos «[…] recolhidos à casa da polícia, sendo-lhesfeitos os primeiros curativos pelo Sr. Dr. AugustoCymbrom, director do Hospital Real […]».

Recaíram suspeitas sobre dois criados do comer-ciante José Monteiro Ferreira da Silva, confirmadascom a descoberta «de dois paus manchados de san-gue» na casa onde dormiam.

Na edição de 1 de Outubro de 1905, o Circulo dasCaldas protesta indignado contra uma outra agres-são, também referida na imprensa de Lisboa, masdesta vez a vítima é um pacato cidadão de nomeFrancisco Valentim Vão, cabendo o papel de agres-sores aos guardas n.º 11, 26 e 38.

O jornal volta a atribuir as responsabilidades aoadministrador do concelho Abel Fernandes, a quemacusa como «principal responsável dos actos vio-lentos cometidos pela polícia que serve sob as suasordens», e transcreve o breve trecho que se segue,do jornal A Vanguarda:

«[…] Pois fique toda a gente sabendo, que há unstempos a esta parte, raro é o preso que não levatareia lá dentro, não escapando um pobre loucoinoffensivo de Óbidos, nem um aleijadinho das per-nas […] fiquem sabendo isto os senhores juiz dedireito e delegado do procurador régio […]».

Confrontadas as duas notícias, os guardas inter-venientes, que nunca são identificados pelos no-mes, não terão sido os mesmos, já que os númerosnão coincidem.

Por outro lado, é curioso verificar que na ediçãode O Caldense, de 14 de Dezembro de 1890 se refereque o policiamento das Caldas é efectuado apenaspor três agentes, número duplicado no ano seguin-te, de acordo com o mesmo semanário, que na edi-

ção de 3 de Janeiro de 1892 refere a propósito das constantes desor-dens na cadeia da Vila: «[…] os polícias aqui destacados são apenasseis, este número já é insuficiente para a polícia da Villa, quanto maispara estarem permanentemente de guarda às cadeias […]».

Mudam-se os tempos, mantêm-se as críticas. Falta de meios, diz-se hoje.

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O Oeste e o distrito de Leiria continuam a ter no actualgoverno uma boa representação, agora nas pessoas dosministros dos Negócios Estrangeiros, da Economia e Ino-vação e da Saúde, respectivamente Luís Amado, Vieira daSilva e Ana Jorge.

Será que não serão sensíveis aos propósitos demons-trados por todos os partidos com representação parla-mentar e mais individualidades (algumas nem sequer ali-nhadas partidariamente), para se baterem pela concretização das promessas datransferência do aeroporto da Ota?

Zé Povinho recorda que foi um membro do distrito do anterior governo que votoucontra a anulação da escolha do aeroporto da Ota e se bateu pelas compensações,como foi noticiado na altura.

Agora os membros do governo restantes, com ligações a Porto de Mós, MarinhaGrande e Lourinha, parece não estarem muito despertos para a região a que estãoligados.

Ao menos poderiam ter alguma sensibilidade e senso uma vez que o que se pedenão é exagerado e tem uma promessa anterior do primeiro ministro. Promessa essadiversas vezes reeiterada.

Será que Luís Amado, Vieira da Silva e Ana Jorge, estão surdos e mudos peranteestas questões, nomeadamente a modernização da Linha do Oeste, tantas vezesprometida e sempre esquecida?

Fosse, por exemplo, o Ribatejo e o ministro Jorge Lacão não esqueceria...

Tal como o Presidente Obama foi distinguido com o Prémio Nobel das Paz semter realizado obra suficiente para tal distinção, valendo-lhe apenas os propósitosque tinha enunciado em favor da Humanidade, também o jovem candidato àliderança do PSD nacional deve merecer um prémio a ser atribuído a nível distri-tal.

O Dr. Pedro Passos Coelho vai ter uma missão hercúlea de conciliar na distritalde Leiria do seu partido as principais lideranças das duas listas que se bateramencarniçadamente entre elas e a que não faltam piropos já depois de conhecidos

os resultados.Na recente apresentação em Lisboa do seu livro “Mudar”, lá estavam alguns dos seus

apoiantes distritais desavindos, cada qual se posicionando da forma mais visível, fosse naprimeira fila da assistência ou na primeira linha dos apoiantes que procuravam um livroautografado.

Zé Povinho vai assistir atento e deliciadamente aos próximos episódios, sabendo quenenhuma das partes se vai acusar de chapeladas nas eleições directas que se aproximam,nem de terem pago as quotas recentemente de forma pouco estatutária. Afinal (se nãohouver arrependimentos mais próximos da data crucial e transferências de campo) estãoambas as correntes a trabalhar para o mesmo líder. O problema só se verificará (casoPedro Passos Coelho vença o PSD) quando for a escolha das listas para o Parlamento em2013, ou antes se houver eleições antecipadas. Aí perceberá o que significa “Para queminvectivou e tentou o “agiornamento” por via da infâmia, diabolização. Que não se iludam.Nada ficará como dantes. A unidade tem um preço. Que é a dignidade e a desculpa. Semisso nada feito. (...) O tempo do sempre em pé, do dança de ombros e dos cortiças, jácomeçou a ser descontado”. (Feliciano Barreiras Duarte in Região de Leiria – 22/01/2010)

Zé Povinho acha que com amigos e companheiros destes o Dr. Passos Coelho nãoprecisa de mais adversários.

5 | Fevereiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Preocupado com a falta de privacidade no Clubede Recreio1, o Cavacos das Caldas de 29 de Novem-bro de 1896 aborda o problema e propõe a solução:

«[…] Evitar a constante exposição dos que concor-rem aos bailes do club, perante o público que dasjanellas observa esses bailes, por vezes procedendocomo nas geraes dos theatros barracas ou de feira[…] sendo impossível instalar o club em outro local,supprir o inconveniente, vedando as janelas conve-nientemente, […] por isso que as famílias que con-correm ao club, não vão ali para serem motivo dacríticas menos correctas e às vezes bem pouco de-centes e feitas em voz alta pelo supra citado público[…]».

A sugestão foi prontamente seguida pela direc-ção do clube, que ali colocou persianas, mal recebi-das pela população, privada do espectáculo munda-no que animava os serões de quem, não podendoentrar pela porta, se habituara a espreitar pela ja-nela, acompanhando activamente o desenrolar dasfestas, com comentários, aplausos, palpites e críti-cas.

Do veemente protesto dá notícia o Cavacos de 8de Julho de 1897:

«[…] Relatámos em um dos nossos passados nú-meros que a direcção do estabelecimento thermal,resolvera mandar collocar de noite umas meias per-sianas nas janelas do club de recreio […]. Começavaeste acto a praticar-se na noite de 1 de Julho corren-te, era elle bem aceite por uns, reprovado por ou-tros, estes impensadamente exaltados, manifesta-vam infelizmente o seu desagrado nas noites de 1, 2,3 e 4 do corrente, levando o seu excesso ao ponto dearrancarem e partirem três daquelas persianas […]».

Apesar de contestar a forma do protesto, sobre-tudo por prejudicar a imagem da vila «[…] muitoprincipalmente em época de affluência de forastei-

Os mirones do cluberos a uma terra que tem sempre goza-do de foros de conveniente, pacífica eordeira […]», o Cavacos não deixa dereconhecer alguma legitimidade aosque se opunham à medida, revogató-ria de uma “servidão de vistas” con-solidada pela tradição: «[…] Foi paraisso … que se creou o direito de peti-ção e de representação, onde em ter-mos convenientes e suasórios se podepedir esta ou aquella concessão gra-tuita ou costume de há muitos annos,que se pretenda fazer revogar […].

Era inegável a existência de umdano, por isso se seguiu a inevitávelinvestigação e posterior julgamento,onde se veio a revelar, particularmen-te no interrogatório do juiz, um intri-gante personagem que dava pelonome de Dominó.

Disso nos dá conta o Cavacos de 7 de Dezembro de 1897:«[…] Há dias foi julgado em polícia correccional e absolvido por

falta de provas, um artífice que tem por nome de Guerra o Dominó.Era accusado de crime de damno nas persianas do club, feito que

deu tanto que fallar.Perguntado pelo meritíssimo juiz como se chamava, respondeu:António Félix Dominó Lourenço Miguel d’Oliveira Quidalhe Casca

d’Azinha Pelle de Batata Pachi Cró Cambournac Comendador dosCrentes.

[…] ao ser interrogado para declarar qual o seu estado, replicou:Que ignorava. Casara aos 12 de Novembro de 1883, vivera seis me-

ses com sua mulher, mas esta ao fim d’esse tempo passara-lhe aspalhetas, razão porque não sabia se era casado, solteiro ou viúvo.

No género um original de primeira ordem, não acham? […]».A exclusividade de utilização do espaço do clube pelos seus sócios

é preocupação antiga do Cavacos, já anteriormente manifestada noregozijo com que noticiou a abertura de um portão do parque.

Rezava assim a notícia de 17 de Julho de 1896:«[…] Na rua de Camões está-se procedendo à aber-

tura de mais um portão, dando entrada para o par-que D. Carlos. A inovação, pelo que nos informam, éacertadíssima. Os que não forem sócios do club te-rão por alli franca a entrada para o mesmo parque,com isto evitar-se-ha, e muito justamente, o quetodos os annos se repetia. Não poderem alcançar ossócios do club lugares no chamado céu de vidro, poraqueles estarem ocupados na sua grande maioria,por pessoas que não contribuíram para o club. […]»

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected][email protected][email protected][email protected][email protected]

(Footnotes)1 Mais tarde, indevidamente chamado “Casino do Parque”

Colecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel Chaby

Zé Povinho ficou muito satisfeito no passado domingo com a inauguração do jardim emLisboa do seu Patrono, Rafael Bordalo Pinheiro, agora assinando como Bordallo com dois l´s.

Uma ideia simples, apesar de envolver uma verba avultada (menor certamente do queeventuais subsídios de desemprego), mas bem gasta, uma vez que serviu para viabilizaralgum tempo de trabalho da fábrica que, na altura do lançamento do projecto, estava aatravessar momentos conturbados e com o fim anunciado.

Catarina Portas demonstrou ter a imaginação que a muitos faltou, uma vez que em muitasocasiões preferem esmolar do que oferecer trabalho que depois reverte para a comunidade.

Joana Vasconcelos deu o seu contributo aproveitando criativamente as peças criadas pelomestre. Depois coube também na fábrica a Elsa Rebelo dar corpo aos animais em cerâmica.

Será que este projecto, que fez renascer uma ideia antiga que havia sido desenvolvida noJardim da Estrela no século passado, irá ainda animar no futuro uma parte do Campo Grande,entre os dois Museus - da Cidade e Bordalo?

Zé Povinho acha que outros deviam olhar para o exemplo levado a cabo na capital eespalhar por outros locais obras em que utilizem mais intensamente a cerâmica decorativae criativa. Daria sustentabilidade a uma tradição portuguesa que os estrangeiros muitoadmiram.

Por todas estas razões Catarina Portas, Joana Vasconcelos e Elsa Rebelo, merecem umasaudação.

É de louvar que a CP tenha respondi-do de forma tão completa e numa atitu-de tão pedagógica às questões apresen-tadas pela Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas, procu-rando explicá-las e anunciando algumasmudanças que vão no sentido de corrigirerros passados.

Mas nem por isso a transportadorapública deixa de prestar um serviço in-suficiente, sobretudo na linha do Oeste.Independentemente das questões legaisque evoca, o certo que é nesta região ocaminho-de-ferro oferece maus comboi-os, maus horários e um tarifário que nãoincentiva à sua utilização.

Zé Povinho faz votos para que a em-presa pública arrepie caminho e aja commais flexibilidade - sem se desculpar como Estado ou com a Refer - e torne o seuserviço mais atractivo.

12 | Fevereiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Colecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel Chaby

A polémica surge no Echos das Caldas, envolve emi-nentes figuras do reino e chega aos jornais da capital.

Francisco José Machado, digno par do reino, sintetizaa questão em carta dirigida ao Correio da Noite, repro-duzida no Echos de 5 de Agosto de 1909:

«[…] Há 9 ou 10 anos, o grande amigo das Caldas, ogrande homem de bem, que se chamou Francisco Sa-loio, requereu para que lhe fossem concedidos uns 10metros quadrados de terreno no parque, para armaruma barraca de madeira, cujo desenho, do inimitávelRaphael Bordalo Pinheiro, apresentou.

A barraca era para vender refrescos, tabacos, etc.Foi-lhe logo concedida pelo director senhor conselheiroJosé Filipe.

Fallecido aquelle meu chorado e saudoso amigo, Fran-cisco Saloio, foi sempre, em todos os annos, concedidaa licença a seu genro José Leandro. Nunca mais se le-vantou a mais pequena dúvida ou obstáculo acerca daarmação da barraca […]».

No Verão de 1909, Augusto Cymbron Borges de Sou-sa, director do Hospital, negou a José Leandro dos San-tos Pereira a habitual autorização para a montagem doquiosque, tendo este dirigido ao Rei D. Manuel II umapelo reproduzido no Echos de 5 de Julho de 1909.

Na mesma edição o Echos transcreve artigos de apoioà pretensão de José Leandro, publicados em O País e noDiário Ilustrado.

O artigo do Diário Ilustrado avança uma explicaçãopolítica para o facto de Augusto Cymbron se recusar amanter a concessão do espaço do quiosque, iniciada noano de 1901 e nunca questionada pela anterior direcçãodo Hospital:

«[…] Ponhamos os pontos nos ii. O sr. José Leandro éproprietário do jornal intitulado Echos das Caldas quepara pôr em evidência quanto tem sido perniciosa aadministração do hospital, chegou a transcrever algunsartigos do nosso jornal quando apreciámos o relatório

Os quiosques do Parqueda célebre syndicância realizada pelosr. dr. Tenreiro Sarzedas […]».

Em funções desde Janeiro de 1903,Augusto Cymbron Borges de Sousa,cunhado do antigo dirigente do Par-tido Regenerador e chefe do gover-no, Hintze Ribeiro, ocupava naquelaépoca conturbada um cargo ambicio-nado por todas as forças políticas, oque torna particularmente difícil ava-liar a justiça das acusações que osadversários lhe imputavam.

Havia quem se insurgisse contra asregalias do administrador, que inclu-íam ordenado de 900$000 réis anuaise 180 litros de azeite, imputando-lheirregularidades que os inquéritos ofi-ciais não confirmaram1.

O Echos de 5 de Julho de 1909, trans-creve um texto do Diário Ilustrado queacrescenta acusações de «[…] san-gria nos cofres desse estabelecimen-to de caridade […]», censurando comironia o aumento de 100$000 réis dosordenados dos dois capelães do Hos-pital, nestes termos: «[…] a forma delhes proporcionar este bolo é enge-nhosa, porque os dois reverendos ga-lopins passam a degluti-lo, a pretextode dizerem mais um certo número demissas do que até agora diziam … poralma da Rainha Dona Leonor! Esta pro-vidência espiritual, para fazer bem aocorpo, não é mal inventada … e comopara tanta missa um sacristão nãopossa, manifestamente, dar aviamen-to, arranjou-se segundo sacristão, com

72$000 réis … para haver ma-neira de um par de reverendoscapellães ter um creado pago aexpensas do Hospital […]».

O Círculo das Caldas sai aterreiro em defesa de Cym-bron, e na edição de 10 de Ju-nho explica o indeferimento doquiosque de José Leandro: «[…]este ano deu-se o caso de o sr.Salomão Levy requerer o ar-rendamento de uma faixa deterreno […] e como, para a pre-sente época balnear não hou-vesse ainda nenhum pedido deconcessão de terreno, anteriorao do sr. Levy, foi, como nãopodia deixar de ser, deferido orequerimento por este apre-sentado […]».

O folhetim termina com a

vitória do proprietário do Echos das Caldas, que ob-tém despacho favorável do governo para a continui-dade do quiosque, conforme vem relatado na ediçãode 25 de Julho de 1909.

Afinal, no Parque havia espaço para todos, e tam-bém Salomão Levy lá instalou o seu quiosque, repro-duzido na imagem que acompanha este texto2.

O “quiosque do Levy” muda de donos e a Gazetadas Caldas de 30 de Janeiro de 1927 sugere outrasmudanças: «[…] A propósito de barracas, ocorre-nosdizer a necessidade que há, para o aformoseamentodo Parque, na substituição das actuais, de que sãoproprietários os nossos amigos Francisco e João Ga-linha «[…]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected][email protected][email protected][email protected][email protected]

(Footnotes)1 S. P. Danton, in A Questão Política nas Caldas da Rainha, destaca 18 “para amostra”2Cedidaporhttp://externatoramalhoo rtigão.blogspot.com

Os empresários do distrito de Leiria queixam-se do mauserviço prestado pela EDP. Não são os únicos. Muitos par-ticulares lamentam também, periodicamente, as quebrasabruptas de energia eléctrica que muitas vezes danificammaterial informático e electrodomésticos.

Contudo, é na actividade económica que os prejuízossão maiores, queixando-se também os empresários queaquela empresa não responde atempadamente às solici-tações e que o call center nada resolve (como, de resto, amaioria dos call centers hoje em dia).

A esta má prestação da EDP, Zé Povinho pensa que nãoserá alheio o facto da empresa estar a concentrar-se nosgrandes centros, desinvestindo nos pólos regionais – deque é exemplo o edifício das Caldas da Rainha que está ásmoscas -, bem como a subcontratação excessiva de gran-de parte daquilo que deveria ser o seu núcleo duro deactividades.

Depois da má imagem que se colou a esta empresa nasequência do temporal no Oeste, os resultados deste in-quérito deveriam fazer com que a EDP reflectisse seria-mente numa estratégia diferente e que tivesse em linhade conta as preocupações de muitos funcionários que sa-bem bem das vantagens da proximidade na gestão numaorganização gigante como esta.

O Sr. Joaquim Lopes criou nas Caldas um núcleo do Movimento VoluntárioDesportivo, logo a seguir ao 25 de Abril, dando origem ao lançamento nacidade de várias modalidades desportivas, em especial dos torneios defutebol 5 na Parada do Hospital, mas o Badminton foi sempre a modalidadeeleita.

Zé Povinho acha que este caldense é uma pessoa directa e eficaz, saben-do muito de organização desportiva, conseguindo agregar pessoas dos maisvariados quadrantes e impor uma forte dinâmica de trabalho.

O Badminton desenvolveu-se a nivel regional e nacional graças a JoaquimLopes, bem como às suas filhas, que foram campeãs nacionais e internaci-onais daquele desporto.

Face aos seus contributos e ao apoio que recebeu da Câmara das Caldas,Joaquim Lopes conseguiu trazer a Federação de Badminton para a cidade,sendo esta a primeira federação a ficar sediada fora dos grandes centros,onde dispõe de modelares instalações incluindo alojamentos para os atle-tas.

Culmina agora com a concretização de uma obra a todos os títulos notávelcom é o Centro de Alto Rendimento, já considerado o melhor centro deBadminton da Europa e um dos melhores do mundo.

O Secretário de Estado da Juventude, Dr. Laurentino Dias, na sua vinda àsCaldas da Rainha no passado fim de semana, destacou e felicitou o caldenseJoaquim Lopes como “uma pessoa que muito aqui trabalhou e que“uma pessoa que muito aqui trabalhou e que“uma pessoa que muito aqui trabalhou e que“uma pessoa que muito aqui trabalhou e que“uma pessoa que muito aqui trabalhou e queacompanhou todo o desenvolver desta obra desde o início até àacompanhou todo o desenvolver desta obra desde o início até àacompanhou todo o desenvolver desta obra desde o início até àacompanhou todo o desenvolver desta obra desde o início até àacompanhou todo o desenvolver desta obra desde o início até àabertura”.abertura”.abertura”.abertura”.abertura”.

Zé Povinho felicita este dinâmico dirigente por tudo isto. Se já muitagente foi homenageada com medalhas municipais, Joaquim Lopes será cer-tamente merecedor do mais alto galardão das Caldas a nível desportivo.

12 | Fevereiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Na noite tempestuosa de 28 de Outubro de 1891, afunda-seno mar da Foz, junto ao Gronho, o navio inglês S S Roumania.

Das 122 pessoas a bordo salvam-se apenas 9, e nos diasque se seguem o mar não cessa de devolver à terra corpossem vida.

O semanário O Caldense acompanha a tragédia com duascrónicas publicadas no dia 6 de Novembro, numa das quaislavra solene protesto: «[…] Foi extraordinaria a pilhagem desalvados a ponto de terem d’ella sido victimas dois homensda Foz. Diz-se que nas cercanias da costa, onde o mar arrojousalvados, estão escondidos valores. Na sexta feira a pilha-gem na praia da Foz era repugnantíssima […] houveram rou-bos importantissimos e feitos pela forma mais desavergo-nhada e ignóbil que se pode dar. Custa a crer que se pilhecom tal desplante em face d’uma praia onde aqui, alli e acolajaziam cadaveres que attestavam scenas verdadeiramentedesoladoras […]».

Na mesma edição, O Caldense refere a chegada de deze-nas de estranhos à praia, critica a passividade das autorida-des no local e sugere que os autores da pilhagem não sãogente da terra: «[…] mais de 80 ciganos invadiram um d’estesdias a Foz do Arelho em busca de quinhões em tão boa preza[…]».

Na edição seguinte, de 13 de Novembro, O Caldense sai emdefesa do administrador interino do concelho, acusado denegligência pelo Século, e louva a atitude do pároco e doregedor da freguesia da Serra do Bouro, que diligenciam pelasepultura dos primeiros corpos.

Refere o semanário das Caldas, que há cadáveres «[…]entallados por tal forma nas pedras batidas constantementepelo mar que foi impossivel […] sepulta-los […]», e avançacom mais notícias sobre as consequências da pilhagem emlocais de acesso perigoso: «Tem continuado a affluência enor-me de gente ao local do sinistro. Em consequência de umatemeridade verdadeiramente condemnavel têm perecido alliumas 5 pessoas afogadas […]».

Na última página o jornal actualiza o número de mortos emconsequência da temeridade que os faz arriscar a vida em

O naufrágio

busca dos despojos do naufrágio:«[…] De toda a parte afflue gente a visitar a Foz e as quebradas do

mar até á Serra do Bouro. […] A romaria tem custado a vida a umas12 ou 13 pessoas […]. Para se providenciar, diz-se, devia mandar-separa alli tropa que prohibisse o povo de aproximar-se do mar paraque não haja mais victimas. […] E por aqui ficamos para não termosque explicar a razão porque estas mortes se têem succedido, razõesque são bem degradantes e impróprias, perdoem-nos a desapieda-de, de merecerem compaixão, razões, emfim, que são a consequên-cia de uns exemplos tristes e bem tristes […]».

Ainda na edição de 13 de Novembro, O Caldense refere a presen-ça de uma força de vinte praças comandada por um tenente e criticaa ausência das forças policiais afectas aos serviços aduaneiros: «[…]A guarda fiscal não pode para ali fornecer da sua gente porque estaprecisa concentrar-se onde ha menos que fazer […]».

Finalmente, na edição de 20 de Novembro de 1891, O Caldensepublica uma lista de cadáveres que o mar trouxe para a praia, algunsidentificados por familiares vindos de Inglaterra, outros descritos de

forma a permitir futura identificação.Mas o mar não devolveu à terra apenas corpos.Na edição de 13 de Novembro, o jornal destaca um por-

menor curioso. Num cenário de desolação e morte, na areiada praia onde chegam os cadáveres e os haveres dos náu-fragos, arrancada pela fúria do mar há uma página dumlivro, onde se lê uma frase de esperança, talvez uma ora-ção: «[…] Tambem appareceu na praia uma folha d’albumonde estava escripto em inglez o seguinte versículo: Quan-do atravessar o mar serei comvosco. […]».

A tradução livre do cronista não permite saber se setrata da profecia de Isaías «Se tiveres de atravessar aságuas, estarei contigo», ou do livro do Êxodo sobre a passa-gem do Mar Vermelho, mas não restam dúvidas de que nãose refere ao Mar da Foz, porque da fúria das suas águasnão fala o Antigo Testamento.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])

Zé Povinho nunca gostou muito de banqueiros desdesempre, até por lhes conhecer as manhas. O seu patrono,Rafael Bordalo Pinheiro, foi sempre muito mordaz para oshomens que mexem nos capitais.

Contudo, ficou lisonjeado com a escolha feitas pelosministros das Finanças da União Europeia de um portuguêspara a vice-presidência do Banco Central Europeu.

A escolha recaiu no Governador do Banco de Portugal eprofessor de Economia Monetária do Instituto Superior deEconomia e Gestão, Dr. Vitor Constancio, até há poucofeito em saco de pancada do parlamento português, pelassuas omissões na supervisão da banca comercial.

Zé Povinho sabe que santos ao pé da porta não fazemmilagres e que os portugueses dificilmente reconhecem omérito dos seus concidadãos antes que os estrangeiros ofaçam.

O Dr. Vitor Constancio segue as pisadas de muitos ou-tros, na política, na arte, no desporto, etc., que chegaramprimeiro aos pódios lá fora, tendo passado por saídas pou-co airosas em Portugal. Foi o que aconteceu com o Eng.António Guterres, o conceituado Alto Comissário das Na-ções Unidas para os Refugiados, ou o Dr. Durão Barroso,reeleito presidente da Comissão Européia, com um apoiomuito substancial

Zé Povinho espera que o Dr. Vitor Constancio leve paraFrankfurt, onde está a sede do BCE, a sensibilidade medi-terrânica muito avessa ao rigor milimétrico dos monetaris-tas do centro da Europa e faça esquecer a má fama dosPIGS (Portugal, Itália, Grécia e Spain).

A Engª Dulce Pássaro, ministra do Ambiente, não tem culpa dos fenóme-nos naturais que ocorrem na Lagoa de Óbidos, nem que a “aberta” tenhavindo a deslocar-se para norte, pondo em perigo a praia da Foz do Arelho edeixando preocupadas todas as pessoas da zona.

Mas como responsável pela tutela do INAG, que superintende as interven-ções na lagoa, arca de imediato com o mau comportamento que aqueleorganismo e o seu presidente, Eng. Orlando Borges, têm tido neste proces-so.

Zé Povinho, que não é especialista na matéria, até pode admitir que aatitude do INAG é correcta, que é prudente aprofundarem-se estudos antesde intervir de foram irreversível naquele ecossistema, e que não é fácilprever as manhas e as manias do mar.

Também é certo que se há algumas décadas não se tivesse alcatroado apraia (bem como muitas outras safardices que têm sido feitas) e tivessehavido maior cuidado com as recomendações do Ministério do Ambiente àépoca, talvez este problema não fosse hoje tão acutilante.

Mas o que não é admissível é a arrogância com que aquele órgão doEstado e, por maioria de razão, o próprio ministério e a sua ministra, de-monstram neste processo. As pessoas estão preocupadas e esperam que asautoridades do país as tranquilizem, mas nem o INAG nem a ministra têmtido a atitude pedagógica que se impõe – explicar às pessoas o que pensame o que deve ser feito.

Esta atitude autista por parte daquele ministério (o que já acontecia como anterior ministro deste governo), também é aplicada à imprensa, simples-mente ignorada nos pedidos de informação.

Tratam-se de atitudes censuráveis que não são admissíveis num Estadode Direito, ainda por cima no Ambiente em que os cidadãos têm o direito aser informados tal como a participarem nas decisões.

A Engª Dulce Pássaro andará distraída? Não entenderá que a sustentabi-lidade dos sistemas lagunares obriga a uma co-responsabilização de todos?

26 | Fevereiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A crónica veio na Gazeta das Caldas de 9 deJaneiro de 1927, com o título «A prisão do Re-pórter X nas Caldas da Rainha», ilustrada comum desenho de Luiz Teixeira, que retrata o au-tor Reynaldo Ferreira.

Para o jornalista, a topografia das cidadesnão são ruas, avenidas ou bairros, mas momen-tos: «[…] Para mim, o papel colorido onde sefixa e se evoca um continente, quer paiz, quercidade, quer rua – é uma evocação viva de umdesejo vagabundo – ou a saudade ou a recorda-ção duma hora emocionada, de uma hora vividaou de um minuto de dor […]».

Depois de evocar Berlim com a referência às“tardes de Under Linden” e às “noites deKuspersd’anne”, e Moscovo com a memória dos“poentes ensanguentados da capital russa”, das“passeatas no Traveskay” e de todos os misté-rios que descobriu “nos olhares da pobres mo-cinhas burguesas que o bolchevismo reduzira aoperárias”, o jornalista escolhe para a evoca-ção das Caldas, um momento passado no anode1918.

Não o diz, mas terá sido no mês Dezembro,tempo de grande agitação política, mês em quefoi assassinado Sidónio Pais.

Segue-se a descrição do momento com queevoca a cidade:

«[…] Em 1918, O Século ordenou-me que inva-disse Santarém, então campo dos revolucioná-rios chefiados por Álvaro de Castro.

Fui … Os comboios só rodavam até meio docaminho. O resto do trajecto foi feito a cavalo,de motociclete, e por fim numa velha tipóia. Aochegar às Caldas, a guarnição que aderira si-lenciosamente ao movimento pretendeu pren-der-me só para que eu não falasse d’ela.

Repórter XNa Praça a gente das Caldas esperava-me.Fez-me uma recepção afogueada, como se eu e a tipóia em que

vinha pudesse desfazer o pesadelo que se adensava no horizonte.Acarinharam-me … Festejaram-me. E os soldados comandados porum tenente médico vieram prender-me. Libertei-me no dia seguin-te.

A notícia da minha prisão espalhou-se pela vila e jamais esque-cerei a emoção carinhosa com que as mulheres das Caldas metrataram nesse dia de liberdade. Foram maternais, foram irmãs eforam noivas… Sofreram por mim durante vinte e quatro horas e eufiquei-lhes rendido para toda a vida.»

Com uma criatividade à beira do delírio, Reynaldo Ferreira, océlebre “Repórter X”, viveu vertiginosamente o seu tempo.

Não se limitando às fronteiras do jornalismo, realizou filmes,escreveu novelas, contos policiais, e peças de teatro como a queestreou no Teatro São Luís em 12 de Julho de 1935, com o título “OHomem que Mudou de Cor”.

Falecido no dia 4 de Outubro de 1935, com apenas 38 anos, todoslhe reconhecem o talento e a imaginação, não merecendo idênticocrédito a objectividade das notícias que assinou.

Correspondente na Rússia dos Sovietes, onde afirmava ter en-contrado portugueses nas funções mais inacreditáveis, como oporteiro do Kremlin e o homem que embalsamou Lenine, é convic-ção do seu biógrafo Joel Lima, que nunca lá terá posto os pés,limitando-se a ficar em Paris, onde aguardava os artigos de HenriBéraud, destacado em Moscovo pelo periódico “Le Journal”.

Também no que respeita às últimas palavras que alegadamenteteria recolhido de Sidónio Pais no dramático momento em quefalecia na Estação do Rossio - «Morro eu, mas salva-se a Pátria» -nem o repórter se encontrava no local, nem o estadista terá tidooportunidade de articular qualquer frase após os disparos que ovitimaram.

Dependente da morfina, vive momentos de delírio como aqueleem que forja uma entrevista a Conan Doyle, e talvez essa depen-dência explique a constante mistura da realidade com a fantasia.

A motivação do artigo que escreveu para a Gazeta das Caldas érevelada na frase coloquial que antecede a descrição da cidade:

«Caldas da Rainha? Querem também uma recordação?Eil’a».

A recordação poderá ser imaginária. Mas a fantasia éuma excelente forma de exprimir o afecto por uma cidade.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])

Zé Povinho ouviu os testemunhos impressionados daeficiência do SIS (Serviço de Incêndio e Socorro) de Gene-bra, na Suíça, feita pelos alunos e professores da EscolaSecundária Raul Proença que foram vitimas (mas semconsequências graves) de um repentino e fortuito incên-dio no hotel em que estava alojados naquela cidade alpi-na.

Em poucos minutos, em plena madrugada, doze carrosde bombeiros, com trinta homens, mais quatro veículoscom dez bombeiros do serviço de segurança do aeroportoe uma dezena de bombeiros voluntários, acorreram aque-le incêndio, pondo a salvo sem qualquer beliscadura os 90residentes num hotel de seis pisos, onde se encontrava ogrupo caldense.

A eficiência foi exemplar, ao ponto de montarem ime-diatamente na rua fronteira uma tenda com um posto desocorros avançados, onde prestavam os primeiros socor-ros. Terminada a fase de reconhecimento e de evacuaçãodo hotel, imediatamente instalaram o grupo noutro hotel,sem qualquer burocracia ou espera de autorizações supe-riores.

Zé Povinho tem grande admiração pelos soldados dapaz de qualquer país e salienta o zelo e eficiência destesbombeiros suíços que deram uma lição que ficará na me-mória dos jovens portugueses.

Zé Povinho está triste com o desapego que os professores comcapacidade para se candidatarem à presidência da ESAD demonstra-ram na primeira vez que lhes foi proporcionada elegeram a sua direc-ção.

Todos sabem que a vida directiva da escola nos seus vinte anos deexistência sofreu vários sobressaltos, nunca tendo conseguido rece-ber um corpo de professores com laços de efectividade em número evariedade de especialidades que constituíssem uma massa crítica queultrapassassem estas situações.

Poucas vezes a tutela do IPL ajudou na criação de um corpo docenteestável e cumprindo as exigências legais para haver uma variedade deelementos que consigam preencher as inúmeras funções científicas,pedagógicas e directivas.

A solução utilizada ao longo da sua já longa história de duas déca-das de nomear pessoas de fora, criou comodismos e facilitismos queagora é difícil inverter.

Zé Povinho não pode regozijar-se com o que se está a passar naESAD, uma vez que tudo isto contribui para a perda de peso e influên-cia desta escola no seio do IPL, arriscando-se a ser menorizada pelasde Leiria e até pela mais nova (Peniche). E espera que o bom senso doactual residente do IPL ajude a preparar uma solução de futuro próxi-mo.

5 | Março | 2010

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A Semana do Zé Povinho

MendigosNos antigos jornais caldenses era frequente a referência à mendi-

cidade, normalmente associada à preocupação pelo facto de poderpôr em causa a boa imagem da cidade termal perante os seus visi-tantes.

Reza assim uma notícia de O Caldense de 4 de Janeiro de 1891: «[…] Foram mandados affixar os respectivos editaes, proibindo rigorosa-mente no concelho das Caldas, o exercício da mendicidade, aosestranhos no mesmo concelho e mesmo n’elle residentes, que nãoestejam munidos de licença administrativa. A licença deve ser solli-citada na administração do concelho, mediante atestado d’indigenciapassado pelos parochos [… ]».

Na edição seguinte, de 11 de Janeiro de 1891, O Caldense manifes-tava regozijo pela aplicação da medida decretada: «[… ] No sábadoultimo foram passadas na administração d’este concelho, 22 licençasa pobres deste concelho. Era uma necessidade, a medida tomadapela auctoridade administrativa. As Caldas estavam constantemen-te infestadas de mendigos estranhos ao concelho [… ]».

A medida administrativa não terá tido o êxito pretendido, porquena edição de 25 de Outubro de 1891, O Caldense volta a falar damendicidade como flagelo social que embaraça a Vila, propondo aostrabalhadores que previnam situações de incapacidade por doença,inscrevendo-se no Montepio «[… ] que por uma módica quantiasemanal e paga previamente a jóia respectiva, concede ao artistaimpossibilitado, médico, botica e uma pensão diária até que termineessa impossibilidade [… ]».

Na mesma crónica, O Caldense retrata um esboço sociológico damendicidade por doença «[… ] Investigando-se a origem do artistaindigente, apura-se quasi sempre que não é natural das Caldas, quevindo buscar aqui trabalho, constitui esta localidade como residên-cia habitual [… ]».

Conclui o velho semanário, que antes da doença deveria o traba-lhador ter gasto no Montepio o dinheiro que deixou na taberna: «[…] O que nos contraria, porém, é vermos o artista, quando valido, fazervida de taberna, gastar ali o que pode e não pode [… ] para o Monte-Pio não pode concorrer enquanto na taberna tudo pode consumir[…]».

O mesmo jornal volta a insurgir-se contra a mendicidade, apon-

tando na edição de 25 de Outubro de 1891 como causa da sua falta decontrolo, o facto de haver apenas três polícias destacados na vila, ecriticando na edição de 12 de Março de 1893 a medida policial adoptadano reino, que determinava o regresso dos mendigos às suas terras,enviados sob custódia de cadeia em cadeia (tinham chegado 5 à cadeiada vila), o que considerava injustificada oneração do erário público.

A mesma preocupação transparece na edição do Cavacos das Caldasde 29 de Novembro de 1896, voltando o mesmo jornal a insistir no apeloàs autoridades para pôr termo à prática da “vagabundagem”, como lhe

chama, na edição de 20 de Janeiro de 1897, alegando que as“esmolas” só servem para aumentar o consumo de bebidas alco-ólicas e insurgindo-se contra a autorização administrativa: «[…]passa-se-lhe licença por escripto para livremente poderem duran-te dois dias exercer a sua industria […]».

A licença a que se refere a crónica do Cavacos foi criada pelopoder liberal, que com vista a pôr cobro ao flagelo da mendicidadecriou asilos1 onde recolhia os pedintes da cidade, a quem propor-cionava cama, alimentação, vestuário e um capelão, concedendolicença para mendigar apenas aos que não tinham lugar nessesestabelecimentos, impondo-lhes para o efeito o uso de uma cha-pa metálica ao peito.

Mais tarde, o Código Penal de 1852 passou a punir a vagabunda-gem e mendicidade com prisão correccional, impondo a lei aosmendigos sadios o trabalho em obras públicas ou em casas agrí-colas.

A preocupação com o drama social da mendicidade mantém-seapós a implantação da República, como relata o jornal O Círculodas Caldas de 23 de Maio de 1914, que transcreve uma carta dogovernador civil, dirigida ao presidente da comissão municipal daassistência, onde se sugere um curioso procedimento:

«[…] esta Comissão Distrital, atendendo a que a verba com queo governo contribui se deve destinar principalmente á pobresarecatada, encetou os seus trabalhos pedindo aos habitantes dacidade para concorrerem mensalmente com uma pequena cota, afim de tirar a mendicidade das ruas. A ideia foi bem recebida e aComissão angariou assim com que distribuir a cada pobre, sema-nalmente, 140 réis, tanto quanto eles iam esmolar de porta emporta, poupando-lhes um sacrifício e conseguindo evitar o espec-táculo, sempre deprimente para um povo, das ruas da cidadepercorridas aos sábados, por bandos de pobres esfarrapados eimundos […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])

1 O primeiro foi em 1836, em Lisboa

Zé Povinho dá os parabéns ao Eng. Humberto Marques,o vereador “verde” da Câmara de Óbidos, pelo trabalhoque desenvolve no âmbito do projecto Carbono Social.Numa altura em que a redução dos índices de CO2 setorna imperioso para a continuidade da vida na Terra,Óbidos está a dar o seu contributo e a ser um exemplopara o país.

É, pois, merecido o galardão de ouro Rede Climática,da Associação Portuguesa de Engenharia do Ambiente,que, tendo sido atribuída ao município, é também, umreconhecimento do seu trabalho.

Ferrenho adepto ambiental, Zé Povinho gostaria quemais autarcas seguissem o exemplo do engenheiro agró-nomo que, na sua autarquia, vai apostando nas energiasrenováveis e na implantação de medidas de eficiênciaenergética. Ainda por cima, tal esforço poderá agora tra-duzir-se em fonte de receitas se a autarquia conseguirvender no mercado do carbono os créditos das suas pou-panças e investimentos energéticos.

O Eng. Orlando Borges, presidente do INAG, insiste em manter umaatitude distante, para não dizer arrogante, face aos problemas da lagoade Óbidos e à necessidade de uma intervenção séria e profunda naqueleecossistema.

A sua postura ausente e a falta de humildade para explicar, de formapedagógica, o que está a ser feito pela instituição a que preside pararesolver o problema, merece as mais veementes criticas de Zé Povinho. Éque o Inag até pode estar a actuar correctamente e até podem justificar-se, do ponto de vista técnico, todas as cautelas e adiamentos para umaintervenção profunda. Mas o que não se justifica é a total falta de comu-nicação daquele instituto e a quase inexistência de diálogo com os autar-cas da região (por muito aborrecidos, deselegantes e insistentes queestes até possam ser).

É graças a tudo isto que o Eng. Orlando Borges consegue neste momen-to ser muito pouco querido na região. Mas resolveu agora colocar a “cere-ja em cima do bolo” ao mandar para a reunião da Comissão de Acompa-nhamento da Lagoa a sua vice-presidente, Engª Ana Seixas.

Como se não bastasse, mais uma vez as propostas do Inag para a lagoanão satisfizeram os autarcas, que voltaram a ficar desiludidos com assoluções apresentadas.

12 | Março | 2010

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A Semana do Zé Povinho

O Círculo das Caldas de 30 de Dezembro de 1911, fazeco de uma proposta avançada pelo jornal O Século naedição de 22 de Dezembro do mesmo ano, sugerindo autilização dos pavilhões do parque para o aquartela-mento dos recrutas que hão-de receber instrução mili-tar no ano seguinte.

Reza assim a crónica: «[…] Lutando o ministério daguerra, como luta, com falta de alojamentos para os45.000 mancebos que dentro de poucos dias serão cha-mados às fileiras do exército, e achando-se o importan-te anexo do referido Hospital sem nenhuma aplicaçãoútil, o alvitre do “Século” é muito para atender […] daaceitação dele advirá um grande benefício para estaregião […]».

Decorridos cerca de seis anos e meio, no dia 26 deMaio de 1918, foi o Regimento de Infantaria 5 instaladonos Pavilhões do Parque.

Com os primeiros rumores da possibilidade de trans-ferência do Regimento para Lisboa, surge na Gazeta dasCaldas de 7 de Março de 1926, o artigo com o título«Caldas e a sua guarnição militar», onde é feita umaeloquente defesa da permanência do Regimento nasCaldas, estabelecendo uma relação directa entre a gran-deza da vila e a da sua guarnição.

Reza assim a crónica: «[…] as guarnições militaresestão de acordo com a importância das localidades. Umadá lugar à outra. […] No dia em que Tornada tivesse asua guarnição militar, seria uma cidade; no dia em queCaldas ficasse sem a sua, seria uma aldeia. Porquê?Porque, para lhe ser retirada, tornar-se-ia necessárioque ela tivesse sido arrastada do seu pedestal de graçapara um turbilhão de desgraça que secasse as suas nas-centes sulfurosas ou tornasse imprestável o seu climaprivilegiado. […] Das vilas maiores do norte de Lisboa,que são Torres Vedras, Alenquer, Vila Franca e Caldas,apenas possui guarnição militar a última que é semdúvida a que reúne maior número de condições paraascender primeiro à categoria de cidade «[…]».

A Guarnição da vilaAssociada, de forma indissolúvel, a grandeza da vila à importân-

cia do seu regimento, o cronista reserva para a segunda parte dotexto as razões económicas para a manutenção da guarnição nacidade:

«[…] O efectivo do Regimento é hoje de 1.100 homens. […]Se se calcular pelo mínimo a despesa diária média feita por cada

um dos 1.100 homens da guarnição de Caldas, em três escudosdiários teremos uma mensalidade de 100.000$00, aproximadamen-te.

Esta cifra que para os tempos milionários que vão correndo édesprezível, não o pode deixar de ser para o comércio de qualquervila. […]».

Segue-se a minuciosa avaliação «do que perderia o movimentoda estação ferroviária, se a vila não fosse sede de uma unidademilitar, durante o primeiro semestre de 1926», com resultados sur-preendentes.

Como último argumento, surgem as cartas de amor:«[…] Para acabar e admitindo que cada militar da guarnição

escreve uma carta por semana, de uma folha de papel cada inclu-indo os recrutas (cujo coração é sempre um poço de saudades)teríamos nada menos de 4.400 cartas por mês, o que se traduzia em1.760$00 de selos, intimamente ligados a nada menos de 88 caixasde papel. […]»

Em 22 de Agosto de 1926, perante a eminência da transferênciado Regimento, a Gazeta das Caldas publica na sua primeira página,em destaque e com título em letras garrafais, o editorial «A SAÍDADO 5», que reza assim: «[…] Pela recente reorganização do Exérci-to, o Regimento de Infantaria 5, actualmente aquartelado nestaVila, passa para Lisboa. Vem para aqui, diz-se, um batalhão deciclistas. Não sabemos se toda a gente compreende, ou pensa,sequer, nos prejuízos que semelhante deliberação acarreta para asCaldas […]. Quer-nos parecer que entre um Regimento de Infanta-ria e um Batalhão de Ciclistas há uma distância digna de medir comatenção; assim, a excelente banda de Infantaria 5, terá de ir, maistarde ou mais cedo para Lisboa […].»

Apesar do apelo do jornal, à intervenção urgente da ComissãoAdministrativa do Município e da Comissão de Iniciativa da Associ-ação Comercial, o Regimento é transferido ainda nesse ano, em 28

de Setembro, para o Castelo de S. Jorge, tendo sidoinstalado em Caldas o Batalhão de Ciclistas n.º 2.

Nem o jornal nem as associações da vila se calamna reivindicação da guarnição militar, e ainda no anode 1927 é reinstalado nos Pavilhões do Parque o Regi-mento de Infantaria n.º 5, transferido para o novoquartel em 5 de Junho de 1953, onde virá mais tarde,entre 1 de Janeiro de 1976 e 31 de Maio de 1981, a terum nome que consagra a sua qualidade de guarniçãoda cidade: Regimento de Infantaria de Caldas da Rai-nha.

Imagem acessível em zeventura.blogspot.com

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

A Lagoa de Óbidos que julgava ter muitos amigos, agora queestá a passar uma crise dramática, apenas vê a solidariedade deumas centenas de residentes nos concelhos circunvizinhos e nãoescuta nenhuma palavra de alguns influentes do país.

Neste momento, pessoas como os Drs. Mário Soares, ManuelAlegre e Narana Coissoró podiam dar uma ajuda levantando a suavoz para exigir maior empenho das instâncias públicas no sentidode salvar rapidamente aquele eco-sistema.

Mas infelizmente é capaz de haver outros problemas que osmobilizam e nenhum destes ilustres personagens - cujas ligaçõesantigas à lagoa são conhecidas - se manifestou em seu socorro.

Como se diz vulgarmente, nos momentos de crise é que seconhecem os amigos.

A Lagoa de Óbidos vê mais funcionários e burocratas em seuredor do que verdadeiros amigos, para não falar nalguns queapenas querem colher e nada semear.

Zé Povinho ainda espera que Mário Soares, Manuel Alegre eNarana Coissoró, levantem a voz, mas não deixa de se contristarjá com o atraso que levam.

Zé Povinho tem poucas instituições nas Caldas da Rainha commais idade do que a da sua criação. Uma delas é o MontepioRainha D. Leonor, uma associação de socorros mútuos que foifundada em 1860 por um grupo de caldenses e outros cidadãos eque tem desempenhado um papel insubstituível na cidade e naregião Oeste.

Com cerca de 8000 sócios, o Montepio preencheu durante muitosanos uma lacuna nos serviços de saúde na região, que só foi supri-da com o aparecimento do Serviço Nacional de Saúde na décadade 70.

Hoje desempenha um papel muito importante no cluster dasaúde da cidade. Devido ao empenho do seu grande zelador, osaudoso médico Ernesto Moreira, desde há alguns anos tambémdesenvolveu uma linha de acção no apoio à terceira idade, que vaiagora culminar neste aniversário com a inauguração das Residên-cias Assistidas.

Zé Povinho não pode deixar em claro este significativo aniversá-rio de 150 anos de vida e felicita o seu presidente, Sanches deSousa, pelos passos significativos dados nos últimos anos, espe-rando que se possam concretizar alguns projectos, como o daabertura de uma nova linha na área do termalismo, ou da constru-ção da futura nova clínica nos terrenos entretanto adquiridos.

19 | Março | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Quem percorra os jornais antigos, encontra a Pra-ça ao virar de cada página. Desde a invasão dosperus (O Caldense de 6 de Agosto de 1893), até aodesdobramento do mercado semanal (O Círculo dasCaldas de 10 de Outubro de 1897), e aos protestosdos representantes do comércio contra esse desdo-bramento (Cavacos das Caldas de 4 de Novembro de1897), tudo o que se passa na Praça passa nos jor-nais.

Veja-se, a propósito, a descrição colorida dos fes-tejos de Santo António, do ano de 1890. Reza assim OCaldense de 22 de Junho: «[…] A villa dava-se ostons garridos de uma festa, a Praça Dona Maria Piaem obediência a esses tons, embandeirava-se, or-nava-se de balões á veneziana e de dois elegantissi-mos coretos destinados á exibição musical das duasphylarmonicas da localidade, a velha e a nova comovulgarmente por cá se chama […]».

A imprensa local atribui à Praça a centralidadeque tem na Vila, e tudo o que tenha a ver com aalteração da localização do mercado que a anima, émotivo de paixão e de polémica.

Corria o ano de 1926. Falava-se com insistência naeminente transferência do mercado para um espaçofechado, quando foi publicado na Gazeta das Caldasum dos mais belos textos que já se escreveram so-bre aquele espaço emblemático. Foi na edição de 21de Março. Assinado por França Borges, tinha o su-gestivo título «O Elogio Duma Condenada».

O cronista começa por assumir a consumação datransferência do mercado, descrevendo-o com anostalgia de quem fala do passado: «[…] A Praça eraassim um segundo Parque com frutos sem árvores,com frescura sem água, com vida sem etiqueta, comharmonia sem música […] passeio de um saber cam-

Praça da Frutapesino, a que a própria confusão se torna-va indispensável […]».

Invocava depois a tradição e a ruralida-de: «[…] Das tradições que atravessam osséculos, impressos nos costumes, uma, ado mercado em plena praça pública […] lem-bra o grande campo próximo; cheira a ros-maninho; lembra a merenda comida à som-bra da oliveira velha e à beira do caminhocom sol alto. Os cestos de três asas, oscabazes, as sacas remendadas, retratam-nos logo à volta a casa pela tarde serena,com os carros e os burros que procuram opiso macio das terras poeirentas […]».

Termina com a certeza da proximidadedo fim e do esquecimento: «[…] Praça ca-leidoscópica, praça da fartura, cesto enor-me apregoando o trabalho ininterrupto doscampos e a riqueza perene da região, vaicessar de vez a magia colorida das tuas manhãs. Apartir dum dia ficarás despovoada […]. Velha praça por-tuguesa, cheia de cores […] assim vais desaparecendo,expulsa pelas exigências das novas estéticas […]. E sóos arquivos, as crónicas e as saudades dos velhos selembrarão de ti […]».

Duas semanas depois, na edição de 4 de Abril de 1926,a Gazeta publica uma carta sobre o tema, assinada comas iniciais “J. B.” «dum nosso querido e muito presadoamigo natural desta vila», que dá largas à sua indigna-ção perante a projectada transferência do mercado:«[…] é um pasmar todo aquele arraial (…) São os parzi-nhos de saloios namorados, o matiz dos barretes e doslenços, das moçoilas rozadas e frescas como a frutaque vendem, o vozear dos ajustes, dos diálogos, dasapostas, das novidades sem fim, dos convites para o

meio litro … E é isso tudo que vocês querem meter num mercadofechado, fedorento como todos, hirto, insípido e igual aos outrostodos que há no mundo, onde tripudiam umas dezenas de rega-teiras e as pobres frutas e hortaliças amarelecidas se guardamburrifadas de dia para dia até atingirem o preço desejado eperderem a frescura […]».

O tema não era pacífico tal como hoje, e a Gazeta das Caldasna edição de 4 de Abril de 1926 abre as suas páginas «aos presa-dos assinantes e leitores, para dizerem da sua justiça».

O tema é actual, tal como no ano de 1926, porque não há praçaque resista definitivamente ao tempo, e aquela é mais do queuma praça, é um espaço onde a cidade se revê e se identifica.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

foto de Inês Querido

O presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Dr. FernandoCosta, foi a grande atracção do Congresso Extraordinário do PSDque decorreu no passado fim-de-semana em Mafra.

Quem estava acordado depois da meia noite de sábado e teve asorte de sintonizar as televisões que estavam a fazer os seusdirectos do Congresso, puderam vibrar com a inflamada e acuti-lante intervenção deste autarca, feita depois do apressado jantar,quão D. Quixote de la Mancha que ergueu o seu elmo e lançou-secontra tudo e todos.

Não perdoou a ninguém, apesar de ter sido mais simpático como seu eleito candidato à liderança do PSD, o também “jovem” Dr.Passos Coelho, mas vergastando duramente as principais figurasdo poder do seu partido. Não esqueceu a “traição” de SantanaLopes, que trocou Óbidos pelas Caldas quanto à sede da Escola deHotelaria, o intelectual Pacheco Pereira pelas suas diatribes natelevisão, bem como a própria líder Manuela Ferreira Leite e a suaentourage por terem escorraçado das listas para deputados noano passado Passos Coelho e Miguel Relvas.

Foi uma ruidosa intervenção interminável, cujo destemor e ou-sadia até intimidaram o presidente do Congresso, o Dr. Rui Mache-te, que apesar do orador caldense ter ultrapassado todos os limi-tes de tempo, nunca ousou (a não ser no final e muito cerimonio-samente) interromper o discurso.

Zé Povinho deliciou-se com as palavras desabridas e muitasvezes alterosas, dizendo o que muitos pensam e não têm coragemde o dizer, seja por reverência, seja por temor.

O Dr. Fernando Costa teve ainda as honras de todos os telejor-nais, dos jornais e das rádios, nuns casos procurando o picante e aspicardias da intervenção, noutros dando relevo às acirradas críti-cas à direcção ainda no poder social-democrata.

Zé Povinho não consegue ser tão imediatista ao ponto de se pôr acorrer atrás das posições mais populistas que viram no Dr. FernandoCosta o espírito de vingança para tão elitista e sulista direcção do PSD.

Não é impunemente que o Dr. Costa repete a boutade de que “senão fosse mentiroso não era presidente da Câmara”, ou de que até elevenceria o professor Vital Moreira nas eleições para o ParlamentoEuropeu!

Também não parece muito elegante, para ironizar contra uma inter-venção anterior do Dr. Mendes Bota, seu colega líder da distrital doAlgarve, que trocava o copo de água por um de vinho, porque nãopertencia aos copos de leite, numa piada machista a qualquer opositornão identificado.

A forma egocêntrica como justificou as suas vitórias caldenses e assuas afirmações sobre o seu espírito contemporizador com as oposi-ções e as divergências no seio do seu partido localmente ou a nível dodistrito, vêm no sentido contrário ao que tem sido a sua prática.

Que o digam alguns dos seus opositores locais que foram afastadosou menosprezados sempre que quiseram ter algum protagonismo lo-calmente ou na distrital.

Por tudo isto, Zé Povinho não deixa de o censurar pela sua displicênciana linguagem e no exagero, que só uma pseudo-vulgaridade e populismode momento, alimentada com os risos desbragados de muitos e as palmasde outros, alimentaram tal intervenção. No fundo, todos os partidos têm oseu Tino de Rans, como profusamente se veio a verificar em inúmeroscomentários na blogosfera que não abonavam nada a favor do autarcanem da urbana Caldas da Rainha.

Desta forma, o desbragado líder regional perdeu eventualmente a con-fiança de qualquer futuro presidente do PSD líder para a grande oportuni-dade de desempenhar algum cargo a nível nacional, que tanto ambiciona.A não ser que os equilíbrios partidários tudo façam esquecer...

26 | Março | 2010

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A Semana do Zé PovinhoZé Povinho está muito impressio-

nado que a capacidade competitivados alunos de design da ESAD seesteja a estender aos de outros cur-sos, alguns distantes da vocação ini-cial daquela escola de artes calden-se.

Muito se regozija que dois alunos do curso de Som e Ima-gem, uma área em que a formação superior daquela escola éinovadora e quase a única nesse domínio, tenham ganho osprimeiros prémios do concurso nacional “Artes e Breves”.

O jovem designer gráfico Hugo Rosado ganhou na modali-dade animação de vídeo o prémio “Grafe & Vídeo”, utilizandonesse projecto as técnicas da produção televisiva, em quePortugal não tem ainda uma experiência semelhante à demuitos paises desenvolvidos.

De igual modo o aluno Bruno Cravide, venceu com umacurta metragem de animação a categoria “AnimBreve”, utili-zando técnicas de animação no filme “Os Teus Últimos DiasComo Criança”.

Zé Povinho salienta mesmo a atitude deste último premia-do, que depois de ter frequentado durante algum tempo ocurso de Engenharia Informática na pólo do IPL leiriense, pre-feriu vir para as Caldas para estudar uma área mais criativa einovadora.

Por tudo isto, merecem esta distinção e podem ser um exem-plo para os estudantes que andem à procura de novas voca-ções em áreas que Portugal não tem habitualmente muitosvalores.

O Eng. Orlando Borges arrisca-se a ba-ter o recorde de visibilidade na Semana doZé Povinho. Infelizmente pelas más razões.

O motivo é conhecido de todos – estesenhor é o presidente do INAG, uma enti-dade do Ministério do Ambiente que tempor missão “propor, acompanhar e asse-

gurar a execução da política nacional no domínio dos recursoshídricos de forma a assegurar a sua gestão sustentável”.

Ora deixar que as águas do mar destruam a praia da Foz doArelho, o emissário submarino e a própria avenida, não é pro-priamente uma gestão sustentável nem eficaz.

O presidente do INAG não tem culpa das manhas do mar nemdos disparates feitos por outros protagonistas, mas é respon-sável pela forma distante e ausente como tem tratado o assun-to, sendo incapaz de vir a terreiro explicar as suas razões e serminimamente pedagógico perante as populações e autarcasque reivindicam uma atitude mais pró-activa na defesa de umpatrimónio que é de todos.

É que em vez de descer à terra e falar com os homens, o Eng.Orlando Borges pensará que é Deus e acha que não deve darsatisfações. À Foz do Arelho mandou a sua vice-presidente naúltima reunião e perante os avanços do mar, encolhe os om-bros e apresenta uma calendarização rígida que consiste emfazer obras em Abril para abrir uma nova “aberta” e avançarcom as dragagens no fim do ano. Zé Povinho arrisca uma metá-fora: parece-se a um burro com pálas no meio de uma linha decaminho-de-ferro. Jamais sairá do seu caminho independente-mente dos perigos.

A gota de água que mostra à saciedade que este gestorpúblico se está nas tintas para a comunidade que deve servirfoi a recusa de uma entrevista à GazetaGazetaGazetaGazetaGazeta onde ele poderia,calmamente, sem ser pressionado por ninguém, explicar asdecisões (ou falta delas) sobre este assunto.

Se calhar, ficasse a lagoa de Óbidos na Cova da Beira, emdomínios de influência do seu “chefe” e não ousaria tais atitu-des.

O Caldense de 2 de Agosto de 1891 fala do problema e identifica as razões: «[…] Éenorme a falta de trocas nas Caldas. Ha três semanas não se notava esta falta, os agiotas,porém, ávidos da ganância, encarregaram-se de recolher a prata e o cobre que por cahavia, para irem negociar a Lisboa […]».

O jornal enaltece os esforços de Faustino da Gama, que se tem prestado a trocar notaspara permitir o funcionamento do comércio, e na edição de 9 de Agosto apela à guerracontra o odiado agiota: «[…] Unam-se todos para os guerrearmos e verão como elleslargarão o rendoso comércio […]».

Na edição de 6 de Setembro de 1891, o mesmo jornal congratula-se com o decreto dogoverno de 6 de Agosto do mesmo ano, que mandou estampar na Casa da Moeda cédulasde 100 e de 50 réis representativas da moeda de cobre, para fazer face ao grave problemada escassez de numerário metálico que ameaçava o comércio da vila e do país.

Reza assim a notícia: «[…] A casa da moeda poz finalmente em circulação cedulas de 50réis, cuja distribuição principiou sexta-feira, trocando-se a cada pessoa uma nota de 2$500 réis. É um auxílio para omovimento comercial, cada vez mais difficultoso, por causa do desapparecimento do cobre […]».

A crónica evolui depois para uma referência à instabilidade social provocada em todo o país pela crise monetáriadecorrente da absoluta inutilidade das notas, que sem trocos não permitem trocas: «[…] hontem mesmo, se deu um caso degrave insubordinação por causa dos trocos, tendo sido suspensos onze guardas de polícia, que foram incorporados exigir dogovernador civil o câmbio das notas que lhe tinham sido dadas como pagamento do pret […]».

Mas é a situação na vila que mais preocupa o cronista: «[…] Na província […] as difficuldades em vez de diminuir estãoaugmentando cada vez mais porque a prata desappareceu de todo e o cobre vae levando o mesmo caminho. Um dos grandesmales que a falta de trocos produz é o descrédito das notas, que os negociantes, vendedores e operários recusam em todaa parte – por não as poderem trocar – e que o publico, forçado por essa circunstância, se vae igualmente habituando arecusar […]».

A falta de trocos ameaçava paralisar as transacções comerciais, criando situações insólitas, como a que o semanário deRafael Bordalo Pinheiro, O António Maria, satiriza na edição de 9 de Julho de 1891:

«[…] A falta de trocos continua a ser a abundancia de assumpto para os articulistas de fundo, para os chronistasfinanceiros, e de pretexto para muitos irem vivendo, menos mal, á tripa fôrra, por conta do tendeiro que dá fiado, e do talhoque faz o mesmo.

Sei eu d’um … Mantem-se o patife, e dá de comer aos filhos, vae em dois mezes, com uma nota de cinco mil réis que aindanão gastou, e traz inteira. Ei-lo que entra, impávido e estrategico, na mercearia da esquina, e manda ao caixeiro que peze,dando-se ares de freguez taludo, tanto de seccos, e que meça tanto de molhados… - “que lho levem a casa” – e sacca dacarteira a pérfida da nota.

Sorriso complacente da boa pessoa do caixeiro, todo dedos espetados em manteiga, o qual, por não ter prata, por não tertroco, mas confiado, fia:

- Vossa ex.ª pagará depois.É isto o que sua ex.ª quer ouvir: sua ex.ª não pagará nunca! […]».Para ultrapassar o problema da falta de trocos, o semanário O Caldense propunha uma solução amplamente adoptada nos

anos da crise monetária:«[…] Nós não gostamos, como minguem gosta, do regimen das cédulas. Mas se é esse o único meio prático de conjurar,

de momento, um mal existente e que pode ter as mais graves consequências, lance o governo mão d’elle francamente, quitecom o trocar por prata essa emissão extraordinária o mais breve que possa ser […]».

Devido sobretudo ao entesouramento da moeda metálica que, refundida por particulares, rende mais do que o seu valorfacial, a crise da falta de trocos há-se regressar mais tarde, com particular incidência em 1921, ano em que a Câmara e aAssociação Comercial e Industrial das Caldas da Rainha foram autorizadas a imprimir as cédulas que ilustram este texto1.

Mas não é só por cá que se verifica o desaparecimento da prata e do cobre.O Alvorada Diária2 de 26 de Outubro de 1920 traz uma curiosa notícia sobre os efeitos da crise nas ruas de Paris: «[…] A falta

de trocos acabou com os mendigos em Paris. Teem sido obrigados a procurar trabalho. […] um mendigo ganhava tanto comoum operário, vivia bem e alegremente, não tendo senão que se sentar numa rua, estender o chapéu e receber os cobres. Hojeporem as condições mudaram. O cobre desapareceu, e os francos em papel teem valor demais para esmolas […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido [email protected]

(Footnotes) 1Imagens acessíveis, respectivamente, em: http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/ e http://zeventura.blogspot.com/

2 Jornal em língua portuguesa publicado em New Bedford.

Devido ao feriado de sexta-feira santa, a próxima edição da Gazeta encerra na segunda-feira, dia 29, devendo por isso os nossoscolaboradores e anunciantes entregar-nos os originais até às 18h00 daquele dia.

MUDANÇA DA HORAMUDANÇA DA HORAMUDANÇA DA HORAMUDANÇA DA HORAMUDANÇA DA HORA

Na noite de sábado para domingo inicia-se a hora de Verão. Quando for uma da manhã, deverá acertar os seu relógio para as duasda manhã.

Gazeta das Caldas fecha mais cedo

Falta de trocos

2 | Abril | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A notícia veio no Echos das Caldas de 7 deAgosto de 1908.

Ao abrir as portas do Parque D. Carlos I, oguarda deparou-se com o corpo de um jovem«[…] de cerca de vinte anos, que jazia inerteno solo, junto do lago, tendo próximo umavelha pistola de carregar pela boca […] ».

Quando o guarda se debruçou sobre o cor-po, verificou que «[…] se achava deitado so-bre o lado direito, vendo-se-lhe no frontalsuperior um ténue fio de sangue, que per-correndo a face do desgraçado, vinha man-char-lhe o colarinho da camisa […]».

Relata o jornal, que foi de imediato cha-mado um polícia, tendo sido o cadáver colo-cado sobre um banco «[…] e revistadas asalgibeiras foi-lhe encontrado um cartão d’onde se provouque o desgraçado era de nacionalidade hespanhola, e porum caderno de apontamentos se viu que tinha chegado hádias a esta localidade […]».

A causa da morte afigurou-se óbvia ao jornalista, depoisde uma análise tão lógica quanto sumária dos indícios: «[…]continuando a inspecção, foi-lhe encontrada uma carta di-rigida a uma das bailarinas que trabalham no Pavilhão doParque, pelo que se chegou à conclusão de que o infelizmorreu d’amor […]».

Morre jovem o que os deuses amam, dirá mais tardeFernando Pessoa acerca de um amigo que se suicida numhotel de Paris. Não foi, no entanto, o amor dos deuses maso desamor das mulheres que levou o jovem apaixonado aodesespero, como constatou o repórter após a leitura dacarta «[…] pois o infeliz rapaz, depois de ter assistido quin-ze dias seguidos a todas as sessões do animatographo co-lossal e aos bailados das formosas bailarinas Josephina eAntónia, não conseguiu que nenhuma d’ellas se apaixonas-se por elle […]».

Amor é fogo que arde, proclamava o poeta da alma lusa.Nem de propósito. Na mesma edição, o Echos informa osleitores da subida à cena no domingo, no Teatro PinheiroChagas, da peça Entre dois fogos, com Carlos d’Oliveira,Palmira Torres e Elvira Costa. Informa ainda o jornal que aliao lado, no «[…] Cynematographo Ibéria-Club, todas asnoites há sessões permanentes e 4 estreias. As fitas sãoescolhidas entre as melhores produções de casas da espe-cialidade. As cadeiras custam 100 réis e a geral 60 réis […]».

Suicídio no Parque

Da investigação realizada no local, o jornalista extrai umaoutra razão que poderá ter contribuído para o fatal desfe-cho. O desventurado jovem estava na penúria, tendo-lhesido encontrada apenas uma moeda de cinco réis. Tudo oresto fora gasto nas obsessivas sessões do animatógrafo,como se demonstrou com a inspecção aos parcos haveres:«[…] Nos bolsos do infeliz, foram encontrados vários talõesde bilhetes de entrada no referido animatographo, e entreelles alguns de cadeira, cujo preço eram de 80 réis, outrosde superior, de 60 réis, e bastantes de geral de 40 réis […]».

A cidade termal fervilhava. Na edição anterior o Echosnoticiava a nova forma de animação: «[…] Chegou o Agostoe com elle cinematographos no Ibéria-Club, Convalescençae Pavillões, circo de cavallinhos, touradas, vacadas, etc. […]A conhecida empresa Netto, Valle & C.ª, vae apresentarsoberbos espectáculos n’um dos Pavilhões do Parque. Ainauguração realiza-se hoje, domingo, com magníficas ses-sões do Animatographo Colossal e com esplendorosos bai-lados […]».

O mesmo jornalista acompanha o corpo ao cemitério enão reprime um juízo de censura pela indiferença das baila-rinas, perante o trágico fim daquele desconhecido que porelas se perdera de amores: «[…] Nota curiosa. – Á hora dosingelo funeral da victima, as distinctas e formosas bailari-nas encontravam-se no Parque fazendo exercícios de pati-nagem».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido ([email protected])

O novo líder do PSD, Dr. Pedro PassosCoelho, cometeu a proeza de ter obtido 90% dos votos na concelhia calden-

se das eleições da passada sexta-feira, para apresidência do seu partido.

Nem Ferreira Leite, Santana Lopes, Durão Barroso ou Luís FilipeMenezes conseguiram tal quase unanimidade.

Mas a façanha do novo dirigente máximo daquele partido es-tendeu-se ao distrito de Leiria, onde também obteve a maiormaioria de todas as distritais do PSD no país, com mais de 70% dosvotos expressos. A nível nacional o número de apoiantes nasurnas ultrapassou os 61% com uma afluência recorde de votantes.Isto tudo para quem ainda há cerca de um ano foi excluído pelapresidente eleita do partido, Manuela Ferreira Leita, que tinhasido eleita com apenas 38% dos votos em 2008.

O Dr. Passos Coelho vai ter uma tarefa hercúlea para unificar oseu partido e principalmente para calar os comentadores do seupartido na comunicação social, a maioria dos quais apoiava ou-tros candidatos e que são críticos em relação a si.

Outra tarefa que terá de carregar sobre os seus ombros é a depacificar os militantes do distrito de Leiria, que nalguns casosestavam todos na sua lista e que gostam tanto deles com osmuçulmanos de toucinho. Certamente que terá de destacar paraLeiria um bombeiro de serviço a fim de acorrer à mínima faúlha.

Zé Povinho felicita o Dr. Passos Coelho pela vitória da passadasemana e espera que ele não soçobre nos primeiros meses deliderança com tantos e variados apoiantes.

Há coisa de um ano Zé Povinho regozijava-se com a subida da equipa de voleibol do Sporting Clube das Caldas à pri-

meira divisão nacional. Este sábado recebeu com tristeza a notí-cia que a equipa tinha descido de novo à A2, depois de perder emEspinho.

Com tristeza, porque a equipa caldense merecia ficar entre osgrandes pela caminhada que fez nestes últimos anos e tambémnesta época. Esta equipa construída pelo trabalho sustentado naformação, foi certamente a mais portuguesa das 12 participantese também uma das mais jovens. Mas pagou cara essa inexperiên-cia. Nos dois encontros a eliminar teve vantagem, que não conse-guiu segurar porque pela frente estavam equipas mais batidas ecom mais argumentos financeiros.

Mas neste momento que não será fácil para os jogadores,treinadores e dirigentes, Zé Povinho deixa uma palavra de alento,porque o trabalho quando é bom dá frutos e esta nova passagempela divisão secundária fará por certo evoluir mais os jovens atle-tas do grupo para que no regresso a equipa esteja mais forte. E seeste grupo provou durante a época que merece estar entre osmelhores, o voleibol também precisa do Sporting Clube das Cal-das na A1, porque sem o público caldense os jogos vão ser decerteza mais monótonos.

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9 | Abril | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Na pacata vila, qualqueralteração da ordem públicaé notícia de jornal, e a pre-ocupação que transpareceé sempre a mesma: o efei-to negativo que possa ternos visitantes que todos osanos procuram as termas eanimam o comércio.

O Caldense de 8 de Junhode 1890 denuncia os abusosdos bagageiros na estaçãoonde chegam os comboioscom os turistas da época eapela à urgente intervençãodas autoridades:

«[…] Começada a afflu-encia de banhistas e visi-tantes a esta localidade,chegou á estação dos caminhos de ferro, á hora da vinda doscomboios de Lisboa e da Figueira, a invasão dos bagageiros.

Estes esperam á porta a sahida dos passageiros e assal-tam-nos disputando as bagagens.

Na febre d’este tumulto estabelecem-se desordens, insul-tos e provocações entre os bagageiros.

O espectaculo como primeira impressão para os nossosbanhistas e visitantes não é muito agradável […]. Torna-sepois necessario remediar quanto antes este estado de coisas[…]».

Na edição de 27 de Julho do mesmo ano, o mesmo jornallança novo alerta, desta vez referente aos cocheiros, quedisputam ruidosamente os clientes, pondo em causa a ima-gem serena da vila termal:

«[…] No local dos carros que esperam a vinda de passagei-ros dos comboios e por vezes no largo da Copa, á hora dascarreiras para a estação do caminho de ferro, estão-se dan-do scenas desagradaveis e improprias d’uma localidaded’esta ordem.

Os passageiros são positivamente assaltados em grandeberrata pelos cocheiros […]. Na estação houve uma d’estasnoites também conflictos entre cocheiros disputando-se lo-gares.

Ao ex.mo sr. governador civil pedimos providencias […]».No ano seguinte, na edição de 10 de Maio de 1891, O Cal-

dense congratula-se com o facto de as suas preocupaçõesterem encontrado eco na autoridade administrativa, que im-pôs normas rígidas e eficazes:

«[…] A medida policial que noticiámos relativa aos baga-geiros, já está posta em pratica desde o 1.º de maio.

Ficam, pois, prevenidos os banhistas e visitantes que con-correrem ás Caldas que para os effeitos policiaes só podemser considerados bagageiros os individuos que usarem de

Ordem Pública

uma chapa com o numero correspondente ao seu numerode matricula.

Consta-nos, porem, que o sr. administrador do concelhodeu ordem á policia para conduzir á sua presença todo equalquer portador de bagagens que encontrarem sem aque-lle distinctivo.

Para evitar a transmissão das chapas, cada um dos baga-geiros deve andar munido do competente alvará, d’ondeconste o seu nome, numero de matricula e auctorizaçãopara exercerem a sua industria […]».

Na edição de 3 de Agosto de 1890, sob o título «Duello», OCaldense relata outro género de conflito, motivado por ciú-me e amores desencontrados

«[…] Quando hontem á noite recolhíamos a casa cerca da1 hora da noite, vimos um grande grupo da nossa coloniabalnear reunido no largo da Copa.

Parámos e observámos que dois dos mais distinctos ra-pazes d’aquella colónia altercavam, muitos outros cava-lheiros procuravam sossegá-los. […]

Os dois alludidos rapazes tinham trocado umas palavrasdesagradaveis na salla do Club […] exaltaram-se a ponto deá sahida do baile determinarem se haviam de bater.

Effectivamente nomearam testemunhas e estabeleceram,tivesse logar o duello á pistola e a vinte passos.

As testemunhas esforçaram-se em vêr terminada estapendencia que pode enluctar a colonia balnear e esta loca-lidade […]».

Os ânimos serenaram, talvez por efeito das águas mor-nas, que não convidam à violência, e não há registo de tirosnas edições seguintes.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

A deputada na Assembleia daRepública e vereadora da Câma-ra Municipal das Caldas da Rai-nha Maria da Conceição JardimPereira foi uma destacada por-ta-voz dos habitantes da regiãoOeste e dos frequentadores dapraia da lagoa de Óbidos na Co-

missão Parlamentar do Ambiente e Ordenamento do Territórioque reuniu na passada terça-feira em S. Bento.

Foi ela que pediu o agendamento do tema Lagoa de Óbidosna Assembleia da República, no que foi seguido nas questõescolocadas à Ministra do Ambiente, Dra. Dulce Pássaro, pordeputados de outros partidos.

Parece que desta vez foi conseguido definir um rumo paraaquele sensível ecossistema, que tem poucos amigos no podercentral e sofre de muitas incongruências e desinteligênciasentre responsáveis locais e mesmo dos organismos de quedepende a sua gestão.

O facto de não haver consensos entre as Caldas da Rainha eÓbidos sobre a forma de desassorear a Lagoa só dá argumen-tos aos funcionários ministeriais para adiar decisões e conside-rar que as gentes do sitio “não se governam nem se deixamgovernar”, a exemplo do que se está a passar também com oHospital Oeste Norte, com outros protagonistas.

Contudo, Zé Povinho não deixa de felicitar a vereadora Mariada Conceição por este baptismo de fogo na Assembleia daRepública, onde o seu partido nas Caldas já há vários anos nãotinha uma presença directa.

Zé Povinho compreende odesânimo e até revolta do nó-vel Presidente da Câmara Mu-nicipal de Alcobaça, Dr. PauloInácio, que também viveu a ilu-são de poder destronar a cida-de das Caldas da Rainha com atransferência do seu hospitaldas Caldas da Rainha.

A desdita não é da sua responsabilidade, quando foi o Dr.Sapinho que se deslumbrou com a sugestão inicial do seu con-terrâneo dr. José Serralheiro para a construção do futuro Hos-pital de Oeste Norte em Alfeizerão. Depois teve uma “ajuda”incompreensível, cujas razões vieram a ser desmentidas peloestudo do Instituto Superior Técnico, do sr. Professor DanielBessa, que nunca soube justificar as suas opções.

Afinal, ambos quiseram criar um facto político de criar umHospital de raiz, que vai mobilizar mais de mil pessoas, entremédicos, técnicos e outro pessoal, para além dos doentes efamiliares que serão atraídos, numa pequena povoação quenão ultrapassa os três mil habitantes.

Afoitadamente foram mesmo comprar um terreno por maisde três milhões de euros, empenhando o município, sem sabera decisão governamental, querendo criar um facto consumado.

Zé Povinho é com muita pena que escolhe os dois autarcasalcobacenses por este delírio e pelo papel que fez o Dr. Sapinhoaté ao ano passado e pelo que o Dr. Paulo Inácio, está a fazeragora, não ouvindo as palavras comedidas dos restantes autar-cas.

16 | Abril | 2010

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A Semana do Zé Povinho

O CHON – Centro Hospitalar do OesteNorte nasceu com um parto difícil, tirado aferros, com algumas malformações pro-venientes de incompatibilidade sanguíneados seus progenitores próximos.

Juntar casais um pouco artificialmentee sem se conhecerem o suficiente, nemterem experiência prévia de vida em comum, é pouco aconselha-do degenerando na maioria das vezes em insucesso.

Esse terá sido o erro do Ministério da Saúde que, ingenua-mente, tentou fazer quase uma operação de fertilização in-vitrojuntando genes não de dois patrimónios, mas de três (Caldas,Alcobaça e Peniche), sem a introdução de um estabilizador paraperrmitir a prévia compatibilização genética.

Zé Povinho desconfia que o insucesso da gestão daquele novocentro hospitalar estava quase definido à partida, ainda paramais em tempos de dificuldades, com diferentes visões estraté-gicas dos seus elementos e ainda por cima com um foco detensão resultante da gestão do património do Hospital Termal.

A notícia da Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas sobre as obras em curso noParque e no céu de vidro da antiga Casa da Cultura serviramcomo elemento desencadeador das divergências que levaram àdemissão daquele Conselho de Administração.

Razão insuficiente, dado que as mesmas estavam programa-das há dois anos e podiam ter um retorno em termos de receitas.Mostra este facto que as relações num órgão de tão grandeimportância eram pouco consistentes.

Assim perdeu principalmente o Centro Hospitalar Oeste Nor-te, que teve uma primeira falsa partida, que se não for atalhadapelo Ministério da Saúde com medidas inteligentes, pode levar àdegradação progressiva deste projecto estruturante da saúde anorte da região Oeste.

Zé Povinho está estupefacto com o êxitoobtido pelo PSD das Caldas da Rainha no Con-gresso do seu partido realizado no passadofim de semana em Carcavelos.

A secção caldense dos sociais democratasconseguiu colocar o presidente da Câmara

Municipal e líder distrital do partido, Dr. Fernando Costa, comovice-presidente da Mesa do Congresso e a vereadora e deputadaà Assembleia da República, D. Maria da Conceição Pereira, naComissão Política Nacional do partido em coligação com os doisoutros candidatos à liderança, Drs. Paulo Rangel e Aguiar Branco.(O Dr. Telmo Faria também aproveitou a boleia do novo presiden-te e foi o sétimo da lista oficial para o Conselho Nacional).

Os mais jovens militantes do PSD, encabeçados pelo caldenseDr. Miguel Goulão, acompanhado por outros elementos das anti-gas estruturas juvenis, onde se incluía o Dr. Hugo Oliveira, concor-reram em lista autónoma, conseguindo eleger cinco elementos,onde se incluem os dois caldenses.

Parece mesmo que os militantes caldenses fizeram o pleno nanova gestão do PSD, o principal partido da oposição ao governo doEng. José Sócrates e que será seu opositor nas próximas eleições.

A pequena mácula de toda esta estratégia monopolizadoradas Caldas no quadro da distrital de Leiria nos órgãos nacionais,foi conhecida já no início desta semana, com a nomeação dofigadal opositor interno ao Dr. Fernando Costa para chefia dogabinete do Dr. Passos Coelho - o eterno seu adversário, o bom-barralense Dr. Feliciano Duarte, presidente da Assembleia Muni-cipal de Óbidos.

Só que este êxito caldense no partido traz a factura ao conce-lho das Caldas, que vê cada vez mais dois dos quatro elementosefectivos do PSD no executivo camarário à distância no dia-a-diada autarquia. Sabe-se o que tem de centralizador o Dr. FernandoCosta, pelo que agora, com ainda menos um vereador que tinhaem anterior executivos (com a conquista obtida pelo CDS-PP), amaioria dos problemas e dos cheques para assinar têm de espe-rar dias a fio que o presidente estacione algum tempo na Câmara.Não se augura, pois, para as Caldas próximos tempos com atitu-des mais estratégicas e reivindicativas. A actividade do Partido anível nacional e distrital vai estar primeiro, até pelos temposcríticos que se aproximam.

A notícia veio no semanário O Regionalista de 4 de Ju-nho de 1922 e chocou profundamente a vila: «[…] No sába-do da outra semana, uma patrulha da guarda republicanarecebeu denúncia de que na casa de um tal Manuel dosSantos, fabricante de gazosas em Santa Rita, a poucadistância das Caldas, estava uma criança açamada. Diri-gindo-se ali, os guardas conseguiram surpreender a me-nor de 11 anos Filomena do Carmo com um aparelho dearame tapando-lhe a cara e vedando-lhe completamentea boca. Não foi difícil averiguarem que o dono da casa éque lho havia colocado, pelo que o prenderam e o trouxe-ram para o posto, bem como a vitima […]».

O que mais indigna o cronista é a futilidade da motiva-ção dos maus-tratos: «[…] Interrogado, o Santos declarouque assim procedia para tirar à pequena, que de mais amais era sobrinha de sua mulher, o vício da guloseima![…] ».

Segue-se a versão do tormento, dada pela criança eregistada pelo cronista: «[…] Pelo seu lado, a Filomenapôs as autoridades ao corrente dos maus tratos de que hámuito vinha sendo vítima, pois que lhe davam uma ali-mentação péssima e deficiente e a faziam dormir fora decasa, numa coelheira! Quanto ao açamo, há um ano quelho aplicavam, sendo o que lhe foi encontrado já o tercei-ro. Parece que todos eram fechados na nuca por um cade-ado! […]»

Para o jornal, anticlerical e republicano, havia uma ex-plicação ideológica confirmada pelos indícios recolhidosem sumária investigação no local: «[…] Foi presa tambéma mulher do Santos, claramente sua cúmplice. Tanto elacomo o marido estiveram em conventos, sendo-lhes en-contrados grossos rosários, estampas religiosas, etc. Tam-bém em casa lhes foi encontrado muito papel de cartascom o retrato de Paiva Couceiro estampado no ângulosuperior esquerdo. Vê-se que os algozes sabiam aliar es-plendidamente as suas ideias monárquico-religiosas àdureza de ânimo e maus instintos que o seu procedimentopara com a Filomena revelam […]».

A crónica termina com a intervenção do tribunal: «[…]Os criminosos foram entregues em juízo, sendo-lhes arbi-trada a fiança de 15 contos a cada um […]».

As crianças ocupavam pouco espaço nos antigos jornaisda vila, e não deixa de ser curioso o texto publicado nosemanário O Círculo das Caldas de 25 de Novembro de1911, onde se faz um entusiástico elogio aos objectivos deuma associação criada em Espanha: «[…] diffundir o ma-ximo respeito pelos velhos, inspirar compaixão pelos quesoffrem e pelas pessoas defeituosas, estimular o carinhomutuo e o espirito de camaradagem entre os alunnos,formular a proteccção ás creancinhas e aos animais […]».

Na época não existia o conceito de “direitos da crian-ça”, e só posteriormente, em 1924, surge o primeiro ins-trumento normativo internacional com referência expres-sa a tal conceito, quando a Assembleia da Sociedade dasNações adoptou a Declaração dos Direitos das Crianças.

Nesse ano na vila já decorriam movimentações para acriação da primeira instituição de apoio às crianças – oLactário-Creche Rainha D. Leonor – iniciativa amplamenteapoiada pela Gazeta das Caldas, que lhe consagra a pri-meira referência na edição de 25 de Outubro de 1925: «[…]Um dos números com que a Comissão do Centenário re-solveu comemorar a morte da Fundadora das Caldas e dasMisericórdias é a inauguração do Lactário-Creche, peque-na obra de beneficiência que evoque as tão notáveis queela fundou […]».

Direitos das crianças

No mesmo artigo, a Gazeta avança dados curiosos:«[…] a percentagem de óbitos na primeira infância équase o dobro em filhos de operários do que em filhos deburgueses instruídos […]».

O objectivo da nova instituição é definido na cónica daGazeta, como uma forma de proteger as crianças pobrese de reduzir a mortalidade infantil : «[…] O Lactário-Creche vai ter dez berços destinados a criancinhas po-bres, cujas mães, aguadeiras, lavadeiras, operárias, etc.,ali as deixarão enquanto trabalham, indo de 2 e meia em2 e meia horas dar-lhes de mamar […]».

Mas é sobretudo na prevenção e na pedagogia que ospromotores apostam: «[…] o principal fim do Lactário-Creche será o de ser um centro de educação das mães.Vai organizar-se a instituição das Enfermeiras-Visitado-ras, a quem podem pertencer senhoras de todas as clas-ses sociais e de quaisquer ideias religiosas e a quemincumbirá a vigilância das crianças. Far-se-á o cadastrodas crianças e mães pobres. Todas as crianças serãopesadas semanalmente e vigiadas pelas Visitadoras; se-rão dados conselhos de higiene infantil, nomeadamentede higiene digestiva às mães; far-se-á a maior propagan-da da amamentação materna, a maior glória duma mãe,mostrando bem como o maior inimigo da criança é obiberon mal empregado […]. As Enfermeiras-Visitadorasserão instruídas por médicos, que, todos têm dado o seuapoio à iniciativa […]».

Na edição de 27 de Dezembro de 1925, a Gazeta dasCaldas volta ao tema das crianças negligenciadas e àdefesa do projecto do Lactário Rainha D. Leonor, com umtexto que nos recorda que na época, tal como hoje, seriatão fácil reduzir o sofrimento das crianças: «[…] Se cadaum dos sete mil habitantes das Caldas se inscrevessecom a quota mensal de 5 tostões não haveria na vila umaúnica criança mal vestida nem mal alimentada […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

23 | Abril | 2010

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A Semana do Zé Povinho

CemitériosA Gazeta das Caldas de 17 de Janeiro de 1926 lança um

apelo que terá eco em edições posteriores: «[…] Urge que osmortos do Cemitério Velho alcancem o repouzo eterno de umtúmulo respeitado […] evitando que ainda um dia tenhamosde salvar os seus ossos dos dentes de algum rafeiro […]».

A crónica começa com uma referência ao respeito pelosmortos como característica dos povos civilizados, seguindo-se uma síntese histórica sobre os cemitérios da vila: «[…]N’esta Vila, antes de existir o Cemitério Municipal, era sob otecto da casa de Deus que os mortos iam a enterrar. Só ahipor 1840 se construiu ao cimo da Rua Nova um acanhadomausoleu […]. Ficou sempre por acabar, abandonado, e pre-cocemente mereceu o nome de Cemitério Velho. […] Só em1918 mandaram reunir numa única cova os ossos que anda-vam dispersos pelo chão […]».

O cemitério situava-se muito próximo do portão que davaacesso à parada do antigo quartel do regimento de infantaria5, tendo sido o seu espaço cedido àquela unidade militar, comos resultados que o cronista da Gazeta descreve nestes ter-mos: «[…] Os ferreiros do regimento levaram para lá as suasbigornas e as suas forjas, instalando comodamente uma ofi-cina de serralharia e utilizando o resto do mausoléu paraarrecadação da lenha. No local onde houve outrora um altarde mármore com os braços da cruz a impor silêncio, acumula-se agora a hortaliça que no dia seguinte os caldeirões doquartel hão-de cozer. Sob os montões de cepas para o fogãoda cozinha próxima, sob as ferramentas da oficina, ao som domalhar do ferro, partidas pelas botas da soldadesca que alivai trocar as suas frazes de caserna, lá estão ainda as campascom inscrições, cobrindo os restos mortais dos que há oitentaanos para ali foram atirados […]».

Os primeiros decretos de secularização dos cemitérios, doano de 1835, impunham o fim do enterramento nos adros eigrejas, prevendo que em todas as povoações, fora dos seuslimites, fossem criados cemitérios públicos resguardados pormuros com não menos de dez palmos de altura, sendo oscorpos enterrados em covas separadas com pelo menos cincopalmos de profundidade e à distância de palmo e meio dasoutras covas.

A reforma não foi pacífica, e encontrou a resistência popu-lar, que via as alterações ditadas pelo estado liberal comouma profanação que afastava os mortos do altar, impedindoa sua ressurreição final.

Para o cemitério velho terão sido deslocados os restosmortais provenientes da demolição da Capela de Nossa Se-nhora do Rosário, que existiu na Praça Dona Maria Pia, e deSão Bartolomeu, que se erguia em frente ao adro da Igreja de

Nossa Senhora do Pópulo.Com a construção do cemitério municipal em 1867, o

antigo cemitério junto da Rua Nova, actual Rua RafaelBordalo Pinheiro, ficou esquecido e abandonado.

A Gazeta de 20 de Fevereiro de 1927 volta a abordar otema, questionando-se o cronista sobre as razões quejustificavam o desprezo pelas ossadas que jaziam nocemitério: «[…] Dar-se-ha o caso de estes ossos, estascaveiras aparecidas serem dalguns dos primeiros povoa-dores da vila, criminosos a quem foi perdoada a pena porD. João II? E porque não seriam alguns dos primeirosalmoxarifes, enfermeiros, capitães, etc? «[…]».

Num outro artigo, em 21 de Fevereiro de 1926, sob otítulo «Respeitemos os mortos. É necessário remover asossadas que estão no cemitério velho», a Gazeta apela àacção imediata da câmara, censurando a inércia destaentidade perante a omissão de um acto urgente porque«[…] se trata de um caso que se prende com a decênciae a moral […]».

No mesmo artigo, a Gazeta refere-se ao abandono deum outro cemitério: «[…] Mas há mais: No lugar e fregue-sia de Santa Catarina […] existe dentro de uma proprie-dade particular uma coisa parecida com cemitério, queestá vedada com umas taboas carcomidas, carunchosas,e onde dormem o sono eterno, creaturas arrebatadaspela terrível pneumonica. Não seria tempo de fazer atraslação para o cemitério novo e acabar com aqueleespectaculo deprimente e desmoralizador? […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected]

Portão de acesso ao antigo quartel.Portão de acesso ao antigo quartel.Portão de acesso ao antigo quartel.Portão de acesso ao antigo quartel.Portão de acesso ao antigo quartel.

Quem está mais atento às iniciativas daautarquia nos últimos meses tem reparadona particular actividade e dinamismo do ve-reador Hugo Oliveira, em vários domínios.

A ausência do presidente da Câmara, naslides partidárias a nível distrital e nos seus

protagonismos no Congresso do PSD, bem como nas inevitáveismanobras para influenciar a escolha dos elementos das listas,tal como a vereadora Maria da Conceição a acumular o lugarcom a Assembléia da República, onde tem novas solicitações,tem deixado campo aberto para que este jovem possa brilhar.Ainda por cima, nesta semana o Dr. Fernando Costa esteveausente em Newark, junto da comunidade caldense nos EstadosUnidos, e a vereadora e deputada retida na Eslovénia numamissão parlamentar. Ou seja, mais uma janela de oportunidadepara o Dr. Hugo Oliveira que avançou com a apresentação dosnovos projectos estruturantes para as Caldas da Rainha, desdeo parque subterrâneo na Avenida da Independência Nacionalaté às inúmeras intervenções no tecido urbano.

A Zé Povinho cheira-lhe que a escolha do sucessor do Dr.Fernando Costa para a lista do seu partido candidata à Câmaravai ser sofrida, uma vez que estão vários a posicionar-se e o Dr.Hugo de Oliveira já se lançou na corrida três anos antes, como sepode ver.

Zé Povinho estava a admirar o discursodo Dr. Fernando Costa, presidente da Câ-mara Municipal das Caldas da Rainha emuito recente líder da distrital do seu par-tido.

Este arvorava-se até há bem pouco tem-po no grande reconciliador dos social-de-mocratas do distrito.

Aos seus companheiros do PSD, nas duas intervenções queempolgaram o congresso, tentou mostrar as suas característicasde conciliador e avisou o novo líder, Dr. Passos Coelho, que nuncadeveria trair a confiança dos seus colegas de partido, nunca mar-ginalizando aqueles que se haviam batido contra si.

Sabia também que a admiração dos seus correligionários haviacrescido bastante nas hostes dos congressistas que o felicitavamcom frequência e o desafiavam para novas intervenções, especi-almente no último congresso, visando quebrar a sonolência dostrabalhos.

Mas chegado ao momento chave da escolha dos novos dirigen-tes para os órgãos nacionais, o caseirismo caiu-lhe na imagem.

Ao que diz a imprensa mais metida nos mexericos do seu par-tido, o Dr. Fernando Costa não aguentou a preferência do seunovo líder pelo Dr. Telmo Faria, autarca seu vizinho com quemmantém um desamor nos últimos dez anos. Por isso, ameaçou opresidente do seu partido com uma intervenção no congresso deCarcavelos que desfazia a imagem de unidade e com a sua pró-pria demissão dos cargos na distrital. Ou seja, estalou-lhe a finacamada de verniz que tinha vindo a mostrar junto do seu líder.

É evidente que os seus colegas das Caldas da Rainha tambémo apoiaram nessa vingança e cerraram fileiras na escolha davereadora e deputada Maria da Conceição para Comissão PolíticaNacional. Só que estas manobras parece que dividiram o PSD nodistrito que não acreditou no Dr. Fernando Costa quando estegarantia que tinha proposto vários nomes e que o líder haviapreferido a deputada caldense.

Zé Povinho acha que o Dr. Fernando Costa cometeu, uma vezmais, o suicídio político-partidário e dificilmente conseguirá vol-tar a estar nas boas graças da nova liderança, por muitas juras defidelidade que faça.

O grupo Deolinda irá actuar nas festas da cidade, depois de terestado pela primeira vez nas Caldas, no CCC, em Julho do anopassado. Cabe ao grupo de Ana Bacalhau animar o público naPraça 25 de Abril, na noite de 14 de Maio, num espectáculo queconta ainda com a actuação de uma banda caldense.

Os “Deolinda” surgiram em 2006 quando os irmãos Pedro daSilva Martins e Luís José Martins convidaram a prima Ana Baca-lhau, então vocalista dos Lupanar, para cantar quatro cançõesoriginais. Mais tarde, convidaram o contrabaixista Zé Pedro Lei-tão e assim se formou o grupo. O disco de estreia, “Canção aoLado”, foi lançado a 21 de Abril de 2008 e desde então tem figu-rado no top dos mais vendidos no pais.

Na próxima segunda-feira será editado o novo disco da banda,

Foto: Inês QueridoFoto: Inês QueridoFoto: Inês QueridoFoto: Inês QueridoFoto: Inês Querido

Deolinda no concerto do 15 deMaio

intitulado “Dois selos e um carimbo”. O álbum integra 14 temas daautoria de Pedro da Silva Martins, intitulando-se o primeiro single“Um contra o outro”.

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