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EQUIPES NOVAS CARTA No 1 EQUIPES DE NOSSA SENHORA SÃO PAULO- 1978

CARTA No 1 - ens.org.br

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EQUIPES NOVAS

CARTA No 1

EQUIPES DE NOSSA SENHORA

SÃO PAULO- 1978

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ÊDITORIAL

TRIUNFO DA CARIDADE

1!: necessário que a caridade fraterna se desenvolva sem cessar nas vossas equipes.

Quando alguns casais se exercitam no auxílio mútuo e no amor fraterno, pouco a pouco o seu coração se engrandece. E, gradualmente, o seu amor conquista a casa, o bairro, o pais. . . até alcançar as paragens mais longínquas.

Construir uma igreja é importante: dia e noite o Cristo eucarf.stlco terá nela a sua morada. Para a cristandade, não é menos necessário possuir equipes de caridade: é uma outra maneira de fazer com que Cristo esteja presente no meio dos homens. "Onde se encontra o amor fraterno, ai está Deus", canta a liturgia da Quinta-Feira-Santa. "Quando dois ou três estiverem reunidos em meu Nome, promete Jesus Cristo, Eu estarei presente no meio deles".

Presença de Cristo é por isso presença da Igreja. Onde há cristãos que se amam, ai está a Igreja. Sob condição, no entanto, de que esta pequena comunidade queira, ela própria, estar presente na Igreja ao serviço da Igreja.

O poder de intercessão dos cristãos, quando estão unidos, é de uma eficácia extraordinária: "Se dois dentre vós se juntarem na terra para pedir alguma coisa, em verdade eles o conseguirão de meu Pai que está nos céus".

O amor fraterno é de uma fecundidade excepcional. A sua volta o mal retrai-se e o deserto floresce. Um pároco dos subúrbios dizia-me : "Quando uma rua de minha paróquia

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está dem:J..: iado contaminada, peço a casais cristãos para virem instalar-se nela e darem apenas o testemunho do seu amor fraterno. Ao fim de seis meses, os moradores da rua respiram um novo ar".

Uma comunidade fraterna é uma mensagem de Deus aos homens. Sua men.,agem mais importante, aquela que revela a vida íntima de Deus, sua vida trinitária. Não há discurso sob.e Deus mais eloqüente e persuasivo do que o espe,áculo de cristãos que "são um" como o Pai e o Filho são Um.

Não há n:J.da que dê maior glória a Deus do que cristãos ur.ido: . !!: a grande obra-prima da graça divina. Deus põe aí as suas complacências, descobre nisso um reflexo da sua vida trinitária. "Os céus cantam a glória de Deus", o amor fraterno canta o Amor eterno.

Seja isto, pois, a vocsa grande preocupação: fazer da vossa equipe UM TRIUNFO DA CARIDADE.

HENRI CAFFAREL

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UMA BOA NOVA PARA O AMOR HUMANO

Damos a seguir alguns extratos do discurso que o Papa Paulo VI dirigiu aos 2.000 casais das Equipes de N~sa Senhora, quando da peregrinação a Roma, aos 4 de maio de 1970. Este discurso continua a ser um acontecimento porquanto, antes dele, nenhum documento da Igreja tinha falado do amor e do casamento de maneira tão positiva. Aqui, o Santo Padre apresenta o amor como sendo o "cimento" que dá ao casa­mento a sua solidez e o "impulso" que o leva a uma plenitude cada vez mais perfeita.

• Muitas vezes a Igreja tem parecido, sem razão, suspeitar

do amor humano. Também nós queremos dizer-vos clara­mente hoje: não, Deus não é inimigo das grandes realidades humanas, e a Igreja de maneira nenhuma desconhece os valores quotidianamente vividos por milhões de lares. Bem ao contrário a boa nova trazida por Cristo Salvador é tam­bém uma boa nova para o amor humano, também ele excelente nas suas origens - "E Deus viu que isso era muito bom" (Gênesis, 1, 31) - também ele corrompido pelo pecado, tam­bém ele resgatado, a ponto de se tornar, pela graça, meio de santidade.

O MATRIMONIO, NO SENHOR, VOCAÇÃO DE SANTIDADE

Como todos os batizados, sois com efeito chamados à santidade segundo o ensinamento da Igreja solenemente afir­mado pelo Concílio (cf. Lumen Gentium, n9 11). Mas per­tence-vos tender para tanto, à maneira que vos é própria, na e pela vida do lar (ibid., n9 41).

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l!: a. Igreja que nos ensina: "Os esposos tornam-se capa­zes pela graça de levar uma vida santa" (Ga.uclium et Spes, n9 49, § 2), e de fazer do seu lar como que "um santuário da Igreja" (Apostolicam actuositatem, n9 11). Estes pensa­mentos, cujo esquecimento é tão trágico para o nosso tempo, vos são certamente familiares. Desejaríamoo meditá-los por alguns instantes convosco, para reforçar em vós, se necessário, a vontade de viver generosamente a va&a vocação humana e cristã no casamento (C f. Gaudium et Spes, n9 1, 47 -52), e de colaborar ao mesmo tempo no grande desígnio de amor de Deus sobre o mundo, que é formar um povo "em louvor de sua glória" (Efésios, 1, 14).

ELE OS CRIOU HOMEM E MULHER

Como a Sagrada Escritura nos ensina, o casamento, antes de ser um sacramento, é uma grande realidade terrestre: "Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou homem e mulher os criou" (Gênesis, 1, 27). Importa refletir sempre nesta primeira página da Bíblia, se se quer compreender o que é, o que deve ser um casal humano, um lar.

UNIDADE E INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMONIO

A união do homem e da mulher difere, com efeito, radi­calmente de toda outra associação humana e constitui uma realidade singular, a saber, o casal fundado sobre o dom mútuo de um ao outro: "e eles se tornam uma só carne" (Gen. 2, 24). Unidade cuja indissolubilidade irrevogável é o selo aposto ao compromisso livre e mútuo de duas pessoas livres que, "desde então, já não são dois mas uma só carne" (Mat. 19, 6) : uma só carne, um casal, quase poderia dizer-se, um só ser, cuja unidade tomará forma, social e juridica pelo casamento, e se manifestará por uma comunidade de vida, do qual o dom carnal é a expressão fecunda. Quer dizer que, casando-se, os esposos exprimem uma vontade de se perten-

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cerem para a vida e de contraírem com este fim um liame objetivo, cujas leis e exigências, mu1to longe de serem uma servidão, são uma garantia e uma proteção, um verdadeiro sustentáculo, como vós o sentis na vossa experiência quoti­diana.

AMOR CONJUGAL

O dom, de fato, não é uma fusão. Cada personalidade permanece distinta e, longe de se dissolver no dom mútuo, afirma-se e afina-se, cresce ao longo da vida conjugal, segun­do esta grande lei do amor : dar-se um ao outro para se darem juntos. O amor é, efetivamente, o cimento que dá a sua solidez a esta comunidade da vida e o ímpeto que arrasta para uma plenitude cada vez mais perfeita. Todo o ser nisso participa, nas profundezas do seu mistério pessoal e dos seus componentes tanto afetivos, sensíveis e carnais como espiri­tuais, até constituir cada vez melhor aquela imagem de Deus que o casal tem a missão de encarnar dia a dia tecendo-a das suas alegrias como das suas provações, tão certo é que o amor é mais do que amor. Não há amor conjugal que não seja, na sua exultação, impulso para o infinito, e que não se queira, no seu arrebatamento, total, fiel, exclusivo e fecundo <cf. Humanae Vitae, n9 9).

1!: nesta perspectiva que o desejo encontra a sua plena significação. Meio de expressão tanto de conhecimento como de comunhão, o ato conjugal mantém, fortifica o amor, e a sua fecundidade conduz o casal ao pleno crescimento: torna­-se, à imagem de Deus, fonte de vida.

Sabe-o o cristão, o amor humano é bom pela sua origem e se é como tudo o que existe no homem ferido e deformado pelo pecado, encontra em Cristo a sua salvação e a sua reden­ção. Além disso, não é a lição de vinte séculos de história cristã? Quantos casais não têm encontrado na sua vida con­jugal o caminho da santidade nesta comunidade de vida que é a única a estar fundada sobre um sacramento!"

PAULO VI

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OBJETIVOS E ORIENTAÇõES

Em 1947 os "Estatutos" apresentaram o Movimento tal qual tinha sido pouco a pouco edificado. E, em meio ao; vários movimentos de leigos, as Equipes de Nossa Senhora situavam-se deliberadamente como "mo­vimento de espiritualidade".

Trata-se de bem compreender o que significa esta expressão. Ainda recentemente várias questões foram apresentadas a este respeito à Equipe Responsável do Movimento por vários casais. Encontrarão a seguir as respectivas perguntas e respostas.

- Por que se conserva a denominação "movimento de espiritualidade"? Ela soa mal aos ouvidos de numerosos cristãos de hoje.

A palavra "movimento" indica dinamismo e adaptação continua. O termo "espiritualidad·e" acentua a prioridade do espírito sobre a organização e os métodos e especifica nitida­mente o seu objetivo: a vida "espiritual", isto é, a vida cristã enquanto animada pelo Espírito Santo e tendendo para a santidade.

Um movimento de espiritualidade é aquele que ajuda os seus membros a caminhar em direção à santidade ru:sim com­preendida: um amor, este amor por Cristo que consome o coração dos santos e do qual São Paulo nos fornece fervorosas

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I

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afirmações: "Quem me irá separar do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? O gládio? Mas em tudo isto somos mais que ven­cedores" (Rom. 8, 35-37) .

- Queiram ou não, falar de santidade é evocar a preo­cupação de se aperfeiçoar, de ser realmente ''bom", mah do que a de se integrar no serv~ço da Igreja e do mundo.

Se a santidade é este amor apaixonado por Cristo de que São Paulo nos dá o exemplo, caminhar para ela não comporta o risco de favorecer o "fechar-se sobre si", muito pelo contrá­rio. A alma da santidade, com efeito é a caridade, que é ao mesmo tempo amor de Deus e dedicação à obra de Deus. São Paulo mais uma vez o ate:.ta: "A caridade de Cristo nos impele ... " (2 Cor. 5-14). "Em que, sendo completamente l:vre, me fiz servo de todos para ganhar a todos.. . Fiz-me tudo, para todos, para. Ealvar alguns a. todo custo" (1 Cor. 9, 19 e 22). ll: preciso verificar continuamente, através da nossa dedicação ao próximo, a autenticidade do nosso amor a Cristo.

- Falam de "espiritualidade", mas, no caso das Equipes, não se trata de "espiritualidade conjugal e familiar"?

De fato as Equipes de Nossa Senhora definem-se, mais precisamente, como um "movimento de espiritualidade conjugal e familiar". Um movimento de espiri ~ualidade é, vimo-lo, uma associação cujo principal fim é encaminhar os seus membros para a santidade. Um movimento de espiritualidade conjugal e familiar convida-os a seguir este mesmo rumo "no e pelo matrimônio", como disse Paulo VI. O casamento com efeito, pelas suas exigências e r iquezas, pelas suas alegrias e dores e sobretudo, pelas graças sacramentais que comporta, é de fato um caminho de santidade; por tudo aquilo que exige de doação e renúncia faz amadurecer o coração .humano e favorece o crescimento da. caridade de Cristo nos cônjuges.

Note-se que a espiritualidade conjugal e familiar pode compreender-se de duas maneiras distintas. Uma mais rest rita,

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que vê nela a Ciencia e a arte de viver cristãmente as reali­dades do matrimônio. A outra, mais larga, que a considera como a ciência e a arte de viver no estado de ca.sado toda a dimensão do cristianismo Integral. As Equipes abraçaram sempre este segundo sentido.

- Compreende-se que um Movimento se preocupe com os seus membros. Mas não corre o risco de se fechar sobre si mesmo e sobre os problemas internos, em vez de se abrir aos apelos de nosso tempo?

1!: verdade que o Movimento se preocupa, primeiro, com a santificação dos seus membros mas nem por isso deixa de levar em conta a sua missão de Igreja que consiste, por um lado, em elaborar e difundir a esplritualidade conjugal e familiar e, por outro, em testemunhar a promoção do casal dentro da Igreja.

Elaborar uma espiritualidade conjugal e familiar não só para os membros das Equipes mas para todo o povo de Deus. Pode-se dizer, sem triunfalismo, que os nossos "inquéritos a serviço da Igreja" lhe trouxeram uma contribuição eficaz.

Difundir esta espiritualidade. O Movimento como tal, e os reus membros Individualmente multo contribuíram para isso. São inúmeros os casai-s das Equipes de Nossa Senhora que dão o seu concurso à pastoral dos noivos, dos recém-casados e dos ca.sais em dificuldade.

Testemunhar, na qualidade de Movimento, este fenômeno característico do século vinte: a promoção do casal no Povo de Deus. As Equipes de Nossa Senhora (como de resto t'S

outros movimentos de casais) manifestam pelo simples fato de sua existência. que o amor humano é uma grande realidade ao> olhos de Deus e da Igreja. Será isto supérfluo em nossa época?

Em resumo: As Equipes de Nossa Senhora são um Movimento de for­

mação espiritual aberto aos casais:

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- que querem levar uma vida cada vez mais cristã no quadro de sua vida con;ugl l c de sua vida de homens e mulheres tendo respon -abil ' dades familiares, proft:sionais, .m­ciais, etc. ;

- desejosas de se ajudarem uns aos outros no seio de cada equipe;

- aceitando apoiar-se nos Estatutos do Movimento.

As Equipes participam do grande impul"o que, há 30 a"los, deu o: igem a numero~as grupos de casais cristãos; repou.~am sobre uma ce:ta concepção do casamento e da vid<t cristã, que pode ser chamada a esp;ritualidade conjugal; têm o seu o>:jetivo e os ~eus métodos próprios.

Deixen:os fina'mente o Pe. Caffarel (Rom!l. 1970) definir. numa frase, a missão das Equipes de No-.sa Senhora:

As Eqlipes de Nofsa Senhora cio um Movimento de espi­I"itualid;:de, e os ca!"ah que o compõem querem, no século do ateísmo, tomar conzciência da presença ativa de Deus, dentro de si e de seus lares, para que a sua vidJ., a exemplo da vid:J. de Cristo, manifeste a Deus e as suas petfeiçõe::; ou, melhor aindl., permita a Deus manifestar-se e doar-se.

mT.QDOS E PEDAGOGIA

Nas páginas que precedem, citamos as respostas dadas pela Equipe Responsável a questõzs apresentadas por alguns casais; acrescenta, agora, a propósito dos métodos e da pedagogia do Movimento, mas:

- Não é mflcicnte que as Equlpas proponham um fim? Por que determinam os meios?

Nas Equipes de Nos.sa Senhora tudo adquire sentido quan­do se considera o fim: ajudar os casais a caminhar para a santidade. Mas, para at:ngir o seu fim, um movimento deve

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determinar os meios que entende pôr em ação, e adotar uma pedagogia, uma organização e um modo de governo. De resto, qualquer empresa, mesmo espiritual, não escapa à necessidade de ter uma regra que nas Equipes, chama-se "Estatutos". Mas é evidente que esta regra está subordinada ao fim. Ela não deve tornar-se um fim, sob pena de gerar o farisaismo. Pode modificar-se de acordo com as exigências do fim, seja porque este fim firmou-se mais claro seja porque novos con­textos se apresentaram.

- Esta regra e as "obrigações" que comporta, não haveria o risco de se tornarem um obstáculo para certos casais?

Muitos casais vão buscar nesta regra o auxilio que lhes possa trazer; é !negavelmente, por nece:sidade de uma regra que certo número de casais ingressa nas Equipes. Mas não é menos verdade que alguns não se sentem à vontade.

Uma regra não é propriamente uma roupa "feita sob medida". Nunca se ajusta perfeitamente a cada um dos mem­bros do Movimento e concebe-se facilmente que certos tem­peramentos se sintam pouco à vontade. Mas esta regra não é uma camisa de força para aqueles que, embora aceitando-a lealmente em vista do fim desejado têm a preocupação de ajustá-la às suas condições de vida. ];: uma base comum ado­tada por todos, deixando a cada um o cuidado de completá-la como uma "regra de vida" que corresponda às suas necessidades e responsabilidades e sobre a qual tem total iniciativa.

Entretanto, é preciso confessá-lo, quase todos nós gostamos de variar, repugna-nos a regularidade, a submissão - dai a Irritação contra as "obrigações". Mas precisamente esta cons­tatação é o melhor argumento em favor de uma regra. Ela nos protege contra nossa própria inconstância, que se ma­nifesta muito especialmente no domínio espiritual, onde não e::tamos submetidos a Imperativos inexoráveis como na vida familiar e profissional. ];: por isso que vemos na regra e nas "obrigações" um amparo e um estimulo à nossa procura de Cristo.

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- Fala-se em obrigações - aliás é uma palavra que se ouve multas vezes na boca de membros das Equipes; no entanto é bem desagradável!

Para bem compreender esta palavra (substituamo-Ia, se quiserem, por "meios de aperfeiçoamento" .. . ) eis algumas reflexões que assim o esperamos, poderão ir ao encontro da.s vossas aspirações mais profundas.

O Movimento nasceu da experiência de alguns casais de­sejo~os de viver, segundo o Evangelho, os sacramentos do batismo e do matrimônio. Foram assim percebendo, cada vez melhor, as exigências da vida cristã. Para atender a tais exigências quiseram obrigar-Ee a alguns esforços práticos sobre alguns pontos que lhes pareceram fundamentais para bem firmar a sua un:ão com Cristo. E isto no plano de sua vida de casal, mas também no plano da vida de cada um. Deram assim ocasião a si mesmos de dizer "sim" a Cristo e aos seus apelos.

Em suma, a palavra "obrigação" não deve ser considerada no sentido de uma imposição 'Vinda do exterior, mas sim uma coisa à qual aceitamos aderir, confiados na experiência de numerosos casais, desejoso.>, também eles, de progresso espiritual.

- De que modo esta regra foi elaborada?

Em verdade, na origem, todos os casais participaram da elaboração desta regra.. Durante os primeiros anos todos os membros das Equipes se reuniam regularmente com o Cônego Caffarel par pôr em comum esforços e estudos. Depois, dado o número crescente de casais só o:> responsáveis de equipes escolhidos pelos equipistas participavam dessas reuniões. Men­salmente confrontavam as experiências, apuravam as obriga­çõe:>, os métodos, a pedagogia e, sobretudo, aprofundavam com alegria a espiritualidade conjugal que descobriam pouco a pouco. somente após sete anos de investigação, de experi­mentação e de vivência é que os Estatutos foram promulgados.

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Sem dúvida alguma, deve-se a este realismo na elaboração dos métodos e orientações o fato de as Equipe'> de Nos•a Senhora convirem a tantos paf~es (trinta e dois atualmente) e a meios wciais e culturais muito variados.

~ mesmo notável que casaf.s de pafses tão diferentes como os Estado~ Unidos e a Ilha de Mauricia, a Espanha e o Canadá, etc., adotem sem dificuldade um movimento nascido fora das suas fronteiras. Aqueles dentre nós que viajam e participam de reun'ões de equipes a milhares de quilômetros de suas ca~a.s ficam sempre muito surpreendidos por não se sentirem deslocados.

~ certo oue os casais de hoje recebem das Equipes uma regra !á feita. Mas incumbe a cada um dele.- refazer por sua conta o caminho que conduziu à elaboração dos meios de aperfeiçoamento. Somente nestas condições podem com­pre~nder a sua razão de ser e con~eguir integrá-los na pró­pria vida.

- Falou-se da "pedagogia" das Equipes. Que entendem por isso?

Há casais que vêm para as Equipes desejosos de caminhar com Cristo para o Pai. O Movimento pretende ajudá-los neste caminho e ser o educador espiritual dos seus membros.

Contribui para essa educação o conjunto do que ele p ro­põe: os Estatutos, os meios de aperfeiçoamento, a organização. a vida de equipe, a reunião mensal, e t ambém as orientações do ano, os temas, as grandes opções, as sessões de forma ;:ão, as peregrinações, etc.

~ igualmente relevante o papel do casal piloto presente às primeiras reuniões de uma nova equipe, e do casal de li­gação em seguida, a quem compete levar em conta os casos particulares p:eservar as equipes e os seus membros da fan­tasia mas também da rigidez de uma disciplina aplicada sem discernimento.

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E a ajuda fraternal foi sempre considerada, desde o Início, como fator essencial da nossa pedagogia.

- Qual é, então, o lugar do auxílio fraterno nas Equipes?

Desde sempre, as Equipes propuseram-se ser uma "vitória da caridade" e viver a realidade misteriosa do que chamam "ecclesia", essa pequena comunidade cristã na qual emerge e na qual se concretiza o mistério da grande Igreja. Preconi­zam o auxilio mútuo espiritual no verdadeiro amor, em todos os níveis: entre es~o!:os, entre casais, entre equipes.

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Somente equipes cheias de vida., alegre'>, dinâmicas na sua. fé, no seu acolhimento, na sua. rigorosa retidão, como tambíim na ~ua fantasia e no seu júbilo de filhas de Deus, podem se situar, f rente ao gigantismo de hoje, como testemunhas da liberdade e da juventude de Deus.

JACQUES LOEW

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OS "ESTATUTOS" DO MOVIMENTO

Os Estatutos das Equipes de Nossa Senhora, que apre­sentam o seu ideal e Indicam as suas regras, só vieram a lume no ano de 1947, após 8 anos de experiências. Os primeiros grupos de casais que se tinham formado ao redor do Cônego Caffarel, durante a segunda guerra mundial, começaram a vivê-lo antes de o definirem: são as observações e experiências feitas então que explicam e justificam a pedagogia adotada. Deixemos o Cônego Caffarel, fundador e diretor das Equipes de Nossa Senhora, apresentar os Estatutos do Movimento.

O primeiro objetivo dos Estatutos é apresentar o Ideal cristão do ca~amento e determinar os meios que irão permitir aos casais a sua melhor compreensão. No decorrer dos pri­meiros anos ou chegara à conclusão de que, para suscitar nos cristãos ca~ados uma vida espiritual generosa, era preciso antes de mais nada levá-los a fazerem a descoberta das grandezas de sua vocação.

De que modo os Estatutos favorecem esta descoberta? Pelo tema mensal de estudo sobre um assunto de espiritua­lidade conjugal e familiar. Através desse estudo, trata-se de aprofundar o assunto e precisar o pensamento, levar marido e mulher a formarem o hábito de se ajudarem mutuamente no estudo da fé e, por fim, no decorrer da reunião mensal, per­mitir uma proveitosa troca de Idéias.

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Mas os &tatutos não têm por única finalidade levar à descoberta das grandezas da f ~ cristã. Devem também oferecer aos casais os meio3 de vivê-la. Dai uma série de obrigações que têm como razão de ser, levar os casais a progredirem na .-ida cristã, convidando-os a recorrerem a Deus, ao sacerdote, ao auxilio fraterno, ao apoio de uma estrutura:

- A Deus: oração conjugal e oração familiar, oração na reunião de equipe, recitação diária da oração das Equipes (cântico de Maria - Magnificat - seguido da invocação: Nossa Senhora das Farnilias rogai por nós) . . . Os retiros devem também, e em primeiro lugar, ser considerados sob este aspecto do recurso a Deus.

- Ao sacerdote: o papel do Conselheiro Espiritual de equipe é fundamental no Movimento. Aos padres que me vêm interrogar sobre este papel, eu costumo mostrar que o nosso Movimento, com sua organização e seus diversos métodos, é e&encialmente um instrumento posto à disposição dos :oacerdo­tes para lhes permitir desempenhar, da melhor forma possivel a sua missão de educadores espirituais dos casais.

- Aos outros: o auxilio mútuo entre cônjuges é, dizia Pio XI na "Casti connubii", um dos fins essenciais do casa­mento. Deve-se proce&ar todos os dias. A obrigação de um diálogo mensal entre os cônjuge~. a que chamamos o "dever de sentar-se" das Equipes. Quero citar aqui um trecho dos Estatutos: mútuo espiritual.

O auxilio mútuo entre casais é, de certo modo, a razão de ~r das Equipes. Quero citar aqui um trecho dos Estatutos: "Porque conhecem a própria fraqueza e a limitação das pró­prias forças, como também da boa vontade que os anima; porque a experiência de todos os dias prova-lhes o quanto é dificU viver como cristãos num mundo pagão, e porque depo­sitam uma ié indefectível, no poder do auxilio fraterno, nossos casais decidiram unir-se em equipe ". Todos os momentos e todas as atividades da reunião mensal são orientados no sen-tido de.>te auxilio fraterno.

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Finalmente, auxílio mútuo entre equipes. Nosso Movi­mento é uma equipe de equipes. .h.SSim, as antigas equipes ajudam as que se fundam r.o outro extremo do mundo, le­vando-as a aproveitar da sua expe. iência. Por outro lado, o Movimento todo beneficia-se do exemplo de cada equipe: do dinamismo apostólico das do Bra.:oil, da amizade fraterna que na Ilha Maurfcia e em outros lugaves, levou os equip1stas a triunfarem do3 preconceitos raciais, etc.

Nossos contemporâneos, fa~ilmente individualistas e fran­co-atiradores só vêem nos quadros de uma organização cor.s­t :angimento, entraves, prisão. As Equipes, longe de se es­quivar em, propõem <:eu forte enquadramento e sua rigoro.:a discip:ina como um auxílio de grand·e valor: a regra em pri­meiro lugar, e o compromisso de respeitá-la que é pedido aos casais a.s.sumirem após um certo tempo de vivência na equi~Je; o controle da maneira como são respeitadas as obrigações dos Estatuto:> - controle, sim, o termo não me assusta - mas con ~role inspirado pela caridade e exercido com a finalidade de ajudar ao crescimento na caridade; finalmente os Respon­mveis que, de alto a baixo, são os guardiães da regra, de sua corre~a interpretação e de su!l. ap:icação.

Depo's de ter exposto assim "a p ;: imeira Inspiração dos Est atutos, a vocação original do Movimento o pensamento de Deus rol::re o amor e o casamer.to e a sua aplicação na exis­tên~ia digna do casal", o Cônego Caffarel apresentou aos pe­rsgrir.os de Roma uma nova dimensão:

"A pesquisa levada a efeito não era somente orientada p:ua a santiJ:icação, o desabrochar, a irradiação de nossos lares, mas também para os testemunhos que devam dar do Deus vivo, ante um mundo que o a teismo invade".

D:wa as: im maio: precisão ao que dizem os Estatutos d ê.sde os primeiros ar:os: "Querem ser em toda parte os mi.sóionár:oo de Cristo. Devotados à Igreja, querem estar .sempr e prontos a responder aos apelo3 de seu bispo e de seus sace, dotes".

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A "CARTA MENSAL" DAS E.N.S.

O que vocês têm em mãos é uma CARTA e não um fascícu~o uma brochura, um impresw, como tantos ou­t ros, nem mesmo uma revista ...

Estas páginas foram escritas graças à experiência de milhares de casais; são dirigidas a vocês. como respos­ta à expectativa pessoal de ca:ia um como também às equipes, consideradas como órgãos vivos, com reações próprias.

Esta Carta quer utilizar, manifestar, intensificar as corr entes, os impulsos que são e fazem a própria vida do Moviment<>:

- corrente ascendente que sobe das múltiplas equipes até a Equipe Responsável do Movimento: corrente muito rica, dada a variedade de equipes (países, idades, origens sociais) ;

- corrente descendente que transmite, a par~ir da Equipe Responsável, a a"!l imação exigida pela dimensão católica (uni­ve.sal supra nacional) do Movimento tão adaptada quanto possível a g03tos e asp:rações tão düerenciados;

- correntes horizontais, pelas notícias que dá de uns e de outros, pelos tes temunhos que relatam as experiências vi­vidas aqui ou acolá.

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Em resumo, é o boletim interno das Equipes de Nossa Senhora, através do qual oo membros podem dialogar uns com os outros.

As equipes já "compromissadas" recebem todos os meses uma outra Carta Mensal. As equipes novas recebem, nos 12 primeiros meses, números especialmente pensados para elas. Vocês receberão, portanto, depois da presente Carta, uma por mês; tomarão assim conhecimento daquilo que o Movimento propõe, para assim viver melhor o ideal de cristãos casados.

Cada uma destas Cartas irá lhes oferecer as seguintes rubricas:

- um EDITORIAL que dará uma visão espiritual às re­flexões que mais adiante, serão dadas sobre a vida da equipe, a reunião mensal, ou algum outro aspecto do Movimento;

-um BILHETE DE ESPIRITUALIDADE, seja no plano pessoal, ~eja no do casal ou da família; será uma revisão de algumas das exigências do Batismo ou do Sacramento do Matrimônio;

- uma apresentação da VIDA DE EQUIPE ou de ALGUM MOMENTO DA REUNIAO;

- a seguir, um parágrafo que lhes permitirá descobrir os ESTATUTOS como um eco da palavra de Deus ou perceber as RAZOES DE SER DOS MEIOS DE APERFEIÇOAMENTO na vida cristã;

- poderemos então nos deter sobre cada um dos MEIOS DE APERFEIÇOAMENTO;

- depois, sobre ALGUM OUTRO ASPECTO DO MOVI­MENTO;

- e como as Equipes de Nossa Senhora timbram em ser da Igreja, e da Igreja do Vaticano II, apresentaremos em seguida algum texto dos últimos Papas ou do Concílio;

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- esperando que o anseio de se tornarem pais já se acha rea~izado ou virá a sê-lo, uma página será dedicada a algum aspecto da educação, vista muito particularmente sob o ângulo da fé. As Equipes de Nossa Senhora dirigem-se a vocês não somente como esposos, mas também como pais;

- levando uma vida espiritual de cristãos casados, vocês terão (como a árvore que p1oduz os seus frutos) "irradiação"

- pessoalmente, como ca~al, ou mesmo como famflia - na Igreja e no meio dos homens. Um texto evocará esta dimen­são que venha autenticar toda pesquisa e todo progresso de vida interior.

Finalmente, encontrarão:

-uma apresentação de livros - PARA A SUA BIBLIO­TECA - que tenham relação com este ou aquele valor tratado nas páginas precedentes;

- uma página de CORRE.SPOND~NCIA ou de TESTE­MUNHOS;

-finalmente, um texto de ORAÇAO PARA A PRóXIMA REUNIA O.

Nas quatro primeiras Cartas, encontrarão também um "tema" para a reunião seguinte. São eles feitos para lhes permitir uma troca de idéias na reunião, a respeito do que vieram procurar ao entrar nas Equipes de Nossa Senhora. O Casal Piloto estará também presente para lhes oferecer a sua experiência e o seu testemunho.

Depois destes temas ou mesmo paralelamente, as equipes estudam o p.imeiro tema fundamental sobre o casamento, o qual retoma o discurso do Papa Paulo VI, de que já leram alguns extratos nesta Carta Mensal.

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MISSÃO APOSTóLICA DO LAR

No ~eu discurw às Equipes de NoSia Senhora, Paulo VI convida os esposos e pais a darem testemunho de sua vida cristã. Evoca um ap~tolado próprio dos lares antes de os convidar a se lançarem para o exterior. Proclama nitidamente que os ca'Sals têm, na Ig:eja, uma m~são insubstituível mas convida-os com a mesma nitidez a procurarem na Palavra de Deus, na oração e nos sacramentos, a força para darem cumprimento a esta missão.

DEVER DE HOSPITALIDADE

"Quereríamos apenas, esta manhã, chamar a vossa aten­ção para a hospitalidade que é uma forma eminente da mis­Eão apostólica do lar. A recomendação de São Paulo aos Romanos: "Praticai diligentemente a hospitalidade" (12, 13) não é, antes de tudo dirigida aos lares, e ele próprio, formu­lando-a, não pensava na hospitalidade do lar de Aquila e Priscila de que tinha sido o primeiro beneficiár!o e que, em seguida, devia acolher a assembléia cristã? (cf. Atos, 18 2-3; Rom. 16, 3-4; Cor. 16, 19). No nosso tempo, tão duro para tantos, que graça ser acol·hido "nesta pequena Igreja", segundo a palavra de S. João Crisóstomo, entrar na sua ternura, descobrir a sua maternidade, experimentar a sua misericórdia, tão verdade é que um lar cristão é "o rosto sorridente da Igreja"! É um apost.olado insubstituível que a vós incumbe realizar generosamente, um apostolado do ca~al para o qual a formação dos noivos, o auxílio aos jovens casais, o amparo aos lares em aflição constituem dominios privilegiados.

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Ajudando-vos um ao outro, de quantas tarefas não sereis capazes na Igreja e na sociedade! Para isso vos chamamos com grande confiança e muita esperança: "a família cristã proclama em alta voz o poder atual do Reino de Deus e a esperança da vida feliz. Assim, pelo seu exemplo e pelo seu testemunho, convence o mundo de pecado e ilumina os homens em busca da verdade" (Lumen Gentium, nQ 35).

MEDITAI A SUA PALAVRA ...

Inquieto e febricit ante o nosso mundo oscila entre o medo e a esperança, e numerosos jovens aproximam-se, titubeando, do caminho que diante deles se rasga. Seja isto, para vós um estímulo e um apelo. Com a força de Cristo podeis, e portanto deveis, realizar grandes co 'sas. Meditai a Sua Palavra, receooi a Sua graça na oração e no3 sacramentos da P·enitência e da Eucaristia, confortai-vos uns aos outros, dando testemunho com simplicidade e discrição, da vossa alegria. Um homem e uma mulher que se amam, um sorriso de criança, a paz de um lar : pregação sem palavras, mas tão surpreendentemente persuasiva, em que todo homem pode já pressentir, como que por transparência, o reflexo de um outro Amor, e o seu apelo infinito.

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CORRESPONDr=NCIA - TESTEMUNHO

Junto de cada equipe encontramos sempre um sacerdote a t ítulo de Conselheiro Espiritual. Com vocês ele ora, com vocês reflete. Eis o testemunho de um deles (ele é também religioso) :

"As Equipes me levaram a descobrir as riquezas do ~acra­mento do matrimônio e a profundidade do amor cristão. Fui então levado a rever a minha vida sacerdotal à luz destas descobertas. Foi-me assim revelado o "casamento" que existe entre o padre e Deus. Outra aquisição, foi a noção mais profunda do que é o amor fraterno, do tipo amor de caridade, agapé. Sinto-me mais irmão de meus irmãos religiosos, expe­rimento uma grande ternura para com eles, um grande desejo de lhes fazer o bem. Ao fazer o jogo da equipe, onde se é ao mesmo tempo sacerdote e irmão, habituamo-nos a viver com todos os homens que encontramos, aprendemos a amar os homens com o coração de Deus. -Faz já seis anos que fui ordenado padre e um ano que sou Conselheiro Espiritual de uma equipe. As Equipes me levaram a encarar melhor a grandeza da oração comunitária, como também a crer a inda mais na meditação que considero agora como um elemento essencial do apostolado".

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Com a remessa de sua contribuição, um casal que ingressou nas equipes logo depois de seu casamento - e isto .há 18 anos - enviou-nos a carta que transcrevemos a seguir:

"Aproveito a ocasião destas questões materiais para dizer­-lhes ainda uma vez o meu apego às E.N.S. Dentro em pouco completaremos dezoito anos de vida no Movimento. Avaliamos o quanto as Equipes foram para nós um auxílio insubstit.uivel na nossa vida espiritual. Durante e.sse periodo, tivemos altos e baixos, como acontece para todo o mundo, mas as Equipes, a nossa equipe e a reunião mensal nos aju­daram sempre a "agüentar firme'' e a manter os olhos voltados pa . a o Senhor.

Entramos para o Movimento dois meses após o nosso casamento. Todo o mundo nos dizia que era preciso "dar tempo ao tempo". Estamos convencidos de que é às Equipes que devemos a unidade profunda de n~o lar. porquanto desde o inicio tomamos o hábito de dialogar em profundidade e de nos vo~tarmos para o Senhor nas nossas düiculdades.

Por várias vezes foram-nos confiadas responsabilidades no Setor; não o podemos fazer agora, pois os nossos cinco filhos estão crescendo e têm muito mais necessidade de nós do que quando eram pequenos. Têm necessidade de nossa presença, que estejamos junto deles para com eles discutir, mas continuamos muito apegados ao Movimento e às suas atuais orientações".

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PARA A SUA BIBLIOTECA

HENRI CAFFAREL- "0 amor e a graça"

Reunindo artigos, conferências, editoriais, O AMOR E A GRAÇA nos oferece o fru to da reilexão teológica e da expe­riência adquirida junto dos casais, por aquele que é o fundador e o an·mador espiritual de nosso Movimento, o Cônego Caffarel.

Para jovens casais, o livro que apre-:entamo.s é uma inicia­ção à espi.itualidade do casamento e poderá ajudá-lo3 durante toda a vida. A reflexão teológica que oferece é ace~sível a todos, entl emeada que é de experiências e fatos concretos.

O casal cristão deve fazer subir para Deus não somente o seu an:or, mas todo o amor. E, de círculo em circulo, de profundeza em profundeza isto acaba tocando o univerw inte:ro.

Há o amor santo e consag.ado daqueles que amam sob o sinal do sacramen,o; há o amor pecador e aberrante daqueles que mu tilam a fisionomia divina da ternura; há o amor profano, ou que se julgü tal mais cujas lutas, incertezas e esperanças abrem pouco a pouco o cammho de Deus no coração dos homens. Abaixo da humanidade, não há o obscuro e formidável tlaoall:o do instinto animal a serviço da vida?

Assim, de todos os cantos do mundo, o impulso que ap•o­xima os seres vivos aflora à alma do cristão para dar glória ao Criador. "Laudem gloriae" - uma a ta mística moderna tinha tomado por divisa e;:tas palavras de São Paulo: "louvor de glória". E é justamente esta a missão para a qual os sacramentos consagram o homem, e o sacramento do mat: i­mônio o lar cristão.

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TEMA DE ESTUDOS PARA A H REUMIAO

Na primeira reunião os casais fazem um rápido estudo do conjunto dos Estatutos. O que é importante, em essência, é verificar se estão de acordo com as grandes idéias que cons­tituem a diretriz do Movimento. Não se detenham, portanto, nos detalhes. Nas reuniões seguintes, terão a ocasião de os estudar. Procurem antes de tudo compreender muito bem o espírito que presidiu à elaboração destes Estatutos. Leiam­-nos com toda a atenção e poderão notar quatro aspectos principais.

1. -O IDEAL

l!: o ideal do Evangelho, mas com uma aplicação concreta à vida do homem e da mulher casados. l!: portanto um ideal elevado, exigente, um ideal de santidade.

l!: bem evidente que, para ser membro de uma equipe, não se requer que tudo o que descrevem as primeiras páginas dos Ei:tatutos já se ache realizado, mas os membros das equipes devem aspirar a este ideal.

Neste ponto, aliás, não se distinguem de numerosos outros . casais cristãos que se a~trupam em outras organizações. O que distingue as Equipes de Nossa Senhora, não é o ideal, mas sim

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os meios que propõem para o atingir. Esses meios são expostos nos parágrafos que falam da "mística" e da disciplina,

2. - A "MíSTICA"

As Equipes não são círculos de estudo ou organizações de auxílio mútuo. São antes de tudo o lugar de encontro de casais de boa vontade que querem promover o seu mútuo desabrochar, tendo em vista o ideal que os Estatutos apresentam.

Quando se entra nas Equipes, não se trata de enriquecer o espírito, mas sim de abrir a própria alma; dar tanto quanto se pode, acolher o que os outros nos podem dar. A mistica das Equipes é pois, essencialmente, uma mística de partilha, de co-participação. Trabalhos, oração, auxllio mútuo adquirem o seu valor na medida em que cada qual der de si.

];: também uma mística de disciplina e de controle. Os casais das Equipes, conscientes de sua fraqueza procuram o apoio de uma regra, e para que esta regra não seja - como tantas "resoluções" - letra morta, pedem aos outros casais para ajudá-los a vivê-la e a controlar a sua aplicação.

];: preclf:o notar, ainda que a vida de equipe não é con­siderada como um objetivo em .;i, mas sim um meio de ser mais transparente a Deus e podem assim dá-lo com mais verdade ao redor de si.

3 . - DISCIPLINA

Ao ler tudo o que diz respeito às regras da vida de equipe e de vida pessoal é preciso distinguir bem o que é sugestão e o que é obrigação. Verão assim que as obrigações são li­mitadas e bem precisas. Correspondem às necessidades de um trabalho em comum conduzido com seriedade e às exigências de uma vida pessoal verdadeiramente cristã. São suficiente­mente limitadas para permitir uma larga margem à iniciativa de cada um.

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4. -A ORGANIZAÇAO DO MOVIMENTO

Reparem na importância do Casal Responsável e do Con­selheiro E!:piritual, bem como no papel que lhes é próprio. Reparem no papel do Casal de Ligação. Graças a ele a indispensável "organização administrativa" pode funcionar com toda a maleabilidade: as relações entre a Equipe Responsável e as equipes conservam um caráter humano e pessoal.

* Para ajudar a refletir e a orientar a discussão na equipe

eis algumas perguntas:

- O que os leva a entrar numa equipe de casais? O que vêm nela procurar?

- Quais as dificuldades encontradas até agora, para man­ter e aprofundar a vida interior? O que nos Estatutos, lhes parece poder remediar a estas dificuldades?

- Que pensam da necessidade de uma regra e de um controle?

- Que pontos lhes parecem essenciais no ideal das Equipes de Nossa Senhora?

- Quais são. na sua opinião, os pontos mais importantes dos Estatuto-s? Quais os pontos que lhes parecem mais diffceis de pôr em prática?

(Não fiquem desanimados, logo à primeira vista, em face de uma ou outra das obrigações dos Estatutos. Provavelmente, depois de refletir mais pausadamente, compreenderão melhor a sua necessidade. Foi com a intenção de facilitar esta com­preensão que se previu o estudo detalhado dos Estatutos).

Se estiverem de a~ordo, no seu conjunto, com o ideal, a mistica e a regra propo.:>tos nos Estatutos, entreguem-se a um estudo mais aprofundado. Poderão ver assim após alguns meses, se aquilo que as Equipes de Nossa senhora lhes ofe­recem, corresponde às suas aspirações.

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"Caros filhos, a Igreja, de que sois as células vivas e atuantes, dá através dos vossos lares, como que uma prova experimental do poder do amor salvador e produz os seus fru­tos de santidade. Lares provados, lares ventur~os, lares fiéis, prepa:ais para a Igreja e o mundo uma nova Primavera cujos primeiros rebentos nos fazem estremecer de alegria. Vendo­-vos, tendo pre~entes pelo pensamento os milhões de casais cristãos espalhados pelo mundo sentimo-nos cheios de uma irreprimivel esperança e, em nome do Senhor, confiadamente vos dizemos: "Brilhe assim a vossa luz aos olhos do homens, a fim de que vejam as ·vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus" <Mt. 5, 16) . Em seu nome, imploramos sobre vós e sobre os vossos queridos filhos, sobre todos os lares das Equipes de Nossa senhora e seu.s assistentes, muito particularmente sobre o caro Padre Caffarel, a abundância das divinas graças em penhor das quais vos damos, com todo o coração, uma larga Bênção Apostólica".

PAULO VI

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ORAÇÃO PARA A REUNIÃO

Esta oração, toda ela, está orientada para a caridade: o amor de Cristo que nos escolheu, o amor dos outros por amor de Cristo.

TEXTO DE MEDITAÇAO (Jo. 15, 12-17)

O meu preceito é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que vos mando. Já não vos chamo servos porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; chamo-vos amigos porque vos dei a conhecer tudo aquilo que ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes; mas fui eu que vos escolhi a vós e que vos destinei para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome Ele võ-lo conceda. Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.

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ORAÇAO LITúRGICA tHino da Quinta-Feira Santa)

Leitor: Reunidos por amor de Cristo e fazendo um só corpo,

Manifestemos-lhe a nossa alegria de estarmos juntos;

Esforcemo-nos por temer e amar o Deus vivo,

E nos amarmos uns aos outros do fundo do coração

Todos: Onde reinam o amor e a caridade Deus está presente.

Oração: 6 Deus, que utilizais todas as coisas para o bem dos que vos amam, imprimi tão profundamente nos nossos corações o ardor da vossa caridade que nenhuma tentação possa abalar os desejos que nos inspirais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que vive e reina com o Pai e o Espirito Santo, pelos séculos dos séculos. AMí:M.

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-São Paulo-

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EQUIPES DE NOSSA SENHORA

Movimento de casais por uma espiritualidade

conjugal e familiar

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