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Cartilha Brasil Local

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PLANEJAMENTO LOCAL ECONOMIA SOLIDÁRIACaderno de orientações para elaboração

de Planos de Economia Solidária

Projeto gráfico e ilustrações: Vítor Bezerra e Di Marques

Distribuição gratuita

Reprodução autorizada, desde que citada a fonte

ÍNDICE

APRESENTAÇÃO 05

1. O QUE É, O QUE É? - Conceitos*

O que é economia solidária? 09 O que é desenvolvimento local sustentável solidário? 15 O que é etnodesenvolvimento? 21 O que é economia feminista? 23 O que é um empreendimento de economia solidária ? 25 O que é um agente local de desenvolvimento solidário? 27

2. COMO FAZER? - Metodologia

Metodologia de assessoria do agente local 33 Diagnóstico do empreendimento de economia solidária O que é? 39 Como fazer? 40 Momento 1 - Visita do Agenta Local 41 Momento 2 - Oficina (4 horas) 42 Momento 3 - Oficina (8 horas) 43 Planejamento do empreendimento de economia solidária O que é? 45 Como fazer? 46 Construção do plano de economia solidária - PES Momento 1 - Oficina (4 horas) 47

QUER CONHECER MAIS? 49

*Extraído da chamada pública SEANES/MTE nº 002/2009, Anexo 1 - especificações complementares -.

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APRESENTAÇÃO

Esta cartilha é fruto de uma parceria firmada entre a Associação de Apoio às Comunidades do Campo do Rio Grande do Norte – AACC/RN e a Sec-retaria Nacional de Economia Solidária – SENAES, do Ministério do Trab-alho e Emprego, para a execução do Projeto BRASIL LOCAL. Esse projeto visa promover o desenvolvimento local solidário através do fomento e/ou fortalecimento de empreendimentos de economia solidária, por meio de Agentes de Desenvolvimento Solidário no âmbito de quatro Estados da região Nordeste, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão.

A cartilha está organizada em duas partes, a primeira reúne informações conceituais sobre Economia Solidária – fundamentos e princípios - e temas correlacionados, como desenvolvimento local solidário, etnode-senvolvimento, economia feminista e empreendimentos de economia solidária - EES. A segunda parte apresenta uma síntese da metodologia a ser utilizada no acompanhamento dos EES, especialmente na construção de diagnósticos participativos e dos Planos de Economia Solidária – PES para o desenvolvimento dos empreendimentos.

Este material está direcionado aos agentes locais de desenvolvimento solidário e aos empreendedores solidários. Nosso desejo é que se con-stitua numa ferramenta didática e de fácil entendimento a ser utilizada como base tanto para a formação, quanto para o processo de desenvolvi-mento da ação dos Agentes de Desenvolvimento Local e dos empreendi-mentos. Dessa forma, esperamos contribuir com a autonomia dos diversos tipos de organização e do movimento de economia solidária, a partir da maior apropriação destes sobre sua realidade, da priorização de ações na elaboração dos planos e na definição de parcerias, visando a superação das desigualdades e a promoção do desenvolvimento sustentável, justo e solidário.

A coordenação da AACC

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Economia Solidária é um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. A Economia Solidária vem se apresentando, nos úl-timos anos, como uma alternativa inovadora de ge-ração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão social.

Compreende uma diversidade de práticas econômi-cas e sociais organizadas sob a forma de coopera-tivas, associações, clubes de troca, empresas auto-gestionárias, redes de cooperação, entre outras, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário.

O QUE É ECONOMIA SOLIDÁRIA?

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Nesse sentido, compreende-se por economia solidária o conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição, consumo, poupança e crédi-to, organizadas sob a forma de autogestão, que bus-cam a equidade de gênero e étnica e que promovem uma relação sustentável com o meio ambiente. Con-siderando essa concepção, a Economia Solidária possui as seguintes características:

COOPERAÇÃO

Existência de interesses e objetivos comuns, a união dos esforços e capacidades, a propriedade coletiva de meios de produção, a partilha dos resultados e a responsabilidade solidária. Está presente em diver-sos tipos de organizações coletivas: empresas auto-gestionárias ou recuperadas (assumida por traba-lhadores); associações comunitárias de produção; redes de produção, comercialização e consumo; grupos informais produtivos de segmentos específi-cos (mulheres, jovens, quilombolas, etc.); clubes de trocas etc.

AUTOGESTÃO

Os/as participantes das organizações exercitam as práticas participativas nos processos de trabalho, nas definições estratégicas e cotidianas dos em-

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preendimentos, na direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses etc. Em um pro-jeto autogestionário, apoios externos, de assistência técnica e gerencial, de capacitação e assessoria, não substituem e nem impedem o protagonismo dos verdadeiros sujeitos da ação. Todo conhecimento produzido por assistentes técnicos ou por trabalha-dores/as deve ser disponibilizado para todos/as.

DIMENSÃO ECONÔMICA

É uma das bases de motivação da agregação de es-forços e recursos pessoais e de outras organizações para produção, beneficiamento, crédito, comerciali-zação e consumo. Envolve o conjunto de elementos de viabilidade econômica, permeados por critérios de eficácia e efetividade, ao lado dos aspectos cul-turais, ambientais e sociais.

SOLIDARIEDADE

O caráter de solidariedade nos empreendimen-tos é expresso em diferentes dimensões: na justa distribuição dos resultados alcançados; nas opor-tunidades que levam ao desenvolvimento de capa-cidades e da melhoria das condições de vida dos participantes; no compromisso com um meio ambi-ente saudável e com o desenvolvimento sustentável

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dos biomas; nas relações que se estabelecem com a comunidade local; na participação ativa nos proces-sos de desenvolvimento sustentável de base territo-rial, regional e nacional; nas relações com os outros movimentos sociais e populares de caráter emanci-patório; na preocupação com o bem estar dos traba-lhadores/as e consumidores/as; e no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.

TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO

As relações de trabalho são intrinsecamente educa-tivas e, a partir delas, produzimos e reproduzimos os valores que orientam nossas vidas e decisões. O tra-balho autogestionário rompe com a lógica alienante, que separa o pensar/conhecer do fazer/executar, pois o seu exercício produz valores emancipatórios, por recolocar os/as trabalhadores/as como centro do processo produtivo, e não como força de trabalho a ser explorada. Este aprendizado, de fazer coleti-vamente, constrói uma nova cultura e novos valores, fundamentados na cooperação e na solidariedade, o que é determinante para o avanço da economia solidária.

Considerando essas características, a economia solidária aponta para uma nova lógica de desen-volvimento sustentável com geração de trabalho e

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distribuição de renda, mediante um crescimento econômico com proteção dos ecossistemas. Seus re-sultados econômicos, políticos e culturais são com-partilhados pelos participantes, sem distinção de gênero, idade e raça. Implica na reversão da lógica capitalista ao se opor à exploração do trabalho e dos recursos naturais, considerando o ser humano na sua integralidade como sujeito e finalidade da atividade econômica.

Portanto, a economia solidária entendida como o conjunto de atividades econômicas (produção, dis-tribuição, consumo, poupança, crédito, etc) orga-nizada sob a forma de autogestão constitui a estrutu-ra organizativa de um processo de desenvolvimento emancipatório.

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O constante processo de degradação dos ecossiste-mas naturais do planeta, em virtude de uma gestão dos recursos produtivos voltada exclusivamente para a lógica do lucro, vem provocando um agrava-mento da crise ambiental, manifestado nas mudan-ças climáticas, na perda de biodiversidade, no en-fraquecimento da capacidade produtiva do solo, no empobrecimento das populações rurais, na polui-ção de rios e mananciais, dentre outros.

Como forma de responder aos problemas gerados por esta crise ambiental, que hoje possui dimen-sões globais, ao longo dos anos tem ganhado força a ideia do “desenvolvimento sustentável”, que de forma sintética seria aquele modelo de organização social, política e econômica, que proporcionasse uma divisão equitativa dos resultados da atividade econômica, a preservação dos recursos naturais e produtivos, a democratização das relações político-sociais e a justiça social.

O QUE É DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL SOLIDÁRIO?

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Para a grande maioria dos autores, o problema prin-cipal do atual modelo de desenvolvimento, que pro-move pobreza, degradação ambiental e insegurança social e política está não propriamente na produção, mas na forma como a humanidade estabelece re-lações com o meio onde vive, e na distribuição desigual dos recursos e resultados produtivos.

Desta forma, é necessária a adoção urgente de um novo modelo de organização econômico-político-social que permita confrontar os problemas produzi-dos pelo atual sistema de desenvolvimento. É neste espaço que a economia solidária surge como um instrumento alternativo consistente para a constru-ção de um novo modelo de desenvolvimento.

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O ideal da autogestão e da solidariedade, bem como da democratização das relações sociais e econômi-cas são elementos basilares da economia solidária, perfeitamente compatíveis com o ideal da sustenta-bilidade.

Sendo assim, o novo modelo de desenvolvimento deve ser pautado por três elementos fundamentais: a territorialidade, a sustentabilidade e a solidarie-dade, ou seja, o “desenvolvimento local sustentável solidário”.

O desenvolvimento local sustentável solidário é o construído diretamente pela comunidade como um todo, e não por alguns de seus membros apenas. Por isso, ele não pode ser alcançado somente pela atra-ção de algum investimento externo à comunidade. O investimento necessário ao desenvolvimento tem que ser feito pela e para a comunidade toda, de modo que todos/as possam ser donos/as da nova riqueza produzida e beneficiar-se dela.

São princípios basilares deste novo modelo de de-senvolvimento o empoderamento popular e o res-peito às características étnico, culturais e ambien-tais do local onde ele é construído. Não se confunde, portanto, o desenvolvimento local sustentável e solidário com a mera imposição de sistemas produ-

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tivos exógenos, como por exemplo, a atração de grandes empresas.

No modelo de desenvolvimento local sustentá-vel solidário são valorizados os sistemas locais de produção e a produção tecnológica local, motivo pelo qual ele favorece a preservação dos valores de comunidades tradicionais, como quilombolas, indígenas, pescadores, ribeirinhos, dentre outras, que tem os saberes e valores culturais protegidos pela Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica, aprovada na Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Or-ganizações das Nações Unidas realizadas no Rio de Janeiro em 1992.

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Desenvolvimento sustentável solidário, portanto, significa o desenvolvimento de todos os membros da comunidade de forma conjunta, unidos pela aju-da mútua e pela posse coletiva de certos meios es-senciais de produção ou distribuição, respeitando os valores culturais e o patrimônio ecológico da co-munidade.

Conforme a preferência dos membros, muitos ou todos podem preservar a autonomia de produtores individuais ou familiares. Mas, os grandes meios de produção – silos ou armazéns, frotas de veículos, edificações e equipamentos para processamento industrial, redes de distribuição de energia etc. – têm de ser coletivos, pois se forem privados a co-munidade se dividirá em classes sociais distintas e a classe proprietária explorará a não proprietária.

Por fim, além de garantir a autonomia dos traba-lhadores/as na gestão dos recursos produtivos, no desenvolvimento local sustentável solidário, a ativi-dade produtiva deverá estar perfeitamente integra-da à capacidade de suporte do meio no qual está sendo realizada e aos valores defendidos pelas co-munidades.

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O etnodesenvolvimento é um modelo alternativo de desenvolvimento, que mantém o diferencial so-ciocultural de uma sociedade, sua etnicidade. Seus princípios visam: a satisfação de necessidades bási-cas do maior número de pessoas ao invés de priori-zar o crescimento econômico; embutir-se de visão endógena, ou seja, dar resposta prioritária à reso-lução dos problemas e necessidades locais; valori-zar e utilizar o conhecimento e tradições locais na busca de soluções dos problemas; manter relações equilibradas com o meio ambiente; a autosustenta-ção e independência de recursos técnicos e de pes-soal e; proceder a uma ação integral de base com atividades mais participativas.

O QUE ÉETNODESENVOLVIMENTO?

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Trata-se de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável dos Povos e Comunidades Tradiciona-is, com ênfase no reconhecimento e fortalecimento das potencialidades locais. O etnodesenvolvimento reconhece os direitos territoriais, sociais, ambien-tais, econômicos e culturais destas populações e considera fundamental o respeito e valorização das suas identidades e formas de organização.

O etnodesevolvimento compreende um conjunto de iniciativas que têm os seguintes princípios:

* respeito à autonomia e à autodeterminação dos povos e comunidades tradicionais;

* não geração de dependência tecnológica e econô-mica nas relações estabelecidas;

* domínio e acesso às novas tecnologias;

* reconhecimento e proteção dos territórios étnicos;

* valorização dos saberes e técnicas destes povos;

* participação qualificada desses povos, por meio de mecanismos e instrumentos de gestão participa-tiva, no desenvolvimento de propostas endógenas, bem como na formulação e execução de políticas públicas que lhes dizem respeito.

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O Decreto 6.040, de 07 de fevereiro de 2007, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – PNPCT, traz as seguintes definições em seu Artigo 30:

*“I - Povos e Comunidades Tradicionais: grupos cul-turalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de orga-nização social, que ocupam e usam territórios e re-cursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, uti-lizando conhecimentos, inovações e práticas gera-dos e transmitidos pela tradição;

*II - Territórios Tradicionais: os espaços necessários a reprodução cultural, social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária, observado, no que diz respeito aos povos indígenas e quilombo-las, respectivamente, o que dispõem os arts. 231 da Constituição e 68 do Ato das Disposições Cons-titucionais Transitórias e demais regulamenta-ções”.

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Considerando o exposto até aqui, podemos afirmar que o etnodesenvolvimento busca também incenti-var iniciativas de economia solidária que reconhe-çam e valorizem as identidades étnicas e culturais a partir de uma nova visão do desenvolvimento local sustentável solidário como processo de transforma-ção social e não apenas de mudanças em sistemas produtivos, com respeito à diversidade e às identi-dades. Ou seja, o “novo” não significa o fim de refe-rências culturais ancestrais, mas a busca de diálogo e de integração entre diversos modos de vida, sa-beres e referenciais a partir de uma perspectiva de equidade étnica nas iniciativas de desenvolvimento.

A dinamização econômica em territórios e comu-nidades de povos tradicionais (quilombolas, indí-genas, ribeirinhos etc.) implica na valorização e incentivo da pluriatividade, da biodiversidade, da agroecologia com base no acesso à terra e aos re-cursos ambientais, aos meios de produção e aos fun-dos públicos. As práticas de autogestão na econo-mia solidária têm o significado de empoderamento econômico desses povos e comunidades, viabilizan-do e fortalecendo atividades em bases sustentáveis e com tecnologias sociais apropriadas que utilizam a multiplicidade de recursos e saberes das próprias comunidades.

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É uma perspectiva de análise do campo das ciências econômicas que incorpora as relações de gênero na compreensão do pensamento econômico, con-siderando centralmente dois elementos: a divisão sexual do trabalho e a invisibilidade das mulheres na esfera da produção. Para tanto, a economia femi-nista busca transformar as relações econômicas e sociais, objetivando uma nova forma de organiza-ção do trabalho e uma nova sociedade baseada na igualdade de gênero.

O QUE ÉECONOMIA FEMINISTA?

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A abordagem da economia feminista localiza na divisão sexual do trabalho a principal origem das desigualdades de gênero, posto que historicamente, condiciona às mulheres ocupações determinadas socialmente, o que gera o aprofundamento da mar-ginalização feminina como os salários inferiores, o trabalho precário e o alto índice de mulheres no mercado informal de trabalho.

Estes fatores aliados a invisibilidade das mulheres, materializada no trabalho não remunerado, reali-zado para manter a esfera de reprodução da vida, como as atribuições domésticas e o cuidado com a família, conformam a situação de subordinação e ex-ploração vividas pela ampla maioria das mulheres. A crescente feminilização da pobreza é resultado destes processos que constantemente têm aprofun-dado as desigualdades de gênero e a exclusão das mulheres do mundo do trabalho.

A partir destes pressupostos a Economia Feminis-ta se constitui como método de análise, bem como propõe ações e políticas que visam a igualdade de gênero, a emancipação e a autonomia econômica das mulheres.

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Os empreendimentos econômicos solidários são o conjunto de organizações coletivas regidas pelo princípio da solidariedade, autonomia e autogestão. Nos empreendimentos econômicos solidários há uma democratização dos processos decisórios entre os associados, a distribuição equitativa do trabalho, dos resultados e dos benefícios. Não há separação entre a concepção e a execução do trabalho, nem o monópolio do conhecimento, os meios produtivos são coletivos, e há um processo constante de auto-organização e autoconstrução.

O QUE É UM EMPREENDIMENTO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA?

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Estão compreendidos entre os EES - Empreendi-mentos Econômicos Solidários organizações:

* Coletivas e suprafamiliares (associações, coope-rativas, empresas autogestionárias, grupos de pro-dução, clubes de trocas, etc.), cujos participantes são trabalhadores urbanos e rurais que exercem a autogestão das atividades;

* Permanentes. Tanto os empreendimentos que já se encontram funcionando, quanto aqueles em pro-cesso de constituição, desde que o grupo já esteja formado e com atividade econômica definida;

* Que sejam legalizados ou não, prevalecendo a existência real ou a vida regular da organização;

* Que realizam atividades econômicas de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito (cooperativas de crédito e os fundos rotati-vos populares), de comercialização (compra, venda e troca de insumos, produtos e serviços) e de con-sumo solidário. As atividades econômicas devem ser permanentes e principais na vida do empreen-dimento, ou seja, a razão de ser da organização;

* Singulares ou complexas. Ou seja, deverão ser consideradas as organizações de diferentes níveis. As organizações econômicas complexas são as cen-trais de associação ou de cooperativas, complexos cooperativos, redes de empreendimentos e simila-res.

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Agente Local de Desenvolvimento Solidário é aquele/a que atua nas comunidades e no fomento e acompanhamento de empreendimentos econômi-cos solidários, mobilizando e apoiando a construção de estratégias de desenvolvimento local permeadas pela economia solidária.

Portanto, a atribuição do/a Agente de Desenvolvi-mento Solidário é, de forma geral, a promoção da economia solidária junto às comunidades e/ou regiões de sua atuação. O Agente é um articulador, mobilizador e sensibilizador da economia solidária. Ele leva à comunidade informações sobre como se organizar coletivamente e auxilia no acesso a políti-cas públicas que favoreçam este tipo de organiza-ção.

O QUE É UM AGENTELOCAL DE DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO?

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Uma das razões do Projeto Brasil Local é contribuir para o desenvolvimento da Economia Solidária a partir da formação e acompanhamento dos EES. Es-tes têm em sua concepção princípios como autoges-tão, transparência, respeito aos seres humanos, re-speito ao meio ambiente, entre outros. Igualmente, para uma assessoria em um EES, devem estar im-plícitas outras maneiras de educar, conhecer e planejar, para a construção coletiva de estratégias de desenvolvimento local permeadas pela econo-mia solidária.

A assessoria é o período em que o agente local vai acompanhar o EES e para isto deve seguir o diálo-go. Do que adianta metodologias se não soubermos respeitar, ouvir e refletir junto? Assim, conhecer o cotidiano das pessoas, trocar informações e saberes valorizando o conhecimento local e aplicar algumas ferramentas para auxiliar na resolução dos seus problemas, tem contribuído com o sucessos de al-guns empreendimentos. Por isso, é importante se

METODOLOGIA DE ASSESSORIA DO AGENTE LOCAL

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basear na informação-reflexão-ação, pois somente com homens e mulheres conhecedores da sua re-alidade e participando ativamente nela, é possí-vel promover uma transformação onde os próprios componentes dos grupos sejam os protagonistas no processo de mudança e melhoria das suas vidas.

Para um melhor envolvimento nesse processo, o uso de práticas metodológicas participativas é impor-tante, pois estas permitem estimular o envolvimento das pessoas nas ações que levem a mudança de sua realidade. Para isso, utiliza métodos e técnicas ou ferramentas que contribuem para a participação da população de forma crítica e consciente.

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* Flexibilidade

* Transparência

* Aprendizagem recíproca

* Deslocamento do poder de decisão

* Comunicação interativa com o grupo

Porém, a utilização de metodologias participativas não só depende das técnicas em si, mas de uma in-tegração, entre as técnicas, os princípios e media-dores comprometidos. É por isso, que as metodo-logias participativas se baseiam em valores, que devem estar guiadas em:

Desse modo, deve-se ter o devido cuidado na uti-lização de metodologias participativas, pois não se deve focalizar a técnica em si, mas também os va-lores culturais no sentido de evitar que os grupos “simplesmente tomem parte naquilo que outro de-fine para elas como sendo bom, como sendo válido, como sendo necessário” (PINTO, 1987:77).

A clareza da metodologia e a organização de instru-mentos que auxiliem nesse processo, são de funda-mental importância, de modo que, durante o pro-cesso de assessoramento a um EES deve-se olhar, principalmente para etapas como:

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* A construção do diagnóstico para identificar e entender melhor o problema;

* O planejamento das ações para organizar o que vai ser feito;

* A implementação das ações para solucionar o problema;

* A avaliação do processo para fazer os ajustes e recomeçar.

Dessa forma, tudo começa com o estudo da reali-dade do empreendimento, que é o próprio diag-nóstico participativo. A segunda etapa consiste na construção de um plano de Economia Solidária, portanto um planejamento. A terceira consiste na implementação do plano de Economia Solidária do empreendimento. E, por último, a avaliação.

DIAGNÓSTICO

PLANEJAMENTODO EESAVALIAÇÃO

IMPLEMENTAÇÃO

DESENVOLVIMENTOLOCAL SOLIDÁRIO

CICLO DAMETODOLOGIA DE

DESENVOLVIMENTODO EES

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Esse processo de pesquisa-planejamento-execução, não deve se constituir de etapas estanques, onde uma precisa terminar para outra começar, ao con-trário, elas devem acontecer simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo em que se pesquisa para conhecer determinada situação, identifica os pro-blemas, planeja e realiza uma ação.

Isso é possível, na medida em que o agente local passa a refletir e problematizar com o grupo cada informação ou conjunto de informações geradas e a partir daí identifica os problemas e as possíveis atividades a serem realizadas para a solução de de-terminado problema levantado. Essas atividades podem ser organizadas numa agenda local onde se defina ações para cada situação-problema identi-ficada. Ou seja, enquanto construímos o diagnóstico e o plano de economia solidária, estamos também implementando ações que o grupo considerou im-portante naquele momento.

AGENDA LOCAL:

I

PROBLEMA AÇÃO(O que fazer?)

PRAZO(Quando?)

RESPONSÁVEIS(Quem?)

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O QUE É?

O diagnóstico de um EES é um documento construí-do a partir do levantamento das potencialidades e dificuldades do grupo e a sua análise possibilita o conhecimento sobre o perfil do grupo. É um docu-mento composto por um conjunto de informações que permitem que as pessoas tenham a clareza ne-cessária para identificar as dificuldades e a partir daí tomar as decisões necessárias à solução dos problemas. A isto chamamos de diagnóstico.

DIAGNÓSTICODO EMPREENDIMENTODE ECONOMIA SOLIDÁRIA

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Entendemos que é preciso compreender a realidade em que se vive, para tomar as decisões de forma responsável. Portanto é necessário que se esta-beleça um processo de levantamento e reflexão de dados e informações que devem ser coletados com a participação de todos/as os/as interessados/as.

O diagnóstico feito por uma só pessoa terá apenas o olhar daquela pessoa e corre o risco de não repre-sentar fielmente a realidade do grupo.

Resumindo, o diagnóstico exige uma imersão na re-alidade do grupo para ver e analisar a sua situação atual e deve mostrar o que ajuda e o que dificulta o desenvolvimento do EES.

COMO FAZER?

O agente local deve combinar com o grupo os mo-mentos adequados para a coleta de informações que pode ser feita através de visitas técnicas ao grupo ou integrantes do EES ou em oficinas com a partici-pação de todos ou da maioria dos componentes do EES.

I

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Os momentos descritos a seguir devem ser entendi-dos como uma sugestão e precisam ser adequados à realidade de cada EES.

Momentos de Construção do Diagnóstico Participa-tivo do EES:

Momento 1– Visita do Agente Local

Mote: Se situando no contexto do empreendimento

História do grupo Tempo de existência, ano de cria-ção, contexto da criação.

- Linha do tempo

TIPO DEINFORMAÇÃO

Identificação doempreendimento

Situação legal doempreendimento

Levantar documentos já existentes no empreendimento quer sejam: diagnósticos, planos, entre outros e fomentar a construção coletiva a partir da socialização das ações a serem desenvolvidas entre agente e empreendimento.

Quantidade de participantes (Total, Homens e Mulheres), faixa etária, nome do empreendimento, local próprio para o desenvolvimento da produção?

Endereço do empreendimento.

O empreendimento está constituí-do formalmente? Qual a sua forma jurídica – associação, cooperativa?

- Observaçãoparticipante- Rodasde conversa

- Matriz decomponente dogrupo- Observaçãoparticipante

- Rodasde conversa

INSTRUMENTOOU TÉCNICA ASER UTILIZADA

DETALHAMENTO DA INFORMAÇÃO

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Momento 2 – Oficina (4 horas)

Mote: Caráter das Relações construídas no ESS

TIPO DEINFORMAÇÃO

Gestão doempreendimento

Qualificação paraa produção

Participação das mulheres

Participação emfóruns, redes etc.

Organização e Dinâmica de tra-balho: Quais funções os partici-pantes do grupo desempenham no empreendimento? Como se dá a tomada de decisões no grupo? É coletiva?

Participam ou já participaram de cursos específicos sobre as funções que desempenham?

Espaços que as mulheres ocupam no empreendimento em relação aos cargos de direção e gestão política e econômica

Incidência do grupo nos aspectos políticos e econômicos dentro do âmbito da ação local/territorial dos empreendimentos, participação em fóruns de Economia Solidária, rela-ção/acesso às políticas públicas.

- Matrizde funções

- Rodasde conversa

- Diagramade Venn- Matrizde funções- Observaçãoparticipante

- Rodasde conversa

INSTRUMENTOOU TÉCNICA ASER UTILIZADA

DETALHAMENTO DA INFORMAÇÃO

Relaçõesinstitucionais

Análise das relações institucionais estabelecidas, parceiros mais pre-sentes.

- Diagramade Venn

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Momento 3 – Oficina (8 horas)

Mote: Conhecendo o Sistema Produtivo do EES

Comercializaçãoda produção

Distribuiçãoda renda

Gestão Ambiental do(s) Sistema(s)

Produtivo(s)

Volume da comercialização, fluxo e canais de comercialização, atores relacionados, participação em fei-ras, mercados institucionais, ade-quação legal da rotulagem, a exis-tência de selo de inspeção sanitária e Sistemas de Garantia Participati-va.

Como se dá a retirada/divisão da sobra/remuneração no empreen-dimento? Com que periodicidade as retiradas são feitas? Rendimen-tos recebidos em relação à renda da família: principal, secundário, complementar etc. Relação custo, preço e renda do grupo. Renda das mulheres.

Uso de energia e matérias-primas, viabilidade ambiental das práti-cas, destinos dos dejetos, riscos e agressões ao meio ambiente.

- Matrizde funções

- Mapaeconômico

- Matrizde impactosambientais

TIPO DEINFORMAÇÃO

Sistemasde produção

Volume da produção, custo de produção, preço do produto, tecno-logias utilizadas, distribuição do processo produtivo ao longo do tempo, recursos para a produção, já acessou crédito, que tipo, de onde?

- Entra e sai- Calendáriosazonal

INSTRUMENTOOU TÉCNICA ASER UTILIZADA

DETALHAMENTO DA INFORMAÇÃO

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O QUE É?

Planejamento é o momento de tomada de decisões e estabelecimento das diretrizes estratégicas a partir das capacidades, dos recursos (materiais, humanos, tecnológicos e financeiros) e arranjos institucionais mobilizados. Visa fixar objetivos e prioridades para o desenvolvimento do EES e determinar os meios apropriados para atingir tais objetivos e colocá-los em prática dentro de um prazo determinado.

O Produto do planejamento é o Plano de Economia Solidária – PES, o qual conterá todo o conteúdo do diagnóstico, que é a base de qualquer planejamen-to, mais o detalhamentos das ações, meios, respon-sáveis e prazos para cada problema ou dificuldade encontrada, considerando também as potenciali-

PLANEJAMENTODO EMPREEDIMENTODE ECONOMIA SOLIDÁRIA

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dades existentes e que devem ser exploradas ade-quadamente para o melhor desenvolvimento do empreendimento.

COMO FAZER?

A partir do diagnóstico que identificou um conjunto de situações diversas, e permitiu um conhecimento da realidade do empreendimento, o grupo com a assessoria do agente local deve definir os objetivos, as metas e as estratégias que deverão colocar em prática para provocar as mudanças desejadas.

O processo de planificação deve estabelecer as prioridades, o que é preciso fazer primeiro, combi-nando o processo técnico com a negociação políti-ca, ou seja, como se dará a participação dos atores interessados diretamente na execução dos planos de desenvolvimento e de como se dará a necessária articulação com outros atores, quer institucionais, políticos e sociais que possam facilitar a concretiza-ção dos objetivos definidos.

MATRIZ DE PLANIFICAÇÃO:

PROBLEMA AÇÃO(O que fazer?)

MEIOS(Como?)

PRAZO(Quando?)

RESPONSÁVEIS(Quem?)

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CONSTRUÇÃO DO PLANO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA - PES

Momento 1 – Oficina (8 horas)

Mote: Planejando o desenvolvimento do EES

PROCEDIMENTOCONTEÚDO

Acolhida e apresentação dos/as participantes

Visão de futuro

Balanço dos trabalhos realizados – síntese dos avanços, atividades em andamento, arremate do diagnóstico

Planejando o desenvolvimento do EES

Planejamento – conceitos e contexto da oficina no processo de planeja-mento

Estado atual do EES – levantamento de problemas e potencialidades

Debate em plenária - Como quere-mos estar no futuro?

Exposição dialogada

Grupo ou plenária - Matriz de prio-ridade de problemas e definição das ações, meios, responsáveis e prazos

Apresentação pelo agente local

Trabalho em grupo - o que nos ajuda e o que dificulta o alcance da visão de futuro

Dinâmica de abertura

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QUER CONHECER MAIS?

*Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES):

Brasília, DFTefelone: (61) 3317-6308

www.mte.gov.br

*Fórum Brasileiro de Economia Solirária (FBES):

Brasília, DFTefelone: (61) 322-3268

www.fbes.org.br

Secretaria Executiva Nacional:SCS Quadra 6 Bloco A - Edifício Arnaldo Vilares, sala 514

CEP: 70.324-900 - Brasília, DFTefelone e fax: (61) 3965-3268

E-mail: [email protected]

*Associação de Apoio às Comunidades do Campo do RN - AACC/RN:

Rua Dr. Múcio Galvão, 449, Lagoa SecaCEP: 59022-530 - Natal, RN

Telefone e fax: (84) 3211-6131 / (84) 3211-6415 www.aaccrn.org.br

E-mail: [email protected]

www.aaccrn.org.br