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CORREIO DA MANHA, Sexta-feira, 14 de outubro de 1968 Jí.° Caderno PERSONALISMO d t. 0 Ç ro n ti íi V v n J d c: u o tr íi di c d O presidente Castelo Bran- co não quis escolher o cami- nho da pacificação, que pro- piciaria a redcmocratização gradativa do Pais. Preferiu desencadear uma crise que vi- sa à desmoralização do Con- gresso Nacional. Chegou a ponto de tratar os seus corre- ligionários que presidem o Senado e a Câmara, srs. Auro de Moura Andrade e Adauto Cardoso (sobretudo este últi- mo), como se não mereces- sem, da sua parte, qualquer consideração. Mas ninguém pode enganar-se. O presiden- te não tem como alvos prin- cipais os presidentes do Sena- do e da Câmara. Quer reduzir o Congresso, definitivamente, à expressão mai* simples. Tanto isso é verdade que o presidente agiu, com extrema frieza e com inegável cálculo, trinta dias antes das eleições de novembro, para a renova- ção do Congresso. Se, por por omissão dos membros do Congresso, tanto do MDB quanto da ARENA, o Poder Legislativo não resistir ao as- salto frontal, Senado e Cama- ra transformar-se-ão em me- ras repartições encarregadas de chancelar os atos governa- mentais. O presidente poderá, até mesmo, suspender as eleições de novembro, decretar o re- cesso do Congresso, outorgar a sua Constituição de algibei- ra isso se não achar mais cômodo governar com um Congresso prorrogado e desfi- gurado, em que os seus cor- rsligionários mais servis fa- rão todos os paneis possíveis e imagináveis para não per- deram a prerrogativa de aphudir o Governo. Neste momento, alguns setores da Oposição perceberam a im- portância de organizar-se uma resistência no Congresso. Mas muitos membros do MDB, a pretexto de continuarem as suas respectivas campanhas eleitorais, reforçam a posi- ção da maioria dos parlamen- tares da ARENA, que procura alhear-se aos acontecimentos. um esquema de provo- cação que começa a atuar, pa- raMamente à a"ão do maré- ch?l Castelo Brnnco. Ontem, um coronel do Exército, que parsa o tempo fazendo poli- tica, divulgou a lista dos in- diciados no inquérito policial- militar sobre o Partido Comu- nista, que presidiu. Trata-se do notório coronel Ferdinan- do de Carvalho, que arrolou nomes de pessoas mortas ao lado de dirigentes comunis- tas, de ex-comunistas, de indivíduos que nunca fo- ram comunistas, e de per- sonalidades que êle acusa de por este ou aquê- le processo contribuí- rem para ajudar o Partido Comunista. Nessa lista, o co- ronel incluiu o nome do sr. Negrão de Lima, governador da Guanabara, e de alguns dos seus auxiliares. Aprovei- tou o clima criado pelo pró- prio presidente da República ao reiniciar o processo das cassações de mandatos e de direitos políticos e quando as fontes governamentais desen- cadeiam uma campanha de in- timidação das forças oposicio- nistas e dissidentes do movi- mento de 31 de março, avi- sando que vai haver mais de uma centena de cassações, além de impugnações de can- didaturas. A divulgação dessa monstruosa lista de indiciados é mais um ato de guerra psi- cológica do que outra coisa qualquer. O coronel em quês- tão pertence a uma mino- ria de militares com mania de perseguir adversários reais ou imaginários. Até recente- mente, essa minoria não ti- nha condições para exibir-se e reconquistar a notoriedade perdida. Agora, porém, o exemplo veio de cima. para que todos os demais ressenti- dos o sigam. Em tudo isso um aspec- to a considerar. Até anteon- tem, os deputados que foram cassados serviam, pelo menos no plano das hipóteses, para escolher o presidente da Re- pública, para votar a reforma constitucional e para tomar outras providências. Se não votaram no marechal Cos- ta e Silva foi porque não quiseram. De repente, fo- ram cassados, dois anos e meio depois de terem si- do ameaçados de cassação. Por outro lado, o presidente Castelo Branco, desta vez, não pode dizer que foi forçado a cassar mandatos, nem acusar a chamada linha aura ou o marechal Costa e Silva. Êle próprio é que resolveu efe- tuar tais cassações, que pare- cem um fato decisivo para a reabertura de uma crise que ninguém a não ser um pe- queno número de auxiliares do Governo desejava. Igno- ra-se o critério adotado para tais cassações. E o que é pior ignoram-se os verda- deiros objetivos do Governo, ao desencadear essa crise in- conveniente, sob todos os as- pectos, para o País. Dizem os porta-vozes governamen- tais que o presidente está de- monstrando que não abrirá mão de qualquer parcela de sua autoridade e que entrega- ao seu sucessor uma casa revolucionária bem arruma- da. Mas, na medida em que se intensifica não a autorida- de do Governo, mas o auto- ritarismo presidencial, mais remotas se tornam as possi- bilidades de arrumação dessa casa desarrumada por natureza, pois revoluciona- ria (ou contra-revolucioná- ria) por origem. Governa- o presidente Castelo Branco dentro da técnica do golpe de Estado permanente, faltan- do mandar uma espécie de guarda vermelha às ruas, pa- ra quebrar vitrinas, monu- mentos e cabeças. Por en- quanto, limitou-se a quebrar o mínimo de decoro que devia existir nas relações do Exe- cutivo com o Legislativo, mes- mo sob o regime de exceção em que vive o Brasil. * * * Neste instante, prevalecem o personalismo e o subjetivis- mo, com a Nação inteira à espera do último capricho presidencial. Preparam-se as listas de cassações, divulgam- se os rumores e as versões, espalham-se as ameaças. E o País transforma-se, aos olhos do mundo inteiro, noutra Na- ção sob regime ditatorial, na dependência das paixões de um homem, dos interesses de um homem, da solidão desse mesmo homem. Mais uma vez, o Congresso foi ferido e o processo elei- toral tumultuado. Os depu- tados em campanha têm, ago- ra, algo mais importante a fa- zer: dar número à Câmara para que ela encontre na so- lidariedade as forças para de- fender suas prerrogativas. PATENTES Associações d?, classe dos homens de indústria vêm reclamando, i 3cde fins da década de 1940, cen- tra monopólio qu., cm grande número de casos, se exe -ce indevidanr ite no campo da tecnologia. Por í.-,lt i de conhecimento exato do prazo de vigência le- gal de cartas-palntes, relativas a métodos e pro- cos: os produtivos, e.s empresas e a Nação têm pago desnecessariamente somas incalculáveis a. seus pre- bnsos possuidores: originais. Ê:se obstácul > à disseminação do conhecimento tecnológico, que tiera a produção Interna e logo a seguir pesa sobre a receita cambial do Pais acaba ce encontrar o se.i fim lógico. O ministro da Indús- tria e do Comércio determinou a divulgação da lisía das patentes de invenção, modelos de utilidade, de- s;n.io ou modelo industrial, cujos prazos de vigência hajam expirado. A partir de 1951 será feito levan- tamento dos patc:..es extintas ou que venham a ex- pir.r, cando--e ciincia ao Banco Central para efeito de controle do pagr.rnento de royalties pelo uso de patentes estrangeiras. A medida concretiza uma aspiração da indústria. Em alguns setores importantes desembaraça o campo à atividade criadora dos técnicos brasileiros, muitas vezes inibidos ou impedidos de inovar por motivos alheios à sua capacidade inventiva. Veio a providên- cia na forma de Ordem de Serviço do titular daquela Pasta, o que demonstra a pouca exatidão do conceito de rigidez da administração pública. Demonstra o ato que é possível agir de modo conseqüente, em ter- renos aparentemente intocáveis, sem o receio de con- seqüências outras que não o beneficio da coletividade. Nos últimos vinte anos, projetos de lei regulando o uso de patentes estrangeiras foram apresentados ao Congresso e se perderam em suas gavetas. De- núnclas foram submetidas a organismos internacio- nais, inclusive as Nações Unidas. Movimentos de em- presários esgotaram-se no esquecimento Intencional da questão. Agora, uma simples Ordem de Serviço resolve o problema. TÁTI CA Um porta-voz palaciano expli- cou ontem as cassações como "ataque do Governo em defesa da revolução". APEÍ OS No lançamento da nova série de Obrigações do Tesouro, o mi- nistro da Fazenda fêz um apelo aos subscritores j ira que rom- 1 rem esses papéis por interesse e p;,l iotismo. Por interesse por- (!Ui ;'e trata de ama aplicação renável e por p ' riotismn por- que se destinam à recuperação ím. meira do Pai " as, como com ,ar esses tltu- los, quando no mesmo pronun- ciaicnto o s:r. Otávio Bulhões afiima r|iie os c ísuiridores têm a sua renda quase que In- te: imenlc con.p .metida c as cm irêyas se debai m com o pro- hiena da queda i-\ vendas? I or certo que o recurso do cn"):v-timo públi > volur.iárlo é o mais justo e a-ertado para a ta 'a dn rr ;r ;",'¦ das fi- nanças nacionais. Mas para issu é preciso que público e empresas tenham rendas e poupanças disponíveis para essa finalidade. Mas dessas rendas r-e encarregou de sua compressão aí. políticas salarial, tributária e creditlcla. Portanto, por mais In- terésse e patriotismo que tenham, as empresas e o público ficam sem condições de responder ao apelo do ministro da Fazenda. MINISTRO Comentou-se muito, em todos os círculos políticos, o fato de que aparentemente nem o pre- sidente da Câmara nem o ma- rechal Costa e Silva tinham co- nhetimento prévio das cassações de mandatos. Desse modo, por meio desses comentários, e:ca- pou à reprovação geral o minis- tro da Justiça, que 24 horas declarara não existir processo de cassação em cima da mesa do marechal Castelo Branco.i ABASTECIMENTO Depois de importar carne ar- ítentina, leite em dinamarquês e feijão mexicano, a COBAL es- tuda agora a compra no exterior de sorgo e milho para alimenta- ção de aves e animais. A importação de sorgo e ml- lho visa a complementar a es- ras-ez desse último cereal, do qual exportamos, em fins de 1965 e roínêço desse ano, cerca de 2G0 mil toneladas. Não para o ir- racionalrmo da nossa política de abastecimento. Vendemos o milho a US$ 53 a tonelada, quan- do o preço do saco do produto, para o mercado interno, oscila- va em torno de Cr? G.500. Com a escassez anda ern torno de CrS 9.500 e o milho importado custa- ao consumidor cerca de Cr$ 11.000 por saco. Em resumo, a inexistência de "oujfer stocks para regular o consumo c o preço de artigos básicos leva-nos a essa curió- sa posição: exportamos desorde- nadamente e, premidos pela ine- xistència de uma política de abastecimento, importamos a preços sempre mais caros. ÁULICO Antes mesmo do conhecimen- to dos presidentes da Câmara e do Senado, o sr. Arnaldo Cer- deira está de posse do texto de reforma constitucional e tro- veja ameaças de um período cas- satório que irá além do delimita- do pelo AI-2. O sr. Arnaldo Cerdeira. antes, era áulico do sr. Ademar de Bar- ros. Quando este último entrava no ostracismo, o sr. Cerdeira, progressivamente, foi-se toman- do áulico do marechal Castelo Branco. E essa opção do maré- chal Castelo Branco, logo pelo sr. Cerdeira, demonstra também a estranha vocação de estimulo sos áulicos. O modo pelo qual o ma- rechal Castelo Branco vol- tou a desferir os golpes cassatórios chega a dar a impressão de um exercício gratuito de violência. O fato é que, mais uma vez e até certo ponto inespera- damente, dez pessoas tive- ram os seus direitos poli- ticos suspensos por dez anos e/ou seus mandatos cassados. E mais uma vez essas pseudopuni- ções emergem sem que as vitimas exerçam o direito de defesa, sem que se uma satisfação ao público a respeito dos motivos que levaram o presidente da República a concretizar aquelas medidas. Seria uma fria exibição de poder? Ou mais um lance de coação sobre a oposição, hoje, tão emasculada? É difícil di- zer, de "plano, quando o próprio Governo nem se- quer fornece uma explica- ção generalizante a respei- to do crime de cada cassa- do, ou de sua qualificação em um desses dois termos, que, hoje, tombaram no anedotário popular: cor- rupto ou subversivo. De qualquer forma, uma constatação' que se impõe, evidenciando uma contradição inarredável: o movimento de 31 de março, desfechado em nome da democracia ameaçada, foi consumado para evitar a possibilidade de o sr. João Goulart fazer algumas coi- sas, que, mais de dois anos, o marechal Castelo Branco vem exatamente fazendo. O resto é uma questão de forma. Os cassados sem en- trar no mérito de serem ou não culpados pelos crimes a eles imputados, crimes esses jurídica e processual- mente desconhecidos pela maioria do Pais se sen- tem evidentemente confor- tados pelo fato de que, não o instituto das cassações inexiste mediante outor- ga da Nação, como tam- bém pelo fato de que não íoi a mesma Nação quem nomeou os cassadores. Mui- Crise & Cassações tos até passam a ganhar a simpatia popular. Trata- se de outra verdade inar- redável. Por outro lado, ninguém ignora que, além do discri- cionarismo imposto pelas armas ao País, o Governo maneja política e eleitoral- mente com o dispositivo cassatório. É lembrar que esperou mais de dois anos para cassar o sr. Ade- mar de Barros, isto é, quando este último passou a tomar uma atitude de oposição frontal ao Planai- to. É lembrar o ?scán- dalo que foram as cassa- ções em cima da hora de deputados da Assembléia gaúcha, com o mero obje- tivo de evitar a vitória da candidatura Cirne Lima e impor a nomeação do sr. Perachi Barcellos. E, ago- ra, pouco antes das eleições para o Legislativo, o Go- vêrno corta novas cabe- ças políticas, enfraquecen- do ainda mais esse fantas- ma de oposição que é o MDB, e desmoralizando o presidente da Câmara Fe- deral, que garantira, com a sua palavra, a palavra do presidente da República de que não seriam cassados quaisquer parlamentares. Afinal de contas, o ma- rechal Castelo Branco, em seu discurso de Campinas, não fizera a previsão de que a ARENA haveria da obter uma vitória tleitoral? Então, que saia a vitória, "na lei ou na marra" como dizia o sr. Brizola. Mas foi exata- mente para evilar uma op- ção tão primitiva como es- ta, entre a le' e a marra, que o sr. Brizola foi vareja- do para longe. E que o presidente aprecia tanto o aspecto for- mal das coisas, serin Inte- ressante mostrar como, a médio ou a lon"o pra?o. és- te formalis.no poderá der- reter-se integralmente Pois o vício de origem de tal discricionarismo será ca- José Lino Grünewald . paz de reverter em benefí- cio daqueles cassados que, tendo crimes provados em seu dossier (e, aqui, fala- inos preferencialmente em crimes de corrupção, pois a subversão comporta inúme- ras latitudes subjetivas), em lugar de serem punidos mediante julgamento da Justiça comum, poderão, amanhã, quando os tempos mudarem, surgir diante do povo exibindo as suas respectivas carteiras de cassados, com vistas a pol- pudos dividendos eleitorais. E será uma prova de que o discricionarismo institu- clonalizado não traduz o melhor renédio para os maus costumes políticos e administrativos. Resta examinar o aspec- to essencialmente político, Isto é, amoral, que possa ser extraído dessa exibição de força punitiva. E, aqui, cabe reconhecer que o ma- rechal Castelo Branco, em um ano, conseguiu car uma reviravolta no controle má- ximo das rédeas do poder. Parece até que pretendeu provar à ar.tiga e hoje apa- rentemente esvaziada linha dura que éle próprio, com a sua mansa e metódica queima de etapas, era o au- têntico linha dura. Basta, para isso, lembrar que, cerca de um ano, em outu- bro de 1965, com o resul- tado das eleições diretas para governadores, especi- almente na Guanabara e Minas Gerais, o cnefe do Governo balançou com uma crise militar, no fim da qual projetou-se o maré- chal Costa e Silva como um dos fiadores do mesmo Go- vêrno. E, em decorrência dessa crise do inconfor- mismo com a posso de ai- guns dos eleitos, e que o marechal Castelo Branco se viu obrigado a baixar o AI-2. Mas este AI-2, em suas mãos, com o correr do tempo, foi-se virande como um boomerang cortra ai- guns daqueles que o pres- sionaram. No decorrer dessa recom- posição de rédeas, o presi- dente da República teve de aceitar a imposição da can- didatura Costa e Silva. Não havia recursos políticos ou militares para evitá-la muito menos aquele expe- diente íormalista de sub- meter, não um, mas cinco nomes, à apreciação da ARENA, A verdade é que, mal ou bem, enquanto era ministro da Guerra, o ma- rechal Costa e Silva fala- va muito. Depois, com o tempo, e à medida em que chegavam prenúncios de crises ou impasses, passou a incrementar paulatina- mente o silêncio tático. O silêncio, pelo menos, impe- de a existência de pretex- tos para ser ferido. Mas, por outro lado, conduz ao esvaziamento. Hoje, isso íi- ca indubitável. Entre o presidente recém-nomeado e o presidente em presu- mível fim de mandato, a presença política deste úl- timo é muito mais incisi- va. Especula-se, inclusive, com a informação de que o marechal Costa e Silva, juntamente com o sr. Adauto Cardoso, foi um dos mais surpreendidos com as recentes cassações. Mes- mo porque, não herdará o instrumento cassatório na forma do AI-2, se é que ainda irá herdar alguma coisa. Mas, enfii sendo ou não verídicos os fatos, tra- ta-se tão-sòmente de luta e partilha entre dois mili- tari... pelo poder coisa . não diz respeito ao ap '.oramento do regime ou dos costumes políticos. Neste tempo todo, o Go- \ _rno a; .nas funcionou po- llticamente no sentido de consagrar aquilo que es- tava latente: a dualideci entre poder civil e militar. Deu proeminência a este último e mais nada. E, . - isso mea. j:.. da vloi./icia das cassações in- .._aais, vai cas. . uma coisa muito mn'. importar- te: a esperança coletiva de que alguma coisa se ren vc.;se neste Pais .ue não iôsse a renovação da ve- lhice. 1 $f A uma perguntinha, chefe: como ler a lista toda dos indiciados em apenas meia hora da Voz do Brasil? O jeito, tio mometiío, ê ver a banda passar, can- tando coisas de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos paciún- cia e esperança, força, ca- pacidade de entender, per- doar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacbie contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo c o mais que estamos viven- do ou presenciando. A orüem, meus manos e desconhecidos meus, é abrir a janela, abrir nâo, escancará-la, ê subir ao terraço como fêz o velho que era fraco mas subiu assim mesmo, é correr à rua no rastro da menina- da, e ver e ouvir a banda que passa. Viva a música, vira o sopro de amor que rmisica c banda vêm tra- zendo, Chico Buarque de Ho!a?ida à frente, e que restaura em nós hipoteca- dos palácios em ruínas, jardins pisoteados, cister- na» secas, compensando- nos da confiança perdida nos homens e suas promes- sas, da perda de sonhos que o desamor puiu c Itrou, e que «ao açora como o pa- letó roído de traça, a pele Imagem de amor A banda C. D. A. escarifkada de onde fugiu a beleza, o no ar, na falta de ar. A felicidade geral com que foi recebida a passa- gem dessa banda tão sim- pies, tão brasileira e tão antiga na sua tradição li- rica, que um rapaz de pou- co mais de vinte anos bo- tou na rva, alvoroçando novos e velhos, bem a idéia de como andávamos precisando de amor. Pois a banda não vem entoando marchas militares, dobra- dos de guerra, não convida a matar o inimipo, ela não tem inimigos, nem a feste- jar com uma pirâmide de camélias e discursos as conquistas da v i o I éncia. Esta banda é de amor, pre- fere rasgar corações, na receita do sábio maestro Auaclcto de Medeiros, fa- zendo penetrar neles o fogo que arde sem se ver, o con- tentamento descontente, a dor que desatina sem doer, abrindo a ferida que dói e não se sente, como expli- cov. um velho e imortal cs- pecialista português nessas matérias cordiais. Men partido está toma- do, não sou da ARENA nem do MDB, sou dêsse partido congregacional e superior ds classificações de emergência, que encon- tra na banda o remédio, a angra, o roteiro, a solução. Êle não obedece a cálculos da conveniência momentâ- nea, nâo admite cassações nem acomodações para cviíá-las, e principaÍ7ne»te nâo é um partido, mas o desejo, a vontade de tom- preender pelo amor, e de amar pela compreensão. Se uma banda sozinha faz a cidade toda se en/ci- tar e provoca até o apare- cimento da lua cheia no ce"u confuso c soturno, cri- vado de signoa ameaçado- res, é porque uma be- leza generosa e solidária na banda, uma Indica- ção clara pura todos, os que têm responsabilidade de mandar e os que são mandados, os que estão contando dinheiro e os que não o têm para contar e muito menos para gastar, os espertos e os zangados, os vingadores e os ressen- tidos, os ambiciosos e to- dos, mas todos os etecéte- ras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse da pá- pina inteira. Coisas de amor são finezas qne se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las e dis- tribui-Ias, começando por querer que elas floresçam. E não se limitam ao jar- dinzinho particular de afe- tos que cobre a área de nossa vida particular, abrange terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no uni- verso-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longínqua, chamando o ve- lho fraco, a mocinha feia, o homem sério, o faroleiro.. ¦ todos que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores. E se o que era doce acabou, de- pois que a banda pastou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de mustcaliza-r a alma da gen- te. BANCO BOAVISTA S. A. Uma completa organlzacíí-i bancária.999

C.D.A. (1966) - A Banda

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  • CORREIO DA MANHA, Sexta-feira, 14 de outubro de 1968 J. Caderno

    PERSONALISMO

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    O presidente Castelo Bran-co no quis escolher o cami-nho da pacificao, que pro-piciaria a redcmocratizaogradativa do Pais. Preferiudesencadear uma crise que vi-sa desmoralizao do Con-gresso Nacional. Chegou aponto de tratar os seus corre-ligionrios que presidem oSenado e a Cmara, srs. Aurode Moura Andrade e AdautoCardoso (sobretudo este lti-mo), como se no mereces-sem, da sua parte, qualquerconsiderao. Mas ningumpode enganar-se. O presiden-te no tem como alvos prin-cipais os presidentes do Sena-do e da Cmara. Quer reduziro Congresso, definitivamente, expresso mai* simples.Tanto isso verdade que opresidente agiu, com extremafrieza e com inegvel clculo,trinta dias antes das eleiesde novembro, para a renova-o do Congresso. Se, porpor omisso dos membros doCongresso, tanto do MDBquanto da ARENA, o PoderLegislativo no resistir ao as-salto frontal, Senado e Cama-ra transformar-se-o em me-ras reparties encarregadasde chancelar os atos governa-mentais.

    O presidente poder, atmesmo, suspender as eleiesde novembro, decretar o re-cesso do Congresso, outorgara sua Constituio de algibei-ra isso se no achar maiscmodo governar com umCongresso prorrogado e desfi-gurado, em que os seus cor-rsligionrios mais servis fa-ro todos os paneis possveise imaginveis para no per-deram a prerrogativa deaphudir o Governo. Nestemomento, alguns setores daOposio j perceberam a im-portncia de organizar-se umaresistncia no Congresso. Masmuitos membros do MDB, apretexto de continuarem assuas respectivas campanhaseleitorais, reforam a posi-o da maioria dos parlamen-tares da ARENA, que procuraalhear-se aos acontecimentos.

    H um esquema de provo-cao que comea a atuar, pa-raMamente a"o do mar-ch?l Castelo Brnnco. Ontem,um coronel do Exrcito, queparsa o tempo fazendo poli-tica, divulgou a lista dos in-

    diciados no inqurito policial-militar sobre o Partido Comu-nista, que presidiu. Trata-sedo notrio coronel Ferdinan-do de Carvalho, que arrolounomes de pessoas mortas aolado de dirigentes comunis-tas, de ex-comunistas, deindivduos que nunca fo-ram comunistas, e de per-sonalidades que le acusade por este ou aqu-le processo contribu-rem para ajudar o PartidoComunista. Nessa lista, o co-ronel incluiu o nome do sr.Negro de Lima, governadorda Guanabara, e de algunsdos seus auxiliares. Aprovei-tou o clima criado pelo pr-prio presidente da Repblicaao reiniciar o processo dascassaes de mandatos e dedireitos polticos e quando asfontes governamentais desen-cadeiam uma campanha de in-timidao das foras oposicio-nistas e dissidentes do movi-mento de 31 de maro, avi-sando que vai haver mais deuma centena de cassaes,alm de impugnaes de can-didaturas. A divulgao dessamonstruosa lista de indiciados mais um ato de guerra psi-colgica do que outra coisaqualquer. O coronel em qus-to pertence a uma mino-ria de militares com maniade perseguir adversrios reaisou imaginrios. At recente-mente, essa minoria no ti-nha condies para exibir-see reconquistar a notoriedadeperdida. Agora, porm, oexemplo veio de cima. paraque todos os demais ressenti-dos o sigam.

    Em tudo isso h um aspec-to a considerar. At anteon-tem, os deputados que foramcassados serviam, pelo menosno plano das hipteses, paraescolher o presidente da Re-pblica, para votar a reformaconstitucional e para tomaroutras providncias. Se novotaram no marechal Cos-ta e Silva foi porque noquiseram. De repente, fo-ram cassados, dois anos emeio depois de terem si-do ameaados de cassao.Por outro lado, o presidenteCastelo Branco, desta vez, nopode dizer que foi forado acassar mandatos, nem acusara chamada linha aura ou omarechal Costa e Silva. le

    prprio que resolveu efe-tuar tais cassaes, que pare-cem um fato decisivo para areabertura de uma crise queningum a no ser um pe-queno nmero de auxiliaresdo Governo desejava. Igno-ra-se o critrio adotado paratais cassaes. E o que pior ignoram-se os verda-deiros objetivos do Governo,ao desencadear essa crise in-conveniente, sob todos os as-pectos, para o Pas. Dizemos porta-vozes governamen-tais que o presidente est de-monstrando que no abrirmo de qualquer parcela desua autoridade e que entrega-r ao seu sucessor uma casarevolucionria bem arruma-da. Mas, na medida em quese intensifica no a autorida-de do Governo, mas o auto-ritarismo presidencial, maisremotas se tornam as possi-bilidades de arrumao dessacasa j desarrumada pornatureza, pois revoluciona-ria (ou contra-revolucion-ria) por origem. Governa-o presidente Castelo Brancodentro da tcnica do golpe deEstado permanente, s faltan-do mandar uma espcie deguarda vermelha s ruas, pa-ra quebrar vitrinas, monu-mentos e cabeas. Por en-quanto, limitou-se a quebraro mnimo de decoro que deviaexistir nas relaes do Exe-cutivo com o Legislativo, mes-mo sob o regime de exceoem que vive o Brasil.

    * * *

    Neste instante, prevalecemo personalismo e o subjetivis-mo, com a Nao inteira espera do ltimo caprichopresidencial. Preparam-se aslistas de cassaes, divulgam-se os rumores e as verses,espalham-se as ameaas. E oPas transforma-se, aos olhosdo mundo inteiro, noutra Na-o sob regime ditatorial, nadependncia das paixes deum homem, dos interesses deum homem, da solido dessemesmo homem.

    Mais uma vez, o Congressofoi ferido e o processo elei-toral tumultuado. Os depu-tados em campanha tm, ago-ra, algo mais importante a fa-zer: dar nmero Cmarapara que ela encontre na so-lidariedade as foras para de-fender suas prerrogativas.

    PATENTESAssociaes d?, classe dos homens de indstria

    vm reclamando, i 3cde fins da dcada de 1940, cen-tra monoplio qu., cm grande nmero de casos, seexe -ce indevidanr ite no campo da tecnologia. Por.-,lt i de conhecimento exato do prazo de vigncia le-gal de cartas-palntes, relativas a mtodos e pro-cos: os produtivos, e.s empresas e a Nao tm pagodesnecessariamente somas incalculveis a. seus pre-bnsos possuidores: originais.

    :se obstcul > disseminao do conhecimentotecnolgico, que tiera a produo Interna e logo aseguir pesa sobre a receita cambial do Pais acabace encontrar o se.i fim lgico. O ministro da Inds-tria e do Comrcio determinou a divulgao da lisadas patentes de inveno, modelos de utilidade, de-s;n.io ou modelo industrial, cujos prazos de vignciahajam expirado. A partir de 1951 ser feito levan-tamento dos patc:..es extintas ou que venham a ex-pir.r, cando--e ciincia ao Banco Central para efeitode controle do pagr.rnento de royalties pelo uso depatentes estrangeiras.

    A medida concretiza uma aspirao da indstria.Em alguns setores importantes desembaraa o campo atividade criadora dos tcnicos brasileiros, muitasvezes inibidos ou impedidos de inovar por motivosalheios sua capacidade inventiva. Veio a providn-cia na forma de Ordem de Servio do titular daquelaPasta, o que demonstra a pouca exatido do conceitode rigidez da administrao pblica. Demonstra o atoque possvel agir de modo conseqente, em ter-renos aparentemente intocveis, sem o receio de con-seqncias outras que no o beneficio da coletividade.

    Nos ltimos vinte anos, projetos de lei regulandoo uso de patentes estrangeiras foram apresentadosao Congresso e se perderam em suas gavetas. De-nnclas foram submetidas a organismos internacio-nais, inclusive as Naes Unidas. Movimentos de em-presrios esgotaram-se no esquecimento Intencionalda questo. Agora, uma simples Ordem de Servioresolve o problema.

    TTI CA

    Um porta-voz palaciano expli-cou ontem as cassaes como"ataque do Governo em defesada revoluo".

    APE OS

    No lanamento da nova sriede Obrigaes do Tesouro, o mi-nistro da Fazenda fz um apeloaos subscritores j ira que rom-1 rem esses papis por interesse ep;,l iotismo. Por interesse por-(!Ui ;'e trata de ama aplicaorenvel e por p

    ' riotismn por-que se destinam recuperaom. meira do Pai

    " as, como com ,ar esses tltu-los, quando no mesmo pronun-ciaicnto o s:r. Otvio Bulhesafiima r|iie os c suiridores jtm a sua renda quase que In-te: imenlc con.p .metida c ascm iryas se debai m com o pro-hiena da queda i-\ vendas?

    I or certo que o recurso docn"):v-timo pbli > volur.irlo o mais justo e a-ertado para ata 'a dn rr ;r ;",' das fi-nanas nacionais. Mas paraissu preciso que pblico eempresas tenham rendas epoupanas disponveis para essafinalidade. Mas dessas rendas jr-e encarregou de sua compressoa. polticas salarial, tributria e

    creditlcla. Portanto, por mais In-tersse e patriotismo que tenham,as empresas e o pblico ficamsem condies de responder aoapelo do ministro da Fazenda.

    MINISTRO

    Comentou-se muito, em todosos crculos polticos, o fato deque aparentemente nem o pre-sidente da Cmara nem o ma-rechal Costa e Silva tinham co-nhetimento prvio das cassaesde mandatos. Desse modo, pormeio desses comentrios, e:ca-pou reprovao geral o minis-tro da Justia, que h 24 horasdeclarara no existir processo decassao em cima da mesa domarechal Castelo Branco.?i

    ABASTECIMENTO

    Depois de importar carne ar-tentina, leite em p dinamarquse feijo mexicano, a COBAL es-tuda agora a compra no exteriorde sorgo e milho para alimenta-o de aves e animais.

    A importao de sorgo e ml-lho visa a complementar a es-ras-ez desse ltimo cereal, doqual exportamos, em fins de 1965e rono desse ano, cerca de 2G0mil toneladas. No para a o ir-racionalrmo da nossa polticade abastecimento. Vendemos omilho a US$ 53 a tonelada, quan-

    do o preo do saco do produto,para o mercado interno, oscila-va em torno de Cr? G.500. Com aescassez j anda ern torno de CrS9.500 e o milho importado custa-r ao consumidor cerca de Cr$11.000 por saco.

    Em resumo, a inexistncia de"oujfer stocks para regular oconsumo c o preo de artigosbsicos leva-nos a essa curi-sa posio: exportamos desorde-nadamente e, premidos pela ine-xistncia de uma poltica deabastecimento, importamos apreos sempre mais caros.

    ULICO

    Antes mesmo do conhecimen-to dos presidentes da Cmara edo Senado, o sr. Arnaldo Cer-deira j est de posse do textode reforma constitucional e tro-veja ameaas de um perodo cas-satrio que ir alm do delimita-do pelo AI-2.

    O sr. Arnaldo Cerdeira. antes,era ulico do sr. Ademar de Bar-ros. Quando este ltimo entravano ostracismo, o sr. Cerdeira,progressivamente, foi-se toman-do ulico do marechal CasteloBranco. E essa opo do mar-chal Castelo Branco, logo pelo sr.Cerdeira, demonstra tambm aestranha vocao de estimulosos ulicos.

    O modo pelo qual o ma-rechal Castelo Branco vol-tou a desferir os golpescassatrios chega a dar aimpresso de um exercciogratuito de violncia. Ofato que, mais uma veze at certo ponto inespera-damente, dez pessoas tive-ram os seus direitos poli-ticos suspensos por dezanos e/ou seus mandatoscassados. E mais umavez essas pseudopuni-es emergem sem que asvitimas exeram o direitode defesa, sem que se duma satisfao ao pblico arespeito dos motivos quelevaram o presidente daRepblica a concretizaraquelas medidas.

    Seria uma fria exibiode poder? Ou mais umlance de coao sobre aoposio, hoje, j toemasculada? difcil di-zer, de "plano, quando oprprio Governo nem se-quer fornece uma explica-o generalizante a respei-to do crime de cada cassa-do, ou de sua qualificaoem um desses dois termos,que, hoje, tombaram noanedotrio popular: cor-rupto ou subversivo.

    De qualquer forma, huma constatao' que seimpe, evidenciando umacontradio inarredvel: omovimento de 31 de maro,desfechado em nome dademocracia ameaada, foiconsumado para evitar apossibilidade de o sr. JooGoulart fazer algumas coi-sas, que, h mais de doisanos, o marechal CasteloBranco vem exatamentefazendo. O resto umaquesto de forma.

    Os cassados sem en-trar no mrito de serem ouno culpados pelos crimesa eles imputados, crimesesses jurdica e processual-mente desconhecidos pelamaioria do Pais se sen-tem evidentemente confor-tados pelo fato de que, nos o instituto das cassaesinexiste mediante outor-ga da Nao, como tam-bm pelo fato de que nooi a mesma Nao quemnomeou os cassadores. Mui-

    Crise & Cassaes

    tos at passam a ganhara simpatia popular. Trata-se de outra verdade inar-redvel.

    Por outro lado, ningumignora que, alm do discri-cionarismo imposto pelasarmas ao Pas, o Governomaneja poltica e eleitoral-mente com o dispositivocassatrio. s lembrarque esperou mais de doisanos para cassar o sr. Ade-mar de Barros, isto ,quando este ltimo passoua tomar uma atitude deoposio frontal ao Planai-to. s lembrar o ?scn-dalo que foram as cassa-es em cima da hora dedeputados da Assembliagacha, com o mero obje-tivo de evitar a vitria dacandidatura Cirne Lima eimpor a nomeao do sr.Perachi Barcellos. E, ago-ra, pouco antes das eleiespara o Legislativo, o Go-vrno corta novas cabe-as polticas, enfraquecen-do ainda mais esse fantas-ma de oposio que oMDB, e desmoralizando opresidente da Cmara Fe-deral, que garantira, coma sua palavra, a palavra dopresidente da Repblica deque no seriam cassadosquaisquer parlamentares.

    Afinal de contas, o ma-rechal Castelo Branco, emseu discurso de Campinas,no fizera a previso de quea ARENA haveria da obteruma vitria tleitoral? Ento,que saia a vitria, "na leiou na marra" como dizia osr. Brizola. Mas foi exata-mente para evilar uma op-o to primitiva como es-ta, entre a le' e a marra,que o sr. Brizola foi vareja-do para longe.

    E j que o presidenteaprecia tanto o aspecto for-mal das coisas, serin Inte-ressante mostrar como, amdio ou a lon"o pra?o. s-te formalis.no poder der-reter-se integralmente Poiso vcio de origem de taldiscricionarismo ser ca-

    Jos Lino Grnewald .paz de reverter em benef-cio daqueles cassados que,tendo crimes provados emseu dossier (e, aqui, fala-inos preferencialmente emcrimes de corrupo, pois asubverso comporta inme-ras latitudes subjetivas),em lugar de serem punidosmediante julgamento daJustia comum, podero,amanh, quando os temposmudarem, surgir diantedo povo exibindo as suasrespectivas carteiras decassados, com vistas a pol-pudos dividendos eleitorais.E ser uma prova de queo discricionarismo institu-clonalizado no traduz omelhor rendio para osmaus costumes polticos eadministrativos.

    Resta examinar o aspec-to essencialmente poltico,Isto , amoral, que possaser extrado dessa exibiode fora punitiva. E, aqui,cabe reconhecer que o ma-rechal Castelo Branco, emum ano, conseguiu car umareviravolta no controle m-ximo das rdeas do poder.Parece at que pretendeuprovar ar.tiga e hoje apa-rentemente esvaziada linhadura que le prprio, coma sua mansa e metdicaqueima de etapas, era o au-tntico linha dura. Basta,para isso, lembrar que, hcerca de um ano, em outu-bro de 1965, com o resul-tado das eleies diretaspara governadores, especi-almente na Guanabara eMinas Gerais, o cnefe doGoverno balanou com umacrise militar, no fim daqual projetou-se o mar-chal Costa e Silva como umdos fiadores do mesmo Go-vrno. E, em decorrnciadessa crise do inconfor-mismo com a posso de ai-guns dos eleitos, e que omarechal Castelo Brancose viu obrigado a baixar oAI-2. Mas este AI-2, emsuas mos, com o correr dotempo, foi-se virande comoum boomerang cortra ai-guns daqueles que o pres-sionaram.

    No decorrer dessa recom-posio de rdeas, o presi-dente da Repblica teve deaceitar a imposio da can-didatura Costa e Silva. Nohavia recursos polticos oumilitares para evit-la muito menos aquele expe-diente ormalista de sub-meter, no um, mas cinconomes, apreciao daARENA, A verdade que,mal ou bem, enquanto eraministro da Guerra, o ma-rechal Costa e Silva fala-va muito. Depois, com otempo, e medida em quechegavam prenncios decrises ou impasses, passoua incrementar paulatina-mente o silncio ttico. Osilncio, pelo menos, impe-de a existncia de pretex-tos para ser ferido. Mas,por outro lado, conduz aoesvaziamento. Hoje, isso i-ca indubitvel. Entre opresidente recm-nomeadoe o presidente em presu-mvel fim de mandato, apresena poltica deste l-timo muito mais incisi-va. Especula-se, inclusive,com a informao de queo marechal Costa e Silva,juntamente com o sr.Adauto Cardoso, foi umdos mais surpreendidos comas recentes cassaes. Mes-mo porque, no herdar oinstrumento cassatrio naforma do AI-2, se queainda ir herdar algumacoisa. Mas, enfii sendo ouno verdicos os fatos, tra-ta-se to-smente de lutae partilha entre dois mili-tari... pelo poder coisa

    . no diz respeito aoap '.oramento do regimeou dos costumes polticos.

    Neste tempo todo, o Go-\ _rno a; .nas funcionou po-llticamente no sentido deconsagrar aquilo que j es-tava latente: a dualidecientre poder civil e militar.Deu proeminncia a esteltimo e mais nada. E,. - isso me?a. j:.. davloi./icia das cassaes in-

    .._aais, vai cas. . umacoisa muito mn'. importar-te: a esperana coletiva deque alguma coisa se renvc.;se neste Pais .ue no

    isse a renovao da ve-

    lhice.

    1 $f A

    S uma perguntinha, chefe: como ler a lista toda dos indiciados em apenasmeia hora da Voz do Brasil?

    O jeito, tio mometio,

    ver a banda passar, can-tando coisas de amor. Poisde amor andamos todos

    precisados, em dose tal quenos alegre, nos reumanize,nos corrija, nos d pacin-cia e esperana, fora, ca-

    pacidade de entender, per-doar, ir para a frente. Amor

    que seja navio, casa, coisacintilante, que nos vacbiecontra o feio, o errado, otriste, o mau, o absurdo co mais que estamos viven-do ou presenciando.

    A orem, meus manos edesconhecidos meus, abrir a janela, abrir no,escancar-la, subir aoterrao como fz o velho

    que era fraco mas subiuassim mesmo, correr rua no rastro da menina-da, e ver e ouvir a banda

    que passa. Viva a msica,vira o sopro de amor quermisica c banda vm tra-zendo, Chico Buarque deHo!a?ida frente, e querestaura em ns hipoteca-dos palcios em runas,

    jardins pisoteados, cister-na secas, compensando-nos da confiana perdidanos homens e suas promes-sas, da perda de sonhos queo desamor puiu c Itrou, e

    que ao aora como o pa-let rodo de traa, a pele

    Imagem de amor

    A bandaC. D. A.

    escarifkada de onde fugiua beleza, o p no ar, na

    falta de ar.

    A felicidade geral com

    que foi recebida a passa-gem dessa banda to sim-

    pies, to brasileira e toantiga na sua tradio li-rica, que um rapaz de pou-co mais de vinte anos bo-tou na rva, alvoroandonovos e velhos, d bem aidia de como andvamosprecisando de amor. Poisa banda no vem entoandomarchas militares, dobra-dos de guerra, no convidaa matar o inimipo, ela notem inimigos, nem a feste-jar com uma pirmide decamlias e discursos asconquistas da v i o I ncia.Esta banda de amor, pre-fere rasgar coraes, nareceita do sbio maestroAuaclcto de Medeiros, fa-zendo penetrar neles o fogoque arde sem se ver, o con-tentamento descontente, ador que desatina sem doer,abrindo a ferida que di eno se sente, como expli-cov. um velho e imortal cs-

    pecialista portugus nessasmatrias cordiais.

    Men partido est toma-do, no sou da ARENAnem do MDB, sou dsse

    partido congregacional esuperior ds classificaesde emergncia, que encon-tra na banda o remdio, aangra, o roteiro, a soluo.le no obedece a clculosda convenincia moment-nea, no admite cassaesnem acomodaes paracvi-las, e principa7neteno um partido, mas odesejo, a vontade de tom-preender pelo amor, e deamar pela compreenso.

    Se uma banda sozinhafaz a cidade toda se en/ci-tar e provoca at o apare-cimento da lua cheia noce"u confuso c soturno, cri-vado de signoa ameaado-res, porque h uma be-leza generosa e solidriana banda, h uma Indica-o clara pura todos, osque tm responsabilidadede mandar e os que somandados, os que estocontando dinheiro e os que

    no o tm para contar emuito menos para gastar,os espertos e os zangados,os vingadores e os ressen-tidos, os ambiciosos e to-dos, mas todos os etecte-ras que eu poderia alinharaqui se dispusesse da p-pina inteira. Coisas de

    amor so finezas qne seoferecem a qualquer um

    que saiba cultiv-las e dis-tribui-Ias, comeando porquerer que elas floresam.E no se limitam ao jar-dinzinho particular de afe-tos que cobre a rea denossa vida particular,abrange terreno infinito,nas relaes humanas, nopas como entidade socialcarente de amor, no uni-verso-mundo onde a voz doPapa soa como uma trompalongnqua, chamando o ve-lho fraco, a mocinha feia, ohomem srio, o faroleiro.. todos que viram a banda

    passar, e por uns minutosse sentiram melhores. E seo que era doce acabou, de-

    pois que a banda pastou,que venha outra banda,Chico, e que nunca umabanda como essa deixe demustcaliza-r a alma da gen-te.

    BANCO BOAVISTA S. A.Uma completa organlzac-i

    bancria.?999