37
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Cel Inf JANILSON CAMPOS TEIXEIRA Rio de Janeiro 2020 O avanço do Primeiro Comando da Capital rumo à Região Norte do país e o papel do Exército Brasileiro para frear esta expansão.

Cel Inf JANILSON CAMPOS TEIXEIRA · 2020. 11. 27. · T266a Teixeira, Janilson Campos O avanço do Primeiro Comando da Capital rumo a Região Norte do país e o papel do Exército

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

  • ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

    ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

    Cel Inf JANILSON CAMPOS TEIXEIRA

    Rio de Janeiro 2020

    O avanço do Primeiro Comando da Capital rumo à Região

    Norte do país e o papel do Exército Brasileiro para frear

    esta expansão.

  • Cel Inf JANILSON CAMPOS TEIXEIRA

    O avanço do Primeiro Comando da Capital rumo à Região

    Norte do país e o papel do Exército Brasileiro para frear esta

    expansão.

    Policy Paper apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Política, Estratégia e Alta Administração Militar.

    .

    Orientador: Cel Inf PEDRO WINKELMANN SANTANA DE ARAÚJO

    Rio de Janeiro 2020

  • T266a Teixeira, Janilson Campos

    O avanço do Primeiro Comando da Capital rumo a Região Norte do país e o papel do Exército Brasileiro para

    frear esta expansão. / Janilson Campos Teixeira. 一2020. 38 f : il. ; 30 cm

    Orientação: Pedro Winkelmann Santana de Araújo.

    Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Poítica, Estratégia e Alta Administração do Exército)一Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2020.

    Bibliografia: f. 28-29 1. PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL. 2. AMAZÔNIA. 3. NARCOTRÁFICO. 4. FRONTEIRA. 5. EXÉRCITO

    BRASILEIRO. I. Título.

    CDD 355.4

  • Cel Inf JANILSON CAMPOS TEIXEIRA

    O avanço do Primeiro Comando da Capital rumo à Região

    Norte do país e o papel do Exército Brasileiro para frear esta

    expansão.

    Aprovado em de de 2020.

    COMISSÃO AVALIADORA

    ___________________________________________________ PEDRO WINKELMANN SANTANA DE ARAÚJO – Cel – Presidente

    Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

    ___________________________________________________ LUCIANO CORREIA SIMÕES – Cel – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

    ___________________________________________________ JUAREZ GUINA FACHINA JUNIOR – Cel – Membro

    Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

    Policy Paper apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Política, Estratégia e Alta Administração Militar.

  • SUMÁRIO EXECUTIVO

    O artigo objetiva descrever a expansão do Primeiro Comando da Capital (PCC)

    rumo à Amazônia Brasileira, bem como apresentar as ações realizadas pela Força

    Terrestre para frear este avanço e, também, expor a atual proposta de reestruturação

    estratégica do Exército Brasileiro, para fazer frente aos futuros desafios, entre eles o

    narcotráfico internacional. Observou-se, que o emprego da Força Terrestre, em

    complemento aos Órgãos de Segurança Pública (OSP), mostra-se como a melhor

    solução para enfrentar o problema em tela. Contudo, o aumento dos investimentos na

    área de Defesa, para continuidade dos Programas/Projetos Estratégicos e a

    concepção de novas capacidades, com o escopo mitigar a defasagem existente,

    torna-se fundamental para o sucesso no combate aos ilícitos transnacionais, na

    fronteira Norte do Brasil.

    1. Primeiro Comando da Capital. 2. Amazônia 3. Narcotráfico 4. Fronteira 5.Exército Brasileiro

  • RESUMEN EJECUTIVO

    El artículo tiene como objetivo describir la expansión del Primer Comando de la

    Capital (PCC) hacia la Amazonía brasileña, así como presentar las acciones llevadas

    a cabo por la Fuerza Terrestre para detener este avance y, también, exponer la

    propuesta actual de reestructuración estratégica del Ejército brasileño, para enfrentar

    desafíos futuros, incluido el tráfico internacional de drogas. Se observó que el uso de

    la Fuerza Terrestre, además de las Agencias de Seguridad Pública (OSP), se muestra

    como la mejor solución para enfrentar el problema que nos ocupa. Sin embargo, el

    incremento de inversiones en el área de Defensa, para la continuidad de Programas /

    Proyectos Estratégicos y la concepción de nuevas capacidades, con el objetivo de

    mitigar la brecha existente, se torna fundamental para el éxito en la lucha contra los

    ilícitos transnacionales, en la frontera norte de Brasil.

    1. Primer Mando del Capital 2. Amazonas 3. Narcotráfico 4. Frontera 5. Ejército

    Brasileño

  • 1. INTRODUÇÃO

    O tráfico internacional de drogas ilícitas representa a maior ameaça não

    tradicional à segurança do continente sul-americano, devido as suas consequências

    e conexão a diversos delitos, gerando graves problemas nas esferas política,

    econômica, social, ambiental e judicial de um estado nação.

    Os efeitos negativos podem ser observados, especialmente nas áreas de

    fronteiras, em virtude da sua grande vulnerabilidade, decorrentes da falta de

    assistência governamental e por serem influenciadas diretamente pela produção e

    circulação do comércio de entorpecentes.

    Pela sua característica fisiográfica, conectado a 10 países distintos, o Brasil

    evidencia uma situação muito difícil em relação a esses ilícitos, pois encontra-se

    ligado diretamente aos maiores produtores mundiais de droga (maconha e cocaína),

    como: Colômbia; Peru; Bolívia; e Paraguai. Todos estes países revelam-se como

    peças fundamentais no ciclo de produção, que vai do seu plantio até sua distribuição

    aos mercados consumidores.

    Nos últimos anos, as principais organizações criminosas brasileiras, vem se

    fortalecendo cada vez mais, em razão do alto fluxo comercial dessas drogas, com

    destaque para o Primeiro Comando da Capital (PCC), que além de revelar-se como a

    facção hegemônica do País, vem buscando ampliar seus tentáculos em toda a

    América do Sul. Inicialmente, dominando o PARAGUAI e BOLÍVIA, e, agora, com um

    ambicioso projeto de expandir-se para a região da Amazônia, controlando desta

    forma, um dos principais eixos de circulação de droga no continente, conhecido como

    Rota Solimões.

    O Exército Brasileiro como uma das principais instituições, presente no norte

    do País, cumprindo a sua missão constitucional, prevista no artigo 142º da

    Constituição Federal, vem realizando ações nos diversos níveis de planejamento

    (Tático, Operacional e Estratégico), tendo como um dos Objetivos Estratégicos da

    Força, Contribuir com o Desenvolvimento Sustentável e a Paz Social. Destarte,

    colaborando com os órgãos de Segurança Pública nas ações contra ilícitos

    transnacionais perpetrados na faixa de fronteira, bem como na proteção integrada de

    Estruturas Estratégicas. ( Pag 10, Port 1.986).

    Este trabalho tem como escopo abordar a temática da Segurança Pública do

    Brasil e sua conexão com a área da Defesa, levantando como situações-problemas,

    as seguintes: o PCC conseguirá estabelecer o domínio da Rota Solimões e controlar

  • os principais fluxos comerciais de entorpecentes que cortam o Brasil? Diante desta

    ameaça, o emprego do Exército brasileiro será a melhor solução, para mitigar o

    crescimento das ORCRIN, na Amazônia?

    As pesquisas qualitativa e quantitativa serão o aracabouço metodológico, para

    a realização deste estudo, uma vez que será trabalhada com valores, legislações,

    documentos, mapas, estatísticas, crenças, representações, hábitos e opiniões. Esse

    tipo de pesquisa será indutiva e descritiva à medida que conceitos, idéias e

    compreensões sejam desenvolvidos a partir dos padrões encontrados nos dados

    colhidos, através de pesquisa bibliográfica e documental. Ainda, será utilizado o

    método de Análise Morfológica, uma investigação prospectiva com o escopo de

    levantar o cenário mais provável, para os próximos 15 anos.

    O artigo está organizado em seis partes, além desta sucinta introdução. A

    segunda parte do estudo realizada através de uma revisão da literatura que visa

    apresentar linha temporal do surgimento, crescimento e a internacionalização do PCC.

    Na terceira parte, será apresentada a Rota Solimões, mostrando os principais eixos

    de escoamento das drogas que circulam pela Bacia Amazônica. Em seguida,

    explicaremos a metodologia utilizada no trabalho, para a realização da análise

    prospectiva e apresentando o Cenário do Narcotráfico no Brasil em 2035. A quinta

    parte, situará o leitor sobre o emprego das Forças Armadas, mostrando o arcabouço

    jurídico e os Projetos/Programas Estratégicos implementados, para frear o avanço do

    narcotráfico internacional na região Amazônica. Por fim, algumas conclusões sobre o

    assunto serão abordadas.

    2. O Primeiro Comando da Capital (PCC)

    2.1 Evolução da Facção

    Organizada como uma empresa ou verdadeira unidade militar, o grupo

    criminoso se divide em diferentes departamentos, incluindo três destacados

    exclusivamente para espalhar sua ideologia e expandir a organização em 03 (três)

    principais áreas: no interior paulista; nos demais estados do Brasil; e em outros países.

    Para uma melhor compreensão da eclosão do PCC, será exposto um histórico da

    organização, a seguir:

    O surgimento da maior facção criminosa brasileira ocorreu na Casa de Custódia

    de Taubaté, mais conhecida como Piranhão, em 1993, tendo como principal

  • idealizador Mizael Aparecido da Silva, mentor do primeiro estatuto da organização e

    Idemir Carlos Ambrózio, o SOMBRA, como primeiro líder do PCC (Nunes Dias, 2013,

    p. 211).

    No ano seguinte, iniciou a sua expansão nas penitenciárias paulistas, em uma

    primeira fase, a facção manteve-se na clandestinidade, ninguém a conhecia fora dos

    presídios. No entanto, os membros chaves da organização começaram a ser

    transferidos para outros presídios paulistas, especialmente o Carandiru, recrutando,

    assim, milhares de novos membros, conquistando a hegemonia do sistema prisional

    de São Paulo, passando a dominar 90% do sistema, um universo formado por

    aproximadamente 231 mil detentos.

    A expansão para o Mato Grosso do Sul e Paraná, iniciou em 1995, com a

    transferência de outros líderes fundadores, como: Cesinha (Cézar Augusto Roriz da

    Silva) e Geleião (José Marcio Felício), para as penitenciárias da região, estendendo-

    se assim o domínio da organização (Lacerda, 2017, p. 26). Destarte, somente em

    1997, a facção tornou-se pública do lado de fora das grades, ao ser citada por uma

    emissora de TV. Mesmo assim, o governo paulista se negava a admitir a existência

    do grupo.

    O ano de 1998 foi fundamental para o crescimento da Organização, pois

    ocorreu a estruturação do comando e controle da facção, passando a operar de dentro

    para fora dos presídio, através de um sistema de comunicação elaborado pelo

    canadense David Spencer, ex-membro do Movimento de Esquerda Revolucionário do

    Chile (MIR), que cumpria pena no Carandiru, condenado pelo sequestro do

    empresário brasileiro Abílio Diniz (Lacerda, 2017, p. 28). E foi ali que ele ajudou a

    transformar o modus operandi do PCC, montando um sistema por telefones celulares

    para que os membros da facção pudessem conversar entre si. Estruturadas nas casas

    de esposas e parentes dos presos, as centrais clandestinas revolucionaram o dia a

    dia e os negócios do PCC.

    Em 2001, o PCC orquestrou uma megarrebelião no estado de São Paulo,

    jamais ocorrida no país até então. Comandado por Sombra, a primeira megarrebelião

    assumiu simultaneamente o controle de 29 presídios e a morte de 16 detentos. Cinco

    meses depois, Sombra era assassinado, na mesma quadra onde nasceu a facção,

    em razão de uma disputa interna.

  • Marcos Willians Herbas Camacho, o MARCOLA, assumiu o comando do PCC,

    em novembro de 2002, após desentendimento com CESINHA e GELEIÃO, que

    lideravam o PCC desde de 2001, depois da morte de Sombra (Nunes Dias, 2013, p.

    285). O bandido subiu no conceito da irmandade ao comandar grandes assaltos ,

    roubando fortunas de bancos e transportadoras de valores. E foi assim que ganhou

    posições até se firmar entre os chefões, ainda, ao final da década de 90, assumiu o

    mais alto posto do PCC de onde nunca mais saiu.

    Em 15 de maio de 2006, após a onda de ataques contra agentes de segurança

    do Estado, o Primeiro Comando da Capital (PCC) deixou a população da maior

    metrópole da América do Sul atônita, amedrontada, acuada, em razão do pânico

    motivado pelas mortes em série, escolas, estabelecimentos comerciais, empresas

    fecharam mais cedo.

    Com MARCOLA no comando da organização a Facção cresceu e se sofisticou

    ainda mais, com ares empresariais, a Organização Criminosa começou a deixar em

    segundo plano os assaltos para fazer do tráfico de drogas o seu principal meio de

    sustentação ( Paes Manso, 2018).

    Observa-se que inicialmente, o principal modus operandi aplicado pelo PCC,

    baseava-se nos grandes assaltos aos estabelecimentos financeiros brasileiros (

    bancos e transportadoras de valor), com destaques: ao Banco do BANESPA em SÃO

    PAULO, com o roubo de 12 milhões de dólares e; ao Banco do Brasil, na cidade de

    FORTALEZA, capital do Ceará, roubando 55 milhões de dólares. Tudo orquestrado

    de dentro de um presídio. Estes roubos contribuíram para sustentar a organização

    criminosa.

    Além disso, a facção sempre recebeu recursos provindos dos donos das bocas

    de fumo e, também, das chamadas “Cebolas”, mensalidades pagas por todos os

    integrantes do PCC que estão fora das prisões, o que rende cerca de 7 milhões de

    dólares por ano (Lacerda, 2017, p. 27).

    Atualmente, o Primeiro Comando da Capital mostra-se como uma organização

    transfronteiriça, uma vez que conecta-se com os principais países produtores de

    drogas, mas encontra-se muito próximo de se transformar na primeira máfia criminosa

    brasileira. Para isso, falta à Organização a capacidade de lavagem de dinheiro, bem

    como de transformação destes recursos, já lavados, em outras atividades lícitas.

    De acordo com a opinião do promotor paulista Gaeco Lincoln Gakiya: "O PCC

    é uma autêntica organização criminosa. A lavagem de dinheiro do PCC ainda é

  • embrionária. Mas isso tende a acabar. Os presos da Operação Lava- jato, por

    exemplo, aqueles operadores de crimes financeiros, já estão sendo condenados em

    segunda instância" ( Adorno, UOL, 2019).

    2.2 Internacionalização da Facção.

    O tráfico de drogas é o negócio mais ágil do planeta, maneja milhões de dólares

    e dribla os órgãos de segurança nacionais e internacionais, adapta-se às mudanças

    de condições muito mais rapidamente do que os governos e as forças de segurança

    fazem. Ele aprende com seus erros no que é considerado o mais implacável e violento

    dos mercados ( McDermott, 2018, p. 04).

    O comércio de entorpecentes no mercado americano deixou de ser um bom

    negócio, os traficantes correm alto risco de serem interceptados, de terem seus bens

    confiscados e, em determinados países, serem extraditados. Além disso, os preços

    no atacado variam de US$ 20.000 a 25.000 por quilo. Desta forma é preferível colocar

    os olhos na Europa, onde um quilo de cocaína vale mais de US$ 35.000, ou na China

    (US$ 50.000) ou na Austrália (US$ 100.000). Os riscos são menores e os ganhos

    maiores. Então é um melhor negócio ( McDermott, 2018, p. 04).

    Nos últimos anos, tem sido constatado a existência de um esforço concentrado

    do Primeiro Comando da Capital (PCC) pelo controle das atividades criminosas na

    região de fronteira do Brasil, com os países vizinhos, tais como: Paraguai; Bolívia ;

    Peru; e a Colômbia.

    Figura 1: Preço da cocaína nos diversos países.

    Fonte: Insght Crime, 2016

    https://noticias.uol.com.br/operacao-lava-jato/

  • A primeira facção brasileira a expandir-se para outro país foi o Comando

    Vermelho (CV), sob a liderança de Fernandinho Beira-Mar, a facção associou-se a um

    importante produtor do Paraguai, a família Morel, e começou a enviar a droga

    paraguaia para os grandes centros consumidores brasileiros. No entanto, em 2001,

    Beira-Mar é preso na selva colombiana, abrindo caminho para o PCC entrar no

    Paraguai ( Ribeiro e Correia, p. 64, 2017).

    Somente, em 2005, que a facção inicia o seu ambicioso projeto de

    internacionalização. Naquele ano, uma reunião na mansão de um advogado

    paraguaio, no centro de Pedro Juan Caballero, com os principais líderes criminosos

    locais, como Jarvis Chimenes Pavão e Jorge Rafaat Toumani, marcou a entrada do

    PCC no Paraguai ( Ribeiro e Correia, p. 65, 2017)..

    Mas, foi na Bolívia, por volta de 2008, que o PCC fortaleceu o seu projeto de

    expansão, pois além de receber armas e munições passou a negociar cocaína. Devido

    à necessidade dos bolivianos escoarem a grande quantidade de droga produzida na

    região de Chapare, localizada na selva boliviana, para o mercado consumidor europeu

    e norte-africano, através dos portos brasileiros ( Itajaí, Santos, Salvador e Recife),

    fizeram um acordo com o PCC, onde a organização brasileira garantiria o fluxo da

    droga aos consumidores finais e, em troca, os bolivianos garantiriam o monopólio de

    toda a sua produção para o PCC ( Allan de Abreu, 2019).

    A grande facilidade de circulação da droga no Porto de Santos, por parte do

    PCC, favoreceu o escoamento da cocaína para o exterior. Até 2014, o PCC trazia a

    droga do Paraguai e Bolívia, apenas, para os grandes centros brasileiros, em especial

    São Paulo, e também para as ORCRIN do Rio de Janeiro. Entretanto, no mesmo ano,

    a Polícia Federal detectou, pela primeira vez, remessas de cocaína do PCC, para a

    máfia italiana Ndrangheta e para o Porto de Vera Cruz, no México, área de atuação

    do Cartel Los Zetas, maior organização criminosa do mundo, caracterizando o

    envolvimento do Primeiro Comando da Capital na exportação de drogas ( Allan de

    Abreu, 2019).

    A produção da cocaína boliviana foi aumentando cada vez mais e a estrutura

    logística de transporte do PCC, empregando aviões e helicópteros mostrava-se

    ineficiente. A região de fronteira entre os dois países, em virtude dos aspectos

    geográficos, tornava-se extremamente difícil, por isso que o transporte era realizado

    pelo modal aéreo. Destarte, a utilização das rodovias seria fundamental, para

    possibilitar fluxo da grande produção da cocaína boliviana ( Allan de Abreu, 2019).

  • As rodovias paraguaias eram o principal corredor, que possibilitaria aumentar

    a quantidade da droga boliviana aos portos brasileiros. Assim sendo, o domínio do

    Paraguai seria um fator estratégico para o crescimento da Organização, entretanto, o

    território paraguaio já possuía suas lideranças criminosas locais, entre elas

    encontrava-se o traficante Jorge Rafaat, chamado de Rei da Fronteira, considerado

    um dos barões do tráfico internacional de drogas e armas na fronteira.

    O Rei da Fronteira tentou expandir o seu negócio, para o mercado consumidor

    brasileiro, monopolizado pelo PCC e CV. Assim, em junho de 2016, na cidade

    paraguaia de Pedro Juan Caballero, fronteira com o Mato Grosso do Sul, ele foi

    assassinado pela facção. Com isso, o PCC passou a controlar a principal rota de

    entrada para o território brasileiro, também conhecida como Rota Caipira, realizando

    a conexão entre os países produtores de maconha, cocaína e pasta-base e, ainda, os

    que comercializam armas, como a Bolívia e o Paraguai.

    Após o controle da fronteira com o Paraguai, o Primeiro Comando da Capital

    consolidou a coalisão internacional, agora auto denominando-se de NARCOSUL.

    Apesar de o termo ainda não estar no estatuto da facção, o nome foi dado pelos

    criminosos ao “novo PCC”.

    Figura 2 – Mapa do comércio de drogas na América do Sul

    Fonte: Revista Exame, 2018

    http://calle2.com/guerra-e-paz-na-fronteira-do-brasil-com-o-paraguai/http://calle2.com/guerra-e-paz-na-fronteira-do-brasil-com-o-paraguai/

  • Cada país tem um papel central no chamado NARCOSUL. PERU, COLÔMBIA

    e BOLÍVIA são os três maiores produtores mundiais de cocaína, pasta base e outros

    derivados da folha de coca. O PARAGUAI lidera o cultivo de maconha na região. O

    BRASIL é ao mesmo tempo o segundo no ranking mundial de consumo de cocaína e

    derivados e o principal entreposto para a Europa e a África. Mas, todos eles

    compartilham os três elementos essenciais que permitem a operação da rede de

    drogas: corrupção de agentes públicos, a ausência do Estado nas fronteiras e a falta

    de cooperação efetiva entre os sistemas judiciais.

    Após o acordo de paz firmado entre as Forças Armadas Revolucionária

    Colombiana (FARC) e o seu governo, em 2016, o grupo guerrilheiro que dominava

    cerca de 70% das áreas de produção de coca no país, deixou um vazio de poder no

    centro do comércio de drogas, bem como aumentou a oferta de mão de obra

    qualificada, vocacionadas aos delitos transnacionais.

    Isso ocorreu, porque boa parte dos integrantes da FARC não aderiram ao

    processo de paz e permaneceram no crime organizado, os permanecentes foram

    divido em três bandas criminais: FARC Ocultas, ex-integrantes considerados chaves

    da organização, onde atualmente, manejam as finanças e as propriedades deixadas

    pela guerrilha; FARCRIN, autodenominando-se de “ Gente del Ordem”, continuam

    com suas atividades criminais em suas antigas áreas de atuação, como Nariño, região

    de cultivo e debruçada junto ao Oceano Pacífico; e os Dissidentes, que controlam as

    áreas produtoras de Caquetá, Putumayo Guaviare e Vachada, além de atuar

    diretamente na fronteira com Brasil.

    O PCC vem buscando recrutar elementos pertencentes ao grupo dos

    Dissidentes, que cultivam e produzem a cocaína próximo à fronteira brasileira.

    Contudo, o referido grupo, atualmente, é o principal parceiro da facção Família do

    Norte, colaborando com a segurança no transporte da droga colombiana, pelo rio

    Solimões, até a cidade de Manaus.

    Outra organização colombiana que o PCC busca aliança é o Exército de

    Libertação Nacional ( ELN), com o objetivo de viabilizar o tráfico de drogas e fazer

    com que a cocaína chegue a Manaus, por meio da Venezuela, haja vista que o ELN

    controla as antigas áreas de produção das FARC no Norte de Santander e Arauca.

    próximo à fronteira venezuelana. Todavia, no momento, o grupo guerrilheiro possui

    forte ligação com o Comando Vermelho.

  • Apesar dos Dissidentes da FARC e o ELN possuírem, no presente, parceiras

    com grupos rivais, o PCC vem buscando maior aproximação, pois estas alianças

    serão fundamentais para o ambicioso plano da facção em dominar a porção norte do

    Brasil.

    Já a internacionalização do processo de distribuição da droga, na Europa, é

    realizada pelas máfias servia e italianas, Ndrangheta ( da Calábria), e Camorra, (de

    Nápoles), todas aliadas ao PCC. Segundo Laurent Laniel, analista do setor de

    mercados, crimes e redução de fornecimento do Observatório Europeu da Droga e da

    Toxicodependência (EMCDDA), “as máfias italianas tem capacidade de trazer

    grandes quantidades de drogas e distribuí-las na Europa, porque tem uma rede

    grande de contatos no Brasil e em países produtores de cocaína e cooperam com

    organizações criminosas de outros países europeus, como França, Alemanha,

    Holanda e Reino Unido".

    De acordo com a subprocuradora-geral da República Luiza Frinscheisen,

    coordenadora da Câmara Criminal do MPF, para a droga chegar no Velho Continente

    são empregados duas rotas principais: a direta para Europa e a que passa por países

    africanos. Na primeira, a droga chega em navios, aviões de carga ou com "mulas" –

    que levam a mercadoria escondida no corpo ou na bagagem. Apesar da vantagem do

    desembarque da mercadoria direto no país de destino, a via aérea é menos utilizada

    por traficantes brasileiros. A cocaína costuma ser embarcada nos portos de Santos e

    Paranaguá, entre outros. Seu destino são portos em Portugal, Espanha, Alemanha,

    Holanda, Bélgica, Itália, França e Reino Unido, com destaque para o porto holandês

    de Roterdã, onde grandes apreensões foram feitas nos últimos anos.

    A segunda rota utilizada por traficantes brasileiros é mais sofisticada e inclui

    países da África Ocidental como pontos de trânsito. Através do caminho que ficou

    conhecido como Rodovia 10, em referência ao paralelo 10, a cocaína é transportada

    do Brasil à costa ocidental africana, e de lá segue para a Europa.

    Assim como no caminho direto, a droga é escoada, principalmente, em navios,

    descarregada em portos ou na costa antes de atracar. Os países de entrada são,

    principalmente, Guiné, Guiné-Bissau, Gana e Nigéria, além de Cabo Verde e Ilhas

    Canárias

    Outra base importante na África é Moçambique, uma rota de cocaína

    procedente do Brasil, que chega por avião a Maputo, e o haxixe e a heroína que vêm

  • do Paquistão e Afeganistão, respectivamente, por via marítima, com a finalidade de

    alimentar o mercado sul-africano ou seguir para a Europa.

    Com o propósito de controlar a chegada da droga no continente africano e seu

    envio para a Europa, nos mesmos moldes que controlou na América do Sul nos

    últimos dez anos, Gilberto Aparecido dos Santos, o FUMINHO, considerado braço no

    comércio internacional do PCC, já administrava parte do tráfico local de drogas e de

    armas, em associação com organizações criminosas locais. Foi preso em abril de

    2020 , em uma operação conjunta entre o Serviço Nacional de Investigação Criminal

    (SERNIC), de Moçambique, O Órgão de Combate às Drogas dos Estados Unidos

    (DEA) e Polícia Federal Brasileira.

    Para Rafael Alcadipani, professor de Gestão Pública da FGV (Fundação

    Getúlio Vargas) e especialista do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, "a prisão do

    Fuminho é um terremoto para o equilíbrio interno do PCC e pode afetar o controle do

    PCC na importação de parte da cocaína para o Brasil. Deve haver uma longa

    acomodação a esta situação com muitas consequências para o crime organizado no

    Brasil”.

    O traficante era fundamental para o funcionamento do PCC, coordenava a

    droga que era produzida na Bolívia e enviada para o Brasil, bem como o seu envio

    para os países europeus, peça-chave nos negócios entre a ORCRIN e as máfias

    servia e italianas, em especial a Ndrangheta, tida atualmente como uma das maiores

    organização criminosa do mundo.

    A prisão de FUMINHO poderá trazer consequências graves para o Primeiro

    Comando da Capital: a primeira, refere-se ao abalo financeiro da facção, que terá seu

    tráfico de cocaína extremamente prejudicado; brigas internas na busca pela liderança

    da ORCRIN, uma vez que MARCOLA sai enfraquecido com a prisão do seu homem

    de confiança, fora dos presídios e; por último, a possibilidade do traficante buscar uma

    delação premiada, expondo os planejamentos futuros do PCC.

    3. A disputa pela Rota Solimões

    A consolidação do Brasil como uma das principais rotas de tráfico da cocaína

    produzida nos Andes para a Europa era uma questão de tempo. Com o aumento da

    repressão ao tráfico nos países antes utilizados como rota da droga para a Europa,

    como México, Panamá e República Dominicana, os traficantes que operam na

  • América Latina tiveram de encontrar outros caminhos. Os cerca de 17 mil quilômetros

    de fronteiras do Brasil com dez países sul-americanos, até agora muito pouco

    vigiados, e a ineficácia das políticas de prevenção e combate às drogas facilitaram a

    escolha dos criminosos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2010, p. 82).

    Com o aumento da repressão ao tráfico nos países acima citados utilizados

    como rota da droga para a Europa e Estados Unidos, o território brasileiro passou a

    compor o roteiro do tráfico internacional de drogas, escoando boa parte da cocaína e

    maconha consumidas na Europa oriundas da região andina. As fronteiras nacionais se

    transforam em um “menu” com grande variedade de rotas, sendo que os principais

    fluxos de escoamento são: o corredor da Amazônia e do Centro-oeste. O estudo em

    tela se focará na região amazônica, a denominada Rota Solimões.

    A região amazônica possui todas as condições necessárias para que as

    ORCRIN a utilizem como local de passagem da droga: localização geográfica próxima

    aos principais produtores ( Peru e Colômbia); fronteiras instáveis decorrentes da

    dificuldade de impedir atividades ilícitas; e a grande quantidade de rios utilizados como

    locais de escoamento de mercadorias, sobretudo a bacia amazônica, que leva direto

    aos países andinos.

    Segundo Ishida (2006 p. 4), é nesse ambiente de enorme proporção territorial

    e de baixa densidade demográfica, onde a ausência do Estado chega a ser uma regra

    e não uma exceção, que identificamos a ação de grupos adversos que se aproveitam

    da densa floresta para acobertar inúmeras atividades ilícitas, utilizando-se de rotas

    aéreas, terrestres e fluviais clandestinas para transportar toda sorte de droga,

    contrabando, armas e munições.

    Desta forma, a Rota Solimões, atualmente, apresenta-se como a mais

    disputada entre as facções criminosas, pois além das características fisiográficas já

    apresentadas, permite a conexão mais curta e lucrativa para o mercado europeu, onde

    a droga atinge preços estratosféricos. A fronteira aberta entre Brasil, Peru e Colômbia,

    com rios e florestas é de aproximadamente 213.281.229 km2, o que dificulta muito o

    controle social. Em toda a região existe a cooptação para a criminalidade entre as

    populações ribeirinhas e indígenas para o transporte da droga, mais de 220 (duzentos)

    mil pessoas vivem nos municípios de Alto Solimões.

    Dos países andinos até a Amazônia brasileira podem ser utilizadas estradas

    ou transporte aéreo, através de pistas clandestinas. No entanto, após atravessar a

  • fronteira brasileira, os traficantes têm usado o transporte aquático de forma mais

    intensa, em virtude do monitoramento realizado pelo Projeto SIVAM. Drogas já foram

    encontradas dentro de peixes, artesanatos e em estruturas de navios. Apenas o Rio

    Solimões tem 1.700 km de extensão, até chegar a Manaus, onde se encontra com o

    Rio Negro, daí recebe o nome de Rio Amazonas. A bacia amazônica possui, ainda,

    diversos afluentes.

    Figura-3 Redes e fluxo de drogas na Amazônia

    Fonte: Polícia Federal,2016

    A Família do Norte (FDN) aparece como principal protagonista desta rota, pois

    detém o seu controle, em especial no estado do Amazonas. Inicialmente, aliou-se ao

    Comando Vermelho, para fazer frente ao poderio do Primeiro Comando da Capital, na

    região Norte do país. Entretanto, em 2018, esta parceria foi desfeita, após

    desentendimento entre as lideranças das facções.

    O PCC na busca de aumentar a sua margem de lucro e consolidar o controle

    do fluxo de droga que entra no país, partiu para luta na região Norte. As disputas pela

    hegemonia, nesta porção do território nacional, levaram a um dos maiores

    espetáculos de barbárie transmitidos por Whatsapp. A FDN matou 56 membros do

    PCC no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus.

  • Com o escopo de dominar, também, o corredor localizado na bacia

    amazônica, o PCC aliou-se a Família do Coari (FDC), conhecidos como Piratas da

    Amazônia. A cidade de Coari tornou-se uma base para a maior ORCRIN brasileira,

    facilitando o transporte dos entorpecentes e proporcionando ataques aos

    carregamentos da FDN, antes de chegar à Manaus. A complexa dinâmica do crime

    levou, por sua vez, a FDN se aliar aos dissidentes das FARC, com o propósito de

    garantir a chegada da droga até o seu destino final, como já foi dito anteriormente.

    A Rota Solimões segue em disputa, com o ingresso de novos atores e armas

    cada vez mais pesadas, para se impor ao oponente. A presença do PCC incrementou

    a violência e a quantidade de drogas transitando na região Norte, expondo a

    necessidade de uma maior interferência do Estado brasileiro, na porção norte do País

    4. Cenário mais Provável do Narcotráfico no Brasil para 2035

    Com o objetivo de contextualizar os desafios que as áreas de Segurança e a

    Defesa enfrentarão nos próximos anos, relativo ao narcotráfico, caso se mantenha a

    atual Política de Segurança Pública do país, foi construído o cenário mais provável

    para 2035.

    Para fins acadêmicos realizou-se um exercício simplificado, da metodologia de

    criação de cenários prospectivos, denominada Análise Morfológica, segundo Heuer

    Jr. e H. Person ( 2010, p.126) é um método muito utilizado quando se trata de

    problemas complexos, não ponderáveis e que a probabilidade de que se produzam

    surpresas é significativa. Se pode usar para identificar, por exemplo, possíveis

    variações de uma ameaça, as distintas formas em que se pode surgir uma crise entre

    países, as diferentes maneiras em que um grupo de forças motrizes podem relacionar-

    se entre si ou toda a gama de resultados potenciais em qualquer situação ambígua.

    A seguir serão apresentados a forma sucinta como foi conduzida a construção

    do referido cenário prospectivo:

    a. Formação da Equipe de Especialistas, com base na experiência de cada

    componente sobre o tema, levantando variáveis-chave em relação à tendência do

    comércio de drogas na fronteira amazônica brasileira (exposta no Anexo A);

    b. Ponderação das variáveis relatadas, através da Consulta DELFH (exposta no

    Anexo B);

  • c. Configuração para cada variável e outra Consulta DELFH ( exposta no Anexo C),

    com o propósito de levantar o índice de relevância de cada variável;

    d. Análise morfológica para determinação de cenário (exposta no Anexo A); e

    e. Escrituração do cenário mais provável, para 2035, sobre o Narcotráfico no Brasil,

    a seguir:

    A conquista da rota de tráfico BRASIL-PERU-COLÔMBIA, com o comércio

    ilícito da melhor droga produzida no continente, o PCC duplicará os lucros além de

    conquistar o domínio nesta porção sul-americana, antes gerenciadas por grupos

    rivais, consolidando assim a sua expansão regional. Ainda, os antigos simpatizantes

    da FARC, antes aliados da Família do Norte, passarão a integrar a facção,

    fortalecendo-a em pessoal qualificado e pesados armamentos.

    O panorama econômico vivenciado pelos países da América do Sul

    apresentará colapsado, com total desaceleração de suas economias, agravado com

    a pandemia da Covid-19, em 2020. Tal fato, aumentará os problemas sociais e

    políticos, devido à elevação das taxas de desemprego, corrupção, aumento da

    economia informal e da criminalidade, entre outros. Tudo isso, provocando o

    enfraquecimento do estado brasileiro tornando-o cada vez mais débil em resolver o

    problema do comércio ilegal de drogas, tanto internamente como na sua região de

    fronteira. Condições que favorecerá consideravelmente o recrutamento e, por

    consequência, o fortalecimento do PCC.

    Além disso, a falta de recursos provocada pela crise econômica dos países

    diminuirão a realização de operações de fiscalização e combate à droga, bem como

    a falta investimentos em ciência e tecnologia para a compra de equipamentos de

    monitoramento, mostrando a total debilidade do estado em se fazer presente na

    região. Tal fato, facilitará o escoamento da droga, armamento e pessoal por essas

    áreas, colaborando para o lucro e crescimento das organizações criminosas.

    Outro grande problema enfrentado para o combate a expansão regional do

    PCC, diz respeito ao sistema penitenciário brasileiro, que vem aumentando a sua

    demanda nos últimos tempos. Entretanto, o país não está acompanhando este

    crescimento, com construção de novos presídios, o déficit de vagas provocará uma

    superlotação e uma grande crise no sistema prisional do país. Tal fato, agravará a

  • falta de estrutura do sistema carcerário, facilitando à expansão do PCC dentro dos

    presídios e aumentando a sua liberdade de ação no comando e controle das

    operações realizadas pela facção, de dentro para fora das casas prisionais e vice-

    versa.

    As condições de trabalho dos policiais, em especial nas regiões consideradas

    vulneráveis ( fronteiriças), são as piores possíveis, desde baixos salários até a falta

    de armamento eficientes e equipamentos de proteção, colocando em risco a vida

    destes profissionais, o que provoca o desestímulo profissional da maioria da

    corporação, facilitando o suborno e a inserção destes militares ao crime organizado.

    A grande quantidade de policias recrutados pelo PCC facilitará a circulação de drogas

    ilícitas pela faixa de fronteira e aumentará a liberdade de ação dos meliantes.

    O engajamento das Forças Armadas em operações de repressão e prevenção,

    na fronteira brasileira, serão constantes, em especial na Região Amazônica, em apoio

    ou preenchendo as lacunas deixadas pelos Órgãos de Segurança Pública. Entretanto,

    em virtude da falta de recursos direcionados para a execução dos Programas/Projetos

    Estratégicos do Exército, como o SISFRON e Amazônia Protegida, ao longo dos anos,

    ocorrerá o sucateamento dos equipamentos e armamentos militares, bem como a

    precariedade das infraestruturas vocacionadas à Defesa, comprometendo assim, o

    cumprimentos das operações.

    Nesse diapasão, o cenário prospectivo para 2035 revela os desafios futuros

    que as áreas de Segurança e Defesa enfrentarão nos próximos anos. Assim sendo,

    mostra-se prudente, por parte das autoridades políticas do País, vocacionar maior

    atenção para ambos os setores, com o objetivo de evitar a ocorrência das ameaças

    levantadas no cenário ora construído.

    5. Emprego das Forças Armadas na Fronteira Amazônica

    No Brasil, o emprego das Forças Armadas no combate ao narcotráfico iniciou

    com a Lei Complementar nº 97/99, que conferiu o chamado poder de polícia ao

    Exército, permitindo a mobilização de militares para funções de segurança pública,

    que posteriormente foi alterada pela Lei Complementar n° 117/04, ambas atribuindo o

    poder de polícia às Forças Armadas de forma preventiva e repressiva na faixa de

    fronteira.

  • Contudo, a partir de 2010, a Política Nacional de Defesa (PND) começou a

    ver o narcotráfico como uma ameaça potencial à soberania e aos interesses

    nacionais, passando para agenda de defesa nacional. Desde então, há um aumento

    significativo no emprego das Forças Armadas na segurança pública. A Lei

    Complementar nº 136/10, no Inciso VII do Art. 9°, destaca-se a “ênfase no

    envolvimento no tráfico de drogas, armas, munições e passageiros ilegais, agindo em

    operação combinada com organismos de fiscalização competentes” (BRASIL, 2010).

    Com a criação, também em 2010, da Estratégia Nacional de Defesa (END),

    surgiu duas grandes iniciativas orientadoras para proteção das fronteiras: o Sistema

    de Monitoramento Integrado de Fronteiras (SISFRON), iniciado em 2012, que visa

    monitorar toda fronteira através da presença de tropas, de aeronaves tripuladas e não-

    tripuladas, radares, equipamentos de Comando e Controle, modernização dos

    materiais das Organizações Militares já existentes e pelo compartilhamento de

    informações de forma integrada com os órgãos de segurança pública; e o Plano

    Estratégico de Fronteiras (PEF), criado em 2011, formado por duas operações,

    Sentinela e Ágata. Esta última, sob coordenação do Ministério da Defesa, ocorre pelo

    menos duas vezes por ano e conta com destacada participação do Exército, que atua

    com grande efetivo e material em Operações de Garantia da Lei e da Ordem em toda

    faixa de fronteira do país (SCHERMA, 2016, p. 73).

    Atualmente, alinhado com a Política Nacional de Defesa e a Estratégia Nacional

    de Defesa a Força Terrestre inseriu, no seu Sistema de Planejamento Estratégico do

    Exército (SIPLEx), Objetivos Estratégicos vocacionados para ampliar e fortalecer as

    Capacidades Operativas das Organizações Militares, sediadas na Amazônia, tudo

    com o escopo de fazer frente as diversas possibilidades de emprego, entre elas, o

    combate ao narcotráfico internacional.

    O SIPLEx é um planejamento de gestão estratégica apoiado em cenários

    prospectivos, que norteia o Exército Brasileiro para a situação que deseja chegar no

    futuro, a curto e médio prazo, a partir da atual situação a que se encontra. Apresenta,

    em uma de suas fases finais de planejamento ( Fase 5), o Plano Estratégico do

    Exército (PEEx), que consolida as estratégias e ações estratégicas, levantadas nas

    fases anteriores de planejamento, a serem adotadas pela Instituição, para o alcançar

    seus objetivos, além dos Projetos Estratégicos e seus respectivos responsáveis. O

    atual PEEx direciona o esforço dos investimentos da Força para o quadriênio 2020-

    2023.

  • Um dos principais Objetivo Estratégico existente no referido Plano, “Contribuir

    com a Dissuasão Extrarregional”, levanta como uma das Ações Estratégicas para o

    seu cumprimento, a rearticulação e reestruturação da Força Terrestre na Área

    Estratégica da Amazônia, ratificando assim a grande importância que a Região Norte

    representa para o Exército Brasileiro. Em seguida, serão abordados os principais

    Programas/projetos direcionados para a referida região, presentes no PEEx.

    O primeiro projeto apresentado é o Programa Estratégico Amazônia Protegida,

    que tem como escopo aumentar o poder militar terrestre, na faixa de fronteira da

    Amazônia, ampliando e reestruturando as Capacidades Operativas da Força

    Terrestre, para melhor atuar junto aos demais órgãos de segurança, em Operações

    Interagências. Abaixo, serão apresentadas as atividades e ações estratégicas do

    Programa em tela:

    a. Adequação da infraestrutura das organizações militares sediadas no âmbito do

    Comando Militar da Amazônia (CMA) e Comando Militar do Norte (CMN), para melhor

    coordenar as possibilidades de emprego da Força;

    b. Implantação do Comando Militar do Norte em Belém-PA, assim como o seu núcleo

    de Guerra Eletrônica com a criação do 2º B Com GE Sl;

    c. Implantação da 22ª Bda Inf Sl, em Macapá-AP, ampliando a Capacidade de Ação

    Terrestre e Suporte a Projeção da Força no estado do Amapá .

    d. A Implantação do 12º GAAAe Sl em Manaus-AM, reforçando a Capacidade de

    Defesa Antiaérea, na Região Norte do país.

    e. Implantação do 7º Batalhão de Polícia do Exército, em Manaus-AM. Ampliando a

    Capacidade de Apoio a Ação de Estado, atuando na proteção junto à sociedade

    amazonense.

    f. Implantação do 2º Batalhão Logístico de Selva, em São Gabriel da Cachoeira-AM,

    transformação da 17ª Ba Log Sl em 17º B Log Sl, em Porto Velho-RO e transformação

    do Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (CECMA) em 12º

    Batalhão de Transporte de Selva, sediado em Manaus, readequando a Capacidade

    Logística Regional para garantir a sustentabilidade das possíveis operações militares.

    Ademais, propostas de transformação do 12º Esqd C Mec em OM, valor

    Regimento e do 7º BIS em Btl Tipo III, ambos localizados em Roraima; da 3ª Cia FE

    em Batalhão de Operações Especiais, sediada em Manaus, aumentarão a

    concentração de militares na Região, bem como fortalecimento da Capacidade de

  • Superioridade de Enfretamento. Entretanto, tais medidas aguardam recursos

    provenientes de Ação Orçamentária, para serem colocadas em prática.

    Outro Programa Estratégico, já comentado anteriormente, que atualmente

    merece destaque, é o SISFRON, através da portaria nº 512- EME, de 11 de dezembro

    de 2017, o Estado Maior do Exército reforçou o referido Programa na porção norte do

    País, aprovando a Diretriz de Implantação do Programa Estratégico do Exército

    Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras – PrgEE SISFRON. O documento

    traz em seu escopo, um calendário faseando a implementação do Projeto. A primeira

    fase teve início em 2018, com a implantação do Programa nos Pelotões Especiais de

    Fronteira (PEF) do Comando Militar da Amazônia (CMA), mais especificamente no

    Comando de Fronteira Solimões/8º Batalhão de Infantaria de Selva, que abarca 04

    (quatro) PEF, distribuídos nas principais rotas de entrada na fronteira com a Colômbia.

    A proposta da implantação do PrgEE SISFRON foi incrementar a capacidade

    de sensoriamento, monitoramento e mobilidade dos pelotões, permitindo a

    identificação da ocorrência de ilícitos com antecedência e oportunidade, e ofertando

    maior tempo para a preparação de uma resposta eficiente e segura. Os Pelotões

    Especiais de Fronteiras receberão um Módulo Especial de Fronteira (MEF), composto

    por modernos meios de sensoriamento e de mobilidade, tais como: binóculo CORAL

    CR (Visão termal), monóculo de visão noturna, radar SENTIR M-20, embarcação

    GUARDIAN, e adequados meios de comunicação.

    Dentro do SIPLEx, o SISFRON propõe as seguintes atividades a serem

    realizadas, na fronteira norte brasileira:

    a. Implantação do SISFRON na área da 2ª, 16ª e 17ª Bda Inf Sl, sediadas

    respectivamente em São Gabriel da Cachoeira-AM, Tefé-AM e Porto Velho-RO;

    b. Transformação do 1º B Com Sl em 1º Batalhão de Comunicações e Guerra

    Eletrônica de Selva (1º B Com GE Sl), sediado em Manaus, e transformar o Núcleo

    do Centro Regional de Inteligência dos Sinais (NuCRIS) do CMA em Nu Cia GE do 1º

    B Com GE Sl, ampliando a Capacidade de Comando e Controle;

    c. Implantar o Centro Regional de Monitoramento (CRM) do CMA, em Manaus,

    reestruturando a Capacidade de Comando e Controle no Comando Militar da

    Amazônia .

    Além disso, inserido no PEEx encontra-se o Projeto LUCERNA, apresenta

    como proposta, alcançar a Superioridade das Informações, importante Capacidade

    Operativa, para fazer frente aos crimes transfronteiriços, pretendendo implantar,

  • também, um Núcleo de Companhia de Inteligência Militar no CMA, na cidade de

    Manaus, colaborando para a busca e análise da informação.

    Outros projetos estratégicos do Exército são o Sentinela da Pátria e

    Combatente Brasileiro, todos com objetivo de aumentar a presença do Estado na faixa

    fronteira com implantação, modernização e aquisição de materiais para as Unidades

    Militares (FAGUNDES, 2019, p. 132).

    As operações coordenadas pelo Ministério da Defesa (MD), como a Operação

    Ágata, momento em que as 03 (três) Forças Singulares atuam em conjunto, mostram-

    se bastante eficazes no combate aos crimes transfronteiriços, diminuindo

    sobremaneira as ações delituosas, haja vista, a somatória de capacidades adquiridas

    com o engajamento das Forças atuando em conjunto.

    Desta maneira, para uma melhor readequação das Capacidades Operativas, o

    MD vem buscando pautar o seu Planejamento Estratégico, no Planejamento Baseado

    em Capacidade (PBC), com o escopo de diminuir as lacunas e excedentes de

    capacidades entre as Forças Singulares.

    Além disso, o PBC revela-se como uma importante ferramenta de

    sensibilização do nível político, para a distribuição dos investimentos orçamentários

    do Governo Federal, possibilitando, assim, a concessão de maiores aportes de

    recursos à área de Defesa. Com isso, muito facilitará a aquisição de novas

    Capacidades Operativas, necessárias para contrapor-se aos desafios evidenciados

    no provável Cenário 2035, construído neste artigo, além de outras Possibilidades de

    Atuação (PA), de médio (5 a 12 anos) e longo prazo (15 a 20 anos), descritas pelo

    próprio Ministério da Defesa.

    Na região Norte, o PBC será capitaneada pelo Comando Militar da Amazônia,

    onde serão levantadas as defasagens de Capacidade Operativas e apresentadas aos

    níveis estratégicos e políticos, para que estes, através de uma análise de risco e de

    custo, decidam qual a melhor capacidade que será construída para minimizar as

    lacunas existentes.

    Um bom exemplo deste planejamento, será a aquisição dos KC

    390 Millennium, pela Força Aérea Brasileira, total de 25 (vinte e cinco) aeronaves,

    com o intuito de ampliar a capacidade de transporte logístico aéreo, fortalecendo

    assim a Capacidade de Mobilidade e Sustentação Estratégica da Força Terrestre, em

    especial na região da Amazônia.

  • Destarte, a construção de novas capacidades, para contrapor-se aos futuros

    desafios, levantadas no Planejamento Baseado em Capacidade, mostram-se

    necessárias, a escolha da sua concepção será de acordo com o risco que a sociedade

    brasileira estará disposta a enfrentar.

    6. Considerações Finais

    Neste artigo, foi apresentado a evolução da maior facção criminosa do

    continente sul-americano, o Primeiro Comando da Capital, buscando chamar a

    atenção para o seu avanço à Amazônia brasileira, na conquista do principal eixo de

    escoamento de drogas ilícitas que corta o Brasil, a chamada Rota Solimões.

    Da mesma forma, procurou evidenciar as estratégias do Exército Brasileiro no

    combate aos delitos transnacionais, assim como seus Programas/Projetos e as ações

    militares que vem sendo realizadas, para coibir o tráfico de drogas na bacia

    amazônica. E, com a finalidade de contextualizar o grande desafio que a sociedade

    brasileira enfrentará nos próximos anos, atinente ao viés da Segurança Nacional, foi

    construído o provável Cenário para 2035.

    Adicionalmente, verificou-se os fortes arranjos comerciais da Facção com os

    principais mercados consumidores globais, tais como: o europeu, aliando-se as máfias

    italianas e servias; o estadunidense, através das organizações criminosas mexicanas;

    e o africano, por meio das facções nigerianas e moçambicanas. Em que pese a prisão

    de Gilberto Aparecido dos Santos (FUMINHO), o PCC conseguirá reorganizar-se

    internamente, dando prosseguimento ao comércio ilícito com os demais continentes.

    Além disso, a Facção se aperfeiçoará em lavagem de dinheiro, transformando-se na

    maior máfia criminosa do continente.

    Dentro das possibilidades levantadas no provável Cenário 2035, infere-se que

    o PCC tem grande probabilidade de conseguir estabelecer o domínio da Rota

    Solimões, controlando assim os principais eixos de tráfico de droga da América do

    Sul, contrapondo a Família do Norte e o Comando Vermelho, atuais líderes regional,

    aumentando sobremaneira a sua lucratividade e participação no narcotráfico

    internacional, além da sua hegemonia sul-americana. Ainda, a aliança com os

    Dissidentes da FARC e ELN apresenta grande probabilidade de ser concretizada.

    Ademais, a elaboração do cenário prospectivo, para os próximos 15 (quinze)

    anos, levantou fatores determinantes, que merecem atenção das autoridades

    brasileiras, pois contribuirão diretamente para o fortalecimento do Primeiro Comando

  • da Capital, a seguir: falência do sistema penitenciário brasileiro, superlotados e

    deficientes, favorecendo o recrutamento de novos integrantes; condições de trabalho

    dos policiais deficientes, comprometendo a segurança física individual e facilitando

    subornos dentro da corporação; falta de recursos orçamentários, vocacionados para

    a área da Segurança e Defesa, provocando a diminuição das operações de

    fiscalização e reaparelhamento das forças militares e policiais; e colapso econômico

    vivenciado pelos países da América do Sul, agravado pela pandemia do COVID 19,

    aumentando consideravelmente os problemas sociais, com elevação das taxas de

    desemprego e consequente aumento da criminalidade.

    Diante das possibilidades de ocorrência, acima descrita, a elaboração de um

    Planejamento Estratégico baseado em Capacidades, por parte das Forças Armadas,

    poderá ser uma solução eficaz para mitigar o avanço do PCC e das demais ORCRIN,

    na região Norte do País. Com a obtenção de novas Capacidades Operativas, oriundas

    de uma análise de defasagem, o Exército Brasileiro estará melhor preparado, para

    enfrentar a esta grande ameaça que afronta a sociedade brasileira.

    Além disso, constatou-se que a reestruturação da Força Terrestre, na

    Amazônia, apresenta-se como uma das principais ações estratégicas, dentro do

    Plano Estratégico do Exército (PEEx), ampliando a Capacidade Operativa da tropa,

    tudo com o propósito de fazer frente aos novos desafios que a Instituição será

    submetida, tanto no viés da Defesa quanto da Segurança Nacional, entre eles o

    narcotráfico internacional.

    Contudo, para que o Exército Brasileiro consiga cumprir a sua missão de

    “Guardião da Amazônia”, fortes investimentos na área de Defesa serão necessários.

    A continuidade nos Programas/Projetos como SISFRON, Amazônia Protegida e

    LUCERDA, bem como a concepção de novas Capacidades Operativas serão

    essenciais, para garantir a soberania e segurança do País.

    Por fim, conclui-se que o emprego da Força Terrestre em apoio aos OSP, em

    Operações da Garantia da Lei e da Ordem e Operações Interagências, mostrando o “

    Braço Forte” da Instituição, apresenta-se como medida eficaz no combate aos crimes

    transfronteiriços, em especial na Amazônia Brasileira.

  • REFERÊNCIAS

    Manso, Paes Bruno e Dias, Camila Nunes. A Guerra – A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil. São Paulo: Todavia, 2019. NUNES, Camila Caldeira. PCC; HEGEMONIA NAS PRISÕES E MONOPÓLIO DA VIOLÊNCIA. São Paulo: Ed Saraiva, 2013. FELTRAN, Gabriel. Irmãos uma história do PCC. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. COUTINHO, Leonardo. The Evolution of the Most Lethal Criminal Organization in Brazil - The PCC. Disponível em < https://cco.ndu.edu/News/Article/1761039/the-evolution-of-the-most-lethal-criminal-organization-in-brazilthe-pcc/>. Acesso em 20 de jan.2020. Exame - Abril. PCC é a maior organização criminosa da América do Sul, diz Promotor. Disponível em Acesso em : 22 de jan 2020. RODRIGUEZ, Diogo. Brazil’s PCC has become a multinational criminal enterprise. Disponível em < https://brazilian.report/society/2018/06/19/brazil-pcc-multinational-criminal/>. Acesso em 20 de jan.2020

    NUNES DIAS, Camila Cadeira; PCC: Hegemonia nas prisões e monopólio da

    violência; São Paulo; Ed. Saraiva, 2013.

    ABREU, Alan; COCAÍNA, A Rota Caipira, O narcotráfico no principal corredor de

    droga do Brasil; São Paulo; Ed Recod, 2017.

    LACERDA, Ricardo; FACÇÕES CRIMINOSAS DO BRASIL: Um raio X dos grupos

    que transformaram o crime em uma indústria no Brasil; Revista

    Superinteressante, Ed Abril; São Paulo 2017.

    AMADO, Guilherme; OS EMBAIXADORES DO NARCOSUL: Os traficantes que

    operam o maior bloco de drogas do mundo; Jornal EXTRA, Rio de Janeiro 2014.

    CHRISTINO, Márcio; POR DENTRO DO CRIME: Corrupção, Tráfico e PCC; São

    Paulo, Fiuza Editoras, 2001.

    ARRIETA, Carlos G; NARCOTRÁFICO EM COLÔMBIA. 4a Edição. Santa Fé de

    Bogotá, Colômbia: Tecer Mundo Editores, 1993.

    4

    https://cco.ndu.edu/News/Article/1761039/the-evolution-of-the-most-lethal-criminal-organization-in-brazilthe-pcc/https://cco.ndu.edu/News/Article/1761039/the-evolution-of-the-most-lethal-criminal-organization-in-brazilthe-pcc/https://exame.abril.com.br/brasil/pcc-e-a-maior-organizacao-criminosa-da-america-do-sul-diz-promotor/https://exame.abril.com.br/brasil/pcc-e-a-maior-organizacao-criminosa-da-america-do-sul-diz-promotor/https://brazilian.report/society/2018/06/19/brazil-pcc-multinational-criminal/https://brazilian.report/society/2018/06/19/brazil-pcc-multinational-criminal/

  • McDermott, Jeremy; La nueva generación de narcotraficantes colombianos post-

    FARC: “Los Invisibles”; Insight Crime, Colombia: 2018

    HEUER Jr, Richard; Técnicas Analíticas Estructuradas para el Análisis de

    Inteligencia; Madri, Espanha; PYV Editores, 2015.

    STURARE, Raul e KORILIO, Verônica; Metodologia: Ferramentas Integradas de

    Gestão Estratégica; São Paulo; All Print Editora, 2017

    BRASIL. Decreto nº 8903, de 16 de novembro de 2016. Institui o programa de

    proteção integrada de fronteiras e organiza a atuação de unidades da

    administração pública federal para sua execução. Brasília, DF, 16 nov. 2016.

    Lei Complementar nº 117, de 02 de setembro de 2004. Altera a Lei Complementar nº

    97, de 9 de junho de 1999, que dispõe sobre as normas gerais para a organização,

    o preparo e o emprego das Forças Armadas, para estabelecer novas atribuições

    subsidiárias. BRASILIA, DF, 02 set. 2004.

    Estado-Maior do Exército. Portaria nº 512- EME, de 11 de dezembro de 2017. Aprova

    a diretriz de implantação do programa estratégico do exército sistema integrado

    de monitoramento de fronteiras - Sisfron (eb20-d- 08.010). BRASÍLIA, DF, 22 dez.

    20.

    Estado-Maior do Exército. Portaria nº 1.968-Cmt Ex, de 3 DEZ 19 – Aprova o Plano

    Estratégico do Exército 2020- 2023, 3a Edição, Brasilia-DF, 03 DEZ 19.

  • ANEXO A

    Metodologia de Análise Prospectiva – CENÁRIO 2035

    1. Constituição da Equipe de Especialista

    A equipe foi constituída por oficiais do Exército e da Marinha do Brasil,

    especialistas na área, que trabalham na Região Amazônica, no Centro de Inteligência

    do Exército, alunos e professores do Curso de Política Estratégia e Alta Administração

    do Exército, também participando da equipe, o autor do artigo. Por razões de

    confidencialidade, seus nomes não são publicados aqui.

    2. Determinação das Variáveis Chaves

    A Equipe de Especialista levantou diversas variáveis, empregando a ferramenta

    Brainstorming, que influenciarão diretamente a situação do Crime Organizado no

    Brasil, para os próximos 15 anos. Em seguida, foram enviadas a primeira Consulta

    DELPHI para 40 pessoas, com certo conhecimento sobre o assunto em estudo, para

    identificar as variáveis com maior relevância.

    Número de Ordem

    Brainstorming das Variáveis Variávies

    mais relevantes

    01 Desaceleração econômica dos países sul-americanos. X

    02 Corrupção de funcionários públicos. X

    03

    Implantação de capacidade tecnológica para fiscalização e

    monitoramento da região de fronteira, capaz de conferir

    maior eficácia às ações preventivas e repressivas.

    X

    04 Acordos de cooperação multilaterais, regional e bilaterais

    em matéria de cooperação frente ao narcotráfico.

    05 Fluxo de bens de consumo e pessoal através das fronteiras

    nacionais.

    06 Práticas de integração e intercâmbio de informações entre

    países. X

    07

    Crise econômica do corona-vírus, provocando a

    deterioração da condição econômica e social de parte da

    população.

    08

    Engajamento das Forças Armadas em Operações de

    repressão e prevenção, nas circunstância em que seu

    emprego venha ser requerido.

    X

    09 Legalização das drogas ilícitas, sobretudo a maconha.

    10 Interiorização do narcotráfico na Amazônia em razão da

    urbanização desordenada de Manaus.

    11 Desestruturação familiar dos brasileiros.

    12

    Presença do Estados em regiões de fronteira,

    proporcionando saúde, educação, segurança, entre outras

    beneses.

    13 Incorporação de camadas populares ( menos favorecidas)

    no mundo dos consumidores.

  • 14 Domínio do PCC da rota Solimões. X

    15 Legislação favorável a apreensão de elementos envolvidos

    com o comércio de drogas ilícitas.

    16 Inserção de presos e presídios com expertises em lavagem

    de dinheiro, oriundos da Operação Lava-jato.

    17 Condições de trabalho da polícia regional, especialmente

    nas regiões de fronteira. X

    18 Estruturação do sistema penitenciário brasileiro. X

    19 Transformação do PCC de cartel para máfia criminosa. X

    20 Expansão do PCC em outros continentes.

    21 Cooperação efetiva entre os sistemas judiciais dos países

    da América do Sul.

    22 Acordos de cooperação internacionais nível global

    vocacionados para o narcotráfico. X

    23 Forte marketing desfavorável ao uso de drogas ilícitas, nas

    principais emissoras do país.

    Tabela 1. Tabela de Variáveis

    3. Indicação do Índice de Relevância

    Numero de Orden

    Variables Puntuación

    01 Desaceleração econômica dos países sul-americanos. 7

    02 Corrupção de funcionarios públicos. 9

    03

    Implantação de capacidade tecnológica para fiscalização e

    monitoramento da região de fronteira, capaz de conferir

    maior eficácia às ações preventivas e repressivas.

    3

    06 Práticas de integração e intercâmbio de informações entre

    países. 4

    08

    Engajamento das Forças Armadas em Operações de

    repressão e prevenção, nas circunstância em que seu

    emprego venha ser requerido.

    6

    14 Domínio do PCC da rota Solimões. 8

    17 Condições de trabalho da polícia regional, especialmente

    nas regiões de fronteira. 5

    18 Estruturação do sistema penitenciário brasileiro. 10

    19 Transformação do PCC de cartel para máfia criminosa. 2

    22 Acordos de cooperação internacionais nível global

    vocacionados para o narcotráfico. 1

    Tabela 2. Tabela de Índice de relevancia

    Em seguida, estabelece-se um índice de relevância final selecionando as 05

    (cinco) variáveis-chaves, através dos seguintes critérios: probabilidade de ocorrência

    (mensurada através da primeira Consulta DELPHI); conhecimento disponível sobre o

    assunto; e tendência variável nos últimos anos.

    Número de Ordem

    Variávies

    01 Estruturação do sistema penitenciário brasileiro.

    02 Corrupção de funcionarios públicos.

    03 Desaceleração econômica dos países sul-americanos.

    04 Engajamento das Forças Armadas em Operações de repressão e prevenção,

    nas circunstância em que seu emprego venha ser requerido.

    05 Domínio do PCC da rota Solimões. Tabela 3. Tabela de seleção das variáveis-chaves

  • 4. Configuração para cada Variável-chave e aplicação da Análise Morfológica

    O método morfológico de elaboração de cenário parte das variáveis

    consideradas como mais relevantes, para a construção dos cenários prospectivos, os

    quais surgirão a partir da combinação das distintas configurações de variáveis e de

    acordo com as opiniões dos especialistas, levantadas através da segunda Consulta

    DELPHI. A seguir, será levantado o Cenário mais Provável.

    Número

    de Ordem Variáveis-chaves Opção 1 Opção 2 Opção 3

    01 Estruturação do sistema penitenciário

    brasileiro. Melhora Mantém Piora

    15% 30% 55%

    02 Corrupção de funcionarios públicos. Aumenta Mantém Diminui

    70% 20% 10%

    03

    Engajamento das Forças Armadas em

    Operações de repressão e prevenção,

    nas circunstância em que seu

    emprego venha ser requerido.

    Aumenta Mantém Diminui

    70% 30% -

    04 Desaceleração econômica dos

    países sul-americanos. Ocorre Não ocorre -

    90% 10% -

    05 Domínio do PCC da rota Solimões. Ocorre Não ocorre

    55% 45%

    Tabela 4. Tabela de Análise Morfológica e identificação do Cenário mais Provável

    5. Descrição do Cenário mais Provável em 2035 Presente no corpo do artigo.

  • ANEXO B

    PRIMEIRA CONSULTA DELPHI – ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS BRASILEIRAS

    CENÁRIO 2035

    Caro Companheiro! Sou o Cel Janilson Campos Teixeira, da turma de 1995,

    atualmente, cursando o Curso de Política Estratégia e Alta Administração do Exército

    (CPEAEx). Como trabalho de conclusão de curso, estou confeccionando um Police

    Paper, sobre o avanço do Primeiro Comando da Capital na fronteira amazônica e seus

    reflexos para o Exército Brasileiro. Pretende-se, através das informações coletados

    nesta pesquisa, obter subsídios para formulação do cenário prospectivo 2035, no que

    tange o assunto em tela.

    A sua experiência profissional irá contribuir sobremaneira, para a criação do

    cenário proposto, bem como na formulação de ideias, sobre as possibilidades de

    emprego e capacidades operativas adequadas aos desafios futuros do Exército

    Brasileiro, no combate ao tráfico internacional de drogas.

    A metodologia empregada para a criação do cenário mais provável para 2030,

    serão o Método DELPHI, de avaliação e pesquisa, e Análise Morfológica, para análise

    de dados. Segundo Heuer Jr. e H. Person ( 2010, p.126) o método Morfológico é muito

    utilizado quando se trata de problemas complexos, não ponderáveis e que a

    probabilidade de que se produzam surpresas é significativa.

    1. Grau de conhecimento do colaborador

    Qual o seu nível de conhecimento sobre o assunto?

    Praticamente Nenhum Pouco Médio Bom Muito Bom

    2. Determinação do índice de relevância das Variáveis Chaves

    Inicialmente, empregando o Método Delphi de pesquisa, uma técnica de

    avaliação com o propósito de selecionar acontecimentos que irão impactar de maneira

    crítica, nos próximos 10 (dez) anos. Cada acontecimento, correspondem a uma

  • variável/evento. Neste primeiro exercício solicito-vos atribuir valores ( 1 a 10, sendo

    10 a maior relevância), de acordo com o índices de relevância da variável analisada.

    No quadro a seguir, serão apresentadas as variáveis consideradas:

    Número de Ordem

    Variáveis/Eventos Pontuação (

    01 a 10)

    01 Desaceleração econômica dos países sul-americanos. 02 Corrupção de funcionarios públicos.

    03

    Implantação de capacidade tecnológica para fiscalização e

    monitoramento da região de fronteira, capaz de conferir

    maior eficácia às ações preventivas e repressivas.

    04 Acordos de cooperação multilaterais, regional e bilaterais

    em matéria de cooperação frente ao narcotráfico.

    05 Fluxo de bens de consumo e pessoal através das fronteiras

    nacionais.

    06 Práticas de integração e intercâmbio de informações entre

    países.

    07 Deterioração da condição econômica e social de parte da

    população.

    08

    Engajamento das Forças Armadas em Operações de

    repressão e prevenção, nas circunstância em que seu

    emprego venha ser requerido.

    09 Legalização de drogas ilícitas, sobretudo a maconha.

    10 Interiorização do narcotráfico na Amazônia, em razão da

    urbanização desordenada dos grandes centros.

    11 Marketing ao não uso de drogas ilícitas, nos principais

    veículos de comunicação do país.

    12

    Presença do Estado em regiões de fronteira,

    proporcionando saúde, educação, segurança, entre outros

    benefícios.

    13 Incorporação de camadas populares ( menos favorecidas)

    no mundo dos consumidores de entorpecentes.

    14 Domínio do PCC da rota Solimões.

    15 Aplicação de penas mais duras, para os elementos

    envolvidos com o comércio de drogas ilícitas.

    16 Evolução do Primeiro Comando da Capital de ORCRIN

    para Máfia Criminosa.

    17 Condições de trabalho da polícia regional, especialmente

    nas regiões de fronteira.

    18 Estruturação do sistema penitenciário brasileiro.

    19 Cooperação efetiva entre os sistemas judiciais dos países

    da América do Sul.

    20 Pressões internacionais sobre a Amazônia brasileira. 21 Concentração de capacidades militar na Amazônia.

    Agradeço a colaboração e coloco-me à disposição para esclarecimentos

    através dos seguintes contatos:

    Celular: (21) 972810701

    E-mail: [email protected]

  • ANEXO C

    SEGUNDA CONSULTA DELPHI – CENÁRIO 2035

    Caro Companheiro! Dando continuidade ao trabalho de confecção do Police

    Paper, sobre o avanço do Primeiro Comando da Capital na fronteira amazônica e seus

    reflexos para o Exército Brasileiro. Pretende-se, através desta segunda pesquisa

    DELPH, coletar informações para subsidiar a formulação do cenário prospectivo 2035.

    Neste segundo exercício solicito-vos marcar com um X, na configuração com

    grande possibilidade de ocorrer, nos próximos 15 (quinze) anos.

    Variável 1 SIM NÃO

    Desaceleração econômica dos países sul-americanos

    Variável 2 Aumenta Mantém Diminui

    Corrupção de funcionários públicos.

    Variável 3 Aumenta Mantém Diminui

    Implantação de capacidade tecnológica para fiscalização

    e monitoramento da região de fronteira, capaz de conferir

    maior eficácia às ações preventivas e repressivas.

    Variável 4 SIM NÃO

    Acordos de cooperação multilaterais, regional e bilaterais

    em matéria de cooperação frente ao narcotráfico.

    Variável 5 Aumenta Mantém Diminui

    Fluxo de bens de consumo e pessoal através das

    fronteiras nacionais.

    Variável 6 Aumenta Mantém Diminui

    Práticas de integração e intercâmbio de informações entre

    países.

    Variável 7 SIM NÃO

  • Deterioração da condição econômica e social de parte da

    população.

    Variável 8 Aumenta Mantém Diminui

    Engajamento das Forças Armadas em Operações de

    repressão e prevenção, nas circunstância em que seu

    emprego venha ser requerido.

    Variável 9 MUDA NÃO MUDA

    Legalização de drogas ilícitas, sobretudo a maconha.

    Variável 10 Aumenta Mantém Diminui

    Interiorização do narcotráfico na Amazônia, em razão da

    urbanização desordenada de Manaus.

    Variável 11 Aumenta Mantém Diminui

    Marketing ao não uso de drogas ilícitas, nos principais

    veículos de comunicação do país.

    Variável 12 Aumenta Mantém Diminui

    Presença do Estado em regiões de fronteira,

    proporcionando saúde, educação, segurança, entre outros

    benefícios.

    Variável 13 SIM NÃO

    Incorporação de camadas populares ( menos favorecidas)

    no mundo dos consumidores de entorpecentes.

    Variável 14 SIM NÃO

    Domínio do PCC da rota Solimões.

    Variável 15 SIM NÃO

    Aplicação de penas mais duras, para os elementos

    envolvidos com o comércio de drogas ilícitas.

  • Variável 16 SIM NÃO

    Evolução do Primeiro Comando da Capital de ORCRIN

    para Máfia Criminosa.

    Variável 17 Melhora Mantém Piora

    Condições de trabalho da polícia regional,

    especialmente nas regiões de fronteira.

    Variável 18 Melhora Mantém Piora

    Estruturação do sistema penitenciário brasileiro.

    Variável 19 Aumenta Mantém Diminui

    Cooperação efetiva entre os sistemas judiciais dos países

    da América do Sul.

    Variável 20 Aumenta Mantém Diminui

    Pressões internacionais sobre a Amazônia brasileira.

    Variável 21 Aumenta Mantém Diminui

    Concentração de capacidades militar na Amazônia.