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Diversidade e Gestão 2(1): 17-25. 2018 e-ISSN: 2527-0044 17 CENSO FLORESTAL DE UM TRECHO DE MATA CILIAR URBANA DO RIO PARAÍBA DO SUL, TRÊS RIOS, RJ 1 Helder Marcos Nunes Candido 2, 5 , André Luiz Pereira 3 , Erika Cortines 4 & Michaele Alvim Milward-de-Azevedo 4 Resumo: As matas ciliares são de extrema importância para o meio ambiente, pois regulam as cheias, abrigam grande diversidade de fauna e flora e amenizam a temperatura. O trabalho teve como objetivo investigar a estrutura de um trecho de 6,84 hectares da mata ciliar urbana do rio Paraíba do Sul no Parque Natural Municipal de Três Rios, na cidade de Três Rios, Rio de Janeiro, Brasil. Foram amostrados todos os indivíduos arbóreos com diâmetro a altura do peito (DAP) 5 cm. Foram inventariados 966 indivíduos pertencentes a 27 famílias e 75 espécies. A família mais representativa foi a Fabaceae. As espécies espontâneas mais abundantes foram Croton urucurana Baill. e Leucaena leucocephala (Lam) de Wit. A baixa diversidade (H’ = 3,39 nats.ind -1 ) sugere o alto grau de degradação. As médias de altura das árvores (7,34 m) e DAP médio (14,43 cm) indicam um estágio sucessional de inicial para médio. Conclui-se que a área necessita de ações de manejo que visem a ampliação da diversidade, o controle de espécies exóticas, e a saúde do ecossistema. Palavras-chave: vegetação ripária, fitossociologia, diversidade. Abstract: The riparian forests are of extreme importance in the cities, since they regulate the floods, they host a great diversity of fauna and flora and they mitigate the temperature. The aim of this work was to carry out the forest census and to investigate the structure of a 6,84 hectare stretch of the urban riparian forest of the Paraíba do Sul River in the Municipal Natural Park of Três Rios, in the urban area of Três Rios, Rio de Janeiro, Brazil. All tree individuals with DBH greater than 5 cm were sampled. 966 individuals belonging to 75 species were inventoried. The most representative family was Fabaceace. The most abundant species were Croton urucuranaBaill. andLeucaena leucocephala (Lam) de Wit. A low diversity (H'= 3.39) suggests a high degree of degradation.Themean total height of trees (7.34 m) and mean DBP (14.43 cm) indicate an initial successional stage for medium. Therefore, it is concluded that the area needs management actions aimed at increasing diversity, control of exotic species, and ecosystem health. Key-words: riparian vegetation, phytosociology, Paraíba do Sul river, biodiversity. Introdução A região de Três Rios, localizado na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, apresenta situação ambiental crítica, com apenas 0,1% de cobertura florestal original e 8.636 ha de áreas com vulnerabilidade à erosão (COPPETEC 2002). O levantamento da cobertura vegetal nas Unidades de Conservação (UC's) do município indicou que as formações florestais secundárias recobrem 26,8% do território das UC's, sendo a maioria menores que 1 ha e isolados entre si (Silvério Neto et al. 2015), fator este que altera as propriedades do habitat remanescente (Van Der Berg et al. 2001), além de resultar em processos erosivos e assoreamento do rio. O crescimento econômico atualmente, está cada vez mais atrelado à sustentabilidade ambiental. Essa nova concepção se preocupa com o uso de tecnologias limpas, a minimização do desperdício, a gestão sustentável dos recursos naturais, o entendimento e adequação às leis e metas ambientais vigentes (Oliveira Filho 2004). Segundo a Lei Federal de Proteção da Vegetação Nativa (Lei 12.651/2012) as matas ciliares são consideradas como Áreas de Preservação Permanente (APP). Neste sentido, estudos fitossociológicos das matas ciliares urbanas (MCU) são importantes para o conhecimento das espécies e organização sócio-estrutural dessas comunidades (Prata et al. 2011), servindo de base para planejamento da recuperação e conservação ambiental de APP’s. Há 1 Parte da monografia do primeiro autor apresentada para o curso de Bacharelado em Gestão Ambiental, Instituto Três Rios, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 2 Laboratório de Ecologia e Evolução de Plantas, Departamento de Biologia Vegetal, Universidade Federal de Viçosa, Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Viçosa, Minas Gerais, Brasil, CEP 36570-000. 3 Laboratório de Ecologia Vegetal, Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. 4 Departamento de Ciências do Meio Ambiente, Instituto Três Rios, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Av. Prefeito Alberto da Silva Lavinas 1847, Centro, Três Rios, RJ, CEP 25802-100. 5 Autor de correspondência: [email protected]

CENSO FLORESTAL DE UM TRECHO DE MATA CILIAR URBANA DO … · área foi classificado de acordo com a Resolução 6, de 1994, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) considerando-se

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Diversidade e Gestão 2(1): 17-25. 2018 e-ISSN: 2527-0044

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CENSO FLORESTAL DE UM TRECHO DE MATA CILIAR URBANA DO RIO PARAÍBA DO SUL, TRÊS RIOS, RJ1

Helder Marcos Nunes Candido2, 5, André Luiz Pereira3, Erika Cortines4 & Michaele Alvim

Milward-de-Azevedo4 Resumo: As matas ciliares são de extrema importância para o meio ambiente, pois regulam as cheias, abrigam grande diversidade de fauna e flora e amenizam a temperatura. O trabalho teve como objetivo investigar a estrutura de um trecho de 6,84 hectares da mata ciliar urbana do rio Paraíba do Sul no Parque Natural Municipal de Três Rios, na cidade de Três Rios, Rio de Janeiro, Brasil. Foram amostrados todos os indivíduos arbóreos com diâmetro a altura do peito (DAP) ≥ 5 cm. Foram inventariados 966 indivíduos pertencentes a 27 famílias e 75 espécies. A família mais representativa foi a Fabaceae. As espécies espontâneas mais abundantes foram Croton urucurana Baill. e Leucaena leucocephala (Lam) de Wit. A baixa diversidade (H’ = 3,39 nats.ind-1) sugere o alto grau de degradação. As médias de altura das árvores (7,34 m) e DAP médio (14,43 cm) indicam um estágio sucessional de inicial para médio. Conclui-se que a área necessita de ações de manejo que visem a ampliação da diversidade, o controle de espécies exóticas, e a saúde do ecossistema. Palavras-chave: vegetação ripária, fitossociologia, diversidade. Abstract: The riparian forests are of extreme importance in the cities, since they regulate the floods, they host a great diversity of fauna and flora and they mitigate the temperature. The aim of this work was to carry out the forest census and to investigate the structure of a 6,84 hectare stretch of the urban riparian forest of the Paraíba do Sul River in the Municipal Natural Park of Três Rios, in the urban area of Três Rios, Rio de Janeiro, Brazil. All tree individuals with DBH greater than 5 cm were sampled. 966 individuals belonging to 75 species were inventoried. The most representative family was Fabaceace. The most abundant species were Croton urucuranaBaill. andLeucaena leucocephala (Lam) de Wit. A low diversity (H'= 3.39) suggests a high degree of degradation.Themean total height of trees (7.34 m) and mean DBP (14.43 cm) indicate an initial successional stage for medium. Therefore, it is concluded that the area needs management actions aimed at increasing diversity, control of exotic species, and ecosystem health. Key-words: riparian vegetation, phytosociology, Paraíba do Sul river, biodiversity. Introdução

A região de Três Rios, localizado na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, apresenta situação ambiental crítica, com apenas 0,1% de cobertura florestal original e 8.636 ha de áreas com vulnerabilidade à erosão (COPPETEC 2002). O levantamento da cobertura vegetal nas Unidades de Conservação (UC's) do município indicou que as formações florestais secundárias recobrem 26,8% do território das UC's, sendo a maioria menores que 1 ha e isolados entre si (Silvério Neto et al. 2015), fator este que altera as propriedades do habitat remanescente (Van Der Berg et al. 2001), além de resultar em processos erosivos e assoreamento do rio.

O crescimento econômico atualmente, está cada vez mais atrelado à sustentabilidade ambiental. Essa nova concepção se preocupa com o uso de tecnologias limpas, a minimização do desperdício, a gestão sustentável dos recursos naturais, o entendimento e adequação às leis e metas ambientais vigentes (Oliveira Filho 2004). Segundo a Lei Federal de Proteção da Vegetação Nativa (Lei 12.651/2012) as matas ciliares são consideradas como Áreas de Preservação Permanente (APP).

Neste sentido, estudos fitossociológicos das matas ciliares urbanas (MCU) são importantes para o conhecimento das espécies e organização sócio-estrutural dessas comunidades (Prata et al. 2011), servindo de base para planejamento da recuperação e conservação ambiental de APP’s. Há

1Parte da monografia do primeiro autor apresentada para o curso de Bacharelado em Gestão Ambiental, Instituto Três Rios, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 2Laboratório de Ecologia e Evolução de Plantas, Departamento de Biologia Vegetal, Universidade Federal de Viçosa, Avenida Peter Henry Rolfs, s/n, Viçosa, Minas Gerais, Brasil, CEP 36570-000. 3Laboratório de Ecologia Vegetal, Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. 4Departamento de Ciências do Meio Ambiente, Instituto Três Rios, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Av. Prefeito Alberto da Silva Lavinas 1847, Centro, Três Rios, RJ, CEP 25802-100. 5Autor de correspondência: [email protected]

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inúmeros serviços ecossistêmicos prestados por essas MCU’s, dentre os mais evidentes estão: a preservação e a estabilidade do solo que, favorece a ciclagem de nutrientes e a diversidade biológica, bem como o controle da erosão e o assoreamento do leito dos rios, além de auxiliar na manutenção da qualidade e abastecimento das águas (Lucchese 2000, Oliveira 2013). Por serem áreas sujeitas a distúrbios naturais periódicos, são eficientes armazéns de carbono atmosférico na matriz urbana. Boa parte das espécies vegetais comuns a esses ambientes ripários são ornitocóricas, o que faz desses locais, sítios preferenciais para visitação de pássaros e outros animais em buscar alimento e abrigo. Neste sentido, conhecer a diversidade das MCU's é de fundamental importância para a gestão do espaço natural e preservação dos serviços ecossistêmicos prestados.

O presente trabalho teve como objetivo investigar a estrutura de um trecho de MCU do Rio Paraíba do Sul, na cidade de Três Rios, Rio de Janeiro, visando contribuir com futuras ações de gestão/proteção da mata ciliar e serviços ambientais associados. Material e Métodos

O município de Três Rios possui 326 km², está situado na mesorregião Centro-Sul Fluminense (22°07’01”S e 43°12’32”W) (Figura 1) e localiza-se a 125 km da capital do Estado do Rio de Janeiro (IBGE 2016).

Figura 1.Mapa de localização do município de Três Rios, Rio de Janeiro, Brasil. Área de estudo (vermelho); área de reflorestamento (verde).

O clima é mesotérmico, sendo descrito como Cfa na classificação de Köppen, com

precipitação média anual de 1.300 mm e temperatura média variando de 14,2ºC a 37,4ºC, com as maiores temperaturas e índices de precipitação no verão (Köppen, 1948; Gomes et al. 2013; Alvares et al. 2014).

Nesse estudo foi analisada uma área de mata ciliar urbana (MCU) de 6,84 hectares localizada na margem direita do rio Paraíba do Sul, no Parque Natural Municipal de Três Rios, em área localizada na Avenida Araribóia, bairro Nova Três Rios, na cidade de Três Rios, Rio de

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Janeiro. A vegetação se enquadrada na fitofisionomia de Floresta Estacional Semidecidual. É possível observar a ocorrência de distúrbios ambientais no local. Uma pequena parte da área foi reflorestada.

As expedições de campo ocorreram mensalmente entre setembro de 2012 a maio de 2014. As amostras foram herborizadas segundo as técnicas usuais (Vaz et al. 1992). A identificação do material e confirmação dos nomes científicos foi feita com base em bibliografias especializadas e consulta ao herbário virtual JABOT (JBRJ). O sistema de classificação utilizado foi APG IV (2016). Os nomes científicos foram consultados e validados de acordo com a ferramenta The Taxonomic Name Resolution Service (2003).

Foram inventariados todos os indivíduos arbóreos com DAP ≥ 5 cm. Além do DAP, a altura total de cada indivíduo foi estimada visualmente. A estrutura da comunidade arbórea foi determinada pelos parâmetros fitossociológicos como propostos por Müeller-Dombois & Ellenberg (1974): IVC (índice de valor de cobertura); N (número de indivíduos); DA (densidade absoluta, árv.ha-1); DR (densidade relativa, %); DoA (dominância absoluta, m².ha-1); DoR (dominância relativa, %).

A diversidade foi calculada utilizando os índices de Shannon-Weaver, assim como o Coeficiente de Mistura de Jentsch (QM) (Hosokawa 1981). O estágio sucessional predominante na área foi classificado de acordo com a Resolução 6, de 1994, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) considerando-se apenas as espécies espontâneas, excluindo-se as espécies do trecho reflorestado. Os parâmetros fitossociológicos, histogramas e medidas de diversidade foram calculados por meio do software R v. 3.3.2 (R Core Team 2016). Resultados e Discussão

Foram encontradas 75 espécies arbóreas, distribuídas em 27 famílias (Tabela 1), a densidade foi de 141,22 árv.ha-1 e área basal de 3,56 m².ha-1. Do total de espécies, 14 fazem parte da área de reflorestamento e, destas, apenas Eugenia brasiliensis Lam. e Cariniana legalis (Mart.) Kuntze são endêmicas do bioma Mata Atlântica. Em relação à estrutura vertical da comunidade arbórea (Figura 2), pode-se afirmar que é composta por dois estratos definidos, sendo que a maioria dos indivíduos (60,2%) apresentam alturas entre 3,0 m e 7,0 m (média de 7,34 m). Existem alguns indivíduos emergentes, como por exemplo um indivíduo de Schizolobium parahyba (Vell.) S.F. Blake, presente na área de reflorestamento, de altura estimada de 23 metros.

Tabela 1. Espécies arbóreas amostradas em um trecho da mata ripária urbana da margem direita do rio Paraíba do Sul, Três Rios - RJ. Legenda: * espécies plantadas pelo projeto de reflorestamento da Organização não governamental Três Rios, três vidas; # espécies nativas; ∆ espécies endêmicas.

Família (espécies) Nome popular ANACARDIACEAE Anacardium occidentale L. # cajueiro Mangifera indica L. * mangueira Schinus terebinthifolius Raddi *# aroeira-vermelha Spondias dulcis Parkinson *   cajá manga ANNONACEAE   Annona mucosa Jacq. #   biribazeiro BIGNONIACEAE Handroanthus chrysotrichus (Mart. ex A. DC) Mattos # ipê-amarelo Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos # ipê-rosa Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos # ipê-roxo

Tabebuia heterophylla (DC.) Britton. ipê-rosa-de-folha-larga

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Família (espécies) Nome popular Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith # ipê-branco Tecoma stans (L.) Juss. exKunth ipê-de-jardim BIXACEAE Bixa orellana L. *# urucum BORAGINACEAE Cordia abyssinica R. Br. ex A. Rich. córdia CHRYSOBALANACEAE Licania tomentosa (Benth.) Fritsch #∆ oiti COMBRETACEAE Terminalia catappa L. amendoeira EUPHORBIACEAE Croton urucurana Baill. # capixingui Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg. # seringueira Joannesia princeps Vell. #∆ cutieira Ricinus communis L. mamona FABACEAE Adenanthera pavonina L. tento-carolina Albizia lebbeck (L.) Benth. albízia Albizia niopoides (Spruce ex Benth.) Burkart # farinha-seca Anadenanthera colubrina (L.) Speg. # angico Bauhinia variegata L. pata-de-vaca Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz #∆ pau-ferro Centrolobium tomentosum Guillemin ex Benth. #∆ araribá Clitoria fairchildiana R.A. Howard # sombreiro Dalbergia nigra (Vell.) AllemãoexBenth. #∆ jacaranda-da-bahia Delonix regia (BojerexHook.) Raf. flamboyant Erythrina vernaVell. # mulungu Erythrina speciosa Andrews #∆ eritrina Hymenaea courbaril L. # jatobá Inga edulis Mart. # ingá-cipó Inga laurina (Sw.) Willd. # ingá-branco Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit. leucena Machaerium hirtum (Vell.) Stelfelld. # bico-de-pato Mimosa pigra L. # mimosa Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H. C. Lima & G. P. Lewis *# pau-brasil Piptadenia gonoacantha (Mart.) J. F. Macbr. # pau-jacaré Poincianella pluviosa (DC.) L. P. Queiroz # sibipiruna Samanea tubulosa (Benth.) Barneby& J. W. Grimes # sete-cascas Schizolobium parahyba (Vell.) S.F. Blake *# guapuruvu Senna siamea(Lam.) H. S. Irwin & R.C. Barneby senna LAURACEAE Persea americana Mill. * abacate LECYTHIDACEAE Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze *# jequitibá-branco Cariniana legalis (Mart.) Kuntze *#∆ jequitibá-rosa Lecythis pisonis S. A. Mori #∆ sapucaia LYTHRACEAE

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Família (espécies) Nome popular Lagerstroemia speciosa (L.) Pers. resedá-gigante MALPIGHIACEAE Malpighia glabra L. acerola MALVACEAE Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna # paineira Talipariti tiliaceum (L.) Fryxell algodoeiro-da-praia Pachira aquatica Aubl. # munguba

Pachira glabra Pasq.* castanha-do-maranhão

Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Robyns #∆ embiruçu MELIACEAE

Guarea guidonia (L.) Sleumer carrapeta-verdadeira

Melia azedarach L.* pára-raio MORACEAE Ficus maxima Muller # figueira Ficus sp. Morus nigra L. amoreira-preta MYRTACEAE Eugenia brasiliensis Lam.*# ∆ grumixama Eugenia sp. Psidium guajava L. # goiabeira Syzygium cumini (L.) Skeels jamelão OLEACEAE Ligustrum lucidum W. T. Aiton ligustro POLYGALACEAE Triplaris americana L. *# pau-formiga RHAMNACEAE Hovenia dulcis Thunb.* uva-do-japão ROSACEAE Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. nespereira RUTACEAE Citrus aurantifolia Swingle limão-galego SALICACEAE Casearia sylvestris Sw. # carvalinho Salix humboldtiana Andersson # salgueiro SAPINDACEAE Sapindus saponaria L. # saboneteira SAPOTACEAE Chrysophyllum cainito L. abiu-roxo SOLANACEAE Acnistus arborescens (L.) Schltdl. # marianeira Cestrum intermedium Sendtn. # coerana URTICACEAE Cecropia hololeuca Miq. #∆ embaúba

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Figura 2.Número de indivíduos amostrados, classificados por altura média em um trecho da mata ripária urbana da margem direita do rio Paraíba do Sul, Três Rios-RJ.

O diâmetro médio da comunidade arbórea foi 14,43 cm, o DAP máximo foi observado

para um indivíduo de Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos (Bignoniaceae) (62,07 cm),48,9% dos indivíduos apresentaram no máximo 10 cm de diâmetro. A população apresenta distribuição diamétrica do tipo J invertido (Figura 3), em que ocorre maior frequência de indivíduos nos menores valores de diâmetro e que, segundo Assunção & Felfili (2004), demonstra que a comunidade em estudo é auto regenerativa, caso não ocorra perturbação. Em comunidades com esse padrão diamétrico, pode-se inferir que a vegetação está em estágio inicial de sucessão secundária (Pires & Prance 1977) embora outros parâmetrosdevam ser levados em consideração. Segundo Prata et al. (2011), os processos de sucessão são mais lentos em ambientes suscetíveis ao alagamento, além da velocidade de regeneração depender da conectividade dos fragmentos florestais na paisagem, que podem atuar como fontes dispersoras de sementes e propágulos. Como na área estudada não há muitos fragmentos florestais próximos, a regeneração autóctone deve predominar, prejudicando a sustentabilidade da MCU em longo prazo.

Figura 3.Distribuição do diâmetro médio dos indivíduos amostrados em um trecho da mata ripária urbana da margem direita do rio Paraíba do Sul, Três Rios-RJ.

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As cinco espécies de maior densidade na área foram Croton urucurana Baill. (154) e

Ricinus communis L. (68) (Euphorbiaceae), Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos (38) (Bignoniaceae), e Leucena leucocephala (Lam.) de Wit. (127) e Inga edulis Mart.(47) (Fabacaeae) (Tabela 2).

Croton urucurana é uma espécie nativa, pioneira, apresentando elevado potencial de colonização em ambientes ribeirinhos perturbados (Rodrigues 1995, Prata et al. 2011). E Leucaenaleucocephala é uma espéciemuito utilizada para fertilização do solo, alimentação de gado e arborização urbana (Zárate 1987, Lorenzi et al.2001, 2002), se comportando como exótica invasora agressiva, pois ocupa o nicho ecológico das nativas e compete por nutrientes (Lorenzi 2000, Mack et al. 2000).

A presença de espécies zoocóricas como Croton urucurana e Inga edulis entre as espécies mais abundantes favorece a visitação pela fauna que se alimenta destes frutos. A interação entre fauna e flora é essencial para manutenção da diversidade em áreas perturbadas. Tabela 2. Espécies arbóreas mais abundantes em um trecho da mata ciliar urbana da margem direita do rio Paraíba do Sul, Três Rios-RJ. Legenda: IVC - índice de valor de cobertura; N - número de indivíduos; DA = densidade absoluta (árv.ha-1); DR= densidade relativa (%); DoA = dominância absoluta (m².ha-1); DoR = dominância relativa (%).

Táxon IVC N DA DR DoA DoR Croton urucurana 15,94 154 19,03 15,94 0,0981 0,0637 Leucaena leucocephala 13,41 127 15,69 13,14 0,3348 0,2636 Ricinus communis 7,10 68 8,40 7,03 0,4559 0,0670 Inga edulis 5,43 47 5,80 4,86 0,2700 0,5745 Samanea tubulosa 4,83 36 4,44 3,72 0,4004 1,1123 Handroanthus impetiginosus 4,42 38 4,69 3,93 0,1885 0,4962 Clitoria fairchildiana 4,41 34 4,20 3,51 0,3039 0,8940 Albizia lebbeck 3,14 26 3,21 2,69 0,1176 0,4526 Schizolobium parahyba 2,97 18 2,22 1,86 0,2008 1,1155 Anadenanthera colubrina 2,79 22 2,71 2,27 0,1131 0,5144 Mangifera indica 2,47 21 2,59 2,17 0,0627 0,2986 Salix humboldtiana 2,32 21 2,59 2,17 0,0311 0,1481 Delonix regia 2,16 12 1,48 1,24 0,1110 0,9251 Piptadenia gonoacantha 2,09 18 2,22 1,86 0,0422 0,2349 Licania tomentosa 2,06 17 2,10 1,75 0,0517 0,3042 Adenanthera pavonina 2,05 19 2,34 1,96 0,0158 0,0833 Inga laurina 2,00 18 2,22 1,86 0,0252 0,1404 Joannesia princeps 1,84 14 1,35 1,11 0,0558 0,3989 Sapindus saponaria 1,79 16 1,97 1,65 0,0221 0,1383 Psidium guajava 1,77 16 1,97 1,65 0,0190 0,1191

O índice de diversidade de Shannon-Weaver (H’) obtido foi de 3,39. De acordo com Knight

(1975), conforme estudos ocorridos em florestas tropicais, tal índice varia entre 3,83 e 5,85. O Coeficiente de Mistura de Jentsch (QM) obtido foi de 0,068, ou 1:14, o que indica baixa

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diversidade, já que quanto mais próximo a 1, mais diversa é a comunidade. Já o valor 1:14, indica que, para cada espécie, temos 14 indivíduos, número que indica maior homogeneidade no ambiente do que o coeficiente (1:6) encontrado por Hosokawa (1981) em florestas tropicais. Tais índices demonstram a baixa diversidade do local, em comparação com números obtidos para florestas tropicais. Portanto, ao analisar os baixos resultados encontrados para os índices, pode-se inferir que algum fator está afetando a diversidade local, que pode ser devido à distúrbios presentes no local como, por exemplo, pisoteio de animais, queimadas, invasão de espécies exóticas e demais distúrbios ocorridos na região.

De acordo com os parâmetros estruturais (dados fitossociológicos) sugeridos pela resolução CONAMA nº 6, de 4 de maio de 1994, a vegetação da área de estudo encontra-se em estágio intermediáriode sucessão secundária, com árvores com DAP médio entre 10-20 cm, altura média variando entre 5 e 12 m, presença de serrapilheira, área basal média entre 10-28 m2.ha-1. Neste estágio, segundo a resolução podem permanecer indivíduos do estágio inicial que para este estudo foi representado pela presença de Croton urucurana, Anadenanthera colubrina e Cecropia hololeuca. As espécies do reflorestamento não foram consideradas para fins de enquadramento da área no estágio sucessional e dos parâmetros fitossociológicos por se tratar de espécies introduzidas.

Os baixos valores de riqueza encontrados para a área podem ser atribuídos à ocorrência de processos de perturbação (pisoteio de animais, queimadas, plantio de espécies exóticas) e distúrbios naturais ocasionados, principalmente, pelos eventos de inundação fluvial, pelo lançamento de lixo e efluentes diretamente no rio sem nenhum tipo de tratamento Conclusões

Na mata ciliar estudada na cidade de Três Rios foram encontrados baixos índices relativos à diversidade de espécies. Além disso, é possível verificar a forte presença de algumas espécies típicas de ambientes perturbados além da invasão de espécies exóticas, fator alarmante para a manutenção dos serviços ecossistêmicos da área.A baixa diversidade observada na área de estudo está relacionada a perturbações na área de estudo, com influência antrópica constante, devido às atividades econômicas e a falta de uma política pública que proteja esta região. Indica-se como manejo da área, o controle de espécies exóticas como a L. leucocephala, T. stans e H. dulcis e o enriquecimento com espécies pioneiras, secundárias e climáxicas de múltiplos usos, que aumentarão o índice de diversidade e a função ambiental da floresta no ambiente urbano. Agradecimentos O primeiro autor agradece à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro pela bolsa de apoio técnico-acadêmico concedida no período da graduação. Referências Alvares CA, Stape JL, Sentelhas PC, Gonçalves JLM, Sparovek G (2013) Koppen’s climate classification map for

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