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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ – CEAP
CURSO DE DIREITO
FABÍOLA PENAFORT CAVALCANTI
ATUAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO EM CONFRONTO COM A SEGURANÇA
PÚBLICA NO BRASIL
MACAPÁ 2008
1
FABÍOLA PENAFORT CAVALCANTI
ATUAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO EM CONFRONTO COM A SEGURANÇA
PÚBLICA NO BRASIL
Monografia apresentada pela acadêmica
Fabíola Penafort Cavalcanti ao Curso de
Graduação em Direito da Faculdade
Centro de Ensino Superior do Amapá -
CEAP, para obtenção do grau de
Bacharel em Direito, sob a orientação do
Professor Plínio Roriz Cunha Filho.
MACAPÁ 2008
2
FABÍOLA PENAFORT CAVALCANTI
TERMO DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
PLÍNIO RORIZ CUNHA FILHO
ORIENTADOR
MEMBRO EXAMINADOR
MEMBRO EXAMINADOR
AVALIADA EM: 24/ 10/ 2008.
3
DEDICATÓRIA Aos meus pais que muito contribuíram para a concretização desta etapa de minha vida, e não mediram esforços para me ajudar na conclusão deste grande desafio. Em especial a minha mãe que muito intercedeu por mim em suas orações, torcendo por minha vitória e por meu sucesso ao fim desta missão que me foi incumbida. Dedico esta obra ao meu pai e a minha mãe pelo incentivo aos meus estudos e por terem patrocinado o meu curso, se não fosse por eles, hoje não estaria onde estou.
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente e acima de tudo agradeço à Deus por ter me concedido a
oportunidade de conseguir concluir mais uma etapa importante da minha vida, por
ter me dado força e sabedoria nos momentos mais difíceis, mas pela sua infinita
misericórdia me levantou e me capacitou para concretizar mais um projeto de vida.
Obrigada Senhor!
A minha família que suportou minhas preocupações e ansiedades com este
trabalho, aos meus amigos pela minha ausência nos últimos tempos, ao meu
namorado pela paciência e compreensão que teve com meu estresse em virtude do
cansaço que já me enfadava, agradeço aqueles que sempre estiverem do meu lado
me dando força e apoio moral.
Ao meu orientador que atenciosamente me socorreu quando estava precisando de
um profissional especialista na área de minha pesquisa e com isso se disponibilizou,
agradeço por sua colaboração e por ter aceitado me ajudar na conclusão deste
sonho.
Enfim, a todos que de certa forma direta ou indiretamente contribuíram para meu
sucesso e torceram por mim, em especial aos meus pais pelo suporte familiar
durante esses cinco anos que se passaram.
5
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo mostrar o perfil da realidade vivida nas grandes metrópoles brasileiras, a repercussão do crime organizado que cresce e se diferencia da criminalidade comum e eventual, trazendo consigo necessidades de se priorizar mais a prevenção do que a repressão no combate às organizações criminosas em defesa da segurança pública. A pesquisa realizada faz uma explanação geral sobre o tema abordado, iniciando o primeiro capítulo com a parte histórica, relatando como surgiram as duas maiores facções criminosas dominantes no país, desde sua origem até a sua evolução aos dias atuais. Posteriormente no segundo capítulo veremos a definição do tema em discussão e a ineficácia da legislação referente ao conceito do tema em estudo, uma espécie de análise crítica. No terceiro capítulo, o trabalho é enfocado na segurança pública brasileira, destacando-se as fraquezas do governo e a crise vivida pelo Estado em confronto com as atuações de organizações criminosas. Por fim no quarto capítulo, é debatida a situação do sistema prisional que fortalece o crime organizado e ainda é traçado um esboço do sistema de inteligência policial que deve ser utilizado com mais persistência.
PALAVRAS-CHAVES: crime organizado, organização criminosa, segurança pública, combate, sistema prisional, inteligência policial.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................08
CAPÍTULO I
1- HISTÓRICO
1.1- Origem e Evolução do Crime Organizado no Brasil........................................10
1.2- Surgimento do Comando Vermelho................................................................11
1.3- Surgimento do Primeiro Comando da Capital – PCC.....................................14
CAPÍTULO II
2- DEFINIÇÃO DO TEMA
2.1- Ausência de conceito na lei................................................................................16
2.2- Características: Elementos Essenciais de Organizações Criminosas...............19
2.3- Diferença entre Organização Criminosa e Formação de Quadrilha...................20
2.4- Ineficácia da Legislação Penal: Críticas à Lei....................................................20
2.5- Falhas na Legislação do Crime Organizado......................................................23
CAPÍTULO III
3- SEGURANÇA PÚBLICA
3.1- Segurança Pública Brasileira.............................................................................24
3.2- Estado Democrático de Direito: Garantias Constitucionais...............................28
3.3- A crise na Segurança Pública: Fraquezas do Governo.....................................30
3.4- Atuação das Facções Criminosas: PCC e Comando Vermelho........................34
3.5- Modelo Brasileiro de Segurança Pública...........................................................38
CAPÍTULO IV
4- SISTEMA PRISIONAL E O SISTEMA DE INTELIGÊNCIA POLICIAL
4.1- A Superlotação dos Presídios Brasileiros..........................................................41
4.2- A Ressocialização no Sistema Prisional............................................................42
7
4.3- Desrespeito à Função da Ressocialização.........................................................43
4.4- Não Cumprimento da Execução Penal...............................................................43
4.5- O Papel da Educação na Ressocialização................................................,........44
4.6- Atividade de Inteligência Policial Brasileira........................................................45
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................47
REFERÊNCIAS..........................................................................................................49
ANEXO.......................................................................................................................50
8
INTRODUÇÃO
O tema a ser abordado nesta obra vislumbra-se em um assunto muito vivido
nos últimos anos em nosso país, ocorrendo principalmente nas grandes metrópoles
onde predomina a violência urbana, mas apesar da sua forte repercussão no meio
da sociedade brasileira, é pouco discutido e dificilmente explorado, até mesmo por
ser de natureza jurídica complexa, motivo este que obstrui o seu nítido
esclarecimento entre estudiosos e doutrinadores sobre a temática em debate.
O objetivo do estudo em analise é priorizar mais a prevenção da criminalidade
do que a mera repressão para se combater o crime, porém neste contexto trata-se
não de uma simples delinqüência, mas da atuação do crime organizado, sendo que
este exige pré-requisitos para sua formação, ou seja, pressupostos que o
diferenciam da criminalidade comum.
Este trabalho é uma pesquisa essencialmente bibliográfica que visa
apresentar formas de combate ao crime organizado para não somente reprimir, mas
principalmente prevenir o seu surgimento e controlar o seu crescimento quando for
inevitável o seu aparecimento, de maneira que amenize a atuação de organizações
criminosas consideradas perigosas para a segurança pública.
Importante destacar que o objeto deste estudo é a segurança pública,
buscando-se analisar os principais campos de atuação em que opera as
organizações criminosas, principalmente em conjunto com as manifestações das
duas maiores facções criminosas do Brasil: Comando Vermelho e Primeiro
Comando da Capital. Demonstrando com isso que o maior foco do crime organizado
é o próprio sistema prisional, inimigo da ressocialização sendo que o crime
organizado está vinculado à corrupção de agentes estatais.
Esta monografia traz em seu bojo questionamentos acerca de uma definição
para o conceito do tema, faz uma análise crítica à atual legislação do nosso
ordenamento jurídico que cuida do assunto relativo ao crime organizado, pois a
referente lei apresenta lacunas e um conceito vago, contudo, no decorrer deste
trabalho se tentará buscar respostas para estas falhas e ainda se fará um
levantamento sobre as políticas públicas utilizadas pelo governo, adotando-se uma
visão crítica ao atual critério usado por ele devido a sua ausência e omissão por
parte do poder público, o qual possui fraquezas na segurança pública, servindo de
9
crítica ao Estado atribuído de deficiências na polícia e no sistema prisional que
fortalece o crime organizado.
O fator que motivou a realização desta pesquisa foi a busca pelo
conhecimento sobre a repercussão do crime organizado infiltrado no sistema
prisional brasileiro que domina a sociedade com atentados violentos e muito bem
planejados, os quais confrontam o poder público, desmoralizando a imagem do
Estado na função de governar em defesa da segurança pública.
No desenrolar do trabalho será visto a problemática do assunto, quais os
motivos que enfraquecem a segurança da população das grandes capitais, a
fragilidade do sistema prisional e do sistema operacional da polícia. Diante da
realidade apresentada, medidas são traçadas para melhorar a situação da crise
instalada em estado de emergência que necessita ser socorrida de maneira a
conscientizar as autoridades representantes.
A importância deste trabalho consiste em investimento na prevenção da
criminalidade organizada que opera nas mazelas deixadas pelo Estado, tendo como
principal objetivo não só demonstrar formas de combate em caráter repressor, mas
investir na educação como meio de prevenção e melhorar a ressocialização como
medida de controle para impedir seu crescimento.
10
1- HISTÓRICO
1.1- Origem e Evolução do Crime Organizado no Brasil
Desde as primeiras civilizações, o ser humano sempre buscou levar a vida
com segurança, se protegendo de todo e qualquer perigo eminente à sua volta,
almejando por paz e tranqüilidade no seio da sociedade, visando à ordem social e a
paz pública, mas o homem sempre foi vulnerável ao perigo, principalmente à
violência, e conseqüentemente aos riscos de vida englobados em situações do
cotidiano que se confrontam com condições adversas, gerando ameaças à
segurança da coletividade e assim nascendo a criminalidade.
Não é de hoje que existe a criminalidade, desde os primórdios o crime
perpetra no mundo e a violência assola a sociedade, o medo e a insegurança são
sinônimos de terror em quase qualquer lugar que o cidadão se encontre, seja em
casa, seja no trabalho, seja na escola, estamos a mercê da criminalidade que
assombra a comunidade em geral. O fenômeno da violência em massa se expandiu
e fixou suas raízes na fraqueza da segurança pública, trazendo inúmeras
preocupações para a população e grandes problemas para o Estado Democrático de
Direito, um verdadeiro desafio a ser enfrentado pelo poder público.
O surgimento do crime organizado no Brasil ocorreu ao longo da década de
1970, vários fatores causaram sua origem, onde as simples formações de quadrilhas
se aprimoraram e se transformaram em verdadeiras organizações criminosas de
grande porte. Daí com o passar do tempo, o crime evoluiu, nasceu na antiguidade e
vive até os dias atuais, percorreu por diversas fases, histórias e relatos narram sobre
sua origem, de como surgiu no cenário nacional.
No Brasil a macrocriminalidade cresceu muito e se fortaleceu
grandiosamente, tanto a ponto do governo perder o controle da situação
apresentada, o país vive um verdadeiro caos na esfera da segurança pública o que
causa a explosão da violência e a superlotação dos presídios, fator determinante
para a formação do crime organizado, estudos mostram que o sistema prisional é o
principal foco da criminalidade organizada, foi dentro das penitenciárias brasileiras
que surgiram e nasceram as primeiras e maiores facções criminosas do país, que
comandam o crime organizado da nossa atual realidade.
11
A origem deste movimento organizado no Brasil se deu nas décadas de 70 e
80, em que organizações criminosas surgiram nas penitenciárias da cidade do Rio
de Janeiro, como a Falange Vermelha, esta nasceu no presídio da Ilha Grande,
composta por quadrilhas especializadas em roubos a bancos, como o famoso
Comando Vermelho, originado no presídio Bangu 1 e comandado por líderes do
tráfico. No Estado de São Paulo, em meados da década de 90, surgiu no presídio de
segurança máxima anexo à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, a
organização criminosa denominada PCC - Primeiro Comando da Capital, com
atuação criminosa em diversos estados.
No Brasil quando o fenômeno se originou na década de 70, o país passava
por uma crise econômica e política, ocorrendo o êxodo rural em que grande parte da
população do campo migrava para as grandes cidades: Rio de Janeiro e São Paulo,
em busca de melhores condições de vida, por causa da diminuição de renda, do
desemprego e das poucas oportunidades de trabalho, por serem pessoas pobres,
com pouco estudo, e sem especialização profissional.
Conseqüentemente favelas e períferias cresceram descontroladamente
tornando o terreno propício para o desenvolvimento da marginalidade. Sendo esta
região da cidade menosprezada pelos governantes e se tornando ausente o Estado
no papel de garantir à população a prestação de serviços que lhe é de direito como
a segurança.
1.2- Surgimento do Comando Vermelho
Durante os 21 anos de regime militar, não existia e nem se discutia qualquer
tipo de política pública voltada para o setor da segurança do país, o governo militar
foi confrontado pela oposição formada por grupos de esquerda que combatiam a
ditadura e queriam implantar o comunismo no país.
No presídio Cândido Mendes, localizado na cidade do Rio de Janeiro,
criminosos comuns dividiam celas e tinham contato direto com membros de
organizações guerrilheiras de esquerda que ali eram presos por lutarem pelo fim da
ditadura militar. A partir daí os guerrilheiros de esquerda passaram seus
ensinamentos aos detentos de lutarem por seus ideais a qualquer preço, e estes
aprenderam muito bem o procedimento e as técnicas de guerrilha, de como se
organizarem em grupos, pois assim era uma maneira para se proteger de outros
12
presos e desta forma começaram a reivindicar melhores condições de vida na prisão
e a negociar com as autoridades.
Este movimento dentro das cadeias se deu não só pelo fato de detentos
sucederem aos ensinamentos de estratégia dos companheiros de cela, mas pela
realidade vivida nas cadeias, como a superlotação e as condições precárias em que
os presos conviviam, motivo que os incentivou a se organizarem e buscarem
melhorias para sua classe, caso contrário morreriam naquele ambiente de
promiscuidade e sem nenhuma perspectiva de vida digna a um ser humano. Não foi
por acaso que a primeira facção criminosa do Rio de Janeiro e mais antiga do país
se autodenominou de Comando Vermelho em homenagem à cor das bandeiras dos
partidos de esquerda.
No período da ditadura era comum atentados de bomba, assaltos a bancos,
assassinatos e seqüestros de autoridades praticados pelas organizações
guerrilheiras que queriam derrubar o regime militar e implantar o comunismo, clima
favorável para fortalecer o terrorismo, mas muitos dos grupos de esquerda
terroristas foram presos e na cadeia repassaram aos seus companheiros de cela
criminosos tudo que aprenderam no curso de guerrilha, estes por sua vez fizeram da
prisão uma escola de terrorismo e empregaram de seus meios para atuarem
organizadamente. Este período histórico da ditadura militar deixou marcas profundas
na sociedade brasileira.
Na trajetória histórica do crime organizado, enfatizamos a repercussão do
Comando Vermelho, símbolo marcante de uma modalidade de crime organizado,
expressão máxima do Estado paralelo, dono do milionário tráfico de drogas em que
surgiu o narcotráfico em nosso país, conquistou várias posições dentro do
estamento social, influenciando decisões políticas e jurídicas através do pagamento
de propina, corrompendo diversos segmentos públicos responsáveis pela repressão
destes delitos.
Relembrando que esta facção originou-se na prisão, mais precisamente em
um presídio de segurança máxima, famoso na época por ter tido ilustres presos
políticos no tempo da ditadura de Getúlio Vargas, e aqueles oriundos do golpe militar
de 1964, em que os sentenciados por crimes políticos contra a segurança nacional
foram colocados juntos aos presos comuns, inclusive com os de alta periculosidade,
tendo ambos contato direto.
13
Os presos políticos diante da situação agruparam-se e começaram a se
destacar no meio da massa carcerária, pois eram solidários com estes diante das
condições precárias e desumanas em que viviam. A partir deste momento
começaram a ganhar confiança dos detentos e passaram a ensiná-los a se
organizar politicamente para obterem conquistas, iniciaram ensinamentos sobre
táticas de guerrilhas, principalmente urbanas, visto que estes pregavam a revolução
social através da utilização de armas.
Os presos políticos realizavam estas condutas a favor da causa do bem
comum, no entanto os presos comuns descobriram que unidos seriam mais fortes e
então começaram também a se organizar, porém em planejar empreitadas contra
bancos com objetivo de se obter dinheiro para investir nas fugas e melhorar as
condições daqueles que cumpriam pena.
No final da década de 70 e nos anos 80, o Comando Vermelho passou a lutar
pelo mercado de tóxicos no morro, o qual era administrado por meras quadrilhas, o
Estado diante deste fenômeno ficou inoperante, e pouco tempo depois muitos
seqüestros ocorreram com a meta de conseguir mais lucros para o fundo do
Comando Vermelho.
Na verdade, a história que movimentou o crime organizado no Brasil ligado ao
tráfico, fundado pelo Comando Vermelho, foi tudo uma questão em prol de
conquistas nos espaços políticos, mas juntamente com esta revolução trouxe
conseqüências catastróficas para o país, gerando violência, corrupção e atraso.
Analisando a origem do Comando Vermelho, verifica-se que o crime
organizado e a política se cruzam em muitos pontos do caminho, na verdade se trata
de um movimento político econômico, em busca de conquistas e condições mais
dignas de sobrevivência, a inconformidade com a realidade vivida impulsionou seu
desenvolvimento na história brasileira, tornando-se numa luta acirrada com objetivo
de superar a crise política social presente na sociedade, o descuido na preservação
da segurança pública no passado gerou frutos que se reproduzem até os dias de
hoje, evidentemente muito mais complexos.
Outro fruto do passado que foi influência dessas organizações terroristas foi o
surgimento da organização mais atuante de São Paulo denominada: Primeiro
Comando da Capital – PCC, que também adotava uma estrutura contra o
militarismo, e por sinal até hoje atua na função de derrubar a classe militar, tendo
participação ativa nos confrontos com a polícia e as autoridades competentes da
14
segurança nacional, de um lado comanda a organização criminosa em defesa de
seus objetivos em uma guerra civil contra policiais e um Estado ausente que
abandona seu dever de investir em fatores sócio-econômicos básicos, mas
primordiais para o bom desempenho da sociedade.
1.3- Surgimento do Primeiro Comando da Capital
O PCC é a maior e mais organizada facção criminosa do país, foi batizado por
este nome em decorrência de uma partida de futebol entre detentos que tinham sido
transferidos da capital do Estado, como castigo por mau comportamento, para o
Anexo da Casa de Custódia de Taubaté, naquela época era a prisão mais segura do
Estado de São Paulo. Durante a partida de futebol do time da capital, Marcos
Willians Herbas Camacho, o famoso Marcola, e Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra,
se encontravam confinados em uma cela separada do restante do grupo, e anos
depois se tornaram os mais renomados líderes do PCC comandando a massa
carcerária de São Paulo.
Esta facção foi fundada por oito presos em 31 de agosto de 1993, que
batizaram seu time com a sigla PCC em defesa da camisa, e aproveitando a ocasião
começaram a se organizar sob argumentos de combater a opressão existente dentro
da prisão paulista e para se vingar da morte de muitos presos executados no
Massacre do Carandiru em 1992, assassinados por policiais militares, na extinta
Casa de Detenção de São Paulo.
Em 2001, no auge de sua liderança, Sombra foi assassinado por cinco
membros da própria facção que disputavam o comando geral do PCC, foi
espancado até morrer enquanto pegava sol no pátio do pavilhão onde nasceu a
organização. E em novembro de 2002, Marcola assume de vez a liderança do grupo,
comandando rebeliões internas e coordenando atentados violentos na capital
através de ordens por celular aos seus seguidores, com a intenção de desmoralizar
a imagem do governo.
A visão que se tem da realidade hoje, distingui-se nitidamente das últimas
décadas, em que a globalização e a modernização acompanharam os avanços
tecnológicos, vindo a facilitar a infiltração de organizações criminosas nas entranhas
do Estado. O que contribui no reflexo das desigualdades sociais que abrem as
15
portas para o ingresso no mundo do crime, em busca de lucro e poder, e
principalmente melhores condições de vida.
16
2- DEFINIÇÃO DE CRIME ORGANIZADO
2.1- Ausência de Conceito na Lei
Segundo Gomes, a única legislação que regia o crime organizado há alguns
anos atrás no Brasil, era apenas a lei nº 9.034/95, mas passado algum tempo, em
abril de 2001 ocorreu o ingresso no nosso ordenamento jurídico uma nova redação
legislativa dada pela lei nº 10.217/01, que alterou o texto dos artigos 1º e 2º do
referido diploma legal em estudo.
Na verdade, a lei que rege o assunto em discussão, não traz um conceito do
crime organizado, que por sinal ainda não existe no ordenamento jurídico brasileiro,
porém há projetos de lei em andamento no congresso nacional aguardando
aprovação, contudo, inexiste tipificação de conceito na lei, mas doutrinariamente
alguns doutrinadores descrevem sua definição sobre o que seja o crime organizado.
Para Gomes (2002, p. 21), organização criminosa pode ser definida como:
“toda associação ilícita que reúna ao menos três das seguintes características: previsão de acumulação de riqueza indevida; uso de meios tecnológicos sofisticados; recrutamento de pessoas; conexão estrutural ou funcional com o poder público; alto poder de intimidação”, etc.
No que diz respeito à legislação, a antiga lei federal 9.034/95 dispõe sobre a
utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas
por organizações criminosas, ou seja, esta lei visa combater as ações decorrentes
dessas organizações, de maneira que se regulem os meios de provas e
procedimentos investigatórios utilizados nessa legislação.
Como toda mudança não está imune à críticas, este caso não foi diferente, a
modificação sofrida no texto legal que recebeu alterações na sua redação foi alvo de
várias críticas, mas a principal delas foi a ausência do conceito de organização
criminosa, que direta ou indiretamente atingiu alguns dispositivos legais contidos na
lei. Essa lei não definiu o que se deve entender, ou melhor, o que se pode
compreender por organizações criminosas, pois no sentido geral ela foi feita para
cuidar do assunto, mas juridicamente continua-se sem saber do que realmente se
trata.
17
Com a redação dada pela lei 10.217/01 que modificou os dois primeiros
artigos da antiga lei do crime organizado, passou a transmitir o seguinte no Art. 1º da
lei 9.034/95: “Esta lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios
que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando
ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo”.
Antigamente a lei só mencionava crime resultante de ações de quadrilha ou
bando, agora esta passou a falar em ações praticadas por quadrilha ou bando ou
organizações ou associações criminosas de qualquer tipo.
Pelo atual texto inserido na lei, observa-se nitidamente que esta alteração
incidiu nos ilícitos provenientes de quadrilha ou bando, de organizações criminosas
e associação criminosa, podendo-se verificar com o advento da lei 10.217/01, que
esta delineou visivelmente três conteúdos diversos os quais iremos destacar a partir
de agora.
Quadrilha ou bando, esses nós sabemos o que são, pois de acordo com o
Código Penal este traz sua tipificação no art. 288, mas com a lei 10.217/01, a visão
que se passou a ter da formação de quadrilha, é que esta recebeu o rótulo de crime
organizado, ou seja, a lei equiparou o crime de quadrilha ao crime organizado,
embora seja um fenômeno completamente distinto do verdadeiro crime organizado.
Associações Criminosas, também tem tipificação e definição legal no nosso
ordenamento jurídico brasileiro, sendo tipificada na Lei de Tóxicos que relata sobre o
tráfico de drogas.
Organização Criminosa está expressamente enunciada na lei, mas não
tipificada na legislação penal brasileira, o que se pode afirmar é que não existe em
nenhuma parte do nosso ordenamento jurídico a definição legal de organização
criminosa.
Todos os ilícitos delas decorrentes, dessas que estão definidas em lei como a
quadrilha e as associações criminosas não abrangem o conceito de organização
criminosa, conseqüentemente o conteúdo delineado pela lei nº 10.217/01 é
deficiente por falta de definição legal.
Diante do exposto, juridicamente falando, Gomes (2002) diz:
“indaga-se o que se deve entender por crime organizado no Brasil, qual seria o conceito de organização criminosa para incluí-la na lei, pois o legislador não ofereceu sequer a descrição típica mínima para o fenômeno, deixando lacunas na legislação que trata do assunto, e que equivocadamente deixou totalmente em aberto o conceito que tanto se busca para se ter eficácia dos dispositivos legais”.
18
A falha da lei que mais se discute aprofunda-se no conceito vago, conforme o
pensamento de Luiz Flávio Gomes, ele relata em seus estudos criminais que a lei
9.034/95 passou a ser uma letra morta, um caso de perda da eficácia por não
sabermos o que se entende por organização criminosa, pois a lei só cita o objeto em
discussão, mas não explica o que é, ela não dá o seu significado jurídico.
Trata-se de uma questão sobre perda da eficácia, e não de revogação que
seria a perda de vigência da lei. Pois se um dia o legislador apresentar o conteúdo
desse conceito vago e indefinido, os dispositivos legais passarão a ter eficácia, os
quais no momento permanecem vigentes, apenas não podem ser aplicados com
eficácia.
Podemos ressaltar que a provável ineficácia do sistema penal em combater o
crime organizado no nosso país, está ligada às falhas da nossa legislação composta
de lacunas, que nem mesmo a lei específica sobre o assunto tipifica o conceito de
organizações criminosas, pois sabemos que a lei vigente sobre o crime organizado
dispõe sobre formas de prevenir e reprimir ações praticadas por essas
organizações, mas como se pode combater algo que nem ao menos se sabe o que
é, a própria lei não dá o seu significado jurídico.
Na atual lei há a ausência da definição do crime organizado, e essa
inexistência da descrição típica do problema no nosso ordenamento jurídico propicia
uma reforma na legislação, que necessita ser reformulada com mais cautela, pois se
a lei cuida de um determinado assunto, juridicamente deve tratar conceituadamente
seu tema específico, até porque tudo se parti de um conceito, a definição é de suma
importância para se iniciar qualquer trabalho.
De acordo com o pensamento de alguns estudiosos sobre o tema, eles
defendem que:
‘’a lei não definiu conceito de crime organizado, apenas determinou meios de prova e procedimentos investigatórios estabelecidos para se combater a crimes praticados por quadrilhas ou bandos, deixando clara a fuga da conceituação do delito organizado’’ (BORGES, 2002).
Para clarear o entendimento da lei, o ideal seria que o legislador formulasse
um conceito para organizações criminosas que tanto se confunde com formação de
quadrilha, e definisse sua tipificação.
19
Características do Crime Organizado:
2.2 - Elementos Essenciais de Organizações Criminosas
Apesar da lei não conceituar a definição legal do crime organizado, ou melhor,
das organizações criminosas, podemos verificar que para sua atuação é necessário
existir vários elementos essenciais que constituem suas principais características
criminológicas apontadas como requisitos marcantes para a sua formação, tratando
de um conjunto de elementos característicos que compõem um ramo de
criminalidade complexa.
Dentre essas características relevantes destacamos: hierarquia própria,
divisão de funções e tarefas, planejamento de atividades, recrutamento de pessoas,
o uso de meios tecnológicos avançados, alta capacitação para fraude, alto poder de
corrupção e intimidação em que predomina a lei do silêncio, o emprego de violência
e de extorsão.
Indicamos ainda, a busca pela acumulação de poder econômico com fins
lucrativos, obtenção de lucros indevidos por meio de atividades ilegais,
enriquecimento ilícito, conexão estrutural ou funcional com o poder público e/ou
político, divisão territorial das atividades e conexão local, regional, nacional ou
internacional com outras organizações.
Nesta obra será analisada e discutida dentro do campo territorial apenas a
atuação de conexão na área nacional focada nas duas maiores metrópoles do país,
como já foi comentado. Enfatizando suas finalidades principais não só de objetivos
lucrativos, mas de domínio, poder político de liderança, visão ideológica e comando
do terrorismo com a quebra da paz pública, estabelecendo como conseqüência toda
e qualquer prática de crime de forma planejada empregada por organização
criminosa destinada a este fim, para consolidar efetivamente a sua estruturação.
Nota-se a gama de elementos que compõem a formação do crime organizado
constituído de vários detalhes que o tornam uma modalidade de crime super
complexa de se analisar, delineado por características próprias que o diferenciam da
criminalidade comum e eventual. Por este motivo, na abordagem deste trabalho,
faremos uma pesquisa aprofundada dos fatores que mais são utilizados no crime
organizado ligados à esfera da segurança pública.
20
2.3- Diferença entre Organização Criminosa e Formação de Quadrilha
Apesar de não existir um conceito tipificado em lei sobre a definição de
organizações criminosas, esta por sua vez, apresenta características próprias que
exige uma estrutura mais complexa e planejada, dotada de pressupostos essenciais
para sua formação que as diferenciam da simples formação de quadrilha, ou seja,
elas são completamente diferentes, organizações criminosas não pode se confundir
com o art. 288 do Código Penal que tipifica a formação de quadrilha ou bando.
Na verdade, uma quadrilha até pode chegar a ser uma organização criminosa
posteriormente, se ela evoluir e acompanhar todos os passos necessários para sua
formação, mas a simples formação de quadrilha sem os elementos essenciais de
uma organização não consiste em uma verdadeira atuação de crime organizado,
agora uma organização criminosa sim pode ser composta de quadrilhas, isso
significa que nem toda quadrilha pode se considerar membro da criminalidade
organizada, porém toda organização criminosa é formada de facções criminosas que
podem ser constituídas de quadrilhas.
Organizações Criminosas e quadrilha são institutos bem distintos,
principalmente porque para a formação de quadrilha basta apenas a mera
associação de mais de três pessoas para o fim de cometerem crimes, não
precisando de um vasto rol de requisitos previamente fixados que necessita para
existir uma organização criminosa, esta contém muitos elementos imprescindíveis
para a sua atuação.
2.4- Ineficácia da Legislação Penal: Críticas à Lei nº 9.034/95
A crítica que mais pesou na mencionada lei do crime organizado como já
demonstrado anteriormente, está relacionada à ausência de conceito legal explícito,
não existe um conceito uniforme definido em lei, apenas há doutrinadores que criam
seu próprio conceito sobre o assunto e discutem divergências, baseados nas
características desse ramo de criminalidade.
Essa falha na tipificação do crime organizado pode ser observada no citado
Art. 1º da lei que estabelece os meios de prova e procedimentos investigatórios para
ilícitos decorrentes de quadrilha, de associações criminosas e de organizações
criminosas, mas justamente só faz referência aos meios e procedimentos
21
relacionados às ações praticadas por estas, mas não diz o que é organização
criminosa sendo que as outras denominações já são tipificadas no nosso
ordenamento jurídico.
O ilustre doutrinador Gomes (2002) afirma que por este motivo:
‘’se a lei do crime organizado no Brasil e a posterior alteração dada na sua redação pela lei 10.217/01 existentes para definir o que se entende por organização criminosa, não nos explicaram o que é isso, é inevitável constatar que vários dispositivos legais fundados nesse conceito vago que ninguém sabe o que é, no qual alguns autores fazem apenas deduções sobre o conceito, acabam perdendo sua eficácia’’.
Dentre eles como já citado o Art. 1º, também destacamos o Art. 2º, inciso II,
que prevê um tipo de procedimento investigatório denominado ação controlada,
atividade consistente em não se fazer a repressão no momento da consumação do
delito, tendo por objetivo que o mesmo seja perpetrado para que no momento
propício seja feita a devida repressão com intuito de desmantelar a organização.
Essa técnica disciplinada pela ação controlada vislumbra-se no famoso
flagrante prorrogado, que se olharmos pelo aspecto ético e prático, é uma crítica
relevante à lei, pelo fato de o Estado em vez de se interessar pela prevenção do
crime, este opta em não concentrar a sua devida atenção no sentido de evitar a
consumação dos atentados contra os bens públicos tutelados pela norma penal.
Na ação controlada, a intervenção estatal pretende adequar-se do seu ponto
de vista ao melhor momento para reprimir o crime e efetivar a colheita de provas,
dessa forma dá-se o retardamento do flagrante mesmo que para isso seja preciso
ocorrer a consumação do delito, nesse sentido pode haver a ocorrência de vários
delitos, pois a possibilidade de intervir somente no momento mais oportuno dá
margens à execução de mais crimes a serem cometidos.
No aspecto geral, baseando-se nos pensamentos de vários doutrinadores que
montam critérios destinados a criação de uma definição para esta modalidade
criminal, cada um aponta seu conceito de acordo com a sua opinião, especialistas
em criminologia acreditam que o crime organizado no Brasil é uma das várias formas
de criminalidade existente na sociedade, sendo que é praticado por várias pessoas
com propósitos, podendo o grupo praticar uma ou diversas condutas típicas
previstas na legislação penal.
22
Observa-se que o crime organizado é um ramo da macrocriminalidade
efetuado em larga escala e detentor de grande porte, formado de organizações
criminosas que não possuem um conceito próprio previsto em lei, apenas sabemos
a definição das condutas típicas realizadas pelas organizações, porque as condutas
sim estão descritas em lei, portanto as práticas delitivas exercidas por essas
organizações têm previsão legal, ou seja, definição típica, o que não se tem é a
explicação do conceito de organização criminosa.
As condutas típicas expressas na legislação penal não estão direcionadas
explicitamente à organizações criminosas, por exemplo, qualquer agente que
praticar atividade ilícita, conduta com emprego de violência, obtenção de lucro
indevido, cometimento de atos vinculados à corrupção, entre outras práticas
delitivas, não é obrigatoriamente sujeito ativo de organização criminosa só porque
estas são condutas típicas penais, não sendo de caráter exclusivo do crime
organizado.
O que se quer demonstrar com clareza é que as atividades exercidas por
organizações criminosas, ou seja, as condutas típicas realizadas por elas têm
definição jurídica, há previsão legal para estas, diferente da situação de ausência de
conceito das organizações criminosas que se menciona na lei específica, podendo
essas condutas também serem executadas por elementos que não participam do
crime organizado, enfatizando que não são condutas exclusivas dessas
organizações.
Na verdade há uma confusa produção legislativa, de acordo com o Doutor em
Direito Penal Luiz Flávio Gomes, ele acredita que o legislador ao redigir o novo texto
legal da lei do crime organizado, jamais teria imaginado os efeitos colaterais de todo
sua intensa e confusa redação legal, o que conseqüentemente causou a perda da
eficácia de alguns dispositivos.
Dentre essa confusão apontamos claramente que com a nova redação
inserida pela lei 10.217/01, ela equiparou as ações delitivas praticadas por quadrilha
à pratica das organizações criminosas, esta última nem ao menos sabemos o que é.
Ou seja, em outras palavras, com essa obscuridade da lei a formação de quadrilha
recebeu o rótulo de crime organizado, por essa visão dá-se a impressão que as
quadrilhas ganharam o título de organizações criminosas.
23
2.5- Falhas na Legislação do Crime Organizado
Além da inexistência de um conceito único ou uniforme sobre organizações
criminosas na lei do crime organizado e da crítica à ação controlada, podemos
averiguar falhas no que diz respeito à condução das investigações, os setores da
polícia judiciária ainda não se conscientizaram de que não se pode enfrentar o crime
organizado como se ele fosse uma mera delinqüência que se combate sem
nenhuma especialização ou instrumentos adequados.
Sobre as disposições gerais da lei, o Art. 4º prevê que “Os órgãos da polícia
judiciária estruturarão setores e equipes de policiais especializados no combate à
ação praticada por organizações criminosas”, voltando-se a questão inicial, este
dispositivo regula o combate às ações praticadas pelas indecifráveis organizações
criminosas. Sabemos que na realidade é bem diferente do que a lei impõe, há uma
forte inobservância da norma penal, dificilmente se aplica o disposto na prática.
A lei não estabelece quais os métodos adequados dotados de especialização
contra a atuação de organizações criminosas, ela apenas faz referência à atribuição
desta tarefa à policia judiciária, encarregada de estruturar seus setores e equipes de
policiais especializados destinados a este fim, mas infelizmente não menciona quais
os meios apropriados que devem ser utilizados para combater com eficácia ao
fenômeno da criminalidade organizada, o que se percebe é que cabe a polícia
judiciária diligenciar esta estruturação de meios especializados ao combate, mas
não é bem o que se vive na aplicação da lei.
Ao nosso olhar a lei determina apenas procedimentos de investigação e
formação de provas como meios operacionais de combate, mas não se dá conta que
dá ênfase ao combate apenas em caráter de se remediar e pouco se nota a
preocupação de se prevenir, ela regula meios de prova e investigatórios, mas não
focaliza um método específico eficaz a ser empregado à polícia.
Com tudo, além de ter sido aprovada uma lei que não conceitua o crime
organizado, esta deixa de fora a definição de organizações criminosas, que
lamentavelmente fazem parte da realidade brasileira, e se aproveitando das
deficiências do nosso sistema penal, este problema da atuação do crime organizado
resulta em um dano social acentuado, acompanhado de lacunas na legislação que
necessitam ser preenchidas.
24
3- SEGURANÇA PÚBLICA
3.1- Segurança Pública Brasileira
De acordo com o Ministério da Justiça, este define Segurança Pública como:
“Uma atividade pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo, realizada com o fito de proteger a cidadania, prevenindo e controlando manifestações da criminalidade e da violência, efetivas ou potenciais, garantindo o exercício pleno da cidadania nos limites da lei”.
A estrutura da segurança pública brasileira é formada dos seguintes macros
sistemas: o Sistema Policial, o Ministério Público, o Poder Judiciário e o Sistema
Penitenciário, porém o combate à criminalidade organizada têm se resumido
meramente em ações de caráter policial, e pior, mais em ações policiais ostensivas
do que ações policiais inteligentes, e ainda tem buscado a resolução dos conflitos no
sistema penitenciário com punição quase que estritamente em caráter de isolamento
social como execução de pena.
O fenômeno do crime organizado é o maior problema de segurança pública
no Brasil, durante anos o Estado não investiu em políticas de intervenção e
desmantelamento das redes de comando, sendo omisso e ausente na função de
cuidar da segurança nacional em confronto com a violência e a criminalidade difusa,
o que motivou e incentivou o fortalecimento do crime organizado, contribuindo
grandemente no aprimoramento de suas atuações, desmoralizando cada vez mais o
papel do poder público em zelar pela segurança e incolumidade da sociedade.
Para D’Urso (2002 p. 52-53), em uma entrevista dada à Revista Jurídica
Consulex, ele expôs sua opinião com relação à matéria discutida, dizendo o
seguinte:
“A segurança pública no Brasil é uma das maiores preocupações da população e, em virtude do aumento vertiginoso da violência, tem sido explorada e debatida pelas entidades governamentais e não governamentais no sentido de buscar uma solução que resolva esta questão, a qual, sem dúvida alguma, está entre as primeiras necessidades de qualquer ser humano”.
A visão que se tem da realidade brasileira é o perfil em que se enquadra
visivelmente a situação do Brasil, principalmente nas grandes cidades como Rio de
Janeiro e São Paulo.
25
Segundo D’Urso (2002, p.52) ele afirma ainda em seus trabalhos que:
“uma das principais causas da escalada da violência reside no aumento da sensação de impunidade, aliado ao fato de o Estado abandonar determinadas áreas, que ficam à mercê de líderes do crime organizado que se apoderam do território e detém o poder para dominá-las, instalando ali um verdadeiro poder paralelo”.
Os problemas de segurança pública são muitos e várias são as suas causas.
O crime antes era um ato isolado, agora está organizado, e como não há crimes e
sim uma diversidade de crimes, não existe uma única causa para esse universo
complexo da criminalidade e sim muitos motivos.
Baseando-se no pensamento de D’Urso, verifica-se que o Estado deixou de
fornecer à população direitos básicos para que possam viver com dignidade, como
hospitais, escolas, lazer e saneamento básico, principalmente para a parcela mais
pobre da população que vive nas períferias dando oportunidade ao crime organizado
para se instalar com estrutura empresarial e oferecer estes serviços aos moradores
que ficam à mercê de bandidos perigosos e poderosos que os manipulam, como
também subornar os agentes responsáveis por combatê-los, em virtude do
enriquecimento fácil.
A base da nossa estrutura de segurança pública apresenta-se abalada com
aspecto bem debilitado, precisando de uma recuperação intensiva urgente, caso
contrário o caminho a percorrer será irreversível, sem chance de exterminar o
pesadelo que dominou os setores de segurança aliado ao processo de globalização,
ressalta-se que com o longo e extenso avanço ocorrido na formação e
desenvolvimento da criminalidade organizada, torna-se muito difícil solucionar
definitivamente a questão.
Levando em consideração esta lamentável realidade, acredita-se que a única
saída é a prevenção como ato de combate, atuando efetivamente no processo de
formação social, cultural e educacional do cidadão, e aplicar a repressão como
medida de controle para remediar quando não for mais caso de prevenir,
acompanhando rigorosamente o cumprimento de normas e das penas.
A questão da comunicação é um fator de grande relevância, pois é um
inseparável aliado do crime organizado, sem este instrumento, líderes de facções
criminosas não teriam como dar prosseguimento nas suas ordens de execução e
comandar seus seguidores obedecer a missões, o que conseqüentemente
paralisaria as rebeliões internas e os ataques terroristas na sociedade, impediria o
26
acesso a informações com outros membros, impossibilitaria a negociação de favores
com agentes corruptos e dificultaria todo planejamento de fuga.
Com o avanço tecnológico, a era da modernidade, da globalização, do
sistema de informatização e abertura da economia, abriu-se vários caminhos,
trazendo vantagens e facilidades juntamente com problemas, e neste quadro
podemos inserir o ponto negativo destas inovações, trouxe recursos não só para a
comunidade geral, porém para o mundo do crime também que os utiliza bastante.
Outros fatores normalmente associados ao aumento da criminalidade são a
pobreza e a miséria, a marginalidade dos centros urbanos e os processos
migratórios.
Entretanto, como defende Soares (2003, p. 8) é necessário perceber que:
“ser pobre não torna ninguém criminoso e que a delinqüência é encontrada em todas as classes sociais. Pobreza e desigualdade são e ao mesmo tempo não são condicionantes da criminalidade. Depende do tipo de crime, do contexto intersubjetivo e do horizonte cultural. Nenhum fator apontado como causa da criminalidade age sozinho ou diretamente sobre o indivíduo. Os valores morais, o modo como a realidade é interpretada por cada um, a necessidade de sobrevivência é que autoriza ou inibe ações violentas. É evidente que o meio influencia principalmente em lugares onde o crime organizado é o poder reconhecido e respeitado. Alie-se a isso o fato de que nos bairros pobres as escolas são ruins e às vezes inexistentes, as condições de atendimento à saúde são precárias, há poucas ou nenhuma área de lazer e as chances de profissionalização e progressão econômica são mínimas. Desse modo, as oportunidades de haver envolvimento com gangues, drogas e armas são maiores”.
Esse quadro caótico de violência no qual está inserida a sociedade brasileira
nos leva a questionar se o problema da violência tem solução ou se o caos instalado
é irreversível.
Ao que tudo indica especialistas dizem que “não existe uma medida mágica
eficaz, que possa representar a solução definitiva para o problema. O que existe são
medidas de controle para enfrentar o crime organizado e resultar uma reação
diferente” (D’Urso. 2002, p. 8).
É necessário romper a ligação da polícia com o crime, isto é fator primordial
para o enfrentamento da criminalidade aliado ao combate à corrupção estatal. Pois
de acordo com pesquisas realizadas, será visto no decorrer deste trabalho que
policiais e agentes penitenciários são os que mais têm tido desvio de conduta na
profissão, facilitando o ingresso de drogas, armas e aparelhos celulares no sistema
27
prisional, sendo estes agentes estatais transgredidos através do pagamento de
propina, o que dificulta a transparência da legalidade e da segurança.
Há a necessidade de se ampliar o policiamento preventivo e investigativo de
modo a aperfeiçoar o trabalho desta, para inibir o cometimento do delito. E sendo
cometido o crime, há a necessidade de investigá-lo com recursos suficientes, e para
tal há de se dotar a polícia de meios para exercer o policiamento com recursos
materiais e meios para a investigação, equipando as polícias do que existe de mais
avançado em tecnologia para auxiliá-la no combate ao crime.
No âmbito governamental há a necessidade de equipar os setores de
segurança pública dos estados com tecnologia moderna dotada de uma rede de
informações e de troca de dados. Além de ser necessário ainda, ter pessoas
capacitadas e que entendam de segurança pública na direção, para que possam
criar políticas de combate à criminalidade que sejam realmente eficazes.
As medidas devem ser tomadas conjuntamente, somadas à planos de
Governo no compromisso de criar uma intervenção política de segurança pública, no
sentido de programar melhorias na polícia e no sistema prisional, investir na
educação como fator primordial. Importante ressaltar que os problemas da
segurança pública também devem envolver toda a sociedade, começando pelo
controle que esta deve exercer sobre a polícia, a justiça e sobre si mesma.
É preciso coragem e determinação política, governamental e da sociedade
brasileira em geral para que sejam implementadas as medidas propostas. Esta é
uma luta que necessita de um esforço conjunto, um direcionamento comum, pois só
assim se conseguirá de forma sustentável, impor limites às pressões cotidianas da
violência.
Analisando o conjunto da situação, o Brasil infelizmente não está preparado
no momento relativamente, para enfrentar o crescimento da violência urbana e do
crime organizado, pois como já foi dito, às polícias falta treinamento, equipamento
adequado e salários capazes de frear a corrupção, mas apesar de tudo e de toda
essa manifestação da crise nacional, destaca-se que ainda é possível dada às
atuais condições sociais e econômicas da sociedade brasileira, reduzir a incidência
da criminalidade e da violência para patamares mais razoáveis.
Uma parcela importante do problema reside na ausência de políticas públicas
eficazes de controle da criminalidade, de se desenvolver uma política criminal
28
voltada especificamente para o combate à criminalidade organizada, objetivando
derrubar a ineficácia do sistema penal e da legislação que rege o crime organizado.
A elite política brasileira, salvo honrosas exceções, ainda não compreendeu a
importância de se adotar essa política de segurança pública, ou simplesmente se
imobilizou no interesse de agir ativamente neste combate, uma situação que se
apresenta em verdadeiro estado de pânico e calamidade pública. Para tanto, a boa
governança da política de segurança pública deve incluir ações que concentrem o
monitoramento das polícias e do sistema prisional, incluem-se aqui desde a melhoria
das condições de trabalho dos policiais até a ampliação de vagas nas unidades
prisionais e a profissionalização de seu exercício.
É possível fazer muito mais do que está sendo feito, tem prevalecido na elite
política brasileira a atitude de lidar com a segurança pública mediante o mero
gerenciamento de crises, o que é absolutamente ineficaz. É possível alcançar
resultados muito mais expressivos do que aqueles que estão sendo alcançados até
o momento.
Vontade política é um bom começo para reverter o quadro, acrescentando-se
uma boa pitada de investimentos. A boa política de segurança pública deve ser
rigorosa no combate à impunidade, o que exige a existência de penalidades para
infratores, e o mais importante, o cumprimento dessas penas, até porque nosso país
tem uma vasta e extensa legislação, mas infelizmente uma grande parte dela não é
obedecida, tem prevalecido a inobservância das normas penais.
É de suma importância traçar idéias de combate para possíveis soluções
dentro das reais condições, moldando o atual critério adotado pelo Estado que só
tem fracassado, pois as críticas ao governo existem em grande proporção, mas a
tarefa não é fácil de enfrentar.
3.2- Estado Democrático de Direito: Garantias Constitucionais
Nosso país é formado por um Estado Democrático de Direito resguardado
pela Constituição Federal que assegura direitos e garantias fundamentais dotadas
de princípios constitucionais que servem de base para toda nossa legislação. Dentre
esses direitos, a Carta Magna assegura como direito social: a educação e como
garantia em prol da ordem pública a segurança aos cidadãos.
29
Esses direitos estão vinculados ao princípio da dignidade da pessoa humana,
assegurados pela lei maior como princípio constitucional fundamental, ou seja, o
cidadão tem direito a educação e a segurança para viver dignamente em sociedade
com outros indivíduos, mas infelizmente a realidade é outra, os direitos sociais
dificilmente são respeitados, ficando o princípio da dignidade humana de lado
menosprezado pelo Estado.
Devido o não respeito a estas garantias fundamentais, é que o país tem
perdido o seu objetivo de erradicar a pobreza e a marginalidade, por causa da
educação precária, além de ter fracassado também no objetivo de reduzir as
desigualdades sociais, o que dá margens a criminalidade e abre as portas para a
insegurança pública. Sabemos que a Educação e a Segurança estão asseguradas
pela Constituição, mas lamentavelmente abandonadas pelo poder público que não
tem as priorizado.
A segurança dos cidadãos é uma questão que inclui os direitos e garantias
fundamentais assegurados pela nossa Constituição, os quais geralmente não são
respeitados, raramente a população goza desses direitos e muitas vezes têm essas
garantias abandonadas pelo Estado.
O embasamento teórico sobre a responsabilidade do Estado em defender a
nossa segurança, que fundamenta esse direito assegurado à sociedade brasileira,
está previsto no Art. 144 da Constituição Federal, na parte em que cuida da
Segurança Pública Nacional, afirmando o seguinte: “A segurança pública, dever do
Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas” (...).
Com o teor do texto constitucional relatado, fica declarado que deve haver
uma cooperação entre o Estado e a sociedade em defesa da ordem pública como
exercício da cidadania para aplicação da lei e garantir o fim da impunidade. O
Estado Democrático de Direito tem necessidade de reforçar a função do Estado para
impor limites ao crime organizado que desperta uma profunda sensação de
insegurança.
30
A Crise na Segurança Pública Brasileira:
3.3- Fraquezas do Governo
Nas últimas décadas houve um crescimento assustador da criminalidade
urbana e do crime organizado, motivo que preocupa a população, principalmente
moradores de grandes e médias cidades do Brasil, mas apesar de sua grande
repercussão na sociedade brasileira, nota-se a grande deficiência do Estado em
organizar medidas para solucionar estes conflitos, fator que evidencia o descrédito
da sociedade com relação às ações praticadas pelo governo no que diz respeito aos
assuntos ligados às questões de segurança pública.
As áreas urbanas de grandes metrópoles são onde mais se presencia a
insegurança e a violência decorrente da macrocriminalidade, fator que evidencia a
fragilidade operacional existente no poder público, contudo, o assunto sobre
segurança é lembrado precipuamente pela ausência de uma ação eficaz por parte
do Estado.
A situação vivida no Brasil nos dias atuais, principalmente nas grandes
cidades, mostra que a Segurança Pública tem sido degradada pelo Crime
Organizado comandado por chefes de organizações criminosas que atuam nas
facções criminosas dentro do próprio sistema prisional, repercutindo seus efeitos na
sociedade, afetando a segurança pública, causando instabilidade na ordem pública
devido às ameaças de atentados contra a coletividade urbana.
O crime organizado na atualidade tem muito do que falta na estrutura
brasileira de segurança pública: alto poder bélico, acesso a equipamentos modernos
e sofisticados em tecnologia e poder econômico efetivo, isso fortalece o poder
paralelo e enfraquece cada vez mais o Estado, as fraquezas do nosso sistema de
segurança é resultado de anos de mau investimento do governo, visto que este não
tem acompanhado na medida certa a evolução que a criminalidade organizada está
percorrendo. O avanço da globalização é uma das causas que contribui para este
descompasso tecnológico e um efeito significativo no cenário jurídico.
O crescimento da impunidade revolta a população e intensifica a violência em
todos os aspectos, o cenário em que vive a sociedade brasileira, verifica-se
inúmeras ocorrências de violência, aumento da marginalidade, alto índice de
31
insegurança e considerável evolução do crime organizado, base esta que serve de
suporte para o aprofundamento da impunidade no meio social.
Acredita-se que o resultado do caos de hoje, é fruto de anos de má
administração política, de mau investimento da verba destinada à segurança pública
que é aplicada de forma inadequada, uma colheita de políticas públicas desastrosas
que arruinaram as estruturas do país em detrimento da incolumidade pública, alvo
da criminalidade aliada à corrupção estatal, fator relevante no incentivo ao crime
organizado, e meta do terrorismo que feri a ordem pública.
Infelizmente, apesar de alguns líderes do crime organizado estarem presos, e
geralmente em penitenciárias de segurança máxima, ainda assim eles detém pleno
domínio do seu campo de atuação dentro e fora da prisão, devido o desvio de
conduta de alguns agentes penitenciários corruptos que facilitam a entrada de
armas, drogas e aparelhos celulares no estabelecimento penal, em troca do
pagamento de propina que substima o salário insuficiente que os agentes públicos
recebem do Estado. Com isso, percebe-se uma fiscalização fraca no setor estatal e
a ausência do cumprimento de penalidades para infratores que quebram o
regimento interno, sem aplicação de pena não há como repelir os delitos, tanto dos
agentes estatais corruptos como das facções que trocam favores com eles.
Incluindo ainda nesta situação alarmante, o alto poder de intimidação e a
ousadia do crime organizado em enfrentar o Estado e até mesmo de chegar a ditar
as regras de negociação em troca de paz pública, ou seja, há casos em que se a
autoridade competente não ceder às exigências cobradas pela organização
criminosa, é rebelião com certeza, que muitas vezes essas manifestações
ultrapassam as muralhas da prisão e atingem diretamente a segurança pública,
refletindo um verdadeiro caos de violência na sociedade.
Ressalta-se que o crime organizado visa em qualquer situação o
enriquecimento fácil e rápido objetivando sempre vantagem econômica, mas não
desprezando a sede pelo poder. Existe uma série de ramificações nessa modalidade
de crime, podemos destacar o caso de esquemas de assaltos a bancos, que
representa uma grave ameaça à segurança, geralmente pelo fato de serem
compostas de quadrilhas armadas que fazem este tipo de planejamento.
Menciona-se ainda o vínculo desta modalidade com o contrabando de armas,
que muitas vezes quando não é conseguida na negociação com polícia corrupta,
são adquiridos como fruto de roubo em delegacias, postos policiais ou ainda no
32
comércio ilegal de armas compradas com o dinheiro dos assaltos, verifica-se a forte
influência que o capitalismo tem, pois ele está englobado nesta repercussão.
Chefes de quadrilha comandam de dentro do próprio sistema penitenciário
seus súditos que se encontram soltos na sociedade, promovendo ataques
terroristas, movimentando o tráfico de drogas, planejando assaltos esquematizados,
organizando o contrabando de armas pesadas, seqüestrando e extorquindo juízes e
delegados, enfim, seguindo um vasto caminho do rol de crimes.
O próprio Estado já negociou até mesmo a paz com chefes dos morros, onde
atuam como dono do morro no qual se constituem numa espécie de governo
paralelo das comunidades pobres, gerando uma determinada responsabilidade
sobre o comando ao líder da favela, responsabilidade esta que deveria ser
incumbida ao Poder Público, mas que por sua vez têm se mostrado ausente nestas
comunidades desfavorecidas economicamente, toda via são beneficiadas pelo líder
do narcotráfico local.
O governo por sua vez, tem parcela de culpa em parte deste colapso
incontrolado, sendo que diante das rebeliões e ataques comandados pela
bandidagem este se intimida, e acredita-se na hipótese de que até negocia com a
máfia em troca da paz pública e da segurança nacional. É o que se conclui depois
de citar o episódio do PCC em 2006, em que integrantes da facção pararam a maior
capital do país por três dias, executando atentados contra a coletividade queimando
os ônibus da cidade de São Paulo com pessoas aprisionadas.
Poucos dias depois do ocorrido, tudo voltou ao normal milagrosamente, a
paralisação saiu do coma e a capital voltou às suas atividades do dia-a-dia sem se
saber como foi contido o caos sofrido pela população, indaga-se que tipo de
negociação se utilizou para reparar o mal que se alastrava, que tática ou estratégia o
governo usou para acalmar as violentas ações do PCC.
Do ponto de vista ético critica-se essa atitude do governo que em vez de fazer
trocas com o crime organizado deveria prevenir e não negociar com este, que
obviamente sempre vai requerer regalias em suas reivindicações, supostamente foi
o que aconteceu neste último episódio, pedidos de transferência do líder deles para
outro presídio, e não raramente libertação de algum preso que se encontra em
confinamento isolado dos demais.
O poder de comando do crime organizado é tão avançado que o
equipamento tecnológico que utilizam para se comunicar de um pavilhão para outro
33
ou com membros que estão em liberdade, é tão moderno que nem a própria polícia,
autoridade competente para investigar nem sempre possui equipamentos tão
sofisticados para acompanhar a atuação das facções dominantes.
No aspecto de repressão, o trabalho da polícia não é muito bem valorizado,
os salários e os meios de trabalho são insuficientes, trabalham em condições de
miséria e calamidade, sem recursos apropriados para a missão de velar pela
segurança nacional, razão que facilita com que funcionários sejam corrompidos por
causa da baixa remuneração para uma tarefa ingrata, desprezada e acima de tudo
perigosa.
O que se observa nas grandes cidades além da atividade criminosa dos
traficantes é o comprometimento de órgãos públicos em atos de corrupção, como
integrantes da polícia que atuam como cúmplice, ocorrendo uma dupla tirania:
componentes do tráfico e membros de órgãos responsáveis pelo combate ao crime
que se deixam corromper. A sociedade vive sob o domínio do medo e do
constrangimento imposto pela dupla tirania. Há uma cumplicidade entre traficantes e
alguns membros do poder público que se corrompem e negociam acordos.
O que aparece visivelmente na sociedade, é a criminalidade organizada a
qual produz uma violência em massa, tal como assassinatos, lesões corporais com
ferimentos causados por balas perdidas, atingindo tanto participantes do mundo do
crime quanto à população carente dos morros, bem como também a classe média
que tem a sua tranqüilidade ameaçada, patrimônio desvalorizado, destruído ou
subtraído.
Nota-se, contudo, a instabilidade da segurança na sociedade, o pesadelo
vivido nas grandes capitais quando o assunto é segurança pública, somos vítimas e
reféns da violência do crime, o crime organizado impõe medo e ameaça quando
acompanhado do descaso de nossos representantes públicos, que diante da
realidade apresentada se mantém inerte sem tomar as devidas providências
adequadas para controlar ou desmantelar a máfia organizada.
Um fator de grande relevância que contribui extensamente para o crescimento
e fortalecimento da criminalidade organizada, além da fraca fiscalização e da
corrupção infiltrada na esfera estatal, também é fator marcante que colabora para o
descontrole da segurança é o não cumprimento da execução penal nos presídios
brasileiros, pois a crise instalada no sistema prisional se reflete não só na execução
da pena, mas também na segurança pública. Até porque a função da lei de
34
execução penal não se restringe em apenas punir, porém serve ainda para garantir
os direitos do preso, como a educação, no papel de ressocializar.
As autoridades responsáveis em zelar pela paz e ordem pública, ou seja, pela
segurança, são incumbidas de proteger a população dos ataques de violência que
norteiam a coletividade. Mas a realidade brasileira é bem diferente, a corrupção e a
impunidade são fatores determinantes que aceleram o avanço da criminalidade.
Nosso país é dotado de uma estrutura escassa em recursos para investir na
segurança pública, carregado de condições deficientes em trabalhar no combate à
criminalidade organizada, o que requer uma estrutura preparada em controlar e
prevenir o crime.
Atuação das Facções Criminosas no país:
3.4- Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho
Atualmente a maior organização criminosa do Brasil que mantêm seu poder
paralelo atuante é o PCC – Primeiro Comando da Capital, uma espécie de sindicato
do crime com uma visão amplamente ideológica, de natureza política e sócio-
econômica. Originou-se dentro das prisões, e é liderado por grupo de presidiários
que comandam rebeliões, atentados terroristas nas grandes capitais, preparam
fugas, financiam resgates de outros membros da organização, executam seqüestros
e assassinatos, planejam assaltos à bancos e comandam o tráfico de drogas.
O PCC nasceu em São Paulo, onde predomina seu maior campo de atuação
e é onde está localizado seu maior poder de comando. Mas apesar disso, o PCC
ultrapassou as fronteiras de São Paulo, espalhou-se em vários territórios do país e
invadiu outros estados brasileiros como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Bahia e Rondônia. O PCC é um grupo do
crime organizado extremamente forte na capital em que surgiu, seu poder é muito
grande, porém é apoiado nesses outros estados além de São Paulo.
Hoje calcula-se que o PCC tenha cerca de 130 mil membros dentro e fora da
prisão, um imenso batalhão de bandidos recrutados em missão do crime, o PCC
representa o mais atrevido e audacioso tipo de criminalidade organizada que assola
a segurança. Seu principal aliado em ordens de comando é o telefone celular, que
está presente em quase todas as prisões paulistas, e é através deste instrumento
35
que chefes do PCC comandam suas ordens de execução do crime de uma prisão
para outra e para os membros que estão do lado de fora da prisão, com transmissão
de comunicação.
Há uns anos atrás, o governo cometeu um grave erro quando pegou líderes
do PCC e presos considerados de alta periculosidade e os distribuiu pelo país, estes
foram divididos e colocados em estados diferentes, isso conseqüentemente causou
a proliferação em grande parte do Brasil, o que gerou um crescimento e o
fortalecimento do crime organizado o qual se consolidou ainda mais com essa
redistribuição em outras penitenciárias.
Ao longo de alguns anos, seu atrevimento foi acelerando, há relatos
demonstrando que a organização do PCC financia até pagamento de curso de
direito para estudantes, com intuito de que estes futuramente os defendam. Além
disso, membros do PCC criaram na internet uma página sobre a facção, mas esta
por sua vez não durou muito tempo, quando foi descoberta por jornalistas, a polícia
tirou do ar a página da organização criminosa.
Outras informações sobre o recrutamento de membros mostram que com o
passar do tempo o PCC conseguiu recrutar ao seu partido até advogados, que da
posição de seus defensores passaram a ser aliados da organização, levando
consigo ordens de uma prisão para outra a mando da facção.
O PCC é formado por grupos numerosos, que agem rigorosamente no seu
processo de hierarquia organizacional, com planejamentos elaborados rigidamente,
acompanhado de atividades ilícitas e clandestinas, prevendo fins lucrativos, dotados
de planejamento empresarial, dividindo suas funções e tarefas, fazendo uso de
intimidação e emprego de violência.
A corrupção infiltrada no seu campo de atuação atrai a impunidade, fatores
determinantes para a perpetração da criminalidade organizada. Sem punição aos
atos praticados pelo PCC, isso acarreta uma grande repercussão de desordem
social e insegurança.
O PCC tem seu exercício efetivo no patrocínio de rebeliões e regate de
presos, rouba bancos, executa extorsão de familiares dos detentos, extorsão
mediante seqüestro e tráfico de entorpecentes.
A facção criou um Estatuto redigido e fundado pelos próprios integrantes do
grupo, que impõem exigências a serem obedecidas e cumpridas a rigor, sendo que
uma delas estipula o pagamento de uma taxa mensal pelos que participam da
36
organização, sendo um determinado valor para quem se encontra preso e outro
valor mais alto para o membro que está em liberdade, e com isto conseguirem
dinheiro para o caixa da facção, com fins de garantir a compra de armas e drogas.
Com isso, para o PCC, é essencial e indispensável o pagamento da mensalidade ao
caixa da facção, quem não paga é banido da organização e até prometido de morte.
Estes grupos assassinam membros de facções rivais que não obedecem ao
seu estatuto, criado por eles mesmo, tanto dentro como fora da prisão. A atuação
dessas organizações criminosas no Brasil, assim como suas conseqüências
ameaçam a sociedade e o Estado brasileiro, pois o crime organizado está vinculado
ao terrorismo, um fenômeno que assusta a comunidade nacional, já que se
configura como objeto de ação de inúmeras organizações contra a coletividade, o
medo e a insegurança, fruto de uma longa jornada de evolução da criminalidade.
Como exemplo de intimidação e de violência associados ao terrorismo
utilizado pelo crime organizado, podemos relembrar o episódio do PCC em 2006,
como já citado anteriormente, em que integrantes da facção pararam a maior capital
do país por três dias, executando atentados terroristas contra a população
queimando os ônibus da cidade de São Paulo com pessoas presas neles.
O PCC é aliado ao Comando Vermelho, porém, este último apresenta outro
perfil, a atuação do Comando Vermelho foi inspirada nas organizações de esquerda
da luta armada e nas táticas de guerrilha urbana, originado no Instituto Penal
Cândido Mendes, na Ilha Grande, localizado no litoral sul do Rio, conhecido como
Caldeirão do Diabo, ambiente que favoreceu a criação e proliferação desta facção
criminosa.
O que ocasionou sua proliferação no presídio foi o fato dos criminosos
comuns terem que dividir o mesmo espaço com presos políticos de esquerda, e o
pior, em um ambiente para uma determinada quantidade de presos, mas que seu
limite de capacidade era ultrapassado ao permitido. O resultado da convivência
entre militantes de esquerda e criminosos, enfrentando um sistema penal desumano
gerou o Comando Vermelho, incorporado de uma ideologia social e política na busca
de melhores condições de vida.
De acordo com o que diz Porto (2007, p.87), o Comando Vermelho ‘’é
essencialmente ligado ao tráfico de entorpecentes em larga escala, contrabando de
armas e seqüestros. Essas atividades são formas de fazer dinheiro para financiar a
compra de drogas’’.
37
O Comando Vermelho tem uma visão empresarial, dotado de uma estrutura
voltada para a comercialização de drogas, que é o sustentáculo do crime
organizado.
Em pesquisa feita pelo jornalista Amorim (2007, p.366), atualmente o governo
do Rio estima:
“que o Comando Vermelho possua algo em torno de seis mil e quinhentos
homens. Calcula-se, ainda, que outras dez mil pessoas trabalhem
diretamente ligadas às atividades dessa organização, em tarefas de
distribuição e contatos. Mais de trezentos mil vivem dos rendimentos do
comércio ilegal de entorpecentes’’.
Com a venda de entorpecentes e a negociação de armas, o lucro obtido é
usado para financiar o crime organizado, que é sustentado pelo comércio ilegal de
drogas e pelo contrabando de armas, promovendo assim o resgate de outros
membros presos, o que requer grandes despesas, com pagamento de propina e
suborno aos setores de fiscalização e policiamento.
Como exemplo de um grande símbolo do crime organizado, temos o líder da
organização criminosa Comando Vermelho, Fernandinho Beira-Mar, chefe de
quadrilha e maior traficante do país, que se encontra preso, mas ainda sim comanda
o tráfico nas favelas e morros do Rio de Janeiro, é dono de um grande império
empresarial no comércio ilegal de drogas e possuidor de muitas riquezas como
mansões espalhadas pelo Brasil. Ele lidera a organização Comando Vermelho e
ordena operações de execução de dentro do próprio presídio, seja no interior do
sistema ou fora da prisão.
É inegável que o crime organizado que comanda o tráfico de entorpecentes e
de armas, exerce papel relevante no contexto de violência no qual o Brasil está
inserido, principalmente no Rio de Janeiro, onde está localizado o maior foco de
comercialização de drogas, e é através desse comércio, verdadeiro exército paralelo
recrutado a serviço do crime, que a todo o momento se travam guerras entre os
grupos nos morros cariocas, os quais disputam o milionário mercado de drogas.
3.5- Modelo Brasileiro de Segurança Pública
A medida adequada para se aplicar ao problema da segurança pública, como
já foi destacada não é tarefa fácil, principalmente na prática, modelos de estratégias
38
são traçados, mas quando colocados em fase de teste nem sempre prosperam,
vivemos em um país pobre e uma missão neste ramo requer um investimento
significativo e uma atenção especial voltada para o tema, o assunto é bem complexo
e abrangente, o que dificulta mais ainda encontrar uma solução ideal para o
problema apresentado em um estágio bem avançado e complicado de se
acompanhar.
A intenção em acabar de vez é uma alternativa fora de cogitação, não há
mais como terminar totalmente este conflito, o que ainda se pode fazer é tentar
controlar de forma amenizadora, investindo em projetos de caráter essencialmente
preventivo para diminuir o índice da criminalidade, impossibilitar ou dificultar o
acesso de membros das facções criminosas a recursos tecnológicos e financeiros,
viabilizando a função de fiscalizar ativamente o sistema prisional impedindo a quebra
do regime disciplinar interno.
O clamor das facções em forma de terror praticado por elas é um tipo de
protesto, uma maneira de rebelar o que querem a qualquer custo, o Estado deve na
tentativa de controlar este fenômeno exterminar as regalias que os presidiários têm
acesso, como o uso do celular, por exemplo, que funciona como ponte de
comunicação, o acesso a informações com o mundo a fora pode ser extremamente
perigoso para futuros planejamentos de novos ataques e ordens comandadas por
chefes de organizações criminosas aos seus fiéis súditos.
Exterminar as regalias dos detentos é essencial, principalmente em aplicar o
banimento dos celulares no sistema prisional, pois bloqueadores e rastreadores já
foram implantados no sistema, mas a tecnologia da máfia esta tão avançada que
seus equipamentos funcionam por antenas a distância que ultrapassam o limite de
radar instalado nas prisões.
A lei deveria ser mais rigorosa no sentido de cumprir a punição, destacando
essa questão da entrada de aparelhos celulares nos presídios que já se tornou fato
corriqueiro, pois foi demonstrado que agentes penitenciários são os grandes
responsáveis pelo ingresso de celulares, também de drogas e armas dentro dos
presídios.
O Estado dever buscar a resolução dos conflitos com altos índices de
criminalidade, porém na maioria das situações os gestores de segurança pública
não constituem este fator como prioridade da agenda. Os poucos projetos de
39
prevenção existentes são limitados, ora pela escassez de recursos, ou pela
resistência das autoridades que não os consideram políticas públicas de segurança.
Na verdade não existe uma resposta pronta para a solução do problema, do
contrário o governo já a teria implementado, acredita-se que o problema começa na
questão da educação e cultura, para a erradicação da pobreza, o Brasil tem toda
uma trajetória histórica de um povo que viveu as margens do abandono pelo poder
público, que passou por diversas revoluções políticas radicais há muitos anos, e
deixaram marcas na história impulsionando o desenvolvimento do que nasceu na
ausência do Estado.
A estrutura do país é um ambiente propício para estimular o crescimento da
pobreza e conseqüentemente do crime, a má gestão do governo contribui na
deficiente formação da Educação no Brasil, estudiosos dizem que abrir uma escola é
fechar uma prisão, e faz sentido, a educação é a base de tudo, quando o cidadão
dedica a vida aos estudos tem chances de conseguir um futuro melhor, garantir uma
carreira profissional e adquirir estabilidade econômica, mas a realidade brasileira é
lamentável, o sistema escolar brasileiro é notoriamente precário e tem se
deteriorado por razões políticas e econômicas, o que acarreta o desemprego em
larga escala.
A melhor forma de combate é a prevenção e não a repressão, só reprimir
nesta situação não acaba o problema, o que se pode ainda conseguir é amenizar o
fenômeno da criminalidade organizada, mas destruí-lo de vez seria uma utopia. Não
há como arrancar as raízes do passado que se fixaram na terra com tanta força
quem nem o Estado consegue derrubar.
As ações meramente repressivas contra a criminalidade não resolvem a
situação vivida no cenário nacional, quando se aumenta a repressão nas grandes
metrópoles, a tendência é que os criminosos procurem formas alternativas de se
abastecerem de dinheiro, para aquisição de armamento e manutenção de seus
negócios.
É evidente de que já está na hora das autoridades perceberem que as
soluções são muito mais amplas do que o simples incremento da atividade policial
com aumento de viaturas e aquisição de armas. O mero fortalecimento do aparato
policial, desacompanhado das políticas sociais necessárias, não muda muita coisa
no atual quadro. Com isso, somente se aumenta o número de encarceramentos,
40
foco da criminalidade violenta que continua produzindo bandidos cada vez mais
audaciosos e perigosos.
A questão de prevenção consiste no intenso investimento na educação para
erradicar a pobreza e a marginalidade, abrindo portas para um processo diferente de
formação de cidadãos. No caso da repressão teria que se transformar o ambiente
das prisões em um local de reabilitação para os detentos, de verdadeira
ressocialização para que possam ser reeducados e reintegrados na sociedade sem
representar perigo para ela.
Diante do atual cenário brasileiro, verifica-se a constante preocupação da
população em despertar o interesse nas autoridades para que garantam a paz
pública que tanto almejam, cobrando do governo competente a missão de conseguir
de alguma forma quebrar a máfia organizada e a corrupção infiltrada no Poder
Público, que atrapalha e dificulta solucionar o problema da ordem pública e jurídica.
Trata-se não apenas em reprimir a violência e a guerra civil entre bandidos e
polícia, que nesta infiltrados agentes estatais corrompidos pelo poder paralelo,
devido à precariedade das condições em que trabalham e dos escassos recursos
que recebem para sobreviver se sujeitam ao suborno, mas trata-se também em
identificar saídas como opção de acalmar a instabilidade da segurança nacional,
começando por mudanças no sistema prisional.
41
4- SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
4.1- A Superlotação dos Presídios Brasileiros
As condições precárias em que vivem contribuem para a formação de grupos
organizados para atuarem na busca e concretização de conquistas, outro problema
que estimulou o fortalecimento do crime organizado no sistema prisional foi a
questão da superlotação das prisões o que proporcionou a fragilidade da efetiva
função da ressocializão, desencadeando o inchaço das penitenciárias brasileiras.
O ambiente degradante que a massa carcerária cumpre a pena é um forte
aliado ao crescimento do crime organizado no sistema prisional, pois se o próprio
governo em descompasso com a polícia não consegue administrar o problema da
criminalidade, não é o carente sistema prisional que vai suprir sozinho os anseios e
necessidades dos presidiários e controlar sua atuação organizada.
Com uma quantidade tão elevada da massa carcerária torna-se bastante
difícil administrar o caos presente no sistema, o número de capacidade para abrigar
os presos geralmente extrapola o limite suportável pela arquitetura prisional e
transgride o espaço permitido no sistema penitenciário estabelecido na Lei de
Execução Penal que define o dever de se reservar a cada preso um espaço de seis
metros quadrados.
Segundo dados publicados pela Fundação Internacional Penal e
Penitenciária, o Brasil é o país da América Latina com a maior população carcerária
e com o maior déficit de vagas. Há presídios no país em que condenados cumprem
pena em espaço interno da cela de 30 centímetros quadrados, tendo os presos se
revezarem para dormir já que o espaço dividido entre eles não permite que todos se
deitem ao mesmo tempo.
O cenário da superlotação é o mais grave e crônico problema que aflige o
sistema prisional brasileiro, com isso fica evidente o motivo de rebeliões e fugas
ocorridas nas prisões, é nitidamente desumano o tratamento dado sob condições
precárias existentes nos presídios, inviabilizando a ressocialização, ocasionando a
propagação de mortes, rebeliões e fugas constantes.
Infelizmente a situação do sistema prisional gera a revolta da massa
carcerária que se rebela por melhores condições de vida, pois vivem em um
ambiente de promiscuidade, degradante e inadequado para comportar a demanda
42
de vagas existentes, contribuindo desta forma para execução de rebeliões e
planejamento de fugas.
A arquitetura das penitenciárias brasileiras não tem uma projeção ideal de
segurança máxima, é notório a questão de o sistema penitenciário ter se tornado um
forte fator de permanente tensão social, o nítido abandono do sistema prisional por
parte do Estado propiciou a formação e o crescimento das facções criminosas que
dominam a grande maioria dos presídios brasileiros e ameaçam a segurança
pública.
4.2- A Ressocialização no Sistema Prisional Brasileiro
Com o crescimento vertiginoso da superlotação carcerária no Brasil, criou-se
uma barreira na aplicação da ressocialização no sistema prisional, paralisando o
cumprimento da ressocialização consistente em transformar o individuo e reintegrá-
lo na sociedade, reeducando-o e proporcionando-lhe melhores condições de vida
em um ambiente propício à mudanças de conduta, para com isso corrigir o
comportamento humano em sociedade.
O sistema prisional brasileiro é apontado como o maior foco do crime
organizado, foi dentro das próprias prisões que nasceu o fenômeno da criminalidade
organizada como já mencionado. Fato este que se dá pelo não cumprimento da lei
de execução penal e o desrespeito ao papel da ressocialização que tem a função de
reeducar o preso e reintegrá-lo à sociedade.
Sabemos que a realidade das prisões brasileiras não é bom exemplo de
ressocialização, não cumprem com rigor a lei de execução penal, o próprio Estado
desrespeita essa lei, as cadeias representam um mundo obscuro, tornando-se
verdadeiras escolas de pós-graduação em criminalidade, sendo que existe uma
quantidade considerável de presidiários que se tornam muitas vezes pior do que
quando entraram no estabelecimento penal, as penitenciárias acabam se
transformando em escolas do crime, o que acarreta a perda de função da
ressocialização.
Os detentos vivem em condições de promiscuidade, as fugas são freqüentes
principalmente entre traficantes e criminosos de alta periculosidade, sendo fácil
comprar a cumplicidade de um policial corrupto. As condições em que vive a massa
43
carcerária geram revolta, o que causa rebeliões e atentados contra o Estado como
forma de protesto e de exigir melhores condições dentro do sistema prisional.
Se o Estado não supre as necessidades na esfera de prevenção da
criminalidade como priorizar a educação, então a alternativa é trabalhar na
ressocialização oferecendo condições mais decentes e condignas na prisão para se
transformarem em pessoas melhores, e investir com fidelidade no teor da lei.
Com o exposto, o Sistema Prisional além de não cumprir a função de
reeducar e ressocializar o preso, deixou sua marca registrada pelo aspecto negativo
no que diz respeito à dignidade e aos direitos da pessoa humana, não só pela
superlotação dos presídios mais ainda pelo alto custo aos cofres públicos, que
apesar de caro, atua basicamente com medidas de isolamento social e
transformando o ambiente prisional em grandes escolas do crime.
4.3- Desrespeito à Função da Ressocialização
A inobservância das normas estabelecidas pelo sistema penal gera o
desrespeito à função da ressocialização. O efetivo papel da ressocialização não é
cumprido, confrontando o princípio da dignidade humana, desobedecendo ao
verdadeiro objetivo de se ressocializar, trazendo consigo empecilhos de se modificar
o comportamento do apenado.
O atual sistema disciplinar aplicado concentrou seus mecanismos
basicamente e quase que exclusivamente em efeitos meramente repressivos,
deixando de lado a ressocialização do presidiário, percebe-se que a realização do
trabalho corretivo através de técnicas penitenciárias emprega apenas métodos
opressores aos detentos, acarretando de tal forma uma revolta e a busca por
melhores condições de vida, lutando a qualquer custo, se organizando em grupos e
atuando com estratégia.
4.4- Não Cumprimento da Execução Penal
A lei de Execução Penal impõe medidas a serem tomadas pelo juízo de
execução para penalizar e transformar a conduta do individuo em um
comportamento de uma pessoa de boa índole, porém na prática a lei não é aplicada
na sua íntegra, a prisão tem se limitado ao castigo de forma vingativa em condições
44
desumanas, apenas penalizando o crime praticado com a privação da liberdade,
deixando de lado a técnica de correção e preparo para a reinserção social.
A lei de execução penal não tem cumprido a sua finalidade e nem obedecido
ao seu destino, está sendo atropelada e abandonada pelas autoridades incumbidas
de exercerem a função de velar pelo seu estrito cumprimento normativo, tornando-se
representantes inertes. A execução penal acabou se transformando em apenas um
idealismo normativo, contudo, sem resultados eficientes.
A maneira como são cumpridas as penas no sistema carcerário brasileiro, não
permite que se cumpra a função da lei, é difícil acompanhar a execução e ainda
ressocializar com a constante superlotação dos presídios que compromete o bom
desempenho do detento para se reeducar, restando ao aparelho repressor somente
se limitar a função de isolar o indivíduo do convívio social, acumulando a explosão e
o inchaço da população carcerária.
4.5- O Papel da Educação na Ressocialização
O papel da educação na ressocialização consiste na transformação do
indivíduo, em dar assistência educacional, propiciar condições adequadas e
condizentes com as necessidades e o com os direitos humanos.
A assistência educacional é um direito assegurado pela Constituição Federal
conforme se estabelece em seu Art. 205 o seguinte: “a educação, direito de todos e
dever do Estado (...), será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A lei de execução penal
assegura ao preso o acesso à educação baseado nos comandos constitucionais.
Evidentemente que a realidade vivida não é igual ao que se está amparado
nas leis, o efetivo papel da ressocialização tem se deteriorado cada vez mais, e com
isso gerado o enfraquecimento da finalidade de se reeducar. Na prática não tem se
ressocializado com eficácia a massa carcerária, a educação não tem sido oferecida
com qualidade, os presidiários precisam de um acompanhamento educacional que é
de grande relevância para sua posterior mudança e transformação.
A educação é de extrema importância na ressocialização para evitar que o
crime volte a assolar o aprisionado quando este voltar à sociedade. Trata-se de um
profundo processo de mudança e de uma nova formação sócio-educativa, para com
45
isso controlar o comportamento humano e concretizar a verdadeira função da
ressocialização que é a educação, base imprescindível para modificar o indivíduo e
prepará-lo para o retorno ao convívio social, sem comprometer a segurança das
pessoas.
O fato de o aparelho disciplinar estatal só reprimir e não reeducar, não
trabalhando na transformação do indivíduo através da pena, além de estimular a
proliferação de facções organizadas, aumenta a quantidade da massa carcerária,
gerando a superlotação dos presídios que comprovadamente é o mais grave e
crônico problema de aflição do sistema prisional brasileiro, contribuindo desta forma
com a insegurança tanto dentro quanto fora dos presídios, pois suas rebeliões
refletem seus efeitos não só no regimento interno, mas também afetam a esfera da
segurança pública, a quebra da ordem coletiva e da paz social.
Sistema de Inteligência Policial:
4.6- Atividade de Inteligência Policial Brasileira
Uma das maiores fraquezas do sistema de segurança nacional está na falta
de inteligência policial, a existente no nosso país apresenta deficiências que
estimula e incentiva o aprimoramento do crime organizado, há muito a fazer para
melhorar a segurança pública e contornar a crise no sistema prisional que é
dominado pela rede de comando, começando a investir pesado em investigação e
inteligência com tecnologia.
O Brasil no momento, não está preparado tecnologicamente para enfrentar o
avanço da máfia organizada, os equipamentos de investigação e rastreadores da
polícia para monitoramento da segurança estão muito defasados, ultrapassados em
um grau muito atrasado comparando com os equipamentos utilizados no crime
organizado.
A própria polícia não recebe um treinamento de qualidade especializado em
capacitação técnica de inteligência, a infra-estrutura na qual trabalham não
apresenta critérios adequados para processar o bom desempenho de segurança.
O ideal é que o Estado implante um reforço no policiamento, não só
policiamento ostensivo, mas em caráter de inteligência, com preparação
especializada para o caso e técnicas de treinamento moderno, investisse
46
profundamente na estrutura do sistema penitenciário em segurança máxima e na
estrutura do sistema policial, que não tem uma infra-estrutura adequada para
exercer o trabalho com eficácia.
Importante salientar a questão de equipar melhor os meios tecnológicos de
investigação, por onde escoa dados de alto sigilo para a segurança coletiva,
reformar e renovar o quadro de fiscalização no sistema prisional que é onde emana
o foco da criminalidade organizada, tendo o governo que trabalhar mais
intensamente na segurança pública para amenizar sua proliferação, investindo na
geração de novos empregos no âmbito da fiscalização e do policiamento, até porque
a precariedade de recursos é uma necessidade que precisa ser suprida.
Um ponto forte da atuação do crime organizado é que este está aliado à
tecnologia, aderindo vastamente o elo de informação e comunicação com aparelhos
de última geração, equipamentos modernos que por sua vez em grande parte
ultrapassam a qualidade do sistema da própria polícia.
Buscar o combate ao crime organizado apenas com atividades exclusivas de
caráter policial não adianta, não resolve o conflito atuante, os setores de inteligência
devem ser acionados, o importante é o trabalho de inteligência que envolve
tecnologia, mas também qualificação e treinamento policial.
Não se pode pensar em prevenção e muito menos em combate às ações das
organizações criminosas sem um investimento significativo e sofisticado em
inteligência, trata-se de uma atividade que desenvolve trabalhos de análise
estratégica, que serve para acompanhar detalhadamente as investigações e o
fornecimento de dados úteis para reprimir os delitos, e também estabelecer
estratégias adequadas de atuação nas áreas de segurança pública.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A missão deste trabalho objetivou demonstrar formas de combate contra a
criminalidade organizada implantada na sociedade e no sistema prisional,
enfatizando que só reprimir não resolve o problema da violência, o melhor caminho
para solucionar a situação é a prevenção, investindo em educação e mudando o
tratamento da ressocialização no sistema prisional como medida de controle. A
educação é o melhor investimento na prevenção do crime.
Algumas medidas cabíveis foram sugeridas nesta obra, incumbidas ao poder
público provocar a mudança no sistema de segurança nacional adotando-se com
maior persistência o sistema de inteligência policial em investigações para facilitar o
desmembramento de facções ou quadrilhas que atuem de forma organizada.
Investimento pesado e sofisticado na atividade de inteligência policial é um dos
caminhos para o progresso do combate a criminalidade organizada.
Outra opção de mudança é fazer uma reforma na legislação penal sobre o
tema que não é definido em lei, o que acaba causando uma confusa interpretação e
obscuridade no entendimento do assunto trabalhado, e além de criar um conceito
legal para o crime organizado, fazer cumprir a lei no aspecto de aplicação da pena,
isto é, não só criar penalidades, mas determinar o cumprimento da pena. Há muita
legislação no país, porém, tem prevalecido a impunidade no meio social, não tem
ocorrido com rigor o cumprimento da lei.
Despertar nossas autoridades em se preocupar mais com o assunto, fazer o
Estado de forma geral junto com a sociedade e o governo voltar um pouco mais a
atenção para a segurança pública que é de suma importância para todos, pois o
perigo é uma ameaça que gera medo, por isso é preciso combater a criminalidade
de maneira que ao menos amenize a violência e a marginalidade em grande massa.
Cuidar de segurança pública requer grande responsabilidade, coragem e
muita determinação para se enfrentar o problema e encontrar uma solução viável a
todos que sofrem neste conflito social e jurídico, garantir a ordem pública é proteger
a incolumidade do cidadão e assegurar a tutela de bens da coletividade, para desta
maneira contribuir com a paz social e abrandar o perigo emergente que ronda as
pessoas em qualquer lugar, seja em casa, na rua, na escola ou trabalho. Nos dias
atuais todos somos alvos e vítimas do medo com a insegurança que nos ameaçam.
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A missão a ser cumprida é uma árdua seara em que de um lado luta o poder
público representado pelo Estado, liderado por nossos governantes juntamente com
o trabalho policial, e do outro lado da guerra domina a criminalidade de grande porte
ocupante do espaço vago deixado pelas mazelas do Estado, criminalidade esta que
comanda a liderança da classe oprimida pela omissão de serviços que deveriam ser
prestados pelo governo.
A pobreza e a marginalidade causadas por fatores oriundos do abandono por
parte do Estado aceleram o crescimento e a explosão da violência em massa, fruto
de uma má administração e aplicação de investimento inadequado ligado a desvios
de conduta e desvios da verba destinada a fins sócio-econômicos e sócio-
educativos, colaborando com o aprofundamento de fraquezas da segurança pública,
sem mencionar a ausência de políticas públicas eficazes que combatam com
eficiência o crime e seu desenvolvimento.
A realidade de hoje da segurança pública está na vitrine da mídia e de nosso
cotidiano, não há como fugir dela, a indústria do crime tem aumentado e se
fortalecido no interior das penitenciárias brasileiras, despertando a preocupação do
povo em advertir as autoridades competentes para repelir esta ameaça nacional,
pois a atuação da criminalidade organizada afeta não só dentro do sistema prisional,
mas afeta também a população em geral.
49
REFERÊNCIAS
BORGES, Paulo César Corrêa. O crime organizado. São Paulo: Unesp, 2002. PORTO, Roberto. Crime Organizado e Sistema Prisional. São Paulo: Atlas, 2007. AMORIM, Carlos. CV-PCC: A Irmandade do Crime. 8ª. Ed. Rio de Janeiro e São Paulo: Record, 2007. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Legislação Penal Especial. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2007. GOMES, Luiz. Flávio. Lei do crime organizado. Disponível em: www.jus2.uol.com.br Acesso em: 23 de out. de 2007. MENDONÇA, R. Criminalidade. Disponível em: www.revistaepoca.globo.com Acesso em: 23 de out. de 2007. D'URSO, Luiz Flávio Borges. O problema da segurança pública no Brasil. Disponível em: www.forumsegurança.org.br Acesso em: 07 de jan. de 2008. D’URSO, Luiz Flávio Borges. Terrorismo e Violência. In: Revista Jurídica Consulex. Rio de Janeiro, Ed. nº 215, p. 18 e p. 22, DEZ 2005. SOARES, Luiz Eduardo. Como enfrentar o caos. In: Revista Veja. Rio de Janeiro, Ed. n° 4, p. 79, JAN 2002. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 2007. BRASIL. Código Penal. Anne Joyce Angher. 5ª Ed. São Paulo: Rideel, 2007. BRASIL. Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995. Dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. Coletânea de Legislação Complementar Federal e Jurisprudência, Brasília, 1995.
50
ANEXO
Presidência da República Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI Nº 9.034, DE 3 DE MAIO DE 1995.
Mensagem de veto
Dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
CAPÍTULO I
Da Definição de Ação Praticada por Organizações Criminosas e dos Meios Operacionais de Investigação e Prova
Art. 1º Esta lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que versarem sobre crime resultante de ações de quadrilha ou bando.
Art. 1o Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo. (Redação dada pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)
Art 2º Em qualquer fase de persecução criminal que verse sobre ação praticada por organizações criminosas são permitidos, além dos já previstos na lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas:
Art. 2o Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas: (Redação dada pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)
I - (Vetado).
II - a ação controlada, que consiste em retardar a interdição policial do que se supõe ação praticada por organizações criminosas ou a ela vinculado, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz do ponto de vista da formação de provas e fornecimento de informações;
III - o acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais.
51
IV – a captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos, e o seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização judicial; (Inciso incluído pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)
V – infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante circunstanciada autorização judicial. (Inciso incluído pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)
Parágrafo único. A autorização judicial será estritamente sigilosa e permanecerá nesta condição enquanto perdurar a infiltração. (Parágrafo incluído pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)
CAPÍTULO II
Da Preservação do Sigilo Constitucional
Art. 3º Nas hipóteses do inciso III do art. 2º desta lei, ocorrendo possibilidade de violação de sigilo preservado pela Constituição ou por lei, a diligência será realizada pessoalmente pelo juiz, adotado o mais rigoroso segredo de justiça. (Vide Adin nº 1.570-2 de 11.11.2004, que declara a inconstitucionalidade do Art. 3º no que se refere aos dados "Fiscais" e "Eleitorais")
§ 1º Para realizar a diligência, o juiz poderá requisitar o auxílio de pessoas que, pela natureza da função ou profissão, tenham ou possam ter acesso aos objetos do sigilo.
§ 2º O juiz, pessoalmente, fará lavrar auto circunstanciado da diligência, relatando as informações colhidas oralmente e anexando cópias autênticas dos documentos que tiverem relevância probatória, podendo para esse efeito, designar uma das pessoas referidas no parágrafo anterior como escrivão ad hoc.
§ 3º O auto de diligência será conservado fora dos autos do processo, em lugar seguro, sem intervenção de cartório ou servidor, somente podendo a ele ter acesso, na presença do juiz, as partes legítimas na causa, que não poderão dele servir-se para fins estranhos à mesma, e estão sujeitas às sanções previstas pelo Código Penal em caso de divulgação.
§ 4º Os argumentos de acusação e defesa que versarem sobre a diligência serão apresentados em separado para serem anexados ao auto da diligência, que poderá servir como elemento na formação da convicção final do juiz.
§ 5º Em caso de recurso, o auto da diligência será fechado, lacrado e endereçado em separado ao juízo competente para revisão, que dele tomará conhecimento sem intervenção das secretarias e gabinetes, devendo o relator dar vistas ao Ministério Público e ao Defensor em recinto isolado, para o efeito de que a discussão e o julgamento sejam mantidos em absoluto segredo de justiça.
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CAPÍTULO III
Das Disposições Gerais
Art. 4º Os órgãos da polícia judiciária estruturarão setores e equipes de policiais especializados no combate à ação praticada por organizações criminosas.
Art. 5º A identificação criminal de pessoas envolvidas com a ação praticada por organizações criminosas será realizada independentemente da identificação civil.
Art. 6º Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida de um a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e sua autoria.
Art. 7º Não será concedida liberdade provisória, com ou sem fiança, aos agentes que tenham tido intensa e efetiva participação na organização criminosa.
"Art. 8° O prazo para encerramento da instrução criminal, nos processos por crime de que trata esta Lei, será de 81 (oitenta e um) dias, quando o réu estiver preso, e de 120 (cento e vinte) dias, quando solto." (Redação dada pela Lei nº 9.303, de 5.9.1996)
Art. 9º O réu não poderá apelar em liberdade, nos crimes previstos nesta lei.
Art. 10 Os condenados por crime decorrentes de organização criminosa iniciarão o cumprimento da pena em regime fechado.
Art. 11 Aplicam-se, no que não forem incompatíveis, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal.
Art. 12 Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 13 Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 3 de maio de 1995.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO