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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL JORDÂNIA DA LUZ DO NASCIMENTO “ATÉ HOJE ME DEIXOU COM SEQUELAS TANTO POR FORA E PRINCIPALMENTE POR DENTRO”: AS PERCEPÇÕES DAS MULHERES SOBRE A VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA NA SECRETARIA DA MULHER DE PACATUBA. FORTALEZA 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

JORDÂNIA DA LUZ DO NASCIMENTO

“ATÉ HOJE ME DEIXOU COM SEQUELAS TANTO POR FORA E PRINCIPALMENTE POR DENTRO”: AS PERCEPÇÕES DAS MULHERES

SOBRE A VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA NA SECRETARIA DA MULHER DE PACATUBA.

FORTALEZA

2013

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JORDÂNIA DA LUZ DO NASCIMENTO

“ATÉ HOJE ME DEIXOU COM SEQUELAS TANTO POR FORA E PRINCIPALMENTE POR DENTRO”: AS PERCEPÇÕES DAS MULHERES

SOBRE A VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA NA SECRETARIA DA MULHER DE PACATUBA.

Monografia submetida à aprovação do Centro de Ensino Superior do Ceará Curso de Serviço Social - Faculdade Cearense – FAC, como requisito parcial para obtenção do grau de Assistente Social. Orientadora: Profa Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos

FORTALEZA

2013

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.

Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

N244a Nascimento, Jordânia da Luz do

Até hoje me deixou com sequelas tanto por fora e

principalmente por dentro: as percepções das mulheres sobre a

violência física e psicológica na Secretária da Mulher de

Pacatuba / Jordânia da Luz do Nascimento. Fortaleza – 2013.

73f.

Orientador: Profª. Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos.

Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.

1. Lei Maria da Penha. 2. Violência física. 3. Violência

psicológica. I. Vasconcelos, Francis Emmanuelle Alves. II.

Título

CDU 343(813.1)

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JORDÂNIA DA LUZ NASCIMENTO

“ATÉ HOJE ME DEIXOU COM SEQUELAS TANTO POR FORA E PRINCIPALMENTE POR DENTRO”: AS PERCEPÇÕES DAS MULHERES

SOBRE A VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA NA SECRETARIA DA MULHER DE PACATUBA.

Monografia apresentada ao Curso de

Serviço Social da Faculdade Cearense–

FAC, como requisito parcial para a obtenção

do título Assistente Social.

Data da aprovação: _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Prof. Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos

(Orientadora)

_________________________________________________ Prof. Ms. Mayra Rachel da Silva

________________________________________________ Prof. Esp. Renata Gomes da Costa.

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“A melhor coisa que um pai pode fazer por seus filhos é respeitar a mãe deles, quando amá-la já não for mais possível.”

Maria da Penha

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Aos meus pais, irmãos, noivo e minha querida vô materna (In memoriam).

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ser meu grande amigo e que sempre me acolhe nas horas que eu mais preciso, me dando força para lutar e seguir em frente. A minha mãe e ao meu pai, pois são minha razão de viver. Aos meus irmãos por ter me apoiado nesse momento tão importante em minha vida. Ao homem da minha vida, meu noivo Wagner, que nessa fase ele foi quem me deu a força que tanto precisava. A minha cunhada Thainara Ribeiro, por ter me dado força e me ajudado sempre. A minha orientadora, Professora, Francis Emmanuelle pelo acompanhamento da elaboração deste trabalho, pois foi ela que no momento mais difícil me acolheu e me deu toda a força, e que tenho só agradecer a Professora Emanuelle por ter me disponibilizado essas leituras essa transformação pessoal e social. Às professoras da banca: Prof. Mayra Rachel e Renata Gomes pela disponibilidade e atenção com meu trabalho muito agradecida. Aos professores do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FAC, a qual sou grata, pois através deles eu pude me tornar essa pessoa que sou hoje, capaz de fazer uma leitura da realidade através de um pensamento crítico. A todos os funcionários e membros da Secretaria da Mulher, que me recebeu em nome da atual Secretária, Jaira Rocha Alcântara, o meu muita obrigada, pela atenção e confiança. A minha ex supervisora Rosa Núbia que sempre esteve disposta a me ajudar. A Katia Regia Bandeira que sempre me passou confiança, com seu inesquecível abraço, onde possibilitou em meu estágio ser uma profissional com ética, humildade e confiável. A Marcia Skibik, a Natália Isis e a Tatiane Silva, com elas eu aprendi a dizer não sempre que for preciso, a me valorizar e a ser uma pessoa capaz de alcançar meu objetivo. A minha amiga Ana Paula Chayn, que sempre nos momentos, mais difíceis esteve ao meu lado para me ajudar e me dando todo apoio.

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A minha amiga Suelen Vieira, com seu jeito calmo, sempre esteve ao meu lado dizendo você pode, você vai conseguir.

A minha amiga Luisiana Andreia, por ter me ajudado no momento que eu mais precisava, a qual eu sou muito grata. As Minhas amigas que no decorrer da construção dessa monografia e do curso, Soraia Andrade, Fabiana Lima, Marleide Nogueira, Marcia Andrade, Alba Pinto, Flavia Linhares, sempre disposta a dar seu ombro amigo para ouvir minhas aflições e alegrias

Às mulheres atendidas na Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos de Pacatuba-CE, que aceitaram participar desta pesquisa e, assim, colaborar, com a minimização da violência contra as mulheres de Pacatuba.

A todos, muito Obrigada, por ter feito parte dessa construção, a qual eu só tenho agradecer.

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RESUMO

O tema desta pesquisaé Violência doméstica e familiar contra a mulher. O objetivo geral deste estudo foi analisar as percepções das mulheres atendidas na Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos de Pacatuba-CE, sobre a violência física e psicológica sofrida nas relações conjugais. Os objetivos específicos foram: refletir sobre as principais violações de direitos da mulher identificadas na Instituição; investigar o que leva as mulheres a permanecer na situação de violência doméstica; entender as relações conjugais onde existe violência doméstica e familiar contra a mulher; Analisar as percepções das mulheres em relação à violência psicológica e quais são suas consequências. A pesquisa é de natureza qualitativa, do tipo exploratória e descritiva, contando também uma reflexão teórica sobre categorias, família, gênero e violência. Recorreu-se, também, a uma pesquisa de campo cujo locus foi a Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos de Pacatuba-CE, e teve como sujeitos da pesquisa as mulheres que já estão nesse processo de acompanhamento em busca de acompanhamento e orientação. Pretendeu-se, com esta pesquisa, proporcionar um entendimento maior sobre a violência doméstica e familiar contra mulher em relação à violência psicológica e física no âmbito conjugal e, a partir do exposto neste trabalho, espera-se contribuir, não só, com o município de Pacatuba, onde foi realizada a pesquisa, mas ainda, com outras localidades onde se vivencia a violência contra a mulher. Espera-se, ainda, contribuir aos profissionais e estudantes do Serviço Social, que desejam se aprofundar nessa área de pesquisa.

Palavras–chave: . Lei Maria da Penha. Violência física. Violência psicológica.

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ABSTRACT

The theme of this research is domestic and family violence against women. The aim

of this study was to analyze the perceptions of women seen in the Ministry of

Women, Citizenship and Human Rights Pacatuba-CE, on the physical and

psychological violence suffered in marital relations. The specific objectives were: to

reflect on the major violations of women's rights identified in the institution;

investigate what leads women to remain in a situation of domestic violence;

investigate marital relationships where there is domestic violence against women;

study on thought women in relation to violence Psychological and what are its

consequences. The research is qualitative, exploratory and descriptive and

theoretical foundation had consulted some authors in literature. Use was also a

research field whose locus was the Ministry of Women, Citizenship and Human

Rights Pacatuba-EC, and had as research subjects women who have come in

search of guidance and monitoring. It was intended, with this research, provide a

greater understanding about domestic violence against women in relation to

psychological violence within marriage and from the above in this paper, is expected

to contribute not only to the city of Pacatuba where the research was conducted, but

also in other places where one experiences the violence against women. Expected to

also contribute to professionals and students of social work, who want to delve into

this area of research.

Keywords:. Maria da Penha Law. Physical violence. Psychological violence.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

B.O- Boletim de Ocorrência

CNDM- Conselho Nacional dos Direitos da Mulher

COMDIM- Conselho Municipal dos direitos da Mulher

CNJ - Conselho Nacional de Justiça

CRAS- Centro de Referencia a Assistente Social

CREAS - Centro de Referencia Especializado de Assistente Social

DEAM- Delegacia de Atendimento Especializado a Mulher

LGBT- Gey, Lesbica, Bissexual e Travestir

IML- Instituto do Médico Legal

JECRIMS- Juizado Especial Criminal

ONU- Organização das Nações Unidas

ONGS - Organizações Não Governamentais

OMS- Organização Mundial de Saúde

OGs - Organizações Governamentais

PNPM- Plano Nacional de Politicas para as Mulheres

OIT- Organização Internacional do Trabalho

PT- Partido Trabalhista

SMCDH - Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos

SPM- Secretaria de Politicas Para as Mulheres

TCO- Termo Circunstanciado de Ocorrência

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................14

2. CAPÍTULO I: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER: EM BUSCA DE LEGITIMIDADE

2.1 A violência contra a mulher: uma realidade que mexe com a dinâmica de

toda familia.............................................................................................................18

2.2 Família............................................................................................................25

2.3. Relações de Gênero........................................................................................26

3. CAPÍTULO II: A REDE DE ENFRENTAMENTO ÀS MULHERES EM

SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

3.1Um breve Histórico do movimento Feminista: A Lei 11.340/06........................28

3.2 Políticas Públicas de defesa dos direitos das mulheres..................................32

4. CAPÍTULO III: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE

INVESTIGAÇÃO

4.1.Percurso Metodológico da pesquisa................................................................39

4.2. Secretaria da Mulher Cidadania e Direitos Humanos (SMCDH): Campo

da Pesquisa...........................................................................................................42

4.3. Serviço Social na Secretaria da Mulher de Cidadania e Direitos Humanos de

Pacatuba................................................................................................................47

4.4. Perfil Biográfico das Mulheres entrevistadas..................................................48

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5. CAPÍTULO IV: “SERÁ QUE EU VIVO EM UM MUNDO SEM PUNIÇÃO”

5.1. Família – “Hoje eu trabalho sou independente e cuido dos meus filhos

sozinha” ..............................................................................................................54

5.2. Relações de Gênero- “Sempre estava bêbado, e era nesse momento que me

humilhava” ..........................................................................................................57

5.3. A violência – “foi algo que me machucou muito e me deixou

sequelas”.............................................................................................................59

5.4 Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos de Pacatuba-CE- “ Me

deu apoio em todos os sentidos”..........................................................................62

6. CONIDERAÇÕES FINAIS................................................................................65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E DOCUMENTAIS....................................68

APÊNDICES........................................................................................................72

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1. INTRODUÇÃO

O trabalho apresenta o resultado de uma pesquisa com mulheres atendidas

na Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos de Pacatuba-CE sobre a

violência física e psicológica sofrida dentro das relações conjugais. Diante dos altos

índices de denuncia sobre maus tratos e agressões vivenciadas por mulheres no

referido município, optou-se por este estudo, em busca de conhecer a percepção

dessas mulheres sobre os atos de violência sofridas nas relações conjugais.

Procurou-se compreender as relações conjugais que ocorre violência

doméstica e familiar contra a mulher e conhecer as percepções das mulheres sobre

a violência física e psicológica vivenciada e as consequências para toda a família. A

pesquisa é de natureza exploratória e descritiva e teve fundamentação teórica, e

autores consultados em pesquisa bibliográfica. Também recorreu-se a uma

pesquisa de campo cujo locus foi a Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos

Humanos de Pacatuba-CE e como sujeitos da pesquisa as mulheres que ali

chegavam em busca de um atendimento e encaminhamento ou que já foram

atendidas pela Secretaria .

Os objetivos específicos foram: refletir sobre as principais violações de

direitos da mulher identificadas na instituição; investigar o que leva as mulheres a

permanecer na situação de violência doméstica; investigar as relações conjugais

onde existe violência doméstica e familiar contra a mulher; quais são pensamento

das mulheres em relação à violência Psicológica e física quais são suas

consequências.

O interesse pelo tema não foi algo que eu pensava em estudar e

principalmente um tema para construção da monografia. Foi através das

dificuldades, que eu acabei me interessando por esse tema. A partir de então, fui

aprofundando-me no tema e participando de palestras, algumas das quais fui

palestrante, apresentei em escolas e centros culturais do município, divulgando e

viabilizando as políticas de enfrentamento à violência contra a mulher e durante

esse momento eu fui me interessando. No ato do atendimento quando

acompanhava a minha supervisora de campo, surgiu uma inquietação: Por que as

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mulheres denunciam seus companheiros só quando sofre agressão física?

Além disso, começávamos a orientar as mulheres acerca do tipo de

violência contra a mulher e que existe uma Lei que ampara essas mulheres que

estão com seus direitos violados, e que na Lei 11.340/06 vem falar que existem

cinco de tipos de violência que são: a violência física, patrimonial, moral, sexual,

mas quando começávamos a falar da violência psicológica, era nesse momento que

as mesmas ficavam tristes e começavam a chorar, pois através dos seus relatos,

esse tipo de violência vinha acontecendo desde início dos seus relacionamentos

afetivos.

Procurei nessa primeira percepção no ato de todos os atendimentos

realizados em conjunto com minha supervisora, esclarecer as principais partes da

Lei, e principalmente, os tipos de violência, bem como o que são as medidas

protetivas, como as mesmas podem dar entrada no processo criminal.

Por fim, comecei a reunir no sexto semestre todos os materiais relacionados

e aprofundar nessa temática. Desde então estou construindo minha monografia,

para que a mesma seja pautada na ética profissional, pois se trata de um tema

muito complexo e de caráter sigiloso, e que eu possa alcançar meus objetivos

pessoais e profissionais nessa pesquisa.

No município de Pacatuba-CE, podem-se mencionar os seguintes

equipamentos que trabalham em conjunto com a Secretaria da Mulher: Centro de

Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Conselho Municipal da

Mulher; Delegacia Municipal ; Fórum Desembargador Raimundo Natuba e

Procuradoria Municipal. Conta-se, também, com casas de acolhimento que se

localizam em Fortaleza e como o Centro de Referencia à Mulher e, dentre outros, do

município de Fortaleza existem também o disque denúncia 1801, que funciona

nacionalmente, onde a pessoa não precisa se identificar no ato da denúncia. Diante

do exposto, surgiram algumas perguntas em relação ao tema, que procurei

responder neste estudo: Como fica essas mulheres depois de resolver denunciar

seu companheiro? Como fica o âmbito conjugal, em relação aos filhos,

1 Disque denúncia 180- A central de atendimento à Mulher é um serviço do governo federal que auxilia e orienta as mulheres em situação de violência, foi criado pela Secretaria Especial de Politicas para as Mulheres em 2005.

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depois da denúncia? Qual o papel da Secretaria da Mulher, em relação a

essas mulheres em situação de violência?

O interesse por este tema surgiu por reconhecê-lo como inserido em uma

política nova, de enfrentamento a violência doméstica e familiar, ainda não muito

conhecida, que merece ser estudada e divulgada, pois a maioria das mulheres que

chegam à Secretaria da Mulher vem sem nenhum conhecimento sobre o assunto e,

a partir dessa realidade, viu-se a necessidade de um aprofundamento dessa política,

de forma a assegurar os direitos prescritos na Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha).

Na realidade em que se vivia no século passado, caracterizada como uma

sociedade machista, em que o pai é o chefe da família e detentor de autoridade

máxima, mas que hoje os papéis vêm se invertendo, presenciam-se as lutas e

conquista das mulheres por melhores condições de vida, por igualdade entre os

homens. Vê-se que a violência doméstica e familiar é encoberta, na maioria das

vezes, pois ainda se vivencia uma sociedade machista. Assim, o homem passa a

agredi-la, tanto fisicamente como psicologicamente e, muitas vezes, por medo, ela

silencia e não procura seus direitos na Justiça.

Na perspectiva de mudar essa realidade, foi promulgada a Lei 11.340/06, que

criou mecanismos para coibir e prevenir a violência, garantir e divulgar os direitos

da mulher em situação de violência doméstica e familiar. A Convenção

Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher do ano

1994 dispõe sobre a concepção dos Juizados da Violência Doméstica e Familiar

contra a Mulher, alterando o Código de Processo Penal.

Pretende-se, com esta pesquisa, proporcionar um entendimento maior sobre

a violência doméstica e familiar contra mulher, em relação à violência psicológica no

âmbito conjugal e, a partir do exposto neste trabalho, espera-se contribuir como

forma de pesquisar, não só, com o município de Pacatuba, onde foi realizada a

pesquisa, mas ainda, com outras localidades onde se vivencia a violência contra a

mulher.

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O primeiro capítulo contém itens referentes ao desenvolvimento do trabalho,

nos quais aborda-se, definindo-se a categoria família, gênero e violência em seus

aspectos.

O segundo capítul se destina a discutir sobre mostra as organizações de

atendimentos que existem tanto na esfera municipal, estadual e federal em combate

e prevenção à violência contra mulher. Descrevendo-o processo de promulgação da

Lei Maria da Penha e seus benefícios à sociedade brasileira.

O terceiro capítulo apresenta os procedimentos metodológicos de

investigação, descrevendo-se o tipo e a natureza da pesquisa, os instrumentos de

coleta de dados e os sujeitos da pesquisa.

O quarto capítulo discorre acerca dos resultados da pesquisa, a seguir,

fazendo-se uma análise, à luz das ideias dos autores pesquisados na revisão

bibliográfica, dos dados e informações apresentados pelas mulheres pesquisadas,

as quais são atendidas na Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos de

Pacatuba-CE.

Ao final, apresentam-se as considerações finais do estudo e algumas

sugestões que podem contribuir com índices de violência contra as mulheres

cearenses.

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2. CAPÍTULO I: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER: EM BUSCA DE LEGITIMIDADE.

Nesse primeiro capítulo esta sendo discutido as categorias analíticas, que são

Família, Violência, Relações de Gênero, procuro nesse capitulo correlacionar as

falas dos autores para um melhor entendimento ao leitor.

2.1. A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA REALIDADE QUE MEXE

COM A DINÂMICA DE TODA A FAMÍLIA.

Em 1981, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu violência como "a

imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis", sendo considerada

epidemia, seja pelo numero de vítimas ou pela gravidade das sequelas que produz

na saúde física e mental das pessoas (MINAYO & SOUZA, 1999, p.71).

Violência doméstica e familiar contra mulher de acordo com a Lei n° 11. 340,

de 07 de agosto de 2006, foi criada para eliminar de todas as formas de violência

contra a mulher a qual garante:

Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação

sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. (Lei 11.340/06)

Art. 3o Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício

efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. (Lei 11.340/06)

De acordo com a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por

Acidentes e Violências, o Ministério da Saúde caracteriza a violência como

fenômeno de conceituação complexa, polissêmica e controversa. Assume-se,

entretanto, a noção de que ela é representada por ações humanas realizadas por

indivíduos, grupos, classes, nações, numa dinâmica de relações, ocasionando

danos físicos, emocionais, morais e espirituais à outrem (MINAYO & SOUZA, 1999;

BRASIL, 2001).

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De acordo com Arendt (1990), nenhum historiador ou estudioso da política

deveria ser alheio ao imenso papel que a violência sempre desempenhou nos

assuntos humanos, e fica surpresa. A autora afirma que se surpreende como esse

fenômeno é pouco analisado e investigado pelos cientistas. Ainda relata em seus

estudos que a violência tem caráter instrumental, ou seja, é um meio que necessita

de orientação e justificação dos fins que persegue.

Segundo Minayo e Souza (1993) historicamente, a violência foi mais

comumente identificada como criminalidade e, por isso, quase que objeto de

reflexão exclusiva das Ciências Jurídicas. Só mais recentemente ela passou a ser

incorporada de maneira mais sistemática por outras áreas do conhecimento.

Teles e Melo (2002) vem falar que a violência, em seu significado mais

frequente, dizer uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar outra

pessoa a fazer algo que não está com vontade; é constranger, é tolher a liberdade, é

incomodar, é impedir a outra pessoa de manifestar seu desejo e sua vontade, sob

pena de viver gravemente ameaçada.

Verardo, Reis e Vieira (1999, p.8) ressaltam que a violência contra a mulher

pode ser originada de uma relação de poder estabelecida no âmbito familiar. Diante

dessa definição podemos ressaltar as diversas expressões da violência doméstica,

violência contra a mulher e violência de gênero, são termos utilizados para ser referir

a determinado termo de violência, a qual vou me utilizar para explicar sobre esses

assuntos. Dando inicio a violência Doméstica:

Violência doméstica é a que ocorre dentro de casa nas relações entre as pessoas da família, entre homens e mulheres, pais/mães e filhos, entre jovens e pessoas idosas. Podemos afirmar que, independentemente da faixa etária das pessoas que sofrem espancamentos, humilhações e ofensas nas relações descritas as mulheres são o alvo principal. (TELLES E MELO, 2002, P.19)

Violência contra a mulher é compreendida como qualquer ato que enfraqueça

a auto estima da mulher que agrida a sua condição física deixando hematomas e

impossibilitando a sua sobrevivência.

A própria expressão "violência contra a mulher" foi assim concebida por ser praticada contra pessoa do sexo feminino, apenas e simplesmente pela sua

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condição de mulher. Essa expressão significa a intimidação da mulher pelo homem, que desempenha o papel de seu agressor, seu dominador e seu disciplinador. (Idem, 2002, p.19)

Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a violência,

conhecida como Convenção de Belém do Pará, onde de acordo com Telles e Melo,

2002 vem definir que qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause

morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito

público como privado incluem-se as violência física, sexual e psicológica.

E de acordo com os autores citados a cima é entendida a violência contra a

mulher como uma relação de poder de dominação do homem e de submissão da

mulher, ou seja, a mulher é explorado pelo homem. Essa violência é algo construída

culturalmente dentre das relações e padrões sociais.

A expressão violência doméstica costuma ser empregada como sinônimo de violência familiar e, não tão raramente, também de violência de gênero. Esta, teoricamente, englobada tanto a violência de homens contra as mulheres quanto a de mulheres contra homens, uma vez que o conceito de gênero é aberto, sendo este o grande argumento das críticas do conceito de patriarcado, que, como o próprio nome indica, é o regime da dominação-exploração das mulheres pelos homens.(SAFFIOTI,2004 p.44)

O sigilo da família sobre agressões ocorridas no interior do lar, sempre

apontado como razão para o não enfrentamento do caso da violência doméstica, é

uma realidade que aflige a pessoa como todo, mas que, em geral, é ignorada ou

tratada como um crime de menor importância.

Ao longo da história, as mulheres foram vítimas dos preconceitos que ainda

hoje existe em pleno século XXI, em decorrência do machismo que ainda em impera

nas famílias e na sociedade. Sendo a mulher, vista como um ser socialmente

inferior. As conquistas alcançadas pelas mulheres no campo social, econômico,

político, profissional não garantem, ainda, a igualdade nas relações familiares.

As estatísticas comprovam altos índices de violências perpetradas contra a

mulher, muitas vezes mantidas em sigilo, por medo de ser rejeitada ou por vergonha

da sociedade. Segundo o Instituto Sangari (2012), entre os anos de 1980 e 2010

foram assassinadas mais que 92 mil mulheres, 43,7 mil somente na última década.

Isso representou um aumento de 230%, chegando quase a triplicar a quantidade de

homicídios de mulheres, que era de 1.553 e passou para 4.465.

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O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), divulgou os resultados de uma

pesquisa realizada no período de junho de 2010 a dezembro de 2011, segundo a

qual o número de procedimentos instaurados, nesse período, em conformidade com

a Lei 11.340/06 (Maria da Penha), teve aumento de 106,7%, exigindo-se, assim, a

conscientização da sociedade sobre a necessidade de denunciar esse tipo de crime.

A desigualdade existente na relação homem e mulher, no âmbito familiar, é

concreta e demonstrada pelas pesquisas que apresentam números sempre

crescentes de homicídios e atentados à vida das mulheres. A desigualdade em

relação à mulher e o homem já uma questão histórica. Embora as mulheres tenham

obtido muitas conquistas sociais, econômicas e políticas, não foi extinta a concepção

de uma sociedade alicerçada em valores patriarcais, que ressalta a figura masculina.

A gravidade dos crimes, bem como sua elevada incidência, justifica o

tratamento diferenciado, dispensado pela Lei 11.340/06, que procurou reafirmar o

princípio da igualdade estabelecido na constituição de 1988.

A violência é um tema que tem sido muito focalizado nos dias atuais, dada à

insegurança, a impotência, o medo vivenciado pelas pessoas, principalmente

aquelas que habitam os grandes centros urbanos, como membros de uma

coletividade ou como ser que precisa se proteger em sua individualidade (HALL;

JEFFERSON, 1975).

Os atos de violência têm aumentado significativamente nas grandes cidades

brasileiras, nas quais existe altíssimos índices de criminalidade, de desigualdade

social, miséria, falência do poder público, ineficácia das políticas na área de

segurança. Cada vez mais, são presenciados atos bárbaros contra seres humanos,

muitas vezes indefesos, como crianças, mulheres, idosos, deficientes e outros

incapazes de delinear atitudes defensivas (QUEIROZ, 2003).

A cada dia, as pessoas se sentem menos protegidas e, ao presenciar as

graves ocorrências que afetam seus semelhantes, passam a viver amedrontadas,

sempre em atitudes defensivas que, no entanto, não impedem que sofram

agressões. A violência parece já estar incorporada ao cotidiano da sociedade atual,

o que exige profundas reflexões sobre os meios de encontrar soluções urgentes. O

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ser humano parece ter se tornado mais violento, e até cruel, parecendo ignorar os

preceitos éticos e morais essenciais à convivência entre as pessoas.

Assim, a violência passa a ser vista como algo inaceitável, condenável, que

precisa de ações mais efetivas no sentido de evitar situações consideradas

inconcebíveis diante das quais não se pode permanecer indiferente. Os atos de

violência são chocantes e incitam a comoção e o clamor social, principalmente,

pelos que passam a conviver com o horror, sentindo a necessidade, mas também a

impossibilidade de questionar tais fatos e de buscar soluções efetivas (QUEIROZ,

2003).

A violência está difusa no cotidiano da atualidade, por isso, muitas são as

opiniões e estudos a respeito deste tema. Apesar dessa pluralidade de abordagens,

não se tem chegado a um consenso sobre as causas da violência e sua

conceituação.

Se a violência é urbana, pode-se concluir que uma de suas causas é o próprio espaço urbano? Os especialistas na questão afirmam que sim: nas periferias das cidades, sejam grandes, médias ou pequenas, nas quais a presença do Poder Público é fraca, o crime consegue instalar-se mais facilmente. (BOTARELLI 2000, p. 1)

Chesnais (1981) alerta para o fato de que existem várias concepções de

violência, que precisam ser hierarquizadas. Assim, o principal referencial da

violência é aquela que atinge fisicamente as pessoas, excluindo os conceitos da

violência moral, psicológica e econômica, sendo que esta envolve atentados à

propriedade ou às privações econômicas.

Roché (1994) considera limitada a abordagem que restringe o conceito de

violência a violência física, na medida em que tal definição não leva em conta que

pode existir um componente forte de subjetividade, no entendimento que um

indivíduo tem do fenômeno, desconsiderando, ainda, que a percepção do que é ou

não violência, nem sempre se sustenta em fatos concretos, mas em sensações e em

rumores que circulam no social.

Um dos mais preocupantes tipos de violência é a doméstica que se institui

como um problema que atinge milhares de crianças, adolescentes, idosos e

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mulheres. É um problema que não costuma obedecer a um nível sociocultural

específico, como se pode pensar.

Seu estudo é relevante sob dois aspectos: primeiro, devido ao sofrimento

indescritível que imputa às suas vítimas, muitas vezes silenciosas, em segundo,

porque, comprovadamente, a violência doméstica, incluindo aí a negligência precoce

e o abuso sexual, pode impedir um bom desenvolvimento físico e mental das

mulheres em situação de violência.

A mulher em situação de violência doméstica, geralmente, tem sua

autoestima desgastada e permanece, quase sempre, atada na relação com quem

agride, seja por dependência emocional ou material. O homem que comete

agressão, geralmente, acusa a mulher de ser responsável pela agressão, a qual

acaba assumindo uma grande culpa e vergonha. Ela também se sente violada e

traída, visto que o homem que agredi, depois do ato, que nunca mais vai repetir este

tipo de comportamento, para depois repeti-lo (QUEIROZ, 2003).

Dentro dessa lógica de pensamento podemos falar um pouco sobre o ciclo da

violência contra a mulher, onde se divide em três fases. A primeira fase da tensão,

que vai se manifestando por meio de atritos, cheios de insultos e ameaças. Em

seguida, vem face da agressão, com descarga descontrolada de toda aquela tensão

acumulada. Depois, é a vez da fase da lua de mel, da reconciliação em que o

mesmo pede perdão e promete mudar de comportamento, ou finge que não houve

nada, promete que tudo isso não vai se repetir. A imagem abaixo vem ilustrar um

pouco de como acontece.

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A violência psicológica, muitas vezes, tão ou mais prejudicial que a física, é

caracterizada por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito, a

mulher fica com sua autoestima muito baixa, sem ânimo para viver. Trata-se de uma

agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas, emocionalmente, causa

cicatrizes indeléveis para toda a vida (QUEIROZ, 2003).

Quanto à violência contra a mulher, há milhares delas que sofrem de alguma

forma de violência nas mãos dos seus maridos e namorados, a cada ano. São

muitas as que contam a alguém - um amigo, um familiar, um vizinho ou à polícia.

Apesar disso, esse quadro está mudando, haja vista que muitas mulheres já

conseguem denunciar e as estatísticas mostram decorrer do trabalho. As mulheres

em situação de violência doméstica provêm de vários estilos de vida, culturas,

grupos sociais, religiosos e étnicos, e têm diferentes idades. Todas elas partilham

sentimentos de insegurança, isolamento, culpa, medo e vergonha.

O tópico a seguir vem falar sobre a categoria família e os seus estudos e

definições para autores relacionados à categoria.

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2.2. FAMÍLIA

Neste estudo, debate-se sobre a referência em conceito de família' para um

melhor entendimento sobre a categoria.

A definição dominante de família congrega um conjunto de palavras afins: pai, mãe, filho, casa, unidade doméstica, casamento e parentesco. A família tida como„legítima, normal, que se interioriza no imaginário da maioria das pessoas, caracteriza-se como um conjunto de indivíduo aparentado que se ligam entre si por aliança, casamento, filiação, adoção ocasional ou afinidade. (OSTERNE 2001, p.51)

Bourdieu (1983, p.196), a esse respeito, afirma que "se é verdade que a

família é apenas uma palavra, também é verdade que se trata de uma palavra de

ordem, de uma categoria, princípio coletivo de construção da realidade coletiva".

Convém, portanto, que se analisem as representações que as pessoas têm daquilo

que designam.

Seguindo as colocações Bourdieu (1983, p.196) a família é principio de

construção da realidade social, não se pode esquecer de que esse princípio de

construção é ele mesmo socialmente construído, e de certa forma, é comum a todos

agentes socializados.

De fato, argumenta ainda Bourdieu (op. cit..p.129), a família é fruto de

verdadeiro trabalho de instituição, ritual e técnico, que pretende instituir, de forma

duradoura, e todos e em cada um dos elementos da unidade instituída, sentimentos

necessários a manutenção de sua integralidade, condição essencial a sua existência

e persistência. Entende que:

A família à margem do casamento é uma formação social merecedora de tutela constitucional porque apresenta as condições de sentimento da personalidade de seus membros e a execução da tarefa de educação dos filhos. As formas de vida familiar à margem dos quadros legais revelam não ser essencial o nexo família-matrimônio: a família não se funda necessariamente no casamento, o que significa que casamento e família são para a Constituição realidades distintas. (MUNIZ 1998, p.77)

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Ainda seguindo os pensamentos sobre a categoria Família', Guareschi (1984,

p.79) vem falar que "a família é a primeira instituição em que uma pessoa entra em

contato em sua vida", acompanhado-a, de uma forma ou de outra, até sua morte',

estando direta ou indiretamente sempre presente.

De acordo com a maior parte dos autores podemos perceber que a família é o

pilar da organização de uma sociedade, que através dela os filhos e filhas tem os

seus pais como exemplo para construção de sua pessoal e social.

No seguinte tópico vem falar em contexto breve sobre relações de gênero

dando algumas definições e ao mesmo tempo esclarecendo suas diferenciação.

2.3 RELAÇÕES DE GÊNERO

De acordo com os estudos e pesquisas realizadas, podemos realmente entender

que o conceito gênero não é algo que nasce com a pessoa e sim algo construído

culturalmente através das relações socias.

O termo gênero é bastante amplo, empregado com diferentes sentidos. Pode significar espécie, é empregado com o sentido de tipo. É o que ocorrer quando usamos as seguintes expressões: "que gênero de gente é essa?" ; "que gênero é musica?" ;Tem a ideia de estilo ou natureza de uma manifestação artística, quando se fala em gênero dramático, entre outros tantos. (TELLES E MELO, 2002, p.16)

Gênero em biologia é um termo utilizado na classificação científica e

agrupamento de organismos vivos, formando um conjunto de espécie (v espaço)

com características morfológicas e funcionais refletindo a existência de ancestrais

comuns e próximos. Por exemplo, "homo sapiens" é o nome da espécie humana a

qual pertence ao gênero "homo".

De acordo com a Cartilha Homem e Mulher (PORTAL BRASIL, 2011, p.1),

gênero é um termo útil para explicar muitos comportamentos de mulheres e homens

em nossa sociedade, onde ajuda a compreender grande parte dos problemas e

dificuldades que as mulheres enfrentam no trabalho, na vida política, na sua vida

sexual e reprodutiva, na família. Conceitualmente Gênero é "a forma culturalmente

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elaborada que a diferença sexual toma em cada sociedade e que se manifesta nos

papéis e nos status atribuídos a cada sexo."

De acordo com Teles e Melo (2002) O termo gênero, então, é utilizado para:

"demonstrar e sistematizar as desigualdades" socioculturais existentes entre

mulheres e homens, que repercutem na esfera da vida pública e privada de ambos

os sexos, impondo a eles papéis sociais diferenciados que foram construídos

historicamente, e criaram pólos de dominação e submissão. "Impõe-se o poder

masculino em detrimento dos direitos das mulheres, subordinando-as às

necessidades pessoais e políticas dos homens, tornando-as dependentes."

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3. CAPÍTULO II: REDE DE ENFRENTAMENTO ÀS MULHERES EM

SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR.

Procuro nesse capítulo fazer um breve contexto histórico das lutas e

conquistas das mulheres brasileiras em relação a melhores condições de vida tanto

no seu âmbito pessoal, como social. E para fazer esse levantamento utilizarei anos

que marcaram o movimento feminista em nosso país.

3.1 UM BREVE HISTÓRICO DO MOVIMENTO FEMINISTA: A LEI 11.340/06.

No dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na

cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a

fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como,

redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de

trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a

receber até um terço do salário de um homem para executar o mesmo tipo de

trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.

Somente no ano de 1910, durante uma Conferência na Dinamarca, ficou

decidido que o 08 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em

homenagem às mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano

de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das

Nações Unidas), tendo como objetivo discutir o papel da mulher na sociedade atual.

Ressalto mais uma conquista como um marco histórico da mulher brasileira,

que foi no dia 24 de fevereiro de 1932. Nesta data foi instituído o voto feminino. As

mulheres apropriam-se depois de muitos anos de reivindicações e discussões, o

direito de votar e ser votada para cargos no Executivo e Legislativo. Em 1933 as

eleições para a Assembleia Constituinte, foram eleitos 214 deputados e uma única

mulher, a paulista Carlota Pereira de Queiroz.

No dia 19 de junho no ano de 1951 é aprovada pela Organização

Internacional do Trabalho (OIT), a Convenção de Igualdade de Remuneração entre

trabalho masculino e trabalho feminino para função igual.

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A década de 1960, marcada por profundas mudanças trouxe à tona todas as

necessidades das mulheres, em serem reconhecidas como força de trabalho, como

força intelectual e como donas de suas vontades, do seu corpo e dos seus desejos.

Com o surgimento da pílula anticoncepcional, deu o direito às mulheres a

escolherem quando e se querem engravidar.

A década de 1970 constituiu um marco para o movimento de mulheres no

Brasil, com suas vertentes de movimento feminista, grupos de mulheres pela

redemocratização do país e pela melhoria nas condições de vida e de trabalho da

população brasileira.

Em 1975,comemorou-se, o Ano Internacional da Mulher e realiza-se a I

Conferência Mundial da Mulher, promovida pela Organização das Nações Unidas -

ONU, instituindo-se a Década da Mulher.

Em 1980 aconteceu o Encontro Feminista de Valinhos, São Paulo.

Recomendou a criação de centros de autodefesa, para coibir a violência contra a

mulher. Surge o lema: "Quem ama não mata". Ganha fôlego o SOS - Mulher, que se

traduziria, em seguida, na criação de delegacias especiais de atendimento à mulher.

Em 1985 Surge a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher

- DEAM, em São Paulo e, rapidamente, várias outras são implantadas em outros

Estados brasileiros como aconteceu no estado Ceará em 1986.

Maria da Penha Maia Fernandes bifarmacêutica, nasceu em Fortaleza no

ano de 1945, a qual era casada com Sr. Heredia que sofria constantes agressões e

ameaças por partes de seu marido. As agressões aconteceram durante todo o

casamento o qual, mediante à ameaças. Em 1983, por duas vezes ele tentou

assassiná-la. Na primeira vez com uma arma de fogo, deixando-a paraplégica, e na

segunda vez por eletrocussão durante o banho. O marido de Maria da Penha só foi

punido depois de 19 anos e 6 mês de julgamento e ficou apenas dois anos em

regime fechado. Com 60 anos e três filhas, hoje ela é líder de movimentos de defesa

dos direitos das mulheres, mulheres emblemáticas da violência doméstica.

Esse fato sensibilizou organismos internacionais e provocou uma reação do

Estado brasileiro à questão do combate à violência doméstica contra a mulher. Em

2006 é decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Luiz Inácio

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Lula da Silva a lei número 11.340/06, conhecida como "Lei Maria da Penha", em

homenagem Maria da Penha Maia Fernandes, que surpreendeu e comoveu aos

presentes à cerimônia de sanção, mas que oficialmente a Lei não leva esse nome,

que foi através de lutas e movimentos feministas .

Com a promulgação da Lei Maria da Penha 11.340/06, criou-se um

mecanismo para coibir e punir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos

termos do § 80 do artigo 226 da Constituição Federal, da convenção sobre a

Eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres no ano 1979.

No ano de 2002 e da convenção interamericana para prevenir, punir e erradicar a

violência contra Mulher de 1992. Segundo a Lei em estudo (BRASIL, 2006, artigo

5º), a violência contra a mulher é "qualquer ato ação ou omissão baseada no gênero

que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou

em qualquer relação íntima de afeto".

Dessa forma, a Lei 11.340/06 modificou profundamente as relações entre

mulheres em situação de violência doméstica e as pessoas que cometem violência,

alterando a forma de julgamento desse crime, o atendimento policial a partir do

momento em que a autoridade tomar conhecimento do fato e a assistência dos

fiscais da lei.

A iniciativa legislativa e o movimento feminista, que apresentou a proposta de

lei, no final do ano de 2004, que, no entanto, resultou de muitas discussões, durante

anos, entre o Governo brasileiro e a sociedade internacional é fundamentada no

apelo da luta de milhões de mulheres brasileiras vítimas de discriminação de gênero,

de agressões físicas e psicológicas e de violência sexual, tanto dentro como fora do

lar. (TELES, 2002)

Antes mesmo da criação da Lei Maria da Penha já existia mecanismo que

coibisse a violência contra a mulher como instituições especializadas na defesa da

mulher, como as delegacias, defensorias e centros voltados ao apoio e defesa da

mulher em situação de violência. A qual não era eficaz, quando o homem era

intimado pela policia devido à violência cometida contra a sua companheira, o

mesmo tinha como pena pagar umas cestas básicas, fazer algum trabalho voluntario

por um tempo muito curto, a qual o homem acabava retornado para seu lar e

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cometendo a mesma violência, nesse momento a mulher se sentia frutada pela

forma de tratamento do seu caso, e ficando desacreditada por não ter obtido Justiça.

Um dos mecanismos criados para coibir a violência foi no ano de 1995

quando foi promulgado a lei 9.099 de 26 de setembro de 1995, a qual cria o Juizado

Especial Criminal (Jecrim), conhecida como um símbolo de revolução judicial que

estava em macha, onde houve um rompimento com o tradicional processo penal

criando um novo sistema que vem regulamentar o Jecrim e o Cíveis.

O Juizado Especializado Criminal, a partir de sua previsão constitucional no artigo 98, foi criado para jugar as infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei. Já na redação constitucional se antevê o nítido caráter despenalizado, com a possibilidade expressa de realização da transação penal. A lei 9.099/95 em seu artigo 62 elegeu como um dos princípios do juizados a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade, permitindo a composição dos danos civis (artigo. 72 c/ c artigo 74), que será homologado pelo juiz e terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente(TELES, 2002).

Jecrim é composto por juízes togado e togados leigos, onde os leigos

ficam responsável em auxiliar a Justiça, que necessariamente são graduados em

Direito, podem ser também pessoas da sociedade, fazendo assim aumentar a

participação dessas pessoas no pode Judiciário e assim torna pessoas conscientes

dos seus Direitos. O Juizado tem como competência conciliar, julgar e executar as

chamadas infrações de menor potencial ofensivo.

Foi através da Lei 11.340/06 que houve conquista de mecanismo como a

Promotorias Especializadas, ou Núcleos de Gênero do Ministério Público, Juizados

Especializados em violência contra a mulher, casa de acolhimento (abrigos e

albergues) e serviços de saúde especializados e mecanismos preventivos como as

políticas publicas para conscientização e campanhas educativas.

Outro aspecto importante dessa Lei foi a instituição de políticas públicas

conjunta entre União, Estado e municípios e a criação dos Juizados Especializados

de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, com competência civil e criminal

para processar e julgar todos os casos de violência contra a mulher. (LEI 11.340/06,

Brasil,2006)

A lei nº 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, em seu artigo 5º,

define em qual âmbito se dar a violência doméstica e familiar contra a mulher; no

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artigo 7º, define cinco formas de violência doméstica e familiar sofridas por

mulheres: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral (BRASIL, 2006). Ainda

valem ressaltar que essas definições já vinham contidas nas convenções

internacionais que a Lei Maria da Penha apenas incorporou ao seu texto.

No que define a violência física, é colocado de forma que toda ação ou

omissão que coloque em risco ou cause dano à integridade física de uma pessoa; a

violência psicológica é entendida como qualquer conduta que cause a mulher dano

emocional, através de sua autoestima, visando controlar suas ações perante

ameaças, constrangimento e humilhação; a violência sexual são ações que

obriguem a mulher ter relação sexual não desejada, usando a força para intimidar a

mesma ou deixe de exercer plenamente sua liberdade sexual; a Violência

Patrimonial é qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial

ou total dos bens da mulher; a violência moral diz respeito a ações destinadas a

caluniar, difamar, injuriar a honra ou reputação de uma mulher.

No âmbito federal, por meio da Lei nº. 10.683/2003 foi criada a Secretaria de

Políticas para as Mulheres, com a finalidade de assessorar a Presidência da

República na formulação, coordenação e articulação de políticas públicas para a

proteção às mulheres.

Em 31 de outubro de 2010, a presidenta Dilma Rousseff venceu as eleições

presidenciais no segundo turno, tornando-se a primeira mulher presidente da

República no Brasil.

O tópico a seguir vem falar das Políticas Públicas como forma de

enfrentamento a violências doméstica e familiar, com suas finalidades, conceitos

como forma de prevenir e coibir diversos tipos de violência contra a mulher.

3.2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE DEFESA DOS DIREITOS DAS MULHERES.

Temos hoje vários equipamentos de enfrentamento à violência contra a

mulher em nosso país. A Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as

Mulheres criada em 2011, tem o intuito de estabelecer conceitos, princípios,

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diretrizes e ações de prevenção e combate à violência contra as mulheres, assim

garantir direitos como assistência social, saúde de qualidade, cultura, lazer, direito

de ir vir, uma educação de qualidade, a segurança pública essas mulheres em

situação de violência, que é garantido pela Constituição Federal de 1988, onde deixa

bem claro que é dever do Estado e direito do povo sem distinção, de classe, cor e

religião.

Essa Política requer uma ação conjunta, onde todos participem, está

estruturada a partir do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM), tendo

seu objetivo baseado na I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres,

realizada em 2004, pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e pelo

Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM).

A Política Nacional, também, em consonância com a Lei nº 11.340/2006 e

com convenções e tratados internacionais ratificados pelo Brasil, tais como: a

Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), com organização

Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher

(Convenção de Belém do Pará, 1994), a Convenção sobre a Eliminação de Todas

as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW, 1981) e a Convenção

Internacional contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção,

Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas (Convenção de Palermo, 2000). A partir

dessas organizações, vem sendo concretizados e colocados em prática. A SPM vem

desempenhando o trabalho de prevenir, combater e dar assistência às mulheres que

se encontram com seus direitos violados.

A Lei em relação à violência doméstica determina a criação de uma rede de

proteção que envolve um conjunto articulado de ações da União, Estados, Distrito

Federal e Municípios, que vem para fortalecer e erradicar toda forma de violência e

discriminação contra a mulher.

De acordo com a Lei, no Capítulo II, da assistência à mulher em situação de

violência doméstica e familiar, em seu artigo 9º, define que será prestada de forma

articulada e de acordo com os princípios e as diretrizes previstas na Lei Orgânica da

Assistência Social (LOAS), no Sistema Único de Saúde (SUS), no Sistema Único de

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Segurança Pública, entre outras normas e políticas de proteção, e

emergencialmente quando for o caso.

A Política Nacional para as Mulheres orientada pelos princípios propostos no

Plano Nacional de Políticas para as Mulheres I e II nos seguintes pontos

fundamentais na Igualdade e respeito à diversidade, equidade, autonomia das

Mulheres, laicidade do Estado, universalidade das Políticas, justiça social,

transparência dos atos públicos e participação no Controle Social.

O Pacto é uma iniciativa do Governo Federal que tem por objetivo prevenir e

enfrentar todas as formas de violência contra a mulher, articuladas nas mais

diferentes esferas da vida social, tais como: na educação, no trabalho, na saúde,

entre outras. Esta conjunção de esforços já resultou em ações que,

simultaneamente, vieram a desconstruir as desigualdades e combater as

discriminações de gênero, interferir nos padrões sexistas/machistas ainda presentes

na sociedade brasileira e promover o empoderamento das mulheres. Muito ainda

precisa ser feito e por isso mesmo, a necessidade de fortalecimento do Pacto.

O Pacto Nacional tem por base a Política Nacional de Enfrentamento à

Violência contra as Mulheres, que define os objetivos gerais e específicos do

enfrentamento à violência que são:

Geral: Enfrentar todas as formas de violência contra as mulheres a partir de uma visão integral deste fenômeno. OBS: O enfrentamento inclui as dimensões da prevenção, assistência, combate e garantia de direitos previstos na Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.

Específicos: Reduzir os índices de violência contra as mulheres. Promover uma mudança cultural a partir da disseminação de atitudes igualitárias e valores éticos de irrestrito respeito às diversidades de gênero e de valorização da paz. Garantir e proteger os direitos das mulheres em situação de violência considerando as questões raciais, étnicas, geracionais, de orientação sexual, de deficiência e de inserção social, econômica e regional. (Politicas Nacional de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, Brasil, 20011)

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Ainda existem muitos profissionais que não são qualificados, no caso da área

de saúde, o que eu percebi pelo tempo que estagiei na Secretaria, pois eram feitos

encaminhamentos para a saúde em relação ao IML( Instituto de Médico Legal) que o

atendimento é muito precário, que não há um investimento em relação a

qualificação desses profissionais para ter uma sensibilidade e assim poder identificar

a real situação dessas mulheres que na maioria das vezes tem omitido o porque

estão tão machucadas no ato do atendimento.

A atuação da rede de atendimento é articulada entre a Instituição/Serviços

Governamentais, Não-Governamentais e a Comunidade, visando à ampliação e

melhoria da qualidade do atendimento e ao desenvolvimento de estratégias efetivas

de prevenção. O gráfico abaixo mostra como é formada essa rede de atendimento,

mostra também que através de um trabalho de rede é possível melhorar e viabilizar

os direitos do próximo (a).

2

Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (COMDIM): É um Órgão de

caráter permanente, com competência propositiva, consultiva, fiscalizadora,

normativa e deliberativa, no que se refere às matérias pertinentes aos Direitos das

Mulheres.

A criação do COMDIM é uma medida voltada para garantir uma esfera pública

com representantes da comunidade local e dos Órgãos Governamentais, para

2 Karinne Matos Lima: Palestra realizada em 2011 sobre o 16 dias de Ativismo pelo fim da

violência contra as mulher no município de Pacatuba.

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monitorar o impacto das Políticas Públicas na proteção e efetivação dos direitos das

mulheres, e também, para investigar as violações de direitos no território municipal.

Centros de Referência: são espaços de acolhimentos/atendimentos

psicológicos e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação

de violência, que devem proporcionar o atendimento e o acolhimento necessário à

superação de situação de violência, contribuindo para o fortalecimento da mulher e o

resgate de sua cidadania (Norma Técnicas de Padronização- Centro de Referência

de Atendimentos à Mulher, SPM: 2006).

Centros de Referência da Assistência (CRAS) e Centro de Referência

Especializada de Assistência Social (CREAS):

CRAS: são unidades públicas estatais responsáveis pela organização e oferta de

serviços de proteção social básica, que faz parte o PAIF (Serviço de Proteção e

Atendimento Integral à Família) que consiste no trabalho social com famílias, de

caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias.

CREAS: É responsável pela proteção de familiares e usuários que estejam com

seus direitos violados que vivam em situação de vulnerabilidade social (proteção

especial).

Casa-Abrigo: As Casas-Abrigo são locais seguros que oferecem moradia protegida e

atendimento integral às mulheres em risco de vida iminente em razão da violência

doméstica. É um serviço de caráter sigiloso e temporário, no qual as usuárias

permanecem por um período determinado, durante o qual deverão reunir condições

necessárias para retomar o curso de suas vidas.

Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher: São unidades

especializadas da Polícia civil para atendimento às mulheres em situação de

violência doméstica e familiar.

Defensoria da Mulher: tem por finalidade de dar assistência jurídica, orientar e

encaminhar as mulheres em situação de violência. A SPM tem investido na criação e

consolidação de Defensoria da Mulher, pois é uma forma de ampliar o acesso à

justiça, e garantir orientação jurídica adequada.

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Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher: são Órgãos da

Justiça Ordinária com competência cível e criminal que poderão ser criados pela

União (no Distrito Federal e nos Territórios) e pelos Estados para o processo,

julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica

e familiar contra a mulher. Segundo a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que

prevê a criação dos Juizados, esses poderão contar com uma equipe de

atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados nas

áreas psicossocial, jurídica e da saúde.

Central de Atendimentos à Mulher - 180: é um serviço federal que auxilia e

orienta as mulheres em situação de violência através do número de utilidade pública,

onde é feita uma ligação gratuitamente de qualquer parte do território nacional, é

uma ligação que você não precisa se identificar. A ligação pode ser feita pela mulher

e até mesmo por familiares, vizinhos e amigos, pois a central de atendimento recebe

e encaminha as denúncias.

Em 18 de dezembro de 2008 Governo do Estado Ceará e doze munícipios

cearenses (Fortaleza, Juazeiro do Norte, Quixadá, Sobral, Itapipoca, Limoeiro do

Norte, Redenção, Tauá, Maranguape, Iguatu, Tianguá e Viçosa do Ceará) assinam

um acordo de Cooperação Federativa tendo como intermediário a SPM da

Presidência da Repúblicas. Objetivo desse pacto é de organizar a participação dos

184 municípios cearenses através de municípios polos, são: Fortaleza, Juazeiro do

Norte, Quixadá, Sobral, Itapipoca, Limoeiro do Norte, Redenção e Tauá.

Equipamentos existentes no Estado Ceará em defesa as mulheres como

forma de coibir e prevenir violência domestica e familiar, com trabalhos diversos,

mas que esse numero ainda é muito pequeno, para atender essa demanda que

cada vez mas está aumentando.

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38

Gráfico 1: Total de equipamentos existentes no Estado do Ceará em defesa

da Mulher

No município de Pacatuba temos a Secretaria da Mulher como a primeira

Secretaria existente no Estado do Ceará com trabalho de viabilizar direitos projetos

e existentes e juntos com a Secretaria existe um trabalho de rede com atendimentos

diretos e indiretos nos municípios para que possa ser realizados um trabalho de

qualidade.

Gráfico 2: Trabalho de Rede realizado no município de Pacatuba para coibir

e prevenir a Violência Domestica e Familiar Contra a Mulher de forma Direta ou

Indiretamente.

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4. CAPÍTULO III: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE INVESTIGAÇÃO

. Nesse capítulo trago a construção metodológica desse trabalho, os

desafios encontrados no decorrer da pesquisa e objetivos finais relacionados ao

perfil biográfico das entrevistas feitas com as mulheres atendidas na Secretaria da

Mulhe

4.1. PERCURSO METODOLÓGICO

O presente trabalho adotou o modelo de pesquisa exploratória e descritiva,

fundamentada em pesquisa bibliográfica e de campo, cujo local foi a Secretaria da

Mulher, Cidadania e Direitos, Humanos de Pacatuba-CE, tendo como sujeitos da

pesquisa as mulheres atendidas e acompanhadas na Secretaria.

A metodologia, para Minayo (2004), é o caminho a ser seguido em uma

pesquisa, ocupando um lugar central na teoria e trata-se basicamente do conjunto

de técnicas. A pesquisa é, dessa forma, a atividade básica da ciência na construção

da realidade.

Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica que, segundo Lakatos e

Marconi (2007), abrange a leitura, a análise e a interpretação de livros, periódicos,

pesquisa documental. Ela dá suporte a todas às demais fases de qualquer tipo de

pesquisa, uma vez que auxilia na definição do problema, na determinação dos

objetivos, na construção de hipóteses, na fundamentação da Justificativa da escolha

do tema e na elaboração do relatório final.

A pesquisa foi realizada a partir de um pesquisa documental onde utilizei a

pasta de atendimento do Serviço Social, que são arquivados os atendimentos feitos

pela Assistente Social, desse momento no dia 29 de março de 2013 foi feito uma

releitura desse atendimentos, e só assim uma seleção das mulheres a serem

entrevistadas.

Depois de ter feito todo esse sistema de triagem ao ler as fichas de

atendimentos, a qual é estruturada em três partes: inicialmente por dados pessoais,

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40

segunda parte é relacionada aos programas do Governo Federal, Beneficio da

Previdência e se existe acompanhamento da equipe estratégica da Saúde da

Família, e por fim o relato e encaminhamento da mulher em situação de violência. A

escolha das entrevistadas foi através de seguintes critérios: ter na ficha o tipo de

violência física e psicológica, ter filhos independente de ser ou não filho do homem

que comete agressão e ter idade entre 18 a 45 anos.

Para realizar essa pesquisa foram feitas 50 ligações telefônicas, algumas

identificamos que o número não é mais da mulher. De início meu objetivo era de

entrevistar 10 (dez) mulheres, mas devido a todos esses empecilho não foi possível.

Além desses fatores houveram outras dificuldades, depois de fazer as ligações e ter

marcado com as mulheres, de três agendadas só compareceu uma, passei quase

três mês para concluir as entrevistas, pois o fato da minha residência se localizar

no município de Itaitinga e meu campo de pesquisa ser em Pacatuba dificultou um

pouco.

Das 9 (nove) mulheres entrevistadas só uma permitiu que a entrevista fosse

gravada, elas argumentavam que tinham medo, mesmo eu deixando bem claro que

as falas das mesmas não iam ser utilizadas para outros fins, só era para melhor

esclarecimento da minha pesquisa e que seus nomes não iriam ser divulgados, que

iriam ser utilizados nomes fictícios, como uma maneira de resguardá-las. Procurei

ser fidedigna na hora das anotações das falas dessas mulheres entrevistadas.

Tem-se que esta pesquisa é exploratória, por "favorecer a adoção de uma

visão geral do problema em foco, de uma forma mais aproximativa" (GIL 1999, p.

43). A pesquisa se caracterizou, também, como descritiva por relatar percepção de

mulheres entrevistadas, explicitando seu empoderamento a respeito das agressões

físicas e psicológicas advindas de seus companheiros, na relação familiar. Para Gil

(2008), as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das

características de determinada população ou fenômeno, ou então, o

estabelecimento de relações entre variáveis.

Esta pesquisa também se definiu por uma abordagem qualitativa que,

segundo Silva e Menezes (2001, p. 20) "é uma relação entre o mundo real e o

sujeito, estabelecendo vínculos entre o objetivo e o subjetivo."

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Os instrumentos de coleta de dados e informações foram: a entrevistas,

recorrendo a um roteiro semiestruturado (Apêndice B). Segundo Gil (1999, p. 117),

a entrevista "é um forma de interação social, mais especificamente, é uma forma de

diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coleta de dados e a outra se

apresenta como fonte de informação." A entrevista é uma das técnicas de coleta de

dados mais utilizadas no âmbito das ciências sociais.

A entrevista semi-estruturada, como instrumento de coleta de dados, permite

ao entrevistador controlar a situação, predeterminando as perguntas (MINAYO,

2004). Nesse caso, existe certa liberdade para que se possa ir além das perguntas

especificadas, estabelecendo-se um diálogo com o entrevistado a partir de suas

elaborações, considerando o roteiro original e retornando aos pontos de interesse do

pesquisador, com vistas ao esclarecimento do objeto de estudo.

Minayo (2004) aponta a entrevista como um instrumento apropriado para a

obtenção das informações pretendidas, pois é pela fala que os sujeitos revelam seus

valores, transformando as palavras em símbolos e traduzindo-as em forma de

comunicação. Ao mesmo tempo, eles conseguem transmitir a expressão de

situações particulares, abordadas pelo entrevistado, mas que podem representar

determinados grupos, considerados em suas diversidades histórica, social,

econômica e cultural.

Utilizou-se, portanto, um roteiro semi-estruturado que foi aplicado a nove

mulheres que foram atendidas na Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos.

Humanos de Pacatuba-CE, no período de Março a Maio de 2013.

O roteiro da entrevista foi composto por 18 questões e está estruturado em

três blocos de perguntas: mais gerais, referentes as mulheres, e o pensamento das

mesmas em relação Lei 11.340/06 e sobre a SMCDH. A realização da minha

entrevista aconteceu no período da manhã, das 8h às 12h, nos dias de semana

segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira. Na SMCDH, localizada no centro de

Pacatuba, na Rua Carlota Pereira Queiroz. O local que foi disponibilizado para

serem realizadas as minhas entrevistas foi a sala de reunião da Secretaria, houve

um respeito e o sigilo em relação à equipe da Instituição. As entrevistas tinham uma

duração de 40 minutos à 1 hora para cada mulher.

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42

Os dados coletados estão apresentados através da análise de conteúdo dos

relatos e depoimentos das mulheres pesquisadas, e analisados à luz das ideias dos

teóricos consultados na pesquisa bibliográfica referente à temática estudada, a

violência contra mulher. Também foram analisados documentos dos arquivos da

Instituição pesquisada, o que também caracterizou a pesquisa documental.. A

pesquisa documental é definida por Marconi e Lakatos (2009, p.176) como "a fonte

de coleta de dados restrita a documentos escritos, ou não, constituindo o que se

denomina de fontes primárias."

Foram respeitados, nesta pesquisa, os aspectos éticos definidos na da

Resolução 196/96 do Ministério da Saúde (BRASIL, 1996), que rege as regras para

pesquisa em seres humanos. As mulheres participantes da pesquisa assinaram um

termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice A), após explicitação de que

lhes seriam assegurados o sigilo a respeito da sua identidade e a utilização de suas

informações, unicamente, para os fins deste estudo.

Em seguida iremos falar sobre a implantação da Secretaria dentro do

município de Pacatuba, sendo a 1° Secretaria da Mulher no Estado Ceará, como

está sendo desenvolvido o trabalho em relação as mulheres em situação de

violência.

4.2. SECRETARIA DA MULHER, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

(SMCDH) – CAMPO DA PESQUISA.

A Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos (SMCDH) foi

instituída pela Lei n°. 0945/2008, de 13 de novembro de 2008, e localiza-se no

município de Pacatuba - CE, na Rua Carlota Pereira de Queiroz, Centro.

A SMCDH foi implantada no ano de 2009 com o objetivo de planejar,

desenvolver, executar e coordenar ações, programas e projetos e dirigidos à

execução de políticas públicas que garantam a igualdade e o respeito à diversidade

cultural, étnica, racial e de orientação sexual voltadas para as mulheres de

Pacatuba. Atua nas áreas da saúde, educação, assistência social e no

enfrentamento às diversas formas de violência doméstica e familiar, contra a mulher

de Pacatuba - CE.

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43

Com relação aos Direitos Humanos e à Cidadania, elabora, aplica e monitora

ações, capacitações e campanhas educativas em todo o município. Tem como meta

elaborar e propor políticas municipais de proteção às mulheres. Prestam assistência

psicológica e social às mulheres em situação de violência, preconceitos e abusos,

impedidas de exercerem a cidadania plena no Município.

Acompanha investigações no Município de Pacatuba, envolvendo qualquer

tipo de violação aos direitos humanos, individuais e coletivos; fortalece e colabora

com o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, que em parceria com a

Secretaria, vem lutando pela implantação de mais políticas públicas para as

mulheres.

Uma das ações realizadas pela Secretaria é a „Pacatuba Mulher‟, que é uma

semana de atividades anualmente realizadas no mês de março que procede ao

atendimento à mulher Pacatubana, com serviços diversos como corte de cabelo,

manicure e pedicura, massoterapia, atendimento jurídico, palestras motivacionais,

emissão de documentos, atendimento ginecológico, orientação na prevenção e

combate à violência, entre outros; atendimento ao público LGBT e orientação a

familiares levando informações que desconstruam o preconceito contra

homossexuais a um número maior de pessoas do município; dentre outros projetos

que existem na Secretaria.

O Projeto Corrente pela vida', é realizado nas unidades de ensino municipais,

de forma intersetorializada com oficinas de prevenção e combate à dependência

química, que visa proporcionar uma reflexão no ambiente escolar de forma lúdica e

informativa sobre os efeitos e consequências do uso de drogas. A SMCDH

Implantou o Conselho de Direitos da Mulher Constituição', um conselho paritário

composto por Organizações Governamentais (OG's) e Organizações Não

Governamentais (ONG's), que fiscalizam, sugerem e auxiliam a Secretaria da Mulher

na implementação de Políticas Públicas para as Mulheres.

Também são realizadas palestras e capacitações de enfrentamento à

violência contra a mulher, palestras de informações, orientações e sensibilizações

sobre as temáticas violência contra a mulher e rodas de conversa, encontros de

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técnicos da Secretaria com a comunidade, para discussões temáticas, trabalhando

as demandas, conflitos e a autoestima da comunidade.

A SMCDH tem alcançado resultados muito significativos em favor das

mulheres e da população de Pacatuba que, certamente, alcançará melhores

resultados com a Construção da Delegacia da Mulher de Pacatuba, que se encontra

em construção desde o ano de 2011. A SMCDH vem sendo, portanto, o referencial

para o público feminino de Pacatuba. A procura pela Secretaria vem aumentando, o

que é visto positivamente, pois há menos mulheres se submetendo a situações de

violência e mais mulheres conhecendo seus direitos, fortalecendo-se e com maior

autoestima no Município de Pacatuba-CE.

De acordo com os dados colhidos na Secretaria da Mulher, o total de

atendimentos diversos em relação à violência doméstica e familiar no ano de 2009 e

2010, foram 167 mulheres, no ano seguinte 2011, foram atendidas 146 e no ano

2012 resolvemos fazer esse levantamento por semestre , onde no semestre 2012.1

foram registrados 126 atendimentos e 2012.2 foram registrado 126 atendimentos

feito na Secretaria Mulher. A mesma ainda está se estruturando em relação aos

técnicos, para assim fazer um levantamento mais preciso sobre os dados colhidos a

fim de pesquisa e de organização para controle externo da Instituição. Onde

podemos observar com esse seguintes gráficos.

Gráfico 3 - Levantamentos de mulheres atendidas na Secretaria do ano de 2009 e

2003.

Gráfico 4 - Levantamentos de mulheres atendidas na Secretaria do ano de

2011.

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45

Gráfico 5- Levantamentos de mulheres atendidas na Secretaria do ano

de 2012.1.

Total de atendimentos do de 2012.1 107

020406080

100120140

Gráfico 6 - Levantamentos das mulheres atendidas na Secretaria do ano de

2012.2

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Podemos mencionar também algumas das atividades realizadas na

Secretaria como Ação Global do ano (2012.1) que acontece sempre na primeira

semana dos mês de março, é referente a comemoração ao Dia Internacional da

Mulher, e nessas ações pretendes trabalhar nas localidades mas carentes do

município.

Gráfico 7 - Total de atendimentos realizado na Ação Global de Pacatuba em

homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

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47

Próximo tópico é um breve histórico do trabalho do Serviço Social dentro da

Secretaria como forma de coibir e prevenir a violência contra a mulher, através de

iniciativas como projetos, palestras, dentre outros.

4.3 SERVIÇO SOCIAL NA INSTITUIÇÃO (SMCDH).

O Serviço Social na Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos de

Pacatuba, inicia suas atividades no semestre 2011.1, uma atividade ainda muito

recente, ainda procurando se firmar, pois devido à mudança de gestão do ano de

2013, a equipe multiprofissional ainda está se estruturando.

São muitas as expressões da questão social, especificamente a Secretaria,

são atendidos casos de diversos tipos de violência contra a mulher pela equipe

multiprofissional, sendo que muitos são os motivos pelos quais muitas mulheres

estão em situação de violência, pois na maioria das vezes, o próprio domicílio é o

lugar onde ocorrem as diversas formas de violência praticadas contra as mulheres.

Diante desse contexto, o Serviço Social juntamente com a equipe

multiprofissional atua diretamente na prevenção e no atendimento psicossocial

especializado e sigiloso às mulheres em situação de todas formas de violência de

acordo com a Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha).

Assim sendo, o Serviço Social atua no enfrentamento da violência doméstica

e familiar contra a mulher, visando prestar assistência social na SMCDH, através de

um atendimento psicossocial às mulheres e suas famílias. Construindo mecanismos

de ação de transformação da realidade das mesmas através do reconhecimento, da

garantia e defesa de seus direitos, ressaltando sempre, que elas são protagonistas

de suas próprias histórias de vida.

No próximo tópico iremos falar sobre o perfil biográfico das mulheres

entrevistadas na Secretaria, destacando as falas mais marcantes observadas no

decorrer das entrevistas.

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4.4. PERFIL BIOGRÁFICO DAS MULHERES ENTREVISTADAS

Foram no total 9 (nove) mulheres entrevistadas, que sofreram ou que ainda

sofrem violência contra a mulher e as mesmas foram entrevistadas por critérios já

citados anteriormente.

A facilidade de aproximação no campo de pesquisa com as mulheres que

foram atendidas ou que estão sendo atendidas na SMCDH, foi adquirida pela minha

inserção como estagiária de Serviço Social na Instituição, que fez com que eu

tivesse um conhecimento sobre os questionamentos e a maneira mais adequada de

reportar às mulheres lá atendidas.

Os nomes das guerreiras que me ajudaram nessa pesquisa não serão

divulgados por se tratar de uma pesquisa de caráter sigiloso e ético acima de tudo,

foi necessário atribuir nomes fictícios, a fim de resguardar a identidade das mesmas.

Os nomes escolhidos foram de mulheres que foram mortas por tentar garantir

melhores condições de vida e trabalho em pleno século XX, para hoje fortalecermos

cada vez mais essas lutas. Deixaram marcas e lutaram por melhores condições,

capazes de sacrificar as suas próprias vidas para garantir os direitos que temos

hoje: como votar e ser votada, a reivindicação pela jornada excessiva de trabalho, as

desvantagens na carreira profissional, e uma vitória muito significativa foram às

conquistas das mulheres brasileiras em relação ao uso do preservativo e a pílula

anticoncepcional, nesse momento as mulheres tiveram o direito de escolha do seu

próprio corpo.

Ângela Borba3: 41 anos idade, natural de Pacatuba, mora na localidade Vila

das Flores, cor parda, concluir o ensino superior, curso de Serviço Social, trabalha

como técnica comunitária de saúde, mãe de três filhas, uma de 07 anos, uma 17

anos e a outra de 23 anos de idade. Solteira há 4 anos. A acredita que a Lei Maria

da Penha, ainda precisa melhorar em termos de acelerar o processo criminal e fazer

com que o mesmo tenha andamento mais rápido para que seja resolvida com ação

imediata. A violência contra a mulher é todo tipo de violência que vem atingir tanto o

3

Ângela Borba: Nasceu no dia 4 de abril de 1953, no Rio de Janeiro. Formou-se em história pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/RJ). Foi ativista feminista e política, lutou pela redemocratização do Brasil. Na década de 1970, Angela engajou-se no movimento de mulheres fazendo parte do Brasil Mulher. Foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT), em 1979.

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psicológico como físico. A violência física acontecia no momento que ele me

espancava e violentava. A violência psicológica é quando o homem xinga a mulher

com palavrões, usando palavras que deixe sua auto estima lá em baixo, lhe

pressionando cada vez mas.

Bertha Lutz4: 33 anos de idade, natural de Pacatuba, ensino médio

incompleto, trabalha como auxiliar de serviços gerais, mora na localidade Pavuna,

cor parda, solteira e tem 5 filhos, três homens com a idade de 9,12 e 17 e duas

mulheres uma de 14 e a outra de 7. “Em relação à Lei, percebe-se que ela é uma

proteção, mas quando precisei , não tive meus direitos garantidos, pra minoria a lei

tem resultado imediato e pra outros não, faço parte da maioria que está nessa

situação de violência. Quando percebi que estava sofrendo violência física, foi

quando o companheiro chegou em casa ameaçando e quebrando tudo dentro da

casa e começou a lhe espancar e não tem dor maior do que ser espancada por algo

que você não cometeu e nesse momento a filha liga para a polícia, e a partir de

então resolveu tomar uma atitude.”

Cida Kopcak5: “42 anos de idade, natural de Pacatuba, mora na localidade

São Luiz, cor branca, ensino fundamental incompleto, trabalha como agricultora, tem

quatro filhos, todas mulheres uma de 26, 24, 21 e a outra de 10 anos. Atualmente é

casada com uma pessoa que lhe agrade-a e vive com o mesmo há 25 anos. “No

início da violência não tinha conhecimento sobre a Lei e também era agredida e não

tinha como tomar aquela decisão, mas hoje está por dentro da lei e decidi-o dá um

basta nessa situação a qual está vivendo nela há muito tempo. A violência como um

todo é uma palavra dura que machuca, as agressões físicas que passou com ele

nunca mais serão esquecidas.”

4 Bertha Maria Júlia Lutz: Nasceu na cidade de São Paulo 2/8/1894-16/9/1976, Cientista, líder feminista e política paulista (1894-1976). É uma das pioneiras da luta pelo voto feminino e pela igualdade de direitos entre homens e mulheres no país. Em 1919 começa a se destacar na busca de igualdade de direitos jurídicos entre os sexos, ao se tornar a segunda mulher a ingressar no serviço público brasileiro.

5 Cida Kopcak: Natural de Itapira (SP), militou no feminismo e na luta contra a ditadura militar. Tendo se

destacado como uma forte liderança no movimento contra a carestia através da Associação das Donas de Casa de São Paulo. Ajudou a formar a segunda onda do feminismo no Brasil, após 1975.

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Eliane de Grammont6: 36 anos idade, natural de Fortaleza, mora na

localidade Parque Aratanha, cor branca, ensino fundamental completo, trabalha

como costureira, tem quatro filhos, são duas mulheres, uma de 15 e a outra de 8 e

um menino de 13 anos, atualmente está casada com uma pessoa que lhe agrade-a,

convivo com o mesmo há 15 anos. “A lei fala dos direitos das mulheres, onde os

homens por serem tão machistas ainda acham que podem fazer o que querem com

as mulheres, vejo que a lei ainda está no papel, as mulheres que denunciam seus

companheiros deveriam ser amparadas. O medo depois da denúncia aumenta, pois

voltar para casa não é a melhor opção. O ser humano independente do sexo e para

viver bem e ser respeitado.”

Lélia Gonzalez7: 37 anos de idade, natural de Baturité, mora na localidade,

Velho Timbó, cor parda, ensino fundamental incompleto, trabalha como operadora

de máquina, tem dois filhos, uma mulher de 16 e um homem 10 anos, atualmente

estou solteira. “Não entendo essa lei. A violência destruiu-o todos os meus sonhos

durante os 10 anos que estive com ele. A violência física se define como ruim, pois

tinha muito medo do que ele era capaz de fazer, ele destruiu tudo que era meu e

nada que era dele como cafeteira e outros tipos de eletrodomésticos. Sofrie violência

psicológica desde o início do meu relacionamento. Só agora que vim perceber que

era violência também.”

6 Eliane de Grammont: foi uma cantora assassinada por seu ex-marido alguns meses após a sua separação, em 30 de março de 1981, no Café Belle Époque, no bairro da Bela Vista, São Paulo. Este foi um dos casos mais importantes na mobilização das mulheres brasileiras em relação à violência contra a mulher.

7 Lélia Gonzalez: Uma das principais vozes a se levantar no âmbito da discussão sobre a questão racial, denunciando a real situação da população negra no Brasil. Autora de artigos, ensaios e livros sobre a temática racial, a antropóloga mineira e militante de movimentos negros nos anos 1970. Um expoente no combate ao preconceito contra a mulher.

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Margarida Alves8: 44 anos de idade, natural de Pacatuba, mora na

localidade, Pavuna, cor parda, ensino fundamental completo, trabalha como

comerciante, tem três filhos, uma mulher de 13 anos e dois homens um de 25 que já

é casado e outro de 19 anos, mas nem um dos três filhos é do homem que lhe

cometeu agressão, atualmente está solteira. “A lei é uma proteção que existe, pois

hoje as mulheres estão protegidas, e os homens temem mais. A violência é como se

eu vivesse em uma prisão, onde o companheiro manda em tudo em sua vida.

Horrível, mulher nem uma deveria sofrer violência, mulher tem que ser amada e não

espancada. A mão de um homem pesa em cima de uma mulher, o mesmo pegava

por trás tentando enforcar. O homem é muito covarde. Ele me deixou muitas marcas.

Uma palavra dele me bastava para me deixar com autoestima baixa, ele sempre

estava bêbado e era nesse momento que ele me humilhava, me dizia que eu era

muito feia, e isso tudo me deixava com a minha autoestima muito baixa.”

Nísia Floresta9: 24 anos de idade, natural de Pacatuba, mora na localidade,

Monguba, cor parda, ensino fundamental incompleto, trabalha como ajudante em um

restaurante, três mulheres uma 2 anos a outra de 8 anos, e uma de 6 anos de idade

, atualmente está solteira. “Graça a Deus, a lei foi eficaz, pois quando precisei, ela

esteve totalmente ao meu favor. É muito ruim viver com uma pessoa que está lhe

espancando na frente dos seus filhos, não sei como explicar, quando ele chegava

em casa já ficava com medo, penso que quando um homem é violento não precisa

fazer nada de errado, ele vai logo lhe agredindo sem motivo, ele batia muito, para

mostrar que era meu dono, ele falava que para ser dono de uma mulher tinha que

bater e muito. Hoje é inadmissível a agressão contra a mulher. Dois tipos de

violências que me deixaram marcas foram à violência física e sexual, sempre que

8 Margarida Alves: Era Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande na Paraíba, e fundadora do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural. Ela obteve grande destaque na região por incentivar os trabalhadores rurais a buscarem na Justiça a garantia dos seus direitos protegidos pela legislação trabalhista. A marcha das mulheres trabalhadoras rurais recebeu o nome de Marcha das Margaridas em homenagem à ex-líder sindical.

9 Nísia Floresta: Nasceu em 1810 em um sítio no Rio Grande do Norte. Separou-se do marido com 15 anos, e depois casou-se novamente. Era uma abolicionista e republicana e lutou pela melhoria da educação feminina, uma precursora na história do feminismo brasileiro. Aos 22 anos de idade, em 1832, lança seu primeiro livro Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens. Ela defendia o direito à instrução para as mulheres. Dizia que as mulheres estavam enclausuradas numa teia: não arrumavam emprego porque não eram instruídas, não se instruíam porque não tinham emprego, e por ter esses pensamentos era pesiguida.

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ele queria ter relação comigo o mesmo pegava a faca, pois não desejava ter relação

com ele.”

Patrícia Galvão (Pagu) 10: 42 anos de idade, natural de Aracoiba, mora na

localidade, Alto São João, cor parda, alfabetizada, trabalha como comerciante, tem

seis filhos, quatro mulheres, com a idade de 19,21,26 e 24 anos que não são filhas

do ex-companheiro, e dois homens uma adotivo de 30 anos que já é casado e outro

de 9 anos que é filho dele, atualmente estou solteira. “A Lei é uma coisa muito boa,

mas ao mesmo tempo se torna algo muito lento, pois já passaram dois anos e não

resolveram nada da minha questão. A violência ficou gravado em na mente, mas

hoje ainda sinto medo , pois hoje estou com a pessoa que eu gosto muito , mas que

ainda tem medo de passar por tudo isso de novo. Quando ele chegava em casa na

maioria da vezes bêbado, falava das partes intimas, ele ficava se perguntando por

que que ainda estava comigo, tinha uma palavra que marcava muito, era quando

ele chamava de indigente, dizendo que ela não sabia de nada, nesse momento o

meu chão se abria”.

Rocinha do Cim11: 40 anos, natural de sobral, mora na localidade, Jereissati

II , cor parda, ensino médio completo, trabalha como revisora de uma indústria texto,

tem três filhos, duas mulheres (gemias) de 15 anos e um homem de 17 anos,

atualmente está solteira. “ A lei foi algo que mudou a sua vida, pois a partir da lei ela

teve força para mudar. A violência foi algo que lhe machucou muito e deixou

sequelas. No dia que ela teve que buscar ele na casa da amante, e chegando lá ele

disse que não ia com ela, foi uma decepção. Quando ele chegava em casa e dizia

10 Patricia Rehder Galvão (Pagu): Foi escritora, jornalista e uma das grandes mulheres do movimento

modernista brasileiro. Jovem, bonita e burguesa,não necessitava de lutar pelos direitos da sua classe que era a mais favorecida, porém resolveu lutar por aquilo que acreditava. Aos 20 anos incendiou o bairro do Cambuci em protesto contra o governo provisório. Comanda uma greve de estivadores em Santos, e é presa pela primeira vez, das 23 que ainda iriam ocorrer, tornando-se a primeira mulher presa no Brasil por motivos políticos.

11 Rosa Beatriz Gouveia Rosa: Chamada carinhosamente por Rosinha, tinha tanta rosa no nome que não

poderia ter sido diferente. Era uma flor de pessoa. Nasceu em 1952, em São Paulo. Sempre foi uma mulher apaixonada pela vida e consciente da situação política e social. Sonhava com democratização do país, com a liberdade e a igualdade. Essas e outras utopias faziam com que Rosinha fosse uma militante de várias frentes, tais como o Sindicato de Geólogos de São Paulo Também era militante do Movimento Feminista de São Paulo e de Osasco. Foi uma das fundadoras do CIM - Centro Informação Mulher, em 1981.

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que ela era velha, que não há via mais como mulher. A violência psicológica privava

de ser uma mulher, mais feliz, capaz de ter outros relacionamentos, tem medo de

encontrar outro e ele ser a mesma coisa”.

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5. CAPÍTULO IV: “A PARTIR DA LEI TIVE FORÇA PARA MUDAR”

Nesse capítulo é uma discussão sobre as categorias trabalhadas no decorrer

da pesquisa, assim como, os tipos de violências e a percepção das mulheres em

relação ao campo de pesquisa, a Secretaria da Mulher. Procuramos relacionar as

falas das mulheres entrevistadas de acordo com as categorias e o roteiro de

entrevista aplicado no campo de pesquisa.

5.1 FAMÍLIA – “HOJE EU TRABALHO, SOU INDEPENDENTE E CUIDO

DOS MEUS FILHOS SOZINHA”.

A autora Bruschini (2000), vem nos falar que a família é um grupo aparentado,

responsável, principalmente, pela socialização de suas crianças e pela satisfação de

necessidades básicas. Ela consiste em um aglomerado de pessoas relacionadas

entre si pelo sangue, casamento, aliança ou adoção, vivendo juntas, em geral, em

uma mesma casa por um período de tempo indefinido. Ela é considerada uma

unidade social básica e universal por ser encontrada em todas as sociedades

humanas, de uma forma ou de outra.

Podemos ressaltar também que o aumento de família chefiada por mulheres

vem crescendo a cada ano, pois de acordo com estudo do IBGE (Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística), realizou-se uma comparação em relação ao ano de 1995

que as famílias chefiadas por mulheres tinham uma proporção de 3,5%, e hoje essa

proporção vem aumentado, o total das famílias com parentesco, em 28,3%, onde a

chefe na maioria das vezes é a mulher e isso tudo ocorre devido as lutas de nós

mulheres que procuramos cada vez mais garantir um direito de igualdade para todos

independente de cor, raça , etnia e principalmente pela orientação sexo.

...Meus filhos ficaram muito rebeldes em relação ao pai, fiquei muito preocupada, pois ela era dependente dele, o mesmo proibia de tudo, foi a partir de então que caiu a ficha, percebi que tenho duas mãos, duas pernas e muita saúde, e hoje trabalha, sou independente e cuido dos meus filhos sozinha. (Bertha Lutz)

...No momento que ele me agredia a minha filha, mais velha sai de dentro de casa, por que eu não tinha atitude de nada, naquele momento a minha

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outra filha falou assim ou a senhora faz algo ou eu vou fazer .(Patrícia Galvão (Pagu))

De acordo com as entrevistas percebi que a família sempre esteve ao lado da

mulher em todos os momentos dando apoio de todas as formas, mudando apenas a

forma e a intensidade de acordo com o momento vivido por cada uma ali

entrevistada: o amor, a proteção, a força um porto seguro em seus filhos.

...tudo isso eu devo aos meus filhos, pois eles me deram muita força. No meu lar não existia mais paz, quando ele estava bêbado e me agredia, colocava meus filhos para fora de casa. (Bertha Lutz)

...Então, tive todo apoio dos meus filhos, em todos finais de semana eu me sentia uma prisioneira eu não tinha paz em meu lar, agora é totalmente diferente, ainda tenho medo, mas me sinto liberta. A partir do momento que eu denunciei o meu companheiro eu me senti muito bem, pois eu tive todo apoio dos meus filhos. Hoje minha mãe dorme em paz, aliás toda minha família, pois não me encontro mais com o mesmo, hoje a paz reina em meu lar. (Margarida Alves)

Segundo Teles (Alencar, 1992), na ausência de direitos sociais, é na família

que os indivíduos tendem a buscar recursos para lidar com as circunstâncias

adversas. Dessa forma, as mais diversas situações de precariedade social,

desemprego, doença, velhice, encaradas como dramas da esfera privada, tendem a

ser solucionadas na família, como responsabilidade de seus membros. Na maioria

das vezes, a responsabilidade recai sobre as mulheres, tornando-as responsáveis

pelo cuidado de seus filhos menores de idade, dos idosos, doentes e deficientes,

sobrecarregando-a ainda mais, considerando-se que grande parte das famílias são

chefiadas por mulheres.

Quando soube que tinha uma Lei que amparava, vem um sentimento de revolta e medo de como fazer para acabar com essa violência, depois de ter tomado esse primeiro passo ele foi preso devido à lei que protege as mulheres, e hoje, 01 de abril de 2013, o mesmo se encontra preso, e agora sua família fica me pressionando para eu tirar a queixa.(Cida Kopcak)

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Relacionadas com o pensamento dessas mulheres algo que eu pude

perceber nos relatos das mulheres é que a mãe do homem que comete violência,

dava todo o apoio à mulher e entendia a mesma, falava que isso que você está

passando não pode acontecer ele é meu filho mas isso eu não permito, mas quando

o mesmo se encontrava preso, a mãe e toda a sua família se voltava contra a

mulher, chegando até lhe ameaçar, pedindo que a mesma arquivasse a denuncia.

Sendo que hoje não se pode mais arquivar a denúncia, pois se trata de uma

agressão, e de acordo com Lei 11.340/06 é um crime inaceitável a violência contra a

mulher.

No momento que eu estava entrevistando as mulheres, quando chegava na

parte da família, eu percebia que o seu lar não era mais o mesmo, em relação a

união e a paz que existia dentro da sua casa no inicio do seu relacionamento, o seu

lar era caracterizado por sentimentos medo e muita insegurança por parte da família

Ainda com a saída do homem que comete violência, o mesmo deixa marcas

não só na mulher, mas principalmente em seus filhos. É um sentimento muito

preocupante, pois todas as mulheres que eu entrevistei deixa esse sentimento bem

claro em relação aos seus filhos e a ela mesma, que há medo, preocupação, e até

mesmo ficam dependente de remédio, devidos às agressões sofridas pelos seus

companheiros.

...Chegou ao um ponto que meus filhos estavam presenciando as violências. Olhavam para mim e diziam, mãe denuncia o pai, naquele momento eu via a minha família se acabar. (Eliane de Grammont)

...o meu filho hoje é um menino muito nervoso em consequência dessa violência. (Lélia Gonzalez)

...A lei fala dos direitos das mulheres, onde os homens por serem tão machistas ainda acham que podem fazer o que querem com as mulheres, vejo que a lei ainda está no papel, as mulheres que denunciam seus companheiros deveriam ser amparadas. O medo depois da denúncia aumenta, pois voltar para casa não é a melhor opção.(Eliane de Grammont)

Ainda não há um acompanhamento técnico efetivo dentro do município de

Pacatuba em relação a essas mulheres que chegam a denunciar seus

companheiros que na maioria das vezes é pai de seus filhos, onde a família passam

tanto tempo presenciando todos os tipos de violência, e isso tudo acaba acarretando

filhos nervosos e uma mulher amedrontada.

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4.2.RELAÇÕES DE GÊNERO – “SEMPRE ESTAVA BÊBADO E ERA NESSE

MOMENTO QUE ELE ME HUMILHAVA”.

Relações de gênero faz parte de uma tentativa empreendida pelas feministas

contemporâneas para reivindicar um certo terreno de definição, para insistir sobre a

inadequação das teorias existentes em explicar as desigualdades persistentes entre

as mulheres e os homens ( SCOTT, 1990, p.13)

De acordo com a Scott o gênero repousa sobre a relação fundamental entre

duas proposições: gênero é um elemento constitutivo das relações sociais fundadas

sobre as diferenças de sexo e é o primeiro modo de dar significado as relações de

poder.

A forma como as mulheres relatavam a sua vida com o companheiro, era de

humilhação que imperava machismo deixando a mulher com seus direito violados,

por exemplo, quando eles usam palavras que baixam a sua autoestima deixando

bem claro que "eu sou homem da casa", então "sou eu que mando" eles passam

uma condição de ser superior as mulheres, e que acabam reproduzindo a

desigualdade entre sexos e em todos os tipos de violência, onde a mulher é o alvo.

...É muito ruim viver com uma pessoa que está lhe espancando na frente dos seus filhos, não sei como explicar, quando ele chegava em casa já ficava com medo, penso que quando um homem é violento não precisa fazer nada de errado, ele vai logo lhe agredindo sem motivo, o mesmo me batia muito, para mostrar que era meu dono, ele me falava que para ser dono de uma mulher tinha que bater e muito. Hoje é inadmissível a agressão contra a mulher. (Nísia Floresta)

Hoje as mulheres procuram garantir seus direitos de igualdade, de melhores

condições de vida e trabalho. A categoria gênero é construída nas sociedades a

partir da sua cultura. As relações de poder entre homens e mulheres estão sendo

modificadas através das lutas e movimentos sociais onde a mulher tem uma

compreensão sob seu real direito nessa sociedade, onde seu comportamento faz

com que aconteça a mudança em seu âmbito pessoal e público, e nesse modo

passando a ser uma mulher que luta para garantir melhores condições de vida e

trabalho e direitos perante a Lei.

...Como sou uma pessoa bem instruída resolvi procurar ajuda na SMCDH, tive apoio e força para seguir com o processo (...) Hoje faço parte do

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Conselho da Mulher desde 2009, então já sabia onde procurar apoio. (Ângela Borba)

...No início da violência eu não tinha conhecimento sobre a Lei e também eu era agredida e não tinha como tomar aquela decisão, mas hoje eu estou por dentro da lei e estou aqui para denunciar meu marido e dá um basta nessa situação a qual estou vivendo nela há muito tempo. (Cida Kopcak) (Ver recuo das citações)

A palavra gênero por muito tempo era utilizada para identificar e caracterizar

as pessoas, onde criava ideias sobre o que é homem e mulher, ou seja, era visão

definida pela educação que recebíamos e que ainda recebemos de nossa família,

sendo que essa definição de gênero é totalmente diferente de sexo, pois quando

falamos de sexo estamos nos referindo ao aspecto físico, biológico de macho ou

fêmea e quando falamos de gênero estamos nos referindo a algo cultural que é

construído em nossa sociedade a partir de uma relação de poder, nas quais o

homem é mais reconhecido e a mulher não, que é criado em nossa sociedade e que

depende do costume de cada lugar que você esteja.

Então a categoria gênero veio ser construída e debatida a partir do

movimento feminista onde as mulheres lutam por igualdade para todos. "As

feministas começaram a utilizar a palavra gênero, como uma maneira de se referir à

organização social da relação entre os sexos.” (SCOTT,1990,p.5)

De acordo com esse pensamento podemos perceber através das mulheres

entrevistadas essa relação de poder entre o homem e a mulher e o impacto que a

violência psicológica produz nessa relação.

...Uma palavra dele me bastava para me deixar com autoestima baixa, o mesmo sempre estava bêbado e era nesse momento que ele me humilhava, me dizia que eu era muito feia, e isso tudo me deixava com a minha autoestima muito baixa. O homem é um bolo enfeitado, na aparência ele é lindo, mas quando a gente prova o seu gosto pode ser amargo como limão. As medidas protetivas pra mim, foram muito boas, que essa lei seja sempre mais forte. A gente se sente imas segura e protegida pela lei. (Margarida Alves)

Esse sentimento de decepção, medo e a baixa autoestima foram sentimentos

identificados nessa narrativa, que foi algo que percebi no decorrer das entrevistas

feitas por mim na Secretaria, mesmo que essas mulheres tenham rompido com as

pessoas que lhe agrediram, mas ainda existe receio em relação às mesmas se

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relacionarem com outras pessoas, por medo de lidar com cenas de violência e

humilhação em suas vidas novamente.

5.3 A VIOLÊNCIA – “FOI ALGO QUE ME MACHUCOU MUITO E ME

DEIXOU SEQUELAS”.

De acordo com que está prescrito na Lei, eu pude perceber que nas

entrevistas feitas que ainda existe má divulgação da Lei 11.340/06, onde a maior

prejudicada é a mulher.

A lei fala dos direitos das mulheres, onde os homens por serem tão machistas ainda acham que podem fazer o que querem com as mulheres, eu vejo que a lei ainda está no papel, as mulheres que denunciam seus companheiros deveriam ser amparadas.(Eliane de Grammont)

Na fala das entrevistadas o sentimento de revolta em relação à Lei é visível,

pois de acordo com as falas das mulheres, já é difícil a mesma sair de sua casa para

denunciar o homem que comete agressão, e quando chega ao local, faz todos os

procedimentos, mas não obtém o resultado almejado, a chegada do oficial de justiça

em sua casa oficializando as Medidas Protetivas para as duas partes (Mulher e

Homem), a parte desse momento acontece a separação de corpos, onde o homem

deve sair do lar em 24 horas que na minoria das vezes o oficial Justiça aguarda a

saída do mesmo da casa. A pensão alimentícia, é outro obstáculo que a mulher

enfrenta, pois na maioria das vezes, as mulheres que acabam cuidando dos filhos

sem nenhuma ajuda do companheiro, isso tudo é muito constrangedor para mulher

que está nessa situação.

...A Lei "Maria da Penha", ainda precisa melhorar em termos de acelerar o processo criminal e fazer com que o mesmo tenha andamento mais rápido para que seja resolvida com ação imediata (...)Em relação às medidas protetivas para mim seria algo que protegesse de imediato, tanto eu como minha família, mas infelizmente não funciona dessa maneira. (Ângela Borba)

...Em relação à Lei, posso perceber que ela é uma proteção, mas quando eu precisei dela, não tive meus direitos garantidos, pra minoria a lei tem resultado imediato e pra outros não, porque eu faço parte da maioria que está nessa situação de violência (...) Depois, que eu denunciei o meu ex- companheiro, ele foi preso por 18 dias, quando ele foi solto ainda continuou me ameaçando como até hoje acontece. As medidas protetivas para mim não serviu para nada. (Bertha Lutz)

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No decorrer do meu estágio em Serviço Social, pude perceber que existe

vários fatores que levam a não eficácia dos andamento do processo, devido ao

arrependimento e de querer dá mais um voto de confiança ao companheiro, de

achar que não vai dar certo por se tratar de uma ação que é muito demorada, por as

vezes querer somente uma orientação e de saber quais as consequências dessas

Lei 11.340/06 para seu companheiro.

...Eu não entendo essa lei. (Lélia Gonzalez)

...Não houve mudança, pois não obtive resultado, o meu ex - companheiro teve que me agredir fisicamente para ser preso, e depois ser livre com 18 dias e continuar me ameaçando.(Bertha Lutz)

...Dei entra nas Medidas Protetiva, mas que pra mim só teve validade de um mês, que entre esses trinta dia, foi tempo que ele me ameaçava.(Patrícia Galvão (Pagu))

Relacionada à fala das entrevistadas, percebi que a violência sempre esteve

em convívio em seu âmbito conjugal, onde está presente a dor, a humilhação,

perdas em relação ao respeito em seu lar, e até mesmo seus filhos, familiares e

amigos.

...A violência como um todo é uma palavra dura que machuca (...) Ficava angustiada, e pedia ao meu Deus que no dia seguinte eu amanhecesse morta, pois não aguentava mais viver nessa situação de violência, eu sofria calada. (Cida Kopcak)

A violência física é qualquer ato que prejudique a integridade e a saúde física

da mulher, usando objetos que perfurem ou que deixem marca em seu corpo,

observei esse tipo de violência nas falas das entrevistadas, pois foi a partir desse

tipo de violência que parti-o o interesse por essa pesquisar.

...Percebi que estava sofrendo violência física, foi quando meu companheiro chegou em casa me ameaçando e quebrando tudo dentro de casa e começou a me espancar e não tem dor maior do que ser espancada por algo que você não cometeu (...) Eu vivia cheia de hematomas, teve um dia que ele me deu um soco e me deixou com o lado do rosto esquerdo roxo e até hoje me deixou com sequelas tanto por fora e principalmente por dentro, isso tudo pra mim foi uma decepção. (Bertha Lutz)

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...Pra mim a violência física se encaixa em um dia que meu marido chegou em casa e começou puxando o meu cabelo, deu murro em minha cabeça e nesse momento eu tentava gritar e o mesmo tampava a minha boca e me chamava de doida, e nada eu podia fazer. E quando ele chegava em casa e começava falar palavrões e eu ficava calada, ele jogava água em cima de mim.(Cida Kopcak)

Observei também que no decorrer das entrevistas, os tipos de violência dos

relatos das mulheres se intercalam, a citação vem nos mostrar essa situação, que

as violências são ligadas uma a outra

A violência psicológica era algo que me intrigava dentro no meu campo de

estágio, pois era um tipo de violência que a maioria das mulheres que eram

atendidas na Secretaria na época não conhecia, pois as mesmas só iam denunciar

os homens que cometiam agressão, quando se tratava de agressão física.

E a partir de então o meu foco foi entender e repassar como uma maneira de

viabilizar direitos e ao mesmo tempo instigar essas mulheres que estão nessa

situação a conhecer seus direitos e deveres através das Políticas Públicas e da Lei

11.340/06. Reforcei junto com a minha supervisora de campo, o que a Lei 11.340/06

as Políticas voltadas a essas mulheres em situação de violência, através dos

atendimentos de palestras e rodas de conversas.

A violência psicológica se dá por qualquer conduta que cause sofrimento

psíquico à mulher que baixe a sua autoestima (Lei 11.340/06). Nas entrevistas

feitas, eu percebi que esse tipo de violência é algo muito presente no âmbito familiar

...Teve uma época que ele chegava em casa e dizia que eu não sabia me vestir que eu era fedorenta, que o perfume que usava era uma água, e nesse momento eu ficava angustiada, e pedia ao meu Deus que no dia seguinte eu amanhecesse morta, pois não aguentava mais viver nessa situação de violência, eu sofria calada.(Cida Kopcak)

É complicado falar de violência psicológica, você não tem autonomia de nada, aí eu penso, será que eu não tenho direitos? Será que eu vivo em um mundo sem punição? Vivo entre mil pessoas,mas me sinto só. Então é

assim que eu me sinto com violência psicológica é a onde meus sonhos não são realizados, onde só há punição com palavras. (Eliane de Grammont)

Diante do exposto, em relação às mulheres que foram entrevistadas, umas

das queixas mas frequentes eram: “denunciei meu companheiro mas não tenho

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nenhum acompanhamento técnico em relação a minha condição física e psicológica

ou encaminhamento para alguma atividade ou estudo”.

Então nessa perspectiva podemos perceber que a Lei ainda não é tão

acessível para essas mulheres, e que não há um investimento em Políticas Públicas

e na formulação de projetos como também capacitação da equipe multiprofissional

que recebem as demandas de mulheres com vários tipos de argumentos, que

devido o não investimento nos profissionais não tem como ter essa leitura critica,

pois na maioria das vezes não estão preparado e nem capacitados para atender

essa demanda, que acontece frequentemente nos Hospitais e em nosso cotidiano,

ainda temos que lutar para melhorar as condições de trabalho e assim ter um

trabalho pautado com comprometimento e sigilo e um comportamento ético

profissional, através dessas conquistas referentes aos movimentos feministas em

nosso país.

5.4 SECRETARIA DA MULHER, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

“TIVE MEUS DIREITOS GARANTIDOS COMO MULHER”

A Secretaria da Mulher Cidadania e Direitos Humanos, planeja, desenvolve,

executa e coordena ações, projetos e programas dirigidos a execução de políticas

públicas que garantam a igualdade e respeito à diversidade cultural, étnica, racial e

de orientação sexual voltadas para as mulheres com capacitações e campanhas

educativas em todo o município de Pacatuba.

Nas falas das entrevistadas, percebi que a Secretaria por existir desde ano

de 2009, ainda é um instituição nova, que boa parte da população ainda

desconhece. Em relação às entrevistadas, verifiquei que as mulheres só tem acesso

a mesma através de outros Órgãos, como a Delegacia, Conselho Tutelar, Escolas,

justamente por existir um trabalho de rede.

O acesso à Secretaria foi através da delegacia do município, foi atendida pelos profissionais, e entendi o que era lei (Bertha Lutz) Tive acesso a Secretaria através de uma profissional da Secretaria que é minha amiga, foi onde eu tive acesso aos meus direitos de mulher. (Cida Kopcak)

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Tive acesso a Secretaria através do Conselho Tutelar, a partir daquele momento tive meu direitos garantidos como mulher. ( Eliane de Grammont)

As Políticas Públicas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher são

várias, graças aos movimentos e organizações feministas, mas que precisa ser

divulgadas e reforçadas, e assim ter mais mulheres que conheçam e lute pelos seus

direitos de igualdade e respeito.

Hoje faço parte do Conselho da Mulher desde 2009, então já sabia onde procurar apoio. A Secretaria para mim com certeza me deu apoio em todos os sentidos ( Ângela Borba) Secretaria da Mulher, fez com que eu me acordasse, e assim pode conhecer meus direitos como mulher. (Margarida Alves)

Ainda existe um desconhecimento com Lei 11.340\06, em relação às

mulheres que entrevistadas, as mesmas relatavam que não conheciam a Lei. A

maioria dessas mulheres não tiveram êxito em suas denúncias, tendo que resolver o

caso por outros meios, como sair de casa, não querer mais nenhum contato com o

homem que comete agressão.

Não entendo essa lei ( Lélia Gonzalez)

Mas não houve mudança, pois não obtive resultado, o meu ex - companheiro teve que me agredir fisicamente para ser preso, e depois ser livre com 18 dias e continuar me ameaçando. (Bertha Lutz)

No final do roteiro das entrevistas perguntava para as mulheres o que a

Secretaria poderia fazer, para a mesma que se encontra nessa situação e que

procura garantir seus direitos.

A Secretaria tem que ter uma acompanhamento, “ajudar”, pois para mesma é muito difícil dar esse passo. (Bertha Lutz)

A Secretaria deveria trabalhar com a solicitação de cursos que encaminhem as mulheres para um trabalho, pois é minha necessidade maior, pois passo a ser independente. ( Cida Kopcak) Gostaria que a Secretaria trabalhasse com cursos e encaminhasse as mulheres para estudo. (Nísia Floresta)

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Esses sentimentos correspondem a um encaminhamento que não obteve um

resultado que esperava, e através dessas entrevistas se tornou uma forma de

manifestar essas angústias. Essas mulheres saem de suas casas para denunciar os

seus companheiros, e na maioria das vezes acabam não alcançando o esperado.

Percebemos com isso, que o atendimento dado a essas mulheres é de

apenas encaminhar e não de acompanhar a real situação vivenciada por elas que

deram o primeiro passo, assim tornando um trabalho ineficaz, mas que sabemos

que a Secretaria deveria, atuar em nível de planejamento, elaboração de Politicas

Públicas para as mulheres, devido a falta de equipamentos, acaba que a secretaria

fica responsável em fazer esses tipos de atendimentos. Tem que haver o

acompanhamento dessas mulheres do início ao fim, com Políticas, ações e

parcerias, pois só assim pode ser obtido um resultado preciso dos atendimentos

Por fim, tornando um trabalho com caráter de comprometimento com essas

Mulheres que estão nessa situação de Violência Doméstica e Familiar, dado a real

assistência, garantindo e viabilizando os seus direitos, a vida com saúde, educação,

lazer, respeito, dentre outros.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência contra a mulher é algo muito explícito, mas que não existe ainda

uma sensibilidade relacionada a essas mulheres que estão nessa situação cada vez

mais alarmante. Eu pude perceber no ato das entrevistas que a maior parte das

entrevistadas não obteve retorno, relacionado às denúncias feitas pelas mesmas,

como as Medidas Protetivas de urgência e a demanda de pensão alimentícia. Tudo

isso faz com que não haja um atendimento eficaz, havendo assim um

enfraquecimento das políticas públicas, perdendo sua credibilidade, pois as

mulheres ficam desacreditadas.

Atualmente a equipe multiprofissional é composta somente por um advogado,

que é responsável por orientar as mulheres em situação de violência doméstica e

familiar se tornando algo preocupante em relação aos atendimentos realizados com

essas mulheres em situação de violência domestica e familiar. A meu ver é um

atendimento sem eficácia, pois além dessas mulheres saírem das suas casas para

denunciar seu companheiro, o qual na maioria das vezes é o pai dos seus filhos e

apesar de tudo elas ainda os amam, e quando chegam à Secretaria para dar

entrada ao procedimento com advogado, o mesmo só orienta que no dia seguinte a

mulher possa chegar às 06:00 horas da manhã no Fórum, pois são distribuídas

fichas, para que elas possam dirigir-se com os documentos necessários para dar

entrada nas Medidas Protetivas. Quando elas pensam que vão ter que voltar para

casa e encontrar o homem que a agrediu e no outro dia retorna para que possa dar

entrada nas Medidas e pensão alimentícia, as mesmas acabam desistindo.

A violência doméstica não pode ser compreendida como algo privado e

individual, é algo que está explícito em nossa sociedade e que independente de

classe social, raça, religião, cor e etnia, ela está inserida em nosso meio social. De

acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) seis em cada 10 brasileiros

conhecem alguma mulher que sofreu violência doméstica. Desse total, 63%

tomaram alguma atitude para ajudar a mesma. Isso mostra o comprometimento cada

vez maior da sociedade em relação a violência doméstica contra a mulher, por não

ser submissa a essa realidade.

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O meu pensamento hoje em relação essa pesquisa é de profunda angústia

devido a falta de compromisso do Poder Público diante de uma situação que pode

valer uma vida. A minha postura enquanto profissional e principalmente ser humano

é atuar, através de pesquisas, ter uma análise da realidade social na qual estou

vivendo, e na formulação, execução e avaliação de serviços, programas e políticas

sociais que buscam a preservação, defesa e ampliação dos direitos dessas

mulheres que estão em situação de violência doméstica e familiar, ou seja, a justiça

social. Desejo cada vez mais me aprofundar nessa temática através de estudos,

pesquisas e capacitações.

A temática da violência contra a mulher de acordo com Lei 11.340/06

conhecida como "Lei Maria da Penha" tem que ser mais discutida para a quebra de

paradigmas de que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. Mostrar

para a sociedade que todos os anos, mais de 1,6 milhões de pessoas morrem no

mundo devido à violência. É necessário haver um investimento maior nas políticas

públicas relacionadas às mulheres em situação de violência.

As políticas públicas não têm alcançado o êxito esperado, ainda sendo

necessário investigar quais os instrumentais jurídicos que o Estado tem adotado

para prevenir ou reprimir a violência doméstica contra a mulher, diante do crescente

número de casos que chegam ao Judiciário, bem como do insuficiente número de

juízes.

Por fim, procura-se a viabilização desses direitos, para que possa ter um

incentivo maior do Estado, para que essas políticas de enfrentamento sejam

realmente eficazes e não colocadas apenas no papel. Devemos ter uma postura, de

reivindicar e mobilizar a população, participando de movimentos, Conselhos dos

seus municípios, pois através dos Conselhos podemos reivindicar por melhores

condições de vida, trabalho, cultura, lazer, saúde, segurança, educação e dentre

outros, o mesmo tem um papel muito importante, pois ele é formado pela sociedade

civil e a outra parte pela indicação governamental.

São a partir desses Conselhos que são construídos projetos para serem

apresentados ao governo, para que se possa construir uma sociedade mais

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igualitária e com menos deficiências. Através desse trabalho espero que as pessoas

possam ter o mesmo como exemplo para fins de outras pesquisas.

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APÊNDICE A

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. INDENTIFICAÇÃO

1.1. Qual seu nome?

1.2. Qual seu estado Civil?

1.3. Qual sua idade?

1.4. Qual sua naturalidade?

1.5. Qual a sua profissão?

1.6. Em que bairro você mora?

1.7. Você possui filhos? Se sim, quantos? Qual idade sexo dos filhos?

1.8. Qual a sua escolaridade?

2. PERCEPÇÕES SOBRE A VIOLÊNCIA E LEI 11.340/06

2.1. O que Lei Maria da Penha?

2.2. O que você entende por violência física?

2.3. O que você entende por violência psicológica?

2.4.O que é medidas protetivas?

2.5. Como foi para você dá esse primeiro passo, que é a denúncia do seu

companheiro e que na maioria das vezes é o pai dos seus filhos? Como fica seu

psicológico?

2.6. Você ainda está com o agressor? se sim, o que levou você permanecer na

situação de violência domestica contra a mulher de acordo com a Lei Maria da

Penha depois de ter denunciado seu companheiro?

2.7. Como fica a relação conjugal depois da denúncia e relação aos filhos?

3. SOBRE A SECRETARIA DA MULHER, CIDADANIA E DIREITOS DE

PACATUBA.

3.1. Como você teve acesso à Secretaria?

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3.2. Houve mudança depois de conhecer essa repartição e a sim ter viabilizado seu

diretos que foi de conhecer essa Lei?

3.3. Em seu ponto de vista o que a Secretaria pode fazer para inserir novamente as

mulheres na sociedade, depois de rompido com ciclo de violência, onde para mesma

não tem mas jeito?

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APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu JORDÂNIA DA LUZ NASCIMENTO, aluna concludente do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FAC, estou desenvolvendo uma pesquisa sobre „A PERCEPÇÃO DAS MULHERES ATENDIDAS NA SECRETARIA DA MULHER, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS DE PACATUBA-CE SOBRE A VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA SOFRIDA DENTRO DAS RELAÇÕES CONJUGAIS‟ e solicito sua colaboração no sentido de participar da entrevista, que será importante e necessária para o desenvolvimento desta pesquisa. Esclareço, entretanto, que sua participação é voluntária.

Ressalto que será assegurado seu anonimato e o sigilo das informações, além da utilização das suas informações, exclusivamente, para os fins deste estudo.

Esclareço, ainda, que você poderá solicitar informações ou esclarecimentos sobre o andamento da pesquisa, a qualquer momento, com o pesquisador responsável, bem como poderá pedir desligamento da pesquisa se não desejar continuar participando, pois sua participação não é obrigatória.

Sendo um participante voluntário, você não terá nenhum pagamento e/ou despesa referente à sua participação no estudo.

_______________________________________________________ Pesquisador (a): Jordânia Da Luz Nascimento

Graduanda em Serviço Social

Eu, ______________________________________, como voluntário da pesquisa,

afirmo que fui devidamente informado e esclarecido sobre a finalidade e objetivos

desta pesquisa, bem como sobre a utilização das informações exclusivamente para

fins científicos e de que meu nome não será divulgado, podendo, ainda, retirar meu

consentimento a qualquer momento.

Fortaleza, 28 de março de 2013.

_____________________________________ Entrevistado