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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
JORDANA TAVARES BORGES
ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NO CAPS-GERAL DO MUNICÍPIO DE EUSÉBIO
FORTALEZA 2013
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JORDANA TAVARES BORGES
ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NO CAPS-GERAL DO MUNICÍPIO DE EUSÉBIO
Monografia submetida à aprovação Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de graduação. Orientadora: prof.ª Mª Kelma Luzia Nunes Otaviano.
FORTALEZA 2013
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JORDANA TAVARES BORGES
ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NO CAPS-GERAL DO MUNICÍPIO DE EUSÉBIO
Monografia como pré-requisito para obtenção de título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data da aprovação:____/____/____
BANCA EXAMINADORA
Profa. Msª. Kelma Luzia Nunes Otaviano. Universidade Estadual do Ceará (UECE)
Profa. Esp. Aniely Silva Brilhante.
Universidade Estadual do Ceará (UECE)
Profa. Esp. Richelly Barbosa de Medeiros. Universidade Estadual do Ceará (UECE)
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AGRADECIMENTOS
Neste momento em que encerro mais uma etapa importante da minha vida, gostaria de deixar registrado meu agradecimento a pessoas que tanto amo e aquelas que contribuíram para que essa jornada fosse concluída com muitos méritos e conquistas. Quero agradecer em primeiro lugar a Deus pela força e coragem durante toda esta longa caminhada, pois sempre busquei nele as forças necessárias para os momentos mais árduos que enfrentei. A minha virgem Maria que está sempre intercedendo por mim e livrando-me de todos os males que tendem a querer atrapalhar. A Laurisita Tavares Borges e João Borges da Costa, meus pais, agradeço por todo o apoio dado, aos esforços que tiveram de realizar para que eu pudesse cursar uma faculdade privada e seguisse a construir uma história acadêmica. Obrigada por toda dedicação, amor, preocupação, carinho e principalmente por sempre acreditarem em mim e na minha capacidade e determinação. Meu amor por vocês é sem medidas e sem limites. A Laís Tavares de Oliveira, minha tia, amiga, “mãe”, companheira, conselheira, agradeço por tudo que você fez por mim durante todos esses anos e que ainda vem fazendo. Obrigada pelas inúmeras vezes que foi meu ombro amigo, pelos momentos que ficou ao meu lado dizendo que eu era capaz de alcançar meus objetivos e pelas vezes que enxugou minhas lágrimas de desespero por achar que não iria conseguir, então considero que parte da minha vitória seja sua também, pois nunca desistiu de mim. Amo você incondicionalmente. Ao meu irmão, Durval Tavares de Oliveira Neto, que apesar da distância me ajudou com sua forma de cuidado, amor, companheirismo. Por ser o irmão mais “velho,” sempre o tive como exemplo para a realização de minhas atividades; o admiro muito por sua inteligência, carisma, amizade e principalmente pelo seu jeito simples e sincero de ser. Amo você incondicionalmente. A Laurita Cavalcante Tavares (in memoriam), minha avó, pelos momentos inesquecíveis que a senhora pôde me proporcionar, pelo amor, carinho, cuidados que me deu durante muito tempo. Embora não esteja mais aqui, dedicarei minha vitória à senhora. Tenho certeza que onde estiver estará muito feliz com minha conquista, pois foi através de seus ensinamentos que eu cheguei até aqui e conforme o prometido eu continuei por mim e pela senhora. A amo sem medidas e sem limites. Ao meu amor, Rafael Ribeiro dos Santos, por todos os momentos que teve paciência comigo, por ser um dos meus maiores incentivadores e por sempre acreditar na minha capacidade. Agradeço pelo carinho, amor, preocupações e pelas vezes que escutou meus desabafos e choros. Meus finais de semana nunca mais foram os mesmos depois que eu o conheci e a distância apenas nos deixa ainda mais fortalecidos. Amo-te muito.
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Agradeço as minhas amigas-irmãs Jéssica Menezes, Lorena Nunes, Bárbara Rios e Janaína Nunes por todo apoio dado nos momentos que eu precisei, sempre com palavras de otimismo e positividade para continuar em minha jornada acadêmica. Obrigada por atender meus telefonemas de madruga e pelos conselhos de incentivo e determinação. Tenho muito orgulho de tê-las como minhas verdadeiras amigas. Amo muito a vocês. Ao CAPS do município de Eusébio o meu muito obrigado, pela oportunidade de poder realizar meu estágio e minha pesquisa, por todos os ensinamentos adquiridos para que eu possa ser uma profissional de grande competência. Agradeço a toda equipe que faz parte dessa instituição e em especial à coordenadora da instituição e a assistente social, que sempre me deram muito apoio e me repassaram muitos conhecimentos sobre a área da saúde mental. Sentirei eternas saudades de todos. A minha orientadora Kelma Nunes, que acreditou em minha competência como aluna e futura assistente social. Agradeço por ter me aceitado como orientanda e pela participação singular para a realização dessa conquista, pois sem suas orientações e leituras o meu trabalho não teria dado certo.
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“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.” Charles Chaplin.
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RESUMO
O trabalho apresentado tem como tema principal o serviço social na área da saúde mental e como objeto de estudo a atuação do assistente social junto à equipe multiprofissional do Centro de Atenção Psicossocial - CAPS-Geral. O estudo foi realizado no município de Eusébio. Objetivou-se com esse estudo compreender as possibilidades e os desafios inerentes à atuação profissional no CAPS; identificar quais as atribuições do assistente social numa equipe multiprofissional; verificar quais as demandas postas ao profissional de serviço social e que respostas estão sendo elaboradas. A fim de responder os objetivos traçados, o trabalho inicia contextualizando a saúde mental na realidade brasileira, o serviço social na área de saúde mental e por fim são abordadas as questões da pesquisa no que concerne à atuação profissional das assistentes sociais junto à equipe multiprofissional. A pesquisa realizada é de ordem qualitativa, pois favorece a um maior envolvimento dos sujeitos no processo, permitindo uma melhor apreensão da realidade proposta como estudo. Os dados coletos foram obtidos através de um questionário elaborado, utilizado como instrumento de pesquisa, entrevistas semiestruturadas e observação participante da assistente social que atua na instituição CAPS- geral do município de Eusébio. Os resultados da pesquisa proporcionaram compreender como ocorre a atuação dos assistentes sociais na equipe multiprofissional do CAPS-Geral, a efetivação dos direitos dos usuários, os desafios da atuação profissional, as demandas que são postas aos assistentes sociais, bem como a importância da atuação profissional na junto à equipe multiprofissional. Contudo, é importante salientar que os objetivos da pesquisa foram alcançados e que os profissionais que atuam no CAPS-Geral do município de Eusébio possuem uma visão positiva e coerente no que se refere à atuação do assistente social.
Palavras–chave: rede de atenção psicossocial, saúde mental, serviço social, trabalho em saúde.
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ABSTRACT
The presented work has as main theme the Social Services in the area of Mental Health and as an object of study the role of the social worker with the multidisciplinary team of the Centre for Psychosocial Care CAPS - General. The study was conducted in the municipality of Eusébio. The objective of the study to understand the possibilities and challenges of professional practice in CAPS; Identify which tasks of the social worker in a multidisciplinary team; Check which demands posed to the Social Service professional and answers are being prepared. In order to meet the objectives outlined the work begins contextualizing Mental Health in the Brazilian reality , the Social Services in the area of Mental Health , and the end is approached the research questions regarding about the professional practice of social workers by the multidisciplinary team . The research is of a qualitative nature, since it favors greater involvement of individuals in the process, allowing a better understanding of reality as proposed studies. Coletos the data were obtained through a questionnaire, used as a research tool, semi - structured interviews and participant observation to social worker engaged in institution CAPS -General of the municipality of Eusébio. The survey results provided to understand how the role of social workers in the multidisciplinary team in CAPS - general, the realization of the rights of the users, the challenges of professional practice, the demands which are made available to social workers occurs as well as the importance of professional practice together in the multidisciplinary tem. Keywords: mental, network of psychosocial care, mental health, social service, health work.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 - Divisão de atividades no CAPS-Geral do município de Eusébio........34
Figura 1 - Dinâmica de atuação do Assistente Social dentro do CAPS................46
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABESS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
A.S. – Assistente Social.
Art.- Artigo.
CAPS – Centro de Atenção Psicossocial
CFESS – Conselho Federal do Serviço Social
COI – Centro de Orientação Infantil
COJ – Centro de Orientação Juvenil
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
ENF – Enfermeira
HD – Hospital Dia
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
LBA – Legião Brasileira de Assistência
MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social
MTSM – Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental
NAPS – Núcleo de Atenção Psicossocial
OMS – Organização Mundial da Saúde
PSIC – Psicóloga
PSF – Programa Saúde da Família
SESC – Serviço Social do Comércio
SNAS – Secretaria Nacional de Assistência à Saúde
SRT - Serviços Residenciais Terapêuticos
SUS – Sistema Único de Saúde
T.O. – Terapeuta Ocupacional
UECE – Universidade Estadual do Ceará
UNIFOR – Universidade de Fortaleza
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................13
2 A SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DA REALIDADE BRASILEIRA.................16
2.1 Contextualizando a saúde mental....................................................................16
2.2 A reforma psiquiátrica brasileira......................................................................22
2.3 A saúde mental como direito............................................................................27
2.4 Implantação do CAPS-Geral no município de Eusébio.................................33
3 O SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE MENTAL.........................................................37
3.1 A Inserção do serviço social na área da saúde mental.................................37
3.2 O serviço social no CAPS.................................................................................44
4. A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS JUNTO À EQUIPE
MULTIPROFISSIONAL DO CAPS- GERAL DO MUNICÍPIO DE EUSÉBIO............
4.1 Perfil profissional...............................................................................................52
4.2 Demandas...........................................................................................................53
4.3 Atuação profissional..........................................................................................57
4.4 Trabalho em equipe..........................................................................................61
4.5 Equipe multiprofissional....................................................................................65
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................70
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS...........................................................................73
APÊNDICES...............................................................................................................77
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1 INTRODUÇÃO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como tema o serviço
social na área da saúde mental e como objeto o conhecimento e a análise da
atuação do assistente social junto à equipe multiprofissional do Centro de Atenção
Psicossocial - CAPS-Geral do município de Eusébio. O interesse pelo estudo deste
tema ocorreu em decorrência do desenvolvimento do estágio curricular obrigatório
realizado no CAPS-Geral do município de Eusébio, entre março de 2012 a setembro
de 2013. Nesse espaço socioinstitucional, o serviço social atua em equipe
multiprofissional: psicólogas, psiquiatras, enfermeira, técnico de enfermagem,
terapeutas ocupacionais, auxiliares administrativos entre outros.
A pesquisa tem como objetivos de estudo: compreender como a atuação
do assistente social no CAPS-Geral do município de Eusébio contribui para a
efetivação de direitos para usuários de saúde mental; compreender as
possibilidades e os desafios inerentes à atuação profissional no CAPS; identificar
quais as atribuições do assistente social numa equipe multiprofissional; verificar
quais as demandas postas ao profissional de serviço social e que respostas estão
sendo elaboradas e compreender a visão dos profissionais do CAPS acerca da
atuação do assistente social.
A pesquisa realizada é de ordem qualitativa, pois favorece a um maior
envolvimento dos sujeitos no processo, permitindo uma melhor apreensão da
realidade proposta como estudo. O método utilizado foi a dialética, compreendendo
que este favorece a uma maior aproximação com a dinamicidade do cotidiano do
tecido social, o que resulta num conhecimento aproximado da realidade social, uma
ampliação do movimento real, permitindo uma reflexão com diversos objetos que
dialogam na totalidade do real.
Conforme Marx (1972), é indispensável compreender a realidade histórica
em suas contradições, para tentar superá-las dialeticamente. A dialética baseia-se
nos princípios em que tudo se relaciona e tudo se transforma; as mudanças
qualitativas são consequências de revoluções quantitativas; a contradição é interna,
mas os contrários se unem num momento posterior: a luta dos contrários é o motor
do pensamento e da realidade; a materialidade do mundo; a anterioridade da
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matéria em relação à consciência. Portanto, a utilização do método dialético possui
relevância nesta pesquisa, pois vai proporcionar um olhar ampliado da realidade.
A pesquisa foi realizada com uma assistente social que atua no CAPS-
Geral do município de Eusébio e três profissionais que fazem parte da equipe
multiprofissional da instituição. O intuito foi buscar informações nas quais mostrem a
atuação do profissional de serviço social e sua participação na equipe
multiprofissional. Com relação aos dados obtidos, foi utilizado como instrumental um
questionário semiestruturado com entrevista e observação participante. Esta
ocasião, segundo Minayo, “é o procedimento mais usual no trabalho de campo”
(1994, p. 57).
O trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro aborda o tema a
saúde mental no contexto da realidade brasileira, a partir de quatro pontos. O
primeiro ponto traz uma contextualização da saúde mental brasileira, buscando
apresentar todo o processo vivenciado pelas pessoas com transtorno menta, desde
a chegada da família real ao Brasil até o século XX, com a reforma psiquiátrica de
Basaglia, que tinha como intuito transformar o hospício em uma comunidade mais
humanizada e democrática, em que a equipe médica iria desenvolver uma
verdadeira vivência social com os pacientes que estavam internados.
O segundo ponto vem mostrar como ocorreu toda a reforma psiquiátrica
brasileira, que teve início a partir do final dos anos 70 e que tinha como principal
objetivo a desinstitucionalização dos pacientes de hospitais psiquiátricos. Apresenta
também como ocorreu todo o trâmite da Lei Paulo Delgado, destacando sua
importância para que a reforma psiquiátrica brasileira tomasse um novo impulso e
ritmo.
O terceiro ponto abordou a saúde mental como direito que no Brasil é
amparado pela lei 10.216 e já conta com o acesso facilitado a todos os seus
beneficiários. O quarto ponto fala um pouco sobre a Implantação do CAPS-Geral no
município de Eusébio e dos projetos que são desenvolvidos na instituição.
O segundo capítulo foi dividido em dois pontos, o primeiro é a inserção do
serviço social na saúde e na área da saúde mental. Nesse ponto fizemos um resgate
histórico para entendermos um pouco sobre o surgimento da profissão e
posteriormente relatamos como ocorreu a inserção da profissão, que teve como
principal objetivo atender às necessidades da psiquiatria no que diz respeito a
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minimizar as contradições do sistema e atender à racionalidade médica no que o
mundo “psi” não conseguia dar conta com uma melhor compreensão da totalidade.
No terceiro capítulo é apresentada a pesquisa realizada com a assistente
social e os três profissionais que compõem a equipe multiprofissional do CAPS-
Geral do município de Eusébio, assim sendo dividido em cinco pontos, como: o perfil
profissional; demandas; atuação profissional; trabalho em equipe e equipe
multiprofissional. Logo após, são apresentadas as considerações finais e as
referências bibliográficas.
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2 A SAÚDE MENTAL NA REALIDADE BRASILEIRA
2.1 Contextualizando a saúde mental
A existência das doenças mentais é tão antiga como a vida, mas não a
sua identificação, a sua interpretação e os tratamentos aplicados, que vêm sendo
mudados com o decorrer do tempo para acompanhar os padrões culturais,
socioeconômicos, o desenvolvimento da ciência e os avanços do conhecimento na
sociedade (ESPINOSA, 1998).
No início da colonização do Brasil, não havia uma preocupação com a
assistência psiquiátrica, pois a loucura não era considerada uma doença e não havia
preocupações com a temática. Nesta época vinham para o Brasil- colônia os
exilados, bandidos, os loucos, os pobres, como forma punitiva do reino de Portugal.
A saúde mental no Brasil passa a ter uma maior atenção do poder público
a partir do Império, período marcado pela vinda da família real para a cidade do Rio
de Janeiro, onde foi realizado o ordenamento e disciplinamento da sociedade
brasileira, com o controle a partir do recolhimento dos loucos das ruas, não com a
finalidade de curá-los, mas sim de proteger a sociedade do convívio com a loucura.
Todavia, os doentes mentais de famílias brasileiras abastadas nesse
período eram tratados na Europa ou vigiados pelos seus familiares e os
pertencentes às outras classes eram aprisionados em asilos e hospícios sob a
alegação de perturbação da ordem pública.
Nesses lugares, comandados pela Igreja Católica, a função principal era a
hospedaria. No entanto, ressalta-se que nestas casas não estavam só os
caracterizados como loucos, estavam também todos os outros que deveriam ser
excluídos do convívio em sociedade, pois ocasionavam a desordem pública: os
mendigos, os leprosos, os vagabundos, os ladrões e as prostitutas.
Os loucos que permaneciam nessas casas encontravam-se sem ter uma
perspectiva de tratamento adequado, de “cura” para o “ajuste” à sociedade e
tampouco possuíam um atendimento médico. Eles eram entregues a guardas e
carcereiros, deixados em porões sujos e frios, sem se alimentar e acorrentados
(SANTOS 1994; AFLEN, 2008; JORGE, 1997; AMARANTE, 1994; SOUZA, 2009).
Os loucos eram caracterizados como pessoas livres do modo de trabalho
escravista. O fato é que as pessoas com transtornos mentais apresentavam atitudes
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fora do padrão considerado normal pela sociedade, muitas vezes eles eram
excluídos e sofriam com abusos e indiferenças das pessoas que os rodeavam. Com
isso, sendo consideradas como pessoas “vadias”, aquelas que não eram escravas,
nem senhores, muito menos proprietários de terras, pois passavam a maior parte do
tempo perambulando pelas ruas, causando certos incômodos para o Estado devido
às pressões sofridas pelas elites e os intelectuais que se sentiam incomodados com
a presença dos “vadios.” (SOUZA, 2009, p. 13).
A forma com que o Estado lidava com os loucos era assegurada nas leis,
decretos e resoluções e no momento em que a família real veio para o Rio de
Janeiro, as mudanças começaram a surgir, fazendo que o Império tomasse decisões
definitivas. Essas decisões também foram impulsionadas por fortes pressões da
população, que não queria ver os loucos vagando pelas ruas, com isso a recente
categoria profissional de medicina brasileira se manifestava contra a forma que os
doentes mentais eram tratados na época e reivindicaram por tratamento psiquiátrico.
(SOUZA, 2009, p.14).
Foi através das várias pressões sofridas por parte da classe médica que
em 5 de dezembro de 1852 foi inaugurado o primeiro hospital psiquiátrico, chamado
na época de Hospício Psiquiátrico Pedro ll, uma homenagem ao então imperador do
Brasil Pedro II. O hospício foi construído em um local específico afastado do centro
urbano da cidade do Rio de Janeiro, para abrigar os loucos recolhidos pela Santa
Casa de Misericórdia, que eram locais vistos como impróprios e custosos em que os
mesmos ficavam internados (MEDEIROS, 1977).
Segundo Santos (1994), mesmo com toda a articulação para melhores
condições de tratamento aos doentes mentais, a proposta de cura ainda não era
presente e os maus-tratos ainda eram constantes.
Os médicos não tinham um saber psiquiátrico enquanto corpo de um saber médico, não havia uma nostalgia psiquiátrica para a seleção da sua clientela, e a direção das instituições encontrava-se ainda nas mãos das irmãs de caridade. Sua clientela eram as pessoas pobres que formavam o grupo dos “marginalizados” da cidade. (...) A loucura foi se tornando cada vez mais especifica à medida que foram sendo desenvolvidos locais especiais para o seu cuidado e, em consequência disso (...) estreitou a relação entre Estado e médicos – mais tarde os psiquiatras – se unem para garantir a ordem pública (SANTOS, 1994, pp.29-30).
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Com a proclamação da República no Brasil, no ano de 1889, os
hospitais psiquiátricos passaram a ser dirigidos pelos médicos. Segundo
Santos (1994), essa nova direção desfazia com as práticas policiais em
hospícios, uma vez que os médicos, assim como o Estado, tinham como
projeto societário a exclusão dos sujeitos que perturbavam a ordem pública.
Com isso, se planejava um tratamento médico especializado para os loucos
dessa época, no qual o hospital seria um espaço de estudo e pesquisa, o que
fez emergir uma nova forma de tratamento dos doentes mentais no âmbito
estatal.
No entanto, foi através desse momento de mudanças que os
médicos passam a ofertar uma forma de tratamento pautada na transformação
do processo saúde de ordem e segurança para uma saúde dos problemas
mentais. O Hospital Pedro II passou a ser chamado de “Hospício Nacional de
Alienados”. Essa mudança se deu por conta da grande influência da Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro, após criação da cadeira “Clínica psiquiátrica.”
(SOUZA, 2009, pp. 13-14).
O advento de uma cadeira de psiquiatria parece ter influenciando positivamente a produção científica. Na década de 1881-1890, foram apresentadas cinquenta e nove teses de teor neuropsiquiátrico, em sua maioria estritamente neurológica. Mas encontramos oito, versando sobre alcoolismo, cinco sobre hipnose e sugestão e, em 1890, duas sobre A Hysteria no Homem (OTAVIANO, 2013, p. 56).
É neste período republicano que a sociedade passa por um
aumento no número de desempregados no Brasil, fortemente influenciado pela
abolição da escravatura. Então, a psiquiatria é chamada a agir no recolhimento
dessas pessoas que não faziam parte da classe de produtores para o capital, a
medida tomada é a internação, com objetivo de “recuperá-las e se possível
ajustá-los para o trabalho e para o novo modo de produção.” (SANTOS, 1994,
p. 24).
Trabalho e não trabalho passou também a servir para estabelecer os limites do normal e do anormal. Como a psiquiatria nasce e se produz num contexto social, ela assimilou, aos seus critérios de diferenciação do normal e do patológico, estes mesmos valores e esforçou-se para desenvolver à comunidade indivíduos “tratados” e “curados”, adequados para o trabalho. Para isso, a psiquiatria adotou como forma de tratamento do “doente mental” o trabalho no interior dos hospícios. A psiquiatria passou a adotar para tratamento do “doente Mental” a construção de hospícios-colônia em locais afastados dos
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centros urbanos, práticas que íam ao encontro dos interesses do Estado Republicano, que desejava diminuir os gastos com os “vadios” que perambulavam pelas ruas da cidade. Nesses hospícios buscava-se a autossustentação dos “doentes”, diminuindo se consequentemente, os gastos do Estado (SANTOS, 1994, pp. 32-33).
Contudo, o autor acima referido destaca a importância que o
trabalho tem para nortear e classificar uma pessoa de normal ou anormal, já
que o psicológico do paciente estava atrelado a sua ocupação no meio social
adequado a um trabalho. O paciente em tratamento passava a se interessar
pelo trabalho através do contato oferecido pela instituição, com isso,
encaminhava-se ao encontro dos objetivos de produção capitalista, uma vez
que o sistema econômico necessitava de força de trabalho e era preciso que
todos trabalhassem, inclusive os doentes mentais.
Porém, esse tratamento tinha uma dimensão contraditória, pois ao
mesmo tempo em que os pacientes aprendiam a lidar com a terra, ao retornar
ao seu ponto de origem, que era a cidade, iriam continuar sem ter uma
“ocupação”, pois o que aprendiam seria utilizado no campo e não nos centros
urbanos. Concomitantemente, o tratamento em hospícios-colônias não possuía
uma utilidade eficiente, mesmo assim essas instituições foram multiplicadas em
outros estados da República além do Rio de Janeiro, com a mesma finalidade
de tratar as doenças e excluir do convívio social os considerados loucos
mentais.
Criada em 1923, a Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM) teve
sua importância para a ampliação do atendimento aos pacientes com doenças
mentais. Ela defendia a melhoria para um atendimento digno e uma atenção
voltada a saúde dos loucos. O movimento de higiene mental buscava combater
determinadas doenças, principalmente as contagiosas, que precisavam de
melhores serviços psiquiátricos e buscavam recursos para a capacitação
humana.
A Liga Brasileira de Higiene Mental, fundada em 1923 no Rio de Janeiro, foi uma entidade civil que funcionava com a ajuda de filantropos e com subvenção federal, sendo seus membros reconhecidos como pertencentes à elite psiquiátrica do estado e do país. Suas ações e diretrizes visavam a prevenção, a eugenia e a educação dos indivíduos em prol das condições satisfatórias de saúde mental (COSTA, 1989, p. 25).
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A elaboração de programas de higiene mental se inspirou diretamente no
modelo de “prevenção eugênica”, oriundo da psiquiatria nazista. O conceito de
eugenia era tomado como um conceito científico e inquestionável. Os pressupostos
nazistas seriam transferidos para a psiquiatria brasileira, através de proposta de
esterilização sexual dos indivíduos doentes e de desaparecimento da miscigenação
racial; proibição da imigração de indivíduos não brancos; instalação de tribunais de
eugenia etc. Sendo a doença mental transmitida hereditariamente, a prevenção
lógica seria o extermínio físico ou a esterilização sexual (SOARES, 2006, pp. 66-67).
Essa perspectiva eugenista perdurou por pouco tempo no Brasil, pois de
fato o modelo do hospital psiquiátrico como os métodos de tratamento inicialmente
de base (lobotomia) cirúrgica e depois com base medicamentosa tornou-se
hegemônico. Nos anos 1950, “enfatiza-se a importância da racionalização do
atendimento psiquiátrico pela criação de uma rede ambulatorial e pela implantação
de várias medidas, tais como a criação de hospitais-dia, unidades psiquiátricas em
hospitais gerais, centro de recuperação etc.” (SANTOS, 1994, p. 44). É a partir de
1955 que se inicia a utilização de medicações psicotrópicas, também
disponibilizadas no mercado.
No que diz respeito ao uso das medicações, elas foram responsáveis
pela diminuição da utilização de métodos de tortura, como correntes de aço,
camisas de força, dentre outros, possibilitando um controle psíquico e físico dos
doentes e na comercialização dos medicamentos. Tal situação vai ao encontro dos
pressupostos do Estado, segundo Santos (1994, p. 44). Assim como também foi
recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). (SOUZA, 2009, p.16).
Os anos de 1960 para a saúde mental no Brasil têm grande importância,
primeiro pelo fato de a assistência psiquiátrica estar ligada ao Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), de onde era esperado todo o recurso de saúde mental
para a construção de hospitais psiquiátricos. É também uma década onde se tem o
marco na forma como o setor psiquiátrico e os estados passaram a reconhecer os
chamados doentes mentais. (SOUZA, 2009, p.17).
O modelo asilar ou hospitalocêntrico continuou predominante até o final
de meados do século XX e somente em 1961 o médico italiano Franco Basaglia
assume a direção do Hospital Psiquiátrico de Gorizia, na Itália. No campo das
relações entre a coletividade e a insanidade, ele assumia uma atitude crítica para
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com a psiquiatria clássica e hospitalar, por esta se centrar no princípio do isolamento
do alienado.
No entanto, Basaglia defendia que o doente mental voltasse a viver com
sua família. Sua atitude inicial foi aperfeiçoar a qualidade do hospital e o cuidado
técnico aos internos. Essas normas e o pensamento de Franco Basaglia iriam
influenciar, entre outros, o Brasil, fazendo ressurgir diversas discussões que
tratavam da desinstitucionalização da pessoa em sofrimento mental e da
humanização do tratamento a essas pessoas com o objetivo de promover a
reinserção social.
A Reforma Psiquiátrica de Basaglia foi considerada pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) como uma referência no campo da saúde mental e ficou
conhecida mundialmente como psiquiatria democrática. A proposta era a de
transformar o hospício numa comunidade humana e democrática, em que a equipe
médica desenvolveria uma verdadeira vida em sociedade com os pacientes
internados (OTAVIANO, 2013, pp. 37-38).
Essa atitude foi considerada revolucionária na área da psiquiatria, pois
estava pautada em ouvir os pacientes, reconhecer que os métodos utilizados no
hospício eram repressivos. Foram instituídas as assembleias dos pacientes, em que
estes passaram a discutir seus direitos e foram gradativamente preparados para
viver em comunidade; concomitantemente também foram realizados trabalhos com a
comunidade local sobre o preconceito em relação ao paciente psiquiátrico, sobre o
que significaria a loucura e como a própria estrutura social estava no foco dessa
discussão (OTAVIANO, 2013, p. 38).
Esse modelo de psiquiatria envolveu também muita luta política no seio
da sociedade, para que conseguisse desenvolver-se. Nesse período, houve um
esvaziamento dos hospitais psiquiátricos ou hospícios/manicômios, como a
psiquiatria democrática costuma denominar o hospital psiquiátrico, ganhando força
no território através da criação de diversos mecanismos de atenção à saúde mental,
com o desenvolvimento de atividades culturais, pois:
Para a psiquiatria democrática é preferível soltar os loucos na rua e demolir os hospícios. Sua resposta é a de prestar esclarecimentos e assistência à população. A população, assim, receberá melhor seus doentes mentais, reconhecendo seus problemas; (...) considera-se que se forma um círculo vicioso na internação manicomial, pois a pessoa internada uma vez geralmente volta. Sua vida parece depender do hospital. Neste sentido a instituição é cronificadora (SERRANO, 1983, pp. 82-83).
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Durante quase todo o século XX, tem-se no Brasil uma primazia dos
hospitais psiquiátricos no atendimento da demanda por saúde mental, com diversos
tipos de tratamento, que incluíam, dentre outros: psicotrópicos, camisas de força,
eletroconvulsoterapia (eletrochoque), quartos de isolamentos, castigos e maus-
tratos, colocando os pacientes psiquiátricos em condições de desumanidade, o que
gerou muitos questionamentos ao longo da história dos hospitais psiquiátricos, com
isso acarretando o início da reforma psiquiátrica brasileira. (OTAVIANO, 2013, p.
41).
2.2 A reforma psiquiátrica brasileira
A reforma psiquiátrica brasileira historicamente tem limites demarcados a
partir do final dos anos 70, caracterizando-se como um movimento histórico de
caráter político ideológico e socioeconômico, que tem como principal reivindicação a
desinstitucionalização dos usuários de hospitais psiquiátricos e os paradigmas que a
sustentam, através da substituição progressiva desses hospitais por serviços e
práticas terapêuticas que venham a conceber a pessoa em sofrimento psíquico
como um sujeito de direitos humanos, que deve ter acesso a um tratamento
humanizado, em contato direto com sua família e a sua comunidade, respeitando-se
seus valores e costumes culturais (OTAVIANO, 2013, p. 41).
Ao pensar a Reforma Psiquiátrica como um processo complexo implica desconstruir, superar conceitos; pensar, refletir sobre as ações no campo da saúde mental e os efeitos de suas práticas; criar, construir novas práticas e produzir outros saberes. Trata-se, portanto, de um processo continuo em que os verbos transformam produzir, desconstruir, desmontar, emancipar, reconstruir devem estar no cotidiano do fazerem saúde mental (SCALVAZARA, 2006, p. 26).
Amarante (1995) nos aponta o Movimento de Trabalhadores em Saúde
Mental (MTSM), originado em grande parte através do Centro de Estudos de Saúde
e pelo Movimento de Renovação Médica, que assumem papel relevante quando
abrem um leque de denúncias e acusações ao governo militar, principalmente sobre
o sistema nacional de assistência psiquiátrica, incluindo-se torturas, corrupções e
fraudes. Complementando a colocação do autor, citamos:
23
(...) Nossa atitude marca uma ruptura. Ao recusarmos o papel de agentes da exclusão e da violência institucionalizadas, que desrespeita os mínimos direitos da pessoa humana, inauguramos um novo compromisso. Temos claro que não basta racionalizar e modernizar os serviços nos quais trabalhamos. O Estado que gerencia tais serviços é o mesmo que sustenta os mecanismos de exploração e da produção social da loucura e da violência. O compromisso estabelecido pela luta antimanicomial impõe uma aliança com o movimento popular e a classe trabalhadora organizada (MTSM, apud AMARANTE, 1998, p. 81).
Em 1978 inicia-se a crítica ao modelo psiquiátrico e ao movimento da luta
antimanicomial pelos direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país, tomando
como exemplo a experiência italiana de desinstitucionalização dos pacientes, sua
crítica radical ao manicômio e, ao mesmo tempo, começam a surgir denúncias de
violência, vindo à tona as primeiras reivindicações para um atendimento
ambulatorial, tendo como maior inspirador nesse momento a Itália com o modelo de
Franco Basaglia, assim conseguindo aprovação da Lei 180, que estabelece o
fechamento da porta de entrada a hospitais psiquiátricos, dando um passo para a
desinstitucionalização em psiquiatria. (AFLEN, 2008, p. 21).
Nos anos 1980 a reabertura política do Brasil e o movimento de
redemocratização trazem como marca indelével a participação popular na
redefinição do Estado brasileiro e das políticas públicas. Com a referida constituição
de 1988 - ou como ficou popularmente conhecida - a constituição cidadã, notando-se
vários avanços na área das políticas públicas e no papel do Estado, em especial no
que concerne à política de saúde, pois em seu artigo 196 a Constituição Brasileira
determina que esta política é um dever do Estado brasileiro e direito de todos os
cidadãos (OTAVIANO, 2013, p. 42).
Em 1987 é realizada a I Conferência Nacional de Saúde Mental (Rio de
Janeiro). No final do mesmo ano ocorreu o II Congresso Nacional do MTSM em
Bauru (SP), no qual é concretizado o movimento à luta antimanicomial, que lutava
por uma sociedade sem manicômio e livre de opressões, ampliando, assim, o
sentido novo e com um conceito voltado ao antimanicomial.
Amarantes (1995, p. 82) explica:
Enfim, a nova etapa (...) consolidada no Congresso de Bauru, repercutiu em muitos âmbitos: no modelo assistencial, na ação cultural e na ação jurídico- política. No âmbito do modelo assistencial, esta trajetória é marcada pelo surgimento de novas modalidades de atenção, que passaram a representar uma alternativa real ao modelo psiquiátrico tradicional.
24
Neste mesmo período, surge o primeiro Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS) no Brasil, na cidade de São Paulo e em 1989 ocorreu a intervenção do
hospital psiquiátrico - Casa de Saúde Anchieta - local de maus-tratos e morte de
pacientes, fatos relevantes que marcam o processo de reforma psiquiátrica no
Brasil. Foi a partir desta intervenção que surgiu a certeza de um novo modelo de
assistência às pessoas com transtorno mental.
Ressalte-se que nesse mesmo período foi dada entrada no Congresso
Nacional o projeto de lei do deputado Paulo Delgado, que propõe a regulamentação
dos direitos das pessoas com transtorno mental e a extinção do progresso de mais
manicômios no país. Inspirados no projeto de lei de Paulo Delgado, a partir de 1992
vários estados conseguem a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos.
Mas, foi no compromisso assumido pelo Brasil na Conferência de Caracas
e pela realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental que entram em vigor
as primeiras normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção
diária, fundadas nas experiências dos primeiros CAPS, NAPS e hospitais dias e as
primeiras normas de fiscalização dos hospitais psiquiátricos. (AFLEN, 2008, pp. 21-
22).
Neste período da década de 90, o processo de expansão dos CAPS e NAPS é descontínuo. Com as novas normas do Ministério da Saúde de 1992, embora ocorressem novos serviços de atenção diária, não iria direcionar uma linha específica de financiamento para os CAPS e NAPS. Do mesmo modo, as normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos não previam mecanismos sistemáticos para a redução de leitos. Ao final deste período, o país tem em funcionamento 208 CAPS, mas cerca de 90% dos recursos do Ministério da Saúde para a Saúde Mental ainda são destinados aos hospitais psiquiátricos. (BRASIL, 2005, p. 8).
No ano de 2001 ocorreram grandes mudanças, após 12 anos de
tramitação no Congresso Nacional a Lei Paulo Delgado é sancionada no país. A
aprovação, no entanto, é de tamanha importância para o projeto de lei original, pois
traz significativas mudanças no texto normativo. Assim, a Lei Federal 10.216
redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o atendimento e tratamento
em serviços de base comunitária, ou seja, atendimentos primários, que dispõem,
sobretudo, a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não
institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios.
Além de proibir a internação de pessoas com transtorno mental em
instituições de caráter asilar, estabelecendo medidas a serem seguidas pelas
25
instituições de tratamento, tendo sempre como objetivo a reinserção social dos
indivíduos.
Ainda assim, a promulgação da Lei 10.216 impõe novo impulso e novo
ritmo para o processo de reforma psiquiátrica no Brasil. É no contexto da
promulgação dessa lei e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental,
que a política de saúde mental do Governo Federal, alinhada com as diretrizes da
reforma psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior sustentação e
visibilidade.
Consolidar um modelo de atenção à saúde mental aberto e de base comunitária. Isto é, que garante a livre circulação das pessoas com transtornos mentais pelos serviços, comunidade e cidade, e oferece cuidados com base nos recursos que a comunidade oferece. Este modelo conta com uma rede de serviços e equipamentos variados tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e os leitos de atenção integral (em Hospitais Gerais, nos CAPS III). O Programa de Volta para Casa que oferece bolsas para egressos de longas internações em hospitais psiquiátricos, também faz parte desta Política.
1
A Lei 10.216 foi um marco histórico no que se refere à saúde mental em
nosso país, pois veio para garantir os direitos sociais e a cidadania daqueles que
estavam à margem do sistema. Esse novo enfoque amenizou o modelo psiquiátrico
hospitalocêntrico e o de asilar, pois sem uma legislação específica ficaria difícil exigir
os direitos das pessoas com transtorno mental.
Ao contrário das políticas assistencialistas, essa lei visa garantir outro
modelo de assistência, buscando acabar com o sofrimento das pessoas que se
tornam vítima da exclusão e do abandono. Linhas específicas de financiamento são
criadas pelo Ministério da Saúde para os serviços abertos e substitutivos ao hospital
psiquiátrico e novos mecanismos são criados para a fiscalização, gestão e redução
programada de leitos psiquiátricos no país.
A partir deste ponto, a rede de atenção diária à saúde mental experimenta
uma importante expansão, passando a alcançar regiões de grande tradição
hospitalar, onde a assistência comunitária em saúde mental era praticamente
inexistente. Neste mesmo período, o processo de desinstitucionalização de pessoas
longamente internadas é impulsionado, com a criação do programa “De volta para
casa”.
1Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=925. Acesso em:
02/10/2013.
26
Uma política de recursos humanos para a reforma psiquiátrica é
construída e é traçada a política para a questão do álcool e de outras drogas,
incorporando a estratégia de redução de danos. Realiza-se, em 2004, o primeiro
Congresso Brasileiro de Centros de Atenção Psicossocial, em São Paulo, reunindo
dois mil trabalhadores e usuários de CAPS. (BRASIL, 2005, p. 9).
O Programa de Volta para Casa foi instituído pelo Presidente Lula, por meio da assinatura da Lei Federal 10.708 de 31 de julho de 2003 e dispõe sobre a regulamentação do auxílio reabilitação psicossocial a pacientes que tenham permanecido em longas internações psiquiátricas. O objetivo deste programa é contribuir efetivamente para o processo de inserção social dessas pessoas, incentivando a organização de uma rede ampla e diversificada de recursos assistenciais e de cuidados, facilitadora do convívio social, capaz de assegurar o bem-estar global e estimular o exercício pleno de seus direitos civis, políticos e de cidadania. Além disso, o “De Volta para Casa” atende ao disposto na Lei 10.216 que determina que os pacientes longamente internados ou para os quais se caracteriza a situação de grave dependência institucional, sejam objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida.
2
Estas iniciativas do Governo Federal contribuem para a
desinstitucionalização e visam promover maior autonomia às pessoas com
transtornos mentais. Neste contexto de garantias de direitos, a reforma psiquiátrica
se consolida em dois movimentos básicos: a construção de uma rede de atenção à
saúde mental substitutiva ao modelo centrado na internação hospitalar e a
fiscalização e redução programada e progressiva dos leitos psiquiátricos existentes.
Estes processos têm-se mostrado fundamentais para a inclusão e efetivação da
reintegração das pessoas com transtornos mentais na sociedade brasileira.
(AMARANTE, 1994).
Vasconcelos (2002, pp. 23-30) apresenta o processo de reforma
psiquiátrica dividindo-o em cinco períodos:
1° período: Mobilização na Sociedade Civil contra o Asilamento Genocida e a Mercantilização da Loucura; Protoformas de “Ações Integradas de Saúde”: 1978-1982 (São Paulo e Minas Gerais) e 1978-1982 (Rio de Janeiro) (...) 2° período: Expansão e Formalização do Modelo Sanitarista (Ações Integradas de Saúde e Sistema Único de Saúde); Montagem de Equipes Multiprofissionais Ambulatoriais de saúde mental; Controle e Humanização do Setor Hospitalar; Ação a partir do Estado: 1980 - 1987 (Rio de Janeiro) e 1982 - 1987 (São Paulo e Minas Gerais) (...) 3°Período: Fechamento Temporário do Espaço Político de Mudanças a partir do Estado: Emergência na Luta Antimanicomial e Transição
2 Disponível em: <http://www.ccs.saude.gov.br/vpc/programa.html> Acesso em: 02/10/13.
27
da Estratégia Política em Direção ao Modelo da Desinstitucionalização Psiquiátrica: 1987-1992 (...) 4° Período: Avanço e Consolidação da Perspectiva de Desinstitucionalização Psiquiátrica;” Desospitalização Saneadora” e Implantação da Rede de Serviços de Atenção Psicossocial; Emergência das Associações de Usuários e Familiares: 1992 -1995 (...) 5° Período: Limites à Expansão da Reforma no Plano Federal Tendo em Vista as políticas Neoliberais do Governo FHC; Aumento do Desemprego, Miséria e Violência Social; Consolidação e Difusão dos Serviços de Atenção Psicossocial no plano Municipal: 1995 - ?
Os movimentos de reforma psiquiátrica e sanitária propiciaram uma
concepção e prática em saúde mental mais politizada e vieram propor novos
encaminhamentos metodológicos, com a possibilidade de o assistente social intervir
de forma efetiva nas refrações da questão social na área de saúde mental. O
movimento de reforma psiquiátrica trouxe uma grande abertura para a atuação do
serviço social em saúde mental, devido à formação técnico-operativa e política
desses profissionais (BISNETO, 2007).
Com ênfase no que foi relatado anteriormente, é possível destacarmos
que a reforma psiquiátrica, enquanto movimento, possui uma finalidade de mudança
no modelo psiquiátrico brasileiro, que ainda tem resquícios manicomiais, assim como
busca também a mercantilização da loucura e a crítica ao modelo biomédico ainda
predominante na atuação à saúde mental. Para que isso seja de fato legitimado,
devemos conhecer um pouco mais sobre a lei e os aparatos que são direitos dos
usuários da saúde mental.
2.3 Saúde mental como direito
No Brasil, o direito à saúde mental é amparado pela Lei 10.216 e já conta
com o acesso facilitado a vários serviços públicos de atenção, cuidados e tratamento
às pessoas com transtornos mentais. Mas vale ressaltar que depende
primordialmente da existência de um aparato condicional para que tenham uma vida
digna, contando sempre com a constante articulação de indivíduos, comunidades e
da sociedade como um todo, para a construção de uma realidade social mais justa e
verdadeira para as pessoas que utilizam os serviços de saúde mental.
Entre os anos de 1930 a 1960, a saúde era acompanhada por políticas
sociais organizadas em dois subsetores: a saúde pública, que era voltada para
campanhas de epidemias e combate e a outra medicina previdenciária, que atendia
aos contribuintes da previdência social. Ressalte-se que neste período os números
28
de frequentadores nos locais privados eram bem reduzidos, chegando ao ponto de
obter uma maior atenção.
Segundo Vasconcellos (2000):
A saúde pública está inserida no campo das políticas públicas de responsabilidade pública e como direito social, entendida como uma política social de proteção às pessoas. De acordo com a época e o funcionamento das cidades e de seus habitantes vai se definindo a organização do trabalho da Saúde Pública, surgindo da necessidade de compreender a vida comunitária, seus costumes, formas de sociabilidade, diversidade dos modos de vida, conformando-se assim nas suas formas de assistência e proteção (VASCONCELLOS, 2000, p. 29).
Com a ditadura militar, a política de saúde se desenvolveu de forma que
atendia apenas aos interesses do setor privado, articulando-se aos interesses
econômicos vigentes, sendo assim apresentada a mercantilização crescente da
saúde. A lógica da repressão vigente fez com que a aparição de movimentos sociais
não existisse, o que permitiu que o governo implantasse reformas institucionais que
afetaram a saúde pública e a medicina previdenciária, pois sem movimentos não
haveria a existência do povo nas decisões. De acordo com os autores Oliveira e
Teixeira Fleury (1986), foi implantado no país o modelo de privilegiamento do
produtor privado, possuindo as seguintes características:
- Extensão da cobertura previdenciária de forma a abranger a quase totalidade da população urbana, incluindo, após 1973, os trabalhadores rurais, empregados domésticos e trabalhadores autônomos; - Ênfase na prática médica curativa, individual, assistencialista, e especializada, e articulação do Estado com os interesses do capital internacional, via indústrias farmacêuticas e de equipamento hospitalar; - Criação do complexo médico-industrial, responsável pelas elevadas taxas de acumulação de capital das grandes empresas monopolistas internacionais na área de produção de medicamentos e equipamentos médicos; - Interferência estatal na previdência, desenvolvendo um padrão de organização da prática orientada para a lucratividade do setor saúde, propiciando a capitalização da medicina e privilegiando o produtor privado desses serviços; - Organização da prática médica em moldes compatíveis com a expansão do capitalismo no Brasil, com a diferenciação do atendimento em relação a clientela e das finalidades que este prática cumpre em cada uma das formas de organização da atenção médica.” (OLIVEIRA & TEIXEIRA FLEURY,1986, p. 207).
Na década de 1980, quando o país passava por um período de crise
econômica, consegue-se a grande conquista da luta, que já vinha sendo traçada
desde a década de 1970 pelo movimento de reforma sanitária, com uma forte
mobilização e pressão por parte do movimento sanitário ao governo federal. Esta
mobilização significou a luta por uma saúde coletiva, ou seja, uma assistência à
29
saúde que atendesse a todos os cidadãos, baseada nos parâmetros da
universalidade, equidade e integralidade.
O Estado teria a responsabilidade de prover e regulamentar esta
assistência, de tal modo que a mesma fosse entendida e respeitada como um direito
do cidadão e um dever do Estado. Neste momento, a saúde deixa de ser interesse
exclusivo de técnicos e assume uma dimensão política, estando estritamente
vinculada à democracia (BRAVO, 2008).
A discussão acerca do que é saúde e doença é muito complexa e deve
ser analisada de forma cautelosa, pois vários estudos sobre este assunto nos dias
atuais faz com que saúde resume-se na ausência de doença. Segundo Arouca
(1986, p. 36), a saúde não é simplesmente ausência de doença, não é simplesmente
o fato de que num determinado instante, por qualquer forma de diagnóstico médico
ou através de qualquer exame, não seja constatada doença alguma na pessoa, pois
a saúde se configurou e consolidou-se como um direito social, no qual o
entendimento do que é saúde está alicerçada a um conceito ampliado.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a definição de saúde vai
muito além da simples ausência de doença e deve ser compreendida como um bem-
estar físico, mental e social e não o simples fato de não estar doente. Entende-se
que o bem-estar social é também o direito ao trabalho, a um salário digno, direito a
ter água, a vestimenta, a educação e até informações sobre como podemos garantir
nossos direitos no mundo capitalista.
É ter direito a um meio ambiente que não seja agressivo, mas que permita
a existência de uma vida digna e decente, a um sistema político que respeite a livre
opinião, a livre possibilidade de organização e autodeterminação de um povo. É não
estar todo tempo submetido ao medo, à violência resultante da miséria e de um
governo contra o seu próprio povo, para que sejam mantidos seus interesses e não
o do povo, visando apenas o seu próprio benefício, o qual busca sempre uma
riqueza pessoal, deixando a população vivendo à mercê de um descaso social e
desumano (AUROUCA, 1986).
Os pontos contribuintes da constituição federal referentes à saúde foram
regulamentados através da Lei n° 8.080, de 19 de setembro, na qual se dispõe
sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências e melhoramentos, já na lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, está
30
presente um detalhamento minucioso de como se deve executar a política de saúde
e de como deve ser feito o seu controle social. Na Lei 8.080, em suas disposições
gerais tem-se:
Art. 2º - A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1º - O dever do Estado de garantir a saúde consiste na reformulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. § 2º - O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade. Art. 3º - A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. Parágrafo Único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social (BRASIL, 1990).
Com o detalhamento do Art. 3º, podemos enfatizar que a saúde deixa de
ser vista como a ausência de doença e centrada em um modelo hospitalocêntrico de
atenção, passando a se relacionar a um conjunto de bens que determinam a
qualidade de vida do cidadão. Com a mudança da concepção de saúde, altera-se
também o modelo de atenção à saúde, construindo-se um modelo baseado na
integralidade das ações, prevenção, promoção e recuperação da saúde.
Partindo do entendimento de que a saúde é um direito, o movimento de
reforma psiquiátrica brasileira veio para questionar a forma de como se dá o
tratamento das pessoas com transtornos mentais, em que este se realizava de
forma a excluir o cidadão “louco” dos demais sujeitos da sociedade.
Considera-se que essa exclusão é a perda total dos direitos humanos,
fazendo com que não sejam sujeitos de direito. Por estes motivos, o movimento de
reforma psiquiátrica considerou que o fechamento dos manicômios significaria uma
nova relação com os “loucos”, pois se daria ênfase ao sujeito, como pessoa de
direitos. (SOUZA, 2009, p. 33).
Com a chegada do projeto de lei de Paulo Delgado de 1989, no
congresso obteve-se uma grande relevância, no que significou um avanço
avassalador no que refere ao direito à saúde mental. O projeto veio em busca da
regulamentação de internações compulsórias, propondo a extinção gradativa dos
31
hospitais psiquiátricos e sua substituição por uma rede de serviços que propusesse
um novo modelo de assistência à saúde mental.
Nos anos de 1992 e 1995 ocorreram inúmeras mudanças na política de
saúde mental no Brasil, avançando de forma gradativa na perspectiva de
desinstitucionalização psiquiátrica e na criação e regulamentação de portarias
relativas à rede de serviços substitutivos, assim viabilizando e instituindo em forma
de lei o direito à saúde mental. (SOUZA, 2009, p. 33).
As mudanças foram se concretizando de fato com as portarias e leis. No
campo da assistência, a Portaria nº 224, de 29 de janeiro de 1992, do Ministério da
Saúde, estabelece as diretrizes para o atendimento nos serviços de saúde mental,
normatizando vários serviços substitutivos, como: atendimento ambulatorial com
serviços de saúde mental (unidade básica, centro de saúde e ambulatório), centros e
núcleos de atenção psicossocial (CAPS/NAPS), hospital-dia (HD), serviço de
urgência psiquiátrica em hospital-geral, leito psiquiátrico em hospital-geral, além de
definir padrões mínimos para o atendimento nos hospitais psiquiátricos, até que
sejam totalmente superados.
A segunda portaria é a de n° 145, de 25 de agosto de 1994, que diz
respeito à “avaliação sistemática dos serviços de saúde mental, pelos diversos
níveis do SUS e tem como objetivo acolher e avaliar junto aos estabelecimentos
prestadores de serviços do SUS a correta aplicação das normas em vigor” (BRASIL,
1994). Neste mesmo ano, tem-se a criação da portaria de n° 147, de 28 de agosto
de 1994, que fala sobre o plano terapêutico. Nela, está determinado que os serviços
de saúde mental necessitem ser disponibilizados de acordo com as necessidades
dos usuários (SOUZA, 2009, p. 33).
Foi criada em 11 de fevereiro de 2000 a portaria de n° 106, com o
proposito de introduzir os serviços residenciais terapêuticos no SUS para egressos
de longas internações. As residências terapêuticas constituem-se como alternativas
de moradia para um grande contingente de pessoas que estão internadas há anos
em hospitais psiquiátricos ou para usuários de outros serviços em saúde mental, que
não contam com suporte adequado na comunidade. (BRASIL, 2000).
Finalmente, depois de 12 anos tramitando no congresso, em 6 de abril de
2001 é promulgada a Lei de n° 10.216, idealizada pelo senador Paulo Delgado, que
dispõe sobre a proteção integral e os direitos da pessoa portadora de transtornos
mentais, redirecionando a assistência à saúde mental. Contudo, consolidam-se em
32
forma de lei os direitos das pessoas com transtornos mentais, em seu Art. 2°.
(SOUZA, 2009, p. 34).
Art. 2º: Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único - são direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. (BRASIL, 2001).
Em seu artigo 3º, a Lei de n° 10.216 diz que é responsabilidade do
Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção
de ações de saúde às pessoas com transtornos mentais, com a devida participação
da sociedade e da família. Ou seja, é responsabilidade das secretarias de saúde e
do Ministério da Saúde a implantação dos serviços de saúde que garantam o direito
das pessoas com transtornos mentais.
Art. 3º É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em
saúde aos portadores de transtornos mentais. (BRASIL, 2001).
Apesar de ser recente, a legalização e institucionalização das portarias e
leis que garantem e defendem de fato o direito à saúde e consequentemente à
saúde mental tem o Estado como o responsável de validar o que foi conquistado
durante muito tempo de lutas e conquistas, para que as pessoas com transtorno
mental pudessem ser vistas e inseridas na sociedade de maneira regular e positiva.
Contudo, ainda se tem hoje a certeza de que estamos longe do
verdadeiro direito à saúde mental pelas inúmeras deficiências e falhas apresentadas
pelo SUS, porém, temos já legalizada a saúde como um direito de todos e as
pessoas com transtorno mentais e seus família têm seus direitos assegurados sob
forma de lei, prezando sempre a democracia de maneira que não possa haver
discriminação ou algum tipo de exclusão social por meio do neoliberalismo.
33
2.4 Implantação do CAPS- geral no município de Eusébio3
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são instituições destinadas a
acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e
familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes
atendimento médico e psicológico. Sua característica principal é buscar integrá-los a
um ambiente social e cultural concreto, designado como seu “território”, o espaço da
cidade onde se desenvolve a vida cotidiana de usuários e familiares. Os CAPS
constituem a principal estratégia do processo de reforma psiquiátrica (COSTA, 2004,
p. 9):
As pessoas que podem ser atendidas nos CAPS são aquelas que apresentam intenso sofrimento psíquico, que lhes impossibilita de viver seus projetos de vida. As pessoas que podem ser atendidas nos CAPS são aquelas que apresentam intenso sofrimento psíquico, que lhes impossibilita de viver seus projetos de vida. São, preferencialmente, pessoas com transtornos mentais severos e/ou persistentes, ou seja, pessoas com grave comprometimento psíquico, incluindo os transtornos relacionados às substâncias psicoativas (álcool e outras drogas) e também crianças e adolescentes com transtornos mentais (BRASIL, 2004).
De acordo com as informações adquiridas no site do município de
Eusébio4, a cidade possui uma população aproximadamente de 50 mil habitantes, é
sede de módulo assistencial e está habilitado na gestão plena da atenção básica.
Conta com 18 equipes de saúde da família, 14 equipes de saúde bucal, 60 agentes
comunitários de saúde e um sistema de referência especializada e hospitalar para
dar suporte às demais equipes.
O Centro de Atenção Psicossocial de Eusébio (CAPS) situa-se no Centro
do município foi criado em 2005 e vem realizando relevantes serviços à saúde
mental dos eusebienses. Com sua natureza de nível secundário, o CAPS vem
assumindo um papel estratégico na organização da rede comunitária de cuidados
em saúde mental, desenvolvendo projetos terapêuticos e comunitários, dispensando
medicamentos, encaminhando e acompanhando usuários que moram em
residências terapêuticas, assessorando e estabelecendo parcerias com os agentes
comunitários de saúde e equipes de saúde da família no cuidado domiciliar.
Tem como proposta acolher os usuários com transtornos mentais e
estimular sua integração social e familiar, apoiando-os em suas iniciativas de buscar
3 Informações adquiridas através do Projeto Terapêutico do CAPS- Geral do município de Eusébio.
4 Disponível em: <http://www.eusebio.ce.gov.br/> Acesso em:15.10.2013.
34
PSIQUIATRIA
PSICOLOGIA
ACOLHIMENTO
SERVIÇO
SOCIALPEDAGOGIA
TERAPIA
OCUPACIONAL
OFICINA
MÚSICA
REUNIÃO
FAMÍLIA
GRUPO
ESPERA
ATIVIDADES
EXTRA
MUROS
ENFERMAGEM
autonomia, oferecendo-lhes atendimento psicossocial e constituindo-se como
instrumento estratégico de continuidade da reforma psiquiatra no Brasil.
Ressalte-se que instituição é mantida por recursos financeiros dos
governos federal e municipal e funciona com atendimento em regime diurno das 8 às
16 horas, em que os usuários realizam atividades específicas de acordo com o plano
terapêutico institucional, além de receberem atendimento de orientação farmacêutica
e alimentação nutricional adequada. Os usuários inseridos estão contabilizados em
mais de 300, divididos em três modalidades: intensivo, que frequentam todos os
dias; semi-intensivos, de duas a três vezes por semana e os não intensivos, que
frequentam apenas no dia da consulta médica.
O CAPS trata-se de uma política pública integrante da política nacional
de saúde mental do Sistema Único de Saúde, que se utiliza de uma intersetoriedade
com a assistência social, a educação, a cultura para o acompanhamento dos
projetos desenvolvidos na própria instituição, sempre mantendo uma articulação
com estas políticas no território o qual está inserido.
Possui uma equipe multiprofissional formada por 21 profissionais, tendo
como coordenadora uma terapeuta ocupacional e dividida da seguinte forma:
enfermeira (1), assistente social (1), pedagoga (1), psicólogas (2), psiquiatras (2),
recepcionista (1), segurança da Guarda Municipal (1) e terapeutas ocupacionais (2),
motorista (2), auxiliares administrativos (2), auxiliar de enfermagem (1), auxiliares de
serviços gerais (3), auxiliar de transporte (1) e cozinheira (1).
O encaminhamento para o CAPS se dá, basicamente, através dos
atendimentos primários e pacientes que são consultados e diagnosticados com
algum transtorno mental são orientados a fazer a psicoterapia.
Gráfico 01: Divisão de atividades no CAPS-Geral do município de
Eusébio:
Fonte: Projeto Terapêutico da Instituição.
35
O CAPS do Eusébio é do tipo I, responsável por atender uma população
entre 20 e 70 mil pessoas, mas sem suporte para crianças, adolescentes e
dependentes químicos, que seriam CAPS - Infantil e CAPS – Álcool e outras drogas,
respectivamente. Mesmo sem ter competência para tais pacientes, o CAPS acolhe a
todos e os orienta para qual instituição devem se direcionar, no caso dos
dependentes, por exemplo, são encaminhados para o CAPS-Álcool e outras drogas
que foi recém-inaugurado no município.
A cada novo paciente chegado ao CAPS, é feito um acolhimento no qual
a instituição é apresentada a ele. Depois disso, é realizado um estudo do quadro
clínico e o doente encaminhado para o tratamento adequado. Os tratamentos
abrangem várias formas de atenção, como: acompanhamento psiquiátrico,
psicológico ou pedagógico, atividades extramuros, reunião com familiares, serviço
social, terapia ocupacional, enfermagem, oficinas, entre outros.
As oficinas obtêm um grande destaque no CAPS-Geral, pois
surgiram de acordo com o interesse dos pacientes que procuravam a instituição na
busca de atividades que envolvessem canto, dança, para construir ou pintar e se
buscou proporcionar isso a eles, pois percebia-se que ajudaria no tratamento do
transtorno da pessoa.
Os projetos funcionam como um laboratório para a reinserção do paciente
na sociedade após o término do tratamento. Como o objetivo do CAPS é tratar o
transtorno e possibilitar formas de conviver com esse adoecimento, as oficinas
funcionam como espaços de socialização para o paciente. Há pacientes, por
exemplo, que se identificam com a área da pintura e do artesanato em madeira.
Portanto, é possível citarmos alguns projetos que são desenvolvidos na
instituição, destacando sempre o intuito de trabalhar com os usuários sua inserção
na sociedade.
♪ Forró 100 Preconceito: a banda Forró 100 Preconceito busca nas
origens do forró pé-de-serra uma forma de entretenimento dos pacientes e uma
maneira de mostrar para a sociedade como as pessoas com transtornos mentais
podem desenvolver atividades ditas “normais,” conforme suas limitações. A banda
se apresenta em eventos no município, na Casa de Idosos, em encontro de saúde
mental, fóruns, dentre outros.
36
♪ Oficina de percussão: a oficina de percussão chama a atenção por reunir
duas atividades, tanto a música como o artesanato, pois os instrumentos são todos
confeccionados com material reciclado e pelos próprios pacientes-músicos. O
resultado deste trabalho culminou com a participação do grupo Percussão no 2°
Encontro de Música Percussiva da UFC, em setembro do ano de 2012.
♪ Vozes do CAPS—CORAL: há seis anos em ação, o coral Vozes do CAPS
tem se apresentado no próprio CAPS e em outras festividades do município.
2. Projeto: [email protected]: é uma oficina de informática de
formação básica aos usuários para poderem aprender a utilizar o computador de
maneira correta e eficiente.
3. Oficina de produção: trabalhos artesanais feitos na oficina de produção e
comercializados no box “Lá do CAPS”, no Mercado Central do Eusébio e nas feiras
culturais.
4. Programa Brasil alfabetizado: é uma parceria com a Secretaria Municipal
de Educação e tem como objetivo alfabetizar os usuários que não sabem ler nem
escrever.
Segundo os dados adquiridos na própria instituição, desde agosto de
2005 até a data atual o CAPS possui mais de 2.250 prontuários abertos, fazendo
assim parte da média global em que pelo menos 5% da população de uma cidade
sofre de transtornos mentais. O balanço de 2010 indicou que de 1.801 prontuários
em aberto, 1.258 são pacientes ambulatoriais (comparecem ao CAPS a cada dois
meses), 165 são semi-intensivo (duas vezes na semana) e 32 intensivos (de
segunda a sexta, pela manhã ou dia todo), todos os três tipos também fazem
tratamento medicamentoso e 13 pessoas receberam alta neste mesmo ano.
Art.1º: Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata a Lei 10.216, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. (BRASIL, 2001).
Portanto, o CAPS tem o compromisso de “quebrar” paradigmas que levam
as pessoas com transtorno mental a viver em regime de enclausuramento e
isolamento, como já viveram há tantos anos. Precisamos perceber que a "loucura"
não está só no outro, mas na medida em que a negamos, afastamos e excluímos do
37
convívio social, deixando de perceber suas particularidades e belezas e
principalmente de tratá-las como cidadãos da maneira que realmente merecem.
Todos têm o direito de conquistar seus desejos e de realizar suas vontades.
3. O SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE MENTAL 3.1 A Inserção do serviço social na área da saúde mental
Para iniciarmos a falar sobre o serviço social na saúde mental, é
necessário fazermos um resgate histórico para entendermos um pouco sobre o
surgimento da profissão, destacando que o serviço social em princípio se inseriu no
processo das relações sociais como um auxiliar e subsidiário no controle social,
difundindo a ideologia dominante entre a classe trabalhadora, intervindo de maneira
que se criassem condições favoráveis para a reprodução da força de trabalho.
No Brasil, a origem do serviço social está vinculada à Igreja Católica, aos
setores mais abastados da sociedade, exercendo uma missão política de apostolado
social. A profissão apresenta uma legitimidade profissional, que tem como
justificativa a ideologia e a doutrina da Igreja Católica.
A institucionalização do serviço social como profissão está relacionada à
criação das grandes instituições assistenciais estatais e paraestatais, especialmente
na década de 1940, período marcado pelo corporativismo do Estado e por uma
política a favor da industrialização. Com o crescimento do proletariado, o Estado
Novo busca na classe operária a sua legitimação, que se dá através de uma política
de massa que reprime os movimentos reivindicatórios. (SILVA, 2007, p. 2).
Com isso, o Estado irá intervir em duas instâncias: na regulamentação do
mercado de trabalho (através da política salarial e sindical) e na política assistencial
vinculada as organizações representativas do proletariado, controlando-o (nesse
processo surge a Legião Brasileira de Assistência (LBA), o Serviço Social do
Comércio (SESC) e o Conselho Nacional do Serviço Social).
Segundo Netto (1990), a autocracia burguesa investiu na reiteração das
formas tradicionais da profissão, mas seu movimento resultou em uma ponderável
reformulação do serviço social, devido à reorganização do Estado e as modificações
da sociedade decorrente do comando do grande capital. A industrialização desse
período acentua a questão social, exigindo do Estado uma intervenção crescente e
38
centralizada, através da adoção das políticas sociais. A criação do mercado de
trabalho para o Serviço Social tem suas origens na década de 1940, mas somente
na década seguinte e nos inícios dos anos 1960 é que esse mercado se expande,
devido à conexão com a industrialização pesada e ao crescimento do Estado.
Entretanto, segundo Netto (1990, p. 120) trata-se “de um mercado de trabalho
emergente e ainda em processo de consolidação.” (SILVA, 2007, p. 3).
No entanto, o assistente social se insere na Saúde Mental para atender
as necessidades da psiquiatria no que diz respeito em minimizar as contradições do
sistema e atender à racionalidade médica no que o mundo “psi” não consegue dar
conta com uma melhor compreensão de totalidade, como por exemplo, a pobreza
dos usuários, situação de exclusão social que são resultantes da forma em que as
políticas econômicas do capitalismo, neoliberal se reestruturam na produtividade no
Brasil.
As particularidades do Serviço Social em Saúde Mental no Brasil repousam nas contradições, e não na sua especificidade. Trocando em miúdos, a herança do Serviço Social psiquiátrico americano resiste na área de Saúde Mental por parte de antigos profissionais, e o discurso do Movimento de Reforma Psiquiátrica seduz os novos assistentes sociais (BISNETO, 2005, p.112).
No âmbito da atenção em saúde mental, predomina o modelo de
assistência baseado no isolamento e no tratamento medicamentoso, tendo como
figura central o médico, devido ao seu protagonismo no contexto das novas
transformações trazidas pela doença mental.
Segundo Vasconcelos (2000), a presença direta do serviço social na área
da saúde mental no Brasil teve início com o modelo das Child Guidance Clinics,
proposto pelos higienistas americanos e brasileiros, tendo como objetivo tratar e
diagnosticar, crianças com problemas com o intuito de programar uma educação
higiênica nas escolas e na família (SILVA, 2007, pp.3-4)
O serviço social em saúde mental iniciou-se nos anos 1940 pela atuação
no COI (Centro de Orientação Infantil) e no COJ (Centro de Orientação Juvenil).
Porém, o número de assistentes sociais permaneceu pequeno e sua forma de
atuação era bem distinta do atual, atendendo a jovens e famílias na prevenção
higienista. Por isso, pode-se dizer que sua estrutura atual originou-se só após 1964,
com a mudança do atendimento previdenciário na saúde mental dos indigentes para
os trabalhadores e seus dependentes em internações asilares, com a prestação de
39
serviços sociais necessários ou benéficos para lógica dos manicômios a fim de
legitimá-los na situação de pobreza dos pacientes (BISNETO, 2005, p.113)
A partir de 1946, o modelo child guidance clinics foi implantado no Rio de
Janeiro, influenciando a montagem de outros serviços ambulatoriais para crianças e
adolescentes. A atuação do serviço social no atendimento dos casos dava-se da
seguinte maneira: (SILVA, 2007, p. 4).
1) Processo de inscrição, através de um encontro inicial com o cliente e a família para coleta de dados básicos, estabelecer e/ou esclarecer a necessidade de ajuda e o vinculo com o serviço; 2) Através do ‘tratamento social de casos’, atuando junto a família do cliente, visando ‘ajudar a família a dar a criança um ambiente adequado para possibilitar o tratamento psiquiátrico’ e ‘ajudá-la (a família) a conseguir um melhor ajustamento sobre seus membros, conseguinte de modificação lenta de atitudes (ALVES FILHO, 1956, p. 67, citado por VASCONCELOS, 2000, p.184).
No entanto, a prática profissional do assistente social estava relacionada
à lógica institucional da medicina tradicional e aos interesses do capital, acentuando
ao máximo a divisão do trabalho nas divisões psiquiátricas. O que não era associado
diretamente ao psíquico e ao somático, era demandado para o serviço social.
Quando estes não podiam atender à demanda, encaminhavam o usuário para outras
instituições ou negavam o atendimento.
Bravo (2007) afirma que na década de 1950 vislumbra-se um cenário com
proposições racionalizadas de profissionais do serviço social dentro da área da
saúde, a fim de que a intervenção do Estado não se desse apenas na economia,
mas também na atenção médica, com a medicina integral e preventiva.
Esse processo de intervenção estatal na atenção médica acabou por
desdobrar nos anos de 1960 e 1970 na medicina comunitária e na integração
docente-assistencial. Neste cenário, o serviço social assume uma postura
desenvolvimentista, valorizando a modernização dos assistentes sociais que se
voltavam para a saúde coletiva. (BRAVO, 2007).
Assim, o movimento militar de 1964 tornou-se um marco na divisão entre uma
assistência destinada ao doente mental indigente e uma nova fase na qual é
estendida a cobertura à massa de trabalhadores e seus dependentes. Durante a
ditadura militar, o maior problema apresentado ao governo era a pobreza que
precisava ser controlada, pois poderia gerar contestações da sociedade,
principalmente com a incorporação na rede previdenciária, através do atendimento
40
aos trabalhadores e seus dependentes. Sendo assim, o assistente social foi
demandado pelo Estado ditatorial para atuar como executor de políticas sociais na
área da saúde mental.
Uma grande quantidade de assistentes sociais passou a trabalhar na saúde mental por demanda do governo da ditadura, para legitimá-lo através de políticas sociais dúbias no atendimento ao trabalhador e para abafar as contradições no sistema manicomial, mas sem o apoio de referenciais teóricos para guiar a profissão, caindo a atuação numa definição prática e teórica (BISNETO, 2001).
Segundo Vasconcelos (2002), o serviço social era:
[...] responsáveis pelo estudo do caso através da família ou da obra social, quando se trata de crianças de instituição (ambiente emocional, econômico, social e histórico da vida da criança) e pela orientação das mães, que se faz paralelamente ao tratamento do cliente. O trabalho da assistente social psiquiátrica se realiza também junto à comunidade: escolas, educandários, hospitais etc. Em geral, enquanto a criança era submetida à psicoterapia com os psicólogos, a mãe tinha “entrevistas terapêuticas com as assistentes sociais”. [...] sua prática era centrada no diagnóstico, na orientação e no tratamento de casos individuais e/ou família. (2002, pp.167-169).
A inserção efetiva do serviço social em hospitais psiquiátricos se deu por
força de exigências do INPS e é a partir de 1973 que o Ministério da Previdência e
Assistência Social (MPAS) enfatiza a importância da equipe interprofissional para a
prestação de assistência ao doente mental. Numa tentativa de melhorá-la, abriu-se
um maior espaço para o serviço social nas instituições psiquiátricas (SOUZA, 1986).
Nos anos 1970, o assistente social era chamado para fazer parte de equipes multiprofissionais sem uma definição clara do perfil de atuação, trabalhando mais como auxiliar do psiquiatra nos problemas sociais do que especificamente como assistente social. (BISNETO, 2007, p. 53).
A partir desta incorporação, passou-se a identificar que a área da saúde
mental era um campo lucrativo. A previdência social nessa época chegou a destinar
97% do total de recursos da saúde mental para os hospitais psiquiátricos
conveniados. Fato este que possibilitou a multiplicação de empregos para os
assistentes sociais na área.
O INPS passa a exigir a permanência destes no quadro de funcionários
dentro dos hospitais psiquiátricos, pois considerou importante a construção de uma
equipe multiprofissional para melhor assistir aos pacientes com diagnóstico de
transtorno mental (SOUZA, 2009).
Segundo Bisneto (2007):
41
Os hospitais psiquiátricos passaram a contratar um assistente social para cumprir a regulamentação do Ministério da Previdência e Assistência Social, pagando o mínimo possível como salário e sem incumbi-lo de funções definidas. Quando pela resolução do INPS, a quantidade de pacientes exigia a contratação de mais de um assistente social, a contratação era em nível precário, em geral por poucas horas diárias e contrato provisório, quando não era só para constar, e nenhum trabalho era efetivamente feito, tipo “empregado fantasma”. (BISNETO, 2007, p. 24).
Destaca-se que naquele momento histórico o grande problema para o
governo da ditadura militar nos hospícios no fim dos anos 1960 não era a loucura,
pois esta era controlada pela psiquiatria através dos psicotrópicos, mas a situação
preconizada da pobreza, do abandono, da miséria, que saltavam à vista e que
geravam debate na sociedade, principalmente após a incorporação do atendimento
aos trabalhadores e seus dependentes na rede previdenciária de assistência mental.
Com isso, o profissional de serviço social veio para viabilizar o sistema
manicomial no seu ponto de vista mais problemático (BISNETO, 2007). Neste
contexto, o serviço social foi responsável pelo Estado Ditatorial como executor
terminal de políticas sociais na área de saúde mental, repetindo sua contradição
histórica, de uma demanda pelas elites para atender aos desprovidos, fazendo com
que se torne algo contraditório.
Fazendo uma analogia, é possível dizer que o governo da ditadura militar tentou repetir a história, usando o Serviço Social em Saúde Mental nos anos 70, tal como o Estado, o empresariado e a Igreja, que, aliados, nas décadas de 1930 e 1940, implantaram o Serviço Social no Brasil visando aspectos econômicos, políticos e ideológicos, ou seja, facilitar a acumulação capitalista, controlar os trabalhadores e legitimar o modelo social. E, com o fim do "milagre brasileiro", após 1974, o setor da Saúde se tornou essencial para legitimar o Estado autoritário, e particularmente o setor da Saúde Mental quando o atendimento se estendeu aos trabalhadores e seus familiares modelado pelo Estado. (SOUZA, 1986, p. 20).
Embora o movimento de reconceituação em suas iniciais discussões não
tenha abordado a temática de saúde mental, no final dos anos de 1970 e início dos
anos 1980, com o movimento de reforma psiquiátrica, a relação entre serviço social
e saúde mental passou a ficar mais próxima, trazendo através da reforma
psiquiátrica um novo olhar para a pessoa com transtorno mental e com isso
possibilitando a inserção do profissional de serviço social junto às equipes
multiprofissionais de saúde mental, bem como uma possibilidade de intervenção de
forma efetiva junto às expressões da questão social na saúde mental (SILVA, 2012,
p. 60).
42
Portanto, o serviço social em saúde mental, com o processo de ruptura
para com as práticas antigas, como, por exemplo, serviço social clínico, norte-
americano com orientação higienista, passa a acompanhar o modelo brasileiro, que
incorpora a metodologia do projeto ético-político e que é uma necessidade e uma
imposição conjuntural. Apesar do viés “psi,” busca encobrir as particularidades e a
universalidade do serviço social no Brasil.
Bisneto (2007, p. 37) afirma que:
O Movimento de Reforma psiquiátrica vem trazer uma abertura muito grande para atuação do Serviço Social em Saúde Mental, devido à formação social e política dos assistentes sociais. Porém deparamo-nos com duas grandes restrições: a) os assistentes sociais não são capacitados pela formação universitária para entender a loucura na sua expressão de totalidade histórica, social e política; b) a psiquiatria reformada requer os mandatos sociais e sua hegemonia no espaço profissional. O reflexo dessas restrições interfere na prática cotidiana do Serviço Social em estabelecimentos psiquiátricos e na busca de soluções.
Apesar das restrições que foram colocadas ao serviço social na área da
saúde mental, aos assistentes sociais comportam outros tipos de atribuições, por
exemplo, para o atendimento de pessoas com transtorno mental, realizando
entrevistas em um processo de escuta, a fim de obter informações relevantes para
um tratamento específico aos usuários da saúde mental; realizar um levantamento
histórico sobre a vida deste, na perspectiva de socializar informações acerca de
seus direitos, entre eles a obtenção de benefícios, encaminhamentos e orientações
para serviços não disponíveis na instituição em que trabalha.
O serviço social tem espaço dentro do campo da saúde mental como
profissão que amplia e afirma a cidadania a partir do momento em que surgem
novas propostas para o tratamento dos “doentes mentais”, mais precisamente
quando o processo de desinstitucionalização se coloca em pauta, ou seja, fim dos
anos 1970 e início dos anos de 1980, isto não acontece apenas com o serviço
social, mas com todas as demais profissões que estão inseridas e intervindas em
questões ligadas à saúde mental (SILVA, 2012, p. 61).
Nas décadas de 1980 e 1990, com as transformações operadas pela
reforma psiquiátrica, que alterou o modelo de assistência, a área da saúde mental
exigiu abordagens mais comprometidas teórico e politicamente, principalmente pela
proposta de desinstitucionalização, da retirada da atenção em saúde mental do
43
âmbito do manicômio, atribuindo ao doente mental a condição de sujeito portador de
transtorno mental, digno de receber uma atenção baseada em direitos sociais.
Estes princípios se aproximam daqueles defendidos pelo movimento de
renovação crítica do serviço social, a partir dos anos 1980 no Brasil. Considerando
que o serviço social tem uma dimensão histórica, em constante mudança, derivada
das modificações na sociedade, pode-se afirmar que a prática profissional redefine-
se de acordo com o contexto histórico.
Assim, as configurações e reconfigurações da questão social a partir dos
anos 1990 acarretam um redimensionamento das intervenções sociais em suas
mazelas, o que incide diretamente no mercado de trabalho do assistente social e
nas suas atribuições profissionais. Portanto, a intervenção do serviço social está
diretamente articulada às mudanças na relação capital/trabalho e na organização
das políticas sociais (SILVA, 2007, p. 6).
A Portaria/SNAS nº 224, de 29 de janeiro de 1992, preconiza a inserção
de assistentes sociais nas equipes de saúde mental em todas as esferas que
tangem a saúde mental; pode-se inferir, portanto, que existe uma necessidade de
organização de nossa categoria profissional, a fim de ocupar esses espaços de
trabalho e intervenção do assistente social. Mas, com uma perspectiva que abarque
as necessidades do campo da saúde mental sem ferir o projeto ético-político do
serviço social, que tem como alguns dos componentes constitutivos os marcos
regulatórios de nossa profissão, que são a lei de regulamentação da profissão de
1993, o Código de Ética Profissional de 1993, entre outros. (SILVA, 2012, p.61)
Os novos moldes da assistência psiquiátrica necessitam de equipes multiprofissionais que possam dar conta das demandas em todos os seus níveis e especificidades. Dentro dessas novas modalidades de serviços de saúde mental encontra-se o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), que se configura num espaço de atuação do Serviço Social. (COSTA et al., p. 10).
Conforme observamos, a atuação do serviço social na área da saúde
mental, embora não seja recente ainda, está em processo de construção. O que se
verifica é a crescente necessidade de assistentes sociais no âmbito das instituições
psiquiátricas, especialmente junto às equipes multiprofissionais.
Segundo Bisneto (2005), há ainda muito que construir no serviço social
brasileiro; uma visão de subjetividade que seja ligada aos aspectos sociais,
históricos, econômicos e políticos, invertendo a nossa queixa de psicologização das
44
relações sociais com objetivo de termos uma sociologia crítica e lúcida das relações
interpessoais.
O assistente social pode fazer muita coisa em saúde mental, benefícios
previdenciários, atuar terapeuticamente, desde que faça a conexão entre a
intervenção e a totalidade das relações sociais que aferem o problema, isto é,
interligando o singular e o particular ao universal, recolocando as demandas do
mundo “psi” na sua própria referência profissional, sem perder de vista os conteúdos
políticos da saúde mental e a perspectiva histórica e social de sua atuação
profissional.
Portanto, os assistentes sociais atuam junto às pessoas com transtornos
mentais de forma participativa, num processo educativo, através do esclarecimento
e orientações visando aperfeiçoar a ressocialização social destes indivíduos. O
assistente social precisa ser capacitado para orientar indivíduos e grupos de
diferentes seguimentos sociais, no sentido de identificar recursos e de fazer uso
deles no atendimento e na defesa de seus direitos, como preconiza a Lei de
Regulamentação da Profissão¹.
As discussões abordadas fazem parte de um contexto para uma melhor
compreensão do conteúdo proposto, e para dar continuidade a essa pesquisa
iremos abordar no próximo item uma temática que está voltada ao serviço social no
CAPS, expondo de maneira clara e sucinta todo um histórico composto para a
atuação desses profissionais em um dos campos da saúde mental.5
3.2 O serviço social no CAPS
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), entre todos os dispositivos
de atenção à saúde mental, têm valor estratégico para a reforma psiquiátrica
brasileira. É o com surgimento destes serviços que passam a demonstrar
possibilidades de organização para uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no
país.
É função dos CAPS prestar atendimento clínico em regime de atenção
diária, evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos; promover a
inserção social das pessoas com transtornos mentais através de ações
5 Lei nº. 8.662, de 7 de junho de 1953. Dispõe sobre a profissão do assistente social.
45
intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na
sua área de atuação e dar suporte à atenção à saúde mental na rede básica. É
função, portanto, e por excelência, deles organizar a rede de atenção às pessoas
com transtornos mentais nos municípios. Os centros são os articuladores
estratégicos desta rede e da política de saúde mental num determinado território.
(BRASIL, 2005).
Os CAPS devem ser substitutivos e não complementares ao hospital
psiquiátrico. Cabem a eles o acolhimento e a atenção às pessoas com transtornos
mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do
usuário em seu território. De fato, o CAPS é o núcleo de uma nova clínica, produtora
de autonomia, que convida o usuário a se responsabilizar e protagonizar toda a
trajetória do seu tratamento.
A prática do serviço social no CAPS está associada a uma equipe
multiprofissional e a proposta da instituição é acolher o usuário com transtornos
mentais e estimular sua integração social e familiar, apoiá-lo em suas iniciativas de
busca de autonomia, oferecer-lhe atendimento, o que constitui instrumento
estratégico da reforma psiquiatra.
Considerando o que foi dito anteriormente podemos dizer que o CAPS
configura-se como um novo modelo de atendimento à população de sua área de
abrangência, realizando acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários
pelo acesso ao trabalho, lazer exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços
familiares e comunitários.
Isso se deve ao trabalho conjunto da equipe interdisciplinar, na qual o
serviço social também se encontra incluído, junto com outros saberes que vêm
proporcionando melhorias de vida para os usuários. Sendo assim, a prática do
assistente social tem sido muito importante, principalmente no que se refere ao
desenvolvimento de atividades com os usuários que entendemos como principal
fundamento de uma apropriação das relações sociais. Contudo, faz-se necessária
uma avaliação destas atividades e a verificação dos resultados.
Os resultados das ações do serviço social existem, porém, nem sempre
são perceptíveis, pois a intervenção do serviço social acontece em forma de
processo, ou seja, gradativamente, pois os resultados não são vistos de forma
imediata. As atividades desenvolvidas pelo serviço social têm a funcionalidade de
estimular a autonomia, promoção à cidadania e reinserção social, todavia, fica difícil
46
afirmar a eficácia no processo de ressocialização, pois quando falamos em CAPS
não nos referimos à cura, mais a uma melhor qualidade de vida do usuário.
Entende-se que as demandas institucionais relacionadas à prática
desenvolvida pelo assistente social são basicamente promover a autonomia e a
cidadania dos usuários, atuando na conscientização das famílias, no que diz
respeito ao comprometimento com a instituição e a participação no tratamento com o
usuário.6
Figura 01 Dinâmica de atuação do assistente social dentro do CAPS:
Fonte: Projeto Terapêutico da Instituição.
Dentre algumas ações do serviço social do CAPS podemos destacar a
prestação de serviços no âmbito social aos indivíduos e grupos; estudar e analisar
as causas dos problemas sociais, estabelecendo planos de ações que busquem o
restabelecimento, junto aos usuários; elaborar diretrizes, atos normativos e
programas de assistência social, promovendo atividades educativas, recreativas e
culturais, para assegurar o progresso e melhoria do comportamento individual;
assistir as famílias nas suas necessidades básicas, orientando-as e fornecendo-lhes
suporte material, educacional, para melhorar sua situação e possibilitar uma
convivência harmônica entre os membros; elaborar e emitir pareceres
socioeconômicos, relatórios mensais de planejamento familiar; participar de
6 Informações retiradas do projeto terapêutico do CAPS-Geral de Eusébio.
47
programas de reabilitação profissional, integrando equipes técnicas
multiprofissionais, para promover a integração ou reintegração profissional de
pessoas física ou mentalmente deficientes por doenças ou acidentes decorrentes do
trabalho.7
As atribuições e competências dos profissionais de Serviço Social, sejam aquelas realizadas na saúde ou em outro espaço sócio ocupacional, são orientadas e norteadas por direitos e deveres constantes no Código de Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão, que devem ser observados e respeitados, tanto pelos profissionais quanto pelas instituições empregadoras. (CFESS 2010, p.31)
Portanto, é importante salientar que todo profissional do serviço social é
amparado por uma lei de regulamentação da profissão e um código de ética, os
quais trazem garantias de direito e dever para o assistente social, cujos instrumentos
norteadores é que consolidam e dão suporte a um trabalho ético organizado e que
prime pela equidade e justiça social.
Tendo em vista o que já foi relatado, o assistente social não deve se deter
em abordagens pragmáticas, que reforçam as práticas conservadoras que tratam as
situações sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos
individualmente. Mas possuem uma visão totalizante, que busque o indivíduo como
um todo não apenas como um ser único responsável por toda a situação a qual
vivenciem.
O reconhecimento da questão social como objeto de intervenção
profissional (conforme estabelecido nas diretrizes curriculares da ABEPSS, 1996),
demanda uma atuação profissional em uma perspectiva totalizante, baseada na
identificação das determinações sociais, econômicas e culturais das desigualdades
sociais.
A intervenção orientada por esta perspectiva teórico-política pressupõe:
leitura crítica da realidade e capacidade de identificação das condições materiais de
vida, identificação das respostas existentes no âmbito do Estado e da sociedade
civil, reconhecimento e fortalecimento dos espaços e formas de luta e organização
dos trabalhadores em defesa de seus direitos;
7 Informações retiradas do Projeto Terapêutico do CAPS-Geral de Eusébio.
48
;
formas de pressão sobre o Estado, com vistas a garantir os recursos
financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários à garantia e à
ampliação dos direitos (CFESS, 2010, pp. 32-33).
Portanto, é necessário basearmos as ações profissionais sempre
nos princípios e diretrizes que nos direcionam a uma atuação competente e
correta, tomando sempre como base o código de ética, a lei de regulamentação
da profissão e o projeto ético-político, pois são com estes conhecimentos que o
profissional realiza uma análise crítica da realidade, assim podendo estruturar
seu trabalho e estabelecer competências e atribuições específicas para as
situações e demandas sociais decorrentes de seu cotidiano.
O Serviço Social tem na questão social a base de sua fundamentação enquanto especialização do trabalho. Nessa perspectiva, a atuação profissional deve estar pautada em uma proposta que vise o enfrentamento das expressões da questão social que nos repercutem diversos níveis de complexidade da saúde, desde a atenção básica até os serviços que se organizam a partir de ações de média e alta densidade tecnológica (CFESS, 2009, p. 20).
Os instrumentos utilizados pelos assistentes sociais no CAPS
correspondem a uma competência teórico-metodológica que possibilita um
detalhamento esclarecedor da realidade social do usuário que está inserido na
instituição. Um dos instrumentos é a visita domiciliar que tem como intuito
verificar a situação de vivência dos usuários; a atividade é solicitada através de
ordem judicial ou solicitações de usuários ou familiares, entrevistas individuais
ou junto com familiares, contemplando o contexto socioeconômico,
sociofamiliar, cultural, demográfico, enfim dados que darão relevância ao
trabalho do assistente social no processo de conhecimento da realidade dos
sujeitos envolvidos, observações, estudos sociais, parecer social, reuniões de
equipe matricial, que viabiliza a compreensão do trabalho psicossocial, dentre
outras técnicas e instrumentos.
Para Iamamoto (2000), os meios de trabalho do assistente social
“são o conjunto de conhecimentos e habilidades adquiridos pelo profissional ao
longo do seu processo formativo”. No entanto, a autora afirma que o trabalho
abrange todas as expressões da questão social, mas é necessário que o
49
profissional tenha na instrumentalidade a clareza do seu objeto para alcançar
os objetivos do seu trabalho e para que isso possa ocorrer é necessário que o
profissional possa ter uma ampla gama de conhecimentos adquiridos em sua
formação acadêmica e em suas experiências de trabalho.
4. A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL JUNTO À EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DO CAPS-GERAL DO MUNICÍPIO DE EUSÉBIO.
A saúde mental no município de Eusébio é atendida atualmente por
apenas dois espaços institucionais: o CAPS- geral e o CAPS- álcool e outras
drogas que foi inaugurado este ano. Ressalta-se que a pesquisa está focada
no CAPS- geral do município de Eusébio que possuí apenas uma Assistente
Social, para que não se torne um estudo de caso foram entrevistados três
profissionais que atuam junto à equipe multiprofissional da instituição.
No entanto, os profissionais que trabalham nos CAPS possuem
diversas formações e integram uma equipe multiprofissional. Com isso, forma-
se um grupo de diferentes técnicos de nível superior e de nível médio. Os
profissionais de nível superior são: enfermeiros, médicos, psicólogos,
assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, pedagogos, professores ou
outros necessários para as atividades oferecidas no CAPS.
Contudo, a equipe multiprofissional é um grupo de pessoas de
diferentes profissões e pode ser chamada também de equipe multiprofissional
ou interdisciplinar. Portanto, entende que o trabalho multiprofissional é o
mesmo que dizer trabalho interdisciplinar e será nesta lógica que o trabalho se
desenvolverá (BRASIL, 2004).
O multiprofissional ocorre quando há, entre os integrantes da equipe, reciprocidade, relações profissionais e de poder, tendentes à horizontalidade e com perspectivas de estratégias comuns para a ação. ‘Sistema de dois níveis e de objetivos múltiplos: coordenação procedendo do nível superior, tendência a horizontalizarão das relações de poder. (VASCONCELOS, 1996, p. 140).
Podemos constatar que o número de assistente social trabalhando
na equipe multiprofissional de saúde mental do CAPS- geral no município de
Eusébio é muito pequeno, tendo em vista que a portaria n° 336 de 19 de
fevereiro de 2002 regulamenta que cada CAPS, em suas quatro modalidades
50
que são: CAPS II, CAPS III, CAPS I, e CAPS AD possuindo sua capacidade
máxima de atendimento para uma população de até 200.000 habitantes.
Ou seja, existe uma necessidade de contratar mais profissionais e da criação
de mais CAPS para atender a demanda da população no qual ao todo existem
quase 50.000 habitantes com problemas diversificados e com necessidade um
amparo social. Hellmann (2008, p.77) ressalta que:
[...] o profissional de Serviço Social tornou-se necessário nas equipes multiprofissionais de saúde por trabalhar com os determinantes sociais da saúde e assim, pensar o direito à saúde na sua concepção ampliada, para além da ausência de doenças. Portanto, a ausência deste profissional pode ser um indicador de que os municípios não estejam entendendo a saúde na sua compreensão ampliada. (HELLMAN, 2008, p.77).
Para sistematizar e analisar os dados coletados, em um primeiro
momento é realizado a apresentação do perfil profissional da entrevistada, com
dados do ano de sua formação, universidade na qual graduou, quantos anos
trabalha na área, entre outros. Em seguida é feita uma análise sobre as
demandas da instituição, atuação profissional, trabalho em equipe e por fim a
visão de alguns profissionais da equipe multiprofissional sobre o Serviço Social.
4.1 Perfil profissional
Para a obtenção de uma maior compreensão do material
investigado, sente-se a necessidade de iniciarmos com informações sobre o
perfil profissional da Assistente Social entrevistada, com foco em sua atuação
no campo da saúde mental.
O profissional participante da pesquisa é do sexo feminino, obteve
sua graduação pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) no curso de
serviço social, concluiu no ano de 1994. Atua na profissão por volta de 19 anos,
no qual já trabalhou em empresas, CRAS, hospitais, entre outras instituições
que insere o profissional de serviço social.
É especialista em saúde da família, curso promovido pela UECE e há
sete anos trabalha no CAPS-geral do município de Eusébio.
Segundo Souza (2009), a formação nas áreas de saúde mental e saúde
da família permitem um aprofundamento e capacitação a partir de referenciais
51
teórico-metodológicos importantes no campo da saúde. Com isso, o
profissional com a sua formação voltada na promoção e vigilância à saúde
utiliza-se de instrumentos básicos para a contribuição dos serviços e sistemas
de intervenção da saúde e doença no contexto do modelo assistencial vigente,
priorizando assim a atenção à saúde da família e seu atendimento junto aos
usuários da instituição, assim podendo executar uma análise mais técnica e
minuciosa do território de atuação, planejando ações com enfoque nos riscos,
na melhor qualidade de vida e na resolução de serviços que a área de saúde
oferece.
Outro ponto a ser analisado consiste ao vínculo empregatício da
assistente social, no qual a mesma inseriu-se na instituição por meio de
concurso público, buscando assim uma estabilidade profissional. Portanto,
gera-se um maior comprometimento, estímulo e autonomia profissional no que
diz respeito à estabilidade, coisas nas quais não ocorrem com os contratos
temporários.
Um profissional não estabilizado esta exposto a enfrentar situações
que o deixa inseguro profissionalmente, pois no momento em que o mesmo
estar se firmando pode ocorrer alguma mudança (no caso de prefeituras) com
isso terá que perder o cargo e buscar outro emprego.
4.2 Demandas
Como já foi relatado no capítulo 2, na inserção do serviço social na
saúde mental o médico psiquiatra não dá conta de todas as demandas
colocada pelos pacientes e para que ocorra um atendimento psiquiátrico
completo é necessário que haja participação de outros profissionais que
possam compreender os problemas sociais apresentados, assim o assistente
social é inserido.
Desta maneira é notável que o Serviço Social na saúde mental
voltasse ao atendimento que resolva os problemas sociais, buscando
compreender a realidade do indivíduo, pois o conceito ampliado sobre a saúde
e a doença mental cabe aos demais profissionais articularem para que as
perguntas inerentes às demandas voltadas apenas ao social e à cidadania
possam ser respondidas pelo profissional de Serviço Social.
52
Conforme a entrevista realizada, a profissional atende a toda demanda
que chega a instituição. No entanto é importante destaca que inicialmente é
realizado um acolhimento juntamente com uma escuta profissional, para que
logo após a Assistente Social possa repassar respostas mais adequadas aos
usuários e encaminha-los para os atendimentos médicos.
O Serviço Social, assim como os outros profissionais, atua no acolhimento, dessa forma atendendo toda a demanda do CAPS. Acolher é um compromisso de resposta às necessidades dos cidadãos que procuram os serviços de saúde. Portanto é necessário haver uma postura capaz de acolher, escutar e pactuar respostas mais adequadas aos usuários. Esse primeiro contato auxilia na criação de vínculo entre o usuário e o serviço, pois é através dos profissionais e da estrutura institucional que interfere diretamente na adesão do indivíduo ao tratamento. O paciente é orientado quanto ao funcionamento do serviço, e quanto às modalidades de tratamento: intensivo, semi-intensivos e ambulatorial (não intensivo). [...] Após os pacientes passarem para inserção nos grupos em outros atendimentos, sempre há necessidade da intervenção junto à família, ocorrendo uma socialização e mediação entre a questão social da saúde mental e a sociedade. [...] (A.S)
As demandas chegam à instituição em sua grande maioria através
de encaminhamentos vindos da Atenção Básica de Saúde como, por exemplo,
PSF dos bairros onde residem os usuários, hospitais e muitas vezes até por
conta própria. No entanto é evidenciada pela fala da Assistente Social a
existência do protocolo de atendimento, para que haja uma orientação
adequada para o tipo de atendimento.
Assim ressalta a entrevista:
Sim, existe um protocolo de atendimento. No CAPS os usuários necessitam de encaminhamento via referencia para iniciarem o tratamento, pois existem diversos transtornos mentais que necessitam apenas de uma escuta mais cuidadosa, não havendo a necessidade de inserção em tratamento no CAPS. É valido destacar que as demandas também ocorrem de pessoas egressas de internações psiquiátricas, ou de instituições que efetivamente tenham o perfil para CAPS-geral. (A.S)
O serviço social na área de saúde mental possui uma interligação
com várias demandas a previdência social é uma na qual está presente desde
o início, tal ligação é evidenciada até nos dias atuais. Dentre as inúmeras
demandas para atendimento do serviço social, assim ocorrendo à orientação
53
para o acesso aos benefícios previdenciários, conforme podemos compreender
com o depoimento a seguir:
As demandas que chegam ao CAPS além da situação de saúde mental estão associadas a fatores e a problemas sociais que os pacientes sofrem no decorrer de sua história de vida, nos deparamos com: Pessoas que buscam benefícios previdenciários e assistenciais; Vítima de violência domestica, assim articulamos com o CREAS e outras Instituições; Situação financeira e econômica comprometida então articulamos com os programas de transferência de renda Bolsa Família; Benefícios eventuais e outros problemas de saúde, ao qual se faz necessária articulação com a rede do SUS. (A.S)
De acordo com Vasconcelos (2007), das demandas dirigidas
apenas aos assistentes sociais, destacam-se as “reclamações” (quanto ao
funcionamento da unidade e do tratamento oferecido pelos médicos), a
educação em saúde (ocultada pelas socializações de ‘orientações familiar’,
informações e orientações a respeito da saúde e da doença, apoio emocional,
‘necessidade de atenção’, alivio de tensão, necessidade de convivência com
alguém) e solicitações de orientações, informação e encaminhamentos
diversos (quanto à rotina da unidade, serviços e recursos internos e externos a
unidade de saúde, os quais incluem orientações previdenciárias, trabalhistas,
acesso a benefícios assistenciais – beneficio de prestação continuada – e
orientação quanto aos direitos sociais). (VASCONCELOS, 2007, p. 184).
Entende-se que as demandas dirigidas ao serviço social são
inúmeras, no entanto cabe a ele saber como atender e dar respostas aos
usuários. Para responder o que foi solicitado é necessário que ocorra um tipo
de abordagem, tais como: visita domiciliares, escutas qualificadas, acolhimento
entre outras. No entanto, a visita domiciliar é uma das abordagens mais
utilizadas pelo assistente social, conforme diz a entrevistada.
O Assistente Social possui como objetivo construir vínculo com a família para que juntos possam ajudar na estabilidade do usuário em sua dinâmica no âmbito familiar, na qual o profissional utiliza-se da
visita domiciliar como abordagem [...] (A.S).
Segundo Mioto (2001), a vista domiciliar é um dos instrumentos que
potencializa as condições de conhecimento do cotidiano dos sujeitos no seu
ambiente de convivência familiar e comunitária. As visitas domiciliares têm
como objetivo conhecer as condições (residência, bairro) em que vivem tais
54
sujeitos e apreender aspectos cotidianos das suas relações, aspectos esses
que geralmente escapam à entrevista de gabinete (MIOTO, 2001, p. 148).
Portanto, podemos dizer que a visita domiciliar é uma das práticas
mais utilizadas na saúde mental, pois possibilita ao profissional uma visão mais
real e total da vida do sujeito, obtendo um contato mais direto com a realidade.
Além disso, permite acessar para além do demanda em questão, pois o
ambiente no qual está inserido contribui bastante para a realização do
tratamento da pessoa com transtorno mental. Podendo assim, articular a
comunidade como uma rede de apoio ao sujeito e a família, com isso facilitar a
compreensão e os cuidados.
A forma de como a demanda é acolhida pela equipe multiprofissional
é sempre baseada no princípio de atendimento construído pelos próprios
profissionais que fazem parte da instituição, respeitando-se sempre as
orientações e os limites postos, ou seja, cada profissional tem a
responsabilidade de atender à demanda que se enquadra a sua atuação
profissional, destacando que em alguns casos sempre ocorre uma articulação
entre as áreas como, por exemplo, o serviço social e a psicologia, pois o
problema apresentado pelo usuário requer que ambos possam interagir.
Mas, destaca-se que cada profissional busca sempre suas
atribuições, baseando-se na perspectiva da reforma psiquiátrica, que engloba a
inclusão social e a reabilitação psicossocial dos usuários. Podemos dizer que o
serviço social possui um diferencial em seus atendimentos para com as
demandas solicitadas.
Assim relata a assistente social entrevistada:
O Serviço Social se diferencia dos demais atendimentos para com os pacientes quando norteados pelos princípios da Reforma Psiquiátrica que imprime uma abordagem sócia assistencial em cada atendimento que é realizado como, por exemplo: acolhimento, triagem, matriciamento, reavaliação de pacientes regressos entre outros. (A.S.).
Esse diferencial é propiciado através das atribuições profissionais do
serviço social, que visa sempre buscar soluções reais para o problema
colocado pelo usuário, ou seja, sempre busca compreender o conjunto das
necessidades de ações e serviços de saúde que o paciente necessita.
55
Com o acolhimento em seu o primeiro contato auxilia bastante na construção
de vínculo entre o usuário e os serviços da instituição. O paciente é orientado
quanto ao funcionamento do serviço, e quanto às modalidades de tratamento
na qual poderá ser inserido ou encaminhado.
As demandas que chegam ao profissional de serviço social na
instituição são muitas, porém, foram perguntadas à entrevistada quais eram as
demandas mais frequentes e quais as respostas que estão sendo elaboradas.
As demandas mais frequentem que chegam ao CAPS são de atendimentos com escuta qualificada, necessidade de atendimento aos grupos intensivo, semi-intensivos, ambulatorial não intensivo, necessidade de trabalho e qualificação profissional e principalmente necessidade de acompanhamento familiar. (A.S.).
O assistente social sempre atua na perspectiva de buscar as
melhores respostas às demandas assim solicitadas. Ele busca inserir os
usuários não só no mercado de trabalho, mas também na sociedade e na
política, através de: fóruns, participação em eventos no município e
trabalhando com temáticas sociais que serão discutidas nos grupos.
É através dessas atribuições que o profissional repassa e diz aos
usuários que sua “voz” também possui valores importantes para a sociedade,
com isso gerando um incentivo para uma autonomia. No entanto, é necessário
salientar que a família tem um papel importante para o tratamento e os
cuidados das pessoas com transtorno mental, por isso, é necessário que
ocorra um acompanhamento, pois cuidados e atenção nunca são demais para
acolher quem está precisando.
4.3 Atuação profissional
Para explicar os parâmetros de atuação profissional na saúde é
importante caracterizar o entendimento de ação profissional que segundo Mioto
(2006, apud MIOTO & NOGUEIRA, 2006), se estruturam no conhecimento da
realidade e dos sujeitos para os quais são destinadas, na definição dos
objetivos, na escolha de abordagens e dos instrumentos apropriados às
abordagens definidas.
56
A ação profissional, portanto, contém os fundamentos teórico-
metodológicos e ético-políticos construídos pela profissão em determinado
momento histórico e os procedimentos técnico-operativo (CFESS, 2009, p. 39).
Na entrevista realizada, a assistente social, a mesma aborda alguns
instrumentais técnico-operativos que são utilizados na prática profissional,
como por exemplo: as entrevistas, encaminhamentos, escutas qualificadas,
observações, orientação, visitas domiciliares, relatórios, reuniões, atendimentos
individuais e coletivos.
No entanto, é necessário darmos uma maior atenção no que diz
respeito a alguns instrumentais que são considerados de suma importância
para a atuação profissional em qualquer área, como a observação da realidade
do usuário, as escutas qualificadas, reunião, entre outros. Ao perguntamos a
entrevistada de que maneira o assistente social atua para a efetivação dos
direitos de seus usuários, obtivemos a seguinte resposta:
Quando o Serviço Social, digo, quando o profissional atua na promoção e fortalecimento da autonomia e participação sócio política dos pacientes. Quando ele possibilita o acesso dos pacientes às demais políticas públicas. [...] Pois o Serviço Social assim como os outros profissionais atuam para que esses serviços sejam garantidos na Instituição CAPS, podendo haver uma articulação com outras instituições tendo como intuito garantir de direitos dos usuários. (A.S).
De acordo com o que foi relatado, é possível destacarmos que a
responsabilidade ética que o profissional apresenta em efetivar os direitos dos
usuários é de grande respaldo, pois embora os direitos sejam existenciais, em
muitas vezes não são repassados para o conhecimento dos verdadeiros
merecedores, que são as pessoas com transtorno mental. A Lei 10.216, ou
seja, a Lei Paulo Delgado, tem como principal objetivo defender os direitos dos
usuários da saúde mental de maneira justa e igualitária.
Como diz a seguir:
Art. 1º da Lei 10.216/01 Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo
de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. (BRASIL, 2001, p.
12).
57
No entanto, o projeto ético-político da profissão, construído nos
últimos 30 anos, pauta-se na perspectiva da totalidade social e tem na questão
social a base de sua fundamentação, como já foi referido. Alguns conceitos são
fundamentais para a ação dos assistentes sociais na saúde, como a concepção
de saúde, a integralidade, a intersetorialidade, a participação social e a
interdisciplinaridade (CFESS, 2009, p. 39).
Seguindo o mesmo foco sobre as políticas que estão envoltas na
profissão, foi gerada a seguinte pergunta à assistente social: qual a sua
competência no CAPS-geral? e a reposta foi da seguinte forma: “Em uma
avaliação particular, é o de exercer sua intervenção profissional específica
mediando com as determinações, ou seja, diretrizes da política nacional de
saúde mental.” (A.S.).
Ressaltando que todo profissional da saúde incluindo o Assistente
Social possui um aparato de leis e diretrizes que fundamenta sua atuação
profissional. O serviço social possui um código de ética com resoluções bem
elaboradas que faz do assistente social um profissional cada vez mais
comprometido e competente.
O atendimento do assistente social se de forma individual e coletiva,
nos baseando nesse entendimento, perguntamos como acontecem esses
atendimentos:
Atende das duas formas, o profissional de Serviço Social, tanto atende de forma individual, através: do acolhimento; visita domiciliar; acompanhamento social como atendimentos de forma coletiva: através dos grupos de família, grupos operativos, grupos de espera atividades comunitárias e visitas domiciliares com a família de forma grupal. É definido dependendo do objetivo da abordagem. (A.S)
Segundo CFESS (2009), o assistente social atua no atendimento
aos trabalhadores, seja individual ou em grupo, na pesquisa, no
assessoramento na mobilização dos trabalhadores, compondo muitas vezes,
equipe multiprofissional. Esses atendimentos são realizados da forma em que o
profissional recebe a solicitação, ou seja, de acordo com o que foi relatado pelo
usuário.
Se a demanda está direciona a um atendimento em grupo será
então elaborada uma estratégia para a realização desse atendimento em
grupo, como no caso do grupo de espera realizado no CAPS de Eusébio, que
58
as temáticas discutidas e trabalhadas no grupo estão sempre voltadas às
demandas mais solicitadas pelos usuários.
De acordo com Robaina (2009), nas equipes de saúde mental o
assistente social deve contribuir para que a reforma psiquiátrica alcance seu
projeto ético-político. Nessa direção, os profissionais de serviço social vão
enfatizar as determinações sociais e culturais, preservando sua identidade
profissional.
Não se trata de negar que as ações do assistente social no trato
com os usuários e familiares produzam impactos subjetivos, o que se põe em
questão é o fato do assistente social tomar por objetivo a subjetividade, o que
não significa abster-se do campo da saúde mental, pois cabem ao assistente
social diversas ações desafiantes frente às requisições da reforma psiquiátrica
tanto no trabalho, no controle social, na garantia de acesso aos benefícios.
(CFESS, 2009, p. 41).
Os desafios inerentes à atuação do assistente social são muitos,
porém, vale destacar o que foi relatado pela entrevistada:
Apesar da dinâmica do trabalho ser favorável ainda é inexistente no ambiente de trabalho uma sala exclusiva para o assistente social, com arquivos privados para garantir o sigilo profissional. Vale ressaltar que com o aumento da demanda de usuários e a proposta de atuação do Serviço Social, requer a contratação de dois profissionais de 30/h cada, pois a presença de um profissional de 20/h ocorre um déficit nas atividades. Com a conquista da sala e do outro profissional há possibilidades de realizar todas as atividades previstas na proposta de atuação. (A.S.).
Segundo a Resolução n. 493/2006, há a necessidade de se instituir
condições e parâmetros normativos, claros e objetivos garantindo que o
exercício profissional do assistente social possa ser executado de forma
qualificada ética e tecnicamente.
Art. 2º - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaço suficiente, para abordagens individuais ou coletivas, conforme as características dos serviços prestados, e deve possuir e garantir as seguintes características físicas: a- iluminação adequada ao trabalho diurno e noturno, conforme a organização institucional; b-recursos que garantam a privacidade do usuário naquilo que for revelado durante o processo de intervenção profissional; c-ventilação adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas d - espaço adequado para colocação de arquivos para a adequada guarda de material técnico de caráter reservado. Art. 3º - O atendimento efetuado pelo assistente
59
social deve ser feito com portas fechadas, de forma a garantir o sigilo. (CFESS, 2006).
O sigilo profissional é um dos fatores primordiais para atuação da
profissional de serviço social; com a falta de um local apropriado para os
atendimentos torna-se algo desafiador para o assistente social realizar seu
trabalho de forma completa. Embora existam algumas limitações o assistente
social busca sempre realizar seus atendimentos de maneira singular e
competente.
Como já foi relatada anteriormente, a necessidade de outro
profissional é essencial, pois, com o aumento da demanda, o número de
atividades também aumenta e consequentemente fica pouco inviável a
realização de todas as demandas solicitadas. Cabe então ao profissional
buscar soluções para abranger as demandas e responder às solicitações
postas ao fazer do profissional.
Apesar da existência de algumas limitações para atender às
demandas solicitadas, foi elaborada uma pergunta a qual buscava saber como
era realizada a reinserção dos usuários da saúde mental na sociedade.
Obtivemos a seguinte resposta:
Através do fortalecimento dos grupos a cerca dos direitos sociais, nos acolhimentos sempre reforçando os direitos sociais dos usuários e encaminhando para aquisição dos direitos e benefícios como: Encaminhamento ao BPC – Beneficio de Prestação Continuada; Encaminhamento a Secretaria de Assistência Social, aos programas de transferência de renda; Encaminhamento ao CREAS para casos de violência ou violação de direitos; Articulação com o Conselho Tutelar, para problemas de violação de direitos com filhos de usuários do CAPS; Encaminhamento para instituições SINE, IDT, STAS para Inserção no mercado de trabalho e capacitação profissional. (A.S)
Tendo por base o no que foi relatado acima, podemos compreender
que a reinserção das pessoas com transtorno metal possui uma ligação muito
grande no que se refere ao reconhecimento de seus direitos, ou seja, se não
tivessem ocorridas todas as lutas contra o tratamento em hospitais
psiquiátricos e para que os ditos “loucos” pudessem voltar às ruas, a sociedade
iria continuar os excluindo, pois, mesmo com as leis que os amparam, a
reinserção dos usuários ainda é algo que precisa ser melhorada e mais
discutida no âmbito das políticas, para que eles possam finalmente ter seus
direitos respeitados e reconhecidos.
60
4.4 Trabalho em equipe
O trabalho em equipe merece ser refletido e as atribuições do
profissional de serviço social precisam ficar especificadas e divulgadas para os
demais profissionais, resguardando-se, assim, a interdisciplinaridade como
perspectiva de trabalho a ser defendida na saúde (CRESS, 2009).
Contudo, buscamos apresentar nesse último ponto como ocorre a
atuação do assistente social junto à equipe multiprofissional do CAPS. Para
que pudéssemos apresentar uma melhor compreensão e entendimento, foram
realizadas entrevistas com alguns profissionais que compõem a equipe
multiprofissional da instituição, ente elas estão: enfermeira, terapeuta
ocupacional, psicóloga e a assistente social que participou das pesquisas
anteriores.
A entrevista foi realizada na própria instituição e o questionário
composto por exatamente três perguntas. No entanto, vale salientar que
tivemos dificuldade no acesso à categoria médica psiquiátrica por inúmeras
razões, dentre elas a disponibilidade de tempo do profissional.
Como já foi relatado no primeiro capítulo, o CAPS é composto por
uma equipe de 21 profissionais e coordenada por uma terapeuta ocupacional.
Os componentes são: enfermeira (1), assistente social (1), pedagoga (1),
psicólogas (2), psiquiatras (2), recepcionista (1), segurança da Guarda
Municipal (1), terapeutas ocupacionais (2), motorista (1) auxiliares
administrativos (3), auxiliares de enfermagem (2), auxiliares de serviços gerais
(3), auxiliar de transporte (1) e cozinheira (1).
Iamamoto (2002) afirma que é necessário desmitificar a ideia de que
a equipe ao desenvolver ações coordenadas, cria uma identidade entre seus
participantes que leva à diluição de suas particularidades profissionais. A
autora considera que são as diferentes especializações que permitem atribuir
unidade à equipe, enriquecendo-a e ao mesmo tempo preservando as
diferenças em suas especialidades. (IAMAMOTO, 2002, p. 41).
A partir do que foi exposto, identifica-se que cada um desses
profissionais, em decorrência de sua formação, tem competências e
61
habilidades distintas para desempenhar suas ações (CFESS, 2009, p. 44),
embora sempre ocorram algumas articulações entre os profissionais da equipe.
De acordo com a resolução do CFESS n. 557/2009, o profissional
assistente social vem trabalhando em equipe multiprofissional, na qual
desenvolve sua atuação conjuntamente com outros profissionais, buscando
compreender o indivíduo na sua dimensão de totalidade e, assim, contribuir
para o enfrentamento das diferentes expressões da questão social,
abrangendo os direitos humanos em sua integralidade, não só a partir da ótica
meramente orgânica, mas a partir de todas as necessidades que estão
relacionadas à sua qualidade de vida.
Tomando por base a articulação do assistente social no CAPS, foi
elaborada uma pergunta na qual se questiona como ocorre a dinâmica de
trabalho do serviço social com os demais profissionais. Obtivemos a seguinte
resposta:
A dinâmica de trabalho é bem interativo, muitos grupos organizados pelo Serviço Social ocorre a participação de outros profissionais e grupos de outros profissionais ocorre a participação do Serviço Social. Após o acolhimento inicial para cada paciente há construção do Projeto terapêutico Individual que é elaborado nas reuniões de equipe. [...] O trabalho é construtivo, possui como objetivo tratar, cuidar e melhorar a saúde mental do paciente. (A.S.).
É de bastante relevância a interatividade presente entre os
profissionais da instituição. No entanto, é importante destacar que o assistente
social participa de uma equipe multiprofissional, porém, só cabe a ele resolver
o que de fato faz parte de suas competências e particularidades, para que não
ocorra uma “mistura” de atribuições.
Portanto, a atuação do profissional de serviço social junto à equipe
vai muito além de uma simples interação, ou seja, requerer uma observação
dos princípios que regem o exercício profissional, uma leitura no código de
ética, um maior entendimento da lei que regulamenta a profissão e das
diretrizes curriculares.
A Resolução CFESS Nº 557/2009 discorre que o assistente social
deve obter a seguinte postura diante da equipe multiprofissional:
Ao atuar em equipes multiprofissionais, o assistente social deverá respeitar as normas e limites legais, técnicos e normativos das outras profissões, em conformidade com o que estabelece o Código de Ética do Assistente Social, regulamentado pela Resolução CFESS nº 273, de 13 de março de 1993. Art. 4°. Ao atuar em equipes multiprofissionais, o assistente social deverá garantir a especificidade
62
de sua área de atuação. Parágrafo primeiro - O entendimento ou opinião técnica do assistente social sobre o objeto da intervenção conjunta com outra categoria profissional e/ ou equipe multiprofissional deve destacar a sua área de conhecimento separadamente, delimitar o âmbito de sua atuação, seu objeto, instrumentos utilizados, análise social e outros componentes que devem estar contemplados na opinião técnica. (CFESS, 2009).
Portanto, é importante que o profissional possa sempre atuar de
maneira responsável e coerente conforme as diretrizes. A necessidade de
dinamicidade nas atividades do assistente social é algo indispensável para que
ocorra uma boa interatividade com a equipe e os pacientes. É possível
afirmarmos esta colocação conforme o que foi relatado na fala da entrevistada.
Em relação às atividades, entendemos como possibilitadoras para estimular a autonomia, promoção à cidadania e reinserção social, todavia fica difícil afirmar a eficácia no processo de socialização, pois quando falamos em CAPS não nos referimos à cura, mais a uma melhor qualidade de vida do usuário. Entendendo que as demandas institucionais relacionadas à prática desenvolvida pelo Assistente Social é basicamente promover autonomia e a cidadania dos usuários, atuando na conscientização das famílias, no que diz respeito ao comprometimento com o CAPS e a participação no tratamento com o usuário (A.S.).
É possível identificarmos que o assistente social traz em suas
atividades um estímulo para que os usuários possam buscar de maneira
autônoma o que é de direito, pois embora apresentem algumas “limitações,”
eles são capazes de compreender que as leis existem para serem respeitadas
e efetivadas de maneira justa.
Mas, para que estas atividades de conscientização possam alcançar
o seu objetivo, é necessário que ocorra uma participação familiar, pois é
através da família que os usuários podem obter um tratamento continuado, ou
seja, que vai além do âmbito institucional.
No que concerne à reunião de equipe, foi perguntado à entrevistada
se as reuniões ocorrem de forma periódica e com qual frequência estão sendo
realizadas. Buscamos também indagar quais os assuntos mais discutidos. A
profissional relatou:
As reuniões de equipe ocorrem mensalmente e ocorrem reuniões extras em casos de urgência, nas reuniões são discutidos: Projeto Terapêutico dos pacientes; Planejamento das atividades; Demandas; Organização de eventos e programação de atividades; Questões administrativas da instituição; Estudo de caso. Todos os usuários contribuem positivamente com o trabalho das atividades do CAPS, os profissionais nos estudos de caso fazem relatos dos pontos observados nos usuários, respeitando a ética profissional. (A.S)
63
É importante salientar que a reunião de equipe é fundamental para
que ocorra uma melhor interação entre os profissionais, com isso gerando uma
“troca” de informações sobre alguns casos existentes na instituição que possui
a necessidade de uma articulação de profissionais de diferentes áreas,
inclusive o serviço social.
O investimento para uma melhor qualificação profissional é de uma
importância inquestionável, com isso perguntamos à entrevistada se o
município proporciona aos seus funcionários algum tipo de capacitação
profissional.
Há pouco investimento do município nessa área de capacitação de profissionais da saúde mental, já realizei capacitações por conta própria, o município disponibilizou o horário. Tem proposta de realização de residência em saúde mental no município. (A.S)
De acordo com o CFESS (2009), as atividades de qualificação e
formação profissional visam ao aprimoramento profissional, tendo como
objetivo a melhoria da qualidade dos serviços prestados aos usuários.
Portanto, é importante que ocorram investimentos por parte município para os
profissionais que trabalham tanto na área da saúde quanto demais áreas e
estes atenderem melhor às demandas dos usuários. Com isso, é possível se
dizer que tanto ganham os usuários, com uma melhor qualidade nos
atendimentos, como ganham os profissionais por adquirir maiores
conhecimentos.
Sobre o aspecto de relacionamento entre a equipe, perguntou-se à
assistente social se havia algum tipo de preconceito ou exclusão por parte de
profissionais da instituição. No entanto, durante o relato foi possível identificar
que não ocorre estes tipos de ações dentro da equipe, conforme o que se
observa a seguir:
A equipe é unidade, não existe disputa de espaço, nem um querendo demonstrar mais serviços que outros; observamos esse ponto quando ocorrem eventos, onde todos os profissionais se dispõem a ajudar para que o trabalho seja concretizado. Também em relação ao tratamento dos usuários há uma grande contribuição por parte da equipe, onde os profissionais interagem positivamente uns com os outros (A.S.).
O trabalho profissional em espaços compostos por equipe
multiprofissional apresenta alguns desafios constantes a qualquer um dos
componentes da equipe, porém, cabe a cada um deles desempenhar a
64
capacidade na qual está sendo exigido para ações integradas e principalmente
a consciência de seu papel específico.
4.5 Equipe multiprofissional
Nessa parte da pesquisa foi realizada uma entrevista com três
profissionais que compõem a equipe multiprofissional do CAPS-Geral. Os
participantes são todos do sexo feminino e responderam as perguntas que
estão voltadas à visão que possuem sobre o serviço social na instituição. O
questionário foi composto por apenas três perguntas e em média cada
entrevista durou por volta de 10 a 15 minutos, ressaltando-se que o local foi a
própria instituição.
Em princípio, iremos descrever um pouco o perfil profissional das
entrevistadas. As profissionais entrevistadas fazem parte da equipe
multiprofissional do CAPS-Geral de Eusébio: uma terapeuta ocupacional, que
obteve sua formação acadêmica na Universidade de Fortaleza (Unifor) no ano
de 2002. A segunda entrevistada foi uma enfermeira com formação acadêmica
na Unifor no ano de 1986 e que trabalha no CAPS a mais ou menos sete anos.
A terceira e última entrevistada foi a psicóloga que teve sua formação
acadêmica na Unifor no ano de 1991.
Em princípio, foi perguntado aos profissionais o que era o serviço
social para elas, o que elas compreendiam sobre a profissão. Obtivemos as
seguintes respostas:
Serviço Social é uma profissão regulamentada, reconhecida como profissão da área da saúde, da assistência e da educação. Possui como objeto de estudo a emancipação social por meio do usufruto e consciência dos diretos e deveres no exercício da cidadania. (T.O.). Essencialmente o pilar mestre de sustentação de todo e qualquer profissional que atua com pessoas e suas peculiaridades e histórias de vida. O Serviço Social aproxima e mantém o vínculo entre diversos saberes e práticas. (ENF). O Serviço Social pra mim é uma profissão que auxilia na busca da cidadania, do conhecimento dessa cidadania, nos direitos que as pessoas tem ao bem estar social. É uma profissão mais antiga que a minha com certeza, com um nível de atuação muito maior e que teve seu início devido a formação do social, das desigualdades que foi surgindo após o período de industrial. Servindo como suporte a comunidade menos favorecida e para as pessoas que buscam cidadania, um maior conhecimento sobre seus direitos e deveres perante a sociedade (PSIC).
65
4.5 Equipe multiprofissional
Nessa parte da pesquisa foi realizada uma entrevista com três
profissionais que compõem a equipe multiprofissional do CAPS-Geral. Os
participantes são todos do sexo feminino e responderam as perguntas que
estão voltadas à visão que possuem sobre o serviço social na instituição. O
questionário foi composto por apenas três perguntas e em média cada
entrevista durou por volta de 10 a 15 minutos, ressaltando-se que o local foi a
própria instituição.
Em princípio, iremos descrever um pouco o perfil profissional das
entrevistadas. As profissionais entrevistadas fazem parte da equipe
multiprofissional do CAPS-Geral de Eusébio: uma terapeuta ocupacional, que
obteve sua formação acadêmica na Universidade de Fortaleza (Unifor) no ano
de 2002. A segunda entrevistada foi uma enfermeira com formação acadêmica
na Unifor no ano de 1986 e que trabalha no CAPS a mais ou menos sete anos.
A terceira e última entrevistada foi a psicóloga que teve sua formação
acadêmica na Unifor no ano de 1991.
Em princípio, foi perguntado aos profissionais o que era o serviço
social para elas, o que elas compreendiam sobre a profissão. Obtivemos as
seguintes respostas:
Serviço Social é uma profissão regulamentada, reconhecida como profissão da área da saúde, da assistência e da educação. Possui como objeto de estudo a emancipação social por meio do usufruto e consciência dos diretos e deveres no exercício da cidadania. (T.O.). Essencialmente o pilar mestre de sustentação de todo e qualquer profissional que atua com pessoas e suas peculiaridades e histórias de vida. O Serviço Social aproxima e mantém o vínculo entre diversos saberes e práticas. (ENF). O Serviço Social pra mim é uma profissão que auxilia na busca da cidadania, do conhecimento dessa cidadania, nos direitos que as pessoas tem ao bem estar social. É uma profissão mais antiga que a minha com certeza, com um nível de atuação muito maior e que teve seu início devido a formação do social, das desigualdades que foi surgindo após o período de industrial. Servindo como suporte a comunidade menos favorecida e para as pessoas que buscam cidadania, um maior conhecimento sobre seus direitos e deveres perante a sociedade (PSIC).
O serviço social é uma profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, realiza sua ação profissional no âmbito das políticas
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socioassistenciais, na esfera pública e privada. Neste sentido, desenvolve
atividades na abordagem direta da população que procura as instituições e o
trabalho do profissional por meio da pesquisa, da administração, do
planejamento, da supervisão, da consultoria, da gestão de políticas, de
programas e de serviços sociais (PIANA, 2009, p. 86).
Segundo José Filho (2002, p. 56):
O Serviço Social atua na área das relações sociais, mas sua especificidade deve ser buscada nos objetivos profissionais tendo estes que serem adequadamente formulados guardando estreita relação com objeto. Essa formulação dos objetivos garante-nos, em parte, a especificidade de uma profissão. Em consequência, um corpo de conhecimentos teóricos, método de investigação e intervenção e um sistema de valores e concepções ideológicas conformariam a especificidade e integridade de uma profissão. O Serviço Social é uma prática, um processo de atuação que se alimenta por uma teoria e volta à prática para transformá-la, um contínuo ir e vir iniciado na prática dos homens face aos desafios de sua realidade. (FILHO, 2002, p. 5).
Vale salientar que o profissional de serviço social trabalha em
diversas áreas, porém, possui sempre o intuito de atender as demandas
solicitadas pelos seus usuários, mediante a busca de uma melhor qualidade de
vida e validação de seus direitos.
Tomando como base o que o autor citou, podemos afirmar que o
assistente social atua na perspectiva de um profissional que tem como objeto
de trabalho a questão social com suas diversas expressões, formulando e
implantando propostas para seu enfrentamento, através das políticas sociais,
públicas, empresariais, de organizações da sociedade civil e movimentos
sociais. Com isso, criando novas expectativas para o surgimento de mudanças
favoráveis à classe subalterna e para buscar uma democracia social.
Analisando o que foi colocado pelas profissionais, é possível
observar que possuem conhecimento sobre o que seja serviço social, pois com
o que foi relatado apresentou-se uma linha correta sobre o que seja a
profissão, no momento em que relatam o serviço social como um auxiliador na
busca da cidadania, dos direitos e do bem-estar social da população.
Portanto, é importante que busquemos sempre realizar em nossas
atuações profissionais ações contributivas e positivas para uma sociedade
mais justa e igualitária e não deixar que nossos fazeres sejam apenas meras
67
utopias. Acredita-se esse conhecimento dos profissionais entrevistados está
relacionado ao trabalho elaborado pela assistente social na instituição, ou seja,
sua relação com a equipe multiprofissional faz com que o trabalho possa ser
reconhecido de maneira correta e competente.
Outro ponto a ser perguntado foi com relação à importância do
serviço social no CAPS, do ponto de vista dos profissionais entrevistados.
O Serviço Social é imprescindível na assistência realizada no CAPS. (T.O.). Básico, fundamental, insubstituível, e de vital importância/ necessidade para a agilização, execução e interação das ações multiprofissionais interdisciplinares. O Serviço Social é o elemento- chave para articular trabalho em equipe. (ENF). É muito importante, pois trabalha com famílias, comunidades, por isso é de grande importância também no CAPS. O CAPS é um serviço psicossocial que trabalha com emoções, situações emocionais advindos de processos familiares desgastados. Inicialmente familiar e depois acrescido pelo social. (PSIC).
No CAPS, por ser uma instituição que abrange uma equipe
multiprofissional, é notável o quanto cada profissional possui sua importância.
O serviço social destaca-se pelo fato de ser um articulador que se relaciona
com todas as profissões, com isso, possui uma maior relevância e torna-se
insubstituível para a realização de algumas atividades, pois este setor trabalha
com um elemento fundante na vida dos usuários que é o social, elemento este
que corresponde à grande parte dos problemas que são apresentados através
das demandas.
Em uma última análise, é perguntado como o profissional
entrevistado articula seu trabalho com o serviço social e 100% das
entrevistadas afirmar possuir uma articulação direta com o assistente social e
destaca o quanto é importante e fundamental essa articulação.
Observamos a seguir:
Articulo por meio de visitas domiciliares compartilhadas, elaboração e realização das reuniões de família, elaboração de pareceres, bem como encaminhamento dos usuários quando os mesmos necessitam de orientações e ações acerca de seus direitos como, por exemplo: benefícios previdenciários, aposentadorias, laudos para o INSS, entre outros. (T.O.). A todo o momento e com muito prazer e gratidão. Anteriormente quando ainda não podíamos contar com o Serviço Social, tínhamos
68
que improvisar, tentar e “costurar” sem jamais conseguir substituir o papel específico deste profissional. O Serviço Social representa o elo mais forte de ligação entre o público, a família, a equipe do CAPS e a saúde como rede de Assistência integral ao portador de transtorno mental. Carece mas da especificidade de seus papéis, seja na rotina diária, seja como elemento de serviço coordenado. (ENF). O Serviço Social e a psicologia caminham muito juntos no CAPS, porque a psicologia trabalha com o emocional em nível de comunidade e família e o Serviço Social trabalha com benefícios em nível de esclarecimento, de sensibilização para a busca de tratamento e dos direitos das pessoas menos favorecidas, reinserindo-as profissionalmente na sociedade [...] As pessoas são desenformadas sobre a Saúde Mental, elas sabem, mas sobre a doença mental. Então é necessário que haja uma sensibilização, conscientização do tratamento de pacientes que já são portadores, então assim, é um verdadeiro trabalho em conjunto. Na verdade no CAPS todas as profissões andam muito juntas uma auxilia a outra, a articulação é a busca da saúde dessa pessoa portadora de transtorno mental, para um retorno a cidadania, a família e ter uma participação social pelas suas habilidades de produção. Porque o CAPS não vem para uma profissão trabalhar sozinha ele vem para articular e dar um retorno e um novo redirecionamento da Saúde Mental para o
individuo que esta com transtorno. (PSIC).
Contudo, diante do que foi relatado, é de grande respaldo destacar a
interatividade existente com os participantes da equipe multiprofissional e o
quanto é importante para a instituição e os usuários a boa articulação dos
profissionais, pois com essa articulação os usuários podem ter um atendimento
em um contexto mais completo, pois o paciente chega/procura o CAPS não
busca apenas um único serviço, mas um atendimento da equipe para que a
sua demanda possa ser atendida e se obtenha um resultado satisfatório.
Portanto, podemos dizer que o CAPS não é composto por
“miniconsultórios,” no qual cada um trabalha de forma individual, mas de uma
instituição formada por uma equipe que visa sempre buscar o bem-estar, a
reinserção social, os direitos, a cidadania daqueles usuários que procuram
tratamento obter uma melhor qualidade de vida.
69
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a realização deste Trabalho de Conclusão de Curso foram
realizadas inúmeras pesquisas e leituras voltadas à temática do serviço social e
saúde mental, sempre com o intuito de apresentar considerações aproximativas e
obter repostas para os objetivos propostos no início da pesquisa.
Ao realizarmos uma síntese sobre a contextualização da saúde mental no
Brasil, percebemos o quanto era desumano o tratamento com os ditos “loucos”, pois
eram submetidos a torturas, exclusão social, falta de liberdade entre outras coisas
que alijavam as pessoas com transtornos mentais ao longo da trajetória histórica da
sociedade brasileira.
No entanto, com o passar do tempo e o surgimento da reforma
psiquiátrica, foram aparecendo novas formas para entender e tratar o transtorno
mental; com isso, as antigas formas de tratamento foram sendo lentamente
alteradas, porém, muitas vezes nem sempre mais eficazes e humanizadas, para que
todos pudessem ser reconhecidos de maneira igualitária e democrática.
Com o decorrer do tempo, foram surgindo algumas legislações que
estavam voltadas para as pessoas com transtorno mental, para que seus direitos
fossem respeitados e para que as conquistas alcançadas através da luta
antimanicomial, por exemplo, não fosse algo em vão, ou seja, que pudesse de fato
se concretizar.
Mas é importante ressaltar que ainda estamos longe do verdadeiro direito
à saúde mental, pois são notáveis as inúmeras deficiências e falhas apresentadas
pelo SUS e unidades responsáveis pelo atendimento às pessoas com transtorno
mental, embora a Constituição de 1988 afirme a saúde como um direito de todos e
dever do Estado.
O marco legal que determina a atuação de equipe multiprofissional na
área da saúde mental foi a partir da reforma psiquiátrica no Brasil e, desde então, o
serviço social amplia as ações profissionais com o objetivo de reinserir a pessoa
com transtorno mental na sociedade (SOUZA, 2009, p. 68).
Contudo, no município de Eusébio é possível observar que a atuação do serviço
social na área de saúde mental está restrita, pois existem apenas dois CAPS para
atender às inúmeras demandas colocadas pelos usuários. Com o número mínimo de
assistentes sociais na instituição, a atuação profissional torna-se algo desafiador,
70
porque o número crescente de demandas para este profissional acabe inviabilizando
o cumprimento de todas elas.
A pesquisa com a assistente social nos permitiu conhecer como ocorre e
como se desenvolve a atuação profissional no CAPS-Geral, juntamente com a
equipe multiprofissional da instituição. Com relação às demandas apresentadas
pelos usuários, foi observado que em sua grande maioria chegam à instituição
através de encaminhamentos vindos da atenção básica de saúde como, por
exemplo, PSF dos bairros onde residem os usuários, hospitais e muitas vezes por
demanda espontânea.
No entanto, são demandas que estão voltadas a problemas sociais que
os pacientes sofrem no decorrer de sua história de vida, buscam benefícios
previdenciários e assistenciais, caso de violência doméstica, situação financeira e
econômica comprometida, entre outros. Então, cabe ao profissional de serviço social
direcionar seu atendimento a uma análise totalizante do contexto social no qual o
usuário está inserido, buscando sempre os vínculos que são de suma importância
bem como a articulação com a rede de serviços disponíveis no município para obter
respostas para estas demandas.
No que se refere à atuação do assistente social para a efetivação dos
direitos, a pesquisa revelou que o profissional atua na promoção e fortalecimento da
autonomia e principalmente na participação sociopolítica dos pacientes,
possibilitando o seu acesso a políticas públicas, ou seja, trabalhando com os
usuários e mostrando a eles que as leis existem para serem respeitadas e
efetivadas.
Portanto, é de responsabilidade não só do serviço social em atuar na
efetivação das leis, mas de todos os demais profissionais da instituição, pois,
embora os direitos existam, inúmeras vezes não são respeitados e muito menos
fazem parte do conhecimento das pessoas com transtorno mental e seus familiares.
No entanto, a Lei 10.216 tem como seu maior objetivo defender os direitos dos
usuários da saúde mental, para que estes possam ser respeitados e inclusos na
sociedade de maneira justa e igualitária.
Com relação ao trabalho em equipe, é possível analisar com o relato do
sujeito entrevistado, que o aspecto de relacionamento entre a equipe tem como base
o respeito sem nenhum tipo de preconceito ou exclusão por parte dos outros
profissionais da instituição. Vale salientar que esse respeito é algo que unifica para
71
que os profissionais possam realizar suas atividades de maneira competente, pois
quando uma equipe trabalha em conjunto, havendo uma articulação, os resultados
tornam-se mais completos, pois tanto ganha a instituição por possuir uma equipe
articulada e participativa, como os pacientes em seus tratamentos.
Outro ponto a ser relatado está relacionado à opinião dos profissionais da
equipe multiprofissional do CAPS que foram entrevistados, sobre a importância do
serviço social na instituição. Verifica-se que nenhum dos profissionais entrevistados
relatou algo que pudesse tornar o trabalho do assistente social menos importante,
ou seja, 100% dos entrevistados ressaltou a importância singular que a profissão
tem na instituição no que se refere ao bem-estar social, à cidadania e à efetivação
de direitos.
Essa importância está relacionada ao fato de que o assistente social é um
articulador/mediador no trabalho com a equipe da instituição, para a realização de
algumas atividades no campo dos direitos, da cidadania e da democracia, o que é
de fundamental relevância no que concerne à contribuição para uma sociedade que
respeite e aprenda a conviver com as pessoas que possuem transtornos mentais.
72
REFERÊNCIAS
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77
APÊNDICE 1 QUESTIONÁRIO COM PERGUNTAS À ASSISTENTE SOCIAL DO
CAPS- GERAL
Data: Hora: Local:
1 Perfil Profissional:
1.1 Sexo:
1.2 Formação Profissional: Ano da Conclusão:
Instituição:
1.3 Capacitação especifica na área: Sim ( ) Não ( ).
Se a resposta for afirmativa, em que nível: residência ( ) especialização ( )
mestrado ( ) doutorado ( ).
1.4 Trabalha como Assistente Social a quanto tempo: 1.5 Forma de Admissão: Concurso ( ) Aproveitamento ( ) Desvio de função ( )
1.6 Quanto tempo está trabalhando nessa Instituição:
1.7 Carga horária semanal: Diária:
2. Demandas:
2.1 Existe algum protocolo de atendimento? Qual?
2.2 Quais as demandas chegam à Instituição?
2.3 Chegam juntamente com a demanda institucional dos usuários outras demandas
que são observadas de imediato ao longo do tratamento na instituição. Destas quais
o Serviço Social é direcionado a atender?
2.4 O Serviço Social atende a todos os tipos de demanda que chega à instituição?
Se for negativa, quais as demandas que o Serviço Social é apto atender? E as que
não atende por qual motivo?
78
2.5 De que forma a demanda é atendida pela equipe multiprofissional?
2.6 Quais os serviços e programas que a instituição oferece para atender seus
usuários?
2.7 Quais as demandas postas ao profissional de Serviço Social e que respostas
estão sendo elaboradas?
3. Atuação Profissional:
3.1 De que maneira o Assistente Social atua para efetivação dos direitos de seus
usuários?
3.2 O que de fato é competência do Assistente Social no CAPS- Geral?
3.3 Os atendimentos do Serviço Social se dão de forma individual, coletiva ou as
duas formas?
3.4 Como os Assistentes Sociais atuam para a reinserção dos usuários da saúde
mental para a sociedade?
3.5 Como se estabelece as atribuições dos Assistentes Sociais mediante aos
usuários da saúde mental?
3.6 Quais os desafios inerentes à atuação do Profissional de Serviço Social?
3.7 De que forma se estabelece a atuação profissional do Serviço Social no âmbito
da Saúde Mental?
4.Trabalho em Equipe:
4.1 Quais e quantos profissionais de cada área têm na equipe da instituição? 4.2 Como é a dinâmica de trabalho entre os profissionais da instituição? 4.3 Qual a importância que o profissional de Serviço Social tem dentro da equipe multiprofissional do CAPS- Geral?
79
4.4 Quais as atribuições dos Assistentes Sociais mediante a uma equipe multiprofissional? 4.5 A equipe faz reuniões periódicas? Com que frequência acontece? Como se da essa reunião? 4.6 Existe algum tipo de capacitação para os profissionais de Saúde Mental no Município? 4.7 Existe algum tipo de preconceito com o profissional do Serviço Social em relação a equipe?
APÊNDICE 2 PERGUNTAS PARA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DO CAPS-
GERAL
PERFIL PROFISSIONAL
- Formação Profissional:
- Instituição:
- Ano:
1. O que é o Serviço Social para você?
2. Você acha importante o Serviço Social no CAPS?
3. Você articula seu trabalho com o Serviço Social? Se a resposta for
afirmativa explique como ocorre essa articulação.
80
APÊNDICE 3 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (Observação)
Convidamos o (a) Sr (a) para participar da Pesquisa “Atuação do Assistente
Social na equipe multiprofissional no CAPS- geral”, sob execução das
pesquisadoras Kelma Luzia Nunes Otaviano (responsável) e Jordana Tavares
(participante), a qual pretende compreender como a atuação do Assistente Social no
CAPS geral do município de Eusébio contribui para a efetivação de direitos para
usuários da saúde mental.
Sua participação é voluntária e se dará por meio de observação pelos
pesquisadores. A finalidade dessa coleta de dados é compreender as possibilidades
e os desafios inerentes à atuação profissional no CAPS; Identificar quais as
atribuições do Assistente Social numa equipe multiprofissional; Verificar quais as
demandas postas ao profissional de Serviço Social e que respostas estão sendo
elaboradas. A observação será realizada Centro de Atenção Psicossocial-CAPS no
município de Eusébio, no dia previamente marcado, de acordo com a sua
disponibilidade.
É importante destacar que o período de observação dos seus atendimentos
será de 30 dias, contados a partir da data de autorização pela coordenação ou pelo
Comitê de Ética para a execução da pesquisa.
Vale ressaltar que em vista a sua amostra será difícil manter o sigilo ao sujeito
participante da pesquisa (porém sua identidade não será revelada). Contudo, no
momento da entrevista não constará perguntas que possam comprometer o sujeito
nem a instituição. Com o consentimento da participação estará contribuindo
positivamente para o desenvolvimento do nosso trabalho, tornando-se assim uma
pesquisa mais enriquecida de conhecimentos. Decorrentes da sua participação a
Sra. possui a liberdade de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou
depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua
pessoa e nem ao seu atendimento na Instituição
Ressaltamos que possui o direito de ser mantido(a) atualizado(a) sobre os
resultados parciais da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa, você
será comunicado dos resultados finais.
Não há despesas pessoais para a participante em qualquer fase do estudo.
Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir
qualquer despesa adicional, ela será paga pelo orçamento da pesquisa.
81
Os pesquisadores assumem o compromisso de utilizar os dados somente
para esta pesquisa. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas
sua identidade não será divulgada.
Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar os pesquisadores para o
esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização dos dados
Coletados.
Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa
também pode entrar em contato com o CEP (Comitê de Ética em Pesquisa da
Secretaria da Saúde do Estado do Ceará - CEP/SESA, Av. Almirante Barroso, 600,
Praia de Iracema, Fortaleza-Ceará, 31015234, 60.060-440).
Consentimento Pós–Informação Eu,___________________________________________________________, fui informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós. ________________________________________ Assinatura do Participante __________________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável
82
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (Entrevista)
Convidamos a Sra. para participar da Pesquisa: “Atuação do Assistente Social na
equipe multiprofissional do CAPS-geral do município de Eusébio ” , sob execução das
pesquisadoras Kelma Luzia Nunes Otaviano (responsável) e Jordana Tavares Borges
(assistente), a qual pretende compreender como a atuação do Assistente Social no CAPS
geral do município de Eusébio contribui para a efetivação de direitos para usuários da saúde
mental .
Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista, que consiste em
respostas a perguntas apresentadas a Senhora pela pesquisadora. A entrevista será
realizada no Centro de Atenção Psicossocial-CAPS no município de Eusébio, com duração
aproximada de 60 minutos, no dia previamente marcado, de acordo com a sua
disponibilidade. Os depoimentos desta entrevista serão gravados com seu consentimento.
Vale ressaltar que em vista a sua amostra será mantido o sigilo ao sujeito
participante da pesquisa. Contudo, no momento da entrevista não constará perguntas que
possam comprometer o sujeito nem a instituição. Decorrentes da sua participação a Sra.
possui a liberdade de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois da
coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa e nem ao
seu atendimento na Instituição.
Se a Sr (a). aceitar participar, estará contribuindo para a melhoria de sua qualificação
como profissional pois, irá mostrar com clareza o quanto é importante e fundamental a
atuação do assistente social no CAPS- geral do município de Eusébio, no qual é através da
mesmos que os usuários da instituição podem ser beneficiados com orientações
contributivas para a valorização dos seus direitos como pessoas portadoras de sofrimento
mental. Contudo, ressalta-se também o quanto os assistentes sociais são fundamentais
para a reinserção dos usuários ao meio social.
Ressaltamos que tem o direito de ser mantida atualizada sobre os resultados parciais
da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa, será comunicado dos resultados
finais.
Não há despesas pessoais para a participante em qualquer fase do estudo. Também
não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa
adicional, ela será paga pelo orçamento da pesquisa.
Os pesquisadores assumem o compromisso de utilizar os dados somente para esta
pesquisa. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade
não será divulgada, sendo guardada em sigilo.
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Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar os pesquisadores para o
esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização dos dados
coletados.
Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa também pode
entrar em contato com o CEP (Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria da Saúde do
Estado do Ceará - CEP/SESA, Av. Almirante Barroso, 600, Praia de Iracema, Fortaleza-
Ceará, 31015234, 60.060-440).
Consentimento Pós–Informação
Eu,___________________________________________________________, fui informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós. ________________________________________ Data: ___/ ____/ ____ Assinatura do Participante __________________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável.