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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL NO SETOR DE RH: DESAFIOS E FUNÇÕES Por: Tatiana Ramos de Oliveira Silva Orientador Profª. Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2008

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL NO SETOR DE RH: DESAFIOS

E FUNÇÕES

Por: Tatiana Ramos de Oliveira Silva

Orientador

Profª. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

2008

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL NO SETOR DE RH: DESAFIOS

E FUNÇÕES

Apresentação de monografia à Universidade Cândido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Gestão de Recursos Humanos

Por: Tatiana Ramos de Oliveira Silva

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AGRADECIMENTO

Agradeço à minha amiga e profissional

Conceição pelo incentivo, paciência e

persistência na elaboração desse trabalho,

achando dentro de mim forças nas horas

em que eu precisava e não encontrava

mais.

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DEDICATÓRIA

A minha mãe Kátia, que todos os dias me

incentiva a ser uma pessoa melhor e a dar

o melhor de mim para que isso aconteça.

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RESUMO

O trabalho a ser apresentado discute o trabalho do profissional de Serviço

Social no setor de Recursos Humanos. Para abordar o assunto de maneira clara e

elucidativa, o primeiro capítulo trata do Serviço Social, usando como fonte

trabalhos bibliográficos de autores que abordam o início da profissão, seus

fundamentos teóricos e a atuação profissional na atualidade.

Dando continuidade ao estudo, o segundo capítulo aborda o setor de

Recursos Humanos: seu surgimento, o processo de reestruturação empresarial,

as mudanças na concepção de gestão de pessoas, os novos papéis do RH, entre

outros aspectos.

O terceiro e último capítulo fala da desafiante atuação do assistente social

no setor de Recursos Humanos. Nesse capítulo é abordada a inserção do Serviço

Social no setor empresarial e o aspecto contraditório das demandas

organizacionais e a inserção do Serviço Social.

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METODOLOGIA

A metodologia é o estudo dos métodos. Ou então as etapas a seguir num

determinado processo. Tem como finalidade captar e analisar as características

dos vários métodos disponíveis, avaliar suas capacidades, potencialidades,

limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou as implicações de sua

utilização. O presente trabalho consultou como fonte de pesquisa os autores José

Paulo Netto, Marilda Iamamoto e Maria Aparecida Rhein Schinato, entre outros.

Foram também utilizados como fontes: livros, revistas especializadas e artigos

eletrônicos.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9

CAPÍTULO I UMA PROFISSÃO CHAMADA SERVIÇO SOCIAL .............................................. 10

1.1 - O início da profissão do assistente social e sua chegada no Brasil........... 10 1.2 – Marcos históricos e expressões do Serviço Social ................................... 12 1.3 – Fundamentos teóricos do Serviço Social.................................................. 15 1.4 – Serviço Social hoje ................................................................................... 18

CAPÍTULO II RECURSOS HUMANOS....................................................................................... 21

2.1 – O surgimento do RH ................................................................................. 21 2.2 – Reestruturação empresarial...................................................................... 23 2.3 – Mudanças na concepção de gestão de pessoas ...................................... 24 2.4 – Os novos papéis do RH ............................................................................ 25 2.4.1 – Administração de estratégias de Recursos Humanos........................ 26 2.4.2 – Administração da infra-estrutura da empresa..................................... 27 2.4.3 – Administração da contribuição dos funcionários ................................ 28 2.4.4 – Administração da transformação e da mudança ................................ 28

2.5 – Competências requeridas para a consecução dos novos papéis de RH.. 29 CAPÍTULO III A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SETOR DE RH .............................. 31

3.1 – A inserção do Serviço Social no setor empresarial................................... 31 3.2 – Atuais demandas do Serviço Social no setor empresarial ........................ 33 3.3 – O aspecto contraditório das demandas organizacionais e a inserção do Serviço Social .................................................................................................... 35

CONCLUSÃO........................................................................................................ 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 38

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INTRODUÇÃO

A história do surgimento do Serviço Social permeia a luta de classes, a

busca por uma sociedade igualitária em direitos e deveres, além disso, a profissão

tem sua base teórica fundamentada em conceitos marxistas.

O assistente social é o profissional que estuda o mundo do trabalho, como

as sociedades vivem essa realidade e o que essa realidade faz com essas

sociedades.

O setor de Recursos Humanos surgiu a partir da necessidade detectada

pelo departamento pessoal de se trabalhar aspectos que vão além da burocracia

que envolve pagamentos, férias etc. Era preciso um setor que cuidasse das

pessoas envolvidas com a empresa, os colaboradores.

Por outro lado, as empresas visam atrair investidores, construir uma boa

imagem pública para obter mais clientes, e conseqüentemente aumentar seu

lucro. Então, na verdade, tudo o que a empresa investe através de ações do setor

de Recursos Humanos visa o lucro.

O processo de trabalho é estudado a fundo durante a graduação de serviço

social, e a partir de tudo que se vê na universidade, surge a questão: como é o

trabalho desse profissional dentro de um setor de Recursos Humanos? Quais são

seus interesses? Os interesses do trabalhador ou os interesses da empresa?

Como conciliar sua base teórica e a realidade empresarial? É possível essa

conciliação?

Esse trabalho pretende ajudar os profissionais de Serviço Social e a quem

mais interessa a responder essas e outras questões que preocupam os

assistentes sociais que trabalham na área de Recursos Humanos e aqueles que

querem ingressar nessa área.

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CAPÍTULO I

UMA PROFISSÃO CHAMADA SERVIÇO SOCIAL

1.1 - O início da profissão do assistente social e sua chegada no

Brasil

O processo de institucionalização do Serviço Social como profissão dentro

da divisão social do trabalho encontra-se estreitamente vinculado ao crescimento

das grandes instituições de prestação de serviços sociais e assistenciais, geridas

ou subsidiadas pelo Estado, que viabilizam a expansão do mercado de trabalho

para estes trabalhadores especializados. A isto se aliam as alterações

implantadas pelo empresariado, relativas à administração e gerência das relações

industriais. Passam a lanças mão de técnicos qualificados na área de relações

humanas – entre eles o assistente social – para a implementação de políticas de

pessoal, diante da necessidade de racionalização da produção e do trabalho,

exigida pelo aprofundamento do processo de industrialização nos moldes do

grande capital.

Segundo Verdès-Leroux (1986) são moças oriundas da burguesia que,

originalmente, instauram o Serviço Social. Por volta de 1935, o aparecimento nas

obras escritas por assistentes sociais, de observações a respeito da

apresentação, do modo de vestir-se, sugere o acesso à profissão de novas

categorias às quais, já que provinham de níveis menos elevados na hierarquia

social, impõe-se ministrar novas orientações, antes inúteis, quando as filhas da

burguesia se sentiam entre iguais.

Na realidade, se a origem social tende a baixar, as profissionais em

exercício continuam amplamente oriundas das classes superiores e médias. Mais

ainda: só raramente são recrutadas na classe operária que, em massa, constitui

sua clientela.

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Se as determinantes sociais, explícitas no início, se esfumaram nas

representações dos assistentes sociais, sua origem de classe e as conivências

que ela implica tornam possível o exercício de um mandato de enquadramento e

de normalização. Pelas racionalizações que possibilita, esta profissão oferece, aos

segmentos de classes levados a preferir vantagens simbólicas a compensações

imediatas, uma carreira que, pela utilidade social, possibilita-lhes que se coloquem

acima de sua efetiva posição de quadros de nível médio.

A pesquisadora Marilda Iamamoto contextualiza o início da profissão no

Brasil:

“Em suas origens no Brasil, o Serviço Social está

intimamente vinculado a iniciativas da Igreja, como parte de

sua estratégia de qualificação do laicato, especialmente de

sua parcela feminina, vinculada predominantemente aos

setores abastados da sociedade, para dinamizar sua missão

política de apostolado social junto às classes subalternas,

particularmente junto à família operária.”

Ainda segundo Iamamoto: ”essa origem confessional, articulada aos

movimentos de ação social e ação católica, conforma um tipo de legitimidade à

profissão cujas fontes de justificação ideológica encontram-se na doutrina social

da Igreja”. Configura-se assim, um caráter missionário à atividade profissional,

como meio de fazer face aos imperativos da justiça e da caridade, dentro de

perspectiva de profissionalização do apostolado social segundo parâmetros

técnicos e modernizadores, numa sociedade secularizada, ameaçada pelo

liberalismo e pelo comunismo.

Se esta é a fonte legitimadora da formação desses profissionais nos seus

primórdios, ela não se choca com o crescente aproveitamento e cooptação desse

agente pelo aparato de Estado e pelo empresariado, que progressivamente vão

atribuindo novas determinações à legitimação e institucionalização do Serviço

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Social. O Estado passa a ser, num certo lapso de tempo, uma das molas

propulsoras e incentivadoras desse tipo de qualificação técnica, ampliando seu

campo de trabalho, conforme estratégias estabelecidas pelos setores dominantes

para o enfrentamento da questão social consolidadas em medidas de política

social. De acordo com Iamamoto (1998), o assistente social passa a receber um

mandato diretamente das classes dominantes para atuar junto à classe

trabalhadora. A demanda de sua atuação não deriva daqueles que são alvo de

seus serviços profissionais – os trabalhadores – mas do patronato, que é quem

diretamente os remunera, para atuar, segundo metas estabelecidas por estes,

junto aos setores dominados.

A observação da trajetória do Serviço Social, como profissão reconhecida e

inscrita na divisão sóciotécnica do trabalho, permite identificar uma história de

avanços e conquistas, no sentido de consolidar uma produção de conhecimento

que lhe dá sustentação teórica e metodológica para intervir na realidade social de

forma crítica e criativa, e que este processo de intervenção se faz respaldado em

projeto ético e político, comprometido com os interesses coletivos dos cidadãos e

com a construção de uma sociedade justa.

Há que se considerar que as pesquisas em Serviço Social têm contribuído

para avanços significativos em diferentes campos da ação profissional, no âmbito

das políticas públicas, no enfrentamento das expressões da questão social em

diferentes momentos históricos, na construção da proposta curricular e definição

dos seus fundamentos teóricos e metodológicos, na consolidação do projeto ético-

político profissional, entre outros aspectos.

1.2 – Marcos históricos e expressões do Serviço Social

A década de 80 marca o reencontro do Serviço Social consigo mesmo, no

que se refere à busca de estabelecimento de novas bases para a compreensão do

seu passado histórico, das particularidades de sua prática na sociedade marcada

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por relações de classe, da sua relação com o Estado e com as forças da

sociedade civil e de sua posição quanto às demandas sociais, cada vez mais

complexas, situando-se no âmbito da divisão sóciotécnica do trabalho.

Ainda nesta década, o Serviço Social enfrenta questões sobre as políticas

sociais, em especial quanto à consolidação de políticas públicas nas áreas da

seguridade social (abarcando o tripé saúde, assistência e previdência social) e do

trabalho. Estas, entre outras instâncias das políticas públicas, passam a ser pauta

do debate da profissão, gerando produções acadêmicas que dão visibilidade às

temáticas, bem como à ação profissional desencadeada nestas áreas. Tais

preocupações contribuíram para que o Serviço Social enfrentasse, e continue

enfrentando junto à sociedade civil organizada, os impasses, desafios e dilemas

que a democracia, a cidadania e os direitos sociais colocam à prática social, e

neste âmbito em especial, à pratica do profissional do Serviço Social.

Marcos históricos recentes e relevantes são os dez anos da Lei Orgânica

de Assistência Social (PARANÁ, 1994), comemorados em 2003 e os dez anos do

Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2006), em 2000. Eventos que

retratam conquistas no campo dos direitos sociais, principalmente em relação à

proteção social, destinada aos segmentos vítimas do processo de exclusão social,

como famílias, crianças, adolescentes, idosos e portadores de necessidades

especiais.

Em 1993 a regulamentação da LOAS garante maioridade jurídica à

assistência social, trazendo-a para o campo do direito com responsabilização do

Estado, e expressa a recusa da tradição clientelista, assistencialista e tutelar

presente, ainda, em suas ações. A assistência social adquire estatuto de política

pública e enfrenta, desafios: superar o caldo cultural marcado por essas

características que, muitas vezes, norteiam as ações do Estado e das entidades

sem fins lucrativos, atuantes nesta esfera da política pública; avançar em relação

ao processo de avaliação da gestão da política em suas diferentes instâncias;

consolidar um processo de controle social, com efetiva participação da sociedade

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civil. Além disso, propõe-se a assegurar financiamento adequado à complexidade

das ações de enfrentamento à pobreza, da garantia dos mínimos sociais, do

desenvolvimento de ações de prevenção, de proteção e inclusão social e de

repensar as ações destinadas à família de baixa renda, que preconizam o caráter

intersetorial e o rompimento com a segmentação da família em suas unidades. A

família brasileira, devido às transformações em termos de composição e

significados, especialmente a família de baixa renda, reclama por respostas

coerentes às suas demandas. O lugar da família no âmbito das políticas públicas é

uma questão que merece aprofundamento e está em debate no contexto da

profissão.

Merece destaque o esforço de construção do Sistema Único de Assistência

Social (SUAS), viabilizado pela Secretaria Nacional de Assistência Social e pelo

Conselho Nacional de Assistência Social em 2004. O SUAS responde às

deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em

2003, e materializa pelas diretrizes da LOAS, no entanto, conforme Boschetti

(2004, p. 117), seu resultado "[...] como estratégia de resgate da Loas e de

fortalecimento do sistema descentralizado e participativo, ainda está por ser

avaliado [...]", o que certamente exigirá processo de acompanhamento e

investigação por parte dos núcleos de estudos, dos profissionais e dos

pesquisadores da área.

Igualmente ganham maior visibilidade as diversas formas de expressão da

questão social, havendo um grande esforço teórico-crítico, no sentido de

apreendê-las no movimento contraditório da sociedade, possibilitando maior

consistência à prática profissional no enfrentamento destas expressões. No

movimento das transformações societárias, e de forma inerente no movimento de

repensar a profissão, há um processo de construção e afirmação de um projeto

ético-político comprometido com a cidadania e renovador da direção social da

formação profissional. Não menos relevante este movimento repercute na

elaboração de uma proposta curricular em que a formação profissional direciona-

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se para o desenvolvimento de uma competência teórico-metodológica de natureza

pluralista, orientada pela tradição marxista. Nesta perspectiva, a formação

profissional funda-se na interlocução com o conjunto de conhecimentos científicos,

acumulados pelas diversas áreas das ciências humanas e sociais, especialmente

dialogando com as vertentes clássicas.

1.3 – Fundamentos teóricos do Serviço Social

Tendo como instrumento básico de trabalho a linguagem, as atividades do

assistente social encontram-se intimamente associadas à sua formação teórico-

metodológica, técnico-profissional e ético-política. Suas atividades dependem da

competência na leitura e acompanhamento dos processos sociais, assim como no

estabelecimento de relações e vínculos sociais com os sujeitos sociais junto aos

quais atua.

Segundo Iamamoto e Carvalho (1998), o trabalho do assistente social

situa-se predominantemente no campo político-ideológico: o profissional é

requerido para exercer funções de controle social e de reprodução da ideologia

dominante junto aos segmentos subalternos, sendo seu campo de trabalho

atravessado por tensões e interesses de classes. A possibilidade de redirecionar o

sentido de suas ações para rumos sociais distintos daqueles esperados por seus

empregadores deriva do próprio caráter contraditório das relações sociais que

estruturam a sociedade burguesa.

Ainda de acordo com os pesquisadores Marilda Iamamoto e Raul de

Carvalho:

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“Uma análise do processo histórico de desenvolvimento do

Serviço Social, em relação à dinâmica da conjuntura

brasileira, revela uma clara articulação da prática profissional

com os pólos constitutivos da estrutura social, ou seja, uma

articulação com a dinâmica das classes sociais nas

diferentes conjunturas”.

O desvelamento da dimensão político-ideológica da profissão situa o

Serviço Social no contexto da correlação de forças antagônicas da sociedade e

explicita a possibilidade do que os autores denominam de vínculo político-

ideológico da prática profissional com o projeto de uma das classes que compõem

a estrutura social capitalista.

Esse processo desvela o caráter contraditório da prática profissional, uma

vez que remete, sobretudo no espaço institucional, à necessidade de

questionamento das normas institucionais que, via de regra, orientam a clientela

para um processo de adaptação social, numa perspectiva de controle e

dominação, preconizando a ruptura com sua pratica, tendo em vista os interesses

dos setores populares.

Assim Gramsci (1974) define o assistente social: “trata-se do organizador,

dirigente e técnico que coloca sua capacidade a serviço da criação de condições

favoráveis à organização da própria classe a que se encontra vinculado.”

O fundamento da prática social é o trabalho social: atividade criadora,

produtiva por excelência, condição da existência do homem e das formas de

sociedade, mediatizando o intercâmbio entre homem e a natureza e os outros

homens, por meio do qual realiza seus próprios fins.

O filósofo Lukács (1920) escreve sobre a prática social:

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“A prática social não se revela na sua

imediaticidade. O ser social relaciona-se por intermédio

de mediações que inter-relacionam forma e conteúdo,

impondo-se desvendar as formas como formas

necessárias, geridas na sociedade capitalista, para

apreender o núcleo da prática social”.

Após profundas críticas à influência do positivismo e do funcionalismo no

Serviço Social, que gerou um quadro dicotomizado entre teoria e prática, sujeito e

objeto, transformando o assistente social em um profissional acético de

intervenção, desvinculado da investigação, o marxismo passa assumir a

perspectiva hegemônica no quadro teórico-metodológico do Serviço Social. Isso

vem se dando, com maior evidência, no nível da produção científica, de um novo

projeto de prática e de formação profissional.

A análise das especificidades do processo de profissionalização do

Serviço Social nos quadros da divisão sóciotécnica do trabalho, apreendidas sob

diferentes matizes, foi o fulcro da polêmica no interior da tradição marxista, com

derivação no campo das relações entre teoria, método e história.

Iamamoto (1998) destaca como uma característica importante da

profissão a existência de uma relação singular no contato direto com os usuários -

o que reforça um certo espaço para a atuação técnica, abrindo a possibilidade de

se reorientar a forma de intervenção, conforme a maneira de se interpretar o papel

profissional. A isso se acresce outro traço peculiar ao Serviço Social: a indefinição

ou fluidez do “que é” ou do “que faz” o Serviço Social, abrindo ao assistente social

a possibilidade e apresentar propostas de trabalho que ultrapassem meramente a

demanda institucional. Tal característica, apreendida às vezes como um estigma

profissional, pode ser reorientada no sentido de uma ampliação de seu campo de

autonomia, de acordo com a concepção social do agente sobre sua prática.

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1.4 – Serviço Social hoje

Ao se falar em prática profissional usualmente tem-se em mente “o que o

assistente social faz”, ou seja, o conjunto de atividades que são desempenhadas

pelo profissional.

A pesquisadora Marilda Iamamoto comenta a profissão hoje:

“A leitura hoje predominante da prática profissional é de

que ela não deve ser considerada isoladamente, em si

mesma, mas em seus condicionantes, sejam eles internos –

os que dependem do desempenho do profissional – ou

externos – determinado pelas circunstâncias sociais nas

quais se realiza a prática do assistente social”.

Iamamoto (2004) explica que os primeiros são geralmente referidos a

competências do assistente social como, por exemplo, acionar estratégias e

técnicas; a capacidade de leitura da realidade conjuntural, a habilidade no trato

das relações humanas, a convivência numa equipe interprofissional etc. Os

segundos abrangem um conjunto de fatores que não dependem exclusivamente

do sujeito profissional, desde as relações de poder institucional, os recursos

colocados à disposição para o trabalho pela instituição ou empresa que contrata o

assistente social; as políticas sociais específicas, os objetivos e demandas da

instituição empregadora, a realidade social da população usuária dos serviços

prestados, etc. Em síntese, a prática profissional é vista como a atividade do

assistente social na relação com o usuário, os empregadores e os demais

profissionais. Mas, como esta atividade é socialmente determinada, consideram-

se também as condições sociais nas quais se realiza, distintas da prática e a ela

externas, ainda que nela interfiram.

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O Serviço Social no Brasil afirma-se como profissão, estreitamente

integrado ao setor público em especial, diante da progressiva ampliação do

controle e do âmbito da ação do Estado junto à sociedade civil. Vincula-se,

também, a organizações patronais privadas, de caráter empresarial, dedicadas às

atividades produtivas propriamente ditas e à prestação de serviços sociais à

população. A profissão se consolida, então, como parte integrante do aparato

estatal e de empresas privadas, e o profissional, como um assalariado a serviço

das mesmas. Assim, Marilda Iamamoto sintetiza: “dessa forma, não se pode

pensar a profissão no processo de reprodução das relações sociais independente

das organizações institucionais a que se vincula” (IAMAMOTO, 2004, p.78).

O Serviço social dispõe de algumas características típicas de uma

profissão liberal: a existência de uma relativa autonomia, por parte do assistente

social, quanto à forma de condução de seu atendimento junto a indivíduos e

grupos sociais com os quais trabalha, que requer o compromisso com valores e

princípios éticos norteadores da ação profissional, explicitados no Código de ética

Profissional.

Entretanto, o assistente social afirma-se socialmente como um trabalhador

assalariado, cuja inserção no mercado de trabalho passa por uma relação de

compra e venda de sua força de trabalho especializada com organismos

empregadores, estatais ou privados. Sendo os assistentes sociais proprietários de

sua força de trabalho qualificada, não dispõem, todavia, de todos os meios e

condições necessários para a efetivação de seu trabalho, parte dos quais lhes são

fornecidos pelas entidades empregadoras.

Durante a ornada de trabalho, a ação criadora do assistente social deve

submeter-se a exigências impostas por quem comprou o direito de utilizá-la

durante um certo período de tempo conforme as políticas, diretrizes, objetivos e

recursos da instituição empregadora.

Dessa maneira, a relação do exercício profissional com a instituição, os

recursos orçamentários para os programas sociais, as políticas sociais atinentes

ao campo de trabalho, a questão social etc., não podem ser encarados como

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componentes externos ao trabalho profissional, mas, ao contrário, contribuem para

molda-lo tanto material quanto socialmente.

No Serviço Social tem-se um contingente profissional, hoje proveniente de

segmentos médios pauperizados, com um nítido recorte de gênero; uma categoria

profissional predominantemente feminina, uma profissão tradicionalmente de

mulheres e para mulheres.

Ao falar de tradição e produção científica da profissão, Marilda Iamamoto

diz: “os assistentes sociais, no Brasil, são jovens intelectuais quando comparados

a outros ramos profissionais e maior tradição e acervo no campo da produção

acadêmica” (IAMAMOTO, 2004, p. 82)

Mas esta “juventude”, condicionada pela trajetória histórica da própria

profissão na sociedade brasileira, não significa hoje subalternidade intelectual: ao

contrário, a tardia familiarização com os cânones e exigências do mundo científico

tem sido assumida como desafio, no sentido de superar as limitações do passado

com vigor, tenacidade e produtividade.

O que se pode concluir dessas considerações é que os resultados ou

produtos dos processos de trabalho em que participam os assistentes sociais hoje

se situam tanto no campo da reprodução da força de trabalho, da obtenção das

metas de produtividade e rentabilidade das empresas, da viabilização de direitos e

da prestação de serviços públicos e interesse da coletividade, da educação

sociopolítica, afetando hábitos, modos de pensar, comportamentos, práticas dos

indivíduos sociais em suas múltiplas relações e dimensões da vida cotidiana na

produção e reprodução social, tanto em seus componentes de reiteração do

instituído, como de criação e reinvenção da vida em sociedade.

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CAPÍTULO II

RECURSOS HUMANOS

2.1 – O surgimento do RH

Os primeiros praticantes de RH eram os capatazes das fábricas, que

contratavam, demitiam e supervisionavam seus trabalhadores. Com o passar do

tempo, surgiram papéis mais especializados. A década de 20 assistiu o

surgimento dos "departamento de pessoal" em conseqüência da escassez de

mão de obra, o desenvolvimento dos testes psicológicos e uma atenção

crescente pelos estudos científicos do trabalho, como aqueles realizados por

Frederick W Taylor.

Desde o advento da Criação da Consolidação das Leis do Trabalho –

CLT, na década de 40, as principais atribuições do DP eram o cumprimento da

legislação trabalhista, rotinas puramente burocráticas (admissão, férias, folha de

pagamento, recolhimento de impostos e demissões), sem a participação nas

decisões estratégicas da organização.

Também era demasiadamente em excesso o volume de trabalho do DP; a

informática ainda não era muito usada e praticamente todas as tarefas eram

elaboradas de forma manual, gerando grandes volumes. Horas extras eram

comuns, o trabalho era realizado por trabalhadores comprometidos que se

identificavam com aquelas tarefas, mas que aos olhos dos outros funcionários

eram diferentes e temidos.

A professora Maria Aparecida Rhein Schirato (2002) define assim esses

trabalhadores:

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“Estes ‘chefes’ tinham por tarefa fazer acontecer o trabalho

de acordo com a vontade de que o patrocinava. Para tanto,

dedicavam-se a caçar ocorrências e deslizes. Era escolhido

pelo capitalista e visto como homem de confiança, vivendo a

esquizofrenia típica deste papel: ‘pensar’ como patrão e

‘viver’ como empregado”.

Porém com o passar do tempo, o surgimento de algumas importantes

variáveis foram mudando o DP e o perfil de seus profissionais. Podemos observar,

dentre vários, o mapeamento do comportamento psicológico do trabalhador, o

reconhecimento do capital humano, participação de projetos sociais, a

globalização, o surgimento das classes sindicais, a concorrência acirrada e a

inclusão desta área nas decisões estratégicas dos negócios da organização,

variáveis mais presentes nas organizações a partir da década de 80.

A partir deste período surgiu um novo profissional, com um perfil voltado ao

desenvolvimento e ao bem-estar dos trabalhadores dentro e fora das

organizações, vendo-os como essência e não somente como parte integrante

dela. Assim, pode-se dizer que surgiu o profissional de Recursos Humanos e,

claro, a área de Recursos Humanos.

Os anos 80 e 90 trouxeram pressões econômicas ainda maiores e a

consciência de que as empresas e os indivíduos enfrentam uma crescente e

definitiva competição globalizada – e também, oportunidades. A área de RH não

ficou imune a essas mudanças. A crescente importância das pessoas para o

modelo de envolvimento é o argumento para um número maior de profissionais de

RH nas empresas (MILKOVICH, BOUDREAU, 2000).

O papel cada vez mais proeminente dos profissionais de RH nas

organizações e as crescentes conexões entre as informações do RH e os

membros da organização criam grandes desafios para a manutenção da

equidade, justiça e privacidade no ambiente de trabalho. Obviamente, os desafios

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futuros para os profissionais de RH deverão tornar-se cada vez mais mutantes e

financeiramente importantes (MILKOVICH, BOUDREAU, 2000).

2.2 – Reestruturação empresarial

As inovações tecnológicas e também a competitividade capitalista vêm

afetando as formas de organização e gestão do trabalho coletivo. Assim,

recentemente nas empresas, vem se processando um conjunto de mudanças na

organização da produção e do processo de trabalho.

Nas novas modalidades de gestão e estratégias empresariais, que visam ao

controle da qualidade do produto, da prestação de serviços e da força de trabalho,

são utilizadas novas políticas de administração, onde se inserem uso de

expressões como reengenharia organizacional, qualidade total, gerenciamento

estratégico, gestão participativa e qualidade de vida.

Para Antunes (2000), passa a ser relevante, no processo produtivo, a

falácia da qualidade total e os Círculos de Controle de Qualidade, que se

expandem, constituindo grupos de trabalhadores, que são incentivados pelo

capital, a se inserirem nas discussões sobre trabalho e desempenho, visando

aumentar a produtividade e a redução dos custos da empresa.

Quanto aos Recursos Humanos, exige-se a adoção de uma política

denominada por Campos (1992) de “Gerenciamento do Crescimento do Ser

Humano”, visando à formação de um quadro de empregados que sejam: mínimo

em tamanho, mas eficiente; que sejam competentes e que possam se adaptar

rapidamente às inovações; que se identifiquem com a empresa e suas metas, ou

seja, “vestir a camisa”.

Objetivando reduzir os níveis de conflito entre capital e trabalho e envolver

os trabalhadores com os propósitos e metas das empresas, as organizações

buscam integrar políticas e práticas de Recursos Humanos aos programas de

qualidade e produtividade.

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Nesse sentido, o Serviço Social tem um importante papel no

desenvolvimento das atividades que têm como objetivo formar a base de

sustentação dos programas de qualidade, pois não basta o treinamento específico

voltado para o conjunto de ferramentas da qualidade sem uma efetiva atenção ao

crescimento das pessoas. Ou seja, é fundamental que o treinamento dos

funcionários esteja aliado a uma maior valorização e maximização potencial dos

mesmos, permitindo a manutenção do processo de melhorias contínuas através

da educação, com um permanente incentivo ao aprendizado e ao crescimento.

2.3 – Mudanças na concepção de gestão de pessoas

A incerteza dos tempos atuais impõe a necessidade de reformulação de planos

de gerenciamento de pessoas. Iniciativas voltadas à implantação de uma série de

nova políticas e práticas de RH dirigidas à obtenção da participação, envolvimento

e comprometimento dos empregados frente aos objetivos organizacionais é o que

se percebe nas organizações contemporâneas. Há um interesse crescente em

aumentar a capacitação profissional dos seus agentes produtivos, a

responsabilidade, a liberdade e expressão do pensamento, a possibilidade de

certa autonomia individual, de auto-realização, de reconhecimento pelos esforços,

entre outros aspectos. Sugerem a valorização de uma nova ética e requerem uma

visão estratégica e global de gerenciamento de negócio e de pessoas. É claro

que esse despertar gerencial possui sólidas razões, como esclarece, por exemplo,

Guest (1988) que apresenta algumas justificativas:

• A vantagem competitiva: obtida através da diferenciação e da qualidade;

• A minimização de custos: incluindo cuidadosa seleção e treinamento,

menor turnover, absenteísmo e controles reduzidos;

• A realização de mudança: exigindo um novo clima nas relações de trabalho

com a redução do controle burocrático, o que é mais favorável à inovação;

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• A imagem da companhia: a posição de vanguarda na administração de

Recursos Humanos pode fornecer à empresa vantagens no mercado

através de uma imagem de responsabilidade social e qualidade, assim

como pode atrair recrutados de alta qualificação;

• Os modelos de excelência: a literatura sobre as melhores companhias

mostra os impactos das práticas de administração de Recursos Humanos

para a competitividade destas;

• O colapso da administração de pessoal: o fracasso da administração dos

Departamentos de Pessoal incapazes de inovar na política de pessoal e

contribuir para a busca de vantagem competitiva.

De forma mais ampla, os condicionantes da reorientação da administração

de Recursos Humanos podem estar atrelados às mudanças

macroambientais e internas à organização. As origens das mudanças que

atingem a sociedade são estrutural-institucional, tecnológica e sócio-

comportamental. Cada uma dessas instâncias reflete-se na outra. Fatores

institucionais e aspectos estruturais assim como novas características

organizacionais têm influído nas formas de organização, gestão e relações

do trabalho, atingindo também tanto a configuração da empresa em sua

totalidade, como a gestão e o trabalhador no âmbito coletivo.

2.4 – Os novos papéis do RH

A transição do modelo de controle para o de comprometimento é

uma visão estereotipada (ULRICH, 1998, p.37), haja vista que o cenário

empresarial contemporâneo é complexo, diversificado e contraditório. Nesse

contexto, é requerido muito mais que uma leitura unilateral dos fatos, políticas e

procedimentos para a compreensão e transformação da realidade organizacional.

A administração de Recursos Humanos precisa assumir múltiplos papéis,

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desempenhando, no caso, funções simultâneas (operacionais e estratégicas,

pessoas e processos).

Tal demanda tem gerado, ainda que de forma pouco sistematizada, desde o

final da década de 80, a necessidade de que os profissionais de Recursos

Humanos repensem sua atuação, iniciando um processo de transformação de

suas funções nas organizações. Dessa forma, a área de RH também passa a

buscar a aquisição de uma visão estratégica, de geração de resultados e lucros,

de participação constante e inovação no contexto empresarial competitivo.

Ulrich (1998) definiu quatro papéis principais de RH. E para a melhor

compreensão desses papéis, propõe a consideração de três pontos: os resultados

a serem atingidos desempenhando cada papel, a metáfora característica ou

imagem visual que acompanha cada papel e as atividades que esse profissional

deve executar para desempenhar cada papel.

Esses quatro papéis voltados ao gerenciamento de pessoas serão

discutidos a seguir.

2.4.1 – Administração de estratégias de Recursos Humanos

Para Ulrich (1998), traduzir estratégias empresariais em práticas de

RH ajuda a empresa em três sentidos:

“Em primeiro lugar, a empresa pode se adaptar à

mudança devido à redução do tempo que vai da concepção

à execução da estratégia. Em segundo, pode atender

melhor as exigências do consumidor porque suas

estratégias de atendimento foram traduzidas em políticas e

práticas específicas. Em terceiro, pode obter desempenho

financeiro mediante a execução mais eficaz de sua

estratégia”. (op.cit, p.42)

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Ao referir-se à metáfora de parceiro estratégico nessa função, o autor considera

que:

“Os profissionais da área tornam-se parceiros

estratégicos quando participam do processo de definição da

estratégia empresarial, quando fazem perguntas que

convertem a estratégia em ação e quando concebem

práticas de RH que se ajustam à estratégia empresarial”

(idem, p.43)

Quanto à atividade relacionada à função de administração de estratégias

de Recursos Humanos , o autor referido propõe uma parceria estratégica em que

os profissionais de RH devem ter a capacidade de identificar as práticas que

fazem com que a estratégia aconteça, ou seja, que auxiliam a impulsioná-la. Este

processo é chamado de diagnóstico organizacional.

2.4.2 – Administração da infra-estrutura da empresa A criação de uma infra-estrutura mediante o constante exame e melhoria

dos processos de RH pelos profissionais é o resultado obtido nessa função. Par

Ulrich (1998, p.44): “o resultado da administração da infra-estrutura é a eficiência

administrativa”. O autor complementa ainda com a idéia de que os profissionais

de RH podem alcançar a eficiência administrativa de duas maneiras diferentes. Na

primeira, garantindo a eficiência dos processos de RH, e na segunda, aumentando

a eficácia geral de uma empresa, através dos executivos, mediante contratação,

treinamento e premiação de gerentes que aumentam e reduzam as perdas.

Escolheu como metáfora dessa função, a do especialista administrativo.

Assim, cabe também a esses profissionais atuarem como especialistas

administrativos, buscando a eficiência, eficácia e novas formas de melhorar suas

atividades. Essas deverão ser empreendedoras a ponto de levar a reengenharia

contínua dos processos de trabalho que administram.

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2.4.3 – Administração da contribuição dos funcionários

Gerir a contribuição dos funcionários implica o envolvimento dos

profissionais de RH nos problemas, preocupações e necessidades cotidianas

daqueles, particularmente dos que compõem o capital intelectual da empresa

(ULRICH, 1998).

Com os resultados da administração da contribuição dos funcionários, cita o

maior envolvimento, comprometimento e competência dos mesmos para que

possam dessa maneira atuar como agentes empreendedores, parceiros e

fornecedores. Como metáfora, o autor apresenta a do defensor dos funcionários,

pois: “dedicam tempo e presença pessoal aos funcionários, treinam e incentivam

gerentes de outros departamentos a fazer o mesmo”. (op.cit. p, 46). Entre suas

atividades estão a de ouvir, responder e encontrar maneiras de dotá-los dos

recursos que atendam suas demandas.

2.4.4 – Administração da transformação e da mudança Nessa quarta função desempenhada pelos profissionais de RH, está a

capacidade de mudar, renovar, inovar e criar. Neste caso, os executivos de RH

atuam em parceria com a empresa, ajudando os funcionários a se adaptarem a

uma nova cultura organizacional (ULRICH, 1998).

A metáfora citada pelo autor é a do agente de mudança, atuando como

parceiro estratégico da empresa. Suas atividades se referem a “... identificação e

estruturação de problemas, construção de relações de confiança, soluções de

problemas e criação – e execução – de planos de ação”. (p.48)

O modelo de múltiplos papéis para a administração de Recursos Humanos

mostra a importância de ampliar o escopo de atuação dos profissionais desta

área, focalizando do estratégico ao operacional, da administração de processos à

administração de pessoal.

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2.5 – Competências requeridas para a consecução dos novos

papéis de RH

As principais funções desempenhadas neste escopo mais amplo do

trabalho dos profissionais de RH, conforme Gil (op. cit. , 1994, p.21), são:

• Comunicação eficaz, tanto com a alta direção, como com as gerências

intermediárias, empregados e públicos externos;

• Elaboração de critérios e instrumentos para seleção do pessoal requerido

pela empresa;

• Definição de padrões e construção de instrumentos para avaliação dos

empregados;

• Avaliações de cargos e funções da empresa, com vistas a identificar os

requisitos que devem possuir seus ocupantes;

• Avaliação do valor de cada cargo; para subsidiar as políticas de salários e

benefícios;

• Elaboração de projetos de treinamento e desenvolvimento de pessoal;

• Condução de reuniões para orientação e discussão, bem como para

negociação com grupos internos e externos, acerca de assuntos relativos a

Recursos Humanos;

• Fornecimento de assessoria à direção da empresa e às gerências nos mais

diferentes assuntos relacionados à área de Recursos Humanos.

Em função disso, o perfil dos profissionais se altera, pois além de atuarem com

a parte técnica do ofício, também incorporam como atribuições o gerenciamento

estratégico das pessoas. Passam a assumir o papel de consultores especializados

dentro da empresa, cabendo-lhes atender às demandas dos demais gerentes no

que diz respeito à gestão das pessoas.

Para atender a esta nova realidade verificada nas empresas, o profissional de

RH deve possuir um novo perfil. Esse inclui, sobretudo, uma visão generalista,

preocupação com os resultados finais da empresa, disposição para atuar em

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parceria com outros setores, ação estratégica ao invés de somente trabalho

rotineiro e burocrático, autoqualificação e atualização constante, atenção especial

para qualificação e motivação do pessoal, capacidade integradora do

gerenciamento de RH, uma vez que este se dilui entre todos os gerentes da

organização e habilidade para negociar com os atores internos e externos à

empresa (GIL, 1994, p.29-30).

Ulrich (2000, p.14) sugere que as capacidades indicam as habilidades e a

especialização da empresa, ou seja, a soma das competências individuais retrata

as capacidades organizacionais. Portanto, as novas capacidades representam

resultados do trabalho do profissional de RH. Neste sentido, o autor destaca três

capacidades genéricas, no caso (1) criar clareza estratégica, enfatizando objetivos

a curto e a longo prazo, delimitando o foco, a visão e os processos de alocação de

recursos, sendo portanto um parceiro estratégico, (2) fazer com que as mudanças

aconteçam e, (3) gerar capital intelectual, sendo um defensor dos empregados

(op.cit.,p.16-21).

Para tanto, os novos profissionais de RH precisam desenvolver

competências / exigências essenciais relativas ao conhecimento dos negócios, ao

domínio das práticas de RH, ao gerenciamento do processo de mudança, à

criação de culturas locais de trabalho que desenvolvam capacidade individual e

comprometimento com a empresa e à demonstração de credibilidade pessoal

(p.27-28). Necessitam ter “atitude”, transformando o conhecimento científico em

ações, em decisões acertadas referentes aos investimentos em práticas de gestão

que geram resultados.

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CAPÍTULO III

A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SETOR DE RH

3.1 – A inserção do Serviço Social no setor empresarial

A origem do Serviço Social nas empresas está intimamente relacionada ao

nível da eficiência, racionalidade e produtividade pelo processo de modernização

do capital.

Segundo Netto (2001), pode se falar propriamente de Serviço Social se

empresa, a partir do desenvolvimento industrial, principalmente nos anos do

“milagre” mas não exclusivamente pelo crescimento industrial, mas determinado

também pelo pano de fundo sócio-político em que ele ocorre e que instaura

necessidades peculiares de vigilância e controle da força de trabalho no território

da produção.

Portanto, pode-se afirmar que nasce o Serviço Social de Empresas, com o

intuito de inserir um profissional que vigie e controle a força de trabalho nas

organizações.

Para Netto (2001), com a racionalidade burocrático-administrativa e com a

modernização conservadora, gerou, nos espaços institucionais, um novo padrão

de exigências para o desempenho profissional. Portanto, mudou o perfil

profissional demandado pelo mercado de trabalho, exigindo desse profissional um

desempenho moderno, onde os traços tradicionais são substituídos por

procedimentos racionais.

É nesse quadro que se insere o trabalho dos assistentes sociais nas

organizações, tanto privadas quanto públicas. Ele, como todos os trabalhadores,

também vem sofrendo todas as injunções do processo de reestruturação

produtiva: ameaça de desemprego, precarização das relações de trabalho, o

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fetiche do mercado e do dinheiro, exigências de polivalência, multifuncionalidade e

desenvolvimento de novas habilidades.

Segundo a pesquisadora Denise Barbosa Milward de Andrade (2000),

também as demandas solicitadas pelas organizações foram ampliadas:

“Se anteriormente os assistentes sociais tinham seu

espaço restrito à execução das políticas das organizações,

atualmente a requisição foi estendida para área de

planejamento de políticas, especialmente aquelas voltadas

para definição de estratégias de enfrentamento do desafio

da qualidade”.

O assistente social, por meio de sua ação técnica - política, passou a ser

requisitado para responder às necessidades vinculadas à reprodução material da

força de trabalho e ao controle das formas de convivência entre empregado e

empresa, contribuindo para o aumento da produtividade no trabalho.

No controle sobre a força de trabalho, as ações profissionais são

direcionadas a exercer funções de apoio à administração do trabalho, intervindo

na repressão dos conflitos e na promoção de integração dos trabalhadores às

exigências do processo produtivo.

Quanto às demandas profissionais no âmbito empresarial, Iamamoto (2001)

afirma que:

“O Serviço Social sempre foi chamado pelas empresas

para eliminar focos de tensões sociais, criar um

comportamento produtivo da força de trabalho, contribuindo

para reduzir o absenteísmo, viabilizar benefícios sociais,

atuar em relações humanas na esfera do trabalho”.

Para a adequação do comportamento do trabalhador à lógica do

desenvolvimento capitalista, as ações profissionais se embasavam em

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construções teóricas emprestadas das Ciências Sociais, transformadas em

técnicas e aplicadas às situações imediatas, legitimando assim suas funções.

O processo de reestruturação produtiva, os avanços tecnológicos, a

globalização que acirra a competição entre empresas, no âmbito mundial,

trouxeram significativas mudanças no padrão de produção e gestão da força de

trabalho.

3.2 – Atuais demandas do Serviço Social no setor empresarial

No âmbito da produção e no processo de trabalho, as mudanças

tecnológicas e organizacionais, têm delineado novas estratégias de gestão e

controle da força de trabalho. Assim, o que se verifica é uma nova forma do

exercício profissional do Serviço Social nas empresas. De acordo com Serra

(2001):

“Por outro lado, a implantação nas empresas da

reestruturação produtiva – a acumulação flexível – pode

provocar alterações nos objetivos e inserção do Serviço

Social no âmbito empresarial privado, por meio do

deslocamento de suas funções, com uma atuação mais em

nível gerencial. Isso inclusive por conta da utilização, pelas

empresas, da estratégia de redução de custos, a

terceirização, que esvazia as políticas sociais empresariais,

historicamente a cargo do Serviço Social”.

A reestruturação produtiva, tanto nas organizações públicas como nas

privadas, vem impondo a todos os trabalhadores, incluindo também a categoria de

assistentes sociais, mudanças que trazem repercussões como: precarização das

relações de trabalho, ameaça de desemprego, exigências de polivalência,

multifuncionalismo, desenvolvimento de novas habilidades, entre outros.

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Com a reestruturação produtiva, ocorre um deslocamento do Serviço Social

para a área de Recursos Humanos, na esfera da assessoria gerencial e na criação

dos comportamentos produtivos, ou seja, clima social. Nessa dimensão, Serra

(2001) alerta que o deslocamento do Serviço Social, para a área de Recursos

Humanos, pode provocar uma disputa com outros profissionais, que

tradicionalmente atuam nessa área, e cita o exemplo do psicólogo.

As políticas de Recursos Humanos reforçam a adaptação do trabalhador às

exigências do processo produtivo, estimulando o trabalhador a acreditar estar

participando de um processo que reflete suas necessidades e escolhas.

Neste contexto, cabe ao assistente social, inserido na área de RH, propagar

as normas e regras do jogo de compromisso, sendo sua prática profissional nas

empresas, alterada pelas formas de controle da força de trabalho renovadas, nos

processos e relações de trabalho.

Para Iamamoto (2001), na atualidade, ocorre uma ampliação das

demandas:

“Atuação dos assistentes sociais nos Círculos de

Controle de Qualidade – CCQ – em equipes

interprofissionais, nos programas de qualidade total.

Visando à qualidade do produto, é imprescindível a adesão

dos trabalhadores às metas empresariais da produtividade

da competitividade, sendo relevante, paralelo ao discurso de

valorização do trabalhador, os chamamentos à participação,

o discurso da qualidade, da parceria e da cooperação”.

O assistente social continua a ser requisitado pela empresa para

intermediar as relações entre o trabalho e a vida particular do operário, o que

muda é que essa ação está cada vez mais consolidada e integrada às estratégias

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de competitividade, baseada em uma política de parceria entre empresa e

trabalhador.

Segundo Andrade (1999), com a implementação de programas de

qualidade de vida no trabalho, o assistente social tem como função o

monitoramento do processo e a instrumentalização de ações gerenciais, em busca

de melhorias contínuas na Qualidade de Vida no Trabalho.

A busca de soluções e carências nas empresas deixa de ser

exclusiva dos assistentes sociais e passa a ser alçada de todos os profissionais

envolvidos na área de Recursos Humanos da empresa. Historicamente no âmbito

empresarial, a resolução dos conflitos tem sido colocada ao Serviço Social, mas,

atualmente, com as mudanças nas práticas de gestão, a gerência vem cumprindo

esse papel.

Para César (1999), com o fortalecimento das chefias, o Serviço

Social assume a função de assessorar as gerências, podendo tornar o trabalho do

assistente social valioso, buscando instrumentalizar a conduta gerencial. Mas,

para o mesmo autor, essa realidade mostra-se contraditória, pois, se é

determinada à gerência a resolução dos problemas de seus subordinados, impede

que o assistente social materialize, mediante ação direta o seu saber específico,

uma vez que se utiliza do saber repassado pelo assistente social para legitimar

seu próprio papel.

3.3 – O aspecto contraditório das demandas organizacionais e a

inserção do Serviço Social

Embora a área de Recursos Humanos seja uma das áreas que vem

ampliando o espaço para os assistentes sociais, na maioria das vezes não exige

uma formação profissional específica. Isto é, esses novos espaços não são

exclusivos do Serviço Social, podendo as funções voltadas para a implantação de

Programas de Qualidade ser exercidas por diferentes profissionais. No entanto, a

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demanda por habilidades específicas pode viabilizar uma oportunidade para os

assistentes sociais ampliarem seu espaço ocupacional e se posicionarem

hierarquicamente em nível elevado nas organizações.

Iamamoto (2001) destaca importante ponto dessa contrariedade:

“Como se percebe, todos os processos que vêm sendo

desenvolvidos pelas organizações, apesar da aparência de

modernidade, reeditam o que o Serviço Social vem fazendo

há muitos anos. Ou seja, a natureza do trabalho não mudou,

pois continua voltada para o processo de reprodução da

força de trabalho, para o manejo de conflitos entre capital e

trabalho, mas com outra roupagem e através de novas

estratégias que reforçam o discurso da coesão social”.

Assim, se por um lado estes novos espaços reforçam a ação tradicional, por

outro, não se pode ignorar o conteúdo de valorização dos trabalhadores incluídos

que eles podem encerrar. Este novo segmento de trabalhadores está, sem dúvida

por interesse do capital, mantendo seus direitos, ampliando suas conquistas e, até

mesmo, elevando seus salários.

Ainda segundo Iamamoto (2001), o reconhecimento do caráter contraditório

desses processos supõe competência técnica e direcionamento ético-político

profissional, que permita desvendar os interesses antagônicos e criar uma forma

de lidar com as manifestações dos mesmos.

O desafio profissional é, pois, dentro desse campo contraditório, direcionar

sua ação para o atendimento das necessidades sociais dos trabalhadores e ainda

ampliar seu campo de trabalho através de sua competência técnico-operativa,

respondendo às novas demandas de forma ética e comprometida com a defesa da

dignidade dos trabalhadores.

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CONCLUSÃO

Após o estudo sobre o surgimento, fundamentos teóricos e demanda de

atuação do Serviço Social, foi visto que se essa profissão é por um lado incluída

na divisão social do trabalho como carreira especializada e devidamente

remunerada, por outro é uma profissão que tem um projeto ético-político e um

vínculo político-ideológico que defende os interesses das classes que representa,

as classes populares.

Já no estudo da história do surgimento, mudanças e função atual do setor

de Recursos Humanos, ficou clara a prática de profissionais que assistem os

funcionários das organizações no que diz respeito a benefícios, criação de

programas de qualidade de vida no trabalho, reconhecimento do capital humano

entre outros. Foi percebido também que essa atuação tem o objetivo de trazer

produtividade e lucro para as empresas, que ao longo dos anos descobriram

estratégias para que seus colaboradores tornem-se mais produtivos e ao mesmo

tempo se sintam valorizados.

Desta forma, concluímos que tanto o assistente social como o profissional

de RH têm um caráter contraditório profissional, pois se estão vinculados a uma

organização e precisam defender os interesses desta, ao mesmo tempo também

trabalham defendendo os interesses dos funcionários das organizações a que são

vinculados. Sendo assim, o assistente social que trabalha num setor de Recursos

Humanos pode ali desenvolver habilidades para enfrentar os dilemas

contraditórios da sua profissão.

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