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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CIÊNCIAS CONTÁBEIS LICITAÇÕES PÚBLICAS: VANTAGENS E DESVANTAGENS NO TRATAMENTO DIFERENCIADO E FAVORECIDO ÀS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE. HEVELINE DE OLIVEIRA COSTA GOMES FORTALEZA - CE 2013

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · RESUMO O presente trabalho teve como principal objetivo analisar o tratamento ... princípios, modalidades, tipos e fases das

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CIÊNCIAS CONTÁBEIS

LICITAÇÕES PÚBLICAS: VANTAGENS E DESVANTAGENS NO TRATAMENTO

DIFERENCIADO E FAVORECIDO ÀS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE.

HEVELINE DE OLIVEIRA COSTA GOMES

FORTALEZA - CE 2013

HEVELINE DE OLIVEIRA COSTA GOMES

LICITAÇÕES PÚBLICAS: VANTAGENS E DESVANTAGENS NO TRATAMENTO

DIFERENCIADO E FAVORECIDO ÀS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE

PEQUENO PORTE.

Monografia apresentada à Faculdade Cearense, como

requisito obrigatório para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

Profª. Orientadora: Profª. Mônica Valesca Veras

Machado

FORTALEZA - CE 2013

HEVELINE DE OLIVEIRA COSTA GOMES

LICITAÇÕES PÚBLICAS: VANTAGENS E DESVANTAGENS NO TRATAMENTO

DIFERENCIADO E FAVORECIDO ÀS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE

PEQUENO PORTE.

Esta monografia foi submetida à Coordenação do Curso de Ciências Contábeis, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis,

outorgado pela Faculdade Cearense - FAC e encontra-se à disposição dos interessados na

Biblioteca da referida Universidade.

A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que feita de acordo

com as normas de ética científica.

Aprovado em ____/____/____

_________________________________________________ Profª. Márcia Maria Machado Freitas, Dra

(Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis)

__________________________________________________

Profª. Mônica Valesca Veras Machado, Ms

(orientadora)

_________________________________________________

Profª Denise Nunes

Membro da banca examinadora

__________________________________________________

Prof. Paulo Francisco

Membro da banca examinadora

Dedico esse trabalho aos meus pais, Antônio Machado Costa e Maria de Oliveira Costa, pois em tudo me apoiaram, e ao meu filho, Vinícius Costa Gomes para que lhe sirva de exemplo.

AGRADECIMENTOS

Ao Deus que nunca me desamparou mesmo nos momentos mais difíceis, por ter

sempre atendido às minhas orações e por ter me dado forças suficientes nessa caminhada

difícil ao longo desse curso.

Aos meus pais, Maria de Oliveira Costa e Antônio Machado Costa, aos quais

pude realizar o sonho de ser a primeira filha a ter uma graduação de nível superior.

Ao meu filho, Vinícius Costa Gomes que me inspirou para que eu pudesse

mostrá-lo que todos nós somos capazes de realizar nossos sonhos quando queremos e quando

temos força de vontade.

Ao meu esposo, Tadeu Gomes pela compreensão do tempo que abdiquei de estar

com ele para dedicação aos meus estudos.

À professora, Mônica Machado pelas orientações que me foram dadas nesse

trabalho acadêmico.

Aos professores que fizeram parte da comissão da banca examinadora.

E a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste

trabalho.

“Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.” Hermam Hesse

RESUMO

O presente trabalho teve como principal objetivo analisar o tratamento

privilegiado e diferenciado dado às microempresas e empresas de pequeno porte nas licitações

públicas no âmbito dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

de acordo com a Lei Complementar nº 123/06 referente ao Estatuto Nacional das

Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. O trabalho inicia-se com o conceito de

Administração Pública mostrando seus objetivos, importância, estrutura e o poder de compra.

Em seguida, foi feita uma abordagem sobre processos licitatórios: definição, previsão legal,

princípios, modalidades, tipos e fases das Licitações de acordo com a Lei nº 8.666/93, Lei

Geral de Licitações. Foi mostrada a importância das microempresas e empresas de pequeno

porte, bem como seus conceitos e evolução ao longo dos anos. Por fim, foi feita uma análise

sobre as vantagens e desvantagens das micro e pequenas empresas nos processos licitatórios

de acordo com a Lei Complementar nº 123/06. Para o presente trabalho foi realizada pesquisa

bibliográfica em livros, artigos, revistas, teses e legislações sobre o assunto no intuito de

atingir os objetivos propostos e solucionar a seguinte questão: As mudanças nos processos

licitatórios trouxeram benefícios às micro e pequenas empresas capazes de mudar a realidade

antes apresentada?

Palavras-chave: Licitação, Estatuto Nacional da Microempresa, Empresa de Pequeno Porte,

Microempresa.

ABSTRACT

This study aimed to analyze the privileged and preferential treatment given to

micro and small enterprises in public procurement under the powers of the Union, States ,

Federal District and Municipalities according to Complementary Law No. 123 / 06

concerning the Status of National Micro and Small Enterprises . The work begins with the

concept of Public Administration showing their goals, importance, structure and purchasing

power. Definition, legal provisions, principles, modalities, types and phases of the Bids in

accordance with Law 8.666/93, General Procurement Law: Then, an approach was taken on

bidding processes. The importance of micro and small enterprises was shown, as well as

concepts and their evolution over the years. Finally, an analysis of the advantages and

disadvantages of micro and small enterprises in the bidding process in accordance with

Complementary Law No. 123 / 06 was taken. For this paper bibliographical research in

books, articles, journals, theses and laws on the subject in order to achieve the proposed

objectives and address the following question: Changes in tender proceedings brought

benefits to micro and small enterprises that can change the reality presented before?

Keywords: Bidding Statute National Micro, Small Businesses, Microenterprise.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

GRÁFICO 01- Evolução do Número de Estabelecimentos por Porte................................45

GRÁFICO 02 - Evolução do Número de Empregos por Porte...........................................46

GRÁFICO 03 - Evolução da participação do porte nas compras públicas.......................50

GRÁFICO 04 - Evolução do valor de compra nas compras públicas................................50

QUADRO 01 – Classificação dos órgãos públicos...............................................................18

QUADRO 02 - Espécies de Autarquias.................................................................................21

QUADRO 03 - Valores nas modalidades Concorrência, Tomada de Preços e Convite...30

QUADRO 04 – Modalidades de Licitação – Lei nº 8.666/93...............................................30

QUADRO 05 – Atos preparatórios na fase interna da licitação.........................................33

QUADRO 06 – Atos Lesivos à administração nas licitações...............................................40

QUADRO 07 – ME/EPP que não farão juz aos benefícios da LC 123/06 nas licitações..43

QUADRO 08 – Documentos para regularização fiscal e trabalhista.................................52

QUADRO 09- Critérios para desempate em caso de empate ficto....................................54

LISTA DE SIGLAS

ME- Micro Empresa

EPP- Empresa de Pequeno Porte

SISG - Sistema de Serviços Gerais do Governo Federal.

SUDAM - Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia

SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ANTAQ - Agência Nacional de Transportes Aquaviários

CREA - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

CRO - Conselho Regional de Odontologia

CRM - Conselho Regional de Medicina

PROCON - Programa de Proteção e Defesa do Consumidor

FUNASA - Fundação Nacional de Saúde

FUNAI - Fundação Nacional do Índio

TCU - Tribunal de Contas da União

LC- Lei Complementar

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................12

2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..........................................................................................14

2.1 Conceito, Objetivo e Importância da Administração Pública............................................14

2.2 Estrutura da Administração Pública...................................................................................17

2.3 Administração Direta e Indireta.........................................................................................20

2.4 Processos/regras de compra dentro da Administração Pública.........................................23

3 PROCESSO LICITATÓRIO.............................................................................................26

3.1 Conceito, Objetivo e Importância para a Administração Pública......................................26

3.2 Tipos de Licitação..............................................................................................................29

3.3 Processo para a realização de licitação na administração pública.....................................33

3.4 Vantagens e desvantagens do processo licitatório para a Administração Pública..............39

3.5 Conceito, importância e evolução das microempresas e empresas de pequeno porte........41

4 METODOLOGIA................................................................................................................47

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...................................................................................48

5.1 Vantagens e desvantagens das micro e pequenas empresas no processo licitatório...........48

6 CONCLUSÃO......................................................................................................................63

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................65

1 INTRODUÇÃO

Licitação é um procedimento administrativo que antecede à contratação pública,

visando a escolha da proposta mais vantajosa para o erário. É obrigatório o processo de

licitação para a contratação de obras, serviços, aquisição de bens e alienações pela

Administração Pública. A Lei Geral de Licitações, lei 8.666/1993 regulamenta normas gerais

sobre Licitações e Contratos Administrativos no âmbito dos Poderes da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios. A Constituição Federal de 1988 prevê tratamento

diferenciado e favorecido às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, especificamente

no artigo 170, inciso IX e artigo 179. Em virtude de tais prerrogativas da Constituição Federal

de 1988 foi criada a Lei Complementar de nº 123/06 que institui o Estatuto Nacional das

Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. A referida lei no seu Capítulo V – DO

ACESSO AOS MERCADOS, artigos 42 a 49 trata das aquisições públicas, especificamente

dos procedimentos em certames licitatórios na Lei Geral de Licitações nº 8.666/93 e na Lei do

Pregão nº 10.520/02.

As microempresas e empresas de pequeno porte empregam mais da metade dos

trabalhadores do Brasil, segundo dados do SEBRAE 2012. “Em 2011, as MPEs responderam

em média por 99% dos estabelecimentos, mais da metade dos empregos formais de

estabelecimentos privados não agrícolas do país e por parte significativa da massa de salários

paga aos trabalhadores destes estabelecimentos” segundo dados do Anuário do SEBRAE

2012. Representam maioria no mercado nacional, contudo das compras realizadas pela

Administração Pública respondiam a apenas uma pequena porcentagem das contratações

públicas antes da criação da Lei Complementar 123/06. Justifica-se a escolha do tema pelo

fato de que as micro e pequenas apesar da grande participação no cenário nacional estão em

situação de desigualdade frente às médias e grandes empresas no que tange à competividade,

fazendo com que grande parte delas fechem suas portas antes mesmo de dois anos de

atividade, conforme dados do SEBRAE 2013. Diante desse pressuposto, foi feito um estudo

para verificar o impacto da Lei Complementar nº 123/06 nas licitações públicas, ressaltando

que as contratações públicas passam a exercer uma função social deixando de ser apenas uma

forma de aquisição de bens e serviços para a Administração Pública, apoiando o crescimento

das micro e pequenas empresas na geração de emprego e renda.

O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o tratamento privilegiado e

diferenciado dado às microempresas e empresas de pequeno porte nas licitações públicas no

âmbito dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios de acordo

com a Lei Complementar nº 123/06 referente ao Estatuto Nacional das Microempresas e

Empresas de Pequeno Porte.

Como objetivos específicos têm-se: 1) Apresentar as vantagens e desvantagens

desse tratamento diferenciado; 2) Relatar sua importância, estrutura, processos e regras de

compras dentro da Administração Pública; 3) Identificar a previsão legal das licitações,

princípios que as norteiam, modalidades, tipos e fases de acordo com a Lei nº 8.666/93, Lei

Geral das Licitações, e; 4) Esclarecer os benefícios e privilégios das micro e pequenas

empresas nas licitações públicas, buscando identificar as alterações ocorridas com a criação

da Lei Complementar nº 123/06.

O presente trabalho apresenta além desta introdução como primeiro capítulo

apresenta mais seis capítulos. O segundo capítulo retrata aspectos da Administração Pública

como conceitos, objetivos, estrutura, organização administrativa e processo de compras. O

terceiro capítulo retrata assuntos referentes ao Processo Licitatório mostrando conceito,

importância, objetivos, modalidades, tipos e fases da licitação, processos necessários para a

sua realização, vantagens e desvantagens desse processo licitatório. O terceiro capítulo

também retrata assuntos referentes à importância e evolução das micro e pequenas empresas,

bem como os seus conceitos. O quarto capítulo mostra a metodologia utilizada para a

realização deste trabalho. Em seguida, o quinto capítulo faz uma análise das vantagens e

desvantagens do tratamento diferenciado dado às micro e pequenas nos processos licitatórios

de acordo com a Lei Complementar nº123/06. E por fim, o sexto e o sétimo capítulo referem-

se respectivamente à conclusão deste trabalho e às referências bibliográficas.

2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Neste capítulo será feita uma abordagem sobre Administração Pública a partir do

seu conceito esclarecendo o seu objetivo e importância, detalhando a sua estrutura, e a forma

de realização de suas compras.

2.1 Conceito, Objetivo e Importância da Administração Pública

Para entender o que é Administração Pública primeiramente é necessário entender

o conceito de Estado. Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2012, pag.61) explicam que o conceito

de Estado depende do ponto de vista que se analisa conforme definição a seguir:

Do ponto de vista sociológico é corporação territorial dotada de um poder de

mando originário (Jellinek); sob o aspecto político, é comunidade de

homens, fixada sobre um território, com potestade superior de ação, de mando e de coerção (Malberg); sob o prisma constitucional, é pessoa

jurídica territorial soberana (Biscaretti di Ruffia); na conceituação do nosso

Código Civil, é pessoa jurídica de Direito Público Interno (art. 14,I).

Gasparini (2008, pag.45) relata que: Organizado o Estado no que respeita à divisão do território, à forma de

governo, à investidura dos governantes, à instituição dos Poderes e às

garantias individuais, estruturam-se hierarquicamente, os órgãos encarregados do desempenho de certas atribuições que estão sob sua

responsabilidade.

Os órgãos públicos foram criados pelo governo para prestação de serviços

públicos ao seu povo, logo é necessário que esses órgãos públicos sejam bem administrados e

é a partir desse ponto que nasce a Administração Pública.

Diante do exposto, Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2012, pag.65) conceituam

Administração Pública:

A Administração Pública, em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo; em sentido material, é

o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em geral; em

acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico,

dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em beneficio da coletividade.

A Administração Pública tem o objetivo de cumprir os interesses da coletividade

deixando em segundo lugar os interesses particulares, ou seja, os interesses do povo

prevalecem sobre os interesses dos indivíduos. A administração pública tem o compromisso

de bem servir os interesses do povo de acordo com os preceitos do Direito e da Moral

Administrativa. Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2012, pag.84) escrevem que: “Os fins da

Administração Pública resumem-se num único objetivo: o bem comum da coletividade

administrada”.

A finalidade da Administração pública deve prevalecer em todos os meios de

administração, não seguindo o administrador a sua própria vontade, mas seguindo as leis e os

regulamentos ligados à moral de cada instituição. Não se pode fugir do objetivo ou da

finalidade da Administração. Não se pode tomar decisões que não estão prescritas em lei, nem

descumprir deveres ou renunciar poderes e prerrogativas impostos por lei sob risco de

desviar-se da real finalidade da Administração. A defesa dos interesses públicos é a principal

finalidade da administração segundo os princípios constitucionais da legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência conforme dita o artigo 37 da

Constituição Federal de 1988 a seguir: “A administração pública direta e indireta de qualquer

dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”.

Ressalta-se, que existem outros princípios que são apontados pela doutrina

administrativista como o princípio da Licitação Pública, o Princípio da prescritibilidade dos

ilícitos administrativos, o princípio da responsabilidade civil da Administração, o princípio da

razoabilidade (ou proporcionalidade) e o princípio da supremacia do interesse público.

O Princípio da Legalidade está fundamentado na Constituição Federal de 1988

conforme afirma o artigo 5º, inciso II, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer

alguma coisa senão em virtude de lei”.

Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2012, pag. 89) explicam que:

A legalidade, como princípio de administração, significa que o administrador

público está, em toda sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei, e às

exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de

praticar ato inválido e expor-se à responsabilidade disciplinar, civil e criminal,

conforme o caso.

Na administração privada existe a ideia de que o que não é proibido por lei, é

permitido. Enquanto, que na Administração Pública só é permitido fazer o que está autorizado

por lei, ou seja, a Administração só pode fazer aquilo que a lei determina.

O Princípio da Moralidade Administrativa, conforme escreve MEIRELLES,

ALEIXO E BURLE FILHO (2012, pag.91).

A moralidade administrativa não se confunde com a moralidade comum; ela é

composta por regras de boa administração, ou seja, pelo conjunto de regras finais e

disciplinares suscitadas não só pela distinção entre o Bem e o Mal, mas também pela

ideia geral de administração e pela ideia de função administrativa.

Mello (2008, pag. 119) acrescenta que: “A Administração e seus agentes tem de

atuar na conformidade de princípios éticos. Violá-los implicará violação ao próprio Direito,

configurando ilicitude que assujeita a conduta viciada a invalidação”.

A Constituição de 1988 em seu artigo 5º, inciso LXXIII fortalece e protege ainda

mais o princípio da moralidade através da ação popular colocando a moralidade

administrativa como um dos bens jurídicos tuteláveis.

Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato

lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade

administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o

autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

O Princípio da Impessoalidade recebeu várias interpretações da doutrina

brasileira, portanto será analisado sob dois pontos de vista, primeiro como desdobramento do

princípio da igualdade e segundo como desdobramento do principio da finalidade.

Mello (2008), estabelece que o princípio da impessoalidade não é senão o próprio

princípio da igualdade ou isonomia, justificando que a Administração tem que tratar a todos

os administrados sem discriminações, sem favoritismo. Simpatias e animosidades pessoais,

políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa.

Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2012), por sua vez, estabelecem que o princípio

da impessoalidade nada mais é que o clássico princípio da finalidade justificando que o

mesmo impõe ao administrador público que só pratique o ato para seu fim legal e que o fim

legal é a norma de Direito que indica o objetivo do ato, de forma impessoal.

Já o Princípio da Publicidade abrange a divulgação oficial dos atos

administrativos do Estado, para que haja transparência da atividade administrativa ou gestão

pública, sendo requisito de eficácia, pois só produzirá efeitos os atos que forem publicados. O

texto constitucional de 1988 no seu artigo 5º, inciso XXXIII, artigo 3º, inciso II e artigo 216,

parágrafo 2º define que:

Art.5º. XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de

seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no

prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja

imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

Art.3º. II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre

atos de governo.

Art.216. § 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da

documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a

quantos dela necessitem.

O Princípio da Eficiência de acordo com MEIRELLES, ALEIXO E BURLE

FILHO (2012) esclarece que a função administrativa deve ser exercida com presteza,

perfeição e rendimento funcional. Por sua vez, GASPARINI (2008, pag.21) comenta que “o

princípio da eficiência impõe à Administração Pública direta e indireta a obrigação de realizar

suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento”.

Abordados os princípios básicos da Administração Pública nos tópicos anteriores,

faz- necessário agora um estudo simplificado sobre a estrutura da Administração Pública, ou

seja, a sua forma de organização ao qual é pautada nos princípios constitucionais.

2.2 Estrutura da Administração Pública

A Administração Pública possui na sua estrutura Órgãos Públicos e Entidades

Administrativas de Direito Público (autarquias e fundações públicas) e Entidades

Administrativas de Direito Privado (fundações governamentais privadas, sociedades de

economia mista e empresas públicas). O Direito administrativo, no estudo da organização

administrativa do Estado, aborda a estrutura interna da Administração Pública, dos órgãos e

das pessoas jurídicas que a compõem.

Após organizado o Estado Federal, a União, os Estados federados, o Distrito

Federal e os Municípios segue-se à estruturação da Administração Pública por Lei é a

estruturação legal dos órgãos que desempenharão funções com atribuições específicas,

conforme GASPARINI(2008).

A Administração Pública dispõe de duas técnicas para cumprir suas atividades

administrativas: a desconcentração e descentralização. A noção de órgão público é o conceito

central da concentração e da desconcentração esclarece MAZZA (2012).

A diferença entre desconcentração e descentralização se faz no fato de que na

desconcentração existe subordinação com distribuição de competências dentro do mesmo

órgão público. Na descentralização não existe subordinação, ou seja, não há nenhum vínculo

de hierarquia, havendo apenas um poder de fiscalização do Estado, sendo de extrema

importância para a garantia do interesse público na busca da eficiência para o exercício da

função pública conforme RODRIGUES (2011). O Estado descentraliza as atividades

administrativas quando transfere a particulares o exercício de certas atividades que lhe são

próprias ou quando cria outras pessoas de personalidade de Direito Público ou Privado. Mas,

quando o Estado desempenha essas atividades as estará mantendo centralizadas. MELLO

(2008).

Gasparini (2008, pag.47) escreve que: “As responsabilidades que, por lei são

atribuídas ao Estado hão de ser, em face do princípio da eficiência administrativa, repartidas e

desempenhadas pelas diversas unidades que compõem a sua estrutura” Diante do exposto, o

entendimento de órgãos públicos conforme ditam MEIRELLES, ALEIXO E BURLE FILHO

(2012, pag.68): “Os órgãos públicos são centros de competência instituídos para o

desempenho de funções estatais, através de seus agentes, cuja atuação é imputada à pessoa

jurídica a que pertencem”

Mazza (2012, pag. 132) comenta que “Os órgãos públicos pertencem à pessoas

jurídicas, mas não são pessoas jurídicas. São divisões internas, partes de uma pessoa

governamental daí recebem o nome de repartições públicas”.

Os órgãos públicos não possuem personalidade jurídica, mas estão ligados a uma

pessoa detentora de tal personalidade. Cabendo a eles competência para realizar as atribuições

que lhe são dadas pelo Estado.

Os órgãos públicos são classificados: quanto à sua posição estatal, quanto à sua

estrutura e quanto à sua atuação funcional conforme especificado no Quadro 01 no

entendimento de MEIRELLES, ALEIXO E BURLE FILHO (2012).

Quadro 01- Classificação dos órgãos públicos.

Quanto à posição estatal, os órgãos podem ser:

Independentes

Não possuem subordinação hierárquica ou

funcional e estão no topo da pirâmide

governamental. São os órgãos representativos dos

Poderes do Estado.

Exemplos: Corporações Legislativas, as Chefias

de Executivo, tribunais Regionais Federais,

Tribunais Judiciários e os Juízos Singulares,

Ministério Público federal e estadual, as

defensorias públicas e os Tribunais de Contas.

Autônomos

Possuem autonomia administrativa, financeira e

técnica. Estão abaixo dos órgãos independentes e

subordinados aos seus chefes. Exemplos:

Ministérios, Secretarias e Advocacia- Geral da

União entre outros

subordinados diretamente aos Chefes dos

Poderes.

Superiores

Não possuem autonomia administrativa nem

financeira. Possuem poder de direção, controle,

decisão e comando dos assuntos relacionados à

sua competência. Subordinados ao controle

hierárquico de uma chefia mais alta.

Exemplos: Secretarias- Gerais, Procuradorias,

Coordenadorias.

Subalternos

Pouco poder de decisão e atribuições de

execução como atividades-meio e atendimento ao

público.

Quanto à estrutura, os órgãos podem ser:

Órgãos Simples ou Unitários A sua estrutura é composta por um único centro

de competência.

Órgãos Compostos

A sua estrutura á composta por outros órgãos

menores com funções desconcentradas e

especializadas, sendo subordinados ao órgão

mais alto.

Quanto à atuação funcional, os órgãos podem ser:

Singulares ou unipessoais

A sua atuação e tomada de decisão é feita através

de um único agente investido como titular. Ex.

Presidência da República, Governadores e

Prefeitos.

Colegiados ou pluripessoais A sua atuação e tomada de decisão é feita através

da vontade da maioria de seus membros.

Elaborado: Autor do trabalho

Os órgãos públicos não possuem personalidade jurídica, nem vontade própria,

mas realizam as funções do Estado de acordo com as suas atribuições. Os órgãos apesar de

não possuírem personalidade jurídica possuem prerrogativas funcionais próprias.

Nas palavras do mestre GASPARINI (2008, pag.53), a estrutura é feita da seguinte forma:

A estruturação da Administração Pública, compreendida como a instituição dos

órgãos encarregados da execução de certas e determinadas atribuições, faz-se com a

observância do princípio da hierarquia, que é a relação de subordinação existente entre

os órgãos públicos com competência administrativa, chamada por alguns de poder

hierárquico.

Após a explanação referente à estrutura da Administração Pública Brasileira

caberá agora especificar a sua divisão em Administração Pública Direta e Indireta.

2.3 Administração Direta e Indireta

De acordo com o Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, que dispõe

sobre a organização da Administração Pública Federal e estabelece diretrizes para a Reforma

Administrativa, a Administração Pública divide-se em administração Direta e Indireta. Nos

termos do artigo 4°, incisos I e II desse decreto, a Administração Direta é a “que se constitui

dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos

Ministérios” e a Administração Indireta “é a que compreende as seguintes categorias de

entidades dotadas de personalidade jurídica própria: a) Autarquias; b) Empresas Públicas; c)

Sociedades de Economia Mista; d) Fundações Públicas”.

Administração Pública Direta ou Centralizada é “o conjunto formado pela

somatória de todos os órgãos públicos. Pertencem à Administração Direta todas as entidades

federativas, ou seja, União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios.” explica

MAZZA (2012, pag132).

Administração Pública Indireta ou Descentralizada é “o conjunto de pessoas

jurídicas autônomas criadas pelo Estado” conceitua MAZZA (2012, pag.133). É composta por

pessoas jurídicas autônomas de direito público ou privado. As autarquias, fundações públicas,

agências reguladoras e associações públicas são consideradas pessoas jurídicas de direito

público. As empresas públicas, as sociedades de economia mista e fundações governamentais

são consideradas pessoas jurídicas de direito privado. Assim, a Administração Pública

Indireta pode ser entendida como um grupo formado por pessoas jurídicas de direito público e

direito privado com intuito de auxiliar a Administração Direta no exercício de suas atividades.

O grupo formado como órgãos integrantes da Administração Pública Indireta será

abordado da seguinte forma:

Autarquias: De acordo o artigo 5º, inciso I do Decreto-Lei 200/67, as autarquias são

“o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita

próprios, para executar atividades da Administração Pública que requeiram para seu melhor

funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada” As autarquias possuem

várias características que serão detalhadas a seguir acordo no entendimento de MAZZA

(2012): São pessoas jurídicas de direito público criadas e extintas por lei específica, dotadas

de autonomia gerencial, orçamentária e patrimonial, ou seja, não possuem subordinação

hierárquica à Administração Pública direta. Possuem apenas um tipo de supervisão ou tutela

ministerial, nunca exercem atividade econômica, ou seja, são criadas para exercerem

atividades típicas da Administração como prestação de serviços públicos, exercício do poder

de polícia e promoção do fomento. São imunes a impostos de acordo com artigo 150,§2º da

Constituição Federal, seus bens são públicos, impenhoráveis, inalienáveis e imprescritíveis.

Praticam atos administrativos, celebram contratos administrativos, o seu regime de

contratação é estatutário, possuem prerrogativas especiais da Fazenda Pública e

responsabilidade objetiva e direta aos prejuízos causados por seus agentes a particulares, aos

quais respondem objetivamente não precisando comprovar culpa ou dolo. As autarquias

respondem diretamente, sendo a própria entidade acionada jucidialmente sem necessidade de

recorrer à Administração Direta, sendo acionada apenas subsidiariamente, quando for

necessário.

Além dessas características a doutrina especifica diversas espécies de autarquias

que serão explicadas conforme Quadro 02, ainda de acordo com MAZZA (2012).

Quadro 02 - Espécies de Autarquias

Autarquias Administrativas ou de Serviço São autarquias comuns. Exemplo: INSS

Autarquias Especiais

Possuem autonomia e são divididas em

Autarquias Especiais Stricto Sensu (Exemplo:

Banco Central, SUDAM e SUDENE) e Agências

Reguladoras (Exemplo: ANATEL, ANVISA e

ANTAQ).

Autarquias Corporativas

Exercem controle e fiscalização sobre algumas

categorias profissionais. Exemplo: CREA, CRO

e CRM;

Autarquias Fundacionais

São conhecidas como fundações públicas criadas

“mediante a afetação de determinado patrimônio

público a certa finalidade”. Como exemplo o

PROCON, FUNASA E FUNAI.

Autarquias Territoriais

De acordo com o artigo 33 da Constituição

Federal de 1988, as autarquias territoriais

recebem o nome de territórios federais

administrados diretamente pela União.

Elaborado: Autor do Trabalho

Nota-se que as autarquias ao mesmo tempo em que possuem independência, estão

subordinadas ao controle estatal para que o exercício das suas funções seja exercido dentro

dos limites definidos em lei.

As empresas públicas e as sociedades de economia mista formam as chamadas

empresas estatais. Serão especificadas as principais características que as empresas públicas

possuem que as diferenciam das sociedades de economia mista.

Empresas Públicas: De acordo com o artigo 5º, inciso II do Decreto-Lei 200/67,

empresa pública significa:

Entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio

próprio e capital exclusivo da União ou de suas entidades da Administração Indireta,

criada por lei para desempenhar atividades de natureza empresarial que o Governo

seja levado a exercer, por motivos de conveniência ou contingência administrativa,

podendo tal entidade revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito.

As Empresas Públicas são criadas por lei, seu capital é totalmente público, sua

forma de organização é livre podendo ser sociedade anônima, limitada e comandita. Como

exemplos, têm-se a Caixa Econômica Federal (CEF) e a Empresa Brasileira de Correios e

Telégrafos (ECT).

Ressalta-se, portanto que as empresas públicas são criadas para exploração de

atividades econômicas pelo Estado podendo ser tanto de caráter lucrativo como de prestação

de serviços públicos, e independente do seu objeto as empresas públicas sempre terão

personalidade jurídica de direito privado.

Sociedade de Economia Mista: Nos termos do Decreto-Lei 200/67, artigo 5º, inciso

III é definida como:

Entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para o

exercício de atividade de natureza mercantil, sob a forma de sociedade anônima,

cujas ações com direito a voto pertençam, em sua maioria, à União ou à entidade da

Administração Indireta

As sociedades de economia mista possuem as seguintes características: Criação

autorizada por lei, a maioria do seu capital público, sua forma de organizacional é de

sociedade anônima e suas demandas são julgadas na justiça comum estadual.

Exemplos: Banco do Brasil S/A e a PETROBRÁS (Petróleo Brasileiro S/A).

Vale lembrar que as principais diferenças entre a empresa pública e a sociedade de

economia mista é o seu capital e o tipo societário. Na empresa pública, o capital é totalmente

público enquanto que na sociedade de economia mista o capital é público e privado; Na

empresa pública, a sociedade pode ser anônima, limitada ou comandita e na sociedade de

economia mista, a sociedade só pode ser anônima.

Fundações Públicas: O Decreto-Lei 200/67 artigo 5º, inciso IV define que a

Fundação Pública é:

A entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos,

criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que

não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia

administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e

funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes.

Cunha Jr (2006) explica que tanto a fundação pública como a fundação privada

possuem regime de direito público, sendo que naquela o regime é totalmente de direito

público e nesta o regime é parcialmente de direito público.

Entende-se, portanto que a fundação pública é regida por normas de direito

público e a fundação privada é regida por normas de direito privado, ambas consideradas

patrimônio público com interesses públicos.

2.4 Processo/Regras de Compras dentro da Administração Pública

O processo de compras na Administração Pública é um procedimento

extremamente rigoroso e burocrático denominado de Licitação, determinado em lei

específica, lei 8.666/93. Ao contrário dos particulares que possuem total liberdade de

compras, a Administração Pública quando quer adquirir bens é obrigada a licitar procurando

sempre a proposta mais vantajosa em igualdade de concorrência a todos os interessados.

No entendimento de GASPARINI (2008, pag. 476):

A seleção dessa melhor proposta, feita segundo os critérios objetivos previamente estabelecidos, ocorre entre as apresentadas por interessados que pretendem contratar

com a entidade obrigada a licitar e que atenderem ao seu chamamento, promovido

mediante instrumento convocatório disciplinador de todo o procedimento,

denominado por alguns, lei interna da licitação e do contrato.

Os órgãos da Administração Pública Direta (União, Estados, Distrito Federal e

Municípios), os órgãos da Administração Indireta (Autarquias, fundações públicas empresas

públicas e sociedades de economia mista) e as demais entidades controladas direta ou

indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios estão obrigados a licitar.

A Lei Geral de Licitações e Contratos Administrativos foi regulamentada pela

Lei Federal nº 8.666, de 21 de junho de 1993, atualizada pelas Leis nº 8.883, de 8 de junho de

1994, 9.648, de 27 de maio de 1998 e pela Lei 9.854, de 27 de outubro de 1999.

A Lei 8.666/93 que estabelece normas gerais sobre licitações e contratos

administrativos no seu artigo 2º relata que “as obras, serviços, inclusive de publicidade,

compras, alienações, concessões, permissões e locações da Administração Pública, quando

contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação (...).” E ainda dita

que as modalidades de licitação são cinco: Concorrência, Tomada de Preços, Convite,

Concurso e Leilão. No entanto para aquisição de bens e serviços comuns foi criada uma sexta

modalidade de Licitação pela Lei 10.520, de 17 de julho de 2002, denominada Pregão.

A referida lei prevê de acordo com o artigo 14 em relação ao processo de compras

pela Administração Pública que “Nenhuma compra será feita sem a adequada caracterização de seu

objeto e indicação dos recursos orçamentários para seu pagamento, sob pena de nulidade do ato e

responsabilidade de quem lhe tiver dado causa”. O texto constitucional de 1988 no seu artigo 37,

XXI relata que:

Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e

alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam

obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da

lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica

indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

Nota-se que esse mesmo dispositivo constitucional que exige licitação obrigatória

para os contratos ali mencionados, ressalva que em alguns casos previstos em lei a licitação

deixa de ser obrigatória sendo realizada de forma direta, mediante os requisitos previstos na

Lei 8.666/93 podendo ser dispensável e inexigível de acordo com as previsões tanto do artigo

24 e seus parágrafos quanto do artigo 25 e seus parágrafos da referida lei.

Cunha Jr (2006), explica a diferença entre dispensa e inexigibilidade de licitação

comentando que na dispensa existe a possibilidade de competição de modo que existiria a

possibilidade de licitação, mas por razões justificadas em lei ela pode ser dispensada com

objetivo de interesses públicos, podendo haver a contratação direta com terceiros. Na

inexigibilidade não existe a possibilidade de competição, pois não existe concorrência

havendo apenas um ofertante que atenda as necessidades da Administração. Em artigo de

CARVALHO [2013] entender-se que:

A política de compras governamentais no Brasil, apesar de estar alicerçada em uma

legislação pouco flexível, está seguindo a tendência para a flexibilização dos

processos, com controle nos resultados e não apenas nos meios. Já está comprovado

que o excesso de formalismos não garante a utilização eficiente dos recursos

públicos.

Para melhor entendimento do processo de compras da Administração Pública é

importante analisar as etapas do procedimento licitatório, sua importância, fases,

modalidades, tipos e como é realizado esse processo.

3 PROCESSO LICITATÓRIO

Neste capítulo serão abordados assuntos relativos ao processo licitatório, a

chamada Licitação. Será feita uma explanação sobre os seus conceitos destacando a sua

importância e o seu objetivo para a Administração Pública, bem como as modalidades

licitatórias, os tipos de licitação e as etapas necessárias para a realização desse processo.

Quanto às microempresas e empresas de pequeno portes serão especificados os seus conceitos

mostrando a sua importância e evolução.

3.1 Conceitos, Objetivos e Importância para a Administração Pública.

Segundo o autor GASPARINI (2008, pag. 477) o conceito de licitação pode ser

entendido como:

Procedimento administrativo através do qual a pessoa a isso juridicamente obrigada

seleciona, em razão de critério objetivos previamente estabelecidos, de interessados

que tenham atendido à sua convocação, a proposta mais vantajosa para o contrato ou

ato de seu interesse.

Por sua vez, MEIRELLES, ALEIXO E BURLE FILHO (2012, pag.287)

conceituam Licitação como:

Procedimento administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a

proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse, inclusive o da promoção do desenvolvimento econômico sustentável e fortalecimento de cadeias produtividade

de bens e serviços domésticos.

O artigo 3º da Lei 8.666/93 é considerado um dos artigos de grande relevância,

pois sintetiza todo o conteúdo da Lei 8.666/93 quando especifica os objetivos da Licitação e

cita os princípios norteadores da mesma:

A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção

do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita

conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da

moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da

vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são

correlatos.

A Lei 12.349/10 deu nova redação ao artigo 3º da Lei 8.666/93 objetivando a

promoção do desenvolvimento nacional sustentável como uma das finalidades da licitação.

“Torna-se particularmente relevante a atuação privilegiada do setor público com vistas à

instituição de incentivos à pesquisa e à inovação que, reconhecidamente, consubstanciam

poderoso efeito indutor ao desenvolvimento do país.” Exposição de motivos da MP 495/2010

convertida na Lei 12.349/2010.

Pode-se afirmar que o objetivo principal da Licitação é garantir a proposta mais

vantajosa à Administração, segundo o princípio da economicidade e destaque também deve

ser dado ao princípio da isonomia que almeja conceder igualdade de participação aos

interessados em prestar serviços ou vender seus produtos.

Mello (2008, pag. 516) comenta a respeito dos objetivos da Licitação citando que:

A licitação visa a alcançar duplo objetivo: proporcionar às entidades governamentais possibilidade de realizarem o negócio mais vantajoso e assegurar aos administrados

ensejo de disputarem a participação nos negócios que as pessoas governamentais

pretendam realizar com particulares.

Justen Filho (2005, pag. 43) na sua interpretação relata que:

Selecionar a proposta mais vantajosa não é suficiente para validar a licitação. A

obtenção da vantagem não autoriza violar direitos e garantias individuais. Portanto,

deverá ser selecionada a proposta mais vantajosa, mas além disso, têm de respeitar-

se os princípios norteadores do sistema jurídico, em especial o da isonomia. Por

mais vantajosa que fosse a proposta selecionada, não seria válida a licitação que

violasse direitos e garantias individuais.

Diante do exposto faz- se necessária a enumeração dos princípios norteadores da

Licitação conforme o disposto no artigo 3º da Lei de Licitações, a seguir:

Princípio da Legalidade: Enuncia que todas as fases e atos da Licitação são

procedimentos vinculados à lei. “A lei define as condições da atuação dos agentes

administrativos, estabelecendo a ordenação (sequência) dos atos a serem praticados e

impondo condições excludentes de escolhas pessoais ou subjetivas.” JUSTEN FILHO ( 2005,

pag.48).

Princípio da Impessoalidade: Esse princípio ressalta que não se deve haver

privilégios ou discriminações para com os licitantes sendo todos tratados de forma imparcial,

com neutralidade. O princípio da impessoalidade se confunde com o princípio da finalidade

administrativa e possui como objetivo a prática de atos com finalidade legal de forma

impessoal. O agente público deve cumprir a finalidade legal do ato sem ser motivado por

questões pessoais.

Di Pietro (2004, pag. 306) escreve que:

Todos os licitantes devem ser tratados igualmente, em termos de direitos e

obrigações, devendo a Administração, em suas decisões pautar-se por critérios

objetivos, sem levar em consideração as condições pessoais do licitante ou as

vantagens por ele oferecidas.

Princípio da Igualdade: Esse princípio trata da igualdade de participação em todas as

fases do procedimento licitatório a todos os interessados. De acordo com MELLO (2008, pag.

523) “O princípio da igualdade implica o dever não apenas de tratar isonomicamente todos os

que afluírem ao certame, mas também o de ensejar oportunidade de disputa-lo a quaisquer

interessados que, desejando dele participar, podem oferecer as indispensáveis condições de

garantia.”

Princípio da Publicidade: Devem ser públicos todos os atos e termos do processo

licitatório. Como reza o §3º do artigo 3º da Lei de Licitações 8.666/93: “A licitação não será

sigilosa, sendo públicos e acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao

conteúdo das propostas, até a respectiva data de abertura”.

Princípio da Moralidade e Probidade Administrativa: O procedimento licitatório

deve ser pautado na ética, na honestidade e com zelo. Di Pietro (2004, pag. 306) explica que

“o princípio da moralidade exige da Administração comportamento não apenas lícito, mas

também consoante com a moral, os bons costumes, as regras de boa administração, os

princípios de justiça e de equidade, a ideia comum de honestidade.” Esse princípio está

relacionado com o princípio da probidade administrativa. De acordo com o artigo 37, §4º da

Constituição Federal de 1988, a probidade administrativa pode acarretar “a suspensão dos

direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao

erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.

O princípio da moralidade administrativa está ligado também ao princípio da legalidade, mas

não se confundem, apenas se misturam visto que a moralidade impõe à Administração um

comportamento lícito ligado à moral e os bons costumes.

Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório: O Edital é a lei interna da

licitação onde a Administração está totalmente vinculada devendo obedecer à todas as suas

regras, de acordo como o artigo 41 da Lei de Licitações, ao qual esclarece que “ A

Administração não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha

estritamente vinculada.”

Princípio do Julgamento Objetivo: O julgamento das propostas deve ser objetivo de

acordo com os critérios do edital afastando-se o julgamento subjetivo ligado a sentimentos,

emoções ou questões pessoais. Enfatiza o artigo 45 da Lei de Licitações que:

O julgamento das propostas será objetivo, devendo a Comissão de licitação ou o

responsável pelo convite realizá-lo em conformidade com os tipos de licitação, os

critérios previamente estabelecidos no ato convocatório e de acordo com os fatores

exclusivamente nele referidos, de maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes

e pelos órgãos de controle.

De acordo com os princípios explicitados acima deve-se reger o procedimento

licitatório, ressaltando que na ausência da aplicação de algum princípio que norteia o processo

licitatório não será possível dar andamento à licitação. Contudo, serão abordadas as

modalidades e os tipos de licitação a seguir.

3.2 Modalidades e Tipos de Licitação

A Administração Pública quando deseja contratar deve escolher entre os

fornecedores interessados a proposta mais vantajosa. Para tanto é necessário uma série de

procedimentos para a realização desse processo conhecido como licitação. De acordo com o

que a Administração deseja contratar esse procedimento varia conforme o valor e a natureza

do objeto a ser contratado é o que chamamos de modalidades de licitação. De acordo com a

Lei 8.666/93 em seu artigo 22 são cinco as modalidades de licitação: concorrência, tomada de

preços, convite, concurso e leilão. Com o advento da lei 10.520/02 surgiu uma nova

modalidade: o pregão.

Gasparini (2008, pag. 558) comenta que as modalidades licitatórias se dividem

em dois grupos. O primeiro grupo formado pelas modalidades sem finalidade específica:

concorrência, tomada de preços e convite. O que vai definir o tipo de modalidade a ser

utilizada nesse grupo é o valor, pois qualquer uma delas pode ser utilizada para contratação de

obras, serviços, fornecimento ou alienação. O segundo grupo é formado pelas modalidades

com finalidade específica: concurso, leilão e pregão. O concurso tem a finalidade de escolha

de trabalho técnico, científico ou artístico, enquanto que o leilão tem a finalidade de vendas de

bens móveis que não são mais utilizados pela Administração, ou vendas de bens apreendidos

ou penhorados e até de bens imóveis cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais

ou de dação em pagamento de acordo com o art.19 da Lei 8.666/93. Já o pregão tem a

finalidade de aquisição e contratação de bens e serviços comuns de acordo com a Lei

10.520/02, Lei do Pregão.

O artigo 23 nos seus incisos I e II da Lei 8.666/93 especifica os valores para a

contratação das modalidades de concorrência, tomada de preços e convite, conforme Quadro

03:

Quadro 3 – Valores nas modalidades concorrência, tomada de preços e convite.

PARA OBRAS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA

Convite Até R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais)

Tomada de preços Até R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais)

Concorrência Acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e

quinhentos mil reais)

PARA COMPRAS E SERVIÇOS

Convite Até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais)

Tomada de Preços Até R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil

reais)

Concorrência Acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta

mil reais).

Elaborado: Autor do Trabalho

Ainda baseando-se nas explicações do mestre GASPARINI (2008, pag. 558) é

importante ressaltar que: ”No primeiro grupo, a concorrência é a modalidade mais solene,

enquanto que o convite é a menos formal. A menos solene pode ser substituída por

modalidade mais formal: o inverso não é permitido”.

Nota-se que a escolha das modalidades licitatórias está ligada primeiramente ao

valor do objeto e depois às suas características por esse motivo se fazem necessárias as

definições das modalidades de licitação descritas no artigo 22 e parágrafos da referida Lei de

licitações, conforme quadro abaixo:

Quadro 04 – Modalidades de Licitação – Lei nº 8.666/93

Concorrência

Quaisquer interessados que, na fase inicial de

habilitação preliminar, comprovem possuir os

requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto.

Tomada de Preços

Interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para

cadastramento até o terceiro dia anterior à data do

recebimento das propostas, observada a necessária qualificação.

Convite

Interessados do ramo pertinente ao seu objeto,

cadastrados ou não, escolhidos e convidados em

número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local

apropriado, cópia do instrumento convocatório e

o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem

seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e

quatro) horas da apresentação das propostas.

Concurso

Quaisquer interessados para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a

instituição de prêmios ou remuneração aos

vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa oficial com

antecedência mínima de 45 (quarenta e

cinco) dias.

Leilão

Quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a administração ou de

produtos legalmente apreendidos ou penhorados,

ou para a alienação de bens imóveis prevista no

art. 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação.

Elaborado: Autor do Trabalho

A Lei 10.520/2002 instituiu uma nova modalidade de licitação: o pregão, que

diferente das outras modalidades de licitação contidas na Lei 8.666/93 que são definidas pelo

valor; o pregão destina-se à aquisição de bens e serviços comuns. Nos termos do artigo 1º,§1º

da Lei do Pregão bens e serviços comuns podem ser definidos como “aqueles cujos padrões

de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de

especificações usuais no mercado”.

O pregão pode ser tanto presencial como eletrônico, no caso deste último é feito

pela internet com recursos da tecnologia da informação e todas as comunicações são feitas por

meio eletrônico.

Portanto, após a devida escolha da modalidade de licitação, o agente

administrativo deverá fazer a escolha do tipo de Licitação, que pode ser definido como os

vários critérios utilizados para o julgamento das propostas em consonância com o princípio do

julgamento objetivo.

O art.45, §1º da Lei 8.666/93 elenca os tipos de licitação que podem ser adotados

em qualquer modalidade de licitação com exceção da modalidade concurso. Ressalta-se que o

legislador preocupou-se apenas em definir o tipo de licitação de menor preço, para os demais

tipos buscou-se entendimento no artigo 46 da referida lei, conforme a seguir:

Menor preço: Será o vencedor quem apresentar a proposta de menor preço de acordo

com as especificações do edital ou convite, ou seja o preço representa fator de grande

relevância;

Melhor técnica: Entende-se que se exige qualidade ao invés de preço. Procedimento

utilizado exclusivamente para serviços de natureza intelectual. O artigo 46, §1º da Lei

8.666/93 esclarece os procedimentos que deverão estar especificados no instrumento

convocatório para realização deste tipo de licitação. Neste tipo de licitação devem ser

entregues três envelopes: um envelope com a proposta técnica, um envelope com a proposta

dos preços e outro envelope com os documentos de habilitação. No instrumento convocatório

deve ser definido o preço máximo que a Administração se propõe a pagar, bem como as notas

mínimas para habilitação e os critérios que serão utilizados para pontuação.

Técnica e preço: Exige-se qualidade e o preço, que também tem um fator

preponderante. Esse tipo de licitação é utilizado na contratação de bens e serviços de

informática de acordo com o §4º do artigo 45. Sendo utilizado principalmente nos serviços de

natureza predominantemente intelectual, onde são adotados os seguintes procedimentos de

acordo o art.46, §2º da Lei 8.666/93:

1. Será feita a avaliação e a valorização das propostas de preços, de acordo com

critérios objetivos preestabelecidos no instrumento convocatório;

2. A classificação dos proponentes far-se-á de acordo com a média ponderada das

valorizações das propostas técnicas e de preço, de acordo com os pesos

preestabelecidos no instrumento convocatório.

Maior lance ou oferta: Critério utilizado na modalidade Leilão nos casos de

alienação de bens ou concessão de direito real de uso. Neste tipo de licitação será o vencedor

aquele que propor o maior lance ou a maior oferta. Justen Filho (2005, pag. 441) na sua

sabedoria escreve que:

Não há cabimento em imaginar que a escolha do tipo adequado de licitação

propiciaria, por si só, a satisfação do interesse estatal (ou vice-versa).É necessário manter em mente que o tipo de licitação envolve uma formalidade instrumental,

não um fim suficiente em si mesmo para satisfazer o dito interesse.

E cita ainda que:

Supõe-se, muitas vezes, que basta identificar o objeto a ser licitado e daí se obteria a seleção do tipo de licitação adequado. Não é assim, eis que o fundamental é identificar

a natureza do interesse a ser satisfeito e, muito mais, eleger critérios de qualidade

mínima e de julgamento satisfatório.

Ressalta-se que após a escolha da modalidade e do tipo de licitação se iniciará

as fases da licitação, ou seja, os processos necessários à sua realização que compreendem

duas fases específicas, as quais serão estudadas a seguir.

.

3.3 Processos para a realização de licitação na Administração Pública.

Uma vez escolhida a modalidade e o tipo de licitação se iniciará as fases da

licitação, ou seja, os processos para a realização da licitação. O processo licitatório

compreende duas fases específicas: A fase interna, também chamada de processo licitatório e

a fase externa chamada de procedimento licitatório de acordo com GASPARINI (2008).

O art. 38 da Lei 8.666/93 normatiza a fase interna da licitação no que diz:

Art. 38. O procedimento da licitação será iniciado com a abertura de processo

administrativo, devidamente autuado, protocolado e numerado, contendo a

autorização respectiva, a indicação sucinta de seu objeto e do recurso próprio

para a despesa, e ao qual serão juntados oportunamente:(...)

Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2012, pag. 310) nos ensinam que “O

procedimento da licitação inicia-se na repartição interessada com a abertura de processo em

que a autoridade competente determina sua realização, define seu objeto e indica recursos

hábeis para a despesa”.

Na fase interna do procedimento licitatório deve ser observada a seguinte

sequência de atos preparatórios, conforme orientações do TCU (2010 pag. 140) no Quadro 05:

Quadro 5 – Atos preparatórios na fase interna da licitação.

1º passo

O setor interessado faz uma solicitação expressa

indicando a sua necessidade.

2º passo

A autoridade competente dará aprovação para inicio

do processo licitatório especificando os motivos de

acordo com os princípios da oportunidade, conveniência e relevância para o interesse publico.

3º passo

O processo deve ser protocolizado e numerado para

autuação.

4º passo

Baseado em projeto básico ou termo de referência

apresentado, deve ser elaborada as especificações do objeto de forma clara e precisa.

5º passo

Nas licitações de obras e serviços nas modalidades de

concorrência, tomada de preços e convite deve ser

elaborado previamente e obrigatoriamente um projeto básico.

6º passo

Nas licitações de bens e serviços comuns na

modalidade pregão deve ser elaborado previamente e

obrigatoriamente o termo de referência.

7º passo

Deve ser feita pesquisa de mercado de no mínimo três fornecedores do ramo correspondente ao objeto a ser

licitado para estimativa de preço para contratação.

8º passo

Indicação das dotações orçamentárias para

comprovação de recursos face a despesa.

9º passo

Verificação da adequação orçamentária e financeira,

em conformidade com a Lei de Responsabilidade Fiscal, quando for o caso.

10º passo Elaboração de projeto executivo.

11º passo

Adoção da modalidade e do tipo de licitação a ser

utilizado.

Elaborado: Autor do Trabalho

Diante do exposto se faz necessária a definição de alguns itens para que haja uma

melhor compreensão do texto.

Objeto: No entendimento de MEIRELLES, ALEIXO E BURLE FILHO (2012, pag.

296) “o objeto da licitação é a obra, o serviço, a compra, a alienação, a concessão, a

permissão, a locação que afinal, será contratada com o particular”.

Projeto Básico: Conforme texto do art.6º, IX da Lei de licitações, o projeto básico

pode ser definido como:

IX- Projeto Básico: Conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de

precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou

serviços objeto da licitação elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos

preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado tratamento do

impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução.

O projeto básico deve ser elaborado de acordo com os critérios da Lei nº 8.666/93.

Ressalta-se que o projeto básico é extremamente necessário para a execução de obra ou

serviço de engenharia e é exigido também nas compras diretas onde há a dispensa ou a

inexigibilidade de licitação.

Projeto Executivo: “É o conjunto dos elementos necessários e suficientes à execução

completa da obra, de acordo com as normas pertinentes da Associação Brasileira de Normas

Técnicas – ABNT” como especifica o texto do art.6º, X da Lei nº 8.666/93. Ressalta-se que

nas licitações para a contratação de obras é necessário tanto o projeto básico como o projeto

executivo, sendo este último rico em detalhes.

Edital: Considerado a lei interna da licitação tem por finalidade especificar as

condições de participação dos licitantes e manter vínculo da administração pública com os

próprios licitantes, artigo 41 da lei de licitações. O Edital é um ato convocatório, assim como

o convite.

Termo de Referência: Faz parte do edital e deve conter todos os dados detalhados do

objeto com especificações precisas e claras.

Comissão de Licitação: Formada por “no mínimo 3 (três) membros, sendo pelo

menos 2 (dois) deles servidores qualificados pertencentes aos quadros permanentes dos

órgãos da Administração responsáveis pela licitação” de acordo com o art.51 da Lei 8.666/93.

A comissão pode ser especial, ou seja, criada para realizar um tipo específico de licitação; e

pode ser permanente, ou seja, criada para realizar as licitações durante sua investidura no

cargo;

Contrato Administrativo: Nas palavras de MEIRELLES, ALEIXO E BURLE

FILHO (2012, pag. 221) a definição de contrato administrativo “É o ajuste que a

Administração Pública, agindo nessa qualidade, firma com o particular ou outra entidade

administrativa para a consecução de objetivos de interesse público, nas condições

estabelecidas pela própria Administração”. É importante ressaltar que é necessária licitação

prévia para celebração do contrato entre as partes.

Registros Cadastrais: É um banco de dados das empresas que participam com

habitualidade das licitações e contém dados jurídicos, financeiros, fiscais e técnicos dessas

empresas. É importante ressaltar que após o registro cadastral a empresa já está previamente

habilitada a participar da licitação na concepção de MAZZA (2012).

Importante destacar o ACÓRDÃO (2684/2008) no tocante a fase interna de

licitação.

A ausência de cumprimento da fase interna da licitação inviabiliza o conhecimento integral do objeto que se pretende contratar e as estimativas de custos a ele inerentes.

A realização da fase interna da licitação é condição prévia essencial à contratação,

inclusive nos casos de dispensa ou inexigibilidade de licitação.

Quando a administração verifica a necessidade de contratar dar-se-á inicio a uma

série de procedimentos internos que levam à elaboração do instrumento convocatório, a fase

interna. Ressalta-se que a fase interna é de grande importância, pois o agente público precisa

estar atento ás formalidades da lei para que o certame não seja fracassado ainda na fase de

sua formação e prossiga à fase externa.

A fase externa tem início com a publicação do edital ou entrega do convite e

possui cinco etapas: edital, habilitação, julgamento e classificação, homologação e

adjudicação de acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, Diogenes Gasparini, Alexandre

Mazza e Maria Sylvia Zanella Di Pietro, grandes mestres do Direito Administrativo

consultados para este presente trabalho havendo discordância apenas de Hely Lopes

Meirelles, ao qual afirma que a fase externa se desenvolve através das seguintes etapas:

Audiência Pública, Edital ou Convite de convocação dos interessados, Recebimento da

documentação e propostas, Habilitação dos licitantes, Julgamento das propostas, Adjudicação

e Homologação.

Diante do exposto seguindo a linha da maioria dos autores vamos explanar sobre

as cinco etapas do processo licitatório na sua fase externa. Antes disso, vale enfatizar por

MEIRELLES, ALEIXO E BURLE FILHO (2012 pag. 310) que:

A Administração deverá efetuar audiência pública, antes da publicação do edital,

toda vez que o valor estimado para uma licitação ou para um conjunto de licitações

simultâneas ou sucessivas for superior a cem vezes o quantum previsto para a

concorrência de obras e serviços de engenharia.

Edital: Primeira etapa do procedimento licitatório, quando é feita a abertura da

licitação através da publicação do aviso do edital, que é o seu resumo para conhecimento

público. O edital é utilizado nas modalidades de concorrência, tomada de preços, leilão,

concurso e pregão. Utiliza-se apenas a carta convite na modalidade convite de acordo com

GASPARINI (2008, pag. 595)

Nas palavras de MEIRELLES, ALEIXO E BURLE FILHO (2012, pag. 312):

A divulgação do edital é obrigatória pela imprensa oficial e particular e o prazo

mínimo para convocação dos licitantes está agora fixado em trinta dias para

concorrência, quarenta e cinco dias para concurso, quinze dias para tomada de

preços e leilão e cinco dias úteis para o convite.

Deve ser enfatizado que o edital deve ter preâmbulo (parte introdutória), texto

(corpo) e fecho (encerramento).

O edital pode conter vícios na tentativa de frustrar o caráter competitivo do

procedimento licitatório. Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2012, pag. 311) escrevem que:

“Nulo é o edital omisso em pontos essenciais, ou que contenha disposições discricionárias ou

preferenciais, o que ocorre quando a descrição do objeto é tendenciosa, conduzindo a licitante

certo, sob a falsa aparência de uma convocação igualitária.”

É importante destacar que qualquer cidadão é parte legitima para impugnação do

edital quando encontrar irregularidades de acordo com o art.41,§ 1º da lei de licitações que

relata:

Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar edital de licitação por

irregularidade na aplicação desta Lei, devendo protocolar o pedido até 5 (cinco) dias úteis antes da data fixada para abertura dos envelopes de habilitação, devendo a

Administração julgar e responder à impugnação em até 3 (três) dias úteis(...)

Habilitação: Nessa fase os envelopes contendo a documentação exigida e as

propostas são recebidos e abertos para análise. A documentação contida nos envelopes refere-

se aos documentos relativos à habilitação jurídica, à regularidade fiscal e trabalhista, à

qualificação técnica e à qualificação econômico-financeira conforme menciona o art.27 da Lei

de licitações. Frisa–se que essa fase de habilitação na modalidade tomada de preços acontece

como primeira fase. Na modalidade convite ocorre a priori do órgão licitante, no concurso é

facultativa, no leilão não acontece de acordo com MEIRELLES,ALEIXO E BURLE

FILHO(2012, pag. 321) e no pregão acontece após o julgamento das propostas nos ensina

GASPARINI (2008, pag.601).

O art.4º da lei de licitações nos afirma que:

Todos quantos participem de licitação promovida pelos órgãos ou entidades a que se

refere o art. 1º têm direito público subjetivo à fiel observância do pertinente

procedimento estabelecido nesta lei, podendo qualquer cidadão acompanhar o seu

desenvolvimento, desde que não interfira de modo a perturbar ou impedir a realização dos trabalhos.

Os interessados que não atenderem às condições estabelecidas para habilitação

estarão inabilitados ficando impossibilitados de participar das próximas fases conforme cita o

art.41, §4º da Lei nº 8.666/93.

Mazza (2012, pag. 354) escreve que “contra a decisão que inabilita participante,

cabe recurso com efeito suspensivo no prazo de cinco dias úteis contados da intimação na

sessão ou da publicação da decisão no Diário Oficial”. É na fase de habilitação que são

verificados os licitantes capazes de contrair obrigações e exercer direitos.. Após a fase de

habilitação, o licitante não pode mais desistir da proposta, com exceção de fato superveniente

e com aceitação da comissão.

Julgamento: Essa é a fase de análise e julgamento das propostas, quando a comissão

abre os envelopes com as propostas e as analisa para saber se estão de acordo com as

condições do edital. Existem três tipos de propostas que podem ser desclassificadas pela

comissão de licitação. A primeira é quando o valor da proposta for inferior ao valor de

mercado, é chamada de proposta inexequível; a segunda quando a proposta for contrária à

cláusula do edital; e a terceira é quando a proposta não apresentar um valor específico, ou

seja, apresentar um valor vinculado à oferta de outro proponente podendo ser chamada de

proposta indireta ou condicionada conforme MAZZA(2012).

Mello (2005, pag. 590) define a classificação das propostas como sendo “O ato

pelo qual as propostas admitidas são ordenadas em função das vantagens que oferecem, na

conformidade dos critérios de avaliação estabelecidos no edital”. Em caso de empate das

propostas, a lei autoriza o desempate mediante sorteio é o que menciona o art.45,§2º da lei

8.666/93.

O artigo 48,§ 3º da Lei de Licitações cita que pode não haver classificados e para

tanto se segue o seguinte procedimento:

Quando todos os licitantes forem inabilitados ou todas as propostas forem

desclassificadas, a administração poderá fixar aos licitantes o prazo de oito dias úteis

para a apresentação de nova documentação ou de outras propostas escoimadas das

causas referidas neste artigo, facultada, no caso de convite, a redução deste prazo para

três dias úteis.

Nesta fase define-se a classificação dos participantes e o licitante que obtiver a

melhor proposta será o vencedor.

Homologação: Segue-se agora a fase de homologação, em que as propostas serão

analisadas por autoridade superior para verificar se existem eventuais irregularidades,

possíveis vícios e no caso de serem identificados a autoridade superior poderá solicitar a

anulação do certame ou somente os atos que julgar necessário segundo MAZZA (2012).

Poderá também ocorrer a revogação da licitação conforme dita o art.49 da lei de licitações:

A autoridade competente para a aprovação do procedimento somente poderá revogar

a licitação por razões de interesse público decorrente de fato superveniente

devidamente comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal conduta, devendo

anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecer

escrito e devidamente fundamentado.

Diante do exposto não havendo irregularidades ou motivos que levem à

revogação, a licitação será homologada, e ainda caberá recurso contra decisões referentes à

homologação no prazo de 5 (cinco) dias sem efeito suspensivo comenta ainda MAZZA(2012).

Vale enfatizar que nesta fase da licitação pode ocorrer tanto a homologação da licitação ou a

sua anulação.

Adjudicação: É a última fase do procedimento licitatório ao qual atribui ao vencedor

do certame o objeto da licitação. Mazza (2012, págs. 356 e 357) explica que “trata-se de ato

administrativo declaratório porque reconhece a condição de adjudicatário, de vencedor da

competição.” E ainda ressalta que: “O adjudicatário não tem direito adquirido à celebração do

contrato, mas mera expectativa de direito”.

Nas palavras do mestre MELLO (2005 pag. 598):

Os atos procedimentais visam a criar um último ato unilateral, que se inclui dentro

do próprio procedimento, enquanto o procedimento licitatório, como um todo, visa a

proporcionar o nascimento de um ato bilateral, externo ao procedimento, embora

condicionado por ele: o contrato.

Ademais, pelo que foi explicado quanto às fases do processo licitatório constata-

se que é um processo burocrático devido à quantidade de fases que são necessárias e devido à

rigorosidade dos requisitos. Será feita, então uma avaliação desse processo licitatório na

tentativa de saber se existem vantagens e desvantagens para a Administração Pública.

3.4 Vantagens e desvantagens do processo licitatório para a administração pública.

O processo licitatório proporciona à Administração Pública uma grande

vantagem quando permite à Administração a escolha da proposta mais vantajosa entre os

fornecedores interessados em contratar com a Administração e consonância dos princípios da

legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência. Diante disto,

chegamos à conclusão que a vantagem do processo licitatório para a Administração Pública é

a relação custo-benefício, ou seja, menor custo e maior benefício.

Justen Filho (2005, pag. 42) explica que “A maior vantagem apresenta-se quando

a Administração assumir o dever de realizar a prestação menos onerosa e o particular se

obrigar a realizar a melhor e mais completa prestação”. Todavia, o processo licitatório poderá

sofrer fraudes que levam à corrupção. Eis, então a grande desvantagem do processo

licitatório. Abusando do seu poder discricionário, agentes públicos podem privilegiar algumas

empresas desviando a licitação de um dos seus principais objetivos que é a igualdade de

participação aos interessados em prestar serviços ou vender seus produtos.

Meirelles, Aleixo e Burle Filho (2012, pag. 124) definem poder discricionário

como sendo “o Direito que concede à Administração, de modo explícito ou implícito, para a

prática de atos administrativos com liberdades na escolha de sua conveniência, oportunidade e

conteúdo”. De acordo com o artigo de CASTRO (2007) a discricionariedade dos agentes

públicos se mostra de várias maneiras a partir do momento em que se decide pela realização

do procedimento licitatório: Quando se determina quem será o fornecedor do produto ou

serviço, quando o fornecimento for aprovado e quando o pagamento for efetuado através de protelação

para realização dos pagamentos devidos.

Nota-se que o poder discricionário dos agentes públicos é de grande importância

para a Administração Pública. A administração está ciente que ilícitos venham a ser

cometidos, portanto foi sancionada pela então presidente Dilma Roussef a Lei Anticorrupção

(Lei 12.846/2013) que dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas

jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira e no

tocante às licitações o artigo 5º, inciso IV da referida lei dita que os seguintes itens

constituem atos lesivos à administração pública, conforme Quadro 06:

Quadro 06 – Atos lesivos à administração nas Licitações Públicas.

a) Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o

caráter competitivo de procedimento licitatório público.

b) Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório

público.

c) Afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de vantagem

de qualquer tipo.

d) Fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente.

e) Criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação

pública ou celebrar contrato administrativo.

f) Obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações ou

prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem autorização em

lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos instrumentos contratuais.

g) Manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos celebrados com a

administração pública.

Elaborado: Autor do Trabalho

O artigo 90 da Lei de Licitações também especifica:

Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o

caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou

para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação: Pena -

detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Dessa forma, não basta apenas criar leis para inibir fraudes nos processos

licitatórios, mas é necessário que se adotem outras medidas, fiscalizações. Muito se fala que o

pregão eletrônico e o tratamento diferenciado dado às microempresas e empresas de pequeno

porte também facilitam as fraudes nos certames. Será feita a seguir uma abordagem quanto

aos conceitos, importância e evolução das microempresas e empresas de pequeno porte.

3.5 Conceito, Importância e Evolução das Microempresas Empresas de Pequeno

Porte.

As definições de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte estão contidas na

Lei Complementar 123/2006 conhecida como o Estatuto Nacional da Microempresa e

Empresa de Pequeno Porte, que conforme dita o seu artigo 1º “estabelece normas gerais

relativas ao tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e

empresas de pequeno porte no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal

e dos Municípios”. Esse tratamento diferenciado é dado principalmente no que tange aos

impostos e tributos, as obrigações trabalhistas e previdenciárias e ao acesso ao crédito e

mercado, especialmente neste último caso às compras públicas.

Ressalta- se que as definições de Microempresa e Empresa de Pequeno estão

ligadas ao total da sua receita bruta anual de acordo com o artigo 3º da Lei Complementar nº

123/2006 e incisos I e II:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou

empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa

individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da

Lei n º 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no

Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas,

conforme o caso, desde que:

I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou

inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais);

II - no caso da empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita

bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a

R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais).

Nota-se que o artigo 3º citado acima enfatiza as figuras da sociedade empresária,

sociedade simples, a empresa individual de reponsabilidade limitada e o empresário. Merecem

destaque, então os seus conceitos.

O conceito de Empresário é dado pelo Código Civil Brasileiro, Lei 10.406/2002

no caput do artigo 966 que traz a seguinte definição: “Considera-se empresário quem exerce

profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou

de serviços”. Vale ressaltar que o parágrafo único deste artigo esclarece que: “Não se

considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou

artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da

profissão constituir elemento de empresa”. O conceito de Empresa Individual de

Responsabilidade Limitada também dado pelo Código Civil Brasileiro de 2002 é

encontrado no art. 980-A no que diz: “A empresa individual de responsabilidade limitada será

constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente

integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no

País”.

Os conceitos de Sociedade Empresária e Sociedade Simples estão descritos no

artigo 982 do referido código: “Considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o

exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as

demais”.

É importante ressaltar que para que seja dado esse tratamento privilegiado às ME

e EPP não basta apenas estarem enquadradas nos limites da receita bruta anual de acordo com

a LC 123/2006 artigo 3º, I e II.

O próprio artigo 3º,§ 4º e incisos cita as empresas que não farão juz ao benefício,

conforme Quadro 07:

Quadro 07- ME/EPP que não farão juz aos benefícios da LC 123/06 nas licitações.

MICROEMPRESA OU EMPRESA DE

PEQUENO PORTE com

Capital com participação de outra pessoa jurídica.

Sede no exterior e filial, sucursal, agência ou

representação neste País.

Capital com participação de pessoa física como

empresário ou sócia de outra empresa com tratamento jurídico diferenciado pela LC nº123/06 que ultrapasse

o limite da receita bruta anual exigido para ME ou

EPP.

Titular ou sócio com participação de mais de 10% do

capital de outra empresa não beneficiada por esta LC

que ultrapasse o limite da receita bruta anual exigido para ME ou EPP.

MICROEMPRESA OU EMPRESA DE

PEQUENO PORTE com

Sócio ou titular administrador de outra pessoa jurídica com fins lucrativos que ultrapasse o limite da receita

bruta anual exigido para ME ou EPP.

Constituição sob a forma de cooperativas, exceto as

de consumo.

Participação do capital de outra pessoa jurídica.

Exercício de atividade de banco comercial, de

investimentos e de desenvolvimento, de caixa

econômica, de sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou

de distribuidora de títulos, valores mobiliários e

câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capitalização ou de previdência

complementar.

Resultante ou remanescente de cisão ou qualquer

outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-

calendário anteriores.

Constituição sob a forma de sociedade por ações.

Elaborado: Autor do Trabalho

Destaque deve ser dado ao fato de que a ME/EPP não precisa ser optante do

Simples Nacional para usufruir dos benefícios garantidos pela LC123/2006.

Santana e Guimarães (2009, pag. 34) afirmam que: “Determinada ME/EPP, embora preencha

todos os requisitos legais para ser enquadrada no Simples Nacional, por sua decisão poderá

permanecer no regime tradicional, não perdendo com isso a possibilidade de gozar dos

benefícios que lhe reserva a lei”.

A Lei 11.488/2007 ampliou o regime diferenciado da ME/EPP às sociedades

cooperativas de acordo com o artigo 34 no que diz:

Aplica-se às sociedades cooperativas que tenham auferido, no ano-calendário anterior, receita bruta até o limite definido no inciso II do caput do art. 3o da Lei

Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, nela incluídos os atos

cooperados e não-cooperados, o disposto nos Capítulos V a X, na Seção IV do

Capítulo XI, e no Capítulo XII da referida Lei Complementar.

Vale enfatizar que apesar do regime diferenciado ser estendido às cooperativas.

As cooperativas e as micro e pequenas empresas possuem finalidades diferentes. As

sociedades cooperativas estão ligadas ao associativismo, ou seja, não possuem fins lucrativos,

enquanto que as microempresas e empresas de pequeno porte tem como objetivo o lucro.

É obrigatório que as Microempresas e Empresas de Pequeno Porte tenham

inseridas no seu nome empresarial as denominações de "Microempresa" ou "Empresa de

Pequeno Porte", ou suas respectivas abreviações, "ME" ou "EPP” conforme artigo 72 da LC

123/2006. O Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) expediu a Instrução

Normativa nº 103/2007, que dispõe sobre o enquadramento, reenquadramento e

desenquadramento de microempresa e empresa de pequeno porte nas Juntas Comerciais. A

referida instrução relata que o empresário deve declarar à Junta Comercial que possui as

condições necessárias para ser enquadrado como ME/EPP e quando necessário poderá

solicitar declaração atestando tal condição.

É indispensável falar da importância das micro e pequenas empresas para a

economia brasileira, pois elas apresentam relevante papel econômico e social, na medida em

que contribuem para o aumento do Produto Interno Bruto, distribuição de renda e arrecadação

de impostos.

Gráfico 01- Evolução do Número de Estabelecimentos por Porte

Fonte: MTE. Raís Elaboração: DIEESE/2012

O Gráfico 01 mostra a evolução das micro e pequenas empresas do ano 2000 até

2011 e verifica-se que houve um crescimento considerável dessas empresas.

As Microempresas e Empresas de pequeno Porte constituem a grande maioria das

empresas brasileiras, principalmente no setor de serviços e comércio. O gráfico mostra que no

ano 2000 existiam no Brasil 4,2 milhões (quatro milhões e duzentos mil) de micro e pequenas

empresas em atividade saltando esse número para um total de 6,3 milhões (seis milhões e

trezentos mil) no ano de 2011, segundo dados do SEBRAE/DIEESE (2012).

Cabe ressaltar que apesar dessas empresas apresentarem papel importante na

economia nacional, apresentam grandes dificuldades de sobrevivência devido a vários fatores

como: falta de recursos financeiros, altíssima carga tributária, concorrência das médias e

grandes empresas, entre outros.

Políticas públicas em favor desses empreendimentos tentam mudar essa realidade.

A criação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e a implantação do Simples Nacional

são alguns exemplos de apoio do Governo Federal para essas empresas.

O Gráfico 02 mostra o crescimento do número de empregados dessas empresas

do ano 2000 até 2011.

Gráfico 02 – Evolução do Número de Empregos por Porte

Fonte: MTE. Raís

Elaboração: DIEESE/2012

.

As microempresas e empresas de pequeno porte empregam mais da metade dos

trabalhadores formais do Brasil gerando cada vez mais novos empregos. O gráfico mostra que

entre 2001 e 2011 houve um crescimento médio de empregados nas Microempresas e

Empresas de Pequeno Porte do Brasil de 5,5% a.a., ou seja, um crescimento de 7,0 (sete)

milhões de empregados formais aumentando de 8,6 milhões (oito milhões e seiscentos mil) de

empregos em 2000 para 15,6 milhões (quinze milhões e seiscentos mil) empregos em 2011,

de acordo com dados do SEBRAE/DIEESE (2012).

Nesse contexto, com o advento da Lei 123/2006 surgiu um novo enfoque para as

compras públicas através do tratamento diferenciado dado às micro e pequenas empresas. As

vantagens e desvantagens desse tratamento privilegiado serão analisadas neste trabalho.

4 METODOLOGIA

Neste capítulo serão apresentados como foram alcançados os objetivos propostos

para o tema, descrevendo a metodologia empregada para alcance dos resultados.

Com intuito de alcançar os objetivos propostos para este trabalho foram realizadas pesquisas

que podem ser classificadas como: Exploratória e Bibliográfica. Quanto à sua natureza, a

pesquisa é exploratória pelo fato de ter como objetivo a exploração de um conteúdo no intuito

de familiarizar-se com o assunto estudado, ou seja, a pesquisa exploratória é utilizada na

realização do estudo inicial do objetivo principal da pesquisa realizada possibilitando maior

conhecimento para as pesquisas seguintes. Quanto aos procedimentos técnicos, a pesquisa é

bibliográfica devido ao levantamento bibliográfico feito sobre o assunto estudado em

publicações de livros, leis, decretos, jurisprudências, teses, artigos científicos, revistas e

dissertações disponíveis tanto nas bibliotecas como no meio eletrônico.

Medeiros (2009) afirma que a pesquisa bibliográfica possui quatro etapas:

identificação, localização, compilação e fichamento. A identificação refere-se ao

levantamento do material que existe sobre o assunto em questão. A localização refere-se à

seleção de obras específicas para o estudo. A compilação é a fase de juntar o material

necessário e obtê-lo e o fichamento é a transcrição das informações necessárias ao trabalho.

Ainda, na concepção de MEDEIROS (2009, pag. 39) a “pesquisa bibliográfica

constitui em fonte secundária. É aquela que busca o levantamento de livros e revistas de

relevante interesse para a pesquisa que será realizada. Seu objetivo é colocar o autor da nova

pesquisa diante de informações sobre assunto de seu interesse”.

Para tanto, pode-se afirmar que essa pesquisa utilizou-se de fonte secundária na

análise e interpretação de dados e informações no decorrer de todo o processo de pesquisa,

utilizando como fontes principais para os dados e informações livros e publicações na área do

Direito Administrativo.

Portanto, a pesquisa bibliográfica exige leitura e interpretação do material

coletado para a pesquisa, para que sejam selecionados conteúdos relevantes que servirão de

base para a fundamentação teórica do objeto estudado.

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo será feita a análise das vantagens e desvantagens do tratamento

diferenciado e favorecido dado às microempresas e empresas de pequeno porte nos processos

licitatórios de acordo com a Lei nº 123/06.

5.1 Vantagens e Desvantagens das Micro e Pequenas Empresas no processo licitatório.

A Constituição Federal de 1988 prevê tratamento diferenciado às microempresas

e empresas de pequeno porte como reza o artigo 170, inciso IX conforme a seguir:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da

justiça social, observados os seguintes princípios: (...)

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

O artigo 179 da Constituição Federal de 1988 também refere-se à esse tratamento

diferenciado:

Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às

microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento

jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações

administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou

redução destas por meio de lei.

Diante dessas previsões constitucionais foi criada a Lei nº 123/2006, conhecida

como o Estatuto Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, que traz

disposições sobre o tratamento diferenciado e favorecido às micro e pequenas empresas na

área tributária, trabalhista, previdenciária e administrativa e “estabelece normas gerais relativas

ao tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno

porte no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”, conforme

dita o seu artigo 1º.

O legislador destinou um capítulo específico da Lei Complementar 123/2006 para

tratar das disposições referentes às aquisições públicas, esse capítulo é denominado “Do

Acesso aos Mercados”, trata-se do capítulo V.

O Decreto 6.204/2007 regulamenta o tratamento favorecido, diferenciado e

simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte nas contratações públicas de

bens, serviços e obras, no âmbito da administração pública federal de acordo com o seu artigo

1º e incisos:

Art. 1º Nas contratações públicas de bens, serviços e obras, deverá ser concedido

tratamento favorecido, diferenciado e simplificado para as microempresas e

empresas de pequeno porte, objetivando:

I - a promoção do desenvolvimento econômico e social no âmbito municipal e

regional; II - ampliação da eficiência das políticas públicas; e

III - o incentivo à inovação tecnológica.

É importante frisar que o tratamento diferenciado e favorecido dado às micro

empresas e empresas de pequeno porte não fere o princípio da isonomia a que se refere o

artigo 3º da Lei 8.666/93.

O ministro Relator Guilherme Palmeira em seu voto no acórdão nº 1.231/2008 –

Plenário relata que:

Nada obstante a existência do preceito constitucional da realização de licitação para

as contratações públicas com o objetivo de melhor atendimento ao interesse público,

assegurado o tratamento isonômico entre os participantes, não há que se olvidar que

é também princípio constitucional o tratamento favorecido às empresas de pequeno

porte (CF/88, arts. 170, IX e 179), com o justo intuito de alçar à condição de iguais

sujeitos desiguais. Creio que esses princípios não se antagonizam, ao contrário.

Formam um todo harmônico em busca, justamente, da almejada isonomia, da

igualdade.

Bittencourt (2010, pag.25) comenta que:

O tratamento diferenciado para tais empresas não conflita com o princípio da

isonomia, porquanto resulta da própria situação de desigualdade dessas empresas em

relação a outras de natureza diversa, pois, envolve o tratamento desigual a ser

oferecido aos desiguais, com intuito de promover o desenvolvimento econômico.

É necessário que todos sejam tratados com igualdade. Contudo, as ME/EPP são

privilegiadas nos processos licitatórios pelo fato de serem desiguais, ou seja, não conseguem

concorrer com igualdade frente às empresas de médio e grande porte. No entanto não há o que

se falar em violação ao princípio da isonomia.

O Gráfico 03 mostra o aumento da participação das micro e pequenas empresas

nas aquisições públicas no período de 2008 a 2013, conforme a seguir:

Gráfico 3- Evolução da participação do porte nas compras públicas

Fonte: Comprasnet

Elaboração: SLTI/MP /2013

Diante dos dispositivos legais adotados para que as micro e pequenas empresas

tenham facilidade de acesso aos mercados, o Gráfico 03 mostra que houve um crescimento de

25% da participação das Micro e Pequenas Empresas nas compras públicas nos últimos cinco

anos, ou seja, de 2008 a 2012. Saltando de 12,3 bilhões (doze bilhões e três milhões) em 2008

para 15,4 bilhões (quinze bilhões e quatro milhões) em 2012 de acordo com dados do

Ministério do Planejamento, 2013.

Ressalta-se que o Gráfico evidencia um aumento nas aquisições públicas por parte

das micro e pequenas empresas a partir de 2006, ou seja, após a criação da Lei Complementar

nº 123/06. Mostrando que as alterações causadas nos processos licitatórios beneficiaram essas

empresas lhes dando a oportunidade de crescimento.

Gráfico 4 – Evolução do valor de compra nas compras públicas, segundo o porte

Fonte: Comprasnet

Elaboração: SLTI/MP/2013

Ainda de acordo com dados do Ministério do Planejamento no período de Janeiro

a Junho de 2013 conforme Gráfico 04, houve uma movimentação de R$ 25,5 bilhões de reais

(vinte e cinco bilhões e cinco milhões de reais) nas aquisições públicas, sendo R$ 6,6 bilhões

de reais (seis bilhões e seis milhões de reais) de contratações públicas feitas pelas micro e

pequenas empresas, ou seja, um aumento de 50% em relação ao mesmo período do ano

passado.

Como já falado anteriormente, o capítulo V da Lei 123/2006 trata das aquisições

públicas especificamente nos artigos 42 a 49 e mostra o tratamento diferenciado e favorecido

que deve ser dado às micro e pequenas empresas nos processos licitatórios. Diante desse fato

será feita uma análise de tais dispositivos a fim de esclarecer as vantagens e desvantagens

desse tratamento privilegiado.

Uma das vantagens do tratamento privilegiado é a alteração na fase de

habilitação: Em um processo licitatório, as documentações dos licitantes são analisadas na

fase de habilitação. De acordo com a Lei 8.666/93 as fases da licitação são: Habilitação,

Classificação, Homologação e Adjudicação. Na Lei 10.520/02, lei do pregão há uma inversão

de fases, onde a fase de habilitação ocorre no final do procedimento licitatório para

verificação apenas da documentação do licitante vencedor.

A Lei 8.666/93 mostra em seu artigo 27 e incisos a que se refere a documentação que deve ser

apresentada pelos licitantes para a fase de habilitação:

Art. 27. Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados,

exclusivamente, documentação relativa a:

I - habilitação jurídica;

II - qualificação técnica;

III - qualificação econômico-financeira;

IV – regularidade fiscal e trabalhista; V – cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7o da Constituição Federal.

O inciso V quando se refere ao cumprimento do disposto no inciso XXXIII do

art. 7º da Constituição Federal de 1988 refere-se à proteção do trabalho do menor.

A primeira vantagem para as ME/EPP nos processos licitatórios refere-se ao

prazo diferenciado para regularização fiscal. Diante da documentação mencionada no artigo

acima, a micro e pequena empresa terá privilégio na entrega da documentação no que diz

respeito à regularidade fiscal conforme artigo 42 da Lei 123/2006 “Nas licitações públicas, a

comprovação de regularidade fiscal das microempresas e empresas de pequeno porte somente

será exigida para efeito de assinatura do contrato”. A regularização fiscal compreende a

entrega dos seguintes documentos de acordo com o texto do artigo 29 da Lei Geral de

Licitações conforme Quadro 08.

Quadro 08- Documentos para regularização fiscal e trabalhista no processo licitatório.

DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA

Prova de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas

(CPF) ou no Cadastro Geral de Contribuintes (CGC).

Prova de inscrição no cadastro de contribuintes estadual ou municipal, se houver, relativo ao

domicílio ou sede do licitante, pertinente ao seu ramo

de atividade e compatível com o objeto contratual.

Prova de regularidade para com a Fazenda Federal,

Estadual e Municipal do domicílio ou sede do

licitante, ou outra equivalente, na forma da lei.

Prova de regularidade relativa à Seguridade Social e ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS),

demonstrando situação regular no cumprimento dos

encargos sociais instituídos por lei.

Prova de inexistência de débitos inadimplidos perante

a Justiça do Trabalho, mediante a apresentação de

certidão negativa.

Elaborado: Autor do trabalho

Nas modalidades licitatórias a que se refere o artigo 22 da Lei 8.666/93, a

regularidade fiscal das ME/EPP será exigida após a fase de adjudicação, e não na fase de

habilitação. Enquanto que na modalidade pregão será exigida na própria fase de habilitação,

pois a ordem das fases no pregão é invertida como já mencionado. É válida a leitura do caput

artigo 43 da Lei 123/2006:

Art. 43. As microempresas e empresas de pequeno porte, por ocasião da

participação em certames licitatórios, deverão apresentar toda a documentação

exigida para efeito de comprovação de regularidade fiscal, mesmo que esta

apresente alguma restrição.

.

O artigo 43 relata que é necessária a apresentação da documentação referente à

regularidade fiscal que deve ser apresentada mesmo com restrições, enquanto que o artigo 42

cita que a regularidade fiscal somente será exigida para assinatura do contrato. Ou seja, a

ME/EPP que vencer o certame deverá regularizar a sua situação fiscal para assinatura do

contrato, pois caso não haja regularização o licitante perderá o direito à contratação. Em caso

de restrição será dado um prazo de dois dias úteis podendo ser prorrogado por mais dois dias,

a critério da Administração, para regularização da situação nos moldes do §1º do artigo 43.

§ 1º Havendo alguma restrição na comprovação da regularidade fiscal, será assegurado o prazo de 2 (dois) dias úteis, cujo termo inicial corresponderá ao

momento em que o proponente for declarado o vencedor do certame, prorrogáveis

por igual período, a critério da Administração Pública, para a regularização da

documentação, pagamento ou parcelamento do débito, e emissão de eventuais

certidões negativas ou positivas com efeito de certidão negativa.

Caso não haja regularização fiscal, ou seja, pagamento ou parcelamento até o

prazo concedido pela Administração Pública, a micro ou pequena perderá o direito à

contratação e a Administração pode convocar os licitantes classificados pela ordem ou

revogar a licitação como dita o artigo 43,§ 2º:

§ 2º A não-regularização da documentação, no prazo previsto no § 1º deste artigo,

implicará decadência do direito à contratação, sem prejuízo das sanções previstas no

art. 81 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, sendo facultado à Administração convocar os licitantes remanescentes, na ordem de classificação, para a assinatura do

contrato, ou revogar a licitação.

O Empate Ficto e Desempate na Fase de Julgamento das Propostas é

considerada a segunda grande vantagem para as micro e pequenas empresas, é o que prevê o

artigo 44 da Lei Complementar nº 123/2006.

Art. 44. Nas licitações será assegurada, como critério de desempate, preferência de

contratação para as microempresas e empresas de pequeno porte.

§ 1º Entende-se por empate aquelas situações em que as propostas apresentadas pelas microempresas e empresas de pequeno porte sejam iguais ou até 10% (dez por

cento) superiores à proposta mais bem classificada;

§ 2º Na modalidade de pregão, o intervalo percentual estabelecido no § 1º deste

artigo será de até 5% (cinco por cento) superior ao melhor preço.

Para um melhor entendimento do que dita o artigo acima, cabe exemplificar: No

caso do pregão, se uma empresa que não seja ME/EPP com um valor de oferta de R$200,00 e

uma ME/EPP com o valor de oferta de R$ 210,00,ou seja, 5% (cinco por cento) a mais, as

duas ofertas serão consideradas empatadas pela LC 123/06; No caso das outras modalidades

de licitação, se uma empresa que não seja ME/EPP com um valor de oferta de R$ 200,00 e

uma empresa ME/EPP com um valor de oferta de R$ 220,00, ou seja, 10% (dez por cento) a

mais, as duas ofertas também serão consideradas empatadas pela referida lei. Esse é

considerado um empate ficto.

Santana e Guimarães (2009, pag. 60) destacam que: “a LC nº 123/06 criou uma

situação na qual considera artificialmente empatadas propostas que originalmente assim não

estariam à vista de suas expressões concretas e reais”.

Diante de tal situação causada pelo empate ficto, os dispositivos do artigo 45

apresentam os critérios para desempate, conforme Quadro 09:

Quadro 09- Critérios para Desempate, em caso de Empate Ficto

DESEMPATE

A micro ou pequena empresa melhor classificada

apresentará proposta de preço inferior ao daquela

vencedora do certame.

Caso a micro ou pequena empresa não venha a

contratar com a Administração Pública, serão

convocadas as empresas remanescentes na ordem

classificatória.

Havendo mais de uma micro ou pequena empresa com

proposta de preço com valores equivalentes será feito

um sorteio para desempate.

Elaborado: Autor do trabalho

Cabe salientar que as disposições do artigo 45 da LC nº 123/06 somente serão

aplicadas caso a primeira proposta classificada não seja de micro ou pequena empresa, e caso

seja, não haverá necessidade de aplicação desta lei. Havendo empate real entre duas ME/EPP

haverá sorteio para que seja apresentada uma nova proposta de valor inferior. Em relação ao

empate ficto de uma ME/EPP com outra empresa não enquadrada nessa categoria reza o

inciso I deste artigo que será dada preferência a ME/EPP para apresentar nova proposta de

valor inferior. No caso do pregão o prazo será de 05 (cinco) minutos após o encerramento dos

lances e para as demais modalidades licitatórias, esta lei não condiciona regras para o prazo

de apresentação da nova proposta, portanto o Decreto nº 6.204/07 dispôs em seu art. 5º, § 7º

que: “§ 7º Nas demais modalidades de licitação, o prazo para os licitantes apresentarem nova

proposta deverá ser estabelecido pelo órgão ou entidade contratante, e estar previsto no

instrumento convocatório”. Nesta fase de julgamento das propostas está contida uma das

grandes vantagens trazidas pela Lei da Micro ou Pequena Empresa.

A Cédula de Crédito Microempresarial trata-se de mais um privilégio dado às

micro e pequenas empresas e refere-se ao pagamento advindo das contratações públicas, e não

propriamente do procedimento licitatório. O conceito de cédula de crédito microempresarial

consta no parágrafo único do artigo 46 conforme a seguir:

Art. 46. Parágrafo único. A cédula de crédito microempresarial é título de crédito regido, subsidiariamente, pela legislação prevista para as cédulas de crédito

comercial, tendo como lastro o empenho do poder público, cabendo ao Poder

Executivo sua regulamentação no prazo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da

publicação desta Lei Complementar.

Santana e Guimarães (2009, pag.124) comentam que: “no tocante à cédula de

crédito microempresarial não deixa de ser uma espécie de confissão antecipada por mau

comportamento fiscal e orçamentário da própria Administração Pública”.

A Lei 4.320/64 estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e

controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito

Federal. E ressalta que para a realização da despesa pública é necessário prévio empenho. O

empenho é conceituado como “ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado

obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição” (art. 58). E “para cada

empenho será extraído um documento denominado "nota de empenho" que indicará o nome

do credor, a representação e a importância da despesa bem como a dedução desta do saldo da

dotação própria” (art.61). Após a liquidação da despesa que “consiste na verificação do direito

adquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo

crédito” (art.63) é que poderá ser feito o seu pagamento. Logo, entende-se que a Despesa

Pública é dada em três fases na seguinte ordem: empenho, liquidação e pagamento.

Santana e Guimarães, 2009, pag. 125 explicam que: “A cédula de crédito

microempresarial tem sua existência atrelada a um momento intercalar existente entre a

liquidação e o pagamento”.

Portanto, a micro ou pequena empresa que seja detentora de empenho liquidado e

não pago pode emitir a cédula de crédito microempresarial no mercado financeiro com intuito

de negociá-la, pois constitui título de crédito com lastro do Poder Público.

A norma constante no artigo 46 da lei da Micro ou Pequena Empresa necessita de

regulamentação para a sua aplicação.

A Lei Complementar nº 123/06 criou três situações para benefícios das micro e

pequenas empresas são as Licitações Diferenciadas. O artigo 47 da LC nº 123/06 prevê que:

Art. 47. Nas contratações públicas da União, dos Estados e dos Municípios, poderá

ser concedido tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte objetivando a promoção do desenvolvimento econômico

e social no âmbito municipal e regional, a ampliação da eficiência das políticas

públicas e o incentivo à inovação tecnológica, desde que previsto e regulamentado

na legislação do respectivo ente.

Bittencourt, 2010, pag.86 comenta que:

O art.47 apenas prescreveu as normas gerais sobre licitações diferenciadas e

simplificadas para as micro e pequenas empresas – com o propósito de promover o

desenvolvimento econômico e social no âmbito municipal e regional - , reafirmando

a competência dos entes federativos no estabelecimento de normas específicas,

alicerçando-se para justificar o ato, a intenção de ampliar a eficiência das políticas

públicas e o incentivo à inovação tecnológica.

Para cumprir o disposto no referido artigo 47, foram adotadas algumas regras

constantes no artigo 48 da referida lei que serão tratadas separadamente. Essas regras

objetivam promover o desenvolvimento econômico e social local, ampliar a eficiência das

políticas públicas e incentivar a inovação tecnológica.

Art. 48. Para o cumprimento do disposto no art. 47 desta Lei Complementar, a

administração pública poderá realizar processo licitatório: I - destinado exclusivamente à participação de microempresas e empresas de pequeno porte nas

contratações cujo valor seja de até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);

II - em que seja exigida dos licitantes a subcontratação de microempresa ou de

empresa de pequeno porte, desde que o percentual máximo do objeto a ser

subcontratado não exceda a 30% (trinta por cento) do total licitado;

III - em que se estabeleça cota de até 25% (vinte e cinco por cento) do objeto para a

contratação de microempresas e empresas de pequeno porte, em certames para a

aquisição de bens e serviços de natureza divisível.

Cabe ressaltar que todas as 3 (três) situações são limitadas a um percentual de

25% do total licitado em cada ano civil conforme artigo 48,§ 1º da referida lei.

1ª Situação: Licitações exclusivas para microempresas e empresas de pequeno porte cujo

valor seja até R$ 80.000,00 (inciso I do artigo 48)

A administração pública deve reservar dos 100% que possui para licitar em cada

ano civil, a parcela de 25% que deverá ser destinada à licitação exclusiva das ME/EPP para os

certames de até R$80.000,00 e para tanto, necessitará de um bom planejamento anual. O

inciso II do art. 2º do Decreto 6.204/07 quando objetiva a ampliação da participação das

ME/EPP nas licitações, especifica que a Administração Pública deverá: “estabelecer e

divulgar um planejamento anual das contratações públicas a serem realizadas, com a

estimativa de quantitativo e de data das contratações”.

Surge então o questionamento referente aos contratos de prestação de serviços de

que tratam o inciso II do art. 57da Lei 8.666/93 que cita: “a prestação de serviços a serem

executados de forma contínua, poderão ter a sua duração prorrogada por iguais e sucessivos

períodos com vistas à obtenção de preços e condições mais vantajosas para a administração,

limitada a sessenta meses”. Surge a dúvida se esses contratos deverão serem considerados

para enquadramento nesse limite de 25%.

Nesse tocante, BITTENCOURT, 2010, pag. 91 comenta a questão:

Com o intuito de oferecer condições efetivas de fomento, crescimento e desenvolvimento das micro e pequenas empresas, é cediço que, ao fazer a previsão

das licitações destinadas exclusivamente à participação dessas empresas, a LC nº

123/06 tem como propósito reservar uma pequena parcela do dinheiro público a ser

necessariamente utilizado em cada exercício financeiro. Logo, diante desse aspecto,

evidencia-se que a questão da licitação exclusiva a tais empresas não tem qualquer

conexão com o possível período de contrato, mas tão somente com período inicial de

vigência.

Diante da dúvida esclarecida pelo mestre Sidney Bittencourt, não se pode deixar

de falar que esse limite de até R$ 80.000,00 é o mesmo limite para as licitações na

modalidade convite, ou seja, o convite pode ser utilizado para licitações exclusivas de

ME/EPP.

A exclusividade nas licitações para ME/EPP é uma das três situações inovadoras

que a LC nº123/06 trouxe para cumprimento do disposto no artigo 47. A segunda situação

será tratada a seguir e refere-se ao inciso II do artigo 48.

2ª Situação: Subcontratação de microempresa ou de empresa de pequeno porte, desde que o

percentual máximo do objeto a ser subcontratado não exceda a 30% do total licitado (inciso II

do art. 48).

O artigo 72 da Lei 8.666/93 refere-se ao assunto de subcontratação no que diz:

“O contratado, na execução do contrato, sem prejuízo das responsabilidades contratuais e

legais, poderá subcontratar partes da obra, serviço ou fornecimento, até o limite admitido, em

cada caso, pela Administração”.

Essa segunda situação de licitação diferenciada refere-se à obrigação que uma

média ou grande empresa tem de subcontratar micro ou empresa que tenha participação em

certames licitatórios respeitando o limite de 30% do total licitado.

O § 2º do artigo 48 da LC nº123/06 define que o pagamento referente às

subcontratações poderá ser feito diretamente ao subcontratado, caso seja ME/EPP. Nesse

sentido, BITTENCOURT, 2010, pag.96 esclarece que:

A LC nº123/06 produz uma inusitada relação jurídica entre a Administração e o

subcontratado (micro ou pequena empresa), o qual poderá ser beneficiário direto de empenhos emitidos ou pagamentos devidos pelo Poder Público, o que, em última

análise, ao menos representa maior garantia para essas empresas, minimizando os

riscos de atrasos nos pagamentos.

Cabe ressaltar que a subcontratação de ME/EPP deve constar no instrumento

convocatório, devendo ser indicada e qualificada pelos licitantes com a descrição dos bens e

serviços que serão fornecidos com seus respectivos valores nos moldes do inciso II, artigo 7º

do Decreto 6.204/07, sob pena de desclassificação dos licitantes.

O Decreto federal cita ainda no § 2º do artigo 7º que: “Não se admite a exigência

de subcontratação para o fornecimento de bens, exceto quando estiver vinculado à prestação

de serviços acessórios” e cita no §4º do mesmo artigo que: “Não deverá ser exigida a

subcontratação quando esta for inviável, não for vantajosa para a administração pública ou

representar prejuízo ao conjunto ou complexo do objeto a ser contratado, devidamente

justificada”. Essas situações apresentadas são as duas situações onde não será obrigatória a

subcontratação de micro ou pequena empresa.

Por fim, esse tipo de licitação diferenciada refere-se à subcontratação obrigatória

de parte do objeto licitado por micro ou pequenas empresas, de forma que os licitantes que

não enquadrados como micro ou pequenas empresas tenham que recorrer a elas para executar

parte da prestação do objeto a ser contratado.

3ª Situação: Cota de até 25% do objeto para contratação de microempresas e pequenas

empresas em aquisição de bens e serviços de natureza divisível (inciso III do art. 48).

O § 1º do artigo 23 da Lei 8.666/93 relata que:

As obras, serviços e compras efetuadas pela Administração serão divididas em

tantas parcelas quantas se comprovarem técnica e economicamente viáveis,

procedendo-se à licitação com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos

disponíveis no mercado e à ampliação da competitividade sem perda da economia de

escala.

A Lei Geral de Licitações e Contratos já se referia a bens divisíveis quando se

refere ao §1º do artigo 23 em questão. A LC nº 123/06 nessa terceira situação de licitação

diferenciada trouxe mudanças e benefícios às ME/EPP quando trata da reserva de uma cota de

25% do objeto a ser licitado com itens que só podem ser cotados por micro ou pequenas

empresas. O Decreto Federal nº 6.204/07 destaca em seu artigo 8º que:

Art. 8. Nas licitações para a aquisição de bens, serviços e obras de natureza

divisível, e desde que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo do objeto, os

órgãos e entidades contratantes poderão reservar cota de até vinte e cinco por cento

do objeto, para a contratação de microempresas e empresas de pequeno porte.

Nesse tipo de licitação diferenciada existe a cota principal e a cota reservada. A

cota principal recebe as ofertas de empresas que não sejam enquadradas como ME/EPP e a

cota reservada, que se refere a 25% do objeto a ser licitado, receberá ofertas das ME/EPP.

Ressalta-se que as ME/EPP podem concorrer com as empresas comuns na cota principal, e

caso seja vencedora terá os direitos que a LC nº123/06 as reservou no que se refere à

habilitação e desempate.

O Decreto Federal nº 6.204/07 relata em seu §2º, artigo 8º que “O instrumento

convocatório deverá prever que, não havendo vencedor para a cota reservada, esta poderá ser

adjudicada ao vencedor da cota principal, ou, diante de sua recusa, aos licitantes

remanescentes, desde que pratiquem o preço do primeiro colocado” e que ainda “se a mesma

empresa vencer a cota reservada e a cota principal, a contratação da cota reservada deverá

ocorrer pelo preço da cota principal, caso este tenha sido menor do que o obtido na cota

reservada”.

Diante desses três procedimentos de licitações diferenciadas que foram mostrados

de acordo com o dispositivo do artigo 48 da LC nº 123/06 existem exceções às aplicações

dessas regras, as quais estão contidas no artigo 49 desta referida lei.

O artigo 49 da LC nº 123/06 cita as regras de exclusão das ME/EPP do tratamento

diferenciado nos processos licitatórios. O tratamento diferenciado não se aplica quando da

não previsão no instrumento convocatório, conforme artigo 49, inciso I da LC nº 123/06: “Os

critérios de tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de pequeno

porte não forem expressamente previstos no instrumento convocatório”.

Alguns autores como Sidney Bittencourt, Jair Eduardo Santana e Edgar

Guimarães consultados para a realização deste trabalho falam que o texto desse inciso não

deve ser tratado literalmente, pois induziria os intérpretes ao erro. O dispositivo no seu

sentido literal pode ser interpretado que para não obtenção do tratamento diferenciado basta

apenas não citá-lo no instrumento convocatório.

O Decreto Federal 6.204/07 no seu artigo 10 referiu-se ao assunto de outra

maneira a fim de tentar esclarecer o mau entendido quando dita que: “Os critérios de

tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte

deverão estar expressamente previstos no instrumento convocatório”. O artigo referido não se

refere que em caso de não previsão no edital o tratamento diferenciado não poderá ser

aplicado, o artigo é bem específico quando ressalta que apenas os critérios do tratamento

diferenciado devem se expressos no edital. Guimarães e Santana (2009, pag. 134) concluem que:

Se a lei ou outro ato normativo contempla a contratação simplificada e diferenciada,

a omissão de tal circunstância no edital não pode ser tida como anulação de tal

possibilidade o que – se verificado – apenas potencializará a responsabilidade de

agentes públicos que possuem como dever primário a obrigação de fazer cumprir as leis vigentes no país.

As licitações diferenciadas não se aplicam quando não houver no mínimo 3

(três) fornecedores competitivos enquadrados como microempresas ou empresas de pequeno

porte de acordo com o artigo 49, inciso II da LC nº123/06. Esta regra impede a licitação

diferenciada pelo fato de proibir as regras do tratamento privilegiado constantes nos artigos 47

e 48 da LC nº 123/06, quando no certame licitatório não existir um número mínimo de 03

(três) fornecedores enquadrados como ME/EPP competitivos com capacidade de cumprir as

exigências do instrumento convocatório. Observa-se que não é apenas necessário um número

mínimo de 3 (três) fornecedores enquadrados como ME/EPP é necessária a participação

efetiva deles na competição. Quanto à exigência mínima de fornecedores na situação

comentada causa uma certa discussão, pois o §7º do artigo 23 da Lei 8.666/93 nesse caso seria

aplicável de acordo com o entendimento de MOTTA( 2007). O parágrafo citado relata que:

“Na compra de bens de natureza divisível e desde que não haja prejuízo para o conjunto ou

complexo, é permitida a cotação de quantidade inferior à demandada na licitação, com vistas

a ampliação da competitividade, podendo o edital fixar quantitativo mínimo para preservar a

economia de escala”.

O Decreto Federal nº 6.204/07 apenas tratou de repetir o texto do inciso II do

art.49 da Lei da Micro ou Pequena Empresa.

Motta (2007, pag. 24) tenta explicar o art.23 da Lei 8.666/93 quando escreve:

Por conseguinte: caso as pequenas empresas existentes na localidade não estejam

capacitadas para, respectivamente, dar conta de “todo” o quantitativo do objeto, não

se configura razão válida para alijá-las do processo e justificar a não-aplicação do

tratamento diferenciado. Poderá ser cotado o quantitativo factível, dentro das

possibilidades de cada uma delas, e sempre em consonância com os princípios da

economicidade e razoabilidade.

Surge então uma nova dúvida no texto do inciso II do artigo 49 da Lei

Complementar nº 123/06 no que se refere à localização das micro ou pequenas empresas, ou

seja, ao termo “sediados no local ou regionalmente”.

Bittencourt (2010, pag.105) escreve no entendimento de Anacleto Santos que:

A administração somente estará autorizada a afastar o tratamento diferenciado se,

motivadamente, restar demonstrada a inviabilidade material ou técnica de execução

do objeto por micro ou pequena empresa estabelecida em outro local ou região,

distante, pois, daquele no qual está sediado o ente licitador.

No entanto, cabe entendimento da Administração Pública diante das discussões

apresentadas.

As licitações diferenciadas não se aplicam quando o tratamento diferenciado

não for vantajoso para a administração pública ou representar prejuízo ao conjunto ou

complexo do objeto a ser contratado, conforme artigo 49, inciso III da LC nº 123/06.

Verifica-se nesse item que existem duas situações em que o tratamento diferenciado não pode

ser aplicado. A primeira situação é quando a licitação diferenciada não trouxer vantagem para

a Administração Pública e a segunda situação é quando a licitação diferenciada representar

prejuízo ao conjunto ou complexo do objeto a ser contratado. Na primeira situação, o que

vem a ser não vantajoso para a Administração Pública, o Decreto Federal nº 6.204/07 no

parágrafo único do art.9º define que: “Considera-se não vantajosa a contratação quando

resultar em preço superior ao valor estabelecido como referência”. Portanto é necessário

“orçamento detalhado em planilhas que expressem a composição de todos os seus custos

unitários” nas modalidades licitatórias constantes da lei nº 8.666/93 de acordo como o inciso

II do seu artigo 7º.

Na modalidade pregão será necessária a elaboração de termo de referência de

acordo com o inciso II do art. 8º do Decreto Regulamentar 3.555/50 que define termo de

referência como: “Documento que deverá conter elementos capazes de propiciar a avaliação

do custo pela Administração, diante de orçamento detalhado, considerando os preços

praticados no mercado, a definição dos métodos, a estratégia de suprimento e o prazo de

execução do contrato”. Portanto, se o preço ofertado por licitantes for superior ao valor do

orçamento detalhado em planilhas nas modalidades licitatórias tradicionais e ao valor

detalhado no termo de referência para a modalidade pregão, o processo licitatório será

considerado desvantajoso para a Administração Pública. Quanto à segunda situação, nas

licitações em que o objeto licitado for divisível somente será aplicado o regime diferenciado

quando não trouxer prejuízo ao conjunto do objeto.

O tratamento diferenciado também não se aplica quando a licitação for

dispensável ou inexigível, conforme artigo 49, inciso III da LC nº 123/06.

As licitações dispensáveis e inexigíveis estão dispostas nos artigos 24 e 25 da Lei

8.666/93. Quanto às licitações dispensáveis JUSTEN FILHO (2005, pag. 234) explica:

A licitação produz benefícios para a Administração. Esses benefícios consistem em

que a Administração efetivará contratação mais vantajosa do que realizaria se

licitação não tivesse existido. Muitas vezes, sabe-se de antemão que a relação custo-

benefício será desequilibrada. Os custos necessários à licitação ultrapassarão

benefícios que dela poderão advir. Logo, o procedimento licitatório acarretará o

sacrifício dos interesses coletivos e supra- individuais. Impõe-se a contratação direta

porque a licitação é dispensável.

E quanto à inexigibilidade de licitação GASPARINI (2008, pag.547) comenta

que: “Ainda que a Administração desejasse a licitação, esta seria inviável ante a absoluta

ausência de concorrentes. Com efeito, onde não há disputa ou competição não há licitação”.

Enfatiza-se que o legislador não quis estender o tratamento diferenciado às

ME/EPP nas aquisições publicas no que se refere à contratação direta por dispensa ou

inexigibilidade da licitação devido ao fato da Administração Pública não estar obrigada a

licitar.

6 CONCLUSÃO

Este trabalho foi elaborado como o objetivo de analisar o tratamento privilegiado

e diferenciado dado às microempresas e empresas de pequeno porte nas licitações públicas no

âmbito dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios de acordo

com a Lei Complementar nº 123/06 referente ao Estatuto Nacional das Microempresas e

Empresas de Pequeno Porte. Em seu primeiro momento, o estudo apresentou assuntos

relativos à Administração Pública entendendo que em sentido formal a Administração Pública

é sinônimo de Estado e em sentido material é equiparada à atividade administrativa tendo

como principal objetivo os interesses da coletividade resultando daí a sua importância. A sua

estrutura está alicerçada em órgãos públicos e entidades administrativas de direito público e

privado organizando-se em Administração Direta e Indireta, utilizando-se de processo

licitatório para a realização de suas compras e serviços.

Em seguida foram apresentados assuntos referentes ao processo licitatório

conceituando-o como o processo administrativo onde a Administração Pública seleciona a

proposta mais vantajosa para contratação, tendo como principal objetivo garantir a proposta

mais vantajosa à Administração de acordo com os princípios da legalidade, da impessoalidade,

da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao

instrumento convocatório e do julgamento objetivo, resultando dessa forma a sua importância. Foi

mostrado que o processo licitatório possui fase interna para a abertura do processo administrativo e

fase externa para a realização de cinco etapas: edital, habilitação, julgamento e classificação,

homologação e adjudicação de acordo com as modalidades de Concorrência, Tomada de

Preços, Convite, Concurso, Leilão e Pregão as quais podem ser do tipo menor preço, melhor

técnica, técnica e preço ou maior lance e oferta. A vantagem desse processo está evidenciada

no próprio objetivo, que é a escolha da proposta mais vantajosa; e a desvantagem se dá

quando da ocorrência de fraudes. As definições de micro e pequena empresa estão atreladas

ao valor de seu faturamento bruto anual e apresentam papel de grande importância na

economia nacional com grandes dificuldades de sobrevivência. Diante do exposto, conclui-se

que os objetivos específicos propostos para este trabalho foram alcançados.

As alterações ocorridas nos processos licitatórios pela Lei Complementar nº

123/06 trouxeram vantagens às micro e pequenas empresas aumentando a participação delas

nas aquisições públicas em 25% a partir de 2006, segundo dados do Ministério do

Planejamento 2013 dando maior chance de concorrência à elas frente às médias e grandes

empresas nos processos licitatórios colocando-as em posição de igualdade, possibilitando

oportunidade de crescimento e expectativa de continuidade dos seus empreendimentos

gerando promoção do desenvolvimento econômico e social. Apontando como acertada a

opção do legislador na previsão de tais benefícios.

Quanto às desvantagens observadas nos dispositivos da Lei Complementar nº

123/06 às micro e pequenas empresas no que tange aos processos licitatórios não foram

consideradas tão significativas a ponto de serem chamadas de desvantagens, podendo apenas

serem consideradas limitadoras do tratamento diferenciado em alguns casos, ou seja, em

pouquíssimas exceções.

Portanto, conclui-se que as mudanças nos processos licitatórios trouxeram

mudanças capazes de mudar a realidade das micro e pequenas empresas apresentada antes da

Lei Complementar nº 123/06 e que as contratações públicas passam a ter uma função social

quando apoiam às micro e pequenas empresas no seu desenvolvimento.

Sugere-se nova pesquisa na área em relação à regulamentação estadual no estado

do Ceará aos dispositivos do capítulo V da Lei Complementar nº 123/06 no que se refere às

aquisições públicas para benefícios das micro e pequenas empresas.

7 REFERÊNCIAS

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