70
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO A PENHORA DE DINHEIRO EM EXECUÇÃO PROVISÓRIA TRABALHISTA Diego Batista Cemin Lajeado, junho de 2013

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE DIREITO

A PENHORA DE DINHEIRO

EM EXECUÇÃO PROVISÓRIA TRABALHISTA

Diego Batista Cemin

Lajeado, junho de 2013

Page 2: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

Diego Batista Cemin

A PENHORA DE DINHEIRO EM EXECUÇÃO PROVISÓRIA TRABALHISTA

Monografia apresentada na disciplina de Trabalho de Curso II – Monografia, do Curso de Direito, do Centro Universitário Univates, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientadora: Profa. Ma. Fernanda Pinheiro Brod

Lajeado, junho de 2013

Page 3: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

Diego Batista Cemin

A PENHORA DE DINHEIRO EM EXECUÇÃO PROVISÓRIA TRABALHISTA

A Banca examinadora abaixo aprova a Monografia apresentada na disciplina de

Trabalho de Curso II – Monografia, do curso de Direito, do Centro Universitário

Univates, como parte da exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Direito:

Prof. Ma. Fernanda Pinheiro Brod

Centro Universitário Univates

Prof. Esp. Jorge Ricardo Decker

Centro Universitário Univates

Dr. Clocemar Lemes Silva

Juiz do Trabalho (vara de Estrela/RS)

Lajeado, junho de 2013

Page 4: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

— Não importa o que se revela e o que se guarda para si. Tudo o que fazemos, tudo

o que somos, reside em nosso poder pessoal. Se temos o suficiente, uma palavra

que nos for pronunciada pode ser suficiente para mudar o rumo de nossas vidas.

Mas, se não tivermos suficiente poder pessoal, o fato de sabedoria mais magnífico

nos poderá ser revelado sem que tal revelação faça a menor diferença.

Carlos Castaneda

Page 5: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

RESUMO

O presente estudo monográfico tem por finalidade abordar a penhora de dinheiro em execução provisória trabalhista. O Tribunal Superior de Trabalho (TST), por meio da Súmula 417 III, entende que havendo nomeação de outros bens à penhora pelo devedor não pode o credor querer penhorar dinheiro. Tal percepção alicerça-se no artigo 620 do Código de Processo Civil (CPC). Desse modo, por meio de pesquisa qualitativa, realizada por meio de método dedutivo e de procedimento técnico bibliográfico e documental, buscar-se-á demonstrar que a introdução deste artigo na seara laboral não é compatível com os princípios do processo do trabalho, nem tampouco com os constitucionais. Outrossim, procurar-se-á evidenciar a consonância da penhora de dinheiro em execução provisória trabalhista com os princípios constitucionais da duração razoável do processo, da igualdade e da dignidade da pessoa humana. Ademais, ratificar-se-á, por várias linhas de pensamento doutrinário, a inaplicabilidade do artigo 620 do CPC na justiça do trabalho e as inconsistências sustentadas pelo inciso III da Súmula 417 do TST. Por fim, objetiva-se, mediante ataque frontal ao artigo 620 do CPC, derrubar o entendimento sumulado para, de quebra, garantir a aplicabilidade da penhora de dinheiro em execução provisória trabalhista.

Palavras-chave: Direito Processual do Trabalho. Execução Trabalhista. Penhora de dinheiro. Súmula 417, III do TST. Dignidade da pessoa humana.

Page 6: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 07 2 A EXECUÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO............................................ 10

2.1 A fase executória .......................................................................................... 2.2 A execução provisória na CLT e no CPC....................................................

10 14

2.3 A norma aplicável.......................................................................................... 16 2.4 A aplicabilidade do art. 475-O do CPC........................................................ 18 3 O FUNDO CONSTITUCIONAL DA EXECUÇÃO TRABALHISTA................... 24 3.1 A execução e os princípios constitucionais.............................................. 3.2 As partes e o princípio da igualdade..........................................................

24 27

3.3 O crédito e o princípio da dignidade .......................................................... 30 3.4 O ônus do tempo e o princípio da duração razoável do processo.......... 34 4 AS PARTICULARIDADES DA PENHORA DE DINHEIRO EM EXECUÇÃO

PROVISÓRIA........................................................................................................

39 4.1 O bem a ser penhorado................................................................................ 4.2 A nomeação de bens.....................................................................................

39 40

4.3 A execução provisória................................................................................... 42 4.4 A penhora de dinheiro................................................................................... 45 4.5 A posição do TST através do item III da Súmula 417................................. 49

Page 7: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

5 O PRINCÍPIO DA EXECUÇÃO MENOS GRAVOSA NO PROCESSO

TRABALHISTA......................................................................................................

52 5.1 A crítica estabelecida.................................................................................... 5.2 A incompatibilidade do art. 620 do CPC frente ao art. 769 da CLT...........

53 54

5.3 O art. 620 do CPC versus o art. 612 do CPC............................................... 55 5.4 O modo menos gravoso ao devedor............................................................ 58 5.5 O direito líquido e certo do devedor............................................................ 59 6 CONCLUSÃO..................................................................................................... 61 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 64

Page 8: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

7

1 INTRODUÇÃO

No Direito Civil há presumível igualdade entre os litigantes, ainda que,

geralmente, o devedor é quem se encontra em relação de inferioridade; no entanto,

na esfera trabalhista a relação se inverte: o credor (des)empregado é quem busca

por intermédio do Judiciário recompor “a posteriori” uma verba subtraída pelo

empregador, sendo, em regra, a parte hipossuficiente da relação que,

impreterivelmente, necessita desse crédito para a própria subsistência.

Ressalta-se que no âmbito trabalhista a celeridade processual está

intimamente ligada com a dignidade da pessoa humana, uma vez que o recebimento

da verba postulada garante o sustento do credor e de sua família. Em virtude disso,

deve-se buscar, sempre, a forma mais rápida e eficiente de adimplir esse crédito,

sob pena de se causar danos irreparáveis a quem de há muito teve seus direitos

descumpridos.

Nesse compasso, desestimulando medidas protelatórias e contribuindo com o

aumento do prestígio e da confiabilidade das decisões judiciais, a penhora de

dinheiro, além de obedecer à ordem de penhora estabelecida no art. 655 do Código

de Processo Civil (CPC), moderniza a burocrática prestação jurisdicional, porquanto

atribui maior rapidez ao processo executório.

No entanto, frustrando as expectativas do credor, o inciso III da Súmula 417

do Tribunal Superior do Trabalho (TST) garante que não haverá apreensão de

dinheiro, em execução provisória, quando o executado houver nomeado outros bens

à penhora. A Súmula é fundamentada no direito líquido e certo de a execução ser

Page 9: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

8

processada da maneira menos gravosa para o devedor, nos termos do art. 620 do

Código de Processo Civil.

Nesse sentido, o presente trabalho pretende como objetivo geral evidenciar

as garantias decorrentes da penhora de dinheiro em execução provisória e o

desacerto do inciso III da Súmula 417 do TST, que é o maior entrave desta

modalidade de penhora. O estudo discute como problema: Pode o direito à

execução menos gravosa afastar a aplicação das várias garantias protetoras do

credor na penhora de dinheiro em execução provisória trabalhista?

Como hipótese para tal questionamento, entende-se que o empregado, por

depender do crédito trabalhista para sua subsistência, deve ser reembolsado, ainda

que em execução provisória e nomeados outros bens, do modo mais célere

possível, e nada garante mais esse direito do que a penhora de dinheiro em

execução provisória.

Ademais, mediante abordagem qualitativa, conforme Mezzaroba e Monteiro

(2009), expor-se-á a filosofia tutelar do economicamente fraco, fator que impera no

âmbito trabalhista, e a urgência sufragada pelo crédito trabalhista. A partir desse

entendimento, que se dará por meio de procedimentos técnicos baseados na

doutrina e legislação, evidenciar-se-á, pelo método dedutivo, a consonância da

penhora de dinheiro em execução provisória com o sistema processual trabalhista e

constitucional.

Assim, no primeiro capítulo de desenvolvimento estudar-se-á a execução no

processo do trabalho em contraponto com a execução no processo comum, que

mediante omissão e compatibilidade poderá ser ministrada na seara laboral. Não

obstante, questionar-se-á a aplicabilidade do art. 475-O do CPC, que esmiúça a

penhora de dinheiro em execução provisória.

Na sequência, expor-se-ão os objetivos da execução trabalhista se

exacerbando as garantias constitucionais que afloram desta fase processual. Para

isso examinar-se-ão as partes e o princípio da igualdade, o crédito e a dignidade da

pessoa humana e o ônus do tempo e a duração razoável do processo.

Page 10: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

9

Adiante, após análise das particularidades da penhora de dinheiro em

execução provisória e do posicionamento do TST exarado no inciso III da Súmula

417 esmiuçar-se-á o art. 620 do CPC, viga mestra da referida súmula.

Com isso, pretende-se demonstrar além do desacerto da matéria sumulada

que a aplicabilidade, sem entraves, da penhora de dinheiro em execução provisória

certamente polinizará todo o ordenamento jurídico valorizando, acima de tudo, a

dignidade da pessoa humana.

Page 11: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

10

2 A EXECUÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO

A execução marca o ponto em que o comando exarado na sentença modifica

a realidade fática, porquanto não basta apenas a sentença é mister sua

transformação em pecúnia. Na seara trabalhista o caráter alimentar da verba

postulada impõe que o procedimento executório seja feito de forma célere e eficaz.

Ora, é de imprescindível importância a execução pois é ela que materializa o

objeto da pretensão resistida, que é o fim do direito e a verdadeira busca do

jurisdicionado. Com estas breves explanações inicia-se esta luta por um processo

verdadeiramente efetivo que atenda às súplicas da sociedade.

Assim, caberá a este capítulo a introdução do tema de forma genérica

partindo-se da regulamentação da execução provisória constante nos diplomas

processuais trabalhista e civil. Na sequência, passar-se-á pela regra da

aplicabilidade supletiva das normas do direito comum para, ao final, analisar o

instituto civilista que destrinça o procedimento da execução provisória e seus efeitos

na seara trabalhista.

2.1 A fase executória

A execução no processo do trabalho, assim como em qualquer outra área do

direito, tem por escopo materializar no mundo dos fatos o comando exarado na

sentença. Tal ordem se traduz em um título executivo, motivo pelo qual Manus

(2005, pag. 15) afirma que a “execução é o conjunto de atos processuais suficientes

Page 12: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

11

e necessários para dar cumprimento ao título executivo”. Enredo que para Giglio

(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação

do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente (CPC, art. 646), através da

alienação dos bens expropriados”. Ademais “a prestação jurisdicional só se

completa, nas hipóteses em que é reconhecido o direito do reclamante à pretensão

inicial, quando a sentença é executada, que consiste na efetiva entrega daquele

bem reconhecido ao autor” (MANUS, 2011, p. 111).

Sem embargo, nessa linha de pensamento, infere-se que:

É por intermédio do processo de cognição que o Estado, declarando com quem está́ a razão jurídica disputada, faz incidir, com a autoridade que lhe é inerente, a vontade concreta da lei; o provimento jurisdicional, aqui, é provido de um comando sancionatório, a que se submete o réu; por outro lado, esse mesmo provimento materializa um título executivo judicial, com base no qual o autor promoverá a execução forçada, tendente a compelir o réu a satisfazer a obrigação espelhada nesse título sentencial. Diz-se, por isso, que o objeto do processo executivo é a obtenção de um provimento satisfativo do direito do credor (TEIXEIRA apud SARAIVA, 2012, p. 529).

Não obstante, esse comando emanado da decisão proferida não é, na grande

maioria das vezes, cumprido espontaneamente. Assim temos, claramente, que a

declaração do direito não exaure a tutela do Estado, que deverá realizar o

mandamento que ele mesmo proferiu. Tal desiderato opera-se mediante a execução

forçada, que estabelece uma maneira de proceder igualitária e impessoal para

implementar o direito declarado com o mínimo de dano possível, quando da

transferência do patrimônio correspondente ao direito garantido pela sentença.

Ademais, não é dado ao interessado fazer valer os seus direitos e exercer suas

razões da maneira que lhe aprouver. Logo, tem-se legalmente preestabelecido, para

a consecução desse objetivo, um conjunto de atos vinculados em uma unidade

procedimental complexa a qual chamamos de execução de sentença, conforme

Nascimento (2012).

Sem prejuízo, a tutela jurisdicional avocada pelo Estado como meio de

pacificação social, apesar de sua vital importância na resolução dos conflitos, que

naturalmente assolam a sociedade, cinge-se a um serviço público e como tal deve

atender os clamores do jurisdicionado, desse modo:

Se a prestação jurisdicional é um serviço público, então a prestação do serviço jurisdicional constitui ato essencial à administração (pública) da justiça. Logo, deve, também, o judiciário como um todo, inclusive a Justiça

Page 13: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

12

do Trabalho, buscar incessantemente a operacionalização dos princípios da eficiência (CF, art. 37, caput) e da duração razoável do processo (CF, art. 5º, LXXVIII) (LEITE, 2011, p. 977).

Outrossim, sem entrar na cizânia a respeito da natureza jurídica da execução

de sentença trabalhista, se é processo autônomo ou simples fase do processo

trabalhista, observa-se que, não obstante a simultaneidade da fase cognitiva e

executiva denominada sincretismo processual, apanágio da reforma do Código de

Processo Civil estabelecida pela Lei 11.232/2005, a execução no processo do

trabalho sempre foi feita nos mesmos autos e perante o mesmo juízo. Porém não se

pode negar que:

As modificações implementadas pela Lei 11.232/2005 podem e devem ser aplicadas ao processo laboral. De fato, percebe-se que o cumprimento da sentença do processo civil é muito mais rápido e eficiente que a ultrapassada execução trabalhista. Não podemos esquecer que a Constituição Federal de 1988 consolidou entre os princípios fundamentais o da celeridade processual e da economia processual. O art. 5º, LXXVIII, da CF/1988 assegura a todos, no âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (SARAIVA, 2012, p. 642).

Logo:

Se o transporte de institutos do processo comum para o processo do trabalho demanda o exame da sua compatibilidade com a arquitetura lógica, sistemática e axiológica da legislação processual trabalhista, tal mecanismo mercê das teorias do Direito há de se permitir caracterizar como de mão dupla, igualmente admitindo no exame de cada caso em concreto a percepção e o reconhecimento da superação da norma processual trabalhista diante de novos mecanismos processuais ainda que no domínio do processo comum, que lhe é tronco sistemático, aplicando-os, conforme a situação, em homenagem aos mais elevados princípios da instrumentalidade do processo, da efetividade da tutela jurisdicional e da duração razoável da atividade do Estado-Juiz (CHAVES, 2007, p. 145).

Nessa toada, se o fim almejado pelo legislador, com a referida reforma, se

resume a tornar a prestação jurisdicional mais célere e efetiva, empenho decorrente

dos augúrios constitucionais da razoável duração do processo, não se pode negar a

sua aplicabilidade naquilo em que o sistema processual trabalhista foi ultrapassado.

Ademais, a autonomia do sistema laboral não é, sequer, arranhada, pois ao invés de

se afastar de suas raízes fundamentais (proteção e celeridade) há a sua fertilização

e, certamente, colher-se-á bons frutos, ademais:

Através da reforma do processo civil, houve rupturas de dogmas e progresso científico em pontos que, em essência, se aproximam do anseio de instrumentalidade do processo, expresso na ideia de que, sendo meio à

Page 14: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

13

pacificação social, o procedimento judiciário não pode se constituir em entrave ao escopo da atividade jurisdicional (CHAVES, 2007, p. 141).

Sem grande esforço, pode-se constatar que na execução trabalhista, diante

da hipossuficiência do exequente, que na esmagadora maioria dos casos se

encontra desempregado e necessita deste crédito para fazer frente às suas

necessidades alimentares e de sua família, a celeridade está intimamente ligada à

efetividade sendo o norte a ser seguido pelo operador do direito. Tal conclusão não

é privilégio dos experts eis que:

Basta pensar que a execução trabalhista visa recompor, e ‘a posteriori’, o equilíbrio decorrente do descumprimento da legislação já ocorrida há muito tempo. Se no processo civil, o executado costuma ostentar situação econômica de inferioridade em relação ao exequente, no processo do trabalho a situação é oposta – o exequente é a parte hipossuficiente. Daí a necessidade de tutela jurídica efetiva, sem demora (CLAUS, 2011, p. 25).

Porém, tal desiderato, na prática, não se materializa facilmente e o caminho

da execução é longo, árduo, sinuoso e sem garantia de sucesso, motivo pelo qual:

A execução trabalhista acaba sendo uma angústia para o credor. A demora na entrega da prestação jurisdicional e da efetividade da execução traz descontentamento, estimula o descumprimento da sentença, potencializa novo conflito ou o eterniza e gera descrédito do Poder Judiciário. Enquanto o credor não receber o que lhe foi assegurado pela sentença, ficará insatisfeito, desapontado, permanecendo o estado de litigiosidade, pois o credor ganhou, mas não conseguiu receber [...] O crédito trabalhista tem natureza alimentar e não pode levar seis anos ou mais para ser recebido (MARTINS, 2011, pag. 738).

Assim, a execução marca a transição do plano das palavras para a realidade

dos fatos, porquanto o que se persegue com o processo é a modificação da

realidade e não, apenas, um comando declaratório.

O que interessa é o resultado e é para isso que o processo existe. Se a convenção feita através do contrato, o mandamento provindo da sentença ou o preceito oriundo da lei não encontram lugar na realidade, contrato, sentença e lei se tornam instituições inúteis e, com sua desmoralização, destroem-se também os fundamentos da ordem jurídica. [...] Nos processos que se perdem na execução não realizada, o mal é ainda pior. O Estado prometeu a prestação jurisdicional, ofereceu as instituições para realizá-la, abriu suas portas ao cidadão mas no fim não cumpriu a promessa (SILVA, 2007, p.16).

Nesse ínterim, o objetivo do processo do trabalho, segundo Schiavi (2012),

cinge-se a propiciar melhor acesso dos trabalhadores à justiça e, indubitavelmente,

suas regras processuais devem convergir para tal finalidade. Nessa senda, é ilógico

agarrar-se à autonomia do processo do trabalho e a vigência de suas normas para

Page 15: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

14

sacrificar o célere recebimento do crédito alimentar postulado e o acesso do

trabalhador à justiça. Tal prática repudia os princípios constitucionais que norteiam o

processo.

2.2 A execução provisória na CLT e no CPC

A súplica de heterointegração dos sistemas processuais, civil e trabalhista,

enaltecida por Leite (2011), subentende uma interpretação evolutiva do art. 769 da

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permitindo a aplicação subsidiária do

diploma civil. Porém, não só em casos de lacuna normativa, ausência de norma

sobre determinado assunto, mas, também, quando se tratar de lacunas ontológicas

e axiológicas. Sendo que esta se dá quando a norma a ser aplicada ao caso

concreto afigura-se injusta ou insatisfatória. Ao passo que aquela reside no

envelhecimento do direito não mais correspondendo, suas garantias, aos valores

que transpassavam os fatos sociais, políticos e econômicos vigentes na época de

sua promulgação estando, assim, desatualizado.

Tal desiderato é sugerido porquanto as únicas disposições concernentes à

execução provisória constantes na CLT estão dispostas no art. 899, que trata dos

recursos, enaltecendo, in verbis: “Os recursos serão interpostos por simples petição

e terão efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste título,

permitida a execução provisória até a penhora”.

Por outro lado, no Código de Processo Civil há provisão detalhada sobre tal

instituto garantindo-se que a execução provisória far-se-á do mesmo modo que a

definitiva. Ademais, impõe-se a responsabilidade objetiva do exequente caso a

sentença seja modificada com liquidação dos prejuízos nos mesmos autos. Não

obstante, possibilita-se o levantamento do depósito em dinheiro, a prática de atos de

alienação de propriedade, ou qualquer outro ato que possa resultar grave dano ao

executado, mediante caução arbitrada pelo magistrado e prestada nos mesmos

autos. A isso se soma o fato de que, nos casos de crédito de natureza alimentar ou

decorrente de ato ilícito até o limite de sessenta salários mínimos, mediante a

demonstração da situação de necessidade, a caução poderá ser dispensada, ou

seja:

Page 16: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

15

Nota-se que a atual disciplina da execução provisória no processo civil é mais avançada do que aquela prevista na CLT. Com isso, por meio de interpretação sistemática e teleológica, fundada nos valores e princípios constitucionais, defende-se a aplicabilidade das disposições sobre o tema, previstas no CPC, que estejam em consonância com a efetividade da tutela jurisdicional (GARCIA, 2012, p. 673).

Desse modo, ponderando que o direito deve sempre evoluir gradativamente

de acordo com os anseios da sociedade vislumbra-se que:

Na execução, a busca incessante pela efetividade do processo se acentua, pois o direito já está declarado no título executivo, e há grande interesse social na satisfação do crédito trabalhista. O trabalhador não pode esperar, muitas vezes, o desenrolar de um procedimento processual ultrapassado e que já não produz resultados. Por isso, é relevante a função social do Juiz do Trabalho, bem como sua responsabilidade em dar efetividade às promessas constitucionais de duração razoável do processo, e efetividade da jurisdição, assim como garantir uma ordem jurídica justa, sepultando o estigma da execução trabalhista de ser um verdadeiro calvário para recebimento do crédito do trabalhador (SCHIAVI, 2012, p. 59).

Em consonância com a aplicação subsidiária das regras do CPC diante de

lacunas ontológicas e axiológicas transcrevo o Enunciado n. 66 da 1ª Jornada de

Direito Material e Processual do Trabalho (2007) que reza:

APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DE NORMAS DO PROCESSO COMUM AO PROCESSO TRABALHISTA. OMISSÕES ONTOLÓGICAS E AXIOLÓGICAS. ADMISSIBILIDADE. Diante do atual estágio de desenvolvimento do processo comum e da necessidade de se conferir aplicabilidade à garantia constitucional da duração razoável do processo, os artigos 769 e 889 da CLT comportam interpretação conforme a Constituição Federal, permitindo a aplicação de normas processuais mais adequadas à efetivação do direito. Aplicação dos princípios da instrumentalidade, efetividade e não-retrocesso social.

Assim, diante da carência de norma sobre o assunto na CLT, que se restringe

a rezar, unicamente, “permitida a execução provisória até a penhora” limitando a sua

extensão se faz necessário saber se as regras constantes no CPC podem, ou não,

ser aplicadas na seara laboral. Tal questionamento objetiva superar o limite

estabelecido pela CLT, ultrapassando, então, a fase da penhora, permitindo, desse

modo, atos de expropriação. Para se alcançar tal escopo é preciso sobrepujar a

peneira da omissão e compatibilidade estabelecidas na CLT a fim de saber qual a

norma aplicável, assunto que será tratado a seguir.

Page 17: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

16

2.3 A norma aplicável

Todo o procedimento da execução trabalhista é tratado em apenas dezessete

artigos constantes no capítulo V da Consolidação das Leis do trabalho, que se

subdivide em cinco seções (das disposições preliminares; do mandado e da

penhora; dos embargos à execução e da sua impugnação; do julgamento e dos

trâmites finais da execução e da execução por prestações sucessivas) o que

demonstra que tal matéria foi tratada, apenas, de forma sintética.

No entanto, a fim de suprir sua incompletude há a possibilidade, pela CLT

estabelecida, de se aplicar outros diplomas, devidamente enumerados em suas

disposições, quando os mesmos não conflitarem com suas linhas gerais.

Assim, tem-se estabelecida uma ordem de importância, na execução

trabalhista, que parte, primeiramente, dos artigos, que tratam do assunto, constantes

da própria CLT (arts. 876-892) e constituem a regra básica da execução. O segundo

diploma normativo é a Lei 6.830/1980, Lei de Execução Fiscal, porquanto o art. 889

da CLT lhe faz expressa remissão como norma subsidiária de aplicabilidade quando

a mesma não contrariar as suas disposições. Na sequência, não havendo, até

então, norma específica nos dois diplomas anteriores usa-se como fonte informadora

da execução trabalhista o CPC. Além de a Lei de Execução Fiscal elencar o CPC

como fonte subsidiária, o art. 769 da CLT autoriza a aplicabilidade do direito

processual comum, quando houver casos omissos, desde que a norma aplicável

seja compatível com o texto trabalhista, consoante Martins Filho (2009).

Porém, tal desiderato, na prática, enseja diversos posicionamentos

conflitantes da doutrina. Não obstante, tal celeuma dissipa-se no âmbito do Poder

Judiciário, eis que “da incidência de normas contidas nesses três diplomas (CLT,

CPC e Lei n. 6.830/80) podem surgir problemas de interpretação, de compatibilidade

com o processo do trabalho e de preferência por este ou por aquele preceito”

(GIGLIO, 2007, p. 522).

Esta fonte de analogia e subsidiariedade estabelecida pela Consolidação

Trabalhista, segundo Silva (2007), poderia ser mais indicativa ou até mesmo

silenciar, que, do mesmo modo, o resultado seria alcançado. Porquanto a

comparação e a subsidiariedade como método são elementos criados pela ciência e

Page 18: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

17

não pelo legislador. Assim se o caso concreto não se resolve pela norma próxima

busca-se através de uma interpretação extensiva dilatar o sistema, característica do

poder discricionário do juiz calcado em seus conhecimentos científicos, a fim de que

se encontre fundamentação razoável para a decisão, assim se faz porque:

O legislador é incapaz de prever todas as situações futuras, razão pela qual reputo correto afirmar que a lei ganha alma ao entrar em vigor. Fica, então, desvinculada de seu criador, cabendo ao julgador verificar seu significado mais adequado no instante da aplicação ao caso concreto. Em diversas ocasiões vai se deparar com situações inesperadas, quando, de um modo ou outro, será obrigado a lidar com a questão das lacunas (CUNHA NETO, 2007, p. 155).

Seguindo essa trilha, e pensando no sistema como um todo harmônico, mister

se faz uma interpretação que atenda às disposições constitucionais de duração

razoável do processo, efetividade e dignidade da pessoa humana, calcada nos

princípios da razoabilidade e proporcionalidade, eis que são os valores máximos a

serem perseguidos pelo aplicador do direito.

Em virtude disso:

Não deve o processo do trabalho, que sempre foi vanguardista em termos de celeridade e efetividade, ficar na contramão da história. É preciso que seus operadores se libertem dos dogmas positivistas que deixam este importante setor do direito processual pátrio na dependência de lei especial para emancipar-se e adequar-se às novas exigências políticas, sociais, econômicas, culturais e tecnológicas (LEITE, 2011, p. 992).

Não obstante, no que tange à execução provisória, repito, a norma trabalhista

cinge-se, tão somente, aos seguintes dizeres: “permitida a execução provisória até a

penhora”, ou seja, as poucas palavras que dedica a tal instituto servem apenas para

delimitar a sua extensão. Não obstante:

O laconismo da consolidação nesse assunto é, de certa forma, justificável, tendo em vista que o diploma regulador do direito processual civil, na época da aprovação da Consolidação, pouca importância dispensava ao tema da execução provisória. O Código de Processo Civil de 1939 dispunha, no seu art. 883, III, que, no âmbito da execução provisória, era proibida a prática de atos de ‘... alienação de domínio’, sendo condicionado o levantamento de dinheiro à prestação de caução idônea. [...] De fato, o contido no art. 899 da CLT resume-se a identificar no âmbito do direito processual do trabalho a possibilidade de manejo do instituto da execução provisória. Ao se reportar à locução ‘até a penhora’, não se estabelece um limite instransponível para a continuidade do procedimento executório. O texto limitou-se a adotar a sistemática vigente quando de sua edição, não sendo possível visualizar, no nosso entender, a fixação de qualquer elemento normativo definidor ou limitador da prática dos atos relativos à execução provisória (CORDEIRO, 2007, texto digital).

Page 19: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

18

Assim, atualmente, como a Lei 6.830/1980 não regula a execução provisória,

e mais, as modificações inseridas pela Lei 11.232/2005 esmiúçam tal assunto, resta

perquirir se a menção limitada e, hodiernamente, fora de contexto da CLT é capaz

de barrar, por não haver omissão, a utilização da norma subsidiária vigente no

diploma processual civil, pois:

Há certo consenso no sentido de que todas as fases reformistas tiveram por escopo a efetividade do processo, o que implica, em certa medida, o reconhecimento da relativização do dogma da autonomia do processo do trabalho nos casos em que o art. 769 da CLT representar, na prática, descompromisso com a efetividade, porquanto a morosidade processual favorece os mais ricos (empregadores) em detrimento dos mais pobres (trabalhadores), sendo estes últimos, certamente, os mais prejudicados com a intempestividade da prestação jurisdicional (LEITE, 2011, p. 101).

Ademais não se pode desconsiderar nessa intelecção hermenêutica a

proteção que emana da carga principiológica de nossa Magna Carta, eis que

possibilita ao intérprete transcender os limites do direito positivado adequando-o aos

auspícios constitucionais, como exposto na sequência.

2.4 A aplicabilidade do art. 475-O do CPC

A incompletude do ordenamento trabalhista no que concerne às disposições

sobre a execução provisória pode ser suprimida se, privilegiando o trabalho e a

dignidade da pessoa em detrimento do capital, forem ministradas as disposições

constantes no diploma processual civil, mais especificamente no art. 475-O que

reza, na integra:

Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: I – corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II – fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento; III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. § 1o No caso do inciso II do caput deste artigo, se a sentença provisória for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução. § 2o A caução a que se refere o inciso III do caput deste artigo poderá ser dispensada:

Page 20: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

19

I – quando, nos casos de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, até o limite de sessenta vezes o valor do salário-mínimo, o exequente demonstrar situação de necessidade; II – nos casos de execução provisória em que penda agravo de instrumento junto ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação. § 3o Ao requerer a execução provisória, o exequente instruirá a petição com cópias autenticadas das seguintes peças do processo, podendo o advogado declarar a autenticidade, sob sua responsabilidade pessoal: I – sentença ou acórdão exequendo; II – certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo; III – procurações outorgadas pelas partes; IV – decisão de habilitação, se for o caso; V – facultativamente, outras peças processuais que o exequente considere necessárias.

Ademais, apesar do relacionamento dos diplomas processuais:

A maior aproximação do Processo do Trabalho ao Processo Civil não desfigura a principiologia do Processo do Trabalho, tampouco provoca retrocesso social à ciência processual trabalhista. Ao contrário, possibilita evolução conjunta da ciência processual. O próprio processo civil muitas vezes se inspira no Processo do Trabalho para evoluir em muitos de seus institutos (SCHIAVI, 2012, p. 55).

Essa aplicabilidade não decorre apenas da análise da omissão do texto

trabalhista e de sua compatibilidade com a norma subsidiária, mas sim de sopesar,

quando da aplicabilidade do direito ao caso em questão, o arcabouço principiológico

constitucional e trabalhista, pois:

Em razão desta peculiar estrutura normativo-material que os distingue das regras jurídicas — cuja aplicação está subordinada à logica do tudo ou nada — os princípios apresentam-se como mandados de otimização, que não só facultam como até mesmo exigem uma aplicação diferenciada, para que se realize o ótimo dentro das circunstâncias possíveis. Sendo assim, na aplicação dos princípios, o intérprete do Direito não escolhe entre esta ou aquela norma principiológica, atribuindo, em verdade, mais peso a um do que a outro (dimensão de peso), em face dos caracteres do caso concreto. Exercita-se, assim, um juízo de ponderação que não desqualifica ou nega a validade ao princípio circunstancialmente preterido, o qual, por isso mesmo, em outra lide, poderá́ vir a merecer a preferência do jurista (SOARES, 2010, p. 68-69).

Assim, partindo-se do dever de realizar justiça, valor fundamental que

estrutura e dá densidade ao judiciário, e pelas razões sociais e éticas que orientam o

exercício da jurisdição pode-se, naturalmente, admitir a incidência do art. 475-O do

CPC, no processo do trabalho. Porquanto, se tal benesse está ao alcance do credor

comum, por óbvio, poderá tal faculdade ser utilizada pelo credor trabalhista. A

despeito de seu crédito ser privilegiado estar-se-ia garantindo o princípio da

Page 21: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

20

isonomia. Ademais, os valores do trabalho e da dignidade da pessoa humana

fundam o arcabouço ético da ordem constitucional, lembra Melhado (2009).

Destarte, não se prega aqui a ineficiência generalizada do diploma processual

trabalhista, conquanto desde sua promulgação, década de 40, houve significativas

mudanças na sociedade. A relação de trabalho tornou-se dinâmica, terceirizada,

globalizada e tecnológica para satisfazer nossos desejos consumistas. Noutro norte

a legislação trabalhista não foi significativamente modificada, no que tange à

escassa disposição sobre a execução provisória sua redação passou por duas

modificações (Lei 8.737/1946 e Lei 5.442/1968) que não alteraram o enunciado

original. Fato é que:

A CLT e a legislação processual trabalhista, em muitos aspectos, funcionam bem e devem ser mantidas. O procedimento oral, as tentativas obrigatórias de conciliação, a maior flexibilidade do procedimento, a majoração dos poderes do Juiz do Trabalho na condução do processo e a irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias, têm obtido resultados excelentes. Não obstante, em alguns aspectos, a exemplo dos capítulos dos recursos e execução, deve-se permitir ao Juiz do Trabalho buscar a melhoria constante da prestação jurisdicional trabalhista nos dispositivos do Código de Processo Civil e da Teoria Geral do Processo (SCHIAVI, 2012, p. 55).

Não obstante, a fim de nortear o operador do direito nesta área especializada

não é demais lembrar que “o Direito do Trabalho surgiu, assim, da luta dos

trabalhadores pelo reconhecimento da dignidade do trabalho humano, das

condições em que se deve desenvolver e do que lhe corresponde em termos de

retribuição pelo esforço produtivo” (MARTINS FILHO, 2009, p. 39) e tal luta não

pode ser esquecida e menosprezada, porquanto:

Em sociedade civil e Estado fundados na dignidade da pessoa humana, na valorização do trabalho e especialmente do emprego, na submissão da propriedade à sua função social e ambiental – em conformidade com o que determina a Constituição –, é imprescindível a existência de uma sólida e universalizada estrutura dirigida à efetividade do Direito do Trabalho na vida econômica e social, inclusive com um segmento especializado, célere e eficiente de acesso ao Judiciário e de efetivação da ordem jurídica. Nesse sistema, cumpre papel decisivo a Justiça do Trabalho (DELGADO, G.; DELGADO, M., 2011, p. 114).

De maneira inversa, para obstar que tais normas sejam transplantadas para

seara trabalhista emprega-se uma exegese de ordem estritamente positiva e isolada.

Com foco, unicamente, na literalidade da regra estabelecida na CLT que, insisto,

limita-se a dispor, somente: “permitida a execução provisória até a penhora”, mas,

porém, pasmem-se, de acordo com o entendimento do TST. Nessa linha de

Page 22: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

21

raciocínio, “se a execução trabalhista, quando provisória, deve reter-se na penhora,

pode-se argumentar que não há lugar para levantamento do depósito e tampouco

para a expropriação de bens penhorados” Melhado (2009, p. 383).

Com base nesses pilares argumenta-se que não há omissão na CLT e,

portanto, não cabe a aplicação subsidiária das normas, que tratam do assunto,

constantes na legislação processual civil, porém:

O fato, entrementes, é que em tempos de positivismo ético (pós-positivismo), o artigo 899 da CLT não comporta a interpretação isolada e restritiva que se deseja lhe emprestar, já que é palmar contemporaneamente a compreensão de que o aludido preceito mereça hermenêutica ampliativa do tipo lógico-sistemático-teleológico, para que em atenção à tutela da dignidade da pessoa humana, premissa axiológica central do Estado Democrático de Direito, se possa impregná-lo da potencialidade dignificante prevista no § 2º, I, do artigo 475-O do CPC (CESÁRIO, 2011, texto digital).

Ademais a barreira criada na CLT tinha o intuito de evitar a morosidade

processual do diploma civil. O procedimento trabalhista, na época de sua

promulgação, era mais célere, eficiente e eficaz. Hodiernamente os papéis se

inverteram ao menos no que tange à execução provisória, desse modo:

Partindo do princípio de que se deve priorizar a melhoria da prestação jurisdicional, é importante, por fim, deixar claro que sendo a inovação do processo civil efetivamente eficaz, não se poderá recusar sua aplicação no processo do trabalho com o argumento de que a CLT não é omissa. Ora, se o princípio é o da melhoria contínua da prestação jurisdicional, não se pode utilizar o argumento de que há previsão a respeito na CLT, como forma de rechaçar algum avanço que tenha havido neste sentido no processo civil, sob pena de se negar a própria intenção do legislador ao fixar os critérios da aplicação subsidiária do processo civil. Notoriamente, o que se pretendeu (daí o aspecto teleológico da questão) foi impedir que a irrefletida e irrestrita aplicação das normas do processo civil evitasse a maior efetividade da prestação jurisdicional trabalhista que se buscava com a criação de um procedimento próprio na CLT (mais célere, mais simples, mais acessível). Trata-se, portanto de uma regra de proteção, que se justifica historicamente. Não se pode, por óbvio, usar a regra de proteção do sistema como óbice ao seu avanço. Do contrário, pode-se ter por efeito um processo civil mais efetivo que o processo do trabalho, o que é inconcebível, já que o crédito trabalhista merece tratamento privilegiado no ordenamento jurídico como um todo (SOUTO MAIOR apud SCHIAVI, 2012, p. 52).

Posicionamento confirmado pelo exposto no enunciado n. 69 da 1ª Jornada

de Direito Material e Processual do Trabalho, in verbis:

EXECUÇÃO PROVISÓRIA. APLICABILIDADE DO ART. 475-O DO CPC NO PROCESSO DO TRABALHO. I – A expressão “...até a penhora...” constante da Consolidação das Leis do Trabalho, art. 899, é meramente referencial e não limita a execução provisória no âmbito do direito

Page 23: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

22

processual do trabalho, sendo plenamente aplicável o disposto no Código de Processo Civil, art. 475-O.

Não obstante, apesar de, ainda, haver cizânia acerca da aplicabilidade do art.

475-O do CPC os posicionamentos acima explicitados demonstram que o aplicador

do direito, independente da norma a ser aplicada, deve fazer valer os postulados

constitucionais da efetividade, duração razoável do processo e dignidade da pessoa.

Nessa linha evita-se o apego estritamente literal da norma para, ciente do contexto

histórico em que esta foi promulgada e das garantias por ela defendidas, evitar que

o direito ande em marcha ré. Porquanto não se pode simplesmente usar de uma

norma que, ao tempo de sua promulgação, era protecionista (evitar aplicabilidade do

moroso procedimento civil) para, atualmente, transformá-la em norma prejudicial

(impedir que se ultrapasse a fase de penhora na execução provisória).

Nessa vereda, a aplicabilidade do art. 475-O do CPC na seara trabalhista

demanda a possibilidade do levantamento de dinheiro sem caução, ao menos até o

limite de sessenta salários mínimos. Porquanto, automaticamente são atendidos os

seus requisitos, ou seja, em regra, estamos diante de crédito alimentar cujo credor

ostenta situação de necessidade.

Ademais a natureza patrimonial da caução rompe com a igualdade processual

eis que somente quem dispõe de meios financeiros pode usufruir desta vantagem

processual. Permitir vantagens processuais mediante caução na esfera trabalhista é

o mesmo que negar a prerrogativa, consoante Silva (2007).

A controvérsia que gravita a dispensa da caução reside no fato de que se

houver a modificação da decisão, considerando o estado de hipossuficiência do

trabalhador, não haverá como recuperar o dinheiro. Uma análise superficial pode

conduzir o operador do direito para essa, equivocada, interpretação. No entanto:

A vontade do legislador foi equilibrar entre as partes os riscos do processo. Se o empregador corre o risco de não receber de volta o dinheiro levantado, também corre idêntico risco o empregado de nunca ter o dinheiro quando a execução se prolonga e a empresa desaparece, resultando em execuções infrutíferas, em que os autos vão para o arquivo provisório e de lá seguem para o arquivo definitivo sem nenhum resultado efetivo para o trabalhador (PAES, 2011, texto digital).

Na mesma linha de pensamento pondera-se que:

Page 24: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

23

Este problema também é enfrentado pelo Processo Civil, pois, se o autor está em estado de necessidade e o crédito for de índole alimentar, dificilmente se conseguirá recuperar o dinheiro. Nota-se que o legislador processual civil priorizou a efetividade processual em detrimento da cautela processual de proteção do patrimônio do devedor. Por isso, deve o Juiz do Trabalho sopesar o custo-benefício em determinar a liberação do valor até 60 salários mínimos ao reclamante, quando a execução for provisória, mas sempre atento à efetividade processual. Conforme salienta a melhor doutrina, não há efetividade processual sem riscos (SCHIAVI, 2012, p. 202-203).

Assim, justa é a exaltação dos postulados constitucionais e o crescimento,

contemporâneo, de sua vinculação ao direito material e processual do trabalho, feita

por Delgado (2007). Não só pela máxima efetividade/eficácia que proporcionam,

mas, também, em virtude de, em um Estado Democrático de Direito, potencializar-

se, prioritariamente, os valores glorificantes da cidadania, da dignidade humana, da

função social do trabalho e da igualdade, ademais:

Se a norma jurídica é um pedaço de vida humana objetivada, não pode ser uma norma abstrata de moral, de ética, desligada dos fatos concretos, é um enunciado para a solução de um problema humano. A norma jurídica não pode ser julgada como um fim, mas como um meio para a consecução de valores concretos, tais como o bem-estar social, a dignidade, a liberdade e a igualdade. Sendo assim, a materialização destas estimativas sociais permite a realização da justiça e, portanto, do direito justo (SOARES, 2010, p. 75).

O crédito trabalhista possui natureza alimentar devendo, logicamente, ser

entregue, imediatamente, ao credor, eis que:

As generosidades em face do executado não devem mascarar um descaso em relação ao dever de oferecer tutela jurisdicional a quem tiver um direito insatisfeito, sob pena de afrouxamento do sistema executivo. É preciso distinguir entre o devedor infeliz e de boa-fé, que vai ao desastre patrimonial em razão de involuntárias circunstâncias da vida e dos negócios (Rubens Requião), e o caloteiro chicanista, que se vale das formas do processo executivo a da benevolência dos juízes como instrumento a serviço de suas falcatruas. Infelizmente, essas práticas são cada vez mais frequentes nos dias de hoje, quando raramente se vê uma execução civil chegar ao fim com a satisfação do credor (DINAMARCO apud CLAUS, 2011, p. 20).

Com este enfoque, passar-se-á, em seguida, à descrição dos objetivos da

execução trabalhista em consonância com o arcabouço principiológico constitucional

que deve guiar aquele que aplica a legislação trabalhista.

Page 25: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

24

3 O FUNDO CONSTITUCIONAL DA EXECUÇÃO TRABALHISTA

Os princípios constitucionais erradiam sua força para todo o ordenamento

jurídico motivo pelo qual quando da aplicação do direito os mesmos não poderão ser

despresados. Na execução trabalhista o norte principiológico constutucional a ser

seguido resume-se basicamente na duração razoável do processo e na dignidade da

pessoa humana. O contraditório e a ampla defesa nesta fase ficam mitigados pelo

simples fatos que suas forças atuam amplamente na fase de conhecimento. Assim,

delimitado o direito pela sentença deve, o bem pleiteado, ser entregue ao credor

imediatamente.

Com esta linha de raciocínio, no intuito de deslocar o ponto de percepção do

operador do direito do trabalho para, em assim procedendo, semear o campo

trabalhista com as garantias que emanam de nossa Lei Maior, exaninar-se-á, neste

capítulo, a execução trabalhista pelas lentes dos princípios que permitem a

consecução de seu ímpeto de forma límpida e nítida.

3.1 A execução e os princípios constitucionais

O norte da execução trabalhista é, sem sombra de dúvidas, alcançar ao

jurisdicionado a obrigação declarada na sentença. Porém tal desiderato não se

opera, na esmagadora maioria dos casos, de forma espontânea. Nesse intróito,

pressupondo-se a resistência em adimplir o comando sentencial, resta ao Estado,

Page 26: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

25

como meio de pacificação social, a incumbência de, por meio da execução forçada,

realizar a ordem que ele mesmo proferiu:

Na verdade, como ensina o culto Campos Batalha, ‘à afirmação da vontade concreta da lei sucede a sua realização coativa pelas vias do Direito. A sentença sem a execução redundaria em consagração puramente teórica de um direito e a vontade da lei não atuaria na realidade da vida [...] sentença sem execução é um sino sem badalo, não mais que uma tempestade em copo d’água, ou um trovão sem chuva (GIGLIO, 2007, p. 521).

Nesse compasso, a sentença não basta, por si só, para obter a tutela do

direito, eis que mesmo havendo sentença favorável esta não é satisfativa sendo

dependente de execução. O sistema processsual deve propiciar instrumentos que

garantam a rápida e efetiva realização do pronunciamento judicial transcrito na

sentença. Assim, não se pode confundir sentença com tutela de direito, pois para

que esta se implemente é necessário que se transcenda os limites daquela

passando-se para a tutela executiva. Não basta, somente, a declaração do direito

sendo indispensáveis, assim, as formas executivas, segundo Marinoni (2007).

Nessa moldura, o sincretismo processual, emanado das recentes reformas do

processo civil, unificador das fases cognitiva e executiva da sentença, implementou

agilidade, celeridade e, consequentemente, eficácia para a execução. Assim, implica

o reconhecimento de que, apesar de a execução trabalhista, desde sempre, ser

executada perante os mesmos autos e juízo, traz consigo uma carga de manifesto e

indiscutível envelhecimento, e constatando este fato:

Não pode o juiz do trabalho fechar os olhos para normas de direito processual civil mais efetivas que a CLT, e se omitir sob o argumento de que a legislação processual do trabalho não é omissa, pois estão em jogo interesses muito maiores que a aplicação da legislação processual trabalhista, e, sim, a importância do direito processual do trabalho, como sendo um instrumento célere, efetivo, confiável, que garanta, acima de tudo, a efetividade da legislação processual trabalhista e a dignidade da pessoa humana (SCHIAVI, 2012, p. 45).

O processo trabalhista precisa introduzir em seu campo as novas sementes

trazidas ao processo pela Carta Magna e revigorar-se com a água modernizadora do

processo comum sob pena de serem as sua funções vitais deturpadas. Nesse

ímpeto, necessitamos:

Superar o tecnicismo positivista e de relê-lo criticamente, à luz de experiências práticas e culturais.

Page 27: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

26

A essa tentativa dúplice deve ser acrescentado um dever que está para além dos cânones hermenêuticos rigidamente concebidos, compondo um dever de práxis, de aplicação prática dos princípios e das normas constitucionais, cujos limites transcendem o mero raciocínio silogístico de subsunção para compor uma lógica inversa, segundo a qual o fato informa a norma, e não o contrário (FACHIM, 2011, p. 197).

Dessarte, se outrora as regras de execução da Consolidação das Leis do

Trabalho eram garantidoras e continham cláusulas de contenção, para barrar as

normas prejudiciais do processo civil, hoje, diante das contemporâneas modificações

deste, a heterointegração dos sistemas processuais resta, em algums pontos,

indubitavelmente, imprescindível, ademais:

Não temos dúvida em afirmar que o art. 475-O do CPC, com redação dada pela Lei 11.232/05, é plenamente compatível com o processo do trabalho. Negar esta conclusão é fechar o Direito Processual do Trabalho contra as mudanças que hoje se verificam na ciência do processo. Praticar hermetismos em um mundo em expansão, como é hoje o pós-moderno, em que por todos os lados há comunicação e integração, significa optar pela destruição de qualquer ciência. Com o direito não será diferente, principalmente com o Direito do Trabalho, que perderá seu objeto, se não for capaz de oferecer compensações à desigualdade social entre o capital e o trabalho, que aumenta a cada instante no mundo globalizado em que vivemos e no qual presenciamos, contraditoriamente, o crescimento da riqueza e o aumento da pobreza (SILVA, 2007, p. 54).

O calvário enfrentado pelo credor trabalhista na satisfação de seu crédito, é

explicitado na lição de Schiavi (2012), no momento em que afirma que o executado

deixa de adimplir o crédito mesmo tendo numerário suficiente para este desiderato.

Prefere-se apostar na burocracia processual para adimpli-lo, apenas, ao cabo da

última forma de impugnação. Situação fática que demonstra a carência de

instrumentos processuais eficazes, ou seja:

Em vez de honrar a obrigação, a empresa procrastina a execução com o uso de inúmeros expedientes processuais e aplica o dinheiro em seu capital de giro, cujo rendimento servirá para saldar a execução de forma vantajosa. Isso quando não vence o exequente pela demora e acaba por fazer um acordo vantajoso, com o pagamento de valor irrisório, depois de ganhar a ação e esperar vários anos (OLIVEIRA apud CLAUS, 2011, p. 27).

Ademais, como admitir que, em Estado Democrático de Direito não se valha o

magistrado da artilharia principiológica positivada nos direitos e garantias

fundamentais de nossa Lei Maior, porquanto:

Na função interpretativa, os princípios ganham especial destaque, pois eles norteiam a atividade do intérprete na busca da real finalidade da lei, inclusive, se ela está de acordo com os princípios constitucionais. Segundo

Page 28: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

27

a doutrina, violar um princípio é muito mais grave do que violar uma norma, pois é desconsiderar todo o sistema de normas. Os princípios também são destinados ao preenchimento de lacunas na legislação processual. Há lacuna quando a lei não disciplina determinada matéria. Desse modo, os princípios, ao lado da analogia, do costume, serão um instrumento destinado a suprir as omissões do ordenamento jurídico processual. De outro lado, os princípios têm função de sistematização do ordenamento processual trabalhista, dando-lhe suporte, sentido, harmonia e coerência. Os princípios dão equilíbrio ao sistema jurídico, propiciando que este continue harmônico toda a vez que há alteração de suas normas, bem como em razão das mudanças da sociedade (SCHIAVI, 2012, p. 28-29).

Uma contrução jurídica mais subjetiva elaborada a partir de um princípio

confere ao intérprete a possibilidade de estabelecer um processo mais analítico e

crítico que reconheça a eficácia jurídica destas normas-principais. E mais, os valores

republicanos e a efetividade dos direitos fundamentais calcados na igualdade

substancial e na dignidade da pessoa humana do trabalhador são limites claros e

rigorosos que evitam qualquer espécie de arbitrariedade e decisionismo

interpretativo, conforme Branco (2009).

Assim, diante de uma interpretação sistemática do ordenamento jurídico, o

respeito á dignidade do trabalhador por meio da duração razoável do processo deve

ser perseguido ainda que para isso se aplique na seara trabalhista, mesmo não

havendo omissão, norma civil que atenda a estes postulados constitucionais.

3.2 As partes e o princípio da igualdade

Vale reforçar que o sopesar das partes na execução trabalhista não encontra

equilíbrio, eis que nos polos processuais temos, quase que exclusivamente

empregador contra empregado. O capital do mais forte versus força de trabalho do

mais fraco. Ciente disso, “o direito processual do trabalho é elaborado totalmente

com o propósito de evitar que o litigante mais poderoso possa desviar e entorpecer

os fins da justiça” (NASCIMENTO, 2012, p. 136).

Nessa toada, o princípio da igualdade em seu entendimento global, conforme

Leite (2011), busca a igualdade formal e substancial. Amolda-se, assim, a norma

processual trabalhista às normas-princípios constitucionais – da dignidade da

pessoa humana, do valor social do trabalho e da livre-iniciativa – aos objetivos

fundamentais insculpidos em nossa Carta Magna consubstanciados na erradicação

Page 29: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

28

da pobreza e da marginalização e na redução das desigualdades sociais e regionais.

Nesse raciocínio “o princípio da igualdade deve ser entendido em sua vertente não

apenas formal, mas também material, tratando de forma desigual os desiguais, na

medida de sua desigualdade” (GARCIA, 2013, p. 93). Não obstante:

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, diferente das Constituições anteriores, cujos primeiros artigos eram dirigidos à ordem econômica, política e à propriedade, demonstrando a importância que a sociedade dava a esses valores, mudou e inverteu a ordem para priorizar: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho, da livre iniciativa e o pluralismo político. Logo, partindo-se de uma interpretação sistemática, conclui-se que o exegeta deve observar comandos maiores explícitos ou demonstrados pela Carta ou pela lei, para submeter o restante do ordenamento jurídico ou das regras a estes, pautando sua interpretação e análise em tais axiomas, como, por exemplo, a dignidade da pessoa humana (CASSAR, 2012, p. 126).

Logo, essa vasta gama de princípios que verte da Constituição Federal e

inunda todo o sistema jurídico erigiu das atrocidades vivenciadas pelo trabalhador na

Revolução Industrial. Nesse período as máquinas criaram ao seu redor

concentrações de trabalhadores submissos a jornadas de trabalho sem qualquer

limitação de horário e a salário ínfimo. Tal fato redundou na intervenção do Estado a

fim de assegurar um equilíbrio entre as partes componentes da sociedade,

garantindo ao trabalhador um padrão de vida mais consentâneo com o progresso,

segundo Frediani (2011).

Desse modo, se na vigência do Estado liberal havia uma perspectiva

individualista nutrida pela igualdade formal perante a lei em que o Estado não

intervinha nas relações entre particulares, consoante Leite (2011), com o advento do

Estado Social busca-se a igualdade substancial entre as pessoas com a positivação

de direitos sociais mínimos. Em seguida, com o início da globalização da economia,

o Estado perde a capacidade de formular e implementar políticas públicas, pois não

possui domínio sobre as variáveis que influenciam a economia. Fato que

desencadeia o fortalecimento do pensamento neoliberalista – de diminuição do

Estado, corte de gastos públicos, em especial na área social, desconstrução de

direitos sociais, flexibilização e terceirização das relações de trabalho – gerando

alarmante e progressiva exclusão social. Essa lastimável situação, somente, foi

amenizada, posteriormente, com a implementação do Estado Democrático de Direito

e seus objetivos fundamentais – de construção de uma sociedade mais justa, livre e

Page 30: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

29

solidária sem desigualdades sociais e regionais enaltecendo a justiça social e o

desenvolvimento da paz e da democracia – não apenas justificando os direitos

sociais como humanos, mas, sim, garantindo-os. Assim:

A utilização dos direitos fundamentais advém de uma tradição jusnaturalista, que concebe os direitos dos cidadãos como direitos intrínsecos ao homem, que são anteriores, inclusive, a qualquer organização política, existindo não em razão das leis ou do Estado, mas considerados como direitos inalienáveis, que não podem ser maculados por qualquer órgão estatal. Todavia, Norberto Bobbio considera que a controvérsia na busca dos alicerces dos direitos fundamentais, decorrente de múltiplos fatores, como o caráter histórico dos direitos dos cidadãos, da indefinição quanto aos seus limites, do choque entre direitos, da ausência de pressupostos de demonstrabilidade etc., é despicienda. Para o ilustre filósofo italiano, o problema mais iminente não é encontrar um fundamento último para os direitos fundamentais, mas garanti-los, porque o problema do fundamento foi solucionado com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que assegurou a validade jurídica para a eficácia desses direitos (AGRA, 2012, p. 137).

Assim, a igualdade formal e substancial emana da interpretação valorativa do

direito tendo o processo como meio de aplicação, e como viga mestra nada menos

que a densa carga principiológica positivada em nossa Carta Magna, nesse ímpeto:

Tomando consciência de que a interpretação do direito é valorativa e que o processo, como método de atuação do Estado, não tem como deixar de ser, em igual medida, valorativo, até como forma de realizar adequadamente aqueles valores: no e pelo processo. A dificuldade reside em identificar adequadamente estes valores e estabelecer parâmetros os mais objetivos possíveis para que a interpretação e aplicação do direito não se tornem aleatórias, arbitrárias ou subjetivas. A neutralidade científica de outrora não pode, a qualquer título, ser aceita nos dias atuais (BUENO apud LEITE, 2011, p. 40).

Ademais, a função de proteção direcionada a reparar a desigualdade material

entre empregado e empregador, consoante ensinamentos de Ledur (2011), é a mais

importante, dentro da dogmática constitucional moderna, dentre as funções jurídico-

objetivas reconhecidas nos direitos fundamentais em geral. Além de que, a eficácia

que erradia do ordenamento constitucional mantém laços de afinidade com o

diploma trabalhista, que se volta, igualmente, a proporcionar liberdade e igualdade

ao indivíduo vulnerável frente às forças econômicas e sociais que exercem o poder.

Tal desiderato se dá pelo fato de a Constituição comandar o cerne do sistema

jurídico contemporâneo.

Não obstante, esta proteção, que jorra de nossa Carta Magna equilibrando a

flagrante e notória desigualdade que recai sobre as partes no processo trabalhista

Page 31: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

30

como um todo, tem neste ramo do direito um apreço histórico que serviu de base

para o seu fundamento. Tal garantia está inserida em seus vários desdobramentos

tanto implícita como explicitamente, não sendo, assim, de forma alguma, novidade.

A transposição da igualdade formal pela igualdade material de há muito impera e é

aplicada nos confins do direito trabalhista.

E nesse tom ecoam as vozes da doutrina:

Diz Néstor de Buen, tanto o direito substantivo como o processual intentam a realização da justiça social. Para esse efeito ambos estimam que existe uma evidente desigualdade entre as partes, substancialmente derivada da diferença econômica e, como consequência, cultural em que se encontram. Em virtude disso, a procura da igualdade como meta. O direito substantivo estabelece de maneira impositiva, inclusive acima da vontade do trabalhador, determinados direitos mínimos e certas obrigações máximas. O direito processual reconhece que o trabalhador deve ser auxiliado durante o processo pela própria autoridade julgadora, de maneira que, no momento de chegar o procedimento ao estado de solução, a aportação processual das partes permita uma solução justa (NASCIMENTO, 2012, p. 141).

Nessa marcha, as ordens emanadas dessa interpretação valorativa

conduzem os operadores do direito, situados no momento histórico e conscientes do

contexto social, econômico e cultural em que atuam, a buscarem uma ordem jurídica

justa. Tal desiderato apenas será possível se balizados na flagrante desigualdade

que impera entre as partes no processo trabalhista fizerem o devido sopesamento

do direito a ser ministrado equilibrando, assim, a latente e notória desigualdade.

3.3 O crédito e o princípio da dignidade

A sentença exarada ao final do longo e penoso tramitar processual impõe

determinada condenação, e o faz quando reconhece a existência de um direito

preexistente violado. Direcionando, assim, um preceito sancionatório, ao

demandado, moldado em obrigação que na esfera trabalhista cinge-se, como regra,

a pagar quantia certa (SARAIVA, 2011).

A importância que gravita o crédito trabalhista lhe garante a peculiaridade de

ter como legitimado ativo para promover a execução qualquer interessado, ou até

mesmo o juiz ou presidente do Tribunal poderão, de ofício, impulsioná-la, conforme

inteligência do art. 878 da CLT. Uma vez iniciada a execução, lembra o referido

Page 32: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

31

autor que, se demonstrado que o executado não possui bens ou não sendo ele

encontrado o magistrado, ao invés de extinguir a execução, suspende o seu curso

enquanto não for encontrado o credor ou bens que satisfaçam o crédito. Se

ultrapassado o prazo máximo de suspensão, um ano, o juiz ordenará o

arquivamento dos autos, que poderão, se forem encontrados os bens ou o devedor,

ser desarquivados, a qualquer tempo, para prosseguimento da execução.

Tais benefícios garantidos ao trabalhador refletem a aplicabilidade do

princípio da proteção, que reina absoluto sobre o direito material e processual. Tal

segurança é necessária, pois há flagrante desigualdade entre as partes. Não

obstante, como as várias nascentes de um rio que, ao final, deságuam no oceano,

todas as garantias principiológicas que conduzem o processo trabalhista, do mesmo

modo, seguem o seu caminho para, ao final, engrandecerem a dignidade da pessoa

humana, ou seja:

A dignidade, o primeiro fundamento de todo o sistema constitucional posto e o último arcabouço da guarida dos direitos individuais. A isonomia serve, é verdade, para gerar equilíbrio real, porém visando concretizar o direito à dignidade. É a dignidade que dá́ a direção, o comando a ser considerado primeiramente pelo interprete (NUNES, 2010, p. 59).

Ademais, essas garantias, estabelecidas pela CLT, que enaltecem a

especificidade do crédito trabalhista e sua natureza estritamente alimentar, emanam

de nossa Constituição Federal, sendo certo que:

Uma adequada hermenêutica para a execução trabalhista tem como primeira fonte de direito a Constituição Federal. Mais precisamente, o ponto de partida está na garantia constitucional da inafastabilidade da jurisdição (CF, art. 5°, XXXV), aqui compreendida como a concreta garantia de alcançar o pagamento do crédito trabalhista previsto na sentença. Além disso, tal pagamento deve ser realizado em prazo razoável (CF, art. 5°, LXXVIII). A imperatividade desses comandos constitucionais ganha ainda maior densidade sob o influxo do princípio jurídico da proteção, que inspira o direito material do trabalho, mas também se comunica ao direito processual do trabalho, porquanto se trata de execução de crédito de natureza alimentar a que a ordem legal confere privilégio diante de crédito de outra natureza jurídica (CTN, art. 186); mais do que isso, se trata de crédito representativo de direito fundamental (CF, art. 7°) (CLAUS, 2011, p. 30).

Não obstante, os princípios constitucionais do processo são, na moderna

teoria geral do direito, sincronizados com os princípios dos vários ramos do direito.

Emerge, deste modo, a dita filtragem constitucional que, segundo ensinamentos de

Schiavi (2012), cinge-se a interpretar as leis lendo-as com os olhos da Constituição

Page 33: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

32

Federal. Assim sendo, ao se aplicar a hermenêutica interpretativa em conformidade

com Constituição poderá, no caso concreto haver um aparente choque entre a

norma constitucional e a norma infraconstitucional devendo, logicamente, prevalecer

aquela.

Consoante o exposto, a leitura constitucional proposta exacerba a pretensão

de nossa Lei Maior para com os augúrios de seu Estado Democrático de Direito,

porquanto:

A vinculação do Direito Material e Processual do Trabalho aos postulados constitucionais cresce, na época contemporânea, de importância, não só pela necessidade de ser a eles dado o máximo de efetividade e eficácia, mas, também, para que possam atender aos desígnios da Carta Magna de construir, no Brasil, um Estado Democrático de Direito fundado em um sistema federativo harmonizado com a potencializada máxima dos valores glorificantes da cidadania, da dignidade humana, da função social do trabalho e da igualdade (DELGADO, 2007, p. 09).

Nesta toada, descabe uma interpretação estritamente positivista e isolada não

mais bastando, hodiernamente, apenas a aplicação da letra fria da lei. Outrossim, as

normas e princípios constitucionais transcendem seus limites impondo, por

conseguinte, um entendimento que se amolda com seus escopos, deste modo:

Em toda sua atuação jurisdicional, a atividade hermenêutica do juiz submete-se ao princípio da interpretação conforme a Constituição, no seu duplo sentido de impor que a lei infraconstitucional seja sempre interpretada, em primeiro lugar, tendo em vista a sua compatibilização com a Constituição, e, em segundo lugar, de maneira a adequar os resultados práticos ou concretos da decisão o máximo possível ao que determinam os direitos fundamentais em jogo (GUERRA apud SCHIAVI, 2012, p. 29).

Não obstante, na 1ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, em

2007, foi aprovado, dentre outros, o enunciado n. 1 sobre interpretação e aplicação

dos direitos fundamentais que reza:

Os direitos fundamentais devem ser interpretados e aplicados de maneira a preservar a integridade sistêmica da Constituição, a estabilizar as relações sociais e, acima de tudo, a oferecer a devida tutela ao titular do direito fundamental. No Direito do Trabalho, deve prevalecer o princípio da dignidade da pessoa humana.

Seguindo esta linha de pensamento, as sábias palavras de Ribeiro (2011),

exaltam que a vida digna de ser vivida emana dos valores humanos. Estes por sua

singeleza e destacada razão, repudiam aqueles que necessitam negar a dignidade

humana para se afirmar eis que aviltam a si mesmos, porquanto produzem resultado

Page 34: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

33

contrário ao que buscam. Visto que os valores perseguidos pelas democracias

liberais têm por desiderato realizar a dignidade humana e não o contrário. Por

conseguinte:

Entre os diversos princípios ético-jurídicos que adquiriram status constitucional nas últimas décadas, merece destaque a dignidade da pessoa humana, porquanto, na esteira do pós-positivismo jurídico, evidencia-se, cada vez de modo mais patente, que o fundamento último e a própria ratio essendi de um direito justo não é outro senão o próprio homem, considerado em sua dignidade substancial de pessoa, como um ser que encerra um fim em si mesmo, cujo valor ético intrínseco impede qualquer forma de degradação, aviltamento ou coisificação da condição humana (SOARES, 2009, p. 128).

No “Processo do Trabalho temos uma função social muito maior do que

apenas entregar a prestação jurisdicional ao credor, mas sim precisamos manter a

vida e a dignidade humana do trabalhador, que precisa dos proventos oriundos de

seu trabalho para manutenção da sua vida” (PACHECO, 2011, texto digital).

Nesse compasso, deve o direito do trabalho, se for o caso, optando por

favorecer o trabalho do mais fraco ao capital do mais forte, exacerbar a celeridade

no recebimento do crédito trabalhista. Esta forma de proceder assegura,

incontestavelmente, a dignidade da pessoa do trabalhador nos moldes das garantias

instituídas em nossa Lei Maior.

Dessarte, ao desenlear o princípio da dignidade da pessoa humana na

interpretação sistemática do ordenamento constitucional, tendo presente que “a

posição de inferioridade é do exequente, que extrai do salário – matéria-prima da

execução trabalhista – as condições de subsistência material e intelectual dele

próprio e de sua família e não dispõe de meios econômicos para tolerar a

tormentosa via-crúcis do processo” (MELHADO, 2009, p. 387), pode-se, facilmente,

inferir que a celeridade da prestação jurisdicional entalhada na razoável duração do

processo é a lança que defende o ordenamento trabalhista. E mais, na sua ponta há,

atualmente, veneno mortal e eficaz, a penhora on-line, que satisfaz plenamente

ambas as partes no processo, conforme será demonstrado alhures, evitando os

malefícios da procrastinação processual na área em que causa os mais perversos

efeitos.

Page 35: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

34

3.4 O ônus do tempo e o princípio da duração razoável do processo

De fato o tempo age em silêncio lentamente sobre tudo e todos, motivo pelo

qual, muitas vezes, os seus efeitos são sentidos, apenas, quando já não mais dele

se dispõe para contornar a situação. Nesse compasso, se em um passado não muito

distante ele era desconsiderado na relação processual, pois relegado a um mal

inerente ao processo, hodiernamente está recebendo a devida atenção, eis que está

diretamente vinculado à eficácia processual. Ignorar o tempo, nesta seara do direito,

seria impor ao jurisdicionado trabalhista, hipossuficiente e credor de verba alimentar,

fardo excessivamente pesado.

Tal intempérie não foi menosprezada pelo legislador, porque:

Uma das importantes inovações trazidas pela Emenda Constitucional nº 45 foi estabelecer que a duração razoável do processo se configura como garantia constitucional processual. Não obstante ter sido o princípio da universalidade da jurisdição agasalhado pela nossa Carta Magna, devido à demora para que essa prestação possa ser realizada, muitos dos direitos dos cidadãos são deixados sem a proteção adequada em consequência da lentidão em solucionar as demandas postas sob apreciação do Judiciário, o que resulta em uma falta da efetividade desse princípio no ordenamento brasileiro (AGRA, 2012, p. 237).

Assim,

É imperioso romper com o formalismo jurídico e estabelecer o diálogo das fontes normativas infraconstitucionais do CPC e da CLT, visando à concretização do princípio da máxima efetividade das normas (princípios e regras) constitucionais de direito processual, especialmente o novel princípio da ‘duração razoável do processo com os meios que garantam a celeridade de sua tramitação’ (EC 45/2004, art. LXXVIII) (LEITE, 2011, p. 105).

Nessa senda, a razoável duração do processo arraigada dentre os direitos

fundamentais juntamente com os meios que garantem a sua tramitação é dotada de

aplicabilidade imediata. Assim, segundo Melhado (2009), deve o cidadão exigir, não

só que o processo tramite em um tempo satisfatório, mas que se garanta o exercício

de seu direito por meio de instrumentos que propiciem tal celeridade.

Hodiernamente, “o Estado não está simplesmente no poder de dizer o direito

tutelado, mas sim no dever de dizer este direito de forma célere e eficaz, sob pena

de tornar-se inócuo” (AKASHI, 2009, p. 9).

Nesse certame, focado em assegurar que o conflito social seja resolvido de

forma justa e célere aplicam-se os preceitos constitucionais ao processo do trabalho.

Page 36: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

35

Tal prática prioriza o processo justo, pois ao fazer uso das garantias constitucionais

o intérprete não se satisfaz, apenas, com o acesso formal à justiça ele busca,

incessantemente, produzir um resultado efetivo, conforme Garcia (2012).

Ademais:

A reorganização do Estado democrático moderno não se contentou com o princípio constitucional da legalidade, no seu sentido procedimental e de subsunção do fato litigioso à regra da lei material. Exigiu-se que em nome de outros princípios constitucionais, a própria regra de direito material fosse submetida a um juízo crítico, para conformá-la ao sentido mais harmônico possível com os valores consagrados pela Constituição. Assim, em vez de assegurar um resultado legal (compatível com a norma aplicada ao caso), o processo foi incumbido de proporcionar um resultado justo (mais do que apenas legal). E a garantia constitucional de tutela jurisdicional passou a ser não mais a do devido processo legal, mas a do processo justo (THEODORO JÚNIOR apud JOBIM, 2011, p. 132).

Na seara trabalhista celeridade é sinônimo de efetividade, porquanto o crédito

possui natureza alimentar, porém não basta apenas que o processo tramite em um

tempo satisfatório é preciso que ao cabo haja a satisfação do direito. Assim, deve o

processo, acima de tudo, cercar-se de instrumentos processuais que garantam a

materialização da sentença. Ademais,

Há efetividade da execução trabalhista quando ela é capaz de materializar a obrigação consagrada no título que tem força executiva, entregando, no menor prazo possível, o bem da vida ao credor, ou materializando a obrigação consagrada no título. Desse modo, a execução deve ter o máximo resultado com o menor dispêndio de atos processuais (SCHIAVI, 2012, p. 36).

A execução provisória além de garantir a efetividade processual sem deixar

de lado a duração razoável do processo permite que o tempo seja distribuído de

forma equânime entre as partes. O lapso temporal entre o ajuizamento da ação até a

prolação da sentença é suportado pelo autor, desse modo se estamos diante de

uma sentença de procedência o tempo do recurso não mais pode sobrecarregar o

autor que tem razão.

Ora, se o autor move a ação, sujeita-se ao contraditório e a toda instrução processual e, ao final, por sentença, tem reconhecida pelo juiz a existência do direito que perseguia, não se apresenta razoável que, a partir daí, tenha de continuar arcando com os ônus que acarreta o tempo do processo, principalmente quando parte do vencido a prática do ato processual – recurso de apelação – que obsta o início da eficácia da sentença (HOFFMANN, 2004, p. 180).

Page 37: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

36

A maneira de proceder para evitar esta dupla penalização ao trabalhador é,

diante do efeito devolutivo dos recursos trabalhistas, executar provisoriamente a

sentença, pois:

Lamentavelmente, o processo tornou-se, com o passar do tempo, um lugar propício para o réu beneficiar-se economicamente às custas do autor, o que fez surgir os fenômenos do abuso do direito de defesa e do abuso do direito de recorrer. Uma das formas preferidas pelo interessado em procrastinar os feitos é o recurso, já que este permite, após o término do procedimento de primeiro grau, que o réu mantenha o bem litigioso em sua esfera jurídica por mais um bom período de tempo. O recurso, neste sentido, é uma excelente desculpa para o réu sem razão beneficiar-se ainda mais do processo em detrimento do autor.[...] Como está claro, diante da evidência de que o tempo do processo sempre prejudica o autor que tem razão, não há outra alternativa, quando se deseja colocar o processo à luz da isonomia, do que pensar em técnicas que permitam uma distribuição igualitária do tempo do processo entre os litigantes (MARINONI, 2007, p. 342-343).

Ademais, dos ensinamentos de Silva (2007) podemos extrair que se faz

mister o equilíbrio de duas questões: o tempo necessariamente consumido no

tramitar do processo e a recompensa da parte vencedora que foi submetida à

demora na realização do seu direito. Desse modo, a problemática deve ser vista sob

dois enfoques, informadores da recorribilidade, que hão de ser equilibrados. Se de

um lado a correção de erros da instância inferior proporcionada pelo recurso é

proveitosa, de outro, ocasiona o retardamento da prestação jurisdicional. Assim

surge, neste introito, a missão do processo em equilibrar os dois interesses eis que

proporcionar acesso sem razoabilidade de tempo seria negar direito fundamental.

Não por menos, que no estágio atual se faz necessário pensar e interpretar as

normas usando todo o ordenamento jurídico para que, em assim procedendo, este:

Olhar crítico lançado pela moderna processualística, no entanto, faz com que cresça paulatinamente a importância da utilização da execução provisória. Vê-se hodiernamente que a preocupação exagerada em poupar o devedor dos percalços da atividade executiva vem dando espaço para uma tentativa de se buscar o resgate da duração do trâmite processual em favor do credor. Alguns processualistas têm inserido no âmbito do direito brasileiro a noção de distribuição do ônus da demora do trâmite processual. Tradicionalmente esse ônus é atribuído exclusivamente ao autor da demanda, todavia busca-se aos poucos distribuir esse encargo em relação também ao réu da demanda (CORDEIRO, 2007, texto digital).

Não é demais ressaltar que o recurso serve, unicamente, quando há sentença

de procedência, para demonstrar ao tribunal ad quem o desacerto do entendimento

do magistrado explicitado na sentença. Em virtude disso, logicamente, tendo em

Page 38: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

37

vista que até a sentença o ônus do tempo é suportado unicamente pelo autor, deve

o demandado arcar, daí em diante, com o ônus do tempo no processo. A execução

imediata da sentença como regra seria a forma mais adequada para balancear este

desequilíbrio, vetusto, na distribuição do ônus do tempo. Ademais, tal modo de

proceder amoldar-se-ia aos princípios da isonomia, da duração razoável do processo

e, em razão do crédito alimentar postulado, da dignidade da pessoa humana,

consoante Marinoni (2007).

Desse modo, o procedimento que se amolda à distribuição do ônus do tempo

de forma igualitária é, sem sombra de dúvidas, a execução provisória da sentença

evidenciando, apropriadamente, que o seu desuso é parte de nossa cultura

preconceituosa eis que necessitamos da confirmação do Tribunal para aceitar o

acerto da decisão do juiz a quo.

Por outro lado não se pode simplesmente ignorar o fato de que:

A Justiça do Trabalho, em quase sua totalidade, é acionada por pessoas desempregadas que não possuem renda própria suficiente para garantir o seu sustento e de sua família, como também se verifica que, em grande parte, o polo passivo das reclamatórias trabalhistas é formado por empresas sem liquidez para honrar os créditos laborais, de modo que a demora na prestação jurisdicional dificulta e/ou impossibilita a percepção pelo obreiro das parcelas trabalhistas pleiteadas perante o Poder Judiciário (ARAÚJO JUNIOR; MOTA, texto digital).

Ademais, precisamos contrabalançar o fato de que muitas empresas fecham

suas portas em período de tempo menor do que o necessário para haver o trânsito

em julgado e, consequentemente, a execução definitiva. Deve, assim, o poder

judiciário garantir o crédito trabalhista, como forma de prevenção, enquanto a

empresa é, ainda, solvente, desse modo:

A execução provisória, se observado sem restrições o procedimento da CLT, somado aos complementos do art. 475-O do CPC, com redação da Lei 11.232/05, pode se transformar num instrumento processual apto a resolver com eficiência o problema da execução trabalhista e do demandismo estéril que tomou conta da Justiça do Trabalho. Há, pois, os meios. Resta aplicá-los. Não adianta fazer repetidos apelos ao legislador, quando temos em mão os instrumentos de que precisamos. Aplicar a lei que já existe é muito mais racional do que pedir uma nova. Na ausência ou insuficiência da norma, cumpre à jurisprudência, na constante reelaboração do direito, através da atividade dos tribunais, suprir lacunas e fazer adaptações para proporcionar o encontro da abstração da lei com a realidade da vida. O Juiz não faz as leis mas, ao aplicá-las, torna-se delas coautor, contribuindo para seu aperfeiçoamento (SILVA, 2007, p. 18-19).

Page 39: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

38

Com esta ilação passar-se-á, no próximo capítulo, a analisar as

particularidades que compõe o procedimento da penhora de dinheiro na execução

provisória e o posicionamento do Egrégio Tribunal Superior do Trabalho, órgão

uniformizador da jurisprudência trabalhista brasileira.

Page 40: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

39

4 AS PARTICULARIDADES DA PENHORA DE DINHEIRO EM EXECUÇÃO PROVISÓRIA

A penhora de dinheiro em execução provisória traz em seu bojo um grupo de

enunciados que entrelaçados por uma sequência lógica possuem a finalidade de

garantir a sua aplicabilidade ao caso concreto. Desse modo, é preciso, antes de

entender o todo, isolar e conhecer suas especificidades para compreendê-la de

forma plena.

Com esse espírito, ao final, após o estudo das particularidades da penhora de

dinheiro em execução provisória, analisar-se-á o posicionamento do TST com

alguma carga de conhecimento no escopo de estabelecer a crítica que se fizer

necessária.

Assim, este capítulo resumir-se-á a estudar, minuciosamente, o tema em

questão juntamente com o entendimento de nossa mais alta corte exarado no item III

da Súmula 417 do TST.

4.1 O bem a ser penhorado

Partindo de uma sentença impugnada mediante recurso sem efeito

suspensivo, regra na CLT, surge o primeiro entrave desta fase processual, a

nomeação de bens que deverá ser feita pelo devedor. Desse modo, não sendo

respeitada a ordem de penhora ou havendo bem de maior liquidez poderá o credor

impugnar a nomeação e indicar outros bens. Nessa toada:

Page 41: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

40

Todos os atos processuais destinados à penhora de bens do executado devem ser direcionados no sentido de se penhorarem bens que tenham fácil liquidez e, principalmente, o dinheiro, em espécie ou em caderneta de poupança. A penhora de dinheiro satisfaz a execução com maior celeridade, atende à ordem preferencial do art. 655 do CPC e ainda propicia efetividade ao procedimento executivo. Por isso, a Justiça do Trabalho deve envidar todos os esforços para se conseguir a penhora de dinheiro. Caso não se consiga penhorar dinheiro, a penhora deve incidir em bens de fácil liquidez. A experiência nos tem mostrado que a efetividade de todos os atos processuais subsequentes à penhora depende da liquidez do bem que fora constritado. Se o bem não for de fácil liquidez, dificilmente a execução terá sucesso. Por isso, a ordem legal de bens do art. 655 do CPC constitui disposição de ordem pública e de interesse social (SCHIAVI, 2012, p. 255).

Desse modo, pode-se aferir a imprescindível importância de se penhorar um

bem que garantirá a execução. Se a execução não obtém êxito inutiliza-se todo o

processo, desde sua cognição, relegando-o a uma encenação teatral inútil do

Judiciário.

4.2 A nomeação de bens

Após a decisão com trânsito em julgado ou da qual não tenha havido recurso

com efeito suspensivo inicia-se a fase executiva, assim:

Tornada a dívida líquida e certa, com a respectiva homologação dos cálculos, inicia-se a execução trabalhista. O objetivo da execução por quantia certa é expropriar bens do devedor a fim de satisfazer o direito do credor, respondendo o executado com seu patrimônio, presente ou futuro, para o cumprimento das obrigações (SARAIVA, 2012, p. 564).

Nesse contexto, fixado o crédito na sentença liquidada, ou já sendo ela

líquida, o executado será citado, mediante ordem judicial, por intermédio de oficial de

justiça para, sob pena de penhora, pagar, garantir o juízo ou nomear bens à

penhora. Assim, caso não seja paga a importância reclamada poderá ser a

execução garantida por meio de depósito ou pela nomeação de bens à penhora que

deverá observar a ordem de preferência estabelecida no art. 655 do CPC. Não

havendo pagamento nem sendo garantida a execução procede-se a penhora de

bens, tantos quanto bastem ao pagamento da importância da condenação acrescida

de custa e juros de mora, inteligência dos arts. 882 e 883 da CLT, nessa senda:

A penhora deve obedecer a uma ordem preferencial dos bens a serem constrangidos (CPC, art. 655). A ordem de preferência é a seguinte:

Page 42: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

41

dinheiro (equivalendo a ele o depósito bancário e a aplicação financeira), veículos terrestres, bens móveis, bens imóveis, navios e aeronaves, participações societárias, faturamento da empresa (percentual), pedras e metais preciosos, títulos da dívida pública, títulos e valores mobiliários e outros direitos. Se o executado nomear bens à penhora em desacordo com essa ordem, poderá́ o exequente aceitá-los, ou não (CPC, art. 656) (MARTINS FILHO, 2012, p. 393).

Desse modo, a sistemática processual para garantia do juízo, faculdade

possibilitada ao executado, é feita por petição, dentro do prazo de quarenta e oito

horas, na qual deve constar a descrição completa dos bens e o seu valor, insisto,

observando a ordem preferencial. No entanto, esta nomeação de bens não obriga o

exequente que “deverá manifestar fundamentadamente sua recusa pela nomeação

de bens à penhora feita pelo devedor, como da dificuldade de vender certo bem em

hasta pública” (Ibidem, p. 766), não estando, em momento algum, amarrado à

nomeação feita pelo executado.

Sob este enfoque, a observância da ordem de penhora dos bens respeita

uma escala baseada na liquidez, no entanto, nada impede que, no momento de sua

aplicação em concreto, em nome da efetividade, tal ordem seja violada, eis que:

A gradação legal prevista no art. 655 do CPC deve ser observada tão somente pelo executado que nomeia bens à penhora e não, necessariamente, pelo exequente, pelo juiz ou pelo oficial de justiça que realizar a penhora em caso de inércia do devedor, não estando o meirinho adstrito à ordem prevista no digesto processual civil, podendo penhorar qualquer bem, desde que seja de maior e/ ou melhor liquidez na praça ou leilão (SARAIVA, 2011, p. 343).

Tal posicionamento ecoa na doutrina de forma unânime:

A ordem de penhora prevista no art. 655 do CPC não é absoluta, vale dizer: o Juiz do trabalho poderá aceitar bem que esteja abaixo da ordem legal de outro bem indicado, se, no caso concreto, tiver maior liquidez. Não se trata aqui de benefício do executado, mas de maior eficiência da execução para o credor. Somente quando possível a penhora de dois bens de ordens diversas, mas que propiciam a mesma efetividade para o credor, o Juiz preferirá o meio menos oneroso ao devedor (SCHIAVI, 2012, p. 257).

Não obstante, a legislação processual civil conduz a execução com rédea

curta mediante maior rigor processual. Há a inversão da lógica tradicional de se

conceder ao executado o direito de nomear bens atribuindo celeridade e eficácia,

nesta fase processual. No entanto, ainda na contramão “o processo do trabalho

brasileiro permanece desatualizado e mais brando no tratamento do executado, com

a indicação de bens, cabendo, de início, a ele (CLT, art. 882, caput), ressalvada a

sua ineficácia, caso não observada a ordem legal” (MALLET, 2007, p. 76).

Page 43: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

42

Em vista do exposto, sem grandes dificuldades podemos concluir que a

nomeação de bens deve, mirando a efetividade, dar preferência àqueles que tenham

maior liquidez. Porém, tal preferência só poderá ser exercida quando não houver

dinheiro a ser penhorado, eis que além de figurar, não por acaso, como bem

preferencial a ser penhorado este é líquido por natureza garantindo, de imediato, a

execução.

4.3 A execução provisória

A execução é definitiva quando a sentença transitar em julgado, eis que por

lógica não há mais a possibilidade de, em tese, se modificar o comando sentencial

que originou o título executivo, conteúdo que não merece aqui maiores delongas.

Por outro lado, a execução provisória se dá quando a sentença for impugnada

mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo, sendo regra na CLT, e

segundo o art. 899 da CLT, único a tratar do assunto, seu tramitar é permitido,

apenas, até a penhora. Porém,

A cognição da sentença que abre oportunidade para a ‘execução provisória’ não difere da cognição da sentença que – como se costuma dizer – é executada ‘definitivamente’. O duplo grau apenas permite um novo juízo sobre o mesmo objeto litigioso, certamente que baseado em igual grau de cognição, e não, como se poderia equivocadamente pensar, em uma cognição mais aprofundada em relação aos fatos (MARINONI, 2007, p. 357).

Assim, evitando protelações injustificadas, permite-se, em autos apartados,

que o comando judicial chegue à realidade da vida, porquanto:

Esta demora, principalmente no processo do trabalho, cai sobre os ombros da parte mais fraca que, além de não receber no tempo certo o resultado de seu trabalho, já transformado em bens e riquezas pelo empregador, recebe-o anos depois desgastado pela inflação e corroído pela demora. [...] Para evitar essa situação é que se desenvolveu a execução provisória, para dar efetividade à sentença, mesmo antes do trânsito em julgado (SILVA, 2007, p. 136-137).

Assim, facilmente se pode inferir que a execução provisória, diante da regra

geral de efeito devolutivo do recurso, é a forma de o executado adiantar esta fase

que só se daria com o trânsito em julgado do processo, e mais:

Com profundas alterações realizadas no processo civil brasileiro, mediante sucessivas, pequenas e pontuais reformas no CPC, o cenário transformou-

Page 44: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

43

se. A velha CLT de 1943 é agora incompleta, insuficiente e intoleravelmente ineficaz, se comparada ao CPC exsurgido dessas reformas. Nalguns temas, como em matéria de tutela de urgência e (exatamente) de execução provisória, os dois estatutos são antípodas. De efeito, as normas do CPC sobre execução provisória são o verdadeiro marco regulatório da execução provisória no processo do trabalho, sendo que suas disposições devem ser aplicadas por inteiro e não apenas parcialmente (MELHADO, 2009, p. 385).

No mesmo caminho segue afirmando a doutrina:

Não obstante, na realidade, nota-se que a atual disciplina da execução provisória no processo civil é mais avançada do que aquela prevista na CLT. Com isso, por meio de interpretação sistemática e teleológica, fundada nos valores e princípios constitucionais, defende-se a aplicabilidade das disposições sobre o tema, previstas no CPC, que estejam em consonância com a efetividade da tutela jurisdicional (GARCIA, 2012, p. 673).

Nesse introito, apesar de a CLT, que dedicou, apenas, um único dispositivo à

matéria, limitar o alcance da execução provisória a atos de constrição ao estabelecer

o seu limite “até a penhora” o art. 475-O do CPC a regula pormenorizadamente.

Ademais, enaltece seu processamento, que se fará, no que couber, do mesmo modo

que a execução definitiva, permitindo atos de expropriação, mediante caução, e

dispensando a garantia, dentre outras situações, quando o crédito tiver natureza

alimentar. Assim “parece inevitável, à primeira vista, a trombada entre esses

dispositivos do CPC e o filho único da CLT, o seu art. 899” (MELHADO, 2009, p.

383).

Não obstante, é oportuno ressaltar que, apesar de a nomenclatura sugerir que

a execução seja provisória, a mutabilidade, ou provisoriedade, é, tão só, um adjetivo

do título executivo, que, não obstante, possui plena eficácia eis que a decisão de

primeiro grau está apta a produzir efeitos. Há, unicamente, a possibilidade de, em

face de o recurso interposto ser a decisão modificada pelo tribunal ad quem, deste

modo:

Observe-se que, não existe uma diferença ontológica entre a execução provisória e a definitiva, tendo em vista que a provisoriedade é do título executivo e não do procedimento executivo. O fato de a decisão judicial poder sofrer algum tipo de reforma pelos tribunais é que determina o caráter não definitivo da execução (CORDEIRO, 2007, texto digital).

Assim:

É importante ter em mente que a circunstância, ou conjunto de circunstancias, que demanda a provisoriedade da execução não está ligada ao processo, ou procedimento, propriamente dito, onde esta se desenvolve, mas sim ao título que a embasa. Com efeito, uma execução é provisória

Page 45: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

44

quando o título que a lastreia também o é. Não há que se confundir, desta forma, definitividade do título com eficácia executiva do mesmo. Estes conceitos não são sinônimos, muito menos interdependentes ou prejudiciais. Um determinado título, ainda que sujeito a alterações futuras, é suscetível a diversas eficácias, inclusive a executiva, conforme o regime jurídico que lhe for atribuído. [...] Assim, tem-se execução provisória quando esta se funda em título que, mesmo estando sujeito a alterações futuras, já se encontra dotado de certa eficácia executiva (MONTEIRO, 2009, p. 66).

Parte da doutrina sustenta a inviabilidade da aplicação subsidiária das regras

do CPC na execução provisória, sob argumento de que a CLT trata do assunto, o

que, por si só, impossibilitaria qualquer ato expropriatório, ou seja:

No processo trabalhista, por não ser omisso e por ocorrer incompatibilidade, não se aplica a exigência de caução, e por isso o exequente não se obriga a reparar os danos causados ao executado nem procede ao levantamento do depósito em dinheiro, resultando inaplicáveis as disposições dos incisos I, II e III do art. 475-O do CPC. [...] Garantido o juízo por penhora aperfeiçoadas, suspende-se o andamento processual até́ a baixa à Vara dos autos principais. Confirmada a condenação, prossegue a execução; anulada ou totalmente reformada, ficam sem efeito os atos praticados; e se for reformada “apenas em parte, somente nessa parte ficará sem efeito a execução” (CPC, art. 475-O, § 1º), prosseguindo quanto à condenação remanescente (GIGLIO, 2007, p. 539-539).

Nesses termos, diante de uma interpretação positivista temos a

impossibilidade de qualquer ato de expropriação porquanto a penhora é ato de

constrição e, todavia, se não podemos ultrapassá-la ficaremos limitados aos seus

atos. Esse obstáculo não é imposto no diploma processual civil, assim:

O princípio da isonomia e o arcabouço ético da ordem constitucional, fundada nos valores do trabalho e da dignidade da pessoa humana (Constituição, art. 1°, II e III), talvez autorizassem afirmar exatamente o contrário: se em alguma espécie de execução provisória são admissíveis atos expropriatórios ou o levantamento do depósito, ela é a execução trabalhista. Nela, o exequente persegue crédito de natureza alimentar e com ele irá satisfazer bens materiais e intelectuais de sua família (MELHADO, 2009, p. 384).

Assim, para superar o limite imposto pela CLT se faz necessário aplicar as

disposições do CPC, mais especificamente o art. 475-O, uma vez que:

A autonomia do direito processual do trabalho, no entanto, não pode servir de empecilho para que o intérprete direcione o sentido da norma jurídica à realidade vigente. É, por conseguinte, ilusório o argumento de que a consolidação apresenta regramentos e limites para o instituto da execução provisória. A postura do legislador é absolutamente omissa em relação à regulação do instituto (MACEDO apud SCHIAVI, 2012, p. 202).

Esse entrave é desmistificado por Antônio Álvares da Silva que explana:

Page 46: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

45

A execução provisória é regulada tanto no processo comum como no trabalhista. A diferença consiste na extensão. No processo trabalhista, a execução provisória vai até a penhora. No CPC, sempre se permitiu a execução provisória com atos alienatórios, desde que prestada a garantia da caução. A recente reforma da Lei 11.232/05 aprofundou ainda mais a execução provisória, permitindo atos alienatórios e levantamento de dinheiro até mesmo sem caução. Esta situação não é prevista na CLT em execução provisória. Porém, são plenamente compatíveis com a finalidade do processo social, pois dá exequibilidade imediata à sentença de primeiro grau e permite ao empregado o acesso parcial ao crédito alimentar. A hipótese é típica de analogia legis. O instituto, regulamentado pelo CPC, pode perfeitamente ser transportado para o processo do trabalho, pois complementa a execução provisória nele disciplinada, aperfeiçoando-a para torná-la um instrumento processual mais eficaz e apto a cumprir sua finalidade (SILVA, 2007, p. 53).

Desse modo, pode-se aferir que, mesmo diante de uma interpretação

estritamente legalista, é plenamente possível o uso da penhora de dinheiro em

execução provisória, eis que seus recursos, por regra, possuem efeito devolutivo. A

divergência doutrinária e jurisprudencial se dá, apenas, quanto aos seus limites, se

transcende, ou não, a penhora. Tal discórdia é semeada pela possibilidade da

aplicação subsidiária do diploma civil, art. 475-O do CPC, que garante, além de atos

de constrição, atos de expropriação na execução provisória, assim:

Observa-se que a vedação contida na norma celetista se refere ao limite processual dos atos executórios de títulos judiciais provisórios, ou seja, delimita que os atos processuais na execução de títulos judiciais provisórios devem ser praticados até a penhora, a teor do art. 899 da CLT, inexistindo, portanto, vedação de que a penhora na execução provisória não deva recair em dinheiro, muito pelo contrário a interpretação teleológica da Consolidação Trabalhista e da Carta Republicana impõe que a penhora deva recair prioritariamente em valores pecuniários do executado, a teor do art. 882 da CLT (ARAÚJO JÚNIOR; MOTA, texto digital).

Pois bem, apesar de a aplicabilidade do art. 475-0 do CPC ser consentânea

com a visão menos positivista manifestada neste trabalho, esta divergência não

precisa ser severamente esmiuçada. O ponto incontroverso, expresso na CLT ˗ a

execução provisória é permitida até a penhora ˗ basta para atingir o que está sendo

aqui proposto, penhora de dinheiro em execução provisória.

4.4 A penhora de dinheiro

A penhora cinge-se a afetar bem do devedor, mediante ordem do juiz, por

apreensão ou depósito, no intuito de satisfazer, plenamente, o comando exarado na

Page 47: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

46

sentença. Este ato de império marcado pela coerção não mais pertence à parte

abstrata do processo, porquanto se traduz na exteriorização dos comandos contidos

e formalizados na sentença, transcendendo o núcleo relacional jurídico para produzir

resultados no mundo físico. Ora:

Há, com isto, sem dúvida alguma, alteração jurídica na situação dos bens penhorados; no entanto, as modificações assim produzidas se refletem, fundamentalmente, no âmbito processual. Os bens em que a penhora recai estão presos ao processo de execução e adquirem a destinação especial de ficarem como objeto da responsabilidade executória. Com isso, embora o executado permaneça com seus direitos sobre a coisa ou o bem penhorado, impedido está de lhe retirar essa destinação específica. O bem penhorado deve permanecer sujeito ao juízo da execução para que, ao final, possa ser satisfeito o preceito sancionador do título executório (MARQUES apud NASCIMENTO, 2012, p. 777).

Nessa toada, caso a importância reclamada não seja paga, nem, do mesmo

modo, seja garantida a execução, inteligência do art. 883 da CLT, seguir-se-á à

penhora dos bens, tantos quanto bastem para pagamento da importância da

condenação. Não obstante, para que a execução tenha êxito deverá ter o bem

penhorado, se não for dinheiro, chances de ser arrematado, ou seja, liquidez. O

sucesso desta imprescindível fase processual reside na conversão em dinheiro

daquilo que foi penhorado, nessa toada:

A penhora é ato de extrema importância para a efetividade da execução. Não se deve encarar a penhora como um mero iter do procedimento, pois que isso implica, muitas vezes, negar a própria utilidade de todos os atos subsequentes da execução. Em outras palavras, pouco adianta cumprir o preceito legal, penhorando-se um bem que não possui a mínima chance de ser convertido em dinheiro, mediante venda em hasta pública. Grande parte dos problemas vividos nas execuções trabalhistas situa-se no fato da realização da penhora de bens de baixo interesse comercial. O importante não é garantir a execução, sob o ponto de vista formal, mas estabelecer uma garantia de que o crédito em questão será satisfeito após obedecidas as formalidades legais subsequentes (SOUTO MAIOR apud SCHIAVI, 2012, p. 255).

Nessa intelecção, soma-se o fato de que temos em funcionamento uma

ferramenta moderna, decorrente da informatização globalizada, que implementou um

modo de proceder verdadeiramente célere e eficiente. Tal benesse é conhecida por

penhora on-line, garantida pelo convênio BACEN JUD entre o TST e o Banco

Central. “A penhora on line não é uma nova modalidade de penhora. É apenas uma

autorização judicial para bloqueio de valores. É um bloqueio de valores por meio

eletrônico. A penhora é feita mediante expedição de mandado judicial” (MARTINS,

2011, p. 768).

Page 48: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

47

Nesse panorama:

O procedimento para realização da penhora não pode ficar imune aos avanços tecnológicos. Pelo contrário, a adoção de novas e mais rápidas técnicas de transferência de valores, produzidas por expeditos recursos de informática, recomenda e até se impõe igual criação, pelo direito, de meios mais eficazes de apreensão de valores. Como é intuitivo, créditos e lançamentos contábeis podem ser ocultados ou transferidos com grande facilidade e com enorme rapidez, sem nenhuma outra operação, nos dias de hoje, do que meros comandos emitidos de qualquer computador ligado à internet (MALLET apud SCHIAVI, 2012, p. 270).

Assim, mediante expedição de ofício eletrônico às instituições financeiras, o

magistrado obtém informações sobre a existência de conta corrente e aplicação

financeira em nome do executado para, com isso, bloquear estes valores com o

propósito de garantir a execução.

Os usuários do sistema (exclusivamente magistrados) poderão expedir ordens de bloqueio de numerário existente nessas contas diretamente às instituições financeiras, de modo a satisfazer os créditos trabalhistas dos exequentes. Dessa forma ainda que as empresas executadas não possuam bens suficientes para a quitação de seus débitos trabalhista, as ordens de bloqueio de numerário disponível nas contas correntes permitirão dar efetividade às decisões judiciais (ABDALA apud LEITE, 2011, p. 1050).

Tal entendimento que privilegia a efetividade ecoa uníssono em grande parte

da doutrina:

A utilização dessa sistemática tem como objetivo a realização de penhora de valores em dinheiro, existentes em depósitos ou aplicações em instituições financeiras, o que tem amparo legal no art. 655, inciso I, do CPC, c/c art. 882 da CLT, bem como, atualmente, no art. 655-A do CPC. A internet é o meio de acesso ao sistema eletrônico pelos juízes e tribunais. Torna-se possível, com isso, que o juízo da execução obtenha informações sobre contas-correntes e aplicações financeiras, de forma on-line. Ademais, possibilita-se a determinação de indisponibilidade (bloqueio) do valor, com vistas ao pagamento do crédito exequendo, imprimindo-se maior celeridade na satisfação do direito. A medida, portanto, está em consonância com o ideal de efetividade da tutela jurisdicional, para se alcançar a satisfação do direito (GARCIA, 2012, p. 695).

Desse modo, para andar em compasso com os avanços da tecnologia e

propiciar, em prazo razoável, a materialização das condenações como forma de

cumprir a sua função institucional deve, o Poder Judiciário, como um todo, favorecer-

se dos avanços obtidos pelo uso da tecnologia no processo. A aplicação destas

ferramentas modernas, em especial a penhora on-line, infla a efetividade do

provimento jurisdicional, e nesse rumo:

Sem dúvida, a penhora on-line possibilitou ao juiz da execução o cumprimento dos seus julgados com maior agilidade e efetividade, atuando

Page 49: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

48

a evolução tecnológica a serviço da Justiça e dos jurisdicionados, em especial o trabalhador hipossuficiente, vindo a minorar a detestável demora na execução do julgado (SARAIVA, 2012, p. 575).

Afora o tempo extremamente reduzido em que o magistrado efetua o bloqueio

da quantia necessária para garantir a execução, a penhora on-line de dinheiro evita

os percalços, que são acessórios da penhora de outros bens e sua posterior

alienação em hasta pública, assim ponderando os fatos apenas com o uso da lógica

chegar-se-á à conclusão de que:

O instrumento da penhora on-line, que possibilita a troca de informações bancárias e o envio de determinações judiciais via sistema de dados BACEN JUD, para bloqueio de contas bancárias, em substituição aos ofícios e cartas precatórias, é meio adequado, idôneo e necessário, e que não causa qualquer restrição ao direito do devedor, uma vez que torna menos onerosa a execução - despesas de ofícios, cartas precatórias, oficiais de justiça [...]. A penhora on-line contribui sobremaneira para a celeridade processual, possibilitando o cumprimento imediato das ordens expedidas pelos magistrados, estando, portanto, esta em total consonância com o princípio do devido processo legal tão aclamado na Constituição da República Federativa do Brasil (LIMA, 2005, p. 181).

Sem prejuízo, a utilização da penhora em dinheiro na execução provisória não

é proibida pela CLT nem, tampouco, pelo CPC, obtempera Schiavi (2012), pelo

contrário, como já referido, o dinheiro é o bem penhorável preferencial, art. 655 CPC,

desse modo:

A penhora de dinheiro é a melhor forma de viabilizar a realização do direito de crédito, já que dispensa todo o procedimento destinado a permitir a justa e adequada transformação de bem penhorado – como o imóvel – em dinheiro, eliminando a demora e o custo dos atos como a avaliação e a alienação do bem a terceiro. Além disto, tal espécie de penhora dá ao exequente a oportunidade de penhorar a quantia necessária ao seu pagamento, o que é difícil em se tratando de bens imóveis ou móveis, os quais possuem valores ‘relativos’ e, por isto mesmo, são objeto de venda em leilão público, ocasião em que a arrematação pode ocorrer por preço inferior ao de mercado (MARINONI, 2007, p. 270).

Enfim, podemos constatar que a penhora de dinheiro não figura por acaso

como primeiro item da lista de bens para penhora, longe disso, está, acertadamente

em seu lugar de direito eis que respeita o princípio da duração razoável do processo,

da dignidade da pessoa humana e da efetividade. Sem prejuízo, certamente, é o

modo menos oneroso de se proceder considerando todos os gastos que são

necessários quando há penhora de outros bens, ademais:

O grande ideal é que o judiciário se torne operante e tempestivo na prestação jurisdicional. Quando houver esta efetividade, não se precisará

Page 50: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

49

mais deste malabarismo processual, ora protegendo o credor, ora o devedor com medidas que, numa análise mais aprofundada, só servem para salvar as aparências. São sucedâneos falsos e de eficácia duvidosa, de que o processo se serve à falta do cumprimento de sua obrigação principal: a prestação jurisdicional plena. Cumpra o Estado o que prometeu no art. 5º, LXXVIII, da Constituição e tudo estará resolvido, sem mágicas, torções ou esforços inúteis para fazer uma justiça de superficialidade, exatamente para fugir do dever da justiça profunda e verdadeira, que consiste na entrega da prestação jurisdicional em tempo razoável, com segurança e eficiência (SILVA, 2007, p. 33).

Tendo em mente essa inferência, passar-se-á a analisar o entendimento de

nosso Egrégio Tribunal Superior do Trabalho explicitado no inciso III de sua Súmula

417.

4.5 A posição do TST através do item III da Súmula 417

O órgão de cúpula da Justiça do trabalho com função jurisdicional em todo o

território nacional é o TST cuja função precípua, explicitada no site da instituição,

consiste em uniformizar a jurisprudência trabalhista brasileira.

Não obstante, por meio de posicionamentos predominantes da jurisprudência

dos tribunais cabe-lhe a edição de súmulas. Esta técnica de uniformização atenua

os conflitos de interpretação sobre assuntos determinados eis que emana de

divergência jurisprudencial. Assim, elucidado qual é o entendimento do Tribunal

sobre determinada matéria sabe-se, em tese, de antemão o modo como esta será

julgada, no entanto:

A Súmula, contudo, não possui efeito vinculante (exceto na hipótese do art.103-A da CF) para outros processos, para o pleno (ou órgão especial equivalente), para os demais órgãos fracionários ou para os juízes de primeira instância, mas constituem instrumento de racionalização e celeridade da prestação jurisdicional, além de servirem como orientação acerca da interpretação das normas que compõem o ordenamento jurídico (LEITE, 2011, p. 937).

Nesses termos, a confecção de uma súmula, além de garantir a segurança

jurídica pela uniformização das decisões, propicia celeridade e efetividade.

Porquanto, evita ou atenua a interposição de recurso meramente protelatório, que

poderá ter o seu seguimento negado pelo relator, nos termos do art. 557 do CPC.

Ademais facilita o julgamento eis que o tribunal já se manifestou sobre a matéria,

fato que minimiza as controvérsias. Desse modo, “a atribuição de eficácia, em grau

Page 51: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

50

cada vez maior, ao precedente, ao que parece, está começando a desafogar as

instâncias superiores, atuando, por conseguinte, como um importante instrumento de

aprimoramento na prestação da tutela jurisdicional” (MACEDO, 2011, texto digital).

Em outubro de 2005 o TST reafirmou seu posicionamento quanto à penhora

de dinheiro na execução provisória convertendo a Orientação Jurisprudencial 62 da

SDI- 2 do TST no item III da Súmula 417, in verbis:

III – Em se tratando de execução provisória, fere direito líquido e certo do impetrante a determinação de penhora em dinheiro, quando nomeados outros bens à penhora, pois o executado tem direito a que a execução se processe da forma que lhe seja menos gravosa, nos termos do art. 620 do CPC.

Tal entendimento impossibilita a penhora de dinheiro em execução provisória

quando o executado nomear outros bens. Entende o tribunal que se a execução

estiver garantida por outros bens não pode o credor querer que se penhore dinheiro.

A penhora deste seria o modo mais oneroso de se garantir a execução e o devedor

possui o direito de que a mesma se processe da forma que lhe seja menos gravosa

conforme art. 620 do CPC, in verbis: “quando por vários meios o credor puder

promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o

devedor”. Nessa linha de raciocínio a penhora de dinheiro feriria direito líquido e

certo possibilitando a impetração de mandado de segurança.

Dessa ilação, facilmente se infere que o Egrégio Tribunal não diferencia os

bens pela sua liquidez, pois a nomeação de qualquer bem basta para obstar a

penhora de dinheiro em execução provisória. Empurra-se para debaixo do tapete a

ordem de preferência do art. 655 do CPC juntamente com a possibilidade de se

garantir o adimplemento do crédito alimentar postulado. E pior, a súmula rotula a

penhora de dinheiro como sendo a maneira mais gravosa de se proceder à

execução, mesmo diante de todos os encargos financeiros, suportados pelo

executado, oriundos de uma venda em hasta pública. Não bastasse isso, santifica-se

o art. 620 do CPC emprestando-lhe, de maneira impositiva, uma aplicabilidade que

é, no mínimo, duvidosa, eis que:

Variam as opiniões dos doutrinadores sobre o alcance da aplicação do art. 620 do CPC ao processo do trabalho, especialmente quando em confronto com a ordem preferencial do art. 655 e o comando do art. 612, ambos do CPC, que determina que a execução se realize no interesse do credor (SOUZA apud SCHIAVI, 2012, p. 209).

Page 52: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

51

Ademais, a súmula é anterior à Lei 11.232/2005, que tratou minuciosamente

do procedimento da execução provisória. Não obstante, verifica-se que predomina,

há tempo, entendimento diverso, conforme o enunciado n. 69 da 1ª Jornada de

Direito Material e Processual do Trabalho (2007) exposto a seguir:

Na execução provisória trabalhista é admissível a penhora de dinheiro, mesmo que indicados outros bens. Adequação do postulado da execução menos gravosa ao executado aos princípios da razoável duração do processo e a da efetividade.

Destarte, no mesmo sentido foi o entendimento de operadores do direito do

trabalho que participaram da Jornada Nacional sobre Execução na Justiça do

Trabalho (2010) cujo enunciado n. 21 declara:

EXECUÇÃO PROVISÓRIA. PENHORA EM DINHEIRO. POSSIBILIDADE. É válida a penhora de dinheiro em execução provisória, inclusive por meio do Bacen Jud. A Súmula n. 417, item III, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), está superada pelo art. 475-O do Código de Processo Civil (CPC).

Sem prejuízo, a matéria exarada no inciso III da Súmula 417 vem recebendo

duras críticas da doutrina, conforme será esmiuçado no próximo capítulo. Ademais,

no intuito de demonstrar o seu desacerto se fará sucessivos ataques em sua viga

mestra, o art. 620 do CPC, eis que ruindo este tudo desmorona. Para isso

demonstrar-se-á as garantias que se desencadeiam da aplicabilidade da penhora de

dinheiro em execução provisória juntamente com sua consonância com o sistema

principiológico constitucional.

Page 53: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

52

5 O PRINCÍPIO DA EXECUÇÃO MENOS GRAVOSA NO PROCESSO TRABALHISTA

Embrenhado nas entranhas da execução trabalhista por ordem estrita do

inciso III da Súmula 417 do TST, o princípio da execução menos gravosa,

estabelecido no art. 620 do CPC, é o escudo que evita, na execução provisória, a

determinação de penhora em dinheiro sob argumento de se ferir direito líquido e

certo do executado, quando este já nomeou outros bens.

Assim, sem ponderar a liquidez do bem nomeado pelo executado, fator de

extrema importância para o sucesso desta fase processual, cerceia-se,

precocemente, a possibilidade de se constritar dinheiro. Ademais, ignora-se que

penhora é ato de constrição, que não, necessariamente, implica na transferência dos

valores penhorados ao exequente.

Ancorado nessa duras críticas caberá a este capítulo ratificar, por vários

meios, a inaplicabilidade do art. 620, que dá base e estrutura ao entendimento

lapidado no inciso III da Súmula 417 do TST, que, hodiernamente, é o maior entrave

à penhora de dinheiro em execução provisória trabalhista. Tal investida contra o

coração da súmula objetiva evidenciar o seu desacerto e, de modo reflexo,

demonstrar a conveniência da aplicabilidade da constrição de dinheiro na execução

provisória.

Page 54: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

53

5.1 A crítica estabelecida

Quando a súmula 417 do TST impõe a aplicação do art. 620 do CPC ela

idealiza um direito líquido e certo quando este sequer existe eis que a execução

realiza-se no interesse do credor (art. 612 do CPC). Não bastasse isso, atropela-se o

art. 882 da CLT que expressamente impõe, quando da nomeação de bens pelo

executado, a observância da ordem de preferência do art. 655 do CPC. E mais, “a

aplicação do princípio da execução menos gravosa ao processo do trabalho não

passa pelo crivo do art. 769 da CLT. [...] não se faz presente no caso o requisito da

compatibilidade do art. 620 do CPC com os princípios do direito processual do

trabalho” (PINTO apud CLAUS, 2011, p. 28).

Todavia, tal transgressão não se contenta apenas em subverter regras

infraconstitucionais ela eleva-se a ponto de deturpar a dignidade da pessoa humana,

fundamento do Estado Democrático de Direito (CRFB, art. 1º, III), a igualdade e a

duração razoável do processo, que figuram entre os direitos e garantias

fundamentais (CRFB, art. 5º caput e LXXVIII).

Essas inconsistências que giram em torno do inciso III da Súmula 417 do TST

são pontualmente criticadas pela doutrina que não titubeia:

A Súmula n. 417, III, do TST, (1) confunde o conceito de meios de execução, (2) importa duração abusiva e injustificada do processo, subvertendo o princípio da razoável duração do processo e a garantia de meios que garantem a celeridade de sua tramitação, (3) incita a execução pelo modo mais oneroso para o devedor, (4) atribui ao executado um estranho ‘direito’ à procrastinação do desfecho da demanda, (5) inverte a lógica da execução, que deveria ser realizada no interesse do credor, (6) distingue a execução provisória da definitiva em que a diferenciação é incabível e (7) ofende o princípio da dignidade humana (MELHADO, 2009, p. 392).

No mesmo rumo conclui Schiavi:

Em que pese o respeito que merece o posicionamento sumulado do TST, pensamos que ele deve ser revisto pelos seguintes argumentos: a) a execução provisória se processa pela mesma forma que a execução definitiva; b) não há direito líquido e certo do executado em não ter penhorado dinheiro na execução provisória. Ao contrário, a penhora de dinheiro está prevista na lei (arts. 882 e 655 da CLT). De outro lado, há a prevalência principiológica do credor na execução (interpretação sistemática dos arts. 612 e 620, ambos do CPC); c) efetividade do art. 475-O, § 2º, do

Page 55: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

54

CPC, possibilitando-se ao Juiz do Trabalho liberar dinheiro ao credor trabalhista até o montante de 60 salários mínimos (SCHIAVI, 2012, p. 211).

Com este aporte passa-se para a análise individual e pormenorizada dos

pontos mais controvertidos que circundam a matéria sumulada.

5.2 A incompatibilidade do art. 620 do CPC frente ao art. 769 da CLT

Na visão didática e científica, o Direito Processual do Trabalho, como ramo da

ciência do direito, possui autonomia eis que dotado de objetivos próprios, conteúdo

específico e métodos particulares de interpretação, ocupando e desempenhando

posição social extremamente importante. Todavia autonomia não é sinônimo de

isolamento, visto que faz parte de um sistema maior ao qual se integra, consoante

Silva (2007).

Desse modo, as lacunas que eventualmente o assolarem serão resolvidas por

atividade hermenêutica calcada no art. 769 da CLT mediante o atendimento de dois

requisitos: omissão e compatibilidade. Como a CLT não dispõe sobre o modo menos

gravoso de se proceder a execução o primeiro requisito é atendido, porém o quesito

compatibilidade encontrará resistência. Porquanto “ao transladar-se o art. 620 do

CPC para o território da execução trabalhista, contudo, é preciso estampar nessa

norma outro conteúdo semântico, adequado à realidade e a dialética do mundo do

trabalho” (MELHADO, 2009, p. 387).

Essa adequação do conteúdo semântico sugerida por Melhado cinge-se ao

fato de que, na seara trabalhista o hipossuficiente, geralmente, é o credor, que

necessita dessa verba para a própria subsistência, ao contrário da relação

processual civil em que se presume a igualdade entre as partes, assim:

O art. 620 do CPC é, evidentemente, tutelar do interesse do devedor, exposto à violência da constrição. A tutela é bastante compreensível dentro de um sistema processual que navega em águas de interesse processuais caracteristicamente privados, porque oriundos de relação de direito material subordinada à ideia da igualdade jurídica e da autonomia da vontade. O sistema processual trabalhista flutua num universo dominado pela prevalência da tutela do hipossuficiente econômico, que se apresenta como credor da execução trabalhista. Em face da evidente oposição de pressupostos, sustentamos que, em princípio, o art. 620 do CPC não pode suprir a omissão legal trabalhista, por ser incompatível com a filosofia tutelar do economicamente fraco, que lhe dá caráter. Sua aplicação coloca em confronto a proteção do interesse econômico do devedor (a empresa) e o

Page 56: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

55

direito alimentar do credor (o empregado), a cujo respeito não pode haver hesitação de posicionamento do juiz do trabalho ao lado do empregado (PINTO apud CLAUS, 2011, p. 28).

De fato, sob uma análise hermenêutica adequada, a aplicação do art. 620 do

CPC na execução trabalhista é, no mínimo, duvidosa eis que tal norma visa

favorecer o devedor e tal desiderato não é compatível com as normas do diploma

trabalhista, uma vez que:

A aplicação do art. 620 do CPC, na espécie, deve ter sempre por norte a relação material a que serve de instrumento. Vale dizer, essa norma foi criada com o objetivo de estabelecer um plus jurídico ao devedor, em função da sua presumível inferioridade econômica diante do credor. A sua aplicação no terreno do processo do trabalho não pode olvidar a realidade econômica e social dos litigantes, porque quem se encontra, a rigor, em posição de vulnerabilidade e hipossuficiência é justamente o exequente (trabalhador), geralmente desempregado e com a sua dignidade comprometida exatamente por não receber créditos sonegados pelo executado (empregador). Afinal, o nosso ordenamento constitucional consagra como princípios fundamentais a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho. Ademais, se a empresa tem de cumprir função social, uma delas é, seguramente, o correto pagamento pelo trabalho humano que usufruiu (LEITE, 2011, p. 1019).

Somente normas de direito processual comum que forem compatíveis com o

diploma trabalhista poderão ser aplicadas, nos casos omissos, como fonte

subsidiária do direito processual do trabalho. Nesses termos, diante da

incompatibilidade do art. 620 do CPC, conforme explicitado retro, não há como

aplicá-lo no campo trabalhista. E assim sendo, o inciso III da Súmula 417 do TST

resta comprometido e a penhora de dinheiro em execução provisória afigurar-se-ia

plenamente possível.

No entanto, se porventura, tal norma for considerada compatível com o

diploma trabalhista devemos perquirir se o princípio da execução menos gravosa

(art. 620 do CPC) prevalece sobre o da execução mais eficaz (art. 612 do CPC),

conflito que será analisado em seguida.

5.3 O art. 620 do CPC versus o art. 612 do CPC

O comando da execução pelo modo menos gravoso para o devedor, quando

por vários meios o credor puder promovê-la, entalhado no art. 620 do CPC, é o

último artigo do capítulo que trata das disposições gerais da execução. O art. 612 do

Page 57: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

56

CPC, que discorre “[...] realiza-se a execução no interesse do credor, que adquire,

pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados”, por outro lado, é o

abre alas deste capítulo apontando o norte a ser seguido pelo operador do direito.

Assim:

Ambos os preceitos estão localizados no capítulo que trata das disposições gerais sobre a execução. Porém, o art. 612 precede o art. 620. Essa precedência tópica expressa a preeminência que o sistema normativo outorga ao credor na execução, ao estabelecer que ‘... realiza-se a execução no interesse do credor’ (CPC, art. 612). Além disso, o art. 612 abre o respectivo capítulo do CPC, fixando a regra geral da execução: a execução realiza-se no interesse do credor. Já o art. 620 do CPC encerra o capítulo, estabelecendo uma exceção àquela regra geral: a execução será feita pelo modo menos gravoso para o devedor, quando por vários meios o credor puder promover a execução (CLAUS, 2011, p. 23).

Essa hierarquia que se estabelece dentro da estrutura normativa é típica das

codificações. Assim, parte-se da norma geral, a execução realiza-se no interesse do

credor, para, ao final, estabelecer-se a exceção, o modo menos oneroso ao devedor,

porém:

Essa regra tem sido mal compreendida, e são frequentes as vezes em que o devedor a invoca, para eximir-se. Para entendê-la adequadamente é preciso conjugá-la com outras, como a do exato adimplemento, e a da patrimonialidade da execução. Não se pode perder de vista que o objetivo da execução é a satisfação do credor: se houver vários meios equivalentes para alcançá-la, deve o juiz preferir a que cause menos ônus para o devedor. Mas, para tanto, é preciso que os vários modos sejam equivalentes, no que concerne ao resultado almejado pelo credor. O devedor não pode, por exemplo, requerer a substituição da penhora de dinheiro, ou do faturamento de sua empresa, por outros, de mais difícil liquidação, aduzindo que essa forma é menos onerosa. Pode ser menos onerosa para ele, mas é mais gravosa para o credor, e a execução se estabelece para a satisfação deste. A substituição só deverá ser deferida se não prejudicar o credor, assegurando-lhe um meio equivalente de satisfação de seus interesses (GONÇALVES, 2011, p. 30).

Nessa jornada, “o art. 620 do CPC, portanto, deve ser interpretado de forma

sistemática, observando-se as demais regras e princípios da execução, sob pena de

se frustrar o seu objetivo primordial, qual seja, a efetiva satisfação do direito”

(GARCIA, 2012, p. 696). Ademais, a regra estabelecida no art. 620 do CPC é uma

norma secundária que depende de um evento futuro e incerto “quando”. Assim se

implementada a sua condição de aplicabilidade (vários meios de se promover a

execução) optar-se-á pela forma menos gravosa não podendo, a mesma, ser

aplicada de pronto.

Page 58: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

57

Resolvido esse percalço ainda persiste, sob visão menos positivista, o conflito

de dois princípios – execução mais eficaz e execução menos gravosa – assim, “se

os dois princípios são considerados de igual hierarquia e estão em conflito, é o caso

de trabalhar com uma espécie de meta-princípio, pelos critérios de adequação,

proporcionalidade e necessidade” (MELHADO, 2009, p. 388).

Para resolução de tal equação devemos contrabalançar ambos os princípios e

usar da razoabilidade, assim teremos, de um lado da balança, a garantia de que a

execução se processe do modo menos oneroso ao devedor (art. 620 CPC)

privilegiando-se o capital em detrimento do trabalho e, do outro, a execução mais

eficaz para o credor (art. 612 do CPC) juntamente com efetividade, duração razoável

do processo, dignidade da pessoa humana e valor social do trabalho. O resultado se

imporá inelutavelmente.

Não obstante, analisando o caso de uma forma mais simples teremos o mais

forte preservando seu patrimônio de um lado e o mais fraco querendo garantir sua

subsistência do outro. Sem prejuízo, “o princípio da menor onerosidade ao devedor

deve ser aplicado harmonicamente com o princípio da efetividade da execução. O

fim da execução consiste, antes de tudo, na satisfação do direito do credor

(DONIZETTI, 2012, p. 895).

Logo:

Se houver vários modos de promover a execução e todos forem eficazes na mesma medida, somente então a execução deve ser realizada pelo modo menos gravoso para o executado. Contudo, se a execução for mais eficaz quando realizada do modo mais gravoso para o executado, tem aplicação a regra geral do art. 612 do CPC: adota-se a execução desse modo, não porque seja o mais gravoso, mas porque é o mais eficaz no caso concreto. Da mesma forma, adota-se o modo menos gravoso quando for ele o mais eficaz para a execução, não porque seja o menos gravoso, mas por ser o mais eficaz no caso concreto (CLAUS, 2011, p. 24).

Nessa linha de raciocínio, havendo valores para tal, a penhora de dinheiro em

execução provisória é a forma mais eficaz de se realizar a execução. E em virtude

disso, não pode haver entraves em sua aplicabilidade.

Ademais, caso os argumentos até aqui externados não sejam capazes de

obstar a aplicabilidade do art. 620 do CPC na seara trabalhista analisar-se-á na

Page 59: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

58

sequência o quanto é gravosa para o executado a penhora de dinheiro na execução

provisória.

5.4 O modo menos gravoso ao devedor

A penosa tarefa do princípio da execução menos gravosa em transpor os

muros protetivos da CLT somente é possível porque quem mais deveria guardar e

proteger o castelo das garantias trabalhistas baixa a ponte permitindo sua

aplicabilidade.

O inciso III da Súmula 417 do TST injeta o art. 620 no seio da execução

trabalhista e o faz, aparentemente, por interpretação meramente subjetiva, eis que:

A lei, tão cultuada nos altares do positivismo, não passa de uma iguana de cores mutantes que assume o caráter conveniente ao seu senhor a aos interesses do momento. Assim, aquilo que deveria ser feito do mesmo modo passa a ser feito de outro modo com a Súmula n. 417, III. Palavras são mesmo serezinhos inanimados, vazios de conteúdo semântico. O jurista não ‘extrai’ dela um sentido. Ao contrário: ele constrói esse material semiológico e, de fora para dentro, imputa-o à norma (STRECK apud MELHADO, 2009, p. 390).

E mais, essa imputação de significado é evidente ao se ponderar a doutrina

de dois anos antes da publicação da referida súmula, que já assinalava:

Prevalece até hoje, herdado do processo civil, o princípio da execução menos onerosa: protege-se o devedor, que comprovadamente não tem direito (tanto assim que foi condenado) em detrimento de quem, reconhecidamente, está amparado por ele. [...] Uma reforma ideal do processo trabalhista abandonaria o dogma da igualdade das partes e adotaria, na execução, o princípio da execução mais eficaz, em substituição ao da execução menos onerosa. As protelações do procedimento deveriam ser coibidas com rigor maior do que o imposto pelo Código de Processo Civil, pois o trabalhador tem urgência em receber o que lhe foi reconhecido: vive ‘da mão para a boca’; não tem reservas, e trabalha hoje para comer amanhã (GIGLIO, 2003, p. 37).

Não bastasse isso, a argumentação explicitada na súmula se contradiz.

Porquanto objetivando garantir que a execução se processe do modo menos

oneroso ao devedor insta que a mesma seja feita do modo mais custoso para ambas

as partes, uma vez que:

A penhora em dinheiro tem como característica específica ser menos custosa e mais breve e eficaz para se resolver a execução. Penhorados outros bens, como veículos de via terrestre ou imóveis, serão necessários numerosos e demorados atos de execução. Descortinam-se infinitas possibilidades de controvérsias e incidentes, desde a avaliação até a

Page 60: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

59

arrematação. Os atos processuais são muito mais caros e correrão por conta do executado. [...] Os atos dos oficiais de justiça terão custas proporcionais à diligência certificada. Nomeado leiloeiro, este receberá comissão sobre o valor da alienação. Não raro, há despesas de depósito. Isso sem contar que poderá ser necessária mais de uma praça ou leilão e, ao final, a arrematação nunca se fará exatamente pelo valor da avaliação. São comuns casos em que a expropriação alcança apenas a metade do valor de mercado dos bens leiloados, ou nem isso (MELHADO, 2009, p. 388).

E assim sendo, admite-se uma conclusão absurda, pois alegando-se a lei

garantidora (execução pelo modo menos oneroso) evita-se a garantia (penhora de

dinheiro em execução provisória). Anomalia que não fugiu da crítica de Reginaldo

Melhado que dispara:

O minimalismo dos artistas plásticos do século passado (que ainda parecem contemporâneos, santo Deus!) é reinventado pelo TST com a Súmula n. 417, III: menos é mais. Ou o inverso: mais é menos. O jeito mais complicado, custoso e demorado vira menos: solenemente menos oneroso. (Ibidem, 2009, p. 389).

Assim, a verdadeira execução menos gravosa, para ambas as partes, é a

penhora de dinheiro na execução provisória. Logo, afigura-se, no discurso ideológico

marcado a fogo pelo inciso III da Súmula 417 do TST, a descarada proteção do

capital em detrimento do trabalho, porquanto, longe de assegurar execução menos

gravosa, o art. 620 do CPC garante, apenas, uma eficiente protelação processual.

5.5 O direito líquido e certo do devedor

Em outro norte, resistindo o credor, bravamente, à árdua execução, ao final,

havendo, ainda, dinheiro a ser penhorado poderá, se não executou a sentença

provisoriamente, fazê-lo, eis que se trata de direito líquido e certo garantido pelo

inciso I da Súmula 417 do TST que reza:

I - Não fere direito líquido e certo do impetrante o ato judicial que determina penhora em dinheiro do executado, em execução definitiva, para garantir crédito exequendo, uma vez que obedece à gradação prevista no art. 655 do CPC.

Assim, se a penhora de dinheiro em execução definitiva não fere direito

líquido e certo, do mesmo modo, não há direito ferido na execução provisória. Aqui a

súmula se contraria. E isso não é ignorado pela doutrina que desfere:

Ora, não se vislumbra onde residiria o direito ‘líquido e certo’ de o executado não pagar ou garantir a execução em dinheiro quando o título executivo judicial determinar o pagamento de quantia certa! E o próprio TST disse o

Page 61: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

60

óbvio, função muitas vezes necessária para pacificar o entendimento diante de inúmeros julgados divergentes, nos incisos I e II. Ora, se não fere direito líquido e certo nos itens citados, porque inexiste tal atributo ao direito invocado pelo executado na execução de decisão definitiva, não nos parece legítimo o item III contrariar a ideologia da própria Súmula nos incisos que a antecedem. Há, de fato, um confronto entre as normas da execução provisória ditadas pela Lei 11.235/2005 e a interpretação do TST (SOUZA apud SCHIAVI, 2012, p. 209).

Além de a lei não vedá-la expressamente o art. 475-O garante que a

execução provisória far-se-á do mesmo modo que a definitiva, assim:

A sentença provisória pendente de recurso com efeito meramente devolutivo possibilita a adoção de todos os atos executivos semelhantemente aos adotados na execução da sentença definitiva quando a parte devedora se recusar a cumprir o título judicial espontaneamente, haja vista que a provisoriedade pertence apenas ao título executivo e não aos atos executivos (ARAUJO JÚNIOR, 2011, texto digital).

E mais, “não se faz outra penhora, depois de garantida a execução. Se a

penhora em pecúnia é recusada na execução provisória, essa constrição é

inviabilizada também na definitiva. Conclusão: o art. 655 do CPC é chutado pelos

ares pela Súmula n. 417” (MELHADO, 2009, p. 391).

O desfecho de Mauro Schiavi não é diferente:

No nosso sentir, não há direito líquido e certo ao executado de não ter penhorado dinheiro em sede de execução provisória, pois não está expressa na lei a vedação de tal penhora. Ora, como já salientado, o dinheiro é o primeiro bem na ordem de penhora (art. 655 do CPC). Na execução, mesmo a provisória, devem ser aplicados os princípios da primazia do credor e efetividade. Ainda que se possa invocar a aplicabilidade do art. 620 do CPC, que consagra o princípio da menor onerosidade ao executado, ele não pode prevalecer sobre o direito fundamental à tutela executiva do credor trabalhista (SCHIAVI, 2012, p. 208).

Seguindo essa linha de raciocínio, não existindo direito líquido e certo a ser

alegado estaria impossibilitada a impetração de mandado de segurança por falta de

pressuposto processual de admissibilidade, sendo a penhora de dinheiro em

execução provisória viabilizada, pois o devedor não poderia questioná-la pela via do

mandamus.

Page 62: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

61

6 CONCLUSÃO

O credor na Justiça do Trabalho, em regra, é hipossuficiente e necessita,

urgentemente, da verba postulada, pois é com ela que suprirá as suas necessidades

e de sua família. Assim, pode-se facilmente inferir que nesta seara do direito

celeridade vincula-se diretamente com efetividade.

Ademais, em Estado Democrático de Direito impõe-se, prioritariamente, os

valores glorificantes da cidadania, da dignidade humana, da função social do

trabalho e da igualdade. A materialização destas estimativas sociais que permitem a

realização da justiça e, portanto, o direito justo rege a fase executiva do processo.

Porquanto não basta, apenas, a confecção de magníficas sentenças. É preciso que

o comando sentencial seja entregue, da maneira mais célere possível ao

jurisdicionado, ou seja, a execução trabalhista deve ser célere e eficaz.

O entendimento do TST, por meio do inciso III de sua Súmula 417, calcado no

art. 620 do CPC, que privilegia o capital em detrimento do trabalho, apenas, infla a

cultura da protelação processual adubando o descrédito desta área especializada do

direito em que os efeitos de uma justiça tardia são os mais perversos.

A posição de inferioridade do credor trabalhista conjugada com o caráter

alimentar da verba postulada são fatores determinantes para que a execução tramite

pelo modo mais célere e eficaz possível, e esta forma de se materializar a garantia

entalhada no art. 5º, LXXVIII da Constituição Federal é a penhora de dinheiro, ainda

que em execução provisória.

Page 63: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

62

Assim, na luta por um processo verdadeiramente efetivo que atenda às

suplicas do jurisdicionado esta monografia ocupou-se em ressaltar, no primeiro

capítulo do desenvolvimento, que a prestação jurisdicional deve atender os clamores

do jurisdicionado, pois o objetivo do processo do trabalho é propiciar melhor acesso

dos trabalhadores à justiça, nesse ímpeto, consequentemente, suas regras

processuais devem convergir para tal finalidade.

Sem prejuízo, alertou-se que na busca incessante pela melhoria da prestação

jurisdicional deve o operador do direito do trabalho livrar-se dos dogmas positivistas

e aplicar as normas do processo civil quando suas disposições forem mais eficazes.

Em seguida, ao estudar a execução trabalhista pelas lentes dos princípios

constitucionais e trabalhistas que regem a aplicabilidade do direito na justiça do

trabalho, demostrou-se que é possível contrabalançar desigualdades mediante uma

interpretação que preze um processo mais justo, equânime.

Desse modo, como os valores fundantes do direito laboral são enaltecidos,

constantemente, pelas garantias que emanam de nossa Carta Magna, evidenciou-se

que não basta, apenas, aplicar a letra fria da lei. É preciso ponderar valores

mediante interpretação sistemática para garantir a aplicabilidade de valores

fundamentais ao caso concreto.

Na sequência, debruçando-se sobre as particularidades que compõem a

penhora de dinheiro em execução provisória, se exaltou a importância de se

penhorar bens dotados de liquidez, sob pena de se relegar a prestação jurisdicional

a um jogo de faz de conta. Ademais, ressaltou-se que a execução provisória da

sentença evita que os encargos decorrentes da demora recaiam unicamente sobre o

trabalhador. A parte hipossuficiente não pode ficar à deriva enquanto o empregador

usa o seu dinheiro entregando-o desgastado pelo tempo e inflação, somente, ao

cabo da última forma de impugnação.

Mais adiante, ao final, investiu-se contra o art. 620 do CPC demonstrando,

mediante vários meios, que sua aplicabilidade na seara laboral subverte todo o

sistema, inclusive a Constituição Federal. Assim, primeiramente, exibiu-se a

incompatibilidade do art. 620 do CPC frente ao diploma trabalhista eis que, ao

contrário da esfera civil, o credor é a parte hipossuficiente. Sem prejuízo, foi

Page 64: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

63

explicitado que a execução somente será feita pelo modo menos gravoso quando

houver vários meios equivalentes de se satisfazer a execução, que se realiza no

interesse do credor.

No mesmo capítulo, evidenciando-se que a penhora de outros bens demanda

vários encargos e sua arrematação alcança, em regra, metade do valor de mercado

do bem se enfatizou que a penhora de dinheiro é a forma menos gravosa para o

devedor. Assim, por fim, foi enaltecido que não há direito líquido e certo violado com

a penhora de dinheiro, fato que impossibilitaria a impetração de mandado de

segurança.

Dado o exposto, restou claro que a penhora de dinheiro em execução

provisória é a forma menos gravosa de se promover a execução, ademais se

garante de forma célere a eficaz a sentença, inflando a duração razoável do

processo e a dignidade da pessoa humana. A efetividade de todos os atos

processuais, desde o conhecimento, depende da penhora de bens dotados de

liquidez. Com aporte nas afirmações acima transcritas destaca-se o desacerto do

item III da súmula 417 do TST.

Conclui-se, a penhora de dinheiro em execução provisória, diante do fato de

que o credor é hipossuficiente e visa recompor “a posteriori” uma verba alimentar

subtraída pelo empregador, não figura, apenas, como o modo mais célere e eficaz

de se promover a execução, mas sim, é o modo mais acertado de, verdadeiramente,

se realizar justiça.

Page 65: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

64

REFERÊNCIAS

AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-book. Disponível em: <http://online.minhabiblioteca.com.br/books/ 978-85-309-4204-5>. Acesso em: 23 abr. 2013.

AKASHI, Diogo Telles. A Reforma do Judiciário e as Normas Constitucionais do Processo Judicial. In: GOUVEIA, Carlos Marcelo ; HOFFMANN, Luiz Augusto A. de Almeida . Atual Panorama da Constituição Federal. São Paulo: Saraiva, 2009. E-book. Disponível em: <http://online.minhabiblioteca.com.br/books/9788502142930>. Acesso em: 19 abr. 2013.

ARAÚJO Jr., Francisco Milton; MOTA, Saulo Marinho. A Crítica aos Limites Estabelecidos pela Súmula 417, III, do TST – Validade do Bloqueio de Valores Pecuniários na Execução Provisória. Porto Alegre: Magister, 2011. Disponível em: <http://www.editoramagister.com/ doutrina_ler.php?id=1008>. Acesso em: 27 jan. 2012.

BRANCO, Ana Paula Tauceda. O Ativismo Judiciário Negativo Investigado em Súmulas Editadas pelo Tribunal Superior do Trabalho. In: FAVA, Marcos Neves et al. (Coords). O mundo do trabalho: leituras críticas da jurisprudência do TST: em defesa dos direitos do trabalho. São Paulo. 2009. v. 1. p. 44-64.

BRASIL. Del nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/ Del 5452.htm >. Acesso em: 22 de mar. 2013.

BRASIL. Lei n. 10406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 02 maio 2012.

BRASIL. Lei n. 3071, de 1° de janeiro de 1916. Código Civil de 1916. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm>. Acesso em: 01 maio 2012.

Page 66: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

65

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Código de Processo Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm >. Acesso em: 22 mar. 2013.

BRASIL. Lei nº 6.830, DE 22 DE SETEMBRO DE 1980. Lei de execução Fiscal. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6830.htm >. Acesso em: 22 mar. 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui %C3%A7ao.htm > Acesso em: 17 abr. 2012. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 417. Disponível em: <http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_401_450.html#SUM-417>. Acesso em: 22 mar. 2013.

BRASÍLIA. ANAMATRA. 1ª jornada de direito material e processual do trabalho. Disponível em: <http://www.anamatra.org.br/jornada/enunciados/enunciados_ aprovados.cfm> Acesso em: 03 jan. 2013. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho, 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. E-book. Disponível em:<http://online. minhabiblioteca.com.br/books/978-85-309-4477-3>. Acesso em: 10 abr. 2013.

CASTANEDA, Carlos. Porta para o Infinito. Rio de Janeiro: Record, 1974.

CESÁRIO, João Humberto. Penhora de dinheiro na Execução Provisória: O Equívoco da Súmula 417, III, do TST. Jurisprudência e concurso. 17 maio 2011. Disponível em: <http://www.jurisprudenciaeconcursos.com.br/espaco/penhora-de-dinheiro-na-execucao-provisoria-o-equivoco-da-sumula-417-iii-do-tst>. Acesso em 24 abr. 2013.

CHAVES, Luciano Athayde. As reformas processuais e o processo do trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre, RS, v. 73, n. 1, p. 140-156, jan./mar. 2007. Disponível em: http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/handle/1939/2282. Acesso em: jul. 2012.

CHEMIN, Beatris F. Manual da Univates para trabalhos acadêmicos: planejamento, elaboração e apresentação. 2. ed. Lajeado: Univates, 2012. E-book. Disponível em: <http://www.univates.br>. Acesso em: 10 abr. 2012.

CLAUS, Ben-Hur Silveira. A execução Trabalhista não se submete ao princípio da execução menos gravosa – um olhar contemporâneo para a execução trabalhista efetiva. Justiça do Trabalho. a. 28, n. 331, p. 16-30, jul. 2011.

CORDEIRO, Wolney de Macedo. A execução provisória trabalhista e as novas perspectivas diante da Lei nº 11.232/2005. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1365, 28 mar. 2007 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/9663>. Acesso em: 2 jan. 2013.

CUNHA NETO, Adhemar Prisco da. Aspectos da aplicação do processo comum ao processo do trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região,

Page 67: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

66

Campinas, n. 31, p. 145-165, jul./dez. 2007. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/ dspace/handle /2011/ 22039>. Acesso em: 01 jun 2012.

DELGADO, Gabriela Neves; DELGADO, Mauricio Godinho. Justiça do Trabalho: 70 Anos de Justiça Social. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre, RS, v. 77, n. 2, p. 103-115, abr./jun. 2011. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/ documents/1295387/ da6c6403-a824-4c82-884b-1f114475a6d2>. Acesso em: 01 abr. 2013.

DELGADO, José Augusto. Reflexões sobre as alterações no Direito Processual Civil Brasileiro a partir da EC n. 45, de 31.12.2004, e as repercussões no Direito Judiciário Trabalhista. BDJur, Brasília, 2007. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/ dspace /handle/ 2011/9867>. Acesso em: 12 dez. 2011.

DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 17. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 2013. E-book. Disponível em: <http://online.minha biblioteca.com.br/#/books/9788522476626> Acesso em: 03 maio 2013.

ENUNCIADOS aprovados pela plenária. Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho. Mato Grosso, 26 nov. 20010 Disponível em: <http://www. jornadanacional.com.br/ tesesaprovadasind.asp>. Acesso em: 30 mar. 2013.

FACHIM, Luiz Edson. Aspectos de alguns pressupostos histórico-filosóficos hermenêuticos para o contemporâneo direito civil brasileiro: elementos constitucionais para uma reflexão crítica. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre, RS, v. 77, n. 4, p. 186-203, out./dez. 2011. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/documents/1295387/09f0abe9-de07-45bb-8565-a3f4eb66d99c>. Acesso em: 01 abr. 2013.

FREDIANI, Yone. Direito do Trabalho. Barueri, SP: Manole, 2011.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho, 7. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2013. E-book. Disponível em: http://online.minhabiblioteca.com.br /books/978-85-309-4669-2. Acesso em: 15 mar. 2013.

______. Curso de Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2012. E-book. Disponível em: <http://online.minhabiblioteca.com.br /books/978-85-309-4403-2>. Acesso em: 20 abr. 2013.

GIGLIO, Wagner D. A efetividade da execução trabalhista. Revista Tribunal Regional do Trabalho 9ª Região, a. 28, n. 51, p. 289-300, jul./dez. 2003. Disponível em: <http://www. trt9. jus.br/internet_base/arquivo_download.do?evento= Baixar&idArquivoAnexadoPlc =1492498>. Acesso em: 29 maio 2012.

______. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. rev. ampl., atual. e adaptada. São Paulo: Saraiva, 2007.

GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Novo Curso de Direito Processual Civil: Execução e Processo Cautelar. v. 3. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Page 68: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

67

JOBIM, Marco Felix. Direito à duração razoável do processo: responsabilidade civil do estado em decorrência da intempestividade processual. São Paulo: Conceito Editorial, 2011.

LEDUR, José Felipe. A constituição de 1988 e seu sistema especial de direitos fundamentais do trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre, RS, v. 77, n. 3, p. 154-181, jul./set. 2011. Disponível em: < http://www.tst.jus .brdocuments/1295387/867a2aef-25ff-4925-b84d-0a5aa2d701db>. Acesso em: 01 abr. 2013.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2011.

LIMA, Vanderlei Ferreira de. A penhora online: instrumento de efetividade da tutela jurisdicional nas execuções por quantia certa. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Campinas, n. 26, p. 171-182, 2005. Disponível em: <http://www.trt15.jus. br/escola_da_magistratura/Rev26Art12.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2008.

MACEDO, Gabriela Silva. A eficácia vinculante do precedente judicial no Direito brasileiro e sua importância para atuação do Poder Judiciário. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3217, 22 abr. 2012 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/ texto/21528>. Acesso em: 24 abr. 2013.

MALLET, Estêvão. A anotações à lei nº 11.382, de 6 de dezembro de 2006. Revista TST, Brasília, v. 73, n. 1, jan./mar. 2007. Disponível em: http://www3.tst.jus.br /Ssedoc/PaginadaBiblioteca/revistadotst/Rev_73/rev_73n1/malletestevao.pdf. Acesso em: 29 maio 2012.

MANUS, Pedro Paulo Teixeira. A execução no processo trabalhista em 70 anos de justiça do trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Campinas, n. 39, p. 111-116, 2011. Disponível em: <http://bdjur.stj.jus.br/ dspace/handle/2011/44429>. Acesso em: 22 fev. 2012.

______. Execução de sentença no Processo do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2005.

MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual de direito e processo do trabalho, 19. ed. rev. atual. São Paulo. Saraiva: 2010. E-book. Disponível em: <http://online.minhabiblioteca. com.br / books/9788502112322>. Acesso em: 11 abr. 2013.

______. Manual esquemático de Direito e Processo do Trabalho. 20. ed.rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. Disponível em: <http://online. minhabiblioteca.com.br/books/9788502174863>. Acesso em: 22 abr. 2013.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho: doutrina e prática forense; modelos de petições, recursos, sentenças e outros. 32. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

Page 69: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

68

MELHADO, Reginaldo. A Súmula 417 do TST e o Ministro da Morte. In: FAVA, Marcos Neves et al. (Coords). O mundo do trabalho: leituras críticas da jurisprudência do TST: em defesa dos direitos do trabalho. São Paulo. 2009. v. 1. p. 382-393.

MEZZAROBA, Orides; MONTEIRO, Cláudia S. Manual de metodologia da pesquisa no Direito. São Paulo: Saraiva, 2009.

MONTEIRO, Vítor José de Mello. Provisoriedade da execução de título judicial e de título extrajudicial. In: GIANNICO, Maurício; MONTEIRO, Vitor José de Mello (Coords). As novas Reformas do CPC e de Outras Normas Processuais. São Paulo: Saraiva, 2009. E-book. Disponível em: <http://online.minhabiblioteca.com.br/ books/ 9788502156135>. Acesso em 29 abr. 2013.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho, 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. E-book. Disponível em: <http://online.minhabiblioteca. com.br/books/ 9788502160101>. Acesso em: 01 abr. 2013.

NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana - Doutrina e Jurisprudência. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010. E-book. Disponível em: <http://online.minhabiblioteca.com.br/ books/9788502135413>. Acesso em: 03 abr. 2013.

PACHECO, Paulo Fernando Santos. A nova execução provisória no processo do trabalho frente às alterações trazidas pela lei 11.232/05 e a efetividade do provimento jurisdicional. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 88, maio 2011. Disponível em: <http://www.ambitojuridico. com.br/site/?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=9467& revista_caderno=25>. Acesso em 13 jan. 2013.

PAES, Arnaldo Boson. Execução de sentença provisória. Instrumento de efetividade da execução trabalhista. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2868, 9 maio 2011 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/19070>. Acesso em: 10 jan. 2013.

RIBEIRO, Fábio Túlio Correia. Quem é o homem-trabalhador, esse sujeito detentor de direitos sociais de que fala a constituição, e o que significa dizer que ele tem dignidade?. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre, RS, v. 77, n. 3, p. 33-58, jul./set. 2011. Disponível em: < http://www.tst.jus.br/documents/ 1295387/6deb6215-0e5e-4590-bf78-6cc74a9a057f>. Acesso em: 01 abr. 2013.

SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho, 9. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. E-book. Disponível em: <http://online.minhabiblioteca.com.br /books/978-85-309-4714-9>. Acesso em: 11 abr. 2013.

______. Processo do Trabalho. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2011.

SCHIAVI, Mauro. Execução no Processo do Trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2012.

SILVA, Antônio Álvares da. Execução provisória trabalhista depois da reforma do CPC. São Paulo: LTr, 2007.

Page 70: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO(2007, pag. 555-556), resume-se ao ato de “expropriar o executado para satisfação do crédito reconhecido pelo julgado ao exequente

BD

U –

Bib

liote

ca D

igita

l da

UN

IVAT

ES

(htt

p://w

ww

.uni

vate

s.br/

bdu)

69

SOARES, Ricardo Maurício Freire. Hermenêutica e Interpretação Jurídica. São Paulo: Saraiva, 2010. E-book. Disponível em: <http://online.minhabiblioteca.com.br /books/ 9788502139299. Acesso em: 20 abr. 2013.

______. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana: em busca do direito justo. São Paulo: Saraiva, 2010. E-book. Disponível em: <http://online. minhabiblioteca.com.br/books/9788502139459>. Acesso em: 05 abr. 2013.