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Como se dá a interação entre jornais/portais e seus leitores através do Facebook Melina da Silveira Leite 1 Resumo: O presente trabalho buscou realizar uma investigação sobre interatividade em páginas do Facebook. Para tanto foram escolhidas as fanpages do portal de notícias BBC Brasil e dos jornais Folha de São Paulo e O Globo. Se ocorre interação nestes meios, entre produtor versus consumidor, através de comentários, como e quando se dá? A partir de monitoramento durante cinco dias consecutivos em um período de tempo para cada, foi possível observar que, por parte da BBC Brasil, existe interação em alguns casos, porém em apenas parte dos comentários, não em todos de determinada postagem. Já a Folha de São Paulo e O Globo não interagem com seus usuários. Propomos aqui uma análise sobre esta possibilidade de comunicação rápida entre emissor e receptor, diferente de tempos idos, quando não se tinha tanta tecnologia à disposição e a comunicação nem sempre era bidirecional. Mesmo diante desta possibilidade proporcionada pelas Redes, o contato entre ambos parece ser em pequena escala. Trazemos aqui uma reflexão sobre o posicionamento adotado pelas empresas que pretende fomentar a discussão sobre pontos que podem ser considerados positivos e negativos diante desta postura. Palavras-chave: Facebook. Interatividade. Jornalismo. Redes Sociais. 1 Graduada em Jornalismo; Especialista em Linguagens Verbais e Visuais e Suas Tecnologias; Mestranda em Ciências da Comunicação na linha de pesquisa de Linguagens e Práticas Jornalísticas pela Unisinos. Integra o Grupo de Pesquisa Estudos em Jornalismo (GPJor) e Laboratório de Investigação do Ciberacontecimento (LIC) da mesma Universidade. Jornalista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]

CERTO Melina da Silveira Leite Como se dá a … · Na sequência aparecem Whatsapp: 58%; Youtube: 17 ... além das fanpages oficiais das bandas e ... concorrentes e fronteiras nacionais

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Como se dá a interação entre jornais/portais e seus leitores através do Facebook

Melina da Silveira Leite1

Resumo: O presente trabalho buscou realizar uma investigação sobre interatividade em páginas do Facebook. Para tanto foram escolhidas as fanpages do portal de notícias BBC Brasil e dos jornais Folha de São Paulo e O Globo. Se ocorre interação nestes meios, entre produtor versus consumidor, através de comentários, como e quando se dá? A partir de monitoramento durante cinco dias consecutivos em um período de tempo para cada, foi possível observar que, por parte da BBC Brasil, existe interação em alguns casos, porém em apenas parte dos comentários, não em todos de determinada postagem. Já a Folha de São Paulo e O Globo não interagem com seus usuários. Propomos aqui uma análise sobre esta possibilidade de comunicação rápida entre emissor e receptor, diferente de tempos idos, quando não se tinha tanta tecnologia à disposição e a comunicação nem sempre era bidirecional. Mesmo diante desta possibilidade proporcionada pelas Redes, o contato entre ambos parece ser em pequena escala. Trazemos aqui uma reflexão sobre o posicionamento adotado pelas empresas que pretende fomentar a discussão sobre pontos que podem ser considerados positivos e negativos diante desta postura. Palavras-chave: Facebook. Interatividade. Jornalismo. Redes Sociais.

1 Graduada em Jornalismo; Especialista em Linguagens Verbais e Visuais e Suas Tecnologias; Mestranda em Ciências da Comunicação na linha de pesquisa de Linguagens e Práticas Jornalísticas pela Unisinos. Integra o Grupo de Pesquisa Estudos em Jornalismo (GPJor) e Laboratório de Investigação do Ciberacontecimento (LIC) da mesma Universidade. Jornalista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]

2

INTRODUÇÃO

Com o surgimento e desenvolvimento da Internet, atualmente todos os jornais

brasileiros de grande circulação, além de possuírem portais de notícias, estão

presentes em uma ou mais redes sociais. As mais populares costumam ser:

Facebook, Twitter, Instagram, Youtube, Google Plus e, mais recentemente, o

Snapchat e o aplicativo para troca de mensagens, Whatsapp. De acordo com dados

da pesquisa denominada “Pesquisa brasileira de mídia - Hábitos de consumo de mídia

pela população brasileira”, divulgada em 2015 pela Secretaria de comunicação social

da Presidência da República2, a rede social mais utilizada por usuários no Brasil é o

Facebook com uma porcentagem de 85%. Na sequência aparecem Whatsapp: 58%;

Youtube: 17%; Instagram: 12%; e, Google Plus: 8%3. Conforme a publicação (2014,

p.50) “O Twitter, popular entre as elites políticas e formadores de opinião, foi

mencionado apenas por 5% dos entrevistados4”. Se formos realizar uma pesquisa

informal na Internet, é possível encontrar diversas previsões, também informais, sobre

a queda de acessos ao Facebook em um futuro próximo. Entretanto, esse burburinho

já existe há algum tempo e o que se observa, através da pesquisa citada acima, feita

pelo Ibope Inteligência, é que esta rede social segue na liderança como a mais

utilizada no Brasil.

O acesso simplificado às mídias sociais, através de sites das redes sociais, no caso

de computadores e/ou por aplicativos em dispositivos móveis como smartphones e

tablets, propicia que os usuários se conectem a uma vasta rede de contatos e de

conteúdo. Estes, são personalizados, pois vão de acordo com gostos e preferências.

Se o usuário se interessar por rock, poderá, no caso do Facebook, curtir páginas de

revistas especializadas no tema, além das fanpages oficiais das bandas e cantores e,

também, das criadas por fãs. Pode ainda fazer parte de grupos abertos ou fechados

2 A coleta dos dados e o processamento das informações foram feitos pelo Instituto Ibope Inteligência. Para o desenho amostral foram utilizados dados do Censo Demográfico Brasileiro de 2010 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2011, do IBGE. O tamanho total da amostra foi fixado em 18.312 entrevistas, distribuídas em todo o Brasil. 3 Na época em que a pesquisa foi realizada, o Snapchat não existia, por isso não consta nos dados. 4 Os entrevistados puderam escolher múltiplas respostas.

3

que discutam sobre o tema. Isso possibilita, em ambos os casos, que ele partilhe e

compartilhe conteúdos e interaja com outros (não necessariamente) fãs da mesma

banda/cantor (a). De acordo com Jenkins (2009, p.29), “A circulação de conteúdos –

por meio de diferentes sistemas de mídias, sistemas administrativos de mídias

concorrentes e fronteiras nacionais depende fortemente da participação ativa de

consumidores”, isso reforça a ideia de que as redes sociais, como o Facebook,

potencializam a interação, através do espalhamento de conteúdos entre usuários,

sejam eles produtores e consumidores ou apenas entre consumidores.

A interação no Facebook pode ser através dos reactions que são ícones que

representam as seguintes emoções: Curtir, Amei, Haha, Uau, Triste e Grr - e por

comentários que podem gerar outras manifestações de humor, além de réplicas,

tréplicas e assim por diante, na forma de comentários, a partir do que foi escrito. Em

alguns casos, o usuário só conseguirá interagir, mediante permissão do (s)

administrador (es) da página.

Figura 1 (Reactions do Facebook) Fonte: facebook.com

Conforme Primo (2007, p.7) “(...) uma rede social online não se forma pela simples

conexão de terminais. Trata-se de um processo emergente que mantém sua

existência através de interações entre os envolvidos”. As redes sociais, algumas de

forma semelhante, outras de maneira diferente, possibilitam a interação entre pessoas

instantaneamente. O exemplo citado foi rock, mas existe uma infinidade de páginas e

grupos que versam sobre os mais diversificados assuntos: cinema, livros, culinária,

religião, ensino, lugares, esportes, carros, jornais, revistas e etc.

O presente trabalho pretende analisar, a partir do que foi até aqui exposto, se existe

e como se dá a interação entre (administradores de) páginas de jornais/portais no

Facebook, com seus leitores, por meio de comentários. Para isso foram escolhidas,

4

aleatoriamente três fanpages: BBC Brasil5, Folha de São Paulo6 e O Globo7. Serão

relatados, porém sem análise, o número de reactions, compartilhamentos e

comentários dos posts exemplificados.

AS INTERAÇÕES NA BBC BRASIL, FOLHA DE SÃO PAULO E O GLOBO

Criada em 1926, na Grã-Bretanha, a BBC é detentora do monopólio radiofônico no

Reino Unido. Os serviços da BBC Brasil iniciaram-se em 1938, através de diferentes

tipos de mídia. O site de notícias foi criado em 1999. Conforme consta na descrição

do portal “Além do seu próprio site, o conteúdo jornalístico da BBC Brasil aparece em

vários sites parceiros, entre eles os principais portais e sites de notícias do país”. A

página no Facebook foi criada em fevereiro de 2010 e conta com 2.347.548

curtidores8. A análise da fanpage do Facebook da BBC Brasil compreendeu as postagens

realizadas dos dias 12 a 16 de junho de 2016. O que se pôde observar é que existe

interação do portal (administradores) com os usuários, apenas em alguns casos.

Durante este período ocorreram em três postagens:

1) Sob a descrição “(Parte 2) Como a população de rua enfrenta a onda de frio em

SP? Participe do nosso bate-papo ao vivo:”, a postagem não possui título por não ter

link de redirecionamento. Trata-se de um vídeo de 38 minutos e 30 segundos,

presente exclusivamente no Facebook. O conteúdo, com data de 14/06, às 16h33min,

mostra o bate-papo entre um repórter do portal, três moradores de rua e um padre.

Durante a transmissão, o jornalista explica que os leitores podem participar da

conversa, mandando perguntas através das mídias sociais, porém não especifica

quais são. A postagem teve 27 mil visualizações, 1.100 curtidas (reactions)9, 147

5 https://www.facebook.com/bbcbrasil/ 6 https://www.facebook.com/folhadesp/ 7 https://www.facebook.com/jornaloglobo/ 8 Dado colhido no dia 13/07/2016. 9 As curtidas feitas pela autora deste trabalho, serão desconsideradas, porque foram para efeito de marcação dos posts. As emoções, independentemente de quais sejam, serão descritas sempre como curtidas neste estudo.

5

compartilhamentos e 585 comentários10. Destes, os 18 primeiros (feitos das 16h49min

às 16h51min) foram respondidos pela BBC Brasil (das 18h29min às 18h52min) no

mesmo dia. Os comentários, em sua grande maioria, são em tom de elogio pelo “belo

trabalho” apresentado. A BBC Brasil, responde cada um destes comentários, uns de

forma igual, outros de maneira diferente, agradecendo e mencionando o nome do

leitor.

Figura 2 (Comentário na página do Facebook da BBC Brasil)

2) Com a descrição: “#MAISLIDAS Wagner Moura está de volta como o traficante

Pablo Escobar na segunda temporada de Narcos, a partir de 2 de setembro. Assista

ao #VÍDEO em que mostramos que - apesar do sucesso da primeira temporada - a

atuação do brasileiro dividiu opiniões em Bogotá” e o título “O que os Colombianos

acham de ‘Narcos’?”, houve a interação com um leitor que elogiou a matéria. Na

resposta por parte da BBC, eles sugerem outra matéria feita pelo portal. O post, do

dia 13/06, às 20h22min, tem 399 curtidas, 21 compartilhamentos, 39 comentários11.

10 Dados até o dia 13/07/2016. 11 Dados até o dia 13/07/2016.

6

Figura 3 (Comentário na página do Facebook da BBC Brasil)

3) O post com o título “A menina que trabalhava em pedreiras, virou desembargadora

e hoje luta contra o trabalho infantil” e descrição “Zuíla Dutra sabe que ela própria é

uma exceção. Em sua trajetória, destaca seguidamente o papel da mãe, Oscarina. ‘Já

adulta, eu ensinei minha mãe a escrever o nome. Minha mãe está viva, tem 85 anos,

e foi a minha posse como desembargadora. É minha heroína, orgulha-se’”, do dia

13/06, às 9h43, gerou 837 curtidas, nenhum compartilhamento e três comentários12,

destes, um foi respondido pela BBC Brasil de forma mais ampla e elaborada.

Figura 4 (Comentário na página do Facebook da BBC Brasil)

De circulação nacional, a Folha de São Paulo é um jornal impresso diário, fundado em

1921, na cidade de São Paulo-SP. Em sua descrição se diz como “o primeiro veículo

de comunicação do Brasil a adotar a figura do ombudsman e a oferecer

conteúdo online a seus leitores”. O site de notícias do jornal foi fundado em 1995.

12 Dados até o dia 13/07/2016.

7

Como o Facebook não disponibiliza a data de criação das páginas e este dado não

consta no perfil, não se sabe quando o Facebook da Folha foi criado. Atualmente conta

com 5.579.469 curtidores13.

Analisada de 10 a 14 de junho de 2016, a Folha de São Paulo não interage com seus

leitores. Durante o período de observação não foram encontradas situações

polêmicas, apenas um fato curioso. Quando os leitores pensaram ter encontrado um

erro, aprenderam algo que desconheciam no português: gradis é plural de gradil que

é sinônimo de grade. A postagem de 11/06, às 21h15min, não tem descrição e traz

como título: “Gradis são parcialmente retirados do entorno da casa de Temer em SP”.

A explicação foi postada por um leitor em resposta a usuários que discorriam sobre o

suposto erro. O jornal não se manifestou. Foram 318 curtidas, 110 comentários e 19

compartilhamentos14.

Figura 5 (Comentários na página do Facebook da Folha de SP)

O Globo é um jornal impresso carioca de circulação diária estadual, fundado em 1925,

no Rio de Janeiro-RJ. O site do jornal foi criado no ano de 1996. “A essa incursão

13 Dado colhido no dia 13/07/2016. 14 Dados até o dia 14/07/2016.

8

inicial do Globo na internet seguiu-se, ao longo dos anos seguintes, o lançamento de

outras plataformas digitais”, embora citado na página de memórias em sua linha do

tempo, não constam informações sobre a data de criação da página do Facebook.

Atualmente conta com 4.838.092 curtidores15.

Monitorado de 16 a 20 de junho de 2016, O Globo não interagiu em nenhum momento

com seus leitores, que, por duas vezes neste período, alertaram sobre erros de

ortografia. Somente um deles foi corrigido. Intitulado “Cérebros de jovens com desvios

de conduta têm 'marcas da rebeldia'”, a descrição do post do dia 18/06, às 4h, trazia

a palavra “Estupo” ao invés de “Estudo”: “Estupo mostra a importância do papel do

órgão na hora de explicar os comportamentos antissociais”. Alertado sobre o erro, o

jornal fez a correção sem se manifestar. Foram 168 curtidas, 29 comentários e 25

compartilhamentos16.

Figura 6 (Comentários na página do Facebook do Globo)

Sob o título “Modelo capixaba Naira Lili vai para Londres, epois de deixar o trabalho

como feirante”, a postagem do dia 18/06, às 12h45min, traz como descrição “Ela conta

15 Dado colhido no dia 13/07/2016. 16 Dados até o dia 14/07/2016.

9

que, até os 12 anos, só usava roupas de segunda mão. No entanto, conseguiu tirar a

mãe do trabalho.” Os leitores alertaram o veículo acerca do erro de ortografia

apresentado no título, “epois”. O Globo não corrigiu, nem se manifestou. O post teve

1,3 mil curtidas, 68 comentários e 51 compartilhamentos.17

Figura 7 (Post na página do Facebook do Globo)

POSICIONAMENTO DAS EMPRESAS E COMPORTAMENTO DO LEITOR

A BBC Brasil interagiu com seus leitores em três posts, em dois, dos cinco dias

monitorados. Nos dois primeiros exemplos, houve interação em agradecimento a

elogios, com reforço de propaganda de suas iniciativas “Nosso plano é fazer com mais

frequência, ouvir nosso público, acertar o formato, corrigir alguns problemas e, em

breve, lançar um projeto diário”, escreveu referindo-se ao primeiro post, além do

pedido de divulgação “Continue conosco e compartilhe com os amigos!”. Foram 18

17 Dados até o dia 14/07/2016.

10

interações, que representam 3,07%, de 585 comentários. Os leitores, sim, interagiram

bastante entre si.

De acordo com Rudiger (2011, p. 13): Na nova mídia digital, a comunicação, com efeito, é interativa em sentido simultaneamente específico e ampliado: ampliado, por um lado, porque permite a interação humana ativa e em mão dupla com os próprios meios e equipamento que a viabilizam; específico, de outro, porque essa circunstância permite ainda a interação social ativa e em mão dupla entre os seres humanos, ao ensejar o aparecimento de redes sociotécnicas participativas que transcendem a sua pura e simples interligação social, como ocorria na esfera da velha mídia.

As redes sociais e seus sistemas de interação, permitem que, de forma rápida, se

estabeleça um diálogo entre emissor e receptor e assim sucessivamente. Diferente

dos tempos em que a tecnologia não era tão vasta e a interação não era imediata, a

exemplo das cartas enviadas às redações. O segundo post, segue a mesma linha do

anterior, a divulgação de outra reportagem que trata de um tema de interesse do leitor.

O curioso é que neste post foram 39 comentários, pouco se comparado ao exemplo

antecedente. Houve interação apenas no primeiro.

Já o terceiro, destoou bastante dos anteriores, neste caso a empresa tomou partido e

exprimiu opinião. No primeiro, dos três comentários deste post, o usuário questiona a

luta contra o trabalho infantil, diz que trabalha desde cedo e o trabalho dignifica o

homem. A BBC agradeceu educadamente por ele ter compartilhado a sua história e

colocou que outras pessoas têm opiniões semelhantes, entretanto a maioria,

geralmente de forma confidencial, relata o oposto. Explica que para a

desembargadora, a mãe teve um papel diferencial e questiona “Mas o que mais a

criança poderia ter alcançado se tivesse tido uma infância com mais oportunidades e

obrigações proporcionais a sua idade?” E, por fim, esclarece que o trabalho infantil é

ilegal. Essa resposta da BBC dentro do comentário rendeu outros seis comentários

de leitores apoiando e criticando, e do próprio autor fazendo uma defesa do que

escreveu.

Nota-se, através desses comentários, que as pessoas gostam de colocar seus pontos

de vista, independente se estão de acordo com leis e normas e (porque não dizer)

sendo politicamente corretas. Essa ideia vai ao encontro do que coloca Wolton (2001,

p. 15) “Os receptores, ou seja, os indivíduos e os povos, resistem às informações que

11

os incomodam e querem mostrar os seus modos de ver o mundo”. Uma das mais

antigas teorias e/ou escolas, o Interacionismo Simbólico (IS), termo criado por Herbert

Blumer em 1937, diz que uma pessoa não pode ter significado para alguma coisa

independentemente da interação com outros seres humanos. Não existe ação

humana, separada da interação. Tudo o que é feito pela pessoa se forma através da

interação com outras pessoas (Blumer, 1980). Fato observado nessas postagens. As

pessoas sentem a necessidade de compartilhar suas opiniões com outras e o fazem

através de comentários que, normalmente, geram interações.

De acordo com Primo (2008), o interacionismo, seria uma oposição à análise que

fragmenta o processo de comunicação em partes, a exemplo das visões

transmissionistas e funcionalistas de Shannon e Weaver com a teoria matemática e

Lasswell com a propaganda massiva, pois surge para investigar como ocorrem as

interações entre os indivíduos, em contraposição ao modelo linear: emissor, canal,

mensagem, receptor. Os outros dois comentários da postagem apresentam defesa e

crítica ao assunto. Para estes não houve nenhum tipo de manifestação por parte da

BBC, o que demonstra que a empresa não deixa de interagir por excesso de

comentários, o que poderia ser o motivo em comparação aos posts anteriores, visto

que nesse caso foram apenas três, desconsiderando as interações textuais dentro de

um mesmo comentário. Talvez a razão para isso, seja para evitar a multiplicação de

opiniões polêmicas e/ou raivosas, bastante comuns em páginas de redes sociais.

Já a Folha de São Paulo, não interagiu em nenhum post, sob nenhuma circunstância.

O jornal possui um link chamado “notas” no Facebook em que apresenta termos e

condições de uso dos comentários. São oito tópicos em que lista regras para uso do

espaço. Dentre eles, no terceiro tópico consta “A Folha não se responsabiliza pelo

conteúdo de nenhum comentário. A Folha reserva-se o direito de eliminar comentários

em desacordo com o propósito do site, a seu exclusivo critério”, porém não tem como

saber se, de fato, apagam comentários, visto que, a exemplo do post em que os

usuários apontaram um possível erro, não parecem importar-se com o que eles

escrevem. A Folha poderia ter explicado aos leitores que a utilização da palavra gradis

estava certa, no entanto, não houve nenhum tipo de manifestação. O esclarecimento

ficou por conta de um leitor. Isso gerou bastante interação entre usuários.

12

O Globo também não interage com os leitores. Nos dois casos observados, em que

ocorreram erros de ortografia e alerta disso por parte dos leitores, O Globo não se

manifestou. Em um dos posts, o erro foi corrigido, porém sem aviso. Nem

agradecimento pelo fato de os usuários avisarem e nem algum tipo de sinalização de

que a palavra havia sido consertada. No segundo caso, mesmo sob diversos avisos

dos leitores, a empresa não arrumou a palavra “epois”. Talvez os alertas feitos pelos

consumidores tenham passado despercebidos pelo jornal que manteve a postagem

da mesma forma, sem nenhum tipo de alteração.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As empresas jornalísticas precisam de audiência para manterem-se ativas. Em uma

época na qual o jornalismo enfrenta uma grande crise, não apenas econômica, mas

também em razão do surgimento de mídias alternativas e gratuitas, o que oferecer

aos usuários como diferencial e como mantê-los? Estão aí as redes sociais de portais/

jornais que têm como função não apenas comunicar e informar, mas atrair os

consumidores. Despertar-lhes interesse, para além da audiência, quem sabe como

leitores em potencial que comprem assinaturas, uma forma de buscar anunciantes e

garantir rentabilidade.

Muitas vezes, atraídos pelo título ou descrição de uma postagem, o leitor não se

interessa em clicar no link para saber do que realmente trata o assunto, ler o conteúdo

e absorver a informação. O pouco que lhe é fornecido, basta para ter e expôr a sua

opinião nos comentários. Polemizando, ponderando, apenas dando um pitaco, seja lá

qual for a forma, muitos usuários se tornam incansáveis comentaristas no Facebook.

Existe muita interação entre leitores, entretanto nem sempre há por parte das

empresas com seus usuários, seja quando fazem elogios ou questionamentos. Há

bastante crítica, ofensa, mas até que ponto o silêncio por parte das empresas é o

ideal? Fala-se em humanização das redes sociais. Em contraposição a isso, a ideia

que muitas empresas passam é de que a postagem é feita por uma máquina e que ali

não há uma pessoa de carne, osso, sentimentos e opiniões, escrevendo e publicando.

A exemplo do comportamento adotado pela Folha e pelo O Globo, não existe o que

Rudiger (2011) define como via de mão dupla, em que existam trocas, pois o conteúdo

13

é postado e a impressão que geralmente passa é de que se preocupam com a próxima

postagem, esquecendo por completo a anterior e assim por diante, afinal é inegável a

abundância de produção e circulação de conteúdo neste meio.

Para Mielniczuk e Silveira (2008, p. 176) “A internet passou a ser vista e pensada

como uma plataforma, onde os indivíduos geram conteúdos, discutem, buscam

informações e se relacionam”. Como potencial produtor de conteúdo, será que as

empresas estão tomando a postura correta de não interagir com seus públicos e

investir na cultura colaborativa, ou então, como é o caso da BBC Brasil, interagir

apenas em alguns casos com parte deles? Na postagem do vídeo eles solicitam

sugestões de pautas aos leitores, mas caso estes o tenham feito, será que foram

lidas?

Wolton (2011, p.74) faz uma crítica dizendo que “a mídia recorre cada vez mais ao

público para saber o que ele ‘pensa e quer’, ignorando que esse procedimento se

transforma facilmente em sistema de pressão”. Ele critica ainda a revolução da

informação, em que os jornalistas fazem apurações de dentro da redação, diante de

telas de computador, sem ter o contato com o que de fato está acontecendo na rua.

Para ele isso nada mais é do que uma nova configuração empresarial para que se

tenham menos jornalistas, produzindo mais. Talvez esta seja a resposta para o fato

de não haver muita interação por parte das empresas de jornalismo: faltam

profissionais e tempo para fazê-lo, visto que atualmente os jornalistas precisam fazer

mil coisas ao mesmo tempo e atuar em diferentes áreas. Nem sempre dão conta do

trabalho, é a antiga e tão atual lógica comercial de que é preciso fazer mais com

menos.

Por outro lado, se forem interagir em todos os comentários, várias podem ser as

repercussões negativas: problemas de interpretação que gerem discussões

intermináveis, necessidade de tomada de postura e até de partido, como é o caso de

notícias políticas e que impactam economicamente na vida das pessoas. Ficam mais

questionamentos do que certezas. Essa é uma longa discussão que não cessa aqui e

que, com certeza, pode render inúmeros outros trabalhos e tensionamentos.

REFERÊNCIAS:

14

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RUDIGER, Francisco. As Teorias da Cibercultura: perspectivas, questões e autores. Porto Alegre: Editora Sulina, 2011.

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