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Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

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"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro epoder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível."

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Coleção Globo Livros

História

A Revolução de 1989, Queda do Império Soviético, Victor SebestyenA História Perdida de Eva Braun, Angela LambertO Expresso Berlim-Bagdá, Sean McMeekinNapoleão, André MauroisDeclínio e Queda do Império Otomano, Alan PalmerDiário de Berlim Ocupada 1945-1948, Ruth Andreas-FriedrichChurchill, o Jovem Titã, Michael SheldenO Conde Ciano, Sombra de Mussolini, Ray MoseleyNapoleão, a Fuga de Elba, Norman MackenzieChurchill e Três Americanos em Londres, Lynne Olson

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LYNNE OLSON

C HU R C HI L L

E

T R Ê S A M E R I C A N O S E M L O N D R E S

Tradução

Joubert de Oliveira Brízida

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Copyright © 2010 by Lynne OlsonCopyright © da tradução 2012 by Editora Globo

Tradução publicada sob acordo com Random House,

um selo de The Random House Publishing Group,uma divisão de Random House, Inc.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida

— por qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. — nemapropriada ou estocada em sistema de banco de dados sem a expressa autorização da editora.

Texto fixado conforme as regras do novo Acordo Ortográfico

da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Título original: Citizens of London

Editor responsável: Carla FortinoAssistente editorial: Sarah Czapski Simoni

Tradução: Joubert de Oliveira BrízidaRevisão: Ana Maria Barbosa

Capa: Rafael Nobre / Babilonia Cultura EditorialFoto da capa: Roger Viollet / Getty Images

4ª capa: Library of Congress, Prints and Photographs Division [LC-USZ62-111193]Diagramação para ebook: Benedito Sérgio Carvalho de Souza

1ª edição, 2013

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Olson, Ly nneChurchill e três americanos em Londres / Lynne Olson;tradução Joubert de Oliveira Brízida. — São Paulo : Globo, 2013 Título original: Citizens of LondonISBN 978-85-250-5444-9

1. Churchill, Winston, 1874-1965 2. Estados Unidos — Relações internacionais —Grã-Bretanha 3. Estados Unidos — Relações militares — Grã-Bretanha 4. Grã-Bretanha— Relações internacionais — Estados Unidos 5. Grã-Bretanha — Relações militares —Estados Unidos 6. Guerra Mundial, 1939-1945 — Estados Unidos 7. Guerra Mundial,1939-1945 — Grã-Bretanha — História diplomática 9. Harriman, W. Averell, 1891-198610. Murrow, Edward, R., 1908-1965 11. Winant, John G., 1889-1947

13-01208 CDD: 940.54012

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Índices para catálogo sistemático:

1.. Estados Unidos e Grã-Bretanha : Relações internacionais : Guerra Mundial, 1939-1945 :História diplomática 940.54012

2..Grã-Bretanha e Estados Unidos : Relações internacionais : Guerra Mundial, 1939-1945 :História diplomática 940.54012

Direitos de edição em língua portuguesaadquiridos por Editora Globo S.A

Av. Jaguaré, 1485 – 05346-902 – São Paulo, SPwww.globolivros.com.br

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Dedicado a Stan e Carly, com amor.

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Nos anos vindouros, os homens falarão sobre esta guerra e dirão, “Eu fui soldado,” “Eu fui

marinheiro,” ou “Eu fui aviador.” Outros dirão com igual orgulho: “Eu fui um cidadão deLondres.”

Eric Sevareid, outubro de 1940

Não há outro lugar em que eu quisesse estar agora que não na Inglaterra.John Gilbert Winant, março de 1941

Se estivermos juntos, nada é impossível.

Se estivermos divididos, tudo falhará.Winston Churchill, setembro de 1943

Foi uma guerra terrível, mas se você tivesse a idade adequada e estivesse no lugar certo...

foi espetacular.Pamela Churchill Harriman

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Sumário

CapaFolha de RostoCréditosDedicatóriaEpígrafesAgradecimentosPrólogo1. Não há outro lugar em que eu quisesse estar agora2. Você é o melhor repórter da Europa3. A oportunidade de toda uma vida4. Ele ganha confiança conosco ao redor5. Membros da família6. Mr Harriman goza de toda a minha confiança7. Quero entrar nela com vocês – desde o começo8. Pearl Harbor atacada?9. Criando a aliança10. Um inglês falou em Grosvenor Square11. Ele nunca nos abandonará12. Combatemos os názis ou dormimos com eles?13. Os aliados esquecidos14. Um manto de privilégios15. Piloto de caça – ontem, hoje e sempre16. Cruzar o oceano não faz de ninguém um herói17. Vocês nos verão alinhados com os russos18. Será que o diabo dessa coisa vai funcionar?19. Crise na aliança20. Finis21. Sempre me sentirei um londrino22. Sem ele, todos perdemos um amigoCaderno de FotosNotasBibliografia

Índice

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Agradecimentos

Minhas primeiras expressões de agradecimento têm de ir para o falecido Edward R. Murrowporque, não fosse ele, eu não teria escrito este livro, nem os dois precedentes. Todos os trêstratam, de maneiras diversas, da Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial. É um assunto queme fascinou desde que meu marido, Stan Cloud, e eu começamos nossa pesquisa para TheMurrow Boys, um livro que escrevemos há mais de uma década sobre Murrow e oscorrespondentes que ele contratou para criar a CBS Notícias. Os oito anos que Murrow passou naInglaterra, a maioria deles durante a guerra, foram os mais gratificantes de sua vida. Suasbrilhantes reportagens sobre o país e seu povo não apenas granjearam-lhe reputaçãointernacional como também fizeram dele um protagonista-chave na formatação e sustentação daaliança de tempo de guerra com a Inglaterra.

Portanto, quando decidi escrever um livro sobre essa aliança e sobre os homens que aforjaram e mantiveram viva, nada mais natural que selecionasse Murrow como um dos trêsprincipais personagens da história. As dezenas de entrevistas que Stan e eu tivemos com Janet, aviúva de Murrow; os rapazes de Murrow sobreviventes; e tantos outros que trabalharamcerradamente com ele, acrescentaram muita coisa para este volume. Também contribuiu apesquisa adicional que fiz nos documentos de Edward R. Murrow e Janet Brewster Murrowexistentes no Mount Holyoke College – uma coleção que inclui novo conjunto de cartas e diáriosdos Murrows, oferecido à faculdade pelo filho Casey. Eu gostaria de agradecer a PatriciaAlbright, bibliotecária responsável pelos arquivos do Mount Holyoke, pela generosa ajuda.

Agradeço também à Divisão de Manuscritos da Biblioteca do Congresso, cujo edifícioguarda os documentos de Averell e Pamela Harriman. Tenho especial débito de gratidão com oDr. John E. Hay nes, especialista da biblioteca em políticas e governos do século XX, porproporcionar-me acesso aos documentos de Pamela Harriman, agora em processo de aberturapara os pesquisadores, os quais lançaram nova luz sobre o relacionamento dela com Harriman eMurrow. De particular interesse são as transcrições de uma série de longas, francas eprovocadoras entrevistas que ela deu ao seu biógrafo, Christopher Ogden. Sou grata a Chris e aRudy Abramson, biógrafo de Harriman, por seus perspicazes comentários sobre os doisHarrimans.

Pesquisar a vida de John Gilbert Winant, o terceiro personagem importante do livro, foi umprazer e um desafio especial. Esse tímido ex-embaixador e governador de New Hampshire é,em grande parte, figura desconhecida nos Estados Unidos de hoje; um dos objetivos principais dolivro foi mostrar quão importante foi seu trabalho para o sucesso da parceria anglo-americana. Opar de semanas que passei nos arquivo da Biblioteca Franklin D. Roosevelt, fazendo pesquisa nosdocumentos de Winant, foi imensamente profícuo, em boa parte por causa do conhecimentoenciclopédico e da irrestrita ajuda de Bob Clark, arquivista-chefe da biblioteca, e de sua equipe.

Também apreciei a gentileza e generosidade de William Gardner, secretário de estado deNew Hampshire, que gastou considerável tempo de sua apertada agenda para rastrear fontes queconheciam Winant ou possuíam informações sobre ele. Bill Gardner, que sabe melhor a históriade New Hampshire do que qualquer outra pessoa que jamais conheci, passou um dia inteiro dooutono de 2008 apresentando-me vasta variedade de fontes e levando-me para um giro porConcord, capital do estado, enquanto me dava sua própria avaliação de Winant e de suacomplexa personalidade. Através de Bill, fui apresentada Dean Dexter, um ex-legislador de NewHampshire e devotado amigo de Winant, que me presenteou com a gravação de reveladoras

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entrevistas que fez com Abbie Rollins Caverly, outrora assistente de Winant. A Bill, Dean, BertWhittemore e outros em New Hampshire, que me ajudaram a melhor conhecer Winant, meusagradecimentos. Sou igualmente grata a Rivington Winant por partilhar comigo as lembranças deseu pai e pela afável hospitalidade que ele e a esposa, Joan, me proporcionaram em Manhattan eOy ster Bay , em Nova York.

Muito obrigada também a Edwina Sandys, Ru Rauch, John Mather, Phy llis Bennett, RayBelles, Larry DeWitt, Nancy Altman, Susanne Belovari, Paul Medlicott, Kirstin Downey, aoreverendo W. Jameson Parker e a Pat e Cassie Furgurson.

Trabalhar neste livro foi uma experiência feliz, graças em grande parte ao fato de terSusanna Porter como minha editora. O entusiasmo de Susanna pelo livro, seu apoio eencorajamento o tempo todo, e sua eficiente e perceptiva edição foram o clímax de umacolaboração maravilhosa. Gail Ross, minha agente e amiga de longa data, é um fenômeno na suacapacidade de casar autores com os editores certos; ela demonstrou de novo por que é uma dasmelhores no ofício.

Meus mais profundos agradecimento e apreço a minha filha, Carly, e a meu marido, Stan,que é o melhor editor e escritor que conheço. Devo-lhe mais do que posso expressar.

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Prólogo

Numa noite gelada do início de 1947, um americano alto, magro e com o cabelo algo emdesalinho saiu de um teatro no West End de Londres. Outros frequentadores, que ganhavam a ruade teatros próximos, pararam para olhar. Eles já tinham visto aquele rosto anguloso de homem,com postura ligeiramente inclinada à frente, nos noticiários dos tempos de guerra e nas fotos dosjornais, e a maioria logo o reconheceu. Quando ele e seus dois acompanhantes desciam aShaftesbury Avenue, foram cercados por grande número de pessoas. “Boa noite, Mr Winant,”foi o que se ouviu repetidas vezes. Alguns homens saudaram-no retirando os chapéus. Umasenhora estendeu o braço e tocou-lhe timidamente o sobretudo.

Para os que o cercavam, a visão de John Gilbert Winant trazia à lembrança noitesesfumaçadas do começo de 1941 quando Winant, o embaixador americano na Inglaterra,caminhava pelas ruas de Londres durante os mais pesados bombardeios da Blitz, os nove mesesde aterrorizantes ataques aéreos alemães contra as cidades inglesas. Ele perguntava a todos queencontrava – bombeiros, vítimas atordoadas, voluntários da defesa civil retirando corpos dosescombros – o que poderia fazer para ajudar. Naqueles tempos perigosos, recordou um londrino,Winant “nos convenceu [1] de que ele era um vínculo entre nós mesmos e milhões de seuscompatriotas, os quais, em virtude de sua dedicação, nos falavam diretamente aos corações.”

Contudo, embora fosse instantaneamente reconhecido na Inglaterra, poucos americanos játinham ouvido falar de Winant. E menos ainda tinham consciência do papel crucial que eledesempenhara na formação e manutenção da aliança entre os Estados Unidos e a Inglaterra naSegunda Guerra Mundial. Nas décadas seguintes, aquela extraordinária parceria – a maiscerrada e bem-sucedida aliança de tempo de guerra – passaria a ser conhecida como a “relaçãoespecial” que ajudou a vencer o conflito armado, a preservar a democracia e a salvar o mundo.Com o passar dos anos e com a conformação das lendas que envolveram a aliança, o modo desua criação pareceu quase seguir uma ordem predeterminada: primeiro, Winston Churchillconclamando sua nação a resistir sozinha contra Hitler; depois, Franklin D. Roosevelt e os EstadosUnidos vindo socorrer Churchill e os ingleses.

Todavia, em março de 1941, quando Winant chegou a Londres para assumir sua função,esse final feliz parecia longe de ser atingido. Nos seis meses anteriores, a Luftwaffe haviamatado dezenas de milhares de ingleses com os bombardeios de Londres e de outras cidades. Asforças armadas do Reino Unido, que careciam de armamento e munições, estavam na defensivapor todos os lados. Os submarinos alemães operavam à vontade no Atlântico, pondo a piquesubstanciais toneladas de marinha mercante e ameaçando estrangular lentamente as linhasinglesas de suprimento. A fome pairava no ar para a população como uma possibilidadeconcreta, assim como uma invasão alemã através do Canal. “Estávamos [2] pendurados por umfio,” lembrou o marechal de campo Lord Alanbrooke, o militar de maior patente no Exércitodurante a guerra. O próprio Winant escreveria mais tarde: “Houve muitas ocasiões em que sepensou que a areia escoaria por completo e tudo acabaria.”

Como os ingleses bem sabiam, sua única esperança de salvação estava na ajuda daAmérica. No entanto, essa ajuda até então vinha sendo insuficiente, mesmo quando o futuro daInglaterra se tornava cada vez mais sinistro. Muitos em Washington já tinham até riscado o paísdo mapa. Como poderia aquela pequena ilha, independentemente de seu glorioso passado militar,resistir a um invasor que vinha derrubando nações em seu caminho como se fossem pinos de

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boliche? Entre os que acreditavam na derrota inevitável da Inglaterra estava Joseph P. Kennedy,antecessor de Winant como embaixador americano, o qual, como fizeram alguns milhares deamericanos residentes no Reino Unido, voltara para os Estados Unidos no ápice da Blitz.

Winant, ao contrário, deixou claro desde o início, que viera para ficar. “Houve um homemque permaneceu conosco, que jamais acreditou em nossa rendição, e esse homem foi JohnGilbert Winant,” registrou Ernest Bevin, figura de proa no governo de Churchill. Decorridospoucos dias da chegada do novo embaixador, um subordinado da embaixada observou que ele“transmitira para toda a nação inglesa o seguro sentimento de que era um amigo.”

Winant, entretanto, não foi o único americano em Londres a encorajar os ingleses epressionar por uma aliança anglo-americana. Dois outros – W. Averell Harriman e Edward R.Murrow – foram também personagens de destaque naquele drama. Harriman, o agressivo eambicioso chairman da Union Pacific Railway, chegou à capital inglesa logo depois de Winantpara ser o administrador do programa Lend-Lease de ajuda americana. Murrow, o chefe da CBSNews na Europa, estava sediado em Londres desde 1937.

Como americanos mais importantes em Londres durante os primeiros anos da guerra,Winant, Harriman e Murrow foram participantes-chaves no debate ocorrido na América se aInglaterra, o último país europeu que se mantinha de pé contra Hitler, deveria ser salva. EnquantoMurrow defendia a causa inglesa em suas transmissões radiofônicas para o povo americano,Harriman e Winant mediavam entre um desesperado primeiro-ministro e um cautelosopresidente, tão desconfiado de seus oponentes isolacionistas em casa quanto inicialmente cético arespeito das chances inglesas. A famosa amizade que se desenvolveu entre esses dois líderesdominadores e egocêntricos – “prima-donas,” [3] como os chamou Harry Hopkins, principalassistente de Roosevelt – nem despontava no horizonte àquela época.

Nos anos posteriores à guerra, a maior parte da atenção e muito do crédito pelo triunfo daaliança anglo-americana foram dados à colaboração íntima entre Roosevelt e Churchill.Examinados com muito menor cuidado foram os papéis desempenhados por homens comoWinant, Harriman e Murrow no preparo do caminho para a parceria dos dois líderes, numaocasião em que Roosevelt e Churchill não apenas eram estranhos como também suspeitavam umdo outro e eram até mutuamente hostis.

Mandados a Londres como ouvidos e olhos de Roosevelt, Winant e Harriman deveriamavaliar a capacidade de resistência e sobrevivência da Inglaterra. Ambos chegaram rapidamenteà conclusão de que o Reino Unido resistiria, e deixaram patente para Washington que sepostariam ao lado dele. Os dois enviados passaram a interceder junto a Roosevelt e seusprincipais auxiliares para que proporcionassem a máxima ajuda possível e até mesmo para queentrassem em guerra. Em linguagem mais velada, Murrow fez o mesmo em suas transmissõesde rádio.

Sabendo quão importantes os três eram para a sobrevivência de seu país, Churchill oscortejou tão incansavelmente quanto mais tarde o faria com Roosevelt. O primeiro-ministromantinha uma política de portas abertas em relação a Murrow. Winant e Harriman tornaram-seintegrantes do círculo íntimo, com acesso sem precedentes a Churchill e aos membros do seugoverno. Raramente – antes e então – a diplomacia foi tão pessoal. Essa intimidade estendeu-seàs relações dos três americanos com membros da família do primeiro-ministro. Na realidade,tão intensos foram os vínculos com os Churchills que Harriman, Winant e Murrow tiveram casosamorosos de tempo de guerra com mulheres da família do primeiro-ministro.

Quando os japoneses bombardearam Pearl Harbor e os Estados Unidos finalmente entraramna guerra, o apoio resoluto dos três a uma aliança entre sua terra natal e a Inglaterra por fimfrutificou. Sua importância no forjamento de tal união pode ser mais bem ilustrada pelo

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paradeiro dos três no dia 7 de dezembro de 1941. Enquanto Winant e Harriman jantavam comChurchill em Chequers, Murrow estava na Casa Branca com Roosevelt. Segundo todos os relatos, a cena naquela noite de inverno no refúgio campestre do primeiro-ministro foi de grande júbilo. Tão logo ouviram a notícia sobre Pearl Harbor, todos os presentespressentiram que sua longa ansiedade chegara ao fim: a América entraria na guerra. De acordocom um dos observadores, Churchill e Winant chegaram a ensaiar alguns passos de dança pelasala. Mas a aliança anglo-americana, saga complexa, estava apenas começando.

Malgrado a fachada de companheirismo pintada por Churchill em suas memórias, a parceriasempre foi frágil e mal-humorada desde o momento de seu nascimento. Os dois países podiamcompartilhar as mesmas língua e herança, mas seus líderes políticos e militares, de Churchill eRoosevelt para baixo, tinham pouquíssimo entendimento e conhecimento uns dos outros.Ignorantes a respeito da história e da cultura do futuro parceiro, os dois aliados tendiam a pensarem estereótipos quanto aos seus primos de além-mar, com escassa avaliação de suas respectivasdificuldades políticas e militares.

Suspeitas, tensões, preconceitos e rivalidades ameaçaram descarrilar a nova e singularconfederação antes mesmo que ela se firmasse. E os problemas foram exacerbados pela atitudecondescendente inglesa em relação aos americanos e pelo ressentimento dos EUA com aInglaterra. Como observou Sir Michael Howard, historiador militar inglês: “Os ingleses chegaram[4] à aliança com o ponto de vista que os americanos tinham tudo a aprender, e os eles estavamlá para ensiná-los. Os americanos abordaram a parceria com a noção de que se alguém tinhaque ensinar alguma coisa não eram os ingleses, que haviam sido derrotados repetidas vezes e nãopossuíam um bom exército.”

Nesse ambiente carregado, o papel de mediador revestiu-se de importância. EnquantoRoosevelt e Churchill justificadamente se orgulhavam da direta e estreita comunicação de umcom o outro, tanto Winant quanto Harriman continuaram agindo como intérpretes eapaziguadores entre os líderes, explicando pensamentos e ações de um e de outro. Além disso,Winant trabalhou para mitigar as tensões e promover a cooperação entre as figuras dos altosescalões militares e governamentais dos dois países. Segundo o Times de Londres, o embaixadoramericano foi o “adesivo” que ajudou a manter unida a aliança de tempo de guerra. “Não foi MrWinant [5] que tornou a cooperação dos povos de língua inglesa na mais íntima aliança registradana história,” publicou o jornal depois da guerra. “Mas Mr Winant criou e sustentou oentendimento mútuo no presente – e a identidade de objetivo para o futuro – que possibilitou talintimidade.”

Juntando forças com Murrow e o general Dwight D. Eisenhower, primeiro comandante deforças americanas na Inglaterra, Winant procurou também ilustrar os cidadãos dos dois países arespeito uns dos outros, assim como aparar as arestas surgidas com os mal-entendidos e asdificuldades que aumentaram sem parar quando a guerra se aproximou de seu clímax. Essastensões foram especialmente sentidas na exaurida Inglaterra à medida que os americanoschegavam em vastas quantidades a fim de preparar a invasão da Europa. Em meados de 1943, apresença americana em Londres – como no resto da Grã-Bretanha – era esmagadora. Para ondese olhasse, parecia que uma nova base aérea ou um novo campo de instrução americanosestavam sendo construídos num país do tamanho da Georgia ou de Michigan. As ruas e os pubsda capital inglesa regurgitavam de tempestuosos e altivos GIs em gozo de licença.

Como centro nervoso do planejamento dos aliados para a guerra na Europa, Londres era olugar onde se estar no início dos anos 1940. “Em blackout, bombardeada, cara e difícil de viver,ela ainda era magnífica – a Paris da Segunda Guerra Mundial,” registrou um historiador. Civis

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americanos ricos e bem relacionados, de banqueiros investidores de Nova York a diretores deHollywood, sonhavam em ser designados para lá em missões governamentais temporárias, comjusteza a considerando a mais excitante e vibrante cidade do mundo naqueles tempos agitados.

Fossem militares ou civis, os americanos em Londres e no restante do país ganhavam bemmais e viviam consideravelmente melhor que a maioria dos ingleses, que lutavam diariamentecontra a penúria. A imensa diferença em padrão de vida se refletia nos modos totalmentedistintos segundo os quais os dois aliados experimentavam a guerra: um deles na linha de frente,sofrendo as privações e os infortúnios; o outro a milhares de quilômetros distante das batalhas,seus cidadãos mais prósperos que nunca.

Tais disparidades provocavam tensões fortes e incessantes à proporção que a Américaflexionava os músculos como maior e mais forte parceiro da aliança. Pelo fim da SegundaGuerra Mundial, os Estados Unidos despontavam como a maior potência econômica, militar epolítica do mundo – e com isso revelavam uma fieira de complexidades e contradições. De umlado, Roosevelt e seu governo advogavam liberdade, justiça e igualdade para todas as nações; deoutro, o governo americano não deixava dúvidas na mente dos ingleses – e das nações europeiasmenores constituintes da mais ampla aliança ocidental – que a América estava agora no leme dacondução da guerra e que dominaria o mundo de pós-guerra. “Esta é uma vitória americana,”[6] proclamava em editorial o Chicago Tribune em 1944, “e a paz tem de ser tambémamericana.”

Embora plenamente conscientes de que a intervenção americana os estava resgatando deHitler, os ingleses e outros europeus viam os salvadores lançando seu invulgar peso por todos oscantos sem a menor consideração pelas consequências internacionais de suas ações no longoprazo. Identificavam uma arrogância e um equivocado senso de destinação por parte dosamericanos, os quais, com pouco conhecimento do globo além de suas fronteiras e limitadaexperiência anterior em lidar com ele, mesmo assim planejavam assumi-lo e, sozinhos, conduzi-lo à sua maneira. Uma inglesa, que trabalhava no QG naval dos Estados Unidos em Londres,costumava dizer aos seus companheiros americanos de trabalho que “eles precisavam conhecerum pouco mais do mundo antes de poderem liderá-lo.” Ao longo de toda a guerra, Gil Winant e Ed Murrow, bons amigos que defendiam a reformasocial e econômica no pós-guerra, assim como a cooperação internacional, exemplificavam olado idealista da América. Averell Harriman, um rematado pragmático que tencionava ampliarseu próprio poder e influência, bem como os de seu país, era o emblema da excepcionalidadeamericana. Na era do pós-guerra, essa era a visão do mundo de Harriman e de outros que, comoele, dominavam a política externa dos Estados Unidos. Na companhia de velhos amigos e colegascomo Dean Acheson, Robert Lovett e John McCloy (coletivamente conhecidos como “osSábios”), Harriman trabalhou para criar a Pax Americana em todo o planeta.

Nas décadas que se seguiram à guerra, a abordagem de Winant para as relaçõesinternacionais – “concentração nas coisas [7] que unem a humanidade, e não nas que a dividem”– foi considerada simplista e ingênua. Firmeza passou a ser o mantra quando a América,brandindo seu poderio militar e econômico, dispôs-se a impor sua própria ideologia e suamaneira de fazer as coisas ao resto do mundo.

Não tardou, no entanto, para que o mundo se rebelasse. Cansados de receber ordens, outrospaíses começaram a rejeitar cada vez mais a liderança americana e, no alvorecer do séculoXXI, muitos deles insistiram em jogar segundo suas próprias regras. Enfrentando rápido declíniona influência e no poder que haviam reivindicado apenas sessenta anos antes, os Estados Unidos,com o advento do governo Barack Obama, começou a reconhecer a necessidade de promover a

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cooperação global em vez de apenas os interesses americanos, e de construir genuínas parceriascom outras nações.

Enquanto entende melhor o mundo, a América faria muito bem se voltasse os olhos para osucesso da aliança anglo-americana na Segunda Guerra Mundial – e para o trabalho pioneirodesenvolvido por Winant, Murrow, Eisenhower e outros em mantê-la unida quando onacionalismo e outras forças ameaçaram desintegrá-la. Pouco depois de os Estados Unidoslançarem as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em 1945, Winant discursou emcerimônias de inauguração de um monumento no sudeste da Inglaterra em homenagem àsforças americanas que desembarcaram na França no Dia-D. Nas suas observações, difundidaspela BBC, o embaixador declarou que o homem só sobreviveria àquele novo e perigoso período“se aprendesse a viver amistosamente em conjunto” e se agisse “como se o bem-estar da naçãovizinha fosse quase tão importante quanto o de sua própria nação.” Winant admitiu que aconsecução de tais objetivos seria tarefa supremamente difícil. “Porém,” acrescentou, “o Dia-Dtambém era. Se ele foi realizado, qualquer outra coisa também pode ser – se realmente nosinteressarmos em fazê-la.”

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“Não Há Outro Lugar Onde Eu Quisesse Estar Agora

Na estação ferroviária de Windsor, um senhor magro e frágil, envergando o uniforme cáqui demarechal do exército inglês, esperava pacientemente quando a composição se aproximou e, como ruído característico dos freios, estremeceu até parar por completo. Logo a seguir, a portalaqueada de um dos vagões se abriu, e o novo embaixador americano na Inglaterra desceu dotrem. Com sorriso aberto, George VI estendeu a mão para John Gilbert Winant. “Muito prazer[8] em recebê-lo aqui,” disse o Rei.

Com esse gesto simples, o Rei, de quarenta e cinco anos de idade, fez história. Nunca antesum monarca inglês abandonara o protocolo real e se aventurara fora de seu palácio pararecepcionar um enviado estrangeiro recém-chegado. Até aquele encontro na estação deWindsor, esperava-se que um novo embaixador na Inglaterra seguisse o minucioso ritual deapresentar suas credenciais à Corte de St. James. Envergando elaborado traje protocolar, ele eraconduzido em carruagem de época, completa com cocheiros, lacaios e cavaleiros de escolta, atéo Buckingham Palace, em Londres. Lá, era recebido pelo Rei em audiência privada,normalmente agendada para semanas após a chegada do novo embaixador à capital inglesa.

Porém, naquela tumultuada tarde de março de 1941, não havia tempo para tal pompa ecircunstância. Enquanto uma multidão de repórteres ingleses e americanos observava, o Reientrou em animada e breve conversa com Winant, o embaixador respeitosamente de cabeçadescoberta, trajando um amarrotado sobretudo azul-marinho e segurando um chapéu de feltrocinza. Então, George VI levou Winant até um automóvel que os esperava para conduzi-los aoCastelo de Windsor a fim de tomarem chá com a Rainha, ato que seria seguido por uma reuniãode noventa minutos entre os dois.

Com a sobrevivência da Inglaterra seriamente ameaçada, o gesto sem paralelo do Reideixava claro que os tradicionais refinamentos da corte deveriam ser esquecidos, pelo menosdurante a guerra. Contudo, mais significativo ainda, o gesto sublinhava a desesperada necessidadede ajuda americana, juntamente com a esperança de que Winant, diferente de seu predecessorderrotista, Joseph P. Kennedy , persuadisse seu governo de que a ajuda agora era vital.

Kennedy, antigo especulador de Wall Street e ex-chairman da Comissão de ValoresMobiliários dos Estados Unidos, havia se alinhado perfeitamente à política de apaziguamento doprimeiro-ministro anterior, Neville Chamberlain. Durante seus três anos em Londres, não fezsegredo de sua crença de que “as guerras eram ruins [9] para os negócios, e pior para seusnegócios,” como escreveu o jornalista James “Scotty” Reston. O embaixador americanoacreditava tão firmemente nisso que chegou a usar de sua posição oficial a fim de reservarespaço, já então muito escasso nos navios mercantes, para suas próprias transações naexportação de bebidas. Depois que Chamberlain e o primeiro-ministro francês entregaram demão beijada a maior parte da Tchecoslováquia a Adolf Hitler em Munique, em setembro de1938, Kennedy observou alegremente para Jan Masaryk, ministro tcheco na Inglaterra: “Não émaravilhoso [que a crise terminou]? Afinal de contas, agora já posso ir para Palm Beach!”

Em outubro de 1940, no auge dos ataques aéreos alemães contra Londres e outras partes daInglaterra, ele voltou em definitivo para os Estados Unidos, declarando que “a Inglaterra acabou”e “sou mil por cento pelo apaziguamento.” Após o encontro com o presidente Roosevelt na CasaBranca, disse aos jornalistas que iria “devotar meus esforços para aquilo que a mim parece a

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maior causa para o mundo de hoje (...) ajudar o Presidente a manter os Estados Unidos fora daguerra.”

O declarado desejo de Kennedy por uma acomodação com Hitler tornou a tarefa de seusucessor muito complicada. A missão de Winant era, segundo o New York Times , “uma dasmaiores e mais difíceis que o Presidente poderia dar. Ele tem de explicar a um país que vemsendo diariamente bombardeado, por que uma nação, segura a 3 mil milhas de distância (...)quer ajudar, mas não quer lutar. É constrangedor dizer isso a uma pessoa cuja residência acabade ser destruída por uma bomba.”

Na manhã de 1º de março, pouco depois de o Senado aprovar sua indicação, Winant, comcinquenta anos, pousou num aeroporto nas proximidades do porto meridional de Bristol, quesofrera um duro bombardeio da Luftwaffe havia algumas semanas. Antes de ser rapidamentelevado para o trem real especial a fim de empreender a jornada até Windsor, o novoembaixador não perdeu tempo para demonstrar que não era Joe Kennedy. Solicitado por umrepórter da BBC a dizer algumas palavras ao povo inglês, ele parou por um momento e entãofalou calmamente ao microfone: “Estou muito feliz [10] por estar aqui. Não há outro lugar emque eu quisesse estar agora que não na Inglaterra.”

No dia seguinte, sua observação estava nas primeiras páginas da maioria dos jornais ingleses.The Times de Londres, evidentemente considerando o comentário um bom presságio, desviando-se de sua sisudez, enfeitou sua reportagem com aspectos poéticos quando reportou que “umincidente significativo” ocorrera pouco antes da chegada do embaixador. “Quando o aviãocirculava para aterrissar,” contou o Times a seus leitores, “o céu ficou carregado e despencouuma súbita chuva torrencial. Porém, quando a aeronave pousou suavemente, a tempestadecessou tão de repente quanto começara, e o sol atravessou as nuvens acompanhado de umbrilhante arco-íris.”

Infelizmente para a Inglaterra, eram bem poucos os arcos-íris no horizonte do início de 1941.Depois de lutar sozinha por nove meses contra a mais poderosa potência militar do mundo, o país— financeira, emocional e fisicamente exausto — enfrentava uma dificuldade que “não eraapenas extrema” nas palavras do historiador John Keegan, “mas sem precedentes em suagravidade.”

Apesar de a Alemanha ter fracassado em subjugar a Royal Air Force durante a Batalha daInglaterra, no verão e outono de 1940, a Luftwaffe continuava a devastar Londres, Bristol eoutras cidades inglesas. Uma invasão pelo mar era uma possibilidade em futuro próximo. Omaior perigo imediato, porém, era a ameaça dos submarinos às linhas de suprimento britânicas.Os U-Boats alemães no Atlântico punham a pique centenas de milhares de toneladas de naviosmercantes por mês, com perdas que mais que dobravam em menos de quatro meses.

No fim de um dos invernos mais rigorosos de todos os tempos, a Inglaterra mal se mantinhaem pé, com pouca alimentação, aquecimento escasso e esperanças definhando. A importação dealimentos e de matérias-primas caíra para quase a metade dos níveis de pré-guerra, os preçosdisparavam e havia grave carência de tudo, da carne à madeira.

Na semana anterior à chegada de Winant à Inglaterra, um dos secretários particulares deWinston Churchill entregou ao primeiro-ministro os últimos de uma série de relatórios sobreafundamentos na marinha mercante. Quando o secretário observou quão “desanimadoras” eramas notícias, Churchill olhou para ele. “Desanimadoras?” — exclamou. —“Aterrorizantes! Secontinuar nesse ritmo será o nosso fim.” Os funcionários alemães dos altos escalõesconcordavam. Naquele mesmo mês, o ministro do Exterior Joachim von Ribbentrop disse aoembaixador japonês em Berlim que “neste momento a Inglaterra [11] está experimentandosérios problemas no suprimento de alimentos (...) O importante agora é pôr a pique número

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suficiente de navios para reduzir as importações inglesas a níveis inferiores ao nível mínimoabsolutamente necessário para a existência.” Submetida a um cerco de submarinos, navios de guerra e aviões inimigos, a Inglaterra sósobreviveria, acreditava Churchill, se uma América muito relutante pudesse de alguma formaser persuadida a entrar na guerra. Ele continuava a alimentar essa esperança, mesmo enquanto opresidente Roosevelt dizia repetidas vezes que os Estados Unidos eram — e continuariam —neutros. “O experiente político que é o Presidente está sempre tentando achar um caminho deganhar a guerra para os aliados — e, se fracassar nesse intento, de garantir a segurança dosEstados Unidos — sem que os EUA tenham de mergulhar na guerra,” confidenciou oembaixador inglês em Washington ao Foreign Office, o qual, como o Departamento de Estadoamericano, era responsável por promover os interesses do país no estrangeiro.

Ainda assim, era difícil culpar Roosevelt pela cautela. Afinal de contas, os próprios inglesestinham se esforçado para permanecerem fora da guerra nos anos 1930, ficando inertes enquantoHitler ascendia ao poder e começava sua conquista da Europa. No interesse da paz — da pazinglesa — o governo Chamberlain fizera pouco ou quase nada no fim dos anos 1930 para evitarque país após país fosse engolido pela Alemanha. No caso dos Sudetos da Tchecoslováquia, aInglaterra, na conferência de Munique, foi até cúmplice na sua tomada. Então, nos dias de caosde junho de 1940, os ingleses, espantados, viram-se enfrentando a Alemanha sozinhos. Com seufuturo beirando o calamitoso, esperavam que os Estados Unidos prestassem mais atenção a elesdo que eles mesmos tinham dedicado à Europa.

Churchill, o combativo novo primeiro-ministro, afagava, rogava e cortejava sem descanso opresidente Roosevelt para conseguir mais ajuda. Nos seus discursos, FDR reagia de formamagnífica. Prometia toda a assistência menos a guerra e, após a Alemanha vencer a França edeslanchar a Batalha da Inglaterra, declarou: “Para que a Inglaterra sobreviva, temos de agir.”Todavia, julgavam os ingleses, as ações americanas não faziam jus às palavras do Presidente: aajuda enviada era invariavelmente muito pequena e tardia. Mais perturbador ainda, semprevinha acompanhada de um emaranhado de condicionantes.

Em troca de cinquenta contratorpedeiros americanos bastante velhos, cedidos no verão de1940, o governo Roosevelt exigiu que lhe fosse concedido o arrendamento por noventa e noveanos de bases militares na Terra Nova, nas Bermudas e em seis possessões inglesas no Caribe. Anegociação, como todos sabiam, era bem mais vantajosa para os Estados Unidos do que para aInglaterra, e o governo britânico ficou profundamente ressentido. Apesar disso, não tevealternativa e aceitou aquilo que considerou termos grosseiramente injustos. “Isso está cheirando[12] às exigências feitas pela Rússia à Finlândia,” registrou amargamente em seu diário JohnColville, secretário particular de Churchill.

Os ingleses sentiram-se ainda mais lesados quando os contratorpedeiros da Primeira GuerraMundial chegaram. Dilapidados e obsoletos, eles não podiam ser empregados sem extensas ecustosas reparações. “Achei que eram os piores destróieres que jamais vi,” esbravejou umalmirante inglês. “Embarcações pobres com armamento horrendo e instalações chocantes.”Igualmente irritado, Churchill, no entanto, foi convencido por seus assistentes a expressar suaspreocupações em linguajar mais diplomático. Num cabograma enviado a Roosevelt no fim de1940, o primeiro-ministro disse: “Até agora só fomos capazes de empregar em ação muitopoucos de vossos cinquenta contratorpedeiros por causa dos diversos defeitos que elesnaturalmente apresentaram quando expostos às intempéries no Atlântico por terem permanecidoinativos por tanto tempo.”

À medida que a situação inglesa se agravava, o preço da assistência americana se tornava

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mais oneroso. Desde novembro de 1939, quando Roosevelt persuadira um Congresso relutante aemendar a Lei da Neutralidade, que bania vendas de armas dos EUA para países em guerra,fora permitido à Inglaterra adquirir armas e equipamentos americanos. Porém, segundo ostermos da emenda, o material tinha de ser pago em dólares à vista, e os compradores deveriamtransportar as compras em seus próprios navios.

No ano que se seguiu, pesadas aquisições de armamento haviam drenado a maior parte dosdólares e das reservas de ouro da Inglaterra. Para continuar com os embarques de material, oTesouro inglês foi forçado a pedir emprestado ouro das reservas do governo belga no exílio emLondres. Tão séria se tornou a situação do ouro que o ministro das Finanças sugeriu ao Gabineteque considerasse a requisição de anéis de casamentos e outras joias daquele metal precioso dapopulação inglesa. Churchill aconselhou o adiamento da medida. Essa ideia radical, disse ele, sódeveria ser adotada “se quisermos [13] assumir algum ato extremo para envergonhar osamericanos.”

O primeiro-ministro e outros funcionários ingleses alertaram repetidas vezes ao governoRoosevelt que o país estava ficando sem dólares, mas a administração dos EUA recusava-se aacreditar. O Presidente, o secretário do Tesouro Henry Morgenthau e o secretário de EstadoCordell Hull estavam convencidos de que as riquezas do Império Britânico eram praticamenteilimitadas. Se os ingleses precisassem de mais dinheiro, poderiam simplesmente liquidar algunsde seus investimentos nas Américas do Norte e do Sul. Morgenthau em especial pressionou osingleses a vender a investidores americanos algumas valiosas empresas como a Shell Oil, aAmerican Viscose, a Lever Brothers e a Pneus Dunlop. Quando o governo britânico protestouque tais vendas (presumivelmente a preços de liquidação) seriam um desastre para a economiade pós-guerra do país, Morgenthau retrucou que não era tempo para preocupações dessanatureza.

Tendo contado com muitos aliados em sua longa e colorida história, a Inglaterra forabastante hábil em usá-los em prol de seus próprios objetivos e interesses. Agora, no entanto, apoderosa potência imperial se via forçada a submeter-se a uma ex-colônia, que havia setransformado em seu mais formidável concorrente comercial. A humilhação se tornava maisamarga porque os ingleses percebiam a determinação americana em tirar proveito econômicode seus infortúnios.

O governo dos EUA não ofereceu desculpa alguma. Para que os ingleses recebessemqualquer auxílio, Roosevelt e seus assessores acreditavam, o povo americano precisava estarconvencido que seu próprio país estava levando vantagem em toda negociação. “Buscamosevitar todos os riscos, todos os perigos, mas queremos a garantia de todos os lucros,” disse osenador isolacionista William Borah.

O governo sentiu-se obrigado a assegurar ao povo americano que não permitiria que osardilosos e maquinadores ingleses atraíssem os Estados Unidos para outra guerra europeia. Naverdade, Roosevelt partilhava dessa opinião sobre os ingleses, tendo declarado certa vez a umauxiliar: “Quando se senta em torno de uma mesa com um inglês, ele normalmente consegue 80por cento da negociação e fica-se com o que sobrar.” A imagem que o governo fazia de sipróprio de esperto negociador ianque provocou uma resposta emocional em larga parcela dapopulação. Quando Herbert Agar, editor do Louisville Courier-Journal, vencedor do PrêmioPulitzer e contumaz intervencionista, disse a seus colegas de redação que a América estavaconseguindo da Inglaterra “bem mais [14] do que merecia,” ficou consternado ao notar oscompanheiros “se mostrarem felizes em vez de preocupados.” Assim, enquanto o mundo se deparava com a maior crise de sua história, suas duas mais

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poderosas democracias, ligadas por língua e legado comuns, e por fidelidade à liberdadeindividual, estavam divididas por um preconceito e uma falta de entendimento que se ampliarampara um cisma desde a quase-aliança da Primeira Guerra Mundial. Seus famosos e egocêntricoslíderes, enquanto isso, suspeitavam um do outro ao ponto do antagonismo.

Winston Churchill e Franklin Roosevelt haviam se visto pela primeira vez num jantar oficialem Londres, quando a Grande Guerra caminhava para o fim. Então secretário-adjunto daMarinha, Roosevelt, com trinta e seis anos, integrava uma comissão na capital inglesa num girode avaliação da situação europeia. Embora charmoso e bem-humorado, ele não chamava muitaatenção naquele estágio inicial de sua carreira governamental. Para um de seus colegas emWashington, “Roosevelt era atraente e amistoso, mas não um peso-pesado.” De acordo com oex-secretário da Guerra Henry Stimson (que, mais de trinta anos depois, seria nomeado para amesma função no gabinete de Roosevelt), ele era “um moço inexperiente e irreverente.”Imperturbável com críticas dessa natureza, Roosevelt sempre procurou ser “a alegria da festa” e“jamais cedeu de bom grado os holofotes para ninguém.”

Porém, na noite de 29 de julho de 1918, os holofotes no jantar do Gray 's Inn se dirigirampara um homem também acostumado a ser o centro das atenções e cujo ego era, antes de maisnada, ainda maior que o de Roosevelt. Aos quarenta e três anos, Winston Churchill jádesempenhara cinco funções de destaque no Gabinete inglês no curso de seus agitados dezoitoanos de carreira parlamentar. Então ministro do Material Bélico, ele estava preocupado naquelanoite com uma série de greves nas fábricas que ameaçavam interromper o esforço de guerrainglês. Churchill não teve interesse algum por — ou tempo para — um arrogante rapazfuncionário americano chamado Franklin Roosevelt — e, aparentemente, deixou o fato pordemais evidente.

Passados vinte anos daquele jantar, FDR ainda não tinha engolido o que considerava umadescortesia de Churchill. “Sempre desgostei [15] dele, desde o tempo em que fui à Inglaterra em1918,” disse o Presidente a Joseph Kennedy, em 1939. “Ele agiu como um pedante no jantar aque compareci, comportando-se como um lord, acima de todos nós.” Nos anos posteriores,Churchill não era capaz de se lembrar do encontro com Roosevelt, o que irritava a este aindamais.

Quando Churchill tentou agendar uma reunião com FDR durante uma viagem à América em1929, o recém-eleito governador de Nova York esnobou-o. Ao longo dos anos 1930, Roosevelt,como muitos na terra natal de Churchill, o considerava um victoriano idoso e ultrapassado. Aoirromper a Segunda Guerra Mundial e o Presidente começar uma correspondência comChurchill, que fora alçado de morto político ao cargo de Primeiro Lord do Almirantado, FDRdisse a Kennedy que só o fizera porque “há uma forte possibilidade de ele se tornar primeiro-ministro, e quero marcar posição desde já.”

Quando Churchill, de fato, assumiu o cargo, Kennedy, que o detestava, reforçou a jádesfavorável impressão de Roosevelt com seguidas afirmações de que o primeiro-ministro eraantiamericano e contra FDR. Outra suposição de Kennedy — que Churchill tentava atrair osEstados Unidos para a guerra somente para preservar o Império Britânico — revigorou a antigasuspeita do Presidente quanto ao imperialismo inglês. Para Roosevelt, o embaixador descreveuChurchill como um homem “sempre bebericando de uma garrafa de uísque,” ponto de vistatambém compartido pelo subsecretário de Estado Sumner Welles, que tachava Churchill de“beberrão crônico” e “homem de terceira ou quarta categoria.” Roosevelt, aparentemente,aceitava essa visão de Churchill como uma pessoa seriamente apegada à bebida; quandoinformado de sua ascensão ao nº 10 de Downing Street, o Presidente pilheriou que “supunha serChurchill o melhor homem de que a Inglaterra dispunha, embora estivesse bêbado a metade do

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tempo.”De sua parte, Churchill esgotou a paciência com o que considerava repetidas tentativas de

Roosevelt e da América de tirar vantagem da situação desesperadora em que se encontrava aInglaterra, apropriando-se de seus recursos financeiros e militares. “Não ficamos com coisaalguma dos Estados Unidos que não tenhamos pago,” disse ele, indignado, ao seu secretário doExterior, Lord Halifax, em dezembro de 1940, “e aquilo com que ficamos não teve papelessencial em nossa resistência.”

Ele ainda remoia uma sugestão anterior de FDR para que a Inglaterra concordasse emenviar sua Marinha para o Canadá na eventualidade de uma invasão alemã. Pouco depois de oprimeiro-ministro receber essa proposta, um auxiliar o encontrou “arqueado numa atitude [16]de raiva tensa, como uma fera acuada pronta para dar o bote.” Na sua resposta “a esses malditosianques,” Churchill insistiu em dizer que “nunca concordaria com o menor compromisso denossa liberdade de ação e não toleraria um anúncio derrotista desses.”

Como tinha feito muitas vezes antes, e frequentemente o faria no futuro, Lord Halifaxconvenceu Churchill a moderar o linguajar do cabograma. Segundo Halifax e o Foreign Office, aInglaterra não tinha alternativa senão ser generosa com a América nas negociações em cursopara ajuda. Churchill, que discordava veementemente, queria negociação dura. Ele queriadiminuir o número de bases inglesas em troca dos contratorpedeiros americanos e se opunha àproposta de compartilhar tecnologias avançadas militar e industrial com a América, declarando:“Não estou com pressa de passar nossos segredos até que os EUA estejam bem mais perto daguerra do que agora.” Entretanto, capitulou nos dois aspectos. Além das bases, a Inglaterrarepassou aos militares dos Estados Unidos dados de projetos de foguetes, de aparelhos de pontariapara a artilharia e dos novos motores Merlin; planos embrionários para o motor a jato e a bombaatômica; e protótipos de um sistema-radar suficientemente pequeno para ser montado em aviões.Diversos desses avanços desempenhariam papel crucial no esforço futuro dos aliados.

Pelo fim de dezembro de 1940, Roosevelt, com grande estardalhaço, anunciou um novoplano de ajuda à Inglaterra. Envolvido pelos temores a respeito da sobrevivência de seu país,Churchill não tinha como saber o enorme impacto que a proposta, na verdade, provocaria naInglaterra e na guerra. Tudo que sabia era que, antes, o Presidente fizera vastas e vagaspromessas, e que pouca coisa resultara delas.

Ele estava certo em pensar assim porque, até então, a abordagem de FDR, para a aflição daInglaterra, tinha sido cautelosa e vacilante. Porém, no fim de dezembro, o Presidente percebeuque a Grã-Bretanha estava ficando de fato sem dinheiro e que a América tinha que fazer bemmais para evitar a derrota do último país que ainda resistia a Hitler. Em resposta a uma longa,eloquente e desesperada carta de Churchill, ele desvendou um novo plano inovador quepermitiria ao governo emprestar e arrendar equipamento bélico a qualquer nação que oPresidente considerasse vital para a defesa dos Estados Unidos. O programa Lend-Lease,declarou FDR, transformaria a América no “arsenal da democracia.”

Na Câmara dos Comuns, Churchill qualificou o Lend-Lease como “a mais [palavra inventadapor ele] unsordid [17] ação na história de qualquer país,” mas, privadamente, não ficou muitoimpressionado. Em vez de expressar sua satisfação para Roosevelt, escreveu uma notaimpetuosa, questionando detalhes do plano e ressaltando que ele demoraria alguns meses para serefetivo, mesmo que aprovado pelo Congresso. No meio-tempo, como poderia seu paísfinanceiramente pressionado pagar pelo armamento que precisava com urgência naquelemomento? Abalada com a virulência da minuta de Churchill, a embaixada britânica emWashington instou para que ele a abrandasse e oferecesse inequívocos agradecimentos aRoosevelt pela nova oferta de assistência. O primeiro-ministro, relutantemente, concordou com

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uma expressão de reconhecimento, mas conservou o ceticismo e a ansiedade. “Lembre-se, SrPresidente,” escreveu, “não sabemos o que o senhor tem em mente, ou exatamente o que osEstados Unidos irão fazer, e estamos lutando por nossas vidas.”

No despontar de 1941, a apreensão de Churchill a respeito do precário futuro de seu país eseu ressentimento com os Estados Unidos por não estarem fazendo mais para ajudar eramcompartilhados por crescente número de seus concidadãos. Quando os ingleses foramperguntados numa pesquisa de opinião pública que países não integrantes do Eixo gozavam damaior consideração, os Estados Unidos apareceram em último lugar. “A percentagem de críticadesfavorável em relação à América — nossa amiga — iguala-se à da Itália — nossa inimiga,”concluíram os analistas da pesquisa.

Foi durante esse período crescentemente intoxicado que Joseph Kennedy finalmenteapresentou sua demissão do cargo de embaixador dos Estados Unidos na Inglaterra. Kennedycontribuíra decisivamente para o alargamento do fosso entre os dois países e entre seus líderes.Seu sucessor teria agora a tarefa extremamente difícil de tentar diminuir o distanciamento.

Para assumir o problemático cargo, o Presidente recorreu a um ex-governador na região daNova Inglaterra, tímido e com grande dificuldade de expressão verbal, um homem que já haviasido considerado provável sucessor do próprio Roosevelt. Nos anos 1920 e início dos 30, John Gilbert Winant despertara a atenção nacional como o maisjovem e mais progressista governador do país. Todavia, em 1936, essa ascendente estrelarepublicana, com aspirações presidenciais, jogara por terra seu futuro político ao atacar o GOP[Grand Old Party — o Partido Republicano] por suas contundentes críticas ao New Deal.Perplexo com o autossacrifício idealista de Winant, Roosevelt, cuja própria devoção aos ideaisjamais vencera seus instintos pela sobrevivência política, chamou-o “o utópico John [18].”

Como o Presidente, Winant provinha de antiga e bem relacionada família de Nova York,com antepassados holandeses. Filho de um corretor imobiliário, ele cresceu no Upper East Sidede Manhattan, estudante medíocre, mas ávido leitor que se encantava com os romances deCharles Dickens e as biografias de seu herói de toda a vida, Abraham Lincoln. Seus pais, quetinham um casamento “extremamente infeliz” e se divorciaram mais tarde, eram mesquinhosnas demonstrações de amor e afeição por ele e por seus três irmãos, disse certa vez à suasecretária. O pai de Winant, relatou um amigo, “sempre lhe dissera que fosse visto, e nãoouvido.”

Com doze anos, o menino sensível e amante de livros foi enviado para a St. Paul's, exclusivaescola secundária aninhada no sopé dos Montes Brancos de New Hampshire, nas cercanias deConcord, capital do estado. Foi o momento definitivo na vida de Winant. Ele adorava a escola e,ainda mais, amava as matas e as ondulantes colinas de New Hampshire; como estudante,caminhava por horas nos montes Bow que dominavam St. Paul's. Muitos anos depois, diria a umrepórter “que os montes significavam mais para ele do que qualquer outro lugar do mundo. Lá,sentia-se em casa.”

Tendo como modelo as escolas públicas inglesas como Eton, St. Paul's tentava inculcar emseus alunos, a maioria vinda de famílias ricas de Nova York, Boston e Filadélfia, a importância doserviço público. “Nossa função não é tentar nos adequarmos ao mundo afluente e próspero quenos cerca, e sim, através de suas crianças, modificá-lo,” declarava o Dr Samuel Drury, reitor deSt. Paul's. Enquanto a maior parte dos estudantes não tinha a intenção de virar as costas para “omundo rico e próspero,” Winant desenvolvia um entusiasmo pela reforma social que iriaperdurar por toda a sua vida.

Durante seus anos em St. Paul's, ele se tornou um dos principais líderes estudantes,

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demonstrando um recém-descoberto talento para persuadir e galvanizar colegas. Poucos anosmais tarde, após se afastar de Princeton, em função do baixo rendimento acadêmico, eleretornou à escola para ensinar História Americana. Determinado a instilar consciência social emseus estudantes, Winant foi, nas palavras de Tom Matthews, um de seus alunos, “professorincrivelmente inspirador, transmitindo a convicção ardente de que os Estados Unidos eram umpaís maravilhoso, a experiência mais gloriosamente esperançosa que o homem jamais fizera.”Durante as noites, os estudantes apinhavam seu pequeno quarto, atulhado de livros, para continuaros debates iniciados na sala de aula sobre Lincoln, Jefferson e outras figuras do panteão de heróisde Winant. “Como a maioria [19] dos meninos de St. Paul's da minha geração, eu admirava JohnGilbert Winant ao ponto da idolatria,” disse Matthews que, trinta anos mais tarde, se tornariaeditor-chefe da revista Time.

No dia seguinte à entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial, Winant parou deensinar e pagou de seu bolso a viagem à França onde se tornou piloto do incipiente corpo deaviação dos EUA. Suas habilidades como aviador eram um tanto instáveis, como ele reconheceudepois para os amigos Ed e Janet Murrow; no ar, até que “tudo ia bem,” mas precisava de “muitasorte” para decolar e pousar. “Parece que ele quebrou um bom número de aviões,” escreveuJanet Murrow a seus pais. “De fato, é surpreendente que ainda esteja vivo.”

Foi, de fato, surpreendente, já que Winant possuía uma coragem indomável que o fazia seapresentar como voluntário para missões de observação sobre as linhas inimigas, que outrosconsideravam suicidas. Quando ele pousou após uma de tais missões, uma das asas de seu aviãotinha sido rasgada por shrapnel, a capota do motor estava toda perfurada e parte da hélicefaltava. Tendo se alistado como soldado raso, Winant terminou a guerra como capitão nocomando de um esquadrão de observação nas proximidades de Verdun.

Logo depois de retornar para casa, Winant casou-se com Constance Russell, uma rica moçada sociedade cujo avô fora presidente do National City Bank de Nova York (hoje Citibank).Muitos dos amigos e conhecidos do casal achavam que o par era desencontrado: ela não tinhaqualquer interesse por política, história e reforma social — as principais preocupações do marido— e preferia fazer compras, dar festas, ir ao teatro e passar muito tempo em locais comoSouthampton e Bar Harbor. “Era um daqueles matrimônios da alta sociedade em que, acredito,os dois não passavam muitos momentos juntos,” lembrou Abbie Rollins Caverly, cujo pai setornara um dos amigos mais próximos e aliado político de Winant. “Os dois tinham pouca coisaem comum. Ele ficava acordado à noite meditando sobre como poderia melhorar as coisas. Elaadorava oferecer recepções.”

Passada a guerra, Winant fez ele mesmo algum dinheiro com investimentos em poços depetróleo no Texas. O casal se instalou para uma vida de luxo em apartamento na Park Avenue,limusine com motorista, mordomo e criadas, iate e um haras com cavalos árabes. Ao mesmotempo, contudo, ele não abriu mão de seu amor por New Hampshire ou por seu crescenteinteresse pelo serviço público, que o levaram a uma rápida passagem pela assembleia legislativade New Hampshire antes de partir para a França.

Em 1919, os Winants compraram uma grande casa branca em estilo colonial na capitalConcord, a uns quatrocentos metros de St. Paul's. De sua biblioteca com muitos volumesalinhados, um retrato de Thomas Jefferson pintado por Gilbert Stuart e primeiras edições deDickens e John Ruskin, Winant podia vislumbrar seu local favorito no mundo, os montes Bowrecobertos de pinheiros. Enquanto sua esposa gastava a maior parte do tempo em Nova York, elefez da casa em Concord sua base eleitoral e, em 1920, foi eleito para o senado estadual.

A gradual transformação do tímido e gaguejante jovem idealista no político bem-sucedidocausou surpresa por si mesma. O fato de a mudança ter ocorrido em um estado rural e altamente

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conservador como New Hampshire foi marcante. No Senado, Winant se tornou líder daminúscula ala liberal do GOP, apresentando legislação para limitar em quarenta e oito horas asemana de trabalho de mulheres e crianças, regulamentar os padrões do trabalho e abolir a penacapital. A maioria de seus colegas de legislatura vinha das áreas rurais, com pequenoconhecimento das — ou interesse nas — lamentáveis condições de vida e de trabalho nasfábricas de têxteis e outras indústrias de New Hampshire. Apesar de seus colegas rejeitarem aagenda legislativa de Winant, este se recusou a desistir daquilo que a maioria das pessoas viacomo sua quixotesca busca pela reforma.

Em 1924, com trinta e cinco anos, Winant anunciou sua decisão de concorrer ao cargo degovernador, deixando uma cópia de seu anúncio no escritório do jornal de maior circulação noestado, o Manchester Union-Leader. Frank Knox, o dono do jornal, considerado nome quase certodo Partido Republicano para a corrida pelo governo do estado, enterrou a notícia em merasquatro linhas nas páginas internas. A candidatura de Winant, na opinião da velha guardarepublicana, era motivo de riso. Quem aquele nova-iorquino liberal pensava que era? Os eleitoresde New Hampshire nunca o aceitariam — um arrivista rico, um intelectual e um péssimo oradora ser rejeitado.

Sem dúvida, eles estavam certos quanto à sua capacidade para discursar. Alto e pensativo,seu perfil lembrando um Lincoln refinado, ele se punha tenso ante as plateias da campanha, seurosto fino com aparência compenetrada e os cabelos tão desalinhados quanto o terno da BrooksBrothers, as grossas sobrancelhas despencando sobre os olhos cinzentos encovados e penetrantes.Com as mãos abrindo e fechando, ele lutava para achar a palavra ou frase certa para expressar oque queria dizer. Por vezes, gastava minutos até encontrá-las, resultando em pausas agonizantestanto para os circunstantes nervosos que o ouviam quanto para o próprio Winant. “Gente daplateia [21] queria ajudá-lo gritando a palavra que ele buscava,” disse um residente em NewHampshire. Depois de um dos discursos de Winant, uma mulher murmurou para a suacompanhia: “É uma coisa terrível. Um rapaz tão gentil — e tão traumatizado de guerra.”

Entretanto, o curioso foi que sua maneira de falar aos trancos ajudou-o a angariar apoio nocurso de suas viagens pelo estado. Reservados e taciturnos por natureza, os eleitores de NewHampshire viram nele um contraste bem-vindo com os políticos loquazes que normalmenteencontravam. Apesar de desajeitados, os pronunciamentos de Winant eram carregados de calorhumano e sinceridade — e despertavam em seus ouvintes um senso de confiança. A plateia“começava sentindo pena de Winant,” reportou o New York Times . “Terminava de pé noscorredores, dando vivas ao orador.”

Nas primárias, Winant enfrentou a oposição da máquina republicana estatal, assim como damaioria dos jornais e dos interesses dos negócios de New Hampshire. Mesmo assim, derrotouconfortavelmente Knox e, depois, esmagou o candidato democrata nas eleições gerais. Aliás,depois de perder para Winant, Frank Knox se tornou proprietário e editor do Chicago Daily Newse secretário da Marinha no governo Roosevelt

Como chefe do executivo de New Hampshire, Winant foi homem bem à frente do seutempo, dedicando-se por completo à justiça econômica e à mudança social, que se equiparavamou eram até melhores que os instintos reformistas de Franklin Roosevelt, e de longeultrapassavam os da maioria de seus outros colegas governadores em todo o país. Ele gostava dedizer que aprendera republicanismo com seu herói Abraham Lincoln, o qual, Winant declarou,dava mais valor aos direitos humanos do que aos de propriedade. Durante a Depressão, ogovernador conseguiu pressionar vitoriosamente pela criação de novos e radicais programas debem-estar estatal que acabaram formatando o New Deal, inclusive uma expansão das obraspúblicas, ajuda para os idosos, auxílio emergencial para as mulheres e crianças dependentes e

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uma lei de salário mínimo. Winant conseguiu infiltrar um repórter do Concord Daily Monitornuma reunião do Conselho Executivo, poderoso órgão do governo que agia como um verificadordas ações do governador e cujos encontros vinham sendo sempre fechados. No dia seguinte, ojornalista escreveu uma reportagem de primeira página sobre as deliberações do conselho e, apartir de então, as reuniões passaram a ser abertas ao público.

Winant também reorganizou e modernizou a máquina administrativa do estado e conseguiuaprovar leis concernentes à reforma bancária, restrições à influência das ferrovias e à expansãodo poder da comissão do serviço público estatal para regular as companhias prestadoras deserviços. “Tanto as ferrovias [ 22] quanto as fornecedoras de energia têm de se submeter aointeresse público,” disse ele aos legisladores de New Hampshire. O New York Herald Tribunediria mais tarde que Winant “conseguiu introduzir mais legislação progressista do que NewHampshire jamais conheceu.”

Sem surpreender, as ferrovias, as prestadoras de serviços, as fábricas de têxteis e outrosinteresses especiais no estado se mostraram hostis a virtualmente todas as iniciativas dogovernador. O mesmo ocorreu com os conservadores empedernidos de seu próprio partido. Masa sua popularidade era enorme com os eleitores, que o elegeram para três mandatos, fato semprecedentes no estado. “Não entendo Winant e nunca o entendi,” observou um político de NewHampshire. “Mas tiro meu chapéu para ele. Ele sabe ganhar eleições.” (Ironicamente, suareeleição por imensa maioria de votos em 1932 proporcionou ao presidente Herbert Hoover, seurival ideológico, uma quantidade de votos proporcionais que lhe garantiu uma estreita vitória emNew Hampshire, um dos somente cinco estados em que o desafiante democrata à presidência,Franklin Roosevelt, não venceu Hoover.)

Estava patente que muito da popularidade de Winant como governador se devia à suaprofunda identificação com as pessoas e a compaixão que dedicava aos necessitados. Anos maistarde, Dean Dexter, que já fora legislador em New Hampshire, o compararia aos personagensidealistas que o ator James Stewart desempenhou em Mr Smith Goes to Washington (A MulherFaz o Homem) e noutros filmes. Para Winant, “toda política pública era pessoal,” observou umhistoriador. “Era a respeito de gente, por vezes pessoas específicas, e do efeito da política sobreelas.” A porta de seu escritório estava sempre aberta para quem quisesse vê-lo; na maioria dosdias, os corredores do palácio do governador ficavam apinhados de gente querendo algunsminutos do tempo do chefe do executivo. Não era raro Winant fazer uso de seu próprio dinheiropara pagar uma conta de médico, cobrir uma despesa de educação ou ajudar a dar partida numpequeno negócio de um empobrecido residente no estado ou um companheiro veterano daPrimeira Guerra Mundial que solicitasse sua ajuda. Durante a Depressão, ele instruiu a polícia deConcord para que alojasse os sem-teto nas cadeias da cidade, os alimentasse de manhã eenviasse a conta para ele. Ao caminhar para o trabalho, tirava dinheiro da carteira para dar aosdesempregados que se recostavam, pegando sol, nas paredes de granito do paláciogovernamental. Winant, disse um amigo, “pratica o mandamento cristão [23] 'Dê seus bens paraalimentar os pobres' com mais fervor do que qualquer pessoa que jamais conheci.”

Quando deixou o cargo em 1935, os princípios e ideais de Winant haviam sido endossadospela maior parte dos legisladores do estado, independentemente do partido. Cerca de três décadasmais tarde, Robert Bingham, consultor legislativo de Winant, afirmaria: “Sempre que se desejavamensurar a eficácia de um governador, comparavam-no com a dos três mandatos de Winant.”Em 2008, William Gardner, que por muito tempo foi secretário de estado em New Hampshire,lembrou quão impressionado ficara após assumir a função ao constatar a intensidade com que osresidentes do estado “reverenciavam e amavam” Winant. “As pessoas ainda falam sobre elequando vou até lá. Ele era especial. De todos os governadores que tivemos, ele, de fato,

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significava alguma coisa para o povo e de uma maneira muito especial.” De Washington, o presidente Roosevelt monitorava com considerável interesse o sucesso deWinant em New Hampshire. Visivelmente parecidos em sua devoção à reforma social, os doistinham trabalhado em conjunto como governadores. Winant apoiara decisivamente desde oinício o New Deal de Roosevelt, e New Hampshire era em geral o primeiro estado aimplementar os muitos e novos programa de assistência social que Roosevelt introduziu nos seusprimeiros anos de governo. Pelo outono de 1933, Winant empregou fundos do New Deal paradeslanchar doze dos mais importantes projetos de obras públicas e distribuir toneladas dealimentos aos desvalidos de New Hampshire.

O presidente, que “adorava fisgar brilhantes e promissores republicanos a fim de cooptá-los,” já tinha recrutado a ajuda de Winant como assessor não oficial para o trabalho e outrasquestões. Em 1934, ele nomeou o governador para chefiar um conselho especial de sindicânciaque ajudou a dar fim a uma nociva greve do sindicato unido dos trabalhadores têxteis.

Como Roosevelt bem sabia, Winant despontava cada vez mais como o homem queencabeçaria a cédula republicana nas eleições de 1936. Depois do fracasso do GOP em 1932,estava claro que o partido precisava de uma “transfusão de sangue novo [24]”; como uma dasmais fulgurantes estrelas do partido, Winant era visto como possível indicado para concorrer àPresidência.

Um de seus patrocinadores era o afamado editor de jornal do Kansas, William Allen White,que o elogiava como “a liderança republicana no horizonte.” O comentarista Walter Winchelldeclarou num programa de rádio que Winant era cultivado pelo New York Herald Tribune ,influente jornal pró-republicano, para ser o próximo candidato do GOP. As revistas Time eCollier's reportaram que ele tinha boas chances de indicação, e o Boston Evening Transcriptpublicou em manchete de primeira página: “Winant caminha para o topo da lista depresidenciáveis.” De acordo com a revista American, o governador de New Hampshire“capturou o imaginário do país. (...) Ele é rico. Não consegue discursar. Mas quer fazer algumacoisa pelo povo. E faz.” Cartas começaram a fluir para Concord, vindas de toda a nação, instandoWinand a concorrer. “O senhor, pessoalmente, conta com a estima e o apreço destedepartamento em maior dose do que qualquer outro funcionário público, seja do PartidoDemocrático, seja fora dele,” escreveu um empregado da Agência Federal de AuxílioEmergencial. Até Ray mond Moley, elemento-chave do brain trust, o círculo de boas cabeças doNew Deal de Roosevelt, embarcou na caravana de Winant, afirmando que “trocaria de bomgrado cinquenta deputados, vinte senadores, seis embaixadores e alguns membros do ministériopor um governador Winant.”

A explosão da popularidade de Winant, todavia, estava fadada ao colapso. Mesmo que seapresentasse como candidato no partido em 1936, é provável que os problemas de dicção oteriam prejudicado seriamente. Mas esse não era o ponto em discussão porque Winant, comoapoiador do New Deal, jamais disputaria contra Roosevelt. Ele decidira pôr suas ambiçõespresidenciais de lado, pelo menos até que o atual detentor do cargo deixasse a função.

Roosevelt, supostamente, não estava muito seguro disso. No fim de 1934, ele nomeou Winantcomo primeiro representante americano na Organização Internacional do Trabalho (OIT),agência patrocinada pela Liga das Nações e sediada em Genebra. Alguns encararam anomeação como trama maquiavélica para retirar Winant do cenário político. Entre os quepensavam assim estava Frances Perkins, a descontraída ministra do Trabalho do Presidente, queera admiradora de Winant. Certo dia, no Escritório Oval, Perkins perguntou ao Presidente, àqueima-roupa, se essa era mesmo a intenção dele. “Não, não [25], eu não tinha isso em mente,”

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protestou FDR. “Winant é um bom homem para a função.” Ao relembrar o fato, Perkins disseque, depois, o Presidente abaixou a cabeça e ficou olhando fixamente para sua escrivaninha.

Qualquer que fosse o raciocínio de Roosevelt para oferecer-lhe o cargo, Winant,absolutamente crente de que os Estados Unidos precisavam quebrar a concha de seuisolacionismo, não teve a menor dúvida em assumir a missão. A despeito de sua emergênciacomo potência econômica líder do mundo após a Primeira Guerra Mundial, os EUA hesitavamem aceitar qualquer das responsabilidades inerentes à sua nova e dominante posiçãointernacional. “A maioria dos americanos,” observou a revista Time, “ainda encara a diplomaciainternacional com toda a repugnância de uma dama victoriana a considera sexo.” O paísrecusara filiar-se à Liga das Nações e, quando a depressão mundial se fez sentir, no início dosanos 1930, insistira para que os aliados do tempo da guerra pagassem a totalidade de seus débitospara com os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o país aumentara suas tarifas, tornandoimpossível o pagamento dos débitos e ajudara a empurrar a Europa para um declínio econômicomaior ainda. “Desde a guerra, nossa atitude é que não necessitamos de amigos, e que a opiniãopública mundial não tem importância,” Franklin Roosevelt, que a seguir seria eleito governadorde Nova York, escreveu numa edição de 1928 da revista Foreign Affairs. Segundo o historiadorWarren Kimball, “os americanos mergulhavam e saíam da cena europeia ao seu bel-prazer,”querendo “liderar pelo exemplo distante, em vez de o fazerem pelo cometimento ativo.”

Na América, firmou-se a crença de que o país fora puxado para a Primeira Guerra Mundialpela propaganda inglesa e pelos banqueiros dos EUA e compradores de armas, que agiram emprol da Inglaterra. Enquanto uma nova guerra pairava sobre a Europa, o Congresso,crescentemente isolacionista, na tentativa de proteger os Estados Unidos de futuros conflitos,aprovou as Leis da Neutralidade e proibiu empréstimos e investimentos para países em guerra.Explicitando o estado de espírito nacional, Ernest Hemingway escreveu em 1935: “Do caldoinfernal que ferve na Europa, não temos necessidade de beber. (...) Fomos muito tolos ao nosdeixarmos sugar uma vez para uma guerra europeia, e nunca mais deveremos ser chupados denovo.”

A OIT foi o único produto da Liga das Nações ao qual os Estados Unidos iriam se filiar.Antigo defensor da missão da agência de melhorar os salários e as condições de trabalho dosoperários de todo o mundo, Winant mudou-se para Genebra para assumir o cargo. Sua estada noQG da OIT, todavia, foi breve. Ao fim de apenas cinco meses, por recomendação de FrancesPerkins, Roosevelt o convocou de volta a Washington para assumir uma das mais importantesfunções no governo: chairman da nova Câmara da Seguridade Social. Em agosto de 1935, malgrado a feroz oposição republicana, o Congresso aprovou a Lei daSeguridade Social, a mais abrangente peça de legislação social jamais promulgada nos EstadosUnidos e a mais marcante conquista do New Deal. Ao tornar disponível o seguro-desemprego eos benefícios aos idosos para todos os americanos que se qualificassem, a lei redefiniu e ampliouconsideravelmente a responsabilidade do governo para com seus cidadãos. Ela foi tãorevolucionária que o governo temeu que fosse sabotada por seus muitos críticos antes mesmo dese tornar efetiva. Em função da ferocidade da oposição do GOP, Roosevelt insistiu para que umproeminente republicano liberal — Winant — chefiasse o conselho de Seguridade Social queadministraria a nova lei.

Pelo ano e meio seguinte, Winant e seus companheiros conselheiros trabalharamincansavelmente para criar e promover um novo programa sem paralelo. Com um Senadoatrasando propositalmente a votação de seu orçamento, a Câmara funcionou com escassosrecursos financeiros em diversos dos meses iniciais, ocupando por favor instalações do novo

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prédio do Departamento do Trabalho e operando com uma equipe que era apenas a colunavertebral da necessária, assim mesmo com membros emprestados de outras repartições dogoverno. Durante o New Deal, muitas agências governamentais eram verdadeiros cadinhos deenergia e experimentações, mas nenhuma flutuava tanto à beira do caos quanto os improvisadosescritórios da Seguridade Social, onde “homens entravam [26] e saíam correndo sem cessar, epraguejavam contra a lentidão dos elevadores.”

Bem no centro desse frenesi se posicionava Winant, que dirigia ele mesmo em Washingtoncomo o fizera em Concord, e desfrutava de poucas horas de sono a cada noite em sua mansãoalugada em Georgetown. “Ele não tinha noção alguma de tempo, de refeições ou de sono, ou dequalquer coisa referente à sua própria conservação da resistência,” lembrou um auxiliar.“Trabalhava na hora das refeições e nem se lembrava que nada comera.”

No cômputo geral, Winant era um péssimo administrador, o desespero de sua equipe e deoutros membros da Câmara por sua ineficiência e seus atrasos. Sua mesa vivia com pilhas dedocumentos por assinar, a sala contígua ao escritório repleta de pessoas esperando para vê-lo.Seu sistema de arquivo consistia em enfiar os papéis importantes nos bolsos. Porém, mesmo seusmais severos críticos admitiam que ele era um líder extraordinário, um visionário com acapacidade de despertar inspiração. “Ele foi, sem a menor [27] sombra de dúvida, um dosmaiores personagens da vida pública americana durante os últimos vinte anos,” declarou FrankBane, primeiro diretor executivo da Seguridade Social. “Poucas pessoas deixaram tãosignificativa impressão de como deveria ser um executivo como o governador Winant.”

Como face pública da Seguridade Social, Winant tornou-se figura bastante familiar emCapitol Hill e em todo o país, fazendo repetidas viagens ao interior para ilustrar seus concidadãosamericanos sobre o novo programa. Sob sua liderança, a Câmara de Seguridade Social, apesarda falta de recursos e da equipe minúscula, criou em pouco mais de um ano uma organização deâmbito nacional, com 12 escritórios regionais e 108 agências na ponta da linha, e, durante esseperíodo, desembolsou mais de 215 milhões de dólares em benefícios para os idosos de trinta eseis estados. Todo o trabalho importante para criação do sistema de Seguridade Social como hojeexiste foi feito sob a chefia de Winant.

Apesar disso, o GOP e grande parte da comunidade de negócios da nação tinham a intençãode liquidar a Seguridade Social. Esperando convencer Alf Landon, o progressista governador deKansas e indicado republicano para a corrida presidencial de 1936, a apoiá-lo, Winant supriu-ocom informação confidencial a respeito do programa. Mas Landon perdera o controle de suacampanha eleitoral para os rematados conservadores do partido e, no final de setembro de 1936,ele fez um vigoroso ataque contra a Seguridade Social, prometendo acabar com ela se eleito.

Sentindo-se traído, Winant decidiu que não poderia mais ficar calado; pediria demissão daCâmara da Seguridade Social e abriria o verbo contra Landon. Seus colegas de conselho e outrosassessores fizeram o máximo de esforços para dissuadi-lo de cometer aquilo que consideravamsuicídio político. Repudiar o GOP, argumentavam eles, significaria o fim de sua carreira políticae de qualquer esperança de ocupar o cargo mais elevado de todos. Até o Presidente tentouconvencê-lo. Mas Winant permaneceu irredutível. Depois de pedir demissão, ziguezagueou pelopaís fazendo discursos e falando no rádio em apoio à Seguridade Social.

Na última semana da campanha, o Comitê Republicano Nacional distribuiu aos empregadosmilhões de panfletos, parecendo um boletim oficial do governo, que foram enfiados nosenvelopes de pagamento dos trabalhadores. Os panfletos alertavam que um futuro Congresso iriadesviar os recursos da Seguridade Social para outros propósitos e anunciava que os trabalhadorespoderiam esperar uma redução de um por cento nos salários — o custo de sua contribuição paraa Seguridade Social — a menos que agissem contra Roosevelt no dia da eleição. Winant ficou tão

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ofendido com essa sujeira de última hora que fez um pronunciamento para toda a nação dois diasantes da eleição, atacando a iniciativa republicana como “política rasteira [28]” e apoiando areeleição do presidente Roosevelt.

Seu apoio ao Presidente foi a gota d'água para o GOP e pôs fim a qualquer chance de eleconcorrer à Presidência como candidato republicano. Porém a atitude provou, como um amigolhe escreveu, que “pelo menos um homem nos altos escalões possuía convicções genuínas ecoragem para defendê-las a qualquer custo. (...) Entendo que muitos irão considerar o que vocêfez um ato idealista sem esperança e o cobrirão de ridículo. Mas idealismo é um atributo do qualeste mundo desordenado precisa desesperadamente.”

O presidente, aparentemente, concordava. Após sua vitória esmagadora, enviou Winant devolta à OIT em Genebra; o ex-governador de New Hampshire tornou-se diretor da organização.Com a guerra ameaçando eclodir, Winant também serviu como um emissário de FDR para aEuropa, despachando frequentes relatórios para a Casa Branca sobre suas viagens e encontrando-se com líderes do continente europeu. “Mais do que qualquer outro americano que conheço navida pública, ele entende as forças sociais e as mudanças que vêm sendo efetivadas na últimadécada, tanto em casa como na Europa,” escreveu em seu diário William Shirer, correspondenteem Berlim da CBS, após um almoço com Winant. Shirer acrescentou: “Creio que ele daria umbom presidente para suceder Roosevelt em 1944, se este último conseguir seu terceiro mandato.”

Quando os názis ocuparam a Tchecoslováquia em março de 1939, Winant viajou para Praganum gesto de simpatia e solidariedade para com os tchecos. Ele estava na França durante aBlitzkrieg de Hitler de 1940, deixando Paris poucas horas antes de as tropas alemãs entrarem nacidade. Depois da queda da França, Roosevelt pediu-lhe que checasse o estado de espírito daInglaterra, o único país que restava de pé contra a Alemanha. Após um rápido giro pela ilhadurante a Batalha da Inglaterra, ele respondeu que o moral público era imbatível: “Elesaguentarão [29] qualquer bombardeio que vier.” Ernest Bevin, o ministro inglês do Trabalho,diria mais tarde que Winant foi o único americano com quem se encontrou naquele período “queme transmitiu a sensação de que alguma pessoa no mundo ainda tinha fé na Inglaterra.”Percebendo a crítica escassez inglesa em armas e suprimentos, Winant instou o Presidente aenviar ajuda com a maior brevidade possível: a guerra da Inglaterra, disse ele, era a guerra dosEUA. Tratava-se de um assessoramento que contradizia diretamente os cabogramas e cartas queRoosevelt recebia de Joseph Kennedy .

Em seguida à renúncia de Kennedy como embaixador, Roosevelt não se apressou (gastoutempo demasiado, segundo muitos de seus assistentes) para nomear um sucessor. Ele queriaalguém que fosse simpático à Inglaterra, que pudesse ganhar a confiança de Churchill e de outrasfiguras do governo, e os persuadisse a serem pacientes enquanto o Presidente fazia o possívelpara encaminhar corretamente a causa deles. Ao mesmo tempo, FDR, com um olho no futuro,desejava que o novo enviado estabelecesse vínculos fortes com o Partido Trabalhista, poisachava que o partido assumiria a liderança do país durante ou depois da guerra. Felix Frankfurter,Frances Perkins e outros new dealers de destaque disseram a Roosevelt que só existia um homemcom perfil tão diversificado e complexo: John Gilbert Winant.

No fim de janeiro de 1941, poucos dias depois de seu terceiro discurso de posse, Rooseveltconvocou Winant a Washington. Durante o encontro no Escritório Oval, o Presidente perguntouao diretor da OIT sobre os líderes europeus que tinha conhecido e sobre as condições daInglaterra e dos países ocupados pelos alemães. Não houve menção ao cargo de embaixador.Tanto com Winant como com outros auxiliares, o amor infantil de Roosevelt pelo sigilo e umincompreensível senso de diversão faziam-no esconder notícias a respeito de nomeações. Eledeixaria que Winant tivesse conhecimento de sua nova função, como outros já haviam tomado

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conhecimento das suas, através da imprensa.Poucos dias mais tarde, os principais jornais do país publicaram que FDR estava mandando o

nome de Winant ao Senado para ser referendado como embaixador na Corte de St. James.Decorridas três semanas, ele estava a caminho de Londres. Na Inglaterra, a notícia da indicação de Winant foi saudada com satisfação. Qualquer outrapessoa que não Joseph Kennedy sem dúvida teria recebido afetuosa acolhida, mas a reação ànomeação de Winant foi particularmente jubilosa. “Não haveria outro nome [30] que pudesseser mais bem-aceito,” escreveu o News Chronicle. O Manchester Guardian declarou: “Ele é umamericano pelo qual o inglês sente imediata simpatia, e poucos americanos têm tão calorosaadmiração e consideração por este país e seu povo quanto ele.” O Times de Londres registrou:“Há algo de cavaleiro errante nele, já que acredita em seus princípios com quase românticapaixão.”

Em função do trabalho desenvolvido na OIT, sublinharam os jornais ingleses, Winant jáconhecia muito bem diversos membros de proa do governo Churchill, inclusive Bevin e o novoministro do Exterior Anthony Eden. Os jornais prosseguiram realçando as dramáticas diferençasentre Winant e Kennedy tanto em personalidade quanto em aparência. “Muitas vezes no passadopensava-se que (...) os embaixadores americanos, enquanto gozavam a liberdade nas melhorescasas de campo, pouco conheciam da verdadeira Inglaterra,” ressaltou explicitamente o Star.“Mas a excelente compleição metálica e forte da personalidade de Winant fará com que ele selance em horizontes mais amplos. (...) Hoje ele travará contato com os ingleses comuns e seucoração estará com eles.”

Quando o trem de Winant encostou na estação londrina de Paddington, após seu encontrocom o rei George VI, o embaixador estava feliz com a amistosa recepção do monarca e daimprensa inglesa. Mas seu primeiro encontro com a mais hercúlea figura da Inglaterra estavapor acontecer. Como Winston Churchill, ainda angustiado com o fincar americano de pés,reagiria ao novo enviado dos EUA?

Dois dias depois, quando Churchill o convidou para jantar nas reforçadas salas de guerra emWhitehall, Winant teve a resposta. Sem demonstrar qualquer vestígio do buldogue belicoso que otornara famoso, o primeiro-ministro estava obviamente com um astral conciliador. Ao longo detoda a refeição, ele e Winant discutiram o último problema que infernizava as relações anglo-americanas: a relutância inglesa em completar sua parte do acordo contratorpedeiros por bases,anunciado quase seis meses antes. Embora a Inglaterra tivesse recebido os destróieres, seugoverno ainda não tinha formalmente concordado com uma das cláusulas do quid pro quo — oarrendamento de bases nas colônias inglesas do Caribe. Ressentimentos com o acordoprovocados em Whitehall, na Câmara dos Comuns e nas próprias colônias tinham sido fortesdemais.

Churchill garantiu a Winant que resolveria o impasse. No dia seguinte, ele convocou umareunião de diversos ministros do Gabinete em Downing Street, com Winant presente comoobservador. Enquanto os outros debatiam a questão — “aquela figura encorpada [31] levementeinclinada para a frente” — caminhava para lá e para cá na sala totalmente absorto com seuspróprios pensamentos, sem dar a mínima para os demais presentes. De súbito, quando adiscussão já se prolongava por alguns minutos, o primeiro-ministro descartou todas as objeçõescomo imateriais e sobrepujou as preocupações expressas por seus assistentes militares. Naopinião de Churchill era muito mais importante esticar a política americana de neutralidade atéela quebrar do que “manter nosso orgulho e preservar a dignidade de umas poucas pequenasilhas.” Não tardou para a comissão de negociação Inglaterra-Estados Unidos dar sua aprovação

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final ao acordo. Duas semanas após sua chegada à Inglaterra, Winant, com a cabeça ligeiramente baixa,percorreu cautelosamente seu caminho através do apinhado salão de baile do Savoy Hotel,seguindo Churchill e o conde de Derby até a mesa principal. A ocasião era um almoço de galaem homenagem a Winant, patrocinado pela Pilgrim Society, uma organização que objetivava oestreitamento das relações anglo-americanas. Sentada ante o embaixador, Churchill e LordDerby, que presidia a organização, estava a elite do mundo inglês governamental e dos negócios— virtualmente todo o Gabinete, assim como os militares das mais altas patentes, industriais dedestaque e donos e editores de jornais.

Quase ao fim do almoço, Churchill levantou-se e, virando-se para o embaixador, não deixoudúvida na mente de ninguém que tencionava fazer de Winant um aliado no seu galanteio àAmérica. “Mr Winant,” ele retumbou, suas palavras levadas à nação pela BBC, “o senhorchegou a nós num memorável ponto de inflexão da história do mundo. Rejubilamo-nos por tê-loentre nós nesses dias de tempestades e privações porque no senhor temos um amigo e fielcamarada que 'nos reportará e a nossa causa da maneira correta.'”

Na conclusão de seu discurso, o primeiro-ministro declarou: “O senhor, Embaixador, partilhado nosso objetivo. O senhor compartilhará dos nossos perigos. O senhor compartilhará nossosinteresses. Compartilhará dos nossos segredos. E chegará o dia em que o Império Britânico e osEstados Unidos compartilharão (...) na coroa da vitória.” A plateia irrompeu em aplausos e,enquanto se sentava, o “lord da linguagem [32],” como um jornalista chamava Churchill, sabiaque havia conseguido mais uma vez. “Cada palavra foi carregada de significado, cada frase,uma expressão de fé e coragem,” escreveu o Sunday Times. “Na ocasião, ele não poderia ter sesaído melhor.”

Agora era a vez de Winant responder. Ele levantou-se, segurando as folhas de seu discurso, eolhou em volta para a plateia, trocando o peso do corpo de um pé para o outro, “bem parecidocom o menino que iria ler suas primeiras linhas escritas numa festa,” de acordo com umobservador. Houve uma longa pausa. Então calmamente, porém um tanto hesitante, ele começoua falar. Diferente de Churchill, Winant “não era um orador,” como o Daily Herald disse no diaseguinte. “Leu, e não muito bem, cada palavra que estava escrita, sem tirar os olhos do papel.Mas suas palavras foram mais do que simples oratória. Foram uma declaração de fé.”

A América, disse Winant, foi finalmente sacudida de sua letargia e “entrou em ação. Comseus recursos e mão de obra, ela proporcionará as ferramentas — os navios, aviões, canhões,munições e alimentos — para todos aqueles aqui e em outros lugares que defendem com suasvidas fronteiras livres.” Contudo, embora penhorasse o suporte da América à Inglaterra, eledeixou claro que não tinha vindo para elogiar seu próprio país pela lenta ajuda. Estava ali parapagar tributo à determinação e à coragem da Inglaterra e de seus cidadãos. “Nos dias de hoje, éhonra e destino do povo inglês guarnecer a cabeça de ponte das esperanças da humanidade. Évosso privilégio resistir aos impiedosos e poderosos ditadores que pretendem destruir as lições dedois mil anos de história. O destino vos encarregou de lhes dizerem: 'Por aqui não passarão.'”

Nesse ponto, Winant parou e passeou o olhar pelo salão. Com a voz crescendo de tom, eledeclarou: “Os anos perdidos já se foram. A estrada à frente é penosa. Um novo espírito seinstalou. Os povos livres estão de novo cooperando para ganhar um mundo livre, e nenhumatirania irá frustrar suas esperanças.” Os aliados, afirmou, “com a ajuda de Deus construirão umacidadela de liberdade tão robustecida que a força nunca mais tentará sua destruição.”

A reação da audiência ao apaixonado, ainda que algo truncado, pronunciamento doembaixador espelhou a das multidões em New Hampshire durante sua primeira campanha para

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governador: começou com um sentimento de piedade por ele e terminou com estupenda ovação.Como os cidadãos do seu estado, os britânicos presentes ao almoço pareceram ver no reservadoe desajeitado Winant um espírito aparentado e demonstraram tal sentimento com aplausos evivas intensos.

No dia seguinte, os jornais ingleses da mesma forma não pouparam entusiasmo.Empregando “linguagem de grandeza simples [33],” publicou o Evening Standard, Winant“conseguira um feito que poucos oradores podem igualar: falou depois de Mr Churchill com totalsucesso.” O Daily Mirror estampou em grande manchete de primeira página: “O ENVIADODOS EUA FALA PARA VOCÊ — O POVO INGLÊS! ” Um colunista do Star escreveu: “Quasetodos com quem falei esta manhã perguntaram-me: 'Você ouviu a transmissão do discurso deWinant pelo rádio?' Ouvi — e fiquei sensibilizado.”

Segundo o Sunday Times, “foi um extraordinário triunfo.”

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“Você É o Melhor Repórter da Europa”

Quando Gil Winant chegou à embaixada dos Estados Unidos em Londres, ficou intrigado aodescobrir que a casa outrora ocupada por John Adams, primeiro enviado americano à Inglaterra,ficava poucos passos distantes de seu escritório. Tanto a embaixada quanto a residência deAdams estavam situadas na Grosvenor Square, um dos endereços mais na moda da capital desdeque Sir Richard Grosvenor a projetara no início do século XVIII. A partir da época de suaconstrução, observou um escritor contemporâneo, o espaçoso quadrado cercado de árvores “eraa mais magnífica [34] praça de toda a cidade.”

A casa alugada por John e Abigail Adams de 1785 a 1788 estava entre as algumas dezenasde residências georgianas construídas no perímetro da praça, que tinha no seu centro umadourada estátua de George I envolvida por jardins bem cuidados e caminhos recobertos decascalho. Era um local adorável e charmoso para se viver — caso não se fosse o primeiroenviado dos EUA a uma Inglaterra ainda ressentida com a perda de suas rebeldes colôniasamericanas.

Como muitos de seus compatriotas, os vizinhos aristocráticos dos Adams (um dos quais eraLord North, primeiro-ministro da Inglaterra durante a Guerra Revolucionária) trataram o casalamericano com presunçoso desdém. “Um embaixador da América!” — torceu o nariz o PublicAdvertiser, jornal londrino. “Deus do céu, como isso soa mal!” Poucos nos círculos oficiaisingleses esperavam que a nação surgida do nada vingasse, porém, enquanto ela sobrevivesse,achavam que o melhor seria ignorar seu representante. Sobre os ingleses, os Adams escreverampara um amigo nos Estados Unidos: “Eles nos detestam.” No meio-tempo, Abigail queixava-se“da civilidade estudada e da disfarçada frieza” dos ingleses, que, disse ela, “encobriam coraçõesmalignos.” Ela escreveu a sua irmã em 1785: “Nunca tentarei fazer amizade com esse tipo degente, porque eles não gostarão de mim nem um pouco mais do que gosto deles.” Três anos maistarde, quando o Congresso aprovou a solicitação dos Adams para deixarem Londres, Abigailficou numa felicidade só. “Daqui a alguns anos [35],” escreveu, “talvez seja agradável residiraqui na qualidade de ministro americano, mas, com o (...) atual humor dos ingleses, ninguémdeve invejar esta embaixada.”

Como posteriores representantes dos EUA descobririam, a atitude superior dos ingleses emrelação a seus primos americanos mostrou poucos sinais de abatimento. Nathaniel Hawthorne,que serviu como cônsul dos EUA em Liverpool, em meados dos anos 1850, escreveu: “Essagente tem-se em tão alta conta e é tão desdenhosa com quaisquer outros, que requer maisgenerosidade do que possuo para que haja uma boa relação com eles.” Cerca de três décadasdepois, o famoso editor James Russell Lowell, um dos sucessores de Adams na Corte de St.James, ficou igualmente exasperado: “A única maneira segura de criar uma relação saudávelentre os dois países é tirando da cabeça dos ingleses a noção de que devemos ser para sempretratados como uma espécie de inglês inferior e deportado.”

No entanto, em 1941 a situação era bem diferente. Os ingleses agora precisavam demais daAmérica para cederem ao desejo de demonstrações públicas de superioridade. Se AbigailAdams pudesse fazer uma fantasmagórica visita a Grosvenor Square, provavelmente ficariasurpresa com o novo status do embaixador dos EUA e também com as mudanças na própriapraça.

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Embora Grosvenor Square continuasse sendo um endereço muito procurado, diversas desuas grandes mansões haviam sido postas abaixo e substituídas nos anos 1930 por edifícios deapartamentos de luxo no estilo neogeorgiano e por prédios de escritórios, um dos quais era entãoocupado pela embaixada dos Estados Unidos. O nº 9 de Grosvenor Square, onde os Adamshaviam residido, estava entre as poucas casas do século XVIII que não tinham sido demolidas. Aguerra provocara ainda mais mudanças. As bombas alemãs tinham arrasado diversos prédios dapraça e, no seu centro poeirento, estavam estacionados veículos de serviço e baixas cabanas demadeira haviam tomado o lugar dos gramados e da quadra de tênis. As cabanas eram ocupadaspor membros do Serviço Auxiliar Feminino da Força Aérea (Women Auxiliary Air Force — asWAAF), cuja missão era controlar os balões de barragem, carinhosamente apelidados de“Romeus,” que flutuavam no céu acima da praça.

O contraste entre o tratamento inglês dispensado a John Adams e a Gil Winant eraigualmente surpreendente. Não mais um novo-rico menosprezado, os Estados Unidos eram entãocruciais para o prosseguimento da existência da Grã-Bretanha como país livre, e seu enviado nãoera apenas bem-vindo como também continuadamente bajulado pelo rei inglês, por líderes dogoverno e pela mídia. Quando Winant deu sua primeira entrevista coletiva na embaixada, poucotempo após sua chegada, tantos jornalistas pediram credenciais que ele foi obrigado a dividi-laem duas sessões — uma para os repórteres ingleses e europeus e outra para os correspondentesamericanos.

Embora o novo embaixador recebesse melhor tratamento dos ingleses do que John Adams,em outros aspectos ele guardava similaridades com o primeiro enviado dos EUA. Uma descriçãode John Adams por seu amigo Jonathan Sewell poderia muito bem ser aplicada a Winant: “Elenão sabe dançar [36], beber, jogar, elogiar, prometer, se vestir, xingar com os outros gentlemen,falar macio e flertar com as damas; em suma, não possui atributo ou requinte algum quecaracterizam o cortesão.”

Winant continuou demonstrando sua habitual timidez nos dois encontros com a imprensa,mãos nervosas, voz suave e hesitante, palavras “pronunciadas tão lentamente,” segundo umjornalista inglês, “que a taquigrafia era desnecessária.” Com dezenas de flashes espocando emsua face, ele caminhava inquieto em torno de sua sala enquanto os repórteres disparavamperguntas. Winant confessou aos jornalistas que tinha pouco a dizer, mas depois que estivessemais bem informado, os reuniria novamente para conversar um pouco mais. Tal mutismonormalmente teria eriçado a pele dos calejados escribas de Fleet Street. No entanto, mais umavez, Winant foi um sucesso: “EXCELENTE IMPRESSÃO DEIXADA POR WINANT EMLONDRES,” foi a manchete em letras garrafais do Evening Star no dia seguinte. “Nos primeiroscinco minutos da entrevista,” observou o News Chronicle, “ficou óbvio que ele já tinhaconquistado a boa vontade dos correspondentes de toda a Inglaterra e do Império com suasimpatia, timidez e óbvias sinceridade e honestidade.”

Os repórteres também destacaram as diferenças entre Winant e seu gregário e boquirrotoantecessor, Joseph Kennedy, que havia contratado um ex-correspondente do New York Timescomo encarregado das relações públicas em Londres e que cortejava assiduamente os corpos dejornalistas americanos e ingleses. “Deixando-se de lado sua visão política, Mr Kennedy era umfavorito da imprensa,” escreveu Bill Stoneman do Chicago Daily News, após a coletiva de Winantcom os repórteres americanos. “Mas foi quase generalizado consenso, entre os que ainda nãoconheciam Mr Winant, que sua maneira quieta de se expressar seria uma benesse por aqui.”

Ninguém estava mais convencido disso do que um alto e magro correspondente de rádiosentado bem à retaguarda no escritório de Winant durante a entrevista coletiva. Joseph Kennedy,para dizer o mínimo, jamais fora um favorito de Edward R. Murrow. Durante diversas semanas

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passadas ele havia se empenhado em Washington pela substituição de Kennedy, que odiava, porWinant, que muito admirava. Por volta de 1941, Ed Murrow havia se tornado o americano mais conhecido em Londres, ojornalista que, de acordo com a revista Scribner's, “tem mais influência [37] sobre a reaçãoamericana às notícias estrangeiras do que um navio repleto de gente da mídia.” Ele e os homensque havia contratado como correspondentes da CBS eram então as principais fontes de notíciaseuropeias para muitos, se não a maioria, de seus conterrâneos.

Todavia, quatro anos antes, quando Murrow tentou se filiar à Associação Americana deCorrespondentes no Exterior na Inglaterra, aquela augusta organização recusara seurequerimento. O motivo para a rejeição era inatacável: Murrow não tinha um só dia deexperiência jornalística a seu crédito quando chegou pela primeira vez em Londres, em 1937.Como diretor europeu de entrevistas e palestras da CBS, ele fora enviado para ser uma espéciede agenciador, um funcionário cuja tarefa era providenciar radiodifusões de vários tipos, dedebates na Liga das Nações a concertos de coros de meninos em Viena e Praga. Naquelaocasião, nem a CBS, nem a NBC, a outra importante rede de rádio dos Estados Unidos, tinhamrepórteres próprios para circular pelo globo e transmitir para ouvintes em território americano.

Murrow, no entanto, dispôs-se a mudar esse estado de coisas. Quando cresceu a ameaça deguerra, ele convenceu William Paley, chairman da CBS, a deixá-lo contratar seu próprio grupode correspondentes, que chegaram a ser conhecidos anos mais tarde como os “Murrow Boys.”Na ocasião em que a Alemanha começou seu incessante ataque aéreo contra Londres, emsetembro de 1940, apresentou-se o evento pelo qual Murrow vinha se preparando desde quechegara à Europa. A Blitz era perfeita para o rádio: podia ser transmitida em tempo real, tinhadrama humano e, sobretudo, som — o gemido das sirenes, o sibilo das bombas, a explosão e oestrondo dos canhões antiaéreos. Nenhum outro meio podia levar aos lares americanos arealidade de um ataque aéreo de maneira tão poderosa.

Ouvir as transmissões de Murrow, com sua famosa abertura “Aqui, Londres!” tornou-se umhábito nacional nos Estados Unidos. Trabalhando dezoito horas por dia, sobrevivendo em grandeparte à base de café e cigarros, Murrow emergiu como o Boswell da Londres de tempo deguerra, descrevendo em pequenas joias de detalhes como as pessoas lutavam para levar as vidas,mesmo quando sua cidade e seu mundo ameaçavam despedaçar-se em torno delas. “Você é omelhor [38] repórter de toda Europa,” escreveu para Murrow o editor e dono do St. PetersburgTimes, Nelson Poy nter. “Digo isso porque faz um trabalho tão abrangente quanto os melhoresdeles e, além do mais, tem oferecido aos seus ouvintes os pequenos fatos da vida que tornam realo desagradável pesadelo.”

Nas suas reportagens, Murrow conseguiu também conquistar a confiança dos que oescutavam. Se ele deixava implícito, como fazia cada vez com maior frequência, que aInglaterra não poderia prosseguir sozinha, que a América tinha que se juntar à guerra, ora muitobem, talvez tivesse razão, pensava grande parte de sua audiência. Centenas de americanosescreveram a Murrow para dizer que suas transmissões os tinham tirado do distanciamentoneutro no apoio aos ingleses. Em setembro de 1940, uma pesquisa Gallup reportou que 39 porcento dos americanos eram favoráveis à ajuda dos EUA à Inglaterra. Um mês mais tarde,quando as bombas despencaram sobre Londres e Murrow levou a realidade para as salas de estaramericanas, 54 por cento acharam que deveria haver mais ajuda.

Em 1941, o Clube da Imprensa de Ultramar, em Nova York, elegeu Murrow o melhorrepórter de rádio do ano anterior. Aos trinta e dois anos, ele se transformou em autênticacelebridade. Reportagens em jornais e revistas foram escritas sobre ele, e suas transmissões

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eram impressas como colunas de jornais nos Estados Unidos. “Você é o homem no ar nº 1,”escreveu-lhe de Nova York seu colega de CBS William Shirer. “Ninguém aqui encosta em você,nem tem sua quantidade de fãs.”

Murrow se tornou o homem a ser visitado em Londres, a pessoa com quem os provenientesde Washington procuravam informação e orientação sobre o governo britânico e o povo inglês.Entre os que quiseram vê-lo estava Harry Hopkins, o assessor mais próximo de Roosevelt, queconvidou Murrow para jantar poucas horas depois de chegar em missão especial para oPresidente, em janeiro de 1941. Hopkins fora a Londres, disse ele a Murrow, para servir como“elemento catalisador entre duas prima-donas. Quero tentar conseguir um conhecimento deChurchill e dos homens com quem ele se reúne depois da meia-noite.”

Murrow foi capaz de dizer a Hopkins o que ele precisava saber por causa de seu fácil acessoa Churchill e a outros funcionários dos altos escalões do governo inglês. Plenamente conscienteda importância do transmissor de notícias da CBS e de outros influentes jornalistas americanospara a causa inglesa, o primeiro-ministro se mostrou diligente em cultivá-los desde que ascendeuao poder. Os americanos, disse um repórter inglês com certa dose de inveja, eram “tratadoscomo deuses de lata [39] porque eram tão úteis.” Quando funcionários britânicos recusaram asolicitação de Murrow para fazer reportagens ao vivo durante a Blitz, a questão foi repassada aChurchill, que imediatamente aprovou a ideia. Qualquer coisa que pudesse convencer a Américaa vir em socorro da Inglaterra tinha logo as bênçãos do primeiro-ministro.

No final de 1940, Murrow e Churchill começaram a se ver num nível mais pessoal depoisque as duas esposas se tornaram amigas enquanto trabalhavam no “Pacotes para a Inglaterra,”um programa patrocinado pelos americanos com o objetivo de coletar roupas e outrossuprimentos para os cidadãos ingleses expulsos de suas residências pelos bombardeios. Ed e JanetMurrow passaram a ser convidados assíduos do nº 10 de Downing Street; certa vez, quandoMurrow passou por lá para pegar a esposa, depois de um almoço com Clementine Churchill, oprimeiro-ministro apareceu na porta de seu escritório e acenou para que Murrow entrasse. “Ébom vê-lo,” trovejou o primeiro-ministro. “Você tem tempo para uns uísques?”

Como muitos de seus colegas americanos, as simpatias de Murrow estavam com os ingleses.A neutralidade da América, que seus patrões apoiavam, era uma política que não funcionava,julgava Murrow, pois falhava em levar em conta a estrondosa diferença moral entre aAlemanha názi e os aliados. Quando cobriu a incorporação da Áustria à Alemanha em 1938,Murrow testemunhara brutamontes názis incendiando lojas de propriedade de judeus, forçandorabinos a se ajoelharem para esfregar calçadas, e chutando judeus até a inconsciência. Certanoite, enquanto tomava uns drinques num bar de Viena, um homem com feições semitas ao seulado tirou uma navalha do bolso e cortou o próprio pescoço. Depois que retornou a Londres,Murrow não conseguiu tirar da cabeça as brutalidades que havia presenciado. Perguntou a umaamiga da BBC se ela deixaria que ele lhe relatasse o que tinha acontecido. Anos mais tarde, essaamiga disse: “Ainda tenho gravada em minha mente uma imagem do horror da cena — e aagonia com que ele a descreveu para mim.” Segundo o economista John Kenneth Galbraith,amigo de Murrow, “Ed pareceu-me horrorizado com a experiência do Anschluss.”

Obcecado com a ameaça que a Alemanha representava para o mundo e convicto daimportância da sobrevivência da Inglaterra, Murrow pouco escondia seu menosprezo por JosephKennedy e por seus seguidores da posição pró-apaziguamento. Embora nunca tivesse criticadoKennedy diretamente em seus relatórios, certa vez ele transmitiu, com muita satisfação, extratosde uma coluna de revista escrita por Harold Nicolson, um deputado antiapaziguamento, quedesencava o embaixador. Tão grande era a aversão de Murrow por Kennedy que, pouco depoisda guerra, ele não poupou um amigo por visitar o ex-embaixador em sua propriedade de Palm

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Beach. Estar com Kennedy, disse Murrow, era o mesmo que visitar Hermann Göring, o vice deHitler. Murrow estava convencido de que, “de uma forma ou de outra, a Inglaterra [40] sairádessa,” relembrou Eric Sevareid, um dos Murrow Boys. “E ficava furioso com os que assumiamatitude derrotista, mesmo em conversas particulares.”

Quando Murray descobriu, no final de 1940, que Kennedy estava retornando aos EstadosUnidos, imediatamente começou a interceder em favor de Gil Winant como sucessor doembaixador. A despeito da diferença de vinte anos, Murrow e Winant haviam se tornado amigosdesde o início dos anos 1930, durante o tempo em Genebra de Winant na OIT. “Ed tinha grandeconsideração por [Winant], relembrou um amigo de ambos. Os dois, disse outro conhecido,tinham muito em comum — “Ambos bastante reservados, absolutamente dedicados, totalmentesintonizados na mesma frequência.” Com uma forte consciência social, Murrow, como Winant,“esperava que os indivíduos de seu governo tivessem altos padrões morais,” disse Sevareid nosanos 1960. “Ele acreditava numa política externa baseada em princípios morais, coisa em quemuito poucas pessoas de então já não mais faziam fé.”

Apesar de muito admirar Roosevelt, Murrow demonstrava crescente impaciência com ahesitação americana em vir em ajuda da Inglaterra. Em Winant, ele via espelhados seu própriosenso de urgência e seu apaixonado compromisso com ideais — atributos que ele sonhavavislumbrar no Presidente e em outros políticos dos EUA. “Espero que a vida esteja muito boapara você na América, e que suas narinas não sejam assaltadas pelo odor da morte (...) quepermeia a atmosfera daqui,” escreveu ele a um amigo nos Estados Unidos. Para outro, sublinhou:“Se a luz do mundo tiver que vir do Ocidente, é melhor que alguém comece a acender umasfogueiras.”

Sobre Murrow, um amigo inglês lembrou: “Ele se preocupava, se preocupava muito, que seupróprio país não estivesse consciente dos fatos da vida. E que se Hitler e Cia. não fossem detidosaqui, a próxima parada seria em Manhattan.” Enquanto Ed Murrow e Gil Winant se pareciam em muitos aspectos, seus históricos eramtotalmente diferentes. O pai de Murrow era pequeno fazendeiro cuja produção mal dava para asubsistência da família em Polecat Creek, Carolina do Norte; ele decidiu então mudar-se levandoesposa e quatro filhos para o estado de Washington, no noroeste dos EUA, quando Ed tinha cincoanos, para trabalhar em acampamentos de madeireiros. A família não teve água encanadadentro de casa antes de Murrow completar quatorze anos, e não teve um telefone durante todo otempo em que ele viveu com os pais.

Idealista e, ao mesmo tempo, intensamente ambicioso, Murrow era crítico dos privilégiosnão merecidos e acreditava piamente que os jornalistas deveriam ser defensores dos menosfavorecidos. No entanto, sua ambição o levava a desejar ser admitido nos clubes e salões dasclasses altas americana e inglesa. Em Londres, não dispensava os ternos de risca de giz de SavilleRow, um dos métodos que empregava para apagar os vestígios de suas origens muito humildes.Eric Sevareid jamais esqueceu a primeira vez que teve contato com Murrow — “um jovemamericano [41] envergando belíssimo terno sob medida, de colarinho duro e falando muito àvontade no telefone com madame fulana de tal. Sua tranquilidade e sofisticação do linguajar (...)eram difíceis de acreditar.”

Porém, quanto mais Murrow se afastava de suas raízes rurais e empobrecidas, mais culpadose sentia por fazê-lo. Chegou a afirmar aos amigos em Londres que, por vezes, achava que deviater continuado no estado de Washington como lenhador, seu trabalho de verão quando cursou aescola secundária e a faculdade. Murrow costumava dizer que “havia certa felicidade naquelavida,” e que “nunca mais experimentou aquele tipo de satisfação,” lembrou um amigo.

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Leitor voraz, Murrow frequentou o Washington State College, onde se bacharelou emoratória, filiou-se à mais prestigiada fraternidade do campus e foi eleito presidente do diretórioacadêmico. Depois que se formou em 1930, atuou como presidente da Federação Nacional deEstudantes da América, uma agência que representava os diretórios acadêmicos de cerca dequatrocentas faculdades e universidades. Depois trabalhou no Instituto de EducaçãoInternacional, primordialmente como organizador do intercâmbio de estudantes e deconferências nos Estados Unidos e na Europa. Nas suas frequentes viagens ao estrangeiro,Murrow fez diversos e importantes contatos, inclusive com o destacado socialista inglês HaroldLaski, que também era muito amigo de Winant. Em 1933, através de seu trabalho no instituto,Murrow se envolveu com a ajuda a eminentes acadêmicos e cientistas alemães, entre eles PaulTillich, Martin Buber e Hans J. Morgenthau, a fim de que emigrassem para a América, fugindoda Alemanha názi. Aquela experiência, disse ele mais tarde, foi “a mais ricamente [42]compensadora de todas as empreitadas de que jamais participei.”

No ano seguinte, com vinte e seis anos, ele se casou com Janet Brewster, uma bonita morenaformada em Mount Holyoke e nascida em Connecticut, cujas raízes familiares podiam serretraçadas até o Mayflower. Calma e reservada na aparência, Janet amava a aventura, tinhasagaz senso de humor e ideias próprias. Na faculdade, ela rejeitou o conservantismo republicanodos pais e se tornou aplicada democrata new dealer. Antes de conhecer Murrow, sua ambiçãoera mudar-se para Nova York e se tornar assistente social.

Em 1935, a CBS contratou Murrow como diretor de entrevistas e palestras. Dois anos maistarde, foi enviado para Londres a fim de supervisionar os programas culturais, educacionais e osnoticiários da Inglaterra e do continente. Enquanto a Europa caminhava para a guerra, Murrowdesenvolvia um frenético show de um homem só, viajando pelas capitais europeias parapreparar debates, palestras de figuras internacionais e comentários de conhecidoscorrespondentes estrangeiros, assim como para cobrir eventos que iam de concertos a concursosde cães.

Com Hitler prestes a anexar a Áustria, Nova York concordou, no início de 1938, em expandira operação da rede europeia. Murrow contratou William Shirer, veterano corresponde noestrangeiro sediado em Berlim. Na ocasião em que os názis entraram marchando em Viena, emmarço, Murrow e Shirer vislumbraram as chances de se firmarem como repórteres de rádio ede fazer história radiofônica. Algumas noites depois do Anschluss, os dois organizaram a primeirarede de notícias ao vivo jamais operada para a América, com Murrow reportando de Viena,Shirer e a deputada trabalhista Ellen Wilkinson, de Londres, e diversos correspondentes de jornaisamericanos a partir de Paris, Berlim e Roma. A última transmissão saiu de Washington, onde osenador Lewis Schwellenbach, um isolacionista da Comissão de Relações Exteriores do Senado,declarou: “Se o restante do mundo quiser se envolver numa briga, o problema é dele.”

A rede ao vivo foi um grande sucesso para a CBS. Murrow e Shirer tinham provado que orádio não apenas era capaz de difundir notícias, como normalmente o fazia, mas também decolocá-las dentro de um contexto, ligando-as a notícias de outras fontes — e fazer isso comvelocidade e oportunidade sem precedentes. Eles igualmente colocaram em movimento umacadeia de eventos que levaria, em apenas um ano, à emergência do rádio como a principal mídiade notícias da América, e ao começo do domínio da CBS, que durou décadas, no jornalismoradiofônico. Durante o governo de Neville Chamberlain como primeiro-ministro inglês e líder do PartidoConservador, Murrow, embora jamais criticasse nas suas transmissões a política do governo deconciliação com Hitler, frequentemente reportava o que os oponentes antiapaziguamento de

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Chamberlain diziam acerca da política. Por seu turno, Downing Street e grande parte deWhitehall faziam muitas críticas a ele. “Deixaram por demais [43] claro que não gostam dealgumas coisas que tenho dito ultimamente,” escreveu Murrow a seus pais no início de 1939.“Pode ser que eu seja expulso do país antes de a guerra começar. Diversas pessoas, que ocupamcargos importantes, têm me dado conselhos paternais, dizendo que seria do meu próprio interessetransmitir palestras favoráveis a este país.”

Funcionários recomendavam que ele seguisse a linha da British Broadcasting Corporation, aúnica fonte de notícias pelo rádio da maior parte do povo inglês. Apesar de a BBC ser subsidiadapelo governo e, no fim, tivesse de prestar contas ao Parlamento, supunha-se que tinhaindependência editorial. Sir John Reith, o diretor-geral, via, entretanto, de maneira diferente oalvará da estação. Seu raciocínio era o seguinte: “Partindo-se do pressuposto de que a BBC é parao povo e de que o governo também é, logo a BBC tem de ser favorável ao governo.” Sob Reith, aBBC abafava notícias que Chamberlain julgava não palatáveis e se baseava quase totalmente emfontes oficiais para a difusão dos noticiários; não proporcionava nem análise nem contexto do queestava acontecendo, tampouco perspectivas alternativas. Na esteira da crise de Munique, um altofuncionário da BBC escreveu um memorando confidencial aos seus superiores acusando-os deembarcarem numa “conspiração do silêncio.” O público, investiu o funcionário, fora mantido“na ignorância” e a ele fora negado “conhecimento essencial” do que se passava.

Murrow não tinha a intenção de seguir o exemplo da BBC. Além dos relatórios duros sobre aspolíticas de Chamberlain, ele convidava Winston Churchill e outros deputados conservadoresantiapaziguamento a fim de que se pronunciassem pelo rádio, via CBS, para a América. Acompanhia americana era a única válvula de escape para a maioria dos parlamentares rebeldesque haviam sido banidos das radiodifusões da BBC em função de suas opiniões.

A maioria dos críticos de Chamberlain no Partido Conservador fazia parte da rede de ex-alunos de escolas de prestígio que dominavam a sociedade e o governo ingleses, e elesreceberam muito bem Murrow e a esposa Janet em seu círculo de elite. Ao longo de toda aestada dos Murrows na Inglaterra eles foram frequentes convidados para almoços, jantares erecepções nos exclusivos clubes privados do elegante bairro de Mayfair, assim como para fins desemana em senhoriais casas de campo. Muito bom atirador, Murrow caçava perdizes e faisõescom Lord Cranborne, futuro marquês de Salisbury, na propriedade da família, em Hertfordshire,uma das mais tradicionais da aristocracia inglesa. O menino de Polecat Creek era um dos poucosnão britânicos que chamava Cranborne, ex-subsecretário do Foreign Office e um dos maisabertos opositores de Chamberlain, pelo apelido de criança — “Bobbety .”

Era também assiduamente incluído na lista dos convidados para fins de semana de caça emDitchley, mansão do século XVIII em Oxfordshire e uma das mais opulentas casas de campoinglesas cujo dono era outro rebelde, Ronald Tree. Neto de Marshall Field, magnata das lojas dedepartamentos de Chicago, o fantasticamente rico Tree havia crescido na Inglaterra e fora eleitopara o Parlamento em 1933. Sua esposa, Nancy, era sobrinha de Nancy Astor, uma bela moçanascida na Virgínia, EUA, que se tornara, na idade adulta, a primeira mulher eleita para aCâmara dos Comuns.

Envolvido pelo abstrato, porém rígido, sistema de classes inglês, Murrow não se sentiaculpado (embora por vezes ficasse na defensiva) por suas relações com pessoas das mais altascamadas da sociedade. Ele não julgava os amigos pela classe, costumava dizer; de qualquermaneira “essas pessoas [44] são valiosas para mim.” Janet Murrow tinha resposta maispreconceituosa: as mulheres daqueles círculos muito refinados com frequência a ignoravam,preferindo concentrar-se no seu vistoso e influente marido. “Elas tinham uma maneira rápida eeficiente,” lembrou-se, “de fazer você sentir que não era particularmente útil a elas.” Uma

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empedernida ianque de Connecticut, ela também não apreciava muito o que classificava desuperficialidades no estilo de vida da classe alta inglesa. Após um fim de semana em Ditchley,escreveu em seu diário: “É uma bela casa — palácio — clube campestre — ou sei lá o quê. Mascomo complicam a vida! Muita gente reunida! Conversas demais; muito barulho. Por que fazemisso?” Em setembro de 1939, a relutante declaração inglesa de guerra à Alemanha pôs um fim emgrande parte da frivolidade que Janet Murrow achava tão detestável. E transformou a vida dela,bem como virou de cabeça para baixo a de virtualmente todos os habitantes do país. Mais de ummilhão de pessoas, independentemente de ricas ou pobres, foram evacuadas de suas residênciasou as deixaram voluntariamente, constituindo a maior migração na Inglaterra desde a GrandePraga de 1665. Casas foram interditadas, famílias separadas, carreiras abandonadas, escolas,lojas e escritórios fechados.

O embaixador Kennedy recomendou que todos os americanos na Inglaterra deixassem opaís com a maior brevidade possível. Mais de dez mil cidadãos dos EUA, inclusive sua própriaesposa e filhos, aceitaram o conselho e partiram com a velocidade permitida pelas acomodaçõesnos navios — a maioria nas quarenta e oito horas seguintes à declaração de guerra. Longas filasde americanos (e de não poucos ingleses) serpenteavam à frente da embaixada dos EstadosUnidos à procura de deixar o país.

Em Londres, os sinais da guerra estavam por todos os cantos. Barricadas de sacos de areia ede arame farpado protegiam o Parlamento, o nº 10 de Downing Street e outros prédiosgovernamentais, enquanto balões de barragens, presos a cabos, flutuavam sobre a cidade.Soldados e policiais montavam guarda em pontes e túneis, atentos contra possíveis sabotadores.As vitrines das lojas eram cobertas por painéis de madeira ou tinham coladas faixas de papelmarrom para evitar que estilhaçassem com as explosões das bombas. Os espalhafatosos anúnciosluminosos de Picadilly Circus e as marquises iluminadas dos teatros do West End permaneciamapagados em virtude de blackout, e as águas não mais dançavam nos chafarizes de TrafalgarSquare.

Destacando-se bem acima de Portland Place, a Broadcasting House, de onde Murrow faziasuas radiodifusões para a América, tinha sido particularmente bem reforçada. O quartel-generalda BBC, um gigantesco edifício branco em forma de triângulo a poucos quarteirões de Regent'sPark, era considerado alvo preferencial de sabotadores e bombas. Sacos de areia foramempilhados a consideráveis alturas em torno das entradas, e sentinelas portando fuzis guarneciamas maciças portas de bronze da frente, com ordens de atirar para matar, se necessário. Osgraciosos interiores em art déco do prédio foram divididos por partições de aço e portas à provade gás. Seus murais com técnica trompe l'oeil estavam cobertos com forte material à prova desom. Os assentos do salão de concertos da BBC foram retirados com o objetivo de criar umgigantesco dormitório para os empregados, com colchões alinhados no palco e na plateia.

A divisão de noticiários foi o único departamento importante da BBC a permanecer naBroadcasting House durante a guerra; os demais, inclusive o departamento de entretenimento,foram evacuados para prédios em outras partes de Londres e do país. O coração da BBC News— a sala de controle geral, os estúdios e a redação — foi transferido para baixo do subsolo, trêsandares inferiores ao nível da rua. Bem enterrados no subterrâneo, com tubulações fazendobarulho acima de suas cabeças e o cheiro de repolho se infiltrando da cantina, editores, locutores,escritores e outros membros da equipe trabalhavam vinte e quatro horas por dia para produzir osprogramas com as notícias mais atualizadas.

Murrow e os outros radiorrepórteres americanos transmitiam a partir do estúdio B-4, um

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diminuto cômodo subterrâneo antes usado para armazenar mantimentos da cantina. O “estúdio”era dividido por uma cortina improvisada. De um lado, a cabine de transmissão, consistindo deuma mesa, microfone e duas cadeiras; do outro, armários de arquivos, cabides de roupas e umcatre, normalmente utilizado por um cansado repórter, engenheiro ou censor. Tão dramáticas quanto as mudanças físicas na BBC, porém ainda mais surpreendentes, foram asalterações no estilo e na filosofia da estação. Antes de setembro de 1939, ela era, como lembrouum empregado, “um lugar [46] agradável, confortável, aculturado e repousante, distante domundo dos negócios e das lutas.” O homem responsável pela criação daquele ambiente erudito,presunçoso e levemente puritano foi John Reith, o qual, desde a concepção da rede, em 1922,recomendou que os locutores usassem dinner jackets enquanto estivessem ao microfone. Depoisde proferir uma palestra sobre a BBC em 1937, Virginia Woolf descreveu sua atmosfera como“triste e discreta” e “oh, tão adequada, oh, tão amável.”

Quando chegou pela primeira vez a Londres, Murrow, numa reunião com Reith, deixoupatente que ele e a CBS não tinham a intenção de adotar a atitude de nariz empinado da BBC.“Quero que meus programas sejam tudo, menos intelectuais,” disse ele. “Quero que eles tenhampés no chão e sejam entendidos pelo homem comum da rua.” Com indiferente aceno da mão,Reith replicou. “Então você vai arrastar o rádio para o nível do Hyde Park Speaker's Corner(Canto dos Oradores).” Murrow fez que sim com a cabeça. “Exatamente.”

No início de 1940, Reith foi nomeado para chefiar o novo Ministério da Informação; mesmoantes de sua saída, a BBC começou uma metamorfose que a tornaria, pelo fim da guerra, nafonte mundial mais confiável de notícias. Ela também se transformou, como um dos membrosda equipe da estação colocou, “no verdadeiro [47] lar espiritual de Ed.”

Um bom número de novos produtores e editores, muitos deles repórteres da imprensaescrita, foi contratado, trazendo com ele um surto de energia e de experiência jornalística para aredação. R.T. Clark, um acadêmico dos clássicos e ex-editorialista do Manchester Guardian, foiposto à frente do serviço de noticiário nacional. No dia em que a Inglaterra declarou guerra àAlemanha, Clark, com um cigarro pendurado na boca, sinalizou uma mudança sísmica napolítica de notícias da BBC quando anunciou para sua equipe: “Muito bem, irmãos, agora que aguerra chegou, a tarefa de vocês é dizer a verdade. Se não tiverem certeza de que se trata daverdade, não usem a notícia.” Sua declaração foi muito bem recebida não só pelos novoscontratados, como também por um grupo de antigos integrantes da equipe que eramfrancamente contra a manipulação das notícias na BBC e contra a recusa da estação em permitira radiodifusão de críticas ao governo Chamberlain. Muitos deles eram amigos de Murrow, o qualpermaneceu sentado bem no fundo da redação enquanto Clark fazia o anúncio, acrescentandoseus aplausos àquela genuína conclamação pela verdade.

Como as redes americanas de rádio, a BBC não possuía correspondentes próprios, nacionaisou no estrangeiro, e recebia a maioria de suas matérias dos jornais ou de agências de notíciaspelo telégrafo. Isso mudou sob Clark: reportagens produzidas in loco pelos jornalistas da BBC setornaram importante característica da estação, em paralelo com mais interpretações dos eventos,a par de maiores vitalidade e vigor nos boletins noticiosos. Ao longo de toda a guerra, Clark eoutros funcionários da BBC lutaram para manter a independência da rede, resistindo inúmerasvezes às tentativas do governo, tanto o de Chamberlain quanto o de Churchill, para usar a estaçãocom propósitos de propaganda. No início de seu mandato como primeiro-ministro, umresmungão Churchill costumava tachar a BBC de “um dos mais importantes neutros;” emresposta, a BBC declarou que a manutenção do moral nacional, por mais louvável que fosse, nãoera desculpa para uma “deliberada distorção da verdade.” Na maioria das vezes, a estação

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conseguiu manter o governo afastado da redação. Em 1944, George Orwell, normalmentemordaz, registrou: “A BBC [48], no que se refere a notícias, ganhou imenso prestígio. (...) 'Deuisso no rádio,' é agora quase equivalente a 'Sei que tem de ser verdade.'”

A evolução da BBC em tempo de guerra provocou impacto importante em Murrow, cujopróprio estilo e filosofia de transmissão de notícias ainda evoluíam também. “Estávamosdifundindo as más notícias por completo, os communiqués terríveis,” disse um editor da BBC, “eisso se mesclou com o desejo de Murrow de dizer a verdade, mesmo que dura e vergonhosa.Houve total casamento de ideias nesse sentido.” Ainda que Murrow fosse um empregado da CBS,a BBC foi a primeira organização real de noticiários com a qual ele se associou de perto. Ele e oscolegas ingleses estavam criando algo novo; compartiam as mesmas noções sobre verdade eindependência; à medida que a guerra progredia, eles aprendiam e cresciam juntos.

Uma influência crucial sobre Murrow foi Clark, que se tornou uma espécie de mentor econselheiro. Depois das transmissões noturnas do americano, os dois conversavam por horas noconfuso e subterrâneo escritório de Clark, abarrotado de livros, a fumaça de seus onipresentescigarros espiralando para o teto. Não era raro Murrow convidar Clark e outros membros da BBCao seu apartamento na Hallam Street, bem próximo da Broadcasting House, para continuarem aconversa com copos de bourbon americano na mão. Nas palavras de um participante daquelassessões grupais da madrugada, “Todos nós considerávamos [Ed] um integrante da equipe, nãoapenas porque a BBC lhe cedia as instalações, e sim porque ele se ajustava a ela. (...) Murrow foiimediatamente aceito porque era aceitável. Nós éramos muito britânicos; ele, muito americano.(...) Mas percorríamos a mesma estrada. Nos cômodos da Broadcasting House o nome de EdMurrow está inscrito em letras douradas. Ele foi um de nós.” Nem Murrow, tampouco a BBC tiveram importantes notícias a transmitir durante os primeirosoito meses daquilo que, no início, foi um conflito simulado, conhecido como Bore War, “GuerraChata” pelos ingleses, e “Drôle de Guerre” por seus aliados franceses. (Os neutros americanos adenominaram Phony War, “Guerra de Mentira.”) A Inglaterra e a França fizeram pouco mais doque lançar milhões de panfletos de propaganda em território inimigo, impor um bloqueio navalcontra a Alemanha e enviar algumas patrulhas através da Linha Maginot, a tão louvada cadeia defortificações na fronteira franco-alemã. Esse período sonolento terminou abruptamente em abrilde 1940 quando Hitler invadiu a Noruega e a Dinamarca, e então, um mês mais tarde, seuspanzers rolaram poderosamente pelos Países Baixos e penetraram na França. Em junho, osfranceses capitularam, e a Inglaterra, com aproximadamente um décimo das forçasdesdobradas pela Alemanha, ficou sozinha para enfrentar a potência destruidora germânica.

A retumbante e combativa retórica no novo primeiro-ministro inglês, Winston Churchill,inspirou seus compatriotas, mas só a inspiração não tinha capacidade de impedir o avançoalemão. “Até onde posso ver [49], estamos, após anos de vagarosa preparação, completamentedespreparados,” registrou em seu diário Sir Alexander Cadogan, subsecretário permanente doForeign Office. Um relatório do governo observou: “Todo mundo a zanzar como se quisesseenfiar a cabeça num forno a gás.”

Mais uma vez o embaixador Kennedy alertou os americanos que ainda estavam naInglaterra para que fugissem do país, e alguns milhares deles, inclusive jornalistas, se foram.Quando os pais de Janet Murrow a instaram a fazer o mesmo, ela retrucou com um firme“Não.” “Nós decidimos há um ano que a única coisa a fazer era viver perigosamente e não fugirdos fatos,” escreveu ela. Mais tarde, acrescentou: “Simplesmente não é possível ir embora edesfrutar de paz quando o mundo que conheci por aqui está prestes a entrar no período maissombrio de sua história. Espero que vocês entendam.”

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Contudo, enquanto muitos americanos partiam, outros chegavam, em particular muitoscorrespondentes dos EUA que haviam coberto a debacle dos aliados na França e na Bélgica.Entre esses, diversos pesos-pesados proeminentes do jornalismo americano cujas reportagenshaviam se originado em Adis Abeba, Praga ou Madrid. Havia o elegante Vincent Sheean,exagerado na bebida, cujas memórias, Personal History, tinham inspirado o filme ForeignCorrespondent (Correspondente de Guerra) de Alfred Hitchcock, como também influenciadotoda uma geração de repórteres americanos. Igualmente brilhante (e beberrão) era QuentinReynolds, bem-sucedido correspondente de guerra da revista Collier's. Homem corpulento ecordato, Rey nolds, com seus 120 quilos, era, nas palavras do New York Times , “contagianteentusiasta,” cujos traços de personalidade e outros atributos eram excepcionalmente popularesnos Estados Unidos.

Os recém-chegados juntaram-se a Murrow e a outras dezenas de americanos que haviampermanecido em Londres após a queda da França a fim de mandar reportagens pelas redes derádio, para os jornais, agências de notícias e para as revistas dos EUA. “Nunca antes [50], estousegura, houve tal concentração de jornalistas em área tão pequena,” escreveu Janet Murrow aospais. “Eles já estão prontinhos para saltar na garganta uns dos outros.”

Os americanos que tinham acabado de chegar eram olhados com certa desconfiança emesmo hostilidade por alguns de seus correspondentes ingleses. Harry Watt, um diretor de filmesdocumentários noticiosos, os via como “aves de rapina e chacais da guerra, que admitiam estarlá para reportar a queda da Inglaterra. Estavam preparados para ver toda a Europa conquistada ejá tinham até as novas manchetes escritas.” Nem mesmo as batalhas aéreas entre a Luftwaffe ea RAF, que começaram no verão de 1940, satisfaziam o apetite dos americanos pelo desastre. Lápelo meio da Batalha da Inglaterra, Eric Sevareid da CBS, um dos que haviam coberto a derrotada França, juntou-se a dois colegas e construíram um memorial falso da guerra com pedaços deconcreto, uma lata de tomates em conserva e algumas papoulas murchas. A inscrição numa daslascas de concreto dizia: “Aqui jazem três representantes da imprensa que morreram de tédio àespera da invasão, 1940.”

O tédio, porém, logo seria o menor dos problemas deles. Numa quente e sonolenta tarde do começo de setembro, Ed Murrow, Vincent Sheean e BenRobertson, um correspondente da revista PM de Nova York, pararam na extremidade de umcampo cultivado, alguns quilômetros ao sul de Londres. Eles haviam dirigido o dia todo, descendoo estuário do Tâmisa, no conversível Talbot Sunbeam de Murrow, para ver batalhas aéreas entreSpitfires e Messerschmitts. A procura tinha sido infrutífera e eles pararam para comprar maçãsde um granjeiro. Deitados na grama para saboreá-las, preguiçosamente ouviam o ruído dosgrilos e o zumbido das abelhas. A guerra parecia muito distante. Em poucos minutos, todavia, elachegou impetuosa. Escutando o ronco de motores de aviões, os americanos viram, a seguir, o céuficar coalhado por ondas e ondas de bombardeiros com a suástica pintada na fuselagem e nasasas, que claramente não se dirigiam para os alvos do dia anterior — as defesas da costa e asbases da RAF do sul da Inglaterra. Seguindo a curva do Tâmisa, eles rumavam diretamente paraLondres.

Numa questão de minutos o céu sobre a capital encheu-se de um vermelho incandescente ebrilhante; fumaça negra em vagalhões formavam uma vasta nuvem que abarcava como umcobertor grande parte do horizonte. Quando os estilhaços das granadas antiaéreas começaram acair sobre os jornalistas americanos, eles mergulharam numa vala próxima de onde, atônitos,observaram a quase interminável procissão de aeronaves inimigas voando para o norte. “Londresestá queimando. Londres está queimando [51],” Robertson repetia sem cessar. Retornando à

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cidade, eles viram chamas varrendo o East End, consumindo docas, tanques de petróleo,fábricas, conjuntos habitacionais apinhados de gente e tudo o mais que estivesse no caminho.Centenas de pessoas haviam morrido, milhares feridas ou expulsas de suas residências.Iluminadas por uma lua vermelho-sangue, mulheres empurravam carrinhos de bebê atulhadoscom os pertences que haviam conseguido salvar.

Aquela noite horrível assinalou o início da Blitz: a partir de 7 de setembro, Londres iria sofrercinquenta e sete noites seguidas de incessante bombardeio. Até então, nenhuma outra cidade nahistória havia sido submetida a tão furioso ataque; Varsóvia e Roterdam tinham sido severamentebombardeadas pelos alemães meses antes, mas não pelo período de tempo do assalto a Londres.

Embora a classe trabalhadora do East End tenha suportado frequentes castigos naqueleoutono, nenhum bairro de Londres deixou de ser afetado. As áreas elegantes de compras emBond Street e Regent Street foram despedaçadas, os pavimentos ficaram tão cobertos comestilhaços de vidros das janelas das lojas de departamentos que a cena se assemelhou àpassagem de uma grande tempestade de neve fora da estação. Na Oxford Street, o edifício daloja John Lewis era uma ruína queimada. O nº 10 de Downing Street sofreu alguns estragos comas bombas, assim como o Ministério das Colônias, o Tesouro e o quartel dos House Guards.Quase nenhuma janela do Ministério da Guerra ficou intacta depois de uma das incursões aéreas,e o Buckingham Palace foi atingido diversas vezes. Como escreveu o diplomata canadenseCharles Ritchie em seu diário, todo habitante de Londres, independentemente de onde vivia, ficou“em constante perigo de vida, como os animais na selva.”

Isso incluía os correspondentes americanos de guerra, que não mais eram observadoresimparciais, com a possibilidade de testemunharem a ação na linha de frente e depois se retirarpara a segurança da retaguarda a fim de escrever suas matérias. Provindos de um país que seorgulhava de ser imune a ataque de uma potência estrangeira, alguns tiveram problemas parareconhecer o fato de que a segurança não era mais uma opção. “Vocês não podem fazer issocomigo. Eu sou americano,” lembrou Eric Sevareid de ter pensado na primeira noite da Blitz.“Por sorte,” concluiu ele, “aquele pensamento passou rápido.”

A experiência pessoal dos repórteres na Blitz se tornou elemento-chave em suas coberturas.Suas simpatias pelos londrinos foram reforçadas pelo fato de que eles, também, eram residentesde uma Londres sob fogo. Sentiam o mesmo temor paralisante quando escutavam o agudo sibilode uma bomba caindo, e o mesmo sentimento de alívio quando ela explodia em algum localdistante. “Como qualquer pessoa [52], passei também a entender a sensação da fragilidade daexistência humana,” escreveu Ben Robertson. “Nunca nos libertávamos do senso de que a morteestava próxima — havia sempre a tensão.”

Mesmo assim, para alguns repórteres americanos, a vida não era tão perigosa quanto a demuitos cidadãos da capital. Com as contas pagas pelos generosos patrões, eles podiam se dar aoluxo de viver nos modernos e caros hotéis e edifícios de apartamentos da cidade, cujas estruturasde aço, supunha-se, ofereciam proteção consideravelmente maior do que grande parte dasconstruções residenciais de Londres. Ben Robertson era hóspede do Claridge's, Vincent Sheean,do Dorchester, Quentin Reynolds alugava um apartamento na Lansdowne House, em BerkeleyStreet, onde mantinha três peixinhos dourados no bidê permanentemente cheio d'água epartilhava um mordomo com outro repórter americano.

Em novembro de 1940, os correspondentes do New York Times e do New York Herald Tribunemudaram-se para o Savoy, onde abriram escritórios. Outros repórteres chegaram em seguida. OSavoy jactava-se de possuir não apenas um dos mais profundos e luxuosos abrigos antiaéreos dacidade, localizado no River Room subterrâneo, cujas pesadas cortinas e orquestra de salãoajudavam a abafar o barulho das barragens de canhões no lado de fora. Bastava passar pelas

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portas rotatórias do Savoy para se sair do caos da guerra e desfrutar “dos mesmos luxo e brilho edas pessoas especiais que se pode encontrar em qualquer bom hotel de Nova York,” escreveu ocolunista Ernie Py le. “Todos os empregados da recepção trajavam smokings; os bell-boys,uniformes cinzentos. Os ascensoristas usavam colarinhos de pontas viradas.” Um hóspede detempo de guerra disse: “Uma vez dentro do Savoy , era difícil saber se havia guerra a quilômetrosde distância.” O American Bar do hotel se tornou o local favorito dos jornalistas dos EUA —tanto que Douglas Williams, o ministro da Informação oficial, transferiu suas reuniões noturnaspara aquele bar, onde ele se encontrava com a imprensa, coquetel na mão. Apesar de Ed Murrow ir ao Savoy para um drinque ou jantar ocasional, ele não seguiu oexemplo dos colegas que passaram a residir lá. Ed e Janet continuaram no seu edifício deapartamentos em Hallam Street, que estava então deserto, salvo por mais um residente. Avizinhança de elegantes casas com terraços construídas no final do século XVIII e início do XIX(estilo Regency ) e os pequenos prédios de apartamentos próximos à Broadcasting House, alvoimportante dos bombardeios alemães, haviam se tornado perigosas para se morar. Embora oedifício dos Murrows jamais tenha sido afetado, muitas das casas e lojas do entorno foramtotalmente destruídas. O escritório da CBS, também próximo à BBC, foi bombardeado nosprimeiros dias da Blitz; quando se mudou, foi atingido mais duas vezes.

Por ter vivido em Londres mais tempo do que a maioria dos seus correspondentesamericanos, Murrow conhecia melhor a cidade e, supostamente, gostava mais dela. Quando asbombas choviam, ele preferia vagar pelos bairros do que ficar sentado em bares de hotel ouentrevistando parlamentares ou funcionários de Whitehall. É claro que ele cobria as atividadesgovernamentais, porém, com mais frequência, deixava-se vencer pela compulsão de sair àsruas, geralmente durante os raids mais pesados, para verificar como o povo de Londres estava secomportando. Seus amigos da BBC o apelidaram de “mensageiro do inferno [53],” pois, tododesarrumado, empoeirado e “muito chocado,” ele retornava à Broadcasting House todas asnoites para relatar o que tinha visto no lado de fora e, depois, repetir a descrição das cenas paraseus ouvintes.

“As palavras não têm a devida força,” disse ele certa vez. “Não há palavras para descrevercom exatidão o que está ocorrendo.” No entanto, em suas transmissões, ele conseguia encontrá-las. Era um virtuoso das palavras, um mestre para pintar retratos verbais de um drama que aindaparecia distante e incompreensível para muitos americanos. Somente injetando nos seus ouvinteso coração e a mente de outros, acreditava Murrow, a guerra começaria a ter real significadopara eles. “Fez tudo de concreto e específico,” lembrou-se Sevareid. “Chegou ao ossodescarnado das coisas.” Através da “palavra falada,” acrescentou Godfrey Talbot da BBC,Murrow era capaz “de repassar uma imagem de como as coisas eram, de como cheiravam, decomo queimavam. (...) De modo que os ouvintes ficavam com a impressão de estar ao lado delenas ruas de Londres.”

Numa das transmissões, ele descreveu os trabalhadores do resgate cavando túneis nosescombros de uma casa bombardeada, levantando gentilmente corpos debilitados “que maispareciam bonecas [54] quebradas, abandonadas e cobertas de poeira.” Após visitar um abrigoimprovisado em uma das estações do metrô de Londres, ele falou sobre “o frio e sufocante fog”que penetrara no abrigo e descreveu como, depois da visita, ele subiu as escadas “para aescuridão úmida da noite, acompanhado pelo som triste das tosses.” Em outra reportagem,Murrow repassou para sua audiência a atividade de uma bateria antiaérea em Londres: “Elesoperam em mangas de camisa, rindo e praguejando enquanto carregam com granadas os seuscanhões. Os detectores e designadores de alvos giram lentamente em suas cadeiras reclinadas.

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As lentes de seus binóculos noturnos parecem olhos de uma coruja gigante contra a luz azul-alaranjada que arrota das bocas do tubos dos canhões.”

Os londrinos citados por Murrow em suas radiodifusões eram aqueles pelos quais tinha maioradmiração. Malgrado toda a satisfação que auferia das suas relações com os ricos e poderosos daInglaterra, ele sentia muito maior afinidade com o inglês mediano — e com a classe detrabalhadores que suportava o maior peso da Blitz — “as pessoas comuns, que viviam empequenas casas, que não usavam uniformes, que não recebiam condecorações por bravura,”mas que eram “excepcionalmente corajosas, resistentes e ponderadas.” Na Batalha de Londres,as tropas da linha de frente não eram os ricos e bem-vestidos do West End, e sim os bombeiros,os guardas, os médicos, as enfermeiras, os clérigos, os reparadores de linhas telefônicas e outrostrabalhadores que todas as noites arriscavam suas vidas para ajudar os feridos, coletar os mortose fazer a cidade assediada voltar à vida. Nas suas reportagens, Murrow focou repetidas vezesnesses “heróis anônimos” que prosseguiam nas suas tarefas enquanto bombas caíam ao seu redor— “esses homens com os rostos enegrecidos, olhos injetados de sangue, combatendo incêndios,essas mocinhas que se abraçavam aos grandes volantes das pesadas ambulâncias, esses policiaisque permaneciam de guarda, ao lado de bombas não explodidas.”

Como outros repórteres americanos, Murrow ficou impressionado com a calma, a forçainterior e o humor irônico dos londrinos durante aqueles dias e noites de horror. Gostava derepetir para os amigos a pergunta que um morador lhe fizera no auge de um ataque daLuftwaffe: “Você acha que somos realmente corajosos — ou será que é apenas falta deimaginação?” Como Eric Sevareid observou, “era isso que ele apreciava nos ingleses. Eramestáveis. Não entravam em pânico nem se deixavam levar pelo emocional.”

Em meados de outubro, uma bomba explodiu no edifício da BBC, destruindo a biblioteca demúsicas e diversos estúdios, e matando sete empregados, alguns deles amigos de Murrow. Aexplosão ocorreu enquanto o locutor Bruce Belfrage lia o noticiário das nove horas. Os ouvintesperceberam claramente o estampido, uma breve pausa e um sussurro: “Vocês estão bem? [55]?”Então, depois de sacudir a poeira da pauta, Belfrage continuou a transmissão. Murrow, que estavana BBC naquela ocasião, disse aos seus ouvintes: “Tenho visto coisas terríveis nesta cidade... masnunca ouvi um homem, mulher ou criança insinuar que a Inglaterra levante os braços e serenda.”

De fato, em meio à devastação, a maioria dos londrinos demonstrou aferrada determinaçãode levar a vida de modo tão normal quanto possível; era a maneira que tinham para demonstrarseu desdém por Hitler. A cada manhã, milhões de pessoas deixavam os abrigos ou porões e, adespeito das constantes interrupções nos sistemas de trens e metrô, iam para o trabalho como dehábito, muitos pedindo carona ou andando quinze ou mais quilômetros por dia. Seus caminhos,muitas vezes com longos desvios por causa de edifícios desabados, ruas impedidas e bombas nãoexplodidas, podiam levar horas. Sobre a equipe de empregados do Claridge's, Ben Robertsonregistrou após um ataque aéreo particularmente severo: “Todos tinham os olhos vermelhos epareciam cansados, mas estavam lá.” A residência do garçom-chefe fora destruída durante anoite, mas ele se apresentou para o trabalho, como também o fez a arrumadeira do quarto deRobertson. “Ela ficara soterrada por três horas no porão de sua casa,” disse outra arrumadeira aRobertson. “Três horas! E ela veio, normalmente, trabalhar nesta manhã.” A despeito do medo, da dor e da destruição causados pela Blitz, havia uma excitação no ar, umaaura de energia quanto a viver em Londres durante aquele período que, na opinião de muitos quelá estavam, jamais seria igualado. A ameaça da morte parecia apenas engrandecer o regozijo ea elevação da alma pela sobrevivência. “Anda-se pelas ruas... e todo mundo no caminho pulsa

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com vida,” anotou em seu diário Quentin Reynolds. Ben Robertson observou mais tarde: “Nestacrise, a cidade se redescobriu; está vivendo como jamais viveu (...) Sai-se agora à rua noamanhecer com a sensação de que, pessoalmente, estamos ajudando a salvar o mundo.”

Os correspondentes americanos que deixavam Londres para breves períodos de descansonos Estados Unidos, ou em outros países neutros, estavam ansiosos por se verem livres dosincessantes receios e terrores. Contudo, ao chegarem a seus santuários, muitos percebiam umsenso de alienação nas pessoas que lá residiam, que não tinham a menor ideia do que era vivernum campo de batalha, e ficavam logo aflitos para voltarem a Londres. A experiência deRobertson, que passou alguns dias na neutra Irlanda, foi típica: “Chegar a Dublin foi [56] comoatingir o céu vindo do campo de batalha de Londres. Todo o peso da guerra foi retirado de meusombros, as luzes estavam acesas, havia um generalizado sentimento de leveza e, de súbito, mesenti livre.” Ao mesmo tempo, ele observou que se tratava de uma experiência “profundamenteperturbadora.” “Toda aquela boa vida fazia com que eu me sentisse inquieto. A impressão era deque, distante de Londres (...) não havia como deixar de ficar preocupado. Ficava-se apreensivo arespeito da capital e sobre todos os conhecidos que lá viviam.”

Em geral, para os repórteres que deixavam Londres para sempre, ficava arraigadosentimento de perda. Em meados de outubro, Eric Sevareid, adoentado e exausto, foi transferidopela CBS para Washington. Quatro meses antes, após a queda da França, o nativo de Minnesota,com vinte e sete anos, chegara à Inglaterra altamente contrariado. Como muitos americanos,viera com considerável grau de anglofobia e aversão, entre outros sentimentos, pelo modo comque certos ingleses — “matronas formais, oficiais de carreira do exército, funcionários públicosde altos cargos” entre eles — faziam-no sentir-se desconfortável e incomodado em virtudedaquilo que percebia como atitude presunçosa e superior. Tendo testemunhado o colapso do muiexaltado exército francês, ele também duvidava da capacidade dos ingleses convencidos,insulares, de resistirem a Hitler.

Já no fim do mesmo mês suas dúvidas e antagonismos haviam desaparecido. Outrora um“estranho americano” em Londres, ele agora se considerava parte daquela combativacomunidade. A Inglaterra e sua capital, escreveu anos depois, “mostraram para o mundo umaface que ele ainda não tinha visto naquela guerra. Durante os dias gloriosos e vívidas noites de1940, o estado de espírito dos ingleses demonstrado em pleno desespero tocou o ânimo de outroshomens... Foram esses espírito e exemplo que superaram os derrotistas nos Estados Unidos... Osamericanos pensavam estar salvando a Inglaterra — e estavam mesmo. Mas o espírito britânicoe o exemplo também estavam salvando a América.”

Quando Sevareid voltou para casa, começou a frisar para aqueles que o queriam ouvir aimportância de ajudar os ingleses. Muitos correspondentes americanos que permaneceram emLondres também tiveram seus próprios papéis a desempenhar no esforço de propaganda pró-Inglaterra. Sabedores da influência de Murrow e de outros sobre a opinião pública americana,funcionários de Whitehall procuraram as vantagens da simpatia e da identificação que essesrepórteres tinham com a Grã-Bretanha e seu povo. “Eles são extremamente [57] amistosos emrelação a nós e podemos confiar que nossa causa está sendo bem reportada, desde que ela lhesseja repassada de forma adequada e rápida,” escreveu Ronald Tree, que passou a trabalhar parao Ministério da Informação em maio de 1940.

Alguns jornalistas americanos, inclusive o próprio Murrow, concordaram em narrardocumentários noticiosos ingleses aos seus concidadãos, mostrando a determinação britânicapara se opor ao massacre alemão. O mais famoso deles foi um curta-metragem com cerca dedez minutos, London Can Take It! (Londres aguenta!), sobre a reação dos londrinos à Blitz,narrado por Quentin Reynolds. O Ministério da Informação havia sugerido originalmente que

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Mary Welsh, uma repórter da Time & Life em Londres (e futura esposa de Ernest Hemingway)fizesse os comentários, mas o diretor do filme, Harry Watt, odiou a ideia de uma narradorafeminina e optou por Reynolds.

No entanto, os produtores do filme tiveram muita dificuldade com o astro da Collier's. Tendopreviamente provado sua coragem nas zonas de guerra de todo o mundo, ele se recusou a deixaro American Bar subterrâneo no Savoy para cobrir as incursões noturnas germânicas, admitindomais tarde o quanto “odiava e temia” os ataques aéreos. Reynolds também não possuíaexperiência com rádio e, inicialmente, “berrou” os comentários, que havia escrito “como sefosse um vendedor de feira livre.” Watt e sua equipe conseguiram finalmente gravar a voz deReynolds no bar do Savoy, “quase lhe enfiando o microfone goela abaixo,” para produzir umrosnar sussurrado que foi um sucesso na América. “Sou um repórter neutro,” começava suanarração. “Tenho visto pessoas de Londres viver e morrer... e posso lhes garantir que não hápânico, medo ou desespero na capital da Inglaterra.”

A Warner Brothers, que distribuiu London Can Take It! nos Estados Unidos, produziu comrapidez seiscentas cópias do curta-metragem no início de novembro de 1940; o filme foi exibidoem oito cinemas só no centro de Nova York. Um êxito de bilheteria, no final, o curta passou emmil e duzentos cinemas de todo o país. Apenas o nome de Reynolds apareceu nos créditos dofilme, levando seus conterrâneos americanos a acreditarem que se tratava de um relato pessoalnão polarizado de um repórter dos EUA — “uma crença [58] de que Quent fez questão demostrar as situações como elas se apresentaram,” lembrou-se Watt.

Rey nolds, que fora aos Estados Unidos para promover o curta-metragem, retornou aLondres “uma figura internacional,” acrescentou Watt, “e passou a nos divertir durante todo otempo com a sussurrante sotto voce.” Mas o que realmente divertiu a equipe inglesa que fez ofilme e os compatriotas de Reynolds em Londres foi um pôster que ele trouxe no qual apareciacom capacete metálico, olhando desafiadoramente para o céu e desviando com o braço direitouma bomba de quinhentas libras. “A situação no Savoy deve ter sido bem mais quente do queimaginamos,” observou Watt.

Enquanto Reynolds trabalhava no London Can Take It! , Murrow escrevia e gravava oscomentários de This Is England (Aqui, Inglaterra), um longa metragem que tambémdocumentava a resistência inglesa à Blitz, porém muito mais detalhado do que o curta deReynolds. Foi dito que Churchill chorou quando assistiu ao filme de Murrow, e que o presidenteRoosevelt também o exibiu na Casa Branca. A película foi, igualmente, um grande sucesso. Na defesa da causa inglesa, não há dúvida de que Murrow e outros repórteres americanos muitasvezes ultrapassaram a divisa entre jornalismo e propaganda. No mínimo, eles violavam ospadrões jornalísticos da objetividade — reportar notícias sem preconceitos, opiniões ou pontos devista. A objetividade é um critério que vem sendo debatido desde que o jornalismo surgiu; naperspectiva de muitos, se não da maioria dos jornalistas, é um padrão impossível de seralcançado uma vez que os repórteres não são robôs, com circuitos eletrônicos absolutamente semmemória no lugar de cérebros.

Mas objetividade e neutralidade eram consideradas mantras na CBS News desde o início daguerra, a partir do momento em que o governo Roosevelt, temendo que as redes de rádiofomentassem a febre da guerra em suas audiências, começou a dar indícios de que as colocariasob controle federal. Notando que o rádio era um “calouro” no trato de histórias de conflitosarmados, o secretário de imprensa da Casa Branca, Stephen Early, alertou para que as redes secomportassem como “bons meninos.”

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No começo das hostilidades, William Paley, chairman da CBS, decretou que a análise seriapermitida em sua estação, porém não a opinião. Murrow esmigalhou tal política desde o começo.A rede, embora o censurando ocasionalmente, pouco fez para detê-lo. “Ele não fingiu [59] serneutro ou objetivo,” observou Eric Sevareid. “Como repórter, seu coração e sua alma estavamcom 'a causa.' Mostrava-se convicto de que deveríamos entrar na guerra.” Murow escreveu aoirmão no início de 1941: “Não desejo usar o estúdio como tribuna privilegiada, mas estouconvencido de que conversas muito claras têm que ser entabuladas, mesmo que seja ao preço deser rotulado como 'incentivador de guerras.' (...) Acho que estamos muito mais atrasados do quea maioria por aí considera.”

Murrow subscrevia o conceito de objetividade exposto anos antes por um diretor-geral daBBC, Sir Hugh Carleton Greene, que disse que a estação era objetiva, “salvo no que dizia respeitoàs verdades fundamentais da vida. Ele jamais propôs ser objetivo quanto à injustiça, intolerânciaou preconceito.” Na Europa, afirmou Murrow à esposa, pessoas estavam morrendo e “mil anosde história e civilização eram esmagados” enquanto a América permanecia inerte. Como sepoderia ser objetivo e neutro nessa questão? “Ele queria que os americanos assumissem suasresponsabilidades,” disse o correspondente da BBC Thomas Barman. “Ou eles viam todo oMundo Ocidental ir por água abaixo... ou se levantavam e lutavam.”

Em 30 de setembro de 1940, no segundo aniversário do acordo de Munique e fim doprimeiro mês da Blitz, Murrow foi sarcástico com seus ouvintes: “Talvez vocês possam relaxarcomo o fizeram as pessoas daqui depois de Munique... Entretanto, pensem no que aconteceu nosúltimos dois anos e tentem ignorar o que ocorrerá nos próximos dois — caso possam.” Contudo,não era normal Murrow recorrer a esse tipo de advocacia franca, se bem que com palavrasescolhidas, para tentar influenciar a opinião pública americana. Ele o fazia através de quadrospintados com palavras sobre os ingleses em guerra. “Murrow e seus colegas ofereciam algo bempróximo ao drama: a experiência indireta daquilo que viviam e observavam,” ressaltou ohistoriador da radiodifusão Erik Barnouw. “Ele punha no ouvinte o chapéu de outro homem.Nenhum meio melhor de influenciar a opinião jamais foi encontrado.”

Ainda assim, apesar de suas transmissões serem geralmente elogiosas aos ingleses, Murrownão deixava de apontar o que considerava defeitos do país e de seus líderes. Era, por exemplo,um dos críticos mais mordazes da propensão do governo inglês pelo sigilo, que levava a umacensura extremamente rígida e à ocultação de notícias da guerra. Também desancava o governopor não providenciar abrigos aéreos decentes para os residentes do East End e de outras regiõesde trabalhadores. “Todos os abrigos [60] são buracos fedorentos,” escreveu sua esposa para casa. Quando 1940 caminhou para seu triste fim, Murrow, como a maioria dos londrinos, estavaexaurido. Era impossível para qualquer pessoa ter uma noite decente de sono durante a Blitz; umafelicidade era descansar por três ou quatro horas. Com a continuação dos bombardeios, aromancista Elizabeth Bowen escreveu que os residentes da cidade “separavam a alma do corpo”pelo cansaço. “A noite anterior e a noite vindoura encontravam-se lá pelo meio-dia num arco detensão. Trabalhar e pensar doía.”

Porém, mesmo quando os ataques da Luftwaffe começaram a arrefecer em novembro,Murrow, que perdera quinze quilos nos quatro meses passados, continuava vivendo e trabalhandocomo um possuído. “Parecia um fantasma, pálido e abalado,” recordou um colega da CBS.“Pensei que ele fosse capotar.” Cada vez mais mal-humorado e com o pavio curto, ele passavapouco tempo com a esposa, que mais tarde escreveu: “Por vezes ele parecia não ter energia desobra para mim.” Disse um amigo: “Ele interioriza os eventos do mundo, que fluem através delecomo um córrego. A queda da Inglaterra significaria tanto para ele quanto a perda de um filho

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para qualquer de nós.”Tirando proveito de uma trégua nos bombardeios no final de dezembro, Janet Murrow

persuadiu o marido a passarem um Natal relativamente calmo em casa. Contudo, em 29 dedezembro, a quietude do feriado na capital foi abalada quando os germânicos desencadearamuma tempestade de fogo de dez horas sobre a City, o centro financeiro e comercial da Inglaterrae um dos bairros mais históricos de Londres. As chamas devastadoras, só comparáveis às quevarreram a área no Grande Incêndio de 1666, destruíram, entre outros marcos da cidade, oitoigrejas projetadas por Christopher Wren e grande parte do Guildhall medieval, sede da prefeituramunicipal desde William, o Conquistador. Milagrosamente, a Catedral de St. Paul, destacando-seem meio ao inferno de labaredas, conseguiu sobreviver. Quando Murrow caminhava para casabem cedo na manhã seguinte, notou que “as janelas no West End estavam avermelhadas com ofogo refletido, e as gotas de chuva pareciam sangue nas vidraças.”

Duas noites depois, ele falou, mal disfarçando a emoção e à beira da ira, contrastando ascelebrações da Véspera do Ano-Novo que seus ouvintes estavam desfrutando com a gélidaexperiência da maioria dos residentes londrinos: “Vocês não sofrerão [ 61] um ataque aéreo aoamanhecer, como provavelmente suportaremos. Poderão passear hoje à noite por ruasiluminadas. Suas famílias não estão desagregadas pelos ventos da guerra. Poderão dirigir seuspotentes automóveis até onde o dinheiro e o tempo permitirem.”

E concluiu: “A vocês não foram prometidos sangue, esforço, suor e lágrimas. Todavia, éopinião de quase todos observadores informados por aqui que a decisão que vocês tomaremofuscará qualquer coisa que ocorra neste ano que teve início há algumas horas em Londres.”

A decisão, sabia ele, poderia decidir o destino da Inglaterra.

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A Oportunidade de Toda Uma Vida

Seis semanas após a desafiadora transmissão de Murrow na Véspera do Ano Novo, FranklinRoosevelt convidou W. Averell Harriman para um encontro no Escritório Oval. No meio de umaconversa sem pé nem cabeça entre os dois, o Presidente mencionou en passant que pretendiadespachar Harriman para Londres a fim de supervisionar o fluxo da assistência americanaprevista no programa Lend-Lease, prestes a ser aprovado depois de contundente batalha noCongresso.

Para o herdeiro, de quarenta e nove anos, de uma das maiores fortunas construídas naAmérica com as ferrovias, aquela conversa com o Presidente foi estranhamente desconcertante.Ali estava FDR falando como se já tivesse sido decidido havia muito tempo que Harrimanocuparia aquele cargo vital, quando apenas poucas semanas antes a Casa Branca haviarechaçado sua oferta como voluntário para prestar serviços ao governo. Na realidade, até aquelemomento, Roosevelt tinha mostrado pouco interesse em nomear Harriman para qualquer funçãode importância. No decorrer dos trinta e cinco anos de conhecimento mútuo, o Presidente não seimpressionara quer pela inteligência, quer pela personalidade do homem de cabelos escuros equeixo quadrado sentado diante de si do outro lado da escrivaninha.

Os dois tinham numerosos laços sociais. Ambos haviam crescido em amplas propriedades aolongo do rio Hudson; Harriman fora amigo do irmão mais novo de Eleanor Roosevelt, Hall; e asmães dos dois se conheciam havia muito tempo. Além disso, a irmã mais velha de Harriman,Mary Rumsey, fervorosa reformadora social e new dealer, chefiava a Câmara Consultiva doConsumidor governamental e era uma colega próxima da esposa do Presidente.

Todavia, apesar dessas ligações, os Roosevelts, que constituíam uma das famílias maisaristocráticas e destacadas do vale do Hudson, nunca aceitaram muito bem os nouveaux richesHarrimans, cuja vasta fortuna derivava de meios que muitas pessoas consideravam ilícitos.Como o homem que havia transformado a Union Pacific na mais dominante ferrovia do país,E.H. Harriman, pai de Averell, ganhara notoriedade internacional como um dos mais poderosos,inescrupulosos e despóticos homens de negócios americanos. Segundo o presidente TheodoreRoosevelt, o patriarca da família Harriman estava entre os mais ilustres “malfeitores de grandefortuna [63]” que os Estados Unidos jamais produziram.

Enquanto Franklin Roosevelt optou pela vida pública, Averell Harriman seguiu as pegadas dopai como vigoroso e agressivo homem de negócios. Em termos emocionais o oposto de FDR,Harriman não tinha qualquer traço do charme, espírito gregário, interesse nas pessoas etemperamento ameno do Presidente. Odiava mexericos e conversa fiada, e era conhecido porsua absoluta falta de senso de humor, especialmente sobre si próprio. Brusco e impaciente, eraintensamente pragmático, mesmo com suas amizades mais próximas. Harriman “não era bomem relações humanas,” disse Robert Meiklejohn, seu assistente de muitos anos. “Só Deus sabequantas milhares de horas passei em sua companhia, mas não consigo me lembrar de um bomcaso a respeito de sua vida pessoal.”

Embora Harriman já tivesse feito inúmeros negócios ao tempo do encontro na Casa Brancae então fosse o chairman da Union Pacific, Roosevelt o via praticamente só como esportista eplayboy. Ele se tornara campeão de polo no fim dos anos 1920, devotando mais de um ano aojogo; e na década de 1930, criara em Sun Valley, Idaho, uma das mais requintadas estações de

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esqui do país. Malgrado sua circunspecta personalidade, Harriman, duas vezes casado, granjearaa reputação de inveterado mulherengo, com pelo menos um escandaloso caso de amor a seucrédito. Era considerado muito atraente por inúmeras mulheres — de boas maneiras e tímido,com um laivo de vulnerabilidade e, a despeito de sua parcimônia, tendia a gastar rios de dinheirocom as namoradas. “Boa aparência, rico e um tanto distante naqueles tempos, ele era o prediletodas mulheres,” lembrou John McCloy, um dos secretários assistentes da Guerra do governoRoosevelt que, como advogado de Wall Street, fora do conselho da Union Pacific.

Harriman também tinha a fama de distribuir dinheiro caso isso o ajudasse em Washington.“Costumava subsidiar políticos... para ter acesso ao poder,” observou McCloy. Da mesma formaque Winant, Harriman deixara o Partido Republicano para apoiar a eleição de Roosevelt àPresidência. Entretanto, diferentemente do novo embaixador na Inglaterra, o envolvimento deHarriman com o New Deal não se originava no interesse em ajudar o homem comum, mas empromover a recuperação dos negócios após a Depressão. E também, diferente de Winant, elegostava de se cobrir por todos os lados. Depois da eleição de 1940, Roosevelt mencionou para seuoponente republicano, Wendell Willkie, que Harriman havia contribuído com US$25.000 para suacampanha. “Confidencialmente, Franklin [64], ele contribuiu com US$25.000 para a minha,”disparou Willkie de volta. Mais ainda, Harriman declarara a um amigo antes da eleição que, seWillkie ganhasse, ele teria o maior prazer de se juntar ao seu governo.

Nas bordas do New Deal desde 1933, Harriman estava desesperado por um cargo de maiorprojeção na equipe de Roosevelt. E, apesar de todas as suas dúvidas quanto à ambição, lealdade epropósitos de Harriman, o Presidente finalmente cedeu ao aconselhamento de Harry Hopkins,seu assessor mais chegado e um dos que Harriman havia cultivado, de dar uma chance aoendinheirado empresário. Ele iria para Londres como o elemento de ligação de Roosevelt doprograma Lend-Lease junto a Churchill e ao governo inglês.

Era o emprego que Harriman queria — na verdade, cobiçava. No entanto, embora vibrandocom a nomeação, ficou um pouco frustrado ao perceber a atitude indiferente do Presidente emrelação ao Lend-Lease. Apesar de gostar de estar no centro dos acontecimentos, ele ansiara pelaposição porque acreditava piamente que os Estados Unidos tinham a obrigação de salvar aInglaterra do desastre. “Estamos querendo enfrentar um mundo dominado por Hitler?” —perguntara num discurso no Yale Club de Nova York, poucos dias antes do encontro comRoosevelt. “Se a resposta for negativa, ainda temos tempo para ajudar a Inglaterra. (...) Nossomaior erro seria proporcionar uma assistência desanimada e insuficiente.”

Depois da reunião no Escritório Oval, contudo, ele não teve certeza se o Presidente partilhavade seu senso de urgência. Ao longo de toda a conversa, Roosevelt foi vago a respeito dosparâmetros do Lend-Lease e, na realidade, quanto às atribuições de Harriman, não lheoferecendo orientação ou lhe dando outra instrução que não fosse dar uma olhada pela Inglaterra“e recomendar tudo o que pudermos fazer, que não seja a guerra, para manter as IlhasBritânicas flutuando.” O presidente “foi um pouco nebuloso sobre com quem eu deveriatrabalhar do lado de cá porque ainda não tinha detalhado a organização do Lend-Lease,” escreveuHarriman num memorando para si mesmo logo após o encontro. “Disse que me comunicassecom ele a respeito de quaisquer assuntos que eu considerasse suficientemente importantes.”

Mais tarde, naquele mesmo dia, quando anunciou a nomeação de Harriman aos jornalistasda Casa Branca, Roosevelt também foi superficial e impreciso. Harriman, disse o Presidente,partirá para Londres “tão logo [65] o programa de defesa sob o Lend-Lease, a lei do Lend-Lease— chamem vocês como quiserem — estiver aperfeiçoado. Suponho que vocês perguntarãosobre o título da função, por isso pensei em inventar um. (...) Decidimos que seria muito boa ideia

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chamá-lo um 'acelerador.'” E sorriu: “Esta é nova para vocês.”“Senhor Presidente,” indagou um dos jornalistas, “qual a relação de Mr Harriman com a

embaixada de lá? Ele representará diretamente o senhor?” Com um pigarro, Roosevelt replicou:“Não sei e não dou a mínima!” Quando outro repórter perguntou a quem Harriman se reportariaem Washington, o Presidente retrucou: “Não sei e não me interessa isso.”

No entanto, à medida que Harriman pensava mais sobre a questão, a nebulosidade deRoosevelt, apesar de preocupante de um lado, por outro, era a oportunidade de toda uma vida.Com poucas restrições às suas ações, ele poderia, caso fosse ajudado pela sorte, transformar ocargo em algo muito mais significativo e importante do que aquilo que qualquer pessoa, inclusiveo Presidente, tinha em mente. E se conseguisse concretizar o intento, ele poderia — finalmente— sair da sombra superabrangente de E.H. Harriman. Como rapaz, Averell já era consideravelmente mais alto que seu diminuto pai, porém, em outrosaspectos, ele nunca achou que estivesse à sua altura. Um titã dos negócios americanos, o maisvelho dos Harrimans despertara temor em quase todos — dos seus competidores em estradas deferro aos foras da lei Butch Cassidy e Sundance Kid, que regularmente roubavam seus trens atéque Harriman colocou um bando de detetives da Agência Pinkerton em sua perseguição.

O Harriman moço vivia em constante pressão para concretizar as expectativas do pai. Suarelação com E.H., segundo o biógrafo Rudy Abramson, foi “uma interminável lição dedisciplina, empenho e autoaprimoramento.” Sua enteada observou que Averell “não se divertia.Foi uma criança que jamais aprendeu a se expressar.” Tendo recebido pouco afeto ou provasevidentes de amor e encorajamento dos pais, Harriman “precisou de reforço em suaautoestima” ao longo de toda a vida, disse um amigo.

Ele frequentou Groton, escola secundária da elite no norte de Massachusetts, a qual, como St.Paul's, baseava seu modelo na inglesa Eton. Estudante mediano, Harriman ingressou em Yale,onde foi selecionado para a “Skull and Bones,” a sociedade secreta mais prestigiada da faculdadee se tornou treinador da equipe de remo dos calouros da universidade. Decidido a recuperar aantiga supremacia no remo de Yale sobre Harvard, pediu uma licença de seis semanas duranteseu segundo ano acadêmico a fim de viajar para a Inglaterra e tomar lições com os mestres doesporte — as tão elogiadas guarnições de Oxford. Essa forma de competitividade intensa eratípica de Harriman. “Mergulhava de cabeça [66] em qualquer tipo de competição,” lembrou oex-secretário da Defesa Robert Lovett, cujo pai fora amigo íntimo de E.H. Harriman e queconhecia Averell desde criança. “Ele conseguia tudo que era necessário — os melhores cavalos,treinadores, equipamentos, sua própria pista de boliche ou gramado de croquet — e treinavacomo um louco para ser o vencedor.”

Embora seu rendimento escolar em Yale fosse tão medíocre como fora o de Groton, aeducação de Harriman naquelas duas instituições de ensino lhe proporcionaram uma vantageminvulgar. Da mesma forma que os filhos dos industriais ingleses que estudavam em Eton eOxford, ele auferiu o acesso à elite da rede dos old-boys, “a turma,” que dominava osestablishments de negócios, social e governamental. Entre seus companheiros de Yale estavamLovett e Dean Acheson, os quais, como o próprio Harriman, desempenhariam papéisproeminentes na emergência dos Estados Unidos como potência líder nas décadas de 1940 e1950.

Quatro anos após Harriman se graduar por Yale, os Estados Unidos entraram na PrimeiraGuerra Mundial, porém, diferentemente da maioria de seus colegas de faculdade, ele decidiunão se alistar. Em vez disso, com o suporte financeiro da mãe, comprou um estaleiro em Chester,na Pensilvânia, esperando tirar proveito da explosiva demanda de marinha mercante provocada

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pela guerra. Segundo a mãe, Averell “tentava equiparar em transporte marítimo o que o paiconseguira como homem das ferrovias.” Ele acabou controlando uma das maiores frotas demarinha mercante do mundo. Entretanto, quando a guerra terminou, a empresa começou aperder muito mais dinheiro do que ganhava e, em 1925, ele a vendeu para uma firma alemã.

Harriman passou a maior parte dos anos 1920 correndo atrás de negócios por toda a Europa:uma concessão de manganês na União Soviética, minas de carvão na Silésia, companhias defornecimento de água e linhas de bondes em Colônia, siderúrgicas e uma usina de energiaelétrica na Polônia. Durante suas viagens, conheceu as mais importantes figuras na Inglaterra eno Continente, entre elas Vladimir Lênin, Benito Mussolini e Winston Churchill, que era entãoministro inglês das Finanças. No decurso de toda a sua muito longa existência, Harrimanprocurou se encontrar e fazer amizade com pessoas poderosas, colecionando-as, escreveu E.J.Kahn Jr. no New York Times , como um filatelista trabalha com os selos raros. “Averell é umperseguidor [67] do poder,” disse um dos seus auxiliares. “Sua atitude sempre foi: 'Só existe umsujeito com quem vale a pena conversar em qualquer situação — o que está no topo — e eu souquem fala com ele.'”

Chairman da firma de investimentos da família — a W.A. Harriman & Co.” — Harrimanfoi muito mais bem-sucedido como negociador do que como administrador. Após adquirir umbom negócio, ele normalmente mostrava pouco interesse por sua operação real, e a maioria desuas empresas fracassou. Sua reputação de playboy estava bastante firme e, na opinião de outrossócios da W.A. Harriman, a companhia estaria bem melhor se seu chairman gastasse menostempo se divertindo e dedicasse mais atenção aos negócios durante suas longas viagens aoexterior.

A imagem de amante das diversões foi reforçada em 1928 quando ele se licenciou por longotempo do mundo dos negócios a fim de devotar incansável energia para dominar sua novaobsessão, o polo. Depois de se tornar um dos melhores jogadores do país, retornou ao império dosempreendimentos da família ocupando o cargo de chairman do conselho da Union Pacific. Nabusca de desenvolver novo tráfego de turistas para sua ferrovia, ele gastou a maior parte dealguns dos anos seguintes em construções e promoção de Sun Valley, transformando-o numa dasmais populares estações de esqui da nação.

Porém, por maior que fosse o sucesso da Sun Valley, tanto ela quanto seu fundador foramjulgados muito fúteis pelas elites de negócios e política do país. O fato de Harriman ter tentadotirar vantagem da Primeira Guerra Mundial, em vez de nela combater, era também fatornegativo. Alguns dos amigos de Yale consideraram vergonhoso o seu comportamento. “Averellera visto como bem abaixo do padrão de excelência durante aqueles dias,” registrou Bob Lovett,o qual, a exemplo de Gil Winant, fora piloto na França durante aquela guerra. A questão eramuito delicada para o próprio Harriman que, anos mais tarde, reconheceu: “Em termosintelectuais, eu podia raciocinar que havia feito a coisa certa, de vez que o transporte marítimoera o genuíno gargalo da Primeira Guerra Mundial. Porém, em termos emocionais, nunca mesenti inteiramente à vontade.”

Cada vez mais impaciente e ávido por embarcar em novas aventuras, Harriman voltou suasatenções, no início dos anos 1930, para Washington e o New Deal. Graças à administração ativistade Roosevelt, o poder no país havia se transferido de Wall Street para Pennsy lvania Avenue, eHarriman, que jamais havia se envolvido em política, estava ansioso por tomar parte na açãodesenvolvida na capital.

Contudo, ele estava bem mais interessado em revigorar os negócios americanos do que nofoco do New Deal, que era promover a reforma econômica e social. Quando, finalmente,conseguiu uma posição, foi como assistente especial de Hugh Johnson, chefe da Agência

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Nacional de Recuperação, que, como Harriman, estava centrado na retomada dosempreendimentos. Em 1934, foi nomeado administrador-chefe da Câmara da RecuperaçãoIndustrial Nacional, mas nunca recebeu um cargo de destaque no New Deal e, após um ano emWashington, voltou à Union Pacific. Mesmo assim, permaneceu em cerrado contato com ogoverno, enviando frequentes bilhetes e presentes a Roosevelt, tais como faisões caçados em suapropriedade no interior do estado de Nova York e garrafas de vinho de excelentes safras.Também manobrou para se encaixar no Business Advisory Council do Presidente, um grupo dedestacados empresários (apelidados de “milionários domados por Roosevelt” pelos críticos doNew Deal) que servia de elo entre o governo e os grandes negócios.

Quando o governo deu início a uma hesitante mobilização para a guerra na primavera de1940, Roosevelt convocou diversos líderes empresariais e industriais a Washington para ajudá-loa orientar o esforço. Harriman não estava entre eles e ficou profundamente ressentido com aexclusão, não apenas por causa de sua sede de poder, mas porque acreditava mesmo que osEstados Unidos deveriam ser mais firmes na luta contra Hitler e Mussolini. Como outras figurasimportantes de Wall Street, que haviam investido na reabilitação do continente europeu depois daPrimeira Guerra Mundial, Harriman era um internacionalista que julgava ter a América umaresponsabilidade para com o resto do mundo, em especial com a Europa. “Quem quer que diga[68] que não somos afetados [pela guerra na Europa] e por seus resultados, não está vendo arealidade,” disse ele no início de 1940. “Os Estados Unidos têm uma missão neste momentoparticular da história do mundo.” Como alguns de seus amigos viam a situação, o apego deHarriman à intervenção era uma maneira de compensar sua fuga do serviço militar na PrimeiraGuerra Mundial, que continuava sendo um grande desconforto.

Fosse qual fosse a razão, ele permaneceu falando abertamente sobre a necessidade de ogoverno e a comunidade empresarial americanos oferecerem à França e à Inglaterra quaisquersuprimentos e armamentos que elas precisassem. Sempre que viajava a serviço para a UnionPacific, escreveu a um amigo, achava que as pessoas com quem se encontrava estavampropensas a proporcionar mais ajuda à Inglaterra e à sua aliada França do que Roosevelt e seusassistentes julgavam, apesar de ansiosos por liderarem a partir da Casa Branca. “Existe umsentimento [69] de frustração,” acrescentou Harriman. “Todos querem saber o que iremos fazercomo nação e o que podem fazer como indivíduos para ajudar.” Ele claramente se incluía entreos frustrados.

Em junho de 1940, Harriman foi, por fim, convocado a Washington para assessorar ogoverno sobre a melhor maneira de coordenar o transporte de matérias-primas para o esforço demobilização. Mas considerou irrelevante a tarefa e, desde o dia em que chegou à capital, propôs-se a encontrar uma maneira de desempenhar papel mais ativo e substantivo na guinada daAmérica para a guerra. Para ajudá-lo a concretizar tal objetivo, ele recorreu a um mestre daintriga em Washington o qual, dizia-se, combinava as mais astutas qualidades de Maquiavel,Svengali e Rasputin: seu amigo Harry Hopkins. Com sua incomparável influência e o acesso ao presidente, Hopkins, com cinquenta e um anos,era em geral considerado o segundo homem mais poderoso em Washington. Ocupando posiçãopróxima a Roosevelt, ele era também o mais insultado.

Aparência adoentada, o assessor presidencial, com olhar penetrante e feições bem definidas,vinha sendo o farol do New Deal por quase uma década, virtualmente a partir do primeiro dia emque chegou à capital para dirigir a administração dos maciços programas de emergência deajuda e oferta de empregos. O trabalho de Hopkins era gastar dinheiro e, como sublinhou umhistoriador, “ele gastou mais do que qualquer outro homem na história do mundo” — acima de

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nove bilhões de dólares. Sob sua supervisão, milhões de pessoas receberam o seguro-desempregoe foram recolocados no trabalho, quase sempre em obras do governo que iam da construção deestradas e prevenção de enchentes à escrita de livros e à pintura de murais.

Um fanático quando se tratava de ajudar os pobres, Hopkins, outrora assistente social, via suamissão como a de proporcionar o maior número possível de empregos no mais curto período detempo. Contanto que a tarefa fosse cumprida, ele não preocupava particularmente com o modocomo era concretizada. Segundo Harold Smith, diretor da Repartição do Orçamento deRoosevelt, “Hopkins não se considerava [70] limitado por quaisquer noções preconcebidas,inibições legais e... absolutamente por nenhum respeito à tradição.” Ele foi acusado por muitoscríticos de ser negligente e impulsivo na gerência dos programas sob sua responsabilidade,resultando em ineficiência, corrupção e desperdício generalizados no trato com os recursosfinanceiros do governo. “Harry jamais teve a mínima noção sobre o valor do dinheiro,” disse ochefe de uma organização beneficente de Nova York para a qual Hopkins trabalhara nos anos1920.

Enquanto os oponentes conservadores do New Deal eram os mais veementes na condenaçãoa Hopkins e seus métodos, ele também tinha sua parcela de inimigos entre os adeptos doPresidente. Muitos funcionários da administração — entre eles o secretário do Interior HaroldIckes, quase sempre vencido por Hopkins em seus frequentes duelos burocráticos — ressentiam-se de sua intimidade com o Presidente e o consideravam influência maligna e carga política paraRoosevelt. O papel crucial que Hopkins desempenhou na tentativa de expurgo dos democratasconservadores do Congresso, em 1938, e suas táticas brutais, como principal operador político deFDR, para garantir as indicações de Roosevelt e Henry Wallace durante a convençãopresidencial de 1940, contribuíram em grande dose para tal hostilidade.[*] Homem de agudasagacidade, “uma língua que parecia faca muito bem afiada e temperamento de um tártaro,”Hopkins reagia aos seus críticos zombando deles, o que mais os enfurecia. Convocando repórteresao seu desleixado escritório, com papéis espalhados por todos os lados, para responder às últimasacusações, ele se esparramava na cadeira, pés sobre a mesa e dava profundas tragadas noindefectível cigarro. Então, lembrou Marquis Childs, do St. Louis Post-Dispatch, “atacava de voltaseus perseguidores. (...) Raramente era tático ou tinha tato. Não era preciso muito esforço paraarrancar dele um cáustico e irado menosprezo por todos [os seus inimigos].”

Hopkins podia distribuir insultos, seguro da simpatia do Presidente por sua lealdade prática,hábil e absoluta ao homem que chamava de “Boss.” Pessoa definitivamente íntima na CasaBranca, ele estava instalado desde 1939 no quarto que servira de estúdio para Abraham Lincoln,não muito distante do quarto de FDR. Sua posição era privilegiada, como bem sabia, e tinhafundada certeza de que ninguém poderia desalojá-lo dali.

Em certa ocasião, Hopkins chegou a ter veleidades políticas próprias, considerando apossibilidade de concorrer à Presidência em 1940, se Roosevelt desistisse do cargo após os doistradicionais mandatos. O Presidente, é claro, não desistiu, porém mesmo que tivesse se afastadodo pleito, Hopkins jamais poderia ter perseguido esse sonho. Em 1937, pouco depois dofalecimento de sua segunda esposa, ele foi operado de câncer no estômago. A cirurgia, queremoveu a maior parte do estômago, foi bem-sucedida, mas, pelo resto de sua relativamentecurta vida, ele sofreu severas deficiências nutricionais e ficava frequentemente tão adoentadoque não podia trabalhar. Apesar disso, nos intervalos dos surtos de enfermidades, Hopkins insistiaem voltar às suas atribuições. Durante os oito seguintes e dolorosos anos, ele iria prestar os maisvaliosos serviços ao Presidente, tendo Averell Harriman atuando como um de seus principaisauxiliares.

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A amizade de Hopkins com Harriman foi uma decorrência da inclinação do primeiro peloselevados padrões de vida e pelas ligações com ricos e famosos. Desde o tempo em que chegou aNova York como jovem assistente social, Hopkins, que nasceu em Grinnell, Iowa, mesclava umadevoção pelos pobres com uma inclinação pelos nightclubs, bares ilegais de venda e consumo debebidas alcoólicas e corridas de cavalos. Depois de se tornar figura de destaque do New Deal,duas décadas mais tarde, ele cortejou os membros relativamente progressistas da elite denegócios de Nova York — e foi por eles também cortejado, assim como pelos círculos literáriose artísticos do estado. Seus fins de semana eram normalmente passados na propriedade deHarriman com quarenta quartos no vale do Hudson, ou na mansão de Long Island do famosoeditor de jornais Herbert Bayard Swope, onde jogava croquet e pôquer com figuras do naipe deBernard Baruch, William Paley , George S. Kaufman e John Hay Whitney .

Nem vistoso, nem bonito, Hopkins era divertido e charmoso quando queria — qualidades quesoube usar na sua permanente “caça” às mulheres. “Ele ficava feliz [72] e bastante orgulhososempre que a imprensa hostil o tratava como um 'playboy '” — escreveu o autor de peçasteatrais Robert Sherwood. “Isso o fazia se sentir-se glamuroso.”

Hopkins e Harriman eram amigos desde 1933, mas sua ligação ficou mais estreita no final de1938, quando Roosevelt decidiu fazer de Hopkins seu ministro do Comércio. Sabedor que Hopkinsnão tinha nada de predileto entre muitos líderes empresariais nos Estados Unidos, sem falar entreos membros do Comitê do Comércio do Senado, que teriam que sancionar a indicação, Rooseveltsolicitou a Harriman que o ajudasse naquela questão. O chairman da Union Pacific convenceu oConselho Assessor de Negócios, que presidia na ocasião, a endossar o nome de Hopkins, bemcomo solicitou cartas de recomendação de outros proeminentes empresários. A campanha tevesucesso e depois que Hopkins foi confirmado, Harriman acompanhou-o a Des Moines, onde, emseu primeiro pronunciamento como ministro, ele minimizou seu histórico de reformador social eprometeu promover a recuperação dos negócios “com toda a energia e poder ao meu alcance.”Harriman, escreveu mais tarde um amargo Harold Ickes, “estava sempre pronto a dar tapinhasnas costas de Harry Hopkins, da mesma forma que Hopkins o afagava.”

O tempo de Hopkins como ministro foi abreviado em virtude de sua recorrente enfermidade.Depois de ficar hospitalizado por vários meses, ele voltou a prestar serviços a Roosevelt emnovembro de 1940, dessa vez como operador-chefe do Presidente em tempo de guerra eencarregado de supervisionar a mobilização industrial e o rearmamento do país. Trabalhandosobre uma mesa feita com caixas de papelão no seu quarto na Casa Branca, Hopkins, que nãotinha título ou cargo oficial, foi incansável em incitar, punir e encorajar os capitães dos negóciose da indústria para que atingissem metas de produção por muitos consideradas impossíveis.

Em janeiro de 1941, com o projeto de lei do Lend-Lease transitando no Congresso, FDR deua seu assessor principal uma nova missão: viajar a Londres a fim de determinar as necessidadespara a defesa da Inglaterra e, ainda mais importante, julgar por si mesmo se o país poderia seopor à Alemanha. Enquanto se preparava para a tarefa, Hopkins deixou claro que tencionavaresistir aos famosos talentos persuasivos de Winston Churchill, cujo ego, achava, eraconsideravelmente maior do que sua capacidade. “Suponho que Churchill está convencido de queé o maior homem do mundo!” — exclamou para um amigo. “Harry,” replicou o amigo, “sevocê está indo para Londres com esse preconceito, como um diacho de um chauvinista decidadezinha do interior, é melhor cancelar a passagem agora.”

Em Londres, Churchill reagiu com um intrigado “Quem?” quando lhe foi dito que um certoHarry Hopkins estava chegando para vê-lo por orientação do Presidente. Seus assessores logo opuseram a par de quem se tratava, explicando quão próximo Hopkins era de Roosevelt e aimportância de impressioná-lo bem. Hopkins fora informado, disseram-lhe, que Churchill era

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anti-Roosevelt. Tornava-se vital que o primeiro-ministro convencesse o americano que não eranada disso e que tinha grande consideração pelo Presidente.

Churchill fez isso — e mais. Ordenou que um trem especial transportasse Hopkins paraLondres a partir do aeroporto em que pousasse e o recepcionou em Downing Street e emChequers, a casa de campo oficial do primeiro-ministro, no Buckinghamshire. Seus ministrosreceberam instruções para suprirem o americano com qualquer informação que requisitasse.Acompanhando Hopkins em giros por seu golpeado país, o primeiro-ministro apresentou-o como“representante pessoal [73] do presidente dos Estados Unidos.”

Nas cinco semanas que Hopkins passou na Inglaterra, ele e o líder inglês tornaram-se bonsamigos. Embora a relação entre Churchill e Roosevelt recebesse considerável mais atenção doshistoriadores, a amizade entre Hopkins e Churchill foi, de fato, muito mais afetuosa e pessoal. Adespeito de seus históricos completamente diferentes, o primeiro-ministro descobriu uma relaçãoquase aparentada com o enviado de FDR. Também ousado e combativo, gostou da irreverênciade Hopkins, seu sarcasmo bem-humorado e a maneira franca de falar. Ficou tambémimpressionado com a dedicação e a determinação do americano, para não falar de sua coragemem se submeter ao frio úmido de um inverno inglês quando estava tão obviamente enfermo,mantendo-se firme com a verdadeira farmácia que levava consigo aonde fosse. Nas suasmemórias, Churchill referiu-se a Hopkins como “aquele homem extraordinário... um faroldesmoronando de onde eram emitidos os feixes de luz que orientavam as grandes esquadras atéos ancoradouros.”

De sua parte, Hopkins tornou-se declarado admirador do primeiro-ministro bem antes de avisita terminar. Churchill não era nem anti-Roosevelt, tampouco anti-América, escreveu a FDR.E disse mais: “Churchill é o governo em toda a acepção do termo. (...) Não encontro palavraspara sublinhar que ele, somente ele, é a pessoa com quem o senhor deve ter um completoencontro de ideias.”

Apesar de seu jocoso e aberto sarcasmo, Hopkins ficou um pouco reverentemente temerosoem sua experiência na Inglaterra — fins de semana em Chequers e na Ditchley de Ronald Tree,mordomo particular no Claridge's, almoço com o Rei e a Rainha no Buckingham Palace. Aliestava ele, um caipira de Idaho, filho de fabricante de arreios para animais, servindo agora deconfidente para o primeiro-ministro da Inglaterra e conviva de almoço com a Rainha daInglaterra. Esse mesmo sentimento de insegurança veio de novo à tona, como ele confessou aocolunista Marquis Childs, quando teve um encontro com Stalin na ocasião em que a guerra já iamais avançada. “A mim pareceu um [74] trágico... e pungente comentário sobre o homem e...sobre a América,” lembrou Childs. “Em certo sentido, foi o comentário sobre o fantástico papelde responsabilidade e liderança no qual tínhamos sido arremessados e sobre nosso despreparopara ele porque, numa ocasião como aquela, não cabia ficar pensando que se era filho de umfabricante de arreios.”

O envolvimento emocional de Hopkins com Churchill e a Inglaterra cresceu à medida que avisita progredia — um envolvimento refletido nas improvisadas observações do americano numjantar em sua homenagem, na Escócia, em meados de janeiro de 1941: “Suponho que ossenhores queiram saber o que direi ao Presidente no meu retorno,” disse ele aos convidadossentados à sua frente. Então, virando-se para Churchill, citou um verso bíblico do Livro de Ruth:“Aonde você for, eu irei; onde você dormir, dormirei eu; seu povo será meu povo, e seu Deus,meu Deus.” Após uma pausa, acrescentou: “Mesmo até o fim.” Os olhos de Churchill ficarammarejados de lágrimas. As observações de Hopkins, saídas do íntimo de seu coração, deram-lhee aos seus concidadãos um novo surto de esperança de que a América estava próxima a deixarsua neutralidade — uma esperança que, infelizmente para eles, não condizia com a realidade.

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Quando voltou aos Estados Unidos, Hopkins era “um homem completamente mudado,” comum “mais acentuado senso de urgência,” nas palavras dos colunistas Joseph Alsop e RobertKintner. Antes de partir, em meados de fevereiro, passou um cabograma a Roosevelt: “Esta ilhaprecisa de nossa ajuda agora, senhor Presidente, com tudo o que pudermos lhe dar... nossa açãodecisiva neste momento pode ser a diferença entre a derrota e a vitória deste país.”

Na ocasião em que seu hidroavião pousou no porto de Nova York em fevereiro de 1941,Hopkins foi recebido nas docas por Gil Winant, cuja nomeação para embaixador acabara de seranunciada, e também por Averell Harriman. Pouco antes de Hopkins seguir para Londres,Harriman havia implorado permissão para que o acompanhasse. “Deixe-me carregar [75] suapasta, Harry,” alegou. “Já me encontrei com Churchill várias vezes e conheço Londres muitobem.” Hopkins recusou a companhia, mas deixou escapar que o Presidente “talvez tenha algumacoisa” para ele mais tarde. Disposto a não deixar passar a oportunidade, Harriman assegurou suaparticipação no comitê de recepção a Hopkins.

No dia seguinte à sua chegada a Washington, Hopkins convenceu Roosevelt de que precisavade alguém em Londres para coordenar a ajuda do Lend-Lease. Essa pessoa, disse ele, eraAverell Harriman. Com alguma vacilação, o Presidente concordou e, um dia depois, convidouHarriman à Casa Branca. Quando o Senado, por fim (e mui relutante), aprovou a lei do Lend-Lease em 8 de março, FDRdisse aos jornalistas: “Aqui em Washington estamos pensando em rapidez, e rapidez agora.Espero que a expressão — 'rapidez, e rapidez agora' — chegue a todos os lares da nação.”

Todavia, como Harriman percebeu enquanto se preparava para a nova missão, opronunciamento de Roosevelt tinha pouca base na verdade. Embora Washington viessebatalhando com afinco para se revigorar no começo de 1941, ela ainda não tinha descoberto avirtude da rapidez. Para os jornalistas que cobriam as atividades da lânguida e lenta cidade,depois de trabalharem na desesperada Inglaterra que lutava para sobreviver, tudo aquilo pareciaserenidade e alheamento — “tudo muito em ordem e asseado em contraste com os escombros eo mau cheiro da bombardeada Londres.”

James Reston do New York Times , o qual, como Eric Sevareid, fora transferido de Londrespara Washington no outono de 1940, classificou seu novo posto como “um lugar agradável, casovocê viva na região 'certa' da cidade e não leia nem pense.” De seu lado, Sevareid considerouWashington “um parque coberto de folhas e sonhador” e “um subúrbio limpo e bem cercado danação,” isolado da realidade e incapaz de captar o caos que se alastra pelo globo. David Brinkley,que chegou a Washington de tempo de guerra como “foca” de um jornal da Carolina do Norte,mais tarde se referiu à capital como “uma cidade e um governo totalmente despreparados paraassumir as responsabilidades globais subitamente lançadas sobre seus ombros.”

Tropeçando e tentando energizar-se para se tornar uma capital importante no mundo,Washington atravessava período de furiosa improvisação. “É difícil exagerar-se a perplexidade ea frenética incerteza que prevaleceram em Washington naqueles dias,” registrou RobertSherwood, que mudara de autor de peças para preparador dos discursos de Roosevelt no fim de1940. Tendo prometido a ajuda do Lend-Lease à Inglaterra e agora às voltas com o preparo daAmérica para uma possível guerra, Washington estava com diversas prioridades urgentes,inclusive controle de preços, alocação de matérias-primas e reformulação das fábricasexistentes, assim como construção de novas para o esforço da defesa.

Na opinião de muitos, a missão de produção e mobilização para a defesa deveria ter sidodesignada para uma única agência do governo, chefiada por um funcionário com poder decoerção sobre os negócios e indústrias privados. Henry Stimson, Henry Morgenthau e Bernard

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Baruch estavam entre os que instavam Roosevelt a nomear tal czar da mobilização. Mas oPresidente não lhes dava ouvidos. Refratário como sempre em delegar autoridade e poder, eleinsistia em deter o controle administrativo. No início de janeiro de 1941, criou a Agência deGerência da Produção (Office of Production Management — OPM), a primeira de uma sériedelas cuja missão ostensiva era administrar a economia de guerra. Mas não seria dado à OPMpoder autêntico: ela não podia forçar as indústrias a se converterem para atender a produção dematerial bélico em vez de bens para a população civil. E, com a revitalização da economia, asindústrias privadas relutavam em negar aos consumidores novos carros e outros artigos que elesdemandavam — ou em se privar dos lucros decorrentes. Em consequência, a OPM seguiuclaudicando, fazendo o que podia, porém incapaz de concretizar o urgente e abarcante esforçoque o Presidente conclamava.

“O programa de produção [76] daqui não está em absoluto condizente com a realidade,”Vincent Sheean, que chegara aos Estados Unidos em breve visita, escreveu para Ed Murrow.“Todas as altissonantes conversas sobre 'defesa' e 'ajuda à Inglaterra' são mais estardalhaço doque realidade. (...) O povo realmente não entende (...) coisa alguma sobre a seriedade domomento.”

Com a autoridade a ele concedida pela lei do Lend-Lease, Roosevelt determinou quequalquer novo material bélico produzido nos Estados Unidos fosse repartido 50-50 entre as forçasarmadas inglesas e americanas. Porém, como Harriman notou enquanto peregrinava pelasrepartições do governo, os chefes de Estado-Maior americanos se opunham fortemente a abrirmão de armas e outros suprimentos escassos que eram desesperadamente necessitados por suaspróprias forças singulares. Tanto o chefe do Exército, general George Marshall, como o daMarinha, almirante Harold Stark, estavam convencidos da necessidade da ajuda à Inglaterra: narealidade, durante meses, eles vinham insistindo com o Presidente para proporcionar maisassistência do que ele estava disposto a dar. Não obstante, com a situação tão carente das suasforças e com a lentidão e aleatoriedade com que eram procedidas a mobilização e a produçãobélica americanas, os chefes militares resistiam em conceder à Inglaterra qualquer coisa quepudesse ser importante para a própria defesa da América.

No começo de 1941, os Estados Unidos eram uma potência militar de quinta categoria, comsuas forças ocupando um modesto décimo sétimo lugar em efetivos, comparadas com outras domundo. Por muito tempo definhando por falta de apoio financeiro pelo Congresso e pela CasaBranca, o Exército tinha pouco mais de 300 mil homens (a maioria recém-recrutada),comparados com os 4 milhões da Alemanha e o 1,6 milhão da Inglaterra. Não existia uma sódivisão blindada, e os recrutas treinavam com cabos de vassouras no lugar dos fuzis e estruturasde madeira imitando armas anticarro. O Exército estava em condições tão ruins, segundo umhistoriador militar, que não seria capaz de “repelir incursões [77] de bandidos mexicanos atravésdo rio Grande.” Embora a Marinha estivesse um pouco melhor, perto da metade de seus naviosde guerra datava da Primeira Guerra Mundial. O Corpo Aéreo do Exército, enquanto isso,contava com apenas duzentos aviões de combate.

Após diversas reuniões com os chefes e outros altos oficiais, Harriman anotou: “Estamos tãocarentes que qualquer coisa doada pelo Exército e pela Marinha sairá de nosso próprio sangue;não existe praticamente excedente algum e não existirá por muitos meses.” Os urgentes pedidosde Harry Hopkins por mais ajuda à Inglaterra não sensibilizavam os altos escalões militares, quejulgavam ter sido ele encantado pela magia de Churchill. “Não podemos levar a sério requisiçõesque surgem de madrugada regadas a vinho do Porto,” resmungou um oficial de elevado posto,numa óbvia referência aos tête-à-têtes das altas horas entre o assessor presidencial e o primeiro-ministro.

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A questão da ajuda ficava ainda mais complicada pela intensa anglofobia de muitos militaresamericanos, convictos de que a Inglaterra em breve seria derrotada e de que quaisquersuprimentos enviados aos ingleses logo cairiam em mãos alemãs. No fim de 1940, o secretárioda Marinha, Frank Knox, confessou a um auxiliar que “ficara perturbado ao descobrir que osoficiais da Marinha eram muito derrotistas em seus pontos de vista.” Knox atribuiu grande partede tal derrotismo a “um discurso proferido para os oficiais pelo embaixador Kennedy quandoretornou aos Estados Unidos.”

Apenas poucos dias após a nomeação, Harriman percebeu que tinha uma tarefamonumental à sua frente. Para convencer os militares americanos de que o material bélico eoutros equipamentos seriam mais valiosos em mãos inglesas do que nas deles, precisavapersuadir Churchill e os ingleses a darem convincentes provas de que o equipamentourgentemente necessitado seria empregado de imediato. Teriam também que revelar seus maissensíveis segredos militares, inclusive informações sobre sua própria produção e reservas. “Sementendimento [78] e aceitação da estratégia de guerra [de Churchill],” escreveu Harriman noutromemorando para si mesmo, “nossos militares fincarão o pé.”

Mais importante ainda, o Presidente precisaria ser persuadido a aprovar bem mais ajuda àInglaterra do que os suprimentos enviados pelo Lend-Lease, os quais, ainda assim, não chegariamàs costas inglesas antes de vários meses. A exemplo de Stimson, Stark e de alguns outrosmembros da alta administração, Harriman acreditava que a Marinha americana tinha decomeçar a proteger os navios mercantes ingleses em sua travessia do Atlânticoextraordinariamente perigosa. Roosevelt, no entanto, resistia intransigentemente à ideia dequaisquer comboios navais. Seu governo vendera a noção do Lend-Lease ao Congresso e ao povocomo maneira de manter a América fora da guerra, pleiteando que aquele era o melhor meio debarrar a Alemanha sem a necessidade de enviar soldados americanos para lutar (Claude Pepper,representante da Flórida e um dos poucos fervorosos defensores do Lend-Lease no Senado, pôs aquestão de forma um pouco mais grosseira. Declarou que a Inglaterra, com a ajuda americana,agiria “como uma espécie de mercenário, combatendo pela América.” Roosevelt sabia que osnavios de escolta aumentariam a chance de os EUA se envolverem em troca de disparos com asforças navais e aéreas alemãs — risco que ele não estava disposto a assumir, ao menos porenquanto.

Após uma reunião final com Roosevelt antes de partir para Londres no começo de março,Harriman começou a cismar sobre quão comprometido o Presidente estava com a sobrevivênciada Inglaterra. Os indícios, pensou, não eram animadores. “Saí achando que o Presidente nãoestava encarando aquilo que eu considerava realidade da situação, qual seja, a grandepossibilidade de a Alemanha (...) castigar tanto o transporte marítimo inglês que o país ficassesem capacidade de resistir,” escreveu Harriman enquanto seguia para a Inglaterra. “Ele nãopareceu disposto a liderar a opinião pública ou a forçar a discussão do problema, mas esperava,sem qualquer suporte do raciocínio, que nossa ajuda material levasse os ingleses a fazerem otrabalho. Temo que, se as coisas correrem mal para a Inglaterra, uma ajuda mais específicaseria muito tardia.” Quando Harriman chegou a Bristol em 15 de março, foi recepcionado pelo assistente naval deChurchill e rapidamente transferido para um avião militar, que voou para um aeroporto próximoa Chequers, cerca de oitenta quilômetros ao norte de Londres. Poucas horas depois, orepresentante americano do Lend-Lease era conduzido para o quarto do primeiro-ministro no seurefúgio campestre; apesar de resfriado e acamado, Churchill pôs-se logo a trabalhar. “Ele tempessoalmente [79] conversado comigo a respeito de todos os aspectos da guerra,” escreveu

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depois Harriman para a esposa Marie, que ficara em Nova York. “A Batalha do Atlântico eoutras situações da luta travada pelo tráfego marítimo são consideradas por ele a campanhadecisiva.” Foi só Harriman dizer a Churchill que precisava ter acesso a todas as informaçõessobre os recursos e necessidades militares da Inglaterra, não importava quão sensíveis ousecretas, para o primeiro-ministro replicar que ele teria tudo o que quisesse. Fazendo eco ao quejá dissera a Winant, acrescentou: “Nada lhe será ocultado.”

Na quase totalidade, Churchill cumpriu a palavra dada aos dois americanos, consultando-ossobre ampla gama de assuntos. De acordo com seu secretário John Colville, a embaixadaamericana “por pouco não se tornou uma extensão do nº 10 de Downing Street. Como outroscolegas, fiz frequentes idas para [reuniões com Winant] no nº 1 de Grosvenor Square.” Mais deuma vez, Churchill enviou Colville à embaixada para que Winant checasse seus discursos. Osecretário do primeiro-ministro lembrou-se de uma ocasião em que o embaixador “fez quatropertinentes observações a respeito do efeito das palavras de Churchill sobre a opinião pública dosEUA. Fiquei muito impressionado com sua natural esperteza e sagacidade. Mais tarde, expliqueias ponderações ao PM, que as aceitou.”

Ainda que fossem assíduos seus contatos com o nº 10 de Downing Street, Winant criou laçosainda mais cerrados com o Foreign Office e com Anthony Eden, que substituiu Lord Halifaxcomo ministro do Exterior no começo de 1941. De fato, a colaboração entre o embaixadoramericano e Eden era tão fácil e íntima que eles não faziam registros de suas conversaçõesoficiais — uma prática sem precedente na diplomacia internacional, como realçou Eden. “Logono início [80] de nosso trabalho conjunto,” disse ele, “Mr Winant e eu entendemos que nãopoderíamos tocar nossas tarefas se cada entrevista entre nós — e, por vezes, foram duas ou maisnum só dia — tivesse que ficar sujeita a registro detalhado.” Os dois normalmente seencontravam no cavernoso escritório de Eden, onde Winant ocasionalmente fazia um comentárioprovocador sobre o retrato de George III, que se destacava pendurado acima da escrivaninha dochanceler inglês, antes de se lançarem nas discussões de amplo espectro, desde os problemas desuprimento até as relações de seus respectivos países com a França de Vichy. “Tínhamos umaincomum relação informal,” escreveu Winant depois, “baseada não só na amizade pessoal comotambém na consideração que cada um de nós dedicava ao país do outro e ao seu próprio.”

Um mês após sua chegada, Harriman escreveu a Roosevelt sobre “o total respeito econfiança que seu embaixador desfruta entre todas as classes da Inglaterra. Ele se tornará antesde ir embora, acredito, o mais querido americano que jamais pisou na Inglaterra. Suas simpatiassão cordiais, sua devoção, completa, e seu julgamento, sólido.”

Na embaixada americana, Winant continuou sendo o administrador medíocre que fora naCâmara da Seguridade Social — “um dos piores do mundo,” de acordo com Theodore Achilles,o attaché político da embaixada. Esquecia de compromissos e mantinha funcionários ingleses eoutros dignitários esperando por horas na antessala. Para desespero dos seguranças, oembaixador realizava suas visitas com documentos ultrassecretos enfiados nos bolsos. Muitasvezes, sua equipe encontrava cabogramas confidenciais espalhados sobre as mesas e no chão deseu apartamento. Em determinada ocasião, ele se esqueceu de avisar a governanta que Churchillviria para jantar. Quando o primeiro-ministro chegou, não havia coisa alguma para servir.

Malgrado todas as suas falhas, no entanto, Winant era um líder inspirador, da mesma formaque o fora em Washington. Rapidamente congregou a equipe que, na época do antecessor, viviaassaltada por atritos e mal-estares. Sob a orientação de Winant, a embaixada alimentouWashington com um fluxo de informações sobre os acontecimentos ingleses na guerra que maistarde ajudariam o esforço bélico americano, desde os últimos avanços no tratamento cirúrgicode ferimentos e queimaduras até as notícias sobre defeitos nas lagartas dos blindados que

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evitaram que os militares dos EUA cometessem os mesmos erros nos projetos de seus própriostanques.

Em maio de 1941, Ed Murrow escreveu a um amigo em Nova York: “Talvez você gostasse[81] de conhecer tanto Winant quanto Harriman que estão fazendo um trabalho de primeiraclasse por aqui, e a atual embaixada americana funciona com uma velocidade e uma eficiênciacomo nunca vi.” Entretanto, por mais importante que considerasse Winant, Churchill estava, nomomento, concentrado no representante do Lend-Lease, cuja influência considerava mais crucialàquela altura para a sobrevivência de seu país. A situação ficava mais grave a cada dia: asperdas marítimas continuavam a escalar, e Hitler preparava claramente uma invasão da Grécia,país historicamente sob proteção britânica. No norte da África, a Alemanha parecia pronta paraajudar a Itália, cujas tropas ineficientes haviam sido destroçadas pelos ingleses.Desesperadamente necessitado de navios, aviões, armamentos e equipamentos, Churchill estavadeterminado a cortejar e seduzir o recém-chegado americano, exatamente como fizera comWinant e Hopkins, para conseguir o que queria.

Poucos dias após a chegada, Harriman recebeu um escritório no Almirantado e acesso aoscabogramas e documentos secretos sobre produção e suprimentos. Frequentou reuniões de umdos subcomitês de guerra que tratava da Batalha no Atlântico e teve repetidas reuniões comministros dos transportes marítimos, dos suprimentos, da produção aeronáutica, dos alimentos eda economia de guerra. “Cada um dos ministros (...) forneceu-me as informações maisconfidenciais,” escreveu ele. “Por vezes, eu ficava constrangido por não lhes poder dizer, emresposta às suas perguntas, exatamente que ajuda os Estados Unidos estavam dispostos a dar.”Em vez de um cão de guarda do auxílio americano, os ingleses o tratavam, disse Harriman,“como um parceiro em vasta empreitada.” Numa carta ao presidente da Union Pacific,declarou: “Sou aceito como praticamente um membro do Gabinete” — e, para a esposa, disseorgulhosamente: “Tenho estado com o primeiro-ministro pelo menos uma vez por semana e,normalmente, também nos fins de semana.” Dos primeiros oito fins de semana de Harriman naInglaterra, sete foram passados em Chequers, a convite de Churchill. “O nervosismo era muitogrande,” lembrou-se anos mais tarde, “eu me sentia como um rapaz do interior arremessadoexatamente no centro da guerra.”

Empolgado com o novo senso de poder, ele se dispôs a criar seu próprio império. A equipede oito homens do Lend-Lease ocupou vinte e sete cômodos de Grosvenor Square nº 3, umedifício de apartamentos perto da embaixada; o imenso escritório de Harriman, “que maisparecia [82] coisa de Mussolini,” no dizer de um auxiliar, fora a sala de estar de um luxuosoapartamento.

Winant, que havia recusado morar na mansão oficial do embaixador americano, emKensington, residia também no nº 3 de Grosvenor Square. Querendo estar próximo à embaixada,alugou um apartamento simples de três quartos no mesmo edifício, enquanto, para horror dagovernanta, alimentava-se totalmente com as rações dos civis ingleses.

Como um dos homens mais ricos dos Estados Unidos, Harriman não tinha interesse emseguir o exemplo de Winant de um estilo espartano de vida. Instalou-se na suíte do térreo doDorchester Hotel, construído dez anos antes e considerado o edifício mais seguro de Londresdurante os ataques aéreos. O prédio era exaltado também por ser excepcionalmente à prova desom: os assoalhos e tetos dos quartos eram isolados com algas marinhas comprimidas e asparedes externas, com cortiça. Localizado no coração de Mayfair, o Dorchester hospedavaintegrantes do Gabinete inglês, membros deslocados da realeza europeia, e líderes de governos,generais e almirantes de todo o mundo, bem como opulentos londrinos, entre eles SomersetMaugham, que abandonou suas residências estruturalmente mais fracas durante a guerra. Uma

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senhora da sociedade de Londres chamava o Dorchester “aquele refúgio dourado dos ricos.”Outros o qualificavam como “a moderna Babilônia de tempo de guerra” e “uma fortalezaprotegida por sacos de dinheiro.”

Ao passo que os londrinos se viam às voltas com a crescente escassez de alimentos, osclientes do restaurante do Dorchester — o qual, como outros estabelecimentos de alimentaçãoem Londres, não era racionado — faziam refeições à base de morangos, ostras e salmãodefumado, acompanhadas por música executada pela orquestra do hotel. “Jamais vi tanto luxo,tanto gasto de dinheiro ou mais consumo de alimentos do que na noite de hoje, e a pista de dançaestava lotada,” observou um membro tory do Parlamento após jantar no Dorchester numa noitede Blitz. “O contraste entre a iluminação e a animação no interior, e o blackout e o rugir doscanhões no lado de fora, era assustador.”

Esse alto padrão de vida em meio a tanta morte e destruição não agradava ao gosto de todos.“Jamais me senti à vontade nos salões de jantar dos hotéis Savoy, Dorchester e Ritz depois que aBlitz começava,” escreveu Ben Robertson. “A comida e a música penetravam em suaconsciência enquanto centenas de milhares estavam em abrigos antiaéreos e morria gente portodos os lados.” Ed Murrow ficava igualmente consternado com as dramáticas discrepâncias nascondições de vida entre os londrinos sob fogo. Numa de suas transmissões, ressaltou as diferençasentre o esquálido e inseguro abrigo público do outro lado da rua do Dorchester e o requintadorefúgio próprio no subsolo do hotel, completo com fofos edredons e travesseiros brancos emacios sobre camas confortáveis.

Harriman, contudo, não expressava tais escrúpulos: afeiçoou-se ao Dorchester — e à suanova vida em Londres — com o maior entusiasmo. Como último “vip” americano no cenário,ele foi inundado com atenções e convites. “Minha correspondência [83] tem sido incrível,”escreveu à esposa. “Jamais soube que tinha tantos amigos e conhecidos na Inglaterra. (...)Convites — fins de semana para durar até o dia do Juízo Final — jantares, almoços, coquetéis etc.etc.” Já altamente engajado no seu passatempo de colecionar pessoas, ele disse a Marie: “Fuiinterrompido pelo primeiro-ministro da Austrália que veio ao meu quarto. Ele é agradável —sem afetações — na segunda vez que o vi já o chamei de 'Bob.'” Enquanto desfrutava de sua repleta agenda social, Harriman era obrigado a ajustá-la aos espaçossurgidos em seus agitados dias de trabalho. Da mesma forma que Winant, teve de enfrentarproblemas espinhosos nas relações anglo-americanas desde o dia em que chegou. Entre elesavultava a ira pela insistência do governo dos Estados Unidos para que a Inglaterra vendesseimportantes ativos em troca da assistência americana. Roosevelt esperava que Churchill oajudasse a abrandar os receios dos isolacionistas de que, com a aprovação do Lend-Lease, aInglaterra estivesse levando vantagem sobre os EUA. No começo de 1941, o Presidente ordenouo despacho de um contratorpedeiro americano para a África do Sul a fim de coletar ouro inglêsno valor de £50 milhões, que lá estavam retidos, e trazê-los na volta à América. Seu governotambém coagiu a Inglaterra a vender a American Viscose Corporation, uma companhia têxtil depropriedade inglesa, para um grupo de banqueiros americanos, os quais prontamente arevenderam por preço muito mais elevado.

As ações americanas “se assemelhavam às de um xerife recolhendo os últimos bens de umimpotente devedor,” escreveu um furioso Churchill para Roosevelt num cabograma que jamaisfoi enviado. “O senhor não se importará, tenho certeza, de eu dizer que, se os americanos não sealiarem a nós em todas as medidas, não poderemos garantir a derrota da tirania názi e o ganho dotempo necessário para o rearmamento de seu país.” Para um dos integrantes do seu Gabinete, oprimeiro-ministro explodiu: “Até onde posso ver [84], não estamos sendo apenas esfolados, mas

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descarnados até os ossos.” Apesar de Harriman ter feito o máximo para amainar a raiva inglesaquanto à impiedosa tática negociadora americana, o ressentimento persistiu até o fim da guerra.“Como os ingleses odeiam o fato de serem socorridos pelos americanos,” escreveu em seu diárioo diplomata canadense Charles Ritchie. “Eles sabem que têm de engolir isso, porém, Deus meu,como lhes atravessa a garganta.”

Enquanto Harriman tratava da questão dos ativos ingleses, ele e Winant se depararam comoutra dificuldade: a crescente expectativa de Churchill e muitos de seus compatriotas de que osEstados Unidos entrariam na guerra pelo final da primavera ou começo do verão de 1941. Haviadiversas razões para essa equivocada crença, entre elas o discurso de “aonde você for, eu irei”de Harry Hopkins; um comentário de Wendell Willkie que, se Roosevelt fosse eleito em 1940, osEstados Unidos estariam na guerra por volta de abril; e a aprovação do próprio Lend-Lease. AtéHopkins tentara minimizar tal esperança, como agora o faziam Harriman e Winant.

Embora o Lend-Lease fosse um passo gigantesco na escalada do envolvimento americano, osenviados do país alertavam para que ele não fosse visto como decisivo. Vezes sem conta,procuraram deixar claro aos funcionários e ao povo inglês a força do movimento isolacionistanos Estados Unidos e as excentricidades da política e do governo do país, em particular o sistemade independência dos poderes. Churchill, que tinha mãe americana, gostava de se vangloriar deconhecer muito bem o sistema político dos EUA. Na verdade, ele e membros do seu governojamais captaram por inteiro quão diferente ele era de seu próprio sistema parlamentar, onde oexecutivo e a legislação estavam amarrados juntos no Parlamento, e onde as divisões partidáriaseram, em sua maior parte, mantidas sob controle.

Winant e Harriman viviam destacando que Roosevelt não liderava o Congresso da forma queChurchill manobrava o Parlamento. Pela Constituição dos Estados Unidos, só o Congresso, e nãoo Presidente, podia declarar guerra. E, na primavera de 1941, os legisladores americanos, muitosdeles isolacionistas, estavam longe de querer isso.

[*]Muitos no Partido Democrata, mesmo alguns entre os ardorosos seguidores de FDR, sesentiram incomodados quando o Presidente quebrou a tradição e buscou um terceiro mandato.Os democratas ficaram também insatisfeitos com a insistência de Roosevelt para que Wallace,que era secretário da Agricultura e impopular entre a maioria dos fiéis membros do partido,fosse indicado para a vice-presidência na sua chapa.

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“Ele Ganha Confiança

Conosco ao Redor”

O 16 de abril de 1941 foi um belo dia — quente e ensolarado — e Janet Murrow resolveuaproveitá-lo ao máximo. Com paciência, seduziu o marido a deixar o trabalho por temposuficiente para levá-la a jantar no L'Etoile, um pequeno bistrô francês no Soho, que se tornaraseu restaurante favorito na Inglaterra.

As ruas naquela noite estavam tomadas por outros residentes londrinos que se deleitavamcom o clima. O inclemente inverno acabara, narcisos e jacintos floresciam por todos os lados.Mas o verdadeiro revigorante para os espíritos era a ausência de bombardeiros alemães: nãoocorrera ataque aéreo importante por mais de um mês. Os londrinos haviam finalmentecomeçado a perder “aquele aspecto horrível, cansado [85] e assombrado que tinham, com osolhos vermelhos e encovados no rosto... consequências do terror e das noites insones,” escreveuuma mulher em seu diário. O medo que assaltava as mentes ao anoitecer começavarapidamente a se dissipar.

Até Ed Murrow dava sinais de relaxamento. Durante o jantar, ele e Janet trocaramimpressões sobre amigos, livros, filmes — sobre tudo, menos a guerra. Ao saírem do restaurante,pararam em mesas próximas a fim de cumprimentar amigos da BBC, para os quais o L'Etoileera também um local predileto. Gozando o frescor do ar da primavera e a lua cheia que tornavaconsideravelmente mais fácil o caminhar em blackout, o casal se dirigiu para casa passando porbelas residências em cor creme, já com a pintura descascando, e ocasionais espaços commontes de escombros, onde uma residência ou loja existira.

Pouco antes de atingirem seu edifício de apartamentos, ouviram o familiar e diabólico silvardas sirenes, um barulho distante de motores de aviões e o som abafado de explosões na direçãosul. Mas a adorável noite ainda pedia uma esticada, e Murrow sugeriu que fizessem uma paradano Devonshire Arms, o pub da vizinhança, outro ponto favorito de encontro do pessoal da BBC.Janet, no entanto, teve um mau presságio. Como qualquer outro residente de Londres, ela sabiaque lua cheia normalmente significava incursões pesadas de bombardeiros. Mas havia algo maisno ar: sua premonição, escreveu mais tarde, recomendava não ir ao pub naquela noite. “Estourealmente com medo [86],” disse ao marido. “Eu ficaria feliz se você fosse para casa comigo.”Muito relutante, ele concordou.

Nem bem eles haviam aberto a porta do apartamento, seus ouvidos quase estouraram com obarulho produzido por aviões acima do prédio — centenas deles, pensou Janet — e estrondosassalvas de canhões antiaéreos seguiram-se rapidamente às explosões das bombas. Subindo asescadas até o terraço, o casal viu a cidade iluminada por incêndios: faíscas riscavam o céu comofogos de artifício, fachos dos projetores ziguezagueavam e incêndios grassavam por todos oscantos.

De repente, eles ouviram um som horripilante, o agudo sibilo de uma bomba que parecia virexatamente na direção deles; ato contínuo, eles se agacharam abaixo da escada, com os braçosprotegendo as cabeças. Uma explosão ensurdecedora balançou o prédio, jogando-os contra aparede. “É o escritório,” gritou Murrow, e eles voltaram correndo para o terraço. De lá,testemunharam uma cena dantesca: a Duchess Street, onde ficava o escritório da CBS, estava emchamas, como, de resto, todas as ruas próximas. Casas começavam a desmoronar com estrépito

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assustador, e o pungente e acre cheiro da poeira de argamassa enchia o ar. O Devonshire Armshavia desaparecido. A bomba, que por pouco não atingiu o edifício dos Murrows, caiuexatamente sobre o pub, deixando apenas um buraco negro em seu lugar. Uma coluna de poeira,destroços, fumaça e centelhas criou uma forma de cogumelo no céu.

Pegando seu capacete metálico, Murrow despencou escada abaixo e saiu do prédio. Dajanela do quarto, Janet, aterrorizada como nunca estivera na vida, viu as chamas, sabendo que“muitos de seus amigos haviam partido.” O mundo, escreveu em seu diário, “estava de cabeçapara baixo.” A poucos quilômetros de distância, em Grosvenor Square, Gil Winant trabalhava em seuescritório quando as sirenes começaram a soar. Momentos mais tarde, ele ouviu o silvo de umabomba e uma tremenda explosão, seguida do barulho de vidro quebrando: todas as vidraças dasjanelas de seu escritório haviam se estilhaçado. Levantando-se do chão, o embaixador,acompanhado de dois auxiliares e de sua esposa, que acabara de chegar a Londres para umavisita, subiram ao teto da embaixada a fim de ter uma ideia dos danos. Uma bomba incendiáriatinha inflamado o edifício vizinho da esvaziada embaixada italiana, e os empregados da legaçãodos Estados Unidos trabalhavam freneticamente para apagar o incêndio. No outro lado da rua,uma linda mansão georgiana fora demolida. Na Oxford Street das proximidades, as chamasdevoravam uma das mais importantes lojas de departamentos de Londres. O bairro de Mayfair,exatamente como a vizinhança dos Murrows perto do Regent's Park, estava um inferno, comotambém quase o restante de Londres.

Com a continuação do ataque, Winant e o attaché político da embaixada, Theodore Achilles,saíram às ruas para verificar in loco os estragos. Usando seu amassado chapéu de feltro, oembaixador ignorou o estrondo afastado das explosões de bombas e os estilhaços que caíam à suavolta. Ele e Achilles caminharam quilômetros através de poeira e fumaça tão densas que eradifícil vislumbrar qualquer coisa a poucos metros de distância. Passaram pelas ruínas aindafumegantes de um prédio de onde os corpos de jovens enfermeiras eram retirados. Visitaramabrigos repletos de gente e pararam para ver um bombeiro no alto de uma escada extensívelcombater as chamas no teto de uma construção, aparentemente indiferente às bombas queexplodiam ao seu redor. Vezes sem conta, o embaixador perguntou às pessoas que encontrava —guardas, policiais, bombeiros, encarregados de resgates, gente nos abrigos — se havia algumaajuda que ele pudesse dar.

Uma atitude típica de Winant, anotou Achilles mais tarde. Ele se lembrou das primeiraspalavras que o embaixador lhe dirigiu quando chegou a Londres: “Agora que estou aqui [87], oque posso fazer para ajudar?” Toda a abordagem de Winant para seu trabalho, acrescentouAchilles, “se baseava em termos humanos. Aos que preparavam relatórios sobre a situação naGrã-Bretanha, ele costumava dizer repetidas vezes: 'Forneçam-me os dados em número desapatos, em quantidade de roupas.' Encarava as incursões aéreas sob a forma de indivíduos, datragédia humana que resultava dos bombardeios noturnos.”

Winant e Achilles andaram até o amanhecer, um pouco depois que soou o aviso de “passou operigo” às 5h, após oito horas de bombardeio ininterrupto. O céu estava então azul e o solbrilhava, mas só para quem olhava diretamente para cima; ao nível dos olhos, um manto defumaça cinza ainda cobria a cidade. Quando o embaixador e o attaché, cansados, se dirigiram devolta à embaixada, bombeiros lançavam jatos d'água sobre os restos ainda ardentes de prédiosenquanto os afortunados londrinos, cujas residências se encontravam intactas — ainda que umtanto abalados — empunhavam vassouras e pás para limpar os locais de escombros e cacos devidro.

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Já no escritório, Winant telefonou para amigos e conhecidos, tanto ingleses quantoamericanos, a fim de saber se estavam bem. Uma das chamadas foi para os Murrows. Estavambem, respondeu Janet, apesar de terem perdido o estúdio e demais instalações, pela terceira vezaté então, e mais de trinta pessoas haviam morrido no Devonshire Arms, entre os quais muitosamigos deles. Escrevendo mais tarde naquele mesmo dia para a mãe sobre a ferocidade doataque, ela observou: “Não vejo razão [88] alguma para alguém estar vivo nesta manhã.”

Diversas pessoas reconheceram Winant naquela noite, e as notícias sobre suasperambulações pelo West End se alastraram rapidamente por toda a Inglaterra, primeiro de bocaem boca e depois através de notícias de jornais e da BBC. Não foram poucos os artigos querealçaram o gritante contraste entre o novo embaixador e seu predecessor, o qual, antes deretornar aos Estados Unidos no auge da Blitz, escapava todas as noites para um refúgio próximo aWindsor. Para muitos ingleses, a presença de Winant nas ruas de Londres durante o terrívelataque de 16 de abril e nas incursões que ainda viriam era a primeira evidência tangível de queos americanos realmente se preocupavam com o que lhes acontecia. “Sua personalidadefascinou todo o país, como nenhum outro embaixador dos tempos modernos foi capaz de fazer,”observou Virginia Cowles, jornalista americana que trabalhou por breve período para Winant emLondres. “Ele se tornou um símbolo para o povo da Grã-Bretanha (...) e tornou o escritório doembaixador americano conhecido para virtualmente toda a gente de lá.”

Sir Arthur Salter, subsecretário inglês de transportes marítimos e amigo de Winant,concordou. Na opinião de Salter, o embaixador “exemplificou para o povo inglês o melhor ladoda América. (...) Mostrou que estava profunda e emocionalmente ligado aos ingleses e à sua lutacontra Hitler e o nazismo. Acreditava em tudo por quanto a Inglaterra combatia.” Emdecorrência, disse Salter, muitos ingleses “criaram uma inquestionável crença” de que Winantestava certo quando frisava a importância de vínculos estreitos entre a Inglaterra e os EstadosUnidos tanto durante quanto depois da guerra. Pelas estimativas, 1.100 londrinos morreram durante as incursões de 16 de abril — a noite maisdevastadora da Blitz até então. Mas tal quantidade se manteve por apenas três dias porque em 19de abril os bombardeiros germânicos atacaram Londres novamente, matando acima de 1.200pessoas. Mais de meio milhão de residentes londrinos perderam suas casas nos dois ataques.

A capital, no entanto, não foi a única cidade inglesa a sofrer o martírio de bombardeiosespecialmente terríveis naquela primavera. Como parte da abrangente tentativa alemã dedecepar a linha vital de suprimentos da Inglaterra e de interromper a produção de materialbélico, a Luftwaffe atacou as principais cidades industriais e portuárias do país, entre elasManchester, Portsmouth, Cardiff, Ply mouth, Liverpool e Bristol. Em Liverpool, seis noitesconsecutivas de bombardeios danificaram ou destruíram quase a metade das docas da cidade,reduzindo a quantidade de suprimentos que podiam ser descarregados de navios aportados a umquarto da tonelagem normal.

Profundamente preocupado com o estado de espírito dos que viviam fora de Londres,Churchill passou grande parte de seu tempo em visitas de encorajamento moral das cidadesbombardeadas, muitas vezes levando com ele Harriman e Winant. “Ele ganha [89] confiançaconosco ao redor,” escreveu Harriman a Roosevelt. Porém, como notou o enviado, Churchilltinha outra razão para exibir os americanos. Sempre que se dirigia às pessoas do interior, eleapresentava os dois como representantes de Roosevelt — “sua maneira de garantir aoscircunstantes que a América os apoiava.”

Apenas poucos dias antes do primeiro ataque de abril a Londres. Winant e Harrimanviajaram com o primeiro-ministro por diversas cidades muito atingidas no sul da Inglaterra e no

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País de Gales. Como parte do giro, Winant deveria receber o título de doutor honoris causa daUniversidade de Bristol das mãos de Churchill, chanceler da ordem daquela universidade.

Depois da visita a Swansea, a comitiva de Churchill chegou a Bristol em meio a pesadaincursão aérea, a sexta experimentada pelo movimentado porto marítimo nos últimos cincomeses. Do trem do primeiro-ministro, estacionado sob um túnel ferroviário nos arredores dacidade, ele e seu grupo assistiram pesarosos as bombas destruírem uma vasta faixa de Bristol, dasdocas ao centro da cidade. No alvorecer, reiniciaram a jornada passando por muitos destroçoscom incêndios ainda grassando, ruas inundadas pelos encanamentos rompidos e residentesprocurando mortos e feridos nas ruínas. John Colville escreveu mais tarde em seu diário: “foiuma devastação que nunca julguei possível.”

Todavia, quando a gente nas ruas identificava a figura robusta, com os onipresentes charuto ebengala, deixava de lado todos os pensamentos sobre infortúnios, pelo menos por um momento, ecorria ao seu encontro. Era sempre assim, escreveu Winant a Roosevelt. “As notícias sobre sua[90] presença circulavam rapidamente de boca em boca e, antes que ele pudesse ir muito longe,multidões o cercavam e as pessoas gritavam, “Alô, Winnie,” “O bom e velho Winnie,” “Vocêjamais nos deixará mal,” “Esse é um homem.”

Nas anotações que fez durante a visita a Bristol, Harriman descreveu os passos de Churchillpela cidade: “Ele passa em revista a Guarda Territorial — tropa perfilada, porém com sorrisoestampado em seus rostos quando ele surge. Para e pergunta sobre determinada medalha — 'Daúltima guerra, não é?' Depois, os guardas ARP (Air Raid Precautions) responsáveis pelasmedidas de proteção contra incursões aéreas, em seguida os bombeiros voluntários e, por fim, asmulheres.” Contudo, por comovente que fosse a atuação do primeiro-ministro, Harriman ficouainda mais impressionado com o povo de Bristol. A certa altura, uma senhora idosa, que acabarade ser resgatada de sua casa muito danificada, foi levada à frente para se encontrar comChurchill. Eles conversaram por pouco tempo, mas logo a senhora disse com pressa: “Desculpeeu não poder falar mais com o senhor. Tenho que ir limpar minha casa.”

Registrando rapidamente em suas notas as conversas dos residentes de Bristol com Churchill,Harriman — aquele outrora empresário que raramente demonstrava emoção — se mostrousentimentalista, até melodramático: “Eles enfrentaram a batalha, sentiram o gosto do fogoinimigo... fizeram sua parte... orgulhosos e sem temor. 'Viu o que eles fizeram — os hunos,'diziam. 'Eles virão de novo, mas nossos rapazes os pegarão, e faremos novas sepulturas!' 'Nofim, venceremos, não é verdade?'”

As mesmas provas de desafio ficaram patentes na Universidade de Bristol, que não adiou acerimônia de entrega dos títulos honoríficos a Winant e a dois outros dignitários, apesar de oGrande Salão da universidade, onde teria lugar o evento, ter sido bombardeado, assim comooutros prédios do campus. Virtualmente todos os membros do corpo docente da universidade e osformandos que se encontravam alinhados para a cerimônia tinham passado a noite combatendoincêndios ou noutros trabalhos de resgate. Eles entraram em filas ordenadas pela pequena salaonde a cerimônia se realizou, com os olhos injetados de sangue, fisionomias cansadas e rostosainda com traços de sujeira, e roupas enegrecidas e úmidas por baixo das becas acadêmicas, ecapelos e palas ricamente coloridos ainda recendendo a fumaça.

O cheiro acre de fumaça penetrava também pelas vidraças quebradas das janelas enquantoa algumas centenas de metros de distância os bombeiros lançavam água nos focos de chamasdos prédios próximos. No intervalo de alguns minutos, os participantes da cerimônia podiam ouvirexplosões de bombas de ação retardada. Quando Churchill começou a entrega dos diplomas, amulher do prefeito de Bristol desmaiou — um incidente “que pareceu sublinhar [91] a tensão e opesadelo de horas recentes,” escreveu Winant.

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Na oportunidade em que o primeiro-ministro deixou Bristol naquela tarde, centenas dehabitantes foram à estação para as despedidas. Vendo-os dando vivas enquanto a composição seafastava, Churchill tampou o rosto com um jornal para esconder as lágrimas. “Eles têm muitafé,” disse a Harriman e Winant. “É uma grave responsabilidade.”

Por sua vez, Harriman ficou tão impressionado com a coragem dos residentes de Bristol queenviou substancial ajuda em dinheiro vivo para Clementine Churchill, solicitando que ela arepassasse ao prefeito da cidade para aqueles que tinham perdido suas casas. No seu bilhete deagradecimento, Mrs Churchill disse esperar “que todo aquele pesar e dor possam reunir nossosdois países permanentemente e que possam aprimorar o conhecimento recíproco. De qualquermaneira, aconteça o que acontecer, não nos sentimos mais sozinhos.” Em muitos de seus cabogramas e cartas para Roosevelt e Harry Hopkins, Harriman e Winantinsistiam não apenas na determinação e o valor do povo inglês, mas também no papel crucial queo cidadão comum vinha desempenhando no conflito. A expressão “guerra do povo” ficou muitodesgastada pelo uso, mas não há a menor dúvida de que o extraordinário esforço voluntário naInglaterra dificilmente foi igualado por alguns outros países combatentes, se é que existiram, naSegunda Guerra Mundial.

Sempre que os governos locais ou nacional deixavam de atender a uma necessidade ou deresolver um problema, os voluntários preenchiam o vazio. Sua resposta às condições deploráveisnas estações de metrô de Londres e em outros locais de abrigos antiaéreos foi um exemplo. Namaioria dos refúgios, as autoridades não haviam tomado providências para alimentação,aquecimento, camas, banheiros ou instalações de lavanderia. “O fedor era medonho — o cheiroda urina e dos excrementos misturado com o do fenol e o do suor e sujeira de humanos sembanho,” descreveu um dos usuários de abrigos no início da Blitz.

Voluntários logo se apresentaram com a solução. Banheiros foram construídos commateriais das demolições; alimentos foram levados; apareceram beliches e fogões, assim comopoltronas e rádios em alguns refúgios. As administrações de Londres e de outras comunidades,envergonhadas com as reações e com a má qualidade deles, providenciaram mudançasestruturais e outras melhorias nos abrigos. Pelo fim da Blitz, a maioria fora transformada emlocais razoavelmente confortáveis para se passar as noites longas e perigosas.

O mesmo foi verdade para os centros de repouso, onde os que tiveram suas casas destruídaspodiam se refugiar. As autoridades governamentais tinham sido afogadas pela maciçaquantidade de sem-tetos, resultante das incursões aéreas alemãs; só em Londres, 1,4 milhão depessoas — um em cada seis residentes — havia perdido suas casas pela primavera de 1941. Maisuma vez os voluntários entraram em ação, providenciando camas portáteis, refeições, habitaçãotemporária e outros serviços.

O que provocou particular admiração nos observadores americanos como Winant eHarriman foi o papel marcante que as mulheres desempenharam no esforço voluntário. “É oespírito [92] das mulheres inglesas que está conduzindo este país através da experiênciahorripilante dos bombardeios,” escreveu Harriman a um amigo. À esposa observou: “Asmulheres são o esteio principal da Inglaterra.” Após uma visita a Londres, mais tarde naquelaguerra, o secretário do Tesouro Henry Morgenthau registrou em seu diário: “O que as mulheresestão fazendo na Inglaterra é simplesmente inacreditável. (...) Não fossem elas, a Inglaterraestaria hoje desmoronada.”

A maior parte das mulheres a que Harriman e Morgenthau se referiam era integrante deuma organização chamada Women's Voluntary Service — WVS (Serviço Voluntário Feminino),criada pela eminente viúva do marquês de Reading, uma das mulheres mais notáveis da

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Inglaterra do século XX. Seu marido, ex-embaixador nos Estados Unidos e que também serviracomo vice-rei da Índia, acreditava que o futuro da democracia dependia de um melhorentendimento entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Ela concordava. Após a morte de LordReading em 1935, ela passou diversos meses na América. Viajando por todo o país como LadyReading, ficou em hotéis a um dólar por noite e trabalhou como lavadora de pratos para melhorconhecer a classe operária. Entre as pessoas com quem fez amizade durante a estada estavaEleanor Roosevelt. Mais tarde, em Londres, ficou amiga dos Murrows e de Winant.

Em 1938, o Ministério do Interior perguntou a Lady Reading se ela poderia constituir umaorganização a fim de recrutar mulheres para o trabalho de defesa civil na eventualidade daguerra. Ela aceitou o desafio, mas insistiu que a missão do WVS fosse grandemente expandida.Qualquer trabalho que precisasse ser feito, disse ela, seria missão de seu grupo.

Quando foi declarada a guerra em 1939, as integrantes do WVS, em seus tradicionaisterninhos de lã verde axadrezada e suéteres vermelhas, ajudaram a evacuar crianças de Londrespara outras cidades. Poucos meses depois, quando as exauridas tropas britânicas foram tiradas doporto francês de Dunquerque, mulheres da WVS esperavam por elas nas docas e estaçõesferroviárias com sanduíches e chá quente fumegando. Depois que Hitler ocupou a maior parte doContinente, aquele “magnífico corpo [93] de abnegadas mulheres,” no dizer de um dos prefeitosingleses, ajudou a encontrar habitação para milhares de refugiados europeus que fugiram para aInglaterra. O grupo fez o mesmo para os sem-teto do próprio país durante a Blitz. Essas mulheresadministraram centenas de centros de repouso, albergues, cantinas e livrarias móveis, edistribuíram milhares de toneladas de vestuário e outros suprimentos, recolhidos na América e naCommonwealth, para os necessitados.

Pelo fim da guerra, a maioria das mulheres inglesas tinha se envolvido, de uma forma ou deoutra, com o conflito armado: a maior parte das que não serviram nas forças armadas ou nosserviços de defesa civil, ou foram empregadas em fábricas ou noutros empreendimentos ligadosà guerra, trabalhou, ao menos em tempo parcial, no Serviço Voluntário Feminino. Pelo imensoserviço prestado ao esforço de guerra de seu país, Lady Reading se tornou a primeira mulherindicada para a Câmara dos Lordes. Não obstante, por valente e vital que fosse o esforço civil inglês, ele não podia fazer tudo. Porexemplo, não tinha capacidade para deter os estragos causados pelos submarinos alemães namarinha mercante, tampouco podia afastar outros perigos que ameaçavam o país na primaverade 1941. Viver na Inglaterra durante aqueles desgastantes meses — os piores da guerra — foicomo “viver um pesadelo, com alguma calamidade constantemente pairando sobre as cabeças,”escreveu Harriman para Harry Hopkins.

Com o passar dos dias, as perdas de toneladas marítimas cresceu em proporçõesastronômicas. Os novos cruzadores alemães Gneisenau e Scharnhorst juntaram-se à alcateia desubmarinos para caçarem navios mercantes ingleses como se fossem patinhos em estande de tirode parque de diversões. A tonelagem de material afundado em abril — 700 mil toneladas — foimais do que o dobro das perdas do mês anterior. Na realidade, os danos eram tão calamitososque Churchill determinou ao Ministério da Informação que suspendesse seus boletins, temerosode afetar o moral público.

Naquele período, a Inglaterra ficou tão perto da extrema fome como jamais esteve durantetoda a guerra. O racionamento de alguns artigos alimentícios passou então a ser draconiano; aspessoas eram limitadas, por exemplo, a trinta gramas de queijo e a uma quantidade mínima decarne por semana, e a 250 gramas de presunto e margarina por mês. Alguns alimentos, comotomates, cebolas, ovos e laranjas quase desapareceram por completo das prateleiras. Começou

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também o racionamento de roupas e a maior parte dos itens de consumo, das caçarolas aosfósforos, era quase impossível encontrar. “Não há dúvida de que [94] a situação dos alimentosestá muito pior,” registrou o general Raymond Lee, adido militar da embaixada americana, queretornara a Londres em abril após três meses de serviço temporário em Washington. “As pessoastambém me impressionam por estarem bem mais sérias do que em janeiro.”

O correspondente Vincent Sheean, que chegou a Londres vindo dos Estados Unidos mais oumenos ao mesmo tempo, ficou espantado não apenas com a crescente gravidade das condiçõesde vida na capital, mas também com o preço que elas tinham cobrado de seus colegasamericanos de profissão. Ed Murrow, Ben Robertson e Bill Stoneman, com os quais tomou unsdrinques certa noite, estavam magros e com os olhos encovados no rosto; Murrow em especialparecia bem mais velho do que seus trinta e três anos de idade. “Você não vai mais encontrar oalto astral e o 'vamos aguentar' do ano passado,” disse o repórter da CBS a Sheean. “A gente...está ficando um tanto amarga. Toda aquela novidade passou. O período heroico acabou. Aalimentação tem alguma coisa a ver com isso — todos estão provavelmente um poucodesnutridos.”

As louvadas bravura e determinação dos ingleses ainda estavam em evidência, porémcomeçavam a dar mostras de profundas rachaduras depois de oito meses de bombardeios eprivações crescentes. Por mais corajosos que os britânicos pudessem ser, não eram super-homens. A questão de por quanto tempo sua determinação iria perdurar, em particular nascidades que não Londres, era uma das que preocupavam Churchill e outros tomadores dedecisões do país.

O ministro do Interior, Herbert Morrison, “está inquieto [95] com os efeitos das incursões nasprovíncias sobre o moral,” escreveu o subsecretário da Informação, Harold Nicolson, em seudiário no início de maio. “Ele vive insistindo que as pessoas não podem suportar indefinidamenteesse intenso bombardeio e que, mais cedo ou mais tarde, o moral das cidades desabará.” Emboracidades menores como Portsmouth, Plymouth e Bristol não tivessem ficado sujeitas ao castigonoturno que Londres recebera, os danos que experimentaram com as incursões aéreas tinhamsido mais amplos e devastadores do que na espraiada capital, onde ainda existiam vastas áreasnão atingidas pelas bombas. As cidades provinciais também careciam dos maiores recursos deLondres: não tinham quilômetros de metrô para servir como abrigos antiaéreos improvisados,nem acesso aos numerosos serviços de resgate e combate a incêndios ou de alimentação,vestuário e outros serviços de emerg§encia disponíveis na capital.

Entretanto, na opinião de Winant, a erosão do moral no país tinha tanto a ver com osofrimento da vida diária quanto com os renovados ataques aéreos. “A fadiga e a monotonia... ostransportes interrompidos... a poeira... as roupas esfarrapadas e gastas... o tédio que surge com odesejo de coisas... nenhum vidro para reparar as vidraças ... tropeçar no blackout a caminho decasa... racionamento de eletricidade e combustível — tudo isso contribui para uma desanimadoraimagem mesmo para os mais determinados.”

Após mais de vinte meses de guerra, a luta parecia infindável, sem alívio à vista em qualquerponto do horizonte. “Tudo o que o país realmente quer é alguma certeza de como a vitória seráalcançada,” escreveu Harold Nicolson. “As pessoas não aguentam mais conversas sobre ajusteza de nossa causa e sobre nosso triunfo final. O que elas querem mesmo são fatosindicadores de como derrotaremos os alemães. Não tenho a menor ideia de como daremos aelas esses fatos.”

Nem Churchill podia, tampouco qualquer outro no governo. Os únicos fatos que tinham àdisposição eram os decepcionantes desastres do Exército inglês — uma série de cercos,evacuações e derrotas. Em abril, a Alemanha varreu os Bálcãs, dominando a Grécia e, após

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infligir sérias baixas, destroçando as forças inglesas que lá estavam. Os britânicos se retirarampara a ilha de Creta, porém em maio foram de novo expulsos pelos alemães. Foi a quartaevacuação na guerra para as forças inglesas — e a mais humilhante até então. “Um grave danoincidiu de forma geral sobre o moral inglês,” anotou Robert Sherwood, “e, em particular,resultaram disputas desagradáveis entre as três forças singulares britânicas.” Uma piada ferinacirculou na Inglaterra de que a sigla BEF — “British Expeditionary Force” — na verdadesignificava “Back Every Friday” (uma retirada a cada sexta-feira).

Entrementes, uma fieira de anteriores triunfos ingleses sobre os italianos na Líbia virarapoeira quando o general Erwin Rommel e seu Afrika Korps chegaram para socorrer seus aliados.Em apenas dez dias, os alemães recuperaram quase todo o território que os ingleses haviamtomado em três meses e, ao fazê-lo, lançaram os Tommies de volta ao Egito. A vitória deRommel, que Churchill classificou como “um desastre [96] de primeira magnitude,” foi umacalamidade estratégica para a Inglaterra, ameaçando seu acesso ao petróleo do Oriente Médio eseu controle sobre o Canal de Suez, caminho vital para a Índia e o Extremo Oriente.

No país, havia uma dúvida crescente a respeito da capacidade combatente e dadeterminação das tropas inglesas, preocupações expressas privadamente por Churchill emembros de seu governo. “A evacuação caminha razoavelmente bem — isso é tudo que temosde realmente bom!” — Alexander Cadogan registrou em seu diário durante a retirada inglesa daGrécia. “Nossos soldados são os mais patéticos amadores arremessados contra profissionais. (...)Cansados, deprimidos e derrotistas!”

Durante esses tempos decepcionantes, o próprio Churchill ficou também sob forte ataqueparlamentar por sua conduta da guerra, em especial pela ordem que deu transferindo tropas doOriente Médio, em abril, para desembarcá-las na Grécia — uma movimentação de forçasfavorável a Rommel. Num debate de maio na Câmara dos Comuns, diversos representantesespancaram a liderança do primeiro-ministro e aquilo que viam como decisões equivocadas.Apesar de enfurecido com as críticas, Churchill reconheceu um clima de “desalento e perda deconfiança” no país. Dirigindo-se à Casa, afirmou: “Sinto que estamos lutando pela vida e pelasobrevivência, dia a dia e hora a hora.”

Dolorosamente consciente de que a única esperança da nação era a intervenção dos EUA,Churchill intercedeu a Winant e Harriman por mais ajuda com uma intensidade que beirou aobsessão. Winant começou a lastimar suas visitas de fim de semana a Chequers, onde oprimeiro-ministro arengava sem parar e depois subia para uma soneca, deixando um membro doGabinete ou qualquer outro alto funcionário para dar continuidade à argumentação. Após umahora, ou perto disso, ele retornava, descansado e novinho em folha, para outro round com odesgastado embaixador. Que bem faziam os artigos do Lend-Lease, perguntava Churchillrepetidas vezes, se eles jamais chegavam à Inglaterra? Queria que a Marinha americanaprotegesse os comboios de navios mercantes, porém, bem mais que isso, desesperava-se para aAmérica entrar na guerra.

No final de março, líderes militares ingleses e americanos se reuniram em Washington paradebater uma possível ação conjunta quando — e se — os Estados Unidos viessem a participar docombate. Concordaram que o esforço principal contra a Alemanha teria lugar no Atlântico e naEuropa. De acordo com os planejadores, um grande destacamento da Marinha americana seriadesdobrado para proteger os navios mercantes ingleses, enquanto cerca de trinta submarinos dosEUA operariam contra os vasos de guerra inimigos. Os ingleses ficaram satisfeitos com osplanos, mas eles não saíram do papel, uma vez que Roosevelt não mostrou interesse por suaimplementação.

Em 3 de maio, um Churchill desanimado deixou bastante claro o que realmente a Inglaterra

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necessitava dos Estados Unidos, e não eram contratorpedeiros, aviões ou proteção naval para oscomboios. Pela primeira vez desde junho de 1940, ele rogou a Roosevelt que declarasse guerra àAlemanha. “Senhor Presidente [97], estou certo de que o senhor não me interpretará mal se eulhe disser exatamente o que se passa em minha cabeça,” afirmou o primeiro-ministro emcabograma para a Casa Branca. “O único contrapeso definitivo que posso ver (...) seria se osEstados Unidos se aliassem imediatamente a nós como potência beligerante.”

Atenderia o Presidente ao pleito do primeiro-ministro? Ou o rogo acabaria, como tantasoutras mensagens de Churchill, engolido pela inércia de Washington como uma mensagemdentro da garrafa lançada no oceano? Essas perguntas foram ponderadas não só por ansiososingleses como também pelos representantes da América em Londres. “Tudo isso vai ser umacorrida contra o tempo,” escreveu em seu diário o adido militar dos EUA, general Lee. “Aquestão é se nosso apoio chegará suficientemente a tempo para dar alento a uma causa que estágradualmente definhando.”

Roosevelt esperou uma semana para responder. Quando sua alegação finalmente chegou aDowning Street, ficou evidente que ele ainda não partilhava o mesmo senso de urgênciaexperimentado na Inglaterra — ou, para falar a verdade, o que era sentido por elementos-chavede seu próprio governo. No mínimo, na opinião dos chefes de Estado-Maior dos Estados Unidos eda maioria dos membros do ministério, proteção americana deveria ser dada aos comboiosingleses para estancar a hemorragia das perdas marítimas. “A situação é [98] obviamente críticano Atlântico,” escreveu o almirante Stark a um colega. “Do meu ponto de vista, ela édesesperançada [a menos que] tomemos fortes medidas para salvá-la.” Num discurso, osecretário da Marinha, Frank Knox, declarou: “Não podemos deixar que nossos bens sejamafundados no Atlântico.” Knox, Henry Stimson, Henry Morgenthau e Harry Hopkins estavamentre os que instavam Roosevelt a agir decisivamente. Mas o Presidente descartava os conselhos,do mesmo modo como rejeitara a reivindicação de Churchill pela beligerância dos EUA. Em vezdisso, assegurara ao primeiro-ministro, como o fizera antes com frequência, que a assistênciaamericana chegaria em breve.

Não havia dúvida de que FDR estava muito preocupado com a situação dramática daInglaterra naquela primavera, mas só estava disposto a dar pequenos passos incrementais para irem seu socorro. Expediu um decreto, por instância de Harriman, permitindo que os suprimentosamericanos fossem diretamente entregues às tropas inglesas no Oriente Médio, e nãodescarregados na Inglaterra e, depois, reembarcados. Também permitiu a reparação de naviosde guerra ingleses em estaleiros americanos — outra recomendação de Harriman — e otreinamento de pilotos ingleses em bases aéreas americanas.

Além disso, o Presidente ampliou a autoproclamada zona de segurança do país no Atlântico,autorizando os navios e aviões dos EUA a patrulharem mais de dois terços da extensão marítimaentre a América e a Inglaterra. Quando a guerra irrompera, em 1939, a América decretou umaárea de não beligerância que se estendia a trezentas milhas de distância de ambas as costas e eramonitorada por forças dos Estados Unidos. A decisão de Roosevelt de ampliar a zona no Atlânticoem abril de 1941 possibilitou que aviões e navios americanos patrulhassem o oceano até aGroenlândia e alertassem os ingleses, caso detectassem submarinos e atacantes de superfíciealemães. Mas o Presidente também deixou patente que não deveria haver disparos da forçasamericanas, a menos que atacadas primeiro.

A maior vigilância americana era decerto útil aos ingleses, mas pouco fazia para acabarcom a ferocidade dos U-Boats. Como as patrulhas dos EUA eram proibidas de atacar os naviosalemães, só os britânicos seguiram com a missão de proteger seus comboios, e as perdascontinuaram aumentando. Nas primeiras três semanas de maio, os submarinos alemães puseram

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a pique vinte navios mercantes ingleses na ampliada zona de segurança americana.Os homens mais próximos ao Presidente estavam desnorteados, exasperados e cada vez

mais alarmados com aquilo que viam como passividade e relutância em tomar atitudes maiscorajosas. O ex-embaixador William Bullitt escreveu a Harriman: “O Presidente está esperando[99] que a opinião pública se manifeste, e a opinião pública aguarda orientação do Presidente.” Amaioria dos membros do ministério e muitos dos outros auxiliares mais chegados a Roosevelt,entre eles Bullitt e o juiz da Suprema Corte Felix Frankfurter, estavam então convencidos de que aestratégia “tudo menos a guerra” não era mais suficiente para socorrer a Inglaterra. “Eu disse aHopkins que (...) se tivermos de salvar a Inglaterra, é necessário que entremos nessa guerra,”registrou em seu diário Henry Morgenthau, “e que precisamos da Inglaterra, se não for por outromotivo, como trampolim para bombardear a Alemanha.” O secretário do Tesouro acrescentou:“Acho que tanto o Presidente quanto Hopkins estão titubeando sobre o que fazer. (...) [Hopkins]pensa que o Presidente é avesso a entrar na guerra e que preferiria seguir a opinião pública doque liderá-la.” Morgenthau, como outros do círculo de amizades de FDR, sentia que o Presidenteesperava por um incidente provocador que lhe tirasse dos ombros o ônus da responsabilidade elhe desse uma desculpa para proteger os comboios ingleses e mesmo declarar guerra.

Em abril, Stimson, Knox, o secretário do Interior Harold Ickes e o ministro da Justiça RobertJackson organizaram uma reunião secreta para discutir como poderiam pressionar Roosevelt aparar a hesitação e assumir mais o controle. “Só sei que, por todos os lados, encontro insatisfaçãocom a falta de liderança do Presidente,” anotou Ickes em seu diário. “Ele ainda tem o país namão se quiser liderá-lo. Mas não o terá por muito tempo, salvo se fizer alguma coisa.”

Stimson, com seus setenta e três anos, que fora duas vezes secretário da Guerra e uma vezsecretário de Estado, decidiu ele mesmo tomar a iniciativa. Uma das figuras mais respeitáveis deWashington, era o único membro do ministério com estatura moral e política para dizer dechofre ao Presidente que ele falhava em sua responsabilidade de liderar. Em vez de contar coma opinião pública para decidir o que fazer, Stimson disse a FDR, ele tinha que orientar essaopinião. “Alertei-o de que,” escreveu o secretário da Guerra, “(...) sem uma liderança de suaparte, era inútil esperar que o povo, voluntariamente, assumisse a iniciativa de deixá-lo saber se oseguiria ou não.”

O Presidente, mais uma vez, fez ouvidos de mercador ao conselho de Stimson. Determinadoa preservar a unidade da nação, ele não daria qualquer passo que contrariasse a maioria do país,a menos que compelido por Hitler a fazê-lo. “Que parcela [100] de nosso estilo democrático devida será comandada por Mr Gallup é pura especulação,” resmungou o almirante Stark para umcolega.

Contudo, era difícil determinar exatamente o que os americanos queriam na primavera de1941. Pesquisas de opinião Gallup mostravam esmagador apoio ao auxílio à Inglaterra, porém,quando perguntados se a Marinha deveria proteger os navios ingleses os americanos se dividiampor igual sobre a questão. Mais de 80 por cento da população se opunham à entrada dos EstadosUnidos na guerra para resgatar a Inglaterra, embora aproximadamente o mesmo percentualaceitasse que os EUA teriam que se defender sozinhos, mais cedo ou mais tarde, contra aAlemanha. “A realidade é que existia ainda muita apatia,” disse Frances Perkins. A guerra“estava demasiado longe. A maioria da gente tinha grande dificuldade de visualizá-la. Não sesentia sensibilizada ou incomodada com o que estava em jogo. Na verdade, não se preocupava.”

Da perspectiva dos intervencionistas, os resultados das pesquisas mostravam o fracasso deRoosevelt em ilustrar o público americano sobre um fato crucial da vida: que o perigorepresentado pela Alemanha aos Estados Unidos era imediato, e não um que só exigissepreocupação em algum período do futuro nebuloso. “O povo como um todo simplesmente não

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entende que um controle de Hitler da Europa, Ásia, África e dos mares abertos nos colocaria amercê dos názis pelo menos quanto a 25 recursos essenciais,” escreveu Chet William,funcionário do governo federal e amigo de Murrow, para o radialista. “Fatos como esse nãoforam explicados.”

Belle Roosevelt, esposa de Kermit, primo de Eleanor Roosevelt, e amiga chegada doPresidente e sua esposa, confrontou FDR a respeito de sua relutância em ilustrar as pessoas. “Porque você não explica os fatos, por mais sombrios que sejam, ao povo americano?” — perguntou.“Podemos enfrentar os fatos? Se não pudermos não é ainda mais essencial que nós, como nação,aprendamos a fazer face a eles? Não é parte de suas atribuições nos ensinar a enfrentar arealidade?”

Como Roosevelt via o problema, todavia, ela e outros críticos intervencionistas nãoentendiam a complexidade da situação que o atormentava. Ao mesmo tempo que a opiniãopública podia estar embaçada e confusa, a do Congresso, aparentemente, não estava: segundouma pesquisa, por exemplo, cerca de 80 por cento dos congressistas se opunham aos comboiosnavais, mesmo que “necessários para evitar uma derrota inglesa pelas mãos de Hitler.” Eenquanto as principais figuras do governo de FDR o instavam a ser mais militante, outros, cujasdúvidas sobre a capacidade de a Inglaterra travar a guerra e mesmo de sobreviver eramreforçadas por suas recentes derrotas, acreditavam que o Presidente já fora muito longe naajuda aos ingleses.

Entre os que aconselhavam cautela estavam o secretário de Estado Cordell Hull e diversos deseus secretários-assistentes, inclusive Adolf Berle e Breckinridge Long. “A opinião mundial [101]é que [os ingleses] estão acabados,” registrou Long em seu diário. “Escutamos isso na Américado Sul, no Extremo Oriente e na África Ocidental.”

O Departamento da Guerra também tinha seu quinhão de negativistas. Embora os chefescivis da defesa — Stimson e Knox — e os chefes militares — Marshall e Stark — favorecessemuma abordagem mais agressiva para auxiliar a Inglaterra, muitos oficiais de alta patente eramcontrários a tais medidas. A Stimson, Knox queixou-se de “como tinha de combater a timidez deseus próprios almirantes a respeito de qualquer atitude agressiva, de como todas as suasestimativas e todos os seus assessoramentos se baseavam no fracasso dos ingleses.”

O secretário da Guerra, no meio-tempo, tinha suas próprias dificuldades com o Exército. Ogeneral Marshall podia ser a favor dos comboios navais dos EUA, mas ele e seus estrategistas dosaltos escalões, muitos dos quais eram mesmo anti-ingleses, resistiam à ideia de a América seenvolver com a guerra antes que o Exército, ainda muito mal equipado e sem efetivoscompatíveis, estivesse operacional. Na ocasião em que um militar do Exército, colega deRaymond Lee, retornou a Londres após algumas semanas em Washington, ele disse ao generalque era “chocante ver como tantos oficiais de elevados postos na América tinham adotado umaatitude derrotista e não possuíam o menor entusiasmo por encaminhar de modo algum o apoiodos Estados Unidos à Inglaterra.” Para os americanos em Londres, a primavera e o verão de 1941 constituíram um períodoagonizante e frustrante. Washington, com a sua má vontade para encarar uma possível derrota daInglaterra, parecia para eles estar em outro planeta. “Existe pensamento idealista em excesso,muito pessimismo idiota, coisas demais deixadas ao acaso, exageradas noções democráticas do'muito pouco e muito tarde,'” espumou Raymond Lee, um dos mais ferrenhos proponentes dacausa inglesa dentro da embaixada americana. “Só quando se está aqui é que se percebe aatualidade e a pressão da emergência.”

Averell Harriman se mostrava ainda mais irado. “É impossível [ 102] para mim

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compreender a atitude de avestruz da América,” escreveu a um amigo. “Ou temos, ou não,interesse no resultado dessa guerra. (...) Caso tenhamos, por que não percebemos que cada dia deatraso da nossa participação direta (...) representa o extremo risco ou de perdermos ou demultiplicarmos por semana de retardo a dificuldade para ganhá-la?” Para a esposa, Harrimandepreciou a expansão promovida por Roosevelt das patrulhas americanas no Atlântico, quedescreveu como “empregar navios de guerra para espiar em vez de atirar. Será que o paísperdeu o orgulho? Vamos continuar nos escondendo atrás das saias dessas pobres mulheresbritânicas que realizam a defesa civil por aqui? (...) Não pense que estou deprimido. Estou apenasfurioso.”

Repetidas vezes, ele e Winant pressionaram o Presidente e seus auxiliares por mais açãovigorosa e por mais envolvimento direto. “A força da Inglaterra está se esvaindo,” Harrimantelegrafou a Roosevelt em abril. “Em nosso próprio interesse, confio que a Mrinha americanaserá diretamente empregada antes que nosso parceiro fique muito debilitado.” Comorepresentante do Lend-Lease, fez o que pôde para acelerar o fluxo da ajuda à Iglaterra, como,por exemplo, persuadir os despachantes americanos a arrumarem suas cargas de modo que osestivadores ingleses pudessem descarregá-las com maior rapidez. Também sugeriu iniciativascomo a reparação de navios britânicos em estaleiros americanos, o que fez a América dar maisum passo, se bem que pequeno, na direção da beligerância.

Em Downing Street e nas repartições governamentais em Whitehall não restava dúvida deque Harriman e Winant desejavam que seu país entrasse na guerra. Churchill, que se reunia comos dois americanos praticamente todos os dias, disse ao Gabinete que se sentia “muitoencorajado” com a atitude de ambos. “Esses dois cavalheiros,” disse, “[estão] aparentementeansiando para que a Alemanha cometa algum ato belicoso ostensivo que libere o Presidente desua (...) promessa de manter o país fora da guerra.”

Para os dois, o equilíbrio em suas ações era difícil de ser mantido. Com efeito, eles serviam adois governos: eram representantes importantes de seu país na Inglaterra enquanto tambémserviam como agentes de Churchill ao transmitirem as necessidades inglesas para os EstadosUnidos. Porém, como deixaram bastante claro para os funcionários britânicos, o dever prioritáriodeles era de lealdade ao chefe do Executivo e ao seu país. Eles eram, disse John Colville, “doishomens que não só representavam sua nação com capacidade exemplar, mas que tambémconseguiam se tornar amigos pessoais próximos de Churchill, sua família e seu grupo sem, porum momento, perderem a independência de pensamento e ação.”

Ambos os americanos deram o melhor de si para ajudar Churchill a “vender” suas opiniõesao Presidente e a outros integrantes do governo. Através do íntimo conhecimento que tinham daspersonalidades e políticas de Washington, auxiliaram o primeiro-ministro e membros do governoinglês a interpretarem respostas de Roosevelt e seus assistentes, assim como tomaram parte napreparação das minutas de propostas de Churchill e de outras mensagens para a Casa Branca.Além disso, sugeriram ao primeiro-ministro que abrandasse o tom de seus cabogramas cada vezmais insistentes e rabugentos para FDR. Certa vez, quando Harriman fez uma dessas propostas,Churchill, irritado, rejeitou-a de pronto. Harriman, no entanto, não desistiu, e o primeiro-ministro,de muito má vontade, disse que iria pensar sobre o assunto. No dia seguinte, ele entregou aHarriman uma nova minuta de cabograma com a recomendação incorporada.

Na oportunidade em que Churchill começou a escamotear os números que mostravam asperdas marítimas inglesas na primavera, Harriman e Winant o aconselharam a rever a decisão,declarando que ele deveria divulgar mais dados, e não menos. Para convencer o público e ogoverno americanos sobre a necessidade de mais ativo envolvimento, disseram eles, eraessencial que fosse revelada a completa gravidade da crise enfrentada pela Inglaterra, tanto

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sobre a marinha mercante quanto nos fronts militares. “O que a América requer [103] não épropaganda e sim fatos,” declarou Harriman num pronunciamento. Todavia, essa foi matériaespecífica em que Churchill não cedeu.

Ao mesmo tempo, num esforço de ajudar a preparar o caminho do primeiro-ministro nofront político, Winant tentou aclarar quem era Churchill e explicar suas atribuições tanto para oscríticos no exterior como até mesmo na Inglaterra. Quando alguns decepcionados membros doParlamento inglês pressionaram o primeiro-ministro a abrir mão de sua posição como ministroda Defesa (de fato, um acúmulo de funções sem precedentes no governo inglês), Winant lhesdisse que, ao desempenhar os dois cargos, Churchill se tornava habilitado a tratar em bases maisigualitárias com Roosevelt, no que se referia às questões da guerra, do que se delegasse suasresponsabilidades militares para qualquer outra pessoa. E quando os recém-chegadoscorrespondentes americanos reclamaram contra o fato de Churchill não promover entrevistascoletivas como o Presidente fazia, Winant justificou dizendo que, no sistema parlamentarista, oprimeiro-ministro mantinha o povo informado através das sessões semanais de perguntas naCâmara dos Comuns. E acrescentou que os parlamentares se ressentiriam bastante se Churchillos desbordasse e mantivesse o povo informado pela mídia. Em 10 de maio, dia em que Roosevelt respondeu negativamente ao pleito de Churchill pelabeligerância dos Estados Unidos, os bombardeiros alemães retornaram a Londres. Pordevastadores que tivessem sido os ataques anteriores, nada se comparou à selvageria e àdestruição dessa nova tempestade de fogo. Na manhã seguinte, mais de dois mil incêndiosgrassavam sem controle pela cidade, de Hammersmith no oeste a Ramford no leste, cerca detrinta quilômetros distantes entre si.

Os danos em marcos de Londres foram catastróficos. O Queen's Hall, principal local deconcertos da cidade, ficou em ruínas, enquanto mais de um quarto de milhão de livros foramincinerados e diversas galerias destruídas no British Museum. Bombas atingiram o St. James'sPalace, a Abadia de Westminster, o Big Ben e o Parlamento. O medieval Westminster Hall,ainda que muito danificado, foi salvo, mas o mesmo não aconteceu com o plenário da Câmarados Comuns, cenário de alguns dos mais dramáticos eventos na história moderna inglesa.Completamente tomada pelo fogo, a sala, com seu celebrado teto de madeira, se transformounum amontoado de destroços a céu aberto.

Todas as importantes estações ferroviárias, exceto uma, ficaram inoperantes, assim comomuitas estações e linhas do metrô. Um terço das ruas da Grande Londres resultou interditado, equase um milhão de pessoas ficaram sem gás, água e eletricidade.

A perda de vidas foi ainda mais calamitosa: nunca na história de Londres tantos de seusresidentes — 1.436 — morreram numa só noite. Entre os mortos estavam Alan Wells, editor daBBC de notícias do exterior para o público local, e sua esposa Claire, vizinhos e amigos próximosde Ed e Janet Murrow. Os Wells, ambos bombeiros voluntários, tentavam extinguir as chamas deuma bomba incendiária próximo da casa deles, quando outra bomba de alto-explosivo detonoupor perto.

Desde que a Blitz começou, aproximadamente 43 mil civis britânicos foram mortos porbombas, quase a metade deles em Londres. Quanto à primavera de 1941, bem mais mulheres ecrianças inglesas morreram na guerra do que integrantes das forças armadas do país. Mais dedois milhões de casas foram danificadas ou destruídas; na área central de Londres, só uma casaem cada dez escapou totalmente ilesa.

Poucos dias após a incursão aérea, numa pequena igreja da vizinhança, os Murrowscompareceram ao serviço religioso em memória dos Wells, o último dos diversos funerais a que

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tinham ido nos poucos meses passados. Mais ou menos na mesma hora, Winston Churchill fezuma melancólica visita às ruínas do plenário da Câmara dos Comuns. Por certo, mais do quequalquer outro membro do Parlamento, ele podia dizer que aquele era seu lugar. Ali, fizera aestreia como parlamentar havia mais de quarenta anos. Ali, nos anos 1930, ele alertou oParlamento e o país sobre os perigos do apaziguamento. Ali, foi travado, em maio de 1940, omomentoso debate sobre a conduta da guerra por Neville Chamberlain que desaguou naascensão de Churchill ao poder. E ali, enquanto a Inglaterra combatia sozinha, ele pronunciouseus altissonantes discursos de desafio à ameaça alemã. Enquanto o primeiro-ministro passava osolhos pelos estragos no plenário, lágrimas escorriam por seu rosto. Em 15 de maio, num discurso na União de Língua Inglesa (English-Speaking Union), emLondres, Gil Winant notou que do outro lado da rua do Parlamento e da Abadia de Westminster,uma estátua de seu herói, Abraham Lincoln, continuava de pé. “Como americano [105],” disseWinant, “estou orgulhoso de que Lincoln permaneça lá, em meio a tanta destruição, como umamigo e sentinela (...) e um lembrete de que em [sua própria] grande luta pela liberdade, eleesperou, calmamente, por apoio para as coisas pelas quais lutou e morreu.”

Aquela velada comparação de Lincoln com o povo inglês foi seguida por uma declaração doembaixador, não tão sutil, de que estava firmemente ao lado da Inglaterra — e achava que erahora de seu país também estar. “Estávamos todos dormindo enquanto homens cruéis e maldososarquitetavam a destruição,” observou. “Todos nós tentamos nos convencer da crença de que nãoéramos guardiães de nossos irmãos. Mas estamos começando a entender que precisamos tantode nossos irmãos quanto eles precisam de nós.”

Como o Times de Londres e o New York Times realçaram, o emprego que Winant fez do“nós” em seu discurso, um dos mais poderosos que jamais pronunciou, era endereçado tanto aosEstados Unidos quanto à Inglaterra. “Nós tornamos nossas tarefas infinitamente mais difíceisporque fracassamos em fazer ontem o que de bom grado fazemos hoje,” declarou. “Retardarmais fará a guerra se prolongar e aumentará os sacrifícios pela vitória. Vamos parar de nosperguntar se é necessário fazer mais agora. Vamos nos perguntar o que mais pode ser feito hoje,de modo que tenhamos menos a sacrificar amanhã.”

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5

Membros da Família

No fim de semana do forte ataque aéreo a Londres de 10 de maio, Winston e ClementineChurchill eram convidados de Ronald e Nancy Tree em Ditchley, sua propriedade campestrepróxima a Oxford. Sete meses antes, os Trees haviam sugerido que, sempre que houvesse luacheia nos fins de semana, Churchill fosse para Ditchley em vez de Chequers, de vez que a casade campo oficial do primeiro-ministro — uma mansão elisabetana fria e desconfortável porcausa dos ventos encanados — era considerada alvo preferencial na eventualidade de umaincursão inimiga. Churchill, que adorava a opulência de Ditchley, não se fez de rogado, levandopara a propriedade de Tree todo o seu grupo treze vezes nos dois anos seguintes.

Os membros do círculo mais chegado ao primeiro-ministro passavam o fim de semanagozando da pródiga hospitalidade de Tree. Entre eles estava Averell Harriman, ao qualClementine Churchill pediu um favor no mínimo estranho. A filha Mary dos Churchills, entãocom dezoito anos, havia recentemente espantado os pais com a notícia de seu namoro sério epromessa de noivado com o filho de vinte e oito anos e herdeiro do conde de Bessborough, queela havia conhecido pouco tempo antes. Clementine nada tinha contra o rapaz, disse a Harriman,mas estava certa de que Mary não o amava, além de ser muito jovem para saber o que estavafazendo e “simplesmente ficara [107] deslumbrada com o entusiasmo.”

Mary recusara os pedidos da mãe para que reconsiderasse o compromisso. QuandoClementine solicitou a Winston que falasse com a filha, ele concordou, porém, assoberbado queestava com a condução da guerra, nunca encontrava tempo para a conversa. Desesperada,Clementine recorreu a Harriman. Ele tinha duas filhas, disse ela. Sabia como as mocinhas agiam.Faria ele o favor de tentar convencer Mary?

A solicitação era, vista de diversos ângulos, peculiar. Sobretudo revelava como, em poucassemanas, Harriman — e também Winant — tinha se tornado não apenas uma figura-chave parao governo do primeiro-ministro como também um membro de facto da família Churchill. Desdea chegada à Inglaterra, um ou os dois americanos tinham passado todos os fins de semana com oprimeiro-ministro e sua família em Chequers ou Ditchley .

Para desânimo de Clementine, Churchill resistira à sua opinião de que os fins de semana nocampo deveriam ser calmos e repousantes, tréguas para as loucuras de tempo de guerra emLondres. Ele jamais conseguiu ver vantagem em separar o trabalho da vida familiar e, nos anosentreguerras, recepcionara um fluxo incessante de visitantes políticos e militares em Chartwell, acasa de campo que os Churchills possuíam em Kent. Durante a guerra, seus fins de semana deretiro abundavam de generais, almirantes, marechais do ar, ministros do Gabinete, líderesgovernamentais estrangeiros e um salpico de integrantes da família. Por vezes, existiam até trêsturnos de convidados: alguns apenas para o almoço, outros para o jantar e outros ainda para todoo fim de semana.

Com Churchill em casa, a vida em Chequers e Ditchley estava sempre perto do caos.Segundo seus seguranças pessoais, a vida com o primeiro-ministro “era menos agendada [108]do que incêndio florestal e menos pacífica do que um furacão.” Secretárias se agitavam portodos os lados, telefones tilintavam irritantemente; carros oficiais, checados pelas sentinelasmilitares, entravam e saíam; mensageiros chegavam e partiam com seus malotesregulamentares. Quando não envolvidos em conferências ultrassecretas, os convidados jogavam

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tênis e croquet, ou como fazia Sir Charles Portal, chefe do Estado-Maior da Força Aérea,relaxava retirando ervas daninhas dos jardins de Ditchley. No centro da ação, o primeiro-ministro a baforar seu charuto, quando não estava comandando as reuniões, entretinha osconvivas durante o almoço e o jantar. Churchill “adorava uma plateia às refeições,” escreveuseu biógrafo Roy Jenkins. “Ele não era sempre tão bom em conversas a dois, mas com umamesa podia ser brilhante. E seu brilho divertia e inspirava os convivas, porém também dava umimpulso essencial a seu próprio moral e entusiasmo.”

Harriman e Winant, além de fazerem parte do círculo oficial, foram atraídos para a vida dosChurchills e filhos de uma maneira não desfrutada por outros visitantes. Ambos se tornaramamigos íntimos do primeiro-ministro e de sua família, convidados, como sublinhou John Colville,“tanto pelo prazer da companhia quanto pelo trabalho a realizar.”

Ainda assim, a ideia de aconselhar Mary Churchill sobre seu caso amoroso decerto pareceu,ao menos inicialmente, um desafio um tanto assustador para Harriman. Suas duas filhas haviamsido criadas pela mãe, que se divorciou dele quando elas eram muito jovens; ele passara muitopouco tempo com as meninas enquanto cresciam. A maioria de suas recentes experiências commocinhas tinha sido como amante, e não como tio conselheiro. Não obstante, concordou,corajosamente, em fazer como Clementine pedira. Pegando Mary de lado para uma conversade coração aberto, ouviu pacientemente enquanto a moça expunha seu lado da história e, depois,falou para ela sobre as incertezas da guerra e os perigos de se tomar uma decisão apressada arespeito de um passo tão vital e transformador da vida como o casamento. A própria Mary jávinha sendo assaltada por dúvidas a respeito de seu noivado e, após a conversa com Harriman,decidiu adiá-lo; pouco mais tarde, o relacionamento terminou por completo. “Gostaria deagradecer [109] sinceramente sua simpatia e ajuda,” escreveu a moça a Harriman logo depois.“Achei muito gentil de sua parte — quando você é tão ocupado e tem tantos compromissosimportantes para o seu tempo — ouvir com tamanha paciência um recital de minhas tolices edores do coração! Você me ajudou bastante — e fez com que eu me tomasse com maiorseriedade — o que foi excelente!”

Para Harriman, o fato de Clementine Churchill o ter selecionado para a função de padreconfessor de Mary, não importa quão desconfortável tivesse sido na ocasião, foi uma fonte detremenda satisfação. Seu acesso íntimo aos Churchills abrandou boa dose da ferroada que haviasentido com sua exclusão por tanto tempo da equipe do New Deal de Roosevelt. Apesar de ocírculo fechado ao qual fora admitido ser o do primeiro-ministro inglês, e não o do presidenteamericano, ele estava agora sob a luz dos holofotes, justamente como sempre ansiou.

No seu galanteio a Churchill e família, Harriman dedicou as mesmas energia edeterminação que devotou ao polo e a outros de seus entusiasmos. Quando chegou a Londrespara o desempenho de sua missão, ele presenteou Clementine com um pequeno saco detangerinas que conseguira em Lisboa. A expressão de deleite dela fez com que ele percebessequão severamente as restrições às importações de alimentos haviam afetado até o lar doprimeiro-ministro. A partir de então, Harriman, homem conhecido por sua parcimônia, passou aser o Papai Noel para os Churchills, oferecendo-lhes itens que havia muito tempo tinham sumidodas lojas inglesas — presunto defumado da Virgínia, frutas frescas, lenços, meias femininas,charutos Havana.

Além de favorecer a inclinação de Churchill por amigos ricos e luxo, Harriman estavadisponível toda a vez que o primeiro-ministro precisasse conversar, independentemente do lugare da hora. Muitas vezes já era quase meia-noite quando ele recebia uma chamada telefônica deDowning Street 10 ou do estúdio de Churchill em Chequers solicitando sua presença para algumasmãos de “bezique,” um complicado jogo de cartas que era uma das maneiras favoritas de

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relaxamento do primeiro-ministro. Enquanto jogavam até duas ou três da madrugada, Churchill,fascinado que era pelo amealhar e perda de grandes fortunas, regalava seu endinheiradocompanheiro com histórias de como havia perdido grande quantia de dinheiro na quebra de WallStreet em 1929. A despeito de tal desastre, ele fantasiava para Harriman sobre “a maravilhosavida [110] que um especulador deveria levar.” O primeiro-ministro também usava Harrimancomo caixa de ressonância para seus pensamentos sobre os últimos acontecimentos na guerra eas relações anglo-americanas. Era um exercício útil para os dois, com Harriman discernindo oque se passava pela mente de Churchill, e Churchill obtendo as opiniões de Harriman sobre açõese reações de Roosevelt e seu governo.

Contudo, intrigante foi o fato de Harriman, obcecado e ambicioso como era, decidir pôr emrisco a privilegiada posição que detinha com Churchill e família, logo depois de a ter conseguido,ao começar um caso amoroso com Pamela Churchill, a nora de vinte e um anos do primeiro-ministro. Os dois se conheceram num almoço em Chequers, no fim de maio de 1941, menos de duassemanas após a chegada a Londres do representante americano do Lend-Lease. Como Harriman,a Pamela de cabelo castanho-avermelhado e olhos azuis tinha uma predileção por cultivarhomens importantes e fascinação pelo poder político. Segundo todos os relatos, ela ficouimediatamente cativada por aquele empresário, quase trinta anos mais velho, que era, segundoinformação de uma amiga, “o americano mais poderoso em Londres.” Durante o almoço,Harriman procurou extrair dela informações sobre Churchill e sobre o barão da imprensa LordBeaverbrook, velho amigo e conselheiro do primeiro-ministro e um dos mais influentes econtroversos homens da Inglaterra. Harriman, ela disse mais tarde, “era um caipira da América.Não sabia coisa alguma” sobre o cenário político no Reino Unido de então. Mas também serecordou de como a ela pareceu “maravilhosamente vistoso” — “muito atlético, bronzeado esaudável.” Olhando firmemente Harriman com a intensidade de um feixe de laser, Pameladeslanchou aquilo que seus amigos qualificavam como “dança do acasalamento,” fazendoperguntas, ouvindo, extasiada, seus comentários e sorrindo abertamente a qualquer tentativa delede gracejo.

Ela havia conquistado o sogro com a mesma maneira amável de flertar e, quando o fez,tornou-se uma de suas companhias favoritas. Com o marido Randolph no Oriente Médio e o filhode seis meses, Winston, aos cuidados de uma babá na casa de campo, ela passava a maior partedo tempo em Downing Street 10 e em Chequers, jogando cartas com Churchill, ouvindo suashistórias e confortando-o sempre que o via preocupado e deprimido.

Na realidade, virtualmente desde o início de seu casamento, Pamela tinha bem melhorrelação com Winston e Clementine do que com o marido, então com vinte e sete anos. Filha deLord Digby, empobrecido aristocrata de Dorset, ela conhecera Randolph Churchill poucos diasantes de a guerra começar. Temerosa de ficar “aprisionada em Dorset [111] pelo resto da vida,”ela se desesperava, disse mais tarde, por “novos horizontes e desafios. (...) Eu queriaexperimentar o que existisse para ser experimentado.” Randolph propôs casamento na noiteseguinte ao primeiro encontro, e o matrimônio teve lugar duas semanas depois. Para ambos, aunião foi “tão fria e calculista como uma negociação empresarial,” escreveu Sally Bedell Smith,uma das biógrafas de Pamela. “Ele queria um herdeiro, e ela desejava nome e posição.” Os doisconseguiram o que almejavam, porém, sem surpresas, a relação foi um desastre emocionaldesde o começo.

Mimado e estragado pelo pai, Randolph era muito falante e talentoso escritor, que podia sercharmoso e jovial quando estava disposto. Na maior parte das vezes, no entanto, era um pedante

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desagradável, dado à bebida, ao jogo e à caça às mulheres, fontes constantes de vergonha paraos pais. Randolph, disse Mary Churchill, “podia ser bastante assustador — muito barulhento eestourado. Se estivesse num daqueles dias, era capaz de discutir até com uma cadeira.” Bemmais cáustico na sua avaliação de Randolph, John Colville escreveu em seu diário: “Uma dasmais condenáveis pessoas que jamais conheci; ruidoso, impertinente, choramingão eostensivamente desagradável. (...) Na mesa de refeições, raramente demonstrava afabilidadepelo pai, que o adorava.” Em fevereiro de 1941, para grande alívio de Pamela, o regimento deRandolph foi transferido para o Egito, e ela, por fim, se sentiu livre para desfrutar do furor eróticoque tomou conta da Londres do tempo de guerra.

O ditado “Viva hoje, porque amanhã podemos estar mortos” podia ser lugar-comum dasguerras, mas sem dúvida ecoou pela capital inglesa em 1941 — nos hotéis, nightclubs, pubs epalácios, salas da situação e quartos de dormir. “Um difundido galanteio [112] pairava no ar, umsentimento de que ninguém é de ninguém,” observou um escritor inglês. “Espalhou-se pelo país anoção de que, em Londres, todos estavam apaixonados.” O fatalismo romântico e a vaidadeforam intoxicantes para muitos americanos que se depararam com tais liberalidades durante aguerra. Para eles, como para muitos ingleses e exilados europeus, que passaram determinadoperíodo na capital, a moralidade convencional foi deixada de lado por algum tempo. “Asbarreiras normais para se ter um caso amoroso com alguém foram jogadas para o alto,”lembrou o chefe da CBS William Paley, que passou diversos meses em Londres durante aguerra. “Se a coisa parecia boa, você se sentia bem, ora, nada a lamentar.”

Somando-se a essa desinibida atmosfera havia o novo e excitante senso de liberdade eindependência experimentado pelas jovens mulheres inglesas. Crescidas numa sociedade na qualpoucas mulheres trabalhavam fora ou frequentavam a universidade, elas esperavam continuarrecatadamente em segundo plano, demandando pouco mais do que a satisfação de servirem aosmaridos e criarem os filhos. Essa previsível e moderada existência foi, contudo, abalada quandoa Inglaterra declarou guerra à Alemanha. Centenas de milhares de mulheres, até mesmodebutantes como Pamela, que mal sabia fritar um ovo, se alistaram para trabalhar nas indústriasde defesa ou foram recrutadas para o Serviço Auxiliar Feminino da Força Aérea (Women'sAuxiliary Air Force — WAAF) e para outras unidades militares. Como uma ex-debutantelembrou: “Foi a liberação, senti-me livre.” As mulheres começaram a usar calças compridas.Apareciam em público sem meias femininas. Fumavam, bebiam e faziam sexo extramarital —com mais frequência, menos escrúpulos e menor remorso que suas mães e avós. As poucasmulheres americanas na capital foram infectadas por similar senso de liberdade. “Londres foi oJardim do Éden para as mulheres naqueles dias,” lembrou a correspondente da revista Time &Life, Mary Welsh, “com uma serpente dependurada em cada árvore ou poste de iluminação,oferecendo presentes tentadores, companhia e afeto excitante, se bem que temporário.”

Pamela Churchill se pôs na vanguarda desse antecipado movimento de liberação feminina,conseguindo um emprego no Ministério dos Suprimentos e um quarto no Dorchester Hotel. Anosdepois, ela se lembrou de ter pensado enquanto caminhava por um dos corredores do hotel,“Aqui estou eu [113], com vinte anos de idade, totalmente livre [e] curiosa por saber quem vaientrar na minha vida.” Quando conheceu Averell Harriman, imediatamente decidiu que era ele.Foi uma conquista espetacularmente fácil. Harriman já era hedonista bem antes de chegar aLondres, e nem precisou da mentalidade de carpe diem, que imperava na cidade, para seconvencer de que deveria se divertir. Nos anos 1920, ele tivera uma longa ligação amorosa comTeddy Gerard, atriz e cantora de nightclubs que se apresentara no Ziegfeld Follies. E houvemuitas outras mulheres com o passar dos anos; pouco antes de partir para Londres, elemergulhara num affair com a bailarina Vera Zorina, então casada com George Balanchine.

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Seu caso com Pamela provavelmente começou em meio ao devastador raid da Luftwaffesobre Londres, ocorrido em 16 de abril, pouco mais de duas semanas após se conhecerem. Osdois eram convidados de um jantar no Dorchester em homenagem a Adele Astaire Cavendish,irmã de Fred Astaire e esposa de Lord Charles Cavendish, filho do nono duque de Devonshire.Enquanto Gil Winant perambulava naquela noite pelas ruas do oeste de Londres e Ed Murrowtestemunhava a destruição de seu escritório e a de seu pub favorito, Harriman e seuscompanheiros de jantar assistiam aos incêndios de um dos quartos do oitavo andar do Dorchestere depois se recolheram à comparativamente mais segura suíte de Harriman no térreo.

Quando os outros foram embora, Pamela, aparentemente, ficou na suíte. Bem cedo namanhã seguinte, John Colville viu Harriman e a nora de seu chefe caminhando de braços dadospelo Horse Guards Parade e examinando a devastação da noite anterior. Mais tarde naquelemesmo dia, Harriman escreveu à esposa. “Na noite passada a Blitz foi real — talvez a maisampla de toda a guerra. (...) Bombas caíram por todos os lados. Desnecessário dizer que meusono foi intermitente.” Ele incluiu detalhes das conversas ocorridas no jantar e listou os nomesdos presentes, com uma notável exceção — Pamela Churchill.

Inicialmente, pelo menos, o casal escondeu ao máximo o relacionamento. Erammutuamente circunspectos e “agiam como se amigos fossem” quando na companhia de outros,disse um conhecido. Não obstante, as pessoas começaram a notar — e falar. Duncan Sandys,marido de Diana, filha mais velha de Churchill, “interceptou olhares e sentiu vibrações” entre osdois, e correu o boato que Harriman fora visto, bem tarde em determinada noite, caminhando naponta dos pés pelo vestíbulo de Chequers.

Entre os que deduziram a verdade estava Lord Beaverbrook, que encorajou a ligação desde ocomeço. Proprietário de três importantes jornais diários, Max Beaverbrook fora ostensivodefensor do apaziguamento com Hitler até maio de 1940. Todavia, quando a Inglaterra passou aser diretamente ameaçada pela Alemanha, ele se empenhou pelo esforço de guerra com amesma energia que, antes, a ele se opusera.

Clementine Churchill odiava Beaverbrook, chamando-o de “micróbio [114]” e “demônioengarrafado” e implorando ao marido que não privasse muito de sua companhia. “Algunsjulgavam que ele era o diabo personificado,” lembrou Drew Middleton, então correspondenteem Londres da Associated Press. “Eu o achava amoral e friamente calculista. Era um homemde grande energia, insensível brutalidade mental, paixão pelo mexerico (muitas vezes parecia sópelo prazer da intriga) e uma vasta generosidade.” Certa vez, quando Bill Paley foi convidadopara jantar na residência de Beaverbrook, Ed Murrow o alertou que o magnata da imprensa“tinha particular prazer em extrair informação indiscreta de seus convidados enchendo-os debebida.”

Beaverbrook — que, como ministro dos Suprimentos de Churchill, era encarregado da maiorparte da produção inglesa de guerra — era especialmente bem conhecido por sua prodigalidadepara amplo círculo de mulheres amigas, inclusive Pamela, para quem ele se tornou uma espéciede benfeitor. Dava-lhe conselhos, emprestava-lhe dinheiro para saldar as dívidas de jogo deRandolph e hospedava seu filho bebê e a babá em Cherkley, propriedade no campo que possuíaem Surrey. Tendo plena consciência de quanto a Inglaterra precisava da ajuda americana equão importante Harriman era para que tal auxílio fosse conseguido, Beaverbrook defendeu oromance de Pamela com o americano. Como Churchill, o titã da imprensa estava determinado aarrastar os Estados Unidos para a guerra, e acreditava piamente que a ligação entre Harriman ePamela poderia ser usada como ferramenta em tal esforço. Um homem que equiparava ainformação ao poder, ansiava fervorosamente descobrir mais sobre o que os americanospensavam e planejavam — algo que poderia fazer, pensava, com a ajuda de Pamela. Não

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tardou para que os amantes fossem convidados com frequência a Cherkley, e a nora doprimeiro-ministro se transformou num canal paralelo para Beaverbrook para conhecimento doque se passava em Grosvenor Square. “Ela transmitia tudo o que sabia sobre todos paraBeaverbrook,” disse o jornalista americano Tex McCrary. O caso amoroso também traziabenefícios para Harriman. “Era muito valioso [115] para ele (...) ter alguém tão perto do poderinglês,” disse mais tarde Pamela. “Fazia uma enorme diferença.”

Na tentativa de esconder sua relação, Harriman e Pamela foram muito ajudados pelachegada, em junho, da filha dele, Kathleen, de vinte e três anos de idade, que viera para fazercompanhia ao pai por alguns meses. Recentemente formada pelo Bennington College, elaconseguira, com a ajuda de Harriman, um emprego temporário no birô de Londres do Serviçode Notícias Internacionais de William Randolph Hearst. Sem saber inicialmente do affair,Kathleen fez amizade íntima com Pamela, e quando os Harrimans se mudaram para uma suítemaior no Dorchester, Pamela foi morar com eles. Mais tarde naquele verão, as duas jovens,com o dinheiro de Harriman, alugaram uma pequena casa de campo em Surrey para os fins desemana. Ele as visitava com frequência.

Como era perspicaz, não demorou muito para que Kathleen descobrisse o que aconteciaentre o pai e sua nova melhor amiga. Tendo crescido num meio sofisticado e mundano ondecasos extraconjugais como aquele eram comuns, ela manteve o segredo. Também não eramuito chegada à madrasta e parecia considerar Harriman mais um amigo generoso do que pai.Desvendado o romance, ela decidiu permanecer em Londres indefinidamente para manter umolho no pai e servir de camuflagem.

Nada obstante, a despeito do esforço de todos, a relação, no fim, tornou-se amplamenteconhecida tanto em Londres quanto em Wa shington. Harry Hopkins repassou as novas para opresidente Roosevelt, o qual, segundo Hopkins, “divertiu-se muito com a notícia.” O próprioHopkins ficou um pouco inquieto, “temendo histórias de que o enviado do Presidente estragava ocasamento do filho do primeiro-ministro,” disse Pamela mais tarde ao historiador ArthurSchlesinger Jr.

Pamela e Harriman sabiam que estavam brincando com fogo. O affair, observou ela,“poderia ter dado errado,” provocando um escândalo que teria sido prejudicial para todos osenvolvidos. Até hoje não ficou claro se Winston e Clementine Churchill sabiam do que se passavasob seu próprio teto em Chequers nas semanas e meses após o início do relacionamento. Deacordo com a filha do meio, Sarah, os Churchills e filhos valorizavam demais a privacidadepessoal. “Não fazemos perguntas de um ou de outro e não nos metemos em assuntos alheios,”disse Sarah Churchill. “Respeitamos apaixonadamente a privacidade de nossas vidas e a de outraspessoas.”

Ao mesmo tempo, é difícil acreditar que nenhum dos Churchills suspeitasse bem antesdaquilo que ocorria. Para Clementine, que tinha uma relação angustiada com o filhoimpertinente, o conhecimento do romance não teria sido difícil de aceitar. Mas Churchill, queamava o filho apesar de seus maus modos, as notícias sobre a infidelidade certamente seriamrecebidas como um rude choque. No entanto, quaisquer que fossem seus sentimentos, eleprecisava de Harriman e dos americanos, e não tinha a intenção de deixar que questões pessoaisinterferissem no interesse nacional. Além do mais, Pamela havia provado ser útil canal entre elee Harriman, repassando aos dois homens informações e percepções que colhera junto a um eoutro.

Pamela, de sua parte, estava convicta de que os Churchills tinham plena consciência do caso.Contudo, afirmou que jamais foi questionada por nenhum dos dois. A certa altura da guerra,Churchill comentou casualmente com ela: “Sabe, [116] andam dizendo um monte de coisas

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sobre Averell em relação a você.” Ela replicou: “Bem, muitas pessoas não têm o que fazer emtempo de guerra e passam a fofocar,” “Concordo plenamente,” disse Churchill — e nunca maistocou no assunto. Enquanto Harriman se envolvia com Pamela, Gil Winant desenvolvia estreitas relações pessoaiscom diversos membros da família Churchill. O embaixador tinha a capacidade, como observou oamigo Felix Frankfurter, de fazer com que todas as pessoas que conhecia “se sentissem osindivíduos mais importantes na face da terra” — um atributo que o tornou muito querido pelosChurchills. “Um homem de charme calmo e intensamente concentrado, Gil rapidamenteencantou todos nós,” escreveu mais tarde Mary Churchill Soames, “vivendo nossas alegrias etristezas, piadas e querelas (nestas últimas, normalmente como pacificador).”

A despeito de sua timidez e ocasional falta de jeito, Winant produzia esse mesmo efeito emoutras pessoas que conhecia nos encontros oficiais. John Colville o descreveu como um “idealistagentil e sonhador, adorado pela maioria dos homens e mulheres” — uma caracterização apoiadapor comentários sobre o embaixador nos diários e cartas de muitos proeminentes inglesesdaquele tempo. “Quando Winant entra numa sala,” afirmou uma mulher que o conhecia, “todos,de alguma forma, se sentem melhor.” Outro disse: “Há algo de (...) magnético nele.” Oparlamentar conservador Chips Channon notou como a jovem e bela duquesa de Kent, sentadaao lado de Winant num almoço em Chequers, “ficou enfeitiçada” por ele. Harold Nicolsonchamou Winant de “um dos homens mais charmosos que jamais conheci,” acrescentando que,“o excelente caráter do homem vai abrindo caminho à sua frente.” Lord Moran, médicoparticular de Churchill, ponderou no seu diário: “Outros homens [117] têm que conquistar aconfiança daqueles que conhecem; Winant tem a faculdade de desbordar esse estágio: antes quepronuncie uma só sílaba, as pessoas já desejam se encontrar de novo com ele.”

Até mesmo o general Alan Brooke, o irascível e sarcástico Chefe do Estado-Maior GeralImperial (CIGS), que em geral não elogiava a maioria dos americanos, deixou-se levar pelofeitiço de Winant. Numa reunião oficial certa noite, Lord Moran notou, espantado, que Brooke,apaixonado por pássaros, conversava animadamente com Winant sobre o valor de se buscarconforto na natureza, em particular durante tempos de guerra. “Lá estava Winant falando comentusiasmo (...) e Brooke — um novo Brooke para mim — ansioso por sua vez de comentar,”registrou Moran no seu diário. “Quando Winant fez uma pausa, as palavras de Brooke jorraramem cascata.” Os dois se tornaram bons amigos e, anos mais tarde após a guerra, o entãomarechal Lord Alanbrooke disse que considerava sua ligação com Winant “uma dessas grandesdádivas que a guerra ocasionalmente proporciona como um antídoto para todos os seushorrores.”

Mas existia uma figura importante que continuava algo impermeável ao tímido charme deWinant: o próprio Winston Churchill. O primeiro-ministro gostava do embaixador. Tinhaadmiração e respeito por ele, declarando em mais de uma ocasião: “Winant me refortalecesempre que o vejo.” Ainda assim, Churchill se sentia um tanto desconfortável ao lado doembaixador e preferia muito mais a companhia de Harriman e Harry Hopkins. “O PM se senteatraído pelo otimismo de Winant, mas (...) prefere a inteligência picante de Hopkins, pela mesmarazão que é seduzido por Max Beaverbrook,” escreveu Moran. Como Beaverbrook, os amigosmais chegados de Churchill tendiam a ser homens exibicionistas, de raciocínio rápido, com um“toque de malandragem,” que gostavam de jogar, beber e conversar até altas horas. Comoobservou com justeza Roy Jenkins, o primeiro-ministro “gostava dos espertalhões.” E isso erauma coisa que John Gilbert Winant decididamente não era — um espertalhão.

Clementine Churchill, por outro lado, apreciava bem mais Winant do que Harriman. Embora

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agradecida pela intercessão dele no caso da filha Mary e adorasse jogar croquet com oamericano (os dois jogavam muito bem), o conceito que, em geral, tinha dele, nas palavras doescritor Christopher Ogden, era de “mais um rico homem de negócios e ambicioso manipuladorpremeditado,” o qual, como muitos dos amigos endinheirados e gananciosos de Churchill,“tentavam isolá-la cada vez mais do marido.” Winant, achava Clementine, se interessava e tinhasimpatia por ela. Segundo Mary Soames, Winant “entendia intuitivamente [118]” a naturezacomplicada de sua mãe e as tensões e estresses de sua vida; em decorrência, Clemetine muitasvezes o usava como confidente — o que raramente fazia com outras pessoas. Para os hóspedes e convidados de Downing Street, Chequers ou Ditchley, Clementine Churchillera uma anfitriã elegante, inteligente e gentil, que fazia o que estivesse ao seu alcance paradeixá-los à vontade. Muitos empregavam a palavra “charmosa” para descrevê-la. HarryHopkins a qualificou como a “mais charmosa e divertida” de todas as pessoas que conheceu naInglaterra; Janet Murrow disse que ela era “charmosa, animada e atraente”; e Eleanor Rooseveltusou praticamente as mesmas palavras — “muito atraente, com aspecto jovem e charmosa.”

Entretanto, Mrs Roosevelt suspeitava da existência de uma outra Clementine Churchill portrás daquela fachada calma e autocontrolada: “Sente-se que, por ser uma pessoa pública, ela teveque assumir um papel que acabou se incorporando a seu ser, mas pode-se especular como seriaela na verdade.” Como esposa do presidente dos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt sabia muitacoisa sobre papéis públicos versus realidade, e sua astuta percepção a respeito da correspondenteno governo inglês estava, de fato, correta. Escondida pela aparência serena e equilibrada queClementine Churchill mostrava ao mundo estava uma mulher apaixonada, emocionalmentefrágil, solitária e, com frequência, profundamente infeliz.

Por mais de trinta anos, Clementine fizera do marido a razão de sua vida, dedicando poucotempo a outras coisas ou pessoas — os filhos, amigos, bem como suas próprias necessidades edesejos. Certa vez, ela disse a Pamela Churchill que “quando casou com Winston, decidiudevotar sua vida totalmente a ele. (...) Ela vivia para Winston.” Ele, contudo, não correspondia atoda aquela atenção. Apesar de, sem dúvida, amá-la e de depender bastante dela, como deixamevidente suas centenas de cartas afetuosas e plenas de ternura, Churchill era, nas palavras deJohn Pearson, um biógrafo da família, um “egoísta completo” que jamais destinou muito tempoà esposa. Sua perene busca pelo poder político e por seus próprios interesses pessoais quasesempre teve precedência sobre os dela e os dos filhos. “De coração, ele a adorava, mas não achoque alguma vez lhe ocorreu que ela pudesse precisar de um pouco mais,” observou Pamela. Econcluiu: “Os Churchills esperavam que suas mulheres os entendessem totalmente, [mas] elesnão gastavam muito tempo tentando entender suas mulheres.”

Ao longo de todo o casamento dos Churchills, Clementine foi atormentada por preocupaçõesfinanceiras graças à insistência de Winston em levar um luxuoso e extravagante estilo e vida que,na maior parte do tempo, o casal não podia bancar. “Fico facilmente [119] satisfeito,” elegostava de dizer, fazendo então uma pausa para acrescentar com fisionomia marota, “com o quehá de melhor.” Os problemas dos Churchills com dinheiro foram intensificados pela propensãoocasional dele pelo jogo e especulação no mercado de ações, e também pela compra em 1922de Chartwell, uma mansão vitoriana de tijolos vermelhos, em péssimo estado de conservação,com o terreno coberto por vegetação malcuidada e uma espetacular vista da região campestrede Kent. Distante uns trinta quilômetros ao sul de Londres, deveria ser local de repouso no campopara os Churchills e filhos. Indignada pelo fato de não ter sido consultada para a compra,Clementine acreditava que ela seria um dreno sem fim para o dinheiro, enquanto fossem donosdela, como de fato foi. Sua mãe, recordou Mary Churchill Soames, vivia ralhando com os filhos

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“por não desligarem as luzes. A casa era um enorme fardo para ela.”Embora Churchill e a esposa tivessem origens aristocráticas, nenhum dos dois possuía

dinheiro de família. E o salário parlamentar de Winston era relativamente pequeno. Para bancarseu dispendioso estilo de vida, ele dependia dos livros e artigos que escrevia, os quais, apesar deprolíficos, nem sempre cobriam as vastas quantias necessárias. Numa determinada oportunidade,para pagar as contas mensais, Clementine vendeu um colar de rubis e diamantes que Winston lhedera como presente de casamento. Quando alguém lhe perguntou, anos mais tarde, comoChurchill era capaz de conciliar, sem muito esforço, as atividades da escrita, da pintura e oenvolvimento com política e governo, ela replicou com certo amargor que “ele jamais fez o quenão quis fazer, e sempre teve alguém para, depois, pôr em ordem a bagunça que fazia.”

Durante a guerra, Churchill ficou, mais do que nunca, no centro dos acontecimentos; emChequers e Ditchley, o mundo rodava à sua volta. Enquanto Clementine tomava as providênciaspara que todos os hóspedes oficiais fossem devidamente recebidos, não muitos deles lhe davamatenção nem, aliás, eram atenciosos com as poucas outras mulheres convidadas para as reuniõesde fim de semana. “Um fim de semana aqui é muito diferente que em qualquer outro lugar,”escreveu Kathleen Harriman para a irmã após uma estada em Chequers no verão de 1941. “Emmomento algum a guerra é esquecida. (...) As mulheres atrapalham demais. Elas deixam [a salade jantar] tão logo a refeição termina e não se espera que fiquem por muito tempo depois que oshomens saem da reunião, o que, por vezes, só ocorre bem depois da meia-noite.”

Na opinião de Kathleen, Clementine era muito generosa “ao ficar em plano secundário[120]” em relação ao marido. Ela disse à irmã: “Todos na família o tratam como Deus e ela édeixada um tanto de lado; quando alguém lhe dedica um pouco de atenção, ela se mostraradiante. (...) Porém, não fique com a impressão de que é uma pobre coitada, em absoluto. Temideias próprias, mas toda a sua intensidade como pessoa só entra em ação se ele quiser.”

Apesar de Clementine possuir sutil e agudo senso de humor, bem como ponderadas opiniõessobre a maioria dos assuntos, ela raramente tentava introduzir seus pensamentos na torrente deargumentos e pontos de vista vocalizados pelo marido e seus convidados durante as refeições.Nas raras ocasiões em que ela ensaiava o início de uma conversa sobre determinado tópico, atentativa em geral era abafada. Com a continuação da guerra, ela começou a se refugiar cadavez com mais frequência em seu quarto de dormir na hora das refeições, solicitando a Pamela,ou a qualquer das outras convidadas regulares, que fizessem as honras da casa. Na opinião dePamela, Clementine fez mais refeições servidas em bandejas no seu quarto do que nacompanhia de Churchill e, de fato, passou cerca de 80 por cento de sua vida sozinha.

Por conseguinte, não foi surpresa quando ela se apegou tão afavelmente ao novo embaixadoramericano, que deixou claro que gostava da companhia e da conversa dela. Logo após a chegadade Winant a Londres, Clementine o convidou para almoçar em Downing Street, mas fez aressalva de que Churchill, provavelmente, não estaria presente. “Isso soa como se eu estivessetentando evitar que você e Winston se encontrem!” — escreveu ela. “Essa não é minha travessaintenção, porém de fato me ocorreu que, se ele não estiver lá para monopolizar sua atenção,talvez eu tenha a oportunidade de desfrutar ainda mais de sua companhia.”

O embaixador e a esposa do primeiro-ministro eram espíritos afins em uma série deaspectos. Ambos eram tímidos e reservados por natureza, permitindo que poucas pessoassoubessem o que se passava em seu íntimo. Ambos compartiam também um senso de idealismo,uma dedicação ao conceito de que cabia ao governo a responsabilidade de cuidar dos desvalidos.Como Winant, Clementine Churchill fora uma espécie de radical desde a juventude. Aindamocinha, ela adorara a escola e desejara frequentar a universidade, um caminho raro a seguirpelas jovens da classe alta de sua geração; sua mãe, incomodada com a ideia, não permitiu. Ao

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longo de toda a vida, Clementine advogou a independência financeira para as mulheres (se bemque ela mesma jamais experimentou tal independência) e, antes mesmo de que o voto femininose tornasse realidade, ela apoiou fervorosamente o direito de as mulheres participarem dossufrágios.

Como integrante engajada do Partido Liberal, ela ficou algo frustrada quando Churchilldeixou o partido, em 1924, para se aliar de novo aos conservadores. Apesar de, lealmente, tertambém mudado sua filiação partidária, Clementine jamais perdeu o interesse em melhorar avida dos ingleses pobres ou a hostilidade aos colegas tories do marido que se opunham a essasreformas. Odiava Lord Beaverbrook e a maioria dos outros amigos ricos de Churchill, não apenaspelo que considerava seus estilos de vida vazios e dissolutos, como também pela sua indiferençaem relação aos cidadãos menos privilegiados da nação. “Não deixe que [121] o glamour daelegância & refinamento (...) cegue você,” escreveu certa vez ao marido. “O pessoal charmosoque você agora tem conhecido (...) é ignorante, vulgar e preconceituoso. Eles não engolem aideia de que as classes mais baixas podem ser independentes & livres.”

Clementine jamais foi tímida quando se tratou de deixar aqueles que a irritavam saberemexatamente como se sentia. Durante um fim de semana no Blenheim Palace, o duque deMarlborough, dono de Blenheim e primo em primeiro grau de Churchill, disse a ela que nãodeveria escrever ao arqui-inimigo dos tories — o ex-primeiro-ministro liberal David LloydGeorge — em papel com o timbre de Blenheim. Ao ouvir isso, ela depositou a caneta sobre amesa, foi para seu quarto, colocou seus pertences na mala e, ignorando os pedidos do duque,retornou a Londres. Noutra ocasião, depois que Clementine se voltou, furiosa, contra um dosadeptos do marido, Churchill registrou com algum orgulho e mesmo espanto: “Ela caiu sobre elecomo um jaguar de uma árvore!”

Durante as duas guerras mundiais, Clementine traduziu seu interesse pelas reformas com umenvolvimento ativo nos esforços para melhorar as condições de vida da classe trabalhadora dopaís. Na Primeira Guerra Mundial, gerenciou nove cantinas para os trabalhadores na indústriabélica no norte de Londres, chegando a alimentar até cinco mil homens e mulheres por dia.Durante a Blitz, intercedeu por pagamentos do governo para os que trabalhavam comovoluntários na defesa civil e desenvolveu importante papel no aprimoramento dos abrigosantiaéreos de Londres. Depois de inundada de cartas sobre as condições deploráveis dos abrigos,Clementine fez uma série de visitas sem aviso prévio a diversas regiões da capital para verificarpor si própria quão ruim era a situação. Seus relatórios subsequentes ao marido sobre acalamitosa falta de higiene e de confortos básicos foram, em grande parte, responsáveis pelasmelhoras que o governo introduziu nos refúgios. Quando as notícias sobre o seu envolvimento seespalharam, outros exemplos da inércia e ineficiência do governo foram levados à sua atençãopor, entre outros, parlamentares, sacerdotes, assistentes sociais e médicos. Ela gastouconsiderável tempo tentando ajudar também a resolver tais problemas, muitas vezes depois dedebater os assuntos com Winant. Para o embaixador americano, a inclusão no círculo familiar de Churchill causou ocasionaisalívios em sua pesada carga de trabalho, porém, mais importante ainda, conferiu-lhe umsentimento de participação. Viciado em trabalho durante toda a vida adulta, passou pouco tempocom a família enquanto desempenhava as atribuições de governador, de chefe da SeguridadeSocial e na OIT. Sua filha Constance estava então casada; o filho mais velho estudava emPrinceton e o mais novo, na Deerfield Academy, uma escola secundária no oeste deMassachusetts. Embora a esposa de Winant fosse periodicamente a Londres, o casal tinha umrelacionamento desapegado. Abbie Rollins Caverly, velha amiga de família dos Winants, disse

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que o embaixador era “uma das pessoas mais solitárias [122] que jamais conheceu. Acho queele, por vezes, necessitava desesperadamente de alguém para conversar e, em casa, ninguém lhedava ouvidos.”

Embora gostasse de estar com Clementine e os outros Churchills em Chequers, Winant viu-secada vez mais gravitando em torno da companhia de Sarah, filha favorita do primeiro-ministro,então com vinte e sete anos. Independente e de caráter forte como o pai, a ruiva de olhos verdesera apelidada de “a Mula” pela família. A exemplo das outras duas irmãs, considerava-se uma“filhinha do papai,” mas era a única com coragem suficiente para enfrentá-lo.

Como era também verdade para as irmãs, Sarah era produto de uma infânciaemocionalmente difícil. Na Inglaterra, não era incomum as crianças de classe alta terem poucocontato com os pais, mas no lar dos Churchills a prática era levada a extremos. “Como crianças,logo nos conscientizamos de que as principais atenções e tempo de nossos pais eram consumidospor tarefas muito importantes, ao lado das quais nossas demandas e preocupações eram triviais,”recordou Mary. “Nunca esperamos que qualquer dos dois comparecesse às peças teatrais,entrega de prêmios ou atividades esportivas na escola. (...) Quando nossa mãe conseguia noshonrar com sua presença nessas importantes ocasiões, ficávamos extasiadamente agradecidas.”

Churchill delegou a criação dos filhos à esposa; absorvido por sua carreira e outros interesses,com frequência estava longe do círculo familiar durante os feriados escolares e outras ocasiõesimportantes dos filhos. Deixada sozinha para a criação da garotada, Clementine quase sempreoptou por ela mesma. Apesar de amar os filhos, segundo todos relatos, inclusive o dela, jamaisfoi boa mãe. “Em primeiro lugar [123], a esposa, e em segundo, muito longe, a mãe,” foi comouma amiga a descreveu. Certa vez ela disse a Mary “que todo o meu tempo e energia eramgastos só para cuidar de [Winston]. Nunca sobrava coisa alguma.” As gestações e os nascimentosdos filhos deixavam-na física e emocionalmente exausta — tanto que, em 1918, esperando oquarto rebento e assaltada por dificuldades de dinheiro, ela ofereceu o bebê a uma amiga quenão tinha filhos. A mulher, surpresa, aceitou, mas Clementine pensou melhor sobre sua bizarra einopinada sugestão, e nunca mais falou a respeito.

Dois anos e meio mais tarde, em agosto de 1921, os Churchills deixaram os quatro filhos,inclusive Marigold, o bebê que Clementine impensadamente oferecera, com uma babá no sul daInglaterra, enquanto ela competia num torneio de tênis e Winston tratava de negócios emLondres. Marigold, com dois anos de idade, que já estava acometida de infecção na gargantadesde o período das férias de verão, de repente teve uma septicemia. Acorrendo rapidamente aoseu leito de doente, os pais estavam com a menina quando ela faleceu uma semana depois. Deacordo com Sarah, a mãe jamais se recuperou completamente de seu pesar pela morte deMarigold e de sua culpa por estar ausente durante a enfermidade da filha.

Mesmo assim, Clementine não abandonou a prática, estabelecida bem cedo em seucasamento, de gozar longos períodos de descanso da família, normalmente em estânciashidrominerais no continente europeu. Lá, recuperava-se da agitação de sua vida com os filhos ecom o marido absorvente e recobrava as forças para enfrentá-la novamente. Quando seencontrava em casa, ela era, nas palavras de Mary, “um misto de ternura e severidade,”enquanto Sarah a achava “uma figura autoritária com a qual não se podia argumentar.” Ao passoque Mary e Sarah foram se chegando a Clementine como jovens adultas, Diana, a filha maisvelha, teve uma relação problemática com a mãe, que perdurou pelo resto de sua vida. Mary,que mais tarde escreveu uma biografia simpática de Clementine, observou: “Apesar de os filhos[124] a amarem e a reverenciarem, nela não encontravam uma pessoa divertida ou umacompanheira.”

Winston, por outro lado, era as duas coisas. Durante as raras oportunidades em que passava

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períodos concentrados de tempo com os filhos, era relaxado, afetuoso, amante de travessuras,quase uma criança. Brincava com eles e os recrutava para diversas expedições e projetos,inclusive para assentar tijolos numa parede em Chartwell. As filhas o adoravam, e ele retribuíaseu amor. Mas o preferido sempre foi Randolph, que ele estragava descaradamente e sempreperdoava, não importava quão atroz tivesse sido seu comportamento. Churchill e o filho, que o paivia como seu herdeiro político, muitas vezes se engajaram em discussões tremendas e em tomalto de voz à mesa de refeições, com outros convivas dando palpites, enquanto Sarah e Maryobservavam em silêncio. Das conversas durante os jantares, o sobrinho de Winston, PeregrineChurchill disse: “Todos aqueles egos dominadores! Toda aquela interminável falação sobrepolítica! Depois de certa idade, senti necessidade de me afastar de todos aqueles Churchills. Casocontrário eles teriam me sufocado.” Anos mais tarde, Diana diria à filha que casara com oprimeiro pretendente para “escapar daquelas infindáveis conversas em torno da mesa de jantarde Chartwell.” Na infância, Sarah Churchill foi uma criança doente, solitária e sonhadora. Idolatrava o pai,porém ficava intimidada com seu humor sutil e rápido e com sua obsessão pelo trabalho. “Se eurealmente quisesse dizer-lhe ou perguntar-lhe alguma coisa importante, não confiava em minhalíngua para expressá-la corretamente e então escrevia um bilhete,” anotou ela mais tarde. “Essase tornou a melhor maneira de comunicação, e a menos cansativa e esbanjadora de tempo paraele.” Todavia, por baixo daquele exterior doce, tímido e calmo escondiam-se características detenacidade e rebelião não encontradas nem em Diana tampouco em Mary .

Quando Sarah debutou aos dezoito anos de idade, ficou conhecida como a “bolshie deb” porcausa de sua ostensiva aversão pelo que via como luxuoso, porém superficial, estilo de vido dosamigos abastados dos Churchills — a mesma opinião que tinha a mãe, e que tanto aborrecia opai. A filha o irritou ainda mais quando, aos vinte anos, arranjou emprego de dançarina num dosteatros de revistas de Londres. Desde menina, Sarah se interessava bem mais pelas atividadesartísticas do que pelo meio político no qual fora criada. Mocinha, começou a escrever poesias,uma distração que a acompanhou por boa parte da vida. Ansiosa por deixar sua marca no mundoda criação, persuadiu os pais a deixarem que ela frequentasse aulas de dança. Amou aexperiência, e quando contratada para o coro de dançarinas da revista Follow the Sun, lembrou:“Saí daquele teatro [125] sentindo-me três centímetros mais alta. De súbito, a vida tinha umsignificado. (...) Por fim, começara a aventura.”

Winston e Clementine, no entanto, jamais se conformaram com a ideia de terem uma filhaatuando em palco. Quando outros, inclusive a irmã Mary, sustentavam que Sarah tinhaverdadeiro talento para representar e dançar, os pais afirmavam o contrário. Influenciado pelaopinião do chefe a respeito da capacidade de Sarah, John Colville, que foi ver uma de suasatuações numa peça no West End de Londres, surpreendeu-se por achar que ela, de fato, “tevebom desempenho.”

Sarah desconcertou mais ainda os pais aos vinte e um anos, quando anunciou seus planos decasamento com Vic Oliver, um comediante judeu austríaco, de trinta e oito anos, duas vezesdivorciado e astro da Follow the Sun. Explodindo de raiva, Churchill recusou estender a mão paraOliver quando foram apresentados e logo o qualificou “comum como a sujeira.” Na tentativa deconvencer Sarah a modificar seus planos, o pai, disse ela mais tarde, “dirigiu-se a mim como seestivesse fazendo um pronunciamento público,” para alertar-me sobre os perigos representadospor “aquele vagabundo itinerante.”

Contudo, Sarah se manteve firme. Seguiu Oliver para Nova York, onde ele estrelava novarevista, e Churchill prontamente enviou Randolph, em perseguição cerrada, no transatlântico

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seguinte. Apelidando Sarah de “a debutante fugitiva,” os jornais de Londres e Nova York, o quenão constituiu surpresa, se fartaram com a história, publicando manchetes tais como “CORRIDAATRAVÉS DO ATLÂNTICO ” e “IRMÃO PERSEGUE CUPIDO.” O pai contratou detetivesparticulares e advogados para tentar suspender o casamento, mas fracassou. Sarah casou-se comOliver no fim de 1936 e o trouxe de volta à Inglaterra, onde os dois atuaram, a princípio juntos edepois separadamente, em companhias que se deslocavam por todo o país apresentando seurepertório, e também no West End.

A despeito das brigas anteriores com os pais, Sarah era vista como a pacificadora da família,a conciliadora que tentava mediar as discussões familiares e manter todos unidos. Era muitoamiga das irmãs, e as jovens filhas de Diana, Edwina e Celia Sandys, a adoravam. Ela foi,Edwina Sandys sublinhou, “uma criatura mágica [126] para mim quando criança. Esvoaçava,entrando e saindo de nossas prosaicas vidas, como se fosse um duende travesso. Era linda eabsolutamente charmosa.” Conhecida por seu “picante e irreverente sorriso maroto,” Sarah foiabençoada com um senso de humor altamente desenvolvido. “Alguns dos mais divertidosmomentos da minha vida foram partilhados com ela,” acrescentou Edwina. “Ríamos atéchorar.” Sobre Sarah, um repórter jornalístico iria mais tarde observar: “Mais do que qualqueroutra pessoa que eu tenha entrevistado, ela valorizava a vida, fazendo tudo parecer mais cor-de-rosa, mais engraçado, mais glamoroso. Ao mesmo tempo, era vulnerável. Almejava que vocêgostasse dela e ficava sensibilizada quando percebia isso.”

À medida que Sarah conseguia melhores e mais diversificados papéis teatrais no final dosanos 1930, sua confiança aumentava e diminuía sua dependência do marido, charmoso, mascontrolador. Ao mesmo tempo, ela descobriu que Oliver vinha tendo casos amorosos com outrasjovens. Na ocasião em que Sarah conheceu Winant, na primavera de 1941, o casamento delaestava por um fio. Numa carta à irmã, Kathleen Harriman escreveu que “Sarah é uma pessoaincrivelmente agradável, mas já não penso o mesmo de seu marido Vic.” A filha de Harrimanacrescentou: “Ela me parece desesperadamente infeliz, mas aguenta firme e permanece comVic por causa do pai. O palco é sua única saída para não enlouquecer.”

Todavia, sem que Kathleen soubesse, Sarah encontrara outro consolo: sua crescente amizadecom Winant, na companhia do qual passava considerável tempo em Chequers e em Londres.Com a relação entre os dois se aprofundando no decurso de poucos meses, ela começou arelatar-lhe seus problemas, assim como sonhos e esperanças para o futuro. Atraído por suaafabilidade, sutileza e atenção, Winant, por seu turno, deixou cair aquilo que Alan Brooke chamoude “cortina de ferro de sua reserva” e passou a confiar nela de maneira que jamais fizera comqualquer outra pessoa.

Em meio à maior crise na história da Inglaterra, o embaixador americano percebeu queestava se apaixonando pela filha do primeiro-ministro.

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“Mr Harriman Goza de

Toda a Minha Confiança”

Em 30 de maio de 1941, centenas de pessoas se debruçavam no parapeito do terraço panorâmicodo aeroporto La Guardia de Nova York para dar boas-vindas a Gil Winant de volta ao país.Estavam lá em resposta à matéria de primeira página do New York Times que reportava achegada inesperada e inexplicável do embaixador para reuniões com o Presidente e outrasfiguras da alta administração. Encabulado com o aglomerado de gente que dava vivas e aplaudia,Winant, meio sem jeito, levantou o chapéu enquanto caminhava do avião para o terminal. Nolado de fora, enfrentou verdadeira bateria de câmeras cinematográficas. “Isso é pior do que[127] um bombardeio,” resmungou, antes de polida, mas firmemente, se recusar a fazerqualquer comentário sobre o porquê de sua vinda aos Estados Unidos.

Os jornais americanos e ingleses não demonstraram hesitação ao especularem sobre omotivo da súbita visita. “Não há dúvida de que Mr Winant apressou-se em vir para cá a fim dedizer o que a Inglaterra mais necessita, e deixar claro que tal necessidade é urgente (...) que aguerra chegou a ponto crítico,” escreveu a colunista Anne O'Hara McCormick no New YorkTimes. Um correspondente do londrino Daily Mail reportou que lhe fora dito por uma “altaautoridade de Washington” que a “reunião entre Winant e Roosevelt é tão importante quanto umencontro do Presidente com o próprio Mr Churchill. Trata-se de uma conferência estratégica.”

Em Londres, Winant e Harriman vinham se sentindo crescentemente distanciados do queacontecia em Washington e no restante dos Estados Unidos. O tráfego de cabogramas deRoosevelt, Hopkins e outros vinha tomando irregularidade, e as cartas muitas vezes levavam maisde um mês para chegar da América, isso quando enviadas. (Grande parte da correspondênciaentre os Estados Unidos e a Inglaterra nesse período foi perdida nos afundamentos dos naviosmercantes.) Harriman queixou-se a FDR de que existia “quase uma muralha chinesa” de silêncioentre Londres e a capital americana. “Minhas fontes de informações são totalmente os ministrosingleses,” escreveu ao Presidente. “Minha utilidade aqui será diretamente proporcional ao graucom que eu for mantido informado sobre os fatos e pensamentos em Washington.”

O pouco que ele e Winant sabiam sobre a situação na América podia significar desastre paraa Inglaterra. Segundo as últimas pesquisas, a percentagem de americanos que aceitavam arriscara guerra pela ajuda à Inglaterra vinha declinando. Os primeiros despachos de alimentos do Lend-Lease — ovos desidratados, leite em pó, bacon, grãos e carne enlatada — haviam chegado aoReino Unido no fim de maio, proporcionando algum alívio. Mas pouco viera dos demais artigos.Armas, aviões, tanques e outros equipamentos bélicos ainda não eram produzidos em grandequantidade nos Estados Unidos, e não havia navios suficientes para levar à Inglaterra a incipienteprodução que saía das linhas de montagem. A despeito da conclamação do governo, a indústriaamericana relutava em promover uma conversão em larga escala para fabricar material bélico.Mais ainda, alguns figurões empresariais, como o fabricante de automóveis Henry Ford, eramferrenhos isolacionistas e se recusavam a atender pedidos para a Inglaterra. Uma investigação doSenado revelou que as metas de produção do governo não haviam sido atingidas e que umaconsiderável quantidade de empresas, que não aceitavam contratos com o governo, eramacusadas de corrupção e desperdício. “Estamos anunciando [128] ao mundo (...) o grande caosque vivemos,” disse, desgostoso, um senador democrata. A menos que os Estados Unidos

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intensificassem sua mobilização, alertou um relatório do governo, sua produção bélica seriaultrapassada pela inglesa e a canadense no prazo de um ano.

De fato, a situação do Lend-Lease era tão desanimadora no verão de 1941 que WilliamWhitney, um dos auxiliares mais importantes de Harriman em Londres, demitiu-se em protestocontra o fracasso americano em fazer mais. “Estamos iludindo as gentes nos dois lados doAtlântico, deixando pensarem que hoje corre um fluxo constante de material bélico do Lend-Lease através do oceano quando, na realidade, ele é pequeno ou nenhum,” escreveu Whitney emsua carta de demissão. “Minha opinião é que o governo (...) deveria mostrar ao Congresso e aopovo que, enquanto alardeamos uma inimizade a Hitler pelo apoio à Inglaterra, estamoscumprindo uma parcela pequena do trabalho.”

Três dias antes de Winant retornar à América, o Presidente aparecera para sinalizar umasignificativa mudança de curso. Afirmando querer evitar que a Alemanha controlasse oAtlântico, Roosevelt declarara emergência nacional ilimitada e parecera assegurar que osEstados Unidos em breve começariam os comboios: “A entrega do suprimento [129] necessárioà Inglaterra é imperativa. Digo que isso pode ser feito; tem de ser feito; será feito.” Para muitosna América e na Inglaterra, a declaração de FDR soara “quase como um chamamento àsarmas.” Seu discurso, observou Robert Sherwood, foi “tomado como um compromisso solene; aentrada dos Estados Unidos na guerra contra a Alemanha foi considerada inevitável e iminente.”Porém, numa entrevista coletiva do dia seguinte, Roosevelt, como já o fizera antes várias vezes,retrocedeu de quaisquer noções de beligerância: não haveria escolta de comboios, pelo menosnaquele momento, nem luta. Da perspectiva de Dean Acheson, então secretário-assistente deEstado, o Presidente, com grande parte de seu governo e com a maioria do país, pareceu“paralisado entre a apreensão e a ação.”

Armado com conhecimento de primeira mão sobre a perigosa posição da Inglaterra,Winant, que, nas palavras do general Raymond Lee, estava “com todos os nervos esgarçados erecorrendo a qualquer expediente” para levar os Estados Unidos à guerra, dispôs-se a pressionarRoosevelt e seu governo o quanto pudesse. Num memorando aos seus subordinados do ForeignOffice, Anthony Eden escreveu: “Winant pediu-me hoje que considerasse o que — exceto aguerra — os EUA poderiam fazer para ajudar-nos. (...) Fiquei com a sensação de que ele não sepreocuparia se suas propostas implicassem riscos de guerra.”

Em Washington, Winant, a convite de Roosevelt, hospedou-se na Casa Branca. Nas suasreuniões com o Presidente e outros membros da administração, mostrou com ênfase o futurodesesperador que esperava pela Inglaterra e seu povo. Eles precisavam urgentemente de ajudamilitar, em especial aviões e tanques, assim como proteção naval americana para os comboios.Não havia nenhum laivo de verdade nos boatos correntes de que a Inglaterra estava prestes abuscar uma paz negociada, disse o embaixador. Mas se os Estados Unidos não proporcionassemsuficiente ajuda, alertou, a determinação inglesa de resistir, ainda que resoluta, poderia começara enfraquecer. “Não podemos esperar demais.”

FDR reagiu — até certo ponto. Autorizou o envio de quatro mil fuzileiros para a Islândia afim de substituir os ingleses na missão de sua defesa, um passo que instalou tropas americanasmais perto da Inglaterra em caso de invasão. Também determinou proteção naval aos naviosmercantes e de transporte de tropas dos EUA numa extensão até a Islândia, com instruções paraatirar, se necessário, à simples visão de ameaça; os comboios ingleses permaneceramdesprotegidos. Em público, o Presidente minimizou a urgência da visita do embaixador.

Quando Winant retornou à Inglaterra, Churchill providenciou um avião para pegá-lo numabase aérea na Escócia e levá-lo imediatamente a Chequers. Ao chegar, o embaixador transmitiuao primeiro-ministro as novas ações americanas, e Churchill, ainda que um pouco animado,

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percebeu que estavam longe de suficientes para evitar o desastre. “Se Munique [130] foi a horamenos gloriosa da Inglaterra, os meados de 1941 certamente foi a dos Estados Unidos,” escreveumais tarde um historiador. De volta ao trabalho em Londres, Winant se viu obrigado a enfrentar outro problema: sua relaçãocada vez mais problemática com Averell Harriman. Tirando proveito da descrição nebulosa desua missão — um “mandato excelente, que não me atava as mãos de jeito algum” — oambicioso Harriman se envolvia cada vez mais com assuntos que nada tinham a ver com o Lend-Lease. Como homem de negócios e esportista, ele era conhecido havia muito tempo porempregar táticas cortantes e ombradas para ganhar posição. Em um dos treinos que precederamum dos campeonatos de polo dos anos 1920, por exemplo, ele insistiu com Manuel Andrada, dotime adversário, que perturbasse o desempenho de Laddie Sanford, de sua própria equipe, quecom Harriman disputava uma vaga na esquadra que iria à competição. “Laddie não era homemcorajoso, e Andrada era um dos mais impetuosos,” disse Harriman mais tarde. “O resultado foique ele deu uma forte arremetida em Sanford e o mandou longe. Não sei se Laddie era melhorjogador que eu, mas não estava bem naquele dia, isso posso dizer. É um incidente divertido, maseu estava determinado a voltar ao time. Simplesmente não podia acreditar que não era melhorque Laddie. Sabe por que: ele era frouxo.”

Anos mais tarde, quando Harriman foi a Washington para assessorar o governo Roosevelt arespeito do transporte de matérias-primas, decidiu que se apropriaria das atribuições doempresário que aconselhava o governo sobre ferrovias e o restante da atividade de transportes —a função que desejava assumir. Em Londres, ele se meteu na seara de Winant quase da mesmamaneira. Embora Harriman tivesse assegurado num memorando a Roosevelt que “estamostrabalhando juntos como uma equipe” e acrescentasse que “jamais trabalhei em ambiente maisagradável, devido em grande parte à generosa personalidade de Gil,” operava com pequenaconsideração pelo embaixador. No seu diário, Raymond Lee reclamou que Harriman usava suaposição para “interferir em todos [131] e quaisquer assuntos,” anotando que Winant “vinha sendopaciente demais.” Harriman controlava sua própria folha de pagamento e comunicações,reportando-se diretamente a Roosevelt e Hopkins, e convidava visitantes oficiais de Washington,que não tinham relação alguma com sua missão, para usar os escritórios do Lend-Lease comobase em Londres e de consultá-lo a respeito de suas conversações com funcionários ingleses.

Mas era o cuidadoso tratamento que dedicava a Churchill que produzia para ele os maisvaliosos dividendos na expansão do propósito e influência de seu trabalho. Em junho, enquantoWinant se reunia na capital americana com Roosevelt, o primeiro-ministro, no rescaldo dosrecentes fracassos militares do seu país, pediu a Harriman que fosse ao Oriente Médio e à Áfricapara avaliar a situação das tropas e instalações inglesas e determinar o que os EUA podiam fazerpara ajudar. Para quem não tinha credenciais diplomáticas na Inglaterra e cujo país nem estavaem guerra, tratava-se, sob qualquer critério que fosse apreciada, de uma extraordináriadesignação. Para seus comandantes militares nas regiões visitadas, o primeiro-ministro deixouclaro que Harriman deveria ser recebido como seu próprio representante pessoal e que lhefossem oferecidas as mesmas oportunidades de inspeção dadas a um membro do Gabinete deGuerra inglês. “Mr Harriman goza de minha total confiança e tem as relações mais íntimas como Presidente e com Mr Harry Hopkins. Ninguém pode fazer mais pelos senhores. (...)Recomendo que seja dada a Mr Harriman sua mais atenciosa consideração.” Harriman, comofoi fácil compreender, ficou radiante com a designação. “Não creio que o tenha visto tãoentusiasmado em relação a qualquer outra coisa,” escreveu Kathleen Harriman à irmã.

Durante a expedição de cinco semanas, Harriman viajou cerca de vinte e cinco mil

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quilômetros, cruzando por todos os lados o Oriente Médio e muito da África. Inspecionou portos,docas, instalações de montagem de aviões, diques para reparação de navios e conversou comdúzias de soldados, pilotos, funcionários civis, mecânicos e outros ingleses envolvidos na lutacontra os alemães. É intrigante que seu acompanhante militar no Cairo foi nada menos do que ohomem a quem ele traía em Londres. Randolph Churchill, então oficial de relações públicas doQG inglês, fora selecionado pelo próprio pai para agir como ajudante de Harriman enquanto oamericano fizesse seu giro pelas instalações militares e conferenciasse com os oficiais inglesesde alta patente na capital egípcia. Sobre Harriman, Churchill escreveu ao filho: “Fiz grande [132]amizade com ele e o tenho em alta estima. Ele faz o que pode para nos ajudar.”

Harriman, que jamais deixara que o coração comandasse a razão, aparentemente não seperturbou por se encontrar naquela delicada situação, e conversou amigavelmente com o filho deChurchill sobre Pamela e sobre o que se passava em Londres. Poucos dias depois, Randolph, queàquela altura claramente não sabia do caso amoroso da esposa, escreveu para Pamela falandode quanto gostara de Harriman: “Achei-o absolutamente charmoso, & foi muito agradável ter apossibilidade de ouvir tantas notícias de você & de todos os meus amigos. (...) Ele faloudeliciosamente a seu respeito & temo ter um sério rival!” Ao pai, Randolph escreveu ainda maiselogiosamente sobre Harriman: “Ele definitivamente se tornou meu americano favorito. (...)Claramente se considera mais seu auxiliar que de Roosevelt. Penso que ele é o mais objetivo e omais esperto dos que gravitam à sua volta.”

Do Cairo, Harriman enviou a Churchill um relatório completo e sem meias palavras sobre asmuitas deficiências que observara nas operações inglesas no Oriente Médio, inclusive desperdíciode equipamento; falta de coordenação entre a RAF, exército e marinha; e “um senso detranquilidade demasiada e falta de urgência” no QG do Cairo. Focalizou, sobretudo, a escassez dearmamentos e suprimentos vitais — carros de combate, navios, combustíveis, viaturas detransporte e até mesmo peças sobressalentes. Enquanto as outras dificuldades eram claramenteproblemas da área de atuação de Churchill, as carências eram questões que só a ajudaamericana poderia sanar.

O empenho, a obstinação pelo trabalho e o questionamento persistente do enviado dos EUAdurante o cansativo giro de inspeção provocou respeito, ainda que um pouco ressentido, de muitosdaqueles que tiveram suas atribuições esquadrinhadas. Um amigo inglês repassou a Harrimanuma conversa que ouvira entre dois funcionários de Whitehall: “Mr Harriman é muitopersistente, não é?” Resposta: “Suponho que sim.” “Ele faz perguntas muito incisivas econstrangedoras.” Resposta: “Oh, faz mesmo?” “Faz, insiste em ter uma resposta e consegue.”

Também Churchill ficou muito impressionado com os esforços de Harriman, porém, como orepresentante do Lend-Lease iria descobrir quando voltou a Londres no início de julho, oprimeiro-ministro estava então preocupado com assuntos mais prementes do que a desordem noOriente Médio. Em 22 de junho, Hitler deixara de lado o Pacto de Não Agressão de 1939 comIosef Stalin e invadira a União Soviética com mais de dois milhões de combatentes. Mais tarde,naquela mesma noite, Churchill fizera pronunciamento pelo rádio para toda a nação prometendoajuda total à União Soviética, a despeito da opinião que tinha sobre os líderes daquele governocomo “os inimigos mortais [133] da liberdade civilizada.” Por mais que o primeiro-ministrodesprezasse o “iníquo regime” de Stalin, precisava que os russos aguentassem o peso do novoassalto alemão, a fim de retirar a carga da luta dos ombros ingleses, de modo que ele e seuenfraquecido país pudessem respirar e se reagrupar.

Foi então que, poucos dias após a invasão alemã, Harry Hopkins chegou a Londres com oconvite a Churchill para se encontrar com Roosevelt no mês seguinte, ao largo da costa da TerraNova — o primeiro encontro entre os dois depois do malfadado jantar no Gray 's Inn em 1918.

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Tão logo soube da reunião, Harriman decidiu que dela participaria. Churchill, ansioso por causarboa impressão no Presidente, não era avesso à ideia de ter o simpático americano ao seu ladopara dar-lhe conselhos e tranquilizar-lhe a confiança. Em consequência, o americano não tevedificuldade em convencer o primeiro-ministro de que deveria fazer parte de sua comitiva. Masao retornar a Washington, no final de julho, para fazer um relatório sobre sua viagem ao OrienteMédio, Harriman tomou conhecimento, para seu pesar, de que Roosevelt não tinha a intenção deconvidá-lo.

FDR desejava um encontro pequeno e mais íntimo com Churchill, que contasse com apresença de uns poucos assessores. Quando Churchill insistiu na inclusão dos chefes militaresmais antigos dos dois países, o Presidente a custo concordou. Mas recusou acrescentar Harrimanà comitiva, malgrado a intercessão de Harry Hopkins e apelos do próprio Harriman, o qual lhedisse que Churchill esperava vê-lo por lá. Entretanto, no último momento, Churchill adicionou SirAlexander Cadogan, do Foreign Office, à lista engordada de participantes do encontro, eRoosevelt finalmente cedeu, estendendo um convite a Harriman e ao subsecretário de EstadoSumner Welles para que se juntassem à comitiva presidencial. Bem cedo na manhã de 9 de agosto, o encouraçado inglês Prince of Wales , ainda exibindo ascicatrizes de seu recente embate com o monstro naval alemão — o Bismarck — deslizouentrando na Placentia Bay da Terra Nova. No passadiço, Winston Churchill, tenso, espreitava ohorizonte enevoado, procurando os navios americanos que conduziam o grupo de Roosevelt.

O primeiro-ministro encarava sua iminente reunião com o Presidente como o mais decisivodos encontros de sua vida. Durante a viagem de cinco dias a partir da Inglaterra, mostrara-senervoso, ainda que alegre; seu segurança pessoal observou que Churchill “provavelmente jamais[134] se comportara com tanta exuberância e excitação,” desde os dias escolares em Harrow.Outro dos auxiliares do primeiro-ministro disse: “Ele estava firmemente decidido, de 1940 emdiante, a evitar que qualquer coisa obstruísse o caminho de sua amizade com o Presidente, daqual tanta coisa dependia.”

Harry Hopkins, que acompanhava Churchill no Prince of Wales , estava igualmente ansioso.Como dissera antes a Ed Murrow, tanto o primeiro-ministro quanto o Presidente eram prima-donas, acostumados a serem o centro das atenções e a decidir como melhor lhes aprouvesse. Erasua tarefa, disse Hopkins, “manter esses dois em relações próximas e amistosas.”

Quando o camuflado Prince of Wales , escoltado por contratorpedeiros, cruzou a entrada dabaía, Churchill divisou as silhuetas indistintas da esquadra americana — cinco contratorpedeiros eo cruzador pesado Augusta, navio capitânia da armada dos EUA no Atlântico. Subindo a bordo doAugusta, enquanto a banda dos fuzileiros executava “God Save the King,” ele foi recepcionadopor um radiante Franklin Roosevelt, firmemente apoiado no braço do filho Elliott. “Finalmentenos encontramos,” declarou o Presidente. Churchill, também com aberto sorriso, concordou coma cabeça: “Sim, é verdade.”

Ao longo dos quatro dias da conferência, Averell Harriman borboleteou nos bastidores,agindo como assessor de Churchill, ligando-se pouco com Roosevelt e outros americanos.Inseguro sobre a impressão que estava causando no Presidente, Churchill repetidas vezesperguntou a Harriman: “Ele gosta de mim, Averell? Você acha que ele gosta de mim?” Aresposta era afirmativa, se bem que Churchill, inicialmente, tivesse aborrecido um poucoRoosevelt ao ficar batendo na mesma tecla de quão feliz estava por finalmente se encontrar como Presidente depois de tantos meses de cabogramas e telefonemas. Com fisionomia algocarrancuda, FDR lembrou-lhe o jantar no Gray 's Inn de trinta e três anos antes. “Papa esquecera

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completamente que os dois haviam se encontrado então,” observou Mary Soames anos maistarde. “Ele não tinha sido alertado ou relembrado, e o encontro simplesmente fugiu de suaprivilegiada memória.” Mesmo que Roosevelt, segundo se dizia, jamais tivesse superado seuaborrecimento com Churchill a respeito do que considerava menosprezo, ele estava tãodeterminado quanto o primeiro-ministro a fazer da conferência um sucesso, e riu muito do lapsona memória de Churchill.

Na verdade, segundo a maioria dos relatos, ambos os líderes mantiveram seus formidáveisegos sobre cerrado controle durante a conferência. Elliott Roosevelt, filho de trinta anos doPresidente, que estava acostumado a ver o pai “dominando qualquer [135] reunião da qualparticipasse,” ficou surpreso ao constatar que, nos encontros com Churchill, ele realmente ouvia.O primeiro-ministro, de sua parte, era assíduo em fazer deferências a FDR e, seguidas vezes, sedescreveu como “tenente do Presidente.” Ao fim do almoço do primeiro dia, os dois já estavamse chamando de “Franklin” e “Winston.”

Apesar de a amizade entre os dois líderes não ter sido tão íntima como Churchill depoisproclamou, Robert Sherwood afirmou que o americano e o inglês estabeleceram “umaintimidade fácil, uma informalidade cercada de piadas... e certa dose de franqueza” no decursodos quatro dias de relações na conferência. Depois da última sessão embarcada que tiveram,Roosevelt recomendou aos seguranças pessoais de Churchill que “tomassem conta dele, pois estáprestes a se tornar o maior homem do mundo. Na realidade, provavelmente já é o maior.” OPresidente diria mais tarde à esposa que a conferência da Terra Nova “tinha quebrado o gelo,”(...) “sabia agora que Churchill, o qual pensava ser o típico John Bull, era homem com o qualpodia realmente trabalhar.” Sobre Roosevelt, Churchill escreveu anos depois: “Senti uma afeiçãomuito grande, que cresceu com o passar dos anos de camaradagem.”

Todavia, a despeito de toda cordialidade daquele encontro inicial de tempo de guerra e dademonstração de satisfação exteriorizada por Churchill na sua conclusão, o resultado daconferência foi uma esmagadora desilusão para os ingleses. Antes de atravessar o Atlântico,Churchill dissera a um grupo de primeiros-ministros dos Domínios considerar que Roosevelt nãoteria convocado a conferência se não estivesse preparado para entrar na guerra. “Eu prefeririater uma declaração de guerra agora e nenhum suprimento por seis meses do que o dobro dossuprimentos e nenhuma declaração,” afirmara a seus aliados. No primeiro encontro de Churchillcom o Presidente, Elliott Roosevelt cita o primeiro-ministro como tendo dito: “O senhor tem de sealiar a nós! Se não declarar guerra, à espera que eles desfechem o primeiro golpe, eles atacarãodepois que tivermos sucumbido, e o primeiro golpe deles será também o último! (...) O senhortem de entrar para sobreviver!”

O Presidente, contudo, rejeitou o pleito de Churchill, explicando que o Congresso e o povoamericano não estavam com estado de espírito favorável à entrada na guerra. De fato, durante asemana da conferência de Placentia Bay, o projeto de lei estendendo em um ano a duração doserviço militar obrigatório para uma convocação limitada, apresentado aos parlamentares em1940, chegou perigosamente perto da derrota na Câmara dos Deputados, sendo aprovado porapenas um voto.

Para minorar o desapontamento causado por sua recusa, Roosevelt prometeu a Churchill queos Estados Unidos se tornariam mais “provocativos” no Atlântico ao proporcionarem escoltasarmadas para navios mercantes americanos e também ingleses até a Islândia. Deixouigualmente claro “que buscaria um [136] 'incidente' que o justificasse para o início dashostilidades.” Além disso, o Presidente se comprometeu a solicitar ao Congresso mais cincobilhões de dólares para o Lend-Lease, bem como acelerar a entrega de aviões e tanques àInglaterra. Em troca, persuadiu o primeiro-ministro a se juntar a ele na conclamação dos

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objetivos e princípios que deveriam governar o mundo pós-guerra, inclusive o direito de todas asnações à autodeterminação. Denominada Carta do Atlântico, essa declaração de propósitos daguerra foi o único resultado da conferência anunciado publicamente.

Após voltar para casa, Churchill disse de mau humor ao filho: “O presidente, não obstantesua afabilidade e boas intenções, é movido, pensam muitos de seus admiradores, pela opiniãopública, em vez de formatá-la e liderá-la.” O desconsolo do primeiro-ministro com o colapso dasesperanças foi compartilhado por muitos de seus conterrâneos. “A inundação é imensa (...) etudo o que a América nos dará é roupas secas caso cheguemos a lugar seguro,” realçou o Times.“Entendemos a atitude (...) mas acreditamos que não seria muito custoso aos seus recursos se elaentrasse na água. Pelo menos até a cintura. Dizemos isso porque estamos sinceramentedesapontados com a contribuição americana para o socorro.”

Quando Roosevelt promoveu uma entrevista coletiva para garantir ao povo americano que aconferência da Terra Nova não levara os Estados Unidos para mais perto da guerra, Churchilldisparou um telegrama para Hopkins a respeito do efeito desanimador sobre o Parlamento e opovo inglês causado pela declaração do Presidente. “Não sei o que acontecerá se a Inglaterraentrar em 1942 combatendo sozinha,” concluía a mensagem do primeiro-ministro. Mas, embora a conferência pudesse ter terminado em frustração para Churchill, elaproporcionou gratificante retorno para Harriman. Graças à interferência de Hopkins, eleconseguiu ser nomeado delegado-chefe dos EUA numa missão anglo-americana de alto nível aonovo e mui relutante aliado — a União Soviética.

Imediatamente após a invasão alemã da Rússia, Roosevelt se mostrou algo cauteloso emapoiar a promessa de Churchill de ajuda total a Stalin. Não duvidava que os soviéticos tinhamgrande necessidade de tal assistência: nas primeiras poucas semanas do ataque, a Wehrmachtconquistara território da União Soviética com a mesma velocidade atingida na Polônia e naEuropa Ocidental. Por volta de agosto, o exército russo já estava próximo do colapso, e suastropas careciam de tudo, dos tanques aos aviões, dos fuzis aos coturnos. Porém havia substancialoposição nos Estados Unidos, em particular entre os católicos, à proposta de qualquer auxílio àditadura comunista; muitos americanos acreditavam que os názis e os comunistas deveriam sedestruir uns aos outros. George Marshall e outros chefes militares alertaram o Presidente de quea assistência aos russos resultaria em significativa redução de recursos para os Estados Unidos e aInglaterra.

Não obstante, enquanto os soviéticos aguentassem — e estavam aguentando por tempo muitomaior do que qualquer um no Ocidente julgara possível — aliviariam a Inglaterra dosbombardeios alemães e de uma possível invasão. A calamitosa incursão aérea de 10 de maiosobre Londres foi o último ataque inimigo importante à Inglaterra em 1941, porque a Luftwaffeestava agora engajada na nova missão de combater os soviéticos. No East End de Londres,vitrines das lojas e janelas dos apartamentos estavam enfeitadas com sinais pró-russos, um dosquais dizia: “Eles nos deram noites calmas.” Por sua vez, Roosevelt acreditava que, além deajudar a Inglaterra, a persistente resistência soviética poderia também diminuir a pressão paraque os Estados Unidos entrassem na guerra. Na oportunidade em que se encontrara comChurchill, em agosto, o Presidente já tinha decidido enviar a Stalin toda a ajuda necessária.

Quando os dois concordaram em Placentia Bay em enviar uma delegação conjunta aMoscou para trabalhar sobre o acordo de ajuda com os russos, Hopkins, a pedido de Harriman,sugeriu o nome do “acelerador” do Lend-Lease para chefiar a delegação americana. Ao fazer aproposta do nome de seu amigo, Hopkins ressaltou que Harriman negociara, havia cerca de vinteanos, concessões de manganês com os soviéticos. No entanto, a descrição que Hopkins fez de

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Harriman como ex-empresário habilidoso e experiente de Nova York estava longe da verdade:ele partira para aquelas negociações do passado com pequeno conhecimento da Rússia e seupovo, e fora ludibriado até mesmo pelo incipiente governo soviético, que ficou com as reservasmais ricas de manganês para si mesmo e, mais tarde, forçou Harriman a liquidar tudo. Harrimantambém não disse a Hopkins, ou a qualquer outro, que ainda tinha mais de um milhão de dólaresem investimentos russos, inclusive mais de quinhentos mil dólares de títulos do governo russoreferentes à liquidação de seu contrato de manganês. Obviamente, Harriman tinha suas própriasrazões pessoais para assegurar que os Aliados Ocidentais fizessem o que estivesse ao seu alcancepara evitar a derrota dos russos.

Seu equivalente inglês na missão a Moscou foi Lord Beaverbrook, que, a exemplo deHarriman, não tinha experiência em negociações diplomáticas. Mesmo assim, ao chegarem àcapital soviética, os dois fizeram questão de excluir os embaixadores dos respectivos países dasconversações com Stalin, sabidamente um obstinado e esperto negociador. Os dois embaixadores— Laurence Steinhardt dos Estados Unidos e Sir Stafford Cripps da Inglaterra — tinhamconsiderável vivência no trato com os soviéticos, e pouquíssimas ilusões sobre a vontade dogoverno em cooperar com a Inglaterra e os EUA. Os chefes das missões diplomáticas instaramHarriman e Beaverbrook a exigirem, no mínimo, um quid pro quo de Stalin — informaçõesdetalhadas sobre produção, recursos e planos de defesa soviéticos (ou seja, tudo o que aInglaterra fora forçada a fornecer aos Estados Unidos antes de receber sua ajuda) em troca dearmamentos e suprimentos.

Os chefes das delegações, contudo, rejeitaram de pronto as recomendações. O objetivo damissão, disse Harriman a Steinhardt, era “dar, dar, e dar, [138] sem expectativa de qualquerretorno.” Não surpreendeu que Stalin, além das insolentes reprimendas que fez a Harriman eBeaverbrook pela pobreza da ajuda ocidental até então, estivesse em completo acordo com talmissão. Ao líder russo foi proporcionado virtualmente tudo que solicitou — uma cornucópia dearmas, viaturas, aviões, suprimentos e matérias-primas — sem nenhuma condicionante.

Ao deixar Moscou, um exultante Harriman estava convicto de que a missão conjuntaajudara a erradicar qualquer “suspeita que pudesse existir entre o governo soviético e os outrosdois.” Alguns integrantes das delegações não estavam tão seguros disso. Entre eles o generalHastings “Pug” Ismay, secretário militar do Gabinete de Guerra inglês e oficial de ligação deChurchill com seus Chefes de Estado-Maior, que mais tarde escreveu: “Ninguém pode negar[139] que era de nosso próprio interesse dar aos russos os recursos necessários. (...) Porém eracertamente desnecessário, e até pouco inteligente, permitir que eles nos intimidassem da maneiracomo o fizeram.”

Mesmo assim, a despeito dos severos sacrifícios provocados pela transferência de tantomaterial bélico para os soviéticos, sacrifícios que atingiriam especialmente a Inglaterra, Churchille Roosevelt aprovaram o acordo. A partir das primeiras semanas da invasão alemã, Stalincomeçou a solicitar da Inglaterra demandas que eram impossíveis de concretizar naquelaoportunidade — um Novo Front no norte da França, por exemplo, e o despacho de vinte e cinco atrinta divisões inglesas para a Rússia. Os dois líderes ocidentais temiam que, se uma quantidademaciça de armas e suprimentos não fosse imediatamente enviada, Stalin poderia fazer uma pazem separado com Hitler — perspectiva que o chefe russo nada fez para desencorajar.

No seu relatório ao Presidente a respeito do encontro em Moscou, Harriman declarou que oembaixador Steinhardt não tinha mais condições de desempenhar com sucesso suas atribuiçõesna capital soviética em vista de seu ceticismo sobre os russos, e recomendou que ele fossesubstituído. Roosevelt acatou o conselho. Tendo concorrido para afastar Steinhardt, Harrimanentão manobrou para assumir o papel não oficial de ligação entre a Casa Branca, Downing Street

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e o Kremlin. Era o cargo que ambicionava para sua vida, no qual capitalizaria benesses pelospróximos quatro anos e bem além.

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“Quero Entrar Nela com Vocês

— Desde o Começo”

Numa ocasião em que o governo americano ainda relutava em pôr em situação de risco seusmilitares, foi celebrado na Catedral de St Paul, em Londres, um serviço religioso em memória deum americano que perdera a vida na luta contra a Alemanha. Na cripta da catedral marcada porcicatrizes de bombas, algumas centenas de pessoas, entre elas Gil Winant, se reuniram em 4 dejulho de 1941 para o descerramento de uma placa em homenagem a William Fiske III, que, naspalavras gravadas no metal, “morrera para que a Inglaterra [140] pudesse viver.”

Primeiro cidadão dos EUA a se alistar na Royal Air Force e primeiro piloto americano amorrer em ação durante a guerra na Europa, Billy Fiske nascera em Nova York, mas passara aadolescência e o início de sua vida adulta na Europa. Viciado em velocidade e aventuras, Fiske,filho de um rico corretor de ações, dirigia um Bentley “envenenado” e, quando rapaz e compouco mais de vinte anos, ganhara duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos no arriscadoesporte da veloz descida no gelo em trenós. Ele era, disse um amigo, “o protótipo do moçodourado — boa aparência, riqueza, charme, inteligência — tinha isso tudo.” Formado porCambridge, Fiske disse aos amigos ingleses nos anos de 1930 que, se a guerra viesse, “queroentrar nela com vocês — desde o começo.”

Porém, no momento em que o conflito irrompeu, em setembro de 1939, Fiske, com vinte eoito anos, descobriu que, para honrar a promessa, seria um fora da lei em seu próprio país. Natentativa desesperada de manter os Estados Unidos fora da guerra, o governo americanopromulgou uma série de regulamentações que, entre outras coisas, tornava ilegal o alistamentono serviço militar de uma potência em guerra, viajar em navio beligerante ou usar passaporteamericano para ir a um país estrangeiro a fim de se alistar. Os que transgredissem essasregulamentações ficariam sujeitos a uma multa de dez mil dólares, alguns anos de prisão e perdada cidadania americana.

Desbordando as restrições ao declarar falsamente a cidadania canadense, Fiske juntou-se àRAF menos de três semanas após a declaração de guerra da Inglaterra à Alemanha. Foidesignado para o 601º Esquadrão, conhecido como “Esquadrão dos Milionários,” tantos eram osrapazes endinheirados integrantes de suas fileiras, diversos dos quais amigos de Fiske de antes daguerra. Os pilotos do esquadrão forravam as jaquetas de seus uniformes com seda vermelha e ossobretudos com pele de marta; ganhavam e perdiam centenas de libras em jogos de pôquerenquanto aguardavam voar e combater. “Eram arrogantes [141] e tremendamente vistosos; eraprovável que os outros esquadrões tivessem raiva deles,” observou Rose, esposa de Fiske. Mastambém eram excelentes pilotos, e ainda que Fiske tivesse apenas noventa horas de voo soloquando se alistou na RAF, logo alcançou o padrão dos seus colegas de esquadrão. “Inacreditávelquão bom ele era,” disse mais tarde Sir Archibald Hope, comandante do 601º. “Captava tudorapidamente. (...) Era, em sua essência, um piloto de caça.”

Em 16 de agosto de 1940, durante um dos mais pesados ataques da Luftwaffe contra as basesaéreas da RAF na Batalha da Inglaterra, o Hurricane de Fiske foi atingido; mesmo severamentequeimado, ele conseguiu levar seu danificado avião de volta à base. Dois dias depois, faleceu emvirtude dos ferimentos e queimaduras. “Ele não tinha a obrigação de lutar por este país,”declarou o ministro inglês da Força Aérea, Sir Archibald Sinclair, na cerimônia de St. Paul's.

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“Não era inglês. (...) Deu a vida por seus amigos e pela causa comum dos homens livres de todasas partes do mundo, a causa da liberdade.” Sentados naquele dia nos bancos da catedral eenvergando o uniforme azul da RAF estavam diversos outros americanos que participaram daBatalha da Inglaterra. No total, sete cidadãos dos EUA voaram durante aquela batalha, juntando-se a mais de quinhentos outros pilotos não ingleses, inclusive poloneses, tchecos, belgas,franceses, neozelandeses e sul-africanos. De todos os membros daquela força aérea poliglota,apenas os americanos violavam leis de seu próprio país por voarem.

Na oportunidade da cerimônia em homenagem a Fiske, milhares de americanos tinhamdesrespeitado as proibições do país e se alistado nas forças armadas britânicas. Cerca de trezentosvoavam na RAF, outras dezenas haviam se juntado ao exército inglês. Como também mais decinco mil integravam as forças canadenses na Inglaterra. Ao passo que a maioria era constituídapor rapazes amantes da aventura, havia um bom número de gorduchos e grisalhos de boasituação financeira, com profissões que iam de banqueiros de investimento a advogados earquitetos. Residentes por muito tempo de Londres, faziam parte da única unidade americana naHome Guard, o Exército Territorial inglês, voluntários civis com a missão de proteger aInglaterra em caso de invasão alemã.

A Home Guard fora criada em junho de 1940 depois da retirada inglesa de Dunquerque e daqueda da França. Mais de um milhão de homens atenderam à convocação, inclusive cerca desetenta empresários e profissionais americanos que viviam na capital. “Nossos lares [142] estãoaqui, e queremos mostrar, de maneira prática, que estamos prontos, na companhia dos ingleses,em partilhar a responsabilidade pela defesa de seu solo,” disse Wade Hayes, um banqueiro deinvestimentos e comandante do grupo. “Também queremos dar um exemplo para a gente denosso país.”

No entanto, inicialmente, os americanos enfrentaram forte oposição tanto dos ingleses quantodo governo americano. Os regulamentos ingleses barravam o acesso de estrangeiros ao ExércitoTerritorial, e Joseph Kennedy ficou irritadíssimo com o fato de a nata da comunidade americanade expatriados voluntários não apenas se recusar em voltar para a América como tambémplanejar combater em prol da Inglaterra. O embaixador alertou Hayes, que servira no Estado-Maior do general John Pershing durante a Primeira Guerra Mundial, que a criação da unidade“poderia resultar na perseguição a todos os cidadãos americanos como franc-tireurs[guerrilheiros], quando os alemães ocupassem Londres.” Nem a admoestação de Kennedytampouco sua ameaça de revogar a cidadania americana de Hayes tiveram qualquer efeito. Nofinal, George VI agiu em benefício dos americanos, expedindo uma ordem especial que ostornava qualificados para integrarem o Exército Territorial.

Como os demais integrantes da Home Guard em todo o país, os americanos tinham instruçãomilitar diversas vezes por semana — após o trabalho e nos fins de semana. Porém, em gritantecontraste com seus colegas ingleses, que treinavam com forcados e facas de cozinha atadas àsextremidades de cabos de vassoura, os expatriados americanos, com dinheiro do próprio bolso,tinham se armado com fuzis automáticos Winchester e submetralhadoras Thompson, obtidos nosEstados Unidos. A inveja das unidades inglesas ao constatarem o armamento sofisticado e asdezoito viaturas blindadas que os americanos possuíam logo provocou o apelido de “gângsteres”por causa das metralhadoras Tommy.

Entre os militares ingleses havia considerável ceticismo, para não falar coisa pior, a respeitoda efetividade do Exército Territorial, superficialmente treinado, para ajudar a barrar umainvasão germânica. Mas em julho de 1940, os americanos provaram aos altos escalões doexército inglês que sua unidade, no mínimo, não deveria ser subestimada. Durante as manobras,os empresários americanos capturaram o quartel-general de uma brigada do exército que

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protegia uma base aérea importante nas cercanias de Londres, guardada por aproximadamentequinhentos combatentes regulares armados com metralhadoras Bren e outras armas automáticaspesadas. Deslocando-se rapidamente e dominando uma sentinela, os americanos lançaramgranadas de gás através das janelas do quartel-general, arrombaram a porta, desmontaram acentral telefônica, amarraram diversos oficiais ingleses e se apossaram de cartas topográficassecretas e outros documentos. Os ingleses protestaram que o ataque fora lançado cedo demais.Os americanos replicaram que haviam atacado nos primeiros momentos permitidos pelasdiretrizes das manobras. “Os alemães [143],” acrescentaram, “também não vão esperar.” A capitulação da França resultou também no primeiro influxo de pilotos americanos para aInglaterra. Ainda não conscientes de quão séria era considerada sua ofensa pelas autoridadesestabelecidas dos EUA, três dos primeiros voluntários se apresentaram na embaixada americanaem Londres, em junho de 1940, foram censurados pelo embaixador Kennedy por “porem emrisco a neutralidade dos EUA” e receberam ordem de voltar aos Estados Unidos no primeironavio. Em vez disso, eles se dirigiram diretamente ao Ministério do Ar inglês e se alistaram emtempo de combater na Batalha da Inglaterra.

Os americanos que se juntaram à RAF haviam crescido na era de Charles Lindbergh,quando a simples ideia da aviação cativava os jovens de todo o mundo. A maioria deles já eraconstituída por pilotos experientes. Alguns tinham a profissão de aspergir por via aérea inseticidasem plantações, outros faziam exibições aéreas ou eram pilotos de testes; um deles era aviadordos estúdios da Metro-Goldwyn-May er, em Los Angeles, cujo trabalho era transportar pelaCalifórnia astros e estrelas do cinema e outros VIPs de Hollywood. Eles tinham chegado àInglaterra por uma diversidade de motivos, porém na maior parte com uma característicacomum: apego ao perigo, velocidade e emoção. Bom número deles tentara alistar-se no CorpoAéreo do Exército americano mas não conseguira aprovação nos rigorosos testes físicos exigidos;a RAF, prestes a enfrentar o ataque da Luftwaffe, não podia se dar ao luxo de ser tãodiscriminadora. Quase todos estavam ansiosos para voar os novos caças ingleses de excelenteperformance — os Hurricanes e Spitfires — dos quais tanto tinham lido e ouvido falar.

Um desejo de romance e aventura também tinha sua parcela de atuação. Algunsamericanos queriam seguir as pegadas da Lafayette Escadrille, um grupo arrojado de aviadoresamericanos que se alistara para combater ao lado dos franceses na Primeira Guerra Mundial.Outros tinham assistido ao filme Hell's Angels (Anjos do Inferno), de Howard Hughes, retratandopilotos americanos na força aérea inglesa durante a guerra de 1914-18, e viram-se nos mesmospapéis na nova guerra. Ali estava a chance de “encontrarem louras lindas [144], como a JeanHarlow que tinham visto na tela,” observou James Childers, um coronel dos EUA que escreveuum livro sobre os americanos na RAF. Aquele seria o próximo “Big Show... e eles, comoquaisquer rapazes normais, queriam vê-lo e dele participar. Não desejavam perder coisaalguma.”

Uns poucos, entretanto, se apresentaram como voluntários por razões mais idealistas.Diversos deles lembraram depois da guerra que as transmissões de Ed Murrow os tinhaminspirado a se alistarem. “Achei que aquela era uma guerra da América tanto quanto daInglaterra e da França,” disse um veterano da Batalha da Inglaterra. Outro moço americanoestava a bordo do Athenia, o transatlântico inglês torpedeado por submarino alemão, emsetembro de 1939, enquanto navegava para Nova York. “Numa avassaladora raiva” contra aAlemanha pela perda de mais de cem de seus companheiros de viagem, ele retornou àInglaterra e juntou-se à RAF. Ainda outro cidadão dos EUA alistou-se depois que o avô e a avóforam mortos na invasão alemã da Holanda.

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Qualquer que tivesse sido o motivo para combaterem, todos sabiam que violavam as leis deseu país. Embora agentes do FBI fossem distribuídos nos pontos de passagem da fronteira com oCanadá para evitar que cidadãos dos EUA atravessassem para se incorporar às forças armadasinglesas e canadenses, a maioria dos que tentaram escapulir para o país vizinho conseguiu, e de láembarcaram em navios para a Inglaterra. Os que foram detidos e enviados de voltanormalmente tentaram de novo, e a maior parte foi bem sucedida na segunda vez.

Uma vez cruzado o Atlântico, os americanos recebiam três semanas de instrução depilotagem e eram então designados para diversos esquadrões da RAF. Lá, eram recebidoscordialmente, se bem que com certo pé atrás, pelos seus colegas ingleses, uma vez que secomportavam com atrevimento e ousadia, porém, em sua maioria, se mostravam imensamentebons camaradas. Um piloto inglês descreveu dois aviadores dos EUA, que se apresentaramprontos para o serviço no seu esquadrão como “americanos típicos [145]... sempre prontos paraobservações jocosas (frequentemente em relação à autoridade).” Mais tarde o mesmo inglêsescreveu sobre os espantosos “vocabulário, exuberância e variedade” que introduziram noesquadrão.

Pelo fim da Batalha da Inglaterra, tantos americanos tinham se alistado na RAF quereceberam permissão para formar sua própria unidade, conhecida como Eagle Squadron(Esquadrão Águia). A ideia de um esquadrão só com pilotos dos EUA partiu de Charles Sweeny,um rico empresário americano de Londres, com vinte e oito anos de idade, que era entãoorganizador-chefe e membro da liderança da unidade dos EUA do Exército Territorial. Tendo secriado na Inglaterra e retornado para lá após se formar em Yale, Sweeny sentia grandeafinidade tanto por seu país natal como pela pátria de adoção e estava convencido de que “aguerra não poderia ser vencida sem o concurso dos EUA.” Com os ingleses praticamenteencurralados nas cordas, e a Alemanha prestes a deslanchar um maciço assalto aéreo, Sweenyjulgou que os americanos tinham de ajudar a Inglaterra no combate aéreo. Juntamente com otio, um irmão e outros ricos expatriados dos EUA, organizou uma rede de recrutamento parapilotos nos Estados Unidos e providenciou os recursos financeiros para levá-los à Inglaterra.

Em junho de 1940, Sweeny procurou Lord Beaverbrook e Brendan Bracken, assistente maispróximo de Churchill, e apresentou a ideia de um esquadrão da RAF que tivesse por modelo aLafayette Escadrille. Bracken repassou a proposta a Churchill, que percebeu instantaneamente opoderoso instrumento de propaganda que o esquadrão americano poderia ser, e endossou a ideiacom entusiasmo. Jovens americanos combatendo e morrendo pela Inglaterra enquanto seu paíspermanecia distante, poderia, do seu ponto de vista, chegar mesmo a minar a neutralidade dopaís. Em outubro de 1940, a RAF incorporou à sua organização o 71º Esquadrão, com dois outrosesquadrões criados no ano posterior. No total, 244 americanos voaram nos três esquadrõesdurante os dois anos de guerra que se seguiram. Graças aos seus feitos heroicos, que repeliram a Luftwaffe na Batalha da Inglaterra, todos ospilotos da RAF foram considerados heróis do país a partir do verão de 1940. Os aviadoresamericanos receberam a mesma inequívoca afeição do povo proporcionada aos seus colegasingleses. Motoristas de ônibus não deixavam que pagassem as passagens, garçons e donos de pubsofereciam-lhes refeições e bebidas de graça. Um piloto escreveu aos pais em Minnesota: “Essepessoal [146] tem quase veneração pelos pilotos da Royal Air Force. (...) Gente do povo já medisse: 'Não há palavras para expressar o que sentimos por vocês, rapazes!' 'Vocês sãomaravilhosos,' 'Vocês são os maiores heróis que jamais tivemos.'”

Mas sempre existia uma medida extra de entusiasmo pelos ianques. “Eles estão sempre nosdizendo 'Graças a Deus vocês estão aqui, e graças a Deus nos ajudam,'” escreveu um piloto do

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Esquadrão Águia. Outro observou: “Parecia que nunca estavam satisfeitos com o que nosproporcionavam. Eles nos davam o melhor que tinham, a melhor comida, o melhor de tudo.”

Os aviadores americanos se tornaram os “queridinhos” de Londres, convidados para teatros,chás dançantes da sociedade, fins de semana em elegantes casas de campo. O irmão do rei, oduque de Gloucester, estendeu um convite a diversos rapazes americanos para o camarote realno Roy al Albert Hall a fim de que assistissem a um concerto da Orquestra Filarmônica deLondres. Também tratados como celebridades por seus compatriotas que viviam ou trabalhavamna capital inglesa, os pilotos tinham convite permanente dos correspondentes americanos doSavoy para lá beberem e comerem sempre que estivessem de licença. Foram igualmentefrequentes hóspedes no luxuoso apartamento de Quentin Reynolds em Berkeley Square.

Diferentemente das hordas de americanos que invadiram a Inglaterra antes do Dia-D, osprimeiros voluntários dos EUA se transformaram em parte integrante das forças armadas e dasociedade inglesa. Ainda não tinha sido popularizada a expressão overpaid, oversexed, and overhere [dinheiro demais, sexo demais e estão aqui]. Os pilotos ingleses geralmente acolhiam osaviadores americanos com entusiasmo, embora surgissem, de tempos em tempos, sadiasrivalidades anglo-americanas. Numa festinha particularmente memorável e regada achampanhe, foi reencenada a derrota do general Cornwallis na Batalha de Yorktown, em 1781,com um esquadrão americano “armado” com extintores de incêndio contra uma unidade inglesa“equipada” com sifões de bar de ar comprimido. Depois da “batalha,” um piloto inglêsmelancolicamente reclamou: “Mais uma vez (...) os americanos levaram vantagem.”

O comportamento exuberante dos pilotos dos EUA, por vezes até brigão — um “bandomaluco de caubóis selvagens,” classificou um inglês — foi recebido com tolerância pelo povo, oqual, em sua maioria, jamais conhecera antes um ianque. Sobre os integrantes de um dosesquadrões americanos, uma revista inglesa escreveu: “Suas aventuras [147] (...) ainda sãolembradas com espanto pelos habitantes da cidade perto de sua base.” Quando um veteranoamericano da Batalha da Inglaterra casou-se com uma jovem e rica herdeira inglesa, seuscompanheiros do Esquadrão Águia fizeram voos rasantes sobre o jardim onde acontecia arecepção, assim como sobre Epping, uma cidade próxima. Respondendo às queixas de algunsmoradores da comunidade, o prefeito de Epping declarou: “Olhem aqui, esses caras estãoarriscando suas vidas por nós. Se eles querem celebrar o casamento de um companheiro, é bommesmo que o façam.”

A admiração dos bretões por aqueles desinibidos pilotos era recíproca por parte da maioriados americanos. Mesmo aqueles que não tinham real interesse em ajudar a causa inglesa quandose alistaram na RAF acabaram encantados com a bravura e a determinação demonstradas pelopovo na resistência a Hitler. “Ele foi, sem a menor sombra de dúvida, o povo mais corajoso quejamais vi,” disse um americano. “Apesar de suas cidades estarem em frangalhos, nunca vi uminglês perder a fé.” Outro piloto americano declarou: “Lutar lado a lado com essa gente foi omaior dos privilégios.”

Depois da guerra, Bill Geiger, que estudara no Pasadena City College, da Califórnia antes deir para a Inglaterra, lembrou-se do exato momento em que sentiu que a causa inglesa era suatambém. Ao deixar a loja de um alfaiate em Londres, após tirar as medidas para seu uniformeda RAF, ele notou um homem trabalhando no fundo de um grande buraco na rua, cercado debarreiras. “O que ele está fazendo?” perguntou Geiger a um policial. “Sir,” respondeu o bobby,“ele está desativando uma bomba.” Todos os que estavam de pé por ali — o bobby, os pedestrese o homem no buraco — estavam “muito calmos, frios e controlados,” recordou-se Geiger. Eacrescentou: “Acaba-se invadido por aquele tipo de coragem e não tarda para que a gente sesurpreenda dizendo: 'Agora quero ser parte disso. Quero fazer parte desse povo. Quero fazer

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parte daquilo que vejo e sinto aqui.'” Como Winston Churchill esperava, o anúncio da criação do Esquadrão Águia, em outubro de1940, desencadeou um frenesi na mídia. Jornalistas americanos e ingleses enxamearam a basedo esquadrão em Kirton Lindsey para saber mais sobre aqueles rapazes que haviam desafiado asleis de seu país para lutar pela Inglaterra, e inflamados artigos e programas de rádio logo seespalharam. Os americanos foram inundados por visitantes oficiais, entre eles Archibald Sinclair,o príncipe Bernhard da Holanda, o autor teatral Noël Coward e o marechal do ar Sholto Douglas,do Comando de Caças da RAF. Toda semana, a BBC transmitia um programa para os EstadosUnidos tendo como foco um ou mais dos integrantes do Esquadrão Águia, e Ed Murrowentrevistou diversos deles para a CBS.

Embora o material da mídia fosse emocionante, toda aquela atenção era perturbadora edesconcertante para uma unidade que não estava nem perto de operacional. O esquadrão aindanão recebera seus Spitfires, porém mesmo que os tivesse, seus pilotos estavam longe de prontospara voá-los. Antes de se alistar na RAF, a maioria dos americanos não passara por qualquerinstrução militar, e muito poucos toleravam os regulamentos da caserna. De fato, como lembrouum dos líderes do Esquadrão Águia que tinha alguns deles sob sua responsabilidade: “Eles foramsabotadores [148] da tradição militar.” Ao mesmo tempo, acrescentou: “Nenhum deles careciade fibra moral para o cumprimento da missão.”

Foram necessários mais de três meses para transformar aquela rapaziada rebelde eindividualista numa unidade coesa e bem instruída. Por fim, em janeiro de 1941, o 71º Esquadrãotornou-se operacional, logo seguido pelo 121º e o 133º Esquadrões. Poucos meses depois, quandoas três unidades aéreas americanas começaram a demonstrar seu valor, Hollywood seapresentou.

O produtor Walter Wanger, que já fizera os filmes Stagecoach (A última diligência) eForeign Correspondent (Correspondente de guerra), procurou Harry Watt, diretor inglês dedocumentários, que já dirigira London Can Take It!, com a ideia de produzirem um filme sobre o71º Esquadrão usando como protagonistas os próprios pilotos. O filme mais recente de Watt,Target for Tonight (Alvo para hoje à noite), fizera uma mesclagem inteligente de tomadas reaiscom montagens dramatizadas para contar a história de uma tripulação inglesa de bombardeironuma missão contra a Alemanha. Target for Tonight foi um sucesso de crítica e de público, eWanger queria que Watt utilizasse a mesma técnica em Eagle Squadron.

Embora nunca tivesse feito um longa-metragem, Watt ficou seduzido pela oferta de Wangerde cem dólares por semana — salário altíssimo para uma Inglaterra atingida pelas restrições daguerra — bem como hospedagem e alimentação gratuitas no Savoy. No entanto, a desilusão logotomou conta de Watt com a chegada de um produtor associado enviado por Wanger parasupervisionar a produção. Àquela altura, o 71º Esquadrão participava de bombardeios de pequenaaltitude na França e nos Países Baixos, e as perdas eram crescentes. Watt explicou ao homem deHolly wood que a alta taxa de perdas não permitia o foco em pilotos individuais porque elespoderiam estar mortos ou feridos antes que o filme ficasse pronto. Em consequência, o produtorsolicitou ao Ministério do Ar inglês que retirasse o esquadrão da ação enquanto o filme estivessesendo rodado. A resposta do ministério foi previsível: segundo Watt, ele “polidamente mandou[149] o produtor para aquele lugar.”

Seguiram-se então “quatro semanas do mais puro caos com que jamais me envolvi,” disseWatt, que gastava a maior parte de seu tempo discutindo com o produtor sobre o roteiro epraticamente todos os outros aspectos da produção. O conflito entre os dois foi resolvido pela

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tragédia. Em missão à França numa tarde de domingo, o 71º Esquadrão foi seriamente atingido:três dos nove aviões que decolaram de Kirton Lindsey foram abatidos. Um dos pilotos perdidosnaquele dia foi o divertido e muito querido Eugene “Red” Tobin, que combatera na Batalha daInglaterra e era bom amigo de Watt, de Quentin Reynolds e de muitos outros americanos deLondres. Após a morte de Tobin, Watt abandonou a produção de Eagle Squadron.

O filme foi finalmente concluído em Hollywood e distribuído para exibição em julho de1942. A crítica foi impiedosamente universal. “Longe de ser um drama autêntico sobre os pilotosamericanos da RAF, como deveria ser,” escreveu Bosley Crowther, crítico cinematográfico doNew York Times , “é, em vez disso, um pretensioso filme de aventuras que trata de formaconstrangedora e ridícula a coragem inglesa e a irritação americana.” Estrelando um jovemRobert Stack, a película focaliza um mal-humorado piloto americano na Inglaterra que, no final,demonstra coragem sequestrando um avião alemão novinho em folha e completando sozinhouma missão de comandos que havia sido complicada pelos ingleses. A melhor coisa do filme, deacordo com Crowther, foi sua introdução — tomadas reais dos pilotos do Esquadrão Águiarodadas por Watt e narradas por Quentin Reynolds.

Q ua ndo Eagle Squadron foi lançado em Londres, diversos membros da unidadecompareceram à exibição. Suas reações às ações heroicas melodramáticas na tela foi um corode amortecidos resmungos e apupos. “Sabe você, eles vão continuar arremessando essa porcariasobre nós até que parte dela cole,” disse um dos pilotos a um amigo. “Vão persistir repetindo essabesteira de heróis até que acreditemos nisso.” A maioria dos pilotos americanos saiu do cinemaantes do fim do filme.

Na ocasião da estreia do filme, os Estados Unidos já estavam em guerra e, poucos mesesmais tarde, praticamente todos os americanos que serviam na RAF foram transferidos para aForça Aérea do Exército dos Estados Unidos). Apenas quatro dos 34 membros originais doEsquadrão Águia ainda estavam na ativa: a maioria morrera ou era prisioneira. Dos 244americanos que voaram com os Águias, mais de 40 por cento não sobreviveram ao conflito. Aolongo dos seus dezenove meses de serviço, os três Esquadrões Águia receberam crédito peladerrubada de mais de setenta aviões germânicos. Dois americanos foram condecorados com aDistinguished Fly ing Cross a maior honraria da RAF por feitos e valor, e um, Newton Anderson,de Nova Orleans, recebeu glória ainda mais cobiçada. Foi nomeado para comandar o 222ºEsquadrão, uma unidade inteiramente britânica — o primeiro americano indicado para taldeferência. Pouco antes de Gil Winant chegar à Inglaterra, o governo dos Estados Unidos anunciara que nãoprocessaria os americanos que se alistaram nas forças armadas inglesas ou canadenses, aindaque isso permanecesse sendo uma ação ilegal. Mas o embaixador estava determinado a fazermais do que fingir que não via. Desde seus primeiros dias em Londres, deu ativo suporte aosvoluntários: passou em revista a unidade de americanos do Exército Territorial; visitou bases dosEsquadrões Águia; foi convidado de honra num jantar de Ação de Graças organizado porunidades americanas; e compareceu formalmente ao serviço religioso em memória de BillyFiske. Num dos almoços do Esquadrão Águia, Sholto Douglas relembrou como, durante a GrandeGuerra, “um oficial com uniforme [150] algo desmazelado aparecera no seu aeródromo epedira-lhe emprestado um avião de caça. Eu lhe disse: 'Você pode pegá-lo, mas não o quebre.'Ele voou e depois aterrissou direitinho.” Voltando-se para Winant, o comandante dos caças daRAF inglesa acrescentou com um sorriso. “Aquela foi a última vez que vi o embaixadoramericano antes de reencontrá-lo há cerca de seis meses.”

Mesmo que o passado de Winant como piloto de combate o levasse a ter entusiasmado

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interesse pelos pilotos dos EUA, ele também dispensou considerável atenção aos rapazes ianquesque se alistaram em forças singulares menos glamorosas — os exércitos da Inglaterra e doCanadá. Esses expatriados não jantavam ou saboreavam vinhos com membros da sociedadeinglesa nem com correspondentes americanos em Londres, tampouco eram produzidos filmessobre eles. Ocasionalmente, um jornalista escrevia um artigo a respeito deles, antes quemergulhassem em sua nova, dura e exigente vida, como fez o correspondente do jornalesquerdista PM (Picture Magazine) de Nova York, Ben Robertson, com 150 americanos quetinham acabado de chegar à Inglaterra como integrantes de um regimento canadense. Entre eles,escreveu Robertson, havia “motoristas de caminhões [151], mineiros de carvão, um ex-membroda Brigada Lincoln da Espanha, um membro do Legislativo de Michigan, açougueiros desupermercados e empregados que serviam milk-shakes.” Trazendo bastões de beisebol e banjosentre seus pertences, era “gente correta, jovial, animada, rica em variedades e empersonalidade.” Quando Robertson perguntou-lhes por que tinham vindo para a Inglaterra, eles“sorriram e pilheriaram sobre seus motivos, mas ficaram sérios quando Francis My ers, umtexano, disse para mim: 'Também tivemos um sorrateiro sentimento de que deveríamosajudar.'”

Nos cinco anos passados em Londres, Winant fez amizade com centenas de militaresamericanos, mas se sentiu particularmente ligado a cinco rapazes que se alistaram no ExércitoBritânico em julho de 1941. Formados por Dartmouth e Harvard, incorporaram-se ao 60ºRegimento do Corpo de Fuzileiros do Rei, uma unidade inglesa organizada na América colonialdurante as com os franceses e com os índios, originalmente denominada 62º Regimento deAmericanos Reais. Winant conhecera os cinco em Londres durante a primeira folga que tiveramna instrução para oficiais. Quando o dinheiro dos jovens escasseou, o embaixador os convidoupara acantonarem em seu apartamento. Ele mais tarde compareceu à cerimônia de formaturada turma dos cinco, como também compareceu Anthony Eden, que servira no 60º Regimentodurante a Grande Guerra. Pouco antes de a cerimônia começar, os americanos souberam que,para se tornarem oficiais do Exército Britânico, teriam que jurar fidelidade ao Rei, o quesignificaria automática renúncia à cidadania dos Estados Unidos. Na nervosa discussão que seseguiu, Winant saiu-se com a solução, como o iria fazer depois em bom número de crises anglo-americanas. Sabedor de que o Rei era também coronel honorário do regimento, sugeriu que oscinco rapazes prestassem juramento ao coronel regimental, e não ao Rei. As autoridades inglesase americanas concordaram com a ideia, e um incidente internacional menor foi evitado.

Nos meses subsequentes, Winant se transformou numa espécie de pai substituto dos cincouniversitários da Ivy League, que escreviam regularmente ao embaixador e ficavam em seuapartamento quando iam de licença a Londres. No outono de 1942, todos os cinco americanosparticiparam da Batalha de El Alamein, no norte do Egito. Três deles foram seriamente feridos eum morreu. Na ocasião em que Winant foi informado da morte do jovem tenente, escreveu aopai dizendo que seu filho e os outros tinham sido “meu contato com a vida [152]. (...) Conhecê-losajudou a reforçar minha fé na América — e a fé no definitivo desejo de meu país de sesacrificar e lutar.” Eles foram, o embaixador disse mais tarde, “o grupo mais nobre que jamaisconheci. Fizeram a gente sentir-se muito orgulhoso de ser americano.”

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“Pearl Harbor Atacada?”

No início de novembro de 1941, Ed Murrow mandou um rápido bilhete a Gil Winant de umquarto de hotel em Bristol, pouco antes de embarcar num avião para a América. “Deixar estepaís [153] exatamente agora não é fácil,” escreveu o correspondente. “Na verdade, é mais difícildo que eu imaginava.” Por ter de fazer um giro, que duraria três meses, pronunciando palestraspelos Estados Unidos, ele julgava abandonar a Inglaterra numa ocasião especialmente crucial.“Estou convencido de que a hora já passou há muito mais tempo,” disse a outro amigo, “do que amaioria do nosso povo acredita.”

Os alemães haviam avançado até os arrabaldes de Moscou e pareciam prontos paraesmagar os soviéticos em questão de semanas, quem sabe de dias. Os ingleses, urgentementenecessitados da própria ajuda militar que proporcionavam ao Exército Vermelho, estavamempacados no Oriente Médio. E agora os japoneses pareciam a ponto de fazer o seu lance. Trêsmeses antes, o Japão dominara toda a Indochina e exigira bases do exército na Tailândia. Nãohavia dúvida na cabeça de ninguém que as possessões inglesas e holandesas no Extremo Oriente— Malásia, Birmânia, Cingapura, Hong Kong e Índias Orientais Holandesas — estavam todasdiretamente ameaçadas.

Em Washington, o Presidente, que tinha a atenção voltada para a Batalha no Atlântico e aguerra na Rússia, vinha fazendo o máximo, havia mais de um ano, para esquivar-se de umconfronto com o Japão. Seu plano era “mimar os nipônicos por algum tempo,” disse ele aos seusassessores. Na sua avaliação, uma luta contra o Japão seria “a guerra errada, no oceano errado ena hora errada.” Tal opinião era partilhada pelo general George Marshall e pelo almiranteHarold Stark, os quais alertaram o Presidente, repetidas vezes, que os EUA não estavampreparados para combater, e que uma guerra em duas frentes seria desastrosa.

Quando os japoneses ocuparam a Indochina, o Presidente respondeu com restriçõeseconômicas, esperando que as medidas impostas pelos Estados Unidos contivessem os nipônicossem forçá-los a entrar em guerra. Mas as ações americanas — congelamento dos ativosjaponeses nos Estados Unidos e embargo no envio de petróleo, bem como de produtos com baseno ferro e no aço — só serviram para enfurecer os japoneses. A crise continuava em escalada.

No encontro que tiveram na Terra Nova, Churchill, por sugestão de Winant, apelara aRoosevelt para juntar-se a ele no alerta aos japoneses de que quaisquer incursões futuras na Ásiateriam a oposição das forças dos ingleses e dos americanos. Era impossível para a Inglaterrareagir por si própria: suas prateleiras de recursos militares estavam praticamente vazias, semtropas para envio à Malásia ou a Cingapura, sem navios de sobra para patrulhar as águasdaquelas colônias. O marechal Sir John Dill, antecessor de Alan Brooke como chefe do Estado-Maior Geral Imperial (CIGS), dissera a Brooke que o país “não fizera praticamente [154] coisaalguma frente à ameaça (...) que estávamos tão fracos em todas as frentes que era impossíveldesfalcá-las ainda mais.” Mas Roosevelt negou-se a participar de um duro ultimato. À medidaque a situação no Extremo Oriente se agravava, Churchill temia que a Inglaterra logo tivesse queenfrentar uma guerra com a Alemanha e o Japão — e sem ajuda americana.

O que seria necessário, ponderava o primeiro-ministro, para empurrar Roosevelt e seu paíspara aquela guerra? Vezes sem conta, o Presidente havia caminhado na ponta dos pés para abeira da confrontação, mas recuara na última hora. Em setembro, ele pareceu prestes a entrar

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na luta da Batalha do Atlântico. Depois que o destróier americano Greer trocou torpedos com umsubmarino alemão no meio do oceano (sem resultar em danos ou baixas), Roosevelt anunciouque, dali por diante, os navios de guerra americanos “atirariam à simples vista” de qualquersubmarino ou navio de guerra germânicos que encontrassem. Ao mesmo tempo, ordenou escoltanaval para todos os navios mercantes — não apenas americanos — até a Islândia. Na realidade,ele embarcou numa guerra naval contra a Alemanha.

Sua decisão angariou apoio generalizado do povo americano. Contudo, não havia ainda umsentimento popular para que fosse dado o passo final e irreversível de uma declaração oficial deguerra, nem mesmo quando dois outros navios americanos foram alvos de disparos partidos desubmarinos alemães. Em 16 de outubro, o contratorpedeiro Kearny foi bastante avariado portorpedos alemães quando acorreu para socorrer um comboio sob ataque. Duas semanas depois,outro contratorpedeiro, o Reuben James, foi a pique próximo à Islândia, matando 115 membrosde sua tripulação. Porém, em vez de um clamor popular nos Estados Unidos, demandando queRoosevelt vingasse “nossos rapazes,” a reação predominante pareceu ser de apatia.

“Naquela crise pendente [155], os Estados Unidos pareciam estaqueados — seu presidente,algemado, seu congresso, vacilante, e seu povo, dividido e confuso,” escreveu James MacGregorBurns, biógrafo de Roosevelt. “Naquela época — pelo início de novembro de 1941 — aimpressão era de que [FDR] nada mais tinha que pudesse dizer. E pouco mais que pudesse fazer.Convocara seu povo a assumir posições de combate — mas não havia combate.”

Com seu limite emocional esgarçado, Churchill soltou o verbo para seus subordinados acercada paralisia americana e da relutância de Roosevelt em fazer alguma coisa. Num discurso naCâmara dos Comuns, declarou: “Nada é mais perigoso em tempo de guerra do que viver numaatmosfera temperamental de pesquisas Gallup, ou medindo temperatura e pulso das pessoas. (...)Só existe uma obrigação, um só rumo seguro, que é agir com correção e não temer fazer oudizer aquilo que se acredita que é o certo.”

Ed Murrow concordava. A persistente relutância dos Estados Unidos a entrar na guerra tinhaenfurecido tanto o correspondente que ele, por breve momento, considerou sair da CBS para setornar militante em tempo integral da intervenção americana. Também flertou com a ideia detrabalhar pela candidatura de Winant a presidente na eleição seguinte. “Se em algum tempo dofuturo imprevisível você se decidir a ir aos Estados Unidos em busca de poder político,” afirmouao embaixador em sua carta, “talvez eu possa ser 'bom companheiro de viagem' para você.” Murrow não voltara aos Estados Unidos desde 1938 — tempos que pareciam quase inimagináveisagora, com o mundo conflagrado. Por diversas vezes tinham-lhe dito que ele se tornara umacelebridade em seu país, que todos ouviam suas transmissões e que havia influenciado muito aopinião pública. De Nova York, Bill Shirer escrevera a Murrow: “Por onde ando, velhas matronase moças lindas perguntam se eu o conheço, se você é realmente bonito como sugerem asfotografias, o que você come no café da manhã e quando voltará para casa.”

Porém quando ele se sentava todas as noites no entulhado e acanhado estúdio da CBS,respirando o odor de repolho, era difícil imaginar que milhões de pessoas a milhares dequilômetros haviam ligado o rádio apenas para escutá-lo. Existia um senso de distância noprocesso de radiodifusão que o fazia pensar que suas palavras eram absorvidas pelo éter comobarquinhos de papel engolidos pelo oceano.

Só quando o locutor de trinta e três anos desembarcou do Clipper da Pan Am em Nova Yorké que percebeu a realidade de sua fama. Como Bill Paley observou, “Edward R. Murrow [156]se transformara num herói nacional.” Esperava por ele uma multidão de repórteres da imprensaescrita e jornalistas de documentários noticiosos, todos agindo como se ele fosse Greta Garbo ou

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Clark Gable. Onde quer que fosse nas poucas semanas seguintes, era seguido por caçadores deautógrafos, fotógrafos e repórteres de jornais e magazines implorando entrevistas. Tão estranhaquanto a celebridade, ainda maior, era a dificuldade de Murrow para entender a continuadarecusa da América em se comprometer com a guerra.

Quando chegou aos Estados Unidos, o correspondente da CBS encontrou os isolacionistas apleno vapor — uma manifestação da “Primeiro a América” no Madison Square Garden, osenador Burton Wheeler e Charles Lindbergh aumentando sua exigência de que Rooseveltmantivesse o país na paz. Embora os isolacionistas estivessem gradualmente perdendo terreno,tinham se tornado mais agressivos e estridentes nos ataques contra o Presidente e o governo. Omovimento intervencionista igualmente respondia ao fogo em tom elevado. Foi, disse umhistoriador, “um período de grande barulheira no país.”

A exemplo de seus colegas correspondentes sediados em Londres que haviam retornadopara casa, Murrow não conseguia se adaptar à normalidade imperante, à aparente ausência depreocupação a respeito da luta e das mortes no outro lado do oceano, à percebida negativa em seconscientizar de que os americanos tinham alguma coisa em jogo no resultado daquelacalamidade. “Ele caminhava pela Quinta Avenida e pela Madison, via as lojas abarrotadas debelos artigos, e ficava decididamente furioso,” disse um amigo. “Observava toda aquela farturanos restaurantes e pensava: 'Acho que não posso comer, quando penso no que se passa por lá.'”Numa carta ao amigo Harold Laski, socialista inglês, Murrow disse que “empregava grande partede seu tempo controlando a raiva,” ao ver “tanta gente muito bem-vestida, bem alimentada e defisionomia tão tranquila,” e ao ouvir “amigos ricos a se queixarem dos impostos escorchantes.”Acrescentou: “As palavras têm significado completamente diferente por aqui. (...) Talvez minhavinda tenha sido um erro.”

Teriam dado em nada suas transmissões sobre os horrores e heroísmos da Blitz? Teria elefracassado no esforço para pôr o chapéu dos atingidos pela guerra nos americanos? Anos maistarde, ele observaria durante programa de rádio da BBC: “É difícil explicar [157] o significado dofrio para pessoas agasalhadas, o significado da escassez a quem só pensa em luxos. (...) É quaseimpossível substituir a experiência pela informação.” Talvez. Mas como os diversos oradores deum banquete de gala em homenagem a Murrow no Waldorf-Astoria fizeram questão de frisar,ele construíra mais pontes sobre o fosso do entendimento do que qualquer um julgaraanteriormente possível.

O banquete de 2 de dezembro foi ideia de Bill Paley. “Quase todos os americanos deexpressão,” disse ele, “nos pressionaram por convites,” e mais de mil dignitários compareceram.Na ocasião em que Murrow foi apresentado, a audiência, de pé e de black-tie, irrompeu numatorrente crescente de vivas e aplausos. Para Janet Murrow, sentada bem à frente na mesaprincipal, seu marido passou a impressão de “estupefato com tudo aquilo — era muito diferenteda experiência que vivíamos.” Murrow não demonstrou nenhuma hesitação em suas palavrasdaquela noite: se a Inglaterra tiver de sobreviver e Hitler tiver de ser barrado, a América tem deentrar na guerra. O conflito, disse ele, seria decidido “ao longo das margens do Potomac. Oquartel-general das forças da decência está agora na Pennsy lvania Avenue.”

No entanto, os que se pronunciaram em sua homenagem naquela noite asseveraram que, adespeito das dúvidas manifestadas por Murrow sobre a determinação da América, o país seencontrava mais perto da guerra, ainda que não estivesse totalmente comprometido. E uma dasrazões para tal mudança de atitude, disseram eles, foram suas transmissões de Londres: “Vocêincendiou a cidade de Londres perto de nossas casas e pudemos sentir as chamas que aconsumiam,” observou o poeta Archibald MacLeish. “Você depositou os mortos de Londres nasoleira de nossas portas e percebemos que aqueles corpos eram os nossos (...) eram os mortos da

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humanidade.” Num telegrama lido para os convidados, o presidente Roosevelt declarou: “Ossenhores (...) que hoje se reúnem para homenagear Ed Murrow estão indenizando apenasminúscula parcela do débito a ele devido por milhões de americanos.” Para sublinhar o apreçopelo que o radialista havia feito, Roosevelt e sua esposa convidaram os Murrows para jantar naCasa Branca. A data marcada foi domingo, 7 de dezembro. Na Inglaterra, Gil Winant e Averell Harriman tinham sido também convidados para passarem o7 de dezembro com os Churchills em Chequers. Enquanto dirigia para a casa de campo doprimeiro-ministro, Winant bem sabia que o dia não seria fácil nem repousante. Os japonesesestavam se movimentando, e ataques eram esperados a qualquer momento. No dia anterior,Roosevelt recebera cópia de uma mensagem beligerante do governo japonês para suaembaixada em Washington. Depois de ler o despacho, que fora decifrado pelos decodificadoresdo Exército, o Presidente declarou: “Isto significa guerra [158].” Duas grandes esquadras denavios de guerra nipônicos tinham sido detectadas navegando para o sul, mas ninguém sabia odestino final. Todos os dados colhidos pelas informações, contudo, apontavam para a Malásia,Cingapura ou Índias Orientais Holandesas.

No momento em que Winant chegou a Chequers, no começo da tarde, viu que Churchill oesperava do lado de fora. Nem bem o embaixador saiu do automóvel, o primeiro-ministroexclamou: “Você acha que haverá guerra com o Japão?” Quando Winant disse “Sim,” o líderinglês afirmou: “Se eles declararem guerra a vocês, declararei guerra de imediato a eles.”

“Entendo muito bem, senhor primeiro-ministro,” disse Winant. “O senhor já asseverou issopublicamente.”

“Se eles declararem guerra a nós, vocês declararão contra eles?”“Não sei a resposta. O senhor bem sabe que só o Congresso tem o direito de declarar guerra

segundo a Constituição dos Estados Unidos.”Churchill ficou calado por um instante, e Winant sabia em que ele pensava: um ataque

japonês a território inglês na Ásia forçaria o país a uma guerra em duas frentes, e sem a ajudaamericana. Então se recompôs e, voltando-se para Winant, disse “com toda aquela maneiracharmosa que vi tantas vezes em momentos difíceis”: “Quer saber, estamos atrasados. Dê umapassada no lavatório porque almoçaremos logo em seguida.”

Um bom número de amigos, inclusive Kathleen Harriman e Pamela Churchill, se reuniraem Chequers para o fim de semana. Mas o tempo estava nublado e frio, e Churchill — cansado,aborrecido e obviamente deprimido — de forma atípica não conversava com ninguém. Amaioria dos convidados já tinha ido embora no domingo quando o jantar foi servido pouco antesdas nove da noite. Exausta com os problemas familiares e da guerra, Clementine Churchillpermanecera em seu quarto. À mesa naquela noite estavam os Harrimans, Pamela, Winant, doisou três assistentes do primeiro-ministro e o próprio, que passara grande parte do jantar com acabeça entre as mãos, absorvido com seus pensamentos. Churchill tinha o hábito de ouvir onoticiário das nove horas da BBC e, saindo do estado de melancolia, solicitou a Sawyers, seumordomo, que trouxesse o rádio portátil, presente de Harry Hopkins poucos meses antes.

De início, as notícias transmitidas pareceram rotineiras: comunicados de guerra seguidos dealgumas pílulas sobre o noticiário doméstico. Então, no final, o locutor pronunciou, sem a menoremoção, uma curta frase: “Notícia recém-chegada de que aviões japoneses fizeram um raidcontra Pearl Harbor, a base naval americana no Havaí.” O silêncio se instalou em toda a mesaaté que Churchill, empertigando-se, gritou, “Que foi que ele disse? Pearl Harbor atacada?”Perplexo, Harriman repetiu: “Os japoneses fizeram [159] um raid contra Pearl Harbor.” Ocomandante C.R. Thompson, ajudante de ordens naval do primeiro-ministro, interrompeu o

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americano: “Não, não, ele disse Pearl River.” Enquanto Harriman e Thompson discutiam,Sawyers entrou na sala de jantar. “É verdade,” disse a Churchill. “Nós ouvimos lá fora. Osjaponeses atacaram os americanos.”

De um salto, Churchill pôs-se de pé e dirigiu-se para a porta, exclamando: “Vamos declararguerra ao Japão!” Jogando o guardanapo sobre a mesa, Winant levantou-se e correu atrás doprimeiro-ministro. “Bom Deus,” disse, “o senhor não pode declarar guerra com base numanotícia de rádio!” Churchill parou e, olhando para o embaixador com fisionomia interrogativa,perguntou: “O que devo fazer?” Quando Winant disse que telefonaria imediatamente paraRoosevelt, o primeiro-ministro emendou: “E eu também vou falar com ele.”

Alguns minutos mais tarde, FDR estava na linha. “Senhor Presidente, que notícia é essa sobreo Japão?” — perguntou Churchill. Roosevelt replicou: “Eles nos atacaram em Pearl Harbor.Agora estamos todos no mesmo barco.” O primeiro-ministro ficou eufórico, como também seusdois hóspedes americanos. Numa minuta anterior de suas memórias, Churchill lembrou queWinant e Harriman receberam as notícias sobre Pearl Harbor com “exaltação — de fato, quasedançaram de alegria.” (Na verdade, segundo John Colville, Winant e Churchill “chegaram aensaiar um passos de dança em torno da sala” naquela noite.) Na minuta final das memórias,Churchill substituiu a descrição do júbilo irrestrito por uma versão mais moderada: “Eles não selamuriaram ou lastimaram o fato de seu país estar em guerra. (...) Na realidade, podia quaseparecer que acabavam de se livrar de uma longa dor.” Churchill tomou parte na exuberantesensação de alívio. Naquela noite, escreveu: “Dormi o sono dos justos e dos gratos,” convicto deque agora “tínhamos vencido a guerra. A Inglaterra sobreviveria.” O dia 7 de dezembro amanheceu atipicamente quente em Washington. Tirando proveito dotempo agradável, Ed Murrow jogava golfe no campo Burning Tree, próximo a Bethesda, quandoouviu a notícia de Pearl Harbor. Voltando para a cidade, passou de carro em frente à embaixadado Japão, onde diplomatas e funcionários, sobraçando montes de papéis, corriam indo e vindoentre o prédio e uma fogueira no jardim. Do hotel, Janet telefonou para Eleanor Roosevelt,esperando ouvir que o convite para o jantar tinha sido cancelado. De jeito algum, retorquiu MrsRoosevelt. “Ainda temos [160] de comer. Queremos que vocês venham.”

Naquela noite, os Murrows abriram caminho através de aglomerados de gente em frente àCasa Branca feericamente iluminada, algumas no Lafayette Park, do outro lado da rua, outrascom a cabeça contra as grades de ferro da frente. Dentro da residência presidencial imperavaum ambiente de caos controlado a custo, telefones tocando e funcionários correndo de umescritório para outro. Após cumprimentar Murrow e a esposa, Eleanor Roosevelt explicou que omarido estava muito ocupado para jantar com eles; participava de reuniões desde o início datarde.

Os que viram o Presidente naquele dia contam de sua extrema dificuldade para entender amagnitude do ataque. Quando membros do ministério entraram em sua sala para uma reunião,ele não levantou os olhos. Na realidade, agiu como se eles não estivessem na sala. “Ele estavanoutro mundo,” observou Frances Perkins. “Nem notava o que acontecia na frente de suaescrivaninha. (...) Seu rosto e seus lábios estavam desabados, e ele bastante pálido. (...) Ficouóbvio para mim que Roosevelt passava por um momento terrível, tendo de aceitar que a Marinhafora surpreendida de calças na mão.”

Depois que Mrs Roosevelt e seus convivas terminaram uma sopa leve de ovos mexidos compudim de sobremesa, a esposa do Presidente disse a Murrow que FDR desejava vê-lo. Poderiaele ficar mais um pouco? Janet voltou para o hotel enquanto o radiorrepórter ficou esperandosentado no lado de fora da sala do Presidente, fumando um cigarro atrás do outro, enquanto

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observava a apressada movimentação de entrada e saída de ministros, congressistas e chefesmilitares. A tensão no ar era palpável: caminhando com passos largos pelo corredor, um senadorvirou-se para o almirante ao seu lado e bradou: “Vocês não são capazes de comandar nem umbarco a remo!” Ao notarem a presença de Murrow, diversos funcionários, inclusive Hopkins,Knox, Cordell Hull e Henry Stimson, pararam para trocar comentários sombrios sobre aquilo quetomava a forma do mais devastador desastre militar da história americana.

Por fim, quase meia-noite, FDR solicitou que Murrow entrasse em seu gabinete. Ali estavameles, possivelmente os dois melhores comunicadores do país, por certo as duas vozes maisconhecidas na rádio americana. Mas não havia tempo para reflexões nesse sentido ou mesmopara a troca de amabilidades. O presidente fez perguntas ao radialista sobre o moral do povoinglês e então, enquanto comiam rapidamente sanduíches com cerveja, relatou-lhe asassustadoras perdas ocorridas em Pearl Harbor — os oito encouraçados afundados ou seriamentedanificados, as centenas de aviões destruídos, os milhares de homens mortos, feridos oudesaparecidos. Roosevelt manteve sua irritação sob controle até que começou a falar sobre osaviões. “Destruídos no solo [161], valha-me Deus!” — exclamou, batendo com o punho na mesa.“No solo!” Como Murrow lembrou mais tarde, “a ideia parecia feri-lo.”

Quando, finalmente, deixou a Casa Branca, com o dia já amanhecendo, Murrow juntou-se aEric Sevareid no prédio da CBS em Washington, distante uns poucos quarteirões. “O que vocêpensou quando viu toda aquela gente na noite passada olhando através das grades da CasaBranca?” — perguntou Murrow. Sevareid replicou: “Lembrei-me das multidões em torno doQuai d'Orsay uns poucos anos atrás.” Concordando com a cabeça, Murrow arrematou. “Foiexatamente nisso que pensei. O mesmo olhar que tinham em Downing Street.”

Uma expressão que ambos conheciam muito bem — a fisionomia de um povo a seendurecer para a guerra.

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9

Criando a Aliança

Na manhã seguinte ao ataque de Pearl Harbor, Churchill despertou de um sono profundo eanunciou que planejava partir de imediato para Washington. Anthony Eden, hesitante, disse-lheque os americanos talvez não quisessem vê-lo tão de imediato. E estava certo. Quando Rooseveltfoi informado sobre a planejada viagem do primeiro-ministro, aconselhou Lord Halifax, entãoembaixador inglês em Washington, que seria melhor esperar um pouco. Mas Churchill nãoestava disposto a aceitar retardo nehum. “Parecia uma criança [162] na sua impaciência para seencontrar com o Presidente,” lembrou Lord Moran. “Falava sobre a importância de cadaminuto.” Quatro dias após os Estados Unidos entrarem na guerra, o primeiro-ministro e seusassessores militares estavam a caminho da capital americana para criar a aliança que eleperseguira por tanto tempo.

A bordo do encouraçado Duke of York , o líder inglês deu ao seu médico a impressão de terrejuvenescido décadas em relação a poucos dias antes. “O Winston com quem eu convivia emLondres me assustava,” registrou Moran em seu diário. “E agora, parece que só no decorrer deuma noite — um homem mais moço ocupou seu lugar. (...) O cansaço e o torpor desapareceramde sua fisionomia. Está alegre e falador, por vezes até travesso.”

Após aportarem em Hampton Road, na Virgínia, em 22 de dezembro, Churchill e seusauxiliares voaram para Washington. Os Estados Unidos estavam em guerra havia duas semanas.O Congresso, por solicitação de Roosevelt, declarara guerra ao Japão em 8 de dezembro; trêsdias mais tarde, Alemanha e Estados Unidos declaram guerra um ao outro. Porém, se as luzesflamejantes da capital fossem indício de alguma coisa naquela noite, o conflito estavaclaramente muito remoto para a maioria dos americanos, tanto psicológica quantogeograficamente. Pressionando como crianças o rosto contra as janelas do avião, os membros dacomitiva de Churchill, acostumados à escuridão sombria das noites londrinas de tempo de guerra,maravilhavam-se com o esplendor abaixo deles. Para John Martin, chefe dos secretáriosparticulares do primeiro-ministro, foi “uma das mais belas vistas [163] que jamais presenciei.”Para outro dos auxiliares de Churchill, Washington, “com sua miríade de anúncios luminososdançantes parecia uma cidade de conto de fadas.”

A mesma cordialidade, a mesma centelha estavam presentes nas boas-vindasproporcionadas a Churchill por Roosevelt, o qual, vencido pelo senso de urgência do primeiro-ministro, fora recebê-lo no National Airport. O presidente levou-o de carro para a Casa Branca eo alojou no primeiro piso da residência, no fim do corredor do próprio quarto de FDR. “Aquiestamos como uma grande família, na maior intimidade e informalidade,” escreveu Churchill,radiante, para Clement Attlee, seu vice-primeiro-ministro.

A Casa Branca de Roosevelt era caracterizada pelo que Churchill chamou de “calmamajestosa,” mas como residência temporária do primeiro-ministro pareceu mergulhada numredemoinho. A exemplo do que acontecia em Chequers e Ditchley, secretárias se agitavam portodos os lados, e mensageiros, portando caixas vermelhas de despachos, passavam pelos diversoscômodos. Churchill e Roosevelt entravam e saíam à vontade dos quartos de um e do outro, eestudavam mapas da situação que o primeiro-ministro mandara prender com tachas no MonroeRoom. Churchill passou o Natal com os Roosevelts, participou dos coquetéis que antecederam asrefeições, partilhou-as em sua maioria com o Presidente e, para grande desgosto de Eleanor

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Roosevelt, manteve quase todas as noites seu marido acordado até altas horas, bebericandobrandy, fumando charutos e conversando sem parar sobre tudo que lhes vinha à cabeça.

Contudo, pelo menos em um aspecto, o líder inglês não exercitava sua rotina de sempre: nãodominava as conversas nem fazia uma corte com os comensais durante as refeições, como eraseu hábito em casa. Em algumas das reuniões futuras, as duas fortes personalidades iriamparecer “um par de mestres de cerimônias dispostos a não deixar que a cena de um fosseroubada pelo outro,” observou Mike Reilly, agente do serviço secreto. “Estar com eles era comosentar entre dois leões que rugiam ao mesmo tempo,” lembrou Mary Churchill Soames. Aindaassim, como no decorrer da reunião de Placentia Bay, o primeiro-ministro adulou Roosevelt.Churchill “se mostrou sempre pleno de histórias,” como observou uma amiga de Mrs Roosevelt,“porém, às refeições, independentemente de quão distante ele estivesse sentado do Presidente,tentava conversar só com FDR. Todo o fluxo da conversa do primeiro-ministro era dirigido aRoosevelt.” Lord Moran anotou em seu diário: “Pode-se quase sentir [164] a importância que eleconfere à possibilidade de aproximar-se do Presidente, e, como advogado daquela boa causa, elese tornou exemplo de comedimento e autodisciplina.” À noite, “julgando-se um Sir WalterRaleigh, que esticou sua capa diante dos pés da rainha Elizabeth,” Churchill insistia em empurrara cadeira de rodas de FDR da sala de estar até o elevador, como “sinal de respeito.”

Em suas conversas, para alívio do primeiro-ministro, ele não notou indício algum da cautelae indecisão do Roosevelt pré-Pearl Harbor. A firmeza e o ânimo de FDR em travar a luta “comtudo que tivermos” refletia os do povo americano, o qual, nas palavras de Robert Sherwood,“jogou fora, pronta, rápida e até agradecidamente, o isolacionismo — se bem que, talvez, não demaneira definitiva.” Ainda mais importante aos olhos do primeiro-ministro, o Presidentedeclarou que a derrota da Alemanha deveria ser o objetivo principal dos aliados. Os dois líderesconcordaram que um destacamento avançado de forças americanas deveria ser imediatamentedespachado para a Inglaterra — duas unidades do Exército para defender a Irlanda do Norte, ediversos esquadrões de bombardeiros para começar ataques à Alemanha a partir de basesinglesas.

Roosevelt e Churchill também tomaram uma decisão sem precedentes: pôr suas forças sobum comando unificado. Em cada teatro de operações, um único comandante exerceriaautoridade sobre todos os soldados, marinheiros e aviadores ingleses e americanos, enquanto umComitê Combinado de Chefes de Estado-Maior ficaria sediado em Washington para coordenar aestratégia anglo-americana. Além disso, agências conjuntas dos dois países seriam criadas paracontrolar material bélico, transporte marítimo, matérias-primas, alimentos e produção. Foi,declararia George Marshall mais tarde, “a mais completa unificação de esforço militar jamaisalcançada por duas nações aliadas.”

Sem dúvida, verdade. Mas conseguir essa “completa unificação do esforço militar” foi umaluta gigantesca, eivada de fricções, que iria persistir até o fim da guerra. Em sua históriarelativamente curta, os Estados Unidos, a rigor, jamais tinham sido autênticos aliados de qualqueroutra nação. Durante a Primeira Guerra Mundial, o presidente Wilson qualificara seu país como“Potência Associada” e não como “Aliada”; em campanha, o general John Pershing,comandante da Força Expedicionária Americana, mantivera sua tropa como entidade separada esob seu comando. Os ingleses, por outro lado, já haviam experimentado uma série de aliançascom outras nações ao longo dos séculos, muitas, se não a maioria, conduzidas com frustrações eantipatias recíprocas.

Para alguns americanos, parecia que os ingleses, com seus ares superiores, ainda os viamcomo colonos malcomportados, e não como povo independente e igual. Era muito desagradávelserem tratados como adolescentes ignorantes, que precisariam ser rebocados por mentores

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inteligentes e conhecedores de tudo, a fim de que aprendessem as verdades do mundo. Sir RonaldLindsay, embaixador inglês nos Estados Unidos em meados dos anos 1930, demonstrara essacondescendência quando escreveu ao Foreign Office em 1937: “Os Estados Unidos [165]permanecem extraordinariamente jovens e sensíveis. Fazem lembrar uma senhora recém-ingressada na sociedade, muito suscetível à menor deferência de um homem mais velho” —querendo, evidentemente, se referir à Inglaterra. Churchill costumava usar analogiassemelhantes, com frequência comparando os Estados Unidos a uma moça volúvel que poderiaser manejada à vontade para a maneira correta de pensar através da cortesia e da sedução As divisões entre os dois países vieram quase imediatamente à tona durante os encontros dasequipes militares em Washington. O primeiro-ministro inglês pode ter aquiescido à proposta paraum comando unificado e para um comitê sediado em Washington para planejar a estratégia,mas os oficiais britânicos de altas patentes ficaram espantados com ambas as ideias. Que sabiamos americanos, despreparados como eram, sobre o comando de forças aliadas? De resto, quesabiam eles de guerra?

“Nunca vi tantos automóveis, mas não vi uma viatura militar,” escreveu o marechal Sir JohnDill, logo após seus primeiros dias em Washington, a Alan Brooke, que acabara de assumir afunção de chefe do CIGS no lugar de Dill. “E, além disso, em meio a todo esse despreparo, afamília americana comum acredita que pode liquidar com a guerra muito rapidamente — e semprovocar muitas inconveniências. (...) Este país não tem — repito, não tem — a menor noção doque significa a guerra, e suas forças armadas estão bem menos prontas para o conflito do que sepoderia supor.” (Dill teria ficado bem mais assustado se estivesse em Washington em 8 dedezembro, quando todos os oficiais das forças armadas dos Estados Unidos receberam ordempara se apresentarem no serviço completamente uniformizados. Como a maioria utilizava trajescivis no trabalho nos dias pré-Pearl Harbor, os corredores dos edifícios da Marinha e do Exércitonaquela manhã de segunda-feira “ficaram apinhados de oficiais com uniformes e partes deuniformes que datavam de 1918. (...) Majores envergavam uniformes comprados quandosegundos-tenentes. Foi convocada para a guerra uma verdadeira feira de objetos usados.”)

Ironicamente, se levarmos em conta o pessimismo inicial de Dill quanto ao novo país aliado,este iria emergir como uma das figuras-chave para a preservação da unidade dessa nova e frágilunião. Por sugestão de Brooke, Dill foi nomeado chefe da delegação britânica no ComitêCombinado de Chefes de Estado-Maior, em Washington; o tato, a cortesia e a capacidade depersuasão logo conquistaram a simpatia dos americanos, em particular de George Marshall, comquem criou sólida amizade. Vezes sem conta o diplomático Dill encontraria soluções para osconstantes desacordos entre os chefes militares ingleses e americanos. Quando Dill faleceu em1944, de anemia aplásica, Marshall insistiu que ele fosse enterrado no Arlington NationalCemetery, como desejava o inglês. Embora o sepultamento de estrangeiros estivesse banido emArlington, o Congresso aprovou uma resolução conjunta, fazendo uma exceção para o popularmarechal de campo. O percurso do cortejo fúnebre foi todo guarnecido com alas de milhares demilitares dos Estados Unidos, e uma testemunha à beira da sepultura reportou: “Jamais tinha visto[166] tantos homens visivelmente compungidos pela tristeza. A fisionomia de Marshall era umpesar só.”

Nos quatro anos da aliança, no entanto, o chefe do Estado-Maior do Exército dos EstadosUnidos não teria um entendimento tão completo com o mordaz Brooke, seu correspondenteinglês. Quando Brooke, que ficara em Londres durante as reuniões em Washington, soube queChurchill concordara com um quartel-general conjunto na capital americana, ficou furioso.“Não posso entender a razão de, no atual estágio, com as forças americanas totalmente

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despreparadas para desempenharem um papel importante, termos de concordar com umcontrole central em Washington,” registrou em seu diário.

Mas o desacordo a respeito do comando unificado não foi nada comparado com a divisãoanglo-americana sobre a região em que atacar os alemães em primeiro lugar — um debate queiria perdurar pelos sete meses seguintes. Marshall e seus subordinados queriam partir diretamentepara a jugular germânica — uma invasão através do Canal. Imaginavam uma concentraçãomaciça de tropas na Inglaterra, seguida por um assalto ao continente europeu no verão de 1943.Se um colapso da Rússia parecesse iminente em 1942, um ataque menos ambicioso em territóriofrancês poderia ser executado para garantir uma cabeça de praia.

“Como é típico [167] dos americanos, uma vez decidida a participação na guerra, eles logose dispõem a travar um encontro armado maior e melhor do que qualquer outro antescombatido,” observou anos depois, sardônico, o general Sir Frederick Morgan, planejador-chefeinglês da invasão do Dia-D. A estratégia americana se baseava num princípio fundamental desua doutrina que podia ser retraçado desde a Guerra de Secessão, o mais longo e custoso conflitoem que o país se envolvera até então. Tal princípio — destruir o inimigo, com forçaavassaladora, o mais rapidamente possível — foi a estratégia empregada pelo general Ulysses S.Grant, da União, no seu impulso contra o Exército Confederado de Robert E. Lee.

Churchill, Brooke e os demais chefes militares ingleses ficaram pasmos com o queconsideraram a imprudência e o amadorismo da proposta. Será que os americanos nãoentendiam que uma invasão precipitada em 1942 era pura loucura? Como poderiam os aliadosretornar à Europa Ocidental, defendida por vinte e sete divisões alemãs, quando as forçasamericanas eram tão incipientes, os dois aliados estavam tão tristemente mal equipados earmados, não existiam transportes marítimos suficientes para cruzar o Atlântico com os homense suprimentos necessários, e as barcaças de desembarque eram pouquíssimas? “Poder-se-ia atépensar que atravessaríamos o Canal para jogar bacará no Le Touquet ou para nos banharmos naPlage de Paris!” — comentou sarcástico Brooke.

Churchill e seu chefe de Estado-Maior acreditavam que os primeiros ataques dos aliadoscontra os alemães deveriam ser desferidos no norte da África e em outros alvos periféricos daEuropa, a fim de enfraquecer bastante os germânicos antes de se partir para o assalto final. Essaespécie de estratégia periférica vinha sendo adotada por séculos pelos ingleses, em vista de seusuperior poderio naval e da carência de grandes efetivos terrestres. A sangrenta guerra detrincheiras da Primeira Guerra Mundial fora uma exceção para a Inglaterra; tendo perdido maisde 750 mil homens naquele banho de sangue de quatro anos, o país tinha decidido que talcatástrofe jamais se repetiria. Se um desembarque através do Canal tivesse de ser efetuado nofuturo próximo, o grosso das tropas seria inglês, como Churchill e Brooke sabiam muito bem.“Vínhamos sofrendo desastre atrás de desastre, e nossas garras estavam visivelmenteenfraquecidas,” observou Frederick Morgan. “Portanto, não surpreendia que quem detinha totalresponsabilidade não demonstrasse o menor entusiasmo por esticar o pescoço bem mais longe doque jamais fizera.”

Marshall e os demais chefes militares americanos não se sensibilizaram com os argumentosingleses. Tinham certeza de que o plano do aliado para o Norte da África era um simplesesquema para proteger o Império Britânico — manter seguro o Canal de Suez e salvar o petróleoinglês e outros interesses no Oriente Médio. “Para Marshall [168], a suspeita de objetivosimperiais britânicos, perseguidos por Churchill, embasavam todos os projetos de guerra,”escreveu o historiador Stanley Weintraub. O próprio Marshall reconheceu depois da guerra que“demasiado sentimento antibritânico [existia] no nosso lado, mais do que deveria haver. Nossagente estava sempre pronta para desmascarar a pérfida Albion.”

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Embora Marshall e Brooke tivessem permanecido pouco impressionados, durante toda a guerra,com a capacitação um do outro, os dois tinham muita coisa em comum. Ambos eramconsiderados figuras de proa no alto-comando de seus respectivos países e também assessoresmilitares próximos e confiáveis de seus chefes de governos. Cada um deles foi líder talentoso quefez significativa contribuição para a vitória final. Chegaram mesmo a compartilhar algunsatributos de personalidade — eram bruscos, austeros, obstinados, intensamente reservados,impacientes e distintamente grandes.

Porém havia uma diferença fundamental entre os dois, da qual ambos os generais tinhamplena consciência. Diferentemente de Brooke, Marshall jamais comandara tropas em campanha,malgrado o forte desejo de fazê-lo. Durante a Primeira Guerra Mundial, fora chefe deOperações da 1ª Divisão de Infantaria, na França, depois servira no Estado-Maior do generalPershing. Após exercer praticamente todas as funções mais importantes no Exército, tornou-sechefe do Estado-Maior em 1º de setembro de 1939, dia em que Hitler invadiu a Polônia. Nos doisanos seguintes, Marshall dedicou-se a uma completa reformulação do Exército. Com expressivadeterminação, passou à reserva grande número de antigos oficiais, que considerava peso morto,escolheu a dedo comandantes mais novos e promissores, intensificou a instrução, ordenou aexecução de grandes manobras, criou uma divisão blindada e supervisionou a introdução de umamiríade de novas armas. Cognominado “protótipo do moderno administrador militar,” ele feztudo isso apesar da resistência de um Congresso isolacionista, bem como de alguns new dealersdentro do próprio governo Roosevelt. “Nem mesmo o Presidente era capaz de intimidarMarshall, que jamais hesitou em discordar de FDR quando achava que o comandante em chefeestava errado,” observou um historiador.

Brooke admitiu que Marshall foi “um grande homem [169] e um autêntico cavalheiro.” Elevia “muito charme e dignidade” no seu equivalente americano “que não tinha como deixar deme agradar.” Entretanto, na cabeça do chefe inglês, essas qualidades favoráveis eramempanadas pela falta de experiência em combate de Marshall e por sua inaptidão paraestrategista.

Por volta de 1941, as próprias experiências de Brooke no campo de batalha tinham feito comque apenas pensar na guerra já lhe fosse repugnante. Em 1916, como jovem tenente, combaterana horrível Batalha do Somme, que cobrara um total de cerca de 420 mil vidas inglesas, das quaisaproximadamente 70 mil ocorreram só no primeiro dia de luta. Depois que a Inglaterra declarouguerra à Alemanha em 1939, Brooke comandara um corpo de exército da Força ExpedicionáriaBritânica, na França, e recebera a maior parte do crédito pela bem-sucedida evacuação de cercade 200 mil militares ingleses de Dunquerque, em junho de 1940. “Foi quase consenso que sedeveu à sua capacitação e resolução o fato de seu Corpo de Exército e de toda a BEF teremescapado da destruição,” na sua retirada diante da blitzkrieg alemã, escreveu Sir James Grigg,subsecretário permanente do Ministério da Guerra. Logo a seguir, Churchill enviou Brooke devolta à França a fim de assumir o comando do restante das forças britânicas na região ocidentaldo país; o general se viu forçado a organizar outra evacuação quando a situação se tornouinsustentável e o governo francês capitulou. Em julho de 1940, foi-lhe dada a responsabilidadesobre todas as tropas na Inglaterra e ele se lançou na empreitada de reorganizar a defesa dasilhas, antecipando-se a uma prevista invasão alemã.

Tendo experimentado na própria pele a blitzkrieg inimiga, Brooke ficou perplexo quandodescobriu, durante a primeira reunião com Marshall na primavera de 1942, que os americanosnão tinham noção da fúria germânica que esperava as tropas aliadas caso, de alguma maneira,fosse deslanchado um prematuro desembarque na França. “Percebi que [Marshall] não

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começara a considerar nenhum plano de ação, nem iniciara a visualização dos problemas queum exército enfrentaria após desembarcar nas praias,” escreveu Brooke mais tarde. “Estive comele muitas vezes no decorrer da guerra e, quanto mais o via, com mais clareza notava que suacapacitação estratégica era paupérrima.”

Esse não foi, de modo algum, o comentário mais cáustico sobre Marshall de Brooke, quedisfarçava um temperamento altamente sensível e tempestuoso com uma capa de serenidade.“Demasiadamente convencido [170] de sua própria importância,” está escrito em um dosdiversos e corrosivos registros no seu diário sobre o colega americano. Noutro se lê: “Em muitosaspectos, é um homem perigoso.” (Embora Marshall também não tivesse Brooke em grandeconsideração, aparentemente não foi tão ostensivo no seu menosprezo. Em um dos poucosexemplos anotados em que revela seus sentimentos sobre Brooke, Marshall diz a Harry Hopkinsque “apesar de ser bom combatente, ele não tem o cérebro de Dill.” Enquanto os comandantes aliados debatiam, no início de 1942, o curso das operações futuras,uma série de desastres militares os afligia. A entrada da América na guerra foi acompanhadapor uma derrota aliada acachapante atrás da outra. Para os americanos, o choque pela perda degrande parte da armada em Pearl Harbor foi seguido pelas conquistas japonesas de Guam, dailha de Wake e das Filipinas. Para os ingleses, a situação era bem pior. Vencidos antes pelosalemães na França, na Grécia e em Creta, eles perdiam agora para os japoneses seu império noExtremo Oriente e no Pacífico, e experimentavam as mais humilhantes derrotas militares de suahistória.

Em 9 de dezembro, duas das maiores e mais combativas belonaves da Inglaterra — oencouraçado Prince of Wales , no qual Churchill havia viajado para Placentia Bay a fim de seencontrar com Roosevelt, e o encouraçado Repulse — foram postas a pique pela aviaçãonipônica no Mar do Sul da China, ao largo da costa da Malásia. Mais de 650 homens perderam avida. “Durante toda a minha existência,” disse Churchill, “não me lembro de uma perda navaltão pesada e tão dolorosa.”

Na Véspera do Natal, Hong Kong caiu, seguido de Cingapura, da Birmânia e da Malásia.“Parecemos perder um pedaço do Império a cada dia que passa,” escreveu Brooke,sombriamente, para um amigo, “e fazemos face a um pesadelo após o outro.” A rendição deCingapura, outrora considerada bastião inglês invencível no Extremo Oriente, foi um choqueparticular para o país, que não conseguiu entender como a guarnição de 85 mil homens cederacom tal facilidade. Discursando na Câmara dos Comuns, Churchill classificou a derrota como “omaior desastre para as armas britânicas registrado em nossa história.” A Malásia foi tambémperdida sem que fosse travada uma só batalha importante.

Porém, aquele annus horribilis estava longe de terminar. No norte da África, Rommel barrouuma nova ofensiva inglesa na Líbia, empurrando os tommies para trás e retomando Benghazi eGazala. Em junho, após suportar um longo cerco, Tobruk, pilar-chave da posição inglesa nolitoral leste da Líbia, capitulou, com mais de 30 mil soldados se rendendo para uma força alemãde efetivo consideravelmente menor. Um desastre estratégico bem mais substancial do que aperda de Cingapura, a captura de Tobruk abriu o caminho para a progressão germânica nadireção do Cairo e do Canal de Suez, ameaçando assim toda a presença inglesa no OrienteMédio. Sobre a queda de Tobruk, Churchill assim se expressou: “Derrota é uma coisa [ 171];desgraça é outra.”[*]

Enquanto as calamidades se sucediam em 1942, o estado de espírito da Inglaterra se tornavamais irritadiço e amargo. Entre o povo e no Parlamento, as críticas eram generalizadas a respeitodo modo com que o governo conduzia a guerra, ao mesmo tempo em que eram renovadas as

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sugestões para que o primeiro-ministro abrisse mão de suas atribuições como ministro da Defesa.Nem a eloquência de Churchill se mostrava capaz de abrandar o descontentamento. “Ouve-se(...) gente dizer que está farta de discursos brilhantes,” escreveu a correspondente Mollie Panter-Downes do The New Yorker. “O que gostariam de ver é ação e uma indicação de Mr Churchill deque ele entende a profundidade da preocupação do país.”

Em janeiro, e depois em junho, Churchill enfrentou votos de desconfiança na Câmara dosComuns sobre a direção da guerra. Embora tivesse ultrapassado confortavelmente essasinconveniências, a intensidade e a constância dos ataques à sua liderança — e as derrotasmilitares que os provocavam — foram cobrando seu preço do normalmente entusiasmadoprimeiro-ministro. “Durante todo o meu tempo de serviço em sua proteção — que começou em1921 — jamais eu o tinha visto tão desanimado,” observou Walter Thompson, segurança pessoalde Churchill. “Ele era capaz de absorver os diversos tipos de golpes, mas tudo aquilo parecia forade seu controle. Foram dias de amargura. Ele não conseguia comer ou dormir.” Mary Churchillregistrou no diário que seu pai estava “muito baixo [172]-astral.” Não se encontra fisicamentebem, muito desgastado pela continuada e esmagadora pressão dos acontecimentos.”

Além de ter de lidar com a incessante fieira de catástrofes militares, Churchill aindaenfrentava uma aprofundada crise na Batalha do Atlântico, com os submarinos alemães caçandonavios mercantes na costa leste dos Estados Unidos. Com suas silhuetas claramente recortadascontra o pano de fundo do litoral americano muito iluminado, os navios se tornavam alvosespetacularmente fáceis. Segundo um relatório da Marinha “o massacre provocado pelos U-Boats ao longo de nossa costa do Atlântico em 1942 foi um desastre nacional semelhante àdestruição que sabotadores pudessem ter realizado de meia dúzia de nossas maiores fábricas dematerial bélico.” Nos primeiros seis meses de 1942, em grande parte devido ao sucesso dos U-Boats em águas americanas, as perdas em transporte marítimo dos aliados foram mais de ummilhão de toneladas maiores do que as ocorridas no primeiro semestre do ano anterior.

Certo dia, em Downing Street 10, Lord Moran encontrou Churchill na Sala da Situaçãoolhando fixamente para uma enorme carta marítima do Atlântico pontilhada de alfinetes decabeça preta representando submarinos alemães. “Terrível,” resmungou o primeiro-ministro e,então, virando-se abruptamente, passou de cabeça baixa por seu médico particular sempronunciar mais palavra alguma. “Ele sabe que pode perder a guerra no mar em poucos meses,e não tem condições de fazer coisa alguma a respeito,” escreveu Moran em seu diário. “Eu sóqueria que Deus me concedesse o poder de apagar o incêndio que parece consumi-lo pordentro.”

A crescente perda de tonelagem marítima, por outro lado, representava uma consistentequeda no padrão de vida inglês, com a importação de alimentos mergulhando para menos dametade da movimentação de antes da guerra. As vitórias japonesas no Extremo Orienteexacerbavam o problema, interrompendo as fontes usuais britânicas de chá, arroz, açúcar eoutras mercadorias. Tudo parecia cada vez mais racionado, inclusive carvão, o que foi umverdadeiro infortúnio para os ingleses num dos invernos mais inclementes de que se temmemória.

Em função de todas essas crises que enfrentava, não surpreendeu que a reação da maioriado povo inglês à entrada da América na guerra, um evento havia muito esperado, acabasse nãosendo de irrestrito júbilo. “Simplesmente não podemos ser derrotados com a América ao nossolado,” escreveu Harold Nicolson à esposa. “Mas é muito estranho que uma notícia como essaseja aqui recebida e acolhida sem grandes alegrias. (...) Nem uma só bandeira americana à vistaem toda Londres.”

Entre alguns britânicos, de acordo com uma pesquisa de opinião pública, havia um

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sentimento de “malicioso prazer [173] dado que, finalmente, os americanos iriam sentir ogostinho da guerra.” Muitos cidadãos ingleses achavam que “os americanos deveriam estar nosajudando desde os estágios iniciais do conflito, justamente como os canadenses e osaustralianos,” acrescentou um relatório governamental.

O diplomata canadense Charles Ritchie observou que o ataque a Pearl Harbor “causou umasatisfação, humana e sarcástica, em muitas pessoas com quem me encontrei hoje. (...) A notaamericana de indignação pela traição que os EUA foram vítimas não provocou muito eco poraqui. A atitude tem sido parecida com a de um velho ranzinza que ouve uma moça chorandoporque foi enganada por um homem pela primeira vez. Nós estamos muito acostumados com atraição — vamos deixar que os americanos lidem com os fatos da vida e ver como se saem.” Essa SCHADENFREUDE (alegria com a desgraça alheia) de parte dos ingleses refletia o imensofosso de conhecimento e entendimento que existia entre o país deles e a América no começo daaliança de guerra. “Falando em termos gerais, há uma carência de admiração positiva seja pelasconquistas americanas seja por suas instituições,” concluiu o Ministério da Informação.

Sem sombra de dúvida, os cidadãos de ambas as nações tinham ideias gravementepreconceituosas uns dos outros. Segundo um historiador dos EUA, as primeiras impressões que osamericanos tinham dos ingleses, tiradas de suas lições de história, eram de “casacos vermelhos”assassinos que tentaram destruir os recém-nascidos Estados Unidos durante a GuerraRevolucionária. O general Dwight D. Eisenhower, que iria mais tarde comandar as forças dosaliados no norte da África e na Europa, concordava com tal análise. “As sementes da discórdiaentre nós e os aliados ingleses foram lançadas, de nosso lado, lá atrás, quando lemos na escolanossos livrinhos vermelhos de história,” escreveu Eisenhower a Marshall em 1943.

Todavia, por distorcido que fosse o ensino da história inglesa nos Estados Unidos, pelo menosele era ministrado nas escolas americanas, bem como a literatura inglesa. Em contraste, amaioria dos ingleses quase nada havia aprendido sobre a história e a literatura americanas nosbancos escolares. “Provavelmente, nem um só inglês em vinte poderia explicar o significado de'Boston Tea Party,'” escreveu um historiador inglês. “Nem um entre cinquenta poderia nomearqualquer presidente americano antes de Franklin D. Roosevelt, salvo Lincoln.” Depois que oMinistério da Informação fez uma série de entrevistas com ingleses para aquilatar o que elesconheciam dos Estados Unidos, um dos entrevistadores observou: “Recebi tantos [174] 'Não sei'que até eu comecei a ficar envergonhado.”

Poucos ingleses já tinham conhecido algum americano, e menos ainda haviam atravessado oAtlântico. Quaisquer ideias que tivessem sobre os Estados Unidos e seu povo provinham dosfilmes de Hollywood. Para um jovem funcionário de Whitehall, a América era uma “mistura deescravos no sul, gângsters em Chicago e musicais com Fred Astaire.” Quando o sargento RobertArbib, ex-executivo do ramo da publicidade em Nova York, chegou à Inglaterra com asprimeiras tropas americanas em 1942, foi salpicado com perguntas do tipo “Você é do Texas?,”“Já viu um gângster?” e “Você mora em apartamento de cobertura?”

Perfeitamente cônscio dos mal-entendidos, da falta de conhecimento recíproco e das tensõesentre seus compatriotas e os ingleses, Gil Winant impôs a si mesmo a missão de abrandar taisdificuldades durante a guerra. Como antigo professor de história, acreditava que a educação eracrucial para a criação do entendimento necessário. Sempre que podia escapulir por um dia oudois da agitação crescente em Grosvenor Square, o embaixador viajava pela Inglaterra parafalar sobre a história e a cultura dos Estados Unidos, com especial ênfase para seus vínculos coma Inglaterra. “Espero que vocês ajudem seu país a entender meu país,” disse a um grupo deprofessores. “O tempo que passei na Inglaterra já me ensinou que, em todas as questões

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fundamentais, trabalhamos para um denominador comum.” Ele recrutou Janet Murrow e outrosamericanos que viviam no Reino Unido para fazerem palestras semelhantes e persuadiu oafamado historiador americano Allan Nevins, então professor convidado em Oxford, a escreveruma breve história dos Estados Unidos. O trabalho de Nevins se tornou livro didático requisitadonas escolas inglesas, tanto durante quanto depois da guerra.

Winant “queria que o povo inglês conhecesse o americano como ele o conhecia,” disseWallace Carroll, ex-chefe do serviço de notícias da United Press em Londres. “Desejava quetivessem conhecimento sobre (...) os fazendeiros do entorno de Concord, em New Hampshire.Queria que soubessem sobre os operários das siderúrgicas e indústrias têxteis, das minas decarvão, das ferrovias e estaleiros, para cujo bem-estar ele havia dedicado grande parte de suavida. Ansiava para que eles conhecessem a América que tinha criado a Autoridade do Vale doTennessee e a Câmara de Seguridade Social, e não a América das películas cinematográficas.”

Carroll, que fora correspondente em Londres durante a Blitz, acabou convocado por Winantpara chefiar o serviço americano de informação em Londres, sob os auspícios do Office of WarInformation — OWI (Agência de Informação de Guerra), uma nova organização dos EUA cujamissão era apoiar o esforço de guerra americano com notícias e propaganda para o consumodoméstico e no exterior. Tendo Carroll como diretor, a operação em Londres centrou-se nadifusão de informações objetivas, não de propaganda, endereçadas aos ingleses. Ela repassavaresumos de notícias e outras matérias sobre a América para os jornais, funcionários deWhitehall, parlamentares e cidadãos britânicos comuns. “Concentramo-nos no emprego [175] detodos os meios legítimos para informar [os ingleses] sobre a América, sem tentar vender-lhesquaisquer noções preconcebidas,” lembrou Carroll, “e todos concordamos que não deveríamosfazer esforço algum para esconder verdades desagradáveis.” Pelo final de 1942, graças em parteao serviço de informação, “os jornais ingleses publicavam notícias mais sérias sobre a Américado que em qualquer ocasião desde que a guerra começara,” de acordo com Raymond Daniell,chefe do birô de Londres do New York Times.

Com uma demanda popular crescente na Inglaterra sobre a nova nação aliada, Winanttambém criou uma biblioteca no térreo da embaixada dos EUA em Londres, dirigida aparlamentares, escritores, educadores, editores, estudantes e outros membros do povo inglês quedesejassem acesso a livros, revistas e jornais americanos. Enorme sucesso, a bibliotecadesencadeou a criação, no pós-guerra, de uma rede de locais semelhantes de leitura nasembaixadas dos Estados Unidos em todo o mundo. Janet Murrow, cujo marido seria diretor daU.S. Information Agency vinte anos mais tarde e supervisionaria essas atividades, ressaltou paraos pais que a biblioteca também ajudou a saciar a sede dos expatriados americanos em Londrespor notícias de casa. “Eu gostaria de passar todo o meu tempo lá,” escreveu.

Esses esforços de Winant e de outros para fomentar o entendimento dos Estados Unidos e deseu povo na Inglaterra deram bons frutos. Em Washington, um conhecido de Felix Frankfurter,que acabara de retornar da Inglaterra, fez um relato ao juiz da Suprema Corte sobre “umsurpreendente, novo e profundo interesse lá despertado sobre a América (...) em tal extensão quenão se compara ao interesse ou conhecimento dos assuntos ingleses neste lado.” Frankfurterachava que o governo inglês deveria fazer um esforço educacional semelhante nos EstadosUnidos, para combater a visão popular da Inglaterra entre os americanos de “um povo opressor[176], ele mesmo sob as regras de uma Sociedade à la George III da caça à raposa, das escolastradicionais identificadas pela gravata, do Buckingham Palace.” Como Frankfurter sublinhou, o povo americano dedicava tão pouca afeição aos seus novosaliados do outro lado do Atlântico quanto estes, pelo menos inicialmente, dedicavam a ele.

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Perguntados, numa pesquisa de opinião de 1942, se a Inglaterra fazia todo o possível para ganhara guerra, somente cinquenta por cento dos americanos entrevistados responderamafirmativamente. Muitos compartilhavam do ceticismo dos líderes políticos e militares dos EUAa respeito dos motivos ingleses para travar a guerra; na mesma pesquisa, acima de cinquenta porcento condenaram a política colonial britânica, muito embora, de acordo com os entrevistadores,“o conhecimento factual deles sobre o Império Britânico fosse vago e distorcido.”

Quando Ed Murrow retornou a Londres em março de 1942, após sua residência temporáriade quatro meses nos Estados Unidos, disse a Harold Nicolson que encontrara um “intenso”sentimento antibritânico em sua terra natal. Tal sentimento derivava, registrou Nicolson em seudiário, “em parte do núcleo linha-dura dos anglófobos, em parte da frustração provocada pelaguerra sem vitórias iniciais, em parte do nosso mau desempenho militar em Cingapura e emparte da tendência comum em todos os países beligerantes de culpar os aliados por não fazeremnada.”

Antes de Ed Murrow deixar os Estados Unidos, Harry Hopkins e Robert Sherwood, queestava à frente das operações no estrangeiro da OWI, tentaram convencê-lo a ficar emWashington e se tornar a “Voz da América” do governo dos EUA — seu principal radiodifusorde relatórios noticiosos em língua inglesa transmitido pela OWI para a Europa. Depois de muitomeditar sobre a oferta, Murrow a recusou. Tendo desempenhado papel importante para levar osEstados Unidos à guerra ao lado dos ingleses, ele resolveu passar o restante dela na Inglaterra,fazendo o melhor para estimular um conhecimento mútuo entre seu país e a terra que fora seular pelos cinco anos passados. “Em termos pessoais, seria mais agradável permanecer aqui,”telegrafou a Hopkins, “porém, prevendo tempos difíceis à frente para a aliança anglo-americana,estou convencido de que meu dever é voltar.”

Nos três anos que se seguiriam, nas suas transmissões da CBS e em frequentes participaçõesna BBC, Murrow tentaria esclarecer a política, os traços de personalidades e as características deum aliado para o outro. “Nos conheceremos melhor [177] se tivermos conversas francas entreingleses e americanos,” observou num programa da BBC. “Tenham em mente que somos maisemotivos, estrondosos e intolerantes do que vocês. Vamos a um jogo de beisebol ou de futebolamericano e xingamos o juiz, e até jogamos, às vezes, garrafas de cerveja nele. Nossasdiscussões domésticas são agressivas, muitos palavrões — em suma, temos a propensão de dizero que pensamos, mesmo quando não raciocinamos a respeito.” Murrow também realçousimilaridades: “Nós, como vocês, somos irascíveis e teimosos, com certa gama de variedades decaráter, não desejando comandar ou obedecer, mas queremos ser reis em nossas própriascasas.”

Como parte de sua campanha educacional, Murrow participou de programas especiais, naCBS e na BBC, para tornarem a aliança anglo-americana mais significativa para os EUA e paraa Inglaterra. Houve um esforço comum CBS-BBC, com emissões uma semana originadas naAmérica, e a seguinte na Inglaterra, mas transmitidas simultaneamente nos dois países. Outroespecial foi um seriado em oito partes denominado An American in England (Um Americano naInglaterra), produzido por Murrow e pela BBC e difundido pela CBS.

Murrow também criou uma nova série para a BBC chamada Meet Uncle Sam (Conheça oTio Sam), que um historiador classificou de “curso intensivo sobre a experiência americana paraouvintes ingleses,” com a participação dele próprio e de convidados como Allan Nevins e AlistairCooke, um correspondente da BBC nos Estados Unidos. O programa, Murrow deixou claro, nãopretendia camuflar as deficiências de seu país. “Mais tarde nesta série,” disse no primeiro dosprogramas, “vocês ouvirão tudo acerca do New Deal, de nossos problemas raciais e de como nostornamos uma nação da qual um terço se encontra mal-vestido, mora mal e está mal alimentado.

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Vocês ouvirão também sobre nossas conquistas.” Surpreso com os comentários sinceros, umlocutor da BBC ressaltou no final do programa que “a vigorosa crítica de Murrow a respeito dealgumas coisas americanas soaria mal na boca de um inglês.”

Tal modo direto de se expressar, contudo, sempre esteve no centro da sua filosofia deradiodifusão. “Franqueza e honestidade podem separar América e Inglaterra,” disse Murrowcerta vez, “mas a ficção polida seguramente separa.”

[*]A única satisfação para Churchill, que se encontrava em Washington quando Tobruk capitulou,foi a simpatia e a preocupação demonstradas por Roosevelt e Marshall. A pedido do primeiro-ministro, eles autorizaram imediatamente o envio de trezentos carros de combate americanospara o Oriente Médio com a finalidade de ajudar as defesas inglesas. Abandonando seu mauhumor habitual, Brooke reconheceu que a generosidade americana durante aquele período negro“fez muito para solidificar as fundações da amizade e do entendimento” entre a Inglaterra e osEstados Unidos durante a guerra (Danchev e Todman, War Diaries, p. 269).

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“Um Inglês Falou em Grosvenor Square”

Os esforços de Gil Winant e de Ed Murrow para promover entendimento entre ingleses eamericanos passaram por seu primeiro teste real na primavera de 1942. Foi quando o contingenteinicial de forças americanas chegou à Irlanda do Norte, e os primeiros aviões da 8ª Força Aérea,com suas tripulações, foram sediados no leste da Inglaterra, juntamente com tropas dos serviçosespecializados para a construção de bases aéreas, depósitos e campos de pouso. A Grã-Bretanhapassou então a ser o centro nervoso dos aliados e sua linha de frente na Europa. A partir de lá,seria bombardeado e eventualmente invadido — o Continente.

Pelo verão de 1942, Londres estava inundada de soldados e aviadores americanos emlicença. A maioria dos prédios na Grosvenor Square e em suas proximidades fora requisitadapelos militares e outras agências dos EUA. O número de americanos nas vizinhanças da praçacresceu astronomicamente e com tamanha rapidez que foi escrita uma paródia para a letra dacanção popular “A Nightingale Sang in Berkeley Square” (Um rouxinol cantou em BerkeleySquare), que teve o título modificado para “An Englishman [178] Spoke in Grosvenor Square”(Um inglês falou em Grosvenor Square).

Com a chegada dos americanos, o centro de Londres assumiu “um ar de quase frenéticaurgência,” como notou um residente da cidade. Carros verde-oliva conduziam oficiais de altapatente dos EUA para lá e para cá entre Grosvenor Square e o Ministério da Guerra inglês,distantes entre si uns poucos quilômetros, enquanto mensageiros em motocicletasziguezagueavam pelo tráfego, que parecia tão pesado quanto nos dias pré-guerra. Apartamentose quartos de hotéis ficaram cada vez mais difíceis de encontrar (durante uma das visitas, osChefes de Estado-Maior dos EUA ocuparam nada menos que dezesseis quartos do Claridge's), eem alguns restaurantes tornou-se praticamente impossível fazer uma reserva.

Os policiais militares americanos, conhecidos como “gotas de neve” por causa do capacete edas polainas brancas que usavam, patrulhavam agora Piccadilly e outros locais de grandemovimento; tornaram-se tão familiares no ambiente da cidade que, com o passar do tempo,passaram a receber perguntas sobre endereços e outras informações da capital, não só de GIscomo também de ingleses. Nas tardes de verão, os PMs jogavam beisebol no Green Park,atraindo muitos espectadores portando cobertores e cadeiras de armar para apreciar aquilo quepara a maioria deles era um jogo tão desconhecido como o era críquete para os americanos.

Na realidade, tão americanizada se tornou a Grosvenor Square e cercanias que, nas palavrasde um jornalista dos Estados Unidos, “a visão de [179] uma Union Jack tremulando num prédiodas proximidades parecia uma anomalia.” A South Audley Street se transformou numa “QuintaAvenida em miniatura,” enquanto uma mansão defronte à Stanhope Gate virou clube paraoficiais superiores dos EUA. O Washington Hotel, danificado pelos bombardeios, foi restaurado epassou a servir como clube social e residencial das praças, com pôsteres do oeste e do sulamericanos espalhados por todos os lados, e roscas cobertas de açúcar branco fino sempredisponíveis. Para um repórter do Daily Telegraph , o Washington Club, com suas cadeiras deengraxate e barbearia bem à vista, assim como vasos de flores, parecia bem mais um “clube demilionários” do que um “centro para a rapaziada das roscas” [doughboys], o apelido dos soldadosamericanos na Primeira Guerra Mundial.

A invasão americana, por outro lado, provou ser uma mina de ouro para os loj istas e outros

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pequenos negociantes das proximidades da praça da embaixada. “Não houve alfaiate, sapateiro,lavanderia ou arrumadeiras em nossa vizinhança que não tivessem que fazer horas extras paraatender à freguesia,” observou um londrino. “Enquanto dezoito meses antes, durante as incursõesaéreas noturnas, esses pequenos comerciantes tiveram que aguentar estoicamente seus negócioscom um pedido aqui, outro ali, a prosperidade agora batia à porta deles. Eles então martelavam ecosturavam, passavam a ferro e lavavam, o dia todo e com a noite bem avançada.” Conhecida como “Pequena América,” Grosvenor Square ganhou outro nome —“Eisenhowerplatz” — quando o general Dwight D. Eisenhower chegou em junho para assumir ocomando das forças americanas no teatro de operações europeu. A indicação do oficial-generalde cinquenta e um anos para ser responsável pelas tropas americanas pareceu, à primeira vista,estranha. General pouco conhecido, com modos e sorriso cativantes, Eisenhower jamaiscomandara no Exército unidade maior que batalhão e nunca combatera em guerra. Para grandedesgosto seu, a exemplo de George Marshall, ele desempenhara funções de estado-maiordurante a maior parte de sua carreira; chegara à Europa, vindo de Washington, onde chefiara aDivisão de Planos de Guerra e fora o arquiteto-chefe do plano americano para invadir oContinente europeu.

Todavia, por baixo da personalidade gregária e de fácil relacionamento existia uma menteapurada, uma ambição ardente e determinada, e um temperamento explosivo. Protegido deMarshall, Eisenhower era talentoso organizador e totalmente dedicado ao trabalho. Sobretudo, eraum dos poucos generais americanos não infectados de anglofobia. Desde o início, dispôs-se aestabelecer uma harmoniosa relação de trabalho com os novos aliados de seu país; na realidade,chegou a se descrever como um “fanático” pelo assunto. “Senhores, [180]” disse à sua equipelogo depois de chegar a Londres, “só temos uma chance — apenas uma — de ganhar estaguerra, e é uma parceria completa e incondicional com os ingleses. (...) Minhas atitudes serãosempre regidas por este princípio e espero que os senhores ajam da mesma maneira.”

Não obstante, sua introdução no mundo de nariz empinado da classe alta na qual operavamseus correspondentes ingleses foi cheia de tropeços. Nascido em Abilene, no Kansas, Eisenhowercrescera morando no “outro” lado da ferrovia, o lado errado, sem água encanada ou instalaçõessanitárias dentro de casa. “É inquestionável,” escreveu um de seus biógrafos, “que a pobrezaforjou a ambição do jovem Dwight e sua determinação para se superar [e ser] bem-sucedido.”Contudo, embora disfarçasse bem, suas raízes humildes também o deixavam um profundo sensode insegurança, um medo de parecer caipira do interior — um sentimento não muito incomumentre outros americanos quando se misturavam com as classes inglesas de status elevado. “O queele mais temia era chamar atenção,” disse um de seus assistentes.

Quando Eisenhower visitou a casa de campo de Lord Mountbatten, comandante dasoperações combinadas inglesas, o ostensivo desdém do idoso criado que retirou da mala seusescassos pertences constrangeu tanto o general que ele deixou uma generosa gorjeta ao homem.Também notou menosprezo no presunçoso servente do Claridge's posto à sua disposição, que nãofez segredo da sua falta de apreço pelos gostos simples do chefe militar americano. Eisenhowerdetestou tudo no Claridge's, inclusive sua suíte, com uma sala de estar em dourado e negro —“Faz-me sentir em pecado” — e o quarto “cor-de-rosa bordel.” (Ele se mudou depois para oDorchester, porém lá também não se sentiu mais confortável.)

O general odiava igualmente o redemoinho social da Londres do tempo de guerra. “Adespeito de ser [181] um personagem tremendamente requisitado pelas anfitriãs londrinas, ele setornou uma figura quase tão reclusa quanto Greta Garbo,” lembrou Kay Summersby, a jovemirlandesa que foi sua motorista na capital. “Impacientava-se com tudo quanto tomasse seu tempo

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ou desviasse suas energias da guerra.” Depois de uma recepção promovida por uma socialite,Eisenhower desabafou para Summersby : “Creio que minha pressão arterial não vai aguentar semais uma dessas senhoras palermas me chamar de 'My deeaah general.' Eu não sou 'deeaahgeneral' de ninguém, nem estou travando a guerra por sobre chávenas de chá.” Pouco depois dechegar a Londres, Eisenhower instituiu a semana de trabalho de sete dias no seu comando.“Afinal de contas, isso é guerra,” disse ele. “Estamos aqui para lutar, e não para jantarsaboreando vinhos.”

Em sua aversão a uma presença social demasiadamente ostensiva em Londres, como emmuitos outros aspectos, Eisenhower se assemelhava a Gil Winant, com quem, disse ele maistarde, criou uma cerrada relação e uma amizade íntima. Ambos eram despretensiosos,modestos, detestavam a luz do palco e concentravam toda sua energia no trabalho. Semfrequentarem muito a igreja, eram profundamente religiosos. Acima de tudo, os dois estavamdeterminados a fazer o máximo ao alcance deles para que a aliança anglo-americana fosse umsucesso. “Desde o início do desempenho de suas atribuições, ele fez desse objetivo quase umareligião,” disse de Eisenhower o general Pug Ismay, ligação de Churchill com os Chefes deEstado-Maior. Ao longo de toda a guerra, o general americano foi a voz da razão e daconciliação, mesmo em meio às mais acirradas disputas. Sua ênfase para o trabalho em equipenão recebeu a devida consideração de muitos dos generais dos EUA que, mais tarde, o acusaramde favorecer os ingleses em detrimento dos próprios conterrâneos.

Quando Eisenhower chegou pela primeira vez à capital do Reino Unido, tanto Murrow quantoWinant mostraram-lhe o caminho social e político através dos campos minados. Harry Butcher,assistente pessoal de Eisenhower, registrou em seu diário que o general “experimentavadificuldade para entender quem era importante e quem não era, quem poderia ser visitado equem, evitado. (...) Vali-me de Ed Murrow para nos ajudar na tarefa.”

No meio-tempo, Winant foi em socorro do general para amenizar um espinhoso problemarelacionado com seu hábito de fumar um cigarro atrás do outro. Desde muito jovem, Eisenhowertornara-se inveterado fumante, um vício que foi se intensificando à medida que as pressõesaumentavam. O embaixador seguidamente lembrava ao general que, nos jantares oficiaisingleses, não se deveria fumar quase até o fim da refeição e a troca de brindes, umarecomendação muito esquecida por Eisenhower. Finalmente, para facilitar a vida do general eevitar um inconveniente menor nas relações anglo-americanas, Winant conseguiu providenciarpara que, nos almoços e jantares em que Eisenhower estivesse presente, os brindes fossemtrocados logo após servido o primeiro prato.

Depois de instalar seu quartel-general no nº 20 de Grosvenor Square, oposto diagonalmente àembaixada, o general passou a cruzar muitas vezes a praça para consultar Winant sobre diversasmatérias, e o embaixador fez o mesmo. Os dois conversavam “pessoalmente [182]” sobre quasetudo. Percebendo grandes semelhanças de pensamentos e atitudes com o general, Winant, que sereferia a si mesmo como “outro dos tenentes de Eisenhower,” por vezes solicitava conselhos deleem coisas como o palavreado de um cabograma para Washington. Por sua vez, o generalbuscava a ajuda do embaixador em vários assuntos, inclusive na relação entre o povo inglês e astropas americanas no país.

Em Londres, Winant era o correspondente civil de Eisenhower, dirigindo a equipe daembaixada bem como supervisionando os escalões avançados do número rapidamente crescentede agências civis americanas de tempo de guerra. As operações militares e civis eram de vulto:em 1942, mais de três mil pessoas trabalhavam para o governo dos EUA em Londres, umaquantidade que disparou nos dois anos seguintes.

A própria embaixada passou a ser então o centro nervoso diplomático para a guerra na

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Europa e ponto focal para a coordenação do esforço de guerra aliado. Com 675 funcionários, elaera também a maior legação dos EUA no mundo, requerendo vinte e quatro telefonistas paraadministrar as mais de seis mil chamadas que inundavam a central diariamente. O posto deembaixador “era então um grande cargo quando [Winant] o assumiu; passou então a sergigantesco,” escreveu o New York Herald Tribune . “Seu funcionamento, processos e repartiçõesmais parecem os de um presidente de uma grande corporação.” A carga de Winant era“extremamente pesada,” observou um funcionário inglês. “Tudo, evidentemente, afunilava paraa mesa do embaixador.”

Entre as novas agências que ficaram sob a supervisão do embaixador estavam as daInformação de Guerra, da Câmara da Economia de Guerra e a dos Serviços Estratégicos (Officeof Strategic Services — OSS), a primeira agência oficial americana de inteligência. Equivalenteao Serviço Secreto de Inteligência inglês (MI6), o OSS tinha duas missões principais: obterinformações sobre o inimigo e promover sabotagem nas instalações, armamentos e moral doadversário. Da vigiadíssima sede do OSS, no nº 70 de Grosvenor Square, agentes seriam maistarde despachados para a França e outros países ocupados, assim como para a própriaAlemanha.

Winant era o mau administrador de sempre, faltando a compromissos, deixando gente àespera, esquecendo nomes até de membros de sua equipe. Certa vez, num surto de distração, elesolicitou a Herschel Johnson, seu ministro-conselheiro, que tomasse o ditado de uma carta,enquanto caminhava pelo gabinete. Como número dois da embaixada, Johnson,compreensivelmente, ficou amuado por ter de fazer serviço de taquígrafo; mesmo assim, pegouuma caneta e registrou o ditado de Winant. Poucos dias mais tarde, ao entrar no gabinete doembaixador, Johnsou encontrou de novo Winant ditando uma carta, completamente absorto comas ideias que tentava organizar em palavras. Daquela vez, era o almirante Harold Stark, ex-chefede Operações Navais e então comandante das forças navais americanas no teatro de guerraeuropeu, quem estava sentado numa cadeira e rabiscava freneticamente o que o embaixadordizia.

Todavia, malgrado seus hábitos excêntricos de administração, Winant continuava sendo umlíder inspirador que, nas palavras de Wallace Carroll, “exercia um misterioso [ 183]magnetismo.” Fazendo eco para as ordens de Eisenhower ao seu Estado-Maior, o embaixadorinsistia que todos os funcionários das agências e empregados na embaixada sob suaresponsabilidade tinham que trabalhar como uma equipe. De um modo geral, isso acontecia;segundo praticamente todos os relatos, uma colaboração cerrada e harmoniosa existia entre osmuitos departamentos do governo americano em Londres. “Todos com quem converso (...)concordam que o embaixador Winant é em grande parte responsável pelo elevado grau decooperação que aqui existe entre representantes do Exército, Marinha, Departamento de Estado,Câmara de Economia de Guerra, OWI, OSS e outros,” reportou Bert Andrews, correspondente-chefe em Washington do New York Herald Tribune.

À proporção que Washington de tempo de guerra inflava rapidamente, Andrews devotava amaior parte de seu tempo à divulgação das disputas e conflitos que emergiam entre as agênciasdo governo, todas ambicionando mais poder e influência. “Muitos de nós [184],” lembrou osecretário assistente de Estado Dean Acheson, “gastávamos substancial parte do tempo numaguerra burocrática pela sobrevivência” naquilo que foi chamado “a Batalha de Pennsy lvaniaAvenue.”

Andrews decidiu viajar a Londres “para averiguar se os representantes das agênciasamericanas na Inglaterra estavam se entendendo melhor” do que seus correspondentes em casa.Ficou satisfeito, disse aos seus leitores, por constatar que sim. “O sistema de Winant parece

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funcionar admiravelmente,” concluiu Andrews, “e o cenário é, oh, muito pacífico, comparadocom as brigas de Washington.” Uma figura importante, no entanto, definitivamente não fazia parte do time de Winant. AverellHarriman continuava minando a autoridade do embaixador, comunicando-se diretamente comHopkins e Roosevelt e metendo-se em assuntos das relações anglo-americanas que eram daalçada de Winant. Pior ainda, segundo o jornalista Harrison Salisbury, “Averell enfraqueceubastante a relação do embaixador” com Churchill.

Quando o primeiro-ministro visitou Washington após Pearl Harbor, Harriman cavou junto aChurchill um convite para acompanhá-lo. Mas tão logo chegou, os funcionários americanos, quejá o haviam ignorado em Placentia Bay, mais uma vez não lhe deram atenção. Na opinião dosecretário de Estado Cordell Hull e de outros, Harriman estava extrapolando demasiadamentesua função de “acelerador” do Lend-Lease. Apesar disso, na oportunidade em que Churchill fezuma segunda visita a Roosevelt, em junho de 1942, Harriman estava de novo ao lado doprimeiro-ministro. Dois meses mais tarde, quando o líder inglês decidiu que precisava viajar aMoscou para explicar a Stalin por que não sairia uma Segunda Frente naquele ano, Harrimanpersuadiu Churchill e Anthony Eden que um funcionário americano — ele mesmo — deveriaestar presente às reuniões. Roosevelt, inicialmente, negou permissão para a viagem de Harriman,porém, a pedido de Churchill, que, influenciado pelo homem do Lend-Lease, passou umcabograma ao Presidente insistindo na solicitação, FDR acabou cedendo.

A exemplo do que fizera antes, excluindo Laurence Steinhardt das conversas com Stalin, noano anterior, sobre o programa Lend-Lease, Harriman convenceu Churchill a não convidar osucessor de Steinhardt como embaixador em Moscou, almirante William Standley, para asconversações que iriam se realizar. Ex-chefe de Operações Navais da Marinha dos EUA,Standley ficou furioso com as ambições de Harriman, pois o considerava um amador, “mariposa[185] adejando em torno de luzes e chamas.” Archibald Clark Kerr, o novo embaixador inglês naUnião Soviética, tinha a mesma opinião desairosa sobre Harriman; acreditava que a admiraçãode Churchill pelo americano era só fruto da adulação deste último. “Vez por outra [Churcill]pegava Harriman pela mão e fazia observações do tipo: 'Estou tão satisfeito, Averell, por tê-lopor perto. Você é um pilar de força,'” registrou Clark Kerr, amargamente, em seu diário. “Achoque a presença de Harriman é ruim para Churchill. (...) [Ele] não passa de um rematado puxa-saco.”

Após retornar para Londres, Harriman seguiu comunicando-se frequentemente comChurchill, mas fez questão de não informar Winant de suas tratativas com o líder inglês. Adespeito de todas as suas manifestações públicas de apreço, Harriman em particular depreciavaWinant como um sonhador — idealista por demais, muito preocupado em ajudar seuscompatriotas, insuficientemente pragmático ou duro para operar no mundo cruel da política detempo de guerra. Harriman não podia entender como o embaixador, ocasionalmente, deixavafuncionários ingleses e outros VIPs esperando na antessala enquanto conversava com GIs epessoas sem importância. Era igualmente inconcebível para o representante do Lend-Lease queWinant, quando oferecia uma das suas raras recepções na residência oficial do embaixadoramericano em Kensington, com frequência dava mais atenção aos porteiros, faxineiras e outrosempregados da embaixada, por ele especialmente instados a comparecer, do que aos seusconvidados oficiais. Anos mais tarde, Harriman deixou escapar para Elie Abel, que colaborou napreparação de sua autobiografia, que Roosevelt deveria tê-lo escolhido para embaixador: “Creioque eu poderia ter operado igualmente bem se tivesse sido embaixador acumulando tambémessa missão [Lend-Lease].”

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O desdém de Harriman por Winant foi absorvido também pela filha e por Pamela Churchill.“Ele não é bom escritor ou bom orador,” escreveu Kathleen Harriman para sua irmã sobre oembaixador. “Porém, a despeito disso, todos aqui estão convictos de que ele é um grandehomem, com letras maiúsculas. Anthony Eden se manifestou ontem sobre ele como sendo 'umdos homens que podem influenciar a maré das questões mundiais.' Pobres questões mundiais!” No verão de 1942, Winant apelou a Roosevelt e Harry Hopkins para que ficassem mais bemesclarecidas suas atribuições. Ele pode ter sido considerado, como publicou mais tarde o Times deLondres, uma espécie de “adesivo” na aliança anglo-americana, mas se sentia cada vez maisafastado das deliberações de alto nível e do processo de tomada de decisões dos dois países.“Winant estava muito incomodado [186] com o fato de eu ser um personagem capital nas nossasrelações com Churchill,” observou Harriman para Elie Abel. Ridicularizando o que chamou de“ciúme bobo,” Harriman disse a Abel: “Desconsiderei completamente tudo aquilo.”

Apesar de Harriman, por certo, ser em parte responsável pela exclusão de Winant, o hábitoque Churchill e Roosevelt tinham de se ligarem diretamente, sem dar satisfações aoDepartamento de Estado, ao Foreign Office e às embaixadas de seus respectivos países, tevetambém sua parcela de influência em tal exclusão. Devia-se igualmente ao costume de longotempo do Presidente de enviar seus próprios representantes e delegações para consultas comlíderes estrangeiros sem informar outros membros de seu governo que trabalhavam nas mesmasquestões. Num telegrama a Hopkins, Winant reportou que, quando entrava em contato comministros ingleses sobre determinado problema ou preocupação, muitas vezes os ministrosafirmavam que missões especiais dos EUA já tinham se encarregado da matéria.

O embaixador estava longe de ser a única figura importante que era desbordada pela CasaBranca. Muitos ministros e chefes de agências — entre eles o altamente respeitado secretário daGuerra Henry Stimson — eram da mesma forma isolados da tomada de decisões sobre assuntosque diziam respeito aos seus departamentos. Era do estilo de FDR: manter as rédeas do poder eda autoridade em suas próprias mãos e controlar os programas e políticas que considerava maisimportantes para si mesmo e para o país. “Roosevelt sempre tomava medidas para que elepróprio fosse o juiz e árbitro final,” escreveu um historiador.

Mas nenhum funcionário do governo se incomodava tanto com a exclusão quanto CordellHull. No decorrer de todos os seus onze anos como secretário de Estado, o cortês e grisalhonatural do Tennessee, que sempre passava a impressão de ter acabado de sair de umdaguerreótipo victoriano, quase não teve atuação na formulação da política externa dos EUA.Winant disse a um funcionário inglês que se Hull e Roosevelt “se encontrassem uma vez por mês,sua relação poderia ser considerada muito próxima.” Hull, ex-senador e presidente do ComitêDemocrático Nacional, não fora selecionado por sua experiência no campo das questõesinternacionais — que era zero — mas em função de sua larga influência e do poder político noCapitólio. Nos anos que antecederam imediatamente a Segunda Guerra Mundial e durante aprópria guerra, Roosevelt foi o verdadeiro secretário de Estado, ignorando não só Hull mas oDepartamento de Estado inteiro. Winant, como outros embaixadores americanos, sofreu aspesadas consequências dessa política de exclusão.

Na opinião de James Reston, que conseguiu uma breve licença do New York Times paratrabalhar na embaixada americana em Londres, o tratamento desdenhoso dispensado pela CasaBranca a Winant e aos funcionários do Departamento de Estado que estavam sob suas ordens foiquase uma “calamidade política [187].” Em suas memórias, Reston declarou: “Não me lembrode nada que tenha concorrido tanto para os equívocos da política externa americana quanto atendência para nomear secretários de Estado incompetentes, para contornar o Departamento de

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Estado e para tentar administrá-la a partir da Casa Branca.”Embora Roosevelt não tivesse intenção de diminuir sua comunicação direta com Churchill e

o governo inglês, ele tinha em alta conta o trabalho que Winant fazia em Londres; certa vez disseà amiga Belle Roosevelt que “Há muito pouca gente com estilo presidencial, e um dos que têm éWinant.” Ao tomar conhecimento do desconforto do embaixador, ele tentou remediar a situação.Escreveu a Winant uma carta algo incoerente: “Você está realizando um trabalho magnífico — enão só eu digo isso, garanto que é expressão unânime por aqui. Na realidade, é só surgir umanova função em Washington para alguém sugerir que eu o traga de volta a fim de que você adesempenhe. (...) Logo respondo que não existe ninguém por aqui que eu, ou qualquer outro,possa pensar para substituí-lo em Londres.”

E fez mais, determinou que Harry Hopkins, durante uma de suas viagens a Londres,informasse a Churchill e Harriman que a missão deste último era implementar o Lend-Lease, enão se imiscuir em questões políticas. Hopkins disse ao adido militar da embaixada, generalRaymond Lee: “Dei a Harriman as mais estritas e explícitas instruções para que não se meta emqualquer assunto que seja político de alguma forma. Esse é encargo do embaixador, e só dele.Também assegurei a Churchill que temos neste momento na Inglaterra o melhor, o maisadmirável e o mais qualificado embaixador (...) e solicitei-lhe que tratasse, direta ecompletamente, com Winant sobre todas as matérias que tivessem qualquer conteúdo político.”

Essas instruções, no entanto, eram transmitidas com um piscadela de olho e um cutucão decotovelo. Hopkins, que levava Harriman a tiracolo para todos os seus encontros com Churchill echefes militares ingleses, não tinha intenção de afastar seu amigo do círculo político. Alguém oouviu alertando Harriman para “ser cuidadoso [188]” porque Winant, “afinal de contas, é oembaixador.” Conscientes do modo de pensar do braço direito de FDR, Churchill e Harriman nãoligaram muito para a admoestação presidencial.

Na oportunidade em que Eleanor Roosevelt fez uma visita oficial à Inglaterra, no outono de1942, Hopkins, deixando patente que considerava Harriman o americano-chave em Londres,instou para que ela não se incomodasse com Winant e tratasse diretamente com o administradordo Lend-Lease durante sua estada. A esposa do Presidente se irritou. “Eu conhecia Mr Winant porbastante tempo e tinha grande respeito e admiração por ele, da mesma forma que meu marido,”escreveu mais tarde. “Nem respondi à proposta de Harry, salvo para dizer que conhecia AverellHarriman desde rapaz.” (Ela deixou de mencionar que não o achava grande coisa.) “Harrysempre teve a propensão de apoiar primordialmente os amigos (...) Creio que ele nuncarealmente conheceu ou entendeu Mr Winant.”

Em Londres, Mrs Roosevelt nem ligou para Harriman. Em vez disso, recorreu a Winant paraquase todos os aspectos da visita, inclusive sua breve estada com o Rei e a Rainha no BuckinghamPalace. Como Eisenhower, ela se sentia atemorizada e com um “sentimento de inadequação” sóem pensar na relação social com a aristocracia inglesa, particularmente com o monarca.Eleanor ficou tão nervosa que, de fato, chegou a pensar: “Por que diabos me deixei convencer afazer essa viagem.” Embora Winant tivesse ajudado a afastar algumas de suas preocupações,ela, mais uma vez a exemplo de Eisenhower, ficou envergonhada com a simplicidade de seuvestuário e imaginou o que a criada do Buckingham Palace teria pensado quando retirou ospoucos artigos de suas malas. Anos depois, Mrs Roosevelt comentaria ironicamente que naAmérica, “um país que derramara seu sangue para se tornar independente de um rei, aindahavia enorme veneração pela realeza e pela magnificência que a cerca.”

Quando, em suas memórias, escreveu sobre aquela visita, Mrs Roosevelt registrou que otempo que passou com Winant a ajudou a aprofundar a amizade e aumentar a admiração poraquele homem tímido que “dava pouca atenção [189] ao próprio conforto, porém muita para a

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ajuda aos amigos. (...) Fiquei muito agradecida por toda a assistência que ele me proporcionou evoltei com a sensação de que o embaixador iluminou com sua presença muitos locais sombrios.” Irritado e desencorajado pelo círculo burocrático que o sufocava (“Ele considerava uma afrontapessoal,” disse um de seus assistentes), Winant estava também totalmente exaurido. Comosempre antes fizera — em New Hampshire, Washington e Genebra — trabalhavaincessantemente, até a exaustão. “Ele carregava nos ombros os problemas do mundo,” comentouo adido político Theodore Achilles. “Achava muito difícil relaxar.” O único exercício doembaixador era um ocasional passeio pelos parques de Londres.

A secretária do Trabalho, Frances Perkins, e David Gray, embaixador dos Estados Unidos naIrlanda e tio de Eleanor Roosevelt, estavam entre os muitos amigos de Winant que temiam aquiloque consideravam sua excessiva devoção ao trabalho. Perkins mandou para Winant algumasvitaminas em pílulas para reforçar suas energias. Gray alertou o colega: “Se você arriar, qualserá o resultado? O que importa é sua personalidade e seu senso de valores, e acho que, senecessário, você deveria ser mantido numa redoma de vidro ou, melhor ainda, passar dois ou trêsdias por semana no campo, caminhando até cansar.” Partilhando as preocupações de Gray ePerkins, Anthony Eden mais tarde descreveu Winant como “muito dedicado ao trabalho, sem dara mínima importância à política partidária ou a si mesmo.”

Na verdade, Eden e Winant tinham vários pontos em comum — no desvelo pelo trabalho eem muito mais. O secretário do Exterior, com quarenta e três anos, normalmente ficava em suamesa no Foreign Office desde as primeiras horas da manhã até tarde da noite, só se concedendopoucas horas de sono no pequeno apartamento que mantinha no mesmo prédio. Habilidosonegociador e mestre na diplomacia (“um dos melhores que jamais conheci,” disse Winant),Eden, como o amigo americano, também se via ofuscado e ultrapassado por seu chefe — nocaso, o primeiro-ministro que, repetidas vezes, se metia nas relações exteriores inglesas, campode trabalho do ministro.

Nos anos 1930, Eden era o “menino de ouro” da política inglesa — um atraente e glamorosoherói de guerra e figura de estatura internacional antes mesmo de completar trinta e cinco anos.Era tão popular no país que quando renunciou ao Foreign Office de Neville Chamberlain, em1938, devido à política de apaziguamento do primeiro-ministro em relação a Mussolini, elepoderia muito bem ter disputado a chefia do governo com Chamberlain. Mas, como o próprioEden disse, “Falta-me ousadia [190],” e o bastão da liderança foi cair nas mãos de Churchill.Embora se queixasse, durante toda a guerra, da interferência do primeiro-ministro em sua seara,Eden assim mesmo conseguiu angariar para sua pessoa uma posição altamente influente nasrelações internacionais.

A amizade de Winant com o ministro do Foreign Office era, com exceção de seurelacionamento com Sarah Churchill, a ligação mais importante para ele em Londres. Os doisentravam em contato direto quase todos os dias, fosse pelo telefone, fosse pessoalmente; Winantera uma das poucas pessoas que tinham a chave do elevador particular que levava direto aogabinete do ministro. Nos fins de semana, Eden habitualmente levava Winant para sua casa decampo, em Sussex, onde os dois despachavam seus documentos oficiais numa mesa no jardim.O ministro era entusiasmado jardineiro: “Nunca conheci ninguém,” lembrou Winant, “com tantocarinho por flores, vegetais ou árvores frutíferas, ou tamanho deleite ao apreciar o ventosoprando sobre os campos de trigo ou as verdes pastagens características de Sussex Downs.”Quando precisavam de uma pausa no trabalho, Winant e Eden deixavam a papelada de lado eiam arrancar erva daninha dos jardins. “Colocávamos as pastas de despachos nas duasextremidades,” disse Winant, “e quando completávamos uma fileira, pagávamos o preço de ler

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algumas mensagens e rascunhar as respectivas respostas. Então recomeçávamos o trabalho[limpando os jardins].”

Contudo, por maior que fosse a afinidade com Eden, Winant encontrou maior satisfação noseu profundo envolvimento com Sarah Churchill. Ela tinha se separado de Vic Oliver no fim de1941 e, um pouco mais tarde, embarcou num caso amoroso com Winant. Após deixar Oliver,Sarah abandou a carreira de atriz e alistou-se no WAAF. Independente como sempre, rejeitou aoferta do pai de um emprego na Divisão de Operações do Comando de Caças da RAF e, em vezdisso, tornou-se analista de fotografias aéreas de reconhecimento numa base da RAF emBerkshire. Tratava-se de função muito exigente, submetida a grande pressão e ultrassecreta, masela descobriu, para sua grande satisfação, que se saía muito bem. Entre outras atribuições, Sarahe outros analistas examinavam as fotografias aéreas de instalações navais alemãs, tentandodeterminar e prever os deslocamentos das forças navais do inimigo.

No fim de 1942, na véspera da invasão aliada no norte da África, seu pai lhe disse quase sempoder disfarçar o estado de nervosismo: “Neste exato momento [191], deslizando furtivamentepelo Estreito de Gibraltar e sob o manto protetor da escuridão, estão passando 542 navios paradesembarques na África do Norte.”

“Não exatamente,” disse Sarah. “São 543.”Churchill olhou carrancudo para a filha: “Como você sabe disso?”“Venho trabalhando nisso há três meses.”“E por que não me contou?”“Acho que existe uma coisa chamada salvaguarda das informações.”A carranca de Churchill fechou mais ainda, e Sarah receou que ele fosse repreendê-la pelo

atrevimento. Em vez disso, Churchill sorriu e, no jantar daquela noite em Chequers, relatou, comalguns exageros e alegria, a história de ter na filha Sarah uma rival no conhecimento de fatos daguerra.

Pelo restante da guerra, Sarah levou uma vida dupla: nos dias úteis, em intenso e desgastantetrabalho em Berkshire; e nos fins de semana, em Chequers ou no seu pequeno apartamento naPark Lane, distante cinco minutos a pé da embaixada americana. Winant passava com ela omaior tempo possível. Diferentemente de Harriman e Pamela Churchill, cujo affair já eraconhecido por toda Londres, Sarah e Winant eram excepcionalmente discretos sobre seuenvolvimento. A separação do marido foi mantida em segredo, salvo da família e dos amigos;para manter as aparências, Sarah, ocasionalmente, aparecia em público com Oliver. Como osdois, ela e Winant, ainda mantinham casamentos, se bem que infelizes, a filha de Churchillresolveu evitar um escândalo que, da sua perspectiva, causaria grandes estragos tanto paraWinant quanto para seu adorado pai.

Por mais cuidadosos que fossem, no entanto, tornou-se impossível manter o caso emcompleto segredo. Diversas pessoas próximas ao primeiro-ministro, inclusive John Colville,tomaram conhecimento dele, até o próprio Churchill, acreditava Sarah. Anos mais tarde, elaescreveria melancolicamente sobre esse “caso de amor de que meu pai suspeitava, mas que arespeito do qual não fez comentário nenhum.”

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“Ele Nunca Nos Abandonará”

Enquanto se equilibrava qual malabarista em meio à enormidade de problemas, profissionais epessoais que enfrentou na primavera e no verão de 1942, Winant recebeu uma chamadatelefônica de Clement Attlee, líder do Partido Trabalhista e vice-primeiro-ministro. Attlee disseao embaixador que precisava de sua ajuda para resolver uma urgente crise interna, que poucotinha a ver com a aliança anglo-americana.

No começo de junho, mineiros de carvão do norte da Inglaterra haviam entrado em greve, oque representava grave ameaça para a produção de guerra do país e para sua economiaperigosamente frágil, numa ocasião em que a situação militar dos aliados parecia ter atingido onadir. Com os alemães prestes a tomar o Canal de Suez e, aparentemente, próximos da vitória naUnião Soviética, tratava-se do pior momento possível para uma greve na indústria do carvão —posição que Attlee, Ernest Bevin e outros membros do Partido Trabalhista no governo de coalizãofizeram questão de ressaltar enquanto tentavam persuadir os mineiros a terminarem com ainterrupção. Os grevistas, no entanto, se mostraram irredutíveis. Foi então que Attlee recorreu aWinant. Poderia ele viajar a Durham para ajudar a acabar com o impasse?

Envolver o embaixador dos Estados Unidos numa disputa trabalhista inglesa era, por todos ospadrões, uma ideia exótica, até revolucionária. Mas Attlee, que era amigo de Winant desdemeados dos anos 1930, sabia quão popular era o embaixador americano entre os trabalhadoresbritânicos. Nos seus dias de OIT, Winant fizera um giro, a pedido do Partido Trabalhista, pelasregiões mais atingidas da Inglaterra pela depressão econômica e recomendou medidas paraamenizar o desemprego generalizado. Como embaixador, realizara também diversas viagenspara fora de Londres, visitando mineiros e outros operários das indústrias. “Ele possuía inusitado[192] entendimento dos trabalhadores,” observou um de seus colegas de OIT. “Provinha defamília abastada, mas conseguia se expressar com o mesmo linguajar de Bevin, nascido e criadono meio trabalhador.”

Em uma das viagens ao sul de Gales, Winant foi apresentado a dois mineiros aposentados,que se encontravam postados na margem da estrada, e com eles se engajou em animadaconversa. “Os três pareceram se entender [193] perfeitamente bem,” observou Arthur Jenkins,parlamentar trabalhista que fizera as apresentações. “Diversas vezes depois daquele dia,encontrei-me com aqueles dois mineiros, e eles sempre perguntaram pelo embaixador. Ospoucos minutos que passaram juntos bastaram para que John Winant conquistasse a admiraçãodeles.” Jenkins acrescentou. “A maioria das pessoas neste país sente que quase qualquerproblema pode ser satisfatoriamente equacionado se puderem ser reunidos numa sala denegociações homens com as qualidades do embaixador.”

Quando Wallace Carroll, da Agência de Informação de Guerra, empreendeu longa jornadapor toda a Inglaterra durante a guerra, por onde passou foi também perguntado a respeito doembaixador. “Caso se estivesse entre os mineiros de Gales, eles diziam: 'Aquele tal de Winant éum cara legal.' Se fosse entre os trabalhadores da indústria têxtil do Lancashire ou entre osoperários dos estaleiros ao longo do Clyde, a frase era: 'Conhecemos Winant — ele nunca nosabandonará.'” Winant não precisava que Attlee lhe dissesse quão perigosa para a Inglaterra seria uma

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prolongada greve dos mineiros de carvão. O carvão era o sangue de vida da indústria britânica, esua produção, nas palavras de um historiador, “era tão essencial para a vitória militar inglesaquanto as ações no campo de batalha.” Contudo, o trabalho nas minas de carvão era, comosempre fora, perigoso, miserável e muito mal remunerado. Os mineiros desciam aprofundidades próximas dos mil metros para ingressar na escuridão das galerias; trabalhavamem posições agachadas nos túneis apertados durante as sete ou mais horas de cada turno;inalavam vapores tóxicos e poeira do carvão; arriscavam-se a ferimentos e morte todos os dias;e, em troca, recebiam salários que mal davam para evitar a fome em suas famílias.

Interessados primordialmente nos lucros rápidos, os proprietários de minas, em sua maiorparte, pouco ou nada faziam para modernizar as operações e melhorar as condições de trabalho,as quais, de acordo com um observador, “mais pareciam o trabalho nas galés [de escravos]exibidas nos filmes do que as condições modernas do labor industrial.” Nos vinte anos anteriores,o número de mineiros de carvão decrescera dramaticamente. Os rapazes das regiões carvoeirascada vez mais procuravam empregos em outras áreas; quando a guerra começou, elesconfluíram para as seções de alistamento nas forças armadas. No meio-tempo, a produtividadedos que ainda permaneceram nas minas foi se tornando claramente inferior, resultando em sériainsuficiência de carvão, que se traduzia não apenas em problemas para a produção de guerra,como também em dificuldades para o aquecimento das residências inglesas.

Na oportunidade em que começaram as hostilidades, rigorosas medidas do governo,inclusive controle de salários e proibição de greves, foram impostas aos mineiros. Em troca,foram-lhe prometidos aumentos e melhoras nas condições de trabalho. Tais promessas,entretanto, nem sempre se concretizaram. Em 1941, por exemplo, a administração de uma minaem Northumberland pediu a seus operários que aumentassem a produção; quando elesconcordaram e, com grande esforço, conseguiram, foram solicitados a aceitar um corte nossalários.

Irritados com o que consideravam exploração da parte dos empregadores e do governo, osmineiros que entraram em greve no verão de 1942 julgaram que já era hora de alguémcomeçar a pensar neles. Como outros britânicos, eles se conformaram com as rigorosasregulamentações e controles de tempo de guerra aplicados pelo estado sobre seus cidadãos,assim como com a perda de grande parte de seus direitos individuais. No começo da guerra, ogoverno recebeu um cheque em branco para fazer virtualmente o que quisesse para garantir asegurança pública e travar a guerra. Preciosas liberdades inglesas, como o habeas corpus, forampostas de lado. Funcionários receberam autoridade para prender por tempo indeterminado, semjulgamento, qualquer pessoa considerada perigosa para o interesse público. Também podiamreprimir manifestações; requisitar, sem indenização, qualquer prédio ou outra propriedade, deum cavalo a uma ferrovia; dizer aos granjeiros o que deveriam plantar e o que fazer com suassafras; e entrar em qualquer residência sem mandado judicial ou aviso prévio.

Ao mesmo tempo, o governo mobilizou a vasta maioria dos adultos da nação para participardiretamente do esforço de guerra; no final de 1941, a Inglaterra tornou-se o primeiro paísindustrializado importante a convocar o sexo feminino para o trabalho de guerra. Como EdMurrow disse aos seus ouvintes: “Tudo, com exceção [194] da consciência, pode agora serconvocado por este país.” Por volta de 1943, o nível do controle governamental sobre seu povo“tornou-se tão apertado,” escreveu o historiador Angus Calder, “que se pode dizer, sem muitoexagero, que toda costureira e guarda ferroviário (...) eram uma parte tão crucial do esforçonacional quanto os soldados ou montadores de aviões nas linhas de produção.”

Apesar de a maioria “odiar com o senso [195] de violação da dignidade pessoal ferida quetêm os ingleses esse labirinto de complexidades chamado 'controles do governo,' grande parte

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reconhecia a necessidade desses controles durante a guerra. Os civis ingleses, como os soldadosnos campos de batalha distantes, estavam nas linhas de frente desde o verão de 1940. Que nem astropas britânicas, haviam se sacrificado e tinham sofrido bastante por seu país; muitospereceram. Agora, achavam que o governo lhes devia alguma coisa em troca — a promessa dereformas de monta, após a guerra, que dessem um fim à rígida sociedade inglesa de classes depré-guerra, e promovesse a justiça social e a oportunidade econômica para todos. Ao longo daguerra, recordou-se o escritor C.P. Snow, os britânicos tinham duas preocupações principais: “oque iriam comer no dia de hoje e o que aconteceria com a Inglaterra amanhã; é importantelembrar o idealismo de todos naqueles dias, a despeito dos rigores e da pressão da guerra.”

Os mesmos ideais e esperanças eram partilhados por boa parte dos americanos quetemporariamente viviam na Inglaterra durante a guerra. Entre eles, Winant, Murrow e EleanorRoosevelt, a qual, no decorrer de sua visita ao país em 1942, ficara deleitada ao ver mulheresingleses, de todas as origens, trabalhando juntas no esforço de guerra. “Essas Ilhas Britânicas,”escreveu mais tarde, “que foram sempre consideradas estratificadas em classes, um lugar emque as pessoas ficavam praticamente congeladas em suas respectivas classes, raramenteexperimentando a mobilidade social vertical, foram amalgamadas juntas pela guerra numacomunidade tão estritamente emaranhada que as antigas distinções perderam o sentido.”

De sua parte, Murrow antevira a fusão da velha Inglaterra e o forjamento de uma novanação tão logo cessasse o inferno da Blitz. Se essa guerra objetiva alguma coisa, pensou ele, é obem-estar e o futuro das pessoas comuns. A guerra tinha outro propósito que transcendia aderrota da Alemanha e certamente ia além da restauração do status quo ante. O mundo pós-guerra teria de se comprometer com a erradicação da pobreza, da desigualdade e da injustiça.

Em 1940, enquanto a Inglaterra lutava por sua sobrevivência, Murrow já levantava questõessobre o futuro pós-guerra. “Quais são os objetivos de guerra deste país?” — perguntou numprograma. “O que deveremos fazer com a vitória quando ela for alcançada? Que espécie deEuropa será construída depois de passada toda essa tensão?” Murrow disse aos seus ouvintesamericanos: “Tem de haver igualdade sob as bombas.” O trabalhador inglês “precisa seconvencer de que, depois de tudo o que sofreu, um mundo melhor emergirá.”

A visão de Murrow de um bravo novo mundo era compartilhada por diversos outroscorrespondentes americanos em Londres. “Nós conversávamos [196] sobre o assunto, Ed e eu,Scotty Reston e outros,” lembrou Eric Sevareid. “Julgávamos que talvez uma coisa maravilhosaestivesse acontecendo com o povo inglês. Uma espécie de revolução moral se realizava, e, comoresultado, surgiria o renascimento de um grande povo. (...) Pela primeira vez, sentiu-se que aguerra poderia ter um significado positivo.” Contudo, para Winston Churchill, discussões desse tipo eram pura conversa fiada. Seu únicoobjetivo em 1942 era a vitória sobre o Eixo, e ele se ressentia com o levantamento de questõesque considerava irrelevantes, defletoras do foco, que provavelmente causariam fricções dentrodo governo de coalizão. “Para Winston, a guerra é um fim em si mesma, e não um meio paradeterminado fim,” registrou Lord Moran em seu diário. “Ela o fascina, ele a ama (...) nãoacredita nem está interessado no que virá depois dela.”

Aos sessenta e sete anos de idade, Churchill estava muito longe dos anos de jovem ministroliberal do Gabinete, quando emergiu por breve período como reformador social. Junto comDavid Lloyd George, ele fora a mola propulsora para a introdução de reformas importantes nobem-estar social da Inglaterra pouco depois da virada do século, inclusive providências parareduzir a pobreza e o desemprego. Diferente de Lloyd George, no entanto, Churchill não era — enunca seria — um radical social. Suas visões da sociedade tendiam a ser extremamente

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paternalistas, tal e qual um “velho e benevolente latifundiário tory,” disse o trabalhista HerbertMorrison, “que faz o que pode por sua gente — desde que ela seja boa e obediente, e saiba, exatae lealmente, qual o lugar dela e o dele.”

Como Clementine Churchill confidenciou certa vez a Lord Moran, o primeiro-ministro nãosabia praticamente nada a respeito de como viviam os ingleses comuns — e não tinha o menorinteresse em corrigir tal deficiência. “Ele nunca andou de ônibus,” disse Clementine, “e só umavez de metrô. Foi durante a Greve Geral (1926) quando eu o larguei na estação de SouthKensington. Depois do trajeto, ele ficou rodando que nem peru sem saber como sair da estação eteve que ser, no final, resgatado.” Com alguma veemência, acrescentou: “Winston é egoísta. (...)Vê você, ele teve sempre a capacidade e a força para levar a vida exatamente como gostaria.”

Ainda assim, a despeito do enorme abismo que existia entre ele e a maioria de seusconcidadãos, Churchill teve habilidade suficiente para estabelecer uma ligação quase místicacom eles no que tange ao combate na guerra. Mesmo antes de se tornar primeiro-ministro, jáhavia inspirado o povo inglês com sua determinação de lutar contra o inimigo até o fim, fossequal fosse o custo. Como Primeiro Lord do Almirantado, de setembro de 1939 a maio de 1940,despontara como a figura mais popular da nação. “Em Mr Churchill,” [197] escreveu o editorKingsley Martin, “vimos um homem de ação, que (...) fez-nos lembrar que, não importava o quefôssemos ou pensássemos que fôssemos, havíamos nascido e sido criados ingleses, e inglesesteríamos então que viver ou morrer.”

Como Martin deu a entender, Churchill e o povo inglês partilhavam muitas das mesmasqualidades — determinação inabalável, coragem, energia e combatividade. Quando viajaramcom o primeiro-ministro durante a Blitz, Winant e Averell Harriman testemunharam a grandeafinidade que ele tinha com seus compatriotas, que se aglomeravam à sua volta aonde fosse.Três anos depois, no dia da Vitória na Europa (V-E Day ), Churchill assomaria em uma dassacadas de Whitehall e declararia para o mar delirante de gente reunida de pé à sua frente. “Essaé a vossa vitória.” Como uma só voz, a resposta vinha retumbante: “Não, é sua.”

Porém, quando se tratava de política social, não havia quase conexão entre Churchill e seupovo — fato que se evidenciou com a reação do primeiro-ministro e seu governo à publicação doRelatório Beveridge, no fim de 1942. Levando o nome de seu autor principal, Sir WilliamBeveridge, o relatório propunha a criação de uma rede de seguridade social para assegurar umpadrão mínimo de vida para todos os britânicos, que abarcava bolsa de família, um serviçonacional de saúde e uma política de pleno emprego.

O povo ficou muito entusiasmado com o relatório, que foi descrito como uma Carta Magnasocial e se tornou de imediato um campeão de vendas. Os londrinos permaneciam horas nas filas“para comprar o pesado tijolo sobre economia, que custava dois shillings, como se fosse manánão racionado caído do céu,” escreveu Mollie Panter-Downes na New Yorker . Pelo restante daguerra, as reformas propostas no Relatório Beveridge dominaram o debate político na Grã-Bretanha. Enquanto muitos membros do Partido Trabalhista demandavam que o governocomeçasse logo as discussões sobre a maneira de implementar aquele plano social para o futuro,Churchill e a maioria dos tories resistiam a tais ideias. O primeiro-ministro via o relatório comoinoportuno desvio das atenções do esforço de guerra, e suas propostas, como demasiadamenteonerosas para uma Inglaterra, que estava economicamente frágil, assumir antes que a guerraterminasse. Da sua perspectiva, o autor do documento, ex-diretor da London School ofEconomics, não passava de “um parlapatão [198], um sonhador.” Outros funcionários dogoverno fizeram de tudo para ignorar o relatório, recusando-se a debatê-lo ou dar-lhe qualquerpublicidade oficial.

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Ardente defensor dos objetivos do Plano Beveridge, Gil Winant ficou decepcionado com areação hostil de Churchill à noção de reformas sociais no pós-guerra. Como Murrow, oembaixador tinha ligação estreita com Beveridge e com muitos outros proeminentes intelectuaise escritores de esquerda na Inglaterra, inclusive Harold Laski, H.G. Wells, R.H. Tawney e JohnMay nard Key nes. Winant passara muitas noites na cozinha do porão na casa de Keynes, emBloomsbury ; por seu lado, oferecera pequenos jantares a Key nes, Laski e outros no seuapartamento em Grosvenor Square, onde discussões de longo alcance tinham lugar a respeito doplanejamento do mundo pós-guerra, discussões madrugada adentro.

Por décadas, o foco principal de Winant vinha sendo a justiça social e o esforço por criaruma vida melhor para os trabalhadores, homens e mulheres, de todo o mundo. “Quando a guerrafor vencida pela democracia, precisamos estar preparados para ganhar a paz,” disse ele no diaque foi nomeado embaixador na Inglaterra. Poucos meses antes, ele conversara com WilliamShirer sobre suas ideias para a reconstrução pós-guerra da Europa e para a formulação de umaeconomia de paz “sem as mazelas, o vasto desemprego, deflação e depressão, que se seguiram àúltima guerra.” Num programa da BBC, declarou: “Existe uma profunda conscientização de quea paz e a justiça social devem andar de braços dados.” Desde que chegou à Inglaterra, ospronunciamentos de Winant e suas conversas em particular eram centradas na necessidade depersuadir as nações do mundo “a se concentrarem em coisas que unem a humanidade, e nãonaquelas que a dividem.”

Roosevelt o enviara à Inglaterra precisamente em razão de suas relações com os políticos eintelectuais de esquerda, os quais, acreditava o Presidente, assumiriam a liderança do paísdurante ou imediatamente após o conflito. Porém, no desempenho das funções de embaixador,ele se tornara também amigo pessoal de Churchill. Recusando-se a desistir de modificar asnoções que o primeiro-ministro tinha a respeito de reformas sociais, Winant, ocasionalmente,tentou atraí-lo para a direção correta. Numa oportunidade em que Churchill, em reunião deempregadores e representantes de empregados, elogiou os membros dos sindicatos por abriremmão de certos direitos durante a guerra, o embaixador, falando no mesmo encontro,diplomaticamente encorajou o líder inglês a dedicar mais consideração às necessidades dostrabalhadores. Combater o inimigo, disse ele, “requer não apenas [199] capacidade, trabalhoduro e equipamentos, mas também um entendimento que mostre sensibilidade à devotadalealdade do povo.” Em 6 de junho de 1942, o embaixador dos Estados Unidos já olhava pela janela do trem para adesolada e desanimadora paisagem dos distritos ingleses produtores de carvão do nordeste daInglaterra. Ele aceitara a solicitação de ajuda de Clement Attlee para pôr fim à greve dosmineiros, e os dois estavam, então, a caminho de Durham, onde líderes de sindicatos e mais dequatrocentos delegados, representando milhares de trabalhadores em greve, os esperavam.

Quando ele e Attlee entraram no sombrio salão do sindicato, Winant foi recepcionado commuito entusiasmo pelos mineiros. Imediatamente, começou seu pronunciamento que, semmencionar greves, assemelhou a batalha contra o fascismo com a luta pela democracia social.Os mineiros e outros operários, disse, estavam na linha de frente como os soldados emcampanha, e com a mesma responsabilidade pelo prosseguimento do combate. “Vocês, quesofreram tão profundamente nos longos anos da Depressão, sabem que temos que nos envolvercom uma grande ofensiva social se quisermos vencer a guerra por completo. Não se trata deuma tarefa militar de curto prazo. Precisamos decidir solenemente que, na nossa ordem socialfutura, não toleraremos os males econômicos que germinaram a pobreza e a guerra.” Então,numa arguta e sutil admoestação ao governo britânico, Winant acrescentou: “Isso não é alguma

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coisa que deva ser colocada na prateleira durante o conflito armado. Isso é parte da guerra.”Foi um dos mais brilhantes discursos de Winant. Sua habitual hesitação no início, as longas

pausas e o tropeço nas palavras, sumiram por completo quando ele ofereceu, com intensidadeapaixonada, sua visão para um novo mundo pós-guerra. Inclinados para a frente em suascadeiras, os mineiros não perdiam uma só palavra.

“O que queremos não é complicado,” afirmou o embaixador. “Temos suficienteconhecimento técnico e capacidade de organização. (...) E temos suficiente coragem. É misterque coloquemos tudo isso em prática. Quando a guerra acabar, a impulsão por tanques tem de setransformar numa impulsão por habitações. A impulsão por alimentos, para evitar que o inimigonos leve à inanição, tem de se tornar uma impulsão por empregos, para fazer com que o desejode liberdade se torne uma realidade palpável. (...) Da mesma forma que os povos dasdemocracias se encontram hoje unidos por um objetivo comum, nós estamos comprometidoscom um objetivo comum para o amanhã. Estamos comprometidos com a criação dademocracia popular.”

Os olhos de Winant passearam pela audiência. “Temos sempre que lembrar,” disse oembaixador, “que são as coisas do espírito que no fim prevalecem. Que a preocupação com aspessoas faz sentido. Que onde não existe visão ampla, o povo perece. Que esperança e fé sãoimportantes, e que sem caridade não existe nada de bom. Que, ao ousarmos viverperigosamente, estamos aprendendo a viver com generosidade. E que, por acreditarmos nabondade inerente ao homem, podemos atender à conclamação de seu primeiro-ministro e 'noslançarmos à frente no desconhecido com crescente confiança.'”

Quando Winant terminou, houve um longo silêncio, seguido de uma explosão de aplausos e otroar de brados de “Hear, hear! ” (Apoiado, apoiado). Pela hora e meia seguinte, os mineiroscrivaram o embaixador de perguntas sobre a América, a guerra e a situação mundial. Depois,ele foi engolido por exaltado aglomerado de mineiros que queriam apertar-lhe a mão eagradecer sua vinda. “Achamos, [200] Sir,” exclamou o tesoureiro do sindicato, “que o senhor éum grande sujeito.” Poucas horas depois, os mineiros em greve de Durham votaram pela voltaao trabalho, como também o fizeram os mineiros de Lancashire e Yorkshire.

“WINANT FALA, GREVE TERMINA” estampou em grande manchete o Daily Express dodia seguinte. Lamentando o atraso do governo inglês na definição do mundo do pós-guerra, oDaily Herald comparou o discurso de Winant com o de Lincoln pronunciado em Getty sburg, nasua exortação por “uma nova e maior emancipação mundial.” O Herald instou para que aspalavras do embaixador “fossem fixadas na memória, repetidas nas escolas e pregadas em todasas igrejas.” O Manchester Guardian, nesse ínterim, exaltou as observações de Winant como “umdos maiores discursos da guerra.”

Todavia, apesar de a eloquência do embaixador ter ajudado a resolver a greve dos mineiros,a questão maior dos objetivos do conflito armado — quais eram as razões para se travar aguerra? — permaneceu uma contenda. Poucos meses depois da greve, tal questão estaria no seiode uma terrível controvérsia sobre a Operação Torch , o assalto anglo-americano ao norte daÁfrica. Winant e Murrow seriam novamente envolvidos, porém, dessa vez, em lados opostos.Murrow iria desafiar ostensivamente sua rede de radiodifusão e o governo dos EUA, enquantoWinant seria compelido a defender uma política que, no âmbito privado, acreditava sertragicamente equivocada.

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“Combatemos os Názis ou

Dormimos Com Eles?”

O general escolhido para comandar a invasão da África do Norte ficou alarmado com a novamissão. Dwight Eisenhower fora enviado à Inglaterra para supervisionar a organização dasforças americanas naquele país e, pensava ele, para preparar um desembarque dos aliados naFrança. Esse fora o esquema que formulara como chefe do planejamento de guerra emWashington e sobre o qual ele e George Marshall vinham trabalhando os sete meses anteriores.Porém, para insatisfação dos dois generais, Winston Churchill convencera Roosevelt em julho deque o assalto inicial anglo-americano deveria ter lugar no norte da África, mais tarde naquelemesmo ano. Na opinião de Eisenhower, o dia em que Roosevelt concordou com Churchill foi “omais negro [202] da história.”

Inflexíveis quanto ao fato de os aliados não possuírem os meios para desafiar Hitler noContinente, os ingleses argumentaram que um desembarque na periferia da África, na verdade,abriria o caminho para um bem-sucedido ataque final contra a Europa. Após o estabelecimentodo controle no norte francês da África, os aliados progrediriam para o leste na direção daretaguarda de Rommel e seu Afrika Korps, enquanto o VIII Exército britânico atacaria osalemães a partir do leste. Como os ingleses viam a situação, a expulsão das forças alemãs daregião não apenas salvaria o Egito e o Canal de Suez como também reabriria o Mediterrâneopara os navios de suprimentos e de transporte de tropas dos aliados, que eram então obrigados anavegar milhares de milhas para chegarem ao Oriente Médio e à Índia. Na avaliação de AlanBrooke, uma vitória no norte da África liberaria pelo menos um milhão de toneladas detransporte marítimo para emprego numa operação ofensiva de larga escala no Continente.

Roosevelt, no entanto, foi menos convencido pela argumentação do transporte marítimo doque pelo fato de as tropas americanas poderem, finalmente, entrar em ação contra os alemães.Em resposta à incessante exigência de Stalin por uma Segunda Frente, o Presidente tinhaprometido, em maio, ao ministro do Exterior soviético, que os aliados esperavam abrir tal frentemais tarde naquele ano. FDR percebia também o crescente desassossego do povo americanoque, depois de Pearl Harbor, considerava o Japão, e não a Alemanha, o principal inimigo do país.A menos que as forças dos EUA fossem enviadas com rapidez ao teatro de operações europeu,as pressões do Congresso e do povo poderiam levar a um maciço desvio dos recursos americanospara a luta contra o Japão. “Apenas com grande esforço [203] intelectual,” Henry Stimsonescreveu a Churchill, o povo americano fora “convencido de que a Alemanha era seu maisperigoso inimigo e deveria ser combatida antes do Japão.”

Em troca pela sua aquiescência à operação no norte da África, Roosevelt insistiu que lhefosse consentido estabelecer a maioria de suas diretrizes. Sobretudo, disse ele, a operação terá deser predominantemente americana, com um comandante americano, para amenizar aresistência das forças da França de Vichy na África Norte. Quando a França capitulara para aAlemanha, em junho de 1940, o governo francês, sob seu novo presidente, marechal PhilippePétain, recebera autorização de Hitler para se instalar em Vichy, uma cidade no centro daFrança. Os franceses, disse FDR a Churchill, muito provavelmente resistiram menos às tropas dosEUA que às inglesas, que haviam destruído, dois anos antes, a maior parte da esquadra francesano porto argelino de Oran, e apoiavam Charles de Gaulle, o general rebelde que escapara para

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Londres a fim de congregar os franceses contra Vichy e contra o Reich.Ao contrário dos ingleses, os americanos haviam mantido relações diplomáticas com o

governo de Vichy , que tinha permissão dos alemães para manter o controle sobre o norte francêsda África e sobre as outras possessões coloniais do país, assim como sobre sua esquadra. Ogoverno Roosevelt suportou severas críticas em casa por suas ligações com Vichy, que tinhacolaborado com os názis e imposto um regime autoritário na região que controlava no sul daFrança. Os funcionários de Vichy haviam instituído políticas repressivas contra os judeus bemantes de receberam ordens alemãs para fazê-lo e, mais tarde, ajudaram os názis a arrebanharjudeus com a finalidade de deportá-los para campos de concentração ou de extermínio. Naocasião em que eram contratados, os policiais de Vichy tinham que fazer o seguinte juramento:“Juro lutar contra a democracia, contra a insurreição gaullista e contra a lepra judaica.” Nãoobstante, Roosevelt acreditava que, a despeito de todos os seus pecados, era importante manteruma boa relação com os líderes de Vichy , os quais, esperava FDR, manteriam o norte francês daÁfrica e a esquadra longe da mão dos názis e, talvez em determinada oportunidade, passassempara o lado dos aliados.

Ao mesmo tempo, o Presidente desenvolveu grande aversão pelo arrogante e difícil deGaulle, embora não o conhecesse pessoalmente. Outra condição dos Estados Unidos para a Torchfoi a exclusão do general e de seus Franceses Livres da operação. Além disso, Rooseveltdeterminou que de Gaulle não recebesse qualquer informação prévia sobre os desembarques“não importa quão [204] irritado ou irritante ele possa ficar.” Tendo vencido a batalha do assaltoao norte da África, Churchill se mostrou mais do que satisfeito por concordar com os termos deRoosevelt. “Considero-me seu tenente,” telegrafou ao Presidente. “Essa é uma empreitadaamericana na qual somos seus meros coadjuvantes.”

Era, entretanto, uma empreitada que Eisenhower considerava, em todos os escalões, umpesadelo. Ele e seus subordinados tinham apenas uns poucos meses para planejar um dos maisaudaciosos desembarques anfíbios da história, pois envolveria duas forças de assalto trazidas dosEstados Unidos e da Inglaterra para as praias de um continente “onde nenhuma campanhamilitar de vulto fora travada por séculos.” Como assessor militar de Churchill, Pug Ismayobservou em suas memórias que qualquer operação anfíbia era um feito extremamente difícil.Requeria “pessoal altamente treinado, grande variedade de equipamentos, detalhadoconhecimento dos pontos de desembarque, acuradas informações sobre as possibilidades edispositivos do inimigo e, talvez se sobrepondo a tudo isso, meticulosos planejamento epreparação.” Podia-se dizer que a Torch não satisfazia a nenhuma dessas condições.

Eisenhower e seus subordinados se preocupavam com o aprestamento para a batalha dastropas americanas do assalto, a maioria das quais recebera pouco ou nenhum treinamento decombate. De fato, alguns não tinham aprendido a carregar, apontar ou atirar com um fuzil atéque já estavam embarcados nos navios que os transportavam para o norte da África. O comandoamericano também se mostrava apreensivo com os poucos armamentos, suprimentos e naviosdisponíveis para uma empresa de tal vulto. “Ainda vivíamos uma situação de escassez,” escreveuEisenhower mais tarde. “Não havia de coisa alguma o que se conhece por plenitude.” E, atépoucas semanas antes do deslanchar da invasão, ainda se argumentava furiosamente sobre oslocais em que os desembarques iriam se realizar.

Os ingleses queriam tocar o litoral o mais a leste possível, de modo que as tropas pudessemse deslocar rapidamente para a Tunísia, objetivo principal da Torch, a fim de impedir odesembarque de forças adicionais alemãs e assumir o controle de Túnis e Bizerta, os doisprincipais portos de águas profundas do país. Segundo o cenário esperado pelos ingleses, Rommelver-se-ia então encurralado entre as forças da Torch e as do VIII Exército inglês. Eisenhower

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apoiava o plano dos ingleses, mas foi contrariado por Marshall e seus assessores, receosos de que,por desembarcarem tão a leste, os aliados é que poderiam cair em cilada — atacados naretaguarda por tropas alemãs que avançassem através da neutra Espanha. Os oficiais americanosdos altos escalões insistiam que as forças de assalto tinham que desembarcar em Casablanca, nacosta atlântica do Marrocos, cerca de mil e quinhentos quilômetros a oeste de Túnis. EmboraChurchill achasse que Marshall estava sendo demasiadamente cauteloso (como pensava tambémEisenhower), o líder inglês mais uma vez aquiesceu. A solução final foi de meio-termo. Asforças dos aliados desembarcariam em três locais muito separados entre si: Casablanca, noMarrocos, e Argel e Oran, na Argélia. Argel, o local mais próximo de Túnis, estava ainda a maisde setecentos quilômetros de distância do objetivo principal da operação. A missão dada a Eisenhower naquele verão sobrecarregaria o mais sobre-humano doscomandantes. Além de organizar aquilo que James MacGregor descreveria mais tarde como“missão bizarra [205], eivada de dúvidas e imprevisível,” ele teria ainda que inventar umcomando unificado para as duas forças nacionais da Torch. Como tal estrutura de organizaçãojamais existira na história militar, Eisenhower não contava com manuais para seguir ouprecedentes que copiar. Seus amigos do Exército diziam-lhe que se tratava de missão impossível.Ele e a Torch estavam fadados ao fracasso, afirmavam, e não tinham dúvidas sobre quem seria obode expiatório da inevitável derrota. “Fui saturado,” escreveu mais tarde o general, “comhistórias de fracassos aliados, começando com os gregos, quinhentos anos antes de Cristo, epercorrendo os séculos até chegar nas amargas discussões que envolveram as recriminaçõesmútuas franco-britânicas de 1940.”

De sua parte, os ingleses, que haviam se oposto ao conceito de comando unificado desde oinício, estavam mais do que insatisfeitos por verem um desconhecido general americano, semexperiência de combate, prestes a liderar seus homens em campanha. Alan Brooke não tinhaEisenhower em grande conta, tal como não tinha Marshall, e a relação entre os dois permaneceuglacial até o fim da guerra. Apesar de ser indulgente ao atribuir ao americano “maravilhosocharme [206]” e “maior dose de sorte do que a maioria de nós recebe na vida,” Brooke não tinhaquase nada de bom a dizer sobre a capacitação de Eisenhower como comandante, chegando aafirmar certa vez que ele “tinha apenas a mais vaga concepção sobre a guerra.” Um almiranteinglês, que serviu sob as ordens de Eisenhower, o descreveu durante aquele período como“totalmente sincero, direto e bastante modesto,” porém “não muito seguro de si mesmo.”

No entanto, apesar de Eisenhower poder ter sido hesitante e inseguro em muitos aspectos,jamais vacilou nas suas demandas por uma completa integração no esforço de guerra anglo-americano. Segundo Mark Perry, biógrafo de Eisenhower e Marshall, nenhum outro general dageração do primeiro, inglês ou americano, possuía “um entendimento comparável daimportância de se forjar e manter tal coalizão.” Quando os ingleses argumentaram que seuscomandantes em campanha deveriam ter o direito de apelar ao Ministério da Guerra casodiscordassem de alguma de suas ordens, o comandante da Torch declarou que tal desbordamentoviolaria o acordo anglo-americano sobre comando unificado. Ele negociou um meio-termo: oscomandantes ingleses que questionassem uma ordem teriam que consultá-lo primeiro antes detomarem qualquer decisão ulterior. “Essa foi a fórmula de Eisenhower, que teria consequênciasbem mais importantes do que aquelas que seu autor pudesse ter na ocasião em que a expressou,”observou Wallace Carroll. “Todos os que atuassem em seu teatro de operações, fossem civis oumilitares, ingleses ou americanos, teriam que abrir mão de lealdades antigas e se submeter àautoridade do comandante do teatro.”

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O canteiro onde Eisenhower plantou as sementes da unidade anglo-americana estava situado naNorfolk House, um prédio neogeorgiano de pedras e tijolos, a poucas casas da residência deNancy Astor, na elegante St. James's Square. Designada como Quartel-General das ForçasAliadas para a Torch, a Norfolk House era, na cabeça de alguns, uma localização um tanto demau agouro para o primeiro comando combinado da aliança. Pouco mais de duzentos anos antes,George III nascera na Norfolk House original, uma mansão que pertencia ao duque de York, nomesmo local.

Eisenhower não dava a menor importância a George III. Insistia para que os americanos eingleses de sua equipe botassem de lado as antigas divisões entre os dois países e agissem comose “pertencessem a uma só nação.” Era, como ele próprio reconheceu, uma ordem mais fácil dedar que de cumprir. Em função do pouco contato que tiveram no período entre as guerrasmundiais, os militares dos Estados Unidos e da Inglaterra quase nada conheciam sobre a maneiracomo uns e outros operavam. Na oportunidade em que o general Frederick Morgan foi designadopara servir no comando de Eisenhower, no outono de 1942, recebeu um documento do QG aliadoque leu espantado. Morgan lembrou que “não entendeu uma só palavra” [207] no papel em quefixava os olhos. “Ali estava um amontoado de palavras que, indubitavelmente, estavam escritasem inglês, mas que para mim não faziam o menor sentido, e vi-me obrigado a apelar para umatradução especializada no linguajar militar americano.”

No começo, houve também discussões, mal-entendidos e embates pessoais — tantos, de fato,que Eisenhower assemelhou as primeiras brigas na relação entre as duas nacionalidades de suaequipe como “o encontro de um buldogue com um gatão.” Alguns americanos tinham antipatiapela ideia toda da Torch, “supostamente a considerando,” nas palavras de Eisenhower, “um planoinglês para o qual os americanos tinham sido arrastados pelos pés.” Embora, em particular,concordasse com essa ideia, o comandante alertou seus compatriotas que, se não pusessem todasas energias a serviço da operação e não aprendessem a se dar bem com os equivalentes ingleses,seriam todos enviados de volta para a América. Com o tempo, sua determinação de buldoguedeu frutos: os americanos de seu Estado-Maior admitiram, como disse seu assistente pessoalHarry Butcher, que “os ingleses não eram realmente demônios de casaco vermelho,” e osingleses concederam que os americanos podiam ter, ocasionalmente, uma boa ideia ou duas.

Mas muitos comandantes de campanha, ingleses ou americanos, discordavam. Dois dosmelhores amigos de Eisenhower — Mark Clark, seu vice e chefe do planejamento da Torch, eGeorge Patton, comandante de uma das forças tarefas da invasão — eram ambos violentamenteanglófobos. Patton, que chegara a Londres no verão de 1942 para receber as diretrizes de suamissão, resmungou no seu diário: “Está bastante claro que a maioria dos oficiais americanos aquié pró-britânica, até Ike. (...) Eu não sou, repito, não sou pró-britânico.”

Apesar de Eisenhower manter em público uma atitude descansada e o proverbial sorrisofácil, os mais próximos sabiam do enorme preço, emocional e físico, que os preparativos para aTorch lhe estavam cobrando. Seria mesmo possível, matutava ele, “invadir um país neutro paracriar um amigo,” como Roosevelt achava? Fumando até quatro maços de Camels por dia, ele semostrava irritadiço e deprimido — “um pacote de três estrelas de tensão nervosa,” disse KaySummersby. Um americano de seu Estado-Maior anotou: “Ele envelheceu [ 208] dez anos.”Embora exausto, Eisenhower era incapaz de pegar no sono à noite. Levantava-se e ficavaolhando pela janela a escuridão lá fora, absorto com as ansiedades e temores que não revelava aninguém. Em 4 de novembro de 1942, o VIII Exército inglês, comandado pelo general Bernard LawMontgomery, esmagou as forças de Rommel em El Alamein, expulsando-as do Egito e

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empurrando-as para o oeste numa fuga precipitada. Foi a primeira vitória importante dos inglesessobre os alemães na guerra, que deu nova vida e vigor a Churchill e seu acossado governo, assimcomo ao país.

Quatro dias depois, cerca de trinta e três mil soldados americanos e ingleses desembarcaramnas praias do norte da África. Desde os primeiros estágios da Operação Torch , a inexperiênciatanto do Estado-Maior quanto da tropa patenteou-se gritantemente. Em Casablanca, mais dametade das barcaças de desembarque e blindados leves afundou ou não funcionou corretamentena arrebentação. Muitos soldados não tinham ideia do que fazer depois de porem os pés na praia.O general Lucian Truscott, comandante das forças de desembarque numa região ao norte deCasablanca, lembrou que “os homens vagavam sem destino, totalmente perdidos (...) xingandouns aos outros.”

Nada, inclusive a reação francesa aos desembarques, saiu como planejado. A convicção deRoosevelt de que as tropas francesas recepcionariam amigavelmente os invasores americanos sebaseara em grande parte na inteligência de uma rede de espiões amadores dos EUA sediada nanorte da África mesmo antes de os Estados Unidos entrarem na guerra. Mediante um acordosecreto com Vichy, de março de 1941, Roosevelt desbloqueara os ativos franceses na Américaem troca da permissão para que doze vice-cônsules americanos — isto é, agentes deinformações — se estabelecessem em toda aquela região. Os doze não eram operadoresprofissionais — entre eles havia um fabricante de vinhos e um vendedor da Coca-Cola — e ainteligência militar alemã, que sabia tudo sobre os pretensos doze espiões, concluiu: “Só podemosnos congratular pela seleção de tal grupo de agentes, que não nos dará trabalho algum.”

Os vice-cônsules garantiram à Casa Branca que o exército francês ofereceria apenasresistência simbólica às tropas americanas. Por seu turno, aos soldados foi assegurado que osfranceses os receberiam “com bandas de música [209].” Na realidade, os francesescombateram bravamente em todos os locais de desembarque, com a resistência mais impetuosadirigida exatamente contra a força só de americanos que desembarcou em Casablanca. Ummajor reportou depois para o Departamento da Guerra que “tanto os oficiais quanto as praçasficaram absolutamente estupefatos quando sentiram o primeiro gosto da batalha.” LucianTruscott escreveu: “Até onde eu podia divisar ao longo da praia, o caos imperava.” Na opinião deum enfurecido Patton, os americanos jamais teriam conseguido chegar às praias se estivessemenfrentando alemães, e não franceses.

Para piorar as coisas, os militares franceses rejeitaram aceitar o homem escolhido pelogoverno Roosevelt para fazer a paz no norte da África e se tornar o novo líder da região. Ogeneral Henri Giraud, que fora capturado pelos alemães em 1940, antes de a França capitular,tinha escapado recentemente de uma fortaleza-prisão na Alemanha e conseguira chegar aVichy. Considerando Giraud uma alternativa tanto para de Gaulle quanto para Pétain,funcionários dos EUA o persuadiram a cooperar com a invasão e o levaram sigilosamente desubmarino da França para Gibraltar. Uma vez lá, no entanto, Giraud insistiu em assumir ocomando de toda a operação. Quando um atônito Eisenhower recusou sua exigência, o generalfrancês não aceitou acompanhar o primeiro escalão da invasão. Sempre esperançosos, os aliadosanunciaram pelo rádio para o norte da África que Giraud assumiria em breve a liderança dasforças francesas de lá. O anúncio, como Eisenhower relembrou, “não causou efeito algum”sobre os franceses; ao contrário, foi “completamente ignorado.” A rejeição francesa a Giraud,reconheceu o comandante da Torch, foi “terrível golpe em nossas expectativas.” Numcabograma a Roosevelt, observou que a situação no norte da África “nem remotamente seassemelha aos nossos cálculos prévios.”

Àquela altura, o único objetivo de Eisenhower era pôr um fim no banho de sangue e lançar

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suas tropas na direção da Tunísia. Quem quer que o ajudasse a atingir esse propósito receberiaseu apoio, mesmo que o suposto salvador — como aconteceu — fosse um dos maisdesavergonhados colaboradores dos názis em Vichy. Esse homem foi o almirante Jean Darlan,comandante das forças armadas de Vichy e braço direito de Pétain, que, na ocasião dosdesembarques, estava na Argélia visitando seu filho gravemente enfermo. Amigo de PierreLaval, a quem sucedeu como vice de Pétain, Darlan era o mais odiado de todos os funcionáriosde Vichy. Ele havia entregue a Indochina aos japoneses, permitido a perseguição dos judeusfranceses, ordenado a prisão em massa de oponentes em Vichy e suprido as tropas de Rommelcom alimentos, caminhões e combustíveis. Ao tempo dos desembarques, Darlan, um ardenteanglófobo, ordenara que as tropas francesas atirassem contra as forças dos aliados.

No entanto, para o apolítico Eisenhower, que pouco sabia das questões internas francesas etinha pequeno entendimento do trauma nacional que afligia o país, as transgressões reportadassobre Darlan não pareciam relevantes. Ele ofereceu ao almirante um acordo: em troca doarranjo de um cessar-fogo: os aliados o nomeariam alto-comissário, ou governador do norte daÁfrica. De início, Darlan relutou, ora concordando com o plano, ora o renegando. Só depois quesoube que os alemães haviam ocupado a França de Vichy em 11 de novembro, ele ordenou umarmistício. Com isso, a guerra no norte da África finalmente cessou.

Para grande parte do restante do mundo, todavia, as transgressões de Darlan eram muitograves. O acordo de Eisenhower, com o qual Roosevelt concordou e Churchill relutantementeanuiu, foi recebido com uma tempestade de protestos por todo o globo, mas em especial nosEstados Unidos e na Inglaterra. “Para as duas nações [210], Darlan é um vilão pronto eacabado,” reconheceu Eisenhower para seu Estado-Maior.

Quanto aos críticos, o acordo traía um cinismo que minava a posição moral soberba doslíderes dos aliados, em especial Roosevelt. “A América fez declarações com tão lindas palavras,a América proclamou princípios tão maravilhosos, e agora, à primeira tentação, a América, aoque tudo indica, deixou os princípios de lado e chegou ao entendimento com um dos maisdesprezíveis lacaios de Hitler no exterior,” observou Wallace Carroll. Como afirmou o historiadormilitar Rick Atkinson cerca de sessenta anos mais tarde, “um exército imaturo e desajeitadochegou ao norte da África com pouca noção sobre como agir na qualidade de potência mundial.”

As primeiras ações de Darlan como alto-comissário só fizeram aumentar a raiva de seuscríticos. Ele ratificou as leis antissemitas no norte da África; aprisionou adeptos de de Gaulle eoutros oponentes de Vichy ; renomeou funcionários de Vichy que haviam sido demitidos nos diasiniciais do assalto; e ordenou interferências nas transmissões da BBC. Declarando que “nãochegamos aqui para nos imiscuirmos em negócios dos outros,” Eisenhower recusou se envolvercom o que considerava preocupações internas. Um irado Charles Collingwood, o correspondenteda CBS que cobria a Torch de Argel, escreveu aos pais a respeito do papel da América naascensão de Darlan ao poder: “Perpetuamos e apoiamos [211] tacitamente um regime que éversão razoavelmente acurada daquilo que estamos combatendo. Nossa desculpa é que nãodevemos interferir na política francesa. Fico imaginando se entrarmos na Alemanha e dissermosque não podemos interferir na política alemã.”

Na Argélia, alguns críticos americanos das ações de Darlan fizeram mais do que apenasreclamar. Os oficiais que trabalhavam na seção de Guerra Psicológica do QG de Eisenhowerprovidenciaram esconderijos para os adeptos de de Gaulle que fugiam da polícia de Vichy echegaram mesmo a embarcar alguns deles como clandestinos em navios dos aliados querumariam para a Inglaterra. Um ou dois dos mais audaciosos americanos usavam miniaturas daCruz de Lorena, o símbolo Francês Livre, na lapela. Sua seção de Guerra Psicológica, declaroumais tarde Eisenhower, deu-lhe mais trabalho do que todos os alemães na África.

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Em Londres, Churchill, apreensivo, alertou Roosevelt que a nomeação de Darlan haviaprovocado intensa reação na Inglaterra. “Não podemos fazer vista grossa para os sérios danospolíticos que podem ter enodoado nossa causa (...) pelo sentimento de que estamos dispostos afazer acordos com os 'Quislings' locais,” disse ele. Mollie Panter-Downes observou no The NewYorker que muitos londrinos tinham equiparado o acordo com Darlan com a conciliação deNeville Chamberlain com Hitler. Os ingleses “estão convencidos,” escreveu Panter-Downes, “deque o apaziguamento com um homem de Vichy ou um homem de Munique exalam o mesmomau cheiro, sejam quais forem as denominações dadas a esses compromissos.” Da embaixadaamericana em Londres, Wallace Carroll escreveu a Roosevelt e a seus superiores na Agência deInformação de Guerra declarando que a “lua de mel acabou” na Inglaterra. “A partir de agora,teremos que batalhar muito para manter o respeito e a confiança do povo inglês.”

O próprio Churchill ficou entre a cruz e a caldeirinha com o dilema moralidade versusconveniência. Mesmo que seu governo não tivesse sido consultado previamente sobre o acordocom Darlan, tanto ele quanto Roosevelt haviam dado autorização a Eisenhower para empregarquaisquer expedientes a fim de conquistar a cooperação francesa no norte da África. Oprimeiro-ministro com frequência se referia a Darlan como “vira-casaca” e “traidor,” porém,pouco antes de a invasão começar, declarou: “Por mais que o odeie, eu engatinharia por umamilha se, por fazê-lo, pudesse conseguir que ele trouxesse aquela esquadra para se incorporar àsforças dos aliados.” Mas Darlan jamais teria condições de dar ordens à armada — ela foipropositadamente posta a pique pelos próprios franceses depois que os alemães ocuparam o sulda França controlado por Vichy — e o retardado cessar-fogo por ele declarado não evitou a ondade tropas alemãs que inundou a Tunísia. Em suma, exceto pela cessação das hostilidades, oacordo não atingiu qualquer dos objetivos previstos pelos aliados quando o fizeram.

O acordo — e o indireto papel de Churchill nele desempenhado — foi tão desconfortávelpara o primeiro-ministro que ele se recusou a dar uma explicação na Câmara dos Comuns sobrea negociação, a menos que fosse em sessão secreta. Na época em que essa sessão foi realizada,Churchill assumiu uma posição neutra, apoiando Roosevelt e Eisenhower em prol da unidadealiada, mas ressaltando que o acordo fora negociado apenas pelos americanos. “Desde 1776[212], não temos condições de interferir na política dos Estados Unidos,” disse ele. “Nem militarnem politicamente, estamos controlando de maneira direta o curso dos acontecimentos.”

Enquanto isso, nos Estados Unidos, consagrados colunistas de jornais e comentaristas do rádiocondenavam o acordo, como também membros do próprio ministério de Roosevelt. HenryMorgenthau, por exemplo, denunciou Darlan como traidor que tinha vendido milhares de seusconcidadãos para a escravidão e disse a Roosevelt que a situação no norte da África era “coisaque aflige minha alma.” Na companhia de Felix Frankfurter, Morgenthau instou o Presidente aesclarecer a política americana em relação ao norte da África e a Darlan. Preocupado com achuva de críticas, o Presidente, se bem que ressentido, fez o que o secretário do Tesouro solicitou.Num pronunciamento, declarou que o acordo com Darlan foi necessário para salvar vidas etambém o qualificou como “um expediente temporário, apenas justificado pelo estresse dabatalha.” O ímpeto para os temores e inquietações de Morgenthau foi desencadeado por uma incendiáriatransmissão de Ed Murrow pouco depois de o acordo com Darlan se tornar público. Perplexocom o papel principal que seu país desempenhara no caso, o mais influente radiojornalista nosEstados Unidos pôs por terra todos os argumentos da objetividade. “Que diachos significa issotudo?” — explodiu para um amigo. “Combatemos os názis ou dormimos com eles?” Numprograma ouvido por Morgenthau, Murrow listou todos os pecados de Darlan. Quando um oficial

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alemão foi morto em Nantes, Darlan entregou trinta franceses como reféns aos názis, todosfuzilados. Depois de assumir o poder no norte da África, ele enviou refugiados políticos europeusde volta aos seus respectivos países ocupados pelos alemães. Seria esse, perguntou Murrow, o tipode aliado que queríamos para nossa luta contra os názis? Caso o acordo tenha sido feito ou não porconveniência, “não há nada na posição [213] estratégica dos aliados que indique que estamos tãofortes ou tão fracos que podemos ignorar os princípios pelos quais esta guerra está sendotravada.” Depois de escutar a matéria de Murrow, Morghentau entregou transcrições dela aHenry Stimson e ao próprio Roosevelt.

Ocorreu que tal emissão esteve longe de ser o único programa de Murrow sobre o assunto.De todos os jornalistas críticos do acordo com Darlan, ele foi comprovadamente o mais vocal;repetidas vezes se posicionou como ostensivo desafiador da política do governo. “Trata-se deuma matéria de princípios elevados, na qual carregamos um inescapável peso moral,” disse aosseus ouvintes. “Seja para aonde for que as forças americanas se dirijam, levam com elasalimentos, dinheiro e poder, e os 'Quislings' logo correm para nosso lado, se permitirmos.”

O governo Roosevelt ficou surpreso e irritado com as reportagens investigativas de umhomem que o Presidente considerava aliado, um radiojornalista em quem FDR confiara na noitede Pearl Harbor e que, certa vez, tentara até contratar. Quanto Murrow retornou depois àAmérica para uma curta visita alguns meses, foi convocado ao Departamento de Estado, ondeum encolerizado Cordell Hull disse-lhe poucas e boas por, supostamente, minar o esforço deguerra. “Ele, em momento algum, levantou a voz (...) fez qualquer gesto, mas todas as suaspalavras cortavam e ferroavam,” confessou Murrow abalado a um amigo.

Sua veemência em relação a Darlan trouxe-lhe mais crítica pública do que jamais recebeu.Patrocinadores da CBS e parte de sua audiência reclamaram, como também o fez Paul White, oeditor-chefe de notícias da rede sediado em Nova York. “Você está pondo em risco sua boareputação ao parecer um constante crítico da América,” telegrafou White para Murrow. “Não éincomum ouvir-se agora a piada 'Ed Murrow está ficando mais inglês do que os ingleses.'” Nofim de novembro, a International Silver, patrocinadora do programa semanal de análises deMurrow, cancelou o contrato, cortando pela metade sua renda. (A companhia, no entanto,evidentemente pensou duas vezes ao ejetar um dos mais populares repórteres de radionoticiáriose renovou o patrocínio um mês depois.)

Durante todo o tumulto, Murrow permaneceu irredutível. Para um ouvinte que criticou suasreportagens sobre Darlan como antiamericanas e “definitivamente perigosas,” ele escreveu:“Acredito que todos os governos podem cometer erros, exatamente como todos os locutores.”Em carta a um amigo, declarou: “Os acontecimentos no norte da África [214] são dolorosos paraquem quer que tenha esperança de um mundo decente pós-guerra.” A outro amigo, Murrowdeclarou: “Os ingleses receiam que a América venha a fazer o que a Inglaterra fez no séculoXIX. (...) Nossa política, como demonstrada no norte da África, parece um tipo de imperialismoamador.” Ele confessou se sentir cada vez mais distante de sua terra. “Talvez eu tenha ficadoafastado de casa muito tempo, mas cada vez mais me convenço de que os valores daqui,independentemente dos motivos, são diferentes dos nossos valores.”

Como Murrow, Gil Winant acreditava que o governo cometera um erro monumental ao pôrDarlan no poder. Certa noite, num coquetel em sua homenagem, ele passou a maior parte dotempo confinado num canto, conversando com Murrow e um radiojornalista da BBC, elamentando o que tinha ocorrido. Concordava com Churchill e Anthony Eden que o governoRoosevelt deveria se compenetrar da rejeição com que o acordo de Darlan fora recebido naInglaterra.

Porém, como representante do governo dos Estados Unidos, Winant se sentia também

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obrigado a defender a posição americana em público e procurar apoio para essa posição entre oscríticos funcionários ingleses, muitos dos quais seus amigos pessoais. Por dois anos, o embaixadorvinha conclamando a classe trabalhadora inglesa a intensificar a luta contra o názismo; agora, eraforçado a dar suporte a um acordo com relevante colaborador názi. Profundamente incomodado,mesmo assim ele continuou repetindo como papagaio a linha de raciocínio do governo. Numjantar oferecido pelo embaixador, Harold Nicolson ouviu-o afirmar a seus cépticos convidadosque as vantagens militares do acordo com Darlan sobrepujavam suas deficiências morais.“Darlan estava lá quase por acaso... e percebeu-se que ele poderia ser útil,” Nicolson citou essaspalavras de Winant. “Isso significava poupar uma infinidade de tempo e cinquenta mil vidasamericanas... Valeu a pena.” Meditando sobre o jantar, Nicolson registrou em seu diário:“Winant é pessoa tão esplêndida que quase nos convenceu com sua advocacia do mal.” Apesar de a Casa Branca ter sido fortemente criticada por seu apoio ao acordo Darlan, foiEisenhower quem aguentou o maior peso dos ataques. “Não importa que vitórias alcance, Ikejamais sobreviverá a esse acordo,” disse Harry Hopkins ao escritor John Gunther. Na opinião deGunther, a observação era absolutamente injusta. Eisenhower, escreveu ele mais tarde, “estavatotalmente despreparado para questões políticas, e só queria progredir o mais rapidamentepossível e salvar vidas americanas.” A responsabilidade final, acreditava Gunther, recaía sobreRoosevelt.

A controvérsia foi finalmente resolvida na véspera do Natal de 1942 quando um monarquistafrancês, de vinte e quatro anos, irrompeu pelo QG de Darlan, em Argel, e disparou dois tiroscontra ele. Darlan morreu poucas horas depois; após ser considerado culpado durante umjulgamento militar secreto, o assassino foi executado por um pelotão de fuzilamento em 26 dedezembro. (Houve — e ainda há — suspeitas de que os serviços secretos americano e inglêsestavam envolvidos com a morte do almirante, mas nada jamais foi definitivamente provado.)Embora Darlan tivesse saído de cena, Eisenhower continuou enredado na política francesa e emsuas intrigas. Henri Giraud, nomeado para substituir Darlan, deu continuidade à política doantecessor de perseguição aos judeus e aos oponentes de Vichy no norte da África. “Giraud nãofoi [215] de ajuda alguma,” escreveu Eisenhower mais tarde. “Ele odiava a política, não apenasas tortuosidades e jogadas inerentes a ela, mas também todas as tarefas necessárias à criação deum sistema de governo democrático e em ordem.”

Assoberbado com os problemas franceses, Eisenhower ainda teve de enfrentar uma série denovas complicações quando as tropas aliadas, confiantes de que varreriam o norte da África deinimigos em semanas, talvez em dias, avançaram na direção da Tunísia. Grandes surpresasesperavam. Enquanto os aliados progrediam vagarosamente para leste, Hitler, tendo declaradoque “o norte da África (...) tem de ser mantido a qualquer custo,” despachara dezenas demilhares de soldados para a Tunísia. Apressadamente treinadas e mal equipadas, nem as forçasamericanas nem as inglesas eram páreo para as tropas veteranas, a blindagem e a artilhariasuperiores, e o poder aéreo que encontraram nas primeiras escaramuças com o inimigo.

Naqueles meses iniciais do combate, desorganizados comandantes aliados discutiam entre sie cometiam repetidos erros táticos. Suas forças estavam muito dispersas no terreno, compequena profundidade e pouca coesão entre americanos e ingleses, e até mesmo entre unidadesde cada país. Cautelosos e hesitantes, os oficiais não conseguiam concentrar suas tropas paraataques em massa. “O exército alemão combate melhor do que agora combatemos,” concluiuum relatório do Departamento da Guerra dos EUA. “O inimigo é encarado como time visitante.(...) Tanto os oficiais quanto as praças estão psicologicamente despreparados para a guerra.”Com sua ofensiva emperrada, as forças dos aliados se prepararam para um longo cerco.

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Em fevereiro de 1943, as tropas de Rommel, em retirada para oeste após a derrota em ElAlamein, passaram ao ataque. Investiram sobre o passo Kasserine, uma passagem nasmontanhas na direção de Túnis, e infligiram pesadas perdas às imaturas e indisciplinadas forçasamericanas do 2º Corpo, que tentavam defender o passo. Foi a primeira batalha importante emque tropas americanas tomaram parte, e resultou num desastre militar marcado por deficientestáticas e de chefia por parte do comando dos EUA. Sobre Kasserine, Harry Butcher anotoumelancolicamente em seu diário: “Os arrogantes [216] e 'metidos' americanos foram hojehumilhados em uma das maiores derrotas de nossa história.”

Se bem que os ingleses tivessem poucas razões para se orgulhar desde que as hostilidadescomeçaram, suas tropas e comandantes despejaram desdém sobre os americanos apósKasserine. Cantaram uma paródia de “Como era verde meu vale: “How green was my ally”(Como era verde meu aliado), e alguns chegaram a chamar os ianques de “nossos italianos.” Arespeito dos americanos, o general inglês John Crocker escreveu à esposa: “No que concerne àprofissão militar, acredite-me, os ingleses não têm nada a aprender com eles.” Dizendo o mesmo— e um pouco mais — aos correspondentes americanos e ingleses, Crocker jogou a culpa poruma batalha fracassada, mais tarde naquela primavera, totalmente sobre os ombros das forçasamericanas. Depois da declaração à imprensa de Crocker, a revista Time disse que a batalha forauma “vergonha” para os EUA e “permitiu uma clamorosa comparação entre os soldadosamericanos e ingleses.”

A maior parte da censura inglesa foi dirigida a Eisenhower que, entretido com disputaspolíticas, deixou de impor sua autoridade e de se mostrar à altura de suas responsabilidades comocomandante em campanha. “Eisenhower, como general, é um caso perdido!” registrou AlanBrooke, num acesso de raiva, em seu diário. “Ele submerge na política e negligencia suasobrigações militares, em parte, lamento dizer, porque pouco conhece, se é que sabe algumacoisa, de assuntos militares.” Mesmo ressentido com as críticas, Eisenhower não discordavadelas. “A melhor maneira de descrever nossas operações até agora,” escreveu a um amigo, “édizendo que elas violaram todos os princípios conhecidos da guerra, entraram em conflito comtodos os processos logísticos e operacionais ensinados nos manuais de campanha, e serãocompletamente condenadas (...) em todas as salas de aula das escolas de altos estudos militaresdurante os próximos vinte e cinco anos.”

Quando os chefes militares americanos e ingleses se reuniram com Churchill e Roosevelt emCasablanca, em janeiro de 1943, Brooke arquitetou um plano para promover Eisenhower a umposto não operacional e pôr um general inglês, Harold Alexander, no comando direto das forçasterrestres em campanha na Tunísia. Alexander fora superior de Montgomery na batalha de ElAlamein e supervisionara a progressão do VIII Exército para o oeste em perseguição a Rommel.Como esse Exército se preparava para fazer a junção com as forças da Torch, a ocasião erapropícia, na opinião de Brooke, para que Alexander assumisse o comando de todas as tropas.Como ele mais tarde observou, “estávamos alçando [217] Eisenhower para a estratosfera e parao ar rarefeito de um Comando Supremo (...) enquanto inseríamos sob sua autoridade um denossos comandantes para (...) restabelecer a necessária impulsão e coordenação, que tãoseriamente faltavam.” Alexander, como depois se viu, era tão crítico a respeito dos ianquescomo qualquer de seus conterrâneos. Escreveu a Brooke dizendo que os americanos eram“frágeis, verdes, e muito mal treinados” e “carecem da vontade de combater” — um ponto devista que sustentou pelo resto da guerra, mesmo quando batalhas posteriores o desmentiram.

De sua parte, os comandantes americanos em campanha, a maioria dos quais já eraantibritânica antes da Torch, recebia com amargura aquilo que, corretamente, consideravamatitude superior e desdenhosa de seus correspondentes ingleses. Achavam que Montgomery e o

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suave e imperturbável Alexander tinham permitido que grandes efetivos do Afrika Korps lhesescapassem por entre os dedos em El Alamein; o erro do VIII Exército em não empreender umaperseguição com todo o vigor às tropas de Rommel ensejara aos alemães a oportunidade deatacar os americanos em Kasserine.

“Como ele detesta os ingleses,” outro general americano disse de George Patton, quando esteassumiu o comando do 2º Corpo após a debacle de Kasserine. Mark Clark, o altivo vice deEisenhower, sedento de publicidade, havia enfurecido praticamente todos os oficiais ingleses noQG dos aliados com suas “mesquinhas e insultuosas” farpas anglófobas. Quando Clark, que sedeliciava em citar o aforismo de Napoleão “É melhor combater um aliado do que ser um deles,”desceu um escalão para se tornar general em campanha, houve alegria generalizada no quartel-general aliado.

Com a crescente hostilidade anglo-americana, Eisenhower, além de ter que lidar com osoutros problemas, foi obrigado a despender consideráveis tempo e energia tentando apaziguarseus comandantes. “Nos seus atuais [218] esforços para melhorar as relações entre americanos eingleses,” escreveu Harry Butcher, “vejo Ike algo parecido com um bombeiro, postado no topode uma torre de observação, esquadrinhando a floresta à procura de fumaça ou fogo.” Adespeito dos sucessivos arrufos entre seus lugar-tenentes, Eisenhower persistia em sua crença deque a vitória só poderia ser alcançada se americanos e ingleses trabalhassem unidos em equipe.“Uma das constantes fontes de perigos para nós nesta guerra,” escreveu a um amigo, “é atentação de considerarmos nosso principal inimigo o parceiro com o qual deveríamos trabalharpara derrotar o verdadeiro adversário.” Num encontro com Alexander e Patton, Eisenhowerdeclarou que não se via “como um americano, e sim como aliado.” Disse a seus subordinadosque tinham de cumprir qualquer ordem recebida “sem mesmo uma parada para pensar de ondeela vinha, de fonte americana ou inglesa.”

Seus apelos por harmonia e cooperação, entretanto, não lhe valeram elogios de seussubordinados americanos. Clark, Patton e Omar Bradley, subcomandante do 2º Corpo,censuravam Eisenhower por acharem que ele favorecia os britânicos. Queixando-se de que “Ikeé mais inglês que os ingleses,” Patton o acusou de “estar muito próximo de um Benedict Arnold”[general que passou para o lado inglês na Guerra da Independência] e acrescentou que “osbritânicos estão nos tomando por bestalhões.” Cansado dos comentários recíprocos incessantes eferinos, um oficial americano do Estado-Maior de Eisenhower registrou em seu diário: “MeuDeus, como eu gostaria que esquecêssemos nossos egos por um instante!”

Não obstante, enquanto continuavam as queixas mútuas, o pêndulo da campanha no norte daÁfrica começou a se inclinar em favor dos aliados. Sob o estilo particularmente duro dedisciplina exercitado por Patton, os integrantes do 2º Corpo começaram a aprender comocombater, assim como os do I Exército dos EUA. A respeito do pracinha médio no norte daÁfrica, Ernie Py le observou: “Seu espírito combativo despertou. Lutava por sua vida, e matarpara ele passou a ser profissão. (...) Decididamente, ele estava em guerra.” Ao mesmo tempo,com a mobilização industrial americana a pleno vapor, os suprimentos e armamentos inundarama região. Só em um mês, 24 mil viaturas, um milhão de toneladas de cargas e cerca de 84 milreforços desembarcaram no norte da África. “O exército americano não resolve os problemas,”disse um oficial inglês, “ele soterra os problemas.”

No começo da primavera de 1943, as tropas alemãs na Tunísia começaram a se ver cadavez mais encurraladas entre as forças da Torch e o VIII Exército. Dessa vez, as brigas entrecomandantes americanos e ingleses foram a respeito de quem teria as glórias pela iminentevitória. Quando Patton, colérico, soube que Alexander planejava fazer o ataque final em grandeparte com seus próprios ingleses, alertou o general inglês que, se o exército americano

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“parecesse desempenhar [219] um papel secundário, as repercussões poderiam ser muitodesagradáveis.” Até George Marshall entrou na disputa, chamando a atenção de Eisenhowerpara “a marcante queda de prestígio das tropas americanas” e instando-o a tomar providênciaspara que as forças dos EUA tivessem papel importante na concretização da vitória. E foi o queaconteceu.

Em 7 de maio, Túnis caiu nas mãos dos aliados e, cinco dias depois, as hostilidades cessaramna região. Inglaterra e América haviam conquistado seu primeiro grande prêmio — o OrienteMédio e a África do Norte — e marcado um ponto de inflexão crucial na guerra. O momentumdos alemães aparentemente irresistíveis estava finalmente terminado: apenas poucos meses antesde sua derrota na Tunísia, eles haviam sido esmagados pelos russos em Stalingrado. Graças aosAliados Ocidentais, “um continente fora resgatado,” escreveu Churchill em suas memórias. “EmLondres, houve, pela primeira vez na guerra, uma genuína elevação do moral.” Hitler perderapara sempre a iniciativa estratégica.

Apesar de os russos nunca reconhecerem, o triunfo anglo-americano tornou possível a vitóriaem Stalingrado. Mais de 150 mil soldados alemães e centenas de bombardeiros foram retiradosdo combate contra os russos para lutarem contra os aliados no norte da África. Pode não ter sidoa Segunda Frente que Stalin queria, mas o desvio de forças inquestionavelmente o ajudou noesforço bem-sucedido da ofensiva contra o Reich.

A operação no norte da África também salvou os Estados Unidos e a Inglaterra do desastreque certamente teria ocorrido se tivessem feito um grande e prematuro desembarque na França,como queriam os americanos. O historiador Eric Larrabee observou que o norte da África“proporcionou uma oportunidade para que as deficiências aparecessem e para que o dom docombate e do comando surgisse. Decorreriam anos para que Marshall, Eisenhower e outrosamericanos admitissem que a oposição inglesa a um desembarque precipitado na França tinharazão. “Alan Brooke, malgrado todo o seu nariz empinado, estava essencialmente certo,”registrou Mark Perry . “A travessia do Canal àquela altura teria sido uma operação suicida.” Embora tivessem perdido o primeiro round, os chefes militares americanos permaneceramcomprometidos com seu plano de cruzar o Canal. Uma vez varrido de inimigos o norte da África,acreditavam, os Aliados Ocidentais deveriam dar início aos preparativos para a invasão daFrança. Os ingleses discordaram. Na Conferência de Casablanca, onde seria decidida a ofensivaanglo-americana seguinte, a batalha sobre estratégia foi novamente retomada.

Antes de a conferência começar, Roosevelt alertou seus assessores que “os ingleses têm umplano [220] e vão se aferrar a ele.” O Presidente estava certo. Tendo resolvido de antemão, emLondres, suas diferenças de pontos de vista, Churchill e os altos comandantes militares seapresentaram em Casablanca como uma frente compacta, insistindo na continuação de suaestratégia periférica para enfraquecer a Alemanha antes que fosse desferido o golpe final.Depois do norte da África, eles queriam atacar através do Mediterrâneo — desembarcando naSicília, forçando a Itália a sair da guerra e, assim esperavam os ingleses, persuadindo a Turquia aentrar na guerra ao lado dos aliados.

O fato de a Inglaterra ainda responder pela maioria dos combates adicionou peso à suaargumentação. A despeito do contínuo aumento do esforço americano no início de 1943, trêsvezes mais tropas inglesas haviam lutado nas campanhas combinadas da Tunísia, e os britânicostinham experimentado muito mais baixas — 38 mil mortos, feridos e desaparecidos, comparadoscom os 19 mil dos Estados Unidos. Mas o que realmente fez com que a argumentação inglesaprevalecesse foi a organização superior e a preparação para a abordagem de suas propostas.Apoiados por um sem-número de mapas e gráficos, eles trabalharam duro em todos os detalhes.

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Sempre que uma estatística era solicitada, lá estava um dos membros da equipe inglesa vinda deLondres com uma indefectível e precisa pasta de couro contendo o pedido. Como Rooseveltprevira, a lógica e o argumento britânicos eram irrefutáveis e incansáveis, pareciam “água moleem pedra dura.” Depois da conferência, o general Tom Handy, sucessor de Eisenhower comochefe da Divisão de Planejamento em Washington, observou a respeito dos ingleses: “Uma coisaque eles entendiam — sobretudo o primeiro-ministro — era o princípio do objetivo. Nós osmanobrávamos para determinada direção e eles logo conseguiam guiar a discussão para ocaminho que desejavam. (...) Nossa gente ficava sempre em desvantagem.”

Embora profético em relação aos preparativos ingleses, Roosevelt fracassou ao não copiar oexemplo deles. Na sua única reunião com os militares antes da conferência, o Presidente não sedefiniu quanto a um novo objetivo estratégico após o norte da África. Sem uma diretriz clara deseu comandante em chefe, a Junta de Chefes de Estado-Maior americanos dividiu-se emperspectivas diferentes, entre seus próprios membros, quanto ao futuro curso da guerra; narealidade, deixaram claro para os ingleses, na Conferência de Casablanca, seus desacordo.Enquanto George Marshall advogava um desembarque cruzando o Canal, Ernest King, o chefedas Operações Navais, queria mais suprimentos e tropas desviados para o Pacífico. De sua parte,o general Henry “Hap” Arnold, chefe da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, insistiaem bombardeios maciços, com base na Grã-Bretanha, contra a Alemanha.

Em resposta aos argumentos de Marshall, os ingleses sacaram mais uma vez suas pastas decouro vermelho produzindo fatos e números para demonstrar que os aliados ainda não estavamprontos para montar uma invasão do continente europeu. Malgrado a manifesta ênfase noprincípio de “Alemanha primeiro,” mais da metade das tropas e equipamentos americanosenviada para o ultramar estava na luta contra o Japão. Simplesmente não existiam efetivos,suprimentos, navios e barcaças de desembarque para a abertura de um Novo Front na França.

No fim da conferência, Roosevelt concordou com os ingleses. Tomou-se a decisão de atacara Sicília, uma operação que orientou todo o trabalho da campanha dos aliados, para 1943-44, naItália. Como consolo para os americanos, houve também um acordo para a concentração deforças dos EUA na Inglaterra, em preparação para o assalto final ao Continente.

Quando os participantes da conferência voltaram para casa, não ficou dúvida na cabeça deninguém de que os americanos, mais uma vez, haviam sido vencidos pela manobra dos primosingleses. “Eles enxameavam [221] ao nosso redor como gafanhotos,” reconheceu o generalAlbert Wedemeyer, da Divisão de Planejamento do Exército dos EUA. “Chegamos, ouvimos eperdemos.” O vice de Pug Ismay, general Ian Jacob, vangloriou-se: “Nossas ideiasprevaleceram quase por completo.” Na preparação para a batalha seguinte, Eisenhower estava bem consciente de que Brooke eoutros generais ingleses tentavam sabotá-lo. Suas relações com aqueles generais — em particularcom Montgomery, o egocêntrico e convencido herói de El Alamein — passariam a ter maisarestas à medida que o combate se encaminhasse para a Europa. Eisenhower tenderia também aser mais criticado por Patton, Bradley , Clark e outros generais americanos.

Contudo, graças às lições que aprendera no cadinho que fora o norte da África, Eisenhowerpermaneceria, malgrado todos os desacordos que iria enfrentar e o menosprezo que suportaria,firmemente no comando. Como Rick Atkinson ressaltou, “nenhum militar [222] na África mudoutanto — cresceu mais — do que Eisenhower.” Os equívocos foram tantos, que poderiam muitobem ter causado sua saída do comando. Porém, para sua própria surpresa, isso não ocorreu, e,sobrepujando a ingenuidade e a insegurança, o general mostrou-se determinado a não permitirque se repetissem. “Antes de ele partir para a Europa em 1942,” escreveu mais tarde seu filho

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John, “eu o vi como uma personalidade agressiva e inteligente.” O norte da África, acrescentouJohn Eisenhower, transformou seu pai “de simples pessoa em personagem (...) pleno deautoridade e verdadeiramente no comando.” Um general inglês podia muito bem estar sereferindo a Eisenhower quando observou: “Um dos deslumbramentos da guerra foi ver osamericanos criarem rapidamente seus grande homens.”

Nos dois anos de combate que se seguiram à campanha no norte da África, Eisenhowerjamais fraquejou na sua crença de que a guerra só seria vencida se a coalizão dos aliadospermanecesse estreitamente unida. Se bem que muitas vezes irado ou magoado com adifamação lançada contra ele pelos ingleses (sobre Montgomery, certa vez estourou: “Valha-meDeus, posso lidar com qualquer um, exceto com esse filho da puta!”), Eisenhower continuoufirme sobre a importância do esforço de guerra inglês. Nenhum outro chefe militar — inglês ouamericano — trabalhou tão duro para fazer da aliança um sucesso. “Eisenhower foiprovavelmente o menos chauvinista americano e o menos chauvinista comandante militar nahistória,” observou Don Cook, um dos correspondentes de guerra do New York Herald Tribune .“Jamais perdeu seu patriotismo e orgulho americano, simplesmente justapôs outro patriotismo aoprimeiro.”

Apesar de todas as observações depreciativas sobre Eisenhower, Brooke admitiu depois daguerra: “Onde ele se destacou foi na capacidade de administrar as forças aliadas, tratá-las comestrita imparcialidade e conseguir o melhor de uma força interaliada.” Tal capacidade, comoEisenhower sempre acreditou, foi elemento-chave para seu sucesso final — e para a vitória.

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Os Aliados Esquecidos

Por meses, após o acordo dos americanos com Darlan, os exilados europeus se encontraram noWhite Tower, no York Minster e em outros restaurantes e pubs preferidos de Londres para fumarcigarros sem fim e discutir as implicações do acordo. Os Franceses Livres, claro, eram os maisdiretamente afetados. Mas os outros emigrés — noruegueses, poloneses, tchecos, belgas eholandeses — também se ocupavam com o significado do acordo para o futuro. Os názistambém haviam invadido e ocupado seus países. Quando chegasse a hora da libertação dessasnações, os americanos cooperariam com traidores como Darlan?

A maioria dos europeus que se reuniam em torno de mesas com toalhas manchadas de vinhohavia escapado para Londres na primavera caótica de 1940, quando as tropas alemãs tomaram aNoruega e a Dinamarca, depois avançaram sobre a França e os Países Baixos. Parecia que diasim dia não, George VI e Winston Churchill tinham de comparecer a uma das principais estaçõesferroviárias da cidade para recepcionar outro rei, rainha, presidente ou primeiro-ministro. Comoúnico país que ainda resistia a Hitler, a Inglaterra era, como as tropas polonesas alcunharam, a“Ilha da Última Esperança” para emigrés que desejavam continuar lutando. E Londres,hospedeira do movimento de de Gaulle e de seis governos no exílio, tornara-se a capital de factoda Europa.

Os exilados estavam em toda parte na cidade. De Gaulle e sua equipe francesa meteram-senum casarão senhorial em Carlton Gardens, com vista para St. James's Park. A menos dequilômetro e meio, a rainha Wilhelmina da Holanda convidava resistentes holandeses quehaviam escapado para tomar chá em sua residência em Chester Square, uma casa com vestígiosde estragos provocados pelos ataques aéreos. A três quarteirões da Rainha, o general WladyslawSikorski, primeiro-ministro polonês e comandante em chefe, tratava questões de estado no RubensHotel. Os governos norueguês, holandês e belga operavam na Stratton House, no lado oposto aoRitz, em Piccadilly. Outras agências estrangeiras se dispersavam por Belgravia, Kensington,Mayfair, Knightsbridge e St. James's.

Por volta de 1943, cerca de cem mil pilotos, soldados e marinheiros europeus haviam sematerializado na Inglaterra, juntando-se não apenas às forças rapidamente crescentes dos EUA,como também às tropas do Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e Índia.Diferentemente dos militares americanos e dos da Commonwealth, os europeus haviamarriscado tudo para chegar lá. “Para atravessar o Canal [224] até a Inglaterra era precisosacrificar tudo o que se amava, inclusive, provavelmente, até a própria vida, pelo único privilégiode combater os názis como homens livres,” disse Erik Hazelhoff, estudante holandês de direitoquando a guerra irrompeu. “O objetivo de todos era o mesmo: chegar à Inglaterra e juntar-se àsforças dos aliados.” Em 1940 e início de 1941, grande parte do restante do mundo esperava que aInglaterra fosse derrotada em meses, talvez em semanas. Mesmo assim, os europeuscontinuaram chegando — “todos aqueles heróis insanos e desarmados que desafiavam o Hitlertriunfante,” disse a jornalista francesa Eve Curie, filha do casal de físicos Marie e Pierre Curie,ela mesma uma refugiada em Londres.

Graças aos exilados, Londres tornou-se então uma vibrante metrópole cosmopolita,zumbindo de mexericos, energia e vida. Um nativo londrino nunca sabia quem poderia sentar-seao seu lado num ônibus ou metrô, num restaurante ou pub. Podia ser um piloto polonês recém-

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chegado do cumprimento de uma missão de bombardeio, um marinheiro norueguês resgatado deseu navio torpedeado, um guerrilheiro da Resistência retirado clandestinamente da França. Comopássaros exóticos de plumagem brilhantemente colorida, os militares europeus apinhavam asruas londrinas danificadas pelas bombas — marinheiros franceses com suas camisas listradas eboinas de pompom vermelho; oficiais do exército francês com suas pelerines brancas e o quepecaracterístico, cilíndrico e com topo reto na horizontal; soldados poloneses com suas coberturasde quatro cantos, parecendo dragões do século XIX; policiais holandeses em seus elegantesuniformes negros com detalhes em prata acinzentada. Para o diplomata canadense CharlesRitchie, caminhar ao lado de europeus aliados pelos Kensington Gardens era como “nadar namaré cheia da história.”

Embora estrangeiros pudessem ser vistos por todos os cantos de Londres, o centro da vidapara os émigrés do tempo da guerra era o Soho, um paraíso para os expatriados europeus desde oséculo XVII. Boêmio, barulhento e barato, suas vizinhanças eram generosas em restaurantesfranceses, italianos, gregos, chineses e outros étnicos, muito procurados pelos exilados. O YorkMinster, em Dean Street, era um dos mais conhecidos pontos de encontro, atraindo os FrancesesLivres e funcionários de postos mais subalternos do governo belga, entre outros.

De Gaulle e os chefes de governos no exílio, em contraste, faziam sua vida social nos maisexclusivos e bem frequentados locais ingleses — Savoy, Ritz, Claridge's e Connaught —defendendo as causas de seus respectivos países junto a funcionários ingleses e americanos. Osgovernos no exílio muitas vezes competiam entre si por favores dos dois maiores aliadosocidentais; entre e mesmo dentro dos citados governos havia suspeitas, facções, desacordos eintrigas. Num artigo irônico para o New Yorker sobre as rivalidades interaliadas, A.J. Lieblingressaltou como “os ministros recebem [225] relatórios sobre seus correspondentes de meia dúziade outros governos, e os agentes se vigiam reciprocamente — a ponto de um almoço noClaridge's ou no Ritz Grill parecer um engarrafamento de personagens saídos de um filme deAlfred Hitchcock.”

Para os soldados estrangeiros, no entanto, Londres era menos um foco de intrigas e mais umlugar para relaxamento, camaradagem, agitação e romance. Ao longo da guerra, pilotoseuropeus de bases aéreas próximas e soldados em licença de postos mais distantes como Tobruke Tripoli enxameavam pela cidade para desfrutar de seus prazeres, da mesma forma que faziamoutros militares aliados. “Sem levar em conta nossas diversificadas origens e futuros incertos, nostratávamos como iguais, mesmo que para só tomar uma cerveja,” lembrou Erik Hazelhoff.“Bebíamos juntos, levávamos nossas namoradas aos mesmos nightclubs — o Suvi, o EmbassyClub, o 400. Noruegueses, holandeses, poloneses, franceses, ingleses, estávamos todos lá —espremidos nas pequenas pistas de dança.

De todos os europeus, os poloneses e os Franceses Livres faziam mais sucesso com asmulheres inglesas pelo charme arrojado, até atrevido, e continental. A novelista Nancy Mitfordestava entre as que se enfeitiçaram pelos franceses; em 1942, ela começou um tempestuoso e,no final, infeliz, romance com Gaston Palewsky, o charmoso e mulherengo chefe de Estado-Maior de de Gaulle. Mas foram os poloneses, com seus hábitos de beijar mãos e propensão paraenviar flores, que mereceram a reputação de galanteadores. Nos diários e cartas daquelestempos, ou mesmo em recordações pósteras, os pilotos poloneses, que eram chamados porQuentin Rey nolds de “a moçada glamorosa da Inglaterra,” descrevem, com algum espanto, seuscasos amorosos de tempo de guerra na Inglaterra. “Quanto às mulheres [226],” um delesescreveu em seu diário, “o difícil é livrar-se delas.” Para os que ficaram na Europa ocupada, a Inglaterra e sua capital eram vistas de modo muito

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diferente. Não eram lugares para divertimento e romance, e sim faróis de esperança e talismãscontra o desespero. Pouco depois de os alemães invadirem a Holanda, Erik Hazelhoff estava depé numa praia próxima a Haia quando viu, deslumbrado, dois Spitfires rasgarem o céu acima desua cabeça, com as iniciais RAF brilhando ao sol. “A ocupação caíra sobre nós com tãoesmagador peso,” escreveu mais tarde, “que a Inglaterra, como a liberdade, se tornara um meroconceito. Acreditar nela como algo real, um pedaço de terra onde o povo livre havia resistido àinvasão názi, requeria uma manifestação concreta como um sinal de Deus: a Inglaterra existe!”Para ele, os Spitfires foram aquele sinal. Menos de um ano mais tarde, embarcou escondido numbarco pesqueiro, escapou para a Inglaterra e se tornou piloto da RAF.

Para muitos outros residentes em países cativos, a esperança vinha sob a forma da BBC.Paralisados pelo choque, humilhação e terror da ocupação názi, eles se animavam com astransmissões diárias da BBC, sentindo que não estavam sozinhos. Ouvir a rádio de Londres —uma atividade punida com prisão e, em alguns países, com a morte — era, para muitos europeus,o primeiro modo de resistirem aos invasores. Todos os dias, eles apanhavam seus receptores deuma variedade de locais onde estavam escondidos — por baixo de tábuas do assoalho, atrás delatas de alimentos nas prateleiras da cozinha, enfiados em chaminés. No norte da Noruega,pescadores remavam para uma pequena ilha a diversas milhas do litoral, onde haviam escondidoum rádio em uma caverna. Em qualquer que fosse o ambiente, o dono do receptor o ligava,sintonizava na BBC a tempo de todos ouvirem o badalar do Big Ben e as palavras mágicas: This isLondon calling. A partir de então, escutavam as notícias do dia sobre a guerra em suas própriaslínguas e, quase sempre, ouviam os líderes dos respectivos países — o rei Haakon da Noruega; arainha Wilhelmina; o general Sikorski; Jan Masary k, ministro do Exterior da Tchecoslováquia —incitando-os a confiar na vitória final e, no meio-tempo, a fazer o possível para opor-se aoinimigo.

Um vasto número de europeus considerava as transmissões da BBC seus únicos vínculos coma liberdade. Numa carta saída às escondidas da Tchecoslováquia, um homem escreveu à BBC:“Eu enlouqueceria se perdesse sequer uma transmissão de Londres. É a única coisa que alimentaminha alma.” Um francês, que escapou para a capital da Inglaterra quando a guerra já ia muitoadiantada, lembrou-se: “É impossível [227] explicar o quanto dependíamos da BBC. No começo,ela era tudo.”

Somente os que experimentaram a invasão de seus países, Eve Curie observou certa vez,podiam entender totalmente a realidade da guerra e a preciosidade da liberdade que Londresrepresentava. Uma inglesa, caminhando por Piccadilly na companhia de uma amiga jornalistabelga, que acabara de escapar de uma prisão názi, surpreendeu-se com esse tipo de sentimento.Sua amiga, “quase embriagada de felicidade,” perdia o olhar pelo entorno, lembrou-se, como setentasse memorizar tudo o que via. “Sabe você, venho sonhando por meses com este momento!”exclamou. “Que maravilhoso é estar aqui! Milhões de pessoas em todo o continente nestemomento pensam em Londres!” Malgrado todas as privações e sofrimentos que os inglesesexperimentaram na Blitz, a inglesa pensou consigo mesma: “Os londrinos às vezes esquecemquão privilegiados são.” Apesar de ser verdade que os exilados europeus e os compatriotas que ficaram em seus países sebeneficiaram bastante do aliado inglês, também é verdade que a Inglaterra, os Estados Unidos eaté a União Soviética receberam muita coisa em troca. Embora os europeus estivessem entãomuito ofuscados pela coalizão dos Três Grandes, eles proporcionaram ajuda vital à causa dosaliados. Nos anos críticos de 1940 e 1941, ajudaram a salvar a Inglaterra da derrota e, nosúltimos estágios da guerra, provaram ser de imenso valor para o esforço aliado geral.

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Quando a Alemanha desfechou seu assalto aéreo sobre o sul da Inglaterra, em julho de 1940,a Royal Air Force estava em frangalhos, tendo perdido um terço de seus mais experientes pilotose metade de seus aviões nos combates na França e na Bélgica. Centenas de experimentadospilotos europeus — belgas, franceses, tchecos e, sobretudo, poloneses — preencheram os claros.Os aviadores polacos, que já haviam combatido a Luftwaffe em seu próprio país e na França,foram considerados os mais hábeis de todos; um de seus esquadrões abateu mais aviões alemãesdurante a Batalha da Inglaterra do que qualquer outra unidade adida à RAF. Segundo autoridadesdos altos escalões da força aérea inglesa, a contribuição dos poloneses foi crucial para a vitóriana Batalha da Inglaterra; alguns acreditam que foi decisiva. “Se a Polônia não estivesse ao nossolado naqueles dias (...) a chama da liberdade poderia ter sido apagada,” declarou a rainhaElizabeth em 1996.

Para ajudar a Inglaterra na sua exponencial perda de toneladas de transporte marítimo, aNoruega, detentora da quarta frota mercante do mundo, cedeu por empréstimo aos ingleses maisde 1.300 navios, com as tripulações. Entrementes, a Bélgica emprestou à Inglaterra parcelas desuas reservas de ouro quando foram necessários dólares para pagar os armamentos dos EstadosUnidos, antes de Roosevelt instituir o Lend-Lease. As abundantes reservas naturais de matérias-primas do Congo Belga, tais como borracha e petróleo, foram empregadas para ajudar a causados aliados.

Todavia, a maior contribuição europeia se deu no campo da Inteligência, das Informações.Pouco antes de começar a Batalha da Inglaterra, os decifradores de códigos de Bletchley Parktinham conseguido quebrar a versão para a Luftwaffe produzida pela máquina cifradora alemãEnigma. Meses mais tarde, foi quebrada a versão para a Marinha e, depois, para o Exército. Asinformações produzidas pelos analistas e criptógrafos ingleses sobre as táticas e planos militaresgermânicos foram cruciais para o triunfo na Batalha do Atlântico e para a vitória final dosaliados. Mas Bletchley Park não teria capacidade para tal façanha sem a ajuda dos franceses e,acima de tudo, dos poloneses. Empregando documentos supridos pelo serviçø de informaçõesfrancês, os criptografistas poloneses, no início dos anos 1930, foram os primeiros a decifrar asinterceptações efetuadas nas mensagens produzidas pela Enigma. No verão de 1939, às vésperasdas hostilidades, a agência de inteligência polonesa presenteou os criptografistas ingleses efranceses com uma réplica exata da máquina Enigma. Tal dispositivo, acompanhado deinformações sobre os códigos alemães repassados pelos poloneses, proporcionou as fundaçõessobre as quais os ingleses erigiram seu próprio e afamado sistema de quebra de códigos e cifras.

Mestre em se apossar dos créditos pelos sucessos da inteligência de tempo de guerra que,efetivamente, não tinham origem em sua agência, Stewart Menzies, chefe do louvado SecretIntelligence Service — MI6, foi rápido em declarar-se controlador de Bletchley Park. Isso lheproporcionou a agradável missão de apresentar a Churchill os últimos “ovos de ouro” dainteligência lá produzida. Enquanto Menzies se “refestelava na glória refletida e sobre ele lançada(...) a verdade era que o SIS não podia reivindicar responsabilidade exclusiva por qualquer dosgrandes feitos de informações na guerra,” declarou um funcionário inglês dessa esfera deatividade. A fonte de quase todos eles eram os serviços de inteligência sediados na Europaocupada.

Em todo o globo, o serviço secreto inglês angariou excelente reputação, graças em grandeparte à imagem de um SIS super treinado e onisciente, imagem amplamente divulgada nosromances de aventuras e espionagem publicados antes da guerra. Churchill considerava o serviçoinglês de inteligência “o melhor do mundo [229],” como também Heinrich Himmler e seu viceReinhard Heydrich, ambos viciados em ficção de espionagem. A realidade, no entanto, eramuito diferente. Carente de recursos governamentais no período entreguerras, o MI6 vinha por

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muito tempo sofrendo com a exiguidade de efetivos, de recursos financeiros, de pessoal talentosoe de tecnologia atualizada. Até a Alemanha invadir a Polônia e os Países Baixos, os chefes do SISse inclinavam pelo apaziguamento; iludidos por fictícias aberturas germânicas de paz em relaçãoà Inglaterra, dois operadores do SIS foram sequestrados por agentes de Heydrich no final de1939. Para aumentar a humilhação inglesa naquele caso, os agentes do SIS, quando interrogados,revelaram rapidamente detalhes da operação de sua agência, inclusive os nomes dos operadoresdo SIS por toda a Europa Ocidental. No curso da Blitzkrieg germânica tais operadores forampresos, e a rede do SIS, quase totalmente desbaratada.

Para Stewart Menzies e seu vice Claude Dansey, a chegada dos serviços secretos europeus aLondres foi uma dádiva caída do céu para que os dois se salvassem do desastre, bem como suaagência. Em troca de ajuda financeira, comunicações e apoio em transportes para os serviçosexilados, o SIS, sob a direção de Dansey, assumiu o controle da maioria de suas operações ecapitalizou seus triunfos. Graças, por exemplo, ao serviço secreto tcheco, o SIS tomouconhecimento de antemão dos planos alemães para invadir a França através das Ardenas em1940 e de tomar a Iugoslávia e a Grécia na primavera de 1941. (O feito da inteligência sobre asArdenas — e o fracasso de Inglaterra e França por não tomarem qualquer providência — provaque, por melhor que possam ser as informações, elas são inúteis se, em consequência, nenhumaação resultar.)

Enquanto isso, na Noruega, centenas de operadores de transceptores monitoravam ereportavam os movimentos dos submarinos e navios de guerra alemães ao longo da costa do país.Um deles informou a Londres, em 1941, que havia detectado quatro belonaves germânicas numdos fiordes da Noruega central — informação que levou ao afundamento do Bismarck e a sériosdanos no Prinz Eugen. Além das informações sobre a localização de navios e de tropas efortificações inimigas, agentes da resistência francesa se apossaram de planos alemães para adefesa costeira de todo o litoral da Normandia, o que foi de inestimável valor para oplanejamento de estado-maior dos aliados da invasão do Dia-D.

Entretanto, de todos os serviços secretos europeus, foi o polonês que proporcionou a parte doleão da inteligência aliada durante a guerra. Em 2005, o governo inglês admitiu que cerca de 50por cento das informações sigilosas obtidas pelos aliados nos tempos de guerra na Europa vieramde fontes polonesas. “Os polacos tinham [230] os melhores serviços especiais do continenteeuropeu,” disse Douglas Dodds-Parker, um funcionário da inteligência inglesa que com elestrabalhou durante a guerra. “A Polônia precisou de tais serviços (...) durante e entre os séculos deocupação e partição” executadas por seus mais poderosos vizinhos — Rússia, Alemanha eÁustria. “Com gerações de atividades clandestinas a embasá-los,” acrescentou Dodds-Parker,“os poloneses instruíram o restante de nós.”

A partir do momento em que a Polônia recuperou sua independência em 1918, passou a dargrande prioridade à coleta de informações e à decifração de códigos, especialmente dirigidas aosseus dois inimigos mais historicamente potentes, Alemanha e Rússia. Nas palavras de um ex-chefe das informações polonesas: “Caso se viva entre duas mós, é preciso aprender a não sedeixar triturar.” Em 1939, os líderes da inteligência polaca não foram capazes de evitar que issoacontecesse, porém, antes de escaparem para o oeste, deixaram estabelecida no país sofisticadarede clandestina que, mais tarde, forneceu uma cornucópia de informações a Londres, inclusiverelatórios sobre a movimentação militar germânica para o front russo. Além disso, a Polôniapossuía agentes na Escandinávia, Estados Bálticos, Suíça, Itália, Bélgica, Bálcãs, norte da África ena própria Alemanha. Na França, os poloneses operavam diversas das maiores redes deinformações. Por volta de 1944, uma dessas redes — de codinome F-2 — contava comsetecentos operadores em tempo integral e dois mil em tempo parcial, a maioria franceses,

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trabalhando em locais como portos, estações ferroviárias, fábricas de armamentos e até mesmoem instalações alemães de produção bélica.

No começo dos anos 1940, graças à F-2 e a uma variedade de outras fontes europeias deinformações, os aliados tomaram conhecimento dos testes que vinham sendo executados comduas novas armas secretas germânicas — a bomba voadora V-1 e o foguete V-2 — emPeenemünde, no litoral báltico da Alemanha. De posse desses dados, mais de quinhentosbombardeiros da RAF martelaram Peenemünde em agosto de 1943, retardando a produção deartefatos por mais de seis meses e evitando seu emprego sobre milhões de tropas dos aliados quese concentravam na Inglaterra para a invasão. Quando a Agência de Serviços Estratégicos americana (OSS) começou a operar em Londres,em 1942, não tinha ideia de que a fieira de inteligência que recebia do MI6 era produzida, narealidade, pelos serviços europeus. Como virtualmente todos os agentes da comunidadeinternacional de inteligência, os operadores da infante agência de sabotagem e espionagem dosEstados Unidos acreditavam na imbatível qualidade do SIS. “Chegamos a Londres [231] comogarotos novos na escola, não testados, desconhecidos, ridicularizados e menosprezados” pelosingleses, lembrou-se William Casey, que serviu na OSS durante a guerra e se tornou, mais tarde,chefe da CIA. Entre os que desdenhavam dos americanos estava o escritor MalcolmMuggeridge, um agente do SIS durante a guerra que escreveu em suas memórias: “Lembro-memuito bem deles, chegando como jeune filles en fleur recém-saídas do ginásio, todas saudáveis einocentes, para começarem a trabalhar no nosso velho e sufocante bordel das informações.”

Contudo, não demorou muito tempo para que “as inocentes” descobrissem o que se passavapor trás das bem cerradas portas do bordel. “A verdade é que, no lado positivo da inteligência, [oSIS] é lamentavelmente pobre,” observou em seu diário David Bruce, chefe da agência da OSSem Londres. “A maioria dos relatórios que nos envia é de duplicatas dos que já recebemos dosserviços secretos europeus de inteligência.” A despeito da veemente oposição de Claude Dansey,a OSS insistiu em abrir canais próprios com os serviços clandestinos europeus, proporcionando-lhes suporte financeiro e, com sua assistência, criando as próprias redes de espionagem nocontinente.

No campo da sabotagem, a OSS juntou forças com a nova agência do governo britânicochamada Agência de Operações Especiais (Special Operations Executive — SOE), que treinavaeuropeus para a sofisticada arte da subversão e para outras formas de resistência ativa. Emvastas propriedades situadas em todo o interior da Inglaterra e da Escócia, noruegueses,holandeses, poloneses, franceses, tchecos e belgas recebiam novas identidades e eram treinadosno salto de paraquedas, operação de transceptores, leitura de códigos, preparação de bombas eexplosivos, além de aprenderem a matar homens da SS no corpo a corpo. Eram então enviadosde volta aos seus países para treinarem outros combatentes clandestinos.

Em 1943, comandos noruegueses, por ordem do próprio Churchill, destruíram uma fábricade água pesada em seu país e ajudaram a evitar que a Alemanha desenvolvesse uma bombaatômica. Antes e depois do Dia-D, a sabotagem executada pela resistência francesa foi, naspalavras de Eisenhower, de “inestimável valor [232]” para o desembarque dos aliados e suaprogressão através da França. Na Bélgica, a subversão subterrânea impediu que os alemãesexplodissem o fundamental porto de Antuérpia. A resistência polonesa, o maior e maisdesenvolvido movimento clandestino na Europa, foi responsável por consideráveis retardos einterrupções nos transportes ferroviários germânicos através da Polônia na direção do FrontOriental, contribuindo assim para o colapso da ofensiva alemã contra a União Soviética.

Noutro serviço de incalculável valor para os aliados, os movimentos de resistência em cada

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país cativo ajudaram a resgatar e encaminhar sigilosamente de volta à Inglaterra milhares depilotos ingleses e americanos abatidos em operações aéreas atrás das linhas inimigas, assimcomo outros militares aliados aprisionados em territórios ocupados pelos alemães. Na Bélgica,por exemplo, uma mocinha chamada Andrée de Jongh criou uma rota de escape denominadaComet Line através de seu país natal e da França, e guarnecida em grande parte por amigos seus,com a finalidade de resgatar e devolver ingleses e americanos para a Grã-Bretanha. A própriade Jongh escoltou pessoalmente mais de uma centena de militares através dos Pirineus parachegar à neutra Espanha.

Como de Jongh e seus colegas sabiam, a atividade na resistência, independentemente dosexo, era bem mais perigosa do que o combate no campo de batalha ou no ar. Caso capturados,os militares uniformizados eram enviados para campos de prisioneiros de guerra, onde aConvenção de Genebra era normalmente aplicada. Quando membros da resistência eramapanhados, enfrentavam a tortura e o horror de um campo názi de concentração e/ou aexecução. O perigo da captura era particularmente grande para os que abrigavam combatentesingleses ou americanos, a maioria dos quais não falava a língua do país em que tinham sidoresgatados e eram muito difíceis de disfarçar. Como observou um oficial inglês da inteligência,“não é tarefa fácil esconder e alimentar um estrangeiro em seu meio, especialmente quando setrata de um escocês com um metro e oitenta e cinco de altura e cabelos ruivos, ou um americanomascador de chiclete vindo do meio-oeste.”

James Langley, chefe da agência inglesa que ajudava as linhas europeias de escape, maistarde estimou que, para cada americano ou inglês resgatado, pelo menos um operador daresistência, homem ou mulher, perdeu sua vida. Andrée de Jongh conseguiu escapar dessedestino. Capturada em janeiro de 1943 e enviada para o campo de concentração de Ravensbruck,na Alemanha, ela sobreviveu à guerra, apesar de ter livremente admitido ser a criadora daComet Line, porque os germânicos não acreditaram que uma moça tão nova pudesse terarquitetado a intrincada operação. No fim do século XIX, Lord Salisbury , então primeiro-ministro da Inglaterra, dissera com umtorcer de nariz: “A Inglaterra não solicita [233] alianças. Ela as concede.” Winston Churchillnunca teve tal luxo. Como a Inglaterra enfrentou uma possível invasão germânica em 1940 e1941, o primeiro-ministro necessitou de todos os aliados que pudesse conseguir, não importavaquão insignificantes fossem, para ajudá-lo a evitar a derrota.

Não obstante a oposição de membros de seu Gabinete e de muitos do resto de Whitehall, eleinsistiu que todos os governos no exílio fossem bem recebidos na Inglaterra, juntamente com suasforças armadas. “Devemos vencer juntos ou perecer juntos,” disse ao general Sikorski e aospoloneses em junho de 1940. Quando a França capitulou diante dos alemães, Charles de Gaulle,elemento de pouca expressão no governo e o mais jovem general do Exército, foi o únicomembro do alto escalão que ousou desafiar o armistício e ir para Londres. “O senhor estásozinho,” Churchill disse-lhe. “Bem, então reconhecerei só o senhor.” Quando membros doGabinete quiseram postergar o fim das relações com o governo Pétain, Churchill exigiu que aInglaterra reconhecesse de Gaulle como “líder de todos os franceses, estejam onde estiverem,que se congreguem à sua volta em apoio à causa dos aliados.”

Mas o devoto suporte do primeiro-ministro inglês aos seus aliados europeus durou até que aUnião Soviética e os Estados Unidos foram empurrados para a guerra. Quando as duas poderosasnações se juntaram à aliança, a antiga solidariedade entre a Inglaterra e a Europa ocupada deulugar às exigências da Realpolitik. Se bem que absolutamente consciente do débito que tinha oseuropeus pela sua ajuda passada, Churchill precisava substancialmente mais dos dois recém-

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chegados.Em consequência, a posição de todos os governos europeus foi dramaticamente minimizada,

em especial quando os Estados Unidos entraram na guerra. A despeito de seu endosso à liberdadee igualdade para todas as nações, Roosevelt, apoiado por Churchill, advertiu que a Américaestaria no leme a partir de então. Cambaleando após as derrotas em Cingapura, Hong Kong,Malásia e Birmânia, o primeiro-ministro precisava desesperadamente da ajuda americana edeixou claro que sua principal lealdade era então devida ao presidente dos EUA.

Em janeiro de 1942, Roosevelt e Churchill encenaram a assinatura em Washington de umAcordo das Nações Unidas (como o Presidente denominou as vinte e seis nações em aliança naocasião), que se comprometiam a empregar todos seus recursos na disputa armada e reiteravamsuas adesões aos princípios da Carta do Atlântico. “As Nações Unidas [234] constituem umaassociação de povos independentes com igual dignidade e igual importância,” declarouRoosevelt. Ainda assim, apenas a União Soviética e a China foram consultadas de antemão sobrea minuta do documento, e só os embaixadores desses dois países receberam convites formaispara a cerimônia de assinatura, na Casa Branca, com Roosevelt e Churchill. Os embaixadoresdos outros países aliados foram meramente informados de que poderiam passar por lá, quandolhes fosse conveniente, para assinarem a declaração.

Depois da assinatura, durante jantar na Casa Branca, um dos convidados mencionou o reiZog, cujo país — a Albânia — fora invadido por Mussolini em 1939. “Winston, esquecemos o reiZog!” — exclamou o Presidente. “Acredito que aqui existe um representante ou ministro daAlbânia — temos que fazer com que ele assine nosso pequeno documento.” Os outros convidadosriram, mas um deles — um escritor de descendência eslovena, chamado Louis Adamic,convidado para o jantar por Eleanor Roosevelt — ficou incomodado com o que considerou tomfrívolo e condescendente da troca de palavras entre Roosevelt e Churchill sobre a Albânia. “Umpar de imperadores!” pensou Adamic consigo mesmo. “Diz um imperador ao outro, sentado nolado oposto da mesa: 'Oh, céus, esquecemos do Zog'. Tudo é muito engraçado. Mas tambémextremamente pessoal, aleatório, arrogante, casual. Do que mais descuramos?”

A atitude do Presidente para com os países da Europa ocupada e os outros pequenos aliadosrevelou algumas das contradições de sua imensamente complexa personalidade. ComoWoodrow Wilson, adepto da noção de que a Primeira Guerra Mundial “tornaria o mundo seguropara a democracia,” Roosevelt acreditava que a missão da América após a Segunda GuerraMundial era ajudar a construir um mundo mais justo. No entanto, ele também acreditava — talqual Stalin e, um pouco menos, Churchill — que os Três Grandes tinham o direito de ditar asregras para os estados menos poderosos, não apenas durante como também depois da guerra. “OPresidente,” disse Arthur Schlesinger Jr., “falava em idealismo, [235] mas jogou o jogo dopoder.”

Na primavera de 1942, numa reunião com o ministro soviético do Exterior Vy acheslavMolotov, FDR esboçou a imagem de um mundo pós-guerra muito diferente daquele visualizadona Carta do Atlântico. Tal mundo não seria governado pelos ideais da igualdade e da justiça, maspela política do Gran Poder. Os Estados Unidos, a União Soviética, a Inglaterra e a Chinaconstituiriam a força policial do mundo, e os pequenos países, despojados de seus armamentos,salvo os fuzis, se submeteriam à vontade da força policial. Roosevelt continuou advogando essaideia, mesmo enquanto defendia, simultaneamente, sua visão de uma federação internacional denações.

Com o prosseguimento da guerra, os aliados menos poderosos foram sendo excluídos dequalquer papel significativo nas operações de guerra e das discussões sobre o formato geopolíticoque o mundo pós-guerra tomaria. Visitantes estrangeiros à Casa Branca ficavam pasmos com a

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maneira casual de Roosevelt falar sobre os destinos de outras nações, como se coubesse só a eledecidir. Na sua reunião com Molotov, por exemplo, o Presidente declarou que a União Soviéticaprecisava de um porto ao norte que não ficasse congelado no inverno e sugeriu que ela seapossasse do porto norueguês de Narvik. Os perplexos soviéticos rejeitaram a proposta,salientando que “não tinham pleitos territoriais, ou quaisquer outros, contra a Noruega.”

Sobre Roosevelt, Oliver Ly ttelton, ministro inglês da Produção, escreveu: “Ele permitia queseus pensamentos e palavras adejassem sobre o tumultuado e problemático cenário [mundial]com uma despreocupação e inconsequencia que eram realmente assustadoras em alguém quedetinha tamanho poder.” Ly ttelton fez essa observação depois de uma conversa até altas horascom o Presidente, na sala de FDR da Casa Branca, no início de 1943. No decurso da conversa,Roosevelt mencionou as divisões entre os dois principais grupos étnicos belgas — os flamengos,de língua holandesa, e os valões, de língua francesa. Depois de declarar que os flamengos e osvalões “não podiam viver juntos,” propôs que “após a guerra, deveríamos criar dois estados, umconhecido como Valônia, e outro como Flamínia, assim como deveríamos juntar Flamínia eLuxemburgo. O que me dizem sobre isso?” Incrédulo com a noção de se forçar um aliadoeuropeu a se dividir, Ly ttelton só pôde observar que achava que a ideia “requeria muitosestudos.” Quando o ministro inglês reportou mais tarde a Anthony Eden os comentários deRoosevelt, o ministro inglês do Exterior disse ter certeza de que o Presidente brincava. Porém,quando o próprio Eden visitou a Casa Branca poucas semanas depois, Roosevelt reapresentou aproposta. “Servi-me de água [236], esperei polidamente, não disse nada [sobre a ideia],”registrou Eden em seu diário, “e o Presidente não voltou mais ao assunto.”

Em suas memórias, Eden observou: “Roosevelt conhecia a história e a geografia da Europa(...) mas as amplas opiniões que manifestava sobre ela eram alarmantes por sua alegreirresponsabilidade. Ele parecia ver-se decidindo sobre os destinos de muitas terras, tanto aliadascomo inimigas. Fazia isso tudo com tal encanto que era difícil discordar. No entanto,assemelhava-se muito a um malabarista, jogando habilmente para o alto bolas de dinamite, semperceber o poder que elas encerravam.” Tendo pouco ou nenhum conhecimento das atitudes privadas de Roosevelt em relação ao futurode seus países, os governos e os povos da Europa ocupada o consideravam, nas palavras dointelectual inglês Isaiah Berlin, “uma espécie de semideus benevolente que, sozinho, poderiasalvá-los, e iria salvá-los no fim.” Mas alguns deles começaram a questionar essa fé depois doacordo com Darlan. Poucos dias após o assassinato do almirante, Ed Murrow escreveu a umconhecido: “Existe um grande temor, não apenas neste país, mas também entre os governos noexílio, quanto ao uso que a América fará de seu poder predominante uma vez terminada aguerra.”

Wallace Carroll anotou que rumores começaram a circular nos círculos de exiladoslondrinos assim que o acordo foi anunciado: “Qual será o próximo passo dos generaisamericanos? Chegarão a acordo como Pétain e Laval, na França, com Quisling, na Noruega,com Degrelle, na Bélgica, com Mussert, na Holanda?” Membros dos movimentos europeus deresistência, cujas vidas estavam em constante perigo devido, em grande parte, a colaboradorescomo Darlan, eram os mais abertos ao expressarem seus desapontamentos e raivas. De acordocom um relatório do SOE, o conluio dos aliados com Darlan “produzira violentas reações emtodas as nossas organizações clandestinas nos países ocupados pelo inimigo, particularmente naFrança, onde ele caiu como uma bomba e arrefeceu drasticamente o moral.” Os governos noexílio se mostravam também inquietos com o fato de que, em nome da conveniência, de Gaulle,apoiado por todos como líder dos Franceses Livres, estivesse sendo ignorado pelos Estados Unidos

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e, por via de consequência, pela Inglaterra.Na verdade, o alto e empertigado general de pernas muito compridas não era um homem

fácil de lidar. Mesmo os mais leais seguidores se exasperavam com sua arrogância,suscetibilidade e estilo autocrático de liderança. Muitos destacados opositores dos franceses deVichy, como Jean Monet, que se tornou assessor do presidente Roosevelt em Washington,queriam distância do general. De Gaulle, Lord Moran disse, “positivamente exagera [237] na suamaneira de ser difícil. (...) Uma criatura exótica, como uma girafa humana fungando com suasgrandes narinas os mortais postados abaixo dela.”

Ao mesmo tempo, de Gaulle tinha muitas razões para ser impertinente. Ele estava, comoPug Ismay realçou, “numa posição horrivelmente complicada.” O governo de Vichy o haviacondenado à morte por traição, poucos militares e funcionários franceses o tinham inicialmenteacompanhado até Londres, e sua amada França se encontrava profundamente desmoralizada edividida. Enquanto bom número de gauleses rejeitara desde o início a capitulação de Vichyperante a Alemanha, muitos mais confiavam que Pétain, herói extremamente reverenciado daPrimeira Guerra Mundial, poderia trazer estabilidade para seu humilhado país e para suaspróprias vidas.

Para de Gaulle, a assustadora tarefa de inspirar e unificar sua pátria-mãe rachada emfacções, era dificultada pelo fato de, ao contrário dos governos europeus no exílio, seumovimento não ser reconhecido por Inglaterra e Estados Unidos como órgão oficial de governoda França. Para desconforto do general, ele e seus colegas líderes no exílio tinham uma coisa emcomum: o governo deles e o seu movimento eram quase totalmente dependentes do apoiofinanceiro da Inglaterra — e, indiretamente, dos Estados Unidos, através do Lend-Lease.[*]“Aproximar-se [dos ingleses] como um pedinte, com a desventura de seu país estampada natesta e ferindo seu coração, era insuportável” para ele, observou a esposa de Edward Spears,ligação de Churchill com de Gaulle.

Todavia, diferente de outros líderes europeus, o general francês rejeitou o reconhecimentode sua posição inferior. Teimou que os Franceses Livres, em virtude da histórica proeminênciade seu país na Europa, teriam de desempenhar um papel importante no desenrolar da guerra.“Não sou subordinado [238] a ninguém,” declarou certa vez. “Tenho uma missão, e só uma, queé conduzir a luta para a libertação de meu país.” Para Spears, de Gaulle se abriu: “Você pensaque estou interessado na vitória da Inglaterra na guerra? Não estou não. Só estou interessado navitória da França.” Quando um espantado Spears replicou, “Mas as duas são a mesma coisa,” deGaulle disparou de volta: “Em absoluto, não.”

Tão obstinada rebelião levava Churchill à loucura. O primeiro-ministro, que tinha profundaafeição pela França e a visitara repetidas vezes no período pré-guerra, experimentavasentimentos conflituosos quanto a de Gaulle. Por um lado, tinha tremenda admiração pela recusado general em aceitar a derrota e por sua férrea determinação de continuar lutando por maisdesvantajosos que fossem os fatores enfrentados — qualidades compartidas pelo próprioChurchill. Ao mesmo tempo, sentia-se furioso e melindrado pela aparente ingratidão de deGaulle em relação ao que o primeiro-ministro havia feito por ele, como evidenciavam suasconstantes queixas e críticas, muitas delas feitas publicamente, sobre o que o general via comoesquecimento da Inglaterra e violação dos interesses franceses. As discussões de tempo deguerra em que os dois se envolveram foram monumentais em sua ferocidade, e Churchill, depoisdelas, com frequência declarava que não queria mais tratar com o temperamental francês.Depois de ouvir uma dessas explosões, Harold Nicolson acalmou Churchill: “O senhor pode estarcerto, senhor primeiro-ministro, mas seguramente tudo isso é irrelevante, pois o general deGaulle é um grande homem.” Churchill olhou feio. “Um grande homem?” — rugiu. “Ora essa, é

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um egoísta! Um arrogante! Acha que é o centro do universo! Ele... Ele...” Por não encontrarmais qualificativos, o primeiro-ministro fez uma pausa. “Você está certo,” disse por fim. “É umgrande homem.”

De Gaulle, por seu turno, ocasionalmente flexionava um pouco para demonstrar seu apreçopor Churchill. Na oportunidade em que a guerra ia a meio caminho, ele enviou um livro francêsde fotos do duque de Marlborough, ilustre ancestral do primeiro-ministro, ao neto de Churchill,também chamado Winston. Numa carta a Pamela Churchill, mãe do menino, de Gaulleescreveu que o livro “é quase a única coisa que eu trouxe da França. Se, mais tarde, o jovemWinston Churchill der uma olhada nos desenhos e figuras, talvez pare um minuto para pensarnum general francês que foi, na maior guerra da história, admirador sincero de seu avô e fielaliado de seu país.”

Roosevelt, de sua parte, jamais compartilhou da opinião de Churchill sobre de Gaulle comoum grande homem. Ao contrário do primeiro-ministro, o Presidente só sentia desprezo pelogeneral e por seu derrotado país. Ao capitular para a Alemanha, pensava ele, e França haviaperdido seu lugar entre as Potências Ocidentais. Na cabeça do Presidente, “a França haviafracassado, e o fracasso tinha de ser punido,” [239] escreveu Ted Morgan, um dos biógrafos deFDR. Roosevelt tinha pouco entendimento sobre a complexidade da situação na França, e escassasimpatia por seus confusos, traumatizados cidadãos. “Não existe França,” declarou, insistindo queo país realmente não existiria até ser libertado. Quanto a de Gaulle, Roosevelt o consideravainsignificante e absurdo, marionete inglesa com as ambições grandiosas de um ditador, maspequeno apoio entre seus concidadãos. “Ele se toma por uma Joana D'Arc, um Napoleão, umClemenceau,” comparou o Presidente. Roosevelt estava “convencido,” escreveu WallaceCarroll, “de que as ambições de de Gaulle eram uma ameaça à harmonia dos aliados e umperigo para a democracia francesa. Em decorrência, decidiu — e, uma vez decidido, nada ofazia mudar de opinião — que os Estados Unidos não fariam concessões que ajudassem deGaulle a concretizar seus intentos.”

Mesmo quando a OSS despachou um líder francês clandestino para Washington, no final de1942, a fim de deixar claro que o movimento de resistência francesa aceitava de Gaulle comoseu líder, Roosevelt recusou-se a ceder. O general e seus seguidores, disse ele a Churchill, nãodeveriam receber missão na libertação e no governo do norte da África e da França. De Gaulle,mais tarde, salientou: “Roosevelt queria que a paz fosse uma paz americana, convicto de quetinha de ser o homem que lhe ditaria a estrutura, e que a França, em particular, deveriareconhecê-lo como seu salvador e árbitro. (...) Como qualquer astro, ficou amuado quando viualguns papéis distribuídos a outros atores.” Segundo o jornalista e escritor John Gunther, oPresidente “falava sobre o império francês como se fosse possessão pessoal sua e dizia coisascomo 'não decidi ainda o que fazer com Túnis.'”

Pelo fim da campanha no norte da África, entretanto, ficou claro que o Presidente lutava poruma causa perdida no que concernia a de Gaulle. Milhares de soldados franceses de Vichy, nonorte da África, haviam trocado de lado, juntando-se aos Franceses Livres (agora denominadosCombatentes Franceses) e tornando o movimento de de Gaulle uma força militar bem maispoderosa. Na França, a oposição a Pétain se agigantou, da mesma forma que os movimentos deresistência e o apoio a de Gaulle. O general também era apoiado pelos governos europeus noexílio, assim como pela maioria do povo, da imprensa e do Parlamento na Inglaterra, além departe substancial da opinião pública americana. Em contraste, o general Giraud, nomeado pelosamericanos para substituir Darlan como líder francês no norte da África, não tinha praticamenteapoio dentro do governo Roosevelt. “Entre Giraud e de Gaulle [240], não há realmente disputa,”disse um chefe da resistência francesa a Harold Nicolson. “Giraud não é um nome na França.

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De Gaulle é mais do que um nome, é uma lenda.”Por fim, curvando-se um pouco ao que a maioria via como inevitável, Roosevelt aceitou que

de Gaulle não poderia ser totalmente afastado do governo do norte da África, e autorizou aassociação do general com Giraud. Em junho de 1943, foi formado em Argel o Comitê Francêsde Libertação Nacional, com Giraud e de Gaulle constituindo dupla presidência. Decorridaspoucas semanas, ficou patente que tinha lugar uma luta pelo poder no comitê e que de Gaullevencia.

Disposto a não deixar que sua bête noire assumisse o controle, Roosevelt, que por muitotempo vinha recriminando Churchill por não chamar nos eixos sua “criança problema,”pressionou o primeiro-ministro a retirar todo o apoio britânico a de Gaulle. Fazendo circulardocumentos que descreviam o general como sabotador dos aliados, o Presidente declarou aChurchill que de Gaulle “vem minando nosso esforço de guerra, ainda o faz, e (...) é ameaçamuito perigosa para nós.”

O primeiro-ministro achou-se em posição extremamente delicada. Tendo prometido suportea de Gaulle como líder dos Franceses Livres onde quer que estivessem, não poderia faltar à suapalavra. Se fizesse o que Roosevelt queria, enfrentaria séria resistência do povo inglês e de muitosservidores de seu próprio governo. Enquanto os Estados Unidos, protegidos pela distância nocontinente norte-americano, podiam se dar ao luxo de eliminar a França como potência do pós-guerra, a Inglaterra encarava como essencial que seu vizinho europeu mais próximo fosse,depois do conflito, tão fortalecido quanto possível para ajudar a equilibrar as forças com umaAlemanha renascente e com uma União Soviética cada vez mais poderosa. Todavia, tambémnão havia dúvida de que, em junho de 1943, Churchill precisava bem mais dos Estados Unidosque da França. O primeiro-ministro declararia mais tarde a de Gaulle: “Sempre que tivermosque escolher entre a Europa e o mar aberto, optaremos pelo mar aberto. Sempre que eu tiver queescolher entre Roosevelt e o senhor, ficarei com Roosevelt.”

Arrastado pelos argumentos de Roosevelt contra de Gaulle, Churchill, chamando o general“esse vaidoso [241] e até homem,” instou seu Gabinete a considerar “se não deveríamos agoraeliminar de Gaulle como força política.” Os membros do Gabinete, fortemente influenciados porAnthony Eden, rejeitaram a ideia, declarando que “não só o transformaríamos em mártir comoseríamos acusados (...) de intromissão indevida em questões internas francesas e de tratar aFrança como um protetorado anglo-americano.” Em 1940, o Foreign Office, chefiado por LordHalifax, havia liderado a oposição a Churchill no reconhecimento de de Gaulle; agora, o mesmoForeign Office, sob as ordens de Eden, servia como ponta de lança no esforço de proteger ogeneral contra a fúria de Churchill e Roosevelt. A teimosa objeção de Roosevelt a de Gaulle e seu movimento era fonte de frustração não sópara os ingleses mas também para os funcionários e comandantes militares americanos emLondres e em Argel. Decerto, ela tornou a vida mais difícil para Eisenhower, o qual, por penosaexperiência, agora sabia bem mais do que FDR sobre a enredada complexidade da políticaeuropeia e do norte da África. Em suas memórias, Eisenhower realça que Roosevelt se referiaao norte francês da África e a seus habitantes “em termos de ordens, instruções e imposições.(...) Continuava, talvez inconscientemente, a discutir os problemas do ponto de vista de umconquistador. Teria sido muito mais fácil para nós se tivéssemos podido agir da mesma forma.”

Talvez o crítico americano mais ostensivo dessa política de Roosevelt tenha sido WallaceCarroll, diretor da Agência de Informação de Guerra sediada em Londres, que não mediupalavras para declarar que as diretrizes do Presidente resultaram em séria derrota de propagandae de política para os Estados Unidos. “Pareceu,” observou Carroll, “que mostrávamos uma

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espécie de arrogância, uma atitude que negava o direito de nações menores e menos afortunadasquestionarem ações americanas.”

David Bruce concordava, dizendo a Gil Winant que os preparativos para a invasão da França,que dependiam demais das informações dos franceses subterrâneos, poderiam ser postos emrisco se o homem considerado pela resistência como seu líder continuasse excluído poramericanos e ingleses.

Por seu turno, os agentes da OSS, que operavam em estreito contato com membros daresistência nos países cativos da Europa e sabiam dos perigos que eles enfrentavam por ajudar osaliados, não tinham paciência com o que viam como maquiavélicos jogos de poder político“praticados em [242] detrimento de nações menores e povos impotentes.” Como muitos outrosfuncionários americanos em Londres, eles se sentiam alienados de seus superiores emWashington, os quais, seguros e distantes dos riscos da guerra, deslocavam pessoas para lá e paracá, como peões num tabuleiro de xadrez, e expediam ordens sem consideração ou cuidados comos efeitos que elas poderiam provocar.

Gil Winant partilhava de tais preocupações. Embora permanecendo “em todos os momentoso devotado servidor do Presidente,” o embaixador também via “o custo para os Estados Unidosde sua atitude emocional em relação a de Gaulle,” registrou Wallace Carroll. Ainda que osEstados Unidos não tivessem vínculos oficiais com os Combatentes Franceses, Winant criou umacerrada relação informal com de Gaulle, o qual, deixando temporariamente de lado suarabugice, elogiou mais tarde o americano como “diplomata de grande inteligência e intuição” eum “esplêndido embaixador.” Winant fez o papel de apaziguador em diversas ocasiões quandosurgiram desacordos entre o general e funcionários americanos em Londres e no norte daÁfrica. Ele sabia muito bem que, gostassem ou não, de Gaulle teria um papel crucial na Françalibertada.

Numa das muitas conversas com Carroll sobre o assunto, Winant perguntou retoricamente:“Quem está salvando nossos pilotos quando são resgatados em toda a França?” Enquantocaminhava de um lado para o outro no seu gabinete, ele mesmo respondeu: “É gente quereconhece de Gaulle como líder. Quem fornece a maior parte das informações que conseguimosda França? É a gente de de Gaulle, não é? Quando chegarmos à França, teremos que nosentender com de Gaulle. (...) Não há outro que possa assumir a administração civil.”

Pelo meio do verão de 1943, Winant e Eden trabalharam juntos para tentar persuadirChurchill e Roosevelt a reconhecerem o Comitê Francês de Libertação Nacional como principalórgão governante no norte da África e em outras colônias francesas libertadas, e também comoúnica voz da França livre. Todos os governos europeus no exílio haviam reconhecido o comitê,como também o Canadá, a Austrália e a África do Sul; a União Soviética estava prestes a fazer omesmo. Eisenhower e a maioria dos membros do Parlamento inglês defendiam igualmente oreconhecimento. Winant juntou-se ao coro, enviando uma nota a FDR na qual o instava a tomarconhecimento oficial do comitê. Sobre a mensagem do embaixador, Carroll comentou: “Nãocreio que ela tenha aumentado sua popularidade em Washington, nem produzido algum efeito.”O próprio Winant disse a funcionários ingleses que “estava em maus lençóis [243]” por forçar oreconhecimento. Roosevelt continuou resistindo, mesmo quando Churchill finalmente sucumbiu edisse ao Presidente que ele deveria acompanhá-lo: “Estou chegando ao ponto em que seránecessário que eu dê esse passo até onde os interesses da Grã-Bretanha e anglo-franceses estãoenvolvidos.”

Por fim, ante a oposição de aparentemente todos os outros países da Grande Aliança, FDRanuiu, no final de agosto de 1943, a um reconhecimento americano, cheio de limitações, doComitê Francês. (No mesmo dia, o governo britânico anunciou seu próprio e menos restritivo

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reconhecimento.) Ao mesmo tempo, no entanto, o Presidente recusou-se a interromper seuesforço de se ver livre de de Gaulle, para intenso ressentimento e raiva do general. FDRcontinuou tentando robustecer a posição de Giraud, convidando-o aos Estados Unidos e com todaa pompa à Casa Branca. A campanha não deu resultado. Em novembro, Giraud foi forçado adeixar a dupla presidência, e de Gaulle assumiu o controle total. Ofuscada pela STURM UND DRANG [ação e emoção] da controvérsia sobre a França, outranação europeia cativa — a Polônia — também se viu em dificuldades com seus maiores e maispoderosos aliados. Até que a União Soviética fosse catapultada para a guerra em junho de 1941,a Polônia havia contribuído mais para a sobrevivência da Inglaterra do que qualquer outro paísdeclaradamente aliado. Os dois países gozavam também de estreitos laços oficiais: a Inglaterra,comprometida através de tratado a defender a soberania e a independência da Polônia, declararaguerra à Alemanha quando esta invadiu a Polônia em setembro de 1939.

Mas a Alemanha não foi o único país que atacou os poloneses naquele setembro. Ossoviéticos, com a carta branca de Hitler — proporcionada pelo Pacto de Não AgressãoRibbentrop-Molotov — para invadir a Polônia pelo leste, ocupou metade de seu território edeportou mais de um milhão de polacos para campos de concentração e de trabalhos forçados naSibéria e em outras remotas paragens da União Soviética.

Desde os primeiros dias de sua abrupta e relutante aliança com o Ocidente, Stalin deixouclaro que pretendia manter o território polonês que conquistara em 1939 e insinuou seu interesseem controlar o restante do país depois da guerra. De sua parte, o governo polonês no exílio, semsurpresas, opôs-se a quaisquer intentos soviéticos contra o território e a independência de seu país.Apesar de simpatizar com os poloneses, Churchill precisava bem mais de Stalin, e ele e Edenpressionaram Sikorski a assinar um tratado com os soviéticos, no verão e 1941, que deixava emaberto a questão das fronteiras pós-guerra da Polônia. Eden, que mais tarde expressariapreocupações a respeito da interferência dos Estados Unidos e da Inglaterra nas questões internasfrancesas, disse ao primeiro-ministro polonês: “Queira o senhor ou não [244], um tratado tem deser assinado.”

A realidade era que, enquanto os próprios interesses militares e políticos ingleses estavaminextricavelmente vinculados ao futuro da França e do resto da Europa Ocidental, os britânicosnão tinham tais interesses em países do Leste Europeu como a Polônia. O conde EdwardRaczynski, embaixador polonês na Inglaterra, destacou que de Gaulle “tinha poder para irritar osestadistas britânicos (...) e dizer-lhes verdades desagradáveis cara a cara. Os ingleses podiam nãogostar, mas não lhes convinha abandonar o general ou a França. No entando, podiam tratar — ede fato trataram — a causa polonesa e a de todo o Leste Europeu como algo secundário seminteresse vital para eles, e sim apenas um débito de honra a ser descartado, se possível, semgrande risco ou esforço.”

No começo de 1942, Stalin pressionou a Inglaterra a assinar um acordo secretoreconhecendo os pleitos soviéticos sobre a Polônia Oriental e os Países Bálticos. De início,Churchill rejeitou a ideia, porém, sob a tensão das repetidas derrotas militares inglesas e da forteexigência russa de abertura de uma Segunda Frente, decidiu ceder. “A gravidade crescente daguerra levou-me a julgar que os princípios da Carta do Atlântico não deveriam ser interpretadosde modo a negar à Rússia as fronteiras que ela ocupava quando foi atacada pela Alemanha,”escreveu o primeiro-ministro a Roosevelt.

Embora os Estados Unidos fossem inicialmente contrários à negociação, Roosevelt mudou deideia menos de um ano mais tarde. A Polônia tinha bem menos força sobre lealdades e interessesdos EUA do que com os da Inglaterra: não havia tratados americano-poloneses a preocupar,

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nenhum débito dos EUA com os pilotos ou soldados polacos por ajudarem o país a sobreviver.Para Roosevelt, que desejava manter Stalin feliz, a Polônia era problema periférico. Disse aEden, em março de 1943, que cabia a americanos, soviéticos e ingleses decidir sobre asfronteiras polonesas; ele, de sua parte, não tinha a intenção de “ir à conferência de paz ebarganhar com a Polônia ou com os outros estados pequenos.” A Polônia teria de ser organizada“de forma a manter a paz do mundo.” Em outras palavras, ele não se meteria no caminho dasexigências soviéticas.

Para os dois líderes ocidentais, a aliança com Stalin punha um dilema moral peculiar.Roosevelt e Churchill, observou o historiador militar inglês Max Hastings, “acharam conveniente[245], talvez essencial, deixar os cidadãos de Stalin arcarem com uma escala de sacrifíciohumano que era necessária para destruir os exércitos názis, mas que as sensibilidades de suaspróprias nações deixavam-nas sem vontade de aceitar.” Em consequência, trocaram “dependerde uma tirania” — a União Soviética — pela “destruição de outra” — a Alemanha názi.

Ao fazê-lo, abandonaram o futuro da Polônia.

[*]Os EUA proporcionaram mais de US$50 bilhões de ajuda com o programa Lend-Lease paraquarenta e quatro países durante a guerra. A Inglaterra e os países do Commonwealth receberama maior parte, e a União Soviética apareceu em segundo lugar.

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“Um Manto de Privilégios”

Certo dia, quando a guerra já ia a meio caminho, a correspondente da Time-Life, Mary Welsh,passeava a pé por Piccadilly segurando uma laranja, presente de amigos americanos recém-chegados à Inglaterra. Os pedestres, que cruzavam com ela, olhavam a laranja atônitos, disseWelsh mais tarde, como se ela fosse “uma cabeça humana [ 246].” Eram decorridos mais dedois anos desde que a maioria dos londrinos havia visto uma laranja, ou um limão ou umabanana. Pelo fim da guerra, muitas crianças inglesas, por jamais terem deitado os olhos numalaranja ou esquecido como ela era, não tinham ideia de como comê-la. Cebola era outro artigoraro, tão escasso que era oferecido como prêmio em rifas.

Embora Londres tivesse assumido ares cosmopolitas graças aos exilados estrangeiros que láviviam temporariamente, a cidade também se tornara surrada e desarrumada. Para a maiorparte dos residentes, austeridade e escassez eram o normal. A aguda falta de alimentos e de itensde consumo significava longas horas de pé em filas para quase tudo o que os londrinos quisessemadquirir, dos simples copos, passando pelas escovas de dentes, às agulhas de costura. Ao ver umafila com cerca de setenta pessoas no lado de fora de uma loja, um homem perguntou a outro,que também observava, para o que era. “Creio que nem eles sabem por que estão na fila,” foi aresposta. “Para alguns, trata-se de uma histeria — sempre que veem uma fila, entram nela.”Uma dona de casa londrina observou: “Muitas vezes, esperamos mais de uma hora na fila paracomprar meio quilo de batatas ou 250 gramas de fígado.”

Junto com a política e a guerra, comida eram o tópico mais popular na conversa dos inglesesconhecidos de Mary Welsh. “Toda a ilha parecia um clube de mulheres em dieta,” observou ela,“sendo a ênfase das conversas a aquisição de artigos alimentícios que não fossem batatas, couveou repolhos.” Depois da guerra, Theodora FitzGibbon, modelo vivo para artistas que morava emChelsea, escreveu: “É difícil entender hoje que estávamos sempre com fome. Simplesmente nãohavia o que comer.” O romancista e correspondente estrangeiro Derek Lambert, que era umrapaz durante a guerra, lembra-se de como, para sua mãe, “cada dia era [247] uma batalha paraconseguir calorias, vitaminas, carboidrato e aquecimento para mim e para meu pai. (...)Fazíamos as refeições na cozinha porque não havia carvão suficiente para acender a lareira, e nacozinha tremíamos em uníssono. A missão de mamãe era lutar e explorar, economizar eimprovisar, bajular o açougueiro e discutir com o dono da mercearia.” Enfrentando rigorosoracionamento de carvão e de eletricidade, as famílias iam mais cedo para a cama para seaquecerem; durante o dia, mulheres empurrando carrinhos de bebê ou cestas de mercadoentravam na fila em depósitos de emergência de carvão para tentarem conseguir uns poucospreciosos torrões do combustível.

Para a maioria dos londrinos, comprar roupas novas era quase tão difícil quanto adquiriralimentos e combustível. Mary Welsh se orgulhava de sua previdência por ter compradoalgumas dúzias de pares de meias para ela mesma e para amigas inglesas, numa visita a NovaYork em 1942, mas esquecera de estocar roupa de baixo. Por volta de 1944, essa falta se tornouum “problema crucial”; quando os elásticos das ligas começaram a afrouxar, Welsh se viuforçada a recorrer a elásticos de borracha para manter no lugar suas estimadas meias. Numacarta aos pais de maio de 1943, Janet Murrow descreveu as roupas desmazeladas e puídas dagente que assistia à troca de guarda em frente ao Palácio de Buckingham, “Quase não há roupa

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de verão (...) de modo que antigas saias são usadas com velhas blusas que não combinam. Adespeito dos rostos sorridentes, o vestuário entristece a multidão.”

Para muitos pracinhas recém-chegados à Inglaterra, o contraste entre as condições em seupaís e as que encontraram representou um grande choque. “Creio que seria mais fácil para mimenumerar o que não é racionado aqui, mas o fato é que não consigo lembrar de alguma coisa quenão seja,” escreveu um tenente americano a sua mãe. “Por exemplo, eles só conseguem cercade 60 gramas de manteiga por semana. Mãe, é possível gastar toda a ração semanal passando amanteiga em dois pedaços de pão. Tente aí em casa e você verá o que os ingleses estãoenfrentando (...) Dá para entender, mãe, que muita gente aqui não teve possibilidade de comprarroupa nova desde 1939? E são considerados sortudos os que conseguem ver um ovo em umaquinzena. (...) A impressão que tenho, no curto tempo em que aqui estou, é que os americanosnão conhecem tão bem quanto os ingleses o que é sacrifício para o esforço de guerra.”

Exatamente como disse o jovem tenente, a guerra era vivida na América de maneiratotalmente diferente da inglesa. Embora os dois países sofressem racionamento e pesar pelaperda de centenas de milhares de jovens, a guerra permanecia muito distante para a maioria nosEstados Unidos, causando privações e amarguras bem menores do que na Inglaterra e na Europaocupada. Não havia bombardeios contra o território continental americano, não havia baixas civisnem destruição de milhões de residências. De fato, ao passo que o padrão de vida se deteriorarabastante para a grande maioria dos ingleses durante a guerra, muitos — se não a maior parte —dos americanos vivia melhor do que antes. “Nenhuma guerra [248] 'é boa,'” observou ohistoriador inglês David Reynolds, “mas a guerra da América foi tão boa quanto é possível.”

Graças à maciça mobilização industrial, a economia americana visivelmente prosperava,terminando por fim com os infortúnios da Grande Depressão. Em 1940, mais de 14 por cento daforça de trabalho do país ainda estavam desempregados; três anos depois, o número dedesempregados caiu para menos de 2 por cento. A renda anual dos americanos aumentou emmais de 50 por cento, e muitos nos Estados Unidos estavam com salários maiores que os de seusmais fantasiosos sonhos de poucos anos antes. Mesmo com o racionamento de certos produtosalimentícios e de outros artigos, havia uma pletora de bens com que gastar dinheiro. Entre 1939 e1944, o gasto dos consumidores americanos em alimentos cresceu 8 por cento, e em vestuário ecalçados, mais de 23 por cento.

“Havia dinheiro para queimar, e ele queimava com uma chama brilhante e alegre,”observou Eric Sevareid, estarrecido com o que considerava falta de disposição da América parao sacrifício. “As lojas da Quinta Avenida vendiam lenços com monogramas patrióticos bordadosa dez dólares cada, os jornais cinematográficos de atualidades apresentavam motivos militarescomo última moda, os hotéis de estações de férias viviam apinhados. (...) A nação era levada aacreditar que poderia produzir seu caminho para a vitória ou comprar seu triunfo pelo simplespreenchimento de um cheque. A vida era fácil, tornava-se mais próspera a cada semana eninguém acreditava na morte.

O racionamento só foi imposto nos Estados Unidos alguns meses após Pearl Harbor.Esperando, de um modo geral, evitar controles obrigatórios, Roosevelt tentou, inicialmente,convencer o povo americano a fazer cortes voluntários em seu consumo de artigos alimentícios ede outros bens em prol do esforço de guerra. Em decorrência, alguns itens se tornaram escassos,preços dispararam e a inflação mostrou a cara. Em abril de 1942, o Presidente, declarando anecessidade de “uma igualdade de sacrifício [249],” propôs aumento de impostos, controle depreços e salários, e um racionamento mais abrangente.

Muito menos rigoroso que os controles na Inglaterra, o sistema de racionamento dos EUA,quando finalmente introduzido na primavera de 1942, resultou em grande inconveniência, e não

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em austeridade. Ovos, que quase não existiam na Inglaterra, tornaram-se substitutos da carne naAmérica. Margarina tomou o lugar da manteiga, e quando o açúcar foi racionado, acaboutrocado pelo xarope de milho e pela sacarina. Embora estritamente limitados pelo racionamentoda gasolina e dos pneus, os motoristas americanos jamais abandonaram completamente seuscarros, como a maioria dos proprietários na Inglaterra fora obrigada a fazer. Na Inglaterra,homem só podia comprar um terno novo a cada dois anos, enquanto nos Estados Unidos podiaadquirir quantos ternos quisesse, se bem que com calças sem bainha externase paletós comlapela mais estreita. Os vestidos das mulheres passaram a ser mais curtos e sem plissados. Pelacarência de ferro e aço, a produção de grande variedade de bens americanos de consumo, comogeladeiras, aspiradores de pó e máquinas de lavar roupa foi interrompida durante a guerra.

Enquanto muitos americanos achavam irritantes tais cortes, os que retornavam ao país, apósum período de restrições na Inglaterra de tempo de guerra, julgavam ter chegado a um paraísode abundância. Entre os expatriados estava Tania Long, correspondente do New York Timessediada em Londres, que voltara a Nova York, de visita, no fim de 1943. “Além da atmosferageneralizada de liberdade e fartura, a primeira coisa que uma mulher sente após voltar para estacidade é como ela própria parece desleixada — e como as mulheres daqui se apresentam bem-vestidas,” escreveu Long no Times. “Para uma mulher acostumada a fazer compras em lojascom as prateleiras semivazias, portando um carnê de cupons em uma das mãos e uma bolsa decompras na outra, uma expedição pelas lojas de departamentos de Nova York é deslumbrantejornada pelas 'Mil e Uma Noites'. Existe tanto de tanta coisa, e tudo é tão bonito e tentador.”

O mesmo era verdade para os alimentos, escreveu ela. “Embora os nova-iorquinosresmunguem por não poderem mais conseguir suculentos bifes e outros luxos nos restaurantes eaçougues, um recém-chegado da Inglaterra tem difícil tarefa para decidir o que escolher entretantos pratos sedutores do menu. (...) Variando entre repolho, couve e espinafre durante doisanos, a pessoa se esquece da existência da abóbora, ervilhas frescas, milho, berinjela, tomates.”Sua viagem, disse ela, a convencera de que “Londres e Nova York pertenciam a mundosdiferentes. Tentar comparar as duas cidades era quase tão inútil quanto achar comparações entrea Terra e Marte.”

Nos Estados Unidos, ao contrário da Inglaterra, a maior parte dos cidadãos jamais sentiu asobrevivência de seu país em jogo durante a guerra e, portanto, relutava mais em fazer ossacrifícios que o governo Roosevelt induzia. Frances Perkins observou mais tarde: “A maioria dosaspectos [250] da guerra não interessava aos americanos. É óbvio que eles queriam que seusrapazes tivessem tudo do melhor e vencessem, porém não podiam entender por que lhes faltavamanteiga.”

Quando o governo Roosevelt anunciou que, em função da escassez de borracha, as cintasfemininas não seriam mais fabricadas, houve tão violenta reação das mulheres por todo o paísque o governo capitulou, declarando que roupas de baixo, modeladoras do corpo feminino, erampartes vitais do vestuário das mulheres e continuariam a ser produzidas. “O povo americano,absolutamente orgulhoso e disposto a dar o que fosse necessário em suor e sangue, eraostensivamente relutante em se privar do seu consumo normal de carne vermelha e gasolina,bem como do uso de itens tão essenciais quanto a torradeira elétrica e a cinta feminina,”observou Robert Sherwood. “Mais do que qualquer outro povo do mundo, os americanos aderiamao princípio de que é possível comer o bolo e ainda tê-lo, coisa muito compreensível pois, desde oberço, lhes fora garantido que 'sempre havia mais bolo de onde viera aquele.'” Exasperado como senso de distanciamento da guerra demonstrado por seus concidadãos, Roosevelt disse a HaroldIckes: “Seria realmente bom para nós se algumas bombas alemãs despencassem por aqui.”

Em Washington, membros do Congresso combateram a solicitação de Roosevelt de aumento

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dos impostos, tentaram banir a Agência de Controle de Preços e insistiram que tinham direito asuprimentos ilimitados de gasolina porque, argumentavam, seus deslocamentos de automóveleram cruciais para o esforço de guerra. “Os próprios homens que deveriam dar o exemplo paraa população e encorajá-la a aceitar as inconveniências pessoais, faziam exatamente o contrário,”escreveu amargamente Ray mond Clapper, aclamado colunista de um jornal de Washington.“Em vez de tentarem cooperar, cacarejam como galinhas encharcadas para manter seusprivilégios.”

Mesmo com a característica preguiça sulina da Washington engolida pela estonteante ecrescente burocracia que tomou conta da capital, ela ainda parecia curiosamente não afetadapelo conflito mundial. Para Eric Sevareid, Washington “parecia desligada da guerra, por maiorque fosse o trabalho lá em curso em relação a ela.” Roosevelt achava que havia “menosentendimento [251] do esforço real de guerra em Washington D.C. do que em qualquer outrolugar.” As luzes da capital ainda brilhavam, resplandecentes, à noite, e sobretudo sua vida socialera consideravelmente mais agitada do que fora antes de dezembro de 1941. Continuavamacontecendo os fartos brunches, almoços, chás dançantes e jantares — e, é claro, os incessantescoquetéis e recepções diplomáticas. O editor de notícias sociais do Washington Post justificavatodas essas divertidas atividades dizendo que elas proporcionavam oportunidade para que“pessoas influentes (...) fizessem negócios, contatos importantes e, por via de consequência,implementassem o esforço de guerra.”

Mary Lee Settle, ex-modelo de vinte e um anos de West Virginia, que trabalhava naembaixada inglesa em Washington, estava entre as pessoas colhidas pelo redemoinho da ferventevida social da capital. Settle, que era casada com um cidadão inglês, observou mais tarde que asfestas que frequentou em Washington faziam-na lembrar da descrição de Tolstoy, no Guerra ePaz, da atividade social em São Petersburgo ao tempo da invasão russa de Napoleão. Comoacontecera com os aristocratas russos, os habitantes de Washington falavam constantementesobre a guerra sem conhecimento ou experiência do que ela significava. Ambas as cidades,escreveu ela, eram lugares irreais, “onde os modos eram importantes e os gestos tinham maissentido do que a ação, e a guerra era travada num outro lugar distante qualquer.” Enquanto observavam os Estados Unidos tentando lidar com o racionamento e outras privaçõesde tempo de guerra, americanos residentes por longo tempo em Londres não se impressionavamcom aquilo que viam como insignificantes esforços de seus conterrâneos para abrir mão, pelobem comum, de seus confortos. Depois de ler autoelogiosa matéria no jornal de sua cidadeexaltando o fato de os habitantes passarem sem carne um dia da semana, Janet Murrowesbravejou numa irada carta aos pais. O artigo, escreveu ela, “dá vontade de chorar. Tão poucacoisa, aparentemente, nosso país entende sobre os apuros que o resto do mundo enfrenta. O querepresenta um dia sem carne? (...) Eu gostaria de destacar que a raçnao de carne aqui quasenunca ultrapassa duas refeições por semana. Desde o Natal, comi cinco ovos — os primeiros emmeses — que nos deram como presente. (...) Os americanos jamais chegarão a tal situação, masterão que fazer algo mais do que um dia por semana sem carne, caso se queira que o resto domundo recupere a saúde.”

Numa carta a Harry Hopkins, Averell Harriman repetiu as críticas de Janet Murrow. “Faziamuito sentido [252], quando os ingleses pleiteavam nossos favores, esperar que eles fizessem osmaiores sacrifícios e nós vivêssemos confortavelmente e sem demasiado trabalho,” escreveuHarriman. “Agora, eles nos veem como parceiros, e quando pedimos que eles façam sacrifíciosé lícito esperar que nos peçam o mesmo. (...) Existe uma porção de coisas no lado americanodifíceis de entender para os ingleses.”

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Apesar disso, ao longo de toda a sua estada em Londres, Harriman tomou providências paraque ele e sua filha raramente, se é que alguma vez, ficassem privados dos pequenos e grandesluxos com os quais estavam acostumados na América. Numa ocasião em que as bebidasalcoólicas, inclusive o vinho, eram, por exemplo, quase impossíveis de adquirir na Inglaterra,Harriman importou caixas de champanhe Roederer, Château Margaux, gim e uísque canadensedos Estados Unidos.

Kathleen Harriman, de seu lado, nunca teve que se preocupar com falta de peças em seuvestuário. Numa carta de fevereiro de 1942 para sua madrasta, ela narrou como entrou no salãode exposições londrino da House of Worth e “comprou um belo vestido longo e negro — quevestia um manequim na mostra — porque detesto andar fora de moda.” Mais tarde, agradeceu àmadrasta por lhe enviar uma mala repleta de roupas de estilistas famosos de Nova York,exclamando: “É divertido ficar na dúvida sobre qual dos três vestidos novos usarei à noite.Embora exista muito disse-me-disse a respeito do desleixo com que as mulheres se vestem emLondres após três anos de racionamento de roupas, não posso dizer que estou ansiosa para mejuntar a esse grupo. Acontece que Averell não gosta quando visto 'roupa antiga.'”

Era importante para Kathleen se apresentar bem porque a agitação social em Londres, paraela e outros americanos com boas relações, jamais fora tão frenética. A capital inglesa era entãoa base de tempo de guerra para os mais destacados nomes no mundo dos negócios e da vidacultural dos americanos — banqueiros de investimentos, herdeiros de grandes fortunas, diretoresde empresas, autores teatrais, atores, diretores de filmes, executivos de radioemissoras, editores edistribuidores de jornais e revistas — recrutados pelas OSS e OWI, ou que recebiam missões emrepartições militares.

A despeito dos estragos provocados, Londres foi, inegavelmente, uma cidade excitantedurante a guerra. O sargento Robert Arbib, um nova-iorquino que chegou à capital inglesa pelaprimeira vez em 1942, estava entre os muitos americanos que se extasiaram com suaexuberância e animação. “Londres era uma [253] das cidades mais populosas do mundo e umadas mais fascinantes,” recordou-se. “Nela enxameava enorme variedade de uniformes e falava-se uma centena de idiomas diferentes. Nas noites de sábado, era quase um caos. (...) Sempreachei que a capital dos ingleses era, naqueles dias, o grande ponto de interseção do mundo.Londres era a Babel, a Metrópole, a Meca. Londres era tudo.”

No ano que precedeu o Dia-D, a capital inglesa abrigou, disse Harrison Salisbury, “o maiságil grupo que jamais vi. Muitos dos que chegaram eram antigos amigos e colegas de negóciosde Harriman da costa leste dos Estados Unidos — empresários ricos, banqueiros e advogadosformados em universidades da Ivy League e, em alguns casos, com impecável histórico social efamiliar, que levavam a vida, segundo um observador, “com o sentimento de que (...) o séculoestava prestes a ser posto sob sua responsabilidade.” Muitos deles tinham a posturainternacionalista, pois haviam passado considerável tempo na Inglaterra e no continente europeudesde a infância. Como Harriman, eles se mostravam muito ativos em instar o governo Roosevelta ajudar a Inglaterra mesmo antes de os Estados Unidos entrarem na guerra.

Entre os membros dessa elite estava David Bruce, genro do financista Andrew Mellon, quefora convocado pelo general William Donovan, fundador da OSS, para chefiar o quartel-generalem Londres da agência de informações. (Para seu escritório em Londres, Donovan tambémrecrutou, entre outros, Junius Morgan, da família de banqueiros de Nova York; Lester Armour, dafamília proprietários dos frigoríficos Armour, de Chicago; e Raymond Guest, campeão de polo ecriador de cavalos de raça — provocando assim o surgimento de um apelido para a OSS: “Oh SoSocial” (Oh! Tão social).

À primeira vista, a escolha de Bruce, um aristocrata da Virgínia cuja riqueza provinha de

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suas relações com Mellon, pareceu estranha para um cargo de tamanha importância: ele nãotinha experiência no trabalho de inteligência ou, para dizer a verdade, em emprego sério eprolongado de qualquer tipo. Visto pela imprensa e por seus pares como charmoso diletante, eleesvoaçara pela atividade dos bancos de investimentos, trabalhara por breve tempo no ForeignService e fora eleito para um mandato em dois legislativos estaduais: o da Virgínia e o deMary land. Mas passara também bom tempo em Londres, inclusive um período durante a Blitzcomo um dos representantes da Cruz Vermelha Americana, e fizera expressiva quantidade decontatos na sociedade e no governo inglês. Possuidor de “farta autoestima [254] e certocomplexo de superioridade,” o refinado Bruce transitava facilmente entre os aristocratas inglesese os generais americanos, bem como entre os líderes europeus asilados. Frequentementeconvidava membros dos três grupos para jantares e coquetéis no White's, o mais exclusivo clubemasculino de Londres, onde jamais foi servido vinho que não fosse de safra especial e ondemulher alguma nunca entrou. A exemplo de Harriman, Bruce primava por viverexcepcionalmente bem na capital britânica, preenchendo seu diário com relatos de suntuosasrefeições que desfrutou, como o jantar no White's cujo menu incluiu salmão defumado,cordeiro, couve-de-bruxelas, batatas, torta de ameixas, coquetéis, Château Margaux safra de1924, e vinho do Porto de reputada qualidade.

Outro recrutado para servir ao governo dos EUA, com sede em Londres, foi John Hay“Jock” Whitney, o príncipe playboy da sociedade de Nova York, cuja substancial fortuna defamília o abençoou com uma renda anual de mais de US$1 milhão, assim como seis casas, doisaviões particulares, um iate e uma coleção de vinte cavalos de polo. Whitney, proprietário doharas Green Tree que produzira alguns dos melhores cavalos americanos de corrida e queproporcionara o financiamento de grande parte do filme ...e o Vento Levou , operava então comooficial de relações públicas do QG da 8ª Força Aérea dos EUA. Ele conseguiu o cargo, de acordocom uma fonte, porque “era um dos poucos homens disponíveis que não se intimidava diante deum repórter de jornal nem com o som do sotaque inglês.” (O equivalente de Whitney no QGnaval dos EUA em Londres era Barry Bingham, proprietário e editor do Louisville Courier-Journal.)

Neto de John Hay, secretário pessoal de Abraham Lincoln e secretário de estado dospresidentes William McKinley e Theodore Roosevelt, Withney era muito bem relacionado emLondres. Em 1926, para celebrar a vitória de um de seus cavalos numa corrida na Inglaterra, eleofereceu uma recepção que, segundo o New York Times , foi “a mais elaborada e custosa festa”vista por Londres em uma década. Durante a guerra, alugou um amplo e luxuoso apartamentoem Grosvenor Square, onde organizou soirées famosas pelas bebidas e comidas, bem como pelasbelas mulheres convidadas.

Deleitando-se com a companhia feminina nas festas de Whitney estava, entre outros,William Paley, o qual, como muitos de seus colegas de Nova York, via a guerra como umaoportunidade de não só servir ao seu país como também de trocar o tédio das obrigaçõesfamiliares e profissionais pela euforia da totalmente solta Londres. Depois de instalar estaçõesrádio dos aliados para a OWI no norte da África e na Itália, o chairman da CBS foi designado,com o posto de coronel, para o Estado-Maior de Eisenhower, na capital inglesa, como chefe daradiodifusão de guerra psicológica na Europa. Ficou hospedado no Claridge's, onde contava comum criado pessoal e frequentemente jantava delícias como salmão cru, lagostas e aspargosfrescos. Sobre a guerra, ele observaria mais tarde que “a vida nunca foi [255] tão animada eatuante, e jamais seria de novo.”

Para seus subordinados, Paley destacou-se mais por seu apego aos prazeres do que pela

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devoção ao trabalho duro. Para ele, como para outros, o fatalismo romântico e o hedonismo daLondres do tempo de guerra eram particularmente atraentes. Ele podia comer, beber e ter tantoscasos amorosos quantos quisesse, com pequeníssima chance de amanhã, ou no futuro próximo,vir a morrer — visto que, a exemplo da maioria dos outros dignitários de Nova York e Hollywoodna Inglaterra, jamais viu operações de combate. Aos olhos de muitos militares americanos decarreira, Paley e os outros ex-civis eram “coronéis de uísque bourbon” com “postos decelofane” (“podia-se enxergar através deles, mas impediam as correntes de ar”).

Contudo, existiram pelo menos três proeminentes exceções a essa regra de não combate.James Stewart, que recentemente ganhara um Oscar por seu desempenho em The PhiladelphiaStory (Núpcias de Escândalo), foi comandante de um esquadrão de bombardeiros dos EUA,baseado próximo a Norwich, que voava B-24s em missões sobre a Alemanha. Stewart, elepróprio participante de vinte missões, foi agraciado com a Cruz de Distinção da Aviação pelacoragem e frieza diante do perigo. Outro astro popular de Hollywood, Clark Gable, acompanhoutripulações de bombardeiros americanos em diversas incursões para um filme curto sobretreinamento que ele produziu sobre fogo aéreo. Em uma das missões, quase morreu quando umagranada alemã chegou a rasgar seu avião.

Entrementes, o diretor William Wyler e sua equipe voaram cinco sortidas em B-17s sobre aFrança e a Alemanha, em meados de 1943, para a produção do afamado documentário sobre obombardeiro Memphis Belle (Memphis Belle — A Fortaleza Voadora). “O cara era corajoso,”disse o navegador do Memphis Belle sobre o diretor de Hollywood, o qual, antes de uma missãoconvenceu o piloto a quebrar as regras e deixá-lo ficar na torre transparente situada na barriga doavião durante a decolagem e a aterragem — manobras extremamente perigosas — a fim de quepudesse filmar os pneus e a pista.

Para intenso desconforto de Wy ler, seu filme Mrs Miniver (Rosa da Esperança), vencedorde Oscar, estreou em Londres enquanto ele lá rodava a película Memphis Belle. Uma história dasexperiências de uma família da classe média alta dos subúrbios de Londres, ao tempo daevacuação de Dunquerque e da Blitz, Mrs Miniver fora um retumbante sucesso de bilheteria naAmérica, em 1942, e tornou-se estrondoso êxito no ano seguinte na Inglaterra; Churchill, queadorava o filme, considerou-o “propaganda do mesmo valor [256] que cem cruzadores.” Wy ler,também intensamente anglófilo, fizera de fato o filme com propósitos de propaganda. “Eu erafavorável à guerra,” disse ele, “e me preocupava com o isolacionismo americano.” Porém,quando ele chegou à Inglaterra e viu a realidade da guerra — casas arrasadas, pessoas malnutridas, cidades em frangalhos e as terríveis baixas entre as tripulações americanas e inglesas debombardeiros — passou a considerar Mrs Miniver como pouco mais que um retrato açucarado eidealizado do conflito. O filme “apenas arranhou a superfície da guerra,” observou. Anos maistarde, Wyler declarou que, para ele, a luta armada, com todos os seus horrores e heroísmos, fora“uma escapada para a realidade.” Afora Wy ler, Stewart, Gable e uns poucos outros, os americanos notáveis na Inglaterrahabitavam um mundo isolado de coquetéis e restaurantes de mercado negro, sem ter,virtualmente, nenhuma ideia do que era a vida fora de seus confortáveis casulos. A Londresdesses americanos era “irreal, um palco onde estava passando uma peça chamada 'a guerra,'”observou Mary Lee Settle, a jovem de West Virginia que trabalhara na embaixada inglesa emWashington e que, mais tarde, serviu no WAAF, numa base da RAF no sudoeste da Inglaterra.“Até os uniformes que envergavam pareciam sob medida — muito bem cortados, sem manchasde gordura, sem sujeira entranhada, e nada desbotados. (...) A maioria deles não experimentou

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as privações que vivíamos (...) sem a mínima noção do que era viver sob racionamento oucatando comida não racionada, do que era ficar nas filas por horas e horas, pálidos de fadiga.”

Quando a Inglaterra entrou na guerra, Settle e seu marido moravam em Nova York, onde elatrabalhava como modelo e ele era executivo da área de publicidade. O marido imediatamente sealistou nas forças armadas canadenses, e ela procurou se juntar ao WAAF. “Éramos jovens[257] e entusiasmados, e sabíamos que estávamos certos,” escreveu ela depois. “Pela primeiravez em nossas vidas, pensávamos em alguma coisa que transcendia nossas vidas e era pelo bemcomum.” Após mais de um ano de luta contra a burocracia, ela finalmente conseguiu ir para aInglaterra e se tornou radioperadora de uma base da RAF em Cotswolds, transmitindo ordens emensagens entre os controladores de voo e os pilotos.

Como mulher de aviação 2ª Classe, Settle fazia parte do grupo que os ingleses denominam deoutros postos (recrutas homens e mulheres) e, como tal, estava exposta à “fria e brutal divisão”entre os oficiais e seus subordinados, os quais, em sua maior parte, provinham da classetrabalhadora. “Foi meu primeiro contato com a estratificação de classes, quase chinesa em suascomplicações e formalidades, que, a rigor, abrangia tudo, do penteado ao estado de saúde... epela qual cada inglês se isola de seus colegas,” observou ela. Como suas companheiras, Settlelevava uma vida dura e austera, dormindo sobre um colchão de palha dentro de uma estruturaNissen pré-fabricada (um alojamento semicilíndrico revestido de placas metálicas), aquecidapor um forno que mal esquentava os dedos quando tocado, carregando carvão, limpandoassoalhos e subsistindo com uma dieta espartana que a deixava permanentemente com fome esonhando com comida.

Durante um ano de exposição nos seus fones de cabeça ao constante zumbido causado pelainterferência germânica nas ondas eletromagnéticas, Settle desenvolveu o que os médicoschamam de “choque das comunicações” e não pôde mais desempenhar eficientemente suasatribuições. Munida de uma licença médica, ela foi contratada como escritora da OWI, emLondres, onde se viu lançada, como “Alice no País das Maravilhas,” num mundo de luxo econforto, “tão embriagante quanto o champanhe,” para o qual não estava preparada. Como amaioria dos americanos civis, que desempenhavam funções que exigiam capacitaçãoprofissional, recebeu um posto temporário de oficial (no seu caso, major) e assim teve acesso aomaravilhoso reembolsável para os militares dos EUA, onde era possível adquirir artigosamericanos, como cigarros, chocolate, lâminas de barbear, suco de frutas, sabonete, pasta dedentes, creme de barbear, lenços e dúzias de outros produtos impossíveis de achar na Inglaterra.Não teve mais que enfrentar o gosto amargo dos cigarros ingleses, os quais, mesmo assim, eramtão escassos que quando a guimba se tornava muito pequena para segurar com os dedos, elausava um grampo para mantê-la em posição enquanto prolongava as poucas últimas e preciosastragadas.

Durante o dia, Settle, que iria se tornar notável romancista depois da guerra, vivia etrabalhava sob um “manto de privilégios [258]” que os demais servidores da OWI e outrosamericanos que ela passou a conhecer julgavam natural. À noite, ela retornava para o quarto quealugara no quinto andar de um prédio bem danificado, em Kensington, que não tinha elevador, eonde sua senhoria achava que as barras americanas de balas de chupar, que Settle trazia paracasa do reembolsável, eram bens tão valiosos que partia em pequenos pedaços e os servia empratinhos de porcelana no chá da tarde.

Para os colegas de trabalho, Settle, a bonita moça de cabelos castanhos, era tanto umaesquisitice quanto eles eram para ela. “Eu havia experimentado diretamente os efeitos da guerracom a qual eles agora compartiam,” lembrou-se. “O que eu aprendera a achar natural — oserviço nas forças armadas — era, para eles, uma fascinação, o que os tornava, de certa forma,

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mais jovens que eu.” Quando Settle chegou pela primeira vez à OWI, os atores Burgess Meredithe Paul Douglas, que estavam rodando filmes para o governo dos EUA em Londres, decidiramque, como ela vivera por tanto tempo comendo rações militares inglesas, estava bastante magrae necessitada de uma boa refeição. Tratando-a como se fosse “um vasinho de porcelana,” osdois a acompanharam a um restaurante de mercado negro, todo revestido de painéis de mogno,cadeiras forradas de couro, guardanapos com motivos bordados à mão e um avassalador aromade boa comida. Os atores insistiram em fazer o pedido por ela: um filé de cordeiro com duaspolegadas de espessura, vagens frescas, batatas cozidas e recobertas com rações de manteigapara duas semanas. Os inebriantes odores da carne e da manteiga foram excessivos para Settle.Ela se desculpou e correu para o banheiro feminino. Quase não chegou a tempo de vomitarviolentamente. Todavia, havia outra jovem mulher em Londres que passara a aceitar tais luxos muito à vontade.Graças à generosidade de Averell Harriman e de outros amigos americanos ricos, PamelaChurchill se tornara a grande anfitriã da capital, oferecendo jantares suntuosos onde eramservidos itens supervalorizados, como ostras, salmão, bifes e uísque. “Éramos relativamenterigorosos quanto ao racionamento, na Inglaterra,” lembrou-se John Colville. “Mas quando sejantava com Pamela, normalmente eram servidos cinco ou seis pratos (...) e alimentos que nãoestávamos acostumados a ver. Minha sensação era que todos os convivas em torno da mesasorriam interiormente e diziam para si mesmos que Averell cuidava muito bem de suanamorada.” Anos mais tarde, Pamela observaria: “Foi uma guerra terrível [259], mas se vocêtivesse a idade adequada... e estivesse no lugar certo, foi espetacular.”

Em 1942, Pamela, Harriman e sua filha mudaram-se do Hotel Dorchester para um espaçosoapartamento no mesmo prédio da Grosvenor Square onde morava Gil Winant. Logo ficouevidente que a nora do primeiro-ministro estava vivendo com o representante de Roosevelt parao Lend-Lease. “O casal foi descoberto, e as pessoas ficaram um tanto chateadas porque ele eracasado,” disse uma conhecida de Pamela. “Viver com ele passou um pouco dos limites. Não eranada discreto. (...) Achamos que ela estava sendo muito estúpida e despudorada.”

Quando Randolph Churchill voltou à Inglaterra de licença e descobriu o caso, explodiu deraiva. Sua ira não derivava tanto do ciúme, disseram alguns amigos, mas de um sentimento deque havia sido traído por Harriman, com o qual criara até certa amizade quando, a pedido de seupai, o acompanhara na missão no Cairo. Amargo, Randolph acusou os pais de cumplicidade como adultério “debaixo do próprio teto deles,” em Chequers, e de só o fazerem por causa daimportância de Harriman e dos americanos para a Inglaterra. “Ele usou palavras duras e causouuma fissura que jamais foi sanada,” disse Alastair Forbes, amigo tanto de Randolph quanto deMary Churchill. “Afirmou que eles tinham que saber, e eles disseram que não sabiam.” SegundoPamela, Randolph, de quem ela já estava separada, ameaçou tornar público o caso amoroso delacom Harriman, uma situação “que poderia causar muitos incômodos para pessoas dos altosescalões.” A fim de acalmá-lo, ela concordou “em procurar um local próprio para viver no país(...) e não visitar muito os pais dele.”[*]

Outro problema para o casal foi Marie Harriman tomar conhecimento da relação. Umamulher mundana, que estava envolvida com o líder de banda musical Eddy Duchin, Marie seincomodou menos com o affair do que com o fato de as pessoas saberem sobre ele. “Mantenhaseus casos amorosos fora dos jornais,” telegrafou ao marido, “ou você enfrentará o mais carodivórcio da história da república.” Dolorosamente consciente de que uma separação de Mariecausaria não só uma séria mossa em suas relações como também arruinaria sua florescentecarreira diplomática, Harriman concordou em parar de se encontrar com Pamela — promessa

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logo descumprida. “Ave não podia [ 260] se casar com ela,” disse um amigo, “mas também nãoqueria perdê-la.”

Pamela mudou-se do apartamento de Harriman para outro, bem luxuoso, no nº 49 deGrosvenor Square, na esquina do próprio quarteirão de Harriman e em frente ao HotelConnaught. Além de pagar o apartamento, seu amante deu-lhe um carro com os cupons deracionamento, e também uma espécie de pensão de £3.000 anuais, quantia principesca àqueletempo. Única cidadã inglesa residente naquele prédio, Pamela tornou-se completamenteamericanizada. A maioria de seus amigos e conhecidos era então de americanos; na estante desua sala de estar estavam fotografias de Harriman, Eisenhower, Harry Hopkins e Roosevelt, queeste último lhe enviara pessoalmente. Na carta de agradecimento, ela escreveu para FDR: “Meufilho ainda não tem idade suficiente para distinguir entre [as fotografias] sua e de Winston. Temoque ele chame os dois de vovô.” Pamela passou a dedicar a maior parte de seu tempo entretendoamericanos recém-chegados, jornalistas, generais e funcionários do governo — oferecendojantares, ciceroneando-os pela cidade e, de uma maneira geral, apresentando-os a Londres.Janet Murrow, convidada para um dos jantares de Pamela, sentiu-se muito deslocada. “A menosque se fosse, de alguma forma, importante, não se era bem-vindo naquele lugar,” afirmou ela.

No outono de 1943, Pamela apresentou-se como voluntária para trabalhar no Churchill Club,um exclusivo local de encontro para oficiais e praças americanos e canadenses com formaçãouniversitária, situado na Ashburnam House, uma antiga e senhorial mansão atrás da Abadia deWestminster. Era um ponto, disse o historiador de arte Kenneth Clark, onde os americanos derealce “podiam escapar da barulhenta cordialidade da vida no Exército” para se ilustrarem sobrea cultura inglesa. De fato, havia lá abundância de concertos, palestras e leituras dramatizadas,mas existia também um bom número de reuniões de americanos regadas a martínis, muitos dosquais eram generais ou oficiais de alta patente. “Oh, as informações que se podiam colher noclube!” — maravilhou-se o correspondente da Time-Life Bill Walton. “A hierarquia era deixadana porta de entrada, e o salão ficava repleto de generais, capitães e majores, todos loucos porPamela.”

Dwight Eisenhower podia ter abdicado da ativa vida social em Londres, mas a maior partede seus subordinados não lhe seguiu o exemplo. Eric Sevareid registrou em seu boletim quemuitos oficiais americanos dos altos escalões “não querem que [261] a guerra acabe. Estãoganhando mais dinheiro, vivendo melhor, com mais conforto, mais glamour em suas existências,como nunca antes nos Estados Unidos de tempo de paz.” No romance The Americanization ofEmily, cujo autor serviu durante a guerra como ajudante de ordens de um almirante dos EUAem Londres, uma motorista militar inglesa diz melancolicamente: “A guerra é exatamente iguala uma longa noite passada longe de casa para os [americanos] que conheço.”

Segundo Kay Summersby, os altos escalões da Força Aérea eram particularmente adeptosda boa vida. Enquanto Eisenhower relaxava na sua modesta cabana nas cercanias de Londres,jogando bridge e lendo livros de ficção, o estado-maior do general Carl “Tooey” Spaatz,comandante da 8ª Força Aérea, dava festas de arromba na suíte do Claridge's do general. “Aaviação tinha a reputação de ser a força singular mais glamorosa, e o estado-maior [de Spaatz]se esforçava bastante para fazer jus à fama,” observou Summersby. Quando se entrava no QGda 8ª Força Aérea no fim do expediente, disse ela, era o mesmo que “adentrar num lotado salãode coquetéis — um monte de gente, muita fumaça, muito bate-papo e também bastantenamorico.” Como registrou um jornalista americano, os flertes e casos passageiros (alguns deles, não tãopassageiros assim) eram numerosos entre os americanos na Londres de tempo de guerra: “Era o

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astral daqueles tempos. (...) A maioria dos americanos chegados à capital era casada, masarrumava namoradas e ninguém ligava.” O próprio Eisenhower teve uma relação bastantepessoal com Summersby, ainda que permaneça meio obscuro se foi um caso sério ou não.Quando o general James Gavin, comandante da 82ª Divisão Aeroterrestre, perguntou a umjornalista americano se o mexerico sobre a ligação entre Eisenhower e Summersby era verdade,o correspondente replicou: “Bem, eu nunca vi um motorista sair do carro e dar um beijo de bom-dia no general quando ele deixa seu escritório.” Anos mais tarde, Summersby lembrou-se: “Aguerra foi um catalisador irresistível. Sobrepujou tudo, forçou relações como se fosse um localisolado e aconchegante, de modo que, numa questão de dias, aproximava pessoas que talvez sótivessem uma ligação mais íntima, em tempo de paz, decorridos meses.”

Até Gavin teve um caso com a repórter fotográfica da Life, Margaret Bourke-White. Ogeneral Robert McClure, chefe da informação e censura do Supremo Quartel-General Aliado,envolveu-se com Mary Welsh, a qual também enganava o marido jornalista australiano comIrwin Shaw, que estava em Londres trabalhando em filmes de propaganda para o Exército, e, apartir de 1944, com Ernest Hemingway. O ajudante de ordens de Eisenhower, Harry Butcher,viveu um affair com uma funcionária da Cruz Vermelha Britânica, com a qual se casou depoisda guerra. David Bruce casou-se com Evangeline Bell, uma anglo-americana de vinte e cincoanos que trabalhava para ele na OSS, após divorciar-se de sua primeira esposa em 1945. O ex-editor de jornal Herbert Agar, em Londres como assistente de Winant, também conseguiu odivórcio para se casar com Barbie Wallace, a viúva filha do afamado arquiteto inglês EdwinLutyens. William Paley teve um caso com Edwina Mountbatten, cujo marido, Lord Mountbatten,era então comandante supremo aliado no Sudeste Asiático. Beatrice Eden, esposa do ministroinglês do Exterior, teve uma ligação com C.D. Jackson, ex-executivo da Time Inc. que servia noEstado-Maior de Eisenhower. Após a libertação de Paris, ela deixou o marido para viver comJackson na capital francesa e, quando a guerra terminou, mudou-se com ele para Nova York,embora os dois jamais tenham se casado.

Os comandantes ingleses, de sua parte, consideravelmente desnorteados, acompanhavamesses jogos de alcova. “Não tínhamos a mesma [262] necessidade primitiva de provar nossamasculinidade que os americanos,” esnobou um oficial britânico, se bem que expressivo númerode seus colegas, no final, também sucumbiu às tentações.

Pamela Churchill teve seu próprio quinhão de casos amorosos com americanos bemrelacionados. “Na minha vida,” afirmou ela mais tarde, “sempre vivi com homens, para oshomens e dos homens.” Nem ela, tampouco Harriman, foram fiéis um ao outro, e ela seenvolveu, entre outros, com Jock Whitney e com o general Frederick Anderson, do Comando deBombardeiros da 8ª Força Aérea, então com trinta e nove anos. De acordo com Bill Walton, umbom amigo de Pamela, o primeiro-ministro sabia de seu caso com Anderson e “perguntavamuito a ela sobre (...) a posição [dele] a respeito de determinadas estratégias-chaves debombardeio.” Pamela, por seu turno, repassava a Churchill qualquer dado que colhia do general.Lord Beaverbrook convidava o casal para fins de semana em Cherkley, onde tentava arrancar omáximo de informações que podia.

Outro dos enfeitiçados admiradores de Pamela foi o marechal do ar Sir Charles Portal, chefedo estado-maior da Força Aérea. Pelo fim da guerra, ele escreveu longas cartas para ela sobreas conferências de Yalta e Potsdam, chamando-a de “DP” (Darling Pamela) e declarando:“Penso em você [263] muitas vezes por dia e gostaria de tê-la ao meu lado.” Apesar do ardor dacorrespondência de Portal, a relação entre os dois foi platônica, disse Pamela mais tarde. “Muitaspessoas se (...) apaixonaram por mim, com as quais realmente jamais pensei em me relacionar.

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Dois meses depois da abertura do Churchill Club, Harriman saiu da vida de Pamela,relutantemente cedendo à intensa pressão de Roosevelt e Hopkins para se tornar embaixador dosEUA na União Soviética. Ele não queria o posto. Tendo solapado tanto Winant como os doisprévios embaixadores americanos em Moscou, Harriman sabia quão precário e difícil podia sero cargo de chefe da legação diplomática, em especial na capital soviética.

Nas suas tratativas com o governo soviético, Harriman havia excluído o almirante da reservaWilliam Standley, que substituíra Laurence Steinhardt como enviado americano, da mesmaforma que minara a posição do próprio Steinhardt. Standley, que acreditava piamente ter aAmérica que resistir com firmeza às provocações soviéticas, irritou-se com o fato de Harriman,a exemplo de outros funcionários que Roosevelt enviara a Moscou para conferenciar com Stalin,“seguiam a política do Presidente: Não antagonizar os russos [e] proporcionar-lhes tudo o quedesejam.” Anos mais tarde, Harriman admitiu que Standley, tratado na essência por Roosevelt eHarriman como um “menino de recados,” tinha razão. “Uma grande quantidade de pessoas noOcidente, inclusive o primeiro-ministro e o Presidente, assim como alguns menos importantes,tinham a ideia de que sabiam como se darem com os soviéticos,” escreveu ele. “Confesso quenão fiquei inteiramente imune a essa noção infecciosa.”

Pelos meados de 1943, Standley perdeu a paciência. Numa entrevista para oscorrespondentes americanos em Moscou, ele acusou o governo soviético de má-fé, em particularpor esconder de seu povo o fato de que praticamente todos os recursos militares soviéticosvieram dos Estados Unidos e da Inglaterra. Depois do furor internacional provocado por suasdeclarações, o almirante se demitiu de sua função.

Embora Harriman tivesse plena convicção da sua capacidade de ser bem-sucedido emMoscou onde outros haviam fracassado, hesitava em deixar Londres. Sua relutância derivava nãotanto por deixar Pamela, apesar de gostar muito dela, mas por não mais ficar no centro das açõesdos aliados. Ele perderia o nicho que preparara para si mesmo a tão duras penas, como canal eamortecedor entre Roosevelt, Stalin e Churchill. “Tenho certeza [ 264] de que posso ser mais útilpara o senhor e para a guerra em Londres, do que permanecer em Moscou como admiradoservidor de comunicações,” escreveu ao Presidente. Quando Roosevelt argumentou que a missãoem Moscou era bem mais importante, Harriman sucumbiu, mas não sem antes insistir que, seassumisse o cargo, precisaria ter autoridade sobre todas as missões e delegações americanas nacapital soviética — uma tentativa de evitar que outros fizessem o que ele mesmo havia feito comWinant e com seus dois antecessores em Moscou. Roosevelt concordou e, em setembro de 1943,Harriman e sua filha partiram para a capital russa.

Harriman não deixou que Pamela soubesse da nova missão até o último minuto. “Aquele foium dia triste,” lembrou ela. “Quando ele foi embora, o golpe foi muito, muito grande.” Apesarde ficar angustiada com a súbita partida, não tardou para que Pamela se recuperasse. Depois daguerra, ela chegou a reconhecer que nunca pensou na sua relação com Harriman como algumacoisa mais do que um romance temporário. “Durante todos os anos de guerra,” disse ela, “nuncame ocorreu que Harriman e eu algum dia nos casaríamos. Jamais discutimos o assunto. Nuncapensamos nisso.”

A relação entre os dois fora muito boa enquanto durou, e ainda a tinha deixadofinanceiramente em ótimas condições: enquanto em Moscou, Harriman continuou pagando oapartamento dela e um tipo de pensão anual. Talvez tão importante, a ausência dele abriu a portapara seu apaixonado envolvimento com o homem que Pamela, mais tarde, declararia ter sido oamor de sua vida — Edward R. Murrow. Quando Harriman partiu, disse ela, “chorei no ombrode Ed e terminei na cama com ele.”

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Dois anos antes, graças a Kathleen Harriman, Pamela fora apresentada a Murrow e a outrosjornalistas americanos em Londres e se tornara frequentadora de seu círculo social. “Acho queela concluiu, quando Harriman desapareceu de sua vida, que Ed era a pessoa que desejava,”Janet Murrow observou mais tarde. Da parte dele, aparentemente não houve objeção. “Ed foinocauteado por aquela jovem mulher absolutamente magnífica e desejável,” disse ocorrespondente da CBS Charles Collingwood, que também tinha dificuldade de ficar de pé napresença de Pamela. “As relações que ela tinha o impressionaram. Mas não foi por qualquerrazão interesseira que ele foi atraído. Ela simplesmente derramou-se de surpresa sobre ele.”

Tanto para Pamela quanto para o Murrow de trinta e cinco anos, foi uma relaçãosurpreendente. Nem rico, nem o galã da cidade, como a maioria das prévias conquistas dela, eleera sério, idealista, muitas vezes reservado e propenso a frequentes surtos de depressão. Como arevista Scribner's descreveu, Murrow enrolava “sua privacidade [265] em torno de si como ummanto protetor.” Por anos, o trabalho ocupara o centro de sua existência. Embora o esguio evistoso radiorrepórter tivesse atraído não poucas mulheres no passado, ele não se deixarapreviamente sucumbir. Algo ingênuo e tímido com as mulheres, Murrow vinha sendo um rarofenômeno de virtude na Londres do “viva e deixe viver.”

Mas o outrora feliz casamento com Janet vinha demonstrando sinais de sérios desgastes;trabalhando ao ponto da exaustão, Murrow praticamente afastara a esposa de sua vida desde quea guerra começou. “Ed muito seco e desinteressado em me ver,” escreveu Janet em seu diárioem março de 1938. “Tenho que ser paciente. (...) Ele perdeu o hábito de me ver. Mas dói muitotelefonar para ele e ouvi-lo dizer: 'É algo importante? Se não, desligue.' (...) Trata-me como umaestranha que o incomoda.”

Em certo momento do começo da Blitz, Murrow encorajou Janet a alugar uma casa nocampo, onde ela pudesse viver em segurança; ele e seus amigos iriam para lá nos fins desemana. Por algum tempo, ela concordou com a combinação, mas os homens raramenteapareciam. “Não queriam deixar a agitação de Londres,” disse ela depois. Na ocasião, registrouem seu diário. “Odeio ver Ed apenas em recepções e com outras pessoas.” Mais tarde, escreveu:“Sombrio, dia sombrio, sozinha aqui no campo. Não posso, de modo algum, ser feliz com essetipo de vida. (...) Odeio isso.” Janet, finalmente, saiu daquela casa.

Solitária e deprimida, ela buscou conforto com Philip Jordan, conhecido correspondente parao News Chronicle de Londres e bom amigo de Murrow, que foi descrito por Eric Sevareid como“um homem brando, afável e cavalheiro.” Janet e Jordan se apaixonaram, mas o caso amorosoteve curta duração, terminando quando ele foi enviado pelo jornal para Moscou, em julho de1941. Devastada com a partida, Janet escreveu, “Sinto mais falta dele do que jamais supus.”

Não ficou claro se Murrow chegou a saber da ligação de sua esposa com Jordan, mas Janettinha conhecimento de seu caso com Pamela. A maior parte de Londres, ao que parece, tambémsabia. Depois de noitadas com os amigos, o casal, ocasionalmente, passava a noite noapartamento dela ou num flat que a CBS alugara para correspondentes de passagem pela cidade.Pamela com frequência acompanhava Murrow, tarde da noite, à Broadcasting House e ficavasentava no estúdio enquanto ele transmitia seu programa. “Sei que eles tinham [266] o hábito defazer caminhadas pelo campo,” disse Janet depois da guerra. “Ela sempre deixava alguma coisapara trás após essas caminhadas — uma vez foi um livro de poemas que tinha seu nome escrito.Noutra, foram as luvas de Pamela em um dos bolsos de Ed.”

Apesar de encantado com a nora do primeiro-ministro, Murrow não a mimava da maneiraque prévios amantes o faziam. Revelando sentimentos conflitantes sobre riqueza e status social,ele se mostrava seduzido pelo histórico aristocrático dela e seu luxuoso estilo de vida, enquanto,ao mesmo tempo, tratava tais aspectos com menosprezo. “Ed era um poço de complexos,”

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lembrou Pamela. “Fazia questão de ficar repisando que (...) só usara roupas de segunda mão” nainfância e juventude. “Ele guardava um rancor que não precisava de muita coisa para setransformar em discussão ou briga, e tinha consciência de que tudo o que tinha e tudo que haviafeito se deviam aos seus próprios mérito e determinação.”

Murrow falava com desdém sobre a vida à larga que levavam Pamela e Harriman, este porele considerado um interesseiro e oportunista. “Averell,” disse Pamela, “era tudo de que Edjulgava não gostar — alguém nascido em berço de ouro.” Durante os dois anos anteriores,Murrow e Harriman discordaram sobre diversas questões políticas, inclusive a controvérsia quecercou a França e de Gaulle. Harriman acusou Murrow de ser “um fantoche dos FrancesesLivres,” ao passo que este último culpou o outro de ser pró-Vichy .

Como Pamela relembrou mais tarde, Murrow lhe disse: “Você foi estragada por excesso demimos. Tudo é fácil para você. Foi demasiadamente adorada desde pequena e não entende o queé a vida real.” Entre os defeitos dela, disse ele, estava sua desatenção para os infortúnios queafligiam os menos favorecidos. Certo dia, quando ele apareceu de surpresa no apartamento dePamela e surpreendeu um ordenança de seu rival, o general Anderson, entregando uma caixa depapelão repleta de bifes, ficou furioso. Apesar de sua raiva ser evidentemente inflamada pelociúme, ele a disfarçou dizendo-lhe que era extremamente inadequado para ela aceitar benspagos pelos contribuintes dos EUA e destinados às tropas americanas.

Embora aborrecida com as críticas do amante, Pamela adorava o fato de Murrow conversarcom ela sobre assuntos políticos de peso e questões sociais relevantes, de argumentar a respeitode ideias e de tratá-la como uma intelectual de igual quilate, e não uma mera companheira decama. “Ele era totalmente diferente [267] dos outros que conheci,” disse Pamela. “Ele mefascinava, e eu o fascinava, obviamente.” Pamela começou a pressionar Murrow fortementepara que se divorciasse de Janet e se casasse com ela. Ele ficou tentado a dar tal passo, se bemque essa decisão iria contra tudo aquilo que fora levado a acreditar. “Ele amava muito Janet,muito mesmo,” disse um amigo. “Porém desejava Pamela.”

Para Murrow, como para outros em Londres, foram tempos excessivamente complicados.

[*]O caso entre Pamela e Harriman amargurou Randolph Churchill por anos. Num jantar emWashington em 1961, ele observou: “Averell Harriman foi o homem que me traiu quando euestava no exterior a serviço do Exército — traiu-me dentro da casa do próprio primeiro-ministro.” A anfitriã perguntou-lhe: “Mas, Randolph, quantos homens você traiu quando estavaservindo no estrangeiro?” Churchill respondeu: “Pode ser — mas nunca na residência de umprimeiro-ministro” (Schlesinger, p. 139).

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“Piloto de Caça — Ontem, Hoje

e Sempre”

Enquanto a maior parte da elite dourada americana em Londres meramente desfrutava daguerra, um dos mais famosos membros desse grupo, Tommy Hitchcock, ajudava a determinar oresultado do conflito armado. Sem Hitchcock, a campanha de bombardeios da América contra aAlemanha poderia ter fracassado, e o Dia-D postergado, quem sabe até cancelado. E sem GilWinant, Tommy Hitchcock provavelmente jamais teria ido para a Inglaterra.

Hitchcock, ao que parecia, era o tipo de homem que outras pessoas gostariam de ser. Ricoshomens de negócios como Averell Harriman e Jock Whitney o tinham como ídolo. David Bruceo chamava de único homem perfeito que conhecera na vida. F. Scott Fitzgerald, que o tomaracomo modelo para personagens de seus dois mais conhecidos romances, escreveu que Hitchcockocupava lugar de destaque “em meu panteão [268] de heróis.”

Antes da guerra, Hitchcock fora o mais renomado jogador de polo na América e, talvez, nomundo. Celebridade internacional desde o início da vida madura, ele era em grande parteresponsável pela transformação do polo num dos mais populares esportes na América nos anos1920 e 30. Hitchcock estava para o polo como Babe Ruth para o beisebol, e Bob Jones para ogolfe, trazendo energia e animação para o jogo, bem como, segundo o New York Times ,“empolgando a imaginação americana” como nenhum outro jogador na história da modalidade.

O matrimônio de Hitchcock com uma das herdeiras da família Mellon, em 1928, recebeucobertura jornalística como se ele fosse membro da realeza. Quando chegava a um jogo de polo,com uma capa de pelo de camelo jogada sobre os ombros, multidões se aglomeravam ao seuredor, e as pessoas aplaudiam delirantemente. “Havia uma espécie de adoração divina parapapai,” lembrou sua filha mais velha Louise. “Mamãe dizia que aquilo era doentio.”

O polo — esporte difícil, perigoso e extremamente caro que teve origem na Pérsia antes donascimento de Cristo — foi introduzido nos Estados Unidos vindo da Inglaterra em 1876. O jogologo se tornou passatempo preferido de diversos cavaleiros ricos em todo o país. Mas foi só comTommy Hitchcock que ele chegou às páginas dos jornais como jogo atraente de massas, edezenas de milhares de espectadores se encaminhavam para Long Island, a meca do poloamericano, para assistirem a jogos internacionais de campeonato entre os Estados Unidos e seusdois principais rivais — Inglaterra e Argentina.

Em 1924, o príncipe de Gales, também jogador de polo, abalou-se da Inglaterra para estarentre os 45 mil assistentes nas arquibancadas do Meadow Brook Club, de Long Island, do jogo emque Hitchcock e o restante do time americano enfrentaram os ingleses. Poucos anos antes,Hitchcock jogara contra a equipe inglesa em Londres, com George V e Winston Churchill, outrojogador de polo, entre os espectadores. Os americanos ganharam dois jogos seguidos, graças, emgrande parte, a Hitchcock, que fez cinco gols no primeiro encontro, mais do que todos osjogadores ingleses juntos. “A maioria dos cidadãos [269] dos EUA jamais viu um jogo de polo,”escreveu a revista Time em 1944, “mas as pessoas que tomavam conhecimento do esporteatravés das seções de rotogravuras [dos jornais] sabiam que Tommy Hitchcock praticava aqueletipo de recreação.”

Conhecido simplesmente como “Tommy” por sua legião de fãs, o troncudo e louroHitchcock se transformava num dervixe rodopiante no campo de polo, manejando com destreza

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e violência seu taco e arremessando a bola a distâncias inacreditáveis. “Por vezes, ele faziacoisas no campo que você ficava simplesmente embasbacado,” observou um companheiro dejogo. De fala macia e gentil com os outros jogadores fora do campo, ele era famoso por suaincansável agressividade no esporte, com frequência galopando diretamente na direção dooponente e desviando uma fração de segundo antes da batida. “Ele não possuía um só nervo emtodo o corpo,” afirmou um jogador. Outro simplesmente disse: “Não houve jogador como ele —jamais.”

Os dois personagens de F. Scott Fitzgerald inspirados em Hitchcock foram Tom Buchanan emThe Great Gatsby (O grande Gatsby ) e Tommy Barban em Tender Is the Night (Suave é a noite).Cada um deles espelhava diferentes facetas da relação amor-ódio-inveja do romancista com osricos e poderosos. No cômputo geral, Hitchcock tinha pouca coisa em comum com o cruel eamoral Buchanan, salvo a aparência física (“sempre se inclinando agressivamente para afrente”) e um senso de implacável força. A imagem de Barban lembrava mais a do jogador depolo. “Tommy Barban era [ 270] um mandante,” escreveu Fitzgerald. “Tommy era um herói.(...) Como regra, bebia pouco; coragem era o nome de seu jogo, e seus companheiros tinhamsempre medo dele.”

Muito autoconfiante, Hitchcock era arredio, reservado, competitivo ao extremo e com umaligeira aura de perigo sempre a cercá-lo. Diferentemente de Harriman, Whitney e outros dasociedade dos círculos da classe alta que frequentava, não era homem de “clubes.” Não seassociava a eles nem a outras organizações que pretendessem proporcionar vantagens sociais,nem permitia que muitas pessoas tentassem se aproximar. Uma exceção de peso era Winant,que o conhecera quando muito jovem dos dias de aluno no St. Paul's, onde Winant fora um deseus professores.

Filho de um rico desportista, que também fora entusiasmado jogador de polo, Hitchcockcresceu nas propriedades da família em Long Island e Aiken, na Carolina do Sul. Em St. Paul's,foi um dos muitos estudantes que lotavam à noite o quarto do popular professor de história paraconversarem sobre Lincoln, Jefferson e outros heróis de Winant. Hitchcock tinha grandeadmiração pelo idealismo e pela paixão de Winant quanto a reformas sociais, e, como presidenteda associação de alunos da última série da escola secundária, ajudou Winant no seu esforçobem-sucedido para desbaratar as sociedades secretas da escola, cujos membros eramconhecidos por seu comportamento indisciplinado e, por vezes, pelo tratamento cruel dispensadoa outros estudantes.

No começo de 1917, poucos meses antes de os Estados Unidos entrarem na Primeira GuerraMundial, o moço Hitchcock, com seus dezessete anos, falou ao Winant, de vinte e seis, sobre seusplanos de deixar mais cedo a escola para se juntar à Lafayette Escadrille, na França. Ele sabiaque Winant planejava também se alistar como piloto tão logo a América se engajasse na guerra.Com a ajuda de ex-presidente Theodore Roosevelt, amigo da família, que escreveu uma cartapersuadindo as autoridades francesas a permitirem que um escolar, sem ainda a idade adequada,pudesse se alistar, Hitchcock se tornou o mais jovem americano a receber uma comissão depiloto durante o conflito armado.

Tão agressivo no ar quanto no campo de polo, Hitchcock abateu dois aviões alemães(ganhando a Croix de Guerre), antes de ser ele mesmo abatido sobre o território germânico, em6 de março de 1918. Gravemente ferido, passou diversos meses num campo de prisioneiros deguerra, onde seus dois únicos pensamentos, confessou mais tarde, eram comer e fugir. Maistarde naquele verão, enquanto era transportado de trem para outro campo, Hitchcock roubouuma carta topográfica de um guarda sonolento e saltou do trem em movimento. Escapando atodas as formas de detecção, andou de carona por cerca de duzentos e cinquenta quilômetros até

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alcançar a neutra Suíça. Não tinha então nem dezenove anos.Para Hitchcock, o combate aéreo era a suprema emoção. “O polo é estimulante [271],”

disse ele, “mas não se pode compará-lo ao voo em tempo de guerra.” Quando a guerraterminou, em novembro de 1918, Hitchcock entrou na Universidade de Harvard, jogando polonas horas vagas. No campo, observou um amigo, “ele era um piloto de caça — ontem, hoje esempre.” Mesmo no ápice de sua carreira (que durou cerca de vinte anos), ele não se orgulhavatanto de suas habilidades no jogo de polo quanto de seus feitos como aviador e de seus últimossucessos como banqueiro de investimentos. Na manhã de um jogo internacional importantíssimo,ele passou diversas horas antes do encontro debatendo calmamente com um amigo sobre ofilósofo Nietzsche, “Como você pode ficar sentado aí e falando sobre filosofia num dia tãoimportante como hoje?” Hitchcock encolheu os ombros. “Por que não?” replicou. “É apenas umjogo.”

No início dos anos 1930, Hitchcock tornou-se sócio da firma de investimentos LehmanBrothers e negociou diversas transações importantes, inclusive a compra de uma das companhiaslíderes no país em marinha mercante. Distintamente de Winant e de muitos de seus colegas emWall Street, ele era um ardoroso isolacionista quando a Europa caminhou para a guerra no fimdaquela década. Tendo testemunhado a carnificina da guerra mundial anterior, ele abominava aideia de outra e acreditava que os Estados Unidos deveriam manter a maior distância possível doconflito.

Porém, tão logo a América entrou na guerra, Hitchcock, com quarenta e um anos,apresentou-se voluntariamente ao general Hap Arnold, chefe do estado-maior da Força Aérea doExército dos Estados Unidos (USAAF), para lutar como piloto de caça. A despeito de sua fama edo fato de “conhecer mais gente do que Deus,” a Força Aérea o rejeitou, dizendo-lhe quepoderia desempenhar praticamente qualquer função burocrática que desejasse em Washington,mas era muito idoso para voar de novo em combate.

Furioso e frustrado, ele foi resgatado por Gil Winant, que estava em Washington paraconsultas com Roosevelt. Se ele não podia voar, disse o embaixador, por que não ir para Londrescomo assistente do adido militar dos EUA, para funcionar como ligação entre a 8ª Força Aérea eo Comando de Caça da RAF? Pelo menos, Hitchcock estaria num lugar em que havia combatereal, em vez de atolar no combate burocrático de Washington. E se ele pudesse convencer asduas forças aéreas a operarem em conjunto, estaria realizando trabalho importantíssimo. Semhesitação, Hitchcock aceitou a missão. Quando chegou a Londres no fim da primavera de 1942, Tommy Hitchcock descobriu que osdias gloriosos da aviação e dos pilotos de caça já eram considerados coisa do passado. Dois anosantes, corajosos e pequenos Hurricanes e Spitfires haviam salvado a Grã-Bretanha por vencerema Batalha da Inglaterra, Agora, com os aliados passando à ofensiva aérea contra a Alemanha, ofoco dos holofotes se desviara para os bombardeiros — as Fortalezas Voadoras (B-17s) eLiberators (B-24s) dos EUA, e os Wellingtons e Lancasters ingleses.

Mesmo antes de a guerra começar, os chefes das forças aéreas dos dois países ficaramconvencidos de que o bombardeio estratégico — destruindo a capacidade de guerrear do inimigopelo ataque à sua base industrial, comunicações e moral da população — poderia vencer umconflito por si só, tornando desnecessárias as batalhas terrestres e salvando milhares, até mesmomilhões, de vidas. Com as recordações ainda frescas dos banhos de sangue da Primeira GuerraMundial, essa teoria agradou bastante os líderes do governo e os povos da Inglaterra e dos EstadosUnidos. “Há uma coisa [272] que deixará [Hitler] de joelhos, e essa coisa é um ataqueabsolutamente devastador e exterminador com os próprios bombardeiros pesados deste país

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contra a pátria názi,” declarou Winston Churchill.Na primavera de 1940, bombardeiros da RAF começaram a atacar fábricas e outros alvos

no Ruhr e na Renânia, coração industrial da Alemanha. Os resultados das incursões diurnas nãojustificaram as grandiosas expectativas da RAF: os estragos sérios infligidos ao inimigo forampoucos, e a destruição de aeronaves e tribulações atacantes, vasta. Para reduzir as perdas, oComando de Bombardeiros trocou as incursões para noturnas, o que tornou impossível o ataquepreciso aos alvos industriais. Reconhecendo a derrota no seu esforço para devastar o poderioindustrial alemão, a RAF fez outra mudança dramática em suas operações: a partir de então, elaatingiria as cidades germânicas, com o objetivo principal de minar o moral da população.Embora Churchill tivesse anteriormente declarado que a Inglaterra jamais atacariadeliberadamente não combatentes, ele não viu outra maneira de fazer a Alemanha cambalear e,relutantemente, aprovou a nova e muito controversa abordagem da RAF.

Acompanhando o equivocado esforço dos bombardeios da Inglaterra, Hap Arnold e seussubordinados estavam convictos de que, graças às superiores tecnologias e aeronavesamericanas, eles poderiam triunfar onde a RAF havia fracassado. Ao longo do processo,poderiam provar o que acreditavam havia longo tempo: que o poder aéreo era muito superior aqualquer outra força armada.

Ao contrário de seus correspondentes no Exército e na Marinha, Arnold e seus homens eramverdadeiros pioneiros numa arma que mal saíra da infância. Apenas trinta e oito anos haviamdecorrido desde que Orville e Wilbur Wright voaram pela primeira vez sobre as praias arenosasde Kitty Hawk, na Carolina do Norte. O próprio Arnold tomara lições de voo com os irmãosWright e se tornara um dos primeiros quatro pilotos militares da América. Seu chefe de estado-maior, general Carl “Tooey” Spaatz, fora piloto de combate na França durante a PrimeiraGuerra Mundial, a primeira guerra importante que presenciara o emprego do avião. Entretanto,adida ao Exército, a incipiente força aérea americana desempenhou um papel relativamentepequeno naquela guerra, e quando Arnold assumiu seu comando, em 1938, ela ainda estava sobcontrole da força terrestre.

Apesar de Arnold gozar de grande autonomia concedida por George Marshall e de serconsiderado membro com todos os poderes da Junta de Chefes de Estado-Maior, ele promoveuincansável campanha para provar os méritos superiores de sua força, tentando alcançarindependência formal e receber o mesmo status do Exército e da Marinha. Determinado eexcepcionalmente impaciente, Arnold se caracterizava pelo temperamento violento e pelas rudesreprimendas aos seus subordinados. Um coronel submetido a brutal repreensão da parte dele,desmaiou e faleceu num fulminante ataque cardíaco à sua frente. O próprio Arnold seria vítimade quatro distúrbios no coração antes que a guerra terminasse.

Quando os ingleses falharam no seu esforço de bombardeios de precisão, Arnold e seushomens viram uma oportunidade de ouro para seus próprios bombardeiros, graças em grandeparte ao desenvolvimento tecnológico de um revolucionário dispositivo — o visor de bombardeioNorden. Instrumento de grande complexidade, o visor, supostamente, tornava os bombardeirosB-17 e B-24 capazes de atingir alvos industriais com precisão cirúrgica, mesmo de altitudes devinte mil pés ou superiores. Segundo a teoria surgida nos altos escalões da Força Aérea, essesbombardeiros, em especial a robusta e muito bem armada Fortaleza Voadora, seriampraticamente irrefreáveis, voando a altitudes muito elevadas e com muita velocidade parapermitir efetiva retaliação por parte da aviação de caça e da artilharia antiaérea inimigas. Emconsequência, não haveria necessidade do desenvolvimento de aviões de escolta com grandeautonomia para proteger os bombardeiros enquanto voavam para seus alvos e voltavam.“Simplesmente fechamos [274] os olhos para [aviões de escolta de longo alcance],” disse depois

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da guerra o general Laurence S. Kuter, um dos vices de Arnold. “Não poderíamos ser barrados.Os bombardeiros eram invencíveis.”

As altas patentes da Força Aérea estavam tão convictas de que suas teorias funcionariam quenem pensaram em submetê-las a testes rigorosos, ou em considerar as condições reais docombate, antes de colocá-las em prática nos céus da Europa. Os testes de bombardeios, porexemplo, foram efetuados no clima seco e sem nuvens do Arizona, onde havia visibilidadeperfeita e sobra de tempo para os difíceis cálculos matemáticos requeridos para o emprego dovisor de bombardeio Norden, como também não havia fogo inimigo a preocupar as tripulações.Quase ninguém no QG da Força Aérea em Washington pareceu consciente do fato de que otempo no norte da Europa guardava pouca semelhança com o do Arizona; nuvens pesadascobriam o continente em grande parte do ano, tornando o bombardeio visual, em particular agrandes altitudes, praticamente impossível. Parecia também não haver conhecimento de que atecnologia alemã era bastante sofisticada, permitindo que a Luftwaffe detectasse a aproximaçãode aeronaves inimigas com grande antecedência e enviasse enxames de aviões de caça paraesperá-las.

Para os barões dos bombardeiros da América, “o importante (...) era marcar presença,provar uma doutrina e firmar posição na consciência pública,” Harrison Salisbury disse maistarde. “Se isso custasse a vida de jovens valorosos e não infligisse sérios danos à capacidadeaeronáutica germânica, seria muito ruim.”

Aconteceu então que quase todas as teorias importantes defendidas por Arnold e seussubordinados se revelaram erradas na prática e resultaram na campanha mais prolongada daSegunda Guerra Mundial. Como Salisbury previra, dezenas de milhares de jovens americanosmembros de tripulações perderiam as vidas naquela campanha e muitos outros ficariamseriamente feridos — “peões,” de acordo com um historiador oficial da Força Aérea, “numagrande experiência tentada pela Força Aérea do Exército.” Em 4 de fevereiro de 1942, menos de dois meses após Pearl Harbor, sete oficiais da USAAFdeixaram Washington e seguiram para Londres a fim de começarem a tarefa altamenteassustadora de criar em solo inglês toda uma força aérea a partir do zero. Embora a indústriaamericana já estivesse, finalmente, mobilizada para fabricar em série bombardeiros e caças, aslinhas de montagem apenas gotejavam produtos finais, e o número de pilotos e tripulaçõestreinados era mínimo. Seria necessário mais de um ano, disseram os planejadores para HapArnold, antes que a Força Aérea tivesse aviões e homens suficientes para montar uma ofensivatotal de bombardeios contra a Europa ocupada pela Alemanha. Mas com o Japão avançando naÁsia e no Pacífico — e a Alemanha perto da vitória no Oriente Médio e na União Soviética — osEstados Unidos não poderiam mais se dar ao luxo de esperar. “Parecia [275],” disse Arnold,“que os aliados estavam perdendo a guerra.”

Sem possibilidade de enviar, no futuro imediato, tropas terrestres dos EUA para entrarem emação, Roosevelt concordara em despachar bombardeiros americanos para a Inglaterra a fim dedar início às incursões aéreas contra a Alemanha. Na visão de Arnold, era essencial que o novogrande comando dos EUA na Inglaterra — a 8ª Força Aérea — se fizesse presente com a maiorbrevidade possível, em grande parte para evitar que Churchill persuadisse o Presidente de que osbombardeiros americanos deveriam ser entregues à RAF. Desde o início, os ingleses seopuseram a uma 8ª Força Aérea independente: eram favoráveis à sua absorção pela RAF ou aum emprego de seus bombardeiros pesados em suas próprias operações noturnas. As duasopções eram execradas por Arnold e seus assistentes, os quais argumentavam que se asaeronaves americanas tivessem que ficar sediadas na Inglaterra, teriam de voar com tripulações

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dos Estados Unidos e sob comando americano.Para bem marcar a importância da presença aérea dos EUA na Inglaterra, Arnold nomeou

Tooey Spaatz, seu chefe de estado-maior e amigo chegado, como primeiro comandante da 8ªForça Aérea. A fim de assumir o 8º Comando de Bombardeiros, o general de brigada Ira Eaker,um texano de fala macia, mas extremamente ambicioso, foi nomeado comandante do escalãoavançado enviado para a Inglaterra em fevereiro. Para surpresa de muitos. Eaker estabeleceurapidamente cerradas relações com seu correspondente inglês — marechal do ar Arthur“Bomber” Harris, controverso chefe do Comando de Bombardeiros da RAF. Harris recebeuEaker cordialmente, com ele partilhou inteligência e informações sobre as operações, ajudou-o aencontrar local adequado para a localização de seu quartel-general, chegando mesmo a convidaro americano para se alojar com sua família assim que ele chegou à Inglaterra. Por trás dasamabilidades e da camaradagem, no entanto, existia feroz rivalidade. Ao passo que Eakeracreditava com firmeza que os bombardeios diurnos eram a solução, Harris estava igualmenteconvicto de que os americanos fracassariam nesse esforço, e que seriam obrigados a juntarforças com as operações noturnas inglesas.

Numa campanha determinada para impedir tal resultado, o chefe de Eaker, Tooey Spaatz,estabeleceu uma altamente sofisticada operação de relações públicas para pôr em evidência asvirtudes da 8ª. Essa operação, de acordo com Harrison Salisbury, rapidamente emergiu “comoatividade dinâmica [276] (...) tocada por homens audaciosos e por um comando ambicioso emWashington.” Mobiliada com ex-repórteres e editores de jornais, agentes de publicidade eexecutivos da propaganda, a seção de Relações Públicas da 8ª incluía Tex McCrary, aluno deGroton e de Yale, e ex-colunista do New York Daily Mirror . Andy Rooney, repórter do Star andStripes em Londres durante a guerra, descreveria mais tarde McCrary “como um dos melhoresrelações-públicas e 'malandros' de todos os tempos.”

De Spaatz e Eaker para baixo, os altos escalões da 8ª Força Aérea fizeram o máximo em prolde sua causa — saboreando vinho, jantando e jogando pôquer com ingleses importantes eamericanos visitantes; expedindo prodigioso número de comunicados à imprensa, por vezes comexaltações de ilegítimos sucessos da 8ª; até mesmo, quando a guerra ia avançada, enviandoálbuns para Roosevelt e Churchill repletos de fotografias sobre os danos causados pelas bombasamericanas. Tais iniciativas, acreditavam eles, eram necessárias para que fosse enfrentado oincessante e crescente esforço da força aérea inglesa para conquistar o domínio.

Em 30 de maio de 1942, a RAF enviou mil bombardeiros num reide sobre Colônia — umaoperação que Arnold e Spaatz viram como trama pública para demonstrar a avassaladoravantagem da Inglaterra no ar, e para reforçar os apelos de Churchill a Roosevelt a fim de que lhefosse permitido assumir o controle das aeronaves americanas. Pelo fim do verão, existiammenos de cem bombardeiros dos EUA na Inglaterra, guarnecidos por tripulações com poucaexperiência ou treinamento. Apesar disso, mediante intensa pressão de Washington para que osrapazes americanos entrassem em ação, os B-17s começaram a realizar missões de curtoalcance contra alvos industriais na França e na Holanda.

Da mesma forma que às tropas americanas no norte da África, aos aviadores dos EUA nãofaltava confiança às vésperas de seus primeiros encontros com o inimigo. “Nos julgávamos[277] super-homens,” lembrou-se um deles. Tal estado de espírito, contudo, durou até que bandosde caças alemães começaram a se arremessar por dentro de suas formações de bombardeiros,atacando-as de cada possível ângulo ou direção. Para dar aos americanos de casa uma ideia doque era pilotar um B-17 em formação cerrada sob ataque inimigo, Tex McCrary saiu-se com aseguinte e extravagante analogia: “É o mesmo que dirigir um dentre 24 caminhões de 50toneladas pela Broadway , para-choque com para-choque, a 275 milhas por hora, enquanto toda a

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polícia de Nova York persegue o comboio atirando com submetralhadoras.”Esses primeiros raids nada mais foram do que “missões suicidas,” disse um piloto

americano. “Ninguém sabia coisa alguma. Não houvera tempo; a guerra chegara muitorapidamente para o país.” Metralhadores apavorados atiravam a esmo, atingindo maisbombardeiros e caças americanos do que inimigos. Navegadores tinham dificuldades paraencontrar os alvos; alguns não conseguiam localizar as próprias bases na Inglaterra depois determinada a missão. Os erros de bombardeio durante uma incursão dos EUA sobre a Françaforam “tão grandes e tão recorrentes,” registrou um relatório oficial, “que, a menos que osminimizemos drasticamente, tiraremos muito pouco proveito de nosso excelente visor Norden.”

Tais fracassos, no entanto, eram segredos mantidos a sete chaves. Ao informar os jornalistasque as incursões haviam sido um sucesso, a seção de Relações Públicas da 8ª Força Aéreapreparou “comunicados grosseiramente exagerados sobres as perdas de caças názis e atonelagem de nossas bombas que atingiu alvos alemães,” lembrou anos depois um veteranonavegador americano. Uma inflação nos resultados dos bombardeios seria útil para conferir umselo de qualidade às campanhas aéreas americanas e inglesas durante toda a guerra.

Malgrado os efeitos desapontadores das missões iniciais, que implicaram significativa perdade aeronaves, Arnold continuou exigindo mais e maiores raids. À medida que os ataques dosbombardeiros americanos foram se aprofundando no território ocupado pelos germânicos, elesacabaram penetrando na própria Alemanha, sem a proteção de caças de escolta de grandeautonomia, o que causou perdas altíssimas. As defesas antiaéreas do Reich eram bem maissofisticadas e cerradas do que os planejadores dos EUA haviam previsto. A artilharia antiaéreaalemã provou ser extremamente precisa, e a capacidade dos caças, avassaladora. Reagindo àintensificação dos assaltos aéreos dos aliados contra centros industriais importantes da Alemanha,chefes da Luftwaffe haviam transferido centenas de aviões e de pilotos experientes do front daRússia para proteger o solo pátrio. A teoria preferida de Arnold e seus subordinados — de que aaviação inimiga e os artilheiros antiaéreos não poderiam enfrentar as B-17s poderosamentearmadas, voando a elevadas altitudes — acabou se revelando uma ilusão dolorosamente custosa. Não demorou muito para que os aviadores da 8ª se conscientizassem de que, ao seremtransferidos para a Inglaterra, resultara para eles o cumprimento de uma das mais perigosasmissões da guerra. As baixas na Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, em especial na 8ª,eram astronomicamente maiores do que as de qualquer das duas outras forças singulares. Numcálculo aproximado, as chances de um membro de tripulação completar seu tempo normal deserviço — vinte e cinco missões — eram de um para quatro. Nos seus primeiros dez meses deoperações, a 8ª perdeu 188 bombardeiros pesados e cerca de 1.900 tripulantes; tais númerosiriam crescer no ano e meio seguinte. Pelo fim da guerra, as operações dos EUA na Europasofreriam mais fatalidades — 26 mil — do que todo o Corpo de Fuzileiros Navais em suasarrastadas e sangrentas campanhas no Pacífico. “Voar na 8ª Força Aérea [ 278] naqueles dias,”recordou Harrison Salisbury , “era receber um convite para enterro: o seu próprio.”

A selvageria da guerra aérea não se devia apenas à ferocidade das defesas antiaéreasalemãs. Nos primeiros estágios do conflito, os altos escalões da Força Aérea em Washington, aocogitarem das vantagens dos voos a elevadas altitudes, não levaram em conta que as extremascondições atmosféricas experimentadas pelas tripulações poderiam matar com tanta eficáciaquanto um Messerschmitt ou um Focke-Wulf. “Existem, aparentemente, detalhes que não sãoconsiderados antes de se entrar em operações,” comentou o Dr. Malcolm Grow, chefe doServiço de Saúde da 8ª. Detalhes tais como a privação de oxigênio, que pode levar àinconsciência ou à morte em questão de minutos, ou as extensas ulcerações causadas pelas

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diversas horas de exposição a temperaturas de 50 ou 60 graus abaixo de zero. Até o início de1944, mais aviadores tinham sido hospitalizados em virtude de ulceras pelo frio do que porferimentos de combate.

Com a continuação da guerra, “as bases de bombardeiros se tornaram locais deprimentespara visitas,” lembrou Andy Rooney. “A morte estava sempre no ar.” Perfeitamente conscientede que suas probabilidades de escapar aos ferimentos ou à morte eram mínimas, um bomnúmero de tripulantes e pilotos passou a sofrer colapsos físicos ou mentais. “Com oaprofundamento [279] cada vez maior das incursões no espaço aéreo inimigo, as baixas semultiplicaram, e sem a possibilidade de recompletamentos à vista, os homens começaram aperceber que a situação era desesperançada,” escreveu o historiador Donald Miller. “Muitosaviadores passaram a ter sentimentos conflitantes a respeito de seu país: embora querendocombater por ele, sentiam-se abandonados.”

Mesmo assim, enquanto cresciam as pressões sobre as tripulações dos aliados,intensificavam-se também as campanhas aéreas. Na Conferência de Casablanca de janeiro de1943, Roosevelt e Churchill autorizaram a Operação Pointblank, uma ofensiva aérea geral contraa indústria aeronáutica germânica, a ter lugar antes da invasão do continente cruzando o Canal.Para que tal invasão tivesse chance de sucesso, os aliados teriam de conquistar inquestionávelsupremacia aérea. E para conseguir isso, acreditavam os líderes, os aliados deveriam não sóvarrer dos céus os aviões existentes da Luftwaffe, como também destruir suas instalaçõesprodutoras na Alemanha.

Seriam necessários mais quatro meses para que as aeronaves e tripulações americanascomeçassem a chegar em grandes quantidades à Inglaterra, porém, por determinação de seuscomandantes, os aviadores dos EUA já estavam cumprindo a estonteante missão de conseguir asupremacia aérea em pouco mais de um ano. Sabedor das insistentes solicitações de Churchill aRoosevelt pela participação americana nos bombardeios noturnos, Eaker, que substituíra TooeySpaatz como comandante da 8ª, teimou que os bombardeios diurnos não teriam problemas paracumprir a missão. Eaker e Harris prometeram que o espaço aéreo estaria livre de aeronavesinimigas por ocasião da invasão aliada. “Minha mensagem pessoal para vocês — e ela tem deser entendida como uma obrigação — é a de destruição das forças aéreas inimigas onde querque vocês as encontrem: no ar, na terra ou nas fábricas,” escreveu Hap Arnold aos comandantesda 8ª Força Aérea.

Contudo, na opinião dos que pilotavam os bombardeiros, não havia como cumprir tal missãosem a escolta de caças de longo raio de ação para proteger os aviões da 8ª. Até que Arnold eoutros entendessem esse fato, a Luftwaffe continuaria reinando nos céus da Europa continental, ea carnificina experimentada pelos aviadores aliados tornar-se-ia assustadoramente pior. Apesardisso, o comandante da Força Aérea e seus principais assessores continuavam resistindo. Foientão que Tommy Hitchcock interveio. Como um dos assistentes dos adidos militares, Hitchcock fora designado para a embaixada dosEUA em Londres, e não para o marrento quartel-general da 8ª Força Aérea. Seu modus operandiera totalmente diferente do dos líderes da 8ª: ele achava bem mais importante cooperar com aRAF do que competir com ela — e talvez até tirar algumas lições dos ingleses. Com base em suaprópria experiência como piloto de caça, Hitchcock concluiu que os britânicos eram superioresaos americanos nas táticas do combate aéreo e nos procedimentos de treinamento, assim comoem muitos aspectos dos projetos e da fabricação de aviões de caça. “Naqueles dias [280],qualquer ideia morria no nascedouro se fosse dito aos americanos: 'A experiência inglesa temmostrado ...,'” escreveu mais tarde Tex McCrary, amigo de Hitchcock. “De um modo geral, se

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alguma coisa fosse inglesa, já recebia na América dois tiques vermelhos contra ela. Tommyprocurou reverter o processo: caso uma ideia tivesse sido testada e aprovada nos laboratóriosingleses de combate, Hitchcock passava então a ter por ela grande consideração. Ele sabia que ocombate aéreo mais árduo do mundo fora travado ali. O que tivesse sobrevivido tinha que serbom.”

Gil Winant, que compartilhava a mesma opinião, vinha, por muitos meses, tentandoinfluenciar as autoridades militares dos EUA para que prestassem atenção aos desenvolvimentosingleses nos projetos aeronáuticos e em sua tecnologia. “Desde que cheguei aqui, venho fazendotudo que está ao meu alcance para pôr à disposição (...) dos pilotos americanos quaisqueraperfeiçoamentos aeronáuticos que os ingleses, através da experiência, julguem essenciais,”escreveu Winant a Roosevelt em janeiro de 1942. Todavia, a despeito desses esforços,“permanece o fato de que há ainda um desnecessário atraso na incorporação das últimasalterações britânicas de projetos nas nossas linhas de montagem.” Roosevelt repassou a carta deWinant para Hap Arnold, que descartou por completo as argumentações do embaixador.

Pouco depois de chegar à Inglaterra, Hitchcock fez uma visita ao instituto dedesenvolvimento da RAF em Duxford, a poucos quilômetros de Cambridge, para acompanhar ostestes de desempenho de um novo e promissor caça produzido na América apenas para empregopelos ingleses. Produto do cérebro de um emigrante alemão, que outrora participara dodesenvolvimento dos caças Messerschmitts, o P-51 Mustang fora fabricado pela North AmericanAviation Co., na Califórnia, para a RAF, que planejara seu emprego como caça-bombardeirotático de baixa altitude.

Quando tiveram início os testes de voo, a RAF percebeu que tinha em mãos algo muitoespecial. O Mustang, com sua estrutura aerodinâmica, era mais rápido que o Spitfire, tinha maiorraio de ação e, nas médias e baixas altitudes, era extremamente manobrável nos mergulhos.Segundo um observador, “era a coisa mais pura [281] e suave no ar.” Mas o piloto de teste doMustang e outros que tinham visto o avião em ação acreditavam que seu desempenho poderia serainda mais aprimorado se o motor americano pouco potente fosse substituído pelo Merlin de altaperformance da Rolls-Royce, empresa inglesa.

Os pesquisadores e tecnólogos da RAF concordaram, e o Mustang foi equipado com oMerlin. Hitchcock ficou deslumbrado com os resultados. Observando o Mustang híbrido voar edebruçando-se sobre tabelas e gráficos, ele percebeu que o avião era, nas palavras do historiadorDonald Miller, “a aeronave que a 'Máfia dos Bombardeiros' afirmara ser impossível de fabricar,um caça que poderia ir tão longe e com igual velocidade que os bombardeiros, sem perder suascaracterísticas de combate.” Num memorando endereçado ao QG da Força Aérea emWashington, Hitchcock instou para que o avião fosse empregado como caça de elevada altitude,prevendo que a utilização do motor Merlin “produziria o melhor avião de caça da FrenteOcidental.”

Seus superiores, entretanto, não ficaram impressionados. Aos olhos deles, o Mustangpertencia aos ingleses; só esse fato o tornava inferior, a despeito de sua manufatura americana.Como Hitchcock observou: “Gerado por pai inglês em mãe americana, o Mustang era verdadeiroórfão na [Força Aérea] (...) para ter quem proclamasse e difundisse seus méritos.” Enfrentandoa intransigência burocrática, Hitchcock recusou-se a esmorecer. Ao longo do verão e do outonode 1942, trabalhou incansavelmente na busca de apoio para o Mustang híbrido, enviandoverdadeira chuva de estatísticas sobre Washington com demonstrações do valor dos testes dedesempenho e oferecendo pródigos jantares e recepções, no seu elegante apartamento deLondres, a fim de fazer lobby junto aos oficiais de altas patentes da 8ª Força Aérea e da RAF,assim como aos altos dignitários do governo Roosevelt de passagem pela Inglaterra. Ele mesmo

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alçou voo num Mustang a fim de testá-lo em manobras aéreas, para desespero de seu sobrinho,Averell Clark, um piloto de caça da USAAF que servira no Esquadrão Eagle antes de a Américaentrar na guerra. De pé ao lado do tio na cabeceira da pista de Duxford, Clark exclamou: “Olheaqui, Tio Tommy [ 282], é melhor o senhor não voar nesta coisa. Até agora só o piloto de testeteve condições de fazê-lo.” Hitchcock olhou firme para o sobrinho. “E eu com isso!” — rugiu devolta, subiu no Mustang e decolou. “Ele tinha mesmo é que voar,” disse Clark anos depois. Afinalde contas, “aquilo era primordialmente ideia sua.”

Winant trabalhou como parceiro de Hitchcock na cruzada do Mustang. Juntos, os dois ex-pilotos da Primeira Guerra Mundial salpicaram cabogramas e memorandos sobre Roosevelt,Harry Hopkins e outros altos funcionários da administração, ressaltando o potencial do aviãocomo caça de escolta em elevadas altitudes. De acordo com a adido cultural da embaixada,Theodore Achilles, Winant “foi incansável em abrir os olhos” de todos aqueles que pudessempavimentar o caminho para a adoção da aeronave. Além de seu próprio passado como piloto decaça, Winant tinha outra razão para se interessar pelo projeto de Hitchcock. O filho mais velho doembaixador, John, deixara os estudos universitários em Princeton no ano anterior para se alistarna Força Aérea. Em pleno treinamento àquela época para se tornar piloto de B-17, o jovemWinant em breve partiria para a Inglaterra a fim de servir na 8ª Força Aérea — um dos muitosrapazes americanos que enfrentaria a fúria total das defesas antiaéreas germânicas durante aOperação Pointblank. Em novembro de 1942, Hitchcock voou para Washington com o objetivo de levar aargumentação favorável ao Mustang diretamente ao próprio Hap Arnold. “Tanto canais comonão eram palavras que o coronel tinha dificuldade para entender,” observou Nelson W. Aldrich,o biógrafo de Hitchcock. “Ele planejava ir até o topo em defesa de sua causa.” Quando,malgrado todos os seus esforços, Arnold demonstrou pouco interesse pelo Mustang, Hitchcockapelou para um dos chefes civis do general, o subsecretário da Guerra Robert Lovett. Os doiseram amigos desde a Primeira Guerra Mundial, quando Hitchcock voara para a França e Lovettfora piloto da Aviação Embarcada da Royal Navy, para depois servir no Corpo de Aviação deseu país. O subsecretário não precisou ser convencido sobre as qualidades dos motores da Rolls-Roy ce — os aviões ingleses que pilotara durante a guerra estavam equipados com eles — edepois de considerável investigação por ele mesmo procedida, concordou com Hitchcock que aForça Aérea deveria avançar no projeto de adoção do Mustang como escolta de grandeautonomia para os bombardeiros. Determinou que Arnold dedicasse imediata atenção ao assunto.

Fortemente pressionado por Lovett e por outros do Departamento da Guerra, Arnold, cedeucom relutância e ordenou a produção inicial de 2.200 P-51Bs, denominação do Mustang híbrido.Porém, apesar de, teoricamente, a ordem ter altíssima prioridade, houve atrasos na produção dosaviões, e Arnold pouco fez para acelerá-la. “Suas mãos estavam [283] atadas pela boca,”registrou Lovett. “Ele afirmava que nossa única necessidade eram Fortalezas Voadoras (...) [eque] poucos caças poderiam empatar em voo com elas.” No entanto, como acrescentou Lovett,“os Messerschmitts não viam dificuldade nenhuma.”

Com Arnold realizando quase nada, Hitchcock se autonomeou mola mestre do projeto,fazendo, no começo de 1943, repetidas viagens aos parques industriais onde os Mustangs eramfabricados, a fim de assegurar-se de que as aeronaves estavam saindo das linhas de produçãocom a maior brevidade possível. A despeito de sua intervenção, os primeiros despachos em boaescala dos P-51s só chegaram à Inglaterra em janeiro de 1944, a tempo, todavia, de salvar ainvasão do Dia-D, mas não suficientemente cedo para ajudar John Winant Jr. e milhares deoutros tripulantes e pilotos americanos que, durante os terríveis verão e outono de 1943, voaram

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diretamente e sem proteção para as engrenagens do moedor germânico. Quando teve início a OPERAÇÃO POINTBLANK, em julho de 1943, a 8ª Força Aérea já podiacontabilizar mais de 100 mil aviadores e 1.500 bombardeiros na sua lista de baixas. No entanto,enquanto o aumento nos efetivos e nas máquinas era enorme, também era grande a quantidadede homens e aviões perdidos na massiva e desesperada tentativa de acabar com a indústriaaeronáutica alemã. Oficialmente denominada Ofensiva Combinada de Bombardeios, aPointblank era para ser, na teoria, uma operação das duas forças aéreas — um martelar pelosbombardeiros ingleses e americanos, vinte e quatro horas por dia, dos alvos germânicosimportantes. Na realidade, houve pouca cooperação entre a força aérea dos EUA e ArthurHarris, o qual, enquanto elogiava a Pointblank da boca para fora, resistia em alterar suaestratégia de reduzir as cidades alemãs a cinzas. A operação de Harris, nas palavras dohistoriador Michael Sherry, “pecou pela quase total ausência de sentido, amontoando enormesquantidades de escombros, porém demasiadamente dispersos no tempo e no espaço paraprovocarem choque decisivo seja no moral seja na produção do inimigo.”

O esforço americano foi igualmente ineficiente. As duas forças aéreas despejaram,naqueles verão e outono, quantidades recordes de explosivos sobre o território alemão, semoutros resultados tangíveis a mostrar a não ser o assustador número de baixas no ar e em terra. Sóna primeira semana da Pointblank, a 8ª perdeu noventa e sete Fortalezas Voadoras e quase miltripulantes — dez por cento da força atacante.

Hap Arnold, sob enorme pressão para provar a eficácia dos bombardeios à luz do dia,explodia de raiva. Acusou Eaker e seus subordinados de não enviarem número suficiente debombardeiros nas missões, temerosos do aumento nas baixas. De sua parte, o comando da 8ªacreditava que Arnold, instalado em Washington em sua torre de marfim, não tinha a menornoção dos extraordinários custos físico e emocional cobrados pela guerra aérea generalizada.“Começou a parecer [284],” disse um dos assistentes de Eaker, “que os generais Arnold e Eakerdevotavam mais tempo à disputa entre eles do que à derrota dos alemães.”

Em meados de agosto, muito forçado por Arnold, Eaker ordenou a maior incursão aéreaamericana até então realizada na guerra — um assalto de quinhentos bombardeiros contra asfábricas de rolamentos de Schweinfurt e a uma unidade industrial montadora de Messerschmittsem Regensburg. As duas cidades estavam localizadas bem no interior da Alemanha, o quesignificava, para os bombardeiros, voos de várias horas sem escolta, antes de atingirem seusalvos, defendidos por algumas das mais temíveis defesas antiaéreas do Reich. Mesmo assim,Arnold e seus assessores estavam convencidos de que, apesar das formidáveis dificuldades,aquela dupla missão poderia desferir um golpe suficientemente poderoso para deixar aLuftwaffe fora de ação. Como observou o major Curtis LeMay, comandante do 305º Esquadrãode Bombardeiros da 8ª, os chefões em Washington “tentavam encontrar uma maneira fácil deganhar a guerra na Europa. O que correspondia mais ou menos à busca da Fonte da Juventude —não existe tal coisa; jamais existiu.”

Por certo, nada houve de fácil naquelas duas missões. Centenas de caças Messerschmitts, amais poderosa defesa aérea que os americanos tinham visto, atacaram as formações bem antesde elas chegarem às áreas de alvos. Atingidos por fogo devastador, os bombardeirosdespencavam às dezenas. Mais de 475 aeronaves decolaram para as missões. Das pouco mais de300 que conseguiram chegar aos alvos, 60 foram abatidas, e cerca de 600 tripulantes forammortos. Metade dos aviões que conseguiram se arrastar de volta às suas bases, um dos quais erapilotado pelo tenente John Winant, estava bastante danificada. Foi, como Nelson Aldrich Jr.escreveu, “a Verdun da 8ª Força Aérea. Os homens chegaram às raias do motim, recusando-se a

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voar para a Alemanha sem alguma espécie de escolta que os protegesse... até os alvos.”Embora as baixas tivessem sido estarrecedoras, os comandantes da 8ª se confortaram com a

noção de que seus bombardeiros haviam causado estragos definitivos para a indústria aeronáuticagermânica. Regensburg, exultava um general, “fora literalmente [285] riscada do mapa.” Doceilusão. Apesar de a planta industrial montadora de Messerschmitts ter sido, de fato, bastantebombardeada, ela foi reparada e voltou a funcionar semanas após o ataque. Em Schweinfurt,cerca de um terço das bombas não atingiu seus alvos e elas caíram sobre áreas residenciais dasvizinhanças, matando duas centenas de civis; as que acertaram as fábricas de rolamentoscausaram poucos estragos, interrompendo a produção apenas por breve período. Escrevendosobre as incursões de Regensburg-Schweinfurt, Albert Speer, ministro do Material Bélico deHitler, afirmou em suas memórias que o Reich havia escapado de “um golpe catastrófico.”

No fim da campanha Pointblank do verão, a 8ª Força Aérea lutava para recompletar osclaros em recursos humanos e materiais. Porém, a despeito dos custos horríveis, não haveriatrégua: com os alemães ainda dominando os céus da Europa, os raids moedores de carneprecisavam continuar. Em 6 de setembro, quarenta e cinco Fortalezas Voadoras foram perdidassobre Stuttgart. Em 8 e 9 de outubro, cinquenta e sete delas foram abatidas em incursões sobreBremen, Marienburg e Anklam. No dia seguinte, o ataque foi contra Münster, antiga cidadecercada por muralha no oeste da Alemanha. Tão assombrosa quanto a defesa dos caças alemãesdurante a missão Regensburg-Schweinfurt, o combate aéreo sobre Münster foi ainda mais feroz.Em ondas atrás de ondas, cerca de duzentos caças germânicos — “a maior concentração decaças názis jamais arremessada contra uma formação de bombardeiros americanos” —atacaram as Fortalezas de frente, dispersando completamente a formação. Tantos tripulantessaltaram de paraquedas, disse um dos pilotos, que pareceu um assalto aeroterrestre. Dos 275 B-17s que decolaram da Inglaterra naquele frígido dia de outono, 30 não retornaram. Entre elesestava a Fortaleza pilotada por John Winant, que realizava sua trigésima missão de bombardeio.

Naquela noite, as autoridades da Força Aérea levaram a Gil Winant a notícia de que seu filhode vinte e dois anos havia desaparecido em ação, abatido enquanto voltava de Münster. Segundouma testemunha, o avião de John Winant tinha se chocado com o solo depois de atacado por trêscaças alemães. O piloto da aeronave líder da missão oferecia um tênue raio de esperança: eledisse ao embaixador que vira diversos velames de paraquedas abaixo do B-17 pouco antes de eleatingir o solo. Mas o piloto e outras testemunhas também tinham vistos os caças germânicosatirando contra os paraquedistas. Ninguém sabia se algum membro da tripulação haviasobrevivido.

Durante cinco agonizantes semanas, Winant ficou sem saber se seu filho estava morto ouvivo. Ao longo desse tempo, o embaixador foi inundado por centenas de mensagens de simpatia econsolo provindas de todas as partes dos Estados Unidos e da Inglaterra. Enquanto um bomnúmero dessas mensagens era de dignitários — Franklin e Eleanor Roosevelt, Winston eClementine Churchill, Anthony Eden, Lord Beaverbrook e Harry Hopkins entre eles — a maioriavinha de cidadãos comuns. Numa matéria de primeira página, o Daily Express manifestou o“profundo senso [286] de pesar pessoal” dos ingleses quando souberam do desaparecimento dofilho de Winant. “Desde sua nomeação, o povo inglês tem revelado grande apreço por MrWinant, tanto como embaixador americano quanto como ser humano,” acrescentou o Express.Ele “sensibilizou o âmago de nossa afeição.”

Em 11 de novembro, Winant recebeu a notícia pela qual ansiava: John estava vivo e eraentão mantido como prisioneiro de guerra no interior da Alemanha. O alívio do embaixador logodeu lugar a uma profunda preocupação quando soube que seu filho e outros prisioneirosproeminentes aliados eram guardados como potenciais reféns para a eventualidade de uma

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derrota germânica. Entre os prisioneiros VIP estavam também um sobrinho de Winston Churchille parentes próximos do Rei e da Rainha. Pelo fim da guerra, todos seriam resgatados em Colditz,uma sombria fortaleza medieval próxima de Leipzig que fora transformada em prisão desegurança máxima. Os alemães jamais esclareceram o que tinham em mente para Winant eoutros prisioneiros de destaque: os reféns ou seriam usados como moeda de barganha ou fariamface à execução sumária de caráter revanchista. Três meses apóso desastre de Münster, num dia escuro e chuvoso que encobria a AlemanhaCentral, surgiu a primeira indicação de que a luta pela supremacia aérea estava prestes aexperimentar significativo ponto de inflexão. Como um gato à espreita no lado de fora de umburaco de rato, um punhado de caças alemães se preparava para atacar aquilo que parecia umapresa fácil — uma formação de B-17s rumando para uma fábrica de Focke-Wulfs, poucosquilômetros a oeste de Berlim. Mas naquela gélida e úmida manhã, o rato tinha surpresas. Derepente, parecendo surgir do nada, um esguio caça dos aliados — o Mustang P-51B — enveredoupelo enxame de Focke-Wulfs e, em questão de segundos, abateu dois deles. Os pilotos alemãesficaram boquiabertos: nunca antes um caça dos aliados desafiara a Luftwaffe tão no interior daAlemanha.

Por mais de uma hora, aquele único Mustang, pilotado pelo major James Howard, pintou ebordou, mergulhou e alçou-se com extraordinária velocidade, infernizando a vida dos Focke-Wulfs com seus fulminantes ataques. Embora três de suas quatro metralhadoras tivessemengasgado, Howard seguiu atacando até que o combustível começou a escassear, obrigando-o aretornar à base na Inglaterra. Ele só reivindicou dois aviões inimigos abatidos, embora diversostripulantes das Fortalezas Voadoras, que presenciaram seu fantástico desempenho, jurassem quetinham visto o Mustang derrubar pelo menos seis. Sessenta bombardeiros americanos foramperdidos naquela missão de 11 de janeiro, mas nem um só avião do esquadrão protegido porHoward foi atingido. O major foi mais tarde condecorado com a medalha de honra por seuespetacular combate isolado.

O avião de Howard fazia parte de uma pequena fração de Mustangs designados para escoltaros B-17s até seus alvos — uma das primeiras do novo caça híbrido de longo alcance a entrar emação. Mas os outros P-51Bs se dispersaram em função das pesadas nuvens, e Howard foi o únicoque conseguiu fazer contato com o inimigo. “Coube a mim [287] a missão,” disse ele mais tarde.“Existiam tripulações de dez homens em cada um daqueles bombardeiros e ninguém mais paraprotegê-los.”

Para a 8ª Força Aérea, a performance de Howard — e a de seu avião — foi um pequenolampejo de esperança num céu muito escuro. Após a guerra, Hap Arnold admitiu que o Mustangsurgira “sobre a Alemanha no momento azado, na hora da salvação.” Com o acréscimo defuselagem e tanques descartáveis de combustível, o Mustang passou a ter o raio de ação de umB-17 ou B-24, podia atingir velocidades de 400 mph e altitudes bem acima de 30 mil pés.

As incursões de Regensburg-Schweinfurt do verão anterior tinham finalmente mudado acabeça de Arnold sobre a necessidade de caças de grande autonomia para escoltar osbombardeiros dos EUA. Mais tarde, Arnold reconheceu que fora “por erro da própria ForçaAérea” que o Mustang não entrara mais cedo em ação. “A saga do P-51,” relata a história oficialde tempo de guerra da USAAF, “chegou perto de representar o equívoco mais custoso cometidopela Força Aérea do Exército dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.” Donald Miller,autor da magistral história da 8ª Força Aérea, foi ainda mais incisivo, classificando a insistenteresistência da USAAF ao Mustang como “um dos erros mais [288] espantosos na história dopoder aéreo americano.”

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Entretanto, cinco meses cruciais iriam decorrer entre a admissão de Arnold quanto ànecessidade de Mustangs e sua chegada em grandes quantidades à Inglaterra. No meio-tempo,não arrefeceu a quantidade de raids de longa penetração da 8ª em território alemão, tampoucosuas catastróficas baixas. Por exemplo, uma segunda incursão contra Schweinfurt teve lugar emoutubro, com a perda de 77 bombardeiros, 17 deles em aterragens de emergência no retorno àInglaterra. Dos 229 aviões participantes da missão, apenas 33 aterraram sem danos. Com ainvasão da França a poucos meses de ser deslanchada, o general Frederick Anderson, amante deocasião de Pamela Churchill e novo e severo chefe do esforço de bombardeios dos EUA, disse aArnold que a 8ª continuaria atacando “independentemente do custo.” Quando um auxiliarprotestou contra o envio de B-24s para uma missão, argumentando que eles não podiam voar tãoalto quanto os B-17s e que “por Deus, [as tripulações] vão morrer neles,” Anderson olhou duropara o auxiliar e retrucou: “E daí?” O primeiro embarque em larga escala de Mustangs para a Inglaterra coincidiu com a assunçãodo comando da 8ª pelo general James Doolittle, líder da famosa incursão aérea americana contraTóquio ocorrida em abril de 1942. Para Doolittle, as armas principais para a luta pela conquistada supremacia aérea não eram os bombardeiros pesados, que haviam fracassado na tentativa deinterromper a produção aeronáutica germânica, e sim os caças dos aliados. Em vez de voarempróximos aos bombardeiros a fim de protegê-los, os caças receberam ordens para passar àofensiva, interceptando os caças alemães antes que eles alcançassem os bombardeiros, paradepois atacarem alvos terrestres a caminho de casa. Cada tipo de caça teria missão específica: osSpitfires defenderiam os bombardeiros da Inglaterra até o litoral do continente e na volta; os P-47Thunderbolts e P-38 Lightinings os escoltariam até a fronteira com a Alemanha; e os novos caçasde grande altitude — os P-51 Mustangs — os levariam até os alvos que, por volta de março,estavam tão longe quanto Munique e Berlim, e os trariam de volta.

De fevereiro até pouco antes do Dia-D, os bombardeiros iriam ser essencialmenteempregados como iscas, a fim de atrair os caças inimigos para o combate em que os Mustangspudessem destruí-los. Na série que se seguiu de selvagens batalhas aéreas, as perdas de aviões etripulações atingiram patamares recordes. Em 1942, planejadores da Força Aérea emWashington haviam previsto a perda de não mais do que 300 bombardeiros pesados durante todoo curso da guerra. Só numa semana do começo de 1944, 226 bombardeiros e mais de dois miltripulantes foram abatidos sobre o Reich. Nos cinco meses que antecederam o Dia-D, mais de2.600 bombardeiros (e 980 caças) foram derrubados, e mais de 10 mil tripulantes, mortos.

O moral das tripulações de bombardeiros, já bem baixo, despencou de vez. O número decolapsos nervosos disparou, assim como os casos de ingestão de álcool e drogas. Quando, certanoite, um alienado e jovem piloto provocou distúrbio no bar de um luxuoso hotel de Londres, umoficial do Estado-Maior da Força Aérea ordenou que ele deixasse o local. “Coronel [289],”bradou o rapaz, “ontem ao meio-dia eu estava sobre Berlim. Em que diabo de lugar estava osenhor?” Outro oficial asseverou: “O álcool era a única coisa que tornava nossa vida suportável.”

Por violenta e onerosa que fosse, a estratégia de Doolittle produziu os resultados que eleesperava. Só em março de 1944, aviões dos aliados — particularmente os Mustangs — abaterammais do dobro das aeronaves inimigas destruídas nos anos de 1942 e 1943, somados. Duranteuma incursão contra Berlim naquele mês, as tripulações dos B-17s ficaram atônitas porquenenhum caça inimigo decolou para enfrentá-los. Os germânicos ainda possuíam bom número decaças — fabricados em quantidades recordes — mas não tinham condições de substituir ospilotos experientes feridos ou mortos desde o advento do Mustang. “A guerra de desgaste haviaatingido a fase mortal,” observou um historiador alemão, “quando nem a bravura tampouco a

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habilidade tinham mais valor.” Perguntado por um interrogador americano, depois da guerra,quando percebeu que a Alemanha perderia o conflito armado, Göring, o chefe da Luftwaffe,respondeu: “A primeira vez que seus bombardeiros chegaram a Hanover escoltados por caças,comecei a ficar preocupado. Quando chegaram com a proteção de caças sobre Berlim, entendique a sorte estava selada.”

Nas semanas que antecederam o Dia-D, os bombardeiros aliados, sem serem perturbadospor caças inimigos, destroçaram as redes ferroviárias da França e do norte da Bélgica,bloqueando as principais rotas de suprimentos e reforços da Wehrmacht. Depois de sua capturaem 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel, chefe do alto-comando alemão, disse aosoficiais aliados que os desembarques na Normandia só foram bem-sucedidos por causa “denossa incapacidade [290] de carrear reforços no momento oportuno. (...) Ninguém jamaispoderá provar para mim que não poderíamos ter repelido a invasão caso a superioridade daforça aérea inimiga em bombardeiros e caças não tivesse impedido que lançássemos maisdivisões no combate.”

Na véspera da invasão da Europa, o general Eisenhower garantiu às suas tropas: “Se vocêsvirem alguma aeronave voando sobre suas cabeças, tenham a certeza de que ela é nossa.”Graças em grande parte a um ex-astro do polo e ao avião que ele defendeu, Eisenhower estavaabsolutamente certo. Houve pouca dúvida na cabeça de muita gente envolvida no esforço Mustang de que, se nãofosse por Tommy Hitchcock, a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos jamais teria adotadoa aeronave que, no final das contas, tornou-se o melhor e mais famoso caça americano naguerra. “Tommy Hitchcock foi em grande parte responsável pelo P-51B, por forçar oandamento do projeto até sua consecução,” observou Robert Lovett. “A única pessoa que poderiater feito isso era alguém que tivesse tanto as habilitações de um piloto quanto os atributos deliderança para juntar um grupo diversificado de pessoas e fazer com que elas avançassem namesma direção.” Pouco depois do Dia-D, Tex McCrary escreveu que “a tenacidade, asinceridade e a absoluta obstinação de Hitchcock fizeram com que o avião ultrapassasse todas ascamadas de críticos e se tornasse o caça que é hoje.”

Mas Hitchcock não tinha a intenção de repousar sobre os louros conseguidos. Depois de servircomo ponta de lança para acelerar a produção de P-51s nos Estados Unidos, retornou a Londresna primavera de 1943 com pouco entusiasmo para reassumir suas atribuições de assistente deadido militar numa embaixada. “A vida em Londres,” escreveu à esposa Margaret, “é muitofácil para que uma pessoa se sinta realmente engajada na guerra.” Ao trabalhar no Mustang,Hitchcock fora de novo picado pelo inseto do combate: seu sonho agora era voar o avião peloqual havia tanto se esforçado. “Combater num Mustang,” disse a amigos, “deve ser como jogarpolo — só que com pistolas.”

Logo após voltar a Londres, Hitchcock tirou licença para frequentar a escola central deartilharia da RAF, onde, na companhia de jovens ingleses que eram pelo menos vinte anos maismoços, aprendeu a voar e a combater num Spitfire. A maioria de seus amigos e conhecidosconsiderava sua ambição de voar um Mustang em combate, talvez como líder de seu próprioesquadrão, uma rematada fantasia. No início de 1943, porém, ele foi transferido para uma baseaérea em Abilene, no Texas, para assumir o comando do 408º Esquadrão de Caças, então eminstrução para o combate na Europa. Ninguém soube como ele conseguiu isso, e o taciturnoHitchcock também jamais explicou.

Não importa como tivesse acontecido, a nomeação deu-lhe mais satisfação pessoal do quequalquer coisa que tivesse antes feito desde os dias de piloto da Lafayette Escadrille na Grande

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Guerra. “A quantidade de trabalho [291] que tem de ser feito é assustadora,” escreveu para aesposa. (...) “No período de noventa dias, o esquadrão tem de estar pronto para a luta de sua vida.(...) Creio que não sei todas as respostas, em absoluto. [Mas] consegui o que queria e cabe a mimfazer o melhor que posso.”

Então, quase tão subitamente quanto tinha se materializado, o sonho desmoronou. A unidadede Hitchcock foi desativada no início de fevereiro de 1944, e seus trinta e seis pilotos foramenviados para o ultramar como recompletamentos de pessoal perdido em combate ou comtempo de serviço completado. O próprio Hitchcock foi designado vice-chefe do Estado-Maior do9º Comando Aerotático na Inglaterra, cujos caças deveriam proporcionar apoio táticoaproximado às forças terrestres da iminente invasão. Mais uma vez, não houve explicação oficialpara tal decisão.

Arrasado com sua mudança de atribuições, Hitchcock passou alguns dias em Nova York coma esposa e os quatro filhos antes de voltar à Inglaterra. No último dia em casa, sua filha de noveanos, Peggy, despediu-se dele e então, quando já se encontrava a caminho da escola, voltou parase despedir uma vez mais. “De repente, tive a terrível premonição de que talvez não pudesse vê-lo de novo,” disse ela depois. “Lembro-me de ter corrido de volta para dar uma última olhadaem meu pai, ainda sentado à mesa de refeições com minha mãe, e pensando comigo: tenho quefixar sua imagem em minha mente para que jamais a esqueça.”

Uma vez na Inglaterra, Hitchcock engoliu o ressentimento e mergulhou em suas novasobrigações como chefe da divisão de Pesquisa e Desenvolvimento do 9º. Além disso, ele passavaconsiderável tempo com os pilotos, muitos dos quais recém-chegados dos Estados Unidos.“Tommy Hitchcock tinha uma influência tremendamente dinâmica e magnética sobre aquelesjovens, e não era por suas qualidades atléticas ou reputação,” disse o tenente-general Elwood“Pete” Quesada, comandante do 9º. “A maioria dos rapazes dos nossos esquadrões de caças nãosabia coisa alguma sobre polo e não dava a mínima para o esporte. A admiração por Tommyera mais profunda. (...) Os moços logo perceberam sua firmeza de caráter, profundidade deconhecimento e a simplicidade e a simpatia que fluem da experiência. Tommy sabia comoconversar com eles.”

Hitchcock ficou bastante gratificado com o magistral desempenho do Mustang, que estavarapidamente se transformando no “burro de carga” da guerra. Ficou particularmente satisfeitoquando seu sobrinho, agora comandante de esquadrão, reportou para ele que seus pilotos haviamabatido 160 aviões inimigos no primeiro mês de voo no Mustang, comparados com os 120derrubados nos onze meses anteriores. O esquadrão de Averell Clark, escreveu Hitchcock àesposa, “está se saindo [292] muito bem desde que passou a voar os Mustangs. Ele tem agora asmelhores estatísticas de todos os esquadrões na Inglaterra (...) fazendo profundas penetrações naAlemanha e perseguindo aviões alemães até ao redor do topo das árvores.”

Contudo, nos primeiros poucos meses de 1944 surgiu crescente preocupação com osMustangs: diversos deles tinham recentemente se espatifado contra o solo sem qualquer motivoaparente. Eles estavam, de acordo com Quesada, “simplesmente mergulhando para o chão. Nãoentendíamos o que se passava; nem Tommy. Obviamente, não podíamos sustentar uma forçaque caminhava para o autoaniquilamento.” Como chefe da pesquisa e desenvolvimento,Hitchcock era responsável por descobrir o que estava errado. Ele e seus assessores técnicosacreditavam que a adição de um novo tanque de combustível na fuselagem havia desestabilizadoa aeronave quando mergulhava em combate. Se fosse o caso, os pilotos deveriam ser instruídos aconsumir o máximo de combustível dos novos tanques antes de se engajarem com o inimigo.

Embora Hitchcock tivesse pilotos de teste em seu comando, cuja tarefa era checar talhipótese no ar, ele insistiu em fazê-lo. Numa clara manhã de abril, Hitchcock dirigiu seu carro até

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as instalações de P&D no campo de pouso próximo a Salisbury, a sudoeste de Londres, e subiunum Mustang de teste com o tanque de combustível localizado na fuselagem atrás de seu assento.Rumando para um campo de provas das vizinhanças, ele colocou o avião em posição demergulho da altitude de 15 mil pés. Subitamente, sem qualquer alerta, o Mustang disparou nadescida, cada vez mais rápido, até que se espatifou contra o solo, lançando uma nuvem defumaça negra e oleosa no ar. O corpo de Hitchcock foi encontrado perto da aeronave destroçada.

Numa reportagem de primeira página sobre a morte de Hitchcock, o New York Timesescreveu que o acidente “colocou ponto final [293] numa das mais nobres e mais espetacularescarreiras na moderna vida americana.” Gil Winant, que notificou a família de Hitchcock sobresua morte, escreveu uma longa carta à viúva onze dias mais tarde. Da mesma maneira que haviafeito no polo, Hitchcock “passou cada minuto de sua vida [na guerra] tentado ganhar,” disse oembaixador a Margaret Hitchcock. O Mustang, acrescentou Winant, “é evidência palpável dacontribuição de Tommy para a vitória. Sem ele, não estaríamos hoje vencendo a batalha aéreacontra a Alemanha.

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“Cruzar o Oceano Não Faz

de Ninguém um Herói”

A velha Inglaterra [294] não é mais a mesma,A temida invasão já começou.Mas não, não é o cruel huno,É o maldito exército ianque que chegou.

[Dear old England's not the same,

The dread invasion, well it came.But no, no, it's not the beastly Hun.

The god-damn Yankee army's come.] No início de 1944, C.D. Jackson, que recém-chegara a Londres para ser chefe da seção deGuerra Psicológica de Eisenhower, escreveu a um amigo sobre a extraordinária multidão deamericanos na capital inglesa. “Não existe um só centímetro quadrado em Londres no qual nãoesteja de pé um americano,” declarou Jackson, “e some-se a isso o fato de que, se ele estiver depé após escurecer, provavelmente cambaleia.” A observação de Jackson pode parecerexagerada, porém, em certas partes da cidade, não era tanto.

No verão anterior, Roosevelt e seus chefes militares haviam finalmente prevalecido sobre osingleses e fixado uma data definitiva — 1º de maio de 1944 — para a invasão da Europa. Emconsequência, as ilhas britânicas se transformaram não apenas no local para os preparativos doDia-D, e sim, como Eisenhower afirmou, “na maior base de operações militares de todos ostempos.” No fim de maio de 1943, as tropas dos EUA estacionadas no país chegavam perto de133 mil. Seis meses depois, eram meio milhão, e seis meses mais tarde, ultrapassaram 1,65milhão. A invasão americana foi, segundo um historiador inglês, o maior influxo de estrangeirosna Inglaterra desde a chegada dos normandos, nove séculos antes. “Foi como se o Atlânticodeixasse de existir,” escreveu um londrino, “e o vasto continente americano estivesse ali no fimda estrada.”

O dilema inicial enfrentado pelos funcionários ingleses e americanos foi como acomodartodo esse efetivo numa ilha do tamanho da Georgia, mas que já contava um número deresidentes vinte vezes maior do que o daquele estado. A East Anglia, sonolenta área rural no lesteda Inglaterra, foi a primeira a experimentar o choque. Com seu relevo em sua maior parte poucoacidentado e sua proximidade do continente, ela se tornou o local preferido para a instalação doimpério avassalador da 8ª Força Aérea, o qual, pelo verão de 1943, já contava com sessenta eseis bases aéreas e um efetivo de 200 mil homens. Por ocasião do Dia-D, as bases aéreas dosEUA na região, algumas cobrindo uma área de duzentos hectares e abrigando cerca de três milmilitares, estavam separadas por uma distância média de apenas quinze quilômetros.

Como muitas partes da Inglaterra, a East Anglia jamais ficara tão exposta a estrangeiros. Derepente, a tranquilidade dos vilarejos foi sacudida por centenas de jovens soldados americanosabarrotando as pequenas lojas, dirigindo perigosamente pelas ruas estreitas em j ipes ecaminhões, mexendo com as moças e acabando com os estoques dos pubs locais. Para os

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residentes da área, a invasão americana foi uma experiência tumultuada, por vezes traumática— experiência da qual logo logo muitos outros ingleses iriam partilhar.

A história foi um pouco diferente na capital inglesa. Como centro do Império Britânico,Londres já tinha testemunhado uma presença de estrangeiros maior do que a necessária ao longodos séculos; agora, como capital de facto da Europa, abrigava dezenas de milhares de exilados doContinente. Porém, até mesmo os londrinos se assustaram com a inundação de americanos quefluiu para sua cidade durante os dois últimos anos da guerra.

Por volta de 1944, os militares dos EUA ocupavam milhares de prédios na área de Londres,desde grandes casas de campo nas cercanias da capital até blocos de apartamentos e deescritórios nos bairros centrais. Desses, cerca de trezentos edifícios foram usados para alojartropas americanas em Londres, inclusive vinte e quatro hotéis adaptados para hospedar oficiais.O salão de baile do moderno Grosvenor House Hotel, que ocupava dois andares, foitransformado no maior refeitório militar do mundo, servindo refeições para as diversas equipesdos quartéis-generais americanos. Conhecido como “Willow Run,” devido à semelhança com alinha de montagem da companhia Ford em Detroit, que tinha uma milha de comprimento, orefeitório como mil lugares servia mais de seis mil refeições por dia.

O hotel ficava a apenas alguns quarteirões da Grosvenor Square, a qual, em conjunto com osprédios das vizinhanças, continuou sendo o centro da atividade americana de guerra naInglaterra. Segundo um escritor inglês, a área havia sido “tomada — de porteira [296] fechada— pelos Estados Unidos.” Era raro encontrar-se uma casa ou um escritório perto da praça nãoocupado por agências militares ou civis dos EUA. Em algumas ruas, como observou o colunistaErnie Py le, “um inglês causaria tanta espécie quanto se estivesse em North Platte, Nebraska.”Vendo, certo dia, um fluxo aparentemente incessante de americanos entrando e saindo deedifícios de escritórios no oeste de Londres, Py le concluiu que a burocracia militar estava tãoinchada em Londres quanto em Washington, talvez até mais.

Py le, natural de Indiana, que escrevia para a cadeia de jornais Scripps Howard, ficouintrigado com o hábito militar americano de bater continência para, virtualmente, qualquer coisaque se mexesse. “Todos cumprimentavam todos,” escreveu Py le. “Segundos-tenentes saudavamoutros segundos-tenentes. Braços subiam e desciam aos borbotões, como se todos estivessemloucos. (...) Numa rua estreita, muito frequentada pelos americanos, tiveram que serestabelecidas mão e contramão nas calçadas, provavelmente para evitar contusões com ascontinências.” Cumprindo ordens dos superiores para que “demonstrassem o devido respeito” porseus correspondentes britânicos e de outras nacionalidades, os militares dos EUA, nas palavras deum sargento, simplesmente batiam continência “para quem estivesse uniformizado, inclusive,suspeito, os porteiros de hotéis.”

Da mesma forma que Grosvenor Square era o epicentro das forças dos EUA nodesempenho de suas funções em Londres, Piccadilly Circus era o local predileto para os queestivessem de folga. Desde o início da manhã até bem tarde da noite, milhares de militares dosEstados Unidos de licença se juntavam a outros soldados aliados naquele “fervilhante e ruidosoformigueiro,” como o denominava o sargento Robert Arbib, alguns procurando restaurantes ecinemas, mas a maioria buscando bebida e garotas.

Um dos locais de intercessão mais intensa do tráfego de Londres, Piccadilly Circus sempreserviu de coração metafórico do Império Britânico desde sua construção no século XIX. Ali,funcionários que serviam nas colônias e negociantes recém-chegados da Índia ou da África seencontravam com companheiros para jantar, drinques ou uma noite de diversão após anos longede casa. Cercada de restaurantes, pubs, teatros de musicais e cinemas, Piccadilly Circus era aTimes Square de Londres; antes da guerra, letreiros luminosos gigantescos banhavam a área com

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luz ofuscante. A iluminação foi extinta em 1939, mas mesmo em blackout a praça permaneceusendo o local mais agitado e apinhado de gente de toda a capital, ajudando a fazer da cidade, naspalavras de Donald Miller, “um dos lugares mais [297] sensacionais do planeta.” Depois deexperimentar as delícias noturnas da área, um coronel americano escreveu para casa: “Aconvivência fraterna na Londres do tempo de guerra é inimaginável, a menos que se tenhadesfrutado dela. Vi pessoas que tinham se conhecido havia apenas cinco minutos tornarem-secompanheiros íntimos. Ligações românticas se estabeleciam com espantosa rapidez.” As ruasnas cercanias da praça, observou Miller, “viviam inacreditavelmente abarrotadas de gente. (...)Quem estivesse por ali estava à procura de comida, amigos, bebida e sexo.” Na carta em que ressalta a horda de americanos tocados pela bebida na capital inglesa, C.D.Jackson concluiu com o comentário: “Creio que muitas complicações estão sendo fermentadas.”[Jackson, é claro, concorreu para tais complicações tendo um caso de amor com Beatrice Eden.]Gil Winant, perfeitamente consciente de que a invasão de militares americanos estava tornando avida dos britânicos consideravelmente mais difícil, concordava com o comentário. SegundoTheodore Achilles, o embaixador se preocupava com a “reação dos GIs em relação ao povoinglês e com a reação dos soldados ingleses em relação aos pracinhas, que haviam chegado àGrã-Bretanha com mais dinheiro e uniformes mais vistosos.” Dias após os Estados Unidosentrarem na guerra, Winant começou a agir como intermediário entre as autoridades militaresdos EUA e os altos funcionários ingleses para tentar tornar a invasão americana a mais pacíficapossível.

Quando Eisenhower chegou a Londres em junho de 1942, de imediato tornou-se parceiroengajado no esforço de Winant. A exemplo do embaixador, o general se inquietava com astensões psicológicas e materiais colocadas para a sociedade inglesa com o imenso influxo de seusconcidadãos. “Todo soldado americano que chegasse à Inglaterra por certo se consideraria umprivilegiado cruzado, para lá mandado a fim de tirar o país de um buraco. E esperaria ser tratadocomo tal,” escreveu mais tarde Eisenhower. “Por outro lado, o povo inglês tinha-se em contacomo um dos salvadores da democracia, em especial porque, durante um ano inteiro, lutarasozinho como imbatível oponente do nazismo.”

Como sempre, para Winant — e também para Eisenhower — e educação era a chave paraa criação do entendimento mútuo. Os dois líderes trabalharam com afinco no lançamento de umprograma anglo-americano para ilustrar os GIs sobre a Inglaterra, antes que eles lá chegassem.Um filme coproduzido pelo Ministério Inglês da Informação e pela Agência Americana deInformação de Guerra, com Burgess Meredith no papel de um soldado dos EUA, demonstravaquão diferentes eram os dois países, a despeito da língua comum, e dava dicas aos militaresamericanos sobre como evitar ofender os ingleses. Os que estavam a caminho da Grã-Bretanhareceberam também um livreto de bolso, escrito pelo romancista Eric Knight, nascido naInglaterra, mas que se tornara cidadão americano. “Os ingleses o receberão [298] como amigo ealiado,” escreveu Knight. “Mas lembre-se de que cruzar o oceano não faz de ninguém um herói,automaticamente. (...) Você estará chegando à Inglaterra vindo de um país em que seu lar estáainda seguro, ainda há fartura de alimentos e as luzes ainda continuam acesas. Portanto, pare epense antes de começar a reclamar da cerveja morna, das batatas cozidas frias e do gosto docigarro inglês. (...) Não faça piadas sobre o modo de falar e o sotaque dos ingleses. Sem dúvida, oseu modo de falar soará muito engraçado para eles, mas eles serão suficientemente educadospara não demonstrar isso.”

Tendo construído, de acordo com Anthony Eden, “uma extraordinária relação pessoal com opovo da Grã-Bretanha,” Winant procurou então tirar proveito de tal relação no seu esforço

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paralelo a fim de preparar o povo inglês para a chegada das tropas americanas. Sua campanhaincluiu participações numa série de programas da BBC intitulada Let's Get Acquainted (Vamosnos conhecer).

Durante o restante da guerra, a maior parte do tempo e do esforço de Winant foi gastotentando resolver problemas relacionados a incursões dos americanos e fomentar uma boarelação entre os militares dos EUA e seus hospedeiros ingleses. Embora trabalhasse em cerradocontato com Eisenhower, o general permaneceu muito tempo fora da Inglaterra ao longo daguerra — no norte da África de novembro de 1942 a janeiro de 1944 e na França depois dejunho de 1944. Quando Eisenhower estava em Londres, sua atenção ficava necessariamentefocada nas campanhas militares vindouras; em decorrência, o general deixava a maioria dosdetalhes das relações anglo-americanas a cargo do embaixador e seus subordinados. “Nenhumoutro poderia ter sido tão eficiente quanto você ao ajudar-me a resolver muitos problemasimportantes que, sem sua assistência, poderiam ter desaguado nas mais sérias enrascadas,”escreveu Eisenhower a Winant pouco antes de seguir para o norte da África no fim de 1942.“Quero que saiba que qualquer sucesso que possa resultar de nossos atuais esforços militares sedeve, em não pequena medida, a você.”

Quando os militares americanos se metiam em confusões, Winant foi em grande parteresponsável por garantir que eles fossem julgados por suas próprias autoridades, e não portribunais ingleses. Logo depois de o primeiro GI chegar à Inglaterra, ele leu num jornal que umsoldado americano, julgado culpado por roubar um motorista de táxi ameaçando-o com umaarma, fora sentenciado a receber chibatadas bem como a ficar preso por seis meses. Winantconseguiu convencer o ministro do Interior, Herbert Morrison, a cancelar as chibatadas. Juntouentão forças com Eisenhower e Eden para pressionar a aprovação de legislação que desse àsautoridades militares dos EUA a devida jurisdição sobre transgressões cometidas na Inglaterrapor militares americanos. Não surpreendeu que a matéria desse azo a muitas opiniõescontrovertidas, porém, graças em grande parte ao bom relacionamento de Winant com o ForeignOffice e com muitos parlamentares, a lei, que não se aplicava a nenhuma outra nacionalidade,foi aprovada no Parlamento com pequena oposição. Os problemas relacionados com a tropa, que Winant e os militares dos EUA tiveram queenfrentar, foram muitos e variados, indo de uma epidemia de acidentes de trânsito pelo fato de osamericanos dirigirem normalmente na contramão, à destruição de grandes extensões do interioringlês para a construção de pistas de pouso e campos de instrução americanos. Na East Anglia,equipes de trabalho dos Estados Unidos puseram abaixo cercas vivas, árvores e cabanas com tetode palha com séculos de existência, e acabaram com centenas de milhares de acres de excelenteterra agricultável para construir seu mosaico de bases aéreas. Ao ver, em determinado dia, umfazendeiro enxotar um agrimensor militar americano de sua plantação de beterrabas, RobertArbib, engenheiro do Exército, sentiu uma pontada de tristeza e perda. Formado por Yale eambientalista amador, Arbib bem sabia que, independentemente de quanto o fazendeiro lutasse,seu “legado e obra-prima” em breve estaria soterrado sob uma camada de vinte e cincocentímetros de concreto. “A guerra [299],” escreveu Arbib mais tarde, “arruinou o monumentodaquele homem — o monumento de sua família — da mesma forma que, decerto, arruinoumonumentos de arquitetos e artesãos da cantaria quando explodiram belas igrejas de Londres.”Mas Arbib, que anos depois da guerra se tornaria diretor da National Audubon Society,reconheceu que a maioria de seus colegas engenheiros de construção não compartilhava seusentimento de conservação da natureza: eles “viam tudo aquilo como tarefa a ser cumprida, e ofaziam sem o menor remorso.”

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Em Devon, no litoral sudoeste da Inglaterra, houve temor semelhante quando o governobritânico, no fim de 1943, ordenou a evacuação de diversos vilarejos e cidades da costa, emconjunto com cerca de quinhentas granjas, a fim de que as forças americanas pudessem usar aregião para treinamentos de operações anfíbias visando o Dia-D. Como observou um escritor,“as indenizações foram [300] mínimas, as reclamações, infrutíferas.” Sem os exercícios,argumentaram os militares dos EUA, a invasão da França fracassaria; líderes militarespressionaram Churchill e o Gabinete para que autorizassem as evacuações. Quando o plano foianunciado, o Cônsul americano em Plymouth reportou consideráveis críticas aos “métodosautocráticos e não democráticos” usados para retirar cerca de 2.700 pessoas de seus lares e deseus meios de sustento por um prazo indefinido.

Ao deixarem seus locais de culto religioso, vigários anglicanos da área fixaram um alerta deseus bispos nas portas da frente de suas igrejas evacuadas. Endereçado a “nossos aliados dosEstados Unidos,” parte do alerta dizia: “Esta igreja está aqui de pé por algumas centenas de anos.Em torno dela, cresceu uma comunidade que tem vivido nessas residências e cultivado essasterras desde que a igreja existe. Esta igreja e o cemitério em seu entorno no qual repousam seusentes queridos; essas casas e esses campos são tão caros aos que foram evacuados quanto ascasas e os túmulos que vocês, nossos aliados, deixaram em seu país. Por conseguinte, elesesperam retornar um dia, como vocês esperam voltar aos seus, e encontrá-los à espera para lhesdar boas-vindas.”

Obviamente, essas evacuações e destruições de propriedades britânicas nada concorrerampara aproximar os americanos dos ingleses, tampouco ajudaram as tentativas de Winant eEisenhower para promover um maior entendimento mútuo. Para complicar ainda mais essatarefa, havia uma falta de interesse por parte dos GIs em conhecer melhor seus anfitriõesingleses. Antes de embarcar para a Inglaterra uma considerável quantidade de militaresamericanos jamais saíra de seus estados natais, muito menos do país. Muitos eram originários defamílias de imigrantes alemães e irlandeses tradicionalmente hostis aos ingleses. Em sua maiorparte, os GIs só queriam o fim da guerra e uma rápida viagem de volta para casa. “Eles nãodesejaram vir, de modo que seus corações — não é mesmo? — não estavam conosco na hora danecessidade,” afirmou uma mulher inglesa que trabalhava no clube da Cruz VermelhaAmericana. Sublinhando a diferença de raciocínio entre os dois países, Harold Nicolson observouque “para nós [301], a cooperação anglo-americana significava segurança, [mas] para elesindicava perigo.”

Para agravar o problema, a maioria dos ingleses só se encontrava com os americanosquando os GIs estavam de licença. Com o intuito de aliviarem as condições rigorosas da vida noExército e a monotonia dos infindáveis exercícios, os soldados invadiam pubs, falavam alto, seembebedavam, conquistavam moças e, nas palavras da antropologista Margaret Mead, agiam“como se fossem donos do mundo.” Maurice Gorham, executivo da BBC, afirmou, “Nuncavimos um soldado americano fazendo qualquer coisa.” Quando Gorham viajou para a Françadepois do Dia-D e viu “como os americanos se comportavam quando em missão, minha vontadefoi de levar um punhado deles de volta a Londres e dizer para as pessoas em Piccadilly : 'Vejam,estes são americanos também.'”

Gorham acreditava, tal qual Winant e Eisenhower, que os pracinhas na Grã-Bretanha viviammuito isolados dos ingleses. Seus acampamentos e bases eram oásis americanos, com jornais,programas de rádio e filmes próprios — e pouca comunicação com o mundo lá fora ou interessepor ele. Tal mentalidade era fomentada por alguns comandantes americanos que raciocinavamda seguinte forma: “Esses homens são combatentes. Estão sendo condicionados para a lutaarmada. Não têm que saber se estão na Inglaterra ou na Nova Inglaterra; isso não faz diferença

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para eles.” Como resultado de sua exposição a esse “ambiente escrupulosamente americano,”disse Gorham, os GIs “não tinham nada em comum” com os ingleses. “Não comeram a mesmacomida, não leram as mesmas notícias, nem escutaram os mesmos programas de rádio. Nãohouve denominador comum.”

Para substancial número de soldados americanos, repletos de energia esfuziante e reprimida,a Inglaterra não passava de um país pequeno, atrasado e batido, em condições primitivas desobrevivência, com cidadãos inamistosos, cerveja fraca e morna, e uma abordagem passiva eindolente para a vida. “A reação comum de muitos americanos em relação ao povo inglês era:'Se eles pudessem esquecer esse diabo de chá com bolinhos na parte da tarde, despertassem e sepusessem em movimento, nós não teríamos que travar esta guerra por eles,'” lembrou um GI.

Alguns militares americanos não eram tão contidos ao vocalizarem suas opiniõesdesfavoráveis a respeito do país e seus habitantes. Certo dia, dois policiais militares americanosde serviço no lado externo do Quartel-General do Exército, em Londres, foram abordados poruma jovem e bonita moça trajando o uniforme do Serviço Auxiliar Territorial (ATS), ramofeminino do Exército inglês. Depois de conversarem um pouco, ela perguntou-lhes se gostavamda Inglaterra. “Eu acho o país legal [302],” respondeu polidamente um dos MPs, mas o outroexplodiu, “Olhe aqui madame, eles deveriam cortar as cordas de todos esses balões [debarragem] e deixar este lugar f.d.p. afundar.” Encarando os PMs com um “olhar incisivo dereprovação” a jovem moça fez meia-volta e se retirou. Um guarda civil aproximou-serapidamente. “Vocês sabem quem é ela?” perguntou. “É a princesa Elizabeth. Ela está noExército.” Anos mais tarde, o MP que havia respondido delicadamente declarou: “Fiquei tãoencabulado que não soube o que dizer. Nunca mais esquecerei aquele olhar longo e duro”dirigido a ele e ao seu boquirroto compatriota pela futura rainha da Inglaterra. Ao passo que a princesa Elizabeth jamais tornou pública qualquer desaprovação que pudesse tersentido em relação aos americanos, muitos de seus concidadãos foram consideravelmente maisfrancos. Para os ingleses, que haviam perdido tanta coisa durante a guerra, seus insolentes emordazes aliados dos EUA pareciam crianças ricas, mimadas, arrogantes e prepotentes. Ossoldados americanos, sentiam os britânicos, não tinham respeito nem admiração por sua históriae instituições, e, como realçou Eisenhower, nenhuma noção dos sacrifícios que o país havia feitopara barrar Hitler e salvar a democracia.

O fosso entre as duas nacionalidades foi deliciosamente ilustrado num encontro de tempo deguerra entre Harold Nicolson e um grupo de GIs em visita ao Parlamento. Espirituoso e gregáriohabitué do White's e de outros clubes londrinos, Nicolson era — além de parlamentar,romancista, biógrafo e ex-diplomata — marido da escritora e frequentadora do GrupoBloomsbury, Vita Sackville-West. Formado pelo Balliol College de Oxford, ele sempre seconsiderou superior aos demais, mas especialmente aos americanos. Não causou admiração,portanto, sua reação desanimada quando lhe foi solicitado que servisse de guia para um grupo desoldados americanos em visita ao Parlamento.

“Desengonçados, chegaram eles,” escreveu Nicolson naquela noite para seus dois filhos,“mastigando chicletes, conscientes de sua inferioridade em treinamento, equipamento, criação,cultura, experiência e história, e totalmente determinados a não se mostrarem de modo alguminteressados ou impressionados.” Na Câmara dos Lordes, Nicolson e seus americanos entediadosse encontraram com outro grupo de soldados dos EUA guiados por nada menos do que Sir JohnSimon, Lord Chancellor e ex-ministro do Exterior, que fora um dos mais ardorosos defensores dapolítica do apaziguamento dos anos 1930. O pomposo e orgulhoso Simon passou a ilustrar os doisgrupos — “cinquenta rostos insossos, com as maxilas trabalhando freneticamente os chicletes” —

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sobre os procedimentos da Câmara dos Comuns e da Câmara dos Lordes. “Agora,” disse Simon,“venham ao meu gabinete rapazes — ou devo chamá-los 'doughboys'? — que vou mostrar-lhes oGrande Selo [Seal] .” Nicolson descreveu a cena que se seguiu:

Ao longo dos corredores seguiu se arrastando a procissão apática, esperandoencontrar um grande animal todo molhado como aqueles que viam com frequência noaquário de São Francisco. Mas nada disso. Só lhes foram mostrados dois cilindros de açocom padrões gravados. E então o homem pegou um bastão metálico pesado (the mace)para que os soldados vissem. “Tenho agora que pedir licença a vocês, meus amigos,porque até um Lord Chancellor, por vezes, precisa trabalhar. Harold, poderia vocêconduzir nossos amigos até a saída?” Harold o fez. Caminhando lentamente, passamospelo Saguão Principal. Para minha surpresa e agrado, um dos “doughboys” parou derepente de mascar, colou sua pequena bola de chiclete na bochecha com um ágilmovimento de língua, e resmungou: “Diga prá nós, moço, quem era aquele cara?

Convictos de que um contato pessoal mais aprofundado poderia amenizar o poder dosestereótipos e aumentar a aproximação entre os soldados e os ingleses, Winant e Eisenhower,apoiados por Anthony Eden e pelo Foreign Office, promoveram com grande intensidade umprograma encorajando os GIs a visitarem lares ingleses. Eisenhower achava, escreveu HarryButcher, que “se um soldado americano [303] tivesse a oportunidade de passar, digamos, um fimde semana na casa de família inglesa (...) poderia surgir um grau muito maior de amizade ecompanheirismo do que se permanecessem distantes.” A ideia fora sugerida pelo ServiçoVoluntário Feminino (WVS) de Lady Reading, cujos membros haviam proporcionado os únicosatos de hospitalidade aos recém-chegados GIs nos primeiros dias da aliança anglo-americana,recebendo-os nos portos britânicos com sanduíches e chá. Ao propor as visitas às residências,Lady Reading disse às mulheres do WVS: “Essa é uma oportunidade maravilhosa deconhecermos as pessoas com as quais nosso destino está agora definitivamente vinculado.”Acolhendo o conselho de Winant que os americanos não deveriam agravar as dificuldadesexperimentadas pelos ingleses, Eisenhower recomendou que, quando os soldados visitassemfamílias britânicas, deveriam levar com eles artigos alimentícios difíceis de serem encontradosno país, tais como carne, gorduras e doces.

A ideia das visitas às casas, no entanto, deparou logo com obstáculos. Muitos comandantesmilitares dos EUA se opuseram a ela, preferindo que seus soldados tivessem o mínimo contatopossível com os cidadãos locais. Numa carta aos pais, Janet Murrow escreveu que diversosamigos ingleses dela, que estavam ansiosos por receber americanos, foram rechaçados pelasautoridades militares dos EUA e ficaram “surpresos, ressentidos [304] e totalmentedesnorteados.” Acrescentou: “Muitas, muitas oportunidades de fazer amizades estão sendoperdidas — e não é por culpa dos ingleses.”

Porém o oponente mais acirrado de uma interação maior entre os cidadãos dos dois povosfoi a Cruz Vermelha Americana, que o Exército encarregou de proporcionar bem-estar aos GIsna Inglaterra, quando afastados de suas bases. A Cruz Vermelha operava dezenas de clubes paraas tropas americanas em todo o país, inclusive o famoso Rainbow Corner, em Piccadilly Circus,que oferecia diversos bares servindo hambúrgueres e Coca-Colas, banhos quentes, máquinas defliperama, tocadores automáticos de discos, serviço de engraxates e mesas de sinuca. Os clubesda Cruz Vermelha tinham a intenção de ser ilhas tipicamente americanas suprindo os saudososGIs com uma parafernália de confortos e amenidades que eles tinham em casa e não podiam ser

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encontrados em lugar algum da Inglaterra. Na realidade, se a Cruz Vermelha tivesse cumprido amissão ao seu jeito, ela e os clubes que geria se isolariam completamente da Inglaterra e seupovo.

Infelizmente para a organização, os ingleses tinham grande participação nos clubes: ogoverno britânico havia pago sua aquisição, renovação e equipamento, e as mulheres inglesas, amaioria integrantes do WVS, constituíam a maior parte das equipes que trabalhavam nos clubes.Os administradores da Cruz Vermelha não tinham muito o que fazer a esse respeito — não haviaquantidade suficiente de mulheres americanas na Inglaterra para atender os clubes — masinsistiram que os membros do WVS trocassem seus uniformes característicos e usassem ovestuário da Cruz Vermelha dos Estados Unidos caso quisessem continuar trabalhando numambiente projetado para ser totalmente americano. “Os homens que frequentam as instalaçõesque gerenciamos têm o direito de entrar em contato só com americanos,” declarou umfuncionário da Cruz Vermelha.

Não foi de surpreender que Lady Reading e suas colaboradoras ficaram furiosas. A chefe doWVS reclamou diretamente com Eisenhower, que simpatizou com o pleito, mas não conseguiumodificar a posição da Cruz Vermelha. “As mulheres inglesas [ 305] (...) acham com toda arazão que ganharam o direito de envergar [seus uniformes] através do serviço que prestaram nasblitzes, e isso é uma verdade,” considerou Harry Butcher no seu diário. “Se a situação fosse aocontrário, o que fariam as mulheres americanas? Vocês sabem muito bem.”

A Cruz Vermelha Americana isolava ainda mais os GIs por ela servidos, impondo umaproibição parcial de ingleses e militares de outras nacionalidades frequentarem os clubes.(Soldados não americanos podiam entrar apenas se um GI o convidasse para uma refeição. Masnão lhes era permitido usar qualquer outra das instalações dos clubes.) Enquanto ainda servia noWAAF, Mary Lee Settle foi convidada a se retirar do Rainbow Corner durante uma de suaslicenças em Londres. Não fazia diferença se ela era americana, a supervisora da Cruz Vermelhadisse a Settle; usava uniforme inglês, e o Rainbow Corner era um lugar só para soldadosamericanos. Settle lançou um olhar raivoso para a mulher. “Está bem,” disse ela. “E se você,num dia desses, quiser participar da guerra, eu lhe emprestarei meu uniforme.” Saiu pisandoduro e jamais colocou de novo os pés naquele lugar.

Numa carta que chegou às mãos de George Marshall, Anthony Eden acusava a CruzVermelha Americana de construir barreiras, e não pontes, para a relação entre os soldadosamericanos e os cidadãos ingleses, acrescentando que a organização “desencorajadeliberadamente qualquer iniciativa de camaradagem britânica.” James Warburg, chefe dodepartamento de propaganda no estrangeiro da Agência de Informação de Guerra, concordava.“O maior perigo para as relações anglo-americanas resultantes da presença de tropas dos EUAna Inglaterra,” disse Warburg a Eisenhower, “parece ser o [desejo] de algumas de nossasagências governamentais e privadas (...) erigirem uma pequena América dentro das IlhasBritânicas.

Roosevelt e Marshall, todavia, não se arrependeram de suprirem os GIs, numa Inglaterracheia de problemas, com o máximo de confortos e conveniências que pudessem. Era importante,acreditavam, manter o mais elevado possível o moral daqueles cidadãos-soldados, a maioriadeles convocados, enquanto se preparavam para o combate. Nos dois últimos anos do conflito,volumoso espaço nos navios de transporte, já escasso para acomodar necessidades da guerra, foireservado para bens como carne, frutas e vegetais frescos, café, ovos e cigarros para consumodos militares americanos na Inglaterra. Quando funcionários ingleses instaram o presidente dosEUA a deixar que seu país suprisse as tropas americanas com alimentos, Roosevelt replicouabruptamente: “Os soldados americanos [306] não sobreviveriam às rações britânicas.”

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Quaisquer tentativas de rebaixar o relativamente alto padrão de vida dos GIs, disse Marshall auma autoridade inglesa, resultaria “em milhares de mães escrevendo para seus congressistas afim de se queixarem de que as autoridades do Exército americano não estavam tratandoadequadamente seus filhos.”

Apesar de Eisenhower concordar com seus superiores quanto à manutenção do moralelevado da tropa, ele lamentava o fato de que a maioria dos soldados sob seu comando, enquantodemandava direitos e privilégios da cidadania americana, tinha pouco conhecimento dasresponsabilidades consequentes de tal cidadania e interesse por cumpri-las. “As diferenças entrea democracia e o totalitarismo eram, para eles, problemas acadêmicos que não lhes diziamrespeito,” escreveu Eisenhower. “Os soldados pareciam não entender as razões pelas quais oconflito entre os dois sistemas era preocupação da América.” Havia, acrescentou o general,“uma desanimadora falta de entendimento por parte de nossos soldados a respeito das causasfundamentais da guerra.”

Um jovem sargento do Exército chamado Forrest Pogue, que anos mais tarde escreveriauma elogiada biografia de Marshall, fez eco para as inquietações de Eisenhower. Durante aguerra, observou Pogue, ele com frequência conversava com os colegas sobre “a falta deentusiasmo do soldado americano e sobre o fato de que ele raramente sabia pelo que lutava.Alguns de [meus amigos] argumentavam que jamais existira motivo para que eles estivessem lá,que tudo o que os EUA precisavam era de uma Marinha forte. Cheguei a duvidar que seriapossível fazer aquela gente entender o porquê de nossa luta, a menos que fôssemos invadidos.” No verão de 1942, Gil Winant escreveu uma carta a Roosevelt solicitando que alguma coisa fossefeita para minimizar a vasta diferença entre os vencimentos dos militares americanos e ingleses.Entre as sugestões do embaixador estava uma campanha para encorajar os GIs a comprar títulosdo Tesouro americano, altamente rentáveis, que pudessem ser resgatados tão logo deixassem oserviço ativo. FDR rejeitou as ideias de Winant, declarando que “não existia uma solução simplese totalmente satisfatória” para os problemas criados pelos salários e condições de vidacomparativamente altos dos americanos.

Problemas, por certo, existiam. Como Winant temia, as rações superiores dos GIs, osgarbosos uniformes, maiores vencimentos e acesso a uma pletora de artigos de consumocausavam ressentimento e hostilidade entre muitos ingleses, em particular entre os soldados, queinvejavam a popularidade dos gastadores americanos entre as moças inglesas. “Eles podem ter[307] a aparência de um Quasímodo,” observou um soldado inglês, “porque não faz a mínimadiferença, desde que sejam americanos.” Outro “Tommy” declarou: “Os ianques foram a coisamais prazerosa que jamais aconteceu para o mulherio inglês. Eles têm tudo — dinheiro emparticular, glamour, ousadia, cigarros, chocolate, meias de náilon, j ipes...”

Quando chegaram à Inglaterra, os soldados americanos receberam um pequeno jornal coma palavra WELCOME em grandes letras na primeira página. Abaixo, estava a mensagem:“Aonde vocês forem neste país, estarão entre amigos. Nossos combatentes os veem comocamaradas e irmãos em armas.” Contudo, como observou um ex-GI, “Alguns daqueles irmãosacabaram nos braços de namoradas e até de esposas dos [militares ingleses]. (...) Acho que osTommies têm boas razões para o rancor.”

Frequentes brigas nos bares entre soldados americanos e ingleses estavam entre osproblemas que Winant e os militares dos EUA tiveram que administrar. Outro foi a alastradaepidemia de doenças venéreas que grassou entre os GIs no fim de 1943 e em 1944.Aproximadamente 30 por cento dessas enfermidades foram contraídas em Londres, ondeexércitos de prostitutas, equipadas com lanternas no blackout, exerciam sua profissão em

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Piccadilly Circus, Leicester Square, e outros locais populares frequentados pelos GIs. “Naescuridão da Londres de 1944, qualquer vão na entrada dos prédios era um ninho de amor,”lembrou um policial militar americano.

Muitas garotas inglesas de família foram alertadas pelos pais e por outros que os americanos“eram selvagens, promíscuos e uma ameaça para qualquer mulher com menos de 70 anos” eque nenhuma moça de boa criação jamais deveria ser vista com eles. Ainda assim, quando elasconheceram melhor os americanos, descobriram que, apesar de insolentes e namoradores, umbom número de ianques não era constituído pelos lascivos ogros que lhes haviam sido descritos.“Existia um núcleo sólido de apreciadores da bebida e mulherengos,” observou uma mulher quefora mocinha durante a guerra. Ela acrescentou, no entanto, que a maioria dos americanos queconheceu a tratou com cortesia e respeito — e, ao mesmo tempo, injetou humor e alegria numambiente sabidamente desprovido dos dois.

E essa não foi, em absoluto, uma opinião isolada. Embora a fanfarronice e a determinaçãoem buscar divertimento afetassem os nervos de muitos ingleses, outros viam na alegria de viverdos americanos um bem-vindo antídoto para a pesada austeridade e a cinzenta monotonia naInglaterra do tempo de guerra. “Tão bons quanto um tônico [308] revigorante,” um inglêsqualificou os americanos. Uma jovem de Liverpool assegurou: “A chegada dos GIs seguramentefoi um acontecimento que nossa desmazelada, triste e velha cidade precisava.” Uma mulher, quetrabalhou num clube de militares americanos durante a guerra, declarou que entrar no clube “eracomo penetrar noutro mundo. A guerra, o racionamento e os cupons eram todos esquecidos.”Quando saía cada noite após o trabalho, “eu encontrava o blackout, voltava à realidade, deixandopara trás a cordialidade e a amizade da América.” Enquanto a questão dos GIs e o sexo provava ser grande dor de cabeça para as autoridadesinglesas e americanas, a da raça era ainda mais explosiva. As forças armadas americanas eramrigidamente segregacionistas, e mais de 100 mil soldados negros dos EUA na Inglaterra erammantidos tão separados quanto possível de seus companheiros brancos, tanto no trabalho quantonas licenças. Pubs, salões de dança e clubes de algumas cidades eram designados somente paranegros ou para brancos. Noutros locais, um elaborado sistema de rodízio foi criado para permitirque negros e brancos fossem à cidade em noites diferentes.

A Inglaterra, que então tinha poucos negros dentro de suas fronteiras, não era um paíssegregacionista, e seus cidadãos, muitos dos quais jamais haviam visto uma pessoa não branca,ficaram chocados com a política americana — e o gritante racismo que a caracterizava. ComoEisenhower explicou a seus superiores em Washington: “Para a maioria do povo inglês, inclusiveas garotas das pequenas vilas do interior — mesmo para aquelas de educação refinada — osoldado negro era apenas um homem como outro qualquer.” Os chefes militares dos EUA nãoencaravam os fatos dessa maneira. Tendo inicialmente resistido à inclusão de negros no Exército,eles foram forçados por Roosevelt a aceitar uma quota de 10 por cento de soldados de cor emcada teatro de operações, a maior parte dos quais era designada para funções subalternas nãocombatentes, tais como descascar batatas, limpar banheiros e cavar trincheiras. Na cabeça dosingleses, tais marginalização e discriminação eram particularmente incongruentes da parte deum aliado que reivindicava lutar pela liberdade e democracia para todos os homens.

Os ingleses ficavam em especial pasmos com a intensa hostilidade e desprezo que alguns GIsbrancos, muitos deles do Sul segregacionista, demonstravam em relação aos seus colegas negros.Recusavam-se a entrar em pubs que servissem aos americanos negros, tentavam expulsar osnegros dos pubs e salões de dança, evitavam dançar com moças inglesas que haviam dançadocom negros e quebravam copos e taças nos quais negros tinham bebido. Quando um aviador

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inglês convidou um soldado negro a sentar-se numa das cabines de um trem apinhado que ia deCardiff para York, um GI branco exclamou, “Saia daí [ 309], seu begro nojento!” O Tommydeclarou mais tarde ter dito ao americano “para se calar, e ele partiu para cima de mim,acertando-me um soco nos dentes.” Um operário numa fábrica de aviões em Blackpoollembrou-se: “Fui testemunha ocular de soldados americanos literalmente chutando — chutandomesmo — soldados de cor para fora das calçadas e gritando, 'seus negros porcos e fedorentos,''escória preta' e 'pretos atrevidos.'”

O governo inglês, vendo-se no meio de explosiva controvérsia entre seu próprio povo e seumais crucial aliado, tentou contemporizar. Oficialmente, os líderes governamentais procuraramse distanciar da política de segregação dos EUA, declarando que a Inglaterra não aprovava a“discriminação com respeito ao tratamento de soldados de cor” e que “não poderia haverrestrições em instalações.” Oficiosamente, entretanto, apoiava a política, ordenando que osmilitares britânicos instruíssem suas tropas, particularmente aquelas do ramo feminino, para quenão se relacionassem socialmente com americanos negros. “É aconselhável,” concluiu oGabinete de Guerra, “que as pessoas deste país evitem amizades muito íntimas com militaresamericanos negros.” Brendan Bracken, ministro da Informação de Churchill, escreveu: “Apolítica americana de segregação é a melhor contribuição prática para evitar distúrbios. Vamosapoiá-la de todas as maneiras.”

Contudo, os militares negros eram muito populares com o povo inglês, que os via comopessoas polidas, de fala suave e discretas — ou seja, muito parecidas com os próprios britânicos.“A opinião [310] consensual,” observou George Orwell, “parece ser que os únicos soldadosamericanos com modos decentes são os negros.” Outro inglês comentou: “Não ligo muito para osianques, mas ligo menos ainda para os sujeitos brancos que eles trouxeram.” Uma substancialpercentagem de ingleses, surpresos com a cumplicidade de seu governo em uma política queconsiderava imoral, resistiu a qualquer tentativa de tratar os GIs negros como seres humanosinferiores. “A opinião tem sido expressa em muitas regiões,” ressaltou um relatório do Ministérioda Informação, “de que não devemos permitir que os pontos de vista americanos sobre esseassunto sejam impostos neste país.”

Quando a ordem para se manterem socialmente distantes dos americanos negros foi lidapara uma esquadra de desativação de bombas do Exército Inglês, seus membros reagiram comassobios e zombarias sarcásticas. “Isso tem cheiro de Hitlerismo,” afirmou um dos integrantes daesquadra. “'Igualzinho a Hitler e os judeus' foi nossa reação à ordem.” Pubs passaram a exporavisos em suas portas dizendo: “Somente para pessoas inglesas e americanos de cor.” Em algunsônibus, os motoristas diziam aos negros para não cederem seus lugares aos brancos porque “elesestavam agora na Inglaterra.” Quando um GI negro, com base em provas extremamentefrágeis, foi julgado culpado por estupro e sentenciado à morte, houve um grande clamor públicono país. Pressionado por cartas de protesto e chamadas telefônicas, Eisenhower ordenou umainvestigação do caso, que julgou insuficientes as provas apresentadas. O soldado foi inocentado eretornou ao serviço ativo.

A questão racial tornou-se mais aguda quando GIs brancos humilharam ou atacaram negrosque eram cidadãos de nações da Commonwealth Britânica. Num dos casos, Learie Constantine,afamado jogador de críquete das Índias Ocidentais, foi convidado a deixar um hotel depois quediversos oficiais americanos hóspedes ameaçaram cancelar suas reservas caso ele não fosseafastado. Em outro exemplo, um sargento negro das Índias Ocidentais e da RAF foi espancadopor dois americanos por dançar com uma branca. “Os nacionais britânicos negros estão, comrazão, possessos,” admitiu um comandante do Exército. “Soldados americanos os têm xingado(...) obrigado a sair das calçadas, a deixar locais de refeições e até mesmo a se afastarem de

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suas esposas brancas.”Mais esclarecido do que a maioria dos líderes militares americanos quanto à questão racial,

Eisenhower tentou acabar com tais ataques. Também proibiu que os comandantes dos EUArestringissem a aproximação dos soldados negros com os civis ingleses e ordenou que os GIsnegros não fossem tratados diferentemente dos brancos. “Os soldados de cor,” disse a jornalistasamericanos, “têm que receber tudo de bom” que é proporcionado aos seus colegas brancos. Noentanto, da mesma maneira que ocorria nos Estados Unidos, a igualdade, quando acompanhadapela segregação e pelo arraigado racismo, acabou sendo impossível de conseguir. A despeito dasdiretrizes de Eisenhower, muitos comandantes locais fizeram vistas grossas para todos osexemplos de discriminação, dentro e fora de suas bases.

De um modo geral, poucos americanos na Inglaterra de tempo de guerra saíram-se bemcom respeito ao tratamento dispensado aos negros por seu país. Ed Murrow, por exemplo,ofereceu uma tortuosa semidefesa de uma instituição indefensável — a escravidão — duranteum debate sobre o livro Uncle Tom's Cabin (A Cabana do Pai Tomás), na BBC. Ostensivo liberalna maioria das questões sociais, Murrow crescera com pais pobres do sul dos Estados Unidos,cujas famílias tinham laços estreitos com a Confederação; um de seus avôs combatera noExército Confederado. Apesar de reconhecer que o sistema escravagista produzira “abusos[311],” Murrow insistiu que os escravos eram “geralmente bem tratados” e argumentou que “aescravidão americana era, como um todo, uma instituição civilizada e humana, comparada comas práticas atuais dos alemães” — argumentação totalmente equivocada, como o locutor da CBSsabia muito bem.

Claramente confuso a respeito da questão racial, Murrow, ao mesmo tempo, não se opunhaem deixar seus ouvintes americanos saberem como os soldados negros se ressentiam dos maus-tratos infligidos por seus colegas brancos. Durante a produção de uma série dramática da CBS,intitulada An American in England, Joseph Julian, um dos atores, gravou entrevista com um cabonegro do Exército, que deixou claro o quanto preferia a companhia dos ingleses à de seuscompatriotas. “É verdade, sabe, eles bebem com você, falam com você. Não há diferenças comeles. Eu gostaria de ficar aqui depois da guerra, mas os Estados Unidos ainda são a minha casa, ehá aquele sentimento de voltar para nossa casa, por piores que sejam as coisas por lá.”

Julian pediu a Norman Corwin, criador, autor e produtor da série, para incluir a entrevistanum dos episódios. Percebendo que ela poderia suscitar problemas em seu país, Corwinconcordou, mas disse que a decisão final cabia a Murrow. Quando lhe mostraram o diálogo,Murrow deu um soco na palma da própria mão e exclamou: “Vamos incluí-lo! Vamos abrir umapequena ferida em nosso país!” O programa seguinte da série divulgou as observações do cabo.

De sua parte, Gil Winant, preocupado com as perspectivas de problemas, expressara antesalgumas reservas a Roosevelt, quanto à conveniência de se enviar GIs negros para a Inglaterra.Contudo, uma vez tomada a decisão, o embaixador trabalhou duro, em todas as suas esferas deatuação, para abrandar as resultantes rixas e tensões entre americanos e ingleses e entrepracinhas brancos e negros. Por iniciativa da embaixada dos EUA, foi criada a Câmara deLigação Inglaterra-Estados Unidos, um comitê conjunto anglo-americano para investigar e tentarresolver as questões entre o povo inglês e as tropas americanas. Winant convocou Janet Murrowpara ser a representante-chefe dos EUA no comitê; por diversos meses, ela viajou por todo oReino Unido, reportando os embates entre soldados americanos negros e brancos e outrosexemplos de fricção local.

Winant também persuadiu Roland Hayes, famoso tenor negro americano, a permanecer naInglaterra, após sua turnê de concertos, e conversar com os GIs negros sobre o tratamentodispensado pelo Exército. O relatório de Hayes, revelando discriminação generalizada, foi

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enviado a Eleanor Roosevelt, que o repassou ao Pentágono. O relatório, por seu turno, tambémfoi levado às mãos do general Jacob Devers, chefe do Teatro de Operações Europeu do Exércitoem 1943, que se apressou em negar aquelas acusações. Depois que Walter White, secretário-executivo da National Association por the Advancement of Colored People (Associação Nacionalpara o Progresso das Pessoas de Cor), fez uma viagem à Inglaterra, no início de 1944, a fim deaveriguar como os soldados negros eram tratados, ele reportou a Mrs Rossevelt que haviatestemunhado “grande infelicidade” entre os homens com quem conversara. Ao mesmo tempo,White não poupou elogios aos esforços de Eisenhower e Winant para suavizar a situação dosnegros, apesar de tais esforços resultarem inadequados. Não há dúvida de que os maus-tratos experimentados pelos soldados negros, foram, aos olhos dosingleses e a bem da verdade, uma nódoa no bom nome dos militares americanos e dos própriosEUA. Como publicou a revista Time: “Os soldados negros da América [312], polidos, de falarsuave e corretamente uniformizados, foram uma surpresa, um prazer e uma feliz oportunidadepara que [os ingleses] esnobassem o sentimento de superioridade moral nos EUA.” Ainda assim,apesar dos problemas criados pela raça e malgrado todas as tensões causadas pela esmagadorapresença americana na Inglaterra, merece citação o fato de que, no cômputo geral, essadramática confrontação entre dois países e duas culturas acabasse deslizando sobre rolimãs,como, de fato, aconteceu.

No começo da primavera de 1944, Sir Basil Liddell Hart, destacado comentarista eestrategista militar inglês, viajou pela Inglaterra para medir a temperatura das relações anglo-americanas. Embora observasse diversos exemplos de comportamento abrasivo tanto desoldados americanos quanto de ingleses, ele concluiu que não podia “se lembrar de qualquer[313] outro caso na história onde as relações entre ocupantes amistosos e um país invadidofossem tão boas.” Um relatório do Ministério da Informação de meados de 1944 registrou “umcrescente sentimento cordial em relação às tropas dos EUA” no país, que foi atribuído ao fato deque “o povo estava conhecendo melhor os americanos.”

A coexistência relativamente harmoniosa entre soldados dos EUA e civis ingleses, numaocasião de grandes tensão e pressão, deveu-se bastante ao trabalho de Eisenhower, Eden e deoutros funcionários americanos e ingleses que pavimentaram e amaciaram o caminho. Porém,na perspectiva de alguns, a parte do leão desse crédito pertence a Winant. Segundo The Nation,foi Winant, “com sua firmeza e bom-senso,” quem encontrou solução para a maioria dos“problemas, alguns dos quais assumiram o status de verdadeiras crises,” causadas pela “presençana Inglaterra de um gigantesco exército.” O jornal dos GIs, Stars and Stripes, realçou o papel doembaixador como mediador anglo-americano quando publicou uma caricatura mostrando umsoldado americano, afetado pela bebida e cercado por irados frequentadores de um pub depoisde criar confusão, fazendo uma chamada telefônica. O texto indicando sua fala, dizia: “MrWinant, por favor! Mr John G. Winant...”

Quando Bernard Bellush, um GI de Nova York de licença em 1944, visitou Londres,virtualmente todos os ingleses que conheceu expressaram sua admiração por Winant e pelamaneira como “aquele gentil e corajoso enviado havia fortalecido o desejo e a determinaçãodeles em combater Hitler.” Graças à afeição por Winant, acrescentou Bellush, os ingleses comquem conversou deram o melhor de si para “fazer com que pracinhas como eu se sentissem emcasa.”

Sempre que podia largar seu trabalho por uma hora ou duas, Winant gostava de ir para asruas de Londres a fim de conversar com os GIs e aquilatar como iam suas vidas na Inglaterra —“nada de ares presunçosos, de atitudes autoritárias, de chave de galão, apenas um cara legal,”

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nas palavras de um soldado. Algumas vezes, o embaixador emprestava dinheiro para seus jovensconterrâneos, ou pagava uma bebida num pub próximo. Ocasionalmente, como o fizera comseus amigos de universidades da Ivy League, nos estágios iniciais da guerra, convidava algunsdos GIs ao seu escritório para continuar a conversa, enquanto outros visitantes, com audiênciasagendadas, esperavam impacientemente na antessala. Os pracinhas que não podiam encontrarum quarto em hotel ou clube da Cruz Vermelha eram convidados a passar a noite no chão de seuapartamento.

Winant instava os americanos que conhecia a escrever para ele relatando como ia a vida, emuitos o fizeram. Entre seus correspondentes estava um jovem oficial da OSS chamado StewartAlsop, que mais tarde se tornaria destacado colunista e escritor, o qual disse a Winant que seapaixonara por uma moça inglesa e queria casar-se com ela. No entanto, os pais da garotatinham dúvidas a respeito do matrimônio, e Alsop, que era primo distante de Eleanor Roosevelt,pediu ao embaixador que entrasse em contato com eles e intercedesse favoravelmente quanto aoseu caráter e o histórico de sua família. Winant, que conhecera Alsop através de Mrs Roosevelt,anuiu, a permissão foi dada, e o par logo se casou.

Nos seus encontros com jovens americanos, Winant invariavelmente os encorajava aconhecer melhor os ingleses. Enquanto muitos GIs deixaram o país sem tal conhecimento,milhares de outros criaram vínculos estreitos com civis britânicos. Para alguns, isso começoucom encontros regulares nos pubs locais, onde logo os americanos passaram a conhecer osfrequentadores habituais. Escrevendo sobre o pub no qual gostava de ir em Watford, uma cidadeem Hertfordshire, Robert Arbib observou: “Não era preciso muito tempo [314] no Unicorn paraque você fosse considerado da família, chamando a dona de Dora e o barman de Jimmy,enquanto lhe chamavam de 'meu ianque (...) e, no fim, de 'Bob' ou 'meu caro.' Fazendo amizadecom muitas pessoas da cidade que conheceu no pub, Arbib relatou: “Fiz refeições na mesa delas,dormi nos sofás de suas salas de estar, fui a festas e bailes com elas (...) e senti-mecompletamente em casa.”

Americanos que serviram por longos períodos no mesmo lugar, como os aviadores da 8ªForça Aérea, tiveram excelente oportunidade de conhecer e fazer amizades sólidas com osresidentes dos vilarejos e cidades próximos das bases. Uma mulher que morava num vilarejo deEast Anglia nas proximidades de uma base aérea da USAAF lembrou-se: “Por volta de 1943, osGIs faziam parte de nossa comunidade. Sabíamos os prefixos de seus aviões. Conhecíamos astripulações que voavam e as que faziam sua manutenção.” Quando as aeronaves retornavam àtarde das missões de bombardeio, “ouvíamos o roncar de seus motores e parávamos asbrincadeiras ou tarefas,” rezando para que todos os ianques tivessem retornado.

Outros americanos, no meio-tempo, fizeram amizades duradouras com famílias britânicas,que os convidavam para jantares dominicais ou celebrações de feriados, ou mesmo lhesofereciam acomodações permanentes. Entre eles estava o tenente Dick Winters, paraquedista da101ª Divisão Aeroterrestre. Pouco depois de Winters chegar para a instrução numaquartelamento próximo ao vilarejo de Aldbourne, no Wiltshire, um casal de idosos, cujo filho daRAF tinha recentemente falecido em ação, convidou-o para tomar chá. Ele aceitou e, após maisvisitas, o casal perguntou se ele gostaria de ficar morando na sua residência. Recebida apermissão dos superiores, o tenente se tornou, para todos os efeitos um filho adotivo. “Eles meadotaram [315] e fizeram-me membro da família,” disse Winters, cuja carreira vitoriosa naEuropa foi mais tarde destacada no livro de Stephen Ambrose — e minissérie da HBO de mesmotítulo — Band of Brothers (Irmãos de Guerra). “Eu encontrara um lar longe de casa. (...) Isso meajudou no preparo mental para aquilo que eu estava prestes a enfrentar.”

Tal fato também foi aparentemente verdade para muitos outros GIs. Quando as autoridades

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militares dos EUA examinaram a correspondência que os soldados americanos enviaram daNormandia para a retaguarda, em julho de 1944, descobriram que mais de um quarto das cartaseram endereçadas para residências inglesas.

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“Vocês Nos Verão

Alinhados com os Russos”

Enquanto os laços entre os civis ingleses e os pracinhas americanos podem ter se fortalecido como prosseguimento da guerra, a afinidade entre os líderes dos dois países declinoudramaticamente. Nos primeiros dois anos da aliança anglo-americana, Franklin Roosevelt eWinston Churchill conferenciaram sete vezes. Celebraram o Natal e outros feriados nacompanhia um do outro. Contaram piadas, pescaram, cantaram e beberam juntos. Mas já emmeados de 1943, o presidente americano começou a esfriar sua camaradagem com o primeiro-ministro inglês. Na realidade, algumas vezes, ele deu a impressão de querer o mínimo contatopossível com Churchill. “Nos últimos dezoito [316] meses da vida de Roosevelt, achei que afranqueza entre os dois diminuiu,” lembrou John Colville. “O tom de quase irmão das mensagensdo Presidente pareceu mudar.”

Com a evidente superioridade dos Estados Unidos em efetivos, armamento e outros meiosdevotados à guerra, Churchill, para considerável alarme e sofrimento seu, viu-se e ao seu paístratados como parceiros subalternos na aliança. “Cada vez mais, com a continuação da guerra, osamericanos passaram a não dar atenção a coisa nenhuma que disséssemos, a não ser quecoincidisse com algo que eles queriam fazer,” observou o general Ian Jacob, vice de Pug Ismay.Eric Sevareid registrou: “Por muitos anos [os ingleses] vinham insistindo com os americanos paraque aceitassem os fatos da vida e viessem para o mundo — e agora (...) os americanos tinhamvindo e, ao fazê-lo, criaram um novo conjunto de fatos da vida dificilmente esperados pelosingleses, que estavam começando a se sentir amargamente ressentidos. Eles não apenasdeixaram de ser os únicos heróis da batalha, mas tinham agora importância secundária.”

O desgaste das relações Roosevelt-Churchill ocorreu num período crítico. Com a maré daguerra virando a favor dos aliados, tornava-se cada vez mais patente que a derrota de Hitler eraapenas questão de tempo. No outono de 1943, os alemães tinham sido expulsos do norte daÁfrica, e a Batalha do Atlântico estava, finalmente, vencida. A Sicília fora capturada, Mussoliniderrubado, e as tropas aliadas começavam a avançar com dificuldade pela bota da Itália. NoFront Oriental, os russos davam seguimento à sua vitória em Stalingrado com importante ofensivacontra os alemães, tomando de volta grande parte do território ocupado pela Wehrmacht em1941. O planejamento para a invasão da Europa se intensificava, e começavam as discussõespreliminares sobre os termos da rendição, a ocupação da Alemanha e o sonho muito acalentadopor Roosevelt — uma nova organização mundial de nações para a manutenção da paz. Entre osaliados, a principal preocupação não era mais a sobrevivência nacional; agora era proteger osinteresses pós-guerra de cada país.

Em resposta à situação militar que mudava rapidamente, Roosevelt e Churchill encontraram-se duas vezes em quatro meses — em Washington, em maio de 1943, e em Quebec e Hyde Park(a propriedade do Presidente), em agosto. O fato de as duas conferências terem ocorrido de novoem terreno de Roosevelt — ou, pelo menos, em seu continente — foi motivo para mal-estar parao primeiro-ministro, cujas tentativas de persuadir o Presidente a ir à Inglaterra, nem que fosseapenas uma vez em tempo de guerra, tinham até então fracassado. Segundo Harry Hopkins, FDRtemia viajar à Grã-Bretanha por “razões políticas [317],” com receio de ser considerado peloeleitorado americano muito simpático ao Império Britânico. Aos olhos de Churchill, já com

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sessenta e oito anos, que havia aguentado uma sucessão de longas viagens marítimas e voostransatlânticos para se encontrar com Roosevelt, tal desculpa era, no mínimo, uma indelicadezacom um leal aliado.

Porém, no verão de 1943, Roosevelt e seus conselheiros militares não estavam dispostos aceder muita coisa do que quer que fosse. Depois de ser vencido pelas manobras dos ingleses nasconferências anteriores, em especial na de Casablanca, o alto-comando americano estavadeterminado a fazer prevalecer seu ponto de vista em operações estratégicas até o fim da guerra.Durante as reuniões iniciais de 1943, os ingleses haviam conseguido aprovação para suaspropostas de invadir a Itália em setembro — uma continuação de sua estratégia mediterrânea.Mas altos funcionários dos EUA, cada vez mais irritados com o fincar de pés de Churchill contraum desembarque na França, insistiram que os ingleses tinham de se comprometer com o dia 1ºde maio de 1944 como data firme para o Dia-D. Até o velho amigo de Churchill, Harry Hopkins,havia se virado contra ele nessa questão. “Harry está seguro de que a obstinação de Churchill,sua persistente luta para adiar uma Segunda Frente na França, de fato, prolongou a guerra,”escreveu Lord Moran em seu diário. “Tudo indica que o Presidente e Hopkins não estão maisdispostos a reconhecer Winston como um guia infalível em assuntos militares.” (Na realidade, osdois nunca estiveram; simplesmente se tornaram mais abertos sobre o fato.) Enfrentando tenazoposição de Churchill, os americanos fizeram também prevalecer um plano de apoio aosdesembarques do Dia-D com uma invasão do sul da França.

Desanimado com a resistência dos americanos às suas ideias estratégicas, o primeiro-ministro também se sentia magoado mais profundamente com a crescente frieza do Presidente.Tanto política como pessoalmente, ele precisava bem mais de FDR do que Roosevelt dele.Churchill era pessoa mais afetuosa e consideravelmente mais emotiva do que Roosevelt, o qualfoi descrito por Arthur Schlesinger Jr. como “cintilante, impessoal [318] (...) superficialmenteamável e essencialmente frio.” Missy LeHand, secretária particular de FDR, disse a um repórterque seu chefe, a quem adorava, “era realmente incapaz de uma amizade pessoal com qualquerpessoa.” Já Churchill era “um gentleman que dava grande valor ao fator pessoal,” como realçouEleanor Roosevelt. O próprio Churchill dissera a Anthony Eden que “todo o meu sistema sebaseia na amizade com Roosevelt.” Mais tarde, o primeiro-ministro acrescentou: “Nossaamizade é o rochedo sobre o qual construo o futuro do mundo.” A Roosevelt, Churchill comentou:“Qualquer coisa que representasse um desacordo sério entre mim e você partiria meu coração.”

No período inicial da relação entre os dois, parecia haver uma autêntica aproximaçãopessoal, “entendimento e amizade verdadeiros,” como disse Daisy Suckley, prima distante e, porvezes, confidente do Presidente. Após presenciar uma reunião de Churchill e Roosevelt, emWashington, em junho de 1942, Suckley ressaltou que FDR “se mostrou à vontade e íntimo — seurosto expressando humor ou grande seriedade, dependendo da gravidade do assunto, e totalmentenatural. Nenhum indício de ter que escolher palavras ou disfarçar expressões, exatamente aocontrário de seu comportamento numa entrevista coletiva, quando ele é um genuíno ator numpalco.” Quanto a Churchill, Suckley ficou com a impressão de que ele “adora o Presidente (...)respeita-o e o trata com grande deferência.”

Porém, mesmo naqueles dias felizes da relação, havia uma encoberta rivalidade entre osdois, que só fez crescer quando a guerra se aproximou de seu clímax. “Roosevelt invejava [319]a genialidade de Churchill, e o primeiro-ministro inglês invejava cada vez mais o poderio dopresidente americano,” escreveu o historiador John Grigg. Samuel Rosenman, um dos maisnotáveis preparadores dos discursos de FDR, destacou que o Presidente “era propenso a ciúmesdos competidores em seu campo de atuação. Gostava da adulação, em especial quandoenvelheceu, e frequentemente parecia invejar os cumprimentos feitos a outros pela sagacidade

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política, eloquência, estadismo ou vitórias na vida pública.”Muitos anos mais tarde, Arthur Schlesinger Jr. perguntou a Pamela Churchill Harriman se ela

achava que Roosevelt e Churchill alguma vez poderiam ter se tornado amigos caso não tivesseocorrido a guerra. Ela respondeu com um enfático “não.” “Eles não tinham coisa alguma emcomum,” disse ela. “Não eram o modelo um do outro. Não se divertiam com as mesmas coisas.Não gostavam do mesmo tipo de pessoas. (...) Os dois tinham atitudes diferentes em relação aopassado. (...) Precisavam, no entanto, se dar bem, e ambos trabalharam muito para isso.”

A verdade foi que, apesar do romantismo que Churchill impregnou em suas memórias arespeito de sua relação com Roosevelt, nem ele nem o Presidente deixaram que a amizade entreos dois interferisse no que consideravam interesses nacionais de seus respectivos países. Naspalavras do historiador David K. Adams: “Cada um usou o outro, cada um explorou o outro eambos fizeram duras barganhas quando os interesses se mostraram conflitantes. Da tensãocriativa entre os dois, resultaram coisas muito boas e mitos heroicos foram criados.” As desavenças entre Roosevelt e Churchill foram bem além da questão de quando e onde asforças aliadas deveriam desembarcar na Europa. Inflexível opositor do Império Britânico,Roosevelt passou boa parte da guerra tentando pressionar Churchill e seu governo a começaremo processo de independência das possessões imperiais do seu país. Mesmo antes de os EstadosUnidos entrarem na guerra, o Presidente expressou sua clara posição, dizendo ao filho Elliott:“Temos de deixar patente aos ingleses, desde o início, que não seremos simplesmente o amigãoque pode ser usado para tirar o Império Britânico de um aperto. (...) Creio que falo comopresidente dos Estados Unidos quando digo que nosso país não ajudará a Inglaterra nessa guerrasó para que ela continue capaz de tratar com desprezo povos coloniais.”

Durante a primeira visita de Churchill a Washington, Roosevelt levantou a questão daautodeterminação para a Índia, a joia mais preciosa na coroa do Império Britânico. Churchillreagiu com tanta veemência, escreveu ele mais tarde, que o Presidente jamais tocou de novo noassunto. Não foi exatamente assim. Nos encontros seguintes e em sua correspondência com oprimeiro-ministro, FDR levantou repetidas vezes o problema da Índia e do imperialismo britânicode uma forma geral. Elliott Roosevelt se lembrou, por exemplo, que, em Casablanca, seu pai “fezuma observação [320] sobre a antiga relação entre financistas ingleses e franceses, [os quais]formavam (...) cartéis com o propósito de extrair riquezas das colônias.”

A antipatia do Presidente pelo colonialismo britânico foi reforçada por um editorial da Life,de 12 de outubro de 1942, intitulado “An Open Letter to the People of England” (Uma CartaAberta ao Povo da Inglaterra). Nele, os editores da revista declararam: “De uma coisa estamoscertos: não estamos lutando para manter o Império Britânico intacto. Não gostamos de deixar oassunto de forma tão crua, mas não queremos criar ilusões.” O editorial instava a Inglaterra areconsiderar “sua motivação para a guerra,” que era o colonialismo, e se “juntar-se à nossa,”que se traduzia em “lutar pela liberdade em todo o mundo.”

Para Henry Luce, o todo-poderoso homem da imprensa, proprietário da Life, da Time e daFortune, o século XX estava destinado a ser o “Século Americano.” Sobre Luce, um confusoTom Matthews, que trabalhara para ele como editor da Time, disse: “Se ele fosse inglês, por certoseria extremado tory, orgulhoso do Império, protestando furiosamente contra sua extinção. Comoamericano e com um senso imperial para a América do futuro, estava feliz em ver definhar acompetição representada pela Inglaterra.”

Enfurecido com o editorial da Life, Churchill afirmou num discurso em Londres “que não setornara primeiro-ministro do Rei para presidir à liquidação do Império Britânico.” Ao longo de

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toda a guerra, ele deu o melhor de si para acompanhar os desejos de Roosevelt, salvo quando setratou do Império, assunto que para ele era profundamente pessoal e emocional. Nos anos 1930,ele liderara uma prolongada e desgastante batalha contra uma proposta do governo inglês deconcessão de autogoverno limitado para a Índia. Sua atitude foi considerada reacionária eirrealista pela maioria dos parlamentares, e, em parte, foi responsável por sua exclusão dos altoscargos nos governos de Stanley Baldwin e Neville Chamberlain. As opiniões de Churchill sobre aÍndia também evitaram que ele atraísse grande número de adeptos na Câmara dos Comunsquando começou a alertar quanto à crescente ameaça de uma Alemanha rearmada.

Em 1942, muitos membros do Parlamento, bem como quantidade respeitável defuncionários do governo, teriam concordado com Roosevelt que deveria ser dada à Índia maisautonomia e, em determinado ponto, sua independência. Alguns outros teriam aceitado que aInglaterra acumulara muitas manchas em seu histórico colonialista. A que todos, com certeza,objetavam era a atitude americana em relação ao imperialismo britânico, que consideravampresunçosa, enganosamente moralista e altamente hipócrita.

Afinal, no século XIX e início do XX, os Estados Unidos haviam embarcado em sua versãoprópria de imperialismo, conquistando metade do México, invadindo Cuba e anexando PuertoRico, Havaí e Filipinas, entre outros territórios. Oliver Stanley, o ministro inglês para as Colônias,lembrou Roosevelt sobre esses fatos em 1945 quando o Presidente lhe disse: “Não quero sergrosseiro [321] ou inamistoso com os ingleses, mas em 1841, quando vocês adquiriram HongKong, não o fizeram mediante compra.” Stanley disparou de volta: “Deixe-me ver, MrPresident, isso foi mais ou menos ao mesmo tempo que a Guerra Mexicana.”

Porém Roosevelt, como a maioria de seus compatriotas, recusava-se a aceitar o rótulo deimperialista. Pela visão dos americanos, os Estados Unidos haviam sido uma potênciaexpansionista, e não colonialista: sua missão fora civilizar e proteger, e não explorar, os povosestrangeiros que passaram ao seu domínio. Segundo o historiador Justus Doenecke: “A imagemque Roosevelt fazia da história americana era flagrantemente chauvinista. Na opinião doPresidente, a ação da América no mundo refletia absoluto altruísmo. Contudo, nem todos osresidentes nos territórios ocupados pelos EUA viam as coisas assim, como também os ingleses,que haviam utilizado também o argumento do altruísmo quando ampliavam seu Império.

Churchill e outros no governo inglês suspeitavam que, por trás dos nobres sermõesamericanos a respeito de liberar as possessões do mando colonial havia generosa dose deautointeresse econômico. As suspeitas deles teriam sido certamente reforçadas se tivessemouvido um comentário casual que Roosevelt fez ao filho Elliott em Casablanca: “Os banqueirosalemães e ingleses vinham tendo por muito tempo um mundo de negócios totalmente sob seucontrole, a despeito de a Alemanha ter perdido a última guerra. Ora bem, agora isso não é tãoconveniente para o comércio americano, não é verdade? Na opinião mordaz de Anthony Eden,“a antipatia de Roosevelt [322] pelo colonialismo, enquanto constituía um princípio para ele, eraestimada por suas possíveis vantagens.”

Tais vantagens incluíam bases inglesas no Pacífico, sobre as quais o Pentágono mantinhaolhos gulosos, e as concessões de petróleo no Oriente Médio. Consciente de que as reservas depetróleo da América eram insuficientes para as necessidades futuras, os altos funcionários dogoverno dos EUA estavam determinados a quebrar o predomínio britânico na região e aconseguir concessões próprias. Entrementes, os empresários americanos se mostravam ansiosospor conseguir acesso a mercados protegidos pelo sistema inglês de preferências imperiais, queunia a Grã-Bretanha e seu império num mercado comum econômico e impunha tarifasexorbitantes aos bens importados de países não integrantes do Império. Apesar de a aliançamilitar entre os dois países ser inusitadamente compacta, “é da mesma forma verdade,” como

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registrou a historiadora Kathleen Burk, “que os Estados Unidos trataram a Inglaterra como rivalque precisa ser refreado.”

Mesmo antes de os Estados Unidos entrarem na guerra, Washington, alegando rumores deque os ingleses estariam usando artigos do Lend-Lease para exportação, pressionara Londres aconcordar em abrir mão não apenas da exportação de suprimentos americanos como tambémda exportação britânica de bens de natureza similar. Os relatos do abuso inglês quanto a artigos doLend-Lease para benefício próprio se mostraram inconsistentes, mas os formadores da políticaamericana insistiram em evitar que a Inglaterra conseguisse qualquer vantagem comercialdurante a guerra. Eden e outros administradores ingleses ficaram furiosos com as exigênciasamericanas, que viam como chantagem econômica, porém, no fim, Gil Winant os convenceu aassinarem o acordo, citando a importância de se minimizar “atritos e mal-entendidos nos doislados.” Aconteceu que a redução das exportações inglesas durante a guerra ajudou a abrir muitosmercados mundiais para a penetração americana. No fim da guerra, as exportações britânicashaviam caído 50 por cento, enquanto as americanas triplicaram.

Entretanto, ao mesmo tempo, os ingleses resistiram com todas as forças ao esforço dosEstados Unidos em usar o Lend-Lease como instrumento de pressão. No verão de 1941, ogoverno Roosevelt propôs que, como pagamento do Lend-Lease, os ingleses anuíssem em pôr umponto final no seu sistema imperial de preferências. Argumentando que esse comérciodiscriminatório inibia fortemente o crescimento econômico internacional, os funcionáriosamericanos forçaram a ideia do livre-comércio como caminho para a paz e a prosperidade dopós-guerra. Os ingleses argumentaram que o livre-comércio era particularmente bom para osEstados Unidos, havia muito tempo ávidos por acesso ao comércio do Império em termosigualitários, mas, ao mesmo tempo, teimosos por impor suas próprias e elevadas tarifas. (Osamericanos justificavam suas tarifas dizendo que elas não eram discriminatórias, pois seaplicavam a todos os seus parceiros comerciais.)

Apesar de rematado imperialista, Churchill não gostava muito do sistema imperial depreferências. Mas ele e seu Gabinete se opunham enfaticamente à ideia de serem forçados aconcordar com uma ordem econômica do pós-guerra que favorecesse os Estados Unidos. Narealidade, o raciocínio inglês era o seguinte: qual a razão da necessidade de pagamento do Lend-Lease? No ápice de seu poderio como Império, a Inglaterra pagara a seus aliados para lutar emseu benefício sem esperar reembolso financeiro posterior. Por que a América não seguia oexemplo inglês?

Em fevereiro de 1942, o primeiro-ministro levantou essa questão num irado cabograma aRoosevelt, que jamais foi enviado: “Deve ser lembrado [323] que, por boa parte de 27 meses,carregamos sozinhos o peso da guerra. (...) Se tivéssemos fracassado, todo o malefício daspotências do Eixo (...) desabaria sobre os Estados Unidos.” Num cabograma que foi despachadopara o Presidente, Churchill afirmou que o Gabinete inglês já havia decidido sobre a matéria:votara contra a troca da preferência imperial pelo Lend-Lease, achando que, se a Inglaterra ofizesse “teríamos aceitado uma intervenção em assuntos internos do Império Britânico.”

No fim, encontrou-se um meio-termo. Ambos os governos se comprometeram a tomarmedidas após guerra para buscar a cooperação econômica internacional, mas foi eliminado umcompromisso britânico explícito de acabar com a preferência imperial. Mas os americanoslevantariam de novo o assunto no fim da guerra e, dessa vez, os ingleses não escapariam. O declínio das relações entre Churchill e Roosevelt nos últimos estágios da guerra foi exacerbadopelo estado de saúde dos dois. A pressão da guerra, constante e esmagadora, havia cobrado

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imenso preço físico a ambos, bem como, praticamente, a todas as outras figuras importantes deseus governos. Nas cartas e diários do tempo da guerra, administradores ingleses e americanosde alto nível, militares e civis, queixaram-se do estresse físico e mental que os deixavacronicamente enfermos e, em muitos casos, adeptos da bebida em exagero. Lendo, muitos anosdepois, as entradas irascíveis em seu diário, no fim de 1943, Alan Brooke, por exemplo, lembrouque não estava bem àquela época, destacando o registro: “Inclino-me [324] a pensar que nãoestou muito longe de um colapso nervoso.”

Depois da Conferência de Casablanca, no início de 1943, Roosevelt e Churchill ficaramseriamente doentes — Churchill com pneumonia e Roosevelt com gripe forte — e ambospareceram perder muito da vitalidade que era sua marca registrada. Quando David Brinkley,então jovem repórter de jornal, viu Roosevelt pela primeira vez na Casa Branca, ficou espantadocom a aparência abatida do Presidente. “Nas fotos de jornais e revistas, e nos noticiárioscinematográficos, eu via o rosto de um homem vistoso com feições bem definidas,” observouBrinkley. “No entanto, ali estava a realidade — um ar terrivelmente envelhecido e cansado. (...)Aquela face era mais cinzenta do que rósea, as mãos tremiam, o olhar era nublado e incerto, dopescoço caíam dobras flácidas de pele.” Quando Brinkley perguntou ao secretário de imprensade FDR o que havia com o Presidente, o funcionário deu de ombros e disse: “Ele só está cansado.Dirigir uma guerra mundial é um trabalho demoníaco.” Roosevelt, que já era presidente por onzeanos, estava àquela altura mais do que cansado: dava os sinais da hipertensão e da moléstiacardíaca que iriam matá-lo em menos de dois anos. A família e seus auxiliares cada vez mais sepreocupavam com os frequentes surtos de esquecimento e indiferença.

Desgastado pela tensão e muito esgotado, Churchill também parecia perder seu lendáriopoder de concentração. “Comecei a achar (...) que o estupendo peso que ele vinha carregandotão valentemente ao longo de toda a guerra gradualmente o esmagava,” observou Alan Brooke.Sete anos mais velho do que o Presidente, Churchill vinha travando a guerra por bem mais tempodo que FDR — e, bem provavelmente, sob maior pressão. Tal estresse, aumentado pelasfrequentes viagens para visitar Roosevelt, outros aliados e tropas inglesas, tornaram o primeiro-ministro mais triste, doente, cansado e mais impulsivo do que o normal. O médico particular deChurchill notou que seu trabalho passou a ser afetado. Brooke e outros integrantes do governoinglês preocupavam-se com suas constantes mudanças de estado de espírito e de posições emestratégia e tática, sua “incapacidade para terminar um assunto antes de começar outro,” e umaocasional “instabilidade de critério.” Em outubro de 1943, Brooke explodiu em seu diário: “Estouaos poucos me convencendo de que, na idade avançada, ele está cada vez menos equilibrado!Não consigo mais controlá-lo. (...) Ele se recusa a ouvir meus argumentos.” Nas batalhas verbais,cada vez mais frequentes entre os dois, tanto Churchill quanto Brooke ficavam, como colocou obiógrafo de Brooke, Arthur Bryant, “exauridos demais [325] para perceberem que o outro estavano mesmo estado.” Em 12 de novembro de 1943, Roosevelt embarcou no USS Iowa na baía de Chesapeake parafazer a primeira perna de uma árdua jornada ao Oriente Médio — primeiro ao Cairo para umencontro com Churchill e Chiang Kai-shek, da China, depois a Teerã para a primeira conferênciados líderes ocidentais com seu irritadiço aliado soviético, Iosef Stalin. Nem Churchill nemRoosevelt queriam que o encontro fosse em Teerã (Roosevelt, convalescendo de outra fortegripe, disse a Daisy Suckley que a capital iraniana era “infestada de doenças”), e ambostentaram persuadir Stalin a se reunirem noutro lugar qualquer. Stalin recusou: se eles quisessemvê-lo, teriam de aceitar o local por ele indicado.

Um dia depois da partida de Roosevelt, Churchill, que penava com dor de garganta e gripe,

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zarpou de Plymouth a bordo do HMS Renown. Fazendo parte da grande comitiva, viajaram suafilha Sarah como ajudante de ordens do primeiro-ministro, e Gil Winant, que pela primeira vezpresenciaria um encontro de Roosevelt e Churchill. Enquanto Averell Harriman, a bête noire deWinant, conseguira ser convidado para todas as reuniões anteriores dos dois líderes ocidentais,menos uma, o embaixador fora excluído de todas, menos a que estava por ocorrer no Cairo e emTeerã. Ainda pior, segundo Winant, era o fato de que ninguém em Washington jamais lhe deraconhecimento do que acontecia nas sessões; ele se vira forçado a apelar para Churchill e Eden afim de tomar conhecimento do que fora debatido. Numa carta a Roosevelt após a Conferência deQuebec de 1943, Winant observou que, salvo pelas informações que recebia do primeiro-ministro e de Eden, “não tenho conhecimento (...) de qualquer decisão política importante.”

Com a vitória dos aliados se aproximando e com o começo de conversações sobre acordoseconômicos e políticos, Winant estava ansioso para desempenhar um papel na construção domundo de pós-guerra. Sua frustração e raiva por ser desbordado e desinformado pela CasaBranca irromperam pouco antes da conferência de Teerã, quando os jornais ingleses eamericanos começaram a especular que ele voltaria em breve para Washington a fim deassumir o cargo de secretário do Trabalho. Os artigos também mencionavam sua provávelsubstituição em Londres por Hopkins ou por Harriman. O embaixador enviou imediatamente umcabograma a Hopkins informando-o sobre tais rumores e acrescentando que “essas coisas nãocausariam [326] maiores danos se não se soubesse que você e Averell absorveram parteconsiderável das atribuições que normalmente cabem à minha embaixada.” Além disso,declarou, “um embaixador não pode ser representante eficaz em Londres a menos que sejamais-bem informado e receba mais apoio do que tenho recebido.”

Como já fizera no passado, Hopkins procurou tranquilizar Winant. “Sei exatamente comovocê se sente,” escreveu, “e se eu estivesse no seu lugar também me sentiria assim.” O principalauxiliar do Presidente negou os boatos sobre a substituição de Winant, declarando que Roosevelt“não apenas tem absoluta confiança em você como também julga que você está fazendo melhortrabalho do que qualquer outro embaixador americano na Inglaterra. (...) Não sei de ninguémque tenha dado maior contribuição para a guerra do que você, e essa opinião é compartilhada portodos os seus amigos daqui.” Dessa vez, as palavras consoladoras de Hopkins chegaramacompanhadas de ação: um convite para que Winant fosse ao Cairo e a Teerã. No Cairo, Roosevelt ofereceu um festivo jantar de Ação de Graças a Churchill e outrasautoridades dos governos americano e britânico que compareciam à conferência, entre elesWinant e Harriman. Naquela noite, a antiga camaradagem Churchill-Roosevelt foi novoostentada. O Presidente trinchou dois enormes perus para os que o cercavam na mesa e, após adescontraída refeição, Sarah, a única mulher presente, dançou com Winant e com muitos outrosconvidados, enquanto seu pai valsou alegremente tendo como par o general Edwin “Pa” Watson,assistente militar de Roosevelt. No brinde que fez ao fim do jantar, Roosevelt afirmou: “Grandesfamílias são normalmente mais unidas do que as pequenas (...) e assim, neste ano, com o povo doReino Unido fazendo parte de nossa família, somos uma grande família, e mais unida do quenunca. Proponho um brinde a essa união e para que ela seja duradoura!”

A união, todavia, só durou até Teerã. Durante toda a conferência, o Presidente ignorouChurchill ostensivamente, deixando claro que estava bem mais interessado em cortejar Stalin,cuja fúria sobre a falta de uma Segunda Frente na Europa havia aumentado constantemente nosmeses anteriores. Não havia dúvida que, a despeito da imagem de uma aliança feliz e livre deproblemas promovida por Churchill e Roosevelt na Inglaterra e nos Estados Unidos, a relação dosAliados Ocidentais com os soviéticos passava por fase tumultuada. Em Teerã, o plano de

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Roosevelt, segundo Cordell Hull, era “fazer Stalin [327] sair de sua carapaça (...) distanciando-seda indiferença, da dissimulação e da suspeita, até alargar seus horizontes.” O Presidente certa vezdissera ao seu ministério ter certeza de que a breve passagem de Stalin por um seminário daIgreja Ortodoxa Russa tinha “penetrado em sua natureza” e de que ele se comportaria “damaneira como um gentleman cristão deve agir.” Charles Bohlen, jovem diplomata americanoespecialista em União Soviética e que trabalhou como intérprete do Presidente em Teerã,asseverou: “Não creio que Roosevelt tinha autêntica compreensão do grande fosso que separavao pensamento de um bolchevique de um não bolchevique, em especial de um americano. OPresidente achava que Stalin via o mundo mais ou menos da mesma forma que ele.” Bohlenadicionou: “um conhecimento mais aprofundado da história e, por certo, um melhorentendimento dos povos estrangeiros teriam sido úteis ao Presidente.”

Pouco antes de começar a conferência, Harry Hopkins disse a Lord Moran: “Vocês nosverão alinhados com os russos.” O “nos” a que se referia Hopkins incluía Harriman, antigoconfidente de Churchill e seu parceiro no “bezique.” O novo embaixador dos EUA na UniãoSoviética, que aconselhara o Presidente a se hospedar na embaixada soviética em Teerã, e nãocom Churchill na legação inglesa, não mais funcionava como assessor oficioso do primeiro-ministro sempre presente para acalmar e passar confiança a ele. Harriman era então visto pelosingleses como um antagonista que, nas palavras de Brooke, “se esforçava para melhorar asituação americana com Stalin, à nossa custa.” Alexander Cadogan, subsecretário-permanentedo Foreign Office, ficou furioso quando, a certa altura, Harriman começou a dar-lhe e aAnthony Eden, dicas sobre “como conduzir conferências internacionais,” quando “eu já haviaaté esquecido grande parte do que ele jamais soubera.” Quando a conferência teve início, Brookedisse a Lord Moran: “Stalin já pôs o Presidente no bolso.”

Na oportunidade em que Churchill convidou Roosevelt para almoçar, o Presidente declinou.Hopkins explicou que o Presidente não queria “dar a impressão de que ele e Winstonarquitetavam maneiras de deixar Stalin em posição desconfortável.” Em vez disso, Rooseveltuniu forças com Stalin para constranger Churchill. Num jantar logo depois do início dos trabalhos,o chefe soviético ficou fustigando o primeiro-ministro, enquanto FDR, segundo Bohlen, “nãoapenas apoiava Stalin, como parecia divertir-se com a troca de farpas Churchill-Stalin.” Bohlen,que anos mais tarde se tornaria embaixador na União Soviética, observou que o Presidente“deveria ter defendido [328] um velho amigo e aliado, o qual estava realmente sendodesconsiderado por Stalin.” Roosevelt “sempre gostou de ver outros em situação embaraçosa,”declarou Harriman mais tarde. “Penso que não estou sendo injusto quando digo que ele jamais seimportou muito quando os outros se mostravam infelizes.”

Poucos dias depois, o Presidente decidiu passar a outra tática de atrair Stalin para seu lado:zombar de Churchill como Stalin havia feito antes. Começou sussurrando para o soviético:“Winston está estranho esta manhã. Deve ter se levantado pelo lado errado da cama.”Encorajado pelo sorriso maroto de Stalin, o Presidente começou a implicar diretamente comChurchill, pilheriando acerca de seus “modos britânicos, sobre John Bull, seus charutos e seushábitos.” Quanto mais Churchill corava e fechava a cara, mais sorria o chefe soviético, até que,por fim, soltou gostosa gargalhada. “Pela primeira vez em três dias, vi a luz,” exultou Rooseveltmais tarde para Frances Perkins. “A partir de então, nossas relações passaram a ser pessoais.Conversamos como homens e irmãos.”

Bohlen discordou da avaliação de FDR. Na opinião do diplomata, a chacota que o Presidentefez com Churchill foi “um erro fundamental. (...) Os líderes russos sempre esperaram eentenderam que a Inglaterra e os Estados Unidos se inclinassem a ser bem mais próximos um dooutro em sua maneira de pensar e em suas perspectivas do que na relação de qualquer dos dois

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com a União Soviética. Na sua clara tentativa de se dissociar de Churchill, o Presidente nãotapeou ninguém e, provavelmente, concorreu para secreta diversão de Stalin.”

Churchill, por sua vez, ficou magoadíssimo com o que seu neto mais velho, tambémchamado Winston Churchill, chamou de “exercício infantil do Presidente de se insinuar comalguém para obter favores.” Segundo o Churchill mais novo, o primeiro-ministro jamais tornoupúblico como se sentiu a respeito daquele incidente, revelando apenas para a família “seuenorme desapontamento e o desconforto com o que ocorrera.” Do ponto de vista da maioria dos presentes, Stalin foi, de longe, o melhor negociador dos trêslíderes em Teerã; lá, e mais tarde em Yalta, os diplomatas e as autoridades militares americanose ingleses partilharam a inquietante sensação, como observou um funcionário britânico, de que“os ganhos imediatos foram sempre para a Rússia, e as vagas promessas sobre o futuro para osEstados Unidos e a Inglaterra.” Stalin recebeu, finalmente, um compromisso firme com aOperação Overlord, a longamente esperada invasão do território continental europeu. Com aajuda de Roosevelt, o líder soviético frustrou a proposta de Churchill de uma expansão dasoperações aliadas no Mediterrâneo e nos Bálcãs. Stalin, por sua vez, prometeu entrar em guerracontra o Japão depois da derrota da Alemanha.

Além disso, Churchill e Roosevelt concordaram secretamente com uma das principaisexigências de Stalin: controle soviético pós-guerra do leste da Polônia. Embora Churchill tivesserepetidamente prometido ao governo no exílio polonês e às suas forças armadas que eles teriamde volta sua pátria depois da guerra, ele abandonou esse compromisso depois que Stalin, comapoio de Roosevelt, reivindicou que fosse permitido à Rússia ficar com a vasta extensão deterritório da Polônia que havia abocanhado em 1939. Mais tarde, o Presidente diria a Harrimanque “não se preocupava [329] se os países fronteiriços da Rússia virassem comunistas ou não.”

As autoridades inglesas ficaram pasmas com o fato de Roosevelt, que se opunha tãofirmemente ao imperialismo inglês, recusasse ver sob o mesmo prisma a óbvia determinação deStalin de controlar os estados vizinhos de seu país. Em Teerã, FDR disse a Stalin: “Os EstadosUnidos e a União Soviética não são potências colonialistas, portanto é fácil para nós debater” oproblema criado pelos impérios coloniais como a Inglaterra e a França. O Presidente, registrouLord Moran em seu diário, “não consegue deixar de fustigar o Império [Britânico]. Parece queisso o incomoda, embora não mova uma palha quando uma gigantesca extensão da Europa cainas garras da União Soviética.” Repórteres não foram admitidos na Conferência de Teerã. Quando ela terminou, não houvecommuniqués e nenhum detalhe foi revelado sobre o que fora discutido e resolvido. QuandoRoosevelt e Churchill retornaram a seus países, os dois se limitaram a exaltar os encontros dacúpula como um triunfo no qual os Três Grandes “se tornaram amigos de fato, em espírito e empropósito.”

Ed Murrow foi um dos poucos jornalistas americanos e ingleses que injetaram uma nota dedúvida naquelas declarações róseas. De suas fontes nos governos europeus no exílio e de outras,ele ficou com uma razoável noção do que havia ocorrido em Teerã, e que não fora uma históriade amizades sem ressalvas. Ardente admirador do Exército Vermelho e de suas vitórias no FrontOriental, Murrow, apesar disso, sempre suspeitara de Stalin e de suas intenções a respeito doLeste Europeu. “Gente que conversou [330] muito com Stalin acha que ele não está interessadoem conquistar mais território,” disse o repórter da CBS num programa transmitido antes deTeerã. “Mas as nações vizinhas da Rússia não estão muito seguras disso. Elas gostariam de saberse a Inglaterra e os EUA chegaram a algum acordo com a Rússia que lhes dê alguma garantia de

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que podem, de fato, contar com as benesses prometidas pela Carta do Atlântico.”Depois de Teerã, Murrow reportou que, na realidade, houve dissensões na conferência.

Criticou aquilo que chamou de esvaziamento dos princípios e idealismo dos Aliados Ocidentais —declarações que lhe valeram pesadas críticas de patrocinadores e ouvintes. “Parece que aspessoas querem ser enganadas, querem acreditar que as coisas serão fáceis, que três líderespodem se sentar à mesa de negociações durante quatro dias e chegar a conclusõesfundamentais,” escreveu a um amigo em Nova York. “Qualquer pequeno esforço no sentido dorealismo é logo rotulado como cansaço, cinismo e pessimismo. Tenho recebido uma boaquantidade de observações como essa, partida recentemente de nosso país.”

E acrescentou: “Houve uma ocasião nessa guerra em que fui um dos poucos americanosotimistas em Londres, porque as questões eram simples. O resultado poderia ser decidido pelosnervos e pela fibra de um povo que tem forte senso de história. Porém, agora, a mim parece queestamos entrando em um estágio em que decisões precisam ser tomadas — e essas decisõessimples não estão sendo tomadas.” Apesar de sua retórica idealista quanto a se criar um mundo justo e livre de conflitos após aguerra, Roosevelt, como Churchill, tinha pouco interesse num planejamento sério e de longoprazo para traduzir tal mundo em realidade. De fato, durante grande parte da guerra, oPresidente se recusou firmemente a qualquer discussão detalhada sobre organizar e manter apaz. Os dois líderes ocidentais estiveram totalmente voltados para a tarefa imediata — vencer aguerra. Stalin, ao contrário, deixou claro em Teerã que suas ações bélicas estavaminextricavelmente ligadas à sua estratégia do pós-guerra de domínio sobre a Polônia e outrosestados vizinhos.

A visão de Roosevelt de amizade com os soviéticos após a luta armada era, como diz ohistoriador Warren Kimball, “vaga e mal definida,” sem apoio em quaisquer planos práticos paraimplementar tal relação. O Presidente, decerto, parecia despreocupado quanto a possíveisperigos que pudessem surgir com a transformação da União Soviética em potência mundialdepois da guerra, como ele mesmo havia proposto. Na verdade, alguns céticos perguntaram: Queexiste para evitar que qualquer dos Quatro Grandes policiais — Estados Unidos, Inglaterra, UniãoSoviética e China — imponham sua vontade a estados menos poderosos? (Depois de fazer essaindagação ao seu marido, Eleanor Roosevelt disse-lhe que achava “cheia de perigos [331]” suaideia dos policiais.) E como conciliava o Presidente seu conceito de quatro todo-poderososmantenedores da paz com sua proposta de uma organização internacional de nações iguais eindependentes?

Em abril de 1943, FDR passou toda uma tarde descrevendo para Daisy Suckley como elevisualizava a estrutura da nova organização. Ele gostaria de ser seu chefe, tendo Gil Winant eHarry Hopkins como assistentes. A seu ver, a organização promoveria reuniões anuais emdiferentes países e, pelo menos por meio ano, ficaria baseada numa ilha, com um bom aeroportopor perto. Sua equipe de auxiliares seria pequena, em sua maioria secretários e estenógrafos,mas também existiriam membros de outras nações.

Obviamente, isso era sonhar acordado, porém, mais tarde, quando a guerra caminhava parauma conclusão, FDR ainda falava em algumas especificidades sobre o funcionamento daorganização para manter a paz. Como era seu hábito nas questões internas, seu modo de lidarcom esse e diversos outros problemas do pós-guerra, inclusive a relação da América com ossoviéticos, era “adiar, evitar, evadir-se e esquivar-se,” como observou Warren Kimball. OPresidente estava claramente determinado a manter suas opções abertas pelo maior tempopossível. Quando o subsecretário de Estado, Sumner Welles, sugeriu a criação de um grupo de

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representantes dos aliados para começar o planejamento dos acordos de paz e das políticasinternacionais do pós-guerra, Roosevelt, segundo Welles, “rejeitou sumariamente” a ideia. OPresidente também não manifestava o menor entusiasmo pelos esforços das autoridades dogoverno inglês, em particular de Anthony Eden e seus subordinados no Foreign Office, paraprepararem seus próprios planos, que incluíam o esboço de um possível e futuro acordo de paz.(Conquanto o próprio Churchill também não se interessasse por tal trabalho, ele pelo menos nãoprocurava obstruir as iniciativas de Eden e de outros do seu governo.) Harry Hopkins alertou osingleses contra as tentativas de tomarem a dianteira na formulação de planos para o mundo dopós-guerra. O Presidente, disse Hopkins, era “bastante sensível [332] em relação a essasquestões, pois considerava o acordo pós-guerra, por assim dizer, um problema seu.”

Forte proponente do planejamento para o pós-guerra, Gil Winant viu-se encurralado, de umlado, pelo Presidente, e, do outro, por Eden e os governos europeus no exílio. Pelo início de 1943,tais governos pressionavam a Inglaterra e os Estados Unidos a começarem o planejamento paraa reconstrução econômica da Europa após a guerra. Winant provocou repetidas vezesWashington a assumir uma posição quanto a essa reconstrução, sublinhando que o governo inglês“é acusado de inação numa oportunidade em que está ansioso por mergulhar nesse trabalho, masé impedido por nós. (...) É importante que não procrastinemos por muito tempo e não deixemosnossos aliados europeus continentais duvidosos se cooperaremos ou nos afastaremos, comofizemos na última guerra.”

Mas o governo dos EUA continuou procrastinando quanto ao problema da reconstrução,como também quanto à questão da ajuda às populações europeias à medida que se libertavam daocupação alemã. Foi só quando os ingleses criaram uma comissão interaliada para planejar aassistência e a reconstrução da Europa continental que os EUA finalmente intervieram, criando aAgência das Nações Unidas para a Assistência e Reabilitação a fim de supervisionar o esforçodos aliados.

O governo Roosevelt estava determinado a ter o controle sobre todos os aspectos doplanejamento anglo-americano do pós-guerra. Nem o Presidente nem Hull viam com bons olhosquaisquer discussões substantivas fora de Washington. Aconteceu que essa recalcitrância teriapapel importante no torpedeamento dos esforços para resolver um dos problemas mais vitais — eexplosivos — enfrentados pelos aliados: o do futuro da Alemanha pós-guerra. Pouco antes da Conferência de Teerã, Roosevelt, Churchill e Stalin haviam criado uma comissãoanglo-americano-soviética para preparar os planos da rendição e da ocupação pós-guerra daAlemanha, bem como as propostas de longo prazo para estimular a recuperação da Europaocupada. Denominada Comissão Consultiva Europeia, o órgão era fruto da mente de AnthonyEden, que via a participação dos três aliados em tal planejamento de grande escala comoessencial para que se evitassem conflitos após a guerra. Hull, no entanto, deixou logo patente queos Estados Unidos não favoreciam atribuições tão amplas para a comissão, e, no fim, ela tratouapenas da Alemanha.

Em Teerã, os três líderes haviam se digladiado brevemente a respeito do destino daAlemanha e chegaram a acordos relativos apenas a uns poucos problemas — controle conjuntode Berlim e divisão do país em três zonas de ocupação, a serem administradas pelos três maioresaliados. Os Três Grandes deixaram os detalhes de como a divisão seria processada — e de outrasquestões relacionadas ao Reich, inclusive seu possível desmembramento — para a ComissãoConsultiva Europeia baseada em Londres, cujos membros eram Winant, Feodor Gusev,embaixador soviético na Inglaterra, e Sir William Strang, alto funcionário do Foreign Officeinglês.

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Quando a comissão se reuniu pela primeira vez, em janeiro de 1944, Strang chegou armadode vinte e nove documentos para serem apreciados, inclusive uma minuta de instrumento derendição e uma proposta de acordo sobre detalhes das zonas de ocupação americana, britânica esoviética. Gusev também trouxe diretrizes de seu governo. Só Winant não recebeu orientação ouproposta alguma de Washington, em grande parte por causa das desavenças entre osdepartamentos da Guerra e de Estado quanto à política para a Alemanha do pós-guerra. Osfuncionários do Departamento da Guerra insistiam que os termos da rendição e da ocupaçãoeram questões puramente militares e não deveriam ser apreciados pela Comissão ConsultivaEuropeia. Num memorando para Harry Hopkins, John McCloy, secretário assistente doDepartamento da Guerra, queixou-se de que os ingleses procuravam controlar o planejamentopós-guerra para a Alemanha e declarou que nenhum órgão civil, em especial aquele baseado emLondres, deveria ter autoridade para tomar decisões importantes. Em gritante oposição a esseponto de vista, Winant e bom número de funcionários do Departamento de Estadoargumentavam que todos os três aliados deveriam ser incluídos no planejamento para a Europa;caso contrário, no fim da guerra haveria caos e decisões unilaterais para a ocupação.

No fim, o Departamento da Guerra ganhou a disputa burocrática, bloqueando uma efetivaparticipação dos EUA nos processos da comissão. Quando Winant enviou para Hull osdocumentos apresentados pelo governo inglês e solicitou orientação, não recebeu de voltanenhum comentário de Washington por dois meses. Vezes sem conta, o embaixador, “bastanteenvergonhado” com a intransigência de seu governo, requereu orientação e diretrizes de Hull eRoosevelt, mas em vão. O Presidente, que queria manter em suas mãos, nas de Stalin e nas deChurchill a tomada de decisões do pós-guerra, jamais demonstrou entusiasmo pelas atividades dacomissão, nem era simpático à ideia de se formularem termos específicos para a paz antes dofim da guerra. “Tenho me preocupado [333] um bocado,” escreveu ele a Churchill em fevereirode 1944, com “a tendência dos aliados de se prepararem para os eventos futuros com tantosdetalhes que podem nos deixar em apuros quando a hora chegar.”

Outros, incluindo Winant, inquietavam-se justamente com o contrário — o fato de que odescuido em planejar as consequencias da guerra semearia problemas bem além da imaginaçãodo Presidente.

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18

“Será Que o Diabo Dessa

Coisa Vai Funcionar”

Para quem morasse no sul e no leste da Inglaterra na primavera de 1944, não houve a menordúvida de que a tão esperada invasão da Europa era iminente. O céu sobre a East Anglia ' 'ficoutão engarrafado [335] de tráfego quanto Piccadilly Circus,' ' abarrotado dia e noite comtrovejantes Fortalezas, Liberators, Lancasters e Wellingtons, a caminho de suas missões debombardeio de ferrovias e instalações de transporte marítimo na França. Comboios decaminhões, carros de combate e velozes j ipes obstruíam estradas e ruas do sul, enquantoartilharia e armamento pesado camuflado, em conjunto com milhões de caixas e pacotes desuprimentos, formavam grandes pilhas nos bosques, campos, parques de diversão, gramados devilarejos e ao longo das estradas e atalhos. Segundo Mollie Panter-Downes, do The New Yorker, ointerior rústico e charmoso da Inglaterra transformara-se, “na sua maior parte, em algo de quese lê a respeito nos livros.”

As docas dos portos do sul do país, com seus guindastes altos e enfileirados, se viam repletasde navios de todos os tipos para navegação em mar alto — belonaves americanas e inglesas,barcaças de desembarque e navios mercantes de várias partes do mundo. A ilha estava,sobretudo, apinhada de soldados — mais de dois milhões de ingleses, americanos, canadenses ede outras nacionalidades — que passavam por rigoroso treinamento no litoral e em campos deinstrução durante a semana, para depois jorrarem pelas cidades e vilas, nas noites de sábado, afim de liberarem energias e emoções. Residir na Inglaterra durante aquele período, observouPanter-Downes, era como “viver numa enorme combinação de porta-aviões com doca flutuantetransbordando de soldados e com armazém enorme de material estocado até o teto com rótulo deEuropa.”

A primavera naquele ano foi belíssima, mas o povo da Inglaterra não deu atenção à beleza— ou a qualquer coisa que não fosse a invasão. Boatos sobre a data e destino corriam porLondres como um vírus. Simplesmente esperava-se, lembrou Robert Arbib, “de ouvido colado aorádio, lendo sofregamente os jornais e observando com atenção o céu e o tempo.” Vigiavam océu,” acrescentou Mary Lee Settle, “como um fazendeiro [336] tentando prever o tempo.” Ninguém mais atento ou tenso do que o homem selecionado para comandar a operação. Ogeneral Dwight Eisenhower havia retornado a Londres em janeiro de 1944 com um novo títulode peso — Comandante Supremo no Quartel-General da Força Expedicionária Aliada (SupremeHeadquarters Allied Expeditionary Force — SHAEF) — e responsabilidades ainda mais pesadas:pelos quatro meses seguintes, organizaria e dirigiria a mais complexa, decisiva e imensa aventuramilitar da história.

Sua missão fora algo aliviada por Sir Frederick Morgan, o general inglês que, por quase umano, supervisionara o planejamento inicial da Operação Overlord. Dotado de agudo senso deamizade e simpatia pelos americanos, Morgan ganhou o respeito de Marshall e de Eisenhower,este afirmando que Morgan deveria receber o crédito por “tornar possível o Dia-D.” ComoEisenhower durante o planejamento da Torch, Morgan se mostrara determinado a amalgamar asdiversificadas nacionalidades de seu Estado-Maior numa equipe unificada, porém, tambémcomo Eisenhower, enfrentara grandes dificuldades no início. Houve “incessantes embates de

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personalidades,” lembra Morgan, não só entre americanos e ingleses, como igualmente entre osrepresentantes das diferentes forças singulares e dentro de cada nacionalidade. “Oextraordinário,” acrescentou o general inglês, “não foi a existência da discórdia, mas ela ter sidodominada.”

O próprio Morgan contribuiu para o florescimento final do bom ambiente ao criar umaexcelente e próxima relação com seu chefe americano de Estado-Maior, general Ray W. Baker.Tão logo começou a colaboração entre os dois, cada general arrancou um botão de sua túnica edeu ao outro para que o costurasse em seu uniforme como símbolo da fraternidade. Morganainda fez mais: instalou um bar na Norfolk House, em St. Jame's Square, onde a Torch foraplanejada e onde trabalhava então seu Estado-Maior. Naquele bar, onde os planejadores sereuniam após o expediente “jamais houve um momento de dúvida com respeito à inteireza daintegração,” observou ele. Os americanos do Estado-Maior de Morgan podiam detestar a comidainglesa — e vice-versa — mas, com respeito a líquidos, os hábitos americanos e inglesespareciam bastante similares. Na ocasião em que Morgan e seus subordinados completaram aprimeira minuta dos planos para a Overlord, houve uma celebração em grande estilo no últimoandar da Norfolk House, animada por uma orquestra inglesa de música dançante e uma bandaamericana de swing. “Todos se divertiram [337] muito,” lembrou ele.

A crescente aproximação e confiança recíproca entre os integrantes do planejamento deEstado-Maior ficaram evidentes em determinado dia durante uma conversa telefônicatransatlântica entre Londres e os chefes militares em Washington. Como era normal, muitosouviam a conversa pelos alto-falantes nos dois lados. Na conclusão da chamada, o principalinterlocutor em Washington — uma general de alta patente — aconselhou a outra extremidadeda linha: “Pelo amor de Deus, não revelem aos ingleses” os assuntos em discussão. Ao escutarboas gargalhadas do outro lado, o general quis saber o que era tão engraçado. Disseram-lhe queouviam, entre outros ingleses, dois generais e um almirante.

Quando Eisenhower assumiu a chefia da Overlord, aplicou-se em fomentar o mesmo tipo decamaradagem dentro de seu próprio Estado-Maior, tal como o fizera na Torch. Porém, dessa vez,isso seria feito fora da Norfolk House. Para desgosto de muitos da equipe do SHAEF, Eisenhowermudou seu quartel-general para Bushy Park, um subúrbio perto do palácio de Henrique VIII, emHampton Court, longe das tentações e prazeres do oeste de Londres e a cerca de quinzequilômetros do coração da capital. “Dessa forma, não seremos envolvidos pelo diz que diz dasociedade,” revelou Eisenhower a Kay Summersby, “e os oficiais, com mais tempo juntos,conhecerão uns aos outros com maior rapidez.”

Houve muitos “protestos e previsões sombrias,” assim como numerosos desacordos echoques de personalidades entre os aliados, registrou o general em suas memórias. Não obstante,disse ele, os membros da equipe “criaram por fim uma relação que compensou bem aspequenas inconveniências.” Tais “inconveniências” incluíam prédios administrativos semaquecimento e com piso de concreto, barracões semicilíndricos Quonset como alojamento paraos oficiais subalternos e barracas para as praças. Contudo, apesar dos desconfortos, muitos, senão a maioria dos que trabalharam no SHAEF nos meses que antecederam o Dia-D, lembraram-se da experiência como feliz e harmoniosa, graças em grande parte ao seu chefe. Eisenhowerera “querido e respeitado por quase todos,” disse um oficial da Inteligência dos EUA e do Estado-Maior do SHAEF. O historiador inglês John Wheeler-Bennett, que também servira nesse estado-maior durante a guerra, observou que o comandante supremo “pôs-se deliberadamente numestado de espírito que, literalmente, não conhecia as diferenças entre os dois principais aliadossob seu comando.” Norman Longmate, outro futuro historiador que também trabalhou noSHAEF, disse que ele e seus compatriotas ingleses “consideravam Ike [ 338] um herói.

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Acreditávamos que ele era genuinamente preocupado com o bem-estar de todos os que serviamno QG,” como mostrou sua insistência para que os militares britânicos recebessem os mesmosprivilégios que os americanos de frequentar os reembolsáveis. Sobre a OPERAÇÃO OVERLORD, escreveu o historiador Max Hastings: Foi “o maior feitoorganizacional da Segunda Guerra Mundial, um trabalho de estado-maior que fascinou a história,um monumento à imaginação dos planejadores e logísticos americanos e ingleses que talvezjamais venha a ser ultrapassado.” Tal análise foi escrita, é claro, bem depois que osdesembarques do Dia-D tiveram lugar. Antes deles, muitos dos envolvidos no planejamento, atémesmo Eisenhower, viam-se assaltados pela preocupação de que os aliados não estavam prontospara a operação e que ela redundasse em completo fracasso — “um desastre” — como disseFrederick Morgan, “com as dimensões mais arrasadoras.”

A espantosa magnitude da Overlord fez a Torch e praticamente qualquer outra operaçãomilitar anterior, americana ou inglesa — parecer brincadeira de criança. No total,aproximadamente dois milhões de soldados, marinheiros e aviadores, de meia dúzia de paísesaliados, participariam dos desembarques e da subsequente progressão pela Normandia, criandoproblemas logísticos e outros que desafiavam a imaginação. Os aliados teriam de fazer o queninguém mais conseguira desde William, o Conquistador, em 1066: montar um assalto bem-sucedido através do Canal.

Havia dúvida e ansiedade sobre quase todos os aspectos da operação — desde o númeroinsuficiente de barcaças de desembarque, passando pelo tradicionalmente imprevisível tempo noCanal, até isuficiência de suprimentos. Por semanas, Eisenhower discutiu com os barões dobombardeiro aliado, Tooey Spaatz e Arthur Harris, que continuavam a acreditar que forçasaéreas poderiam vencer sozinhas a guerra, a despeito de todas as evidências em contrário, eresistiam em pôr seus aviões e tripulações sob o comando direto de Ike. “Juro por Deus,”estourou Eisenhower para um colega inglês, “diga àquele bando que, se eles não puderemtrabalhar em conjunto e não pararem de discutir feito meninos, vou dizer ao primeiro-ministroque escolha outro para dirigir essa maldita guerra!” Afinal, tanto Spaatz como Harriscapitularam, porém, segundo o comentário posterior do general Omar Bradley, que comandariao I Exército dos EUA na Normandia, uma das consequências da teimosia dos dois foi “partirmospara a França [339] quase totalmente destreinados na cooperação terra-ar.”

Apesar de os dois comandantes de força aérea serem bastante difíceis, eles não constituíama principal preocupação de Eisenhower e seus auxiliares dos altos escalões. Acima de tudo, oschefes das divisões do SHAEF temiam que as forças terrestres dos aliados — elemento-chave daoperação — não estivessem à altura da missão. Ike, Bradley e outros comandantes emcampanha não se impressionaram, para dizer o mínimo, com o desempenho da tropa nosexercícios anfíbios e de outros tipos que haviam presenciado, naquela primavera, na costa sul daInglaterra. Bradley qualificou um desembarque anfíbio simulado “mais como uma manobra detempo de paz do que como ensaio final para um assalto ao continente.” Harry Butcher anotou emseu diário que a muitos jovens oficiais americanos parecia faltar determinação e firmeza depropósito, aparentando “encarar a guerra como uma grande manobra na qual estivessemdesfrutando de tempos divertidos.”

Assustado com as lembranças dos calamitosos desembarques em Gallipoli e dos banhos desangue da Primeira Guerra Mundial, Churchill partilhava as inquietações de Eisenhower. Tendoresistido à Overlord por tanto tempo, receosos de seus enormes perigos, o primeiro-ministro eAlan Brooke estavam, nas palavras de Brooke, “uns trapos, em função das dúvidas e temores,” àmedida que a data para o lançamento da operação se aproximava. “Jamais vou querer passar

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por uma situação como esta,” escreveu Brooke em seu diário em 27 de maio. “A operação detravessia do Canal está me consumindo por dentro.”

De sua parte, Eisenhower, que fora um dos principais defensores da operação desde o inícioda aliança, transpirava confiança em público, como sempre o fizera. Emocional e fisicamente,no entanto, estava um farrapo. Fumava e bebia em excesso e sofria de dores de cabeça,recorrentes inflamações da garganta, violentos acessos de tosse, subidas vertiginosas da pressãosanguínea, dores estomacais e insônia crônica. “Ele estava nervoso como jamais o vi eextremamente deprimido,” observou Kay Summersby .

Com a Overlord, bem sabia o comandante do SHAEF, não haveria uma segunda chance.“Nesta empreitada, não estamos simplesmente arriscando uma derrota tática,” escreveu ele noinício de abril, “estamos apostando todas as fichas num só número.” Enquanto Eisenhower e seu estado-maior agonizavam de apreensão quanto ao Dia-D, em BushyPark, uma atmosfera frenética e carnavalesca tomava conta da apinhada e estrepitosa Londres.O tráfego engarrafava a todo instante, os restaurantes e clubes ficavam abarrotados, e eramnecessários, dias, por vezes semanas, para que recém-chegados à capital encontrassem umquarto de hotel ou um apartamento para alugar. Muitos eram jornalistas americanos, provindosde todas as regiões do mundo, a fim de ficarem prontos para cobrir a maior história da guerra.Ernie Py le, que viera da Tunísia, escreveu: “Concluí que [340], se o Exército não conseguissedesembarcar no Dia-D, havia quantidade suficiente de correspondentes americanos em Londrespara que tentar abrir uma cabeça de praia própria.”

Como Py le, muitos dos cerca de quinhentos repórteres que estavam então na capitalbritânica tinham chegado de outros campos de batalha — norte da África, Itália, Ásia e Pacífico;alguns eram grisalhos veteranos que haviam coberto a Primeira Guerra Mundial, enquanto outroseram espantados “focas,” acabados de assumir sua função nas seções de notícias das cidades,sociais e esportivas dos respectivos jornais. Um bom número representava publicações, como asrevistas Vogue e Sporting News, jamais conhecidas por seu interesse na guerra. Surpreso com anatureza eclética de seus novos e inexperientes colegas, Py le pilheriou: “Se a Dog News nãoenviar rapidamente alguém para cobrir o ângulo dos cães da invasão, eu, pessoalmente, nuncamais comprarei um exemplar da revista.”

Enquanto esperavam pelo Dia-D, os recém-chegados mergulharam de cabeça nasuperaquecida vida social de Londres; para muitos, as semanas que antecederam a invasão setransformaram numa festa sem pausa; almoços, jantares, coquetéis, dança de rosto colado nosnightclubs e jogos de pôquer que varavam a madrugada em quartos de hotel com cheiro de gime cigarros. Àquela época, vinhos e bebidas mais fortes tinham se tornado quase impossíveis deconseguir para a maioria dos residentes londrinos, porém, com seus polpudos salários, statusquase oficial, e vastas coberturas de despesas, os jornalistas dos EUA, como seus conterrâneosmilitares, não tinham problemas para desencavar enormes quantidades de bebida.

Anos depois da guerra, Bill Paley lembrava-se com saudade daqueles dias e noites de farrapré-invasão. Recordando-se de uma reunião só para homens, regada com muita bebida, queocorreu no apartamento de Charles Collingwood e transbordou para a rua, o chefe da CBS disse:“Tudo que aconteceu [341] naquela noite foi divertido. (...) Todos gostavam de todos, ediscussões ocorriam em profusão, discussões sem o menor sentido, mas foi uma das noites maisextraordinárias de minha vida.”

Outro inveterado frequentador de festas daquele tempo foi Ernest Hemingway , que chegou aLondres em maio como repórter especial da Collier's. A designação do famoso romancista paracobrir a Overlord não se deveu a uma paixão recente por se tornar correspondente de guerra,

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mas a um desejo de agastar sua esposa jornalista, Martha Gellhorn, da qual estava separado.Também correspondente da Collier's, Gellhorn, que cobrira a campanha da Itália, escreveu paraHemingway no fim de 1943: “Acho que você vai se sentir muito desapontado como escritor, seisso tudo acabar e você não tiver participação nos acontecimentos.”

Sabendo que, se escrevesse para a Collier's, ele ofuscaria Gellhorn na revista, Hemingwayconseguiu, através de pistolão, a missão de cobrir as atividades da RAF. Uma vez em Londres(que ele insistia em chamar de “velha e querida vila de Londres”), hospedou-se no Dorchester ese dedicou mais à bebida e às mulheres do que ao jornalismo. John Pudney, jovem oficial derelações públicas da RAF designado para facilitar a vida de Hemingway, achou-o chato edesagradável. “Para mim, ele era um sujeito obcecado em desempenhar o papel de ErnestHemingway,” disse Pudney, “um ator sentimental do século XIX requisitado para representar opersonagem de um cara durão do século XX. Ao lado (...) de um punhado de homens moços quese comportavam com modéstia e distinção perante a Morte, ele parecia uma bizarra figura depapelão.”

Poucos dias após a chegada a Londres, Hemingway conheceu Mary Welsh e anunciou queplanejava se casar-se com ela. Para Welsh, ele se queixava de estar sendo assediado por umbando de socialites e aristocratas londrinas que, seduzidas por sua fama e imagem de garanhão,vinham ao seu quarto de hotel para namoricos e breves encontros sexuais. “Em geral, elaspretendem passar a noite comigo,” resmungou, “e depois querem que [eu] as leve para casa,exatamente a tempo de encontramos milord saindo, de manhã, para o escritório.” Contudo, nem todos os jornalistas americanos se deixaram levar pelo frenético redemoinhosocial da capital. Ed Murrow, a exemplo de diversos outros correspondentes antigos em Londres,estava ocupado demais com os preparativos da cobertura da Overlord para dedicar tempo a talfrivolidade. Como reflexo de seu status como jornalista de destaque na capital, então presidenteda Associação Americana de Correspondentes no Exterior, ele estava envolvido com quase todosos aspectos das atividades preparatórias para o Dia-D. Na companhia de três outros repórteres,colaborava com o SHAEF para equacionar a miríade de problemas logísticos da cobertura daimprensa: quantos jornalistas testemunhariam os desembarques, como chegariam lá, aondeiriam, como transmitiriam suas reportagens. Em função das incertezas da radiodifusão a partir daFrança, as redes americanas de rádio tinham concordado em coligar-se quanto às reportagenssobre a Overlord, e Murrow fora indicado para dirigir o esforço conjunto. Também foraescolhido para transmitir a proclamação de Eisenhower às tropas aliadas no Dia-D.

Todas essas atribuições eram uma distinção para o radiorrepórter da CBS, mas ele nãoestava feliz com nenhuma delas. O que mais queria era cobrir a invasão. Nos últimos quatroanos, fizera muito poucas reportagens sobre a guerra, ficando à retaguarda no remanso deLondres e invejando os correspondentes da linha de frente, da Tunísia ao Mar do Sul da China.Para um homem que odiava ficar sentado no escritório, aquela inação era uma tortura.

Na noite de véspera da partida de Charles Collingwood para o norte da África, ele e Murrowsaíram para beber. Quando voltaram tropeçando para o apartamento de Murrow, não só porcausa do blackout, mas devido em grande parte ao excesso de bebida, Murrow chutou uma latade lixo e exclamou, “Céus [342], como eu invejo sua partida! Eu queria mesmo é ir com você!”Poucos meses depois, passou algumas semanas no front da Tunísia, porém seus superiores naCBS deixaram bem claro que ele era muito valioso para a rede e não deveria arriscar a vida comtal frequência. Dos vinte e oito correspondentes dos EUA selecionados para cobrir o Dia-D, cincorepresentavam a CBS — uma conquista notável para uma organização de notícias que nemexistia sete anos antes. Todavia, como Murrow sabia desde cedo, o homem-chave para a criação

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da CBS não estaria entre os cinco sortudos.No entanto, se estava impedido de trabalhar na linha de frente, Murrow conseguiu arranjar

uma maneira de cortejar o perigo. Nos cinco meses anteriores, pegara carona em uma dúzia demissões de bombardeio da RAF e da 8ª Força Aérea, a maioria para atacar a Alemanha. Ahistória que contou sobre um de seus voos, transmitida em dezembro de 1943, foi qualificadaentre as mais conhecidas radiodifusões da Segunda Guerra Mundial. Um relato sem retoques doterror da guerra aérea, tanto em terra como no céu, começou com a frase: “Na noite passada[343], alguns jovens gentlemen da RAF levaram-me a Berlim.” Um Murrow exausto, abalado ede olhos injetados, recém-chegado da missão, falou da matança que ocorrera em seu entorno eabaixo dele — “Homens morrem no céu enquanto outros são torrados em seus porões” — edescreveu “quão apavorado” ficara quando seu bombardeiro da RAF foi apanhado pelo foco deum refletor alemão. Naquela noite, disse ele, Berlim fora “uma espécie de inferno orquestrado.(...) Em cerca de 35 minutos, ela foi atingida por, talvez, o triplo do que caiu sobre Londres numaBlitz de noite inteira.”

Nos dias seguintes, o radiorrepórter da CBS recebeu grande quantidade de cartas etelegramas de todas as partes do mundo. A BBC, considerando sua história “uma das maisadmiráveis jamais difundidas pelo rádio,” transmitiu-a para todo o país, e jornais da Inglaterra edos Estados Unidos publicaram-na em suas primeiras páginas. Entre eles, o Daily Express, cujoeditor, Arthur Christensen, classificou a obra como “magnífica” e “a única boa matéria escritasobre bombardeios.” Ele enviou polpudo cheque para Murrow, que o utilizou para comprar livrose um rádio novo para a base da RAF onde servia a tripulação que o levara até Berlim. “Ed erabastante crítico sobre a vida em geral,” observou Pamela Churchill, “mas não escondia suaenorme admiração pelos jovens aviadores.”

Num jantar de gala no Savoy para celebrar o vigésimo primeiro aniversário da BBC,Brendan Bracken, ministro da Informação, transformou a ocasião em tributo a Murrow (“oamigo mais leal da Inglaterra”) e à sua história (“uma das peças escritas mais notáveis quejamais li”). Mais ou menos na mesma ocasião, Bracken escreveu a Murrow: “Meu caro Ed, suastentativas de desafiar o perigo são totalmente deploráveis. O valor de seu trabalho na guerra nãopode ser superestimado. E ninguém pode assumir o seu lugar.” Bracken, como muitos outrosamigos de Murrow, lamentava sua tendência de cortejar o risco vezes sem conta. Uma só missãona Alemanha, vá lá. Porém mais do que uma dúzia? Por que ele fazia aquilo?

Da perspectiva de Dick Marriott, executivo da BBC, o motivo estava no sentimento de culpaque Murrow tinha por não participar da luta: “Acho que era um modo de compensação por nãoestar na refrega.” Herbert Agar acreditava que era atração do perigo que levava o radiorrepórterpara as missões de bombardeio: “Era uma espécie de droga [344] sem a qual ele se sentia vazio.(...) Ed estava sempre à vontade quando as bombas caíam ou quando quebrava as regras e subiabem alto para dar mais uma espiada na morte.” Eric Sevareid disse que seu chefe tinha “umaligação com a velocidade. (...) Ele a adorava; quanto mais rápido, melhor. Dava-lhe uma espéciede exaltação.”

De sua parte, Murrow tinha diversas explicações para seus repetidos riscos de vida no ar.Uma das razões, admitiu à New Yorker, como Sevareid supunha, era seu amor pela velocidade.Outra era vaidade: “Três ou quatro vezes em Londres, enquanto eu me encontrava sentado noescritório, ouvimos a BBC reproduzindo coisas que eu havia dito, e nada fazia eu me sentir tãobem quanto aquilo.” A um amigo, escreveu: “para redigir ou falar sobre perigo, é preciso senti-lo. A experiência ensina alguma coisa sobre o que acontece com os combatentes e, talvez maisimportante, com o que ocorre em nós mesmos.” Porém, como reconheceu numa carta à suacunhada, ele também utilizava as missões como válvula de escape para as incessantes pressões

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pessoais e profissionais a que estava sujeito. Ele vivia, escreveu para ela, em um quase contínuoestado de “fadiga e frustração.” Seu estress no trabalho se multiplicava, e sua vida domésticaestava cada vez mais tensa e infeliz, graças, em grande parte, ao seu caso amoroso com PamelaChurchill. “Quando voo,” disse ele, a infelicidade “parece se afastar. Mas sempre volta.”

Fossem quais fossem os motivos para a compulsão de Murrow, Bill Paley queria que elativesse um ponto final. “Tentei convencê-lo de que era um grande tolo quando participava detantas missões,” lembrou Paley. “Achei que ele tinha atração pela morte. Não sei o que era, maso perigo para ele tinha um efeito estimulante.” Em 1943, o chairman da CBS conseguiu arrancarde Murrow a promessa de que não participaria mais de missões aéreas, mas bastaram unspoucos dias para que a quebrasse. Quando a guerra terminou, o radiorrepórter havia voado emvinte e quatro incursões de bombardeios. Pouco antes do Dia-D, ele fez sua primeira transmissãoao vivo a bordo de um bombardeiro americano voando em missão sobre a França ocupada. No fim de maio de 1944, Londres começou a esvaziar. As multidões de soldados, marinheiros eaviadores — que poucos dias atrás atulhavam Piccadilly , olhando as garotas e tentando entrar empubs já apinhados — desapareciam rapidamente. Estavam a caminho das zonas de reunião nacosta sul da Inglaterra, interdita a visitantes. Dia após dia, colunas aparentemente intermináveisde caminhões camuflados, alguns dos comboios com quilômetros de comprimento, estendiam-sepelas estradas do país, com seus ocupantes rumando para os portos do Canal — e, ao cabo, para aNormandia.

A partida, para muitos americanos e ingleses, foi como ser arrancado. Entre aqueles queexperimentaram um senso de perda estava Robert Arbib que, como bom número de GIs, passaraa se sentir em casa na Inglaterra. “Não mais uma terra [345] estranha e desconhecida,” aInglaterra e seu estilo de vido tinham se tornado “nosso estilo de vida, e sua gente, os meusamigos,” escreveu Arbib mais tarde. “Da mesma forma que relutáramos em deixar a América,tivemos então dificuldade de nos despedir da Inglaterra.”

Em Bristol, uma coluna de caminhões do exército fez alto, às quatro da madrugada, defrontea uma casa para que um jovem soldado americano pudesse descer correndo e entrar naresidência para se despedir da família com a qual fizera amizade. “Permanecemos de pé nacalçada, beijamo-nos e abraçamo-nos, derramando algumas lágrimas,” ele se lembrou anosmais tarde. Numa pequena cidade do sul da Inglaterra, outro comboio de viaturas pesadas etanques parou rapidamente em frente a uma fila de casas, nos portões das quais estavam muitosresidentes. De súbito, uma mulher saiu de uma das residências carregando tigelas de morangoscom creme. Ela entregou uma das tigelas a um jovem tenente chamado Bob Sheehan, beijou-lhea testa e murmurou, “Boa sorte, volte em segurança.” Galvanizados por aquele gesto degentileza, outras pessoas entraram em casa e trouxeram, momentos depois, chá e limonada, paraos encalorados e sedentos pracinhas. Ainda outras convidaram alguns americanos a entrar parauma chuveirada e se barbearem. Por aqueles poucos minutos, recordou Sheehan, “houve um tipode companheirismo que eu jamais sentira antes. Um compartilhar de espíritos. Não éramos maisnós e eles. Éramos uma família, e o perigo rondava.”

Mais tarde, naquele mesmo dia, uma mocinha de Plymouth observava enquanto soldadosamericanos às centenas embarcavam nas barcaças de desembarque do porto. “Meu coraçãodoía,” lembrou ela. “Quase não podia ver por causa das lágrimas.” Outra jovem inglesaobservou. “Tudo ficou tão triste quando eles partiram. O mundo todo se abrira para mim, e agorase fechara de novo.” Quando ouviram o ronco dos bombardeiros, todos perceberam na Inglaterra que chegara o Dia-

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D. Pouco depois da meia-noite de 6 de junho, centenas de aviões ingleses e americanosencheram o céu de East Anglia, com o barulho de seus motores que, nas palavras de Ed Murrow“pareciam uma gigantesca [346] fábrica no céu.” Ao longo de toda a noite aquele som persistiu,e quando o dia finalmente nasceu, os ingleses saíram de suas casas, agitando toalhas de mesa ebandeiras para as formações de aeronaves voando, asa com asa, rumo à França. “Em formaçãogeométrica perfeita, eles trovejavam avançando,” observou uma mulher. “E não paravam depassar, parecendo que o céu lhes pertencia.” Um tripulante da 8ª Força Aérea lembrou-se: “Aimpressão que tínhamos era de que o céu fora tomado por uma praga de gafanhotos. (...) Tendosido um dos primeiros americanos a cruzar o Canal, quando de cinquenta a cem aviões eramconsiderados uma formação muito grande, tudo aquilo me fazia engasgar e provocava lágrimasem meus olhos. A Luftwaffe tivera seus dias de glória; agora era nossa vez.”

O anúncio oficial da invasão foi feito pouco depois das nove da manhã: “Senhoras esenhores, desembarcamos na França,” disse aos seus operários o diretor-gerente de uma fábricainglesa de aviões. Houve um momento de silêncio espantado, e então, como se fossem uma só,toda a gente diante dele, com lágrimas escorrendo pelo rosto, começou a cantar “Land of Hopeand Glory” (Terra de Esperança e Glória). Depois, disse um operário, “Voltamos quietos para otrabalho — e para a vitória.”

Em Londres, os poucos militares americanos que ainda estavam por lá, eram parados nasruas por estranhos que queriam um aperto de mãos. Na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, lojase cinemas fecharam as portas por um dia, e eventos esportivos foram cancelados, enquanto oscidadãos se dirigiam para as igrejas em quantidades recordes. Uma das frequentadoras deigrejas na Inglaterra foi Janet Murrow, que escreveu aos pais: “A igreja estava mais repleta doque eu jamais vira — mesmo na Páscoa e no Natal.” De Washington, Franklin Roosevelt liderouas preces de sua nação, implorando a Deus que protegesse “nossos filhos. (...) Que os conduzissebem; que lhes desse força aos braços, confiança aos corações, firmeza às crenças. (...) Ocaminho deles será longo e árduo.”

Na Inglaterra, houve poucas manifestações de entusiasmo e júbilo. “Salvo pelo barulho dosaviões, tudo estava muito tranquilo,” escreveu Pamela Churchill a Averell Harriman. “Tratava-se de um grande dia & nenhuma das pessoas deixadas para trás sabia o que fazer com ele.” Naaparência, tudo indicava um dia como qualquer outro. As pessoas se dirigiam aos escritórios efábricas, faziam compras para o jantar, brincavam com suas crianças, entravam na fila paracomprar a última edição dos jornais. “Caminhando pelas ruas [347] de Londres, dava quasevontade de gritar para os passantes: 'Vocês não sabem que hoje se escreve a história?'” — disseMurrow aos seus ouvintes americanos. É óbvio que sabiam, da mesma forma que oradiorepórter; só não sabiam como a história iria acabar. “Havia uma espécie de respiraçãosuspensa,” observou o escritor William Saroyan, soldado do exército que servia na Agência deInformação de Guerra, sediada em Londres. “Todos pareciam estar rezando. (...) Isso podia servisto em seus rostos e na maneira das pessoas em suas atividades. Será que o diabo dessa coisavai funcionar? Essa era a pergunta.” Especulando sobre a “calma esquisita” em Londres naqueledia, Mollie Panther-Downes escreveu na New Yorker: “Podia-se sentir a tensão de uma cidadetentando projetar-se através dos pomares e milharais ingleses que se postavam no caminho,através da faixa de água, para chegar até os homens que já começavam a morrer nos pomares emilharais franceses que, uma vez mais, haviam se tornado 'o lado de lá.'” Quando o dia amanheceu, em 6 de junho, Richard C. Hottelet, um jornalista da CBS voando abordo de um B-26, olhou para o Canal abaixo e perdeu o fôlego. Sobre a superfície da água,rasgando com velocidade as ondas batidas pelo vento estava a maior armada que a história

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militar já havia testemunhado — filas e filas de navios, estendendo-se até onde os olhosalcançavam, rumando para as praias da Normandia. Após retornar à Inglaterra, Hottelet disse aum colega: “Se eu tivesse que saltar de paraquedas daquele avião, poderia caminhar pelo Canalpisando só em navios.”

Naqueles navios — e nas vagas de bombardeiros e caças acima — podia-se testemunhartodo o poderio e grandeza da Aliança Ocidental. As tropas americanas, inglesas e canadenses doprimeiro escalão da invasão foram transportadas para a Normandia em navios americanos,ingleses, noruegueses, poloneses e franceses. E tinham recebido proteção aérea de pilotos etripulações de americanos, ingleses, holandeses, noruegueses, poloneses, belgas, tchecos efranceses. Sem perturbação pela Luftwaffe e deparando-se apenas com fraca artilhariaantiaérea, os aviões aliados voaram a baixas altitudes sobre a Normandia, através de cinzentasnuvens de chuva, e despejaram suas bombas. Mais de quatorze mil sortidas de bombardeiros ecaças foram realizadas naquele dia, e apenas umas poucas aeronaves deixaram de retornar àsbases.

Embora a força aérea aliada controlasse os céus, os canhões pesados do inimigo cobraramum preço inicial bastante alto dos invasores, em especial dos americanos que desembarcaram napraia Omaha. Apesar disso, pelo fim do dia, cerca de 150 mil militares, com seus equipamentos,viaturas e material bélico, tinham pisado em solo francês e avançado. Decorrida uma semana,cerca de meio milhão de homens tinham desembarcado na França. Quando finalmente chegou a notícia do sucesso dos desembarques, os ingleses ficaram radiantes,mas a felicidade durou pouco. Uma semana após o Dia-D, as boas-novas sobre a Normandiaforam ofuscadas pelo início de um novo e apavorante ataque contra Londres. Mais uma vez, oslondrinos se viram submetidos, da mesma forma que os soldados no campo de batalha, aosterrores da guerra.

Bem cedo na manhã de 13 de junho, um objeto curto, grosso e negro, quase do tamanho deum avião de caça e emitindo o som crepitante do motor de uma motocicleta, explodiu numapequena vila de residências construídas em velhos estábulos de um subúrbio de Londres matandoseis pessoas. Durante os três meses seguintes, milhares daquelas bombas não tripuladas —conhecidas como V-1, “buzz bombs” [zunidoras] — foram lançadas pelos alemães a partir dolitoral francês e holandês. Choveram sobre a capital e seus arrabaldes, matando e ferindo maisde 330 mil pessoas, destruindo cerca de 25 mil casas e danificando 800 mil outras.

Depois da Blitz, os londrinos haviam experimentado alguns ataques aéreos alemães bemmenos fortes, inclusive uma série de incursões, no inverno de 1944, conhecida como a “babyBlitz.” Apesar de mais barulhentas e mais concentradas que as de 1940 e 1941, essas incursõesnão duravam mais do que uma hora. As bombas V-1, por outro lado, caíam no solo inglês dia enoite, com tal frequência que os alertas das sirenes quase não davam descanso. Muita genteconsiderou esses novos ataques bem piores dos que os da Blitz. “Nos velhos dias [348], a alvoradanos trazia alívio,” disse um residente londrino. “Nos tempos de agora, o começo de um novo dianão ajuda em nada a situação.” Em suas memórias, Churchill lembrou a insuportável tensãoprovocada pelas V-1: “O homem que voltava de noite para casa nunca sabia o que encontraria; aesposa, sozinha o dia todo com os filhos, não tinha a certeza do retorno do marido em segurança.A cega natureza impessoal do míssil fazia com que a pessoa em terra se sentisse indefesa. Haviapouca coisa que se podia fazer, nenhum inimigo humano que pudesse ser abatido.”

As V-1 ameaçavam os que iam para o trabalho, os que faziam compras, os quedatilografavam nos escritórios ou almoçavam num restaurante. Cinco moças do WAAF, que sedebruçaram numa das janelas do Ministério do Ar para observar o destino de uma “buzz bomb,”

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foram sugadas para fora do prédio por efeito da explosão e foram bater no pavimento. As V-1eram “impessoais como [349] uma praga,” escreveu Evelyn Waugh, “como se a cidadeestivesse infestada de enormes insetos venenosos.” Uma mulher de Londres observou: “Agora,vivemos, dormimos (quando podemos), comemos e pensamos em nada mais do que bombasvoadoras. Elas estão sempre conosco.”

Moradores da capital tiveram de viver em alerta constante, tentando ouvir o somcaracterístico das bombas: um silvo distante que ia escalando até um alto rugido, seguido dealguns momentos agonizantes de silêncio quando o motor parava e a V-1 mergulhava na direçãodo solo. Para muitos, o estresse de ouvir a bomba desligar e esperar pela explosão se tornouquase insuportável. Em presença das V-1 até mesmo o mais fleumático dos ingleses achou difícilmanter a “pose,” o stiff upper lip que os distingue. Quando o zunido da bomba era interrompido láem cima, as conversas hesitavam e depois cessavam, os olhares se dirigiam inquietos para todasas direções até que a detonação era ouvida. Alguns mais desinibidos de mostrarem medo, sejogavam ao chão ou sob as mesas.

Pela primeira vez, considerável quantidade de americanos sentiu o gosto do que era ser umlondrino sob ataque. A tensão se tornou particularmente aguda para Eisenhower e seu Estado-Maior em Bushy Park, situado diretamente embaixo da rota das bombas voadoras. Centenas deV-1 caíram nas vizinhanças, sacudindo a cabana onde dormia o comandante supremo e fazendodespencar partes dos rebocos das paredes e tetos do prédio do quartel-general. Só em um dosperíodos de seis horas, Harry Butcher contou vinte e cinco “explosões violentas e barulhentas”bem próximas. Eisenhower, na companhia de Butcher e de outros auxiliares viram-serepetidamente forçados a procurar refúgios nos abrigos de suas casas e do QG para continuar otrabalho. “A maioria da gente que conheço,” escreveu Butcher, “parece meio entorpecida pelafalta de sono e treme só de ouvir uma porta bater, ou o som de motor de motocicletas ou dosaviões.”

Na realidade, diversos militares de altas patentes dos EUA julgavam ser mais perigoso viverem Londres do que estar no front da Normandia. Quando uma “buzz bomb” explodiu no lado defora de um restaurante onde George Patton almoçava, o destemido general disse a umcompanheiro que estava voltando para o interior, explicando: “Tenho medo de ser morto — istoé, exceto no campo de batalha.” Durante uma de suas visitas à Normandia, Eisenhower anotouque muitos GIs americanos lhe perguntaram, “com vozes aflitas [350], se eu podia lhes darnotícias sobre determinadas cidades [próximas de Londres] onde tinham estado baseados.”

No fim de agosto, as tropas aliadas já haviam destruído a maior parte dos locais ondeestavam situadas as rampas de lançamento das V-1, mas a interrupção das “buzz bombs” nãotrouxe alívio para Londres. Em 8 de setembro, os alemães começaram a lançar um míssilbalístico ainda mais aterrador — o foguete V-2 muito maior e bem mais letal. Os V-2 — quetransportavam maior carga explosiva do que as “buzz bombs,” caíam com velocidade superior àdo som e chegavam aos alvos em total silêncio — atormentaram a capital até poucos mesesantes do fim da guerra. Mais de mil V-2s explodiram em Londres e seus arredores, sacudindo acidade como um terremoto, devastando arrabaldes inteiros e matando cerca de três mil pessoas.

Os ataques combinados de V-1 e V-2 fizeram mais mal ao moral britânico do que qualqueroutro evento de tempo de guerra, não apenas pela natureza aterrorizante dos ataques, mastambém porque, após meia década de privações e sofrimentos, muitos residentes de Londreshaviam chegado ao limite da exaustão física e emocional. O antigo senso de camaradagem e dedeterminação dos tempos da Blitz não eram mais visíveis em lugar algum. “Tivemos de aguentarcoisas horríveis por aproximadamente cinco anos,” escreveu a londrina Vivienne Hall em seudiário, “e acho que teremos que continuar aguentando, mas, Deus meu, como já estamos

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cansados disso tudo! É só trabalhar, viver e dormir em meio a essa louca e nauseante forma dedestruição, semana após semana, mês após mês. (...) Será que nos livraremos um dia dosestragos e da morte?”

Os diários e cartas de outros residentes de Londres naquele período — americanos ouingleses, funcionários do governo ou particulares — estão, da mesma forma, repletos deconfissões quanto a uma profunda canseira da qual seus autores não se podem livrar. “A imensafadiga em que a nação está mergulhada fica patente nas viagens de trem,” escreveu MolliePanther-Downes, “nas quais os civis, assim como os militares, homens e mulheres, caem no sonotão logo sentam.” Em suas memórias, John Wheeler-Bennett registrou: “Como todo mundo naInglaterra, eu estava morto de cansaço,” acrescentando que, no fim de 1944, “Whitehall haviaperdido grande parte de suas vitalidade e eficiência, e, em muitos casos, mal gotejava algunsresultados.” Até mesmo o normalmente efusivo primeiro-ministro parecia afetado. Churchill,aparentando estar “muito velho e exaurido,” disse a Alan Brooke que perdera a antiga energia,acrescentando que não mais saltava da cama como antes, e ficaria “muito contente se pudessepassar o resto do dia” sob as cobertas.

Numa carta aos pais, Janet Murrow observou “quão cansados [351]” ela e Ed estavam, edisse mais: “Só espero que essa guerra acabe logo. Tem de haver um limite para o que aestrutura humana pode suportar.” Na oportunidade em que um amigo na América perguntou aMurrow por que o povo inglês, que havia aguentado tanta coisa, estava tão desanimado quando avitória se aproximava, ele respondeu: “Olhe aqui (...) Na primeira vez em que alguém bate nasua cabeça com um martelo, dói bastante. Na segunda, é pior ainda. Na terceira, não dá paraaguentar!”

Na segunda metade de 1944, mais de um milhão de londrinos fizeram as malas e deixaram acapital. A produtividade no trabalho declinou drasticamente, as crianças não foram mais àescola, e os restaurantes e cinemas, apinhados poucas semanas antes, ficaram virtualmente àsmoscas. “Londres está deserta (...) o West End está morto,” escreveu uma mulher. “Isso dá umesquisito sentimento de solidão.” Enquanto os londrinos experimentavam a aflição das “buzz bombs” naquele verão, as forçasaliadas, após os sucessos iniciais na Normandia, se encontravam engajadas, na França, embatalhas acirradas contra um inimigo ainda mortífero. Depois de irrromperem das cabeças depraia, viram-se num emaranhado de hedgerows, perturbadoras cercas vivas no interior francês[bocages, barrancos arificiais para delimitar os terrenos] com cerca de dois metros de altura,encimados de arbustos e árvores, que tornavam o combate não apenas confuso, masextremamente brutal e difícil.[*] Para os soldados, o combate se resumia a corridas bem rápidase agonizantes através campo, de cerca viva em cerca viva, e súbitos e violentos embates comfocos de soldados alemães. Após seis semanas da abertura de um sangrento caminho através detal emaranhado, os aliados ainda se encontravam a nada mais que cerca de vinte quilômetros daslinhas de partida.

As crescentes frustrações do campo de batalha refletiam-se nas gritantes diferenças deopinião entre Londres e Washington sobre as operações militares e políticas na França. Por maisde um ano, Churchill se opusera veementemente à Operação Anvil, o plano de suplementar ainvasão da Normandia com um assalto ao sul da França. Mesmo apesar de ter havido aprovaçãoda Anvil no encontro Roosevelt-Churchill ocorrido em Quebec e na conferência dos TrêsGrandes em Teerã, o primeiro-ministro continuou lutando contra ela até pouco antes de seulançamento em agosto. Na verdade, a disputa sobre a Anvil foi a contenda mais ácida eapaixonada de Churchill com os americanos durante toda a guerra.

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O primeiro-ministro argumentava que, com o deslocamento de tropas da Itália para o sul daFrança, a campanha italiana ficaria enfraquecida no exato momento em que em que começavaa ser vitoriosa. No fim da primavera de 1944, após meses de combate selvagem, os aliadoshaviam por fim penetrado nas temíveis defesas germânicas organizadas a meio caminho da botaitaliana. Roma caíra em 4 de junho, dois dias antes do Dia-D, e o exército alemão na Itália estavaem plena retirada. Churchill e seus chefes militares afirmavam que a campanha italiana já tinhaabsorvido diversas divisões alemãs da França, aliviando a pressão sobre as tropas de Eisenhowere tornando assim desnecessária uma segunda invasão na França. Agora, asseveravam osingleses, era hora de perseguir os alemães até o vale do Po, destruindo-os, para então prosseguirna direção dos Bálcãs e da Áustria.

Sabedor de que os russos tinham passado à ofensiva, dirigindo-se para oeste sobre aAlemanha e para os Bálcãs, o primeiro-ministro preocupava-se bastante com possíveis incursõessoviéticas em países como a Grécia e a Turquia, onde os ingleses tinham interesses de longotempo. Ele queria manter a ameaça comunista o mais a leste possível. “Winston não fala mais[352] sobre Hitler; está sempre insistindo sobre os perigos do comunismo,” anotou Lord Morannaquele verão. “Ele sonha que o Exército Vermelho se alastra como um câncer de um país paraoutro. Isso se tornou uma obsessão, e ele não consegue pensar noutra coisa.”

Porém Churchill tinha ainda outro motivo para seu fervoroso apoio à campanha italiana: aItália era, primordialmente, um show inglês — uma campanha travada por forças britânicas esob comando de um inglês, o general Harold Alexander — enquanto na França a operação erapredominantemente americana. Pelo fim de julho, cerca de um milhão de soldados americanoshaviam desembarcado em solo francês, comparados com os 660 mil ingleses. A disparidadetornar-se-ia ainda mais acentuada com o avanço do verão.

Como Churchill sabia muito bem, a Anvil desviaria tropas do único front em que os inglesesainda eram as mais poderosas forças dos aliados. “Winston odiava [353] a ideia de ter de abrirmão da posição de parceiro predominante que obtivera no início,” anotou Brooke. Numa carta àesposa Clemmie, de agosto de 1944, Churchill escreveu melancolicamente que dois terços dasforças inglesas na guerra estavam “sendo mal empregadas para conveniência dos americanos, eo terço restante estava sob comando dos EUA.”

Roosevelt e seus comandantes militares, no entanto, não tinham grande paciência com oprimeiro-ministro e com sua crescente sensação de impotência. Para George Marshall, que seopusera à operação no Mediterrâneo desde o começo, a Itália e os Bálcãs não passavam de umbeco sem saída — uma equivocada estratégia periférica que poderia levar a um desastre militare resultar em possível conflito com os soviéticos. Anvil, acreditava o general, era necessária parareforçar as forças de Eisenhower na França e abrir Marselha, assim como outros portos muitonecessitados. Quando Eisenhower, mais simpático ao ponto de vista inglês do que seus chefes emWashington, titubeou em determinado momento quanto à necessidade da Anvil, Marshall disse-lhe que ela tinha de ser executada. Apanhado no meio, o comandante supremo da invasão tevede suportar uma série de confrontações penosas com um emotivo Churchill, o qual, durante umdesses encontros, chegou a dizer que os americanos estavam intimidando (usou o verbo“bully ing”) os ingleses.

O primeiro-ministro fez um apelo de última hora a Roosevelt, que o rechaçou com firmeza.Preocupado com os possíveis efeitos do afastamento cada vez maior entre os dois, Gil Winantescreveu ao Presidente: “Eu gostaria que o senhor soubesse quão profundamente o primeiro-ministro sentiu as diferenças que terminaram com a aceitação das decisões tomadas pelo senhor.Nunca o vi tão extremamente abalado.”

Quando foi, finalmente, deslanchada, em 15 de agosto, Anvil (redenominada Dragoon por

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Churchill, numa clara alusão ao fato de ter sido coagido [dragooned] pelos americanos acooperar com a operação) conseguiu atingir facilmente seus objetivos: abrir os portos, libertar osul da França e fazer a junção com as forças principais americanas. Mas, como os inglesesreceavam, ela liquidou com a opção de prosseguir para o leste a fim de chegar aos Bálcãs. Pordécadas após a operação, os acertos e os erros das duas posições continuaram assuntos de intensadiscussão e controvérsia. Enquanto se desenrolava o drama de ANVIL, Eisenhower e Winant tentavam equacionar outranovela anglo-americana, essa agora envolvendo Charles de Gaulle e a questão de quem deveriagovernar a França libertada. Mesmo quando as tropas aliadas tomavam de assalto as praias noDia-D, essa questão, que vinha sendo debatida por meses, continuava sem solução.

Para Eisenhower, Winant e a maioria dos americanos dos altos escalões que serviam emLondres, não havia dúvida de que de Gaulle e seu Comitê Francês de Libertação Nacional, tendoafastado todos os possíveis competidores, deveriam ser sacramentados como governo provisórioda França. Segundo registros nos relatórios de informações ingleses, de Gaulle ganhara o apoioda maioria de seus concidadãos: “Só existe um nome [354], e apenas um nome, nas bocas dosfranceses — de Gaulle. Sobre isso não podia haver hesitação ou opinião dupla. A constatação eraavassaladora e, de fato, aparentemente unânime.” De Gaulle concordava, escrevendo a umauxiliar: “Nós somos o governo francês. (...) Ou nós, ou o caos.”

Mas Roosevelt não desistia de sua hostilidade a de Gaulle e recusava-se a considerar apossibilidade de dar ao francês qualquer papel na administração de seu país. Para o Presidente,forças militares americanas deveriam governar a França até que pudessem ser realizadaseleições pós-guerra. Na realidade, dezenas de militares do Exército americano já tinham sidodespachadas para Charlottesville a fim de fazerem cursos intensivos de dois meses sobreadministração pública e língua francesa. Céticos engraçados do plano apelidaram tais militaresde “os maravilhas de sessenta dias.”

De sua parte, Churchill viu-se, outra vez, encurralado entre sua determinação de dar apoio aRoosevelt nos assuntos políticos franceses e a crescente pressão da opinião pública e de seupróprio governo quanto ao reconhecimento de de Gaulle. Criticando fortemente o primeiro-ministro pelo tratamento que ele e Roosevelt dispensavam ao general, grande parte da imprensainglesa e do Parlamento já tinham se decidido em favor do reconhecimento de de Gaulle e deseu comitê. “A mim parece,” disse Harold Nicolson num debate na Câmara dos Comuns, “que ogoverno dos Estados Unidos, com o de Sua Majestade a reboque, não perde a oportunidade demanifestar qualquer desdém que a engenhosidade saiba arquitetar e os maus modos possamperpetrar.” Como Churchill explicou a Roosevelt, o povo inglês “sente que os franceses devemestar ao nosso lado quando libertarmos a França. (...) Ninguém entenderá se eles foremdesrespeitados.”

Para Eisenhower, havia consideravelmente mais coisas em jogo do que a opinião pública: seos aliados não conseguissem um modus vivendi com de Gaulle, a própria libertação da Françacorreria risco. No Dia-D e nos que se seguiriam, o comandante do SHAEF contava com centenasde milhares de membros da resistência francesa, a maioria dos quais apoiava de Gaulle na ajudaàs suas forças. Além disso, sete divisões francesas recebiam instrução para tomar parte emfuturas batalhas em seu país. “Uma colisão ostensiva [355] com de Gaulle nos feririaprofundamente,” escreveu Eisenhower, “e resultaria em amarga recriminação e desnecessáriaperda de vidas.” Ele também detestava ter de assumir a carga administrativa de governar o país.Em sua opinião, a tarefa seria mais bem desempenhada se deixada para as autoridades civisfrancesas. Embora Eisenhower jamais tivesse dito publicamente o que achava da intransigência

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de Roosevelt em relação a de Gaulle, C.D. Jackson, chefe da Divisão de Guerra Psicológica doSHAEF, decididamente tinha a opinião de seu chefe em mente quando escreveu a um amigo:“Todos os círculos parecem concordar que o comportamento do Presidente para com o francêsé detestável e só pode levar a problemas, se não a desastre.”

Por insistência de Roosevelt, de Gaulle, que ainda se encontrava em Argel, onde estavabaseado o Comitê de Libertação Nacional, não fora consultado sobre a invasão nem informadosobre quando e onde ela teria lugar. Finalmente, instado por Eisenhower e Eden, Churchill disseao Presidente, em maio, que o francês não poderia ser deixado totalmente por fora da Overlord:ele precisava ser convidado a Londres, atualizado sobre a operação e ser incluído nas discussõessobre a futura administração da França. Depois que FDR deu, relutantemente, sua aprovação, deGaulle chegou à Inglaterra menos de quarenta e oito horas antes de a Overlord ser desfechada.

Sem nenhuma surpresa, seu encontro com Churchill não correu bem. O orgulhoso eempertigado francês estava muito ressentido por ter sido excluído da invasão de seu próprio país,enquanto o primeiro-ministro se encontrava, como observaram os historiadores Antony Beevor eArtemis Cooper, num “estado de excitação controlada,” temendo que os desembarquesredundassem em sangrento fracasso. No momento em que Eisenhower disse a de Gaulle que ocomandante supremo faria uma proclamação pelo rádio ao povo francês no Dia-D, o francêsexplodiu de raiva. A fala de Eisenhower, que já estava impressa, conclamava a nação francesa aseguir as ordens da força de invasão dos aliados e não fazia menção a de Gaulle ou a seushomens. Como de Gaulle percebia a situação, seu país, em vez de ser libertado, seria ocupadocomo a Itália. Ele se recusou a fazer um pronunciamento pelo rádio em seguida ao deEisenhower, e sua conversa com Churchill passou a ser uma desagradável disputa verbal, ao fimda qual o primeiro-ministro, tremendo de fúria, acusou de Gaulle de “traição no ápice [356] dabatalha” e ordenou que ele fosse enviado de volta a Argel, “algemado, se necessário.”

Os auxiliares graduados dos dois líderes não acreditaram no que estavam testemunhando: deGaulle e Churchill trocando insultos e epítetos na ocasião em que os paraquedistas dos aliados sepreparavam para saltar na Normandia. “Isso é um pandemônio!” — exclamou um altofuncionário francês. Alexander Cadogan, desgostoso, comparou a situação a uma “escola paramoças.” Roosevelt, o primeiro-ministro e — tem-se que admitir — de Gaulle comportavam-setodos como meninas chegando à puberdade.” Nas horas que antecederam a invasão, Eden efuncionários franceses agiram como apaziguadores e acalmaram os dois. Quando de Gaulle sequeixou a Eden em relação à submissa dependência da Inglaterra aos americanos, o ministro doExterior respondeu que “era um erro fatal (...) ser tão orgulhoso. 'Dobrar-se para vencer' erauma ação que cada um de nós deveria considerar útil, às vezes.” Graças a esse e outros esforços,de Gaulle concordou, por fim, em fazer uma transmissão, e a ordem escrita de Churchill paraque o errante general fosse expelido do país acabou sendo cancelada e destruída.

Apesar de a fúria de Churchill em relação a de Gaulle permanecer irredutível (“O primeiro-ministro chega às vezes quase à insanidade em seu ódio ao general de Gaulle,” escreveu ummembro da equipe de Churchill em 9 de junho), com relutância ele concordou com o retorno dogeneral à sua pátria para uma breve visita após o Dia-D. O primeiro-ministro reagia à fortepressão do público e da imprensa ingleses, bem como a insistentes apelos de Eisenhower. Comefeito, o comandante dos aliados, que recebera substancial liberdade de ação de Roosevelt eCordell Hull para governar as recém-libertadas áreas da França, fazia então rápido giro porWashington. Eisenhower e seu Estado-Maior acreditavam que “nos estágios iniciais da operação,pelo menos, de Gaulle representaria a única autoridade que poderia produzir qualquer espécie decoordenação e unificação, e que nenhum dano haveria se lhe fosse conferido o tipo dereconhecimento por que ansiava.”

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Em 14 de junho, a visita de de Gaulle à cidade de Bayeux, na costa da Normandia, secaracterizou por extraordinária efusão emocional. Enormes aglomerados de gente da cidade,aplaudindo e chorando, cercavam o general aonde fosse. Quando retornou à Inglaterra naquelanoite, ele deixou na Normandia François Coulet, um de seus principais auxiliares, selecionadopara atuar como governador do comitê francês na região. Com o tácito suporte de Ike, de Gaulleminava as tentativas de Roosevelt de impor uma administração militar dos aliados. Na ocasiãoem que os “maravilhas de sessenta dias” começaram a chegar, poucos dias depois, viram-setotalmente ignorados pelos franceses — e pelo SHAEF. “Os militares de altos postos [ 357] quehaviam se reunido nos portos de embarque, supostos administradores (...) instruídos a respeito doCódigo de Napoleão e de outras doutrinas sobre os distritos a eles designados, desapareceramsilenciosamente, desprezados,” escreveu Malcolm Muggeridge. Gostasse Washington ou não, deGaulle conseguira o controle sobre as regiões libertadas de seu país.

Tendo começado a perceber que “advogava uma causa perdida,” como diz seu biógrafoJean Edward Smith, Roosevelt finalmente convocou de Gaulle a Washington, em julho, ereconheceu seu Comitê como autoridade civil de facto na França. Mas a conversa entre os doisfoi fria e superficial, e o Presidente recusou-se a seguir a recomendação dos governos europeusno exílio, bem como de diversos outros países do planeta, de reconhecer o Comitê como governoprovisório da França. “FDR (...) acredita que de Gaulle desabará,” escreveu Henry Stimson emseu diário. “Ele acha que outros partidos espocarão com o prosseguimento da libertação e que deGaulle se transformará em figura de pouca importância. Poucos dias antes de de Gaulle chegar aWashington, Roosevelt declarara a seus auxiliares: “Ele é maluco.”

Por três meses, Roosevelt não se afastou de sua posição, mesmo depois de Paris ser libertadae de Gaulle ser recebido como um herói vencedor — e depois de Churchill, Hull, Winant,Eisenhower e a Junta de Chefes de Estado-Maior e instarem pelo reconhecimento. Vendo-seisolado naquela questão e com a eleição presidencial se aproximando, o Presidente por fimcedeu em 23 de outubro, anunciando abruptamente que os Estados Unidos reconheciam o Comitêde de Gaulle como governo provisório da França. FDR fez o anúncio sem mesmo informar aChurchill, o qual, apesar dos mal-entendidos, continuava seguindo a liderança de Roosevelt.Apanhado de surpresa, o governo inglês apressou-se em expedir seu próprio comunicado dereconhecimento. Um irado Alexander Cadogan escreveu a Eden: “Como uma relação cordial[358] com uma França restaurada e libertada é vital para os interesses ingleses, eu esperava queo Presidente nos tivesse dado o direito a uma voz preponderante nessa matéria.”

Por sua vez, de Gaulle jamais perdoou ou esqueceu aquilo que considerou tratamento rudededicado a ele pelo Presidente e pelo primeiro-ministro. Após retornar ao poder na França, em1958, ele vetou o requerimento da Inglaterra para entrar na Comunidade Econômica Europeia,lembrando as palavras de Churchill de que a Inglaterra sempre preferiria os Estados Unidos àEuropa. A relação de seu governo com os americanos foi igualmente espinhosa. Segundo JeanEdward Smith, “a aversão de FDR por de Gaulle envenenou o poço das relações franco-americanas, e o legado persiste até os dias de hoje.” Quando as tropas aliadas libertaram Paris em 25 de agosto, a reação dos ingleses foisurpreendentemente mortiça. Os exilados franceses celebraram ruidosamente nos locais por elesfrequentados no Soho, bandeiras tricolores francesas foram exibidas em muitas janelas, porém,na Londres como um todo, imperou uma “atmosfera sonolenta e vazia” dando a impressão deque a cidade “estava apenas semiviva.” Um profundo senso de exaustão e tédio impregnava acapital, como Eric Sevareid percebeu ao retornar a Londres depois de cobrir a Operação Anvil.“Onde todo o homem e toda mulher tinham sido heróis, o heroísmo era uma chatice,” escreveu

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ele. “Onde homens de todas as línguas conhecidas abundavam, os tardios americanos eram umachatice. (...) A própria guerra era uma chatice.” Londres, observou Sevareid num programa derádio, era “como um outrora charmoso hotel que se tornara decadente após intermináveisconvenções de homens de negócios. (...) A exaltação do perigo desaparecera.”

Durante muito tempo, na guerra, Londres fora o mais excitante e estimulante lugar na faceda terra — “a Paris da Segunda Guerra Mundial,” como Donald Miller a apelidou. Porém, agora,a verdadeira Paris, com sua beleza intocada pelas bombas, estava de novo aberta aos negócios eaos prazeres, e muitos em Londres — americanos, ingleses, gente da Commonwealth e europeus— desejavam ir para lá. Na vanguarda da nova invasão dos aliados se encontrava David Bruce, ochefe da OSS, e seu novo companheiro de viagem, Ernest Hemingway, que correu para o bar doRitz, no dia em que Paris foi libertada, e ordenou cinquenta martínis para os dois e para ospartisans que os acompanhavam.

Os aliados ocuparam mais de cem hotéis em Paris para uso próprio, e bastaram poucos diaspara que começasse um autêntico frenesi de festas e coquetéis. A maioria dos parisienses — e osfranceses de um modo geral — tinha pouca coisa para comer, mas havia um próspero mercadonegro para a aquisição de alimentos, uísque e vinho. Os melhores restaurantes da cidade, quetinham servido refeições a gente da Wehrmacht e da Gestapo havia apenas poucos dias, seesmeravam então para atender às hordas de jornalistas e oficiais aliados que agora osabarrotavam.

Ainda assim, mesmo que desfrutassem daquilo que Paris podia oferecer, muitos dos quedeixaram Londres experimentavam um sentimento de culpa por terem ido. Entre eles, o futurohistoriador John Wheeler-Bennett, que vagava por Paris admirando seus hotéis e o vidro metálicodas vitrines de suas lojas, resplandecentes em seu “esplendor culposo [359],” e os caminhos decascalho dos jardins das Tulherias “varridos com meticulosa precisão.” A desmazelada eesburacada Londres não exibia essa limpeza e elegância, pensou Wheeler-Bennett, porém aindaretinha um “espírito e um orgulho que eram inabaláveis e magníficos.” Paris, ao contrário,recuperara “seu panache e a arrogância de seu egoísmo,” mas “não tinha sido bem-sucedida,então ou em qualquer data anterior, em redescobrir sua alma.”

Na sua própria visita rápida a Paris, Ed Murrow fez comentários sobre os mesmos contrastesentre as duas cidades. Numa transmissão, afirmou com um laivo de desdém que a capitalfrancesa e seus residentes tinham-se saído relativamente ilesos da guerra. Descrevendo o quechamou de “familiares, bem alimentadas, mas ainda vazias fisionomias no entorno dos bares damoda,” acrescentou que “os últimos quatro anos pouco as mudara.” Após quarenta e oito horasem Paris, Murrow não aguentou mais e voltou a Londres. Pamela Churchill, que o acompanharaà capital francesa, permaneceu, passando bons tempos no Ritz com outros amigos jornalistasamericanos, inclusive Charles Collingwood e Bill Walton. “Talvez o mundo parecesse entãoaberto para ela,” disse Walton. “Paris estava livre.”

[*]Depois da guerra, George Marshall disse ao seu biógrafo que ele e seus planejadores, antes dainvasão, não faziam ideia da dificuldades do terreno na Normandia. As Informações do Exército,afirmou o general, “nunca mencionaram aquilo que eu tinha necessidade de saber. Nada medisseram sobre as cercas vivas, e só mais tarde, depois de muito sangue derramado, aprendemosa lidar com elas.” (Andrew Roberts, Masters and Commanders: How Four Titans Won the War inthe West, 1941-1945, Nova York, Harper Collins, 2009, p. 490).

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Crise na Aliança

Enquanto Paris fervia de felicidade com sua libertação, os residentes de outra capital europeiaocupada estavam em plena luta pela sua. Três semanas antes de os aliados entrarem em Paris,cerca de 25 mil membros do movimento clandestino polonês desencadearam um levante emVarsóvia contra seus ocupantes názis. A rebelião coincidiu com uma ofensiva em massa nadireção oeste das forças soviéticas que, tendo empurrado os alemães para fora da Rússiaocidental, avançavam através da Polônia como vasta onda veloz. O Exército Vermelho seaproximava de Varsóvia quando os poloneses iniciaram sua sublevação; na verdade, alguns diasantes, transmissões soviéticas faziam apaixonados apelos aos residentes da capital polonesa paraque se juntassem às forças soviéticas em combate. Os alemães contra-atacaram violentamenteos poloneses, carreando poderosos reforços para lá e bombardeando Varsóvia dia e noite comartilharia e aviões. Desesperadamente inferiores em efetivos, os clandestinos apelaram pelaajuda de Londres e Moscou. Enquanto Churchill instava os líderes militares ingleses a socorreremos insurgentes poloneses com o “máximo esforço,” Stalin os denunciava como aventureiros e nãoordenou qualquer ajuda do Exército Vermelho, então estacionado nas cercanias de Varsóvia.

Em Moscou, Averell Harriman implorou aos soviéticos que reconsiderassem sua recusa emdar ajuda, declarando que era “do interesse [360] da causa [dos aliados] e da humanidade”ajudar os poloneses. O embaixador escreveu a Harry Hopkins: “Chegou a hora de deixarmosclaro o que esperamos deles como preço de nossa boa vontade. A menos que nos oponhamosfirmemente, tudo indica que a União Soviética se transformará num incômodo mundial sempreque seus interesses estiverem envolvidos.” Tratava-se de notável mudança de opinião de umhomem que outrora advogara suporte incondicional aos soviéticos, dissera que todos osproblemas com eles poderiam ser resolvidos através “de franca relação pessoal” e afirmara que“Stalin podia ser administrado.”

Numa variedade de formas, os onze meses no desempenho das funções de embaixador dosEstados Unidos na União Soviética tinham sido um exercício de humilhações. Suas antigasprevisões sobre a natureza precária e difícil da missão do embaixador haviam se provadocorretas: ele fora deixado de lado em Moscou por Roosevelt e Hopkins, da mesma maneira queGil Winant em Londres. Logo que chegou à capital soviética, Harriman queixou-se a Hopkins deque ninguém em Washington lhe dizia coisa alguma e que ele se encontrava “na desconfortávelposição [361] de depender do ministério russo do Exterior para ter informações tais como asúltimas decisões tomadas por [meu] próprio governo.”

Como seus antecessores em Moscou, ele também era em grande parte ignorado por Stalin epelo resto do governo soviético — uma situação torturante para Harriman que, como emissáriopessoal de Roosevelt junto aos soviéticos nos primeiros estágios da guerra, estava acostumado ater livre acesso ao Kremlin e era tratado com certa deferência e respeito. Soberbo e distante, elenão impressionou — pelo menos inicialmente — os moços especialistas em Rússia quetrabalhavam na embaixada dos EUA, todos estudiosos da língua russa e da história e ideologiasoviéticas. Os jovens diplomatas admiravam a dedicação de Harriman ao serviço público e suaenorme capacidade para o trabalho duro, mas menosprezavam sua falta de interesse pelosmeandros da diplomacia. ' 'Ele só queria trabalhar nos níveis mais elevados,” disse GeorgeKennan, o qual, como ministro-conselheiro, era o braço direito do embaixador. “Julgava que

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podia aprender mais coisas importantes numa audiência com Stalin do que o resto de nós emmeses de estudos laboriosos das publicações soviéticas.” Charles Bohlen observou: “Não possodizer que alguma vez achei que ele entendesse por completo a natureza do sistema soviético. Aleitura de livros ideológicos não era o seu forte.”

Não obstante, quanto mais Harriman vivia em Moscou, mais percebia que a visão deRoosevelt de uma parceria política genuína entre os Estados Unidos e a União Soviética nãopassava de fantasia. Ele viu, em primeira mão, quão desconfiados os russos eram de seus aliadosocidentais, recusando fornecer-lhes as mais elementares informações sobre seu esforço deguerra. Descobriu igualmente que os soviéticos usavam equipamentos do Lend-Lease compropósitos civis ou os escondiam para emprego depois que a guerra tivesse terminado. Oembaixador começou a insistir com Roosevelt e sua administração para que analisassem commais atenção as solicitações russas do Lend-Lease e exigissem mais cooperação militar. “Elessão durões e esperam que também sejamos,” declarou Harriman. Sua recomendação, noentanto, foi quase completamente ignorada.

Para sua posição cada vez mais inflexível com os soviéticos, Harriman foi bastanteinfluenciado por Kennan que, na opinião de Harrison Salisbury , “conhecia melhor os russos [362]do que qualquer pessoa de minha geração.” Depois de chegar a Moscou em junho de 1944,Kennan, que já havia servido lá no início dos anos 1930, sublinhou para o embaixador que “meuspontos de vista para a política com a União Soviética não são exatamente iguais às do nossogoverno.” Ocorreu então que a perspectiva de Kennan tornou-se rapidamente a de Harriman.Sobre Kennan, Harriman diria mais tarde: “Usei-o em todas as ocasiões que pude e consultei-osobre todos os assuntos.”

Segundo Salisbury, correspondente em Moscou para o New York Times nos dois últimos anosda guerra, Kennan foi um dos fatores principais para a emergência pós-guerra de Harrimancomo um dos “Sábios” da política externa dos EUA. “Muita coisa seria dita mais tarde porHarriman e outros sobre seus excelentes julgamentos e táticas no trato com os soviéticos,”escreveu Salisbury. “Ele ficou conhecido como o homem que formou opinião própria quandooutros não o fizeram.” Mas foi só quando Kennan chegou a Moscou, asseverou Salisbury, que“notei alguma percepção extraordinária em Harriman. (...) Após a chegada de Kennan,Harriman demonstrou ser bom aluno. Ele cresceu com os anos.”

Tanto Harriman quanto Keenan passaram a considerar a Polônia “paradigma docomportamento soviético no mundo pós-guerra, o primeiro teste da atitude de Stalin em relaçãoaos seus vizinhos mais fracos.” Como os dois viam, os soviéticos haviam fracassadomiseravelmente no teste. Na sua recusa de ajuda aos poloneses, disse Keenan, o governo deStalin estava enviando sua mensagem para o Oeste: “Queremos ter a Polônia de porteirafechada. Não damos a mínima por esses combatentes clandestinos polacos. (...) É indiferentepara nós o que vocês pensem sobre tudo isso. Doravante, vocês não terão papel algum nasquestões da Polônia, e já é tempo de que entendam isso.”

Harriman, juntamente com Winant em Londres, instou Roosevelt para que pressionasseStalin a, pelo menos, permitir o uso dos campos de pouso soviéticos pelos bombardeiros aliadosque realizavam missões de longo alcance de auxílio aos poloneses. Churchill era tambémfavorável à ideia, declarando que, se o líder soviético rejeitasse a solicitação, os bombardeirosdeveriam assim mesmo pousar sem permissão nos aeródromos soviéticos. Roosevelt, no entanto,não desejou um confronto com Stalin, o qual, uma vez evidente que o levante polonês estavafadado ao insucesso, permitiu o uso dos campos de pouso soviéticos para apenas uma missão desocorro dos EUA. Depois de aguentar os alemães por sessenta dias, os clandestinos polonesesfinalmente capitularam em 2 de outubro. Cerca de 250 mil residentes de Varsóvia —

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aproximadamente um quarto de sua população — foram mortos na sublevação. Os quesobreviveram receberam ordem para deixar a cidade, que então passou a ser sistematicamenteincendiada e dinamitada até ficar quase toda em ruínas.

A sorte dos poloneses de Varsóvia permaneceu por décadas seguintes na mente deHarriman. Quando o neto de Churchill certa vez perguntou-lhe como os aliados ocidentais tinhampermitido a destruição da capital polonesa, o rosto de Harriman ficou pálido. Sem pronunciaruma palavra, ele “deu meia-volta [363],” disse o jovem Winston Churchill, “e foi embora.” Com a crescente preocupação no Ocidente sobre as ambições pós-guerra de Stalin, e com osexércitos aliados fechando sobre a Alemanha a partir do leste e do oeste, Winant começou cadavez mais a se inquietar com a falha dos aliados de não tomarem decisões firmes em relação àdivisão e à ocupação do Reich. Numa carta a Roosevelt, o embaixador observou que ele e outrosmembros da Comissão Assessora Europeia tinham dado passos largos para formatar acordosreferentes a termos de rendição e a zonas de ocupação. Tendo percebido o rápido progresso paraleste das forças anglo-americanas, até os russos haviam chegado à conclusão de que um planogeral que delineasse a política de ocupação dos aliados era uma necessidade. Se tal plano nãoestivesse finalizado antes que a guerra acabasse, alertou Winant, “seguir-se-ia (...) a rivalidadepelo controle da Alemanha.”

Contudo, a questão do destino da Alemanha se tornou ainda mais turva em setembro de 1944,quando Roosevelt e Churchill, reunidos em Quebec, aprovaram um plano abrangente dosecretário do Tesouro, Henry Morgenthau, para a destruição da indústria germânica e atransformação do país num estado agrário. Como Roosevelt, Churchill dera pouca atenção sériaao tratamento pós-guerra da Alemanha; ele disse a Lord Moran em Quebec que “haverá sobrade tempo para apreciarmos o assunto quando ganharmos a guerra.”

A maioria dos altos funcionários americanos e ingleses, inclusive os assessores maispróximos dos dois líderes, ficou horrorizada com a ideia de Morgenthau, declarando que umaAlemanha pastoral prejudicaria sobremaneira a recuperação econômica pós-guerra da Europa ecriaria um vácuo de poder no meio do continente. Tão furioso que quase não podia falar,Anthony Eden berrou para Churchill: “Vocês não podem fazer isso! [ 364]” Referindo-se aRoosevelt, Cordell Hull exclamou: “Em nome de Cristo, o que deu no homem?”

Aferroados pela veemência de seus lugares-tenentes, tanto Roosevelt quanto Churchillrecuaram de sua aprovação do plano, com o Presidente dizendo a Henry Stimson que não tinhalembrança de tê-lo aprovado. Dali por diante, Roosevelt deixou claro que não estava interessadoem assinar nenhuma política de longo alcance sobre a ocupação da Alemanha antes do fim daguerra. “Não gosto de fazer planos detalhados para um país que ainda não ocupamos,” escreveuele a Hull. “Devemos realçar o fato de que a Comissão Assessora Europeia é 'Assessora' e queeu e você não somos reféns de seus conselhos.”

Em resposta à tática de postergação do governo, o normalmente calmo Winant disparoutelegramas para Roosevelt e para outros administradores que espantaram por seu vigor e, naspalavras de um historiador, “puseram em risco seu prestígio como embaixador.” Os interessesamericanos,” declarou Winant, foram deixado numa “flagrante desvantagem” em função daatitude dilatória do governo dos EUA na aprovação de planos para o tratamento pós-guerra daAlemanha. “Não creio,” acrescentou, “que qualquer conferência ou comissão criada pelosgovernos com um propósito sério tenha recebido menos apoio do governo do que a ComissãoAssessora Europeia.” E reiterou que falava, primordialmente, sobre seu próprio governo. A falta de uma política clara para a Alemanha foi apenas um dos muitos problemas que

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assaltaram a aliança ocidental quando a guerra caminhou para seus meses finais. Com a vitóriamilitar se aproximando, as relações entre os comandantes americanos e ingleses em campanha— nunca satisfatórias — mergulharam para seu estado mais baixo na guerra. As rivalidades,suspeitas e lutas internas que haviam marcado a campanha no norte da África, tornaram-seconsideravelmente mais ferozes nos campos de batalha europeus.

Quando as forças inglesas e canadenses, sob o comando de Montgomery, se mostraramlentas para romper as cabeças de praia em seus respectivos setores, os chefes militares e aimprensa americanos espalharam a ideia de que Montgomery deixava os combates mais durospara as tropas dos EUA. A odiosa comparação entre o sucesso da progressão americana e alentidão das forças de Montgomery foi uma pílula demasiado amarga para os inglesesengolirem. “Temos ouvido [ 365] que os ingleses não estão fazendo coisa alguma e que osamericanos têm carregado o peso da guerra!!” — fumegou Alan Brooke em seu diário. “Estoumortalmente cansado com todas essas mesquinharias da humanidade! Será que um diaaprenderemos 'a amar nossos aliados como amamos a nós mesmos'??? Duvido!” No meio-tempo, Churchill queixava-se à esposa: “As únicas vezes em que reclamo dos americanos sãoquando eles se recusam a nos oferecer uma parcela justa de oportunidades de glória.”

Atormentado com os comandantes americanos e ingleses exigindo prioridades para suasoperações, Eisenhower era o único que não parecia afetado pela febre do nacionalismo. Suaênfase no consenso, no meio-termo e no trabalho de equipe era ridicularizada pelos generais dosdois países, que repetidamente desafiavam sua autoridade. Pareciam não dar valor às enormesresponsabilidades e aos problemas enfrentados por Eisenhower ao chefiar uma gigantescacoalizão militar com milhões de soldados, aviadores e marinheiros de pelo menos oito países.

O próprio chefe de Eisenhower, o general Marshall, aparentava não estar imune aonacionalismo. Irritado com as histórias publicadas pelos jornais ingleses que pintavamEisenhower apenas como líder de fachada e diziam que os oficiais ingleses dos altos escalõeseram os que na realidade conduziam o assalto da Overlord, Marshall ordenou que Eisenhowerassumisse o comando operacional direto da campanha das forças terrestres. Até aquele ponto,Eisenhower atuara como Comandante Supremo, e tinha comandantes separados, subordinados aele, para as operações em terra, mar e ar. Como a Inglaterra possuía efetivos maiores no terrenono Dia-D, Montgomery fora nomeado chefe da campanha terrestre dos aliados. Porém, emagosto de 1944, bem mais da metade dos soldados que combatiam na França eram americanos.A maior parte dos armamentos e dos suprimentos também vinha dos Estados Unidos, da mesmaforma que os navios e os aviões. Era tempo, considerou Marshall, de frisar o domínio daAmérica, não importava o quanto Churchill, Brooke e o restante dos ingleses pudessem protestar.

E protestaram. Quando foi anunciado que Eisenhower estava assumindo as tropas terrestresdos aliados, e que Montgomery passava a ter, portanto, o mesmo status que o general OmarBradley , o comandante americano em campanha de mais alto posto, a imprensa inglesa e o povoreceberam a notícia como “um tapa na cara nacional.” Graças à sua vitória em El Alamein, nofim de 1942, Montgomery se tornara a mais popular figura militar inglesa, e seus compatriotasficaram irados com o rebaixamento. Num ato de pura esnobação contra os americanos,Churchill promoveu Montgomery a marechal de campo — posto equivalente ao general de cincoestrelas — o que significou que o inglês tornou-se mais antigo do que qualquer outro comandantedos EUA em campanha. Foi então o momento de os americanos ficarem furiosos. “Montgomeryé um general de terceira categoria [366] e jamais fez alguma coisa ou ganhou qualquer batalhaque outro general não pudesse ter vencido tão bem ou melhor,” explodiu Bradley .

Atingido por ter de abrir mão do elevado comando das tropas terrestres, Montgomery nuncaaceitou completamente a troca e continuou desafiando a autoridade de Eisenhower. Em

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particular, questionou a estratégia de Ike de um avanço aliado na Alemanha em frente ampla edando assim aos exércitos dos vários países uma chance de se destacarem. Montgomery insistiuque uma vigorosa arremetida para nordeste executada pelas forças inglesas e apoiada pelasamericanas teria bem melhor probabilidade de penetrar nas linhas alemãs e de levar a guerra aofim. Por mais que antipatizasse com o irritadiço e autoritário marechal, Eisenhower entendia e seidentificava com os ressentimentos ingleses, com a profunda aflição que sentiam ao notarem avelocidade com que perdiam poder e controle. Era importante, achava Ike, aplacar Monty oquanto possível.

O general americano concordou com um meio-termo. Montgomery tomaria a direçãonordeste, para a Antuérpia, um porto-chave belga, com o I Exército dos EUA dando apoio ao seuavanço. Entrementes, as forças de Bradley continuariam sua progressão mais ao sul, na direçãoda Linha Siegfried, um sistema de casamatas e obstáculos para blindados ao longo da fronteiraalemã. Infelizmente para George Patton, o plano implicou um alto temporário para o avançodireto de seu III Exército na direção leste; uma grande parte da gasolina e de outros suprimentosque iriam para o exército de Patton foi desviada para o esforço de Montgomery . Não é deadmirar que Patton ficasse possesso. Mais de um ano antes, na Sicília, ele declarara: “Os EUAtêm que vencer, não como aliado, mas como vencedor.” Um funcionário da Cruz Vermelha,adido ao seu comando, observou mais tarde: “Havia uma inacreditável arrogância, demasiadoautoritarismo, até mesmo em relação ao seu superior, o Comandante Supremo aliado.” No seudiário, Patton registrou com desgosto: “Ike está com pés e mãos atados pelos ingleses, e não sabedisso. Pobre tolo.”

De início, a estratégia bifurcada de Eisenhower pareceu dar certo. No começo de setembro,a 11ª Divisão Blindada inglesa deslocou-se rapidamente pela Bélgica e tomou Antuérpia, comsuas cruciais instalações portuárias intactas. Saboreando o triunfo, as forças de Montgomeryfalharam em não varrer as unidades germânicas do estuário de sessenta quilômetros que ligaAntuérpia ao mar. As tropas germânicas lá desdobradas receberam reforços de imediato, eforam necessários outros dois meses para que as forças aliadas controlassem o estuário eabrissem o porto para suprimentos e tropas dos aliados. Um dos equívocos mais sérios da guerrana Europa, a atrapalhada conquista de Antuérpia teve papel significativo no fracasso do avançoaliado na Alemanha e na possibilidade de terminar a guerra em 1944.

Na ocasião, entretanto, poucos integrantes do alto-comando aliado, se é que houve algum,perceberam a gravidade da situação. A derrota relâmpago das forças alemãs que operavam naFrança e na Bélgica produziu um otimismo exuberante no QG do SHAEF — um sentimento devitória estava ao alcance, tentador, e poderia ser materializado pelo Natal. Com isso em mente,Montgomery desvendou uma nova proposta que, segundo ele, permitiria que suas forçasatravessassem o Reno “numa investida poderosa [367] e decisiva ao coração da Alemanha.”Chamada Operação Market Garden, ela envolvia paraquedistas americanos, ingleses e polonesespara conquistarem uma série de pontes e canais que cruzavam a Holanda e para estabeleceremcabeças de ponte para as tropas aliadas que avançavam. A última ponte a ser conquistada pela 1ªDivisão Aeroterrestre inglesa atravessava o Reno na cidade holandesa de Arnhem.

Desconsiderando alertas de diversos assessores de que se subestimava a força das tropasalemãs e de que a proposta continha graves falhas, Montgomery persuadiu Eisenhower aautorizar a operação. A avaliação dos críticos da Market Garden estava certa: a missão, malplanejada, foi desastradamente executada, e a resistência alemã se mostrou selvagem einvencível. A despeito da extraordinária coragem demonstrada pelos paraquedistas aliados,milhares dos quais foram mortos ou feridos, o inimigo manteve a ponte de Arnhem.

Devido em não pequena dose ao duplo fiasco de Arnhem e Antuérpia, a Alemanha

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permaneceu inexpugnável a oeste no outono e no inverno, e a guerra no Front Ocidental caiunum impasse. Reforçando suas defesas, os alemães aferraram-se ao terreno e mantiveram alinha de elevações cobertas de arvoredos que separam sua terra da Bélgica e de Luxemburgo.“Entre nosso front e o Reno,” observou Bradley, “um inimigo determinado mantinha cada metrode terreno e não iria ceder com facilidade. A cada dia, o tempo se tornava mais frio e nossossoldados enfrentavam maiores dificuldades. Estávamos atolados numa medonha guerra deatrito.”

Entre os generais aliados, acelerou-se o conflito do apontar dedos e mencionar nomes. Osamericanos atacavam Montgomery e os ingleses pelos fracassos em Antuérpia e Arnhem.Montgomery, que insistia em ser autorizado a prosseguir na sua campanha de avanço único,acusava Eisenhower de provocar o impasse militar e enviava mensagem atrás de mensagem aosseus superiores em Londres tendo o comandante do SHAEF como alvo principal de suas críticas.Patton e Bradley , por sua vez, vituperavam contra Eisenhower por não ter encurtado as rédeas deMontgomery. O próprio chefe do Estado-Maior de Ike, o general Walter Bedell Smith, participoudo jogo de acusações, observando sobre seu chefe para um amigo: “Falta-lhe [368] firmeza paratratar Montgomery como deve.”

Apanhado no meio, Eisenhower lutou para manter a autoridade sobre seus generais brigões,recusando-se a concordar com qualquer outra das apostas de Montgomery e teimando em suaprópria estratégia de frente ampla. Com a mente sob uma tensão excepcional e fisicamenteexausto, ele reclamou que não existia uma só parte de seu corpo que não doesse. O mesmopoderia ser dito sobre sua relação com seus comandantes prima-donas. Em 16 de dezembro de 1941, a pausa entre os aliados e a Alemanha foi quebrada com odesfechar da maior e mais selvagem batalha no Front Ocidental. Numa última tentativadesesperada para retomar a ofensiva, tropas alemãs irromperam da Floresta das Ardenas, naBélgica, e lançaram um ataque de surpresa contra as forças americanas. Sem ser detectado deantemão pela Inteligência dos aliados, o maciço assalto penetrou através das defesas americanas,criando um bolsão na longa linha de frente aliada e ameaçando a recém-libertada Antuérpia. Emresposta, Eisenhower ordenou reforços no ponto do rompimento e despachou a 101ª DivisãoAeroterrestre para proteger Bastogne, cidade belga, importante entroncamento rodoviário eobjetivo-chave para os alemães. Quando Bastogne foi cercada pelos alemães, as forças dePatton correram em seu socorro e, com o apoio do poder aéreo aliado, acabaram com o sítio nodia seguinte ao Natal. Montgomery, pressionado fortemente por Eisenhower para que atacassepelo norte com as tropas americanas e inglesas, finalmente o fez em 3 de janeiro. Ficou claroque os germânicos tinham perdido sua última e arriscada aposta. Quatro dias mais tarde, aBatalha do Bolsão estava terminada.

No lado dos aliados, as tropas americanas haviam suportado o maior peso da luta (mais dedez mil mortos e de quarenta mil feridos) e tinham sido em grande parte responsáveis pela vitórianaquela batalha. Todavia, em 7 de janeiro, Montgomery deu a entender numa entrevista coletivaque ele havia sido “o salvador dos americanos [369],” nas palavras do exasperado Eisenhower.Malgrado o fato de uma só divisão inglesa ter participado do combate, a imprensa britânicaabraçou a versão, afirmando que as tropas do país, lideradas por Montgomery, tinham salvado osamericanos da derrota. “MONTGOMERY IMPEDE A DERROCADA!” foi o título de umnoticioso cinematográfico inglês. Segundo o general americano Joseph L. Collins, a entrevistacoletiva de Montgomery “irritou tanto Bradley e Patton, e muitos de nós que havíamoscombatido na frente norte do Bolsão, que maculou demais aquilo que foi, na realidade, umgrande esforço cooperativo aliado, terrestre e aéreo.” Bradley acrescentou: “Ela prejudicou

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mais a unidade anglo-americana do que qualquer coisa de que possa me lembrar.”Entrementes, os superiores de Montgomery em Londres insistiam que Eisenhower havia

falhado como comandante das forças terrestres e que o plano de Montgomery para uma únicaarremetida sobre Berlim deveria agora ser adotado no lugar da estratégia de larga frente de Ike.Num ácido encontro ocorrido pouco antes da Conferência de Yalta de fevereiro de 1945, chefesmilitares ingleses e americanos quase chegaram às vias de fato quanto à maneira de conduzir acampanha final da guerra. A sessão, lembrava Marshall, foi “terrível.” No momento em queMarshall declarou que Eisenhower se demitiria se o plano inglês fosse adotado e Roosevelt deumostras de que apoiava a estratégia dos EUA, o alto-comando britânico, com relutância, admitiua derrota.

Nos anos futuros, Eisenhower seria alvo de muitas críticas de historiadores por não terconseguido manter seus generais na linha, assim como por numerosos erros estratégicos e táticosna guerra europeia. No entanto, como Max Hastings ressaltou, “permanece impossível imaginarqualquer outro fazendo melhor trabalho que Eisenhower. Em vez de focalizar suas limitações,que de fato eram reais, o que interessa é que ele manteve a aliança funcionando.” Na opinião deHastings, “o comportamento de Eisenhower nos momentos de tensão anglo-americana e aextraordinária generosidade de espírito em relação aos seus difíceis subordinados demonstraramsua grandeza como Comandante Supremo.” Nas semanas que precederam Yalta , as relações entre a Casa Branca e Downing Street nº 10estiveram também altamente estremecidas. “Algo parecido [370] com uma crise existe sob asuperfície das relações entre os aliados que combatem nesta guerra,” observou o colunistaMarquis Childs, em dezembro de 1944.

Quando a Inglaterra se opôs a uma proposta de se conceder acesso às companhias aéreasdos EUA a todas as rotas aéreas do mundo, Roosevelt enviou um telegrama a Winant, emnovembro de 1944, a ser repassado a Churchill, dando a entender que os Estados Unidospoderiam interromper o auxílio do Lend-Lease caso os ingleses não aprovassem o plano. Amensagem era, na opinião de John Colville, “chantagem pura.” Era o tipo de ameaça,acrescentou um historiador, que “poderia ser feita a um político distrital sem expressão quecabala votos ou a um sindicalista recalcitrante.” Os ingleses, temendo que seu próprio programade aviação civil pudesse ser esmagado pelos Estados Unidos, caso não tivesse alguma espécie deproteção, favoreciam a criação de uma agência internacional reguladora com poder paradistribuir rotas e fixar frequências.” Mas o Presidente não quis saber de nada disso. Disse aWinant: “Por favor, leve a mensagem anexa pessoalmente a Winston e o convença a aceitar otrato.” Na oportunidade em que o embaixador entregou o telegrama ao primeiro-ministro, emChequers, Winant ficou tão envergonhado com o tom intimidante da mensagem que não quisaceitar o convite de Churchill para ficar e almoçar. Porém o primeiro-ministro insistiu, dizendo“que mesmo uma declaração de guerra não deveria impedir que eles desfrutassem de um bomalmoço.”

O governo Roosevelt usou a mesma tática coercitiva numa controvérsia envolvendo aascensão ao poder de ultranacionalistas na Argentina. Num esforço para pressionar o governoargentino, que Washington considerava pró-Alemanha, o governo americano procurou persuadira Inglaterra a convocar seu embaixador e a não assinar um contrato de longo prazo para comprade carne argentina, commodity mais que necessária numa Inglaterra penosamente privada decarne. Mais uma vez, Roosevelt empregou o porrete do Lend-Lease, avisando Churchill que, senão acompanhassem os americanos, haveria possibilidade de más repercussões no Congresso.Enfurecido com o jogo duro do Presidente, Churchill disparou de volta: “Você não enviaria suas

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tropas para o combate com a ração de carne distribuída aos soldados ingleses, que é bem maiorque a recebida pelos trabalhadores. Seu povo está comendo mais carne e mais frango do queantes da guerra, mas o nosso enfrenta, em sua maioria, grande racionamento.”

Enquanto se abrasavam as duas disputas, os Estados Unidos e a Inglaterra estavam tambémempenhados em intensa batalha verbal em relação à intervenção militar inglesa contra asguerrilhas comunistas na recém-libertada Grécia. Preocupado com a investida soviética noBálcãs e com a possível tomada do poder na Grécia pelos comunistas, Churchill enviara tropasbritânicas para lá a fim de combater as guerrilhas que, tendo desempenhado papel importante naresistência aos alemães, aspiravam agora o comando do país.

A iniciativa de Churchill provocou clamor na opinião pública dos Estados Unidos, comgrande parte da imprensa e muitos membros do Congresso denunciando o primeiro-ministrocomo reacionário, e o próprio governo o reprovando com severidade. Atordoado com a reaçãode Washington, o líder inglês deixou patente para Roosevelt que se considerava traído.Relembrando ao Presidente que “tenho tentado lealmente [371] dar suporte a qualquerdeclaração com que você pessoalmente tenha se comprometido,” ele disse que estava “muitomagoado” com aquela tentativa de “ministrar uma repreensão pública.”

Mas aconteceu que muitos dos próprios compatriotas de Churchill igualmente seaborreceram com as ações do primeiro-ministro na Grécia, por eles consideradasantidemocráticas. De fato, até o líder do governo na Câmara dos Comuns disse a John Colvilleque era a primeira vez que ele via a Casa “realmente irritada e impaciente” com Churchill. Masos ingleses guardaram a maior dose de sua indignação ao que consideraram moralidade hipócritados Estados Unidos, que admoestavam Churchill enquanto demonstravam pequeno interesse emse envolver com as questões europeias. Numa conversa com Averell Harriman, Rooseveltrealçou tal falta de interesse quando disse que “as questões europeias eram tão complicadas queele desejava se envolver o mínimo possível com elas.”

The Economist, prestigiosa revista inglesa de assuntos políticos e internacionais, advogou oexplosivo sentimento britânico de mágoa contra os Estados Unidos num fervoroso editorial queprovocou furor em casa e do outro lado do Atlântico: “O que torna a crítica americana tãointolerável,” declarou o editorial, “não é apenas ser injusta, e sim porque parte de uma fonte quefez muito pouco para dar-se assumir esses ares de superioridade. (...) Já seria insuportável paraum povo que vem sofrendo por seis invernos seguidos blecautes e bombas, filas, racionamento efrio — porém quando a crítica vem de uma nação que só vendeu a dinheiro durante a Batalha daInglaterra e cujo consumo aumentou ao longo da guerra... não dá para aguentar.” O artigo —escrito por Barbara Ward, jovem economista que mais tarde ganharia notoriedade mundial porseus escritos sobre nações em desenvolvimento — conclamava a Inglaterra a dar um fim “napolítica de apaziguamento que, por obra e graça de Mr Churchill, vem sendo exercida com todasas humilhações e degradações que trouxe a reboque.”

O editorial de Ward foi recebido com um coro de aprovações em toda a Inglaterra. “Nãonos importamos [372] quando os americanos nos recriminam com razão,” disse o Yorkshire Post ,“mas queremos saber o quanto podemos confiar neles, no futuro, para a manutenção da paz. (...)Eles dizem com toda a liberdade o que devemos fazer. E que desejam eles fazer?” Enquantomuitos nos Estados Unidos rejeitavam as premissas do artigo do Economist, uns poucosamericanos de renome acharam que ele tinha seus méritos. Até que os Estados Unidosevidenciassem uma verdadeira determinação de compartilhar a responsabilidade pela criação deuma nova ordem mundial, disse o deputado J. William Fulbright, “há boa razão para o ceticismode nossos aliados.”

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A composição desse mundo pós-guerra foi o assunto principal na segunda e última reunião decúpula dos Três Grandes, na cidade-balneário de Yalta, no mar Negro. Mais uma vez, Stalinresistira aos apelos de Churchill e Roosevelt para que a reunião fosse em local geograficamenteconveniente a eles. Com a saúde consideravelmente mais abalada do que a de quatorze mesesantes em Teerã, os dois líderes ocidentais consideraram a viagem a Yalta um grandeinconveniente.

Ambos haviam chegado de Teerã enfermos. Depois que Roosevelt não conseguiu se livrardos efeitos daquilo que se pensava ter sido um forte ataque de gripe, em 1944, os médicos oexaminaram e descobriram que ele sofria de algumas enfermidades que poderiam ser letais, taiscomo insuficiência cardíaca congestiva, que causava acúmulo de líquido nos pulmões, ehipertensão grave. Atacado por crônicas dores de cabeça e fadiga, o Presidente parecia estarcada vez mais distante, irritadiço e desinteressado pelo que ocorria à sua volta, inclusive sua bem-sucedida reeleição para um quarto mandato. “Ele parece não dar a mínima,” disse um assistente.Após um encontro com FDR, o vice-presidente Harry Truman declarou a um assessor:“Fisicamente, ele está um trapo.”

Quando Roosevelt, Churchill e suas comitivas se encontraram rapidamente na ilha de Maltaantes de seguirem para o mar Negro, as autoridades inglesas ficaram alarmadas com a visíveldeterioração física do Presidente desde a última vez que o haviam visto. Mãos trêmulas, olhossem brilho e encovados, fisionomia abatida e corpo frágil. Numa minuta de suas memórias,Churchill escreveu que conversar com Roosevelt em Malta e Yalta foi como “falar com umamistoso [373], mas escuro vazio.” De fato, o Presidente tinha apenas mais dez semanas de vida.

Segundo membros do grupo de Churchill, a vitalidade física e mental do próprio primeiro-ministro havia igualmente declinado muito no ano anterior. Por pouco não morreu de um ataquede pneumonia logo depois de Teerã, e sua saúde jamais se recuperou por completo; durante assessões em Malta e Yalta, ele teve febre alta e passou bastante tempo na cama. Como Roosevelt,também Churchill tinha cada vez mais dificuldades para se concentrar nas questões-chave daguerra e de pós-guerra. “A bandeja de 'entrada' do P.M. está assustadora, com pilhas dedocumentos urgentes que pedem decisão,” escreveu John Colville poucas semanas antes deYalta. “Ele desperdiçou seu tempo na última semana e pareceu incapaz, não desejoso ou muitocansado para dar atenção às matérias complexas. (...) Resultado: caos.” No fim de janeiro de1945, Alan Brooke espumava: “Creio que não aguento outro dia de trabalho com Winston; ele éum caso perdido, incapaz de captar qualquer situação militar e de tomar uma decisão.”

Segundo seus auxiliares, nem Churchill nem Roosevelt estavam preparados para aConferência de Yalta. O primeiro-ministro, disse um jovem diplomata do Foreign Office,“estava cansado e fora de forma. Também sofria da crença de que sabia tudo e não precisavaresumos. Stalin e seu ministro do Exterior Vyacheslav Molotov, sempre bem informados, faziamperguntas importantes. “Qual é a resposta para isso?” — dizia o primeiro-ministro, voltando-secom dificuldade para os assistentes sentados atrás dele. Não poderíamos dizer 'se o senhor tivesselido nosso estudo de situação, saberia a resposta.'” Sir Alexander Cadogan, na época, escreveuem seu diário. “Tenho de dizer que acho Tio Joe o mais impressionante dos três. (...) O presidentedevaneia, o P.M. reverbera, mas Joe, simplesmente ali fica, absorve tudo e se diverte.”

Como em Teerã, Roosevelt resistiu a todas as tentativas de Churchill de coordenar aestratégia anglo-americana, ou mesmo a trocar ideias antes de se encontrarem com o lídersoviético. Não queria que Stalin pensasse que ele e Churchill estavam conspirando contra ele.Depois de recusar o convite do primeiro-ministro para fazer uma escala na Inglaterra a caminhoda Crimeia, Roosevelt finalmente concordou com uma breve reunião em Malta, mas evitouconversas sérias sobre as futuras negociações em Yalta.

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Quando a Conferência, finalmente, teve início, Roosevelt entrou em acordo com Stalin namaioria dos pontos importantes sob discussão; mais uma vez, Churchill sentiu-se o velho excluído.“Era sempre dois a um [374] contra nós,” durante quase toda a conferência, lembrou-se ummembro de alto escalão da comitiva de Churchill. Outro auxiliar próximo do primeiro-ministroobservou: “O fato de o Presidente lidar com Churchill e Stalin como se eles tivessem a mesmaimportância aos olhos dos americanos melindrou profundamente o primeiro-ministro.” Numadas sessões plenárias, Roosevelt e Stalin começaram a confabular antes da chegada de Churchill.Informado por um auxiliar que o primeiro-ministro aguardava do lado de fora, a resposta de FDRfoi abrupta: “Ele que espere.”

Graças aos sucessos do Exército Vermelho, não havia dúvida de que Stalin estava com ainiciativa em Yalta. Ao tempo da Conferência, as tropas soviéticas haviam varrido de alemães amaior parte da Polônia, da Hungria e da Iugoslávia, assim como tinham assumido efetivocontrole da Bulgária e da Romênia. Entraram na Tchecoslováquia e na Áustria e avançaramprofundamente na Alemanha. Na realidade, as unidades russas já estavam no rio Oder, cerca desetenta quilômetros a leste de Berlim. Para Churchill, a rápida progressão dos soviéticos atravésda Europa Oriental e Central mais parecia um pesadelo. Como disse Cecil King, dono e editor doDaily Mirror: “Entramos na guerra (...) para barrar a política alemã de expansão, que pareciapoder absorver em breve toda a Europa. O resultado real foi um deslocamento radical de saídado poder político da Europa Ocidental” na direção da União Soviética. “Criamos agora umFrankenstein que domina a massa territorial europeia-asiática de Vladivostok até além de Viena.”

Roosevelt, dando toda a impressão de que não se preocupava em deixar a União Soviéticacomo potência militar e política dominante no continente europeu, ainda piorou as coisas, naopinião de Churchill, ao dizer a Stalin em Yalta que planejava retirar as tropas americanas daEuropa, inclusive da Alemanha, em dois anos. Para combater tal proeminência soviética,Churchill “lutou como um tigre” na Conferência para garantir que o papel da França no pós-guerra fosse o mais forte possível. Ao fazê-lo, julgava o primeiro-ministro, a Inglaterra e aFrança poderiam servir — pelo menos em alguma medida — de contrapeso para a Rússia.Roosevelt e Stalin, sob grande pressão de Churchill, que foi apoiado por Harry Hopkins,concordaram, ainda que relutantes, em fazer da França uma das potências ocupantes daAlemanha.

Entretanto, quando a discussão se encaminhou para a questão de ser criado um governoindependente na Polônia, Churchill, que repetidas vezes havia prometido aos poloneses emLondres que conseguiriam de volta sua liberdade, não exercitou o mesmo tipo de luta que travarapela França. A realidade é que sua posição na Conferência havia sido antes solapada quandoRoosevelt declarou que, “vindo da América [375],” tinha “uma opinião distante quanto à questãopolonesa” e deixou claro que o interesse americano por ela era essencialmente limitado aosefeitos sobre seus próprios propósitos políticos.

O assunto Polônia dominou Yalta, consumindo mais tempo e provocando maior atrito do quequalquer outro ponto da agenda. Não obstante, as discussões foram puro exercício de inutilidade.Por mais que Churchill tentasse se convencer do contrário, a sorte da Polônia já estava selada. Astropas soviéticas ocupavam a maior parte do país, e Stalin deixou patenteado que o governofantoche que ele havia instalado em 1944 na cidade polonesa de Lublin, a leste do país, assumiriao poder da Polônia após a guerra. Churchill declarou veemente: “Jamais poderemos aceitarqualquer acordo que não deixe [a Polônia] livre, independente e soberana.” Ainda assim, face àteimosia de Stalin, ele e Roosevelt aceitaram tal plano, se bem que enfeitado de alguma fachadademocrática. Segundo o acordo, o governo de Lublin seria ampliado para incluir diversos líderesdos “círculos de émigrés poloneses,” e eleições livres seriam realizadas com a brevidade possível

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para a escolha de um governo permanente. Stalin, porém, recusou permissão para quefuncionários americanos e ingleses supervisionassem as eleições, e Churchill e Roosevelt nemquestionaram esse ponto. Decidiram confiar na palavra do líder russo de que a votação seria livrede coerção, mesmo que os soviéticos nunca tivessem permitido eleições livres em seu própriopaís.

Outras decisões-chaves tomadas em Yalta foram o estabelecimento dos procedimentosoperacionais da nova organização das Nações Unidas, bem como a promessa de Stalin dedeclarar guerra ao Japão em troca da posse das ilhas Kurilas e de Port Arthur, um porto de marna costa nordeste da China, nas mãos dos nipônicos. Depois de muito tempo, os Três Grandestambém ratificaram os documentos da rendição alemã e um protocolo que delineava a divisãoda Alemanha em três zonas de ocupação. (Em Yalta, Roosevelt e Churchill concordaram que azona da França seria retirada do território alemão que seus dois países administrariam.) Berlimseria também dividida em setores de ocupação dos aliados.

A aprovação dessas cláusulas foi uma corrida contra o tempo. Embora os ingleses, no fim de1944, tivessem assinado os acordos minutados pela Comissão Assessora Europeia, o governoamericano não assinara. Poucos dias antes de começar a Conferência de Yalta, Winant, que nãofora convidado para o encontro, insistiu bastante junto a Roosevelt, Hopkins e Edward Stettinius,que substituíra Cordell Hull como secretário de Estado, sobre o crescente perigo daprocrastinação a respeito da Alemanha. As forças aliadas ocidentais, comentou o embaixador,ainda não haviam entrado na Alemanha quando as russas chegavam aos arrabaldes de Berlim. Amenos que os Três Grandes adotassem formalmente os acordos sobre zonas de ocupação,declarou ele, o Exército Vermelho “poderia chegar [ 376] ao limite de sua zona e continuar emfrente.” Concordando com Winant que a matéria era “da maior importância,” tanto Hopkinsquanto Stettinius juntaram-se ao embaixador no esforço por uma rápida ratificação. E valeu apena: em 1º de fevereiro, Stettinius informou a Winant e à Comissão Assessora Europeia que osEstados Unidos haviam finalmente pegado o bonde. A aprovação russa ocorreu cinco dias maistarde. Graças em grande parte à pressão de Winant, o governo Roosevelt também anuiu emparticipar da ocupação e controle da Áustria pós-guerra — um compromisso anteriormenterejeitado pelo Presidente.

Ao mesmo tempo, outras questões espinhosas relacionadas com a Alemanha foram deixadassem solução em Yalta. Os três líderes não conseguiram chegar a um acordo se a Alemanhadeveria ser ou não desmembrada; como era a tendência nos assuntos difíceis, eles criaram umnovo comitê para estudar a ideia de partição. Também não houve solução para a demandasoviética de 20 bilhões de dólares a título de reparações, a serem pagos pela Alemanha. E, apesarde os Três Grandes terem aprovado a posição de Berlim dentro da zona soviética de ocupação,eles falharam em não acertar a questão específica das rotas de acesso dos ingleses e americanosaos seus respectivos setores de ocupação dentro da cidade. Observando que os soviéticos haviamse comprometido a proporcionar tais rotas, Winant pressionou o Presidente a concordar com aproposta. Mas ele não o fez. Nessa questão, como em outras, “penso que nossa atitude deva serde estudo e postergação da decisão final,” disse Roosevelt ao embaixador.

Tendo deixado clara ao Presidente sua insatisfação por ter sido excluído de Yalta, Winant foiconvidado a juntar-se à comitiva de Roosevelt, no Egito, após a conferência, e a acompanhá-lapor mar até Argel. Durante os três dias como participante da comitiva presidencial, Winanttentou incutir em FDR a necessidade de se formular uma política abrangente e de longo alcancepara o Reich de pós-guerra. O presidente, todavia, estava demasiadamente exaurido para seconcentrar nesse assunto e desviou a conversa para as viagens pela Alemanha que fizera comomenino. Foi a última vez que Winant viu FDR.

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Menos de duas semanas após a assinatura dos acordos de Yalta, Stalin deu indicações de que nãotinha a intenção de honrá-los, ao menos no que se referia à Polônia. O governo soviético rejeitouvirtualmente todos os líderes poloneses não comunistas indicados por Harriman e peloembaixador inglês Archibald Clark Kerr, para participarem das conversações sobre a criação deum novo governo polonês. Os soviéticos, observou Churchill, “quiseram claramente [377]representar uma farsa de consulta 'aos poloneses não de Lublin.'” Em anotações que preparoucomo pontos para discussão antes de um encontro com os soviéticos, Harriman escreveu: “Aimpressão é que vocês assumiram a Polônia & excluíram todos os líderes que não estavamdispostos a aceitar ordens. Por que é necessário dominar a vida polonesa?” O embaixadoramericano instou o governo Roosevelt a ser duro com os soviéticos. Se não o fizesse, alertou, “ogoverno soviético se convencerá de que pode nos fazer aceitar qualquer de suas decisões emtodas as matérias, e será cada vez mais difícil barrar sua política agressiva.”

Os soviéticos igualmente renegaram a promessa feita em Yalta de permitirem observadoresestrangeiros na Polônia, inclusive equipes militares anglo-americanas que deveriam ajudar narepatriação de prisioneiros de guerra americanos e ingleses mantidos em campos deconcentração alemães lá existentes. Para Churchill, ficou cada vez mais evidente que o governosoviético desejava retardar pelo tempo que fosse possível a circulação de relatos de testemunhasinglesas e americanas a respeito do estrito controle que exerciam sobre o país. “Não há dúvidaem minha cabeça,” disse o primeiro-ministro a Roosevelt, “que os soviéticos temem muito nossavisão do que se passa na Polônia.”

Da perspectiva de Churchill, a Polônia seria o teste para se saber se a aliança dos TrêsGrandes sairia vitoriosa pós-guerra ou fracassaria. Durante o mês seguinte e até o falecimento deRoosevelt, o líder inglês bombardeou FDR com telegramas urgentes, propondo que os doisjuntassem meios para intervir, caso necessário com a força, contra Stalin no atinente à Polônia.A reação do Presidente foi evitar tomar qualquer ação que Stalin pudesse interpretar comoameaça. Na melhor das hipóteses, a propensão de Roosevelt era a de retardar as decisões difíceise controversas. Alquebrado e fraco como estava no início da primavera de 1945, ele cada vezmais se inclinava ao adiamento. Achava melhor, disse a Churchill, ir devagar na questão daintervenção pessoal.

Churchill discordava por completo. A Polônia se encontrava prestes a ser totalmentedominada pelos soviéticos, e as repetidas promessas destes de independência aos polonesesestavam à beira de virar cinzas. Não havia tempo a perder. Impulsionado fortemente peloprimeiro-ministro, Roosevelt, nas últimas semanas de sua existência, começou a expressarpreocupação sobre o destino dos acordos de Yalta. Ele também manifestou indignação peloinjusto tratamento dispensado pelos soviéticos aos prisioneiros de guerra americanos, assim comopelo súbito anúncio de Stalin de que o ministro soviético do Exterior, Vy acheslav Molotov, nãocompareceria às cerimônias de San Francisco que marcariam a materialização do sonho de FDR— as Nações Unidas. Quando o chefe soviético acusou os aliados ocidentais, no início de abril, deestarem maquinando com os alemães uma paz em separado, Roosevelt enviou um ásperotelegrama expressando “seu sentimento de amargo [378] ressentimento” com a acusação.Surpreso, Stalin recuou, declarando que jamais duvidou da integridade de Roosevelt e daconfiança que inspirava. Sua resposta pedindo desculpas deixou FDR em estado de espírito bemmais conciliador. No dia 11 de abril, véspera de sua morte, o presidente escreveu a Churchilldizendo que planejava “minimizar o problema soviético geral o quanto possível, porque taisquestões, de uma forma ou de outra, parecem surgir a cada dia e, em sua maioria, sãosolucionadas.”

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No início de março, as forças de Eisenhower começaram a atravessar o Reno e a jorrar naAlemanha. Por sua própria iniciativa, o comandante do SHAEF informou a Stalin que suas tropasnão competiriam com as do Exército Vermelho pelo troféu de Berlim. Em vez disso, declarouIke, esperava que as duas forças aliadas pudessem se encontrar no rio Elba, cerca de sessentaquilômetros a oeste da capital germânica. Em telegrama aos Chefes de Estado-MaiorCombinados relatando sua decisão, Eisenhower afirmou que “Berlim perdeu [379] muito de suaanterior importância militar.” Capturar a capital, pensava ele, não justificava a grande perda desoldados que tal incursão implicaria; Omar Bradley estimou que as baixas do SHAEF passariamde cem mil numa investida aliada na direção de Berlim.

Espantado com a decisão unilateral de Eisenhower, Churchill batalhou fortemente pararevertê-la, trocando uma série de mensagens plenas de revolta com o comandante americano einsistindo com Roosevelt para intervir. O debilitado Presidente não interveio, e Marshall endossoua atitude de Eisenhower. “A ira de Churchill por se abrir mão de Berlim como troféu,” escreveuMax Hastings, “refletiu o profundo pesar que se abateu sobre os últimos meses da guerra pelofato de que o domínio de Hitler sobre a Europa Oriental seria agora subsituído pelo de Stalin.”

Ainda assim, permanece a verdade de que nenhuma ação militar na primavera de 1945, nãoimporta quão simbolicamente importante, poderia ter alterado de maneira significativa os acertospós-guerra com que o primeiro-ministro e Roosevelt concordaram em Teerã e Yalta.

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20

“Finis”

Na noite de 11 de abril de 1945, Ed Murrow estava alegre como havia muito tempo não se sentia.Finalmente sacudira os arreios de Londres e se encontrava com as tropas de George Patton nointerior da Alemanha. O Reich de Hitler entrava em colapso, a guerra caminhava rapidamentepara um fim. E Murrow, que amava jogar pôquer, mas nunca fora muito bafejado pela sorte,acabara de ganhar milhares de dólares numa “ruidosa” noitada com alguns dos outroscorrespondentes que cobriam o III Exército de Patton.

Na manhã seguinte, ele abarrotou uma pochete com os ganhos do pôquer e seguiu com astropas dos EUA na direção da cidade de Weimar, Passando por granjeiros bem alimentados queamanhavam seus campos, os americanos chegaram a uma elevação alguns quilômetros distanteda cidade. No seu topo estava instalado um campo de concentração cercado de arame farpado,cujos guardas alemães haviam fugido três dias antes. O nome do campo era Buchenwald.

Quando Murrow e os outros americanos passaram pelo portão principal, o radialista sentiucomo se tivesse recebido violento soco no abdome que lhe tirara a respiração. Dezenas dehomens emaciados, a maioria não mais do que esqueletos fantasmagóricos, os cercaram.“Homens e meninos [380] estendiam os braços para tocar em mim,” disse Murrow numatransmissão poucos dias mais tarde. “Eles vestiam restos e trapos de uniformes. A morte já haviadeixado em alguns sua marca indelével, mas sorriam com os olhos.” Chocado, Murrowreconheceu diversos daqueles homens de encontros antes da guerra, inclusive um ex-prefeito dePraga, um renomado professor de Varsóvia, um doutor de Viena. Enquanto Murrowpermanecia, atônito, de pé, um homem caiu morto bem à frente dele. “Dois outros, que deviamter mais de sessenta anos, rastejavam para a latrina. Eu vi isso — porém não vou descrever maisnada.” O radiorrepórter anotou tudo o que os prisioneiros lhe disseram: seis mil homens mortosem março, duzentos “no dia que chegamos lá — as pessoas no lado de fora tão bem nutridas.”

Quando diversos dos internos o acompanharam num giro pelo campo, ele achou, dissedepois, que ia vomitar. Num pequeno pátio, encontrou “duas fileiras [381] de cadáveres como sefossem toras de lenha cortada. Todos muito magros e muito brancos. Alguns com terríveismarcas pelos corpos. (...) Tentei contá-los da melhor maneira possível e cheguei à soma de maisde quinhentos mortos enfileirados em duas bem organizadas pilhas.” Mais de uma vez, durante aspoucas horas que passou em Buchenwald, Murrow não pôde conter as lágrimas. Pegou todo odinheiro que tinha na pochete e o distribuiu pelos cativos do campo.

Apesar de, tecnicamente, Buchenwald não ser um campo de extermínio, mais de cinquentamil de seus internos morreram durante a guerra, a maior parte de fome e doenças. Os genuínoscampos názis da morte, a maioria na Polônia, foram libertados pelas tropas soviéticas, mais oumenos ao mesmo tempo que Buchenwald. Em períodos anteriores da guerra, Murrow e suaequipe da CBS, acompanhados por outras organizações americanas e inglesas de notícias, haviamlevado à atenção pública diversas reportagens sobre carnificinas názis em massa de judeus emtais campos de extermínio. Contudo, com o prosseguimento da guerra, os jornalistas dos paísesaliados fizeram poucas coberturas sobre a continuada perseguição de judeus e de outros inimigosdo Reich. Para as agências ocidentais de notícias, o Holocausto não foi uma história importantede tempo de guerra; não se conhecia sua total extensão até que a luta terminou. Porinquestionável falta de provas para esses assassinatos maciços, era virtualmente impossível para

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os que viviam em países democráticos captar a escala e a selvageria das tentativas germânicasde varrer a população judaica da Europa.

Por certo, os governos dos EUA e da Inglaterra, que tinham acesso a mais informaçõessobre o Holocausto do que seus cidadãos, pouco fizeram para tornar públicas as atrocidades oupara tomar medidas efetivas tendentes a salvar os judeus. Alguns funcionários dos altos escalõesdos dois países, inclusive Gil Winant e Henry Morgenthau, acionaram seus líderes para quefizessem mais, mas os resultados foram esparsos. Insistindo que a única maneira de ajudar osjudeus era ganhar a guerra, o governo Roosevelt não aceitou fazer pressão para uma mudançanas restritivas leis americanas de imigração, de modo que mais judeus pudessem ingressar nopaís. Em 1944, Roosevelt criou o Conselho de Refugiados de Guerra para facilitar o resgate dejudeus das nações ocupadas, mas a providência de última hora, como ressaltaram algunshistoriadores, foi de pequeno alcance e chegou muito tarde.

Após retornar a Londres, vindo de Buchenwald, Murrow resolveu abrir os olhos de suaaudiência para a bestialidade que acabara de testemunhar. “Ele queria que o mundo [382]soubesse a respeito do que tinha visto,” disse o radialista Geoffrey Bridson, da BBC, amigo deMurrow. Objetivava atingir, declarou Bridson, “o ouvinte sonhador que pensava, 'Oh, bem, issoestá muito longe e, realmente, não tem nada a ver conosco.' Pois Ed estava louco para dar-lhetambém um belo soco no estômago.”

Três dias depois de deixar a Alemanha, Murrow sentou-se diante do microfone e, numa vozembargada pela raiva, descreveu o que havia visto no campo — os cadáveres empilhados, osesqueletos vivos, as câmaras de torturas, as pilhas de sapatos, de cabelo, de dentes de ouro. Nofim de sua transmissão, Murrow disse sem rodeios. “Rogo para que creiam no que eu disse sobreBuchenwald. Reportei o que vi e ouvi, mas só em parte. Não tenho palavras para relatar o resto.(...) Caso eu tenha ofendido alguns dos ouvintes com este relato bastante brando de Buchenwald— não me desculpo nem a pau.” Bridson, que estava no estúdio durante a transmissão, disse queMurrow “tremia de raiva quando desligou o microfone.”

Muitas pessoas acharam que foi o melhor programa que ele jamais transmitiu, mas Murrowdiscordou. Achou que não fizera justiça aos horrores que presenciara. “Um sapato, dois sapatos,uma dúzia de sapatos, vá lá,” disse ele. “Mas como descrever diversos milhares de sapatos.” Em 12 de abril de 1945, dia em que Murrow visitou Buchenwald, Franklin D. Roosevelt faleceude derrame cerebral em Warm Springs, na Georgia. A notícia de sua morte provocou ondas dechoque e pesar no mundo inteiro, mas poucos sentiram tanto quanto Gil Winant. Convalescendode forte gripe, o embaixador ficou atordoado quando tomou conhecimento do falecimento nomeio da noite, e permaneceu literalmente prostrado por horas.

A despeito das frustrações causadas por algumas políticas de FDR e do ocasional tratamentoindiferente que o Presidente lhe dispensou, Winant jamais vacilou no apoio e no afeto pelo líderque fora seu amigo e aliado próximo por mais de uma década. “Sou homem de Roosevelt,” dissecerta vez. “Se Roosevelt quer que eu faça determinada coisa, eu faço. Aí está meu futuropolítico.” Num telegrama ao Presidente, alguns anos antes, Winant dissera simplesmente:“Graças a Deus por você.” Noutro, afirmara: “Sempre penso a seu respeito e sinto muitassaudades suas.” Poucos meses antes, Winant vagara pelos antiquários de Londres à procura deum presente de Natal que achasse apropriado para Roosevelt e, finalmente, enviara-lhe umabengala que George Washington dera de presente a Jerome Bonaparte, irmão mais novo deNapoleão.

De seu lado, Roosevelt frequentemente expressou admiração e afeição pelo tímido idealistaque sacrificara sua carreira política por ele e pelo New Deal. Em diversas ocasiões, FDR falou

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sobre a indicação de Winant para posições de realce no ministério, inclusive secretário de Estado.Em 1944, chegou a considerar a escolha do embaixador como companheiro de chapa para avice-presidência, insinuando o nome de Winant para alguns de seus auxiliares mais próximoscomo Henry Morgenthau e Harold Ickes. Ao mencionar a possibilidade de candidatura deWinant numa reunião com assessores, FDR frisou que o embaixador “podia fazer [383] odiscurso mais desencontrado e, quando terminasse, dar a impressão de ser Abraham Lincoln.”Mas ninguém, exceto Roosevelt, se entusiasmou com a ideia, e o presidente escolheu HarryTruman.

Como Winant, Winston Churchill ficou abismado com a notícia da morte de FDR; ela oatingiu, disse mais tarde, como um golpe físico. Às três da manhã de 13 de abril, ele convocouWalter Thompson, o principal segurança pessoal, ao seu estúdio, onde, como relembrouThompson, falou sobre Roosevelt — “chorando, lembrando fatos passados, sorrindo, repassandodias, anos; recordando-se de conversas; desejando ter feito isso ou aquilo (...) concordando,discordando, revivendo.” A Thompson, Churchill declarou: “Ele foi um grande amigo de nóstodos. Nos deu ajuda inestimável. (...) Sem ele, e os americanos por trás dele, decerto seríamosesmagados.”

O povo inglês partilhou a tristeza de seu primeiro-ministro. A maioria pouco sabia dosconflitos que enervavam a aliança anglo-americana; para eles, Roosevelt era simplesmente osalvador da nação. “Este país,” publicou o Daily Telegraph, “tem com ele um débito que nuncapoderá pagar, pelo seu entendimento, ajuda e confiança nas horas mais sombrias.” No diaseguinte ao do falecimento de FDR, as bandeiras inglesas foram hasteadas a meio-pau, o Rei esua corte decretaram sete dias de luto, e a região normalmente agitada em torno de PiccadillyCircus ficou “tão quieta quanto uma rua de subúrbio.” Os londrinos “permaneceram de pé nasruas, olhando incredulamente as primeiras manchetes dos jornais e pacientemente nas filas àespera de novas edições,” registrou Mollie Panter-Downes para The New Yorker . Um integrantedo Exército lembrou-se de ter sido “parado na rua por pelo menos uma dúzia de pessoas para meexpressarem pêsames, como se [o Presidente] fosse um membro de minha família.” O escritorC.P. Snow observou: “Não me lembro [ 384] de ter visto antes Londres tão comovida por umacontecimento. Até minha velha senhoria chorou. O metrô ficou repleto de gente lacrimosa —bem mais, estou seguro, que se Winston tivesse morrido.”

Em 18 de abril, mais de três mil pessoas, inclusive o casal real inglês e diversos monarcaseuropeus exilados, apinharam a Catedral de St. Paul para um serviço religioso em memória deRoosevelt, enquanto milhares ouviam-no do lado de fora. Winant, que acompanhou umcontristado Churchill, leu um trecho da Bíblia extraído do Livro da Revelação. Mais tarde naquelemesmo dia, Churchill declararia na Câmara dos Comuns que Roosevelt “foi o maior amigoamericano que jamais conhecemos e o maior defensor da liberdade, que, como ninguém mais,trouxe conforto e ajuda do Novo Mundo para o Velho.”

A reação de Churchill à morte do Presidente foi, no entanto, mais complexa do que revelaseu eloquente panegírico. Não há dúvida de que ele ficou profundamente entristecido, mas atristeza engalfinhou-se com a raiva e o ressentimento que ele ainda sentia sobre o queconsiderava o desprezo que FDR dispensara a ele e a seu país no último ano e meio. No diaseguinte ao do falecimento de Roosevelt, o primeiro-ministro começou a hesitar sobre a questãode voar ou não para Washington a fim de presenciar o sepultamento do Presidente. Lord Halifaxtelegrafou-lhe dizendo que Harry Hopkins achava que ele deveria ir, que sua visita teria“tremenda repercussão para o bem.” O sucessor de FDR, Harry Truman, também instou pelaviagem, afirmando ao primeiro-ministro “que ficaria muito honrado com a oportunidade” deconhecê-lo.

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Apesar de tudo, no fim, Churchill decidiu não ir, desculpando-se por ter muito trabalho afazer em Londres. A decisão intrigou muitos de seus auxiliares, que realçaram o fato de oprimeiro-ministro nunca ter vacilado em viajar para Washington quando achou necessário,Como escreveu Max Hastings: “É difícil não interpretar a ausência do primeiro-ministro nofuneral de Roosevelt como um reflexo do afastamento ocorrido entre ele e o Presidente, que defato se agravou nos últimos meses de vida de Roosevelt.” A decisão de Churchill poderia tambémser explicada por Roosevelt jamais tê-lo visitado em Londres, malgrado os repetidos convites.Além do mais, o inglês fora sempre o suplicante, o que sempre se esforçava para concretizar asreuniões anglo-americanas. Agora, Churchill aparentemente julgava que os papéis deveriam seinverter. “Creio que seria uma boa coisa a vinda do presidente Truman à Inglaterra,” escreveu oprimeiro-ministro ao Rei.

Porém Truman jamais visitou Londres enquanto Churchill foi primeiro-ministro. A primavera de 1945 veio plena de acontecimentos; a descoberta da verdadeira amplitude doHolocausto, a morte de Roosevelt e a queda das grandes e pequenas cidades alemãs, uma atrásda outra, como frutos a caírem no colo dos aliados. No fim de abril, os exércitos aliadosprogrediam celeremente Alemanha adentro: os americanos e ingleses do oeste, os russos doleste. Em 25 de abril, unidades das vanguardas dos EUA e da URSS encontraram-se no rio Elba,como Eisenhower planejara. Em 30 de abril, Hitler suicidou-se, com as tropas soviéticas a menosde quilômetro e meio de seu bunker. Em 7 de maio, a guerra na Europa terminou. Às 2h41 dadaquela madrugada, o general Alfred Jodl, chefe de operações das forças armadas alemãsassinou a declaração formal da rendição de seu país no QG do SHAEF, à época instalado numapequena e maltratada escola, com paredes de tijolo aparente, na cidade francesa de Reims.“Com esta assinatura [385],” Jodl disse ao general Walter Bedell Smith, “o povo alemão e asforças germânicas estão, para o melhor ou o pior, entregues nas mãos dos vitoriosos.”

No dia seguinte, em Londres, centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas do entornode Piccadilly Circus, de Trafalgar Square, do Parlamento e de Whitehall, assim como os parquesem volta do Buckingham Palace, esperando o anúncio oficial do fim das hostilidades na Europa.Era um belo dia de primavera, e multidões alegres e exuberantes desfrutavam do sol acolhedor.Pareceu, observou um londrino, que a cidade “fora tomada por um enorme piquenique defamília.” Mães enfeitavam os cabelos de seus bebês com fitas vermelhas, azuis e brancas, e oscachorros exibiam gravatinhas nas mesmas cores. Soldados beijavam as moças sorridentes quepasseavam. Um GI, com o rosto coberto de manchas vermelhas de batom, exclamava para asmulheres que com ele cruzavam: “Você não quer colaborar com minha coleção?” EmPiccadilly, marinheiros formaram um “trenzinho” que logo se alongou com a participação doscircunstantes. Os sinos das igrejas repicavam. No Tâmisa, rebocadores acionavam suastrombetas em comemoração.

Transmitindo ao vivo de uma van no centro de Londres, Ed Murrow descrevia para osouvintes a visão de milhares de pessoas deixando suas casas, apartamentos e escritórios para sejuntarem à festa. Ele era um dos poucos americanos na cidade que estivera lá desde o início daguerra e a acompanhara até o fim. Até certo ponto, talvez falasse sobre si mesmo quando frisouna sua transmissão que, a despeito do júbilo, bom número de londrinos não se inclinava pormuitas celebrações naquele dia. “Suas lembranças [386],” disse ele, “têm que estar repletas deimagens de amigos que morreram nas ruas ou nos campos de batalha. Seis anos constituemmuito tempo. Observei que as pessoas têm pouco a dizer. Não há palavras.”

Naquela noite, Murrow voltou à sua vizinhança de Regent's Park para retomar suas própriasmemórias da guerra. Numa das esquinas, observou, seu melhor amigo, o editor da BBC Alan

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Wells, havia sido morto. Ao passar por um grande tanque d'água, lembrou-se “quase com umsusto, que ali existia um pub atingido por uma bomba de mil quilos, onde trinta pessoasmorreram.” Murrow admitiu que estava tendo dificuldade para se acostumar à ideia de paz.“Tentando entender o que ocorreu, a cabeça se refugia no passado. A guerra que se foi parecemais real que a paz que chegou.” Para Gil Winant, a guerra ainda não tinha acabado. Ele passou calmamente com os amigos o“V-E Day” falando de reminiscências sobre Roosevelt e sobre o que aquele dia significara paraele — porém, durante a maior parte do tempo, pensava sobre o destino do filho mais velho. Ummês antes de a guerra terminar, o embaixador recebera a notícia de que John Winant Jr. e outrosprisioneiros de guerra VIPs, mantidos como reféns pelos alemães, tinham sido removidos deColditz pela Gestapo poucas horas antes de as tropas americanas liberarem a prisão. O queWinant não sabia era que, com a Alemanha mergulhando no caos, o chefe das SS, HeinrichHimmler, ordenara que os reféns aliados fossem levados à Floresta Negra e fuzilados. “Enquantotodo o povo alemão chora,” declarou Himmler, “a família real inglesa não deve rir.”

Mas o general designado para supervisionar as execuções ganhou tempo, sabendo muito bemo que os vitoriosos aliados fariam com ele se cumprisse a missão. Quando o alto-comandoalemão escalou outro oficial para executar a tarefa, o general entrou em contato comautoridades suíças, as quais conseguiram transferir os prisioneiros de guerra para um posto decomando americano na Áustria. Dois dias após o Dia da Vitória na Europa, Gil Winant recebeu achamada que tanto esperara e que temia jamais receber: John estava salvo e a caminho deLondres. Ao saber da notícia, Lord Beaverbrook escreveu ao embaixador: “O fato de suaansiedade a respeito dele ter sido varrida na hora do triunfo para o qual o senhor tanto contribuiu,será causa de enorme alegria entre todos os seus amigos neste país. E isso significa todo o povoinglês.” Entrementes, para Winston Churchill, o “V-E Day,” foi um momento agridoce. Grandesmultidões o saudaram alegremente enquanto passava de carro na direção do Buckigham Palacee, depois, do Parlamento, para anunciar a rendição alemã. Ele se regozijava com a vitória,porém mais tarde naquele dia, num discurso pelo rádio, difundido para todo o Reino Unido, aludiuao destino da Polônia e de outros países dominados pelos soviéticos, ao dizer: “No continenteeuropeu [387], ainda temos que nos assegurar de que os simples e honrosos princípios pelos quaisentramos na guerra não sejam postos de lado (...) e de que as palavras 'liberdade,' 'democracia'e 'libertação' não sejam distorcidas de seu real significado.”

Quatro dias mais tarde, num telegrama à esposa, Churchill reconheceu seu profundodesapontamento em face da “política venenosa e das mortais rivalidades internacionais” tãoevidentes no triunfo dos aliados. O idealismo dos anos iniciais do conflito, com suas esperanças esonhos de maior liberdade, justiça e igualdade no mundo se dissolveu num reboliço de tratativas emal-entendidos de tempos de guerra. Imediatamente à frente viriam os infernos nucleares deHiroshima e Nagasaki, a rendição do Japão e o início da Guerra Fria. Em Reims, Dwight D. Eisenhower celebrou o “V-E Day” oferecendo um almoço a vinte e cincoaltos oficiais americanos e ingleses da equipe de seu SHAEF, a maioria dos quais havia criadofortes vínculos entre si no ano e meio passado. Foi uma ocasião festiva e de alto espírito — pelomenos até o fim. “Quando [ela] caminhava para o término e os participantes começavam a sedespedir, de repente o grupo de generais se deu conta de que não tinha mais emprego,” lembrouum dos presentes. “O companheirismo de dias e meses se fora. E a impressão era de que

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comparecíamos ao nosso próprio funeral. (...) Saímos tomados de tristeza, e o generalEisenhower se despedia de nós com lágrimas nos olhos.”

Um mês depois, os cidadãos de Londres renderam tributo a Eisenhower por seu inestimávelpapel na condução das forças aliadas à vitória. Em pomposa cerimônia no Guildhall danificadopor bombas, o general americano recebeu a “Honorary Freedom of the City of London,”honraria que remonta a tempos medievais e é a mais elevada que a cidade pode conceder.Praticamente todas as figuras notáveis de Londres estavam presentes — líderes do Parlamento,destacados empresários e juristas, as mais altas patentes militares inglesas, membros do Gabinetee Winston Churchill. Uma a uma, elas desfilaram pelo corredor do Grande Salão do Guildhall,para serem recepcionadas pelo prefeito e os sheriffs em trajes de gala. Quase ao fim da filacaminhava Gil Winant. “Houve aplausos [388] de diversas intensidades para os outros,” notou umfuncionário americano, mas quando o nome de Winant foi anunciado, “as salvas de palmasforam estrondosas, ultrapassadas apenas pelas dedicadas ao primeiro-ministro e ao próprioEisenhower.”

No calor da vitória, a antiga hostilidade dos militares ingleses em relação a Eisenhowerpareceu desaparecer. Até Alan Brooke se tornou um admirador — ao menos naquele dia. “Ikefez um discurso maravilhoso e impressionou toda a audiência do Guildhall,” registrou Brooke emseu diário. “Ele depois fez um pronunciamento igualmente bom, mas de tipo diferente, do lado defora da Mansion House, para então proferir um discurso de primeira classe no almoço daMansion House. Eu nunca percebera que Ike era tão grande homem até que vi seu desempenhode hoje!” Na Inglaterra, contudo, o contentamento pela vitória rapidamente desvaneceu. Pouco depois do“V-E Day,” o Partido Trabalhista anunciou que estava saindo do governo Churchill de coalizão,levando o primeiro-ministro a convocar eleições gerais, que não ocorriam desde 1935. A maioriaesperava que Churchill e o Partido Conservador vencessem, mas Winant não estava nessamaioria. Meses antes da votação, o embaixador disse ao médico particular do primeiro-ministroque “estava preocupado com Churchill, pois se envolvera tanto com a guerra que perdera ocontato com o sentimento vigente no país.” Quando os votos foram apurados em 26 de julho, aprevisão do embaixador estava correta. O líder, tão inspirador em tempo de guerra, foi afastadodo poder pelos eleitores cansados e fartos de guerra, que preferiram o Partido Trabalhista paraadministrar a debilitada economia do país e transformar sua sociedade. “Embora [o povo inglês]seja grato a Churchill pela vitória,” escreveu Pamela Churchill a Averell Harriman, “não querser sentimental a respeito.”

Radicalizado pela guerra, o povo britânico esperava — e exigia — que os enormes sacrifíciosfeitos nos seis anos passados fossem recompensados com significativas reformas sociais eeconômicas no pós-guerra. Churchill se mostrara perplexo com tais exigências. Durante acampanha pela reeleição, “ele ridiculariza os tolos que querem reconstruir o mundo,” observouLord Moran, “no entanto, por trás da bravata, creio que ele não tem muita certeza sobre o quediz. Sente-se de volta aos anos 1930, sozinho no mundo, falando uma língua estranha.” Física eemocionalmente exausto, Churchill conversou com Moran sobre o que chamou “essa malditaeleição [389],” dizendo: “Não tenho agora mensagem para [o povo].” E acrescentoumelancolicamente :“Sinto-me muito sozinho sem uma guerra.” Apesar disso, esperava ganhar. Aderrota dos conservadores por grande margem — “débacle total,” segundo John Colville — foium choque não só para o primeiro-ministro e seus compatriotas, como para o resto do mundo. ONew York Times disse: “Foi uma das mais impressionantes surpresas eleitorais na história dademocracia.”

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Churchill ficou arrasado com a derrota. Pug Ismay, que o visitou logo depois que osresultados foram anunciados, disse que ele lhe pareceu “mortalmente ferido.” Golpeado pelainesperada queda, Churchill disse a Ismay : “Não tenho um carro, nem lugar para viver.” Emquestão de horas, sua vida virara de cabeça para baixo. “Todo o foco do poder, da ação e dasnotícias,” observou Mary Churchill, “fora transferido (com a velocidade do relâmpago, comosempre acontece) para o novo primeiro-ministro” — Clement Attlee. No nº 10 de DowningStreet, a “Sala da Situação se encontrava deserta, o Gabinete Privativo, vazio; não haviatelegramas oficiais.”

Poucos dias depois de ser apeado do poder, Churchill passou um último fim de semana emChequers, cenário de tantas reuniões agitadas do tempo da guerra. Ele e Clementine convidarampoucas pessoas para acompanhá-los — os filhos, alguns assessores mais próximos e Winant. Oembaixador e Churchill haviam experimentado dificuldades na relação dos últimos quatro anos,em especial nos meses finais da guerra, quando o governo dos EUA mostrou a força de seusmúsculos como parceiro dominante da aliança. Porém tudo aquilo era agora história passada, eos Churchills deixaram claro que ainda consideravam o embaixador da família.

Durante o triste fim de semana, Winant e os outros fizeram o possível para levantar o moraldo desconsolado ex-primeiro-ministro. “Não era tanto a perda do poder que ele sentia, mas asúbita falta do que fazer,” observou mais tarde Sarah Churchill. “Seis anos no exercício dos maisextremados esforços mentais e físicos e, de repente, nada.” Ele sentia falta, sobretudo, das caixasvermelhas de despachos repletas de documentos urgentes, que chegavam diversas vezes ao diaem Downing Street. De acordo com Sarah Churchill, “elas foram parte integrante de sua vida.”

Na noite que antecedeu a partida de Chequers, Winant, Sarah e os outros convidadosassinaram o “Livro de Visitantes” da mansão. Para Churchill, tratava-se de ritual importante.Certa vez, Eisenhower deixou Chequers sem assinar o livro, e o mordomo do primeiro-ministrocorreu atrás dele, declarando solenemente: “Sir, o senhor se esqueceu [390] do livro.” O tom devoz do empregado deixava patente que “ele achava inconcebível meu esquecimento,” escreveuEisenhower. Na noite final, o último assinar foi Churchill. Ele apôs seu nome e então acrescentouabaixo da assinatura: “Finis.”

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“Sempre Me Sentirei um Londrino”

No outono de 1945, a cor, a vibração e o tumulto que caracterizaram Londres do tempo daguerra já estavam envoltos pela névoa da memória. Os residentes da capital já podiam circularpor Piccadilly sem risco de vida e de outras partes do corpo, os quartos de hotel eram abundantese os exilados europeus, em grande parte, haviam desaparecido dos restaurantes do Soho. Osfranceses e belgas foram-se embora no ano anterior, depois da libertação de seus países. Osholandeses, noruegueses e tchecos foram em seguida, na primavera, ao passo que os infelizespoloneses resignaram-se a uma vida em permanente exílio — na Inglaterra e noutros países.

Os americanos, entrementes, haviam esvaziado a maioria dos prédios que ocupavam emtorno de Grosvenor Square. Fecharam também as portas o Rainbow Corner e outros clubes paraGIs. Em 15 de outubro, a edição final em Londres do Star and Stripes foi publicada comgigantesca e adornada manchete de primeira página — “ADEUS, INGLATERRA [ 391].” Namatéria alusiva, Clement Attlee desejava boa sorte aos americanos que partiam. “Agora, com asimensas tarefas de guerra levadas a glorioso termo,” dizia o primeiro-ministro, “ficamos naexpectativa de uma continuada e sempre crescente amizade com os Estados Unidos para asconquistas da paz.”

Porém, na realidade, essa amizade já se dissolvia. Oito dias após a rendição do Japão, HarryTruman, sucessor de FDR, cancelou os embarques de suprimentos alimentícios do Lend-Leasepara a Inglaterra, sem qualquer aviso prévio ao governo britânico. Em Washington, a missãoinglesa coordenadora dos despachos de artigos alimentícios dos Estados Unidos soube da decisãoapenas quando um de seus navios teve recusada a autorização para zarpar. Para a sofrida eempobrecida Inglaterra, a decisão de Truman não poderia ter vindo em hora pior.

No outono de 1945, a oferta de alimentos para os ingleses alcançou seu menor nível em seisanos. Em vez de ser suspenso quando a guerra acabou, o racionamento de alimentos no país setornou consideravelmente mais restritivo. A porção de bacon foi reduzida em 25 por centoapenas dias após ser declarada a vitória sobre o Japão, e as filas do pão, das batatas e de outrosvegetais, muitas vezes aumentaram um quarteirão no comprimento. (Pão e batatas logo tambémseriam racionados.) Um soldado que retornou da linha de frente ficou espantado com ascondições que encontrou em Londres: “É difícil entender [392] que estou na capital de umanação vitoriosa. Não há sensação de triunfo. Os londrinos só pensam em comida.”

Também faltava roupa e onde morar. Até o Rei sentiu o aperto em roupas, exclamando paraAttlee: “Temos de conseguir roupas novas — minha família está na última muda.” Porém, como apertado racionamento de vestuário ainda em vigor, o pedido do monarca permaneceu semresposta. Enquanto isso, a perda de mais de 40 por cento do estoque de residências do paísdeixara milhões de ingleses sem casa permanente. Alojamentos provisórios — estruturasconstruídas de madeira compensada ou folhas de zinco, normalmente em locais onde bombashaviam explodido — transformaram algumas áreas de Londres e de outras cidades inglesas emautênticas favelas.

Tendo perdido um quarto de sua riqueza e dois terços de seu comércio exportador, o país,após seis anos de guerra, estava praticamente falido. O povo não podia ter expectativas. Com oconflito terminado e o perigo superado, o espírito comunitário, característico do tempo de guerra,desapareceu. Por que, perguntavam os ingleses, tinham de continuar em apuros, economizando e

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se sacrificando? Era amarga a queixa sobre escassez e racionamento, e doloroso o medo dofuturo.

Medo plenamente justificado, logo se viu. O novo governo trabalhista começou a erigir asfundações do estado de seguridade social, como antevisto no Relatório Beveridge de 1942, maselas careciam dos recursos para financiar adequadamente os novos benefícios estatais. Porvários anos a seguir, a maior parte dos bens produzidos no Reino Unido foi destinada àexportação, a fim de ressuscitar a economia e gerar as receitas de que o país tãodesesperadamente necessitava. O racionamento de alimentos e vestuário entraria pelos anos1950, e a falta de habitações se tornaria ainda mais séria. Muitas cidades inglesas continuaramesquálidas e dilapidadas por anos.

Em contraste, os Estados Unidos e sua economia, a rigor, não passaram dificuldades para atransição da guerra para a paz. O país terminara o conflito armado com o menor número debaixas de todas as nações beligerantes de importância, e também sem estragos de vulto dentro desuas fronteiras. Ao contrário da Inglaterra, cuja indústria se devotara quase exclusivamente àprodução bélica, os Estados Unidos continuaram a derramar grande variedade de bens deconsumo ao longo de toda a guerra. Em decorrência, estavam em invejável posição no pós-guerra, não só para continuar fornecendo tais bens de consumo ao seu próprio povo, como parasuprir os mercados mundiais de exportação, inclusive muitos que, outrora, só contavam com bensprovindos da Inglaterra.

Para a maioria dos americanos, as privações da guerra se dissiparam quase no momento emque a paz foi declarada. “O povo americano [393] passa pela terrível situação de precisar viver50 por cento melhor do que jamais antes viveu,” disse Fred Vinson, diretor da Agência deMobilização e Reconversão de Guerra, em Washington. Novos carros começaram a aparecernos salões de exposição, a gasolina passou a ser abundante de novo, e surgiram amplamentedisponíveis geladeiras, máquinas de lavar e outros caros bens de consumo. A demanda reprimidapor tais bens, combinada com a imensa poupança pessoal acumulada pelos americanos durante aguerra, ajudou a criar o “boom” econômico que perdurou por quase uma geração.

Donald Worby, um pracinha que acabara de retornar da Europa, descobriu quão satisfatóriafora a guerra para alguns de seus compatriotas, quando foi a uma padaria de sua cidade natal.Worby, que servira por bom tempo na Inglaterra e admirava seu povo pelo estoicismo em facedas privações, ouviu uma freguesa dizer a outra que estava muito chateada com o fim da guerra.Se o conflito tivesse durado um pouquinho mais, explicou a freguesa, ela e seu marido poderiamter juntado dinheiro suficiente para quitar as prestações de quatro casas que haviam compradocom suas economias de tempo de guerra. A outra mulher, que perdera um filho na luta, pegouuma torta de creme do balcão e enfiou-a na cara gorducha da outra. Tirando um maço de notasdo bolso, Worby fez questão de pagar a torta.

Abalados com a súbita suspensão americana do Lend-Lease, os ingleses não podiam entendercomo seu mais próximo aliado de tempo de guerra, nadando em prosperidade econômica, podiavirar as costas tão abruptamente para eles e para as suas promessas. Uma mulher, expressando aopinião partilhada por muitos de seus concidadãos, declarou sobre os americanos: “Creio que elesestão se comportando de forma repugnante.” Acreditando no compromisso verbal de Roosevelt,em 1944, de que o Lend-Lease continuaria por algum tempo após a guerra, os líderes britânicosapegaram-se à crença de que a América facilitaria a difícil recuperação econômica pós-guerrado país. Truman, entretanto, não quis saber das promessas do antecessor, que jamais foramescritas, tampouco tinha conhecimento da magnitude dos apertos financeiros da Inglaterra. O queele sabia mesmo era que a maioria dos membros do Congresso, que aprovara com relutância oprograma Lend-Lease apenas como uma providência de guerra, queria que ele se encerrasse tão

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rapidamente quanto possível. “Demos aos nossos aliados [394] tudo que pediram e mais,” disseum congressista, “agora o povo já está enjoado e cansado, e não quer ouvir mais nada sobreisso.” Alguns meses antes de seu falecimento, Roosevelt havia previsto a ressurreição desseespírito isolacionista. “Quem pensar que o isolacionismo está morto neste país é maluco,” disse aRobert Sherwood. “Tão logo esta guerra acabe, ele poderá estar mais forte que nunca.”

No fim, após ásperas negociações, os Estados Unidos concordaram em ajudar a Inglaterra asair de sua crise financeira com um empréstimo de 3,5 bilhões de dólares, pagáveis emcinquenta anos, e com generoso desconto no pagamento da ajuda do Lend-Lease jáproporcionada. Dos 21 bilhões de dólares de débitos do programa Lend-Lease os inglesesdeveriam saldar apenas 650 milhões. Mas a ajuda veio atrelada a um excessivo — e, do ponto devista inglês, altamente injusto — preço: o endosso inglês a um plano de 1944, formatado emBretton Woods, New Hampshire, que criava uma nova ordem econômica internacional, tornariao dólar a moeda-referência do mundo, eliminaria o sistema de preferência imperial britânico e,de forma geral, beneficiaria substancialmente o comércio dos Estados Unidos.

Os ingleses ficaram indignados com o fato de os EUA cobrarem juros sobre o novoempréstimo, por lenientes que fossem as taxas e, além disso, tirassem vantagens da situaçãofinanceira extremamente perigosa em que ficava a Inglaterra. “É irritante descobrir que arecompensa por perder um quarto de nossa riqueza nacional na causa comum é ter de pagarjuros por meio século àqueles que enriqueceram com a guerra,” declarou The Economist.[*]Num tempestuoso debate na Câmara dos Comuns, os parlamentares atacaram as cláusulas doempréstimo como uma liquidação do Império Britânico e uma “Munique econômica.” Cerca de100 deputados votaram contra a aceitação do empréstimo naqueles termos, e 169, inclusiveWinston Churchill, se abstiveram.

Malgrado seus embates anteriores com os ingleses a respeito de políticas econômicas ecomerciais, entre outros assuntos, Harry Hopkins concordava com o governo Attlee que ostermos do empréstimo americano eram onerosos e equivocados. “O povo americano [395] temde entender a simples e clara verdade que os ingleses vivem do comércio,” registrou Hopkinsnuma série de anotações privadas. “Provavelmente, somos poderosos o suficiente — sequisermos usar tal poder — para prejudicar seriamente esse comércio, mas não acredito que issoseja do nosso interesse. Por que iríamos nós deliberadamente tornar a Inglaterra fraca nospróximos cem anos? (...) Não podemos embarcar de propósito num programa, em ambos oslados, que vai forçar os dois povos a se afastarem cada vez mais.”

Ademais, escreveu Hopkins em suas anotações, a América tinha um débito moral com aInglaterra: “Acredito que os ingleses salvaram nossa pele duas vezes — uma em 1914 e, de novo,em 1940. Eles, com os franceses, aguentaram o peso do ataque na Primeira Guerra Mundial, eos alemães chegaram bem perto de destruí-los antes que entrássemos na refrega. Desta vez,foram os ingleses sozinhos que defenderam o forte, e o fizeram tanto por nós quanto por elesmesmos, porque não teríamos chance de derrotar Hitler se a Inglaterra fosse vencida.” Gil Winant e seus subordinados na embaixada americana em Londres ficaram tão abismadosquanto Hopkins com o corte abrupto do Lend-Lease e com a persistente determinação americanade vincular a ajuda à Inglaterra a concessões na política comercial e econômica. Tendo tentadosem sucesso combinar um fim gradual para o Lend-Lease, que fosse tão ordenado e indolorquanto possível, Winant alertou o governo Truman que sua decisão unilateral “imporia grandesinfortúnios ao povo inglês.” Wallace Carroll esbravejou: “Será que alguma nação alguma vezsacrificou tão imprudentemente um investimento colossal nessa mercadoria sem preço — a boavontade?”

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Se Roosevelt estivesse vivo, disse Ernest Penrose, conselheiro econômico de Winant, oembaixador “teria feito um de seus diretos e vigorosos apelos a ele, do tipo que, nos quatro anosprecedentes, reservara para os assuntos de maior urgência.” Mas Winant não conhecia opresidente Truman e, segundo seu secretário, o governo Truman era “estranho para ele.” Nãoobstante, o embaixador esforçou-se para se ligar com Truman, enviando-lhe um telegrama, logodepois que se tornou presidente, dizendo “que desejava fazer o que estivesse ao seu alcance paralhe ser útil.”

Truman e seus lugares-tenentes, no entanto, demonstraram pouco interesse por Winant esuas ideias, bem como insignificante admiração pelo que ele fizera para forjar a aliança anglo-americana e mantê-la firme. Tudo isso era passado. O futuro, acreditavam eles, era a GuerraFria, que então começava entre o Ocidente e a União Soviética. Na opinião deles, o sonho deWinant de justiça internacional econômica e social era passé. O necessário agora “não eraidealismo [396], e sim realismo; não persuasão, mas coerção; não brandura, mas dureza.”

Àquela altura, o futuro do próprio Winant parecia tão sombrio quanto o da Inglaterra. Quaseno fim da guerra, ele trabalhara para se tornar o primeiro secretário-geral das Nações Unidas, eRoosevelt garantira-lhe que faria o que estivesse dentro de suas possibilidades para ajudá-lo aocupar o cargo. Mas a morte de FDR acabou com o sonho, assim como a decisão de sediar asNações Unidas em Nova York, tornando politicamente impossível um americano chefiar aorganização. Contudo, mesmo diante de tais dificuldades, Winant se manteve esperançoso deque, de uma forma ou de outra, a função lhe seria oferecida. “Seus nervos, durante aquelesmeses, ficaram à flor da pele,” lembrou um subordinado. Quando ele, por fim, soube que nãoseria indicado para o cargo, disse a um assistente: “Perdi a última coisa que na verdadedesejava.” Permaneceu embaixador na Inglaterra por nove meses após a guerra, tratando dedetalhes mundanos do pós-guerra, tais como coordenar a travessia do Atlântico de noivas deguerra dos GIs. Deprimido e esgotado, exclamou para sua secretária: “Não tenho vida!”

Uma das únicas fontes de conforto para Winant era Sarah Churchill, porém, mesmo aí, afelicidade o iludiu. O fim da guerra levou as relações entre os dois a um ponto de crise. Ela sedivorciou de Vic Oliver, e Winant lhe disse que também planejava se divorciar e que queriacasar com ela. No entanto, tendo se casado aos vinte anos de idade, Sarah não quis abrir mão darecém-adquirida independência.

A exemplo de Winant, Sarah e sua família tinham passado por momentos extremamentedifíceis em termos emocionais quando a guerra terminou. Seus pais enfrentaram obstáculos parase adaptar à vida longe de Downing Street e à falta do fluxo de atividade dramática dos temposde guerra. “Não posso explicar como a coisa se dá,” escreveu Clementine à filha Mary, “mas nodesconforto que experimentamos, em vez de nos apegarmos mais um ao outro, parecemossempre brigar. Tenho certeza de que o problema é comigo, mas venho achando a vida dura deaguentar. Ele está muito infeliz & isso o torna difícil.” Como já fizera muitas vezes no passado,Sarah serviu de anjo da paz entre pai e mãe, tentando levantar o ambiente e consertando osdesentendimentos entre os dois. “Sarah,” escreveu Clementine durante a guerra, “tem sido — e é— [397] um pilar. (...) Todos a amam. Ela tem muita paciência aparando arestas e dificuldadesque possam surgir. (...) Toma conta de todos.”

Logo depois que deixou o poder, Churchill levou Sarah para pequenas férias dedicadas àpintura no lago de Como, na Itália. “Não sei se o amei tanto quanto nos meses que se seguiram à[sua derrota],” escreveu a filha mais tarde. “Desmanchei-me em lágrimas reprimidas quandosoube que deveria acompanhar meu pai ao lago de Como.” Nem bem chegaram, Sarahescreveu a Clementine: “Gostaria que você estivesse conosco. (...) É só vermos uma paisagembonita para ele dizer: 'Gostaria que sua mãe estivesse aqui.'” E acrescentou: “Realmente acho

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que ele está se ajustando (...) na noite passada, disse: 'Tive um dia feliz!' Não tenho nem ideia dequanto tempo eu não ouvia algo parecido!” Como Churchill deixou claro na carta que enviou àmulher, uma das razões de sua felicidade era a presença da filha preferida: “Sarah tem sido umajoia. Demonstra grande consideração, tato, prazer e alegria. A estada aqui seria enjoativa semela.” Pai e filha se aproximaram como nunca, graças em grande parte à experiência por elaadquirida como ajudante de ordens oficiosa de Churchill em Teerã e Yalta. Ele era o homemmais importante de sua vida, e ela adorava ficar ao seu lado. No entanto, disposta a manter aindependência, Sarah cuidou ao máximo para não se deixar cativar muito pelo carisma do pai.

Sarah sempre se sentiu espremida entre os homens que amou. “Você não tem noção decomo é duro ter um pai e um marido famosos,” disse certa vez a uma amiga. Sabendo queChurchill nunca perdoara Vic Oliver por ter “roubado” Sarah dele, ela tremia só em pensarcomo o pai reagiria se sua relação com Winant se tornasse pública. Sentindo-se presa numa“gaiola de afetos,” Sarah disse a Winant que pretendia retomar sua carreira de atriz. Gostavamuito dele, mas não via futuro ao seu lado. A vida pessoal e profissional de Ed Murrow também passava por grande inconstância. No outonode 1944, sua esposa se demitira da Câmara de Ligação Inglaterra-Estados Unidos alegando“exaustão física e mental.” Janet já não aguentava o affair cada vez mais público do marido comPamela Churchill e chegou à conclusão de que precisava de novos ares para refletir sobre suavida. Retornou aos Estados Unidos para rever os pais, ambos muito doentes, e para repensar seucasamento. Tão logo partiu, Murrow começou a bombardeá-la com uma série de cartaschorosas. “Por diversas razões [398], devo muito a você,” escreveu Ed no aniversário dela, 18 desetembro. “Pelo modo de você usar o chapéu. (...) Por sua amabilidade com os amigos. (...) Porsua determinação em arriscar a perda de dinheiro e posição por um princípio. (...) Mais e mais,você é a parte importante de minha vida.” Em outra carta, observou: “Vivo por demais solitário.(...) Encontrei Clemmie [Churchill] no Lobby da Câmara, e ela perguntou por você. (...) Quantotempo faz que saímos juntos para caminhar, às vezes sem destino? (...) Se tivermos cabeça, osmelhores anos de nossas vidas estarão mais à frente.” E ainda noutra, reconheceu: “Talvez eutenha começado a aceitar demasiadamente como naturais e corriqueiros seu amor, gentileza etolerância.”

Ainda assim, a despeito de suas ternas missivas para Janet, Murrow continuava com Pamela,a qual, embora tendo ainda um caso amoroso com Frederick Anderson, aumentara muito apressão sobre Murrow para que se divorciasse de Janet e casasse com ela. Numa carta aHarriman quase ao término da guerra, Pamela escreveu que ela e Ed tinham brigado feio sobreo relacionamento dela com Anderson. Na mesma noite, depois da discussão, acrescentouPamela, “Fred levou-me para jantar no Ciro's (...) e dançamos até a meia-noite.” Apesar davolubilidade de Pamela, Murrow, segundo diversos amigos, pretendia mesmo divorciar-se deJanet e casar com ela.

Antes de tomar uma atitude final, contudo, ele voltou aos Estados Unidos, no início de 1945,para um mês de férias com Janet num hotel-fazenda do Texas. “Não conversamos em absolutosobre Pamela,” lembrou Janet. “Estávamos felizes juntos.” Durante aquele período, Janetengravidou. Por muitos anos, ela e Murrow desejaram ter um filho, e o nascimento do meninoCasey , em novembro de 1945, provocou o fim do caso com a nora de Churchill, ainda que, comoela disse mais tarde a uma amiga: “Nunca amei tanto uma pessoa em minha vida.” SegundoPamela, Murrow enviou-lhe o seguinte e sucinto telegrama para selar o término dorelacionamento: “Casey ganha.”

Quatro meses após o nascimento de Casey, os Murrows, depois de nove anos na Inglaterra,

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preparavam-se para voltar aos EUA. Murrow aceitou uma proposta de Bill Paley para se tornarvice-presidente do noticiário e das relações públicas da CBS. Na realidade, ele não desejava ocargo, dizendo a Janet que detestava a ideia de se ver confinado dentro de elegante terno deexecutivo. Nas recentes viagens aos Estados Unidos, ele também se sentira desconfortável com ogritante contraste entre os padrões de vida dos americanos e os da Inglaterra e do restante daEuropa. “Vivemos despreocupadamente [399], com relativo conforto e segurança total,” dissepelo rádio aos seus concidadãos pouco antes do fim da guerra. “Somos a única nação engajadanessa guerra que elevou o estilo de vida desde que a guerra começou. Não estamos cansadoscomo a Europa.”

Também se inquietava com o que considerava arrogância dos Estados Unidos, com suaaparente relutância em trabalhar em cooperação cerrada com a Inglaterra e outros países menospoderosos depois da guerra. “A nossa é uma grande nação,” disse aos ouvintes. “Vi seu poderarremessado sobre o mundo. Mas precisamos viver com o mundo. Não podemos dominá-lo.”Mesmo assim, apesar de todas as dúvidas e preocupações sobre a volta aos EUA, ali era suacasa. Necessitava, julgou ele, voltar às origens.

No entanto, deixar Londres acabou sendo uma emoção extraordinariamente forte. Na capitalbritânica, ele amadurecera profissionalmente, aprendendo o ofício com a ajuda dos colegas daBBC, aos quais se tornara muito mais ligado, pessoal e profissionalmente, do que com a equipe daCBS em Nova York. Na verdade, quando a guerra ia a meio caminho, Brendan Bracken, emnome de Churchill, o convidara para ser vice-diretor da BBC, encarregado de toda aprogramação mundial — noticiários e entretenimento. Tratava-se de uma proposta excepcional,mas que Murrow, depois de muito ponderar, declinou com relutância. Sua apreensão, entreoutros motivos, era que, como americano, ele ficaria “numa posição incômoda” naeventualidade “de um verdadeiro conflito de opiniões” entre os Estados Unidos e a Inglaterradepois da guerra. Não obstante, ficou sensibilizado com a honra que lhe foi conferida. Quando ahistória da BBC foi contada na magistral obra em três volumes de Asa Briggs e publicada nosanos 1960, a foto de Murrow, juntamente com figuras proeminentes da BBC, aparece na capa dovolume relativo aos anos de guerra. Ele foi o único radialista não BBC a ser incluído. “Pode vocêimaginar uma companhia americana de rádio convidar um inglês para chefiá-la?” — indagouele a Felix Frankfurter.

Pouco antes de deixar Londres, em março de 1946, Murrow despediu-se do povo inglês numprograma da BBC. Como rapaz, disse, ele visitara a Inglaterra três vezes — e voltara comimpressões decididamente desfavoráveis. “Vosso país era uma espécie de peça de museu,”observou, “agradável, mas pequeno. Vocês me pareciam lentos, indiferentes e exceedinglycheios de si. (...) Achei as ruas estreitas e sem graça, os alfaiates supervalorizados, o climainsuportável e a consciência de classes, ofensiva. Vocês não sabiam cozinhar. Os moçospareciam-me sem vigor ou propósito na vida. Eu admirava vossa história, duvidava do vossofuturo e suspeitava que os historiadores simplesmente descreviam um mito.” No entanto,reconheceu Murrow, “ficava sempre, lá atrás de minha inexperiente e indisciplinada cabeça, adesconfiança de que poderia estar errado.”

Sua experiência de anos de guerra na Inglaterra, disse Murrow, mostrou o quanto ele estavaequivocado. Face à maior crise de sua história, os britânicos revelaram sua verdadeira coragem,respondendo à agressão com toda a vitalidade, enquanto permaneciam fiéis à liberdade e àdemocracia. “O governo recebeu poder ditatorial, porém o usou com comedimento. (...) A leinão deixou de existir. Governo representativo, igualdade perante a lei, tudo sobreviveu. Nãohouve abandono dos princípios pelos quais os ancestrais lutaram. (...) [O exemplo de vocês] será,julgo eu, inspirador e permanecerá no coração dos homens muito depois que os nomes das

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grandes batalhas navais e terrestres forem esquecidos.” Com intensa ênfase, Murrowacrescentou: “Tive o privilégio de ver toda uma população dar a resposta, que sua história exigia,à tirania. (...) Vocês viveram uma vida, não uma desculpa.”

Nos dias que se seguiram àquela transmissão, cartas de toda a Inglaterra fluíram para oedifício da CBS. “São homens como [400] você,” escreveu uma mulher, “que mantêm viva emnossos corações a pequena chama da esperança de que, algum dia, as nações amadurecerãopara entender uma à outra, e para aprender a viver em amizade e em paz. Muito obrigado, caroEd Murrow.” Um oficial da Marinha inglesa escreveu: “Por favor, diga a sua gente, quandovoltar, que nós nem sempre fomos fáceis de entender, mas que queremos ser bons e leaisamigos, se vocês deixarem.” Fazendo eco a essa opinião, outro missivista implorou a Murrow:“Quando chegar em casa, deixe que seus conterrâneos saibam dessa sua despedida de hoje. (...)Diga-lhes que desejamos, pelo bem da amizade e do mundo, a continuação do companheirismocerrado com nossos aliados americanos. O senhor, sir, com seus incomparáveis dons e poderes,pode manter viva nossa causa comum. O senhor pode nos manter juntos e conservar umentendimento que foi suficientemente bom para vencer uma guerra e, por certo, será bom obastante para cultivar a paz.”

Duas semanas mais tarde, Murrow transmitiu seu último programa para os ouvintesamericanos. Antes de fazê-lo, perambulou pelas ruas cobertas de neve de Londres, taciturno etriste, sentindo-se, disse aos seus amigos ingleses, um desertor. No fim do programa, ele sedespediu: “Agora, pela última [401] vez, This is Edward R. Murrow in London.” Programaterminado, os engenheiros da BBC cortaram os fios do grande microfone de mesa que ele usaranos últimos nove anos. Nele puseram uma placa da equipe de notícias da BBC com as seguintespalavras:

este microfone, retirado do estúdio b4 da broadcasting house, londres, é oferecido a edwardr. murrow que lá o usou com tanta distinção num sem-número de transmissões para a cbs denova york durante os anos de guerra de 1939 a 1945

Murrow, que se gabava de sua falta de sentimentalismo, não pôde conter as lágrimas. Anosmais tarde, disse a Malcolm Muggeridge numa entrevista de televisão que, de todos os prêmios ehonrarias que recebera no decurso de sua carreira, o microfone presenteado pela BBC era “oúnico troféu que sempre mantive comigo” e ao qual “dou maior valor do que a qualquer outracoisa que possuo.” Um mês depois da partida de Murrow, Gil Winant também deixou a Inglaterra. Truman por fimo nomeara representante americano no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, umaagência cujo objetivo era promover a cooperação e o desenvolvimento econômico e socialinternacional. Não era o cargo que almejava, mas lhe dava a oportunidade de trabalhar pararestaurar os países destroçados pela guerra na Europa e em outros continentes. Em março de1946, ele renunciou às funções de embaixador, e Averell Harriman foi indicado para assumir oseu posto.

Tão afetuosa quanto fora a despedida de Murrow, as demonstrações de carinho e gratidãopor Winant foram excepcionais. Apesar da desalentadora situação de seu país, o povo inglês nãoperdera de vista o fato de que, graças em grande parte ao embaixador dos Estados Unidos, aaliança anglo-americana se mantivera firme e unida para alcançar a vitória na guerra. Tais laçosjamais existiram antes — e, com grande possibilidade, nunca mais se repetiriam. Winantrecebeu inúmeras provas da estima e gratidão da Inglaterra, inclusive títulos honoríficos de

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Oxford e Cambridge, os quais, em suas citações, distinguiam-no como “amigo chegado,confiável e querido.” Associando-se a tal sentimento, o primeiro-ministro Clement Attleedeclarou que o embaixador dos EUA sempre “teve em grande medida o amor da populaçãodeste país.”

Sobre Winant, o New Statesman publicou: “Quase todos [402] neste país sabem seu nome e orespeitam como um grande americano e um dos melhores amigos que a nação jamais teve.” Oembaixador era, observou o Daily Express, “a personificação da parcela mais bela do caráteramericano.” O Daily Herald relembrou como Winant “chegou até nós em 1941, quando perigoindizível nos rondava. Viveu conosco, sofreu conosco e trabalhou conosco. Sua fé em nóscontribuiu decisivamente para elevar nosso moral, e seu trabalho como embaixador foi bem-sucedido, num período vital, na obtenção de enormes reforços para nossos recursos rapidamenteminguantes. (...) Ele mergulhou até o pescoço em nossa luta.” A revista inglesa Punch, famosapor suas farpas satíricas, contrariou seu estilo e publicou uma caricatura intitulada “Um Amigode Verdade.” O desenho mostrava um vendedor cockney de flores entregando um buquê paraWinant e dizendo: “Até breve, sir. O senhor nos ajudou em tempos difíceis e não oesqueceremos.”

Quando soube da partida de Winant, um professor de direito em Oxford lhe disse: “Não creioque seja possível para o senhor imaginar a posição que conquistou para si mesmo na históriaanglo-americana.” John Martin, ex-chefe dos secretários particulares de Winston Churchill,escreveu ao embaixador: “Aqueles de nós que trabalharam no nº 10 tiveram a oportunidade deconhecer que amigo querido de nosso país o senhor foi e o quanto daquele maravilhoso trabalhode equipe entre as duas nações se deve ao senhor.” O gerente “durão” do Savoy Hotel asseveroua um jornalista americano: “Quando ele partir, perderemos o melhor americano que jamaistivemos em Londres.” Num bilhete para Winant, Herbert Agar, que substituíra Wallace Carrollcomo chefe da Agência de Informação de Guerra, declarou: “Meu motorista e todas assecretárias e faxineiras inglesas vieram a mim pedindo que eu lhe dissesse como estão desoladoscom sua partida. (...) Eles acham ótimo que pessoas importantes tenham manifestado apreçopelo senhor, porém eles, de funções mais humildes, também o querem fazer. Espero que osenhor assim entenda a amplitude desse sentimento. Quanto a mim, não há palavras paraexpressar o que sinto. Os anos de trabalho para o senhor foram os mais gratificantes de minhavida.”

As “pessoas importantes,” enquanto isso, revelavam o senso de perda numa série de jantaresde despedida que começou com o de gala na Mansion House de Londres, no qual tanto Attleequanto o líder da Oposição, Winston Churchill, discursaram — “uma honraria singular,” naspalavras usadas pelo Daily Telegraph . Os jornalistas que cobriram o evento, bem como outrosque se seguiram, ficaram impressionados com a profundidade do sentimento que orador atrás deorador expressaram sobre o enviado dos EUA. “A reserva que normalmente [403] cerca ospronunciamentos oficiais britânicos nunca foi tão completamente esquecida como ao apresentaro governo britânico suas despedidas a Mr Winant,” escreveu um jornalista inglês. Segundo o TheNew York Times, os elogios a Winant foram “infinitamente maiores que uma coleção de frases deefeito numa cerimônia formal. Na profunda emoção contida naquelas despedidas podia-se sentirque, para os ingleses, Mr Winant fora um grande embaixador, muito grande.”

“É na adversidade que conhecemos os verdadeiros amigos — e assim foi com John GilbertWinant,” disse o prefeito de Londres. Lord Derby observou: “Na minha longa existência, não melembro de outro homem que tenha prestado tão significativo serviço para seu país e o nosso.” SirArchibald Clark Kerr, prestes a assumir novo posto diplomático como embaixador inglês em

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Washington, disse sobre Winant: “Pretendo tomá-lo como meu modelo.” Churchill, que nuncadisfarçou seus sentimentos, manifestou-se com maior emoção que a usual quando declarou: “Eudiria, sem um só momento de hesitação, que ninguém jamais cumpriu missão tão monumentalquanto Mr Winant. Ninguém chegou tão perto do coração da Inglaterra. Também ninguém,enquanto defendia da maneira mais correta os interesses e direitos do seu próprio país, fazia-nossentir que era um autêntico, fiel e inabalável amigo.” Virando-se para Winant, o ex-primeiro-ministro disse: “Ele é um amigo da Inglaterra. É mais: é um amigo da justiça, da liberdade e daverdade. Ele foi uma inspiração.”

Entretanto, ninguém demonstrou maior tristeza com a partida de Winant do que AnthonyEden. Com a voz embargada, o ex-ministro do Exterior disse num concorrido jantar na LancasterHouse: “Nem os senhores, nem eu, tampouco os historiadores seremos capazes de estimar, emseu verdadeiro valor, a contribuição que Mr Winant deu para a unidade e para a vitória dosaliados.” Com os olhos marejados, Eden levantou uma taça brindando o homem que consideravaum de seus amigos mais próximos. “Não há outro personagem que não John Gilbert Winant comquem eu preferiria ter trabalhado naqueles tempos difíceis, exigentes e sofridos. Homemnenhum mais correto e justo jamais caminhou nesta terra.”

Na sua calma resposta, Winant disse que os cinco anos que vivera em Londres tinham sido“anos duros e sombrios, mas eu não gostaria de tê-los passado em outro lugar. (...) É muito difícilpara mim dizer adeus. Nunca me senti um estranho nesta terra. Compartilhamos muita coisa.Tivemos ideais e esperanças comuns, assim como reveses, e as vitórias foram vossas e nossasjuntos. Sempre me sentirei um londrino.” Passando o olhar sobre a multidão diante de si, eleterminou o discurso com versos de um poema de Rudyard Kipling:

I have eaten your bread and salt,I have drunk your water and wine,The deaths ye have died I have watched beside,The lives ye lent me were mine.

[Comi do teu pão e do teu sal,Bebi a tua água e o teu vinho,

As mortes que morreste eu as vi ao lado,As vidas que me emprestaste foram minhas.]

Quando o embaixador voltou a se sentar naquela noite, Anthony Eden não foi o único que lutoupara conter as lágrimas.

[*]A Inglaterra pagou a última parcela do empréstimo em dezembro de 2006, sessenta anosdepois de tomado.

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“Sem Ele, Todos Perdemos Um Amigo”

Menos de dois meses depois de voltar para casa, Gil Winant estava de pé na tribuna da Câmarados Representantes, olhando em torno e observando a elite política e militar de Washington.Diante dele estavam os deputados e senadores, assim como os membros da Suprema Corte, daJunta de Chefes de Estado-Maior e do ministério. O presidente Truman sentava-se na primeirafila, logo abaixo de Winant; Eleanor Roosevelt, atrás de Truman; e o general Eisenhower, entãochefe do Estado-Maior do Exército, próximo aos dois. Todos se encontravam lá para prestartributo formal a Franklin D. Roosevelt, que falecera havia dezesseis meses. Os organizadores doevento haviam solicitado que Winant pronunciasse o único discurso. “Estou tão feliz [405] queseja você a discursar,” escreveu Mrs Roosevelt a ele antes da cerimônia. “Ninguém poderia sermelhor.”

O que Winant disse naquele dia sobre Roosevelt também poderia ser dito dele próprio. “Eleousou ter esperança,” observou o ex-embaixador a respeito de seu chefe e amigo. “Jamais houveocasião, nos anos terríveis da Depressão ou nos anos sombrios da guerra, em que ele tivesseperdido a esperança. Atreveu-se a almejar a paz, a acreditar nela e a agir por ela. (...) Umcrente nos homens, incorporou esta nossa república na república maior da humanidade, sobre aqual, e somente sobre ela, uma autêntica paz pode repousar.”

Mas não havia verdadeira paz no mundo e, para Winant e para muitos outros, era muitopouca a esperança. Como Ed Murrow observou: “Raramente, se é que houve alguma vez, umaguerra terminou deixando os vitoriosos com tantos sentimentos de incerteza e temor, e com talpercepção de futuro incerto.” A Grande Aliança havia se desintegrado, e a Guerra Friacomeçara, tendo a Alemanha e o Leste Europeu como principais campos de batalha. Envolvidosnuma tremenda discussão sobre reparações de guerra a serem pagas pela Alemanha, ossoviéticos e seus ex-aliados ocidentais não agiram como originalmente planejado: estabelecerum governo democrático pós-guerra na Alemanha e, então, se retirarem. Em vez disso,dispuseram-se a tornar permanentes as que seriam zonas temporárias de ocupação. ComoWinant receara, a divisão da Alemanha acabou resultando na criação “de algo como estados[406] independentes, cada qual um compartimento estanque,” com a livre movimentação entreeles interrompida entre a zona soviética e as zonas controladas por Inglaterra, Estados Unidos eFrança.

Antes do fim da guerra, Winant e os outros representantes na Comissão Assessora Europeia— William Strang, pela Inglaterra, e Feodor Gusev, pela União Soviética — haviam se esforçadopara formular uma política abrangente e de longo alcance para o desenvolvimento pós-guerra daAlemanha. Mas esse esforço foi frustradoi pelos governos dos EUA e da URSS. “Nenhum dosaliados parecia ter noção exata sobre o tipo de Europa que deveria resultar da derrota daAlemanha,” escreveu o historiador Daniel J. Nelson, “e nenhum deles tinha qualquer coisa que seassemelhasse a um plano-mestre para a nova Europa.”

Mesmo assim, a despeito da dificuldade que enfrentaram (semelhante “a uma corrida emque os contendores carregassem uma mó e tivessem os tornozelos presos a grilhões,” observouum historiador), os integrantes da Comissão Europeia poderiam, com justiça, reivindicar créditopor algumas conquistas reais, se bem que limitadas. No topo da lista estavam acordos que elesconseguiram minutar para a divisão da Alemanha e de Berlim, os quais, quando em vigor,

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ajudariam a evitar uma luta Leste-Oeste, caótica e potencialmente violenta, por territórios einfluência na Alemanha, terminada a guerra. De fato, embora repetidas vezes questionados pelossoviéticos, os acordos permaneceram em vigor até o colapso do comunismo na Europa Orientalno fim dos anos 1980.

Como Strang registrou em suas memórias: “Nunca antes (...) acordos de tal conteúdo eimportância foram alcançados com o governo soviético.” Uma história oficial inglesa,entrementes, qualificou a Comissão Assessora Europeia como “a organização interaliada maisbem-sucedida no trabalho com os russos.” Outro estudo da guerra descreveu os acordosconcluídos pela Comissão como “significativos feitos da diplomacia de tempo de guerra (...) tãoimportantes quanto quaisquer acordos atingidos em Yalta ou em Potsdam [uma cúpula dos TrêsGrandes realizada em julho de 1945].”

Os sucessos dos delegados, por mais limitados que pudessem ser, revelaram a importânciada diplomacia calma e das negociações de bastidores, as quais foram altamente valorizadas porWinant. Malgrado os percalços, ele, Strang e Gusev criaram boas ligações pessoais uns com osoutros durante os dezoito meses de trabalho da Comissão Europeia. “Nas nossas reuniõesinformais, conseguimos confiança recíproca,” lembrou Strang. “Passo a passo, fomos liquidandonossas diferenças, pacientemente [e], algumas vezes pareceu, interminavelmente.” Ainda assim,depois de demonstrarem que os aliados podiam, de fato, trabalhar juntos, os três membros dacomissão foram proibidos por seus governos de capitalizar os feitos e de expandir seus mandatos.

Depois da guerra, a frustração de Winant com o fato de o governo americano não dar apoioà Comissão Assessora Europeia foi agravada pelas declarações de Harry Hopkins e de outros ex-membros do governo Roosevelt de que a comissão — e não Washingtou ou Moscou — fora emgrande parte responsável pelo fracasso de não se conseguirem soluções de longo prazo para agovernação pós-guerra da Alemanha. “A máquina [407] da Comissão moveu-se muito lenta,”reclamou Hopkins, deixando de anotar que a desorganização e a teimosia dentro do governoestavam entre as principais razões da lentidão.

No rescaldo imediato da guerra, Winant ficou também desapontado com o que acreditavaser esquiva americana de assumir a liderança na restauração das combalidas economias dasnações devastadas pela luta. O Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, onde eletrabalhava, não recebeu autoridade para forçar os estados-membros a aplicarem curativos nasferidas da guerra e, em consequência, acabou se tornando nada mais do que um fórum dedebates.

Deprimido com sua impotência no cenário mundial, o ex-embaixador foi tambématormentado por dificuldades pessoais. Durante muitos anos, ele vivera permanentemente novermelho, em grande parte por causa do hábito arraigado de dar ajuda financeira aos outros.Pedira emprestadas grandes quantias aos amigos e tomara empréstimos de milhares de dólaresdando como garantia suas apólices de seguro de vida, para perdê-las em grandes quantidadesquando não pôde honrar seus pagamentos. A fim de ajudar a saldar vultosas somas que devia,Winant assinou um contrato com a Houghton Mif?in para escrever diversos livros, inclusive trêsvolumes de memórias. Escrever, entretanto, como discursar, provou ser extremamente difícilpara ele. Envolvido como estava pelo entusiasmo e a pressão de equacionar importantesproblemas mundiais, Winant não conseguiu se ajustar à vida solitária e mais reservada deescritor. “Ele era uma alma por demais inquieta” para se satisfazer com tal existência, observouBernard Bellush, biógrafo de Winant.

Ainda não refeito da tensão física e emocional da guerra, Winant estava tambémextremamente cansado. “Nunca em minha vida vi um homem mais exausto,” disse pouco depoisda guerra um amigo e parceiro de negócios do embaixador. “Ele envelhecera tremendamente.”

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Mary Lee Settle descreveu mais tarde a fadiga causada pela guerra que ela, Winant e outrosexperimentaram como “uma exaustão profunda [408] e brutal que se entranhou em nossasalmas, nossos corpos, nossas relações uns com os outros, uma espécie de enfermidade fatal daexaustão.” Eric Sevareid, que tinha apenas trinta e dois anos quando a guerra terminou, registraque passou por “curiosa sensação de envelhecimento, como se tivesse atravessado toda umaexistência, e não meramente sua juventude.”

No fim de 1946, Winant retornou a Londres para trabalhar em seu primeiro livro, umareminiscência de seus primeiros anos como embaixador, e tentar persuadir Sarah Churchill, quehavia se divorciado um ano antes, a continuar o relacionamento com ele, apesar de ainda casado.Quando Winston Churchill soube do divórcio de Sarah, ele a chamara e sussurrara ao seu ouvido:“Livre!” Ela não respondeu, porque sabia que não estava: ainda se encontrava emocionalmenteenvolvida com Winant. “Os homens podem ser livres — talvez — mas as mulheres nunca,”escreveu ela ao pai. Citando Lord By ron — “O amor é parte da vida do homem. É toda aexistência da mulher,” Sarah acrescentou: “Bem, são os homens que desejam e exigem que sejaassim!”

Sarah atracou-se com seu dilema: manter a independência e ferir Winant ou permanecerenvolvida com ele e sentir-se enjaulada. Na mesma carta, ela perguntou ao pai: “Alguma vezvocê já se sentiu prisioneiro? Alguma vez já sentiu uma jaula de circunstâncias, até de afeição,fechando-se à sua volta? Ou você sempre foi, sem importar a amargura da situação, livre?”Sarah finalmente resolveu a questão aceitando um papel num filme rodado na Itália. “Poragora,” escreveu a Churchill, “estou mais ou menos livre — porém, uma vez mais, à custa dealguém. (...) A impressão é que tenho sempre de magoar a pessoa que me ama.”

Recusando-se a aceitar o fim do caso de amor, Winant permaneceu em Londres até aprimavera de 1947, partilhando com os residentes da capital os desconfortos do mais inclementeinverno na Inglaterra desde 1881. As temperaturas mergulharam abaixo de zero, e uma série denevascas cobriram o país com um tapete branco espesso. Um severo racionamento de carvãoresultou no corte draconiano da eletricidade. Escolas e escritórios ficaram sem calefação; ailuminação pública foi desligada; as vitrines permaneceram escuras, as tubulações congelaram; eas fábricas fecharam temporariamente, prejudicando a indústria inglesa, tão crítica para arecuperação econômica.

Em fevereiro, Winant estava entre os convidados do casamento de Mary Churchill comChristopher Soames, adido militar na embaixada em Paris. A cerimônia teve lugar na St.Margareth's Church, em Westminster, que não estava aquecida ou iluminada, exceto pelas quatrovelas do altar. O salão de bailes do Dorchester's Hotel, onde houve a recepção, estavaparcialmente aceso com velas e parcialmente com eletricidade fornecida por um pequenogerador de emergência.

No mesmo mês, Herbert Agar e sua esposa Barbie levaram Winant para assistir a uma peçano West End. A caminho do teatro, passaram pelas estruturas vazias do Shaftesbury e de outrosteatros, bombardeados durante a Blitz, parecendo misteriosas ruínas como as romanas, com suasplateias e palcos ao ar livre. Quando saíram do saguão do teatro ao término da peça, Winant foiimediatamente cercado por frequentadores que o reconheceram. Homens tiraram o chapéu emulheres sorriram de alegria. “Boa noite, Mr Winant,” disseram diversos deles. Ele conversoucom as pessoas alguns minutos antes de seguir para casa.

O rei da Inglaterra, entrementes, demonstrara a alta estima do país pelo ex-embaixador demaneira mais formal. No Dia do Ano-Novo de 1947, George VI condecorou Winant comomembro honorário da Order of Merit, segundo alguns, a mais cobiçada e exclusiva de todas ashonrarias britânicas, e a única que Churchill aceitara pelos serviços prestados durante a guerra.

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Quando o monarca entregou a medalha a Winant, em cerimônia no Buckingham Palace, oamericano murmurou um agradecimento e colocou a caixa com a condecoração no bolso.Surpreso, o rei inglês perguntou: “O senhor não quer vê-la [409]?” Retirando a caixa do bolso,Winant a entregou ao monarca, que a abriu e mostrou-lhe o conteúdo. “O senhor a merece maisdo que ninguém,” disse-lhe a Rainha.

No entanto, a distinção, por significativa que fosse, pouco contribuiu para suavizar seucrescente isolamento e a solidão. Pouco depois, ele convidou John Colville para jantar em suacasa alugada em May fair. “A diferença dos dias passados,” lembrou o ex-secretário particularde Churchill, “foi que naquela ocasião, Winant, que sempre fora bom ouvinte e ocasionalmentefazia um comentário pertinente, quis falar.” E falou durante toda a refeição e até tarde da noite, àbase de brandy e charutos — sobre seus dias como governador de New Hampshire, sobre a OIT,sobre as dificuldades de seu casamento. Finalmente, às quatro da madrugada, Colville disse querealmente precisava ir embora. “Não vá,” implorou Winant. “Please, não me deixe.” Mais tarde,Colville escreveria: “Talvez eu não devesse ter ido embora. Percebi que ele estava solitário e quealgo estranho acontecia sob a fachada da normalidade. Mas eu me encontrava muito cansado eimaginei que nós dois estávamos um tanto bêbados.”

Poucos meses depois, com Sarah ainda em Roma, Winant retornou a New Hampshire. Porfim terminou o primeiro volume de suas memórias, o que lhe proporcionou algum alívio.Também ficou muito satisfeito quando George Marshall, então secretário de Estado de Truman,delineou aquilo que veio a ser conhecido como o Plano Marshall, um programa de longo alcanceque dava o impulso inicial à recuperação econômica da Inglaterra e do resto da Europa. Comalgum atraso, o governo Truman entendera precisar dar passos urgentes para ajudar a Europa,caso fosse necessário evitar o total colapso econômico e o alastramento do comunismo. “Ficouagora obviamente [410] claro que subestimamos grosseiramente a devastação que a guerracausou na economia europeia,” disse o subsecretário de Estado Will Clay ton após um giro deavaliação de fatos pelo continente europeu. “Milhões nas cidades estão lentamente entrando nainanição.” Depois de uma seca e de uma desastrosa safra em 1946, os países da Europa seachavam, nas palavras do escritor Theodore H. White, “tão próximos da indigência quanto amoderna civilização pode chegar.”

Na primavera de 1947, Truman enviou Averell Harriman à Europa para organizar esupervisionar a distribuição da ajuda prevista no Plano Marshall. Winant, que desesperadamentedesejava a função, foi ignorado pelo governo. Num discurso em fórum internacional patrocinadopelo New York Herald Tribune , em outubro, ele desafiou a audiência com a pergunta: “Estão ossenhores fazendo hoje tanto pela paz quanto fizeram por este país e pela civilização nos dias deguerra?” E respondeu: “Eu sei que não estou.”

Em 2 de novembro, Winant fez uma visita de surpresa a Abbie Rollins Caverly, filha develho amigo, que trabalhara como sua assistente na OIT, em Genebra, na década de 1930.Caverly acabara de dar à luz seu primeiro filho, e Winant, que a conduzira ao altar nocasamento, viajou de Concord até a residência dela em Vermont “para se certificar de que tudoia bem,” lembra-se ela. “Acho que, ao seu modo, ele se sentia responsável por mim.” Durante abreve visita, acrescentou Caverly, Winant pareceu “cansado e solitário... visivelmentedesalentado.”

Retornando a Concord, Winant fez uma chamada telefônica para o reverendo Philip“Tubby ” Clay ton, antigo amigo de Londres, que estava nos Estados Unidos para encorajarjovens americanos a irem à capital inglesa ajudar na reconstrução dos prédios atingidos pelasbombas e auxiliar seus residentes. Winant conhecera Clay ton, vigário da Igreja de All Hallows,próxima à Torre de Londres, durante a guerra e concordara em ajudar a levantar fundos e

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recrutar jovens americanos para seu novo projeto. Pelo telefone, Winant disse a Clay ton queprecisava conversar urgentemente com ele, Clay ton, todavia, tinha um discurso a fazer naquelanoite e disse que entraria em contato com o amigo o mais brevemente possível.

Winant, cuja esposa se encontrava em Nova York, passou a maior parte do dia seguinte noseu quarto, em Concord. No início da noite, sua governanta, que trabalhara para ele na Inglaterra,trouxe-lhe o jantar numa bandeja. Quando voltou poucas horas depois, a bandeja estavaintocada.

Por volta das nove da noite, Winant, então com cinquenta e oito anos, levantou-se da cama ecaminhou pelo saguão até o quarto que fora do filho John, com vista panorâmica para seusqueridos montes Bow. Anos antes, ele fizera comentários sobre aquela paisagem silvestre para aqual chegara aos quatorze anos e, na realidade, jamais deixara: “Ao minúsculo vale [411] devo osenso de paz, e aos montes ondulantes um senso de tempo.” Mas para John Gilbert Winant aquelesenso de paz não havia mais. Ajoelhando-se no assoalho, ele tirou uma pistola do bolso dopijama. Firmou o cotovelo esquerdo numa cadeira, apontou a arma para a cabeça e disparou. Oex-embaixador dos EUA na Inglaterra morreu meia hora mais tarde.

Numa reportagem de primeira página sobre o suicídio de Winant, o New York Times publicouque sua morte “afetou o povo da Inglaterra numa medida que poucos de seus concidadãospodem entender. Houve pesar pelo seu passamento não só nas vizinhanças victorianas elegantesdo Connaught Hotel, onde ele costumava jantar, mas também entre os taxistas, nos pubs e naslojas de 'fish and chips.' (...) Naquela noite, no 'Bull and Bush' em Willesden, subúrbio pobre, umhomenzinho local disse a um repórter: 'Acho que, sem ele, todos perdemos um amigo. Eleentendia gente como a gente; entendia mesmo, moço.'”

O palpável sentimento de perda foi um notável tributo para um homem que, nas palavras doDaily Express, “caminhou com a Inglaterra em sua grandeza” e a ajudou a sobreviver. “No queele disse, o povo acreditou e confiou,” declarou o New York Herald Tribune. “Ele fez mais do queas pessoas jamais saberão para manter a solidariedade das duas grandes democracias, em suahora de necessidades desesperadoras. A perda para a nação, como para seus amigos, éimensurável.” Sobre a morte de Winant, o Manchester Guardian publicou: “É terrível ponderarsobre nosso mundo pós-guerra sabendo-se que John Gilbert Winant não tem possibilidade de neleviver.”

Como a maioria dos amigos de Winant, o historiador Allan Nevins batalhou para entender asrazões de seu suicídio. Num ensaio, que tomou a forma de uma carta aberta a Winant, Nevinsescreveu: “Será que [412], como Hamlet, você julgou que os tempos estavamirremediavelmente desordenados — que, como um dos melhores idealistas e mais confiáveis dosseres humanos de sua época, você se esforçou num ambiente que nada mais podia lhe oferecerdo que desesperançadas frustrações?”

O ex-embaixador foi sepultado no cemitério de Blossom Hill, em Concord, num serviçofúnebre simples em que o coro da St. Paul's School cantou “The Strife Is O'er” (Acabou a luta.)Seu túmulo foi coberto de flores, inclusive por algumas dúzias de rosas de Winston e ClementineChurchill e um grande buquê de Eleanor Roosevelt, que chamou Winant de “uma verdadeirabaixa de guerra como qualquer outra de nossos soldados.” Na coluna que escrevia para osjornais, Mrs Roosevelt declarou: “Meu marido e eu o admirávamos e, o que é mais importante,confiávamos nele. (...) Ele nos ajudou a ganhar a guerra. Meu coração chora privado de umamigo e com a perda da possibilidade de serviços que ainda existiam à sua frente.”

Três semanas após o funeral de Winant, cerca de quinhentas pessoas compareceram a umserviço religioso, não anunciado, na St. Paul's Cathedral, em Londres, onde o primeiro-ministroClement Attlee leu trecho da Bíblia: “As almas dos corretos estão na mão de Deus, e nenhum

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tormento as tocará.” Winston, Clementine e Sarah Churchill estavam presentes, como tambémErnest Bevin e um entristecido Anthony Eden, que disse aos jornalistas: “Perdi um de meusamigos mais próximos.” À cerimônia também compareceu Rivington Winant, filho mais novo doex-embaixador, de vinte e dois anos, que estudava em Oxford. Tão logo soube da notícia damorte de Winant, Eden mandou buscar Rivington em Oxford e o hospedou em sua casa decampo. “Ele não poderia ter sido mais gentil,” disse Rivington Winant muitos anos mais tarde.“Foi realmente maravilhoso.”

De acordo com Walter Thompson, segurança pessoal de Churchill, “a autodestruição deWinant foi algo que Winston não conseguiu compreender. Ele jamais a esqueceu. Segundodiversos relatos, Sarah Churchill ficou ainda mais desconsolada com o suicídio de Winant. Haviafalado com ele ao telefone pouco antes de sua morte; depois, ela se culpou pela depressão dele,dizendo a amigos que só levara infelicidade àqueles que a amaram. Nos anos seguintes, Sarahseria relativamente bem-sucedida em sua carreira de atriz, ganhando um papel importante nof ilm e Royal Wedding (Núpcias Reais) com Fred Astaire, representando diversas vezes naBroadway e se tornando apresentadora da série americana de televisão Hallmark Hall of Fame,na qual também representou em diversas de suas produções. Sua vida pessoal, contudo, nunca serecuperou dos traumas emocionais. Casada mais duas vezes, ela levou uma vida desregrada,bebendo muito e comparecendo a festas escandalosas, motivos de considerável constrangimentopara os pais. Em setembro de 1982, Sarah Churchill faleceu em Londres aos sessenta e sete anos. A Ed Murrow, a notícia da morte de Gil Winant causou grande comoção. Sentou-se aturdido como que ouvira, balançou repetidas vezes a cabeça e exclamou, “Que desperdício! Quedesperdício!” [413] Ele e Janet, que estavam em Londres em visita a amigos e para presenciar ocasamento da princesa Elizabeth com o príncipe Philip da Grécia, foram ao serviço religioso naSt. Paul's em memória do velho amigo, ocorrido na véspera das núpcias.

Diferente de Winant, Murrow havia lucrado bastante com seu sucesso em tempo de guerra.Ele e sua equipe de repórteres haviam retornado aos Estados Unidos como “estrelas” dojornalismo americano — “os meninos de ouro,” os denominou o editor Michael Bessie. Comovice-presidente para o noticiário da CBS, Murrow chefiava uma organização mundial decorrespondentes, locutores, comentaristas, escritores, editores e produtores. Era também o astrode um programa de notícias da rede, Edward R. Murrow and the News, e, mais tarde na era datelevisão, do See It Now e do Person to Person. Tinha tudo, parecia — fama, reputação, saláriovultoso, generoso crédito para despesas, luxuoso apartamento na Park Avenue e casa de campono interior do estado de Nova York.

Porém, apesar de todas as benesses do sucesso, ele nunca se sentiu em casa em Nova York,achando difícil a transição da austeridade da Inglaterra do tempo de guerra para a fartura daAmérica do pós-guerra. Mesmo que então Murrow fosse rico, não se sentia à vontade com oritmo frenético, a prosperidade e o materialismo de seu próprio país em pleno “boom”econômico. Mais que isso, tinha imensas saudades de Londres e de seu povo, frequentementemencionando “os anos sombrios e gloriosos” que lá passara. Voltou muitas vezes à capitalinglesa, levando para os Churchills e outros amigos chegados artigos alimentícios e outros bens deconsumo ainda muito escassos. Continuou encomendando ternos na Saville Row e usando figurasde linguagem tipicamente britânicas em suas conversas; um colega da CBS disse que semprepensava em Murrow como “Sir Edward.” O radialista disse aos amigos que “deixara toda a sua[414] juventude e muito de seu coração na Inglaterra.”

Como Winant, Murrow estava muito desanimado com a falta de liberdade e justiça nomundo pós-guerra, assim como com o azedamento da paz e o aumento da tensão internacional.

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Também muito o incomodava o surgimento do macartismo, que ele denunciou num programaSee It Now que fez história em 1954, bem como o que se passava em sua própria profissão —especificamente, o que considerava declínio dos padrões do radiojornalismo. Murrow gostariaque o noticiário da CBS se espelhasse no da BBC, cujo objetivo principal era servir aos interessespúblicos. A CBS, no entanto, era uma rede comercial, não uma empresa quase pública, e ospropósitos primeiros de seu chairman, Bill Paley, eram o lucro e os números nas pesquisas. Adivisão de noticiários, que tornara a CBS a rede nº 1 do país durante a guerra, foi relegada asegundo plano. O entretenimento era o foco primordial de Paley e “o noticiário, seu hobby,”como afirmou Don Hewitt, produtor executivo do programa noticioso 60 Minutes da CBS. “Elecolecionava Murrows e Sevareids do mesmo modo que Picassos, Manets e Degas.”

Jack Gould, crítico de televisão do New York Times , certa vez descreveu Murrow como“indivíduo num mundo assediado pela organização. (...) Seu escritório era chamado de Tobruk dojornalismo. (...) Uma fortaleza que defendia o jornalismo eletrônico em sua hora de maiorpenumbra, e deixou um brilhante legado para a profissão e para o país.”

O conflito entre Murrow e Paley foi se tornando cada vez mais grave até que, em 1961,Paley e a CBS disseram às claras que não havia mais lugar para Murrow na organização. Aconvite do novo presidente, John F. Kennedy, Murrow deixou a empresa para se tornar chefe daAgência de Informação dos EUA, a sucessora pós-guerra da Agência de Informação de Guerra.Quatro anos mais tarde, ele faleceu de câncer no pulmão, aos cinquenta e sete anos de idade.

Pouco antes de sua morte, a rainha Elizabeth II o fez Cavaleiro honorário do ImpérioBritânico (KBE) . Na noite em que faleceu, a BBC interrompeu por meia hora a programaçãoagendada para transmitir um especial sobre Murrow e seus feitos. Segundo o primeiro-ministroHarold Wilson, que participou do especial, a outorga do KBE ao americano era meramente umreconhecimento formal de uma manifesta realidade: “Murrow foi um [415] 'inglês honorário'desde que chegou em Londres em 1937.” Ao contrário de seus dois compatriotas de tempo de guerra, Averell Harriman teve poucadificuldade para se adaptar à vida depois da guerra. Como ele esperava, o conflito armado otransformara de empresário playboy, sempre à sombra do pai dominador, numa figuraimportante da diplomacia internacional. Capitalizando seus serviços de tempo de guerra emLondres e Moscou numa carreira governamental de sucesso ao longo de quarenta anos, eleocupou posições de destaque nos governos Truman, Kennedy e Lyndon Johnson. Foi, comasseverou o New York Times , o “superdiplomata” da América, o “plenipotenciário supremo” dopaís.

Ironicamente, ele não foi feliz no seu primeiro posto diplomático pós-guerra: embaixador naCorte de St. James. Era uma função que, em tempo de guerra, ele ficaria excitadíssimo se lhefosse oferecida, mas em 1946 a Inglaterra, empobrecida e perdendo rapidamente sua influênciaimperial, não era mais centro de poder e de ação. Aos seus subordinados na embaixada,Harriman pareceu “desinteressado, distante e totalmente desengajado.” Pouco depois de chegara Londres, ele se mudou para a residência oficial do embaixador em Prince's Gate, a mansãooutrora de propriedade de J.P. Morgan que Winant não ocupara.

Harriman também retomou seu caso amoroso com Pamela Churchill, que recebeu bem suasatenções após ser rejeitada por Murrow. O relacionamento, contudo, foi entãoconsideravelmente mais complicado do que tinha sido no início dos anos 1940. A atmosfera febrile descolada da Londres de tempo de guerra, onde, nas palavras de Harrison Salisbury, “sexopairava no ar como uma névoa,” havia desaparecido. Harriman era também uma figura públicamuito mais em evidência como embaixador do que fora como administrador do Lend-Lease, e se

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preocupava com a possível erupção de um escândalo que ameaçasse suas ambiçõesdiplomáticas e políticas. Para evitar isso, persuadiu a esposa a se juntar a ele em Londres. Noentanto, antes que ela chegasse, Truman convocou Harriman a Washington para nomeá-losecretário do Comércio, apenas seis meses após voltar a Londres.

Como fizera com Churchill e Roosevelt, Harriman trabalhou duro para cativar Truman. Em1947, o Presidente o enviou à Europa, com o status de embaixador, para desembolsar bilhões dedólares da ajuda do Plano Marshall. De acordo com a maioria dos relatos, ele se saiu muito bem.Batalhador e inflexível, ele nunca foi considerado, mesmo por seus amigos, um intelectual ouparticularmente brilhante. Lord Beaverbrook diria mais tarde a John Kennedy : “Ninguém foi tãolonge [416] com tão pouco.” Mas Harriman era trabalhador feroz, brusco, agressivo,determinado e conhecido de quase todos os líderes da Europa pós-guerra — atributos que lhecaíram muito bem pelo resto de sua carreira governamental. Em 1948, Truman nomeouHarriman seu assessor nacional de defesa. De acordo com Robert Sherwood, “ele foi o auxiliarmais parecido com Harry Hopkins que Truman jamais teve” — uma observação que deve terdespertado considerável prazer em Harriman.

Pelo fim dos anos 1940, o ex-chairman da Union Pacific, junto com seus amigos ecolaboradores de longo tempo como Dean Acheson, John McCloy, George Kennan e RobertLovett, foram amplamente considerados como os arquitetos do abrangente papel assumido pelosEstados Unidos no mundo de pós-guerra. Conhecidos como “os Sábios,” Harriman e os outros sedispuseram a criar a Pax Americana em todo o globo, uma visão do futuro de seu país que, naspalavras de Walter Isaacson e Evan Thomas, biógrafos dos Sábios, exigia a “reformulação dopapel tradicional da América no mundo e a reestruturação do equilíbrio global do poder.”

Numa iniciativa que muitos de seus amigos acreditaram ser decididamente insensata,Harriman concorreu à indicação para candidato presidencial democrata em 1952 e 1956. Semexperiência prévia em campanhas eleitorais, o rígido e pomposo candidato quase não tinhaatrativos para o eleitor comum; sem surpresas, ele perdeu as duas vezes para Adlai Stevenson.Em 1954, venceu por pequena margem a eleição para governador de Nova York, mas foiderrotado por Nelson Rockefeller na sua tentativa de reeleição.

Harriman tinha sessenta e oito anos quando Kennedy foi eleito presidente, porém estavadisposto a não deixar que a idade fosse empecilho para que voltasse a ser influente na CasaBranca. “Todos têm as suas fraquezas, a de Averell era de estar sempre perto do poder,”escreveu Arthur Schlesinger Jr., amigo de Harriman, em seu diário. Averell disse a outro amigo:“Estou confiante de que, antes que as coisas se ajeitem, estarei no círculo íntimo. Comecei comosoldado de Roosevelt e cheguei ao topo. Depois, tive de começar de novo como soldado deTruman e chegar ao topo. Isso é o que pretendo fazer outra vez.”

E foi, de fato, o que fez. Inicialmente cético a respeito de Harriman, Kennedy acabouindicando o idoso diplomata para ser seu principal auxiliar na solução de problemasinternacionais, mais tarde o nomeando subsecretário de Estado. Com setenta anos, Harrimannegociou os Acordos de Genebra que deram fim à guerra civil no Laos e, dois anos mais tarde,liderou a delegação americana que batalhou por um tratado de limitada proibição de testesnucleares com a União Soviética. Durante a presidência de Lyndon Johnson, Harriman, já entãocom setenta e seis anos, viajou a Paris em 1965 para abrir as conversações com os norte-vietnamitas na tentativa de acabar com a Guerra do Vietnam — um esforço que resultoumalsucedido.

Quando tinha setenta e nove anos, Harriman, então viúvo, encontrou-se com sua amante detempo de guerra, em jantar na casa de Katharine Graham, proprietária do Washington Post. Nosanos que se seguiram à guerra, Pamela tivera casos amorosos com diversos homens ricos e

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poderosos, inclusive Elie de Rothschild e Gianni Agnelli, herdeiro da Fiat, antes de se casar com oprodutor teatral americano Leland Hayward, que faleceu em 1971. Mais uma vez, Harriman ePamela retomaram o relacionamento e, poucos meses mais tarde, casaram-se. Quando Pamelaanunciou para Clementine Churchill, então com oitenta e seis anos, seu matrimônio próximo,Clementine exclamou deliciada: “Minha querida [417], é antiga chama reacesa!”

Harriman morreu em 1986, com noventa e quatro anos. Sua infatigável esposa continuouativa, tornando-se decana do Partido Democrata e embaixadora dos EUA na França. Ela serviaainda como embaixadora quando faleceu de hemorragia cerebral em 1997, após nadar no RitzHotel, em Paris. Mais de seis décadas após o fim da Segunda Guerra Mundial, Edward R. Murrow e AverellHarriman continuam sendo figuras bem conhecidas nos Estados Unidos. Incontestavelmenteconsiderado patriarca fundador e santo patrono da radiodifusão de notícias, Murrow tem sidoobjeto de diversos livros e filmes. Uma organização líder do radiojornalismo — a Associação deDiretores de Noticiários do Rádio e da Televisão — confere anualmente o Prêmio Edward R.Murrow aos que se destacam na atividade. Diversas escolas em todo o país, inclusive a faculdadede comunicações da universidade em que estudou, a Washington State University, levam seunome. Quanto a Harriman, o Council on Foreign Relations, em Nova York, concede bolsasAverell Harriman em estudos europeus, e a Universidade de Columbia sedia o Instituto Harrimanpara estudos russos, eurasianos e do leste europeu.

John Gilbert Winant, ainda que praticamente esquecido nos Estados Unidos, é tambémlembrado, se bem que de modo diferente tanto de Murrow quanto de Harriman. O principaltributo a ele é fruto da mente do padre Tubby Clay ton, o reverendo anglicano com quem Winantfalou na véspera de sua morte. Tem-se dito que Clay ton ficou agoniado de culpa pelo suicídio deWinant, acreditando que poderia tê-lo evitado se tivesse se encontrado com o amigo na noite emque ele telefonou.

Depois da morte de Winant, Clay ton fez apaixonado pronunciamento para os estudantes daSt. Paul's School, instando para que viajassem a Londres e trabalhassem no East End, no verãoseguinte, em honra de Winant, ainda figura reverenciada naquela escola. Diversos alunos ofizeram, tornando-se membros do primeiro grupo de jovens americanos apelidados deVoluntários de Winant. Todo ano, desde então, dúzias de estudantes de escolas secundárias efaculdades dos Estados Unidos têm passado seus verões trabalhando com comunidades carentesdas cidades britânicas. A partir de 1957, jovens ingleses têm retribuído o favor, vindo trabalharem cidades mais destituídas, grandes e pequenas, dos EUA. O programa é agora denominadoVoluntários de Winant-Clay ton.

Para alguns alunos do Winant-Clay ton, a experiência se transformou em ponto de inflexãoem suas vidas. “Ela serviu [418] para que eu amadurecesse e visse o mundo como ele realmenteé,” lembra o reverendo J. Parker Jameson, o qual, como recém-formado por Harvard, trabalhoucom jovens desvalidos em Liverpool no verão de 1975. “Liverpool tirou da minha cabeça a ideiade que a América era o centro do mundo. Aprendi que o globo é um lugar muito maior e queexiste todo um mundo de dores lá fora que precisa de cuidados. Precisamos trabalhar juntos paralidar com ele.” Quando o verão acabou, Jameson permaneceu em Liverpool por mais um ano.Ao retornar aos EUA, decidiu tornar-se sacerdote episcopal, influenciado em grande parte porsua participação no Winant-Clay ton. A visão da América que Parker Jameson adquiriu naquele verão em Liverpool não foi tãocompartilhada assim em sua terra natal, em particular no pós-guerra imediato. Emergindo da

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Segunda Guerra Mundial como país mais poderoso do mundo, os Estados Unidos ficaramserenamente convictos de sua própria onipotência. De início, demonstraram pouco interesse emcolaboração próxima ou em parcerias com os ex-aliados ocidentais, cujos impérios e influênciaglobal se desintegravam velozmente. Na realidade, decorridos meses depois da guerra, osEstados Unidos começaram a substituir a Inglaterra, a França e outras potências coloniaiseuropeias como principal força econômica e militar no Sudeste Asiático, na região do Pacífico,no Mediterrâneo e no Oriente Médio.

Ao término da guerra, os Estados Unidos tinham rapidamente imaginado a União Soviéticacomo seu principal parceiro para a solução de problemas internacionais pós-guerra. Todavia, osurgimento da Guerra Fria deu um fim à ideia, bem como ao plano de Roosevelt de um prontoafastamento americano das questões europeia. Tendo passado bom tempo da guerra apaziguandoos soviéticos, o governo americano lançou então uma campanha para contê-la. A fim deconcretizá-la, Washington percebeu que não só teria que manter como intensificar oenvolvimento americano de tempo de guerra com a Europa, a despeito da antiga determinaçãode se manter afastada das complicações no continente europeu. Dois anos após o lançamento doPlano Marshall, os Estados Unidos, o Canadá e dez países da Europa criaram a Organização doTratado do Atlântico Norte (OTAN), uma aliança militar que prometeu a defesa coletiva detodos os países-membros caso um deles recebesse ataque armado. Pela primeira vez em suahistória, os Estados Unidos concordaram em se tornar uma força permanente de manutenção dapaz na Europa.

Enquanto se adaptavam à nova situação, os formuladores políticos americanos fizeram novaavaliação de seu antigo parceiro de tempo de guerra, a Inglaterra. “Nenhum outro país [419]reúne as mesmas qualificações para ser nosso principal aliado e parceiro como o Reino Unido,”afirmava um documento do Departamento de Estado. “Os britânicos, e com eles o restante doCommonwealth, particularmente os antigos domínios, são os aliados mais confiáveis e mais úteis,com os quais deve existir uma relação especial.”

Essa “relação especial” nunca seria a parceria igualitária e intimamente ligada que aInglaterra procurou durante e depois da guerra. Os Estados Unidos sempre deixaram evidentequem era o parceiro dominante, como durante a Crise de Suez, em 1956, quando líderesamericanos fizeram pressão econômica sobre a Inglaterra para forçá-la a cancelar a invasão doEgito por tropas inglesas, francesas e israelenses.

Apesar disso e malgrado as recorrentes tensões e estresses, os Estados Unidos têm mais emcomum com o Reino Unido do que com qualquer outro aliado, e suas conexões pós-guerra setornaram notavelmente próximas, em especial comparadas com os vínculos da América com oresto do mundo. Tal intimidade foi robustecida pela onda de conhecimentos e amizades pessoaisque ligaram bretões e americanos durante a guerra. Tendo ajudado a aparar as arestas dosproblemas surgidos no decorrer da guerra, essas relações informais e bastante intrincadastrabalharam para promover cooperação depois dela. Falando sobre os ingleses, Robert Reich, umex-bolsista Rhodes e secretário do Trabalho do presidente Bill Clinton, observou: “Eis uma gente[420] em que os americanos podem confiar: amigos e confidentes num mundo confuso einamistoso. (...) Há pouca dúvida de que as autoridades americanas procuraram aconselhamentode seus colegas ingleses, e receberam o tipo de assessoramento franco e confidencial que só seconsegue de um bom e velho amigo cujo julgamento é profundamente apreciado.”

Para muitos americanos e ingleses que experimentaram em primeira mão a aliança entreseus países, o legado foi profundo e duradouro. “A vinda dos americanos foi instrutiva e meproporcionou visão mais ampla do mundo. Eles me deram uma percepção melhor dademocracia,” disse uma mulher de Liverpool. Um homem de Birmingham, que fora menino de

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escola durante a guerra, observou: “O que quer que aconteça com a 'relação especial' a nível deestado, nós trabalhamos nossa própria relação especial em todos esses anos passados. (...) [Osamericanos] nunca foram meramente 'eles,' e rapidamente se transformaram em 'nós.' Deminha parte, nunca perderei o senso de boa camaradagem, generosidade e solidariedade básicaque então criamos.”

Em Schenectady, Nova York, um ex-marinheiro americano afirmou: “Acho que entendo opovo do UK tão bem quanto o dos US. Em outras palavras, eu poderia pendurar meu chapéu nosdois lados do Atlântico e dizer 'Voltei pra casa.'” Ernie Py le expressou quase o mesmosentimento pouco antes de ser morto no Pacífico, quase no fim a guerra: “Amei Londres desdeque a vi pela primeira vez na Blitz,” escreveu o colunista. “Ela se transformou numa espécie demeu lar d'além-mar.” O correspondente do New York Times Drew Middleton, certa vez observou:“Os anos em Londres foram os mais felizes da minha vida. (...) Não se pode pedir mais do queviver num lugar que se conhece e ama, entre pessoas que se entende, respeita e gosta.” Atémesmo o mal-humorado romancista e dramaturgo William Saroyan, que detestou praticamentetudo de sua experiência no Exército durante a guerra, só tinha boas coisas que falar de Londres ede seu povo. “Fico envergonhado em dizer que estou amando esta cidade, porque parece umafalsidade dizer isso, mas estou amando Londres, e nunca deixarei de amá-la,” declara opersonagem de Saroyan no romance The Adventures of Wesley Jackson.

Para bom número de americanos que passaram algum período na Inglaterra do tempo deguerra, o país e sua capital fizeram lembrar Brigadoon [cidade fictícia da Escócia, criada paraum musical da Broadway] — um lugar mágico, onde o senso de coragem, de determinação, desacrifício e um sentimento de unidade e de propósito comum triunfaram, ainda que por poucosanos. Robert Arbib descreveu soberbamente os meses que passou na Inglaterra antes do fim daguerra: “Cada inglês [421] que você conhece se desculpa. Todos dizem: 'É tão ruim que vocêveja a Inglaterra em tempo de guerra. Muito ruim que você não veja o que ela tem de melhor'.”Mas Arbin discordou veementemente: “Uma ova!” — escreveu ele. “Esta é a Inglaterra no quetem de melhor. Exatamente aqui e agora!”

É verdade, as ruas estavam sujas, as fachadas das lojas precisavam de tinta e os trensatrasavam. Verdade também, comida e água quente eram escassas, a cerveja era fraca emorna, a grama dos parques estava malcuidada, e as luzes, desligadas. “Porém, para alguns denós, que se lembraram de outras coisas,” escreveu Arbib, “que conheceram um paíscompletamente unido por uma causa comum, um país em que o perigo fez todos os homensamigos, onde o sacrifício foi feito não só pelos soldados ou a catástrofe apenas chegou para ospobres, onde o terror e as dificuldades não subjugaram o humor e a vontade, onde ocavalheirismo e o heroísmo estavam no homem de pé ao seu lado num dos pubs The RoseCrown, onde a democracia era ver o duque de bicicleta e o fazendeiro de carro — isso sim erauma nação no que tinha de melhor, essa era uma experiência a ser compartilhada com orgulho,esse era um tempo de grandezas, e a Inglaterra, inquestionavelmente, uma terra de maravilhas.”

Pouco antes de deixar Londres, em outubro de 1940, o correspondente da CBS Eric Sevareidexpressou similar senso de empatia com uma cidade e uma nação que ele tinha aprendido aadmirar e amar. No último programa de rádio, Sevareid, com vinte e sete anos de idade,comparou a partida de Londres com sua saída de Paris, apenas dias antes de sua queda nas mãosdos alemães, quatro meses antes: “Paris morreu como uma bela mulher, em coma, sem lutar,sem saber ou perguntar por quê. Deixou-se Paris quase com um alívio. Parte-se de Londres comremorso. De todas as grandes cidades da Europa, apenas Londres se comporta com altivez e comdignidade, arrasada mas teimosa.

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Ao longo de todos os elogios que fazia à capital inglesa e seus residentes, Sevareid batalhoupara manter a voz firme. No fim, perdeu a batalha. As palavras saíram sufocadas pela emoção,mas concluiu: “Quando isso tudo acabar nos anos vindouros, os homens falarão sobre esta guerrae dirão, 'Eu fui soldado,' 'Eu fui marinheiro,' ou 'Eu fui aviador.' Outros dirão com igual orgulho:'Eu fui um cidadão de Londres.'”

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Caderno de Fotos

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John Gilbert WinantLIBRARY OF CONGRESS

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Ao barbear-se, Gil Winant é "apanhado" por colegas pilotos americanos, na França, durante aPrimeira Guerra Mundial.LIBRARY OF CONGRESS

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John Gilbert Winant, primeiro chairman da Câmara de Seguridade Social, numa reunião, em1935, com dois colegas de trabalho: Arthur J. Altmeyer (à esquerda) e Vincent M. Miles (à

direita).LIBRARY OF CONGRESS

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Edward R. Murrow em uniforme de correspondente de guerra dos EUA, pouco depois de osEstados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial.

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Ed Murrow moço, de camisa surrada e calças jeans que usava como madeireiro, seu trabalho deverão quando estudante secundário e na faculdade. Anos mais tarde, em Londres, ele diria aos

amigos que "havia satisfação naquela vida" e que "nunca mais sentiu aquela satisfação."LIBRARY OF CONGRESS

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Ed Murrow com a esposa, Janet, pouco depois do casamento em 1934.LIBRARY OF CONGRESS

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Ed Murrow no centro de Londres, em 1941.LIBRARY OF CONGRESS

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Averell Harriman, o novo administrador do Lend-Lease, no seu escritório em Londres emmeados de 1941.

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Averell Harriman aprendeu a montar ainda menino na vasta propriedade do pai, no estado deNova York. Tornou-se jogador de polo de renome internacional.

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Pelos trinta anos de idade, Harriman passou a maior parte de seu tempo procurando negócios portoda a Europa, inclusive uma concessão de manganês na nova União Soviética e siderúrgicas e

uma usina elétrica na Polônia.LIBRARY OF CONGRESS

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Harriman e sua esposa, Marie, desfrutando a noite no Stork Club em Nova York.LIBRARY OF CONGRESS

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Harriman nas pistas de Sun Valley , Idaho, que ele transformou em estação de esqui de primeirano fim dos anos 1930.

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George VI recebe John Gilbert Winant, novo embaixador americano na Inglaterra, na estação deWindsor, em março de 1941. O gesto sem precedentes do monarca sair do palácio para receberum recém-chegado enviado estrangeiro realçou a importância que a Inglaterra dava à ajuda dos

Estados Unidos para a luta contra Hitler e os alemães.LIBRARY OF CONGRESS

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Moças do Serviço Auxiliar Territorial, o ramo feminino do Exército inglês, guarnecem umcanhão antiaéreo em Londres, durante a guerra.

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Trabalho dos bombeiros para apagar incêndio causado por bombardeio aéreo alemão no centrode Londres, durante a Blitz do fim dos anos 1940.

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Pamela Churchill passeia com o filho Winston numa rua de Londres, em 1942. No ano anterior, anora de Churchill começou um romance com Averell Harriman. Quando este foi nomeado

embaixador na União Soviética, em 1943, ela se envolveu com Ed Murrow. Cerca de trinta anosmais tarde, Pamela casou-se com Harriman.

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Sarah Churchill, a filha preferida do primeiro-ministro, foi a pacificadora da família. Ela e JohnGilbert Winant tiveram intenso romance na guerra.

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Integrantes do Esquadrão Eagle, unidade constituída apenas por americanos, que desafiaram asleis de neutralidade de seu país para combater com a RAF, antes que os Estados Unidos

entrassem na guerra.LIBRARY OF CONGRESS

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Parecendo satisfeito por estar no centro da ação, Averell Harriman senta-se entre WinstonChurchill e o chefe russo Iosef Stalin, em Moscou, em agosto de 1942. Harriman "cavou" um

convite para o encontro Churchill-Stalin, uma das muitas cúpulas a que ele compareceria durantea guerra.

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Duas moças do serviço militar britânico descarregam fuzis Winchester recém-chegados dosEstados Unidos como parte do Lend-Lease com a Inglaterra.

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John Gilbert Winant e sua esposa, Constance (junto ao embaixador), recebem o general DwightD. Eisenhower e o almirante Harold Stark, os dois chefes militares dos EUA de maior patente em

Londres, em recepção na residência oficial do embaixador, no dia 4 de julho de 1942.LIBRARY OF CONGRESS

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Winant com Winston Churchill e Joseph Davies, ex-embaixador americano na União Soviética,em Chequers, residência de verão do primeiro-ministro. Winant e Harriman passaram muitos

fins de semana com os Churchills.LIBRARY OF CONGRESS

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Militares americanos compram bens não à venda para os ingleses, num reembolsável militar emLondres. As forças americanas na Inglaterra tinham padrão de vida melhor do que a maioria dos

cidadãos britânicos.LIBRARY OF CONGRESS

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Tommy Hitchcock, de dezoito anos, em uniforme de aviador francês. Hitchcock, que integrou aLafay ette Escadrille durante a Primeira Guerra Mundial e foi o americano mais jovem a ganhar

o distintivo de piloto na guerra, derrubou dois aviões alemães antes de ser também abatido.LIBRARY OF CONGRESS

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Amplamente considerado o melhor jogador de polo do mundo, Hitchcock ajudou a tornar oesporte um dos mais assistidos nos Estados Unidos nos anos 1920 e 1930.

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Graças a Gil Winant, Hitchcock foi adido militar na embaixada americana em Londres, ondedesempenhou papel crucial na adoção pelos Estados Unidos do P-51B Mustang, o avião de

combate que tornou possível o Dia-D.LIBRARY OF CONGRESS

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Um Mustang em voo de teste na Califórnia. Depois da guerra, um oficial do alto escalão da ForçaAérea admitiu que o avião surgiu na luta contra a Alemanha "exatamente na hora da salvação,

nem mais nem menos."LIBRARY OF CONGRESS

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Num terno momento na guerra, militar americano compra uma rosa de florista no PiccadillyCircus e a prende no casaco da namorada.

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Ed Murrow, com o indefectível cigarro, prepara o noticiário no birô da CBS em Londres.LIBRARY OF CONGRESS

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Roosevelt e Churchill encontram-se com o líder chinês Chiang Kai-shek na Conferência do Cairo,em novembro de 1943. Também presentes: Gil Winant (atrás de Roosevelt), Averell Harriman

(atrás de Madame Chiang Kai-shek) e o assistente presidencial Harry Hopkins (na extremadireita).

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Donas de casa de um subúrbio de Londres dão chá e alimentos, em junho de 1944, a tropasamericanas a caminho do sul da Inglaterra e da Normandia.

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O general Eisenhower entre suas bête-noires inglesas: o general Alan Brooke, (esquerda) e ogeneral Montgomery (direita). Menosprezando a capacitação militar do americano, os dois

sempre criticavam suas ordens.LIBRARY OF CONGRESS

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Stalin, Roosevelt e Churchill na Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945. Harriman atrás deStalin e Roosevelt. De pé, Sarah Churchill, como ajudante de ordens do pai, e o ministro do

Exterior Anthony Eden.LIBRARY OF CONGRESS

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O general Eisenhower recebe a Freedom of the City of London, honraria que remonta aos diasmedievais, numa trabalhada cerimônia em junho de 1945, pouco depois da vitória dos aliados na

Europa.LIBRARY OF CONGRESS

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Jubilosos jovens militares americanos celebram o "V-E Day ," Vitória na Europa 8 de maio de1945 , com residentes londrinos no Piccadilly Circus.

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Ed e Janet Murrow, com o filho Casey , poucos anos após a guerra.LIBRARY OF CONGRESS

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Notas

P R Ó L O G O

1 “nos convenceu”: carta de remetente não identificado, álbum de recortes de John GilbertWinant, de posse de Rivington Winant

2 “Estávamos”: Alex Danchev e Daniel Todman, eds., War Diaries, 1939–1945: Field MarshalLord Alanbrooke (Londres: Weidenfeld & Nicolson, 2001), p. 248. “ Houve muitas”: JohnG. Winant, A Letter from Grosvenor Square: An Account of a Stewardship (Boston:Houghton Mifflin, 1947), p. 3. “Houve um homem”: Times (Londres), 24 de abril de 1946.“transmitira para toda”: carta de Wallace Carroll para o Washington Post , sem data,documentos de Winant, FDRL

3 “prima-donas”: Robert E. Sherwood, Roosevelt and Hopkins: An Intimate History (Nova York:Harper and Brothers, 1948), p. 236

4 “Os ingleses chegaram”: Carlo D’Este, Eisenhower: A Soldier’s Life (Nova York: Henry Holt,2002), p. 337

5 “Não foi Mr Winant”: “British Mourn Winant,” New York Times, 5 de novembro de 1947. “Emblackout”: Donald L. Miller, Masters of the Air: America’s Bomber Boys Who Fought theAir War Against Nazi Germany (Nova York: Simon & Schuster, 2006), p. 137

6 “Esta é uma vitória americana”: Peter Clarke, The Last Thousand Days of the British Empire:Churchill, Roosevelt, and the Birth of the Pax Americana (Nova York: Bloomsbury, 2008),p. 103. “eles precisavam conhecer”: Norman Longmate, The G.I.’s: The Americans inBritain, 1942–1945 (Nova York: Scribner, 1975), p. 376.

7 “concentração nas coisas” : Star, 3 de fevereiro de 1941. “se aprendesse a viveramistosamente”: Bernard Bellush, He Walked Alone: A Biography of John Gilbert Winant(Haia: Mouton, 1968), p. 216

C A P Í T U L O 1

8 “Muito prazer”: Sunday Times, 2 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL9 “guerras eram ruins”: James Reston, Deadline: A Memoir (Nova York: Random House, 1991),

p. 68. “Não é maravilhoso”: Michael R. Beschloss, Kennedy and Roosevelt: The UneasyAlliance (Nova York: W. W. Norton, 1980), p. 177. “a Inglaterra acabou”: Bellush, p. 155.“sou mil por cento pelo apaziguamento”: Reston, p. 73. “devotar meus esforços”:Beschloss,p. 230. “uma das maiores e mais difíceis”: “Winant Esteemed by BritishChiefs,” New York Times, 7 de fevereiro de 1941

10 “Estou muito feliz” : Times (Londres), March 3, 1941, documentos de Winant, FDRL. “umincidente significativo” : Ibid. “não era apenas extrema”: John Keegan, “Churchill's

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Strategy,” em Robert Blake e William Roger Louis, eds., Churchill (Nova York: W. W.Norton, 1993), p. 331. “desanimadoras”: John Colville, The Fringes of Power: 10 DowningStreet Diaries, 1939-1945 (Nova York: W. W. Norton, 1985), p. 358

11 “neste momento a Inglaterra”: Joseph P. Lash, Roosevelt and Churchill, 1939-1941: ThePartnership That Saved the West (Nova York: W. W. Norton, 1976), p. 292. “ O experientepolítico”: Ibid., p. 143. “Para que a Inglaterra sobreviva”: Warren F. Kimball, “The MostUnsordid Act”: Lend-Lease, 1939-1941 (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1969),p. 70

12 “Isso está cheirando”: Colville, Fringes of Power, p. 223. “Achei que”: Herbert Agar, TheDarkest Year: Britain Alone, June 1940-June 1941 (Garden City, N.Y.: Doubleday, 1973),p. 143. “Até agora só”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 251

13 “se quisermos”: Martin Gilbert, Winston S. Churchill, Vol. 6, Finest Hour, 1939-1941 (Boston:Houghton Mifflin, 1983), p. 745. “Buscamos”: Christopher Hitchens, Blood, Class andNostalgia: Anglo-American Ironies (Nova York: Farrar, Straus & Giroux, 1990), p. 202.“Q uando se senta”: David Reynolds, The Creation of the Anglo-American Alliance, 1937-1941 (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1982), p. 25

14 “bem mais”: Agar, p. 153. “atraente e amistoso”: Joseph P. Lash, Eleanor and Franklin (NovaYork: W. W. Norton, 1971), p. 200. “ um moço inexperiente”: John Gunther, Roosevelt inRetrospect (Nova York: Harper & Brothers, 1950), p. 242. “ a alegria da festa”: Lash,Eleanor and Franklin, p. 221

15 “Sempre desgostei”: Beschloss, p. 200. “há uma forte”: Ibid. “sempre bebericando”: Reston,p. 70. “beberrão crônico”: Jon Meacham, Franklin and Winston: An Intimate Portrait ofan Epic Friendship (Nova York: Random House, 2003), p. 51. “ supunha ser Churchill”:David Dimbleby e David Reynolds, An Ocean Apart: The Relationship Between Britainand America in the Twentieth Century (Nova York: Random House, 1988), p. 136. “ Nãoficamos com coisa alguma”: David Reynolds, In Command of History: Churchill Fightingand Writing the Second World War (Londres: Penguin/ Allen Lane, 2004), p. 200

16 “arqueado numa atitude”: Andrew Roberts, “The Holy Fox” : The Life of Lord Halifax(Londres: Phoenix, 1997), p. 256. “a esses malditos ianques”: Meacham, p. 54. “Não estoucom pressa”: Gilbert, Finest Hour, p. 672

17 “a mais unsordid”: Warren F. Kimball, Forged in War: Roosevelt, Churchill and the SecondWorld War (Nova York: William Morrow, 1997), p. 74. “Lembre-se, Sr Presidente”: Ibid,p. 976. “A percentagem”: David Reynolds, Rich Relations: The American Occupation ofBritain, 1942-1945 (Londres: Phoenix, 2000), p. 41

18 “utópico John”: Bellush, p. 118. “extremamente infeliz”: entrevista com Eileen Mason,documentos de Bellush, FDRL. “sempre lhe dissera”: entrevista com Ernest Hopkin,documentos de Bellush, FDRL. “que os montes significavam”: “He Multiplied the Jobs,”New York Herald Tribune, 25 de setembro de 1932, documentos de Winant, FDRL. “Nossafunção”: Alex Shoumatoff, “A Private School Affair,” Vanity Fair , janeiro de 2006.“professor incrivelmente”: T. S. Matthews, Name and Address: An Autobiography (NovaYork: Simon & Schuster, 1960), p. 156

19 “Como a maioria”: Ibid, p. 155. “tudo ia bem”: Janet Murrow aos pais, 24 de abril de 1943,

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documentos de Murrow, Mount Holyoke. “ Era um”: entrevista de Dean Dexter comAbbie Rollins Caverly

21 “Gente da plateia”: entrevista do autor com Bert Whittemore. “É uma coisa terrível”: CharlesMurphy, “A Boy Who Meddled in Politics,” American, abril de 1933, documentos deWinant, FDRL. “começava sentindo”: “A New Kind of Envoy to a New Kind of Britain,”New York Times, 16 de fevereiro de 1941

22 “Tanto as ferrovias”: New York Times , 16 de setembro de 1934, documentos de Winant,FDRL. “conseguiu introduzir”: New York Herald Tribune , 5 de novembro de 1947. “Nãoentendo Winant”: “He Multiplied the Jobs,” New York Herald Tribune , 25 de setembro de1932, documentos de Winant, FDRL. “toda política pública”: Larry DeWitt, “John G.Winant,” Estudo Especial #6, Social Security Historian's Office, Social SecurityAdministration, maio de 1999

23 “pratica o mandamento cristão”: discurso de Lawrence F. Whittemore para a AssembleiaLegislativa de New Hampshire, 25 de julho de 1951. “Sempre que se desejava”:entrevista com Robert Bingham, documentos de Winant, FDRL. “reverenciavam eamavam”: entrevista do autor com William Gardner. “adorava fisgar”: Gunther, p. 57

24 “transfusão de sangue novo”: recorte sem data de jornal, documentos de Winant, FDRL.“Winant caminha para”: transcrição do Boston Evening, 27 de setembro de 1934,documentos de Winant, FDRL. “capturou o”: Charles Murphy, “A Boy Who Meddled inPolitics,” American, abril de 1933, documentos de Winant, FDRL. “O senhor,pessoalmente”: carta não assinada para Winant, 12 de julho de 1934, documentos deWinant, FDRL. “trocaria de bom grado”: recorte sem data, documentos de Winant,FDRL

25 “Não, não”: entrevista com Frances Perkins, documentos de Bellush, FDRL. “A maioria dosamericanos”: “The Manager Abroad,” Time, 1º de dezembro de 1947. “Desde a guerra”:Jean Edward Smith, FDR (Nova York: Random House, 2007), p. 22. “ os americanosmergulhavam”: Kimball, “The Most Unsordid Act,” p. 1. “Do caldo infernal”: DavidRey nolds, Rich Relations, p. 8

26 “homens entravam”: New York Times , 14 de fevereiro de 1937. “Ele não tinha noção”:entrevista com Robert Bass, documentos de Bellush, FDRL

27 “Ele foi, sem a menor”: Larry DeWitt, “John G. Winant,” Estudo Especial #6, Social SecurityHistorian's Office, Social Security Administration, maio de 1999

28 “política rasteira”: Bellush, p. 131. “pelo menos um homem”: Allan B. MacMurphy paraWinant, 16 de outubro de 1936, documentos de Winant, FDRL. “Mais do que qualqueroutro”: William L. Shirer, Berlin Diary: The Journal of a Foreign Correspondent, 1939-1941 (Nova York: Alfred A. Knopf, 1941), p. 505

29 “Eles aguentarão”: New York Times, 7 de fevereiro de 1941. “que me transmitiu a sensação”:Times (Londres), 24 de abril de 1946

30 “Não haveria outro nome”: News Chronicle, 7 de fevereiro de 1941, documentos de Winant,FDRL. “Ele é um americano”: Manchester Guardian, 7 de fevereiro de 1941, documentosde Winant, FDRL. “Há algo de cavaleiro”: “A Man of Strength and Straightness,” Times(Londres), 8 de fevereiro de 1941, documentos de Winant, FDRL. “Muitas vezes nopassado”: “Mr. Winant Knows the Plain People,” Star, 7 de fevereiro de 1941,documentos de Winant, FDRL

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31 “aquela figura encorpada”: Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 26. “Mr Winant”:Washington Post, 18 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL

32 “lord da linguagem”: Sunday Times (Londres), 23 de março de 1941, documentos de Winant,FDRL. “Cada palavra”: Ibid. “bem parecido”: “The Voice of New England,” Star, 19 demarço de 1941, documentos de Winant, FDRL. “não era um orador”: “Lincoln Comes toTown,” Daily Herald, 19 de março de 1941, documentos de Winant, FDR. “entrou emação”: John G. Winant, Our Greatest Harvest: Selected Speeches of John G. Winant, 1941-1946 (Londres: Hodder & Stoughton, 1950), p. 7

33 “linguagem de grandeza simples”: “Mr. Winant's Success,” Evening Standard, 19 de março de1941, documentos de Winant, FDRL. “O ENVIADO DOS EUA”: Daily Mirror, 19 demarço de 1941, documentos de Winant, FDRL. “Q uase todos com quem falei”: Star, 19de março de 1941, documentos de Winant, FDRL. “foi um extraordinário triunfo”:Sunday Times (Londres), 23 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL

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34 “era a mais magnífica”: Reginald Colby, Mayfair: A Town Within London (Londres: CountryLife, 1966), p. 50. “Um embaixador da”: David McCullough, John Adams (Nova York:Simon & Schuster, 2001), p. 337. “Eles nos detestam”: Ibid., p. 348. “da civilidadeestudada”: Henry Steele Commager, ed., Britain Through American Eyes (Nova York:McGraw-Hill, 1974), p. 23. “Nunca tentarei fazer”: Ibid., p. 26

35 “Daqui a alguns anos”: Geoffrey Williamson, Star-Spangled Square: The Saga of “LittleAmerica” in London (Londres: Geoffrey Bles, 1956), p. 47. “Essa gente”: NathanielHawthorne, The Complete Writings of Nathaniel Hawthorne, Vol. II (Boston: HoughtonMifflin, 1900), p. xx. “A única maneira segura”: Commager, p. 432

36 “Ele não sabe dançar”: McCullough, p. 349. “pronunciadas tão lentamente”: Daily Herald, 4de março de 1941, documentos de Winant, FDRL. “EXCELENTE IMPRESSÃO”:Washington Evening Star , 3 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL. “Nosprimeiros”: News Chronicle, 4 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL.“Deixando-se de lado”: William Stoneman, “Excellent Impression Made by Winant inLondon,” Washington Evening Star, 3 de março de 1941, documentos de Winant, FDRL

37 “tem mais influência”: A. M. Sperber, Murrow: His Life and Times (Nova York: Freundlich,1986), p. 131

38 “Você é o melhor ”: Nelson Poynter para Murrow, 21 de junho de 1940, documentos deMurrow, Mount Holy oke. “Você é o homem no ar no 1”: Sperber, p. 188. “elementocatalisador”: Robert E. Sherwood, Roosevelt and Hopkins: An Intimate History (NovaYork: Harper & Brothers, 1948), p. 236

39 “tratados como deuses de lata”: R. Franklin Smith, Edward R. Murrow: The War Years(Kalamazoo: New Issues Press, 1978), p. 95. “É bom vê-lo”: Alexander Kendrick, PrimeTime: The Life of Edward R. Murrow (Boston: Little, Brown, 1969), p. 231. “Ainda tenho”:Sperber, p. 122. “Ed pareceu-me”: Joseph Persico, Edward R. Murrow: An AmericanOriginal (Nova York: Dell, 1988), p. 138

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40 “de uma forma ou de outra, a Inglaterra”: R. Franklin Smith, p. 101. “Ed tinha grande”:Sperber, p. 189. “Ambos bastante reservados” : Ibid. “esperava que os indivíduos”: R.Franklin Smith, p. 145. “Espero que a vida”: Murrow para Charles Siepmann, 6 de maio de1940, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “ Se a luz”: Murrow para WilliamBoutwell, 22 de julho de 1941, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “ Ele sepreocupava”: Sperber, p. 172

41 “um jovem americano”: Persico, Edward R. Murrow, p. 123. “havia certa felicidade”: BenRobertson, I Saw England (Nova York: Alfred A. Knopf, 1941), p. 97

42 “a mais ricamente”: Sperber, p. 53. “Se o restante do mundo”: Ibid., p. 12043 “Deixaram por demais”: Persico, Edward R. Murrow, p. 150. “Partindo-se do pressuposto”:

Ly nne Olson, Troublesome Young Men: The Rebels Who Brought Churchill to Power andHelped Save England (Nova York: Farrar, Straus & Giroux, 2007), p. 119. “ conspiraçãodo silêncio”: Sperber, p. 131

44 “essas pessoas”: Persico, Edward R. Murrow, p. 150. “Elas tinham uma maneira rápida”: Ibid.,p. 119. “É uma bela casa”: diário de Janet Murrow, 13 de julho de 1941, documentos deMurrow, Mount Holyoke

46 “um lugar agradável”: Asa Briggs, The History of Broadcasting in the United Kingdom, Vol. 3,The War of Words (Oxford: Oxford University Press, 1970), p. 22. “triste e discreta”:Ibid. “Q uero que meus programas”: R. Franklin Smith, p. 8

47 “no verdadeiro” : Ibid., p. 50. “Muito bem, irmãos”: Sperber, p. 138. “um dos maisimportantes neutros”: Tom Hickman, What Did You Do in the War, Auntie? (Londres:BBC Books, 1995), p. 30

48 “A BBC” : Ibid., p. 205. “Estávamos difundindo”: Sperber, p. 181. “Todos nósconsiderávamos”: R. Franklin Smith, p. 51

49 “Até onde posso ver”: Lynne Olson e Stanley Cloud, A Question of Honor: The KosciuszkoSquadron: Forgotten Heroes of World War II (Nova York: Alfred A. Knopf, 2003), p. 93.“Todo mundo a zanzar ”: Ibid., p. 94. “Nós decidimos”: Janet Murrow para os pais, 13 demaio de 1940, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “ Simplesmente não é possível”:Janet Murrow para os pais, 11 de junho de 1940, documentos de Murrow, Mount Holyoke.“contagiante entusiasta”: “Quentin Reynolds Is Dead at 62,” New York Times , 18 demarço de 1965

50 “Nunca antes”: Janet Murrow para os pais, 23 de junho de 1940, documentos de Murrow,Mount Holyoke. “aves de rapina e chacais”: Harry Watt, Don't Look at the Camera(Londres: Paul Elek, 1974), p. 134. “Aqui jazem”: Stanley Cloud e Lynne Olson, TheMurrow Boys: Pioneers on the Front Lines of Broadcast Journalism (Boston: HoughtonMifflin, 1996), p. 88

51 “Londres está queimando”: Sperber, p. 167. “em constante perigo de vida”: Charles Ritchie,The Siren Years: A Canadian Diplomat Abroad, 1937-1945 (Toronto: Macmillan, 1974), p.65. “Vocês não podem fazer isso comigo”: Notas de Eric Sevareid sobre a Blitz,documentos de Sevareid, LC

52 “Como qualquer pessoa”: Robertson, p. 129. “dos mesmos luxo e brilho”: Ernie Py le, ErniePyle in England (Nova York: McBride, 1941), pp. 22-23

53 “mensageiro do inferno”: Sperber, p. 172. “muito chocado”: R. Franklin Smith, p. 38. “As

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palavras não têm”: radiodifusão de Murrow, 14 de setembro de 1940, National Archives.“Fez tudo de”: R. Franklin Smith, p. 94. “palavra falada”: Ibid., p. 84

54 “que mais pareciam bonecas”: Sperber, p. 173. “o frio e sufocante fog”: radiodifusão deMurrow, 2 de dezembro de 1940, National Archives. “ Eles operam em”: Persico, EdwardR. Murrow, p. 174. “as pessoas comuns”: radiodifusão de Murrow, 18 de agosto de 1940,National Archives. “heróis anônimos”: Ibid. “Você acha que somos”: Persico, Edward R.Murrow, p. 178. “Era isso que ele”: R. Franklin Smith, p. 100

55 “Vocês estão bem?”: Briggs, p. 295. “Tenho visto coisas”: Sperber, p. 169. “Todos tinham osolhos vermelhos”: Robertson, p. 126. “Anda-se pelas ruas”: Quentin Reynolds, A LondonDiary (Nova York: Random House, 1941), p. 65. “Nesta crise,”: Robertson, p. 131

56 “Chegar a Dublin foi”: Ibid., pp. 182-83. “matronas formais”: Eric Sevareid, Not So Wild aDream (Nova York: Atheneum, 1976), p. 176. “ estranho americano” : Ibid. “mostrarampara o mundo”: Ibid., p. 166

57 “Eles são extremamente”: Philip Seib, Broadcasts from the Blitz: How Edward R. MurrowHelped Lead America into War (Washington: Potomac Books, 2006), p. 65. “ berrou”:Watt, p. 141. “ Sou um repórter neutro”: Nicholas Cull, Selling War: The BritishPropaganda Campaign Against American “Neutrality” in World War II (Nova York: OxfordUniversity Press, 1995), p. 103

58 “uma crença”: Watt, p. 142. “A situação no Savoy”: Ibid.“bons meninos”: Cloud e Olson, p. 5859 “Ele não fingiu”: R. Franklin Smith, p. 117. “Não desejo usar”: Seib, p. 109. “salvo no que

dizia”: Ibid., p. 127. “mil anos de história”: Ibid., p. 108. “Ele queria”: R. Franklin Smith, p.109. “Talvez vocês possam”: radiodifusão de Murrow, 30 de setembro de 1940, NA.“Murrow e seus colegas”: R. Franklin Smith, p. 107

60 “Todos os abrigos”: Janet Murrow para os pais, 22 de outubro de 1940, documentos deMurrow, Mount Holyoke. “ separavam a alma”: Angus Calder, The People's War: Britain,1939-1945 (Nova York: Pantheon, 1969), p. 173. “ Parecia um”: Persico, Edward R.Murrow, p. 178. “Por vezes ele parecia” : Ibid., p. 184. “Ele interioriza”: “This IsMurrow,” Time, 30 de setembro de 1957. “as janelas”: R. Franklin Smith, p. 101

61 “Vocês não sofrerão”: Kendrick, p. 225

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63 “malfeitores de grande fortuna”: Christopher Ogden, Life of the Party: The Biography ofPamela Digby Churchill Hayward Harriman (Boston: Little, Brown, 1994), p. 112. “não erabom”: Rudy Abramson, Spanning the Century: The Life of W. Averell Harriman (NovaYork: William Morrow, 1992), p. 271. “Boa aparência”: Walter Isaacson e Evan Thomas,The Wise Men: Six Friends and the World They Made (Nova York: Touchstone, 1986), p.121

64 “Confidencialmente, Franklin”: Ibid., p. 188. “Estamos querendo”: transcrição do discurso deHarriman, 14 de fevereiro de 1941, documentos de Harriman, LC. “e recomendar tudo”:W. Averell Harriman e Elie Abel, Special Envoy to Churchill and Stalin, 1941-1946 (NovaYork: Random House, 1975), p. 19. “ foi um pouco nebuloso”: memorando de Harriman,

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18 de março de 1941, documentos de Harriman, LC65 “tão logo”: Abramson, p. 277. “Senhor Presidente”: transcrição de entrevista coletiva de

Roosevelt, 18 de fevereiro de 1941, documentos de Harriman, LC. “uma interminável”:Abramson, p. 65. “não se divertia”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory: The Life ofPamela Churchill Harriman (Nova York: Simon & Schuster, 1996), p. 79. “ precisou dereforço”: Abramson, p. 16

66 “Mergulhava de cabeça”: Isaacson e Thomas, p. 42. “tentava equiparar”: Abramson, p. 13767 “Averell é um perseguidor”: E.J. Kahn, “Profiles: Plenipotentiary -1,” New Yorker, 3 de maio

de 1952. “Averell era visto ”: Abramson, p. 127. “Em termos intelectuais”: Harriman eAbel, p. 6

68 “Q uem quer que diga”: Abramson, p. 27369 “Existe um sentimento”: Harriman para Harry Hopkins, 6 de junho de 1940, documentos de

Harriman, LC. “ele gastou mais”: Henry H. Adams, Harry Hopkins: A Biography (NovaYork: Putnam's, 1977), p. 22

70 “Hopkins não se considerava”: Sherwood, p. 159. “Harry jamais teve” : Ibid., p. 29. “umalíngua”: Ibid., p. 80. “atacava de volta”: Adams, p. 52

72 “Ele ficava feliz”: Sherwood, p. 6. “com toda a energia”: Adams, p. 152. “estava semprepronto”: “Ave and the Magic Mountain,” Time, 14 de novembro de 1955. “Suponho queChurchill”: Sherwood, p. 232

73 “representante pessoal”: Ibid., p. 247. “aquele homem extraordinário”: Winston S. Churchill,The Grand Alliance (Boston: Houghton Mifflin, 1950), pp. 20-21. “Churchill é o governo”:Sherwood, p. 243

74 “A mim pareceu um”: Meacham, p. 84. “Suponho que os senhores”: Adams, p. 207. “umhomem completamente mudado”: Sherwood, p. 268. “Esta ilha precisa”: Ibid., p. 260

75 “Deixe-me carregar”: Adams, p. 199. “talvez tenha alguma coisa”: Abramson, p. 276. “Aquiem Washington”: James MacGregor Burns, Roosevelt: The Soldier of Freedom (NovaYork: Harcourt Brace Jovanovich, 1970), p. 51. “ tudo muito em ordem”: Reston, p. 98.“um lugar agradável”: Ibid., p. 101. “um parque coberto de folhas e sonhador”: Sevareid,p. 193. “uma cidade”: David Brinkley, Washington Goes to War (Nova York: Alfred A.Knopf, 1988), p. xiv. “É difícil”: Sherwood, p. 161

76 “O programa de produção”: Vincent Sheean para Murrow, 26 de dezembro de 1940,documentos de Murrow, Mount Holyoe

77 “repelir incursões”: D'Este, p. 259. “Estamos tão carentes”: memorando de Harriman, 11 demarço de 1941, documentos de Harriman, LC. “Não podemos levar” : Ibid. “ficaraperturbado”: James Leutze, ed., The London Journal of General Raymond E. Lee, 1940-1941 (Boston: Little, Brown, 1971), p. 175

78 “Sem entendimento”: memorando de Harriman, 11 de março de 1941, documentos deHarriman, LC. “como uma espécie”: Dimbleby e Reynolds, p. 145. “Saí achando”:memorando de Harriman, 11 de março de 1941, documentos de Harriman , LC

79 “Ele tem pessoalmente”: Harriman para Marie Harriman, 30 de março de 1941, documentosde Harriman, LC. “Nada lhe será”: Harriman e Abel, p. 22. “por pouco não se tornou”:John Colville, Footprints in Time: Memories (Londres: Century, 1985), p. 154. “ fez quatropertinentes”: Ibid.

80 “Logo no início”: Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 68. “Tínhamos uma incomum”:

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Ibid., p. 67. “o total respeito e confiança”: Harriman para FDR, 10 de abril de 1941,documentos de Harriman, LC. “um dos piores do mundo”: entrevista com TheodoreAchilles, documentos de Bellush, FDRL

81 “Talvez você gostasse ”: Murrow para Chet Williams, 15 de maio de 1941, documentos deJanet Murrow, Mount Holyoke. “ Cada um dos ministros”: Harriman e Abel, p. 23. “Souaceito como”: Harriman para o presidente da Union Pacific, 30 de maio de 1941,documentos de Harriman, LC. “Tenho estado”: Harriman para Marie Harriman, 6 demaio de 1941, documentos de Harriman, LC. “O nervosismo era muito”: Harriman paraHerbert Feis, sem data, documentos de Harriman, LC

82 “que mais parecia”: Robert Meiklejohn para Mr. Wooley , 21 de maio de 1941, documentos deHarriman, LC. “aquele refúgio dourado”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p. 77. “amoderna Babilônia”: Robert Rhodes James, ed., Chips: The Diaries of Sir Henry Channon(Londres: Phoenix, 1997), p. 272. “uma fortaleza”: Leutze, ed., p. 61. “Jamais vi” : Ibid.“Jamais me senti”: Robertson, p. 137

83 “Minha correspondência”: Harriman para Marie Harriman, 30 de março de 1941,documentos de Harriman, LC. “se assemelhavam”: Gilbert, Finest Hour, p. 972

84 “Até onde posso ver”: Ibid., p. 1040. “Como os ingleses”: Ritchie, p. 100

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85 “aquele aspecto horrível, cansado”: Philip Ziegler, London at War, 1939-1945 (Nova York:Alfred A. Knopf, 1995), p. 177

86 “Estou realmente com medo”: Sperber, p. 192. “É o escritório”: diário de Janet Murrow, 16 deabril de 1941, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “muitos de”: Ibid

87 “Agora que estou aqui”: entrevista com Theodore Achilles, documentos de Bellush, FDRL.“se baseava em termos humanos”: Ibid.

88 “Não vejo razão”: Janet Murrow para a mãe, 18 de abril de 1941, documentos de Murrow,Mount Holyoke. “Sua personalidade”: entrevista com Virginia Cowles, documentos deBellush, FDRL. “exemplificou para o povo inglês”: entrevista com Sir Arthur Salter,documentos de Bellush, FDRL

89 “Ele ganha”: Harriman para FDR, 10 de abril de 1941, documentos de Harriman, LC. “foiuma devastação”: Colville, The Fringes of Power, p. 373

90 “As notícias sobre sua”: Winant para FDR, 10 de abril de 1941, Winant/ arquivos doDepartamento de Estado, National Archives. “Ele passa em revista”: Harriman para FDR,11 de abril de1941, documentos de Harriman, LC. “Desculpe eu não poder”: WalterThompson, Assignment: Churchill (Nova York: Farrar, Straus & Young, 1955), p. 216.“Eles enfrentaram”: Harriman para FDR, 11 de abril de 1941, documentos de Harriman,LC

91 “que pareceu sublinhar”:Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 48. “Eles têm muita fé”:Harriman para FDR, 11 de abril de 1941, documentos de Harriman, LC. “que todo aquelepesar e dor”: Clementine Churchill para Harriman, 15 de abril de 1941, documentos deHarriman, LC.“O fedor”: Calder, p. 185

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92 “É o espírito”: Harriman para o presidente da Union Pacific, 30 de maio de 1941,documentos de Harriman, LC. “As mulheres são”: Harriman para Marie Harriman, 17 deabril de 1941, documentos de Harriman, LC. “O que as mulheres”: Agar, p. 202

93 “magnífico corpo”: Norman Longmate, The Home Front: An Anthology of PersonalExperience, 1938-1945 (Londres: Chatto & Windus, 1981), p. 75. “viver um pesadelo”:Sherwood, p. 276

94 “Não há dúvida de que”: Leutze, ed., p. 243. “Você não vai mais encontrar”: Vincent Sheean,Between the Thunder and the Sun (Nova York: Random House, 1943), p. 296

95 “está inquieto”: Harold Nicolson, The War Years, 1939-1945 (Nova York: Atheneum, 1967), p.164. “A fadiga”: Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 39. “Tudo o que o país”:Nicolson, p. 162. “Um grave dano incidiu”: Sherwood, p. 275

96 “um desastre”: Winston S. Churchill, The Grand Alliance, p. 190. “A evacuação caminha”:Lash, Roosevelt and Churchill, p. 301. “desalento e perda de confiança” : Ibid., p. 312.“Sinto que”: Gilbert, Finest Hour, p. 1083

97 “Senhor Presidente”: Ibid., p. 1078. “Tudo isso vai ser”: Leutze, ed., p. 24498 “A situação é”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 298. “Não podemos deixar”: Ibid., p. 30499 “O Presidente está esperando”: William Bullitt para Harriman, 29 de abril de1941,

documentos de Harriman, LC. “Eu disse a Hopkins”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 321.“Acho que”: Adams, p. 223. “Só sei que”: Ibid., p. 224. “Alertei-o de que”: Doris KearnsGoodwin, No Ordinary Time: Franklin and Eleanor Roosevelt: The Home Front in WorldWar II (Nova York: Simon & Schuster, 1994), p. 24

100 “Q ue parcela”: Jean Edward Smith, p. 492. “A realidade é que”: História Oral — FrancesPerkins, Columbia University. “ O povo como um todo”: Sperber, p. 131. “Por que vocênão”: discurso de Belle Roosevelt no Hobart and Smith College, junho de 1945,documentos de Winant, FDRL

101 “A opinião mundial”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 329. “como tinha de combater”: Ibid.,p. 342. “chocante ver”: Leutze, ed., p. 287. “Existe pensamento idealista”: Ibid., p. 275

102 “É impossível”: Harriman para William Bullitt, 21 de maio de 1941, documentos deHarriman, LC. “empregar navios de guerra”: Harriman para Marie Harriman, 6 de maiode 1941, documentos de Harriman, LC. “A força da Inglaterra está”: Harriman paraFDR, 10 de abril de 1941, documentos de Harriman, LC. “muito encorajado”: Gilbert,Finest Hour, p. 1036. “dois homens”: Colville, Footprints in Time, p. 152

103 “O que a América requer”: Ibid.105 “Como americano”: Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 40.

“Estávamos todos dormindo”: “Winant Indicates He Backs Convoys,” New York Times, 15de maio de 1941, documentos de Winant, FDRL. “Nós tornamos”: Ibid.

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107 “simplesmente ficara”: Mary Soames, Clementine Churchill: The Biography of a Marriage(Boston: Houghton Mifflin, 2002), p. 343

108 “era menos agendada”: Thompson, p. 127. “adorava uma plateia”: Roy Jenkins, Churchill: A

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Biography (Nova York: Farrar, Straus & Giroux, 2001), p. 639. “ tanto pelo”: Colville,Footprints in Time, p. 153

109 “Gostaria de agradecer”: Mary Churchill para Harriman, 13 de maio de 1941, documentosde Harriman, LC

110 “a maravilhosa vida”: memorando de Harriman, 5-9 de maio de 1943, documentos deHarriman, LC. “o americano mais poderoso”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p. 86.“era um caipira da América”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden,documentos de Pamela Harriman, LC. “maravilhosamente vistoso”: Abramson, p. 312

111 “aprisionada em Dorset”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden,documentos de Pamela Harriman, LC. “tão fria e calculista”: Sally Bedell Smith,Reflected Glory, p. 76. “podia ser bastante”: Mary Soames, “Father Always Came First,Second and Third,” Finest Hour, outono de 2002. “Uma das mais condenáveis”: Colville,The Fringes of Power, p. 177

112 “Um difundido galanteio”: Ziegler, p. 169. “As barreiras normais”: Sally Bedell Smith, InAll His Glory: The Life of William S. Paley (Nova York: Simon & Schuster, 1990), p. 217.“Foi a libertação”: Olson e Cloud, p. 178. “Londres foi oJardim”: Mary WelshHemingway , How It Was (Nova York: Ballantine, 1976), p. 105

113 “Aqui estou eu”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos dePamela Harriman, LC. “Na noite passada”:Harriman para Marie Harriman, 17 de abrilde 1941, documentos de Harriman LC.“interceptou olhares”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p. 87

114 “micróbio”: Soames, p. 351. “Alguns julgavam que”: Drew Middleton, Where Has Last JulyGone? (Nova York: Quadrangle, 1973), p. 68. “ tinha particular prazer”: Ogden, p. 154.“Ela transmitia tudo”: Ibid., p. 123

115 “Era muito valioso”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentosde Pamela Harriman, LC. “divertiu-se muito”: Ibid., p. 127. “temendo histórias”: ArthurM. Schlesinger Jr., Journals, 1952-2000 (Nova York: Penguin, 2007), p. 343. “ poderia terdado”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos de PamelaHarriman, LC. “Não fazemos”: Sarah Churchill, A Thread inthe Tapestry (Londres:Deutsch, 1967), p. 29

116 “Sabe,”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos de PamelaHarriman, LC. “se sentissem”: entrevista com Felix Frankfurter, documentos de BellushFDRL. “Um homem de charme”: Mary Soames, Clementine Churchill: The Biography of aMarriage (Boston: Houghton Mifflin, 2002), p. 390. “idealista gentil”: Colville, The Fringesof Power, p. 773. “Q uando Winant entra”: “A New Kind of Envoy to a New Kind ofBritain,” New York Times, 16 de fevereiro de 1941. “Há algo de (.)”: Ethel M. Johnson,“The Mr. Winant I Knew,” South Atlantic Quarterly, janeiro de 1949, correspondência deEleanor Roosevelt, FDRL. “ficou enfeitiçada”: James, ed., p. 297. “um dos homens mais”:Nicolson, p. 186. “o excelente”: Ibid, p. 198

117 “Outros homens”: Lord Moran, Churchill at War, 1940-45 (Nova York: Carroll & Graf,2002), p. 151. “Lá estava Winant” : Ibid., p. 152. “uma dessas grandes”: Danchev eTodman, eds., p. 474. “ Winant me refortalece”: entrevista com Theodore Achillesw,documentos de Winant, FDRL. “O PM”: Moran, p. 152. “gostava dos espertalhões”:

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Jenkins, p. 188. “mais um rico homem”: Ogden, p. 119118 “entendia intuitivamente”: Soames, p. 390. “mais charmosa e divertida”: Meacham, p. 94.

“charmosa, animada”: Janet Murrow para os pais, 7 de dezembro de 1940, documentos deMurrow, Mount Holyoke. “ muito atraente”: Eleanor Roosevelt, This I Remember (NovaYork: Harper, 1949), p. 267. “ Sente-se que” : Ibid. “quando casou”: Sally Bedell Smith,Reflected Glory, p. 67. “egoísta completo”: John Pearson, The Private Lives of WinstonChurchill (Nova York: Touchstone, 1991), p. 216. “ De coração”: entrevista de PamelaHarriman com Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC

119 “Fico facilmente”: Soames, p. 103. “por não desligarem”: Mary Soames, “Father AlwaysCame First, Second and Third,” Finest Hour, outono de 2002. “ele jamais fez”: Soames, p.266. “Um fim de semana aqui”: Kathleen Harriman para Mary Fisk, sem data,documentos de Harriman, LC

120 “ao ficar em plano secundário”: Kathleen Harriman para Mary Fisk, junho de 1941,documentos de Harriman, LC. “Isso soa”: Clementine Churchill para Winant, 2 de abril de1941, documentos de Winant, FDRL

121 “Não deixe que”: Soames, p. 96. “Ela caiu sobre ele”: Ibid., p. 261122 “uma das pessoas mais solitárias”: entrevista de Dean Dexter com Abbie Rollins Caverly.

“Como crianças”: Soames, p. 268123 “Em primeiro lugar”: Pearson, p. 126. “que todo o meu tempo”: Soames, p. 266. “um misto

de ternura” : Ibid., p. 267. “uma figura autoritária”: Sarah Churchill, Keep on Dancing(New York: Coward, McCann & Geoghegan, 1981), p. 67

124 “Apesar de os filhos”: Soames, p. 267. “Todos aqueles egos”: Pearson, p. 221. “escapardaquelas”: Ibid., p. 233. “Se eu realmente”: Sarah Churchill, A Thread in the Tapestry , pp.31-32

125 “Saí daquele teatro”: Ibid., p. 51. “teve bom desempenho”: Colville, The Fringes of Power,pp. 200-201. “comum como a sujeira”: Pearson, p. 265. “dirigiu-se a mim”: SarahChurchill, Keep on Dancing, p. 67

126 “uma criatura mágica”: Edwina Sandys, “A Tribute to Sarah Churchill,” Daily Mail, 25 desetembro de 1982. “Mais do que qualquer outra”: Lynda Lee Potter, Daily Mail, 25 desetembro de 1982. “Sarah é uma pessoa”: Kathleen Harriman para Mary Fisk, 7 de julhode 1941, documentos de Harriman, LC. “cortina de ferro”: Danchev e Todman, eds., p.474

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127 “Isso é pior do que”: “Winant Returns; Silent on Mission,” New York Times , 31 de maio de1941. “Não há dúvida,”: Anne O'Hare McCormick, “The Usual Intermission for PeaceFeelers,” New York Times , 7 de junho de 1941, documentos de Winant, FDRL. “altaautoridade de Washington” : Daily Mail, 2 de junho de 1941, documentos de Winant,FDRL. “quase uma muralha chinesa”: memorando de Harriman para FDR, 10 de abril de1941, documentos de Harriman, LC

128 “Estamos anunciando”: Burns, p. 119. “Estamos iludindo”: William Whitney para Harriman,

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25 de agosto de 1941, documentos de Harrimans, LC129 “A entrega dos suprimentos”: Adams, p. 226. “quase como um chamamento”: Lash,

Roosevelt and Churchill, p. 326. “tomado como um compromisso”: Sherwood, p. 298.“paralisado entre”: Dean Acheson, Present at the Creation: My Years in the StateDepartment (Nova York: W. W. Norton, 1969), p. 3. “com todos os nervos”: Leutze, ed., p.388. “Winant pediu-me”: Nina Davis Howland, “Ambassador John Gilbert Winant: Friendof Embattled Britain, 1941-1946,” tese de doutorado, University of Mary land, 1983, p.108. “Não podemos esperar” : Daily Telegraph , 19 de junho de 1941, documentos deWinant, FDRL

130 “Se Munique”: Longmate, The G.I.'s, p. 12. “mandato excelente”: Harriman e Abel, p. 19.“Laddie não era”: Nelson W. Aldrich Jr., Tommy Hitchcock: An American Hero (NovaYork: Fleet Street, 1984), p. 208. “ estamos trabalhando”: Harriman para FDR, 7 de maiode 1941, documentos de Harriman, LC

131 “interferir em todos”: Leutze, ed., p. 359. “Mr. Harriman goza”: Harriman e Abel, p. 63.“Não creio que”: Kathleen Harriman para Mary Fisk, junho de 1941, documentos deHarriman, LC

132 “Fiz grande”: Ogden, p. 130. “Achei-o absolutamente”: Pearson, p. 303. “Eledefinitivamente”: Ogden, p. 131. “um senso de tranquilidade”: Harriman para Churchill,1º de julho de 1941, documentos de Harriman LC. “'Mr. Harrimané muito persistente”:Howard Bird para Harriman, 1º de julho de 1941, documentos de Harriman, LC

133 “os inimigos mortais”: Olson e Cloud, p. 218134 “provavelmente jamais”: Thompson, p. 224. “Ele estava firmemente”: Lash, Roosevelt and

Churchill, p. 391. “manter esses dois”: Sherwood, p. 236. “Finalmente nos”: Goodwin, p.265. “Ele gosta de mim”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 391. “Papa esqueceracompletamente”: Meacham, p. 109

135 “dominando qualquer”: Elliott Roosevelt, As He Saw It (Nova York: Duell, Sloan & Pearce,1946), p. 28. “uma intimidade fácil”: Sherwood, p. 363. “tomassem conta dele”:Thompson, p. 238. “tinha quebrado o gelo”: Eleanor Roosevelt, p. 226. “Senti umaafeição”: Meacham, p. 108. “Eu preferiria”: Jean Edward Smith, p. 502. “O senhor temde”: Elliott Roosevelt, p. 29

136 “que buscaria um”: Lash, Roosevelt and Churchill, p. 402. “O presidente”: Gilbert, FinestHour, p. 1177. “A inundação é imensa”: Leutze, ed., p. 383. “Não sei o que”: Sherwood, p.373

138 “dar, dar e dar ”: Isaacson e Thomas, p. 212. “suspeita que pudesse”: Harriman e Abel, p.92

139 “Ninguém pode negar”: Lord Ismay , The Memoirs of Lord Ismay (Nova York: Viking, 1960),p. 231

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140 “morrera para que a Inglaterra”: “All Britain Honors Independence Day,” New YorkTimes, 5 de julho de1941, documentos de Winant papers, FDRL. “protótipo do moçodourado”: Alex Kershaw, The Few: The American “Knights of the Air” Who Risked

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Everything to Fight in the Battle of Britain (Nova York: Da Capo, 2006), p. 60. “ queroentrar nela”: Ibid., p. 58

141 “Eram arrogantes”: Cap John R. McCrary e Cap. David Scherman, First of the Many: AJournal of Action with the Men of the Eighth Air Force (Londres: Robson, 1944), p. 210.“Inacreditável quão”: Kershaw, p. 66. “ Ele não tinha” : New York Times , 5 de julho de1941, documentos de Winant, FDRL

142 “Nossos lares”: Mrs Anthony Billingham, America's First Two Years: The Story of AmericanVolunteers in Britain, 1939-1941 (Londres: John Murray, 1942), pp. 59-60. “ poderiaresultar”: Kershaw, p. 55

143 “Os alemães”: “Americans 'Capture' Headquarters of a British Brigade in War Games,” NewYork Times, 22 de julho de1940. “porem em risco”: Watt, p. 157

144 “encontrarem louras lindas”: James Saxon Childers, War Eagles: The Story of the EagleSquadron (Nova York: D. Appleton-Century, 1943), p. 17. “ Achei que aquela”: Kershaw,p. 62. “Numa avassaladora raiva”: James A. Goodson, Tumult in the Clouds (Nova York:St. Martin's, 1993), p. 25

145 “americanos típicos”: Kershaw, p. 83. “a guerra não poderia”: Philip D. Caine, Eagles of theRAF (Washington: National Defense University Press, 1991), p. 30

146 “Esse pessoal”: Kershaw, pp. 160-61. “ Eles estão sempre nos dizendo”: Caine, p. 105.“Parecia que nunca”: Ibid., p. 217. “Mais uma vez (...)”: Kershaw, p. 214. “ bando malucode caubóis”: Ibid.,p. 205

147 “Suas aventuras”: Caine, p. 148. “Olhem aqui, esses caras”: Kershaw, p. 216. “Ele foi, sem amenor”: Caine, p 218. “Lutar lado a lado”: Kershaw, p. 62. “ O que ele está fazendo?”:Caine, p. 105

148 “Eles foram sabotadores”: Kershaw, p. 204149 “polidamente mandou”: Watt, p. 155. “quatro semanas”: Ibid. “Longe de”: Bosley Crowther,

“Eagle Squadron,” New York Times, 3 de julho de 1942. “Sabe você”: Childers, p. 15150 “um oficial com uniforme”: “Winant Lauds R.A.F. at Eagle Luncheon,” New York Times , 20

de novembro de 1941151 “motoristas de caminhões”: Robertson, p. 71. “sorriram e pilheriaram”: Ibid., p. 72152 “meu contato com a vida”:Winant para Dr. Brister, 1º de julho de 1943, documentos de

Winant, FDRL. “o grupo mais nobre”: Winant paradestinatário desconhecido, 1º de novembro de 1946, documentos de Winant, FDRL

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153 “Deixar este país”: Murrow para Winant, 10 de novembro de 1941, documentos de Winant,FDRL. “Estou convencido”: Murrow para Chet Williams, 15 de maio de 1941,documentos de Murrow, Mount Holyoke. “mimar os nipônicos”: Adams, p. 255

154 “não fizera praticamente”: Danchev e Todman, eds., p. 205155 “Naquela crise pendente”: Burns, p. 148. “Nada é mais perigoso”: Lash, Roosevelt and

Churchill, p. 427. “Se em algum tempo”: Murrow para Winant, 10 de novembro de 1941,documentos de Winant, FDRL. “Por onde ando”: Sperber, p. 188

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156 “Edward R. Murrow”: Paley, p. 143. “ período de grande barulheira”: Gunther, p. 300.“Ele caminhava”: Persico, Edward R. Murrow, p. 196. “empregava grande parte”:Murrow para Harold Laski, 6 de dezembro de 1941, documentos de Murrow, MountHolyoke

157 “É difícil explicar”: R. Franklin Smith, p. 81. “Q uase todos os americanos”: Paley, p. 143.“estupefato com tudo aquilo”: Sperber, p. 204. “ao longo das margens”: Kendrick, p. 238.“Você incendiou”: Cloud e Olson, p. 143. “Os senhores (...) que hoje se reúnem”:telegrama de FDR para William Paley, 2 de dezembro de 1941, Arquivos Pessoais doPresidente, FDRL

158 “Isto significa guerra”: Adams, p. 257. “Você acha que ”: Winant, A Letter from GrosvenorSquare, p. 197

159 “Os japoneses fizeram”: Harriman e Abel, p. 113. “Vamos declarar guerra”:Winant, ALetter from Grosvenor Square, p. 199. “Senhor Presidente”:Winston S. Churchill, TheGrand Alliance, p. 538. “exaltação”: David Reynolds, In Command of History, p. 264.“chegaram a ensaiar”: Howland, p. 149. “Eles não se lamuriaram”:Winston S. Churchill,The Grand Alliance, p. 538

160 “Ainda temos”: Seib, p. 156. “Ele estava noutro”: História Oral — Frances Perkins,Columbia University . “Vocês não são capazes”: Gunther, p. 324

161 “Destruídos no solo”: Burns, p. 165. “a ideia parecia”: Sperber, p. 207. “O que vocêpensou”: Cloud e Olson, p. 145

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162 “Parecia uma criança”: Moran, p. 10. “O Winston com quem eu convivia”: Ibid., p. 8163 “uma das mais belas vistas”: Sir John Martin, Downing Street: The War Years (Londres:

Bloomsbury, 1991), p. 69. “ com sua miríade”: Gerald Pawle, The War and ColonelWarden (Nova York: Alfred A. Knopf, 1963), p. 138. “ Aqui estamos”: Goodwin, p. 305.“calma majestosa”: Martin Gilbert, Winston S. Churchill, Vol. 7, Road to Victory 1941-1945 (Boston: Houghton Mifflin, 1986), p. 43. “um par de”: Meacham, p. 5. “Estar comeles”: Ibid. “se mostrou sempre pleno”: Ibid., p. 157

164 “Pode-se quase sentir”: Moran, p. 21. “julgando-se um Sir Walter Raleigh”: Winston S.Churchill, The Grand Alliance, p. 558. “jogou fora ”: Sherwood, p. 437. “a maiscompleta”: Dimbleby e Reynolds, p. 152

165 “Os Estados Unidos”: David Rey nolds, The Creation of the Anglo-American Alliance, p. 11.“Nunca vi”: Mark Perry, Partners in Command: George Marshall and Dwight Eisenhowerin War and Peace (Nova York: Penguin, 2007), p. 54. “ficaram apinhados”: Brinkley , p. 91

166 “Jamais tinha visto”: Alex Danchev, “Very Special Relationship: Field Marshal Sir John Dilland General George Marshall,” ensaio da Marshall Foundation, 1984. “Não possoentender”: Danchev e Todman, eds., p. 216

167 “Como é típico”: Sir Frederick Morgan, Overture to Overlord (Garden City,N.Y.:Doubleday, 1950), p. 25. “ Poder-se-ia até”: Danchev e Todman, eds., p. 275.“Vínhamos sofrendo”: Sir Frederick Morgan, p. 26

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168 “Para Marshall”: Stanley Weintraub, 15 Stars: Eisenhower, MacArthur, Marshall: ThreeGenerals Who Saved the American Century (Nova York: Free Press, 2007), p. 33.“demasiado”: Perry , p. 50. “Nem mesmo o Presidente”: D'Este, p. 259

169 “um grande homem”: Danchev e Todman, eds., p. 247. “ Foi quase consenso”: ArthurBryant, The Turn of the Tide (Garden City, Nova York: Doubleday, 1957), p. 6. “ Percebique”: Danchev e Todman, eds., p. 249

170 “Demasiadamente convencido”: Ibid., p. 246. “Em muitos aspectos” : Ibid., p. 249. “apesarde ser”: Sherwood, p. 523. “Durante toda a”: Calder, p. 265. “Parecemos perder”:Gilbert, Road to Victory, p. 68. “o maior desastre”: Sherwood, p. 501

171 “Derrota é uma coisa”: Winston S. Churchill, The Hinge of Fate (Boston: Houghton Mifflin,1950), p. 383. “Ouve-se (.) gente”: Mollie Panter-Downes, London War Notes, 1939-1945(Nova York: Farrar, Straus & Giroux, 1971), p. 205. “ Durante todo o meu tempo”:Thompson, p. 263

172 “muito baixo-astral”: Soames, p. 415. “o massacre”: Sherwood, p. 498. “Terrível”: Moran,p. 38. “Simplesmente não podemos”: Nicolson, p. 196

173 “malicioso prazer”: Juliet Gardiner, “Overpaid, Oversexed, and Over Here” : The AmericanGI in World War II Britain (Nova York: Canopy, 1992), p. 32. “ os americanos deveriam”:Ibid., p. 33. “causou uma”: Ritchie, pp. 127-28. “Falando em termos gerais”: DavidReynolds, Rich Relations, p. 38. “As sementes da discórdia”: Rick Atkinson, An Army atDawn: The War in North Africa, 1942-1943 (Nova York: Henry Holt, 2002), p. 478.“Provavelmente, nem um só”: Longmate, The G.I.'s, p. 2

174 “Recebi tantos”: David Reynolds, Rich Relations, p. 36. “mistura de escravos”: Longmate,The G.I.'s, p. 27. “Você é do”: Robert S. Arbib, Here We Are Together: The Notebook of anAmerican Soldier in Britain (Londres: Right Book Club, 1947), p. 79“Espero que vocêsajudem”: Times (Londres), 22 de julho de 1941, documentos de Winant, FDRL. “queriaque o povo inglês”: Wallace Carroll, Persuade or Perish (Boston: Houghton Mifflin, 1948),p. 134

175 “Concentramo-nos no emprego”: Ibid., p. 135. “os jornais ingleses”: New York Times , 21 deabril de 1943. “Eu gostaria de passar”: Janet Murrow para os pais, 28 de fevereiro de1943, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “ um surpreendente novo”: Joseph P.Lash, From the Diaries of Felix Frankfurter (Nova York: W. W. Norton, 1975), p. 159

176 “um povo opressor” : Ibid., p. 147. “o conhecimento factual”: David Reynolds, RichRelations, p. 34. “intenso”: Nicolson, p. 226. “Em termos pessoais”: Murrow para HarryHopkins, sem data, documentos de Hopkins, FDRL

177 “Nos conheceremos melhor”: R. Franklin Smith, p. 60. “curso intensivo”: Sperber, p. 190.“Mais tarde” : Ibid. “a vigorosa crítica” : Ibid. “Franqueza e honestidade”: R. FranklinSmith, p. 60

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178 “An Englishman”: David Reynolds, Rich Relations, p. 114. “um ar de quase frenética”: Kay

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Summersby Morgan, Past Forgetting: My Love Affair with Dwight D. Eisenhower (NovaYork: Simon & Schuster, 1975), p. 45

179 “a visão de” : New York Times Magazine , 1º de novembro de 1942. “Q uinta Avenida emminiatura”: Mrs Robert Henrey, The Incredible City (Londres: J. M. Dent & Sons, 1944),p. 39. “clube de milionários”: Daily Telegraph, 6 de julho de 1942, documentos de Winant,FDRL. “Não houve alfaiate”: Henrey , The Incredible City, p. 40

180 “Senhores,”: David Reynolds, Rich Relations, p. 95. “É inquestionável”: D'Este, p. 37. “Oque mais ele temia”: Ibid., p. 91. “Faz-me sentir”: Kay Summersby Morgan, p. 44

181 “A despeito de ser” : Ibid., p. 36. “Creio que minha pressão”: Ibid. “Afinal de contas”:Harry Butcher, My Three Years with Eisenhower (Nova York: Simon & Schuster, 1946), p.6. “Desde o início”: Ismay , p. 258. “experimentava dificuldade”: Butcher, p. 6

182 “pessoalmente” : Ibid., p. 36. “outro dos”: entrevista com Dwight D. Eisenhower,documentos de Bellush, FDRL. “era então um grande”: New York Herald Tribune , 14 dejulho de 1942, documentos de Winant, FDRL

183 “exercia um misterioso”: Wallace Carroll, carta para o Washington Post , sem data,documentos de Winant, FDRL. “Todos com quem”: New York Herald Tribune , 14 de julhode 1942, documentos de Winant, FDRL

184 “Muitos de nós”: Acheson, p. 38. “para averiguar se”: New York Herald Tribune, 14 de julhode 1942, documentos de Winant, FDRL. “Averell enfraqueceu”: Abramson, p. 303

185 “mariposa”: William Standley, Admiral Ambassador to Russia (Chicago: Regnery, 1955), p.213. “Vez por outra”: Abramson, p. 340. “Creio que eu poderia”: entrevista de Harrimancom Elie Abel, documentos de Harriman, LC. “Ele não é bom escritor”: KathleenHarriman para Mary Fisk, 21 de novembro de 1941, documentos de Harriman, LC

186 “Winant estava muito incomodado”: entrevista de Harriman com Elie Abel, documentos deHarriman, LC. “Roosevelt sempre tomava”: Gunther, p. 51. “se encontrassem uma vez”:Howland, p. 272

187 “calamidade política”: Reston, p. 112. “há muito pouca”: entrevista com Eileen Mason,documentos de Bellush, FDRL. “Você está realizando”: FDR para Winant, 31 de outubrode 1942, Arquivo da Secretaria do Presidente, FDRL. “Dei a Harriman”: Leutze, ed., p.353

188 “ser cuidadoso”: Abramson, p. 304. “Eu conhecia”: Eleanor Roosevelt, p. 263. “sentimentode inadequação”: Ibid. “um país que derramara”: Ibid., p. 190

189 “dava pouca atenção” : Ibid., p. 266. “Ele considerava”: entrevista com Jacob Beam,documentos de Bellush, FDRL. “Ele carregava nos ombros”: entrevista com TheodoreAchilles, documentos de Bellush, FDRL. “Se você arriar”: David Gray para Winant, 24de novembro de 1942, Winant/documentos do Departamento de Estado, NationalArchives. “muito dedicado”: Anthony Eden, The Reckoning (Boston: Houghton Mifflin,1965), p. 295. “um dos melhores que”:Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 64

190 “Falta-me ousadia”: Olson, Troublesome Young Men , p. 99. “Nunca conheci ninguém”:Winant, A Letter from Grosvenor Square, p. 67

191 “Neste exato momento”: Sarah Churchill, Keep on Dancing, p. 111. “caso de amor”: Ibid., p.159

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192 “Ele possuía inusitado”: entrevista com T.T. Scott, documentos de Bellush, FDRL193 “Os três pareceram se entender”: Arthur Jenkins, “John Winant: An Englishman's

Estimate,” Christian Science Monitor, 9 de setembro de 1944, documentos de Winant,FDRL. “Caso se estivesse”: Carroll, p. 134. “era tão essencial”: Juliet Gardiner, WartimeBritain, 1939-1945 (Londres: Headline, 2004), p. 430. “mais pareciam o trabalho”: Calder,p. 443

194 “Tudo, com exceção”: Jose Harris, “Great Britain: The People's War?,” em David Rey nolds,Warren F. Kimball e A. O. Chubarian, eds., Allies at War: The Soviet, American and BritishExperience, 1939-1945 (Nova York: St. Martin's, 1994), p. 238. “tornou-se tão apertado”:Calder, pp. 323-24

195 “odiar, com o senso”: Sevareid, p. 480. “o que iriam comer”: Ziegler, p. 262. “Essas IlhasBritânicas”: Eleanor Roosevelt, p. 274. “Q uais são os objetivos”: Kendrick, p. 222. “Temde haver”: Sperber, p. 184

196 “Nós conversávamos”: Sevareid, pp. 173-74. “Para Winston”: Moran, p. 139. “velho ebenevolente”: Paul Addison, “Churchill and Social Reform,” em Robert Blake e WilliamRoger Louis, eds., Churchill (Nova York: W. W. Norton, 1993), p. 77. “Ele nunca andou deônibus”: Moran, p. 301

197 “Em Mr. Churchill”: Olson, Troublesome Young Men, p. 264. “Essa é a vossa vitória”: Olsone Cloud, p. 392. “para comprar o pesado”: Panter-Downes, p. 253

198 “um parlapatão”: Paul Addison, “Churchill and Social Reform,” em Blake e Louis, eds., p.72. “Q uando a guerra” : New York Times , 7 de fevereiro de 1941. “sem as mazelas”:Shirer, p. 505. “Existe uma profunda”: Winant, Our Greatest Harvest, p. 22. “a seconcentrarem”: The Star, 3 de fevereiro de 1941

199 “requer não apenas”: Bellush, p. 183. “Vocês, que sofreram”: Winant, Our GreatestHarvest, p. 56

200 “Achamos, Sir” : Daily Express, 8 de junho de 1942. “Winant fala” : Ibid. “uma nova emaior” : Daily Herald, 8 de junho de 1942, documentos de Winant, FDRL. “um dosmaiores”: Manchester Guardian, 8 de junho de, 1942, documentos de Winant, FDRL

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202 “o mais negro”: Sherwood, p. 648203 “Apenas com grande esforço”: Mark Stoler, “The United States: the Global Strategy,” em

David Reynolds e outros., eds., Allies at War , p. 67. “Juro lutar”: Antony Beevor eArtemis Cooper, Paris After the Liberation, 1944-1949 (Nova York: Doubleday, 1994), p.13

204 “não importa quão”: Sherwood, p. 629. “Considero-me”: Atkinson, p. 27. “onde nenhuma”:Dwight D. Eisenhower, Crusade in Europe (Garden City, N.Y.: Doubleday, 1948), p. 72.“pessoal altamente treinado”: Ismay, p. 120. “ Ainda vivíamos”: Dwight D. Eisenhower,p. 77

205 “missão bizarra”: Burns, p. 285. “fui saturado”: Dwight D. Eisenhower, p.89

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206 “maravilhoso charme”: Bryant, The Turn of the Tide, p. 431. “tinha apenas a mais vaga”:Ibid. “totalmente sincero”: Atkinson, p. 59. “um entendimento comparável”: Perry, p.191. “Essa foi a fórmula”: Carroll, p. 12. “pertencessem a uma só”: Dwight D.Eisenhower, p. 76

207“não entendeu”: Sir Frederick Morgan, p. 17. “atitude de um”: Dwight D. Eisenhower, p. 76.“supostamente a considerando”:Ibid., p. 90. “Os ingleses não eram”: Butcher, p. 239.“Está bastante claro”: David Irving, The War Between the Generals: Inside the AlliedHigh Command (Nova York: Congdon & Lattes, 1981), p. 55.“ invadir um país neutro”:Dwight D. Eisenhower, p. 88. “um pacote de três estrelas”: Kay Summersby Morgan, p.47

208 “Ele envelheceu”: Perry , p. 125. “os homens vagavam”: Atkinson, p. 144. “Só podemos nos”:Joseph Persico, Roosevelt's Secret War: FDR and World War II Espionage (Nova York:Random House, 2001), p. 210

209 “com bandas de música”: Atkinson, p. 141. “tanto os oficiais quanto” : Ibid., p. 144. “Atéonde eu podia divisar”: Ibid. “não causou efeito algum”: Dwight D. Eisenhower, p. 104.“nem remotamente”: Sherwood, p. 652

210 “Para as duas nações”: Merle Miller, Ike the Soldier: As They Knew Him (Nova York:Putnam's, 1987), p. 426. “a América fez”: Carroll, pp. 50-51. “um exército imaturo”:Atkinson, p. 159. “não chegamos aqui”: Ibid., p. 198

211 “Perpetuamos e apoiamos”: Cloud e Olson, p. 161. “Não podemos fazer vista grossa”:François Kersaudy , Churchill and DeGaulle (Nova York: Atheneum, 1982), p. 224. “ estãoconvencidos”: Panter-Downes, p. 252. “lua de mel acabou”: Carroll, p. 53. “Por mais queo odeie”: Dwight D. Eisenhower, p. 105

212 “Desde 1776”: Winston Churchill, The Hinge of Fate, p. 638. “coisa que aflige”: Burns, p.297. “um expediente temporário”: Sherwood, p. 653. “Q ue diachos significa”: Milton S.Eisenhower, The President Is Calling (Garden City , Nova York: Doubleday , 1974), p. 137

213 “não há nada na posição”: Kendrick, p. 254. “Trata-se de uma matéria ” : Ibid. “Ele, emmomento algum”: Sperber, p. 223. “Você está pondo em risco”: Paul White para Murrow,27 de janeiro de 1943, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “ definitivamenteperigosas”: telegrama para Murrow, 16 de novembro de 1942, documentos de Murrow,Mount Holy oke. “Acredito que todos”: Murrow para destinatário não identificado, 18 denovembro de 1942, documentos de Murrow, Mount Holyoke

214 “Os acontecimentos no norte da África”: Murrow para Ted Church, 22 de janeiro de 1943,documentos de Murrow, Mount Holy oke. “ Os ingleses receiam”: Murrow para Ed Dakin,6 de janeiro de 1943, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “ Darlan estava lá”:Nicolson, p. 263. “Não importa que”: Gunther, p. 331

215 “Giraud não foi”: Dwight D. Eisenhower, p. 129. “o norte da África”: Atkinson, p. 164. “Oexército alemão”: Ibid., p. 261

216 “Os arrogantes”: Butcher, p. 268. “No que concerne à”: Atkinson, p. 471. “vergonha” : Ibid.,p. 477. “Eisenhower, como general”: Danchev e Todman, eds., p. 351. “ A melhormaneira”: Atkinson, p. 246

217 “estávamos alçando”: Danchev e Todman, eds., p. 365. “ frágeis, verdes”: Atkinson, p. 377.“Como ele detesta os ingleses”: Irving, p. 15. “mesquinhas e insultuosas”: Perry, p. 174.“É melhor combater”: Ibid.

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218 “Nos seus atuais”: Butcher, p. 274. “Uma das constantes”: Merle Miller, p. 459. “como umamericano”: Atkinson, p. 467. “sem mesmo uma” : Ibid. “Ike é mais inglês” : Ibid. “estarmuito próximo” Irving, p. 63. “Meu Deus, como eu gostaria”: Atkinson, p. 523. “Seuespírito combativo”: Ibid., p. 461. “O exército americano”: Ibid., p. 415

219 “parecesse desempenhar” : Ibid., p. 481. “a marcante queda” : Ibid., p. 482. “umcontinente”: Winston S. Churchill, The Hinge of Fate, p. 780. “proporcionou umaoportunidade”: Atkinson, p. 538. “Alan Brooke”: Perry , p. 110

220 “os ingleses têm um plano”: Burns, p. 315. “água mole”: Atkinson, p. 270. “Uma coisa”:Merle Miller, p. 454

221 “Eles enxameavam”: Atkinson, p. 289. “Nossas ideias”: Bry ant, The Turn of the Tide, p. 459222 “nenhum militar”: Atkinson, p. 533. “Antes de ele partir”: Ibid. “Um dos deslumbramentos”:

Ibid. “Valha-me Deus”: Ibid., p. 466. “Eisenhower foi provavelmente”: Merle Miller, p.372. “Onde ele se destacou”: Danchev e Todman, eds., p. 351

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224 “Para atravessar o Canal”: Erik Hazelhoff, Soldier of Orange (Londres: Sphere, 1982), p.42. “todos aqueles heróis”: Eve Curie, Journey Among Warriors (Garden City, N.Y.:Doubleday , 1943), p. 481. “nadar na maré”: Ritchie, p. 59

225 “os ministros recebem”: A.J. Liebling, The Road Back to Paris (Garden City, N.Y.:Doubleday, 1944), p. 148. “ Sem levar em conta”: Erik Hazelhoff, In Pursuit of Life(Phoenix Mill, Reino Unido: Sutton, 2003), p. 110. “a moçada glamorosa”: Olson e Cloud,p. 169

226 “Q uanto às mulheres”: Ibid., p. 178. “A ocupação caíra”: Hazelhoff, Soldier of Orange, p.38. “Eu enlouqueceria”: BBC ouvindo avaliação da Tchecoslováquia, setembro de 1941,BBC Archives

227 “É impossível”: Tangy e Lean, Voices in the Darkness: The Story of the European Radio War(Londres: Secker & Warburg, 1943), p. 149. “quase embriagada”: Henrey , The IncredibleCity, p. 2. “Se a Polônia”: Olson e Cloud, p. 5

229 “o melhor do mundo”: Christopher M. Andrew, Her Majesty's Secret Service: The Making ofthe British Intelligence Community (Nova York: Viking, 1986), p. 448

230 “Os polacos tinham”: Douglas Dodds-Parker, Setting Europe Ablaze (Windlesham, Surrey :Springwood, 1983), p. 40. “Caso se viva entre”: Anthony Read e David Fisher, Colonel X:The Secret Life of a Master of Spies (Londres: Hodder & Stoughton, 1984), p. 278

231 “Chegamos a Londres”: William Casey , The Secret War Against Hitler (Nova York: Berkley,1989), p. 37. “Lembro-me muito bem” : Ibid., pp. 24-25. “A verdade é que”: Nelson D.Lankford, OSS Against the Reich: The World War II Diaries of Col. David K. E. Bruce(Kent, Ohio: Kent State University Press, 1991), p. 125

232 “inestimável valor”: Dwight D. Eisenhower, p. 262233 “A Inglaterra não solicita”: Olson e Cloud, p. 96. “Devemos vencer juntos”: Ibid., p. 90. “O

senhor está sozinho”: Kersaudy , p. 83. “líder de todos”: Ibid.234 “As Nações Unidas”: radiodifusão nacional de FDR, 23 de fevereiro de 1942, FDRL.

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“Winston, esquecemos o rei Zog!”: Meacham, p. 164235 “falava em idealismo”: Arthur M. Schlesinger Jr., “FDR's Internationalism,” em Cornelis van

Minnen e John F. Sears, eds., FDR and His Contemporaries: Foreign Perceptions of anAmerican President (Nova York: St. Martin's, 1992), p. 15. “não tinham pleitos”: ValentinBerezhkov, “Stalin and FDR,” em ibid., p.50. “Ele permitia”: Lord Chandos, The Memoirsof Lord Chandos (Nova York: New American Library, 1963), pp. 296-97. “não podiamviver”: Ibid., p. 297

236 “Servi-me de água”: Eden, p. 432. “Roosevelt conhecia”: Ibid., p. 433. “uma espécie desemideus”: Olson e Cloud, p. 241. “Existe um grande temor”: Murrow para Ed Dakin, 6 dejaneiro de 1943, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “ Q ual será”: Carroll, p. 72.“produzira violentas”: Kersaudy , p. 225

237 “positivamente exagera”: Moran, pp. 97-98. “numa posição horrivelmente”: Ismay, p. 356.“Aproximar-se”: Jean Lacouture, De Gaulle: The Rebel, 1890-1944 (Nova York: W. W.Norton, 1990), p. 265

238 “Não sou subordinado” : Ibid., p. 267. “Você pensa ”: Kersaudy, p. 138. “ O senhor podeestar certo”: Ibid., p. 210. “É quase a única coisa”: de Gaulle para Pamela Churchill, semdata, documentos de Pamela Harriman, LC

239 “a França havia fracassado”: Claude Fohlen, “De Gaulle and FDR,” em van Minnen eSears, eds., p. 42. “Ele se toma por”: Lacouture, p. 335. “convencido”: Carroll, p. 103.“Roosevelt queria”: Jean Edward Smith, p. 567. “falava sobre o império”: Gunther, p. 54

240 “Entre Giraud e de Gaulle”: Nicolson, p. 294. “vem minando”: Kersaudy, p. 288. “ Sempreque tivermos”: Lacouture, p. 521

241 “esse vaidoso”: Kersaudy , p.275. “não só”: Ibid., p. 279. “em termos de ordens”: Dwight D.Eisenhower, p. 137. “Pareceu”: Carroll, p. 308

242 “praticados em”: R. Harris Smith, OSS: The Secret History of America's First CentralIntelligence Agency (Berkeley : University of California Press, 1972), p. 31. “em todos osmomentos”: Carroll, p. 106. “diplomata”: Charles de Gaulle, The Complete War Memoirsof Charles de Gaulle (Nova York: Carroll & Graf, 1998), p. 220. “esplêndido embaixador”:Ibid., p. 310. “Q uem está salvando”: Carroll, p. 107. “Não creio que”: Ibid., p. 108

243 “estava em maus lençóis”: Howland, p. 268. “Estou chegando ao ponto”: Kersaudy , p. 291244 “Q ueira o senhor ou não”: Olson e Cloud, pp. 220-21. “tinha poder para”: Edward

Raczy nski, In Allied London (Londres: Weidenfeld & Nicolson, 1963), p. 155. “ Agravidade crescente”: Olson e Cloud, p. 233. “ir à conferência de paz”: Ibid., p. 250

245 “acharam conveniente”: Max Hastings, Armageddon: The Battle for Germany, 1944-1945(Nova York: Alfred A. Knopf, 2004), p. 508

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246 “uma cabeça humana”: Hemingway, p. 109. “ Creio que nem elessabem”: Calder, p. 321.“Muitas vezes”: Maureen Waller, London 1945: Life in the Debris of War (Londres:Griffin, 2006), p. 163. “Toda a ilha”: Hemingway, p. 108. “É difícil entender”: TheodoraFitzGibbon, With Love: An Autobiography, 1938-1946(Londres: Pan, 1983), p. 170

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247 “cada dia era”: Longmate, The Home Front, p. 160. “Q uase não há”: Janet Murrow para ospais, 16 de maio de 1943, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “ Creio que seria maisfácil”: Edwin R. Hale e John Fray n Turner, The Yanks Are Coming (Nova York:Hippocrene, 1983), p. 56

248 “Nenhuma guerra”: David Rey nolds e outros., eds., Allies at War , p. xvi. “Havia dinheiro”:Sevareid, p. 214

249 “uma igualdade de sacrifício”: Goodwin, p. 339. “Além da atmosfera”: Tania Long, “Home-After London,” New York Times, 3 de outubro de 1943

250 “A maioria dos aspectos”: História Oral — Frances Perkins, Columbia University. “ O povoamericano”: Sherwood, p. 547. “Seria realmente bom”: Robert Dallek, Franklin D.Roosevelt and American Foreign Policy, 1932-1945 (Nova York: Oxford University Press,1979), p. 440. “Os próprios homens”: Goodwin, p. 357. “parecia desligada”: Sevareid, p.193

251 “menos entendimento”: Brinkley, p. 106. “ pessoas influentes...” : Ibid., p.142. “onde osmodos”: Mary Lee Settle, All the Brave Promises: Memories of Aircraft Woman 2nd Class214639 (Columbia: University of South Carolina Press, 1995), p. 3. “dá vontade”: JanetMurrow para os pais, sem data, documentos de Murrow, Mount Holy oke

252 “Fazia muito sentido”: Harriman para Harry Hopkins, 7 de março de 1942, documentos deHarriman, LC. “comprou um belo vestido”: Kathleen Harriman para Marie Harriman, 3de fevereiro de 1942, documentos de Harriman, LC. “É divertido”: Kathleen Harrimanpara Marie Harriman, sem data, documentos de Harriman, LC

253 “Londres era uma”: Arbib, p. 85. “o mais ágil grupo”: Harrison Salisbury , A Journey for OurTimes: AMemoir (Nova York: Harper & Row, 1983), p. 179. “ com o sentimento de que”:Nelson D. Lankford, The Last American Aristocrat: The Biography of David K. E. Bruce(Boston: Little, Brown, 1996), p. 64

254 “farta autoestima” : Ibid., p. 63. “era um dos poucos”: E.J. Kahn Jr., “Profiles: Man ofMeans-I,” New Yorker, 11 de agosto de 1951. “a mais elaborada”: Ibid.

255 “a vida nunca foi”: Sally Bedell Smith, In All His Glory, p. 225. “O cara era corajoso”: JanHerman, A Talent for Trouble: William Wyler (Nova York: Putnam's, 1995), p. 255

256 “propaganda do mesmo valor” : Ibid., p. 235. “Eu era favorável” : Ibid., p. 234. “apenasarranhou”: Ibid., p. 237. “uma escapadapara”: Ibid., p. 278. “irreal, um palco”: Mary LeeSettle, “London-1944,” The Virginia Quarterly Review, outono de 1987

257 “Éramos jovens”: Settle, All the Brave Promises, p. 1. “Foi meu primeiro contato” : Ibid., p.19

258 “manto de privilégios”: Mary Lee Settle, Learning to Fly: A Writer's Memoir (Nova York: W.W. Norton, 2007), p. 99. “ Eu havia experimentado”: Mary Lee Settle, “London-1944,”The Virginia Quarterly Review , outono de 1987. “um vasinho de porcelana”: Settle,Learning to Fly, p. 97. “Éramos relativamente”: Abramson, p. 316

259 “Foi uma guerra terrível”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden,documentos de Pamela Harriman, LC. “O casal foi descoberto”: Sally Bedell Smith,Reflected Glory, p. 100. “debaixo do próprio teto”: Abramson, p. 316. “Ele usoupalavras”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p. 106. “que poderia causar”: entrevistade Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC.

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“Mantenha seus casos”: Ogden, p. 146260 “Ave não podia”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p. 108. “Meu filho ainda”: Pamela

Churchill para FDR, julho de 1942, documentos de Pamela Harriman, LC. “A menos quese fosse”: Ogden, p. 173. “podiam escapar da”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p.122. “Oh, as informações”: Ibid., p. 145

261 “não querem que”: notas de Sevareid, sem data 1944, documentos de Sevareid, LC. “Aguerra é exatamente”: William Bradford Huie, The Americanization of Emily (Nova York:Signet, 1959), p. 37. “A aviação”: Kay Summersby Morgan, p. 33. “Era o astraldaqueles”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p. 115. “Bem, eu nunca vi”: D'Este, p. 489.“A guerra foi um”: Kay Summersby Morgan, p. 76

262 “Não tínhamos a mesma”: Irving, p. 14. “Na minha vida”: entrevista de Pamela Harrimancom Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC. “perguntava muito aela”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p. 113

263 “Penso em você”: Sir Charles Portal para Pamela Churchill, sem data, documentos dePamela Harriman, LC. “Muitas pessoas se”: entrevista de Pamela Harriman comChristopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC. “seguiam a política doPresidente”: Abramson, p. 345. “Uma grande quantidade”: Harriman e Abel, p. 220

264 “Tenho certeza”: Ibid., p. 219. “Aquele foi um dia triste”: entrevista de Pamela Harrimancom Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC. “Durante todos” : Ibid.“chorei no ombro de Ed” : Ibid. “Acho que ela concluiu”: Sally Bedell Smith, ReflectedGlory, p. 119. “Ed foi nocauteado”: Persico, Edward R. Murrow, p. 217

265 “sua privacidade”: “Edward R. Murrow,” Scribner's, dezembro de 1938. “Ed muito seco”:Persico, Edward R. Murrow, p. 138. “Não queriam deixar”: entrevista do autor com JanetMurrow. “Odeio ver Ed”: diário de Janet Murrow, 16 de fevereiro de 1940, documentosde Murrow, Mount Holyoke. “ Sombrio, dia sombrio”: diário de Janet Murrow, 17 defevereiro de 1941, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “ um homem brando, afável”:Persico, Edward R. Murrow, p. 186. “Sinto mais falta dele”: diário de Janet Murrow, 26 dejulho de 1941, documentos de Murrow, Mount Holy oke

266 “Sei que eles tinham”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p. 119. “Ed era um poço”:entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos de PamelaHarriman, LC. “Averell” : Ibid. “um fantoche”: entrevista de Harriman com Elie Abel,documentos de Harriman, LC. “Você foi estragada”: entrevista de Pamela Harrimancom Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC

267 “Ele era totalmente diferente”: Ibid. “Ele amava muito Janet”: Sperber, p. 244

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268 “em meu panteão”: Andrew Turnbull, ed., The Letters of F. Scott Fitzgerald (Nova York:Scribner, 1963), p. 49. “empolgando a imaginação”: “Hitchcock Killed in Crash in Britain,”New York Times , 20 de abril de 1944. “Havia uma espécie”: Sarah Ballard, “Polo Play erTommy Hitchcock Led a Life of Action from Beginning to End ,” Sports Illustrated, 3 denovembro de 1986

269 “A maioria dos cidadãos”: “Centaur,” Time, 1º de maio de 1944. “Por vezes, ele fazia

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coisas”: Aldrich, p. 132. “Ele não possuía um só” : Sports Illustrated, 3 de novembro de1986. “Não houve jogador”: Ibid

270 “Tommy Barban era”: F. Scott Fitzgerald, Tender Is the Night (Londres: Wordsworth, 1994),p. 167

271 “O polo é estimulante”: New York Times , 20 de abril de 1944. “ele era um piloto de caça”:Aldrich, p. 125. “Como você pode ficar sentado”: Ibid., p. 132. “conhecer mais gente”:Ibid., p. 266

272 “Há uma coisa”: Donald L. Miller, p. 5274 “Simplesmente fechamos”: Ibid., p. 42. “o importante (.) era”: Salisbury, p. 197. “ peões”:

Donald L. Miller, p. 106275 “Parecia”: Ibid., p. 48276 “como atividade dinâmica”: Salisbury, p. 195. “ como um dos melhores”: Andy Rooney, My

War (Nova York: Times Books,1995), p. 136277 “Nos julgávamos”: Donald L. Miller, p. 64. “É o mesmo que dirigir”: McCrary e Scherman,

pp. 38-39. “missões suicidas”: Donald L. Miller, p. 24 “tão grandes” : Ibid., p. 69.“comunicados grosseiramente”: Ibid, p. 120

278 “Voar na 8ª Força Aérea”: Salisbury, p. 196. “ Existem, aparentemente”: Donald L. Miller,p. 93. “as bases de bombardeiros”: Ibid., p. 127

279 “Com o aprofundamento”: Ibid., p. 124. “Minha mensagem pessoal”: Irving, p. 72280 “Naqueles dias”: McCrary e Scherman, pp. 227-28. “Desde que cheguei aqui”: Winant para

FDR, 12 de janeiro de 1942, Arquivo da Secretaria do Presidente, FDRL281 “era a coisa mais pura”: McCrary e Scherman, p. 228. “a aeronave que a 'Máfia dos

Bombardeiros'”: Donald L. Miller, p. 253. “produziria o melhor”: Aldrich, p. 275.“Gerado por pai inglês”: palestra de William R. Emerson, de 1962, no HarmonMemorial, Academia da Força Aérea dos EUA

282 “Olhe aqui, Tio Tommy ”: Aldrich, p. 278. “foi incansável”: entrevista com TheodoreAchilles, documentos de Bellush, FDRL. “Tanto canais como não”: Aldrich, p. 278

283 “Suas mãos estavam”: James Parton, “Air Force Spoken Here”: General Ira Eaker and theCommand of the Air (Bethesda, Md.: Adler & Adler, 1986), p. 279. “pecou pela quasetotal”: Donald L. Miller, p. 183

284 “Começou a parecer”: Parton, p. 277. “tentavam encontrar”: Ibid. p. 186. “a Verdun da 8ªForça Aérea”: Aldrich, p. 284

285 “fora literalmente”: Donald L. Miller, p. 200. “um golpe catastrófico” : Ibid., p. 201. “amaior concentração”: Ibid., p. 16

286 “profundo senso”: Daily Express, 12 de outubro de 1943, documentos de Winant, FDRL.287 “Coube a mim”: Donald L. Miller, p. 252. “sobre a Alemanha”: Paul A. Ludwig, Mustang:

Development of the P-51 Long-Range Escort Fighter (Hersham, Surrey : ClassicPublications, 2003), p. 1. “por erro da própria”: Donald L. Miller, p. 254. “A saga do P-51”: Ludwig, p. 2

288 “um dos erros mais”: Donald L. Miller, p. 253. “independentemente do custo”: Ibid., p. 265.“por Deus, [as tripulações]”: Ibid, p. 266

289 “Coronel” : Ibid., p. 279. “O álccol era” : Ibid. “A guerra de desgaste” : Ibid., p. 276. “A

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primeira vez”: Ibid., p. 267290 “de nossa incapacidade” : Ibid., pp. 291-92. “Se vocês virem” : Ibid., p. 259. “Tommy

Hitchcock”: Aldrich, p. 283. “a tenacidade”: McCrary e Scherman, p. 228. “A vida emLondres”: Aldrich, p. 276. “Combater num Mustang”: McCrary e Scherman, p. 231

291 “A quantidade de trabalho”: Aldrich, p. 292. “De repente, tive” : Ibid., p. 294. “TommyHitchcock tinha”: Ibid., p. 296

292 “está se saindo”: Ibid., p. 298. “simplesmente mergulhando”: Ibid.293 “colocou ponto final”: “Hitchcock Killed in Crash in Britain,” New York Times, 20 de abril de

1944. “passou cada minuto”: carta de Winant para Margaret Hitchcock, 23 de abrilde1944, documentos de Winant, FDRL

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294 “A velha Inglaterra: Juliet Gardiner, “Overpaid, Oversexed, and Over Here,” p. 339. “Nãoexiste”: Irving, p. 8. “na maior base”: Dwight D. Eisenhower, p. 49. “Foi como se oAtlântico ”: Mrs Robert Henrey , The Siege of London (Londres: J. M. Dent & Sons, 1946),p. 45

296 “tomada — de porteira”: Ziegler, p. 215. “um inglês causaria”: Ernie Py le, Brave Men(Nova York: Grosset & Dunlap, 1944), p. 316. “ Todos cumprimentavam” : Ibid., p. 317.“demonstrassem o devido”: Longmate, The G.I.'s, p. 113. “fervilhante e ruidoso”: Arbib,p. 85

297 “um dos lugares mais”: Donald L. Miller, p. 216. “A convivência”: Hale e Turner, p. 152.“viviam inacreditavelmente”: Donald L. Miller, p. 217. “Creio que muitas”: Irving, p. 8.“reação dos GIs”: entrevista de Theodore Achilles, documentos de Bellush, FDRL. “Todosoldado americano”: Dwight D. Eisenhower, p. 57

298 “Os ingleses o receberão”: Longmate, The G.I.'s, p. 23. “uma extraordinária”: entrevistacom Anthony Eden, documentos de Bellush, FDRL. “Nenhum outro”: Alfred D. Chandler,ed., The Papers of Dwight David Eisenhower: The War Years, Vol. I (Baltimore: JohnsHopkins University Press, 1970), pp. 650-51

299 “A guerra”: Arbib, p. 19300 “as indenizações foram”: David Rey nolds, Rich Relations, p. 122. “métodos autocráticos”:

Ibid., p. 126. “nossos aliados” : Daily Express, 15 de dezembro de 1943, documentos deWinant, FDRL. “Eles não desejaram vir”: Gardiner, “Overpaid, Oversexed, and OverHere,” p. 32

301 “para nós” : Ibid. “como se fossem donos”: Margaret Mead, “A GI View of Britain,” NewYork Times Magazine , 19 de março de 1944. “Nunca vimos”: Ibid., p. 54. “Esses homenssão combatentes”: Ibid. “A reação comum”: Longmate, The G.I.'s, p. 96

302 “Eu acho o país legal”: Hale e Turner, p. 24. “Desengonçados”: Nicolson, p. 275303 “se um soldado americano”: Butcher, p. 14. “Essa é uma oportunidade”: David Rey nolds,

Rich Relations, p. 159304 “surpresos, ressentidos”: Janet Murrow para os pais, 24 de abril de 1943, documentos de

Murrow, Mount Holyoke. “ Os homens que frequentam”: David Rey nolds, Rich Relations,

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p. 160305 “As mulheres inglesas”: Butcher, p. 34. “Está bem”: Settle, All the Brave Promises, p. 90.

“desencoraja deliberadamente”: David Rey nolds, Rich Relations, p. 187. “O maiorperigo”: Ibid., p. 161

306 “Os soldados americanos”: Ibid., p. 148. “em milhares de mães”: Ibid., p. 149. “Asdiferenças entre”: Dwight D. Eisenhower, p. 59. “a falta de entusiasmo”: Max Hastings,p. 193. “não existia uma solução”: Roosevelt para Winant, 10 de setembro de 1942,Arquivo da Secretaria do Presidente, FDRL

307 “Eles podem ter”: Dimbleby e Reynolds, p. 164. “Os ianques”: Donald L. Miller, p. 138.“Aonde vocês forem”: Hale e Turner, p. 40. “Alguns daqueles irmãos” : Ibid. “Naescuridão” : Ibid., p. 26. “eram selvagens, promíscuos”: Longmate, The G.I.'s, p. 157.“Existia um núcleo”: Ibid.

308 “Tão bons quanto um tônico”: Ibid., p. 91. “A chegada”: Ibid. “era como penetrar”: Ibid., p.242. “Para a maioria do povo”: David Reynolds, Rich Relations, 218

309 “Saia daí”: Dimbleby e Reynolds, p. 163. “Fui testemunha”: Longmate, The G.I.'s, 129.“discriminação com respeito”: David Rey nolds, Rich Relations, p. 224. “É aconselhável”:Ibid., p. 226. “A política americana”: Longmate, The G.I.'s, p. 122. “A opiniãoconsensual”: David Rey nolds, epígrafe de Rich Relations. “Não ligo muito para” : Ibid., p.303

310 “A opinião”: Ibid., p. 304. “Isso tem cheiro”: Graham Smith, When Jim Crow Met John Bull:Black American Soldiers in World War II Britain (Nova York: St. Martin's, 1988), p. 61.“Somente para pessoas inglesas”: Ibid., p. 118. “eles estavam agora na Inglaterra”: Ibid.“Os nacionais britânicos negros”: David Rey nolds, Rich Relations, p. 306. 288 “Ossoldados de cor”: Graham Smith, p. 102

311 “abusos”: Persico, Edward R. Murrow, p. 199. “É verdade, sabe”: Ibid., p. 200. “Vamosincluí-lo”: Ibid.

312 “Os soldados negros da América”: Graham Smith, p. 127313 “se lembrar de qualquer”: David Rey nolds, Rich Relations, p. 353. “um crescente

sentimento”: Ibid., p. 199. “com sua firmeza”: LaRue Brown, “John G. Winant,” Nation,15 de novembro de 1947. “Mr. Winant, por favor!” : Stars and Stripes, 22 de julho de1943. “aquele gentil”: Bernard Bellush, “After 50 Years, a GI Heeds the Call of London,”Forward, janeiro de 2001. “nada de ares”: Boston Globe, 5 de novembro de 1947

314 “Não era preciso muito tempo”: Arbib, p. 141. “fiz refeições”: Ibid., p. 144. “Por volta de1943”: Longmate, The G.I.'s, p. 157

315 “Eles me adotaram”: “Dick Winters' Reflections,” www.wildbillguarnere.com

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316 “Nos últimos dezoito”: Colville, Footprints in Time, p. 141. “Cada vez mais”: Dimbleby eReynolds, p. 166. “Por muitos anos”: Sevareid, p. 484

317 “razões políticas”: Sherwood, p. 669. “Harry está seguro”: Moran, p. 131318 “cintilante, impessoal”: Arthur Schlesinger Jr., “The Supreme Partnership,” Atlantic, outubro

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de 1984. “era realmente incapaz”: Goodwin, p. 306. “um gentleman”: Meacham, p. 315.“todo o meu sistema”: David Reynolds, In Command of History, p. 414. “Q ualquer coisaque representasse”: Gilbert, Road to Victory , p. 89. “entendimento”: Geoffrey Ward,Closest Companion: The Unknown Story of the Intimate Friendship Between FranklinRoosevelt and Margaret Suckley (Boston: Houghton Mifflin, 1995), p. 162. “se mostrou àvontade”: Ibid. “adora o Presidente”: Ibid., p. 230

319 “Roosevelt invejava”: Max Hastings, p. 5. “era propenso a ciúmes”: Meacham, p. 327.“Eles não tinham coisa”: Schlesinger, p. 575. “Cada um usou”: David K. Adams,“Churchill and FDR: A Marriage of Convenience,” em van Minnen e Sears, eds., p. 32.“Temos de deixar”: Elliott Roosevelt, pp. 24-25

320 “fez uma observação”: Kimball, Forged in War, p. 193. “De uma coisa”: Kathleen Burk, OldWorld, New World: Great Britain and America from the Beginning (Nova York: AtlanticMonthly Press, 2008), p. 504. “Se ele fosse inglês”: Matthews, p. 245. “que não setornara”: Dimbleby e Reynolds, p. 158

321 “Não quero ser grosseiro”: Clarke, p. 166. “A imagem que Roosevelt”: Justus D. Doeneckee Mark A. Stoler, Debating Franklin D. Roosevelt's Foreign Policies, 1933-1945 (Lanham,Md.: Rowman & Littlefield, 2005), p. 9. “Os banqueiros alemães”: Elliott Roosevelt, p. 24

322 “A antipatia de Roosevelt”: Hitchens, p. 255. “é da mesma forma”: Burk, p. 383. “atritos emal-entendidos”: Howland, p. 143

323 “Deve ser lembrado”: Clarke, p. 25. “teríamos aceitado”: Ibid.324 “Inclino-me por”: Danchev e Todman, eds., p. 466. “ Nas fotos de jornais”: Brinkley, p. 232.

“Comecei a achar”: Danchev e Todman, eds., p. 535. “ incapacidade para terminar”:Olson e Cloud, p. 288. “Estou aos poucos”: Danchev e Todman, eds., p. 459

325 “exauridos demais”: Arthur Bry ant, Triumph in the West (Garden City, Nova York:Doubleday, 1959), p. 8. “ infestada de doenças”: Ward, p. 250. “ Não tenhoconhecimento”: Winant para FDR, 24 de setembro de 1943, Arquivos da Sala da Situação,FDRL

326 “essas coisas não causariam”: Winant para Hopkins, 16 de outubro de 1943, arquivos deHopkins, FDRL. “Sei exatamente”: Hopkins para Winant, 25 de outubro de 1943, arquivosde Hopkins, FDRL. “Grandes famílias”: Burns, p. 405

327 “fazer Stalin”: Olson e Cloud, p. 292. “penetrado em sua natureza”: História Oral —Frances Perkins, Columbia University. “ Não creio que Roosevelt”: Charles E. Bohlen,Witness to History, 1929-1969 (Nova York: W. W. Norton, 1973), p. 211. “ umconhecimento mais aprofundado” : Ibid, p. 210. “Vocês nos verão ”: Moran, p. 160. “seesforçava para melhorar”: Danchev e Todman, eds., p. 485. “ como conduzir”:Abramson, p. 367. “Stalin já pôs”: Moran, p. 163. “dar a impressão de que”: Olson eCloud, p. 292. “não apenas apoiava”: Bohlen, p. 146

328 “deveria ter defendido” : Ibid. “sempre gostou”: Harriman e Abel, p. 191. “Winston estáestranho”: Olson e Cloud, p. 292. “um erro fundamental”: Bohlen, p. 146. “exercícioinfantil”: debate com Winston Churchill, Coudert Institute, Palm Beach, Flórida, 28 demarço de 2008. “os ganhos imediatos”: Olson e Cloud, p. 295

329 “não se preocupava”: Ibid., p. 306. “Os Estados Unidos”: Valentin Berezhkov, “Stalin andFDR,” em van Minnen e Sears, eds., p. 47. “não consegue deixar”: Moran, p. 279. “setornaram amigos de fato”: Olson e Cloud, p. 298

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330 “Gente que conversou”: Kendrick, p. 258. “Parece que as pessoas querem”: Murrow paraAlfred Cohn, 29 de dezembro de 1943, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “ vaga emal definida”: Kimball, Forged in War, p. 242

331 “cheia de perigos”: Doenecke e Stoler, p. 62. “adiar, evitar ” : Ibid., p. 73. “rejeitousumariamente”: Olson e Cloud, p. 247

332 “bastante sensível”: David Rey nolds, The Creation of the Anglo-American Alliance, pp. 253-54. “é acusado”: Winant para FDR, 4 de fevereiro de 1943, Arquivo da Secretaria doPresidente, FDRL. “bastante envergonhado”: Howland, p. 318

333 “Tenho me preocupado”: Ibid., p. 326

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335 “ficou tão engarrafado”: Arbib, p. 202. “na sua maior parte”: Panter-Downs, p. 324. “vivernuma enorme”: Ibid., p. 322. “de ouvido colado”: Arbib, p. 205

336 “como um fazendeiro”: Settle, “London 1944,” The Virginia Quarterly Review , agosto de1987. “tornar possível o Dia-D”: Weintraub, p. 217. “ incessantes embates”: Sir FrederickMorgan, p. 41. “jamais houve”: Ibid., p. 49

337 “Todos se divertiram”: Ibid., p. 80. “Pelo amor de Deus”: Ibid., p. 72. “Dessa forma”: KaySummersby Morgan, p. 172. “criarampor fim”: Longmate, The G.I.'s, p. 290. “querido erespeitado”: Ibid., p. 116. “pôs-se deliberadamente”: Sir John Wheeler-Bennett, SpecialRelationships: America in Peace and War (Londres: Macmillan, 1975), pp. 178-79

338 “consideravam Ike”: Longmate, The G.I.'s, p. 116. “o maior feito”: D'Este, p. 495. “umdesastre”: Sir Frederick Morgan, p. 279. “Juro por Deus”: Irving, p. 81

339 “partirmos para a França”: David Reynolds, Rich Relations, p. 357. “mais como umamanobra” : Ibid., p. 365. “encarar a guerra” : Ibid. “uns trapos”: Danchev e Todman,eds., p. 551. “Ele estava nervoso”: Kay Summersby Morgan, p. 182. “Nestaempreitada”: Irving, p. 94

340 “Concluí que”: Py le, Brave Men, p. 317. “se a Dog News”: Ibid., p. 318341 “Tudo que aconteceu”: Sally Bedell Smith, In All His Glory, p. 216. “Acho que você vai se

sentir”: Caroline Moorehead, Gellhorn: ATwentieth-Century Life (Nova York: Henry Holt,2003), p. 209. “Para mim”: Carlos Baker, Ernest Hemingway: A Life Story (Nova York:Scribner, 1967), pp. 392-93. “Em geral, elas”: Hemingway , p. 133

342 “Céus”: Cloud e Olson, p. 158343 “Na noite passada”: Edward Bliss Jr., In Search of Light: The Broadcasts of Edward R.

Murrow, 1938-1961 (Nova York: Alfred A. Knopf, 1967), p. 76. “ uma das maisadmiráveis”: L. M. Hastings para Murrow, 4 de dezembro de 1943, documentos deMurrow, Mount Holyoke. “ magnífica”: Arthur Christensen para Murrow, 4 de dezembrode 1943, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “ Ed era bastante crítico”: entrevistade Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos de Pamela Harriman, LC. “oamigo mais leal”: Kendrick, p. 262. “Meu caro Ed”: Brendan Bracken para Murrow, 21 dedezembro de 1943, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “Acho que era um modo”: R.Franklin Smith, p. 45

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344 “Era uma espécie de droga”: Ibid., p. 47. “uma ligação com a”: Ibid. “Três ou quarto vezesem Londres”: Persico, Edward R. Murrow, p. 221. “Para redigir ou falar”: Murrow paraRemsen Bird, 31 de janeiro de 1944, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “ fadiga efrustração”: Persico, Edward R. Murrow, p. 222. “Tentei convencê-lo”: Paley , p. 152

345 “Não mais uma terra”: Arbib, pp. 206-7. “Permanecemos de pé”: Longmate, The G.I.'s, p.298. “Boa sorte, volte”: Hale e Turner, p. 161. “Meu coração doía”: Longmate, TheG.I.'s, p. 310. “Tudo ficou tão”: Gardiner, “Overpaid, Oversexed, and Over Here,” p. 211

346 “pareciam uma gigantesca”: Bliss, p. 81. “Em formação geométrica”: Gardiner, “Overpaid,Oversexed, and Over Here,” p. 180. “A impressão que tínhamos”: Longmate, The G.I.'s,p. 307. “Senhoras e senhores”: Gardiner, Wartime Britain , p. 544. “A igreja estava”:Janet Murrow para os pais, 11 de junho de 1944, documentos de Murrow, Mount Holyoke.“nossos filhos”: Burns, p. 476. “Salvo pelo barulho”: Pamela Churchill para AverellHarriman, 8 de junho de 1944, documentos de Pamela Harriman, LC

347 “Caminhando pelas ruas”: Kendrick, p. 269. “Havia uma espécie”: William Saroy an, TheAdventures of Wesley Jackson (Nova York: Harcourt, Brace, 1946), p. 258. “ Podia-sesentir”: Panter-Downes, p. 328. “Se eu tivesse que saltar”: Cloud e Olson, p. 204

348 “Nos velhos dias”: Henrey, The Siege of London, p. 72. “O homem que voltava de noite”:Winston S. Churchill, Triumph and Tragedy (Boston: Houghton Mifflin, 1953), p. 39

349 “impessoais como”: Calder, p. 560. “Agora, vivemos”: Ziegler, p. 292. “A maioria da gente”:David Rey nolds, Rich Relations, p. 402. “Tenho medo”: Irving, p. 180

350 “com vozes aflitas”: Dwight D. Eisenhower, p. 260. “Tivemos de aguentar”: Ziegler, p. 299.“A imensa fadiga”: Panter-Downes, p. 350. “Como todo mundo”:Wheeler-Bennett,Special Relationships, p. 189. “muito velho”: Danchev e Todman, eds., p. 544

351 “quão cansados”: Janet Murrow para os pais, 22 de junho de 1944, documentos de Murrow,Mount Holyoke. “Olhe aqui (...)”: Sperber, p. 243. “Londres está deserta”: Gardiner,Wartime Britain, p. 556

352 “Winston não fala mais”: Moran, pp. 185-86353 “Winston odiava”: Danchev e Todman, eds., p. 473. “ sendo mal empregadas”: Meacham, p.

294. “Eu gostaria que o senhor”: Winant para FDR, 3 de julho de 1944, arquivos da Salada Situação, FDRL

354 “Só existe um nome”: Kersaudy, p. 354. “ Nós somos o governo” : Ibid., p. 334. “osmaravilhas de sessenta” : Ibid., p. 332. “A mim parece” : Ibid., p. 331. “sente que osfranceses”: Ibid., p. 333

355 “Uma colisão ostensiva”: Dwight D. Eisenhower, p. 248. “Todos os círculos”: Irving, p. 135.“estado de excitação”: Beevor e Cooper, p. 28

356 “traição no ápice”: Lacouture, p. 524. “Isso é um pandemônio”: Beevor e Cooper, pp. 28-29.“escola para moças”: Kersaudy, p. 346. “ era um erro fatal”: Ibid., p. 351. “O primeiro-ministro”: Ibid., p. 352. “nos estágios iniciais”: Dwight D. Eisenhower, p. 248

357 “Os militares de altos postos”: Malcolm Muggeridge, Chronicles of Wasted Time , Vol. 2, TheInfernal Grove (Londres: Collins, 1973), p. 212. “advogava uma causa perdida”: JeanEdward Smith, p. 614. “FDR (...) acredita”: Kersaudy , p. 361. “Ele é maluco”: Ibid.

358 “Como uma relação cordial” : Ibid., p. 370. “A aversão de FDR”: Jean Edward Smith, p.616. “atmosfera sonolenta e vazia”: Henrey, The Siege of London, p. 91. “Onde todo o

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homem”: Sevareid, p. 477. “a Paris da”: Donald L. Miller, p. 137359 “esplendor culposo”: Wheeler-Bennett, Special Relationships, p. 186. “familiares, bem

alimentadas”: Kendrick, p. 273. “Talvez o mundo”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p.124

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360 “do interesse”: Olson e Cloud, p. 333. “Chegou a hora”: Harriman paraHopkins, 10 desetembro de 1944, documentos de Hopkins, FDRL

361 “na desconfortável posição”: Sherwood, p. 756. “Ele só queria trabalhar”: Abramson, p.367. “Não posso dizer”: Bohlen, p. 127. “Eles são durões”: Isaacson e Thomas, p. 232

362 “conhecia melhor os russos”: Salisbury, p. 242. “ meus pontos de vista”: Isaacson e Thomas,p. 227. “Usei-o em todas as” : Ibid., p. 229. “Muita coisa seria”: Salisbury, p. 242.“paradigma”: Isaacson e Thomas, p. 223. “Q ueremos ter”: Olson e Cloud, p. 333

363 “deu meia-volta”: debate com Winston Churchill, Coudert Institute, PalmBeach, Flórida, 28de março de 2008. “seguir-se-ia...”: Bellush, p. 203. “haverá sobra”: Moran, p. 220

364 “Vocês não podem fazer isso!”: Robert M. Hathaway, Ambiguous Partnership: Britain andAmerica, 1944-1947 (Nova York: Columbia University Press, 1981), p. 64. “ Em nome deCristo”: Ibid. “Não gosto de fazer”: Sherwood, p. 819. “puseram em risco”: Howland, p.374. “flagrante desvantagem”: Ibid.

365 “Temos ouvido”: Danchev e Todman, eds., p. 575. “As únicas vezes”: Meacham, p. 339. “umtapa na cara”: D'Este, p. 599

366 “Montgomery é um general de terceira”: Irving, p. 268. “Havia uma inacreditávelarrogância”: Ibid., p. 392. “Ike está com pés”: Ibid., p. 190

367 “numa investida poderosa”: D'Este, p. 672. “Entre nosso front”: Max Hastings, p. 196368 “Falta-lhe”: D'Este, p. 602369 “o salvador dos americanos”: Dwight D. Eisenhower, p. 356. “Montgomery impede”:

Sevareid, p. 485. “irritou tanto”: Irving, p. 375. “Ela prejudicou mais”: Clarke, p. 155.“terrível”: D'Este, p. 676. “permanece impossível”: Max Hastings, “How They Won,”New York Review of Books, 22 de novembro de 2007. “o comportamento de Eisenhower”:Merle Miller, p. 587

370 “Algo parecido”: Max Hastings, p. 222. “chantagem pura”: Colville, The Fringes of Power, p.528. “poderia ser feita”: Hathaway, p. 83. “ Por favor, leve ”: FDR para Winant, 24 denovembro de 1944, arquivos da Sala da Situação, FDRL. “que mesmo uma”: Colville, TheFringes of Power, p. 528. “Você não enviaria”: Hitchens, p. 233

371 “tenho tentado lealmente”: Clarke, p. 113. “realmente irritada”: Colville, The Fringes ofPower, p. 536. “as questões europeias”: Olson e Cloud, p. 363. “O que torna a crítica”:Clarke, p. 147

372 “Não nos importamos”: Hathaway, p. 103. “ há boa razão”: Ibid, p. 104. “Ele parece nãodar”: Sherwood, p. 820. “Fisicamente”: Doenecke e Stoler, p. 86

373 “falar com um amistoso”: Clarke, p. 218. “A bandeja de 'entrada' ”: Colville, The Fringes ofPower, p. 530. “Creio que não aguento”: Danchev e Todman, eds., p. 649. “ estava

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cansado”: Geoffrey Best, Churchill: A Study in Greatness (Oxford: Oxford UniversityPress, 2001), p. 260. “Tenho de dizer”: Olson e Cloud, p. 365

374 “Era sempre dois a um”: Hathaway, p. 123. “ O fato de o Presidente” : Ibid. “Ele queespere”: Andrew Roberts, Masters and Commanders, p. 554. “Entramos na guerra”: CecilKing, With Malice Toward None: A War Diary (Londres: Sidgwick & Jackson, 1970), p.298. “lutou como um tigre”: Olson e Cloud, p. 365

375 “vindo da América”: Ibid., p. 366. “Jamais poderemos”: Ibid.376 “poderia chegar”: Bellush, p. 205. “da maior importância”: Thomas M. Campbell e George

C. Herring, eds., The Diaries of Edward R. Stettinius Jr., 1943-1946 (Nova York: NewViewpoints, 1975), p. 227. “penso que nossa atitude”: Bellush, p. 207

377 “quiseram claramente”: Olson e Cloud, p. 383. “A impressão é que”: notas de Harriman,sem data,documentos de Pamela Harriman, LC. “o governo soviético”: Isaacson eThomas, p. 247. “Não há dúvida”: Olson e Cloud, p. 384

378 “seu sentimento de amargo”: Ibid., p. 386. “minimizar o problema”: Ibid., p. 387379 “Berlim perdeu”: Max Hastings, p. 421. “A ira de Churchill”: Ibid., p. 423

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380 “Homens e meninos”: Bliss, p. 91381 “duas fileiras”: Ibid, p. 94382 “Ele queria que o mundo”: R. Franklin Smith, p. 89. “Rogo para”: radiodifusão de Murrow,

15 de abril de 1945, National Archives. “Um sapato”: Kendrick, p. 279. “Sou homem deRoosevelt”: entrevista com Jacob Beam, documentos de Bellush, FDRL. “Graças aDeus”: Howland, p. 28. “Sempre penso”: Ibid.

383 “podia fazer”: Robert H. Ferrell, Choosing Truman: The Democratic Convention of 1944(Columbia: University of Missouri Press, 1994), p. 13. “chorando, lembrando”:Thompson, p. 303. “Este país”: Hathaway, pp. 130-31. “ tão quieta”: Longmate, TheG.I.'s, p. 317. “permaneceram de pé”: Panter-Downes, p. 368. “parado na rua”:Longmate, The G.I.'s, p. 317

384 “Não me lembro”: Ziegler, p. 310. “foi o maior amigo”: Clarke, p. 259. “tremendarepercussão”: Jenkins, p. 783. “que ficaria” : Ibid. “É difícil”: Max Hastings, p. 512.“Creio que seria”: Meacham, p. 351

385 “Com esta assinatura”: Cloud e Olson, p. 237. “fora tomada”: Panter-Downes, p. 374386 “Suas lembranças”: Bliss, p. 97. “quase com um susto”: Kendrick, p. 280. “Enquanto todo o

povo”: Henry Chancellor, Colditz: The Untold Story of World War II's Great Escapes(Nova York: William Morrow, 2001), p. 362. “O fato de sua ansiedade”: Bellush, p. 213

387 “No continente europeu”: Olson e Cloud, p. 392. “política venenosa”: Ibid., p. 393. “Q uando[ela] caminhava”: D'Este, p. 807

388 “Houve aplausos”: LaRue Brown, “John G. Winant,” Nation, 15 de novembro de 1947. “Ikefez um discurso”: Danchev e Todman, eds., p. 697. “ estava preocupado com Churchill”:Moran, p. 302. “Embora [o povo inglês]”: Pamela Churchill para Averell Harriman, 27 dejulho de 1945, documentos de Pamela Harriman, LC. “ele ridiculariza”: Moran, p. 308

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389 “essa maldita eleição” : Ibid., p. 310. “débacle total”: Pawle, p. 501. “Foi uma das maisimpressionantes”: Hathaway, p. 176. “ mortalmente ferido”: Campbell e Herring, eds., p.413. “Todo o foco”: Soames, p. 425. “Não era tanto a perda”: Sarah Churchill, A Threadin the Tapestry, p. 86

390 “Sir, o senhor se esqueceu”: Dwight D. Eisenhower, p. 242

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391 “Adeus, Inglaterra”: Longmate, The G.I.'s, p. 325392 “É difícil entender”:Waller, p. 205. “Temos de conseguir”: Ibid., p. 241393 “O povo americano”: Hathaway, p. 23. Donald Worby: Dimbleby e Reynolds, p. 175.

“Creio que eles estão”: Waller, p. 347394 “Demos aos nossos aliados”: Dimbleby e Rey nolds, p. 177. “Q uem pensar”: Sherwood, p.

827. “É irritante”: Dimbleby e Rey nolds, p. 180. “Munique econômica”: Ibid395 “O povo americano”: Sherwood, p. 922. “Acredito” : Ibid., p. 921. “imporia grandes

infortúnios”: Howland, p. 448. “Será que alguma nação”: Carroll, p. 142. “teria feitoum”: Penrose, p. 206. “estranho para ele”: Howland, p. 442. “que desejava”: Ibid

396 “não era idealismo”: Arnold A. Rogow, “Private Illness and Public Policy : TheCases ofJames Forrestal and John Winant,” American Journal of Psychiatry, 8 de fevereiro de1969. “Seus nervos”: entrevista com Maurine Mulliner, documentos de Bellush, FDRL.“Perdi a última coisa”: entrevista com Grace Hogarth, documentos de Bellush, FDRL.“Não tenho vida!”: Bellush, p. 215. “Não posso explicar”: Soames, p. 429

397 “tem sido — e é —” : Ibid., p. 380. “Não sei se o amei”: Sarah Churchill, A Thread in theTapestry, p. 88. “Gostaria que você” : Ibid., p. 91. “Sarah tem sido”: Soames, p. 433.“Você não tem noção ”: Pearson, p. 338. “gaiola de afetos”: Sarah Churchill, Keep onDancing, p. 159. “exaustão física e mental”: Sally Bedell Smith, Reflected Glory, p. 124

398 “Por diversas razões”: Murrow para Janet Murrow, 18 de setembro de 1944, documentos deMurrow, Mount Holy oke. “Vivo por demais”: Murrow para Janet Murrow, 29 de setembrode 1944, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “ Talvez eu tenha”: Murrow para JanetMurrow, 28 de outubro de 1944, documentos de Murrow, Mount Holyoke. “ Fred levou-me”: Pamela Churchill para Averell Harriman, 8 de março de 1944, documentos dePamela Harriman, Mount Holy oke. “Não conversamos”: Sally Bedell Smith, ReflectedGlory, p. 125. “Nunca amei tanto”: Ibid., p. 125. “Casey Ganha”: Ogden, p. 181

399 “Vivemos despreocupadamente”: Kendrick, p. 275. “Somos a única nação”: Sperber, p. 257.“numa posição incômoda”: Lash, From the Diaries of Felix Frankfurter, p. 256. “Vossopaís”: Bliss, pp. 3-4

400 “São homens como”: Emilie Adams para Murrow, 24 de fevereiro de 1946, documentos deMurrow, Mount Holy oke. “Por favor, diga”: remetente não identificado para Murrow, 24de fevereiro de 1946, documentos de Murrow, Mount Holy oke. “ Q uando chegar emcasa”: W.E.C. McIlroy para Murrow, 24 de fevereiro de 1946, documentos de Murrow,Mount Holyoke

401 “Agora, pela última”: Persico, Edward R. Murrow, p. 242. “este microfone” : Ibid. “o únicotroféu”: R. Franklin Smith, p. 75. “amigo chegado”: recorte nãoidentificado, 29 de

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novembro de 1945, documentos de Winant, FDRL. “teve em grande medida”: ManchesterGuardian, sem data, documentos de Winant, FDRL

402 “Q uase todos”: New Statesman, 30 de março de 1946, documentos de Winant, FDRL. “apersonificação”: Daily Express, 25 de março de 1946, documentos de Winant, FDRL.“chegou até nós”: Daily Herald, 27 de abril de 1946, documentos de Winant, FDRL. “Atébreve, sir”: Punch, 8 de maio de 1946, documentos de Winant, FDRL. “Não creio queseja”: Arthur L. Goodhart para Winant, 15 de abril de 1946, documentos de Winant,FDRL. “Aqueles de nós”: John Martin para Winant, 1º de janeiro de 1947, documentos deWinant, FDRL. “durão”: Barbara Wace para Winant, 22 de abril de 1946, documentos deWinant, FDRL. “Meu motorista”: Herbert Agar para Winant, 2 de maio de 1946,documentos de Winant, FDRL. “uma honraria singular”: Daily Telegraph, 26 de abril de1946, documentos de Winant, FDRL

403 “A reserva que normalmente”: Concord Daily Monitor, 18 de janeiro de 1947, documentosde Winant, FDRL. “infinitamente maiores” : New York Times , 24 de abril de 1946,documentos de Winant, FDRL. “É na adversidade”: Daily Telegraph, 26 de abril de 1946,documentos de Winant, FDRL. “Na minha longa existência”: Daily Telegraph, 21 de maiode 1946, documentos de Winant, FDRL. “Pretendo tomá-lo”: Ibid. “Eu diria, sem um só”:Daily Telegraph, 26 de abril de 1946, documentos de Winant, FDRL. “Nem os senhores,nem eu” : News Chronicle, 1º de maio de 1946, documentos de Winant, FDRL. “Homemnenhum mais correto”: Daily Express, 1º de maio de 1946, documentos de Winant, FDRL.“anos duros”: recorte não identificado, 1º de maio de 1941, documentos de Winant, FDRL

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405 “Estou tão feliz”: Eleanor Roosevelt para Winant, 25 de junho de 1946, documentos deWinant, FDRL. “Ele ousou ter esperança”: trecho do discurso de Winant, documentos deWinant, FDRL. “Raramente, se é que houve alguma vez”: Sperber, p. 256

406 “de algo como estados”: Howland, p. 400. “Nenhum dos aliados”: Daniel J. Nelson, WartimeOrigins of the Berlin Dilemma (Tuscaloosa: University of Alabama Press, 1976), p. 163. “auma corrida”: Howland, p. 414. “Nunca antes”: Ibid., p. 412. “a organização interaliadamais bem-sucedida” : Ibid. “significativos feitos” : Ibid., p. 311. “Nas nossas reuniões”:Nelson, p. 23

407 “A máquina”: Sherwood, p. 843. “Ele era uma alma”: Bellush, p. 226.“Nunca em minhavida”: entrevista com Arthur Coy le, documentos de Bellush, FDRL

408 “uma exaustão profunda”: Mary Lee Settle, “London-1944,” The Virginia Quarterly Review ,outono de 1987. “curiosasensação”: Sevareid, p. 510. “Livre!”: Sarah Churchill, Keep OnDancing, p. 159

409 “O senhor não quer vê-la”: Bellush, p. 228. “A diferença”: Colville, Footprints in Time, p.156

410 “Ficou agora obviamente”: Dimbleby e Reynolds, p. 188. “tão próximos daindigência”:Abramson, p. 413. “Estão os senhores fazendo”: Louis Fischer, “The Essence ofGandhism,” Nation, 6 de dezembro de 1947. “para se certificar”: entrevista de Dean

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Dexter com Abbie Rollins Caverly411 “Ao minúsculo vale” : New York Herald Tribune , 5 de novembro de 1947, documentos de

Winant, FDRL. “afetou o povo”: “British Mourn Winant,” New York Times, 5 de novembrode 1947. “caminhou com a Inglaterra”: Daily Express, sem data, documentos de Winant,FDRL. “No que ele disse”: New York Herald Tribune, 5 de novembro de 1947, documentosde Winant, FDRL. “É terrível”: Manchester Guardian, 5 de novembro de 1947.

412 “Será que”: Bellush, p. viii. “uma verdadeira baixa”: Eleanor Roosevelt, coluna “My Day,”sem data, documentos de Winant, FDRL. “Perdi um de meus amigos”: New York Times , 5de novembro de 1947. “Ele não poderia ter sido”: entrevista do autor com RivingtonWinant. “a autodestruição”: Thompson, p. 217

413 “Q ue desperdício!”: Sperber, p. 298. “os meninos de ouro”: Cloud e Olson, p. 244. “os anossombrios e gloriosos”: R. Franklin Smith, p. 80

414 “deixara toda a sua” : Ibid., p. 75. “o noticiário, seuhobby”: entrevista com Don Hewitt.“indivíduo”: Jack Gould, “Edward R. Murrow: 1908-1965,” New York Times, 2 de maio de1965

415 “Murrow foi um 'inglês honorário'”: “Britain Mourns a Friend,” New York Times, 28 de abrilde 1965. “superdiplomata”: “Ex-Gov. Averell Harriman, Adviser to 4 Presidents, Dies,”New York Times, 27 de julho de 1986. “desinteressado, distante”: Abramson, p. 409. “sexopairava”: Cloud e Olson, p. 197

416 “Ninguém foi tão longe”: Isaacson e Thomas, p. 603. “ele foi o auxiliar”: E.J. Kahn,“Profiles: Plenipotentiary -1,” New Yorker, 3 de maio de 1952. “reformulação do papel”:Isaacson e Thomas, p. 407. “Todos têm as suas”: Schlesinger, p. 249. “Estou confiante”:New York Times, 27 de julho de 1986

417 “Minha querida,”: entrevista de Pamela Harriman com Christopher Ogden, documentos dePamela Harriman, LC

418 “Ela serviu”: entrevista com o reverendo J. Parker Jameson419 “Nenhum outro país”: Burk, p. 578420 “Eis uma gente”: Hitchens, p. 302. “A vinda dos americanos”: Longmate, The G.I.'s, p. 375.

“O que quer que aconteça” : Ibid., p. 376. “Acho que entendo” : Ibid. “Amei Londres”:P y le , Brave Men, p. 315. “Os anos em Londres”: Middleton, p. 186. “Ficoenvergonhado”: Saroy an, p. 238

421 “Cada inglês”: Arbib, pp. 210-11. “Paris morreu”: radiodifusão de Sevareid, 4 de outubro de1940, NA

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Bibliografia

MATERIAL DE ARQ UIVO

ARQUIVOS ESCRITOS DA BBC, READING, REINO UNIDO

Documentos das Radiodifusões da BBC de tempo de guerra

BIBLIOTECA PRESIDENCIAL FRANKLIN DELANO ROOSEVELT, HYDE PARK, NOVA

YORK

Documentos de Bernard BellushDocumentos de Harry HopkinsDocumentos de Eleanor RooseveltDocumentos de Franklin D. RooseveltDocumentos de John Gilbert Winant

BIBLIOTECA DO CONGRESSO, WASHINGTON, D.C.Documentos de Pamela HarrimanDocumentos de W. Averell HarrimanDocumentos de Kermit e Belle RooseveltDocumentos de Eric Sevareid

ARQUIVOS E COLEÇÕES ESPECIAIS DO MOUNT HOLYOKE COLLEGE,

MASSACHUSETTS

Documentos de Edward R. Murrow e Janet Brewster Murrow

ARQUIVOS NACIONAIS DOS EUA, COLLEGE PARK, MARYLAND

Radiodifusões de tempo de Guerra da CBSDocumentos de John Gilbert Winant/Departamento de Estado

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Ziegler, Philip. London at War, 1939–1945. Nova York: Alfred A. Knopf, 1995

Page 369: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Índice

“60 Minutes” TV“A Nightingale Sang in Berkeley Square”Abel, ElieAbilene, KansasAbramson, RudyAcheson, DeanAchilles, TheodoreAcordos de GenebraAdamic, LouisAdams, AbigailAdams, David K.Adams, JohnÁfrica do SulÁfrica, norte da; controle da França de Vichy sobre o; invasão anglo-americana doAfrika KorpsAgar, Barbie WallaceAgar, HerbertAgência Central de Inteligência dos EUA (CIA)Agência das Nações Unidas para a Assistência e ReabilitaçãoAgência de Informação de Guerra — (OWI) dos EUAAgência de Serviços Estratégicos — OSS (EUA)Agnelli, GianniAlbâniaAldrich, Nelson W., Jr.Alemanha názi; bombardeio dos aliados da; bombas letais desenvolvidas pela; campos de

concentração e de extermínio; declaração de guerra da Inglaterra à; destino pós-guerra da;emigração de acadêmicos e cientistas da; EUA declaram guerra à; pesquisas edesenvolvimentos atômicos destruídos; políticas antissemitas; relações do Japão com a; UniãoSoviética invadida pela; vitória dos aliados na

Alexander, HaroldAlsop, JosephAlsop, StewartAmbrose, StephenAmerican Viscose CorporationAnderson, FrederickAnderson, Newton

Page 370: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Andrews, BertantissemitismoAntuérpiaArbib, RobertArdenas, floresta dasArgelArgéliaArgentinaArlington National CemeteryArmour, LesterArnhemArnold, BenedictArnold, Henry “Hap”Associação Americana de Correspondentes no ExteriorAssociated PressAstaire, FredAstor, NancyAtheniaAtkinson, RickAttlee, ClementAugustaAustráliaÁustriaAutoridade do Vale do TennesseeBaker, Ray W.Balanchine, GeorgeBálcãsBaldwin, StanleyBane, FrankBarman, ThomasBarnouw, ErikBaruch, BernardBatalha da Inglaterra (1940)Batalha de DunquerqueBatalha de El AlameinBatalha de GallipoliBatalha de StalingradoBatalha de VerdunBatalha de Yorktown

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Batalha do AtlânticoBatalha do BolsãoBatalha do Passo de KasserineBatalha do SommeBBC; aliança com a CBS; divisão de noticiários,45-48; Murrow e a; serviço público da,Beevor, AnthonyBelfrage, BruceBélgica; governo no exílio; ocupação alemã da; plano de FDR para dois estadosBellush, BernardBerle, AdolfBerlimBerlin, IsaiahBermudasBernhard, príncipe da HolandaBessborough, conde deBessie, MichaelBeveridge, RelatórioBeveridge, Sir WilliamBevin, ErnestBíbliaBingham, BarryBingham, RobertBirmâniaBirô Federal de Investigações (FBI)Bismarck; o monstro naval alemãoBlenheim PalaceBlitz; coragem e determinação dos ingleses na; defesas antiaéreas na; destruição e morte na;

documentação sobre a; radiodifusões ao vivo de Murrow sobre aBoeing B-17 Fortaleza VoadoraBoeing B-24 LiberatorBohlen, CharlesBonaparte, JeromeBorah, WilliamBoston Tea PartyBourke-White, MargaretBowen, ElizabethBracken, BrendanBradley , OmarBretton Woods, acordo de

Page 372: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Bridson, GeoffreyBrigada Lincoln (Guerra Civil Espanhola)Briggs, Asa, (n) 399Brinkley , DavidBrooke, Alan; sobre Eisenhower; sobre WC; Winant eBruce, DavidBruce, Evangeline BellBry ant, ArthurBuber, MartinBuchenwaldBullitt, WilliamBurk, KathleenBurns, James MacGregorButcher, HarryByron, George Gordon, LordCadogan, Sir AlexanderCairoCairo, Conferência (1943)Calder, AngusCâmara dos Comuns; bombardeio da; discursos de WC na; primeira mulher eleita para a, (n) 93;

sessões semanais de perguntas na; visita de Churchill à bombardeada; visita de GIs àCâmara dos Representantes (EUA)CanadáCanal da ManchaCanal de SuezCaribe, mar doCarroll, WallaceCarta do AtlânticoCasa BrancaCasablancaCasablanca, conferência (1943)Casey , WilliamCavendish, Adele AstaireCavendish, Lord CharlesCaverly , Abbie RollinsCBS; escritório em Londres; jornalismo radiofônico dominado pela; Murrow como chefe das

operações no exterior; Murrow vice-presidente para o noticiárioChamberlain, Neville; política de apaziguamentoChannon, Chips

Page 373: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

ChartwellChequersChiang KaishekChicago Daily News, (n) 21Childers, JamesChilds, MarquisChinaChina, mar do Sul daChristensen, ArthurChurchill, Clementine; caráter e personalidade; criação dos filhos; relação da nora Pamela com;

relação de WC com; relação de Winant comChurchill, Diana, ver Sandys, DianaChurchill, MarigoldChurchill, Mary , ver Soames, MaryChurchill, Pamela Digby ; Harriman e; Randolph Churchill e; WC eChurchill, PeregrineChurchill, Randolph; Harriman e, (n) 259; Pamela Churchill e; WC eChurchill, Sarah; aparência física; carreira teatral; infância e adolescência; Winant eChurchill, Winston; a administração do Lend-Lease e; assumiu também as funções de ministro da

Defesa; Beaverbrook e; bebida e charutos; bom de conversa e como contador de histórias;carreira parlamentar; charuto e bengala, suas marcas registradas; Clementine e; críticas àatuação de; de Gaulle e; depressão e estresse; ego e beligerância de, 135; Harriman e;Hopkins e; imagem de John Bull de; Murrow e; o comunismo como preocupação de; oratóriaexuberante; Pamela Churchill e; política social de; Primeiro Lord do Almirantado; problemasfinanceiros de; rejeição pós-guerra dos eleitores a; relações com os filhos; visitas às cidadesbombardeadas; Winant e

Churchill, Winston Spencer (neto de WC)CingapuraClapper, Ray mondClark, AverellClark, KennethClark, MarkClark, R.T.Clay ton, Philip “Tubby ”Clay ton, WillClemenceau, GeorgesClinton, BillCódigo de NapoleãoCollier’s

Page 374: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Collingwood, CharlesCollins, Joseph L.Colville, JohnComissão Assessora Europeia,363-4Comitê Francês de Libertação NacionalComunidade Econômica EuropeiaConcord Daily MonitorCongo BelgaConquista normandaConselho Assessor de Negócios (EUA)Conselho Econômico e Social das Nações UnidasConstantine, LearieConvenção de GenebraCook, DonCooke, AlistairCooper, ArtemisCornwallis, Charles, LordCorte de St. James; Harriman como embaixador na; Joseph P. Kennedy como embaixador naCorwin, NormanCoulet, FrançoisCouncil on Foreign RelationsCoward, NoëlCowles, VirginiaCranborne, LordCripps, Sir StaffordCrocker, JohnCrowther, BosleyCruz Vermelha AmericanaCubaCurie, EveCurie, MarieCurie, PierreDaily ExpressDaily HeraldDaily MailDaily MirrorDaily TelegraphDarlan, Jeande Gaulle, Charles; estilo arrogante e autoritário de; liderança francesa procurada por; oposição

Page 375: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

de FDR a; relação de WC comde Jongh, AndréeDegrelle, LeonDepartamento da Guerra (EUA)Departamento de Estado (EUA)Departamento do Trabalho (EUA)DepressãoDerby , LordDevers, JacobDevonshire, duque deDexter, DeanDia-D ; baixas dos aliados no; desembarque das forças aliadas na França no; proclamação de

Eisenhower noDickens, CharlesDigby , LordDill, Sir JohnDinamarcaDodds-Parker, DouglasDoenecke, JustusDonovan, WilliamDoolittle, JamesDouglas, PaulDouglas, SholtoDrury , SamuelDuchin, EddyDuke of YorkE o Vento LevouEagle Squadron, filmeEaker, IraEarly , StephenEconomist, TheEden, Anthony ; FDR e,244-5; Winant eEden, BeatriceEdward, príncipe de GalesEgitoEisenhower, Dwight D.; afável e gregária personalidade de; avesso ao redemoinho social inglês;

críticas a; defensor da amizade anglo-americana; FDR e; forças americanas na Inglaterracomandadas por; infância e adolescência; Kay Summersby e; liderança e comando de;Marshall e; Montgomery e; proclamação no Dia-D; Winant e

Page 376: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Eisenhower, JohnEleições nos EUA, de 1932; de 1936; de 1940; de 1944; de 1952; de 1954; de 1956Elizabeth Bowes-Ly on, rainha da InglaterraElizabeth I, rainha da InglaterraElizabeth, princesa da Inglaterra (Elizabeth II)EscóciaEspanhaEsquadrão EagleEstado-Maior Geral Imperial, Reino UnidoEstados Unidos; “arsenal da democracia”; bombardeio atômico de cidades japonesas;

crescimento do poder político, militar e econômico dos,248-9,392-3; isolacionismo e neutralidade nos; mobilização industrial; política externa pós-guerra;problemas raciais dos; racionamento nos; U-boats alemães nacosta atlântica dosEstreito de GibraltarEtonExército Confederado (EUA)Exército dos Estados Unidos; 1ª Divisão de Infantaria do; 2º Corpo de Exército do; 101ª Divisão

Aeroterrestre do; anglofobia no; Corpo de Aviação do Exército, (n) 150; decodificadores no;falta de preparo e experiência no; I Exército do; III Exército do; na Primeira Guerra Mundial

Exército Inglês; 11ª Divisão Blindada do; 60º Regimento do Corpo de Fuzileiros do Rei;americanos no; evacuações e derrotas do; Serviço Auxiliar Territorial (ATS) do; VIIIExército do

Exército Territorial (Reino Unido); contingente norte-americanoExército VermelhoField, MarshallFilipinasFinlândiaFiske, RoseFiske, William IIIFitzgerald, F. ScottFitzGibbon, TheodoraFocke-Wulf FWForbes, AlastairForça Aérea do Exército dos EUA; 8ª Força Aérea; 9º Comando Aerotático; 82ª Divisão

Aeroterrestre; 408º Esquadrão de Caças; alvos alemães na campanha de bombardeios; perdasde homens e de aviões; visor Norden de bombardeio, (n) 150

Força Expedicionária Americana (AEF)Força Expedicionária Britânica (BEF)Forças Armadas canadenses

Page 377: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Ford, HenryForeign AffairsForeign Office (Reino Unido)França; bombardeios aliados na; debate sobre o destino pós-guerra da; invasão dos aliados;

ocupação da; rede de inteligência F-2 na; relação dos EUA comFrança de VichyFranceses Livres, forças dosFrankfurter, FelixFulbright, J. WilliamGable, ClarkGalbraith, John KennethGarbo, GretaGardner, WilliamGavin, JamesGeiger, BillGellhorn, MarthaGenebraGeorge I, rei da InglaterraGeorge III, rei da InglaterraGeorge V, rei da InglaterraGeorge VI, rei da InglaterraGerard, TeddyGiraud, HenriGloucester, duque deGneisenauGorham, MauriceGöring, HermannGould, JackGraham, KatharineGrande Incêndio em Londres de 1666Grande Praga na Inglaterra de 1665Grant, Ulysses S.Gray , DavidGray ’s InnGréciaGreene, Sir Hugh CarletonGreerGrigg, JohnGrigg, Sir James

Page 378: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Grosvenor, Sir CharlesGrotonGrow, MalcolmGuamGuerra de Secessão (EUA)Guerra do VietnanGuerra e Paz (Tolstoy )Guerra MexicanaGuest, RaymondGunther, JohnGusev, FeodorHaakon, rei da NoruegaHalifax, LordHarlow, JeanHarriman, E.H.Harriman, KathleenHarriman, Marie Norton WhitneyHarriman, Pamela Churchill, ver Churchill, Pamela DigbyHarriman, W. Averell; a administração do Lend-Leasee; aliança anglo-americana fomentada

por; ambição e agressividade; aparência física; apego ao poder; autobiografia; chairman daferrovia Union Pacific; críticas a; educação; evasão do serviço militar; expedição ao OrienteMédio e à África ; FDR e; histórico familiar de; Hopkins e; infância e adolescência; interessepelos esportes de; morte de; nomeado embaixador na Corte de St. James; Pamela Churchill e;reputação de playboy ; WC e; Winant e

Harris, Arthur “Bomber”Hart, Sir Basel LiddellHastings, MaxHavaíHawker HurricaneHazelhoff, ErikHearst, William RandolphHemingway , ErnestHenrique VIII, rei da InglaterraHewitt, DonHeydrich, ReinhardHimmler, HeinrichHiroshima, bombardeio atômicoHitchcock, AlfredHitchcock, Louise

Page 379: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Hitchcock, MargaretHitchcock, PeggyHitchcock, Tommy; jogador de polo; promoveu o Mustang Híbrido; Winant eHitler, Adolf; luta inglesa contra; suicídio deHolanda; governo no exílioHolocaustoHong KongHoover, HerbertHope, Sir ArchibaldHopkins, Harry ; doenças de; FDR e; Harriman e; histórico familiar; instou pela ajuda à

Inglaterra; Murrow e; secretário do Comércio dos EUA; táticas negligentes e impulsivas de;WC e; Winant e

Hottelet, Richard C.Houghton MifflinHoward, JamesHughes, HowardHull, CordellHyde Park, Conferência (1943)Ickes, HaroldIgreja Católica RomanaÍndiaÍndias Orientais HolandesasInglaterra; agentes subversivos treinados na; ameaça de invasão pelo mar da; bases aéreas na

East Anglia; blecautes na; declaração de guerra em 1939 da; e os GIs negros; greve dosmineiros de carvão em 1942; Greve Geral de 1926 na; imperialismo da; inflação na; papelem tempo de guerra das mulheres na; política de apaziguamento da; privações e infortúniosna; racionamento e controles do governo na; refugiados europeus na; relações dos ingleses eGIs; sistema de classes na

Instituto Harriman da Universidade ColumbiaIowaIrlandaIrlanda do NorteIslândiaIsmay , Hastings “Pug”Itália; invasão aliadaIugosláviaJackson, C.D.Jacob, IanJameson, J. Parker

Page 380: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Japão,153-4; bombardeio dos EUA contra o; EUA declaram guerra ao; Indochina ocupada pelo;Pearl Harbor atacado pelo; rendição do; Stalin promete entrar em guerra contra o

Jefferson, ThomasJenkins, RoyJodl, AlfredJohnson, HerschelJohnson, HughJohnson, Lyndon B.Jordan, PhilipJunta de Chefes de Estados-Maiores (EUA)Kaufman, George S.Keegan, JohnKeitel, WilhelmKennan, George F.Kennedy , John F.Kennedy , Joseph P.; embaixador na Corte de St. James; FDR e; Murrow e; políticas derrotistas e

de apaziguamento de; renúncia de; WC eKent, duquesa deKerr, Archibald ClarkKeynes, John MaynardKimball, WarrenKing, ErnestKipling, RudyardKnox, FrankLafayette EscadrilleLambert, Derek“Land of Hope and Glory ,” 346Laski, HaroldLaval, PierreLee, RaymondLee, Robert E.LeHand, MissyLehman BrothersLei da Seguridade Social (EUA)Leis da Neutralidade (EUA)LeMay , CurtisLend-Lease, 72; aprovado relutantemente pelo Congresso dos EUA; como instrumento de pressão

americana; desconto no pagamento do; Harriman administrador do, (n) 237; iniciado porFDR; russos recebem a mesma ajuda; término do

Page 381: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Lênin, VladimirLever BrothersLíbiaLifeLiga das NaçõesLincoln, AbrahamLindbergh, CharlesLindsay , Sir RonaldLinha SiegfriedLiverpoolLloyd George, DavidLondon School of EconomicsLong, BreckinridgeLongmate, NormanLouisville Courier-JournalLovett, RobertLowell, James RussellLuce, HenryLuftwaffe; cidades industrais e portos ingleses atacados pela; combates aéreos dos aliados contra

a; missão soviética da; ver também BlitzLy ttelton, OliverMacartismoMacLeish, ArchibaldMalásiaMalta, Conferência (1945),373-4Manchester Guardianmáquina EnigmaMarinha alemã; códigos da; navios de guerra da; navios ingleses atacados pela; U-boats daMarinha Britânica; Aviação Embarcada da; bloqueio naval à Alemanha; navios de guerra daMarinha dos Estados Unidos; armada dos EUA no Atlântico; equipamento obsoleto; perdas em

Pearl Harbor; solicitada proteção para os navios ingleses pelaMarinha japonesaMarlborough, duque deMarrocosMarshall, George ; Brooke e; chefe do Estado-Maior do Exército dos EUA; Eisenhower e;

reorganização do Exército procedida por; secretário de EstadoMartin, JohnMartin, KingsleyMasaryk, Jan

Page 382: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Masters and Commanders: How Four Titans Won the War in the WestMatthews, TomMaugham, SomersetMcCloy , JohnMcCrary , TexMcKinley , WilliamMead, MargaretMellon, AndrewMenzies, StewartMeredith, BurgessMerlin, motorMesserschmitt Bf 109Metro-Goldwyn-MayerMéxicoMiddleton, DrewMiller, DonaldMinistério da Guerra (Reino Unido)Ministério da Informação (Reino Unido)Ministério do Ar (Reino Unido)Ministério do Comércio (EUA)Ministério do Interior (Reino Unido)Ministério dos Suprimentos (Reino Unido)Mitford, NancyMolotov, VyacheslavMonet, JeanMontgomery , Bernard LawMoran, LordMorgan, J.P.Morgan, Sir FrederickMorgenthau, Hans J.Morgenthau, Henry ; plano para a Alemanha pós-guerra deMorrison, HerbertMoscouMountbatten, EdwinaMountbatten, Lord Louismovimento de liberação femininaMr. Smith Goes to WashingtonMuggeridge, MalcolmMunique, Conferência de (1938)

Page 383: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Murrow, Edward R.; BBC e; Churchill e; cobertura do Dia-D; críticas a; documentário escrito enarrado por; FDR e; Hopkins e; infância e adolescência; Janet Murrow e; padrões morais eidealismo de; Pamela Churchill e; política da CBS desafiada por; reforma internacional pós-guerra promovida por; sobre a escravidão; vice-presidente do noticiário e das relaçõespúblicas da CBS; visita a Buchenwald; Winant e

Murrow, Janet Brewster; caráter e personalidade; diário e correspondência; experiência emLondres

Mussolini, BenitoNagasaki, bombardeio atômicoNapoleão I, imperador da FrançaNationNational Association for the Advancement of Colored People (EUA)NBCNevins, AllanNew DealNew Hampshire; Winant governadorNew StatesmanNew York Daily MirrorNew York Herald TribuneNew York TimesNew YorkerNews ChronicleNicolson, HaroldNietzsche, FriedrichNorth American Aviation Co.North American P-51B MustangNoruegaNova York, estadoNova York, N.Y.Nova ZelândiaOceano Atlântico; submarinos alemães operando no; zona de segurança dos EUA no; ver

também Batalha do AtlânticoOceano PacíficoOliver, VicOperação AnvilOperação Market GardenOperação OverlordOperação PointblankOperação Torch

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Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)Organização Internacional do Trabalho (OIT)Oriente MédioOrquestra Filarmônica de LondresOrwell, George“Os Sábios,” 362Pacto de Não Agressão Ribbentrop-MolotovPaís de GalesPaley , WilliamPanter-Downes, MollieParis; libertação dePartido Conservador inglêsPartido Democrata (EUA), (n) 70Partido Republicano (EUA), (n) 18Partido Trabalhista (Reino Unido)Patton, GeorgePearl Harbor; bombardeio japonês dePerkins, FrancesPershing, JohnPétain, marechal PhilippePhilip, príncipe da GréciaPlacentia Bay , Conferência (1941)Plano MarshallPlymouthPM Picture MagazinPogue, ForrestPolônia; independência em 1918 da; invasão alemã da; sacrifício anglo-americano da; serviços

de inteligência daPortal, Sir CharlesPortsmouthPotsdam, Conferência (1945)“Primeiro a América,” 156Prince of WalesPrinceton UniversityPrinz EugenPublic Advertiser (Londres)Punch (Reino Unido)Py le, ErnieQuartel-General Supremo da Força Expedicionária Aliada (SHAEF); Eisenhower comandante do

Page 385: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Quatro GrandesQuebec, Conferência (1943)Quesada, Elwood “Pete”Quisling, VidkunRaleigh, Sir WalterRavensbruck, campo de concentraçãoReading, LadyReading, LordReich, RobertReilly , MikeReith, Sir JohnReno, rioRenownRepulseReston, James “Scotty”Reuben JamesReynolds, QuentinRibbentrop, Joachim vonRitchie, CharlesRobertson, BenRockefeller, NelsonRomaRommel, ErwinRoosevelt, BelleRoosevelt, Eleanor; Winant eRoosevelt, ElliottRoosevelt, Franklin D.; a federação do novo mundo visualizada por; assessores mais próximos

instaram pela declaração de guerra; bom humor e charme; como governador de Nova York;críticas a; de Gaulle e; Harriman e, (n) 21; Hopkins e; início da carreira política; JosephKennedy e; morte de; Murrow e; oposição ao imperialismo britânico de; saúde abalada; Staline; Winant e

Roosevelt, KermitRoosevelt, TheodoreRosenman, SamuelRothschild, Elie deRoyal Air Force (RAF) ; 71º Esquadrão da; 601º Esquadrão da; Comando de Bombardeiros da;

Comando de Caças da; pilotos americanos e europeus naRoyal Albert HallRuskin, John

Page 386: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

RússiaSackville-West, VitaSalisbury , HarrisonSalisbury , LordSalter, Sir ArthurSandy s, CeliaSandy s, Diana ChurchillSandy s, DuncanSandy s, EdwinaSanford, LaddieSaroy an, WilliamScharnhorstSchlesinger, Arthur, Jr.Scribner’sSenado (EUA); Comissão de Relações Exteriores; Comitê do ComércioServiço Auxiliar Feminino da Força Aérea – WAAF (Reino Unido)Serviço Secreto — MI6Serviço Voluntário Feminino – WVS (Reino Unido)Settle, Mary LeeSevareid, EricShaw, IrwinSheean, VincentSherwood, RobertShirer, WilliamSibériaSicíliaSikorski, WladyslawSimon, Sir JohnSinclair, Sir ArchibaldSmith, Jean EdwardSmith, Sally BedellSmith, Walter BedellSnow, C.P.Soames, ChristopherSoames, Mary Churchill; sobre Clementine Churchill; sobre Winant; WC eSpaatz, Carl “Tooey”Spears, EdwardSpeer, AlbertSt. Louis Post-Dispatch

Page 387: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

St. Paul’s, catedralSt. Petersburg TimesStalin, Iosef; demanda a Segunda Frente; FDR e; habilidade nas negociações de; pleitos territoriais

de; Standley , William; WC e; ver também Três GrandesStanley , OliverStar (Londres)Stark, HaroldStars and Stripes (EUA)Steinhardt, LaurenceStettinius, EdwardStevenson, AdlaiStewart, JamesStimson, HenryStrang, Sir WilliamSuckley , DaisySummersby , KaySun Valley , IdahoSunday Times (Londres)Supermarine SpitfireSuprema Corte (EUA)Tâmisa, rioTchecoslováquia; ocupação názi; ocupação soviéticaTeerã, Conferência (1943)The Great Gatsby (Fitzgerald)The TimesThompson C.R.Thompson, WalterTimeTobin, Eugene “Red”TobrukTolstoy , LeoTree, NancyTree, RonaldTrês Grandes; conferências dos; conflitos entre os; futuro da Alemanha determinado pelos; ver

também Churchill, W., Roosevelt, F.D. e Stalin, I.Truscott, Lucian,208-9TunísiaTurquiaUnião Soviética; ditadura comunista na; forças alemãs destruídas na; invasão alemã da; Polônia

Page 388: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

ocupada pela; projetos expansionistas daUniversidade de BristolUniversidade de CambridgeUniversidade de HarvardUniversidade de OxfordUniversidade YaleV-1, bomba voadora, “buzz bomb”V-2, fogueteVarsóvia; levante popular deVienaWake, ilhasWallace, HenryWalton, BillWanger, WalterWarburg, JamesWard, BarbaraWashington Evening StarWashington PostWashington State CollegeWashington, estadoWashington, GeorgeWatson, Edwin “Pa”Watt, HarryWaugh, Evely nWedemeyer, AlbertWehrmacht alemã; Afrika Korps; derrotas da; engajamentos soviéticos com a; poderio e efetivosWeintraub, StanleyWelles, SumnerWells, AlanWells, ClaireWells, H.G.Welsh, MaryWheeler, BurtonWheeler-Bennett, JohnWhite, PaulWhite, Theodore H.White, WalterWhite, William AllenWhitney , John Hay “Jock”

Page 389: Churchill e Tres Americanos Em - Lynne Olson

Whitney , WilliamWilhelmina, rainha da HolandaWilkinson, EllenWilliam, ChetWilliam, o Conquistador, rei da InglaterraWilliams, DouglasWillkie, WendellWilson, HaroldWilson, WoodrowWinant, ConstanceWinant, John Gilbert; aliança anglo-americana promovida por; carreira de professor; chairman

da Câmara de Seguridade Social; Clementine Churchill e; de Gaulle e; defensor do New Deal;Eden e; Eisenhower e; Eleanor Roosevelt e; FDR e; governador de New Hampshire; grevedos mineiros de carvão mediada por; Harriman e; histórico familiar; Hitchcock e; Hopkins e;memórias de; Murrow e; nomeado embaixador na Corte de St. James; piloto de combate naPrimeira Guerra Mundial; posições na OIT de; poucas qualidades de administrador de;pretensões presidenciais; problemas financeiros de; promotor da cooperação econômica esocial no pós-guerra; relação de WC com, 30-1, 198-9; Sarah Churchill e; suicídio

Winant, John, Jr.Winant, RivingtonWinchell, WalterWindsorWoolf, VirginiaWyler, WilliamYalta, Conferência (1945)Yorkshire PostZiegfeld FolliesZog, rei da Albânia