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C I D A D A N I A 48 por Patrícia Mariuzzo Empresa patrocina experiência de voluntariado internacional Eduardo Barroso é engenheiro do Centro Tecnológico da Lafarge na América Latina. Seu trabalho exige que ele percorra fábricas de cimento em lugares como México, Venezuela e Antilhas para resolver questões opera- cionais e tecnológicas. Sua experiência internacional fez diferença para o gru- po de cinco voluntários da Lafarge que viajaram para Banda Aceh, província mais afetada pelo tsunami que devastou a Indonésia e outros países como Tailândia, Índia e Sri Lanka em dezem- bro de 2004. Foram quase 40 horas de viagem para, literalmente, colocar a mão na massa ajudando a reconstruir casas para as vítimas da catástrofe. O proje- to da empresa é entregar, até setembro, 274 casas à prova de terremoto, que deve- rão abrigar 300 famílias. Cada casa cus- ta US$ 10 mil, e estão sendo construídas em regime de mutirão pelos funcioná- rios da cimenteira. No dia seguinte ao tsunami, a Lafarge criou um fundo e organizou uma rede mundial de ajuda nos 75 paí- ses em que está instalada. Como os fun- cionários se mostraram muito motiva- dos a ajudar, a empresa decidiu ofere- cer a oportunidade deles conhecerem de perto a realidade da província, par- ticipando diretamente da construção de casas antiterremoto. "Para o Grupo Lafarge a diversidade cultural é uma fonte de riqueza, e os funcionários só têm a ganhar, tanto no aspecto pessoal quanto profissional, com tais experiên- cias fora dos países onde atuam", afir- ma Clóvis Correa, da assessoria de comunicação do grupo. A unidade da Lafarge na província de Banda Aceh, na Indonésia, teve 75% das instalações destruídas pela onda gigante e 190 funcionários que esta- vam trabalhando na hora da tragédia morreram ou desapareceram, além da perda da casa de 326 famílias. A fábri- ca só volta a operar em julho de 2007. Como os funcionários ficaram impos- sibilitados de trabalhar, parte deles tem sido treinada como operários da cons- trução civil e recebido ajuda de grupos internacionais como o dos brasileiros. A EQUIPE BRASILEIRA DE VOLUNTÁRIOS A intenção original da Lafarge era enviar 15 voluntários que seriam sortea- dos entre os 80 mil funcionários da empresa no mundo. No entanto, no Brasil, o número de inscritos surpreen- deu os organizadores do projeto: 65 pes- soas se inscreveram no programa. Diante disso, resolveu-se aumentar uma das frentes de trabalho e criar um gru- po só de brasileiros. Do Brasil, partiram cinco voluntá- rios no dia 23 de março; chegaram a Jacarta 36 horas depois e de lá foram mais quatro horas até Banda Aceh. "A alegria de ser um dos escolhidos foi substituída por um grande impacto ao encontrar destruição por toda parte, mesmo depois de mais de 18 meses do desastre", conta o engenheiro Eduardo Barroso. Quem percorre hoje Banda Aceh ainda encontra sinais desconcer- tantes da tragédia, como barcos nas ruas, a quilômetros do oceano. A infra- estrutura se mantém precária, com ruas e estradas intransitáveis em vários pon- tos e falta de água potável, acrescenta. Ainda é grande o número de pes- soas vivendo em abrigos à espera de uma casa. Segundo a agência que lide- ra o processo de reconstrução no arqui- pélago, cerca de 50 mil pessoas estão instaladas em barracões montados emergencialmente para receber desa- brigados. Outras 67 mil vivem em ten- das. Foram construídas até agora 16 mil casas, número insuficiente para atender a todos que ficaram sem ter onde morar. CASAS ANTITERREMOTO Diferente da grande maioria das edi- ficações brasileiras, para a construção das casas antiterremoto em Aceh, a Lafarge utiliza uma tecnologia france- sa em que a fundação é apoiada sobre FUNCIONÁRIOS DA MULTINACIONAL LAFARGE AJUDAM A RECONSTRUIR CIDADE DESTRUÍDA PELO TSUNAMI

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por Patrícia Mariuzzo

Empresa patrocina experiência de voluntariado internacional

Eduardo Barroso é engenheiro doCentro Tecnológico da Lafarge naAmérica Latina. Seu trabalho exige queele percorra fábricas de cimento emlugares como México, Venezuela eAntilhas para resolver questões opera-cionais e tecnológicas. Sua experiênciainternacional fez diferença para o gru-po de cinco voluntários da Lafarge queviajaram para Banda Aceh, provínciamais afetada pelo tsunami que devastoua Indonésia e outros países comoTailândia, Índia e Sri Lanka em dezem-bro de 2004. Foram quase 40 horas deviagem para, literalmente, colocar a mãona massa ajudando a reconstruir casaspara as vítimas da catástrofe. O proje-to da empresa é entregar, até setembro,274 casas à prova de terremoto, que deve-rão abrigar 300 famílias. Cada casa cus-ta US$ 10 mil, e estão sendo construídasem regime de mutirão pelos funcioná-rios da cimenteira.

No dia seguinte ao tsunami, aLafarge criou um fundo e organizouuma rede mundial de ajuda nos 75 paí-ses em que está instalada. Como os fun-cionários se mostraram muito motiva-dos a ajudar, a empresa decidiu ofere-cer a oportunidade deles conheceremde perto a realidade da província, par-ticipando diretamente da construçãode casas antiterremoto. "Para o GrupoLafarge a diversidade cultural é umafonte de riqueza, e os funcionários sótêm a ganhar, tanto no aspecto pessoal

quanto profissional, com tais experiên-cias fora dos países onde atuam", afir-ma Clóvis Correa, da assessoria decomunicação do grupo.

A unidade da Lafarge na provínciade Banda Aceh, na Indonésia, teve 75%das instalações destruídas pela ondagigante e 190 funcionários que esta-vam trabalhando na hora da tragédiamorreram ou desapareceram, além daperda da casa de 326 famílias. A fábri-ca só volta a operar em julho de 2007.Como os funcionários ficaram impos-sibilitados de trabalhar, parte deles temsido treinada como operários da cons-trução civil e recebido ajuda de gruposinternacionais como o dos brasileiros.

A EQUIPE BRASILEIRA DE VOLUNTÁRIOSA intenção original da Lafarge era

enviar 15 voluntários que seriam sortea-dos entre os 80 mil funcionários daempresa no mundo. No entanto, noBrasil, o número de inscritos surpreen-deu os organizadores do projeto: 65 pes-soas se inscreveram no programa.Diante disso, resolveu-se aumentar umadas frentes de trabalho e criar um gru-

po só de brasileiros. Do Brasil, partiram cinco voluntá-

rios no dia 23 de março; chegaram aJacarta 36 horas depois e de lá forammais quatro horas até Banda Aceh. "Aalegria de ser um dos escolhidos foisubstituída por um grande impacto aoencontrar destruição por toda parte,mesmo depois de mais de 18 meses dodesastre", conta o engenheiro EduardoBarroso. Quem percorre hoje BandaAceh ainda encontra sinais desconcer-tantes da tragédia, como barcos nasruas, a quilômetros do oceano. A infra-estrutura se mantém precária, com ruase estradas intransitáveis em vários pon-tos e falta de água potável, acrescenta.

Ainda é grande o número de pes-soas vivendo em abrigos à espera deuma casa. Segundo a agência que lide-ra o processo de reconstrução no arqui-pélago, cerca de 50 mil pessoas estãoinstaladas em barracões montadosemergencialmente para receber desa-brigados. Outras 67 mil vivem em ten-das. Foram construídas até agora 16mil casas, número insuficiente paraatender a todos que ficaram sem teronde morar.

CASAS ANTITERREMOTODiferente da grande maioria das edi-

ficações brasileiras, para a construçãodas casas antiterremoto em Aceh, aLafarge utiliza uma tecnologia france-sa em que a fundação é apoiada sobre

FUNCIONÁRIOS DA MULTINACIONAL LAFARGE AJUDAM A RECONSTRUIR

CIDADE DESTRUÍDA PELO TSUNAMI

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a estrutura da casa, em caso de terre-moto", detalha o assistente técnico daempresa, Eduardo Junqueira Augusto,que é outro dos voluntários escolhidos."É importante ressaltar que, para asse-gurar a estrutura reforçada das casas— que medem 36 m² — o projeto prevêuma grande quantidade de pilares (acada 3 metros x 2 metros), um padrãonão usual para casas deste tamanho",acrescenta.

Outra característica inovadora nes-se tipo de obra é o concreto utilizadona proporção de um volume de cimen-to para dois de areia e três de brita. Essacomposição visa oferecer uma resis-tência mínima à compressão de 18MPa(unidade de resistência de compressãoda construção civil), o que garante aobtenção de um concreto de alta resis-tência em tal empreendimento. Umaconstrução similar a essa, em São Paulo,por exemplo, pode utilizar como refe-rência de projeto 10 MPa. A rigidez dascasas é obtida também pela forma comosão dispostas as barras de ferro nasfundações, pilares e sapatas para queo esforço estrutural seja distribuídouniformemente em toda a casa. "Emcaso de tremores de terra, todas as pare-des da casa sofrerão a mesma carga deapoio e, caso haja um desnível no ter-reno, a estrutura impedirá que a casa,ou parte dela, venha a ruir", explicaAugusto.

De volta ao Brasil, em abril passa-do, havia muitas histórias para contar."A experiência em Banda Aceh foi úni-ca. A forma como as pessoas reagem àtragédia é algo comovente", contaManoelina Henriques, especialista emgestão de pessoas, única mulher no gru-po de voluntários. "O tsunami aconte-ceu, mas a vida continua com toda for-ça e vigor. Não há lamentações, há sim,um espírito de união e ajuda mútua edesapego às coisas materiais". EduardoBarroso acrescenta: "pensei que encon-traria tristeza e lamento por todos oslados, mas o trabalho na vila permitiuverificar como a fé pode superar umdesastre de tamanha proporção. As pes-soas foram capazes de dividir o poucoque lhes restou e, em momento algum,se queixaram das dificuldades. Só tenhoa agradecer a lição que aprendi. Terima

kasih!", conclui ele, usando a palavraque aprendeu na língua local, o baha-sa, que quer dizer obrigado.

uma base graduada, com material demedidas específicas. Por baixo, sãoacondicionados 30 centímetros de pedracalcária, dispostas manualmente umaa uma para fechar os vazios. Sobre estacamada, são colocados 10 centímetrosde cascalho, cinco de areia e, para com-pletar, no mínimo, 3 centímetros de póde pedra calcária. "É uma forma de esta-bilizar a construção, minimizando atransferência das vibrações do solo para

Barco em rua distante quilômetros do oceano: cenas que, após quasedois anos do tsunami, ainda foram vistas pela equipe da Lafarge (acima)

Fotos: Arquivo Lafarge

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