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Cientistas portugueses descobrem 72 novos planetas // PÁGS. 28-29

Cientistas portugueses descobrem 72 - astro.up.pt · Zoom //Astronomia O anúncio foi feito ... a evolução da tecnologia permitiu detec-tar mais de 400 planetas fora do siste-ma

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Cientistasportuguesesdescobrem 72novos planetas// PÁGS. 28-29

Exoplanetas.É oficial, nãofaltam vizinhosà Terra

Zoom // Astronomia

O anúncio foi feito ontem no Porto:foram descobertos 32 novos planetasextra-solares. Já são quatrocentos

Mundos alienígenas, sabemos que devemandar por aí. A lição é mais ou menosesta quando, em pouco mais de dez anos,

a evolução da tecnologia permitiu detec-tar mais de 400 planetas fora do siste-

ma solar. Ontem, da conferência do Obser-

vatório Europeu do Sul, transmitida emdirecto a partir do Porto, saiu um anún-cio: a descoberta de 32 novos exoplane-tas - corpos celestes que orbitam estre-las parecidas com o Sol, mas que des-

vendam sistemas planetários por conhecer

e explorar. São distantes, inacessíveis e

um enorme mistério, mas saber que exis-

tem é um passo importante na busca de

planetas com vida.Nuno Santos, investigador do Centro

de Astrofísica da Universidade do Porto

(CAUP), anfitrião do encontro em Por-

tugal, explica ao i que os novos corposcelestes aumentam "a estatística dos pla-netas conhecidos, mas o passo seguinteé encontrar planetas à distância certada sua estrela, e com água", a recta final

para a descoberta de vida A grande men-

sagem é uma salva de palmas à técnica:mostra o papel de um instrumento inter-nacional conhecido por HARPS (Hugh

Adcuracy Radial Velocity Planet Sear-

cher), um espectrógrafo de alta precisãoinstalado no Observatório de La Silla, noChile, onde um telescópio com 3,6 metrosde diâmetro faz de porta terrestre parao universo.

"Descobrimos 32 planetas que fechamo legado daquela que foi a primeira fase

de operação deste instrumento", diz o

investigador português, que lidera umaequipa especializada em planetas extra--solares e que recentemente recebeuuma das mais prestigiadas bolsas euro-peias, a ERC European Grand - um milhãode euros para investir na detecção de

planetas semelhantes à Terra. Nos últi-mos anos, os dados do HARPS levaramà descoberta de mais de 75 planetas extra--solares, em 30 sistemas planetários dife-

rentes, e foram responsáveis pela des-coberta de 24 dos 28 planetas conheci-dos com massas 20 vezes inferiores à da

Terra, logo uma boa pista para a forma-ção do planeta e para a busca de vida.

"São planetas que orbitam estrelas navizinhança solar, e estrelas relativamen-te brilhantes. Nenhum deles é parecidocom a Terra, mas estas descobertas mos-tram que descobrir outros planetas é

uma questão de tempo", explica NunoSantos. Quando se diz vizinhança, adian-ta o investigador, está-se a falar de umperímetro que vai até 100 anos-luz - parafacilitar comparações difíceis, a distân-cia entre a Terra e o Sol é de um ano-luz."Em termos astronómicos é uma distân-cia pequena", diz Nuno Santos.

Apesar da proximidade, não existe porenquanto qualquer telescópio capaz dearrancar uma imagem destes planetas.A técnica de detecção é a das "velocida-des radiais" e parte da premissa de quequando um planeta orbita uma estrelaesta também se mexe. Se hoje o HARPSpermite detectar movimento a um metro

por segundo, um novo projecto interna-cional chamado ESPRESSO, em que tam-

MARTA F. REISmana. [email protected]

Não existe nenhumtelescópio capaz de

ver estes planetas.As descobertas fazem-se

pela luz das estrelas

bém participa uma equipa portuguesa,vai permitir as observações a uma esca-la de 10 centímetros por segundo.

Para João Fernandes, CoordenadorNacional do Ano Internacional da Astro-nomia 2009, estas descobertas, apesarde partirem de uma "observação indi-recta", permitem dizer que, se estes pla-netas existem, deverão existir muitosmais. "Descobriu-se o primeiro planetafora do sistema solar em 1995. Desdeentão os avanços têm sido directamen-te proporcionais à diversidade de apa-relhos que vão surgindo." O papel dosamadores é um dos que não devem ser

esquecidos, nota o responsável. "Estasdescobertas não resultam de uma úni-ca observação, e muitas vezes não sãotrabalhos para um só dia. Há imensos

casos em que os astrónomos amadoressão fundamentais."

para o infinito O maior telescópio domundo foi inaugurado em Julho na ilhade La Palma. São 10,4 metros de espe-lho que permitem pensar o universo nou-tra resolução. No espaço, o Herschel e o

Planck deram tréguas ao velho Hubble,que completou já os 19 anos de trabalho.Além dos avanços no campo da obser-

vação, os voos espaciais continuam a pro-meter missões tripuladas no espaço e

sondas em lugares nunca antes navega-dos, enquanto a Estação Espacial Inter-nacional continua a crescer. Um dos gran-des objectivos é chegar a Marte em 2020:

astronautas, taiconautas e cosmonautaslutam pelo primeiro lugar no pódio.

Nuno Santos

Investigador do Centro deAstrofísica da Universidade do Porto

"É muito poucoprovável quenão haja vidafora da Terra"

Algum destes planetas agoradescobertos é realmente parecidocom a Terra? Não. A maioria são

planetas gigantes, ou seja, planetascom 300 vezes a massa do nosso.Mas há uns cinco que têm cinco

a dez vezes a massa da Terra.

Pode dizer-se que são super-Terras.É possível começar já a pensar emvida fora do sistema solar? Estouconvencidíssimo que sim. Mesmo em

condições extremas existe vida: vemosbactérias em zonas geologicamenteactivas ou nos lagos gelados de

regiões como a Antárctida. Tudo

parece mostrar que a vida borbulha

facilmente. Sabendo que há tantos

planetas, é muito pouco provável

que não haja vida fora da Terra.

É uma questão de tempo? Do lado

biológico, sabemos que é muito fácil

aparecer vida. Do lado astrofísico

começamos a perceber queos planetas se formam com grandefacilidade; estas descobertas são

importantes também por isso.

QUER DESCOBRIRUM EXOPLANETA?

José Ribeiro, astrónomo

"ProAm", como se diz

recentemente dos amantes deastronomia que dão algumasnoites de trabalho a projectosde colaboração científica,

explica ao i como ajudara detectar um planetaextra-solar.

Linha de partida Não se faznada sem amor à camisolae alguma persistência.As madrugadas ao frio sãodifíceis de suportar e podemprovocar hipotermia. Se está

decidido, ajudar na procurade exoplanetas exige queaprenda a manipular um

telescópio e adquira algumasnoções de astronomia. Se não

puder frequentar um curso, o

site www.astrosurf.comdá algumas dicas.

Equipamento Prepare-separa um investimento de

alguns milhares. José Ribeiro

explica que para começarchega um telescópio de1 30 mm mas normalmenteutiliza-se um aparelho de 1 1

polegadas. Telescópio mais

montagem podem custarentre 6 mil e 8 mil euros.Para detectar exoplanetasé também necessária umacâmara para captura de luz,

que custa entre 2500 e 7 mil

euros. O astrónomorecomenda o site

astrofoto.com.pt paracompras online. Regra geralo material vem dos EstadosUnidos e paga grandes taxas

alfandegárias, alerta.

Cooperação Quando estiver

pronto, e se quiser mesmo

ajudar, é aconselhável

que se inscreva num grupode trabalho. Os profissionaisenvolvidos na buscade exoplanetas orientam

os amadores para os lugaresa vigiar no céu para tentardetectar o trânsito de um novo

planeta junto de determinadaestrela: para descobriro planeta é preciso perceberquando o brilho da estrelaé diminuído pelo corpoceleste. Em exoplanets.org ewww-int.stsci .edu/~pmcc/xo/(Projecto XO) pode encontrar

ajuda.

Obstáculos A poluiçãonocturna e a desmotivaçãopodem travar o espírito dos

amadores, mas quem gostanão desiste, testemunha JoséRibeiro, um dos fundadoresdo grupo Atalaia. Aos sábados

seguem os céus numa clareira

perto do Montijo.