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Cinturao negro revista portugues 279 2014

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A revista internacional de Artes Marciais, desportos de combate e defesa pessoal. Download grátis. Edição Online Janeiro 2014. 268 Ano XXIII

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o passado mês de Setembrofaleceu José Luís PaniaguaTévar, um dos meus maisqueridos conselheiros. Muitosforam os anos passadosjuntos, muito o que ensinou a

mim e a muitos outros, muito o que meajudou… Obrigado! A vida e suas mil

circunstâncias, muitas delas (sempre todas!)minúsculas, nos separaram e até nos enfrentaram

um breve lapso no tempo, mas o reencontro foimagnífico e hoje me satisfaz infinitamente o facto de

o ter promovido; por mais que o nosso tempo juntostivesse passado, ficaram um profundo respeito, sincero carinho

e sentido reconhecimento. Não vou fazer aqui um panegírico do meu querido Mestre, ele próprio diria que

só se fala bem dos mortos; também não direi que fica a sua obra - que fica, emuito boa! Livros, algum DVD, seus filhos e os muitos corações que tocou com asua profunda sensibilidade… (querida Maria, fortaleza!). Foi atrevido e valente,consequente até em suas inconsequências, e se superou a si mesmo em cadaesquina do caminho. De seus defeitos fez autêntica virtude (nada maisgrande se pode fizer de um homem!) e nesse esforço descobriu e abriucaminhos para muitos outros, que necessitados de sua guia nos

aproximamos dele em algum momento. A ele devo meu reencontro com as Artes Marciais, quando delasme tinha a. Ele me proporcionou uma visão superior das mesmas,

superior no sentido de ir mais além, de integrar, de superar asformas e entrar em suas mais profundas utilidades. Foi um

reformador, um revolucionário, e pagou por seu pecado opreço que todos eles pagam. Seu livro “Artes Marciais,equilíbrio Corpo Mente”, deixou uma marca na minhavisão deste assunto, e me permitiu anos depois, exercercom mais atino uma profissão à qual inesperadamenteme vi comprometido e pela qual a maioria dos leitores meconhecem.

Paniagua soube retirar-se no campo, na suaValdepenhas natal, para gozar da vida na natureza, parater um tempo de qualidade, mas não deixou por isso decontinuar ajudando muita gente com as suas aulas.

Partiu deste mundo rapidamente e em silêncio, semalvoroço e consciente do trânsito.

Não houve despedidas, talvez porque não existem, só háum trânsito, o resto é importância pessoal. Mas isso é avida para todos e cada um de nós, milhões de detalhes,sentimentos, apegos, desejos e sonhos, envolvidos emcircunstâncias que nos estimulam, provocam, confrontam e

põem à prova. Vivemos nesse trânsito o que temos de viver, aquilo queforma parte do nosso caminho, e nesse lapso de tempo, em cada

esquina do caminho, cumprimos de uma ou de outra maneira os

“E no momento de partir, serão estas as minhasúltimas palavras: Eu vou embora, mas deixo o meu

amor atrás de mim”Rabindranath Tagore

"Só o que se perde se adquire para sempre" Henrik Ibsen

N

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desígnios do destino. A quinta-essência, o resultante, ficaimpregnado nos outros, em aquilo que encontramos, nos quetocamos, por vezes sem darmos por isso, ondas que provocamondas de energia, de transformação e até consciência, ondasque mais tarde ou mais cedo voltam a nós após tocar os confinsdo infinito.

Não, não é a mesma coisa viver uma vida de proa àconsciência e a superação, que viver uma vida entregue àconfusão e à apatia extrema. Por mais que ambas se mistureminequivocamente sempre em os milhares de ciclos, existe umadominante, que nos leve para cima ou que nos afunde em baixo. Nãohá um valor moral em tudo isso! Muito gostaríamos que fosse assimtão fácil! Mas se uma existe diferença, muito mais inata que adquirida,talvez mais existe o estreito livre alvedrio no qual nos movemos,que marca profundas diferenças, enormes e à vez frágeis efinas como as asas de uma borboleta.

No território das crenças, tudo vale. As crenças,como o papel, aguentam tudo. Se aconsciência perdura, se a vida continuano mundo espiritual ou não, é coisaque cada um interpreta comoquer e pode. A minha opinião aeste respeito é bemconhecida, porque muitotenho escrito sobre ela, edesde essa certeza, eu tedesejo irmão José Luís,querido Pani, uma boatravessia, muita luz epaz. Eu não sou juizda tua vida, nem davida de ninguém,em mim só resta agratidão, o doce esuave encanto dagratidão, essa formade amor poucovalorada… ¡que ela teacompanhe ereconforte. Obrigado!

Alfredo Tucci é Director Gerente de BUDO INTERNATIONAL PUBLISHING CO.e-mail: [email protected]

https://www.facebook.com/alfredo.tucci.5

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Kapap

“No último seminário,Carlos Newton,

Ken Akiyama e eu,ensinamos que a acção émais rápida que a reacçãoe como se pode utilizar alei da gravidade e a massado objecto (o peso) paraajudar a controlar o

oponente”

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A Consciência no BudoConheci Carlos Newton quando tinha 17 anos. Logo percebi que

tinha talento, mas para conseguir o que Carlos conseguiu, énecessário mais que talento. O seu êxito e habilidade são o resultadode árduo trabalho. O duro trabalho supera o talento, quando o talentonão trabalha arduamente!Com os anos, Carlos e eu temos compartilhado amizades e juntos

temos atravessado pontes. Faz já muito tempo, Carlos foi um dospoucos especialistas em Artes Marciais que teve o privilégio de poderinstruir as Forças especiais de Israel, por mim convidado. Maisrecentemente, senti-me honrado por poder completar um grandecírculo, compartilhando conhecimentos e amizade com Nick, o filhode Carlos, um jovem de 17 anos.Durante os últimos anos, Carlos e eu temos trabalhado juntos em

muitos projectos. Trabalhar com as tribos dos Cree e dos Inuit noÁrctico, foi uma grande aventura. Uma estrada remota, de 500km,

Mixed Martial Arts

Por Avi Nardia and Ken Akiyama e Carlos Newton

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Jiu Jitsu

“A consciência éuma matéria

primordial nas ArtesMarciais.

Procurando ganhardestreza nas ArtesMarciais, primeirose deve tomar

consciência de simesmo,

de seus medos, dequem é,

do que é e, acima de tudo, do que quer ser”

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leva à zona das tribos; um território isolado no círculo polar árctico,onde a temperatura chega a descer aos 45 graus negativos. O nosso

projecto consta de ensinar Artes Marciais às tribos, para reforçar suastradições culturais e seus valores.

Carlos e eu temos ministrado seminários juntos e este anoproduzimos um DVD com Ken Akiyama e a revista Budo International,acerca da “Consciência". A consciência é uma matéria primordial nasArtes Marciais. Para se poder alcançar destreza nas Artes Marciais,primeiro se deve ter consciência de si próprio, dos medos, de quem seé ou o que é, e acima de tudo, do que se quer ser. Só depois de se estudar a si próprio, se pode começar a estudar os

outros e só depois de se conhecer a si mesmo, se podem conhecer osoutros. Quanto mais se sabe da vida, mais se pode fazer nesta vida. Naestratégia das Artes Marciais, se é mais consciente do que está sucedendoem redor, o que aumenta a capacidade de aceitar e contra-atacar. É muito importante estudar a consciência, o facto de ser consciente

permite-nos observar a primeira regra da defesa pessoal - a acção ésempre mais rápida que a reacção. Em aplicações mil itares edesportivas, entramos em desafios e inclusivamente procuramos oconflito. No entanto, na própria defesa procuramos evitar o conflito eescapar. Com frequência, a missão de uma unidade militar será procuraro inimigo e entrar em combate. No entanto, a ideia subjacente na auto-

Mixed Martial Arts

“O Jiu Jitsu trata acerca decompreender acções e

reacções. Quando alguémpode predizer os efeitos evulnerabilidades das suasacções, sempre pode

interceptar as opções deseus oponentes antes deatacar. Quando se faz isto,

o oponente fica muitofrustrado”

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Kapap

“Só depois de seestudar a si próprio,se pode começar a

estudar os outros e sódepois de se conhecer

a si mesmo, se podem

conhecer osoutros”

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Mixed Martial Arts

"Nas Artes Marciais, o Sensei Avi Nardia

mostra magnificamente onível de consciência que sepode alcançar através de

cultivar de umagrande habilidade

e técnica"Carlos

Newton

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“Um sistema deensino baseado nosuposto de que osestudantes não sãocapazes de pensar, é como dar vitaminasa um corpo morto”

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Mixed Martial Arts

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“No espírito da amplificaçãoda consciência,

também ensinamos acerca daimportância de estudar

os cenários, "o que aconteceria se",

a concatenação de ataque, e as relações de causa

e efeito”

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defesa civil é evitar o conflito e escapar sem ser magoado. Há umagrande diferença e agora poderão perceber o motivo de quemuitos professores que ensinam os sistemas militares, estãoperdendo “o ponto” da auto-defesa. A aplicação do combatemilitar é completamente diferente do contexto da defesa própria. O trabalho policial é outro contexto que tem as suas próprias

características únicas.Uma boa defesa pessoal requer de uma boa consciência e uma

grande defesa pessoal requer de uma grande consciência. Umprofessor israelita desenhou o seu sistema para ensinar os seusalunos, em só 5 movimentos. A sua estratégia se baseia em umatáctica - se alguém se aproximar, pontapear nas virilhas. Esteprofessor israelita narra um facto para apoiar a sua estratégia. Elediz que um gato sempre trepa a uma árvore para escapar dealgum perigo. Diz também que se aos estudantes se dão muitasideias diferentes, não vão ser capazes de pensar estandostressados. Eu respondi rapidamente, com uma pergunta: "Oque acontece si não houver árvores?"

Alguns Mestres tratam de apoiar a sua teoria dasimplificação com a pesquisa científica. Um experimento

não relacionado com as Artes Marciais, mostrou quequando as pessoas têm muitas opções para

escolher, necessitam de mais tempo para tomar umadecisão, porque estão procurando a melhor opção. Estapesquisa é válida quando se trata de alguma coisa assimcomo escolher a comida em um restaurante, ou da selecçãode uma peça de fruta madura.Um sistema de ensino baseado no suposto de que osestudantes não são capazes de pensar, parece sersemelhante a dar vitaminas a um corpo morto. Porquêensinar às pessoas que não têm a capacidade de pensar?

Eu sempre explico aos meus alunos que um piloto de Jetprecisa calcular muitas coisas a alta velocidade. O piloto deveser capaz de reagir rapidamente e com a consciência demuitas preocupações, mantendo o avião no ar. Este exemplovem mostrar que os seres humanos têm a capacidade de

tomar decisões sob pressão. Um dos segredos desta habilidade é cultivar umamentalidade da acção, em vez da reacção. Como

disse anteriormente, a melhor defesa éatacar primeiro. A lei nos Estados

Unidos, permite a acçãopreventiva, no caso de se

detectar uma ameaçaimediata. Temos

Mixed Martial Arts

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Jiu Jitsu

“Um dos segredosdesta habilidade é

cultivar umamentalidade da acção,

em vez dareacção”

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Mixed Martial Arts

direito a lançar op r i m e i r oataque eainda sermosprotegidos com odireito à auto-defesa.No último seminário,

Carlos Newton, KenAkiyama e eu, ensinamosque a acção é mais rápida que areacção e como se pode utilizar alei da gravidade e a massa do objecto(o peso) para ajudar-nos a controlar umoponente. Compartilhamos ideias do AikiJujutsu Kenpo e do Machado Jiu Jitsu econvidamos alguns assistentes a compartilharemas suas próprias ideias acerca da Luta Livre. Com o espírito da ampliação da consciência,

também ensinamos acerca da importância deestudar os cenários, "o que aconteceria se…", aconcatenação do ataque e as relações de causa eefeito. Ken Akiyama mostrou algumas ideias deum grande projecto no qual estamos trabalhando,compartilhando exercícios de movimentos muitoeficazes para desenvolver a força e a relaxação. Acapacidade de mover o corpo de uma maneirarelaxada, é uma habilidade vital para o BrazilianJiu Jitsu e a defesa pessoal.

O Jiu Jitsu trata de como entender acçõese reacções. Quando se pode predizer osefeitos e vulnerabilidades das acções,sempre se podem interceptar as opçõesdos oponentes, antes de atacar.Quando se faz isto, o oponente ficamuito frustrado. Quando isto sucede,se pode destruir a capacidade depensar do oponente. Quando ooponente não pode penar, éderrotado! Isto é o queprovoca a grandeestratégia do Jiujitsu. Aestratégia é um estudoda acção, da reacção eda previsão. A estratégia requer

consciência.

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Com o meu estudante Misa Ortis, que é campeão de MMA de Puerto Rico e agora estuda comigo nos Estados Unidos. Tiramosumas fotografias com o Carlos Newton, o Ronin, campeão do UFC Pride e do Vale Tudo.Carlos Newton no campeonato de UFC. Ronin com meus alunos Misa Ortis, campeão de Boxe Tailandês e de MMA, e com Pablo Colón e Mike Wilson. Mike conta mais de

70 anos, começou a estudar comigo BJJ, Machado RCJ, com 63. Agora é faixa castanha e espera conseguir em breve o CinturãoNegro. Eu disse a ele e ao Carlos Newton, que são Campeões de Campeões para sempre! Eu próprio, Carlos Newton, Ronin e Misa Ortis, campeão de Boxe, Boxe Tailandês e MMA, e Pablo Colón. Todos se sentiam

honrados por serem Mestres.

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O Kyusho nos Katas

Em primeiro lugar temos de compreender queos Katas, mesmo sendo muito bons, não são amelhor maneira de aprender Kyusho.Pessoalmente, desde 1975, não deixei depraticar os Katas nem um só dia. Suponhoentão que posso dizer que gosto. Noentanto, não penso, que seja a formacorrecta de aprender Kyusho. O Kyusho seaprende melhor (mais ef icaz ecompletamente) por separado em combateespontâneo e depois, permitindo que o estiloou Arte assimile o Kata, naturalmente..., nãotratando de o situar no interior à força.

O Karate tem as posições corporais maisintrigantes, incrustadas em suas formas oukatas, que constituem a biblioteca de cadaestilo... e isso é o que tem fascinadomilhões de profissionais de todo o mundo,ao longo da história.

Cada posição está aberta àinterpretação e tem um potencial infinitolimitado apenas pelas capacidadesmentais e físicas da pessoa. Muitosestilos têm o que se denomina Bunkai,ou interpretações - que sãopreviamente conceituadas - esequências de comandos na forma,no rendimento e na duplicação.

No entanto, este potencialilimitado está assim limitado pelainterpretação, quando seestabelece na técnica específicaque deve ser recordada epraticada de acordo com um ataquecombinado e reagir em umdeterminado cenário. Em vez disto,pode ter ainda maior potencial semudar ou adicionar constituintesdiferentes das acções f ís icasestabelecidas, em relação com asacções físicas de um oponente ou umparceiro de treino. Como limitamos amente e portanto tambémlimitamos as manifestaçõesfísicas em um únicoparadigma, nunca se podedesbloquear todo opotencial que épossível conseguir.

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Kyusho ou Kata?

A primeira pergunta que devemos fazer-nos é: o que foiprimeiro... o Kyusho ou o Kata? As Formas ou Katas se desenvolveram em volta do

conhecimento ou descoberta das estruturas anatómicasmais débeis, as funções e as possibilidades. Assim, os"Estilos" que se seguiram foram criados a partir destabase de conhecimentos. Aqui é onde a maioria da gentedo Kyusho (até de um nível superior) se confunde. Tratarde transformar forçadamente um conhecimento universale natural, em uma ferramenta feita pelo homem, não émétodo eficaz ou natural... Desenvolvendo a ferramenta,se mostram de maneira natural as leis, as estruturas e acapacidade física ou as limitações.Também é mais lógico entender que os objectivos (ou

metas) devem ter chegado em primeiro lugar.Seguidamente, as armas e as acções para ter acesso acorrecto a esses objectivos, foram preparadas medianteposições e padrões que depois foram vinculados àsformas ou Kata. Quem gastaria seu valioso tempo de vida na criação de

movimentos aleatórios do corpo, para depois passar maisdesse tempo em descobrir o que se poderia fazer com eles?É muito mais natural e eficiente desenvolver um movimentopara ter acesso, utilizar ou incentivar para chegar à meta. Amaneira mais eficiente não é pôr Kyusho no Kata; o Katadeve de evoluir com a compreensão do Kyusho. Quando se realiza a acção, a posição específica ou uma

série de movimentos e se trabalha para situar o Kyushoneles, então sim que vão a melhorar essas acções (emteoria, até que se aplica na realidade), mas assim, noslimitamos a essa realidade até que tiver inventado (oumais alguém pensar em copiá-la) outra possibilidade. Outra maneira de ver isto é que se um instrutor ensina

uma Bunkai, não nos apercebemos do seu potencial...,simplesmente imitamos as acções de outro, o que é umareceita certa para o fracasso sob o estresse de um ataque,posto que não é a tendência natural (física, mental ouespiritual). Quanto mais anti-natural e complicada seja umaacção para uma pessoa, mais probabilidades tem de falharquando estressado, ou numa situação de combate real.Trabalhando um objectivo ou vários objectivos,

trabalhando os ângulos correctos e a dinâmica atravésdo treino espontâneo e orientado para o estresse, seestá desenvolvendo uma singularidade depossibilidades infinitas. Assim, quando se faz o“nosso" Kata, seus métodos naturais, tendências ecapacidades surgirão automaticamente comoacções já realizadas e "sentidas". Este é umfactor crucial no Kata, que muitos desconhecem.

A maioria das pessoas realizam o Kata e tratamde inventar acções ou cenas para que sejaverosímel e dar um sentido à acção que sepratica... Então, o instrutor obriga o estudante arecordar isto através de muita prática, de novoinculcando um aspecto estranho em seucaminho. Mas em troca, quando se treinacorrectamente o ataque a um objectivo e seaprende sob estresse, mediante ataque únicoou múltiplo para chegar a esse objectivo, senota o efeito que tem o ataque a esse objectivoe outra maneira de responder a um ataque quetem sido visto muitas vezes... Então, fazendo

um Kata e esse movimento natural instintivo deresposta, se revive essa sensação ou experiência. O que faz que o Kata se torne realidade,inclusivamente em um ataque real, é a maneira em

que se forjou... e não a memorização das acçõesde outra pessoa.

O que é simples gera o que écomplexo, o complexo esconde o que ésimples… A maioria das vezes, temos tendência a referir-nos só à

parte externa de uma tarefa determinada, o desafio, asacções do rival, etc., e a passar por alto o que é interior,posto que o não vemos. Como exemplo, alguém nos lançaum golpe, pontapé ou agarre... Vemos esta acção exteriore reagimos da mesma maneira (por regra geral, em relaçãoaos atacantes, para o exterior de acção) o que nos limita.Este tipo de treino fará nos mantermos a um passo, dandoo impulso e a vantagem ao agressor. Trabalhando só nestamaneira de reacção física, frequentemente estamoslimitados pelo tamanho, a velocidade, a força, a idade etodos os outros atributos físicos..., o que limita todo onosso potencial.No entanto, se em primeiro lugar treinarmos aspectos

interiores através da experiência recolhida automaticamenteem combate, podemos então ter uma gama mais ampla depossibilidades e potencialidades; inclusivamente de noslibertarmos das limitações físicas. Mantendo esta dinâmicainterior de sentir a intenção, o objectivo ou a meta, cadaposição ou acção no Kata terá um maior alcance,possibilidade e potencial e o Kata terá vida. Como neste exemplo - obsérvesse a posição do

karateka acima - podemos apreciar muitas possibilidadesfísicas, tais como o bloqueio de um pontapé e soco, oagarre de uma perna, uma ruptura de pescoço ou mesmoo legendário método de puxar e agarrar a virilha. Tudo

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dependerá do tamanho, força e capacidade de seposicionar durante o ataque, para conseguir superá-lofisicamente. Também, tudo dependerá da maneira em queestiver treinado ou acondicionado a pensar desde esta

posição, especialmente..., se treinar para repetir umaacção específica da posição e a transição.

O Kyusho é a inibição de uma funçãofisiológica, se entendermos a fisiologia

interna, a funcionalidade e aacessibilidade como uma série

infinita de novaspossibil idades paraaproveitar e portanto,para aumentar opotencial dem a n e i r aexponenc i a l ,consoante osa t r i b u t o sinatos. Deman e i r aque o queisto nosdiz é queem vezde pensar

apenas naimitação da

ideia de alguém dobunkai ou técnica de

acções mecânicas, é necessário ter acessoao órgão interno desde a primeira acção, respondendocom a inércia da acção de contra-ataque a cada uma dasacções dos oponentes… e no processo do corpo,encontrar esta posição de maneira natural. Isto é possíveltreinando os objectivos, as ferramentas e trajectórias, emvez das acções específicas de cada posição.

Então, o que é o Kata?Conforme indica a Wikipedia: Kata ( l i teralmente

"forma") é uma palavra japonesa que descreve padrõesdetalhados de movimentos praticados, tanto seja a sósou com parceiro. Cada um é um sistema de combatecompleto, com os movimentos e posições do Kata,sendo uma guia de referência para viver a forma correctae a estrutura das técnicas que se utilizam dentro dessesistema. Os Katas de Karate são executados como umasérie especificada de uma variedade de movimentos,com passos e rotações, para tentar manter a formaperfeita. Se aconselha ao praticante visualizar os ataquesinimigos e suas respostas. O Karateka "lê" um Kata coma finalidade de explicar os acontecimentos imaginados.O kata não pretende ser uma descrição literal de umaluta fingida, mas uma amostra da transição e o fluir deuma posição para outra e de um movimento para outro,

ensinando a forma adequada e a posição aos estudantese incentivando-os a visualizarem diferentes cenários parao uso de cada movimento e cada técnica. Há váriasformas de Kata, cada uma com muitas variaçõesmenores.Se isso é tudo, é um processo muito ineficiente para

reter e transmitir as técnicas, especialmente difícil atravésde múltiplas gerações. Mas pelo contrário, seria muitomais eficiente treinar só a técnica, posto que é repetitiva, eadicionar sistematicamente o estresse e o combate real(velocidade, potência e verdadeira intenção) como noJudo. Certo é que o Kata também se pode utilizar desta

maneira, mas encarna muitos outros detalhes que sãomuito mais importantes e úteis em um verdadeiroconfronto sob estresse e limitações físicas. No entanto,fazer a forma correcta não é o mesmo que viver essaforma... Não é em uma actuação onde se encontra o valormais profundo, que consiste em viver e voltar a viver oKata. Então, como se consegue "vivê-lo"? Em primeiro lugar,

é preciso saber quais são os objectivos anatómicos maisdébeis e naturalmente fáceis e aptos para ser atacadoscom os atributos e habilidades corporais de cada pessoa.Seguidamente, começar com a aplicação simples deassegurar-se ter a correcta dinâmica e os ângulos, com aintenção de alcançar o objectivo até estaticamente, tantoseja com o controlo, a dor, a disfunção ou o KO.Conseguindo isto, tem de se recordar a sensação não sóda mão ou da cabeça dos oponentes, como também suasqualidades mentais, físicas e emocionais. Sentir como ocorpo dos oponentes reage e observar como caem.Repetir isto tantas vezes como seja possível (quantas maismelhor, posto que assim se automatiza). Depois, tem de secomeçar a trabalhar de maneira dinâmica, para conseguiro objectivo, o efeito, a sensação e o aspecto emocionalem um cenário de crescente estresse e agressividade.Talvez se pode fazer primeiro da maneira prevista, mascom o tempo, deve de ser realizado de maneiraespontânea, para adquirir realmente a capacidade provadae verdadeira.Quando conseguido isto, sempre que se execute o Kata,

se revivem (se sentem) essas experiências nos três níveis:mental, físico e espiritual. Isto é o que o Kata pode serdepois de treinado com fervor... Não é um grupo detécnicas de ajuste que dependem de um ataque, trata-seda necessidade urgente e espontânea de uma realidade.Não temos de nos obrigarmos a fazer o Kata (muito menosseguir o caminho de outros), o Kata serve só para recordaras experiências através da evocação mental, espiritual einclusivamente física das próprias experiências.Nunca ponham o Kyusho no vosso estilo, ponham o

vosso estilo no Kyusho.

© Evan Pantazi 2014www.kyusho.com

“O Kyusho é a inibição de uma função fisiológica, se entendermos a fisiologia interna,

a funcionalidade e a acessibilidade como uma série infinitade novas possibilidades a aproveitar e portanto,

para aumentar o potencial de maneira exponencial,consoante os atributos inatos”

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Na semana passada fiz um combate com um jovem lutador de MMA. Elecontava 23 anos de idade, media 1,90m, pesava 80 quilos e se preparavapara a sua quarta luta como amador. Eu tenho 61 anos e 1,80m dealtura, peso 90 quilos e o meu último combate Full Contact foi no ano2000. Para que o jovem lutador estivesse perfeitamente treinado, o seutreinador contava com outro homem alternando comigo no ringue. Elelutaria durante noventa segundos e depois seria a minha vez de lutaroutros noventa segundos.Durante o decorrer do primeiro dos três assaltos, recebi uma forte

pancada na sobrancelha direita (devido a eu ter descido o meu cotoveloum pouco, durante um segundo), e quando após o terceiro assalto, euestava sentado no chão, (devo de confessar que estava sem fôlego…) otreinador reparou em um corte na minha sobrancelha direita, devido a eunão ter usado suficiente vaselina. Não foi um grande problema; de facto,no passado eu teria continuado, mas agora sou um pouco maisconsciente do que habitualmente era… e dei a luta por concluída.

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Um amigo do ginásio, que é médico,assistiu a tudo e me convidou a passarpelo seu consultório, para coser abrecha. Quando cheguei em casa e melavei, a minha mulher t irou umafotografia. Fui ao médico meu amigo,para que me l impasse a feridaadequadamente (isto é importante,porque há muitos micróbiosdesagradáveis à solta!). Levei cinco pontos de sutura. De entre as muitas coisas que o meu

professor o Guro Dan Inosanto me temdito nos últimos anos e que guardeicomigo, uma delas é a seguinte:

"É bom saber onde te encontras!"

Uma das exigências na minha linhade trabalho é que as pessoas me

respeitem quando estou ensinando. Écoisa que não posso evitar! Faço omesmo quando estou do outro lado! -de facto, seria um estorvo “provar” umMestre quando estivesse ensinando!Mas, há um perigo nisto: é quefacilmente podemos começar a tornar-nos uma lenda para nós próprios ecalcularmos mal as nossas própriascapacidades. Isto seria um grave errona evolução darwiniana! Tenhoentendido ter sido John Wayne quemdisse: "A vida é dura, mas é ainda mais

difícil quando somos estúpidos".De varias maneiras, faço todos os

possíveis por evitar isto quando estou

ensinando ou treinando; por exemplo: a) Insisto em ataques honestos. Por

exemplo, como muitos dos leitoressabem, em contraste com a maioria dossistemas de FMA que interceptam,como resposta aos golpes que seensinam, no DBMA, a menos que seespecifique o contrário, o atacante deveseguir em frente com o seu movimento,à semelhança daquilo que maisprovavelmente se faria numa luta avaler. Sem dúvida, a velocidade, apotência e a intensidade se destacarãode novo, em maior ou menor grau,dependendo do ponto em que nostreinos nos encontrarmosdesenvolvendo a resposta, mas emtodos os casos, o ataque deve serdirigido para o objectivo de umamaneira natural.

b) Eu uti l izo o que no DBMAdenominamos "o método dometrónomo": velocidade constante e amesma velocidade e com igual potênciados dois praticantes.

“No entanto, não há substituto para aacção, para se saber onde está cadaum”, são as palavras que o Guru nosdedicou, após deixar-nos de bocaaberta, por ter passado quarenta ecinco minutos de duro Muay Thaibatendo no saco sem parar e com osseus sessenta anos de idade... Portanto, para mim, a sessão de treino

tem um valor incalculável para "saberonde estou", posto que todos os diastrato de seguir o caminho do guerreiro.Me esforço em não ser estúpido a esterespeito. Não sinto vergonha em falar até

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limites onde não é aconselhável chegar.Por exemplo, antes de começar, pedi aomeu jovem oponente de MMA, que nãome atacasse na parte baixa das costas.Assim sendo, quando ele me derribou,só agarrou uma parte dessa zona. Damesma maneira, como a minha meiaguarda não conseguia interceptá-lo,levou a minha cabeça até a vala. Se eufosse um jovem lutador, teria tentadosair do problema à minha maneira, mascomo sou um homem já de certa idade,com uma família para sustentar edependo do funcionamento do meucorpo, não estava disposto a correr orisco de uma lesão de pescoço… Então,simplesmente pedi ajustarmos a nossaposição longe da vala. Uma parte importante da minha

experiência como Dog Brother, é ter um

sentido realista do que posso e nãoposso conseguir em tempo real. O meutempo para a luta Full Contact parece terpassado, mas ainda sou o “Crafty Dog”.

Há um capítulo adicional nestapequena história

Neste caso em especial, eu estavatrabalhando Kali Tudo™, o subsistemaque tenho vindo desenvolvendo desdefaz vários anos, como parte do conceito

DBMA de "consistência em todas ascategorias". O KT é diferente enecessita de uma busca contínua. Mefascina intensamente ver aprofundidada que a Arte atinge e comoé tão certa a sua “promessa” das mãosnuas, mãos que têm a mesmalinguagem do movimento. Sob o meuponto de vista, eu seria o maisadequado para trabalhar isto, exceptopela minha idade. Claro que gostaria tertrinta anos menos e entrar na jaula deverdade, mas para isso, terei de esperaruma outra vida. Ainda assim, neste momento que não

só posso obter uma resposta honestaacerca de "onde estou", como tambémcontinuo sendo capaz de desenvolverKT, não só mediante as experiênciasdos meus alunos mas também

mediante a minha própria experiência -além da liberdade que vem da acção,também da acção vem a sapiência - eme torno um melhor Mestre e possopermanecer mais tempo sendorelevante.Lembrem-se também de que na

lógica do DMBA, a nossa motivaçãopara melhorar os resultados na jaula ésó secundária. A nossa missão principalé o uso da jaula como um meio paraexperimentar e capacitar-nos,

preparando a nossa adrenalina para agircontra uma pistola, uma faca e as mãosnuas. Assim sendo, "nos morremos menos

frequentemente". Procuramos avantagem de ter um sistema contraataques com armas, contra mãos nuase a mistura de ambos. Menos opçõessignif ica reacções mais rápidas equando se trata do DLO, o facto de terconsistência em todas as categorias,significa um menor número de opçõespara cada vez, o que pode constituir adiferença entre viver ou não. Tenho a honra de trabalhar com

pessoas que estão alinhados com ascircunstâncias do DLO, ou seja “DieLess Often” (morrer com menosfrequência). Eles são os protectores,coisa que, suspeito eu, cada um dos

leitores aspira a ser, quando vive a suarespectiva vida. Todos eles merecemque eu saiba o que ensino. Com certeza que também está a

alegria interior que vem de deixar de sercompetit ivo. Como diz a cançãocountry: "Posso não ser tão jovemcomo dantes, mas sou tão jovem agoracomo sempre tenho sido".

Adiante, a aventura continua!Guro Crafty/Marc

Eskrima

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Questão de Disciplina…e Confiança

Nos nossos dias, nas ArtesMarciais se abusa da palavra Mestre(Sensei). Para uns, Mestre é quemtem grande conhecimento ehabil idade técnica e também acapacidade de transmissão. Paraoutros, é simplesmente quem temalunos (que por outra parte motivoshá-de haver para os ter). Lembro-meque dirigindo-me aos “old boys” deKeio (com idades acima dos 80 anose uma vida inteira no Karate) eusempre os chamava “Sensei” eaqueles que não davam aulas,sempre me replicavam: “Não sou umSensei. Eu não ensino alunos”. Talvezo mais sensato e certo seja pensarque um mestre é aquele que juntaambas coisas: alguém comconhecimentos, habil idades,capacidade de transmissão… ealunos. Mestre, o que entendemoscomo Mestre é muito e mais aindaque Sensei, pois necessariamentedeve incluir características relativasaos valores japoneses. Passemosagora ao que pensamos acerca desteassunto. Comecemos pelo ambiente. O

Mestre, como deve de ser, está noseu lugar e o seu lugar não é oginásio, é o Dojo. Há uma grandediferença. É óbvio que o lugar nãoimporta, mas também é bem certoque o ambiente em que sedesenvolve uma actividade, influidecisivamente na atitude do

Sem dúvida é muito bonito dedicar-se em corpo e alma à prática e ensino do Karate.Com os anos, com muitos anos, podemos chegar a nos tornarmos um Mestre. Mas osignificado desta palavra, que frequentemente se utiliza à ligeira, contem e deve deconter determinadascaracterísticas para seser considerado como tal. Salvador Herraiz, que se

caracteriza por explicar ascoisas sem pelos nalíngua, desde o respeito eo conhecimento maisprofundo do Karate, aoqual se entregou em corpoe alma, faz hoje umareflexão sobre esteassunto e sobre a relaçãoMestre-Aluno, que porvezes se torna difícil porum mal entendimento daFilosofia e o Espírito doKarate.

Karate

O RELACIONAMENTO MESTRE E ALUNO NO KARATE

Texto e Fotos: Salvador Herraiz, 7º Dan

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praticante e em seu aproveitamento. Todos conhecemos importantes

Mestres nada suspeitos de nãotransitarem por um caminho que nãoseja tradicional, que dão aulas empavilhões desportivos ou salas em quehabitualmente se praticam outrasactividades, mas o certo é que de umponto de vista de um Karate tradicional,

tem grande influência nodesenvolvimento do mesmo, o lugar eambiente em que se encontrar o aluno.Por isso pode observar-se nos dojos deKarate no Japão e Okinawa (e apesarde estarmos no Século XXI, tanto lácomo cá) que se trata de tradicionaislugares, onde o espírito do Karate afloramais facilmente.

As diferenças específicas que sepodem apreciar entre um dojo (ondedesenvolver positivamente um espírito deKarate, junto com a sua tradicionalprática) e um ginásio (onde cultivar edesenvolver outro género de atitudes nosalunos) são bastante evidentes. Vemosum ginásio moderno, com mármore,alumínio, vidros e outros materiais. Um

Pensamentos

Salvador Herraiz e o Mestre Goshi Yamaguchi, nosantuário Shintoista Igusa Hachimangu, em Tóquio.

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Karate

dojo vemos que é tradicional, com madeira e pouco mais. O ginásio dispõe deamplos vestiários, armários e estantes, recepção de visitas, etc…, enquanto quenum dojo não se dá importância a tudo isso e no Japão, salvo excepções,carecem até de vestuários (e certamente de chuveiros), passando-sedirectamente da rua… para tatame. O ginásio conta com pessoal que lá trabalha,enquanto que o dojo é atendido por seu Mestre de uma maneira mais familiar. Umginásio se enfeita com grandes e espectaculares fotografias, um dojo pendura emsuas paredes recordações de mestres e titulações, que animam e motivam opraticante. O ginásio faz a sua publicidade geralmente em base às boasinstalações, enquanto que a única publicidade do dojo é por transmissão oral dospraticantes a amigos e familiares, falando das bondades do seu ensino. Trata-se não só de fazer uma coisa como do prazer de a fazer de

determinada maneira. O mesmo acontece, por exemplo, com o treino físicotradicional utilizando os velhos instrumentos okinawenses. De certeza osmodernos sistemas de treino, máquinas que isolam determinados músculos,etc…, oferecem uma efectividade enorme, mas… quando se pratica com osvelhos instrumentos tradicionais, não se procura só efectividade mas também

O autor, Salvador Herraiz, com Mamoru e Masahiro Nakamoto, um de cadalado, no Shikina Enn de Naha (Okinawa).

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o prazer de o fazer com esses meios. Há qualquer coisa deromântico nisso…, como também há na prática do Karate emgeral.

Já falamos do espaço, do lugar de encontro, passemosagora a ver a relação Mestre-Aluno no dojo… e fora dele,posto que ambos papeis estão perfeitamente delimitados enão se devem confundir os seus comportamentos. O Karate é japonês e no Japão não se questiona, só se

acata. Se aprende e se pratica. Mais nada. Os ocidentaisquerem, queremos, faze-lo à nossa maneira, perguntando emexcesso (em vez de deixar que o tempo nos façacompreender). No Karate, por sua filosofia e história, não sedeveria questionar nenhuma decisão do sensei. Assim então,porquê perguntar? A resposta chegará em seu momento e aquem tiver de chegar. Os exames de grau, por exemplo, sãoum assunto sobre o qual devemos pensar longa eprofundamente, principalmente acerca da maneira de aceitarseus resultados, especialmente quando são negativos. OMestre Yamazaki me contava que passou muitos anos semsaber o motivo de não ser aprovado para 1ºDan. Nuncaperguntou nem lhe explicaram o motivo. Essa é a atitude.Trinta anos mais tarde veio a saber e tinha sido pelo excessode confiança! O mestre Hironori Ohtsuka sempre fala do

excesso de confiança como um dos males do Budo,junto com o desprezo, a côlera, temor, etc… Aqueleseram tempos em que os exames não tinham dataestabelecida, pelo que não se podiam prepararespecificamente durante os meses anteriores. Só seconhecia a data dois dias antes. Isso obrigava a estarsempre preparado, o que o faz ser mais realista.Quando o excesso de benevolência entra no tatame de

um exame de grau, a justiça sai dele. Há muitos factoresa ter em consideração em um exame justo (incluindo osconhecimentos, as habilidades, a técnica do estilo, aeficácia, as características físicas e situações pessoais,etc…), tudo o qual é o Sensei quem está em disposiçãode avaliar em su justa medida. A benevolência é uma dasqualidades do Código do Bushido, mas se o Senseicaísse em um excesso da mesma, por amizade, porpena, por excesso de camaradagem, etc…, a Justiça(outra das normas do Bushido) desapareceria. Tudo nasua justa medida, como tudo na vida e no Karate.Qualquer comida pode ir “por água abaixo” tanto porexcesso como por defeito de qualquer dos seusingredientes. Só o Sensei está capacitado para pôr emsua justa medida o grau de benevolência que honre ajustiça. Isto pode chegar a perceber-se e aceitar-se porparte do aluno, mas por vezes sacrificando um tempoprecioso, perdido na incompreensão e em ver fantasmasou motivos inexistentes.Partindo da premissa de que o Sensei sabe mais que

o aluno, acerca do que se deve ter em consideraçãoem um exame e do que não, e se supostamente oSensei não tem nada em contra do aluno aspirante,mas sim tudo pelo contrário…, por que não aceitar suadecisão ou conselho, sem discussão, imaginação,contraposição, ou aquecimento cerebral em geral?Sem se dar ao luxo de pensar de maneira diferentedaquele que de verdade sabe!O certo é que tanto mestre como aluno devem de

saber qual é o seu lugar. O aluno, para se tornardiscípulo Uchi Deshi (alguém especial a quemtransmitir o mais profundo da arte), tem de trabalharsem dar nas vistas e não ter nenhum desejo deprotagonismo, entrar em conversas que não tenham aver com ele, relacionamentos que não lhe pertençamou conversas às quais não tenha sido convidado…Cada um deve ser ciente dos seus limites e do seulugar. Sempre se disse que “quem fala não sabe equem que sabe não fala”, o que nos leva sermosdiscretos de palavras e feitos, deixando em evidênciaao que se espraia em excesso, ou sem sentido e forade lugar. Por outra parte, devíamos de agradecer queos verdadeiros versados em qualquer matériacompartilhem com os outros seus conhecimentos ereflexões, do contrário, esses conhecimentos iriam

Pensamentos

“Em Karate, por suafilosofia e história, não sedeveria questionar nenhuma

decisão do Sensei. Assim então, porquêperguntar? A resposta

chegará em seu momento ea quem tiver de chegar”

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perdendo-se, o que sem dúvida seria negativo e indesejável.A minha mãe sempre me repetia a frase “quem maissouber…, mais diga”. Alguém sem maturidade, acostuma a se enganar. Cada um

é l ivre, com certeza, mas perante a l iberdade depensamento…, está o risco de se enganar. Temos derecordar sempre que o Sensei já passou por essepensamento, pela auto segurança, pela convicção queerroneamente acostuma ter o aluno. Há quem diga que aspessoas inteligentes aprendem dos seus próprios erros, mas

o mais prático é o que fazem as pessoas superiores e sábias,“aprender dos erros dos outros, em vez de aprender dosseus. Quem não aproveita esses erros alheios, estácondenado a repeti-los, assim como quem não conhece oseu passado também está condenado a revive-lo. O perigoradica em que o homem pode tropeçar duas vezes namesma pedra e se teimar…, três e mais. Tem de ter ahumildade de reconhecer a quem sabe. O Sensei já conhece o seu corpo, sua mente e seu espírito,

após muitos anos de prática e estudo. O aluno…, está

Karate

O autor nas dunas de Com Com (Chile).

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tentando isso. Uma mente dispersa, que não se concentra ouque quer ocupar-se em varias coisas diferentes, não podeobter resultados e tem tendência a misturar, a confundir e aconfundir-se, a não assimilar bem a informação e a prática.Higa Sensei dizia: “Se corres atrás de uma lebre, talvezconsigas apanhá-la, mas se correres atrás de duas lebres…,não vais apanhar nenhuma delas”. O assunto ainda se agravamais quando os diferentes caminhos são técnica ouespiritualmente diferentes, pois de certeza um irá interferir naevolução do outro.

É difícil para um aluno ansioso de destacar, poder pôr freiono seu ímpeto avançando neste Caminho do Karate, masdeve de o fazer. Quando se está preparado se compreendemmelhor as coisas. De qualquer maneira, por muitasexplicações que se possam dar em determinados momentos,se o nosso corpo, a nossa mente ou o nosso espírito nãoestiverem preparados para compreender…, não o farão. Hágente que quanta mais informação lhes é proporcionada:dados, explicações, motivos…, menos compreendem e aindaperguntam “Porquê“?, ou mesmo se atrevem a não estarem

de acordo por não perceber… Alguns setornaram verdadeiros “surdos intelectuais”,outro efeito da dispersão… O Mestre podepôr da sua parte para a correcta transmissão,mas se o aluno não segue os seus conselhose pensa saber mais ou compreendermelhor…, tudo será em vão e vai cair em sacoroto. Ah, as pressas! Não há atalhos no Karate e

quem os procurar, mais tarde ou mais cedo,em alguma curva vai sair do caminho...Também de nada servem gestos vazios de

aparente entendimento, se as acções não sãoconsequentes. A paciência de um sensei nãoé infinita e logicamente, a sua entrega podepassar a concentrar-se em outros alunos maisdispostos a seguirem as suas ensinanças comas suas normas, como de factohistoricamente tem acontecido durante anos eanos, em qualquer lugar e âmbito. O Senseiprocura o anteriormente dito Uchi Deshi, oaluno interno. O tempo e o grau de algum dosseus alunos mais veteranos, fará dele umSempai, mas outra coisa diferente é o Kohai, ofuturo, a promessa, alguém em quem oMestre deposita as suas esperanças para ofuturo.Outra coisa diferente, em algumasocasiones coincidente, são os pioneiros,

alguns dos quais têm podido chegardepois a ser verdadeiros Mestres.

Os pioneiros merecemrespeito e reconhecimento

por em o caminho, por seremalguma maneira visionários de

algo transcendente. Mas quando ospioneiros não continuaram depoisevoluindo no dito caminho e na

sua prática (maior ou menor), acreditonão ser justo que mereçam ser o centrodele. Ter sido os primeiros é importante

mas não suficiente para seremconsiderados “Mestres”. Terpercorrido uma pequenaparte do caminho, mesmoque tenha sido em tempos

remotos, não pode comparar-se a o ter feito muito mais trecho, mesmo queseja em tempos ulteriores.

Outro caso a mencionar é o dos “filhosde…”. Por vezes se são impostas pessoas àfrente de organizações ou esti losaproveitando a grande importância de seu pai(Grão Mestre ou Fundador), mas em justiça erealidade sem terem suficiente conhecimento,habilidades…, ou seja, merecimento. Otalento não se herda por si só. De certezatodos teremos agora no nosso pensamento,algum nome em especial. Se em vez de“filhos de” falarmos de “netos de”, oassunto pode diluir-se ainda mais. Osmeus maiores respeitos, não obstante,às excepções que além de herdar um

Pensamentos

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nome e uma posição… se fizeram merecedores. Aosoutros…, também o meu respeito…, mas de maneiradiferente.Afinal, se o Karate se entende, tanto em sua técnica,

história, filosofia e objectivos…, resumindo, em seu Espírito,como algo de grande valor, um tesoiro que transmitir só auns alunos merecedores (e privilegiados), a relação Mestre-Aluno se torna, realmente, uma relação de Confiança (poisnão se oferece um tesoiro a qualquer um) e como tal,qualquer questionamento quebra essa relação de confiança.Honestamente acredito que um Mestre como tal, com sua

já necessária certa idade, com um grau importante, com umabagagem de certo conhecimento, de contribuições de muitosgrandes mestres conhecidos, com claridade de ideias, comuma atitude consoante com esses pensamentos geradosatravés de tantos e intensos anos…, teria que dar muitasexplicações acerca das formas do Karate? Realmenteacredito que a estas alturas…, não! Quem voluntariamentequeira percorrer o Caminho a seu lado, terá de ser,logicamente, à sua maneira, à maneira do Karate Do,acatando e não questionando.Sempre se tem dito que o Karate é disciplina. Não se refere

só como meio para obter eficácia técnica, que também, mascomo a linha de relação do aluno com o Mestre. Resumindo,acredito que DISCIPLINA, ATITUDE e CONFIANÇA são ascolunas de base da dita relação. O questionamento e adispersão são, frente a elas, sua carcoma.Outro gesto vazio muito habitual é a saudação

(teoricamente símbolo de respeito e reconhecimento) e aexpressão Oss, que para além de maior ou menor costumede utilização, dependendo dos diferentes estilos (porexemplo, no Wado Ryu não existe tradicionalmente grandecostume), está habitualmente mal utilizada no Karate poresse conteúdo vazio. Por não falar de outras confusões emsua utilização. Efectivamente, este termo, exportado aoKarate desde a Escola Naval Japonesa, é utilizado como umasaudação geral entre karatekas (tipo olá!, adeus!). De

momento, isto é já um erro. Esta expressão, que vem daspalavras Osu (contracção de Osae) e Shinobu, deveriautilizar-se no Karate só em momentos e situações em quetenha de mostrar um compromisso de perseverar até oslimites pessoais com paciência, com verdadeiro respeito eapreço pelo Mestre, aceitando as suas correcções, os seusconselhos… e mostrando também esta expressão, senecessário fosse, como uma desculpa que invocainclusivamente pedir perdão por algum erro cometido,entendendo-o e aceitando-o. É isto o que significa Oss e sealegremente se utiliza para tudo…, seu conteúdo ficadesvirtuado. A disciplina é a base do espírito do Karate. Não digo que

se tenham de manter as duas famosas normas deantigamente, cuja primeira era “O chefe (neste caso o Sensei)sempre tem razão” e a segunda “Em caso de a não teraplicar-se-á a primeira norma”. Conforme parecem irem osrumos da vida, do ponto de vista do espírito e a filosofia doKarate, um Mestre, em muitas, em demasiadas ocasiões vê-se obrigado a suportar os deslizes de alguns alunos que sepensam mais espertos que ninguém e que não percebem quesó acatar as normas ou decisões com as que se está deacordo, não é mérito nenhum. Isso é fácil! Onde se demonstraa disciplina e a lealdade é acatando e apoiando as outras…Mestre é alguém com quem vale a pena percorrer o

caminho a seu lado, aprendendo das suas ensinanças. Masno entanto, um amigo espanhol, 9ºDan de Karate, me disse:“Não me chames Mestre. Mestre tivemos um e ocrucificamos”.

Karate

PAGINA DA ESQUERDA: Salvador Herraiz e HirokazuKanazawa, no dojo deste Grão Mestre, em Tóquio.PAGINA DA DIREITA: Acima, com o Mestre Tetsuhiro

Hokama praticando em antigos túmulos okinawenses,tradicionais lugares onde antigamente se fazia em segredo.Em baixo, o Mestre Morio Higaonna e S. Herraiz, no dojo doMestre, em Naha.

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Esta é uma sequência de batimentos de mãos e pernas, útilpara apresentar ao estudante uma longa e complexa forma deHwa Rang Do Open com mãos nuas.

PASO #1 • Se situa em posição de guarda defensiva.PASO #2 • Se situa na posición do gato e cruza as mãos por

diante da perna adiantada.PASO #3 • Move as mãos cruzadas de baixo para cima,

interceptando um ataque de punho frontal com os antebraços.

PASO #4 • Move as mão para um lado e bate com a técnica dedupla palma nas costelas do oponente.PASO #5 • Agarra a orelha do oponente e puxa a sua cabeça.PASO #6 • Bate no queixo do oponente com uma técnica de

uppercut de palma.PASO #7 • Bate na cara do oponente com a mão como se

fosse uma faca.PASO #8 • Lança um golpe vertical ao plexo solar do oponente.PASO #9 • Dá um passo para a esquerda e faz um bloqueio

alto com a direita.PASO #10 • Realiza um pontapé de machado para finalizar a

sequência.

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O termo "Defesa Pessoal" comporta um aspectonegativo. que desde o princípio pode implicarfracasso para o indivíduo. O problema é que esterótulo já reflecte mentalmente que a pessoa é vítimade um acto violento ou agressão e que o praticantedeve realizar uma acção defensiva. Esta premissa deagir após os factos, é a razão pela qual a maioria daspessoas sucumbem às acções do agressor e nuncase recuperam totalmente do ataque inicial ou domedo que provoca a situação. A mulher não devesituar-se à defensiva; deve ser consciente da suasituação e não desestimar ou ignorar possíveisameaças. Ela deve ser pro-activa e ter a iniciativa e oímpeto, forçando a confusão na mentalidade doatacante, para ter uma possibilidade de vantagem. “Autoprotecção Kyusho” é um processo de treinovital que trata das realidades de um ataque. É umsimples mas poderoso processo de treino, queoferece aos indivíduos mais débeis, mais lentos,com mais idade ou menos agressivos, umaoportunidade contra o de maior tamanho, mais forteou mais agressivo atacante. Mediante o uso dosobjectivos anatómicos mais débeis do corpo,conjuntamente com as próprias acções e tendênciasnaturais do corpo, se pode proteger facilmente a simesma ou a outros, inclusivamente sob aslimitações de estresse e físicas, quando a suaadrenalina aumenta. Mediante um trabalho progressivo com as suaspróprias habilidades motoras grossas (em vez dastécnicas de outros), as suas possibilidades de vitóriasão eminentes.

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Kenjutsu - A distância interna e externa!...Várias são as pessoas que nos dizem ter sonhado com espadas, armas medievais,

e de uma forma ou de outra, buscam uma explicação. A espada sempre foi umobjecto mítico e místico no universo masculino.

A palavra espada é oriunda do Latim spatha < Gr. Spáthe s. f., arma composta depunho, copo e uma folha de aço mais ou menos comprida e pontiaguda. Seolharmos pelo viés do militarismo, todos possuímos o lado corajoso que nosimpulsiona a lutar pelos nossos objectivos. Todavia, o homem que carregava asespadas no Japão tinha como definição “aquele que serve” - Samurai. Isso significaque o primeiro passo no aprendizado do Kenjutsu é servir, resolver esta distânciaque estabelecemos entre o orgulho e a humildade. O acto de aprender é totalmentedesprovido de orgulho ou arrogância. Para o caminho da espada significa rendição,significa controle das distâncias externas e internas. Muitos acreditam que existemapenas “Ma-ai” externos diante do oponente. Contrariamente a isso, o Ma-ai seinicia em nosso interior e se manifesta de maneira externa.

“Se acalmar a mente detendo seu movimento, essa quietude fará movê-la aindamais”.

Podemos dizer analogamente que nosso interior é como se fosse uma grandemontanha. Para o zen, no capítulo 62 do Shôbôgenzô de Dôgen Zenji (1200-1253), amontanha tem uma virtude a que nada falta, ela é absoluta em si mesma: por istomesmo, apesar dela estar firmemente estabelecida no solo, está contudo sempre semovendo. A mente interior diante da espada é consciente de sua movimentação. OMa-ai é capaz de estabelecer a eternidade do momento em um único movimento.Este "movimento" a que se referia Dokai, é a essência de todo movimento. Contudo,quem está na montanha não tem consciência deste movimento. Aqueles que nãosão capazes de ver esta montanha pelo menos uma vez, não podem compreender,ver ou ouvir este tipo de coisa, devido a este princípio.

O Kenjutsu é a experimentação, a doação, a rendição, um único momento! A viade acesso e saída de nossa mente interior. Em um confronto verdadeiro não hátempo, não existem verdades nem mentiras, tudo é muito rápido. Existem apenas asdistâncias internas e externas. A sabedoria de atrair e afastar as manifestações dodojo em constante movimentação. Neste raciocínio, é explícito no caminho doKenjutsu que toda experiência nova é desafio, caracterizado por dificuldades,superáveis, que mais despertam os valores morais de quem a deseja vivenciar. Noque diz respeito àquelas de complexidade profunda, quais as de transformação do

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homem velho em um novo ser, os patamares a conquistar são múltiplos, revestidosde compreensíveis impedimentos.

Alguns mestres e professores de escolas tradicionais têm entrado em contacto ejuntos temos chegado à interessantes conclusões. Conservar algo em pleno séculoXXI não é tarefa fácil, nem tão pouco barata. Conservar significa manter a formacomo é, ainda que existam sequências ultrapassadas e irreais para os tempos dehoje. Muitos se dizem tradicionais e quando percebemos a síntese técnica,encontramos fragmentos disso, daquilo, e logo, intensas justificativas para tal. Apalavra conservação, de acordo com o dicionário, é derivação fem. sing. deconservar. Conservação s. f., acção de conservar.

Para nós, conservar significa conservar até a forma de pensamento na aplicaçãode cada Seiteigata. Obviamente que todos nos preocupamos em evoluirinteriormente e através do pensamento buscarmos a perfeição de cada dia. Porém,estamos falando de herança marcial. Significa que se colocarmos dentro do pontode vista histórico, deve ser como é. Dentro da visão apenas da arte marcial, cada umé livre para praticar e realizar as técnicas como achar conveniente.

Através da História, o homem oriental, em nosso caso referencial, japonês -percebendo que sua vida é breve, acidentada, sujeita ao sofrimento e à morte certa,sempre formulou a ideia chamada "Bujutsu" - artes de guerra (específica, pois otermo aplicado ao caractere “Jutsu” se refere à uma arte específica e nãoabrangente). Reconhecendo - como também hoje reconhecemos - que a vida étransitória, desejou experimentar alguma coisa de imenso e de supremo, coisa nãocriada pela mente ou pelo sentimento; desejou a experiência ou descobrir o caminhode um mundo transcendental, inteiramente diferente deste, com suas aflições etorturas.

As artes marciais foram influenciadas pelas crenças da época de cada país. Nocaso do Japão, as maiores influencias foram o Shintoísmo, Budismo eConfucionismo. Nutriu a esperança de descobrir esse mundo transcendental pelobuscar e sondar. Cumpre-nos examinar esta questão, a fim de descobrirmos seexiste, ou não, uma realidade (cujo nome não importa) de dimensão inteiramentediferente. Para penetrarmos tão fundo, devemos naturalmente perceber não sersuficiente compreender apenas no nível verbal - porquanto a descrição jamais é acoisa descrita, a palavra nunca é a coisa. Pode-se penetrar esse mistério, se é ummistério isso que o homem sempre tentou penetrar ou prender, chamando-o, a ele se

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Bugei

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apegando, adorando-o, por ele se fanatizando. Entretanto, este não é o pontodesejado, nem tão pouco enaltecido neste texto.

As artes de guerra tiveram sua ascensão no período Sengoku e seus reflexospodem ser vistos ainda nos dias de hoje. Sendo a vida nesta época - bastantesuperficial, vazia, cheia de enganos e sem muita expressão - impulsionou a guerraentre as verdades, cada escola ou clã tratou de inventar, de lhe dar um significado.Se o indivíduo que inventa tal significação e finalidade é dotado de certo talento, suainvenção se torna uma coisa bastante complexa, haja vista que muitas artes sofreramuma reformulação no período Tokugawa. É este o ponto em que quero chegar: tudoestá certo desde que esteja perfeitamente em ordem em seu interior. Cada qual sabea sua necessidade. Cada qual sustenta a verdade que lhe é conveniente. Contudo, háde se entender que conservar está além do que é ou não perfeito.

Como tudo na vida, dependemos de um tempo até que a nossa mente se adapte edescubra se estamos ou não no caminho correcto. Muitos mestres só tiveram acerteza de seus caminhos depois que se tornaram professores. É natural e normalque cada um possua seu ritmo próprio de evolução. Isso significa que emdeterminadas pessoas o sentimento é construído com esmero e atenção. Uma coisade cada vez! Em princípio lidamos com a dúvida, o preconceito, a negação...Entretanto, para os que persistem, de ensinamento a ensinamento e de bênção abênção, sem percebermos o mecanismo de semelhante metamorfose, o coração senos transforma, se lhe aceitamos, em verdade, a liderança e a tutela. Sombras demágoas, preconceitos, ressentimentos, pontos de vistas e opiniões descabidas vãocedendo lugar na floresta dos nossos pensamentos obscuros, a clareiras de luz queacabam por mostrar-nos a infantilidade e a inconveniência das nossas atitudesmenos felizes, à frente do caminho. Este processo no passado era chamado “Nagai”- Comprido. O extenso caminho que nos leva à compreensão.

Para os mestres, é através deste método que o discípulo, no centro da agitadaesgrima, se vê na obrigação de manejar as armas do próprio discernimento, para queos adversários externos não lhes destruam as forças. É no próprio caminho escolhidoque ele encontra aqueles outros inimigos, talvez ainda mais perigosos - aqueles quese te ocultam no espírito, quais sejam o medo de aceitar-se com as imperfeições queainda lhe assinalam a vida, o desalento perante as dificuldades que se desdobram, anoção das próprias deficiências ou o temor do fracasso.

Descobrir as próprias forças e onde encontrá-las é o ponto de encontro consigomesmo. É um caminho solitário, mas essencial, cuja consequência é a alteração

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Bugei

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completa da forma como vemos e entendemos a arte, o entorno, as pessoas, e a nósmesmos. O que nos faz lembrar de uma pequenina história que é pertinente para umponto de partida:

Acreditar e agir (autoria desconhecida)Um viajante caminhava pelas margens de um grande lago de águas cristalinas e

imaginava uma forma de chegar até o outro lado, onde era seu destino. Suspirouprofundamente, enquanto tentava fixar o olhar no horizonte. A voz de um homem decabelos brancos quebrou o silêncio momentâneo, oferecendo-se para transportá-lo.Era um barqueiro.

O pequeno barco envelhecido, no qual a travessia seria realizada, era provido dedois remos de madeira de carvalho. O viajante olhou detidamente e percebeu o quepareciam ser letras em cada remo. Ao colocar os pés empoeirados dentro do barco,observou que eram mesmo duas palavras. Num dos remos estava entalhada apalavra acreditar e no outro agir.

Não podendo conter a curiosidade, perguntou a razão daqueles nomes originaisdados aos remos. O barqueiro pegou o remo, no qual estava escrito acreditar, eremou com toda força. O barco, então, começou a dar voltas sem sair do lugar emque estava. Em seguida, pegou o remo em que estava escrito agir e remou com todovigor. Novamente o barco girou em sentido oposto, sem ir adiante.

Finalmente, o velho barqueiro, segurando os dois remos, movimentou-os aomesmo tempo e o barco, impulsionado por ambos os lados, navegou através daságuas do lago, chegando calmamente à outra margem.

Então o barqueiro disse ao viajante:- Este barco pode ser chamado de autoconfiança. E a margem é a meta que

desejamos atingir. Para que o barco da autoconfiança navegue seguro e alcance ameta pretendida, é preciso que utilizemos os dois remos ao mesmo tempo e com amesma intensidade: agir e acreditar.

E você? Está remando com firmeza para atingir a meta a que se propôs? E, antesde movimentar o barco, verifique se os remos não estão corroídos pelo ácido doegoísmo. Depois de tomar todas essas precauções, siga em frente e boa viagem.

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Cinturão Negro.: O que era quenas Artes Marciais te atraía quandocomeçaste a treinar? Thomas Lynch: Acredites ou não, o

negócio do cinema. Lembro-me que omeu pai passava todos os dias novideoclube, a caminho de casa, quandovoltava do trabalho. Alugavaregularmente fi lmes de acção deHollywood e de Hong Kong, que nosencantavam e como só existia umaparelho de televisão lá em casa,tínhamos de escolher ver os filmes comele ou ir estudar. Naturalmente que osfilhos escolhíamos a primeira opção!Quando o pai chegava em casa, o meuirmão e eu já não podíamos ver osdesenhos animados e assistíamos auma noite de cinema... Bem, uma noitee todas as noites! Rapidamente, istotornou-se um imenso gosto pelocinema e pelas Artes Marciais. Àsemelhança de qualquer criança emidade escolar, o meu irmão e euimitávamos as cenas de luta entre nós.Foi então, que descobri que gostaria deser uma estrela do cinema de acção deHollywood. A resposta do meu pai foi:"Não! Tu precisas ter um bom emprego!Ser médico, advogado ou engenheiro!".Sendo eu o filho mais velho, pensei queestava obrigado a isso.

C.N: O que aconteceu quando opai soube que andavas a estudarKeishinkan? T.L.: Quando eu disse aos pais que

queria aprender Artes Marciais, aresposta foi "não!". Alguns momentospassados, inquiriram o motivo... Eurespondi que podia ser uma estrela do

Entrevista por Thomas LynchFotos cortesia de Don WarrenerT.L. Security Solutions

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cinema de acção. Mais uma vezresponderam NÃO! Ainda hoje,"NÃO" continua a ser uma das suaspalavras favoritas! Passados alguns dias, o assunto

surgiria de novo e assim se repetiaquase constantemente. Finalmente,o meu pai me disse que se realmentequeria aprender Artes Marciais,podia faze-lo, mas que teria de pagaresse ensino eu próprio. Aproveitei oensejo e rapidamente me inscrevi noKeishinkan Karate. Quando o meupai soube disto, ele me disse: “Sealguma vez te lesionares no treino,não quero nem saber…" Ele me

avisou que em caso de lesão, seriaeu a pagar todas as despesasmédicas. Como o Japão tem umbom Sistema Nacional de Saúde, nocaso de sofrer uma lesão, no piordos caso pagaria uns 5 dólares.

C.N: Qual a Arte Marcial quemais gostas de treinar e quis osmotivos de assim ser? T.L.: Na verdade eu não posso

escolher só uma. Gosto imenso doShaolin Kung Fu do Norte, devido àvariedade de coisas que fazemos nasaulas e no treino, como as posiçõesprofundas, armas e as formas muitocompridas e difíceis. Também gostodo Keishinkan Karate, devido aocombate de contacto total, o que nospermite pormos as técnicas à provasob pressão, como assim também aresistência e as habilidades. Mas setiver de escolher uma em especial,diria que do que mais gosto é das"posições profundas" no Kung Fu. Omotivo é que para mim, as posiçõesprofundas são esgotantes e requeremde toda a minha atenção. Sãoformidáveis e em geral são umamagnífica maneira de restabelecer asminhas bases nas Artes Marciais...,especialmente quando o meu horáriome impede dedicar duas horas atreinar.

C.N: Se pudesses fazer tudo denovo, há algum estilo das ArtesMarciais que em especialgostarias de ter começado atreinar a uma tenra idade eporquê? T.L.: Esta pergunta é difícil de

responder. Imagino eu quedependeria de qual fosse a minhaintenção para o futuro, nessemomento. Por exemplo, se fossemuito jovem, provavelmente gostariade fazer alguma coisa que realmente

chamasse a atenção..., como Wushuou XMA. Mas na minha idade actual,não vejo necessidade de um"sentido prático" no aspecto dadefesa pessoal, portanto,provavelmente escolhia MMA.

C.N: Qual foi a tua técnicafavorita de Keishinkan Karate? T.L.: Sem dúvida, a minha técnica

favorita de todos os tempos é o"gyakuzuki" (punho reverso). Omotivo é que o meu instrutor deKeishinkan sempre me ensinou que ameta do Karate é ter uma técnicaimpecável, para acabar com uma

luta... Também o "Ichigeki" (traduzidolivremente como “um golpe, umamorte”. Se alguém não pode fugir etem de recorrer a usar o seu treinoem Artes Marciais para a auto-defesa, o bom senso diz que “menosé mais”, o que quer dizer que separa o derrotar só posso bater nomeu oponente, isso é muito melhorque "forcejar" com ele durantealguns minutos.

C.N: Qual é a tua arma favoritaclássica para usar nas ArtesMarciais e porquê? Escolhe uma… T.L.: Em Kung Fu, a minha arma

favorita é a espada dupla. Poralguma razão, a primeira vez queempunhei as duas espadas, me sentiincrivelmente bem com elas. E maisainda, quando comecei a saltitar emvolta do oponente, imitando o JackieChan, alcancei o melhor da minhacapacidade. Quando tentei a minhaprimeira "forma comprida" com adupla espada, bati em mim próprio…É uma "forma" muito intensa,profunda e desafiante, mas fiqueiencantado… Logo comecei a passarhoras e horas a cada dia, praticandocom as espadas e realmente ficoudemonstrado quando fiquei no 1ºlugar no meu primeiro torneio dearmas. Depois pensei que teriausado a Katana japonesa, que tinhavisto utilizar muitas vezes. Realmentegozo muito trabalhando com akatana, mas inicialmente comecei atreinar com a katana restritamentepara espectáculos públicos. Penseique iria ser uma simples transiçãopartindo da dupla espada, masestava muito enganado. Parecesimples, mas é uma ferramentamuito complicada.

C.N: Quem são os teus ídolosnas Artes Marciais?

T.L.: Agora não tenho nenhum masem criança admirava praticamentetodas as grandes estrelas do cinema deacção de Hollywood e Hong Kong:Stallone, Snipes, JCVD, Jackie Chan,Steven Seagal, Tom Cruise, Bruce Willis.

C.N.: E o Chuck Norris e o BruceLee? T.L.: Quando cheguei aos Estados

Unidos, nem sequer sabia da suaexistência…, suponho eu porque omeu pai nunca alugou as suas fitas.

C.N: O que planejas no teufuturo nas Artes Marciais?

T.L.: Continuar a promoção dasArtes Marciais através daFUNDAÇÃO Koyamada e doFESTIVAL DE ARTES MARCIAISDOS ESTADOS UNIDOS. NaFundação Koyamada patrocinamoscrianças maltratadas e crianças defamíl ias com poucos recursos,mediante a concessão de uma bolsade estudos nas Artes Marciais.Fazemos isto porque pensamos queo treino das Artes Marciais pode darconfiança, auto-estima e em geral,uma perspectiva positiva na vida deuma criança. Estamos contentes deque o acossamento escolar se estejadando a conhecer e que finalmentese esteja sendo abordado a nívelnacional. Mesmo economicamentelimitados, estamos fazendo o nossomelhor esforço para ajudarindividualmente estas crianças. Por outro lado, o Festival está

pensado para promover TODAS asartes, todos os estilos e disciplinasMarciais (tanto sejam conhecidasou desconhecidas) e dar a todas amesma oportunidade. Isto faz-seatravés de Festivais, aos quaisconvidamos muito diferentes estilosde Artes Marciais, para mostrá-lospublicamente. Obtemos licenças,locais para as Artes Marciais,organizamos seminários, exibições,fazemos a entrada por umapassadeira vermelha, com múltiplasaparições de actores famosos eart istas Marciais famosos… emuito, muito mais! É realmente umevento divertido, onde também osGrandes Mestres podem contactarcom outros Grandes Mestres, osquais nem sempre têm tido ocasiãode se conhecerem pessoalmente.Também oferecemos umaplataforma para que o público emgeral possa ver as claras diferençasentre as diversas disciplinas das

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Artes Marciais. Com isto quero dizerquando se pergunta a um "cidadãotipo médio", provavelmente não sabea diferença entre Shotokan Karate eKarate Kyokushin, mas assim podemser apreciadas à simples vista. Nãosó isso, como também o públ icopode conhecer estes grandes Mestrespessoalmente e falar com eles, fazer-lhes perguntas… Esta é umapossibi l idade que a maior ia daspessoas nunca teve. Em geral , érealmente um ambiente divertido eeducat ivo para todos osparticipantes.

C.N: Como foi a tua iniciação nasArtes Marciais? T.L.: Eu estava interessado em

aprender Karate porque pensei que meajudaria a tornar-me uma estrela docinema de acção de Hollywood.Comecei a usar o dinheiro quesemanalmente me davam os meus pais,para me inscrever no Keishinkan KarateDojo e lá conheci o Instrutor TadashiYoshii (8ºDan). Eu já era muito atlético etinha participado em algumas lutas darua, por isso sabia que tinha de sercapaz de "me conter" nas aulas.Tadashi deve ter percebido isto ou

talvez pensou que fosse um pouco dearrogância pela minha parte, porque meconvidou a atacá-lo. Surpreso,pergunte: O quê??? Queria que eu oatacasse como eu quisesse... Soco,pontapé…, tudo! Depois disse: "Zenshinnomi aru" (lo que se podo traduzir por"Vem até mim…"). Foi isso mesmo queeu fiz… Uns 10 ou 12 minutos depois,eu estava esgotado e arquejante comocão no deserto. Ele interceptou tudo…Quero dizer mesmo TUDO! Quando eleviu como era inútil o meu ataque,amavelmente resolveu afastar-me da“miséria” com um forte "mae geri"

(pontapé frontal) ao meu esterno. Metinha derrotado… Depois destainiciação à humildade, me conviou achegar mais cedo que os outrosalunos, uns 30 minutos antes do iníciode cada aula, para praticarmos nósdois sozinhos. A cada aula euchegava cedo que ele me voltasse adizer: "Zenshin nomi aru". Eu gostavade tratar de lutar com ele com toda aminha vontade, enquanto ele evadia omeu ataque com facilidade. Unsmeses passados percebi que asminhas técnicas e velocidade estavamevoluindo rapidamente. Eu me estavatornando um aluno mais dedicado,disciplinado e marcial. Ele seapercebeu da minha mudança.Com apenas 3 meses de treino,

Tadashi Sensei me disse: "Shin, há umtorneio de Karate aberto em Nagano equero que vás competir". A minharesposta foi sem pensar, mas muitoconcisa... Muito surpreso, respondi:"O quê?..." Nesse torneio não haviadivisão por faixa, a categoria sedeterminava pela idade escolar:Júniors, Secundária, Liceu e Adultos.Antes de começar o meu primeirocombate, eu estava visivelmentepetrificado. Tadashi me disse: "Eu seique tu és um principiante, mas nãotenhas medo, porque quando se temmedo se tem tendência a retroceder ea chave do êxito no Karate é iravançar quando se sente medo. Istoporque si te baterem a uma distânciacurta, não te farão tanto mal". Demaneira que fechei a distância e mebateram, me bateram muito, mas eletinha razão, não doía assim tanto…Claro está que não ganhei o torneio,mas obtive uma coisa muito maisvalioso que um troféu, uma confiançaem mim mesmo e uma motivaçãorenovada, uma motivação para treinarainda mais duro.

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Tadashi Sensei começou a levar-me aos dojos de seus amigos, para"combater" com os alunos. Múltiplosoponentes, um depis de outro. Mebateram tanto no traseiro que já nãome pod ia mexer… mas mais umavez, a confiança em mim mesmo e aau to -es t ima aumenta ram mu i to(mesmo depo is de me ba te rem)porque vi claramente um progressod i f e ren te e ace le rado empra t i camente todas as m inhastécn icas de Ka ra te . Já es tava“apanhado pe lo Ka ra te” e ma isresolvido que nunca a ter êxito no"mundo marcial.

C.N: Qual é teu personagem favoritodaqueles que tens interpretado eporquê? T.L.: Tenho gostado de todos os

personagens que tenho interpretado, masdestacaria dois, que são em primeirolugar “Nobutada”, no filme "O últimosamurai" e em segundo lugar Shen, em"Wendy Wu: A garota Kung Fu".Nobutada é o meu favorito porque é umpersonagem inesquecível. Era todo Honrae Respeito, coisas que um verdadeirosamurai deve mostrar em cada aspectoda sua vida. No que respeita a Shen -devo ser honesto... – para mim, foi umsonho feito realidade, porque finalmente

tive ocasião de interpretar uma estrela deacção, para o que eu venho treinandodesde criança. Deu-me a oportunidadede mostrar a minha capacidade para asArtes Marciais em um ambiente muitodivertido e estimulante. Ambospersonagens são completamentediferentes, em função das suaspersonalidades e suas motivações.Ambos constituíram um desafio e amboseram diferentes realizações dos meussonhos feitos realidade.

C.N: Qual foi a tua experiência maismemorável em um estúdio derodagem?

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T.L.: Honestamente? A hora dacomida… Numa produção importante deHollywood há catering todos os dias,para o pequeno-almoço, almoço e jantar.Eu me refiro a alimentos de qualidadesuperior especialmente bem cozinhados.Todos os dias serviam alguma coisamelhor que no dia antes: carne,mariscos, frango marinado, massas, amesa das sobremesas... Tudo! Todosengordamos comendo no estúdio - ri àsgargalhadas - Mas no "O último Samurai"tínhamos um elenco predominantementejaponês, com centenas de extras e nolugar da Nova Zelanda onde estávamos,não havia comida nem restaurantes

japoneses por perto, porque estávamosno meio do campo. Então, um dos extrasteve uma ideia brilhante. Comprou umcarrinho de comida e preparava e vendiacomida japonesa para todos aqueles quecomíamos lá todos os dias. Deve de terfeito uma fortuna! Mas falando a sério…, todos os dias tive

umas conversas incríveis com Tom Cruise.É uma das pessoas mais humildes quetenha conhecido. Ensaiando ou filmando,quando gritavam, "cortem" ele mechamava para eu ir ter com ele. Aoprincípio eu pensava que tinha feito malalguma coisa (esta era a minha primeiralonga metragem). Mas ele só queriaconversar. Me disse que eu lhe fazialembrar-se a si mesmo quando tinha aminha idade. Eu disse: "Tom, tu ésamericano, eu sou japonês"… Rindo elerespondeu: "Não por isso… O que euquero dizer é que com a tua inocência edeterminação, enfrentas bem a realidade etens muita personalidade. Fazes-melembrar a mim". Senti-me honrado quandoele me disse isto. A partir de então todosos dias conversávamos acerca de todas ascoisas. Ainda hoje me honra poder tratá-locomo amigo e essa experiência é um dosmelhores momentos da minha vida.

C.N: Então agora devo de perguntarcomo foi trabalhar com Tom Cruise?Quero dizer que era o teu primeirofilme e de repente, estás frente afrente com ele, como co-protagonista… T.L.: Foi absoluta e positivamente

surrealista. Eu estava muito contente ehonrado por formar parte da produção eagradecido pela oportunidade que medavam. Esta foi a minha primeira fita edeterminou a minha carreira. Eu sabiaque tinha de ter um diferente nível deprofissional para trabalhar com ele erealmente eu tinha pouca ou nulaexperiência e zero ideias do que podiaesperar. Eu estava completamente

concentrado no meu papel de Nobutadae na produção. Não cheguei a ficar tãonervoso como pensara que estaria e mesentia muito confiado em mim mesmo.No entanto, me fiquei petrificado quandocometi um enorme erro logo no primeirodia. Aconteceu que escutei Tom Cruise agritar entre duas das suas cenas: "Shin!Shin, onde estás?Onde está Shin? Shin!Shin!" Todos ficaram quietos e olhavam para

mim como se eu tivesse feito algumacoisa horrivelmente mal ou coisaparecida… Eu respondi: "Hei, eu estouaqui”. Ele disse: "Vem cá. Queroapresentar-te ao meu amigo director!"

Eu fiquei como se estivesse congelado.Era de verdade? Não me podia mexerporque ainda estava à espera que medizerem que estava despedido ou coisasemelhante… Mas nada disto sucedeu!Tom Cruise era incrivelmente agradável.Nunca conheci ninguém mais sincero ehumilde que ele. Quando chegava aoestúdio, cumprimentava e dava a mão acada membro da equipa e do elenco queia encontrando. Todas as manhãs sedirigia a cada um de nós para fazer istodurante oito meses!!!Tofa vez que nos encontrávamos

dentro e fora do estúdio, tanto fosse nocampo, em Nova Zelanda, ou em outro

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Entrevista

lugar. Nesse momento, frequentementeeu me sentia confuso…

C.N.: Confuso? O que queres dizerpor confuso? T.L.: Por exemplo, um dia Tom me

levou para um canto do set, entre duasdas nossas cenas. Ele me disse que euolhe fazia lembrar-se de si Próprio,quando tinha a minha idade. Eu pensavacomo podia ser isso! Anos mais tarde,finalmente compreendi que era um elogiomuito sincero, mas durante anos, nãopercebia como eu podia fazer-lhelembrar-se de si mesmo! (Ri àsgargalhadas).

C.N: O que foi o mais memorável esurpreendente que te aconteceutrabalhando com ele?T.L.: Ver a sua precisão.

Definitivamente a sua precisão técnicadurante a execução da sua cena de lutana rua, onde tem múltiplos atacantes. Eletinha ensaiado pela sua conta durantemeses e meses, preparando-se para estacena. Naquele dia da rodagem. ele aexecutou de um maneira absolutamenteimpecável. Eu, como todo o resto daspessoas presentes, estava pasmado. Eupensava: aqui estou eu trabalhando comum dos actores mais bem sucedidos domundo e que realmente é de longe a

pessoa mais humilde que conheço,porque não só pode legitimamente serconsiderado um bom tipo, ele também éum tipo duro. A partir de então... é umdos meus ídolos dos heróis de acção.

C.N: Para onde pensas que sedirijam as Artes Marciais e a indústriado treino no futuro? O que quero dizeré qual o tipo de Artes Marciais quefuturamente veremos mais? T.L.: Penso que é cíclico. Como a

tecnologia se desenvolve mais e mais,temos visto como os filmes e a televisãose tornam mais dependentes dos CG(gráficos por computador.) Penso que

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Entrevista

algum dia, o público se vai cansar de verCG e vai querer mais "realidade”. Ouseja, mais realismo nas acções dospersonagens e na coreografia das ArtesMarciais. Mas anos depois de que isto setorne um elemento básico na indústria doentretenimento..., penso que as pessoasvão querer ver um pouco mais de CG,repetindo-se assim o ciclo…

C.N: O que planejas futuramentepara o cinema? Representar?Produzir? Realizar…? T.L.: Por agora... gostaria muito de

continuar concentrando-me na actuação

e na produção. A realização é umaopção, mas não em um futuro imediato.Enquanto à actuação, tenho uma novasérie estado-unidense da televisão, deacção e fantasia, cuja rodagem faz poucofinalizou em Okinawa, intitulada "O Rei deYokai". Foi gravada em Inglês epretendem vendê-la no mercado dosEstados Unidos em primeiro lugar, edepois em outros países. Actualmentetambém estamos filmando uma serie webchamada "Coração de Dragão". É um“thriller” sobrenatural de Artes Marciais,onde o meu personagem se vê obrigadoa chegar à realidade da própria

mortalidade. Além disto, a minhaempresa Shinca Entertainment acaba decriar e publicar um série de bandasdesenhadas chamada "TheDreamhoppers" e começou a desenvolveruma nova série. Nestes momentos tenhodois projectos em produção... Trato deme manter em tantas facetas da indústriado entretimento como seja possível.Basicamente porque é divertido eaprendo constantemente. Isto vai dasbandas desenhadas aos vídeo-jogos, asséries web, a televisão e o cinema. Tudoisso me encanta e vou produzir tantocomo me seja possível.

C.N: Qual que é a fita de ArtesMarciais que não se fez ainda eque gostarias de ver feita? T.L.: A fita de Artes Marciais que me

gostaria de ver feita é com 100% daspessoas reais, sem actores. Que todaa gente sejam pessoas que sãorealmente aquilo que representam… Otaxista é um taxista real. O agente doFBI é um agente do FBI. Todos e tudocontando uma história comum que seentrelace entre todos. Algumaspessoas poderiam considerar istocomo um documentário, mas não éisso o que eu quero dizer. Quero umafita real, com pessoas reais, contandouma historia real ao longo dosmesmos parâmetros da vida dooutro..., à maneira de uma fita deacção real da vida.

C.N: Qual é o melhor conselhoque se pode dar aos artistasMarciais que desejarem seguiruma carreira na indústria docinema e da televisão? T.L.: Comecem a fazer rodagens.

Filmem alguma coisa, filmem tudo.Filmem-se a si próprios e subam asimagens por todo lado..., nos meiosde comunicação sociais comoYoutube, Facebook, etc. Serealmente desejam fazer carreiranesta indústria, é importante ter emconsideração que não precisam serum actor para o fazerem. Trata-sedo "Show Business". Lembrem-seque se assim desejarem, podemmostrar ou fazer alguma coisamelhor do que ninguém…

C.N.: Mas, o que acontece comestas pessoas que têm pouca ounula experiência na actuação? T.L.: Isso é fácil. A companhia de

produção contratará um professor deactuação para a pre-produção e vaimantê-lo enquanto durarem asfilmagens, se necessário… Isto é

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Entrevista

decisão da produção e não nossa. Quandocomecei em "O último samurai", não tinhapraticamente experiência em montar acavalo, nem no Kyudo (tiro com arcojaponês)... Também tinha pouca experiênciana actuação. O último samurai foi a minhaprimeira longa-metragem. Na selecção, fuihonesto acerca disso logo desde o início...No dia em que fui seleccionado,imediatamente contrataram um professorpara mim. Comecem a filmar-se e subamas imagens a todo lado. Trabalhem na rede.Mexam-se… Tenho a certeza de que jáescutaram isto anteriormente..., mas éabsolutamente certo: procurem pessoascom ideias afins. “Diz-me com quem antes,digo-te quem és!”

C.N: Tu és o fundador da FundaçãoKoyamada. Qué é e o motivo da suacriação? T.L.: Quando pela primeira vez cheguei

aos Estados Unidos, nunca imaginei nemtinha a intenção de iniciar uma obra decaridade. Após alguns anos, meconvidaram para visitar a instituição decaridade "Kick Start Kids", de ChuckNorris. Pude ver a maneira em que elesestavam ajudando crianças em todo opaís, mediante a formação de pessoasfortes e morais, através das Artes Marciais.A minha mulher me disse que podíamos edevíamos de fazer alguma coisa similar eassim fizemos. O nosso objectivo écapacitar os jovens para poderem

alcançar seus sonhos e metas. Na vidasempre há-de haver gente que trate denão fazer possível esse sonho… Semauto-disciplina e confiança, podem crescercom uma mentalidade negativa... e nuncaterem a oportunidade de desenvolver todoo seu potencial. Com a nossa fundação,nós promovemos a educação inter-cultural, a prevenção de desastres para ascrianças menos favorecidas e suasfamílias mais chegadas, assim como aconcessão de bolsas de estudo de ArtesMarciais, para fortalecer os jovens atravésdo treino. Pensamos que as Artes Marciaisproporcionam às crianças e adolescentesa possibilidade de desenvolverem ocarácter e a auto-estima, através do treino

marcial. Queremos que todos na vidatenham uma oportunidade de ter êxito.Não a toda a gente se lhe estende umamão de maneira justa e estamostratando de os ajudar a sair em frente.

C.N: Como se modificou a tu vidacom as Artes Marciais? T.L.: Para melhor... Sei positivamente

que sem as Artes Marciais eu nãoestaria onde hoje estou. Me ajudarama descobrir quem realmente sou nosmeus relacionamentos e como pessoa.Me ajudaram a compreender os outrospara poder ter mais compaixão comtudo e com todos na vida. Maisimportante ainda, me ajudaram a nãosentir medo de experimentar coisasnovas. O meu treino das Artes Marciaisdesenvolveu muitíssimo a minhaintuição, conhecimento da situação e asensibilidade para do que está em meuredor. Tem esculpido a minhamotivação, a auto-disciplina e aconfiança em praticamente tudoquanto faço. O Karate e a formaçãoem Kung Fu, realmente me têmpermitido alcançar coisas novas navida. Muitas vezes penso no que medisse Tadashi Sensei: "Nunca dês umpasso atrás... Se acreditas poder fazeralguma coisa, faz!" E isto eu ointerpreto como: "Não se pode avançarna vida se sempre se estiver andandotrás e com medo a experimentarcoisas novas. Tem de se ir semprepara diante e descobrir”.

www.shinkoyamada.org(website pessoal)www.koyamada.org(fundação caridade)www.shincaentertainment.com(empresa de produção)www.usmafest.org(Festival de Artes Marciais dos

Estados Unidos)

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Técnica

"Um elo solto de nada serve, mas entrelaçado a outros muitos, obtemos um dosinstrumentos mais úteis: a cadeia". Isto também é aplicável às artes marciais evalha a metáfora para compreender a importância que têm os concatenamentos detécnicas dentro da prática marcial.Evidentemente, o ideal em termos marciais é ser capaz de acabar qualquer

confronto, aplicando um só golpe ou uma única técnica. Mas isto é muito difícil.Alguns grandes mestres talvez se aproximem frequentemente muito a este ideal; ouum golpe de sorte pode fazer que em alguma ocasião consigamos acabar umcombate com a primeira técnica. Mas para isso conseguir, a sua execução tem deser absolutamente perfeita, enquanto a precisão, rapidez, potência, oportunidade,coordenação, etc... E a perfeição é um ideal ao qual se tende mas que nunca sealcança, de maneira que a maioria dos praticantes de artes marciais temos queaprender a concatenar técnicas para resultarmos eficazes em combate.

Texto: Pedro Conde.Fotos: David Gramage ([email protected])

O que é um concatenamento?Um concatenamento técnico é,

simplesmente, a coordenação dediferentes técnicas em sequências.Normalmente aprendemos e treinamosestas técnicas de maneira isolada.Mas concatenar não consistesimplesmente em somar técnicas,senão que cada concatenamento temuma lógica própria (conforme ascircunstâncias, o adversário, etc.) edentro do mesmo, cada técnicadependerá da anterior ou precedente eda que vier depois.

São fáceis os concatenamentos?É curioso observar como gente que

lançando um golpe de maneira isoladao executa impecavelmente, quandolança o mesmo golpe dentro de umacombinação, perde qualidade a olhosvistos. A que é isto devido? Isto é devido a que a habilidade de

concatenamento, como qualquer outroatributo, também tem de treinar-se e

como tudo, requer tempo, mas acimade tudo, saber como treinar. O certo éque concatenar “quase” toda a gentesabe... O difícil não é lançar golpes àesquerda e direita, mas que pelomenos a maioria deles cheguem adestino. Se consegue mais com trêsgolpes bem concatenados (comcoerência, táctica e eficácia) que comvinte lançados sem ordem e sem umobjectivo claro.

Como treinar os concatenamentosQuando já se dominam as bases de

uma técnica, é imprescindível aprendera coordená-las com outras. Acoordenação é assim uma das basesprimordiais da habil idade noconcatenamento. A metodologia maispedagógica para conseguir isto é irgradualmente, ou seja: começaraprendendo a coordenar técnicassimilares, pois isto resultará maissimples (concatenamentos simples) edepois ir progredindo para acombinação de técnicas mais dispares(concatenamentos mistos). Também se

deve graduar o número de técnicas atreinar, começar com oconcatenamento de duas técnicas e irampliando o número (até cinco ouseis, que é o máximo razoável de todoconcatenamento). Por exemplo, uma vez dominadas as

bases de um soco directo dianteiro eas do soco directo traseiro,aprenderemos a coordenar estes doisgolpes, que por seu parecido formamuma das combinações mais simples ebásicas das artes marciais. Maisadiante se aprenderá a concatenar ossocos directos com os circulares(ganchos) e depois, os socos com ospontapés. Finalmente, os golpes comtécnicas de desequilíbrio, luxação,estrangulamento, etc., sempre emsequências cada vez mais longas emais complexas.Para treinar convenientemente o

concatenamento é preciso recriar omaior realismo possível. Para começar,no caso dos desportos de contactos,se consegue muito mais numa sessãode sparring ou de treino com parceiro(focus, paos) que em várias sessõesde sombra ou de saco. O parceiro ou o

Concatenar

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instrutor têm de saber mover-se para incitar as combinações(onde e como situar os aparelhos). Deve mover-se muito emuito rápido e abrir e fechar espaços constantemente, paraaplicarmos em condições reais os nossos concatenamentosde golpes. E deve variar seus deslocamentos (ataque, defesa,contra-ataque, fuga, rodeio, etc.) para nos habituarmos aconcatenar em qualquer circunstância. Nas artes marciais se conseguem os mesmos resultados à

base de repetir as técnicas até fluir com naturalidade. Emambas modalidades podemos dizer que se dominam osconcatenamentos quando se é capaz de realizar diversascombinações, como se se tratasse de uma só técnica, querdizer: sem diferenças ou lapsos de tempo entre um movimentoe o seguinte. Para conseguir isto é muito importante que otreinador ou o parceiro saibam manobrar com destreza asmãos, ou seja, que possua uns amplos conhecimentos sobreartes marciais e conheça muito bem as aptidões físicas de seupupilo ou parceiro.No caso dos desportos de contacto o que tem que fazer é

incitar e provocar aquelas técnicas para as quais tem umafacilidade natural, com aquelas outras que ainda há-deaperfeiçoar. Evidentemente, quanta mais experiência tiver quem

movimenta as manoplas, maior será o rendimento do treino.Nunca esquecer que cada pessoa é diferente e que ascombinações que podem funcionar com uns, talvez não sejamaptas para outros. Por esta razão se deve de iludir na medidado possível, trabalhar mecanicamente, quer dizer,memorizando simplesmente umas combinações econcatenando-as automaticamente. Quando alguém utiliza umfocus para bater, de existir um motivo este dependerá daguarda que tiver o parceiro, da sua distância, do tipo de golpeque já impactou ou do que segue, etc. Por exemplo: se oparceiro está afastado de nós, não se deve situar a manoplade maneira a incitá-lo a bater com um gancho; primeirosituaremos a manopla fazendo-o compreender que deveencurtar a distância com um jab (golpe directo com o punhoadiantado), enquanto a outra manopla deve de estarpreparada ou na posição adequada para receber um cross(golpe directo com o punho atrasado) depois do qual

Técnica

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podemos indicar-lhe que remate com um crochet (gancho horizontal). Uma vez aplicados os trêsgolpes. ligados entre si, ou bem está obrigado a realizar uma esquiva (para isso o instrutor ouparceiro pode lançar algum golpe tentando impactar com a manopla) ou bem deverá voltar àposição inicial, cobrindo a sua saída com alguma técnica de perna. Obviamente é necessário que exista a máxima sincronização entre os dois, pois quando o golpe

impactou, o focus deve imediatamente mudar de posição em função das circunstâncias e damaneira de lutar de cada um. Desta maneira, a pessoa que está batendo, realiza combinaçõesracionais e eficazes consoante os seus atributos físicos.

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Técnica

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Se se pretender concatenar demaneira coordenada golpes de pernas epunhos, o mais recomendável é utilizaros focus especiais existentes parapontapés, ou directamente uns paos.

O que são os concatenamentos simples e os mistos?O conceito de graduação do treino

se baseia então, em dois tipos deconcatenamentos: o simples e o misto.O simples é aquele que concatenatécnicas parecidas (mesmas"ferramentas", dinâmica ou trajectóriasimilar, objectivos próximos, etc.), e omisto é o que mistura técnicasdispares, como por exemplo pontapée soco, técnicas circulares e directas,golpes altos e baixos, golpes eluxações, etc. Para que aaprendizagem seja feita comnaturalidade, tem de se graduar adificuldade: convém começarassimilando primeiro as combinaçõespróximas e ampliar aos poucos,passando a combinações maisdiversas, como explicamos aoprincípio do artigo.Os concatenamentos mistos nem

sempre são forçosamente superioresem eficácia, mas sim mais complexosque os simples. Os simples têm avantagem de que se assimilam antes esão mais instintivos, o que pode

resultar decisivo na rua ou emmomentos de grande tensão, quandoé difícil pensar. Por regra geral, o maissimples é o mais eficaz. No entanto, osmistos têm a vantagem de que sãomais inesperados e imprevisíveis.Variando de "ferramentas" (pés,punhos, cotovelos, etc.), trajectórias(directas, circulares, verticais,horizontais) e objectivos (pernas,fígado, cabeça, etc.), noscomplicamos mais, mas tambémcomplicamos mais o adversário. Ofactor surpresa é fundamental naestratégia de concatenamento.Para ser eficaz concatenando

movimentos e técnicas marciais, têmde se aperfeiçoar uma série deatributos físicos. Neste casoconsideramos como essenciais osseguintes: a estratégia, a fluidez, odeslocamento, a bilateralidade, arapidez, a precisão e a potência.

Conceito da estratégicados concatenamentos Saber jogar com os níveis de ataque

e as combinações mistas, é muito útilem combate. Mas sempre tendo emconsideração as vantagens tácticasque podem oferecer as combinaçõesespecíficas de diferentes técnicas. Porexemplo, dar ou amagar um pontapébaixo acostuma a ser uma dasmelhores maneiras de obrigar o

adversário a descer sua guarda edescobrir a sua cara (esta estratégiaresponde ao conceito de "abrirespaço"). Perante isto, a melhorcombinação é seguir com um socodirecto dianteiro à cara (golpe muitorápido) e aproveitando o atordoamentoe ligeiro retrocesso do rival, rematarcom um soco directo traseiro ou se orival retrocedeu notavelmente, com umpontapé alto, em rotação. Este é umexemplo específico do uso estratégicode concatenamentos mistos(pontapés-punhos, em baixo-acima),um exemplo muito simples e usual,que acostuma a funcionar muito bem.Outra estratégia muito usual édesgranar técnicas isoladas com umamesma dinâmica (por exemplo, socosdirectos), para forçar o rival a cobrir al inha central de seu corpo e, derepente, aproveitar que descuidou oslados, para lançar uma combinação degolpes em rotação (ganchos, pontapésem rotação, etc.).Evidentemente, a variedade na

combinação, dependerá das regras donosso esti lo marcial, dos nossosconhecimentos e preferências, dasregras da competição, etc. Cada artemarcial e desporto tem as suasexigências. Em Karate se procuraprimordialmente a velocidade e "ogolpe", quer dizer, resolver com umaúnica técnica limpa e perfeita. Osintercâmbios são muito rápidos e o

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árbitro logo separa a os contendentes.Isto não dá muito jogo aosconcatenamentos. Entretanto, noTaekwondo primam as longascombinações de pontapés,especialmente circulares e em rotação.Nos desportos de contacto também sedão longas combinações ainda quesejam mais comuns as de punhos,devido à influência do Boxe Inglês.

A FluidezOutro elemento primordial na

habilidade de concatenamento é afluidez, é a naturalidade. Aprender aaplicar com fluidez um tipo detécnicas, é um processo muito longo:primeiro tem de se treinarisoladamente a técnica até aperfeiçoa-la, depois deve ser introduzidaprogressivamente no nosso arsenaltécnico, para finalmente aplicá-la emcombate. Quando se fez das técnicascoisa própria, se flui de uma para outrade maneira inconsciente e natural. Istoé o fruto da prática e da experiência,de maneira que neste campo só hátrês conselhos: treinar, treinar etreinar… e nas condições maisrealistas possíveis. Para trabalhar bem a fluidez,

dependendo da arte marcial, as luvassão por vezes um impedimento, postoque impedem o agarre, o ataque comos dedos a pontos vitais, etc. Em

Combat Arts se treina indiferentementecom luvas ou sem elas, o importante éadquirir a fluidez, independentementeda protecção que se utilizar.

Os deslocamentosOs deslocamentos são, como é

lógico, determinantes para a eficáciados concatenamentos. Tem de seaprender tanto a adaptar osdeslocamentos aos concatenamentos(mover-nos com fluidez consoante osdeslocamentos do adversário e astécnicas que realizemos), comotambém adaptar os concatenamentosaos deslocamentos (quais os golpesmais convenientes em função dadistância e posição de cada momentoda luta).Muita gente aprende a deslocar-se e

a concatenar em linha recta,avançando ou retrocedendo, conformese atacar ou defender. Este é umesquema excessivamente básico,posto que os combates reais nãoacostumam a ser lineares, posto quepor pouco que o confronto supere umaprimeira troca de golpes, é muito usualproduzirem-se rotações, mudanças dedirecção, quebra do ritmo, contra-ataques, etc. Por isso é fundamentalaprender a concatenar com realismo,incluindo ataques e defesas,alterações de posição, sentido e ritmoe outras mudanças tácticas. De pouco

serve aprender esquemas de longosconcatenamentos anteriormenteestabelecidos, porque não se podeabranger todas as situações possíveis.O concatenamento tem de serinstintivo e natural.

BilaterlidadeUm elemento que habitualmente

perturba muito a nossa capacidade deconcatenamento é o de umabilateralidade defeituosa (quer dizer,menor habil idade com o ladoesquerdo, e ao contrário no caso doscanhotos)), o que pode interferirgravemente na continuidade dascombinações. Para isso, todopraticante deve tentar chegar a ser um"ambidestro marcial", ou seja, que adiferença entre um lado e outro sejamínima, em termos de técnica,velocidade, flexibilidade e potência.Isto é uma matéria ainda sem solução,para muitos praticantes de artesmarciais em geral e de algunscompetidores em especial. Uma mábilateralidade é de se notarespecialmente nas combinações depontapés, mas também nosdeslocamentos e se manifestaentorpecendo notavelmente o nossoritmo e fluidez. Só há uma maneira deequilibrar isto e é treinando quase queo dobro com o lado "mau". Treinolongo e difícil, onde ser constante,

Kick Boxing

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como em "quase" tudo, é a chave do êxito.Como informação curiosa adicional: só o1% da povoação é ambidestra frente um89% de destros e um 1 % de canhotos,pelo que no caso de se querer partir comuma “vantagem” adicional frente aoadversário, só resta um caminho, treinar demaneira especial as “ferramentas” do ladoesquerdo. Por isso em Combat Arts setreina tanto ou mais o lado esquerdo, poisnunca se sabe de que lado se vai lançar atécnica, nem em quê circunstâncias.

A RapidezOutro atributo importante para conseguir

concatenar com eficácia, é a rapidez. Nãosó de cada golpe propriamente dito, mastambém do concatenamento de um golpepara outro. Todo artista marcial acostumadedicar bastante tempo a treinar avelocidade de execução de técnicasisoladas, mas não tantos fazem o mesmocom respeito à velocidade de mudança deumas técnicas para outras. Nos referimos àrapidez para, por exemplo, mudar aposição da anca para passar de umpontapé frontal a um circular, ou avelocidade para recolher o braço após umsoco e tê-lo assim preparado para a nossaseguinte técnica.No concatenamento, é óptimo reduzir ao

mínimo o lapso de tempo entre umatécnica e outra. Mas isto tem de ser feitocom fundamento. Na maior parte doscasos recomendamos não executartécnicas simultâneas. Por exemplo,quando se lançou um pontapé, sempreconvém ter pousado o pé no chão antes decontinuar com um soco (a não ser quealguma das duas técnicas seja um simplesâmago). A potência e precisão dependemem grande medida da estabilidade, se nãohá equilíbrio, dificilmente se pode terprecisão ou bater com força, por isso, NasCombat Arts insistimos tanto no trabalhodas posições.

A precisãoPor precisão entendemos a capacidade

para que uma acção neuromuscularalcance exactamente o objectivo espácio-temporal desejado. Em termos marciais,tanto seja bater ou agarrar um pontodeterminado em um momento em especial,com a concisão ou a exactidão rigorosacom a qual um movimento técnico alcançaa meta ou o objectivo previsto (tanto sejapor impactar, bloquear, esquivar, etc.). Aprecisão é assim o resultado da conjunçãode dois atributos básicos: a coordenaçãode movimentos enquanto à precisão

espacial, e a velocidade enquanto àprecisão temporal. De nada serve lançaruma série de técnicas, se elas não chegamao seu destino. A precisão é crucial nosconcatenamentos, pois quanto maislongos e complexos sejam eles, maiscomplicado será que quase todos osnossos golpes cheguem com precisão, porisso é imprescindível antes de passar aocombate, treinar com paos e focos esteatributo, com diferentes tipos deconcatenamentos.

A PotênciaOutro atributo a ter geralmente em

consideração para o treino dosconcatenamentos, é a potência. Existemnumerosos tipos de potência, mas parasimplificar, nos limitaremos a duas básicas:a penetrante e a explosiva. A primeira éuma potência terminante ou definitiva; comisto queremos dizer que seu objectivo édescarregar na técnica todo o peso docorpo. Como é lógico, a potênciapenetrante tem de usar-se preferivelmentena última técnica da combinação, com aqual pretendemos acabar o combate. Istoé assim porque depois de um golpedestes, no qual descarregamos todo opeso do corpo, resulta muito dif íci lconcatenar imediatamente outras técnicas,pois tenhamos acertado ou falhado,quebramos o nosso ritmo e perdemos emcerta medida o controlo corporal. Por issoé preferível deixar este tipo de golpes parao final, após um concatenamento que "nosabra o caminho" para descarregá-los.O resto das técnicas do concatenamento

devem realizar-se com o outro tipo depotencia, a explosiva. Nos referimos ao"efeito chicote", a golpes que se lançam demaneira relaxada e muito veloz, para tensaros músculos justamente no momento doimpacto. Evidentemente, bem aplicadossão golpes que podem magoar muito, poismesmo não levando atrás todo o peso docorpo, o efeito de somar a aceleração àflexibil idade resulta explosivo. A?suavantagem é que, ao não implicar todo ocorpo em sua execução, permitem ummaior controlo e portanto continuarconcatenando mais técnicas.Resumindo: o ideal em termos marciais é

ser capaz de acabar qualquer confrontoaplicando um só golpe ou uma únicatécnica. Mas isto é muito difícil. Só algunsgrandes mestres são capazes de o fazer, oresto dos mortais teremos que aprender aconcatenar técnicas para resultar eficazesem combate e para isso é imprescindívelaperfeiçoar e trabalhar os atributoscomentados.

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Sempre tendo como pano de fundo o Ochikara, “a Grande Força” (denominada e-bunto na antiga língua dosShizen), a sabedoria secreta dos antigos xamãs japoneses, os Miryoku, o autor leva a um mundo de reflexõesgenuínas, capazes de ao mesmo tempo mexer com o coração e com a cabeça do leitor, situando-nos perante oabismo do invisível, como a verdadeira última fronteira da consciência pessoal e colectiva.

O espiritual, não como religião mas como o estudo do invisível, foi a maneira dos Miryoku se aproximarem domistério, no marco de uma cultura tão rica como desconhecida, ao estudo da qual se tem dedicado intensamente oautor.

Alfredo Tucci, director da Editora Budo International e autor de grande número de trabalhos acerca do caminhodo guerreiro nos últimos 30 anos, nos oferece um conjunto de pensamentos extraordinários e profundos, quepodem ser lidos indistintamente, sem um ordenamento determinado. Cada um deles nos abre uma janela pela qualcontemplar os mais variados assuntos, desde um ângulo insuspeito, salpicado de humor por vezes, decontundência e grandiosidade outras, nos situa ante assuntos eternos, com a visão de quem acaba de chegar enão comunga com os lugares comuns nos que todos estão de acordo.

Podemos afirmar com certeza que nenhum leitor ficará indiferente perante este livro, tal é a força e a intensidadede seu conteúdo.

Dizer isto já é dizer muito em um mundo cheio de manjedouras grupais, de ideologias interessadas e demanipuladores, e em suma, de interesses espúrios e mediocridade. É pois um texto para almas grandes e pessoasinteligentes, prontas para ver a vida e o mistério com a liberdade das mentes mais inquietas e que procuram ooculto, sem dogmas, sem morais passageiras, sem subterfúgios.

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Leo Fong - Acerca do meu amigoBruce LeeLeo Fong, um chinês americanocomeçou a praticar Artes Marciais nosanos 50, estudando Boxe. Não fim dadécada dos 50 começou a treinar pesase depois conheceu Bruce Lee.Seus bons amigos Wally Jay e JamesLee convidaram Leo para assistir àfesta anual de Luau, que Wallyorganizava em Oakland todos os anos edisseram que estaria lá um jovemartista marcial de nome Bruce Lee, quesó tinha 21 anos.

Bruce Lee

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eo, que tinha uns 30 anos,disse: "Bem, desconheçoquanto possa realmentesaber este jovem, mas voude qualquer maneira”.Quando os apresentaram,

Bruce se levantou e começou a dizerque as Artes Marciais clássicas nãotinham nada a fazer, porque eram comonadar fora da água.Posteriormente, Leo Fong conheceu

melhor Bruce e se fizeram bons amigos.Jimmy Lee convidou Leo para ir à suacasa, durante a semana em que ele eBruce estariam treinando e Leo aceitou.A partir de então os três treinavam nasala de estar de Jimmy, enquanto osestudantes treinavam no andar de baixo.Leo perguntou a Bruce o motivo detodos lutarem com a direita adiantada eBruce disse que se devia a que a mãoforte estava mais perto do oponente eesta é a maneira em que ele tambémdeveria lutar. O Leo disse que com elenão era assim, ele tinha a formação doBoxe e seu golpe forte era o gancho deesquerda. Bruce pensou um segundo edisse-lhe que se situasse dessa maneira,coisa que o Leo fez.Depois, após um combate com Wong

Jack Man que Bruce realizou na escolade Jimmy Lee, Leo disse que os golpesconcatenados do Wing Chun nãofuncionavam tão bem e no dia a seguir,quando o Leo se aproximou, Bruceestava batendo no saco como umpugil ista, mas com a perna direitaadiantada. Bruce acostumava ver vídeos de

combates de Muhammad Ali, massituava um espelho na parte frontal doprojector, de maneira que quando sereflectia na parede atrás dele, pareciaque Ali estava lutando com a direitaadiantada. Seguidamente, notou queLeo era muito musculoso naquelemomento e começou a mostrar a Brucealguns dos exercícios de treino compesos, que utilizava para melhorar seucorpo. Bruce logo os aprendeu ecomeçou a realizá-los. Depois se soubeque Bruce os treinava e tinha muitasrevistas de “Ben Weider Body Building”,chamado Iron Man.De maneira que, mesmo que Leo não

se considerasse Mestre de Bruce Lee,sem dúvida teve uma influência profundano Bruce Lee que todos vimos nosfilmes.Leo, agora com 84 anos de idade,

continua treinando e trabalhando seuBoxe e suas técnicas de pernas, e comorealizador de cinema, Leo é homemmetódico e também dá uma aula deginástica para a terceira idade. Seualuno de mais idade tem 94 anos. Leo

ensina exercícios chineses misturadoscom exercícios básicos modificadospara a terceira idade, como sejamflexões e sentar e levantar sucessivasvezes.Ainda dirige seminários no país todo e

recebe imensas petições para o fazer.Mas a primeira pergunta quenormalmente lhe fazem é que contesuas histórias com Bruce Lee e AngelCabales, o famoso Mestre que ensinouEscrima a Danny Inosanto. Leo tambémfoi um bom amigo de Angel Cabales ede muitos outros Artistas Marciais

destacados na Califórnia, durante osdias de glória das Artes Marciais,incluindo Ron Marchini, um dosmelhores competidores da Costa Oeste.De facto, tanto Ron como Leo

escreveram dois livros excelentes acercado treino com pesos para as ArtesMarciais, que ainda se vendem bemapós todos estes anos. Leo esteverecentemente em um evento em queestava dando autógrafos e quandolevantou a vista, estava um enormehomem preto à sua frente, pedindo-lheque assinasse o seu livro que trata do

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treino da energia para as Artes Marciais. Era o actor decinema Michael Jai White. Michael queria agradecer-lhepessoalmente, porque foi o seu livro que o levou a iniciar-seno Body Building quando era garoto. Leo olhou bem paraele e disse "Bem. Parece que funcionou"? Ambos riram.Pedimos-lhe que nos contasse alguma história da sua

época com Bruce e Angel e isto foi o que ele nos disse:“Lembro-me de uma vez que fomos ver uma

demonstração de Hidetaka Nishiyama, em São Francisco, eBruce o viu a dar pontapés e estava muito impressionadocom o seu equilíbrio e a sua potência, mas criticou o factode ele estar tão rígido.Passado algum tempo, Bruce telefonou a Leo e

perguntou se queria ir com ele para visitar algumas escolasde Karate em São Francisco. Leo aceitou e levou Bruce àescola de Kenpo de seu amigo Al Tracy, na zona de SouthBay. Estiveram observando durante algum tempo e Brucenão parecia estar muito impressionado. Quando um dosestudantes lhe disse porque não entrava no tatame e faziauma demonstração, Bruce entrou no tatame e o estudantecomeçou a combater com Bruce. Bruce começou a agarraro garoto, que nada podia fazer!

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No que respeita a Angel, era um dos tiposmais agradáveis dos que conheci nas ArtesMarciais e apesar de ser de tamanhopequeno, era o mais rápido dos queconheci. Era como um relâmpago!Outra das minhas histórias favoritas acerca

de Bruce, aconteceu quando ele meapresentou a Mito Ueyhara, da revista “BlackBelt” e ele me incluiu na capa da revista.Depois, Mito me pediu que escrevesse umlivro acerca do Sil Lum Kung Fu e eurespondi que o não podia escrever. EntãoMito me disse que isso me não preocupasse,porque os artistas marciais quase que nadaacostumam a ler…Todos nós rimos…Depois de fazermos todas as fotografias

para as ilustrações do livro, resolvemos daralgumas explicações dos movimentos, peloque Bruce e eu estivemos acordados a noitetoda. Foi a noite antes da sessão final etrabalhamos todas as técnicas de defesapessoal para os movimentos. Todas astécnicas de defesa pessoal no fim do livro, sãorealmente todos os movimentos de Bruce.Leo disse que recentemente encontrou

Linda Lee numa noite de prémios e falaramdo que poderia estar fazendo Bruce nosnossos dias, se ainda fosse vivo. Leo disseque provavelmente teria estado maisconcentrado na filosofia e no aspecto maisprofundo das Artes Marciais e Linda disseque talvez…, mas a única coisa querealmente sabemos com certeza é que nãoestaria sentado em frente de umcomputador, que teria estado fazendo etreinando alguma coisa…” Ambos riram eestiveram de acordo!…

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“Leo disse que Bruce provavelmenteteria estado mais concentrado nafilosofia e no aspecto mais profundodas Artes Marciais e Linda disseque talvez…, mas a única coisa querealmente sabemos com certeza éque não estaria sentado em frentede um computador, que teria estadofazendo e treinando alguma coisa…Ambos riram e estiveram de

acordo!…”

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