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Rev Ass Med Brasil 2000; 46(3): 194-200 194 Artigo Original Cirurgia espiritual: uma investigação A.M. DE ALMEIDA ,T.M. DE ALMEIDA , A.M. GOLLNER Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP; Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG RESUMO – OBJETIVO. Uma modalidade de trata- mento que capta muito a atenção da mídia é a cirurgia espiritual, que, entretanto, tem sido pou- co estudada cientificamente. Uma questão que se impõe é sobre a veracidade ou não de tais fenôme- nos, porém pesquisas nesse sentido são escassas. MÉTODO. Apresentamos o relato de uma investi- gação sobre um dos mais famosos cirurgiões espi- rituais do Brasil, o Sr. João Teixeira de Farias. Foram acompanhadas por volta de 30 “cirurgias”, sendo que em seis dos pacientes foram realizados a anamnese, o exame físico e coletados os tecidos extraídos para exames anatomo-patológicos. RESULTADOS. O “cirurgião” verdadeiramente in- cisa a pele ou o epitélio ocular, além de realizar raspados corneanos sem nenhuma técnica anes- tésica ou antisséptica identificável. Apesar disso, apenas um paciente queixou-se de dor moderada quando teve a mama incisada. Os pacientes foram INTRODUÇÃO Há um extenso registro de curas espirituais em todo o mundo desde a mais remota antigüidade 1-3 . Foram encontrados relatos no Egito e Grécia anti- gos, entre os índios 4 , além do fato de que a história cristã é rica em fatos dessa natureza 2 . Apesar de uma origem tão antiga, as curas espirituais persistem ainda em nossos dias quase que completamente ignoradas do ponto de vista científico 5 . Entretanto, geram acentuado interes- se em milhões de pessoas que buscam alívio para seus males, tanto em países desenvolvidos 2,6,7 como em desenvolvimento 8,9 . O raciocínio popular diferencia a medicina oci- dental da cura espiritual, mas considera que ambas são eficazes 7 . Desse modo, geralmente a medicina espiritual é usada como complemento da medicina ocidental 9,10,11 , sendo muitas vezes o último recurso dos pacientes, que, geralmente, não relatam esse uso da medicina alternativa para seus médicos 6,12 . Nos últimos anos tem havido um aumento do inte- resse dos médicos pelo tema 2, e uma busca de “do- mesticar” como conhecimento científico o que já foi tido como anárquico demais para ser “domado” 13 . examinados até três dias depois da cirurgia sem nenhum sinal de infecção, bem como os relatos posteriores dos pacientes não continham infor- mações de infecção. O exame histopatológico evi- denciou que os tecidos extraídos eram compatí- veis com o local de origem e, com exceção de um lipoma de 210 gramas, eram tecidos normais, sem particularidades patológicas. Foi realizada revi- são da literatura e discussão do efeito placebo. CONCLUSÕES. As cirurgias são reais, mas, apesar de não ter sido possível avaliar a eficácia do procedimento, aparentemente não teriam efeito específico na cura dos pacientes. Sem dúvida, nossos achados são mais exploratórios que conclu- sivos. São necessários posteriores estudos para lançar luz sobre esse heterodoxo tratamento. UNITERMOS: Cirurgia espiritual. Cura espiritual. Terapia alternativa. Terapia complementar. Um dos mais interessantes e controversos tipos de cura espiritual é a cirurgia espiritual, que é muito popular no Brasil 14-16 e nas Filipinas 8,17 , onde diariamente milhares de pessoas de todo o mundo buscam atendimento. Como todas as terapias com- plementares, o assunto é polêmico e cria grande divergência de opinião entre a população, mídia e até mesmo entre os pesquisadores, que, muitas vezes se baseiam apenas em trabalhos que foram selecionados por corroborarem seus pontos de vis- ta, ignorando os resultados contrários 18 . É possível notar que a maior parte dos conceitos emitidos provêm de opiniões preconcebidas, favoráveis ou desfavoráveis, moldadas nas convicções pessoais de cada um. Indubitavelmente, há muitos casos de charlatanismo, de simples truques 5,8,14,17,19 ; mas faz- se mister definir se todos os fenômenos dessa estir- pe são fraudes, ou se há algo de real que necessita ser melhor conhecido. A avaliação da veracidade das cirurgias espirituais é bastante dificultada pelo fato de tais curandeiros geralmente não cederem os materiais extraídos dos pacientes para uma análise laboratorial 8,20,21 . Em alguns dos casos dos quais foi possível analisá-los, foi constatado que o sangue e os tecidos “retirados” eram fraudulentos 5,8,17,19 .

Cirurgia Espiritual: uma Investigação

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Pesquisa sobre Cirurgias Espirituais.

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  • Rev Ass Med Brasil 2000; 46(3): 194-200194

    ALMEIDA, AM et al.

    Artigo Original

    Cirurgia espiritual: uma investigaoA.M. DE ALMEIDA ,T.M. DE ALMEIDA , A.M. GOLLNER

    Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas da FMUSP; Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da UniversidadeFederal de Juiz de Fora, MG

    RESUMO OBJETIVO. Uma modalidade de trata-mento que capta muito a ateno da mdia acirurgia espiritual, que, entretanto, tem sido pou-co estudada cientificamente. Uma questo que seimpe sobre a veracidade ou no de tais fenme-nos, porm pesquisas nesse sentido so escassas.

    MTODO. Apresentamos o relato de uma investi-gao sobre um dos mais famosos cirurgies espi-rituais do Brasil, o Sr. Joo Teixeira de Farias.Foram acompanhadas por volta de 30 cirurgias,sendo que em seis dos pacientes foram realizadosa anamnese, o exame fsico e coletados os tecidosextrados para exames anatomo-patolgicos.

    RESULTADOS. O cirurgio verdadeiramente in-cisa a pele ou o epitlio ocular, alm de realizarraspados corneanos sem nenhuma tcnica anes-tsica ou antissptica identificvel. Apesar disso,apenas um paciente queixou-se de dor moderadaquando teve a mama incisada. Os pacientes foram

    INTRODUO

    H um extenso registro de curas espirituais emtodo o mundo desde a mais remota antigidade1-3.Foram encontrados relatos no Egito e Grcia anti-gos, entre os ndios4, alm do fato de que a histriacrist rica em fatos dessa natureza2.

    Apesar de uma origem to antiga, as curasespirituais persistem ainda em nossos dias quaseque completamente ignoradas do ponto de vistacientfico5. Entretanto, geram acentuado interes-se em milhes de pessoas que buscam alvio paraseus males, tanto em pases desenvolvidos2,6,7 comoem desenvolvimento8,9.

    O raciocnio popular diferencia a medicina oci-dental da cura espiritual, mas considera que ambasso eficazes7. Desse modo, geralmente a medicinaespiritual usada como complemento da medicinaocidental9,10,11, sendo muitas vezes o ltimo recursodos pacientes, que, geralmente, no relatam esseuso da medicina alternativa para seus mdicos6,12.Nos ltimos anos tem havido um aumento do inte-resse dos mdicos pelo tema2, e uma busca de do-mesticar como conhecimento cientfico o que j foitido como anrquico demais para ser domado13.

    examinados at trs dias depois da cirurgia semnenhum sinal de infeco, bem como os relatosposteriores dos pacientes no continham infor-maes de infeco. O exame histopatolgico evi-denciou que os tecidos extrados eram compat-veis com o local de origem e, com exceo de umlipoma de 210 gramas, eram tecidos normais, semparticularidades patolgicas. Foi realizada revi-so da literatura e discusso do efeito placebo.

    CONCLUSES. As cirurgias so reais, mas, apesarde no ter sido possvel avaliar a eficcia doprocedimento, aparentemente no teriam efeitoespecfico na cura dos pacientes. Sem dvida,nossos achados so mais exploratrios que conclu-sivos. So necessrios posteriores estudos paralanar luz sobre esse heterodoxo tratamento.

    UNITERMOS: Cirurgia espiritual. Cura espiritual. Terapiaalternativa. Terapia complementar.

    Um dos mais interessantes e controversos tiposde cura espiritual a cirurgia espiritual, que muito popular no Brasil14-16 e nas Filipinas8,17, ondediariamente milhares de pessoas de todo o mundobuscam atendimento. Como todas as terapias com-plementares, o assunto polmico e cria grandedivergncia de opinio entre a populao, mdia eat mesmo entre os pesquisadores, que, muitasvezes se baseiam apenas em trabalhos que foramselecionados por corroborarem seus pontos de vis-ta, ignorando os resultados contrrios18. possvelnotar que a maior parte dos conceitos emitidosprovm de opinies preconcebidas, favorveis oudesfavorveis, moldadas nas convices pessoais decada um. Indubitavelmente, h muitos casos decharlatanismo, de simples truques5,8,14,17,19; mas faz-se mister definir se todos os fenmenos dessa estir-pe so fraudes, ou se h algo de real que necessitaser melhor conhecido. A avaliao da veracidadedas cirurgias espirituais bastante dificultada pelofato de tais curandeiros geralmente no cederem osmateriais extrados dos pacientes para uma anliselaboratorial8,20,21. Em alguns dos casos dos quais foipossvel analis-los, foi constatado que o sangue eos tecidos retirados eram fraudulentos5,8,17,19.

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    CIRURGIA ESPIRITUAL

    Com relao eficcia das curas espirituais,alguns pesquisadores relatam que seriam total-mente inteis21 ou que apenas os pacientes comtranstornos somatoformes obteriam resultado po-sitivo8, enquanto outros estudiosos registraramcuras obtidas mesmo em srias condies orgni-cas2,7,10,11. H relatos de que algumas vezes oscuradores realizavam diagnsticos antes destes te-rem sido obtidos pelos mtodos convencionais7.

    Outro ponto obscuro com relao s curas espiri-tuais quanto necessidade de f do paciente paraque a controversa cura possa ocorrer. H predo-minncia dos que julgam-na necessria9,10,22,23, mascertos autores afirmam que a cura ocorreria inde-pendente da f2,20.

    Um importante fator para o desconhecimentocientfico das cirurgias espirituais a omissodos pesquisadores24, muitas vezes fruto de umintransigente cepticismo7. O tema, quase quecompletamente inexplorado, possui amplas possi-bilidades de estudo e de aplicaes1,2,11, estudoesse que deve diferenciar o que eficaz do que intil ou prejudicial25.

    Como busca-se o alvio e, se possvel cura, dasenfermidades, o que til deve ser incorporado prtica mdica2,26, principalmente porque, em ge-ral, so procedimentos sem efeito colateral e decusto desprezvel2 e aquilo que danoso ou intildeve ser proscrito. Com estudos controlados, seriapossvel identificar os charlates25, possibilitandosuas punies.

    imprescindvel evitar o conflito entre a medi-cina tradicional e a cientfica, devendo-se enxer-g-las no como antagnicas, mas como comple-mentares13,23,25. Os fenmenos ditos paranormaisno so inexplicveis24,27, mas permanecem emgrande parte inexplicados. No so sobrenaturais,sendo, no mximo, fatos ainda no satisfatoria-mente explicados pelas leis naturais at entoconhecidas11,22.

    H necessidade premente de mais estudos devi-do ao seu potencial valor, principalmente no que serefere aos mecanismos e efeitos da cura2,17. Fatosignificativo a existncia de metodologia cient-fica para a anlise de curas espirituais que capazde controlar o efeito placebo1,2,28,,29,30.As evidnciasde resultados objetivos que ultrapassam os poss-veis efeitos psicolgicos no foram suficientes paravencer a resistncia de grande parte do meio cien-tfico em estudar com seriedade o assunto2. J foirelatado o aumento da atividade enzimtica invitro, diminuio do crescimento de microorga-nismos em cultura1,2, a acelerao do crescimentode plantas e da cicatrizao em ratos, aumento dahemoglobinemia humana2,3, reduco dos nveis

    pressricos em hipertensos30 e da dor em portado-res da sndrome da dor crnica idioptica31. Amedicina ortodoxa freqentemente tem exigido damedicina complementar, maiores padres de pro-vas que os requeridos para ela mesma13. Em ter-mos histricos, a aplicao do mtodo cientfico medicina ocidental algo relativamente recente,muitos de nossos procedimentos ainda no possu-em uma firme base cientfica. Incontestavelmen-te, para as terapias complementares os fundamen-tos cientficos so muito mais escassos18.

    Buscando um maior conhecimento das curasespirituais, decidimos estudar as controvertidascirurgias espirituais. Objetivou-se principalmen-te avaliar a veracidade e a realizao das cirurgiasem si, com nfase na analgesia e antissepsia. esse um passo importante, pois antes de tudo preciso saber se tais fenmenos so simples tru-ques ou se so reais, requerendo, desse modo,maiores estudos.

    MATERIAL E MTODO

    Para operacionalizar essas metas, executaram-se as seguintes etapas:1. Definiu-se pelo estudo do brasileiro Joo Tei-xeira de Farias, que atende em Abadinia, noEstado de Gois, situado no centro-oeste do Brasil,a 115Km do Distrito Federal. Ele foi escolhido poratender diariamente a centenas de pessoas11,15,16,por ter despertado o interesse da mdia e de pes-quisadores do Brasil, Peru, Alemanha e EUA11,15, epor receber caravanas de enfermos de todo Brasil,alm dos EUA, Portugal, Itlia e outros paseseuropeus e asiticos11.2. Previamente foi realizado contato telefnicocom os dirigentes da instituio onde o cirurgioespiritual atende e foi obtida autorizao para aexecuo da pesquisa.3. Entre os dias 16 a 18 de agosto de 1995, foramacompanhadas as atividades desenvolvidas naCasa Dom Incio, o templo ecumnico onde ocor-rem os trabalhos de cura.4. Solicitou-se a assinatura, pelos pacientes, de umtermo de consentimento em participarem do estudo.5. Anamnese e exame fsico dos pacientes. Buscan-do tambm identificar a religio, nvel de escolari-dade, como tomou conhecimento do mdium, seacredita na cura, existncia de diagnsticos mdi-cos, exames complementares e tratamentos ante-riores. Das 30 cirurgias presenciadas, em apenasseis casos foi possvel essa investigao.6. Investigou-se a realizao de antissepsia e apresena de complicaes infecciosas.7. Avaliou-se a realizao ou no de algum proce-

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    ALMEIDA, AM et al.

    dimento anestsico, bem como foi perguntado aospacientes o que sentiram durante a cirurgia, bus-cando principalmente identificar a presena ouno de dor.8. As cirurgias foram acompanhadas e documenta-das com vdeo e fotos, observando-se quais instru-mentos foram usados para proceder as incises.9. Em dez casos as peas cirrgicas foram recolhi-das e submetidas a exames histopatolgicos paraverificar a autenticidade das mesmas10. Exame das feridas cirrgicas, se houve sutura.11. Tentou-se manter um contato posterior com ospacientes visando avaliao de exames comple-mentares, laudos mdicos e evoluo da enfermi-dade aps o tratamento espiritual, porm essaetapa no foi totalmente realizada por falta deretorno de dados pelos pacientes.12. Verificao quanto a cobranas de taxas oualgo que denotasse explorao comercial.13. Foi observado se era recomendado o abandonodo tratamento mdico convencional.14. Avaliao do ambiente onde so realizadas ascirurgias: local, iluminao, limpeza, nmero depresentes e envolvimento emocional destes.

    RESULTADOS

    Joo Teixeira, que tem escolaridade primria e fazendeiro, durante trs dias na semana atuacomo curador. Diariamente so atendidas por elecentenas de pessoas que entram em uma fila e,uma a uma, sem precisar dizer o que tm, vorecebendo um receiturio composto por rabiscosilegveis para a maioria, sendo decodificado ape-nas pelos responsveis pela venda dos preparadosde ervas e razes. Se julgado necessrio, h aindicao da cirurgia espiritual. Apesar de noaparentar estar em transe, o mdium relata quedurante todos os procedimentos ele se encontrainconsciente, permitindo a manifestao de um dasdezenas de espritos de sua equipe espiritual.

    Os pacientes que receberam a indicao de ci-rurgia podem optar entre a cirurgia visvel ( comincises e objeto dessa pesquisa) e a cirurgiainvisvel, que seria realizada no corpo espiri-tual enquanto os pacientes permanecem deitadosem uma sala reservada. O mdium afirma no sernecessria a cirurgia visvel, sendo realizadaapenas naqueles que no acreditam na invisvele desejam comprovao do tratamento atravs decortes11.

    As cirurgias ditas "visveis", que geralmenteduram poucos minutos, so realizadas com os pa-cientes de p ou assentados em um salo repleto deespectadores, que em sua maioria so as pessoas

    que foram ao local buscar tratamento. A execuodas cirurgias e a demonstrao de poder pelocirurgio geram um grande envolvimento emoci-onal e perplexidade dos presentes.

    No so cobradas taxas, no h qualquer solici-tao de contribuies e h distribuio gratuitade sopa para quantos a desejarem (que geralmenteso centenas). Por outro lado, cada frasco do rem-dio prescrito vendido por R$ 3,00, sendo que paracada paciente geralmente so prescritos vriosfrascos; os muito pobres no pagam. H tambmvenda de teros, fitas de vdeo e camisetas comestampas do mdium.

    Apesar de usualmente os pacientes procuraremo tratamento alternativo devido falncia ou te-mor ao tratamento convencional, no h recomen-dao ao abandono deste.

    Joo Teixeira procurado para o tratamentodas mais variadas desordens: esclerose lateralamiotrfica, paralisia cerebral, cncer, bcio, n-dulos mamrios, epigastralgia, cefalia, verti-gem, dor abdominal, lombalgia, artralgia, proble-mas oculares, etc. No entanto, no prometida acura a todos, j que esta dependeria da vontadede Deus.

    Ao todo, foram recolhidos os tecidos extrados dedez cirurgias, mas em apenas seis pacientes foipossvel a realizao de um exame clnico minuci-oso. Caractersticas: todos eram catlicos e acreditavam na cura. trs tomaram conhecimento do mdium por vizi-nhos, um pelos pais, um atravs de amigo e umpela imprensa. Quatro iam pela primeira vez, um pela segundae outro pela quarta vez. As cirurgias so realizadas sem nenhuma tcni-ca de antissepsia: o mdium no lava as mos entreuma cirurgia e outra, no usa luvas e no hlimpeza do campo cirrgico. Os instrumentos, oraso bisturis esterilizados, ora so facas de cozinha.Apesar disso, no foi verificado nenhum caso deinfeco. no foi identificado nenhum procedimento anes-tsico, mas dos seis pacientes examinados, apenasum se queixou de dor e todos afirmaram estaremlcidos durante a cirurgia. as feridas cirrgicas so reais, os procedimentosmais comuns so raspados da cavidade nasal (ob-tidos pela introduo de um porta agulhas comalgodo na extremidade), raspados corneanos eretirada de fragmentos da conjuntiva bulbar.

    No foi possvel fazer o meticuloso acompanha-mento ps-operatrio, mas em quatro relatos obti-dos seis meses aps a cirurgia, dois demonstraramsignificativa melhora, e dois que apresentavam

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    CIRURGIA ESPIRITUAL

    hemorragia retiniana e sinusite crnica afirma-ram no ter obtido benefcio algum. Dos que refe-riam melhora, um possua hepatopatia alcolica,hipermetropia e lombalgia incapacitante h cincoanos e o outro apresentava cisto de mcula e dorabdominal idioptica j pesquisada, inclusiveatravs de ultrassonografia e laparoscopia e tendosido proposta uma laparotomia exploradora. Oprimeiro paciente relata desaparecimento da lom-balgia tendo, inclusive, retornado prtica deesportes; relata ter diminudo o grau de hiper-metropia (conforme o mdium havia prometido) eum ms aps a cirurgia, com a abstinncia dolcool e o uso do preparado de ervas prescrito, agama GT cai de 221 para 113 U/L e a atividade daprotrombina subiu de 44% para 68% . O segundopaciente, que sofreu uma inciso em hipogstriodonde se retirou tecido adiposo e resseco defragmento da conjuntiva bulbar, relata ter obtidogrande melhora na acuidade visual e importantediminuio das dores. A inciso no apresentouinfeo e deixou cicatriz. Para nenhum dessespacientes foi possvel a obteno de um relatriofeito pelos seus mdicos, sendo que conseguimosapenas as informaes inespecficas supracitadas.

    DISCUSSO

    Cirurgia espiritual um fenmeno do sculoXX, e apesar de predominar em reas rurais dasFilipinas21, no Brasil se concentra nos setoresurbanizados e industrializados32. Os cirurgiesespirituais do Brasil no so curandeiros tradici-onais, eles so produtos da modernizao de nos-sa sociedade, o que se reflete no fato de seremfreqentemente procurados por integrantes dosestratos socioeconomicamente mais elevados. Es-se tipo de terapia, em nosso pas, no se ope medicina cientfica, mas procura funcionar demodo complementar32, o que tambm foi observadoneste estudo.

    O processo de escolha e realizao das cirurgiasem si merece vrias consideraes, pois o significa-do simblico e metafrico da atuao de um curan-deiro ou de um mdico pode ser um fator decisivona sua efetividade33,34. O fato de um cirurgiopsquico em ao apresentar-se alerta j foi relata-do16, bem como a no necessidade de dizer o quedeseja que seja curado7,23. O grande envolvimentoemocional dos assistentes pode ter um importanteefeito teraputico4,7,8,9,27,35. A aura que envolve oprocesso de uma operao cirrgica e o comporta-mento extrovertido e entusiasmado de um cirur-gio podem contribuir para uma evoluo do qua-dro alm do efeito especfico do procedimento ci-

    rrgico36. Sabe-se que quando os pacientes estoenvolvidos na escolha de uma operao, isso umforte incentivo para que relatem benefcios com oprocedimento36.

    Na literatura h registros de locais onde hcobrana7,17,21 e outros onde no se cobra pelo tra-tamento10,14,17,23, sendo este o procedimento maiscomum no Brasil32. H maior tendncia a notarbenefcios de uma cirurgia se os pacientes pagamgrandes quantias36, o que no ocorreu em Aba-dinia.

    Assim como no detectamos qualquer caso deinfeco, no h nenhum relato de que estastenham ocorrido11, apesar de no ter sido notadaqualquer tcnica antissptica e de no prescreverantibiticos como outro cirurgio espiritual bra-sileiro prescrevia32.

    A analgesia existente um outro ponto obscuroque precisa ser melhor compreendido. Alguns su-gerem que pelo envolvimento emocional haveriaum aumento de endorfinas, o que explicaria ofato14. discutvel se essa hiptese suficientepara explicar a ausncia de dor que ocorre emquase todos os pacientes. Outro autor argumentaque o mdium inconscientemente pode induzirtranses hipnticos nos pacientes durante suaperformance inicial32. Apesar do epitlio corneanoser extremamente sensvel e conter inmeras ter-minaes nervosas livres37,38, no houve nenhumcaso de dor nos procedimentos oculares. Tambmnas incises superficiais sobre a mama e emhipogstrio, extrao de lipoma dorsal e de umdente molar, apenas a inciso mamria gerou dor.

    Por serem raros os trabalhos onde se procedeu aanlise laboratorial dos materiais extrados, hou-ve dificuldade na obteno de dados que servissemde comparao com os nossos resultados. Porm,encontramos registros onde o sangue obtido eracorante8 e outros em que era sangue real e domesmo tipo do paciente17, e tambm de tipo dife-rente19, bem como h relatos em que os examesmostram vsceras de animais8,17, tecidos humanose outros em que o tecido no foi identificado17.

    H relatos de casos resistentes ao tratamentoespiritual7,10, e a promessa indiscriminada de cura tida como indcio de charlatanismo25.

    As cirurgias e raspados so reais e os materiaisextrados so compatveis com o local de ori-gem37,38,39, mas sem sinais de malignizao ouespecificidade. A predominncia de cirurgias su-perficiais e no globo ocular foi previamente obser-vada em cirurgies espirituais no Brasil32 e nasFilipinas34. Apesar de haver relato de operaesprofundas com extrao de neoplasias malignas11,o observado que apesar das cirurgias serem

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    ALMEIDA, AM et al.

    reais, os materiais extrados aparentemente noseriam capazes de explicar uma hipottica curados pacientes (exceto no caso do lipoma).Assimcomo outros cirurgies espirituais brasileiros,Joo Teixeira afirma que as cirurgias so comple-tamente dispensveis, podendo os espritos atua-rem diretamente sobre os pacientes. Mas estesnecessitariam ver as curas sendo realizadas nocorpo fsico para se convencerem da realidade dotratamento32. Talvez essas cirurgias sirvam, narealidade, para propiciar uma suposta cura (dooperado e dos que assistem operao) por umoutro mecanismo no bem compreendido, talvez acirurgia funcione como um placebo36. A magnitudedo efeito placebo nas cirurgias aproximadamenteo mesmo de outras respostas placebo ( em torno de

    35%). Em muitos ensaios com drogas, o efeitoplacebo diminui aps trs meses, mas o efeito deprocedimentos mais invasivos parecem ser maisprolongados. Por questes ticas e tcnicas mui-to difcil avaliar o efeito placebo de uma cirurgia36.

    O prprio conceito do que seria placebo alvo deinmeras controvrsias, Gtzsche (1994) afirmouque, com os conceitos atuais, no h como definirplacebo de um modo logicamente consistente e semcontradies. No h concordncia sobre o queseria efeito especfico e no efeito placebo. O rtulode placebo pode ser transitrio j que o que acredi-tamos ser um placebo pode posteriormente mos-trar possuir efeitos especficos. Como distinguiruma interveno ativa, mas de ao desconhecida,de um placebo? Freqentemente se alega que to-

    SUMRIO DOS CASOS ESTUDADOSCASO 1 CASO 2Masc., 35a, economista, ferrovirio Fem., 56a, alfabetizada, do larQP.: epigastralgia urente h 7 anos QP.: ndulos mamrios benignos, bcio, artralgiaProced.: raspado nasal Proced.: inciso mamria, retirada de fragmento, suturaDor: no Dor: simCitol.: Clulas epiteliais ciladas e mucossecretoras, hemcias, Hist.: tecido adiposo lobulado maduro com reasleuccitos e colnias bacterianas de hemorragia

    CASO 3 CASO 4Masc., 58a, tcnico em farmcia Fem., 40a, professora de educao fsicaQP.: hepatopatia alcolica, lombalgia incapacitante QP.: cisto de mcula, dor hipogstrica h 4 anos h 5 anos e hipermetropiaProced.: Raspagem crnea e introduo de agulha no carpo Proced.: 1) inciso fossa iliaca direta, retirada de fragmento,

    sutura. 2) retirada de fragmento de conjuntiva bulbarDor: no Dor: noCitol.: clulas escamosas nucleadas e anucleadas Histol.: 1) tecido adiposo maduro. 2) epitlio escamoso

    estratificado no ceratinizado e tecido conjuntivo fibrovascularEvoluo: cessao da lombalgia, maior bem-estar, refere Evoluo: diminuio da dor e melhora parcial da visodiminuio do erro de refrao

    CASO 5 CASO 6Fem., 48a, analfabeta, cozinheira Masc., 59a, tcnico em contabilidadeQP.: cefalia h 8 anos por sinusite crnica com plipos em QP.: diminuio da acuidade visual por hemorragia retinianaseios maxilaresProced.: raspado nasal Proced.: raspado corneanoDor: no Dor: noHistol.: epitlio pavimentoso estratificado envolto por clulas Citol.: clulas escamosas nucleadas e anucleadascilndricas de epitlio respiratrio e cogulos sangneosEvoluo: quadro inalterado Evoluo: quadro inalterado

    CASO 7 CASO 8Masc., Masc.,Proced.: raspado nasal Proced.: exciso de tumorao dorsal

    Macroscopia: tecido fibrogorduroso de 210gCitol.: clulas epiteliais ciliadas e mucossecretoras, hemcias, Histol.: tecido adiposo lobulado maduro, vascularizado,leuccitos e colnias bacterianas compatvel com lipoma

    CASO 9 CASO 10Masc., Masc.,Proced.: extrao de molar inferior esquerdo Proced.: raspado nasalHistol.: destruio focal do esmalte(crie) e processo inflamatrio Citol.: clulas escamosas, polimorfonucleares em grandecrnico peroapical quantidade e colnias bacterianas

    QP = queixa principal, Proced = procedimento, Citol. = citologia, Histol. = histologia

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    CIRURGIA ESPIRITUAL

    das as prticas no-cientficas que tm algumefeito so placebos, j que so rejeitadas as teoriasno corroboradas cientificamente usadas para ex-plicar suas aes. Porm, ainda no conseguimosdesenvolver teorias empiricamente verificadaspara o mecanismo de ao dos placebos. Baseadonessas ponderaes, o mesmo autor conclui quenosso foco de interesse deve se deslocar do insol-vel problema de determinar se dada interveno seconstitui ou no num placebo para a avaliao damagnitude do efeito dessa interveno. Em geral,quanto maior o efeito comparado com a ausnciade tratamento, mais til o procedimento, qual-quer que seja sua natureza. A histria da medicinanos mostra o quanto de danos aos pacientes foramfeitos por condutas baseadas mais em teorias queem testes empricos. Essa mudana de posturapode ajudar a superar o abismo entre a medicinacientfica e a no-cientfica40.

    Sabe-se muito pouco sobre os mecanismos dascuras espirituais2,12, as hipteses geralmente giramem torno das sugestes psicolgicas8,9,22,24 ou datransmisso de uma energia at ento no detecta-da1,2. Fato que as explicaes dos cpticos noresolvem os casos de cura espiritual que excedemos domnios dos tratamentos psicossomticos2,7.Assim como em outros estudos9,16,30,31, o tratamentoespiritual mostrou-se sem efeito colateral.

    CONCLUSES

    Pode-se concluir que as cirurgias estudadas e osmateriais extrados so reais, no h utilizao detcnica assptica ou anestsica, mas no foi detec-tada nenhuma infeco e apenas um paciente refe-riu dor. Como no houve identificao de fraudes,o fenmeno necessita de posteriores estudos paraa explicao adequada da analgesia, da no-infec-o, avaliao da eficcia e por quais mecanismosa suposta cura poderia ocorrer, pois as cirurgiasem si aparentemente no conduziriam a esse re-sultado, j que usualmente no extraem tecidospatolgicos.

    Como vrios autores relatam benefcios com ostratamentos espirituais2,7,11,30,31, fundamental ummelhor conhecimento dos mecanismos e eficciadas curas espirituais2,9,17. Isso possibilitaria aadaptao das formas teis como terapias comple-mentares medicina ocidental2,9,10,11,13,24-26, bemcomo desencorajaria os procedimentos danosos ouinteis9,25. A discusso sria de um tema no re-quer que compartilhemos as crenas envolvidas,mas que tomemos suas implicaes seriamente eno subestimemos as razes pelas quais tantaspessoas se envolvem41. Nem a crena entusiasma-

    da ou a descrena renitente ajudaro os pacientesou o desenvolvimento da medicina18.

    AGRADECIMENTOS

    Somos gratos ao Dr. Francisco Lotufo Neto, coorde-nador do Ncleo de Estudos de Problemas Religiosos eEspirituais (NEPER) e Livre Docente do Departamentode Psiquiatria do Hospital das Clnicas da Faculdadede Medicina da Universidade de So Paulo pelo estmu-lo e reviso dos originais.

    SUMMARY

    Psychic surgery: an investigation

    BACKGROUND. A very popular modality with themedia is psychic surgery which has received littlescientific evaluation though. Such phenomena al-ways raise the issues of fakery and deceit. Re-search has been scarce.

    METHODS. We report an investigation on one ofthe most famous psychic surgeons in Brazil, JooTeixeira de Farias. 30 surgical interventions withcutting were studied, 6 patients undergoing his-tory-taking, physical examination and analysis ofthe materials supposedly extracted from them.

    RESULTS. We were struck by the fact that thesurgeon really incisions skin or ocular epitheliumin addition to scraping the cornea without identi-fied anaesthetics or antiseptics being used. Justone woman complained of pain as she had herbreast incised. Longer follow up of patients failedto notice any infection in the surgical sites. Histo-pathology found the specimens to be compatiblewith their site of origin and, apart from a 210g.lipoma, were healthy tissues without discerniblepathology.

    CONCLUSIONS. The surgerical procedures are realbut we couldnt evaluate the efficacy. It didntappear to have any specific effect. Our findings areundoubtedly more of an exploratory kind thanconclusive ones. Further studies are clearly neces-sary to cast light on this unorthodox treatment.[Rev Ass Med Bras; 46(3): 194-200]

    KEYWORDS: Spiritual surgery. Spiritual healing. Alter-native therapy. Complementary therapy.

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