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18/05/2011 1 Profª Cátia Bethonico FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO Profª Cátia Bethonico Conceito de fato jurídico “Todo acontecimento em virtude do qual começam ou terminam as relações jurídicas.” (Caio Mário da Silva Pereira) A doutrina mais contemporânea entende que esse conceito é incompleto. Profª Cátia Bethonico Conceito de fato jurídico A doutrina moderna entende que fato jurídico é “todo acontecimento, natural ou humano, que determine a ocorrência de efeitos constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos e obrigações, na órbita do direito.” (Pablo e Rodolfo)

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Profª Cátia Bethonico

FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

Profª Cátia Bethonico

Conceito de fato jurídico

“Todo acontecimento em virtude do qual começam ou terminam as relações jurídicas.”

(Caio Mário da Silva Pereira)

A doutrina mais contemporânea entende que esse

conceito é incompleto.

Profª Cátia Bethonico

Conceito de fato jurídico

A doutrina moderna entende que fato jurídico é

“todo acontecimento, natural ou humano, que determine a ocorrência de efeitos

constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos e obrigações, na órbita do direito.”

(Pablo e Rodolfo)

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Conceito de fato jurídico

Logo, fora da noção de fato jurídico, pouca coisa existe ou importa para o Direito.

Repetindo: em sentido lato, fato jurídico é “todo acontecimento natural ou humano

capaz de criar, modificar, conservar ou extinguir relações jurídicas”

(Pablo e Rodolfo)

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Conceito de fato jurídico

O conceito de fato jurídico em sentido amplo (lato

sensu) abrange os acontecimentos naturais (fatos jurídicos em sentido estrito), as ações humanas lícitas ou ilícitas (ato jurídico em sentido amplo e ato ilícito), bem como os fatos que, embora haja

atuação humana, esta é desprovida de manifestação de vontade, mas mesmo assim

produz efeitos jurídicos (ato-fato jurídico).

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Classificação do fato jurídico em sentido amplo

• Fato jurídico– Fato jurídico em sentido estrito

– Ato-fato jurídico

– Ação humana

• Lícita (ato jurídico em sentido amplo)

– Ato jurídico em sentido estrito (não negocial)

• Ilícita

– Ato ilícito

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Efeitos aquisitivos dofato jurídico

Código Civil de 1916

Art. 74. Na aquisição dos direitos se observarão estas regras:

I - adquirem-se os direitos mediante ato do adquirente ou por intermédio de outrem;

II - pode uma pessoa adquiri-los para si, ou para terceiros;

III - dizem-se atuais os direitos completamente adquiridos, e futuros os cuja aquisição não se acabou de operar.

Parágrafo único. Chama-se deferido o direito futuro, quando sua aquisição pende somente do arbítrio do sujeito; não deferido, quando se subordina a fatos ou condições falíveis.

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Efeitos aquisitivos dofato jurídico

Ocorre a aquisição de um direito com sua incorporação ao patrimônio e à personalidade do titular.

Pode ser:�Originária (sem interferência do antigo titular)

�Derivada (transferência feita por outra pessoa)

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Efeitos aquisitivos dofato jurídico

Pode ser, também: �Gratuita (vantagem apenas do adquirente)

�Onerosa (adquirente tem uma contraprestação)

Quanto à extensão, a aquisição pode ser:�A título singular (bens determinados)

�A título universal (totalidade de bens)

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Efeitos aquisitivos dofato jurídico

• Entendendo o art. 74 do CC de 1916:

�Direito atual: é o direito subjetivo já formado e incorporado ao patrimônio do titular.

�Direito futuro: é o que ainda não se constituiu.

�Deferido: quando a sua aquisição depende somente do arbítrio do sujeito. (ex.: direito de propriedade - registro)

�Não deferido: quando sua consolidação depende/subordina-se a fatos ou condições falíveis. (ex.: safra)

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Efeitos aquisitivos dofato jurídico

• Expectativa de direito�Mera possibilidade de se adquirir um direito (ex.: filhos que

sucedem seus pais após a morte)

• Direito eventual�Não se realizaram os elementos básicos exigidos pela

norma jurídica.

• Direito condicional �É aquele que se encontra completamente constituído,

intrinsecamente perfeito, mas sua eficácia depende do implemento da condição estipulada, de um evento futuro e incerto.

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Efeitos modificativos dofato jurídico

Mesmo sem alteração de sua essência, é possível que a prática de atos ou a ocorrência de fatos jurídicos que

impliquem a modificação de direitos.

A modificação pode ser:� tanto do objeto/conteúdo (modificação objetiva)

�Qualitativa (conteúdo)

�Quantitativa (volume)

�quanto de seus titulares (modificação subjetiva)�Mudança de titularidade do objeto ou de direito

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Conservação de direitos

Para resguardar ou conservar seus direitos muitas vezes o titular necessita tomar certas providências ou medidas preventivas ou repressivas, judiciais ou

extrajudiciais.

� Medidas de caráter preventivo: garantem e acautelam o direito contra futura violação. Podem ser extrajudiciais (hipoteca, penhor, fiança) ou judiciais (arresto, sequestro, caução, notificação).

� Medidas de caráter repressivo: visam restaurar o direito violado, e a pretensão é feita em juízo por meio de ação.

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Efeitos extintivos dofato jurídico

• Os direitos, como qualquer coisa na vida, podem extinguir-se.

• A doutrina menciona algumas causas:– Subjetivas: quando o direito é personalíssimo e

morre seu titular

– Objetivas: perecimento do objeto sobre o qual recaem

– Vínculo jurídico: perecimento da pretensão ou do próprio direito material – prescrição e decadência)

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Fato jurídico em sentido estrito

Fato jurídico em sentido estrito é todo aquele acontecimento natural, determinantes na ordem

jurídica.

• Podem ser: – Ordinários (morte, decurso de tempo, nascimento)

– Extraordinários (terremoto, enchentes, caso fortuito ou força maior)

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Ato-fato jurídico

É um fato jurídico qualificado pela atuação humana.

Porém, o ato humano é a substância desse fato jurídico, mas não importa para a norma se houve,

ou não, intenção de praticá-lo.

Exemplo: compra e venda feita por crianças.

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Ato jurídico

• É a simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos.

Nesse caso, é um simples comportamento humano deflagrador de efeitos previamente estabelecidos em

lei.• Assim, o ato jurídico lícito concretiza um pressuposto fático

contido na norma.

• Exemplo: a fixação do domicílio.

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Negócio jurídico

“é a declaração de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de existência, validade e

eficácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo ordenamento jurídico pretendidos

pelo agente”

(Pablo e Rodolfo)

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Negócio jurídico x Ato jurídico

“O ato jurídico em sentido estrito é a declaração de vontade na qual os efeitos são

gerados independentemente de serem perseguidos diretamente pelo agente e

criados pela lei, enquanto o negócio jurídico é a manifestação de vontade na qual o agente

persegue o efeito jurídico querido”.(Cátia Bethonico, tendo como fonte os doutrinadores

Caio Mário da Silva Pereira e Orlando Gomes)

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Negócio jurídico plano da existência

• Elementos constitutivos – Manifestação da vontade

�Expressa ou tácita (1)

– Agente emissor da vontade

– Objeto�Objeto: utilidade física ou ideal

– Forma�Meio pelo qual a declaração se exterioriza (escrita,

oral, silêncio, sinais, etc.)

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Negócio jurídico plano da validade

Falamos aqui em pressupostos de validade (2), elencados no art. 104, CC:

�Agente capaz;�Para incapaz, representação ou assistência

�Objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

�Forma prescrita ou não defesa em lei

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Defeitos do negócio jurídico

• Acarretam ao negócio jurídico um “defeito” em seus elementos de validade, pois impedem que a vontade declarada seja livre e de boa-fé.

• Por isso, esses defeitos classificam-se em vícios de consentimento e vícios sociais.

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Defeitos do negócio jurídico

Vícios de consentimento: aqueles em que a vontade não é expressada de maneira absolutamente livre. São eles:

�Erro ou ignorância (3)�falsa percepção da realidade/desconhecimento do declarante

�Vide arts. 138 e 139, CC

�Dolo

�Quanto à extensão (arts. 145 - 148, CC):�Propósito de prejudicar pessoa específica no negócio jurídico

�Pode ser principal (anula o negócio jurídico) ou acidental

�Quanto à atuação do agente:�Positivo ou negativo (omissivo)

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Defeitos do negócio jurídico(vícios de consentimento - continuação)

�Coação�Ato violento; ameaça. Vide arts. 151 e ss. do CC.

�“violência psicológica apta a influenciar a vítima a realizar negócio jurídico que a sua vontade interna não deseja efetuar” (Pablo e Rodolfo)

�Pode ser física ou moral

� A física caracteriza inexistência do negócio jurídico, e a moral é causa de anulabilidade.

�Requisitos da coação:

� Violência psicológica

� Declaração de vontade viciada

� Receio sério e fundado de grave dano à pessoa, à família ou aos bens do paciente.

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Defeitos do negócio jurídico(vícios de consentimento - continuação)

�Lesão� “prejuízo resultante da desproporção existente entre as

prestações de um determinado negócio jurídico, em face do abuso da inexperiência, necessidade econômica ou leviandade de um dos declarantes” (Pablo e Rodolfo)

�Estado de perigo� ocorre quando o agente, diante de situação de perigo conhecido

pela outra parte, emite declaração de vontade para salvaguardar direito seu, ou de pessoa próxima, assumindo obrigação excessivamente onerosa.

�Vide art. 156 do CC.

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Defeitos do negócio jurídico

• Vícios sociais: são aqueles em que a vontade manifestada não tem, na realidade, a intenção pura e de boa-fé que enuncia. São eles:

�Simulação�É uma declaração enganosa de vontade, buscando o agente

produzir efeito diverso do ostensivamente indicado;

�Há a celebração de um negócio jurídico com aparência normal, mas na verdade, não pretende atingir o efeito jurídico que devia produzir.

�É causa de nulidade do negócio jurídico

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Defeitos do negócio jurídico

• Fraude contra credores– É o ato de alienação ou oneração de bens, assim como remissão de

dívida, praticado pelo devedor insolvente, ou à beira da insolvência, com o propósito de prejudicar credor preexistente, em virtude de diminuição de seu patrimônio.

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Fraude contra credores(continuação)

– É composta por:

» Conluio fraudulento: subjetivo, é a má-fé do devedor

» O prejuízo causado ao credor: objetivo, é a insolvência

– Hipóteses:

» Atos de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida (art. 158)

» Atos de transmissão onerosa (art. 159)

» Pagamento antecipado da dívida (art. 162)

» Concessão fraudulenta de garantias (art. 163)

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Fraude contra credores(continuação)

• Ação pauliana ou revocatória– É a ação anulatória do negócio jurídico celebrado contra

credores, visando a prevenir a lesão do credor causada pelos atos que tem por efeito a subtração da garantia geral, que lhes fornecem os bens do devedor, tornando-o insolvente.

– A legitimidade (ativa) para ajuizar essa ação pertence a:• Credores quirografários (art. 158)

• Credores que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta (art. 158, § 2º)

– Legitimidade passiva• Devedor insolvente; pessoa com que ele celebrou a estipulação

considerada fraudulenta

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Negócio jurídico inexistente

• Negócio jurídico inexistente é aquele que lhe falta algum elemento estrutural. Ex.: o consentimento.

• Importante: – quando a vontade é manifestada, mas eivada de

erro, dolo ou coação, por exemplo, o negócio existe mas é anulável.

– E se a vontade emana de um absolutamente incapaz, maior é o defeito, e o negócio existe, porém é nulo.

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Invalidade do negócio jurídico

Nulidade é uma espécie de sanção dada pelo ordenamento jurídico ao negócio jurídico, por

este ter ofendido, em especial, a determinados requisitos legais, caracterizando-se esta sanção

pelo impedimento de produção de efeitos jurídicos, em função do defeito que o negócio

jurídico nulo carrega.

• Ofensa aos pressupostos de validade.

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Invalidade do negócio jurídico

• Existem 2 tipos de nulidade:– Absoluta (nulidade advinda de um ato nulo)

• Carrega vício grave, por ter infringido norma jurídica de ordem pública

• Art. 168

– Relativa (ato anulável) / anulabilidade• Decorre de infringência da norma jurídica protetora

de interesses eminentemente privados.

• Atinge negócios que se acham com vício capaz de lhes determinar a invalidade, mas pode ser sanado ou afastado.

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Invalidade do negócio jurídico

• Causas de nulidade (art. 166)– Quando celebrado por agente incapaz

– Quando for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto

– Motivo determinante, comum as ambas as partes, for ilícito

– Não revestir da forma prescrita em lei

– Quando tiver por objetivo fraudar lei imperativa

– Quando a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a prática

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Invalidade do negócio jurídico

Anulabilidade é a sanção imposta pela lei aos atos e negócios jurídicos realizados por pessoas

relativamente incapazes ou eivados de algum vício do consentimento ou vício social.

• Causas de anulabilidade (art. 171):– Por incapacidade relativa do agente;

– Por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude a credores.

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Nulidade x Anulabilidade

Nulidade (nulidade absoluta)

• O ato nulo atinge interesse público.

• Não pode ser sanada nem suprida pelo juiz

• Deve ser pronunciada de ofício pelo juiz (art. 168, parágrafo único) e seu efeito é ex tunc(retroage à data do negócio).

Anulabilidade (nulidade relativa)

• Atinge o interesse privado, particular, da pessoa prejudicada; não se vislumbra o interesse público.

• Pode ser suprida pelo juiz, a requerimento das partes (art. 168, parágrafo único), ou sanada (art. 172).

• Não pode ser pronunciada de ofício, pois depende de provocação dos interessados (art. 177) e não opera antes de julgada a sentença, com efeitos ex nunc..

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Nulidade x Anulabilidade

Nulidade (nulidade absoluta)

• Pode ser alegada por qualquer interessado, em nome próprio, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir (art. 168, caput).

• Negócio nulo não se valida com o decurso do tempo, nem é suscetível de confirmação (art. 169)

Anulabilidade (nulidade relativa)

• Só pode ser alegada pelos interessados, ou seja, pelos prejudicados (o relativamente incapaz e o que manifestou a vontade viciada) , e seus efeitos aproveitam apenas aos que a alegaram, salvo caso de solidariedade ou indivisibilidade (art. 177)

• Ocorre a decadência da anulabilidade em prazos relativamente curtos (art. 179).

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Nulidade x Anulabilidade

Nulidade (nulidade absoluta)

• O ato nulo não produz nenhum efeito, e o pronunciamento judicial de nulidade produz efeitos ex tunc, ou seja, desde o momento da emissão da vontade

Anulabilidade (nulidade relativa)

• O ato anulável produz efeitos até o momento em que é decretada a sua invalidade, e o efeito dessa decretação é ex nunc.

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Conversão do negócio jurídico

Código civil

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível deconfirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.

Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver osrequisitos de outro, subsistirá este quando o fim a quevisavam as partes permitir supor que o teriam querido, sehouvessem previsto a nulidade.

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Conversão do negócio jurídico

• Assim sendo, o ordenamento permite a conversão do negócio nulo em outro, de natureza diversa, desde que se possa inferir que a vontade das partes era realizar o negócio subjacente.

“é uma medida sanatória, por meio do qual aproveitam-se os elementos materiais de um negócio jurídico nulo ou anulável, convertendo-o, juridicamente, e de acordo com a vontade das partes, em outro negócio válido e de fins lícitos.” (Pablo e Rodolfo)