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Civilizações Clássicas I 31047 Tema 2

Civilizações clássicas i tema 2

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Civilizações Clássicas I

31047

Tema 2

2. Época arcaica: crises de crescimento e evolução das cidades

A época arcaica (entre 776 e 480 a.C.), respetivamente a data tradicional dos

primeiros Jogos Olímpicos e o ano da batalha de Salamina.

É um período de grande vitalidade, de inovações, crises e transformações.

A polis modifica-se sensivelmente, nos começos do século V a.C., apresenta

determinados aspetos diferentes dos que encontramos no início da época arcaica.

Destaques devido às suas Obras:

Hesíodo (finais do séc. VIII e inícios do VII )

Sólon (VII para VI)

Teógnis ( 2º metade do séc. VI e 1º do V a.C.)

2.1 O domínio da aristocracia

O domínio da aristocracia que detém todos os poderes: político, judicial,

militar, religioso e económico.

Os aristocratas haviam conquistado essa autoridade.

Os nobres exerciam esses poderes através de um Conselho onde apenas

tomavam assento, a título vitalício, os chefes das famílias aristocráticas que

pretendiam descender de um herói local ou de um dos antigos reis.

Era esse conselho que definia a política da polis depois executada pelos

Magistrados – um único com amplos poderes e longo mandato, ou, mais

frequentemente, um colégio com mandato por um ano – eles também

escolhidos apenas entre os nobres.

2.1 O domínio da aristocracia

Predomínio da Cavalaria – na qual se baseavam as táticas de guerra.

A Justiça baseava-se na tradição (na Themis), uma série de práticas

transmitidas pelas grandes famílias de pais para filhos.

As leis não passavam de um conjunto de costumes mais próprios de um

direito de guerra do que da justiça de uma polis e limitavam-se a

regulamentar a vingança com base na solidariedade familiar, degenerando

frequentes vezes em lutas sangrentas que terminavam com um tratado de

paz ou com o desaparecimento de uma das fações.

2.1 O domínio da aristocracia

Hesíodo e Sólon

Hesíodo insiste no valor da justiça, colocando nela e no trabalho a

excelência do homem.

Sólon, por sua vez, fala em injustiça de nobres e governantes e em rapina

e saque dos bens dos templos e do povo.

O poeta insiste na injustiça: justiça tortuosa, atos insolentes, corrupção da

lei existente.

Portanto, nos inícios da época arcaica, nada controlava a atuação e

ambições dos nobres.

2.2 O início da colonização grega

Em meados do século VIII a.C., inicia-se a colonização grega que se

prolonga até ao período helenístico e vai espalhar os Gregos pelas

margens do Mediterrâneo, europeia, asiática e africana.

Migrações movimentação de populações de forma não organizada,

devida ora ao nomadismo, ora a desalojamento por outros povos, ora a

fuga de locais de guerra.

Colonização existe um planeamento, com a escolha do sítio a colonizar,

com a nomeação do comandante, com a definição dos integrantes da

expedição.

2.2 O início da colonização grega

Em consequência do excesso de população, de secas, de chuvas

tempestuosas, a polis via-se em dificuldades para alimentar a população

e optava por enviar uma parte dos seus habitantes para outro lugar com

a missão de fundar uma colónia, que os Gregos designavam apoikia,

«residência distante».

Da cidade de origem – a metrópole, «cidade-mãe» - os colonizadores

transportavam o fogo sagrado, os cultos, o alfabeto, o dialeto, o

calendário;

Entre a metrópole e a colónia não havia qualquer grau de dependência

política e económica.

Entre colónia e metrópole apenas existiam laços de ordem moral.

2.2 O início da colonização grega

De modo geral o regime e instituições da apoika sofriam uma evolução

própria.

Com transformações e inovações que os tornavam sensivelmente diferentes

dos da metrópole.

Daí que este fenómeno grego se não enquadre no nosso conceito atual de

colonização que implica a colónia como uma extensão territorial da

metrópole e a sua dependência política e económica.

No entanto começaram a aparecer as cleruquias que correspondiam à nossa

colonização: os seus habitantes, os clerucos, continuavam cidadãos da

metrópole, ao contrário do apoikos que perdia a cidadania da polis de origem.

2.3 O desenvolvimento do comércio e as suas consequências

As colónias (apesar nos primeiros tempos procuravam bons locais para a

agricultura) originam relações comerciais entre elas e o continente grego (não

necessariamente com a metrópole) e geram um sistema de trocas cada vez

mais ativo entre a bacia oriental do Mediterrânio e a ocidental.

As colónias vão estimular esta atividade e originam uma troca de mercadorias

mais ativa.

O comércio sofre um grande incremento e, em meados do século VII a.C.

Não era considerado um recurso subsidiário e sazonário, mas uma atividade

autónoma, próspera e com grande relevo.

Começam a aparecer a fundação de colónias comerciais ao lado das agrícolas.

2.3 O desenvolvimento do comércio e as sua consequências

Este incremento vai estimular a indústria, sobretudo a produção de

cerâmica. Ex.: vasos de Corinto e de Atenas.

Grande surto de oficinas nos séc. VII e VI a.C..

O comércio e os contactos que originou vão trazer ainda novas ideias e

novas técnicas.

Umas e outras vão provocar alterações de ordem económica, social e

agrícola de graves consequências para a polis, e motivar, a longo prazo,

uma transformação política.

2.3 O desenvolvimento do comércio e as sua consequências

Na agricultura fez-se a substituição do cultivo dos cereais, sobretudo o

trigo para algo menos trabalhoso e mais rentável como a vinha e a

oliveira que se desenvolveram muito com o comércio: o vinho e o azeite

são dois produtos muito procurados para exportação.

Os camponeses viam-se duplamente atingidos por tal alteração:

Mão de obra excedentários eram vendidos como escravos

A procura leva os nobres a desejarem aumentar o plantio de vinha e oliveira o

que vai levar a situações de injustiça e arrastam descontentamento e revolta,

a que outros elementos de crise se vêm juntar.

2.3 O desenvolvimento do comércio e as sua consequências

Assiste-se à formação de uma nova classe de enriquecidos (plutocratas),

produto do comércio e do consequente incremento da indústria.

Para a aristocracia, a única fonte de riqueza digna era a terra.

A nova classe alimenta ambições e, detentora de poder económico,

aspira a obter também poder político.

Desta forma, a nova classe de enriquecidos procura adquirir terras a

qualquer preço.

2.3 O desenvolvimento do comércio e as sua consequências

Conclusão

O desenvolvimento do comércio e da indústria, com o concomitante

incremento das culturas ricas, se constituí um meio de promoção para

alguns elementos dos estratos mais baixos, contribui também para

extremar as classes e piorar as condições de vida dos pequenos e médios

camponeses.

A explicação para a colonização é que esta é uma necessidade de

procura de mercados para escoar a produção excedentária.

2.4 A concentração de terras e a crise agrária

O desenvolvimento artesanal e do comércio mostram que os conflitos se

ligam a questões agrárias.

Os ricos aumentaram consideravelmente as suas propriedades e verificou-

se de facto uma acumulação de terras.

Hesíodo nos “Trabalhos e Dias”, alude a dívidas que trazem a fome amarga.

Sólon fala de «terra escrava» e de marcos de hipoteca, de dívidas e de

escravos.

No centro da crise, no tempo de Sólon, existia uma espécie de «servidão»

pessoal.

2.4 A concentração de terras e a crise agrária

Hectêmoros (os que eram obrigados a pagar uma renda de um sexto da

produção da terra).

Pelatas (que correspondia aproximadamente ao cliente romano e parece

ter estado sujeito também à entrega de uma parte das colheitas).

Tetas (que não tinham bens e viviam do aluguer do seu trabalho).

Nota: Segundo Aristóteles se os dois primeiros não pagassem a renda

poderiam ser vendidos como escravos.

Sem resolverem a sua situação com recurso a empréstimos, eram

lançados a curto prazo na escravatura e na dependência dos ricos.

2.5 A criação da hoplitia

Inovações da época arcaica:

Criação da hoplitia

Introdução da moeda

Nos fins do séc. VIII e inícios do VII a.C., verifica-se uma transformação da

tática militar.

Deixa de ter por base a cavalaria e passa a apoiar-se no hoplita – soldado

grego de infantaria que combate equipado com o hoplon.

2.5 A criação da hoplitia

A hoplitia, ao exigir espírito de disciplina e de solidariedade, contribui

poderosamente para solidificar a polis, incrementando o sentimento de

comunidade.

A nova tática permitiu ainda o acesso ao poder militar de um maior

número de cidadãos.

Deste modo, os cidadãos de recursos médios ascendem ao poder militar

e passam a ter papel decisivo na defesa da polis.

Lembrar que o poder politico e o poder militar estavam ligados o que

leva ao desejo ou à exigência de ter acesso aos cargos e participar

também no governo da polis.

2.5 A criação da hoplitia

Conclusão

A introdução da hoplitia faz perder à aristocracia a hegemonia do poder

militar.

Acaba por constituir mais um afluente da caudalosa corrente da crise

social da segunda metade do séc. VII a.C..

2.6 O aparecimento da moeda

Introdução da moeda na Iónia/Lídia no último quartel do séc. VII a.C.

A introdução da moeda, embora a sua expansão seja um processo

moroso, acaba por reduzir pouco a pouco a avaliação e os pagamentos

(em bois e medidas de cereal) e por limitar a troca direta.

A moeda desde início tem a função de padrão valor para facilitar o

comércio.

Mas os dados que dispomos, fornecidos pelas escavações arqueológicas,

contradizem essa ideia.

2.6 O aparecimento da moeda

A referida introdução não visava facilitar o comércio, já que não

consegue comerciar só com moedas de grande valor intrínseco.

Aos inícios da cunhagem presidiriam aspetos não comerciais.

Fatores que contribuíram para a sua introdução:

Normalização da vida social

Desenvolvimento do papel fiscal do Estado (multas, impostos, taxas)

Financiamento de exércitos de mercenários

Pagamento de salários a outros empregados públicos

Desenvolvimento da consciência cívica.

2.6 O aparecimento da moeda

A proliferação de espécimes diferentes apesar de haver a tendência para

a cidade usar o tipo base, não facilitava de forma alguma o comércio.

A introdução da moeda, se não teve por causa decisiva facilitar o

comércio e está ligada a aspetos éticos, acaba afinal por ter graves

consequências.

A introdução da moeda, uma inovação que afinal acaba por constituir

mais uma acha no vulcão da crise.

2.7 Os conflitos sociais de meados do séc. VII a.C.

Surge uma riqueza que não tem por base a posse da terra. Os textos de

Sólon e de Teógnis oferecem um testemunho da importância que essa

riqueza havido adquirido.

Verifica-se o que é frequente em épocas de crise: empobrecimento de

umas famílias – acomodação, negligência, falta de dinamismo ou

dissipação – e enriquecimento de outras.

A aristocracia perdera o poder económico, com o aparecimento da nova

classe dos plutocratas; perdera também o poder militar, com a nova

tática de combate; mas continuava a única detentora do poder político.

2.7 Os conflitos sociais de meados do séc. VII a.C.

O desenvolvimento da polis fizera aparecer a noção de cidadão e nascer

o sentimento comunitário; a nova tática militar dera aos cidadãos de

médios e parcos recursos a consciência da sua importância e dos seus

direitos.

Agudização da vida social na segunda metade do séc. VII a.C.

Duras lutas sociais terminaram em guerra civil.

São os legisladores que vão dotar as póleis de códigos de leis e proceder

a reformas mais ou menos profundas.

2.8 Os legisladores e a codificação das leis

A codificação das leis vem satisfazer essa aspiração: põe a lei ao alcance

de todos, oferecendo-lhes a possibilidade de a conhecerem, sem estarem

sujeitos ao segredo e à arbitrariedade das interpretações.

Retira dessa forma aos aristocratas o monopólio da justiça.

Foi esta função dos legisladores, que coligiram a tradição e os costumes,

modificaram-nos e ofereceram uma estrutura legal à vida cívica.

Os legisladores apareceram primeiro nas cidades mais desenvolvidas

económica e comercialmente.

Os primeiros surgem por meados do século VII a.C. na Magna Grécia.

2.8 Os legisladores e a codificação das leis

Zaleuco de Locros (650 a.C.) é o mais antigo de que temos

conhecimento.

Parece ter sido o autor do primeiro código escrito de leis.

Carondas, legislador de Catânia (630 a.C.) teria dotado essa polis de leis

de caráter aristocrático.

Os legisladores mais conhecidos e que mais influência vieram a exercer

na sociedade grega foram, no entanto, os de Esparta e os de Atenas.

Como por exemplo, em Atenas, as leis de Drácon e de Sólon.

2.9 Os tiranos

Apesar dos códigos escritos, a administração da justiça continuou, de

modo geral, nas mãos dos magistrados ou conselhos aristocráticos.

A obra dos legisladores, na maioria dos casos, não foi suficiente para

acalmar as lutas e perturbações sociais em muitas das cidades.

Os Tiranos um fenómeno também característico da época arcaica

grega, que atingiu quase todas as póleis, como desenlace mais usual

para as lutas sociais.

O termo tirano e do regime a que dava origem, a tirania, não tinham o

sentido negativo que encontramos nos fins do séc. V e no IV a.C. e que

hoje continua a apresentar.

2.9 Os tiranos

As polis gregas acabaram por cair sob o domínio dos tiranos, estes (tal

como os legisladores) apareceram em primeiro lugar nas cidades

marítimas e comerciais.

Tinham geralmente um caráter antiaristocrático e protegeram as classes

inferiores em que se apoiavam.

Contribuíram para o ruir dos privilégio da aristocracia e para um maior

nivelamento social.

Procuraram centralizar os vários poderes: religiosos, institucionais,

políticos, jurídicos.

2.9 Os tiranos

Procederam à cunhagem de moeda.

À centralização de determinados cultos.

Os tiranos tudo fizeram para conseguir a submissão dos interesses locais

ao interesse central – ou seja, os dos aristocratas ao do próprio tirano.

As tiranias desenvolvem uma política ativa de contactos externos e

ligações familiares que, além de constituírem fortes pontos de apoio para o

regime, trazem também uma época de paz e de prosperidade, cimentada

numa série de medidas de apoio aos camponeses e de incentivo à

agricultura, ao comércio e à indústria. Não é raro procederem à isenção de

impostos e à redistribuição pelos pequenos camponeses de terras

confiscadas aos nobres.

2.9 Os tiranos

Os tiranos são déspotas esclarecidos que muito contribuíram para o

incremento cultural.

As tiranias conseguem manter-se durante duas ou três gerações no

máximo, depois desapareceram, todas antes de 500 a.C..

Constituem a exceção as cidades da Sicília e poucas mais.

Os tiranos acabaram por ser expulsos por revoltas de nobres ou devido à

intervenção de Esparta.

Com o seu desaparecimento instauraram-se ora oligarquias – tenham

elas por base o nascimento, a riqueza ou os dois; ora democracias, mais

ou menos evoluídas.