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Clínica da Infância Conselhos Práticos de Psicologia Infantil Teresa Paula Marques

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Clínica da InfânciaConselhos Práticos de Psicologia Infantil

Teresa Paula Marques

www.oficinadolivro.pt

© 2011, Teresa Paula Marquese Oficina do Livro – Sociedade Editorial, Lda.

uma empresa do grupo LeYaRua Cidade de Córdova, 2

2610-038 AlfragideTel.: 210 417 410, Fax: 214 717 737E-mail: [email protected]

Título original: Clínica da InfânciaAutoria: Teresa Paula Marques

Revisão: Henrique Tavares e CastroComposição: Mirasete,

em caracteres Sabon, corpo 11Capa: Maria Manuel Lacerda / Oficina do Livro

Fotografia: © Augusto BrázioImpressão e acabamento: Guide Artes Gráficas, Lda.

1.ª edição: Março de 2011

isbn 978-989-555-574-1Depósito legal n.º 321882/11

À minha mãe, por… TUDO!

Aos meus queridos pai e irmão, cuja luz ilumina

todos os momentos da minha vida!

Aos meus amigos, que me perdoam as prolongadas ausências

e que no regresso me acolhem sempre com o mesmo carinho.

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Prefácio, por Rita Marrafa de Carvalho .....................................11Nota Introdutória.......................................................................15EM CASASer educado é ter regras..............................................................19As emoções também se educam..................................................24Não se deixe manipular..............................................................26As (terríveis) birras .....................................................................29Mimar sim, mas com conta, peso e medida!...............................33Preciosa auto-estima...................................................................36Ensine-os a serem optimistas ......................................................39Saber perdoar é um acto de grandeza .........................................42Mentira ou fantasia infantil? ......................................................45Pequenos furtos infantis .............................................................48O dinheiro não cresce nas árvores ..............................................53O despertar da sexualidade ........................................................55Qual o momento certo para abordar o assunto? ........................60Os rapazes não podem brincar com barbies e as raparigas comcarros?........................................................................................63A brincar é que se aprende! ........................................................67

ÍNDICE

Querido amigo imaginário .........................................................73Único sim, egoísta não! ..............................................................77Que bom, vou ter um mano! ......................................................81NA ESCOLAAdaptação ao infantário.............................................................87Ingresso no 1.º ciclo ...................................................................90Mudanças de escola e retorno de férias ......................................94A educação dos sentidos – a música ...........................................96Estimular a leitura ....................................................................100A prática do desporto como forma de combatero sedentarismo .........................................................................103O bilinguismo...........................................................................107Ser canhoto interfere na aprendizagem? ...................................110É preciso que respeitem os meninos “diferentes”......................113Previna precocemente o insucesso escolar.................................116Ensine-o a estudar ....................................................................119A memória ...............................................................................122A inteligência............................................................................125A inteligência emocional...........................................................128Ser sobredotado........................................................................131Impedimentos para o sucesso escolar .......................................135PERTURBAÇÕES MAIS COMUNS NA INFÂNCIATranstorno obsessivo-compulsivo (TOC) .................................151Perturbações do espectro do autismo .......................................155Transtornos do sono.................................................................161Transtornos de ansiedade .........................................................178Transtornos do comportamento alimentar ...............................186Transtorno de défice de atenção e hiperactividade (TDAH) .....190Transtornos de eliminação........................................................205Transtornos emocionais............................................................213

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São os velhos ditados e as máximas ancestrais que nos acom-

panham uma vida inteira. Uns mais prosaicos, outros falaciosos,

alguns definitivamente certeiros: ninguém nasce ensinado. E ser pai,

mãe, educador e filho é ser parte de uma engrenagem milenar em

constante evolução e aprendizagem.

Nestas páginas que se seguem, não existe a pretensão de ensi-

nar mas de esclarecer, de suscitar, junto de quem tem crianças à sua

guarda, para os diversos mosaicos que compõem o crescimento.

Clara, serena e sucinta, Teresa Paula Marques revela questões,

aponta possíveis soluções, desmistifica a “areia” no sistema familiar:

o que é ser criança, etapas do crescimento, interacção com os pais

e problemas que possam surgir. Não impõe respostas mas sugere um

quadro de comportamentos e directrizes que facilitam e promovem

um desenlace tranquilo.

O instinto parental é das mais fortes apetências de que um pai

e uma mãe se podem revestir e no qual podem confiar, mas não

responde a todas as dúvidas... às, por vezes, aparentes dificuldades

PREFÁCIO

PREFÁCIO

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que surgem no desenvolvimento de uma criança. E como em qual-

quer estrutura, o crescimento de um adulto saudável, consciente e

seguro assenta nos pilares da primeira e segunda infâncias. São estas

as bases, a sustentação inicial que terão, mais tarde, reflexos naquele

que se transforma em homem ou mulher.

É essencial dotarmo-nos de instrumentos válidos que permi-

tam sermos educadores mais preparados, mais confiantes. Sabermos

encontrar os sinais, entender os dilemas, encontrar respostas possíveis.

Todo o conhecimento será pouco... e a segurança com que agirmos

perante os nossos filhos é um legado que herdarão e que, certa-

mente, aplicarão quando chegar a sua vez de educar. Para Johann

Goethe, só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a. Mas

amá-la é educá-la e essa é a pedra de toque desta obra que agora

inicia a leitura.

Cresci com uma educadora profissional. Uma mãe professora

atenta aos alunos no que diz respeito à aprendizagem e às expressões

físicas e emocionais que transpareciam na sala de aula. Preocupada,

trouxe sempre para casa, e para debate no lar, as reticências e as

suspeitas que tinha sobre aquele ou outro aluno. Despistou dezenas

de casos ao longo da sua vida. Hiperactividade, dislexia, Síndroma

de Asperger... Aprendi com ela essa curiosidade pela análise humana.

Ser mãe agudizou esses meus “sintomas”. Na verdade, ser mãe traz

um conjunto de incertezas e angústias justificadas mas que são

ultrapassáveis. Neste livro, revi-as quase todas. Ri-me de algumas

já solucionadas, dei mais atenção a outras que ainda têm reminis-

cências num qualquer canto do meu cérebro, tomei conhecimento

de modos, métodos e conselhos que me tornam mais consciente para

o papel de educadora.

clínica da infância

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Esse é objectivo. Este é o sobejamente alcançado intuito da

psicóloga Teresa Paula Marques: tornar-nos pais mais conscientes,

mais atentos mas, simultaneamente, mais aptos a ajudar os nossos

filhos e educando-os a crescer. A tarefa não é fácil. Longe disso...

Mas torna-se menos espinhosa.

Rita Marrafa de Carvalho

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Estes anos de contacto directo com as crianças e os pais têm-me

feito sentir que a aventura de ajudar no crescimento de outro ser

humano é das missões mais importantes que um educador pode ter.

Importa, acima de tudo, que o produto final seja uma pessoa equi-

librada, digna, com valores… como diria o psicólogo Carl Rogers,

pois isso é mais importante do que ajudá-la a tornar-se matemática,

poliglota ou coisa que o valha.

Numa sociedade que cada vez mais valoriza o sucesso, desde

muito cedo que as crianças vivem sob pressão. Importa ser o melhor,

custe o que custar! Neste percurso, algumas sucumbem face a tamanha

exigência e acabam por manifestar o seu desconforto interno atra-

vés de diversos sintomas, que muitas vezes não passam de um alerta,

de um apelo dirigido aos pais e educadores. Importa, então, decifrar

essas mensagens e actuar atempadamente para que não restem

sequelas. Um dos objectivos deste livro é, precisamente, ajudar os

pais nessa importante tarefa.

Ao longo destas páginas poderá encontrar informações sobre

diversas problemáticas da psicologia da primeira e segunda infâncias

“Os educadores precisam de compreender que

ajudar as pessoas a tornarem-se pessoas é muito

mais importante do que ajudá-las a tornarem-se

matemáticas, poliglotas ou coisa que o valha.”

(Carl Rogers)

NOTA INTRODUTÓRIA

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(sensivelmente até aos 11/12 anos), assim como o modo de lidar

com elas. A escolha dos temas teve por base os casos que mais

frequentemente surgem no consultório e, também, os inúmeros

emails que recebo, fruto da minha actividade na imprensa. Assim,

nos dois primeiros capítulos são abordados os problemas que

podem surgir em contexto escolar e familiar. A parte final é dedicada

às perturbações psicopatológicas mais comuns nesta faixa etária.

Teresa Paula Marques

Dezembro de 2010

EM CASA

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Há alguns anos, educar era uma tarefa menos complicada,uma vez que se assistia a uma clara estratificação de poderes, emque os papéis estavam plenamente definidos. Os adultos continuavama obedecer aos pais e as crianças sujeitavam-se às regras dos maisvelhos, sem qualquer contestação.

Com o passar do tempo, alguns pedagogos vieram dizer queeste tipo de educação estava incorrecto, que era necessário ouvir ascrianças, permitir-lhes uma atitude mais participativa na sua relaçãocom a família. Até aqui tudo bem, não fosse o problema de algunspais terem cedido à tentação de cair no extremo oposto. Em conse-quência, assistimos hoje a situações em que o poder está nas mãos dascrianças e toda a família evita contrariá-las, com receio de que surjamtraumas ou outras mazelas psicológicas. Importa, em definitivo,esclarecer que a imposição de regras não traumatiza ninguém. Parase tornarem adultos saudáveis, as crianças precisam de aprender alidar com momentos de frustração, de contrariedade e a conheceros seus limites.

Inquestionavelmente, ser educador não é tarefa fácil. As insegu-ranças começam logo durante o período de gravidez. Com frequência

SER EDUCADO É TER REGRAS

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ouvimos jovens grávidas verbalizarem o medo de não se tornarem

mães suficientemente boas e competentes. Por outro lado, chorar é

o único meio que a criança tem para transmitir conforto/descon-

forto aos que a rodeiam. A ligação mãe-bebé pode ser tão forte que

permita descodificar os tons do choro, logo após três dias de vida.

Perante o choro, existem muitas reacções possíveis, que vão desde

a mãe demasiado ansiosa, que corre imediatamente para o berço

do filho e o tenta acalmar, até à mais segura, que percebe que o seu

filho acordou devido a algum barulho estranho e que é preciso dar-lhe

alguns minutos para que se recomponha e volte a adormecer. Deste

modo criam-se mecanismos de defesa, que serão usados noutras

situações de desconforto psicológico. Estes dois exemplos de atitu-

des maternas mostram formas distintas de educar, sendo que o

esboço da educação vai sendo traçado desde os primeiros dias de

vida e tende a consolidar-se nos anos seguintes. O problema é que

muitas vezes a decisão de impor regras surge numa fase avançada

da vida da criança – por exemplo, na adolescência – momento em

que a receptividade do jovem é já reduzida, ou mesmo nula.

Quando a criança começa a andar pela casa, o desafio para os

pais consiste em encontrar o equilíbrio entre estimular o interesse

pelo mundo que a envolve e habituá-la a obedecer a um conjunto

de normas que são necessárias. Nesta altura, o “não” é uma palavra

que se torna comum: “não mexas aí”, “tem cuidado, não te magoes”,

“não podes vir para aqui”, etc. Estas frases repetem-se até que a

criança perceba a advertência e corrija por iniciativa própria o seu

comportamento. Por seu lado, a criança também poderá começar

a utilizar o “não”, mas apenas como forma de imitar os adultos.

Em matéria de regras, há que acentuar a ideia de que a coe-

rência de atitudes entre pai e mãe é vital. Temos em mente o caso

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dos casais em que um dita uma regra e o outro anula-a, substi-

tuindo-a por outra. Por exemplo, a mãe chega a casa e ao constatar

que o filho não fez os trabalhos para casa (TPC), diz-lhe que só lhe

permite ver os desenhos animados no final das tarefas escolares.

Pouco depois, chega o pai e, ao aperceber-se do que se está a passar,

diz-lhe: “Deixa lá a criança em paz. Não vês que o Joãozinho também

precisa de se distrair? Tem muito tempo para fazer os TPC depois

dos desenhos animados.” Ambos têm argumentos assentes na

preocupação e no afecto que nutrem pelo filho, mas a atitude que

assumem origina alguns aspectos negativos para a educação da

criança. O conflito entre os pais tenderá a intensificar-se, ao mesmo

tempo que a criança passará a aceitar as regras de um, ao mesmo

tempo que rejeita as do outro.

Não será então de espantar que ela se comporte impecavel-

mente quando está sozinha com a mãe mas, perante os dois, assuma

uma atitude de desafio. Posto isto, em matéria de educação é

muito importante que os pais estejam em sintonia quanto às linhas

mestras. Só assim evitarão anular o esforço efectuado por cada um.

É que manter o “não” é assegurar que a regra passa a estar inte-

grada na personalidade dos filhos. Certamente, haverá casos em

que poderão não estar de acordo, mas nesse caso é preferível

encontrar uma ocasião mais tranquila para conversarem sobre o

assunto. É fundamental que as crianças cresçam com a sensação

de que os pais reagem de forma harmoniosa e articulada, no que

respeita à sua educação. Discutir sobre estas questões em frente

dos filhos é transmitir-lhes uma imagem de fragilidade que não é

benéfica para o seu desenvolvimento psicológico.

Ainda que se utilizem sanções para reforço de um “não”, estas

podem não ser eficazes em todas as crianças. Cada pai deve encontrar

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o castigo adaptado ao seu filho, sabendo que o importante não é o

castigo em si, mas o que é comunicado através dele. Asha Phillips,

psicoterapeuta que se tem dedicado ao estudo deste tema, afirma

que não é preciso um exército para matar uma formiga, ou seja,

os castigos têm de ser proporcionais ao acto cometido, não se

devendo cair em excessos. Além disso, também não é necessário

explicar pormenorizadamente à criança o motivo que levou a

dizer “não”. Ao invés, opte por mostrar-lhe que está certa de que

o que faz é o melhor para ela. Alguns pais esgotam-se em explica-

ções que quase parecem desculpas por terem ousado dizer “não” em

determinado momento. Estes pais não estão totalmente convictos

de estarem a agir correctamente, o que acaba por transmitir inse-

gurança à criança.

O dizer “não” a uma criança traduz-se muitas vezes num des-

gosto perante a contrariedade imposta. Ela sentir-se-á frustrada,

mas tudo é temporário e aprender a lidar com as frustrações é fun-

damental para a vida adulta. Quantas vezes nos sentimos frustrados

durante o dia? É o trabalho que não corre às mil maravilhas, os

amigos que ficaram de telefonar, e nada... Contudo, desenvolvemos

mecanismos de defesa que nos permitem enfrentar esses momentos

menos agradáveis, de forma a ultrapassá-los. Ora, essa capacidade

desenvolve-se desde pequeno e o “não” é um dos factores que

contribui para esse crescimento. Isto não significa que deva estar

constantemente alerta, já que as crianças precisam de tentar fazer as

coisas por si mesmas e até de errar, pois só assim poderão avaliar

as suas limitações e, posteriormente, aceitá-las. Durante esta ex-

ploração dos limites e aceitação das frustrações, elas aprendem que

as tarefas podem ser mais facilmente desempenhadas se tiverem

a ajuda de outra pessoa, o que leva a um crescendo de humildade,

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característica da personalidade muito apreciada socialmente. Só se

a disciplina conviver com a liberdade é que conseguiremos ter

adultos maduros, autónomos e autoconfiantes.

Na perspectiva de uma criança, os limites podem ser desagra-

dáveis porque a impedem de fazer o que bem lhe apetece mas, ao

mesmo tempo, funcionam como barreira de segurança. É que exis-

tem razões lógicas que se prendem com a segurança física (por

exemplo, não a deixar brincar com fósforos ou objectos cortantes).

Estas restrições facilmente se explicam, mas tudo se complica em

situações mais subtis, relacionadas com o comportamento e que não

estão ligadas a nenhum aspecto de periculosidade.

Cada limite colocado abre uma oportunidade para o desenvolvimento denovas competências. Dizer a uma criança que tem de ir jantar, devendo, porisso, interromper o jogo, é mostrar-lhe que tudo tem um começo, um meio eum fim, e também que é necessário ter prioridades.

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Os pais não devem evitar que os filhos sintam tristeza, raiva,angústia, ansiedade, frustração e outras emoções que lhes causemsofrimento porque, ao invés de os protegerem, estarão a transformá-losem seres frágeis e incapazes de lidar com as vicissitudes da vida.

Perante estas emoções, deverão colocar-se à disposição paraouvir, orientar, conversar. Outro aspecto igualmente importante, eque pode prejudicar o desenvolvimento emocional da crianças, é ofacto de elas poderem viver num ambiente extremamente crítico, istoé, com poucos elogios e muitas críticas. Este tipo de funcionamentofamiliar dificulta a crença nas suas capacidades, acarretando conse-quentemente um problema de auto-estima. Posto isto, é de extremaimportância que os pais respeitem o ritmo da criança, não exigindodela mais do que ela é capaz. As críticas devem ser construtivas,e não depreciativas!

O comportamento errado pode ser criticado, mas, nesse caso,deve fazer-se claramente a distinção entre este e a criança, ou seja,o que está mal é o comportamento e não a pessoa! Para além disso,durante a infância – e ao longo de toda a vida –, os elogios são umalimento para o ego. Assim, há que ter isto bem presente, devendo

AS EMOÇÕES TAMBÉM SE EDUCAM

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elogiar-se a criança pelas suas realizações, evitando, porém, qual-quer tipo de comparação, sobretudo entre os filhos, pois cada umpossui as suas próprias capacidades. A grande dificuldade consisteem encontrar um meio-termo para lidar com as crianças: nem super-proteger – evitando o sofrimento –, nem ser demasiado crítico.Os estudos demonstram claramente que a educação emocional sebaseia numa orientação parental adequada. A criança conseguiráaprender estratégias que lhe permitam enfrentar os stressores davida, tanto presente como futura, tornando-se um adulto emocio-nalmente estruturado.

Dentro de nós existe um mundo muito rico, pleno de emoções,

que se foi desenvolvendo de um modo natural ao longo de milhões

de anos de evolução. A sua função principal é a de servir como um

sofisticado e delicado sistema interno de orientação, que nos alerta

para quando as nossas necessidades não são preenchidas. Por exem-

plo, se alguém se sente só, vai experimentar uma emoção de tristeza.

Quando nos sentimos receosos, temos necessidade de segurança.

Para além disso, ajudam-nos a tomar decisões. Os estudos mostram

que, no caso de as conexões emocionais de uma pessoa estarem

danificadas, ela não consegue optar, por não sentir qualquer emoção

relativamente às suas escolhas.

Outro importante papel desempenhado pelas emoções é o de ajuste de

limites. Se aprendermos a confiar nas nossas emoções, estas constituirão

importantes ferramentas para nos ajudarem a ajustar os limites necessários

para proteger a nossa saúde física e mental. É também através das emoções

que podemos comunicar com os outros. As nossas expressões faciais, por

exemplo, podem demonstrar uma grande quantidade de emoções e fornecer

pista de como nos sentimos. Por tudo isto, fica claro que é muito importante

educar os filhos emocionalmente, pois só assim poderão eles sentir-se

perfeitamente integrados socialmente.

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Às vezes até nos espantamos com o talento de algumas crianças

para manipular os adultos. Elas fazem olhinhos de choro, queixam-se,

amuam… insistem até à exaustão com o propósito de “levar a água

ao seu moinho”. Certo é que o conseguem, pois acabam por vencer

os mais velhos pelo cansaço! “Porque é que a Joana pode ir e eu não?”,

“a Maria pode ficar a ver televisão até tarde, porque é que eu não

posso?”. As comparações são uma das técnicas mais comuns quando

falamos em manipulação.

Constata-se que todas as crianças começam desde cedo a tentar

controlar os pais. Pouco a pouco, apercebem-se de que algumas

estratégias são eficazes e não hesitam em utilizá-las. Um bebé con-

segue entender que, quando chora, é agarrado pela mãe; portanto,

vai fazê-lo repetidamente. Ninguém as ensina directamente, mas os

adultos acabam por lhes indicar o caminho.

Os mais velhinhos tentam encontrar os pontos fracos dos

adultos, que passam muitas vezes por manifestações de carinho

(abraços, beijos), e testam os limites dentro dos quais se podem mover.

Vão tacteando e, se não lhes forem impostas regras, continuam à

NÃO SE DEIXE MANIPULAR