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Psicanálise da Obra de Arte Contemporânea
É comummente reconhecido que os artistas são pessoas com uma grande sensibilidade, o que
lhes confere uma perspicácia invejável na forma como vêem, sentem e apreendem o mundo
que os rodeia.
E é justamente quando a sua capacidade ímpar de ler e ver o mundo se cruza com o seu sentir,
a sua imaginação e as técnicas que dominam que surge a Obra de Arte, que nos dá uma visão
transfigurada da realidade, ou seja, uma representação da realidade transformada pelo olhar e
sentir do artista.
Esta possibilidade de “mudar o real” e de dar a ver o mundo sob outras formas e perspectivas
fez com que a Arte assumisse, ao longo da História, várias funções sociais.
Mas não há dúvida que a Arte Contemporânea, com o “atrevimento”e “irreverência” que lhe
são próprios e com a forma como “se mete” e provoca as pessoas (na base de uma
proximidade que não lhes permita ficar indiferentes), se assume como um poderoso
instrumento de crítica e intervenção social.
E para ilustrar tudo isto, nada melhor do que o exemplo de Abrantes. Vejamos.
Recentemente, a Câmara Municipal, preocupada com a proximidade e não sabendo como
gastar o seu dinheiro – já que aos seus munícipes está assegurado um elevado nível de vida –
pagou 68.080 € a um grupo de criativos (Creative Camp) para que estes, à semelhança do
que haviam feito em Vila Nova de Cerveira no ano passado (mas por apenas 11.000€!!)
realizassem, pela cidade, umas produções artísticas que a elevassem e a tornassem
turisticamente mais atractiva, e que contribuíssem também para deleitar aqueles que as
contemplassem!
Mas a falta de esclarecimento e de conhecimento relativamente a estas questões da Arte, por
parte de quem contratou o referido grupo, veio a tornar-se num problema: é que aquilo que, à
partida, deveria ser um mero embelezamento da cidade, tornou-se num relatório cirúrgico
sobre a situação que se vive no Município.
Todavia, importa, antes de mais, esclarecer em que consiste o mencionado desconhecimento:
- primeiro, o não saber que os artistas são muito perspicazes e que, com alguma rapidez,
chegam à essência das questões;
- segundo, o não perceber que a Arte é uma forma transfigurada (pelos olhos e sensibilidade
do artista) de representar a realidade;
- finalmente, o desconhecimento de que a Arte Contemporânea, na sua lógica de
proximidade às pessoas, com o objectivo de as fazer pensar, reflectir, questionar-se e ajudar a
compreender o mundo que as rodeia através de uma atitude crítica, poderia vir “pôr a nu” a
real situação que se vive no Concelho de Abrantes.
Centremo-nos agora nas conclusões que este sábio e atento relatório artístico pretendeu tornar
públicas:
PRIMEIRA: O Município tem uma Presidente vaporosa e sempre com ar leve e
esvoaçante, que tudo faz para ser o centro das atenções. (cfr. produção realizada na torre
de Abrantes, o ponto mais alto da cidade e avistável a larga distância);
SEGUNDA: A lógica que preside à acção da CMAbrantes e dos seus responsáveis é uma
lógica tentacular, que age em todas as direcções (num ângulo de 360º), assente no
controlo das pessoas, como bem ilustra o polvo – normalmente associado à Máfia
italiana. (cfr. produção realizada na parede traseira do antigo quartel dos Bombeiros
Municipais, no Largo de Sant’Ana)
TERCEIRA: Abrantes está esvaziada e à beira do abismo. Esvaziada de pessoas (só na
última década o número de habitantes reduziu em 3000) mas também de valores e princípios
éticos. Relativamente a este ponto atentemos na seguinte questão: A que porta vão bater os
empresários de idoneidade duvidosa quando querem propor projectos megalómanos e
notoriamente inexequíveis, que só servem para aumentar o buraco financeiro que todos nós
temos que pagar??! Cite-se, a título de exemplo, o Projecto RPP SOLAR que nos deixou com
1.000.000 € à perna!
E o alerta do supra citado relatório artístico é claro: se continuarmos neste caminho corremos
o risco de ficarmos sem nada, incluindo as roupas!!! (cfr. produção realizada nas vazias
piscinas municipais)
Recomendações Finais deste Relatório Artístico:
Em todos os órgãos de poder, com particular relevo para as Autarquias, as comissões de
avaliação e fiscalização devem ser constituídas por artistas (especialmente artistas
plásticos da linha Contemporânea) para que todos possam ver e perceber claramente as
conclusões dos processos de controlo.
Esta medida deverá ser acompanhada de uma outra: deverá ser introduzida no
Currículo do Ensino Básico, a partir do 7º ano de escolaridade, uma nova unidade
curricular: Psicanálise da Obra de Arte.
NB.: No debate realizado na passada Terça-feira, no Teatro de São Pedro, em Abrantes, a
candidata do Partido Socialista e actual presidente do município abrantino, Maria do Céu
Albuquerque, disse, peremptoriamente, que se for eleita no acto eleitoral do próximo dia 29,
este evento criativo passará a ser uma presença obrigatória na cidade de Abrantes, realizando-
se todos os anos!! Defendeu a sua posição afirmando tratar-se de um acontecimento
formidável para desenvolver a criatividade, pois a criatividade é muito importante e estes
acontecimentos são fundamentais para a criatividade, porque a criatividade…
ENFIM… QUEM TRATA ESTES ASSUNTOS COM SERIEDADE SABE QUE NÃO É
DESTA FORMA QUE A CRIATIVIDADE SE DESENVOLVE!!!
Mas atenção munícipes do Concelho!: se a realização do evento, no espaço de um ano, teve
um acréscimo de cerca de 58.000€, imaginem quanto iremos pagar daqui a 4 anos, no caso da
actual presidente ser reeleita!!!