108
Matem ´ atica Parte I: ´ Algebra Linear Lu´ ısa Morgado Lic. em Enologia 2009/2010 Lu´ ısa Morgado ´ Algebra Linear

cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

MatematicaParte I: Algebra Linear

Luısa Morgado

Lic. em Enologia 2009/2010

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 2: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Na Fısica aparecem frequentemente grandezas, tais como atemperatura e a pressao, que possuem apenas magnitude.Estas podem ser representadas por numeros reais e saochamadas grandezas escalares. Mas outro tipo degrandezas, tais como a forca e a velocidade, alem damagnitude tem tambem uma direccao a elas associada. Estaspodem ser representadas por vectores (tendo direccao ecomprimentos apropriados, partindo de um ponto de referenciaO) e sao as chamadas grandezas vectoriais.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 3: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Adicao de vectores: A soma dedois vectores u e v e obtida pelalei do paralelogramo, i.e. u + v e adiagonal do paralelogramoformado por u e v

u

v

u�v

O

Multiplicacao de um vector porum escalar: O produto de um realk por um vector u e obtidomultiplicando a magnitude de u pork , mantendo o mesmo sentido sek ≥ 0 ou o sentido oposto se k < 0

u 3u�2u O

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 4: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Se a origem dos eixos e escolhida no ponto de referencia O,entao cada vector e univocamente determinado pelascoordenadas da sua extremidade.Assim, se (a,b) e (c,d) sao as extremidades dos vectores u ev , respectivamente, e k e um escalar, entao

(a + c,b + d) sera a extremidade de u + v ;(ka, kb) sera a extremidade do vector ku.

Matematicamente, identificamos um vector com a suaextremidade, i.e, chamamos ao par ordenado de numeros reais(a,b) um vector. Mais ainda, generalizamos esta nocao echamaremos a n-upla de numeros reais (a1,a2, . . . ,an) umvector de Rn.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 5: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Seja u = (u1,u2, . . . ,un) um ponto ou um vector de Rn.

Aos numeros reais ui , i = 1, . . . ,n chamamos componentesou coordenadas do vector u.

ExemploConsideremos os seguintes vectores

(−1,1), (4,√

2,0) (0, π,12,0,5).

O numero de componentes de cada um destes vectores e 2, 3e 5, respectivamente, pelo que o primeiro e um elemento deR2, o segundo de R3 e o ultimo de R5

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 6: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Dois vectores sao iguais se tem o mesmo numero decomponentes e se as correspondentes componentes saoiguais.Os vectores u = (0,1,2) e v = (0,2,1) nao sao iguais poisu2 = 1 6= v2 = 2.

Exemplo

Sendo u = (x − y , x + y , z − 1) e v = (4,2,3) dois vectores deR3, determinemos x, y e z de modo a que u = v.Por definicao de igualdade de vectores,

x − y = 4x + y = 2z − 1 = 3

Resolvendo o sistema acima, obtemos x = 3, y = −1 e z = 4.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 7: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Adicao de vectores e multiplicacao por um escalar emRn

Sejam u = (u1,u2, . . . ,un) e v = (v1, v2, . . . , vn) dois vectoresde Rn e k um numero real.

A soma de u e v , u + v , e o vector de Rn obtido pela adicaodas componentes respectivas:

u + v = (u1 + v1,u2 + v2, . . . ,un + vn)

A multiplicacao de k por u , ku, e o vector de Rn obtido multi-plicando cada componente de u por k :

ku = (ku1, ku2, . . . , kun)

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 8: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

Sejam u = (2,−1,0), v = (3,5,−2) dois vectores de R3.

2u − 3v = 2u + (−3)v = 2(2,−1,0) + (−3)(3,5,−2)

= (2× 2,2× (−1),2× 0) + (−3× 3,−3× 5,−3× (−2))

= (4,−2,0) + (−9,−15,6) = (−5,−17,6)

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 9: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Sejam u, v e w quaisquer tres vectores de Rn e k1, k2 doisnumeros reais. Entao

(i) (u + v) + w = u + (v + w) (v) k1(u + v) = k1u + k2v(ii) u + 0 = u (vi) (k1 + k2)u = k1u + k2u(iii) u + (−u) = 0 (vii) (k1k2)u = k1(k2u)(iv) u + v = v + u (viii) 1u = u

onde 0 = (0,0, . . . ,0︸ ︷︷ ︸n×

) e o vector nulo (ou zero) e 1 =

(1,1, . . . ,1︸ ︷︷ ︸n×

).

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 10: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Produto interno

Sejam u = (u1,u2, . . . ,un) e v = (v1, v2, . . . , vn) dois vectoresde Rn.

O produto interno (ou produto escalar) de u e v , u ·v , e o es-calar obtido multiplicando as componentes correspondentese somando os resultados obtidos:

u · v = u1v1 + u2v2 + . . .+ unvn

ku = (ku1, ku2, . . . , kun)

Dois vectores u e v dizem-se ortogonais (ouperpendiculares), u⊥v , se o seu produto interno e zero.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 11: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

Sejam u = (1,2), v = (−3,0) e w = (−2,1).u · v = 1× (−3) + 2× 0 = −3u · w = 1× (−2) + 2× 1 = 0

e assim os vectores u e w sao ortogonais.

u

v

w

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 12: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Para quaisquer vectores u, v ,w ∈ Rn e qualquer es-calar k ∈ R:

(i) (u + v) · w = u · w + v · w ;(ii) (ku) · v = k(u · v);(iii) u · v = v · u;(iv) u · u ≥ 0 e u · u = 0 se e so se u = 0.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 13: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Norma e distancia em Rn

Dados dois vectores de Rn, u = (u1,u2, . . . ,un) ev = (v1, v2, . . . , vn):

A distancia entre os pontos u e v , representa-se por d(u, v),e e definida por

d(u, v) =√

(u1 − v1)2 + (u2 − v2)2 + . . . (un − vn)2

A norma (ou o comprimento) do vector u denota-se por ‖u‖,e e definida por

‖u‖ =√

u · u =√

u21 + u2

2 + . . . u2n

Note que d(u, v) = ‖u − v‖.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 14: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

�����������������

�2 � �

2

���

���

��,�����������������������������������������

�� ���2 ��� �

��2��,��

��,��

Exemplo

Sejam u = (2,3) e v = (1,0).d(u, v) =

√(2− 1)2 + (3− 0)2 =

√10;

‖u‖ =√

22 + 32 =√

13;‖v‖ =

√12 + 02 = 1. Sempre que tal acontece, i.e.,

sempre que um vector tem norma 1, chamamos a essevector, vector unitario.

Note que dado um vector nao nulo de Rn, o vector u‖u‖ e um

vector unitario com a mesma direccao e sentido de u.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 15: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

(Desigualdade de Cauchy-Schwarz)Para quaisquer vectores u, v ∈ Rn

|u · v | ≤ ‖u‖‖v‖.

(Desigualdade triangular)Para quaisquer vectores u, v ∈ Rn

‖u + v‖ ≤ ‖u‖+ ‖v‖.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 16: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Angulo entre dois vectores

Dados dois vectores nao nulos u = (u1,u2, . . . ,un) ev = (v1, v2, . . . , vn), o angulo θ entre u e v e definido pelaigualdade

cos θ =u · v‖u‖‖v‖

.

Note que, se u · v = 0, entao θ = π2 , o que esta de acordo com

a definicao previa de ortogonalidade.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 17: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Em R a equacao x2 + 1 = 0 e impossıvel. Introduzindo aunidade imaginaria i , que e tal que i =

√−1 ou i2 = −1,

aquela equacao passa a ter solucao pois

x2 + 1 = 0⇔ x = ±√−1⇔ x = ±i

Ao conjunto

C = {z : a + bi ,a,b ∈ R ∧ i2 = −1}

chama-se conjunto dos numeros complexos.a a chama-se parte real do numero complexo, a = Re(z);a b chama-se parte imaginaria do numero complexo,b = Im(z).

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 18: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Imaginarios puros: z = bi , onde b ∈ R \ {0}Reais puros: z = a, a ∈ R.

Note que o conjunto dos reais puros e da forma{z ∈ C : z = a,a ∈ R} = {z ∈ C : z = a + 0i} e portantoidentifica-se com R; por tal, dizemos que R ⊂ C.

Adicao em C: (a + bi) + (c + di) = (a + c) + (b + d)iMultiplicacao em C: (a + bi) · (c + di) = (ac− bd) + (ad + bc)iIgualdade em C: (a + bi) = (c + di)⇔ a = c ∧ b = dConjugado de z = a + bi , z: z = a− biInverso de z = a + bi 6= 0, z−1: z−1 = z

zz = aa2+b2 + −b

a2+b2 iDivisao em C: w

z = wz−1, z 6= 0Valor absoluto de z = a + bi , |z|: |z| =

√a2 + b2

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 19: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Assim, como os numeros reaispodem ser representados porpontos numa recta, os numeroscomplexos podem serrepresentados por pontos doplano. Mais precisamente, o ponto(a,b) do plano representa onumero complexo z = a + bi . Ovalor absoluto de z e definidocomo sendo a distancia de z aorigem.

���

������

Note que |z| e igual a norma do vector (a,b).

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 20: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Adicao de vectores e multiplicacao por um escalar emCn

Definimos o conjunto

Cn = {(z1, z2, . . . , zn) : zi ∈ C, i = 1,2, . . . ,n}Tal como no caso real, aos elementos de Cn chamamos pontos(ou vectores) e aos elementos de C chamamos escalares.

A soma de z = (z1, z2, . . . , zn) e w = (w1,w2, . . . ,wn), u + w ,e o vector de Cn obtido pela adicao das componentes respec-tivas:

z + w = (z1 + w1, z2 + w2, . . . , zn + wn)

A multiplicacao do escalar λ por z , λz, e o vector de Cn

obtido multiplicando cada componente de z por λ:

λz = (λz1, λz2, . . . , λzn)

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 21: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Produto interno e norma em Cn

Sendo z = (z1, z2, . . . , zn) e w = (w1,w2, . . . ,wn) dois vectoresde Cn.

O produto interno (ou produto escalar) de z e w , u · v , edefinido por:

z · w = z1w1 + z2w2 + . . .+ znwn.

A norma de z e definida por:

‖z‖ =√

zz =√

z1z1 + z2z2 + . . .+ znzn =√|z2

1 |+ |z22 | . . . |z2

n |

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 22: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

Sejam z = (2 + 3i ,4− i ,2i) e w = (3− 2i ,5,4− 6i) doisvectores de R3.

z · w = (2 + 3i)(3− 2i) + (4− i)(5) + (2i)(4− 6i)= (2 + 3i)(3 + 2i) + (4− i)(5) + (2i)(4 + 6i)= 13i + 20− 5i − 12 + 8i = 8 + 16i

z · z = (2 + 3i)(2 + 3i) + (4− i)(4− i) + (2i)(2i)= (2 + 3i)(2− 3i) + (4− i)(4 + i) + (2i)(−2i)= 13 + 17 + 4 = 34

‖z‖ =√

zz =√

34

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 23: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Definicao de corpo

Seja K um conjunto munido de duas operacoes: de adicao (+)e de multiplicacao (×). O terno (K,+,×) diz-se um corpo sse

∀x , y ∈ K ∃1z ∈ K: z = x + y ;∀x , y , z ∈ K: (x + y) + z = x + (y + z);∀x , y ∈ K: x + y = y + x ;∃0 ∈ K ∀x ∈ K: x + 0 = 0 + x = x ;∀x ∈ K ∃x ′ ∈ K: x + x ′ = x ′ + x = 0;∀x , y ∈ K ∃1z ∈ K: z = x × y ;∀x , y , z ∈ K: (x × y)× z = x × (y × z);∀x , y ∈ K: x × y = y × x ;∃1 ∈ K\{0} ∀x ∈ K: 1× x = x × 1 = x ;∀x ∈ K\{0} ∃x−1 ∈ K: x × x−1 = x−1 × x = 1;∀x , y , z ∈ K: x × (y + z) = x × y + x × z.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 24: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

(i) (R,+,×) e (C,+,×), onde + e × sao asoperacoes de adicao e multiplicacao usuais em Re C, respectivamente, sao corpos.

(ii) (Z2,+,×) onde Z2 = {0,1} e as operacoes deadicao e multiplicacao sao definidas por

0 + 1 = 1 + 0 = 1, 0 + 0 = 1 + 1 = 0,0× 0 = 0× 1 = 1× 0 = 0, 1× 1 = 1.

e um corpo.

Daqui em diante, sempre que falarmos de um corpo Kestaremos a referir-nos a um dos corpos do exemplo (i).

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 25: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Definicao de espaco vectorial sobre um corpo

Seja E um conjunto nao vazio e (K,+,×) um corpo. Defina-seem E uma operacao binaria (fechada), ⊕, e uma operacao demultiplicacao de elementos do corpo K por elementos de E , ⊗,e cujo resultado esta em E .Dizemos que (E ,⊕,⊗) e um espaco vectorial (ou linear) sobreo corpo K sse

∀x , y ∈ E ∃1z ∈ E : z = x ⊕ y ;∀x , y , z ∈ E : (x ⊕ y)⊕ z = x ⊕ (y ⊕ z);∀x , y ∈ E : x ⊕ y = y ⊕ x ;∃0E ∈ E ∀x ∈ E : x ⊕ 0E = 0E ⊕ x = x ;∀x ∈ E ∃x ′ ∈ E : x ⊕ x ′ = x ′ ⊕ x = 0E ;∀λ ∈ K ∀x ∈ E ∃1y ∈ E : y = λ⊗ x ;∀λ ∈ K ∀x , y ∈ E : λ⊗ (x ⊕ y) = (λ⊗ x)⊕ (λ⊗ y);∀λ, µ ∈ K ∀x ∈ E : (λ+ µ)⊗ x = (λ⊗ x)⊕ (µ⊗ x);∀λ, µ ∈ K ∀x ∈ E : (λ× µ)⊗ x = λ⊗ (µ⊗ x);∀x ∈ E : 1K ⊗ x = x .

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 26: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Quando K = R→ espaco vectorial realQuando K = C→ espaco vectorial complexo

Exemplo1 Rn com as operacoes de adicao e multiplicacao por um

real usuais (definidas atras) e um espaco vectorial real2 Cn com as operacoes de adicao e multiplicacao por um

real usuais (definidas atras) e um espaco vectorialcomplexo.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 27: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Subespacos vectoriais

Seja (E ,⊕,⊗) um espaco vectorial sobre um corpo (K,+,×).Diz-se que (S,⊕,⊗) e um subespaco vectorial de (E ,⊕,⊗)sse S ⊆ E e (S,⊕,⊗) e um espaco vectorial sobre (K,+,×).

Exemplo

O conjunto A = {(x , y , z) ∈ R3 : z = 0} munido dasoperacoes de adicao e multiplicacao por um escalarusuais, e um subespaco vectorial de R3;Dado um espaco vectorial E sobre um corpo K, o conjunto{0E} e um subespaco vectorial de E.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 28: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Um subconjunto S de um espaco vectorial E sobre umcorpo K e um subespaco vectorial de E sse

(i) S 6= ∅;(ii) ∀x , y ∈ S: x + y ∈ S;(iii) ∀λ ∈ K, ∀x ∈ S: λx ∈ S.

As propriedades (ii) e (iii) poderiam agrupar-se em apenasuma:

∀λ, µ ∈ K, ∀x , y ∈ S : λx + µy ∈ S

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 29: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

Mostremos que o conjunto A = {(x , y , z) ∈ R3 : z = 0} munidodas operacoes de adicao e multiplicacao por um escalarusuais, e um subespaco vectorial real de R3.

(i) A 6= ∅ uma vez que (0,0,0) ∈ A;(ii) Sejam x = (x1, x2,0) e y = (y1, y2,0) dois

quaisquer elementos de A. Entao

x + y = (x1 + y1, x2 + y2,0)

e portanto x + y ∈ A;(iii) Para qualquer λ ∈ R e qualquer

x = (x1, x2,0) ∈ A,

λx = (λx1, λx2,0)

donde λx ∈ A.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 30: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

De acordo com o teorema anterior, podemos concluir que

S e subespaco vectorial de E ⇒ 0E ∈ S

donde

0E /∈ S ⇒ S nao e subespaco vectorial de E

Exemplo

O conjunto S = {(x , y) ∈ R2 : x + y = 2} nao e um subespacovectorial de R2 uma vez que 0R2 = (0,0) /∈ S.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 31: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Combinacoes lineares

Seja E um espaco vectorial sobre um corpo K e sejamu1,u2, . . . ,un ∈ E .Qualquer vector u ∈ E da forma

u = α1u1 + α2u2 + . . .+ αnun,

onde αi ∈ K, i = 1,2, . . . ,n e chamado combinacao linear deu1,u2, . . . ,un.

Exemplo

O vector (2,4) ∈ R2 pode ser escrito como combinacao lineardos vectores (1,0) e (0,1), uma vez que

(2,4) = 2(1,0) + 4(0,1)

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 32: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Dependencia e independencia linear

Seja E um espaco vectorial sobre um corpo K. Diz-se que osvectores u1,u2, . . . ,un ∈ E sao linearmente dependentes seexistem escalares α1, α2, . . . , αn ∈ K nao todos nulos tais que

α1u1 + α2u2 + . . .+ αnun = 0.

Caso contrario, dizem-se linearmente independentes.Seα1u1 + α2u2 + . . .+ αnun = 0⇒ α1 = α2 = . . . = αn = 0,os vectores u1,u2, . . . ,un sao linearmente independentes;Se um dos vectores uj e zero, entao os vectores ui ,i = 1, . . . ,n sao linearmente dependentes, pois

0u1 + . . .+ 1uj + . . .+ 0un = 0

e αj = 1 6= 0;Qualquer vector nao nulo u e por si so linearmenteindependente pois αu = 0⇒ α = 0.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 33: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo1 (1,2) e (0,3) sao linearmente independentes

α(1,2) + β(0,3) = (0,0)⇔ (α,2α + 3β) = (0,0)

⇒{α = 02α + 3β = 0

⇔{α = 0β = 0

2 u = (1,−1,0) e v = (1,3,−1) e w = (5,3,−2) saolinearmente dependentes

α(1,−1,0) + β(1,3,−1) + γ(5,3,−2) = (0,0,0)

α + β + 5γ = 0−α + 3β + 3γ = 0−β − 2γ = 0

α = −3γβ = −2γγ qualquer

Com, p.e., γ = 1, β = −3 e α = −2, temos−3u − 2v + w = 0.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 34: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Sistemas de geradores de um espaco vectorial

Seja S = {v1, v2, . . . , vn} um conjunto de vectores de umespaco vectorial E sobre um corpo K.O conjunto de todas as combinacoes lineares de elementos deS designa-se por subespaco gerado por S e representa-sepor 〈S〉 ou por 〈v1, v2, . . . , vn〉.

〈S〉 e um subespaco vectorial de E ;〈S〉 e o menor subespaco que contem S;Por convencao, se S = ∅ entao 〈S〉 = {0}.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 35: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

Sejam S1 = {(1,1,3), (0,1,1), (1,2,4)} eS2 = {(1,0,2), (0,1,1)}. Determinemos o subespaco geradopor S1 e S2.O subespaco gerado por S1 e formado por vectores da forma

(x , y , z) = α(1,1,3) + β(0,1,1) + γ(1,2,4)

= (α + γ, α + β + 2γ, 3α + β + 4γ︸ ︷︷ ︸2(α+γ)+(α+β+2γ)

)

e portanto 〈S1〉 = {(x , y , z) ∈ R3 : z = 2x + y}.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 36: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

O subespaco gerado por S2 e constituıdo por vectores daforma

(x , y , z) = α(1,0,2) + β(0,1,1) = (α, β,2α + β)

e portanto 〈S2〉 = {(x , y , z) ∈ R3 : z = 2x + y} = 〈S1〉.

Tal como este exemplo mostra, geralmente um espaco temmais do que um sistema de geradores.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 37: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Base e dimensao de um espaco vectorial

Base de um espaco vectorial e qualquer sistema de ger-adores do espaco, cujos elementos sejam linearmente inde-pendentes.

Exemplo

{(1,0), (1,−1)} e uma base de R2;O conjunto

Bc = {(1,0, . . . ,0), (0,1,0, . . . ,0), . . . , (0, . . . ,0,1)}

e uma base do espaco vectorial Rn e chama-se basecanonica.

Dimensao de um espaco vectorial E e o numero de elemen-tos de uma base de E e denota-se por dimE .

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 38: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Seja E um espaco vectorialTodas as bases de E tem o mesmo numero de elementos;

Mais, se dimE = n, entaoQualquer conjunto de n vectores linearmenteindependentes de E constitui uma base de E ;Qualquer conjunto de n vectores que gera E e uma basede E ;Qualquer conjunto de n + 1 vectores e linearmentedependente;Sendo B = {b1,b2, . . . ,bn} uma base, entao qualquerelemento de E se escreve de modo unico comocombinacao linear dos elementos de B.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 39: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Seja B = {b1,b2, . . . ,bn} uma base de um espaco vectorialE , v = α1b1 + α2b2 + . . . + αnbn um elemento de E . Aos αi ,i = 1,2, . . . ,n, chamam-se coordenadas de v na base B eescreve-se (α1, α2, . . . , αn)B.

Exemplo

Determinemos as coordenadas do ponto (8,5) na basecanonica.A base canonica de R2 e

Bc = {(1,0), (0,1)}.

Como(8,5) = 8(1,0) + 5(0,1),

podemos entao escrever

(8,5) = (8,5)Bc

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 40: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Definicao de matriz

A uma entidade do tipo

A =

a11 a12 · · · a1na21 a22 · · · a2n

......

. . ....

am1 am2 · · · amn

onde cada aij ∈ K, i = 1,2, . . . ,m, j = 1,2, . . . ,n, da-se o nomede matriz de m linhas e n colunas (ou matriz m × n) comelementos em K.E comum representar-se a matriz A por

(aij)

i=1,2,...,m;j=1,2,...,n,onde aij e o elemento do corpo K que na matriz A ocupa aposicao na linha i e na coluna j .O conjunto de todas as matrizes de m linhas e n colunas comelementos (ou entradas) em K denota-se porMm,n(K).

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 41: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

ExemploA matriz

A =

(1 0 2−1 4 3

)e uma matriz deM2,3(R), onde

a11 = 1, a12 = 0, a13 = 2, a21 = −1, a22 = 4, a23 = 3.

No caso em que K = R a matriz diz-se real (que e o caso damatriz acima) e no caso K = C a matriz diz-se complexa.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 42: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Quando:m = 1, a matriz da-se o nome de matriz (ou vector) linha;n = 1, a matriz da-se o nome de matriz (ou vector) coluna;m = n, a matriz diz-se quadrada. Representa-se porMn(K) o conjunto de todas as matrizes quadradas n × n(ou de ordem n), com entradas no corpo K.

Exemplo(−1 2 3

)=⇒ matriz linha(

10

)=⇒ matriz coluna(

1 2−2 −1

)=⇒ matriz quadrada de ordem 2

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 43: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Seja A ∈Mn(K). A diz-se uma matriz:

triangular superior se aij = 0 para i > j ; e.g.:

2 −2 30 3 40 0 −2

triangular inferior se aij = 0 para i < j ; e.g.:

(2 0−1 3

)

diagonal se aij = 0 para i 6= j ; e.g.:

1 0 00 3 00 0 −2

escalar se for diagonal e aii = α, α ∈ K; e.g.:

(3 00 3

)

identidade se aii = 1 e aij = 0 para i 6= j ; e.g.:

1 0 00 1 00 0 1

nula se aij = 0, ∀i, j ∈ {1, 2, . . . , n}; e.g.:

(0 00 0

)E costume representar-se a matriz identidade de ordem n porIn ou simplesmente, I.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 44: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Sendo A uma matriz quadrada de ordem n. Os elementos aiiconstituem a diagonal principal e os elementosan1,a(n−1) 1, . . . ,a1n constituem a diagonal secundaria.

Exemplo

A =

1 3 −14 0 06 2 5

A vermelho esta representada a diagonal principal

A =

1 3 −14 0 06 2 5

A amarelo esta representada a diagonal secundaria

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 45: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Igualdade emMm,n(K)

Diz-se que duas matrizes A =(aij)

e B =(bij)

sao iguais sseforem da mesma ordem e aij = bij .

Exemplo

As matrizes A =

(2 00 2

)e B =

(bij): bij =

{2, i = j0, i 6= j

,

sao iguais;

As matrizes I2 =

(1 00 1

)e I3 =

1 0 00 1 00 0 1

nao sao

iguais pois nao sao o mesmo tipo, uma vez que I2 e umamatriz 2× 2 e I3 e uma matriz 3× 3.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 46: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Adicao emMm,n(K)

Dadas duas matrizes de Mm,n(K): A =(aij)

e B =(bij)

asua soma e definida por

A + B =(aij)

+(bij)

=(aij + bij

).

Exemplo

A =

2 1 30 −2 20 10 4

, B =

3 4 06 −9 1−1 3 0

,

A + B =

2 + 3 1 + 4 3 + 00 + 6 −2− 9 2 + 10− 1 10 + 3 4 + 0

=

5 5 36 −11 3−1 13 4

.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 47: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Multiplicacao de um escalar por uma matriz

Seja A =(aij)∈ Mm,n(K) uma matriz e λ ∈ K um escalar.

Define-se a multiplicacao de λ por A por

λA = λ(aij)

=(λaij).

Exemplo

2

−1 00 34 5

=

2× (−1) 2× (0)2× (0) 2× (3)2× (4) 2× (5)

=

−2 00 68 10

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 48: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Com as operacoes de soma, (+), de matrizes e demultiplicacao de uma matriz por um escalar, (·) assimdefinidas, o terno (Mm,n(K),+, ·) e um espaco vecto-rial sobre K de dimensao m × n.

Exemplo

O conjunto

B =

{(1 00 0

),

(0 10 0

),

(0 01 0

),

(0 00 1

)}constitui uma base deM2,2(R), pois

α

(1 00 0

)+ β

(0 10 0

)+ γ

(0 01 0

)+ δ

(0 00 1

)=

(0 00 0

)⇔(

α βγ δ

)=

(0 00 0

)⇔ α = β = γ = δ = 0,

ou seja, os elementos de B sao linearmente independentes;

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 49: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Por outro lado, qualquer matriz(

a bc d

)deM2,2(R) pode ser escrita como

combinacao linear de elementos de B:(a bc d

)= a

(1 00 0

)+ b

(0 10 0

)+ c

(0 01 0

)+ d

(0 00 1

),

i.e., B e um conjunto gerador deM2,2(R).

�Mostre que o conjunto das matrizes diagonais de ordem n e um subespaco vectorialde

Mn(R)

de dimensao n.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 50: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Multiplicacao de matrizes

Sejam A =(aij)∈ Mm,n(K) e B =

(bij)∈ Mn,p(K). Define-

se o produto de A por B com sendo a matriz:

AB =(cij)∈Mm,p(K),

onde

cij = ai1b1j +ai2b2j +. . .+ainbnj , i = 1, . . . ,m, j = 1, . . . ,p.

Exemplo (1 0 32 −1 1

1 0 10 1 0−1 2 0

=

=

(1× 1 + 0× 0 + 3× (−1) 1× 0 + 0× 1 + 3× 2 1× 1 + 0× 0 + 3× 02× 1− 1× 0 + 1× (−1) 2× 0− 1× 1 + 1× 2 2× 1− 1× 0 + 1× 0

)=

=

(−2 6 11 1 2

)

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 51: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Note que nem sempre e possıvel o produto de duas matrizes eportanto podemos concluir que, geralmente, o produto dematrizes nao e comutativo.

Duas matrizes A e B dizem-se permutaveis sse AB = BA.

Sejam A,A′ ∈Mm,n(K), B,B′ ∈Mn,p(K) e C,C′ ∈Mp,q(K).Entao:

(i) (AB)C = A(BC);(ii) (A + A′)B = AB + A′B;(iii) A(B + B′) = AB + AB′;(iv) ImA = A = AIn;(v) ∀λ ∈ K, λ(AB) = (λA)B = A(λB).

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 52: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Transposta de uma matriz

Seja A ∈ Mm,n(K). A matriz transposta de A e a matrizB ∈ Mn,m(K) cuja coluna i e a linha j da matriz A, i.e., seA =

(aij), entao B =

(aji). Normalmente utiliza-se AT para

denotar a transposta de A.

Exemplo

Sendo A =

(1 2 34 5 6

), AT =

1 42 53 6

.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 53: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Matrizes simetricas e hemi-simetricas

Uma matriz A ∈ Mn(K) diz-se simetrica sse AT = A ⇔(aij)

=(aji), i.e., os elementos colocados em posicao

simetrica face a diagonal principal sao iguais.No caso em que AT = −A ⇔

(aij)

= −(aji), a matriz diz-se

hemi-simetrica.

Exemplo

A =

1 −1 4−1 2 54 5 3

e uma matriz simetrica.

B =

0 −1 41 0 5−4 −5 0

e uma matriz hemi-simetrica.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 54: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Sejam A e B duas matrizes para as quais estao definidas assuas somas e produtos. Entao

(A + B)T = AT + BT ;(AB)T = BT AT ;(AT )T

= A;(λA)T = λAT , λ ∈ K.

�Sejam A e B duas matrizes simetricas. Mostre queAB e simetrica⇔ AB = BA.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 55: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Matriz conjugada

Seja A ∈ Mm,n(C). Define-se matriz conjugada de A, edenota-se por A, como sendo a matriz cujas entradas sao osconjugados das entradas da matriz A, i.e., se A =

(aij), entao

A =(aij).

Exemplo

Sendo A =

(1 −i 2 + i

4− i 2 0

), entao

A =

(1 −i 2 + i

4− i 2 0

)=

(1 i 2− i

4 + i 2 0

).

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 56: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Sejam A e B duas matrizes para as quais estao definidas assuas operacoes de soma e produto. Entao:

A + B = A + B;AB = AB;

A = A;λA = λA, λ ∈ K.

�Sendo A ∈Mm,n(C), prove que A e uma matriz real sseA = A.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 57: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Matriz transconjugada

Seja A ∈ Mm,n(C). Define-se matriz transconjugada de A,e denota-se por A∗, como sendo a matriz cuja entrada (ij) eo conjugado da entrada (ji) de A, i.e., se A =

(aij), entao

A∗ = AT =(aji).

Exemplo

Sendo A =

(1 −i 2 + i

4− i 2 0

), entao

A =

(1 i 2− i

4 + i 2 0

)e

A∗ = AT =

1 4 + ii 2

2− i 0

.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 58: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Sejam A e B duas matrizes para as quais estao definidas assuas operacoes de soma e produto.

(A∗)∗ = A;(A + B)∗ = A∗ + B∗;(AB)∗ = B∗A∗;(λA)∗ = λA∗, λ ∈ K.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 59: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Matrizes hermıticas e semi-hermıticas

Uma matriz A ∈Mn(K) diz-se hermıtica sse A∗ = A.No caso em que A∗ = −A, a matriz diz-se hemi-hermıtica.

Exemplo

A =

1 2− i i2 + i 0 0−i 0 3

e uma matriz hermıtica pois

A∗ =(

A)T

1 2 + i −i2− i 0 0

i 0 3

T

=

1 2− i i2 + i 0 0−i 0 3

= A

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 60: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Seja B = {v1, v2, . . . , vn} um conjunto de vectores de umespaco vectorial E , de dimensao finita, sobtre um corpo K.Define-se a caracteristica de B e denota-se por r(B) comosendo o numero maximo de vectores linearmenteindependentes.

Exemplo

Sendo B = {( 1,0,0), (0,1,0), (1,1,0)}, temos r(B) = 2 umavez que

(1,1,0) = (1,0,0) + (0,1,0),

e os dois primeiros vectores de B sao linearmenteindependentes (fazem parte da base canonica de R3).

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 61: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Seja A ∈Mm,n(K).Caracterıstica-linha da matriz A, rL(A), e acaracterıstica do conjunto das suas linhas{L1,L2, . . . ,Lm} encaradas como vectores de Kn;Caracterıstica-coluna da matriz A, rC(A), e acaracterıstica do conjunto das suas colunas{C1,C2, . . . ,Cn} encaradas como vectores de Km.

Exemplo

Seja In a matriz identidade de ordem n deMn(K).O conjunto das suas linhas e igual ao conjunto das suascolunas, que por sua vez e igual a base canonica de Rn. Entao

rL(In) = rC(In) = n.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 62: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Veremos adiante que:

Toda a matriz nao nula deMm,n(K) pode ser transformadanuma outra matriz da forma

A′ =

(Ir 00 0

),

de tal modo que a caracterıstica linha (ou coluna) da matriznao se altera.

Assim rL(A) = rC(A) = r e podemos entao definir

A caracterıstica de uma matriz e a caracterıstica do conjuntodas suas filas (linhas ou colunas).

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 63: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Operacoes elementares sobre as linhas (ou colunas)de uma matriz

Ha tres tipos de operacoes que permitem transformar a matriznuma da forma descrita no slide anterior (condensacao damatriz):

Troca de filas paralelas (fi ↔ fj );Multiplicacao de uma fila por um escalar nao nulo(fi ← λfj );Adicao a uma fila de uma outra paralela multiplicada porum escalar (fi ← fi + λfj ).

�Mostre que as operacoes elementares nao alteram acaracterıstica da matriz.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 64: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

A =

1 1 0 21 0 1 12 1 1 3

−→L2 ← L2 − L1L3 ← L3 − 2L1

1 1 0 20 −1 1 −10 −1 1 −1

−→L3 ← L3 − L2 1 1 0 2

0 −1 1 −10 0 0 0

−→L1 ← L1 + L2

1 0 1 10 −1 1 −10 0 0 0

−→L2 ← −L2 1 0 1 1

0 1 −1 10 0 0 0

−→C3 ← C3 − C1C4 ← C4 − C1

1 0 0 00 1 −1 10 0 0 0

−→

C3 ← C3 + C2C4 ← C4 − C2

1 00 1 0

0 0

= A′

Logo r(A) = 2.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 65: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Metodo de GaussDada uma matriz A =

(aij)∈Mm,n(K), cuja entrada a11 6= 0 (caso contrario as

operacoes elementares permitiriam fazer troca de filas de tal forma a que tal aconteca)”Transformar”todas as entradas a21, a31, . . . , am1 em zero atraves dasoperacoes elementares:

a11 a11 · · · a1na21 a22 · · · a2n

......

. . ....

am1 am2 · · · amn

−→

L2 ← L2 −a21a11

L1

L3 ← L3 −a31a11

L1

...Lm ← Lm − am1

a11L1

a11 a11 · · · a1n0 a′22 · · · a′2n...

.... . .

...0 a′m2 · · · a′mn

onde a′ij = aij −a21ai1

a1j ;

Repetir o processo na submatriz

a′22 a′23 · · · a′2na′32 a′33 · · · a′3n

......

. . ....

a′m2 a′m3 · · · a′mn

ate obtermos

uma matriz da forma A′ =(

B CD E

), onde B e uma matriz triangular

superior cujos elementos da diagonal principal sao diferentes de zero e D e E(caso existam) sao nulas.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 66: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Sabendo queToda a matriz triangular com todos os elementos da diagonalprincipal diferentes de zero, tem caracterıstica igual a suaordemo metodo de Gauss permite-nos facilmente determinar acaracterıstica de uma matriz.

Exemplo

A =

2 2 5 02 4 −2 22 6 −4 3

−→L2 ← L2 − L1L3 ← L3 − L1

2 2 3 00 2 −7 20 4 −9 3

−→L3 ← L3 − 2L2 2 2 3 0

0 2 −7 20 0 5 0

,

donde r(A) = 3.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 67: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Matrizes invertıveis

Diz-se que A ∈Mn(K) e invertıvel sse existir B ∈Mn(K) talque

AB = BA = In.

B diz-se entao a inversa de A (e tambem que A e a inversade B) e denota-se a inversa de A por A−1.Sempre que A admita inversa, dizemos que A e regular, casocontrario, dizemos que e singular.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 68: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Se A,B ∈Mn(K) sao regulares, entao o seu produto e uma matriz regular e

(AB)−1 = B−1A−1.

De facto

(AB)(B−1A−1) = A(BB−1)A−1 = AInA−1 = AA−1 = In

(B−1A−1)(AB) = B−1(A−1A)B = B−1InB = B−1B = In,

ou seja, B−1A−1 e a inversa de AB.Sendo A ∈Mn(K) uma matriz invertıvel, entao(

AT)−1

=(

A−1)T,

pois sendo A uma matriz invertıvel, existe A−1 tal que

AA−1 = In = A−1A.

Transpondo:(AA−1

)T= (In)T =

(A−1A

)T⇔(

A−1)T

AT = In = AT(

A−1)T

,

ou seja,(AT )−1 e a inversa de

(A−1)T .

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 69: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Calculo da inversa pelo metodo de Gauss-Jordan

O metodo de Gauss-Jordan e o algoritmo que atraves deoperacoes elementares sobre linhas e/ou troca de colunaspermite transformar uma dada matriz numa outra do tipo:(

Ir C0 0

)

Seja A ∈Mn(K) uma matriz invertıvel. A matriz (In|B) obtidaa partir da matriz (A|In) por aplicacao do metodo de Gauss-Jordan, usando apenas operacoes elementares sobre lin-has, e tal que

AB = BA = In, i.e., B = A−1.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 70: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

ExemploDeterminemos, pelo metodo de Gauss-Jordan, a inversa da matriz

A =

1 0 22 −1 34 1 8

1 0 2 1 0 0

2 −1 3 0 1 04 1 8 0 0 1

−→L2 ← L2 − 2L1L3 ← L3 − 4L1

1 0 2 1 0 00 −1 −1 −2 1 00 1 0 −4 0 1

−→

L3 ← L3 + L2

1 0 2 1 0 00 −1 −1 −2 1 00 0 −1 −6 1 1

−→L2 ← (−L2)L3 ← (−L3) 1 0 2 1 0 0

0 1 1 2 −1 00 0 1 6 −1 −1

−→L2 ← L2 − L3

L1 ← L1 − 2L3

1 0 0 −11 2 20 1 0 −4 0 10 0 1 6 −1 −1

,

logo A−1 =

−11 2 2−4 0 16 −1 −1

.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 71: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Definicao de determinante

Chama-se determinante de ordem n a uma funcao que acada n-upla de vectores (v1, v2, . . . , vn) de Kn faz correspon-der um escalar. Denota-se por det(v1, v2, . . . , vn) = 0 e satis-faz:

Multilinearidade:(i) ∀1 ≤ k ≤ n, det(v1, . . . , vk +wk , . . . , vn) =

det(v1, . . . , vk , . . . , vn) +det(v1, . . . ,wk , . . . , vn);

(ii) ∀1 ≤ k ≤ n, ∀α ∈K, det(v1, . . . , αvk , . . . , vn) =αdet(v1, . . . , vk , . . . , vn);

Se vi = vj , i 6= j entao det(v1, v2, . . . , vn) = 0;Se (e1,e2, . . . ,en) e a base canonica de Kn, entaodet(e1,e2, . . . ,en) = 1.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 72: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

A determinante de (v1, v2, . . . , vn) tambem se chama dedeterminante da matriz A =Mn(K) cujas filas sao os vectoresv1, v2, . . . , vn e escreve-se

detA = |A| = det(v1, v2, . . . , vn).

Sejam v1, v2, . . . , vn n vectores de Kn. Entaodet(v1, . . . , vi , . . . , vj , . . . , vn) =−det(v1, . . . , vj , . . . , vi , . . . , vn);se vk = 0 para algum k ∈ {1,2, . . . ,n} entaodet(v1, . . . , vk , . . . , vn) = 0;det(v1, . . . , vi + αvj , . . . , vj , . . . , vn) =det(v1, . . . , vi , . . . , vj , . . . , vn);se os vectores v1, v2, . . . , vn sao linearmentedependentes entao det(v1, v2, . . . , vn) = 0.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 73: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Determinantes de ordem 1

Seja v1 = (a11), i.e., v1 = a11e1 onde {e1} e a base canonicade K. Entao

det(v1) = det(a11e1) = a11 det(e1)︸ ︷︷ ︸1

= a11,

portanto |a11| = a11.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 74: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Determinantes de ordem 2

Sejam v1 = (a11,a12) e v2 = (a21,a22), i.e.,

v1 = a11e1 + a12e2 e v2 = a21e1 + a22e2,

onde {e1,e2} e a base canonica de Kn. Entao

det (v1, v2) = det (a11e1 + a12e2, a21e1 + a22e2)

= det (a11e1, a21e1 + a22e2) + det (a12e2, a21e1 + a22e2)

= a11det (e1, a21e1 + a22e2) + a12det (e2, a21e1 + a22e2)

= a11 [det (e1, a21e1) + det (e1, a22e2)] + a12 [det (e2, a21e1) + det (e2, a22e2)]

= a11

a21 det (e1, e1)︸ ︷︷ ︸0

+a22 det (e1, e2)︸ ︷︷ ︸1

+ a12

a21 det (e2, e1)︸ ︷︷ ︸−1

+a22 det (e2, e2)︸ ︷︷ ︸0

= a11a22 − a12a21.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 75: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Assim, det(v1, v2) =

∣∣∣∣ a11 a12a21 a22

∣∣∣∣ = a11a22 − a12a21.

Exemplo∣∣∣∣ 1 23 4

∣∣∣∣ = 1× 4− 2× 3 = −2.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 76: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Determinantes de ordem 3

Sejam v1 = (a11,a12,a13), v2 = (a21,a22,a23) ev2 = (a31,a32,a33) tres vectores de Kn. Procedendo comoanteriormente, obtemos a regra de Sarrus:∣∣∣∣∣∣

a11 a12 a13a21 a22 a23a31 a32 a33

∣∣∣∣∣∣ = a11a22a33 + a21a32a13 + a12a23a31

− a13a22a31 − a23a32a11 − a12a21a33.

Exemplo

∣∣∣∣∣∣1 2 3−1 −2 30 4 5

∣∣∣∣∣∣ = 1× (−2)× 5 + (−1)× 4× 3 + 2× 3× 0

− 3× (−2)× 0− 3× 4× 1− 2× (−1)× 5 = −24.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 77: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Formula de Laplace

Seja A ∈ Mn(K). Representemos por Aij a matriz de ordemn − 1 que se obtem de A retirando a linha i e a coluna j .Chama-se cofactor ij , e representa-se por cij a

cij = (−1)i+j ∣∣Aij∣∣ .

A formula de Laplace permite exprimir determinantes deordem n a custa de determinantes de ordem n − 1.Seja A = (aij) uma matriz de ordem n. Entao

|A| =∑n

j=1 aijcij ←− Expansao de |A| relativamente alinha i ;|A| =

∑ni=1 aijcij ←− Expansao de |A| relativamente a

coluna j

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 78: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

Seja A =

1 2 3 40 5 −1 00 0 −3 12 0 1 −1

.

Facamos a expansao de |A| relativamente (por exemplo)

a linha 3:

|A| =4∑

j=1

aij cij = a31︸︷︷︸0

c31 + a32︸︷︷︸0

c32 + a33c33 + a34c34

= (−3)× (−1)3+3

∣∣∣∣∣∣1 2 40 5 02 0 −1

∣∣∣∣∣∣+ 1× (−1)3+4

∣∣∣∣∣∣1 2 30 5 −12 0 1

∣∣∣∣∣∣= −3(−5− 40)− (5− 4− 30) = 164.

a coluna 2:

|A| = 2× (−1)1+2

∣∣∣∣∣∣0 −1 00 −3 12 1 −1

∣∣∣∣∣∣+ 5× (−1)2+2

∣∣∣∣∣∣1 3 40 −3 12 1 −1

∣∣∣∣∣∣= −2(−2) + 5(3 + 6 + 24− 1) = 164.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 79: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Suponhamos que A e uma matriz triangular superior de ordemn:

A =

a11 a12 · · · · · · a1n0 a22 · · · · · · a2n0 0 a33 · · · a3n...

. . ....

0 · · · · · · 0 ann

Usando a formula de Laplace vem

|A| = a11c11 + 0c21 + 0c31 + . . .+ 0cn1

= a11 (a22c22 + 0c32 + . . .+ 0cn2) = a11a22c22

= a11a22 (a33c33 + 0c43 + . . .+ 0cn3) = a11a22a22c33

= · · ·= a11a22a33 · · · ann

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 80: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

�Mostre que o mesmo acontece se, em vez de uma matriztriangular superior, suposer que |A| e uma triangular inferior.

Podemos entao concluir o seguinte resultado:

Se |A| e uma matriz triangular, entao o seu determinante eigual ao produto dos elementos da diagonal principal.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 81: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

�Mostre ainda que, sendo A,B ∈Mn(K):

det(AB) = (detA)(detB);

det(AT ) = detA;

det(A) = detA.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 82: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo∣∣∣∣∣∣∣∣∣1 0 1 1 11 0 1 1 02 3 4 5 11 1 0 1 11 1 3 2 1

∣∣∣∣∣∣∣∣∣=

L2 ←− L2 − L1L3 ←− L3 − 2L1L4 ←− L4 − L1

∣∣∣∣∣∣∣∣∣1 0 1 1 10 0 0 0 −10 3 2 3 −10 1 −1 0 00 1 2 1 0

∣∣∣∣∣∣∣∣∣=

L2 ←→ L5

∣∣∣∣∣∣∣∣∣1 0 1 1 10 1 2 1 00 3 2 3 −10 1 −1 0 00 0 0 0 −1

∣∣∣∣∣∣∣∣∣=

L3 ←− L3 − 3L2L4 ←− L4 − L2

∣∣∣∣∣∣∣∣∣1 0 1 1 10 1 2 1 00 0 −4 0 −10 0 −3 −1 00 0 0 0 −1

∣∣∣∣∣∣∣∣∣=

L4 ←− L4 − 34 L3

∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣1 0 1 1 10 1 2 1 00 0 −4 0 −10 0 0 −1 3

40 0 0 0 −1

∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣= −1× 1× (−4)× (−1)× (−1) = 4

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 83: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Calculo da inversa de uma matriz

Dada uma matriz A =(aij)∈ Mm,n(K), podemos construir a

matriz dos cofactores, cofA =(cij), onde cij e o cofactor-ij .

A transposta da matriz dos cofactores de A chamamos ad-junta de A e representa-se por adjA:

adjA = (cofA)T .

Seja A ∈Mm,n(K). Tem-se

A adjA = |A|In.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 84: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

�: Mostre que

Uma matriz A e invertıvel sse|A| 6= 0;

Se A e invertıvel entao|A−1| = 1

|A| ;

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 85: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

Calculemos a inversa da matriz A =

1 −2 40 5 23 −1 0

.

Comecemos por calcular o seu determinante (p.e., pela regra de Sarrus):

|A| = −12− 60 + 2 = −70 6= 0,

logo A e invertıvel.Calculemos agora a matriz dos cofactores:

c11 = (−1)1+1∣∣∣∣ 5 2−1 0

∣∣∣∣ = 2 c12 = (−1)1+2∣∣∣∣ 0 2

3 0

∣∣∣∣ = 6

c13 = (−1)1+3∣∣∣∣ 0 5

3 −1

∣∣∣∣ = −15 c21 = (−1)2+1∣∣∣∣ −2 4−1 0

∣∣∣∣ = −4

c22 = (−1)2+2∣∣∣∣ 1 4

3 0

∣∣∣∣ = −12 c23 = (−1)2+3∣∣∣∣ 1 −2

3 −1

∣∣∣∣ = −5

c31 = (−1)3+1∣∣∣∣ −2 4

5 2

∣∣∣∣ = −24 c32 = (−1)3+2∣∣∣∣ 1 4

0 2

∣∣∣∣ = −2

c33 = (−1)3+3∣∣∣∣ 1 −2

0 5

∣∣∣∣ = 5

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 86: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

cofA =

2 6 −15−4 −12 −5−24 −2 5

, adjA = (cofA)T =

2 −4 −246 −12 −2−15 −5 5

,

logo

A−1 =1|A|

adjA = −1

70

2 −4 −246 −12 −2−15 −5 5

.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 87: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Equacao linear

Uma equacao linear sobre o corpo R e uma expressao daforma

a1x1 + a2x2 + . . .+ anxn = b,

onde ai , i = 1, . . . ,n, e b sao numeros reais e os xi ,i = 1, . . . ,n, sao as chamadas incognitas (ou variaveis).Os escalares ai sao chamados coeficientes de xi ,respectivamente, e ao escalar b e dado o nome de termoindependente.Dizemos que u = (k1, k2, . . . , kn) e solucao da equacao linearse a igualdade obtida substituindo xi por ki :

a1k1 + a2k2 + . . .+ ankn = b

for verdadeira. Diz-se entao que esse conjunto de valoressatisfaz a equacao.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 88: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

x + 2y − 4z + w = 3

e uma equacao linear nas incognitas x , y , z e w .A 4-upla u = (3,2,1,0) e solucao da equacao pois

3 + 2(2)− 4(1) + 0 = 3.

A 4-upla u = (1,2,1,0) nao e solucao da equacao pois

1 + 2(2)− 4(1) + 0 = 1 6= 3.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 89: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

As solucoes de uma equacao linear podem ser facilmentedescritas e obtidas. Ha tres casos:

Um dos coeficientes, digamos a1 e nao nulo e entao podemos reescrever aequacao na forma

x1 =ba1−

a2

a1x2 − . . .−

an

a1xn.

Atribuindo valores as incognitas x2, x3, . . . , xn, determinamos um valor para x1,obtendo desta forma uma solucao para a equacao;

Todos os coeficientes sao zero, mas o termo independente nao, i.e., temos umaequacao da forma

0x1 + 0x2 + . . .+ 0xn = b, b 6= 0,

e neste caso a equacao nao tem solucao;

Todos os coeficientes sao zero, e o termo independente tambem. Neste caso aequacao escreve-se

0x1 + 0x2 + . . .+ 0xn = 0,

e portanto toda a n-upla de escalares em R e solucao da equacao.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 90: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

A uma conjuncao de um numero finito de equacoes linearessobre um corpo K damos o nome de sistema de equacoeslineares sobre K.

Um sistema linear de m equacoes a n incognitasrepresenta-se, usualmente, na forma

a11x1 + a12x2 + . . .+ a1nxn = b1a21x1 + a22x2 + . . .+ a2nxn = b2...am1x1 + am2x2 + . . .+ amnxn = bm

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 91: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Diz-se que o sistema e homogeneo se b1 = b2 = . . . = bn = 0.

Uma n-upla de escalares k1, k2, . . . , kn diz-se uma solucao (ousolucao particular) se satisfaz cada uma das equacoes. Oconjunto de todas as solucoes particulares e chamado deconjunto solucao ou solucao geral.

Note que um sistema linear homogeneo tem sempre asolucao 0 = (0,0, . . . ,0), a chamada solucao nula ou triv-ial. Qualquer outra solucao, se existir, e chamada de solucaonao nula ou nao trivial.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 92: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Solucao de um sistema de equacoes lineares pelometodo de eliminacao de Gauss

Um sistema de m equacoes lineares em n incognitas pode serreduzido a um sistema mais simples, usando as seguintesoperacoes elementares, que o transformam num sistemaequivalente (i.e., um sistema com o mesmo conjunto solucao):

Troca de duas equacoes Li ↔ Lj , i = 1, . . . ,m, emparticular, para que a primeira equacao tenha o primeirocoeficiente nao nulo;Multiplicacao de uma equacao por um escalar nao nulo,Li ← αLi , i = 1, . . . ,m, α 6= 0;Para cada i > 1, Li ← −ai1L1 + a11Li .

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 93: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Eliminamos assim a primeira incognita nas equacoes2,3, . . . ,m. Supondo que inicialmente a11 6= 0 obtemos osistema

a11x1 + a12x2 + . . .+ a1nxn = b1a′22x2 + . . .+ a′2nxn = b′2...a′m2x2 + . . .+ a′mnxn = b′m

Note que1 Se ocorre uma equacao 0x1 + 0x2 + . . .+ 0xn = b, b 6= 0,

entao o sistema e impossıvel, i.e., nao tem solucao;2 Se surge uma equacao 0x1 + 0x2 + . . .+ 0xn = 0, entao

ela pode ser suprimida sem que isso afecte a solucao dosistema.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 94: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Repetimos o processo no sub-sistema a vermelho e assimsucessivamente ate chegarmos a conclusao que o sistemaou e impossıvel ou redutıvel a um sistema da forma

a11x1 + a12x2 + . . .+ a1nxn = b1a′22x2 + . . .+ a′2nxn = b′2...a′rr xr + . . .+ a′rnxn = b′r

onde 2 < r e os coeficientes iniciais a′22, . . .a′rr nao sao

nulos. Diz-se que o sistema esta na forma escalonada.As incognitas xi que nao aparecem no inıcio de nenhumaequacao sao chamadas variaveis livres.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 95: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Solucao de um sistema na forma escalonada

Quando um sistema possıvel (i.e., que admite solucao) esta naforma escalonada, duas situacoes podem ocorrer

1 r = n, i.e., ha tantas equacoes quanto incognitas. Nestecaso o sistema tem solucao unica e diz-se possıvel edeterminado;

2 r < n, i.e., ha menos equacoes do que incognitas. Nestecaso, podemos atribuir valores arbitrarios as incognitaslivres e desta forma obter varias solucoes do sistema.Quando tal acontece (i.e., o sistema tem mais do que umasolucao), ele diz-se possıvel e indeterminado.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 96: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Um sistema impossıvel

Exemplo

2x+y-2z+3w=13x+2y-z+2w=43x+3y+3z-3w=5

⇐⇒L2 ← 2L2 − 3L1L3 ← 2L3 − 3L1

2x+y-2z+3w=1

y+4z-5w=53y+12z-15w=7

⇐⇒L3 ← L3 − 3L2

2x+y-2z+3w=1

y+4z-5w=50=-8

A ultima equacao mostra que o sistema e impossıvel.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 97: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Um sistema possıvel e determinado

Exemplox+2y-3z=4x+3y+z=112x+5y-4z=132x+6y+2z=22

⇐⇒L2 ← L2 − L1

L3 ← L3 − 2L1L4 ← L4 − 2L1

x+2y-3z=4

y+4z=7y+2z=5

2y+8z=14

⇐⇒L3 ← −L3 + L2L4 ← L4 − 2L2

x+2y-3z=4

y+4z=72z=20=0

⇐⇒

x+2y-3z=4

y+4z=72z=2

Note, em primeiro lugar, que o sistema e possıvel pois nao ocorre nenhuma equacaodo tipo 0 = b, com b 6= 0. Alem disso, como na forma escalonada ha tres equacoes atres incognitas, o sistema e determinado.Pela terceira equacao z = 1 que substituıdo na segunda equacao resulta em y = 3.Finalmente, substituindo estes valores de z e y na primeira equacao obtemos x = 1.Assim, x = z = 1 y = 3 ou, por outras palavras, a 3-upla (1, 3, 1) e a unica solucaodo sistema.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 98: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Um sistema possıvel e indeterminado

Exemplox+2y-2z+3w=22x+4y-3z+4w=55x+10y-8z+11w=12

⇐⇒L2 ← L2 − 2L1L3 ← L3 − 5L1

x+2y-2z+3w=2

z-2w=12z-4w=2

⇐⇒L3 ← L3 − 2L2

x+2y-2z+3w=2

z-2w=10=0

⇐⇒{

x+2y-2z+3w=2z-2w=1

O sistema e possıvel e como na forma escalonada ha mais incognitas do queequacoes, o sistema tem uma infinidade de solucoes.De facto, ha duas variaveis livres, y e w, e portanto uma solucao do sistema pode serobtida atribuindo a estas variaveis quaisquer valores.Substituindo y = a e w = b na segunda equacao obtem-se z = 1 + 2b; Substituindoestes valores de y, w e z na primeira equacao, obtemos x = 4− 2a + b. Assim, asolucao geral do sistema e

x = 4− 2a + b, y = a, z = 1 + 2b e w = b, a, b sao numeros arbitrarios.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 99: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Representacao na forma matricial

Vimos que ao trabalhar com um sistema de equacoes lineares, apenas os coeficientese as respectivas posicoes sao importantes. Assim sendo, esses coeficientes podemser devidamente ”arrumados”numa matriz.Um sistema de m equacoes a n incognitas, na sua forma geral pode ser escrito

a11x1 + a12x2 + . . .+ a1nxn = b1a21x1 + a22x2 + . . .+ a2nxn = b2

...am1x1 + am2x2 + . . .+ amnxn = bm

=

b1b2...

bm

,

ou seja a11 a12 · · · a1na21 a22 · · · a2n

......

. . ....

am1 am2 · · · am2

︸ ︷︷ ︸

A

x1x2...

xn

︸ ︷︷ ︸

x

=

b1b2...

bm

︸ ︷︷ ︸

b

.

O sistema escreve-se entao Ax = b,A→ matriz dos coeficientesx → matriz das incognitasb → matriz dos termos independentes

.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 100: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Define-se a matriz ampliada do sistema Ax = b como sendo a matriz de n + 1 colu-nas, onde as primeiras n constituem a matriz dos coeficientes e a ultima e a matrizdos termos independentes. A matriz ampliada do sistema Ax = b representa-sepor [A|b]:

[A|b] =

a11 a12 · · · a1n | b1a21 a22 · · · a2n | b2...

.... . .

... |...

am1 am2 · · · amn | bm

.

Exemplo

O sistema

2x − y + z = 0x + y − 3z = 1y + 4z = −2

, escreve-se na forma matricial:

2 −1 11 1 −30 1 4

xyz

=

01−2

.

A sua matriz ampliada e: [A|b] =

2 −1 1 | 01 1 −3 | 10 1 4 | −2

.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 101: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Recordemos que se num sistema de equacoes lineares, trocarmos duas equacoes,multiplicarmos uma equacao por um escalar nao nulo, ou se uma equacao forsubstituıda pela sua soma com uma outra multiplicada por um escalar, entao obtemosum sistema equivalente ao inicial.

Em termos matriciais, isto significa que se na matriz ampliada de um sistemaefectuarmos qualquer uma das tres operacoes elementares sobre linhas, entaoobteremos a matriz ampliada de um sistema equivalente ao inicial.

O metodo de eliminacao de Gauss para a resolucao de um sistema Ax = b consistena utilizacao das operacoes elementares sobre as linhas da matriz ampliada [A|b]de forma a tranforma-lo num outro

A′ =(

B C0 0

),

onde B e uma matriz triangular com elementos diagonais nao nulos.

Nota: Em certos casos, para se atingir este objectivo pode ser necessario efectuar

troca de colunas na matriz dos coeficientes. Se for esse o caso, nao nos devemos

esquecer que isso equivale a trocar a ordem das incognitas.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 102: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

Consideremos o seguinte sistema

2x + z = 03x + y + 2z = 1x + 2y + z = 02z = 6

, que na forma matricial se

escreve 2 0 13 1 21 2 10 0 2

x

yz

=

1206

.

A sua matriz ampliada e2 0 1 | 13 1 2 | 21 2 1 | 00 0 2 | 6

−→L2 ← 2L2 − 3L1L3 ← 2L3 − L1

2 0 1 | 10 2 1 | 10 4 1 | −10 0 2 | 6

−→L3 ← L3 − 2L1

2 0 1 | 10 2 1 | 10 0 −1 | −30 0 2 | 6

−→L4 ← L4 + 2L3

2 0 1 | 10 2 1 | 10 0 −1 | −30 0 0 | 0

,

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 103: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

que e a matriz ampliada de um sistema equivalente ao inicial e que se escreve 2x + z = 02y + z = 1−z = −3

x = −1y = −1z = 3

Relembrando o que foi dito acerca da existencia e unicidade de solucao de umsistema de equacoes lineares, podemos concluir que em termos das caracterısticasda matriz dos coeficientes do sistema e da matriz ampliada:

Dado um sistema de m equacoes lineares a n incognitas, Ax = b:

se r(A) < r ([A|B]) o sistema e impossıvel;

se r(A) = r ([A|B]) = n o sistema e possıvel e determinado;

se r(A) = r ([A|B]) < n o sistema e posssıvel e indeterminado.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 104: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

Dado o sistema

x − ay + z = −bx − y + (b + 1)z = 1x − y + z = 3

, determinemos os valores dos escalares a

e b de forma a que o sistema seja impossıvel, possıvel determinado e possıvelindeterminado.Consideremos a matriz ampliada do sistema: 1 −a 1 | −b

1 −1 b + 1 | 11 −1 1 | 3

−→L2 ← L2 − L1L3 ← L3 − L1

1 −a 1 | −b1 −1 + a b | 1 + b0 −1 + a 0 | 3 + b

−→

L3 ← L3 − L2

1 −a 1 | −b1 −1 + a b | 1 + b0 0 −b | 2

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 105: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Se b = 0, entao a matriz ampliada reduz-se a

1 −a 1 | 01 −1 + a b | 10 0 0 | 2

,

logo o sistema e impossıvel;

Se b 6= 0 e a 6= 1, r(A) = r([A|b]) = 3 e portanto o sistema e possıvel edeterminado;

Se b 6= 0 e a = 1, a matriz ampliada reduz-se a 1 −1 1 | −b1 0 b | 1 + b0 0 −b | 2

−→L3 ← L3 + L2

1 −1 1 | −b1 0 b | 1 + b0 0 0 | b + 3

,e portanto

(i) se b 6= −3, o sistema e impossıvel;(ii) se b = −3, r(A) = r([A|b]) = 2 < 3 e portanto o sistema e

possıvel e determinado.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 106: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Um sistema Ax = b diz-se de Cramer sse A e uma matrizinvertıvel.

Todo o sistema de Cramer tem solucao unica.

Dem.: Se Ax = b e um sistema de Cramer, entao A e invertıvel, logo a solucao dosistema pode ser dada por

A−1Ax = A−1b ⇔ Ix = A−1b ⇔ x = A−1b,

pelo que o sistema e sempre possıvel.Analisemos agora a questao da unicidade. Para tal, suponhamos que existem duassolucoes do sistema: x e y , i.e., Ax = b e Ay = b. Entao

A(x − y) = 0⇔ x − y = A−10⇔ x − y = 0⇔ x = y .

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 107: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Regra de Cramer

Seja Ax = b um sistema de Cramer de n equacoes a nincognitas xi . Tem-se

xi =

∣∣ACi←b∣∣

|A|Dem.: Sendo Ax = b um sistema de Cramer, entao

x = A−1b =

(1|A|

adj(A)

)b =

1|A|

(adj(A)b) .

Para cada i = 1, . . . , n,

xi =1|A|(

(−1)1+i |A1i | (−1)2+i |A2i | · · · (−1)n+i |Ani |)

b1b2...

bn

=

1|A|

[(−1)1+i |A1i | b1 + (−1)2+i |A2i | b2 + · · ·+ (−1)n+i |Ani | bn

]︸ ︷︷ ︸∣∣∣ACi←b

∣∣∣, (Formula de Laplace)

.

Luısa Morgado Algebra Linear

Page 108: cMatemática Parte I: Álgebra Linear

Exemplo

O seguinte sistema

x + y + z = 1x + 4y + 4z = 1x + y + 2z = 1

, escreve-se na forma matricial:

1 1 11 4 41 1 2

︸ ︷︷ ︸

A

xyz

=

111

︸ ︷︷ ︸

b

.

E um sistema de Cramer pois|A| = 3 6= 0.

Pela regra de Cramer a sua solucao e determinada por

x =

∣∣∣∣∣∣1 1 11 4 41 1 2

∣∣∣∣∣∣3

=33

= 1; y =

∣∣∣∣∣∣1 1 11 1 41 1 2

∣∣∣∣∣∣3

=03

= 0; z =

∣∣∣∣∣∣1 1 11 4 11 1 1

∣∣∣∣∣∣3

=03

= 0.

Luısa Morgado Algebra Linear