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Cognitivismo Moral e Superveniência Rafael Graebin Vogelmann 1 RESUMO Apresentaremos uma objeção à forma de cognitivismo moral segundo a qual o juízo moral da forma “x é bom” consiste em atribuir a x a propriedade irredutível de primeira ordem designada por “bom”. O argumento parte de dois aspectos de nossos conceitos morais: (S) superveniência de propriedades morais a propriedades descritivas e (P) a instanciação de propriedades morais não é logicamente implicada pela instanciação de propriedades descritivas. Se a família de predicados M sobrevém à família de predicados N, então, necessariamente, para todo predicado F em M e para todo objeto x, se x é F, então existe algum G em N, tal que x é G e para todo y, se y é G então y é F. Tomemos “M” como designando a família das propriedades morais e “N” como designando a família das propriedades naturais. Então, (S) e (P) em conjunto permitem mundos possíveis onde ser G implica ser F e mundos onde ser G não implica ser F. Mas excluem mundos possíveis onde algumas coisas que são G são F mas outras coisas G não são F. A forma de cognitivismo moral acima permite mundos deste tipo, logo não dá conta de nossas noções morais. Palavras-chave: Meta-Ética, Cognitivismo, Juízo Moral, Superveniência, Mundos Possíveis. ABSTRACT We will present an objection to the form of moral cognitivism according to which a moral judgment of the form “x is good” consist in the attribution to x of a first order irreducible property designated by “good”. The argument is based on two aspects of our moral concepts: (S) the supervenience of moral properties on descriptive properties and (P) that the instantiation of moral properties is not logically implied by the instantiation of descriptive properties. If the family of predicates M supervenes on the family of predicates N, then, necessarily, for every predicate F on M e for every object x, if x is F, then there is a G on N, such that x é G e for every y, if y is G then y é F. Take Mdesignate the family of moral properties and Nto designate the family of natural properties. Then, (S) e (P) together allow possible worlds where x been G implies x been F and possible worlds where x been G does not implies x been F. But they exclude possible worlds where somethings that are G are F e other things that are G are not F. The form of cognitivism above allows such worlds, therefore it does not account for our moral notions. Keywords: Metaethics, Cognitivism, Moral Judgment, Supervenience, Possible Worlds. Vamos aqui nos ocupar de uma objeção a certa forma de cognitivismo moral. O argumento se deve a Blackburn e foi exposto em seus artigos Moral Realism 2 e Supervenience 1 Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: [email protected]. Tel: (51) 9199-3971 2 BLACKBURN, S. "Moral Realism". In: BLACKBURN, S. Essays in Quasi-Realism. 1.ed. New York: Oxford University Press, 1993, p.111-129

Cognitivismo Moral e Superveniência

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Page 1: Cognitivismo Moral e Superveniência

Cognitivismo Moral e Superveniência

Rafael Graebin Vogelmann1

RESUMO

Apresentaremos uma objeção à forma de cognitivismo moral segundo a qual o juízo moral da

forma “x é bom” consiste em atribuir a x a propriedade irredutível de primeira ordem

designada por “bom”. O argumento parte de dois aspectos de nossos conceitos morais: (S)

superveniência de propriedades morais a propriedades descritivas e (P) a instanciação de

propriedades morais não é logicamente implicada pela instanciação de propriedades

descritivas. Se a família de predicados M sobrevém à família de predicados N, então,

necessariamente, para todo predicado F em M e para todo objeto x, se x é F, então existe

algum G em N, tal que x é G e para todo y, se y é G então y é F. Tomemos “M” como

designando a família das propriedades morais e “N” como designando a família das

propriedades naturais. Então, (S) e (P) em conjunto permitem mundos possíveis onde ser G

implica ser F e mundos onde ser G não implica ser F. Mas excluem mundos possíveis onde

algumas coisas que são G são F mas outras coisas G não são F. A forma de cognitivismo

moral acima permite mundos deste tipo, logo não dá conta de nossas noções morais.

Palavras-chave: Meta-Ética, Cognitivismo, Juízo Moral, Superveniência, Mundos Possíveis.

ABSTRACT

We will present an objection to the form of moral cognitivism according to which a moral

judgment of the form “x is good” consist in the attribution to x of a first order irreducible

property designated by “good”. The argument is based on two aspects of our moral concepts:

(S) the supervenience of moral properties on descriptive properties and (P) that the

instantiation of moral properties is not logically implied by the instantiation of descriptive

properties. If the family of predicates M supervenes on the family of predicates N, then,

necessarily, for every predicate F on M e for every object x, if x is F, then there is a G on N,

such that x é G e for every y, if y is G then y é F. Take “M” designate the family of moral

properties and “N” to designate the family of natural properties. Then, (S) e (P) together allow

possible worlds where x been G implies x been F and possible worlds where x been G does

not implies x been F. But they exclude possible worlds where somethings that are G are F e

other things that are G are not F. The form of cognitivism above allows such worlds, therefore

it does not account for our moral notions.

Keywords: Metaethics, Cognitivism, Moral Judgment, Supervenience, Possible Worlds.

Vamos aqui nos ocupar de uma objeção a certa forma de cognitivismo moral. O

argumento se deve a Blackburn e foi exposto em seus artigos Moral Realism2 e Supervenience

1Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail:

[email protected]. Tel: (51) 9199-3971 2BLACKBURN, S. "Moral Realism". In: BLACKBURN, S. Essays in Quasi-Realism. 1.ed. New York: Oxford

University Press, 1993, p.111-129

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Revisited3. Contudo, como apresentado por Blackburn o argumento tem por alvo o

cognitivismo moral em geral. O resultado do argumento na verdade é mais humilde: ele

mostra apenas a inadequação conceitual da forma de cognitivismo que vamos considerar aqui

e não coloca nenhuma dificuldade para outras formas de cognitivismo. A reconstrução que se

segue então, embora inspirada na argumentação de Blackburn, não pretende necessariamente

fazer jus ao argumento como originalmente apresentado. Antes apresentaremos o argumento

de maneira que resulte em uma objeção eficiente, embora menos abrangente.

A forma de cognitivismo da qual vamos nos ocupar sustenta que o seguinte é

verdadeiro a respeito do juízo moral: (i) juízos morais são expressão de um estado cognitivo,

tal como uma crença, dotado de conteúdo representacional; (ii) desta forma, o juízo tem

caráter descritivo, representa a realidade de certa forma, e como tal tem valor de verdade; (iii)

sua forma gramatical é transparente, a avaliação consiste em predicar uma propriedade do

objeto; (iv) a propriedade em questão é de primeira ordem, irredutível a qualquer outra

propriedade; (v) o juízo moral é justificado mostrando que é verdadeiro, isto é, no caso da

avaliação mostrando que o objeto de fato instancia a propriedade sui generis que lhe é

atribuída.

Acrescento a qualificação “de primeira ordem” no item (iv) porque há uma forma

de cognitivismo naturalista que concorda com (i)-(v) exceto em que sustenta que a

propriedade designada por “bom” é uma propriedade de segunda ordem. Essa forma de

cognitivismo se inspira em resultados na área da Filosofia da Mente, especificamente na tese

do Funcionalismo segundo a qual tipos mentais são definidos em termos dos inputs sensoriais

que os causam, dos outputs comportamentais que resultam deles e de suas relações com

outros tipos mentais, de maneira que tais tipos podem se realizar em substratos físicos

radicalmente diferentes. De maneira semelhante, essa forma de cognitivismo sustenta que

embora a propriedade designada por “bom” não seja redutível a nenhuma propriedade natural,

ainda é possível sustentar que se trata de uma propriedade natural funcional, definida em

termos de suas relações com ações humanas e bens que tendem a resultar dessas ações. A

propriedade designada por “bom” seria então uma propriedade irredutível de segundo grau, e

como tal multiplamente realizável. Não queremos nos ocupar dessa forma de cognitivismo. A

tese que vamos atacar recebeu no debate a designação de “cognitivismo não-naturalista”

devido ao modo como foi apresentada por Moore4, mas dadas as considerações acima

3BLACKBURN, S. "Supervenience Revisited". In: BLACKBURN, S. Essays in Quasi-Realism. 1.ed. New York:

Oxford University Press, 1993, p.130-148 4Ver MOORE, G.E. Principia Ethica: Revised Edition. Cambridge: Cambridge University Press, 1993

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podemos chamá-la de Cognitivismo Não-redutivo de Primeira Ordem.

Essa formulação técnica pode dar a impressão de que se trata de uma tese

recôndita, dificilmente sustentada, a ponto de que um argumento que busque refutá-la é

supérfluo. Quero fazer alguns apontamentos rápidos no sentido de que este não é o caso. Essa

é na verdade uma tese que ocorre de forma bastante natural, que é frequentemente tomada

como fazendo perfeita justiça ao senso comum moral e cujas consequências a tornam digna de

consideração. Essas consequências são uma forma de ceticismo moral que acusa a prática

moral ordinária (da qual daria conta o cognitivismo) de incorporar graves erros metafísicos.

Se alguém chega a se perguntar em que consiste o ato de realizar um juízo moral e

pensa a respeito de avaliações simples como “x é bom”, uma resposta se oferece rapidamente:

realizar esta avaliação consiste em atribuir àquilo que “x” designa a propriedade designada

por “bom”. Se perguntamos de que propriedade se trata, a resposta pode ser esta: trata-se

simplesmente da propriedade de ser bom. Que esta propriedade difere de qualquer

propriedade ordinária que possamos imaginar se mostra pelo fato de que podemos concordar

quanto a descrição completa de um objeto e discordar sobre se ele instancia ou não a

propriedade de ser bom. Isto é, não existe uma descrição N do objeto avaliado que seja tal que

seja contraditório dizer “x é N, mas não é bom”. Além do mais, os juízos morais têm um

papel de destaque em deliberações práticas, eles guiam nossa ação, de maneira que a

propriedade que um juízo moral atribui ao avaliado deve ser muito especial na medida em que

reconhecer que ela é instanciada por algo basta para fornecer razões para agir para qualquer

pessoa.

Esta argumentação resulta na forma de cognitivismo da qual nos ocuparemos. Na

verdade, ela pode ser considerada uma apresentação rudimentar do racionale do famoso

argumento da questão aberta de Moore5. Embora ela possa parecer uma tese bastante

implausível, não podemos nos excusar de debatê-la porque ela é um prato cheio para o cético

moral. Um cético pode, como o fez Mackie6, argumentar assim: se você reconhece que o juízo

moral consiste na atribuição de uma propriedade tão especial, você se dá conta de que seus

juízos morais não podem ser justificados e provavelmente são todos falsos, pois como

detectaríamos uma propriedade assim tão diferente das propriedades com as quais estamos

acostumados? Na verdade, temos razões para suspeitar que tal propriedade não existe: ela não

pode ser encaixada na visão de mundo que as ciências nos oferecem. Não quero entrar em

5Ver MOORE, G.E. Principia Ethica: Revised Edition. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. Em

especial §13. 6Ver MACKIE, J.L. "The Subjectivity of Values". In: MACKIE,J.L. Ethics: Inventing Right and Wrong. 1.ed.

London: Penguin, 1977, p.15-49

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detalhes quanto a esta argumentação do cético, quero apenas ressaltar um ponto de sua

estratégia: ele distingue entre questões conceituais e questões substanciais e argumenta que o

cognitivismo não-redutivo de primeira ordem é uma boa resposta à questão conceitual a

respeito da noção de juízo moral e que se daí se seguem consequências metafísicas

intoleráveis é só porque estes compromissos metafísicos se encontram incorporados a nossas

noções morais.

Embora o cognitivismo não-redutivo de primeira ordem tenha caído em desuso,

isto se deu porque esta tese pareceu implausível à luz de suas consequências metafísicas

desagradáveis. Mas, até onde sei, uma resposta satisfatória não foi dada ao cético que

pretende sustentar essa forma de cognitivismo para argumentar que estas consequências

metafísicas de fato se seguem de nossas noções morais e que, portanto, nossas práticas morais

incorporam um grave erro. Nossa objeção é interessante porque permite responder a este

cético. Ela mostra que esta forma de cognitivismo não deve ser repudiada apenas em face de

suas consequências metafísicas intoleráveis, mas que se olharmos com cuidado para nossas

noções morais vemos que esta forma tão natural de encarar o juízo moral não lhes faz justiça.

Mostrar que “x é bom” não consiste simplesmente na atribuição a x da propriedade de ser

bom, sem mais, é, portanto, um resultado importante.

Isto basta sobre a tese da qual nos ocuparemos e porque o esforço de refutá-la não

é vão. Podemos formular agora uma restrição que deve ser imposta a nossa argumentação:

devemos mostrar que essa forma de cognitivismo é uma má resposta a questão conceitual “em

que consiste o ato de realizar um juízo moral?”; ao fazer isto não podemos apelar a

considerações substanciais que mostrem que algo que esta forma de cognitivismo moral

atribui ao juízo moral não encontra correspondente na realidade. Por exemplo, mostrar que a

propriedade que é atribuída ao avaliado no juízo moral, de acordo com este tipo de

cognitivismo, não existe não faz nada para mostrar que esta forma de cognitivismo é uma má

análise do juízo moral7. Nossa argumentação deve apelar apenas a nossa noção de juízo moral

e mostrar que há algum traço desta noção do qual a análise cognitivismo não-redutiva de

primeira ordem não dá conta. Isto é, devemos mostrar que se assumimos que esta forma de

cognitivismo moral é correta a imagem que obtemos do juízo moral é tal que há algum traço

de nossa noção de juízo moral que não ocorre nela.

Vamos ao argumento. Ele consiste simplesmente em formular este traço

conceitual do qual o cognitivismo não dá conta. Fazemos isso apelando a dois aspectos do

7Por “análise do juízo moral” me refiro a qualquer proposta de resposta à questão “em que consiste o ato de

realizar um juízo moral?”.

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juízo moral: (C) a covariação de predicados morais e predicados descritivos e (P) o fato de

que a instanciação de predicados morais não é logicamente implicada pela instanciação de

predicados descritivos. Conjuntamente (C) e (P) resultam em no traço conceitual que estamos

buscando. O primeiro passo no argumento é, então, apresentar (C) e (P) como aspectos

conceituais de nosso pensamento moral.

A noção de covariação é passível de várias formulações ligeiramente diferentes.

Estas formulações tentam capturar as trivialidades segundo as quais: (i) dois objetos idênticos

quanto a todas suas demais propriedades são também idênticos quanto a suas propriedades

morais e (ii) as qualidades morais de algo não podem mudar sem que haja uma mudança

correspondente em suas propriedades naturais ou descritivas. Blackburn, por exemplo,

formula assim (C)8: Necessariamente, se existe um x tal que x é F e G, e tal que G subjaz a F,

então para todo y, se y é G então é F. Esta formulação pode ser apresentada assim:

(C) □((x)(Fx Gx (Gx U Fx)) (y)(Gy Fy))

O problema com esta formalização é que ela faz uso do conectivo “U” que

equivale a “(1) subjaz a (2)” que é o mesmo que “(2) sobrevém a (1)”. A noção de

superveniência ou covariação então reaparece na formulação. Esta fórmula não nos informa

nada senão que se a propriedade F sobrevém a G então todo y que instanciar G também

instanciará F – não nos diz em que consiste a superveniência ou covariação.

Adotarei aqui a formulação desenvolvida por Jaegwon Kim9. Covariação é uma

relação entre famílias de predicados. A família de predicados M co-varia com a família de

predicados N se, e somente se, necessariamente, para todo predicado F em M e para todo

objeto x, se x é F, então existe algum G em N, tal que x é G e para todo y, se y é G então y é F.

Importante notar que os predicados em questões podem ser bastante complexos e envolver

muitas clausulas. “G”, por exemplo, poderia ser um predicado da forma “Q P ¬X ¬ Y”.

Formalizamos assim a tese da covariação:

(C) □(F em M)(x) [Fx → (G em N)(Gx y)(Gy → Fy))]

Já que estamos interessados na covariação de predicados morais e predicados

8BLACKBURN, S. "Supervenience Revisited". In: BLACKBURN, S. Essays in Quasi-Realism. 1.ed. New York:

Oxford University Press, 1993, p.131 9KIM, J. "Concepts of Supervenience". In: Philosophy and Phenomenological Research, vol. XLV, n.2, pp.153-

176, dez. 1984, p.158

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naturais, tomamos M como sendo a família dos predicados morais e N como sendo a família

dos predicados naturais ou descritivos. Assim (C) afirma que, necessariamente, para qualquer

propriedade moral instanciada pelo objeto x existe uma propriedade natural (ou conjunto de

propriedades naturais) que também é instanciada por x e que é tal que é sempre acompanhada

da propriedade moral em questão. Porém, como devemos ler o “necessariamente” no início da

fórmula? O operador de necessidade pode ser lido de diversas maneiras10. Podemos falar em

necessidade analítica, necessidade metafísica, necessidade física e talvez existam outros tipos.

Ler (C) como enunciando uma necessidade física seria absurdo, mas a necessidade em

questão é analítica ou metafísica?

Uma verdade metafisicamente necessária é tal que é verdade em todo mundo

possível. Um possível exemplo deste tipo de necessidade é a necessidade de enunciados de

identidade científicos, como “água é H2O” ou “calor é movimento molecular”11. Identidades

deste tipo não são verdadeiras em razão apenas dos conceitos que articulam. Descobrimos que

água é H2O não mediante uma investigação conceitual, analisando os conceitos articulados na

identidade, mas mediante uma investigação científica a posteriori. Mas uma vez que

descobrimos que esta coisa que chamamos de “água” é na verdade H2O, sabemos que em

qualquer mundo possível que contenha esta coisa chamada “água”, água é H2O. Podemos

então dizer algo do tipo “necessariamente, água é H2O” e com isso queremos dizer apenas

que não há um mundo possível onde “água é H2O” seja falso.

Agora, admitindo que enunciados científicos de identidade verdadeiros são

metafisicamente necessários, suponha que alguém negue que necessariamente água é H2O.

Esta pessoa pode ser acusada de ignorar descobertas científicas importantes, mas podemos

admitir que ela domina os conceitos de água e de H2O? Sim, podemos. Esta pessoa pode ter

amplos conhecimentos de química e simplesmente crer, por alguma razão qualquer, que a

substância que cobre a maior parte de nosso planeta não é composta de átomos de hidrogênio

e oxigênio. Esta pessoa tem uma crença factual aberrante, mas não pode ser acusada de

confusão conceitual. Se, contudo, a necessidade envolvida na identidade fosse necessidade

analítica, esta acusação seria cabível.

Diremos que uma proposição é analiticamente necessária caso seja verdade em

razão apenas dos conceitos que articula. Todos aqueles que dominam os conceitos relevantes

deveriam ser capazes de verificar a verdade da proposição. Negar a verdade da proposição

10Ver BLACKBURN, S. "Supervenience Revisited". In: BLACKBURN, S. Essays in Quasi-Realism. 1.ed. New

York: Oxford University Press, 1993, p.135-136 11Este exemplo é retirado de KRIPKE, S. Naming and Necessity. 12.ed. Cambridge: Harvard University Press,

2001, p.128-129

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trairia falta de domínio sobre os conceitos ou confusão: uma incapacidade de apreender

corretamente aspectos importantes do conceito e operar com eles. Outro modo de apresentar a

noção de necessidade analítica é a seguinte: assentir a verdades analíticas é constituinte da

competência no uso dos termos utilizados na expressão da verdade em questão; negar tais

verdades é constituinte da falta de competência no uso dos termos.

Essa distinção se aplica não só a operadores de necessidade mas também a

operadores de possibilidade. Algo é uma possibilidade metafísica se há ao menos um mundo

possível onde ocorre. Algo é uma possibilidade analítica se sua negação não for uma verdade

analiticamente necessária – isto é, não há restrição conceitual a sua possibilidade.

Necessidade, seja analítica seja metafísica, implica tanto a possibilidade analítica como a

possibilidade metafísica. A necessidade analítica implica necessidade metafísica, mas o

contrário não é verdade. E a possibilidade metafísica implica possibilidade analítica, mas o

contrário não é verdade.

Mas então, como devemos ler o operador de necessidade em (C)? Se M é a

família de predicados morais e N a família de predicados naturais, (C) é verdadeira quando o

operador é lido como necessidade analítica, e isso implica que é verdadeira também se o

operador é lido como necessidade metafísica. Como queremos um argumento que mostra que

o cognitivismo não-redutivo de primeira ordem não dá conta de um aspecto conceitual da

moralidade o operador deve ser lido como operador de necessidade analítica. É uma premissa

do argumento que a covariação de propriedades morais e propriedades naturais faz parte do

pensamento moral ordinário.

Deve ser fácil mostrar que (C) é uma verdade analiticamente necessária. Para tal

temos que mostrar que quem não reconhece (C) carece de algo que é constitutivo da

competência no uso de termos e noções morais. Um modo de fazer isto é confiar em nosso

domínio dos termos e noções relevantes e pedir que cada leitor faça o esforço de avaliar a

verdade de (C). Podemos apontar para casos nos quais (C) não é observado e esperar que os

leitores concordem que nestes casos a falta de domínio sobre as noções em questão é

evidente. Imagine por exemplo o caso de alguém que diante de dois objetos iguais, ambos

instanciando a propriedade designada por “G” e não contendo nenhuma outra propriedade

relevante para o juízo moral, afirma que enquanto o primeiro objeto é bom o segundo não o é.

Se perguntado o porque da distinção ele afirma que simplesmente é o caso de que o primeiro é

bom e o segundo não é. Diante disso ficamos perplexos. O comportamento deste sujeito é

incompreensível e não podemos senão afirmar que ele não compreende a noção de bom. O

mesmo diríamos de alguém que num dia considera A bom e no dia seguinte, sem que

Page 8: Cognitivismo Moral e Superveniência

nenhuma propriedade de A se altere, já não o considere bom. Se questionado, o sujeito diz

apenas que A deixou de ser bom.

Podemos ainda acrescentar a estes exemplos a seguinte consideração12: nestes

casos em que (C) não é observado, o propósito mesmo da prática de fazer avaliações é

frustrado. Fazemos avaliações para guiar nossas atitudes, escolhas e ações. E o mundo no qual

temos que nos guiar é um mundo habitado por objetos dotados de propriedades naturais. Se

nossas avaliações não respondem a estas propriedades, de que nos servem? Que fim pode ter a

prática de avaliar? Parece que nenhum. O comportamento de quem nega (C) é tão aleatório

com as avaliações quanto seria sem elas. Parece que o único fim possível da prática moral de

fazer avaliações é traído pela rejeição de (C) e por isto aceitar (C) é parte constituinte da

competência nesta prática.

Dado (C), se x instancia uma propriedade moral F, então x instancia também uma

propriedade natural G tal que é sempre acompanhada de F. Mas que propriedade é G não é

algo que descobrimos mediante análise conceitual – é algo que descobrimos por meio de uma

investigação moral substancial.

Compare agora (C) com a tese mais forte (C*):

(C*) □(F em M)(x) [Fx → (G em N)(Gx □y)(Gy → Fy))]

Enquanto (C) declara a necessidade de um condicional, em (C*) há um operador

de necessidade no consequente do condicional. Se x instancia a propriedade F dado (C*)

sabemos que, necessariamente, G sempre é acompanhada pela presença de bondade. Se lemos

novamente os operadores de necessidade como necessidade analítica, então (C*) parece falsa.

Seria constitutivo do domínio de noções morais admitir que se algum objeto instancia a

propriedade moral F então existe uma propriedade G tal que é constitutivo do domínio de

noções morais admitir que todo objeto que é G é F. Negar que todo objeto que é G é F seria

trair falta de domínio sobre noções morais. Mas neste caso, adotar certo padrão de avaliação

seria constitutivo da competência na prática de fazer avaliações morais. Se este fosse o caso,

sempre que duas pessoas discordassem sobre se a instanciação de certa propriedade natural

implica a presença de certa propriedade moral, ao menos uma delas deveria ser incompetente

no uso de termos morais ou estar confusa. Isto é, um desacordo moral genuíno, entre pessoas

igualmente capazes no uso de termos avaliativos, seria impossível.

12Ver BLACKBURN, S. "Supervenience Revisited". In: BLACKBURN, S. Essays in Quasi-Realism. 1.ed. New

York: Oxford University Press, 1993, p.137

Page 9: Cognitivismo Moral e Superveniência

Poderíamos imaginar uma outra comunidade que usa termos como “bom” numa

prática como a nossa. Eles usam estes termos para recomendar e louvar certas coisas; os

termos são aplicados de maneira regular, respondendo a aspectos descritivos dos objetos

avaliados; estes termos aparecem na expressão das deliberações dos habitantes desta

comunidade e eles estão normalmente dispostos a agir de acordo com seus juízos sobre o que

é “bom”. Parece que os habitantes desta comunidade têm pleno domínio sobre este

vocabulário e são capacitados para a prática de fazer avaliações. Contudo, suponha que seus

juízos respondem a aspectos naturais muito diferentes dos nossos. Suponha, por exemplo, que

eles estão dispostos a julgar boa a crueldade desnecessária para com inimigos. Isto é, o padrão

de avaliação deles difere do nosso. Devemos dizer então, que se alguém que faz parte da

nossa comunidade discordar num debate moral de um habitante desta outra comunidade, ao

menos algum deles está confuso ou não tem pleno domínio do vocabulário avaliativo? Parece

que não.

Parece que duas pessoas podem discordar a respeito de se certa propriedade

natural implica a presença de certa propriedade moral e nenhuma delas precisa estar aplicando

seus conceitos de maneira confusa: pode ser que uma delas esteja cometendo uma falha em

sua deliberação ou que seja de fato má, mas isso não abala sua competência no uso de

conceitos morais. Gostaríamos de dizer, por acaso, que, dado que há grande desacordo entre

filósofos praticantes de ética normativa, a maior parte destes filósofos aplica confusamente

seus conceitos morais?

Além da plausibilidade de negar (C*) se lemos os operadores de necessidade

como indicando necessidade analítica, devemos notar que os principais defensores do

cognitivismo não-redutivo de primeira ordem se comprometem com a negação de (C*) em

sua argumentação. No caso de Moore, o argumento da questão aberta tem por fim justamente

apontar que a propriedade designada por “bom” não está analiticamente ligada a nenhuma

propriedade natural. E Mackie13 admite explicitamente isto ao apresentar as dificuldades

metafísicas nas quais incorre esta forma de cognitivismo.

É exatamente à negação de (C*) que se referia (P): a instanciação de propriedades

avaliativas não é analiticamente implicada pela instanciação de propriedades descritivas. É

possível, para toda propriedade natural e para toda propriedade moral que exista um objeto

que instancia a propriedade natural e não instancia a propriedade moral. Talvez o cognitivista

13Ver MACKIE, J.L. "The Subjectivity of Values". In: MACKIE, J.L. Ethics: Inventing Right and Wrong. 1.ed.

London: Penguin, 1977, p.47: “Qual é a conexão entre o fato natural de que uma ação é um exemplo de

crueldade deliberada – digamos, causar dor por diversão – e o fato moral de que é errada? Não pode ser

implicação, uma necessidade lógica ou semântica” (nossa tradução)

Page 10: Cognitivismo Moral e Superveniência

poderia mostrar que (P) é falso se lido como afirmando uma possibilidade metafísica, mas se

(P) é lido como afirmando uma possibilidade analítica, então o cognitivista está

comprometido com (P). Chamaremos (P) de tese da ausência de implicação e ela pode ser

formalizada assim:

(P) ◊(G em N) (F em M) (x)(Gx ¬ Fx)

Embora não seja compatível com (C*), (P), lido como possibilidade analítica, é

compatível com (C). Suponha então, de acordo com a análise do cognitivista, que um objeto x

instancia a propriedade F que é a mesma propriedade designada por “bom”. Segundo (P), isto

não é analiticamente implicado pelo fato de x possuir as propriedades naturais, designadas por

“G”, que ele possui. Isto é, é logicamente possível que x fosse tal como é quanto a suas

propriedades descritivas mas que sua bondade não existisse. Em outras palavras, alguém que

admitisse que x é G poderia negar que é bom e nem por isso trairia incompetência no uso de

termos morais – a única acusação cabível seria de ignorância do fato empírico de que x

instancia a propriedade de ser bom. Mas de acordo com (C), qualquer outro objeto que

instancie G deverá ser também bom – e todos que negam isso ao mesmo tempo em que

admitem que x instancia G traem incompetência no uso de termos morais. Mas se “bom” é o

nome de uma propriedade e ela não tem nenhuma ligação analítica com G, porque, após

admitir que num caso bondade e G aconteceram juntas, elas necessariamente devem, como

questão de fato conceitual, acontecer juntas sempre? Se é uma possibilidade lógica que G

ocorre na ausência de bondade, porque não é uma possibilidade lógica que esta propriedade

que é a bondade às vezes acompanhe e às vezes não acompanhe G?

O problema pode ser tornado mais claro desta forma: (C) e (P) são verdadeiras em

razão dos nossos conceitos de propriedades morais. (C) mais a premissa de que x instancia

uma propriedade moral F implica que há uma propriedade descritiva G que x instancia e que é

sempre acompanhada de F. Mas isso é compatível com (P), segundo a qual, há mundos

possíveis onde G não implica F. Então são possíveis mundos onde todo G é F e mundos onde

nenhum G é F. Mas mundos onde algumas coisas que são G são F e outras coisas G não são F

são excluídos – eles não são uma possibilidade lógica e admitir sua possibilidade trai falta de

domínio dos termos relevantes.

A exclusão destes mundos mistos é um traço dos nossos conceitos avaliativos. Na

medida em que é implicado por trivialidades podemos dizer que é também uma trivialidade

sobre nossos conceitos morais. Mas como o cognitivista dá conta desta trivialidade? Se a

Page 11: Cognitivismo Moral e Superveniência

nossa noção de bom é a noção de uma propriedade, e uma propriedade tal que não tem ligação

analítica com nenhuma propriedade natural, porque um mundo no qual um objeto que é G

instancia a propriedade bom e outro objeto igual não a instancia não é um mundo possível?

Bem, parece que este seria um mundo possível. Se o cognitivismo não-redutivo de primeira

ordem fosse uma boa análise ela deveria excluir estes mundos mistos na medida em que isto é

um aspecto importante de nossos conceitos avaliativos – mas ele não o faz. O fato é que a tese

de que “bom” é o nome de uma propriedade combinado a (P) impede o cognitivista de dar

conta de (C) como uma verdade conceitual.

Uma análise cognitivista redutiva, segundo a qual “bom” é o nome de uma

propriedade natural qualquer, por exemplo, dá conta facilmente deste aspecto conceitual.

Dado que “bom” é, segundo esta análise, o nome de uma propriedade natural G a ser

determinada, algo é bom se e somente se é G. Um mundo onde algumas coisas G são boas e

outras não, não é uma possibilidade lógica simplesmente porque dizer que algo é G é o

mesmo que dizer que é bom.

Extraímos de aspectos conceituais reconhecidos pelo cognitivismo não-redutivo

de primeira ordem um traço conceitual do qual ele não dá conta. Temos então a objeção

conceitual que procurávamos.

Quão bom é o argumento? Mostramos que há um traço conceitual (banimento de

mundos mistos) que é consequência de verdades conceituais reconhecidas pelo cognitivista

(covariação e ausência de implicação) e que não pode ser explicada se tratamos o juízo moral

como a atribuição de uma propriedade de primeira ordem irredutível. Se tratamos a nossa

noção de bom como a noção de uma propriedade objetiva irredutível a qualquer propriedade

natural parece não haver a restrição conceitual aos mundos mistos que nossos conceitos

morais impõem. A princípio, é logicamente possível que a propriedade de ser bom ora ocorra

juntamente a uma propriedade qualquer, digamos, a propriedade de ser vermelho, ora não

ocorra. Dado que “bom” é o nome de uma propriedade que não está ligada em nível

conceitual a nenhuma outra propriedade, conforme (P), ela poderia às vezes acompanhar e às

vezes não acompanhar uma mesma propriedade num mesmo mundo.

Mostrar que o cognitivismo não-redutivo de primeira ordem dá conta de (C) lido

como uma necessidade metafísica não resolve o problema. O cognitivista poderia argumentar

que esta coisa a que chamamos de “bom” é tal que no nosso mundo sempre acompanha a

propriedade natural G e que podemos saber a posterori que o mesmo se dá em qualquer

mundo possível. Seja lá como esta descoberta seria possível, o não-naturalista concordaria

que ela não seria possível mediante uma investigação conceitual. Mas nossos conceitos

Page 12: Cognitivismo Moral e Superveniência

morais banem mundos mistos no nível conceitual, admitir tais mundos é sinal de

incompetência no uso de termos morais – não no nível metafísico, caso no qual negar tais

mundos mistos daria lugar apenas a acusações de ignorância de certos fatos importantes. Se

queremos afirmar que nossos conceitos morais são conceitos de propriedades irredutíveis não-

funcionais devemos mostrar como a noção de uma tal propriedade exclui conceitualmente a

possibilidade de mundos mistos – e uma vez admitido (P), esta parece uma tarefa impossível.

Se a bondade não está logicamente conectada com nenhuma propriedade ela pode, pelo

menos no que diz respeito a restrições conceituais, como que vagar livremente, ligando-se a

seu bel prazer a qualquer propriedade natural por tanto tempo quanto for conveniente.

Mas o cognitivista não-naturalista não pode resistir simplesmente afirmando que a

noção de uma propriedade irredutível não-funcional é tal que todo aquele que a compreende

reconhece que a propriedade em questão co-varia com propriedades naturais? Não era este

talvez o interesse em insistir em chama-la de propriedade não-natural, de maneira a enfatizar

uma certa relação peculiar com propriedades naturais? Isto é, ele não pode argumentar que é

parte do conceito de uma propriedade não-natural que ela respeita (C) e que, portanto,

mundos mistos não são de fato uma possibilidade analítica de acordo com a análise não-

naturalista?

Isso tornaria a covariação um fato lógico opaco e não-explicado a respeito de

nossos conceitos morais. Mas se isso é problemático, o cognitivista cético, como Mackie,

poderia argumentar que não passa de mais um erro incorporado a nosso pensamento moral, e

que tudo o que ele fez foi identificar este erro. Porém, creio que a tese de que este é um traço

conceitual da noção de uma propriedade não-natural não pode ser sustentada pelo não-

redutivista de primeira ordem.

Como ele poderia articular este traço conceitual? Um modo é dizer que a

propriedade designada por “bom” é tal que é analiticamente necessária que ela esteja ligada a

certas propriedades. Mas isso é negado por (P). Talvez ele possa dizer que é analiticamente

necessário que propriedades não-naturais, como a bondade, estejam ligadas a alguma

propriedade natural indeterminada. Isto é, que em mundos nos quais a propriedade é

instanciada ela é tal que sempre acompanha uma propriedade qualquer. Seria então um

aspecto conceitual da noção de uma propriedade desse tipo que ela adere regularmente a uma

propriedade aleatória em cada mundo possível onde existe. Ela seria, por assim dizer, uma

propriedade pegajosa: se num mundo possível qualquer ela se liga numa ocasião a uma

propriedade natural aleatória, ela permanece sempre ligada a esta mesma propriedade.

Agora, se podíamos tolerar a sugestão de que nossos conceitos morais são

Page 13: Cognitivismo Moral e Superveniência

conceitos de propriedades intrinsecamente motivadoras, não podemos tolerar a ideia de que

nossos conceitos morais são conceitos de propriedades não-naturais pegajosas. Este não é

apenas um traço conceitual opaco e sem explicação, é um traço conceitual bizarro e

totalmente inesperado. É absolutamente implausível sugerir que nossa noção de bom seja a

noção de uma propriedade deste tipo.

Então o argumento é bem-sucedido: o cognitivismo não-redutivo de primeira

ordem falha em acomodar trivialidades a respeito da covariação de propriedades morais e

propriedades naturais e, portanto, falha em dar conta de nossas noções morais. Não há razão,

então, para supor, como Mackie, que nossa prática moral incorpore erro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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