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CENTRO DE ESTUDOS DO DESERTO – CE.DO - NJAMBASANA – KUROKA – MUNICÍPIO DO TOMBWA – NAMIBE – ANGOLA C.P. 18301 – LUANDA/305 – NAMIBE – EMAIL: [email protected] – SITE: WWW.CE-DESERTO.COM – TEL. + 244 923 317 404 ǺL PROJECTOS E ACTIVIDADES DO CENTRO DE ESTUDOS DO DESERTO – CE.DO A. DESCRIÇÃO DA REGIÃO 1. O Projecto de acção do Centro de Estudos do Deserto – CE.DO, incide sobre as populações que habitam áreas desérticas e semidesérticas da Província do Namibe, abrangendo, de momento no Município do Tombwa, com expectativa para expandir-se ao Município do Virei, que somam, no total, mais de 70.000 pessoas em situações limite, de subsistência e mesmo de sobrevivência. 2. Tais situações devem-se aos constrangimentos próprios das regiões áridas, com chuvas que variam entre os 11 e os 400 mm anuais, ao pouco interesse económico que a região desperta que mesmo durante o período colonial não logrou qualquer programa de desenvolvimento, ao facto de uma parte significativa do território situar-se dentro de reservas e parques naturais e talvez mesmo ao fraco conhecimento que há destas populações de pastores e de caçadores recolectores. 3. A subsistência e os processos de sobrevivência nas condições referidas só são possíveis graças aos conhecimentos profundos que estas comunidades possuem das potencialidades do ecossistema e da forma de como obter dele os recursos mínimos necessários à vida individual e social, em particular, os limites da sustentabilidade que suporta. 4. Qualquer alteração no ecossistema, nas relações sociais ou a interferência externa provoca de imediato desajustes ao nível das pessoas e das suas interacções, dificultando o funcionamento dos grupos sociais e consequentemente dos elementos que os integram. 5. Desta forma, o impacto da globalização e o aumento da interferência externa sobre esses modos e práticas de vida, tal

ǺL PROJECTOS E ACTIVIDADES DO CENTRO DE ESTUDOS … CE.DO - estado actual-2010-10.pdf · mercadoria); iii. Possibilidade de parcelamento das aquisições pelos consumidores

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CENTRO DE ESTUDOS DO DESERTO – CE.DO - NJAMBASANA – KUROKA – MUNICÍPIO DO TOMBWA – NAMIBE – ANGOLA C.P. 18301 – LUANDA/305 – NAMIBE – EMAIL: [email protected] – SITE: WWW.CE-DESERTO.COM – TEL. + 244 923 317 404

ǺL

PROJECTOS E ACTIVIDADES DO CENTRO DE ESTUDOS DO DESERTO – CE.DO

A. DESCRIÇÃO DA REGIÃO

1. O Projecto de acção do Centro de Estudos do Deserto – CE.DO, incide sobre as populações que habitam áreas desérticas e semidesérticas da Província do Namibe, abrangendo, de momento no Município do Tombwa, com expectativa para expandir-se ao Município do Virei, que somam, no total, mais de 70.000 pessoas em situações limite, de subsistência e mesmo de sobrevivência.

2. Tais situações devem-se aos constrangimentos próprios das regiões áridas, com chuvas que variam entre os 11 e os 400 mm anuais, ao pouco interesse económico que a região desperta que mesmo durante o período colonial não logrou qualquer programa de desenvolvimento, ao facto de uma parte significativa do território situar-se dentro de reservas e parques naturais e talvez mesmo ao fraco conhecimento que há destas populações de pastores e de caçadores recolectores.

3. A subsistência e os processos de sobrevivência nas condições referidas só são possíveis graças aos conhecimentos profundos que estas comunidades possuem das potencialidades do ecossistema e da forma de como obter dele os recursos mínimos necessários à vida individual e social, em particular, os limites da sustentabilidade que suporta.

4. Qualquer alteração no ecossistema, nas relações sociais ou a interferência externa provoca de imediato desajustes ao nível das pessoas e das suas interacções, dificultando o funcionamento dos grupos sociais e consequentemente dos elementos que os integram.

5. Desta forma, o impacto da globalização e o aumento da interferência externa sobre esses modos e práticas de vida, tal

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como a iminente construção de uma barragem de grandes dimensões no rio Kunene, põem em risco a preservação das identidades dos grupos, tornando-os indistintos, anódinos e cada vez mais pobres em termos de coesão social e de auto-estima, perdendo as suas práticas culturais e a consequente capacidade de agir.

6. As condições de vida destas populações são muito precárias, podendo ser consideradas, nalguns casos, como extremamente pobres.

B. SITUAÇÃO OBSERVADA

1. A situação de pobreza descrita torna a vida muito penosa, sendo a maior parte deste peso suportado pelas mulheres e pelas crianças, nomeadamente:

a. Na procura da água,

b. Ao suportar a procriação, a maternidade e o aleitamento,

c. Pela incipiente rede escolar e a ausência do ensino profissional, sendo o acesso à escola dificultado pelo carácter transumante do seu modo de vida,

d. Pela falta de uma rede comercial, que compre os produtos da região e venda os bens de uso comum, substituída pelo comércio “ad-hoc” quase exclusivamente de álcool,

e. Na falta de cuidados médico-sanitários mínimos,

f. Pela inexistência de vias de acesso ou existência apenas de trilhos improvisados, em más condições, que dificultam a circulação regular de viaturas, obrigando a caminhadas de muitas dezenas de quilómetros.

2. O gado bovino abundante em toda a região, apenas é um valor económico na medida em que cria algum tipo de estratificação social, hierarquizando os estratos, conferindo diferentes parcelas de poder, consoante a sua posse maior ou menor. Sendo um factor de estruturação social, não é contudo, um valor comercial.

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3. A economia de permuta baseia-se principalmente no gado caprino e ovi-no, não existindo monetarização da economia.

4. Existem poucos es-tudos recentes sobre

a situação da população da região e das diferentes comunidades étnicas que a compõem. A própria literatura etnográfica colonial, valiosa muitas vezes pela informação que comporta, é escassa e pouco conclusiva no que respeita a esta região e seus habitantes.

5. Qualquer intervenção ou projecto realizado nesta região deve ter em conta estas circunstâncias.

6. O quadro exposto é aquele que nos ressalta após uma observação demorada e que não exclui a necessidade da identificação de outros problemas que afectam as comunidades, feita por elas próprias ou através de uma aturada pesquisa científica.

7. Outras intervenções que vierem a ter lugar devem ser antecipadas de um estudo de impacto ambiental, já que nas condições concretas do ecossistema em presença, qualquer interferência pode vir a ter consequências imprevistas.

C. ACTIVIDADES DO CENTRO DE ESTUDOS DO DESERTO

C.1 PROJECTO IDENTIDADE GÉNERO E DESENVOLVIMENTO

Neste Projecto-Base de intervenção social do Centro de Estudos do Deserto – CE.DO identificam-se acções de realização imediata que podem tornar mais confortável a vida destas comunidades, mitigando alguns dos grandes constrangimentos que afectam a sua vida quotidiana:

1. Comércio – estabelecimento de um sistema de comércio, pela instalação de pontos de venda (cantinas) distribuídos pelo território que adquiram a produção local e abasteçam de bens essenciais as populações ao longo do deserto, quer por troca, quer através da introdução do dinheiro na região;

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1.1. Sub-programa de comer-cialização e combate à fome, regido por quatro vectores:

i. Proximidade do produto ao consumidor, deixando este de depender, para se alimentar, do aparecimento esporádico de comerciantes ambulantes, assim como a oferta de uma maior variedade de produtos;

ii. Aquisição da produção local (bens trazidos pela população) com dinheiro, que será introduzido pela primeira vez na região, eliminando gradualmente a troca directa (permuta de gado por mercadoria);

iii. Possibilidade de parcelamento das aquisições pelos consumidores (venda a retalho), pelo recurso ao dinheiro, ao contrário da situação actual em que a permuta só permite aquisições a grosso;

iv. Divulgação de diferentes soluções de alimentação, com vista a enriquecer a dieta das comunidades, muito restrita e pobre, dependendo de variações sazonais, pela introdução de uma maior diversidade de alimentos que se revelem apetecíveis aos consumidores, após estudo e análise de critérios de consumo.

2. Saúde – criação de 2 postos médico-sanitários itinerantes, com capacidade para atender toda a população, em particular crianças, gestantes e mães, apoiados por duas ambulâncias 4x4;

Situação actual: em fase de acabamento a primeira cantina-piloto na região de Ombwu a 100 km do Tombwa; existem contactos para construção de outra cantina na área do Kuroka em regime de cooperativa. É necessário equipar e abastecer o empreendimento, assim como prover de um fundo destinado à aquisição inicial dos bens trazidos pela população. Valor necessário e de que não dispomos: →→→→ Equipamento: 200.000.00 Kz →→→→ Abastecimento: 500.000,00 Kz →→→→ Fundo de compras: 300.000,00 Kz →→→→ Total: 1.000.000,00 Kz (um milhão de Kwanzas)

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3. Formação Profissional – diversificação das capacidades profissionais da população, em particular das camadas mais jovens e das mulheres, através de formações adequadas às características da região, conju-gadas com a alfabetização, no Centro de Formação em Artes e

Ofícios, construído pelo CE.DO. Concomitante à formação será incentivada ao longo da região a criação de ateliers e oficinas das diferentes artes e ofícios ministrados no Centro para prestação de serviços e produção de bens de interesse colectivo, como forma de criar auto-emprego.

3.1. Sub-programa de construção em terra que teve início em Julho de 2009 com a realização do seminário e workshop “Arquitectura em Terra – Uma Aposta para o Desenvolvimento de Angola” e terá seguimento no 1º curso de construção em terra, a realizar no início do próximo ano, assim que sejam criadas as premissas financeiras, visa os seguintes objectivos:

i. Promover uma melhor qualidade de vida, no que respeita à habitação, nas aldeias e periferias urbanas, utilizando materiais de baixo custo e de utilização acessível;

ii. Nas zonas rurais não se propõe substituir a habitação tradicional das populações pastoris, conforme às condições ecológicas, económicas e sociais das suas culturas, mas prevenir o derrube excessivo dos arbustos utilizados na construção de certo tipo de habitações e mesmo o corte do valioso capim destinado a pastagens;

iii. O sistema construtivo utilizado para as construções em terra é económico, implica baixos custos de transporte, tem um bom comportamento térmico, pode recorrer a mão-de-obra pouco especializada e permite prazos de execução de obra muito

Situação actual: elaborado o Projecto; existem contactos com uma entidade privada para fornecimento da primeira clínica-móvel equipada; enquanto não for concretizado este programa, será prestado apoio às entidades municipais de saúde para desenvolverem assistência às comunidades transumantes com os meios de que o CE.DO dispõe.

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curtos;

iv. Utiliza materiais eco-lógicos, abundantes na natureza que não care-cem de processos de transformação de matérias-primas que consomem meios ener-géticos dispendiosos. É reciclável, e reutilizável,

é incombustível e não é tóxico.

v. Deste modo a imputação dos custos de impacto ambiental neste sector da construção tornam esta tecnologia privilegiada entre as outras, pelo que o CE.DO, opta pela sua divulgação e estudo, como uma premissa do desenvolvimento, numa área onde o equilíbrio energético se encontra no limite do viável.

4. Água – Abertura de poços artesianos (vulgo sondas) e colocação dos equipamentos de bombagem manual ou por painéis solares. Avaliação das possibilidades de irrigação para fins agrícolas ou de pastagens.

Situação actual: foi construído o pavilhão para o Centro de Formação em Artes e Ofícios com o patrocínio do Governo Provincial e da Toyota de Angola; existe o Projecto para realização das actividades de formação, entregue ao MAPESS e a uma entidade privada para apoio financeiro e em equipamento e monitores; estão identificados os seguintes cursos que oferecem interesse à população e que deverão ser realizados faseadamente, ao longo de 3 anos: - costura, processamento de frutas e legumes, dinamizador rural, artesanato, tecelagem, cerâmica, alfabetização e incentivo à leitura, informática com acesso à internet, mecânico, carpinteiro, guia turístico, pedreiro, serralheiro, bate-chapas, gestão de pequenos negócios; está em curso a adaptação de uma antiga escola, construída em adobe, para internato dos formandos provenientes das várias localidades, durante a frequência dos cursos. Valores a mobilizar: →→→→ Projecto de Formação (3 anos): 946.200,00 USD →→→→ 1º Curso de construção em terra: 10.000,00 USD →→→→ Reabilitação da residência de formandos: 20.000,00 USD

Situação actual: nenhuma acção realizada até ao momento.

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C.2 ACTIVIDADE CIENTÍFICA

O CE.DO tem como objecto fundamental contribuir com acções concretas para o estudo das regiões áridas e semi-áridas de Angola, nomeadamente o Deserto do Namibe, de modo a aprofundar o conhecimento das suas características físicas, ambientais e sociais, através da investigação científica, da educação e ensino, da consultoria e da assessoria técnica, de modo a contribuir para a protecção do ecossistema e para o desenvolvimento sustentável e endógeno destas regiões. (Ref: Estatutos)

a. Investigação Científica – o Centro de Estudos do Deserto oferece apoio logístico a investigadores singulares e institucionais que realizem pesquisas sobre a região, em qualquer disciplina científica.

b. Seminários do Centro de Estudos do Deserto – Os seminários têm uma frequência semestral e realizam-se em Njambasana/Kuroka (Namibe), tendo como objectivo reunir de forma regular investigadores, especialistas e outros interessados em questões relacionadas com o contexto das regiões áridas – desérticas e semi-desérticas, em particular do deserto do Namibe.

Situação actual: até ao momento participaram em actividades de investigação cerca de 70 estudantes e 5 docentes da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto; os temas de pesquisa incidem sobre as comunidades pré-bantu, Kwisi, Kwepe e Kwambundu e ainda o grupo Kimbari e sobre os comerciantes do deserto; existem protocolos assinados com o Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, com o qual se desenvolveu uma pesquisa sobre “O Capital Social da Região”; existem igualmente protocolos assinados com os Centros de Estudos Africanos da Universidade do Porto e do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), de Lisboa; a visita de trabalho de duas investigadoras portuguesas e de um antropólogo espanhol. Em curso contactos com a Universidade Federal de Santa Catarina de Florianópolis, Brasil, para recepção de estudantes de mestrado para pesquisa etnográfica na região. Do mesmo modo o ICS - Lisboa, pretende fazer deslocar uma doutoranda para estudos sobre migrações.

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Momento do 2ºSeminário

Njambasana, Setembro de 2010

Pelo Centro de Estudos do Deserto – CE.DO

Samuel Aço Antropólogo

Situação actual: até ao presente realizaram-se 2 seminários sob os temas: “A Arquitectura em Terra uma Aposta para o Desenvolvimento de Angola” que decorreu de 27 de Julho a 1 de Agosto de 2009 e “A Relevância dos Estudos Antropológicos em Angola”, realizado em 6 e 7 de Março de 2010, com participações excelentes em termos de presenças e intervenções; em preparação o 3º seminário sobre “A Biofísica do Deserto do Namibe, Paleontologia, Arqueologia e História da Região”, com realização