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HISTRIA GERAL DA
FRICA
E d i o e m P o r t u g u s
C O L E O
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Cermica Nbia Crist
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HISTRIA GERAL DA
FRICAA coleo Histria Geral da frica, publicada pela UNESCO (coleo HGA-
UNESCO) a partir dos anos 1980, ainda hoje a principal obra de referncia
sobre o assunto. Foi produzida ao longo de 30 anos por mais de 350 especialistas
das mais variadas reas do conhecimento, sob a direo de um Comit
Cientfico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois teros eram
africanos. Com verso completa editada em ingls, francs e rabe, a Coleo
agora disponibilizada em portugus com os oito volumes que a compem.
A obra permite compreender o desenvolvimento histrico dos povos africanos
e sua relao com outros povos a partir de uma viso panormica, diacrnica
e objetiva, obtida a partir de dentro do continente. Por isso, considerada
um divisor de guas na historiografia da regio, rompendo com a racializao
sistemtica que contamina os manuais de histria da frica.
Diante da relevncia da pesquisa, a UNESCO no Brasil contou com a parceria e
o financiamento do Ministrio da Educao, por meio da Secretaria de Educao
Continuada, Alfabetizao e Diversidade (Secad/MEC), e com a expertise da
Universidade Federal de So Carlos para editar e publicar a obra em portugus.
Ao ajudar a ampliar o conhecimento da sociedade brasileira sobre as diferentes
formas com que os saberes africanos tm colaborado, desde tempos imemoriais,
para a cultura e a produo do conhecimento cientfico mundial, a coleo HGA-
UNESCO contribui tambm para a transformao das relaes tnico-raciais
no Brasil. Isso porque, alm de oferecer material de significativa qualidade
para uso de pesquisadores, a obra serve de base para a criao de materiais
pedaggicos para utilizao em sala de aula.
A obra, que ser distribuda a todas as bibliotecas e universidades pblicas
brasileiras, uma contribuio fundamental para disseminar no Brasil a desco-
lonizao intelectual pela qual finalmente passa a historiografia africana.
A DESCOBERTA DE UM CONTINENTE
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Interessa voltar aos meados do sculo passado para perceber a perfeita con-
sonncia entre o projeto da Histria Geral da frica com as razes da prpria
origem da UNESCO, criada no ps-guerra, perodo da ciso do mundo em dois
grandes blocos e da Guerra Fria, bem como das lutas de libertao dos povos
africanos contra os poderes coloniais europeus.
A UNESCO surgia, em fins de 1946, como a Organizao do Sistema das
Naes Unidas dedicada construo da paz por meio da educao, da cin-
cia e da cultura. Nas suas primeiras dcadas de existncia, a Organizao
aposta firmemente na ideia de que conhecer melhor outras civilizaes e
culturas levaria a humanidade compreenso da origem dos conflitos,
do preconceito e da segregao raciais e, portanto, s condies para a paz.
O debate poltico vai, no entanto, demonstrando a necessidade de se enfa-
tizar a relao entre cultura e desenvolvimento para transform-la em
estratgia capaz, no apenas de permitir a expresso e o convvio das ideias,
mas, sobretudo, de constituir identidades e afirmar direitos humanos.
o conhecimento comoafirmao dos Direitos Humanos
Janela em terracota Sudo
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Nesse contexto, as naes africanas recm-independentes canalizam para a
UNESCO o desejo de tomar a palavra e contar uma nova histria de seu
continente, rompendo assim com a perspectiva raciolgica e eurocntrica at
ento vigente.
Em 1964, a UNESCO assume o desafio de elaborar e publicar a Histria Geral da
frica e, para isso, procede por etapas que se iniciam pela documentao e
planificao (1969-1971) at a criao de um Comit Cientfico Internacional
para assumir a responsabilidade intelectual do projeto e conduzir toda a
produo do seu contedo, que s seria concludo no incio da dcada de 1980.
Um trabalho de enorme flego: estudar todo o continente, mas agora a partir
de seu interior. Tratava-se, portanto, de encontrar um novo ponto de vista, em
bases cientficas, com o objetivo de lanar luz sobre uma histria comprometida
durante sculos pela viso dos viajantes, colonizadores e aventureiros que o
palmilharam, atendendo a interesses exgenos.
Mesquita Karwiyyin Marrocos
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Como libertar a histria da frica do rano da parcialidade, do culto aos
exotismos e da discriminao que impregnaram os estudos sobre o continente
e ainda ecoam com tanta insistncia?
Conscientes da dimenso do empreendimento, os 350 pesquisadores de
diversas reas de conhecimento envolvidos no projeto da HGA-UNESCO
adotam um caminho ainda hoje inovador: o da abordagem interdisciplinar
caracterizado pela complementaridade entre as fontes disponveis e pela
adoo de princpios comuns na busca de uma nova compreenso da histria
do continente africano.
A interdisciplinaridade permite ir alm dos limites da escassez de fontes
escritas, da rdua obteno dos testemunhos da arqueologia, da complexa
interpretao da tradio oral e dos estudos em lingustica. Se, de um lado,
existem tais dificuldades, de outro, a partir desse esforo metodolgico,
princpios inerentes pesquisa cientfica passam a balizar o trabalho, munin-
do o pesquisador dos instrumentos necessrios ao estudo. O caminho adota-
do no simples, mas constitui a nica via segura para modificar o discurso e
conduzir a uma nova conscincia do que a histria da frica. Condio
para compreender a histria universal em sua totalidade.
UM NOVO OLHAR PARA A FRICA
Wole Soyinka, escritor nigeriano, recebendo o Prmio Nobel de Literatura, em dezembro de 1986
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Quatro grandes princpios nortearam a preparao da HGA-UNESCO:
Interdisciplinaridade, para permitir que a histria se torne essadisciplina sinfnica em que a palavra dada simultaneamente a todos
os ramos do conhecimento; em que a conjuno singular das vozes se
transforma de acordo com o assunto ou com os momentos da pesquisa,
como disse Ki-Zerbo, historiador, ativista poltico de Burquina Fasso e
membro do Comit Cientfico para a produo da Coleo.
Perspectiva africana, para contar a histria do continente a partir dedentro, o que garante a conscincia de si mesmo e o direito diferena,
permitindo que, finalmente, as contribuies positivas de seus povos no
desenvolvimento da humanidade apaream.
frica vista em seu conjunto, ao atribuir maior destaque aos fatorescomuns aos seus diversos povos, que resultam das mesmas origens e
dos intercmbios milenares de homens, mercadorias, tcnicas, ideias
e conhecimento, superando o artificialismo das fronteiras nacionais
herdadas da partilha colonial.
Perspectiva cultural, ao privilegiar a histria dasideias e das civilizaes, das sociedades e
das instituies em detrimento de uma
histria meramente factual, que oferece
demasiado destaque aos atores, circuns-
tncias e influncias externas.
METODOLOGIA E PRINCPIOS
Um griot, tradicional contador de histrias africano
Estatueta Chokwe, representando
Chibinda Hunga, o legendrio fundador
do Imprio Lunda
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A originalidade da abordagem, o rigor cientfico e metodolgico e o esforo
de pesquisa e apurao de dados fazem da HGA-UNESCO um divisor de guas
para a historiografia do continente e dos povos africanos. A ttulo de ilustrao,
vale enumerar algumas das ideias inovadoras que aliceram a obra:
Estabelece a centralidade do continente como o bero da hu-manidade e aponta os diferentes intercmbios realizados em funo de
sua localizao geogrfica.
Afirma a unidade cultural das civilizaes africanas, apesar da diver-sidade de circunstncias geogrficas, histricas e socioculturais em que
surgiram.
Demonstra a continuidade da histria africana em busca de superaras rupturas provocadas pela sangria demogrfica e de recursos cau-
sada pelo trfico atlntico de escravos e pelo colonialismo, eviden-
ciando, portanto, a capacidade de resistncia de seus povos mesmo
em situaes extremas.
divisor de guas
Aqueduto de Chercell Arglia
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Essa nova perspectiva de observao e de leitura que a HGA-UNESCO
prope para os estudos e pesquisas a respeito da frica permitir:
O estabelecimento daunidade histrica do con-
tinente, por oposio
equivocada ciso entre o
norte rabe e o sul negro,
separados pelo deserto
do Saara. Um dos aspectos
revolucionrios da HGA,
nesse sentido, ter inte-
grado o Egito Antigo nas
dinmicas do conti-
nente como um todo.
O rompimento com a concepo ocidental da diviso entre Pr-Histria/ Histria Antiga, definida por um nico critrio: a escrita.
As relaes entre as diferentes partes docontinente africano e outras regies do mundo,
especialmente com o sul asitico, as Amricas e
o Caribe, certificando os aportes africanos para
outras civilizaes.
A resistncia dos escravos deportadospara a Amrica e a sua participao em
diversas luta