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1 AULA 15 Oi, pessoal. Vamos começar a ver hoje o tópico 7 do edital: “7. Práticas Desleais no Comércio Internacional. Medidas de Defesa Comercial: Antidumping, Compensatórias e de Salvaguarda. Defesa Comercial na OMC. Defesa Comercial no Mercosul. Defesa Comercial no Brasil.” Práticas Desleais no Comércio Internacional Toda vez que se fala de práticas desleais de comércio, devemos imediatamente nos reportar ao dumping e ao subsídio, que são as medidas referidas como tais. Em 1947, no pós-guerra, quando os países assinaram o GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – eles condenaram o uso do dumping e do subsídio. Para ser mais exato, o GATT é um acordo em que se condenaram todas as medidas protecionistas levantadas na década de 1930, em decorrência do Crash da Bolsa de Nova York. Quando estudarmos o GATT em aula futura, veremos que cada artigo veio focando uma determinada medida protecionista. Podemos ver a condenação ao dumping no artigo VI do Acordo: “Artigo VI – Direitos Anti-dumping Parágrafo 1 o – As partes contratantes reconhecem que o dumping, que permite a introdução dos produtos de um país no mercado de outro país a um preço inferior a seu valor normal, é condenável quando causa ou ameaça causar um dano significativo à indústria estabelecida no território de uma parte contratante ou se retarda sensivelmente a instalação de tal indústria. Parágrafo 2 o – Com o fim de se prevenir ou impedir o dumping, toda parte contratante poderá impor, sobre qualquer produto objeto de dumping, um direito antidumping que não exceda a margem de dumping relativa a tal produto.” Seguem as informações mais importantes sobre o dumping: 1 o ) Conceito de dumping: Venda para exportação por um preço inferior ao seu valor no mercado do país exportador;

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Toda vez que se fala de práticas desleais de comércio, devemos imediatamente nos reportar ao dumping e ao subsídio, que são as medidas referidas como tais.

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AULA 15

Oi, pessoal.

Vamos começar a ver hoje o tópico 7 do edital:

“7. Práticas Desleais no Comércio Internacional. Medidas de Defesa Comercial: Antidumping, Compensatórias e de Salvaguarda. Defesa Comercial na OMC. Defesa Comercial no Mercosul. Defesa Comercial no Brasil.”

Práticas Desleais no Comércio Internacional

Toda vez que se fala de práticas desleais de comércio, devemos imediatamente nos reportar ao dumping e ao subsídio, que são as medidas referidas como tais.

Em 1947, no pós-guerra, quando os países assinaram o GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – eles condenaram o uso do dumping e do subsídio. Para ser mais exato, o GATT é um acordo em que se condenaram todas as medidas protecionistas levantadas na década de 1930, em decorrência do Crash da Bolsa de Nova York. Quando estudarmos o GATT em aula futura, veremos que cada artigo veio focando uma determinada medida protecionista.

Podemos ver a condenação ao dumping no artigo VI do Acordo:

“Artigo VI – Direitos Anti-dumping

Parágrafo 1o – As partes contratantes reconhecem que o dumping, que permite a introdução dos produtos de um país no mercado de outro país a um preço inferior a seu valor normal, é condenável quando causa ou ameaça causar um dano significativo à indústria estabelecida no território de uma parte contratante ou se retarda sensivelmente a instalação de tal indústria.

Parágrafo 2o – Com o fim de se prevenir ou impedir o dumping, toda parte contratante poderá impor, sobre qualquer produto objeto de dumping, um direito antidumping que não exceda a margem de dumping relativa a tal produto.”

Seguem as informações mais importantes sobre o dumping:

1o) Conceito de dumping: Venda para exportação por um preço inferior ao seu valor no mercado do país exportador;

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2o) A comparação que se faz com o preço de exportação é relativamente ao preço normal de venda e não em relação ao custo de produção;

3o) O preço normal de venda não inclui os tributos, pois senão em toda exportação brasileira haveria a prática de dumping, visto que o Brasil não cobra IPI, PIS e COFINS nas exportações (só para citar os tributos federais), mas os cobra nas vendas internas;

4o) Nem todo dumping é condenável: só o é quando causar ou ameaçar causar um dano significativo à indústria do país ou o retardamento de implantação de tal indústria;

5o) Retardamento de instalação de uma indústria não é retardamento de instalação de uma firma. Em Economia, firma e indústria não são sinônimos. Indústria é o setor econômico e firmas são as pessoas jurídicas daquele setor. Por exemplo, pode-se dizer que a indústria de sapatos brasileiros é composta de 200 firmas concorrentes;

6o) O dano deve ser entendido no sentido amplo, ou seja, a ameaça de dano é considerada dano. Também o atraso para uma indústria se instalar é considerado dano;

7o) Uma medida antidumping somente pode ser tomada se ficar provado o DUMPING, o DANO e o NEXO CAUSAL, em que se prove que o dano decorre do dumping.

8o) Como se apura o dano?

Imagine que tenha sido descoberto o dumping. Por exemplo, a mercadoria está sendo exportada por R$ 8,00 (líquido de tributos) e é vendida no mercado do país exportador por R$ 10,00 (também líquido de tributos).

Para se definir se há dano causado por este dumping, três coisas devem ser avaliadas:

8.1) Deve ser feita uma comparação entre o preço da exportação com o preço da mercadoria similar no mercado do país importador. Por exemplo, se a mercadoria com dumping está sendo importada por R$ 8,00, mas os similares nacionais são vendidos a R$ 5,00, haverá dano? NÃO.

(Note que a comparação para ver a existência de DUMPING é o preço da exportação com o preço do produto no mercado do país EXPORTADOR.

E para ver se há DANO, deve-se comparar o preço da exportação com o preço do produto no mercado do país IMPORTADOR.)

8.2) Caso a mercadoria com dumping esteja sendo importada por R$ 8,00, mas os similares nacionais sejam vendidos a R$ 10,00, haverá dano? TALVEZ.

Aí tem que fazer a segunda pergunta: Qual o volume das importações?

Veja bem: as mercadorias estão sendo importadas com dumping e estão entrando no Brasil por R$ 8,00. Os similares nacionais são

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vendidos por R$ 10,00. Tem que se saber qual o volume de importações para se comparar com o volume produzido internamente. Por exemplo, se a produção interna atinge milhões de unidades por ano e a importação com dumping é de apenas 5 ou 10 unidades, será que a indústria brasileira vai sofrer algum dano em decorrência deste volume de importações? É óbvio que não.

Portanto, repito a segunda pergunta: O volume de importações com dumping é relevante comparado com a produção interna? Se não, NÃO há dano.

Se sim, tem que ser feita a 3a e última pergunta.

8.3) Chegamos à seguinte situação: Provou-se que existe dumping. Provou-se que o preço da importação é inferior ao preço do similar nacional. Provou-se que o volume de importações é muito grande comparando-o com a produção do similar nacional. A última pergunta para finalmente se concluir que há dano é: “Este preço de R$ 10,00 dos similares nacionais é um preço justo ou é um preço extorsivo?” Em outras palavras: “Há olho grande da indústria nacional?“

Por exemplo, o similar nacional tem condições de ser vendido por R$ 5,00? Se tiver, não haverá dano à indústria brasileira. O Governo pensa o seguinte: “Indústria esperta, acabou o seu reinado. Eu não vou te proteger. Vou abrir a concorrência para baixar preço para o consumidor brasileiro.”

Mas se o similar nacional está sendo vendido por R$ 10,00 e este é o preço justo, não abusivo, aí a empresa não teria condições de concorrer com o preço aviltado pelo dumping e então quebraria. Então fica caracterizado o dano.

Pronto, o dano pressupõe a ocorrência de três coisas:

1) o preço do similar nacional é superior ao preço do importado;

2) o volume de importações do bem objeto de dumping é grande se comparado à produção nacional; e

3) o preço do similar nacional é um preço justo.

Para ser rigoroso, vemos que o Acordo sobre a Implementação do Artigo VI assim define como se apura o dano:

“Artigo 3o – Determinação de Dano

1. A determinação de dano para as finalidades previstas no Artigo VI do GATT 1994 deverá basear-se em provas materiais e incluir exame objetivo: (a) do volume das importações a preços de dumping e do seu efeito sobre os preços de produtos similares no mercado interno; e (b) do conseqüente impacto de tais importações sobre os produtores nacionais desses produtos.”

9o) As medidas antidumping serão tomadas com o objetivo único de eliminar o dano, não o de impedir a importação;

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10o) As medidas antidumping (ou direitos antidumping) são barreiras não-tarifárias, visto que são criadas como sanção de ato ilícito internacionalmente. E, como vemos em Direito Tributário, nenhum tributo será instituído como sanção de ato ilícito. O direito antidumping é então um valor que o Governo cobra para “encarecer” a importação, eliminando o efeito danoso para a indústria nacional. Desta forma, o Governo cobra um valor do importador que o faça pagar exatamente o valor que estaria despendendo caso não houvesse o dumping;

11o) Por conta da conclusão do item anterior, a base de cálculo do imposto não é alterada. Para se defender do dumping não se cobra imposto a mais, não se altera base de cálculo do imposto nem alíquota do II. A base de cálculo continua sendo o valor aduaneiro, que pelo primeiro método é o valor de transação da mercadoria. O valor de transação não é alterado, senão se estaria aumentando a cobrança de imposto como sanção de ato ilícito.

Qual o remédio combinado e adotado entre os países para se defenderem de dumping?

Alíquota antidumping, num percentual igual à margem de dumping, ou seja, num percentual tal que faça o importador gastar exatamente o valor que estaria gastando se não houvesse o dumping. O Governo brasileiro cobra para si a diferença entre o valor do produto no mercado do país exportador e o preço da exportação.

Pode um país se defender de um dumping danoso mexendo na base de cálculo do imposto de importação? Não. E mexendo na alíquota do imposto de importação? Não.

Não se pode cobrar imposto em cima de uma base de cálculo diversa daquela atingida pelo Acordo de Valoração Aduaneira.

Ora, se a mercadoria está sendo importada pelo preço de R$ 8,00, sendo que é vendida a R$ 10,00 no mercado do país exportador, configurando o dumping, o imposto de importação será cobrado com base em qual valor: R$ 8,00 ou R$ 10,00?

Resp.: R$ 8,00.

O Acordo de Valoração Aduaneira tem como princípio básico de valoração o Princípio da Neutralidade. (Os princípios estão sendo pedidos no tópico 10 do edital. Vocês viram com o Missagia). O que é o Princípio da Neutralidade?

Significa que a valoração aduaneira não pode ser usada com outro objetivo que não seja a apuração da base de cálculo do imposto, ou seja, não posso mexer na base de cálculo para me defender de um dumping, por exemplo.

Para se defender de dumping ou de subsídio, há remédios específicos que não passam pelo uso da valoração aduaneira.

12o) Margem de dumping é o percentual necessário para fazer o preço artificialmente baixado voltar ao patamar original. Por exemplo, se

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uma mercadoria é vendida na Alemanha pelo preço equivalente a R$ 10,00, livre de impostos, haverá dumping se esta mesma mercadoria for exportada para o Brasil por um preço inferior aos R$ 10,00. Por exemplo, se for exportada por R$ 8,00. Com estes números, a margem de dumping será de 25%, visto que este percentual aplicado sobre os R$ 8,00 faz o importador brasileiro gastar os R$ 10,00 que já deveria estar pagando (R$ 8,00 vão para o exportador estrangeiro e R$ 2,00 vão para os cofres públicos como medida antidumping).

13o) Como se descobre o valor normal de um produto no mercado do país exportador?

O próprio artigo VI do GATT define o valor com o qual deve ser feita a comparação:

a) deve ser comparado o preço da exportação com “o preço de um produto similar, em operações comerciais normais, destinado ao consumo no mercado do país exportador;” OU

b) na falta deste valor, ou seja, caso não haja venda de produtos similares no mercado do país exportador, o valor da exportação deve ser comparado com “o preço mais alto para exportação de um produto similar a um terceiro país em operações comerciais normais” OU “com o preço de custo adicionado com despesas de venda e de um lucro normal.”

Em resumo, para apurar o dumping deve se verificar se o preço da mercadoria que está sendo exportada para o Brasil é menor que o preço de mercadoria similar vendida no país de exportação OU, no caso de não haver tal venda, deve ser comparado com exportações para terceiros países OU com o custo de produção acrescido de despesas de venda e lucro razoável.

Pelo amor de Deus, para se apurar dumping não se compara o preço da exportação com o custo de produção! Não se esqueça de que, quando se colocou acima que haverá uma comparação com o custo de produção, não será com o custo puro de produção. A este custo devem ser adicionadas despesas gerais e um percentual de lucro razoável.

Se você guardou este último parágrafo, você já consegue resolver várias questões da ESAF.

1a Pergunta: Caso não haja venda da mercadoria no território do país EXPORTADOR, pode estar havendo um dumping danoso ao país importador? Sim. Basta ver qual o preço das exportações para terceiros países OU o custo de produção acrescido de despesas e lucro razoável.

Se o preço para terceiros for maior que o preço da exportação para nós, então estará havendo dumping. Para ver se é danoso, precisamos ainda ver se este dumping está trazendo dano material, ameaça de dano material ou retardamento na implantação de indústria.

Se o preço da exportação é menor que o custo de produção, está havendo dumping? Sim. MAS, POR FAVOR, para ser considerado

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dumping não precisa ser um valor abaixo do custo de produção. Tem que ser abaixo do preço normal de venda. Mas é claro que se o preço da exportação estiver abaixo do custo de produção, também estará havendo dumping, já que uma mercadoria não é vendida no mercado do país exportador por um preço abaixo do custo de produção. Podemos não saber qual o valor do bem no mercado do país exportador, mas com certeza sabemos que ele não pode ser menor do que o custo de produção. Para ver se é danoso, precisamos ainda ver se este dumping está trazendo dano material, ameaça de dano material ou retardamento na implantação de indústria.

2a Pergunta: Caso não haja venda da mercadoria no território do país IMPORTADOR, pode estar havendo um dumping danoso ao país importador? Não. Ora, se não há produção nacional, qual o dano que estaria sendo gerado para a indústria brasileira?

Não confunda com a idéia do retardamento substancial na implantação da indústria. Pense o seguinte: o dano somente estaria sendo gerado para uma indústria nascente se houvesse um mercado consumidor no país e se quisesse reservar este mercado para ela. Se não há consumo interno, não há mercado a ser reservado.

Existe uma modalidade especial de dumping que é o dumping social.

No dumping social, o preço baixo é decorrente da falta ou redução de direitos sociais, por uso de mão-de-obra escrava, infantil ou em condições subumanas. O Brasil freqüentemente é acusado, principalmente pelos Estados Unidos, de praticar o dumping social, pela existência desses problemas na nossa sociedade.

No Brasil, a investigação sobre a existência do dumping é da Secretaria de Comércio Exterior – SECEX – do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Esta Secretaria dentro do MDIC é o órgão responsável por defender e promover o desenvolvimento do país usando políticas de comércio exterior. Toda vez que o comércio exterior brasileiro estiver trazendo danos ao país, a SECEX toma providências.

É a SECEX que vai investigar a ocorrência do dumping. É a SECEX também que irá verificar se este dumping está trazendo danos ao país.

Deve-se frisar: o país somente pode tomar alguma medida de defesa contra o dumping se este estiver trazendo dano ao país (dano no sentido amplo: dano material, ameaça de dano material ou retardamento na implantação de indústria).

Cabe à SECEX investigar, mas à CAMEX fixar a alíquota antidumping.

O que é a CAMEX?

A Câmara de Comércio Exterior, do Conselho de Governo, é o órgão que coordena os vários ministérios envolvidos no comércio exterior brasileiro. Coordena a atuação dos vários ministérios evitando conflitos

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e invasões de competência. É uma das várias câmaras do Conselho de Governo. Este Conselho possui várias câmaras, em que cada uma é responsável pela coordenação dos ministérios envolvidos no mesmo assunto.

Como o comércio exterior é um assunto que envolve vários ministérios (Fazenda, Desenvolvimento, Agricultura, Saúde, Defesa, ...), viram que seria interessante criar uma câmara que direcionasse os ministérios no assunto comércio exterior. Desta forma, a CAMEX faz um controle evitando invasão de competência e evitando conflitos negativos de competência, quando fica um vácuo em que uma função não é assumida por nenhum órgão.

A CAMEX define diretrizes de atuação para os vários ministérios.

Pode-se dizer que a CAMEX é o órgão máximo do comércio exterior brasileiro, pois pertence ao Conselho de Governo, que é um órgão de assessoramento direto e imediato ao Presidente da República. Estando diretamente ligado à Presidência da República, não possui hierarquia institucional sobre os ministérios, mas possui hierarquia funcional. As decisões acerca do comércio exterior somente podem ser tomadas com a aquiescência da CAMEX.

Sendo o órgão superior, cabe à CAMEX a definição de todas as alíquotas federais cobradas no comércio exterior:

1) imposto de importação (já vimos quando tratamos do Mercosul que a CAMEX faz a internalização das decisões emanadas dos órgãos decisórios do bloco),

2) imposto de exportação (idem, lembrando que para um bloco ser considerado uma união aduaneira não precisa usar as alíquotas totalmente iguais às dos demais países do bloco),

3) alíquotas antidumping (vimos que é a forma de defesa contra dumping danoso ao Brasil);

4) medidas compensatórias (veremos que são a forma de defesa contra subsídios danosos ao Brasil)

5) cláusulas de salvaguarda (vimos no Mercosul que as cláusulas de salvaguarda são o reerguimento de barreiras, visto que sua eliminação está gerando danos para o país. Guarde isso: o dumping e o subsidio são medidas desleais. Já na imposição de cláusula de salvaguarda, não se está defendendo de nenhuma deslealdade, mas de uma dificuldade que está atingindo a indústria brasileira!)

Dumping é um assunto que tem caído muito em provas da ESAF. Em TODAS as provas anteriores, houve pelo menos uma questãozinha envolvendo este assunto:

(AFTN/96) Entende-se por “dumping social”:

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a) As vantagens comerciais decorrentes dos fluxos migratórios. b) A exportação deliberada de excedentes de mão-de-obra. c) O estabelecimento de subsídios aos produtos exportados de elevado custo social. d) A venda de produtos no mercado internacional a preços muito baixos, em razão da existência de um mercado de trabalho doméstico aviltado. e) A utilização de mecanismos de subsídios à produção e comercialização de bens cuja produção é feita com mão-de-obra intensiva. Resp.: Dumping social é usar mão-de-obra sem direitos sociais ou com pouquíssimos direitos. Letra D. (AFTN/98) Nas afirmativas abaixo mencionadas há uma declaração incorreta acerca do conceito e/ou do processo de dumping. Identifique-a: a) Trata-se de uma prática desleal de comércio. b) Não basta provar a existência do dumping, é necessário provar que houve dano à produção doméstica. c) Dumping é a introdução de um bem no mercado doméstico por um preço de exportação inferior ao valor normal, isto é, ao seu preço de custo. d) A empresa que se sentir prejudicada deve endereçar uma petição à Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) solicitando uma ampla investigação. e) Caso os resultados da investigação concluam pela procedência da reclamação, as autoridades fixarão direitos antidumping. Resp.: Dumping não é vender por um preço abaixo do seu preço de custo, mas abaixo de seu preço de venda no mercado do país exportador ou, não havendo esta venda, por critérios alternativos que vimos acima. Portanto, a letra C é o gabarito. Note bem: Se estiver sendo vendida uma mercadoria por um preço abaixo do seu custo de produção, estará havendo dumping? Lógico que sim, pois se a exportação é por R$ 5,00 e o custo de produção é R$ 8,00, obviamente que o preço normal de venda será superior a R$ 8,00. Por exemplo, R$ 10,00. Mas não é necessária a venda por um preço abaixo do custo de produção para se caracterizar o dumping. A Letra A está perfeita. Duas são as práticas desleais de comércio: o dumping e o subsídio, sendo que este veremos a seguir.

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Letra B: Para ser mais completo, tem que haver o dumping, o dano e o nexo causal. Tem que provar que o dano decorre daquele dumping. Não basta haver dumping e dano, tem que provar que um é decorrente do outro, ou seja, tem que provar o nexo causal. Letra D: Perfeito. É a SECEX quem investiga. Letra E: Perfeita. Só para fechar: a SECEX investiga, mas quem fixa é a CAMEX. (AFRF/2000) Acerca do Dumping não é correto afirmar: a) Caso não haja a venda de produto similar no mercado doméstico, deve-se comparar com vendas de produtos similares em outros mercados. b) Para uma medida antidumping ser adotada é preciso que haja uma investigação de acordo com o Acordo Antidumping. c) O GATT e a OMC não proíbem práticas de dumping se elas forem voltadas para o mercado interno. d) Um produto é exportado com preço de dumping se é introduzido no comércio exterior de outro País por um valor inferior ao vendido no mercado doméstico. e) Os custos devem ser calculados com base no registro do País importador do bem.

Resp.: Letra A.

Antes de resolvermos a questão, devemos deixar claro o seguinte: Pelo Decreto 1.602/95, que regulamentou o Acordo sobre a Implementação do Artigo VI do GATT (Acordo Anti-Dumping, administrado pela OMC), ficou definido que:

a) “mercado doméstico” é o mercado brasileiro, ou seja, o mercado do país importador; e

b) “mercado interno do país exportador” é a expressão para designar o mercado doméstico do país exportador.

Isto posto, vamos à resolução da questão: Se não houver a venda de mercadoria similar no mercado doméstico, vai investigar o quê? Para quê? Não estará havendo dano ao mercado interno pelo simples fato de que não se consome aquele produto internamente. Com certeza não se deve fazer investigação ou comparação alguma. Por isso, a letra A está errada e é o gabarito oficial. Mas... vejamos as outras (problemáticas).

A letra B é tranqüila.

Na letra C, a ESAF inventou. Veja o conceito de dumping no artigo VI do GATT:

“Parágrafo 1o – As partes contratantes reconhecem que o dumping, que permite a introdução dos produtos de

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um país no mercado de outro país a um preço inferior a seu valor normal, é condenável quando causa ou ameaça causar um dano significativo à indústria estabelecida no território de uma parte contratante ou se retarda sensivelmente a instalação de tal indústria.”

Existe dumping interno? ABSOLUTAMENTE NÃO. Dumping, segundo o artigo VI do GATT, é colocar um bem no “mercado de outro país”.

O que a ESAF quis dizer provavelmente é “não estará proibida a venda interna por um preço abaixo do valor normal de venda interna.” (Desculpe a redundância, mas para explicar esta questão, só assim.)

É lógico que o GATT nem a OMC condenam “dumping interno” (sic). O GATT é um acordo internacional e, se estiver havendo um “dumping interno” (sic), isso não afeta os demais países. Por que o GATT, que é um acordo internacional, se meteria em questões internas de cada país que não afetassem os demais países?

A letra D é o próprio conceito de dumping. Mas a ESAF usou a expressão “mercado doméstico” para o mercado do país exportador. Dá para perceber isso e aceitar porque ficou claro o que ela quis escrever.

A ESAF considerou correta a afirmativa da letra E, mas ela também é problemática. Vejamos.

“Os custos devem ser calculados com base no registro do País importador do bem.”

Para se configurar o dumping, qual a comparação que se faz? O preço de exportação com o preço no mercado do país EXPORTADOR.

Para se configurar o dano, qual a comparação que se faz? São três verificações: 1) o preço da importação do bem objeto de dumping é menor do que o preço de similar no mercado do país importador? 2) o volume de importações do bem objeto de dumping é relevante? e 3) o preço do similar nacional é um preço justo?

Se houve respostas positivas nas TRÊS questões, fica caracterizado o dano.

Portanto, a ESAF não foi muito feliz na letra E. O que ela talvez quis dizer é “para apurar o dano, os custos devem ser calculados com base no registro do País importador do bem.”

Fica esquisito do jeito que ela colocou: “para apurar o dumping, os custos devem ser calculados com base no registro do País importador do bem.” Só se a ESAF estiver considerando que no país importador há um registro dos valores de todas as mercadorias transacionadas no mundo inteiro. E, olhando estes registros internos, o Governo brasileiro, por exemplo, detectaria uma importação por um preço abaixo do que ele tem nos seus registros. Em outras palavras, o Governo teria, em uma base interna de dados, os valores de todas as

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mercadorias transacionadas nos países que exportam bens para o Brasil. E toda vez que houvesse uma exportação para o Brasil, o Governo brasileiro checaria nos seus registros o valor de mercadoria idêntica transacionada no mercado do país exportador.

Isto é inverossímil.

Eu acho que a ESAF simplesmente se enrolou entre o conceito de dumping e o de dano.

No ano de 2000, eu fiz recurso contra esta questão para que os concursandos apresentassem, mas não houve sucesso.

Já que falei de recursos, quero deixar registrado: nós estamos resolvendo neste curso todas as questões da prova de AFRF2003 e dos anos anteriores. A prova de 2003 fugiu do padrão. Só para terem uma idéia: das 30 questões, eu fiz recurso para tentar anular 16! Prova problematiquíssima. Anularam só 2 ou 3.

(AFRF/2002-1) A venda de uma mercadoria no exterior a preços inferiores aos normalmente praticados no mercado de origem configura prática comercial denominada: a) Dumping. b) Drawback. c) Direito compensatório. d) Clearance. e) Subsídio. Resp.: Essa é mole. Letra A. (AFRF/2002-2) O tratamento fiscal aplicável na valoração aduaneira das mercadorias objeto de dumping: a) Assemelhando-se a uma importação de mercadorias a um preço inferior aos preços correntes de mercado para mercadorias idênticas, é o da rejeição pelo Fisco do valor declarado. b) É o mesmo reservado às mercadorias importadas a um preço inferior aos preços correntes de mercado para mercadorias idênticas, ou seja, o valor declarado deve ser admitido pelo Fisco, sem prejuízo de seu direito à confirmação do valor de transação. c) Consiste em acrescer ao valor de transação a parcela correspondente à margem de dumping necessária a tornar o valor de transação igual ao do preço corrente de mercado para mercadorias idênticas. d) É o mesmo reservado às mercadorias objeto de subfaturamento, ou seja, a diferença entre o preço corrente de mercado para mercadorias idênticas e o valor de transação deverá ser tributado à alíquota fixada na Tarifa Externa Comum, com aplicação das multas fiscais e

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administrativas previstas nos artigos 524 e 526, III do Regulamento Aduaneiro. e) Visto tratar-se o dumping de uma prática desleal no comércio exterior, consiste na rejeição do valor declarado, selecionando-se a mercadoria para o canal cinza de conferência aduaneira e aplicando-se à mercadoria um valor baseado no preço das mercadorias vendidas para exportação para um terceiro País.

Resp.:

Para se defender de um dumping, não se usa a valoração aduaneira. Logo, o tratamento fiscal aplicável na valoração aduaneira é o mesmo que é dado a todas as importações. Desta forma, se o valor de transação da mercadoria é R$ 8,00, esta será a base de cálculo, apesar da existência do dumping. Letra B.

A letra B ainda complementa dizendo apenas que o valor de transação deve ser confirmado. Se está sendo importado por R$ 8,00, esta será a base de cálculo. Apenas tem que ver se a mercadoria está sendo importada por este valor mesmo. Se estiver, a base de cálculo é o valor declarado.

A letra A diz que o valor de transação será rejeitado. Falso. O imposto será cobrado pelo valor de transação.

A letra C diz que o valor de transação será aumentado da parcela de dumping. Falso. A base de cálculo do imposto (o valor de transação) não é mexida para se defender de dumping.

A letra D fala que será tributada a diferença entre o valor declarado e o preço normal de venda no mercado do país exportador. Falso. A defesa não é cobrando mais imposto. É cobrando uma alíquota antidumping.

A letra E fala de rejeição do valor declarado. Falso. O imposto de importação incide sobre o valor declarado. O remédio para se defender do dumping é cobrando uma alíquota antidumping. (AFRF/2003) Sobre a prática do dumping no comércio internacional, é correto afirmar-se que: a) É considerada prática desleal de comércio e define-se como a determinação do preço de exportação de uma mercadoria, com base nas diferenças entre os custos de produção nos mercados de origem e de destino. b) É admissível na normativa da Organização Mundial do Comércio desde que devidamente mensurado em sua magnitude e impacto sobre os fluxos de comércio e sempre que almeje a conquista de mercados, onde não há condições eqüitativas de concorrência. c) É incongruente com a normativa da Organização Mundial do Comércio na medida em que define a formação do preço de um bem

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exportável em patamares inferiores aos custos de produção desse mesmo bem, nos mercados a que se destina. d) É prática de formação de preços que, caso implique o deslocamento de competidores em mercados de exportação, passa a ser considerada desleal, consistindo na concessão de subsídios à produção e à exportação com vistas a elevar a competitividade preço de um bem exportado. e) Representa medida considerada distorcida das condições de competição, consistindo na fixação de um preço de exportação para um determinado bem menor que aquele praticado no mercado em que este mesmo bem é produzido. Resp.: Letra A: Falsa. Para se apurar o dumping, a comparação não é entre custos de produção, mas entre valor de venda no mercado do país exportador e o preço da exportação. Letra B: Falsa. não haver condições eqüitativas de concorrência não é permissão para se praticar o dumping. Caso o dumping esteja trazendo danos ao país, este pode se defender, não interessando mais nada. Letra C: Falsa. Dumping não é venda por preço abaixo do custo de produção! Letra D: Falsa. Subsídio não é dumping. E dumping não é subsídio. Estudaremos a seguir os subsídios. A resposta é a letra E, que é o próprio conceito de dumping.

SUBSÍDIOS

Nos artigos VI e XVI do GATT, os países escreveram a condenação ao uso dos subsídios.

O que é subsídio?

O artigo XVI do GATT define que “Se uma parte contratante concede ou mantém um subsídio, incluída toda forma de sustentação de renda ou de preços, que tenha, direta ou indiretamente, o efeito de aumentar suas exportações ou reduzir as importações deste produto para seu território...”

E o artigo VI do GATT serve para complementar este conceito “...subsídio que seja concedido, direta ou indiretamente, à fabricação, à produção ou à exportação de produto no país de origem ou de exportação, incluindo os subsídios dados para o transporte de bens.”

No artigo VI está escrito que nenhuma medida compensatória será adotada em um valor superior à margem de subsídio, ou seja, a

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medida compensatória deve ser justa, aplicada apenas para eliminar a distorção criada, mas sem impedir a importação.

O mesmo artigo VI impõe que nenhum produto estará sujeito simultaneamente à aplicação de direitos antidumping e de direito compensatório. Não dá para aplicar as duas medidas de defesa, ainda que as duas deslealdades ocorram.

Por exemplo, imagine que um produto seja vendido no país de exportação por R$ 10,00. Entra o Governo e dá R$ 2,00 para que o seu exportador cobre apenas R$ 8,00 do importador brasileiro. A lógica é: o Governo paga para diminuir preço para o importador do outro país para tentar quebrar as empresas daquele país. O Governo que subsidia perde dinheiro num primeiro momento, mas, como conseqüência, serão aumentadas as exportações e outros ganhos o Governo vai obter, tais como o aumento das reservas cambiais, deixando de pressionar a moeda nacional, o aumento do emprego e conseqüente aumento do consumo interno...

Apesar de o Governo, no exemplo que estamos vendo, ter dado R$ 2,00 para a empresa exportadora, pode ocorrer que esta empresa ainda pratique um dumping. Por exemplo, se, em vez de vender por R$ 8,00, ela decide vender por R$ 6,00, teremos um dumping. Guarde o seguinte: se há intervenção do Governo, estamos falando de subsídio. Se o exportador está recebendo um valor menor do que aquele que obteria no próprio mercado, está havendo dumping.

Se o Governo dá R$ 2,00 para a empresa e ela exporta por R$ 8,00, já que recebeu uma parte do próprio Governo, há subsídio.

Se, no mesmo caso, ela exporta por R$ 6,00, tendo recebido R$ 2,00 do Governo, está havendo dumping E subsídio.

Mas o artigo VI do GATT fala assim: Deve ser cobrada uma alíquota só, seja antidumping, seja medida compensatória.

No caso, o país vai cobrar uma alíquota tal que faça o importador brasileiro pagar R$ 10,00 no final das contas. Se o importador está pagando R$ 6,00 ao exportador, ele deverá completar o valor pagando R$ 4,00 para o Governo. O nome é só um detalhe: poderia ser chamada esta cobrança tanto de alíquota antidumping quanto de medida compensatória, já que o subsídio e o dumping existem no mesmo caso.

O que o GATT fez foi racionalizar: para que cobrar duas coisas diferentes? Para que abrir duas investigações diferentes? Aplica a defesa como se somente houvesse o dumping ou somente o subsídio. E faz o preço de R$ 6,00 voltar a R$ 10,00 dando a esta alíquota o nome que quiser.

Com o passar do tempo, os países signatários do GATT sentiram necessidade de serem mais claros na condenação ao subsídio. Sentiram também necessidade de deixar que alguns subsídios fossem concedidos sem problema algum. Por isso, celebraram um novo Acordo

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em que se regulamentava todo o mecanismo envolvendo os subsídios, condenando expressamente uns e liberando expressamente outros.

Vejamos os artigos principais do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias: “1 - Para os fins deste Acordo, considerar-se-á a ocorrência de subsídio quando:

a.1) haja contribuição financeira por um governo ou órgão público no interior do território de um Membro (denominado, a partir daqui, “governo”), isto é:

i) quando a prática do governo implique transferência direta de fundos (por exemplo, doações, empréstimos e aportes de capital), potenciais transferências diretas de fundos ou obrigações (por exemplo, garantias de empréstimos); ii) quando receitas públicas devidas são perdoadas ou deixam de ser recolhidas (por exemplo, incentivos fiscais tais como bonificações fiscais); iii) quando o governo forneça bens ou serviços além daqueles destinados à infra-estrutura geral, ou quando adquire bens; iv) quando o governo faça pagamentos a um sistema de fundo, ou confie ou instrua órgão privado a realizar uma ou mais das funções descritas nos incisos “i” a “iii” acima, as quais seriam normalmente incumbência do Governo e cuja prática não difira, de nenhum modo significativo, da prática habitualmente seguida pelos governos; ou

a.2) haja qualquer forma de receita ou sustentação de preços no sentido do art. XIV do GATT 1994; e

b) com isso se confira uma vantagem.”

Note que em toda situação de subsídio definida no artigo 1o faz-se menção ao governo. É dinheiro público entrando para uma empresa.

Perceba também que subsídio é dar dinheiro, mas também deixar de cobrar dinheiro ou agir como garantidor (“fiador ou avalista”) de alguém.

Mas pode ser considerada subsídio uma operação em que o governo faça um tabelamento de preço ou algo análogo (“sustentação de preços”).

Por último, a ajuda do Governo só é tratada como subsídio se for conferida uma vantagem ao destinatário da ajuda.

Os países signatários do GATT concluíram que alguns subsídios poderiam ser aceitos e os listaram no Acordo Sobre Subsídios e

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Medidas Compensatórias. Chamaram-nos de Irrecorríveis. Decidiram também listar os Proibidos e os Recorríveis.

Portanto, “Irrecorríveis” são os subsídios permitidos sempre. “Proibidos” não podem nunca ser usados. Subsídios “Recorríveis” só podem ser atacados se o dano ficar provado.

Vejamos cada um desses gêneros de subsídio.

No caso dos subsídios elencados como Irrecorríveis, nenhum país poderá reclamar caso um outro esteja concedendo por uma das formas incluídas no artigo 8o:

“Art. 8 - Identificação de subsídios irrecorríveis 1 - Serão considerados irrecorríveis os seguintes subsídios: a) os que não são específicos no sentido do art. 2; b) os que são específicos no sentido do art. 2, mas que preenchem todas as condições enumeradas nos parágrafos 2.a, 2.b e 2.c abaixo. 2 - A despeito do disposto nas Partes III e V, os seguintes subsídios serão considerados irrecorríveis:

a) assistência para atividades de pesquisa realizadas por empresas ou estabelecimentos de pesquisa ou de educação superior vinculados por relação contratual, se: a assistência cobre até o máximo de 75 por cento dos custos da pesquisa industrial ou de 50 por cento dos custos das atividades pré-competitivas de desenvolvimento; e desde que tal assistência seja limitada exclusivamente a:

i) despesas de pessoal (pesquisadores, técnicos e outro pessoal de apoio empregado exclusivamente na atividade de pesquisa); ii) despesas com instrumentos, equipamentos, terra e construções destinados exclusiva e permanentemente à atividade de pesquisa (exceto quando tenham sido arrendados em base comercial); iii) despesas com consultorias e serviços equivalentes usados exclusivamente na atividade de pesquisa, incluindo-se aí a aquisição de resultados de pesquisas, de conhecimentos técnicos, patentes, etc.; iv) despesas gerais adicionais em que se incorra diretamente em conseqüência das atividades de pesquisa; v) outras despesas correntes (como as de materiais, suprimentos e assemelhados) em que se incorra diretamente em conseqüência das atividades de pesquisa.

b) assistência a uma região economicamente desfavorecida dentro do território de um Membro, concedida no quadro geral do desenvolvimento regional, e que seja inespecífica (no sentido do art. 2) no âmbito das regiões elegíveis, desde que:

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i) cada região economicamente desfavorecida constitua área geográfica contínua claramente identificada, com identidade econômica e administrativa definível; ii) seja a região considerada economicamente desfavorecida a partir de critérios neutros e objetivos, que demonstrem serem suas dificuldades originárias de outros fatores além de circunstâncias temporárias; tais critérios serão claramente expressos em lei, regulamento ou outro documento oficial, de forma a permitir-lhe a verificação; iii) os critérios incluirão medida do desenvolvimento econômico, baseada em pelo menos um dos seguintes fatores:

- renda per capita, ou renda familiar per capita, ou Produto Nacional Bruto per capita, que não deverá ultrapassar 85 por cento da média do território em causa; - taxa de desemprego, que deverá ser pelo menos 110 por cento da média do território em causa;

apurados por um período de três anos; tal medida, porém, poderá resultar de uma composição de diferentes fatores e poderá incluir outros não indicados acima.

c) assistência para promover a adaptação de instalações existentes a novas exigências ambientalistas impostas por lei e/ou regulamentos, de que resultem maiores obrigações ou carga financeira sobre as empresas, desde que tal assistência:

i) seja excepcional e não recorrente; ii) seja limitada a 20 por cento do custo da adaptação; iii) não cubra custos de reposição e operação do investimento, que devem recair inteiramente sobre as empresas; iv) esteja diretamente vinculada e seja proporcional à redução de danos e de poluição prevista pela empresa e que não cubra nenhuma economia de custos eventualmente verificada; e

v) seja disponível para todas as firmas que possam adotar o novo equipamento e/ou os novos processos produtivos.”

O artigo 8o do Acordo dispõe que os subsídios não-específicos (também chamados de subsídios genéricos) são permitidos. Também são permitidos três específicos:

a. Para atividades de pesquisa (há limites);

b. Para região economicamente desfavorecida (há condições para que seja assim considerada). Interessante notar que a própria Constituição Federal/88, ao dispor sobre o Princípio da Uniformidade (art. 151, I), permitiu a concessão de tratamento tributário distinto para fins de promover o

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equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico de regiões menos favorecidas; OU

c. Para atender a questões ambientais (há limites). Por exemplo, se o Governo cria novas exigências ambientais, as empresas, para se ajustarem a elas, terão um custo. É permitido que o Governo as ajude desde que seja dentro de limites determinados.

Mas o que são subsídios genéricos e subsídios específicos? O conceito está no artigo 2o do Acordo:

“Artigo 2o – Especificidade 1 - Com vistas a determinar se um subsídio ... destina-se especificamente a uma empresa ou produção, ou a um grupo de empresas ou produções ... dentro da jurisdição da autoridade outorgante, serão aplicados os seguintes princípios:

a) o subsídio será considerado específico quando a autoridade outorgante ou a legislação pela qual essa autoridade deve reger-se explicitamente limitar o acesso ao subsídio a apenas determinadas empresas; b) não ocorrerá especificidade [ou seja, será genérico o subsídio] quando a autoridade outorgante ou a legislação pela qual essa autoridade deve reger-se estabelecer condições ou critérios objetivos que disponham sobre o direito de acesso e sobre o montante a ser concedido, desde que o direito seja automático e que as condições e critérios sejam estritamente respeitados. As condições e critérios deverão ser claramente estipulados em lei, regulamento ou qualquer outro documento oficial, de tal forma que se possa proceder à verificação; ...

2 - Será considerado específico o subsídio que seja limitado a determinadas empresas localizadas dentro de uma região geográfica situada no interior da jurisdição da autoridade outorgante. Fica entendido que não se considerará subsídio específico, para os propósitos do presente Acordo, o estabelecimento ou a alteração de taxas geralmente aplicáveis por todo e qualquer nível de governo com competência para fazê-lo. ...”

Em outras palavras, subsídio específico é aquele em que o Governo “elege” algumas empresas para recebê-lo.

E o que é um subsídio genérico? Essa é fácil. Como dispõe a alínea “b” do § 1o do artigo 2o, transcrita acima, subsídio genérico é aquele dado de forma geral, sem eleição de empresas. No subsídio genérico, a lei

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não lista as empresas, mas as condições para o benefício ser usufruído, qualquer que seja a empresa.

O segundo gênero são os Subsídios Proibidos.

Os países signatários do GATT assim definiram assim os subsídios proibidos: “Art. 3 - Proibição 1 - Com exceção do disposto no Acordo sobre Agricultura, serão proibidos os seguintes subsídios, conforme definidos no art. 1:

a) subsídios vinculados, de fato ou de direito, ao desempenho exportador, quer individualmente, quer como parte de um conjunto de condições, inclusive aqueles indicados a título de exemplo no Anexo I; b) subsídios vinculados, de fato ou de direito, ao uso preferencial de produtos nacionais em detrimento de produtos estrangeiros, quer individualmente, quer como parte de um conjunto de condições.

2 - O Membro deste Acordo não concederá ou manterá os subsídios mencionados no parágrafo 1º.”

Se o Governo criar um subsídio para ser dado apenas às empresas que exportarem “tanto” ou se criar um subsídio para ser dado apenas às empresas que substituírem importados por produtos nacionais, tais subsídios são considerados proibidos.

Interessante notar que os subsídios dados como contrapartida de um aumento de exportações ou redução de importações (os dois casos do artigo 3o) são considerados como específicos por força do artigo 2o, § 3o, visto anteriormente, mesmo que apenas os critérios sejam colocados na lei, e não os nomes das empresas beneficiárias:

“3 - Quaisquer subsídios compreendidos nas disposições do artigo 3o serão considerados específicos.”

No meio termo, entre os subsídios Irrecorríveis (permitidos sempre) e Proibidos (proibidos sempre), existem os Subsídios Recorríveis. Gosto de fazer analogia com os atos administrativos: válidos, nulos e anuláveis.

Os subsídios recorríveis são análogos aos atos anuláveis.

Se ficar provado o dano, o país pode se defender a medida compensatória.

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O que é dano para o efeito de apuração de subsídio?

O conceito de dano para subsídio é diferente do conceito de dano para dumping. O conceito de dano para subsídio está definido nos artigos 5o e 6o do Acordo:

“Parte III - Subsídios Recorríveis Art. 5 - Efeitos danosos Nenhum Membro deverá causar, por meio da aplicação de qualquer subsídio mencionado nos parágrafos 1º e 2º do art. 1, efeitos danosos aos interesses de outros Membros, isto é:

a) dano à indústria nacional de outro Membro; b) anulação ou prejuízo de vantagens resultantes, para outros Membros, direta ou indiretamente do GATT 1994, em especial as vantagens de concessões consolidadas sob o art. II do GATT 1994; c) grave dano aos interesses de outro Membro.

Este Artigo não se aplica aos subsídios mantidos para produtos agrícolas, conforme o disposto no art. 13 do Acordo sobre Agricultura. Art. 6 Grave dano 1 - Ocorrerá grave dano no sentido do parágrafo “c” do art. 5 quando:

a) o subsídio total, calculado ad valorem, ultrapassar 5 por cento; b) os subsídios destinarem-se a cobrir prejuízos operacionais incorridos por uma indústria; c) os subsídios destinarem-se a cobrir prejuízos operacionais incorridos por uma empresa, salvo se se tratar de medida isolada, não recorrente, que não possa ser repetida para aquela empresa e que seja concedida apenas para dar-lhe o tempo necessário para desenvolver soluções de longo prazo e evitar graves problemas sociais; d) ocorra perdão direto de dívida, isto é, perdão de dívida existente com o governo, ou ocorra doação para cobrir o reembolso de dívidas.

2 - Em que pese o disposto no parágrafo 1º, não ocorrerá grave dano se o Membro outorgante do subsídio demonstrar que o mesmo não produziu nenhum dos efeitos enumerados no parágrafo 3º. 3 - Ocorrerá grave dano no sentido do parágrafo “c” do art. 5 sempre que ocorra um ou a combinação de vários dos seguintes efeitos:

a) deslocar ou impedir a importação de produto similar produzido por outro Membro no mercado do Membro outorgante do subsídio; b) deslocar ou impedir a exportação de produto similar produzido por um Membro no mercado de terceiro país; c) provocar significativa redução do preço do produto subsidiado em relação ao preço do produto similar de outro Membro no mesmo mercado, ou significativa contenção de aumento de

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preços, redução de preços ou perda de vendas no mesmo mercado; d) aumentar a participação no mercado mundial de determinado produto primário ou de base subsidiado pelo Membro outorgante, quando se compara com a participação média que o Membro detinha no período de três anos anteriores e quando tal aumento se mantém como firme tendência durante algum tempo após a concessão dos subsídios.”

Em linhas gerais, o subsídio gera grave dano quando desloca ou impede a produção do país importador.

Podemos então sistematizar o assunto “subsídios” da seguinte forma:

Genéricos x Específicos

1) Subsídios genéricos – a lei lista as condições e critérios para a sua obtenção.

2) Subsídios específicos – a lei lista as empresas que passam a receber o subsídio. São também considerados específicos os subsídios se as condições para a sua obtenção forem o aumento de exportações ou a redução de importações (por força do artigo 2o, § 3o do Acordo sobre Subsídios).

Irrecorríveis x Recorríveis x Proibidos

1) Irrecorríveis: Genéricos e 3 específicos;

2) Recorríveis: Subsídios específicos que PODEM ser condenados SE E SOMENTE SE causarem dano a outro membro; e

3) Proibidos: Subsídios específicos concedidos para que se aumentem exportações ou para que se substituam importações.

(AFRF/2002-2) Quando vinculados às exportações, os subsídios distorcem as condições de concorrência internacional, o que, de acordo com as normas da Organização Mundial de Comércio (OMC), faculta ao País afetado adotar medidas restritivas. Tais medidas são denominadas: a) Medidas antidumping. b) Salvaguardas. c) Barreiras não-tarifárias. d) Medidas compensatórias. e) Medidas suspensivas.

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Resp.: Essa é tranqüila. Para se defender de subsídio (DANOSO, diga-se de passagem), pode ser imposta uma medida compensatória (ou direito compensatório). Letra D. Para se defender de um dumping danoso, pode ser imposta uma medida antidumping (ou alíquota antidumping). (AFRF/2000) Entre as afirmativas abaixo, indique aquela que não constitui subsídio permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC): a) Apoio para atividades de pesquisa. b) Subsídios genéricos. c) Assistência para regiões desfavorecidas. d) Apoio para promover adaptações de instalações existentes para novas exigências de ambiente impostas por lei que resultem em carga financeira desde que, entre outras, esse apoio seja único e não ultrapasse a 20% do custo de adaptação. e) Tarifas de Transporte e Fretes mais favoráveis para produtos destinados à exportação.

Resp.: As permissões de subsídios vinculados às letras A a D foram colocadas no texto. São permitidos os subsídios genéricos. São também permitidos os específicos em 3 situações (para pesquisa, para novas exigências ambientais e para regiões menos favorecidas).

A letra E é a resposta.

(AFTN/96) Nem sempre o dumping é um mal. Há casos em que o país tem grande interesse em importar certos produtos pelo menor preço possível. Se os produtores de petróleo decidissem baixar os preços desse insumo através de subsídios, provavelmente nenhum importador iria tomar alguma medida antidumping. Indique a circunstância em que o dumping é considerado predatório: a) Quando os subsídios embutidos no preço do produto importado ultrapassam os limites estabelecidos pelo GATT. b) Quando o produto importado concorre diretamente com produtos nacionais e quando se percebe a clara intenção de estabelecer o domínio sobre o mercado. c) Quando o mercado é restrito e não existe concorrente nacional. d) Quando o volume das importações é suficiente para alterar os preços no mercado interno. e) Quando se trata de produto industrializado e que é objeto de regulamentação específica.

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Resp.: Enunciado muito mal formulado. Nele, a ESAF mistura os conceitos de dumping e de subsídio. Mas a resposta está legal. A letra A fala de subsídio. É falsa, porque dumping e subsídio são coisas distintas. A letra B é a correta. Fala do dumping e do dano: “Quando quer quebrar os outros.” A letra C é falsa: O dano existe quando houver firmas nacionais concorrentes. A letra D fala sobre alterar os preços. Está dizendo que alterou preço, é danoso. Isto é verdade? Não, pois se o preço foi alterado porque ele era abusivo (havia “olho grande” da empresa brasileira), não haverá dano algum. É a terceira pergunta que fizemos na aula para apurar a existência do dano. A letra E foi inventada. Existe dumping sobre produto primário e sobre industrializado. E para bens com legislação própria ou não. Em suma, o dumping é predatório quando quer quebrar as empresas concorrentes, causando-lhes danos, os quais devem ser apurados pelo governo do país. Na próxima aula, completamos o tópico 7 do edital e veremos, entre outros assuntos, como é operacionalizada a defesa comercial no Brasil.

Um abraço,

Rodrigo Luz