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COMO RECUPERAR MATA CILIAR Guia prático criado à partir de vários artigos científicos comprovando a eficiência de vários métodos de recuperação de mata ciliar. GUELLITY MARCEL

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COMO RECUPERARMATA CILIARGuia prático criado à partir de vários artigos

científicos comprovando a eficiência de vários

métodos de recuperação de mata ciliar.

GUELLITY MARCEL

Sumário

1. Introdução

2. Importância da mata ciliar

3. Código Florestal

4. Como começar

5. Criação do viveiro

6. Escolha das espécies

7. Produção de mudas

8. Métodos de plantio

9. Tratamentos pós-plantio

10.Acompanhamento e medições

PrefácioA natureza constantemente vem sofrendo com as modificações em toda

sua estrutura causadas pelas ações do homem. Porém, os esforços dos

cientistas tem sido de grande valia para minimizar grande parte destes

danos.

Quando falamos em preservar a natureza devemos considerar todas as

formas de vida existente no planeta, não só dar importância aos animais

mais conhecidos pelo homem ou às espécies vegetais comuns ao nosso

redor, como devemos também dar importância aos solos, um recurso

inorgânico constituído por diversos minerais que é fundamental para as

plantas, principalmente por ser capaz de reter água e nutrientes essenciais

à estes tipos de organismos produtores.

Devemos, como cidadãos, fazer a nossa parte, economizando água,

alimentos, separando o lixo, descartando pilhas e eletroeletrônicos em

locais apropriados, não jogar óleo de cozinha na pia, dentre outras ações

importantes. Essas pequenas atitudes fazem uma enorme diferença.

Portanto, como pessoas responsáveis e preocupadas com o meio

ambiente devemos incansavelmente praticar os três “R”:

• Reduzir

• Reciclar

• Reutilizar

Somente tomando estas atitudes é que vamos fazer algo que mude

verdadeiramente a realidade atual frente às ações prejudiciais que

causamos ao meio ambiente.

Este material é simples, porém de grande valia, pois foi elaborado

somente com dados científicos que comprovam métodos eficazes de

produção de mudas em geral, bem como técnicas adequadas de plantio

e tratamentos pós-plantio que propiciaram a recuperação de várias

áreas degradadas.

Cabe também lembrar que eu fiz um curso pelo SENAR de recuperação

de mata ciliar que foi a base fundamental para eu criar este Ebook.

1. IntroduçãoA água é fundamental para a manutenção de todos os processos

fisiológicos e químicos necessários à manutenção da vida.

Segundos dados do Decênio Hidrológico Internacional (1964-1974)

levantados pela UNESCO, de toda a água existente no planeta

(aproximadamente 1.380.000.000 km³) somente 2,3% é doce (entorno de

38.000.000 km³) onde cerca de 73% está indisponível nas geleiras,

icebergs e calotas polares, o restante da água doce fica distribuído assim:

• 22,4% armazenados em aquíferos e lençóis subterrâneos

• 0,36% em rios, lagos e pântanos

• 0,04 na atmosfera

Destes valores, somente 1% da água doce mundial está disponível para o

consumo humano, estando distribuída em lagos, rios e aquíferos de

menores profundidades (VARGAS, 1999).

Sabemos que a fragmentação dos biomas no Brasil é intensa devido ao

cultivo de monoculturas, pecuária e demais atividades agrícolas, que

ocasiona a destruição de grandes florestas e também da mata ciliar entorno

de corpos d´água. Muitas vezes a mata ciliar é derrubada para que o gado

tenha acesso constante à água, sendo lucrativo para o proprietário rural

que não precisa investir em sistemas de reservatório de água para seus

animais.

Mas afinal, você sabe o que é a mata ciliar?

Segundo Angelo et al (2005) a mata ciliar são conjuntos de vegetações que

se desenvolvem ao longo dos corpos d’água como os rios, brejos, lagos,

nascentes, nas suas margens, que em conjunto com o solo, os animais e o

próprio corpo d’água forma o ambiente ciliar ou ambiente fluvial, recebendo

outros nomes, como floresta ripária e mata de galeria.

Os diferentes tipos de vegetações presentes na mata ciliar se dão pela

variação de espécies que compõem cada bioma, de acordo com cada

região, havendo também uma variação quando ao tipo de solo a vegetação

predominante diferenciada, como em solos encharcados.

Figura 1. Mata ciliar do Rio Pardo na cidade de Ribas do Rio Pardo – MS

(A). Voluntário coletando lixo jogado nas margens do Rio Pardo (B). É

possível observar a diferença entre as duas paisagens, onde na A se tem

uma mata mais desenvolvida com muito mais espécies arbóreas do que a

figura B próxima a um solo encharcado com vegetação predominada por

herbáceas, arbustos e poucas árvores.

A B

Sabemos que a principal forma de recuperar um ambiente degradado é

conhecer muito bem como este funciona naturalmente. Da mesma forma, é

extremamente importante, ao planejar um projeto de recuperação de uma

mata ciliar, que os pesquisadores ou outros idealizadores do projeto

entendam como a mata ciliar funciona.

Entender como funciona a mata ciliar, é entender como tal ambiente foi

formado ao longo do tempo e o que influenciou nessa formação, sempre

considerando que um ambiente florestal é composto não somente por

árvores mas também por vários organismos vegetais como trepadeiras,

samambaias, ervas, cipós e também por muitos animais de diferentes tipos,

microorganismos e invertebrados.

Todos os vegetais, animais, microorganismos e invertebrados

presentes numa mata ciliar, ou qualquer outro tipo de formação

vegetal estão estritamente interligados, sendo todos importantes, o

que é fundamental e deve ser compreendido antes de se iniciar a

recuperação da área degradada.

2. Importância da Mata Ciliar

A mata ciliar é muito mais importante do que você pode imaginar. Devemos

associá-la simplesmente à proteção dos recursos hídricos, como parte da

propriedade (rural ou não), pois ela além de proteger os corpos d’água

evita diversos problemas.

Portanto, a mata ciliar tem importância significativa para todas as pessoas.

Todos os proprietários rurais devem ter conhecimento da extrema

importância que a mata ciliar oferece aos recursos hídricos em suas

propriedades, pois ela:

• Evita erosões e consequentemente mantém o nível de água

• Evita desbarrancamentos

• Ajuda a manter a qualidade da água

• Frutos que caem na água são alimentos para muitos peixes

• Abriga diversas espécies de animais

Figura 2. Mata ciliar presente entorno de uma pequena queda d’água em

um rio do Parque Nacional Chapada dos Guimarães, Cuiabá – MT.

Além disso a mata ciliar é extremamente importante para garantir o

fornecimento de água para o consumo humano, evitando que os

assoreamentos carreguem poluentes juntamente o solo para a água,

mantendo-a potável, para uso doméstico ou na própria agricultura.

Como dito anteriormente, a mata ciliar está associada a proteção dos solos

entorno dos corpos d’água. Se estes solos estão protegidos, não sofrerão

erosão, consequentemente não prejudicarão os corpos d’água.

Assoreamentos muitas vezes causam problemas de enchentes, já que

quando o solo assoreado chega aos rios provoca uma diminuição da

profundidade fazendo com que a água se espalhe pelas margens,

destruindo ainda mais a mata ciliar e aumentando o grau de assoreamento.

Por ser um ambiente repleto de diferentes espécies vegetais e animais, a

mata ciliar pode ser muito benéfica aos produtores rurais pois possui

invertebrados como aqueles que polinizam plantas cultivadas, ou por serem

predadores de algumas pragas encontradas nas lavouras.

Além, é claro, de ser importante economicamente na apicultura.

Atualmente a legislação permite que em casos excepcionais sejam

realizado o uso sustentável da área mas a atividade não pode comprometer

a funcionalidade ecológica da mata ciliar, tal como a estabilidade das

encostas e margens dos corpos d’água, corredores de fauna, dentre outros

papeis exercidos pela mata ciliar, além também de possibilitar que seja

aplicado o sistema de produção chamado de manejo agroflorestal que

implica no uso de diversas espécies sobre o local.

De qualquer modo, ambas atividades devem ser consideradas de baixo

impacto pelos órgãos competentes ambientais de seu estado e pelo

Conselho Estadual de Meio Ambiente, além do Ibama. Com isso, o

proprietário:

• Evita multas

• Protege suas fontes naturais de água, tendo muito retorno no futuro

Os proprietários podem estar criando curvas de nível para que a água

chegue até os corpos d’água com velocidade extremamente reduzida,

diminuindo muito o carreamento de sedimentos para a água, protegendo-a

ainda mais.

Figura 3. Trecho do Rio Miranda ao lado de uma pequena vila de

pescadores. Nota-se a mata ciliar ainda presente e preservada em grande

parte desta região.

3. Código Florestal Colocarei nesta parte do Ebook somente os aspectos principais acerca das

leis que compreendem a mata ciliar.

Em vigor desde maio, o novo Código Florestal (Lei 12.651/12) sofreu algumas

alterações em outubro a partir de uma medida provisória - (MP 571, convertida

na Lei 12.727/12) - enviada ao Congresso pela presidente Dilma Rousseff.

De acordo com a Lei 12.727/2012 a mata ciliar (MC) obrigatoriamente

deverá estar presente da seguinte forma nos diferentes corpos d’água,

como já era anteriormente:

Nascentes: raio de 50 metros

Largura do rio <10 metros: 30 metros MC

Largura de 10-50 metros: 50 metros MC

Largura de 50-200 metros: 100 metros MC

Largura de 200-600 metros: 200 metros MC

Largura acima de 600 metros: 500 metros MC

4. Como começar

Para começar a recuperação da mata ciliar você deverá primeiramente

delimitar a área que pretende desenvolver o projeto, feito isso deverá

seguir os passos, em ordem:

• Isolamento da área com cerca e arame para evitar que os animais da

propriedade rural chegue até o corpo d’água. Caso não haja animais

converse com a população local, explique sobre a importância do projeto e

peça ajuda aos jovens e crianças, pois eles ajudarão a cuidar das mudas

após o plantio.

• Implantação do viveiro

• Escolha das espécies adequadas / coleta de sementes e serrapilheira

• Manutenção das mudas até atingirem tamanho ideal para plantio

• Plantio das mudas

• Cuidados pós plantio e acompanhamento

4.1. Isolamento da área

Este passo é o principal pois deverá ser feito conforme o que é

estabelecido pelas leis do Código Florestal. Suponhamos que você vá

recuperar a mata ciliar de um rio que tenha 13 metros de largura, você

obrigatoriamente deverá estabelecer em cada margem 30 metros de área

para a mata ciliar.

Após medir a largura do corpo d’água e ter conhecimento sobre a área

ideal para a mata ciliar, inicie a construção da cerca. Lembrando que a

cerca é mais utilizada para não deixar que os animais da propriedade rural

chegue até o corpo d’água, porém se não houverem animais, converse

com a população local e explique sobre o projeto, conscientize todos que

puder, peça ajuda das crianças, é muito importante a participação delas

neste processo.

Infelizmente a construção das cercas é cara, você pode fazer parcerias

com empresas para patrocinarem todos os materiais e mão-de-obra da

cerca, em troca você produz camisetas com as logomarcas das mesmas ou

outras formas de divulgá-las, como fazer um vídeo agradecendo cada uma.

Figura 4. Esquema representando as medidas de uma área onde um

projeto de recuperação de mata ciliar será realizado por mim.

Para que seu projeto dê certo você com certeza precisará criar um viveiro

para a produção de mudas com base nas sementes que conseguir coletar

das vegetações de mata ciliar próximas à área de recuperação. Verá nos

próximos tópicos a importância de produzir mudas das mesmas espécies

vegetais do local de recuperação.

A construção do viveiro é bem simples. Você deverá fazer vários canteiros

com adubo bovino (esterco) e terra misturados, cobertos com sombrite

preto 30% (possibilita a passagem de 70% da luz solar) com altura de no

máximo 20 cm.

Este é o modo mais simples e econômico pois você não gastará nada,

porém você pode utilizar vários adubos orgânicos industrializados e demais

compostos para enriquecimento do solo, consequentemente os gastos

serão maiores. Poderá também semear as sementes em sacos pláticos

para mudas, ou tubetes, contendo esterco e terra, sem necessidade de

construir canteiros. Lembrando que as mudas deverão ser regadas duas

vezes por dia, de manhã e fim de tarde.

5. Criação do viveiro

Figura 5. Viveiro de mudas nativas plantadas em sacos plásticos para

mudas, tubetes ou diretamente no canteiro.

A escolha das espécies vegetais a serem utilizadas na recuperação da

mata ciliar deve ser feita com base nas próprias espécies vegetais

encontradas próximas, em fragmentos de mata ciliar preservada.

É importante utilizar as mesmas espécies presentes no local pois a

possibilidade de que as mudas se estabeleçam após o plantio e se

desenvolvam é muito maior do que se utilizar espécies não comuns à área

de recuperação. A sucessão ecológica facilita o processo de recuperação.

Faça um levantamento nos fragmentos próximos, busque conversar com os

moradores locais, identifique o maior número de espécies que conseguir,

depois com um levantamento bibliográfico você escolhe quais são as

espécies pioneiras e de crescimento rápido e espécies secundárias.

Após isso, você terá algumas espécies para começar a produzir mudas.

É importante também considerarmos o papel da sucessão ecológica. Veja a

seguir as características das espécies vegetais adequadas para a

recuperação de acordo com a sucessão ecológica.

6. Escolha das espécies

Nos processos de recuperação de uma área degradada devemos também

considerar a sucessão ecológica, onde surgem as espécies pioneiras

depois as secundárias tardias e por último as climácicas.

As características das espécies pioneiras são:

• Ciclo de vida curto

• Crescimento rápido

• Sementes pequenas e em grande quantidade com longa viabilidade

• Dispersão por morcegos, aves, pássaros e vento

• Madeira com densidade baixa

• Necessitam de muita luz

• Colonizam áreas abertas

Por todas estas características estas espécies são as primeiras a serem

consideradas no seu estudo, pois são ideais já que obtém sucesso no

desenvolvimento inicial da recuperação, criando novos ambientes para os

próximos grupos de plantas que são as secundárias tardias e climácicas.

As espécies Secundárias Tardias são caracterizadas por:

• Ciclo de vida médio a longo

• Crescimento variável

• Sementes com viabilidade média e curta

• Dispersão principalmente pelo vento

• Madeira com intensidade intermediária

• Necessidade de luz é variável

• Colonizam pequenas e médias clareiras

É possível observar então que as espécies secundárias poderão ser

plantadas na área de recuperação somente quando as pioneiras estiverem

fornecendo sombra. Se a área não estiver completamente degradada, as

espécies pioneiras irão crescer e se desenvolver rapidamente após o

isolamento da área e em decorrência disso longo em seguida as espécies

tardias que dependem de sombra irão crescer também, tudo como parte da

sucessão ecológica, sem precisar plantar nada.

Espécies climácicas são as espécies que se desenvolverão somente

quando toda a camada de solo exposta for coberta por sombra e também

por matéria vegetal das espécies pioneiras e secundárias. Elas surgem

quando a mata já está no seu ápice, ou seja quando todas as espécies

possíveis puderam se estabelecer, caracterizadas como espécies de:

• Ciclo de vida longo

• Crescimento lento

• Sementes grandes, pouca quantidade e com viabilidade curta

• Dispersão por gravidade, mamíferos

• Madeira com alta densidade

• Se desenvolvem na sombra quando jovens

• Necessitam de luz quando adultas

• Colonizam áreas sombreadas

Percebeu como a sucessão ecológica é incrível?

Figura 6. Esquema representando as espécies dos diferentes grupos

ecológicos envolvidas na sucessão ecológica.

Ficou claro o que a sucessão ecológica faz?

Você pode ver que numa área onde ainda restam fragmentos florestais, se

esta for isolada, as espécies pioneiras começarão a se desenvolver,

propiciando sombra para que as secundárias germinem e comecem a

crescer, propiciando posteriormente um ambiente muito sombreado

favorecendo o crescimento das espécies climácicas.

As sementes se encontram em bancos de sementes no solo provindas de

quando as matas ainda eram intactas, estas então só germinarão quando

as condições (luminosidade, quantidade de nutrientes no solo, temperatura,

etc) forem se tornando adequadas ao longo da sucessão ecológica, ou

seja, ao longo do crescimento das espécies pioneiras, secundárias e por

último as climácicas.

Esta parte tem que ficar bem clara, pois a regeneração natural (ou

sucessão ecológica) é eficiente e auxilia muito no projeto de recuperação,

principalmente por servir como um modelo para nós, já que se não

houverem espécies pioneiras, não poderemos plantar mudas de espécies

secundárias.

7.1. Coletas de sementes e serrapilheira

Para iniciar a produção de mudas você poderá optar por dois caminhos

básicos, a coleta direta das sementes diretamente da copa das arvores ou

no solo, ou também a coleta da serrapilheira (camada de restos de folhas,

galhos, frutos e sementes que se acumulam na superfície do solo das

matas).

As sementes coletadas deverão ser semeadas o mais rápido possível.

Algumas sementes necessitarão de escarificação mecânica dentre outros

métodos de quebra de dormência, para que possam germinar mais rápido.

A dormência é uma condição em que as sementes se encontram para

germinarem somente quando todas as condições necessárias à espécie

vegetal sejam ideais, assim a semente é estimulada por alguma condição

como mudança de temperatura, etc, iniciando a germinação. Recomendo

para mais detalhes que leiam:

FLORIANO, E.P. Germinação e dormência de sementes florestais. Santa

Rosa: Anorgs. 19p. 2004.

7. Produção de mudas

Veja os principais métodos de quebra de dormência:

• Escarificação mecânica (lixar a superfície rígida da semente)

• Congelamento e superaquecimento

• Utilização de ácidos

• Imersão em água

Existem ainda outros métodos mais específicos, porém os principais são

estes. Considerando que a atenção principal será voltada para as espécies

pioneiras, procure em seu bioma quais são as espécies pioneiras e em

artigos científicos busque ver quais são os métodos mais utilizados de

quebra de dormência destas espécies.

Não dá para eu falar da quebra de dormência citando somente espécies do

Cerrado ou da Caatinga, como este ebook é voltado leigos também é

interessante não entrar muito em detalhes, quem se interessar é só buscar

artigos e facilmente encontrará informações necessárias para a quebra de

dormência das espécies de sua região.

Figura 7. Serrapilheira coletada no solo da floresta, sendo despejada diretamente

em um canteiro ou então colocada sob uma lona para coleta de sementes.

Figura 8. Semente de jatobá-do-cerrado Hymenaea coubaril que precisam ser

escarificadas (lixadas) para quebra de dormência.

Após a coleta das sementes das espécies pioneiras e secundárias e a

quebra de dormência (se necessário) faça o plantio das mudas em viveiro,

podendo ser diretamente no canteiro, tubetes ou em sacos plásticos para

mudas. Ambas deverão ficar sob o sombrite 30%.

Para a coleta de serrapilheira você deverá levar uma lona com cerca de 4

metros quadrado e com auxílio de uma pá é coletada a camada superficial

do solo (folhas, caules, frutos, sementes) e despejada em cima da lona.

Posteriormente você leva para o local do viveiro, despejando-a dentro de

um canteiro feito com madeira para não deixar a serrapilheira se espalhar,

distribuindo-a uniformemente ao longo do canteiro.

Feito isso, basta regar normalmente e observar quais espécies vão crescer.

7.2. Produção das mudas

Figura 9. Mudas em sacos / Tubetes / semeadura direta no viveiro

Após o plantio, as mudas deverão ser regadas duas vezes por dia

preferencialmente no início da manhã e final de tarde.

Ambas as mudas produzidas, tanto por coleta de sementes e plantio em

canteiro, tubetes ou sacos pláticos, como as mudas obtidas por serrapilheira,

após atingirem tamanho superior a 40 cm podem ser levadas à campo para o

plantio.

Porém, esta altura pode não ser a ideal para algumas espécies, sendo

necessário um estudo detalhado das espécies pioneiras que você estiver

produzindo.

Busque conhecer bem quais são as espécies que você está produzindo, pois

assim poderá saber qual o tamanho ideal para que suas mudas possam ser

plantadas na área de estudo.

Geralmente com tamanho de 40 cm as mudas já possuem todos os tecidos bem

definidos bem como raízes bem desenvolvidas que garantem boa sustentação e

vascularização, possibilitando que a planta se estabeleça no ambiente em que

foi inserida.

7.3. Cuidados com as mudas no viveiro

8. Métodos de plantio

Com tamanho ideal para plantio as mudas deverão ser plantadas na área de

recuperação. É ai que entra a outra parte muito importante de um projeto de

recuperação.

ÉPOCA DE PLANTIO: A época do plantio deve ser considerada já que as

mudanças climáticas podem afetar e até destruir todas as mudas. O período

ideal é o de chuva, assim como é feio nas lavouras, evitando o período de

inverno. É importante também irrigar as mudas caso não sejam plantadas num

período chuvoso.

PLANTIO ALEATÓRIO: São plantios realizados quando não são considerados

os grupos ecológicos das espécies. Alguns plantios assim deram certo, porém

muitos não pois devemos considerar as espécies para o plantio de acordo com

suas classificações na sucessão ecológica (pioneiras, secundárias ou

climácicas), se lembra? Alguns estudos fazem “kits” com estas plantas

diferentes e as plantam próximas umas das outras visando aumentar a

sobrevivência das espécies.

PLANTIO SUCESSIONAL: Seguem o modelo da sucessão ecológica e é o

mais recomendável, tendo em vista o sucesso nos estudos com

recuperação de áreas degradadas. Podem ser em vários tipos:

• Plantio com alternância de grupos em linha: Em cada linha de plantio se

tem espécies de um grupo ecológico (uma linha só com pioneiras, outra só

com secundárias).

• Plantio com alternância nas linhas: Em cada linha é plantada uma pioneira

e outra secundária, revezando até o final da linha.

• Plantio sequencial: Primeiro planta-se as pioneiras, depois de um ano por

exemplo, as secundárias são plantadas e em seguida as climácicas.

• Plantio simultâneo: Plantas de grupos diferentes plantadas ao mesmo

tempo.

Lembrando que estes plantios acima são feitos em toda a área, onde linhas

de plantio são traçadas preenchendo todo o local de recuperação.

• Plantio por talhões facilitadores: Plantio feito em alguns locais dentro da

área de recuperação, em parcelas pequenas, sendo aumentadas aos

poucos.

Figura 10. Modo de plantio com alternâncias de grupos ecológicos em

linhas e modo de plantio com alternância de grupos ecológicos em cada

linha.

Figura 11. Talhão facilitador. É um modo onde a área é dividida em partes,

sendo feito o plantio em cada parte, ao longo do processo de recuperação.

• Plantio em faixas: Ao longo da mata ciliar pode ser feita uma faixa com a

largura que quiser e as mudas podem ser plantadas somente neste local.

Figura 12. Faixa de plantio na mata ciliar degradada.

PARA PLANTAR AS MUDAS

Sempre que possível, quando for realizar os plantios, opte por mudas com

bom porte e com sistema radicular bem formado. Essas mudas terão maior

condição de crescimento após o plantio. Também é importante o uso de

mudas “rústicas”.

Preparo da área de plantio: Dependendo da área você terá que fazer o

coroamento (limpar entorno da muda formando um círculo) deixando o solo

exposto, sem gramíneas ou qualquer outra espécie vegetal. Geralmente o

coroamento tem cerca de 1 metro de circunferência.

Coveamento: As covas deverão ser abertas com uso de pás ou enxadões

recomendado que tenham uma profundidade de 40cm por 40cm de largura

e 40cm de comprimento. O plantio deve ser realizado logo após a abertura

das covas.

Retirada das embalagens: As mudas deverão ser retiradas das embalagens

(tubetes ou saquinhos) somente no momento do plantio.

Adubação: Caso seja conhecida a constituição do solo na sua área de plantio e

o mesmo for deficiente/emprobecido, pode-se melhorar o crescimento das

mudas com a adição de adubos.

Colocação de cobertura morta: Após o plantio são colocados restos de

pastagens cortadas entorno das mudas, que protegerá o solo dos impactos da

chuva e do sol.

Serrapilheira: A serrapilheira poderá ser jogada também entre as linhas de

plantio de mudas para aumentar as chances de sobrevivência das espécies

vegetais na área de estudo.

Instalação de Poleiros: Poderão ainda ser instalados poleiros no meio das

curvas de plantio, onde aves e morcegos poderão pousar, defecando no local

várias sementes, o que contribui muito no processo de recuperação.

Semeadura direta: Várias sementes poderão ser semeadas na área de plantio,

talvez quando a quantidade de mudas for baixa ou quando as sementes se

encontrarem em abundância. As sementes também poderão ser coletadas com

um “coletor de sementes” (caixa, tecido esticado, etc) colocado abaixo das

copas das árvores.

Figura 13. Muda com matéria vegetal morta em seu entorno e poleiro

artificial feito com restos de árvores mortas que foram erguidos e fixados no

solo para as aves pousarem.

Controle de formigas: As formigas cortadeiras (saúvas e quenquéns)

poderão representar um grande problema para suas mudas. Utilize

formicidas em todas as mudas que plantar, coloque as iscas próximas das

plantas nos carreiros/caminhos que as formigas fizerem.

Limpeza da área: Se a área estiver com muitas gramíneas, você poderá ir

fazendo a limpeza destas espécies, porém deve manter todos os outros

tipos de vegetais como arbustos de pequeno porte e herbáceas.

Marcação das covas: As covas onde as mudas forem plantadas podem ser

demarcadas com cordões ou fitas.

Irrigação: As mudas deverão ser regadas sempre que possível, mesmo sendo

plantadas em épocas de chuva, pois algumas espécies podem ser sensíveis

com a falta de água no início do desenvolvimento.

Replantio: Com o passar dos dias podem haver mortalidades nas mudas. É

importante neste caso fazer um replantio de mudas.

9. Tratamentos pós-plantio

Figura 14. Colocando formicidas nos carreiros das plantas. Coroamento

para não deixar as mudas serem abafadas por outros vegetais.

Após o plantio em toda a área você deverá constantemente acompanhar o

desenvolvimento das mudas. Tenha consigo uma tabela para anotar os

dados de crescimento (altura e diâmetro do caule).

Para medir a altura você pode utilizar uma fita métrica e para medir o

diâmetro do caule (ao nível do solo) você poderá utilizar um paquímetro.

É importante neste momento convidar crianças e jovens próximos do local

de recuperação para que acompanhem seu trabalho e até te ajudem a

fazer as anotações, medindo as mudas, fazendo o coroamento e replantio.

Acompanhando o desenvolvimento das mudas você poderá garantir que as

mesmas crescerão com qualidade e mais rápido, realizando também os

cuidados necessários quando for preciso.

Assim, a recuperação da área pode ter um maior sucesso e eventuais

problemas como solo deficiente de nutrientes e mortalidade das mudas

rapidamente poderão ser resolvidos.

10. Acompanhamento e medições

AgradecimentosGostaria de agradecê-lo(a) por ter baixado este ebook, espero que tenha

gostado do que leu e que na prática consiga fazer tudo conforme consta aqui.

Coloco-me desde já à sua disposição para retirar eventuais dúvidas.

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