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TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL COMPÊNDIO DE ENSAIOS JURÍDICOS: TEMAS DE DIREITOS REAIS V. 01 N. 01

Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

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Tradicionalmente, o Direito é reproduzido por meio de “doutrinas”, que constituem o pensamento de pessoas reconhecidas pela comunidade jurídica em trabalhar, academicamente, determinados assuntos. Assim, o saber jurídico sempre foi concebido como algo dogmático. É possível, à luz da tradicional visão empregada, afirmar que o Direito é um campo no qual não se incluem somente as instituições legais, as ordens legais, as decisões legais; mas, ainda, são computados tudo aquilo que os especialistas em leis dizem acerca das mencionadas instituições, ordens e decisões, materializando, comumente, uma “meta direito”. No Direito, a construção do conhecimento advém da interpretação de leis e as pessoas autorizadas a interpretar as leis são os juristas.Contudo, o alvorecer acadêmico que é presenciado pelos Operadores do Direito, que se debruçam no desenvolvimento de pesquisas, passa a conceber o conhecimento de maneira prática, utilizando as experiências empíricas e o contorno regional como elementos indissociáveis para a compreensão do Direito. Ultrapassa-se a tradicional visão do conhecimento jurídico como algo dogmático, buscando conferir molduras acadêmicas, por meio do emprego de métodos científicos. Neste aspecto, o Compêndio de Ensaios Jurídico objetiva disponibilizar para a comunidade interessada uma coletânea de trabalhos, reflexões e inquietações produzida durante a formação acadêmica do autor. Debruçando-se especificamente sobre a temática de Direitos Reais, o presente busca trazer para o debate uma série de assuntos contemporâneos e que reclamam maiores reflexões.

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TAUÃ LIMA VERDAN

RANGEL

COMPÊNDIO DE ENSAIOS

JURÍDICOS:

TEMAS DE DIREITOS REAIS

V.

01

N.

01

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COMPÊNDIO DE ENSAIOS JURÍDICOS:

TEMAS DE DIREITOS REAIS

(V. 01, N. 01)

Capa: Lasar Segall, Favela (1954-1955).

ISBN: 978-1516930845

Editoração, padronização e formatação de texto

Tauã Lima Verdan Rangel

Projeto Gráfico e capa

Tauã Lima Verdan Rangel

Conteúdo, citações e referências bibliográficas

O autor

É de inteira responsabilidade do autor os conceitos aqui

apresentados. Reprodução dos textos autorizada

mediante citação da fonte.

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A P R E S E N T A Ç Ã O

Tradicionalmente, o Direito é reproduzido por

meio de “doutrinas”, que constituem o pensamento de

pessoas reconhecidas pela comunidade jurídica em

trabalhar, academicamente, determinados assuntos.

Assim, o saber jurídico sempre foi concebido como algo

dogmático. É possível, à luz da tradicional visão

empregada, afirmar que o Direito é um campo no qual

não se incluem somente as instituições legais, as ordens

legais, as decisões legais; mas, ainda, são computados

tudo aquilo que os especialistas em leis dizem acerca das

mencionadas instituições, ordens e decisões,

materializando, comumente, uma “meta direito”. No

Direito, a construção do conhecimento advém da

interpretação de leis e as pessoas autorizadas a

interpretar as leis são os juristas.

Contudo, o alvorecer acadêmico que é

presenciado pelos Operadores do Direito, que se

debruçam no desenvolvimento de pesquisas, passa a

conceber o conhecimento de maneira prática, utilizando

as experiências empíricas e o contorno regional como

elementos indissociáveis para a compreensão do Direito.

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Ultrapassa-se a tradicional visão do conhecimento

jurídico como algo dogmático, buscando conferir

molduras acadêmicas, por meio do emprego de métodos

científicos. Neste aspecto, o Compêndio de Ensaios

Jurídico objetiva disponibilizar para a comunidade

interessada uma coletânea de trabalhos, reflexões e

inquietações produzida durante a formação acadêmica do

autor. Debruçando-se especificamente sobre a temática

de Direitos Reais, o presente busca trazer para o debate

uma série de assuntos contemporâneos e que reclamam

maiores reflexões.

Boa leitura!

Tauã Lima Verdan Rangel

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S U M Á R I O

Análise do instituto da acessão nos Direitos Reais:

apontamentos iniciais ......................................................... 06

Modos de aquisição da propriedade móvel: abordagem

didática do assunto .............................................................. 53

Modos de perda da propriedade: breve análise do

tema ..................................................................................... 96

Apontamentos às restrições ao direito de propriedade em

virtude de interesse social ................................................... 148

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ANÁLISE DO INSTITUTO DA ACESSÃO NOS

DIREITOS REAIS: APONTAMENTOS INICIAIS

Resumo: Em uma primeira plana, quadra colocar em

destaque que o instituto da acessão é considerado

como modo originário de aquisição de propriedade,

uma vez que o proprietário de determinado bem passa

a adquirir a titularidade de tudo que adere à sua

propriedade. Neste sentido, verifica-se que, em

decorrência da acessão contínua, uma coisa é

incorporada, ou mesmo unida, materialmente a outra,

em estado permanente. Em termos conceituais, vale

grifar que a acessão, como modo originário de

aquisição de propriedade, pode ocorrer de duas formas

distintas, a saber: natural ou artificial. Na primeira

espécie, a união ou a incorporação quando se dá é

fruto de acontecimento natural, ou seja, a coisa

acedente, naturalmente, adere à coisa acedida, é a

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chamada accessio cedit principali, é fruto da atuação

das forças da natureza, sobre as quais o ser humano

não detêm qualquer controle. Figuram como

modalidades de acessão natural: a formação de ilhas, o

aluvião, a avulsão e o abandono de álveo constituem

caso desse tipo de acessão, pois se produzem de modo

espontâneo, sem a presença de qualquer ação

antrópica. A segunda espécie, também denominada de

industrial, é decorrente da atuação humana, razão

pela qual são contabilizados como exemplos as

plantações e construções de obras.

Palavras-chaves: Acessão. Aquisição Originária.

Propriedade.

Sumário: 1 Considerações Iniciais; 2 O Instituto da

Acessão nos Direitos Reais: Apontamentos Iniciais; 3

Da Acessão por Formação de Ilhas; 4 Da Acessão por

Formação de Aluvião; 5 Da Acessão por Formação de

Avulsão; 6 Da Acessão por Formação de Álveo

Abandonado; 7 Da Acessão por Plantações e

Construções: Acessão Artificial.

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1CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Ab initio, ao se atribuir uma abordagem sobre o

tema em pauta, imprescindível se revela o exame da

Ciência Jurídica, assim como as suas diversas

ramificações, a partir de um prisma cingido pelas

maciças alterações que passaram a influenciar seu

arcabouço. Nesta linha de raciocínio, ao se observar os

aspecto de mutabilidade que passaram a alicerçar o

Direito, é viável salientar que não mais subsiste a visão

da ciência em comento como algo pétreo e hermético,

indiferente ao sucedâneo de situações inauguradas pela

sociedade. Como resultante do acinzelado, constata-se

que não mais vigora a imutabilidade dos cânons que no

pretérito orientavam o Direito, a imutabilidade

substancialmente é suplantada pelos anseios e carências

vivenciados pela sociedade.

Nessa trilha de apresentação, “é cogente a

necessidade de adotar como prisma de avaliação o

brocardo jurídico 'Ubi societas, ibi jus', ou seja, 'Onde

está a sociedade, está o Direito', tornando explícita e

cristalina a relação de interdependência que esse

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binômio mantém”1. oportunamente, o emprego da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

como axioma maior de sustentação é mecanismo

necessário, notadamente, quando se tem, como objeto de

ambição, a adequação do texto genérico e abstrato das

normas que integram o arcabouço pátrio às nuances e

complexidades que influenciam a realidade moderna.

Ao lado disso, há que se citar o voto magistral voto

proferido pelo Ministro Eros Grau, ao apreciar a Ação de

Descumprimento de Preceito Fundamental Nº. 46/DF, “o

direito é um organismo vivo, peculiar porém porque não

envelhece, nem permanece jovem, pois é contemporâneo

à realidade. O direito é um dinamismo. Essa, a sua força,

o seu fascínio, a sua beleza”2. Aduz, ainda, o mencionado

ministro, destacando, com grossos traços e contorno bem

definidos, que:

1 VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário do

Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun.

2009. Disponível no sítio eletrônico: <http://jornal.jurid.com.br>.

Acesso em: 18 jan. 2012. 2 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. [...]. Acórdão em Ação de

Descumprimento de Preceito Fundamental nº. 46-DF. ABRAED –

Associação Brasileira das Empresas de Distribuição e Empresa

Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Relator para o Acórdão:

Ministro Eros Grau. DJe nº. 35, 25 fev. 2010. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/>. Acesso em: 18 jan. 2012.

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É do presente, na vida real, que se toma as

forças que lhe conferem vida. E a realidade

social é o presente; o presente é vida --- e

vida é movimento. Assim, o significado

válidos dos textos é variável no tempo e no

espaço, histórica e culturalmente. A

interpretação do direito não é mera dedução

dele, mas sim processo de contínua

adaptação de seus textos normativos à

realidade e seus conflitos3.

Ainda nesse sedimento de edificação, pode-se

evidenciar que a concepção pós-positivista que passou a

permear o Direito, ofertou, por via de consequência, uma

rotunda independência dos estudiosos e profissionais da

Ciência Jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento

de Verdan, “esta doutrina é o ponto culminante de uma

progressiva evolução acerca do valor atribuído aos

princípios em face da legislação”4. Desta sorte, a partir

de uma análise mais acurada dos preceitos que abalizam

o assunto em destaque, infere-se que o ponto central da

3 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. [...]. Acórdão em Ação de

Descumprimento de Preceito Fundamental nº. 46-DF. ABRAED –

Associação Brasileira das Empresas de Distribuição e Empresa

Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Relator para o Acórdão:

Ministro Eros Grau. DJe nº. 35, 25 fev. 2010. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/>. Acesso em: 18 jan. 2012. 4 VERDAN, 2009, s.p.

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corrente pós-positivista cinge-se à valoração da robusta

tábua principiológica que Direito e, por conseguinte, o

arcabouço normativo passando a figurar, nesta tela,

como normas de cunho vinculante, flâmulas hasteadas a

serem adotadas na aplicação e interpretação do conteúdo

das leis.

Gize-se, por necessário, a brilhante manifestação

apresentada pelo Ministro Marco Aurélio, que, ao

abordar acerca das linhas interpretativas que devem

orientar a aplicação da Constituição Cidadã, expôs:

Nessa linha de entendimento é que se torna

necessário salientar que a missão do

Supremo, a quem compete, repita-se, a

guarda da Constituição, é precipuamente a

de zelar pela interpretação que se conceda à

Carta a maior eficácia possível, diante da

realidade circundante. Dessa forma, urge o

resgate da interpretação constitucional,

para que se evolua de uma interpretação

retrospectiva e alheia às transformações

sociais, passando-se a realizar a

interpretação que aproveite o passado, não

para repeti-lo, mas para captar de sua

essência lições para a posteridade. O

horizonte histórico deve servir como fase na

realização da compreensão do intérprete5.

5 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. [...]. Acórdão em Ação de

Descumprimento de Preceito Fundamental nº. 46-DF. ABRAED –

Associação Brasileira das Empresas de Distribuição e Empresa

Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Relator para o Acórdão:

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Nessa toada, os princípios jurídicos são erigidos à

condição de elementos que trazem em seu âmago a

propriedade de oferecer uma abrangência ampla,

contemplando, de maneira única, as diversas espécies

normativas que integram o ordenamento pátrio. Em

razão do apresentado tais mandamentos passam a

figurar como super-normas, isto é, “preceitos que

exprimem valor e, por tal fato, são como pontos de

referências para as demais, que desdobram de seu

conteúdo”6. Os dogmas jurídicos se desdobram em

verdadeiros pilares sobre os quais o arcabouço teórico

que compõe o Direito se estrutura, segundo a brilhante

exposição de Tovar7. Por óbvio, essa concepção deve ser

estendida a interpretação das normas que dão substrato

de edificação à ramificação Civilista da Ciência Jurídica,

mormente o princípio da função social da propriedade, no

Ministro Eros Grau. DJe nº. 35, 25 fev. 2010. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/>. Acesso em: 18 jan. 2012. 6 VERDAN, 2009, s.p. 7 TOVAR, Leonardo Zehuri. O Papel dos Princípios no Ordenamento

Jurídico. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 696, 1 jun. 2005.

Disponível no site: <http://jus2.uol.com.br>. Acesso em: 18 jan. 2012.

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que pertine ao instituto da usucapião e seus múltiplos

desdobramentos.

2 O INSTITUTO DA ACESSÃO NOS DIREITOS

REAIS: APONTAMENTOS INICIAIS

Em uma primeira plana, quadra colocar em

destaque que o instituto da acessão é considerado como

modo originário de aquisição de propriedade, uma vez

que o proprietário de determinado bem passa a adquirir

a titularidade de tudo que adere à sua propriedade.

Neste sentido, verifica-se que, em decorrência da acessão

contínua, uma coisa é incorporada, ou mesmo unida,

materialmente a outra, em estado permanente. Assim, “o

proprietário da coisa principal adquire a propriedade da

coisa acessória que se lhe uniu ou incorporou”8-9. Vale

ressaltar que tal situação pode ser derivada tanto da

ação antrópica como por causa natural.

8 FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direitos

Reais. 7 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011, p. 386. 9 Neste sentido: VENOSA, Sílvio Salvo. Direito Civil: Direitos

Reais. 10 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010, p. 196: “Pelo princípio,

passa a pertencer ao dono da coisa principal o que se adere a ela.

Obedece-se à regra geral segundo a qual o acessório segue o

principal”.

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Nesse passo, evidencia-se a existência dos

requisitos caracterizadores do instituto em tela, a saber:

a) a união ou incorporação entre duas coisas, separadas

até então; b) o aspecto acessório da coisa unida ou

incorporada, quando comparada com a coisa principal10.

Cuida salientar o acréscimo ocorrido entre duas coisas

corporifica uma nova entidade, surgindo do exterior da

coisa, invariavelmente, passando a integrá-la, quer seja

juridicamente, quer seja fisicamente. Ainda nesta senda,

impende destacar, com grossos traços, que, em restando

configurada que as duas em pertencendo as duas coisas

originárias ao mesmo proprietário, não há que falar na

ocorrência do instituto em exposição.

Em termos conceituais, vale grifar que a acessão,

como modo originário de aquisição de propriedade, pode

ocorrer de duas formas distintas, a saber: natural ou

10 Neste sentido: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil

Brasileiro: Direito das Coisas. V. 4. São Paulo: Editora Saraiva,

2011, p. 151: “Em todas essas formas de acessão há necessidade de

dois requisitos: a) a conjunção entre duas coisas, até então

separadas; e b) o caráter acessório de uma dessas coisas, em

confronto com a outra. A coisa acedida é a principal, e a acedente, a

acessória”.

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artificial11. Na primeira espécie, a união ou a

incorporação quando se dá é fruto de acontecimento

natural, ou seja, a coisa acedente, naturalmente, adere à

coisa acedida, é a chamada accessio cedit principali. “A

formação de ilhas, o aluvião, a avulsão e o abandono de

álveo constituem caso desse tipo de acessão, pois se

produzem de modo espontâneo sem que haja qualquer

intervenção humana”12. A segunda espécie, também

denominada de industrial, é resultada da ação antrópica,

ou seja, a acessão é decorrente do trabalho humano,

razão pela qual são contabilizados como exemplos as

plantações e construções de obras.

3 DA ACESSÃO POR FORMAÇÃO DE ILHAS

Enumerada pelo Código Civil vigente, em seu

artigo 1.248, inc. I13, como forma de acessão, a formação

11 Neste sentido: FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 274: “A acessão se

qualifica como natural ou artificial, dependendo da constatação da

participação ou não da atividade humana para a efetivação da

aquisição originária. A acessão natural invariavelmente decorre de

um evento da natureza, fato jurídico stricto sensu, cujas modalidades

são a formação de ilhas, a aluvião, a avulsão e o abandono de álveo”. 12 DINIZ, 2011, p. 151. 13 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

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de ilha no leito de rio, considerado pela legislação pátria

como não navegável, dá ensejo à propriedade dos

titulares das margens ribeirinhas, na proporção de suas

testadas14. É denominado como insula in flumine nata.

No mais, saliente-se, por oportuno, que a formação da

ilha só terá o condão de beneficiar um particular quando,

em decorrência de fenômeno natural, surgir um pedaço

de terra, em rio não navegável. Ao lado do entalhado,

pode-se, ainda, citar as lições de Venosa, notadamente

quando, em altos alaridos, pontua que:

O fenômeno pode decorrer da sedimentação

paulatina que faz nascer a ilha ou pelo

rebaixamento das águas que coloca o solo à

mostra no leito do rio. As ilhas formadas no

meio do rio são consideradas acréscimos aos

terrenos ribeirinhos. Divide-se o rio pela

linha da metade do álveo, fracionando-se a

ilhas em duas partes15.

Há, ainda, duas situações passíveis de ocorrerem,

em se tratando de formação de ilhas. A primeira dá conta

da possibilidade que, em surgindo a ilha entre a linha

em: 18 jan. 2012: Art. 1.248. A acessão pode dar-se: I - por formação

de ilhas; 14 Neste sentido: FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 388: “Pertencerá

aos proprietários ribeirinhos fronteiros, se formada no meio do rio”. 15 VENOSA, 2010, p. 197.

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mediana do rio e uma das margens, a formação não

beneficiará os ribeirinhos que tenham propriedade do

lado oposto à acessão, aproveitando tão somente os do

mesmo lado do surgimento. Outra hipótese, trazida à

baila por Diniz16-17, dá conta de, em abrindo o braço do

rio a terra, a ilha resultante continuará a pertencer aos

proprietários cujas áreas derem ensejo a acessão.

Todavia, tal situação não vigorará, caso o rio seja público,

eis que a ilha passará a pertencer ao domínio público,

sendo devidamente indenizado o proprietário, nos termos

que dispõe o parágrafo único do art. 24 do Código de

Águas18.

Ademais, gize-se, que em restando configurada a

formação de ilha em rio navegável, a acessão ocorrente

16 DINIZ, 2011, p. 154. 17 Neste sentido: FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 389: “Não há

acessão se a ilha origina-se de um trato de terra destacado do

terreno (continua a pertencer ao proprietário), bem como se a ilha

surgir do desdobramento de um novo braço do rio, pois o terreno

ilhado continua a pertencer a seu dono”. 18 BRASIL. Decreto Nº. 26.643, de 10 de Julho de 1934. Decreta

o Código de Águas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.

Acesso em: 18 jan. 2012: Art. 24. As ilhas ou ilhotas, que se

formarem, pelo desdobramento de um novo braço de corrente,

pertencem aos proprietários dos terrenos, a custa dos quais se

formaram. Parágrafo único. Se a corrente, porém, é navegável ou

flutuável, eles poderão entrar para o domínio público, mediante

prévia indenização.

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aproveitará pessoa jurídica de Direito Público, uma vez

que as águas navegáveis são consideradas pública, como

bem arrazoa a redação do art. 2º do Código das Águas19.

De igual modo, há que se frisar, com supedâneo no art.

20, inc. IV, da Constituição Federal de 198820, que as

ilhas fluviais e lacustres que estejam localizadas em zona

fronteiriça com outros países, assim como as ilhas

oceânicas, são consideradas como pertencentes à União.

4 DA ACESSÃO POR FORMAÇÃO DE ALUVIÃO

Consagrada no ordenamento jurídico brasileiro

como uma das modalidades de acessão, a formação de

aluvião encontra descanso no inc. II do art. 1.248 do

19 BRASIL. Decreto Nº. 26.643, de 10 de Julho de 1934. Decreta

o Código de Águas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.

Acesso em: 18 jan. 2012: Art. 2º São águas públicas de uso comum:

[omissis] b) as correntes, canais, lagos e lagoas navegáveis ou

flutuáveis; 20 Idem. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 18 jan. 2012: Art. 20.

São bens da União: [omissis] IV as ilhas fluviais e lacustres nas

zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas

oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede

de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a

unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II.

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Código Civil. Em linhas meramente conceituais,

considera-se a substancialização da aluvião quando há

um acréscimo paulatino de terras às margens de um rio

ou de uma corrente, por intermédio de imperceptíveis e

lentos depósitos ou aterros tidos como naturais ou

proveniente dos desvios das águas. Impende frisar que

mencionados acréscimos importam em aquisição de

propriedade por parte do proprietário do imóvel acedido.

Novamente, ressoa como norte a ser observado o

princípio que o acessório segue o principal.

Neste passo, necessário se faz trazer a lume uma

singela distinção entre aluvião própria e a imprópria. A

primeira consiste no “acréscimo paulatino de terras que o

rio deixa naturalmente nos terrenos ribeirinhos”21. Já a

segunda é “o acréscimo que se forma quando parte do

álveo (superfície que as águas não cobrem – leito do rio)

descobre-se em razão do afastamento das águas

correntes (aluvião imprópria), muitas vezes como

consequências de lesões ambientais”22. Em suma, a

primeira espécie decorre de acréscimos à porção da terra

21 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 389. 22 Ibid.

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enquanto que a segunda é fruto do afastamento das

águas23.

Ao lado do apresentado, necessário se faz trazer à

colação o art. 1.250 do Código Civil vigente que assim

verbaliza: “Os acréscimos formados, sucessiva e

imperceptivelmente por depósitos e aterros naturais ao

longo das margens das correntes, ou pelo desvio das

águas destas, pertencem aos donos dos terrenos

marginais, sem indenização”. Neste sentido, ainda, tendo

como pilar de estruturação as disposições contidas nos

arts. 16 e 17 do Código das Águas, verifica-se que tais

ponderações não vigoram quando os acréscimos se

formarem às margens de águas públicas ou dominiais.

Em restando configurada tal hipótese, considera-se a

aluvião como bem público dominial, caso não esteja

destinado ao uso comum ou se não pertencer ao domínio

particular.

No que concerne à propriedade da aluvião

formada, o parágrafo único do art. 1.250 do Estatuto de

23 Neste sentido: DINIZ, 2011, p. 155: “Será própria a aluvião

quando o acréscimo se forma pelos depósitos ou aterros naturais nos

terrenos marginais do rio. E imprópria quando tal acréscimo se

forma em razão do afastamento das águas que descobrem parte do

álveo”.

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2002 destaca que, em ocorrendo a formação da aluvião

em frente a prédios pertencentes a proprietários

distintos, a divisão será feita entre eles, observando-se,

em proporção, à testada que cada um dos prédios

apresentava sobre a antiga margem. “E o proprietário do

imóvel de onde saíram as porções de terra, que, por fato

da natureza, se acrescentaram ao de outro, não terá

direito a nenhuma indenização”24, vez que o evento que

deu azo à acessão ocorreu de modo lento e vagaroso,

impossibilitando a apreciação da quantidade acrecida no

acedido. Quadra, também, pôr ênfase que o proprietário

que se beneficiar com a aluvião proveniente do

deslocamento das águas de um rio, não será obrigado a

ressarcir aquele que suportou o refluxo. Cuida destacar

que este suportará sozinho o dano25.

Dispunha o art. 539 do Código Civil de 191626 que,

em se tratando do fenômeno de águas dormentes, como

24 DINIZ, 2011, p. 155. 25 FARIAS & ROSENVALD, 2011, p. 389. 26 BRASIL. Lei Nº. 3.071, de 1º de Janeiro de 1916. Código Civil

dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 18 jan. 2012: Art. 539. Os

donos de terrenos que confiem com águas dormentes, como as de

lagos e tanques, não adquirem o solo descoberto pela retração delas,

nem perdem o que elas invadirem.

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ocorre em lagos e tanques, não haverá a materialização

do fenômeno da aluvião, porquanto os acréscimos são

proveniente de fluxos hídricos correntes27. Tal fato se dá,

repita-se, porque o acréscimo de sedimento não é

paulatino ou lento, constituído por depósito de materiais

arrastados com a corrente, opondo-se, deste modo, a

concepção de acessão. Há que se evidenciar que o mesmo

não vigora se o lago pertencer ao domínio particular,

restando configurada a aquisição de propriedade por

formação de aluvião. Outrossim, os proprietários que têm

suas propriedades invadidas por águas dormentes ou,

ainda, de forma temporária também não perderão sua

propriedade, como ocorre, por exemplo, nos fenômenos

naturais de enchentes28.

Por derradeiro, faz-se premente ponderar que a

aluvião é fenômeno de cunho natural, ou seja, decorre da

atuação da própria natureza, logo, não comporta

produção artificial, fruto da atuação antrópica. Nesta

esteira, acena como razoável trazer à colação que não dá

corpo à aluvião os aterros feitos artificialmente ou

mesmo os acréscimos de terra decorrente da ação dos

27 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 389. 28 VENOSA, 2010, p. 199.

Page 23: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

23

ribeirinhos, com o escopo de modificar as medições de

suas propriedades. Em restando configurado o dano a

terceiro, devido à mencionada atuação, o proprietário

deverá ressarcir àquele.

5 DA ACESSÃO POR FORMAÇÃO DE AVULSÃO

Elencado no redação do art. 1.248, inc. III, do

Código Civil vigente, a acessão em decorrência da

avulsão tem como aspecto preponderante a ser observado

o deslocamento repentino de determinada porção de

terra, em razão da atuação das forças naturais, que dá de

forma violenta. Neste sentido, inclusive, impera trazer à

baila a redação do art. 1.251 do Estatuto Civilista de

2002, que assim entalha:

Art. 1.251. Quando, por força natural

violenta, uma porção de terra se destacar de

um prédio e se juntar a outro, o dono deste

adquirirá a propriedade do acréscimo, se

indenizar o dono do primeiro ou, sem

indenização, se, em um ano, ninguém

houver reclamado. Parágrafo único.

Recusando-se ao pagamento de indenização,

o dono do prédio a que se juntou a porção de

Page 24: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

24

terra deverá aquiescer a que se remova a

parte acrescida29.

Consoante se depreende da redação do dispositivo

ora aludido, denota-se que a avulsão consiste no

desprendimento, por força natural, abrupta e violenta, de

uma determinada porção e reconhecível de um prédio,

que se junta ao terreno de outro proprietário, ocorrendo,

por conseguinte, a consolidação de duas coisas em uma.

Segundo Rodrigues, ocorre avulsão quando, “por força

natural violenta uma porção de terra se destaca de um

prédio e se junta a outro”30.

Por oportuno, há que se citar a redação do art. 19

do Código de Águas, que traz em sua redação o requisito

reconhecibilidade do objeto que se une a propriedade de

outrem, quando assim dicciona: “Art. 19. Verifica-se a

'avulsão' quando a força súbita da corrente arrancar uma

parte considerável e reconhecível de um prédio,

29 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 18 jan. 2012. 30 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 5.

São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 101.

Page 25: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

25

arrojando-a sobre outro prédio”31. Há que se evidenciar

que o fenômeno da avulsão ocorre em correntes de

grandes e rápidos caudais. O direito pátrio tem em conta

apenas a aderência natural, não se admitindo ações

antrópicas para a configuração da acessão por avulsão.

Consoante leciona Venosa, “a situação ocorre não apenas

quando há aumento da extensão de área, mas também

quando há superposição de terreno, acrescendo seu

volume”32.

O proprietário que é beneficiado pelo súbito

deslocamento de terra tão-somente consolidará a

titularidade sobre a coisa acrescida, caso o proprietário

desfalcado mantenha-se inerte em exercer o direito de

exigir a sua parte desfalcada. Para tanto, a legislação

vigente fixa, prazo decadencial, a contagem de um (01)

ano, a contar da data do fenômeno ocorrido, ou seja, o

deslocamento do prédio33. Vale registrar que a porção de

31 BRASIL. Decreto Nº. 26.643, de 10 de Julho de 1934. Decreta

o Código de Águas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.

Acesso em: 18 jan. 2012. 32 VENOSA, 2010, p. 200. 33 Neste sentido: DINIZ, 2011, p. 157: “O dono do imóvel que sofra a

avulsão tem, portanto, o prazo de decadência de um ano (CC, art.

1.251, in fine; Código das Águas, art. 20) para reclamar o fato; se não

o fizer dentro desse lapso de tempo perderá o direito de receber a

Page 26: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

26

terra desgarrada contínua a ser pertencente a seu

proprietário, até que deflua o lapso temporal decadencial

assinalado em lei. “Note-se que, no prazo decadencial, o

titular do prédio acrescido terá o direito potestativo de

optar entre aquiescer que se remova a parte acrescida ou

indenizar o dono da propriedade do qual se destacara a

porção de terra”34.

A indenização, no caso da acessão em comento,

representa hipótese real de responsabilidade objetivo,

porquanto o ressarcimento dá-se independentemente da

culpa do novo proprietário. Trata-se, em tal caso, de

repúdio ao enriquecimento ilícito por parte do

proprietário que tem acrescida em sua propriedade área

que outrora pertencia a outrem. Por óbvio, uma vez

optando pela indenização, o antigo proprietário perde as

acessões que se destacaram de seu terreno; todavia, em

sendo a escolha pela retomada, não subsiste qualquer

dominial a ser discutida, vez que retorna a coisa ao

estado anterior. Defluindo o lapso temporal de um ano, e

indenização e o proprietário do prédio favorecido adquirirá a

propriedade do acréscimo, sem efetuar qualquer pagamento”. 34 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 390.

Page 27: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

27

permanecendo silente o proprietário perdente, a terra é

incorporada de maneira gratuita e definitiva ao domínio.

Insta destacar, ainda, que a avulsão só tem

configuração quando se tratar de uma porção de terra.

Deste modo, demais objetos destacados de um imóvel e

levados por força violenta a outro terreno, sem aderência

ao prédio, são considerados coisas perdidas, portanto,

deve o proprietário restituí-los, aplicando-se, em tal

situação às regências do instituto da descoberta. “O art.

543 do Código Civil de 1916 combinado com o art. 21 do

Código das Águas prescrevia que, quando a avulsão fosse

alusiva a coisa insuscetível de aderência natural, aplicar-

se-ia o disposto quanto às coisas achadas”35.

6 DA ACESSÃO POR ÁLVEO ABANDONADO

Inicialmente, em termos meramente conceituais,

pode-se apresentar álveo como “a superfície que as águas

cobrem sem transbordar para o solo natural e

ordinariamente enxuto”, como bem arrazoa o art. 9º do

Código das Águas. Desta feita, considera-se ocorrente a

35 DINIZ, 2011, p. 157.

Page 28: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

28

acessão por álveo abandonado (alveo derelictus) quando

há um permanente e total abandono do fluxo das águas

em um leito, pertencente a propriedade particular, ou

seja, rio considerado não navegável. Deve-se pontuar que

o álveo fica inteiramente descoberto, passando, por

consequência, a pertencer aos proprietários ribeirinhos

de ambas as margens36, observando-se as mesmas regras

estabelecidas no tocante à formação de ilhas. Assim,

frise-se que o fenômeno do álveo abandonado tem assento

quando o rio seca, de forma permanente, ou mesmo seu

curso é desviado, em decorrência de fenômeno natural.

Evidencia-se que “ocorrendo desvio da corrente de

água, os proprietários das terras por onde as águas

naturalmente abrem novo curso não têm direito à

indenização, idêntica solução do Direito Romano. Trata-

se de caso fortuito”37. Contudo, em restando

consubstanciado o desvio do fluxo natural das águas, por

meio artificial, obviamente a perda do terreno deverá ser

alvo de indenização, visto que o abandono do álveo não se

deu de forma natural, mas sim em decorrência da ação

antrópica. “Se a mudança da corrente se fez por utilidade

36 Neste sentido: FARIAS & ROSENVALD, 2011, p. 390. 37 VENOSA, 2010, p. 201.

Page 29: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

29

pública, o prédio ocupado pelo novo álveo deve ser

indenizado, e o álveo abandonado passa a pertencer ao

expropriante para que se compense da despesa feita”38,

como bem apresenta o art. 27 do Decreto Nº. 26.

643/1934. Neste sentido, há que transcrever o

entendimento jurisprudencial que acena:

Ementa: Processo Civil. Agravo no Recurso

Especial. Ação de divisão. Desvio do curso do

rio. Utilidade pública. Álveo abandonado.

Propriedade do Estado. Código de Águas, art.

27. Litigância de má-fé. Atentado à verdade

dos fatos. Reexame de prova. Prova do

prejuízo e julgamento extra petita.

Prequestionamento. Ausência. - Se o rio teve

seu curso alterado por ingerência do Poder

Público, e não por fato exclusivo da natureza,

pertence ao expropriante a fração de terra

correspondente ao álveo abandonado. [...]

(Superior Tribunal de Justiça. Órgão

Julgador: Terceira Turma. AgRg no REsp

431698/SP. Rel. Ministra Nancy Andrighi.

Julgado em 27.08.2002. Publicado no DJ

30.09.2002, p. 259) (grifo nosso)

Conquanto a concepção de álveo abandonado,

enquanto forma de acessão, esteja atrelada ao abandono,

de modo permanente, do antigo leito do rio, subsiste a

38 BRASIL. Decreto Nº. 26.643, de 10 de Julho de 1934. Decreta

o Código de Águas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.

Acesso em: 18 jan. 2012.

Page 30: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

30

possibilidade de que o fluxo hídrico retorne, em

decorrência das forças naturais, ao seu curso inicial. Tal

hipótese decorrerá de suas situações distintas, a saber: a

primeira se dá quando há o desvio de maneira natural,

passando, em razão disso, a recompor a situação

dominial anterior, isto é, os proprietários dos terrenos

invadidos pelo novo curso do fluxo hídrico voltam a sê-lo,

inexistindo o dever de indenização; a segunda situação

possível decorre da ação humana, ou seja, o abandono do

álveo é fruto da intervenção antrópica, por meio da qual

o rio retorna a seu antigo leito, continuando a pertencer

ao expropriante. Todavia, nesta última possibilidade,

nada impede que “os antigos donos, preferindo obter de

volta suas propriedades, resolvam indenizar o Estado”39.

Arrazoa, ainda, o art. 26 do Código das Águas:

Art. 26. O álveo abandonado da corrente

pública pertence aos proprietários

ribeirinhos das duas margens, sem que

tenham direito a indenização alguma os

donos dos terrenos por onde as águas

abrigarem novo curso. Parágrafo único.

Retornando o rio ao seu antigo leito, o

abandonado volta aos seus antigos donos,

39 DINIZ, 2011, p. 159.

Page 31: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

31

salvo a hipótese do artigo seguinte, a não

ser que esses donos indenizem ao Estado40.

7 DA ACESSÃO POR PLANTAÇÕES E

CONSTRUÇÕES: ACESSÃO ARTIFICIAL

Em contraposição às modalidades espancadas até

o presente momento, as plantações e construções são

consideradas como espécies do gênero acessão artificial,

porquanto é resultante da ação antrópica e não da

natureza. Em similar substrato, colhe-se o entendimento

de Diniz, em especial quando destaca que “as acessões

artificiais são as que derivam de um comportamento

ativo do homem, dentre elas as semeaduras, plantações e

construções de obras”41. Ora, por tais lições, denota-se

que ação humana é o aspecto caracterizador das

denominadas acessões artificiais; repita-se, inexiste a

atuação da natureza.

Ao lado do esposado, há que se pontuar que “o

fenômeno da acessão artificial de móvel a imóvel é

40 BRASIL. Decreto Nº. 26.643, de 10 de Julho de 1934. Decreta o

Código de Águas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.

Acesso em: 18 jan. 2012. 41 DINIZ, 2011, p. 159.

Page 32: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

32

verificado nas hipóteses de realização de construções e

plantações, quando a titularidade das sementes,

plantações e materiais de construção não coincidir com a

do terreno em que aqueles bens acedem”42. Por mais uma

vez, subsiste no tema em testilha a prevalência do

princípio que o acessório segue o principal. Logo, em

sendo o solo reconhecido como a coisa principal, também

nomeada de acedida, tudo que for incorporado a sua

superfície passará a pertencer ao proprietário,

integrando essencialmente.

Nessa senda, pode-se considerar como presunção a

premissa de que toda construção e/ou plantação erigida

no terreno foi feita pelo proprietário, comportando,

obviamente, a produção de prova contrária, como bem

dicciona o art. 1.253 do Código Civil: “Art. 1.253. Toda

construção ou plantação existente em um terreno

presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que

se prove o contrário”43. Ora, há que se reconhecer, em

razão de tais preceitos que a presunção existente, no caso

42 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 391. 43 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 18 jan. 2012.

Page 33: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

33

em tela, é relativa, sendo elidida, por exemplo, com a

demonstração que explicite relação contratual mantida

com o proprietário da área acedida.

No mais, há que se aclarar que as acessões

artificiais em nada se confundem com as benfeitorias.

Estas encontram-se inclusas na classe de coisas

acessórias, disciplinadas pelo art. 96 do Código Civil

vigente, sendo apresentadas, comumente, como obras ou

mesmo despesas estruturadas com o escopo de conservá-

la (sendo nomeada como benfeitoria necessária), melhorá-

la (chamada de benfeitoria útil) ou ainda trazer beleza

(denominada de benfeitoria voluptuária). De outra

banda, impera evidenciar que as acessões artificiais

substancializam modos de aquisição de propriedade

imobiliária, de forma originária, uma vez que criam

coisas novas que se aderem a propriedade já existente.

Além disso, calha sustar que as benfeitorias

efetuadas no imóvel com o intuito de facilitar/viabilizar o

uso do imóvel, bem como adequar o imóvel à atividade

desenvolvida não se coaduna com a concepção de

benfeitoria necessária, mas sim a acessão. “Logo, as

edificações feitas pela locatária sobre o terreno locado

Page 34: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

34

não constituem benfeitoria atributiva de direito de

indenização, mas sim acessão”44. Desta forma, que, em

subsistindo a possibilidade versada acima, o locatário,

por exemplo, não terá direito a retenção ou mesmo ao

percebimento de indenização pelas acessões erigidas,

podendo tão somente proceder a retirada do que lá foi

colocando, atentando-se que tal ato não poderá afetar a

estrutura ou substância da propriedade preexistente. No

tocante ao tema, há que se trazer à colação os seguintes

precedentes jurisprudenciais:

Ementa: Apelação Cível. Locação. Ação de

despejo. Indenização. Benfeitorias. Cláusula

que veda a retenção e/ou indenização.

ACESSÃO. Inviável proceder a pretensão

reparatória da locatária, uma vez que

realizou edificações apenas no intuito de

viabilizar seu estabelecimento comercial, no

imóvel locado. Precedentes. Negaram

provimento ao apelo. Unânime. (Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul –

Décima Quinta Câmara Cível/ Apelação

Cível Nº. 70044508141/ Rel. Desembargador

Otávio Augusto de Freitas Barcellos/

Julgado em 14.12.2011) (destaque nosso)

44 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Órgão Julgador:

Décima Quinta Câmara Cível. Apelação Cível Nº. 70044508141.

Relator Desembargador Otávio Augusto de Freitas Barcellos.

Julgado em 14.12.2011. Disponível em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso

em: 18 jan. 2012.

Page 35: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

35

Ementa: Locação. Despejo retomada.

Terreno. Fins comerciais. Estacionamento

de veículos. Benfeitorias. Acessões.

Indenização. Retenção. Descabimento. [...].

Na espécie, em verdade, não se tratam de

benfeitorias, mas de acessões, pois a locação

foi de um terreno sem construções. Acessões

não dão direito de retenção do imóvel.

Construções efetuadas pelo locatário apenas

para adaptar o imóvel ao comércio nele a ser

exercido devem ser retiradas e não

indenizadas pelo locador. [...]. Recurso

Desprovido. (Tribunal de Justiça do Estado

do Rio Grande do Sul – Décima Quinta

Câmara Cível/ Apelação Cível Nº

70012539979/ Rel. Desembargador Ricardo

Raupp Ruschel/ Julgado em 26.10.2005)

(destaque nosso)

Em contraponto ao expendido, por necessário, faz-

se imprescindível trazer à colação o entendimento

consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça no qual as

acessões só serão equiparadas às benfeitorias, no que

concerne ao percebimento de indenização, se restar

demonstrada a boa fé do possuidor. Vale realçar que, por

este entendimento, o possuidor de boa fé, inclusive,

poderá se valer do direito de retenção do bem, enquanto

não houver o pagamento da verba indenizatória a que faz

jus. "O direito à indenização só se admite nos casos em

que há boa fé do possuidor e seu fundamento sustenta-se

Page 36: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

36

na proibição do Ordenamento Jurídico ao enriquecimento

sem causa do proprietário, em prejuízo do possuidor de

boa fé"45. Neste caminho, impõe transcrever o seguinte

precedente:

Ementa: Acessão. Construções. Posse de

boa-fé. Retenção. O possuidor de boa-fé tem

direito à retenção do bem enquanto não

indenizado pelas construções (acessões)

erguidas sobre o imóvel. Precedentes.

Recurso conhecido e provido. (Superior

Tribunal de Justiça – Quarta Turma/

Recurso Especial nº 430.810/MS/ Relator

Ministro. Ruy Rosado de Aguiar/ Publicado

no DJ em 18.11.2002). (destaque nosso)

Ainda no que tange ao instituto em apreciação,

faz-se necessário trazer à colação as situações peculiares

consagradas pelo ordenamento jurídico e que consistem

nas presunções em que, comprovadamente, as

semeaduras, plantações e construções não pertencem ao

dono do solo a que se incorporam. Para tanto, impõe

dispensar uma análise as três hipóteses albergadas pela

legislação pátria:

45 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Órgão Julgador:

Primeira Turma. REsp 245.758/PE. Relator Ministro José Delgado.

Julgado em: 11.04.2000. Publicado no DJ em 15 mai. 2000, p.144.

Disponível em: <http://www.stf.jus.br/>. Acesso em: 18 jan. 2012.

Page 37: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

37

A. Semeadura, plantação ou construção em terreno

próprio com sementes, plantas ou materiais

alheios:

Encontra-se consagrada tal hipótese na redação do

art. 1.254 do Código Civil e dá corpo, por mais uma vez,

ao preceito da gravitação, no qual a coisa acessória segue

a principal. Em ocorrendo tal situação, há que se

reconhecer que aquele que utilizou de sementes, plantas

ou materiais alheios não perderá a propriedade sobre a

plantação ou construção erigida em sua propriedade.

Ora, arrimando-se em aspectos irradiados pelo interesse

social, não há qualquer utilidade em se destruir a

semeadura, plantação ou construção.

Nesse sentido, inclusive, coaduna com o exposto o

entendimento de Farias & Rosenvald, notadamente

quando acinzelam que “a resposta dada pelo legislador

consiste na aquisição da construção ou plantação por

parte do proprietário do terreno, face à impossibilidade

natural da restituição dos materiais e plantas sem

Page 38: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

38

estrago ou deterioração”46. Todavia, impera evidenciar

que o dono da coisa acedida deverá indenizar ao

proprietário das sementes, plantas ou materiais

utilizados, com o escopo de combater o enriquecimento

ilícito. “Pagando-se o valor dos materiais e sementes

deixa de haver locupletamento ilícito do proprietário;

contudo se houver qualquer prejuízo ao dono dos

materiais ou das plantas, superior àquele valor, o mesmo

não será ressarcido ante a boa-fé do outro interessado”47.

Mister se faz arrazoar que o terceiro deverá

demonstrar a sua condição dos materiais de construção,

plantas e sementes, que foram, de maneira indevida,

utilizados, a fim de que possa ser indenizado. Tal fato

decorre, logicamente, em razão da presunção relativa que

salvaguarda o titular do terreno, como bem espanca o

art. 1.253 do Código Civil, citado alhures. Se, porventura,

o possuidor agiu de boa-fé ao plantar ou construir em seu

terreno, em razão de ignorar que aludidos materiais

pertenciam a terceira pessoa, indenizará ao verdadeiro

proprietário o valor dos materiais, sementes ou plantas.

46 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 393. 47DINIZ, 2011, p. 160.

Page 39: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

39

Em tal situação, a indenização está adstrita tão somente

ao que foi perdido.

Entrementes, em restando devidamente

demonstrado que o proprietário agiu de má-fé, deverá,

além de ressarcir ao terceiro com os valores dos

materiais, sementes ou plantas, também responderá por

perdas e danos48. Ofertando o sedimento legal, impõe

trazer à colação a redação do art. 1.254 do Estatuto

Civilista vigente, que assim dispõe: “Art. 1.254. Aquele

que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com

sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a

propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o

valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de

má-fé”49.

Contudo, caso os materiais e as plantas não

tenham sido incorporados ao solo, a norma contida no

48 Neste sentido: VENOSA, Sílvio de Salvo. Código Civil

Interpretado. São Paulo: Editora Atlas, 2010, p. 1.132: “A primeira

hipótese é solucionada pelo art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou

edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais

alheios adquire sua propriedade, mas deve pagar o valor das coisas

alheias utilizadas. Se estiver de má-fé, além da indenização

deverá pagar perdas e danos”. 49 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 18 jan. 2012.

Page 40: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

40

dispositivo supra não terá aplicação, porquanto tais bens

passarão a ser definidos como pertenças e não mais como

acessões, aplicando-se, por conseguinte, as regras

contidas no art. 93 do Estatuto Civilista. Tal fato se dá

em razão de manterem sua autonomia e individualidade,

podendo ser reivindicados pelo real proprietário, sem que

isso possa afetar a coisa principal.

B. Semeadura, plantação ou construção em

terreno alheio com sementes, plantas ou materiais

próprios:

No tocante à edificação/construção, semeadura ou

plantação, formas de acessão artificial, em terreno

alheio, o regime jurídico da indenização (diversa do

regimento jurídico das benfeitorias), assim encontra-se

regulada no atual Código Civil: “Art. 1.255. Aquele que

semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em

proveito do proprietário, as sementes, plantas e

construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a

Page 41: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

41

indenização”50. Ora, verifica-se que a regra insculpida

acena no sentido de que “o simples fato de construção,

semeadura ou plantação constitui a acessão e esta

produz, de pleno direito, a aquisição da propriedade da

coisa acedida em favor do proprietário do solo, a quem

fica pertencendo, ex vi legis”51.

Ao lado disso, saliente-se que pela redação do

dispositivo em tela, o semeador, o plantador ou o

construtor em terreno alheio perde para o proprietário as

coisas, com direito a receber a competente indenização,

caso tenha agido com boa-fé. Neste mesmo sentido,

averbe-se que a perda da coisa acedida para o dono do

solo, não tem o condão, por si só, de retirar o direito do

terceiro, que agiu orientado pela boa fé, à verba

indenizatória, que deverá ser fixada observando-se o

valor patrimonial da coisa acedida. “O credor do direito à

indenização (ex-dono da coisa acedida) não tem garantia

real derivada de seu crédito, nem a lei lhe garante direito

50 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 18 jan. 2012 51 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código

Civil Comentado, 7 ed. (rev., ampl. e atual. Até 25.8.2009). São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 971.

Page 42: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

42

de retenção, mesmo porque não seria o caso dessa

providência”52. No caso em apreço, impõe negritar que o

direito à percepção da indenização é meramente

obrigacional; não é real, nem decorrente da posse53.

Noutra perspectiva, em sendo devidamente

consubstanciada a má-fé do responsável pela acessão,

impera realçar que nada receberá a título de

indenização. Ora, depreende-se do escopo contido na

norma em testilha que o fito salvaguardado é evitar o

enriquecimento ilícito do proprietário, assim como do

dono dos materiais empregados na acessão artificial,

para que de sua atuação indevida não possa colher

nenhum fruto nem perceber a indenização.

52 NERY JÚNIOR; NERY, 2009, p. 271. 53 Neste sentido: RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. [...]

1. Não há falar em direito de propriedade (direito real) com relação à

construção edificada em terreno de terceiro (mãe do companheiro),

pois a acessão é forma de aquisição de propriedade e o proprietário

do solo será o proprietário da coisa acedida. 2. Imperativo consignar,

expressamente, que o direito de postular indenização contra o

proprietário do terreno, previsto no art. 1.255 do CCB, de natureza

pessoal e obrigacional, somente poderá ser exercido por aquele que

ressarciu o outro, ficando sub-rogado nos direitos e ações respectivos.

[...]. Negaram Provimento à Apelação. Acórdão Proferido em

Apelação Cível Nº 70044315240. Relator: Desembargador Luiz

Felipe Brasil Santos. DJ 19 nov. 2011. Disponível em:

<http://www.tjrs.jus.br/>. Acesso em: 18 jan. 2012.

Page 43: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

43

O Código Civil de 2002, apresentando uma nova

realidade, mitigou o clássico preceito que orientava o

estudo da acessão, como modo de aquisição originária,

como restou consagrado na redação do parágrafo único do

art. 1.255. Verifica-se, em um contato primitivo com a

estruturo do dispositivo supra, que há uma derrogação do

axioma que o solo figura como coisa principal e todo o

resto acedido se recobre com o status de acessório. Insta

evidenciar que se trata “do modelo jurídico da acessão

inversa, lastreada na função social, que, aliás, já fazia

parte do anteprojeto do Código Civil de Orlando Gomes

(art. 442)”54.

É imprescindível compreender que determinadas

edificações tornam-se mais rotundas, a partir de uma

ótica socioeconômica, do que as áreas sobre as quais

foram erigidas. No mais, o diploma regulador combate o

proprietário desidioso que se beneficia do sacrifício feito

pelo construtor de boa-fé, nada fazendo para impedir a

acessão. Deste modo, em inexistindo oposição por parte

do proprietário do solo, restará a este tão somente a

percepção de quantun indenizatório, a ser pago pelo

54 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 396.

Page 44: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

44

terceiro de boa-fé que edificou a construção, valores estes

arbitrados pelo juiz, em situação que não reste

possibilitada a construção de uma avença.

Por derradeiro a expressão “exceder

consideravelmente o valor do terreno”, contida no

parágrafo único do art. 1.255 do Códex de 2002, é

conceito jurídico revestido de indeterminabilidade, que

será devidamente preenchido pelo julgador, atentando-se

para as circunstâncias singulares do caso concreto

colocado em apreciação. Quadra avultar que as balizas

que fixam os pontos limítrofes da expressão mencionada

alhures não se adstringe tão somente a preceitos e

dogmas econômicos que recubram a acessão, estando, de

igual maneira, alicerçada nos valores sociais que possam

influir na edificação.

C. Semeadura, plantação ou construção em terreno

alheio com sementes, plantas ou materiais próprios,

com comportamento de má-fé de ambas as partes:

A terceira situação consagrada no Ordenamento

Jurídico Pátrio trata da situação em que se verifica a

Page 45: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

45

presença de má-fé tanto do possuidor quanto do

proprietário, há uma bilateralidade. Em tal situação, o

proprietário da coisa principal manterá sua propriedade,

todavia, como forma de reprimenda pelo comportamento

desidioso, deverá indenizar o possuidor, também de má-

fé, das sementes, plantas ou materiais. “A má-fé bilateral

será encarada nos efeitos como se fosse a boa-fé de quem

realizou a acessão, eis que nada poderá o proprietário

dele reclamar, por ter anuído ao seu comportamento, já

que não impugnou judicialmente ou extrajudicialmente a

realização das obras”55, conquanto tivesse ciência das

mesmas.

Na hipótese vertida no art. 1.256, dispositivo que

disciplina tal situação, o proprietário não terá direito de

vindicar indenização, devendo, de outra banda, indenizar

o possuidor, atentando-se para o valor atualizado da

acessão artificial. Como aduz Diniz, “presume-se má-fé

no proprietário quando o trabalhado de construção ou

lavoura se fez em sua presença e sem sua impugnação

(art. 1.256, parágrafo único). Caso em que se entende que

55 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 397.

Page 46: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

46

o edificador ou lavrador se encontrava de boa-fé, dado o

consentimento tácito do dono da terra”56.

7.1 Construções em Imóvel Alheio

Ainda no que concerne ao estudo das acessões

artificiais, infere-se que os arts. 1.258 e 1.259 do Estatuto

Civilista inovou, maciçamente, invocando o princípio

constitucional da função social da propriedade. Os

dispositivos ora mencionados, tal como ocorre na redação

do parágrafo único do art. 1.255, apresentaram exceções

ao brocardo superficies solo cedit, jungindo-se tão

somente às construções. O art. 1.258 prestigia a boa-fé do

construtor, evitando, por conseguinte, a demolição de

construção de valor considerável, que, porventura,

invadiu pequena área (1/20) do proprietário vizinho,

desde que o proprietário beneficiado proceda a

indenização ao vizinho do solo invadido, atentando-se,

inclusive, para a possível desvalorização da área

remanescente.

56 DINIZ, 2011, p. 163.

Page 47: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

47

Entremente, se restou demonstrada a má-fé do

proprietário beneficiado ao erigir sua edificação, dicciona

o parágrafo único do art. 1.258 do Código Civil que esse

deverá indenizar, a fim de que obtenha a propriedade,

com o décuplo do valor relativa a perdas e danos, caso

tivesse atuado com boa-fé. “Tratando-se de

comportamento ardiloso do possuidor, o legislador não se

contenta com qualquer construção em solo alheio, mas

apenas aquela que exceda consideravelmente o valor e

não se puder demolir sem grave prejuízo para a

edificação”57. Neste sentido, colhe-se da redação do

dispositivo em destaque:

Art. 1.258. Se a construção, feita

parcialmente em solo próprio, invade solo

alheio em proporção não superior à

vigésima parte deste, adquire o construtor

de boa-fé a propriedade da parte do solo

invadido, se o valor da construção exceder o

dessa parte, e responde por indenização que

represente, também, o valor da área

perdida e a desvalorização da área

remanescente. Parágrafo único. Pagando

em décuplo as perdas e danos previstos

neste artigo, o construtor de má-fé adquire

a propriedade da parte do solo que invadiu,

se em proporção à vigésima parte deste e o

57 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 398.

Page 48: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

48

valor da construção exceder

consideravelmente o dessa parte e não se

puder demolir a porção invasora sem grave

prejuízo para a construção58.

Importante realçar, ainda, que no tema entelado,

há que se trazer a lume a redação do enunciado 318 do

Conselho de Justiça Federal que dispõe: “O direito à

aquisição da propriedade do solo em favor do construtor

de má-fé (art. 1.258, parágrafo único) somente é viável

quando, além dos requisitos explícitos previstos em lei,

houver necessidade de proteger terceiros de boa-fé”. Vale

salientar que o teor do enunciado supra apenas ressoa a

realidade de muitos assentamentos irregulares, nos

quais essas pequenas invasões (5% do solo vizinho) é algo

costumeiro, em razão das ausências de marcos

reguladores ou escassez de informações sobre a própria

área.

Vale arrazoar que, em ambas as hipóteses

previstas no art. 1.258 do Código Civil, há uma pequena

desapropriação, no que pertine ao interesse privado,

restando salvaguardado tão somente o direito do

58 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 18 jan. 2012.

Page 49: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

49

proprietário vizinho à percepção de indenização, em

razão das perdas e danos suportados. O dispositivo em

destaque dá corpo a um conciliador de interesses

privados com a função social da propriedade, axioma

norteador do Ordenamento Jurídico, ambicionando pôr

termo em exequíveis controvérsias existentes entre

vizinhos, assim com manutenir a construção

estruturada.

Ressoando em mesmo sentido, o art. 1.259 do

Estatuto Civil de 200259 permite ainda mais, isto é,

viabiliza a anexação de áreas edificadas que extrapolem

a metragem de 1/20 do terreno vizinho, em prol do

proprietário beneficiado. “Mas esta norma se diferencia

do dispositivo anterior em dois aspectos: apenas pode ser

utilizada em prol de boa-fé e nas perdas e danos pagos

ao proprietário prejudicado, somar-se-á ao valor da área

invadida e desvalorização do remanescente outra

59 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 18 jan. 2012: Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a

invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a

propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos

que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da

área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-

fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e

danos apurados, que serão devidos em dobro.

Page 50: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

50

indenização”60, devendo esta ser quantificada pelo valor

que a invasão acrescentar à construção. Assim, o

acréscimo deverá ser computado no cálculo indenizatório

a ser elaborado. Entretanto, como bem arvora a parte

final do artigo em comento, em sendo a edificação

maculada pela má-fé do vizinho beneficiado, este será

obrigado a demolir o que foi erigido na área, arcando,

inclusive, com as perdas e danos apurados, os quais serão

devidos em dobro.

REFERÊNCIAS:

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República Federativa do Brasil. Brasília: Senado

Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 18 jan. 2012.

_________. Decreto Nº. 26.643, de 10 de Julho de

1934. Decreta o Código de Águas. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 18 jan. 2012.

_________. Lei Nº. 3.071, de 1º de Janeiro de 1916.

Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 18 jan.

2012.

60 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 400.

Page 51: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

51

_________. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002.

Institui o Código Civil. Disponível em:

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HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FR

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52

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VENOSA, Sílvio de Salvo. Código Civil Interpretado.

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VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário

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Page 53: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

53

MODOS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE

MÓVEL: ABORDAGEM DIDÁTICA DO ASSUNTO

Resumo: Ao examinar os modos de aquisição de

propriedade móvel, impende ter em mente as

ponderações concernentes aos bens móveis, cujas

lições encontram-se insculpidas a partir do art. 82 do

Código Civil. Especificamente, os bens móveis são

aqueles passíveis de movimento próprio, ou ainda de

remoção decorrente de força alheia, sem que haja

alteração da substância ou da destinação econômica-

social. Nesse passo, em razão do advento da

industrialização e o aumento do consumismo,

mormente nas últimas décadas, os bens móveis

passam a gozam de importância maior. Todavia,

conquanto os maiores cuidados do legislador tenham-

se estabelecidos em favor dos bens imóveis, calha

evidenciar, com efeito, que aos bens móveis restou o

Page 54: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

54

rotundo papel de fomentar a circulação de riquezas,

fomentar a dinâmica das interações sociais.

Doutrinariamente, os modos de aquisição de

propriedade móvel são agrupados em duas esferas

distintas, uma considerado originária e outra

derivada. A primeira compreende a usucapião e a

ocupação, havendo a presença do aspecto de inexistir a

presença do aspecto volitivo de transmissibilidade; já o

segundo grupamento alberga a especificação,

comistão, adjunção, a confusão e a tradição,

perfazendo-se apenas com a presença do aspecto

volitivo de transmissibilidade.

Palavras-chaves: Propriedade Móvel. Aquisição.

Código Civil.

Sumário: 1 Argumentos Introdutórios; 2 Da

Ocupação: 2.1 Da Ocupação Propriamente Dita; 2.2

Da Caça; 2.3 Da Pesca; 3 Da Invenção ou da

Descoberta; 4 Do Achado de Tesouro; 5 Da

Especificação; 6 Da Confusão, Comistão e Adjunção; 7

Da Usucapião de Coisa Móvel; 8 Da Tradição..

Page 55: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

55

1 ARGUMENTOS INTRODUTÓRIOS

Ab initio, imprescindível se faz trazer a lume que a

compreensão de bens móveis está adstrita às concepções

insculpidas na parte geral do Código Civil vigente,

notadamente a partir do art. 82. Em uma linguagem

meramente conceitual, tem-se como bem, em sentido

lato, “toda coisa, corpórea ou incorpórea, da esfera

econômica ou moral tais como: imóvel, móvel, direito,

ação, crédito etc., suscetível de uma apropriação ilegal. É

tudo aquilo que é propriedade de alguém”61.

Especificamente, os bens móveis são aqueles passíveis de

movimento próprio, ou ainda de remoção decorrente de

força alheia, sem que haja alteração da substância ou da

destinação econômica-social.

Nesse passo, em razão do advento da

industrialização e o aumento do consumismo, mormente

nas últimas décadas, os bens móveis passam a gozam de

importância maior. “Avulta a proeminência dos

chamados bens de consumo, cada vez mais transitórios e

61 GAMA, Ricardo Rodrigues. Dicionário Básico Jurídico.

Campinas: Russel Editores, 2006, p. 60.

Page 56: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

56

descartáveis, mais vitais para a subsistência do homem

atual. No entanto, ainda reside no imóvel a vitalidade da

economia privada e a soberania dos povos”62. Todavia,

conquanto os maiores cuidados do legislador tenham-se

estabelecidos em favor dos bens imóveis, calha

evidenciar, com efeito, que aos bens móveis restou o

rotundo papel de fomentar a circulação de riquezas,

fomentar a dinâmica das interações sociais.

Doutrinariamente, os modos de aquisição de

propriedade móvel são agrupados em duas esferas

distintas, uma considerado originária e outra derivada. A

primeira compreende a usucapião e a ocupação, havendo

a presença do aspecto de inexistir a presença do aspecto

volitivo de transmissibilidade. O segundo grupamento,

por seu turno, alberga os seguintes modos de aquisição

de propriedade móvel: a especificação, comistão,

adjunção, a confusão e a tradição. Tais institutos só se

perfazem em razão da presença do aspecto volitivo de

transmissibilidade.

62 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. 10 ed.

São Paulo: Editora Atlas, 2010, p. 240.

Page 57: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

57

2 DA OCUPAÇÃO

Inicialmente, ao examinar o tema em testilha,

cogente se revela ponderar que, ao contrário do que

ocorreu no Código Civil de 1916, o Estatuto vigente não

dispensou previsão minuciosa acerca da matéria. Tratou-

se de uma visão concisa dispensada pelo legislador ao

espancar o assunto em comento. À luz de tais

argumentos, quadra salientar que o Diploma Civilista

revogado tratava da ocupação em três modalidades

distintas, a saber: a ocupação propriamente dita (ou

stricto sensu), incidindo sobre a res nullius e a res

derelictae; a invenção, compreendendo as coisas perdidas;

e tesouro, como espécie de aquisição sobre coisas

ocultadas.

Entrementes, a Lei Substantiva Civil de 2002, de

maneira distinta, concentrou o campo de atuação do

instituto em estudo a tão somente um dispositivo, que

versa a respeito da ocupação propriamente dita sobre

coisas sem dono. “Com efeito, a invenção foi suprimida

dos modos aquisitivos de propriedade mobiliária, pois a

perda da posse de um objeto na induz necessariamente à

Page 58: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

58

perda da propriedade”63. A invenção passou a ser tratada

sob a epígrafe “descoberta” e encontra-se alocada no

capítulo da propriedade, em sua parte geral. De igual

maneira, a legislação em vigor nomeou o tesouro como

“achado de tesouro”, não sendo mais visto como uma

espécie de ocupação, porquanto recebe previsão

autônoma.

Desta sorte, no formato conferido pelo Código em

vigor, a ocupação incidirá sobre seres vivos e coisas

inanimadas, albergando animais, sob a forma da caça e

da pesca, assim como sobre substâncias minerais,

vegetais ou mesmo animais lançados às faixas de areia

pelo mar. Igualmente, serão apropriados pelos primeiros

ocupantes, o dinheiro e quaisquer objetos abandonados

por seus proprietários.

2.1 Da Ocupação Propriamente Dita

Por excelência, a ocupação afigura-se como modo

originário de aquisição de propriedade mobiliária, por

meio do qual alguém, de forma imediata, se apropria de

63 FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direitos

Reais. 7 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011, p. 414.

Page 59: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

59

coisas sem dono, quer seja porque nunca foram

apropriadas (res nullius), quer seja foram abandonadas

pelos seus proprietários (res derelictae). Inclusive, o

Código Civil vigente, ao dispor sobre o tema em comento,

na redação do art. 1.263, utiliza a locução coisa sem dono,

englobando as duas realidades supra apresentadas.

Insta salientar que, nos primórdios das sociedades

humanas, as coisas, a princípio, não tinham dono, sendo

apropriadas pelos primeiros ocupantes. Ressoando tal

entendimento, “o Direito Romano cristalizou a ideia de

que a res nullius pertence naturalmente ao primeiro

tomador. A coisa é sem dono porque nunca o teve ou

porque houve abandono por parte do titular (res

derelicta)”64. Assim, a apreensão da coisa, com a intenção

do ocupante em tê-la como própria, tem o condão de

efetivar a propriedade. Ao lado disso, por se afigurar

dotado de didática, há que se trazer à colação a redação

do art. 593 do Código Civil de 1916 que, ao abordar

acerca das coisas sem dono, assim enumerava:

Art. 593. São coisas sem dono e sujeitas à

apropriação:

64 VENOSA, 2010, p. 242.

Page 60: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

60

I - Os animais bravios, enquanto entregues

à sua natural liberdade.

II - Os mansos e domesticados que não

forem assinalados, se tiverem perdido o

hábito de voltar ao lugar onde costumam

recolher-se, salvo a hipótese do art. 596.

III - Os enxames de abelhas, anteriormente

apropriados, se o dono da colmeia, a que

pertenciam, os não reclamar

imediatamente.

IV - As pedras, conchas e outras

substâncias minerais, vegetais ou animais

arrojadas às praias pelo mar, se não

apresentarem sinal de domínio anterior65.

Cuida pontuar, a partir do sedimento ofertado pelo

dispositivo supra, que a expressão “animais bravios” não

são todos os selvagens, porquanto estes podem ter sido,

em momento pretérito, apropriados por alguém. Deste

modo, serão considerados como coisas de ninguém o

animal que não estiver subordinado a qualquer senhoria.

Ao lado disso, pondere-se que, em se tratando de animais

marcados a fogo ou mesmo com qualquer sinal que

possibilite a identificação de seu proprietário, vigora a

presunção de propriedade. “Se não assinalados, são

apropriáveis aqueles que perderam o hábito de retornar

65 BRASIL. Lei Nº. 3.071, de 1º de Janeiro de 1916. Código Civil

dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 04 fev. 2012.

Page 61: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

61

ao lugar do dono. Este, porém, não perde sua

propriedade, enquanto estiver à procura deles”66. Anote-

se, por necessário, que é prescindível a procura contínua,

porquanto a apreciação da situação concreta acenará o

verdadeiro animus do proprietário do animal, no que

concerne ao estado de permanente e atual estado de

busca.

Outrossim, também serão considerados como res

nullius, os enxames de abelha, se seu apicultor não os

reclamar imediatamente, havendo como conditio sine

qua non que a colmeia se transfira se um lugar para o

outro. Quadra evidenciar que, em razão de seus aspectos

caracterizadores, os enxames de abelha são considerados

universalidades de fato. Como coisas de ninguém são

considerada as colmeias selvagens, que nunca foram

assenhoreadas. O último inciso do dispositivo ora citado,

fixa também que os objetos lançados ao mar serão

considerados como res nullius, se não houver qualquer

signo de identificação, logo, mercadorias alijadas de

navios que trazem consigo sinal, não poderão ser

ocupadas.

66 VENOSA, 2010, p. 243.

Page 62: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

62

Por derradeiro, serão passíveis de ocupação as

coisas abandonadas por seus proprietários, porquanto o

abandono traz consigo ato de renúncia. Em razão disso, a

res derelictae será passível de apropriação, como modo

originário de aquisição da propriedade. Diniz aduz que

“não se requer a existência de uma declaração expressa

do dono; basta que se deduza, inequivocamente, o seu

propósito de abandonar o bem do seu comportamento em

relação a esse mesmo bem”67. Nesse passo, aquele que

deixa determinado bem em lugar público ou terreno

baldio ou mesmo abandona-o em um cesto para lixo,

acena a renúncia.

2.2 Da Caça

Atividade que rememora aos primórdios da

humanidade, a caça figurou como a atividade principal

dos núcleos primitivos. Em consonância com o que

leciona Gama, caçar é a “busca de animais silvestres, de

qualquer porte, para aprisioná-los ou matá-los”68. Trata-

67 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro:

Direito das Coisas. V. 04. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 333. 68 GAMA, 2006, p. 72.

Page 63: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

63

se de matéria abarcada por legislação específica, qual

seja: o Código de Caça (Lei Nº.5.197/1967), além de leis

esparsas e regramentos administrativos dos órgãos

competentes. Enquanto modalidade de aquisição de

propriedade, a caça tem assento tanto em terras públicas

como em particulares, desde que, neste caso, haja licença

do proprietário. O Códex Civil vigente não dispensou

previsão em seus dispositivos acerca de tal matéria,

sendo necessário, em razão disso, trazer à baila as

disposições contidas no Estatuto de 1916.

Pertencerá, nos termos que dispõe o art. 595 da

Lei Substantiva Civil69 revogada, ao caçador o animal

por ele apreendido ou ainda ferido, ainda que outrem

tenha apanhado, desde que o caçador tenha ido ao seu

encalço. Em ingressando o animal ferido em terreno

alheio, se o proprietário não permitir o ingresso do

caçador, terá aquele expelir ou ainda entregar a caça.

Caso quede-se inerte, terá o caçador a receber do

69 BRASIL. Lei Nº. 3.071, de 1º de Janeiro de 1916. Código Civil

dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 04 fev. 2012: “Art. 595.

Pertence ao caçador o animal por ele apreendido. Se o Caçador for no

encalço do animal e o tiver ferido, este lhe pertencerá, embora

outrem o tenha apreendido”.

Page 64: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

64

proprietário indenização, em razão da recusa de entregar

o objeto, porquanto, como exposto alhures, a caça é forma

de aquisição de propriedade.

Entrementes, anote-se, por oportuno, não poderá o

caçador ingressar na propriedade de outrem, sem que

esse consinta; se assim agir, para o proprietário perderá

a caça, respondendo por dano que tenha causado. “O

Código resguardou o pleno exercício da propriedade

imóvel. O ingresso de estranho, sem autorização, sempre

será ponto de discórdia”70. Há que assinalar, com efeito,

que a entrada de estranho em terra alheia, sem que haja

autorização do proprietário, caracteriza esbulho ou

turbação à posse, permitindo o emprego da legítima

defesa ou o desforço imediato. Outrossim, é defeso ao

caçador armar alçapões e armadilhas em terreno alheio;

entretanto, em havendo autorização do proprietário, o

animal apreendido pertencerá ao caçador.

Vale salientar que o exercício da caça, ainda que

seja empreendido nos limites da propriedade, deverá,

obrigatoriamente, observar as disposições

administrativas, porquanto, em razão dos preceitos

70 VENOSA, 2010, p. 244.

Page 65: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

65

constitucionais alusivos ao meio-ambiente, há que se

promover a preservação das espécies. Logo, o exercício da

caça não é considerado livre, mas sim regulamentado

pelo Ente Estatal. No mais, a caça permitida em

propriedade particular poderá ser alvo de arrendamento,

limitando-se a prática a determinadas espécies, bem

como o quantitativo de animais que poderão ser alvo de

tal atividade. Por derradeiro, quando o animal for

considerado como perigoso, o encalço empreendido, com o

escopo de promover a matança, não afigura como caça,

mas sim estado de necessidade.

2.3 Da Pesca

Conquanto não tenha sido tratado no Código Civil

vigente, mas sim matéria de legislação específica, a pesca

afigura como modo de aquisição de propriedade

mobiliária, devendo, ergo, ser alvo de análise. Assim, a

pesca consiste no ato de apanhar peixes em curso de

água, mares, lagos. Como aduz Diniz, “o exercício da

pesca é lícito tanto em águas públicas como em

particulares, desde que haja consentimento de seu dono e

Page 66: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

66

observância das normas disciplinares”71. Nesta esteira,

colhe-se, que se consideram como de domínio público os

animais e a vegetação encontrada em águas dominiais.

Doutra banda, subsistirá a necessidade de licença

expressa ou tácita do proprietário, quando se tratar de

águas particulares, compreendendo tanto a pesca

desportiva como a profissional.

Na atualidade, há que se reconhecer que a pesca,

enquanto atividade, é dotada de importância econômica,

porquanto figura como mecanismo de sobrevivência e

subsistência de muitos povos. Há que se aclarar que

aquele que pesca em piscina, açude ou vasca, com a

concordância do proprietário, não ocupa, ao reverso,

detém relação contratual. O Código de 191672, ao versar

acerca do tema, estabelecia que pertencia ao pescador o

peixe que pescar e o que for por ele arpoado, ou ainda

farpado em perseguição, mesmo que outrem o apanhe.

Todavia, prosseguia o revogado diploma, aquele que

71 DINIZ, 2011, p. 335. 72 BRASIL. Lei Nº. 3.071, de 1º de Janeiro de 1916. Código Civil

dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 04 fev. 2012: “Art. 600.

Pertence ao pescador o peixe, que pescar, e o que o arpoado, ou

farpado, perseguir, embora outrem o colha”.

Page 67: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

67

apanhasse o peixe, sem a permissão do proprietário da

área, perderia para ele o peixe, ainda que o apanhasse,

respondendo, inclusive, pelos danos decorrentes de tal

prática.

Observando as normativas de cunho

administrativo, o ribeirinho poderá pescar do lado em

que habita, até o meio das águas do fluxo, regramento

expresso no art.602 do Diploma Civilista revogado.

Configura ilícito, pescar em águas alheias ou dominicais,

sem que haja autorização, bem como é defeso a pesca

predatória, visto que é imprescindível, em razão do

princípio constitucional do meio-ambiente

ecologicamente equilibrado, a reprodução das espécies.

3 DA INVENÇÃO OU DA DESCOBERTA

O instituto em tela, denominado no Estatuto de

1916 de “achada de coisas perdidas”, consiste no achado

de coisa móvel perdida pelo proprietário, subsistindo a

obrigação de restituí-la a seu dono ou legítimo possuidor.

Frise-se que a perda da coisa não tem o condão de

acarretar a perda da propriedade, distinguindo-se, via de

consequência, da ocupação de coisas sem dono ou

Page 68: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

68

abandonadas. Denomina-se inventor aquele que encontra

coisas perdidas, mas que possuem dono. “Não o

conhecendo, o descobridor fará tudo por encontrá-lo,

comunicando o fato aos conhecidos, consultando anúncios

em jornais, publicando avisos pela imprensa, divulgando

em rádio ou TV etc”73.

Ainda assim, em não sendo encontrado o

proprietário da coisa perdida, deverá o inventor entregá-

la à autoridade competente do lugar, que dispensará os

esforços necessários para publicizar tal fato, valendo-se

da imprensa escrita e falada e outros meios hábeis de

comunicação, nos termos em que preceitua o art. 1.236

da Lei Substantiva Civil. Quadra negritar que, em

havendo a violação do disposto no artigo em comento,

restará perpetrada a conduta delituosa prevista no inc. II

do parágrafo único do art. 169 do Código Penal.

Mister se faz avultar que a descoberta, ou

invenção, não é modalidade de aquisição da propriedade

mobiliária, mantendo-se operante os princípios romanos

que tutelavam a matéria. Assim, no atual Ordenamento

Jurídico, o descobridor nunca poderá a coisa achada. “O

73 DINIZ, 2011, p. 335.

Page 69: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

69

inventor teria apenas direito a recompensa e indenização

pela guarda e transporte da coisa, se o dono da coisa não

preferisse abandoná-la […]. A essa recompensa dá-se o

nome de achádego”74. Tão-somente em situação de

abandono que o inventor poderia adquirir a propriedade

da coisa, porquanto esta se tornaria derelictae

(abandonada). O Diploma de 1916 estatuía que, se

defluído o lapso de seis meses da notificação à

autoridade, sem que se apresentasse o dono, da quantia

obtida, do valor seriam deduzidas as despesas e a

recompensa do inventor, pertencendo o remanescente ao

Estado (ou ao Distrito Federal ou Território, conforme o

local em que se der a descoberta).

Cuida destacar que o art. 1.237 do Código de

200275 mudou parcialmente o enfoque, minorando lapso

temporal para sessenta dias, a contar da divulgação da

74 VENOSA, 2010, p. 246. 75 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 04 fev. 2012: “Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação

da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando quem

comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta

pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do

descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja

circunscrição se deparou o objeto perdido. Parágrafo único. Sendo

de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor

de quem a achou”.

Page 70: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

70

notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando

que possa comprovar a propriedade sobre a coisa, esta

será vendida em hasta pública. Consoante se infere das

disposições entalhadas, não subsistirá a

imprescindibilidade da publicação de edital, bastando

apenas o defluxo do lapso temporal em apreço, contando-

se da divulgação da notícia pelo veículo midiático.

“Deduzidas do preço as despesas, mas a recompensa do

descobridor, o achádego, o remanescente pertencerá ao

Município em cuja circunscrição se deparou o objeto

perdido”76. Vale anotar que se o valor da coisa for

diminuto, nada impede que o Município ou Distrito ou

Território abandone a res em favor do inventor, passando

este a deter a propriedade.

Atendo-se em aspectos objetivos, o Código Civil

vigente, em seu art. 1.234, fixou-se que o quantum do

achádego será em um montante não inferior a cinco por

cento de valor da coisa achada, assim como ressarcindo-

se o inventor pelas despesas atinentes à conservação e o

transporte da coisa, havendo a faculdade do proprietário

abandoná-la. Por óbvio, o montante da recompensa será

76 VENOSA, 2010, p. 246.

Page 71: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

71

estabelecido levando-se em consideração o esforço

empregado pelo inventor para encontrar o dono ou o

legítima proprietário, bem como as possibilidades que

este teria de encontrar a coisa e a situação econômica de

ambas as figuras, consoante reza o parágrafo único do

dispositivo supra.

Enfatize-se, com efeito, que as regras aplicáveis ao

tema em exame albergam tanto a atividade espontânea

como a fortuita do descobridor. Logo, aquele que se

lançar à procura da coisa perdida, quer seja em busca de

aventura, quer seja visando obter recompensa, ou mesmo

encontrando-a fortuitamente, fará jus ao percebimento

do achádego. Todavia, não subsistirá a possibilidade de

pleitear tal quantia, se o proprietário preferir abandoná-

la, exceto o direito de adquirir a propriedade da res

derelictae. Calha, também, arrazoar que tais disposições

não serão aplicáveis àquele que foi contratado pelo

proprietário da coisa perdida para achá-la, vigorando, em

tal situação, uma relação de cunho contratual. “Por outro

lado, o descobridor responderá por todos os prejuízos que

causou, dolosamente, ao proprietário ou possuidor

legítimo, pagando-lhe uma indenização por perdas e

Page 72: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

72

danos, abrangendo dano emergente e lucro cessante”77.

Em havendo a presença de culpa simples, não há o dever

de reparar.

Em havendo dúvidas quanto ao titular da coisa,

deverá o inventor entregá-la à autoridade, competindo ao

magistrado decidir acerca da questão. Nesse sedimento,

também, nada impede que o descobridor exerça o direito

de retenção, com o escopo de receber a quantia alusiva ao

achádego, desde que tenha agido de boa-fé. Não poderá

fazê-lo, acresça-se, se já tiver entregado à autoridade

competente a coisa achada. Em sendo a res de fácil

deterioração, caberá ao juiz determinar sua venda,

inclusive tem-se que “age de boa-fé aquele que, em vez de

entregar a coisa deteriorável, vende-a, entregando o

valor ao dono ou à autoridade competente, impedindo

sua perda”78. Contudo, se tiver agido de má-fé ao

apreender a coisa, não restará materializado o instituto

versado, mas sim condutas de cunho delituoso, a saber:

furto ou mesmo apropriação indébito.

À guisa de finalização, vale frisar que, em se

tratando da situação posta em exame, aplicar-se-ão as

77 DINIZ, 2011, p. 337. 78 VENOSA, 2010, p. 248.

Page 73: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

73

disposições contidas no Código de Processo Civil, a partir

do art. 1.170 usque 1.176, sendo a coisa, como dito

algures, entregue à autoridade competente (judiciária ou

policial). No que concerne ao procedimento, que deverá

ser instaurado por portaria ou auto de arrecadação, será

competente o Juízo do local em que a coisa foi achada. No

mais, viabiliza o art. 1.174 do Estatuto de Ritos Civis que

o invento procede a adjudicação da coisa, se, porventura,

o proprietário preferir abandoná-la.

4 DO ACHADO DE TESOURO

Em linhas conceituais, há que arrazoar que

tesouro consiste em “conjunto de riquezas de qualquer

tipo guardadas ou escondidas. Depósito antigo de moedas

ou de coisas preciosas. Objeto precioso descoberto de

modo inesperado”79. Acresça-se, por necessário, que a

identidade do verdadeiro proprietário do tesouro achado

deve ser desconhecido, pois, se a propriedade puder ser

identificada por qualquer titular, não há que se falar em

achado de tesouro. Insta pôr em destaque que o objeto é

79 GAMA, 2006, p. 364.

Page 74: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

74

pode ser encontrado tanto em bem imóvel quanto em

móvel. Igualmente, para se ter substanciado o achado de

tesouro independe de pluralidade de preciosidades, sendo

suficiente uma moeda antiga, para restar caracterizado o

tesouro.

Depreende-se do arrazoado, até o momento, os

aspectos caracterizadores do instituto em tela, a saber: a)

o depósito das preciosidades deve ser fruto da realização

da força humana, estando, por conseguinte, excluídos os

acúmulos de tesouro oriundos da força da natureza; b) o

depósito deve estar enterrado ou oculto, tanto em um

bem imóvel como móvel, o que ocorre em escavações de

prédios soterrados ou mesmo muito antigos; c)

desconhecer que é o verdadeiro proprietário do achado,

sendo inclusive utilizado pelo Código vigente a locução de

cujo dono não haja memória. Nesta última hipótese,

basta a ausência da prova de titularidade, porquanto,

repita-se, podendo ser justificada a propriedade, inexiste

achado de tesouro. Diniz, ao espancar acerca dos

requisitos para a constituição do achado de tesouro,

registra que o encontro deve ser meramente casual, logo,

“não há que se falar em tesouro se se penetrar em

Page 75: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

75

terreno alheio, intencionalmente, para efetuar pesquisas

nesse sentido”80.

Impera anotar que, em sendo o tesouro achado em

prédio alheio, nas modelagens especificadas pelo art.

1.264 do Códex Civilista, deverá ser dividido ente o

proprietário do prédio e o inventor. A figura do inventor,

no caso em apreço, compreende também aqueles que,

quando da achada, se encontravam no prédio, em razão

da posse direta exercida, derivada de uma relação

jurídica existente com o proprietário, ou também, o

funcionário do proprietário do prédio que, casualmente,

encontrou o depósito de preciosidade, quando exercia

outras funções. Em existindo várias pessoas, a divisão

dar-se-á tão somente entre o proprietário do prédio e

quem achou a preciosidade primeiro.

Há que se observar que o achado deve se dar de

maneira casual, porquanto, se houve a contratação para

tal fito, inoperante é o regramento estatuído no

dispositivo supra, vez que resta consubstanciada relação

negocial. Aliás, tal esclarecimento resta burilado na

redação do art. 1.265 que hasteia, como premissa, o

80 DINIZ, 2011, p. 338.

Page 76: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

76

ideário de que, por inteiro, pertencerá ao proprietário do

prédio, se por ele for achado, ou ainda se tal achada for

proveniente de pesquisa por ele ordenada, ou ainda por

terceiro não autorizado. Nesse sedimento, também, “se o

descobridor penetrar no prédio alheio com o propósito

deliberado de encontrar o tesouro, contra a vontade do

proprietário, não terá direito a nada, pois não se permite

a obtenção de vantagem quando do esbulho”81.

No tema em debate, figura como conditio sine qua

non não somente a descoberta, mas sim o achado. O

tesouro exige a posse por parte de quem o achou, visto

que é plenamente possível que o indivíduo descubra a

existência de determinada preciosidade em área

específica, sem ter conhecimento de sua localização

pormenorizada. Venosa salienta que “se é o proprietário

do prédio quem encontra o tesouro, existe acessão.

Adquire a propriedade da coisa achada porque está em

seu domínio”82. No mais, devidamente tipificado no

Código Penal brasileiro, reputa-se crime ao descobridor

que se apropria do tesouro sem entregar ao proprietário o

quinhão a que ele cabe, como bem assinala o art. 169,

81 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 417. 82 VENOSA, 2010, p. 250.

Page 77: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

77

parágrafo único, do Código Penal: “Art. 169: (omissis)

parágrafo único: (omissis) I – quem acha tesouro em

prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota

a que tem direito o proprietário do prédio”83.

De pouca aplicação na atual realidade, o art. 1.266

do Diploma Civilista estabelece se a preciosidade for

encontrada em terreno aforado, este será igualmente

partilhado entre aquele que achou e o foreiro ou

enfiteuta (titular do domínio útil) ou, se este último for o

descobridor, pertencerá a ele por inteiro. Convém aduzir,

também, que o titular do domínio direto (denominado de

“senhorio direto”) nenhum direito terá sobre o tesouro

achado. Outrossim, “se o terreno é objeto de usufruto ou

locação, ao usufrutuário, ou locatário, nenhum direito

assiste em relação ao tesouro casualmente encontrado

por outrem”84. Compete ao nu-proprietário e ao locador, o

direito à metade desse tesouro, encontrado de maneira

casual. Por derradeiro, caberá tão-somente usufrutuário

o direito à parte do tesouro encontrado por outrem, se o

83 BRASIL. Decreto-Lei Nº. 2.848, de 07 de Dezembro de 1940.

Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 04 fev. 2012. 84 DINIZ, 2011, p. 339.

Page 78: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

78

instituto do usufruto recair sobre a universalidade ou

ainda quota-parte dos bens.

5 DA ESPECIFICAÇÃO

De natureza controvertida no passado, a

especificação foi classificada no Estatuto Civil vigente

como modalidade de aquisição da propriedade móvel,

decorrente da manipulação da matéria-prima. “É modo

originário de aquisição da propriedade mobiliária que se

dá mediante a transformação de matéria-prima em

espécie nova por meio do trabalho do especificador”85.

Vale salientar que o instituto em tela passou a gozar de

importância proeminente, em razão da criatividade

humana. São exemplos costumeiros da manipulação o

couro em calçados, o barro em escultura, o ferro em

utensílios, a pedra em instrumentos etc. Ora, denota-se

que o instituto da especificação é decorrente do trabalho

do ser humano.

Denota-se no instituto em tela a valoração do

trabalho humano sobre a matéria-prima, sendo

85 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 417.

Page 79: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

79

revestido, em razão disso de uma grande importância

social. A novidade implementada deverá ser analisada,

tendo como axioma maciço, “o prisma econômico; a nova

espécie deve advir de uma alteração importante, feita

pela capacidade criadora do homem, ou seja, de suas

atividades artesanais, artísticas ou pelo desenvolvimento

de indústrias”86.

Cuida gizar que o instituto em tela não é

considerado como uma forma de acessão, porquanto este

exige a junção de uma coisa à outra, enquanto a

especificação consiste na transformação de matéria-

prima em espécie nova. “Há quem a considere como uma

espécie de acessão, porém não se pode acolher esse

entendimento porque acessão requer união ou

incorporação de uma coisa a outra, o que não ocorre na

especificação, que é a transformação definitiva da

matéria-prima em espécie nova, por meio de ato

humano”87.

Ao lado disso, impende realçar que o instituto em

comento exige, como requisitos caracterizadores, a

presença de: a) a matéria-prima alvo de transformação

86 DINIZ, 2011, p. 342. 87 Ibid, p. 341.

Page 80: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

80

não seja pertencente ao especificador, mesmo que em

parte; b) que a substância especificada seja transformada

em espécie nova, maciçamente diversa da antiga, em

razão do trabalho do especificador sobre a matéria-

prima. Logo, por tal compreensão, não há que se

considerar aquele que coloca a moldura ou ainda o

restaurador como especificador, posto que a obra de arte

não teve sua natureza modificada em razão do agir

antrópico.

Com efeito, em sendo a matéria-prima pertencente

ao especificador, a titularidade do bem especificado dele

será. Subsistirá tal disposição se parte da matéria

manipulada pertencer ao especificador e não for possível

a devolução do produto obtido a gênese original, como

obtempera a redação do art. 1.269 do Código Civil. Como

bem assinala Venosa2988, obviamente, deverá o

especificador indenizar o proprietário da substância alvo

da transformação. Entretanto, negrite-se, se a substância

puder ser revertida ao status quo ante deverá ser

restituída ao proprietário da matéria-prima.

88 VENOSA, 2010, p. 252.

Page 81: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

81

O mesmo ocorrerá se restar configurado que o

especificador obrou com má-fé, a novidade ficará com a

matéria da substância alvo da transformação. Impõe

elucidar que a má-fé traz à baila conduta intencional do

indivíduo em especificar matéria alheia, mesmo tendo

conhecimento de tal fato. Com propriedade, lecionam

Farias & Rosenvald “nada obstante, encontrando-se de

má-fé o especificador, a coisa nova pertencerá ao dono da

matéria-prima, não podendo aquele pleitear nem ao

menos a indenização pelo trabalho executado”, eis que o

pagamento da verba indenizatória serviria como insumo

à malícia e ao enriquecimento ilícito, nos termos em que

consagra o art. 1.271, §1º, in fine, do Código Civil.

De outro giro, em sendo o valor da mão de obra

superior, em demasia, ao valor da matéria-prima, mesmo

que havendo má-fé por parte do especificador, a novidade

a este pertencerá, devendo, tão somente, indenizar o

proprietário da substância por seu valor, como anota o

§2º do art. 1.271 do Estatuto de 2002. Sobreleva, na

hipótese em testilha, o axioma da preservação da coisa,

notadamente quando se tratam de produções de cunho

artístico (pinturas, gravações, esculturas). Ao versar

Page 82: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

82

sobre o assunto em epígrafe, preleciona Diniz, com

propriedade, no sentido de “segundo o §2º do art. 1.270,

se o material for inteiramente pertencente a outrem,

podendo ou não ser reduzido à forma precedente, estando

ou não o especificador de boa-fé, excedendo-se o preço da

mão de obra consideravelmente ao valor da matéria-

prima”89.

6 DA CONFUSÃO, COMISTÃO E ADJUNÇÃO

Em uma primeira plana, insta realçar que três são

as espécies de aquisição originária de coisa móvel que

recebem a aplicação de disposições normativas

semelhantes pelo Estatuto de 2002, porquanto “em todas

elas coisas que pertencem a proprietários distintos

culminam por se interpenetrar ou mesclar, formando

uma só coisa, sem que se possa separá-las sem

deterioração”90. A doutrina considera as três formas como

espécies de acessão de coisa móvel a móvel. Nesse jaez,

“a doutrina entende essas três modalidades como formas

89 DINIZ, 2011, p. 343. 90 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 419.

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83

de acessão de móvel a móvel”91. Todavia, há

entendimento diverso, como o construído por Diniz92, que

apresenta tão somente a comistão e a confusão como

espécie de acessão, enquanto a adjunção dá corpo a uma

união. Em todas as espécies, o principal aspecto

característico estrutura-se na mescla de bens móveis

pertencentes a proprietários diversos, que se dá de

maneira involuntária. Cuida destacar que a mistura

ocorrida não poderá dar ensejo a uma coisa nova, pois,

estar-se-ia diante de uma especificação.

Em linhas meramente conceituais, tem-se por

comistão como a “mistura de substâncias sólidas. Uma

das maneiras de aquisição da propriedade móvel, por

acessão da coisa misturada”93. A partir do substrato em

testilha, faz-se necessário ponderar que o instituto em

estudo também é denominado pela doutrina de “mistura”

e ocorre com a mescla de coisas sólidas ou secas, sem que

a união produza uma coisa nova, subsistindo a natureza

originária das substâncias. Ao lado do exposto, Farias &

Rosenvald lecionam que a comistão “é a mistura de

91 VENOSA, 2010, p. 253. 92 DINIZ, 2011, p. 344. 93 GAMA, 2006, p. 95.

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84

coisas secas ou sólidas, pertencentes a diferentes donos,

sem que possam ser separados e sem que se produza

coisa nova, mantendo-se a natureza originária das

mesmas”94. Exemplo citado, comumente, dá conta da

mistura de duas qualidades distintas de grão, como café

ou arroz, sem que isso produza uma nova espécie. Ora, a

mistura ocorrida mantém a propriedade dos grãos, não

há qualquer alteração na substância.

Por seu turno, a confusão é apresentada como

“forma de acessão que ocorre pela mistura de substâncias

líquidas ou liquefeitas. Mistura de outras matérias de

natureza diversa, pertencentes a diversos donos”95. A

partir do cotejo das informações colhidas, tem-se que, tal

como ocorre no instituto supra, há a manutenção da

essência originárias das substâncias líquidas ou

liquefeitas mescladas. O exemplo comum apresentado é a

mistura de vinhos de duas espécies distintas ou mesmo

de álcool e gasolina. Entretanto, “se for possível a

separação, líquidos de densidades diferentes, como óleo e

94 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 419. 95 GAMA, 2006, p. 103.

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85

vinagre, por exemplo, as coisas voltam aos respectivos

donos”96.

Por derradeiro, a adjunção é descrita como

“mistura de coisas da mesma espécie originariamente

pertencentes a vários donos. Modo de acessão de algum

bem móvel, pela agregação deste a outro, passando

ambos a formar um todo”97. Trata-se de uma justaposição

de uma coisa a outra, que não mais possibilita que haja o

destaque da coisa acessória da principal, sem que isso

acarrete a deterioração da coisa. São citados,

hodiernamente, pela doutrina como exemplo o decalque

afixado em uma roupa ou, ainda, a peça soldada ao

motor, em ambos os casos a retirada acarreta a

deterioração do bem principal. Em todas essas situações

apresentas há a justaposição da coisa acessória (o

decalque e a peça) ao bem principal (a roupa e o motor).

Vale salientar que as hipóteses em destaque se dão, via

de regra, de maneira involuntária ou fortuita. Trata-se

de acontecimento que é alheio à vontade dos

proprietários das coisas mescladas ou mesmo por ação de

terceiros, que atuam de boa-fé, o art. 1272, e seus

96 VENOSA, 2010, p. 253. 97 GAMA, 2006, p. 24.

Page 86: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

86

parágrafos, apresentam as regras estruturadas pelo

legislador a serem aplicadas. Em sendo possível a

separação das coisas móveis mescladas, sem que isso

acarrete a deterioração, viabilizando que cada um dos

proprietários identifique o que lhe pertence, dicciona o

caput do dispositivo supra que cada um continuará a ter

o domínio sobre a mesma coisa que lhe pertencia, antes

da ocorrência da mistura. Percebe-se, desta feita, que há

o afastamento da incidência da norma, no que tange à

regra estatuída no art. 1.217 que alude ao

estabelecimento de condomínio entre os vários titulares.

Sendo configurada a impossibilidade da separação,

ou esta se revelar demasiadamente dispendiosa, o §1º do

art. 1.272 estabelece a manutenção de condomínio

forçado, ou denominado condomínio pro indiviso,

mantendo cada um dos titulares o seu quinhão

proporcional sobre a substância mesclada. Contudo, fixa

o §2º do art. 1.272, que se uma das coisas puder ser

considerada como principal, “o respectivo dono sê-lo-á do

todo, indenizando os outros proprietários pelo valor das

coisas acessórias”98. Quadra salientar que, em

98 DINIZ, 2011, p. 344.

Page 87: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

87

decorrência das particularidades que emolduram o

instituto da adjunção, só será permitida a propriedade

exclusiva caso um dos objetos puder ser considerado

como principal em relação ao outro; não sendo possível,

vigorará a regra do condomínio forçado99.

Entrementes, se o fenômeno decorrer da vontade

dos proprietários das coisas móveis, não serão aplicáveis

as disposições contidas a partir do art. 1.272 do Diploma

Substantivo Civil, mas sim incumbirá aos proprietários

fixarem o regime aplicável à partilha, regulando-se pelos

preceitos contratuais100. Com efeito, se uma das

modalidades abordadas até o momento for exteriorizada

por um ato unilateral, eivado de má-fé, subsistirá para a

parte inocente o direito potestativo de obter a

propriedade sobre o todo mesclado, englobando-se a

mistura e a justaposição, devendo ressarcir o valor da

parte que não lhe pertencia, abatendo-se a indenização

devida pelo ato ilícito. Todavia, ainda nesta linha, nada

impede que o inocente renuncie “à propriedade da coisa

99 VENOSA, 2010, p. 253. 100 Neste sentido: DINIZ, 2011, p. 344: “Se tal mescla for intencional,

feita com o expresso consentimento dos proprietários das coisas

misturadas, eles mesmos deverão decidir a quem pertencerá o

produto da mistura”.

Page 88: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

88

móvel, recebendo ressarcimento pelo ato de abdicar do

que lhe pertencia, acrescido de perdas e danos (art. 1.273

do CC)101.

7 DA USUCAPIÃO DE COISA MÓVEL

A usucapião consiste em modo de aquisição

originária de bens móveis compartilhando dos mesmos

fundamentos do instituto em tela, no que concerne aos

bens imóveis, qual seja: ofertar juridicidade a uma

situação de fato. A usucapião, em sua modalidade

ordinária, ocorrerá quando a posse for exercida com

animus domini, de modo manso e pacífico, pelo período

de três anos, de maneira ininterrupta e sem oposição.

Com efeito, pondera Verdan “é necessário que fique

comprovada a posse, pelo período mínimo de três anos,

devendo-se demonstrar, também, que esta é mansa e

101 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 420. Neste sentido: VENOSA,

2010, p. 254: “Sempre que ocorrer má-fé no campo jurídico, existe a

possibilidade de indenização por perdas e danos. Evidente que, se o

agente mescla matéria toda ela alheia, responde pelo valor mais

perdas e danos com base no princípio geral da culpa”.

Page 89: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

89

ininterrupta, e com fundamento em justo título”102. Neste

sentido, inclusive, colhe-se entendimento jurisprudencial

que serve como substrato:

Ementa: Processual Civil. Apelação

cível. Usucapião de bem móvel.

Requisitos. Preenchimento.

Manutenção da decisão.- A declaração de

aquisição da propriedade de bem móvel por

usucapião exige a comprovação de posse

mansa e ininterrupta o bem por no mínimo

três anos, se com base em justo título; se

não houver justo título, o prazo é elevado

para cinco anos. - Preenchidos tais

pressupostos, a manutenção da sentença,

que julga procedente o pedido, é medida que

se impõe. (Tribunal de Justiça do Estado de

Minas Gerais – Nona Câmara Cível/

Apelação Cível Nº 2.0000.00.494159-9/000/

Rel. Desembargador Tarcísio Martins

Costa/ Julgado em 01.04.2008/ Publicado

em 19.04.2008)

Exige-se, ainda, para a configuração da

modalidade em destaque a existência boa-fé e justo

título. Doutra banda, a usucapião extraordinária exige o

exercício da posse com animus domini por período de

102 VERDAN, Tauã Lima. O Instituto da Usucapião: Breves

Apontamentos. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 13 out.

2011. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br/materias/doutrina-

civil/instituto-usucapiao-breves-apontamentos1>. Acesso em: 04 fev.

2012.

Page 90: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

90

cinco anos, dispensando-se o justo título e a boa-fé do

usucapiente. Neste alamiré, leciona Rodrigues,

destacando que “de outro, a usucapião extraordinária,

que demanda o período mais amplo de cinco anos, em que

basta a prova da posse mansa e pacífica durante aquele

intervalo, posto que a lei presume, de maneira

irrefragável, o justo título e a boa-fé”103.

8 DA TRADIÇÃO

Afigura como modo derivado de aquisição de

propriedade o instituto da tradição, consubstanciando-se

por meio da entrega de bem móvel pelo transmitente ao

adquirente, com a intenção de transferir-lhe a

propriedade, em decorrência de negócio jurídico firmado,

com o competente título translativo. Gama define

tradição como “ato de transmitir ou entregar uma coisa a

quem a adquiriu”104. Colhe-se, ainda, a ponderação de

Diniz no sentido que “o contrato por si só, não é apto para

transferir o domínio, contém apenas um direito pessoal;

103 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: Direito das Coisas. v. 5.

São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 194-195. 104 GAMA, 2006, p. 370.

Page 91: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

91

só com a tradição é que essa declaração translativa de

vontade se transforma em direito real”105.

Ao lado disso, insta pontuar que, comumente, a

doutrina, ao tratar do tema em destaque, apresenta três

modalidades de tradição: a) tradição real, que é a

efetiva entrega material da coisa ao adquirente pelo

alienante, mesmo que por procuradores ou núncios; b)

tradição simbólica, que é meramente representativa,

não ocorrendo a entrega material da res, como, por

exemplo, a entrega das chaves de um veículo ao

adquirente; c) tradição consensual ou ficta é a

decorrente de acordo de vontade das partes, por colocação

de cláusula contratual, sem que haja qualquer alteração

no mundo dos fatos. Esta última hipótese contempla

tanto o constituto possessório como a tradição brevi

manu.

No que concerne ao constituto possessório, denota-

se que o proprietário de determinado bem promove sua

alienação a outrem, entretanto, permanece como

possuidor direto. Infere-se que há uma inversão no título

da posse, porquanto alguém que possuía, em outrora, em

105 DINIZ, 2011, p. 345.

Page 92: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

92

nome próprio, passa a possuir em nome alheio. Verifica-

se, no instituto em exame, a alteração tão somente do

animus, porquanto era originariamente era proprietário

e, após a tradição, passa a possui a outro título, como

locatário, à guisa de exemplificação. Por seu turno, a

tradição brevi manu é o contrário do que se passa no

constituto possessório, posto que aquele que possuía o

imóvel em nome alheio passa a possuí-lo como

proprietário, sem que seja aferida a tradição material da

coisa, eis que o objeto prosseguirá em poder do possuidor

primevo.

Além das situações espancadas acima, o art. 1.267,

em seu parágrafo único, do Código Civil, traz à tona uma

terceira situação, consistente na hipótese em que o

transmitente cede ao adquirente o direito à restituição

da coisa. Trata-se de situação comum, pois compreende

casos em que o alienante já havia feito a transmissão da

posse direta da coisa, ao tempo em que avença negócio

jurídico que abarque dispositivo de propriedade. Em

altos alaridos, o caput do art. 1.268 do Estatuto de 2002

estabelece que as aquisições negociais observarão o

preceito nemo plus iuris, ou seja, ninguém poderá

Page 93: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

93

proceder a transferência a outrem mais direito do que

possui. “De fato, neste princípio geral se funda o sistema

geral da tradição da propriedade, pois sempre se

pressupõe um vínculo jurídico entre o sujeito que

transmite e aquele que adquire o direito real”106.

Entretanto, em sendo realizada a tradição de

qualquer bem móvel em leilão ou ainda estabelecimento

comercial, observando-se os aspectos caracterizadores

próprios da relação jurídica, nos termos do art. 1.268 do

Código Civil, o terceiro de boa-fé não perderá o bem,

restando ao real proprietário aforar ação indenizatória

em face do alienante. Ora, constata-se que a Legislação

Civil valora, por mais uma vez, os preceitos irradiados

pela teoria da aparência, salvaguardando aquele que

agiu pautado em boa-fé subjetiva, que, em razão da

indução das circunstâncias que emolduram a situação

fática, incidiu em erro escusável.

Em harmonia com o emanado pelo §1º do art. 1.268

do Código Civil, caso o adquirente estiver de boa-fé e o

alienante, posteriormente, vier a adquirir a propriedade,

considera-se realizada a transferência, desde que o

106 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 427.

Page 94: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

94

momento em que se operou a tradição. Noutro turno, fixa

o §2º do art. 1.268 do Código Civil que não haverá

transferência de propriedade, quando o título que serve

de substrato for proveniente de um negócio jurídico nulo.

Tal fato decorre da premissa basilar que a tradição

requer a presença do elemento subjetivo das partes, ou

seja, a manifestação da vontade que se exterioriza no

contrato entabulado. Logo, em não sendo verificada a

presença da vontade das partes, a tradição não é hábil

para operar a transferência da propriedade.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Decreto-Lei Nº. 2.848, de 07 de Dezembro

de 1940. Código Penal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 04 fev. 2012.

_________. Lei Nº. 3.071, de 1º de Janeiro de 1916.

Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 04 fev.

2012.

_________. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002.

Institui o Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 04 fev. 2012.

Page 95: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

95

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil

Brasileiro: Direito das Coisas. V. 04. São Paulo: Editora

Saraiva, 2011

FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson.

Direitos Reais. 7 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen

Juris, 2011.

GAMA, Ricardo Rodrigues. Dicionário Básico

Jurídico. 1 ed. Campinas: Editora Russel, 2006.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FR

ANCO, Francisco Manoel de Mello. Minidicionário

Houaiss da Língua Portuguesa. 2 ed. (rev. e aum.).

Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2004.

POLITO, André Guilherme. Dicionário de Sinônimos

e Antônimos. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2005.

RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: Direito das

Coisas. v. 5. São Paulo: Editora Saraiva, 2009.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direitos

Reais. 10 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010.

VERDAN, Tauã Lima. O Instituto da Usucapião: Breves

Apontamentos. Jurid Publicações Eletrônicas,

Bauru, 13 out. 2011. Disponível em:

<http://jornal.jurid.com.br/materias/doutrina-

civil/instituto-usucapiao-breves-apontamentos1>. Acesso

em: 04 fev. 2012

Page 96: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

96

MODOS DE PERDA DA PROPRIEDADE: BREVE

ANÁLISE DO TEMA

Resumo: Um dos aspectos preponderantes a ser

destacado, no que concerne ao estudo da

propriedade, está atrelado à perpetuidade. Em uma

linha conceitual, pode-se considerar que a Lei

Substantiva Civil vigente, ressoando o entendimento

consolidado no Estatuto de 1916, alicerçou a perda

da propriedade em duas espécies distintas. A

primeira é fruto de ato voluntário, ou seja, há a

presença do elemento volitivo do proprietário, que se

manifestação por meio de um comportamento

comissivo ou omissivo. Assim, afiguram como

exemplos a serem apresentados no caso em tela: a

alienação, o abandono e a renúncia, previsto no art.

1.275, incs. I a III, do Códex de 2002. Noutra toada, a

segunda espécie é denominada involuntária, visto

Page 97: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

97

que não há qualquer manifestação do proprietário,

sendo inexistente o elemento volitivo. Nesta espécie,

a perda da propriedade está associada a fatos

relativos a objetos, atuando como claros exemplos,

consagrados pela legislação vigente, o perecimento e

a desapropriação.

Palavras-chaves: Propriedade. Perda. Código Civil.

Sumário: 1 Ponderações Preliminares; 2 Da Perda

da Propriedade por Alienação; 3 Da Perda da

Propriedade por Renúncia; 4 Da Perda da

Propriedade por Abandono; 5 Da Perda da

Propriedade por Perecimento; 6 Da Perda da

Propriedade por Desapropriação: 6.1 Da

Desapropriação Administrativa; 6.2 Da

Desapropriação Judicial baseada na Posse Pro

Labore ou Posse-Trabalho; 7 Outras Formas de

Perda da Propriedade: 7.1 Da Arrematação; 7.2 Da

Adjudicação; 7.3 Da Propriedade Resolúvel; 7.4 Do

Confisco; 7.5 Da Requisição.

Page 98: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

98

1 PONDERAÇÕES PRELIMINARES

Ao examinar, inicialmente, a propriedade, dentro

do Direito Civil, denota-se que um dos aspectos

preponderantes a ser destacado está atrelado à

perpetuidade. Ora, denota-se que, a princípio, a

propriedade é considerada como irrevogável, sendo

transmitida aos sucessores, em decorrência do que

articula o preceito da saisine, dogma elencado no art.

1.784 do Código Civil e que atua como flâmula

desfraldada. Desta sorte, infere-se que a morte, enquanto

fenômeno com consequências no mundo jurídico, tem o

condão de acarretar a perda da propriedade, que é

transmitida do de cujus para seu lastro sucessório,

observando-se, obviamente, as peculiaridades das

situações concretas apresentadas. Neste sentido,

inclusive, há que se trazer à baila as lições apresentadas

por Diniz, quando põe em evidência que “dado o caráter

de perpetuidade do domínio, este remanescerá na pessoa

de seu titular ou de seus sucessores causa mortis de

Page 99: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

99

modo indefinido ou até que por um meio legal seja

afastado do seu patrimônio”107.

Em uma linha conceitual, pode-se considerar que a

Lei Substantiva Civil vigente, ressoando o entendimento

consolidado no Estatuto de 1916, alicerçou a perda da

propriedade em duas espécies distintas. A primeira é

fruto de ato voluntário, ou seja, há a presença do

elemento volitivo do proprietário, que se manifestação

por meio de um comportamento comissivo ou omissivo.

Assim, afiguram como exemplos a serem apresentados no

caso em tela: a alienação, o abandono e a renúncia,

previsto no art. 1.275, incs. I a III, do Códex de 2002.

Noutra toada, a segunda espécie é denominada

involuntária, visto que não há qualquer manifestação do

proprietário, sendo inexistente o elemento volitivo. Nesta

espécie, a perda da propriedade está associada a fatos

relativos a objetos, atuando como claros exemplos,

consagrados pela legislação vigente, o perecimento e a

desapropriação. Ao lado disso, há que se trazer a lume a

construção doutrinária apresentada por Farias &

Rosenvald:

107 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro,:

Direito das Coisas. V. 04. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 194.

Page 100: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

100

No Código Civil de 2002, perde-se a

propriedade voluntariamente por alienação,

abandono e renúncia (art. 1.275, I, II e III,

do CC). A outro giro, perde-se a propriedade

involuntariamente, pelo perecimento e

desapropriação (art. 1.275, IV e V, do CC).

As hipóteses de extinção da propriedade,

independentes da vontade de seu titular,

serão excepcionais no sistema108.

Quadra, ainda, colocar em relevo que o art. 1.275

da Lei Nº. 10.406109, de 10 de Janeiro de 2002, que

institui o Código Civil, refere-se tanto à perda da

propriedade imobiliária como da mobiliária, trazendo

inovação ao Ordenamento Jurídico, visto que o revogado

Diploma Civilista, ao espancar o tema no art. 584,

manteve-se adstrito tão somente à primeira. No mais,

vale salientar que o rol apresentado no caput do art.

1.275, não se trata de numerus clausus, mas sim é

meramente exemplificativo, comportando outras

espécies, que são apresentadas por leis extravagantes,

108 FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nélson. Direitos

Reais. 7 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011, p. 402. 109 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 22 jan. 2012.

Page 101: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

101

bem como em outros dispositivos da própria Lei

Específica.

Claros exemplos das ponderações aduzidas, até o

momento, são a usucapião e a acessão, que “não são

apenas modos originários de aquisição da propriedade,

mas também modos de perda da propriedade para aquele

proprietário desidioso, que não cuidou de resguardar a

sua posse”110, no tocante à primeiro. Assim como para aquele que

teve a coisa, considerada como acessória, unida ou

incorporada à propriedade do titular do bem principal111,

em relação à segunda.

2 DA PERDA DA PROPRIEDADE POR

ALIENAÇÃO

Consagrada no inciso I do art. 1.275 do Código de

2002, a alienação é apresentada como o negócio jurídico,

por meio do qual o proprietário, gozando da autonomia

privada que dispõe, gratuita (através da doação) ou

110 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 402. 111 Neste sentido: DINIZ, 2011, p. 194-195: “A acessão (CC, arts.

1.248 a 1.259), que se dá pela união ou incorporação de uma coisa a

outra pertencente a outrem, acarretando a aquisição de domínio

desse último e perda para o proprietário que sofre as consequências

da acessão”.

Page 102: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

102

onerosamente (mediante venda, dação em pagamento ou

permuta), transfere a outro o direito que detém sobre

determinada coisa, imóvel ou móvel. Em igual

sedimento, colhe-se que a alienação “é uma forma de

extinção subjetiva do domínio, em que o titular desse

direito, por vontade própria, transmite a outrem seu

direito sobre a coisa. É a transmissão de um direito de

um patrimônio a outro”112. Aliás, do vocábulo “alienar”

infere-se justamente tal acepção, tornando a coisa alheia.

Aqui, cabe ressaltar o instituto em exame é reservado tão

somente às transmissões consideradas como voluntárias,

frutos de um negócio jurídico bilateral, há a presença do

elemento subjetivo, consistente na manifestação de

vontade do proprietário da coisa.

A alienação, enquanto forma de transmissão, é

constituída de elementos que integram sua natureza, a

saber: a) a existência de um direito de posse do titular; b)

a manifestação do mencionado direito, externado por

meio da vontade do proprietário em transmiti-lo a

outrem; c) a aceitação à vontade do proprietário

primitivo, substanciada por meio da aceitação do

112 DINIZ, 2011, p. 196.

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103

indivíduo beneficiado com a transferência; d) a existência

de liame entre a perda do direito para o proprietário

primitivo e sua aquisição pelo beneficiado; e, e) a

contemporaneidade entre os atos de perda e aquisição de

propriedade, assim como a dependência existente entre

os mencionados, sendo decorrentes da mesma causa

jurídica, ou seja, a perda e aquisição da propriedade do

bem, móvel ou imóvel, é fruto do mesmo negócio.

Consoante aduz Venosa113, o preceito que vigora

na espécie em destaque é que o proprietário não poderá

transmitir mais direitos do que é detentor. Cuida

arrazoar que, em se tratando de alienação de coisa

imóvel, necessária se faz revestir tal ato da solenidade

carecida, consistente, notadamente quando o bem

ultrapassa o quantum de trinta salários mínimos, na

escritura pública, para que haja o aperfeiçoamento do

entabulado. Ao lado disso, insta trazer à colação a

redação do art. 108 do Estatuto Civilista, que assim

verbaliza:

113 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direitos Reais, 10ª ed.

São Paulo: Editora Atlas, 2010, p. 164-165.

Page 104: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

104

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a

escritura pública é essencial à validade dos

negócios jurídicos que visem à constituição,

transferência, modificação ou renúncia de

direitos reais sobre imóveis de valor

superior a trinta vezes o maior salário-

mínimo vigente no País114.

Assim, em decorrência da alienação conter em seu

âmago o ideário de transmissibilidade, não se verifica

ínterim em que o bem seja despido de titularização, logo,

em se tratando de bens imóveis, este não se tornará res

nullius. Há uma automaticidade, vez que enquanto o

alienante perde a propriedade, esta é ganhada pelo

adquirente da coisa. Como bem salienta Farias &

Rosenvald, “daí a importância da aferição da existência,

validade e eficácia do negócio jurídico transmissivo,

ainda que não haja eficácia real”115.

Em oposição ao exposto, o efeito oriundo da perda

da propriedade pela alienação estará sempre

subordinado à tradição, como inclusive se infere da

redação do art. 1.226 do Código Civil, “Art. 1.226. Os

direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos,

114 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 22 jan. 2012. 115 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 404.

Page 105: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

105

ou transmitidos por ato entre vivos, só se adquirem com

a tradição”. De igual modo, “na compra e venda de bens

móveis, a aquisição da propriedade se faz mediante

simples tradição do bem. Assim, para fins de

demonstração da propriedade sobre veículo automotor,

basta que a parte demonstre tê-lo em sua posse, a título

de operação de compra e venda”116. Obviamente, excetua-

se a tal redação os aviões e navios, que necessitam de

registro para que a alienação possa restar aperfeiçoada.

Por derradeiro, calha salientar que tão somente

inexistirá a alienação sem o consentimento do

proprietário do bem, quando restar demonstrada a

presença de cláusula de retrovenda, na qual o alienante

pode exercer o direito de recobrar a coisa imóvel,

atentando-se para o prazo decadencial fixado na lei, qual

seja: 03 (três) anos, a contar do registro, como bem

entalha o art. 505 da Lei Civilista. “O proprietário estará

em situação de sujeição, pois o vendedor poderá

116 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Órgão Julgador:

Décima Sexta Câmara Cível. Apelação Cível Nº. 70034531475.

Relator: Desembargador Paulo Sérgio Scarparo. Julgado em:

18.03.2010. Disponível em: <//www.tjrs.jus.br>. Acesso em: 22 jan.

2012.

Page 106: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

106

unilateralmente alterar a sua esfera jurídica sem

qualquer possibilidade de oposição”117.

3 DA PERDA DA PROPRIEDADE POR RENÚNCIA

Em linhas inaugurais, tem-se que a renúncia é um

negócio jurídico unilateral, por meio do qual o

proprietário da coisa declara, formal e explicitamente, o

intento de despojar-se da propriedade. Assim, infere-se

que, em oposição ao instituto da alienação, na renúncia

nada é transmitido a ninguém, tão somente há a

abdicação do direito real existente, sendo a coisa

convertida em res nullius. Ao lado disso, pontua Diniz, “a

renúncia (CC, art. 1.275, II) é um ato unilateral, pelo

qual o proprietário declara, expressamente, o seu intuito

de abrir mão de seu direito sobre a coisa, em favor de

terceira pessoa que não precisa manifestar sua

aceitação”.De igual maneira, pode-se trazer à colação as

ponderações apresentadas por Luciano de Camargo

Penteado118:

117 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 404. 118 PENTEADO, Luciano de Camargo. Direito das Coisas. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 304-305.

Page 107: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

107

A renúncia é negócio jurídico unilateral não

receptício. Daí que seus efeitos dependam

de declaração de vontade jurídico-negocial

expressa, a qual não depende de outra

vontade para produzir seus efeitos

específicos. (…) A renúncia tem por efeito

tornar o bem sem dono, isto é res nullius.

Deste modo, perde a titularidade subjetiva,

convertendo-se em bem vago que,

preenchidos os pressupostos, poderá ser

arrecadado. Assim como a alienação, a

renúncia só produz efeitos quando levada a

registro no CRI competente (CC 1.275

parágrafo único).

A renúncia, para restar devidamente

caracterizada, segundo Farias & Rosenvald119, não

poderá ser consolidada em favor de outrem, sob pena de

corporificar o instituto da doação, tratando-se,

obviamente, de uma alienação gratuita. Deste modo,

desde que não subsista qualquer prejuízo a terceiros, é

sempre possível a renúncia aos direitos incidentes sobre

um imóvel. Insta, ainda nesta senda, evidenciar que, em

decorrência da gravidade que o instituto em comento

possui, como também as consequências produzidas, é

exigida a sua formalização, por meio de escritura pública,

nos moldes preceituados no art. 108 do Código Civil

119 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 404.

Page 108: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

108

vigente. Nesta trilha, “o Código de 2002, todavia, no art.

108, dispõe que a escritura pública é essencial também

para a renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor

superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no

país”120.

Ademais, não se pode olvidar que, antes do

registro do ato renunciativo, o proprietário poderá

desconstituir a abdicação, mantendo a coisa para si ou

mesmo alienando-o a terceira pessoa. Em razão da

renúncia acarretar a perda jurídica da propriedade

imobiliária, não subsiste qualquer óbice que o

renunciante se mantenha na posse do bem, exercendo o

poder fático sobre a coisa, sem que haja qualquer

alteração. Nestes termos, “a modalidade de renúncia à

propriedade imobiliária que acarreta imediata aquisição

patrimonial para o novo proprietário é a renúncia à

herança (art. 1.804, parágrafo único, do CC)”121.

Para tanto, gize-se que o quinhão alvo da

renúncia, por parte do herdeiro, será transferido ao

acervo hereditário, em favor dos demais coerdeiros da

mesma classe, sendo necessária a formalização, quer seja

120 VENOSA, 2010, p. 267. 121 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 405.

Page 109: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

109

por meio de escritura pública, quer seja por meio de

declarações que instruirão o processo de inventário,

sendo levado ao registro imobiliário, ao final, quando do

registro do formal de partilha. Sobre a renúncia da

herança, cumpre trazer à baila lição de Orlando Gomes:

Renúncia é o negócio jurídico unilateral pelo

qual o herdeiro declara não aceitar a

herança. [...] A renúncia é retratável, mas

somente se proveniente de violência, erro ou

dolo. Não há, portanto, liberdade de revogá-

la. [...] A impugnação por erro é censurável,

por atentar contra o interesse público que

quer a estabilidade das transmissões

hereditárias. A renúncia tem eficácia

retroativa. Tem-se o renunciante como se

jamais fora chamado a sucessão.

Consequentemente, os herdeiros do

renunciante não o representam. Ninguém

sucede ao renunciante por direito de

representação. Mas, se ele for o único

legítimo de sua classe ou se todos os outros

da mesma classe renunciarem à herança,

poderão os filhos vir a sucessão, por direito

próprio. [...] Se são renunciantes todos os

filhos do auctor sucessionis, seus

descendentes de primeiro grau herdam por

cabeça, dividindo-se a herança, por exemplo,

entre dez netos do mesmo de cujus, tendo o

primeiro dois filhos, o segundo, três, e o

terceiro, cinco, e não em três partes. [...] A

renúncia não é translativa. Por outras

palavras, não importa transmissão de bens

Page 110: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

110

ou direitos. Não se confunde, enfim, com a

cessão de herança. É ato abdicativo122.

Além disso, faz-se carecido salientar que, em sendo

a renúncia praticada tão somente em favor de um dos

herdeiros, em detrimento do demais, estar-se-á diante de

uma cessão de herança, que não é portadora de aspecto

abdicativo, mas sim translativo, dando corpo à alienação.

Id est, concede-se a denominação de cessão de direitos ao

negócio jurídico de alienação dos bens incorpóreos ou

mesmo de uma universalidade de bens corpóreos, que se

encontram em processo de divisão. “A renúncia

propriamente dita é a abdicativa, também chamada de

pura e simples, e é aquela em favor do monte. A renúncia

dita translativa equivale à verdadeira cessão de direitos

hereditários”123.

Nessa trilha, cuida arrazoar que, em decorrência

da formalidade que reveste o instituto em tela,

considera-se que sua aplicação não se estende a perda da

122 GOMES, Orlando. Sucessões. 7 ed. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 1998, p. 22-24. 123 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Órgão Julgador:

Oitava Câmara Cível. Agravo de Instrumento Nº 70007963267.

Relator: Desembargadora Catarina Rita Krieger Martins. Julgado

em 20.05.2004. Disponível em: <//www.tjrs.jus.br>. Acesso em: 22

jan. 2012.

Page 111: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

111

propriedade sobre bens móveis. Excetua-se ao exposto, o

patrimônio mobiliário que se encontra no direito

hereditário, podendo ser alvo da abdicação do herdeiro.

Em se tratando de objetos móveis, contumaz é a prática

do abandono.

4 DA PERDA DA PROPRIEDADE POR

ABANDONO

Também denominado de derrelicção ou derelição, o

abandono é descrito como o ato material por meio do qual

o proprietário da coisa se desfaz do bem, porque não quer

mais ser seu dono. Em razão do abandono não ser um ato

expresso, a exemplo do que é a renúncia e a alienação, a

materialização de tal instituto é fruto de atos exteriores

que demonstram a explícita intenção de abandonar a

coisa. Já se decidiu, inclusive, que o simples desprezo

físico pela coisa, caso não esteja acompanhado de sinais

evidentes de abdicar da coisa, não é suficiente para

consubstanciar o abandono. “Em outras palavras, o mero

desuso não importa em abandono; fundamental é a

conjugação ao elemento psíquico, na perquirição do real

Page 112: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

112

interesse do titular de se desfazer da propriedade”124.

Nesta linha, também, ensina Luciano de Camargo

Penteado125:

Outra forma de perda da propriedade é o

abandono. Por esta modalidade perde-se a

propriedade sem que tenha que falar em

negócio jurídico. Para sua configuração

basta uma intenção inequívoca de não

conservar mais o bem no patrimônio do

abandonante, manifestada por algum ato,

mesmo que seja a perda da posse com

intenção de definitividade.

Além disso, faz-se necessário salientar, como

aspecto caracterizador, é que o abandono constitui

negócio jurídico unilateral, tal como a renúncia, estando

adstrito à esfera jurídica do abandonante. No mais, a

manifestação da vontade daquele que abandona é não

receptícia, porquanto não está direcionada a outra

pessoa, logo, independe de manifestação da vontade para

que o negócio jurídico possa existir e, por consequência,

cumprir o fito a que se propõe. Com efeito, o proprietário

goza da faculdade de usar a coisa sobre a qual recai seu

124 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 406. 125 PENTEADO, 2008, p. 305.

Page 113: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

113

direito, estando englobada em tal acepção a possibilidade

de não-utilizar.

Nessa trilha, faz-se necessário pontuar que o

abandono não se presume, ao contrário, sua

demonstração é imprescindível para restar configurado o

instituto do abandono. Um fato que traz bastante

interesse concerne à faculdade consagrada na redação do

art. 1.276126 do Código Civil, diccionando que o imóvel

abandonado será alvo de arrecadação, como se bem vago

fosse, e, transcorrido o período de três anos fixados na

legislação, passará a integrar a propriedade do Município

ou do Distrito Federal, se estiver alocado na zona urbano;

entretanto, em estando localizado na zona rural, será

arrecadado pela União.

126 BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o

Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em: 22 jan. 2012: “Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário

abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu

patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser

arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à

propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas

respectivas circunscrições: § 1o O imóvel situado na zona rural,

abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado,

como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União,

onde quer que ele se localize.”

Page 114: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

114

Imperioso se revela que o dispositivo legal não traz

à lume qual o regramento para aferimento da localização

como sendo urbano ou rural, sendo aceito, “por sintonia

com o instituto da usucapião (art. 191 da CF) e da

tributação (IPTU ou ITR), parece-nos ser a localização do

imóvel o fato distintivo para determinar a competência

da União ou do Município para o procedimento da

arrecadação”127. Assim, guardando congruência com o

entalhado, imprescindível será a análise do Plano

Diretor Urbano, a fim de se constatar a localização do

imóvel abandonado, considerando, por exclusão, sua

localização na zona rural, quando então a arrecadação

será da União.

Outra celeuma existente, no que tange ao assunto

em tela, junge-se ao momento em que verifica a perda da

propriedade imobiliária, em decorrência do abandono.

“Alguns autores defendem a manutenção da propriedade

em nome do abandonante até o momento de sua

arrecadação pelo Poder Público, podendo reivindicá-la

quando bem lhe aprouver”128. Desta feita, enquanto a

arrecadação não se concretizar, o particular conservará a

127 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 407. 128 Ibid.

Page 115: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

115

titularidade, podendo, inclusive, transmitir a

propriedade do bem imóvel a outrem.

Ao lado disso, como bem pontua Washington de

Barros Monteiro129, no que tange ao processo de

abandono, denota-se dois momentos distintos, quais

sejam: há inicialmente a perda da propriedade, em razão

do abandono, e, posteriormente, opera-se a sua

arrecadação pelo Estado, momento em que a coisa,

outrora sem dono, se converte em propriedade pública.

Logo, segundo o entendimento explicitado alhures, até

que haja a eventual a apropriação do bem abandonado

pelo Poder Público, após o defluxo do lapso fixado em lei,

o imóvel, alvo do abandono, torna-se res nullius.

Vale salientar que o abandono dispensa a

formalidade do registro, todavia, a eficácia da perda da

propriedade, em relação à coletividade, só ocorrerá

quando houver alteração no Registro Geral de Imóveis,

passando a constar o nome do novo proprietário. Assim,

para que haja eficácia erga omnes é imprescindível tal

formalidade, porquanto, durante o período em que não se

consumar, o abandono não terá eficácia completa, sendo

129 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, 23

ed. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 169.

Page 116: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

116

considerado como proprietário do imóvel aquele que

constar dos assentamentos do registro.

Outra questão que merece ser espancada está

adstrita à premissa de que, em razão do decurso do

tempo por si só não transferir o imóvel abandonado ao

domínio, sendo necessário, como visto acima, a

arrecadação, não há qualquer óbice que particular possa

completar tempo hábil de posse que autorize à usucapião,

utilizando-se da desídia conjunta do abandonante e do

Ente Estatal. A prescrição aquisitiva só será

interrompida, após iniciado o procedimento de

arrecadação. “Ou seja, sendo a coisa ainda registrada em

nome do particular, contra ele e os demais litisconsortes

a ação será direcionada, eis que ainda não está a

propriedade submetida à regra da imprescritibilidade

dos bens públicos”130, cuja disposição encontra-se inserta

na redação do art. 102 do Código Civil. Segundo Venosa,

“o Estado deve intervir para arrecadar bem abandonado,

se ninguém exerce a posse. Embora em curso o processo

130 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 407-408.

Page 117: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

117

de arrecadação do Estado, pode ocorrer a prescrição

aquisitiva pelo particular”131.

Ademais, impõe destacar que o caput do art. 1.276

do Estatuto de 2002 alberga em sua redação, em

ressonância aos dispositivos constitucionais,

notadamente a dignidade da pessoa humana e a função

social da propriedade, a premissa que o imóvel

abandonado só será alvo de arrecadação se não estiver

em posse de outrem. Logo, por tal previsão, constata-se

não basta tão somente a demonstração de que o

abandonante não mais deseja o bem para si, porquanto

“a posse de terceiros sobre o bem é fator suficiente para

conceder função social à propriedade e determinar a

exclusão da pretensão à titularidade pelo Poder

Público”132. Neste sentido, já se decidiu:

Ementa: Apelação Cível. Propriedade e

Direitos Reais sobre coisas alheias. Ação

Reivindicatória. Improcedência. Abandono

do Imóvel pelos proprietários. Inexistência

de Interesse pela área, a qual inclusive

serviu de lixão por longos anos.

Ajuizamento da Ação Dominial quando já

consolidada a ocupação por várias famílias e

131 VENOSA, 2010, p. 267. 132 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 408.

Page 118: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

118

fulminado, pelo decurso do tempo, o direito

de propriedade. Descaso que gerou invasão

sistemática do terreno. Processo de

favelização consolidado. De regra, o

proprietário tem direito de reaver a coisa

do poder de quem quer que injustamente a

possua. Todavia, o direito de propriedade

não é absoluto, podendo, em

situações excepcionais, perecer, como no

caso de evidente abandono por seu titular.

Hipótese em que o não-exercício dos poderes

dominiais propiciou a instalação sistemática

de diversas famílias sobre o imóvel, com

desmembramento da área em vários lotes e

instalação de luz, água e esgoto, tudo a

evidenciar a consolidação do processo de

favelização da área. Situação estabilizada

sobre o imóvel que inviabiliza o

acolhimento da pretensão reivindicatória.

Precedente do Superior Tribunal de

Justiça. Preliminares rejeitadas e recurso

de apelação desprovido. (Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul –

Décima Oitava Câmara Cível/ Apelação

Cível Nº. 70034617597/ Relator:

Desembargador Pedro Celsa Dal Prá/

Julgado em 02.12.2010) (destaque nosso)

Impõe colocar em destaque, também, que subsiste,

a partir do entalhado no §2º do art. 1.276, uma presunção

de absoluta de abandono, quando restar consubstanciado

a conjugação do desuso, por parte do proprietário, e o

inadimplemento os tributos reais. Logo, em subsistindo a

inércia do proprietário em promover o pagamento dos

Page 119: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

119

tributos incidentes, aliado ao abandono do bem, o

procedimento de arrecadação, por parte do Ente Estatal

(Município/Distrito Federal ou União) será medida de

reafirmação dos preceitos de socialidade, sem que possa o

abandonante manejar oposição, porquanto restará

modelada a presunção absoluta que dá conta o

dispositivo supra. Destarte, verifica-se pela dicção do

acimado, repita-se, a valorização do emprego da

propriedade como elemento de potencialização da

dignidade do indivíduo.

5 DA PERDA DA PROPRIEDADE POR

PERECIMENTO

Ab initio, importa evidenciar que o perecimento

constitui modalidade involuntária de perda da

propriedade, porquanto, em decorrência da força da

natureza ou de ação antrópica, não mais subsiste o

direito, em decorrência de lhe faltar o objeto. No caso em

tela, vigora o antigo adágio “perecendo o objeto, perece o

direito”. Cumpre avultar que, para a materialização do

instituto do perecimento, é imprescindível que o fato

Page 120: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

120

material alcance a substância da coisa de forma completa

ou, ainda, causando o desproveito das qualidades

estruturantes ou do valor econômico que a res possui.

Consoante Diniz distingue em seus argumentos,

“esse perecimento pode decorrer de ato involuntário, se

resultam de acontecimentos naturais, como: terremoto,

raio, incêndio etc., ou de ato voluntário do titular do

domínio, como no caso de destruição”133.

Ao lado do acinzelado, valendo-se, ainda, do

entendimento doutrinário construído alhures, que, em

subsistindo a devastação do prédio, quando ocorre, por

exemplo, incêndio, não há um perecimento total, mas

apenas parcial, que conservará o direito de propriedade.

Como bem destaca Nascimento, “onde resta terreno a

propriedade subsiste. Assim, se a construção do edifício

desaparece, por implosão ou queda, o domínio persiste

sobre terreno e não há que se falar em perda da

propriedade”134. Logo, por tal dicção, verifica-se que o

perecimento não se confunde com destruição ou

133 DINIZ, 2011, p. 200. 134 NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro do. Direitos Reais

Limitados. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2004, p.

174.

Page 121: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

121

demolição. O imóvel não é destruído, mas sim o bem

acessório a ele agregado e que, comumente, traz

vantagem econômica ao proprietário. De outro turno, em

restando consubstanciada a demolição, o prédio vem a

ser desmanchado, entrementes o terreno permanece,

ainda que tenha sofrido desvalorização econômica.

Ainda como reflexo dos preceitos alocados na Carta

Constitucional de 1988, verifica-se a possibilidade do

perecimento jurídico da propriedade. Nesta hipótese, o

objeto sobre o qual o direito real incide ainda existe,

todavia, em decorrência de uma determinada situação,

há a desnaturação da coisa, culminando na perda da

propriedade. Tal exemplo é verificável normalmente

quando, em terrenos particulares de grande extensão, se

estruturam favelas ou mesmo conjuntos de moradias.

Nesta situação, ainda que o bem exista, qual seja: o

terreno alvo da invasão, denota-se que sua natureza

primária não mais subsiste, em razão das alterações dos

aspectos característicos iniciais, porquanto a realidade

fática colocada em apreciação teve o condão de provocar a

desnaturação da coisa, ocasionado o perecimento. Neste

sentido, há que se trazer à colação o entendimento

Page 122: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

122

jurisprudencial consolidado pelo Superior Tribunal de

Justiça, ao apreciar matéria similar:

Ementa: Civil e Processual. Ação

Reivindicatória. Terrenos de loteamento

situados em área favelizada. Perecimento

do Direito de Propriedade. Abandono. CC,

arts. 524, 589, 77 e 78. Matéria de Fato.

Reexame. Impossibilidade. Súmula N. 7-

STJ. I. O direito de propriedade assegurado

no art. 524 do Código Civil anterior não é

absoluto, ocorrendo a sua perda em face do

abandono de terrenos de loteamento que

não chegou a ser concretamente

implantado, e que foi paulatinamente

favelizado ao longo do tempo, com a

desfiguração das frações e arruamento

originariamente previstos, consolidada, no

local, uma nova realidade social e

urbanística, consubstanciando a hipótese

prevista nos arts. 589 c/c 77 e 78, da mesma

lei substantiva. II. “A pretensão de simples

reexame de prova não enseja recurso

especial” - Súmula n. 7-STJ. III. Recurso

especial não conhecido. (Superior Tribunal

de Justiça – Quarta Turma/REsp

75.659/SP/ Relator: Ministro Aldir

Passarinho Júnior/ Julgado em 21.06.2005/

Publicado no DJ em 29.08.2005, p. 344)

(destaque nosso)

Page 123: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

123

6 DA PERDA DA PROPRIEDADE POR

DESAPROPRIAÇÃO

6.1 Da Desapropriação Administrativa

A desapropriação por necessidade de utilidade

pública ou interesse social é descrita como modalidade

especial de perda da propriedade. Tal fato se deve em

razão de pertencer ao âmbito do direito público, sendo

espancada pela Constituição Federal e regulamentada

por normas administrativas, processuais e civis.

Obviamente, respeitando os entendimentos doutrinários

e jurisprudenciais distintos, há que se reconhecer a

desapropriação como uma situação especial que tem o

condão de causar a perda da propriedade, porquanto esta

é transferida, por necessidade ou utilidade pública ao

Ente Estatal.

A situação entelada encontra respaldo do interesse

da coletividade que se sobrepõe aos interesses

individuais, dentre estes a propriedade, em

determinadas hipóteses. Cuida ressaltar que a

desapropriação é considerada como a forma mais

Page 124: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

124

drástica da manifestação do “poder de império”, isto é, da

soberania, em âmbito interno, exercida pelo Estado, no

que concerne à sua atuação sobre os bens existentes no

território nacional. Todavia, é necessário que seja

exercido dentro dos limites contornados pelas garantias

constitucionais.

Venosa entende “tratar-se de modo originário de

aquisição da propriedade, porque é desprezado o título

anterior. O título gerado no procedimento administrativo

ou no processo expropriatório é registrável por força

própria. É dispensada a existência de registro

anterior”135. Em inexistindo matrícula do imóvel no

Registro Geral de Imóveis, esta será feita, em

decorrência do registro do título expropriatório.

Considerando que se trata de modo originário de

aquisição da propriedade, cuida salientar o marcha

processual pode se desenvolver sem que a Administração

tenha conhecimento quem seja o proprietário do bem

expropriado. Há que se evidenciar que, no processo

expropriatório, não existe discussão de domínio, mas tão

apenas do quantum a ser pago pelo bem desapropriado.

135 VENOSA, 2010, p. 269.

Page 125: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

125

Os bens incorporados à Fazenda Pública não podem

figurar como objeto de reivindicação, ainda que haja

nulidade do processo de desapropriação.

Implica, ainda, traçar que a desapropriação não se

confunde com o instituto da alienação, porque se trata de

transferência, dotada de cunho compulsório, em

decorrência de ato unilateral da Administração Pública.

Trata-se de modalidade de perda da propriedade, a partir

de uma ótica civilista. No mais, qualquer bem é passível

de desapropriação, incluindo-se o subsolo e o espaço

aéreo, assim como os pertencentes a Administração,

observando que a União poderá desapropriar bens que

pertençam aos Estados, Distrito Federal e Municípios e

Estados poderão desapropriar bens pertencentes à

Municipalidade. Mister se faz pontuar que os imóveis

rurais de pequeno e médio porte não são suscetíveis de

desapropriação, com o escopo de promoção da reforma

agrária, desde que seja a única do proprietário. Assim, a

propriedade rural produtiva não será alvo de

desapropriação.

A desapropriação pode ser dividida nas seguintes

espécies: a) por razões de utilidade pública para

Page 126: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

126

satisfazer interesses coletivos, previsto no art. 5º do

Decreto-Lei Nº 3.365/1941; b) necessidade pública, por

questões urgentes de segurança e salubridade pública; c)

interesse social para fins de reforma agrária, preceituada

no art. 184 da Constituição Federal. Verifica-se que o

instituto em comento se dá duas formas distintas. Uma

das formas é a que caminha pela via administrativa, na

qual o Ente Estatal expressa o interesse na

desapropriação. Caso a desapropriação se dê de forma

regular, também denominada direta, confecciona-se um

ato administrativo de desapropriação, mediante, via de

regra, ao pagamento de indenização em dinheiro. A outra

é a judicial, ocorrendo quando não há acordo com o

proprietário sobre o valor da oferta, movendo-se a ação

contra o titular da propriedade, a fim de que o julgador

fixe o numerário a ser pago. “Mediante depósito prévio de

importância tida como razoável pelo expropriante e

declaração de urgência, poderá ele se imitir na posse

provisória do bem, mesmo antes da citação ou do

transcurso da lide”136.

136 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 412.

Page 127: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

127

Entrementes, caso a desapropriação se dê sem as

observâncias das exigências legais, não se promulgando o

decreto expropriatório competente ou mesmo o não

pagamento da indenização, ter-se-á a denominada

desapropriação indireta, que consiste em um esbulho e

ilícito administrativo. Nesta situação, o expropriado

gozará de legitimidade para ajuizar a pretensão de

reintegração de posse, ou ainda receberá a indenização

correspondente ao valor do bem, quando restar

devidamente demonstrado que a obra pública já encontra

em andamento, prevalecendo, obviamente, o interesse

social em detrimento do particular.

Já se decidiu que “a desapropriação indireta

caracteriza-se como sendo o fato pelo qual a

Administração Pública se apropria de bem particular,

sem a observância dos requisitos para sua

desapropriação, como a declaração e indenização

prévia”137. Note-se que a desapropriação indireta é ato

manifestamente ilícito, proveniente do apossamento

137 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Órgão Julgador:

Quarta Câmara Cível. Apelação Cível Nº. 70043508308. Relator:

Desembargador José Luiz Reis de Azambuja. Julgado em:

23.11.2011. Disponível em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso em: 28 jan.

2012.

Page 128: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

128

administrativo sem o devido processo legal e, conforme o

autor José Carlos de Moraes Salles:

[…] não importa que tenha sido editada a

competente declaração de utilidade pública

ou de interesse social: se o desapossamento

ocorreu sem o respectivo processo de

desapropriação, o ato do Poder Público é

ilícito. Essa ilicitude só não se verificará na

hipótese de o proprietário do bem haver

consentido em que o desapossamento

ocorresse, sem acordo ou sem o

correspondente processo judicial, visando,

assim, colaborar com a Administração. Nem

por isso, entretanto, perderá o direito a uma

justa indenização, ainda que a posteriori138.

Outra modalidade do instituto em comento é

desapropriação-sanção, decorrente de uma pena ao

proprietário inadimplente, na função social afixada pelo

Município, encontrando previsão legal no art. 182, §4º, da

Constituição Federal e art.8º da Lei Nº. 10.257/2001. Tal

como ocorre na desapropriação com o escopo da reforma

agrária, a indenização a ser paga pela desapropriação-

sanção será por títulos e não em dinheiro. Isto é, em

situação de falta de pagamento do IPTU, a

138 SALLES, José Carlos de Moraes. A Desapropriação à luz da

doutrina e da jurisprudência. 6 ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2009, p. 733.

Page 129: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

129

Municipalidade poderá desapropriar o imóvel, como

forma de punição ao antigo proprietário que não

observou a função social estabelecida pelo Ente Estatal.

6.2 Da Desapropriação Judicial baseada na Posse

Pro Labore

Situação peculiar consagrada na redação dos §§4º

e5º do art. 1.228 do Código Civil de 2002 alude ao ideário

que o proprietário poderá ser privado da coisa, caso o

imóvel objeto da reivindicação consistir em extensa área,

na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos,

de um determinado número de pessoas e estas tiverem

realizado obras e serviços considerados de interesse

social e econômico relevante. Vale salientar que

mencionadas realizações podem se dar de maneira

individual como coletiva. Denota-se que a valorização da

construção ou mesmo plantação supere à da propriedade,

assim como comprovação da boa-fé daqueles que nela se

encontram instalados, tratando-se, com efeito, de

requisito de caracterização do próprio instituto. No mais,

caberá ao magistrado, fixar a justa indenização a ser

Page 130: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

130

paga ao proprietário primitivo, em razão da perda da

propriedade.

Diniz, ao abordar o tema, descreve que o instituto

em telas, para alguns doutrinadores, daria corpo a uma

“usucapião onerosa”, já que os “possuidores-

usucapientes” ficariam condicionados ao pagamento de

um quantum, a título de indenização, a ser arbitrado

pelo juiz. “No entanto, o desideratum do novel Código

Civil parece ter sido a configuração de uma

desapropriação judicial pela posse qualificada, pois, ante

a colisão do direito de propriedade com o princípio da

função social da propriedade, privilegiou-se o

segundo”139. Por mais uma vez, verifica-se que, no

sopesar do direito à propriedade e os princípios

constitucionais da função social da propriedade e da

dignidade da pessoa humana, os corolários afiguram

dotado de maciça relevância, tratando-se de verdadeiros

pavilhões que regem a interpretação do texto legal e sua

amoldagem ao caso concreto.

Ora, por um viés pós-positivista, inovou o

Ordenamento Jurídico ao assegurar, notadamente no

139 DINIZ, 2011, p. 212.

Page 131: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

131

caso em testilha, que só há que subsistir proteção legal se

a propriedade é produtiva, atende aos preceitos

socioeconômicos, mediante um aproveitamento racional e

adequado, representado por serviços e obras dotados de

relevância. Aliás, há que se citar o entendimento de

Verdan, notadamente quando destaca que “esta doutrina

[pós-positivista] é o ponto culminante de uma

progressiva evolução acerca do valor atribuído aos

princípios em face da legislação”140. O que há de ser

preponderado, no caso em destaque, é o alcance e

potencialização dos princípios que salvaguardam a

dignidade da pessoa humana, o que se dá, comumente,

com condições mínimas de sobrevivência.

Quadra evidenciar que a posse, na desapropriação

judicial, é maciçamente qualificada, em razão do valor

laborativo de um número considerável de pessoas,

devendo, obviamente, a quantidade ser apurada, a partir

de um critério estruturado na extensão da área possuída,

em decorrência da realização de obras, loteamentos ou

140 VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário do

Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun.

2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em: 28 jan.

2012.

Page 132: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

132

ainda serviços produtivos. Atua, ainda, como mecanismo

qualificador o fato de haver, na área, a construção de

residência, de prédio destinado ao lazer ou ao ensino ou

mesmo empresa, ou seja, urbanização. Com isso, afere-se

as vantagens e proveitos que o trabalho empregado na

área trará à coletividade, o que, por vezes, acarreta na

geração de empregos, potencialização da produção

agrícola e estabelecimento de habitações para a

população de baixa-renda. Assim, reafirmam-se os

dogmas já explicitados, assim como alardeia-se os

aspectos de humanização que devem afetar a

propriedade.

7 OUTRAS FORMAS DE PERDA DA

PROPRIEDADE

Como fora descrito alhures, os modos de perda da

propriedade não se encontram taxativamente previsto na

redação do art. 1.275 do Código Civil, tratando-se, na

realidade, de um rol meramente exemplificativo,

comportando, por extensão, demais situações previstas

no Ordenamento Jurídico. Entre os diversos exemplos

Page 133: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

133

previstos, cuida-se analisar a arrematação, a

adjudicação, a propriedade resolúvel, o confisco e a

requisição.

7.1 Da Arrematação

Considerada como uma forma de perda da

propriedade, a arrematação é descrita como modo de

transferência, forçada, de bens penhorados para a

satisfação do direito creditício do exequente. Para tanto,

procede-se a penhora dos bens que a parte executada

possui. Ao lado do exposto, há que se arrazoar que

“é realizada por meio de alienação judicial, na qual bens

precisam ser transformados em dinheiro para que se

efetue o pagamento do credor. Se estes bens a serem

transferidos forem imóveis, será através de praça, porém

se forem móveis será por meio de leilão”141. Assim, infere-

se que há a supressão do elemento subjetivo do

proprietário, consistente em sua manifestação de

141 SANTOS, Maiara Amaral dos. A Evicção de Bens adquiridos em

Hasta Pública e a Responsabilidade sobre seus riscos. In: Revista

Eletrônica do Curso de Direito da Universidade Federal de

Santa Maria, 2006, v. 02, n. 03, p. 01-12. Disponível em:

<http://www.ufsm.br>. Acesso em: 28 jan. 2012, p. 05.

Page 134: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

134

vontade em concordar, ou não, já que há verdadeira

expropriação.

Quadra frisar que a transferência do bem

arrematado se dá por meio do pagamento da quantia

certa, por parte do arrematante que visa ter a

propriedade destes. Ao lado disse, mister se faz salientar

que os atos executórios que precedem a arrematação são

realizados por órgão jurisdicional, através da atuação

direta do magistrado. Logo, o aspecto primordial a ser

evidenciado tange à premissa de constituir a

arrematação verdadeira expropriação realizada pelo

Estado, sendo considerado como ato de natureza coativa,

dando-se em hasta pública, por meio do leilão (quando o

bem for móvel) ou praça (quando o bem for imóvel).

Já se decidiu que “a arrematação possui natureza

jurídica de venda, o que torna legítimo considerar o valor

dos bens arrematados judicialmente como seu valor

venal”142. No mais, como é cediço, a carta de arrematação

é o documento que configura título formal de aquisição

142 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Órgão Julgador:

Primeira Câmara Cível. Apelação Cível Nº. 70046032942. Relator:

Desembargador Jorge Maraschin dos Santos. Julgado em

07.12.2011. Disponível em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso em: 28 jan.

2012.

Page 135: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

135

da propriedade arrematada, sendo hábil para proceder a

transcrição ou mesmo o registro do bem que foi

arrematado. A respeito do tema, há que se citar a lição do

ilustre Araken de Assis: “O título formal habilita o

arrematante à aquisição do domínio mediante a

transcrição ou registro (art. 167, I, n. 26, da Lei

6.015/1973)”143.

7.2 Da Adjudicação

Em uma primeira plana, tem que se salientar que

a adjudicação é descrita como o ato judicial por meio do

que se declara e se estabelece que a propriedade de

determinada coisa (englobando tanto bem móvel como

imóvel) se transfere do proprietário primevo para o

credor, sendo o primeiro denominado transmitente e o

segundo adquirente. Este assumirá todos os direitos que

recaem sobre a coisa, podendo usar, dispor, gozar e frui

do bem. Vale salientar que o instituto da adjudicação é

verificável durante a fase executória de um processo, por

meio da qual o credor ambiciona a satisfação do crédito,

143 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 12. ed. rev. atual. e

ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 841.

Page 136: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

136

por meio de coisa diversa da que lhe é devida. Trata-se

de um instituto afeto à ramificação processual do Direito,

previsto a partir do art. 647 do Estatuto de Ritos Civis

Pátrio.

Ao lado disso, cuida pontuar que o instituto em

comento é considerado como mecanismo singelo que tem

o condão de acarretar a expropriação patrimonial,

consistente na transferência da propriedade e da posse

de bem que se encontre penhorado ao

adquirente/adjudicante. Ademais, vale realçar que o

escopo primordial da adjudicação é a satisfação do

crédito vindicado pela parte exequente. Não subsiste, em

razão das ponderações aduzidas, constatar que o assunto

em tela dá corpo a um modo de perda da propriedade,

que a lei autoriza aos credores, com o intuito de receber o

crédito exequendo.

Como bem salienta Aragão, “a adjudicação é um

ato executório com caráter expropriatório, através do

qual o bem que está penhorado é retirado

compulsoriamente do patrimônio do executado e

Page 137: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

137

incorporado ao patrimônio do exequente”144, sendo

necessária a manifestação do adjudicante para que possa

ocorrer a satisfação do crédito existente, o que se dá por

meio do recebimento de coisa distinta da que era devida.

Em igual sentido dicciona José Frederico Marques,

segundo o qual o instituto em destaque é um modo de

expropriação, conforme se verifica do excerto: “A

adjudicação é ato executivo de expropriação em que o

credor figura como adquirente de bem ou bens

penhorados”145.

7.3 Da Propriedade Resolúvel

O art. 1.359 do Estatuto Civilista vigente trata de

outra modalidade de perda da propriedade, quando trata

da propriedade resolúvel. “A propriedade é resolúvel,

quando o negócio jurídico que a constitui subordina

expressamente sua duração ao implemento de condição

144 ARAGÃO, Valdenir Cardoso. Origem, evolução histórica e

natureza da adjudicação no processo civil de acordo com a Lei

11.382/06. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 51, 31/03/2008.

Disponível em <http://www.ambito-juridico.com.br>. Acesso em: 28

jan. 2012. 145 MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual

Civil. 9 ed. Atualização por Ovídio Rocha Barros Sandoval.

Campinas: Editora Millennium, 2003, p. 217.

Page 138: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

138

resolutiva ou advento do termo”146. Logo, em

sendo constatado o evento futuro e certo – ou incerto,

quando se tratar de condição resolutiva -, o proprietário

perderá o domínio, não sendo possível oposição contra o

novo proprietário. Ao lado disso, faz-se necessário

acrescer que a propriedade resolúvel é aquele que está

sujeita à condição ou termo, oriundo de convenção

firmada entre as partes ou decorrente da redação da lei,

ou ainda, de um fato jurídico superveniente.

Neste bastião, a propriedade resolúvel é

considerada como aquela que, no momento de sua

constituição, apresenta uma causa que tem o condão de

encerrar, compreendendo tanto um termo extintivo como

uma condição resolutória ou revogável. Logo,

consubstanciada a causa extintiva, a propriedade é

resolvida, id est, será extinto o direito a que ela abarca,

não detendo mais eficácia. Nesta senda, o instituto em

comento é a propriedade que tem sua própria

constituição uma condição que a encerrará em um dado

momento futuro.

146 FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 403.

Page 139: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

139

Trata-se de uma situação dotada de

excepcionalidade, porquanto a propriedade é revestida

dos aspectos característicos de perpetuidade do domínio.

Ao lado disso, é imprescindível que a cláusula que

consagra a resolução seja registrada no órgão

competente, sob pena de não produzir efeitos erga omnes.

Como exemplo do expendido, pode-se trazer à colação o

entendimento jurisprudencial, que acena no seguinte

sentido:

Ementa: Agravo de Instrumento. Alienação

Fiduciária. Incidente de Impenhorabilidade.

A devedora fiduciária não possui

legitimidade para alegar a

impenhorabilidade do bem dado em

garantia porquanto “A alienação fiduciária

em garantia expressa negócio jurídico em

que o adquirente de um bem móvel

transfere - sob condição resolutiva - ao

credor que financia a dívida, o domínio do

bem adquirido. Permanece, apenas, com a

posse direta. Em ocorrendo inadimplência

do financiado, consolida-se a propriedade

resolúvel" (REsp 47.047-1/SP, Rel. Min.

Humberto Gomes de Barros). Recurso

Improvido em Decisão Monocrática.

(Tribunal de Justiça do Estado do Rio

Grande do Sul – Décima Quarta Câmara

Cível/ Agravo de Instrumento Nº.

70045023421/ Relator: Desembargadora

Judith dos Santos Mottecy/ Julgado em

21.09.2011) (destaque nosso)

Page 140: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

140

7.4 Do Confisco

A Constituição Federal, em seu art. 243147, traz

expressamente a possibilidade do proprietário perder sua

propriedade, quando for constatado o cultivo de plantas

psicotrópicas. Quando preceitua o dispositivo

constitucional que as glebas de qualquer região do país

onde for encontrado o cultivo ilegal de plantas

psicotrópicas serão imediatamente expropriadas, deixou

claro que a partir do momento em que fica comprovada a

existência do citado cultivo, podem ser tomadas as

devidas providências para a desapropriação da área

cultivada. Em tais situações, a responsabilidade do

proprietário é considerada como objetiva, não dependendo,

por consequência, da presença do elemento subjetivo para

que haja a configuração da conduta. “É objetiva a

147 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 28 jan. 2012:

“Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem

localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão

imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao

assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e

medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem

prejuízo de outras sanções previstas em lei”.

Page 141: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

141

responsabilidade do proprietário de terras destinadas

para o plantio de espécies psicotrópicas, sendo em

consequência irrelevante a existência ou inexistência de

culpa na utilização criminosa”148.

Insta pontuar que se considera como irrelevante a

circunstância de o proprietário eventualmente não saber

do cultivo ilegal realizado no imóvel, e para ele não

contribuir mediante conduta comissiva. Deveras, há de

se reconhecer que o expropriado, no mínimo, contribuiu

com a sua omissão, ao não adotar os cuidados de

vigilância, de forma a ensejar o uso ilícito da terra. No

mais, há que salientar, ainda, que a perda da

propriedade não está adstrita tão somete a área em que

as plantas psicotrópicas eram cultivadas, mas sim toda a

propriedade. Ao lado disso, figuram como requisitos para

a materialização do instituto em tela a presença do

trinômio: a constatação da materialidade do crime

(cultivo ilegal de planta psicotrópica); a identificação dos

148 BRASIL. Tribunal Regional da Quinta Região. Órgão

Julgador: Tribunal Pleno. AR nº 4.842 – PE. Relator:

Desembargador Federal Paulo Roberto de Oliveira Lima. Julgado

em: 21.09.2005. Publicado em: 28.10.2005. Disponível em:

<http://www.trf5.jus.br> . Acesso em: 28 jan. 2012.

Page 142: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

142

imóveis onde foram localizados os plantios e a

titularidade destes.

Além disso, perfilhando o entendimento construído

por Diniz, não há que se confundir o confisco entalhado

no art. 243 da Carta de Outubro como uma forma de

desapropriação, eis que esta é caracterizada pelo

pagamento de uma indenização referente à área, o que

não ocorre no caso do confisco. “Ante a utilização ilegal

da propriedade, será ela confiscada e destinada ao

assentamento de colonos e ao cultivo de produtos

alimentícios e medicamentos”149. Aliás, extrai-se tal

concepção do Decreto Nº. 577, de 24 de junho de 1992,

que dispõe sobre a expropriação das glebas, onde forem

encontradas culturas ilegais de plantas psicotrópicas e

dá outras providências150, traz em seu art. 7º tal

premissa, passando a área confiscada a incorporar o

patrimônio da União.

149 DINIZ, 2011, p. 195. 150 BRASIL. Decreto Nº 577, de 24 de junho de 1992. Dispõe sobre a

expropriação das glebas, onde forem encontradas culturas ilegais de

plantas psicotrópicas, e dá outras providencias. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 28 jan. 2012.

Page 143: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

143

7.5 Da Requisição

Em um comento introdutório, tem-se que a

requisição é o ato por meio do qual o Estado, em proveito

de um interesse público, de modo unilateral e executório,

constitui determinado indivíduo na obrigação de prestar-

lhe serviço ou, transitoriamente, ceder-lhe o uso de uma

coisa, obrigando-se, em contrapartida, a indenizar os

prejuízos acarretados ao obrigado, provenientes de tal

medida. O Códex de 2002 traz em seus dispositivos

permissivos para que a autoridade competente, utilize,

de maneira provisória, propriedade particular, até onde o

bem público exigir. Vale salientar que tais possibilidades

encontram-se agasalhadas em determinados contextos, a

exemplo de situações de perigo iminente, como é o caso

de guerras ou comoções intestinas.

De igual modo, o art. 1.228, §3º, ao abordar a

possibilidade de requisição, também permitiu a

utilização da propriedade particular para promoção da

atividade urbanística, como ocorre, por exemplo, na

necessidade de estabelecer traçado viário, parcelamento

do solo e equipamentos urbanos, materializando-se como

Page 144: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

144

instrumento coadjuvante da estrutura da política urbana

habitacional popular. Outrossim, admite-se também a

requisição da propriedade particular, de modo

transitório, para intervir no domínio econômico ou

facilitar a prestação de serviço público. Em todas as

situações apresentadas, repita-se, o proprietário da coisa

terá direito a perceber indenização. “Nos demais casos o

proprietário será previamente indenizado e, se recusar

essa indenização, consignar-se-lhe-á judicialmente o

valor. Idêntica disposição é encontrada na Constituição

Federal”151.

Há que realçar, também, que em determinadas

situações a requisição será considerada como definitiva,

quando tiver por objeto bens de consumo, pois não como

proceder a devolução da coisa. Como expendido acima, a

requisição também se assenta na prestação de serviços,

distinguindo-se da desapropriação que está adstrita

apenas a bens. Outro aspecto a ser sublinhado concerne

ao fato da requisição ser dotada de auto executoriedade,

ao passo que a desapropriação depende de acordo ou, na

impossibilidade deste, de procedimento judicial.

151 DINIZ, 2011, p. 210.

Page 145: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

145

REFERÊNCIAS:

ARAGÃO, Valdenir Cardoso. Origem, evolução histórica

e natureza da adjudicação no processo civil de acordo

com a Lei 11.382/06. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande,

51, 31/03/2008. Disponível em <http://www.ambito-

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atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

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BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da)

República Federativa do Brasil. Brasília: Senado

Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 28 jan. 2012.

_________. Decreto Nº 577, de 24 de junho de 1992.

Dispõe sobre a expropriação das glebas, onde forem

encontradas culturas ilegais de plantas psicotrópicas, e

dá outras providencias. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 28 jan. 2012.

_________. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002.

Institui o Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 28 jan. 2012.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil

Brasileiro: Direito das Coisas. V. 04. São Paulo: Editora

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Page 146: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

146

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HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FR

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Page 148: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

148

APONTAMENTOS ÀS RESTRIÇÕES AO DIREITO

DE PROPRIEDADE EM VIRTUDE DE INTERESSE

SOCIAL

Resumo: O objetivo do artigo em tela repousa na análise

das restrições ao direito de propriedade em virtude de

interesse social, pautando-se, para tanto, nas hipóteses

de restrições constitucionais e eleitoral, tal como as

limitações ao direito de propriedade rural e de natureza

militar. Há que se reconhecer o tema concernente à

intervenção do Estado na propriedade decorre da

evolução do perfil do Estado no cenário contemporâneo.

Tal fato deriva da premissa que o Ente Estatal não tem

suas ações limitadas tão somente à manutenção da

segurança externa e da paz interna, suprindo, via de

consequência, as ações individuais. O norte que tem

orientado essa relação é a da supremacia do interesse

público sobre o particular, constituindo verdadeiro

postulado político da intervenção do Estado na

propriedade. Os métodos de pesquisa pretendidos neste

Page 149: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

149

artigo partem de uma pesquisa qualitativa, ancorada em

revisão bibliográfica e análise dos diplomas legais

pertinentes à temática. O artigo encontra-se estruturado

nos seguintes eixos: (i) apresentação geral do painel das

limitações à propriedade, a partir da edificação da figura

do Estado intervencionista, pautado na concreção da

supremacia do interesse público; (ii) restrições

constitucionais; (iii) limitações ao direito de propriedade

rural; (iv) limitações de natureza militar; (v) restrição em

razão da legislação eleitoral. A conclusão alcançada, após

o exame do posicionamento doutrinário e a legislação

orientadora acerca da temática, está alicerçada na

restrição ao direito de propriedade como mecanismo

imprescindível para a promoção e concreção da

supremacia do interesse público.

Palavras-chaves: Direito de Propriedade. Restrições.

Limitações à Propriedade.

Sumário: 1 Comentários Introdutórios: Fundamento das

Limitações à Propriedade; 2 Restrições Constitucionais;

3 Restrições Administrativas; 4 Limitações ao Direito de

Propriedade Rural; 5 Limitações de Natureza Militar; 6

Restrição em razão da Legislação Eleitoral

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150

1 COMENTÁRIOS INTRODUTÓRIOS:

FUNDAMENTO DAS LIMITAÇÕES À

PROPRIEDADE

Em uma primeira plana, o tema concernente à

intervenção do Estado na propriedade decorre da

evolução do perfil do Estado no cenário contemporâneo.

Tal fato deriva da premissa que o Ente Estatal não tem

suas ações limitadas tão somente à manutenção da

segurança externa e da paz interna, suprindo, via de

consequência, as ações individuais. “Muito mais do que

isso, o Estado deve perceber e concretizar as aspirações

coletivas, exercendo papel de funda conotação social”152,

como obtempera José dos Santos Carvalho Filho. Nesta

esteira, durante o curso evolutivo da sociedade, o Estado

do século XIX não apresentava essa preocupação; ao

reverso, a doutrina do laissez feire assegurava ampla

liberdade aos indivíduos e considerava intocáveis os seus

direitos, mas, concomitantemente, permitia que os

abismos sociais se tornassem, cada vez mais, profundos,

colocando em exposição os inevitáveis conflitos oriundos

152 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito

Administrativo. 24 ed, rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Editora

Lumen Juris, 2011, p. 711.

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151

da desigualdade, provenientes das distintas camadas

sociais.

Quadra pontuar que essa forma de Estado deu

origem ao Estado de Bem-estar, o qual utiliza de seu

poder supremo e coercitivo para suavizar, por meio de

uma intervenção decidida, algumas das consequências

consideradas mais penosas da desigualdade econômica.

“O bem-estar social é o bem comum, o bem do povo em

geral, expresso sob todas as formas de satisfação das

necessidades comunitárias”153, compreendo, aliás, as

exigências materiais e espirituais dos indivíduos

coletivamente considerados. Com realce, são as

necessidades consideradas vitais da comunidade, dos

grupos, das classes que constituem a sociedade.

Abandonando, paulatinamente, a posição de indiferente

distância, o Estado contemporâneo passa a assumir a

tarefar de garantir a prestação dos serviços

fundamentais e ampliando seu espectro social,

objetivando a materialização da proteção da sociedade

vista como um todo, e não mais como uma resultante do

somatório de individualidades.

153 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro,

38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012, p. 661.

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152

Neste sentido, inclusive, o Ministro Luiz Fux,

ao apreciar o Agravo Regimental no Recurso

Extraordinário com Agravo N° 672.579/RJ, firmou

entendimento que “ainda que seja de aplicação imediata

e incondicional a norma constitucional que estabeleça

direitos fundamentais, não pode o Ente Estatal

beneficiar-se de sua inércia em não regulamentar, em sua

esfera de competência, a aplicação de direito

constitucionalmente garantido”154. Desta feita, para

consubstanciar a novel feição adotada pelo Estado,

restou necessário que esse passasse a se imiscuir nas

relações dotadas de aspecto privado. “Para propiciar esse

bem-estar social o Poder Público pode intervir na

propriedade privada e nas atividades econômicas das

empresas, nos limites da competência constitucional

atribuída”155, por meio de normas legais e atos de

154 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo N°

672.579/RJ. Agravo regimental no recurso extraordinário com

agravo. Direito administrativo. Servidor público. Adicional noturno.

Regime de plantão semanal. Necessário reexame da legislação

infraconstitucional. Análise do contexto fático-probatório.

Impossibilidade. Incidência da súmula 279 do STF. Agravo

regimental desprovido. Órgão Julgador: Primeira Turma. Relator:

Ministro Luiz Fux. Julgado em 29 mai. 2012. Publicado em 19 jun.

2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 30 dez. 2014. 155 MEIRELLES, 2012, p. 662.

Page 153: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

153

essência administrativa adequados aos objetivos contidos

na intervenção dos entes estatais.

Com efeito, nem sempre o Estado

intervencionista ostenta aspectos positivos, todavia, é

considerado melhor tolerar a hipertrofia com vistas à

defesa social do que assistir à sua ineficácia e

desinteresse diante dos conflitos produzidos pelos

distintos grupamentos sociais. Neste jaez, justamente, é

que se situa o dilema moderno na relação existente entre

o Estado e o indivíduo, porquanto para que possa atender

os reclamos globais da sociedade e captar as exigências

inerentes ao interesse público, é carecido que o Estado

atinja alguns interesses individuais. Ao lado disso, o

norte que tem orientado essa relação é a da supremacia

do interesse público sobre o particular, constituindo

verdadeiro postulado político da intervenção do Estado

na propriedade. “O princípio constitucional da

supremacia do interesse público, como modernamente

compreendido, impõe ao administrador ponderar, diante

do caso concreto, o conflito de interesses entre o público e

o privado, a fim de definir, à luz da proporcionalidade,

qual direito deve prevalecer sobre os demais”156.

156 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão proferido em

Recurso em Mandado de Segurança N° 27.428/GO. Administrativo.

Servidor público. Determinação de abertura de conta corrente em

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154

2 RESTRIÇÕES CONSTITUCIONAIS

Em um primeiro momento, cuida explicitar

que a Constituição da República Federativa do Brasil de

1988157, em seu artigo 5º, inciso XXII, ao assegurar o

direito de propriedade, considerou a questão de suas

restrições, reaparecendo de forma analítica no artigo 170,

cujo fito maior está assentado na realização do

desenvolvimento nacional e da justiça social com base

nos seguintes corolários: liberdade de iniciativa;

valorização do trabalho como condição de dignidade da

pessoa humana, função social da propriedade, harmonia

e solidariedade entre as categorias sociais de produção;

repressão não só ao abuso do poder econômico,

caracterizado pelo domínio dos mercados, como também

a eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos

lucros e expansão das oportunidades de empregos

instituição financeira pré-determinada. Recebimento de proventos.

Possibilidade. Recurso ordinário improvido. Órgão Julgador: Quinta

Turma. Relator: Ministro Jorge Mussi. Julgado em 03 mar. 2011.

Publicado em 14 mar. 2011. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso

em 30 dez. 2014. 157 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014

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155

produtivos. Maria Helena Diniz158 aponta que em tudo

isso há limitações ao direito de propriedade.

Em seu artigo 5º, inciso XXIV, o Texto

Constitucional aduz, ainda, sobre a desapropriação por

necessidade ou utilidade pública e por interesse social,

mediante prévia e justa indenização em dinheiro.

Igualmente, o artigo 182, §3º, estabelece que as

desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com

prévia e justa indenização. Já o §4º, inciso III, do

dispositivo retrocitado, autoriza o Poder Público

Municipal, visando ao atendimento da política urbana,

mediante lei específica, a exigir do solo urbano não

utilizado que promove seu aproveitamento sob pena de

desapropriação com pagamento em títulos de dívida

pública. E ante a necessidade de se realizar o

planejamento da reforma agrária prescreve no artigo 184

do Texto Constitucional que a União poderá promover a

desapropriação por interesse social de propriedade

territorial rural, com o pagamento em títulos de dívida

agrária, inclusive com a inserção de cláusula com

preservação de valor real, resgatáveis no ínterim de vinte

anos, a partir do segundo ano de sua emissão, sendo

158 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro:

Direito das Coisas. v. 04. 26 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p.

280.

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156

insuscetíveis de usucapião para fins de reforma agrária

os casos domiciliados no artigo 185159.

O inciso XXV do artigo 5º da Carta Magna

anota, ainda, acerca da utilização da propriedade

particular pelo Estado, em caso de perigo iminente ou em

circunstâncias excepcionais, estando assegurado ao

proprietário o pagamento da competente indenização. A

hipótese em comento materializa requisição que não

sacrifica o domínio em seu conjunto, porquanto é dotada

de caráter essencialmente temporário do uso do bem. “O

poder público, mediante lei, poderá exigir do dono do solo

urbano inutilizado que o aproveite sob pena de

parcelamento ou edificação compulsórios e de imposto

sobre a propriedade predial e territorial urbano

progressivo no tempo”160, objetivando acelerar o

desenvolvimento urbanístico.

159 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014. Art. 185.

São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I -

a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde

que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva.

Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade

produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos

relativos a sua função social. 160 DINIZ, 2011, p. 280.

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157

3 LIMITAÇÕES AO DIREITO DE PROPRIEDADE

RURAL

A Lei nº 4.504, de 30 de Novembro de 1964161,

que dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras

providências, é responsável pela introdução de uma série

de inovações que objetivam dar melhor aproveitamento

às terras, procurando distribuí-las, de maneira a atender

aos princípios da justiça social e ao aumento de sua

produtividade. Criaram-se, nessa seara, limitações ao

direito de propriedade não apenas ao extinguir, de modo

gradativo, as formas de ocupação e exploração da terra

contrárias à sua função social, mas também ao

estabelecer normas sobre a alienação dos terrenos rurais.

“A Constituição Federal de 1988, art. 191 e parágrafo

único, e o Código Civil, art. 1.239, contemplam a

aquisição de imóvel particular rural, por meio de

usucapião pro labore, limitando o direito do proprietário

que o abandonou”162.

Oportunamente, cuida assinalar que o

instituto da servidão administrativa ambiental foi

161 BRASIL. Lei nº 4.504, de 30 de Novembro de 1964. Dispõe

sobre o Estatuto da Terra, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014. 162 DINIZ, 2011, p. 287.

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158

introduzido no ordenamento jurídico vigente pela Lei nº

12.651, de 25 de Maio de 2012163, que dispõe sobre a

proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de

31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996,

e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis

nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de

abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de

agosto de 2001; e dá outras providências, ao introduzir o

artigo 9º-A Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981164, que

dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus

fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras

providências. Consoante a dicção do dispositivo legal ora

mencionado, o proprietária ou possuidor de imóvel,

pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público

ou particular ou por termo administrativo firmado

perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de

toda a sua propriedade ou de parte dela para preservar,

163 BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de Maio de 2012. Dispõe sobre a

proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de

agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de

dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de

1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-

67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível

em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014. 164 Idem. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a

Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

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159

conservar ou recuperar os recursos ambientais

existentes, instituindo servidão ambiental.

Cuida ponderar que, em conformidade com as

lições apresentadas por Édis Milaré, “a servidão

ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional do

Meio Ambiente e envolve, basicamente, a renúncia

voluntária do proprietário rural, ao direito de uso,

exploração ou supressão dos recursos naturais existentes

em determinado prédio particular”165. Quadra frisar,

ainda, que a própria legislação estabelece, de maneira

clara, a estrutura e os requisitos da servidão ambiental,

sendo interessante destacar que a servidão pode ser

onerosa ou gratuita, temporária ou perpétua, conforme

haja ou não remuneração e haja ou não fixação de tempo

de vigência166. Em relação aos caracteres do instituto em

comento, é interessante frisar que deve obedecer ao prazo

mínimo de 15 (quinze) anos na servidão ambiental

temporária167, não sendo possível aplicá-la às áreas de

165 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 9 ed., rev., atual. e ampl.

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais Ltda., 2014, p. 882. 166 Neste sentido: BRASIL. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de

1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e

mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez.

2014. Art. 9o-B. A servidão ambiental poderá ser onerosa ou

gratuita, temporária ou perpétua. 167 Neste sentido: Ibid. Art. 9o-B. [omissis] §1o O prazo mínimo da

servidão ambiental temporária é de 15 (quinze) anos.

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160

preservação permanente e de reserva legal168. Há que se

observar, oportunamente, que a limitação ao uso ou

exploração da vegetação da área sob a servidão instituída

em relação aos recursos florestais deve ser, no mínimo, a

mesma afixada para reserva legal169. Igualmente, quadra

anotar que a servidão ambiental deve ser averbada no

registro de imóveis competente. Em se tratando de

compensação de reserva legal, a servidão deve ser

averbada na matrícula de todos os imóveis envolvidos.

4 LIMITAÇÕES DE NATUREZA MILITAR

De plano, ao se examinar as limitações

decorrentes de natureza militar, quadra explicitar que o

ordenamento jurídico comina cinco situações distintas. A

primeira encontra guarida no Decreto-Lei nº 4.812, de 08

de Outubro de 1942170, que dispõe sobre a requisição de

168 Neste sentido: Ibid. Art. 9o-B. [omissis] §2o A servidão ambiental

perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso aos

recursos de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio

Natural - RPPN, definida no art. 21 da Lei no 9.985, de 18 de julho

de 2000. 169 Neste sentido: Ibid. Art. 9o-A. [omissis] §3o A restrição ao uso ou

à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser,

no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal. 170 Idem . Decreto-Lei nº 4.812, de 08 de Outubro de 1942.

Dispõe sobre a requisição de bens imóveis e móveis, necessários às

forças armadas e à defesa passiva da população, e dá outras

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161

bens imóveis e móveis, necessários às forças armadas e à

defesa passiva da população, e dá outras providências. A

legislação em comento afixa que as requisições em tais

situações poderão compreender as coisas móveis, os

serviços pessoais e a ocupação temporária de propriedade

particular, as quais forem efetivamente necessárias à

promoção da defesa e da segurança nacional, observadas

as formalidades cominadas no diploma

supramencionado, sendo cabível o pagamento da

competente indenização. Com clareza ofuscante, reza o

artigo 15 da lei multicitada que:

Art. 15. Estão sujeitos à requisição: 1 - o alojamento e o acantonamento das

tropas nas casas de residência de

particulares; 2 - a alimentação diária das tropas alojadas

nas habitações particulares, na proporção

dos recursos dos seus proprietários ou

moradores; 3 - os víveres, forragens, combustíveis,

meios de iluminação e objetos necessários

para o alojamento das tropas; 4 - a utilização dos meios de atrelagem e de

transporte de qualquer espécie, inclusive

navios para tráfego marítimo, fluvial e

lacustre; os caminhos de ferro e os

aparelhos e material de transporte aéreo,

tudo com seu pessoal e suas instalações e

dependências; os combustíveis, as matas, e

as fortes de força motora de qualquer

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em 30 dez. 2014.

Page 162: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

162

espécie, todos os materiais, mercadorias e

objetos acumulados para o emprego na

exploração e extensão de linhas de

transporte de qualquer gênero; 5 - o material, as máquinas, as ferramentas

necessárias à construção, reparação e

demolição de obras e vias de comunicação,

segundo as exigência do serviço militar; 6 - as instalações industriais de qualquer

categoria, as empresas agrícolas, de minas

ou jazidas de minérios ou combustíveis,

instalações de força hidráulica ou elétrica,

empresas de abastecimento de água, luz e

gás, todas com seu pessoal, material,

instalações complementares e dependências; 7 - os guias, mensageiros, condutores de

veículos hipomoveis e automóveis, assim

como os operários e serventes necessários à

execução dos trabalhos de interesse militar

ou da defesa passiva antiaérea; 8 - a ocupação dos hospitais com todo seu

pessoal, instalações, dependências

instrumentos e medicamentos; 9 - o tratamento dos doentes e feridos em

casas da particulares, assim como objetos de

curativos e os instrumentos de medicina e

cirurgia existentes no comércio; 10 - as matérias primas, peças isoladas,

objetos fabricados, instalações, ferramentas,

máquinas necessárias à transformação,

fabricação e ao conserto do material

necessário às forças de terra, mar e ar e à

defesa passiva; 11 - as redes telefônicas e telegráficas,

com ou sem fios assim como seu material

sobressalente e respectivo pessoal; 12 - os materiais, objetos, instrumentos e

matérias primas necessários aos serviços da

defesa passiva antiaérea; 13 - a ocupação temporária da

propriedade; e 14 - tudo quanto, embora não indicado nos

números acima, for necessário ao serviço de

Page 163: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

163

defesa da Nação e à manutenção da ordem e

do moral da população civil. (destacou-se).

A segunda hipótese encontra respaldo,

segundo Maria Helena Diniz171, na Lei nº 6.634, de 02 de

Maio de 1979172, que dispõe sobre a faixa de fronteira,

altera o Decreto-lei nº 1.135, de 3 de dezembro de 1970, e

dá outras providências. Com efeito, ao se conferir uma

interpretação aos artigos 1º e 2º do diploma

supramencionado, verifica-se a prescrição de que as

transações de imóveis particulares situados na faixa de

cento e cinquenta (150) quilômetros ao longo da fronteira

do território nacional, sendo que essa porção territorial

passa a ser denominada de faixa de fronteira. Exceto com

anuência expressa do Conselho de Segurança Nacional,

será vedada, na faixa de fronteira, a prática de atos

concernentes: (i) alienação e concessão de terras públicas,

abertura de vias transporte e instalação de meios de

comunicação destinados à exploração de serviços de

radiodifusão de sons ou radiodifusão de sons e imagens;

(ii) construção de pontes, estradas internacionais e

campos de pouso; (iii) estabelecimento ou exploração de

171 DINIZ, 2011, p. 288. 172 BRASIL. Lei nº 6.634, de 02 de Maio de 1979. Dispõe sobre a

faixa de fronteira, altera o Decreto-lei nº 1.135, de 3 de dezembro de

1970, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

Page 164: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

164

indústrias que interessem à segurança nacional, assim

relacionadas em decreto do Poder Executivo; (iv)

instalação de empresas que se dedicarem às seguintes

atividades: (1) pesquisa, lavra, exploração e

aproveitamento de recursos minerais, salvo aqueles de

imediata aplicação na construção civil; (2) colonização e

loteamentos rurais; (v) transações com imóvel rural, que

impliquem a obtenção, por estrangeiro, do domínio, da

posse ou de qualquer direito real sobre o imóvel; e (vi)

participação, a qualquer título, de estrangeiro, pessoa

natural ou jurídica, em pessoa jurídica que seja titular de

direito sobre imóvel rural

É possível, oportunamente, fazer menção, a

título de terceira hipótese, ao Decreto-Lei nº 3.437, de 17

de Julho de 1941173, que dispõe sobre o aforamento de

terrenos e a construção de edifícios em terrenos das

fortificações, cominando que, na 1ª zona de 15 braças (33

metros) em torno das fortificações, nenhum aforamento

de terreno será concedido e nenhuma construção civil ou

pública autorizada, considerando-se nulas as

propriedades porventura existentes, sem ônus para o

173 BRASIL. Decreto-Lei nº 3.437, de 17 de Julho de 1941.

Dispõe sobre o aforamento de terrenos e a construção de edifícios em

terrenos das fortificações. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

Page 165: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

165

Estado. Prevê, igualmente, o diploma legal em exame

que na 2ª zona de 600 braças (1.320 metros) serão

observadas as seguintes disposições: (i) nenhum novo

aforamento de terreno será concedido; (ii) nenhuma

construção ou reconstrução será permitida fora dos

gabaritos determinados pelo Ministério da Guerra (atual

Ministério da Defesa) , que também poderá promover a

desapropriação do imóvel, caso o terreno seja necessário

às obras da Organização da Defesa da Costa; e (iii)

qualquer construção ou reconstrução em andamento, ou

já autorizada, será sustada.

A quarta hipótese compreende a requisição de

bens destinados ao transporte aéreo, regulado pelo

Decreto-Lei 4.008, de 12 de Janeiro de 1942174, que

dispõe sobre requisição de bens destinados ao transporte

aéreo. Por derradeiro, a última hipótese é abarcada pela

Lei nº 6.442, de 26 de Setembro de 1977175, que dispõe

sobre áreas de proteção para o funcionamento das

estações radiogoniométricas de alta frequência do

174 BRASIL. Decreto-Lei 4.008, de 12 de Janeiro de 1942. Dispõe

sobre requisição de bens destinados ao transporte aéreo. Disponível

em: < http://legis.senado.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014. 175 Idem. Lei nº 6.442, de 26 de Setembro de 1977. Dispõe sobre

áreas de proteção para o funcionamento das estações

radiogoniométricas de alta frequência do Ministério da Marinha e de

radiomonitoragem do Ministério das Comunicações. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

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166

Ministério da Marinha e de radiomonitoragem do

Ministério das Comunicações. Trata-se de hipótese

responsável por estabelecer que nas áreas

compreendidas pelas estações radiogoniométricas de alta

freqüência do Ministério da Defesa (Comando da

Marinha) e de radiomonitoragem do Ministério das

Comunicações, bem como nas faixas de terra com 1.000m

(hum mil metros) de largura, contíguas aos limites

dessas estações, a instalação de meios de transmissão de

qualquer espécie e a edificação de prédios e de estruturas

metálicas só serão permitidas após o assentimento do

Ministério da Defesa (Comando da Marinha) ou

Ministério das Comunicações, de acordo com a

subordinação da estação.

5 RESTRIÇÃO EM RAZÃO DA LEGISLAÇÃO

ELEITORAL

Ao analisar, por fim, a temática das restrições

ao direito de propriedade no ordenamento jurídico

vigente, cuida reconhecer, ainda, a hipótese consagrada

na Lei nº 4.737, de 15 de Julho de 1965, que institui o

Page 167: Compêndio de Ensaios Jurídico: Temas de Direitos Reais - V. 1, n. 1

167

Código Eleitoral, estabelece, no artigo 135, §3º176, que a

propriedade particular deve ser cedida obrigatória e

gratuitamente para o funcionamento das mesas

receptoras, nos dias da eleição. Trata-se de possibilidade

do Poder Público requisitar propriedades particulares, as

quais deverão ser cedidas obrigatória e gratuitamente

para o funcionamento das mesas receptoras, nos dias da

eleição, e, posteriormente à ocupação, caso sejam

verificados danos, estes serão devidamente reparados

pecuniariamente. Denota-se, dessa maneira, que a

restrição cominada na legislação eleitoral objetiva

assegurar espaços propícios para o desenvolvimento

regular da eleição.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da)

República Federativa do Brasil. Brasília: Senado

Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014

176 BRASIL. Lei nº 4.737, de 15 de Julho de 1965. Institui o

Código Eleitoral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.

Acesso em 30 dez. 2014. Art. 135. Funcionarão as mesas receptoras

nos lugares designados pelos juízes eleitorais 60 (sessenta) dias

antes da eleição, publicando-se a designação. [omissis] § 3º A

propriedade particular será obrigatória e gratuitamente cedida para

esse fim.

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__________. Decreto-Lei nº 3.437, de 17 de Julho de

1941. Dispõe sobre o aforamento de terrenos e a

construção de edifícios em terrenos das fortificações.

Disponível em: <http://www2.camara.leg.br>. Acesso em

30 dez. 2014.

__________. Decreto-Lei 4.008, de 12 de Janeiro de

1942. Dispõe sobre requisição de bens destinados ao

transporte aéreo. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

__________. Decreto-Lei nº 4.812, de 08 de Outubro

de 1942. Dispõe sobre a requisição de bens imóveis e

móveis, necessários às forças armadas e à defesa passiva

da população, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

__________. Lei nº 4.504, de 30 de Novembro de 1964.

Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras

providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

__________. Lei nº 4.737, de 15 de Julho de 1965.

Institui o Código Eleitoral. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

__________. Lei nº 6.634, de 02 de Maio de 1979.

Dispõe sobre a faixa de fronteira, altera o Decreto-lei nº

1.135, de 3 de dezembro de 1970, e dá outras

providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

__________. Lei nº 6.442, de 26 de Setembro de 1977.

Dispõe sobre áreas de proteção para o funcionamento das

estações radiogoniométricas de alta frequência do

Ministério da Marinha e de radiomonitoragem do

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Ministério das Comunicações. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

__________. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981.

Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus

fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras

providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

__________. Lei nº 12.651, de 25 de Maio de 2012.

Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as

Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de

dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006;

revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e

7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória

no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras

providências. Disponível em: <www.planalto.gov.br>.

Acesso em 30 dez. 2014.

__________. Superior Tribunal de Justiça. Disponível

em: <www.stj.jus.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

__________. Supremo Tribunal Federal. Disponível

em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 30 dez. 2014.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de

Direito Administrativo. 24 ed, rev., atual. e ampl. Rio

de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil

Brasileiro: Direito das Coisas. v. 04. 26 ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2011.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo

Brasileiro, 38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012.

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MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 9 ed., rev., atual.

e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais Ltda.,

2014.