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COMPETÊNCIA PROFISSIONAL PARA A EMISSÃO DE LAUDOS O parâmetro de maior incidência na fiscalização do ITR - Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural, é a subavaliação do valor da terra nua (VTN). Quando o Sistema de Malha Fiscal detecta que o VTN do imóvel rural foi informado na DITR - Declaração do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, em valor muito inferior aos parâmetros de controle (SIPT - Sistema de Preços de Terra), o mesmo faz com que a declaração daquele imóvel rural incida em malha fiscal. Após a seleção da DITR, o servidor municipal, com atribuição de lançamento de créditos tributários, vai realizar a intimação, que tem a finalidade de dar ciência ao contribuinte da existência de procedimento fiscal em curso, bem como de solicitar a documentação necessária à análise das informações prestadas na DITR do imóvel rural fiscalizado. Para o parâmetro de subavaliação do valor da terra nua é solicitado, entre outros documentos, que o contribuinte apresente Laudo de Avaliação do imóvel rural, no qual são detalhadas as características da área, como qualidade do solo, benfeitorias e o valor avaliado do imóvel/terra nua, emitido por Engenheiro Agrônomo ou Florestal, obedecendo aos critérios estabelecidos na NBR 14.653, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, com grau de fundamentação e precisão II, com Anotação de Responsabilidade Técnica - ART registrada no Crea, contendo todos os elementos de pesquisa identificados e planilhas de cálculo. Porém, devido ao alto custo de elaboração de um Laudo de Avaliação ou da dificuldade em localizar, em algumas regiões, um profissional habilitado para tanto, é permitido que o sujeito passivo apresente avaliação efetuada pelas Fazendas Públicas Estaduais (exatorias) ou Municipais, assim como aquelas efetuadas pela Emater, desde que apresentados os métodos de avaliação e as fontes de pesquisas que levaram à convicção do valor atribuído ao imóvel rural. Ressalto que corretores de imóveis não tem competência legal para elaborar Laudo de Avaliação. Como veremos a seguir, as avaliações imobiliárias são trabalhos eminentemente técnicos e de acordo com a normatização, só podem ser executados por aqueles que possuem formação acadêmica adequada, nesse caso na área de engenharia.

Competencia Profissional Para a Emissao de Laudos

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COMPETÊNCIA PROFISSIONAL PARA A EMISSÃO DE LAUDOS

O parâmetro de maior incidência na fiscalização do ITR - Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural, é a subavaliação do valor da terra nua (VTN). Quando o Sistema de Malha Fiscal detecta que o VTN do imóvel rural foi informado na DITR - Declaração do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural, em valor muito inferior aos parâmetros de controle (SIPT - Sistema de Preços de Terra), o mesmo faz com que a declaração daquele imóvel rural incida em malha fiscal.

Após a seleção da DITR, o servidor municipal, com atribuição de lançamento de créditos tributários, vai realizar a intimação, que tem a finalidade de dar ciência ao contribuinte da existência de procedimento fiscal em curso, bem como de solicitar a documentação necessária à análise das informações prestadas na DITR do imóvel rural fiscalizado.

Para o parâmetro de subavaliação do valor da terra nua é solicitado, entre outros documentos, que o contribuinte apresente Laudo de Avaliação do imóvel rural, no qual são detalhadas as características da área, como qualidade do solo, benfeitorias e o valor avaliado do imóvel/terra nua, emitido por Engenheiro Agrônomo ou Florestal, obedecendo aos critérios estabelecidos na NBR 14.653, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, com grau de fundamentação e precisão II, com Anotação de Responsabilidade Técnica - ART registrada no Crea, contendo todos os elementos de pesquisa identificados e planilhas de cálculo.

Porém, devido ao alto custo de elaboração de um Laudo de Avaliação ou da dificuldade em localizar, em algumas regiões, um profissional habilitado para tanto, é permitido que o sujeito passivo apresente avaliação efetuada pelas Fazendas Públicas Estaduais (exatorias) ou Municipais, assim como aquelas efetuadas pela Emater, desde que apresentados os métodos de avaliação e as fontes de pesquisas que levaram à convicção do valor atribuído ao imóvel rural.

Ressalto que corretores de imóveis não tem competência legal para elaborar Laudo de Avaliação. Como veremos a seguir, as avaliações imobiliárias são trabalhos eminentemente técnicos e de acordo com a normatização, só podem ser executados por aqueles que possuem formação acadêmica adequada, nesse caso na área de engenharia.

Assim, podemos observar que existem dois requisitos necessários para a elaboração de um Laudo de Avaliação: o técnico, que diz respeito à correta observação dos critérios estabelecidos na NBR 14.653, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e um legal, que vai determinar qual o profissional habilitado para elaborar o Laudo.

Neste momento nosso objetivo é estudar o critério legal, principalmente a Legislação Profissional do Confea – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia e dos Crea – Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. O critério técnico será objeto de estudo de outro módulo/unidade.

LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL

Histórico

O Confea surgiu em 11 de dezembro de 1933, por meio do Decreto nº 23.569, promulgado pelo então presidente da República, Getúlio Vargas e considerado marco histórico da regulamentação profissional e técnica no Brasil.

Em sua concepção atual, o Confea - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia é regido pela Lei nº 5.194 de 1966, e representa também os geógrafos, geólogos, meteorologistas, tecnólogos dessas modalidades, técnicos industriais e agrícolas e suas especializações. O Confea regulamenta e fiscaliza o exercício profissional dos que atuam nas áreas que representa, sendo a instância máxima à qual um profissional pode recorrer no que se refere ao regulamento do exercício profissional.

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Competências e Base Legal

O Sistema Confea-Crea é composto por um órgão central, o Confea, e por 28 estaduais, os Crea. A principal função do Confea é regulamentar as atividades profissionais das áreas que representa e aos Crea cabem a fiscalização profissional propriamente dita.

Toda a atuação do Sistema Confea-Crea é pautado na estrita obediência das leis e de normas infralegais, que veremos em detalhes, tais como:

Constituição Federal/1988 (CF/88) – Art. 5º; Decreto nº 23.196/33 – Agrônomos; Lei nº 5.194/66 – criação do Sistema; Lei nº 6.496/77 – ART (Anotação de Responsabilidade Técnica); Decreto nº 4.560/02 – Técnico Agrícola; Resoluções, Decisões Normativas e Decisões Plenárias do CONFEA.

A Constituição Federal de 1988, base do ordenamento jurídico brasileiro, em seu artigo 50, determina:

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

...

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

A Lei nº 5.194, de 24 de dezembro de 1966, que regula o exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro-Agrônomo, foi recepcionada pela CF/88 com base nos incisos acima. Iremos destacar os dispositivos dessa Lei que mais interessam ao nosso curso. Alguns termos foram grifados para dar o destaque necessário aos mesmos.

Art. 7º- As atividades e atribuições profissionais do engenheiro, do arquiteto e do engenheiro-agrônomo consistem em:

...

c) estudos, projetos, análises, avaliações, vistorias, perícias, pareceres e divulgação técnica;

...

Art. 8º- As atividades e atribuições enunciadas nas alíneas "a", "b", "c", "d", "e" e "f" do artigo anterior são da competência de pessoas físicas, para tanto legalmente habilitadas.

...

Art. 13 - Os estudos, plantas, projetos, laudos e qualquer outro trabalho de Engenharia, de Arquitetura e de Agronomia, quer público, quer particular, somente poderão ser submetidos ao julgamento das autoridades competentes e só terão valor jurídico quando seus autores forem profissionais habilitados de acordo com esta Lei.

Art. 14 - Nos trabalhos gráficos, especificações, orçamentos, pareceres, laudos e atos judiciais ou administrativos, é obrigatória, além da assinatura, precedida do nome da empresa, sociedade, instituição ou firma a que interessarem, a menção explícita do título do profissional que os subscrever e do número da carteira referida no Art. 56.

...

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Art. 26 - O Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, (CONFEA), é a instância superior da fiscalização do exercício profissional da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia.

Art. 27 - São atribuições do Conselho Federal:

...

f) baixar e fazer publicar as resoluções previstas para regulamentação e execução da presente Lei, e, ouvidos os Conselhos Regionais, resolver os casos omissos;

Art. 45 - As Câmaras Especializadas são os órgãos dos Conselhos Regionais encarregados de julgar e decidir sobre os assuntos de fiscalização pertinentes às respectivas especializações profissionais e infrações do Código de Ética.

...

Art. 55 - Os profissionais habilitados na forma estabelecida nesta Lei só poderão exercer a profissão após o registro no Conselho Regional sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade.

Dos comandos legais acima podemos constatar o seguinte:

1. A CF/88 concede poder à Lei (em sentido estrito) para estabelecer limites ao exercício profissional. No caso da engenharia, essa lei é a de nº 5.194/66;

2. De forma geral, a Lei nº 5.194/66 estabelece os critérios para que o profissional de engenharia exerça legalmente suas atividades, quais sejam formação acadêmica compatível e inscrição no Crea respectivo;

3. Os documentos elaborados por esses profissionais, para ter valor jurídico, devem ser assinados, conter o nome, o título do profissional que os subscrever e o número da inscrição no Crea;

4. A Lei nº 5.194/66 concede ao Confea poderes de baixar e publicar normas infralegais para regulamentação e execução da Lei. Essas normas, como veremos a seguir, são Resoluções, Decisões Normativas e Decisões Plenárias.

Normas Infralegais – espécies

Conforme informado no subitem 4 acima, as normas infralegais baixadas pelo Confea são:

Resolução: Ato normativo de competência exclusiva do Plenário do Confea, destinado a explicitar a lei, para sua correta execução e para disciplinar os casos omissos;

Decisão Normativa: Ato de caráter imperativo, de exclusiva competência do Plenário do Confea, destinado a fixar entendimentos ou a determinar procedimentos a serem seguidos pelos Crea, visando à uniformidade de ação;

Decisão Plenária: Ato de competência dos Plenários dos Conselhos para instrumentar sua manifestação em casos concretos;

Entre as normas acima, as Resoluções do Confea são as que tem maior importância para nosso estudo, sendo que também citaremos algumas Decisões Normativas e Plenárias.

Resolução Confea nº 218/73

Esta Resolução é a mais importante entre as que nos interessam, pois a partir dela vamos definir quais são os profissionais de engenharia habilitados para elaborar Laudos de Avaliação, bem como outros laudos de interesse do ITR.

Art. 1º - Para efeito de fiscalização do exercício profissional correspondente às diferentes modalidades da Engenharia, Arquitetura e Agronomia em nível superior e em nível médio, ficam designadas as seguintes atividades:

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...

Atividade 06 - Vistoria, perícia, avaliação, arbitramento, laudo e parecer técnico;

...

Art. 4º - Compete ao ENGENHEIRO AGRIMENSOR:

I - o desempenho das atividades 01 a 12 e 14 a 18 do artigo 1º desta Resolução, referente a levantamentos topográficos, batimétricos, geodésicos e aerofotogramétricos; locação de:

a) loteamentos;

b) sistemas de saneamento, irrigação e drenagem;

c) traçados de cidades;

d) estradas; seus serviços afins e correlatos.

II - o desempenho das atividades 06 a 12 e 14 a 18 do artigo 1º desta Resolução, referente a arruamentos, estradas e obras hidráulicas; seus serviços afins e correlatos.

Art. 5º - Comp. ENGENHEIRO AGRÔNOMO:

I - o desempenho das atividades 01 a 18 do artigo 1º desta Resolução, referentes a engenharia rural; construções para fins rurais e suas instalações complementares; irrigação e drenagem para fins agrícolas; fitotecnia e zootecnia; melhoramento animal e vegetal; recursos naturais renováveis; ecologia, agrometeorologia; defesa sanitária; química agrícola; alimentos; tecnologia de transformação (açúcar, amidos, óleos, laticínios, vinhos e destilados); beneficiamento e conservação dos produtos animais e vegetais; zimotecnia; agropecuária; edafologia; fertilizantes e corretivos; processo de cultura e de utilização de solo; microbiologia agrícola; biometria; parques e jardins; mecanização na agricultura; implementos agrícolas; nutrição animal; agrostologia; bromatologia e rações; economia rural e crédito rural; seus serviços afins e correlatos.

Art. 6º - Compete ao ENGENHEIRO CARTÓGRAFO ou DE GEODÉSIA E TOPOGRAFIA ou ao ENGENHEIRO GEÓGRAFO:

I - o desempenho das atividades 01 a 12 e 14 a 18 do artigo 1º desta Resolução, referentes a levantamentos topográficos, batimétricos, geodésicos e aerofotogramétricos; elaboração de cartas geográficas; seus serviços afins e correlatos.

Art. 7º - Compete ao ENGENHEIRO CIVIL ou ao DE FORTIFICAÇÃO e CONSTRUÇÃO:

I - o desempenho das atividades 01 a 18 do artigo 1º desta Resolução, referentes a edificações, estradas, pistas de rolamentos e aeroportos; sistema de transportes, de abastecimento de água e de saneamento; portos, rios, canais, barragens e diques; drenagem e irrigação; pontes e grandes estruturas; seus serviços afins e correlatos.

...

Art. 10 – ENGENHEIRO FLORESTAL:

I - o desempenho das atividades 01 a 18 do artigo 1º desta Resolução, referentes a engenharia rural; construções para fins florestais e suas instalações complementares, silvimetria e inventário florestal; melhoramento florestal; recursos naturais renováveis; ecologia, climatologia, defesa sanitária florestal; produtos florestais, sua tecnologia e

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sua industrialização; edafologia; processos de utilização de solo e de floresta; ordenamento e manejo florestal; mecanização na floresta; implementos florestais; economia e crédito rural para fins florestais; seus serviços afins e correlatos.

...

Art. 24 - Compete ao TÉCNICO DE GRAU MÉDIO:

I - o desempenho das atividades 14 a 18 do artigo 1º desta Resolução, circunscritas ao âmbito das respectivas modalidades profissionais;

II - as relacionadas nos números 07 a 12 do artigo 1º desta Resolução, desde que enquadradas no desempenho das atividades referidas no item I deste artigo.

A Resolução nº 218 do Confea relaciona diversas especialidades da engenharia, porém somente transcrevemos os dispositivos acima por se referirem às categorias profissionais mais representativas em quantidade, totalizando mais de 80% dos inscritos nos Conselhos Regionais.

Agora, através da análise da Resolução nº 218 do Confea passaremos a estudar a competência legal dos profissionais relacionados acima, com o objetivo de identificar quais deles podem elaborar Laudos de Avaliação de Imóvel Rural e outros de interesse do ITR.

Observem que o art. 1º da Resolução nº 218, na Atividade 06, cita laudo e parecer técnico. Os artigos 4 a 7, 10 e 24 identificam o tipo de profissional e relacionam as atividades que podem ser desenvolvidas pelos mesmos.

Iniciaremos nosso estudo pelo Engenheiro Agrônomo, pois este profissional detem todas as competências legais para a execução dos diversos laudos de interesse do ITR.

O Engenheiro Agrônomo foi contemplado, no art. 5º, com atribuições plenas em matéria rural. Verifiquem que, além das competências relacionadas ao uso do solo, ele também pode exercer atividades de engenharia rural, construções para fins rurais, sobre recursos naturais renováveis e ecologia, o que o habilita, também, a elaborar laudos de avaliação de benfeitorias em imóveis rurais e os laudos ambientais exigidos pela legislação.

O Engenheiro Florestal, ainda que seja um profissional direcionado ao trabalho com florestas e seu manejo, devido à semelhança da grade curricular com a do Engenheiro Agrônomo e pelas atividades elencadas no art. 10 da Resolução nº 218 do Confea, principalmente em relação à engenharia rural, construções para fins florestais, recursos naturais renováveis, ecologia, edafologia e processos de utilização de solo, nos faz afirmar ser ele legalmente competente para elaboração de laudos de avaliação de imóveis rurais, de benfeitorias e ambientais.

O Parecer abaixo, da Câmara Especializada de Engenharia Florestal do CREA-RS, corrobora nossa posição (grifos nossos).

CÂMARA ESPECIALIZADA DE ENGENHARIA FLORESTAL

Assunto: Consulta sobre atribuições de Engenheiro Florestal na avaliação de Imóvel Rural, em que a principal atividade (90%), é agricultura. (Memorando número 52/2000 do Departamento Jurídico CREA/RS)

RELATOR: Conselheiro JOSÉ DONIZETI FALAVIGNO

1) RELATÓRIO

Com referência a realização de avaliação judicial de imóvel rural em que a principal atividade (90%) é a agricultura anual de soja, milho, trigo e outras culturas. Dado minha militância constante na área judiciária, como perito, avaliador judicial e

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assistente técnico em questões similares, a prática tem demonstrado não haver qualquer impedimento de um ENGENHEIRO FLORESTAL proceder tais trabalhos, uma vez que o currículo de disciplina no que tange a SOLOS, tais como: fertilidade, conservação, declividade e características físicas e químicas são praticamente as mesmas elencadas nos mesmos departamentos das Escolas onde se formam profissionais como Engenheiros Agrônomos, Engenheiros Agrícolas e similares.

Do mesmo modo, a maior importância na avaliação de áreas rurais, principalmente aquelas destinadas a produções anuais, deve ser efetuada com dados de produtividade efetiva com levantamento de dados de um período de tempo compatível para a determinação de uma média de vários anos, o que permite maior confiança aos resultados. Veja bem. Já deparamos com vários casos em que o juiz se vale prioritariamente de Corretores de Imóveis, preterindo ao trabalho técnico, em função de que aquele, é mais atento aos valores reais de mercado e não exclusivamente pelo aspecto técnico, uma vez que nem sempre tais fatores se correspondem.

Conforme o artigo 424 do Código de Processo Civil:

“O perito pode ser substituído quando:

I - Carecer de conhecimento técnico ou científico;

II- Sem motivo legítimo, deixar de prestar compromisso;

Parágrafo único - No caso previsto no Inciso II, o juiz comunicará a ocorrência à corporação profissional respectiva, podendo, ainda impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da causa e o possível prejuízo decorrente do atraso no processo."

Veja bem que fica a critério do juiz a opção pela idoneidade e experiência do profissional dentro do processo. Às vezes essa idoneidade e prática profissional são determinantes ao bom andamento do feito.

De outra parte, entendo que o próprio técnico deve se informar, caso não saiba de sua competência profissional. Veja que não é de sua capacidade ou habilidade em executar o trabalho, mas de competência frente a legislação pertinente a sua formação profissional. Caso a atividade exigida não esteja amparada na legislação, o profissional deve dar-se por impedido para a execução tal tarefa; do contrário estará infringindo também o Código de Ética Profissional.

2) PARECER

Após estes esclarecimentos, entendo que o ENGENHEIRO FLORESTAL é COMPETENTE E HABILITADO, amparado pelo artigo 7°. da Lei Federal 5.194, de 24 de dezembro de 1966 e artigo 10°. da Resolução 218 do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, de 29 de junho de 1973, para a realização da AVALIAÇÃO REQUERIDA; porém se o mesmo, pessoalmente, não se sentir seguro de executar a tarefa com a perfeição exigida, ele mesmo deve dar-se por impedido para tal, pois se assim não o fizer, poderá sofrer as penas do artigo anteriormente citado, em função do prejuízo processual e também estará denegrindo a própria profissão.

É o parecer.

Porto Alegre (RS), 24 de abril de 2000.

Conselheiro JOSÉ DONIZETI FALVIGNO

Parecer 02/2000, aprovado por unanimidade na Sessão Ordinária 005/2000, da Câmara Especializada de Engenharia Florestal do Conselho Regional de Engenharia,

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Arquitetura e Agronomia do Rio Grande do Sul (CEEF/CREA/RS), de 28 de abril de 2000. Conselheiro PEDRO ROBERTO DE AZAMBUJA MADRUGA Coordenador da CEEF/CREA/RS

Para os demais profissionais citados na Resolução nº 218/73, com exceção do Engenheiro Civil, que pode elaborar laudo de avaliação de BENFEITORIAS úteis e necessárias destinadas à atividade rural (edificações, estradas, açudes, etc), podemos afirmar que os mesmos não detêm competências legais para confecção, de forma isolada, dos laudos de interesse do ITR.

As atribuições profissionais dos Técnicos de Nível Médio são descritas no art. 24 da Resolução nº 218 e entre elas não consta a Atividade 06, descrita no art. 10 da referida Resolução, que concede atribuição profissional para avaliação, arbitramento, laudo e parecer técnico.

A Decisão Plenária 0718/2007, abaixo, esclarece a questão:

Plenária Ordinária nº 1.343

DECISÃO : PL-0718/2007

PROCESSO : CF-2917/2002

INTERESSADO : Crea-RO

EMENTA: Consulta do Crea-RO sobre atribuições profissionais do técnico de nível médio para assinatura de laudos técnicos de vistoria.

DECISÃO

O Plenário do Confea, reunido em Brasília de 25 a 27 de julho de 2007, apreciando a Deliberação nº 036/2007-CEAP e o Relatório e Voto Fundamentado em Pedido de Vista exarado pelo Conselheiro Federal José Elieser de Oliveira Júnior, relativos ao processo em epígrafe, que trata de consulta formulada pelo Crea-RO, com vistas ao esclarecimento a respeito das atribuições profissionais de técnicos de nível médio para assinatura de laudo técnico de vistoria, e considerando que o exercício da profissão de Técnico Industrial de nível médio está definido através do art. 2º, da Lei nº 5.524, de 5 de novembro de 1968, regulamentada pelo Decreto nº 90.922, de 6 de fevereiro de 1985; considerando que o art. 4º do Decreto nº 90.922, de 1985, dispõe que: “As atribuições dos técnicos industriais de 2º grau, em suas diversas modalidades, para efeito de exercício profissional e de sua fiscalização, respeitados os limites de sua formação, consistem em: (...) II) prestar assistência técnica e assessoria no estudo de viabilidade e desenvolvimento de projetos e pesquisas tecnológicas, ou nos trabalhos de vistoria, perícias, avaliação, arbitramento e consultoria, exercendo dentre outras, as seguintes atividades:1) coleta de dados de natureza técnica; 2) desenho de detalhes e da representação gráfica de cálculos; 3) elaboração de orçamento de materiais e equipamentos, instalações e mão-de-obra; 4) detalhamento de programas de trabalho, observando normas técnicas e de segurança; 5) aplicação de normas técnicas concernentes aos respectivos processos de trabalho; 6) execução de ensaios de rotina, registrando observações relativas ao controle de qualidade dos materiais, peças e conjuntos; 7) regulagem de máquinas, aparelhos e instrumentos técnicos.”; considerando que a expressão “prestar assistência técnica e assessoria no estudo...”, define, sem qualquer dúvida, que ao técnico cabe prestar assistência ou auxiliar alguém, neste caso, Engenheiros, Arquitetos ou Agrônomos; considerando que o Decreto nº 4.560, de 30 de dezembro de 2002, alterou o Decreto nº 90.922, de 1985, mas conservou integralmente intacto o art. 4º deste último Decreto; considerando que a Resolução nº 345, de 27 de julho de 1990, estabelece: “Art. 1º - Para os efeitos desta

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Resolução, define-se: a) Vistoria é a constatação de um fato, mediante exame circunstanciado e descrição minuciosa dos elementos que o constituem, sem a indagação das causas que o motivaram; b) Arbitramento é a atividade que envolve a tomada de decisão ou posição entre alternativas tecnicamente controversas ou que decorrem de aspectos subjetivos; c) Avaliação é a atividade que envolve a determinação técnica do valor qualitativo ou monetário de um bem, de um direito ou de um empreendimento; d) Perícia é a atividade que envolve a apuração das causas que motivaram determinado evento ou da asserção de direitos; e) Laudo é a peça na qual o perito, profissional habilitado, relata o que observou e dá as suas conclusões ou avalia o valor de coisas ou direitos, fundamentadamente. Art. 2º - Compreende-se como a atribuição privativa de Engenheiros em suas diversas especialidades, dos Arquitetos, dos Engenheiros Agrônomos, dos Geólogos, dos Geógrafos e dos Meteorologistas, as vistorias, perícias, avaliações e arbitramentos relativos a bens móveis e imóveis, suas partes integrantes e pertences, máquinas e instalações industriais, obras e serviços de utilidade pública, recursos naturais e bens e direitos que, de qualquer forma, para a sua existência ou utilização, sejam atribuições destas profissões.” Considerando que a Lei nº 7.270, de 1984, que modifica o Código de Processo Civil, dá a seguinte redação ao §1º do art. 145: “os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente, respeitado o disposto no Capítulo VI, Seção VII, deste Código”; considerando, finalmente, que não há, no momento, o que mudar ou ainda interpretar quanto à legislação vigente, de clareza ímpar, o que, de forma equivocada, ocorreu com a edição da Decisão PL 0022/2005, de 25 de fevereiro de 2005, a qual concluiu que o Decreto nº 90.922, de 6 de fevereiro de 1985, “em seu art. 4º atribui aos Técnicos Industriais a competência para vistoriar, periciar, avaliar arbitrar e ser consultado no âmbito do seu exercício para elaboração dos seus projetos, execuções e/ou manutenções”. DECIDIU aprovar o Relatório e Voto Fundamentado em Pedido de vista, na forma apresentada pelo Relator que conclui: 1) Pela revogação da Decisão PL-0022/2005. 2) Orientar aos Regionais que não é atribuição dos técnicos de 2º grau, a emissão, de forma isolada, de laudos de vistoria, perícia, avaliação, arbitramento, laudo e parecer técnico.

Abaixo, seguem algumas Normas, Decisões do Confea e comentários sobre o assunto:

RESOLUÇÃO Nº 345, DE 27 DE JULHO DE 1990.

Dispõe quanto ao exercício por profissional de Nível Superior das atividades de Engenharia de Avaliações e Perícias de Engenharia.

O CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA, em sua Sessão Ordinária nº 1221, realizada em 27 de julho de 1990, usando das atribuições que lhe confere o Art. 27, letra "f", da Lei nº 5.194, de 24 DEZ 1966,

CONSIDERANDO que as perícias e avaliações de bens móveis e imóveis, suas partes integrantes e pertences, máquinas e instalações industriais, obras, serviços, bens e direitos, é matéria essencialmente técnica que exige qualificação específica;

CONSIDERANDO que as perícias e avaliações desses bens é função do diplomado em Engenharia, Arquitetura, Agronomia, Geologia, Geografia e Meteorologia, dentro das respectivas atribuições fixadas no Art. 7º, alínea "c", da Lei nº 5.194, de 24 DEZ 1966, e discriminadas pela Resolução nº 218, de 29 JUN 1973;

CONSIDERANDO o disposto na Lei nº 7.270, de 10 DEZ 1984;

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CONSIDERANDO, nada obstante, as dúvidas que ainda surgem por parte de órgãos e entidades na aplicação de normas que exigem laudos de avaliação e perícia para determinados efeitos legais, tais como Lei nº 6.404/76, de 15 DEZ 1976, Lei nº 24.150/34 e Lei nº 6.649/79;

CONSIDERANDO, finalmente, o disposto nas Leis nº 8.020 e 8.031, ambas de 12 ABR 1990,

RESOLVE:

Art. 1º - Para os efeitos desta Resolução, define-se:

a) VISTORIA é a constatação de um fato, mediante exame circunstanciado e descrição minuciosa dos elementos que o constituem, sem a indagação das causas que o motivaram.

b) ARBITRAMENTO é a atividade que envolve a tomada de decisão ou posição entre alternativas tecnicamente controversas ou que decorrem de aspectos subjetivos.

c) AVALIAÇÃO é a atividade que envolve a determinação técnica do valor qualitativo ou monetário de um bem, de um direito ou de um empreendimento.

d) PERÍCIA é a atividade que envolve a apuração das causas que motivaram determinado evento ou da asserção de direitos.

e) LAUDO é a peça na qual o perito, profissional habilitado, relata o que observou e dá as suas conclusões ou avalia o valor de coisas ou direitos, fundamentadamente.

Art. 2º - Compreende-se como a atribuição privativa dos Engenheiros em suas diversas especialidades, dos Arquitetos, dos Engenheiros Agrônomos, dos Geólogos, dos Geógrafos e dos Meteorologistas, as vistorias, perícias, avaliações e arbitramentos relativos a bens móveis e imóveis, suas partes integrantes e pertences, máquinas e instalações industriais, obras e serviços de utilidade pública, recursos naturais e bens e direitos que, de qualquer forma, para a sua existência ou utilização, sejam atribuições destas profissões.

Art. 3º - Serão nulas de pleno direito as perícias e avaliações e demais procedimentos indicados no Art. 2º, quando efetivados por pessoas físicas ou jurídicas não registradas nos CREAs.

Art. 4º - Os trabalhos técnicos indicados no artigo anterior, para sua plena validade, deverão ser objeto de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) exigida pela Lei nº 6.496, de 07 DEZ 1977.

Parágrafo único - As Anotações de Responsabilidade Técnica dos trabalhos profissionais de que trata a presente Resolução serão efetivadas nos CREAs em cuja jurisdição seja efetuado o serviço.

Art. 5º - As infrações à presente Resolução importarão, ainda, na responsabilização penal e administrativa pelo exercício ilegal de profissão, nos termos dos artigos 6º e 76 da Lei nº 5.194/66.

Da análise da Resolução nº345/1990 do Confea, podemos constatar o seguinte:

1. As atividades de vistorias, perícias, avaliações e arbitramentos relativos a bens móveis e imóveis são atribuições de profissionais de nível superior registrados no Sistema Confea-Crea. Assim, estão excluídos dessas atividades os técnicos de nível médio;

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2. Os trabalhos técnicos indicados no item 1, para sua plena validade, deverão ser objeto de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) exigida pela Lei nº 6.496, de 07 DEZ 1977. Estudaremos a ART em capítulo próprio.

Verifiquem a Decisão Plenária nº3523/2003 do Confea, em relação a atribuição profissional de Engenheiro Civil para elaboração de Laudo de Avaliação em Imóvel Rural:

DECISÃO

O Plenário do Confea, apreciando a Deliberação nº 3122/2003-CEP - Comissão de Exercício Profissional, que trata do processo em epígrafe, de interesse do Engenheiro Civil Gualter Luiz Ferreira, Crea n° PR-004994/D, autuado pelo Crea-PR, em 22 de outubro de 1999, mediante o Auto de Infração e Notificação n° 99/8-58274-001, por infringência à alínea “b” do art. 6° da Lei n° 5.194, de 1966, ao exercer atividades da Agronomia como perito judicial na execução de laudo de avaliação do imóvel rural denominado Fazenda Pinhal Ralo/Rio Bonito do Iguaçu – PR e Nova Laranjeiras – PR, extrapolando as atividades constantes em seu registro profissional; considerando que a penalidade por infração ao dispositivo descrito acima está capitulada nos arts. 71, alínea “c” – multa, e 73, alínea “b”, da Lei nº 5.194, de 1966; considerando que a multa na época da autuação encontrava-se regulamentada pela Resolução nº 384, de 28 de junho de 1994, art. 10, alínea “b” - 26 a 58 Ufir; considerando que o interessado alegou em seu recurso ao Plenário do Confea que em nenhum momento extrapolou as suas atribuições na elaboração do referido laudo pericial, uma vez que nas questões de natureza agrária e florestal foi devidamente assessorado pelo Engenheiro Florestal Roberto Pedro Bom; considerando que não procedem as alegações constantes do recurso apresentado uma vez que o profissional detém as competências relacionadas no art. 28 do Decreto nº 23.569, de 11 de dezembro de 1933, do qual não consta atribuição para execução de avaliação de imóveis rurais; considerando que a alínea “e” do art. 37 do Decreto nº 23.596, de 1933, estabelece como competência exclusiva dos Agrônomos a realização de avaliações e perícias relativas ao meio rural, e que, embora o Engenheiro Florestal Roberto Pedro Bom tenha fornecido assessoria técnica ao autuado relativa às questões agrária e florestal, este não teve sua autoria declarada nos termos dos arts. 19, 20 e 21 da Lei nº 5.194, de 1966, tendo em vista que, segundo os autos, o laudo pericial de avaliação foi assinado, exclusivamente, pelo interessado (Engenheiro Civil); considerando que, segundo consta dos autos, o Crea agiu devidamente quando da lavratura do auto de infração e notificação, em face da constatação de infração à legislação vigente, capitulando, adequadamente, a infração competida e a penalidade estipulada, DECIDIU, por unanimidade, pela manutenção do Auto de Infração e Notificação nº 99/8-58274-001, devendo o interessado efetuar o pagamento da multa devida, corrigida na forma da lei. Presidiu a Sessão o Eng. Agrônomo ANTÔNIO ROQUE DECHEN.

A principal atividade do Engenheiro Agrimensor está voltada para a demarcação das terras. Dentro de suas atribuições ele pode realizar atividades de levantamentos topográficos, batimétricos, geodésicos e aerofotogramétricos.

A execução de Laudo de Avaliação de Imóveis Rurais, de maneira isolada, lhe é vedada pelo motivo da sua grade curricular não contemplar disciplinas que permitam a esse profissional o conhecimento pleno em engenharia rural, uso e classificação dos solos, economia rural, entre outras indispensáveis à elaboração da avaliação ora abordada.

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O mesmo entendimento pode ser aplicado aos Engenheiros Cartógrafo, ao de Geodésia e Topografia e ao Engenheiro Geógrafo, conforme Decisões do Confea abaixo:

DECISÃO : Nº CR-0209/83

PROCESSO : Nº CF-2315/81

INTERESSADO : CÂMARA DE VALORES IMOBILIÁRIOS DO ESTADO DE GOIÁS

EMENTA: Atribuições profissionais do Engenheiro Agrimensor, no que se refere a Laudos de Avaliações. consulta. Aprovada a conclusão da Comissão de Atribuições Profissionais, nos termos de sua Deliberação nº 088/83-CAPr, de 29.07.83.

DECISÃO DO CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA

O Plenário do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, em sua Sessão Ordinária de nº 1.145, realizada em Brasília, a 19 de agosto de 1983, sob a Presidência do Engenheiro Agrônomo..., aprova, por unanimidade, a Deliberação nº 088/83-CAPr, da Comissão de Atribuições Profissionais, no sentido de que o Engenheiro Agrimensor não possui atribuições plenas para atividades de avaliações e perícias de imóveis, máquinas, equipamentos, animais, plantas e lavouras, eis que sua formação profissional enseja-lhe atribuições fundamentalmente voltadas para levantamentos e locações. Entende-se, ainda, que os arts. 972 e seguintes do Código de Processo Civil, demandam-se uma compreensão no sentido de que as atividades nele inseridas como incumbência do Agrimensor, se circunscrevem à medição de terras e levantamentos topográficos que proporcionem aos arbitradores mencionados no art. 969 e seguintes do mesmo Código, o ensejo da elaboração do Laudo de Avaliação, uma vez que a designação destes deve recair, sempre, em profissional de nível superior, com habilitação específica junto ao CREA da jurisdição.

Ref. SESSÃO : Plenária Ordinária nº 1.322

DECISÃO Nº : PL-0987/2004

PROCESSO Nº : CF-0232/2001

INTERESSADO : Engenheiro Cartógrafo Augusto Avelino de Araújo Lima.

EMENTA: Infração à alínea “b” do art. 6° da Lei n 5.194, de 24 de dezembro de 1966.

DECISÃO

O Plenário do Confea, apreciando a Deliberação nº 707/2004-CEP - Comissão de Exercício Profissional, que trata do processo em epígrafe, de interesse do Engenheiro Cartógrafo Augusto Avelino de Araújo Lima, autuado pelo Crea-GO em 30 de novembro de 1998, mediante o Auto de Infração e Notificação nº 637/CAP/98, por infringência a alínea “b” do art. 6º da Lei nº 5.194, de 1966, uma vez que vinha exercendo atividade de assistente técnico em processo de desapropriação rural sem atribuição; considerando que a penalidade por infração ao dispositivo acima está capitulada nos arts. 71, alínea “c” - multa, e 73, alínea “b”, da Lei nº 5.194, de 1966; considerando que a multa à época da autuação encontrava-se regulamentada pela

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Resolução nº 384, de 28 de junho de 1994, art. 10, alínea “b”, de 28 Ufir a 58 Ufir; considerando que o interessado alegou em seu recurso ao Plenário do Confea que possui atribuições para exercer as atividades que motivaram a autuação, apresentando histórico escolar; considerando que não procedem as alegações constantes do recurso apresentado, visto que no laudo elaborado o interessado opina sobre avaliações de terra nua e pastagens artificiais, ocupação de ecossistema protegido e degradação vegetal e faunística de áreas protegidas, atividades diversas daquelas que possui atribuição para exercer; considerando que, segundo consta dos autos, o Crea agiu devidamente quando da lavratura do auto de infração e notificação, em face da constatação de infração à legislação vigente, capitulando, adequadamente, a infração cometida, e a penalidade estipulada, DECIDIU, por unanimidade, pela manutenção do Auto de Infração e Notificação nº 637/CAP/98, devendo o interessado efetuar o pagamento da multa devida, corrigida na forma da lei.

ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA – ART E ACERVO TÉCNICO

A Lei nº 6.496, de 07/12/1977, que instituiu a "Anotação de Responsabilidade Técnica" na prestação de serviços de Engenharia, de Arquitetura e Agronomia, determina:

Art. 1º- Todo contrato, escrito ou verbal, para a execução de obras ou prestação de quaisquer serviços profissionais referentes à Engenharia, à Arquitetura e à Agronomia fica sujeito à "Anotação de Responsabilidade Técnica" (ART).

Art. 2º- A ART define para os efeitos legais os responsáveis técnicos pelo empreendimento de engenharia, arquitetura e agronomia.

§ 1º- A ART será efetuada pelo profissional ou pela empresa no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), de acordo com Resolução própria do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA).

...

Art. 3º- A falta da ART sujeitará o profissional ou a empresa à multa prevista na alínea "a" do Art. 73 da Lei nº5.194, de 24 DEZ 1966, e demais cominações legais.

Com base no comando legal do § 1º, do art. 2º, da Lei nº 6.496/77, o Confea baixou a Resolução nº 425/98, que trata de Anotação de Responsabilidade Técnica - ART. Da análise dessas normas podemos constatar que:

Todo trabalho técnico assinado por Engenheiro, Arquiteto ou Agrônomo, deve ser obrigatoriamente acompanhado da Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, para que se produzam os efeitos legais do exercício profissional e assunção de responsabilidades sobre o serviço prestado. Assim, quando o profissional prestar um serviço, desde uma simples consulta até uma grande obra, deverá fazer previamente uma ART.

A ART é o documento que define para os efeitos legais o(s) responsável(eis) técnico(s) pela obra/serviço. Por força da própria Lei nº 6.496/77, a ART é um instrumento formal pelo qual o engenheiro, o arquiteto, o engenheiro agrônomo ou qualquer outro profissional do sistema Confea/Crea registram os seus contratos profissionais junto ao Crea, mediante o pagamento de uma taxa.

A ART é feita por intermédio de um formulário próprio, onde são declarados os dados principais do contrato escrito ou verbal, firmado entre o profissional e seu cliente. É,

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assim, a súmula de um contrato firmado entre eles para a execução de uma obra ou prestação de um serviço.

Além das obrigações contratuais, a ART define a identificação do(s) responsável(eis) técnico(s) pelo serviço ou obra, bem como a delimitação clara desta responsabilidade.

À medida que o profissional vai efetuando suas ART, o seu acervo técnico vai sendo construído. No momento em que houver necessidade ou simplesmente vontade de obtê-lo, bastará ao profissional dirigir-se ao Crea e requerer uma certidão de seu acervo técnico.

Considera-se acervo técnico do profissional toda a experiência por ele adquirida ao longo de sua vida profissional, compatível com as suas atribuições, desde que anotada a respectiva ART no Crea.

O acervo técnico de uma pessoa jurídica é representado pelos acervos técnicos dos profissionais de seu quadro técnico e de seus consultores técnicos devidamente contratados.

Neste ponto do curso, cabe fazer uma distinção muito importante entre registro da ART e Acervo Técnico.

O registro da ART é uma obrigação legal que todo profissional de engenharia tem ao realizar uma obra ou serviço, como é o caso da elaboração de um laudo de avaliação. Porém, ao contrário do que muitos acham, o registro da ART não tem o condão de legitimar uma atividade quando o profissional que a executa não tem competência legal para tal.

Quando o profissional preenche o formulário da ART e informa as atividades que está executando naquele contrato, ele assume a responsabilidade pelas informações que presta. Portanto, se ele executar atividades que exorbitam sua competência legal poderá responder administrativamente perante o Conselho de Ética do Crea e até civil e penalmente, conforme o resultado do serviço prestado.

Os Conselhos de Engenharia, assim como a maioria dos órgãos fiscalizadores, selecionam suas fiscalizações por amostragem. Assim, torna-se impossível identificar se 100% dos profissionais registram em suas ART somente as atividades que podem executar.

Situação diferente ocorre quando o profissional vai requerer sua Certidão de Acervo Técnico - CAT. Nesse momento, é montado um processo e analisadas todas as ART registradas pelo requerente. Na CAT somente constarão as atividades compatíveis com a formação do profissional.

A Resolução nº 1.023, de 30 de maio de 2008, que dispõe sobre a Anotação de Responsabilidade Técnica e o Acervo Técnico Profissional, vai substituir, a partir de 10 de janeiro de 2010, as Resoluções nº 425/98 e nº 317/86, que tratam de ART e Acervo Técnico, respectivamente. Porém, tudo o que foi tratado neste item foi aproveitado pela nova legislação.

CONCLUSÃO

Com a finalidade de consolidar os conhecimentos quanto à legislação do Sistema Confea-Crea, facilitando ao treinando a correta identificação do profissional habilitado para a elaboração de laudos de interesse do ITR, bem como os requisitos legais para a validade do trabalho de engenharia, destacamos os seguintes pontos:

Avaliações imobiliárias são trabalhos eminentemente técnicos e de acordo com a normatização, só podem ser executados por aqueles que possuem formação acadêmica adequada, nesse caso na área de engenharia;

Existem dois requisitos necessários para a elaboração de um Laudo de Avaliação: um técnico, que diz respeito à correta observação dos critérios estabelecidos na NBR 14.653, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e um legal, que vai determinar qual o profissional habilitado para elaborar o Laudo;

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A Lei nº 5.194/66 estabelece os critérios para que o profissional de engenharia exerça legalmente suas atividades, quais sejam: formação acadêmica compatível e inscrição no Crea respectivo e concede ao Confea poderes de baixar e publicar normas infralegais para regulamentação e execução da Lei;

A Resolução nº 218/73 do Confea é a mais importante entre as que nos interessam, pois a partir dela vamos definir quais são os profissionais de engenharia habilitados para elaborar Laudos de Avaliação, bem como outros de interesse do ITR;

Os engenheiros agrônomos e florestais, devido a sua grade curricular e aos artigos 50 e 100 da Resolução nº 218/73, são os profissionais que detêm as atribuições em matéria de emissão de laudos de avaliação de imóveis rurais e ambientais de interesse do ITR.

Um laudo, ainda que elaborado por profissional competente, só tem validade se acompanhado da ART. Porém, a recíproca não é verdadeira. Um laudo produzido por um profissional sem habilitação para tal não é “homologado” pelo Crea pelo fato de existir uma ART que o ampare.

Por fim, informo que toda a legislação citada pode ser encontrada na íntegra no sítio da Internet do Confea - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - www.confea.org.br.